Você está na página 1de 16
@ ovnAD HESSE Prof. da Universidade de Freiburg i. Br., Alemania Juiz Ex- Presidente da Corte Constitucional Alema (Bundesverfassungsgericht) A FORCA NORMATIVA DA CONSTITUIGAO (Die normative Kraft der Verfassung) Tradugdo de Gilmar Ferreira Mendes, Procurador da Repilblica ¢ Doutorado pela Universidade de Miinster, Alemaniia SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR Part Alenra/1991 oO APRESENTACAO Este trabalho do Professor Konrad Hesse que apresenta- mos ao Ieitor brasileizo, base de sua aula inaugural na Univers sidade de Freibujg-RFA, em 1959, € um dos textos mais signi. ficativos do Direito Constitucional moderno, Conttapondo-se 4s reflexes desenvolvidas por Lassalle (*), esforca-se Hesse por demonsteat que o desfecho do embate entre os fatores Teais de Poder ¢ a Constituicio nao hf de verificar-se, necessati mente, em desfavor desta. A Constituicio nao deve ser Zon: derada a fats mais face, Resta Hesie que « Constiigdo no significa apenas um pedaco de papel, como definido poc Lassalle. Existem pressupostos realizéveis (cealizierba:e Voraus- seteungen), que, mesmo em caso de eventual confronto, pet mitem assegurar a sua forga notmativa, A conversio das ques- {Ses juridicas (Rechestragen) em questdes de poder (Machefra- gen) somente ha de ocorrer se esses pressupostos n’o puderem set satisfeitos Sem desprezar o significado dos fatores histéricos, polfti s € socials para a forga normative da Constituicto, confer Hesse peculiac realce @ chamada vontade de Constituicao (Wille zur Verfassung). A Consticuisho, ensing Hesse, transto marse em forga ativa’ se exiscit a disposicdo de orienta: a pré- pria conduta segundo a ordem nela estadelecida, se fizerem. S¢ presentes, na consciéncia geral — particulamermente, na consciéncia dos principais responséveis ls gtdem conscituco- nal —, ndo s6 a vontade de poder (Wille zur Mache), mas tam: bém a vontade de Constituigdo (Wille zur Verfassung). Fazemos votos que a reflexiio sobre as teses desenvolvidas por Hesse possa contribuir para uma fecunda discussao, entre niés, sobre 0 significado e 0 valor da Constituiclo ¢ sobre @ necessidade de preservar a sua forsa normativa ‘A presente traducio foi feita diretamente do original ale- mio, publicado pela Editora J.C. B. Mohr (Tubingen, 1959), tendo sido conftontada, posteriormente, com a traducio para © espanhol elaborada por Pedro Cruz Villalén (in: Escritos de Derecho Constitucional, Madrid, 1983, p. 60-84). Gilmar Ferreita Mendes (©). Cf. Ferdinand Lass } . Uber das Verfassungswesen, Berlin. Buchhandlung Vorwirts Paul Sing 1907; ¥. também a tradugio para 6 espanhol de W. Roces cob o titulo “Que es una Constitucién?”, Buenos Aires, Siglo Veinte, 1957, © as traducbes para 0 pamugues Esséncia da Constituigio’’, baseada na traducdo de Walter Sténner (Hibet Juris, Rio twadusida pot a Jangito, 1985) ¢ "0 que € uma Consiulto Poles" Manuel Soates, Global Editora, Sto Paulo, 1987. 6 ASR Dev DVB. LE VVDStRL ZgesStW Abreviaturas Archiv des &ffentlichen Rechts Die 6ffentliche Verwaltung Deutsches Verwaltungsblatt Lei Fundamental Vereinigung der Deusschen Scaatstechtslehrer Zeitschrift fiir die'gesamte Staatswissenschaft A Forga Normativa da Constituigio Em 16 de abril de 1862, Ferdinand Lassalle proferiu, nu- ma associagio libetal-progressista de Berlim, sua conferéncia sobre a esséncia da Constituicéo (Uber das Verfassuagswesen). © poder intelectual, representado pela consciéncia ¢ pela cultura gerais, As celacées faticas resultantes da conjuga- fo desis fares consitem a fora ativa deverminante aes IES ¢ das insituigdes da sociedade, fxzendo com gue eons on eessem, tdo-somente, a correlacso de forcas que resulta dos tors reals de poder, sss fatores reais do poder formam a Constituicto cea! do pats. Esse documento chamado Constitii= a Constituicio juridica - nfo passa, nas palavras de Las- de um pedago de papel (ein Stuck Papien. Sua capstias de de regular ¢ de motivar esté limitada & sua compatibilida. de com a Constituigéo real. Do conttitio, torna-se inevitavel o confit, cujo destecho hi de se velfcss contra a Consuter sho esctita, esse pedago de papel que tera de sucumbir diante dos farores reais de poder dominantes no pais Questées constitucionais nfo sfo, ofiginariamente, ques- t6es juridicas, mas sim quest6es politicas. A: ‘do apenas os politicos, mas também os juristas. “Tal como ressaltado pela grande doutrina, ainda ndo apreciada devida- Reden und Sehr 5s org. ¢ intodusto de Eduard Ber mente em todos os seus aspectos — afirma Georg Jellinek qua- renta anos mais tarde —, 0 desenvolvimento das Constituicdes demonstra que regras juridicas nZo se mostram aptas a contro- lar, efetivamente, a divisio de poderes politicos. “As forsas po- Ifticas movem-se consoante suas préprias leis, que atuam inde- pendentemente das formas juridicas’'s. Evidentemente, esse pensamento no pertence 20 passado. Ele se manifesta, de for- ma expressa ou implicita, também no presente. E verdade que hoje ele surge apenas de forma mais simplificada e imprecisa, ndo se attibuindo relevancia maior 3 consciéncia ¢ 2 cultuca erais, também contempladas pot Lassalle como fatores reais Ge poder. A concepgto"sustentada inicialmente por Lassalle parece ainda mais fascinante se se considera a sua aparente sim- plicidade ¢ evidéncia, 2 sua base calcada na realidade — 0 que torna imperioso 0 abandono de qualquer iltusio — bem como a sua aparente confirmacéo pela experiéncia hist6rica. E que a hist6ria constitucional parece, efetivamente, ensinar ie, tanto na praxis politica cotidiana quanto nas’ questdes fandamentais do Estado, 0 podet da forga afigura-se sempre superior & forca das normas juridicas, que a normatividade sub- mete-se a tealidade fitica, Podesse terordar, a propésit, tan. to 0 conflito telativo 20 orcamento da Prissia GBudgeckontite, teferido por Lassalle, como a mudanga do papel politico do Parlamento, subjacente a resignada afitmacio de Georg Jelli nek, ou ainda o exemplo da debacle da Constituicao de Wei- mat, que, em virtude de sua evidencia, revela-se insuscetivel de qualquer contestacio. Considerada em suas conseqiténcias, a concepgao da for- gq determinante das telagbesfaticas significa o seguince: 2 con- igo de eficécia da Constituigao juridica, isto é, a coincidéa- ‘co_extremo;.E que, entre.a norma fugdamentalmente estatica ‘¢.facional ¢.a tealidade fluida ¢ irracional, existe uma tensio Aecessaria ¢ imanente que nfo se deixa eliminar. Para essa con: cep¢d0 do Direito Constitucional, est configurada permanen- témente uma situacio de conflito: a Constituigio juridica, no que tem de funcamental, isto , nas disposigdes nfo propriamen- 2. Verfassungsiinderung und Verfassungswandlung (1906), p. 72. 10 te de indole técnica, sucumbe cotidianamente emface da Cons. tutwigdo real. A idéia de um efeito determinante exclusivo da Constituicao real nao significa outra coisa senio a prdpria nega- lo da Constituicio juridica. Poder-se-ia dizer, parafraseando cidas palavras de Rudolf Sohm, que o Direito Consti- ) tucional esté em contradigdo com a propia esséacia da Consti. / iste. . a ~ ssa negagio do direito constitucional imporca na negagio do sou valor enquanto ciéncia jusidica, Como toda ciéneia ju- ridica, 0 Direito Constitucional é ciéncia normativa; Diferencia- se, assim, da Sociologia e da Ciéncia Politica enquanto cién- cias da realidade. Se as notmas constitucionais nada mais ex- pressam do que relagdes fiticas altamente mutévcis, nfo hé co- mo deixar de reconhecer que a ciéncia da Constituicdo juttdi- ca constitui uma ciéncia juridica na auséncia do diteito, nfo Ihe restando cutra funcio senfo a de constatar ¢ comentat os fats ciados pela Realpoliti. Assim. o Digeito Consiucional nio escaria a servicg de uma, ordem, estatal justa,.cumprindo- Ihe tdo-somente a miserivel' fungio — indigna de qualquer ciéncia— de justificar as relagdes de poder dominantes. Se a Ciencia da Constituigao adota essa tese’€ passa a admitit a Cons- ticuigao real como decisiva, tem-se a sua descaractetizagéo co- mo ciéncia normativa, operando-se a sua conversdo numa sim ples ciéncia do set. Nio havetia mais come diferencia dase, ciologia ou da Ciéncia Politica. Afigura-se justificada a negacZo do Direito Constitucional, €.a conseqiente negacdo do proprio valor da Teoria Geral do Estado enquanto cigncia, se 2 Constituicéo juridica expressa, efetivamente, uma momentinea constelagto de poder AG contritio, essa doutrina afigura-se desprovida de fundamento se se puder admitir que a Constituigio contém, ainda que de forma limitada, uma forca pr6pria, ‘motivadora ¢ ordenadora da vida do Estado. A questio que se apresenta diz respeito 2 forga normativa da Constitui¢ao. Bxistitia, 20 lado do poder determinante das relacbes féticas, expressas pelas forcas politi- cas ¢sociais, também umaforca determinante do Dieito Cons. titucional? Qual.o fundamento ¢ o alcance dessa forca do Di- telto Constitucional? Nao seria essa forca uma ficgZo necessaria para o constitucionalista, que tenta criar a suposicdo de quie’ 6 n 4 yuando, na realidade, outras sas questées surgem pat igo, uma vez que aqui ine- xiste, 20 contratio do que ocorre em outras esferas da ordem juridica, uma garantia externa para execucio de seus ; Q conceito de Constituicao juridica ¢ a propria definigéo da Ciéncia do Direito Constitucional enquanto ciéncia normativa dependem da resposta a essas indagacées. 2 a Uma tentativa de resposta deve ter como ponto de patti- de 0 condicionamento teciproco existente entre a Constituiclo iidica ¢ a tealidade polftico-sociab (1.). Devem set considers, dos, nesse contexto, os limites ¢ as possbilidades da atuagao da Constituigao juridica 2.).Finalmence, nfo de ser investiga dos os pressupostos de eficécia da Constituicto (3.) 1. O significado da ordenagao jutidica na tealidade ¢ em la somente pode ser apreciado se ambas — otdenagio ¢ tealidade — forem considezadas em sua telagao, em seu tone Parfvel contexto, € no seu condicionamento reciproco. Umma anilise isolada, unilateral, que leve em conta apenas um ow oUutto aspecto, nfo se afigura em condicées de fornecer tespos- taadequada 4 questo, Para aquele que contempla apenas a grdenagto juridica, a norma ‘‘esté em vigor” ou “esté dertopa- hi ide. Por outro lado, quem consi. i lade politica e social ou nfo con segue perceber o problema na sua totalidade, ou seri levado a ignotar, simplesmente, o significado da ordenacto jusidica A despeito de sua evidéncia, esse ponto. de parti particular realce, uma vez que 0 pensamento co do passado recente est marcado pelo isolamento entre nidtma ¢ tealidade, como se constata tanto ni ismo ji Escola de Paul Laband e Georg Jellinek, quanto no “‘positivis- ‘mo sociol6gico”’ de Carl Schmitt, Os efeitos dessa conet pao 3. A questdo. 0 da teor (2) € (3) Ver t6picos a seguir 4. Expressivos exemplos dessa forma de pensar podem ser identificados B \ kas ey ainda ndo foram superados. A radical separacéo, no plano cons- distoal, enue alelade © none entre sef (Sein) ¢ devet ser (Sollen) nfo leva a qualquer avango na nossa indagacio. ‘Como anteriormente observado, essa separacio pode levar @ uma confirmacio, confessa ou ndo, da tese que atribui exclusi- va forca determinante as relacées féticas.. Eventual énfase nu- ma ou noutra direclo leva quase inevitavelmente aos extremos de uma norma despida de qualquer elemento da realidade ou de uma tealidade esvaziada de qualquer elemento normati- vo. Faz-se mister encontrar, pottanto, um caminho entre abandono da normatividade em favor do dominio das zelacées fiticas, de um lado, ¢ 2 normatividade despida de qualquer clemento da realidade, de outro. Essa via somente poderd ser gacontrada et renuncia 2 possbilidade de responder as in- jes formuladas com base numa rigorosa aleernat ein conoutaiond fe tem snseetn autora es face datealidade. A sua esséncia reside na sua vigéncia, ou seja, a situagdo por ela regulads pretend ser concretizada ‘na teal ida. de, Essa pretensio de eficicia (Geltungsanspruch) nfo pode ser separada das condigdes hist6ricas de sua realizagio, que Ly deca Pe : rls rt te veg em P. Lak ‘ cht des Deutschen Reiches (5a. ed. 1911) 1 & sO faa lene Svoiie Ge. eds 192i) p20. 308 € Seniee Vertusuaglebe 1929} 8226 Leib stecht und Verfussungswitklichkeit, edi- fis tetbeigs, Sora in’ Seuueepcblene Ger modeeren Bessie {958}, pe 279 #4 HL. Ehmke, Grenzen der Vertaseungsinderang (1933), p33; Chr. Graf v. Crockow, Dic Eawehelduag (1958), . 6 6 © Aikemeide Stesieheep 358: C, Sais, _Bolisehe Theologie 2. «% , B, 18s. — Quanto & cxftica 20 Fotmalismo e ao Positivism, Son a dts Je Ypoes de'Welmns, pipament por Bast an, &. Smene. H, Heller eG, Holstes ‘Ea prope 0, as referéncias bibliog-Sfeas in< cadas na nota larmente, ainda H. Heller, Be- merkungen zur steacs- un 1en Problematik cer Gegenwart, BEC ENG Ta90 p, 321 gem especial p. 343 ¢ 4 “denagior. Elas condicionam-se sido, de diferentes formas, numa relagdo de incetdependéncia, Griando fegras ptéprias que nao 9 podem ‘ser _desconsidetadas. Devem ser contempladas aqui as condigées naturals. técaicas, econdmicas, ¢ sociais. A pretensio de eficécia da norma jutidi, $2 Somente serd realizada se levar em conta essas condigdes Hié de ser, igualmente, contemplado o substrato espititual que Se consubstancia num determinado povo, isto , 28 concepgbes is concretas ¢ o baldrame axiolégico que influenciarn de- cisivamente a conformacéo, o entendimento ¢ 2 autoridade das proposicdes normativas, Mas, — esse aspecto afigura-se decisive — a_pretensto de eficécia de uma norma constitucional nao se confunde tem as condigies de_sua realizarao, a pretensio de cficacla sata $¢.8 essas condicbes como elemento autdnomo. A Constituigfo nao configura, portanto, apenas expresso de um ser, mas tam- bém de um dever sec; ela significa mais do que o simiples Toile. x0 das condigbes faticas de sua vigéncia, particularmente as for. $28 sociais ¢ politicas. Gracas 4 pretensio de eficdcia, a Cofsti. ‘wigio precusa imprimir ordem e conformagio A realidade pall stica_¢ social, Determinada pela tealidade social ¢, 20 mesmo tempo, determinante em telacao a ela, nio se pode defihir co- mo fundamental nem a pure normatividade, nem a simples cficdcia das condigdes sécio-politicas e econdmicas. A forca con- dicionance da tealidade © s otmatividade da Constizuicio po. dem ser diferencadar elas ndo podem, todavia, set definition, mente separadas ou confundidas, @ usar a tetminologia acima referida, 'Constituiggo ‘onstituigao juridica”’ estio em uma relagao de coor. mutuamente, mas nao depen- dem, pura e simplesmente, uma da outra. Ainda que nib de forma absolute, 2 Constituigto juridica tem significado pro: prio. Sua pretensio de eficicia apresenta-se como elemen-o au. ténomo no campo de forcas do qual resulta a tealidade do Es- 1, A despsito de todas as diferensas de ponto de vista, essa concepcto da cists do ditcva afo se perden no pattado recente © no peseane, CE ¥-g, 0. Gietke, Die Grundbegriffc des Staztstechts und die Reuesten Sta, pistheorien ZgesSeW 30 (1874), p. 159; B. Huber, Recht und Rechtser ns ‘Michung (2. €d., 1925) p. 31 segs; 281 segs; B. Kaufmann, Das Weeen des Velkerrechts und die clausularebus sc stantibus (1911) passim, especial as 6 tado. A Cons re forga normativa na medida em gue logra cealizar essa preteasio de eficiia, Essa conser leva a uma outta indagasio, concemnente 46 pesibioeene as limites de sua realizacao no contento ample de déncia no qual esta preiensio de eficicia excontrann Como mencionado, a compreensto dessus possibilidadcs ites somente pode resulta da telagao da Comtituigio jas com a tealidade. Nao se trata, 2 evidencia, de tevclegy hova. Ela permanece uma obviedade para a Tena So ane do do, Conititucionalismo, pata a qual uma separssio snen Constituicdo juridica eo Todo da tealidade estatal ainda se afi- gure exttanha, Se estou 2 anaisa cortetamente, este enesng, Mento encontra a sua mais clara expressto nos esetitos pol cos de Wilhelm Humboldt. “'Nenhuma Consticuigdo politica completamente funda: da num plano racionalmente claborado — afirma Humbol faum dos seus primeiros escritos — pode logtar tito: were te aquela Constituigio que resulta da luca do acaso potency com'a tacionalidade que se Ihe opde consegue deskvolnne Em outros tetmos, somente a Constiuiglo que se Vinee: le a uma sieuagio histica concteta ¢ suas condicnantes ae tada de uma ordenacio juridics orientads pelos penmeccg da tazio, pode, efetivamente, desenvalvense. (Cordes de uma conseqiiéncia — actes: ata ele — da natureza comple. tamente singular do presente’ (aus det ganzen Boschaiine be: det Gegenwart), “Os projetos que a taste pretence correne zat recebem forma e modificacto do objeta mesmo 4 Gus ae ditigem, Assim, podem eles totnar-se duradouros¢ gackio ace lidade, Do conte sa gue seiam executaden, permane. Gem eternamente estéris.... A rezdo posts capaciae dar forma a matéria dispontvel. Ela nao dispée, forsa para produzir substincias novas. Bee foros i fa natufeza das coisas; a raz4o verdadeiramente sabia ‘mente p. 102 s., 107 s. 115, 125 s, 129 5.: idem, Untersuchungsausschug Und Staatsgerichtshof (1920), p. 68; resumindo ¢ paricularmente impres, sionante, com certeza, com uma tendéncia fundamental para harmonica, do: Kritik der newkantischen Rechtsphlosoph ¢ (1921) passim: D. Schin- Her, Verfassungstecht und sosiale Struktut (32, ed., 1956): com partislar 16 taslhe estimulo, procurando Ela mesma petmanece modestamente estagnada, As Constituigées ndo podem set sine gostas aos homens tal como se enxertain rebentos em arvotes, © © tempo ¢ a natureza nfo atuaram previamente, € como pretendesse coser pétalas ¢ dia haveria de chamuseé. Na monografia sobre 2 Constitui¢go Alema, de dezembro de 1813, desenvolveu Humboldt as seguintes teflexdes, “As Consticuigdes, aficma, pertencem Aquelas coisas da vida cuja tealidade se pode ver, mas cuja origem jamais poderd set to. tglmente compreendida e, muito menos, feproduzida ou copia. da. Toda Constituicto, ainda que considerada como simples gonsttusio tebtica, deve encontrar um germe matettal de sue forsa vital no tempo, nas cizcunsténcias, no catiter nacion necessitando apenas de desenvolvimento. Afigura-se altame lighas. O primeito sol do taatelehre (1934) passim, parciculasmente, p, der Bundestepublik zur europiischen Ve ng omden ‘At. 2 des Grundgesetzes und npolicelichen MaGnahmen, ASK 79 oT a echem Stat im Jane 1945" und seh ‘her, Verltendlichungen der Vetcinigung der Deuusicg Sears te 5), p. 33 5G. Lebholz, Verlaseungareche und Veiner ee eee 280 5: teoria da lntegragao latepescoesicned ‘forse pas ima aproximasfo entre nota ¢ fake aca cee {i endo entre ambos i come tesalada per Rc Snape (Artal hee Siomlehte in: Handwiterbuch der Sontabviveaschahen, Vee, ae medida em que ela vislumbra o problema como ups eendohon gee tinela espectica do Estado como abjete de distsline (eaten isio" (R. Smend, Verfasung und Verfisuinpeeste ine Qo bhandlungen (1935), p. 168} durch die neue franzbsische Konstitution ve- Ges. Schriften, organizado pela Preussische Akademie der (1903), p. 78 (Grifos meus). 7 & te precétio pretender concebé-la com base, exclusivamente, 10S ptincipios da razéo ¢ da experiencia’ Com essas assertivas, logrou Humboldt explicitar os limi- tes da forca normativa da Constituiga0, Se ndo quiser permane- cer “‘eternamente estétil’’, a Con: io — entendida a como "‘Constituigzo juridica’” — nto deve procurar const © Estado de forma abstrata ¢ te6rica. Ela nao logra’produzit ada que ji ndo esteja assente na natuteza singular do presen. te (individuelle Beschaffenheit der Gegenwart). Se lhe faltam esses pressupostos, 2 Constituigéo nfo pode emprestat 'for- ma ¢ modificagao"’ a realidade; onde inexiste forca a ser des- pertada — forca esta que decorre da natureza das coisas — nao pode a Constituicio emprestar-lIhe direcZo; s¢ as leis cultu- tais, sociais, politicas ¢ econdmicas imperantes sio ignoradas AStituicdo, cafece ela do imprescindivel germe de sua plina normativa contriria a essas leis no 10- eta concretizar Definem-s , possivel amplitude da forca vital ¢ da eficécia da 1,89 mesmo tempo, a natureza peculiar ¢ 2 nstituicao. ‘A notma constitucional, somente logra atuat se procura cons: trait o futuro com base na natutéat singular do presence: Tal como exposto por Huniboldt alhures, a norma constitucional ‘mostra-se eficaz, adquire poder e prestigio se for detetminada pelo principio da necessidade*. Em outtas palavras, a forca vin tal ¢ 2 eficécia da Constituigdo assentam-se na sua vineulacio as forcas espontineas ¢ 4s tendéncias dominantes do seu tem. Po, 0 que possi objetiva. 2 0 seu desenvolvimento e a sua ordenacio iva. A Constituigdo converte-se, assim, na ordem geral objetiva do complexo de relagdes da vida. die Wirksamkeit des Steates 2u bestimmen Vel. auch Denkschrift Uber Preuéens standis. Schriften 12, 232. presente (in ). Embora a Con ac nada, ela pode impor taretas, A ; em forca ativa se essas tarelas forém efetivamente realizadas, sé existit a disposigdo de orientar propria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, ade: peito de todos os questionamentos e resetvas provenientes dos de conveniéncia, se puder identificar a vontade de con- zat essa ordem, Concluindo, pode-se afitmar que 4 Const 'uigao converter-se-4 em forca ativa se fizetem-se presente: naconsciéncia geral — particularmente, cipais responséveis pela ordem constitucional —, nao s6 avon. tate de poder (Wille zur Mache), mas tambem ¢ toresde os Constieuicto (Wille zur Verfassung). Essa vontade de Constituicio origina-se de eés vertentes diversas. Bascia-s¢_na_compreensio da necessidade e do va- de_uma_ordem notmativa inquebrantével z Estado contra _o arbitrio desmedido e disforme, Resi de, iguilmente, na compreensio de que essa ordem constitui. da € mais do. gue tina ofdem legit nada pelos fatos (e que, | Pot s80s, mecebita. de esear em. constance procéssd de | Jo). Assenta-se também na consciéacia de que, 20 contrario do que.se dé com uma Iei_do pensamento, essa ok dk WENT gc 11. Com acerto obsenva G. to de Humbel ue, esteanhament pouco sobre uma vontade ct ‘capaz de estabelecer grandes metas e de lutar para a superacdo de re sisrénctas, De qualquer forma, cogi m mais de uma: inteligente adequagto a ima ce . 260). Também R. mend tare. Integrationscheey p3 mente of p gio te, 0 19 wa consciéncia dos prin: \~ que piotela 9 ist . oo ordem nao logra ser eficaz sem o concurso da vontade huma- fa, Essa ordem adquire ¢ mantém sua vigéncia através de atos de vontade:. Essa vontade tem conseqiiéncia porque 2 vida do Estado, tal como a vida humana, no esté abandonada 4 ago surda de forcas aparentemente inelutéveis, Ao contririo, todos nds estamos petmanentemente convocados a dat confor: magio 4 vida do Estado, assumindo € resolvendo as tarefas pot ele colocadas. Nao perceber esse aspecto da vida do Estado te- presentaria um petigoso empobrecimento de nosso pensamen- to, Nao abarcariamos a totalidade desse fendmeno ¢ sua inte- gral ¢ singular natureza, Essa natureza aptesenta-se no ape- ‘nas como problema decorrente dessas circunstancias inelucéveis, mas também como problema de decerminado ordenamento, isto €, como um problema normativo, | . 3. A forca que constitii a esséncia ¢ a eficécia da Consti- tuigfo reside na narureza das coisas, impulsionado-a, conduzin- do-2 e transformando-se, assim, em forca ativa. Como demons- trado, dai decorrem os scus limites. Dai cesultam também os essupostos que permitem 2 Constitucio desenvolver de for ‘i Outna4 sua fege normaca, Bess pressupostos referem- se tanto ao contetido da Constituiggo quanto 4 préxis constitu- ional. Tentazei enunciar, de forma resumida, alguns desses re- quisitos mais importantes. a) Quanto mais o contedido de uma Constituica lograr corresponder & patureza singular do presente, tanto mais segu- ro ha de ser o desenvolvimento de sua forga notmativa Tal como acentuado, constitui zequisito essencial da forca notmativa da Constituigo que ela leve em conta n0 s6 0s ele- ‘mentos sociais, politicos, ¢ econémicos dominances, mas tarn- bém que, principalmente, incorpore o estado espiritual (geiscige Situation) de seu tempo. Isso Ihe h& de asegurar, enquanto ordem adequada ¢ justa, o apoio e a defesa da consciéncia geral. Afigura-se, igualmente, indispensivel que a Constituicao mostre-se em condig6es de adaptar-se a uma eventual AGR NF 16, p. 341, 353. i } mudanga dessas condicionantes. Abstrafdas as disposicbes de indole técnico-organizatoria, ela deve limitat-se, se possivel, 40 estabelecimento de alguns poucos prineipios fundamentas, cujo contetdo especifico, ainda que apresente caracterisucas fovas em virtude das céleres mudancas na tealidade sscio-poli, tica, mostre-se em condigdes de ser desenvolvidov, A “const, nalizacao”” de interesses momentaneos ou particulares exi- ge, em conttapaitida, uma_constante revisto constitucional, com a inevitével desvalorizacao da forca notmativa da Consti, tuigdo. oe Fibalmente,» Consteuigio nfo deve asentase numa ¢s- trucura unilateral, se quiser preservat a sua fotca normative um mundo em procesto de permanente mudancs pelitico-so- Gial. Se pretende.preservar a forca notmativa dos seus princl ios fundamentais, deve ela incozpotar, mediance meticuloca ponderasio, parte da estrutura contrétia. Direitos fundamen. tais_ndo podem exist sem deveres, a, divisto de podetes hi. de pressipor a possibilidade de concentiacio de poder, fede ralismo néo pode subsistir sem uma certa dose de uni Se a Constituisio tentasse concretizar um desses ptincipios aé forma absolutamente pura, ter-se-ia de constatal, inevitevel, mente — no mais tardar em momento de aeeaniade eee gus ela ultrapassou os limites de sua forga normativa. A eal lade haveria de pér termo & sua notmatividade: os principios gue ela buscava conctetizarestariam iremediavelmente deo: gados. b) Um 6timo desenvolvimento da forca normativa da Cons- tinuigdo depende no apenas do seu contetido, mas também de sua préxis, De todos os participes da vida constitucional, exige-se partilhar aquela concepsio antetiormente por mim denominada vontade de Constituicto (Wille zur Verfassung): Ela € fundamental, considerada global ou singularmente. Todos os interesses momenténeos — ainda quando tealiza: dos — nao logram compensar o incalculavel ganho resultante do comprovado respeito 4 Constituigio, sobretudo naquelas 13, O fato de a Constituigdo americana estar assentada nesse prinefpio con- i ry nko a Gnica, mas, certamente, a fonte essencial de sua’ incomparave] a g situagdes em que a sua observancia sevela-se incbmoda, Co- mo anotado por Walter Burckharde, aquilo que é identificads como vontade da Constituicdo "deve ser honestamente preser. vado, mesmo que, pata isso, tenhamos de cenunciat 2 alguns benelitios, ou até a algumas vantagens justas, Quem se mostra disposto 2 sacrificar um intetesse em favor da presccvacao de um prine{pio constitucional, fortalece o respeito 2 Constisuicao ¢ garante um bem da vida indispensavel 4 esséncia do Estado, miormente 20 Estado democrdtico””. Aquele, que, 20 conttazio, ato te dipee a ee tio, ‘albatate, pouco a pouco, um capital que significa muito mais do que todas as vanta. gensangariadas, e que, desperdicado, no mals sera recuperado’™™ Igualmente perigosa para forsa notmativa da Cons afiguit'se 2 tendeack pats a freqlente revisto constitu | gob a alegacto de suposta ¢ inartedavel necessidade politica, Cada reforma constitucional expressa de que, efesiva ‘ou apatentemente, atribui-se maior valor as exigencias de indo- fe fftien do. que i ordem normativa vigente, ‘Os presedentes aqui sio, por isso, particularmente preocupantes. A freqiiéncia das reformas constitucionais abala a confianca na sua inquebran- tabilic debilitando a sua forca normativa. A estabilidade condicio fundamental da eficécia da Constituicio. Finalmente, a datespreagfo tem significado decisive pata idaglo € preservacdo da forca notmativa da Constl sho. A interptetaglo constitucional estd submetida a0 prinetpio da Stima conctetizagao da norma (Gebor optimaler Verwir- Klichung der Norm). Evidentemente, esse principio nfo pode set aplicado com base nos meios fornecidos pela subsungdo 16. gica e pela construgfo conceitual, Seo diteito e, sobetado, a Constit io, tém a sua eficécia condicionada pelos fatos con- cretos da vida, nfo se afigura possfvel que a interpretacao faca deles tabula rasa, Ela hd de contemplar essas condicionantes, cortelacionando-as com as proposigdes notmativas da Constitui. fo. A interpretagio adequada & aquela que consegue conctetizai, 14, Walter Burckhardt, Kommentar der schwelzerichen Bundesver‘essung Ga, ed., 1931) p. VII 22 de forma excelente, 0 sentido (Sinn) da proposigdo normativa dentro das condigdes reais dominantes numa determinada si- / tuagio. Em outras palayras, uma mudanga das relacées fiticas po- de — ou deve — provocar mudangas na interpretacio da Cons- ituicdo. Ao mesmo tempo, o sentido da proposigio juridica estabelece o limite da interpretacio ¢, por conseguinte, o limi- te de qualquer mutaggo normativa.’ A finalidade (Télos) de uma proposicio constitucional e sua nitida vontade normativa nao devem ser sactificadas em virtude de uma mudanga da sic tuacio. Se o sentido de uma proposicao normativa nto pode mais ser realizado, a re itu inevit vel. Do conttirio, ter-se-ia a supressio da tensdo entre notma ¢ realidade com a supressto do préprio diteito. Uma interpre: tagho construtiva é sempre posivel e necessfria dentio deves es. A diadmica existente na interpretacio construtiva cons titui condicio fundamental da forca normativa da Constitaiczo. ¢, por. conseguiate, de_sua,estabilidade, Caso cla venha a fal: tat, tornar-se-4 inevitvel, cedo ou, tarde, a ruptura da situacgo, jutidica vigente. oe 23 40 -m- 1. Em sintese, pode.se afitmar: a Constituiglo jusidica esté nada pela realidade hist6rica, Ela no pode ser sepata- lidade concreta de seu tempo. A pretensio de fics. cia da Constituicto somente pode ser realizada se se levac em conta essa realidade. A Constituigio juridica nao configura ape. ‘as a exptessio de uma dada sealidade, Gracas ao elemento Aotmativo, ela ordena e conforma a realidade politica ¢ soc ibilidades, mas tembém 0s limices da forca normuativa set (Sollea). : fh Cgnstitugto juidica ogra confetic forma e modifingao a realidade. Ela logra despertar '‘a forga que reside na nature. za das coisas”, torando-a ativa. Ela propria converte-se em forca ativa que influi e determina a re . Essa forca impée-se de forma tanto mais efetiva quanto mais ampla for 2 convicsi0 sobre a inviolabilidade da Constituigio, quanto mais forte mostrar-se essa conviecio entre os princi ipa fesponsiveis pela vida consticucional. Portanto, a intensidade da forca notmativa da Constituicio aptesenta-s2, em primeiro Blano, como uma questio de yontade normativa, de vontade le Constituigao (Wille zur Verfassung). Constatam-se 0s limites da forca notmativa da Cos gio quando a ordenagio constitucional ngo mais se basela wa Ratureza singular do presente (individuelle Beschatfenhei” det Gegenwart). Esses limites nfo sto, todavia, precisos, uma vez que essa qualidade singular € formada tanto pela’ idéis de yontade de Constituiséo (Wille zur Verfassung} quanto pelos fatores sociais, econémicos ¢ de outta natutess. Quanto maais intensa for a vontade de Constituicéo, menos significativas hio restrigbes ¢ os limites impostos 4 forea normativa da ‘oA vontade de Constituicdo nao € capaz, porém, es limites, Nenhum poder do mundo, nem iso, pode alterar as condicionantes na nde, portanto, de que se conforme 2 Constituie lidade politica e s a 1.2 sua forca notmativa, entio ela configu. a capaz de proveger a vida do Estado con- idas do arbitrio, Nao é, portanto, em jué a Constituicéo'normativa vé- se submetida @ sua prova de forca. Em yetdade, esta prova ruacdes de emergéncia, nos tempos de necessidade, Em determinada medida, reside aqui a relativa verdade da co. ida tese de Carl Schmitt 5 egundo a qual o estado de ne- cessidade configura p ial para a catactetizaczo da for- tiga 2 normativa da Constitu Importante, todavia, nao € veri- car, exatamiente durante i serlori dade dos fatos sobre o signi ‘mativo, mas, sim, constatar, da norma sobre as citcunstincias fiticas 2. ‘Tudo isso nto significa mais do que uma primeira orienta: {fe bésea em relagdo aos problemas anteriocmente enunciados, 2 otlentagto fornece, port, évia as ques: \oes colocadas. A Constitnicto’jurfdica nfo significa simples pedaco de papel, tal como car erizada por Lassalle, Ela nfo se afigura “'impotente para dominar, efetivamente, a distribui sao, de poder”, tal como ensinado por Georg Jelliack ¢ hodiernamente, divulgado por um naturalismo ¢ so, spo que se pretende cético. A Constituigéo no estd desvingcla, da da ealidade histética concreta do seu tempo, Toeavie ela fio est condicionada, simplesmente, por essa realidade. Em car so de eventual confit, a Constsiiot nto acre considerada, ‘ecessariamente, a parte mais fraca. Ao contrétio, exstem press. ostos realinaveis (realizierbate Vorausseteungen) que, ¢nesmo Gm caso de conftonto, permitem assegurar a forca notmativa de Constitulcto. Somente quando esses ressupostos nto, pudetem set satisfeitos, dar-se-& a conversto dos problemas constityconas ‘enquanto questées juridicas (Rechtstragen), em questées de ‘poder (Machelragen). Nesse caso, a Constituicto juridica sucumbiss exe face da Constituigio teal. Essa constatagio nil justifica que se ne, 25 gue 0 significado da Constituigto juridica: o Di ‘nal no se encontra em contradicao com a natureza da Cons! Postanto, © Diteito Constitucional nao esté obrigado a aba cat de sua posicéo enquanto a cientifica. Se a Con: fo juridica possui significado al, no se pode cogitar de enquanto ciéncia juridica. ciologia ou da Ciencia Politica — uma ci &mera ciéncia notmativa, tal como imaginado pelo positivismo formalista. Contém essas duas caractetisticas, sendo condicionada tanto pela grande dependéncia que o seu objeto apresenta cin re- lagfo a realidade politco-social, quanto pela falta de uma garan tia externa para a observincia das nommas constitucionais, Ee dade, esse fato mostra-se mais evidente na ia do Constitucional do que em outras disciplinas juridicas conexio, na Constituicao, entre a notmatividade ¢ a yincilaczo do diteito com a tealidade obriga que, se no quiserfaltar com 9,seu objeto, o Diteito Constitucional se conscientize desse condi- sionamento.da notmatividade. Para que as suas proposicbes te- ham consisténcia em face da realidade, ele nao deve contentar- se com uma complementacéo supecficial do “‘pensamento jutidi- 9 rigoroso” através da adocio de uma perspectiva histOrica, so- cial, econdmica, ou de outra indole», Deven ser examinados to- ds 0s elementos necessérios atinentes as sicuagées e forcas, cura guagio afigurwse determinante no funcionamento da vida do Estado. Pot isso, 0 Diteito Constitucional depende das ciéncias lade mais préximas, como a Histéria, a Sociologia e 2 Sco. , Isso significa que 0 Direito Constitucional deve preservar, modestamente, a consciéncia dos seus limires. Ate porque 4 fora notmativa da Constituicto € apenas uma das foreas de cts ja atuaglo resulta a realidade do Estado. E esta force term tes. A sua eficicia depende da satisfacdo dos pressupostos ma enunciados, Subsiste para o Diseito Constitucional uma enor. me tarefa, sobrenido porque a forca normativa da Cons cho nfo esd essegurada de plano, configurando missio qui somente em detetminadas condigbes, poderd set realizada de 15. R Smend, An," ionslehce"', p, 300. 26 forma excelente. A concretizacao plena da forca normativa cons- meta a ser almejada pela Cténcia do Ditcito Constitucio. Ela cumpre seu mister de forma adequada nto quando Procura demonstrat que as questdes consti icionais sio ques- UES Ge odes, mas quando envida esforcos pate evitar que clas se convertam em questées de poder (Machefiagen). Em outros termos, 0 Diteito Cons: tat as condigdes sob 33 Gh notm adquitit a malor eficécia posstvel, propiciando, yolvimento da dogmética eda’ interp Pottanto, compete 20 Direito Constit € prescrvac a vontéde de Constitmied face do fascinio exercido isso de "recor, gsochung und agi, Rechusfra in: Vethandiungen des Schweize. 27 1h -IV- Tendo tido oportnidade de consciecitizat-nos dessa pro- blemética, tentarei, finalmence, demonstrat a sua relevincia com base ‘na anilise da ordem constitucional vigente. Pode-se imaginar que o status dominante repudia, de for- ma clara, todo ¢ qualquer questionamento da Constituicio ju- ica. Em verdade, existem elementos que ressaltam 0 pecu- liar significado attibufdo 4 Constituigao juridica na vida do Estado moderno, A politica inteina afigura-se, em grande me- dida, ‘‘juridicizada’”, A argumentagZo ¢ discussio constitucio- nal assumem particular significado tanto na relagio entre a Unito ¢ os Estados, quanto na relacio entre diversos Srgaos estatais e suas diferentes funcdes. Embora clas parecam, por natureza, refratérias a uma regulamentacfo juridica, até mes. mo as forgas que imprimem movimento ¢ difesto & vida politi- ca — 0s partidos politicos — estdo submetidas & ordem consti- tucional. Os princfpios basilares da Lei Fundamental nfo po- dem ser alterados mediante reviséo constitucional, conferindo preeminéncia 2o principio da Constituigao jusidica sobre o pos- tulado da soberania popular (I). © significado superior da Constituigio normativa manifesta-se, finalmente, na quase ili mitada competéncia das Cortes Constitucionais — principio até entio desconhecido —, que estéo autorizadas, com base em parimetros juridicos, a'proferir a Gltima palavra sobte os conflitos constitucionais, mesmo sobre questées fundamentais da vida do Estado. A Constituigio nfo ficou limitada a esses aspectos, Até mesmo no Ambito do Direito Civil, que antes Bareisrigorosumenteiolado, asegura-se-he, através da juris iglo dos Ttibunais Federais, ‘uma posigio de relevo. Todo esse complexo nfo deve ser subestimado, Nos nfo devemos, todavia, olvidar que estamos colocados, de forma particular, dizare'do problema relativo & forga normativa da Constituicao. Te! como acentuado, a forga normativa da Cons- tituigto depende da satisfaguo de determi ressupostos tinentes A prax’s e 20 contelido da Constituico, Esses pressu- oss ado foram sind voealmente saiseiton (DV. nota do Tradutor no final do livto. 28 ‘Aguela posicfo por mim designada vontade de C so (Wille zur Verfassung) afigura-se decisiva para a praxis cons- Ela €fundamental-considetaga plobil ou sate, .O observador critics niéo poderd negar a imptessio” de gue nem sempre predomina, nos dias atuzis, a tendéncia de sactificar interesses particulates com vistas 2 preservagao de um postulado constitucional; a tendéncia parece encaminhar- se para o malbaratamento no varejo do capital que existe no fortalecimento do respeito 4 Constituicéo. Evidentemente, es- sa tendéncia afigura-se tanto mais perigosa se se considera que a Lei Fundamental nao est plenamente consolidada na cons- cigncia geral, contando apenas com um apoio condicional” Nao menos sign: afigura-se 0 questionamento da forga normativa de varias disposigOes constantes da Lei Funda: enti itas vezes foram ressaltadas as tensOes existentes en- 0 Direito Constitucional ¢ a realidade constitucional no sis. tema da Repdblica Federal da Alemanha». O exemplo m: conhecido — ainda que nao constitua exemplo fundamental refere-se ao art. 38, I da Lei Fundamental, no qual se estabele- ¢¢ que os deputados do Parlamento alemio so representantes de todo © povo, ‘nfo estando vinculados a otdens ou instra- seesv. Embora passe fmuitas vezes despercebido, o perigo do divétcio entre 9, Direito. Consttucional ¢ a realidadk sa um elenco de principios basilares da Lei Fundamental pat- Ws sia observahes de W. Kigiop, cit. p. 762 «) éemonstam ue essa consraracdo expressa uma tendéncia geral, que nfo se limita 4 Rez l da Alemanha c & sua pouco ttadicional Co 18. Cf. particularmente W. Weber, Spannungen und Kriifte ir Verfassungssystem (2a, ed., 1958). ° seen imesrdeuichen kturwandel 7 Paebe tha moderna democracia institulda la Constituisho, Ele nfo estd em contradicto com o art. 21, sent figara uma conseqdéncia desse dispo mente 9 postulado da liberdade, Este se torna um sério problema no contexto da profunda mudanga de concepcio de vida do homem moderno, resultante das condig6es impostas pela sociedade industrial, Aqui se encontra o presente confrontado, em toda profun- didade, com a indagasio sobre a efetividade das normas jurid cas no contexto de uma realidade dominada por correntes ¢ tendéncias contradit6rias, O questionamento da Constituigao ‘no decorre de um estado de anormalidade, Ao contririo da Constituigdo de Weimar, a Lei Fundamental (Grundgesetz) — promulgada numa época de inesperado desenvolvimento eco- némico ¢ sob a influéncia de relacdes politicas relativamente gstéyeis — nao foi submetida 2 uma prova de forca, Como re- fetido, as situagées de emergéncia no ambito politico, econd- ‘mico ou social configuram a maior prova desse tipo para a for- ga normativa da Constituicéo, uma vez que elas nao podem set resolvidas com base no exercicio das competéncias conven cionais previstas na Constituiggo. A Lei Fundamental (Grund- gesetz) no esta preparada para esse embatex fo 1°, 3° petfodo, na medida em que assegura 2 democtacia interna nos pattides,garamindo 0 desemnolvimento inc oye 9 Pree gee asto de opinito pablica. Esse aspecto foi ressltado por O. Kite ieimer arestsbearung Masendercece Europa, AGR 79 (1953/54), heimer (Parteistrukeur unc fechner, Die soziologische "Das Bade der Neuzelt (1950) p. 66-5 21, CE. a proy 1955, 7415, fe ‘iseusto a props de esclatecer a proble: iscussto a prop6sito, antes de examinar questbes partculucs Por iso, fi, na intodugo balho, uma apresentagio exemplificativa e nfo um catélogo exaus possiveis situagBes de emergéncia, acentuado que, hodieinamente. €as0s ndo se deieam mais deter a eu, portanto, decisivo emprestar uma detetminada confoimasio 20 to do estado de necestidade (Recht des Ausnahmezustandes), afigurando- serme suficiente que o problema seja identificado ¢ levado a sério. 30 Em virtude da expetiéncia colhida com o art. 48 da Cons- ‘twigdo de Weimar, a Lei Fundamental (Grundgesetz) nfo ado. tou qualquer clausula especial para 0 estado de nccessidade. Para essas situacdes, dispOe ela apenas de comperéncias i das e esttitamente limitadas, que nio se afiguta Data aztostat situacdes de perigo relativamente sérias. A ques. Go. sobre 0 estado de necessidade nao precisava ser decdida definitivamente em 1949, uma vez que, nos termos do Estat to de Ocupasio, esse tema integrava as matétias reservadas competéncia dus Forgas de Ocupacao. Nos tetmos do art, 5° Ido Tratado sobre a Alemanha (Deusschlandsverttag), essa te- serva somente haveri de extinguir-se quando as autoridades alemis ceceberem a cortespondence autorizacio legal, passan. do a dispor de condigées para enftentar sérios distarbior da se. guranca ou da ordem piiblica (Il), Essa autorizaedo nao existe, subsistindo, portanto, a cléu- sula autorizativa da intervencio das Forgas de Ocupacio. Toda, via, cla somente deveria tornar-se atual em caso de uma ame. asa externa ou de uma agtessio contra a Replica Federal da Alemanha. Outros casos de ameaca para a ordem e seguranca pablicas ou para a vide constitucional, decottentes, pot exem. Plo, (de profunda crise econdmica (wittchafdlicher Notstand), ‘no foram contemplados, pelo menos em primeiro plano, pe. Io at. 5° do Tiatado sobie1 Alemants (Deurschlandsvercrag). Resta indagar se as trés Poténcias, eventualmente, fardo uso de seu poder de incervengao, Nap Se Pode, portanto, negat que, ressalvadas as excecdes.referidas, 2 Repiblica Federal da Alemanha nfo disp5e de um estatuto juridico sobre o estado de necessidade (II Sem davida, « existéncia de comperéncia excepcional csti- mula a disposigfo para que dela se faca uso. Esse perigo exis. te. Maiores riscos poderto advir, todavia, da falta de coragems losung, aegar esse fato, como faz oA. Hammann fo devetiam ser desconsideradas aqui as experiénciat rang ve eausar admizagdo que uma perspectiva limitada 1 gxisefacia da norma acabe por escamoteat 0 problesna da forta nocmavs da Constiuigao, at Ae de enfrentar o problema. Trata-se de um tertivel engano ima- ginar que, por nfo ser esperada, uma ameaca nao se deverd concretizar, Caso se verifique essa situacto, faltara uma disa plina normativa, ficando a solucdo do problema entregue ao oder dos fatos. As medidas eventualmente empreendidas po- leriam ser justificadas com base num estado de necessidade suprapositivo, Ressalte-se que o contetido dessa regra juridica Ssuprapositiva somente poderia expressar a idéia de que a neces sidade no conhece limites (Not Feane kein Gebot). Tal propo- sigdo no conteria, portanto, regulacio normativa, nfo poden- do, por isso, desenvolver forsa normativa. Assim, a tentncla da Lei Fundamental (Grundgesetz) a uma disciplina do esta, do de necessidade revela uma antecipada capitulagdo do Dirci- to Constitucional diante do poder dos fatos (Macht der Fak- ten). O desfecho de uma prova de forca decisiva para ¢ Consti- tuicdo normativa nao configura, portanto, uma questio aber- ta: essa prova de forca nao se pode sequer verificar, Resta ape. nas saber se, nesse caso, a normalidade institucional sera resta- belecida ¢ como se dard esse restabelecimento, Nao se deve esperar que as tenses entre otdenacio cons tucional ¢ realidade politica ¢ social venham a deflagrar sério conflito. Nao se podetia, todavia, prever o desfecho de tal em. bate, uma vez que os pressupostos asseguradotes da forca nos. mativa da Constituicgéo nao foram plenamente satisfeitos. A tesposta & indagacao sobre se o futuro do nosso Estado € uma ‘questao de oder ou um problema jucidico depende da preser vagdo € do fortalecimento da forca normativa da Constituiczo, bem como de seu pressuposto fundamental, a vontade de Constituigio. Essa tarefa foi confiada a todos nés 32 Notas do Tradutor (I) A Lei Fundamental consagrou, no art, 79, Ill, cléusula pé- tea que considera inadmissivel qualquer reforms constitutio. nal que pretenda inttoduzic alteragio na ordem federativa, modificar a participacio dos Estados no processo legislativo, ou suprimit os postuilados estabelecidos nos arts. 1§ (:nviolabi lidade da dignidade humana) ¢ 20 (estado republicano, fede- ral, democritico ¢ social, divisio de poderes, regime tepresen- tativo, principio da legalidade). Segundo a jurisprudéacia ‘da Corte’ Constitucional alema (Bundesverfassungsgericht), essa dlsposgto tem por escopo impedit que “z otdem constituio nal vigente seja destrufda na sua substincia ou nos seus funda- ‘mentos, mediante a utilizagto de mecanismos formais, pecmic tindo a’ posterior legalizacdo do regime totalitério'” (BVertGE 30,1 bod (Cf. a propésito, nosso ‘‘Controle de Constituciona- lidade"", Sao Paulo, 1990, p. 96, 100 S.)e (II) Na declaracdo de 27.09.1968 reconheceram as trés antigas Forgas de Ocupacto que, com a entrada em vigor da 17a. Emen- da & Lei Fundamental ¢ da Lei que disciplina o sigilo de cor- respondéncias postais, das comunicagBes telegraficas e telefoni. cas, ter-se-ia verificado’a extingdo do seu direito de intervencao (cl. sobre o assunto, Hesse, Konrad, Grundztige des Ver- rassungsrechts, Heidelberg, 16. ed., 1988, P. 286, n§ 762). (Il) Como ressaltado por Hesse, a Lei Fundamental nfo esta- beleceu, inicialmente, um escatuto sobre o “Estado de necessi- dade’. Limitou-se a disciplinas 0 chamado ‘Estado de neces. sidade interno" (innerer Notstand) (att. 37; att. 91). Compe. réncias mais amplas, nesse aspecto, foram asseguradas pela Re- forma Consticucional sobre a Defesa (Vertecigungsnovele) de 19.03.1956. A Emenda Constitucional n° 17, de 24.06.1968 introduziu na Lei Fundamental a base de um estatuto do “Es- t2ao de necessidade", com a modificacao ou a introdugio de 28 artigos na Constituigio. O Estado de necessidade envshes 33 COBRA ORIGINAL SNICA DO GENERO (2 Betado de necessidade para afastar ameacas ou perl uve Bigntes de eatéstofes, acidences graves ou sremsdice ns gifem fundamensal do Estado | taedsmrtitio 410 plano federal ou estadual innerer Novstand); (5) lstade de nee 5 dade" detecminado rox aoe errr (auBeter Notstand), CURSO DE ALEMAO PARA JuRISTas 08 casos de defesa (Verteidigungstall) (LE. art Sa par, 1 ¢ (Deutsehkurs tar Juristen) 32) tensto externa (Spanungstall) ( LE. att 80a Pat, 1°), 3 . decisio da Organi: '¢40 Internacional de Defesa (Buindnisklou, 1 volume com 440 paginas Ina Warneke Ashton sel) (LF, art. 80a pas, 3, ‘demas, prevése, no art. 81, da Ppmuadamental, o estado de necesidade legislative (Cesecs P4s longos anos de experitncia come professora de gsbungsnorstand}, em caso de que mosto de confor Beméo, lefonando para interesados ns disciplines fork hanceler Federal nfo seja aprovada pelo Patlamene (a, 68) Sat Fields de Direito de Porte Alegre (UPROS, Si agsme assim, 0 Presidente da Reptiblica nao dereminc’. goin teimulouvaliosasobsecvagesnapaticuar pods is isolusto, configurando a necesidade de formate de z0gia de ensino do ih um Governo de Minotia. Nesse contexto, se um profes ie seasiderado usgente pelo Governo nfo for aprovad pels Ss mento, podert o Presidente da Repablica, com a aprovasio joma aleméo para juristas. As expe- riéncins diditicas de resultados positives tars, Feunides Mreciane € fevelam. « metogologia apropriads para 6 go Censtlho Federal (Bundesrat), declarar 6 code dees cm pete ati br ip did iegisativo, Nese cis, rejetdo, una ver as Cee tim © comin oe ane? insipens6el para agile ene to de let em aprego, aprovado com miodificagsee easels Mencia oe ama alemgo, mas cesses wa inaceitéveis pelo Governo, ou ainda, se nfo logare ete fuéneia na termina apo nede end BOF enceirada a sua tarefa, considerandose ew, gprovada no cases de sua simples aprovagto pelo Conclng ue eral (Bundesrat) (LE, ar Coes Hndispenssvel para os juristes interesados no Sitio exame da grande doutrna jurdien alent. as antiga © moderna infiuéncia em nosso Direito Saiits nas lvtariasespeciatiagdas ov diretamente SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR RUA MIGUEL COoUTO, 745 TELEFONE (0512) 33.2681 CAIXA POSTAL 4001 90000 PORTO ALEGRE, as,

Você também pode gostar