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2. INTERDISCIPLINARIDADE £ OBJETO DE ESTUDO DA COMUNICACAO lu. Martino Marcado pela sucessio de modelos epistemoldgicos, 0 séeulo XX assatin 0 nascimento de vias disciplinas cient ficas. Um panorama do desenvolvimento das Cigneias Hu- ‘manas, mesmo superficial, 8 seria suficiente para. n0s eve- Tara notiria importineia que adguiriram os saberes organi- ‘z2udos em torno das processos comunicatives, Da profunda {nilutacia proporcionada pelo aparecimento da Sociologia, fazendo com que as Ciacis Humanas incorparessem uma anlise do social céleieafirmagi do “inconsciente exe turado como linguagem”, € 0 conjunto dessas ciéncias,¢ fncsmo a Filosofia, que Wem, nusm cuto espago de tempo, ‘Sou centro de pravidade se deslocar para a problemitica da ‘comunicagéo. Paralelamente a este deslocamento nds assstimos a0 apa ecimento de um novo saber espeeializado, e, mais do aie tum stber, uma nova disciplina cienifes, eujo objets processos de cominieagao. Ora, sem desmerecer tod 0 ta palo acumulado nesta matéri, nfo se pode deixar de rec0- shecer, entrtanto, que esta “jovern”clGncia jamais conse~ zi define de maneirasufieente seu objeto de estudo, 0 wean ‘ual permaneee tio vaste e diversificado quanto as proble- iméticas que compem as ciéncias de homem. Seria um engano primo achar que a natureza intendis- ciplinar de um certo estudo podria dispensar este trabalho Ae definigao de sen objeto. Pelo contro, ela exige um es- forgo redobrado, na medida em que este objeto tende, como ‘nn easo da Conminicago, ase confundircom 0 objeto de ou tras ciaciss. Na realidad, aafiemagSo perempréria da nati rez interisiplinar a Comunicacao &, em grande parte, testemunho paradoxal tanto da sobrevivéneia quanto da Si posta superagio de um problema que estranhamente rest Puce abordado, sen intzcto: 0 eoblema da defini do Dbjeto de estado dessa dseiplna. Problema euja verdadeira dimensio somente se revela& media que se tem em conta a Fiqueza seminticn da palavra“comunicagdo”, a8 diferentes lunversos que ela evoca, mas sobreudo o fat que os roses 0s comunicativosatravessam praticamente toa a extensio das Ciéncias Humanas. Estes process se identfieam coma cultura, mas igualmente com grande parte da atvidade psi- coldgica, eles constiwuem a materia da andlisehistOria © se sobrepiiem a extensts zonas dos processos socias. Em on ‘nas palavras, a natureza dos estudosem Cigneias Humanas— que tém no homem, um ser essencilmente comunieativo, seu objeto comum~ faz com que a anise dos processas co: rmunicatives seja um ponto de passagem quase que obrigat®- rio, o que dficukta a delimitapo mais precisa do objeto da Comunicagio, uma vez que ele se enconirs mistrado 48 anilises de outrasdisciplinas. Wilbur Schramin, numa ob- Sservagioque soube resist usura do tempo, sintetizava esta ddimensio do problema ao dizer que a Comunicag30 € uma ‘espéciede encrzithada pela qual muitos passam e onde pou ‘05 permanecem. Neste sentido, ¢ previo colocar seriamen- {eo problema das relagdes da Comunicagdo com as outras slisciplinas das Cincias Humanas,e perguntat, pot exetn= plo, em que medida aanlise do dissuso nZo éabra do filé- Jogo de literato ou do lingtsta? Em que medida a formato a esi {Gr opinidopiblica edo confioideoligico nfo pertencem 80 ‘dominio da Sociologia ou das Cigncias Politica e seus expe cialistas? Ou, em que medida oestudo do signo a ¢ sim plesmenteo tabalho duns psicologia gral on de uma Sofia do conhecimento? Em outraspalavtas, qual a especifi- ‘dade do abalho daquele que estuda a Comunicagl0 coma ‘isciptina autdnoma? ‘A questto reside entio na possibildade de estabelecer particular de um campo de ands de um saber que rapa rece como ofundamento das eiéneias do homem, ora apate- como uma simese do produto dessus ciéncis, Em todo ‘as0, 0 que se véhoje em dia 6a Comunicacso passar drei mente do sentido filoséfco parao sentido radicalmente in ‘erdiseiplinar, sem espago para a constituigao de uma disei- pling auténoma. ra, se a Comunicagio pretends ser uma disciplina © postular umn tgar ao Lado de tantas outa, € preciso que cla Ssja mais que uma intersegio passiva ou unt sinmplesefeito se diferentes orientagdes do saber. Trata-seentfo de pensae uma interdiseiplinaridade que seja frat de uma exigéneia do prdpro objeto, o que pressupde a explicitagioe a defini sa deste objeto, © probiema ndo é novo, senco correnteaopinifo de que ‘uma visio retrospectiva dos estos dt rea revelaria & nicagio ea cultura de massa. Ainda que em suas linhas go- rais estes pardmetros permaneyam vilidos, duas observa- ‘bese impaen 1) Primeiramente seria preciso rever mais atentamente 0 ‘que realmente as grandes escola chamam de meios de ¢o- ‘municecio ede cultura de massa, O fineionalismo america ‘no ao qual se aribui inadvertidamente a anilise dos meios se comunieagi0 ~ esti na verlade longe deter um conceito ‘a maria. A fragmentaedo analitica do process cormanica- tivo esquema de Laswell) sua busca dos efeitos da coma » nicagdo de massa cstabelocem um quad de anise que aca- tsa por eondicionara desenvolvimento dis pesquisa de modo ‘nto prvilegiaroestudo dos meios de comunicagio, Repre- Sentado por diferentes tradigdes de pesquisa 0s objets bis- toricamente privilegiados pelo Funcionaismo sfo: a persua- ‘io, 0 controle soci, os soso gratifieages, os processos {e produgo da noticia. Nao se encontrar ai nenhoma pes- ‘quisa conceptual ou terica sobre o que é um meio de con ‘ious, O gue represenaria um ero primrioe capital para ‘uma empretada que se pretende cientfia, caso perseveris- ‘semos ett atribuir @ esta escola uin objeto que no ¢ exala iment o seu, Restritoa observngi daclicdcia dos processos ccombnieativos, 0 funciosalsmo americano negligencin a ‘anilise dos insirumentos tecnalégicos envolvidos nesses pracessos, como negligenci ambeém a analise da dimensio bistévien da pertingncia desses instumentos, quer dizer, andlise do processo através do qual os mcios de eomunica- ‘Go aque Sua eficaeia so emergirem como elemento es tratuaate de uma sociedade historicamente dada, De outra parte, orientagSo sintticaadatada pela Escola de Frankfurt ~fortemente influenciada pelos concetos mar- ‘xistas alienag, idcologa...,«talvez demasiadamente vol tad a uma abordagem politicn-econdmica das processos de ‘comunicagdo de massa ~ seria preciso integrar uma anise ‘dos meias de comunicagao no gus toca sua eficacia enquanto tecnologia da nteligensa, como faz Jack Goody, par exea- ‘lo ae, ideniieande a enftura com os processes comuni ‘ativs, 9 nos mes de eomunicagao (em outras eenolo fia da inteigéneia) a possbiidade de fundamentae 2 pro- blemnitica da cultura em uma base postiva-, pois € previo que os estudos de Comunicapio nie percam os gos com 0s Aispositives teenolégicos na based process. —@ _2).0 que nos leva noss segunda observagto, ja que & ‘vidente que a oposigio entre meios decomunicaedoe cule 2 ¢.um tant artificial, devendo ser superada por uma analise ‘inte gre estes de Fatores. Nao se trata, porém, de subse ine tio eno treo mir uns termo no outro, emo é moda com 0 determinisme teenologieo (a teniea provalece sobre a cultura), nem a contro de desintegr objeto ds Comunieago numa me- ‘afisica da cultura (a cultura desencarmada de sua material Ah), Tam ado sopodependerde via qusocbieto at cquguatio id ac qulgue enbaeas conTSOY, Ripe euuleseatie Sinan Rane sel Os proessoscominiatvesn ner daca de as- su contiuemcoramenteo chet da Commicoyio, mas raterscnialienavel eortanto mais pra et disci tn esde ma penpetva qe abt, ou se, on inept (io does prcers endo com basen qr fre dou frees dscomvnicardo, Treacle malctrado social eal dude por oe mice do comumiago.o que squvale di Zer que msiny de comuicago © cutie masa no se pbc, uem poder et euidos um a oto, a corre, clesexigm una op dereipcidadeecompleneng, En linlas gers, isto sera suiciente para caractri- zar o objeto da Comunieagio; nfo obstante, pode-se apro- Tundac a questio 20 iavocar-se uma outa dimensio do pro- bem, aquela reference’ sua pertinencia, Ouscja, adimen- sho onde $2 eoloca a questo da propria necessidade de co- ‘municar, necessidade corcltae subjacznte a todo proces so comunicatvo, Distinguims a: 1) problema flosSfico dla comnicagao enquanto fundamento do home: 2) opro- Fnlema histérico da toma de signifieagio dos processos ‘comunicaivos a partir da emergéncia de um tipo de organ ‘zag coletiva determinada Pode-se encontrar um bon exemplo do primeicoaspecto ria obra co filésofaalemio Friedrich Nietzsche, o avangar tna ese de que a comunicaco guarda uma esteitacorrelaga0 ‘com o apareeimento da conseigncia. Mais precisumene, ‘consign em Sa acepedo propriaments humana nasce da recessidade de comuniear, de onde @afimagéo de que “a Woe ‘cansciéncia & uma rede de comunicagio entre os homens” Exprimindo 0 fenémeno mano em terms de ma mani- ‘estago comunicativa, Nietzsche consegue superar adicoto- mia ene processos psicoldgicuseprocess0s ociasaoreve- Jacasua génese comuim, Dicotomia pica dos auais estos ‘decomunicagio, quetendem a separate tratarde manera in- ‘dependent ests dois niveis do processo comunicatvo, Além ‘do mais, a formulago nietscheana tem o mérit de indicar ‘cortetamente a natureza do processo comunicativo como um en6mene de conseiénca,fendmeno simultaneamente cole- tivo e individual. ‘Ho segundo problems nos remeteparaa questo histirica «ds ransformagies nas estas coletivas, Sabe-se qe ao ganizapio social softeu profundasalteragbes por voli do sé- ‘elo XVI. Crises politico-socinis, a Revolugao Industal, 0 Aaparecimento do mercado, adissociagdo do poder esata do oder do clero, a explosto demogriiea, a emergéncia do indi- iduo mvlemo,. entre vieios nuts fatlores,levaram os $0- «idlogos a verem nests tranformagdes uma rmuanga de na- tureza das erganizagées coletvas. les saudaram a nova of dem social emergente como um novo tipo de organizagao co- letva (Sociedade), com caracteristicas bastante singulares, ‘em aposigao ao tipo da antiga forma de otganizacto (Comuni- dae). Dente esas caractritcas emergentes destagenos Sobretudo 0 desiocamenta do eento da vida soci, indo do pasado para 0 presente. Max Weber sintetiza muito ber a questo 2 indicara proFundaalterago no med de insereao do individu na coletividade:j no so mais os ages de san gue 00 os valores da tradigio que determinaro a isergio do individuo na coletividade, mas iata-se agora de um problema, ‘que cada individuo tem dante desi, e que no pode ser esol ido sem levar em consiragio a vontaderacional de seinse- rica coletividade. Dito de outro modo, os valores da tadigao ‘nfo podem mais gatanir a inser-o do individuo no espago coletivo,poiseste aqui ulrapussa odmbito da simples Comu- nidade. De estrutura muito mas complexa, a onganizagao em @ ane tend Scone forma de Sociedade pressupi o convivio de uma multiple dace de comunidades, que por vezes cheyam a se recobrirem parcalmente,ecuja forma édada, em grande pare, pela di Sto social do trabalho e pelos grupos de afnidades, mas que ino se vestinge a este nico aspect. rata de um aglome~ ‘ro de cominidades maison menos efemers, que refletm, tna realdade, as mitiplas asociagbescireunsancias que o individuo esahclece ao longo de suas elagGes com grupos i tas (trabalho, vizinhanga, eseol, eirele de amizades..) no processo de formagzo de sua idenidade, Desse modo, oindi- “ilu no tem se vineulocoletivo, nem sua identidade, ase _gurades de antemto pela traigao, mas deve constu-ts ata ‘és deseuengajnmento espontineo a diversidade das formas coletivas de agrupamento, Podemios eno precsar © problema da necessidade de ccomunieagto, no segunda sent acima mencionado, obser- vvando que a forma de organizagio coletiva que dispomos hojetazem set bojo uma ransformagao radical no que con- ‘emme a0 papel da comunieagao denro da estraturacoltiva ‘o processo comunicativo deixa de ser analisado em sua gene Talidad, no sendo mais trata como ofundamento da cons- ‘nea humana (quer em sua forma coltiva ou individual); tle pass ser investido como estatéyia ecional de insergao {do individu na eoletividade. No se trata mais de abordar a ‘omnicagio como una instincia inissocivel da vida em toletividade,razio pela qual permaneeia implica invis- ‘el, portantn pratiesmenteausente enquanio tema problems tizado pela histria do pensamente Em relagdo& perspeetiva flosica, os processos com icaivesrepresentam 3 possbilidade de estabelecer un gua Gro de referencias para une comperagzo do homem frente ‘os outros animais, posibildade entio de fundamentar a ‘questio da especificidade (ou essncia) humana em uma base ndo-metafisica, Mas assim colocada, presa questo da especifieidade humana, a problemstia da comunicagio ape- ‘es insrurventaliza ums problematica mais gral, no sendo 2 lees <’lamesmao foc da quetio. A comunicasio, enquanto pro- ‘ema particular e como disciplinaorganizada, mente a ‘mhnautonomia quando de wna tomada de sgniicago, Quat- do ela passa ater o sentido de ums praca social que se ex prime como estatégia raconal de inser do individo na Coletividade. Fendmeno corelato emergéncia de uma for- ‘ma de oreanizagio coletva cuja dindmica no se assenta 59 ‘bre os valores datradigdo, mas sobre o consumo do presente (Ou seja, uma organizagio social onde os atores socias vi- ‘vem de seus contatos imediatos, da renovago compulsiva, dos lagos coletivas. Esomente uatal forma deorganizagio coletiva que pode cia para sium chamada ata dade, im d= exprimir o conjunto de una realidade comple ‘xa, segmentada pela multiplicidade de agrupamentos(comi- nidades). E somente muna tal organizagao coletiva que 08 ‘metus de comuniagdo passam a ter um papel relevant: 1) Seja no tocante& representagio da toalidade social, fundando assim o incessante trabalho de aualizagio das =” lagGes eoletivas no espago vietal abero pela atividade dos meios de eomunicago, De onde a oma “espago publica ‘complexo, ou espace social igual a espago viral (medias); 2) Sejanotocante is estratégias de ongajamento do indivi- ‘duo, que tem no meio de comunicagao un auniio impresein- «livol, um padezoso instrament cde sondagem de wa ead de que incvitavelmenteeseapa a seu aparato sensorial seta 2s LmitacBes tempo‘espaciais da experigncia imodista: 0 os medias que alargam os horizontes da percepgio corporal, ‘sempre prea i teritoriaidade das relages comin, Em sua é pantr da anise da Sociedade eaquanto tipo 6 organiza coletiva que podem entender, de un lad, necessidade de comunicagao do individuo modemo em seu fide engajamentocoletivose, de outro lad, a presenganotd- rine erescenie que adquirem os meios d= comunicasio em nossa sociedade de mass, como pare imporiantc no proceso de instrumentalizaio da atividade individual face 20 seu de- sf de engalameno rama eoletvidede complex. “ roel ee cman Isto dita sobre problema da curacerizacio do cbjeto da ‘Comunioago,retomemos as questOes colocadas no inicio ‘deste breve artigo sobre o problema dainterdiseiplinaridade ‘Viainos que oprinepal obsticuloeolocado &fdamentagio de tum saber eomonieativo diz respeito dificuldade do ests- belecimento de “fronteiras” suicientemente precisas para funda um bjt po tse iin (oe og 3 igidas”e nem “probitivas”. (ra, 0 processo comunicatva é, sempre ser, um pro- cessocssncialmente psialdeio, socilbgio,poliieo..ASSim coloetdo, 0 problema parece insolivel. Mas do. mesmo mode que adimensio fisia est presente na dimenso biolé- ‘ica, qe por Si ver se encanta presente na dimensio psi oldgiea cesta ma dimensto socal, sm que isto venha a sig- nifcar um empecitho ao estabelecimento de qualguer uma das cidncias citadas,o esabelecimenio da disciplina Comu- aicagdo nfo est inviabilizado, a prior, pela complexidade das relagbesdisiplinares de seu objeto de estud. Afastada esta objepo prctiminar, ee enti analisar- mos as relagées que se estabelecem entre os cbjetos dos di- ‘ersos saberes quando 38 andlises eonvergem sobre uma mesma matti, Lagu, logo desaida, nos deparamoscoma ‘questi de saber até gue ponto podemos dizer “a mesma tatéra”,jé que estes suberes ndo se debrugam sobre uma, Fealidade empirica prévia, comum a todas as abordagens, ‘as que, em uma larga medida, eonsiroem seus objetos de testudo a partir de sparats conccituas adaptados a seus in {eresses ou objtivos especificos. Em iltima instincia, sf0 testes ikimos que pacticulaizam uma determinada irea do ‘conhecimentoe, par eanseguinte, a questio que se colocaé ‘de saber sea disciplina Comunicagio pode formular um ob- jetivo especitica, Que Psicologia poss tatar um toma eoletivo es for- nar Psicologia Social, ito cvidentemente no invalid esta pesquisa, nem compromete 2 auronomia dessa disciplin; % wean {ques Antropolosia se interesse por certs aspectes cogniti= Vos, sto do €suficiente para areduzira uma psieologi; que 8 Lingisticatabahe sabre uma base de natrezapsicosso cial nfo a invalda enquant seer autdnomo. A sutonomia dsias ede outras dsciptnas restapreservada plas perspec tivas que elas abrem sobre um determina Fata” (objeto ‘empirico), que aliésajudam a construe (objeto de estude. En outras palavras: a naturezainterdisiplinar des eetuds conmnigain deve a needs sone sono te aizepnas inepenentes (Secoels Daca Lusi, Ta.) que guardary se i "un objeto paola? Nao resa dvida que somente esta SI ima ater pve servi implanted da Comanento, se s tata realmente de falar de uma disciplina autnoma © ‘no de um certo tema recorente, comma um certo nimero de diseiplinas independntes. ‘Todo o problems reside eno em se defini um incresse «© um objeto que possam caracteizar os estudos de conn cagio. Om, se nossa anilise da ransformagio social est cor- ‘eta (¢ em sua generalidade ela paticamente se mostra con- sensual), seaemerpéncia de uma nova forma de organizayio coletiva (Sociedade) libera determinadas prtieas sociais, particularmeate a do uso de mes de comunicagio cama tor de socializagio, evelando um nove sentide da omni casio coletva, podemes eno afimar que a emergéncis mes- ‘mo de nossa dseiplina surge da necessade de comproender «este nove sentido dos processos comunictivose que lat has novaspritieas que envolvem o uso dos meios de eomuni- ‘eagio o seu objeto de estado, CCeio que a afirmacto de que os estudos de comuniea- ‘lo gravitam em tomo dos medias no deve eausar muita polémica, principalmente se nfo se V8 ai os tenmos de ura ‘posigo com a cultura de massa, Com efeito, diferente de ‘outros elementos igualmente constantes na problematica, 108 meios de comunicacio constituem o fator que melhor ed eto dsc pode caracterizar 0 objeto dos estudos em Comunicagio. orexemplo, 0 fator“ideologia", bastante ressatado plas ahordagens de influéncia marxista, € na verdade um objeto ‘que caracteriza melhor as eiéncias politcas que propria~ ‘mente « Comunicagao, Outro exemplo, 0 "ato comunieati- ‘Vo, no eatrito senso, quer dizer, abatagio feta de todo 0 ‘contexto sicio-hstérico, caracteriza melhor o objeto de ua Psicologia da linguagem, ou urna Psicologia dos pro- estos simbelicos.. Sendo hi dividas de que os meios de ‘somunicagioatravessam vrios campos de saber, fica claro também que eles nto constituem o objeto de nenhurn saber em particular, Nenhuma dessas diseiplinas se propBe a es tudaros meios de comunicapio a luz do novo sentido trazi= do pela nova forma de organizagio coetiva. De outro lado, a emt dos metos de comunicagio & Aiea suieientementeabrangente para serir de fio condu- tor, um verdadeito fio de Ariadne, que permitsia a pesqui sador da comunicagio atravessar os varios niveis de uma problemética complexaullzando se de uma game bastante variada de saberes, sem no entanto perder de vista a integra Tidade de um objeto proprio Finalmente, & guisa de conclusto, deixemos indicades alguns problemas que se abrem para os estudos de comani- ‘sagio assim dein, O mais ovidentodeles vom da consta- {gio de que no temas definigdes eoneeituais mas elabor clas sobre o que sora umn meio de comnieagS0, Poucos re- ‘cursos nes restam, se no se quer reafirmar a boa evetha de- finigto sinda carrente dos meios de eomunieagio como “agueles insrwmentas que servem para comunicar. Por ou- 129 lado, mesmo admitindo-se de maneira consensual que 0s dias so objets tenicos, e mio abstante toda a moda so- bre as novas tecnologias, ao temos estudos dedicados a tx- refa de estabelecer a especitiidade dos medias no universo ds abjetostGenicns, como se uma telvisdo fosse igual a ‘uma geladeira ou a todo e qualquer objeto téenico. Por con- seguinte, & 0 pr6prieestatulo téenico dos meios de comu WC tom cago que restaa ser estbelecido, Enfim, oura lacuna grave reside no fato de que os estudos de mes de comunicagio {medium then) eomsiuenn uma tradiga ce pesquisa rm outco desenvolvie, Nio & por aaso que ihstesestuiosos {So assuno, tals como Mauro Wolf, Jensen e Rosengren © mesmo F. Katz em suas bilbanies ailises, subestimam ou simplesmente negligenciatn 0s estdos dos meios de comu- nieaglo em suas andlises sobre a histviae a civagem do ‘campo de estuce da Comunicagao. Refertncias bibliogefieas JENSEN, Klaus Brune ROSENGREN, Ka ik. "Cing alitons| la Recherche du Public", Reve Hermes” 1-12 limes oval Pais, CNRS Editions, 1993, Verso original: European owral of Communications, Londres, SAGE, vol 8, 1990 KATZ, E.*A propos des médias et de leurs effet in SFEZ, 1. (org), Technologies er sbotigues dela commaicain. Col Jig de Ceresy 1988, Press Universite de Grenoble, 1990, 1. 275-282 Tradueto para o perignés de LC, Marin, msea- ogra, Brasilia, 1999. MARTINO, Lai C.“Elementos para uma Fpistemoogia da Co- municaco", presenta no V ALAIC, Congresso Latine-Ame- ‘ean de Investigadors da Cominicagio aizado aa Unive sidad Diego Pores, xu Santigo do Chil, abril de 2000 ROCHER, Guy. Sociologia sera, Lisboa, Editorial Preseng, tomo 3, 197 WEBER, Mex, Mevodolgia das ciéncia sciais. Campina’Sto Paulo, Cortez /Etorada Unicamp, 2 edge, 2 volun, 1993, WOLF, Mauro, Farias da comunicoeto, Lisboa, Editorial Pre sen, 1995, 3. 0 OBJETO DA COMUNICACAO/A COMUNICACAO COMO OBJETO Ven Veiga Fant 1.0 queéa comunicagio? ‘Ao iniciarmos uma reflexto sobre a tcora (ou tori) da ‘comunicagio, nossa primeira indagagdo refere-s0 a0 sou ob {jet afnal,teoria sobre o que? O que quer dizer “comunica- ‘Gia"? Lim campo cieatifico (uma cineca, uma dsciplina oa tum determinado dominio do saber) se define antes de tudo pelo seu bjeta,O objeto da comunicario, qual £21 ‘A eesposta mais imediata & questo, trazida pela nossa viveneia (ou senso comum), vai resgatar~ ou apoar-se~ na sua dimensio empiric: trat-se de um objeto que est nos- $a frente, disponivel aos nossos sentidos, materilizado em ‘objets e priticas que pademos ver, ouvir, tocar. A commun tag ton uma exsténcia sensivel; & do dominio do eal, ta ‘arse de um fato conerete de nosso covidiano, dota de uma presenga quase exaustiva na sociedade contemporinea. Ela est i, nas bancas de revista, na televisto da nossa cast, no iio dos carts, n0s outdoors da cidade, nas eampankas dos candidates politics e assim por diane. Se estendemos mais, fos exemples (e também nosso eitrio de pertinénis), ‘mos sneluie nossas eonversiscotidianas, 2s wocas simbsl ‘as de toda ordem (a produsz0 das corpos As marcas deli ‘auagem) que poveam nosso daar ®

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