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x ec conti, CRMV-SP / Continuous Education Journal CRMV-SP, ‘Sto Paulo, volume 3, fascteul 2, 9, 3-15, 2000. °Exame neurologico em grandes animais. Parte II - Medula espinhal: eqiiino com incoordenacao motora ° Neurological exam in large animals. **Curso de Medicina Veterinéria UNESP -Aracatuba Departamento de Clinica, Crurgia © Reeproducao Animal Fua Clovis Pestana, 703, Jardim Dona Amelia (CEP 16050-680—Aracatuba~ SP e-mail: asborges@lasercom.br Part II - Spinal cord: horse with abnormal gait * Alexandre Secorun Borges! -CRMV-SP 1° 6564 Luiz Cléudio Nogueira Mendes' -CRMV-SPn° 6112 ‘Miércio Rubens Graf Kuchembuck? -CRMVSP1°0033 "Professor de Clinica Veterinaria ‘Curso de Medicina Veterinaria - UNESP -Aragatuba * Professor Titular de Clinica Veterinaria Faculdade de Medicina Veterinéria e Zootecnia UNESP - Botucatu a OW a | Este artigo descreve o exame do eqitino com incoordenagao motora de origem neurolégica, apresen- tando as principais provas a serem realizadas e como localizar as lesdes em uma ou mais regiGes da medula espinhal. A ineoordenacao motora é uma anormalidade locomotora decorrente de dano neu- rol6gico enceféilico ou medular. A lesio pode afetar centros ou tratos motores e proprioceptivos determinando uma incapacidade locomotora manifestada por sinais de paresia, ataxia, hipermetria e espasticidade. Palayras-chave: incoordenagiio motora eqiiina, neurologia e medula espinhal. Introdugao © artigo publicado nesta revista no volume 2, fas- ciculo 3, intitulado “Exame neurolégico em grandes animais, Parte I: Encéfalo”, apresenta- mmm ram-se algumas consideragdes sobre a neuroana- tomia funcional do eneéfalo e medula. Na presente revi- sio serd apresentada a avaliagao clinica dos animais com anormalidades locomotoras provocadas por alteragées na medula espinhal. Esta avaliagao clinica tem como objeti- vo a localizagao da lesdo em uma determinada regiao da medula espinhal para que os diagnésticos diferenciais possam ser definidos com maior seguranga, Em um pré- ximo artigo serao observados aspectos etiol6gicos da in- coordenagao motora e efetuadas avaliagdes de animais em decibito, Para rever a anatomia medular, essencial para a realizacdo do exame neurolégico, sugere-se re- tornar ao artigo anterior e reportarmo-nos referéncias citadas ao final deste artigo. © Quadro | relaciona alguns sintomas encontrados no exame fisico do paciente, os quais fornecem indicios suficientes para que um exame neurol6gico seja realizado. Procurou-se simplificar o exame fisico e seguir sempre os objetivos basicos de um exame neurol6gico: TC. N; KUCHEMBUCK, MR. ‘ame nowoldgico em grandes anima Parle TI Medula espinal: eqlino com incoordenagio movoral Neurological eam in large animals. Part I~ Spinal cord: horse with abnormal gat. Rev. educ. contin. CRMV-SP./ Continuous Education Journal CMV SP, Sto Paulo, volume 3, fasefculo 2, p.3- 15, 2000. © que observar no exame fisico que pode ser indicativo de anormalidade neurolégica? Durante 0 exame fisico, a atencao a alguns as- pectos pode revelar a necessidade de um exame neu- rolégico com a finalidade de detectar anormalidades na medula espinhal. Deve-se prestar atencao a sime- dda musculatura corporal como um todo, simetria de pescogo e tronco, tonus anal e da cauda, posturas adotadas em descanso e padiio de locomogao. Quan- do a medula espinhal apresenta anormalidades, al- ‘guns dos itens acima podem estar alterados. definir a existéncia ou nao de anormalidade neurolégica, confirmago da localizagio da anormalidade na medula espinhal, demarcagao da regio afetada, determinagao do diagnéstico, diagnésticos diferenciais, exames com- plementares, prognéstico e tratamento (Quadro 2) ConsideragGes funcionais e anatémicas A medula espinhal tem varias fungdes e uma delas € a integracdo entre o sistema nervoso periférico (SNP) € 0 encéfalo. Pode-se avaliar sua integridade observan- do-se a atividade motora de um determinado animal e também a capacidade de percepgdo de estimulos senso- riais (captados nos membros € interpretados no encéfa- Jo). Porém a medula € muito mais do que apenas um carreador de informacdes motoras do encéfalo para 0 SNP, ou sensoriais do SNP para o encéfalo. Ela poss importantes centros responsiveis pela postura e coorde- nagio de movimentos nas regides de C6-T2 e L4-S2 Umexemplo da complexibilidade da medula espinhal pode ser observado em lesdes medulares cervicais, responsd- veis pela ocorréncia da sindrome de Horner (Quadro 3). A atividade motora normal depende da iniciagaio de estimulos originados nos centros motores superiores loca- lizados no encéfalo. Estes impulsos so transmitidos as estruturas musculares, desde que haja integridade medular e também do sistema nervoso periférico (nervos espinhais) Quando a atividade motora apresenta alteragdes, devida as anormalidades no sistema nervoso, deve-se pensar que algum segmento da rede de transmissiio de informagoes que tem origem nos centros motores ence- félicos e estendendo-se até estrutura efetora, neste caso um miisculo, nao esta adequada. Ao contririo, quando algum esi censitivo e pres- sGrico) ou proprioceptivo nd esti sendo adequadamente Ievado ao encéfalo para interpretacdo, a causa pode es tar em uma lesio medular, dificultando a transmissio dessas informagdes (Quadro 4). Logicamente, anormali- lo sensorial (tatil, térmico, s Objetivos do exame neurolégico Conjirmar a existéncia ou nao de anormalidades neurolégicas e verificar a localizacao anatomica do problema. A localizacao pode ser focal ou multifo- cal. Amedula pode ser funcional e morfologicamente dividida em C1-C5; C6-T2; T3-L3; L4-S2; $3-Ca. As lesbes focais que acometem os Conjuntos de seg- menios citados anteriormente produzirao sinais se- melhantes, isto é, uma lesao que acomete T8 ou T18 produzira os mesmos sinais clinicos nos membros posteriores. Sindrome de Horner Determinadas lesdes na regiao cranial da medu- la espinhal toracica podem provocar a sindrome de Horner (ptose da palpebra superior, miose, protrusio da terceira palpebra geralmente acompanhada de sudorese unilateral da regido facial). Esses sinais ocorrem em virtude da lesao dos nervos simpaticos do tronco vagosimpatico que cursa da medula espi- nhal toracica cranial até préximo a érbita. E impor tante lembrar que essa sindrome também ocorre em decorréncia de les6es na bolsa gutural, avulsao do ple- x0 braquial ou neoplasias proximas a regido orbital O que é e como avaliar a propriocepcao? A propriocepc¢ao 6 a capacidade de percep¢io do posicionamento dos membros, sendo realizada pela integracao de informagGes obtidas por receplo- Fes periféricos com os nticleos encefalicos. As vias proprioceptivas esto presentes na medula espinhal divididas em tratos e fasciculos, podendo ser cons- cientes ou inconscientes. ‘Amaneira mais adequada de avaliar-se a propri- ocepcao € parando o animal subitamente apés a lo- comogao em linha reta, em circulos ou apés afasta- lo e observar 0 tempo que os membros demoram para retornar a uma posicdo adequada. Algumas vezes, quando examinamos animais mansos em es- tacao e deslocamos apenas um dos membros para o lado, este membro pode permanecer em posicao anormal durante periodo de tempo considerado maior que o normal, sem que isso signifique anormalidade (Figuras 1 e 2) BORGES, AS, MENDES, L, C.N, KUCHEMBUCK, MR, G. Exame neurolgico em grandes anima, Pare Il- Medula espinal: eqlino com incoordenago motoral Newological exo in large animals. Part Il ~ Spinal cond: iorse with abnonnal gait. Rev. educ, contin, CRMY-SP Continuous Education Journal CRMY-SP, ‘Sao Paulo, volume 3, faetculo 2, p. 3 ~ 15, 200. Figuras 1 ¢ 2. Estas figuras apresentam déficits propriocepti- vos em membro toricico e pélvico, respectivamente, dades encefiilicas poderio acarretar tanto alteragdes motoras quanto sensoriais, porém o exame neurolégico deve ser adequadamente conduzido para excluir 0 encé- falo como sede da lesao. Por exemplo, para que um animal tenha um ade- quado padrdo locomotor, a atividade motora € iniciada nos centros motores encefilicos e esses estimulos so transportados a medula espinhal. Em alguns centros en- cefilicos essa informagao é integralizada com informa- Ses proprioceptivas ascendentes que fornecem dados da periferia informando a posic¢’io dos membros. Esses dados associados permitem a modulagao de um estimulo encefélico que possibilita uma adequada iniciagdo e ma- nutengdo dos movimentos. Para que estes sejam ade- quadamente efetuados, a integridade medular € essenci- al, permitindo que as informagdes produzidas cheguem até os misculos. Qualquer alteragao significativa nesse processo pode deflagrar anormalidades locomotoras que irdo variar desde déficits discretos até os mais graves provocando o decéibito (Quadro 5). ‘As etiologias das anormalidades medulares sio bastante diversificadas e, para uma melhor apresenta- do do exame, so discutidos inicialmente neste artigo 0 exame da incoordenag’o motora, caracterizada, a prin- cfpio, por uma lesio parcial da medula espinhal capaz de comprometer a coordenagio dos movimentos, mas nao de impedi-la Lesoes medulares discretas ou parciais causam anormalidades locomotoras e sensoriais. De maneira ge- ral as anormalidades locomotoras de origem neurol6gica caracterizam-se pelo aparecimento de fraqueza muscu- lar (aqui também utilizaremos o termo paresia que signi- fica diminuigao do tonus muscular e incapacidade parcial de realizar movimentos voluntérios), ataxia ( um termo frequentemente utilizado como sinénimo de incoordena- ¢o motora), espasticidade e hipermetria. Na maioria das veres esses sinais esto associados, sendo dificil a sua identificagao individual. O importante é que as anormali- dades locomotoras de origem neuroldgicas so caracte- rizadas por dois ou mais desses sinais, acometendo um ou mais membros que, consequentemente, apresentam um padrao locomotor anormal (Quadro 6). Incoordenagao motora eqiiina: conceituagao Inicialmente, deve-se conceituar a incoordenagao motora e o porqué de sua ocorréncia. O termo incoorde- nagio motora seri utilizado para caracterizar uma alte- ragio na locomogio apresentada por animais portadores de anormalidades de origem neurolégica. Este ter- mo engloba um conjunto de sinais como balango exage- BORGES, 1S: MENDES, LC. KUCHEMBUCK. MLR, G.Exan=newoldgco cm grandes annals Panel, Mela cal olin com icoodenagio mcr] Newologicat exam in large animals. Par I ~ Spinal cord: horse with abnormal gat. ‘Sto Paulo, volume 3, fasfculo 2, 3 = 15, 2000 ‘educ. contin. CRMY-SP I Continuous Edication Jounal CRMV SP, Do que depende o padrao normal de locomocao? O padrao locomotor normal depende da integrida- de de todos os componentes que participam do pro- cesso de locomocao: encéfalo, medula espinhal, ner- vos, muisculos, ossos, tenddes, ligamentos, receptores nervosos localizados em articulacdes. Quando uma destas estruturas estiver comprometida, 0 padrao lo- comotor podera estar afetado. Deve-se também lem- brar que a elaboracao de um correto padrao locomo- tor depende da integralizacao a nivel do encéialo, das informagdes fornecidas pelos proprioceptores. A integracao pode ser consciente, quando realizada no tronco encefalico, ou inconsciente, quando ocorre no cerebelo. A anormalidade locomotora de origem neu- rologica decorre de inadequada integracao, formula- ‘cao ou encaminhamento dos estimulos motores e pro- prioceptivos, cuja ocorréncia pode se dar em diversos locais, como: a) centros motores superiores no encéfalo, alterando a formulacao dos estimulos responsaveis pela inicia- gao dos movimentos; b) tronco encefalico, dificultando a integracao dos es- timulos motores com os estimulos proprioceptivos conscientes; ©) cerebelo, acarretando déficits motores e propriocep- tivos inconscientes; d) medula espinhal, afetando a transmissao de estimu- los motores (eferentes) e de estimulos propriocepti- vos (aferentes); ©) nervos espinhais periféricos, impedindo a chegada dos estimulos até os grupos musculares ou impedin- do a transmissao de estimulos proprioceptivos capta- dos na periferia (misculos, tendoes, ligaments ¢ ar- ticulagdes) até a medula espinhal. Lesao em quaisquer desses locais acarreta anor lades locomotoras de origem neurolégica, carac- terizadas por fraqueza, ataxia, hipermetria e espasti- cidade. O que caracteriza os padroes de locomogao do eqiiino com incoordenacao motora? De maneira geral, os eqdinos com incoordenacao. motora apresentam padrdes anormais de locomocao de- vidos a sinais de ataxia, paresia, espasticidade e hiper- metria. Esses sinais freqientemente esto associados, dificultando a sua identificagao, e so caracterizados por: * Paresia ~ a fraqueza muscular pode ser reconheci- da, observando-se: diminuicao do arco durante a tro- a do paso, passos mais curtos, retardo na troca do asso, pisar sobre o boleto, piv sobre o membro in- temo durante a manobra de andar em circulos fe- chados, raspar a pinga no chio, tropegar em obje- 10s, falta de sustentacao corporal (mais evidente quan- do presente nos quatro membros), falta de forca para resistir a deslocamentos laterais quando puxado pela cauda ou empurrado na garupa (especialmente du- rante movimento), tremores musculares durante o apoio do membro; * Ataxia ~ 6 caracterizada por aumento dos desloca- mentos laterais do tronco e garupa, passo mais largo, abducao do membro posterior posicionado externa- mente durante 0 movimento em circulos, cruzar os membros abaixo do corpo e pisar no membro oposto; * Espasticidade — diminuigao de flexao articular, acar retando passos mais curtos, nao ocorrendo a eleva- a0 adequada durante a troca do paso, podendo ser definida como um andar rigido ou espastico. As ve- zes € dificil de diferenciar dos passos curtos presen- tes nos animais com paresia devida a diminuicao da forga muscular. Para tanto, 6 necessdria a realiza- co de manobras de deslocamento lateral, em que 08 animais com paresia serao facilmente deslocados e aqueles que apresentarem espasticidade, nao. Este tipo de anormalidade ¢ principalmente observado em lesdes dos neurénios motores superiores na subs- tancia branca da medula espinhal; * Hipermetria — 6 caracterizada principalmente por ‘exagerada flexao articular, sendo particularmente ob- servada em lesdes do trato espinocerebelar na me- dula espinhal, BORGES, A S; MENDES, LC. N; KUCHEMBUCK, M. R.G, Exame neuroldgico em grandes animals Pane I Medula espinhal: equipo com lncoordenagio motor Neurological exam in large animals. Part If Spinal cord: horse with abwormal gat. Rev. edue. contin. CRMV-SP J Continuous Education Journal CRMVSP, So Paulo, volume 3, Faseleulo 2, p.3- 13, 2000. Por que ocorrem sinais de ataxia, paresia, hipermetria e espasticidade em lesdes localizadas na medula espinhal? Estes sinais ocorrem isoladamente ou associados, dependiendo do local da medula espinhal lesado. Por exemplo: os sinais de paresia sao mais freqiientes e intensos quando ocorrerem les6es nos corpos celula- res dos neurénios motores inferiores localizados na substancia cinzenta da medula espinhal (H medu- lar). A paresia também pode ser observada, quando ‘0s axnios dos neurdnios motores superiores, locali- zados na substincia branca da medula espinhal apre- sentarem anormalidades; geralmente, quando isso corre, sinais de espasticidade sao observados con- comitantemente. A hipermetria é geralmente ob- servada quando ocorrer lesao dos tratos espinocere- belares. A ataxia pode ser observada tanto em lesoes dotrato espinocerebelar quanto do vestibulo espinhal. Incoordenagao motora A incoordenagao motora ocorre em virtude de idades neurol6gicas proprioceptivas e mo- toras que provocam alteracées no padrao normal de locomocao. Pode ser provocada por anormalidades encefilicas, medulares ou no sistema nervoso peri- férico. A identificacao da presenca dos sinais clini- cos sugestivos € o primeiro passo para a confirma- 40 do problema e também para o diagnéstico. rado da pelve durante a locomogao; falta de firmeza nos membros tordcicos e/ou pélvicos; encurtamento de pas- so; abdugio exagerada dos membros ao andar em circu los; cruzar os membros sob 0 corpo; pisar no membro contralateral ou tordcico, pivé do membro localizado in- temamente durante a locomogao em circulos fechados; hipermetria e arrastar a pinga durante a troca do passo que ocorrem em virtude da inadequada integragdo, for- mulagdo ou transmissdo das informagdes motoras e pro- prioceptivas a seu local de destino final. Esses sinais po- dem ser distribuidos em um dos quatro grupos a seguir: paresia, ataxia, espasticidade e hipermetria. Para que um animal apresente uma anormalidade locomotora de ori ‘gem neurolégica, ao menos dois dos grupos acima cita~ dos devem estar presentes (Quadro 7). A incoordenagao motora é uma anormalidade muito mais comum nos eqiiinos do que em outros animais de grande porte. Portanto, a maior parte das informagées fornecidas estardo relacionadas ao exame do cavalo. O exame nas outras espécies pode ser realizado com pe- quenas modificagGes e interpretado da mesma forma, Ievando-se em consideracdo que os diagndsticos so di- ferentes para cada uma das espécies (Quadro 8). A incoordenagao motora eqiiina muitas vezes 6 denominada de bambeira, ataxia ou sindrome de Wob- bler. © termo Wobbler ainda é referido por alguns auto- res como sin6nimo da incoordenagao motora eqitina, uti- lizando-o para descrever apenas uma de suas varias cau- sas (malformacio vertebral cervical com conseqiiente estenose no canal medular ¢ compressio do tecido ner- oso). A incoordenagao motora eqiiina € mais freqtien- temente observada do que as anormalidades encefili- cas e sua importincia reside no fato de incapacitar 0 animal para as funcdes mais basicas. Um eqilino com incoordenagao motora, mesmo discreta, pode ter di culdade para obter bom desempenho em provas espor- tivas; em sua intensidade moderada impede o animal de ser montado em razo dos riscos de queda e, por tiltimo, nos casos mais graves, sua fungdo reprodutora estard comprometida (desde a colheita de sémen até a susten- tagdo de seu peso durante a gestacdo). Por esses moti- Vos, esses pacientes devem ser submetidos a um exa- me neurolégico completo para que © diagndstico seja estabelecido e as melhores condutas terapéuticas se- jam adotadas, Um dos maiores desafios do exame dos animaii apresentando incoordenagiio motora é a dificuldade em diferenciagao entre determinadas posturas e padres de locomogao presentes nos animais com alteragdes osteo- musculares e aqueles apresentando apenas anormalida- des neurol6gicas. Para que esta diferenciago seja pos- vel, deve-se realizar um adequado exame do sistema osteomuscular e observar atentamente o padriio de loco- mocio, procurando caracterizar os sinais sugestivos de anormalidades neurolégicas. Déficits neurolégicos discretos podem estar enco- bertos por alterages osteomusculares e, até mesmo, pro- blemas osteomusculares (osteocondrose) ¢ neurolégico: podem existir, afetando a medula espinhal, como ocorre na mielopatia vertebral cervical estenética, ie Incoordenacao motora eqiiin: exame neurolégico ‘A anamnese deve evidenciar o inicio do proceso e sua evolugio, j4 que esses dados sio muito importantes para o diagndstico diferencial. Atualmente, com 0 uso intenso dos eqiinos, as queixas dos proprietarios ocor- rem logo apés uma diminuigdo da performance em ani BORGES, AS; MENDES, LC. No KUCHEMBUCK. MLR. G. Exame newol6gico em grandes animals. Pare II- Medulaexpnfaly oqo com incoordenagio motaal Newological exam in large animals. Part I~ Spinal cont: horse with abnormal gait. Sto Paulo, volume 5, fascculo 2. p-3- 15, 2000, mais utilizados em provas esportivas; outras vezes, os sinais so apenas relatados quando mais acentuados, che- gando inclusive a provocar a quedas desses animais. Deve-se questionar também 0 manejo, esquema de vaci- nagdes e tratamentos ja realizados. Uma boa histéria eli- nica € realizada quando existe um adequado conhecimento das enfermidades que fazem parte do diagnéstico dife- rencial. Deve-se sempre seguir um protocolo para 0 exa- me da incoordenagio motora, o que facilita a colheita de informages, por nao permitir 0 esquecimento de parte importante do exame. De maneira geral, 0 exame cra- nio-caudal (iniciando na regio anterior do animal e ter- minando na posterior) é bastante eficiente ¢ facilita a in- terpretagio dos resultados obtidos. O primeiro passo para um exame detalhado € a suspeita de que o problema realmente exista. Com esta finalidade, deve-se observar o padrio de locomogao do animal, determinar se est apresentando os sinais de in- coordenagilo motora e proceder um adequado exame fi- sico para excluir-se anormalidades os possam produzir sinais semelhantes aos observados na incoordenagio motora. Nao existindo anormalidades osteomusculares ou caso as mesmas nao justifiquem o padrao locomotor apre- sentado, deve-se, durante o exame do sistema nervoso, procurar sinais sugestivos de comprometimento neurol6- gic. O exame neurolégico deve iniciar-se pela avalia- gio da integridade das estruturas encefillicas, lembran- do-se que os centros motores localizam-se no encéfalo e, portanto, a incoordenagao motora pode ter sede em le- sdes encefélicas (verificar 0 artigo anterior para exame encefilico). Deve-se ressaltar a diferenga existente en- tre os centros motores enceféllicos de primatas e os eqili- nos. Nos primatas o trato cerebrospinal apresenta gran- de importincia na iniciagao e manutengao do padrao lo- comotor, enquanto que, em eqilinos, esta importincia esti reduzida, tanto que as lesGes cerebrocorticais nesses ani- mais se manifestam apenas em atividades mais refina- das de locomogiio, como 0 salto de obstaculos. Como o objetivo deste artigo é a avaliagdo da medula espinhal, esses problemas nao serio abordados. Inicialmente, deve-se observar 0 padraio de loco- mogao dos animais avaliados. Isso deve ser feito com 0 animal a passo, que é a atividade mais simples. Poste- riormente, se 0 grau de incoordenagio nao for muito grave, deve-se fazé-lo trotar. A seqiiéncia do exame e as manobras a serem realizadas esto indicadas no Qua- dro 9. Deve-se observar que a dificuldade das provas aumenta ou diminui, dependendo da manobra realizada; v-edue. contin. CRMV-SP./ Continuous Education Journal CRMV-SP, Principais manobras a serem realizadas para avaliagao da locomogao e postura * Postura; * Simetria de pescogo e tronco; * Andar em linha reta; ‘= Trotar em linha reta; * Afastar (Figura 3); + Andar em citculos abertos; + Andar em circulos fechados (Figura 4); * Descer e subir rampas (Figura 5); * Ultrapassar pequenos obsticulos durante a locomocio; + Observacao do andar com o animal montadlo; + Andar com 0 pescoco estendido e flexionado; * Palpacao do pescogo e da coluna dorsal; + Manipulacao do pescoco; + Resposta cervical e cervicofacial; * Sensibilidade do pescogo; * Reflexo masculo-cutaneo; + “Slap test”; * Deslocamento lateral dos membros tordcicos (Figura 6); * Observagao de atrofias musculares; * Deslocamento da garupa com 0 animal parado em locomocao (Figura 7); * Observacao do t6nus anal, movimentacao da cauda e sensibilidade perineal (Figura 8); * Palpacao retal como por exemplo: descer uma rampa é uma atividade que requer uma integridade muito maior das vias respon- sdveis pela condugio das informagSes do que andar em uma superficie plana, jé que existem intimeras informa- Ges sendo captadas e processadas para que 0 animal se posicione com um membro em um plano diferente de outro, o mesmo ocorrendo quando o animal esté andando de fasto ou, ainda, andando em circulos. Anormalidades locomotoras discretas, durante a locomogiio a passo ov trote, serio acentuadas durante as provas mais comple- xas. Durante estas provas, deve-se procurar sinais que indiquem a presenga de incoordenacdo motora. Esses sinais estdo presentes em virtude da auséncia ou dimi- nuigdo de atividade motora e/ou proprioceptiva adequ- das, produzindo sinais de paresia, ataxia, hipermetria ou espasticidade, Obalango da pelve é um sinal que desperta a aten- do e também é denominado de bambeira, sendo decor rente de um misto de anormalidades motoras e proprio- ceptivas. BORGES, AS; MENDES, L. CN. Newological exam in large animal. ‘Sao Paulo, volume 3, fasefcuto 2, p-3 KUCHEMBUCK.M RG. Exame ne Part Il Spinal cord: forse with abnormal gat. 15, 2000. olggicowin andes animals. Pare Il- Medula espnhal: equino com incoordenagio motoral -edue. contin. CRMY-SP./Coatinuous Education Journal CRMY-SP, Figura 3. Afastar um paciente com incoordenagao motora pode evidenciar anormalidades discretas. Este animal apresenta grande dificuldade de movimentacio dos membros pélvicos, sendo que os mesmos jé deveriam ter sido deslocados caudalmente; wo mesmo tempo, ocorre movimentagio da cauda, procurando fornecer equi- Mbriogo animal. : Figura 4, Os animais, quando colocados para andar em citculos fechados, podem apresentar posturas anormais devidas a lesGes motoras como também proprioceptivas, Neste animal, observase ‘4 proximidade anormal dos quatro membros, devida a um atraso na {roca de passos do membro pélvico. Figura 5. Os animais, ao descer sistema nervoso em adequado estado de funcionamento para que possam interpretar as informagoes sensorias e emitir jos estimulos motores. O desnivel que os membros torécicos apresen- tam em relagio aos pélvicos é mais uma dificuldade para os animais com ineoordenago motora. Nesta figura observa-se que os mem- bros pélvicos esti cruzados (este animal apresentava grau 3, em ambos 0s pelvicos, € nos toricicos, grau 0), o animal apresenta sande diffeuldade de posicionamento dos membros pélvicos. Os membros ordcicos estio separados e apresentam grande tensdioem tendoes c ligamentos, porém nao apresentavam anormalidades este Posicionamento procura apenas aumentar a area de sustentaclo para que o animal nao caia. A cabeca abaixada também ajuda no quilibrio do animal. Todas estas alteragbes foram acentuadss a0 ddescer este pequeno declive de grama. Todos os sinas j4 descritos podem estar ou nfo presentes, € muitas vezes apenas alguns deles so obser- vados. Em um animal com alteraciio do padréio locomo- tor decorrente de anormalidades neurol6gicas, dois ou mais dos sinais anteriormente citados deverdo estar pr tes. E importante observar-se minuciosamente 0 padrao de locomogao para que esses sinais possam ser identifi- cados, considerando-se adequado o acompanhamento do exame por pessoal familiarizado com 0 andamento do animal, a fim de informar se esta dentro do esperado. De maneira geral, 0 trote ¢ 0 padrio de locomogio mais ttil na diferenciacdo de lesdes osteomusculares e neurolégi- cas. en- O examinador precisa, apés tes, saber identificar a presenga de fraqueza (paresia), ataxia, hipermetria ou espasticidade em cada um dos membros do animal examinado. Muitas vezes os déficits so evidentes, outras nao, portanto todas as manobras citadas devem ser realizadas para que se possa identificar os sinais presentes, verifi- car a intensidade e determinar quais os membros acome- tidos. Deve-se ressaltar que manobras que coloquem em risco a integridade dos animais e que porventura possam ocasionar quedas devem ser evitadas. Da mesma forma, nunca se deve colocar em deciibito um animal adulto de grande porte com incoordenagao motora para realizar os reflexos espinhais de membros anteriores e posteriores. Colocar um animal de grande porte em dectibito pode trazer riscos a esse animal e aos examinadores, a0 mes- mo tempo em que as informagdes obtidas seriam de pou- ca importancia, j4 que se espera normalidade dos refle- xos espinhais nos membros de animais com incoordena- ao motora, Durante a avaliagao dos animais, o padrio de anor- malidade deve ser graduado para cada membro, segundo a classificagio de 0 a 5 para a incoordenagdo motora eqilina. (Quadro 10). Essa graduagdo ¢ importante por- que permite determinar os membros acometidos, 0 grau de acometimento e facilita 0 acompanhamento neurolé- gico do tratamento instituido. Essa graduagao também ajudard no diagnéstico diferencial, pois determinadas en- fermidades apresentam caracteristicas de assimetria lz teral (isto serd comentado em um préximo artigo). Naexperiéncia dos autores, as anormalidades mais discretas podem ser evidenciadas com as manobras e peciais apresentadas no Quadro 10, sendo que normal- mente as mais titeis so: a locomogao em trote, a descida de rampa e o andar em cfrculos fechados com uma mao na cauda e outra no cabresto. Alguns aspectos merecem consideragio especial durante a realizagdo dessas manobras. Sendo assim, apre~ BORG Sto Patio, volume 3, faseiculo 2, p. 3-15, 2000, A'S; MENDES, L. C. N; KUCHEMBUCK, M.R. G. Exane neuol6gico em grandes animals. Pare I~ Medula espinal eqiino com incoordenagio motor ‘Neurological exam in large animals. Part 11 - Spinal cond: horse with abnormal gat. Rev. educ. con CRMY-SP. 1 Continuous Education Journal CRMV-SP, Figura 6, 0 deslocamento lateral dos animais ¢ uma prova muito Atl para avaliar se existe ou no comprometimento dos membros tordcicos. A resposta normal esperada € um saltitar lateral do mem bro tordicico apoiado ao chao. A posicao adequada para realizagdo

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