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Saneamento da Habitacéo (*) 1. INTRODUCAO Inicialmente, antes de entrarmos na apreciagio geral do saneamento da habitagéo, que constitui um dos problemas com que se defronta o homem na defesa da sua satide, julgamos oportuno transcrever os conceitos de saiide e de saneamento, adotados pela Organizacio Mundial da Satide (OMS), bem como uma das definigd2s consagradas de said> pi- bi “Saiide 6 um estado de completo bem es- tar fisico, mental e social e néo apenas a auséncia de doenga ou enfermidade”. “Saneamento 6 0 controle de todos os fa- téres do meio fisico do homem que exer cem ou podem exercer efeito deletério, sdbre seu bem estar fisico, mental ou so- cial”. “Satlde PUblica € a ciéncia ¢ arte de pro- mover, proteger e Tecuperar a saide, atra- vés de medidas de alcance coletive © de motivagao da populacio”, Assinalamos, ainds, conforme estabelece a Or- ganizagio Mundial da Satie, no preimbulo da sua constituigdo, que: “O g6z0 do melhor estado de sat- de, constitui um direito fundamental d2 todos os s8- res humanos, sejam quais forem sua raga, sua reli- sit9, suas opinides politicas, sua condigao econdmi ca © social”, Julgamos também oportuno abordar inicialmen- te a definigfo de habitagio. De uma forma genérica () ‘Texto do tema ministrado no Semingrio sobre “Sa neamento ¢.0 ‘Nacional de Hiabilacko”, realizado fa Faculdade de ¢ Sade Publica da Universidade de Sto Paulo, sob 0 patrocinio de Ormnizagio Panamericana ds "SuldeGrgarimagto Mundial de Sade, O ator fol ale ‘isso 0 Nacional do reterdo Seminéro, REVISTA DAE WALTER ENGRACIA DE OLIVEIRA Engenheiro Civil ¢ Engenheiro Sanitarista — Profes- sor Catedrético de Saneamento Gerat da Faculdade de Higiene © Satide Publica da Universidade de ‘So Paulo. © conceito de habitacio esteve sempre ligado 20 sentido de abtigo, ou seja, de protzgao contra os elementos, como tanibém de recinto que permite pre- servar a intimidade do homem e de sua familia Contude, modernamente, o sentida de habitagdo tem sido ampliado, pois no se pode separar a habitagio do meio que a circunda, pois os dois esto intima- mente ligados, Devemos assim considerar a “habi- tagio", entendendo como tal a estrutura material que proporciona abrigo, ¢ 0 “ambiente residencial” como © local onde a habitagio esté ou seré implantada. Assim, para efcito de melhor ordenar 0 exame dos varios aspectos da solugio do problema da habita- G0 usaremos as duas expressi:s separadamente, ou seja, “habitagio”, quando quetemos mencionar a uni- dade habitacional propriamente dita, o abrigo, ¢ “am- Diente residencial” quando queremos nos referir eo locat onde esta ou seré construfda a habitacio, sia lo, uma quadra, um bairro ou uma cidale, Estas consideragdes sf vilidas tanto para a habitagio na zona urbana, como na zona rural. Contudo, em mui- tos casos, quando por exemplo, dizemos “problema da habitagio” ¢ “saneamento da habitagio” a ex- pressdo “habitacio” deve ser entendida no szu sen- ido amplo, incluindo 0 meio fisico que a envolve, ou seja 0 ambiente tesiden: A Organizagio Mundial da Saide, desde a sua fundagio vem se interessando pelos aspectos. sani- térios relacionados com as habitagées, A Conferén- cia internacional da Sstide, realizada em 1946, em Nova York, reconheceu a0 aprovar @ constituigao da Organizagio Mundial da Satide, que ndo se po- deria “alcangar para todos os povos o grau maximo possivel de satide sem atingir varios objetives, entre ‘es quais 0 de “promover, com a cooperaciio de ou- tos organismos especializados quando necessirio, a melhoria... da habitagdo... © outros aspectos da higiene do meio”. Assinalamos ainda qu: a antiga 33 Liga das Nagées, através da sua Organizagio de Hi- giene, precursora em muitos aspectos da Organiza- go Mundial da Sade, se ocupou também do pro- bBlema das relagdes entre a habitagio © a satide, cons- tituindo em 1936 uma comissio de estudos (17 — pag. 5). A declaragio de principios da Organizagio dos Estados Americanos, firmada em 1956, inclusive pelo Brasil, estabeleceu: “Os Estados que integram a Organi dos Fstados Americanos reconhecem € Proclamam 0 “Direito do Homem” ao uso de uma habitacio higignica, adequada as suas necessidadas e dotada dos servicos pé- blicos © comunais. indispensiveis". Na célebre enciclica “Mater et Magistra” do satidoso Papa Joao XXIiL (11) também foi dado Enfase & solucdo do problema da habitacio, como um dos fat6res do desenvolvimento, inferindo-se 0 estabelecimento do direito do homem a uma habita- $40 condigna dentro de um ambiente residencial sau- davel. IMPORTANCIA DA SOLUCAO DO PROBLEMA DA HABITACAO A solugio adequada do problema da habitagio ‘no sentido amplo do-termo, abrangendo portant 0 meio ambiente que a citcunda, constitu: fator essen- cial para a saiids do homem ¢ de sua familia, wni- dade basica da sociedade, Constitui portanto um fa- or fundamental para 0 desenvolvimento da huma- nidade. O deficit habitacional, ndo s6 em paises como (© nosso, que esto em fase de desenvolvimento, bem. como mesmo em paises desenvolvides, apresenta in- ices impressionantes. Na apreciagio do deficit de- ‘verse levar em conta a necessidade atual de novas habitagGes, inclusive para substituir ou melhorar quando possivel, as habitagdes em condigdes inade- quadas, a necessidade de atender a demands oriun- da do crescimento demogrifico da populacdo, ¢ a ecessidade de considerar as habitagées que com 0 correr do tempo vao se tornando obsoletas. Com base em estudos oficiais sObre 0 deficit de habitagdes no Brasil, apresentamos alguns dados que bem refletem a gravidade do problema: 2) 0 deficit presente € da ordem de 7 a 8 milhdes de habitagdes; b) aproximadamente a metade do nv- mero de habitagdes existentes é constituida de uni- dades subnormais (habitagdes em condicdes inadz quadas); ¢) para atender © crescirmento demogréfico mo periodo 1960-1970 precisariamos de mais 4.871.000 habitagdes, sendo 574,000 na zona rural © 4.297.000 na zona urbana (14). s Segundo citago de Pedroso (18 — pag. 7), cér- ca de um tér¢o da populagio mundial viveria sob condigdes desfavordveis de habitacio. Os dados acima refletem a gravidade do proble- ma da habitaggo, ¢ a necessidade de enfrentar-se @ solugdo adequada do problema. Assinalamos que na apreciagio do problema de como solucionar 0 deficit habitacional, deve tam- bém, ser devidamente equacionado © problema relati- vo a0 ambiente residencial, ¢ no somente o das ha- bitagdes propriamente ditas; éste fator torna a ques- tio bem mais complexa, principalmente do ponto de vista econémico-financeiro. 3. ASPECTOS DA SOLUCAO DO PROBLEMA DA HABITACAO 3.1 — Amplitude do Programa Habitacional ‘A solugéo do problema da habitagio, confor- me mencionamos, no pode deixar de ser encarada ‘no seu sentido amplo, ou seja, envolvendo a hal taco propriaments dita e 0 ambiente residencial on- de a mesma esté ou seré implantada, englobando portanto uma série de servicos e instalagdes diversas € mecessérias ou convenientes para o bem estat so- iduo ¢ de sua familia, Um programa habitacional que nio eve em conta. ambiente residencial, néo atingira 0 con- ceito de satide, segundo a definigio da OMS ¢ jé mencionada: “...estado de completo bem estar fie sico, mental e social, e nio apenas a auséncia de doenga ou enfermidade”. cial © a satide fisica © mental do in 3.2 — Concelto de habltagio, © conceito fundamental do que deve ser uma ha- bitagio, varia de uma regio para outra regiéo, ou ‘numa mesma regio, dependendo particularmente do clima, de costumes ¢ tradigées locais ¢ de condig&es econdmico-financeiras, De uma maneira geral © tipo que predomina é a habitagdo unifamiliar. As necessidades bésicas de cada familia se cons substanciam no seguinte: — um ou mais cdmodos habitéveis uma cozinha um compartimento sanitério um compartimento para depésito Por cémodo habitivel deve-se entender como um “edmodo usado para estar, comer ou dormir” & uma cozinha como “qualquer cémodo, varanda ou baledo usado inteiramente, ou em parte, para prepa- rar ou cozinhar alimento de consumo humano (7). Assim, segundo entendemos, a habitagéo minima REVISTA D.A.£. das num programa habitacional, adequado ambiente deveria ter: um quarto de dormir, uma sala, que em determinadas circunstincias também poderia servir de dormitério, uma cozinha e um banheiro (chuvei- 10, privada € lavatério). Nos programas de desfave- Jamento, a sala inicialmente ¢ eventualmente pode- ria ser suprimida, dependendo de condigées econd- mico-financeiras. Esta habitagdo minima poderia ser projetada prevendo-se a possibilidade de poder ser aumentada posteriormente; a habitacao minima seria portanto uma unidade embriso, conforme € denomi- nada em muitos programas habitacionais, 3.3 — Condigées fundamentals do ambiente residencial ‘As condigdes fundamentais a serem considera- objetivando um idencial sio: 3.3.1 — Area de construcio suficiente: esta questo envolve a fixagio da 4rea cober- ta qus deveré caber a cada morador, proble- ma cuja determinagio no € fécil, dependen- do particularmente de condigées sociais, eco- némico-financeiras, culturais © humanas pe- culiares a cada regido. De uma mansita geral, em estudos feitos ‘em vérios paises, tem sido estabelecidos valo- res que variam entre 8 a 16 metros quadra- dos de Srea coberta por morador (14-1X/7); ponderamos que no Brasil poderia ser ado tado como minimo o indice de 9 m’/morador. Outro dado que é de interésse num programa hhabitacional ¢ relacionado de uma certa forma com 0 assunto que estamos abordando 6 0 niimero de pessoas por familia. Segundo os resultados do recenseamento de 1960 0 ni- mero médio de moradores por domicilio no Brasil foi de 5,25 (14-1X/1). Podemos adotar para média brasileira, indices da ordem de 5 & 5,4 pessoas por familia, assinalando-se que nas classes de populagio de menor renda, es- sa média tende a ser maior. 3.3.2 — Comstrugéo adequada: a construgio da habitaggo depende de condighes regionais, quanto ao tipo de construgio, de materiais em- pregados, © de concepgio arquiteténica, as quais devem ser consideradas. Este € um fa- tor de grande importincia principalmente quan- do se considera 0 problema das habitagdes pré-fabricadas, 3.3.3 — Servigos ¢ equipamentos: os scrvi- 90s de abastecimento de figua, de esgotos sa- nitéios, de Sguas pluviais, de lixo, de luz, a Pavimentacio das vias piblicas, 0 transporte, © abastecimento, constituem outros fatdres es- sénciais a serem considerados num programa habitacional. REVISTA DAE 3.3.4 — Organizago comunithria: outros as- Pectos a serem considerados num programa habitacional dizem :espeito & instalagdo de centros de educagio, de recreacio, de saide © de assisténcia social. Assinalamos ainda que, para o bom sucesso d= um programa ha- bitacional, € dz grande importincia © preparo prévio dos futuros moradores de niicleos resi- denciais, especialmente quando os mesmos provém de habitagées sub-normais, como é 0 caso de favelas, cortigos, etc. 3.4 — Categoria do pessoal encarregado do Programa babitacional Assim, 2 solugdo do problema habitacional en- globa diversos aspectos, ligados a fatdres de sanca- mento, sociais, biolégicos, bem como a aspectos téc- nicos ¢ econdmico-financeiros, incluindo os retativos a0 desenvolvimento da técnica © da indistria da construcio, E portanto um problema complexo, exi- gindo a participagio de técnicos os mais diversos, tais como médicos € engenheiros sanitaristas, © ‘demais profissionais em satide piblica, além de mé- ddicos e engenheitos de diversas espscialidades, plane- jadores regionais, arquitetos, construtores, biologistas, socidlogos, economistas, estatisticos, industriais, as- sistentes sociais, etc, 4. CONCEITUACAO DO AMBIENTE RESIDENCIAL SAUDAVEL 4.1 — Consideragées. gerais Os fatdres que influem no saneamento da ha- bitacdo sio os mais diversos, decorrendo dai a com- plexidade no estabclecimento de normas que concei- tuem 0 que se deve entender por ambiente sesiden- cial saudavel. Por outro lado existem condigdes 1o- cais de clima, préticas sociais, costumes ¢ tradigdes que podem influir no estabelecimento dessas normas. abordaremos portanto sdmente os conceitos funda- mentais que, & rigor, no esto condicionados a con- digdes locais. 4.2 — Requisitos fundamentais para o ambiente residual sandivel 4.2.1 — Critério do Comité de Especiatistas ‘em Higlene da Habitagio — OMS Apresentames a seguir os requisites funda- mentais para um ambiente residencial saudi vel, seguindo o critério estabelecido pelo Co- mit de Especialistas em Higiene da Habita- $80, reunido em Genebra em 1961, sob 0 pa- trocinio da Organizegio Mundial da Sade — OMS (17 — pag. 19): “1 — Disponibilidade de habitagdes, bem construf- das ¢ conservadas, independentes © em quantidade suficiente para que todas as familias que 0 desejem possam dispor de ums que tenha, pelo menos: a) mimero de cOmodos, a érea util ¢ a cubagem, suficientes Jo ponto de vista da higiene © das necessidades de vida adequadas as normas cul- turais de cada regio. A area habitével deverd estar distribuida de modo a que nfo haja con- finamento nos dormitérios nem nos locais de estar; ») uma distribuigéo ‘cupantes: interna que permita aos 1 isolar-se uns dos outros, quando o deseja- rem; € Ti) evitar incémodos procedentzs do exterior; ©) uma separacio adequada: J) entre os dormitérios de adolescentes ¢ adul- tos de sexos diferentes, salvo 0 caso de ca ID) entre habitagSo. propriamente dita e 0s Jo cais para animais domésticos; 4) um sistema de abastecimento de agua potével © de bom sabor, conduzida em tubulagdes devida- ‘ments protegidas, até 0 patio ou o interior da casa, Os ocupantes devem dispor de téda a égua de que necessitem para a limpeza doméstica ¢ 20 asscio © conférto pessoal; ©) um sistema higiénico de eliminagio de aguas residuirias, lixe e outros dejetos; )instalagdes adequadas para banho ¢ Iavagem; 8) instalagdes adequades para cozinha, sala de re- feigées, dispensa ¢ armérios para utensilios do- mésticos objetos de uso pessoal; 1h) protegao adequada contra 0 calor, o frio, 0 rui- do € a umidade. i) ventilagdo suficiente e ar interior isento de subs- fancias téxicas ou nocivas; j) iluminaco natural e artificial suficientes. 2 — Localizagdo das habitagdes em bairros executa- dos segundo normas adequadas de planejamento ur- bano, rural e regional, ¢ que preencham as condi- ges abaixo indicadas: a) existéncia, quando os recursos econdmicos as- sim 0 permitam, de servigos piiblicos de abas- tecimento de agua, coleta ¢ tratamento de Aguas residuirias, coleta e tratamento do lixo e ou- ros dejetos e escoamento das aguas pluviais b) protegdo contra a poluigdo atmosférica por ga- ‘ses tdxicos ou nocivos e por odores, fumaga © ‘poeira; ©) existéncia de servigos policiais ¢ de extingto de incéndios; 4d) existéncia de servigos industriais, centros comer- siais, instituigdes culturais, socias, religiosas, edu- cativas, recteativas, sanitirias ¢ de assisténcia, Ii gados 5 moradias por uma réde vidria dotada de calgadas © caminhos para pedestres © por servigo de transporte coletivo; €) protegiio contra os perigos que possam amea- gata satide, o bem estar € a motalidade pi- blica”. 4.2.2 — Critério da Associngio Americana de Sadde Piblica a) Prinefpios Bésicos da Habitagio Sadia ‘A Associagio Americana de Satide Publica (‘American Public Health Association — APHA"), através da Comisséo ds Higiene da Habitagio, elaborou uma série de principios bé- sicos da habitagio saudével, os quais foram traduzidos pelo Eng, Alvaro Milanez (ver 13.1); recomendamos aos interessados em mais deta- Ihes sObre éste assunto que recorram & publica- ‘go. mencionada, Os “Principios Basicos” sé expressam em nor- ‘mas que atendem: — as necessidades fisiolégicas fundamentais, == as necessidades psicoldgicas fundamentais; — A protegdo contra 0 contigio; ¢ — a protecdo contra acidentes. Transcrevemos a seguir da publicagio acima re- ferida, os “Principios Bésicos da Habitagio Sa- dia” e que sio: Segdo A — Necessidades Fisiolégicas Fundamentals Principio 1 — Mamutengio de um ambiente que impega perdas indevidas de calor lo corpo humano, Principio 2 — Conservagdo de um ambiente tér- mico que permita perdas adequadas de calor do corpo humano. Principio 3 — Provisio de uma atmosfera de ra- zodvel pureza quimica, Principio 4 — Provisio de adequada iluminagio natural sem dar Jugar a destumbra- mento indevido. Principio 5 — Disposigées para admissio de luz solar direta. Principio 6 — Fornecimento de adequada itumina- ‘$80 artificial, evitando-se 0 ofusca- mento. REVISTA D.ALE Principio 7 — Protegéo contra 0 rufdo excessive. Princfpio 8 — Fornecimento de espago adequado para exercicio ¢ recreagio das criangas, Seco B — Necessidades Psicoligicas Fundamentals Principio 9 — Provisio de adequado isolam2nto (privacy) para o individuo. Principio 10 — Fornecimento de oportunidades pa- ra uma vida familiar normal. Criago de oportunidades para uma vida de comunidade normal. Criagio de facilidades que tornem ossivel © desempenho das tarefas caseiras sem cansago fisico ou men- tal indevido. Principio 13 —- Fornecimento de facilidades para ‘a manutencio © limpeza da casa e hhigiene de seus moradores. Principio 14 — satisfagiio estética na casa ¢ em seus arredores, Principio 15 — Concordancia com as normas so- ciais vigentes na comunidade, Segio C — Protegio contra © Contigio Princfpio 16 — Fornecimento de um suprimento de Agua de qualidade sanitiria segura, disponivel na casa. Princfpio 17 — Proteciio do sistema de abastecimen- to de Agua contra a poluigéo den- tro de casa. Principio 18 — Fornecimento de instalagdes. sanité- rias que tornem minimo o perigo da transmissio de doenga. Principio 19 — Protegéo contra a contaminagiio das superficies interiores da casa em contacto com os esgotos. Principio 20 — Medidas que impecam a falta de condigées sanitarias nas vizinhangas da casa, Principio 21 — Excluséo da casa de animais dani- nhos que possam dar lugar a trans- misséo de doenga. Principio 22 — Fornecimento de facilidades que permitam a conservaio do leite © outros alimentos sem se decompo- rem. Principio 23 — Fornecimento de espago suficiente nos quartos de dormir de modo a REVISTA DAE tornar minimo o perigo de infecgio por contégio. Segéo D — Protegio comtra Acidentes Principio 24 — Levantamento da casa com tais ma- teriais e sob tais métodos construti- ‘vos que tornem minimos 0s perigos de acidentes devidos 20 desmorona- mento de alguma parte de sua es- trutura. Principio 25 — Contréle dos fatéres capazes de causar ineéndios ou de permitir a ‘sua propagacao, Principio 26 — Fornecimento de adequadas fa dades para fuga em caso de incéndio. Principio 27 — Protegio contra o perigo de cho- ques elétricos © queimaduras. Principio 28 — Protecio contra os envenenamentos por gas. Principio 29 — Protecio, contra quedas ¢ outros acidentes” domésticos. Principio 30 — Protesio da vizinhanga contra os perigos do tréfego dz automéveis b) Deficiéacias bisicas das habitages: julgamos foportuno a éste respeito transcrever de (lL — Pe 6) © seguinte: “Ao examinar as deficigncias bisicas das habitagdes nee Habitacho da Associagio Americana de Satide Péblica (APHA) relacionou as seguintes condigées. (1) 8) Abastecimento de gua contaminada. b) Suprimento de Agua fora da casa. ©) Instalagdo sanitéria (toilet) de uso eoketivo ou fora da casa. 4d) Banheiro de uso coletivo ou fora da casa, ©) Ocupacio média acima de 1,5 pessoas por cé- modo habitavel. f) Superlotagio de dormitétios (Residentes > 2 % me de dormitérios + 2). 8) Menos de 40 pés quadrados (3,6 m') de dren média para dormir, por pessoa. bh) Uma tinica safda, i) Falta de aquecimento em 75% dos cémodes. (*) i) Falta de instalagoes elétricas. (@ Pond, M. A., Housing and wealth: Sanitary Aspect of the Dwellings, Ain. J. Public Helath, Vol. 39, 2° 4 April 198, (©) Em ropices de clima trio. severo 7 1) Auséneia de janeles nos quartos. m) Mau estado de conservagéo. A falta de atendimento a quatro ou mais requisitos mencionados qualifica uma situagéo grave. Posteriormente, em comegos de 1957, a mesma Associagio divulgou os principios da Casa Rural Saudével, compreendendo 27 requisitos gerais, gru- pados em quatro segdes (2). DIMENSOES MINIMAS DAS HABITACOES AREA MINIMA UTIL ESTADO DE SAO PREFEITURA DE DALDY @) POR COMODO PAULO ‘SAO PAULO 10m 12m" 8m? (havendo mais de um — (havendo mais de dois (menor dimensio hori- QUARTO DE dormitério, um teré no dormit6rios, um ter. zontal: 2,13m) (haven- SoRNIR minimo 16m? e os ou- 10m’ ¢ 0s demais &m', do um cémodo habité- ‘tros 6m) permitindo um com 6 m) vel: 18,7m'; havendo dois ou mais, um tera 112m" ¢ os outros 7,5 m) Bm SALA (havendo um 56 apo- sento: 16m?) 6m 6mm" 2.8m" (havendo uma sala, a (estando ligada A copa (menor medida _hori- COZINHA cozinha pode ter 4m’) ou tendo uma sala e zontal: 1,52m) um dormitério, pode ter 4m’) COPA Sm* 4mt 12m COMPARTIMENTO 125m" Lm 112m SANITARIO (privada) (chuveiro e privada) (privada) 2m 2m? 1,12m? (méximo) DEPOSITO (despensa) (éepésito, despensa ou (menor dimensfo hori- rouparia) zontal: 0,76m) 2,Sm (habitago diur- — 2,5m_(compartimentos 2,5 a 275m PE DIREITO na) em geral) (dependendo do clima MINIMO 2,7m (habitagio notur- _2,7m (habitago notur- edo. sistema e condi- na) na) ges de ventilagio) um dormitério um aposento NUMERO DE uma cozinha uma cozinha COMODOS DA um compartimento compartimento_para HABITACAO para chuveiro ¢ Iatrina —_latrina © banheiro MINIMA (habitago popular minima (@) Am. Public. Health Ass, Committee on Hygiene of Housing. Principles for Healthfal Rural Housing, N.¥., 1947. REVISTA DAE ‘Tyanscreveremos a seguir as exigéncias da Pri- meira Segio, referentss & protegéo sanitéria: 1 — Provisio de um suprimento de égua ga- rantido, disponfvel na casa. saudavel nos arredores da casa. 3 — Provisio de instalagdes s duzam ao minimo o perigo de transmis- sio de doencas. 4 — Protegiio do sistema de abastecimento de gua contra a poluigio na prépria casa. 5 — Protecdo da habitaco contra contamina- do pelos seus proprios esgotos. 6 — Exclusio de animais indesejéveis (ratos, moscas, mosquitos), que possam transmi- tir doengas. 6 — Provisio de instalagdes para limpeza. 8 — Provisio de -instalagées para preservacio do Ieite © outros alimentos deterioraveis. 9 — Proviso de espaco suficiente nos cdmo- dos de dormir, dz modo a reduzir 20 minimo 0 perigo de infeccZo por contato. Nada menos que seis requisitos referem-se di: retamente a abastecimento de gua, esgdtos sani ios ¢ afastamento do lixo”. 4.3 — Alguns aspectos de normas sibre a habitagio 4.3.1 — Considernses gerais: ‘A fixagio de normas minimas aplicaveis as habitagées € um problema complexo que depende de muitos fatdres, conforme j4 foi abordado; as condicées Jocais de clima, costumes, tradigbes, pos- sibilidades econdmico-financeiras, condigies sociais, € culturais © outros fatdres variados € que concor- rem para esta complexidade, Assim, num pais como © nosso, no se pode pretender estabelecer, com Precisio, normas sébre a habitagdo, aplicaveis a t6- das as regides, dada a grande variedade das caracte- risticas das mesmas; mesmo numa mesma regio, como numa mesma cidade, os drgios competentes sero muitas vézes obrigados a aceitar ou tolerar certas modificagdes ditadas pela imposigio de pro- blemas graves, como por exemplo, o desfavelamen- to. Dai a importincia de serem claborados estudos © pesquisas sbbre a habitacdo, em centros regionais coordenados por um érgio nacional, conforme ex- poremos mais adiante, Abordaremos contudo alguns aspectos genéricos sObre normas aplicéveis as habitagdes em geral, as quais poderio servir de orientagio no estabeleci mento de normas para uma determinada regio. REVISTA DAE Sabre éste assunto recomendamos o exame das publicagdes (7), (13.1) © (17 — item 2 — pg. 18). a) Confinamento: os seguintes indices podem ser aplicados com © objetivo de evitar-se 0 confi- namento, fatér éste muito prejudicial & sadder: — mimero total d: pessoas por cémodo < 1,5 — niimero de pssoas por cémodo habitével < 2 Assinalamos que as criangas até um ano de dade no séo contadas, as criancas de um a dez anos so contadas como meias pessoas. Assinalamos também que por cémodo em geral se deve entender qualquer pega da casa (sala, quarto, banheiro, cozi mha), © por cOmodo habitivel como qualquer cé- modo usado para estar, comer ou dormir (quartos ¢ sala de estar). Conforme citagio transcrita de (14 —iX/6) “a mortalidade infantil é duas vézes ¢ meia maior quando hé mais de duas pessoas por quarto”. b) Dimensdes minimas das habitagdes: Apre- sentaremos a stguir 0 quadro de Dimensées Mi mas das Habitagées, elaborado com base em dados transcritos dos seguintes documentos: Lei n.® 1561 “A, de 29 de dezmbro de 1951, que dispde sobre a Codificagéo das Normas Sanitérias para Obras ¢ Servigos, no Estado de Sao Paulo; Lei n° 4.615, de 13 de janeiro de 1955, Capitulo 4 — Condigdes Gerais das Edificagées, da Prefeitura Municipal de ‘Sho Paulo; Padrées de Comodidade para Habitagdes de Tipo Popular em Paises Tropicais, trabalho ela- borado pelo Dr. A. F. Daldy (ver publicagio 7% no quadro mencionado abordamos 0 problema das Greas minimas por cémodo, © pé diteito mfnimo ¢ © mimero de cémodos da habitagio minima. ©) Instalacdes de agua, esgotos sanitirios de féguas pluviais: t6da habitaco deveria contar com gua em qualidade e quantidade adequadas; em con- digdes especiais, no minimo, deveria haver bem pr ximo & habitagdo um local onde 0s moradores pudes- ‘gem se abastecer. As instalagdes devem ser executadas com materiais adequados, evitando-se qualquer pos- sibilidade de inter-conexdes perigosas que poderiam permitir a polvigio ou contaminagio da dgua, bem ‘como deve-se evitar a possibilidade do refluxo de Aguas de mé qualidade, como aguas residuérias de pias, lavatérios, banheiras, bidés © mesmo de bacias sanitérias. Assinalamos que a gua constitui veiculo responsivel pela transmissao de varias doencas, co- mo febre tiféide, amebiase, etc. (15). Em zonas desprovidas de sistemas pablicos de coletas de esgotos sanitirios, como por exemplo, na zona rural, as habitagdes devem ser providas dc sistemas individuais adequados, como por exemplo fos tangues sépticos, no minimo devem contar com 3° privadas higiénicas ou fossas sécas para disposicéo dos dejetos humanos. Nas zonas urbanas os Grgios competentes de- ‘vem. portanto providenciar a construgdo de sistemas de fguas © esgotos adequados, bem como de coleta © disposigio de Aguas pluviais; nas zonas rurais, ‘os sistemas individuais, como poyos devidamente protegidos ¢ tanques sépticos ou privadas higiénicas, devem ser bem construfdos © conservados, sob a corientagio das autoridades. sanitérias. 4) Protecie contra o calor, frio, amidade e rul- do: Constituem problemas intimamente ligados a condigies locais. Dependem em esséncia de cuida- dos na escolha dos materiais de construgéo, de pro- jetos bem elaborados ¢ de métodos construtivos ade- quados; tratam-se pois de problemas a serem devida- ‘mente equacionados em cada regio. © problema do combate a0 ruido esté também ligado a dispositivos a serem previstos no planeja- ‘mento territorial da regiéo, na parte referente 20 re- gulamento do zoneamento. A titulo de exemplo ci- tamos 0 Decreto n° 3.962, de 26-8-1958, que regu- lamentou a Lei n° 4.805, de 29-9-1955, da Prefei- tura Municipal de Sto Paulo, e que dispde sobre {dos urbanos protegiio ao bem estar e a0 sosségo pablico. 2) Ventilagio, ituminacSo ¢ Insolagéo: a venti- ago, a iluminago e a insolagéo que constituem fa- Ores de grande importincia para a satide dos mora dores da habitagio, esto relacionados basicamente a condigées locais, como o clima por exemplo; em geral em muitos cédigos de obras as areas destina- das & ventilagio ¢ & iluminagio natural so estabe~ lecidas em fungio da Area do piso. A iluminagio artificial dever& ser prevista de modo a fornecer a quantidade de luz necesséria as diversas fungées exe- cutadas dentro da habitagéo, ‘A titulo de exemplo citamos 0 que dispée 0 ar- tigo 60 da citada Lei n.° 1561-A, de 29-12-1951: “A superficie iluminante dos compartimentos deverd str no mfnimo de um oitavo da rea do piso do com- partimento, respeitado sempre o minimo de sessenta decimetros quadrados”. Assinalamos que 0s fatdres do meio que inffuem no equilibrio térmico do organismo humano, e que Por conseguinte devem ser considerades no estudo do saneamento das habitagGes so quatro: temperatu- ra do ar (determinado com o termémetro de bulbo séco), temperatura radiante média, umidade do are movimentagao do ar. 1) Lixo: em téda habitagio devem ser tomados ‘0s devidos cuidados para 0 acondicionamento ade- quado do 1ixo, notadamente dos restos de alimentos. © lixo deve ser recolhido em recipientes apropria- «0 dos, que em geral so latas providas de tampas. Nas zonas urbanas, 0 poder piblico deve estar equipado para executar a coleta, o transporte e @ destino fi- nal adequado do lixo. Nas zonas rurais, de uma ma- neira geral o lixo deve ser devidamente enterrado ou incinerado. Assinalamos que 0 lixo desde que nio devidamente acondicionado, coletado ou disposto, concorre para a proliferagéo de moscas, roedores € mosquitos em certos casos, ¢ que so responsiveis pela transmissio de um grande nimero de doengas, ou desconférto, 8) Moseas, mosquitos ¢ ratos: as habitagdes de- vem ser protegidas contra a entrada déstes animais, responsiveis, conforme acima mencionamos, por um grande niimero de doengas como por exemplo, res- pectivamente, febre tiféide, malaria ¢ peste bubdni- ca, e também pelo desconférto que trazem, como por exemplo as picadas de mosquitos. Um dos métodos de combate as moscas ¢ mos- quitos consiste em prover tédas as aberturas exter- nas das habitagées (janelas, portas, ete.) de tela com malha n° 16 (dezesseis aberturas * em cada sentido), cesta medida assume especial importincia nas zonas malarigenas (9). Com relagio aos ratos, principal- mente nos locais onde ocorra uma infestagio acen- tuada, deve-se levar em consideragio as medidas re- comentéveis para as construgdes a prova de ratos (16); assim, por exemplo, se deve reformar ow cons- truit novas habitagdes, de maneira que ndo fiquem espagos vazios, como paredes duplas, que poderiam servir de abrigo 20s ratos. 1h) Protegio contra acidentes: as habitagbes de- ‘vem ser construfdas com materiais adequados, se- guindo projeto e métodos d= construgéo recomendé- veis para evitar defeitos de construcio que podem causar acidentes de maior ou menor gravidade; os locais onde sero implantadas as construgées tam- bém devem ser escolhidos com 0 devido cuidado, para evitar acidentes, como por exemplo, destiza- mento de partes de morros, inundagées ¢ outras ca- lamidades. No projeto das habitagées também de- vem ser evitadas condigdes que podem conduzir a acidentes, como € 0 caso de escadas mal construidas. Certos materiais empregados em pisos, bem como 0 tipo de conservaco dos mesmos, podem ocasionar acidentes, como € 0 caso de ladrithos encerados em rampas de acesso. Além disso ha uma série de aci- dentes domésticos que poderiam ser evitados median- te a divulgagio de certos cuidados a serem tomados pelos moradores. i) Planejamento territorial: no concebemos 0 desenvolvimento adequado de uma regiso sem 0 apoio de um adequado planejamento territorial, em que os detalhes da ocupagio do solo, da area ¢ vo" CF For polegada, REVISTA DAE Jume das edificag6es, da localizagio das diversas 20- nas (residenciais, industria, ete.) e vérios outros fa- Gres ndo f6ssem previstos. Com o adequado plane- jamento territorial poder-se-ia desenvolver harméni- camente 2 zona urbana ¢ a zona rural, sem os dese- quilibrios maléficos que constituem problemas para todos 0s paises em geral, desenvolvidos ou em desen- volvimento. Por outro lado, com o planejamento ter- ritorial poderse-ia controlar e procurar limitar 0 crescimento das cidades, de modo a que nfo ultra- assem os limites considerados dtimos, e que segun- do nossa opinido giram em toro ds 50.000 a 60.000 hhabitantes (15). Como bem acentua o Padre Lebret (12.1 — pig. 133): “Um dos aspectos mais alarman- tes da répida evolugio a que assistimos 6 uma desor- denada concentracao urbana, cujos efeitos humanos so dos mais graves", Assim, principalmente nos Programas habitacionais de maior vulto, o planeja- mento territorial deve ser devidamente considerado. 5 — PROGRAMAS HABITACIONAIS No empreendimento de um programa habitacio- nal, que & condicionado por uma série de fat6res complexos, varios sio os aspectos bésicos a seem considerados. Um déles & a fixaglo da habitagio minima e as normas minimas que deve satistazer. Outro aspecto basico & 0 levantamento da situagio existente, mediante inquéritos habitacionais bem cla- borados, Finalmente, outro aspecto bisico € 0 pro blema econémico-financeiro, tendo em vista os re- cursos disponiveis ¢ a capacidade financeira dos fu- turos adquirentes de habitagdes. Um programa habitacional exige portanto 0 con- curso de profissionais os mais divessos, conforme jé expusemos, tais como, médicos, engenheiros, sociélo- 203, assistentes sociais, arquitetos, estatisticos, econo- mistas, bem como exige a participagio de entidade de financiamento ¢ da indistris da construgio, 5.1 Fixagéo da habitagio minima Tivemos ocasiso de ja apresentar neste trabalho, nos itens 3.2 ¢ 4.3.2-a, 0 que se deve entender por habitagéo minima. Num programa habitacional tor- nase importante fixar 0 conceito de habitacio mini- ma, o qual poderd também ser uma decorrente do inquérito habitacional a ser elaborado, onde serio esquisadas as necessidades a serem atendidas em matéria de habitagio. Também serio fixadas as nor- ‘mas minimas a serem previstas com relagiio ao pro- jeto © & construsio, incluindo os materiais emprega- dos, dando-se preferéncia aos dbtides no proprio lo- cal, métodos de construgio, instalagdes prediais do- siciliérias, etc. Assinalamos a éste respeito que ape- sar de dever merecer prioridade 0 atendimento de hhabitagéo as familias que moram nas favelas, por ‘exemplo, hé outras faixas da populagio, da classe REVISTA D.AE operéria em geral, © mesmo da classe média, que dovem ser atendidas, pois as mesmas vem atraves- sando problemas dificeis no tocante & habitacio. 5.2 — Inquérito habitacional A avaliagio das necessidades habitacionais deve ser devidamente planejada, Pode ser feita por pes- quisa global ou por meio de amostras representati- vas. A pesquisa visa conhecer as caracteristicas fi- sicas das habitagdes, a existéncia ¢ utilizagio dos servigos piiblicos — agua, esgéto, lixo, éguas plu- viais, luz, gfs, transporte coletivo, a densidade de- mografica de ocupacéo, o nivel de renda dos mora- dores, a condicaio de ocupagio, a parcela de renda destinada & moradia, o interésse pela aquisigio da casa propria, a existéncia ¢ utilizagaio de servigos diversos — de educagio, de recteagio, de colto re- ligioso, de satide ¢ assisténcia social, de cultura, as condigdts relativas as fontes ocasionadoras de noci- vidades — ruidos, maus odores, poluigao atmosfé- rica, etc. ‘Torna-se portanto bastante importante, fixar pa- drées minimos de saneamento e de conférto, a fim de se poder avaliar as deficiéncias existentes Bsses padrées, conforme ja foi salientado, podem variar de uma regio para outra, e as vézes dentro de uma mesma. regio. Na avaliaglio das condigdes fisicas das habita- es, principalmente das relacionadas ao saneamento, procura-se pesquisar o seguinte: niimero de morado- res *, ntimero de dormitérios, existéncia ou no de cozinha, copa, banheiro ou chuveiro, aparelhos sa- nitérios, existéncia ou no de absrturas teladas (par- ticularmente em zonas malarigenas ou em zonas em que a grande quantidade de mosquitos causa descon- f6rto), tipo de instalagbes de Agua ¢ esgdto (inclusi- ve do tipo de fornecimento de 4gua e de coleta e disposigdo de esgotos ¢ de dejetos humanos), a situa- Go da habitagdo no terreno ¢ a utilizagao déste, 0 grau de conservagio da casa, os materiais de cons- trugdo (paredes, cobertura, pisos, etc), a qualidade do revestimento (particularmente em zonas onde ‘ocorre a moléstia de Chagas) e das portas e janelas, sistema de acondicionamento e de coleta do lixo, sis- tema de prepato e atmazenamento de alimentos em geral (leite, carne, etc). Tnicialmente deve-se procurar dividir as habita- ses da regiéo em tipos diversos, para facilitar 0 trabalho dos pesquisadores; assim por exemplo, con- sidera-se © cortigo, 0 barraco, a casa popular, 0 apartamento popular, a casa média ou fina, etc., com ‘base em uma pesquisa expedita, com o resultado da ‘qual se pode definir cada um dos tipos de habitagéo da mancira mais clara possivel. Outro ponto a consi- () Sus idade e grau de parentesco, niimero de cmodos a derar € o que se deve entender por familia cohabi- tante; um critério 6 considerar como duas familiss 95 casais residentes com ambos os pais de um dos cOnjuges, admitindo-se que cada famflia natural (pais ¢ filhos) poderia absorver uma ou duas pessoas de outras familias, desde que niio houvesse lagos filiais centre estas diltimas, Colhidos os dados, passa-se a0 trabalho de ava- liago e de andlise, que é feito no esctitério. A apre- sentagiio dos resultados deve ser feita inclusive com © auxilio de representagdes grificas diversas. Cumpre salientar a éste respeito 0 trabalho exs- evtado pelo Escritério de Pesquisa Econdmica Apli- cada (EPEA) do Ministerio do Planejamento © Co- ordenagéo Econémica, objetivando 0 Plano Decenal em preparo pelo Govérno Federal; éste trabatho in- titulado “Diagnéstico Preliminar do Setor de Habi- tagio” acha-se indicado em (14). 5.3 — Aspectas econdmico-financeiros No estabelecimento da solugio do problema ha- bitacional um dos sérios problemas a enfrentar € 0 oriunde do atendimento dos recursos finanesiros ne- cessarios a0 cumprimento do programa. Deve-se pre- ver um determinado periode conform: a regio, o qual deve ser no minimo da ordem de cinco anos, ¢ programar levando em conta o deficit atual, 0 ctes- cimento demogrifico, a necessidade de substituico de habitagdes existentes que vo sz tomando obso- letas, € a reforma ou adaptacéo das habitacdes sub-normais que podem se enquadrar em habitagdes adequadas. Para o atendimento dos recursos financeiros de- ‘vem concorrer as agéncias governamentais, como cai- xas econdmicas, institutos de previdéncia, etc. Pode se também contar com recursos de entidades inter- nacionais dispostas a cooperar, como € 0 caso do Banco Interamericano do Desenvolvimento (BID) que tem se interessado pela solugio do problema da ha- bitagdo na América Latina (2.1 © 2.2). As indistrias, principalmente as maiores, pode- riam contribuir ponderavelmente para a solugio do problema da habitagio dos seus servidores. Opor- tuno transcrever a tespeito 0 seguints de (18 — pée. 5), onde € exposto 0 qu: vem realizando a emprésa Indéstria e Comércio de Minérios S. A. — ICOM, no Amapé: “Dentro das atribuigdes dessa fungio so- cial que Ihe € atribuida, deve o empresério facilitar or todos os meios o estudo ¢ a implantacdo de me- didas que se traduzam em beneficios reais para a conmunidade, Com 0 progresso social assim obtido, ter-se-é um ambiente sadio € confiante, que influiré decisivamente na formagio da férea de trabalho. Este ensinamento, contido na sabia enciclica “Mater ‘et Magistra” do Papa Joao XXIII, de saudosa memé- ria, corresponde também ao sentido do programa de a cooperagio interamericana “Alianga para 0 Pro- ‘gresso”. Oportuno também salientar 0 trabalho que vir nha reatizando 0 Servigo Social da Indistria — SE- SI, Departamento Regional de Séo Paulo em prot dda constnigéo de nécleos residenciais destinados aos trabalhadores; éste programa que infelizmente esti priticamente parado no momento, aguarda providén- Por parte do Banco Nacional da Habitaséo. Outro fato a considerar no equacionamento do problema econdmico-financeiro, € a possibilidade ad- vinda da instalaglo de cooperativas habitacionais, que j4 vem operando em varios pontos do territério na- ional, como por exemplo em Sio Paulo. Em certas regides também pode ser facilitada a ‘execugo de um programa habitacional com o tra- balho direto dos interessados, em servigos de mio de obra nfo muito especializada, principalmente nos Programas com base em habitagéo embrido. 6 — ALGUMAS RECOMENDACOES RELATI- VAS A SOLUCAO DO PROBLEMA HABI- TACIONAL 6.1 — Principals recomendagSes do Comité de Especiatistes em Higiene da Habita- io — OMS Do trabalho j4 mencionado apresentado pelo Comité de Especialistas em Higiene da Habitacio, reunido em Genebra em 1961, sob 0 patrocinio da Organizago Mundial da Satide — OMS, transcreve- mos absixo o sumério com as principais recomenda- des apresentadas (17 — pag. 64): “1. Reavaliagio dos objetivos dos programas de habitagéo existentes, de maneira a as- segurar que éles satisfagam os requisitos humanos de um saudivel ambiente resi- dencial. 2. Provisio de unidades residenciais indivi duais © separadas para cada familia, ou habitagdo, se desejada. 3. A importincia do planejamento da vila, da cidade e da regio, como instrumentos na criagio de localizagdes agradaveis. par ra a habitagio, 4. Atencio cada vez maior as necessidades ha- bitacionais de grupos especiais de pessoas, como sejam, 0s residentes das areas ru- rais, os yelhos ¢ 05 incapacitados (handi- capped). 5. Educagio em profundidade e extensio ca- da vez maior dos que trabalham em satide piiblica © em outras profissées com inte- résse no campo d: satide © da habitagio. REVISTA DAE 6. Desenvolvimento de um programa global ¢ organizado de pesquisa dos aspectos de satide publica da habitagio, © Comité especialmente recomenda qu:: 1. Seja dada assisténcia aos paises em vias de desenvolvimento, de modo a criar sa dios ambientes residenciais (residential en- vironments) para suas populagées 2. Seja provide um sistema de gua potivel fe saborosa em cada unidade residencial, ov no Patio onde for facil e prontamente acessivel. 3. Uma atengdo cada vez maior deve ser di da & seguranga em casa e & prevengio de acidentes domésticos. 4. Que © pessoal de satide publica participe do planejamento nos niveis de vila, urba- no regional. 5. Que sejam eriados Planos Diretores de mo- do @ orientar 0 desenvolvimento harmo- nioso das areas residenciais, e revisados petiddicamente. Que sejam estabelecidos “Cédigos de Obras", caso no existam nas jurisdigdes do Govérno responséveis pela satide © ha- bitagao, 7. Que se formem Comissdes Nacionais de Satide ¢ Habitacio, 8. Que se desenvolva a lideranga da Organi- zagdo Mundial da Satide nos assuntos que dizem respeito & Sade A Habitacio. 6.2 — Criagio de Centros de Pesquisa sébre Habitagio Ponderamos set conveniente a criacio de um Centro Nacional de Pesquisa s6bre Habitaggo, em que 08 diversos fatres que concorrem num plano habitacional seriam devidamente investigados, tais como os que dizem respeito aos aspectos de sane: ‘mento, construgio, econdmico-financeiros, sociais, biolégicos, ¢ de planejamento territorial. Nas diversas regiGes do pais, que reunissem condigées climiticas ¢ sécio-econémicas relativamen- te semethantes, seriam criados centros regionais de pesquisas, com as mesmas finalidades do centro na- cional, © operando sob a sua orientagi0_ geral. Estes centros de pesquisas poderiam ser manti- dos por meio de recursos fornecidos por exemplo pelo Banco Nacional da Habitacio, pelo Servigo Fe- deral da Habitagio © Urbanismo, govérnos estaduais € mounicipais, institutos de previdéncia, universidades, REVISTA D.AE entidades industriais ¢ agéncias internacionais (Or- ganizagio Mundial da Satide, Banco Interamericano do Desenvolvimento, Organizagao Internacional do Trabalho, Organizagio Panamericana da Satide). ‘As pesquisas seriam elaboradas tendo em vista as habitagées no meio urbano ¢ no meio rural, dan- do uma énfase maior ao problema das favelas ¢ das habitagdes sub-normais em geral. 6.3 — Cédigo de obras e eédigo de normas sanitérias Bstes centros de pesquisas poderiam, com a co- Taboragio de juristas especializados no assunto, ela- borar modelos de cédigas de obras © de cédigos de normas sanitérias, aplicaveis as diversas regides do pais. 7 — SUMARIO E RECOMENDACOES © autor analisa os principais fat6res que in- fluem na progtamagio de um plano habitacional, com énfase maior nos problemas do saneamento da habitagdo, citando estudos ¢ recomendacées elabo- radas sob 0 patrocinio da Organizacéo Mundial da Satide © da Associacao Americana de Satide Publi- ca, Conclui apresentando, entre outras recomenda ees, uma sugestio visando a criagdo de um centro nacional © de centros regionais de pesquisas <ébre © problema da habitagdo om geral, visando inclusive a elaboracio de modelos de cédigos de obras ¢ de cédigos de normas sanitérias, aplicéveis as habita- Wes das diversas regides do Brasil 8 — BIBLIOGRAFIA 1. 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