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forense O HOMEM EA POLITICA atitudes ante o poder uma contribuig¢ao para ademocracia _ en O HOMEM E A POLITICA ‘Altitudes do ponto de vista do poder) “tnalsto em que o extudo da natureea humans nna politica, se elguma ver chogar a sor empreen- ido, pelo’ esforgo integrado e organisado de fentenas de homens culos, poderk mio somente ‘protunder © alargar noes eanhteimento sobre as IntitigSee politiens como abrir um novo velo da Invengdo politica” GGaxwaae Waxtas (O Pionelro) “A falta de interese no poder abandons. sccledade ace exploradores egoceatricos da fragil- dade humana” Hagou D. Lasswats (0 Mest) INTRODUCAO PODER, POLITICA E DEMOCRACIA ‘A democracia 6 um trabaino de todas nos Se ndo participamoe ndo devemoe recamar. 4s nezet, nem poderemos, 1H ter § ciara Wi ai in diferencas biologicas, psicoligicas e sociolégicas e se revela quando a vontade 0 ativa, agit on Os seresvivos esto dotados de opto 8 lonE Intintos para eaifazerm sume neceidades, No ser humare,além des necesidades ais, deseo, etme necesdaden devivadan que aio acl roo Gd pla lle © homer tem concinra de suas necesidades, vitals ou derived rai ou imagindran, © te peje como interesson para sates, emprege aoe Pldade de aio impulsionada por nun vontado de phe — empregn o poder do gus diate Ora, se na raiz do poder esté o interesse ¢, também, um de sus elementos eavenclls 6 vonads; /®etiologia do poder é preponderantemente psicolégica pest mence do que se peeriasuporo set clemento Ahjetivo a eapechdde do agente, ess 0 equivoco, que levado a extremo acaba confun- dindo o poder com a forga, e deve a visiblidade de seu elemento externo e 20 fato, memorial, de que © femprego da voléncia eausa sempre uma’ profunda emogéo; ¢ dramatico, quando nao, trigico. O poder surge diforo entre os membros dos grupos das comunidades primitivas; quando emerge a cons- citnein da existincia de interests coletivor ele tam- him se concentra e se expressa como um poder grupal. Surgem, assim, as sociedades. Como téo bem dbservou Durkheim, a socledade éessenclalmente um fendmeno de ordem espritul*e sun aparigao hsts- rica se deve, para Burdeat, a eclosto de umn estado de consciéncia que permite dstingui-la das formas instintivas de aglomeracdo humana. * ‘A aglomeracéo familiar ou 0 ajuntamento de Petstas noma praia podem ocorrer independenteroen- te de consciéncia de quaisquer interesses comuns; por utr lad, quando emerge a consctéeta da comuni- dade do interesos, stabolece 30a sociedade co podor aque nela se diferencia para prsseguirexses interes ses coletivos ji & um poder politico, Nesse paso, de histricatranscendéncia, o poder politico, nio mais como instrumento de realizgio de Interesesindviduais,tonando-eintrumento soca 7 Gf fame Dumcuerse — Les formes eémenteires de 1a oie reitewse, 1912, pg, 326. * Gk Gronaes Howoray — Traté ae Science Potiique, 1966, 1 vol, a. 58 © moma #4 Poste xv comeca por organizar a propria sociedade para a consecuetio de seus fins, O poder politico traz em seu bojo estas das idéiae: presentativn dae ntaracear ir eke erou, e uma organizacéo social apta E ca vocasio social do poder que 0 toma tao magnitico © 80 tremendo: dé-selhe uma finalidade 6 ele Pode construir civiizagées ou destrul-las, reali, ‘aro bem comum ou desgracar as nagdes, ‘As sociedades, por seu tumo, no transcurso dos seculos, tm experimentado iniimeras relagies estd “is de poder politico, desde as primitivas, no contexts da sociedade tribal, até as sofisticadas forma do shivivencia organizada hoje encontradas, das quals 6 considerou um pice a evolugdo das instituigdes politicas, > Toda 58a evolucio, Poder, como fenémeno Poder, jé acrescido de alcolégicos, fun- dado navconsciéncia individual da capacidade Ge int fluir, a superioridade intelectual, em atributrg Inisticos ou na forga de vontade, até cheyar ao poder, come fenémeno sociolégico, fundado na consciéncia ‘cial e surgido para tornar possivel a realizacdo de “gnome Haemow — Priniper ge drole pute, 1010, pie. 748, empresas coletivas, ndo tem sido desconhecida dos: ‘modernos estudos da Antropologia Politica ‘Nos tiltimos cingienta anos virios antropélogos, 4 partir de observagoes concluzidas em comunidades Prinnitivas, estudaram as chamadas “tribos sem go- vernantes”, confirmando, na experimentagio, esta linha evolutiva, que parte do poder difuso, o inico ‘encontrado nas aglomeracdes predominantemente ins- tintivas, até o nivel de instrumento social — o poder politico ou, simplesmente, 0 Poder. grafado\ com: inicial maitiscula, como tém preferido designé-lo alguns autores da linha cratolégica, na Ciéncia Poe Litiea e no Direito Politico, Assim, embora a agéo do poder nos grupos socials se tenha feito sentir imemorialmente, desde que 0 hhomem existe, sua orientacao social s6 se veio a dar uma etapa cultural bem mais avancada.* Essa lenta evolugio do poder, desde seu estadig Pessoal ¢ difuso dos grupos primitives, estidio pessoal ¢ concontrado das soc médias, até 0 estidio concentrado ¢ como 0 jé encontrado nas sociedades evoluidas, Disto resulta uma nova e, até o momento, diltima Aferenciacao do poder politico: o concentrado no [stado — o poder estaal. Pode-se dstinguir, assim, tés grandes momentos na etiologia do poder: o surgimento do poder, tout court, resultado da emerséo da vontade do mar dos instintos, 0 naseimento do poder politic, resultado da tomada de consciéncia do coletivo e do conseatien- te aparecimento da vontade coletiva, © a instituigao do poder estaal, resultado da mais refinada concen. tragao institucional, para a diresfo das sociedades Politicassuperiores O cstudo do poder politico, matéria-prima da po- lticae objeto da Ciéncia Politica, demanda, destarte, ue se considere, metodieamente, os seus fendmenos éaracteristicos: a concentragao do poder, a destihagdo ‘lo poder, a atribuigdo do poder, a distribuican do poder, o exercicio do poder, a contengéo do poder e 4 detensio do poder nas sociedades, considerando-se, de ‘modo especial, as. sociedades| contemporiineas cnganizadas como Estados, Por concentracio de poder ha de se entender todo fendmeno de aglutinagdo do poder difuso em formas ‘ondensadas e permanentes — a5 instituigéee. Por destinagio do poder entender.se toda ope dle uma sociedade por um modelo de vida politica, econémica e social (fim do Estado) e pelo papel do proprio Estado na realizagdo desse modelo, Por atrtbuicéo do poder hi de se entender a de: cisio de uma sociedade, explicita ou ndo, sobre que tipo de poder e em que medida deve ser concentrado no Estado para realizar os fins que dele se espera. Por disteibuigéo do poder entender.se-i a partilha do poder estatal entre varios érgios sob critérin. espaciais ou funcionais; é a competéncia orginica Por exercicto do poder hi de se entender as diver sa modalidades de emprego do poder estatal, bas camente a manutengdo da seguranga, a criacdo d Direito e a administracio dos interesses pablicos, « competéncia funcional. Por contengio do poder entender-se-4 o conjun’ de insttuigoes criadas para preservar os limites est: belecidos para a atuagio do poder estatal e das dema formas de poder existentes na sociedade, atuanc através de instrumentos de fiscalizagto, de anulac: € de substituigdo da mais alta definigéo politica: & caracterizagio do Estado-de-Direito. Por detengio do poder, finalmente, consideram-~ ‘as condigées institucionalizadas de participacio na é: finigdo © no exercieio do poder estatal. Em outr: palavras: as condigdes para passar de governados ‘governantes; & o discurso da democracia. A Politica, como arte de definir © de orientar poder, cabe a sua realizagso pritica. A Ciéncia P Uitica, como disciplina do poder, o seu estudo Estratégia, como arte de emprego eficiente do pod: © seu exercicio, Ao Direito Politico, como eign: normativa do poder, 0 estudo de sua maior cris: social: 0 Direito, cracia, 1 0 acesso ao poder 0 que mais de petto toca ao » Pois dele depende a configuracéo dos demais fendmenes; por mais que se submeta'o poder s folitiendas téenicas institucionsis e procure-se just ficélo por si mesmo, ainda é 0 homem sua fonta ‘nica, sett final destinatirio e sua medida Defina-se, portanto, o homem ante o poder ¢ te- Temos detinida a politica, As institu ‘o seu desenvolvimento hist6rico-cultural, de ere an ‘ra, de sociedade em sociodade, Dre dependeram da personalidar Beraram, que o destinar: hos em ideologias, nem de identificarmos uma pers sonalidade bésica ou modal a partir da qual construir- -se-iam tipologias nacionais,* Partindo da atitude, como critério metodolégico, brocuraremos estruturar um sistema teérico que cor. Felacione a personalidade com os diversos fenémenos do poser. Fota tarefa seria extremamente demandante ‘muito além das possibilidades do autor se nio exis. tisse outro pariimetro de natureza prtica a simplific Ciclo: situar. neste sistoma, a participacio do homem nna politica em termos de sua motivacdo e, mais im- portante, de sua desmotivaci, Realmente, em todo o processo do poder, nenhum_ aaspecto esti mais ligado & personalidade que a de- tengo. Mas para a realizagio de uma democrecia a Patticipacdo € o dado fundamental, dando ao poder ‘eu sentido ético e justifieagio finaistiea, ‘as otratamento elentifco do {ena so surgi partir dos eatudos do paianalita freusieny Astax Kamoers, trabalnando em colaboragio, conn Basen Jroy ¢ outros anleopbiogos na Universidade de Coitebg 4 pactis de 1989 (Phe Individual and his Scccty, Colmon University Pres, N.x., 1999), desnvotvendiose, cots a rake ‘os trabalhos de autores como Aurx Tvnnias Divine Let Yowson (National Character: The Stuty of Modal Persona and Socio-Culturel Systems, in endboot of Social Poyeher 4ogv, vo. 2, Addion-Wesley, Cambridge, Mass, Tost) do Dav Annas (The Influence of Linguistics on Borly Culture ud Personality Pheory, in Eos inthe Sclence of Cate, ‘Thomas ¥. Crowell, N-¥., 1080} e de outros, ‘Como até hoje nao se desenvolveu nenhuma solu- so institucional mais consentinea com a dignidade do homem que a democracia, aquela que o reconhece ‘como origem permanente do poder, impoe-se a con ‘nua manifestagéo de sua vontade e da maneira mais ampla. possivel Adotada esta solucdo, a manifestagio periddica da vontade dos governados & que deve condicionar ¢ convalidar as demais etapas do processo do poder. Aos sistemas assim estruturados dise, generica- mente, a designagio de democraeias, com todo 0 riseo de impreciséo que 0 abuso ideolégien, 0 desumanismo ©. desinformacéo politica trouxeram ao vocabuilo de to nobre origem, * Facil @ depreender-se que o grau de realizagio a democracia, neste sentido elementar de co-respot- sabilidade no poder politico, depende da participagio do homem que conforma o povo (ou parte dele) tit. lado a manifestarse. Em outras palavras: quanto ‘mais participe, efetivamente, o povo, em termos quan. titativos e qualitativos, nos processos do poder, mais ‘auténtico 0 regime democratico estabelecido. Sem articipacdo néo ha responsabilidade ¢ a responsabi- lidade ¢ a pedra angular da democracia, + Heréooro designou o governo do poo com a palavra luonomie (Os Nove Loros da Historia); slgumas. decades pois, Tvctomes emprepava democracia com este seatide {storia da Gucrre do Peloponeso) wo anserever 0 clsaiea lscurso de Pémctas em louvor aos atentensee ealaoe em Aetesa da pois xxv roto oe Pcormzo Moraes er> Devesse ter presente que a participagio respon sivel, verdadeiramente democritica, é antes de tudo institucional, com totsl repidio as _manifesagtes demagégieas de minorias que manipulem a violénia ea intin io." Mos no baat a existincia de condiciesinstitacio- nais conducentes & partcipagio: & preciso que uma parcela quantitativamente significativa da poplacio Partcipeefetivamente dos procesos do poder, isto &, da vida polities. 56 assim ma democracia pode sor considerada como viva e autintica e no como uma disposicdo formal, mera manifestagao de intengéo, letra morta ou moribunda de wa consttuigao poi: tiea que jamais prosperou ou se desatualizou. £ por isso que ponderavelcorrente do Direto Politico trasa uma distingéo entre ConstituigSes programiticas & Constituigées legais." Nao haja,contudo, iustes de que a democracia possa exitir em sua purezn conceptual, de plena, Permanente e responsivel participagto, cla é, ants de tudo, um ideal a ser denodadamente perseguid. Por isso, 0 ngulo que mais nos deve preocupar é 0 de seu continuo aperfeicoamento: a preservacao das condigdes polities jurdicas para que isto se dé. 7A este respetto vale ler a excelente observasio de Jos Guiuumear Mtereaos, in A Naturesa do Proceso, Nova Bronteira, 1902, pig. 149 * Mausace Dovancen, em suas Institutions politiques et ‘aroit consttutionnet (Paris, P-UR., 1965, pag. 2), daserta sobre a diferenca entre a Constitation-programme © a Cons- tteuton tot 's, 0 fendmeno da stitade terreno, 6pica, no sentido da preservacio, do estimulo ¢ do reforgo das condigdes de existéncia e de aperfeigoa. ‘mento das instituigdes demoeraticas e contribuir para’ resistirse melhor ao desinimo e 20 desencanto con- traculturais que alimentam 0 radicalismo e as ideo- logias e acabam por sepultar a democracia, Pretendemos haver trilhado, um pouco adiante, o caminko aberto pelo inglés Graham Wallas, o pionel. 0, em 1908" e, posteriormente, alargado por Arthur F. Bentley, consolidado por Charles E, Merrian , finalmente, pavimentado por Harold D. Lasswell, nosso mestre nesta geracéo. Este ensoio vai além de uma modesta pretensio de repropor 0 desafio de conhecer este complexo rela. ionamento homem-politica a nivel das atitudes ¢ spera contribuir com uma moldura sistemétiea para 8 estudos que se dirijamn 20 aperfeigoamento das instituicdes democriticas, na certeza de que a parti. ipagio é a melhor defesa contra as ditaduras, sejam de individuos, sejam de classes, sejam de idéias, Num momento em que o Brasil atravessa uma das fases mais decisivas de sua Histéria Politica, em que tenta, mais uma ver, estabelecer um regime de ‘mocratico estavel, o tema assume grande importéncia teériea e pritiea, pois nfo se pode mais prosseguir ‘80 empirismo quando tantos novos dados das Ciencias Sociais nos oferecem sedutoras. alternatives, nos abrem largos caminhos e nos dio novas esperancas de realizar a desejada democracia sem qualificativos, =X obra plonera é Humen Nature in Politics, Baicdo ‘Aplelon Gentury-Crofts Ine, Landes, 1008.

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