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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC Nº 02668/09 Fl. 1/6

Administração Direta Municipal. Prefeitura Municipal de Amparo.


Prestação de Contas do prefeito João Luiz de Lacerda Júnior,
relativa ao exercício de 2008. Emissão de parecer favorável à
aprovação das contas. Emissão, em separado, de Acórdão com
declaração de atendimento integral aos preceitos da LRF. Aplicação
de multa. Recomendações.

PARECER PPL TC 00069/2010

RELATÓRIO

Examina-se a prestação de contas do prefeito do Município de AMPARO, Sr.


João Luiz de Lacerda Júnior, relativa ao exercício financeiro de 2008.
A Auditoria desta Corte ao analisar os documentos constantes na PCA, evidenciou, em
relatório inicial de fls. 869/881, as observações a seguir resumidas:
1. A Prestação de Contas foi encaminhada ao Tribunal no prazo legal;
2. O Orçamento para o exercício, aprovado por Lei Municipal, estimou a Receita e fixou a
Despesa em R$ 6.362.545,00;
3. A Receita Orçamentária Total Arrecadada somou R$ 5.910.333,98 para uma Despesa
Orçamentária Realizada de R$ 6.191.465,75, gerando, na execução orçamentária, um déficit
correspondente a 4,76% da receita orçamentária arrecadada;
4. O Balanço Financeiro registrou um saldo para o exercício seguinte de R$ 336.269,51, sendo
99,992% deste valor registrado na conta “Bancos”;
5. O Balanço Patrimonial apresentou déficit financeiro no valor de R$ 131.085,00;
6. A dívida municipal no final do exercício somou R$ 882.793,14, dividindo-se nas proporções de
50,50% e 49,50% entre Dívida Flutuante e Dívida Fundada, respectivamente. Quando
comparada com a do exercício anterior, apresentou um acréscimo de 10,20%;
7. Os gastos com obras e serviços de engenharia totalizaram R$ 455.876,59, correspondendo a
7,36% da Despesa Orçamentária Total, sendo pagos R$ 304.476,59 com recursos federais; R$
143.435,00 com recursos estaduais, e R$ 2.565,00 com recursos próprios do Município;
8. No exercício, o ex-Prefeito optou por receber a remuneração do cargo de médico que já
ocupava no Estado, enquanto que o ex-Vice-Prefeito recebeu seus subsídios dentro dos limites
legais;
9. Foram atendidas às exigências legais quanto às despesas consideradas condicionadas, uma
vez que foram aplicados em relação às respectivas bases de cálculo:
a) 32,45% em Manutenção e Desenvolvimento do Ensino (MDE);
b) 15,92% em Ações e Serviços Públicos de Saúde;
c) 82,36% em Remuneração do Magistério com recursos do FUNDEB;
d) 43,08% em Despesas com Pessoal em relação ao Poder Executivo, e;
e) 47,27% em Despesas com Pessoal pelo Município;

NCB.
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10. Os repasses de recursos ao Poder Legislativo situaram-se dentro dos limites constitucionais;
11. Os REO’s e os RGF’s do exercício foram encaminhados ao Tribunal nos prazos legais, muito
embora sem comprovação de suas publicações;
12. A Auditoria informou que não houve registro de denúncias sobre irregularidades ocorridas no
exercício de 2008.
Em seu Relatório Preliminar, o Órgão Técnico de Instrução apontou as seguintes
irregularidades ocorridas no exercício:

I – Quanto à Gestão Fiscal:

1) Não comprovação de publicação dos REO’s e dos RGF’s em Órgão de Imprensa


Oficial.

II – Quanto à Gestão Geral:

1) Créditos abertos sem autorização legislativa, no montante de R$ 258.222,75;


2) Déficit na execução orçamentária equivalente a 4,76% da receita arrecadada;
3) Déficit financeiro, no valor de R$ 109.543,73;
4) Licitações não realizadas no montante de R$ 594.672,75;
5) Despesas insuficientemente comprovadas com o pagamento de INSS, no montante
de R$ 27.048,84;
6) Locação de veículo S-10 com infração ao princípio da economicidade, resultando,
ainda, em prejuízo ao erário no valor de R$ 5.000,00;
7) Despesa com doações sem previsão na LDO, realizadas em ano de eleições
municipais;
8) Despesas insuficientemente comprovadas, pagas a título de “ajudas financeiras”, no
montante de R$ 6.600,00.

Em razão das irregularidades apontadas pela Auditoria, o Prefeito foi notificado na forma
regimental e, através de seu patrono, apresentou os esclarecimentos de fls. 889/901, aos quais juntou vasta
documentação de fls. 903/1152.
Determinada a analisar a defesa apresentada, o Órgão Técnico de Instrução concluiu
pela permanência das irregularidades inicialmente apontadas, retificando, no entanto, o montante
referente às despesas não licitadas para R$ 258.222,75, bem como em relação às despesas
insuficientemente comprovadas com pagamento ao INSS para o valor de R$ 2.204,18.
Instado a se pronunciar, o Órgão Ministerial junto a esta Corte, em parecer de fls.
1173/1182, da lavra do Procuradora Sheyla Barreto Braga de Queiroz, que, após tecer comentários
acerca das irregularidades constantes nos autos, pugnou, ao final, pela (o):
1) Emissão de parecer contrário à aprovação das contas do Prefeito do Município de
Amparo, Sr. João Luiz de Lacerda Júnior, quanto ao alcance dos objetivos de Governo, assim como a
irregularidade da prestação de contas no tocante aos atos de gestão referentes ao exercício financeiro
de 2008;

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2) Aplicação de multa ao Gestor, prevista no inciso II do artigo 56 e no artigo 55 da Lei


Orgânica deste Tribunal;
3) Imputação de débito ao Prefeito no valor mencionado pela soma de todos os prejuízos
causados ao erário público de Amparo;
4) Recomendação ao Chefe do Poder Executivo com vistas à realização de
procedimentos licitatórios sempre que o exigir e na forma da Lei de Licitações e Contratos; da
efetivação dos pagamentos referentes às contribuições previdenciárias; e analisar se é mais vantajoso
ao erário adquirir veículos ou gerar despesas com locação;
5) Remessa de cópia dos autos ao Ministério público Comum bem como à Receita
Federal do Brasil para análise detida e respectiva das ilegalidades aqui expostas, especialmente no
que tange às despesas não comprovadas e aos ilícitos que atentam contra o procedimento licitatório,
por força, inclusive, dos indícios de cometimento de atos de improbidade administrativa previstos na Lei
nº 8.492/92.
O presente Processo foi agendado inicialmente para o dia 05/05/2010, tendo sido adiado
para esta sessão.
Os interessados foram devidamente notificados para a presente sessão.
É o Relatório.

VOTO DO RELATOR

Após manifestação conclusiva nos presentes autos, pelo douto Ministério Público junto
a esta Corte, observa-se que restaram algumas irregularidades, sobre as quais passo a tecer as
seguintes considerações:

1. A falta de comprovação da publicação dos REO’s e RGF’s do exercício, na forma


indicada pela Auditoria, por si só, não tem o condão de macular as contas sob análise, ensejando
recomendações à atual gestão, e comportando, desta forma, a declaração de atendimento integral aos
preceitos da Lei de Responsabilidade Fiscal pelo ex-Gestor Municipal;

2. No que concerne aos créditos abertos sem autorização legislativa, no montante de


R$ 258.222,75, verifica-se que ao longo do exercício foi autorizada a abertura de créditos
suplementares pelas Leis nº 042 e 044 (vide fls. 531/533) cujos valores superam os créditos abertos,
entendendo este Relator, com a devida vênia do Órgão de Instrução, que esta falha resta superada;

3. Em relação aos déficits verificados na execução orçamentária e no Balanço


Patrimonial (déficit financeiro), percebe-se que tal fato é resultante da falta de controle e planejamento
da gestão municipal no manuseio dos recursos públicos, bem como da falta de acompanhamento do
desempenho da receita orçamentária no decorrer do exercício, originando um desequilíbrio nas
finanças. Como bem assinalou o Órgão Técnico de Instrução, a Lei de Responsabilidade Fiscal dispõe
acerca da matéria infringida, indicando o comportamento a ser tomado pelos Gestores quando for
verificado que a realização da receita poderá não comportar o cumprimento das metas de resultado
estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais. O fato enseja recomendação ao Ente Público no sentido de
que observe as normas que regem a matéria questionada;

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4. Verifica-se que, das despesas inicialmente apontadas como não licitadas pela
Auditoria, no montante de R$ 594.672,75, remanesceram como não licitados, após a análise de defesa,
o valor de R$ 275.846,38, aí incluídos os gastos realizados com aquisição de gêneros alimentícios;
fornecimento refeições; locação de veículos; transportes de Professores, estudantes e funcionários;
transporte de material de lixo. Estas despesas, embora não tenham causado prejuízo ao erário,
ocorreram em desconformidade com as exigências da Lei nº 8.666/93, fato este que têm sido verificado
em outros exercícios (por exemplo, 2007), impondo, desta forma, a aplicação de multa com fulcro no
inciso II, do art. 56 da LOTCE/PB;

5. No tocante às despesas consideradas como insuficientemente comprovadas com


pagamentos ao INSS a título de obrigações patronais, inicialmente no valor de R$ 27.048,84 e que,
após a análise da defesa, foram retificadas pela auditoria para o montante de R$ 2.204,18,
compulsando-se os presentes autos, verifica-se que se trata da diferença entre o que foi debitado à
conta do FPM e os valores informados no SAGRES. Diante disto, o Relator entende que não há
evidências concretas de que tenha havido subtração dos recursos, seja pelo gestor municipal ou por
terceiros, não cabendo, assim, a imputação do débito respectivo;

6. Em relação à locação de um veículo S-10, embora o Órgão de Instrução tenha


entendido haver infração ao princípio da economicidade, por entender que o Ente Municipal teria um
custo em torno de R$ 60.000,00 com a aquisição do supracitado veículo, ao invés de despender, em
quatro anos, o montante de R$ 190.000,00, verifica-se, nos autos, não existir ilegalidade quanto à
realização da referida despesa de locação, nem tampouco prejuízo ao erário, entendendo, ainda, este
Relator, que cabe ao juízo discricionário do Administrador Municipal decidir se é mais viável locar ou
adquirir o referido veículo;

7. Por fim, a Auditoria apontou a realização de despesas insuficientemente


comprovadas, pagas a título de “ajudas financeiras”, no montante de R$ 6.600,00, bem como despesas
com doações sem previsão legal, em ano de eleições. A Auditoria informa que a defesa fundamenta
estas despesas na Lei Municipal nº 13/2005, mas que referido diploma normativo não discrimina
suficientemente a realização desses gastos. Com a devida vênia do Órgão Técnico de Instrução,
compulsando-se os autos verifica-se a comprovação das referidas despesas, mediante recibos e
documentos dos respectivos beneficiários. Este Relator entende, por outro lado, que, no vertente caso,
cabe recomendação ao Ente Municipal no sentido de que, ao lidar com os instrumentos de gestão, as
suas ações sejam pautadas pela transparência e pelo Princípio da Moralidade Administrativa, sob pena
de macular futuras contas e incidir nas cominações legais pertinentes, inclusive multa.

Feitas estas considerações, o Relator vota no sentido de que este Tribunal emita
Parecer Favorável à Aprovação das Contas apresentadas pelo Sr. João Luiz de Lacerda Júnior,
Prefeito do Município de Amparo, relativas ao exercício financeiro de 2008, com as ressalvas
contidas no § único do art. 124 do RITCE-PB, e, em Acórdão separado:

1) Declare o atendimento integral às exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal,


pelo Gestor, naquele exercício;

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2) Aplique multa pessoal ao Gestor anteriormente mencionado, no valor de R$


2.805,10, por infração aos dispositivos da Lei nº 8.666/93 – Lei de Licitações e Contratos, nos termos
do que dispõe o artigo 56, inciso II, da Lei Orgânica deste Tribunal, pelas razões explicitadas,
assinando-lhe o prazo de 30 (trinta) dias para o recolhimento junto ao Fundo de Fiscalização
Orçamentária e Financeira Municipal;

3) Recomende à atual Administração do Município de Amparo a observância dos


princípios legais no sentido de evitar as falhas cometidas no exercício de 2008, sob pena de
desaprovação de contas futuras e da aplicação de outras cominações legais cabíveis.

É o Voto.

Em 19/maio/2010.

Arthur Paredes Cunha Lima


Conselheiro Relator

NCB.
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DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO

Vistos, relatados e discutidos os autos do Processo TC nº 02668/09; e


CONSIDERANDO que a declaração de atendimento parcial aos preceitos da LRF
constitui objeto de Acórdão a ser emitido em separado;
CONSIDERANDO o Parecer Ministerial e o mais que dos autos consta;
Os MEMBROS do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA (TCE-PB), por
unanimidade, na sessão plenária realizada nesta data, decidem emitir e encaminhar ao julgamento da
Egrégia Câmara Municipal de Amparo este parecer favorável à aprovação das contas apresentadas
pelo Sr. João Luiz de Lacerda Júnior, Prefeito do Município de Amparo, relativas ao exercício
financeiro de 2008.

Publique-se.
Sala das Sessões do TCE-PB - Plenário Ministro João Agripino.
João Pessoa, 19 de maio de 2010.

Conselheiro Antônio Nominando Diniz Filho Conselheiro Arthur Paredes Cunha Lima
Presidente Relator

Conselheiro Flávio Sátiro Fernandes Conselheiro Fernando Rodrigues Catão

Conselheiro Fábio Túlio Filgueiras Nogueira Conselheiro Umberto Silveira Porto

Isabella Barbosa Marinho Falcão


Procuradora-Geral do Ministério Público
junto ao TCE/PB em exercício

NCB.

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