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RESENHAS TEORIA CRITICA DA FAMILIA Poster, Mark Zohar Editores S.A., Rio de Janeiro, 1979 2251p. tradupio de Alvaro Cabral Poster, professor da Histéria de Universidade da Catitoria, procura neste livro delinear os elementos ade- quados para a construgdo de uma teoria da familia, cujo ropésito seria torné-la “inteligvel como campo de pes isa, mediante a definicéo de categoria através das quais ela possa ser estudada empiricamento’ © livro se deservolve & medide em que o autor faz tuma revisdo, bastante cuidadasa e critica, das principais, correntes cientificas aue, de uma ou outra forma, abor: dara o tema das relagdes familiares 446 no preficio, Poster reve alguns dos principais historiadores que se dedicaram a0 estudo da familia tais como: Le Play, Laslett, Sorter e Ariés eexboca algumas ‘dias basicas, que srdo posteriormente desenvolvidas. A Brimeira delas & a proposta de privilagiar uma teoria pel colégica da familia, dando preteréncia as quostdes que se relacionam com os padres emacionais. em sua obra 6a de que ‘nfo podem ser correlacionadas, de forma reducionista, 2 uma 36 varidvel seja ela 2 modernizagdo, 0 patriarcada, 0 smo ou qualquer outra. Classifica sua teoria de critica por oposigéo @ ideolégica, entendenda como c tica uma teoria normative, que fornece uma bese para a reforma da estrutura, Poster detém-se demoradamente na anslise do con: ceito de familia na obra de Freud. Embora incarpore em sua propria, teoria grande parte dos postulados freudia- 108, 6 um critico arguto da obra do pai da psicanslise, {que pecou, segundo ele, sobretudo pela incapacidade “de estabelecer 0 conjunto de sous progressos num contexto mais amplo de teoria historica e social” (p.23). Freud ‘mostrou que a mente no & sigo praviamente dado, mas sim Una estrutura que se forma na infancia, construfda através de um processo. No entanto, apresenta sua teoria ‘como uma ciéncia divorciada do campo hist6rico no qual surgiu, reduz os processos complexos dos sistemas socials 0 seu significado psicolégico e converte seu modelo em eterno e universal. Acaba por defender a familia burgue- 98 , © 2s relages de dominago — homem sobre muiher, sobre filhos — que ela contém, como uma insti ‘ede eterna, necesséria @ universal. ‘Sem desejar reduzir 2 importincia da teoris freu- diana, mas sim alertar para seus limites © saus vieses, Pos- ‘ter examina criteriosamente, no primeiro capitulo, os 80, prine/pio de prazer, principio de realidade e com plexo de Edipo. Este Giltimo, para Poster, ndo & universal, tal como postulado por Freud, mas s6 encontra as pré-condigSes- para seu aparecimento no privatizado lar burgués, onde ‘uma estranha combinaedo de amor intenso e severa re pressio condiciona o surgimento do superego. No segundo capitulo, “A radicalizagao do eros", Poster examina 0 pensamento dos marxistas do século XX, comegando por Engels, a quem critica por ter redu- Zido a histéria da familia a uma simples consegiiénei ‘das transformagGes nos modos de produclo. Poster umenta que a revolueio socialista ndo leva ditetamente 4 emancipagio das mulheres, o que sb vem confirmar ‘que as mudangas na estrutura de famitia ndo slo sempre © resultado direto de transtormacdes na propriedade dos rmeios de producio. Analisa a seguir a obra do Reich, que ensaiou uma sintese entre os conceitos freudianos ¢ @ teoria marxista. [Na opinio de Poster, a gage quo Reich tracou entre @ autoridade na familia, represséo sexual e conservador' me ideolégico foi um dos frutos mais ricos do seu freu- do-marxismo. Reich ndo foi porém capaz de explicar a5, iferengas de classes em termas pricolégicos, porque ‘fo definiu suficientemente 2s categorias estruturais da fami Dentre os marxistas da Escola de Frankfurt é foca- lizada, em ugar, a obra de Horkheimer, para ‘quem 2 familia, importante mediadora entre 0 individuo © a sociedade, é uma agéncia socializante conservadora, ‘umm centro de dominacZo que brutaliza as eriangas, pre: parando-as para a aceitagio submissa da sociedade de ‘lasses. Mas, alerta Poster, Horkhelmer fatha na tentativa ‘de correlacionar a estrutura de classes @ a estrutura ps/- quica e, embora a classe trabalhadora fosse tio autorité- sia quanto burguess, insiste em afirmar que 0 autorita- rismo era fruto exclusive da familie burguesa. Em relagio a Marcuse, outra figura de destaque da Escola de Frankfurt, Poster argumenta que a fantasia 28 imaginagdo também esto fatalmente sujeites & repres- so o néo representam a liberdade, mas apenas outro ni- vel de dominacéa. Mais adiante Poster examina os trabathos resultan- tes do movimento de adaptaciio da psicandlise freudiana. Cad. Pesq., So Paulo, (37): 98-103, Mai, 1987 420 ideal americano. Entre os pstoblogos do ego, Erik Erikson, com seu concsito de cielo vita, foi o que mais ‘Bvangou na direglo da contrugéo de uma teorla da ta- mili; porém, a dificuldade mais evidente em sua obra, para Poster, 69 reivindicacfo de universalidade. Reduzindo todas as familias a um tnico modelo, 0 nuclear, 0 socidlogo norteamericsno Teloott Parsons Pondera que somente duas estruturas s80 ossenciais &fe- nila: @ hierarquie do geracBes e ume diferenciacSo. dos agentes socalizantes em figuras “instrumentals”, as mas-

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