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Equipe de realizasao: rojetogrifico de LicioG. Machado e Eduardo J. Rodrigues ‘Assessoria editorial de Mara Vales Revisio de Maria de Fatima V. Corbarie Glese de Casto ‘ap-aril,Caalopicioa Fonte ‘Chmara Brass da Lo, SP { Sous, Giga de Melo « segse "'vereiioe de lens / Gide de Moto © Soun. — Sao a1 Dust Cade, 1980 (© bale das quate ats) Bisiogata. 1, Aste — Aprecingio. 2. Arte « ssedade 3. Culeacine- | rmatogefion 4 Crtcn de arte S. Crea toatl 6, Basis Wasletor 7, Literatars brea ~ Historia eetca 1 Tita. cop-369.94 100.301 Toas San s3015, 409.2 {aios para cto sistem: ‘Arte :Apreingfo 701 ‘tee socsade 700501 Ceticacaematopiien 791.3015 Gites deste 701 Esso Literatura brains 869.98 Literatura brads: Histo erticn 869.909 Tetra Mtn een 8082, 1 2 5 é 2. “'O Vertiginoso Relance’’* 'Néo sera diffi! pontarna literatura feminina a vocagéo da ‘mindcia, o apego 20 detalhe sensivel na tensctgio do real, ‘aracteristicas que, segundo Simone de Beauvoit, derivam da pposigio social da mulher. Ligada aos objetos © deles depea- pacta auséncia de pensamento era um embocamento — era 0 tembotamento de uma planta"), Martim pode pasar adiante, 20 cextigio dos bichos: “Foi assim que 0 now € confuso paso do hhomem foi saic uma manbé de seu reinado no terreno, para a ‘meia luz do curral onde as vacas cram mais dificeis que as plantas”, Este contacto, todavia, € mais penoso, ¢ 2 porta do ‘estébulo Martim hesia, “pélido e ofendido como uma crianga ao Ihe set revelada de chofte a raz da vida", Nio the é ficil “iberaese enfim do reinado dos ratos e das plantas — e alcan+ ‘ara respragto misteriosa de bichos maiores. Mas logo, acei> tando a “grande transfusio tranquil" que se estabelece entre cle €os animais,estd madueo para o contacto seguinte, com os seus semelhantes. A posse fisica da mulata seté 0 cltimo % ‘momento dese aprendizadoiniial, donde emegicé como um homem. ‘enc a etapa dos contacts, Mani se ertcgx 2 alegria de vivete wabalhat. A plenitude atingida, breve momento de perfegio € 0 entamo, logo destrufdo pelo sentimento ces cente da inutldade de seu gesto: ““o que experimentare for apenas 2 lberdade de um cio sem dences" Alem dso, medica que reexabelece of contacts com o mundo, abando- nando o"‘descampado de um hamem" onde voluntaiamente se exilara; 3 medida que accita de volta peasamento, imptese 4 necesidade de dar nome as casas ¢ de chamae de cime 0 se ime, Mas antes de assumir a responsibilidade da culpa, Mari valatiavessar a experéncia do medo. E entéo que Clarice Lispector, que vinha foclizando as personagens isladamente ou 40s pats, organizaas, pela pri Meira vez, numa experiénca comum. Desde 0 inicio do romance a seca esti rondando; e ae servis de reforgo 2 crspagto dds sere, 8 incomunicablidade das telages e 2 aumosfra de ‘expectatva em que as pesioas se movem, achegada da chuva va cortesponder 20 temo final das tenstes, quando tudo o que ‘tava epresado explode: em Martim, o grande medo da culpa, if vlna, 0 medo do proprio compo sinda vive: em 0 medo de solidao e da moree. Na noite de tempo ral, Martim desamparado vos para Deus eas das mulheres procutam avidamenre apoio do homer Depos, tendo akan sado 0 ponto de sacuragio, cada coisa esaré em seu lugar. A Aescricdo muito bonita da satura apaziguada 2p6s 2 empes tade asinalao fim da eajetra de cca personage, Terminou também a meditarao sobre o ime. Martin jd sabe “o que urn hhomem quer”, ¢ tendo partido da necesidade de ser rejeitado, chegn 20 desejo de Ser novamente aceito pelos outros: “seus ‘thos etavam tmidos no deseo de se acto". lento apreni zado da humanidade ensinou-Ihe que nto podemos renanear 420 ptGximo; pois os outos so 0 nosso mais profundo met- sulho". Fechase 0 hiato que se abrin com 0 atime, Nio Jmpora que, por um momento, 0 mundo dos valores exabele- cidos, que Marim abandonara eno qual vai outa vee ingress, paresa odioso, simbolizado na figura do profesor que o vem 90 prender. Agora, como quem aceita as repras do jogo, acitaré inclusive as frases feitas ¢ a respeitabilidade conwencional, pois aprendcu que entender oa amar € uma atitude, “como se ago, cxtendendo a mio no escuro e pegando uma mac, cle rconhe- cesse nos dedos 120 desajeitados pelo amor uma maca”. A taje- Aria que fez, da rebeldia 4 sujeisio, mostrou-lhe que a liber dade €impossivel; gesto nenum 3 poders comprar, pois a vida do homem € um constante agregar-se, ¢ voliase sempre, ansia do, para o ctculo esteito dis dependéncias — aos sees, 108 sentimentos, 2 injustica. A histia de Martim € na verdade a histécia de uma converso: conversio 2 condigfo de homem, ‘A complexidade dos problemas colocados em A Maga no Hrcuro, a densidade atingida na andlise de certos seatimentos © situagies ¢, sobretudo, a grande originalidade do seu universo verbal, fzem do live de Clarice Lspector urn dos mais impor ‘antes dos iltimos anos. Contudo, se a maneira peculiar (anal sada na primeira parte dest estudo) da tomancista apreender © real ateavés de lamps € responsivel pela perfeigio de tantos trechos, realmente ancoligices, & também o principal entrave com que teri de lutar ao consttuir um todo orginico. Em A ‘Maja no Excuro, 0s momentos significative ¢ intenss acernam, de maneira pouco harmoniosa, com 0s treches discurivs, cheon de consideragdes desnecessrias. O lv, como a perepgto de Clarice Lispector, vale, poranto, pelos momentes excepeionais, pecando pela otganizagio dos’ mesmos dentro da estutura rovelisica A acuidade que a leva a penewar to fundo 90 coragio das coisas € que talver Ihe difcute 2 apreenszo do con- junto. Pois na sua visio de miope, eaxerga com nitides adm vel as fotmas junto aos olhos — mas, erguendo a visa, vé os planos afastados se confundirem, © no distingue mais 0 horizoate or

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