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levante€ o da previsibilidade do resultado danoso, Cavalieri sustenta que “a previsbilidade
necessria para a configuragao da culpa nio é a previsibilidade generics, abstrta, sobre
Aquilo que pode um dia aeontecer; mas sim a previsibilidade especifea, presente, atual,
relative as ircunstincias do momento da realizagia da cond”,
127 Barwa, Roberto H, Lo Relacidn de Cousolidel en Derecho Ciil, Rosario: Juris, 1975,
20, afirma que “Ia investigacin de la relaci6n de causslidad es necesariamente previa &
| detcrmsinaeign de la culpabilded de! agente, Para saber si una persona es culpable debe
demostarse primeramente que es autor material del hecho con las consecuencias que se le
adseriten? Recién después de haberse ajudicado las eansecuencias al acto y demostrad la
‘aworia material juridia (imputabiidad subjetiva} del agente, podra enrarse a indagar si eS
culpable y, por cnde, si responder (evil y penaloente) por su accion”
128° Bernina, Roberto H. Op. cit, p. 16
A ResroNSAUILIDADE CiVIL FOR PRESUNCAO DE Causatinane o
quando a teoria do risco entende fazer derivar a lei de responsabilida-
de da lei de causalidade, destrdi a idgia moral que a tinica que pode
Jjustificar a responsabilidade. O homem sente-se responsavel pelos
prejuizos que causa por sva culpa, mas no pelos que causa pela sua
agdo sem que os tena podido prever ou impedir, ou mais exatamente,
ele diz que as nao causa ¢ repelindo @ imputagao da falta, destr6i a0
‘mesmo tempo o lago de causalidade.
E ainda, continua 0 autor francés, declarando que
a formula que resume a tectia do risco despojada de todas as restrigdes
de ordem técnica que se podem atribuir é a seguinte: todo o prejuizo
deve ser atribuido ao seu autor € reparado por aquele que 0 causou,
porque todo problema de responsabilidade civil resolve-se em um
problema de causalidade; ou ainda: qualquer fato do homem obriga
aquele que causou um prejuizo a outrem a reparé-lo.
ta idéia de causalidade esta nitida no art. 1382. Uma das condigdes
da responsabilidade civil cuja observancia é controlada pela Corte de
Cassagao ¢ a existéncia dum lago entre a culpa e 0 prejuizo. Mas, por-
que 0 elemento culpa esté no primeiro plano nfo se apereebe a impor-
tincia do elemento causalidade, permitindo, aliés, a vegra da liberdade
de prova para os atos materiais, a livre apreciag3o do juiz. Se se faz de-
saparecer a idéia de falta, a idéia de causalidade passa para o primeiro
plano, tomando a seu cargo a idéia de responsabilidad. O ato humano
‘raz consigo os seus riscos como uma conseqiiéncia necesséria.
A dificuldade contempordnea em relagdo 4 pesquisa da causalidade diz res-
Peito a sua possivel desconsiderag20.ou afastamento, muito mais do que o de s
investigagao, Pereehe-se, aos poucos e através da pesquisa jurisprudencial, que
© nexo de causalidade € relegado a um segundo plano, perdendo importancia
‘1 sua determinagao frente A investigagao do principio da culpa ou do principio
«lo riseo. Dito isso, a anilise da obrigagdo de indenizar se resume @ uma inves-
"igagdo da culpa e do risco, na medida em que se presume a existéncia do liame
Causal entre a conduta culposa ou da atividade perigosa ¢ 0 dano, através da ani
"ise antecipada e reconhecimento da existéncia de culpa ou do riseo. Isto é, em
129° Rooner, Georges. A Regra Moral nas OirigagBe Civis. Campinas; Bookseller, 2003, p. 216
130 tbidem, p. 213,2
Carmi Sampaio Munouiann,
determinadas hipdteses de dano, se ha culpa, hi responsabilidade," se hi risco,
ha responsabilidade,
'? independentemente da existéncia de um nexo causal pre-
viamente demonstrado,
Obviamente, a mitigagdo de importancia na pesquisa do nexo de causalida-
de (ou o alargamento de sua atribuigdo) nao é a regra:"* 0 exame do liame causal
ainda é 0 meio através do qual se estabelece a imputac3o de responsabilidade
faquele que com sua conduls ov atividade gerou o resultado que se busca reparar.
E, como se mostra evidente, este elemento nao poder ser apartado definitiva-
mente, sob pena de instaurarse um verdadeiro sistema de seguridade social,
afastando, desta maneira, a fungio primaria da responsabilidade civil
A questiio em toro do nexo de causalidade a que nos reportamos, portanto,
diz respeito a determinadas situagdes, previamente delimitadas pela jurisprudén-
cia e pela doutrina ~ ainda qve em menor contribuigao exemplificadora ~, em
que, por dificuldade da vitima em determinar com precisao a existéncia de uma
ligayao de fato entre 0 dano a ela gerado € a ago ou omissio de determinado
agente, se busca, por meio da técnica da prestingdo, definir que aquela aco ou
ie
13
Por vezes, 2 confusto realizaca entre © conceita de culpabilidade e 0 de eauslidade (ver
Dp. 8 e seguintes) leva a uma investigagia da situagio danosa exelesivaiente do ponto de
vista da culpa. 1ss0 se dé em casos em que o fundamento da obrigagao de indenizar reside
justamente ng investigaglo e celimitagao da conuuta eulposa do agente causador do dano,
isto &, em hipdteses de responsabilidade civil subjetiva, Una vez identficada a conduts
caulposa, em primeira anise, a causalidade seria um elemento que complementarin a idia
{de responsabilidade, na medida ers que a culpa j levara & respansabilizacdo Iso se deve,
Primordialmente, por conta da natureza da vesponsabilidade civil subjetiva, euja origem
contempla um cuno moralista~e meralizante de sancionar a desvie do padre de conduta
‘esperado socialmente, Sobre aanilise da natureza da responsabilidade civil subjetiva, ver,
por todos, Ditz-Pieazo, Luiz, Derecho de Datos. Op. cit, np. 2327.
0 desenvolvimento de atividade de risco é, a0 Indo da culpa, um segundo fundamento para
a obrigagao de indenizar (an $27 do CC), Esta chiusula de esponssbildade objetiva funda
'menta-se em dois ieais: primeira, de que existem danas que so rut de uma avid, ©
no de una concita individustizada; 0 segundo, de que, em havenda 0 dano, deveri haver 3
indenizag2o por vonta do principio da solidariedade social. Nao hi na responsabilidade civil
objetiva uma base moralizante com hi naresponsabiliade evil subjtiva, paso propasito
aquela nfo & sancionar a eoaduta impuriy ro, mas & possibi
a ressarsibildade cle um danc causado por una atividade aeiseada, Sobre os fundamentos
da responsabilidade civil objotiva, ver, por todas, Meio Siva, Wilson, Responsabilidade
sem Culpa e Sociatizacdo dos Riscas, > ed, Rio de Janeiro: Forens, 1974, passim.
‘em seu sentido subjel
A investigagao da causalidade somente érelaivizada em hindteses espoeficas nis come em
sinmagdes em que se estabelece a eausalidadealternativa, Sobre esta hipstese,remelemos @
leitor ao Capitulo I, item 3.21
ees
A Resrowsantsoane Civi pox PRESUINGAG mi CaUSALIDADE «
omisstio imputada seja, alé prova em contrério, 2 causadora do resultado danoso
aque se quer ver reparado.
f preciso ressaltar, contudo, que a presungio de que se trata na hipstese &
uma presungao de fito, € nao uma presungdo juridica. 14 alertava desta diferen-
ciago Diez-Picazo, ao afirmar que hé “un solapamiento del problema de la cau-
salidad a través de la bisqueda de los titulos de imputacién y, en sentido estricto,
de una presuncién de causalidad, que 20 es, naturalmente, una praesumptio juris,
sino una praesumptio facti”."™ Esta ressalva é relevante, pois possibilita ao juiz,
nna consideragao de um fato concrete, utilizar-se de sua prerrogativa de anali-
sar as circunstancias do caso de acordo com o que habitualmente ocorre, isto
6, por meio do principio id quod plerumque accidit,"* resolvendo a demanda
com base no que a experiéncia da vida possa demonstrar como senda razodvel
e provavel
Ainda que nifo seja possivel derionstrar-se atualmente e de maneira siste-
rmatizada como se da este processo de presungio de causalidade realizado pela
134 Diez-Preazo, Luiz, Derecho de Datos. Op. eit, p. 28
135-0 principio referido significa “aquilo que acon freqientemente ou normalmente”. No
Direito Romano, o brocardo que origivow este principio eslabelecia que: er eo quod ple
rumque fit ducintur praesumptiones (as presung’es so tiadas do que acontece 25 mais
das vezes). No ordenamento brasiviro, ele pode ser encontrado no tiga 335, do Cédigo
de Processo Civil, onde se 18 que: “em falta de normas juridies paticulares,o ji aplca
28 regras de experiéncia comum subminisradas pela observagdo clo gue orlinariamens
fe acontece « ainda as regras de expetiéncia técnica, ressalvado, quanto a esta, 0 exaine
Pericial” (Grifowse}. De acordo com Marco Capeechi, a utilizagio da presungio de fito
m0 meio de prova € admitida também para o nexo de causalidade, pois “per aversi pre
sunzione giurdicamente valida non oecorre che Fesisienza de! fatto ignoto rappresent la
Unica conseguenza possibile di quello noto secondo un legame di necessareté asoluta ed
exclusiva (rego della inferenza necessaria), ri & sufficient che dal fatto noto si desumi-
bile quello ignoto, secondo un giudizio di probabilitabasato suid quod plenwimque accdit
(egola dell inferenza probabilstica),scché il giudice pao wae il ui libero eonvineimente
all apprezzamento dserezionae de indiziri prescelti,purché dotat dei req
sit legal della yravita, precisione e concordanza”.(Trad.: "Para aver a presuno juridica-
mente valida no acorre que a existénea do fat ignorado representa a inca conseqiencia
possivel daquele ato conhecido segundo wns ligagio de necessariedade absolut e exclusi-
a (regra da inferéncia necessiria) mas sufeiente que do faro canhecidlaseja presumivel
‘aqueleignorado, segundo um juizo de probabilidade haseado na 1d guod plerumgue acciit
{regra da inferéncia probabilisitica), isto &, o juiz pode uilizar seu Tie convencimento de
“preciagaa disericiondria dos elemento indicivios peé-selecionados, porque dotados de re-
‘uisitos legis de gravidade, preciso e concorlincia") (Carre, Maren, 1 Nessa. Op. ci,
P.224, nota 29),os CArTLIN Sampaio MULHOLLAND
jurisprudéncia, percebe-se que existe uma tendéneia crescente em desconsiderar-
se como necessiria a prova inequivoca da existéncia de um liame causal pelo
autor da demanda (vitima do dano, portanto) para favorecer a reparagao do duno
sofrido.
Vejames como exemplo, 0 famoso caso da gaze, que analisaremos mais
detidamente nos préximos itens ¢ capitulos, Trata-se de uma hipétese em que o
magistrado teconheceu a obrigagao de indenizar os danos causados a uma pes-
soa por conta de um atrapelamento, Pela hipétese, o atropelador deveria indeni-
zar 0 atropelado niio s6 pelos danos causados diretamente pelo fato do acidente
automobilistico, mas também por aqueles decorrentes das cirurgias pelas quais
passou a vitma do dant. Mas, dito desta maneira, parece razoiivel que assim 0
fosse, se ndo existisse um pequeno detalhe para provocar a ira dos causalistas
orlodoxos: « atropelador foi também responsabilizado a indenizar o atropelado
por uma seginda cirurgia a que teve que se submeter (e is conseqiiéncias que dai
advieram, como a perda de dias de trabalho, ete.) por conta de uma gaze “esque-
ccida”” no abdémen do atropelado em decorréncia da primeira cirurgia que sofreu,
cesta sim resultado direto do atropelamento."
Parece ter havido neste caso uma protongagio do liame causal identifica-
do por conta do primeiro acontecimento (entre o atropelamento ¢ os danos dai
decorrentes, como a realizagao da primeira cirurgia) para atingir-se o segundo
evento danoso (submissio a uma segunda cirurgia) e responsabilizar-se 0 agen-
te causador da primeira situagaio danosa por todos os resultados que dai foram
conseqtiéneia
0 que se verifica, portanto, & a erosio na apreciagtio"” da causalidade em
diversas hipsteses de responsabilidade civil.!"* Nestas hipsteses, o juiz contenta-
136 STH, 4°™, REsp. 9° 326.971, Rel, Ruy Rosado de Aguiar Junior, j 11.06.2002,
137 Aexpressto € utlizada por Anderson Schreiber, Segond 0 autor, “quer a expressio si
‘ora relative perda de importinca da prova da culpa e da prova de nexo eausal na dinirnica
contempordnea das ages de responsabilizagio. Para Schreiber, “(.)& semelhanga do que
‘correicom a prova da culpa, prova do nexo causal parece tendente a sofrer, no seu papel
de filtoda responsabilidade civil, uma erosto cada vez mais visivel”, simbalizando wma
inclinago & adogio do expediente da presungla da causaidade pela jrisprudéncia con
temporinea (Scveensen, Anderson, Novas tendéncias da responsabilidade civil brasileira,
Revista Trimestral de Diveito Civil, Rio de Janeiro, n? 22, aba 2005, pp. 47 e $6.
138 _Diez-Preazo, Luiz, Devecho de Daitos. Op. cit, p. 238: %..) en los casos dfs, el juer
puede eantentase con Ia probabilidad de a exstencia de la elacin de causalidad o 600 un
cil ctejo como dice De Angel, de lx mayor probabilidad de que exista ln causalidad
pretend da por el demandante frente a la esis contari"
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A Resronsamtipane Civil. roe PREsuNCAO nF CaUSALIDADE 6s
se com a mera probabilidade da existéncia de um nexo causal para estabelecer a
obrigagao de indenizar, na medida em que, conforme evidencia, em esclarecedo-
ra passagem, Frangois Ewald,
) a realidade nao coresponde ao esquema demasiado simples de
uma conduta-causa que produz um dano-efeito. As coisas, nem pelo
lado da causa, nem pelo lade do efeito, nunca sdo to bem delimitadas,
Essa conduta ¢ situada, tem antecedentes; ela prépria ¢ causada; no
teria produzido esse efeito sem o concurso de outros elementos. A par-
tir do momento em que se olhe de perto, as causalidades so sempre
complexas, multiplas, entrelagadas. Se quiséssemos segui-las a todas,
nao poderiamos deter-nos nequela que seria a causa do acontecimento.
Para se introduzir a responsabilidade no encadeamento indefinido das
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