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eT UC a te} Analise Dinamica da Estrutura de um Estadio de Futebol Débora Cardoso dos Santos!, Sergio Hampshire C. Santos*, Rodrigo G. Martins* |_ ‘Eng. Civil) Casagrande Engenharia/ PPE/UFR3 / deborac_santos@pollafr.br Professor Associndo (D.Se.’ UFRJ/ Departamento de Estruturas/sergiohampshire@ poll ufr.br * Professor Substituto (MLSe./ UFRJ! Departamento de Estruturas/ FORCONSULT Projetos ¢ Consultoria em Engenharia / rodrigo.nartins@ forconsult.com-br Resumo © trabalho apresentado tem como principal objetivo a analise dinimica de um estidio de futebol através da elaboragao de um modelo mumérico tridimensional de elementos finitos baseado no projeto de reforma do Estidio Jomalista Mario Filho, através do software SAP2000. Foram realizadas duas anélises para conhecer o comportamento da estrutura. A primeira em vibragdes livres e nao amortecidas, onde serdo obtidas as fequéncias naturais da estrutura e estas comparadas aos limites recomendados na norma brasileira NBR 6118 (2007). ‘A segunda anilise ¢ em vibragao forgada e amortecida, com aplicagao de uma carga harménica ¢ tem o objetivo de simular a agao dos espectadores durante um espetaculo. Os resultados obtidos foram comparados a recomendaces normativas nacionais e intemacionais Palavras-chave Analise Dinamica; Vibragao Livre: Vibragao Forgada e Amortecida; Carga Harménica Introducio Este trabalho tem como objetivo realizar a anslise dinimica da estrutura de um estidio de futebol, baseada no projeto da reforma do Estadio Jomalista Mario Filho, elaborado pela Casagrande Engenharia e Consultoria. Para a realizagao dessa anilise foi utilizado 0 software SAP2000 para modelar a estrutura do estidio. O estudo do comportamento dinamico foi feito em duas situagdes. Primeiro, foram analisadas as fiequéncias naturais da estrutura e estas comparadas com as recomendagées da norma brasileira NBR 6118 (2007). A segunda situagdio foi a aplicagao de uma carga harménica simulando a excitagio gerada na estrutura por espectadores. Os resultados sto comparados com critérios normativos de aceitagao. 0 Estidio Jomalista Mario Filho, mais conhecido como Maracana, é localizado na zona norte da cidade do Rio de Janeiro. O Maracana softeu varias reformas, a terceira para receber Copa do Mundo de 2014. Como © Maracana foi tombado em 2000 pelo Instituto do Patrimonio Histérico e Artistico Nacional (IPHAN), a arquitetura original do estadio teve que eT UC a te} ser preservada, sobretudo sua fachada, Esta terceira e ampla reforma ocorren principalmente na cobertura e na arquibancada do estidio. Aproximadamente 80% da arquibancada original em conereto armado foi demolida. A. antiga arquibaneada, antes formada por dois angis, foi substituida por um tinico anel em estrutura metiliea e pré-moldados. A nova estrutura metélica da arquibaneada é fixada na base de conereto armado do contraforte, que foi adotado como um sistema de amortecimento, No projeto de reforma da arquibancada, a superestrutura do anel do estadio foi dividida em quatro setores: Norte, Sul, Leste e Oeste, e esti constituida de 60 quadros transversais, localizados em 60 eixos radiais numerados de 1 a 60. Esses quadros sto contraventados pelas vigas cireunferenciais, lajes dos diversos pavimentos e pelos degraus da arquibsneada Cada um dos setores foi subdividido em trés médulos isolados, separados por juntas de dilagao, dispostas nos eixos de final 3 e 8, ou seja, eixos 3, 8, 13, 18, 23, 28, 33, 38, 43, 48, 53 e 58. Os médulos, cada um formado de cinco vaos entre quadros transversais, foram nnmerados em algarismos romanos de I a XII, distribuidos conforme indicado na Figura 1 SeT9R NORTE AUT Spo, a 9% o ~ 4. és ie oe U es a * a see = elt &e oA seTOR SUL Figura 1 - Planta Chave — Divisio do estadio em setores ¢ médulos, [5] Os novos pilares do anel do estadio sto suportados por blocos de findagao com 1,3 e 4 estacas do tipo raiz de diametros de 31cm e 41 cm. Pelas caracteristicas geotécnicas do subsolo, as estacas tém comprimentos aproximados de 12 me 15 m, respectivamente, Na base da arquibancada foram construidos contrafortes, estruturas em conereto armado preenchidas com rejeitos da demoligao do estidio e do solo retirado para realizar as VII Congresso Brasileiro #i5.’x*, de Pontes e Estruturas woe sero fundagdes. Os contrafortes foram adotados como solugao para as solicitagdes dinamicas como um sistema inibidor de movimento e com objetivo também de reutilizar materiais disponiveis na obra. O mecanismo compensa a carga vertical atuante quando o Maracana estiver lotado. A estrutura metiliea é constituida por pérticos principais e uma estrutura secundaria. Os porticos prineipais, que coincidem com os eixos radiais, se apoiam sobre os pilares e também estio fixados na base de concreto armado dos eontrafortes. ‘Na arquibancada existem perfis e vigas com conectores metilicos soldados, chamadas de “vigas-jacaré”, que recebem os pré-moldados, solidarizando as vigas metilicas com o conereto. Foram adotadas lajes em “steel deck” sobre os perfis da arquibancada servindo de formas para a laje de conereto armado, Na Figura 2 apresentam-se os contrafortes durante sua execugio, o detalhe da ligagiio da estrutura metilica no contraforte, as “vigas-jacar ena i degrans em pré-moldados e as lajes em Figura 2 — Contrafortes durante a construcao, detalhe da ligagao da estrutura metélica no contraforte, as “vigas-jacaré” e degraus em pré-moldados ¢ as lajes em “steel deck” Estudo de caso Para a andlise modal de uma estrutura tipica da arquibancada foi escolhido o médulo VI desta arquibancada. Este médulo pertence ao setor Leste esta compreendido entre os eixos <8 O| & eT UC a te} de junta de dilatagao 23 ¢ 28. A Figura 3 mostra a planta da estrutua metéliea da arquibaneada do médulo VI. Figura 4 — Elevagdes dos Eixos 23, 24, 25, 26,27 e 28 ee ‘Na Figura 4 sao apresentadas as elevacdes dos eixos radiais do médulo VI. O modelo em elementos finitos do Médulo VI, foi elaborado no programa SAP2000. A arquibancada foi ‘modelada com base nos dados disponibilizados pela Casagrande Engenharia e Consultoria. Na Figura 5 e na Figura 6 apresentam-se diversas perspectivas grificas do modelo de elementos finitos desenvolvido para representar a arquibaneada Figura 5 — Perspectiva superior do modelo em elementos finitos Figura 6 — Perspectivas diversas do modelo em elementos finitos eT UC a te} Foram utilizados elementos tipo FRAME para modelar as vigas e os pilares e elementos tipo SHELL para modelar as paredes ¢ as lajes de concreto. Onde existem blocos de fundagao com 3 ou 4 estacas, os apoios na base foram considerados como rigidos para todos os deslocamentos e rotages. Onde os blocos de findagaio possuem somente 1 estaca, os apoios na base foram considerados rigidos para os deslocamentos e livre para todas as rotagoes. Para simular as ligagdes metalieas das vigas nos pilares foram restringidos ambos os deslocamentos horizontais, conforme o tipo de ligagao, A ordem de grandeza de dimensio dos elementos de placa € em tomo de 1.5m. As massas referentes aos espectadores foram adicionadas A massa da arquibaneada Como os estidios de futebol possuem hoje em dia carter multiuso, no modelo foi aplicado um carregamento “TORCIDA”, com 0 objetivo de simular a ago dos espectadores pulando sobre a arquibancada durante um evento, Isso pode ser a simulagao do evento de uma partida de futebol, assim como de um espetaculo musical. © carregamento possui uma componente vertical e uma componente horizontal no sentido do gramado. A carga adotada na componente vertical foi de 1 kKNim?, referente a 1 pessoa de 100 quilos ocupando um espago de 1 m®. E para a componente horizontal foi considerado uma carga igual a 10% da componente vertical, isto &, 0,1 N/m? Como apresentado na Figura 7, 0 carregamento “TORCIDA” foi aplicado em alguns nés da estrutura. As cargas nos nés foram avaliadas em fimgao da area de influéncia de cada no. Figura 7 — Carregamento “TORCIDA” aplicado nos nés eT UC a te} Para simular a agao dos espectadores pulando, foi aplicada no modelo uma carga do tipo “Time History”, onde o carregamento nodal esté vinculado a uma fungao harménica. ‘A fungao harménica senoidal adotada possui frequéncia (f) igual a 3.5 Hz, de acordo com as recomendagdes da tabela G.1 de BACKMANN er al. (1991) para agao do tipo “jumping”. Foi considerado um amortecimento constante igual a 0,02 Resultados Obtides ‘As firequéncias naturais da estrutura foram obtidas pela anélise modal através do “software” SAP2000. A Tabela 1 apresenta os 15 primeiros modos de vibrag’o e seus periodos e frequéncias naturais comespondentes, Devido 4 rigidez no plano horizontal podemos perceber que os primeizos ¢ principais modos de vibrago encontrados na estrutura so verticais. Na Figura 8 apresentam-se os 6 primeiros modos de vibragao. Configuram-se modos localizados na estrutura. eT UC a te} Foi considerado como critério para a definigao do mimero de modos necessario para a anilise, se atingir 90% da massa efetiva total nas trés diregdes. Com isso foi necessério extrair 475 modos de vibragao. Para a diregao mais critica no modelo em anélise, que é na direga0 vertical, eixo Z, a razio de 0,9 da massa efetiva foi obtida somente no 325° modo de vibragaio. Nas diregdes horizontais, eixo X e eixo Y, estas razdes da massa efetiva foram obtidas, respectivamente, no 475° e 415° modos de vibragiio. Como os prineipais modos de vibrago sto verticais, foi analisado 0 n6 com maior deslocamento vertical devido ao carregamento “TORCIDA” no modelo de elementos finitos. Na Figura 8 € possivel observar que 0 ponto de maior deslocamento vertical, eixo U3 ou UZ, 6 0 n6 845 e esté situado na parte superior da arquibancada Figura 8 - Modo 1 ao Modo 6: Modos verticais eT UC a te} Figura 8 - Envoltoria da deformada do carregamento TORCIDA na direcio UZ © deslocamento absoluto maximo obtido foi de 1,135x 108m, Na Figura 9 esti apresentado o grafico da variagio deste deslocamento vertical ao longo do tempo. E considerado 0 valor d = 0,75x10~%m como representative do deslocamento efetivo, considerando o seguinte critério definido por BACKMANN et a: dope = [Ef a(t) at w i Friern Raa NAY = Figura 9 — Deslocamento Vertical (m) x Tempo (s) Considerando o deslocamento no né 845 igual a d = 0,75 x 10~%m, a velocidade vertical ea aceleragao vertical apresentam os seguintes valores - Velocidade vertical: v = wx d = 165 x 10-m/s ~ Aceleragao vertical: a = w x v = 0,363 m/s? eT UC a te} igura 10 estio apresentados, respectivamente, o grifico da variacao de velocidade vertical no tempo e 0 griifico da variagaio da aceleragao vertical no tempo. Nestes grificos & possivel perceber que os valores considerados para a velocidade (v = 16,5x 10 *m/s) ea aceleragiio vertical (a = 0,363 m/s?) estiio dentro da faixa de valores esperados. 1 | sei" Figura 10 - Graficos: Velocidade Vertical (m/s) x Tempo (s) ¢ Aceleragio Vertical (m/s!) x Tempo (s) Conclusdes Quanto as frequéncias naturais, a norma NBR 6118 (2007) nao da parametros de limitagao. Apenas como indicativo, encontra-se nessa Norma a frequéncia critica de 7.0 Hz para salas de dana, valor este atendido, ja que a primeira frequéncia obtida é de 6,67 Hz. Quanto 4 simulagao da toreida, de acordo com BACKMANN et al. (2007), item 1.1.5, 6 recomendado para a aceleragao wn limite de 0,5 m/s*. A aceleragao vertical maxima obtida no modelo da arquibancada é em torno de 0,363 mvs’, atendendo, portanto o limite recomendado. Segundo a tabela T.1 da mesma referéneia, relativa aos critérios de percepgaio humana de movimento, a acelerago em tomo de 0,363 mv/s* esta entre “claramente perceptivel” e “perturbador/desagradavel”, o que é considerado aceitivel para a estrutura em questo. Referéncias LIMA, SILVIO S. E SANTOS, SERGIO HAMPSHIRE C. Andlise Dinimica das Estruturas, Rio de Janeiro, Editora Cigncia Moderna LTDA, 2008. ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 6118-2007 — Projeto de estruturas de concreto - Procedimento, 2007. BACHMANN, HUGO et al. CEB Bulletin d'Information N° 209 - Vibration Problems in. Structures: Practical Guidelines. 1991 CASAGRANDE ENGENHARIA & CONSULTORIA. Informagées diversas em memérias de cAleulo, desenhos e fotografias do projeto de refonma do Estadio Jomalista Mério Filho.

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