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NUMERAÇÂO ANTIGA: RR - 254/2005-001-10-00 PUBLICAÇÃO: DJ -

23/03/2007 PROC. Nº TST-RR-254/2005-001-10-00.2 C: ACÓRDÃO


4ª TURMA IGM/db/ca

NULIDADE PROCESSUAL CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA NÃO


CONFIGURADO AUDIÊNCIA INAUGURAL EM QUE COMPARECEU APENAS
O PREPOSTO DA RECLAMADA DESACOMPANHADO DE PROCURADOR
NÃO FOI APRESENTADA DEFESA NEM JUNTADO DOCUMENTO DE
FORMA TEMPESTIVA.

1. Conforme estabelece o art. 847 da CLT, não havendo acordo, o reclamado


terá vinte minutos para aduzir sua defesa, após a leitura da reclamação,
quando esta não for dispensada por ambas as partes.
2. No caso, constou expressamente no acórdão regional que, na audiência
inaugural, a Reclamada se fez representar em juízo pelo preposto, que
compareceu desacompanhado de advogado. Além disso, na ata daquela
audiência ficou registrado o fato de não ter sido apresentada contestação.
Não há, contudo, nenhuma referência a ato praticado pelo juízo "a quo" com o
intuito de obstaculizar a apresentação de defesa oral (exercício do jus
postulandi). Ao contrário, somente após o momento oportuno para o seu
oferecimento é que foram declarados os efeitos da revelia.
3. Assim, uma vez que não foi apresentada nenhuma justificativa para o não-
comparecimento do procurador da Reclamada na audiência inaugural, e não
tendo sido comprovada a obstaculização à produção de defesa oral, não há
que se falar em nulidade processual por cerceamento do direito de defesa.
Recurso de revista não conhecido.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso de Revista nº TST-RR-
254/2005-001-10-00.2, em que é Recorrente EMPRESA JUIZ DE FORA DE
SERVIÇOS GERAIS LTDA. e Recorrido IEDO DE SOUZA. RELATÓRIO
Contra o acórdão do 10º TRT que deu provimento apenas parcial ao seu
recurso ordinário (fls. 167-176), a Reclamada interpõe o presente recurso de
revista, argüindo a preliminar de nulidade processual por cerceamento do
direito de defesa e, no mérito, postulando a reforma do julgado nos seguintes
tópicos: litigância de má-fé, multa decorrente da oposição de embargos de
declaração considerados meramente protelatórios e inépcia da petição inicial
(fls. 181-193).
Admitido o apelo (fls. 197-199), foram apresentadas contra-razões (fls. 201-
202), sendo dispensada a remessa dos autos ao Ministério Público do
Trabalho, nos termos do art. 82, § 2º, II, do RITST.

É o relatório.
V O T O CONHECIMENTO
1)PRESSUPOSTOS GENÉRICOS
O recurso é tempestivo (cfr. fls. 177 e 178) e tem representação regular (fl. 62),
encontrando-se devidamente preparado, com custas recolhidas (fls. 144 e 179)
e depósito recursal efetuado no valor total da condenação (fls. 145 e 180).
2)PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS
a) NULIDADE PROCESSUAL CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA
Tese Regional: O Juízo do primeiro grau de jurisdição concedeu à Reclamada
a oportunidade de apresentar defesa sob suas duas formas, escrita ou oral.
Não há determinação legal no sentido de que o Magistrado indague ao
preposto presente à audiência inaugural sobre sua disposição em apresentar
especificamente a defesa de forma oral, até porque este é um dos meios
legalmente previstos para tanto. Ademais, a ninguém é dado escusar-se de
cumprir a lei alegando que não a conhece. A Reclamada teve, portanto,
assegurada a sua oportunidade de produzir a defesa, mas omitiu-se em
apresentá-la no momento adequado, afigurando-se correta a revelia declarada
(fls. 168-170).
Antítese recursal: O preposto da Reclamada esteve presente na audiência
inaugural e, apesar de não ter sido acompanhado pelo advogado e de não ter
apresentado defesa escrita, não foi indagado pelo Juiz sobre sua disposição
para apresentar defesa oral. Assim, não foi observado o disposto no art. 847 da
CLT, sendo evidente a nulidade processual decorrente do cerceamento do
direito de defesa. O recurso de revista vem calcado em violação dos arts. 847
da CLT e 5º, II, XXXV, LIV e LV, da CF, em contrariedade à Súmula nº 122 do
TST e em divergência jurisprudencial (fls. 182-186).
Síntese Decisória: Conforme estabelece o art. 847 da CLT, invocado pela ora
Recorrente, não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir
sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por
ambas as partes.
No caso, constou expressamente no acórdão regional que, na audiência
inaugural, a Reclamada se fez representar em juízo pelo preposto, que
compareceu desacompanhado de advogado. Além disso, na ata ficou
registrado o horário de início da audiência, 14h01min, e o fato de não ter sido
apresentada defesa.
No acórdão também constou que, às 16h06min, a Empresa ingressou com
petição alegando que não lhe foi oportunizada a apresentação de defesa oral e
postulando o acolhimento da contestação alegadamente protocolada às
14h10min desse mesmo dia, sob o nº 3.128. O pedido foi indeferido pelo Juízo
da instrução, que salientou a inércia da Reclamada em face da não-
apresentação da defesa no momento processual oportuno. Também ficou
registrado no acórdão regional que não há nos autos nenhum dado capaz de
chancelar a tese da Demandada de que protocolou, na mesma data em que
realizada a audiência inaugural, a contestação acompanhada de documentos.
Verifica-se, portanto, que não há na decisão recorrida nenhuma referência a
ato praticado pelo juízo "a quo" com o intuito de obstaculizar a apresentação de
defesa oral (exercício do jus postulandi). Ao contrário, somente após o
momento oportuno para o oferecimento da contestação é que foram declarados
os efeitos da revelia. Desse modo, o entendimento adotado pelo Regional não
viola o disposto no art. 847 da CLT acima transcrito, que foi interpretado de
forma razoável, circunstância que atrai o óbice da Súmula nº 221, II, do TST.

De outra parte, para se concluir pela violação do art. 5º, II, da CF, seria
necessário verificar prévia vulneração às normas infraconstitucionais que
regem a matéria. Nessa linha, o malferimento ao comando constitucional dar-
se-ia por via reflexa, como asseveram o STF (Súmula nº 636) e o TST (OJ 97
da SBDI-2, em ação rescisória), o que não se coaduna com a exigência do art.
896, c, da CLT. Nesse sentido, temos os seguintes precedentes desta Corte
Superior: TST-RR-546.404/1999.3, Rel. Min. Emmanoel Pereira, 1ª Turma, in
DJ de 27/02/04; TST-RR-805/1999-014-05-00.2, Rel. Min. Renato de Lacerda
Paiva, 2ª Turma, in DJ de 13/02/04; TST-RR-593.842/1999.3, Rel. Min. Carlos
Alberto Reis de Paula, 3ª Turma, in DJ de 27/06/03; TST-RR-1.141/2003-011-
06-00.1, Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen, 4ª Turma, in DJ de
10/12/04; TST-RR-607.153/1999.1, Rel. Min. João Batista Brito Pereira, 5ª
Turma, in DJ de 21/05/04; TST-E-RR-587.882/1999.0, Rel. Min. José Luciano
de Castilho Pereira, SBDI-1, in DJ de 30/01/04.
A jurisprudência reiterada do Supremo Tribunal Federal também é cristalina no
sentido de que a ofensa aos incisos XXXV, LIV e LV do art. 5º da CF é, regra
geral, reflexa, não empolgando recurso extraordinário para aquela Corte,
consoante segue: CONSTITUCIONAL - RECURSO EXTRAORDINÁRIO:
ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV, LV, 7º, XXIX,
E 93, IX. I - Alegação de ofensa à Constituição que, se ocorrente, seria indireta,
reflexa, o que não autoriza a admissão do recurso extraordinário. II - Ao
Judiciário cabe, no conflito de interesses, fazer valer a vontade concreta da lei,
interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente ou
desarrazoadamente a lei, a questão fica no campo da legalidade, inocorrendo o
contencioso constitucional. III - Agravo não provido (STF-AgR-RE-245.580/PR,
Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, in DJ de 08/03/02).
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - ALEGADA VIOLAÇÃO AOS PRECEITOS
CONSTITUCIONAIS INSCRITOS NOS ARTS. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV, LV, E
93, IX - AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO -
CONTENCIOSO DE MERA LEGALIDADE – RECURSO IMPROVIDO. A
situação de ofensa meramente reflexa ao texto constitucional, quando
ocorrente, não basta, só por si, para viabilizar o acesso à via recursal
extraordinária (STF-AgR-AI-333.141/RS, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma, in
DJ de 19/12/01).

Sinale-se, ainda, que não aproveita à Reclamada a alegação de contrariedade


à Súmula nº 122 do TST, que trata de hipótese diversa daquela delineada no
particular.
Os arestos trazidos a cotejo, ao contrário do registrado no despacho de
admissibilidade proferido pelo Regional, afiguram-se inespecíficos, pois tratam
de situações fáticas em que não foi oportunizada à parte a possibilidade de
apresentar defesa, tanto oral quanto escrita. No caso, conforme já salientado
acima, a Reclamada teve a oportunidade de apresentar defesa, sendo que sua
própria inércia acarretou a declaração de revelia. Ademais, o simples
comparecimento da parte na audiência não afasta a consideração dos efeitos
da revelia, que trata da ausência de contestação aos pedidos elaborados na
petição inicial (art. 319 do CPC). Incide, portanto, no caso, o óbice das
Súmulas nos 23 e 296, I, do TST.
Assim, por todo o exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista, no
particular.

b) LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ Tese Regional: A Reclamada persiste em argüir a


nulidade processual por cerceamento do direito de defesa, reiterando a tese de
que o Juízo da instrução não lhe oportunizou a apresentação de defesa oral.
Ao fundamentar sua tese, distorce o ocorrido em audiência, sustentando nas
razões finais que o Juiz recusou o recebimento da defesa oral. Além disso,
argumenta que protocolou a contestação acompanhada de documentos na
mesma data em que realizada a audiência inaugural, às 14h10min, sob o nº
3.128, mas não há nos autos nenhum dado capaz de chancelar essa tese.
Afigura-se acertada, portanto, a sentença na parte em que declarou a Ré
litigante de má-fé (fls. 170-173).

Antítese Recursal: Não há como persistir a declaração de litigância de má-fé,


pois os argumentos aduzidos pela Reclamada nas razões finais tiveram o
intuito de assegurar o seu direito à produção de defesa nos presentes autos,
que lhe foi injustamente negado. Conforme reiteradamente alegado pela Ré, o
Juízo da instrução não facultou ao seu preposto presente na audiência
inaugural a produção de defesa oral, o que implicou evidente cerceamento do
direito de defesa. O recurso de revista fulcra-se em violação do art. 17 do CPC
(fls. 186-187).
Síntese Decisória: O entendimento adotado no acórdão recorrido resultou da
interpretação razoável dos dispositivos de lei incidentes à espécie. Assim, o
seguimento do recurso de revista encontra óbice na Súmula nº 221, II, do TST.
Logo, NÃO CONHEÇO da revista, no tópico.
c) MULTA DECORRENTE DA OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO CONSIDERADOS MERAMENTE PROTELATÓRIOS
Tese Regional: Da análise dos embargos declaratórios opostos pela
Reclamada perante o primeiro grau de jurisdição, verifica-se que as questões
neles suscitadas não se inserem naquelas previstas nos arts. 897-A da CLT e
535 do CPC. A Reclamada buscou rediscutir a sentença por meio impróprio, o
que evidencia o subjacente propósito de procrastinar o feito (fl. 173).

Antítese Recursal: Os embargos de declaração foram opostos com o intuito de


sanar omissões e contradições existentes na sentença, e não de procrastinar o
feito. O entendimento adotado pelo Regional viola o art. 538, parágrafo único,
do CPC (fls. 187-188).

Síntese Decisória: O Regional limitou-se a registrar no acórdão que as


questões suscitadas nos embargos de declaração opostos pela Reclamada
visam ao reexame da decisão de primeiro grau e não a sanar dúvidas,
omissões ou contradições existentes na sentença. Frise-se que os pontos
suscitados nos embargos declaratórios não foram expressamente registrados
na decisão regional, sendo que apenas com o cotejo dos autos seria possível
examinar se tais embargos tiveram, ou não, o intuito de procrastinar o feito, o
que é inviável em sede de recurso de revista, incidindo o óbice da Súmula nº
297, I, do TST.

Ademais, o entendimento adotado no acórdão recorrido decorreu da análise


dos elementos fático-probatórios contidos nos autos e resultou da interpretação
razoável dos dispositivos de lei incidentes à espécie, circunstâncias que atraem
os óbices elencados nas Súmulas nos 126 e 221, II, do TST.
Pelo exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista, no particular.

d) INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL


Tese Regional: Todos os dados exigidos para a análise do pedido de
equiparação salarial estão consignados na petição inicial. Nesta foi declarado o
exercício de função igual, sendo que o Reclamante percebia salário inferior
àquele pago ao paradigma, na ordem de R$ 182,23 a menos por mês, ou seja,
este recebia o salário do primeiro com o acréscimo de 35% (fls. 173-176).

Antítese Recursal: O pedido de diferenças decorrentes da equiparação salarial


deve ser considerado inepto, pois o Reclamante não apontou na petição inicial
os salários efetivamente percebidos por ele e pelo paradigma. O recurso de
revista vem calcado em violação do art. 295 do CPC e em divergência
jurisprudencial (fls. 189-192).
Síntese Decisória: Sinale-se que, no Processo do Trabalho, aplica-se o
disposto no art. 840 da CLT, apenas exigindo-se da parte uma breve exposição
dos fatos dos quais decorrem o pedido. No caso, a decisão hostilizada
evidencia que a petição de ingresso trouxe os elementos necessários à
compreensão do pedido de equiparação salarial. Os fatos foram expostos de
forma eficiente e o Regional solucionou a controvérsia nos limites em que foi
proposta, não havendo que se falar, portanto, em inépcia da petição inicial.

Não aproveita à Recorrente a alegação de violação do art. 295 do CPC, que foi
interpretado de forma razoável, circunstância que atrai a incidência da Súmula
nº 221, II, do TST.

Já os arestos trazidos a cotejo não servem ao intuito de demonstrar a alegada


divergência jurisprudencial, pois são oriundos do mesmo Tribunal Regional
prolator da decisão recorrida, hipótese não listada no art. 896, a, da CLT,
sendo nesse sentido o assentado na Orientação Jurisprudencial nº 111 da
SBDI-1 do TST.

Por todo o exposto, NÃO CONHEÇO do recurso de revista.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Egrégia 4ª Turma do Tribunal Superior do


Trabalho, por unanimidade, não conhecer do recurso de revista.
Brasília, 28 de fevereiro de 2007.
____________________________
ives gandra martins filho
MINISTRO-RELATOR

NIA: 4160127

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