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É o relatório.
V O T O CONHECIMENTO
1)PRESSUPOSTOS GENÉRICOS
O recurso é tempestivo (cfr. fls. 177 e 178) e tem representação regular (fl. 62),
encontrando-se devidamente preparado, com custas recolhidas (fls. 144 e 179)
e depósito recursal efetuado no valor total da condenação (fls. 145 e 180).
2)PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS
a) NULIDADE PROCESSUAL CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA
Tese Regional: O Juízo do primeiro grau de jurisdição concedeu à Reclamada
a oportunidade de apresentar defesa sob suas duas formas, escrita ou oral.
Não há determinação legal no sentido de que o Magistrado indague ao
preposto presente à audiência inaugural sobre sua disposição em apresentar
especificamente a defesa de forma oral, até porque este é um dos meios
legalmente previstos para tanto. Ademais, a ninguém é dado escusar-se de
cumprir a lei alegando que não a conhece. A Reclamada teve, portanto,
assegurada a sua oportunidade de produzir a defesa, mas omitiu-se em
apresentá-la no momento adequado, afigurando-se correta a revelia declarada
(fls. 168-170).
Antítese recursal: O preposto da Reclamada esteve presente na audiência
inaugural e, apesar de não ter sido acompanhado pelo advogado e de não ter
apresentado defesa escrita, não foi indagado pelo Juiz sobre sua disposição
para apresentar defesa oral. Assim, não foi observado o disposto no art. 847 da
CLT, sendo evidente a nulidade processual decorrente do cerceamento do
direito de defesa. O recurso de revista vem calcado em violação dos arts. 847
da CLT e 5º, II, XXXV, LIV e LV, da CF, em contrariedade à Súmula nº 122 do
TST e em divergência jurisprudencial (fls. 182-186).
Síntese Decisória: Conforme estabelece o art. 847 da CLT, invocado pela ora
Recorrente, não havendo acordo, o reclamado terá vinte minutos para aduzir
sua defesa, após a leitura da reclamação, quando esta não for dispensada por
ambas as partes.
No caso, constou expressamente no acórdão regional que, na audiência
inaugural, a Reclamada se fez representar em juízo pelo preposto, que
compareceu desacompanhado de advogado. Além disso, na ata ficou
registrado o horário de início da audiência, 14h01min, e o fato de não ter sido
apresentada defesa.
No acórdão também constou que, às 16h06min, a Empresa ingressou com
petição alegando que não lhe foi oportunizada a apresentação de defesa oral e
postulando o acolhimento da contestação alegadamente protocolada às
14h10min desse mesmo dia, sob o nº 3.128. O pedido foi indeferido pelo Juízo
da instrução, que salientou a inércia da Reclamada em face da não-
apresentação da defesa no momento processual oportuno. Também ficou
registrado no acórdão regional que não há nos autos nenhum dado capaz de
chancelar a tese da Demandada de que protocolou, na mesma data em que
realizada a audiência inaugural, a contestação acompanhada de documentos.
Verifica-se, portanto, que não há na decisão recorrida nenhuma referência a
ato praticado pelo juízo "a quo" com o intuito de obstaculizar a apresentação de
defesa oral (exercício do jus postulandi). Ao contrário, somente após o
momento oportuno para o oferecimento da contestação é que foram declarados
os efeitos da revelia. Desse modo, o entendimento adotado pelo Regional não
viola o disposto no art. 847 da CLT acima transcrito, que foi interpretado de
forma razoável, circunstância que atrai o óbice da Súmula nº 221, II, do TST.
De outra parte, para se concluir pela violação do art. 5º, II, da CF, seria
necessário verificar prévia vulneração às normas infraconstitucionais que
regem a matéria. Nessa linha, o malferimento ao comando constitucional dar-
se-ia por via reflexa, como asseveram o STF (Súmula nº 636) e o TST (OJ 97
da SBDI-2, em ação rescisória), o que não se coaduna com a exigência do art.
896, c, da CLT. Nesse sentido, temos os seguintes precedentes desta Corte
Superior: TST-RR-546.404/1999.3, Rel. Min. Emmanoel Pereira, 1ª Turma, in
DJ de 27/02/04; TST-RR-805/1999-014-05-00.2, Rel. Min. Renato de Lacerda
Paiva, 2ª Turma, in DJ de 13/02/04; TST-RR-593.842/1999.3, Rel. Min. Carlos
Alberto Reis de Paula, 3ª Turma, in DJ de 27/06/03; TST-RR-1.141/2003-011-
06-00.1, Rel. Min. Antônio José de Barros Levenhagen, 4ª Turma, in DJ de
10/12/04; TST-RR-607.153/1999.1, Rel. Min. João Batista Brito Pereira, 5ª
Turma, in DJ de 21/05/04; TST-E-RR-587.882/1999.0, Rel. Min. José Luciano
de Castilho Pereira, SBDI-1, in DJ de 30/01/04.
A jurisprudência reiterada do Supremo Tribunal Federal também é cristalina no
sentido de que a ofensa aos incisos XXXV, LIV e LV do art. 5º da CF é, regra
geral, reflexa, não empolgando recurso extraordinário para aquela Corte,
consoante segue: CONSTITUCIONAL - RECURSO EXTRAORDINÁRIO:
ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS ARTS. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV, LV, 7º, XXIX,
E 93, IX. I - Alegação de ofensa à Constituição que, se ocorrente, seria indireta,
reflexa, o que não autoriza a admissão do recurso extraordinário. II - Ao
Judiciário cabe, no conflito de interesses, fazer valer a vontade concreta da lei,
interpretando-a. Se, em tal operação, interpreta razoavelmente ou
desarrazoadamente a lei, a questão fica no campo da legalidade, inocorrendo o
contencioso constitucional. III - Agravo não provido (STF-AgR-RE-245.580/PR,
Rel. Min. Carlos Velloso, 2ª Turma, in DJ de 08/03/02).
RECURSO EXTRAORDINÁRIO - ALEGADA VIOLAÇÃO AOS PRECEITOS
CONSTITUCIONAIS INSCRITOS NOS ARTS. 5º, II, XXXV, XXXVI, LIV, LV, E
93, IX - AUSÊNCIA DE OFENSA DIRETA À CONSTITUIÇÃO -
CONTENCIOSO DE MERA LEGALIDADE – RECURSO IMPROVIDO. A
situação de ofensa meramente reflexa ao texto constitucional, quando
ocorrente, não basta, só por si, para viabilizar o acesso à via recursal
extraordinária (STF-AgR-AI-333.141/RS, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª Turma, in
DJ de 19/12/01).
Não aproveita à Recorrente a alegação de violação do art. 295 do CPC, que foi
interpretado de forma razoável, circunstância que atrai a incidência da Súmula
nº 221, II, do TST.
ISTO POSTO
NIA: 4160127