Você está na página 1de 7
| den aAibihin da moral Copyright de tradugio, otas e posico ® 1987, os hy Paulo Géae Lima de Sousa Graf stuatizadasegumds o Acordo Ortogrific de {qe entrou em vigor Brasil em 200, lo original Zur Gencalogie der Moral. Kine Strcitshrif (1887) Capa Jel Fisher Prepareste Isabel Jorge Cary Revise Marcelo D. de Brito Riqueti Juliane Kaori ‘Todos os direitos desta edo reservados 4 Rus Bandeira Paulisty 702 «32 04832.002 — Sia Paulo — a Telefone: (1) 3707 3800 Fx: (1) 3707 3801 ‘wwv:companhiaasletrascombe Lingua Portuguese de 1990 SUMARIO Prdlogo 7 Primeira dissertacio — “Bom e mau’, “bom e ruim” 15 inda dissertagao —*Culpa’, “ma consciéncia” e coisas afins 43 ‘Terceira dissertagio — O que significam ideais ascéticos? 50 Notas /4f Apéndice: Fado e historia 153 Posficio 159 Indice remissiva 163 Sobre o autor € 0 tradutor 169 PROLOGO nos procuramos: como poderia acont issemos? Com razio alguém disse: “onde estiver teu w= souro, ¢ mbéin teu coragio”.! Nasw tesouro esté onde es- ‘80 a8 colmeias do nosso conhecimento, Estamos sempre a ceaminho delas, sendo por natureza eriatu do mel do espirito, tendo no coragio apenas um propésito — levar algo “para casa”, Quanto ao mais da vida, as chamadas sa sério? Ou ter tempo pa- ra clas? Nas experiéncias presentes, receio, estamos sempre “ausentes": nelas no temos nosso coraeio — para elas nio te mos ouvidos. Antes, como alguém divinamente disperso merso em si, a quem 0s sinos acabam de estrondear no ouvidlo as doze batidas do meio-dia, ¢ stibito acorda e se pergunta “0 que foi que soou?”, também nés por vezes abrimos depois 08 o1- vidos e perguntamos, surpresos € perplexos inteiram que foi que vivemos?”, ¢ também “quem somos realm «em seguida eontamos, depois, como disse, as doze vibrantes ba- tidas da nossa vivencia, da nossa vid mos errado... Pois continu ssatiamente estsanhos a sme que nos mal-en- sn, ns separ ya seme ans: “Code aul 0 = para nds mesmos somos “hé- Meus pensamentas sobre a origem de nosso preconceitos tal & 0 tema deste eserito polémico — tiveram sia ia na col rismos que leva o titulo Huma, dentasiade buntano, Una lioro para esprias theres, cuja redacio foi iniciada em Sorento, chi- rante um inverno que me permitiu fazer uma parada, como fav. um andarilho, ¢ deitar os olhos sobre a verra vasta ¢ perigosa que meu espirito percorrera até ex Isto acontecew no inver~ no de 1876-7; os pensamentos mesmos sio mais antigos. | cram, no esseneial, os mesmos que retomo nas dissertagies se- guintes — esperemos que 0 longo intervalo thes tenha feito bem, que tenham ficado mais maduros, mais claros, fortes, per- feitost O fa atenho a eles ainda hoje, de que el ‘mesmos se mantenham juntos de modo sempre firme, crescen= do e entrelagando-se, isto fortalece em mim a feliz. confianga em que nao me tenham brotado de maneira isolada, fortuita esporidiea, mas a partir de uma raiz.comum, de algo que co. manda na profundeza, uma camade findanentad de conheci- mento que fala com determinagio sempre maior, exigindo sen pre maior precisio, Pois somente assim convém a um fil6sofo. Nio remos o dircito de atuar isoladanrente em nada: nio pode- ‘mos errar isolados, nem isolados encontrar a verdade, Mas sim, ‘com a necessidacle com que uma érvore tem seus frutos, nascem ‘ngs nossas ideias, nossos valores, n0s508 sins e nos e ses ¢ todos relacionacis ¢ relatives uns aos outros, to de que 1 teste- ‘um terFeno, wm sol. — Loris gostarao desses nossos frutos? — Mas que importa isso Arvores! Que importa isso a nés, fildsofos! munhas de sma vontade, ania sai 3. Por um escripulo que me é peculiar, ¢ que confesso a Contragosto — diz respeito 3 mor a tudo © gue a6 agora fo celebrado na terra como moral —, escrdpulo que surgiu tdo ce- tradicio com ambiente, idade, exemplo, procedéncia, que eu quase poderia denominé-lo meu “a priori” — tanto minha curiosidade quanto minha suspeita deveriam logo deter-se na questo de onde se origina verdadeiramente nosso bem e nosso tal. De fato, jf quando era um garoto de treze anos me perse- gua o problema da origem do bem ¢ do mal: a ele dediquei, 5 numa idade em que se tem “o coragio dividido entee brinque dlos ¢ Deus’, minha primeira brincadeira literaria, mea pri- ieiro exercicio filoséfico — quanto a “solugdo” que encontrei entio, bem, rendi homenagem a Deus, como ¢ justo, fazendo-0 Pai do mal) Era iso o que exigin meu “a priori de mim? Aquele ;moral, pelo menos immoralista “a priori”, ¢ 0 “imperativo antikantiano, tio enigmstic categérico” que nele falava, a0 qual desde entio tenho dado atengio, € mais que atengio?... Por fortuna logo aprendi a separar-o preconceito.tcolégico do “moral, e no mais busquei a o1 ‘Alguma educagio historiea_e filologis Jnago senso seletivo em questdes psicolégicas, em breve trans- formou men problema em outro: sob que condi Tventou para si os juizos de valor nav” 0 “cam eles? Obstruiram ou promoveram até agora o crescimento ‘omesn?-Sio indicio de miséria, empobrecimento, degene- da vid nieles a plenitude, a ‘a vontade da vida, sua coragem, sta certeza, seu futur ra isso encontrei ¢ arrisquei respostas diversas, diferenciei Co: quias dos individuos, especializei_ meu svolslent, das respostas nasceram novas pergutas, ndagacoes, eyposicies, probibilidades: aré que finalmente ew possuia.usn pais meu, um chido préprio, um mundo silente, préspero, flo- peecente, como um jardim secreto do qual ninguéin suspeitas- se... Oh, como somos felizes, nds, homens do conhecimento, desde que saibamos manter siléncio por algum tempol. juntamente_com ui mas das minhas 4. O primeiro impulso para divulgar hipéteses sobre a procedéneia da moral me foi dado por um li vrinho claro, limpo e saga — e maroto —, no qual uma espé- cie contriria e perverss de hipdtese genealdgics, ua espécic propriamente inglesa, pela primeira vez me aparece nitida- tent, e que por iso me atraiu — com aquela fora de aeagio que possui tudo 0 que € oposto eantipoda. O ritulo do livrinho que possui tudo o que 6 op) riaho ses morals) seu autor, o dt Pa era origem das i i ct ralvez. eu jamais tenha lido al- do mal por mis do mundo. | ~ © go a qui dlacesee “a? dal modo, sentence por sentence, onclusio por conclusio, como a esse livro: sem trago de irri- tacio ou impaciéneia, porém. Na obra acima mencionad: ‘oval trabalhava entdo, eu me refiro, oportuna e inoporeon: mente, is teses desse livro, no para refuté-l j_.ver com ssfutaee—ams si, como conyén.num-spiti © | positivo, ‘para substituir_o impravavel pelo mais pro y * Kasgsonlinentae ero Bo otro) Foi enti que, como ce pela primeira vez apresentei as hipdteses sobre origens a que Slo dodicaas estas dssertagBes, de manera eanhestra, como seria o sltimo a negar, ainda sem liberdade, sem linguagem propria para essas coisas proprias, © com rec stag diversas. Confira-se, das ¢ hesitagies m particular, o que digo em Hunan, de upla pr 9, ¢ vol aquela espécie de moral intiga e primo ‘ode (diametralmente} do mado de valori Rée, como todos os dh moral ‘modo _de-yalorar eras 6 113), 30 igualiente (69 a Figem da justica como u ato, portanto de todo di do, O audaritbo (§ 22, 33)) sobre a origem do castigo, a0 qual a “Faaldade de ineimidae eniitnen inact Spo Se ea ee oe : nadas circu sc a nado). 9); do mesmo 5. No fundo interessava-me algo k algo bem mais importante do que revolver hipéteses, minhas ou alheias, acerca da origem da ‘moral (mais precisamente, isso me interessava apenas com vi taaum fim pa tratava-se do valor da moral —e r tar sobretudo com 0 meu grande me qual ne e qual era um meio entre muitos). Ps e Schopenhauer, ao qual 10 aquele livro, a paixio e a secreta oposigao daquele livro se dir jgem, como 2 um contemporaneo (— também ele era um “es Erito polémico"), Tratava-se, em especial, do. valor do. “ni “caoismo”, dos instintos de compaixao, abnegacio, sacrificio, jue precisamente Schopenhauer havia_dourado, divinizado, iuealtzado’ por tio longo tempo que afinal eles Ihe ficaram co mo “valores em si?, com base nos quis ele disse 270 4 vida e a Si mesmo. Mas precisamente contra ees instintos manifestava- ote em mim uma (desconfiangs cada vez mais radical, um ceti> Gisino cada vex mais profundo! Precisamente nisso enxerguei 0 grande perigo para a humanidade, sv mais sublime sedugio ¢ fentagio — a qué? ao nada? —; precisamente nisso enxerguet o ‘comevo do fim, 6 ponto morto, 0 cansago que olha para tris, a Yontade que se volta comera a vida, a dlrima doenga anunciando- wee terna € melancélica: eu compreendi a moral da compaixio, Jastrando, capturando ¢ tornando doentes até cada vez mais mesmo os fildsofos, como o-mais inquietante sintoma dessa “uropeia; como o seu caminho sinio~ a um budismo europeu? a nossa inquietante culeura recio a um noxo budismo: lum nism... Rois ¢ssa moderna preferéncia e superestima ‘Gio da compaixio por parte dos fildsofos € algo novo: just (0 05 filésofos estavamn até mente sobre 0 nfo-talor da comp {gora de acordo, Menciono apenas Platio, Spinoza, La Rochefoucauld e(Kant, quatro espititos tio diversos quanto possivel um do outro, mas undininies em um ponto: na pouca estima da compaixio. — 6. Este problema do valor da compaixio e da moral da com- paixTo (— eu sou um adversirio do amolecimento moderno dos pentimentos —) primeira vista parece ser algo isolado, urna in~ terrogagio A parte; mas quem neste ponto se detém, quem aqui aprende a questionar, a este suceders o mesmo que ocorret a trim — uma perspectiva imensa se abre para ele, uma nova pos- se apodera como uma vertigem, toda espécie de cambalein a erenga sibilidade de desconfianga, suspeita e temor salta adiante, sna moral, em toda moral — por fim, uina nova exigéneia se faz un ouvir. Enunciemo-la, esta now ex critica dos valores morais, 0 pripria colocado em questiia — para isto & necessirio um conhecimento das condiges e circunstincias nas quais nasceram, sob as quais éncia: necessitamos de uma valor desses valores dever ser se desenvolveram ese modificaram (mo como sintoma, mascara, tartufice,* doeng rambém moral como ¢ como consequéncia, mal-entendido; mas usa, medicamento, estimulante, inibi- io, veneno), um conhecimento tal como até hoje nunca existiu nem foi desejado. Tomava-se 0 valor desses “valores” como da- do, como efetivo, como além de qualquer questionamento; até hoje nfo h jouve davida ou hesitagio ema ibuir 20 “bom” valor mais elevado que 20 “mau, mais elevado no sentido da promos Gio, utilidade, influéncia fecunda para o bomen (i esq do 0 futuro do homem), E se 0 contrivio fosse a verdade? E se no “bom” houvesse-um_sintoma regre a regressivo, como um perigo, uma sedugdo, um veneno, um narestieo, mediante o qualo pre fe vivesse como que ds expensus do futuro? Talver de maneira ‘mais cdmoda, inenos perigosa, mas também num estilo menor mais baixo?... De modo que precisamente a moral seria culpada de que jamais se alcancasse 0 supremo hrilbo ¢ poténcia do tipo homem? De modo que precisamente a moral seria 0 perigo en- tre os peri 7. Em suma, desde que para mim se abrin essa perspectiva, tive razBes para olhar em torne, em busca de camaradas dow tes sas etrbalhaors end hoe lho O objetivo pr correr a imensa, longingua e recondita regio da moral — da ioral coe rechmente bowvestwe cglneatsieea caer vas perguntas, fom novos olho: isto nio significa praticamen- te desnbrir essa regito?... Se para isso pensel no mencionado dr Rée, entre outros, isto ocorreu por nio duvidar que a natureza mesma das suas questdes o levaria a métodos mais corretos pa tealengararespstas, Tria meenganao nino? Meu deseo em todo 0 caso, era dar a um olhar tio agudo e impareial uma diregio melhor, a direcao da cfetiva, enor ee elope

Você também pode gostar