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POpre tno OPO RCe rs OE NEU NING) académico e a oscilagao das politicas Perel terme TOS ea OLN LCLG) re [eu yoo) Ke escorregam na busca do equilibrio entre praticas pedagégicas e conhecimento Fe lonelo yO RCRNO mnETTTT LER) Pec eee necessério avangar pam WH usscanpo mais ivre do cor perativismo académico e do cariter remediativo das poltiess pbli- ‘cas Falarquea formago de professores vai mal no & novidade, Ha décadas discute-se a deficiénein dos cursos de fonmagao e questdes centraisc sem resposti: qual o caréter da forme- (go docente? Os cursos deve apontar parao ensino técnice-profissionalizamte ou para a formagio académica? Que identidades estio por tris da figara do bacharel, na formsgdo de especiaitas,e dos egressoscdos cursosde lcenciaturs? Que légica pontua a visio curricular de uma ou outta coacepeio e como isso tangencia, napritica, asexigéncias cur- ricalares impostas& educacio bisica? ‘Apesar da enxurrada de leis, di- retrizes e pardimetros curriculares, da ultiplicagio de cursos e faculdades ‘ dirigidos a0 magistério, a figura do professor, que personifica o desafio da educagio ne sale de aula, permanece frig, sinda a procura de identidade, Fstuda feito pelo Sistema de Avi- liapdo da Bducagto Basice (Saeb) em 2003 demonstra que a formagao éo professor afeta diretamente o desem- penho do aluno. Quando o educaclor possti formacz0 superior, a média de sets alunos ma prova de leitura de 172 pontos. Quando a formagdo € secun- \Usria, cai para 157 Resta saber, exatamente, qual & a formagio pretendida ~ um embate que se atraste nos diltimos 30 anos © emerge com a freqiiéacia com que aparecem os dados, ¢ a conseqiente fragilidade da escola pablica “Ainda nfiohé uma politica nacional de fermagio e valorizaggo do magisé rio" critica Helena de Frei, presidente dda Associagdio Nacional pela Formacio de Profissionais da Educapao (Anfope). FRAGMENTACAO ‘Na formagao superior os contrastese alilemas na qualiicagdo docentsrefletem «a prpriaestrutura do ensino avadémico no pafs. Com a reforma universitéria inicisda nos anos 70,0 Brasil reorpora0 sistema nrte-americano ~aseparacio de pesquisa eensino—eretiradas faculdades 4e filosofia os departamentos de educa fo. et entio responsiveispelaformacao de professores em nivel superior. ‘O modelo, que na essencia perma- rece até hoje, ainda esta na raiz dos sucessivos debates travados em torno da fermagio dessesprofisionais. Nem a polémiea cxiago dos Insttutos de Eddueagdo Superior Resolugio 01/99), nemas sucessivas diretizes curricula res para « formagio iniial de profes sores da educapao bésica conseguiram vencer a fragmentag2o académica e O que ensinar a quem ensina avangar com consisténcia na formagio des profissionais de ensino, “As universidades mantém uma cesrutura medieval, um corporativis- mp que acaba loteando os curieulos segundo essa I6gica,e nio segundo o eresse da formagio do professor. Hi muita dificuldade para articular as especialidades com os saberes especfficos da formagiio docente a pertir da pedagogia”, sustenta Roxane Rojo, professore do Departamento de Lingiiistica Aplicada da Unicamp. CONHECIMENTOS PEDAGOGICOS ‘Na prética, 6 fell comprovar a dificuldade apontada pela educadora. Aié hoje, o campo especilico da edu- cago e da pedagogia se reduza cerca de 1/5 do total da carga horéria dos cursos de formagdo inicial. NaUSP, a Faculdade de Educag30 mantém apenas seis disciplinas de conhecimentos pedagégicos na grate da licenciatura: Introdugao aos Estu- dos de Educacio (60h), Psicologia da Educacio (60h), Diditica (60h), ‘Metodologia do Ensino Le II (120m), Politica e Organizacio da Educ Basic no Brasil (60h), além de Esié- io Supervisionado (300) (Ouro entrave dir espeito &pritca de ensino, Nas licenciatures que prepa- ram profissionais para o stencimento® fi Dossié a ctiangas de 0 @ LL anos, a exigéncia legal aponta para 300 horas de estgio supervisionado, “prioritaciamente em educagio infantile nos anos inci do ensino fundamental", © 100 horas de atvidades teérico-priticas de aprofun- ddamenio em seas especificas. No curso de Enfermagem, por exemplo, 0 estigio ‘correspond a pelo menos 20% da carga hocéta total, fxada em 3200 horas ‘Ainda que seja desejével a am- pliagio da carga horitia destinada & pritica de ensino, os especialistas aler- tam para os perigos de sua aplicagao {solada da reformulagdo curricular “Apeitica pedagégica sem refiexio teéricaé mera situagio de treinamento. Falta uma estrutura cuticular ¢ falta a0 professor uma formagao bisica, A formacio pedagSgica precisa virantes a formagio do especialista, Essa é uma logica que precisa ser invert sustenta Lisandre Maria Castello Branco, professora da Faculdade de Egueagilo da USP e psicanalista pelo Seales Sapientiae. “Se voce perguatar pra muitos cursos de icenciatura qual 6 seu conceito de educagio, muitos sam sem resposta, Se peryuntar qual 0 papel do professor, muitos nao saben Precisaexisir um curriclo aticulado, iversificado, em que oembasamento te6rico € fundamental”, propoe. Se 6 consenso que para se tornar professor & preciso ter conhecimentos e priticas que ultrapassam o campo de sua especialidade, ha também eriticas & precariedade da formagio nas dreas es- pecificas —aquelas que, na sala de aula, se constituem em objetos de ensino, Na Universidade Estadual de Feira de Santana (UFFS), Bahia, a grade de Ticenciatura para formago inicial de professores de Geografia prevé 150 horas para o ensino especitico da disci pina, distrituidas em dois médulos de 7S horas cada, Em tese de doutorado apresentada na Federal de Sic Carlos, a pesquisa dora Cleonice Braga, da Faculdade de Educagio da UFFS, analisa o cenério ‘part propor uma visto que, aeredita, vai 10 encontro da necessidade dos cursos de formagflo, Bniende que, se todos os alunos desenvolvem ou desenvolverio. sua prética de ensino em Geogratia seria de fundamental importincia que essa disciplina fosse destacada como ponto de partida para as reflexdes, como direcionadora de estudos teéri- cos, para que pudlesse ser reconstruila c,finalmente,transformada’” Affinal, onde os professores das séries iniciais aprenderiio os conheci ‘mentos das éreas especificas que pre- cisario ensinar ou que ja ensinam? & uma discussie carente de proposicdes objetivas ainda hoje. ‘Ao instituir que “somente serio. admitidos professores habilitados ‘em nivel superior ou formados por treinamento em servigo”, @ LDB 9,394/96 fomentou a participacio da rede privada de ensino superior. Séem 2000, 142 novos cursos de Pedagogia foram autorizados pelo MEC, « maior parte de instituigbes privadas, segundo dados do Censo Escolar ¢ de outras fontes eruzados por Roselane Campos, a Federal de Santa Catarina “Que meta poderia estar compro- metida com a qualidade, ao prever a formagio de 225 mil professores em ddez anos?”, questiona Cleonice. ‘Miss o 6 da questo no parece estar no caréter quantitative. Politces para a ‘educagio por vezes t@m de assumir um aleance ampliado, de massa, Ao con- templar 0 aumento de professore$ pra- as insituigdes pablicas. do ages que marcam uma con- cepeio de formagdo de professores aligeirada, rebaixada, orientada pot ‘manuais didéticos ede carter pragima. tista”, critica a presidente da Anfope, ‘A mesma expansio desordenada aconteceu com 0s cursos 2 distancia, também legitimados para a formaczo Inieial. Hoje, & quase impossivel pre- ccisar 0 mimeso de cursos, estudantes ¢ pelos a distincia. Hi instituigdes com mais de mil pélos espalhados pelo pals e cursos que o futuro professor s6 freqtienta uma ou duas vezes ao més, ‘Quiros, s6 quando t8m diivida. rely i ‘Ainda que timidamente, a politica snciaturas, somou-se outro, entre as HH ovossia incluirna Pedagogia também a missd0 de preparar profissionais na érea de servigos e apoio escolar, “bem como fem outras dreas nas quais sejam pre- vistos conhecimentos pedag6gicos”. Surgiram comparagGes que apontam ‘apedagogia como um verdadeiroemps- rio,com produtos variados, dependendo dademanda docliente. Com promessas de emprego em outros segmentos do ‘mercado de trabalho, nfo foram poucos ‘oscursos que se distanciaram do espago da educagio como a finalidade da for- rmagio de seus profissionais, ‘Noextremooposto, ainda que coatr- rios sdistorgdes cris, aghutinaran-s¢ os defensores da chamada Base Comumm Nacional, no entendimento de que cxercicio de atividades como superisto, esto e coordenago pedazSzica tem como base adocénciae aeladever estar atzelados de forma indissocivel, Ha um conflito claro quando a formago de professores esbarra na realidade conereta da sala de aula, Fala-se em formar alunos com visio critica, mas a muitos professores falta ‘uma visio ampliada da realidade, Fala- seem formar alunos pensantes, quando hh docentes que no conseguem de~ senvolver habilidades de racioefnio ou flexibilidade de pensamento. AS criticas nfo so novidade. Ao contrério, chegam a ser repetitivas, tratadasem um sem-niimero de artigos, teses eestudos de diferentesespecialis- tas. Culpar o professor € ignorar enorme paradoxoem que est inserida sua identidade e pritica profis- sional ‘0 professor 6 ‘ensina aguilo que sabe ena perspectiva daqui- Jo em que acredita, Se ele € formado no paradigm da transmissd0-recepea0 do contetd, difcilmente se sentiré & vontade para desenvolver a atividade ocente em uma perspectiva constru- tiva, conforme proposta dos PCNs e das novas diretrizes para formagio de professores da educacio bésica”, diz Inez Araifjo, pesquisadiora do Centro de Filucagao da Federal de Sergipe Est afa primeira contradigdo entre ‘0 que € proposto pelos documentos oficiais ¢ © que é efetivamente reali- zado nos cursos de formagio. Outra, mais grtante, pOe em xeque a coeréncia entre a formagao € a pré- tica esperada do futuro professor. As iretizes, ao fundameniar s simetria invertida, deixam como pressuposto a {déia de que,em seu processo formativo, © futuro profissional vivencie experién- cas que, mais tarde, realizar com seus alunos no exercicio do magisttio. Nao 0 que acontece. Os professores uni- versitios, por nao estarem formados pela visio apontada pelas diretizes, nfo formam alunos para essa nova realidade educacional. Nao se pode pretender ssemelhanga alguma entre a discipinari- ‘ago calificada nas universiades ¢ 05 cixos temiticos dos PCNs para o ensino ‘fandamental preciso antes diminuir a distancia entre as instnugges formadoras © actucaco bisica No estuso em que acompanhou © ‘uso da matematica na vida de erlangas & ovens da periferiade Recife, apesquisa- ms dora Teresina Caner demonstrou que, 1a pita, eles utilizar conhecimentos «que io So capazes de repoduzirna vide ‘escolar, No livro Na Vida 10, na Escola Zero (Cortez, 1995), ela traz sugesties paraolharoraciociniode formaindepen- dente da ideologia do saber insiuiéo. José Carlos Libinco, da Faculdade de Educagio da Universidade Catélica de Golds, completa: “Hi excesso de discurso cientifico-educacional e po: breza de priticas pedagégicas, Estamos preocupados com os desafos do futuro, professor de futuro, aescolado futuro, enguanto vivemos nas escolas um pre- sete dramatic, sotidoe contradirio" (Qualquer semelnanga com a hist6ria do Brasil no 6 mera coineidéncia,

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