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DEBATE
COMENTRIOS SOBRE UM
TEXTO DE BRUNO LATOUR
Otvio Velho
Em livro de entrevistas que Bruno Latour realizou com Michel Serres (Ser-
res 1999 [1992]), este autor faz a defesa da solido no trabalho filosfico.
Latour, por seu lado, contrape-se e pergunta por que Serres no se reco-
nhece como integrante de um conjunto de discusses e sequer cita os cole-
gas (1999 [1992]:109-110). Serres, ento, declara seu repdio era da te-
se, do jornal e da gagueira: "A honestidade, pelo contrrio, consiste em s
escrever o que se pensa e que se acredita ter inventado" (1999[1992]:110).
Curiosamente, alguns anos mais tarde, em Jubiler ou les tourments de la
parole religieuse (2002a), Latour d a impresso (no totalmente exata, co-
mo veremos) de aderir ao mestre, at mesmo antecipando-se a este para
realizar a obra de sntese que exige a abdicao de tudo o que se sabe pa-
ra que se possa, enfim, inventar, e que Serres apresentava nas entrevistas
como um ideal, ainda posto no futuro. Futuro que ele tinha pressa em al-
canar. A (des)organizao de Jubiler sintomtica: nenhuma citao, ne-
nhuma nota, nem ao menos captulos, mas um estilo bem afinado para ser-
vir argumentao. A ponto de por vezes parecerem simples, assuntos
que so altamente complexos, que na verdade desafiam e fazem duvidar
se de fato nossa leitura capaz de alcanar todas as nuances.
H uma srie de intuies pontuais de Serres, que certamente inspira-
ram Latour a dialogar com ele implicitamente e, assim, desenvolver seu
prprio pensamento (como no caso do fetiche, do interesse pelos tribunais,
da relao entre Scrates e Grgias e do contraste entre a multiplicidade
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[] there cannot be a universal definition of religion, not only because its cons-
tituent elements and relationships are historically specific, but because that
definition is itself the historical product of discursive practices (Asad 1993:29).
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Nosso passado comea a mudar. Enfim, se jamais tivssemos sido modernos, pe-
lo menos no da forma como a crtica nos narra, as relaes tormentosas que es-
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