Você está na página 1de 3
Prefacio a terceira edicao A segunda edigéo deste livro (1945) em breve se esgotou, e du- rante mais de dois anos nao se péde satisfazer a grande procura que teve. Nossa editora estava ocupada com publicagdes sobre o novo campo da biofisica do orgone (A Descoberta do Orgone, vol. I: A Bio- patia do Céincer, 1948 etc.), Além disso, cu hesitava em publicar uma nova edigao de Andlise do Cardier. Este livro emprega ainda a termi- nologia psicanalitica e faz uma clescri¢do psicoldgica das neuroses. Nos quinze anos que se passaram desde a publicagio da primeira edicdo, tive de reestruturar e descrever de novo 0 nosso conceito de doenca emocional. Durante esse tempo houve muitos e importantes progressos: “carater” tornou-se um conceito que significa conduta bio- jisica tipica. Cada vez mais as “emog6es” ganhavam o significado de manilestacdes de uma bioenergia tangivel, da energia orgone organis- mica. Lentamente, aprendemos a utiliza-la na pratica, por meio do que hoje se chama “orgonoterapia médica”. No prefacio a segunda edicao, assinalei que a “andlise do carater” é ainda valida no dominio da psicologia "profuinl, em que teve sua origem ea qual ainda per tence. Hoje jf no fazemos a anélise do cariter como se descreve neste livro, Todavia, ainda usamos o método caractero-analitico em determinadas situagdes; partimos ainda das atitudes do carater para as profundidades da experiéncia humana. Mas na orgonoterapia proce- demos bicenergeticamenie, € nao mais psicologicamente. Por que entéo publicar, em tais circunstancias, uma terceira edi- co desta obra em sua forma original? A razio mais importante reside no fato de que nao se encontra facilmente o caminho para a compreen- sio da orgonomia e da orgonoterapia méclica sem se estar bem-fami- 11 liarizado com 0 seu desenvolvimento a partir dos estudos sobre pato- logia emocional humana realizados ha vinte ou vinte e cinco anos A andlise do cardter, embora valida e til em psiquiatria, esta muito longe de ser suficiente para lidar com © miicleo bicenergético das fungdes emociona: se mostra, no entanto, indispensdvel para © orgonoterapeuta médico que, sem ter éstudado psicandlise, chega diretamente a biofisica do orgone dos anos 40. O psiquiatra que nao estudou as fungdes bioenergéticas das emogoes tende a negligenciar 0 organismo como tal ¢ apegar-se a psicologia de palavras ¢ associa~ cdes. Ele ndo encontrara 0 caminho que o levara a origem e a base bioenergéticas de cada tipo de emocao. Por outro lado, 0 orgonotera- peuta, que esta treinado a ver um paciente antes de mais nada como um organismo biolégico, pode se esquecer facilmente de que, além da couraga muscular, das sensacdes corporais, das correntes orgonoti- cas, dos ataques anorgonéticos, dos bloqueios do diafragma e da pel- ve etc,, existe um vasto campo de situagdes, tais como a desconfianga conjugal, idéias distorcicas especificamente sobre as funcdes genitais na puberdade, certas insegurancas ¢ angustias sociais, intengdes in- conscientes, medos sociais racionais etc, Embora 0 “dominio psiqui co” das emogoes seja muito mais estreito do que seu “dominio bioe- nergético”; embora certas doengas, como a hipertensdo, n&io possam ser atacadas por meios psicoldgicos; embora a linguagem e as associa- goes de pensamentos nao possam penetrar mais profundamente do que até a fase do desenvolvimento da fala, ou seja, por volta do se- gundo ano de vida, 6 aspecto psicoldgico do sofrimento emocional continua a ser importante e indispensavel; ji ndo é, contudo, 0 aspec- to mais importante da biopsiquiatria orgonémii O conteddo desta terceira edigao de Andii Waiter foi con- sideravelmente aumentado. Acrescentei-lhe 0 capitulo “A Peste Emo- cional”, publicado pela primeira vez como um artigo no International Journal of Sex-Economy and Orgone Research, em 1945, ¢ também um artigo sobre “A Linguagem Expressiva da Vida", que ainda nao havia sido publicado, tratando do dominio das expressdes emocionais biofisicas, © dominio principal da orgonoterapia médica, Finalmente, um extensive estudo de caso de uma esquizofrenia parandide intro- duzira o estudioso da natureza humana no novo campo da biopatofo- gia, que sé comecou a ser explorado ha poucos anos com a desco- berta da energia orgone organismica, ou seja, bioenergia, A historia desse caso convencera o leitor de que essa energia € a realidade fisi- ca que corresponde ao conceito classico, meramente psicoldgico, de “energia psiquica” O antigo termo “vegetoterapia” foi substituido por “orgonotera- pia”. No mais, o livro permanece inalterado em termos de sua estrutu- i ra central. Ela representa © primeiro passo essencial, dado de 1928 a 1934, da psicandlise em direcao ao estudo bioenergético das emogdes (biofisica do orgone) e merece ser mantido como tal, A descoberta da energia orgone atmosférica (césmica) obrigou- nos a ce revis6es em nossos conceitos basicos, nao sé fisi- cos como psicolégicos. Mas nao tato deles neste livro, Serdo precisos muitos anos de trabalho cuidadose para elucidar as principais tendén- cias desenvolvidas desde a descoberta do orgone. Conceitos coma “idéia psiquica”, por exemplo, apace hoje sob uma luz totalmente diferente, em resultado de revelagoes feitas por experiéncias orgond- micas. Mas isso nado deve desviar os psicoterapeutas e Os orgonotera- peutas de seu trabalho diério com pessoas emocionalmente doente Neste momento sao sobretudo os cientistas e filos6fos naturais os que estio sendo desafiados pela descoberta de uma energia primordial universal: a energia orgone. Dezembro de 1948 WILHELM REICH

Você também pode gostar