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Richard A Posner Nos tiltimos trinta anos, o alcance da Economia tem se expandido dramaticamente para além de seu tradicional campo das explicitas transa~ .g0es de mercado.* Hoje, encontramos tearia econémica dos direitos de pro= priedade, das organizagdes corporativas e de outras es da politica, da educagao, da fa ime e da punigao, da antropologia, da Histéria, da informagao, da di ial ou sexual, da privacida- de E, sobrepondo-se a t excegio da iiltima -, encontramos, ainda, a teoria econdmica Alguns economistas opéem-se a tal expansao, seja em seu todo ou, mal comumente, em parte.‘ Existem muitas més razdes para tal oposigao, estan todas elas, creio eu, relacionadas entre si, de modo que ha uma delas que vver meu lio Econom! analysis of lave Ver, por exemplo: const, Ronald H. “Economics and contiguous disciplines”, Coase ‘ertamente, um dos principais expoentes na Economia ds direitos reals, de modo sua oposigtoestélonge de ser total. Capitulo 13 0 sno to ‘mostra sutilmente melhor. Uma das mas razdes est presente na ideia de que Economia significa 0 estudo dos mercados, enquanto o comportamento que nao for de mercado estaré simplesmente fora de seu objeto de estudo. ‘No entanto, esse tipo de argumento nao se fundamenta verdadciramente na Economia, mas representa, em vez disso, apenas uma mi ‘comum sobre a linguagem; mais especificamente aponta para dliferenciacao entre tres tipos distintos de palavras ou conceitos. O pr tipo, ilustrado pela expressdo custo marginal, é puramente conceitual.O termo 6 rigorosa e inequivocamente, definido por referéncia a outros conceitos do ‘mesmo modo como sio 0s ntimeros, mas (assim como os niimeros) nao ha, xno mundo real, qualquer objeto observivel que este esteja nomeand encontrar 0 custo marginal de uma empresa em seus livros contabeis segundo tipo de palavra, ilustrada pela expressio coelho, refere-se a um conjunto de objetos que existem no mundo real. Poucas palavras como ‘esas so puramente referenciais, uma vez que qualquer um estar autori- zado a dizer wnt coelho rosa ou um coetho do tamanko de um homens sem ‘que, com isso, esteja usando equivocadamente a palavra, mesmo que ela no ‘steja mais se reportando a descrigdo de algo que exista. De qualquer modo, a fungzo referencial predomina nesse caso. Por fim, hé palavras como direito, religio, literatura e economia as quais nao sao conceituais nem referenciais, ‘Tas palavras resistem a todo € qualquer esforso de definigao. Elas, na ver- dade, no possuem qualquer significado pré-determinado, ¢ suas definigdes de dicionério sao sempre circulares. Elas podem ser usadas, mas nio podem ser definidas.* Nao se pode dizer que a Economia representa aquilo que os econo- mista fazem, j4 que muitos nao economistas também fazem a Economi ‘Também nao se pode denominar Economia a ciéncia da escolha racional, pois a palavra racional carece de uma clara definicio e, mesmo que venha a ser ultrapassada tal dificuldade, também existirao teorias nao econdmicas de escolha racional nas quais poucas previsdes da Economia comum sero las, como ocorte, por exemplo, na teoria a qual assume que as prefe- réncias das pessoas sao instaveis. ‘Além disso, também podem haver teorias econdmicas nao racionais, co- ‘mo ocorre no tipo de teoria de sobrevivéncia na organizagio industrial, me- diante a qual empresas que, aleatoriamente, adotam métodos de redusao de Para umm excelente discuss, ver 11, olin M. The theory of evar criticism: a lagical analysis, 272 Parte Teor do Direlto seus custos acabam, vis-a-vis, expandindo seus competidores. Outro exem- eventuais frutos dessa pesquisa interdisciplinar; portanto, os economistas plo seria o marxismo. Também nao se pode chamar Economia o estudo dos deveriam ficar de fora desses campos do conhecimento. Ocorre que, além ‘mercados, nao apenas porque essa caracterizagdo acaba resolvendo a questo de desprezar a possibilidade de colaboragio entre economistas ¢ os at do campo de dominio da Economia por meio de um tes em outras disciplinas, esse argumento pressupse que Economia & algo mas porque outras disciplinas, como Sociologia, Antropologia e Psicologia que somente podera ser feito por pessoas com Ph.D. em Economia. Pode ‘também se dedicam ao estudo dos mercados. set mais fécil para um antropélogo aprender econo! Assim, talvez o melhor que se possa dizer sobre essa dlefinicio economista aprender antropologia, Talvez a fragio do treinamento em Eco- trata de um conjunto aberto de conceitos (tais como comp. nomia irrelevante para a aprendizagem da anilise econémica do fenomeno maximizagio da utilidade, equilibrio, custo marginal, mais-valia do con- antropoldgico seja maior do que a fragao do t sumidor, elasticidade de demanda e custo de oportunidade), sendo que a: maior do que para um mento antropol6gico vez a teoria econdmica seja mais compacta do que © corpo dle conhecimentos que chamamos Antropologia (provavelmente também é mais fécil aprender Economia do que aprender a lingua chinesa). ‘Ou, simplesmente, pode ser que (e sso ocorreu com a andlise econémica do Direito) determinado antropélogo leve mais jeito com a Economia do que desses é derivada de um conjunto comum de prestungées sobre 0 comportamento do individuo, as previsies sobre o comportamento social. Com isso, esses conceitos, quando usados com densidade suficiente, produzem uma obra académica propria da Economia, independentemente de seu objeto especitico ou da titulagao ‘um economista em relagao & Antropologia, de seu autor. Quando a Economia é definida desse modo, nao ha nada que E apenas quando se define a Economia de um modo quase medieval, torne o estudo do casamento e do divércio menos compativel, « priori, co como obra de membros de uma guilda determinada (a guilda de Ph.Ds. em a Economia do que o estudo da industria automobilistica e do nivel de in= Economia), que se pode concluir que a Economia do Direito realizada por ass Profissionais da érea juridica ou a Economia da Hist6ria realizada por hi ‘Algumas vezes se afirma que a tentativa de expansio da Economia, tiadores ndo podem ser consideradas verdadeiras Economia. O surgimento comportamento de mercado para 0 comportamento nao mercadolégi de uma Economia nao mercadolégica pode ter produzi ‘mostra-se como prematura até que sejam resolvidos os problemas central presentes no estudo dos mercados explicitos. Como podem os econom pretender explicar os indices de divércio se sequer conseguem explicar riférica & Economia esté relacionada ao fato de existirem pou comportamento em oligopélios? ica é tiferas dos mercados explicitos que nao sejam de ordem ecor ‘uma variagio do primeiro problema destacado, no que existam alguns admiradores da andlise de Max Weber acerca do papel uum amplo~mes- ‘mo que nao reconhecido — aumento no nmero de economistas! A nogdo de que a Economia nao mercadolégica é, de algum modo, pe- iia teria um objeto especifico previamente determinado, ou seja, do protestantismo no surgimento do capitalismo que venham a colocar nio pré-definido. As ferramentas da Economia podem nao set boas para «em disputa essa afirmagao. Foi quase por acaso que 0s mercados ex resolucio de um grande ntimero de importantes problemas na compr Passaram a ser pensados como matéria tipica da Economia. Nao obstante dos mercados explicitos; isso, porém, niio ¢ razao para que se bata com © fato de outras éreas relacionadas ao comportamento social, tal ° cabeca contra a parede. A Economia ndo possui uma missio predestins Direito, serem extensivamente estudadas a partir de outros angulos além para solver todos os mistérios do mercado, Talvez ela tenha mais sucesso dda Economia, nfo hé razao para se concluir que essas éreas no possam ser cexplicagao de comportamentos de tipo nao mercadol6gicos do que deal «studadas de modo proveitoso por meio das ferramentas da moderna teoria ‘comportamentos tipicos de mercado. econdmica ‘Além disso, existe a nogio de que trabalhar com Economia em. Além disso, outra equivocada razao para se ter hostilidade diante da ‘pos que possuem sua propria tradicio académica, como Historia e Di Economia nao mercadolégica é 0 medo de que isso provoque uma ruptura exigiré do economista o dominio de tanto conhecimento nao econdmit nna Economia, ao associar 0 economista ao que seja, politica e moralmente, ‘que, ao final, todo o seu investimento educacional sera desproporcional ‘de mau gosto, bizarro ou controverso (tal como pena de morte, poligamia 274 Parte Teoria e Filosofia do Capitulo 13 0 moviment smica do Direito 275 ou escravidao apés a Guerra Civil); ou ao apresentar propostas referentes a se mostrado frutifera ao tratar de assuntos no mercadolégicos tio variados tuma politica especifica (como vale-educagao); ou, ainda, defender a ideia, como educagiio, Histéria econémica, causas da legislacao re asica na Economia nao mercadolégica, de que 0s seres humanos sio, portamento de insti integralmente ou na mais ampla gama de suas interagdes sociais, agentes: em razao de raga e sexo, pritica e controle do crime, bem como (cot racionais maximizadores. Se passat a ser associada a esses assuntos altamen- desejo defender) leis que regulam a propriedade, a responsabilidade te sensiveis, a Economia poders perder parte de sua aparente objetividade (08 contratos.* Esse sucesso se mostra satisfatorio para estabelecer a Ec cientifica, a qual os economistas se esforcaram tanto para cultivar. E tudo ‘ia nao mercadolégica como um ramo legitimo da Economia, o que sugere isso diante das obvias dificuldades que ela jé enfrenta, em especial em razio a suspensio, ao menos temporsiia, da descrenga manifestada pelos céticos e do fato de grande parte das tradicionais micro € macroeconomia jé serem duvidosos. De fato, tao rotineira se tornaram, nos tiltimos anos, essas dreas politica e eticamente controversas, como se vé nos atuais debates sobre da Economia nao mercadolégica (por exemplo} a educagao compreendida livre-comércio, desregulagao e défice com gastos. ; por meio das lentes da teoria do capital humano), que muitos No entanto, também essa reclamagdo faz parte da ideia falaciosa de rnomistas nao mais se compreendem como estando fora das front ‘um campo pré-determinado para a Economia. Caso existisse esse cionais da Economia. A disting2o entre mercadol6gico e nao mercadol6gico -se imediatamente desses empreendimentos eco= esti desaparecendo. riféricos e controversos. Se eu, porém, estiver certo sobre 0 fato de que nao existe um campo fixo, pré-ordenado ou natural para a Economia I (ou, ainda, que politica, penalizagao e exploragio sio, ao menos a priori, ‘matérias apropriadas para a Economia do mesmo modo que 0 sio as ope- A rages praticadas no mercado de trigo), mostra-se, entdo, como covarde @ tentativa de evitar determinadas matérias apenas porque possam ser politica © campo especifico da Economia nto mercadolégica que desejo ana- ou eticamente (existe diferenga entre estas?) controversas em determinado lisar € a Economia do Direito ou a anslise econdmica do Direito (Law momento. 4 como é chamado frequentemente. Em razao do eno! ‘Uma razao um pouco melhor para se questionar a expansio da Econo do comport ‘mia para além de suas fronteiras tra is € 0 ceticismo acerca da pose Direito poderia ser definida de modo tao amy sibilidade de as ferramentas econdmicas conseguirem funcionar de modo adequado nesses novos campos; ou, ainda, sobre a disponibilidade de dado muito itil. No entanto, excluir de adequados para que sejam testadas as hipéteses econdmicas. Talver. esse mercados ex contratual e de propriedade, direito do sejam campos em que a emogio domine a razao ou talvez os economis trabalho, di idade publica e regulacao, bem no possam dizer muito sobre emogoes. Além disso, os mercados explicito como tributagao ~ seria excessivament geram uma quantidade expressiva de dados (pregos, custos, produglo, en conjuntos de leis sao incluidos, em que sentido poderia a anélise econdmica pregos etc.),a qual facilita muito a pesquisa empirica~ mesmo que apeni ddo Direito ser qualificada como um ramo da Economia nao mercadol uma parcela muito pequena de economistas realize, efetivamente, pesquis empiri [Essas questoes sugerem a necessidade de uma resposta funcional ~ em Para alguns exemplos, ver secxEn, Gary S.A teatie on the fai Human capital: a tes da Eel theoretical and empirical analysis, with specifi reference t edi eneeren, Orley vez de uma resposta definicional — para a pergunta sobre os nomia: Economia representa © conjunto de aplicagies frutiferas da teot a ie ips ari 2a Bote WB oma, Say ‘econémica. De qualquer modo, nao € necessaria uma pesquisa detalhada da ‘ae Se ae aot cna ae zis Economia néo mercadolégica para se perceber que a andlise econdmica tem ‘ment sTGu George "The theory of economic re -verdade, ser apenas um argumento para se descartar uma di possui qualquer interesse). ‘Assim como ocorre com qualquer termo nao referencial e nao concei- tual, 0 tinico critério possivel para a definicio do que representa a andlise econdmica do Direito é a utilidade, nao a preciso. O propésito de se des- tacar um campo delimitado ¢ chamé-lo anélise econdmica do Direito (ou melhor, por ser mais claro, Economia do Dircito) ¢ identificar uma drea da pesquisa econdmica na qual o conhecimento substancial do Direito, em seus aspectos tanto doutrindrios quanto institucionais, possa ser relevante. Muitos problemas econdmicos nessas éreas do Direito, como tributacio € relagées trabalhistas, nao exigem muito conhecimento juridico para serem resolvidos. Mesmo que os tributos somente possam ser fixados por meio de leis, na maior parte das vezes, os detalhes da lei tributiria ou nao sio relevantes para o analista — por exemplo, quando se questiona qual seria 0 feito das doagoes em caridade na reducao dos parimetros da tributagdo da renda — ou sao transparentes e nao problematicos. ‘Do mesmo modo, no campo do direito trabalhista, podem ser estuda~ dos os efeitos do seguro-desemprego relativamente ao grau de desemprego mesmo que nao se saiba muita coisa sobre as leis estaduais e federais que regulam esse beneficio, néo obstante necessite-se saber alguma coisa sobre 6 assunto. Vamos supor que se queira estudar as consequéncias de se per- mitir que o reclamado em um litigio sobre discriminagio no trabalho possa deduzir da remuneragao que sera obrigado a pagar ao reclamante (caso este consiga demonstrar que foi demitido por causa de um de raga ‘ou sex0 ou outro proibido) todos os beneficios do seguro-desemprego {que tal reclamante tenha recebido depois de ter sido demitido, Nao se ira iuito Ionge nesse estudo sem um conhecimento razoavel sobre questoes nao ébvias das leis que profbem a discriminagao no emprego. Existe um. entendimento jurisprudencial uniforme sobre a deducio ou nao deducio desses beneficios? Esses beneficios que podem ser deduzidos deverio ser ressarcidos ao Estado ou poderao ficar com o empregador? A lei exige do empregado que busca reparagio por discriminagio no emprego que vi atras de um novo emprego? Como ¢ computada a indenizagio? A Economia do Direito € 0 cor icos que sio construidos em cima: do conhecimento detalhado de uma rea do Direito. B irrelevante que tais cestudos sejam realizados por um jurista, um economista, alguém com os dois diplomas ou um time de juristas-economistas, Capitulo 13.0 movimento andise econtimica da Diteto © movimento anélise econdmica do rimeras dreas da regulacac antitruste, regulagdo de bens ¢ utilidades piblicas, fraudes inclusive no comércio interestadual, dea que os tribunais regulan sula de Comércio (commerce clause) presente na Constituiga« estadunidense.” Em nenhuma dessas reas € controvertida a participagio de econo ristas ou juristas que pensam como economistas (caso se insista na renciagio a partir de guildas), mesmo que alguns ainda continuem a defender 0 isolamento da Economi particulares — um exemplo notavel disso esté no antitruste. Um campo regulagao juridica de um mercado explicito que est comegando a se bene ficiar da Economia ¢ o da propriedade intelectual, especialmente quanto direitos autorais e marcas. As patentes tém sido objeto de estudo da Econo mia ha algum tempo. As 4reas do Direito ¢ da Economia nas quais economistas ¢ jurist ‘manifestam um certo grau de desconforto (algumas vezes classificadas arbi trariamente) sio os espagos nao mercadol6gicos das dreas — crime, respon sentei, inicialmente, com 0 intuito de justificar porque alguns econ resistem em estender a Economia para dos comportamentos de mereados exp! reas. Alids, sendo essas questdes também muito préximas do cerne do q 6s juristas acreditam ser o diferencial sobre o Direito ~ de modo a pensaren cles que isso exigiria algo além de um mero método de tegulagao econdmi ‘ca, esse ramo da anilise econémica do Direito assombra muitos jurista: Além disso, 0s juristas tendem a possuir ideias mais rigidas e estereotipada sobre os limites da Economia do que os préprios economistas, 0 que s ta de seus dominios tradicionai 3s se fundem em relagio a essa 278 Parte Teoria ¢ Filosofia do Dieito deve, em parte, ao fato de os juristas nao conhecerem a extensao da Econo~ ‘mia aos comportamentos nao mercadolégicos (o que é recente, nao obstan- te se possa ver que suas raizes remontam a Adam Smith ¢ Jeremy Bentham). De fato, uma demarcacio que coloca, de um lado da di mento assegurado e, de outro, o direito contratual, aparenta ser totalmente artificial, Desse modo, uma distingdo entre Economia mercadolégica e no ‘mercadolégica pode ser tanto arbitréria quanto desinteressante. Eu gostaria de atribuir algum sentido & anlise econdmica do Direito nao mercadolégico. Duas so suas premissas bésicas. A primeira é que as pessoas agem como maximizadoras racionais de suas preferéncias quando tomam decisGes no mercadolégicas, como quando decidem se casar ow: divorciar, cometer ou ndo cometer cr izar uma prisio, ajuizar um ‘ow conciliar uma disputa judicial, dirigir um carro com cuidado ow de modo descuidado, poluir (€ uma atividade nao mercadol6gica, pois a po» 0 nao pode ser comercializada no mercado), recusar a se associar com pessoas de diferentes ragas ou, ainda, ixar uma idade para a aposentadoria compulséria de seus empregados. A segunda premissa € que as regras do Direito operam de modo a impor pregos (algumas vezes subsidiar) a essa atividades nao mercadolégicas de modo a alterar o grau de ocorréncia ow caracteristica dessas atividades ‘Uma terceira premissa, discutida em maior profundidade mais adiantey ‘guia algumas pesquisas da Economia nao mercadolégica do Di ras de common law (isto &, feitas pelos juizes) sto melhor ex esforgos, conscientes ou nio, para se atingir resultados da ec ‘ou Kaldor-Hicks. ‘meus exemplos) no nimero de processos ajuizados; reconhecer o interes em um prejulgamento de um dos litigantes prevalecentes diminuirs 0 pat mar de conciliagbes; divércios consensuais distribuirdo riquezas das mulher para os homens; leis que definem indenizagdes em acidentes automobilisi nao culposos aumentario o mimero de acidentes fatas, prémio dos seguros de acidente, mas nao modificaré o nimero de acidente (a excegio do fato de que o aumento no preco do seguro re di inuigéo de motoristas ¢ menos pessoas condenar a part 11a pagar honorarios advocaticios ao ad jogadores (o teorema de Coase reafirmado como uma hi 1978, das leis de faléncia provocou mais pedidos de faléncias ¢ aumentou taxa de juros; e revogacao de leis que profbem a venda de bebés para adoga reduziria, ao invés de aumentat, 0 prego final dos bebes. Dei uma mistura de hipéteses ébvias e nao dbvias que podem ser de rivadas de minhas premissas basicas. Cabe reparar que nao disse hipét intuitivas € nao intuitivas, porque todas sio contrain para os qu acreditam, como o fazem alguns economistas ¢ alguns juristas, que as pessot nio sio maximizadores racionais, a no ser quando estao praticando trar sages em mercados explicitos, ou que as regras juridicas nao possuem ur feito substancial de incentivo, talvez. porque as regras sio mal divulgadas 0 porque as sangoes aplicéveis quando de sua violagao séo impostas com pouc frequéncia ou de modo irregulat c Até o presente momento da minha discussdo sobre a anélise econom. ca da regulacio juridica do comportamento nao mercadolégico, focaliz minha anélise nos efeitos da mudanga juridica dos comportamentos. A ‘guém poderia inverter a sequéncia de minha exposigao e perguntar com paralela a tec ria da maximizagio racional do economica ¢ common law, definida de modo amplo como aquela criada por julzes e na por legisladores nem por assembleias constituintes nem, ainda, por outre {6rgios nao judiciais, afirma que a common law é melhor compreendida n’ ‘apenas como um mecanismo de precificagio designado para produzic urr alocagao eficiente de recursos no sentido de eficiéncia de Kaldor-Hicks*, © Ch meu livro Feono ‘The economic structure of 280 Parte Teoria & ssa teoria implica que, quando for modificado o comportamento, a lei deverd mudar também. Suponhamos, em um primeiro momento, que as pessoas vivam a uma distancia muito préxima umas das outras. A luz natural seré um produto muito escasso nessas ciscunstancias, de modo que seu valor de troca poder exceder os custos necessirios para a imposicio do direito de propriedade nesses locais. Em um segundo momento, as pessoas comecam a se espalhar, de modo que o valor da luz natural (no sentido eco- inémico de valor de troca em ver. de valor de uso) cai. Com isso, 0 resultado do valor social do direito de propriedade (isto é, 0 valor do direito menos ‘© custo de sua imposigao forcada) podera ser negativo. Esses dois estigios ‘em que o mundo se colocou representam, de forma rudimentary, a situagao da Inglaterra e dos Estados Unidos da América no século xvll,Os ingleses reconheciam a existéncia de um Dir itado a luz natural, denominado Tuzes antigas (ancient lights). Quando decidiram qual parte da common law inglesa adotariam, os tribunais estadunidenses posteriores a Declaracao de sdependéncia rejeitaram a doutrina das luzes antigas ~ precisamente como havia previsto a teoria econdmica da common law. Outro exemy a adogio do sistema de apropriagio, com base na posse: 1 system), do direito as Aguas no oeste dio dos Estados Unidos da América, Na parte da Inglaterra onde hé abundancia de aguas m dos Estados Unidos, prevaleceu o sistema que atribui direitos ao proprietério. do terreno que mantém margem com a faixa de égua (riparian doctrine). Esse é um sistema comunitério de direitos, o qual se apresenta como um ‘meio-termo entre a existéncia de direitos individuais e sua completa inexis- téncia, de modo que é ineficiente no tangente a bens escassos, O sistema de apropriagio era e ainda ¢ mais eficiente para éreas secas (isto é, nos locais em que a dgua é escassa ou nao abundante) -, e sera precisamente nesses locals {que encontraremos esses tipos de sistema, precisamente como prevéa teoria econémica da common law. ‘Ou considere, ainda, a resposta dada pelos estados do leste € do oeste dos FUA sobre 0 problema das pastagens sem cerca (fencing ou!) vs. pasta- gens com cerca (fencing in). As pastagens sem cerca se referem a.um sistema de direitos reais em que 0s prejuizos causados pelo gado que se perdet indo além de seus so indenizaveis apenas caso 0 proprictario da plantagdo ou dos bens que sofreram danos tiver realizado esforgos raz0d= vveis no sentido de levantar cercas. As pastagens com cerca se referem a um. sistema em que esse dever nao é imposto, de modo que 0 proprietério do gado deveré cercé-los, caso queira evitar 0 risco de sua responsabilizayao, Capitulo 13 0 movimento andise economics do Direito © primeio sistema é mais eficiente se a proporgao de plantagao para gado for pequena, uma vez que é mais barato para o agricultor do que para 0 ‘pecuarista levantar a cerca, Se a proporgio for contrdria, as pastagens com cerca representam um sistema mais eficiente. De fato, 0s estados pecuaristas, _utilizam o sistema de pastagens sem cerca, enquanto Inglaterra ¢ os estados, norte-americanos do leste utilizam o sistema de pastagens com cerca. Mui- ‘tos exemplos similares poderiam ser apresentados.? ‘Duas objegdes a esse ramo da andlise econdmica do Direito devem ser levadas em consideragao: ) A primeira é a de que uma teoria do Direito nao pode ser testada, ja que, quando alguém est examinando os efeitos do comportamento sobre a lei em ver de examinar as leis sobre 0 comportamento, as cor respondentes vai endem a ndo ser quantitativas: nao se trata de ‘um prego nem de um valor de safda, mas de um padrao de regras. No entanto, 0 estudk 0 das regras sociais nao é impossi 6 afinal, a lingufstica? Pastagens com cerca vs. pastagens sem cerca (ou luzes antigas vs. nao adocao das luzes antigas, ou o sistema que atri direitos ao proprietario do terreno que mantém margem com a faixa de gua vs. 0 sistema de apropriagéo do direito as aguas) é uma variavel dicotomica dependente a qual pode ser tratada pelos métodos moder- nos da anilise estatistica. E se for des: wel continua pode set criada utilizando-se 0 ano no qual adogio ha mais tempo indicaria que a lei seria mais fortemente apoia~ lade das sangdes ou os gastos na aplicagao da lei, de modo a ibuir Estados ou nagoes dentro de um continuo, (2) James Buchanan, junta cos, defende que o Direito nao deve ser uma variével instrumental pro- . Os juizes nao deveriam ser incumbidos de tomar decisées econémicas ~faltaria a eles treinamento e informagio para que tomassem sabiamente tais decisdes. Eles deveriam se valer de costumes e precedentes para construir uma moldura de fundo estiv ‘mas distinta, que pudesse ser aplicivel ao comportamento mercadol6- {gico © a0 ndo mercadolégico. Iss0, porém, representa uma objegdo & parte normativa da andlise econdmica do Direito ~ ao se sustentar, por ns novos economistas austria~ Vers Fontes citadas na nota 7, partir das quais os exemplos foram tirados. Ver schANaN James M, "Good economics ~bad law’, Parte lsofia do Dieito exemplo, que a common law (¢ talvez outros sistemas juridicos) pode ser modificada de forma a aproximé-la do modelo econémico da li ciente — 0 mais interessante e promissor aspecto da andlise econdmi reito € o positivo. Afirmo isso no por causa da preferéncia pelo positivo em ver do questionamento normativo, mas porque tao pouco € conhecido sobre a natureza sistemitica do Direito, O Direito nao pode ser tio bem compreendido de modo que alguém possa manter ‘uma opinio confiante sobre 0 modo correto de se aprimorar os julzes, tornando-os mais economicamente sofisticados ou mais obedientes aos precedentes e a tradigio. Muito do que disse até aqui ja € noticia velha, ao menos para os que ‘tem familiaridade com 0 movimento anilise econdmica do Dircito. Por isso, -me passa aanalisar algumas novas aplicagbes da anise econémica do to: aliberdade de expressio e a liberdade religiosa. A tempo, reconhece-se que o processo por meio do qual a ver assemelha-se com a competigao travada no mercado por bens e servicos comuns: ¢ daf temos a influente ‘metafora mercado de ideias. Também € bastante conhecido o fato de que, em. razio da incompletude das eis de marcas epatentes com um sistema de di- reitos de propriedade de ideias, a produgao de ideias,frequentemente, gera beneficios externos. Aaron Director" e Ronald Coase!” enfatizam a pecu- sal moderno que prefere a liberdade no mercado de ideias A liberdade nos mercados de bens ¢ servigos comuns (sendo que ambas as Iiberdades fizeram parte do conceito de liberdade do século x1x) eatribuem essa preferéncia ao autointeresse dos intelectuis. (Os economistas, porém, tém dedicado pouca atengio aos detalhes da regulagio juridica nessa dea. Nos élkimos setenta anos, os tribunais desen= volveram uma complexa doutrina sobre o assunto por meio da interpreta- ‘fo da garantia da iberdade de expressio consagrada na Primeira Emenda Capitulo 13 0 m: 0 anélise econdimica do Di 2830 & Constituigéo dos EUs. Tanto os efeitos dessa doutrina sobre o mercado de {dias quanto a logica da Economia (se existe) aplicdvel a tais doutrinas tém fornecido questoes interessantes para a anélise econd: No teferente aos efeitos produzidos, acredito serem intimeros. Nao cobstante a inflamada ret6rica utilizada pelos tribunais quando discutem 0 | erdade de expressio, eles tém apresentado um grande nimero de restrigdes ~ nos protestos, na obscenidade, no discurso do empregador nna negociacio coletiva para as eleigdes de representantes, na publicidade comercial, nas ameagas, na difamago ¢ no contedido dos programas de te- levisio e ridio. Ainda que os estadunideiises aparentem gozar de maior liberdade de expressao do que os cidadaos da Europa ocidental, do Japao € das outras nagées democraticas em nivel equivalente de desenvolvimento a0 dos Estados Unidos, a distancia entre eles parece ter diminufdo e nao se ampliado desde que a Suprema Corte wento agressivo de protecao da liberdade de expressdo nos anos 1940, Pode ser que, ou um mo\ sim como as nagdes vao tornando-se mais ricas com ‘uma populagio mais educada e maiores op¢des de lazer, 0s ganhos com a restrigao da liberdade de expressio — que se relacionam, principalmente, a preservagio da estabilidade social e politica ~ declinem na medida dos ‘custos em obstruir os novos progressos ¢ da reducao do bem-estar dos pro scantes para fazer surgit (excluindo-se, talver, 0s pafses ti ios) um aumento dramético na liberdade de expresso, ndependentemente | trazidos pelas leis de liberdade de expressio. 0 Direi interessantes. Na evolugio das modo de regulagio é a censura de livros ¢ outros materiais de antagonismo maior da lei em relagao & censura do que em relacio & p criminal ou outro modo de regulagio ex post — posterior ao fato (por exem intimeras caracteristicas econdmicas is de liberdade de expressio, 0 primeiro itura. O plo, processos por difamagao) — pode ser expressado na regra de que as res- trices prévias ao direito de livre expressao sao especialmente desfavoraveis. Censura é uma forma de regulagao ex ante do mesmo modo que a fixagao de (0s custos resultantes de um acidente de transito culposo, no caso di (0s custos resultantes de um artigo de jornal difamatéri 1a no juristas ~encontram-se emt: S108, ‘0u traicoeiro, no caso da censura) € quanto mais solvente for o potenc ‘ofensor's, mais fraco seré o caso para uma regulagao ex ante. Com o crescimento da educagao e da estabilidade sociais que abalam a liberdade de expressao dectinar ‘que, hoje, afragdo dos livros e artigos de revistas que contém contetido eff: tivamente danoso é bem pequena. Os custos de um sistema em que o editor deve obter uma licenga de um censor piblico para cada livro que dese) publicar so capazes de acabar com os beneficios de fazer passar, ocasi nalmente, uma ideia proibida, especialmente considerando que as editora possuem recursos suficientes para pagar multas ¢ indenizagoes para qu quer dano que venham a provocar, Assim, em termos econdmicos, faz mais sentido, nessas situagdes, cons fiar em uma regulacao ex post (por meio de punicao criminal e aces inde: nizatérias) das ideias que se apresentarem como puniveis. A cé set mantida, no entanto, em éreas como documentos estatais sigilosos, n quais a probabilidade de dano ¢ alta e a magnitude do dano, caso ocorr sera tao expressiva (por exemplo, na revelagdo de segredos militares sensi veis) que a ameaga de punigio ndo deters adequadamente o ofensor por no possuir recursos suficientes. Muitos desses argumentos podem, por certo, ser utilizados contra a regulagio ex ante de questoes de seguranca, como poderia ser feito pela ‘Agéncia de Fiscalizagao de Alimentos ¢ Medicamentos (Food and Drugs ‘Administration — ra) e pela Agéncia de Satide e Seguranga Ocupacional (Occupational Safety and Health Administration — ostia). Uma diferenga central é que, enquanto a Primeira Emenda profbe a excessiva regulaca0 do ‘mercado de ideias (do mesmo modo como o mercado da religiao, como ve= remos em seguida), nao ha qualquer dispositivo constituci diretamente uma excessiva regulagdo dos mercados convencionais de bens e servigos. Consideremos, agora, as onerosas limitagdes que a Suprema Corte co= locou sobre os esforgos para se processar a midia por difamagao. Se assu= ‘mimos que os programas jornalsticos geram beneficios exteriores, ento, considerando que um jornal ou uma estagio de televisio nao podem obter direitos de propriedade sobre noticias, temos um argumento em favor do Capitulo 13 © movimer substdio da produgio de noticias. Um subsidio direto, no entanto, envolveria ‘muitos riscos politicos, nao obstante tenhamos, ocasionalmente, assumido-os, ia Corporacio para Transmissio Pablica (Corporation ‘Uma forma de subsidio indireto seria 0 de fazer com que as vitimas da difamagio assumissem alguns dos custos da difama- «a0 que o sistema de indenizagdes, em regra, atribuiria ao difamador. Cabe reparar, porém, nos curiosos efeitos desse método de subsidio os eficiente. Isso porque, sendo conseguiriam diluir entre os outros membros da comunidade os custos de terem sido difamadas. Os custos estio concentrados em um grupo restri- to, de modo que se tem uma perda sem possibilidade de reparagao caso a 60s do Estado. E seria dificil prevenir esse declinio por dos salirios dos integrantes do Estado. O aumento do salério deveria ser de monta suficiente para cobrir nao apenas 0 custo esperado para a difa- magio nao compensada, mas também para cobrir o prémio pelo risco que pessoas avessas ao risco exigiriam tendo em vista que ndo poderiam arcar com 0 seguro, Mesmo que os salarios sejam aumentados, a composigao dos servigos piblicos migrard em favor dos que preferem assumir riscos ‘dos que possuem pouca reputacio de capital. Por fim, a dificuldade em wrar as ages governamentais leva a uma forte énfase em economizar nos investimentos visiveis, por exemplo, ao se pagar baixos salérios para os ‘agentes governamentais. E 0 problema da falsa economia é agravado se os custos do servigo governamental sio aumentados ao se restringir o direito de agentes governamentais de proteger suas reputacdes por meio de pro- cessos de difamagao. ‘A Suprema Corte dos sus tem diferenciado as figuras piblicas das privadas garantindo as figuras privadas um direito mais amplo de proces- sar por difamagio do que o garantido as figuras pablicas. Essa distingio faz sentido economicamente. Os beneficios externos da informagio sobre figuras piiblicas si0 maiores do que aqueles sobre figuras privadas; e, desse ‘modo, € forte o argumento de acordo com o qual se exige que sejam assu- mids alguns custos dessa externalizacio. Além disso, uma figura pabl sendo por definigio alguém que valha a noticia, possui alguma espécie de fa’ demanda judicial: poder contar sua versio da hist6ria, Capitulo 13.0 movimento a Um t6pico relacionado a essa questdo € 0 de que, se a principal razo para limitar 0s esforgos do Estado na regulagao do mercado das ideias & a de colher os resultados de seus beneficios externos, esperariamos ¢, em certa medida, descobrirfamos que as limitagdes na regulagdo serdo mais severas ‘quanto maiores as probabilidades desses beneficios. Considere-se o seguinte: a maxima protegio da liberdade de expressdo € garantida a0 pensamento cientifico ¢ politico, em relagao aos quais nao se pode obter direito de pro- priedade. Uma protesio sutilmente menor é atribuida a arte, a qual goza de direitos de propriedade limitados por meio das leis de protegio ao direito autoral."> Mesmo uma protecio ainda menor € garantida a pornografia e ropagandas comerciais. E nenhuma protecio € atribuida a ameagas e outras ‘manifestagoes que criam expressamente um conjunto externo de custo: A pornografia, aparentemente, nio cria beneficio externo algum. guém, a nao ser 0 proprio espectador ou leitor, beneficia-se e paga por essa atividade) e pode, ainda, criar alguns custos externos. As propagandas comerciais ~ um caso particularmente interessante ~ também criam al- guns poucos beneficios externos, uma vez que sio definidas pelas marcas especificas que divulgam e seus beneficios so capturados pelo aumento ras vendas das marcas divulgadas. Por outro lado, elas criam alguns custos externos: a propaganda do concorrente A pode interferir fortemente na do. concorrente B ¢ vice-versa, Essa andlise indica que, se a légica da lei de li- berdade de expressio € a légica econdmica, as propagandas comerciais no definidas por marcas, por exemplo, a propaganda que exalte o valor la das ameixas, deverio receber maior protegao juridica do que as propagandas que divulguem marcas especificas. Existe, é verdade, uma nascente anélise ec: © persis nd meira Emenda? P: oferecer apoio direto, financeiro ou simbélico, a re sentido economicamente, mesmo que talve A educagio publica estabelecimento de religides) exige o subsid lar e de seus pais. ‘A Primeira Emenda também protbe o Estado de criar leis sobre o esta~ belecimento de uma religiao ou proibindo o livre exercicio de religio. A Su prema Corte tem aplicado, agressivamente, essas duas cléusulas nos tiltimos: anos." Os efeitos econdmicos dos entendimentos da Corte, assim como sua “women's work force status and church attendance’ a de alguns de seus resultados, ver: utsct, Holley & WALLACE, Myles. da religiéo. Corry Azzi e Ronald Ehrenberg” formularam um modelo econdmico da religiao bastante simples (talvez simples demais, tendo em vista a grande variedade de crengas religiosas), 0 qual pressupde que as pessoas querem aumentar a idade esperada para sua felicidade a partir da ideia de uma vida pés te." O modelo leva a previsies de que as mulheres gastari igreja do que homens, uma vez que para elas é menor o custo refe remuneragio que deixa de ser auferida, e que os homens passario mais tem- po nas igrejas conforme forem ficando mais velhos, j4 que se aproxim do fim de sua vida produtiva, de modo que se torna um resultado investindo em sua capacidade remuneratoria por ir na produgao de sua utilidade na vida pés-morte. Os autores encontram amparo nos dados para suas previsies."° ‘Meu enfoque ¢ diferente. Pergunto quais foram os efeitos sobre as cren- sas religiosas e a observincia da decisao da Suprema Corte acerca da Pri- tar potenciais confusdes, ressalto que nao pretendo 1a sobre a validade de qualquer crenga religiosa nem sobre a retidao juridica de qualquer decisao dos tribunais. Devemos dife- reneiar as trés principais tendéncias nas decisoes modernas dos tribunais: -mor- ) Nas decisoes sobre oragdes nas escolas e em outras decisdes embasadas a Cléusula de Estabelecimento (establishment clause), 0 ‘Tribunal inter- pretou 0 conceito de estabelecimento de uma religiio de modo bastante amplo, proibindo, com isso, que estados ¢ Governo Federal fornecessem ides. Fssas decisoes fizem ipenas de modo superficial. 287 288 Parte Teoria e Filosofia do Direito Os pais dispostos a pagar pela integralidade dos custos da educagio de seus filhos podem mandé-los para escolas particulares e, na maior parte dos casos, fazem-no, Se, a0 invés disso, eles escolhem uma escola pil poderé ocorrer porque alguns custos serio pagos por outros, inclusive por aqueles que no possuem criangas em idade escolar e aqueles contribuintes Jocalizados em outras partes do estado ou da nagao. O principal argumento econémico para se externalizar alguns dos custos da educagio & (com algumas possiveis excecdes, como a educagio vocacional € garante beneficios externos, qual seja 0 de que todos nds (ou, pelo menos, ‘a maior parte de nds) somos beneficiados a0 morarmos em uma nagao em que a populagio é educada, esse modo, para se justificar, em termos econdmicos, o dispéndi de uma escola puiblica em oragdes e outras atividades religiosas, essas ati- vidades devem demonstrar a produgdo de externalidades positivas (por exemplo, a0 moralizar as atitudes dos estudantes ou, ao menos, torné-los mais comportados na escola), deveriam gerar economias ao se combinar a instrugio secular e a religiosa dentro da mesma instituigio, ou, ainda, os particulares deveriam voluntariar-se para pagar o custo adicional dessas des religiosas nas escolas puiblicas de forma que ndo houvesse qual quer subs Se a Suprema Corte estivesse disposta a aceitar uma dessas justifica- tivas — garantindo-se, é claro, que fossem adequadamente amparadas em provas ~, seria vidvel concluir que a Corte teria atribuido uma perspectiva econdmica 3 questio referente a religido nas escolas piblicas. No entanto, as recentes decisoes da Corte Suprema proibem praticamente todas as ati- vidades religiosas em escolas piiblicas, independentemente da apresentaa0, de qualquer justfiativa.E, se nenhuma justficagio € apresentads, pode-se argumentar que sa, de fato, estaria recebendo subsidio ‘aso fossem permitidas taisatividades. Os pais que desejassem pagar a inte- gralidade dos custos da educagdo em escolas que realizam oragdes ou pro- idades rligiosas sempre poderiam enviar seus filhos para yodo que arcassem ‘com todos 0s custos dessas atividades, sem transferir parte desse Onus para ‘outros na comunidade ‘A preocupagio da Corte com subsidio a religido poderia explicar sua Jsténcia de que as representagées natalinas financiadas por fundos pibli- ‘cos manifestei seja, garantam beneficios para 0s nao religiosos assim como para 0s religiosos. A Corte, porém, no ativ Capitulo 13 0 movimento analise econdmica do Di se preocupa com o fato de o beneficio poder set maior para os segundos do que para os primeiros, de modo que persiste 0 elemento do subsidio. Da mesma forma, também nao explica sua pouca vontade em apresentar uma justificativa secular semelhante para 0 caso da atividade religiosa em ‘escolas puiblicas, como poderia ser justificado na reducao da agressividade dos estudantes. ido ainda mais a questo, a Suprema Corte negou-se a decre- tar a inconstitucionalidade da imunidade dos bens das igrejas em relagao a tributos estaduais e municipais, No entanto,a consequéncia dessa imunida~ rejas receberem um servico piblico pelo qual nao pagam. Nao hé ‘com essa pritica se ela gerar beneficios em relagao aos quais nio . Ocorre que a Corte nao exigiu essa demonstragio, ampla sangao judi 2) Em suas decisdes sobre o livre exercicio, a Corte tem, algumas vezes, requerido que 6rgios puilicos realizem expressivas alocagoes de recursos proibicdo de negativa de seguro-desemprego a pessoas cuja religio im- pede que aceitem uma oferta de emprego que exijatrabalhar aos sibados. Assim, a Corte, com uma mao (os casos da Cléusula de Estabelecimento} cexige tais subsidios. 3) Nos casos envolvendo contraceptivos, abort, ilegitimidade, obsceni- dade e outras questdes morais, em relag2o aos quais 0s religiosos tendem ‘a manter posigSes firmes, a Corte, recentemente, quase sempre ficou a0 Jado dos seculares e se op6s & perspectiva r ‘As decisoes apresentadas nos itens 1 e 2 favorecem a disputa ea diversi- dade religiosa (niio uma competigao em sentido econdmico: como veremos, ‘em seguida, 0 subsidio da disputa, como ocorre no item 2, provoca no a promogao de competicio em sentido econdmico, mas seu retardo). Qual- ido tende a favorecer os grupos ‘ajoritérios, em prejuizo dos minoritérios, de forma que poderia ser comparada com a atitudle de o Estado colocar seu dedao nas balangas do mercado convencional quando concede beneficios ou outros incentivos a ‘empresas politicamente influentes. A recusa em permitir 0 estabelecimento de grupos religiosos periféricos tera efeitos semelhantes aos manifestados 230 Parte Te quando se estabelece uma religido por forga de politicas de emprego ou se adota outras politicas e costumes escolhidos para minimizar o conflito com (8 grupos religiosos dominantes."' Nao é mero acidente que, nos Estados Unidos da América, o dia oficial de descanso seja o ssbado (Sabbath), 0 qual é reconhecido pelos principais grupos cristaos. Os grupos periféricos ido, pois, beneficiar-se de uma regra que exija a adequagdo a suas necessidades.. ‘No entanto, como os custos dessa adequagao sio suportados por em- pregadores, consumidores, contribuintes ¢ outros empregados, 0 grupo 2 de «casos, em verdade, indica um subsidio aos grupos dores fracos do que seria para cle subsidiar os fortes, pode nao ser possivel defender, a partir da nocao de eficiéncia, esses casos nos quais se exigiria a ade- quacio. Além disso, o grupo I de casos pode ir mais longe do que necessério iblicos aos grupos religiosos estabelecidos ao deixar de lado as vérias justficativas que poderiam ser apresentadas ao apoio pi mesmo que a permissao da imunidade tributéria sobre seus bens: essa tendéncia (ou, inclusive, vé além). fe, favorecem crengas e priticas dominantes nos varios setores mnidade. Ao assim agir, a Corte, provavelmente, aumentou a diver- sidade religiosa e pode, desse modo, estar promovendo, em contrapartida, igioso de alguns de seus casos de estabelecimento. (© grupo 3 de decisées também favorece a religido ~ mais especifica- ‘mente, organizagdes religiosas privadas -, mas em um sentido mais sutil, 0 qual pode ser totalmente nao intencional, ¢ até nao reconhecido pelos tri- bunais. Ao marcar uma poderosa fungéo de Estado (0 Poder Judiciario Fe- deral) como secular e, mais importante, ao rebaixar valores trad meio da invalidacao de normas juridicas que expressavam ¢ impunham tais valores, essas decisées aumentaram a demanda por religides organizadas compreendidas como as preservadoras desses valores tradicionais. Se o Es tado impusesse o sistema de valores cristao, tal como fazia,as pessoas teriam ‘menos a ganhar sendo cristaos. O grupo I de casos teve efeito semelhante, Ao se proibir que professores pagos pelo Estado possam transmitir valores 2 Commo resaltado em MccoNN, Michael. “Accommodation of religion Capitulo 13.0 movimento an mica do Diceito igiosos, 0s tribunais tém aumentado a demanda por servigos fornecidos ppelas organizagées religiosas. E, a0 se permitir a imunidade tributiria sobre bens das igrejas, sio diminuidlos os custos dessas organizacbes Jaro que pode nao haver aumento em cadeia no fornecimento de ser- {osos se uma escola publica na qual professores realizam oragbes € leem para os estudantes @ Bi jderada uma organizagao rel No entanto, minha preocupagio se limita aos efeitos sobre as organizagdes privadas, De modo semelhante, um Estado que reprimisse, rigorosamente, 0 aborto poderia ser visto como o braco impositivo dos grupos cristos que vvislumbram o aborto como imoral. Ocorre que, 20 assumir uma das fungdes de uma organizagao religiosa privada, le estaria comp ganizagbes e, com isso, reduzindo a demanda pelos servigos fornecidos por elas, Hé uma questao adicional. Conforme destacou Adam Smith, a eficitn- cia de um grupo privado em monitorar e regular 0 comportamento de seus membros tende a ser maior quanto menor for o grupo (essa € a esséncia da essa proposigdo, inferiu Smith que quanto mais grupos religiosos existirem, de forma que menor seria cada um em média, maior a cficiéncia da religiéo no controle do comportamento. Isso leva & conclusio com essas or- de que as regulag6es legais que tenham 0 efeito de atomizar ou concentrar ‘as organizagoes religiosas podem aprimorar o timbre moral da sociedade, podendo, inclusive, diminuir 0 papel do Estado na promogio direta de valores morais. Pode ser dificil acreditar que o timbre moral de nossa sociedade tenha, de fato, melhorado desde 0 momento em que a Suprema Corte adotou ‘uma postura agressivamente secular. No entanto, a andlise econ6mica su gere que a situagao poderia ser pior, 20 invés de melhor, se a Cort ‘enfraquecido as organizacées religiosas privadas permitindo que o Estado competisse com mais eficiéncia na promogao ¢ na exigéncia de comporta- ‘mentos morais. Jé que o Estado e as organizagoes religiosas sto substitutos na promogao do comportamento moral, a expansio do papel do Estado como educador moral poderia reduzir a demanda por servigos das organi zagoes religiosas. igo poderia em vez de podia, j4 que, na medida em que o papel do Estado como educador moral levado a sétio, um Estado que procura pro- ‘mover valores morais baseados em religiéo pode ajudar a vender servigos 2 ya Adam. The wealth of nations, .740-50. 292 Parte LTeoria e Filosofia do Direito josos, bem como as organizagdes que as promovem, em prejuizo de seus tos seculares. Isso pressupde, no entanto, 0 que a Hist6ria apresenta como improvavel: que 0 Estado encontraré um modo de apoiar a religiso de forma verdadeiramente nao sectaria, deixando, assim, de promover uma religitio especifica que pudesse enfraquecer a competigao entre os grupos ¢, possivelmente, a religido como um todo. Provar, ao contrério do que aponta a sabedoria convencional, que as decisées aparentemente antireligiosas da Suprema Corte promoveram a religido seria uma tarefa formidavel; e eu apresento, aqui, apenas dois frag- mentos dessa demonstragio. © primeiro seria o intenso crescimento, nos Lltimos anos, dos eristios evangélicos, antes considerados um grupo reli gioso periférico, conhecidos por sua adesao enfitica a valores tradicionais.”” ( segundo seria a forte diferenga entre os Estados Unidos da América e 0 Oeste Europeu. Nao apenas um percentual expressivamente maior de esta- dunidenses acredita na vida p6s-morte quando comparado com qualquer pais do Oeste Europeu, & exceg2o apenas da Irlanda, mas esse percentual ‘tem-se mantido relativamente constante desde 1930, tendo, por outro lado, reduzido substancialmente na Europa nesse mesmo intervalo%. Quase todos os paises do Oeste Furopeu possuem uma igreja oficial (isto 6 apoiada por meio de recursos publicos ¢ com privigios legais);e alguns impiem oragdes nas escolas pblicas.®* Considerando-se que o estabeleci= mento de uma religido prejudica o surgimento de grupos rivas, ele acaba reduzindo a variedade de produtos religiosos oferecidos & populacio; 0 que, pressuponho, diminuiria a demanda por religido, O sistema estadunidense incentiva uma grande variedade de grupos religiosos. Quase qualquer pessoa. pode encontrar um pacote de crengas e ritos que serve a suas citcunsténcias econdmicas ¢ psicolégicas. F, a0 prevenir que o Estado assumisse a fungéo de moldar a esfera moral, a Suprema Corte, recentemente, tem, defendo ety aumentado a demanda por religido como um substituto para a regulaco no campo da moral. © Ver The Gallup report p.3 » Ver ibidem, p53. Capitulo 13 0 movimento anslise economica 4 Nao hé divida de que o papel causal da Suprema Corte € menor do que tenho sugerido. A tradisao da diversidade religiosa nos Estados Unidos da América é bastante antiga, de forma que a contribuigio da Corte para manté-la pode ter sido sutil, De qualquer modo, a anilise econmica sugere «que os lideres religiosos que criticaram a decisio tomada pela Suprema Corte, bem como os lideres seculares que a defenderam, podem estar argumentando ‘em sentido contrério a seus interesses institucionais. = Minha andlise sobre a liberdade de expresso ¢ 0 culto religioso pode ser conectada do seguinte modo: uma possivel leitura da Primeira Emenda (nao defendo que seja a inica nem a mais completa) seria a que profbe o Estado de interferir no livre mercado no referente a dois bens particulares —ideias ¢ igiio. O Estado no pode regular esses mercados além do necessirio para corrigir a5 externalidades outros impedimentos a alocagio eficiente de recursos, Essa parece ser uma descrigdo adequada sobre © modo pelo qual ‘0 tribunais interpretam essa Emenda; a principal, mas nio tnica excegao, é representada pelo caso que probe o que pode ser chamado instituigdes cficientes (instituigoes que ndo exigem um subsidio aos religiosos além do que poderia ser justificado em termos seculares) ¢ 0 caso que exige a aco- ‘moda¢io da religiao no referente ao subsidio de grupos religiosos limitrofes. Nao ha um argumento econdmico convincente para esse subsidio, a ndo ser que algo possa ser feito sobre o argumento de Adam Smith no sentido de que quanto maior a quantidade de grupos rligiosos distintos, maior a eficiéncia da religiao em produzit comportamentos morais ~ ¢ a moral complementa 6 Direito ao cortigir as externalidades negativas, como em crimes, ¢ a0 in- centivar as positivas, como na pratica de caridades. No entanto, este ensaio nao é 0 local para se comprovar uma nova te0~ ria econémica. E apenas plausivel sugerir que uma teoria mantém algumas promessas ¢, por isso, é digna de ser explotada, Desejo ter convencido 0 itor de que o que pode ser chamado, abertamente, teoria econdmica do jreito poss ativo potencial para modificar nogdes pré-concebidas para produzir hipéteses testaveis sobre uma variedade de importantes fe- hnOmenos sociais e, em resumo, para ampliar nosso conhecimento sobre o mundo,

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