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FRIEDRICH NIE} SCHE ASSIM FALOU ‘ ZARATUSTRA Um livro para todos e para ninguém PAULO CESAR DE Tompantiia Das Terra pit da ad, wo saris de Souza we polio © 2011 by Paul Grif atuattzad seprandoo Acorde Ort a tonguea Portuguesa de 1990, \queentran em vigorno Bra Til origina Ao sprac Zarbustea cope Jono Bape da Costa Agar Prepac indie remisivo ncsane sarc Revise Ronaca det Nero Ana Maria Bares Rus Bandeira Pisa, 702 32 o4ssz.002 Telefone (11) 3707-3500, SUMARIO Prologo de Zaratustra Os discursos de Zaratustr Das trés metamorfoses as ciitedras da virtude Dos trasmundanos, Dos desprezadores do corpo. Das paixdes alegres ¢ dolorosas Do criminoso palido. Dolere escrever Da drvore na montanha Dos pregadores da morte Da guerra e dos guerreiros Do novo idolo Das moscas do mercado Da castidlade Doamigo Das mil metas e uma s6 meta Do amor ao pr Do caminho do eriador Das velhas e novas mulhereginhas Da picacla da vibora Dos filhos ¢ do matrimonio Da morte voluntiria Da virtude dadivosa 1 27 29 31 34 36 38 40 “4 46 48 31 60 6 6 o ® figua odo astra varar >ita tigo ova lan. va sto sim, e carrega-o juntamente com eles — seri o melhor para eles: se for bom para ti! E, querendo hes da ado ainda que a mendiguer Nao”, respondeu Zaratustra, “no dou esmolas, Nao sou pobre o bastante pant isso.” O santo riu de Zaratustra, € flow assim: “Entdo cuida para que recebam teus tesouros! Bles desconfiam dos ere mitas e no acreditam que viemos para presenteat Para eles, nossos pasos ecoam solit ruas. E, quando, deitados a noite em suas camas, ouvem um homem a caminhar bem antes cle nascer o sol, perguntam a simesmos: aondle vai esse ladrio? Nao vas para junto dos homens, fica na floresta! Ser melhor que fosses para junto dos animais! Por que nio Fes ser, Como eu — UM UrSO entre Os UESOS, Um paissaro entre 05 passaros? “Eo que faz o santo na floresta?”, perguntou Zaratustra Respondew o santo: “Eu faco cangdes e as canto, e, quan- do faco cancdes, tio, choro e sussurro: assim louvo a Deus, Cantando, chorando, rindo e sussusrande eu Jouve ao deus que é meu Deus. Mas © que trazes de presente? Ao ouvir essas palavras, Zaratusira saudow 0 santo ¢ fa lou: ‘Que poderia cu vos dar? Deixai-me partir, para que nada vos tire!” — E assim se despediram um do outro, 0 idoso © homem, rindo com riem dois meninos Mas, quando Zaratustra se achou §6, assim falou para Seu conigio:' “Como seri possivel? Este velho santo, na sua floresta, ainda nao soube que Deus esta mort nao dés mais que uma esmola, dei 3. Quando Zaratustra chegou A cidade mais préxima, na margem da floresta, ali encontrou muita na Praca; pois fora anunciado que um equilibrista’ andaria na Corda. E Zaratustea assim falou a gente ¢ bos ensino 0 super-bhomem.* O hom: leve ser superado, Que fizestes para superi-lo? 6 algo que 31 igor, criaram algo acima de si pr6: 6, eantes Toclos os seres, a prios: ¢ vos quereis sera vazante clessa grande m: retrocecler a0 animal do que superar homem? Que é o macaco para o homem? Uma risacla, ou dolorosa vergonha, Exatumente isso deve o homem ser para o super- -homem: uma risada, ou dolorossi vergonha, Fizestes 0 camino do verme ao homem, e muito, em 6s, ainda é verme, Outrora fostes macacos, e ainda agora 0 homem é mais macaco do que qualquer macaco © imais sibio entre v6s & apenas discrepincia ¢ mist de planta e fantasma, Mas digo eu que vos deveis tomar fantasmas ou plantas? ‘Vede, eu vos ensino 0 super-homem! O super-homem & 0 sentido da terra. Que a vossa vonta- dle diga: 0 super-homem sefa o sentido da terra! Eu vos imploro, itmos, permanecetfidis @ tere e no acrediteis nos que vos falam de esperangas supraterrenas! nvenenadores,sibam eles ou nto. Sao desprezaclores cla vida, moribundos que a si mesmos envenenaram, ¢ dos quais a terra est cansack que partam, enti Uma vez a ofensa « Deus era a maior das ofensas, mas Deus morreu, e com isso morreram tumbém os ofensores. Olender a terra é agora o que b e conside- rar mais altamente as entranhas do snescrutivel do que 0 sentido ca terrat Uma vez a alma othava com clesprezo pasa 0 corp: @ esse desclém era o que havia de maior: — ela © queria mat go, hotrvel, faminto. Assim pensava ela escaparao corpo e Oh, essa alma mesma era ainda magra, horrivel e famine eacrueldade era a volipia dessa alma Mas tambén corpo sobre vossa alma? N mentivel satisiacio? Na verdade, um rio imundo éo homem. £ preciso ser um ‘ocean para acolher um rio imundo sem se tornarimpuro. Vede, eu vos ensino 0 super-homem: ele ¢ este oveano, nele pode afuncar 0 vosso grande desprezo. Os, irmaos, dizei-me: 0 que conta Vosso ‘ela pobreza, imundicie ¢ la- Qual €a maior coisa que podets experimentar? Fa hora do grande desprezo, 8 hora em que também vossafelicida- de se converte em nojo para vés, assim como vossa razio ¢ vossa virtude. A hora em que dizeis: “Que importa minha felicidade? Ela € pobreza, imundicie e lamentivel satisfacao. Mas mi- nha felicidad deveriajustificar a propria existencia! A hora em que dizeis: “Que importa minha raz? Proce rela o saber, como © leo seu alimento? Ela € pobreza imundicie e lamentivel saisfagio! A hora em que dizeis: “Que importa mina viruce? Ela ainda nao me fez delirar. Como estou cansacdo de meu bem ¢ meu mal! Tudo isso € pobreza, imundicie ¢ lamentivel satisfagio! A hora em que dizeis: “Que importa minha justice? Nao estou me vendo a ser brasa e earvao, Mas o justo € brasa € caviot A hora em que dizeis: “Que importa minha compaixdo? A compaixsio no 4 cruz. em que pregam aquele que ama (os homens? Mas minha compaixiio nao € erucificacio ‘Hi falastes assim? Jd grtastes assim? Ah, rivesse cu ouvido aritarces assim! Nao a vosso pecado — a vossa frugalidade brada aos ‘us, vossa avareza até no pecado brada aos céus! Onde esté o rio que venha lambersvos com sua lingua? Onde esti a loucura com que devericis ser vacinados? Vede, eu vos ensino 0 supes-homem: ele ¢ esse raio, ele €essaloucura)— Depois de Zaratusira assim falar, alguém co povo gri- tou: "Jd ouvimos bastante sobre o equilibrista; agora nos dleixa vé-Lol. E todos ritam de Zaratusira, Mas 0 equilibrs. '2, que achava que as palavras se referiam a ele, pos-se a trabalhae farutustra olhou para o povo e se admitou, Entio falou assim: —_ © homem é uma corda, ataca entre o animal e 0 super -homem — uma corda sobre um abismo. Um perigoso para-lé, um perigoso a-caminho, um peri ‘goso olhar-para-trés, um perigoso estremecer e se deter, Grande, no homem, é ser ele uma ponte e no um obje- tivo: o que pode ser amado, no homem, é ser ele uma pas- sagem eum declinio.* Amoaqueles que nao sabem viver a no ser como quem declina, pois sio os que passam. Amo os grandes desprezadores, porque sto os grandes reverenciadores, ¢ flechas de anseio pela outra margem, Amo aqueles que nao buscam primeiramente aris das estrelas uma razao para declinar e serem sacrificados; mas que se sacrificama terra, para que um dia a terta venha.a ser do super-homem, Amo aquele que vive para vir a conhecer, ¢ que quer conhecer para que um dia viva o super-homem. E assim quer 0 seu declinio. Amo aquele que trabalha ¢ inventa, pars construira ara 0 super-homem ¢ Ihe preparar terra, bicho e planta: Pois assim quer o seu declinio. Amo aquele que ama a sui de de declinio e uma flecha dk Amo aquele que no guarda uma gota de espirto para si, mas quer ser inteiramente o espirito de sua virtude: assim anda ele como espirito sobre a ponte, Amo aquele que faz, de sua virtude, seu pendor e sua fatalidade: assim quer ele, por causa de sua virtude, ainda viver e nao mais viver ‘Amo aquele que no quer ter virtudes demais. Uma tude € mais virtude do que duas, pois significa mais lagos em que a fatalidacle pende. Amo aquele cuja alma esbanja a si mesma, que no quer fratidao e nao devolve; pois ele sempre doa © nao quer se ‘guardar, Amo aquele que se envergonha quando 0 dado caia seu favor, e que entio pergunta: sou um jogadlor desleal? — pois ele quer perecer? Amo aquele que virude: pois viride é vonta- rente clos seus atos palavras de npre mais do que promete: pois ele quero seu Amo aquele que justifica os vindouros e redime os pas- sados: pois quer perecer devido aos presentes. Amoaquele que agoita seu deus porque ama seu deus:!* pois tem de perecer da ira de seu deus Amoaquele cuja alma é profunda também no ferimento, e que pode perecer de uma pequena vivéncia: assim pas de bom grado sobre a ponte. Amo aquele cuja alma transborda de cheia, de modo que squece a si proprio e todas as coisas estio nele: assim, to- das as coisas se tornam seu declinio. Amo aquele de espitito livre ¢ coracao livre: assim, sua cabega no passa de entranhas do seu coraciio, mas coragao 0 impele ao declinio, Amo todos aqueles questo como gotas pesadas, caindo ‘uma a uma da negra nuvem que paira sobre os homens: eles anunciama chegada do raio, e como arautos perecem, Vede, eu sou um arauto do raio ¢ uma pesada gota da uvem: mas esse raio se chama super-homem.. — 5. Depois de falar essas palavras, Zaratustra olhou nova- mente para o povo e calou, “Ai estio eles ¢ riem’,falou para seu coracao, “nio me compreencem, no sou a boca pa esses ouvidos. Sera preciso antes partir-Jhesas orelhas, para que apren- dana ouvir com os olhos? Sera preciso estrondear como os les e os pregadores da peniténcia? Ou acredi num homem que balbucta? Eles possuem algo de que se ongulham, Como chamam mesmo 0 que 0s faz orgulhosos? Chamam de cultura," & o- ue os distingue dos pastores de eabras Por isso nao gostam de ouvir palavra ‘desprezo” quan- do se fala deles. Entio falarei a0 seu orgulho. nais desprezivel ou seja, do

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