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1 – BREVE ADVERTÊNCIA.
Assim, como não poderia deixar de ser, cumpre-me agradecer aos amigos
de caminhada que me têm subsidiado com as suas argutas observações, vazadas
em muitos textos já publicados sobre o assunto. Agradeço-os principalmente
pelos reptos que me lançaram nas nossas listas internas de debates na Internet
(especialmente na da AMATRA XXIII), neles reconhecendo uma poderosa
instigação ao aperfeiçoamento deste arrazoado.2
Enfim, esclareço que tenho a plena consciência de que todas as vezes que
nos lançamos a um debate intelectual, corremos o risco de defender idéias que
não acolham o aplauso dos estudiosos da matéria tratada. Com efeito, nem de
longe nutro a tola pretensão de me arvorar em guardião supremo da razão.
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2 - ARGUMENTOS FAVORÁVEIS À COMPETÊNCIA CRIMINAL DA JUSTIÇA
DO TRABALHO.
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as Ações que Envolvam o Exercício do Direito de Greve.4
Ocorre que o inciso III do artigo 114 da CRFB, lastreado numa visão mais
subjetiva do fenômeno competencial trabalhista, somente faz alusão às ações
sobre representação sindical entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e
4 Cumpre-me esclarecer aqui, que as reflexões que agora trago sobre o tema estão originalmente
traçadas em artigo da minha lavra, intitulado “COMPETÊNCIA PARA AS AÇÕES QUE ENVOLVAM O
EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE”, publicado em livro coordenado pelo meu dileto amigo
ALEXANDRE AUGUSTO CAMPANA PINHEIRO, denominado COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO
TRABALHO: Aspectos Materiais e Processuais, 1ª ed., São Paulo: LTr, 2005, pp. 83/95.
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entre sindicatos e empregadores.
“Vistos, etc...
Trata-se de notícia crime onde o Ministério Público Federal requereu
a remessa dos presentes autos à Justiça do Trabalho, entendendo ser
esse o juízo competente para processar e julgar as irregularidades, em
tese, na fundação do Sindicato dos Empregados do Comércio Varejista de
Gêneros Alimentícios, Tecidos e Vestuário de Brusque.
Como aduziu o Parquet Federal, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 8°, inciso I, garantiu a
liberdade para a formação de associações sindicais, sendo vedada a
intervenção estatal em sua organização, litteram:
“Art. 8°. É livre a associação profissional ou sindical, observado o
seguinte:
I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de
sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder
Público a interferência e a intervenção na organização sindical; (...)”
Entretanto, o inciso II deste dispositivo legal veda a criação de mais
de uma organização sindical representativa de categoria profissional ou
econômica na mesma base territorial, conforme teria ocorrido, em tese, no
caso dos autos.
Todavia, tal irregularidade apontada pelo Parquet Federal não se
constitui crime cujo processamento caiba à Justiça Federal, mas sim à
Justiça do Trabalho, nos termos do art. 114, III, da CF/88 (Inciso incluído
pela Emenda Constitucional n° 45/2004).
Assim, acolho as razões do Ministério Público Federal, e determino a
remessa dos autos à Justiça do Trabalho de Brusque/SC, competente para
processar e julgar o feito.”5
4
De outra vertente, parece-me ainda que o inciso IV do artigo 114 da CRFB,
que estabelece a competência do Judiciário Laboral para conhecimento dos
“mandados de segurança, habeas corpus e a habeas data, quando o ato
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição”, seja capaz de garantir a
jurisdição penal aqui discutida.
6 Não posso deixar de lembrar que, ao fim e ao cabo, quem dirimirá a celeuma instaurada sobre a
competência criminal da Justiça do Trabalho será o STF.
7 HC 85096 / MG - MINAS GERAIS, Relator: Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento em
28/06/2005, Órgão Julgador: Primeira Turma, Publicação: DJ 14-10-2005 PP-00011 EMENT VOL-
02205-2 PP-00307.
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3.1 – O Texto da Lei versus o Conteúdo da Norma: O Juiz é Somente a Boca
da Lei?!
Nada obstante, tal fato não se constituiu em empecilho para que o pleno do
STF, passado alguns meses de vigência da novel redação do artigo 114 da CRFB,
reconhecesse, à unanimidade, que a competência para tais ações iniludivelmente
pertence à Justiça do Trabalho.
Não por outra razão, ensina-nos o Ministro EROS ROBERTO GRAU, digno
integrante do Supremo Tribunal Federal:
6
desvencilhamento da norma de seu invólucro: no sentido de fazê-la
brotar do texto, do enunciado – é que afirmo que o intérprete produz a
norma.”8
7
em virtude de terem manejado defensivos agrícolas sem contarem com a
proteção de EPIs, que não lhes foram ofertados por pura omissão de seus
empregadores, caso que configura, ao meu ver, hipótese típica de homicídio
culposo.
Quero crer que se tais empregadores padecessem do receio de suportarem
a partir daí uma condenação penal, muito provavelmente teriam cumprido com a
obrigação contratual básica de garantir aos seus empregados um meio-ambiente
de trabalho hígido, o que por certo teria preservado a vida de tais camponeses.
Com efeito, não sem antes solicitar vênias aos que pensam de modo
diferente, creio que por via de condenações penais a Justiça do Trabalho poderá
fazer muito pelo cumprimento da legislação trabalhista, interferindo
positivamente na relação capital-trabalho.
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embaraçaria a competência penal da Justiça do Trabalho, na medida em que, pela
sua literalidade, os crimes contra a organização do trabalho são de atribuição
cognitiva da Justiça Federal.
Por uma questão que tangencia a trivialidade, talvez seja esse o mais frágil
argumento daqueles que pelejam contra a jurisdição penal do Judiciário Laboral.
Ocorre que nem todos os ilícitos penais-trabalhistas estão tipificados no
titulo IV do Código Penal, que arrola os crimes contra a organização do trabalho
somente a partir dos artigos 197 e seguintes.
Mas os exemplos não morrem por aí. Dizem os artigos 1º e 2º da Lei 9.029-
95:
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submetidas às normas do Sistema Único de Saúde (SUS).
Pena: detenção de um a dois anos e multa.
Parágrafo único. São sujeitos ativos dos crimes a que se refere
este artigo:
I - a pessoa física empregadora;
II - o representante legal do empregador, como definido na
legislação trabalhista.
III – O dirigente, direto ou por delegação, de órgãos públicos e
entidades das administrações públicas direta, indireta e fundacional
de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
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inserido no título II do codex respectivo, a tratar dos crimes contra o patrimônio,
consoante apregoa o abalizado magistério do Professor GODINHO DELGADO, o
argumento do artigo 109, VI, da CRFB se torna, mais uma vez, manifestamente
estéril para neutralizar a competência penal da Justiça do Trabalho.
11 Nova Competência da Justiça do Trabalho, 1a ed., São Paulo: LTr, 2005, p. 233.
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Com efeito, excetuadas as condutas criminais de transcendência coletiva e com
repercussão geral na organização do trabalho que estejam tipificadas nos artigos 197 e
seguintes do CP, todos os demais ilícitos de cunho penal-trabalhista deverão ser
doravante processados e julgados perante a Justiça do Trabalho.
4 – ÚLTIMAS PALAVRAS
Também não foi tranqüilo o debate acerca da pertinência das ações civis
públicas no processo do trabalho, mas hodiernamente elas estão cada vez mais
presentes no nosso cotidiano.
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