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‘Arg, Ciéne. Sade Unipar, 62): mao Jage., 2002 PLASTICIDADE E REGENERACAO FUNCIONAL DO SISTEMA NERVOSO: CONTRIBUICAO AO ESTUDO DE REVISAO. Juliano Yasuo Oda* Débora de Mello Gongales Sant’Ana®* Jaqueline de Carvalho®** ODA, J ¥; SANT“ANA, D. M. G.; CARVALHO, J; Plasticidade e Regemeragio funcional do sistema nervoso: conteibuigiio 80 estuda de revisio. Arg. Ciéne, Sande Uniper, 6(2): 171-176, 2002. RESUMO: Durante 0 processo evolutivo, os individuos desenvolveram interagties sociais ¢ relapses com os acontecimentos ambientais que resultaram em eérebros com abundantes circuitos neurais. Assim 0 termo plasticidade esteve e estd presente ‘em todas as etapas deste processo, permitindo que-os neurGnivs do SNC dos mamiferos tivessemt a capacidade de gerar novos. amos para formar novas sinapses ¢ assim renoyar 0s circuitos neuronais. No presente trabalho objetivamos uma revisio da literatura sobre dados referentes. a0 sistema nervoso central, caracterizando a plasticidade neural, plasticidade neuronal, plasticidade cerebral ¢ plasticidade sindptica além de abordar conceitos sobre regeneragdo e sobre fatores neurorrsficos no SNC. PALAVRAS-CHA VE: neurotrofinas; plasticidade; sistema nervoso central PLASTICITY AND FUNCTIONAL REGENERATION OF CENTRAL NERVOUS SYSTE! CONTRIBUTION TO THE REVI ODA, J. Y.; SANT’ANA, D. M, Gs CARVALHO, J; Plasticity and funetional regeneration of central nervous system ‘contribution to the revision study. Arq. Cigne. Sade Unipar, 6(2): 171-176, 2002. ABSTRACT: During the evolutive process the individuals had developed social interactions and relations with the ambient events that had resulted in brains with abundant neural circuits. Thus the term plasticity was and is present in all the stages of this process, allowing that the neutons of the SNC ofthe mammals had the capacity to generate new branches to form sinapsys ‘and thus to renew the cireuits neuronais, In the present work we objectify a walk through of literature on referring data to the central nervous system, characterizing the neural plasticity, neuronal plasticity, cerebral plasticity: and sinaptic plasticity besides apron KEY WORDS ing concepts on regeneration and neurotroty factors in the SNC. central nervous system: neurotrophin; plastic, Introdugie As interagdes sociais viyenciadas por um individuo cas telagdes entre ox acontecimentos ambientais eas respostas, do organismo podem: estabelecer contingéncias, ou telagdes condicionais entre classes de comportamento classes de estimulos que thes s30 antecedentes ou conseqiientes (FERRARI et al.,2001). Em cada espécie, os individuos possuem uma bagagem comportamental resultante da interagio entre as contingéncias filogenéticas e ontogenéticas. As contingents filogenéticas atuam durante a evolugdo selecionando Ccomportamentos relacionadas coma sobrevivencia da espéeies as contingéncias ontogenéticas sao estabslecidas pelas interagSes particulares de-cada individuo com oseuambiente, desde 0 inicio de seu desenvolvimento selecianam respostas adequadas para adaptagao a um ambiente que esti em Constante alteragio, podendo-se afirmar que o comportamento de um individuo & resultado de-sua historia, filogenética, ‘ontogenética e cultural (SKINNER, 1981; CATANIA, 1999; BUSSAB, 2000). CO process evolutivo resultou em cérebros com uma, abundiincia de circuitos neurais que podem ser modificados pelaexperiéncia, assim a plasticidade neural esté presente em todas a etapas da ontogenta, inclusive na fase adultae durante envethecimento. A capacidiade de modifieagao do sistema nervosa em funcdo de suas experiGncias, tanto em individuos, jovens como em adultos, foi reconhecida apenas nas tltimas décadas (ROSENZWEIG, 1996). Dessa forma, o sistema rervoso & passivel de alteragdes limitadas induzidas pelos estimulos naturais (NOBACK erat, 1999), Embora o corpo celular do neurdnio. seja um componente relativamente fixo, as conexdes sindpticas que fiz com outros neurdnios so modificadas durante a vida do individuo, assim a plasticidade neusonal pode ser definida como a capacidade das conexdes sindpticas de urn neurdinio serem substituidas, aumentadas ou diminuidas em quantidade e de modificarem a atividade funcional, provavelmente influeneiada por fatores quimicos liberados pelas célulasalve (NOBACK etal,, 1999). Ainda a plasticidade neuronal pode ser definida como a capacidade de formar novos canais de ‘coneacio apdis uma lesao. A plasticidade pode ser visualizad pds uma desnervaco parcial, nessa situagoos axénios no Julio Yesno Oil - Prof. Anatomia Humana da UNIPAR, Aluno do Ris-Gradiaga0 em MorfoisologiaVEMD, Aluno dt Pis-Graduagio dy ICD. USP. e-maikjynds @wipar be “Pro? Dr? Debora de Mello Gowgiles 8 ‘*aqueline de Carvalho, Pofessora de Histologia da UNIPAR. iets fino Yasue Oda = PEACHUNIPAR Urnarat PR Ana, Professora de Anotomi Humana ds UNIPAR. Caseavel m1 afotados se projetam a uma regio parcialmente desnervada desenvolvendo brotos axonais que crescem ¢ formam novos contatos sinapticos. ‘A capacidade do sistema nervoso central adulto de formar estes brotose sinapses funcionais varia de regio para regido ede uma espcie scoutra, Entretanto, ofator ou farores que promayem a formagaa de brotos ou sinaptogénese, em algumas mas néo em todas as regides ou espécies, nBo se cconhece de forma completa. A plisticidade em um sentido amplo €um fensimeno simultanco, ainda que todos 0s eérebros humanos sejam similares a0 ponto de vista anatémico, fisioldgico-e binquimico 6 comporiamento humano difere de tuma pessoa para outra, esta diferenga no comportamento reflet 4 plasticidade do eérebro para se adaptar av meio (BERGMAN eral., 1998; GUTIERREZ, 1998; COLINO etal, 2002). essa forma, os neurdnios do SNC dos mamiferos 2m acapacidade de gerar novos ramos (brotamento axonal) para formar aovas sinapses ¢ assim, renovar os circuitos nneuronais (NOBACK er ai., 1999; BERGMAN et al., 1998; DOUGLAS, 2000). A plasticidade neuronal é maxima durante © desenvolvimento, mas est retida em parte no SNC adulto _manifestando-se como uma resposta a alteraydes de niveis hhormonais, aprendizado de novas habilidades, resposta a alteragies do meine lesies (ROSENZWEIG, 1996; NOBACK etal, 1999). Com o avango das pesquisas e des métodos de imaginologia na ultima década foi possfvel adquirir uma nova visio do sistema nervoso, no apenas como uma estrutara rigida e imulavel, mas sim como uma estrutura flexivel que ‘modifica sua estrutura funcional sob diferentes circunstincias expressando assim, capacidade para se modificar durante 0 processo de adaptacao, o que se pode interpretar como sendo a plasticidade no sistema nervoso (BRODAL, s/d; VILLAR et al., 1998; DOUGLAS, 2000). No presente trabalho, buscamos na literatura leniifica, dados referentes & plasticidade no sistema nervoso central, caracterizando 4 plasticidade neural, neuron: cerebral e sindptica e diferenciando-as da regeneragao no sistema nervoso, objetivando apresentar um breve eantexto histérico da evolugdo do conhecimento cientifico, esclarecendo diividas ¢ teorias conflitantes. Desenvolvimento Plasticidade no Sistema Nervoso Central sistema nervoso central é considerade como 0 produto biol6gico mais elaborado e complexo da histéria evolutiva. Os bilhes de neurdnios e correspondentes, conexdes sindpticas, associados ais eélulas da neurdglia, formam uma rede neural complexa que faz a integragio funcional de estruturas neurais diferentes ¢, muitas vezes, distantes (MOONEN et al., 1990). Quando o cérebro sofre ‘raumatismos ou lesdes como acidente vascular cerebral pordem ocorrer perdas neuronais ¢ disfunedo nessa rede neuronal, Nesses casos, as alteragées de fungo ocorrem no apenas nas reas diretamente afetadas, mas também em outras reas neurais conectadas direta ou indiretamente, tendo como resultado final, prejuizos comportamentais © cognitivos (CERUTI etal, 1997), © desenvolvimento do sistema nervoso é ‘caracterizado por mudangas que normalmente sao consideradas ‘como evidéncias da plasticidade, Durante a embriogénese & m Arg, Ciéne. Saiide Unipar, 62): maioJago., 2002 gerado um niimero excessivo de neurOnios e, por isso, uma tarande parte morre pelo mecanismo de morte celular programada ~ apopiose, resultando em um ajuste fino da ppopulagio neuronal (TAPIA, 1997; AR AMANTE- MENDES &GREEN, 1999). pds o nascimento, ocorrea regulacto da populagdo neuronal em momentos considerados periodos ‘erticos no desenvolvimento, sendo nesse perfodo definidos 4 sobrevivéneia e a manutengao das sinapses (FERRARI er ‘al.,2001), Ainda de acordo com 9 mesmo autor, o conceito de periodos-criticos é usado como justificativa para a existéncia de maior plasticidade neural ou de maior capacidade de reonganizago ¢ de recuperacio funcional em cérebros jovens, ‘em comparacio com adultos. Seguindo esse principio, BRABANDER eral. (1991) investigaram se haveria diferengas de aprendizagem entre ratus que sofreram lesdes do cértex pré-frontal medial no perfodo neonatal € na idade adulta, demonstrando uma capacidade reorganizadora mais efetiva do sistema nervoso quando as lesdes ocorreram precocemente, 1og0 apis 0 nascimento O sistema nervoso central do adulto nto possui as protefnas essenciais para @ crescimento axonal (laminin & fibroneetina), além disso, os oligodendr6eitos sintetizem slicoproteinas que suprimem o erescimento de neuritos. Essas sicoprotenas inibidorasestio ausentes na célula de Schwann permitindo a regeneragio do sistema norvoso periférico: cicatriz glial formada pelos astrGcitos nas proximidades da lesfo neuronal ventral atua como obstrugdo fisica para regeneragia dos neuritos (GARTNER & HIATT, 1999; NOBACK eral, 1999), ‘As lesoes no eneéfalo ou na medula espinhal podem ser graves ¢ irreversiveis, as excegdes compreendem a regeneragio axonal bem siicedida dos neurGnios secnetores hipotalamicos da hipstise ede certos neurdnios que contém aminas como. dopamina, norepineffina e seroronina (NOBACK er al., 1999). Em geral os axdnios centrais danificados podem gerar apenas alguns ramos. O crescimento dos neurites (axdnio ou dendrito, nio sendo possivel identficar um ow outro), pode ocorer no sistema nervos0 periférieo durante toda a vida, mas no sistema nervoso-centra, apenas durante a fase de desenvolvimento (NOBACK et al 1999). No entanto, oc6rtex motor é capuz de se reorganizar e de se adaptarem resposta.ainimeras perturbagdes, capacidade conhecida como plasicidade e refletida pela reorganizaczo do mapa motor ¢ pela recuperagio da funedo perdida (COHEN, 1999) Plasticidade Neuronal Como os neurSnios nfo se divider, sua destruigio representa uma perda permanente. Seus prolongamentos, no entanto, dentro de certos limites podem se regenerar (GARTNER & HIATT, 1995; JUNQUEIRA & CARNEIRO, 1999). Se um fibra nervosa élesada o neurOnio tentarepara © dano-e restaurar a fungi iniciando uma série de eventos ‘estruturais © metabslicos denominadas “reagio axonal” que se encontra.em trés regides do neurdnio: reagdo local onde as extremidades rompidas do axOnio retraem-se © as membranas fundem-se, prevenindo @ perda do axoplasma reacdo unterégrada, aextremidade distal do ax6nio atrofia ©

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