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Antimicrobianos como Aditivos em Animais de Producao Joo Palermo-Neto e Ricardo Titze de Almeida = INTRODUGAO Antimicrobianos sao substancias capazes de matar ou inibir © crescimento de microrganismos sem comprometer a satide do individuo medicado. Sao empregados em medicina veteri- néria como medicacio terapéutiea, metafilitica, profilitica - de grande importincia no tratamento e prevencao de doengasin- fecciosas (ver Capitulos 34a 42) —ecomo aditivos de ragSesou aditivos zootécnicos, visendo diminuir a mortalidade e melho- rar o desempenho de animais de produgio (ver Capitulo 48). © uso dessas substancias tem despertado enorme polémica junto & sociedade, quer pela possibilidade real de eles deixa- rem residuos nos produtos derivados dos animais tratados, quer por aspectos ligados ao desenvolvimento de resistencia bacteriana. Uma reflexao sobre essas questies seré objeto do presente capitulo, = HISTORICO A falta de proteinas animais durante a Segunda Guerra Mun- dial permitiu que se verificasse a superioridade dessas proteinas sobre aquelas obtidas a partir de plantas no sentido da manu- tendo do crescimenta das animais de produglo. A investiga ‘gio do quese conhecia como “ator proteico animal” culminou om o igolamento ea subsequente ientificagso da vitamina , ‘partir de tecido hepatico, em 1948. De fato, a adigao de vita- ‘ina B,, cristalina parecia compensar as deficiéncias de con- centradés proteicos vegetais na manutengio do crescimento dos animais. Nessa ocasido, constatou-se serem os caldos de cultivos de Streptomyces griseus e Streptomyces aureofaciens ricos em vitamina B,,. Encontrou-se, assim, uma importante fonte comercial para obtencio dessa vitamina: os residuos 608 caldos de cultura utilizados para a produgéo de estreptomicina e clortetracilina. Os residuos foram, entao, testados experimentalmente em animals de produgio como fonte alternativa de vitamina B,,. Surpreendentemente, o ganho de peso dos animais assim tratados foi sistematicamente maior ‘que aquele esperado em decorréncia apenas do uso da vitamina B,, Essa constatagZo permitiu que Stokstad e Jukes relatassem, ‘em 1950, e pela primeira vez, ser a adigio de estreptomicina eclortetracilina, na presenga de quantidade suficiente de vita- ‘mina B,., capaz de estimular 0 crescimento dos animais. Esse resultado inicial foi confirmado posteriormente por diversos autores, tendo sido estendido a outras espécies animais, = ACAO BIOLOGICA Diversoe experimentos foram realizadas tanto em aves como ‘em suinos para buscar uma explicacio para os interessantes re- sultados obtidos com a suplementagio da rac4o por residuos jura 52.1 Ecquema de um protocolo utilizado na avaliag8o dos efeitos de aditivos antimicrobianos em animais de producao, em que: A, 8, = aniimais alimentadas com raga proteica vegetal, adicionada de caldo de fermentagao cristalizado; A, e B, = animaisalimentados com ntica raco, porém sem a adicéo de caldo de fermentagso, mas acrescida de vitamina B, =o Quadro 52.2 Antimicrobianos autorizados para uso como aditvos zootécnicos em animals de producdo no Bras tmenpme aa eee Dc catego de |__9m_| "ada | Cui de wpe! animal Fase de uso ‘Minimo ~ maximo (dias) incompatibilidade/efeitos colaterais/cuidados Waa aatioaa ma louise anes soanaenrs ia nga aa z cethe sass pangrecteteceia | creo aoe eauipamento de protecda individual (roupas Perus de corte 3010 protetoras, éculos. Luvas impermedveise Se as ‘oa Imac Cont Ap rripoc ‘eer toa0 hmoaan eeepensee commend eames combo able" a Ta Tete douse No oman sihor wether FERS —— a con pemsanace' Sale ae Denies [Ssteercedets | 7pmetssemines | _Taae ‘Schrncrapocecountaiege om tahicos Sere Aoranipl pet tar hana Tass Seuss ee ta bee Saher aaa Tass promresSales ines permed ey: Insc ira Rparipgis caprehnersaae tesla Sanerctiea ase decracna ce — [ragordecome aa ‘dao Banca poe ea Vs on anges econ ~ itis sere oman tu equpaments Ge preted Perus de corte 4055 individual (roupas, protetoras, éculos, luvas. Saeecioner ma mares tara ph edo mane “ Imniplalo de prods operons i os 955 see dro omdo pee sabao. 7) Genet Barong moles ‘aaa aia Bais |Fangor de cone [ TAT 2310 | Jaane a Crescimento. 2as do abate — ae item Fai Sahos RIS | —aet — | samara Crescimento Salo do abate << 725 toons Vichlou renames | —Saan| SAO a Twain ——| Rangorae cone [Tac x ioteaan aie : Termine ‘0 ahaa epetaca a5 Seetenteroee sae Pea maa Tec 20540 7 2 waive | sangosdecore | Peles 3a Teal ia Giiespeasaa Tee sn feet 3 I 510 Tuner A 60s 5a6 neg | ie Fritremicina Suinos ‘Inicial waa 7 Terma 70 Sianicna | Rangoraa e 5 Suis aes Fa Panera F — om Dada % ine (continua) ns cerrocugeo Ott ene Quadro 52.2 Antmicrobianosautorizados para uso como aditivas ztérnicas em animais de producSo no Brasil (Continuo) Teorem ppm remem | uitede tpl capa de retiada | ontandcacesestiesdeunpecauio anima Fae dese Minime—mdsino | “as) | compte elateraaddes a iad espe deo ada pio, avlebpe Fama m sensors pomtostovnsepotrescu m Taminatesque estan cauho gee Bambermicina) | Suinos Cresimento ou laa engorda. Cuidados: Ao manipular o produto terminagao usar equipamento de protacao individual cathe ad trac verde boars Sees = et proto) pts manpage sero, toveosinoaton| | enigaman os [Eins 0e aba! Sropencetacovrtinats Sone hacen ane — [Ggeatoe fem | Soman (oro-hidrox!- [ Galinhasrepradutoras | Cia 360 seats sutra)” | tmaarien fe = poedeiras ee = Posts soa oa Prin ou 120 ae iz Tenia o aaa ae ii eye seT Res SS pra aoe be mpegs user ess team costae einen Ene 30 e225 conten loc Ainge pode Spee tel Coane x poss iek Ene 1950360 a ‘covtamenmou | maples Eeomagnieeantention aus preenda, neste momento, que a dinamica da populacio dos animais de produgao & diferente daquela da populacao huma- na. Em produgio animal, néo se trata o individuo doente, mas toda a populacio de animais. De fato, nos sistemas de criagio usados em nosso pafs. convivem juntos e em um mesmo espa- {9 restrito muitos animais de mesma linagem, mesma idade, ‘mesmas condigdes nutricionais e de higiene, alimentando-se damesma ragio, bebendo da mesma agua e respirando o mes- moar. Assim, o aparecimento de apenas um animal doente no plantel leva ao sério risco de disseminagio da doenca a todos ‘08 outros esse fato tem graves consequéncias do ponto de vista, de manejo, de sanidade, de mortalidade. de rentabilidade do agronegocio e, mais importante, da qualidade do alimento pro- duzido. Neste contexta, 0 ys de antimicrobianos, quer como ‘medida terapéutica, quer como medida profiltica, tem-se tor- nado de extrema relevincia, = AQUESTAO DOS RESIDUOS DE ANTIMICROBIANOS EM ALIMENTOS Empregam-se atualmente no Brasil 17 antimicrobianos como aditivos; o Quadro 52.2 mostra quais sao eles, as cria- ses em que so usados e as doses que sio empregadas. Por outro lado, como mostra o Quadro 52.10, existem alualmente perto de sete dezenas de antimicrobianos liberados para uso ‘erapeuttco, metafilatico ou profilatico em medicina Veterind- ria. Nao causa surpresa, portanto, 0 fato de que o uso desses ‘medicamentos pode deixar residuios nos produtos derivados deanimais assim tratados. O que se questiona, no entanto, ndo &a presenga dos resi- duos, mas sim o tipo ¢ as suas concentragdes nos alimentos. De fato, as modernas tecnologias analiticas tem permitido a detecgio de partes por milhio (ppin), ou até mesmo de par- tespor trilhio (ppt), de substancias quimicas componentes ou metabéttios de medicamentos de uso veterinario em alimen- tos, e nessas quantidades dificilmente eles representam perigo 8 satide dos consumidores finais dos produtos derivados dos animais tratados. Em 1962, foi criada pela FAO/OMS a Comissio do Codex alimentarius com a finalidade de facilitar ae relagées de co- :mércio internacional, por intermédio do desenvolvimento de padrécs alimentares de referencia, Cabe a uin Comité de espe-

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