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66 Craidy & Kaercher HARRIS, Robie, Vamos falar sobre sex. Amadurecimento, mudangas no corpo, seo e side sexual, Séo Paulo: Martins Font me Pe. lis: Vozes, 1997. Horizonte: Autéi (org.). 0 corpo educado: Pedagogias da sexualidade ca, 8. MAYLE, Peter, De onde viemas? Explicando és criangas os fatos da vida, sem absurtos. S30 Paulo: Nobel, 1984. WEEKS, Jefirey. El malestar de ta secualidad. Significados, mitos y sexualidades modernas. ‘Trad. de Alberto Magnet. Madrid: Talasa Ediciones, 1993, capitulo 6 Organizagao do Espago e do Tempo na Escola Infantil Mario Carmen Silveira Barbosa ‘Maria da Graga Souza Horn po Sager tye i Organizar o cotidiano das triancas na Escola Infantil pressupée pensar que o estabelecimento de uma seqiiéncia basica de atividades dirias é, antes de mais nada, o resultado da leitura que fazemos do nosso grupo de criancas, a partir, principalmente, de suas necessidades. £ importante que o educador ‘observe o que as criancas brincam, como estas brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espagos preferem ficar, o que Ihes chama mais atengao, em que momentos do dia esto mais tranqililos ou mais agita- dos. Este conhecimento é fundamental para que a estruturagdo espaco-tem- poral tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar 0 contexto sociocultural no qual se insere e a proposta pedagégica da institui- do, que deveré Ihe dar suporte. Conseguir apurar essas dimensdes da vida no grupo das criancas garante que as atividades realizadas nao se transformem numa monétona seqiiéncia, que nada tem a ver com o grupo de criangas com 0 qual interagimos diaria- mente. A forma de organizar o trabalho deve possibilitar o envolvimento das criangas em sua construc, que terd dimenses referéncia a idade das mesmas. Com as criancas bem pequenas, por exemplo, hag6es. A idéia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participagao ativa das criangas garantindo as mesmas a constru- 68 Craidy & Kaercher ‘do das nogoes de tempo e de espaco, possibilitando-lhes a compreensao do modo como as situagées sociais so organizadas e, sobretudo, permitindo ri- cas e variadas interagées sociais. ara facilitar a compreensdo deste trabalho, vamos estruturé-lo da se- guinte forma 1) a organizagao das atividades no tempo 2) a organizagdo das atividades no espaco A ORGANIZACAO DAS ATIVIDADES NO TEMPO cotidiano de uma Escola Infantil tem de prever momentos diferencia- dos que certamente nao se organizarao da mesma forma para criangas maio- res e menores. Diversos tipos de atividades envolverao a jornada didria das criangas e dos adultos: 0 hordrio da chegada, a alimentagfo, a higiene, 0 repouso, as brincadeiras — 0s jogos diversificados - como o de faz-de-conta, os jogos imitativos e motores, de exploragao de materiais grafico ¢ plastico - os, livros de histérias, as atividades coordenadas pelo adulto e outras. Todos os momentos, sejam eles desenvolvidos nos espacos abertos ou fechados, deve- ro permitir experiéncias multiplas, que estimulem a criatividade, a exper mentacao, a imaginacao, que desenvolvam as distintas linguagens expressi- vas € possibilitem a interacéo com outras pessoas. Para dispor tais atividades no tempo é fundamental organizé-las tendo presentes as necessidades biolégicas das criangas como as relacionadas ao Tepouso, & alimentacao, & higiene e A sua faixa etdria; as necessidades psico- logicas, que se referem as diferencas individuais como, por exemplo, o tempo eo ritmo que cada uma necesita para realizar as tarefas propostas; as neces- sidades sociais ¢ histéricas que dizem respeito a cultura e ao estilo de vida, como as comemoragées significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas de organizagio institucional da escola infantil Enfim 0 que é mais adequado propormos para criangas maiores e menores. ‘Alguns pontos servirdo de norte e apoio para esta organizagio: Que tipo de atividades poderemos propor. Em que momentos so mais adequadas. | + Bm que local serdo melhor realizadas. Segundo Dornelles e Horn (apud Craidy, 1998), podemos pensar em atividades de diferentes tipos: Atividades diversificadas para livre escolha: Estas atividades permitem que as criangas escolham o que desejam fazer, desde que o ambiente em ter- mos de materiais e espagos o permita. E comum o entendimento, do nosso ponto de vista, equivocado, que nestes momentos a professora se livra da res- Educogéo Infantil 69 ponsabilidade de intervir e acompanhar o que as criangas decidem fazer. Pelo contrério, entendemos ser este um momento adequado para interacées ¢ ob- servagées significativas do adulto junto as criangas. £ importante que nos periodos de jogos de livre escolha as criangas tenham o tempo para construir ‘1 brineadeira e desenvolvé-la, Podemos exemplificar com: + brincadeiras individuais ou em grupo, usando os diferentes cantos da sala; dos jogos, da biblioteca, museu, fantasia, da casa de bonecas, da pintura e desenho, da garagem e outros que se fizerem necessarios; + atividades corporais, musicais, dramaticas, plésticas, de linguagem oral e escrita. [Atividades opcionais: Sao aquelas que podemos propor tendo como refe- réncia 0 interesse das criangas por algum fato ou acontecimento. Sao organi- zadas coletivamente, podendo se realizar em diferentes locais, dentro ¢ fora da instituicao. Exemplos: + Passeios e/ou visitas pela comunidade, casas dos colegas, locais de lazer e de cultura da comunidade, pragas, teatro ¢ cinema. + Festas comemorativas e tradicionais da comunidade + Visitas de pessoas e profissionais da comunidade para contarem his- torias de vida e trabalho. Atividades coordenadas pelo adulto: Geralmente sto organizadas pelo adulto e propostas para todo grupo. Estas ocasides so importantes para se trabalhar a atencao, a concentracao e a capacidade das criangas de atende- rem propostas feitas coletivamente. Estas atividades podem se realizar tanto nos espacos internos como externos das escolas. Citamos como exemplos: Construgao do planejamento das atividades do dia. Jogos sensoriais, naturais, musicais, dramaticos ¢ em grupo. Brincadeiras e rodas cantadas. ‘Atividades de planejamento e execugio de um projeto. Coleta de dados ¢ informagées sobre projetos em estudo. Relatos de experiéncias ¢ histérias vividas Entrevistas. Pesquisas em materiais diversos para ilustrar temas trabalhados. Passeios, visitas e piqueniques. Decoragao e organizacao da sala. Relatos de histérias, poesias, parlendas, contos com auxilio de fanto ches, livros, cartazes, discos, fitas. + Organizagdo de festas e comemoragées. 10 Craidy & Kaercher ATIVIDADES REALIZADAS COLETIVAMENTE PELAS CRIANCAS Atividades que envolvem o cuidado e a satide so realizadas diariamente nas instituigdes de educaco infantil e ndo podem ser consideradas na dimen- io estrita de cuidados fisicos. A dicotomia, muitas vezes vivida entre o cuidar 0 educar deve comecar a ser desmistificado. Todos os momentos podem ser pedagégicos de cuidados no trabalho com eriancas de zero a seis anos. Tudo dependeré da forma como se pensam e se procedem as acées. Ao promové-las proporcionamos cuidados bisicos, ao mesmo tempo em que atentamos para construgio da autonomia, dos conceitos, das habilidades, do conhecimento fisi- co e social, Podemos exemplificar com atividades de: + Alimentacdo: progressivamente tornar a crianga mais auténoma, tro- car a mamadeira pelo copo, comer com a prépria mao, mastigat ali- mentos mais sdlidos, participar da higiene, da elaboragao e da orga- nizagéo do local das refeicdes, servir-se do alimento, * Higiene: lavar as maos com independéncia, vestir-se e despir-se, usar © banheiro de modo cada vez mais autOnomo, guardar pertences e materiais individuais. + Sono: oportunizar locais adequados para o sono e repouso, tendo o cuidado de oportunizar atividade relaxantes, para os que néo qu ram dormir. Podemos sugerir, a titulo de exemplos e sugestées, duas formas de estruturar estas atividades no tempo, ressaltando, porém, que cada realidade deverd compor esta rotina a partir de todas as condicdes e fatores que jd ‘expusemos neste trabalho. DIA-A-DIA (ZERO A DOIS ANOS): POSSIBILIDADES DE ORGANIZACAO ~ + Chegada dos educadores e organizagao da sala e dos materiais, com- binagées sobre o trabalho. + Recepcao das criancas, contato com os familiares, verificacio das agen- das, brincadeiras livres das criangas nos diferentes espacos da sala. + Café da manha, * Brincadeiras ao ar livre (no veréio) brincadeiras na sala (em dias frios) (cuidar com as vatiagdes das estacdes do ano). + Higiene e troca de fraldas. + Repouso (opcao de atividade para os que néo dormem) + Almogo/troca de fraldas (ou uso de privadas e penicos, sempre que stro ou troca de informagées orais entre educadores na mudanga 10 ou escala de almogo. Educagéo Infontil_71 Reorganizacao da sala e interagdo entre as criangas, a medida que acordam. Lancke. Brincadeiras livres no patio ou na sala de aula. Atividades coletivas ou opcdes individuais (organizacao de diferentes materiais para interagao das criangas) Higiene e troca de fraldas e jantat. Reorganizacao da sala e brincadeiras de livre escolha. Saida. O DIA-A-DIA (DOIS A SEIS ANOS): POSSIBILIDADES DE ORGANIZACAO Chegada dos educadores, combinagées a cerca do trabalho. Organizagao da sala e dos materiais. Recepsao das criangas. Café da manha, 7 Atividades diversificadas para livre escolha e/ou brincadeiras no patio. Planejamento das atividades do dia (retomada do que vem sendo fei- to pelo grupo, proposicao de novos encaminhamentos, etc.). Atividades coordenadas pelo adulto. Atividades expressivas das diferentes linguagens Higiene e almoco. Relatos ou troca de informagées orais entre educadores na mudanga de tumno, Sono ou atividades repousantes. Atividade coordenada pelo adulto. Patio ou brincadeiras de livre escolha Lanche. Atividades diversificadas para livre escolha. Reorganizacao da sala e saida. E oportuno referir que as atividades podem se estruturar em torno de eixos organizadores, como teméticas, que, através de um fio condutor, poderio se cexplicitar de modo interessante ¢ contextualizado para as criangas. Assim pode- se partir de uma situagao problema, de um fato surgido na sala de aula ou na comunidade, de um relato interessante que uma crianca fez e organizar estratéy as pedagégicas para a construgao de um estudo de modo adequado a faixa etéria dos alunos. Tanto nos bergérios como nas pré-escolas esta pratica, que denomina- mos de projetos, pode se concretizar. Os projetos com bebés tém seus temas deri- vados basicamente da observagao da educadora, da ira que realiza de seu ‘grupo de criangas, dos elementos adquiridos na sua formagdo e que a auxiliam a discernir sobre atividades que podem ser importantes ao desenvolvimento das criangas. Pode-se iniciar, por exemplo, através das atividades de exploracio dos T2_Craidy & Koercher riais da sala, momento em que o educador observa, anota e, posteriormente, dads com um maior nivel de complexidade que se desenvolverao m torno de um eixo tematico. Um exemplo de projeto para esta faixa etdria pode er 0 citado a seguit, desenvolvido com bebés, numa escola infantil da cidade de Barcelona, Espanha, por ocasiéo das Olimpiadas: ‘APRENDENDO A MOVER-SE NO MUNDO Destocando-se pela terra: rolando no tapete; restejando no colchonete; andando de quatro com almofadas; escalando rampas de madeira; passando pelo tunel: de pano, de espuma, de caixas de papelao; subindo e descendo escada; descendo pelo escorregador; empurrando caixas e objet deslizando sobre um cobertor. Deslocando-se pelo ar: + saltando; + pendurando-se na barra; + virando cambalhotas. Deslocando-se pela agua: + mergulhando; + flutuando; + saltando. Jé com as criancas de trés a seis anos, podemos explorar assuntos que despertem sua curiosidade e que fazem parte de seu imagindrio. O professor de propor temas que surjam das escolhas que as criancas fazem nas suas, cadeiras. E comum vermos criangas desta faixa etdria brincarem de reis ¢ rainhas e se interessarem muito por contos de fadas, nos quais estes per- sonagens aparecem em enredos que Ihes atraem. Podemos, a partir disso, organizar estratégias que Ihes ampliem os conhecimentos sobre a vida nos stelos. Para tanto nos valemos de atividades tais como observagio de fo- tos, contagem de histérias, montagem de castelos em sala de aula, amatizagées a partir de vestimentas e objetos postos a disposicao das crian- iano das escolas infantis esto fem importante pay do mundo pela er i 73 Educagao Inf das formas de legitimar isto poderd ser a diversificagéo do lugar das ividades, organizando passeios, entrevistas, contatos com diferentes smentos culturais, tornando esses momentos prazerosos e desafiadores para as eriangas. Além disso, organizar o espaco interno ¢ externo da escola incen- 4 e estruturard experiéncias corporais, afetivas, sociais ¢ a construgio ferentes linguagens infantis. Este é o segundo tépico ocupa- mos neste texto. ‘A ORGANIZAGAO DAS ATIVIDADES NO ESPAGO \ 9 Os autores que falam sobre desenvolvimento infantil; representantes dos ais diferentes referenciais tedricos, s40 unénimes em afirmar que as aquisi- Ges sensoriais e cognitivas das criangas tém estreita relagio com o meio fisico € soci ‘Também compartilhamos da idéia de que 0 espaco fisico e social é funda- mental para 0 desenvolvimento das ctiangas, na medida em que ajuda a es- truturar as fungdes motoras, sensoriais, simbélicas, liidicas e relacionais. Ini- [mente as criancas tém as suas percepgGes centradas no corpo; concomitante 1m o seu desenvolvimento corporal, sua percepcdo comeca a descentrar-se © estabelecer as fronteiras do eu e do nao-eu. Conseqtientemente, os espacos educativos nao podem ser todos iguais, o mundo é cheio de contrastes e de tensées, sendo importante as criangas aprenderem a lidar com isso. ‘Ao pensarmos no espaco para as criancas devemos levar em considera- gio que 0 ambiente é composto por gosto, toque, sons ¢ palavras, regras de uso do espaco, luzes e cores, odores, mobilias, equipamentos ¢ ritmos de vida. lambém € importante educar as criangas no sentido de observar, categorizar, escolher e propor, possibilitando-Ihes interagdes com diversos elementos. Nesse sentido, podemos pensar: Nos Odores. 0 nosso prdprio cheiro, 0 cheito das criangas, 0 cheiro da familia, 0 cheiro da creche em seus diferentes lugares: banheiro (banho, per- fume), cozinha (temperos), horta, pomar, no canteiro de flores, o cheiro dos brinquedos e dos diferentes materiais. 'Nos Ritmos. Os ritmos do dia-a-dia mudam com o passar do tempo/ida: de: espaco da chegada e da saida como um lugar de comunicagéo com os pais, familias e comunidade,o espaco do repouso (camas, colchonetes, cadeira de balango, mébiles e uma estrutura como casinha, castelo ou gruta, para incitar ‘a imaginagdo e para separar a drea da sala das atividades da drea de dormir) ‘0 espaco da alimentagao: no refeitério que pode ser organizado coni@aama sala de jantar, com ajudantes, com carrinhos, bandejas, jarras de dgua, talhe- res, guardanapos, o patio aberto, 0 patio coberto, ete. ‘No Mobilidrio e nas Cores. Os méveis devem ser adequados as necessi des das pessoas que deles fazem uso e devem acompanhar o tamanho do usuario (cadeiras para os pequenos e também para os grandes (adultos) 74 _Croidy & Kaercher é necessério fazer um mundo miniaturizado, mas 0 trabalho deve ter como meta a co-habitagio, com o desenvolvimento de habitos de vida social do seu grupo de pertinéncia, com a mudanca das estacées, ete. ‘A decoragéo de um ambiente deve ser criada, ao longo do ano, pelos usudrios (educadores, criangas e pais). Nao preciso ter um espaco com- pletamente pronto e praticamente imutdvel desde o primeiro encontro, O espago é uma construgao temporal que se modifica de acordo com necessi- dades, usos, ete. Sugere-se que se estabeleca um equilibrio entre as cores pastéis e as co- res fortes, devendo haver também lugares ou objetos com cores preta e bran- ‘ca, pois 05 contrastes sao importantes. Deve-se estar atento ao uso sexista do azul e do rosa e propiciar contato com as diferentes tonalidades. Nos Sons e nas Palavras. f importante que seja criado um ambiente sono- ro em que sejam propostos sons fracos e fortes. Os diferentes tipos de sonori- dade, como sinos, mobiles, caixa de mtisica e instrumentos musicais, podem ser introduzidos nos grupos desde a mais tenra idade. As criangas, em nossa sociedade, precisam aprender a ouvir e a usar a palavra para se comunicarem a fazerem negociagées verbais em um ambiente sonoro e agradavel. No Gosto. Observar no refeitério 0 gosto dos diferentes alimentos (em natura, cozidos), das misturas de alimentos, da agua, das frutas. Assim como © gosto dos dedos que vao boca, o gosto da cenoura colhida na horta, da laranja do pomar. No Tocar, Contatar com os diferentes elementos naturais como a agua, a terra, a madeira, a pedra, as fibras (e com 0 devido cuidado o fogo (calor)); ar transformagées nos elementos, como ralar, cortar, serrar, costurat, tricotar, recortar, etc, Néo temer tocar as diversas partes do seu corpo e poder massagear 0 préprio corpo, o do amigo ou os dos bebés. [Nas Regras de Uso Especial. Sao regras estabelecidas de diferentes modos de diviséo espacial. H4 as barreiras intransponiveis, as contorndveis, as sus- tentadas por um signo (pano, linha) e as de regra verbal. Cabe destacar ainda a importncia de organizar um espago onde as crian- gas de diferentes idades, desde os bebés, possam conviver em determinados locais e momentos. Finalmente consideramos que, para atender com qualidade as criangas, € importante 0 contato com as familias, com seu lugar de moradia e lazer para pensar formas de organizacéo do ambiente e estabelecer principios quanto ao uso deste ambiente. Conhecer para preservar, dar continuidade ou transformar certos habitos do modo de vida das familias. Desta forma, a escola poder levar é a familia outros habits, costumes, modos de tratar com a crianga, criando interagdio entre 0s dois ambientes. Nesta perspectiva, o objetivo principal é o de criar para cada espago uma identidade. Educagéo Infantil 75 0 USO DO ESPACO EXTERNO Espacos de Interligagdo parc Jogos Tranquilos Um gramado com drvores, bancos de praca de alturas diversas, mesa bancos de cimento (permanertes) para desenvolver no patio certas ativida- des que geralmente so realizedas apenas nas salas — como desenho, pintura, recorte, culindria. Fazer piquenique, tomar banho de sol com guarda-sol (em formato de tenda), cadeiras preguicosas, redes baixinhas. Materiais como bolas, ‘anos, buracos no chao, estracinhas de areia para brincar com carrinhos, va- sos grandes com plantas e flores. Também pode-se ter um armério antigo ‘onde sio guardados os materiais do patio e que funcione, também, como um lugar onde os bebés possam brincar de esconde-esconde, de puxar gaveta, abrir, entrar e fechar a porta, se esconder. Um labirinto com plantas relativa- mente baixas para se esconder ou estar sozinho. Aquario ou terrario para observar. Espaco para museu com colegdes das criancas. Espaco para Brinquedos de Manipulacdo e Construgao Estrutura de calhas com roda de agua e bacias para brincar com a gua ‘complementado por objetos para flutuar, coat, com funil, medidores, areia e pedras. Madeiras de diferentes tamanhos — pequeninas e bem grandes ~ para a construcao ¢ materiais de marcenaria. Caixa de areia com materiais para construir, fazer bolos. Pedras, madeiras, barrinhas de ferro para empilhar, fazer suportes e construcdes. Espaco Estruturado para Jogos de Movimento Caminhos para as bicicletas, carrinhos de bebés, carrinhos-de-mio, car- rinhos de lomba, skate, patinete, carrinhos grandes tipo uma carrocinha puxa- da pelo adulto para as crianasbem pequenas passearem. Equipamentos como: trepa-trepa com estrutura de metal, de corda ou de madeira. Escorregadores altos e baixos, de preferéncia um para os adultos acompanharem as criancas menores. Estruturas em madeira com escada, ponte pénsil e tébua para escor- regar, tuineis de cimento e de madeira, gira-gira, equipamentos de gindstica para as criangas se pendurarem, etc, Piscinas e bacias de diferentes tamanhos, ‘eiras para tomar sol Espago para Jogos Imitativos ha de bonecas com materiais grandes e reais para uso das criangas, inete médico, instituto de beleza, escritério, banco. Cabanas s6 com co- 16 _ Croidy & Kaercher bertura para ficar juntos, conversar, ouvir histérias. Suporte mével para tea- tro de marionetes.. Cesto com roupas para dramatizacao, espelhos, pinturas e caixa de jéias. Espaco Nao Estruturado para Jogos de Aventura e Imaginacao Bosque de drvores e arbustos, tineis, pedras grandes, morrinho (com degraus e espago dle escorregar), espaco para criar animais e plantar. USO DOS ESPAGOS INTERNOS, Com relacdo a organizagio dos espacos internos, as salas, é fundamental partirmos do entendimento de que este espaco nao pode ser visto como um pano de fundo e sim como parte integrante da aco pedagégica. Desde logo importante ponderar que sto fatores determinantes desta organizagio o nuime- ro de criangas, a faixa etatia, as caracteristicas do grupo e entendimento de que a sala de aula nao é propriedade do educador e que, portanto, deverd ser pensada e organizada em parceria com o grupo de alunos e com 0s educado- res que atuam com este grupo de criancas, Sabemos que criancas menores exigem determinados cuidados e tém necessidades bem diferenciadas das crian- ‘cas maiores; por outro lado, entendemos que uma organizacao adequada do espaco e dos materiais disponiveis na sala de aula serd fator decisivo na cons- trugdo da autonomia intelectual e social das criangas. Estes espagos podem ser delimitados com materiais diversos: no chio podemos definir espacos com tapetes, panos, plasticos coloridos. Nas late ‘com pequenas estantes, biombos, floreiras, panos pendurados em cordas, cor- tinas de bambu ¢ outros. No teto podemos colocar mébiles, placas informati- vas, toldos com lengéis e outros. Entretanto, apesar de sugeritmos a organizagao da sala em cantos, é importante que os educadores tenham bom-senso para verificar a possibilida- de concreta de organizar a sua sala em fungio do espaco real que possuem (cuidando para que o ambiente nao fique superdividido) e sem lugar para as atividades coletivas nem espago aberto para atividades de movimento amplo. Alguns espacos de uso coletivo da instituigao podem ser usados como apoio as salas pequenas: casa de bonecas, casa de arvore e tendas. As paredes da sala podem ser espagos de comunicagdo com cartazes, avisos e outros. As janelas devem servir de abertura ao mundo externo e, por este motivo, serem bastan- te exploradas. Segundo Carvalho ¢ Rubiano (apud Oliveira, 1994) considera-se 0 ar- ranjo espacial de fundamental importancia, na medida em que podemos izd-lo através de espagos semi-abertos, proporcionando as criangas e a0 Educagéo Infantil 77 educador uma fécil visio de todo 0 espaco disponivel bem como o recimento das interagdes sociais. Através deste uso do espaco podemos: Promover a identidade pessoal das criangas, personalizando espacos ¢ objetos. A identidade pessoal permite que as criancas possam ver-se como individuos inseridos num momento histérico-social, possuidores de certos objetos, ocupantes de determinado espaco. Isto esté estreitamente ligado as construgées relativas a pensamentos, memérias, crengas e valores, preferé: cias e significados. Promover o desenvolvimento da competéncia (saber fazer com autonomia), importante que a crianga se veja constantemente desafiada com novas tare- fas e desafios. Na medida em que planejamos um ambiente onde ela possa por 36 dominar seu espaco, fornecendo instalagées fisicas para que com inde: pendéncia possa beber agua, ir ao banheiro, pegar toalhas, materiais, ter aces a prateleiras e estantes, estamos pensando num ambiente nao somente como cenério, mas, certamente, como parte integrante da ago pedagdgica. Promover a construcio de diferentes aprendizagens, sem a mediagao dire: tado adulto, através do desafio por meio de jogos, materiais e livros, onde em pequenos grupos ou individualmente as criangas possam progredir intele tualmente, Nao se trata aqui de deixar qualquer jogo na prateleira, ou qualquer sucata jogada numa caixa. Planejar cantos e recantos da sala de aula im um planejamento intencional, comprometido com o retrato do grupo, com metas que nos propomos a atingit. Promover oportunidades para o contato social e a privacidade. Assim com .gos para o convivio social, é fundamental pensarmos em p vacidade, principalmente tendo como referéncia criancas institucionalizad: dia inteiro. Variar o tamanho dos espagos pode ser uma alternativa para expre sar e explorar sentimentos, sem expor-se aos olhares dos outros. A sugestéo de organizar os espacos através de temas que os caracteri tem sido uma pritica bem-sucedida nesta organizacao em espacos semi-aber- tos e estruturantes. Assim podemos sugerir alguns cantos, considerando obvi: amente a faixa etdria das criancas: Cantos fixos: + Casa de bonecas com fogio, geladeira, TY, cama, mesa, etc. obj para utensilios de cozinha, quarto, banheiro... sala (estes poderio set confeccionados com material de sucata). + Canto da fantasia com pedagos de pano, tule, chapéus, sapatos, rou: pas... espelho, maquiagens. + Canto da biblioteca com almofadas, tapetes, estante, painel de info macées, livros, revistas e jornais. + Canto da garagem com tacos de madeira para construc, carros, tt Ihas, placas de sinais de transito. 78_ Craidy & Koercher — + Canto dos jogos ¢ brinquedos com jogos de encaixe, de armar, que- bra-cabeca, sucatas organizadas e variadas, pecas de madeira, Cantos alternativos: Estes podem variar conforme o espago fisico, o interesse das criangas e os temas que esto sendo trabalhados. + Canto da misica com instrumentos musicais comprados ou confeccio- nados, rddio, toca-fitas. + Canto do supermercado com embalagens vazias de diferentes produ- tos, sacos para empacotar, caixa registradora, dinheiro de papel e moedas, cartazes com nome de produtos, prateleiras, + Canto do cabeleireiro com espelho, maquiagens, rolos, escovas, gram- pos, secador de cabelos, bancada, cadeira, bacia para lavar cabeca, embalagem de xampu, cremes. + Canto do museu com objetos colecionados pelas criancas em passeios, viagens. + Canto da luz € da sombra com projetor de slides, Janternas, retro- projetor, filmes feitos pelas criancas, lengéis, Os espacos de uso comum podem ser utilizados nesta proposta de integragio das faixas etarias. J4 falamos do espaco aberto e dos fechados e gostariamos de inserir os espacos intermediarios amplos, cobertos, estruturados € que possam ser utilizados por diferentes grupos etdrios a0 mesmo tempo. Esses espacos sio essenciais nos perfodos de chuva ou frio, quando as cria as passam muito tempo dentro das salas. No vero, um pedago do patio coberto com telhas de ceramica, palha ou plantas como parreira ou maracuja, com mesas, bancos, cavaletes e outros pode ser muito iitil e agradavel para 0 desenvolvimento dos trabalhos. Ao longo deste texto, levantamos as questdes que nos parecem as mais pertinentes para a reflexao sobre os usos do tempo e do espaco na educagio infantil. Desejamos que a leitura, a reflexao individual e coletiva do mesmo possa abrir novos caminhos para as mudancas tdo necessdrias no perfil da ‘educagio infantil brasileira. E importante ressaltar que estamos vivendo um periodo historicamente muito importante nesta drea, pois estamos criando ~ um fato cultural novo, que ¢ 0 de constituir mudangas nas politicas de educagio para a primeira infancia, tendo como premissa qualificar as creches e as pré- escolas e incluir as criancas pequenas como cidaddos no espaco social em que — vivem. — Para que os pequenos e os pequenininhos participem deste espaco social, € necessdrio que se criem novos sentidos nas relagées adulto-crianca, fa as-educadores, pais-filhos e também que haja, por parte dos adultos, uma vontade de experimentar, criar uma outra forma de ver, entender, conviver com as criangas. Nosso objetivo ¢ integrar a crianca a vida da cidade. Para a | consolidagio deste projeto, é importante que se abra o espaco interno da cre- Educagéo Infantil 79 che e da pré-escola para 0 mundo exterior, e que as cidades se responsabi zem por criar espagos ¢ tempos para as criancas pequenas. Acreditamos que ambas tém muito a ganhar com a transformagao advinda deste movimento. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS . CRAIDY, Carmen (org.). Convivendo com criangas de 0a 6 anos. Porto Alegre: Mediacio,1998. FERRETI, M. Clothilde. Crianca, faz de conta & cia. $a0 Paulo: Vozes, 1992. ‘MORAES, Zilma (org.). Educagdo infantil: muitos olhares. Sao Paulo: Cortez, 1994. [NAVIR. Les temps de lénfance et leurs espaces. Les nouveaux liewx ddeculell dela petit enfances ‘examples et pratiques. Paris: .ed., s.4.

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