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PENSAMENTO HUMANO. Seminarios de Zollikon Protocolos — Didlogos— Cartas ‘} ABD sik, AEBID Gir Martin Heidegger 2° Edigao revista (sls Fete Hara “min de guage, Marin eer ‘eka de Deus Par I Lae 1%), St Asotin ‘dad de Deu Parte 1 atts Ata XU), Sato Agostino = O conan de ona Seren Ate ierhegard “Contd, Soto Ngo “Darra de eto Max Sele Busi econ ere Harn deer ‘A exci do liendods humane, Pri Wid Schein ‘nomena do erp, Gong Wien Frei Hegel ermentutea ars ents da interpreta, Presi .E Secermacher “hinerion ovo orm na Gre rch Rolin, “ Inetigacbe haa Labi Wits = Manito do partido comune, Pech Engels Kal Marx At obras doer, Sone Rye Kira = Pmenides Martin Weidegser ( penzodre rigs, Anaximando, Parminides¢Hercito = Siguno aaa sobre o goer ete ora exis, Jon Laske = Sominriae de Zl. Martin Wieser ¢ Mesa oss Sere vompo, Marin Heidegger’ Sere verdad, Martin Heeger cs Ore Elpias deDano, Rin Maria Re a “Le hormone Mec sume dee mod: complements «indice (ate I), Hansson Caner Reto Kircher ‘aro tai Montero Wl Eni Pal Ginhit ‘kbs Nsecinert Combssoedtriat Sato Neon Calo Artur Rise do Rassimelo cn Raman Burai__at At ii d mane Care Lake bert Cones Garcia Hernigees Harada Marcia $4 Caaeate Schick Nando de Olea ovis: Cinthia Stier ‘Projeto gra: Rog Camargo de Gado MARTIN HEIDEGGER SEMINARIOS DE ZOLLIKON Protocolos - Didlogos - Cartas Editado por Medard Boss Tradugao abril Ambold Maria de Fatima de Aimeida Prado Revisto de traducao Mara de Fatima de Almeida Prado Renato Kirchner Revisio cientifiea Carlos Eduardo Freie Helo Deiberador da Canal, Maria Beatriz Ctrynowice Mara de Jesus Tait Sapienza Maria Ine Guida Tonello ¢) Garon Slorwaversco VOZES (© Vittorio Klosterman, Frankfurt am Main, 1987; 3. edicio, 2006 Tilo do original Zolikon Seminar: Protokolle = Zcegespriche ~ Broke Diels exclusives de publiacSo em lingua portuguesa TditoraVores Ltda Rua Fro Luiz, 100 25689°900 Petropolis, RI ‘woruvozescom br aitora Universita Sto Francisco - EDUSF ‘Avenida Sao Francisco de Assis, 218 Jardim Sio José 12916900 Braganea Paula, SP worsaofrancscoedubr/edust “Toss os direitos reservados. Nena parte desta obra poder ser reprodurida ou transmitida por qualquer forma e/ou qualquer meios (cletronico ou mecinieo, incuindofotoedpiae gavacso) ow arauivada ext ‘qualauer sistema ou hanco de dados sem permisio escrita das Editoras, “ “Besos ION armas asec (vee) pisses Cara Pra Fico isola elaborada pl its do Stor Procensmento Tengo da Unverade Sto Prancaco, Este io fl impresso pela Eitora Vos Ltda, Preticio& edgdo Drastlea nme Preficio & terceira edicdo alema - Prefécio & primeira edigéo alems. Indice dos seminrios de Zollikon (1959-1969) .nnmwnnn Indice dos didlogos com Medard Boss (1961-1972). 25, 1 - Semindrios de Zollikon (1959-1969). I~ Dislogios com Medard Boss (1961-1972) IL Cartas a Medard Boss (1947-1971)... Palavra final. 7 pe BAT {dice anaitico 353 Indice onoméstico 369 PREFACIO A EDICAO BRASILEIRA. Em 1971, Solon Spanouais, um psiquatra grego radicado no ‘Basil, escreveu uma carta para Medard Boss em Zolli. Na carta ele iia que, apés tr estudado quimica e medicina em Viena, hava renovado ‘seus estudos de medicina em Sto Paulo, onde exercia sua profissdo em seu consultéri e como professor de andlise Diaia também que os livros de Medard Boss tinham the revelado ‘novos caminhos", eoneluindo com a frase: “Permitome nomeilo mew ai espiritual No iniefo dos anos 70 ninguém poderia imaginar a grande renercussao que teriam os coldquios que se seguiram, Essas atividades aumentaram 0 interesse pela Daseinsanalyse. No decorrer dos anos formou'se uma ampla comunidade de ‘estudantes, houve seminérios e freqiente intercambio de idéias entre Medard Boss e Solon Spanoudis. Tudo isso levou & fundagao da Associagdo de Daseinsanalyse que deu origem a presente traducao dos ‘Semindrias de Zollkon. Este livro, por sua vez, conquistou novos amigos na América Latina A todos que contribuiram para sua realizagéo, expresso 0 meu profundo agradecimento. In Memoriam Solon Spanoudis Zollikon, Natal de 2000 Marianne Bass PREFACIO A TERCEIRA EDICAO ALEMA, (© aparecimento deste liv devese a um milagre ocorride em 1947 e mencionado por Medard Boss no preficio da primeira edicao, de 1987. Hoje o leitor pode ter em maos esta nova edigao, embora tanto 0 autor como o editor jé no se encontrem entre nds ~ Martin Heideager faleceu em 1976 e Medard Boss em 1990. © leitor nao mais necessita, como 0 médico Medard Boss, ‘questionar corajosamente as bases da prépria ciéncia que abracou para procurar, junto ao filésofo, aconselhamento a respeito de um solo mais consstente para 6 pensamento e a pritica da medicina te livro no se dirige apenas ao leitor interessado ‘specificamente em filosofia, mas também a um pablico mais amplo, Ele toma conhecimento do pano de fundo dos acontecimentos que comecaram com a primeira carta de Medard Boss a Martin Heidegger fem 1947, da caixinka de chocolates & lutasutil para uma compreensio satisfatéria do ser da esséncia da Daseinsanalyse. Nesta trama de imultiplas perguntas e respostas ~ falas e réplicas ~ opera o apelo ao cuidado para com 0 sentido préprio dos fenomenos. Os seminérios de Zollikon sustentamse na amizade e estio redigidos em duas escritas. Como um filho espiritual, que encontrou sua propria via, e também se difunde tradusido em lingua estranaeiras. [A capa mostra principalmente 0 nome de Martin Heidegger. Mas quem pensa em Medand Boss lembrando a imagem daquela aduana, cinesa e de seu funcionzrio, lembra a décima terceira estrofe de uma ‘lenda”' de Bertolt Brecht, que todo aluno de Zurique encontra em seu liv de letras: 1. Lend do surgimenta do lio Pao le ing» camiho da emigrct: 9 Mas no louvemos apensso sbio uj nome o sro orton, ois anes 6 preciso arrancar ao sbio sua sabedora. Por iso agradecamos também 20 funconsro dun” Foiele quem cobra, Com amor ¢ em meméria de Medard Bosse Martin Heider, a terceiraedigio deste livro & enviada a seu caminho, 0s Semindrios de Zolliton aparecem agora de uma maneira ‘nova, De modo suplementar, eles contém um indice analitico eum indice ‘onoméstico, os quais foram elaborados pelo senhor doutor Klaus. Henning Gypser, de Glees, Alemana, Seguramente serao utes aos seus tors em todo mundo e em vista de uma maior dials da Zolikon, verao de 20085 Marianne BossLinsmayer 2 ltressnte ober que as plavas em les prea ¢ ada 5, ‘eapectnomene, Zale Zale. Dese mo 3 aoa spexima aa Se Breck Se Zoli. lal onde os seminires corral do ena mismo drone Tena (4 de) 3, Prat edict, a tradi € a reomposi ds ines anatco(. 353368) ¢ ‘nao (408370) foram fae pr Mari de Fatima de Aids Prado «Roms ctr Node) 10 PREFACIO A PRIMEIRA EDIGAO ALI Bite livro deve seu aparecimento ao milagre de que Martin Heider, que receba anualmente centenas de cara do mundo inten 36 respondia a poucas, dgnou logo as primeiras lias que the envi ‘uma respostasmamente amve, Iso foi em 1947, apésofim da guerra, Entrtanto, este acontecimento foi precedido por uma longa histéria, ‘que durou muitos anos. Como todos os suigos em boas condigées fisicas e psiquicas, ive de prestar servigo militar avo durante todo o periodo da guerra, Durante aqueles anos fui repetidamente, durante muitos meses, arrancado de meu trabalho civil de docente e psicoterapeuta, € transfrido para uma tropa de montana do exércitosuigo como médico de batalhio, De acordo com o regulamento das tropas do exército suico foramme destacados nada menos que tres asistentes. ropa que estava sob meus cuidados era constituida de uma populagao forte de ‘camponeses e montanheses, acostumada ao trabalho. Por isso, durante todo o longo perioda do serigo militar fique praticament sem trabalho, Pol primeira vezem minha vida fiqutocasionalmente entediado, Aquila ‘que chamamos de “tempo” tornow-se problemstico. Comecei a refletir sobre essa “coisa”, Procuel ajuda em toda a literatura a esse respeito a {que tive acesso, Par acaso encontei, num jorna, wma nata sabre o iva Ser e fempo, de Martin Heidegger. Preipiteime sobre o texto, mas logo veriiguei que no entendia praticamente nada de sew contetido. ‘esse livr eram colocadas questoes e mais questdes com as quai nunca tina me deparado em toda minha edueagso cientificenatural, As respostas eram principalmente novas perguntas. Desapontado, deisel também este lio de lado, ldo pela metade. Mas, estranhamente, cle rio me deixava em paz. Muitas vezes tive de recomecar a estudéto, Essa primeira conversa com Martin Heider durou até fim da guerra, No inicio ela ampliou-se em pesquisas sobre a pessoa desse autor. As primeiras informagoes foram estarrecedoras. Fontes flosicas séias ‘6 desaconselharamme a continuar ocupandome de Martin Heidegaer € n sua obra 0 argumento constantementerepetido dessesconselos ea, principalmente, a designacio de Martin Heidegger como tipco nazis, Esta caracterizagio negativa, entretanto, no me parecla absolutamente combinar com o que encontrava na leitura de Ser & ‘tempo. Inicalmente intuia mais do que poderiaafirmay,rigorosamente pensando, ue nesta obra eram formlados insights fundamentalmente ‘ows € inauditos sobre o exstir humano e seu mundo. Minha rao, com toda a hagagem de conhecimento psiquistrico, digiame que 0 ‘comportamento social, inclusive poltico, de um homem ngo diminula necesariamente a geniaidade de seu pensat, Ainda assim, no teria conseguid relacionarme pessoalmente com alguém de quem se puesse ter provado coneretamente ages indignas contra seus préximos, Por jsso comece, logo apds o fim da guerra, a entabular pesquisa sobre Martin Heidegger, de acordo com minhas possibldades na época, tanto Juntos autordades de ocupacio francesa como is mals lls instincias da Universidade de Friburgo. Ambastrouxeram aceteza de que, durante um curto priodoinicial, uve certamente algum desconhecimento e rmalentendidos da parte de Martin Heidegger. Incialmente el acreitara seriamente que Hitler e suas massas selam capazes de erguer ua ‘muralha contra a onda de obscurantismo na forma de comunsin politico ‘que se apronimava, Mas nada foi revelado sobre qualquer indignidade ‘conceta contra outras pessoas. Ese me esforcasse em ser totalmente honest comigo mesmo, eu teria de admitir no poder jurar que ~ se tivease que viver sob as mesmnas circunstncias que Martin Heider naguele tempo ~ eu também néo poderia ter vindo a tomarme via de eros semelhantes. isso embora naquele tempo, a partir de minha erspectiva sui, eu oss ineguivocamenteanthitersta endo hestasse em minha dispsigéo de cumprir com meu devereomo soldado até 0 fim, contra os invasores alemies em caso de necessiade, ‘Alem disso, as pesquisas revelaram, nitidamente, que Martin Heidegger era pessoa mais exaustivamente caluniada que ji tisha ericontrado, reso numa rede de mentiras de muitos de seus coegas. A mmaioria das pessoas que ndo conseduiram contestar sevlamente 0 pensamento de Heidegger tentava combate o homem Helder através de ataques pessoais, Permanecia apenas o enigma de porque ele ndo se defendia publicamente contra as calinias, Foi justamente esta 2 urpreendente falta de defesa da prépria pessoa que me encorgjou a assumir energcamente sua dfesa, Em todo caso, a parti do ano de 1947 no havia mais motivos «que pudessem impedir a primeira apoximacSo pessoal de minha parte. Como médico, escrevi uma carta 20 flsofo em que the pedia ajuda intelectual, Foi grande a minha surpresa a0 receber sua resposta pelo correo. Amavelmente, Martin Heidegger diia-se dspost a dara ajuda ue fose posive.Seguiuse uma troca de correspondénca que resltou numa eolegdo de 256 cartas, até a morte do pensador.Além disso, Heidegger enviou mais de 50 cartes postais, sempre que visjva Asim que se tornou novamente possivltranspor a frontera, ‘correram regularmente vistas pessoais em casa, de ambos os lados. Desde 0 primeiro encontro no regio de montanha de Heidegger em Todtnauberg no vedo de 1949, surgra entre nds uma simpatia mitua {primeira vista, que aos poucos amadureceu para uma cordial amizade. Mas overdadeio motivo da ripidaresposa s fol revelado muito mais tarde, Um dia, o proprio Heidegger confessou que desde iio tvera srandes expectativas da liga com um medio que pareciacompreendet seu pensamento. Ele via a posiilidade de que seus insights losdicos ‘io ficasem limitados is salas dos fildsofos, mas pudessem benefciar lum nmero muito maior de pessoas e, principalmente, pessoas necessitadas de ajuda. Entretanto, quando incilmente foram intalados seminstios nas visitas particulares de Heidegger @ minha eas, ninguém pensava sinda em registrls literalmente e, muito menos, que fais restos ‘seriam publcados um di, Inicialmente ew apenas no achara cert ser, ‘ozinho, obenefiirio ds fregientes encontros com o grande pensador. Assim, 2 partir de 1959, a cada vea convidava de 50 a 70 colepas € ‘studantes de psiquiatra por ocastio das vistas de Heidegger, geralmente de quatorze das, para semindrios em minha casa em Zolikon. As visitas dd Martin Heidegger aconteciam duas a résvezes por semestre. Apenas ‘ocasionalmente minhas viagens prolongadas ao exterior tornavam intervals maioresinevitves. Duss notes por semana Martin Heideyger dedicavatrs horas or noite aos visitantes. Todo o dia anterior ele costumava prepararse ‘com muito cuidado para esses seminéros. Seu grande mérito fi que, B apesar de seu desprezo pela teoriaspsicolgicas« paicopatokigics aque enchiam nossas cabecas, assumiu a tarefa descomunal de Droporcionar, durante wna década, a meus amigos, cols alunos, nos seminaries de Zolkon, que haviam fcadofanosos, slo alicerce intelectual para noseae atvidades médicas. A prov iabalivel do srandeza da humanidade de Heider esti na pacnea ineansivel « sem esmorecimento com que ele mantinka este empreendimento até 0 limite de suas posibilidadesfsicas. om este comportamento pra co nosso grupo de Zolkon, ele provou que no apenas sabia falar eeserever sobre a forma mais elevada de humanidade, a solitude Mberadora leorausspringenden Firsorge. que ama desinteresadament eiberta ‘0 outro para si mesmo, mas estava disposto mais ainda a vive de modo exemplar (0s seminirioscomecaram em 8 de setemibro de 1969, com una conferéncia de Martin Heidegger no grande auditirio da einca de siguiatva da Universidade de Zurique,chamada Burgh Entretanto, ‘verficouse que a escolha dess local nao tnha sido felt O autre, ecémeformado tnha recebido instalagbes tdenias tho modernas que sua atmosfera combinava mal com o pensamento de Heider. Por [sso segundo Seminirio, que teve lug logo em seid, fl transferido para a minha casa em Zolikon. Todos os semingrios sequintes, Dermaneceram ai, durante toda uma déeads. Soa partir de 1970 minha ‘consciénia de médico no mals permis exigir de Marlin Heeger 0 frande esforgo de seus semindros de Zollikon, em vista de sua fore fisia, que jé diminura raidamente por causa da idade. A parlit Je nto, 6 pedia sua ajuda intelectual por carta ou busca em visitas, casa de M. Heidegger em Friburo. Desde o Inicio dos seminéros, level quatro anos interns para ime da conta de que al se ouvia da boca de-M. Heider insights que ‘no podlam ser ouvidos daquela forma em nenhum out hig. Restos de semindrios mal feitos por estudantes obrgaramame logo a faxtlos pestoalmente, Jia partir do semindrio seguite, eu meno transcrevi Palavra por palvracadaafirmagio de Martin Heider. Imedtamente ‘depois ditavao texto taquigrafado para um gravadore minha secretiria a) Admissto como suppositio,hinétese, “subordinagSo”.Notexto de Preud sobre tos alos, pr exerplo tals suposigiessio as aspiracies fas foreas. Estas suposta aspiracdese frcas provocam e fetiam os fenomenos. Entio 08 atos falhos podem ser expicados de uma ou de ‘utra forma, isto €, podem ser provados em sua origem: 1) Ansa cono ai, cno perser alo one ¢ mon de. meano, ele Ofentandgel por exo, etna dt Sade mene emis ni Wott pale -povar ast cane como tal ful gue pee scan sts de pr Bw Wes por 80 sl ‘percebido € ele mesmo 0 chéo € undamento-em que 0 que & dito ‘sobre ele esta fundado € colocado. Trataae ‘aqui de um mero identificar 6 que € dito. Chegamos @iss0"com uma simples indicagao. Nenhuma tae aren Devee drencar lresarete onde precsamos ex ¢ Wocull eaics cel cal aus neat eee ima lod fac Non essa e deve ser um pr pelo contrario, todo provat especie de fondant Aristieles if dizi: “Eignorancia nao reconhecer em relagio a que € necessivio procurar provas ¢ em relacio a que isto nao é necessirio". Se houver a compreensio desta dierenca& sinal de que somos criados e formados para o pensar. Quem nao tem esta ‘ompreensio no ¢ eriado nem formado para &ciécia, ‘As duas manciras de “admit” (do supor edo acitar) nio tém 19 mesmo valor, de forma que se posse escolher uma ou outra a vontade, ‘Aceitase 0 que aparece, o fendmeno. Ha dois tipos de fenomenos: (6 aries, ete, to 1, apa 4, 1005 8 35 ee en ten + it enmeat cs peat 0 iar dru tenant oa ST + qn) ———_. perceptiveis. Para podermos perceber uma mesa como a mesa que ela é & ecesséro ji tr wo antes — ide? Discussio entrea obsersaio psicodindmicaedassinsanalitica ‘do homem: sobre o que se deliberae se decide? Sobre a determinacio do ser no ente, ue n6s mesmos somos. Que ser vemos em primeira ‘ugar? Em relagio aque, segundo Freud, os fendmenos devem retroceder perante as suposicdes? Em relagSo a0 que se toma como real e como ente: s6 6 real e verdadeiro aquilo que pode ser subordinado a (O ineterrptas conexies casas de orga actasma ony de 2 ‘mHUtalmente conhecido fsco moderno Max Planck dss, ‘textualmente, hi poucos anos: “6 o que pode ser medido¢ real” Com ‘aca eam” ‘Também esta espécie de suposigao, de que 56 & “real” aqulo a due se podem suborinar conexdes causais sem falhas,€fundada numa cei, ERB o's admitese naturalmente: ser = conexto causal ‘calculivel de antemso, Nesta suposicfo também o homem & colocado ‘como um objeto causalmente expicivel Para ndo perder de vista, duas evidéncias: 2 (1) *Nemos" a mesa existent = evidénciadntica: ©. 2) Vemos” também que o exstirnio & uma caracteristica da ‘mesa como mesa, mas que apesr disso dizemosoexistir da mesa quando dizemos ela ¢ = evidénca ontoigica, ‘Admitimos a existencia da mesa e a0 mesmo tempo the negamos ‘existenia como sua caracterstica. Na medida em que isso acontece, sdevemos evidentemente tera existénca em vst, deveros “vela”. Mas Feet 36 rio 9 “vemos” assim como 2 mesa. Também nio media " Por isso apelamos para a ajuda de Kant. Be diz: er no & um predicado real, mas um predicado assim mesmo, Que tipo? £ “apenas a Posigio de uma coisa’, portanto, a colocacio de algo que é dado (Kant, Critica da razto pura, A 598, B 626). Nas pomos, nds clocamos. A ‘mesa, por exemplo, pode ser trazda, encontrada, ela feta por um Posigio: eu coloco. £u ~ ent © homem entra no jogo. Ei ‘que? Na percepgio,no ver da mesa existent, A mesa existe porque eu seo? Ou posso véla porque existe? A exstenia da mesa 6x6 astunto ‘propria mesa? Mas na fabricago ela ¢justamente liberada a partir {do fazer do homem. Liberada para onde? Como existente no que the réprio, a mesa mostrase no uso, no trato do homem com ela, Veros a mesa existente como cosa de uso, = Como 0 doutor R. se relaciona com esta mesa agui? A mesa Imstase a ele através do esago. 0 espago& pois, permedvel pra o| parecer da mesa; ele ¢ aberto, live. Podese colocar uma parede entre \®) ‘© observador e a mesa, Nesse caso 0 espaco nao é mas permesvel para (ver da mesa, Mas ele € aberto para a colocacio da parede. Sem sua abertura nto se poderia colocar a parede A espacialidade deste espaco consiste, pois, na permeabilidade na abertura, no este aberfo nos encontramos e estamos, mas de modo Merente da mesa. o ‘A mesa est em seu lugar e no est ao mesmo tempo i, ode 0 \doutor Rest sentado. Aquela mesa esté li, simplesmente presente lvorhanden}. Mas o doutor R como homem, et em seu lugar no sof © partir do seu lugar, a0 mesmo tempo, também ao lado da mesa. Sendo le ndo poderia vel. Be ndo esti somente em se lugar e também aqui 20 lado da mesa, mas ee jest al e li, Ele encontrase neste espac0, 37 Estamos todos neste espago. Ocupamos 0 espago por nos teerirmos a isto e aquilo. A mesa, a0 contri, ndo se encontra no espa. & ‘Semindrio de 6 ¢ 9 de julho de 1964, na casa de Boss = 6 de jlo de 1964 Hr Heidegger Ps Participante Para oque ser dscutido agora, toda Gignla deve ser afastada; ‘quer dizer, neste momento néo srs utlizada. Em sentido positive dever sei, ento, pengunta: como proceder? Precsamos aprender um nova, ‘maneira de pensar, uma maneira de pensar que i era conc pelos ‘gregos antigos. oltando ao tema da citima reuniso, perguntamos: a mesa que hoje est & minha frente & a mesma? P: Lembrome dela de maneira diferente, Realmente, nio & 2 ‘mesmat Ela fi trocada upondo que fosse ‘a mesma”, sera também “igual”? P: No, eu tenho na lembranga diferentemente. Ht Na apostila de vocés std sendo usada a expressio *simplesmente”. Como é isso? Tem algo a ver com simples 38 P: Uma certeza momentinea: aqui ¢ aor Que carder de certeza tem 0 perceberimediato? : Bxistencia empiric, 1H: uma existéncia factual, mas néo uma existéncia necesséria. tase contapie chads alc, por exemplo, ue 2x2 = 4. cetera apodtica também no absolut, porém necessria. Porque no € abla? No caso de'2x2 =o “igual uma premise, ea outa & que 2 € sempre Mentic a ele mesmo 6 pois, uma certea condicionad, -Haviamos descrito primeiramente esta mesa, mas isso nao nos”) intoressa én inteesa “a mesa este. Admitios exe exten, 1 sentido a iD rnc) © gue, eno, sites exis? De acordo com Kant, ser nao é wm predicado real. At aar& eae pate ae na ae ae mesa ela The é de direit... Como ela Ihe & de dirito? 0 que significa) estonia? P: Armesa esté no espago, 1H: Isso faz parte da cosidade? P: A-extensio & uma propriedade do espago. 1: Como? P: 0 espago possul extensio: alto largo ete. Estas sio as dimensoes. HH: Entioextensio e dimensio si diferentes? Qual éa diferenea? PA dimens2o é uma extensio tomada arbitrariament, H: Como os diferentes espacos se relaionam com o “espaco"? P:0 espago os contém, He: Entio o espaco nio & 0 “geral” em relagio aos espagos, ‘como, por exemplo, a vore para as drvores. ~ Entio, como este espa @ caracterzado? PE um espaco delimitado. He & um espaco para morar,contém objetos de uso. Hi uma corientagao de acordo com as coisas no espago. As coisas tem seu significado especial para os moradores: elas hes sto conheckas enquanto ‘outros as estranham. Este espago tem, pois, caracteres diferentes do ‘que 0 “espago". Como eno, esta mesa esti ho espaga? : Bla pertence ao espago, ocupaespago. He Mas como? Bla tem uma forma que dlimita seu espaco. H:Pois 6, af voct v8 como sio as coisas com essa chamada aide- ‘mémoire: frases mortas! Por sso estatnos tio desamparads ao escrever livros! Perguntemos agora se essa mesa também esti ai mesmo que 0 Aoutor R. que a v8, io esteja ai i : Para o observador, neste caso, a mesa no é visi HH: Mas a mesa continua i P. Airis da parede. Oculta HE Nio, justamente nao oculta. Nao temos uma percepgdo dita, mas podemos nos lembrar, imagindla. He Vooe ve? Isto ndo é tho simples assim. 40, P: Para a crianca, 0 primitivo, ela no estaria mais Ii. A ‘sistencia no consiste apenas em seu ser visto i=. H: Sim, iso seria uma percepeio bem conerela, A mesa estar, enio, apenas representada na minha eabeca? : A mesa continua em seu Tuga. Mas isso nso ¢ abvolutamente ‘eto. Alguém pode tela retirada. Se eu fechar os olhos. eu continuo numa determinada relago com ela. Néo inteessa sea mesa ainda est 1H: Suponhamos que voeéfeche os olhose que, ao reabrilos, a ‘mesa ndo esteja mais Id 0 que acontece entio? : Admiragdo, desapontamento. P: Uma expectativa no satiseita He 0 doutor R. percebe a mesa aqui e Ii. Como isto acontece? Onde estéentio R? : Aqui e i P:R. tem uma rela com a mesa, mas no a mesa com ele H: Sim, e 0 que acontece com o espago? P: Movimentome no espaco, mo? P: Eu me movimento por mim mesmo; a mesa é movida, a He 0 que acontece com este relégio? Ele também nio se ‘mowimenta por si 6? No, o pontelro é movi pelo homem, He Ele se move por ss. P:Nio, a mola o movimenta ¢ ela ¢ feta pelo homem. HA mola pertence a0 regio. 0 redo anda, Isso faz part, P: Nio,o reldgio nio se movimenta por si mesmo, apenas 0 Ponteiro. 1: Entio, © ponteiro... Que parte do homem esti no espace? P:0 corpo fsico [Karper| Onde esté voce mesmo? ... Eu mudo de posgio. Movimento entio 56,0 meu corpo fsico? A mesa faz iso também! ——_P: Na aitima vez chegamos a caracterizar 0 espago como 0 aberto, permeivel. Como, entio, o homem se rlaciona cam 0 aberto? i : Eu no sé estou no espago, eu me orienta no espac, cesta 6 questio. H: 0 que significa isso? P:Estou no espaco, enquanto eu 0 coneebo HE: Como assim? P.O espago ¢ aberto para mim, ndo para a mes 0 espago €aberto por voc. Bcomo & para a mess? : Para a mesa 0 espago no é aberto, H: Serd que espaco € algo para a mesa? 0 homem tem o espaco presente. mesa fl feita. homem tem o espago e faz a mesa, A mesa ndo pode estar no espago da mesma mancira que © hhomem porque ela fo feita? .. Fazer {hersellen) tem o sentido de “sustentarse agui Vio stohen|, mesa fo exclu da rela defer. a (0 sentido do artesanato e da arte é que a coisa feita pode sustentarse. 0 que significa ento: eu me oriento no espaco e a mesa nio? P: Nos supomos que a mesa no 0 faz. HA mesa ndo tern nada a ver com orientacio? P: 0 homem pode orientarse por ela. A meso €orientada, por ‘xemplo, em relagio aos pontoscardeals, Ela tem seu lugar determinado, foi preparada para o profesor Heidegger. 1: Bla ext arrumada na sala, rientada de acordo coma mancira de morar, A orientagdo tem algo com 0 nascer do sol. Por que no, *oidentar"? >> P: Oriente significa o sugir do sl, da luz P.O que € 860 o live, 0 aberto? P: 0 livre, o aberto € 0 espaco. Somente o espago livre ou aguele ocupade pela mesa? HE Se ele ndofosse livre a mesa ndo poderia estar Is 0 espago liverta a mesa. Neste caso oespago est “ocupado, mas isso no significa que no esteja mais live. Isto entdo & 0 mesmo espaco que o espago como esta sla? (eaeace iene Os See 43 Ps Tornar livre, Mas também arrumar leinrdtumen}:arrumar, colocar ou, por outro lado, arumar um liga 10 eagago tem tres Aruna our) 0 erent do ‘mero estar simplesmente presente |Vorhandensein}, :Falase também de “rrumado"[aufgerdum quando alguém std de hom humor. H: Sim, ai se € alegre, lire, ~ Entio espago e clarera sriam ientcos ou um pressupde o outro? . Bom, isso no poems decidir Bin, pois ota coisa an pode sr cand o emg i io fulamos = Ocepemones ans J direnss ct iD Vi sic ada contr aan aR NO coe te TR a, Ps Livre € para algo, H:£ ocupsvek entretantovazio € apenas: nto ocupado, 0 espaco também pode continuar livre mesmo se for oeupad, Sha vaio porgue halite PB possvel que “no ocupado” sea ainda no “ocupsvel"? H: O vazio ¢o livre nao ocupado, P.O livre tem um chao, o vazio, em determinadas circunstncis, ro. Podese ter um vazio sem fundo, 1H: Por exemplo,o espago universal ele ni € ocupsive? Ele € até muito ocupado, - Néo hi vazio sem lie. O vazio éfundamentado no live, : Que relagio de fundamento& essa? Que “porque”? He € uma citeunstaneia, no um fundament ligio, els li para os estudantes, porque fendamento Grund) & ‘sempre compreendido somente no sentido de arguments conclusivos logics. 0 senor di: factual [sacha mas que cosa [Sache] & essa? 44 H: Coisa ¢ aguilo de que tratamos. P: Nao posso entender o aberto ou livre como uma “ois”. 1H: *Coisa” [Sache] é 56 uma “cosa” [Ding HS coisas nio perceptiveis! Por exemplo, 0 espago, 2 x 2 = 4. Isso sio fatos Isachwerhaltl.Coisa [Sache] algo com que idamos. P:0 que entio significa factual [sachhaltig? H: Um fundamento [Grund] factual dia que uma coisa ni pode ser sem outra Vazio no pode ser sem “le “ine, isto €,ocupavel & mais original do que "vazio" :Sentmos que se poderia expressar iss também a0 contri: sh livre porque ha vaio, Como é, entdo, © homem no espago? © homem s6 ocupa um espago ou eu sou no espago de outra maneira? : Bu uso 0 meu lugar, estou posicionado. HA mesa se posciona? 0 que significa isto, ela est posicionada? P: Bu posso assumir uma posicio diferente no espago. .. 0 hhomem preenche o espaco. H:Amesa também. Quando digo homem, digo também espago. P:0 homem e o espao se copertencem He Como? espago também pertence & mes, 0 homem pode se relaciona com o espace He le se relaciona sempre. 45 De P.O espagocopertence ao essencial do homem. Bu me relaciono ‘com as coisas no espago por isso também com a espago. 0 espaco & aberto para 0 homem. He Para’a mesa também, : Bu ji estou neste espago no qual me movo, P: Como isso se dé com o animal? Isso jé€ uma outrarelagdo de espago. 0 animal no fas. 0 hhomem {igov Ayo Exov. O animal no experiencia oespago enquanto espace, P-0 que significa este “enquanto”? 0 animal conhece o fosso que ele pula come fato, mas no amo conceto. 0 animal ndo pode rflt Ps A linguagem € tio essencial? Pols hi uma maneira de ‘omanicar sem linguagem. P. Estis confundindo linguagem com fala : Quando falamos de “ocuparespago", aida usual € de que estamos onde esti 0 nosso corpo fico, \Vocds devem aprender a nio se asustar quando The flam de Arisételes. Arstoteles e os antigos gregos nao estdo “acabados” obsoletos” Ao contro, ands nem comegamosa entendéos. A cgneia ro avanga. Ela marca o pass. Mas nao é nada fl marcar 0 passol 1-9 dejulho de 1968 i: Heidegger P:Partiipante 1:0 sltimo seminsrio ndo foi muito bem sucedido, Mas a Aificuldade esté no proprio assunto. Como diz Kant: Tratase de Wishumbrato ser. Tentamos fazer iszo com o exemplo da mesa, Mas & Aieuldade ests no assunto, Para a clncia 0 Smbito objetivo i €preestabelecido. A pesquist avanca na mesma dire em «que as respectivasdisciplins js foram discutidas précentificamente: las ertencem 0 mundo do cotidiano, Mas com o ser no & a mesma coisa, Embora o ser também seja pr cialmente considerado ou pensado, Jterminado pela ciencia, que $6 trata do ente. Hoje predomina a renga de que somente a cincia proporciona a verdade objetiva. la a nova reliigo, Em comparaeao com es, a tenativa de pensar 0 ser parece arbitritia © "mistica”” NSo se pode vislumbrar o ser pela 4 Pe clencia. O ser exige uma identificagio prépria. Ble nio depende da vontade do homem e néo pode ser estudado por uma citnca. Como home, 0 entey ‘Ocuparse desta percepgo € uma atividde dstinta do omen Sigtca ‘uma mudanga da existénca sto no significa um abandono da céncia, ‘mas, 20 contrério, chegar a uma relagiorefletida, conbecedora com & clenciae verdadeiramente meditar sobre seus limites. Empre sais uma tentativa de cheyar 2 uma Ur daguilo que se chama natureza Distinguirem ncontrase al um fendmeno ‘do fundamento do undamentar. Entetanta,fundamentagio no € igual 1 causalidade ou motivacdo.O que & causlidade? Como ela ¢entendida ‘nas ciéncas naturals? Tomemos um exemplo: "Quando o sol brlha a peda esquenta’. Isso ¢ fundamentado numa observaglo, um fato, & Veifcado diretamente por uma percepgio dos sentidos. Tratase de ‘ima seadiéncia, ~ Mas se dissermos: “Porque o sol bri, ..”entio se trata de uma proposigdo empiric. “Sempre que o sol brilha.” indica apenas uma seqineia temporal. - Maso “porque” ndo significa apenas ‘um ap6s°0 outro, mas uma condo, ult necessério! Isto .£ causalidade, como € corrente nas eiéncias naturals. Ela domina 0 pensar moderno desde Newton Gaile Depois Kant empreendeu 2 critica da razdo pura. Em Aristétles encontrese ima causa efficiens ‘que produz um efeito. Mas seria isto.0 mesmo que o canceto moderno? 0 um apés 0 outro necessirio leva & interpretagio desu “efi Critica da razdo pura, A 189). (Atualmente diesels: « partir de que seu!) O para qué (Woreuf significa: temporalmente, mas €necessri, «de acordo com uma regra Nio se pode saber “a partir de qué” lworaus) ‘como isso se desenvolve a partir de um outro! P. Asnovas formulas centifiastambsm so mais cudidosas. "las dizem: até agora sempre asin; supondo que, se nada muda também no futuro tudo se pasard asim, H: Mas isso significa: sob a condigéo de que nio se reseentem outros acontecimentos. Se aparecerem novos fatores, ‘lei preciea ser reformulada haseada em novas observagdes, sob hovas condigdes. Causa efifciens de Aristoteles ainda faz parte da Visio de mundo natural, précientifica. E uma alr(a. Uma causa é Tonemos o exemplo de um atesao que tents que a orma ms taca de rata. No faricasso he quatro causas 2 fren © thicrnante, 0 “devid® a encomends ato € algo fa "por sven dey of Even Em segundo lar vem 3 orma a ty que tie ten gus visa enquonto forma: ¢cfoug. Holo it co ds interpretagso de eTB0g, que ages forma ei: trate toa eso tudo. As dss juts sterninam om tree bagi o aber 2 ob, apa pata. ‘quarto lugar: causa efficiens, a fabricagio, upon, ou Soh ay orfocog, too rtesioye A uae ofllns oder ni ties mega coal TovnoteQoaE gles ani: brea agir. TIp@Eig tem uma motivacadt ij ‘A causalidade moderna pressupde um processo natural nio| uma noi nog. Os grexos viram e interpretaram kivnoig da naturera compreendida por eles a partir de no(notg. Galilei confrontowse com isso. Na ciéncia contemporanea encontramos o querer dispor dda natureza, 0 tornar itl, 0 poder calcular antecipadamente, 0 predeterminar como o processo da natureza deve se desenrolar para ‘que eu possa agir com seguranga perante ele. A seguranca ea certeza 0 principio. da_causalidade tem ‘Arsttles& verdade a partir da visi de mundo do sei Tempo, por ‘exemplo, o conceitoarstotéico de movimento. que & morimento? Pe Mudanca de lugar no tempo. 49 GR _ He bm Avsitels iso se chama gop eso significa que umn corpo é transportado de um lugar para outro, para 0 sew lugar. Para Galle em cima, em baixo,esquerda editita sto eliminados:o espico fisico é homagéneo: nele nenhum ponto € destacado entre outros, yp Somente esta concencio de esnago oferece a possibilidade de veriticar 1) movimento de lugar. O espaco deve ser homogéneo porque as regras do movimento devem ser iguais em todos 0s lugares; 6 assim todo {process pode ser alculado e medio, A natureza sade certa manera & ¢ determinada para que corresponda as condigies da mensurabildade. O ente recebe objetidade, objtividade. No pensamento greio.nao se ‘encontra nada de objetivo. O objetivo nao aparece seno nas céncias naturais modernas. Entio 0 homem tornase sujeito no sentido de Descartes. Nio faz sentido dizer “objetivo” sem todas essas premissas, Mas ent “objetivo” € somente oaeriguado clentiicamente? ‘aalo 0 mas €subjetivo? H; Serd que a nossa concepcio de espago tio diferente & si subjetiva?.. Iso if € um vislumbrar do ser! Um insight! Ema forma de verdade diferente daquela da fica, talves mals elevada! Se virmos {sso teemos uma posigio livre perante a eincia . Mas também na psicologia existe uma mensurabiidade que amplamente correta e necessira e que pode ser alicia em muitas cnisas. 0 professor Boss diz que af nao se deve aplicar esta forma do conceito de causalidade. Como fica neste caso? Hs A questo & Qual € o ambito da ciénia? 0 que pode ser seu Amite? A cincia€ hoje largamente compreenda apenas como cincias naturais (em anglosaxdo: science versus arts). Onde entio ¢ ‘questionamento cientfico faz sentido na psicologa? Ela ¢aplicivel 20 Priquico? O que € psiquico? Voc refletram sobre esta questic? P. Freud queria transerir a causalidade dis cnc naturais, ara psiquico. Chesou assim ida de um apaato, de una concepeio mmecanicsta HH: K 0 estranho é que isso realmente funcional Mas seré que esse resultado € algo sensato? Isso confer com a realidade? Serd que 1 fisios viram a realidade? 0 discurso de uma conconincia com a 50 tealdade nso tem nenhum sentido, Os elétros et. so hipdteses que permitem trabalhar assim ~ mas ninguém vi isso, Na ciberetica existe hoje até a opiniso de que a natureza obedece 20 “aparato”. Ho P: Encobre:se com isso a possibilidade de uma outra compreensio. P: Deverseia também, mas numa hieraraua inferior. Hoje parece que a cibernética tora-se cada vez mas clncia ‘universal ea conscignea jd seria um “fat de perturbacdo".- Vamos ‘ver ainda que hi com a motivagdo, Déemme exemplos. : False de motivo em casos de crime, por exemplo, o Burger Prinz: © motivo do ato. Por exemplo, pode ter acontecido a partir de uma determinada exetacdo. Inguietagio leva ao agi. HA excitagio & um motive? mais uma causa finalis. P: Suponhamos que uma menina roube ete porque na inna nao recebeu lite sufciente da mie. Nese caso dizemos que a fome era © motivo do comer. H: Realmente? P:Nio, € uma motivagio H: Sto misturados o causal e o final, 0 eatimulo pode ser um motivo quando se procua aleangto, H: 0 que € uma motivacdo (Beweggrund]? De que movimento [Bewegung] ests flando? P: Movimento em diego a algo, ait. HO que € uma ago [andlungl? sl Peso requer uma mao [Hand] umn homer, HO animal pode gir? Por exemplo,pegar um piozinho? Fechar a janela porque hi barulho lé fora? Que movimento ¢ esse? P:0 motivo & eu quero sossego, H: Isto € uma consequénca do tipo da causliade? P: Nio, no € uma conseqdéncta necesséria, Ha nela uma iberdade. 1: Ei que consiste esta lberdade? P. Pode sera decsio entre dois motivos, por exemplo, vontade ‘01 falta de vontade. Seguese o impulzo mais fore. P:Nio, H: Do motivo faz parte o determinante, ouvir uma voz © ‘corresponder a iso. Faz parte disso uma determinada relicio com 0 ‘mundo, uma stuacio determinada. Oharulho no 6 causa do evantar Ps Mas poderseia produair uma miquina que echasse a janela ‘quando houvesse barulho! H: Sim, entao o barulho seria a causa, Mas miéquina ouve o barutho como barulho? A maquina ndo tem possibildade de decisio ‘Outro exemplo: vse fumaca. P: Bntto se supde que haa fog. HH Como funciona a fumaca que se iu em regio ao fogo? uma experincia de que onde hi fumaga também hi ogo. A famace vista €razio para minha suposigo de que algo esté queimando. 32 Hs Qual € a consequéncia? Bu chamo 0s bombeiros. foram et ee omarme ale ene D Ps uma antecipagso. 2:Nto pre} EER ir area No baru jéestéo income Tada de antecipado a. Bu me deixo mover pela expectativa de que algo vai acontecer| ‘quando eu me deixar mover, A janela fechada faz com que o barulho ‘io entre, H: Que razio [Grund] & a “motivacio" [Beweagrundi? Para isso necessirio um mundo familiar, a conexso de mundo em que eu me encontro. A diferenca da causa que obedece & uma regra nao hi nada semelhante para a determinagao do que sea um motivo carter «do motivo é que ele me move “ wa ° npn : Com isso 0 motivo ndo seria visto totalmente em sentido psicoldgico. Como deve ser entendio isso? cA pattir do experienciado, do vist, no 6 do mbit psiquic. 0 que significa motivagio na psiquatria? : Por exemplo, podese fazer uma pesquisa de mercado em que se pertunte a que as pessoas respondem. He Ai ndo tem nada de psicologia, Sim, a psicologa de vendas. H: 0 que é psique? 0 mercado &psiquico? Ps um estinulo HE: Como podemos comparar causaldade com motivacio em feral 8 possivel porgue ambas sio razdes [Grund 3 i: Motivo [Motie] € raz3o de movimento (ewegorund! wma raaio para o agit humano; causalidade: razto de movimento de seaitncias dentro do processo da natureza. ~ Mas o que €razio? Pode: se dizer aquilo sobre o que se est.Ou pode-se dizer: nada € sem ra2so. Este € 0 principio da razao [Satz vom Grund) Tudo o que ¢ tem una azo (citado primeiramente por Lelia no século XVI como principio}, Baseado em que sabemos isso? O principio da causalidade € fundamentado no principio da razao. Ele ¢ vido no smbito das ciencias naturas. O principio da razde:“Raaio € aquilo que nio se pode levar ‘mais para tis" pyr € primeiro a partir do qual algo 6s tora, ou conhecido: 1) Ratio essendi; azo do ser, 2) Razio do devi; 3) Rass ara o conhecer (vista a fumaga, pensa-se no foo no enfant, em eagao 2 fumaca,o fogo €razio do devin). Razéo do ser = razio daquilo que luma coisa é, como ela. Razdo da esséncla: toda cor enquanto cor & extensa, A coloragdo ¢ fundada na extensio (mas extensio ndo prods 1 cor). Razio de ser fundamenta. ‘Todas as virasrazdes so fundamentadas no principio da razdo: tudo que é tem uma razio, Isso ndo €arbitrério? Colocase ainda a questio seo principio da razao€ um principio evidente ou se ele pode ser referido ao principio da contradicao. Ele é lum prinerpio do pensar ou do ser? eo 34 Semindrio de 2¢ 5 de novembro de 1964, na casa de Boss = 2 de novembro de 1964 Para introducéo, uma anedota de Séerates: Um sofista muito vijado pergunta a Sécrates: Voce continua ai dizendo sempre a mesma coisa? Voc® torna as coisas fice para voce". Séerates responde: *Nio, vocéssofstas€ que faciitam, porque voces sempre falam as coisas mals novas e supernovas e sempre utra coisa. Mas o dificil € dizer a mesma coisa e o mais difcl ainda: dizer a mesma coisa do mesmo”, Sécrates também foi 0 maior pensador do Ocidente, uma vex «que nao esereveu nada. Aqui também queremos nos esforcar para dizer ‘o mesmo do mesmo. Iso parece estrano para o bom senso. Chama-se «isso de uma tautologa. Isso, do ponto de vista da ligica,é uma frase (que nao diz nada. Estamos, pois, em oposigo & logics, A dificuldade eral do nosso esforco é metédica. Referese a0 acesso 20s fenbmenos e & manecira de sua identifieacao ‘dentificabilidade. Quanto mais naturalmente nos sentirmos ‘amifarizados no-mundo das representagdes das eigneias naturais, tanto mais estranha é a reflexio que fazemos aqui sobre os fendmenos do espago, da temporalidade, do homem e da causalidade. Se estiverem famillarizados com o representar das ciéncias naturals isso Jd quer dizer também que os senhores tm um conhecimento deste procedimento cientficonatural? E certo: se cstiverem familiarizados com 0 pensar cientificonatural, entdo 0 representar dos senhores € dirigido constantemente & natureza Pergunto: © que significa natureza aqui? 0 trago fundamental da natureza de que fla no representarcientifio natural é sua legalidae, ‘A calculabildade ¢ uma conseqincia da legalidade. De tudo 0 que & 6 se considera aquilo que é mensutivel,quantficive,Dispensamse todas as outrascaracteristicas da cosas. Questo: sob quaispremissas posso Densar anatureza assim: o que & 0 primordial? O projeto de um espago € 35 lum tempo homogéneos.Somente assim mede-se o movimento de pontos de massa relativos& mudanga de lugar e de tempo de acordo com leis, Kant fol o primeiro que expressou explicitamente o carster da natureza representada de manera cientificoatural, Por iso também {cio primeivo a dizer o que & uma lei em sentido cientificonatural. 0 fato de que o verdadero portavor das ciencasnaturastenha sido um ‘iso ndica que refletir para onde as léncasnaturas se drigem no € coisa das citncias naturals, mas da flosoia, sem que geralmente ientistas 0 saibam explictamente, [A definigio de Kant da lei “Na verdade a natureca” & ), “Tegalidade dos fenomenos no espago e no tempo” (Critica da razdo pura, B 165). mais: “A natureza€ a exisncia Exists] das coisas {visto que (a exsténcia)é determinada por eis gerals™. Ale da natureza Sf da causalidade ¢ uma lei pela qual os fendmenos perfazem \ primordialmente uma natureza e podem resultar em objeto de uma ¢ ‘experiencia. Natur materialter specata (com teferéncia aos fatos de \. que ela trata, a natureza no sentido da totalidade da natureza) € a 3} essenca dos fondmenas [#rscheinungen] na medida em que cls sido ligados necesariamente, gracas a um principio de causalidade interno (8 16). Natur formaliterspectata (agora ndo a totaldade das coisas da natureza, no todas as cosas, matéria, mas sim a nalieza das coisas) ¢ «a esséncia das reas aque todos os fendmenos devem obedecer (§ 17). ‘Kant diferencia rera de lel. Regra vem do atm revere = di, reer, flo condutor, regular. “Mas a representagéo de uma condigio {sera de acordo com a qual certa dversdade pode ver estabelecida de {5 uma manera identica(e, pos, da mesma maneira)chamase regra & ‘quando deve ser estabelecido assim, cham ler” (Kant, Critica da ‘azto pura, 8113) Todo este ambito,chamado natureza determinido materiliter © ‘formalite, que les é familiar no pensar cientificonatura fo projetado por Galilei e Newton. Este proeto foi realizado numa suposicio que ‘consderava a determinaco da legalidade de acordo com a qual os 7. Kant, Progomona eu ier kintigen Metab de a Wisenich wind ‘ten Kaen Eta por Vorder Hab, 969, 814i Plosscn Flic Mee Elio portugues: Plaines a tod e meter tu Lbs. es 70,2008, 56 ontos de massa se movem no espagoe no tempo, mas deforma alguma ‘considerando aquele ente que chamamos de home. Estes fatos mostram todo o abismo entre cincias naturals e & observagdo do homem. A ciéneia natural 6 pode observar 0 homem enquanto ale simplesmente presente na natureza. Surge a questo: seria possivel tinge desta forma o ser homem? Dentro deste projtocientficonatural 4 6 podemos velo como ente natural, quer diet, temos a pretenséo de ‘determinar 0 ser homem por meio de um método que absolutamente no foi projetado em relacao a sua essénca peculiar Continua a questio do que tem precedéncia: este método ieificomatural de coneeber eae de acon com lis ou a exigecia ‘de determinar préprio ser homem como tal, na experinela mesma do hhomen? Perguntamos: em que est aseado este projtocentificonatural dha natureza? Onde esté sua verdade? Podese provélo? Nio se pode provélo. Podese unicamente observa, como crterio que mostra que 0 método clentificonatural é adequado a0 seu imbito, os efeitos e resultados que podem se atingidos pelo pensamento cientfconatural, Mas um efeito nunca é una prova e muito menos um erro para um ‘contetdo de verdade do método que conduz ao feito. Que sentido tem 0 efeito? © dominio da natureza Nietzsche diz:"A eigncia natural quet ensinar com suas frmulas a dominacao das forgas da natrez ela 80 quer colocar uma concep¢io ‘mais verdadera’ em lugar da eoncepga0 empiticosensrial (como a metafsca)™. A grande decisto € serd que podemos, a partir desta forma da representagio cientifico-natural, que foi projetada sem consideracSo 20 ser homem espectico, observar © homem no horizonte desta cna, ‘om a pretensio de que com isso conseguiriamos determinar o ser) hhomem? Ou devemos nos penguntar, de acondo com este projto da natureza: como se mastra o ser homem e que espécie de acesto« de observagio ele exige a partir de sua singularidade? Repetimos: a verade de toda cinia natural ests no efit, 8. Meche Nachgltee Wee ( Unerifeticesaus der Unmerangt (obra pestunas (nod ua da mans do ale itches ere 2 sd bel 1523, 0 Mp. 7 7 0 que mais compreendemos por verdade? A concordincia da proposigio com aquilo que se mostra. Adaequatio re et intellectus. 0 ‘que se passa entdo com a verdade das cineias naturals em face disso? Na fisia crase uma teoria € depois pesquisase, por meio de experiéncias, se seu processo correspond & teoria, 6 se mostra a audequagio do resultado da experineia com a teoria, No se mostra que € simplesmente a teoria do conhecimento da natureza. A experiencia e seus resultados no ullrapassam o limite da teoia, permanecem no limite predeterminado por ela. A experiencia nao ¢ vista de acordo com sua concordncia com a natureza, mas sim com aquilo que ¢ proposto na teora, iso que € proposto ra teoria €oprojto danatutezasepundo a representacdo cientifconatural, por exemplo, de acordo com Cali, ‘Mesmo os pioneiros na fisca hoje procuram, explictamente, ampliar seus limites inerentes, porém permanece a questio se isso é fundamentalmente possivel na fisica 0 problema é reconhecer o estranho deste método que advém dos movimentos espagotemporais dos corpos materss [Koper] em confronto com o homem, ito é, com o que perfaz 0 ser homem, Dizse: uma parte, por exemplo, osomtico do homer, aquilo «que énatureza no homem poderia ser pesquisadocientificonaturamente Diversos metodos de cura muito efcientes da medicina moderna prowém dos resultados de tals pesquisas. Masa maiora admite que no ¢ possvl atingir de modo cientificonatural 0 que € central no homem. Evidentemente podese também observar 0 homem de modo cientificonatural como parte da natureza. No entanto permanece a ‘questo se nesse caso ainda resulta algo humano, que anja 0 homer como homem. Nao se pode subdir o homem num Smbito que ¢ natureza © outro mais central, que nio é natureza, Como se poder juntar duas coisas tio heterogéneas © deiilas interagi? Antes, 0 chamado mais central nao atingvel de modo cientiiconatural deve perfazer também a esséncia do chamado ambito perifrico, por exemplo, 0 somitico do hhomem, sem prejuizo de que se possa ainda observitlo de modo 38 cientifi natural ou nfo. Mas agi ficamos empacados enquanto ainda ‘io tivermos progredido no fundamental IL-2 de novembro de 1964 0 projeto de natureza das ciéncas naturals oi realizado por homens: é, pos, um procedimento humano. Questio:O que este projeto {de tdo que € movido espaco-temporalmente de acordo com a ei revela ‘do homem? Que carter tem 0 projto de natureza de Galilei? Da maga ‘er queda, por exemplo, nao interessava a Galilei a maca nem a érvore de onde ela cai, mas apenas a altura mensurdvel da queda. Ele supde, pois, um espago homogéneo em que qualquer ponto de massa, movido fe acordo com a Ii, ea Referimornos aqui a0 que dissemos nos semindrios de 24 « 28 de janeiro de 1964 sobre suposigaoe accept, ito é, sobre acetacdo, (0 que entao Gaile aceita nessa sua suposicio? Ee aceita sem diva: ‘espago, movimento tempo, causalidade. © que significa que eu aceite algo como o espaco? Aceito que hi algo como o espago e mais do que iso que eu tenho uma relagio ‘om 9 espago ecom o tempo. Esta accepto ndo éacidental, mas contém relagdes necessrias com o espaco, tempo, causalidade em que eu me ‘encont. Seno eu nio poderia apanhar um copo na mesa, Ninguém pode fazer experigncias com estas aceitages. Que o espaco é dado no {um depoimento da fisica. Que depoimento€?O que diz sobre o homer ‘© fato de the serem possiveis tals suposigoes e aceitagbes? Diz que, como homem, ele esté de antemo em relagdo com o espaco, tempo € ‘ausilidade. Estamos dante de fendmenos que exigem um modo de ‘observagéo, uma compreensio que Ihes correspond, Sobre esses fatos aceitos, 0 isco nada mais pode dizer, mas apenas o flisofo. Essas acetagoes [Akzeptionem] nao podem mais ser atingidaspelas eiencias ‘natura, mas 20 mesmo tempo sto o fundamento que as possibiita. Até onde pode ser dito algo sobre isso que se mostra dirtamente e de que modo? Nesta questio a palavra“dinetamente” & questionével, O que designamos como diets? A mesa a cosas, 0 que 59 est no espago € transcorre no tempo. Essis colsas so, pols, © mais préximo. E quanto a0 espaco, se quisermos nos linitara falar dele? Nio osso ver nada que tenha carter de cosa espacial sem 0 espago. O ‘espago € prédado a todas as coisas, mas mio coneebido como tal, Aqui precisamos embrar a diferencacaojé feta por Aistteles: ele dierencia npStepov mpée fg e mpOtepov Ty* (oe. Iso significa, por exemplo; o mais préximo, part nossa gpreensdo,é2 mesa que esténo espaco. Entretanto, o que est mals primo em relagio a0 ser da mesa € 0 espago. Para a coisa o espago ¢ anterior Ele € 0 ave possbilita 0 copo como uma coisa extensa.O que esté mas priximo em Felacéo 8 coisa é 0 propriamente préximo, Mas este propriamente préximo € o mais dif para 0 nosso apreender. Sio dada, portanto, ‘duas espécies de estar mais proximos, duas maneiras diferentes em relacao a que 0 mais proximo ou seja em rlagio a) h coisa em st b) nossa apreensio dela como fica agora o tempo? Veo no regio que so onze horas da note. Onde esté o tempo af Esté no reldgio? Diese: verificase o tempo pelo movimento dos ponteiros do rego. E 0 que acontece ‘quando o religio fica parado? Mesmo af o tempo ino desapareceu com a parada do eligi. 86 mio posso mais dizer que horas sho. IL-5 de novembre de 1964 Aqui nfo trams conclusdes, mas cada sentenga que pensamos neste pensar tem que ser novamente idetifiada e pensda a cada vez, ‘Muitas vezes conseguese isto e muitas vezes nfo, Embora as vezes se ‘compreenda appa cok, em momentos mas sombre dese dee. No incio do altimo seminério, penzuntamos: 0 que significa “natureza” para as cigncias naturais modernas? Para determinélo pedimos a ajuda de Kant, Dele ouvimos a definigio: a natureza € 2 conformidade lel dos fenémenos. Esta ¢ uma sentengaestrana, Mas Dor que foi colocada a questio da “natureza” das cléncias natura Porque as ciéncias naturais ndo consideram particularmente esta Adeterminagéo da natureza Call realizou este projeto denatieza pela, 0 primeira ver. Ele teria feito simplesmente uma “pressuposi¢s0” Woraussetungl? De que espéie seria, entio, esa “pressuposigio”? 6 luma suposigdo (Unterstellung]. Qual € a diferenga entre uma pressuposicdo de conclusdes légicas e uma suposigSo? A diferenga, consste em que se deduz outra coisa das pressuposiges através de inferéncias, de que aqui ht uma relagéo lgica entre pressuposigao € conclusio. Ao contrério, na suposicao (Supposition) a observacio ientifica do respectivoambito €fundamentada no que ¢suposto. Aa no se trata de uma rlagio légica, mas sim ontoldgica ( que realmente as ciéneas naturals moderas subordinam a #? Para o observador cientfico natural Galil, ao observar a queda «de uma maga, desaparece tanto a érvore como a maga, como chio. Ele apenas vé um ponto de massa que cade um lugar no espaco para outro 4 acordo com uma lei, Subordinase & “naturena” cientiiconatural a ‘rvore, a maga ea terra. Esta natureza de acordo com esta suposigo, ‘onsite apenas de movimentos de pontos de massa regidos or ums lei ‘enquanto mudangas de lgar num espago homogéneo e numa seqiéncia. ‘de um tempo homogéneo. Esta € a supasicao cientficomatural. Na suposigao, nesta subordinagio de uma “natureza” assim \eterminada estésimultaneamente uma accept, Aceita-se sempre em tal suposico como dado, indiscutivelmente dado, aexisténca de espa, ‘movimento, causalidade, tempo. Admitir e acitar (Annehmen und innehmen] sigificam aqui: perceberimediato. Na suposiciocentfco- natural € aceito © espaco homogéneo em que, entre outa coisas, aparece, por exemplo, uma xara. A xicara mesma é algo extenso, Portanto espacial. Quando pego a xcarae bebo um gle dla: onde est ‘© espago em que ela est, em que ela ¢ movida? Ele nso & percehido {ematicamente. A xieara &0 mais préximo para nés:é mpStepov Neos Gg. O espaco é e mpétepov TH} @uoe!. 0 espago, ndo para a nossa percepeio, mas sim de acordo com a cosa, em relagio ao poderser da xicar, € 0 mals proximo ou préddado. A lel da inércia de Newton diz: todo corpo permanece em ‘seu estado de repouso ou de movimento uniforme constante a no ser ‘quando for obrigado a modifica seu estado por forgas que Ihe si0 aplicadas 61 Esta lei comeca, com: fod corpo. Seré que um homem pode observa fados corpos? Certamente nunca. Apesar disso, esta fase & dita como vilda para todos os fendmenos da natureza. Trata-e, pois, na verdade de uma suposicéo, uma subordinagao, 0 estado de um corpo dda matureza € determinado pelas leis do movimento. Por isso Kant dla: a natureza € 0 conjunto de leis dos fenomenos em seus movimentor © ‘estes movimentos so mudancas de um fundamento constante. Isto 35 para uma breve indicacso de tudo que €suposto nimarta Ke. Aristteles mostrou esta questio fundamental das dus espéces de referencia em relagio ao préximo em sua Fisica No fim do respect pardgrafo, se: no inicio a criangas chamam todos os homens de pl e todas as mulheres de mie. Sé mais tande eles aprendem a diferenciar entre homem e pale mulher e mie (ef Fisica 11, 184 12s), Para a crianga, 0 homem é pai. Ela ainda nao tem nenhuma representacdo do homem e da mulher como aquilo que determina o pai ‘ea mie em sua esséncia, Isso 36 vem mais tarde, ALS onde esta relacio. 4e pai para homem iustra a velagio da xcara e do espago? [Na relacdo homem-pai, homem ¢ a determinagio ger de pai, pois todo pai € um homem, mas ndo o contririo. Para axlcara, 0 espag0 ro € 0 geal. 0 espago nao é um conceit Para o expago e a xara, trata de uma relacdo mais fundamental 4 encontramos taisrelagies ‘em Kant, quando ele diz: ser ndo & nenhum predicado real, mas 36 a posigio isto é:a existincia no & o geral para a mes, Quando vootsdizem que a xcara existe, voc esto relacionados ‘coma xicara presente, O que h com a sua existéncia? Bla nao, conto, ‘uma propriedade da xicar. A presenga ndo se encontra na xicara. A existéncia em relagdo & coisa deve estar ainda mais préxima do que 0 espace. Aqui se ve a diferenea ontoldgice: isto 6a diferenga entre sere ente, sendo o primero acessvel de forma diferente do que 0 ent. ‘Se pensarem que 0 espaco sempre nos € dado de forma néo- tematica em toda experiencia, o que entdo é 0 espago propriamente? Se ‘guisermos perecber 0 espaco, como eno temos que nas comportar em relagdo & xicara? Deixemola tornarse ndo-temitieae transformeros 0 «espago em tema sto significa que realizamos uma abstragio? Justamente $ ey ~ ) Se ‘ndo. 6 acentuamos que 0 espaco nio é de forma alguma o geral em Telagio a xicara, como, por exemplo, 0 conesto drvore em relagao a Juma betula factual. Nés sé tornamos tema alg dado junto, nd temstico, ecessiro. O que acontece com a xicara quando desviamos oolhar dela fm deco ao espago tematizado? A tematizagio faz wma meia volta, por assim dizer Se eu fago do espago um tema, ainda assim no posso iar de ver a xieara. © espago tematizado & mesmo isto em que & cara est. Por isso no posso conceber o cardter do espaco como ‘aguiloem que esté a wcara se eu desistisseinteiramente da xicara. S6 Iweciso deixar a xiara ficar ni tematica No cusrto lio da Psion de Aristles, a determinnsto de tenaco 6 capictada dedabamene pela primeira ver par too © mamente aie primera determina de rst dz Wo “nO aren nu al rap reno a eum corpo ¢determinado por agalo que ee dlimia como cena rea, para os greats Tite lo onde ago scabs, Td heat, mas sim onde comers, pelo qual ¢ lintado em sua forma Para os gregos limite (népag) ¢ uma determinagao positiva. 0 outro, blo cue perme qoeaig como ca corporal eices excep, Macaie pias Stgv ce HEA cmon Se limitads deta forma, expag fm o carder do contr, ee concede a a cols wala eee enol odlmtade pels cl corporal toncsti por ele mesma Para os gregos todos 0s corpos tim seu préprio lugar de acordo «com sua naturezaespcifica: 0s corpos pesados esto embaixo, 0s leves fm cima, Os wrios lugares no espaco sio, pois, dstntos qualtativamente como em cima eembaixo ete. Galilei anula todos esses lugares indicados ho espago. Para ele ndo hi mais nenhum em cima embaio. Quando pereebemos a xicara, percebemos que 0 espago, 0 ‘spacial envolve esta xicarae Ihe concede o lugar, mas absolutamente ‘ndo-o que € 0 proprio espaco. 0 espago & sempre visto no pensamento ‘cidental, até hoje, apenas em relagdo aos compos e objelas, nunca 0 espaco como espago por sie como tal [No fim do dime encontro falamos do tempo. Otho 0 reldgio © ‘jo que sio 21.25 h. Se amanha o senhor Bos vier eve papel em que 6 anotel esta hora, ele descobre que este depoimento escrito, desde entio, se tornou errado, ‘Ao olar o rel6go perguntamos: Onde esto TERE? Podese coloca a pentunta onde? “Onde” e poe perguntara reset de alo espacial. & uma pergunta desconcertante. Como perguntamos corretamente pelo tempo? Perguntamos: quando, Posto perguntar ‘quando é 0 tempo? Isso também nao dé. Nesse caso eu persuntaria por lum tempo em que o tempo est. “Quando & o tempo” ¢ tio erado «quanto a pendunta “onde ¢o espa’, Como se deve penfuntaro qu € 0 termpo? Quando pergunto pela hora, pergunto que hora 80” Pegunto, ois, por um quant, use, por algo medio. Bm-oda- media de tempo, o tempo deve ser prédado, Perguntans agora: como 0 tempo € prédado a0 olarmos 0 rligio? Repetimos: verficamos que agora 0 relégio mostra 21:37 h. sto falando do tempo? O que os senhores fazem quando olham as horas? No fundo os senhoresdizem constantemente: agontsio 21:37 h Sempre que os senhores olham 0 relégiodizem - verbalmente ou no ~ ‘agora, Entéo eu escrevo no papel: agora sio 21:97 h, Quando 0 senhor ‘Boss ler isto aman, 0 papel esta mals errado ainda O senor Boss teré que dizer: naquele momento erat 21:37 hv IV-5 de novembro de 1964 No intervalo pareceu havercerta admiragio de alguns pelo fato de persstrmos tanto em determinadas palavras, Seria um grande erro ver nisto um capricho pessoal de nossa parte. Pois uma determinada palavra da lingua diz iso e apenas isso, e este €0 mistrio da lingua. Por isso no se pode simplesmente falar a esmo e usar quaisauer ‘hamados sindnimos para a8 mesmas cosas Voltemos frase: agora sio 2137 h, Namanhi seguinte teremos entio que corrigira frase errada: naquele momento eram 21:37 h Esta indicagdo de tempo est agora defintivamente passada? Nio, Ela volta, ‘Quando ela volta? Depots, exatamente quando for novamente noite 8 Bm leo ws a expe “AML Hors" [Wei (Nd) ot Ew nem poderia ver as horas se eu nio dissese: agona so nlas horas, sea que eu promuncie o agora ou no. Ofato de que ete tjora quase sempre ndo ¢ pronunciado mestra, justamente, ue o“agora” ‘présdado evidentemente. Mas & sempre agora s6 quando vocésolham fs horas? Nao. Tamhém quando no olho as horas, mas, por exemplo, lho pela janela, € agora. Entdo é sempre agora? E sempre um outro ora? Por que cada agora ¢ diferente? E mais cedo ou mais tarde. Se lum agora anterior se tomasse novamente agora, assim como 0 agora Jstamente agora & um agora, entdo o tempo precsara andar para tris. laso cle nao faz. Mas como anda o tempo? O tempo passa lvergehi| Rstranho: ele passa e a0 mesmo tempo esté parado (steht False: também do curso do tempo. Como se relaciona o naquele tempo e o depois com o agora? Fintre aquele tempo e agora e entre agora e depois sempre passa tempo. Bu determine todo agora rlacionado a alg. Supondo que eu adormesa.€ dia agora: depois eu acorde e dig, novament, agora 20, ‘conlar Como reconhego outro agora do acordar em comparacio com 0 agora do adormecer? Eu digo “agora” nesse momento e digo: agora é note {90 aordar digo agora é mank A noite ea manhs so relacionadas com 8 rotag3o do so, de acordo com a qual o tempo ¢ afinal medido. E uma ‘medida inicial rudimentar comparada letra do tempo orginrio, Como ¢stas horas do da se relacionam com tempo? 0 dia ¢ um determinado ‘tempo delmitado. Como se relaciona o tempo determinado de um dia com © tempo em ger? Analogamente, corespondendo ao espago de uma sala «em relagao 20 espaco da casa toda? Todo espago delimtado esté num espaco maior igualmente um perodo de tempo determina es no tempo (Como eles estio dentro disso? ‘Todos os pequenos espacos indviduais #6 delimitam oespaco Por expo, sala ecopodelimtam oespago maior da cas. As pasts da «asa. como tis si delinitagies do espag inti simulaneament, Ao “ontrrio, as portes do tempo no so simulans, mas necessariamente scessinas. espacial € a0 lado, sobre ou ap6s 0 outro, enquanto ‘spagos de tempo sio sempre um apés 0 outro. O tempo ¢ unidimensional. Est unidimensional € olocado nasa como quarta dimensio do espao junto com as tes dimensdes, como.» to & come linha, em eu dregdo se conta, Todos os agoras so subseqdentes 6s Evidentemente, precisamos agora olha o agora de maneia mais exata, (Qual ¢adistncia do agora para naquele tempo eo depois? O naguele tempo mais préximo do agora é 0 hd pouco, 0 mais proximo do depois € 0 fgo mais. Cada agora que dizemos & simultaneamente, também, ‘um hi pouco ¢ um logo mais, isto & o tempo a que nos dirigimos com 1 nome de “agora” tem em sium Japs, Todo agora tem emi tambem, lum hi pouco e um logo mais. Entretanto, no momento em que comecamos a contar o tempo ro. mais prestamos atengio 20 hi pouco ¢ 20 logo mais, mas s6 3 ‘seqilncia de agoras. A contagem do tempo é pos, uma relacio bem ‘definida com o tempo, em que os caracteres do espaco de tempo em relagio 20 hi pouco eo logo mais no so mais considerados.Contudo, ‘logo mais se transforma em “depos”, finahmente,em “ainda nao". A definigio do tempo de Arstteles i dina “sto €o tempo: 0 :nimero do movimento com rlagio ao antes €0 depois” (Fisica V, 11 219 b 1). Esta defnico do tempo a partir de um objeto movimentado tornouse detrminante para todo oocdente, assim como a determinacio do espago a partir do (movimento) corpo materia. Também o tempo & sempre determinado a partir do que se move'nele, mas no como © tempo como tal Mas afinal ser que o tempo € Quando penuntamos 0 tempo & entio, © que ¢ com o tempo que estamos consierando agora? Conforme a compreensio corrente de ser, isto sanifca: presenca [Anwesenhei)0 que corresponde no tempo a esa compreensio do ser como presenca? Presente [Anuesend] equivale a no presente atual legen. Prevent [Gegenurtig] no tempo & sempre so agora. © ' presenga como presente. A questo é, pois, quando com o conceito de “eu toco no nada, se eu posto apreender o ser do tempo com a ‘compreensiocorrente do sero sentido de presen. Poi uma ver que 0 ‘hd pouco e o loo mais pertencem a0 fempo, cade agora, com este 66 ‘onceito de ser io apreendo 0 ser do tempol Na verdade-w questio se ecomo & 0 tempo. (Que relagio poderia aver entre sere tempo? Dissemos que “agora” tem o cariter do que esti presente Mas. ‘hi pouco é passado-e 0 logo mais 0 que chega. Ambos so, pois, umn indoser diferente isto &, um ainda néo set = eum nio ser mais. © coneeto de ser no sentido de presenea em relago 20 tempo nio fos serve, porque a presenea a partir do tempo determinada como agora Suns daa questao seg ser quando determinado como presen greens) no tecebe,justamente ao contro, sua determinacio a partir do tempo 1 € concedio por ele? Num préximo pass dever se tralar, por iss, de Aeterminaro espago no mais apenas como até agora, a partir dos compos haeras simplemente presentes nele eo tempo no mais apenas partir 1s coisas que nele se movimentam, mas sim de pensar o espaco como ‘espace o tempo come tempo De todos esses pensamentosndo se trata de lembrar, de aprender Ue cor as sentengas que foram ditas, mas sim de tentar perecher retamenteo que fi dito nelas. Perceber significa aqui muito mais do que © mero ver de modo sensorial, éptico. O.essencial& percebido Jstamente nao vendo sensorilmente com os olhos. oe ‘Semindrio de 18 ¢ 21 de jancio de 1965, na casa de Boss 11-18 de janeiro de 1965, CContinuamos perguntando: 0 que & 0 tempo? Pengunta-se isso hi 2.500 anos e ainda nao ha respostasuficiente. Para 0 pensamento ontemporineo ¢ importante lembrarse da tradigio e no cai na wl ‘era de que se possacomecar sem histéria.E uma pena que hoje em a dia a experiéncia direta da histiaesteja em vias de desaparecer. $6 no Jidlogo com a tradigio esclarecemse as questoes, reise o arbitro, Hi dois testemunhos que esclarecem como se pergunta pelo tempo. Simplicio, um neoplaténico que vivia em Atenas cerca de 500 anos dC, escreveu um grande comentirio da Pisica de Aristételes, ‘Simplicio € importante porque em seu texto também so mencionados Inuitos textos dos présocriticos, de Heréclito, Parménides ¢ ‘Anaximandro. Simplicio escreve que o tempo sempre reina de antemo; isto nio € s6 evidente « priori para 0 sébio, quer dizer, para os pensadores, mas para todo mundo. Mas o que é 0 préprio tempo? Se alguém fosse questionado sobre isso, nem mesmo o mais sébio encontraria uma resposta™ Agostinho, por sua vez, esereve no décimo primero liv, capitulo 1ée suas Confissoes:"O qué entao,propriamenteo tempo? Seninguém exigir uma resposta de mim, eu o sei, Mas se eu quiserexplicar para alguém ‘que é 0 tempo, entio eu néo sei que Agostinho queria dizer com esta frase? Onde est a dficuldade de toda a questo do tempo? E como se © tempo fosse algo indizivel, Entretanto, no mesmo livro de Agpstinho ‘encontramos também a frase: “Mas inflamase meu espiito para conhecer esse enigma mais intrincado" (Confissoes XI, 22) Nao vamos refletir mais sobre esses dois textos, porém rememorar a tradigao esclarece nio apenas que é dificil encontrar a resposta i questio do tempo, mas que mais difcll do que a resposta 60 ddesdobramento da quesédo do tempo. Como se pode e se deve perguntar pelo tempo requer uma reflexdo especifica, Como entéo tenho que perguntar para procurar o {questionamento correto sobre o tempo? Para perguntar apropriadamente ‘i preciso conhecer o assunto. Entéo eu sempre jé sei o assunto pelo {qual pergunto, Mas, se eu {4 conhego @ assunto, na verdade, eu nio precisaria mais perguntar por ele. Signifcara isto que no & possivel ddesenvolver um questionamento apropriado? 10. C& Simplicio, tn Aritotlisphyscorum libros guattuor prion commentara atado por H, Dis, Berlin, 182, p. 695, 11, Agetinho, Contsions, com preticio, trade cmenio de J erat, 2 ec Muniqe, 1960, p 629. Edo basta: Confer, 2. Brgangs Pasi, st, 2008 68 Toda relacdo de pergunta € resposta movesse inevitivel ¢ ‘onstantemente em circulo. $6 que nao é um crculo vieioso, um eireulo ‘que deveria ser evitado por ser supostamente errado, Antes, 0 circulo Pertence & esséncia de todo perguntar e responder. & possivel que eu jé tenha um conhecimento daquilo pelo que pengunto, mas isso néo quer dizer que eu jf reconheca explicitamente aquilo pelo que pergunto, reconhecer explicitamente no sentido deter apreendido e determinado tematicamente, 4J4-conhecemos, pois, o tempo, de alguma forma, quer dizer, ‘ehacionamonos-de antemia com’ tempo, ¢ nao prestamos atencio ‘ropriamente-ao tempo como tal; nem @relagéo com ele-como tal. De cordo com esses fatos partimos de-uma referencia que é a referéncia dde-tempo mais conhecida e sempre-exeqiive, isto €, a referencia de lempo que-nos é proporcionada pelo relogio. 44 abordamos esta questio no seminério anterior, mas néo @ \desenvolvemos suficientemente, apenas demos uma ligeira visio dela. 0s registros sobre o seminério estio muito bons, justamente por isso io perigosos, porque poderiam provocar a ilusio de que o assunto jé esteja resolvido © de que poderiamos prosseguir. No entanto, no rosseguiremos, mas sim retrocederemos. Assim, os senhores vero qui Hrosseiramente temos falado sobre o tempo até agora E importante observar que todas a8 reflexdes sobre o tempo sempre razem novamente& bala a copertinncia do ser humano e do tempo, da ‘alma’ e do tempo, do “epiito”e do tempo. Assim j diz, por ‘serra Arstételes “Valea pena verifiar como tempo se eaiona com ‘alma’ Sea alma nao fosse capaz de percebero tempo, de cont isso sign em sentido lato de dier alo del), eno seria impossel que 0 tempo fosse, se a alma no fosse®. Em resumo isso significa se no houvesse alma ndo-haveria tempo, Ama entendese aqui como o ser ‘ereto eportador do ser humanotenteleckiay-e no no sentido moderno «le eusujnito e euconscincia, Antes, para o pensamento grego 0 que Misting ohomem éo percebere falar, uj trago fundamental € sempre © desvear,e no pode ser epresentado como um processo“imanente Jo 12 Arititeles, Msc V, 14, 25 1s 18 Idem, 2233 216 sujito". Em Agostinho lemos: “Em ti meu espiito (animus, nao anima) ‘eu mego os tempos” (Confisoes XI, 27) ntretanto, podemos depreender dos dois testemunbos que a referencia a0 tempo & um contar e medi, um condar com o tempo, Esse ‘estado de cota de copertnéncia de tempo e ser huano se expressa, no modo de pensar moderno, na maneira como o problema do tempo’ ‘olocado, saber 0b os titlos: sentido do tempo, experiéncia do tempo, ‘conscencia do fempo. Assim, por exemplo, Berson publicou em 1889 uma obra intiulada Esato sobre os dadas imeios da consciencia Essai ‘sur les données immediaes de la conscience etratou como tl dado de conscincia:o tempo" Em 1928, foram publicadas as Preleedes para uma fenomenologia da conseiéncia interior de tempo (Vorlesungen zur Phanomenologic des innerenZethewusstseins}, de Huser”. Napsiquatria ‘moderna falage de sentido do tempo. 0 que siifica iss? Paree tratarse de uma analogia com todos os sentidos de percepcio, dos sentidos da visio, da audiga, do tat, do paladar. Se assim foe eno o tempo seria lm érgio camo, por exemplo, © ouvio no sentido da audio. O.que se Odiseuso do ‘sentido do tempo é apenas uma expresso confusa da rela do home com. tempo, Cramatialment, 0 do tempo” no € suit i de que tro um sentido. Entretanto, no uso da locugdo "send do tempo” se expressa 8 ‘xperincia de que tempo nos dia respeito num “sentido” especial Mas, com esta atribuigo teéica do tempo com um sentido do tempo, com uma consci¢ncia do tempo, com uma experiéncia do tempo, a copertingncia de tempo e ser humano é, inadvertidamente, tao Drejadicada que teemos de volta especialmente a isto mas tarde. Por tenguanto,deiemos de lado este problema e observers apenas que hi evidentemente, algo como uma copertingncia neces de texipo« ser Ihumano. Mas, por enquanto tudo que Ie diz espeito [3 copertinéncia) ainda estéobscuro, tanto a naturea do homem como também a esséncia do tempo e, sobretudo, a copertinéncia de homem e tempo. Tavez, pela 14. iio portage: Ena se of dado meats conics, Lisbon a 670, 1988 0 de T) 1. Ein orgs: Lies para uma fomenaloga da concn interna do emp, Lisbon Impress Neale Cara da Mooi, 1994. (8 de) 0 ierarquia, esta co-pertinénca sea a primeira, endo, como pode parece, ‘i terceira, que s6resultaria da conjungao de homem e tempo, Para abrir um caminho vivel no imbito desta dfees questoes| ltemos nos ater & referencia jé mencionada com 0 tempo que nos é Proporcionada pelo reldgio. Para isto, inicialmente, uma observacio, Imetidica: faremos bem em deixar inteiramente de lado o que j8 ereditamos saber sobre o tempo, e também a maneira como estamos ‘costumados a trata o tema “tempo". Por exemplo, a difeenciacdo de tempo subjetivo e objetivo, de tempo do mundo ¢ do eu, do tempo Imedidoe vivenciado, de tempo quantitativo e qualitativ. Biminaremas todas essas diferenciagbes,nio por afirmarmos que sejam inteiramente fsa infundadas, mas porque continuam questionaves. Porque quando falumos, por exempl, de “tempo objetivo", temos uma representacéo de objetividade que continua questionsvel se, enquanto tal obetvidade, ‘la ndo € determingvel a partir do tempo pensado de modo suicente. (0 mesmo vale para o tempo subjetivo. Os senhores certamente ndo esperam que iremos resoler @ ‘enigma do tempo. Mas jé ganharemos muito se pudermos nos colocar ante a enigmaticdade do tempo. Iniciemos agora © questionamento Sobre o tempo sua rlagao com 0 ser humano com a reflex sobre 0 Felis. Verificamos-o tempo pelo reigio. Aproximemo-nos do tempo, Delo uso do reldgio: O-relogio & um-objeto de uso. Como ta, ele € cessive! simplesmente presente, & mio, sempre disponivel st sempre ‘réximo ands, é um objeto de uso, durdvelconstantemente permanente, {que lem a propriedade-notivel de que anda. Notavel: uma coisa simplesmente presente, permanente, anda e, ao andar, executa um movimento que volta regularmente, quer dizer, um movimento peiédic, 0 cariter periédico do movimento do relégio vem do fato de ser ‘elacionado a0 movimento do sol, Porém, a relagio do redo com o sal pode ser diferente. De acordo com isso, hi diferentes religios. Fica @ ‘questao se todo reldgio precisa ser relacionado com 0 sol. Como é isso om o reldgio solar? Nele a sombra também se move regularmente petiodicamente, embora no em citculo, mas como um péndul. Que Cariter tem este andar do relégio? Com esta questio ficamos, por ‘enquanto, no mbit do nosso uso atual do relo(rléio de puso de bolo). Urn ponteiro se move e passa por certos mimeros. Suponhamos ave cheaissemes com um relgio a um membro de uma ib inna, n a \ x ‘numa floresta, que nunca viu um reli the mostréssemos esta coisa Pelo movimento ele pensaria que esta coisa esta viva Para ele a coisa ‘io € um relégio, uma medida de tempo. Isso nio significa, naturalment, ‘que a relagdo com o tempo the sea estranha. Provavelmente ele vive ‘numa relagio mais origindria com o tempo do que nds, europeus modernos, ue The mostramos nossos estranhos produtos, Entretanto, para ele nao ha questao do relégio. ‘Quando é que esta coisa técnica, que na conversa era chamada de méquina, transforma-se em relogio? Quando se acerta 0 “regio” de ‘modo que ele funcione da mesma forma que outros relégios ou com 0 sinal do ridio? O locutor de rédio fala muito precisamente, e asim ‘mesmo nao precisamente. Por que nio? Ele diz: ao sexto sinal sio cxatamente tantas horas. Mas este sextosinal ainda no existe quando ele diz iso; ee vird. Quando ee dz: “Ao sextosinal” podese perguntar | partir de que relagio com o sinal mencionado o locutor ala eo ouvinte ‘ouve Isso acontece por um esperar pelo sesto sinal Mais exatamente o locutor deveria dizer: ao sextosinal,sedo tantas horas. Essa correo 08 como uma’ mas ela é extremamente important. Quando acertamos o religio ao sexto sina, oreo est pronto para us, nio antes, embora nosso rego ande, ele “anda erado".O que ‘acontece quando olhamos ou verificamos o tempo no religo? Como isso ‘se da? Dizemos: ‘Agora sio exatamente nove horas". Bu digo: “Agora. De onde eu tro este agora? O agora como tal no tem nada em comum ‘om o reldgio, como uma cosa. 0 agora ndo é uma coisa. Entretanto, rio hi verficacio do tempo no relégio sem um dizeragora, sea isto verbalizado ou no, quer observemos especialmente este “dizer” ou no, Mas, para ns, hi sempre um agora, mesmo sem reli. Eu digo, por exemple: “Agora o doutor H. estéfumando”. "agora" é apenas um suplemente quando olo 0 religio? Podemos verificaro tempo no religio sem dizer “agora’? A indicacio do lugar em que o ponteiro se fencontra no momento ainda nao é fazer uma leitura do tempo. Que ‘ela hi entre o verificar a posicdo dos ponteiros eo dizer agora com iss0? O.dizeragore fundamenta a indicagio da posigho dos ponteiros, como a verifieacio de um momento. No-dizeragora, apontanos o fato de ‘que, de alguma forma, o tempo ji nos ¢ dado de antemao. Entretanto, este apontar para o tempo no acontece $6 no dizeraora. Também ‘quando digo “Hd pouco..eram fantashorasyeu nomelo tempo. A que n Airecdo eu me refiro com o “hd poco”? Bu falo para trés, pars passa, quando digo: “Em vinte minutos serdo 930 h', eu aponto para algo que vem. Falo para frente, para o futuro. Falamos assim, como se sso fosse natural, também no uso do rel nao somente com agora’, mas ‘om 0°hdpouco” eo “ogo mais" imediatamentefalamos para diversas “dregdes do tempo. Ou ndo dzemos “agora” quando verficamos: em ‘ico minuto loo mais) seréo 20210 hit €, “agora em cinco minutos"? © agora no se mostra aqui numa curiosa primazia no nomear do tempo? Ao lado dos agore, antes, depois do tempo do relésio (Uhr Zalldeterminados numericamente também posso dizer: hoe, ontem, samanh Agora-e hoje tema ver com o presente, hi pouco« naquele tempo, como deixarit para 0 passado com omanteroaue foi O logo ‘aise o depois tema ver com o dears, um esperar Hs, pois, ts ‘nodes diferentes de poder falar do tempo, de poder nomear 0 tempo Mas agui se impde a questo: serd que nas maneras como verficamos as horas no rego e como nos relaconamos como tempo nesse momento os eferimos também ao proprio tempo? Sera que, ns mados da verifcao Aas horas o tempo dado também como tempo? Em que carter aponta te aqui para tempo? Agora hé pouco logo mais, hoje, ontem, aman so determinagtes de tempo, Em que aspecto isto determina o tempo? ‘io se determina o tempo como tempo, 0 tempo no é dado com tl mas Inde apenas quanto tempo. o.rekigio mostra. Medios 0 tempo pelo uso do religo. Mas nunea medinos com isso gue hi com 0 préprio temp, como ele mesmo deve ser determina 0 discus dt determinagdo ‘do terpo€ ambi. Vera as horas pelo uso do reli significa sempre: \erfcar quant tempo, quantas horas sio. Embora ao olhar para regio” ‘1 me ocupe do tempo. € sempre com refrénca a um quanto de tempo. Mas qual a relagdo da verficagao do quanto de tempo pelo uso do relogio [UhirGebrauch| com a determinagio do tempo que pronuncio 9 hoje, amanh eontem? Com hoje, ontem e aman quero significar & sequéneia de dias cujas horas podem, mas ndo precisam ser mais cxatamente determinadas pela indieagao de ndimeroe de horas com a ‘ada do rekigio. © dizer hoje, ontem, amanhs é pois uma relago mais primordial com o tempo em comparacio com overificar de um quanto de {tempo pelo reldgio. Pois esta verifcacao do tempo de acordo com 0: religio € apenas uma determinacéo aritmétiea de cada hoje, ontem, B amanha, 86 podemos usar um rego poraue, para ns, hi, de antemao, tum hoje, un amanhé e wm ontem. Mas, também, estes continuam indicagdes de tempo, que nlo conseguem, mais do que as indicaches do tempo do eligi, darnos o proprio tempo como tal No verificar do tempo pelo reldgio, aliés, como em toda indicagio de tempo, apontamos para o tempo, mas nao vemos 0 tempo mesmo. ‘mais runt, assim como uma eventual respost, 86 & possivel porque jd temos o tempo, mais exatamente porque para nds js domina Oem depen aad «tr, Ea ee ona tomar algo que me ¢ dive [Cea ete pode! s a {Cbbare| 0 que sempre js domina. Com a palavra ‘dominar” indicase apenas, por enquanto, cuidadosamente, que somos atingidos por toda parte © constantemente pelo tempo. Em vista da relacio com o tempo {devemos, por enquanto, compreender, por um lado, a dierenca entre {ndicagdo do tempo (Zett-Angabe| pelo relogioe indicagao do tempo = nio de acordo com 0 reldgio - como hojeontemamanha e, por ‘outro lado, dagao de tempo [Zett-Gabel. Nao hi indicagao de tempo ‘sem anterior dacdo de tempo. Entretanto, permanece ainda a questio ‘se no nosso comportamento cotidiano, seja este cientitico, pré cientifico, pritico, nio-cientiico, artistico ou relgioso, o tempo nos dado de modo diferente do que através de uma espécie de indieacio ae tempo, Adtamentos:acitaco a dag de tempo qe sustenta todas 2 noses indeages de tempo, a visio deste fendmeno « do tempo ome tal dado esta 880 exgem,eientement, en medo de pene fundamentamente dverso da nossa rego cotidans com 0 tmp Mas iso no sncaascutamente que esta reli diferente com o tempo nao deveriaorginaree de un exclrecimento previo nossa ‘elagsoentidana como tempo. Dea, para comets two depende deste eslarecimento,Dizemos "depends" no “depend” porae © fue fol dts ale agora tind nao DURISAUOTPRENhoceel escarecment, " IL 18 de janeiro de 1965, Em todas as determinagBes de tempo quantitativas fits com a ud do religio, sempre 56 nos é dado o quanto de tempo. Enretanto, fsa medigio do tempo sé €possve se algo semelhante a0 tempo jd nos & Ando, se i temos o tempo. O-medir-o tempo sempre pressupde 0 "ter 0 tempo. Mas o-que significa "ter o tempo’, sso ainda continua obscuro Nas relagées cotidanas com o tempo no o consideramos a no ser que Fefltamos especialmente a respeit. Pelo contri, temos uma regio habitual com o tempo a locugso 3. Qual éo sentido do tempo quando di ‘Come deve ser compreendido esse caréter que chamo de cariter| do tempo no para"? Sera es icionado ao tempo ox menciono esse “para” justamente algo que € proprio do tempo? Mesto quando eu digo “amanha” Jum “amanha” vazo, mas sempre como umn ‘Sma ou gue acme “aah or mas nemo ge 6 poe, a parte do tempo ea inci, oapontar para um ero dcontecer. ‘€sempre utsamket, io dg it simplemente como Este carster da interpretabildade &prprio do tempo mesmo, Por iso, este para” do tempo nio tem nada aver com uma “intencionalidade” ho sentido de um ato de um eusujeito, ito, um comportamento human fra com algo, um ser drgido humano a.. uma atitude que acrescenta, also ao tempo, que faz com que ele seiaposteriormente relacionado a gua outra coisa ‘de um “ew Devese dierencar este trago de carter do tempo “para” ou si, da interpretabiidade, que podemos pereber no “ter tempo" de um outro 75 do tempo chamamos de databilidade |Datiertheit| do tempo. Isto no sitifca apenas uma dala no sentido docleniio. Tatase au de uma

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