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PSICOLOGIA, ORGANIZACOES E TRABALHO NO BRASIL Saude Mental e Trab: Wanderley Codo Lucia Soratio Jone Vasques-Menezes ‘omo ocorre amide em cigncia, Sade Mental Trabalho deixou de ser um tema de pesquisa para Yomar-se uma drea pela porta dos furkdos. No caso deestresse, tamado como um conceito da isiologia ‘campliado por Selye para os eventos psicol6gieos, este foi chamado a intervir no trabalho pata expt ar coisas que se observavam e nao tinham nome. Na caso dos tabalhos de Le Guillant,tratava-se de uum médico comunista, muito mais inteessado em riticara psiquiatria/psicologia de sea tempodo que ualquer outra coisa. Tudo isto aconteceu hi SO ‘anos. muito pouco tempo, como se ve E que, de um lado, o mundo do trabalho de ‘mandava uma intervene’ 0s tabulhadoressofrendo sdemales quez fsiologiaea bioquimica dos médicus, ‘io podiam expliear, de outro, 0 corpus tesrico da Psicologia nto pri sobreviver mut terapoalheio 30 trabalho humano ~ pois, como fazer uma teoria aptaaexplicar horsem sem uma das principas atv. dades dos homens? Impulsionada por umg exigencia dda vida © uma imposigao da teoris, Sade Mental Trabalho tornou-se, em pouco tempo, uma ire forte, pulsante,prente de formulagses ede descubertas, ‘Quantos seriam os mods de se “fazer” Sai de Mental e Trabalho? Todos. Essa é a mesma res posta que se obteria para qualquer uma das gran. des seas que este livro aborda, Quantas formas hi de se pensar a motivagio? O comprometimen: 1? A emogao no trabalho? Qualquer tears pico Iegica/psicopatol6gica pode ser utlizada para se Pensar 0 problema do sofrimento psicoldgica ou alho a satide mental no trabalho. Qualquer maneira de intervengao seria igualmente possivel. Revisarto das as formas de fazer ou pensar satide mental € trabalho, portanto, ¢ impossivel ‘Ossofrimento psicolégico no trabalho (aqui si nonimo de Satie Mental e Trabalho) tem sido Priortariamente estudado de w8s maneiras dif tes, Para dizer de outra mancira, a bistria desta frea sclecionou trés grands abordagens pata o pro- bblema: estresse, psicodinimica do trabalho e epidemiologia do wabalho, Outras classificagies © Priorizagbes, éclaro, serio. seriam possiveis, mas foi assim que os autores desta linhas pensaeam probleme dividiram a rea (ver Cod, 2002; Codo € Soratlo, 1999) Mas nio send posstvel ie dreto ao assunto, Unt das marcas centrais dessa rea €a maneita como ela Se posiciona perante a Psicologia Organizacional e 4o Trabalho: nao € difieil de compreender. Se admi- iumos que o softimento psicolégico€ produzido pelo trabalho, estudar 0 problema e proporthe interven. (6s deixa-nosTigados intimarnente ao individao. mo sentido que a psicologia clinica quer ser. 380, por sua vez, nos obriga a redetiie forma como com reensdemos a rea em questio, Este serd 0 nosso) Inicio: de qual Psicologia do Trabalho estamos ta ‘ando ao falar de Saide Mental e Trabalho Do outro lado, coloca-se 0 mesmo problema: € preciso pensar satide mental de manera a incluir trabalho em seu leque de determinayes, Uma teo- Fia que tomasse 0 sofrimento psicoldgice depen: dente exclusivamente da infncia, por exemplo,te- ‘lade ser eriticada pela érea.E, ainda, trabalho tr de ser pensado em sua dimensio subjetiva, tale qual sua dimensio objetiva Temosentio os objetivos deste capitulo: ) per. ‘ortero posicionamento da dren com relagao a wma Psicologia do Trabalho; b) um passeio pelascatezo- as trabalho e sadde mental; c)discuti as abords~ gens mais representativas no campo, pelo menos no Brasil estresse, psicodinimica do trabalho e epide miologia do trabalho, Para atingir tas objetivos, o capitulo subdivi- ‘de-se em trés partes. A primeira situa, conceitua & artcula Sadide Mental ¢ Trabalho a sepunda apre. Senta ediscute as ts principais abordagens de es tudo em Saude Mental Trabalho, ea terceira, ata as relagdes c implicagdes entre as tts abordagens esenvolvidas no item anterior Tudo isso, lembremos, aconteceu nos ditimos 50 anos. H4 pouco, diziamos, Que ninguém sees. ante portanto, seas coisas parecerem muito ima tras, muito verdes, como se estivessem a deman dar uma teorizagio mais completa, mais serena. isso mesmo, estamos diante de uma ites pujante, profixa, mas jovem, e ju sempre, vigor e indecisi, sniude combina, con © QUE € SAUDE MENTAL E TRABALHO. De quo estamos falando? Neste lio, voo€ eaminhou por diferentes nificados de Psicologia do Trabalho e/ou das Ona rizagaes, todas elas com o mesmo nome, mas falan- do de lugares diferentes. que as duas dreas utili dda preposigdo de srtigo (o ou as) para def nir-se.Fstede ligando a duas palavtas €t90 gener0- 0, pode signiticartantas coisas diferentes, que te ‘mos todo o direito de perguntar o que significa este ome. Posse? Quer dizer a0 trabalho? Como em “Maria de Dirceu? Alude a matéria da qual € feita? A psicologia seria feta de trabalho, como uma casa é feta de madeits? Ou re {fere-se a sua origem? A psicolopia viria do trabalho ‘como eu digo que sou de Sao Paulo? Maitas vezes, a preposigio indica uma util vagio. Psicologia das Organizagiies fou do Tra batho seria uma psicologia utlizada 90 trabalho unas organizagbes, uma aplicagao especifiea da Psicologia. Por exemplo, quando as teorias de jue a psicologia pertence no Brasil 277 ‘motivagio so aplicadas para melhorar 0 desem: penho do trabathador; quando as teorias de Psico- logia Social sobre fideranga sio utilizadas para 0 desens « psicologia pode ser til no trabalho, nas organi zagves? Seria n v-la de Psicologia no Trabalho ou nas Organizagbes? Mas nio & dessa Psicologia que estaremos falando, Outras tantas vezes, a preposigio do indica um tipo de pertinéncia que inverte lei da grams tica. Fla indica que o segundo tormo pertence a0 Drimeiro. Contudo aqui é primeiro que pertence a0 segundo, Estarfamos falando de uma psicolo: sin quo pertence as organizagbes e/ou ao trabalho. A organizagio ou o trabalho, neste sentido, detém ‘uma psicologia - © conhecimento que € ensinado aprendido de wma forma especttica dentro da ‘organizagto ou do trabalho; os valores, atitudes ‘deologias consolidam-se e espeaiam-se de uma forma nas organizagSes e no trabalho que diferem do resto do mundo: os afetos e desafetos si ma nejados com certas particularidades nesta dtea Existe, como se vé, uma psicologia do trabalho ou das organizagbes neste sentido, Mas ainda nio & sobre isto que estaremos falande aqui © sentido de Psicologia do Trabalho que estamos adotando é um semido de origem, ou ain- da, de causa. Quer dizer que uma parte si va dos fendmenos que a psicologiaestuda provém, rem, sua determinagio, éexplicada, no © pelo trabalho. Estamos afirmando que “para ‘ompreender-se a psicologia, preciso compreen- der o trabalho”; que o trabalho é um objeto de esta ‘do necessirio para se compreender ofendmeno ps. colégico, assim como, por exemplo, a psicanilise afirmou que seria preciso entender a sexuatidade para se compreender a dinimica psi 4s, mais do que um exemple, afirmamos que o ta batho é tio importante quanto asexualidade na cons twugio da psique de qualquer ser humano. (Quando Freud afirmou que sexualidade cons titufa a nossa psique, anunciow uma descoberta que poderia se formulada asim: para que. ser huma no seja de fato um ser humano, ele precisa se repro dduzr, sua espécie precisa continuar existindo como tal, portanto, precisa lidar com desejos, erotismo, amor, sexualidade. Se compreenermos © mode ‘ome o ser humane reprodua si mesmo, compre enderemos muitoa respeita dele mesmo. A histria ‘vem demonstrando que tal hipstece & cornea 218 Zanel Andrade, Bastos & cols. Estamos dizendo, mulatis mutantis, a mesma coisa: para que um ser humano soja de fato um ser hhumano, ele precisa produzir 9 si mesmo, precisa continsar vivo para que continue a comporta-se e ‘de modo poder ser estudado pelos psiedlogos, pre cisa comer, beber, vestir, mora Ora, nds, seresh manos, fazemwos isso por meio do nosso trabalho; sobrevivenos porque trabalhamos, portato, secom- preendermaso trabalho, saberemos muito maisa es peito de nés mesmos. Tal como a psicologia pide ‘cravar sua “origem” na sexualidade, poder cravar sua “origem’ no trabalho, buscar nele as causas dos fendmenos que estuda,e pelas mesmas raze. © lugar do trabatho Tudo isso earece de demonstragig. Para tan- to, seremos obrigados a passear alhures, Baseadas nos modelos importados de outras cincias, as primeiras tentativas de se entender 0 s0- frimentopsiquico buseavam encontrar flores exter nos que aingissem o sujeito provacando problemas Entretanto © desenvolvimento da psicanslise, do behaviorismo e da gestalt, do inicio 8 metade do sé- ‘culo XX, ensinaram a nds que, em psicologia, sim. plesmente, no pode-se pensar somente em fatores exlernos. Porque, para a vida humana, nada pode ser consideradoexterno, ou melhor, tudo imporiana exa ‘medida em que se inlernalia pela ago humana, As sim, uma luz vermetha para um ser hurano ro um fatorextermo, é parte de uma drvore de nal, um si nal de semforo para parar no cruzament, dade um passageiro para aeromoxa ou do paciente re hospital. Ou sa, sempre tz um significado se incorpora A vida, e hi que se compreender no 0 efeito da luz vermelha (do fatorexterno) ao sistema, mas como 0 estimulo foi incorporado ao sister Enquanto a luz vermelha for apenas ela m ‘ma, no tem interesse ou possbilidade de ser estud da pela psicologia, Bla passa a interessar no exato _momentoem que compoe um lugar no horizonte de significados humanos, quando a. ago humana a ex: pulsa de sua materialidade fisica ea preenche coma materialidade social - apenas af a luz vermelha trans forma-se em um objeto para o ser humano, Assim, a sia observa luz vermelha no que esta tem de igual asi mesa, ea psicologia interessa-e por elaexata ‘mente no momento em queesta passa a ser diferente de si mesma. E preciso no apenas que viros sign ficados sejam construidas, mas também que eles mmesmos modifiquem-se pelo exercicio da aco dos homens e/ou decada homem em particular. Giannot (1983) ensina que um objeto, para as ciéncias fis is, ¢ igual asi mesmo, enquanto nas ciéncis tsma- nas ele diferente desi mesmo. Assim, se um fisico quiser estudar a fuz ver rmelha de nosso exemplo,fard um esforgo conceitual para “apapar"o que houver dediferengas entre una Juzeoutraecompreenderi o que restar-hes de igual; ‘0 psicdlogo, por sua vez, interessaria saber por que ‘um individuo passou a ter medo dessa luz vermelha depois que sua mie passou maus bocados dentro de uma ambulineia. Todo torna-se singular, eada luz vormelha interessa a medida que se tornou dife rente da outra, cada observador interessa, também. ‘na medida em que 6 diferente do outro Eis uma pergunta seminal para a psicologiar ‘como as coisas migram de um objeto natural para ‘um objeto humano (social)? Como deixam de de finir-se por sua mesmice (iguais entre si) para o serem por sua individualidade (diferentes entce si)? A resposia€ uma s6: a coisa socializa-seedife- rencia-$e pelo trabalho. O trabalho humaniza a coi (0 rabatho transforma o minério de ferro em vidide na construed do automével; a madeira se transforma em estiio na montage dos méveis da casa; a terra, em gentileza na gastronomia. Cada pedago de fer, de madeira, cada frutaserd out, Sempre outa, pelodo trabalho. trabalho permite, ‘constr e expressa 0 individuo. Como fazer psico logia, come entender o individuo na sua auséncia? ‘A mesma conclusio impbe-se se estivermos falando de grupos, de gneros, de classes socias, de faixasetarias, Um grupo, qualquer que sejaete, permite-se entender, consttGi-se © exprime-se mi cexata medida que interpée o trabalho entre a natu reza ¢ 08 homens. Em outros momentos deste texto seremos obrigados a volta esse eterno espelhamento que canstitui a psicologia. Por ora, bastam as Tinhas anterior para deixar claro sobre o que estamos fa Jado quando denominamos este exercicio cient fico de Psicologia do Trabalho: trata-se da espe- ranga de que o abalho seja capaz de ajudar-nos a ‘compreender o ser humano,tarefa, porsua vez, da prépria psicologia. Ou, talver, mais que isso Isso € Psicologia do Trabalho porque acreditamos que sem o trabalho & imposstvel fazer psicologia, ‘Assim, a Psicologia do"Trabalho é uma abords gem que tem como foeo principal 0 estudo e a con. Psicologi ‘cepgo do trabalho humana em todos os seus signifi ‘eadose manifestagbes (Lima, 1996), eem diferentes contextos. A inguietagio dos alunos de uma ereche Psicologia do Trabalho aa medida que esse comportamento interfere narelacao da erecheira com 0 seu trabalho; as neuroses © psicases com as 4uais © psieSlogo clinico lida imeressam & Psicolo. ja do Trabalho & medida que inviabilizam o labor de quem sofre, ou porque o labor pode explicar tas sofrimentos, Enfim, © rabalho estaré onde 2 psico Jogi estiver. Como pode ser visto, Seus limites $0 bem extensos e sua preacupacio hisica 60 entendi mento das relagbes entre trabalhador-trabalho-sauide ‘mental em toda a sua abrangéacia, buscando com preender interfaces, ondicionantes,determinantes consequéncias desta relagio, para que seja possivel imervir sobre o probleme Saude mental ¢ trabathe Para: sade ment cidade de amare de trabalhae”. Nio pr lista para coneordar com iss, ca ivesse eseutado falar em psicologia,con- cordaria que estas sao as duas grandes reas na vida {deum ser humano adulto:o amor, traduzido nos afe- tos, nos amigos, na familia € no erotismo, eo raba- lho, na profissio, no dinheiro, na classe social, ma produgio, no consumo, entre outs Flores. De for ‘ma ampla, nada ficou de fora: amare trabalhar rest ‘mem vida adult, Pelo amor reproduzimo-nos, pelo trabalho produzimos ~ produzir e reproduzir exph ma nossa existéncia. Se € uma proposta da psico- logia entender o individuo ¢ enfrentar 0 sofrimento psicoligico, adoensa mental, os dstirbios psicol5- Bicos, ov qualquer outro nome que queiramos dar a testes Fenmenos, entio, o problema da psicologia trabalham; em seguida, teri de propor modes saudi veis de viver, ou seja, de amar e trbalhar. Simples de dizer, mas complicado de fazer. Em outas palavras, se, por uma Logica inversa, a doenga mental 6a incapacidade de amare de traba Thar, enti, &0 prprio amor e/ou 0 trabalho que se presentam com problemas. Assim, ser preciso pro ‘curar na prépria dinfmiea da vida os problemas ou ‘os distisbios que a vida inventou. Fistma das importantes que sabemos hoje sobre sade-e docnga rental. (segundo ensinarento que a psical se, eque é praciso destacar aqui, 60 seguint: ala- mos em satide mental quando somos capazes de amare trabalhar; foenga mental” (to mando emprestado o termo da medicina) quando uma ou outra, ou ambas,estiver prejudicada. Isso porque se sabe que a capacidade de amar interfere Imediatamente na capacidade de trabalhar e vice versa, ou seja, quando estamos incapacitados para 6 trabalho, nossa capacidade de amar também de- teriora-se, Por que € assira? Porque a0 produzir estamos reproduznulo, @ a0 reproduzir estamos pro- dduzindo, ou, ainda, amare trabalhar compoem um nico sindnimo da propria vida humana. O amar e 0 trabalhar sio partes indiferencisveis de lum mesmo sistema, um se retroalimenta do outro; para produzir,é preciso reproduzire vit “Maturana (1998) perguna-se sober Vida, ow ainda “que classe de sistema 60 ser vivo", € conclu que “o sentido da vida de uma mosea éviver como mosea, mosquear” (p. 12}; “0 eachorro & um cachorro a0 cachorear”,¢ que a vida & um sistema aulopoético, ou seja, um sistema cuja fungio 6 a de ‘manier as mesmo, O que a vida quer & continua exis tindo, coninuar vivendo. O que precisamos fazer 0 {tempo todo, poranto,€ constuira nds mesmos, man {era si mesmo é igual a construira si mesmo. corre que, ao falar de humanos, 0 individuo nto se realiza em si mesmo, ele somente se consti {quando se espelha no outro, no grupo, na socieda. de. Um pai nao constiui-se enquanto pai sem 0 tho; um professor, um homem, ura brasileieo, sem pre reconhece a si mesmo, delimica-see se const fem confronto, no cotejo, no acoplamento com 0 ‘outro, com outros pais ¢ filhos, outros bomens € mulheres, outros brasileiros ¢ estrangeir Chegamos, assim, a uma outra definigdo: sade de mental a capacidade de construr ast proprio fe A espécie, produzindo e reproduzindo a si pro prio ea espécie. Distirbio psicoldgico, sofrimen lopsicolégico ou doenga mental to dessa capacidade ‘Como se viu, os dois eixos centrais da pro- o de si mesmo so a reprodugio € a produ 0, 0 amor € 0 trabalho Sabemos muito mais sobre os mods de amar do que sobre 0s modos de wabalhar: Durante muitos anos, areditamos que dificuldades com a “capaci joo rompimen dade de amat” aviam problemas 3 “capacidade de 280_Zanclli, Borg trabalhar acreditivamos que 0 ia verdade, ou sea, o fosse apenas um sinto ma. Se voo8 dissesse a um estudioso de psicologia {que um individao sofriaafetvamente porque tev, durante apenas uma vez na vida, um evento trum ticolipado a sexualidade, no seria questionado; mas se dissesse que uma atividade desempentada pelo ante oto horas por dia, cinco dis po 30 anos (0 seu trabalho) poderia quico, onossoestudioso aia tal afirmayio. Isso porque havia muito mais cevidéncia sobre a primeira situagio, mas poucas e muito questionadas evidéncias sobre o papel do tra- batho no sofrimento psivoligico. Naquela époce, parecia aos psicélogos que fs afetas primirios tinham a chave de q sofeimento ot Felicidade do ser hummano,em qual quer idade. 34 sobre 0 trabalho, pairou 0 véu da silencio, Estudava-se muito a respeita de como a Psicologia pederia contribuir parao trabalho, mas sada sobre como o trabalho poder preender o ser humano. Por isso, e com razio, a Psicologia O ional edoTrabaho foi eleita como itsinsecsmente reacionaia, a Servigo da exploragio do trabalhador fem nome do luceo, Em que pese 0 maniqueismo ingénuo dessa foerulagio, ela se justiticava, uma ver que o sujito rabalhador desaparecia das ans lises sobre o trabalho. Ora, se homemoua mulher que ali estavam subiam que o trabalho € sindnimo daidemtidade do homem, e que a psicologia que ali se praticava facia questio de podia dar certo (Codo, 1984). {deum lado, como jase viu, imenso potencial que o trabalho tem como pro motor da felicidade, do prazer;ignorou-se a cape: cidade que ele tem de trazer sofrimento,¢, acima de tudo, perdia-se uma chance enorme de explicar (0 que 0 ser humano € a partir do que faz. O ‘bohaviorismo tentou isso e fi criticado por fazer sua teoria a respeito da agio do homem despa: do da historia. A Psicologia do Trabatho tem a chance de inserie ¢ compreender 0 gesto do ho- ‘mem onde ele sempre estev da vida, no seu trabalho, ord-los, esta no no fazer cotidiano md um sujeito possui dor de desejos, ¢ seu universe de atuage vai na ditegio da compreensio desse syjeito na sa rela 0 com o trabalho, na perspectiva da sua sade € bem-estare nfo na busca dreta de maior produt vidade ou lucratividade. (0S Mobos DE FAZER SAUDE MENTAL E TRABALHO Jai vimos que a Psicologia do Trabalho é uma frea jovem. No Brasil as publicagdes comegaram a acontecer em meados da d&cada de 1980. Lima (2003) fex uma sietese destas publicagbes, apre- eguir no Quadro 8.1 No Brasil,comegaram entio ase configura abordagens mais freqientes ¢talvez mais proficuas ide Mental ¢ Trabalho: estresse, psicopato logialpsicodinimica do trabalho ¢ abordagem epidemiatigica. Vejamos como operam estas trés Formas de ahordagem sobre o mesmo problem: Toorias de estresse Voc® ji ouviu pelas ruas o termo estresse poderia explicar do que se trata de uma forma muito préxima dos cientistas,sendo algo tl camo ‘o grat do desgaste total eausado pela vida” (Sey 1965). Por outro lado, voc® sabe também que trabalho pode provocar estresse. Muit sas aburdando muitos trabalho dh pesqui rentes Se tans formmarara em lugar comurn, nos dias de hoje (0 termo estresse popularizou-se a partir de seu uso na medicina, de tal forma que ninguém desconhece ou deixa de usi-lo em algum momen: toe com os mais variados significados. A impre cisio do termo nio & a marca apenas do seu us0 popula, mas tambéin ocorre no seu emprego na produgio de conhecimento cientfico nas varias reas que o adotaram, inclusive na psicologia. A Sefinigao precisa da fisica (da qual 0 concesto se origina) reere-se a uma forga de resistencia iter- na oferecida pelos materials sOlidos ante a forgas externas (cargas), mas esta mo se mantém nas ‘utas reas que adotaram 0 conceito. Na medici rae na psicologia, assim como no seu uso popu ar, estresse aparece tanto para denominar condi bes externas, ou uma forga imposta a0 organis- ‘no, como para fazer referencia is respostas desse mesmo organismo ante a estas Forgas, 0 que esta ia mais proximo ao sentido original Adifusio do termo veio tanto parao bem qu tw para.o mal. Por bem, devemos a pesquisa sobre estesse a popularizagio do problema desagde men- talno trabalho; alsm disso, os homens comuns pude- ‘am tavar comtatoe de eetta forma lidar com 0 pro- blema, wriscar, ainda que de forma tei Psicologia, Organizagées ¢ Trabalho no Brasil 281 ——_____2iicolotia, Organizagoes ¢ Trabalho no Brasil 281 QUADRO 8.1 Public 1886, segundo Maria Elizabeth Aniunos Lima 1988 Ein sdde menial no Basi 1960 ‘Gd mental no Bras, 1909 1998 1995, 1996 Nava Babe Ant Ace lini estreve Subterinaos do tatatho, ‘oo Ferroia 38 Sv {¢40 uo trata @ sotimento psiguiso Wianvetey Coso organiza Bera 0 campo da sade mentale trabalho Le Heeique Gorge, Mala dos Gr Aéstico. Por mal, porque esta vulgarizagao acabou atingindo de slguma forma a peépria pesquisa ci entific e tra de feral formando.o conceit em umaespcic gica que tudo explica¢ do resolve tudo provoca o estresse (a rotina do talbalho muito simples, a complexidade do abalho muito comple. XO, cf.) ¢ tudo resolve o estesse (massagens, con ‘versas, chazinhos, meditagdes), Existem, no entan to, no interior deste quiproqus, pesquisas seias & boas conclusses a extras. ‘Uma das altemativas para escapatr das limi tagdes em estudos de estresse ede conjugar 0 ca Ceito com variaveis mais complexas e definidas como, por exemplo, no trabalho de Sonia Regina ‘na Baia (Fernandes. 2002) Apesar de algumas aplicagses do termo gsltesse na medicina datarem do inicio do seculo XX, foram os trabathos de Selye, a partir de 1936, Solgman escreve um eapiiso sobre Sate Mental @ Taba Edin Seligman escrave outro capt sobre o os Lima excreve Os oguivacos ca acacia no © Siva dar Oraanizapo do irabalho 6 aude ~ mutpiasrlasoos, | es aso Wveram maior reperousslo om Sale Meriale Vabalnoapori-do] ema para acoleténoa Citadenia# loucura —poicas de Wanderley Codo, José Jackson Sampaio Alberto Hams pubicam Inve, trabalho e sotrimeno, Edith Seligman escieve Dacgaste mental do rabelhe doninad “aquoline Titon escreve Subjorncace 6 tabaino, Maria Inés Rosa oscreve Trabalho, subjedade poder. \Wanderey Coto ¢ Jose Jackson Sampao organizam a cllanea Sorimetopsiquico nes organicagdes Lys Esther Rocna compte ase de dutorado Estraseo oeypacional am profesonais de merece oe) & dados: contigs do trabaino w reporcussées na vita @ sade dos anise de stone ‘Sei Uchida compo a tese de doutorado Temporal ‘Leda Leal Fercra @ Aparecida Mari Gui escrevom trabaino dos pettolaioa = porgeaes omepuxo, 0 © subjetviaas no irabalhoinformaizado. snows formas de sodug0 na emprasa ~imaginari teanoegion no coidano igaizam a coletinea A danagao do trabalho — organiza: coletinea Edveaeao, crinho e trabalho. Debora Gina 6 ys Esther Recha orarizam a coltanea Saude Metal e trabalho: desafos © souqoee E langage oprimeiro narero de revisla da Foderagaa Nacional dos Psicslogos,wllade wicloenn og Mari da Graca Jacques © Wandestey Codo orgaizam a coleténen Sade Menta! e returas is Barbosa Gouart organiza a coletinea Piccogia Oranizactona do Trabao: teen, paequisa © 6 Marstola Datbollo Araujo organizam @ ccletines ‘gue deram visibilidade ao fendimeno. Este passou entdo a ser tecanhecido na medicina ¢ na biologia, €. depois, a ser empregado também pela psicolo. Bia. O eslresse, “sindrome especifies, consttuida or todas as alteragdes nio-especifieas produzidas ‘hum sistema bioldgico” (Selye, 1965, p. 63), foi ‘demificads pela suas virias manifestagoes fisi legicas, mas sem causa detinida. E & justamente ‘esse carter inespeciico presente na definigao do estresse que explica a do conceit ‘que pide, por esta razio, ser empregado nas mais ‘ariadas circunstancias (Codo e Sorato, 1999), A explicagio para a ocorréncia do estado de respeito i nevessidade de oo ajustamento do organismo frente aS presses do meio com as quai este se depara, Essa sindrome de adapiagio manifest-se em tes fases: a reac de alae diante de um agente agressor are Bomges-Andrade, Bastos & cols. sisténcia € a exaustio, As duas primeiras fases seri= ‘am comansatodo ser humano ao longo da vida, pela ddemanda constante de ajuste is atividades e necessi« dade de resisténcia aos infortGnios da exist Entlo, ninguém pode viver sem nenhum grau de estrese, porque qualquer tividade e qualquer emo- $80 si0 eapizes de provoes-lo, O conceito de estresse, que inicialmenterefere-se &reagio dos te cidos frente a agentes fisicas agressores, pode enti ser transportado para tates outros dominios, inl sive para as situagbes de trabalho. As defnigSes de esresse como “adaptasio as tensies e presses a existéncia enidiana” e “prau do desgast total cat sado pela vida" (Selye, 1965, p. 14) abriram caminho para scus varios empregos no campo psivolbgico. Napsicologia ena psiquiatria, fo somente aps 4 Segunda Guerra Mundial que 2% pesquisas sobre estresse tomaram-se visiveis e apareceram em tah Thos na literatura cientiiea ~ muitos de seus stores cestimulados justamente pela experiéneia da guerra, ‘como Kah, Wolfe, Quinn, Snock, e Rasenbal (1964), {que estudaram estresse a partir de fatores como an bigtidade e conflto de pape! e sobrecarga. Che (1991) apresenta um modelo que inelu dlividuo-Fatores rganizacionais como um possive rador de estes. Esse maxi baseia-e na nog0 de se como urn incentivo ambiental que inicia urna ein de respostis,€ conduzem para ins patolgicos(Ganstere Schaubrosck, 1991), Numa tereiraabordagem, Karasek (1979) apresenta Ccestresse como um desequilfrio de demanda-recur useja, um deseqquilorinentreo que éexigido: olerecido com relaglo & demanda Apesar das diferengas, essas conceituacies recem convergir no sentido de ajuste, quer na o individuo-ambiente de trabalho, quer na relago demanda-recurs0s, sendo o estesse o te sultado de tum estado de desequilibrio, ;preendido como reagio ante as ermedidrio ene a saide ea doenga,pas- um possivel indicador das conseqgacias alho sobre os trabalhadores, que podem es tar sofrendo em decorréncia das condigbes ¢ cara teristcas de sua atividade, sem necessariamente apresentar nenhum quadro patol6gic def Trabalho e Circere: wn esta com ros de Sade Pabdica mailjnho de 2002, v.18, m3 9. 807-816. “Muitos estudos sobre estressetém sido reali -zados para identificar quais condigbes e caracters ‘icas do trabalho (efou das organizagées) concor rem para a produgio desse estado. Tais estudos, apesar de pantirem de modelos tedricos diferentes. ‘tém em comum a definicio de estresse envolvendo sempre: um estimulo externa, provduzide «partir das situagdes de trabalho; respostas psicoldgicas frente Aqueleestimalo, euma gama de consequéneias, nas {quaiso bem-estar do individuo ests envolvido. Além disso, todos concordam parcialmente com a idéia de que a relagio entre estimulos externos cestresse pode ser moderade por earacteristicasindividuaise Situacionais (Kahn e Byosiere, 1992). ‘ incluso dos estressores oriundos do traba- lho ede possiveis moderadores num mesmo modelo permite avangar na compreensio das ligages entre trabalho e estresse ede suas consequéneias para ou tros aspectos da vida do individu, bem como para ‘organizagio de trabalho, Os avancos nos modelos estatistcos, ointeresse no pape das varies mode radoras ¢ os estudos longiadinais permitem tear hipsteses que no poderiam ger contempladas sem esses recursos (Holl, apud Guimaraes e Fadden, 1999), Apesar da perspectiva promissora, tals mo- delos tém limitagées, pois nenhum deles consegaiu Incluirtodos os conceitos ¢relacionamentos qu per mitiram compreender-se a origens naturezas econ. sequncias do estesse grado na (Kahne Byosiere, 1992). Aindaassim, oinvestimento na sistematizacio dos achados empiricas representa tam passo importante na busca de suprt @ caréncia de explicagdes eausais, fundamento da possibiida de de intervenso psicassocial, Para melhor exemplificara teoria ea metodo- logia com relagio ao estresse, serd apresentad: ‘qe causue problema sii. ele quer inervi sistema operacicnal ura qu ete vole arent eno do padrip aneriorment estado.) Gs ta. como qualquer wri, de poder conto 0 Puador pa conor ansiedade que avn da de mea ik no ia do que maquina va sla rave. Uchida mostra a ansiedade do analista ante a resposta do computador, introduzindo a falta de con- 288 _Zanelli, Borges-Andrade, Bastos & cols. role sobre o wabalho através da imprevisibilidade «a resposta da miquina. Em seguida, raz para a dis ceussio os efeitos do trabalho sob 1 subjtividade caso, 0 modo de pensar do analista que se trans forma nesse ancontro com o tballo, Citandoo ta balho de Redocehi (1990) Se estas careteitcas [a meme prota do possbiltam entender as projegdes nuupomefiens sabre o computadr, eta memoria poteacaimente preduiva pode susear, ao mesmo tempo. fanasias persecutrias, fantasas de pera de contoieeperiga. Por ue nt acore? Ln A partir da fala dos wabalhadores. emerge a fonte do conflito que provoca o sofrimento: [1 Bsts erganiragio de wabatho € extemamne Invasive, ponewando na vida puvata do iadifauo. A vivdoca da pore do rh, 0 prio cas ‘un ce sisi cme fo problema, ou seja limrevisi dodsp > sofrimenta alvindo da ade da rodigto€0 sofrmeno egies blema dos limites. Em dois niveis ele deve dizer no io aividade memo que voila prazeosumet Tssorecoocaa prog con rao decjo de eater, poencilizado pelo coats dor alta pra contro vargas ca cranizgto 30 Ie a sua vida pessoal} (Rebecchi, 1990) | Outro axpecto que merece destaque dz respet ‘0 8 sua proposta de relagio entre 0 softimento e 2 is coletivas de defesa. As esratgas cl ‘as de defesa transtormam a percepsio da realidad, -mascarando o sofeimento, impeding 2 as pressbes patogénicas do trabalho ealimentando resisténeia & mudanga. No caso dos analistas, uma ‘estratégia de defesa coletva contra sofrimento de corrente da monotonia da espera faz com que eles prefiram a fase de implantagio de novos sofowares, Aapesar desta fase provocar um segundo tipo de soft mento, que € sentido pela invasio na vida pessoal Dejours resslta este aspecto como a possibilidade {douse do sotrimentoa favor da produtividade (1994): idade da producto &iasensanente de 1 odos os que ncn esto envelvides, 0 spor uma demands dst, ts porgae, 0 mes temp, significa protego pues. Quanto mai <> layed epevisvel foro processo, mais Seguro sente se o alist 1 corrente mas falas destes oto Gie passim & senlr quando tabalham somente na Tanitensio dos proesiosexistentes. Logo, a aber tra para a implentagao [de novidades, sea do 00 on softwates cw de noves procedimeto, & vita ‘oma alge catimulantee motvante (1) Bsse caso evidencia a estratépia de privilegi odiseurso do raba omo portador de ur sa ber sobre 0 vivido que deve ser elaborado. Ade ‘manda deve partir sempre dos trabalhadores, tal ‘como acontece na clinica individual. A intervengio 6 vista como possivel apenas a partir do reconheci- mento desse sofrimento pelos priprios tabalhado- res. O tipo de intervengao prevista nesse modelo cconsiste na realizagio de um trabalho em grupo sobre as vivéncias do sofrimento. A escolha do pro: cesso grupal justifica-se pela necessidade de climi- narent-se as idiossincrasias sempre presentes 90 sofrimento, que & em kia instncia, uma vivéncia individual, No processo de elaboragio grupal, cuja partcipagio deve sr sempre voluntéria, as marcas ingividuais seriam minimizadas pela elaboracio do ‘conjunto dos paticipantes, O objetivo desse esfor g0 6 delimitar 0 que no sofrimenta, que é sempre Yivido individualmente,origina-se de uma situacao uc atinge o grup balico, que ceorre por meio do discurso s vivido pelo trabalhador, tem o estatuto de interven- ‘na medida em que & uma contribuigio para di ‘a alienagao do trabalhador, que entao pode dde nave perceber-se eoxno sujeito da sua propria historia, ov seja, naquela situagio de trabalho vivenciada pelos tabalbadores. Nesse caso, a mu: danga passa nso necessariameate por uma interven {elo macroscocial, mas ocorre a parti do campy rmicrossocial ocupado pelos trabalhadores. ‘Meesmo que no sejasuficienteo recurso do dis curso do sujeito para compreendero homem no ta ball, é certo que os estados de Dejours represen tam um esforgo importante no entendimento do so ‘mento psfquico no trabalho e na relaglo sade me tal trabalho, a partir do referencialteérico psica tsa, © que 0s diferenciam das demais abordazens. Algumas das eategorias eriadas no desenvol vimento dos seus trabalhos 108 importantes no campo Satide Mental ¢ Trabalho. Alguns pesquisadores brasileiros vém descnvol- ‘vende traballos a artis desses pressupostos. apli- ceando essa metodologia integralme eu em ps ‘u, ainda, apenas se inspirando nessas formu Abordagem epidemiotogica sou diagnéstica A abordagem epidemioligica em sade men: al €herdeica da logica de epidemiologia geral. que como preocupagio bisiea a producio de co ijamento de agies de politicas de saide ea pre ‘encode doengas. A epidemiologia parte do pres- Suposto da multicausalidade das doengase vai em usca de sus determinantes. Eherdeina,< manta feel, meoxologia empregada por Le Guillant,e busca sua teorizaio em Leomtiev © Marx. A preocupagio com estodos dingnésticos de surge no final de século XVII com Bernardino amazzini,sendo dele a conhecida frase "é melhor prevenirque remediar™ Raman pubicoem 1700 vu As doengas dos rabalhadores, no qual are sentava oestudo dk as pofissionais. patologias de mais de 40 catego. Apesar de se reconhecer as relagSes estabete sidas entte trabalho e side desde os egipcios, es quer pela determinayio do saber espeetfco, quer pela pritica, so comegam a ser tratadas de for ais objetiva apés 2 Revolugio Industrial, dev pesessidade de manter-se umn pad de proxlugis sem perda de mao-de-obra, muilas vezes conside radia especializada poles pares da époea,e pelo ‘crescimento demasiado dos cents urbanos. Assim. 1 Revolugao Industrial ue so refere & dade tr sou um outro capitulo no de polos industria v p ida des, em fungio da rural para os centros rb dalismo, Aqui, to jetta de migraco do m partie do fim do fe a-se impossivel discutr proces nfocarse centralmente lars, porque foi a partir dele que tal te mais se desenvolveu No campo de Salle Mental ¢ Trabalho, Le Guitlant foi pioneito ao anieular os aspects sociais Ascondigies objetivase subjetivas do tabalho ef {os elinieos na busca dos possiveis determinants do sofrimento psiquico neste Ambito. A eoncepxio de trabalho compativel essa proposta tem sido encom trada em Marx cem Leontiey, para cs quais 0 wab- Thovatividade aparece como fator de construgao da a, Organizagées ¢ Trabalho no Brasil 289 individuaidade do sujeio, senda elo entre sei Sociedade. A concepgio marxista de homem per le definir a subjetividede como produto da relaglo do individuo com o mundo conereto, A psicopato Toga s6 pode ser decifrada se emetida 295 vineulos coneretos do homem na vida. As doengas seria conseqiléneia da lgica da produgio capitalist En Uo, a partir de Max faze necessirio reconhecer a natureza sociale histrica do processo sa-ude-doe! ‘g2.Codo (1994), por sue vez, parte de uma definisio. «do psiquico do individu como um produto social em que a individualidade & construda socialmente Nocampo da Sade Mental Trabalho, a partir destes referencaistedricos, retende-se compreen Adler os efeitos do vabalho com as earacersticas do {que 0 modo clog capitalists engendra, tas ‘como a separago entre produtore produto, pela vet dae compra da forga de trabalho. Tal base testica, por sua vez, ob posighes metodaligicas 29s estudos Hadeserevercrticamente antitaivistas, como os ligados a estresse, ¢ igualmente og qualitativistas, como & psicandlise aplicada de Dejours; hd de se conside fro mo um fenGmeno objetivo e sub: Jstivo, valendo-se, portanto, tanto de estraté semiclinieas como de insirumentos de avaliagao baseados em es ¥s psicométicas, necessiria uma metodologia de inves- tigagio que permitaidentticn tho sobre a sade mental, multicausali os efeitos do traba alo como pressupento pedo de um homem scio-histrico, na qual fatores econdmicase so ais, além dos individuais, fagam parte da investge ¢40. A metodologia de investigagdo deve ser erdisiplinar, deve reconstrai a toalidade sign iva e resptar ahi A metodologia compativel esses pr Postos deve investgar condigies objetivasesubje tivas do trabalho, oque exige ocruzamento deuma estratgialigada& (a) organizagio de trabalho (ob- Servagio diretac entrevistas sobre o trabalho); (b) umma metedotogia ligada a estodos epidemioligicos {levantamente de problemas de sade mental et balho por meio de um inventiria psicoligico d senvalvidoe validado pelo Laborato de Psicolo- alho-LPT/UnB) uma metodo Bessa press giado Tr x mesmo tempo. (¢) clinica (estas de caso) orma,o estudo divide se em ts gran des momentos, que na verdade enfocam 0 proble No primeito 290 Zanclli, Borges-Andrade, Bastos & cols envolveratividades mento aprotund- do do trabalho da categoria, seu eotdiano e as re presentagSes que o trabalhador faz de si mesmo, ‘Trata-se, portanto, de uma visio da organizasso, Pela qual o trabalho seréanalisado em seus aspee: tos estruturis, Nessa fase, procura-seapreender as pectos da cults organizacional,estruura e funci- ‘onamento, além de proceder-se a andlise de tarefal \senho do trabalho, dos cargos ou das categorias Funcionais que serio objeto do diagndstico. segundo momento, definido comaepidentio- ‘geo, por meio de medidas quanilaivas,comaincl so deescalasrelicionadas ao trabalho em siede per- ‘sonal, softimento no trabalho on satide ger pro- cura-seabter perfil da categoria, para entao anal Jovemrelagio aos dadoscolhidos no primeira momento «enti, instrumentalizar 9 trceio momento rmiomerto,faz-se novessirio des «que veaham a embasar um cont No terceirw momento, por meio de uma meta ologia clinica com caracteristicas de estudes de caso, procede-se o aprofundamento do diagnstico. Esses trés momentos podem ser melhor Visualizadas, a seguir, no Quadeo 8.3 ‘A seguir no Quadro 8:4 apresentamos a pos sibilidade de organizagio de um instrument di agnéstico que tem como eritério a associagao in tegrada do trabalho passando pela Légica social, econémica, pessoal e clinica, Algm destas escalas, oinstrumento diagnést © levantamento de dados demograficos ‘como sexo, ise, estado civil ena familiar e 53 liriotenda pessoa, cargo, fung3o, tempo de servi ¢0, bens, ete. No Brasil, stualmente, essa aborda sm pode ser identificada nos trabalhos de Maria Elizabeth Lima, Maria da Graga Jacques, Wanderley Codo, entre outros >natise cbjetva do wabaino 1 momento Andlse sbjetva do abana 2 memento 3 memento QUADRO 8.3. Recursos operacionais do modolo ledrico (Observagio do trabalho, ragieto da observa (a andliee documenta nalise do taretas Irwentiroe do condigdes de trabalho © sais Erirevitas,eetudo de caso Trabalho Homem-natureza Contre Signiteado do tabaiho No Tabane a vga extratravano Homam-sociedade eiaoos soca de proaigto Homer-Hemem vrabaino Carga mantal no taba QUADRO 8.4 ‘Modelo esquematizaco do inventario de investigagao DIT-Diagndstico Inlegrado do Controle tina Importinsa cociat do wabalho Sento do rabaiha| Relacionamanto com cologns Supon social Conttotabatno-tamia Sastagao Compramotiments Difeuidades Subjetvitae do rabainador Personaldadelsatrimento psiquice (alem das ‘escalastpioas do pereonahcade as escslas ‘de rico daquslacioniia espoctica) a, Organizagbes ¢ Trabatho no Hi it 291 Nos mesmos moldes das outras duas aborda- as anteriores, uilizaremos, a titulo de exemplo, um estudo que compe a pesquisa Perfil das era Inadores em educucao' para de cutir a metodologia diag boratério de Psicologia do Trabalho (LY versidade de Brasilia (UnB), primero pontoa ser definide a0 proceder-se um estudo diagndstico epidemiologico éa amostraa ser utlizada. No caso do estudo com os tabalhado- resem educagio, por ser um estudo nacional, o LPT

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