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artigos O perfil das escolas que promovem 0 acesso dos jovens a museus' Sibele Cazellie Creso Franco ‘© contexto atual, ganham relevincia questdes sobre a ‘demanda cultural para insercdona sociedadecontem- poranea, Nese sentido, um fator que pode favorecera ampliagdo € © aperfeicoamento da cultura ¢ 0 estreitamentodas conexdesentreaeducagioformalea ‘go Formal. Tal constatacéo nao reduz o papel fundamental da escola, mas. ‘ampliaa responsabilidade do Estado em fornecer meios que aprofundemo cconhecimento, pois o desenvelvimento dos individuos esta relacionados suas possibilidades e/cu oportunidades de atualizar oacervo cultural Todos esses pontos tém levado muitos autores a afirmar que 3 promacao da cultura é desenvolvids por uma rede de instancias culturais. Os museus, como ambientes que possibilitam intensa interacdo social e experiancias afetivas, culturais e cognitivas, vam ‘ocupanda lugar de destaque nessa rede, Come eles lidardo coma mudanga ¢ coma transfermacdo, uma vez que se deparam com profundos desafios culturais, sociais econdmicos? Certamente, deverdo definir mais claramente sua funcso social, Entretanto, diante desses desafios, outras questdes se apresentam: que papel terdo na producgo e distribuicao do conhecimento? Quais conhecimentos ou perspectivas devem ser priorizados? No centro dessa discussde estdo a dimensao educacional e,mais recentemente, a comunicagso, inerentes 8 relago entre omuseu e seus diversos piblicos, Ao longo dos anos, tanto a pesquisa como as praticas educacionais, ‘2 comunicacionais relacionadas as exposi¢des e/ou as atividades em museus tem se intensificado, configurando, cada vez mais, um campo de producao de conhacimento. Nessa via, estudos € estratégias tem sido utlizados na tentativa de disponibilizar 0 conhecimento cientifico, Resumo do artigo ‘Com base no lugar de destaque que (05 museus vém ocupando na pro: ‘mogéo cultural, este artigo investiga a existéncia de relacoes entre o ‘imero de museus visitados pelas ‘escolas municipais ¢ particulares do ‘municipio do Rio de Janeiro e seus ‘capitals econdmico, sociale cultural. Foram examinados também alguns aspectos associados as visitas e a0s ‘museus freqaentades pelos jovens. Para a realizagSo do estude, foi submetido um questionério a 2.298 ‘alunos da citava série do ensino fundamental ¢ outro a profisionais em uma amostra probabilistica de 48 unidades escolares. Os dados coletados foram examinades a partir de cruzamentos entre as varidveis selecionadas, indicando particular dades do acesto e da quantidade de ‘museus visitados de acordo com o tipo de rede de ensino, Palavras-chave cultura; museus; ovens; escolas. 2006 + Niimero 2 oO ‘oO oO yy de forma acessivel ¢ com qualidade para seus Visitantes. © desenvolvimento de novas audiéncias vem sendo considerado uma importante estratégia cultural para os museus e tem estimulado uma reflexdo constante sobre come melhor promover 0 acesso fisico a essas instituigdes ¢ 0 engajamento intelectual da sociedade nelas. Outro aspecto importante diz respeito & pluralidade das culturas urbanas, & sua variacao nos cenarios de interac3o social e8 emergéncia de novos padroes de gosto, oque tem se constituido em objeto de estudo da sociologia da cultura. Os recentes trabathos de Renato Ortiz (2000), Néstor Garcia Canelini 2000) ¢ Beatriz Sarlo (2000) sinalizam uma ‘alteracdo nos padres de consume cultural em virtude do impacto da globalizacao da cultura. Garcia Canclini ressalta a diminuicao de frequéncia a espacos pblicos relacionados a oferta cultural classica, em consequéncia das caracteristicas de complexificacao da vida urbana, como disponibilidade de tempo, dificuldades nes deslocamentos e medo da violencia urbana. Da mesma forma, Ortiz (2000, p. 211) argumenta que tanto a tradicdo como as artes ndo se configuram mais como padrdes de legitimidade no nova contexto mundial globalizado, Em suas palavras, J nd0 sto 05 valores ‘cléssicos! que organizam a vids cultural, mas quealgunsautores chamamde’cultura das sides, A arte de viver nfo toma mais como referéncio a alta cultura’, mas os tipos de saidas’reaizadas pelos, individuos. A oposicbo “cultura erudita’ versus ‘cultura popula’ ésubstituideporoutraosquessemmuite versus ‘9s que permanecem em casa’. ..] A mobilidade, caracteristca davida moderna terra-sesinaldedstincao. Mais especificamente, os estudos sociologicos Revista MUSAS cculturais que fazem analises sister @ das tendéncias gerais das praticas culturais dos indi a5 vivencias da cultura nos espacos-tempos ticas das polit juos, bern como os preocupades cam os usos @ cotidianos, apresentam, geralmente, uma tipologia das praticas culturais (Brenner; Dayrell; Carrano, 2005; Lopes, 2000) De modo geral, essa tipologia distingue, inicialmente, dois grandes grupos: praticas culturais €@ praticas de lazer e entretenimento. Incluem-se, no primeiro caso, a ida a pera/concerte de musica classica, balé/espetaculo de danca, teatro, cinema, smuseu/exposigae elivraria/biblioteca ~ considerados praticas de cardter classico (ou seja, da culture legitimade ou cultura cultivada) 18 as préticas de lazer @ entretenimento, também identificadas como indicadores de uma “cultura das saidas’, incluem: sair com amigos, sair para dangar, sair para almogar ou Jantar fora, frequentar cafés, ira praia, ir ao shopping, ja eventos esportivos etc. além das atividades que se praticam em casa, como ver televiséo, ouvir radio, ouvir miisica, ler jornais/revistas em gera Os dades levantados pela pesquisa Informacdes Basicas Municipais (IBGE, 2001) contrituem para 2 compreensio de um dos fortes motivos da baixa taxa de participacso em atividades culturais de ocupacso do tempo livre. Ao procurar identificar a infra~ estrutura cultural dos municipios brasileiros, considerando apenas cinco tipos de equipamentos culturais, aqueles associados 8 expresséo da culture cultivada, a pesquisa revela que as bibliotecas s80 05 equipamentos com a maior presenca municipal (79%). ipios brasileiros dispde delivrarias (43%), Issoevidencia que Além disso, menos da metade dos muni a disponibilizacao de livros por meio das bibliotecas & mais extensa do que pela rede privada de livrarias. J8 0 teatros estdo presentes em 19%, 0s museus ern 17%, ‘20s cinemas emapenas ax. Asaguir,apresenta-seoretratodadistribuicaode ‘equipamentos culturais na cidade do Rio de Janeiro, Apesar de ser um dos mais importantes centros cul- turais do pats, 0 Rionao consequiy ainda dar acesso & cultura de maneira equanime para seus habitantes.No tocante & distribuisao de equipamentos culturais as- sociados 8 expressao da cultura cultivada, a tabela 1 mostra que estao, quase todos, no Centro, Zona Sul, Tijuca e Barra ~ areas de maior poder aquisitivo. Quando © que esta em foco é a oferta de expresses culturais, a insuficiencia ea concentragao 1nd equanime do equipamento cultural afetam, em especial, as pessoas dos setores menos favorecidos do pontode vista socioeconémice e cultural. Nas areas fem que residem 75% da populacao (4.417.793 habitantes) do Rio de Janeiro (Leopoldina, Madureira, Maier, Ilha, Campo Grande, Santa Cruz, Sangu, Guaratiba, Jacarepagua ¢ Cidade de Deus), existem apenas 73 equipamentos culturais (13% dos equipa- ‘ments instalados). J o Centro, a Zona Sul, a Tijuca e 2 Barra, onde moram 25% dos cariocas (1,440.10 habitantes), dispbem de 483 aparelhos culturais (87% dda copacidade instalada).Em sintese, 0s equipsmentos associados 8 expressao da cultura cultivada se concentram nas reas menos populosas e mais, providas de capital cultural Questées e objetivos As questdes relativas& importincia dos museus na promises’ di enlira @ iass Terararies inaufclafehs w’iconcenijetto nde eeininie dos ecuipamentos cultura levar aindagar 0s museus, expresses da cultura cultvada, esti presentes na experitocinclvral dos jer? Guns sto as conden socio ii pieine o aeo tices museoligices? ‘eal dest tiga nesting anata do relocdes entree nimero de museus visitados pelas escoles muniipas e partculares domutiipio doo de Jairo o as varibveis relacionados: os capitis econémico social e cultural. Alem disso pretende-se ‘exarminar alguns aspectos associados as visitas e 205 museus freqdentados pelos jovens, “abela 1: Quantidade de mausous, cents eure, teatros, crema ebiblictecasna cidade do Rio de Janeiro, por ea ulturais Teatro Centro, Zona Sule Tijuca s° Leopoldina, Madureira, Meier e ha 8 Jacarepagué e Cidade de Deus ° Barra da Tyuca ' Campo Grande, Santa Cruz, Bangu @ Guaratiba © 7 92 ss a 4 ° 2 0 ° 4 ” ° 2006 + Numero 2 ™~ 72 Os capitais econdmico, social e cultural na concepgao de Bourdieu e Coleman (0s sociblogos Pierre Bourdieu (1989; 2001; 2001 ) e James Coleman (1988) introduziram coneeito de capital na andlise social para se referirem néo apenas @ sua forma econémice, mas também & su forma cultural e social, Esse termo da srea econémica foi utilizado pelos dois autores no estudo das desigualdades escolares, como metéfora pars falar das vantagens culturais ¢ sociais que individuos ou familias possuem e que, geralmente, os conduzem a um nivel socioeconémico mais elevade. A problemiatica que leva esses dois estudiosus a uma concepeae ampliada do conceito de capital evidencias repousa, fundamentalmente, sobr empiricas que apontam as limitacdes do conceito de capital econdmice para explicar plenamente aligagae entre nivel sociceconémico e bons resultados educacionais, o que os faz considerar que outras Formas de capital, tais como o capital sociale cultural, além de interagirem com 0 capital econdmico, contribuem diretamente para fortalecer essa relagao. Bourdieu ¢ Coleman desenvolvem o conceito de ‘capital em bases teéricas dstintas, mas compartilham concepcdes similares, particularmentenoquedizres- peitoaoconceitode capital econdmico.ParaBourdieu, ‘capital econémico (diferentes fatores de producao, _assimcomodinheiro,patriménio, bens materiais) per- rite que individuos e grupos elaborem estratégias para manter ou melhorar sua posi¢So social. Por sua vez, Coleman define capital econémico tanto como Fenda e riqueza material como em termos dos bens e servicos a que ele da acesso. Esse autor vé 0 capital ‘econdmicocomoumaparteimportantedarelacioque Revista MUSAS Une © background familiar as diferentes posicoes socioecondmicas. ‘Quanto ao conceito de capital social, Bourdieu diz que ele esta associadoaos beneficios mediados pelas redes extrafamiliares e as lutas concorrenciais entre individuos ou grupos no interior de diferentes can- pos sociais. As ligacdes estabelecidas ertre os indivi duos de um mesmo grupo nao sao somente advindas docompartilhamentode relacdesobjetivas ede espa: so econdmico.e social, mas também funcadas em tro- cas materiais e simbolicas. Ja Coleman define o conceito de capital social pela sua fungao, arqumen: tando que este tipo de capital ndo é um etributo dos individuos, mas um especto dependente do contexto eda estrutura social, isto 6, inerente a estrutura das relacdes entre dois ou varios atores. Para ele, esse conceito guarda uma relac3o estreita com 0 grau de integra¢do social de um individuoe sua rededeconta- tos sociais. O tamanho da redenao importa tanto, mas sima qualidade das relacdes quenelaseestabelecem, Em sintese, enquanto Bourdieu enfatiza os conflitos e as lutas concorrenciais entre individuos e grupos pelos diferentes espacos de poder, Coleman. destaca os meios pelos quais os diferentes grupos. sociais trabalham em conjunto ¢ as relacdes de reciprocidade e de confianga entre seus membros. Provavelmente, as diferencas existentes entre essas ‘duas perspectivas contém, de maneira implicita, parte das razBes que tanto levam Bourdieu a relativizar 0 papel da familia na mobilizacdo de capitel social como levam Coleman a enfatizar as relacdes internas 8 fa desse tipo de capital. come uma das principais fontes de mobilizac3o Enredadona malha familiar esté oconceito de ca- pital cultural de Bourdieu. No seu entendimento,oca- pital cultural pode existir de tras maneira os esta dos incorporade, objetivado e institucionalizado, No estadoincorporado, d4-se soba formadedisposicoes, duraveisdoorganismo, tendo comeprincipaiselemen- 108 constitutivos os gastos, © dominio maior ou me- ror de lingua culta e as informacdes sabre o mundo escolar. No estado objetivado, o capital cultural existe sob a forma de bens culturais, tais como esculturas, pinturas, livros ete. Para possuir 0s bens culturais na sua materialidade, necessario ter simplesmente ca- pital econémico, o que se evidencia na compra de fi vros. por exemplo, Todavia, para se apropriar simbolicamente desses bens, ¢necessario possuir os, instrumentos de tal apropriacao e os cédigos neces: sérios para decifré-los, ou seje, € necessério possui capital cultural no estado incorporado. J& no estado institucionalizado, ocapital cultural materializa-se por meio dos diplomas escolares. Notas metodolégicas Com relacéo & questio sobre as relacdes existentes entre.oscopitais econémico,secialeculturaleo ndmero de museus ou nstituicBes culturasafinsvisitados plas ecolas municipas e particulares do municipio do Rio de Janeiro, este artigo apsia-se em duas hipsteses: 1.0 capital social com © qual as jovens podem contar para interagir com os museus incl agdes de professores e escolas; 2.do ponto de vista escolar, a possibilidade de professores e escolas contribuirem para cestoque de capitais sociale cultural que viabiliza ‘0acess0 dos jovens és instituicbes museologicas ‘ mediads por aspectos das politicas culturais © ‘educacionais, que contribuem para aproximar ou afastar as escolas e seus estudantes dos equipamentos culturais Dados 0s dados utilizades sto referentes a um questionario contextual auto-administrado, aplicado aos jovens, 20s profissionais das escolas envelvidos com a organizacto de visitas a museus € aos diretores das unidades escolares. Acessados via escola, foram escolhides os _jovens da oitava série do ensino fundamental, porque essa série corresponde a0 fechamento de um ciclo. les foram selecionados a partir de uma amostra de escolas situadas no municipio do Rio de Janeiro. © plano amostral foi baseado em amostragem probabilistice complexa,envolvendo estratos, conglomerados e pesos _amostrais. A amostra final foi composta por 48 escolas (25 municipais e 23 particulares), 80 turmas de citava série @ 2.298 alunos, No contato com as unidades escolares, foram identificados os profissionais diretamente envolvidos com a organizacao de visita (81 professores e/ou coordenadores pedagogicos, responderam ao questionaric). Notocante os diretores, (48), trs nao responderam ele. Foram priorizadas as questées associadas 20s conceitos referentes ao padrao de acesso, 20 nivel socioecondmicoda escola, 8 disponibilidade de recur 08 educacionais/culturais escolar ea pratica cultural dos profissionais, Em relacdo ao padrao de acesso, apresentou-se 20 profissional envolvide com 2 erganizagio de visita uma relacéo com 0 nome de 18 museus situados no municipio do Rio de Janeiro. Com basenessa lista, so- licitou-se que informasse que locais a escola visitou, 2006 + Niimero 2 73 74 nos Ultimos 12 meses (referentes 20 ano de 2008), - vando em conta todas as turmas que os visitaram, € ‘nao apenas as da oitava série. Na sequéncia, um item pedis que nomeassem outras instituicoes museolégicas visitadas no constantes da relacao apresentada. No que diz respeito ao capital cultural baseado na escola, indagamos aos profissionais sobre a dispor bilidade no local dos recursos educacionsis/culturais: jorns revistas de informacao geral, revistas de di- vulgacao cientifica, televisdo, videocassete ou DVD, videos educativos, aparelho de som, retroprojetor, projetor multimidia, computador, softwares educativos e acesso 8 Internet. A disponibilidade foi medida a partir de duas categorias de resposta:sime ‘dio. Além disso, perguntamos sobrea frequéncia com que, nos.iltimos 12 meses (referentes aoanode 2003), forama cinema, teatro, 6pera ou concerto de masica classica, balé ou espetaculo de danga, showdemasica e livraria. A frequéncia foi medida a partir de quatro categorias de resposta: nfo, 12 vezes, 34 veres.e mais des vezes. ‘Ao aluno, foi indagado se havia visitado, em al- ‘gum momento de sua vida, museus ou instituiges culturais afins. Depois, seguia-se um encadeamen- to de questdes cujo propésite era verificar se lem- bravaonome dos locas visitados ou algorelacionado a eles. Foi solicitade que nomeasse o museu de que mais gostou, um outro além desse e, por fim, caso tivesse visitado mais um ou mais dois ou varios ou- tros,onome de cada.um deles. Desse modo, foi pos: el obter a nomeagao de cito instituigdes museolégicas visitadas ao longo da vida. Aspectos como periodo, numero .e contexte da visita estavem Revista MUSAS condicionados as duas primeiras questoes. abe lembrar que, em primeira instincia, consi- deraram-se como instituicao cultural afim a museu espacos como jardim boténico, reserva florestal, 00- agicoe planetario, queja s80 contemplacos pela defi- niicao de museu presente nos estatutos do Comite Brasileiro do Comité Internacional de Museus (Icom, ra sigla em inglés). Além disso, ampliou'se esse en- tendimento para outros espacos culturais, comocen- trocultural, teatromunicipal, biblioteca nacional,entre outros. Pelo fato de os jovens mencionarem que visi- tam jardim botanico e zooldgico com a familia, ndo somente com a escola - visita agendads com objet: vos educacional-pedaggicoe cultural -,optou-sepor dividir 0s museus visitados pelos alunos ac longo da vida em dois grupos: ampio e restrito. 0 amploenglo- ba os museus de qualquer temstica, incluindo jardim botanic e zoolégico. © restrito englobs todos, com ‘excegao desses dois ultimos espacos, Taldivisso pos- sibilitou uma anslise mais precisa do acesso as insti tuicdes museotégicas, visto que locais como jardim boténicoe zool6gico do atrativos.e assumem, depen: dendo do contexto, um carster de pratica de lazer & centretenimento. Medidas utilizadas Foram selecionados para aandlisebivariada(cruzamento centrea variavel dependente ea explicativa)os seguintes indicadores oriundos do questionario do profissional ‘envolvido com a organizagao de visita: 1) Variavel dependente (a que se quer explicar) + Namero de museus visitados - qualquer temética restrito Indica 0 numero de museus visitados pela escola ros tltimos 12 meses (referentes ao ano de 2003), cconsiderando todas as turmas que os visitaram, 2) Variéveis explicativas + Nivel socioeconémico da escola Medida do nivel socioecondmico medio dos alunos da escola. Primeiramente, trésindicadores de posicae socioeconémica e cultural foram construldos: escolaridade familiar, evidencia de rFiqueza familiar ¢ disponibilidade de recursos educacionais/culturais familiar. Em um segundo momento, esses trés indicadores foram agre: gados em um Gnico indice, resultando no nivel + Disponibilidade escolar de recursos educacionais/culturais Medida da existéncia e/ou disponibilidade de determinados recursos educacionais/culturais a escola. + Prética cultural dos profissionais da escola Medida da pratica cultural dos profissionais da escola nos iltimos 12 meses (referentes 20 ano de 2003). No que diz respeito 20 questionario do aluno, foram selecionadas para a anélise bivariads as sequintes variaveis: |) Variavel dependente (2 que se quer explicar) = Numero de museus visitados - qualquer tematica restrite Indica 0 nimero de museus visitados pelo aluno a0 longo da vida. 2) Variavel expli + Dependéncia administrativa Indica @ rede municipal e privada. ‘A promogéo do acesso a museus a partir dos dados do contexto escolar Nesta secdo, apresentamos e discutimos os principals resultados relativos ao padrao de acesso e a0 numero dde museus visitedos, em funcdo da rede de ensino, do nivel socioeconémico, da disponibilidade escolar de recursos educacionais/cultrais eda prtica cultural dos rofissionis de escola Namero de museus visitados e o nivel socio- ‘econémico dentro de cada rede de ensino A recente pesquisa do Programa Internacional de ‘Avaliacto de Estudantes (Pisa). em 2000, coordenade pela Organizagdo para @ Cooperagao ¢ o Desen: volvimento Econémico (OCDE), abrangendo 32 paises participantes, comprovou que Brasilapresenta um dos mais altos indices de correlacao entre o nivel socioecondmico médio dos alunos e a presenca de recursos escolares relevantes para oaprendizado. Esses resultados tem sido confirmados em estudos envol- vendo os dados coletados, em 2001, pelo Sistema Nacional de Avaliagao da Educacéo Basica (Saeb), que mastram que nivel socioecondmico 6 uma variavel definidora da segmentacao do sistema de ensino e que ‘a alocacde dos alunos nas escolas nde é aleatoria. (0s achados oriundos da relacao entre o ndmero de museus visitades ~ qualquer tematica restrito @ 0 nivel socioeconémico dentro da rede municipal ¢ privada estdo em consonancia com as pesquisas mencionadasanteriormente.Existeuma forterelagao entre nivel socioecondmice e rede de ensino, Ha uma ‘grande concentracao de escolas municipais abaixo da média (nivel socioeconémico baixo), enquanto a maioria das particulares est acima da média (nivel 2006 + Nomero 2 75 76 socioeconémicoalte) Alémdisso,considerandoonivel socioeconémico dentro de cada rede, apurou-se que, dentro da rede municipal, 0 valor do nivel socioeconémico alto € menor do que o valor do nivel socioeconémico baixo da maioria das escolas da rede privada ‘A despeito desse fato, o numero médio de museus visitados pelas escolas municipais de nivel socioeconémico baixo (5.17) € alto (4.92) ¢ maior do que ondmero medio das escolas particulares de nivel socioeconémico baixo (2.27). Tem destaque onimero médio de museus visitados pelas escolas particulares de nivel socioeconomice alte (8.00). Em sintese, observando exclusivamente a rede ‘municipal, fica evidente que a prética de visita a mu- seus ocorre tanto nas unidades escolares de nivel socioecondmico baixo como nas de nivel socioeco- nomicoalto.Osalunos pertencentesaambastémaces- sogarantido a esse tipo de espaco cultural. Ja narede privada, essa pratica assume tragos distintos:o aces- 50, bem como o numero de museus visitados para os alunos pertencentes as escolas de nivel socioe- conbmico baixo, é bem menor. No que diz respeito 8 pratica de visita a museus, pode-se concluir que as escolas municipais tem um papel equalizador. Em outras palavras, promover equidade, uma vez que 0 ndmero médio de instituigdes museologicas visitadas pelas escolas municipais, com nivel socioecenmico baixo ou alto, & maior do que © ndmero médio das escolas particulares de nivel socioeconémico baixo. No que se refere ao acesso a museus, n3o pesa tanto para os alunos pertencer & rede municipal. Mas a situacao é bem diferente quando deslocamos © foco para o Revista MUSAS desempenho escolar. Com base nos dados relativos ao desempenho ‘médio em matemética dos alunos da citeva série do ensino fundamental, pertencentes as escolas municipais e particulares do municipic do Rio de Laneiro que participaram do Saeb no ano de 2001, verifica-se que, nas escolas municipais de nivel socioecondmico baixo (239 pontos) e de nivel socioeconémico alto (257 pontos), ele esté abaixo da média (280 pontos) e & menor do que o das escolas particulares de nivel socioeconémico baixo (287 Pontos) e de nivel socioeconémico alto (316 pontos), cembas acime de média, Nesse caso, 90 contrério do que se observou em relagdo 8 promocdo to acessoa rmuseus, @ mais ventajoso para os alunos estudar em scoles da rede privade de nivel socioecondmico Baixo do que pertencer & rede municipal Namero de museus visitados e a dispo- nibilidade de recursos educacionais/culturais (Os achados encontrados indicam que a maioria das escolas municipais possui baixe disponibil dade desse tipo de recurso (ha uma concentragao em torneda média © um grupo pequeno que se equipara 8s unidades da rede privada), enquanto, nas particulares, esse disponibilidade @ alta, Para verificar se a disponit lade ce recursos, educacionais/culturaistemassociacaoconondmero de museus visitados, foicalculadaacorrelacao entre variavel dependente (nimero de museus visitados ~ ‘qualquer temética restrito) ea explicativa disponibil- dadede recursos educacionais/culturais escolar), Con- siderandoapenasaredemunicipal,observou-sequea correlacdo @ nula, ou seja, ndo existe associacdo entre cessas variaveis. JA na rede privada, a correlacao foi evidenterexiste umaassociacéo, istos, escolasquetém alta disponibilidade de recursos educacionais/cultu: rais visitam um nmero maior de museus. Esses resultados expressam ofato de que ofomen- to para oacesso a museus @ ume politica geral da rede ‘municipal, reafirmando que agdes, mobilzacao, investi mentos e trocas que $40 estabelecidas para instituir a praticade visita est80 associados as unidades escolares. ‘Niimero de museus visitados e a pratica cultural dos profissionais da escola Osachados encontrades indicarn que a maioria das es- colas municipais possui profissionais com prética cultu- ral abaixo da média (ha uma concentragdo em torno da média eurngrupe pequenoquese equiparaasunidades da rede privada). Jé a maioria das escolas particulares ‘possui profissionais com alta prética cultural Para verificarseapraticaculturaldos profissionais da escola tem associagdo com 0 numero de museus Visitados, foi calculada a correlacao entre a variavel dependente (niumero de museus visitados ~ qualquer tematica restrito) ¢ a explicativa (pratica cultural dos profissionais da escola). Considerando apenas a rede municipal,observou-se queacorrelacaoénula,cuse)a, naoexisteassociacaoentreessas variaveis. J narede privada, a correlacao foi evidente: existe uma associagio, isto, escolas cujos profissionaistémalta pratica cultural visitam um nimero maior de museus. Esses resultados, semelhantes aqueles que foram encontradas para cindicador disponibilidade de recur- 50s educacionais/culturais,reafirmamqueofomento para o acesso a museus é uma politica geral da rede municipal e esta associada 8 escola. As visitas e os museus frequentados pelos alunos COs museus vistados pelos alunos aoongo da vide foram clossficados de acordo com: temic, subcategoras dentro decade temic e localzagao geografice No que die respeito aos resultados oriundos da Felacdo entre a vardvelexpictva rade ea vaiavel ependente nimero de museus vistados ~ qualquer tematicarestrito,observou-se que percentualdealu rosdesescoles partcularesquenéovistarammuseus (05x) & menor do que o das escolas municipai (28). Constatou-s ainda, que os estudantes daredepriva- da vistaramumaquantidademsiordemmuseus name: to:médio « 2.23), em comparacto com os da rede municipal (nimero médlo«138), Considerando o nimero eas distintas tersticas os museus vistados ao longo da vide por rede de ensino, verificou-se que os museus de ciencia @ tecnologia foram os mals vistados pelos alunos. em comparacso com as insituicbes de outrestemétices No tocante&varivelnimero de museusvisitados - CAT (que englobs jardim botinico e zoolegice) © percentual de alunos as escolasparticulares quedo visitaram (sex) € menor do que 0 des escolas mmunicipais (62%). 0 nimero médio de museus Visitados apresenta uma diferenga muito pequens 052 versus ox, respectivamente Emrelacdovarisvelniimerodemuseus visitados histri,sedos alunos de rede privada e 76x dosda rede municipal nao foram esses lots (ndmeromé- diode museus visitados 0.68 versus. respective mente), Para varivel nimero de museus vistados~ arte os resultados encontrados indicem que 64x dos alunosdarede privadaesidosdaredemunicipalnto 2006 + Numero 2 77 78 forama esses locais (nimeromédiode museus visita dos - 0.48 versus 021, respectivamente). No que diz respeito a variavel numero de museus visitados ~ cen: tros culturais, 70% dos alunos da rede privada e 88% dos da rede municipal naoforama esses locais name. ro médio de centros culturais visitados « 0.39 versus 014, respectivamente).O.caso dos museus militares ‘odinico em que o percentual de estudantes das esco: las particulares que naovisitaram émaior doqueoen- contrado para as unidades municipais: 84x 79%, respectivamente (nimeromédio demuseus visitados + 0.23 versus 0.17, respectivamente), No tocante a variavel numero de museus visitados ~ Regido Metropolitana do Rio de Janeiro, apurou-se que apenas 7* dos alunos da rede privada e16x dos da rede municipal nde forama museus localizados nessa regido. Considerando a variavelniimero de museus vi sitados - fora da Regido Metropolitana do Rio de Ja- neiro (museus localizados em outros municipios do estado do Rio de Janeiro ou em outros estados brasi- leiros), o percentual de alunos das escolas particula- Fes que no Visitaram (68%) continua menor do que o das escolas municipais (sax).Comoesperado, somen: teosalunos das escolasparticulares visitarammuseus localizados no exterior (4%), A seguir, s80 apresentados e discutidos os resul- tados da relacao entre contexto da visita (com quem visitou) ¢ rede de ensino, Sabe-se, com base na literatura especifica, que Jovens estudantes, em geral, chegam aos museus por meio da familia e da escola, Por conta disso e dos bai- 0s percentuais encontrados para as outras situacdes de visita (sozinho, com amigos, com outras pessoas), ‘optou:se por comentara distribuicao relativaa esses Revista MUSAS dois contextos. Observou-se que o percentual de alu- nosda rede privadaque visitaramomuseude que mais gostaram apenas com afamilia(42x) é maior do que o ‘encontrado para # rede municipal (27%). Ocorre uma inversao quando 0 contexto da visita muca para ape: nas com aescola: 1x da rede municipal versus 25% da rede privada. Esses achados d8o pistas para explicar as diferencas encontradas entre o numero médio de museus visitades pelos alunos e 0 nimero médio de museus visitados pelas escolas. Familias eescolastemum papel relevantenaccons: tituigao de um “gosto” e de um “habitus” de visita a museus ou instituigoes culturaisarins (Bourdieu, 2001, 2). Ou seja, é um trabalho de inculcacdo ede assimila- ‘io que exige investimentos de longa duracao @ que pode perfeitamenteserdesempenhiado por esses.con- textos, uma vez que a maioria dos jovens ainda passa grande parte deseutempo no convivio coma familiae coma escola, Com base nos resultados encontrados, pode-sedizer que, paraosalunospertencentesarede municipal, @ escola é um contexto muito importante, ‘do 56 para promover oacesso, mas para arantirum namero maior de museus visitados. Para os alunos da rede privada, a familia atua de forma mais marcante, arantindo 0 acesso e a quantidade de instituicoes culturais visitadas, Comentérios finais ‘Os contrastes socioeconémicos da sociedade brasileira também se manifestam na desigualdade do acesso a bens, produtos, servicos, informacdes, meios de pproducao e espacos pablicos de cultura. Emum quadro de restricbes orcamentérias tanto do Estaco como das familias, a cultura, indmeras vezes, @ viste como algo secundario ou privilégio de poucos. Os espacos de cultura com todas as suas potencialidades, principal mente para os jovens, s80 momentos privilegiados de construcdo de relacionamentos socials com miitiplas mediagdes, desde os mais orientados para a satisfacso de necessidades pessoais até aqueles voltados para o estabelecimento de vinculos socials ‘A pesquisa informacdes Bésicas Municipais (IBGE, 2001) ¢ 0 levantamento do vereador Eliomar Coelho (2003), com base em dados do Instituto Pereira Passos, contribuem para a compreensio de um dos fortes motivos para a baixa taxa de participacao em atividades culturais de ocupagio do tempo livre. Politicas culturais piblicas devem ser capazes de atuar sobre essas condigdes desigusis, favorecendo a criacao de situagdes materiais que possam aumentar as possibilidades de fruigo do tempo livre, bem como democratizar 0 acesso a espacos, ‘equipamentos, instituigdes e servicos de cultura, Uma das primeiras conclusdes quesedestacamé ‘que 0s jovens brasileiros residentes no municipio do Rio de Janeiro visitam museusetémacessoaeles por meio de suas familias ou da escola na qual estudam. Do ponto de vista do contexto escolar, as desigualda- des relacionadas pratica de visita se manifestam, notadamente, quando considerada a variével rede de ‘ensino. Onivelsocioeconémico ¢umcondicionante que segments essa rede em duas partes: as unidades es. colares de nivel socioeconémico baixo (rede munici pal) eas de nivel socioecondmico alto (rede privada).. As escolas municipais visitam museus mais frequentemente do que as escolas particulares que possuem nivel socioecondmico inferior ao nivel socioeconémico médio da rede privada, ainda que 0 nivel socioeconémicodessas escolas seja maior queo das escolas da rede municipal. Alem disso, oquantit tivo dos jovens das unidades municipais que afirma: ramter visitadoomuseude quemais gostaram apenas com a.escolaé bem maior do que o das unidades par- ticulares. Conclui-se, portanto, que o capital social ba- seadona escola -acbes, mobilizacbes, investimentos, trocas - contribui para o alargamento da experiéncia cultural dos jovens em geral e dos jovens pertencen- tess escolas publicas em particular. Em outras pal vras, as escolas municipsis possuem um papelativoe cequalizador, particularmente relevante paraosjovens ccujas Familias tam menor volume de capital cultural Osresultados, especialmente relativoaofomen: to que 2 escola concede as visitas a instituicdes museolégicas, reforcam a relevancia de ume politica ais ativa e mais efetiva de aprimoramento dos acer- vos, da preservacaode colecdes edos programas edu: cacionais de museus. Esse tipo depolitica certamente potencializaapromochode equidadecultural,umaver que as instituicoes escolares fat dos jovens com os museus, considerados pela socie- yma aproximacao dade como uma das mais importantes expresses da cultura cultivada. BL NOTAS {.Artigo baseado na tese de doutorado de Sibelle Cazeli, Clencia,cutura,museus jovens eescolas:quais a relacdes?, apresentada ao Departamento de Educac3o da PUC-Rio @ defendide.em2005, 2006 + Numero 2 79 9 oO REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS OURDIEU, Pidrre. 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