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Século das Luzes: | poets se Finan c 0 ideal liberal de educacao | a) [Parte I | A pedagogia liberal e laica (....considerai primeiramente que, querendo formar um homem da natureza, nem Por Is80 se trata de fazer dele um selvagem, de jogi-lo no fundo da floresta; mas ue, entregue a0 turbilhio social, basta que Ao se deixe arrastar pelas paixses "nem pelas opinides dos homens; «ue veja Com seus olhos, que sinta com seu cora- ‘620; que nenhuma autoridade o governe a ni ser sua propria razs0. Rousseau Contexto histérico 1. As revolugdes burguesas Grandes transtormages abslum a Europa no séeulo XVIIL. A burguesia ocupara, posigdo secundaria na estrutura da socied sxistocrética,cujos privilegiados sio a nobreza ce o cleo, Os nobres, susteniados por pens semmamentas, 1 ia na come com isengiio de impostos eo bencficio de serem julgados por leis prsprias. AA burguesia enriquecida pelos resultados da Comercial se encontra, no entanio, incom acarga de impostose, embora tendo aseendido eeonomicamente pela ali realeza absolutist, se ressente do mereantilisme, cada vez mais bloqueador da sua iniiatva, Em 1750, a entrada da miquina « vapor 1s fabricas marca inicio da Revolusio Industral, «que altera definitivamente o panorama socioeso imico com « mecanizagio da indistia. Torae se inevitével que a burguesia,j@ detentora do po der econmieo e sentindo-seespotiada pela nobre- 24, reivindique para si o poder politico. No século XVIII explodem as revolugies bur guesas, Em 1688, na Inglaterra, a Revolugio Glo- vida parasit Fiosa destrona os Stuarts absolutistas, As idéias li- berais de Locke se espalham pela Europa e tam: bbém pelo Novo Mundo, onde comegam os movi ‘mentos de emaneipagio, alguns bem-sucedidios, ‘como a Independencia dos BUA (1776), outros, violentamente reprimidos, coma as Conjuragées Mineira (1789) e Baiana (1798) no Brasil grande ucontecimento europeu é a Revolu- slo Francesa (1789), que depe os Bourbons & defende os prineipios de “igualdade, liberdade & fraternidade”. Contra os priv nobreza, os burgueses propie de direitos e oportunidades ios hereditarios igualdade As idéias iluministas 0 século XVIII é conhecido come 0 Séeulo das Luzes, do Tuminismo ¢ da tustra raza0 humana de interpretar © reor, mundo, ‘Qotimismo com respeito raza vinha sendo tanuneiado descle o Renascimento, quando 0 ho ‘em novo procurava valorizar os prépries pode- 119 tes contra 0 teocentrismo medieval e © prinespio dda autoridade. No século XVII 0 racionalismo a revoluedo cienttien acentuam essa tendéncia, de modo que no Século das Luzes © homem ja cconfiante, artifice do futuro © no mais se con tenta em contemplar a harmonia da natureza, mas quer conhecé-a para dominst portanto, uma natureza dessacralizada, ou seja, desvinculada da rei todos os campos de discussao no séeulo XVII + Na economia, 0 liberalism representa as aspiragdes da burguesia desejosa de seus negécios, sem a imtervengio do Estado ‘mercantilista. Segundo os tedricos Frangois Quesmay (1694-1774) e depois Adam Smith (1723-1790), a distribuigio de riquezas segue leis “naturais". A expressao “Laissez. Faire laissez passer, le monde va de lui méme” (Deixe fazer, deixe passar, o mundo caminha por si mes mo) configura 0 pensamento liberal nao imervencionista + Na politica, as idias liberais se opdem vo sabsolutismo. So elaboradas as teorias contratua. listas, segundo as quais « legitimidade do poder resulta do pucto entre ‘capitulo anterior a propdsito do pen Locke. No século XVIII, Rousseau retomaadis- ceussao do contrato social numa perspes demoeratica, Mesmo na Prussia, Austria ¢ Riissia, pafses em que persiste 0 absolutismo, este é chamado de despotismo esclarecide, por- ‘que os reis se fazem cercar por pensadores e ado- fo, que reaparece em n 0 diseurso dos flsofos ilaminista, proct- ‘and criar a imagem de racionalidadee tolerin cia, que disimla o carter absoluto do poe: moral tam se buscam formas leas auc permitam a naturatizagio do comportamen to humano. No livro Enilio, Rousseau propie tm pedazogia baseada no rome a naturezay 4 espontaneidade do sentiment, a fim de evitaros mesmo tempo, Diderot e Helveti rcuperan importancia das paindes como vivificadoras do nando moral * Na religi, odefsmo é uma espécie de “te ligiao natural” em que dloginas e Tanai jiique Deus 6 apenas 0 Primeiro Motor, 0 Ci dordo Universo, o Supremo Relojociro, 'Na Franga o Huminismo se expand om 3 publicaglo do trabalho de seus flbsofos, sobre tudo a Enciclopédia, cujos verbees sio confi Ho haveria lugar paracs nos. Os filésofos defstas aio dos a diversos autores, como Voltaire, D’ Alein- bert, Diderot, Helvetius e, apesar das diver ias, tamhém Rousseau. Outro ilaminista fr és de destague foi Montesquieu, Na Inglaterra, os prineipais representantes sio Neivton e Reid, herdeiros de Locke e Hume. Na Alemanha, © movimento € conhecide como Aufkldrung ¢ dele participam Wolff, Lessing, Baumgarten. Foi Kant, no entanto, of IGsofo por exceléncia desse periodo, ¢ sua ab sistemitiea marearé a filosofia posterior. Pedagogia 1. Introducao © tluminismo & um periodo muito rieo em reflexdes pedagdgicas. Um de seus aspectos ‘marcantes esti na pedagogia politica, centrada no esforgo para tornar a escola leiga e fun do Estado, posigZo defendida por La Chalotais no Ensaio de educagio nacional. Como vere mos, também € esse © empenho de Condoreet & Lepelletier, autores de projetos apresentados & -nblgia legistativa francesa Axgruparemos as contribuigdes predominan: lemente tedrieas da pedagogia da Tlustragao ‘em trés tendéncias fundamentais: os enciclo- 120 pedistas, 0 naturalismo de Rousseau e a ped Bogia idealista de Kant Embora Pestalozsi (1746-1827) pertenga em parte a esse periodo, preferimos mencioni-lo no capitulo seen por representar melhor as caracteristicas do sé- culo XIX. 2. A pedagogia intelectualista No espitito do iluminismo, os filésofos fa. ceses Diderot, D’Alembert, Voltaire, Rousssat © Helvetius no so propriamente educadores, ‘mas entearam 0 ensino como veiculo important das luzes © 20 obscuramtismo Alguns deles po: isto &, acreditam na como atribute Voltaire dizem uma sa majestade prestars nidade se conseguir: io [a religigo cristi de ser esclarecida io bons, mas na ger ‘oespirito que anima: Jiano Filangieri, tran Talvez tais posigt das como expresso do para os interesses de que a educagio d sequilfbrio na ordem Ao contritio, Did ativos organiza fende posiggo mais + imperatriz Catarine universalizagaio dain saibam ler, escrever iministro ao mais hur Porque & mais dificil sabe ler do que um at 3. O naturalisme © fil6sofo Jean-J 1778), natural de Gen Sua terra natal aos 16% turbada, andando por espirito de aventura, igiosas. Em Paris, 0 ve com os enciclopes amigo de Diderot. Div Pontos e tem inimeras que nio Ihe poupa sev Dentre suas obras ¢ bre a origem da desig, Do contrato social, Emilio ou Da educaga, | Para ampliagéo do ssunc, 1998, Col Loses. Apu Anibal Ponce Eee >Apud Anibal Ponce, Eda das ces € w obscuranismo religioso Alguns deles possuem um vgs aritoertco, iso acreitam ta capacidade de bem usar ar tio como alributo de uma elite intelectual. Vote dizem uma cata a rei da Prissit:"Vos- sarajstde pest un servigo iota & um hide e conseguir destuiress infame supersti- {a seligi ris no cigo na canal, indie hide ser eslaecidae para a gual todos 0s jugos sdobons, mas na gente de peso". E ese também ‘expr que anima a city do jrisconsulto it fan Filangier, ranseita no dropes 2. Talvez tis psigdes possam ser comprecnd- das como expresso clo idea liberal, mts voll do para os interesses data burguesia, temerosa seplloria naordem que e Ao contri, Diderot, me iis alivas orgaizadores da Enciclopedia, de- fede posigto mais democratca. Escrevendo & imperatriz Catarina da Russia, iniversligagao da instrusdo: “E bom que todos sibam le, escrevere conan desde 0 primsio™ init ao mais humilde dos eamponeses(.) Porque é mais dificil explorur um camponds que sabe Ter do que um anatfabeo Fazio e no combate as superstigiies das massas provocasse 0 de 10 se estabelece, no como um dos 3.0 naturalismo rousseauniano © filésofo Jean-Jacques Rousseau (1712- 1778), natural de Genebra, na Suiga, abandonou. soa terra natal nos 16 anos. Levou uma vide con- turbada, andando por diversos lugares éspirito de aventura, ora devido a perseguigdes religiosas. Em Paris, onde passa a resiir, conv xe com os enciclopedistas, tornando-se muito amigo de Diderot. Diverge dos outros em muitos pontos ¢ tem iniimeras desavengas com Voltaire, {que nao Ihe poupa severas eriticas Dentre suas obras destacam-se: Discurso so bre « origem da desigualdade entre os homens, Do contrato social, ambos sobre politica, & Enilio ou Da educagao (1762). Para ampligdo do assunt, le de Maria cs Gs 1983, Col. Logos. Apu Anal Ponce, Educagdo eta de classes: p13 Agu Anibal Ponce, Educa ela le lasses. 133, Rousseau ocupa lugar de destaque na filoso: fia politica — suas obras antceipam o iderio da Revoluggio Francesa —, ulém de ser grande te6- rico da educago, niio apenas do século XVI, ja {ue seu pensamento constiui um marco na pe dagogia contemporaine. Costuma-se dizer que Rousseau provocou uma revolugo copernicana na pedagogia: assim como Copémnieo inverteu o modelo astrondmi co, rotirando a Terra do centro, Rousseau centra- liza os interesses pedagégicos no aluno, no mais no professor. Mais que isso, ressalta a espect cidade da crianga, que nao deve ser enearada ‘como um adulto em miniatura, Ate da educagio se encontra. vam na formagiio do homem para Deus ou para a vida em sociedade, mas Rousseau quer que 0 homem integral seja edueado para si mesmo: Viver & que eu desejo ensinar-lhe. Quando sir das minhias maos, ele no sera magistrado, soldado ou sacerdote, ele seri homem”, ntes de to, um A concepgio politica de Rousseau © pensamento pedagégico de Rousseau niio se separa de sua concepgio politica. Como Locke, critica 0 absolutismo ¢ elabora os fund ‘mentos da doutrina liberal, Para ele, 0 homem em estado de natureza & bom, mas se corrompe 1a sociedade, que destrdi sua liberdade: “O ho- ‘mem nasce livre ¢ por toda parte encontra-se a Considera entio a possibilidade de um verdadeito e legitimo, que re ferros! ccontrato soci 6 povo numa s6 vontade, resultante do consenti mento de todas as pessoas. A concepeao politica de Rousseau é mais de- ‘mocritica que a de Locke, por conta da nogio de soberania. Para Rousseau, 0 cidadio Ihe representantes a quem delegar 0 poder — como defende Locke e a tradigZo liberal — por- que para ele 86 0 povo é soberano, Em outras palavras, 0 pacto que institui o governo nao sub- ‘mete 0 povo a ele, isto &, os depositirios do po- So Nascimento, Voltaire: 14750 ian, Sao Paulo, Moderns der nio sio senhores do povo, mas seus oficais, apenas executam as leis que emanam do povo. Nesse semtido, Rousseau critica o regime repre- sentative ¢ defenide a democracia direta, pois toda Iei nfo ratificada pelo povo & nut, Portanto 0 soberano & © povo ineorporado, 0 corpo coletivo que exprime,naleia vontade geral Segundo a tcoria de Rousseau, a vontade geral iio seconfuunde coma vontade da maioria, comoo So comum poderia pensar, porque as decisdes n resultam da somat6ria dus vontades individuais, ‘mas eXpressam o interesse comum, ito 6, 0 inte= esse de todos, como purticipantes da comunidade. O cidadio, homem ativo e soberano, capaz de autonomia e libesdade, é a0 mesmo tempo im sti ito, por isso tei que ele proprio ajudow a crigr. Liberdade e obediéncia sio polos que deve se completar na vida do homem em sociedade. Rousseau pedagogo Emitio relata de forma rom iceada a edu lo por um pre- ceptor ideal ¢ alastado da sociedade comruptora, 0 projeto de uma “educaea0 conforme a nature 7a, entretanto, no signifiea retornae & vida sel~ vagem ou primitiva, e sim buscar a verdadeira nnatureza, que corresponde & vocugio humana, ‘Vejamos entdo os possiveis sentidos do con- ceito de matureza, a fim de entender o que signi fica a pedagogia naturalist Ao fazer critica do regime feudal ¢ dos costu ‘mes da aristocracia, Rousseau preconiza uma edu umlbém a educagao busca a espontaneidexle orii- nal, livre da escravidio aos habitos exteriores, a fim de que o homem seja dono de si mesmo, agin- do por interesses naturais e no por constrangi ‘mento exterior e artificial Outro sentido dado por Rousseau a educagio natural esta na recusa ao intelectualismo, que leva fatalmemte ao ensino formal e livresco, Ou seja, o homem no se reduz& dimensao imtelee- tual, como se a matureza pudesse ser apenas rie “nto... 199 2fo ¢ reflexdo, porque antes da ™ (15 anos) ", Por tanto os sentidos, as emogies, 0s instintos e os sentimentos sao anteriores ao pensar elaborado, © essas disposigdes primitivas so mais dignas de confianga do que os habitos de pensamento in- cculcados pela sociedade. Existe ainda mais um sentido para a educagio natural, Rousseau, como amante da natureza, quer etomar 0 contato com anjimais, plantas ¢ fendi hos fisicos dos quais 0 homem urbano fregien emente se distancia: “As coisas! as coisas! Nun- cc repetire’ bastante que damos muito poder is palavras”, Dessa forma, valoriza a exper ceducagio ativa voltada para a vida, para uj principal motor é a curiosidade. A educacao negariva Desconfiado da sociedade constituida, Rousseau teme a edueaedo que poe a erianga em Contato com os vicios & a hipocrisia: “Se o ho- mem & bom por natureza, segui rece assim enquanto nada de estranho 0 altere (...) A educagio primeira deve portanto ser puramente negativa, se que perm ar a virlude ou a verdade, mas em preserva 0 coragio do vicio e 0 espitito do erro. (..) Sem Preconeeitos, sem hibitos, nada teria ele em si {que pudlesse contrariar o resultado de vossos eu dados. Logo ele se tornaria, em vossas mi mais sensato dos homens; ¢ comegando por nada wer, terieis Feito um prodigio de educ: Rousseau ito Valor ao conhecinien- to transmitido © quer que a crianga aprenda pensar, ndio como un processo que vem de fora Para dentro, uo contrrio, como desenvolvimen- to interno e natural ada liberdade O preceptor: a dialé ¢ obediéncia [ delicada a fung0 do professor na pedago- gia rousseauniana, Se niio deve impor o saber das homens a crianga, tampouco pode deixé-la m0 Puro espontaneismo to, ela aprende a lide a eonhecer os limite Ihante ao processo de que 0 homem se sut bém a erianga desec das coisas e das relay Por exemplo, se E xam-no dormir sob 0 ccolocacio em um gust ccamente, mas sem ra foram colocadas poe las". Enquanto suet seu desejo e, quando a Zinho as descobe lit lei por ele mesmo act ante dos alos e de suas snd a cont 5 COM asp ‘ca para o jovem a edu dita, De posse da vote Poder observar os hor bém iniciar a instruct precocemente de Deus ensina a idolatria, Ror natural, como a do de foi ameagudo de prisic para se refugiar na Sui Criticas a Roussez Nato testa divida qu das idéias de Roussea Poupam eriticas ow alg nos. Uma delas € a acuy ccagiio elitista, ji que Ei tum preceptor, provedit Outra refere-se ao separ estaria defendendo wma mo admitindo a is, no convém esquec 10 metodolégic = seimelhante formular a teoria pedags como seria possivel a edu em uma sociedade carrot > Enso. p88 Puro espontanefsmo, Afi 'o,cluaprende a lida al, para se tornar adul ‘com os prdprios desejos e Beonhever os limites para ser dona de si, Seme= thante ao proceso de formagio da cidadania, em ve © homem se submete & vontade geral tam: biém a crianga descobrirs por si mesma as leis das coisas e das relagBes interpessoais, Por exemplo, se Emilio quebria vidraga, dei ‘am-no dormir sob 0 vento. Se a quebea de novo, & coloeado em um quarto sem janelas: “Dizei-the cumente, mas sem raiva’ 3s janelas s0 minhas; a ‘ram colocadas por meus cuidaclos: queto garanti- les, Enquaanto sucumbe ao impulso, & eseravo do seu desejo e, quando aprende que existem leis, so: ano 2s descobre: a liberdadle & pois. a obedigneia ‘ui por ele mesmo aceita. Assim, Emilio vé-se di- ate dos ats e de sus conseqtiéncias. Aprendendo a controlar-se no mundo fisico & as relagies com as pessoas, 20s 15 anos com capara 0 jovem a educagio moral propriamente ita. De posse da verdadeita razdo, s6 ento ele poderé observar os homens ¢ suas paixdes e tam dém iniciar a instrugiio religiosa, porque falar Precocemente de Deus com a crianga apenas the ensina a idolatria. Rousseau defende a rel ‘natural, como a do defsmo iluminista, & por isso foi ameagado de prisdo, precisanda sair de Paris para se refugiar na Sug Criticas a Rousseau Nao resta diivida quanto ao cariter inovador das idsias de Rousseau, porém muitos no the Poupam eriticas ou Joumas reservas, pelo nos. Una delas € a acusagzio le propor uma edu cagio elitist, j€ que Emilio é acompanhado por lum preceptor, procedimento priprio dos ricos. Outta refere-se a0 separa aluno da sociedade: estaria defndendo uma educagao individualist Mesmo admitindo a procedéncia dessa crit cas, no convém esquecer que Rousseau recorre bstragio metodol6gica de uma relagio ideal — scmelhante a do eontrato social Tonmular a teoria ped: a fim de agdgica, Ou seja, perguntar como seria possfvel a educagao natural de Emilio, em uma sociedad corrompicla signitica tratar do ‘mesmo problema da politica: Como € possivel estabelecer a vontade geral em uma sociedade que ainda nd & demoeritica? Alem disso, 0 fim do ensino no é educaro soi trio Emilio, mas inseri-o na sociedade. Compre- cende-se oantficio de Rousseau porque, sendo libe- ral, concebe a sociedade como uma justaposigao de individuos,¢ ismo s6 apa receri mais tarde, com 3s teorias socialists, Anda que fundadas as erticas ao carter a-his ‘6rigo desta hipdtese, ao otimismo exazerado da ago da natureza e ao reduzido papel do precep- tor, lembramos que Rousseau se opie i educagio do sou tempo, extremamente autorititria, interes- sada em adaptar e adestrar a ctianga e apoiando- se na concepeao de uma natureza humana mi. Por fim, outra critica pode set feita & posigio de Rousseau para com a mulher, que deve ser educada para servir aos homens, Embora fosse a concepgao corrente no seu tem- po. alguns tedricos, como Coménio e Condoreet, jd teciam consideragdes sobre a maior part ‘glo da mulher na sociedade. 4. Kant e a pedagogia idealista_ © alemao Immanuel Kant (1724-1804) cons- ‘ruiu um dos mais importantes sistemas los6fi- cos no século XVII, de marcante influéneia na hist6ria do pensamento. A obta Sobre pedagogia resultou de anota goes das aulas ministradas em alguns pei na universidade de Koni ‘Mast importin- cia que Kant atribui a educagiio encontra-se fun- mentada nas obras mais ckissiews, a Critica da razdo pura, na qual desenvolve a exitica do eo. nheeimento, © a Critica dla racito pritiea, que fa. aanzlise da moralidade, No livro em que trata do conhecimento, Kant retoma o debate — mencionado no capitulo an- {erior —entre 05 racionalistas (representados por Descartes) e os empiristas (Bacon e Locke). Ao das duas posigoes, ela- bora uma woria que investiga o valor dos nossos conhecimentos a partir da eritica das possibilida dese limites da raza Condena os empiristas, segundo os quais tudo ‘© que conhecemos vem dos sentides, e no con- cond com os racionalistas, para os quais tudo 0 que pensamos vem de nds. Para Kant, “0 nosso conhecimento experimental & um composto do {que recebemos por impresses € do que a nossa propria faculdade de conhecer de si mesma tira por ocasiao de tais impresses". Ou seja, 0 conhe= cimento humano & a sintese dos contetidos parti- culares dados pet experigneia e da estrutura uni- versal da razo (a mesma para todos os homens). A consciéncia moral Para Kant, no entanto, a razao no & capaz de conhiecer as realidades que niio se oferecem i hhossa experigncia sensivel, como Deus, a imor- lalidade da alma, a liberdade ¢ a infinitude do universo. Ou seja, as quesifes metatisicas no so acessiveis ao conh © fil6sofo supera o impasse mostrando que, além do ato de conhecimento, o homem & eapaz de outra atividade espiritual, a consciéneia mo- ral. por meio da qual rege a vida pritica confor- ime certos principios. Estes prineipios sito racio. nals, mas estabelecidos nao pela azo espec lativa (Voltada para o conhecimento cient sim pela razdo pratica, que orienta a act mana, a vida pritica e moral. Analisando os prinefpios da consciéneia mo: ral, Kant conclui que s6 0 homem é moral, por ser eapaz de atos de vontade. E a vontade é ver- imente moral se regida por imperatives ricos, isto &, por imposigao incon dicionada, absoluta, como acontece quando a ago realizada visa ao dever pelo dever, e ‘a0 dever em troca de um beneficio. Assim, no tem 0 mesmo valor moral dizer: “se voe8 quer ser feliz, ajude ao préximo", ou “ago mate, 1nio voce seri preso”, porque siio exemplos de imperatives hipotéticos, nos quais 0 agit dicionadlo a uma vantagem desejada ou a uma unigao a ser evitada, Agir moralmente é, portanto, agir pelo dever: Alem disso, « agdo tem uma validade objetiva e Universal, que se estende para todo ser racional, ddaf @ afirmagao de Kant: “Age de modo que a tdxima da tua ago possa sempre valer ao mes- ‘mo tempo como prinefpio universal de conduta” 124 Decorre desse raciocinio que 6 homem ni rea lizaespon tea lei moral, mas moralidade resulta da lua interior entre a ei universal e as in clinagées individuais. Assim, a verdadeira agdo ‘moral, como resultado de um io de vontade, t Por fundamento a autonomia e a tiberdade ‘A.agiio moral & automa porque o homem € 0 Uinico ser capa de se determinar segundo leis ques propria razio estabeleve (e ado conforme les d das externamente, como na heteronomia). Para que seja possivel a vida moral autOnoma, porém,é pee: ciso partir do pressuposto da liberdade da vontade Educacao e liberdade ‘A moral formal, constituida a partir do post lado da liberdade e baseada na autonomia,e ‘aprendizagem do controle do desejo pela dis plina, a fim de que 0 homem atinja seu préprio governo e seja capaz de autodeterminagio, or aqui percebemos o elo entre es pressupos- tos da filosofia kantiana e sua concepeto pedags- ica. Cabe & educagiio, ao desenvolver at faculde dea raziio, formar ocarster moral: “O homem 6 pode tomar-se homem pela educagio,¢ ele étio- somente o que a educagdo fer dele”, B ela que he permite alingir seu objetivo individual A semelhanga de Rousseau ¢ Basedow, dos ‘quais soffeu influéneia, Kant destaca os aspects morais sobre 0s intelectuais. na formagio dos jo- vens: “Mandamos, em primeiro lugar, as eiangasi «escola, nd na intengo de que neta aprendam al ma coisa, masa fim de que se habituem a observat pontualmente o que se Ihes ordene”.O que no si fica adestrara crianga a obedineia passiva, mas ‘ensini-la a agit com planos ¢ sub dlisciplina, Kant quer atingir a obedigneia volun ria, capaz de reconhecer que ‘oviveise supetiones aos caprichos momentinees Dessa forma, mesmo quando existe, a coer ‘¢Ho tem por finalidade propiciar a Hiberdade do sujeito moral. Em ttima andlise, cabe a cada um proceder @ sua propria formagiio, Ao unir educs- W0¢ liberdade, Kant redefine a relugao pedag- pica, reforgando a atividade do aluno, que deve ‘aprender a “pensar por si mesmo’ © mesmo principio da conduta moral vale ppara o saber, que também deve ser umn ato dele berdade, Nenhuma verdade vem de fora (nto transmitida, nem de construfda pelo sujeito Coerente com a cone sar e do agir, Kant dest: valoviza a tolerneia rel ceducado sob severa disc se — A semelhanga de R das superstigdes ineulea (cas. © homem moralme ‘mesmo, € no meio pare uulo XVIIL ain, dos jesuitas, com os ec mundo, embora as criti fortes. Denunciavase ¢ Ii € politicas se sobrepsem te pedagogicos, nos del Jesuitas si expulsos des © papa Clemente XIV ex Jesus em 1773. Com esse acontecime sofre uma desestabilizas ossufam muita escolas, azes de, por longo temp: disciplinar alunos, ica decadente, mas & 2. Tendén liberal No contexto histirieo ¢ Zia mais sentido atrelar < como nas escolas confess ses de uma classe, como g escola deveria ser leiga ( (independente de privilégi SSeS PHESSUPOStOS st znem sempre postas em pri + educagiio ao encargo + obtigatoriedade © elementar; transmitida, nem deve ser imposta), construida pelo sujeito Coerente com 0 conceito de sare do agit, valor fonomia do pen- int destaca a liberdade de credo e 4 toleraneia religiosa, Embora tenha sido de decisbes esti no reine, 0 gue toma a nviquins administrativa extremamente moross e incl Para se tor uma ida, afiscalizagao das aula regis sé ndquire certa regularidade a partir de 1799, As vezes, alguns mestres formados pela Com- panhiia de Jesus imprimem certa continuidade de Zo, se bem que em nivel inferior, Ten: tando preencher © vazio deixado pelos jesuitas, surgem umas poueas escolas de carmelitas, bene ditinos e Franciseanos, Na metrpole, @ marqués de Pombal roe trutura a Universidade de Coimbra, em 1772 Afastada a Companhia de Jesus, assume a OF dem do Oratério, conhecida pela visio mais avangada, aberta as idéias iluministas, reformulado o ensino de filosofi do-se pela lit matemiticas ¢ ciéneias da natureza, procedendo- se também & atualizagio dos estudos juridicos. Indiretamente, 0 Brasil se beneficia disso, ‘05 estudos ¢, wo se embeberem das id Locke, Rousseau, Vo 1m a aspirar pela independéncia da coldnia. Dentre eles sacm ‘65 conjurados brasileiros, re, comeca 3. Conclusio sande 0 contraste entre a Europa e o Bras no século XVII, $20 muitas as tansformagdes Velho Mundo: sociais (ascensdo da burguesis). econdmicas (liberalismo) e politicas (revoluges ‘que destituem 0s reis absolutistas). Apesar dels, © Brasil continua com a sua aristoeracia agra escravista, a economic dente e submetide 3 pol AS consegiiéneias pe do previsivels e j foray rnorama do analfabetist aagravado com a expulsti sada reforma pombal Num balango final, & déncia jesuitica, Pode se strait preside a formagio da cu do até.0 século XIX, 05) Bluéncia sociale politica ereligiosa, medida que 19s indios, os colones ea cismo foi “o cimento dx zando ox efeitos de cultur A atuagao mais efica bre a burguesia e na for entes. Una sociedade « que no exige especializ tho manual se acha a ear 8 formagao de uma elite universal © abstrato y Por inicitiva da Ace Faria, fundou-se no Rio ¢ tarde por ordem do goverr © remeter para Portugel at avulsos e cominando apo As artes pldsticas ¢ meira vez, algo especitica jesuitica quase todos, get Nas Minas Gerais, pi fae a arquitetura religiose origem popular, particular desenhista e enlalhador; inconfundivel. E é ainda na na época e alé juntos partic junto como “Escola Mineira Mento lterério 6 a Marla a " Sotmados e mocambo, Sip Pat "+ Amt de cinzelar mei, marin

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