O Plano que j est sendo lanado em alguns estados suscita, no entanto diversas preocupaes, acerca das quais algumas peritas e peritas do Mecanismo Nacional de Preveno e Combate Tortura entendem ser necessrio se pronunciar.
A presente nota traz as linhas gerais do referido plano e busca refletir
sobre medidas que, caso posto em prtica, pode resultar no aumento das violaes j existentes no sistema carcerrio nacional.
Conforme detalhado a seguir, o Plano apresentado pelo governo federal
pouco transparente e no expe elementos suficientes sobre como as aes propostas sero efetivamente executadas. O conjunto de medidas revela, ainda, incongruncias centrais haja vista propor a diminuio da superlotao nas prises, ao passo que refora a lgica positivista, tendo a represso s drogas como eixo central.
Para as peritas e os peritos do Mecanismo Nacional de Preveno e
Combate Tortura que assinam o presente documento assim como para as instituies e especialistas que subscrevem esta nota as aes propostas no Plano Nacional de Segurana Pblica at podem gerar resultados pontuais no curto prazo, mas a mdio e longo prazo tendem a reforar a superlotao nas unidades prisionais e o recrudescimento da violao de direitos das pessoas presas.
Efetivamente, as aes do plano recaem, notadamente, sobre pessoas com
um perfil socialmente estigmatizado, isto , jovens, com baixa escolaridade, negros ou pardos, moradores de periferia e de baixa renda. Por no terem as imunidades institucionais das classes mdia e alta, essas pessoas apresentam mais chances de cumprirem pena de privao de liberdade nas prises do pas e, por sua vez, serem alvos da violncia do Estado.
2.1 LINHAS GERAIS DO PLANO
Sinteticamente, o Plano Nacional de Segurana Pblica anunciada se divide
em trs objetivos:
A) Reduo dos homicdios dolosos, feminicdios e violncia contra a mulher;
B) Racionalizao e modernizao do sistema penitencirio;
C) Combate integrado criminalidade organizada transnacional. Embora os
trs eixos estejam relacionados questo carcerria, a presente anlise centrar seu foco, prioritariamente, nos dois ltimos.