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(Mc 12, 27). Ele (Deus) se manifestou aos
homens em Jesus Cristo, de tal forma que o Cristo constitui o modelo, o exemplo do que iré
acontecer com toda pessoa humana:
ressurreigio. A este respeito Sao Paulo diz:
Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns
dizer entre vs que nio hd ressurreigio dos mortos? Se no hé
ressurreigo dos mortos, ento Cristo no ressuscitou. E se Cristo néo
ressuscitou, a nossa pregagio ¢ vi e a vossa fé é v3 também, Mas na
realidacle Cristo ressuscitou dos mortos como primicias (exemplo primeiro)
dos que morreram (1 Cor 15,12-18).
© que é ressurreigé0? Na morte, hé separacéo da alma e do corpo. 0 corpo
(carnal) cai na corrupsao (se deteriora), enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus,
embora ficando & espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipoténcia,
restituird definitivamente a vida incorruptivel a cada corpo, unindo-os novamente as suas
respectivas almas. Todos que tiverem morrido ressuscitardo: «Os que tiverem praticado o
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bem, para uma ressurreigéo de vida e os que tiverem praticado o mal, para uma
ressurreigio de condenagao» (Jo5, 29). A ressurreico, assim, é necessariamente a
ressurreico da pessoa inteira e integral. Para explicar a maneira como isso pode ocorrer,
Paulo recorre & imagem da semente. Imagem profundamente biblica (1 Cor 15, 36-44):
= Aquilo que vocé semeia ndo getmina se, antes, no morrer.
= No € 0 futuro corpo da planta que vocé semeia, mas um simples gréo de trigo ou
de qualquer outra espécie.
= Depois Deus the dé um corpo conforme queira...
Ressuscitar implica ento numa transformagiio total do ser humano (tal qual
semente, que morre para ser arvore). Um salto qualitative. © corpo ressuscitado "significa
uma corporeidade diferente daquela que conhecemos, embora 0 homem mantenha sua
identidade (€ ele mesmo, nao outro)’. O mesmo Paulo a este respeito acentua 0 corpo
corruptivel que se torna corpo incorruptivel; 0 corpo desprezivel que se torna corpo
glorioso.
2.5.2 Na sua morte o homem se encontra com Deus: 0 juizo
‘Com tudo 0 que fez de si no decorrer de sua vida, o homem se defronta com Deus.
Ladislau Boros, partindo da convicgao de um Deus justo e misericordioso elabora a hipstese
de que este juizo, na morte, no um balango matemético sobre a vida passada, onde
aparecem diante de Deus 0 saldo € 0 débito, 0 passivo € 0 ativo. Mas possui dimenséo
prépria de derradeira e plena determinacio do homem diante de Deus, com a possibilidade
de conversao para 0 pecador. A este primeiro momento se chama de juizo particular: um
julzo da pessoa humana sobre si mesma, diante de Deus. Aqui, © homem reconhece o que
ele é, realmente. Joseph Ratzinger diz que o julgamento é simplesmente a verdade, como
tal, 0 tornar-se evidente dela. (Cf H. Vorgrimler, Der Tod... p.90). Assim, no é Deus que
julga. © homem é seu préprio juiz: ele julga a si mesmo diante desta verdade.
2.5.3 Purgatério: Deus quer a salvacao, nao a perdicao
Quem responde por esta realidade pés-morte, de modo especial, é a Igreja Catélica.
No se trata de lugar fisico, mas sim, de uma condigio e processo de purificagéo ou castigo
temporério em que as almas daqueles que morrem em estado de graga sao preparadas
para o Reino dos céus.
© compéndio Mysterium Salutis formula que "no ha culpa e condenacéo que no
estejam acompanhadas de uma oferta de graga e perdio. O Deus de Jesus Cristo & sempre
e principalmente 0 Pai que vai procurar 0 que se perdera, ndo o julz implacdvel que acharia
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alegria em condenar alguém” (Johannes Feiner e Magnus Loeher. Mysterium Salutis, vol 3.
p. 184), Para tanto, busca fundamentaco biblica (veja 2 Mac 12,38-46), onde se oferece
sacrificio para liviar os mortos de seus pecados. Busca fundamentagio também em grandes
nomes cristéos como Clemente, Origenes, Santo Agostinho e Sdo Gregério Magno que
admitem a existéncia deste fogo purificador, que confere as almas néo totalmente puras, a
santidade necessdria para entrar na alegria do cé
2.5.4 Inferno: recusa ao amor de Deus
Quem no se une a Deus e livremente escolhe ndo amar nem a Deus, nem o
préximo permanece na morte. 0 inferno 6, pois, este estado de autoexcluséo definitiva da
comunhaio com Deus. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem
imediatamente, apés a morte, aos infernos. A principal pena do inferno consiste na
separago eterna de Deus, 0 Unico em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para
que foi criado ¢ a que aspira.
2.5.50 céu
Os que morrerem na grasa e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente
purificados, viverio para sempre com Cristo. Sergo para sempre semelhantes a Deus,
porque O vergo “tal como Ele é” (1 Jo 3, 2), “face a face” (1 Cor 13, 12). Viver no céu é
estar com Cristo, € viver n'Ele.
2.5.6 O Juizo final
A ressurteicao de todos os mortos, «justos e pecadores» (At 24, 15), hd de preceder
© Juizo final. Serd “a hora em que todos os que esto nos tlimulos ho de ouvir a sua voz €
sairdo: 05 que tiverem praticado 0 bem, para uma ressurteicao de vida, e os que tiverem
praticado o mal, para uma ressurreigio de condenago” (Jo 5, 28-28). Ento, Cristo viré:
na sua gléra, com todos os seus anjos. Todas as nagdes se reunirdo na sua
presenca e Ele separaré uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas
dos cabritos; e colocard as ovelhas & sua direita e os cabritos a sua
esquerda. Estes iro para o suplico etemo e os justos para a vida
etema (Mt 25, 31-33.46),
© Juizo final terd lugar quando acontecer a vinda glotiosa de Cristo (segunda vinda
de Jesus). Isto aconteceré, em definitivo no ultimo dia, no fim do mundo (Jo 6, 39-40). $6.0
Pai sabe o dia e a hora, sé Ele decide sobre a sua vinda.
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2.5.7 A esperanca do novo céu e da nova terra
No fim dos tempos, o Reino de Deus chegard a sua plenitude. Depois do Juizo final,
05 justos reinargo para sempre com Cristo, glorificados em corpo e alma, e 0 préprio
universo sera renovado.
E hora de
trabalnar!
Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 2.1.
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O PROBLEMA DO MAL
‘OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar a complexidade das relagdes entre o bem € o mal
na existéncia humana a partir das respostas dadas peles cinco maiores tradig6es religiosas
humanas.
‘A “questo do maf é, juntamente com outras grandes questées, em uma linguagem
paulina, "um espinho na carne” (2 Cor 12,7), ou “o caleanhar de Aquiles" de toda a
humanidade em todos os tempos e em todas as culturas. Quem nunca sofreu algum mal?
Independentemente do mal ser uma pergunta que assola a todos, ou seja, de possuir um
aspecto ou um “caréter de questo", ele, na verdace, é um fato inegavel.
© reconhecimento de que o mal, antes de ser uma pergunta, é um fato revela que a
sua presenca é inerente a existéncia |
humana e que tudo 0 que se pode fazer
para combaté-lo € no minimo, infimo
demais para excluilo por completo, ou
seja, ninguém escapa do mall A
inevitabilidade do mal, portanto, toma-se | —
um incémodo € © seu questionamento,
uma necessidade. Assim, por saber que ©
mal € um fato inegdvel € que |
perguntamos: "por que o mal existe?”. |» hd
Fonte: httn/mione me ks AE
A pergunta “porque existe 0 mal?” leva, inevitavelmente, 4 ingrata pergunta: “de
onde vem o mal?". A resposta pergunta pela origem do mal nao é algo facil de oferecer
nem possui uma Unica resposta possivel. Ao considerar que essa pergunta faz parte dos
grandes dilemas da humanidade, ndo hé consenso nas respostas, isto é, cada
representacéo sociocultural dard a sua resposta, 0 seu modo de ver o mal.
Para ficar mais faci, esse texto limita-se a expor apenas a resposta dos cinco
principais modos possivels de representacao sociocultural, a saber: a resposta judaica, a
resposta islémica, a resposta budista, a resposta hinduista e, por fim, a resposta cristd, 0
que nao significa dizer que nao existem outras.
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3.1 A Resposta Judaica
Em principio, o Judaismo nao pode aceitar ou concordar com a opinido de
que o mal tem por causa a circunstancia externa ao homem, "... embora concorde
que 0 juizo divino leva em consideragéo 0 pecador na sua individualidade e sua situagéo em
especifico” (APPLE, 1983, p.125).
Com efeito, realidade do mal aparece para a condigio humana como “ma
inelinag&o" (yetzer Aaray,, oposta, naturalmente, @ boa inclinag&e (yetzer hator)). Ao
contrério do dualismo grego, sobretudo dos maniqueus", que distinguia origens diferentes
para bem e mal, 0 Judaismo
admite que ambos, a m4 e a
boa inclinacao, possuem uma
Gnica origem, isto é, 0 préprio
Deus, como pode ser conferido na
literatura profética de Isaias: “[...]
Eu formo a luz e ctio as trevas; eu
fago a paz, crio o mal; eu sou 0
Senhor, que faz todas as coisas”
(is 45,7). Fonte: http://migre.me/Kkeyt
Assim, dizer que Deus é © autor da ma inclinagdo no homem nao pode levar
contradigao de afirmar a maldade divina. Pelo contrario, sua origem divina em comum com
a boa inclinacdo é necesséria, & medida que o homem possui uma liberdade moral, tal como
0s textos sagrados jé preconizavam: “Vede: eu ponho hoje diante de vés bengdo e
maldigéo...” (Dt, 11,26). Em outras palavras, a garantia da liberdade humana esta na
capacidade, ofertada por Deus, de ser influenciado por uma boa ou mé
inclinago. Se Deus, para conservar a prépria liberdade humana, dé ao homem duas
inclinagées opostas, resta questionar: a qual das inclinagdes 0 ser humano tenderia mais?
7 Em consonaneia com a tradic&o sagrada do judaismo, 2 2x! (transiiterado como yetzer hara)
aparece em duas importantes passagens do texto do Génesis:... 0 dia todo, seu coragdo nao fazia
‘outra coisa sendo conceber omal...” (Gn 6,5) e ".. Sem duvida, 0 coracao do homem se inclina para
mal desde sua juventude..” (Gn 21). (N. do Autor).
® maniqueismo @ uma flosofia gnostica que rejeita radicalmente o judaismo e que se liga a idelas
persas, indianas ¢ aristis. Ele fol fundado pelo persa Mani (no latin, Maniohaeus) no terceiro século
da era crista e tem como tese central, de inspiragdo persa, a crenga em dois reinos eternamente
Paralelos: um reino da luz, dominado por um ser divino da luz, ¢ um reino das trevas também
dominado por um ser divine das trevas. Cf. STORIG, H. J, Histéria Geral da Filosofia, 2008,
pp. 185-186.
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Como resposta a essa pergunta, duas teorias opostas se
apresentam: a “teoria do pecado original” e a “teoria da virtude
original" (APPLE, 1983, p.127). Pelo que consta, nao ha no
Judaismo uma “doutrina normativa do pecado original”
extraida da narrativa da transgressao de Addo tal como
aparece no Génesis.
Fonte: http://migre,me/kt2uC
Apple assevera que, embora existam sugestivos folclores judaicos que procuram
culpabiizar Ado pelos pecados de seus descendentes, eles nfo possuem nenhum valor
normative. Tampouco no Judaismo é possivel dizer de uma “doutrina da virtude
ori
inal”.
‘Ademais, ha tendéncias dentro do Judaismo de carater mais otimista que alegam:
apesar de no poder afirmar nem a virtude original nem o pecado original, 0 fato de o ser
humano ser racional faz com que ele persiga
ou escolha a boa inclinagao, pois, além de
. nenhum dos herdis biblicos €
reconhecer racionalmente que essa seré — retratado como perfeito; e em varias
i je oportunidades, a5 escrituras afirmam
melhor para ele, sabe que 0 Criador 0 criow Soe nzo ha homem justificado sobre a
no para viverem longe. terra que pratica somente o bem e
nunca © mal” (APPLE, 1983, p.128)
Outro modo de reforcar essa “preferéncia -
para junto de
pela boa inclinago” no Judaismo esté no
argumento de que tudo © que fazemos é visando o bem endo o mal. Por exemplo, um
bandido no rouba pensando em fazer o mal a outrem, ao contrétio, rouba porque acredita
que aquela opsao, ainda que distorcida e limitada, é um bem para ele.
Ha, ainda, uma outra explicagdo judaica para uma maior preferéncia pelo bem, a
saber: se néio houvesse a ma inclinagéo nao haveria a propria vida; pois ela,
juntamente com a boa inclinaco, é que faz a dinamicidade da vida.
Portanto, conclui Apple: a ma inclinacéo no deve ser endeusada, tampouco negada.
‘Ao contrétio, deve ser disciplinada e direcionada e isso se dé de trés modos:
* 0 primeiro modo esté relacionado com o modo de entender € fazer uso da
prépria boa indlinagio. Se a mé inclinaggo pode ser reparada pela boa
inclinacao, a ma inclinac&o nao pode ser vista somente como propriedade da
matéria, pois 0 pecado é do homem como um todo e néo apenas da
matéria,
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* © segundo modo de lider com a mé inclinacao é estudar e praticar as
palavras de Deus encontradas nas Escrituras.
* Eo terceiro modo é com a ajuda de Deus.
Apesar de tudo o que foi dito acima, o Judaismo
também nao escapa das cldssicas literaturas que sustentam o
mal a partir de um ser diabdlico e demoniaco que tem a
capacidade de seduzir 0 ser humano. A Kabbalah apresenta o
mal como um dominio emanado das trevas e dos poderes f
demoniacos, repletos de aspectos hierarquicos. Em
contraposicao a essas visées miticas, Apple explica que a
filosofia judaica classica defende a néo-existéncia do mal —
caso se pense o mal em si mesmo — reforcando assim as |
tradiges rabinicas. No maximo, o mal assumiria o papel de
auséncia do bem.
3.2 A Resposta Islamica
A resposta islémica 20 problema do mal, por sua vez, parte da idela de que Alah
(Deus) & sumamente onipotente, o que implica dizer que o Islamismo constréi uma
cosmologia muito mais determinista que o Cristianismo e que o Judaismo (JESSICA, 2013,
p.01). Para a teologia islamica, todas as coisas possuem uma tinica origem: Deus
— inclusive © mal. Porém, ainda que esse Ultimo seja de origem divina, 0 campo das
coisas consideradas "mas" & bem inferior ao das consideradas boas.
© Isid também possui, em sua tradico literdria, um personagem que personifica 0
mal. Denominado de Zblis ou Shaytan, a personificagio do
imal islamico era compreendida como um anjo — cunhado de
fogo - @ que fol esconjurado do paraiso por néo querer
curvar-se diante do homem. bls, além de ter um papel
muito pequeno na teologia Islémica, é em alguns casos,
retratado na forma humana ensinando heresias ou doutrinas
erradas. Sua forma de corromper a humanidade no se da
por meio da seductio ou da corrupsio, mas ao semear erros
na compreenséo da doutrina do Isla (JESSICA, 2013, p.01).
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Com feito, a questo mais importante na compreensio do mal para a
representagdo sociocultural islamica 0 fato de que o mal no esta associado a ideia de
redengo, e a funcSo da ressurrei¢ao de Cristo nao tem relaco com a salvacio
do homem (JESSICA, 2013, p.01). Nesse aspecto, a nogio islamica do mal aproxima-se
mats do Judafsmo do que do Cristianismo, & medida que inexiste no Islamismo qualquer
possibilidade de interpretar a transgressdo de Addo, relatada no texto de Génesis, como
algo que tenha modificado a natureza humana, fato esse que favoreceu a teorizagdo do
pecado original e a justificagéio da morte e ressurreicio de Cristo. Para o Islamismo, o mal é
uma condiggo humana transitéria, mesmo que Ado tenha sido expulso definitivamente do
paraiso, sua punigéio € vista como temporaria e diz respeito apenas Aquele ato em
especifico. (JESSICA, 2013, p.02).
Assim, tal como no Judaismo, © mal e suas consequéncias, o pecado, sao tidos
muito mais como atos morais de cardter temporario do que como mudangas que
necessitem de uma reparagao eterna. Por outro lado, ao dizer isso, nem todos os
problemas ligados ao mal esto resolvides, na
medida em que a atribuicgao do mal a Deus,
numa teologia determinista, implica em outros
problemas como o da predestinagio e da
liberdade humana.
Com efeito, a resposta & pergunta: por
que Deus no evita 0 mal? no é consenso no
mundo cultural islamico. De acordo com
Kahleck, duas séo as posturas cléssicas frente
a esse problema:
* 0s primeiros
teoléaicos do
representados pelos
sustentavam que o ser
possuia © que os
responsabilizaria por seus pecados.
tedlogos ortodoxos
classics, defendiam a predestinacéo,
movimentos
Islamismo,
Qadariyya
humano
livre-arbitrio,
* Os Sunnis,
0 mal e 0 pecado sic geralmente
representados como condigies transitérias
na teologia isliica - mesmo depois de
morto, de acordo com alguns tedlogos
medievais, a passagem de alguém no
inferno seria tempordria, um termo
designado com base sobre os pecados
cometidos na vida” (JESSICA, 2013, p.02)
™... 6 certo que cada um de nds temos o
potencial para sermos pessoas boas &
felizes, também temas as condigies para ser
pessoas mis e prejudiciais, As facetas do
bem e do mal convivem em nosso mundo.
L..] S80 os chamados maus sentimentos os
que nos fazem softer, e camo sofreros,
sentimos a necessidade de fazer sofrer os
dermis. Desde o ponto de vista da pratica e
dos estudos budistas, 0 que importa, antes
de tudo, é reconhecer que em cada um de
nds habitam anjos e deménios. Cada uma
das intengdes e motivacies para _atuar
pretende dominar toda a existéncia”
(MONTARO, 2009, p.104),
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Fonte: hitp://mrigre.me/kt5Gt
3.3 A Resposta Budista
Diferentemente das demais tradigées, 0 Budismo, de modo geral, nao faz uma
relacao explicita do mal com uma divindade transcendente, isto é, 0 mal ndo esta
ligado uma falta original cometida pelos seres humanos que, além de desagradar aos
deuses, promove uma cisdo entre os deuses e as criaturas, e que necessita de um reparo
(re-ligaré) mediante um sacrificio humano (como ocortia nas religiées cananelas) ou divino
(Como o de Jesus Cristo no caso do Cristianismo).
De fato, nos termos de Stérig (2008, p.37): “o budismo é uma religidio ateia", 0 que
significa que, para o Budismo, nao hé a necessidade de se postular um Deus pessoal
para que uma relacao religiosa se estabeleca, o qual pata muitos é um absurdo! Para
essa_tradico oriental, o mal, ou mais conhecido com "maus sentimentos", séo
potencialidades intrinsecas a todo ser humano.
No trecho ao lado, Montafio explica que © Budismo nao entende o mal como
algo em si mesmo (chamado em muitas tradigées de mal metafisico), oposto ao
bem, mas ambos — bem e mal — so como dois “pote intrinsecos aos seres
humanos expressados em forma de bons e maus sentimentos.
De modo metaférico, como explica Montafio, é como se em cada pessoa morassem
“anjos e deménios" que brigassem pela posse daquela existéncia em particular, de modo a
influenciar os seus sentimentos. Essa visdo, por sua vez, confere ao bem @ ao mal o mesmo
nivel de compreenséo, enquanto poténcias ou tendéncias humanas.
Uma pergunta, portanto, torna-se inevitivel: se o ser humano possui tanto a
tendéncia para o bem quanto para o mal, qual das duas seria mais forte? Montafio explica
que nfo ha diividas de que € mais fécil o ser humano ser influenciado pelos maus
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sentimentos do que pelas boas inclinagées, na medida em que as més inclinagSes produzem
satisfagées rapidas e imediatas; e também é verdade que “toda aco positiva, amorosa e
compassiva envolve as sementes da felicidade e verdadeira satisfagio” enquanto que “toda
ago negativa, agressiva e egoista envolve as sementes do sofrimento e da dor”
(MONTANO, 2009, p.105).
Contudo, nada disso é suficiente para sustentar que o
ser humano é essencialmente inclinado para o mal, ou seja, 0
fato de ser mais facil
se para os maus
sentimentos nao Ihe garante uma natureza ma, pois, para
a concepcéo budista de Dalai Lama, o ser humano é
naturalmente inclinado para a felicidade, para a paz e pela
satisfacéio. (MONTAMNO, 2009, p.102).
Fonte: http: //migre.me/kte7u
Nao obstante a forga natural humana de buscar a felicidade em decorréncia de sua
natureza bondosa, como apregoa 0 budismo, 0 que explica © homem, em algum momento,
preferir seus maus sentimentos? A fim de responder esse dilema, Montafio retoma os
ensinamentos de Buda, que dizia: “a raiz fundamental de nossas experiéncias de dor e
sofrimento, de mal-estar e perturbacdo interna, é a ignorancia” (MONTANO, 2009, p.105). A
ignorancia no € um atributo decorrente da intelectualidade, como uma auséncia de
informagées ou um deficit racional. Entende-se
por ignorncia “o modo equivocado de ver os
fenémenos e as experiéncias que vivemos,
devido, basicamente, 8s emogdes_e
pensamentos, surgidos como respostas aos
estimulos do mundo, que no séo validos”.
(MONTANO, 2009, p.105). Em outras palavras, a
ignorancia advém quando se concebem de
cratidaae
sorte don for
Fama
cias_ vividas
modo erréneo as expel
mediante um desencontro entre o modo de
perceber o real eo que ele realmente é.
sucesso
Fonte htto.//miare,.me/kicidk.
Montafio explica que esse “desencontro” acontece devido a uma pré-concepsfio que
se tem sobre as coisas enquanto fixas, isoladas, sdlidas, definitivas e permanentes. Essa
vise distorcida, muito comum em todo ser humano, tende a ver todas as coisas a partir de
uma esséncia imutavel e uma existéncia auténoma e independente dos demais. Enquanto
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que, na verdade, os fenémenos séo “interdependentes, varidveis, indeterminados e
impermanentes” (DALAI LAMA apud MONTANO, 2009, p.108).
Nos termos de Storig, um "... Darma [particulas tltimas que compée tudo que
existe] nao é uma existéncia permanente, mas sim uma manifesta breve, algo que
aparece e passa rapidamente. Nao existe em si um ser duradouro ou persistente” (STORIG,
2008, p.38). Isso significa que os maus sentimentos advém de uma inversio
perceptiva da realidade, caracterizada pelo Budismo como ignordncia. © que,
contudo, explica essa inversdo na percepcao da realidade?
‘Accausa do mal, - a inversio perceptiva dos fendmenos e das experiéncias pessoais — e que
© Budismo chama de ignorancia, é 0 proprio ser humano. O ser humano é 0 responsavel
pelos seus préprios maus sentimentos, maus atos e sofrimentos pessoais e
interpessoais.
Ao observar 0 citculo vicioso exposto acima, cujos sentimentos desagradaveis so
reagdes oriundas das percepgées externas, que, por sua vez, provocam ages negativas ¢
estressantes e que, depois, serio novamente percebidas como desagradaveis; torna-se
evidente que toda a compreensdo do real depende exclusivamente do modo como os
fendmenos so idealizados ou mentalizados pelo sujeito. Para a representago sociocultural
budista, tudo o que constitui o mundo é reduzido desde a perspectiva do ego, ou seja, do
eu, pois “processamos todos os estimulos externos e todas as experiéncias que vivemos em
fungao do ego, dos meus desejos e de minhas
necessidades” (MONTANO, 2009, p.106). Em outras
palavras, 0 modo de percepgao dos fenémenos &
de apego ou de averséo, 0 que implica que o
sujeito projeta no mundo o seu modo de
perceber, transformando sua realidade em boa _
ou ruim, dependendo de sua percepco e de
suas reades no mundo.
3.4 A Resposta Hindu
A resposta da representaco sociocultural hindu também nao foge muito do que foi
visto até agora pelas demais tradicées. A diferenca esté no modo como deve ser
interpretada a relaco entre drahmane a teoria do karma’.
° Para o Hinduismo, Brahman € a divindade suprema, o responsavel pelo universo, e a teoria do
karma, presente em grande parte das escolas hinduistas, mas com interpretagées diversas, ¢ 2
teoria que defende que existem leis de causa ¢ efeito no universo que s4o responsaveis pelas
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Uma das grandes questes das escolas hinduistas, no que diz respeito questo do
mal, est no modo de compreender a teoria do karma, que sdo leis deterministicas de
causa € efelto, responsaveis pelas sucessivas reencarnacées, pols reencarnar significa
permanecer no mundo do sofrimento.
Resumidamente, apresentar-se-4 trés pontos importantes para essa discusséo
sugeridos por O'Flaherty (1989, 535-536):
+ Segundo o autor, a teoria de que 0 karma viola a divina onipoténcia
nao € verdadeira. Se 0 Karma determina as acées humanas, isso
significaria que Deus (brahman) no é onipotente. Permitir que os seres
humanos decidam por suas ages em nada fere o poder divino.
+ Segundo o mesmo autor também no é certa a teoria de que o
divino controle sobre o karma faz de brahman, fundamentalmente,
responsével pelo mal, pois, para o Hinduismo, co-existem onipoténcia e
livre-arbitrio.
+ E por fim, o terceiro ponto argumenta que dizer que no existe
brahman e que existe 0 ‘acaso’ serve mais para ‘ignorar do que
resolver o problema do mal’,
Algumas. escolas hindus tentaram
responder ao problema do mal ignorando a
questo de sua origem, como se, a0 admitir
© acaso como origem do mal, © problema
tomaria outros contornos. Com efeito, 0 que
esté em jogo nesse argumento é o fato de
que havendo ou n&o um inicio (uma génese)
para o mal, tal como postula a tradigéo crista
(uma falta original), © problema do mal
continua em aberto.
3.5 A Resposta Crista
Em consondncia com a representago sociocultural crist, € preciso abordar a
questo do mal atrelando-a ao “olhar da nossa fé" (CIC § 385) como modalidade de
sucessivas reencamnagées para atingir 0 moksha, a libertacao total que reintegra atman a Brahman.
Subjacente a ideia do karma esta a imortalidade, a superacao do ciclo das reencamages. A
imortalidade € representada, em textos sagrados, como a Viagem da alma que entra no paraiso
celeste (Vaikuntha = morada de Vishnu e Kallasa no Himalaia = morada de Shiva). (N. do autor)
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abordagem de tal questo. Mais precisamente, s6 se pode falar de mal e sua origem,
se se pisa no horizonte da fé, sem ela as questées passam a ser dilemas
insondaveis. Assim, a questéo fundamental a respeito do mal, na perspectiva cristé,
assim enunciada: "Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de
todas as suas criaturas, por que entio o mal existe? [...]" (CIC § 309).
Nos termos de Queiruga (1999, p.83):
Se Deus € puro amor, generosa e exclusiva libertaglo, por que este mundo
por ele criado vem a ser to duro, tio triste as vezes, e, ainda por cima,
{lo trSgico? Seguramente, nenhuma outra questo minou to a fundo a Fé
ea confianca nessa bondade e, de consequéncia, na pripria existéncia de
Deus.
Como visto, o mal na vertente cristé converte-se em :
problema, isto 6, néo apenas pSe em questo o atributo da bondade
divina, enquanto expressao de amor e cuidado com as criaturas,
como também questiona a prdpria existéncia de Deus. Antes de
desenvolver a resposta cristé a respeito do mal, é importante
destacar que 0 problema do mal é anterior ao préprio Cristianismo.
Epicuro de Samos, filésofo grego do século III a.C., elaborou 0 Ss
sequinte dilema: Masia
Fonte: http: //miare.me/ktfot
Deus quer evitar o mal, mas nao pode faz8-lo? Entéo ele no é onipotentel
Ele € capaz de fazé-lo, mas ndo quer. Entdo ele & malévolo! Deus pode e
quer evitar o mal? Entéo por que permite a maldade? Deus nao pode &
rem quer evitar 0 mal? Entéo por que chama-lo de Deus? (QUEIRUGA,
1999, p.85)
© dilema exposto no fragmento acima mostra que o problema do mal, desde
Epicuro, ¢ reduzido a uma simples escolha, Precisamente, essas “escolhas", com 0 passar
dos tempos, foram tornando-se “crengas” que, ainda hoje, sustentam 0 imaginério popular
e erudito sem, no minimo, uma digna problematizagdo (QUEIRUGA, 1999).
A fim de n&o repetir 0 mesmo equivoco - de compreender a questo do mal na
vertente crist& simplesmente como uma escolha entre Deus ou 0 mal - faz-se necesséio
melhor desenvolver a questo do mal.
Uma primeira intuiggo importante da tradic&o crist& para o desenvolvimento desse
problema aparece ja no séc. IV com o tedlogo Aurélius Augustus — vulgo Agostinho. Tal
como a tradicao, Agostinho (1980, 7, §3, p.142-143) pergunta-se:
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Quem me criou? No foi o meu Deus, que é bom, e & também 2 mesma
bondade? Donde me veio, ento, 0 querer eu o mal e n&o querer 0
bem? Seria para que houvesse motivo de eu justamente ser castigado?
Quem colocu em mim e quem semeou em mim este viveiro de
amarguras, sendo eu inteira criago do meu Deus to amoreso? Se foi 0
deménio quem me criou, donde é que veio ele? E se, por uma decisio de
sua vontade perversa, se transformou de anjo bom em deménio, qual é 2
origer daquela vontade mé com que se mudou em diabo, tendo sido
ciado anjo perfeito por um Crisdor to bom?
Em coneluséo, 0 tedlogo responde:
De fato, a corrupcdo € nociva, e, se néo diminuisse © bem, no seria
nociva, Portanto, ou a corrupgao nada prejudica — 0 que néo ¢ aceitével —
ou todas as coisas que se corrompem so privadas de algum bem.
Isto no admite duvida [...] Por sso, se [as coisas] so privadas de todo 0
bem, deixardo totalmente de exist. Logo, enquanto existem, so boas,
Portanto, todas as coisas que existem sio boas, ¢ aquele mal que eu
procurava no é uma substincia, pois, se fosse substéincia, seria um bem.
[..] Em absoluto, o mal ndo existe nem para Vés, nem para as vossas,
Griaturas, pois nenhuma coisa hé fora de Vés que se revolte ou que
desmanche a ordem que lhe estabelecestes. (AGOSTINHO, 1980, 7, § 12,
p.153-154, grifo nosso)
Agostinho chega & conclusdo que, se Deus & bom e tudo o que ele faz segue a
mesma bondade (cf. Gn 1,31); 0 mal, em si mesmo, no pode ser tomado como
uma coisa independente de todas as demais, como uma “substdncia"; 0 que
permite 0 filésofo afirmar, com todas as letras, que o ma/ ndo existe e,
consequentemente, nao tem origem. Todas as coisas ctiadas por Deus,
necessariamente, devem ser boas € no existem coisas, criadas pelo mesmo Deus, que
sejam més em si mesmas.
A concluséo agostiniana, com efelto, permite inferir duas outras conclusées:
+ se no existem coisas més em si mesmas, tampouco existe um
causader do mal, ou seja, Agostinho pe em questio ou pelo menos
desacredita dessa possibllidade de existir um agente sobrenatural
responsével pelo mal, 0 qual ficou conhecido pela tradicéo crist# medieval
por Deménio®;
Nao se pode deixar de mencionar que a tradicao literaria crist, sobretudo a patristica e a
medieval, 2o interpretar as Escrituras, quis entender que toda a origem do mal podia ser depositada
na figura lendaria do Diabo, Deménio, Satanas etc. Contudo, essa discussao sobre sua possivel
existencia e sua pertinéncia para o problema do mal na tradicao orista nao sera tratada aqui, valemo-
nos da concluséo agostiniana como uma resposta suficiente para o encaminhamento da questéo
(Nota do autor)
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+ de modo positive, © mal seria algo relativo, ou seja, estd sempre em
relagdo a um bem, pois 0 maximo que pode-se dizer dele, nos termos de
Agostinho, € que o mal é a “privacdo do bem’,
Assim, haveria, entre as diversas coisas existentes criadas por Deus, uma
variagao de niveis de bens, ao invés de coisas propriamente mas. Uma coisa néo
poderia ser reconhecida como m4, sendo que privada de algum bem. Em outras palavras,
poderia ser um bem maior ou um bem menor, mas nunca um mal. A partir da conclustio de
que © mal no possui um agente sobrenatural e que ele é privagéo do bem, podemos
distinguir dois tipos de mal: “mel moral" € "mal metafisico”. Essencialmente, o mal moral
“é a violagdo voluntaria e livre de uma
ordem desejada por Deus — é 0 que a
tradigéo cristé denominou de falta ou
pecado” (OLIVEIRA In: AGOSTINHO, 1995,
p.245). Entende-se por mal metafisico o mal
em si. 0 mal metafisico como foi definido por
Agostinho nao existe; o que faz restar apenas
compreenséo do “mal moral", como um abuso do
livre-arbitrio do ser humano.
Fonte: htto.//migre, me/kta24
Em termos conclusivos, Agostinho, juntamente com toda a tradi¢ao biblico-crist,
defende a ideia de que Deus nunca pode ser tomado por autor do mal, e, caso haja
um autor, esse é 0 préprio ser humano, mediante sua vontade e seu livre-arbitrio
que decidem escolher, entre todas as coisas boas, aquelas que possuem maiores
privagées de bens.
Como foi dito, esse mal do qual o ser humano é 0 Unico responsdvel é denominado
de mal moral. Para evité-lo, a tradigéo crista prope os principios morais encontrados nas
Sagradas Escrituras como regras para toda aco que tem por fim ditimo 0 Sumo Bem que &
Deus.
Nao obstante a essas conclusées, subsiste ainda uma itima pergunta que a tradicao
crist’ deve responder: Se Deus no é o autor do mal e esse, por sua vez, ndo existe, de
onde vem 0 desejo humano de nao optar por bens maiores?
De acordo com 0 Queiruga (1999), a questo do mal, e todas suas implicacées
vistas anteriormente, resultam em duas compreensées:
* Ao afirmar que Deus no pode evitar o mal, ndo se nega a poténcia de Deus perante
© mal — de modo a colocar em questéo a prépria existéncia de Deus como postulou
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Epicuro -, mas apenas afirma-se que é impossivel para Deus fazé-lo, assim como &
impossivel para Deus fazer u cifculo quaatado,
* A impossibilidace divina de evitar o mal deve-se ao fato de que Deus nao pode criar
seres perfeitos. Tal como a tradicgo crista postulou, um ser perfeito somente pode
dar origem a um ser imperfeito. Assim, & teologicamente impossivel que Deus crie
seres perfeitos como ele, tal que o mal néo apareca. A criagdo divina apenas
concebe seres imperfeitos, isto é, finitos.
Com efeito, 0 mal é uma realidade que faz parte da prépria constituicio
stencial das criaturas. Em outros termos, a resposta crist para o mal
+ NAO, Deus nao é a causa do mal, pois além do fato de Deus ser essencialmente
amor € bondade, 0 mal metafisico (0 mal em si mesmo) € muito questionavel para
resistir a um questionamento mais sérlo;
+ SIM, o homem ¢ responsavel pelo mal moral na medida em que Deus, ao crié-
lo, no pode evitar 0 seu aparecimento. Tanto a vontade quanto o livre-arbitrio
humano so intrinsecamente finitos e
limitados, por causa disso, poder querer e
escolher coisas que, urna ver @tarnalizadas [Peer eee
em ages, necessariamente tergo--«omtradigio interna do fiito”
(QUEIRUGA, 1999, p.95)
consequéncias privadas de bens e _
interpretadas como um pecado, sob a égide
E hora de
trabatha
da moral crista.
Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 3.1.
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O PROBLEMA DO ABSOLUTO
OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar como as cinco maiores religides entendem a
realidade absoluta da existéncia, ou seja, como elas explicam a existéncia divina.
4.1 O Problema da Resposta Judaico-Crista
Nao hd dividas de que tanto a tradigo judaica quanto a tradico crista postulam a
ideia do Absoluto. Também nao ha diividas de que Judaismo e Cristianismo identificam
como Absoluto, em suas origens, a experiéncia de fé feita pelos povos do Antigo Oriente,
Essa experiéncia de fé € conhecida nas Escrituras como fé no “Deus dos pais” (DONNER,
1997).
De um lado, a experiéncia do “Deus dos pais" foi consolidada na crenga em um
Unico absoluto Senhor. Por outro lado, essa mesma experiéncia original foi aceita criando
outra crenga: a de um Deus que se revelou nao como um tnico Senhor, mas como uma
“Comunidade”. Desse choque de interpretagées da mesma experiéncia € que aparecem as
definigées absolutas de Monoteismo Judaico e Trinitarismo Cristao.
© Judaismo nem sempre foi monoteista, isto é, nem
sempre admitiu a existéncia de um tnico Deus, tal como se
compreende hoje; mas aprendeu com sua prdpria experiéncia
de f& e com as necessidades histéricas a reconhecer Javé
como seu tinico Senhor. Para a concepsiio judaica, Javé,
© Senhor dos Exércitos, é totalmente Absoluto”. 0
monoteismo constituido historicamente pelo Judafsmo
sustenta que deve haver um Unico Deus verdadeiramente
existente e somente a ele deve-se prestar culto. Nos termos
de Nathan, 0 monoteismo judaico é aquele que sustenta
a existéncia de um unico sujeito divino.
Fonte: http://migre.me/ktsmn_
“Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirel da terra do Egito, da casa da servidao; Nao teras outros
deuses diante de mim; Nao faras para ti imagem de escultura, nem semelhanca alguma do que ha
em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas aguas debaixo da terra; Nao te encurvaras a elas,
em as serviras; porque eu, 0 Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais
nos filhos, até a terceira e quarta geracdo daqueles que me odeiam. E faco misericérdia a milhares
dos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Dt 5, 6-10).
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Ao contrério do Judaismo, o Cristianismo prega, enquanto Absolute, uma
concepgao denominada Trinitarismo. E a crenga que afirma verdadeiramente a
existéncia de apenas um $6 Deus, porém em trés pessoas igualmente divinas. Do mesmo.
modo que 0 Monoteismo judaico, 0 Trinitarismo cristéo também nao nasceu pronto, mas
passou por diversas etapas até chegar a sua formulagdo dogmética. Assim, é Absoluto
para o Cristianismo crer que Deus é Uno e Trino ao mesmo tempo.
Nathan argumenta que a causa do conflito entre 0 Monoteismo judaico e o
Trinitarismo cristo € que o Cristianismo quer, ao mesmo tempo, defender como Absoluto a
crenga mono! de Deus ¢ 2 doutrina sobre Cristo, o que implicaria dizer que 0
Deus cristo € absolutamente Uno e Trino. Os limites dessa
pretenséo cristi aparecem no modo como se interpreta
essa relagdo entre Uno e Trino: ou 0 Trinitarismo defende a
existéncia de apenas um Deus acima das “trés pessoas” que
compie a Trindade, sendo um Deus Uno; ou se atribui a
cada uma das pessoas da Trindade @ qualidade de divino,
tornando Deus um ser Trino (NATHAN, 2006, p.76). Se a
segunda alternativa for 0 modo correto de entender o
Trinitarismo — dizer que cada pessoa da Trindade é Deus —
entéo seria. muito dificil pensé-lo em acordo com o
Monoteismo judaico. Em contrapartida, seria uma teoria
bem coerente com a doutrina sobre Cristo.
Fonte: http://migre.me/kts6V
A doutrina sobre Cristo afirma que, ao assumir que Cristo é distinto do Pai,
nao ha na Trindade um tinico “sujeito divine” (um Gnico Deus), mas pelo menos
dois sujeitos divinos: 0 Pai e o Filho. Caso isso seja assim, entdo a doutrina sobre
Cristo aproxima-se rigorosamente do Trinitarismo, uma vez que ela defence a divindade das
trés pessoas da Trindade. Em compensacéo, a doutrina sobre Cristo se afasta do
Monoteismo judaico.
Haveria um modo de conciliar o Trinitarismo cristo e Monotefsmo judaico? Segundo
nosso autor, para que o Trinitarismo seja compativel com o Monoteismo judaico é
necessério que a €nfase no seja no aspecto “comunitério” da Trindade, nas pessoas que o
compéem, mas na natureza divine em si mesma.
Seria o mesmo dizer que Deus € dnico, contudo sua vida € vivida em trés momentos
diferentes e de modo simultaneo. Em um momento, Deus vive o Pai, em outro, o Filho em
outro, o Espirito, e esses trés momentos ocorrem simultaneamente. De modo anélogo a um
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coro, Deus é como uma miisica que & cantada em trés vozes de tons diferentes,
mas simultaneamente.
(OOD
Fonte: http://migre,me/kks1a
Esse modo de compreender a Trindade nao é inconsistente e a0 mesmo tempo €
compativel com 0 Monoteismo judaico, comenta Nathan. Ha ainda outra interpretagaio do
Trinitarismo que defende a dela de um Unico sujeito divino consciente ao invés de trés que,
segundo nosso autor, pode ser perfeitamente concilidvel com 0 Monoteismo judaico. Ela diz
que a relagao de amor que se estabelece entre 0 Pai e 0 Filho € 0 Espirito, que depende do
Pal e do Filho, mas no so os mesmos.
No fim das contas, haveré sempre uma tensio entre Monoteismo judaico e
Trinitarismo cristo, ainda que as possibilidades de interpretaco do Trinitarismo
apresentadas acima, a partir da crenca de que exista apenas umn Linico sujeito divino sobre
as pessoas da Trindade, possua certo grau de verdade.
4.2 0 Problema da Resposta Islamico-Crista
Na resposta anterior, vimos como Cristianismo € Judafsmo se diferenciam quanto &
ideia do Absolut por meio da divergéncia entre Uno ¢/ou Trino. A ideia agora é fazer 0
mesmo, com uma Gnica diferenca, pretendemos mostrar como a tradigo islémica se afasta
de ideia Trinitéria para defender a unicidade de Deus, mesmo que essa defesa no seja
necessariamente uma volta ao Judaismo.
Hoover (2009) explica que o monotefsmo, ou seja, a exclusividade de Deus, ¢
uma doutrina fundamental no Islamismo e negé-la, ou compreendé-la de modo
distinto, como faz 0 Cristianismo, é cometer um pecado imperdoavel. Nesse
sentido, juntamente com Hoover (2009, 58-59), traremos presente os trés argumentos do
Isla contra o Trinitarismo cristo:
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© 0 primeiro argumento é a eri
a que © préprio Alcorao faz ao
Cristianismo. Hoover faz lembrar que ha alguns versos no Alcoro que
criticam o Trinitarismo cristao. Essas criticas tém como escopo central o fato
de que Jesus nao pode ser tomado por Filho de Deus, mas 20 contrério,
apenas um mensageiro de Deus — haja vista que tal filiagiio nada mais seria
do que uma mera associagio. A negacéo da filiago de Jesus, ainda, leva &
negacdo da existéncia de trés deuses na Trindade, afirmando em seu lugar, a
existéncia tinica de Deus.
* Como segundo argumento contra o Trinitarismo cristéo, o Islamismo procura
trazer a luz um equivoco de compreensao histérica que cometeu 0
Cristianismo: Jesus 6 compreendido no mesmo contexto e com as mesmas
prerrogativas dos profetas biblicos, ou seja, Jesus também tinha como
mensagem central a viséo monoteista de Deus. Segundo o Isla, as
mudangas dessa mensagem devemr-se a distorgées posteriores dentro da
interpretacdo do Cristianismo.
* 0 terceiro argumento diz respeito & prépria compreensaio da Trindade.
Comenta Hoover que o argumento € muito simples: se na natureza divina
co-participam trés pessoas, entao, pela ldgica, “trés ndo é um e um
no é trés”
De modo geral, 0 Islamismo néo compactua com a doutrina da Trindade e, ao
contrério da tentativa feita acima de conciliar o Trinitarismo com o Monote/smo judaico,
isso, para o pensamento Islamico é totalmente impossivel, pois Deus é Absolutamente
univoco e nada compartilha de sua divindade.
4.3 A Resposta Budista
Como jé foi dito no problema do fim sob a perspectiva budista classica, qualquer
compreenséo deve ser vista & luz das “Quatro Nobres Verdades". 0 problema do
Absoluto, por sua vez, é desenvolvido dentro da terceira verdade, Diz assim a terceira nobre
verdade:
L.-] 2 completa cessagio do sofrimento, ou extingSo da desarmonia entre
0 EU idealizado e 0 mundo real é conseguida pele total erradicagdo de
todas as formas de desejo, levando 20 Mibbana mais conhecido por
Nirvana. lr, em sSrscrito, significa "no" @ vana significa “cordao"; assim,
Nirvana pode ser treduzido literelmente como "no estar preso", ou "estar
liberto" (SILVA; HOMENKO, sd., p47).
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De acordo com o texto acima, existe uma “desarmonia” entre o eu idealizado e 0
mundo real, ou seja, de algum modo, acreditamos que existimos e também os outros seres
do mundo enquanto substancias no sentido grego!*. Essa viséo desarmonizada da realidade
nos faz querer viver sempre e, consequentemente, nos faz softer. Essa, portanto, é a
Gnica certeza do Budismo, a existéncia do sofrimento. A medida que uma entre
tantas formas de existir consegue anular esse desejo descontrolado e, portanto, 0
sofrimento, esse ente se liberta e alcanga o estado de Nirvana. © Nirvana, explicam Silva e
Homenko, no é simplesmente a mera anulagio dos desejos. Anular os desejos é, na
verdade, autoaniquilagdo, 0 que no Budismo é totalmente impossivel.
Assim, o Nirvana é uma
absoluta renincia sede que move
a “... [0 Nirvana é a] completa rentincia; ndo
os mossos desejos, = € = simplesmente rentincia aos objetos exteriores,
x its mas, na realidade, pela rendncia intema as
desconstrugéo da ilusdo que [RUE ee eine ra mono
prescreve um modelo desejavel de apaga porque nao hi mais combustivel para
. alimenté-lo, Ea aniquilagdo da iluséo do eu
realidade. Uma vez desfeito esse | pessoal de separatividade, do total dos apegos,
preconceito referente Aquilo que pode- | @feigdes pare consiga mesmo, apetites de sede
de desejos que envolve e suporta essa ilusdo'
se querer na realidade, o desejo cessae (SILVA, HOMENKO, s.d., p.47)
com ele © sofrimento, Em outras ”
palavias, @ Nirvana é a cortege da ignorancia sobre © que é Absoluto. Nés sempre
partimos do ponto de que existem coisas exteriores
e independentes a nés que podem ser desejadas.
Elas sfo tidas por absolutas. Contudo, segundo
Budismo, essas coisas exteriores, como as
riquezas, os prazeres, os conhecimentos, etc., no
existem independentes a nés e quanto mais os
consideramos assim, absolutos € independentes,
mais sofremos por nunca conseguir alcancé-los em
sua totalidade.
Fonte: http://migre.me/kttcz
Quando, decididamente, desconstruimos essa realidade em nds, de que as coisas
néo existem como absolutas, mas apenas relativas a nds, nossos desejos cessam e com eles
nossos sofrimentos, nos elevando a um estado de libertacéo denominado de Nirvana.
” Cf. O problema do fim na perspectiva Budista.
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Portanto, @ Nirvana, esse estado de liberta¢io da condigao da ignorancia e do
sofrimento, é o préprio real, o Absoluto em
esmo.
‘Onde estaria esse Nirvana? De acordo com 0 Budismo, 0 Nirvana *ndo-esté”, pois a
condicdo de “estar” est ligada 8 nogo de tempo e espago e essas devem também ser
sacrificadas para se atingir 0 Nirvana. Desse modo, 0 Nirvana é uma permanéncia que
no esta vinculada a um ego ou uma individualidade, mas apenas a continuidade
causal do Universo (SILVA; HOMENKO, s.d., p.49). Ademais, 0 Nirvana no pode ser
nem positive nem negative, nem bom nem mal. © termo felicidade também no é
adequado a ele, pois a ele ndo convém nenhuma dualidade. Néo € algo para depois da
morte, pois em vida pode-se alcancé-lo. Nos termos de Silva e Homenko (s.d., p.51):
© Nirvana & um estado incondicionado de inefavel bem-aventuranga, de
paz e alegria sem limites, como se atesta pelas declaracSes daqueles que o
aleancaram. Aquele cue realizou esta Verdade - Wirvana -0 mais feliz dos
seres. Sua salide mental é perfeita, no se arrepende do passado, nem se
preocupa com o futuro; vive 0 momento presente, esté livre da ignoréncia,
dos desejas egoistas, do ddio, da vaidade, do orgulho, livre das
dificuldades ¢ dos problemas que atormentam os outros. Torna-se um ser
puro, meigo, cheio de amor universal, compaixio, bondade, simpatia,
compreensio e tolerdncia, Presta servigo aos outs com a mior pureza,
pois no pensa egocentricamente, nfo procura lucro, nem acumula coisa
alguma;, nem os bens espirituzis, porque esté livre da ilusso do "eu", da
sede e desejo de vir-a-ser.
Assim, 0 Nirvana é um estado que em tudo esté e ao mesmo tempo nao esté em
parte alguma. E a grande libertag3o do karma, o totalmente incondicionado pelo eu
individual, @ prépria possibilidade o Absoluto e por isso mesmo 0 Absoluto.
4.4 A Resposta Hindu
A representagéo sociocultural e filosdfica hindu também possui uma resposta ao
problema do Absoluto, e para tal, como comenta Stirig (2008), € necessério entender dois
conceitos: Brahman e Atman.
Inicialmente, Brahman significava “orago", ou ainda, “palavra magica”. Ao longo
dos tempos esse conceito foi variando até que ele ganhou seu significado mais preciso:
“principio criador universal genérico, a grande alma universal que repousa sobre si mesma,
a partir da qual tudo € gerado e na qual tudo repousa’ (STORIG, 2008, p.26). Essa
mudanca, de oragéo para principio universal, explica Stirig, é fruto do préprio entendimento
do que € a oragao. Se, de acordo com essa tradicéo, orar nada mais é do que elevar-se ao
divino supraindividual, é fazer-se um com a divindede, entéo, 0 que ocorreu, na verdace, foi
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apenas uma mudanga de foco. Brahman, que no inicio era visto na perspectiva do crente,
posteriormente foi ampliado para a perspectiva da prépria comunhao universal, sem deixar
© sentido original de fazer a ligagao entre o orante e 0 cosmos.
Do mesmo modo ocorreu com Aéman. Originalmente, Aman queria dizer “sopro” ou
“respitagéo". Os anos deram-Ihe 0 sentido de “ser”, "si mesmo”, ou seja, a identidade do
set humano. Assim, Atman passa a ser visto como 0 “niicleo mais intimo de nosso eu” isto
6, a nossa alma (STORIG, 2008).
No entanto, a transformacao mais decisiva de ambos, e que nos interessa aqui, esté
quando Brahman e Atman foram, em anos posteriores, identificades como uma tinica
realidade, ou seja, como 0 Absolute. Desse modo, ha apenas uma (nica esséncia do mundo
que pode ser percebida e reconhecida por dois polos: quando se olha a partir da totalidade
do universo, temos Brahman, quando se olha a partir dos seres individuais, temos Atman.
Portanto, quando se parte do ponto de vista da
individualidade é Aémane Brahman quando se
parte do ponto de vista da totalidade.
Brahman néo 36 estd em tudo como também &
tudo, assim como Aéman. Nesse ponto, o dualismo
antropolégico (corpo e alma) ganha_contornos
prdprios. O Hinduismo mantém a ideia dualista de que
o mundo exterior @ alma € um mundo
ontologicamente inferior, isto é, néo possui valor em
si mesmo. Explica Storig (2008): “o mundo das coisas
do tempo e do espaco ndo é em si esséncia, néio é
Atman, mas sim miragem, véu, ilusso”.
Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 4.1.
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virtua
Ls
A SINGULARIDADE DA COSMOVISAO CRISTA
OBJETIVO DA UNIDADE: Propor o cristianismo como modo e estrutura por meio da
qual a pessoa vé, interpreta e entende as experiéncias da vida, a partir da experiéncia
franciscana,
Todo cristo, pelo batismo, se compromete a seguir Jesus Cristo. As Igrejas cristas
em geral propiem como ideal a ser vivido, 0 seguimento de Jesus Cristo, Nos momentos de
grande crise da Igreja, quando o ideal se encontra comprometido, a histéria tem mostrado
que surgem sempre de novo movimentos de renovaco, que buscam nos Evangelhos a luz &
a inspiragdo para voltarem a seguir, mais de perto, a Jesus Cristo. Podemos afirmar que a
tBnica constante da espiritualidade crist é o seguimento de
Jesus Cristo. . ~~
Os santos foram e so sempre pessoas que se Nn
puseram radicalmente no seguimento de Jesus Cristo. he
Francisco de Assis foi uma dessas pessoas que mais 4 -
impressionou os seus contemporaneos do século XII, capaz
de arrastar multidées de homens e mulheres com uma
proposta de vida simples e radical: seguir a Jesus Cristo
segundo a forma do Evangelho. Seu exemplo de vida nos
desafia ainda hoje a seguir as pegadas de Jesus Cristo,
pobre, solidario com todos os pobres © sofredores e irmao
de todas as criaturas.
Fonte: http://migre.me/ktvix
Francisco de Assis catalisa e expressa as aspiragées humanas mais radicais. Entre as
grandes aspiragdes do ser humano est o desejo de comunhao com toda criatura. Sozinho,
© ser humano se sente incompleto, imperfeito e infeliz. Repousar na harmonia do bom e do
belo agrada ao ser humano. Ele parece estar sempre em busca do paraiso perdido, onde
possa vivenciar a paz € a comunhdo com o todo. No entanto, experiencia uma realidade
bem diferente de um paraiso terrestre, no decorrer da historia. Quanto édio, discdrdia,
diviso em nosso tempo.
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Impulsionado pelo egoismo, cada qual procura seu mundo. A comunhio no seio da
familia, da sociedade e com toda criagéo € quebrado. Cria-se 0 isolamento das pessoas.
Muitas se encontram solitérias e isoladas. As multidées que se juntam so massas humanas
que no possibilitam o encontro. € dificil a comunho harmoniosa entre homens e mulheres.
A.utilidade e @ produgio so os critérios pelos quals as pessoas so avaliadas. Aquilo que
so & menos importante do que aquilo que possuem. Este é critério de considerag&o. Busca-
se 0 utilitarismo e o produtivismo.
© confiito e a violéncia so gerados pelo egoismo, o utiltarismo e o produtivismo. A
gendncia do ter e do gozar geram guerras, conflites, marginelizagées de grupos sociais
inteiros. Nao nos vemos mais como irméos, mas como inimigos. Perguntamo-nos: seré que
© axioma dos latinos Aomo homini kjpus (0 ser humano & um lobo para o outro ser
humano) teré que perpetuar-se, apesar de toda mensagem de confraternizacéo universal do
Evangelho, baseaca no mandamento do amor? (BECKHAUSER, 1996, p.195],
Em busca de valores humanos como a liberdade, a fraternidade e a igualdade
fizeram-se até revolugées. Porém, passam-se séculos e a realidade humana néo é de
comunhio, mas de conflito, inimizade e édio. Até harmonia entre o homem e natureza se
deteriora a passos largos, causando a ameaca ao ser humano, por causa do desequiliorio
ecoldgico.
Contudo,
© ser humano encontra-se imerso na experiéncia de identidade e da
alteridade. Tem conscigncia da sua individualidade e, no entanto,
impelido pare 0 outro. Ele é tinico, mas sente-se chamado & comunhio. &
sofre porque tem consciénca de que sb na comunhao com 0 outro ele
‘encontra sua realizacao (BECKHAUSER, 1956, p.195).
Frente a essa situagdo angustiante, experimentada com intensidade de
dramaticidade pelos homens e mulheres do nosso tempo, talvez mais intensamente do que
em outros tempos, nos perguntamos: 0 que nos tem a dizer Francisco de Assis? Mais de
itocentes anos depois da sua morte, ele aparece, ainda hoje, como o homem reconeiliado
com todas as coisas: consigo mesmo, com Deus, com o préximo e com toda criagéo.
Ele & conhecido como irméo universal em plena comunhio com todo o mundo e com
05 seres criados. Uma comunhio que promove e suscita a vida, pois é sindnimo de amor.
Nesse sentido, este texto quer tratar da fraternidade universal vivenciada por Francisco de
Assis, enfocando mais acentuadamente o tema da ecologia.
Apresentamos a seguir fragmentos do artigo do professor Nilo Agostini: “A crise
ecolégica: 0 ser humano em questo” Disponivel na integra em:
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