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(S) UCDB,, virtual Humanidades II (02 créditos = 40 horas) YF onan’ © onrocninco })) A LiNGUA A, porrucuesn fy Autor: Victor Hugo de Oliveira Marques Wercy Rodrigues da Costa Junior Universidade Catélica Dom Bosco Virtual ‘yaw. virtual ucdb. br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtual Miss&o Salesiana de Mato Grosso Universidade Catélica Dom Bosco Instituigo Salesiana de Educag&o Superior Chanceler: Pe. Gilddsio Mendes dos Santos Reitor: Pe. Ricardo Carlos Pré-Reitora de Graduagao: Prof, Conceic&o A. Galvez Butera Diretor da UCDB Virtual: Prof. Jeferson Pistori Coordenadora Pedagégica: Prof®. Blanca Martin Salvago Direitos desta edicdo reservados a Editora UCDB Diretoria de Educagio a Distancia: (67) 3312-3335 www.virtual.ucdb.br UCDB -Universidade Catélica Dom Bosco ‘Av. Tamandaré, 6000 Jardim Seminario. Fone: (67) 3312-3800 Fax: (67) 3312-3302 CEP 79117-900 0716 Campo Grande - MS Marques, Victor H, de Olveira; Costa Jr, Wercy Rodrigues da, Discplina: Humanidades IE Marques e Costa Jr. Campo Grande: UCDB, 2014. 77 p. Palavras-chave: 1 _Cosmovisdo cristé. 2 0 mal. 3 O absoluto. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua APRESENTAGAO DO MATERIAL DIDATICO IMPRESSO Este material foi elaborado pelo professor conteudista sob a orientacgo da equipe multidisciplinar da UCDB Virtual, com o objetivo de Ihe fornecer um subsidio didético que nortele os contetidos trabalhados nesta disciplina e que compée 0 Projeto Pedagégico do seu curso. Elementos que integram o material Critérios de avaliacaio: séo as informagées referentes aos critérios adotados para a avaliago (formativa e somativa) e composiggo da média da disciplina. Quadro de Controle de Atividades: trata-se de um quadro para vocé organizar a realizagio e envio das atividades virtuais. Vocé pode fazer seu ritmo de estudo, sem uk trapassar 0 prazo maximo indicado pelo professor. Contetido Desenvolvido: é 0 contetido da disciplina, com a explanagéo do pro- fessor sobre os diferentes temas objeto de estudo. Indicagées de Leituras de Aprofundamento: sao sugestées para que vocé possa aprofundar no contetido. A maioria das leituras sugeridas so links da Internet para facilitar seu acesso aos materiais. Atividades Virtuai As datas de envio encontram-se no calendario do Ambiente Virtual de Aprendizagem. : atividades propostas que marcaréo um ritmo no seu estudo. Como tirar o maximo de proveito Este material didatico é mais um subsidio para seus estudos. Consulte outros conteiides e interaja com 0s outros participantes. Portanto, ndo se esqueca de: * Interagir com frequéncia com os colegas e com o professor, usando as ferramentas de comunicacao e informacao do Ambiente Virtual de Aprendizagem — AVA; * Usar, além do material em mos, 0 outros recursos disponiveis no AVA: aulas audiovisuais, video-aulas, forum de discussao, férum permanente de cada unidade, etc.; + Recorrer a equipe de tutoria sempre que precisar orientac&o sobre diividas quanto a calendério, atividades, ferramentas do AVA, e outros; Ter uma rotina que Ihe permita estabelecer o ritmo de estudo adequado a suas necessidades como estudante, organize o seu tempo; * Ter consciéncia de que voc8 deve ser sujeito ativo no processo de sua aprendiza- gem, contando com a ajuda e colaboracao de todos. ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Objetivo Geral Oferecer e aprofundar a formagéo integral dos académicos, enfocando o tema religioso em diélogo com 0 mundo, com a sociedade e com todos os seres humanos. Oferecer subsiios para uma compreenséo adequada do fenémeno religioso, em perspectiva interdisciplinar e em relagéo com as culturas. SUMARIO UNIDADE 1 — 0 DESEJO DO INFINITO COMO FUNDAMENTO DE TODA. ESTRUTURA RELIGIOSA .. 1.10 infinito e a unidade - © monotefsmo 1.20 infinito e a multiplicidade ~ © politeismo.. 1.3 A nostalgia do eminentemente Outro. UNIDADE 2-0 PROBLEMA DO FIM DO HOMEME DA HISTORIA. 2.1 A Resposta Judaica 2.2 A Resposta Isiamica .. 2.3 A Resposta Budista. 2.4 A Resposta Hindu. 2.5 A Resposta Cris! UNIDADE 3-0 PROBLEMA DO MAL 3.1 A Resposta Judaica ... 3.2.A Resposta Isiamica .. 3.3 A Resposta Budista. 3.4 A Resposta Hindu. 3.5 A Resposta Cristi. UNIDADE 4 — 0 PROBLEMA DO ABSOLUTO .. 4.1 0 Problema da Resposta Judaico-Crista. 4.2.0 Problema da Resposta Islamico-Crist 4.3 A Resposta Budista. 4.4 A Resposta Hindu. irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua UNIDADE 5 — A SINGULARIDADE DA COSMOVISAO CRISTA.. REFERENCIAS ATIVIDADES .. Avaliago A UCDB Vittual acredita que avaliar é sinénimo de melhorar, isto é, a finalidade da avaliagao é propiciar oportunidades de acéo-reflexdo que facam com que vocé possa aprofundar, refletir criticamente, relacionar ideias, etc., acompanhando seu processo de aprendizagem. Para tanto, a UCDB Virtual adota um sistema de avaliagao continuada: além das provas no final de cada médulo (avaliagéo somativa), serd considerado também 0 desempenho do aluno ao longo de cada disciplina (avaliagdo formativa), mediante a realizago das atividades programadas para cada disciplina. Todo o processo serd avaliado, pois a aprendizagem é processual. Se o aluno limita-se a realizagio da prova, no seré possivel interferir no processo de aprendizagem em tempo de poder corrigir desvios, mas interpretacées, etc. Portanto, participe de todas as atividades propostas, vocé sé tem a ganhar! Avaliago das atividades: para que possa se atingir 0 objetivo da avaliagao formativa, 6 necessério que as atividades sejam realizadas criteriosamente, atendendo a0 que se pede e tentando sempre exemplificar e argumentar, tentando relacionar a teoria estudada com a pratica. As atividades devem ser enviadas dentro do prazo estabelecido no calendério de cada disciplina, sendo que, as atividades enviadas fora do prazo sero aceitas nas seguintes condigdes: + As atividades enviadas 7 dias apds 0 vencimento do prazo sero corrigidas com a pontuagio normal, isto é, sem penalizacao pelo atraso. = Apés os 7 dias, professor aplicaré um desconto de 50% sobre o valor da atividade. No caso do férum, no calendério aparecem duas datas: a data de inicio e a data do término. A discusséo deve acontecer entre as duas datas. Critérios para composicio da Média Semestral: Para fazer a Média Semestral, leva-se em conta o desempenho atingido na avaliagao formativa e na avaliaco somativa, isto é as notas alcangadas nas diferentes atividades virtuais e nas prova(s). werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua ‘A Média Semestral deve seguir 0 procedimento abaixo: Cada prova presencial vale até 10,00 e as atividades virtuais valem até 10,0. No final, a soma total de pontos seré dividida por trés. Portanto, para calcular a Média, segue-se 0 seguinte procedimento: Ms =(P1 + P2+AV)/3 Exemplo: MS=(10,0+10,0+10,0)/3 MS=30,0/3 MS = 10,0 PL-13 Prova P2-28 Prova AV - Atividades Virtuais Se a Média Semestral for igual ou superior a 4,0 e inferior a 7,0, 0 aluno ainda poderd fazer o Exame. A média entre a nota do Exame e a Média Semestral deverd ser igual ou superior a 5,0 para considerar 0 aluno aprovado na disciplina. FACA O ACOMPANHAMENTO DE SUAS ATIVIDADES © quadro abaivo visa ajudé-lo a se organizar na realizagio das atividades. Faca seu cronograma e tenha um controle de suas atividades: EW Xe Ce} [1.0 Wag Atividade 2.4. Ferramenta: Questionario Atividade 3.1. Ferramenta: Questionario Atividade 4.1 Ferramenta: Tarefas Atividade 5.1 Ferramenta: Tarefas * Coloque na segunda coluna o prazo em que deve ser enviada @ atividade (consults © calendatio disponivel no ambiente virtual de aprendizagem). °** Coloque na terceira coluna o dia em que voo8 enviou a atividade. ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua BOAS VINDAS Caro académico! Espero que tudo se encontre bem com vocé! E uma alegria indescritivel poder entrar em contato com vocé e desejar-Ihe um semestre significative, tanto em nivel intelectual como em nivel humano. Estar em uma Universidade como a Universidade Catdlica Dom Bosco € um privilégio que deve ser vivenciado com entusiasmo, alegria, dedicagdo e responsabilidade. No entanto, mais importante que estar na Universidade é deixar com que a Universidade passe por vocé. Ou seja, estar aberto para os questionamentos, ensinamentos @ encontros que podem transformar contetidos e conhecimentos trazides de outras e experiéncias, que impedem o nosso crescimento humano e ressignificar outros que precisam de um novo sentido. A UCDB ¢ local privilegiado para sua formago integral. Preocupada com a formaco integral e com a realizago humana de todos os académicos, a UCDB oferece a toda comunidade a disciplina Humanidades II, por entender que a dimensao religiosa, como dimenséo fundante do ser humano, precisa ser cuidada e cultivada, Enfocaremos o tema religioso em didlogo com o mundo, com a sociedade e com todos os seres humanos, em perspectiva interdisciplinar e em relacdo com as culturas. Seja bem-vindo! ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua INTRODUGAO © ser humano é a realidade mais profunda e complexa que conhecemos no horizonte do universo natural. Por isso, oferece miiltiplas visualizagdes acerca da mesma totalidade. Ele € multid mensional e no pode ser visto apenas sob um ou outro &ngulo, uma vez que uma tinica angulacéo ndo pode expressar a totalidade de seu contetido e de seu ser. © homem apresenta dimensao ética, técnica, econémica, politica, social, racional, psiquica, erdtica, estética, historica, somatica, psiquica e, também, religiosa. Nenhuma dessas dimensdes pode ser negada. H4 que se evitar todo reducionismo antropolégico que concentre a viséo sobre determinada visdo humana como se fosse a realidade toda, ainda que toda dimensio tenha carater de totalidade, Nessa disciplina, queremos enfatizar a dimensdo religiosa do ser humano, mas sem separé-lo da totalidade de sua realidade, haja vista que no existe discurso, interpretacéo e dialética, sendo dentro da realidade. A finitude do homem, sua contingéncia e dependéncia moral fazem abrir-se naturalmente natureza do Ser Superior. Para realizar essa experiéncia, trabalharemos os seguintes temas. Na primeira unidade, abordaremos 0 desejo humano de estar em relago com o Totalmente Outro e as maneitas como essa experiéncia se objetiva na vida cotidiana. Na segunda, 0 problema do fim do homem e o fim da histéria, 0 problema do mal e do Absoluto, como questes fundamentais que justificam a existéncia de Deus. Em seguida, trataremos dos temas da verdade e da felicidade como estruturas que constituem uma ética do sentido. Finalmente, na quarta unidade, apresentamos, por meio da experiéncia franciscana, uma visdo crista da totalidade da realidade. Por um lado, é certo que a religiio desempenhou uma parte estratégica no empreendimento humano da construgio do mundo, Portanto, ela representa © ponto maximo de autoexteriorizacao do homem sobre a realidade, na tentativa de projetar ordem 8 totalidade do ser e de conceber 0 universo todo como humanamente significativo, Por outro lado, 0 ser humane continua deixando-se seduzir pelo sagrado e buscando nele um Outro, diferente de si mesmo, com quem entrar em comunhio devida e sentido. Nesse sentido, o homem néo poderia se colocar em relaggo com o sagrado se a ele no devesse sua prdpria origem e néo fosse pata ele voltado como 0 fim iltimo. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Mem O DESEJO DO INFINITO COMO FUNDAMENTO DE TODA ESTRUTURA RELIGIOSA OBJETIVO DA UNIDADE: Entender como 0 desejo do infinite (transcendéncia) procura superar a finitude humana e se apresenta como base da experiéncia religiosa. O desejo do infinito como fundamento de toda estrutura religiosa’ © desejo do infinito, que permeia a condicéo humana pode ser resumido na seguinte frase biblica: "A minha aima fem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? (Si. 42, 2). A’sede’ a qual se refere o estrato biblico, pode ser interpretada como o desejo humano de encontrar-se com o eminentemente Outro, com © divino. Tal desejo € inerente & condiggo humana © compée a sua estrutura antropolégica, de tal forma, que todo ser humano anseia pelo divino e esse desejo se transforma na eterna busca, na eterna procura, de Deus, do Sagrado, do Transcendent, do Mistério. A ‘eterna busca’ é uma procura de sentido e significado para a vida e as coisas, que por mais que se tente alcancar é Mistério que ultrapassa. No entanto, essa busca plural e diversa, isto é, cada povo no decorrer da histéria, expressou sua procura € relagao com o transcendente de uma forme diferente, dando origem a diversas formas religiosas e maneiras de compreender 0 divino. As formas religiosas mais abrangentes so 0 feismo e 0 detmo. O tersmo se refere & crenga numa divindade ou deuses/as, podendo ser dividido em monotesmo (uma 56 divindade), politersmo (varios deuses/as) ou henotersmo (venerago de uma divindade suprema, porém sem negar a existéncia de outras divindades). O deiSnno, por sua vez, & mals uma posicao filoséfica e se refere & aceitagéo de uma divindade que néo intervém na criago e nao possui revelacdo sobrenatural. Além destas formas religiosas apresentadas, existem outras a saber: a) Pantefsmo: esta forma réligiosa cré que Deus, 0 universo e a natureza so idénticos; ) Ani objetos uma vida que pode entrar em relacio com o ser humano; ismo: & uma crenga, uma mentalidade, que erxerga por detrés dos * Otexto desse tépico € baseado no conteddo abordado em: CORDEIRO, Ana Luisa A.; TREVIZAN, Marcio Bogaz. Disciplina: Histéria das Religides e Fendmeno Religioso. Campo Grande: UCDB, 2014, 9 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua ©) Magismo: & uma crenga num poder oculto que certas pessoas podem se apropriar e produzir; d) Manismo: 0 culto as almas de defuntos; €) Totemismo: é @ forma religiosa que acredita num parentesco entre um determinado cla e uma espécie de animal ou vegetal, o qual daria © nome ao totem do cla (WILGES, 1989). Por modelos religiosos hibridos podemos chamar aqueles modelos que recebem diversas influ€ncias em sua constituicéo, de tal modo que até mesmo as chamadas ‘religies monoteistas’ podem ter caracteristicas de hibridismo, agregando elementos de diversas culturas em sua formacéo. No Brasil podemos citar como exemplo as religides de matriz africana que vao fundindo elementos com o catolicismo. Uma analogia interessante para penser sobre essa diversidade de formas religiosas, 0 exemplo que Marcus Bach (2002, p. 15-18), traz em seu livro "As Grandes Religides do Mundo”. Ao destacar a religiéo como eterna busca, ele utiliza a metéfora da montanha. Segundo ele, o Sagrado seria como uma montanha € 05 seres humanos os alpinistas espirituais, que coletivamente se unem na escalada da mesma, sendo que os caminhos da escalada, as paisagens e 0s guias so diversos. Por isso, “a religiio significa diferentes coisas para diferentes pessoas” e é"a eterna busca, manifestada sob diversas formas". 1.1 O infinito e a unidade — 0 monoteismo Ao admitir o Infinito, o Eterno como uma unidade, postula-se a existéncia de um Unico Deus, soberano, criador e mantenedor do mundo. Esta perspectiva denominada de Monoteista, rejeita e no admite a existéncia de outras divindades. Na perspectiva das trés grandes religides mundiais que admitem 0 monotefsmo, esta experiéncia teve origem com Abrao que conheceu o Unico Deus verdadeiro e a ele passou a prestar culto. 1.2. O Infinit e a multiplicidade — O politeismo Ao admitir o Infinite, 0 Eterno como plural, postula-se a existéncia de varios deuses/as e consequentemente se cré que varias divindades regem os aspectos da vida humana, do universo. Ao cter assim, multos povos, postulam a necessidade de se prestar culto as varias divindades, de tal forma que as oferendas a elas apresentadas, atraiam a benevoléncia das mesmas, efou aplaque a sua ira. Esta realidade de crer em varlos deuses, chama-se Politemmo, Como exemplo de religiées polite/stas podemos citar as religides do Egito Antigo, da Grécla Antiga e da Roma Antiga. 10 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua 1.3. Anostalgia do eminentemente Outro A nostalgia do eminentemente outro desemboca na religifo, que é estruturada como um conjunto de crengas, mitos, ritos e simbolos, expressos mediante uma teologia, uma doutrina e burocracias eclesiésticas especiticas. Segundo O'DEA, (1969), a organizagéo religiosa nasce a partir de uma experiéncia religiosa especifica de determinados/as fundadores/as e de seus/suas discipulos/as. Dessa experiéncia fundante desemboca a associagao religiosa que futuramente dard origem a organizacao religiosa, que € mais institucionalizada e permanente (O'DEA, 1969). A institucionalizagao acontece a partir de trés aspectos: no nivel intelectual (mito), 10 nivel do culto e no nivel da organizago. © desenvolvimento das teologias racionais faz parte da passagem do mythos para 0 logos, e constitul @ (5555, temo de orgem mudangas internas da organizagio religiosa, na qual o | grega, que — significa palavra falada ou escrita (0 Verbo). Com os seguidores/as. Assim, a rotinizagio e a institucionalizacao so | fiisofos, passou a significar RazSo. segmento clerical se diferencia aos poucos dos/as. parte do processo de aparecimento da organizagéo religiosa (O'DEA, 1969), As ciéncias da religiéo, ao investigar 0 fenémeno religioso, dividem as religides em trés categorias: religiées primais (primitivas’, povos tribais, com a crenga em deuses/as, culto aos antepassacos e realizacio de ritos de passagem); religibes nacionais (religides histéricas como a germanica, grega, egipcia e assirio-babil6nica, politelstas, com sacerdicio permanente, mitologia definida, culto sacrificial e que no séo mais praticadas, porém podemos encontrar seus vestigios em outras religiGes), e as religiées mundiais/universais (monoteistas, que enfatizam a relagdo do individu com Deus e sua salvacéo) (WILGES, 1989). Tais religides constituem-se de simbolos, mitos e ritos. 1.3.1 Os Simbolos A palavra ‘simbolo' vern do grego sym-ballo e significa reunir. Os simbolos esto presentes em diversas éreas, visam dar significado & vida e &s cotsas. Por isso, para Berger (1985), "a religido é a ousada tentativa de conceber o universo inteiro como humanamente significativo”. As construgées simbélicas so 0 material primordial dos mitos e dos ritos, que em seu conjunto constituem o que chamamos de religigo. Assim, o simbolo é: [J qualquer coisa que toma o lugar de outra coisa ou ainda qualquer coisa ‘que substitui e evoca ume outra coisa [...] 0 simbolo implica tés elementos: 1.° um significante, que é 0 objeto que toma o lugar de 11 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua outro, quer dizer, o priprio simbolo, no sentido concreto da palavra; 2.0 um significado, a coisa que o significante substitui; 3.° a significago, que é a relagdo entre o significante e 0 significado, relagso que deve ser apreendida e interpretada pelo menos pela pessoa ou pessoas a quem se dirige o simbolo (ROCHER, 1971, p. 156-157). [arifo proprio] Sao funges essencials do simbolo a comunicacao (transmisséo de mensagens) ¢ a participagio (evocar sentimento de pertenca coletiva, modos de pertenca e organizacéo). Os simbolos influenciam a vide social, tornam visiveis e tangiveis realidades abstratas, mentals ou morals, da sociedade, ligando as pessoas e os valores entre si, bem como, rectiando @ participagéo e a identificagdo das pessoas e grupos as coletividades que pertencem (ROCHER, 1971). Exemplificande, temos _simbolos nacionais como a Bandeira do Brasil, 0 Hino “ evocam sentimentos de pertenca a nagéo brasileira, de patriotismo. 14 na religio, pode-se x citar a cruz, um simbolo para o Cristianismo, a bE estrela de Davi para o Judaismo, a roda dharmica para 0 Budismo, a lua crescente com : ¥ uma estrela para o Islamismo, enfim, cada religiio com seus diversos simbolos para evocar 0 Sagrado. Fonte: http://migre.me/kt9Qp 1.3.2 Os A palavra ‘mito’ vem do grego mythos e € uma natrativa de uma experiencia fundante, daquilo que realmente conta, que é fundamental para o ser humano se perceber como ser humano, por isso € verdadeiro. Porém, & uma histéria criada, uma forma de contar a realidade. Na contramio de uma concepgéo que trata os mitos como uma iluséio ou ficgo, Mircea Eliade (1972), aponta alguns horizontes da significaggo dos mitos, importante em qualquer reflexao sobre o tema. Mircea Eliade (1972), destaca que o mito é uma realidade cultural complexa, com interpretagdes miltiplas e complementares, no podendo ser enclausurado em uma tinica interpretaao, © mito é @ narrativa de uma ‘criago', do modo como algo foi produzido comegou a ser, fazendo com que o ser humano seja 0 que é hoje, “um ser mortal, sexuado, organizado em sociedad, obrigado a trabalhar para viver, e trabalhando de acordo com determinadas regras". As personagens do mito so entes sobrenaturals. 12 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Para Mircea Eliade (1972), ndo sé a meméria dos mitos é importante, mas a reatualizacdo desses que se dé por meio do poder dos ritos. "Ao rememorar os mitos e reatualizé-los, ele [o ser humano] é capaz de repetir © que os Deuses, os Herdis ou Ancestrais fizeram ab originé’. A reatualizagao do mito permite a saida de um tempo cronolégico profano e a entrada em um tempo significativamente diferente, ‘sagrado’. 1.3.3 O Rito Etimologicamente, a palavra ‘rito’ vem do latim situs, designando as ceriménias ligadas as crengas relativas ao sobrenatural, bem como aos simples habitos sociais, aos sos @ aos costumes. Remete a uma ago social, individual ou coletiva, com regras padrées estabelecidos, mas com margem para o improviso (CAZENEUVE, s/d). Os ritos compéem a experiéncia religiosa, revivem € reatualizam os mitos, se constituem de iniimeres simbolos. No catolicismo, por exemplo, tem-se o batizado, a missa, etc. e no judaismo, 0 bar mitzvah, o shabat, etc. Conforme Claude Riviére (1996), 0 rito é uma forma pela qual o social garante e enuncia sua permanéncia, visto que a ordem social se mantém no s6 pela coergéo € pela legitimaco das forcas, mas pela imagem que projeta de si mesma. Assim, além do ito sagrado, 0 mito profanc é o que infiui diretamente nas relagdes sociais. © Tito pode cair num formalismo, ser usado para legitimar 0 poder ou uma ideologia, inserindo o individuo na coletividade. Ele inspira seguranga e liberta das tensdes. A ritualidace profana concentra a atencéo de quem a vive, encanta a vida cotidiana, dé sentido &s coisas e aos acontecimentos e, por fim, implica numa profunda adesio ética. *O rito tem um poder de estruturacéo dos comportamentos, representacées e atitudes. Quem vier a controlar 0 rito, controlaré 0 que o rito control” (RIVIERE, 1996). Um exemplo de rito profano seriam os ritos de passagem na academia, Para obter uma titulago académica (graduag&o, especializagiio, mestrado efou doutorado), ofa estudante passa por uma banca que ofa avalia, numa etapa que funciona como um rito de passagem, sem o qual, devidamente aprovado/a, nao se obtém o grau, a titulagéo. 13 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Ls O PROBLEMA DO FIM DO HOMEM E DA HISTORIA OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar a complexidade do tema da morte como fim do homem e da histéria a partir das respostas oferecidas pelas cinco maiores tradicbes religiosas humanas. A questo da morte € um dos paradoxos mais interessantes que temos enquanto seres humanos. Ela é a Gnica certeza que temos na vida € por isso mesmo & a Ginica que no queremos @ no aceitamos! A morte é uma experiéncia de “totalidade", é aquela experiéncia onde o individuo sente-se totalmente acabado e por essa razdo néo pode fazer mais nada, Quem diz isso é 0 fildsofo Martin Heidegger que, em seu tratado Ser e Tempo, ajuda-nos @ compreender um pouco mais sobre o fendmeno da morte. Como sabemos que vamos morrer? Em que momento tomamos consciéncia do que significa a morte em nossa vida? Para Heidegger, no é no envelhecer que o ser humano se percebe alguém mortal, mas no contato com a morte dos outros. A morte do outro , para mim, a experiéncia de meu proprio fim (HEIDEGGER, 2000, p.07). E por isso, sentimos a “perda", ou seja, sentimos 0 arrepio de néo poder mais existir. Isso significa ainda que “ninguém pode assumir a morte do outro” (HEIDEGGER, 2000, p.20). No maximo, podemos morrer “por outrent’, mas ninguém pode morrer “em /ugar de outren', a experiéncia da morte € absolutamente singular, individual e “minha”. Fonte: http: //migre.me/ksvOU ‘A experiéncia pessoal da morte, observavel quando vemos alguém morrer, mostra que o set humano € aquele que esté em processo, que nunca esté pronto. Em outras palavras, © ser humano € aquele que ainda nao é. Portanto, antes mesmo de chegarmos a0 nosso fim biolégico, nés jé sentimos que no somos e por isso mesmo sentimos que sempre estamos. Temos 0 costume de dizer: “eu sou issd' ou “ele é assim, ou 14 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua assadd’. Contudo, ao levar a sério © que Heidegger afirma, nunca deveriamos dizer: “eu sou, pois sempre ha possibilidades de nao ser aq © que sou. No maximo, temos condicdes de dizer: "ev estou assint’, "ele estd assint, etc. que Quando nos damos conta de que, na verdade, no somos muita coisa, é af que percebemos que somos “seres-para-o-fim” (HEIDEGGER, 2000, p.26). Entender a experiéncia da morte assim, muito mais que um fim biolégico, 6 0 que nos tora propriamente humanos. © que significa isso? De acordo com Heidegger, a morte néo é somente um acontecimento que nos pega de surpresa ou apenas um desfalecer organico, pelo contrério a morte é, em éltima instincia, a morte possui uma fungi muito mais profunda do possibidade | da impossibildade Re imaginaries. O fate de a morte ro marcar'a [epee Ties eu eee data para nos vistar no faz dela apenas um | Imerisel, | ¢., nsuperiel” acaso. Se ela fosse somente isso, ela no seria > to certa como realmente é, pois quem escapa da morte? Heidegger explica que a morte, mals que um acontecimento ou uma condicao biol6gica, € aquela possibilidade que ninguém pode querer nao assumir. Explicando: a impertdncia da morte ndo esté ne que ela causa, mas no sentido que ela tem para o ser humane. Nao é a certeza de que ela retira-nos a existéncia, nem € porque ninguém pode escapar dela, menos ainda porque ela oferece a oportunidade de pensar a vida apés a morte que torna a morte importante. De acordo com Heidegger, a morte tem sua importancia porque ela é a certeza que sinaliza e dé sentido ao que € mais fundamental no ser humano, é ela que confere-the seu modo mais préprio de existir, a saber: ter a possibilidade de se ver como alguém em processo, um ser que pode antecipar-se. Para Heldegger, 0 que caracteriza 0 ser humano, enquanto humano, é justamente sua mobiidade e suas possibiidades. O ser humano pode sempre se reinventar, sempre esta aberto a se rever e essa condicéo s6 € perceblda quando entendemos o sentido da morte, Esse modo de perceber o ser humano, como um ser criativo e aberto as mudangas, é chamado por Heidegger de “ser-para-morte”, pois somente na morte & que podemos dizer que “somos alguma coisa” e essa Gnica coisa que “somos” 6, com certeza, a prépria morte. © que Heidegger faz & descrever o fendmeno da morte, ou seja, deixar caro para nés mesmos qual € 0 sentido da morte. Porém, seria a morte, realmente, a tltima possiblidade? © presente texto procura investigar esse grande desafio do homem, 8 medida que recorre as experiéncias humanas mais remotas sobre a morte. © texto que segue da 15 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtual vor, de modo sintético, as respostas das cinco tradigées religiosas mais conhecidas: a judaica, a islémica, a budista, a hindu e a cristi, para, a0 menos, poder entender como o ser humano se entende na morte. 2.1 A Resposta Judaica Dois barcos sulcam o mar, Um zarpa do protegido porto até um destino desconhecido, 0 segundo regressa de uma viagem 30 ‘acaso. Quando 0 barco chega 20 porto, 0 povo regozija-se. Assim é também a vida, sem diivida, alegramo-nos quando nascer envia uma crianga a realizar a incerta viagem da existénca... No haveremos de alegrar-nos quando o barco alcanga, finalmente, o seguro porto da paz de Deus? (SCHEMOT RABA apud TAPIA-ADLER, 2008, p.19) A tesposta judaica para 0 “problema do fim", como mostra a pesquisadora Tapia- Adler, esté intrinsecamente ligada com © problema do inicio, ou seja, a morte sé pode ser compreendida no judaismo se se compreende a vida e essa, por sua vez, pertence & teoria de criacdo. 16 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua ‘A mais antiga tradigfo sobre o inicio da vida humana na representago sociocultural judaica foi conservada na epopeia da criagio presente no livro do Génesis. Os dois primeiros capitulos do Génesis, escritos em épocas e contextos diferentes, so dedicados ao mistério divino da Criagéo. A criacio do homem encontrada no segundo capitulo de Génesis é marcada por uma viséo antropomérfica (Deus é visto com catacteristicas humanes), cujo homem é criado a partir de dois co-principios: a terra inanimada e 0 sopro divino. Fonte: btto://migre,me/ksiex J4 no primeiro capitulo do Génesis, a énfase esté no propésito divino da criago do homem. Isso significa que todo ser humano, uma vez criado, deve cumprir uma misao divina na vida. Intrinsecamente a essa missdo esté a morte, néo como um fim de tudo, mas como uma “continuaggo desse plano previsto por Deus...” (TAPIA-ADLER, 2008, p.17). Segundo a autora, a morte no sentido judaico é um fendmeno natural, a qual esta destinado todo ser humano desde a sua criag3o e no teria sentido lamentar-se por isso. Ao fazer uso de outro texto da tradiggo religiosa judaica, 0 livro do Eclesiastes, Tapia-Adler chama a atengdo para “os tempos" inerentes @ vida humana. Entre eles, destacam-se: 0 “tempo de nascer’, e 0 "tempo de morrer” (Eclo 3,2), 0 que leva a crer que Deus € 0 senhor da vida e da morte. Nessa mesma perspectiva, a autora lembra 0 que esté dito em outro texto: “o fim do homem & a morte” (TAPIA-ADLER, 2008, p.17), 0 qual significa que a morte deve ser aceita como parte integrante do ciclo natural da vida. Esses e outros exemplos da literatura judaica : no so uma expéele de "gula para‘a morte", come pode. WeMnMUaeeiaaat ratead se pensar. Pelo contrério, 6 um “guia para a vida", tal 2008, p: 18) como as Escrituras judaicas j4 previam (cf. Dt 30,15- 19), todo judeu deve escolher entre a vida e a morte como pré-condigdes da “aceitacéo ou recusa de uma forma de vida ordenada” (TAPIA-ADLER, 2008, p.18). Nao obstante as reflexes até agora expostas, lembra muito bem nossa autora que o enigma da morte néo esta na sua compreensio frente ao mistério da vida, mas na fatidica pergunta pelo “além-morte". E ou néo a morte o fim Ultimo do ser humano? Ou pode-se pensar uma perspectiva pis-morte? A-fim de responder essa pergunta, a autora cita dois textos da tradigao judaica: 17 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua * 0 primeiro afirma que a morte é um “pesar” que deve ser vivido de modo eq © pesar ea tristeza nao devolverdo a vida do ente querido” (TAPIA-ADLER, 2008, rado, “para no limitar a propria existéncia e no destruir sua vida, porque p18), A morte nao pode tirar a alegria do viver, j& que nenhum pesar reverte o que é irreversivel na morte. * O segundo texto explica que a morte deve ser entendida como o abandono do corpo pela alma, a perda do insutlo vital divino, a medida que o corpo volta a ser 6, como jé foi previsto pela tradicgo: "do pé vieste e ao pé voltarés” (Gn 3, 19). Tudo indica que a morte é a Unica certeza que se tem, pela sua realidade e naturalidade e, tal como prescreve a tradigao judaica, é desaconselhavel qualquer especulagao sobre o que ha para além da morte. Ao invés disso, deve-se dedicar a viver 0 aqui e agora em acordo com as normas das Escrituras judaicas. Mesmo néo havendo nenhum texto que mencione vida apés a morte, Tapia-Adler afirma que 0 judaismo ainda admite trés formas de imortalizago humana: * A primeira, pela via biolégica, isto é os filhos imortalizam seus pais e antepassados. * A segunda, pela via do pensamento, cuja imortalidade dé-se_ pela sobrevivéncia de um individuo na meméria das geracées futuras. + Ea terceira, pela influéncia, que ser preservada por meio das ideias defendidas pelos seus discipulos. Fonte: http://miore.me/keeQG Efetivamente, dependendo do modo como cada um santificou a vida, pode haver pessoas que consigam ser imortalizadas, na medida em que exist eternamente na meméria, nos pensamentos € nos feitos de seus filhos e seguidores como é 0 caso das figuras classicas da Biblia, a saber: Moisés, David, etc. Por outro lado, hé aqueles também que uma vez enterrados, esto mortos definitivamente, e que “assim seja!”, 18 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua 2.2 A Resposta Islamica Meu filho, voc’ sabe que foi criado para o oubo mundo e no para este, para a aniquilagio @ ndo para a permanéncia, para 2 morte e ngo para a Vida; © lugar que voo8 esta é passageiro, um lugar que € caminho para o depois daqui... Voo8 esta fugindo da morte, aquela que ninguém escapa, em mesmo seus mwiores estudiosos, Ela €, na verdade, pare ser experienciada, portanto, tome cuidado, pois, quando menos esperar, ela Ihe alcangal (NAHJUL BALAGHA, apud MASOOD, 2010, p.01). Com respeito ao problema da morte, 0 Islamismo tem grandes semelhangas com 0 Cristianismo, afastando-se radicalmente do Judaismo. Em primeiro lugar, tal como na tradigéo crist, 0 ser humano € visto como aquele que possui um corpo e uma alma. ‘Ambos, por sua vez, 80 origindrios de formas menos complexas € mais bésicas. Assim como as plantas provém das sementes e os animais provém de outras vidas menos evoluidas, o mesmo ocorre com 0 corpo € com 0 espirito. © corpo humano é oriundo cle um “esperma” e a vida espiritual oriunda de um espirite. Portanto, 0 espirito é uma pequena semente plantada no corpo humano que cresce e desenvoive dependendo de cada individuo. Ao contrétio do corpo que cessa sua existncia na morte, 0 espirito permanece, devendo retomnar ao seu criador, como fala 0 Alcor (89,27-30): “A alma que esta em paz, retorne ao Senhor, bem contente (com Ele), bem agradavel (a Ele). Por isso, achegue-se juntamente com seus servos ¢ adentre no meu Jardim’. Fonte: http: //migre.me/ksiq6 Deste modo, a compreensio da morte no Islamismo tem por base a ideia de uma passagem para outra forma de vida e nao de fim definitive das possibilidades. E como se dé esse processo? Como jé foi dito acima, a vida no termina com a morte, mas hd uma continuidade da existéncia no “além”, na forma de ressurteigéo fisica @ espiritual. Contudo, para se chegar até |, isto é, para ser ressuscitado por Allah, & necessdrio passar por trés importantes fases: a vida no tumulo, a fase de Barzakhe o Dia do Juizo, como afirma Masood: Tal como os Sagrados Infallibles [sic!] constantemente lembra-nos, nossa partida desse mundo € iminente, £, contudo, um lugar transitério, uma mera passagem para nossa permanente morada, enquanto Depois daqui, para a etemidade — comegando com a vida na sepultura, seguida pelo estagio de Barzakh, continuando até o dia do Juiz (Qiyamat), até que possarmos finalmente entrar no Paraiso e/ou no Fogo Infernal (MASOOD, 2010, p.01). 19 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua De acordo com nossa autora, a doutrina iskimica cré que, apés a morte, 0 falecido continua possuindo algum tipo de consciéncia. Essa, portanto, seria a fase denominada “vida no tamulo”. Esse estagio é marcado, primeiramente, pelo “espremimento no tuimulo” que é uma espécie de expiago de pecados relacionados, sobretudo, a0 desperdicio e a ndo apreciacao das generosidades concedidas por Deus. Ademais outras faltas so af expurgadas como: ter preguiga de lavar as m&os depois de ir ao banheiro, a criagio de danos entre as pessoas, caltinias, maus comportamentos falsas alegagées (MASOOD, 2010). Poderia |” alguém livrar-se do espremimento? A [ui resposta é contundente: "Deus pode salvar. Muito poucas pessoas escaparam do espremimento do tlimulo” (MASOOD, 2010, .03). Fonte: http://migre.me/ksDyL Durante o espremimento, o falecido & submetido ao denominado “interrogatério do témulo”. Segundo a tradigéo islamica, a crenga no interrogatério tumular é obrigatéria 20 fiel mugulmano & medida que ela é condicéo indispensdvel para a préxima fase do além- ttimulo. Tal interrogatério é feito pelos anjos Munkar e Nakeer tanto para os crentes quanto para os no crentes, e as questées esto ligadas: + Aquilo que o fiel cré (Agaic), como: Quem é seu Senhor? Quem é seu profeta? Qual 2 sua religio? Quem é seu Iman? + Aquilo que ele fez em vida (Amaal): Como gastou sua vide? Caso 0 falecido seja capaz, durante o interrogatério tumular, de oferecer respostas corretas imediatamente, um portao € aberto nas proximidades de sua cabega, seu timulo é alargado (cessa-se, portanto, o espremimento) e ele é conduzido a fase de Barzakir, € | ficara até o Dia da Ressurreig&o. Por ouito lado, se 0 falecido no conseguir dar respostas corretas, um porto do inferno abre-se e as respiracées infemais tomam conta de sua sepultura. E a fase de Barzakh para aqueles que nao conseguiram passar pelo interrogatério tumular, na qual ficardo até 0 Dia do Juizo. Nesse sentido, o interrogatério tumular é tanto a finalizagio da vida no tumulo quanto a condicdo preparatéria para o Barzakh. E importante ressaltar que, como nos conta Massod, no Islamismo os feitos possuem uma importéncia fmpar para fazer @ passagem para o Barzakh, pois “conter as crengas verdadeiras no coragéo nao é suficiente $e 05 feitos so falhos" (MASOOD, 2010, p.04). 20 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Conforme uma personagem importante do Islamismo, nossos Uinicos companheiros no timulo so nossos feitos e nada mais (MASOOD, 2010, p.05). De modo geral, a vida no timulo esta eee a ie diretamente ligada aos feitos realizados em vida. enquanto que ele & como um A fase de Barzakh é um estdgio entre a ae RE COI vida do timulo e 0 Dia do Juizo. Nela 0 falecido P02) que consegue passar pelo interrogatério tumular ja antecipa os beneficios do Parafso, ou seja, j4 experimenta os fragmentos da salvacao eterna (© céu). Ao contratio daquele que nao consegue passar pelo interrogatério tumular, pois esse vive a antecipagio de sua punicao eterna, ou seja, a condenacéo eterna (0 inferno). A. fase de Barzakh durara até o Di todos os mortos de seus tiimulos para julgé-los: ou punindo-os ao inferno ou recompensando-os com o Paraiso’. do Juizo, dia esse em que Aah ira ressuscitar 2.3 A Resposta Budista L..] a existéncia individual é uma sucesso de mutagées, algo que tora forma e se desvanece, que no permanece igual, nem por dois momentos consecutives. Este organismo psicofisico, se bem que se transforma incessantemente, cria noves processos psicofisicos 2 cada instante e, assim, conserva a potencialidade de futuros processos oryinicos, néo deixando nenhum vazio entre um momento e outro. Vivemos e morremos, ‘a cada momento de nossas vidas. E sé um aparecer e desaparecer como as ondas do mar (THERA apud SILVA; HOMENKO, s.d., p.42). Também para 0 Budismo, a questéo da morte deve ser enfrentada e oferecida uma resposta. N&o obstante a essa questo em especifico, & necessério compreender que qualquer discussiio dentro do Budismo Classico deve necessariamente passar pelas “Quatro Nobres Verdades" (Cattari Aryasaccam) intrinsecas ao ser, postuladas por Buda em seu primeiro serméo diante dos cinco ascetas. (SILVA; HOMENKO, s.d., p.22) Essas “Quatro Nobres Verdades” so: 1. A existéncia do sofrimento e da insatisfatoriedade é devido a desarmonia entre 0 eu pessoal condicionado e 0 mundo real ndo-condicionado (Dukiha Satya); 2 € importante dizer que hé um movimento de caréterislémico (no hé certezas de sus ofidalidade) denominado Lahore Ahmadiyya que interpreta as passagens escatcligicas do Quram como metaféricas e nfo litereis, ou seja, concebem tanto céu e inferno como estados de espirito mais do ‘que lugares propriamente ditos. Cf. htt: //www.muslim.ora/islam/int-is35,htm. 21 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua 2. A causa do sofrimento é 0 desejo, cada vez mais compulsive, de satisfazer nossos instintos (Samudaya Satya), 3. A cessagio de todos os desejos, e por consequéncia, de todo sofrimento se dé pelo Nirvana; 4. © caminho que leva & extingéio do sofrimento, também chamado de “caminho éctuplo” ou *caminho do meio”. Fonte: htto://miare.me/keiGp. Na viséo budista, 0 que chamamos de morte nada mais é do que a “parada completa do funcionamento do corpo fisico” (SILVA; HOMENKO, s.c., p.41). Quando o. corpo pata de funcionar, a vida nao acaba por completo, pelo contrario, a “vontade", 0 “desejo" ou a “sede de existir”, que é a forca mals determinante do ser e a causa do softimento®, sobrevive @ morte manifestando-se de outro modo. Esse “outro modo” é o que a tradigao budista chama de *renascimento”, isso é, a producéio de uma nova vida. A morte, portanto, nao cessa a causalidade da vida, pois, de modo semelhante ao Hinduismo, a “roda de samsard' — a lei eterna que rege o movimento universal — @ mantém funcionando por meio da lei do karma A palavra karma, de modo literal, significa “aco”, porém, no Budismo, ela assume um sentido espectfi “aco volitiva’’. Essa acdo volitiva pode ser boa ou md, consciente ou inconsciente. Bons karmas, isto é, boas agées, produzem efeitos bons, enquanto que maus karmas produzem efeitos ruins. Assim, Fonte: http://migre, me/ksi2B No Budismo, a teoria do carma é uma teoria de causas ¢ efeitos, de agio e de reacio. Pela voliglo, 0 homem age com o corpo, a palavia € a mente. Os desejos geram agies; as aces produzem resultados; os resultados trazem novos desejos, e assim sucessivamente. Este processo de causa € efeito, aco e reagio exprime uma lei natural que nada tem a ver com a ia de uma justia retributiva (ndo hd © conesito de pecado), E o simples resultado da prépria natureza do ato, vinculado sua prépria lei de causa & efeito, o que é facil de ser compreendido (SILVA; HOMENKO, s.d., p.42) Como mostra o texto acima, 0 Budismo, muito préximo do Hindu‘smo, néo trabalha coma ideia de uma recompensa ou punicao universal e, sim coma lei causal do karma, que °C. A resposta budista ao problema do mal. * Maiores informagSes sobre a lei do karma, ver “A resposta hindu ao problema da morte”. 22 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua 6 a responsavel pelos renascimentos. Esse é © dado mais importante na compreenséo da morte dentro do Budismo, isto 6, compreender como se dé a relago entre a doutrina do karmae o problema da morte. Como ja dissemos, no Budismo a morte no cessa causalidade, ela apenas paralisa fisiologicamente 0 corpo, enquanto que o “desejo” resiste & morte. Esses desejos, __efetivamente, —_produzem pensamentos e agdes e que, por mera consequéncia causal, produzem o arma, Em “Um novo ser, que € novo apenas num certo sentido, mas que é 0 mesmo no sentido cérmico, exatamente como o joven que, saindo de uma universidade com 0 titulo de doutor, num certo sentido, em relagio 8 crianga que vinte anos antes entrara nessa escola, € um outro ser, mas que no sentido da causacio é, no entanto, © mesmo individuo” (SILVA; HOMENKO, sd,, p.46). outras palavras: os desejos, ao serem concretizados nas agées, produzem efeitos que acabam voltando sobre seus agentes, como um bumerangue. 0 karma, uma vez produzido, abrange ages tanto passadas quanto presentes, o que nos leva a dizer que "somos 0 que fizemos e seremos 0 que somos”. Porém, essa regra nem sempre é to precisa quanto parece. Pode-se, com muita certeza, colher hoje o que plantado hoje, mas pode-se também colher hoje o que foi plantado ontem (SILVA; HOMENKO, s.d., pa). Efetivamente, na tradigéo budista, a morte De alum modo, o kame € responsével por “destinar” 0 ser humano ao “renascimento” e a condicionar seu novo karma, sem, no entanto, eliminar 0 livre-arbitrio. individual, pois quem efetua as ages no € 0 karma e sim o priprio sujelto no possui a Ultima palavra, pois a faléncia corporal no é suficiente para que a lei do karma seja ultrapassada. Por isso, 0 Budismo entende que mais renascimento. E 0 que significa renascer? © — da aco por meio de seus desejos renascimento, como cré 0 Budismo classico, ">> y representa simplesmente a idea de continuidade da corrente causal de uma vida para outra, 0 que difere por demais da reencarnago. (SILVA; HOMENKO, s.d., p.43) Isso porque pensar a reencamagéo, tal como a tradigéo espirita entende, muito posterior ao Budismo (a partir do século XIX), de alum modo pressupor que existam, no universo, seres auténomos e permanentes, no sentido grego da acepco da palavra’, como importante que a morte € o 5 Para os gregos antigos, como Sécrates, Plato e Aristételes, todas as coisas podiam subsistir, ou seja, tinham por base uma realidade essencial que as distinguiam de todas as outras. Essa realidade subsistente 5 coisas tanto materiais quanto espirituais eram denominadas de substéncias ¢ elas conferiam a essas mesmas coisas 0 carater de identidade e imutabilidade necessario para serem captadas pelos sentidos, permitindo, em ultima instancia, a apreensdo do conhecimento verdadeiro, (N. do autor) 23 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua “alma”, por exemplo. Para o Budisme clissico, ndo ha seres estaticos e permanentes, nem hd uma “desencarnagao”. Haveria apenas um ciclo ininterrupto de continuidade da vida, que é representado por um desejo, uma vontade de petmanecer vivo, ou seja, é apenas um processo deterministico de causacio. Renascer, acima de tudo, é apenas mais um efeito transitério no grande sistema causal (2 /e/ do karma). © renascer também constréi a identidade e a personalidade individual. Tal como um grande rio que, a cada lugar que passa, se avoluma e se modifica por melo de seus meandros e desniveis, mas no deixa de ser 0 rio, assim também é a identidade. Nao existe um ego eterno que “salta’ de corpo em corpo, de existéncia em existéncia, Muito pelo contrario, a cada renascer © ego é reconstituido. Para bem explicar o renascimento, ha um exemplo cléssico que vale a pena relembré-lo aqui. © Budismo acredita que existir & como uma vela acesa. A medida que a cera da vela vai se consumindo, torna- se necessitio, para que o fogo continue a existir, pessar sua chama para outra cera. A cera da vela é como © corpo, se consome com o tempo e em nada interfere na hora de passar a chama. A chama é 0 karma que passa de existéncia em existéncia, de modo necessario, determinando tanto a continuidade da vida quanto seu modo de existir (SILVA; HOMENKO, s.d., p.46). Fonte: http://miare.me/kfr Por fim, é importante dizer que o renascimento, no entendimento budista classico, nao é visto como “imortalidade”. Como ja foi explicado, sustentar uma imortalidade é, de alguma forma, ter que postular a existéncia de substéncias auténomas e permanentes independentes do tempo e do espaco, ideia essa inexistente no Budismo. Todos os seres nao existem por si mesmos, mas apenas pela lei do karma E a continuidade exigida pelo karma que faz 0 desejo sempre querer mais e que, por sua vez, faz esse ultimo renascer para, assim, continuar a querer. & um ciclo fechado de possibilidades que somente a libertagio adquirida no Nirvana conseguiria escapar desse processo, no entanto, isso é assunto para a unidade que trata do Absoluto. 24 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 D UCDB, virtual 2.4 A Resposta Hindu Para os nascidos, a morte é certa; e para os mortos, no ha divida do ascimento, Portanto, vooé no deve chorar por essa_inevitdvel consequéncia. (BHAGAVA-GITA apud CAVALCANTE; GNERRE, 2014, p.1) A resposta hindu ao problema da morte deve, em primeira ° lugar, levar em consideragéo a dualidade antropolégica: o homem

(Mc 12, 27). Ele (Deus) se manifestou aos homens em Jesus Cristo, de tal forma que o Cristo constitui o modelo, o exemplo do que iré acontecer com toda pessoa humana: ressurreigio. A este respeito Sao Paulo diz: Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dizer entre vs que nio hd ressurreigio dos mortos? Se no hé ressurreigo dos mortos, ento Cristo no ressuscitou. E se Cristo néo ressuscitou, a nossa pregagio ¢ vi e a vossa fé é v3 também, Mas na realidacle Cristo ressuscitou dos mortos como primicias (exemplo primeiro) dos que morreram (1 Cor 15,12-18). © que é ressurreigé0? Na morte, hé separacéo da alma e do corpo. 0 corpo (carnal) cai na corrupsao (se deteriora), enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, embora ficando & espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipoténcia, restituird definitivamente a vida incorruptivel a cada corpo, unindo-os novamente as suas respectivas almas. Todos que tiverem morrido ressuscitardo: «Os que tiverem praticado o 28 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua bem, para uma ressurreigéo de vida e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreigio de condenagao» (Jo5, 29). A ressurreico, assim, é necessariamente a ressurreico da pessoa inteira e integral. Para explicar a maneira como isso pode ocorrer, Paulo recorre & imagem da semente. Imagem profundamente biblica (1 Cor 15, 36-44): = Aquilo que vocé semeia ndo getmina se, antes, no morrer. = No € 0 futuro corpo da planta que vocé semeia, mas um simples gréo de trigo ou de qualquer outra espécie. = Depois Deus the dé um corpo conforme queira... Ressuscitar implica ento numa transformagiio total do ser humano (tal qual semente, que morre para ser arvore). Um salto qualitative. © corpo ressuscitado "significa uma corporeidade diferente daquela que conhecemos, embora 0 homem mantenha sua identidade (€ ele mesmo, nao outro)’. O mesmo Paulo a este respeito acentua 0 corpo corruptivel que se torna corpo incorruptivel; 0 corpo desprezivel que se torna corpo glorioso. 2.5.2 Na sua morte o homem se encontra com Deus: 0 juizo ‘Com tudo 0 que fez de si no decorrer de sua vida, o homem se defronta com Deus. Ladislau Boros, partindo da convicgao de um Deus justo e misericordioso elabora a hipstese de que este juizo, na morte, no um balango matemético sobre a vida passada, onde aparecem diante de Deus 0 saldo € 0 débito, 0 passivo € 0 ativo. Mas possui dimenséo prépria de derradeira e plena determinacio do homem diante de Deus, com a possibilidade de conversao para 0 pecador. A este primeiro momento se chama de juizo particular: um julzo da pessoa humana sobre si mesma, diante de Deus. Aqui, © homem reconhece o que ele é, realmente. Joseph Ratzinger diz que o julgamento é simplesmente a verdade, como tal, 0 tornar-se evidente dela. (Cf H. Vorgrimler, Der Tod... p.90). Assim, no é Deus que julga. © homem é seu préprio juiz: ele julga a si mesmo diante desta verdade. 2.5.3 Purgatério: Deus quer a salvacao, nao a perdicao Quem responde por esta realidade pés-morte, de modo especial, é a Igreja Catélica. No se trata de lugar fisico, mas sim, de uma condigio e processo de purificagéo ou castigo temporério em que as almas daqueles que morrem em estado de graga sao preparadas para o Reino dos céus. © compéndio Mysterium Salutis formula que "no ha culpa e condenacéo que no estejam acompanhadas de uma oferta de graga e perdio. O Deus de Jesus Cristo & sempre e principalmente 0 Pai que vai procurar 0 que se perdera, ndo o julz implacdvel que acharia 29 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua alegria em condenar alguém” (Johannes Feiner e Magnus Loeher. Mysterium Salutis, vol 3. p. 184), Para tanto, busca fundamentaco biblica (veja 2 Mac 12,38-46), onde se oferece sacrificio para liviar os mortos de seus pecados. Busca fundamentagio também em grandes nomes cristéos como Clemente, Origenes, Santo Agostinho e Sdo Gregério Magno que admitem a existéncia deste fogo purificador, que confere as almas néo totalmente puras, a santidade necessdria para entrar na alegria do cé 2.5.4 Inferno: recusa ao amor de Deus Quem no se une a Deus e livremente escolhe ndo amar nem a Deus, nem o préximo permanece na morte. 0 inferno 6, pois, este estado de autoexcluséo definitiva da comunhaio com Deus. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente, apés a morte, aos infernos. A principal pena do inferno consiste na separago eterna de Deus, 0 Unico em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para que foi criado ¢ a que aspira. 2.5.50 céu Os que morrerem na grasa e na amizade de Deus e estiverem perfeitamente purificados, viverio para sempre com Cristo. Sergo para sempre semelhantes a Deus, porque O vergo “tal como Ele é” (1 Jo 3, 2), “face a face” (1 Cor 13, 12). Viver no céu é estar com Cristo, € viver n'Ele. 2.5.6 O Juizo final A ressurteicao de todos os mortos, «justos e pecadores» (At 24, 15), hd de preceder © Juizo final. Serd “a hora em que todos os que esto nos tlimulos ho de ouvir a sua voz € sairdo: 05 que tiverem praticado 0 bem, para uma ressurteicao de vida, e os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreigio de condenago” (Jo 5, 28-28). Ento, Cristo viré: na sua gléra, com todos os seus anjos. Todas as nagdes se reunirdo na sua presenca e Ele separaré uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e colocard as ovelhas & sua direita e os cabritos a sua esquerda. Estes iro para o suplico etemo e os justos para a vida etema (Mt 25, 31-33.46), © Juizo final terd lugar quando acontecer a vinda glotiosa de Cristo (segunda vinda de Jesus). Isto aconteceré, em definitivo no ultimo dia, no fim do mundo (Jo 6, 39-40). $6.0 Pai sabe o dia e a hora, sé Ele decide sobre a sua vinda. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua 2.5.7 A esperanca do novo céu e da nova terra No fim dos tempos, o Reino de Deus chegard a sua plenitude. Depois do Juizo final, 05 justos reinargo para sempre com Cristo, glorificados em corpo e alma, e 0 préprio universo sera renovado. E hora de trabalnar! Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 2.1. 31 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua O PROBLEMA DO MAL ‘OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar a complexidade das relagdes entre o bem € o mal na existéncia humana a partir das respostas dadas peles cinco maiores tradig6es religiosas humanas. ‘A “questo do maf é, juntamente com outras grandes questées, em uma linguagem paulina, "um espinho na carne” (2 Cor 12,7), ou “o caleanhar de Aquiles" de toda a humanidade em todos os tempos e em todas as culturas. Quem nunca sofreu algum mal? Independentemente do mal ser uma pergunta que assola a todos, ou seja, de possuir um aspecto ou um “caréter de questo", ele, na verdace, é um fato inegavel. © reconhecimento de que o mal, antes de ser uma pergunta, é um fato revela que a sua presenca é inerente a existéncia | humana e que tudo 0 que se pode fazer para combaté-lo € no minimo, infimo demais para excluilo por completo, ou seja, ninguém escapa do mall A inevitabilidade do mal, portanto, toma-se | — um incémodo € © seu questionamento, uma necessidade. Assim, por saber que © mal € um fato inegdvel € que | perguntamos: "por que o mal existe?”. |» hd Fonte: httn/mione me ks AE A pergunta “porque existe 0 mal?” leva, inevitavelmente, 4 ingrata pergunta: “de onde vem o mal?". A resposta pergunta pela origem do mal nao é algo facil de oferecer nem possui uma Unica resposta possivel. Ao considerar que essa pergunta faz parte dos grandes dilemas da humanidade, ndo hé consenso nas respostas, isto é, cada representacéo sociocultural dard a sua resposta, 0 seu modo de ver o mal. Para ficar mais faci, esse texto limita-se a expor apenas a resposta dos cinco principais modos possivels de representacao sociocultural, a saber: a resposta judaica, a resposta islémica, a resposta budista, a resposta hinduista e, por fim, a resposta cristd, 0 que nao significa dizer que nao existem outras. 32 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 > UCDB,, virtual 3.1 A Resposta Judaica Em principio, o Judaismo nao pode aceitar ou concordar com a opinido de que o mal tem por causa a circunstancia externa ao homem, "... embora concorde que 0 juizo divino leva em consideragéo 0 pecador na sua individualidade e sua situagéo em especifico” (APPLE, 1983, p.125). Com efeito, realidade do mal aparece para a condigio humana como “ma inelinag&o" (yetzer Aaray,, oposta, naturalmente, @ boa inclinag&e (yetzer hator)). Ao contrério do dualismo grego, sobretudo dos maniqueus", que distinguia origens diferentes para bem e mal, 0 Judaismo admite que ambos, a m4 e a boa inclinacao, possuem uma Gnica origem, isto é, 0 préprio Deus, como pode ser conferido na literatura profética de Isaias: “[...] Eu formo a luz e ctio as trevas; eu fago a paz, crio o mal; eu sou 0 Senhor, que faz todas as coisas” (is 45,7). Fonte: http://migre.me/Kkeyt Assim, dizer que Deus é © autor da ma inclinagdo no homem nao pode levar contradigao de afirmar a maldade divina. Pelo contrario, sua origem divina em comum com a boa inclinacdo é necesséria, & medida que o homem possui uma liberdade moral, tal como 0s textos sagrados jé preconizavam: “Vede: eu ponho hoje diante de vés bengdo e maldigéo...” (Dt, 11,26). Em outras palavras, a garantia da liberdade humana esta na capacidade, ofertada por Deus, de ser influenciado por uma boa ou mé inclinago. Se Deus, para conservar a prépria liberdade humana, dé ao homem duas inclinagées opostas, resta questionar: a qual das inclinagdes 0 ser humano tenderia mais? 7 Em consonaneia com a tradic&o sagrada do judaismo, 2 2x! (transiiterado como yetzer hara) aparece em duas importantes passagens do texto do Génesis:... 0 dia todo, seu coragdo nao fazia ‘outra coisa sendo conceber omal...” (Gn 6,5) e ".. Sem duvida, 0 coracao do homem se inclina para mal desde sua juventude..” (Gn 21). (N. do Autor). ® maniqueismo @ uma flosofia gnostica que rejeita radicalmente o judaismo e que se liga a idelas persas, indianas ¢ aristis. Ele fol fundado pelo persa Mani (no latin, Maniohaeus) no terceiro século da era crista e tem como tese central, de inspiragdo persa, a crenga em dois reinos eternamente Paralelos: um reino da luz, dominado por um ser divino da luz, ¢ um reino das trevas também dominado por um ser divine das trevas. Cf. STORIG, H. J, Histéria Geral da Filosofia, 2008, pp. 185-186. 33 ‘wvrw.virtual.uedb br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Como resposta a essa pergunta, duas teorias opostas se apresentam: a “teoria do pecado original” e a “teoria da virtude original" (APPLE, 1983, p.127). Pelo que consta, nao ha no Judaismo uma “doutrina normativa do pecado original” extraida da narrativa da transgressao de Addo tal como aparece no Génesis. Fonte: http://migre,me/kt2uC Apple assevera que, embora existam sugestivos folclores judaicos que procuram culpabiizar Ado pelos pecados de seus descendentes, eles nfo possuem nenhum valor normative. Tampouco no Judaismo é possivel dizer de uma “doutrina da virtude ori inal”. ‘Ademais, ha tendéncias dentro do Judaismo de carater mais otimista que alegam: apesar de no poder afirmar nem a virtude original nem o pecado original, 0 fato de o ser humano ser racional faz com que ele persiga ou escolha a boa inclinagao, pois, além de . nenhum dos herdis biblicos € reconhecer racionalmente que essa seré — retratado como perfeito; e em varias i je oportunidades, a5 escrituras afirmam melhor para ele, sabe que 0 Criador 0 criow Soe nzo ha homem justificado sobre a no para viverem longe. terra que pratica somente o bem e nunca © mal” (APPLE, 1983, p.128) Outro modo de reforcar essa “preferéncia - para junto de pela boa inclinago” no Judaismo esté no argumento de que tudo © que fazemos é visando o bem endo o mal. Por exemplo, um bandido no rouba pensando em fazer o mal a outrem, ao contrétio, rouba porque acredita que aquela opsao, ainda que distorcida e limitada, é um bem para ele. Ha, ainda, uma outra explicagdo judaica para uma maior preferéncia pelo bem, a saber: se néio houvesse a ma inclinagéo nao haveria a propria vida; pois ela, juntamente com a boa inclinaco, é que faz a dinamicidade da vida. Portanto, conclui Apple: a ma inclinacéo no deve ser endeusada, tampouco negada. ‘Ao contrétio, deve ser disciplinada e direcionada e isso se dé de trés modos: * 0 primeiro modo esté relacionado com o modo de entender € fazer uso da prépria boa indlinagio. Se a mé inclinaggo pode ser reparada pela boa inclinacao, a ma inclinac&o nao pode ser vista somente como propriedade da matéria, pois 0 pecado é do homem como um todo e néo apenas da matéria, werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua * © segundo modo de lider com a mé inclinacao é estudar e praticar as palavras de Deus encontradas nas Escrituras. * Eo terceiro modo é com a ajuda de Deus. Apesar de tudo o que foi dito acima, o Judaismo também nao escapa das cldssicas literaturas que sustentam o mal a partir de um ser diabdlico e demoniaco que tem a capacidade de seduzir 0 ser humano. A Kabbalah apresenta o mal como um dominio emanado das trevas e dos poderes f demoniacos, repletos de aspectos hierarquicos. Em contraposicao a essas visées miticas, Apple explica que a filosofia judaica classica defende a néo-existéncia do mal — caso se pense o mal em si mesmo — reforcando assim as | tradiges rabinicas. No maximo, o mal assumiria o papel de auséncia do bem. 3.2 A Resposta Islamica A resposta islémica 20 problema do mal, por sua vez, parte da idela de que Alah (Deus) & sumamente onipotente, o que implica dizer que o Islamismo constréi uma cosmologia muito mais determinista que o Cristianismo e que o Judaismo (JESSICA, 2013, p.01). Para a teologia islamica, todas as coisas possuem uma tinica origem: Deus — inclusive © mal. Porém, ainda que esse Ultimo seja de origem divina, 0 campo das coisas consideradas "mas" & bem inferior ao das consideradas boas. © Isid também possui, em sua tradico literdria, um personagem que personifica 0 mal. Denominado de Zblis ou Shaytan, a personificagio do imal islamico era compreendida como um anjo — cunhado de fogo - @ que fol esconjurado do paraiso por néo querer curvar-se diante do homem. bls, além de ter um papel muito pequeno na teologia Islémica, é em alguns casos, retratado na forma humana ensinando heresias ou doutrinas erradas. Sua forma de corromper a humanidade no se da por meio da seductio ou da corrupsio, mas ao semear erros na compreenséo da doutrina do Isla (JESSICA, 2013, p.01). werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Com feito, a questo mais importante na compreensio do mal para a representagdo sociocultural islamica 0 fato de que o mal no esta associado a ideia de redengo, e a funcSo da ressurrei¢ao de Cristo nao tem relaco com a salvacio do homem (JESSICA, 2013, p.01). Nesse aspecto, a nogio islamica do mal aproxima-se mats do Judafsmo do que do Cristianismo, & medida que inexiste no Islamismo qualquer possibilidade de interpretar a transgressdo de Addo, relatada no texto de Génesis, como algo que tenha modificado a natureza humana, fato esse que favoreceu a teorizagdo do pecado original e a justificagéio da morte e ressurreicio de Cristo. Para o Islamismo, o mal é uma condiggo humana transitéria, mesmo que Ado tenha sido expulso definitivamente do paraiso, sua punigéio € vista como temporaria e diz respeito apenas Aquele ato em especifico. (JESSICA, 2013, p.02). Assim, tal como no Judaismo, © mal e suas consequéncias, o pecado, sao tidos muito mais como atos morais de cardter temporario do que como mudangas que necessitem de uma reparagao eterna. Por outro lado, ao dizer isso, nem todos os problemas ligados ao mal esto resolvides, na medida em que a atribuicgao do mal a Deus, numa teologia determinista, implica em outros problemas como o da predestinagio e da liberdade humana. Com efeito, a resposta & pergunta: por que Deus no evita 0 mal? no é consenso no mundo cultural islamico. De acordo com Kahleck, duas séo as posturas cléssicas frente a esse problema: * 0s primeiros teoléaicos do representados pelos sustentavam que o ser possuia © que os responsabilizaria por seus pecados. tedlogos ortodoxos classics, defendiam a predestinacéo, movimentos Islamismo, Qadariyya humano livre-arbitrio, * Os Sunnis, 0 mal e 0 pecado sic geralmente representados como condigies transitérias na teologia isliica - mesmo depois de morto, de acordo com alguns tedlogos medievais, a passagem de alguém no inferno seria tempordria, um termo designado com base sobre os pecados cometidos na vida” (JESSICA, 2013, p.02) ™... 6 certo que cada um de nds temos o potencial para sermos pessoas boas & felizes, também temas as condigies para ser pessoas mis e prejudiciais, As facetas do bem e do mal convivem em nosso mundo. L..] S80 os chamados maus sentimentos os que nos fazem softer, e camo sofreros, sentimos a necessidade de fazer sofrer os dermis. Desde o ponto de vista da pratica e dos estudos budistas, 0 que importa, antes de tudo, é reconhecer que em cada um de nds habitam anjos e deménios. Cada uma das intengdes e motivacies para _atuar pretende dominar toda a existéncia” (MONTARO, 2009, p.104), 36 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 (@ UCDB,, virtua Fonte: hitp://mrigre.me/kt5Gt 3.3 A Resposta Budista Diferentemente das demais tradigées, 0 Budismo, de modo geral, nao faz uma relacao explicita do mal com uma divindade transcendente, isto é, 0 mal ndo esta ligado uma falta original cometida pelos seres humanos que, além de desagradar aos deuses, promove uma cisdo entre os deuses e as criaturas, e que necessita de um reparo (re-ligaré) mediante um sacrificio humano (como ocortia nas religiées cananelas) ou divino (Como o de Jesus Cristo no caso do Cristianismo). De fato, nos termos de Stérig (2008, p.37): “o budismo é uma religidio ateia", 0 que significa que, para o Budismo, nao hé a necessidade de se postular um Deus pessoal para que uma relacao religiosa se estabeleca, o qual pata muitos é um absurdo! Para essa_tradico oriental, o mal, ou mais conhecido com "maus sentimentos", séo potencialidades intrinsecas a todo ser humano. No trecho ao lado, Montafio explica que © Budismo nao entende o mal como algo em si mesmo (chamado em muitas tradigées de mal metafisico), oposto ao bem, mas ambos — bem e mal — so como dois “pote intrinsecos aos seres humanos expressados em forma de bons e maus sentimentos. De modo metaférico, como explica Montafio, é como se em cada pessoa morassem “anjos e deménios" que brigassem pela posse daquela existéncia em particular, de modo a influenciar os seus sentimentos. Essa visdo, por sua vez, confere ao bem @ ao mal o mesmo nivel de compreenséo, enquanto poténcias ou tendéncias humanas. Uma pergunta, portanto, torna-se inevitivel: se o ser humano possui tanto a tendéncia para o bem quanto para o mal, qual das duas seria mais forte? Montafio explica que nfo ha diividas de que € mais fécil o ser humano ser influenciado pelos maus 37 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua sentimentos do que pelas boas inclinagées, na medida em que as més inclinagSes produzem satisfagées rapidas e imediatas; e também é verdade que “toda aco positiva, amorosa e compassiva envolve as sementes da felicidade e verdadeira satisfagio” enquanto que “toda ago negativa, agressiva e egoista envolve as sementes do sofrimento e da dor” (MONTANO, 2009, p.105). Contudo, nada disso é suficiente para sustentar que o ser humano é essencialmente inclinado para o mal, ou seja, 0 fato de ser mais facil se para os maus sentimentos nao Ihe garante uma natureza ma, pois, para a concepcéo budista de Dalai Lama, o ser humano é naturalmente inclinado para a felicidade, para a paz e pela satisfacéio. (MONTAMNO, 2009, p.102). Fonte: http: //migre.me/kte7u Nao obstante a forga natural humana de buscar a felicidade em decorréncia de sua natureza bondosa, como apregoa 0 budismo, 0 que explica © homem, em algum momento, preferir seus maus sentimentos? A fim de responder esse dilema, Montafio retoma os ensinamentos de Buda, que dizia: “a raiz fundamental de nossas experiéncias de dor e sofrimento, de mal-estar e perturbacdo interna, é a ignorancia” (MONTANO, 2009, p.105). A ignorancia no € um atributo decorrente da intelectualidade, como uma auséncia de informagées ou um deficit racional. Entende-se por ignorncia “o modo equivocado de ver os fenémenos e as experiéncias que vivemos, devido, basicamente, 8s emogdes_e pensamentos, surgidos como respostas aos estimulos do mundo, que no séo validos”. (MONTANO, 2009, p.105). Em outras palavras, a ignorancia advém quando se concebem de cratidaae sorte don for Fama cias_ vividas modo erréneo as expel mediante um desencontro entre o modo de perceber o real eo que ele realmente é. sucesso Fonte htto.//miare,.me/kicidk. Montafio explica que esse “desencontro” acontece devido a uma pré-concepsfio que se tem sobre as coisas enquanto fixas, isoladas, sdlidas, definitivas e permanentes. Essa vise distorcida, muito comum em todo ser humano, tende a ver todas as coisas a partir de uma esséncia imutavel e uma existéncia auténoma e independente dos demais. Enquanto 38 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua que, na verdade, os fenémenos séo “interdependentes, varidveis, indeterminados e impermanentes” (DALAI LAMA apud MONTANO, 2009, p.108). Nos termos de Storig, um "... Darma [particulas tltimas que compée tudo que existe] nao é uma existéncia permanente, mas sim uma manifesta breve, algo que aparece e passa rapidamente. Nao existe em si um ser duradouro ou persistente” (STORIG, 2008, p.38). Isso significa que os maus sentimentos advém de uma inversio perceptiva da realidade, caracterizada pelo Budismo como ignordncia. © que, contudo, explica essa inversdo na percepcao da realidade? ‘Accausa do mal, - a inversio perceptiva dos fendmenos e das experiéncias pessoais — e que © Budismo chama de ignorancia, é 0 proprio ser humano. O ser humano é 0 responsavel pelos seus préprios maus sentimentos, maus atos e sofrimentos pessoais e interpessoais. Ao observar 0 citculo vicioso exposto acima, cujos sentimentos desagradaveis so reagdes oriundas das percepgées externas, que, por sua vez, provocam ages negativas ¢ estressantes e que, depois, serio novamente percebidas como desagradaveis; torna-se evidente que toda a compreensdo do real depende exclusivamente do modo como os fendmenos so idealizados ou mentalizados pelo sujeito. Para a representago sociocultural budista, tudo o que constitui o mundo é reduzido desde a perspectiva do ego, ou seja, do eu, pois “processamos todos os estimulos externos e todas as experiéncias que vivemos em fungao do ego, dos meus desejos e de minhas necessidades” (MONTANO, 2009, p.106). Em outras palavras, 0 modo de percepgao dos fenémenos & de apego ou de averséo, 0 que implica que o sujeito projeta no mundo o seu modo de perceber, transformando sua realidade em boa _ ou ruim, dependendo de sua percepco e de suas reades no mundo. 3.4 A Resposta Hindu A resposta da representaco sociocultural hindu também nao foge muito do que foi visto até agora pelas demais tradicées. A diferenca esté no modo como deve ser interpretada a relaco entre drahmane a teoria do karma’. ° Para o Hinduismo, Brahman € a divindade suprema, o responsavel pelo universo, e a teoria do karma, presente em grande parte das escolas hinduistas, mas com interpretagées diversas, ¢ 2 teoria que defende que existem leis de causa ¢ efeito no universo que s4o responsaveis pelas 39 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Uma das grandes questes das escolas hinduistas, no que diz respeito questo do mal, est no modo de compreender a teoria do karma, que sdo leis deterministicas de causa € efelto, responsaveis pelas sucessivas reencarnacées, pols reencarnar significa permanecer no mundo do sofrimento. Resumidamente, apresentar-se-4 trés pontos importantes para essa discusséo sugeridos por O'Flaherty (1989, 535-536): + Segundo o autor, a teoria de que 0 karma viola a divina onipoténcia nao € verdadeira. Se 0 Karma determina as acées humanas, isso significaria que Deus (brahman) no é onipotente. Permitir que os seres humanos decidam por suas ages em nada fere o poder divino. + Segundo o mesmo autor também no é certa a teoria de que o divino controle sobre o karma faz de brahman, fundamentalmente, responsével pelo mal, pois, para o Hinduismo, co-existem onipoténcia e livre-arbitrio. + E por fim, o terceiro ponto argumenta que dizer que no existe brahman e que existe 0 ‘acaso’ serve mais para ‘ignorar do que resolver o problema do mal’, Algumas. escolas hindus tentaram responder ao problema do mal ignorando a questo de sua origem, como se, a0 admitir © acaso como origem do mal, © problema tomaria outros contornos. Com efeito, 0 que esté em jogo nesse argumento é o fato de que havendo ou n&o um inicio (uma génese) para o mal, tal como postula a tradigéo crista (uma falta original), © problema do mal continua em aberto. 3.5 A Resposta Crista Em consondncia com a representago sociocultural crist, € preciso abordar a questo do mal atrelando-a ao “olhar da nossa fé" (CIC § 385) como modalidade de sucessivas reencamnagées para atingir 0 moksha, a libertacao total que reintegra atman a Brahman. Subjacente a ideia do karma esta a imortalidade, a superacao do ciclo das reencamages. A imortalidade € representada, em textos sagrados, como a Viagem da alma que entra no paraiso celeste (Vaikuntha = morada de Vishnu e Kallasa no Himalaia = morada de Shiva). (N. do autor) 40 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua abordagem de tal questo. Mais precisamente, s6 se pode falar de mal e sua origem, se se pisa no horizonte da fé, sem ela as questées passam a ser dilemas insondaveis. Assim, a questéo fundamental a respeito do mal, na perspectiva cristé, assim enunciada: "Se Deus Pai todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas, por que entio o mal existe? [...]" (CIC § 309). Nos termos de Queiruga (1999, p.83): Se Deus € puro amor, generosa e exclusiva libertaglo, por que este mundo por ele criado vem a ser to duro, tio triste as vezes, e, ainda por cima, {lo trSgico? Seguramente, nenhuma outra questo minou to a fundo a Fé ea confianca nessa bondade e, de consequéncia, na pripria existéncia de Deus. Como visto, o mal na vertente cristé converte-se em : problema, isto 6, néo apenas pSe em questo o atributo da bondade divina, enquanto expressao de amor e cuidado com as criaturas, como também questiona a prdpria existéncia de Deus. Antes de desenvolver a resposta cristé a respeito do mal, é importante destacar que 0 problema do mal é anterior ao préprio Cristianismo. Epicuro de Samos, filésofo grego do século III a.C., elaborou 0 Ss sequinte dilema: Masia Fonte: http: //miare.me/ktfot Deus quer evitar o mal, mas nao pode faz8-lo? Entéo ele no é onipotentel Ele € capaz de fazé-lo, mas ndo quer. Entdo ele & malévolo! Deus pode e quer evitar o mal? Entéo por que permite a maldade? Deus nao pode & rem quer evitar 0 mal? Entéo por que chama-lo de Deus? (QUEIRUGA, 1999, p.85) © dilema exposto no fragmento acima mostra que o problema do mal, desde Epicuro, ¢ reduzido a uma simples escolha, Precisamente, essas “escolhas", com 0 passar dos tempos, foram tornando-se “crengas” que, ainda hoje, sustentam 0 imaginério popular e erudito sem, no minimo, uma digna problematizagdo (QUEIRUGA, 1999). A fim de n&o repetir 0 mesmo equivoco - de compreender a questo do mal na vertente crist& simplesmente como uma escolha entre Deus ou 0 mal - faz-se necesséio melhor desenvolver a questo do mal. Uma primeira intuiggo importante da tradic&o crist& para o desenvolvimento desse problema aparece ja no séc. IV com o tedlogo Aurélius Augustus — vulgo Agostinho. Tal como a tradicao, Agostinho (1980, 7, §3, p.142-143) pergunta-se: 41 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Quem me criou? No foi o meu Deus, que é bom, e & também 2 mesma bondade? Donde me veio, ento, 0 querer eu o mal e n&o querer 0 bem? Seria para que houvesse motivo de eu justamente ser castigado? Quem colocu em mim e quem semeou em mim este viveiro de amarguras, sendo eu inteira criago do meu Deus to amoreso? Se foi 0 deménio quem me criou, donde é que veio ele? E se, por uma decisio de sua vontade perversa, se transformou de anjo bom em deménio, qual é 2 origer daquela vontade mé com que se mudou em diabo, tendo sido ciado anjo perfeito por um Crisdor to bom? Em coneluséo, 0 tedlogo responde: De fato, a corrupcdo € nociva, e, se néo diminuisse © bem, no seria nociva, Portanto, ou a corrupgao nada prejudica — 0 que néo ¢ aceitével — ou todas as coisas que se corrompem so privadas de algum bem. Isto no admite duvida [...] Por sso, se [as coisas] so privadas de todo 0 bem, deixardo totalmente de exist. Logo, enquanto existem, so boas, Portanto, todas as coisas que existem sio boas, ¢ aquele mal que eu procurava no é uma substincia, pois, se fosse substéincia, seria um bem. [..] Em absoluto, o mal ndo existe nem para Vés, nem para as vossas, Griaturas, pois nenhuma coisa hé fora de Vés que se revolte ou que desmanche a ordem que lhe estabelecestes. (AGOSTINHO, 1980, 7, § 12, p.153-154, grifo nosso) Agostinho chega & conclusdo que, se Deus & bom e tudo o que ele faz segue a mesma bondade (cf. Gn 1,31); 0 mal, em si mesmo, no pode ser tomado como uma coisa independente de todas as demais, como uma “substdncia"; 0 que permite 0 filésofo afirmar, com todas as letras, que o ma/ ndo existe e, consequentemente, nao tem origem. Todas as coisas ctiadas por Deus, necessariamente, devem ser boas € no existem coisas, criadas pelo mesmo Deus, que sejam més em si mesmas. A concluséo agostiniana, com efelto, permite inferir duas outras conclusées: + se no existem coisas més em si mesmas, tampouco existe um causader do mal, ou seja, Agostinho pe em questio ou pelo menos desacredita dessa possibllidade de existir um agente sobrenatural responsével pelo mal, 0 qual ficou conhecido pela tradicéo crist# medieval por Deménio®; Nao se pode deixar de mencionar que a tradicao literaria crist, sobretudo a patristica e a medieval, 2o interpretar as Escrituras, quis entender que toda a origem do mal podia ser depositada na figura lendaria do Diabo, Deménio, Satanas etc. Contudo, essa discussao sobre sua possivel existencia e sua pertinéncia para o problema do mal na tradicao orista nao sera tratada aqui, valemo- nos da concluséo agostiniana como uma resposta suficiente para o encaminhamento da questéo (Nota do autor) 42 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua + de modo positive, © mal seria algo relativo, ou seja, estd sempre em relagdo a um bem, pois 0 maximo que pode-se dizer dele, nos termos de Agostinho, € que o mal é a “privacdo do bem’, Assim, haveria, entre as diversas coisas existentes criadas por Deus, uma variagao de niveis de bens, ao invés de coisas propriamente mas. Uma coisa néo poderia ser reconhecida como m4, sendo que privada de algum bem. Em outras palavras, poderia ser um bem maior ou um bem menor, mas nunca um mal. A partir da conclustio de que © mal no possui um agente sobrenatural e que ele é privagéo do bem, podemos distinguir dois tipos de mal: “mel moral" € "mal metafisico”. Essencialmente, o mal moral “é a violagdo voluntaria e livre de uma ordem desejada por Deus — é 0 que a tradigéo cristé denominou de falta ou pecado” (OLIVEIRA In: AGOSTINHO, 1995, p.245). Entende-se por mal metafisico o mal em si. 0 mal metafisico como foi definido por Agostinho nao existe; o que faz restar apenas compreenséo do “mal moral", como um abuso do livre-arbitrio do ser humano. Fonte: htto.//migre, me/kta24 Em termos conclusivos, Agostinho, juntamente com toda a tradi¢ao biblico-crist, defende a ideia de que Deus nunca pode ser tomado por autor do mal, e, caso haja um autor, esse é 0 préprio ser humano, mediante sua vontade e seu livre-arbitrio que decidem escolher, entre todas as coisas boas, aquelas que possuem maiores privagées de bens. Como foi dito, esse mal do qual o ser humano é 0 Unico responsdvel é denominado de mal moral. Para evité-lo, a tradigéo crista prope os principios morais encontrados nas Sagradas Escrituras como regras para toda aco que tem por fim ditimo 0 Sumo Bem que & Deus. Nao obstante a essas conclusées, subsiste ainda uma itima pergunta que a tradicao crist’ deve responder: Se Deus no é o autor do mal e esse, por sua vez, ndo existe, de onde vem 0 desejo humano de nao optar por bens maiores? De acordo com 0 Queiruga (1999), a questo do mal, e todas suas implicacées vistas anteriormente, resultam em duas compreensées: * Ao afirmar que Deus no pode evitar o mal, ndo se nega a poténcia de Deus perante © mal — de modo a colocar em questéo a prépria existéncia de Deus como postulou 43 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Epicuro -, mas apenas afirma-se que é impossivel para Deus fazé-lo, assim como & impossivel para Deus fazer u cifculo quaatado, * A impossibilidace divina de evitar o mal deve-se ao fato de que Deus nao pode criar seres perfeitos. Tal como a tradicgo crista postulou, um ser perfeito somente pode dar origem a um ser imperfeito. Assim, & teologicamente impossivel que Deus crie seres perfeitos como ele, tal que o mal néo apareca. A criagdo divina apenas concebe seres imperfeitos, isto é, finitos. Com efeito, 0 mal é uma realidade que faz parte da prépria constituicio stencial das criaturas. Em outros termos, a resposta crist para o mal + NAO, Deus nao é a causa do mal, pois além do fato de Deus ser essencialmente amor € bondade, 0 mal metafisico (0 mal em si mesmo) € muito questionavel para resistir a um questionamento mais sérlo; + SIM, o homem ¢ responsavel pelo mal moral na medida em que Deus, ao crié- lo, no pode evitar 0 seu aparecimento. Tanto a vontade quanto o livre-arbitrio humano so intrinsecamente finitos e limitados, por causa disso, poder querer e escolher coisas que, urna ver @tarnalizadas [Peer eee em ages, necessariamente tergo--«omtradigio interna do fiito” (QUEIRUGA, 1999, p.95) consequéncias privadas de bens e _ interpretadas como um pecado, sob a égide E hora de trabatha da moral crista. Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 3.1. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua O PROBLEMA DO ABSOLUTO OBJETIVO DA UNIDADE: apresentar como as cinco maiores religides entendem a realidade absoluta da existéncia, ou seja, como elas explicam a existéncia divina. 4.1 O Problema da Resposta Judaico-Crista Nao hd dividas de que tanto a tradigo judaica quanto a tradico crista postulam a ideia do Absoluto. Também nao ha diividas de que Judaismo e Cristianismo identificam como Absoluto, em suas origens, a experiéncia de fé feita pelos povos do Antigo Oriente, Essa experiéncia de fé € conhecida nas Escrituras como fé no “Deus dos pais” (DONNER, 1997). De um lado, a experiéncia do “Deus dos pais" foi consolidada na crenga em um Unico absoluto Senhor. Por outro lado, essa mesma experiéncia original foi aceita criando outra crenga: a de um Deus que se revelou nao como um tnico Senhor, mas como uma “Comunidade”. Desse choque de interpretagées da mesma experiéncia € que aparecem as definigées absolutas de Monoteismo Judaico e Trinitarismo Cristao. © Judaismo nem sempre foi monoteista, isto é, nem sempre admitiu a existéncia de um tnico Deus, tal como se compreende hoje; mas aprendeu com sua prdpria experiéncia de f& e com as necessidades histéricas a reconhecer Javé como seu tinico Senhor. Para a concepsiio judaica, Javé, © Senhor dos Exércitos, é totalmente Absoluto”. 0 monoteismo constituido historicamente pelo Judafsmo sustenta que deve haver um Unico Deus verdadeiramente existente e somente a ele deve-se prestar culto. Nos termos de Nathan, 0 monoteismo judaico é aquele que sustenta a existéncia de um unico sujeito divino. Fonte: http://migre.me/ktsmn_ “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirel da terra do Egito, da casa da servidao; Nao teras outros deuses diante de mim; Nao faras para ti imagem de escultura, nem semelhanca alguma do que ha em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas aguas debaixo da terra; Nao te encurvaras a elas, em as serviras; porque eu, 0 Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geracdo daqueles que me odeiam. E faco misericérdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Dt 5, 6-10). 45 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Ao contrério do Judaismo, o Cristianismo prega, enquanto Absolute, uma concepgao denominada Trinitarismo. E a crenga que afirma verdadeiramente a existéncia de apenas um $6 Deus, porém em trés pessoas igualmente divinas. Do mesmo. modo que 0 Monoteismo judaico, 0 Trinitarismo cristéo também nao nasceu pronto, mas passou por diversas etapas até chegar a sua formulagdo dogmética. Assim, é Absoluto para o Cristianismo crer que Deus é Uno e Trino ao mesmo tempo. Nathan argumenta que a causa do conflito entre 0 Monoteismo judaico e o Trinitarismo cristo € que o Cristianismo quer, ao mesmo tempo, defender como Absoluto a crenga mono! de Deus ¢ 2 doutrina sobre Cristo, o que implicaria dizer que 0 Deus cristo € absolutamente Uno e Trino. Os limites dessa pretenséo cristi aparecem no modo como se interpreta essa relagdo entre Uno e Trino: ou 0 Trinitarismo defende a existéncia de apenas um Deus acima das “trés pessoas” que compie a Trindade, sendo um Deus Uno; ou se atribui a cada uma das pessoas da Trindade @ qualidade de divino, tornando Deus um ser Trino (NATHAN, 2006, p.76). Se a segunda alternativa for 0 modo correto de entender o Trinitarismo — dizer que cada pessoa da Trindade é Deus — entéo seria. muito dificil pensé-lo em acordo com o Monoteismo judaico. Em contrapartida, seria uma teoria bem coerente com a doutrina sobre Cristo. Fonte: http://migre.me/kts6V A doutrina sobre Cristo afirma que, ao assumir que Cristo é distinto do Pai, nao ha na Trindade um tinico “sujeito divine” (um Gnico Deus), mas pelo menos dois sujeitos divinos: 0 Pai e o Filho. Caso isso seja assim, entdo a doutrina sobre Cristo aproxima-se rigorosamente do Trinitarismo, uma vez que ela defence a divindade das trés pessoas da Trindade. Em compensacéo, a doutrina sobre Cristo se afasta do Monoteismo judaico. Haveria um modo de conciliar o Trinitarismo cristo e Monotefsmo judaico? Segundo nosso autor, para que o Trinitarismo seja compativel com o Monoteismo judaico é necessério que a €nfase no seja no aspecto “comunitério” da Trindade, nas pessoas que o compéem, mas na natureza divine em si mesma. Seria o mesmo dizer que Deus € dnico, contudo sua vida € vivida em trés momentos diferentes e de modo simultaneo. Em um momento, Deus vive o Pai, em outro, o Filho em outro, o Espirito, e esses trés momentos ocorrem simultaneamente. De modo anélogo a um 46 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua coro, Deus é como uma miisica que & cantada em trés vozes de tons diferentes, mas simultaneamente. (OOD Fonte: http://migre,me/kks1a Esse modo de compreender a Trindade nao é inconsistente e a0 mesmo tempo € compativel com 0 Monoteismo judaico, comenta Nathan. Ha ainda outra interpretagaio do Trinitarismo que defende a dela de um Unico sujeito divino consciente ao invés de trés que, segundo nosso autor, pode ser perfeitamente concilidvel com 0 Monoteismo judaico. Ela diz que a relagao de amor que se estabelece entre 0 Pai e 0 Filho € 0 Espirito, que depende do Pal e do Filho, mas no so os mesmos. No fim das contas, haveré sempre uma tensio entre Monoteismo judaico e Trinitarismo cristo, ainda que as possibilidades de interpretaco do Trinitarismo apresentadas acima, a partir da crenca de que exista apenas umn Linico sujeito divino sobre as pessoas da Trindade, possua certo grau de verdade. 4.2 0 Problema da Resposta Islamico-Crista Na resposta anterior, vimos como Cristianismo € Judafsmo se diferenciam quanto & ideia do Absolut por meio da divergéncia entre Uno ¢/ou Trino. A ideia agora é fazer 0 mesmo, com uma Gnica diferenca, pretendemos mostrar como a tradigo islémica se afasta de ideia Trinitéria para defender a unicidade de Deus, mesmo que essa defesa no seja necessariamente uma volta ao Judaismo. Hoover (2009) explica que o monotefsmo, ou seja, a exclusividade de Deus, ¢ uma doutrina fundamental no Islamismo e negé-la, ou compreendé-la de modo distinto, como faz 0 Cristianismo, é cometer um pecado imperdoavel. Nesse sentido, juntamente com Hoover (2009, 58-59), traremos presente os trés argumentos do Isla contra o Trinitarismo cristo: 47 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua © 0 primeiro argumento é a eri a que © préprio Alcorao faz ao Cristianismo. Hoover faz lembrar que ha alguns versos no Alcoro que criticam o Trinitarismo cristao. Essas criticas tém como escopo central o fato de que Jesus nao pode ser tomado por Filho de Deus, mas 20 contrério, apenas um mensageiro de Deus — haja vista que tal filiagiio nada mais seria do que uma mera associagio. A negacéo da filiago de Jesus, ainda, leva & negacdo da existéncia de trés deuses na Trindade, afirmando em seu lugar, a existéncia tinica de Deus. * Como segundo argumento contra o Trinitarismo cristéo, o Islamismo procura trazer a luz um equivoco de compreensao histérica que cometeu 0 Cristianismo: Jesus 6 compreendido no mesmo contexto e com as mesmas prerrogativas dos profetas biblicos, ou seja, Jesus também tinha como mensagem central a viséo monoteista de Deus. Segundo o Isla, as mudangas dessa mensagem devemr-se a distorgées posteriores dentro da interpretacdo do Cristianismo. * 0 terceiro argumento diz respeito & prépria compreensaio da Trindade. Comenta Hoover que o argumento € muito simples: se na natureza divina co-participam trés pessoas, entao, pela ldgica, “trés ndo é um e um no é trés” De modo geral, 0 Islamismo néo compactua com a doutrina da Trindade e, ao contrério da tentativa feita acima de conciliar o Trinitarismo com o Monote/smo judaico, isso, para o pensamento Islamico é totalmente impossivel, pois Deus é Absolutamente univoco e nada compartilha de sua divindade. 4.3 A Resposta Budista Como jé foi dito no problema do fim sob a perspectiva budista classica, qualquer compreenséo deve ser vista & luz das “Quatro Nobres Verdades". 0 problema do Absoluto, por sua vez, é desenvolvido dentro da terceira verdade, Diz assim a terceira nobre verdade: L.-] 2 completa cessagio do sofrimento, ou extingSo da desarmonia entre 0 EU idealizado e 0 mundo real é conseguida pele total erradicagdo de todas as formas de desejo, levando 20 Mibbana mais conhecido por Nirvana. lr, em sSrscrito, significa "no" @ vana significa “cordao"; assim, Nirvana pode ser treduzido literelmente como "no estar preso", ou "estar liberto" (SILVA; HOMENKO, sd., p47). 48 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua De acordo com o texto acima, existe uma “desarmonia” entre o eu idealizado e 0 mundo real, ou seja, de algum modo, acreditamos que existimos e também os outros seres do mundo enquanto substancias no sentido grego!*. Essa viséo desarmonizada da realidade nos faz querer viver sempre e, consequentemente, nos faz softer. Essa, portanto, é a Gnica certeza do Budismo, a existéncia do sofrimento. A medida que uma entre tantas formas de existir consegue anular esse desejo descontrolado e, portanto, 0 sofrimento, esse ente se liberta e alcanga o estado de Nirvana. © Nirvana, explicam Silva e Homenko, no é simplesmente a mera anulagio dos desejos. Anular os desejos é, na verdade, autoaniquilagdo, 0 que no Budismo é totalmente impossivel. Assim, o Nirvana é uma absoluta renincia sede que move a “... [0 Nirvana é a] completa rentincia; ndo os mossos desejos, = € = simplesmente rentincia aos objetos exteriores, x its mas, na realidade, pela rendncia intema as desconstrugéo da ilusdo que [RUE ee eine ra mono prescreve um modelo desejavel de apaga porque nao hi mais combustivel para . alimenté-lo, Ea aniquilagdo da iluséo do eu realidade. Uma vez desfeito esse | pessoal de separatividade, do total dos apegos, preconceito referente Aquilo que pode- | @feigdes pare consiga mesmo, apetites de sede de desejos que envolve e suporta essa ilusdo' se querer na realidade, o desejo cessae (SILVA, HOMENKO, s.d., p.47) com ele © sofrimento, Em outras ” palavias, @ Nirvana é a cortege da ignorancia sobre © que é Absoluto. Nés sempre partimos do ponto de que existem coisas exteriores e independentes a nés que podem ser desejadas. Elas sfo tidas por absolutas. Contudo, segundo Budismo, essas coisas exteriores, como as riquezas, os prazeres, os conhecimentos, etc., no existem independentes a nés e quanto mais os consideramos assim, absolutos € independentes, mais sofremos por nunca conseguir alcancé-los em sua totalidade. Fonte: http://migre.me/kttcz Quando, decididamente, desconstruimos essa realidade em nds, de que as coisas néo existem como absolutas, mas apenas relativas a nds, nossos desejos cessam e com eles nossos sofrimentos, nos elevando a um estado de libertacéo denominado de Nirvana. ” Cf. O problema do fim na perspectiva Budista. 49 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Portanto, @ Nirvana, esse estado de liberta¢io da condigao da ignorancia e do sofrimento, é o préprio real, o Absoluto em esmo. ‘Onde estaria esse Nirvana? De acordo com 0 Budismo, 0 Nirvana *ndo-esté”, pois a condicdo de “estar” est ligada 8 nogo de tempo e espago e essas devem também ser sacrificadas para se atingir 0 Nirvana. Desse modo, 0 Nirvana é uma permanéncia que no esta vinculada a um ego ou uma individualidade, mas apenas a continuidade causal do Universo (SILVA; HOMENKO, s.d., p.49). Ademais, 0 Nirvana no pode ser nem positive nem negative, nem bom nem mal. © termo felicidade também no é adequado a ele, pois a ele ndo convém nenhuma dualidade. Néo € algo para depois da morte, pois em vida pode-se alcancé-lo. Nos termos de Silva e Homenko (s.d., p.51): © Nirvana & um estado incondicionado de inefavel bem-aventuranga, de paz e alegria sem limites, como se atesta pelas declaracSes daqueles que o aleancaram. Aquele cue realizou esta Verdade - Wirvana -0 mais feliz dos seres. Sua salide mental é perfeita, no se arrepende do passado, nem se preocupa com o futuro; vive 0 momento presente, esté livre da ignoréncia, dos desejas egoistas, do ddio, da vaidade, do orgulho, livre das dificuldades ¢ dos problemas que atormentam os outros. Torna-se um ser puro, meigo, cheio de amor universal, compaixio, bondade, simpatia, compreensio e tolerdncia, Presta servigo aos outs com a mior pureza, pois no pensa egocentricamente, nfo procura lucro, nem acumula coisa alguma;, nem os bens espirituzis, porque esté livre da ilusso do "eu", da sede e desejo de vir-a-ser. Assim, 0 Nirvana é um estado que em tudo esté e ao mesmo tempo nao esté em parte alguma. E a grande libertag3o do karma, o totalmente incondicionado pelo eu individual, @ prépria possibilidade o Absoluto e por isso mesmo 0 Absoluto. 4.4 A Resposta Hindu A representagéo sociocultural e filosdfica hindu também possui uma resposta ao problema do Absoluto, e para tal, como comenta Stirig (2008), € necessério entender dois conceitos: Brahman e Atman. Inicialmente, Brahman significava “orago", ou ainda, “palavra magica”. Ao longo dos tempos esse conceito foi variando até que ele ganhou seu significado mais preciso: “principio criador universal genérico, a grande alma universal que repousa sobre si mesma, a partir da qual tudo € gerado e na qual tudo repousa’ (STORIG, 2008, p.26). Essa mudanca, de oragéo para principio universal, explica Stirig, é fruto do préprio entendimento do que € a oragao. Se, de acordo com essa tradicéo, orar nada mais é do que elevar-se ao divino supraindividual, é fazer-se um com a divindede, entéo, 0 que ocorreu, na verdace, foi werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua apenas uma mudanga de foco. Brahman, que no inicio era visto na perspectiva do crente, posteriormente foi ampliado para a perspectiva da prépria comunhao universal, sem deixar © sentido original de fazer a ligagao entre o orante e 0 cosmos. Do mesmo modo ocorreu com Aéman. Originalmente, Aman queria dizer “sopro” ou “respitagéo". Os anos deram-Ihe 0 sentido de “ser”, "si mesmo”, ou seja, a identidade do set humano. Assim, Atman passa a ser visto como 0 “niicleo mais intimo de nosso eu” isto 6, a nossa alma (STORIG, 2008). No entanto, a transformacao mais decisiva de ambos, e que nos interessa aqui, esté quando Brahman e Atman foram, em anos posteriores, identificades como uma tinica realidade, ou seja, como 0 Absolute. Desse modo, ha apenas uma (nica esséncia do mundo que pode ser percebida e reconhecida por dois polos: quando se olha a partir da totalidade do universo, temos Brahman, quando se olha a partir dos seres individuais, temos Atman. Portanto, quando se parte do ponto de vista da individualidade é Aémane Brahman quando se parte do ponto de vista da totalidade. Brahman néo 36 estd em tudo como também & tudo, assim como Aéman. Nesse ponto, o dualismo antropolégico (corpo e alma) ganha_contornos prdprios. O Hinduismo mantém a ideia dualista de que o mundo exterior @ alma € um mundo ontologicamente inferior, isto é, néo possui valor em si mesmo. Explica Storig (2008): “o mundo das coisas do tempo e do espaco ndo é em si esséncia, néio é Atman, mas sim miragem, véu, ilusso”. Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 4.1. 51 ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Ls A SINGULARIDADE DA COSMOVISAO CRISTA OBJETIVO DA UNIDADE: Propor o cristianismo como modo e estrutura por meio da qual a pessoa vé, interpreta e entende as experiéncias da vida, a partir da experiéncia franciscana, Todo cristo, pelo batismo, se compromete a seguir Jesus Cristo. As Igrejas cristas em geral propiem como ideal a ser vivido, 0 seguimento de Jesus Cristo, Nos momentos de grande crise da Igreja, quando o ideal se encontra comprometido, a histéria tem mostrado que surgem sempre de novo movimentos de renovaco, que buscam nos Evangelhos a luz & a inspiragdo para voltarem a seguir, mais de perto, a Jesus Cristo. Podemos afirmar que a tBnica constante da espiritualidade crist é o seguimento de Jesus Cristo. . ~~ Os santos foram e so sempre pessoas que se Nn puseram radicalmente no seguimento de Jesus Cristo. he Francisco de Assis foi uma dessas pessoas que mais 4 - impressionou os seus contemporaneos do século XII, capaz de arrastar multidées de homens e mulheres com uma proposta de vida simples e radical: seguir a Jesus Cristo segundo a forma do Evangelho. Seu exemplo de vida nos desafia ainda hoje a seguir as pegadas de Jesus Cristo, pobre, solidario com todos os pobres © sofredores e irmao de todas as criaturas. Fonte: http://migre.me/ktvix Francisco de Assis catalisa e expressa as aspiragées humanas mais radicais. Entre as grandes aspiragdes do ser humano est o desejo de comunhao com toda criatura. Sozinho, © ser humano se sente incompleto, imperfeito e infeliz. Repousar na harmonia do bom e do belo agrada ao ser humano. Ele parece estar sempre em busca do paraiso perdido, onde possa vivenciar a paz € a comunhdo com o todo. No entanto, experiencia uma realidade bem diferente de um paraiso terrestre, no decorrer da historia. Quanto édio, discdrdia, diviso em nosso tempo. 52 irtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Impulsionado pelo egoismo, cada qual procura seu mundo. A comunhio no seio da familia, da sociedade e com toda criagéo € quebrado. Cria-se 0 isolamento das pessoas. Muitas se encontram solitérias e isoladas. As multidées que se juntam so massas humanas que no possibilitam o encontro. € dificil a comunho harmoniosa entre homens e mulheres. A.utilidade e @ produgio so os critérios pelos quals as pessoas so avaliadas. Aquilo que so & menos importante do que aquilo que possuem. Este é critério de considerag&o. Busca- se 0 utilitarismo e o produtivismo. © confiito e a violéncia so gerados pelo egoismo, o utiltarismo e o produtivismo. A gendncia do ter e do gozar geram guerras, conflites, marginelizagées de grupos sociais inteiros. Nao nos vemos mais como irméos, mas como inimigos. Perguntamo-nos: seré que © axioma dos latinos Aomo homini kjpus (0 ser humano & um lobo para o outro ser humano) teré que perpetuar-se, apesar de toda mensagem de confraternizacéo universal do Evangelho, baseaca no mandamento do amor? (BECKHAUSER, 1996, p.195], Em busca de valores humanos como a liberdade, a fraternidade e a igualdade fizeram-se até revolugées. Porém, passam-se séculos e a realidade humana néo é de comunhio, mas de conflito, inimizade e édio. Até harmonia entre o homem e natureza se deteriora a passos largos, causando a ameaca ao ser humano, por causa do desequiliorio ecoldgico. Contudo, © ser humano encontra-se imerso na experiéncia de identidade e da alteridade. Tem conscigncia da sua individualidade e, no entanto, impelido pare 0 outro. Ele é tinico, mas sente-se chamado & comunhio. & sofre porque tem consciénca de que sb na comunhao com 0 outro ele ‘encontra sua realizacao (BECKHAUSER, 1956, p.195). Frente a essa situagdo angustiante, experimentada com intensidade de dramaticidade pelos homens e mulheres do nosso tempo, talvez mais intensamente do que em outros tempos, nos perguntamos: 0 que nos tem a dizer Francisco de Assis? Mais de itocentes anos depois da sua morte, ele aparece, ainda hoje, como o homem reconeiliado com todas as coisas: consigo mesmo, com Deus, com o préximo e com toda criagéo. Ele & conhecido como irméo universal em plena comunhio com todo o mundo e com 05 seres criados. Uma comunhio que promove e suscita a vida, pois é sindnimo de amor. Nesse sentido, este texto quer tratar da fraternidade universal vivenciada por Francisco de Assis, enfocando mais acentuadamente o tema da ecologia. Apresentamos a seguir fragmentos do artigo do professor Nilo Agostini: “A crise ecolégica: 0 ser humano em questo” Disponivel na integra em: 53 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Acesso em: 16 jul 2014. A CRISE ECOLOGICA: 0 SER HUMANO EM QUESTAO - atualidade da proposta franciscana Prof. Dr. Nilo Agostini, OFM* Somos seres humanos vivendo majoritariamente nas cidades. Seres urbanos, sim, porém mal urbanizados. Sentimo-nos ainda forasteiros na cidade’*. O asfalto, as pedras, os edificios, as casas nos morros, as lojas, os armazéns, os supermercados, as fabricas, os plésticos, os computadores vo tomando espagos hé pouco inimaginavels e, com isso, distanciando 0 ser humano do convivio mais direto com a natureza. A vida agitada j8 néo nos possibilita mais parar, respirar, contemplar numa unio césmica que enlaga a natureza toda. A propria poluigéo j4 embaga os horizontes, enfraquece a luz do sol, muito mais da lua e das estrelas. A degradacéo do meio ambiente atinge indices alarmantes, com ameagas diretas & qualidade da vida existente. E certo que o modelo econémico atual agride fortemente a vida neste planeta. Desenvolvido na civilizago ocidental, hoje invadindo os mais recénditos lugares da Terra, este modelo corréi néo s6 o humano mas desfaz o equilibrio vital que une a natureza toda, A busca desenfreada do lucro, capitalizado/acumulado, levou a uma sede voraz de posse sobre a limitada natureza, hoje com sinais de depredagéo comprometedores. E mais! © alarmante ritmo de extingio das espécies"* no € um fenémeno natural, nem espontaneo e muito menos auténomo, Sabemos do enorme impacto causado pela interferéncia do ser humano na criagao. Em curto espago de tempo, estamos rompendo 0 equilibrio que custou bilhdes de anos para se formar e poder acolher/abrigar a vida"*. * Ch, LEERS, Be mardino, Francisco de Assis e @ mora! cristé. Petropolis: Ed. Vozes, 1995. 9, 1075s. *Doutor em Teologia Moral, professor, Diretor do Instituto Teoldgico Franciscano de Petrépolis e Diretor do IFAN-USF. Disponivel em: www.nlloagostin| com pr/artigos/2010/../17 010610 criseecologica.odf Acesso obtido em 11/07/2014. * Mesmo niio existindo nimeros exatos, as estimativas mais aproximadas do o seguinte quadro: “Entre 1500 ¢ 1850 foi eliminada uma espécie em cada dez anos; entre 1850 € 1950, uma espécie por ano; no ano de 1990, presume-se terem desaparecico der especies por Gia; por volta do ano 2000 ... desaparecera uma espécie por hora; entre 1975 e 2000 tero desaparacide 20% de todas as espécies”. KLINKEN, Johan van. O terceiro ponto ‘no pracesso conciliar IPPC: A ecologia entre a teologia e as ciéncias naturals. Concilivm, Petropolis, n.4, fasc. 236, p. 73, 1991. 7 Vejamos alguns exemplos de elementos que permitem a vida organica sobre a face da Terra, apds bilhbes de anos de ‘gestagao" do seu habitat ideal, Esta vida aprove tou-se de toda uma constelagao de possibilidades materials, por exemolo, “ondas eletromagnéticas para poder ver; ondas sonoras para ouvir; agua, ar € terra para bidtinos diversificados; os ritmos do dia ¢ da noite, do verdo e do inverno; aves que se movimentam pelo magnetismo da Terra; vida exige oz6nio, diéxido de carbono {isto é CO2) € oxigénio em concentragées precisas; oz6nio de menos ¢ radiacao solar ultravioleta destroem as moléculas organicas; oz6nio demasiado 54 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua ‘A natureza tem seus limites, nds seres humanos inclusive. Estamos ultrapassando 6s limites suportaveis. A atmosfera j4 no consegue mals absorver a quantidade elevada de gases, especialmente 0 gés carbénico". © consequente aumento da temperatura atmostérica (efelto estufa), se atingir 2 a 3 graus centigrados, oferecerd real ameaga & vida sobre a face da Terra”. Acrescente-se af 0 problema da poluigéo atémica, sonora, das guas, bem como a contaminago da terra por intimeros agentes quimicos e plasticos no degradéveis. J4 soou o alarme da crise ecolégica, que aponta para uma simbiose entre 0 ser humano, a sociedade e 0 meio ambiente, O espectro aumenta quando abordamos as grandes concentragdes urbanas, 0 crescimento demogréfico, 0 subdesenvolvimento, a pobreza, a habitago, a higiene, a satide, o perigo de esgotamento de matérias-primas, as guerras, etc. Com as técnicas modernas € respectivos conhecimentos cientificos, 0 ser humano tornou-se capaz de intervir na natureza; transforma-a, submete-a, manipula-a, busca conhecer 0s seus segredos, Desde os primérdios da humanidade, ele vem realizando isso, buscando garantir a reproducaio da prépria espécie e a sua sobrevivéncia. No entanto, esta intervengo mostrou-se ambivalente, Por um lado, 0 ser humano foi capaz de dotar a humanidade de beneficios extraordinrios. Por outro lado, na medida em que a sua intervengao mostrou-se voraz e desequilibrada, saltou aos nossos olhos a sua capacidade de depreder e destruir além dos limites ecologicamente suportdveis. Hoje, temos consciéncia de que este desequilibrio estd na raiz da crise ecolégica e humana, A atual crise ecolégica, que se alastra a passos largos, coloca, na verdade, o set humano em questo, quer pessoal quer socialmente, Aponta-o como desertor da vida ao introduzir ou deixar-se enlear num desequilibrio vital grave; ele chegou a exilar a propria ética das discussées, amargando um preco social de graves proporgées. Soou a hora de recriar referenciais capazes de ordenar as relagées a favor de uma vida digna e de lastrear © ser humano para estar altura dos atuals desafios. 0 momento é 0 da busca de um reequilibrio do vital, capaz de abragar a natureza toda. © estudo, que ora introcuzimos, leva-nos a delinear os contornos tanto da crise ecoldgica quanto da crise do humano. Tal constatacao remete para a necessidade de um resgate da criagéo, apontando a “comunhéo", a “correponsabilidade” e a “ética” como ‘torna-se um gis venenoso; CO2 é necessario para a vida com assimilagSo de carbona e para a estaalizaco da ‘temperatura da atmosfera; 0 oxigénio do ar é um produto de vida © desapareceria sem a assimilagiio do carbono”. Ct bid, p. 75-76. * a América do Norte, a CEI (ex-URSS} ¢ a Europa s80 os que langam mais CO2 na atmosfera, com taxas respectivas de 24, 19 e 21% da emissdo mundial. Cf. ibid... 76, nota 9. *Ta| aumento de temperatura atmosférica provocard a formacto de desertos, fore generalizada, inundacso de regides ltordneas e muito populosas € destruigSo de habitats cam extingSo acelerada das espécies. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua ‘ios norteadores. Em seguida, apontaremos para o vigor do “modo franciscano de ser” face & questo ecolégica, ficando evidente a atualidade da proposta enraizada em Francisco de Assis. Através das geragées, Francisco de Assis tem sempre inspirado aqueles que se preocupam com os problemas que nos circundam e nos habitam, provocando-os a buscar uma reconciliaco universal com todos os seres da criagéo. El “8 uma des poucas figuras histiricas na qual o humanum encontrou um os intérpretes mais privilegiados... Porque mergulhou na radicalidade do mistério humano, ele conserva uma permanente atualidade, Continua a falar, também para os dias de hoje. A crise de nosso ethos cultural cespertou as consciéncias acerca da atualidade e da urgéncia do modo de ser franciscano”™. 1. A crise ecolégica 1.1 Ecologia e totalidade A palavra ecologia foi cunhada pelo bidlogo alemo Ernst Haeckel (1834-1919), em 1866. Combinou as palavras gregas oikos (= casa, habitat) e fogos (= ciéncia ou, simplesmente, reflexo, estudo). A ecologia tinha por objeto o estudo das relagées das espécies entre si e das espécies em seu meio’, ou seja, passou a ocupar-se da “interdependéncia e da interagéo entre os organismos vivos (animais e plantas) e 0 seu melo ambiente (seres inorgénicos)". Desde entio, a compreensdo de seu campo especffco foi progressivamente sendo explicitado e mesmo ampliado. [...] No entanto, © passo qualitative, no horizonte dos sentidos e nas praticas inerentes, deu- se no justo momento em que a ecologia assumiu a interagao acima enunciada em termos de relacdo e dialogacdo entre os seres vivos e no-vivos. Com isso, esta se dizendo que a ecologia, além de assumir a natureza (no que poderiamos chamar de ecologia natural), alarga seu horizonte e abarca a cultura e a sociedade (numa ecologia humana, social, etc.). [..] Consequentemente, a ecologia exige uma visto de totalidade, na medida em que tudo est ligado com tudo. Nao se trata da soma de partes, mas de uma interdependéncia orgénica. Faz-se necessério superar um pensar adestrado demasiadamente para o analitico € pouco capaz de sintetizar, para chegar a articular as diferentes éreas do experimentar * BOFF, Leonardo. A nfjo-madericiade de S40 Francisco: A atualidade do modo de ser de S. Francisco face ao problema ecoldgico, Revista de Cultura Vozes, Petropolis, v. 69, n 5, 9. 335, 1975. * Procura-se distinguir ecologia (@ G&ncia) ce ecologismo (0 movimento “politico”, com suas propostas atinantes & questo ecolégical e ecdlogo {cientista ou estudioso da ecologia) de ecologista (militante engajado no ecologismo). Cf. DUPUPET, Michel. Comprendre ’écologie. Lyon: Chronique Sociale, 1984, p. 9. ® HAECKEL, Est. Citado por BOFF, Leonardo. Ecologia, mundializagdo e espiritualidade: A emergéncia de um novo paradigm. S40 Paulo: Editora Atica, 1993, werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua conhecer a realidade, Isso torna-se até um imperativo, na medida em que observamos que tudo © que existe coexiste e preexiste numa tela infindével/intrincada de relagdes inclusivas. 1.2 A interagao ser humano-natureza Se tudo coexiste e até preexiste numa tela de relagées inclusivas, a ecologia comporta, em nivel humano, uma interagéo constante homem-natureza. Vale notar que, nessa interacdo, existe um papel préprio do ser humano enquanto fator ecolégico de destaque, pela sua cognigéo, pela sua capacidade de escolha de alternativas (demograficas, nutvicionats, epidemiolégicas e de estrutura social), pelo papel que a histéria exerce sobre ele (experiéncias passadas que acumula), etc. Nos estudos de ecologia humana, o papel do ser humano como fator ecolégico é, por isso, captado como maior do que © papel dos demais elementos interativos”. Ele pode entrar na cadeia ecolégica quer numa atitude participantehumanizante quer numa __ atitude intervencionista/depredadora. Em nivel humano, a ecologia requer a capacidade de relacionar-se pelos lados, para tras e para frente”. Como a natureza é sempre mais do que 0 meu campo de visio totalizadora, devo ser capaz de superar os saberes estanques, para desenvolver uma compreensao intercisciplinar (para os lados). [...] Nosso grau de humanidade dependeré muito da qualidade deste nosso relacionamento com 0 todo. Por isso, falamos da necessidade de uma visdo de totalidade. A ecologia passa a ser definida como ciéncia e arte das relacdes e dos seres relacionados Na casa, habitat (ofkos), hd uma relaggo permanente entre seres vivos, matéria, energia, corpos e forcas. Salta logo aos nossos olhos que af reside uma questiio de vida e/ou morte para a humanidade. As préticas e os saberes humanos esto sob 0 imperioso convite de se colocarem na perspectiva da ecologia para a salvaguarda da natureza. Como todos somos um elo da fantéstica corrente césmica, a salvaguarda ou a ameaga dos seres encontra-se de tal forma imbricada que perticipamos todos da mesma sorte. Dal a gravidade da crise ecolégica que vivemos no momento presente. 1.3 A natureza “desnaturada” © que toma possivel falar em crise ecolégica hoje é 0 fato da crise do préprio homem moderno, uma crise de identidade que acaba afetando toda a humanidade. Como * Cf MORAN, Emilio F. Op. cit, 9.85. ® Cf, BOFF, Leonardo. Op. cit, p. 18. * CF, ibid, p. 19, 57 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua diziamos acima, nao estamos tratando aqui de fenémenos isolados. Assim, a crise ecolégica no constitul um fenémeno & parte. Ela aponta, inicialmente, na dirego de uma ruptura no proprio ser humano, entre o que o constitui enquanto corpo (natureza, cosmos, ‘criagao’) € enquanto espirito (este ligado a ‘redencdo’). Assim sendo, a crise ecolégica aponta para a unilateralidade da compreenséo da propria natureza. Acabamos separando 0 que é matéria do que é vida, 0 cosmolégico do ecoldgico, 0 visivel do invisivel. A natureza, por sua vez, jé esté dando impulsos s6fregos, verdadeiras manifestagies de repulsa e de revolta ante a violagéio do ser humano, numa oposigio defensiva e de resisténcia ante a tentagio redutora da racionalidade materialista. Lal Na verdade, ha uma correlacSo entre a crise ecoldgica e a crise do ser human. Uma aponta para a outra, na medida em que ambas remetem a esta separagao, este racha ou fissura entre a natureza e o ser humano. “Ligadas no seu principio, elas no encontrar a solugdo a nao ser juntas. Qualquer terapéutica buscada para curar uma delas, deverd também contribuir para sanar a outra; caso contrério, tratar-se-4 de uma pseudoterapia que cuida dos sintomas e néo trata das causas. A doenga consiste justamente na separagdo entre o ser humano e a natureza, no esquecimento de seu parentesco e solidariedade. Pelo fato do ser humano patticipar da natureza, ele peca contra ele mesmo ao pecar contra ela”, 2. Acrise do ser humano 2.1 Crise de civilizagao A crise ecolégica é reveladora da crise civilizatéria do Ocidente, Os préprios fundamentos de nossa civilizac&io encontram-se em cheque. E como se os pés, feitos parte de ferro e parte de argila, estivessem se desfazendo e com eles fazendo ruir a esplendorosa e grande estétua do Ocidente, numa versio atual da descri¢o apocaliptica de Daniel 2,31ss. Endo so poucos os que se perguntam sobre a prdpria incidéncia do Cristianismo na atual crise do meio ambiente®. Este, enfatizando a ordem dada por Deus de “subjugar” a terra e “dominar” os animais (Gn 1,26.28), seria o grande responsavel pela situacio calamitosa em que vivemos"®. [.. * ibid. ® Cf. BERRY, Thomas. O sonho da terra. Petropolis: Ed. Vozes, 1991, p. 89-91. * Retomamos esta questo, sobre o sentido de “subjugar” € de “dominar”, no Gitime pardgrato do ponto 3.1, 58 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua “A humanidade se encontra hoje numa crise cujo climax catastrdfico provavelmente vai acontecer”, diz-nos 0 fisico-atémico alemo von Weizsacker”. Esta afirmagao quer ser uma constatagio de uma andlise que brota de trés realidades: justiga, paz e preservacao de natureza que se entrelagam da sequinte maneira: Ngo existiré paz sélida entre os homens sem uma parcela de justica social No haverd justiga social, se o homem consumir os recursos da natureza, Ngo exists (..) paz entre os homens sem paz com a natureza. Do mesmo modo, no existiré paz com a natureza sem paz entre os homens“. Com 0 advento da revolugdo industrial, aliada ao progresso cientifico, tornou-se um fato que a inteligéncia humana foi enfim capaz de chegar aos segredos mais intimos da natureza. Foi capaz de lé-los, capté-los em sua dinamica interna até dominé-los, dotando- se de um imenso poder de intervengao. E 0 que as ciéncias modernas nos atestam. ‘Apds milénios de servidio e imobilismo alienante, onde o homem néo se definie a no ser no interior de uma ordem natural das coisas, ele tem a impress de ter chegado ao estagio da verdadeira hominizagéo, isto é, do dominio de um universo que ele pode explorar, modificar a seu modo € colocé-lo inteiramente a seu servigo’ 2.2 Crise ética Herdelros de um antropocentrismo ético, vimos, até bem pouco tempo, a propria ética perfilar-se ela também no erro de centrar-se unicamente no ser humano, excluindo a natureza. Albert Schweitzer denunciou, com pertinéncia, esse desvio ao afirmar: O grande erro de toda a ética do passado, esté no fato de que ela limitou- se a0 comportamento do homem face ao homem. Mas, na realidade, a questo é de saber como ele se comporta face 20 mundo e face a toda a vida que ele encontra em seu caminho... S¢ pode ter fundamento a ética Universal que consiste na experiéncia da responsabilidade face a tudo 0 que vive. Acabamos por substituir 0 convivio com a natureza pelas suas contrafagées™, ou sea, preferimos a fotografia, a imagem televisiva, as drogas quimicas que imitam, simulam e/ou falsificam sabores naturais, etc. Tais contrafagées acabam se imiscuindo no préprio relacionamento humano, resvalando numa mentalidade burocratizada, na teatralizaggo da ” WEIZSACKER, Carl Friedrich von. O tempo urge: Assembieia mundial de cristéos em pro! da justi¢a, da paz e da preservarde da naturezo. Petrépolis: Ed. Vozes, 1991, p. 17. * Ibid... 38. AUBERT, Jean-Marie. to noture dans la théologie chrétienne jusqu’# Vépoque moderne. In: SIEGWALT GérarG, dirs Op. cit p. 35. SCHWEITZER, Albert, Aus meinem Leben und Denken. Hamburg, 1965, p. 71. ™ Cf. AGOSTINI, Nilo. Os desafios da crise ético-moral, hole. In: ética e Evangeiizegdo: A dindmica da olteridade na recriagéo do morol,2.e6. Petropolis: Ed. Vozes, 1998, 9.12988, OLIVEIRA Manfreco A. de, A crise étca do Brasil atua: abordagem fiosofica. :_____. rica e raconalidade moderna. Sio Paulo: Fé. Loyols, 1993, 9-40 59 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua gentileza € no individualismo, Substituem a afetividade € suas emocdes genuinas, a honorabllidade da pessoa e sua palavra, a solidariedade e a comunho. Emerge, sim, individuo que, isolado ¢ atomizado, torna-se a referéncia. Seus desejos e impulsos, bem como suas necessidades individuals passam a constituir a medida, inclusive do que esté além de si. A busca dos fins individuais acaba marcando e legitimando utilitaristicamente até 0 social. Tais substitutivos e suas contrafagées apontam para uma ruptura, verdadeira capitulagao ante o vital. Max Scheler jé afirmara que *o homem contemporaneo tem sido um desertor da vida... pela facilidade com que tem aceito e assumido ‘substitutes do viver'®*, Este processo da-se em meio @ afirmacao crescente do individuo. Sua vontade individual, aliada ao interesse técnico, acaba reduzindo todas as questées da vida humana a problemas de natureza técnica”. [...] Na medida em que prima a mentalidade calculista, buscando o seu valor supremo na eficdcia calculada, ou no resultado mensurével materialmente, 0 interesse técnico passa a ser mais importante que o interesse pelo “vital”. Fica em segundo plano o “humano’, 0 ‘comunicativo’, 0 ‘afetivo', o ‘social’, o ‘comunitatio', o ‘natural’, o ‘sagrado’, num desequilibrio ‘vital’ grave. Nao é de se estranhar que 0 processo acima tenha feito da eficiéncia, do lucro e da produtividade os eos bésicos para a realizagdo do acimulo capitalizador de riquezas, confundindo valores, prioridades e necessidades vitais, e exilando a prépria ética “enquanto referéncia & capacidade humana de ordenar as relagées a favor de uma vida digna”™. 0 prego que pagamos ja est sendo elevado, comecando pela hipertrofia de valores materiais (constituindo-se, nao raro, em antivalores) e pela atrofia de valores espirituais (relativos tanto ao sentido religioso quanto ao que tange & prépria qualidade de vida). 2.3 Desequilibrio ‘vital’ grave Assistimos & separagio entre o mundo da ciéncia e 0 mundo da vida. Sentimos quo dispare torna-se o ritmo da “maquina” moderna eo ritmo da vida e da natureza como um todo. A fragmentago da realidade em campos de saberes tio diversos e a instrumentalizagao da raze levou-nos ao fosso de um grave desequilibrio vital. Se genhos existem na modernidade, é certo que eles néo se esgotam no puro refiigio da razo, na experimentaco cientifica, pois © mundo da ciéncia e da técnica, por si sés, no ® Cf, MORAIS, Regis de. Etica e vida social contemportines. Tempo e Presenga, S40 Paulo, n. 263, 9. 5, maio/iunho, 1992. CE. LADRIERE, Jean. Os desofios da racionaligade: O desafio do cléncia e da tecnologia as culturas. Petropolis: E¢. Vozes, 1979, passim. * CE MORAIS, Regis de. Op. cit.,p.5. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua preenchem nem realizam o mundo da vida. 3. Por um resgate da criagao 3.1 Uma comunhio ecocéntrica Podemos, com muita facilidade, identificar uma ruptura na alianga entre o ser humano e a natureza e entre as pessoas e os povos. Existe af um drama, uma decadéncia na criagéo, uma ruptura que atinge a todos os seres humanos, repercutindo sensivelmente sobre 0 césmico. Testemunhas disto s80 0 no cultivo e a no preservacao da criagéo, bem como a gananciosa depredacao em vista do imediato actimulo de capitais. E j4 podemos falar de uma natureza indubitavelmente ferida de morte, No horizonte, vislumbramos a necessidade de redencéo desta criagéo que “geme e clama por libertacao” (Rm 8,22); redengo esta no sentido de reassumir a criagéo, reorientando 0 lugar do ser humano e estancando a ferida que sangra. Existe af um resgate da criagéo a ser realizado, Este resgate se efetiva na medida em que fundamos nosso ser-e-estat- no-mundo no equilibrio de uma comunhao ecocéntrica. © proprio equilibrio da comunidade humana s6 sera assegurado quando fundado nesta comunho ecocéntrica, Estamos dizendo com isso que ndo basta uma visio biocéntrica, Numa perspectiva de manutengio do todo, ndo basta agarrar-se unilateralmente ao bios, pois este no é possivel sendo quando mergulhados na comunhao do oikos, E bom darmo-nos conta que a crise ecolégica traduz-se, na verdade, numa crise do sistema todo com todos os seus subsistemas. Esto assim interligados fenémenos que véo da poluigéo das aguas ao aumento de neuroses dos moradores de nossas cidades, da devastagio das florestas, passando pela erostio dos solos, ao balxo nivel da qualidade de vida de nossas metrdpoles, etc. © meio ambiente natural no estd desligado do meio ambiente social. O sentido da vida, 0 sistema de valores, a forma social e cultural que sustentam a vida humana so igualmente decisivos para a qualidade do o/kos. A experiéncia de base é omnienglobante, pots capta a totalidade das coisas. Vida morte se cruzam neste caminho. A espiritualidade, enquanto remete para todo o ser que suspira e respira, ocupa aqui o lugar de elemento catalisador, na medida em que cria um espaco onde todas as coisas se ligam e religam. A atitude fundamental abre-se & vide, defendendo-a, promovendo-a, sem refugiar-se num dos compartimentos estanques para captar ou vivenciar a realidade. (...] 3.2 Corresponsabilidade Nade existe fora da relagio, pois tudo implica em tudo. Podemos falar em um 61 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua movimento articulado que interconecta todas as partes, um verdadeiro holomovimento. Isto dé-se num movimento de no linearidade. Com isso, queremos dizer que todas as partes fusionam-se num permanente movimento, numa relaggo que no se restringe & simples ‘causa-efelto’. Hé uma tela simuitinea de relagées globais de caréter permanente, cuja estabilidade ndo depende da fixacéio de leis, mas da capacidade de adaptagéo equilforio dinamico™. [...] A responsabilidade dentro deste universo responde em termos que vo além da sobrevivéncia do mais forte, na luta pela vida, como principio de selegio natural (cf. Darwin). A consciéncia desta comunhio da criagio leva-nos a assumir a sobrevivéncia em termos de corresponsabilidade. Esta se traduz, na pratica, em integracéo, cooperacéo, troca, simbiose; faz da solidariedade e da complementaridade acentos que colocam no justo lugar a diferenga e a identidade dos elementos criados; busca na criatividade e na auto-organizagéo do subsistema dos seres vivos a possibilidade de se estruturar num processo continuofevolutivo de aprendizado e decisao; faz da alteridade 0 elemento pivé para um salto qualitative ante todo © mundo criado, sem preeminéncias e sem reduzir-se a nenhum dos elementos em questao. Varios patamares qualitativos costumam se apresentar neste abracar corresponsavelmente o mundo criado. Inicialmente, e de extrema importancia, costuma vir aquele patamar que se engaja em favor de todo ser vivente, Nao esgotamos ainda todo 0 alcance da afirmagao de Albert Schweitzer que exclama: “Queremos viver com toda a vida, que deseja viver". Vemos nela um convite & partiiha de nosso planeta com todo o set vivente, © que nos impée limitagées no uso da terra, da 4gua, do ar e da biomassa. Uma biosfera sauddvel implica 0 reconhecimento de limites. J4 soou a hora de buscar a defesa de todo set vivente, numa postura que va além de um antropocentrismo exclusive. Para além da defesa militar do ser humano, urge a defesa de todo o ser vivente, em sua enorme J quantidade de espécies e seus respectivos habitats. 3.3 Por um equilibrio ético da criagao Superar 0 desequilibrio vital grave de nosso moderno sistema de vida, no qual estamos deslizando e socobrando, torna-se hoje o imperative de maior envergadura. Isto tem como contrapartida a busca incessante de um equiliorio da criagéio como um todo, no entrelacamento de seus diversos subsistemas ‘vitais’. Queremos, com isso, dizer um no ao poder, & acumulacio, ao interesse, a razdo instrumental e instrumentalizadora, & depredagio, & capitalizagdo sem fim. Queremos dizer sim & comunhdo, @ gratuidade, & * Cf. BOFF, Leonardo. Op. cit., 9. 43. ° CE AGOSTINI, Nilo. Ecologia: desafio ético-teoldgico. Grande Sinal, Petrépolis, v. 46, p. 265, maio/junho, 1992, 62 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua alteridade, & percepgao do grande organismo césmico, a referéncia de tudo com a Ultima Realidade, Deus. "No podemos mais apoiar-nos no poder como dominagio e na voracidade imesponsével da natureza e das pessoas. Nao podemos mais pretender estar acima e sobre as coisas do universo, mas junto e 2 favor delas. O desenvolvimento deve ser com a natureza @ no contra a natureza. O que deve ser mundializado atualmente & menos 0 capital, o mercado, a ciéncia ea técnica, O que deve, fundamentalmente, ser mais mundializado ¢ a solidariedade para com todos os seres, a partir dos mais afetados, a valorizagio ardente da vida, em todas as suas formas, a participago como resposta ao chamado de cada ser humano e 3 dindica mesma do Universo, a veneracdo” para com a natureza da qual somos parte, e parte responsével, A partir desta densidade de ser, podemos e devemos assimilar as G@ncias e as técnicas como forma de garantimos o ter, mantermos ou refazermos os equilbrios ecolégicos e satisfazermos equitativamente nossas_necessidades, de modo suficiente e nio esbanjador e perdulério”™®. [...] Estamos, hoje, redescobrindo a necessidade de lastrear 0 nosso viver com uma ética basica, capaz de interligar as pessoas, os povos e a natureza com normas, valores, ideais e objetivos validos, capaz de organizar a responsabilidade coletiva nos diversos planos possiveis da pratica e do discurso. Faz-se necessario criar um minimo de consenso fundamental em vista da convivéncia ecolégica de toda a criacdo. Isto seré crucial para uma natureza jé ferida de morte. Sendo que o distintivo do ser humano é de sé ele ser capaz de ter responsabilidade, isto “significa ao mesmo tempo que ele tem que téla pelos seus semelhantes”*. Esta possibilidade € autocomprometedora. Devemos, porque podemos. Porém, néo basta apenas repetir apelos morais em favor da justia, da paz e da preservagdo da natureza, sem um contedido concreto, sem operacionalizar o terreno da praxis coletiva. Faz-se necessério superar os meros protestos e discursos que resvalam nos modismos que se somam @ passam sem deixar rastro. “Protestos ficam apenas golpes no at, se ndo produzirem projetos de atitudes e ages que inspirem e motivem as pessoas a melhorar a m0 situacé Retraduzindo o élan do Greenpeace, dirfamos que importa “pensar globalmente e agir localmente” AA singularidade do ser humano, homem e mulher, se revela no fato de sé ele se constituir num ser ético. Sé ele é capaz de responder responsavelmente & proposta que Ihe % © sentido de “veneragia" nfo poderd resvalar na direglo de uma versio “pantelsta” ou de um “naturalismo” ingénuo, mas apoiar-se substancialmente numa atitude “reverente” diante da natureza, como a viveu Francisco de Assis. Veja 0 noss0 texto no ponto 5.2, * ef. ibid, 0.41 cf. ibid, ©. 92s. ° firma de LEERS Bernardino ao fazer a apreciacSo do livro Ftica e EvangelizacSio de AGOSTINI Milo (veja nota 26). Ct. Grand Sina, PetrOpols, v.47, p. 745, 19883 63 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua vem da criagao. Por 1850, falamos hoje da imperiosa necessidade de redescobrir a ética e auscultar os caminhos que ela vai nos apontar. Ela é mobilizadora do humano, do que hd de vital, englobando a natureza toda". Distingue-se pelo seu caréter critico € reflexivo na sisternatizagio dos valores e das normas, tendo 0 papel de investigé-los e depuré-los, em vista do equilfbrio de toda a criagéo. O ser humano vive eticamente quando renuncia estar sobre os outros para estar junto com os outros. Quand se faz capaz de entender as exigéncias do equillbrio ecoligico, dos seres humanos com a natureza e dos seres humanos com os outros seres humanos, e quando, em nome do equillbrio, impie limites a seus préprios desejos. Ele ndo é apenas um ser de desejos. Somente 0 desejo tora-o egoista ou mimeético. Ele & muito mais, pois é também um ser de solidariedade e de comunhio. Quando assume a funcao/vocagao_de administrador responsavel, de anjo da guarda e de zelador de criagio, entio ele vive a dimensao ética inscrita em seu ser”, 4 Postura franciscana e questo ecolégica 4.1 So Francisco: nao-atual e néo-moderno: © projeto moderno, enquanto submissio & razéo _cientifico-técnica, instrumentalizando 0 humano e a prépria natureza, encontra no modo de ser franciscano um projeto nao-atual, A hermenéutica do mundo e a forma de vida que brotaram de Francisco de Assis apontam para um comportamento e uma orientacdo distintos. Os caminhos diferem. No entanto, este néo- atual, néo-modero, da postura franciscana, esconde uma surpreendente forca profética, porque, “superando a mentalidade presente, nes projeta rumo a um futuro mais humano e humanizante™®, Resgata o dinamismo arcaico, presente em nossas raizes primitivas, lastreando o nosso effos, enquanto identidade mais profunda do humano. [...] Este ndo-atual em Francisco de Assis traduz-se num modo proprio de ser, que funda © fumanum, enquanto este aponta para a nossa identidade mats profunda. No estamos diante de uma atitude puramente exterior e romantizada. Atinge o que lastreia 0 humano, 0 seu émago, qual componente do préprio ethos. A percepctio do derredor, a capacidade de avaliaco e 0 proprio agir apoiam-se nesta arqueologia, ou seja, neste principio origindrio. Disto resulta um modo de ser que se traduz numa dimenséo tipicamente relacional com Deus, com os outros seres humanos e com os seres da criago. Nesta busca de desvendar o que funda © préprio de Francisco, surge © que vai * CF. AGOSTINI, Nilo. Resgate da ética, redescoberta do vital humano. Revista Em Foca, PetrOpolis, n. 1.9.25, abril, 1995. ® BOFF, Leonardo. Op. cit. p. 36. * Cf MERINO, José Antonio. Humanismo Fronciscono e Ecologia. tn: et al. Froncisconismo e reverencia pela criagdo. Petropolis: CEFEPAL/Ed. Vozes, 1991, p. 16 (Cadernos Franciscanas, 3}; cf _. Vision franciscana de ia vida cotidiana. Madrid: E4. Paulinas, 1991, p. 146. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua ‘compor © modo distinto do ser franciscano que se tece através dos séculos, vai lastrear a postura franciscana frente ao desafio ecolégico em nossos dias. Eis 0 que val nos orientar os prdximos tépicos de nossa pesquisa. 4.2 Nosso primitivo enraizamento © distinto de Francisco de Assis est enraizado num contexto que é anterior & modernidade, lastro predominate de nosso tempo. Precede a era cientifica e técnica uma insergao toda propria do ser humano na natureza. Até entdo, este definia-se enquanto parte de uma ordem natural dos seres, dada de antemo. A atitude néo era a de submeter sem mais a natureza, mas de ajustar-se a ela, numa concillagio a ser buscada, para a qual concorria a prépria religiéo com seus rituais. Nao raro, aliava-se a isto uma atitude de passividade e de fatalismo, quando néo uma concepgéo da natureza beirando 0 ‘animismo’, sobre a qual 0 ser humano projetava seus desejos e seus sentimentos. [...] Este mistério da criagéo é cultivado no franeiscanismo enquanto referido & encarnagao. Esta, enquanto encontro perfeito e pleno entre o divino e o humano, aponta sempre para a grande proximidade entre o Criador e a criatura. Se, por um lado, Deus é infinitamente distante da criatura quanto ao set, Ele pode estar infinitamente proximo enquanto participaco das criaturas & vida das pessoas divinas e enquanto as pessoas divinas assumem e participam, no Filho, da vida das pessoas humanas. Dois textos biblicos, entre outros, ilustram muito bem esta proximidade e participagdo Criador-criatura. Vejamos: “Eo Verbo se fez carne e armou a sua tenda entre nés; vimos a sua gléria, a gléria do Unigénito do Pai, cheio de graga e verdade... Pois da sua plenitude todos nés recebemos graca sobre graca"*, Ele (Cristo Jesus), subsistindo na condicSo de Deus, no pretendeu reter para si ser igual a Deus, Mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condicfo de servo por solidarismo com os homens, humilhou-se, feito obediente até a morte, ati a morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou e Ihe deu o Nome que est sobre todo nome”, © mistério € reverenciado na alegria da proximidade. “Tudo isso se verifica precisamente na Encarnagéo do Verbo: a unio do Verbo divino @ natureza humana manifesta a capacidade da criatura de se encontrar préxima do Criador, e a gozar perfeitamente dele’*. [...] A ctiatura sente-se orientada na direco da vida divina; busca na patticipagéo desta “J01,14.16, #r250 “ MATHIEU, Luc. Les constantes de ta théoiogie franciscaine, Véselay, texto policopiado, 1982, p. 2. 65 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 > UCDB,, virtual vide seu fim ultimo. Seu “estatuto natural, sem essa participagdo, representaria uma mutilago ou desnaturagéo. “Deus no pode criar uma criatura que no seja ordenada ao seu fim Ultimo”, diz-nos Sao Boaventura”. Sem exigir de Deus 0 que esta além de suas capacidades naturals, a criatura espera/recebe do Criador a influéncia continua que a faz gratuitamente existir, durar, progredir ¢ alcancar seu fim, sem excluir a cooperacao por parte da criatura, A criatura sente-se dom de Deus; recebe os demais seres como dons gratuitos, Descobre-se criada porque amade e querida por Deus. Neste ancoradouro firma-se a pobreza franciscana, capaz de respeito ante a obra criada, porque orientada nao pelo ascetismo nem pelo desprezo da cria¢do, mas sim pela vontade de néo se apropriar dela como um bem a possuir, j4 que ela nos é um dom, Este dom aponta para o Bem Supremo que é Amor e busca comunicar-se a criaturas espirituais (eres humanos e anjos) convidadas a reconhecé-lo e a entrar em comunicago com Ele nas pessoas divinas. [...] As criaturas espirituais, isto , 05 seres humanos e os anjos, tém em Jesus Cristo a resposta em plenitude da comunicago Criador-criatura. Ele é 0 centro do designio de salvagdo, enquanto é ao mesmo tempo homem e Deus, em quem se retinem todas as telacSes de salvacZo, enquanto sujeito integral”. “Ele é a imagem do Deus invisivel, primagénito de toda a criature; porque rele foram criadas todas as coisas, nos céus e na tera, a5 visiveis © as invisives.., tudo foi crado por ele ¢ para ele... Asrouve a Deus fazer habitar nele @ plenitude, e reconciliar por ele e para ele todos os seres”™, 4.3 Francisco de Assis ¢ a criagdo Os bidgrafos de Francisco de Assis sdo undnimes em ressaltar a relacéo fraterna que ele tinha com todos os seres da criagéo. O respeito que cultivava para com todas as criaturas brotava da atitude celebrativa de com elas unir-se no louvor 20 Criador. Nao 0 fatia de maneira abstrata, pols cada ser, cada animal, cada coisa tratava-os ele com cortesia, no respeito de sua prdpria individualidede, de seu modo préprio de ser e de seu lugar todo particular no concerto da criagdo. A natureza surge para Francisco na sua exuberancia, prodigiosamente viva. Isso Ihe era possivel porque estava seu ‘olhar’ enralzado na experiéncia da fé crista. Esta impulsionava-o a galgar até 0 sentido mais profundo do mundo e dos seres. Neles © SRO BOAVENTURA. I Sent. 4.44, 9.1,q,2.a0 4, “Cf, SAO BOAVENTURA/ Sent. proem.,¢.1, concl. 01, 15-20. Ch, 16e 58. 66 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua celebrava @ grande presenga de Deus na criagio; vivia e sentia o autor da criacao, enquanto fonte origindria de onde tudo recebe consisténcia propria e seu sentido concreto. “Louvava 0 Criador em todas as suas obras ¢ sabia atribuir os atos a seu Autor... Nas coisas belas reconhecia aquele que é 0 mals belo e em todas as coisas boas reconhecia a exclamagao: ‘Quem nos fez € étimo""!. As criaturas tornam-se espelho de Deus. As presencas criadas remetem para a grande presenga fundante. © olhar do cristo entrevé nisto a mais clara expresso da fraternidade universal desde sempre por Deus desejada. O ver leva a sentir-se participante deste ‘concerto’ da criagdo, surpreendendo-se nela, pois mostra-se como cenério maravilhoso, sendo privilegiado, da manifestago amorosa de Deus. Ento, - é claro - vo surgir profundas relacées vitais e afetivas com todas as criaturas. [...] A natureza, o ser humano e Deus esto, em Francisco, interligados em alto grau de simpatia e cordlalidade, © que faz do Santo de Assis alguém capaz de colocar-se no meio das criaturas todas, nunca sobre elas ou acima delas, Esta capacidade vinculativa leva a acentuar a semelhanga e a relacdo entre as criaturas e o Criador. 0 dinamismo do Criador, por sua vez, tende a expandir-se e a comunicar-se; na sua infinita bondade, comunica-se e converte-se na causa frontal de todos os seres™*. [...] © modo peculiar de ver e de relacionar-se com Deus traduz-se num modo concreto e especifico de ser, de estar no mundo e de tratar os seres da natureza, Nao basta somente estar- no-mundo, Requer, antes @ outrossim, um coestar, um coexistir e um compattilhar, numa ontologia da comunhio, da patticipacio e da confraternizacio universais”. "No mundo franciscano, toda a realidade e todos os seres, por mais imelevantes que possam parecer, devem ser respeitados. Desde os mais simples até os mais complexos, dos seres mais insignificantes até os mais fascinantes, todos possuem seu proprio ser, sua pripria e insubstituivel realidade éntica”™* Neste ver e relacionar-se, a corporeidade emerge como categoria humana vinculante, Porém, ela ndo esgota o modo préprio de ser franciscano, pois este baseia-se igualmente num olhar amoroso, num sentir temperamental e num viver afetivo. Existe af uma dimensdo vital e afetiva que se traduz em simpatia e cortesia para com todos os seres ea natureza toda, este espago de festa e celebragio. © Cf, SAO BOAVENTURA. Sent. 4.1, p.2,8.1,q.1. ® cf ii. * MERINO, Jose Antoni 0p. cit, ». 22. 67 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua 5. “Louvado sejas meu Senhor. 5.1 Contemplacao A inteligéncia humana, ao volver-se em diregio das criaturas para descobrir a revelagdo de Deus no espelho da criagéo, entrega-se & contemplagdo e abre-se & luz divina que inunda a inteligéncia e beatifica 0 coragao. © primeiro movimento seré, no entanto, de meditagao. Esta se aplicara a olhar © mundo criado com admiracéo, para ali descobrir a revelagdo de Deus. Existe uma atitude de “especulagio” que parte das criaturas contempladas até em sua esséncia e da alma humana com suas faculdades, elevando-se até 0 mistério da Santissima Trindade. [...] Em Francisco de Assis se encontravam sincronizadas tanto a experiéncia religiosa quanto a experiéncia estética e poética. Temos isso particularmente presente no CAntico do Inmao Sol. Sua viséo césmica af se apresenta enquanto mergulhada numa relagéo ecoldgica religiosa com 0 Deus fundante e as coisas fundadas. Essa sincronia em Francisco, expressa-se também na sintonia entre seu mundo interior e 0 mundo exterior. Podemos até falar de uma intimidade e ‘consanguinidade’ entre seu mundo psiquico e espiritual e a criagdo, Deparamo- nos com uma sintese, rara na historia, entre arqueologia interior e ecologia exterior. [...] Como a realidade é feita de presenga e auséncia, faz-se necessério saber olhar para poder ver e contemplar. Com 0 desejo da vontade e o impulso da inteligéncia, 0 olhar seré capaz de ir além do puramente periférico ou epidérmico. Ela vé, capta, penetra e aprofunda, penetrando no fundo das pessoas, dos seres, da natureza. Silencia, escuta, faz- se ressonanda da fala dos outros seres. Esvazia-se dos multos rufdos e desfaz-se das distragdes para captar a harmonia ossmica, escutar, descobrir, admirar, entusiasmar-se, contemplar as maravilhas do cosmos e do Criador. © universo franciscano € tanto visual quanto actistico, porque as presencas visivels so igualmente eloquentes. A relagao vivencial capta interlocutores na natureza e nos seres todos, enquanto interlocutores validos da grande presenca de Deus. "O olhar franciscano detxa, cientificamente, as coisas em sua prépria matetialidade e em seu contetido préprio concreto para poder ver e descobrir, em sua profundidade, 0 que tém de vestigio ou pegada’™, Aqui, entrevemos a nossa tarefa de construir um universo participative como horizonte natural da prépria humanidade; isto se dé na medida em que este desvelamento de “fonte” nos leva a uma atitude de ‘obediéncia’ e de "ago de gragas’ que se traduzem na * Cf. BOFF, Leonardo. A nfio-modernidade de Sdo Francisco. Op.cit., p. 342s. * MERINO, losé Antonio. Op. cit, p26. werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua Gisposigao de servir, Na gratuidade, reverenciamos a Fonte da graga; © tornamo-nos instrumentos da graga, na medida que ajudamos, por exemplo, 0 gro de trigo a ‘estar a servigo' desta ou daquela criatura. Existe, assim, uma harmonia césmica contemplada que se faz presente em nosso viver com forte eloquéncia. 5.2 Reveréncia Diante de presencas tao eloquentes, Francisco responde com afeico e reveréncia. Seu olhar torna-se amoroso. Sente temperamentalmente. Vive afetivamente. E capaz de compaixéo. Esta compaixéo, vivida inicialmente para com os pobres, tornou-se a pedra de toque, 0 ponto de partida para que Francisco pudesse galgar até os mais reverentes gestos de afeicdo para com as criaturas””. [...] Vemos como nfo basta simplesmente estar-no-mundo. Faz-se necessdrio um aprender a coestar, @ coexistir, a compartilhar numa ontologia da comunhio, da participacao e da confraternizagéo universal. Nunca é eliminado © diferente, pois seria instaurar 0 conflito que leva a exclusdo, E da aceitacdo da alteridade que brota a admiragio, a reveréncia, a alegria e a saudade. [...] Francisco cultiva esta atitude reverente/cortés inclusive com relago aos mugulmanos, combatidos pelos cristdos através das cruzadas. [...] Compreendemos, entio, que Francisco unia toda a criagdo 4 Encamagio do Verbo. Exemplo disso é 0 modo como queria que fosse festejado 0 Natal. Tendo o Senhor operado a salvagio e dando-nos a certeza, através do seu nascimento, de que a salvacdo tinha chegado a nés, Francisco queria que todos exultassem neste dia no Senhor; “por amor daquele que se deu por nés, todo homem devia dar com generosidade do que the pertence, ndo 56 aos pobres, como também aos animais e aves do céu”®. [...] 5.3 Alegria e louvor A atitude reverente, cordial e cavalheiresca de Francisco estava banhada na alegria. Esta é, sem diivida, uma nota inseparavel do Santo de Assis. Permeia todo 0 seu ser. Pertence prdpria esséncia de sua alma’. Experimenta-a desde os primeiros passos de sua converséo, na medida em que vai se tornando dogura o que antes lhe parecia amargo. © abrago ao leproso, 0 despojamento de tudo diante do bispo Guido e a * CROCOL,, Aldir. Francisco, 0 “poeta” da casa césmica. In: MERINO José Antonio et al. Franciscanismo feveréncia peia criago, Petropolis: CEFEPAL/EG. Vozes, 1991, p. 443s. (Cadernos Franciscanos, 3) 2 Ct. LegPer 110. "Cf. ZAVALLONI, Roberto. A personatidade de Francisco de Assis: Estudo psicolégico. Petropolis: CEFEPAL, 1993, p.144ss.; MAZZUCO, Vit6rio. Francisco de Assis e 0 modelo de amar cortés-cavoletresco. Petrépolls: Ed. ‘Vores, 1994. Cf, 1Ge| 17; Test 1. 69 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua eloquénda da cruz compen, na vida de Francisco, feixes luminosos de todo um viver, capaz de desembocar na “perfeita alegria”*, Os sabores € os valores préprios de uma vida de sucesso, de poder e de gozo vo, em Francisco, passar por uma reviravolta, Em cada conquista no caminho rumo a Deus, vai crescendo nele a convicgéo de ser, antes de tudo, amado por Deus. Por isso, é capaz de “maravilhar-se’ pelo bem “que o Senhor opera nos outros". Manifesta a alegria de ter a Deus como pai. Procura a “docura da cruz", fonte genuina da verdadeira ¢ perfeita alegria; nela contempla o Filho de Deus que se revestiu de nossa fragilidade humana. Aproxima-se das criaturas todas com respeito, marcando sua comunhdo com a natureza. Visiumbra no Universo todo uma tinica fonte: Deus. [...] Todas as coisas estzio em Deus Deus em todas as coisas, Este modo de ser desencadeia a resoluta deciséo de deixar-se trabalhar pelo Deus da graca. As mais profundas aspiragées do humano passam a ser contempladas por um modelo de vida humana positive, de congragamento universal, que da forca ao aniincio, credibilidade ao discutso, 0 testemunho de sua vida jé 6, assim, um anéincio. A alegria passa a integrar o franciscanismo como uma caracteristica propria. Como falamos em pobreza franciscana, podemos igualmente nomear a alegria associada ao adjetivo franciscana. “Toda a espiritualidade franciscana € perpassada de vivida alegria. (...) A alegria é expresso da concepcéo franciscana da vida, da prépria vida franciscana em seus diferentes aspectos de oragio e de liberdade, de meditaao e ago". De fato, a alegria passa a constituir, a partir de Francisco, num filo inspirador muito presente na produgéi literdria franciscana e nas artes em geral, associando a prépria natureza em sua representacao colorida e formas animadas. “Dele (de Francisco) se alimentardo os grandes expoentes do Renascimento, que o tomardo como ponto de partida. Daf afirmarem alguns que Sao Francisco, com suas ideias, foi um dos préceres do movimento renascentista’*. Francisco de Assis torna-se, assim, a fala arquetipica daquilo que o ser humano, no mais seu ser mais profundo, em suas raizes primeiras, busca ansiosamente viver, identificando af o caminho da universal reconciliagio. Conclusdo ‘A postura franciscana, em seu modo préprio de ser, é marcada essencialmente pela relago. Esta constitui-se na sua definicdo essencial. Evoca a respectividade, referéncia e polaridade inerentes a uma pessoa face & outra ou face aos elementos todos da criacéo. O ser humano, de per si, j4 se sente orientado, desde si mesmo, para o mundo, o préximo e * Cf. Flor. © GEMELLI, A. Ctado por ZAVALLONI, Roberto. Op. cit. p. 118. * BAGGIO, Hugo. Séo Francisco, vide ideal, Petropolis: Ed. Vores, 1991, 9. 50. 70 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @& UCDB,, virtua Deus. A"matri franciscana” parte deste dado “essencial” para entao enfatizar a incessante simbiose deste em sua orientago e abertura enquanto ser relacionado. A categoria *relagéio" nao é um predicado, como em Santo Tomés, mas essencial. Este constitutivo formal e configurador da pessoa leva-nos a afirmar que a pessoa, a partir de sua singularidade, vive em constante relago com as coisas, com os outros e aberta ao Criador. [..] Este ser humano, enquanto feixe de relagdes, sente- se sempre orientado para um projeto, numa vocago, na dindmica do incessante afazer/construir/perfazer-se. “Concebendo a pessoa como ‘relacéo “essencialistas, fixistas e atemporais, Reconhece-se a pessoa humana como ‘histéria’, como ', a escola franciscana supera as definicées ser ‘em situago', capaz de ir se construindo. Tem em si a potencialidade necessaria para transformar-se, soltar-se, crescer e assumir-se em sua plenitude, também para mudar seu ambiente", Antes de constituir-se num projeto social e politico, o franciscanismo aponta para a opcdo de um estilo de vida. Contém, é claro, elementos de rara riqueza para mudangas socais e politicas. Compreendemos, entiio, que o modo préprio de ser franciscano cultive uma visio de fundo enraizada na relacio fraterna de todos os seres da criagdo. Nao se trata de uma visto genérica das coisas. Cada ser, cada animal, cada coisa é reverenciada cortesmente no respeito de sua propria individualidade, de seu préprio ser e de seu lugar no concerto de criago. Empenhar-se na salvaguarda da criago é a consequéncia imediata desta atitude fundante ante uma natureza que se encontra hoje "ferida de morte”. [...] Diante dos mecanismos geradores de morte, somos igual mente chamados a buscar a justica e a paz, sem as quais a salvaguarda da criagéo tornar-se- mera retérica, um discurso de tagarelas, A justica € realizadora da confraternizagéo universal, permitindo tornar visivel © que alimentamos em nossos ideais; faz deste espago e tempo que nos é dedo viver 0 lugar concreto da partilha, da comunhdo, do congracamento fraterno/césmico/universal. Igualmente, neste mundo ferido por violéncias, guerras, integrismos radicais, discérdias e divisbes, sentimos a urgéncia de sermos agentes de paz e instrumentos de reconcliagao. Cultivar a justiga, a paz € a integridade da criagéo representa ter presente que em Deus, presenca fundante, todos os seres existem e sto chamados a uma fraternidade universal, desde sempre por Ele desejada e em Cristo realizada. "Em Cristo, primogénito de toda criatura, tudo subsiste” (Cl 1,15.17). Vimos como os seres humanos, a natureza e Deus esto, na experiéncia primitiva franciscana, interligados em alto grau de simpatia cordialidade, o que fez do Santo de Assis alguém capaz de colocar-se no meio das criaturas “Ibid... 2095, 71 werw.virtual.ucdb.br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua todas, nunca sobre elas ou acima delas. “Vamos comecar a servir a Deus, meus irmaos, porque até agora fizemos pouco ou nada’, E hore de trabalhar Antes de continuar seu estudo, realize a atividade 5.1. * afirmagio de SAo Francisco de Assis. Cf. 1Ce! 6. 72 ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtua REFERENCIAS AGOSTINI, Nilo. 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Para Heidegger, a importancia da morte no esta tanto no fato de ela ser algo que sempre ocorre com todos, mas pelo sentido que ela tem para a existénda humana. Retomando os conhecimentos que vocé adquiriu na Unidade 02, sobre o problema do fim, marque a alternativa correta. a) Somente os enunciados I, III e IV estéo corretos. b) Somente os enunciados II e III estéo corretos. ¢) Somente os enunciados I, II € IV esto corretos. d) Somente os enunciados I, III e IV esto corretos. e) Somente os enunciados Il e IV esto corretos. Submeta a atividade por meio da ferramenta Questionario. ATIVIDADE 3.1 Leia os enunciados abaix I. No entendimento de Queiruga, 0 problema da mal pe em risco a propria existéncia de Deus, por isso é necessério, dentre as alternativas de Epicuro, escolher que Deus pode eliminar 0 mal (onipotente), mas ele no quer. TI, Para 0 Budismo e 0 Hinduismo, a teoria do karma é a chave de leitura para 0 problema do mal. Contudo, a diferenca entre ambos é que o Budismo vé que Deus é a causa do mal enquanto que Brahman ndo pode ser culpado pelos karmas ruins. III. © espremimento no timulo é uma das fases importantes do proceso pés-morte do Islamismo, uma vez que ele é 0 inicio da chamada "vida tumular”. IV. A Kabbalah é uma tradiggo judaica que afirma a existéncie de entidades demonfacas para explicar o mal, contrariando a prépria Escritura judaica, Relendo os contetidos da Unidade 03, sobre o problema do mal, assinale a 76 ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335 @ UCDB,, virtual alternativa correta: a) Somente os enunciados I, III e IV esto corretos. b) Somente os enunciados II e IIT esto corretos. c) Somente os enunciacls I, II III esto corretos. d) Somente os enunciados III e IV esto corretos. e) Somente os enunciados II, III e IV estao corretos. Submeta a atividade por meio da ferramenta Questionario. ATIVIDADE 4.1 Leia o fragmento: “Cristianismo @ Judaismo se diferenciam quanto ideia do Absoluto por meio da divergéncia entre Uno e/ou Trino. A ideia agora é fazer 0 mesmo, com uma Unica diferenga, pretendemos mostrar como a tradicgo islamica se afasta da idela Trinitaria para defender a umnicidade de Deus, mesmo que essa defesa no seja ecessariamente uma volta ao Judafsmo". Em poucas palavras, resuma qual é o problema entre Monoteismo Judaico, Monoteismo Islémico e Trinitarismo Cristo. ‘Submeta a atividade por meio da ferramenta Tarefas. ATIVIDADE 5.1 Sobre o equilibrio ético da criagao, analise os enunciados a seguil I. 0 imperativo de maior envergadura de nossa atualidade é, a fim de reequilibrarmos nossas relagdes éticas com a ctiacdo, a superacéo do desequilitrio vital presente no sistema mociemo de vida, IL, Este equilbrio passa pela negacéio do poder, da acumulacdo, do interesse, da razo instrumental, da depredacio e da capitalizacao sem fim. TIT. Prescindindo a natureza, € necessério lastrear 0 nosso viver com uma ética basica, de modo a criar um consenso mirimo e fundamental em vista da convivénca ecolégica. a) Apenas os enunciados I e I esto corretos. b) Apenas os enunciados II e III esto corretos. c) Apenas os enunciados I e III esto corretos. 4) Todos os enunciados esto corretos. Submeta a atividade por meio da ferramenta Questionario. oz) ‘wvrw.virtual.ucdb br | 0800 647 3335

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