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5) 610 ” 4) € feito por pessoas que sio profissionais, mas no profissionais de Ate sim de diferentes formagdies e campos; ipria o espago piiblico para quem dele foi ex psicopatologia; 9) & um compromisso ético com seu acompanhado; uma vivéncia e um encontro. ica evidenciado que as entrevistadhs afirmam como néicleo de sua oferecer aos pacientes um caminho que lhes permita dar um sentido 5 proprias vidas. As entrevistadas articulam esse objetivo com a pritica inculos, e isso conduz a uma questio importante na cena ituicional do AT, que & a formagio das redes sociais de apoio. Nos discursos das entrevistadas, as redes sociais aparecem como > que falta e precisa ser criado, © lugar dos pacientes aparece con ido como lugar dos excluidos, “excluidos de qualquer rede social a familia”, pela qual sio rejeitados, da qual sio afastados e finalmente los. A exclusio tem como efeito um isolamento que & vivenciado \ciente como a total falta de sentido de sua vida. Dessa maneira, as vistadas afirmam que a atuagio para oferecer um sentido a essa vida precisa, de modo necessirio e urgente, de redes sociais, porque estas insti- mas de inclusio por meio das quais os pacientes podem configucar sentido para sua existéncia. Uma vez que o AT é apresentado como ago em vista de conferir sentido a vidas sem sentido, e uma vez essa atuagio precisa das redes sociais, os discursos das entrevistadas 11a articulagio entre acompanbamento e rede De fato, uma rede social ¢ um dispositivo social composto por pes~ \s ou organizagdes, ligadas por um ou varios tipos de relagdes, ¢ que lores e objetivos comuns. Uma das caracteristicas fundament chs redes € o fato de possibilitar relacionamentos horizontais rede, dessa forma, é aberta e i aan Reflexées sobre as transformacées do Acompanhamento Terapéutico ‘Com base na perspectiva do AT como instituigao, isto & como pritic, que institui as figuras do acompanhante e do acompanhado, buscamos neste capitulo refletir sobre as principais transformagdes nos discursos soby AT nos ditimos 15 anos. Para tanto, propomos um diglogo com o trab: desenvolvido por Reis Neto (1995), no qual é narrada a genealogia do no Rio de Janeiro, Nosso interesse, aqui, nfo é tanto essa genealogia, comparar o discurso atual dos ats (oferecido por nossas entrevistadas) ¢ 0 material trazido por Reis Neto para que possamios pensar a relagio et © que se dizia do AT ontem e o que se diz do AT hoje. OAT ontem © estudo de Reis Neto (1995) mostra que € entre as décadas d 1980 1990 que se inicia a busca por uma especificidade do acompanhamento. Destaca o autor que, na década de 1990, 0 AT “um espago intermediirio entre uma pritica psicoterapica reconhec como profissio © um estigio pré-profissional” (1995, p. 4), acompanhante era alguém que ainda no era profissional, m vias de se profissionalizar, Nessa busca da profissionalizagio, portanto, da deter identidade do acompanhante, observa-se que os ats se dk inido 0 que um at deve saber Ao n to, 05 estudos de Reis Neto no tempo 5) € de Ale: luis como teorias do sujeito, da familia, do psicodiagndstico, ete,, explica um esforgo para “situar 0 acompanhamento como uma pritiea clinica” (1995, p. 5). Ou seja, 08 conhecimentos tedricos propostos io provenientes da area psi. E, portanto, nesse campo teérico e pritico que ©AT tender‘ a situar-se e é a partir dele que se coloca a deter da identidade do at. Esta é examinada por Reis Neto sob trés aspectos simultineos: 0 estatuto profissional dessa pritica; o estatuto tedrico dessa pritica; ¢ 0 lugar do acompanhante na relagio com o terapeuta ¢ com o paciente. Esses trés aspectos, por seu turno, sio examinados em conformidade com aperiodizagio do AT (que examinamos no Capitulo 1), isto 6 segundo a diferenga proposta pelo autor entre 0 periodo antipsiquiitrico ¢ o perfodo Psiquiitrico, portanto, a diferenea entre a época da contracultura, quando. a auséncia de identidade profissional e de delimitagio dos conhecimentos sio valorizadas, ea época em que a luta antimanicomial e antipsiquistrica cede Iugar ao retorno de uma visio tradicional da psicoterapia, levando i desyalorizagio do AT exatamente por nio possuir um campo delimitado de conhecimentos, resultando na sua redugio 4 condigio de mero co- adjuvante do trabalho de psiquiatras com “tendéncias mais tradicionais de tratamento” (1995, p. 10). Nese segundo periodo, at é aquele que “niio sabe tanto” nio é“tio terapéuti como um “terapeuta menor”, ainda em formacio. Como coadjuvante ou mera extensio do psiquiatra (ou do psicoterapeuta), 0 at nio tinha identidade pr Entretanto, aqueles que exerciam o AT nessa 6poca jé eram, em sua lotia, profissionais formados nas dreas “psi” ¢, fortemente influenciados psicandlise, desejavam que sua pritica em Acompanhamento Tera- ico tivesse um reconhecimento enquanto clinica ¢ deixasse de ser como mera extensio de uma clinica dita “verdadeira”. Nessa busca reconhecimento da dimensio clinica de sua atividade, os ats passaram essidade de construir um discurso proprio que pudesse acabar ide do estatuto institucional e tedrico desta pr itica” (1995, |W WovosAxcannios bow cata 0 COMA MAMAN AA a 402, etc, (Ruts NeT0, 1995, p. 13) Observamos, assim, uma inquietagio com respei ¢ institucional do AT, acarretando, desde o principio, uma ini aus quanto ao seu reconhecimento. Essa dupla inquietagao se expt primeira fase, na reivindicagao da mudanga de nomenclatura, ou atendente para acompanhante — tal qual ocorreu em Buenos em outra fase, no desejo de ser reconhecido pelos outros pro} © portanto, numa questio de profissionalizagio, com a reivindi reconhecimento do cardter clinico do AT. ‘Todo o problema, porém, estava no fato de que o Acompanh Continuava a ser um perfodo de passagem entre a formagio © 0 estabelecimento do profissional em seu consultério particular, estabelecer profissionalmente em sua dea académica (psiquiatria, psicol etc.),0 profissional nio mais atuava como acompanhante ¢, nos cont Neto (1995), tampouco via a necessidade de indicar Acompanhamef) Terapéutico a seus pacientes. Dessa forma, a contradicio estava posta, pal de um lado, essa maneira de operar dos ats dificultava que houvesse ustih "Spica ¢ s6lida institucionalizagio dessa prética,ao mesmo tempo que, le outro lado, a institucionalizacao se tornava uma questio importante pan 08 ats que partiam em busca tanto do reconhecimento clinico com conceituagio de sua fangio. Nesse caminho de buscas, os ats, por ccertas caracteristicas de suas finngdes trazidas dos primérdios antipsiquiitri= 0s dessa pritica, acabaram por ocupar um lugar, no minimo, inedmodo: Apesar de tentarem conférir & sua pritica um outro est fissional e tebrico, os acompanhantes munca sem lugar, que em certos momentos parece colocar o relagio de simetria com seus pacientes que, “doentes” quaisquer, mas “loucos”. acompanha, portanto, numa posigio “delicada’ tentativa de delimitagio do que seria acompanhante (Rets Neto, 1995, p. 230). “entre” Nos primérdios do AT, [...] no se supunha que 0 auxiliar tivesse uma formago mais specifica. O saber te6rico é importante para que se saiba o que & Psicose, um surto, wm paciente PMD ete, 0 resto vo: ‘mento tedrico que voc’ adquire na academia ¢ a pritica ica no consultério (Reis Nero, 1995, p. 237-238) 11 formagio era o proprio trabalho” e se o at aprendia o resto “4 9 junto 3 familia do paciente”, entio torna-se claro algo que ‘er do at desde os primérdios de sua historia e que encon- 1s nos estudos que temos mencionado, mas também nos s entrevistadas:a questo do vinalo, presente nos discursos as, Fazer vinculo € 0 trabalho, o aprendizado, a formagio. as, © que se apresenta desde a época dos atendentes ou scritos tanto por Reis Neto como pelos outros autores que ratureza afetiva do Esse vineulo, na época das Comunidades Terapéuticas, era visto opiciaria um ambiente acolhedor e, portanto, terapéutico a0 a afetividade que permitir’ a criagio de um “ambiente sem garantias prévias: ccontato mais “cru” com os pacientes, menos intermediado eres e “settings” terapéuticos bem estabelecidos. Esse estar fo & aventurar-se, expor-se, entrar num campo minado” (rts 1995, p. 233), que, na descrigio de Reis Neto, em 1995 0 AT aparecia npo de intervengio fandamentado por virias teorias e ide~ ‘orre em variados Iugares endo & uma técnica determinada” 140) Novos ANBAR Do OM Ane BO ALOMMIRAMENOHRAHUTKD Esse ogi, OU Seja, pel Era no interior desse campo teérico plural que amplitude ¢ uma indeterminagio decorrente nio s6 d teGrica, mas também da mulkiplicidade de formas e si fnculo afetivo. (Outta caracteristica ainda apontada por Reis Neto (1995, p © cariter informal do AT: no infcio, os grupos de ats nao se const formalmente enquanto instituigio, em consequéncia do proprio dos ats, ou seja, do fato de encararem o AT como um “meio’ atingir “um fim”, pois quem fazia AT nao queria ser at, mas esta busca de formar-se como psiquiatra, psicélogo, psicanalista, que “ha uma tendéncia de mudanga deste quadro. Hoje [décad 1990] os acompanhantes sio psicélogos e psiquiatras formados Nero, 1995, p. 5). Em suma, houve mudangas quanto ao perfil do aos lugares onde atua ¢ a0 modo de compreender o AT. Reis Neto (1995) nio se refere nem uma vez a terapeutas oc ciomais e quando faz referéncia aos enfermeiros nio é para situdlos no trabalho de acompanhamento, mas sim no contraponto a este, diz. que © acompanhante veio substituir 0 enfermeiro ¢ indaga por q “atendente” nao era um enfermeiro, ou por que os enfermeiros nio f ram treinados para serem “atendentes”. Dessa maneira, somos levados 4 pensar que, desde muito cedo, hd uma ideia de formagio ou treinam para os ats, Entretanto, nio ha uma técnica a ser ensinada, uma ver tanto 0 texto de Reis Neto (1995) como os de outros autores por 1 Pesquisados afirmam que o AT nfo é uma “determinada técnica”, net sequer possui uma técnica, © que podemos aprender do que é dito sobre a fungio do AT € que, em seus primérdios, era definido como 0 que permitia evitar internagio do paciente, mas, em seguida, passou a ser pensido por aq} que produzia, por exemplo,o vinculo afetivo, Em outras palavras, mente, o AT aparecia com uma fungio negativa (impedir a inte (es fora d (PLES SRK As /NAMAOMMAAG ES I ACOMPAMMAAE NN RARE HCD © Acompanhamento também aparecia, como vimos, como } entre © conhecimento tedrico que se adquire na academia ¢ a pritica cl nica no consult6rio, isto é, como aquilo que nio se aprendia na academia nem se praticava no consult6rio, mas possufa uma especificidade, qual seja, criar o vinculo afetivo com o paciente, Entretanto, para Reis Neto (1995, P. 238), 0 AT pode nao ser clinico, mas ser, necessariamente, terapéutico, como a atividade esportiva, explica 0 autor, que pode ser terapéutica nio ser clinica, Examinemos por um momento a distingio proposta por Reis Neto centre clinico ¢ terapéutico. Terapia vem do grego therapeia, significando cuidado, respeito, trata~ ‘mento dado aos humanos, aos animais ¢ 4s plantas. Segundo 0 Dicionério Aurélio, terapéutico vem do grego thempeutikds, significando curativo, medicinal; terapéutico liga-se a terapéutica, ou seja,a parte da medicina que estuda e pc em pritica os meios adequados para aliviar ou curar os doentes, Assim, temos “cura” e “alivio” dos doentes por uma “pritica”, Segundo © mesmo Dicionério Aurélio, clinica se refere a uma pratica da medicina relativa aos termos gregos kline — leito, repouso — e kino — inclinar, dobrar; e pode ser entendida como o inclinar-se ou dobrat-se sobre © leito do paciente. De toda maneira, o que é terapéutico aparece come uma pratica do mesmo modo qu -a também é uma pritica, Haveria alguma peculiaridade em cada uma dessas priticas para que se pudesse fazer a diferenciagao proposta por Reis Neto, ou devemos crer que toda terapia, assim como toda clinica, é uma pritica voltada para do paciente? Desse modo, faria sentido pensar que a pritica do Acompanhamento Terapéutico seria ela praticada em outros espacos que nio o consultério e nio poderia ser uma Ponte entre um conhecimento ¢ uma pritica, uma vez que ele seria uma pritica especifica, enquanto a clinica praticada no consult6rio € também uma terapia com suas peculiaridades. Em outras palavras, estamos diante de duas priticas e uma delas nio seria mero caminho para a outra, mas seriam excluclentes e poderiam ser complementares. vemos essas observagdes porque julgamos que a distingio entre Peutico € clinico sustentava, nos discursos de ontem, a ideia de que o | WovosANDAMLHEN DoH = aM BO AZOMMAANENO TAP como consequi relatam os autores pesquisados que é uw tante, mais dificil e menos protegida do qu: em consultério, com suas técnicas, setting est determinado, Segundo Reis Neto atendimento feit tempo muito ben Quando se pergunta 20s acompanhan acompanhamento, é comum ouvie-se a explicagio ...€ uma p muito desgastante”. Acreditamos qu io desgastant por um conjunto de fitores e nio, quereriam fazer-nos en. tender 05 ex-acompanhantes, pelo fato de os pacientes serem tic diffceis. Acteditamos que pese muito aia falta de prestigio “social da fungio de acompanhar (Rus Nero, 1995, p.239).. Ou seja, os pacientes sto diffceis e a pritica do AT 6 despascante Entretanto, para 0 autor, o que fazia (na época de sua disse com que aqueles que exerciam 0 AT abandonassem essa pri de reconhecimento de seu trabalho, posto como um meio a0 almejado fim, 0 consult6rio. que faz essa pritica, fngio, intervengio, dispositi Ihe denominem, ser tio dificil e desgastante? Como mene pitulo 1,Reis Neto (1995) descreve o trabalho do aussi terapéutica da Villa Pinheiros. O que aqui nos interessa 6 fincio desse auxiliar psiquistrico para pensarmos se & descrita da mesma maneira, Lembremos, portanto, que a fungio desse auxiliar consistia, em linhas ger em propiciar um “meio social terapéutic ainda como “tentativa de ir reintro: hho meio social extra-clinica”, como uma ativida psiquiatras para o atendimento de pacientes”, tar a internagio destes pacientes” e sobretudo quase sempre destinado a pacientes em crise psi anxiliares... quase sempre chegava ao fim ap. de crise” (Rets Neto, 1995, p. 2). ‘Como vimos no Capitulo 1,0 se deu no interior das comunidades terapéuticas, io da respeitar as produgdes da subjetividade do suposto louco” , 1995, p. 215). ats tinham a fangio de “reintroduzir” o paciente no ambiente (crno a clinica, Por isso sio descritos como aqueles que tinham familia substituta” te para, dessa maneira, poderem diferentes modelos de interagio familiar, procurando fugir dos igidos de interagio observados nas familias dos pacientes psiqui- wes. Por esse motivo, Reis Neto (1995) propée distinguir entre » do at ¢ a do enfermeiro. Este & pensado pelo autor como alguém uma fang médica que seria de medicar, cuidar de problemas nda conter e vigiar os pacientes, ou sefa, cuidar de“um corpo © passo que o atendente ou acompanhante (a denominagio época de refergncia) estaria ligado as questéies psi, que valo- 1s produgdes do discurso daquele a quem trata...a um sujeito que escutado” (Res Nero, 1995, p. 27). psicanalistas que fizeram parte do GRLAP (Grupo de Acompanha- ‘oterapéutico) do Rio de Janeiro, Fortes e Starling, num texto de jeveram que sio “priticas associadas 3 tarefa de auxiliaes psiquistricos 1 € conter pacientes, cuidar, proteger wer plantdes notuenos, das” (Fortes; Starling” pid Russ Nero, 1995, p. 232). fetanto, quando esses auixiiares passam a ser denominados acompa- ices, vio deixando de lado as fungdes que, de alguma maneira, ideologia asilar (proteger, conter e vigiar) e sua ‘omo: “aventurar-se, expor-se, entrar em um campo minado no passa a 180 Novos cana oA ena bo scOMM AMO 8 processos inconscientes e as tarefas transferenci apud Rts Neto, 1995, p. 232). (Ou, como observa Reis Neto,a diferenga das fungdes do auxiliar e do acompanhante é“tragada em termos de um afistamento da ideologia asilar, associado a um aprimoramento te6rico/clinico” (Ris NEt0, 1995, p. (© autor se atém bastante na questio da muda de“amigo qualificado” (Buenos Aires e So Paulo) e “auxiliar psiquidtrico’ (Rio de Janeito) para “acompanhante terapéutico”. Como vimos no Capi tulo 1,0 autor aponta uma diférenca entre Buenos Aires/Sio Paulo, de um ado, e Rio de Janeiro, de outro. Diz ele que, nas duas primeiras cidades, a experiéncia de mudanga de nome deu-se de maneira menos abrupta, uma vez que essa mudanga significava dar uma denominagio mais adequada fangio desempenhada para que © lugar ocupado pelo profissional ficasse mais marcado pelo fato d que ficava mais marcada e conotada pela denominagio “amigo”. Ja no Rio de Janeiro, a mudanga assinala a diferenga de fangdes, ou seja, 0 que ‘© auxiliar fazia no era 0 que o acompanhante faz. Hé uma mudanga nio ro enfoque (como em Buenos Aires e So Paulo), mas no proprio fazer, na propria fimngio, Diz Reis Neto (1995) que os auxiliares do Rio de Janeiro se rebelaram contra a falta de reconhecimento profissional do auxiliar ¢ de mio poder ter maior antonomia, pois eram subordinados ao médico.A mudanga de designacio, passando de auxiliar para acompanhante, buscava autonomia, reafirmar-se enquanto identidade profissional, ser visto como profissional qualificado, respeitado dentro da equipe interdisciplinar Cabe agora observarmos 0 que da pritica do AT se manteve ¢ 0 que foi modificado e tentar entender qual a dificuldade desse trabalho. A titulo de exemplo de algumas diferencas entre ontem ¢ hoje podemos miencionar exatamente a questo que acabamos de expor, isto 6, a da au- tonomia: vimos, pelas anslises das entrevistas, que a questo da autonomia se mantém como algo caro ao AT, entretanto, as entrevistadas falam da autonomia dos pacientes, enquanto 0 relato de Reis Neto (1995) se refere & autonomia dos priprios ats. ortey; St OAT hoje artindo dos discursos de nossas entrevistadhs, podemos observar npanbante terapéutico 6 ui pouco especific que foi relatado do Yém no h4 mudanga quanto ao saber que um at deve possuir jes das entrevistas notamos que para as entrevistadas permane- estabelecer quais os conhecimentos tedricos necessérios para a AT. Assim como ontem, havia a pluralidade de conhecimentos, » das diferentes teorias € priticas do campo psi, assim também ntramos hoje € uma gama imensa de conhecimentos que as adas dizem serem necessirios a essa pritica, aliés, mais amplas do tem, pois vai da filosofia i medicina. Assim como nos discursos da literatura sobre 0 AT hé continua 1A psiquiatria, 3 psicologia e 3 psicanilise, assim também os nos discursos das entrevistadas 0 uso de conceitos como te, processos inconscientes e teansferéncia, o que nos mostra » ontem, também hoje hi uma aproximacio com a psicanilise, ipesar de todos os discursos, isto & tanto os de ontem quanto tura € os das entrevistadas apresentarem o at como alguém 1 um lugar “entre lugares" cujos saberes nao estio definidos, permitem afirmar que hi dois saberes te6ricos (psicologia ¢ ise) que sempre aparecem nos discursos sobre AT, is vezes so- is vezes em meio a outras teorias, mas esses dois surgem como fnseca dese trabalho e, dessa forma, 0 Acompanhamento co se vé com fortes ligagdes com a rea “psi”. Contudo, hoje, quando 0 AT se ampliou para outros campos ¢ cada jy pretende ser transdisciplinar, surgem no cenirio muitas teorias, referencif-lo e mais dificil fica defini-lo, pensar seus objetivos \s que possam fandamenté-lo, pois mais e naais vai se ampliando minando, Dessa forma, encontrar a especificidade do AT ow identidade torna-se tarefa mais complicada do que antes. ma perspectiva, os discursos examinados por Reis Neto em ida indeterminagio do AT e das tentativas de Ihe conferir de sio, de fato, atuais. Encontramos ontem ¢ hoje as mesmas AT ser fiundamentado por varias teorias, ocorrer em lugares, ser ou ter uma téenica determinada, No entanto, sob outra {17 an 08 HM eatin 0 conearae ontem 0 AT era tid como uma pri geralmente ligadas & psicanilise, hoje, os discursos de nossas trazem outros referenciais, como o da reabilitagio psicosso ‘Ao compararmos 5 escritos de 1995 eas falas de nossas entr observamos mudangas quanto aos profissionais que hoje trabalh ats, Ontem, a maioria dos ats, de acordo com Reis Neto (1995), estudantes de medicina “em transigio” e de enfermagem, ainda qu havido wim movimento de demanda rumo & especificagio profissio autonomia de sua pritica. Hoje, parece ter havido uma amplitude ¢ finigio que podem abarcar uma gama muito grande de pessoas p AT e por isso mesmo impéem a necessidade de alguma delimit alguma especificagio. Como dizem as entrevistadas, no é porque qu pessoa que queira fazer AT € vista com a possibilidade de fazé-lo que pode sair a praticé-lo. Bssa exigéncia transparece na quantidade de cur de qualificagio em Acompanhamento Terapéutico oferecidos no 1 visando tornar uma pessoa apta a trabalhar como at, Entretanto, como vimos nos capftulos anteriores, no hi tn a ser ensinada, Os autores por nés pesquisados assim como os discursos nossas entrevistadas afirmam que © AT nio possui e nem ¢ uma téc até porque a técnica é vista como aquilo que engessa a pritica d Na realidade, porém, vimos que o AT nfo constitui uma especifica, e sim muitas priticas. E, como diz Silva (2005, p. 52), 0 AT & antes de tudo uma fongio, ou seja, nfo € um nome dado a u profissional, mas sim a uma fungio, a um fazer de qualquer pessoa, Pol esse motivo, no texto de Silva (2005) vemos o uso da expresso at pi se referir ao atendente psiquistrico, ao atendente grade, isto 6, fight téc anteriores 1 nomenclatura at, mas que sfo assim chamadas por el a especificidade se encontra na fangio AT, e no no profissior no s6 no texto de Silva (2005) encontramos esse procedimento, miaioria dos textos hi essa indiferenciagio, o que dificulta pasado remoto, passido recente e presente, Portanto, o AT 45 uma determinagio:é uma determinada A questio & que essa fungio é indeter oA parec st erinnoes woons an 168 dificeis e a pritica ¢ fictldade, os discursos de ontem at sem reconhecimento pelo seu trabalho ¢, de 10s que a minoragio do AT continua a ser sentida ssas entrevistadas, uma vez que essa pritica nfo dla profissio de origem das ats. Em outras palavras, vez que no Brasil (diferentemente da Argentina) no figura do at ¢ muito menos a profissio AT. le sua pritica, como foi visto, a fingio do at era ga ‘© terapéutico fora dos saberes psiquiatricos tradicionais. a ideia de um “espago terapéutico” ou um “meio social " permaneceu como pano de fundo do AT até os dias atuais, preocupagio expressa nos discursos de nossas entrevistadas to que se di aos pacientes. Para aquelas que utilizam a isso surge no discurso como a mie suficientemente Wa, oferece condig&es para que o paciente, em um 1, se desenvolva, Nio é esperada do at uma intervengio espera-se que ele seja capaz de “escutar” aquele que én escuta, Jo que surge ontem e hoje se refere 3 simetria do te com sett acompanhado, mas colocada em termos dife- 1995, a simetria nfo deveria ser visada 8 discursos de nossas entrevistadas mostram que essa 1os que, o papel do at n 105, gente vivencia ‘ambiente terapéutico! Dessa maneira, 0 vinculo afetivo nos me acompanhante com 0 acompanhado e, entio, 0 aquilo que nossas entrevistadas chamam de “vivénci (1995) apresentou como especificidade da pratica do acomp contato mais ‘cru’ com os pacientes, menos intermediado por s1 ‘settings’ teraputicos bem estabelecidos”, Esse “estar junto” é -se, expor-se, entrar num campo minado...” (Rts Neto, 1995, p.233)..N fala de nossas entrevistadas, isso surge como a dificuldade desse t pois “vocé t& sentindo junto... vocé té vivendo junto [...] entio ¢ esti vivendo a infelicidade dela com ela...” ‘Também permanece como pano de fiindo a semelhanga de ol vvos, que aparece na ideia de “reintroduzir” o paciente no ambiente so externo 3 clinica, em Reis Neto, e na de inclusio social do pacient discurso atual. Enquanto os ats,em 1995, sio descritos como tendo a f de sera “familia substituta” do paciente buscando fagir dos padres 1 de interago observados nas familias dos pacientes psiquiftricos grave discursos de nossis entrevistadas a familia surge como parte de un social que os ats devem ajudar os pacientes a construir, redes sociais qu manterio fora da internagio, Permanece também nos discursos atuais das ats a diferenga prc por Reis Neto entre a fungao do at e a do enfermeiro que cuida de corpo doente”. \Vimos que,nos anos 1990, foi acrescida uma modificag3o em re A demanda dirigida aos auxiliares psiquidtricos, que passaram a atender pacientes fora da situagio de crise ¢ levariam ao surgimento do acompanhante terapéutio. Por isso, encontramos semelhangas nos dliscui de nossas entrevistadas quanto a0 fazer do at € 0 que era dito do fazer c auniliar, isto 6 0“estar junto” que foi delineando essa pritica ¢ que talver explique por que, hoje, as ats atendem no s6 4 demanda do paciente fort de crise, mas também a outras demandas que foram surgindo com o tempo, como criangas com dificuldades na escola, pessoas vitimas de violencia @ abandono, entre outras. Podemos observar, entio, que 1995 € 2010 oferecem um sito semelhante. O que nio nos deve surpreender se pensa soe 1.6 oon eel ve ago que se estabelece no acomp. preocupagio atual dos atores dessa pritica, nediada por esse vinculo afetivo de qual falavat profisionalizagio vem ocorrendo e 0 iiimo C -,em 2010, nos falam as entrevistadas e que este & a realizado em 2011, em Buenos Aires, tromxe como ti inculo que é mais do que simplesmente estar junto, conceptuales, hacia uma profesionalizacion definitiva de orista brasileiro Camara Cascudo (1943) quando mostrava No Brasil, como dissemos anteriormente, estava plane}. lo sociocultural, psicol6gico e afetivo da comida ulteapassa 2011, 0 3° Congreso Brasileiro, que teria como titul ato de alimentar-se, $40 muitas as tradigdes que consideram a Acompanhamento TerapSutico nas Politicas Péblicas ‘io como semissagrada, de silencio, compostura e severidade. ou seja,s10 os temas dos espacos e oportunidades de trabalho qu iar-se. E cum panis, ser companheiro, é acompanhar. como disparadores das reflexdes desses eventos, porém, de fato, nio significa auséncia de diferengas entre ontem ‘Vale pensar, portanto, as implicagSes e a mudanga dos sign menos duas mudangas podem ser apontadas, pois a atuagio do. sstante ampliada.A primeira é que, hoje, graduandos e graduados em. cas ligadas & sate trabalham com AT, como podemos ver pelas nossas ocorria na época das Comunidades Terapéuticas. Hoje, parece taddas,€ 05 espagos de atuagio se ampliaram, como também podemos discussio esté inserida na ordem da globalizacZo, da amplitude de las entrevistas, que se teferem, por exemplo, aos abrigos de menores. mentos, na onda do que se convencionou chamar de pos-mode la mudanga se refete ao cardter formal que muitos grupos tomaram, © AT esti de fato nessa onda, devemos lembrar algumas carac 108 pensar entio, que Reis Neto (1995) estava correto a0 atribuir sociedade pés-moderna que podem nos ajudar nessa reflexio e, p. isitério do AT 0 motivo para os grupos nio se formalizarem. comeraremos seguindo © pensamento de David Harvey (1992). Surge, porém, uma questi, O “estar junto” indica que nio hé algo Esse autor constrdi sua argumentagio tomando como relerd 4 uma reserva de monopélio de legitimidade do AT, que parece determinadas crises no sistema de acumuilago do capital que v: se mais pela intengio do que pela extensio de seu trabalho. Ora, panhadas por mudangas na experiéncia e nos significados sociais, ica reivindicar um objeto institucional, a menos que seja algo de nas ciéncias e na filosofia. Segundo Harvey (1992), a pés-mod. le como a dos andarithas do bent, sanando as fetidas do softi- coincide coma crise econdmica do fordismo, caracterizado pel Por isso mesmo, precisamos indagar se a questio da indefini¢io, em série (a linha de montagem) que trouxe o barateamento dos c lugar ou de profissionalizagio, que era vista como caracteristica € permitiu o consumo de massa. Fsse modelo, diz Harvey (1992), eles que vinham trabalhar com os pacientes numa proposta, em crise pela rigidez que o sistema de produgio mostra e inda pode ser vista hoje como terapéutica, uma vez que mudangas nas demandas do mercado que o proprio ca do fordismo foi, na verdade,a crise do capital produtivo, e cent mentagio da producio,a substituigao das ideias de dos produtos pela ideia do descartivel, a im iin vase es teense 00 saree eee wees sociedade capitalista e que permaneceram em volta dos meados dos anos 1970, quando uma de producio capitalista langou por terra o sig I do trabalho. A partir dessa data, a acumulagio Jo capital, que sempre dependeram diretamente da ea de trabalho, deixaram de ser gerados pela ex- de-obra humana. Esse fendmeno foi causado por dh produgio de mercadorias,e pela primazia do ca~ wanceiro sobre 0 capital produtivo. [...] A crise do Estado do weados dos anos 1970, deu lugar ao reaparecimento liberais ou ao que se convencionon chamar de (Cuavr-Bertinck, 2008, p. 165-166) Os principais tragos da economia ¢ da politica neoliberais que nos ispersio e fragmentacio da produgio industrial, o piblico ¢ © alargamento do espago privado. io ¢ fiagmentagio da producio industrial: da produgio tornou-se estrutural, deixando de 0 4 produgao industrial porque, agora,a produgio sob a forma que possuia na fise industrial fordista lidade © dursbilidade dos produtos do ilo, formagio de grandes estoques para a na presenga do portanto, nas formas de relacionamento entre as forma de estas se relacionarem social e profissi Neste novo contexto, assistimos a0 aparecim fredor psiquico ou do paciente como um individuo isol de redes de relagdes sociais, e a do at como portador da poss de alguma inclusio social. Porém, 20 mesmo tempo, obser fendmeno da dispersio € fragmentacao do trabalho atinge 0 pr explicitada pela indeterminagio de seus saberes ¢ dos profissionais atuam, gerando a falta de identidade. Contudo, simultaneamente, encontramos 05 ats em busca de uma identidade que talvez os definir como classe ou categoria profissional ou como grupo soci assim pudesse Ihes dar um sentimento de pertenga, identidade, fundamental para uma pritica que visa, justamente, criar redes so pertencimento e inclusio num mundo de solidao, isolamento, indivi competitivo e abandono. b) Em relagio a0 encolhimento do espago pablico e alarga espa¢o privado, & preciso considerar a crise do Estado co Bem-Esta regulava as operagSes econdmicas e assegurava direitos sociais a0s (educagao, satide, habitagao, etc.).Na economia neoliberal, [.-] € dispensada e rejeitada a presenga estatal nfo s6 na econ por meio da privatizagio das empresas pablicas, mas tam transformazio do direitos sociais em se que, como tais, também podem ser privatizados (educagio, sat transporte, abastecimento, Sygua, luz, etc.).A pr pblico tornou-se estrutural. Disco resulta que a idé sociais como pressuposto e garantia dos direitos civis ou pol tende a desaparecer porque 0 que era um direito social convert num servigo privado regulado pelo mercado e, portanto, ‘uma mercadoria a que tém aceso apenas os que tém poder a 11 adquiri-la, aumentando as desigualdades © exclusdes so0 (Cuaut-Bertincx, 2008, p. 170). Com o encolhimento do espaco piiblico fica fa que no hi necessidade da figura juridica do AT (como passo1 Argentina a partir de 2010) para que essa pritica possa ser realiz petente”. De fato, Foucault (1996) jé havia ni do discurso” pode ser resumida na seguinte regra: que pode dizer qualquer coisa a qualquer outro em Qualquer circunstincia. Quando essa regra se torna a 1 pela qual as diferengas ¢ divisOes sociais sio representadas s, ela se torna, diz Marilena Chaui, 0 “discurso competente”, sociedade entre rigentes ¢ executantes:0s primeiros, que receberam educagio € tecnol6gica,sio considerados portadores de saberes que m comipetentes ¢ por isso com poder de mando, enquanto ‘cutantes, que no posstem conhecimentos tecnolgicos ¢ os, sabem apenas executar tarefas,sem conhecer as razdes ¢ lidades de sua ago, Sio por isso considerados incompetentes e dos a obedecer. Essa divisio se espalha por todas as instituigdes ‘cis sob a forma da ideologia da competéncia, segundo a qual os possuem determinados conhecimentos ~ 0s especialistas — sio tentes e tém o dizeito de mandar e comandar os demais, mipetentes, em todas a esferas da existéncia (CHAvt-BERLINCK, sp. 170-171). 1agio do AT, que, ontem, se erguia na reagio J forga do discurso te. O receio de compactuar com esse discurso ¢ sua regta de leterminaga 0 ver-se como especi ir a0 dliscurso, Isso nos profissées que fazem uso do AT se este se tornar um sab ele ganharia em poder. Por esse motivo, é interes diferenga em se pensar numa formacio em AT e na formacio nornialmente tem, hoje, uma formagio no ensino superior em alg ligada & satide, como psicologia, enfermagem, terapia ocupacional quanto formagio em AT, muitas vezes ela se dé com a pritica s ‘Se levarmos em considerago esses dois aspectos da sociedad. -moderna que mencionamos (dispersio e fiagmentagio social ou lamento individual; a ordem do discurso competente na “sociedad algo que perdura no fazer do at desde os primérdios de sua hist6ria © encontramos nao apenas nos estudos que temos mencionado, mas tar nos discursos de nossas entrevistadas: a questio do vinculo, presente no} discursos das variadas épocas, ou a figura pitblica do acompanhante como aquele que compartilha gfétitumente a vida ¢ a dor do outro, Cum pans, usnronuage va Acousnunnauiir

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