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- Carlos Fortuna (organizador) s eae CELTA (© 1957, Carlos Fortuna (rganizadon) (Catos Fortuna (organizadon) ‘Cidade, Cultura e Clbalizaio: Enssis de Sociologia Primeia edi portguesa: Outubro de 197 eager: 100 eempiares ‘Tiadudes de Angela Mana Moreira (capitulo 10), Caos Fortuna (api, ‘Clara Keating apt 7), Margarida Lina de Fara (spiteloe de, Rita Marnoco (capitulo 8) Vsina de Campos igre (apitulos 2.5, 869) Revisd nlc: Carlos Fortuna Reviso de texto: Jose Sores ce Almeida 'SBN:972.9127-78-8 Dept legal 1598/97 ‘Composgt: Cela Felton caracterespaatno, orpo 1) (Capa iio Vaz / Celta Eitora Tstragio da caps: Loren Maciver (1809), Dowsshrs, 193639, tla a Seo, 72» 52m, ‘© National Musou of American Ant, Smilsonien Institution, Washington, DC Fotos, impressioeacabamentor!Tipogatia Lousanense La Reservados todos es direitos para lingua portugues, decor com a leislaca em vigor, por Celta itr, Lda apartado 151, 2780 Oetas INDICE Sobre os colaboradores Introducio: sociologia, cultura urbana e globalizacao. Carlos Fortuna Parte I / METROPOLE, URBANISMO E VIDA URBANA 1 Ametrépole e a vida do espirita Georg Sinimel 2 Ourbanismo como modo de vida Louis Wirth 3 Paris, capital do século xix Walter Benjamin Parte Il / GLOBALIZAGAO F INTERMEDIAGAO CULTURAL 4 Culturas globais e culturas locais Mike Featherstone 5 Osnovos intermedisrios culturais Laura Bovone 6 _Intermediagao cultural e alteracio do gosto Alan Warde a 53 105 121 Parte Ill / CIDADES E GLOBALIZAGAO. 7 Capitais europeias da cultura e politcas de arte Erie Corin e Sabine van Praet 8 Modernidade, globalizagio e crise do modernisino social Fians Mommaas 9 Das margens para o centro Justin O'Connor e Derek Wynne 10 As identidades juvenis ea cidade Robert G. Hollands 11 Destradicionalizagdo e imagem da cidade Carlos Fortuna 12. Aguerra dos lugares, Antonio Arantes fndice remissive 137 165 189 231 258 2m INTRODUGAG Sociologia, cultura urbana eglobalizasio Carles Fortuna ‘The city bristles with malice (Miike Davis, 1992) Num famoso texto de 1915, Robert B, Park argumentava a favor da conve- niéncia de se fazer da cidade o laboratrio de andlise, por exceléncia, da natureza humana (Park, 1967). Aquilo que se dissesse da primeira dir-se-ia também, com propriedade, da segunda. A cidade, equivalente a sociedade, ‘mostraria a esta tiltima a natureza dos seus processos evolutivos, dos seus equilfbrios e tensoes, A nobreza da intengao do jornalista e sociélogo americano parece conservar actualidadee, por isso, ela continua a insinuar-se, nas nossos dias, como desafio cultural. Poderemos dizer da soviedade aquilo que dizemos da cidade? A resposta é ambfgua. Dirse-é que sim, se se entender que é da cidade e da cultura urbana que irradiam as diferentes forgas que mantém, reproduzem e complexificam a sociedade no seu todo. O pressuposto desta resposta é duplo e reside, por um lado, em julgar que nada mais hd de Politicamente relevante para além da esfera da ciclade eda cultura urbana e, por outro lado, que, perante os efeitos da globalizacio, estas se uniformiza- ram e, logo também, as suas influéncias sobre a sociedade. Ao contrario, dirse-é que no, se se julgar que a actual expansio da cidade e da cultura urbana, em vez de as tornar homogéneas, as distingue e diversifica entre si, 0 ponto de, conjugadas no plural, ndo poderem constituir-se em eventual & tinico critério de afericao da sociedade em geral. Aqui é o pressuposto da supremacia da sociedad sobre a cidade e a cultura urbana que preside e, com ele, a conviecio de que, & globalizacio, a cidade e a cultura urbana respondem com o reforgo da sua autonomia propria, refractaria perante Influencias sociais externas, Esta diserepancia de pontos de vista ¢ tanto politica como disciplinar. No campo das cigncias sociais, ela pode assumir 0 estatuto de controntacéo, quer entre diferentes Areas disciplinares, quer no interior de cada uma delas. No dominio do urbano, como em qualquer outro, a vitalidade que as cléncias sociais retiram do confronto de ideias¢ hoje, como sempre, a matriz da sua frutificacio. Nao é, por isso, desejével que a multiplicidade de visbes sobre a cidade, a cultura urbana e a sociedade convirja para qualquer alinkamento discursivo, conceptual ou analitico. A procura de consensos, tanto politicos como cientificos, ¢ frutuosa apenas enquanto estimule 6 progresso de cada uma das partes envolvidas e, assim, ajuce a prefigurar ‘uma estratégia comum, capaz, a um tempo, de reconhecer, e de se reconhe- cer, na validade discrepante dos contributos parcelares. Esta parece ser a ‘ondigdo de um alinhamento virtuoso de diferentes campos doconhecimen- to, Da desejivel articulagio das varias visdes sobre a cidade, a cultura urbana ea sociedade, um trabalho a ser feito por intimeras maos, esultars, por cerlo, um grau mais elevado de inteligiblidade sobre cada uma delas. ‘alvez s6 entao se reduza a amibiguidade que, por ora, a proposta de Park suscite, permitindo, sem confundir uma com a outra, dizer da sociedade o que se diz da cidade e, inversamente, compreender a cidade a partir da Sociedade. Partindo do campo particular da sociologia, as contribuigdes aqui coligidas estio atentas ao indispensivel cruzamento interdiscursivo sobre 0 universo urbano esocial-Os textos resultam, na sua maioria, de um Encontro sobre Cultura Urbana, Estilos de Vida e Praticas de Consumo, que teve lugar ‘em Coimbra, como realizagio conjunta da Faculdade de Economia da Uni- ‘versidade de Coimbra, do Centro de Estudos Sociais e do Manchester Insti- tute for Popular Culture’ Tratou-se de um encontro com a participagao de investigadores de diversas reas das ciéncias sociais, tendo-se optado por verter para portugués apenas alguns dos textos apresentados, de raiz mais rmarcadamente sociologica. Aavaliagio do estado da investigacio no dominio da cultura urbana € das cidades em Portugal, reconhecendo embora 0 seu progresso recente; salda-se por um détice de publicagdes disponiveis sobre estas matérias, em particular no campo da sociologia. Deste modo, decidiu-se untar aos textos seleccionados do referido encontro alguns dos ensaios matriiais dos estudos urbanos. E assim que se justifica a parte I, que faculta aos estudiosos portu- sueses textos classicos como “A metrépole e a vida do espirito”, de Georg Simmel, “O urbanism como modo de vida", de Louis Wirth. Embora js disponiveis em edicao brasileira, foram agora objecto de nova traducio. Ao seu lado, pela primeira vez, sungea tradugso portuguesa do famoso texto de Walter Benjamin, Paris, capital do século XIx, que 6, @ todos os ttulos, um contributo inestimavel para a leitura sociolégica da cidade e da cultura ‘urbana modernas. F longa de quase dois séculos a traigao socolégica sobre a cidade ea cultura urbana, Ela 6 evidentemente,o outro lado do processo de urbaniza- Go, que, com a chamada revolugao industrial, comeou por alterar a fist romin co mundo ocientale continua hoje em dia a modifica as geograias, fs mentalidades e a8 pris sociais em todo 0 snundo, Seria fastidioso desenvolver aqui consideragdes pormenorizadas sobre 0 movimento de utbanizagio que marcoua sociedad acidental Nesta introdugio ésufcente referiro longo intenso movimento de concentragao populaconal em agio- tmorados ufbanos que faz da sociedade ocidntal uma eovedade Fandamen- talimente urbana, Com feito, enquanio em 1950 cera de um quario da populacio do globo vivia em aglomerados urban, em 1990 repistace a fxiténcia de 290 cidades com mais de 1 milhlo de habitantes,o que, por si representa cerca de um tego de todaa populagio mundial (United Nations 1980). Ao mesmo tempo, prevese que, no ano 2010, a populagto urbana possa ultrapassaros ts quaros da populacao mundial. Embora se trate de tim fenémeno global, nos nossos dis, o padrao de urbanizagto é mareado sobretud pela eadénciaacentuadaa que crescem ese muliplicam as cdades nos paises, sobretudo africanos e asdtcos, mals pobres ou em vias de Gesenvolvimento (Clark, 199, 49). A variavel demogriica obriga desde Jogo, portant, a distingulr entre urbanizaclo.egeografia da urbanizacho. Masha uma segunda distngio lazer. Esta tendéncia para acrsconte trbenizacionio pode nem deve ser confundica com ahistrla dourbanismo rem coma formagioe propagacio da culturaurbana, Na verdade, evalua linear do crescimento das cidadescoresponde a constituiio hesitant, feta deavancoserecuos, daquile aque chamamos cultura urbana, Como campo tedrico,centaco em Fedor ce um conjunto especico de pitas soc, tmenlaidades eeslos de vida que se forjam, comunicum e reproduzem na Cidade, a cultura urbana tem uta hstéria propria, iniciada ean meados do seul xh, sob o pan de fundo da industrializaio europei, ‘A cidade moderna, em expecial a grande metnipote, berg de novos grupos efiguracbessocaisnovas formas de organizacio ede confito, com fs suas homogeneizantesesimullaneainente segregadorss ideologias pri ticasde consumoe,enfim, com as suas novas topografias,tornou-se, por todo isso, object da curiosdade edareflexto academies No gradualiso da sua instituionaizagao em disciptina automa, esta eflexso come por iden tficat a raizes histrieas da cidade e os contrangimentos que sobre ela recaiam, sobretudo de natureza econémics, Ao mesmo tempo que se iam Gesbravando novos campos de lero, prante a hegemonia do academus to clesico, esta filttagem propagourse,insidiosamente, a outrasdreas dis Ciplinares. A cidade da socologia urbana positivista fl, asim, sendo expurgada de mumerosos elementos (politico, literrios,arquitectinicos, seo-espaiais etc) que haviam feito dela um universo tanto mais especiico {ania mais comploxo, Eta cosificecio da cidade raduzltrce nosed empo- brecimento ea transformacdo da cidade-sujeito em cidade-objecto da socio- logia urbana parece dizer mais sobre os mentores de tal estratégia do que sobre o fenémeno cultural urbano em si [Nas tiltimas duas décadas, porém, novas visdes sobre a cidade tém surgido e dado origem a uma espécie de devolucio a cidade das suas riltiplas facetas, resgatando uma soberania temporariamente ofuscada, Asociologia que temos por urbana parece estar hoje a converterse numa socilagia das cidades, por efeito nao apenas do reconhecimento da fragilidade das fronteiras disciplinares que haviam separado e oposto ent si a cidade ‘© ourbano ao campo ¢ao rural, mas também da redescoberta do hibridismo cultural contemporaneo quea cidade exibe, eainda em resultado da crescen- te centralidade de escalas infra-estatais de governacéo, fruto cruzado da regulacdo pés-fordista e da globalizacao. A cidade nao ¢ uma coisa. Ela reconhece-se simultaneamente como real e representacional, como texto e como contexto, como ética e como estética, como espaco e como tempo, socialmente vividos e (re)construl- dos. Nesta sua implosio, a cidade torna-se uma alegoria da sociedade e, como quea concretizara proposta de Robert Park (1967), 0 que sediz sobre ‘uma parece poder dizer-se cada vez mais sobre a outra. Por isso, nos rnossos dias, da clissica sociologia urbana pouco nos resta, para além de uma cultura do mesmo nome, como conjunto deacces, memérias, repre- sentagoes e narrativas seciais que se fundem e articulam entre si sob 0 pano de fundo de um espaco urbano e de um poder social determinado. A reconceptualizagao da cidade como espaco fragmentado e disputado abriu novos campos de anélise e fez surgir novos objectos empiricos de pesquisa, alinhados quer pela atengao conferida aos microrregimes de poder na cidade, quer pela in‘luéncia pés-estruturalista sobre as relagbes sociais e as identidades urbanas, quer ainda pelo interesse pés-marxista sobre a cultura visual, o consumo e os regimes representacionais,’ Nesta reinterpretagdo da cidade nao sdo apenas os estudos sobre cidades parti- culares que sobressaem, mas emergem também como objectos singulares de pesquisa empirica, e em detrimento da metanarrativa urbana, 0s seus (re)arranjos socioespaciais especificos, a sua economia simbolica ea natu- reza dos seus edificios, monumentos e outros marcadores, ou as suas Tuas, pparques e zonas de comércio.* Todos eles interferem com a cultura publica citadina e 0 discurso da sociologia sobre a cidade torna-se, deste modo, ‘rescentemente, um discurso cruzado com numerosos outros enunciados, de upo tenomenoligico, semisticoe literario (Ostrowetsky, 1996; Pellegri ‘no, 1994; Westwood e Williams, 1997). Nunca 0 discurso sobre a cidade foi tao multifacetado e plural como neste final de século, Nunca estivemos tho proximos de reconhecer que s6 no cruzamento de diferentes campos discursivos e tradigdes intelectuais pode a cidade reencontrar-se na pleni- tude da sua multivocalidade e polivalencia, Reside aqui um desafio imposto a coeréncia intelectual. Se, como argu- :menta Bruno Latour (1994), para que se concretize, a modernidade deve ser capaz de reflectir sobre a natureza hibrida das suas préprias construcées, também a moderna sociologia, para oferecer inteligibilidade a cidade, n3o pode estar sujeita a interpretacoes exclusivistas e monoliticas. Procurou-se respeitar este principio na presente seleccio de textos sobre a cidade. Poder- -se-ia argumentar qute uma das suas limitagoes residiria no facto de se tratar de um conjunto de textos oriundos de um tnico campo de reflexio — a sociologia. Mas esta limitacio podera converter-se em virtude. A sua socio logia ¢ uma sociologia de tempos diferentes (0 que é mais notério entre os textos da parte I¢ os restantes), entrada em espacos urbanos muito dispares, (como denota toda a parte II}, com pontos de partida igualmente muito variados (como resulta, por exemplo, das partes Ile I1). Ademais, ndo existe neste conjunto de textos uniformidade tedrica, analitica ou temética, Oriun- dos embora do mesmo campo disciplinar, no seu conjunto, os ensaios conti- dos neste livro sio, cada um 2 sua maneira, tentativas de ler sociologicamente (3) cidade(s) dos nossos dias. O didlogo com outras narrativas sobre as cidades é um didlogo interno a todos e cada um dos textos apresentados. E desta diversidade das partes que, pode dizer-se, se alimenta a unidade do livro no seu conjunto. Afinal, como a propria cidade moderna, cuja unidade resulta, também ela, da sua miltipla diversidade. \Naparte I desta colectanea incluem-se alguns dos textos que marcaram. mais profundamente 0 trajecto inicial da sociologia urbana, Aos pontos de contacto existentes entre os ensaios de Georg Simmel ¢ de Louis Wirth contrapde-se o texto de Walter Benjarnin, um documento precioso, de mea- dos deste século xx, sobre 0 modo como a cidade da modemidade se faz. de rmiemérias do passado e de crengas optimistas no futuro. A parte I inclui ts textos sobre alguns dos vectores do reconhecimento da cidade e da cultura urbana. Em tempos de globalizacio, o texto de Mike Featherstone entrelaca o local com o global e interroga-se sobre o sentido da nossa cultura (p6s)-moderna. Laura Bovone pergunta quem sao, comoactuam, e que visbes fornecem os novos agentes da intermediagio cultural, responss- veis pela atribuigio de sentidos a cultura urbana. Alan Warde, por seu turno, ilustra, recorrendo ao campo da gastronomia, a pertinéncia das acgoes de intermediagao cultural na combinagdo de universos imaginérios com praticas socials e modos de apresentagao estilizada do corpo. ‘A parte IlI desta seleccao de textos recolhe seis estudas de caso sobre diferentes cidades. O que os une entre si é a ampla concepcio de cultura urbana que deles se recothe. Sem que sejam objecto de anslise pormenoriza- da, todos os casos tém por referéncia a alteracio dos modos de estar e de imaginar a cidade em tempos de globalizacdo da cultura, da economia e dos modos de governacio. Mas a globalizagdo tem ag stias raizes histdricas, terrtoriais e institucionais. Sem que nos dediquemas a esta questio em 6 CIDADE. CULTURA # GLopALizacAo pormenor, todavia, os leitores ndo estranhardo que tentemos, de seguida, luna breve incursdo sobre a hist6rla recente do pensamento ocidental sobre a cidade moderna, a que se seguirdo algumas referéncias aos textos aqui incluidos, com destaque maior para os textos clissicas da parte L (Cidades e cultura urbana Uma das mais divulgadas teses sobre a natureza da cidade medioval euro- peia 6a de Henri Pirenne (1973). Na sua obra sobre as cidades medievais, 0 historiador belga faz depender a dinimica urbana das relagdes mercanti, fazendo ancorar ai 0 poder da cidade e a sia independéncia politico. © comérco, sobretudo 6 comércio mediterrinico de longa distincia, que tivera efeitos desastrosos para as cidades europeias e 0 proprio Imperio Romano, revela-se decisivo, gualmente, para aredinamizagao urbana pos- terior ao século xt. A medida que enriquecem e se autonomizam perante a aristocracia eo cleo, mercadoresecomerciantes, residentessi ure, ouse\a, lteralmente, nas vertentes “abaixo da cidade”, situada, estratégicacsimbo licamente, no alto do monte (LeGatese Stout, 1986, 37), tansmitem ¥ esfera urbana um sentido pilico de uma comunidad construida em redor do comérco ¢troca de mercadorias, O mercado converte-e no elemento cen. tral da vida urbana e as cidades medievais passam a constituir verdadeiros oasis de promessas de liberdade num mundo de obzigacies feudais. Siad- tluft mackt rel, 0 velho aforismo da pré-moderna Alemanha além-Elba, encontra aqua sua rai. O dinamisma daquela classe média, de feigto mercantile comercial, foi responsivel nao apenas pelas alteragdes das relagdes socais,politieas © econémicas da cidade, mas iguakmente, como testemunhamn os trabalho de Braudel ou Wallerstein, indwaiu a expansao do capitalism e, com el, preponderancia crescent das zelagbes cidade-cidade, em consequéncia Go comércio de longa distancia, sobre as relagdes cidade-campo. O cenirio urbano va alterar-se profundamentee a busca dos seus fundamentos con rnuou a ser objeco de variadas investdas na historia da vida urbana. Entre estas destaca-sea obra de Max Weber, que, a0 contrariode Penne, nao limita a analise da cidade medievol ao impacte oscilante da sua componente eco nmica e mercantil, Da pesquisa historic de Weber sobre a cidade, conden- sada num conjunto de notas recolbidas entre 0s anos de 1911 ¢ 1913 feitas editer, postumamente, em 1921, por Marianne Weber, esslla uma concep sto plural de cidade. Com efito, Max Weber nao se restinge apenas cidade ocidental (europeia), fazendo também incursées nas cidades orientais, mas, mais do que iso, entende a cidade como uma espécie de urbanismo pleno, io tanto no sentido da intesifieagso e maltipliagao das relagoes socias, como entenderia Simmel, pr exemplo, mas no sentido da crescente autono- rnin da esfora urbana, nfo restringida a actividade econdmica que nela se desenzola (Weber, 1982), Pesem embora, por um lado, 0 reconhecimento da centralidade do mercado e da produio€, por outro, ajasteza historico-em- pirica da sua interpretagio (Hanner2, 1960, 86), este urbanismo pleno de Weber reconhece na cidade medieval uma ented multfacetada,cotade de Intituicoes poiticase assocatvas, juridicas e burocratico-administativa, relativamente auténomas. ‘Varios autores tm feito notar, ou mesmo lamentad, 0 facto de Weber se ter resitingido a anlise da cidade medieval e baroce. O mesmo poder, ais, dlzerse de Werner Sombart, seu contemporaneo, que, no sew Amor, Luxo ¢ Capitism, quando sedebrasa sobre cidade, se detemmo séeulo Vi ombar, 195, cap. 2), Ha dois aspectoshistérico-sociel6gios do trabalho de Weber que importa fazer resaltar como legado intelectual da sua reflexdo: em primeiro lugar, o facto de ter produzido ama infant leitura global da constiuigto da cidade ociental; em segundo lugar, o de ter ensaiado uma explicacdo para 0 Surgimento de ts tipos-ideais de sociabidade urbana, protagonizados pelo

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