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AJusbrasil a Pesqurar PUBLICAR CADASTRE-SE ENTRAR jusbrasil.com.br 19 de tho de 2017 0 Federalismo e o Império Texto de Jodo Filippe Ross Rodrigues, Cocrdenader Local S Liberdadie em ®. éricr dos Estudiantes pala De uma simples observagio do territério brasileiro (8.516.000 km? de rea), perecbe-se a vocagao que o Brasil para o federalismo. Isso porque comumente relaciona-se o federalismo a uma simples divisio territorial do exerefeio do poder estatal. Diz essa interpretagio que ha uma necessidade de descentralizagio para melhor gesto governamental. Porém, esse raciocinio nfo é suficiente. Como jé demonstramas, o federalismo surgiu, mais especificamente, da necessidade da limitagao dos poderes. Associé-lo a uma questdo de territério no é um argumento sélido para se embasar totalmente, visto que as dreas das Treze Colénias, ou dos Treze primeiros Estados da América do Norte, no era muito grande, se limitando a costa atlantica. (© que vamos mostra, por hora, é que o Império jé viveu uma experiéncia descentralizadora e possivelmente federalista, segundo as interpretagdes. Nao é certo, portanto, localizar a Federacao Brasileira necessariamente com a Repiiblica COLONIA, ELITE E POLITICA No Brasil, podemos enxergar desde a época da Col6nia, com as insurgéncias, que a propria centralizagdo portuguesa correspondia a um perigo para a unidade nacional. Nio era nova a discussio, & época da tomada republicana, sobre a descentralizagdo da gest governamental. José Bonifacio, como aponta Faoro, defendia a visio de que a descentralizacio contribuiria para a unidade nacional.{1] 0 proprio Periodo Regencial representou além de uma experiéneia democratica, varias tentativas de descentralizagdo do poder. Dessa forma, o federalismo, ou 0 que que estivesse préximo, ja estava latente nas ideias politicas brasileiras. Em Handobook of Political Science, Willian Riker localiza no Ato Institucional de 1834 a federalizagao do nosso pais[2] Para entender um pouco mais sobre a questo do federalismo (e também de outras questdes como republica, democracia eo voto}é de se frisar, como destaca Bruno Garschagem{3], que a politica brasileira 6 permeada de um certo clitismo. O que {sso quer dizer? Os politicos, ocupem quais eargos que forem, tinkam uma formagio especifica para a politica. essa forma, para se entrar na politica era necessério toda uma convergéncia intelectual para tal fim, além de estar ligado & propria elite politico-intelectual, contribuindo para uma hegemonia politica, Embora, seja necessério frisar que essa hegemonia nfo representava uma concordancia eterna entre os grupos. No Império, a dicotomia entre Liberais e Conservadores apresentava-+ conflitiva, A questao 6 que quer onde chegassem, o ponto de partida para a fortee formagio das ideias era o mesmo. Latente esses poucos pontos hist6rico-politicos sobre as ideias federalistas no territério brasileiro, pois hé varios outros que poderiam ser destacados, é importante, entdo, ficar claro esses trés pontos: © 0 federalismo, ou 20 menos a ideia de descentralizacio territorial, néo era uma ideia nova, as revoltas ¢ até mesmo propostas do Império demonstram isso. Além disso, o federalismo ja era conhecido nos Estados Unidos, © Uma tentativa centralizadora ¢ unitarista do pafs representou geradora de grandes conflitos. 0 fato do Brasil ter sido primeiro um Estado unitario influenciou ‘muito na formagio do nosso federalismo. A presenga de uma elite politica constituida para esse fim ressalta o fato de varias decisdes no Brasil terem sido tomadas de “cima para baixo”. Embora em outras tradigdes nunca deixou de haver sempre essa condescendéneia do grupo dominante, no contexto brasileiro ela se apresentou num grau mais forte e pereeptivel Portanto, conclui-se, por hora, que o federalismo e seu conceito ja se encontrava latente e no projeto politico do pats. Inspirado pela tradigAo norte-americana, ‘monarquistas e republicanos enxergavam nao uma destruiggo da unidade nacional, mas, ao exemplo americano, um fator que uniria a nag&o, portadora de grandes diferengas. Ainda se destaca o carater liberal, que tanto conservadores quanto liberais enxergavam e defendiam, a despeito de suas vis6es por muitas vezes construtivistas e elitista da sociedade, como uma forma de limitagao do poder central, seja do monarca, seja do presidente da Repiblica. [1] FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 3. Ed. Sio Paulo: Globo. 2003. ?.334. Disponivel em: http: / /www.usp.br/ cje/anexos/pierre/FAORORaymundoOsDonosdoPoder pdf, facesso em 10 de nov 2015, (2] RIKER, Willian. Handbook of Political Science. Massachusetts, Addison Wesley Publishing Company, v.6, 1975, p. 19. [3] GARSCHAGEN, Bruno. Pare de Acreditar no Governo. 1. Ed. Rio de Janeiro: Record, 2015. Versio Kindle, posigo: 1336-1346; Bibliogra’ ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociolégico. Trad. De Sérgio Bath, 5, Bd. Sio Paulo: Martins Fontes, 1996; BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitueional. 20. Ed. Atual. Sio Paulo: Saraiva, 1999; FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 3. Ed. Sio Paulo: Globo. 2001. Disponivel em: http://www.usp.br/cje/anexos/pierre/EAORORaymundoOsDonosdoPoder. acesso em 10 de nov 2015, FERREIRA FILHO, Manoel Goncalves. Curso de direito constitucional. 38. Ed. rev. E atual. Sdo Paulo: Saraiva, 2012 GARSCHAGEN, Bruno. Pare de Acreditar no Governo. 1. Ed. Rio de Janeiro: Record. 2015. Versao Kindle HAMILTON, Alexander; JAY, John; MADISON, James. O federalista. Trad. De Hiltomar Martins Oliveira. Belo Horizonte: Ed. Lider, 2003; Hayek, Friedrich August von, Fundamentos da Liberdade. Tradugio de Anna Maria Capovilla ¢ José Italo Stelle. Brasilia: Ed. Universidade de Brasilia, Sa0 Paulo: Vi io. 1899 HAYEI riedrich August von, Direito, legislagdo ¢ liberdade: uma nova formulacdo dos prineipios liberais de justica e economia politica. V.1. io Paulo: Visio. 1985. MAKSOUD, Henry. Os poderes do governo. Sio Paulo: Visio, 198. MAKSOUD, Henry. Proposta de constituigio. Sao Paulo: Visio, 1988; RIKER, Willian. Handbook of Political Science. Massachusetts, Addi Wesley Publishing Company, v.5, 1975. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. Fd. Rev. E alual. So Paulo: Malheiros. 2005; Disponivel em: htp/uspeleliberdadejusbrasi combr/antigs/268742827/0-federalsmo-e-c-impero

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