Você está na página 1de 19
HELOISA BUARQUE DE ALMEIDA. ROSELY GOMES COSTA - MARTHA CELIA RAMIREZ ERICA RENATA DE SOUZA (Organizadoras) ——— GENERO EM MATIZES Coordenagio: Maysés Centro de Doctimentacio e Apoio i Pesquisa em Coordenaio: Marcos Cezar de Freitas da Educagio- CDAPH ‘Ana Waleska Mendonga Livia Lippi Oliveira Carlos Roberto Jamil Cury Luciano Mendes de Faria Filho pe Serpa Maria Chagas de Carvalho io Fernandes Correspondéncias para: "Nicleo de Distibuiehoe Divulgaeo - EDUSF 4 Universidade Sao Francisco - EDUSE ‘A Aracy Lopes da Silva, 48 Daniel Schroeter Simido ORTIZ, Renato. A procura de uma sociologia da pritica. In: ORTIZ, R. (Org), Pierre Bourdieu: Sociologia. Sio Paulo: Atica, 1994, p. 7-29. PAOLI, Maria questo do ga 191 PISCITELLI, Adriana. Tensdes: fern Perspectivas contempordneas de género. Cam PONTES, A. Do paleo aos b (Mestrado em Antropologia Social) ~ In Humanas, Unicamp, Campinas. PONTES, Heloisa A. Durkheim: uma simbélicos da vida social e dos fundamen Cadernos de Campo, Sao Paulo, n.3, p. 8 RODRIGUEZ, AS ciéncias sociais, os movimentos sociais ¢ a Novos Estudos, Sao Paulo: CEBRAP, n. 31 mos intemacionais€ 1s, 1997. Mimeografado. jidores. 1986. Dissertagio to de Filosofia e Ciéncias ise dos funda sociais do simbolismo. SCOTT, Joan. Género: uma categoria ise histbrica Educagio e realidade, Porto Alegre, n. 16, nov.idez. 1990. usos do género verso das organizagbes 1999. Dissertagao (Mestrado em Antropologia So Humanas, Unieamp, Campinas, de Filosofia e Cigncias STOLCKE, Verena. Sexo esté para género assim como raga para einicidade? Estudos Afro-Asic STRATHERN, Mary i. Problems with women society in Melanesia, Berkeley: University of California Press, 1988. TELLES, Vera da Silva. Sociedade is ‘Sao Paulo, 1995 YUDELMAN, Sally. The integration of women into development projects: observations on the NGO experience in general and in Latin America in particular. World Development, Londres, v. . p. 179-187, 1987. ireitos e espagos piblicos. Mulher em Campo 49 MULHER EM CAMPO: REFLEXO) EXPERIENCIA ETNOGRAI isa Buarque de Almeida Em Junho de 1996, sai de So Paulo para fazer um trabalho de campo em Montes Claros, cidade de aproximadamente 250 mil objetivo de fazer uma etnografia de recepgao da no toda sua exibigao, do A partir da experiéncia de trabalho de campo nessa cidade, busco compreender como se dé a leitura ¢ a interpretagio da novela, para discutir 0 que a televisio significa no contexto de sua recepgao, de pessoas variadas. © foco deste artigo nao é, no ise de recepgdo da novela, mas sim 0 proceso de ico, com atengio & questio do sénero. Muitos estudos se fazem sobre midia e recepe%o que aos campos da comunicagao ou dos estudos culturais denominam etnografia aquilo que na antropologia chamamos de entrevistas em profi longo proceso de observagao participante num universo ou -omunidade”. Foi essa longa insergio ~ sete meses em campo ~ que me permitiu vari televisio com diversos aspectos daqui esse mesmo processo que me levou a reflexdes mais profundas sobre questdes de género, motivadas inclusive pela renitente sensagao de desigualdade entre homens e mulheres, e por uma aproximagao maior € identificago com outras mulheres durante o trabalho de campo. Mulher é uma gente muito infeliz Marcela sentowse na cama e mostrou a Biblia aberta: estava rezando. Perguntei se estava tudo bem, e ela, Comecou a falar que nestes ti i 10. mesmo e perguniou se eu acreditava no 50 Heloisa Buarque de Almeida poder da oracdo. Por que ela rezava tanto? Porque pre se livrar de muitos pec rezava para proteger os filhos, sempre pedindo a Deus que eles niio se envolvessem com drogas, como seu marido. Orava 1a busca de respostas, e para ter mais paciéncia e paz. Sua sensacdo ruim era talvez 0 que eu chamaria de angistia, mas ela ndo usou este termo. Ficamos conversando, e ela foi aos poucos revelando alguns fatos sobre as quais sempre parecia querer conversar, mas nunca tinha falado diretamente antes. Falou que era muito infeliz no casamento, que se casou aos dezesseis anos, grévid thos (muitas das mulheres que conheci ali se casaram grévidas). Disse que estava cansada do marido, que as vezes achava que ndo gostava mais dele. Quando ela falava em se separar, ele ficava apaixonado, a procurava, corria atrds dela. Owras vezes, ela achava que gostava dele e entdo ele a tratava mal. Ele bebia, usava cocaina. Pergunte' infeliz, por que ndo se separava. Que ni nao tinha um trabatho, que ner A conversa era entrecortada por grandes e desconfortéveis silencios. Uma tristeza profunda. Percebi que se eu falasse a respeito de separagdo ela reagia no sentido oposto, entdo eu falava que ela devia ficar com ele e tentar melhorar a relagdo, mas dai respondia que finha jeito. Qualquer coisa que eu falasse, a levava a reagir na direcdo oposta. Achei melhor ouvir. Eu owia, pela via da fofoca, que ela ¢ 0 marido tinham uma relacdo violenta, Falavam que ele as vezes batia nela e ela “descomtava” nos fihos — era isso 0 que se comentava, Parecia estar num redemoinho de relacdes caver = mas, pela fofoca, eu ouvia uma historia violenta. Nao sei 0 que era verdadeiro, o que era jem conta um conto, aumenta um ponto), mas no is relatos eram verossimeis exagero contexto, Muther em Campo 31 Ela falou que ndo era 0 caso de se separar, porque se culpada por no dar c ‘mae, por ndo ser boa dona de por ndo ter um trabalho... e foi se definindo pela falta, pela auséncia, Disse que néo sabia o que fazer com 0 filho mais vetho e se preocupava com ele — menino “quieto ". Voltow a falar na culpa que sentia por seus pecados. ‘para a menstruagdo descer’” em algumas ocasides. Perguntei ‘como evitava a gravider agora ¢ ela disse que ndo evitava. ue era comum isso, que ndo devia se se inham feito algum abort. fo, teve uma hemorragia 6 um jeito de fazer. sem que 0 marido soubesse. Queria compensar, para ficar “quites” com Deus, vai ‘um filho ~ mas nao agora, quando tiver 30 anos. Diz ater paciéncia, ter mais paciéncia com tudo, com 0 que pret com os casos amorosos que ele teve durante esses anos todos. Duro era ficar ali, com ela, tentando mostrar que deveria haver alguma solugdo. Seu olhar no vazio, sua sensazao de vida perdida, seu ar de alguém que néio sabe o que fazer com tanta angtistia — ¢ eu ndo sabia mais 0 que dizer. 10 — volta e meia eu me via ouvindo confidéncias das mulheres, conversas ‘compridas, as vezes cheias de siléncios, como a de Marcela ~ mas ndo tdo angustiadas. Depois, voltava para minha ‘tenda”, meu quarto de pensdo, ¢ eu me sentia angustiada. Para esquecer, ia até o telefone piiblico ¢ ligava para a minha casa, em Sao Paulo. Para matar as saudades e lembrar que 32 Heloisa Buarque de Almeida eu finha uma outra vida, longe dali e que, ao final da pesquisa de campo, ia volar para casa, de Marcela acima nao era a mais nao ser 0 trabalho eventual de ajudar 0 marido as outras mulheres de camadas médias e populares de Montes ‘com quem convivi trabalhavam ~ mesmo que a fonte de rendimentos fosse um trabalho dentro de casa, como costura, ou fazer salgados e bolos para festas. Ainda assim, seu exemplo pode ser um pouco mais extremo (embora nao raro) pela questio da violéncia, mas a sensago Muitas mulheres de classe média, e com menor freqléncia al mais jovens de camadas populares, sempre remeti . Em varios ensaios de coletanea que de antropélogas em campo, organizada por videncia-se, por exemplo, como & complicado de pais comportam vezes & possivel romper com o comportamento ‘opera, dado que se trata de uma mulher que & de fora.’ Pretendo destacar aqu inicio, para ser bem accita em certos grupos, € preci adequar-se ao comportamento esperado por uma mulher de fa ento meu acesso ao espago dom: , na hora ne num momento de também a chamada onda pés-moderna na acerca do trabalho de campo. O livro de Paul Fieldwork in Moroet pologia e sua reflexio 1, Refl (1977), é a fonte central deste questi Mulher em Campo 53 neste artigo. Rabinow prope que se compreenda melhor o lugar do pélogo como um lugar liminar, que busca fazer a ponte entre as uras, construido por uma relagao intersubjetiva e pess eram um tanto nna medida em que ja que sofriam um processo de elaboragao obj que viviam, por vezes, de modo quase marginal. O processo comunicativo do trabalho de campo cria um sistema de significados compartilhados et ygrafo, um mundo liminar ¢ & parte de ambas as Proponho aqui que talvez esse espago liminar permita & pesquisadora romper as aparentes fronteiras do fazendo passagens entre universos considerados masculinos local permite que parte das restrigdes impostas & ria das mulheres seja rompida - conclusio semelhantes a de ‘mesmo tempo, de ser bem aceito e manter relagdes com pessoas que so consideradas respeitaveis no grupo social estudado, Sao estas 4questées inspiradas nos trabalhos de Rabinow, Landes e Golde, entre ‘outros, e na minha experiéneia de campo que Género é pensado aqui no como conseqilén 4 Heloisa Buarque de Almeida hist6rico e cultural —tudo é rel de género reelaboradas nas . So estas reelaboragdes que permitem & antropsloga ir além das restrigdes normalmente impostas 4s mulheres na sociedade estudada, struido, sendo as atribuigdes produsdo cultural (como a televisio e as num dado contexto nao ha representagao drias correntes nesta construgao do gf 1a (ou algumas) constitua parte do discurso hegeméni ruses de género da televisio interagem com as construgdes is €, nesse processo, 0s comportamentos sociais masculinos ¢ também se modificam. ‘gerando um receio inicial de me expressar abertamente. Esta reflexo inclui aspectos subjetivos do trabalho de campo que podem ser reveladores das construgdes de género. Embora eu . as distingdes entre homens & que tem, no minimo, wrés iso e seus prog dde uma “antropéloga paulista” (como muitas vezes , ides. possiveis. Mas espero também demonstrar como ha uma heterogeneidade e uma mudanga de valores em processo. Mulher em Campo 35 AEXPERIENCIA DO TRABALHO DE CAMPO, 5 Claros num préximo a0 centro da cidade que facilitava a minha locomogo por varios bairros ¢ servia de referéncia para ir aos poucos conhecendo mais pessoas na cidade. O meu quarto, logo na entrada da casa, separado do resto, parecia uma metifora da minha sensagao inicial de s inevitavel perceber 0 quanto a oportunidade de fazer uma no sentido tradicional de viagem a meu cotidiano em Sao Paulo, onde campo ~ gerava uma situaeao de fragilidade emocional. Ao mesmo tempo, configurava-se como a idéia do nar. Nesse proceso, nao hex no fosse tio distant, ¢ a televisio intermediando, gerando rmecenedo algumas referéncias comuns. egui contatar algumas familias que nao s6 costumavam assistir & novela das oito — objeto de reflexdo da etnografia ~ como aceitaram a minha presenga em momentos strui uma rede de pessoas ¢ fa € pessoal. Primeiro, conversgndo no pensfonato onde morava. Al oportunidade de assistir a televistio com as jovens do pensi ato e a cempregada doméstica que morava na casa, uma adolescente vinda da zona rural do norte mineiro. rupo de pessoas com quem as © outro grupo que muitas vezes clos nessas apresentacdes tornaram-se também parte do meu de campo de forma menos direta (muitas destes sequer uns deles eram professores ou da Universidade Estadual de alunos do curso de Ciéncias 56 Heloisa Buarque de Almeida Montes Claros que me procuraram, ¢ event fe me ajudaram a fazer uma rede de conhecidos. Outros eram vizinhos que no se interessavam pela pesquisa em si, mas pela minha pessoa, ou pela proprio tomar-se objeto de estudo. oga de Sao Paulo, associada a nomes carregados de lade e autoridade (como USP, onde fiz 1a pessoa conhecida 05 professores da Iguns amigos e parentes do cidado mais famoso s Claros, Darcy Ribeiro, por outro, na vizinhanga ¢ no circuito das familias que se tormavam meus poucos que me tomei conhecida. Ainda qui sentia-me as vezes um tanto observada. Em termos de técnica de pesquisa, para refletir sobre o papel nao fosse uma aldeia, interagia com a TV. itando regularmente algumas fa 4 novela com eles, ¢ conforme a conversa comecava, eu apenas incentivava que as pessoas dessem sua opinido e refletissem sobre os conteiidos e programas. Parecia uma simples visita (eu no levava gravador nem fazia anotagdes ali) mas todos sabiam que néo era. Alguns estranharam que eu nio fizesse perguntas diretas, entio labore’ algumas perguntas para poder ser encaixada na categoria de pesquisadora , depois de quatro meses em campo, comecei a fazer entrevistas em profundidade com 0 gravador — j equipada do material de varias conversas, € muitas vezes, relembrando na entrevista 0 ico. A figura feminina outro lado, ao sair da casa das pessoas noite, gerava alguns Mulher em Campo 37 pei protegao ~ estav: vulneraveis e possiveis vitimas. Nesse sen ser mulher, comportar-me adequadamente ~ nao e: 1a mulher casada, mas que . 0 que parecia ser adequado para a familias de diferentes estratos soca eestilos com as quais eu conservadores, ou ea outrat 0s pais eram da minha idade Ficou evidente que o fato de ser mulher e simpatica facititava essas entradas, mas tal comportamento também fazia parte do processo de conquistar os informantes — usar a simpati de parentesco ¢ amizade através das quais fui contatando essas pessoas. O fato de ser apresentada por um amigo ou parente era um ponto fundamental e o que mais fa as residéncias no periodo noturno. Alguns acasos no planejados per imagem de boa moga, de fn intimidade no espago. dor acompanhada de uma das’ c im a criaglo de uma tube como negar 0 pedido, mas i. que ao levi-la comigo poderia atrapalhar a pesquisa. Logo percebi que andar acompanhada de uma crianga me tormava mais respeitdivel do que a figura de uma mulher sozinha, e abria portas. As 58 Heloisa Buarque de Almeida isso na Bahia dos anos trinta, O fato de eu ser casada mas no ter dar com as criangas denotaria ide, a0 cuidado com elas, a uma postura de seriedade e de responsabilidade.” Havia uma aparente facilidade de abordar certos temas em campo se 0 tema era considerado feminino ou doméstico. A televisto ino no possam pesquisar o tema, apenas que meu interesse pelo tema era considerado normal e menos questionado.) tas. Nesse contexto, aparecer na 10s € levar mais uma crianga, para que brincassem juntas, completava a sensagao de apenas uma criando um ambiente agradavel e menos “artific para escrever as observagdes posteriormente, também pareceu acertada para permitir que as pessoas se acostumassem com a minha presenga, E preciso esclarecer aqui que uma mulher sozinha vinda de Sao Paulo eta ao mesmo tempo, também, perturbadora. Na medida em que os valores dominantes. q chocavam com 2 imagem da situagio del ‘numa familia na qual consegui certa intimidade com a mae ea raramente conversava comigo, dando a entender que nao gostava muito de minha presenga. Houve outros casos, como um homem que me conheceu no bar, num contexto em que mens além de mim, rei wo deveria ser uma iam 4 vontade para dizer 0 que pensavam © as vezes precisavam explicar que ali era diferente de Sa0 Paulo, principalmente na hora de expressar opinises, por exemplo, a favor da virgindade para mogas até o casamento. Para entender esse eventual desconforto com a minha presenga, & preciso explorar algumas construgdes de género no “mulher de fam Mulher em Campo 59 explicam a s opinides acerca de mens e mulheres. mas como sexualidade e Montes Claros € outra realidade (Laura) Isso que eu te falei, Montes Claros ainda é muito ruosa. E isso que eu quero te dizer. E a realidade da lade grande, mostra uma realidade, que para 0 indade, eu estou falando com os adolescentes: isso falam os meninos: “tenho que paquerar todas. ‘Mas casar, vou casar com uma menina que & virgem, niio vou casar com uma que jé foi.” Voce acredita? (..) Eu ougo isso dos meni regio, criticando-o, e tentava mostrar 0 quanto gostaria de mudar essa destacava que educava suas filhas de modo diverso a forma qui sido educada em sua familia de origem. Ela OU-se a0S 18 ia querer promover outra opgi0 is, para que elas pudessem ser mais maduras ao se casar, do casamento, No entanto, sentia-se como excegao se comparada maioria das mies de adolescentes e percebia que essa idéia nao era bem aceita na cidade. mentos de se assistir as novelas. Por exemplo, Graga, manicure, casada, mae de quatro filhos, era contida enquanto ‘no impor 0 meu estilo de conversar a pessoas que muitas vezes 60 Heloisa Buarque de Almeida nversam de outras formas: pelos gestos, olhares, sorrisos e até léncios (como mencionei na conversa com Marcela), mas também ido casos aparentemente distantes ou widou para tomar uma cerveja no bar ao lado de sua casa. Como seu marido nfo costumava beber ~ situago bastante atipica se comparada com os outros casais — era no bar que tinhamos conversas mais intimas e “de mulher” Embora muitas vezes os bares, & noite, sejam lugares masculinos, com Graga era um espago de conversa feminina, principalmente pela chance de estar longe dos filhios € do marido, Mas isto se dava sempre num horario em que o bar era ainda familiar ~ mais tarde da noite, ele poderia tomar-se um ambiente exclusivamente masculino, No bar 20 lado de sua casa, Graca (e as vezes alguma de suas amigas) falava do machismo local, das dificuldades no casamento ou na educagio dos filhos, € fazia perguntas muito diretas sobre meu casamento, como meu marido fosse para Montes Claros ete. Essa observa corrente. As pessoas sempre se espantavam quando eu dizia ter um companheiro. Afirmavam que meu marido devia ser muito bom por permitir que eu viajasse a trabalho © que isso s6 podia mesmo acontecer porque eu no tinha Ihos © porque vinha de Sao Paulo — onde tudo é mais moderno, casada e nao tivesse filhos, @ no ser qu assim que por ter um marido que me deixava Por nao ter filhos, por ter coragem de encarar tal trabalho, e por vir de 0 Paulo, eu era categorizada como uma mulher atipica para o contexto. conhecido se comparada as mulheres iagem que algumas pessoas expressavam, Entretanto, cabe ressaltar que conheci muitas mulheres que também nao se encaixavam no modelo tradicional, am 0 estatuto de pessoas diferentes, excegdes & regra, alvo de fofocas e piadas. Era preciso que tivessem alguma Mulher em Campo 61 qualidade que as destacasse para nao ficarem simplesmente mal “marginais” na sociedade so muitas vezes ideai sobre a sociedade em que vive, suas regras sociais, seus padrées, exatamente porque muitas vezes os questionam. Também algumas dessas mulheres, a0 lado de outros grupos fora do padiio hegeménico adolescente rebeldes — formavam grupos especi mesmo u Quase todas as mulheres e varios homens falavam do machismo reinante, ¢ elas ainda lamentavam-se da infidelidade e dos imes ~ dois tragos associ com mais de 40 anos, os como algo negativo por oposigdo entre um aqui tradicional (termo que eles usavam) © um li ‘moderno (Sao Paulo de onde eu vinha, ou a cidade grande da novela) era pardimetro para se discutit questdes de gén novela, e o papel social da tel vivido em Sio Paulo. Por outro a © meu objeto de estudo ja em comparagdo com a televisio € certamente algumas dessas reflexdes foram sendo feitas medida que eu estimulava meus informantes a pensar nesses problemas. A referéncia costumava ser como a familia é mostrada nas cenas de O Rei do Gado, ¢ como em Montes Claros era diverso. Se 0 protagonista da narrativa aceitava a traigao de sua mulher, na vida real, € 0

Você também pode gostar