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EFEITOS SUBSTANTIVOS DO REGISTO PREDIAL pectiva, 0 legislador deveria ter deixado ao livre arbitrio é autor da acco a pos- sibilidade de obter, ou nao, tal reserva de prioridade. 59.2.2. Tomada de posigao sobre a questo de saber sco registo da accao de execugio especifica assegura 0 promissirio peranteterceiros que hajam adquirido, antes da propositura da acgao, do promitente, direitos incompa- tiveis que nio tenham sido publicitados Considerando todo o afirmado, perguntamos: deve ou naaser julgada procedente uma acgio de execugio especifica, devidamente registad,, se em data anterior 0 promitente ja tiver alienado ou onerado a coisa a outrem, nao tendo tal facto ace- dido ao Registo, ¢ nao havendo, consequentemente, 0 respectivo direito conso- lidado a sua oponibilidade erga omnes, em face de terceiros para efeitos do art, 5° do Céd.Reg.Pred.? Como é evidente, tendo em conta que o autor da acgio de execugio especifica registada nao ¢ um tereeiro para efeitns do referido preceito legal, s6 se pode responder afirmativamente se se reconhecer que tal registo pro- visdrio da acgao produz contra os adquirentes anteriores cmesmo efeito que gera contra aqueles que adquiram apés 0 registo da acga0. O mesmo ¢ dizer, se se reco- nhecer que, nao obstante existir um adquirente ante litem que nao obteve o registo do seu facto aquisitive com prioridade, o registo da acco assegurara que a exe- cugio especifica vird a ser decretada, porque gera a ineficacia substantiva relativa ¢ provisdria do titulo aquisitivo do direito nao registade, evitando, assim, que se frustre ou prejudique a pretensao do autor €, consequentemente, garantindo que a sentenga julgara procedente a acgao € que, portento, o autor adquira o direito pretendido. Direito este que, logo que aceda ao registo ~ através do registo da sentenga que julgue procedente a acgao ~, beneficiars da prioridade registal do registo da acgio, conduzindo, consequentemente, 4 ineficacia definitiva, na medida do necessrio, dos direitos adquiridos antes do registo da acg4o, mas nao registados com prioridade. Cumpre, portanto, tomar posigao sobre a questao de saber se 0 autor da acgio de execucio especifica prioritariamente registada obtém apenas uma reserva de prioridade em sentido impréprio lato sensu perante actos incompativeis que yenham a ser celebrados no futuro ou, também, perante actos incompativeis ocor- ridos antes do registo da acco, mas nao registados. Para melhor compreensao da questao em aprego ~ que foi aquela até agora discutida pela doutrina ¢ pela jurisprudéncia ~, passamos a apresentar dois exemple on ‘AL PORTUGUES NA VIGENCIA DO ACTUAL CODIGO CIVIL, _ A) A, titular inscrito do imével x, vendeu-o a B, pela forma legal; B nao soli- citouo registo da sua aquisigao.¢,A, aproveitando-se da negligéneia de B, prometeu vender o mesmo imbvela C. Porque A, ja constituido em: mora, no cumpriu a promessa, C ~ depois de o interpelar nos termos do n? 1do art. 808" do Codigo Civil ~ propos accio de execugao especifica que foi registada, B) Através de contrato-promessa com eficicia meramente obrigacional, A prometeu vender a B ¢ este prometeu comprar-lhe o prédio urbano x, tendo sido convencionado o prazo de seis meses para a celebragao do con- trato prometido. De seguida, A alienou o prédio x, pela forma legal, a C que nao obteve o registo do respective facto aquisitivo. Decorride o prazo fixado para celebragao do contrat prometide, perante a recusa em cele- bré-lo, B propés contra A acgio de execugio especifica, tendo sido a mesma inscrita no Registo. Em qualquer dos exemplos, perante a lei, nao hé diividas de que B, apés 0 registo provisério da acgio de execugio especifica, apenas conseguira obter um. assento provisério por natureza do respectivo facto aquisitivo. Mas, tal impedi- ‘Jo-ade intervir na acgio, provar que ¢ titular de um direito real incompativel e, assim, obstar & sua procedéncia? O registo provisério da acgio tera a virtualidade de gerar a ineficacia substan- tiva proviséria dos titulos aquisitivos dos direitos req is adquiridos anteriormente ¢ nao publicitados, assegurando, por isso, que a sentenga venha a julgar proce- dente a acgio? Consideramos que a reserva de prioridade gerada pelo registo da accio de execugio especifica nao assume tal amplitude. Mas, vejamos com mais pormenor, os exemplos apresentados, Na primeira hipotese, como © contrato-promessa, dotado de eficacia mera- mente obrigacional, foi celebrado apés a alienagio de bem a tercciro (B), 0 pro- missirio (C), naturalmente, nunca adquiriu sequer o direito de crédito a presta- in naturanem, consequentemente, 0 direito a execugao especifica - que como ge sabe é um direito destinado a tornar mais consistente uma prestagio creditor possibilitando a sua satisfacio in natura sem a coopera¢io do devedor ou mesmo contra a sua vontade e, portanto, um direito dependente ou subordinado, que assume apenas uma funcio auxiliar. Na segunda hipétese, ao invés, 0 promissario (B) adquiriu o dircito de erédito A prestagao innatura, mas este, antes do registo da acgio, extinguiu-se (quanto a prestagao in natura), porque o terceiro (C) adquiriu um direito real, direito este 675 EFEITOS SUBSTANTIVOS DO REGISTOPREDIAL que, sendo eficaz erga omnes, prevalece perante um direito de crédito mesmo que anteriormente constituido. Assim sendo, na nossa perspectiva, nao faz sentido reconhecer ao registo da acgao de execugio especifica o efeito de tutelar a pretensio creditoria A aqui sigo do direito real, pela simples razio de que o autor da acgéo nunca foi titu- lar do direito de crédito 4 presiagao in natura ou ja nao era titular de tal direito & data do registo da acgio, nao tendo, consequentemente, em qualquer hipdtese, o direito a execugio especifica que invocou judicialmente'*, Nao podendo, por isso, o autor da accao, através do registo desta, privar de eficicia o titulo aquisitivo do direito real, anteriormente valida e eficazmente adquirido. Por outra via, segundo o nosso entendimento, a reserva de prioridade (em sentido impréprio lato sensu) gerada pelo registo da acgao de execugao especifi enquanto meio de garantia, ¢ necessariamente acesséria, dependendo, portanto, da existéncia ¢ exigibilidade da pretensio obrigacional de produco de uma mutagio juridico-real que garante, estando inseparavelmente unida a tal preten- sio, nio podendo ter uma existéncia separada dela, uma vez que & nela que encontra o seu fundamento. Por isso, é imprescindivel que tenha existido e sub- sista o direito 4 prestagao in naiura eo direito A execugao especifica no momento do registo da acgdo para que este possa assumir o papel de reserva de prioridade imprépria lato sensu. Portanto € emsuma ~respondendo a questo que até agora foi a discutida pela doutrina e pela jurisprudéncia -, entendemos que caso, em data anterior ao registo provisério da acgio de execugio especifica, 0 promitente disponente tenha alic- nado ou onerado a “terceiro” o objecto de contrato prometido, ¢ tal facto no tenha sido publicitado ~ ¢, por isso, nao se haja consolidado a oponibilidade erga omnes do direito em face de terceiros em sentido rigoroso ~, a acgao de execugiio especifica, devidamente registada, nao pode ser julgada procedente, uma vez que, por um lado, como sublinhamos, inexiste um conflito de terceiros para efeitos do art. 5° do Céd.Reg,Pred. e, por outro, o registo da acgao nao consubstancia, nesta situagio, uma reserva de prioridade em sentido impréprio lato sensu, uma vez que tal reserva é necessariamente acessoria, dependendo da existéncia e exigibilidade da pretensio obrigacional de produgao de uma mutagéo juridico-real. 4812 Mora Pinto, Cessdv da Posigdo Contiatual, cb. cit, p.240 € ss., classifica o direitoa execugho ¢4pe= cifica como um direite potestativo dependente, um direito sem um valor préprio, que assume apenas ‘uma fungio auxiliar relativamente ao fim do contrato, que nao pode ser transmitido isoladamente @ se transfere juntamente com a cessio do crédito. 676 os NAVIGENCIA DO ACTUAL CODIGO CIVIL MA REGISTAL PORTUGUI Sem prescindir do acabado de afirmar ~ que consideramos bastante para fun- damentar a resposta a questio apresentada ~, sempre se acrescentara que: ~ Reconhecer ao registo da acco 0 efeito de tutelar a pretensio creditéria & Aaquisigao do direito real, em hipéteses como as apresentadas, implicaria admitir que o registo provisério da acco concedesse ao autor, ou fizesse renascer na sua esfera juridica, o direito de crédito a prestagao innatura a faculdade ouo direito Aexecugio especifica™. = Seo legislador tivesse pretendido a extingio ou oneragio do direito an- terior nao registado teria previsto o registo definitivo do direito de crédito e/ou do direito de execugio especifica - tal como previu o registo definitive do con- trato-promessa dotado de “eficacia real” para permitir que o direito de crédito do promissario pudesse tornar-se oponivel erga omnes'*'4 — e, assim, teria per- 188 Em face do exposto, como ¢ evidente, no concordamos com MARIA CLARA SorroMayor quando afirma: “Nao faz sentido admitir que o registo da sentenga que decreta a execugio especifica tenha efeitos retroactivos & data do registo da aego, quando se trata de alienagées realizadas durante apendéncia da acgto, e nao admitir 0 mesmo quando as alienagdes so anteriores mas registadas emmomento posterior ao registo da acco. O que esti em causa nao é sancionar a posigio do terceito que nio regista, cuja atitude é de facto maiscensucivel quando adquiriu na pendéncia da acgo, mas os efeitos do tegisto predial no nosso sistema. O registo das acgdes tem, nao apenas ums fungio desegurangs ‘ou de tutela, mastambém de oponibilidade (art, 5* do GRPred.) ¢ de critério de prioridade (art. 6° do CRPred.) quando haja um conflito de direitos.” (Cfr. MARIA CLARA Sortomavor, invalidade ¢ Registo ~ A Protec do Terceiro Adguirentede Boa Fé, ob. cit.,p-514). 8 Como ja anteriormente referimos, concordamos, completamente, com HENRIQUE MESQUITA ‘quando defende que “para explicar a eficacia, em relagio a terceiras, de uma promessa de alienagio ou oneragio assumida nos termos do art. 413°, nio se torna necessario recorrerao conceito do direito real de aquisigao, nem, t2o pouco, fazer retroagir os efeitos do contrato prometido & data da inscrigao da promessa no registo. Por efeito da promessa, o respectivo beneficiério ¢ apenas titular de um direito de natureza credi- t6ria: 0 direito de exigir do promiente acelebraggio do contrato definitive, padendo conseguir esse resultado através da execugao especifica, nos termos do art. 830°. Encontrando-se, porém, tal direito inscrito no registo, toma-se, por essa via, oponivel a terceiros. © registo nao modifica a naturez do direito inscrito: apenas Ihe amplia os efeitos. Em ver de um direito que esgota toda a sua eficicia no plano das relagoes entre credor ¢ devedor (como ¢ proprio dos direitos creditérios), estamos perante um direito que, mesmo sem revestir natureza real, se Impde ao respeito de terceiros). (.) Se, por conseguinte, alguém adquirir do promitente 0 dir real que este se obrigou a transnitir a0 promissério (ou a constituir em favor deste), tal aquisigdo ‘ilo produz efeitos em relagio aobeneficiério da promessa () Sendo a promessa, apés a sua inscrigo no registo, opontvela tereeros, qualquer acto de alienagao pra- tieado pelo promitente que o impossibilite de cumprira obrigagdo assumida (a obrigagao de realizar 67 EFEITOS SUBSTANTIVOS DO REGISTO PREDAL mitido que tais direitos, em virtude do registo definitiva, fossem adquiridos ou readquiridos pelo promissério, beneficiando este da tutela do art. 5° do Cod, Reg, Pred." Consequentemente, reconhecer ao registo da acgao o efeito de tutelar a pre= tensao creditoria i aquisigao do direito real, em hipéteses como as apresentadas, implica, além do mais, esquecer a opgio do legislador e equiparar oautor da acgio que obtém o registo da mesma, mas que nao é titular do direito 4 prestagio in natura nem, consequentemente, do direita a execugio especifica, a0 promissario o contrato definitivo) é ineficaz em relagio ao promissario e, por isso, este poder’ fazer valer 0 seu direito ~ direito de crédito, insista-se ~, pela via da execugio especifica, como se nenhuma alienagio houvesse sido realizada. A ineficéeia tem precisamente como consequéncia que tudo devers pay sar-se, nas relagdes entre promissério e promitente, como se o objecta do contrato prometido con- tinuasse a pertenceraeste, O promitente nio pode, portanto, afastar a execugio especifica com 0 fundamento de que esta impossibilitado de cumprir, por teralienado a favor de terceiro a coisa que se obrigou a transmitir ao promissirio, E o tereeiro, por seu turno, também niio pode alegar que a stia aquisigio foi feita ¢ inscrita no registo em data anterior i da celebragio, pela via da exe= cugio especitica, do contrato prometido, uma vez que essa acuisigio € ineficaz em relagdo a0 pto- missirio. (-) A aquisigio feita pelo terceiro nao deve, por conseguinte, ser considerada nula, mas apenas ineficaz, (O negécio que viola a promessa niio enferms de qualquer vicio intrinseco nos seus elementos essen ciais. Sucede apenas que, muito embora validamente celebrado, ele no pode produzir efeitos contra © promissirio, em virtude de este ter adquirido, em momento anterior, um direita conflituante que, apesar de revestir natureza meramente crecitéria, é eficaz. em relagio a terceiros, De acordo com este entendimento, se 0 contrato-promessa vier a ser declarado nulo anulado ot resolvido, ou se o crédito do promissirio se extinguir por causa diferente do cumprimento (¥., por remissio), nenhumarazio existe para que onegéciofeito entre o promitente e o terceiro, até entlo relativamente ineficaz, nao produza todos os seus efeitos.” (Cf. MANUEL HENRIQUE MesQurtA, Obri= gages Reais ¢ Onus Reais, ob. cit., p. 252 a 256). "5 Como ¢ evidente, ¢ resulta do exposto, a hipdtese em apreco destingue-se, claramente, da que deu azo As concepgoes de terceiros (ampla ¢ restrita) a que anteriormente fizemos referencia. De facto, com referimos, o credor exequente com a penhora e respeetivo registo definitive adquire sum dircito real de garartia, Por isso, caso tivesse sido consagrada s concepgao ampla de terceiros, 0 tri+ bunal, ao indeferir os embargos deduzidos pelo titular do dircito nado publicitado, limitar-se-ia 4 reconhecer que 0 exequente, enquanto titular de um direito real degarantia prioritariamente regis tado, beneficiava da tutela do art. 5° do Céd.Reg,Pred.. Ao invés, na hipétese agora em anilise, porque o legislador nao previn o registo definitivo do direlto de crédito e/ou do direito de execugao especifica, o autor que obtenha o registo provisdrio da acgilo de execugio especifica, nio beneficia da tutela do art, 5® do Cod.Reg Pred. Na verdade, como referimos, 0 autor da acco, com a respective registo provisério, apenas ve garan tida a sua pretensio creditéria de adquirir um diteitoreal, na medida em que os factos incompativels so havidos como ineficazes, Mas, o registo provisério s6 lhe concede tal garantia se, efectivamente, cexistir tal pretensio creditdria, pois ndo tem a virtualidade de a criar (a pretensie). 678 (O SISTEMA 2EG! 'S NA VIGENCIA DO ACTUAL CODIGO CIVIL ISTAL PORTUGU de um contrato-promessa dotado de “eficacia real”. E isto, acrescente-se, também contra a vontade das partes, que apenas pretenderam estabelecer uma relagio creditoria eficaz inter partes. ~ Nao procede o argumento nos termos do qual o legislador nao previu esta situagio e, sea tivesse previsto, teria consagrado solugao idéntica 4 adoptada em matéria de resolugao!". Primeiro porque, como se ver com detalhe,a funcio do registo da acgao de resolugao ~ que é um assento registal provisério de contetdo negativo ~ é com- pletamente diferente da assumida pelo registo da acgio de execugao especitfica ~ que é um assento registal provisério de contetido positivo. Segundo porque, apés a polémica doutrinal e jurisprudencial em torno do efeito ou da fungao do registo da acgio de execugio especifica, o legislador, se pretendesse consagrar solugao diversa da adoptada pelo acérdao uniformizador de jurisprudéncia, por certo, ja o teria feito, nomeadamente, através do Dec.-Lei 116/2008 que, como se sabe, alterou em miiltiplos aspectos os preceitos registais €0 Cédigo Civil. Portanto, nao se pode defender a e: légica do n®2 do art. 435°, téncia de uma lacuna e a aplicagao ana- — A solugio defendida, por um lado, nao viola o principio segundo o qual a duragio do processo nao pede prejudicar o direito do autor, uma vez que quem aceite a consagracio de tal principio no nosso ordenamento juridico também ha-de reconhecer que o mesmo ¢ inaplicavel quando em causa estejam aquisigdes anteriores a propositura da acgao. Por outro lado, s6 esta solugao garante que quem pretenda adquirir tem apenas de consultar o Registo Predial. De facto, a solugao contraria imporia ao potencial adquirente o énus de percorrer os tribunais, tentando apurar se estava pendente alguma acgio de execugio especifica susceptivel de dar azo a um registo provisério que pudesse aceder ao Registo antes do seu facto aqui- sitivo. Em conclusio ¢ em resumo, na nossa perspectiva, 0 tegisto da acgao de exe- cugdo especifica, enquanto reserva de prioridade em sentido impréprio lato sensu, tutela “apenas” o promissdrio adquirente perante actos tendentes a alienagio ou Wh De acordo com o n? 2 do art. 435°, “o registo da accao de resolugio que respeita a bens iméveis, ua méveis sujeitosa registo, torna o direito de resolucao oponivel a terceiro que nao tenha registado seu direito antes do registo da acco”. 679 BFEITOS SUBSTANTIVOS DO REGISTO PREDIAL de oneragao do objecto do contrato prometido praticados apés o registo da acgilo de execucao especifica, por ou contra o autor da acca’, Assim, sendo dado conhecimento ao tribunal da alienagao anterior niio regis tada, a acgao de execugio especifica ha-de ser julgada improcedente, uma ver que o tribunal s6 pode realizar, coactivamente, mediante sentenga, a prestaglo que 0 devedor nao cumpriu nao estando impossibilitado de cumprir, pois, caso contririo, celebrara coactivamente um contrato nulo, por ter por objecto um bem alheio. "7 Salvaguardada, claro est4, a hipétese de insolvéncia do promitente, referida na nota 1302, '88 Como resulta do exposto, nio aderimos & posigio assumida pela grande maioria da deutrina ita liana a propésito do efeito do registo da acco deexecugio especifica. Uma vez que, como referimos, areferida doutrina considera que o registo da accao de execugo especifica assegura, também, 0 promitente adquirente perante “terceiros” que hajam adquirido, do promitente alienante, direltos incompativeis antes da data da propositura da acgao, mas que ndo tenham obtido com prioridade oregisto dos correspondentes factcs aquisitivos. Recordamos, no entanto, que a referida doutrina foi elaborada, além do mais, com base no facto dea venda de coisa alheia ser vilida no ordenamento juridico italiano e numa altura em que no estava previsto o registo do contrato preliminare a jurisprudéncia maioritéria defendia que a acgo de execugio especifica podia ser proposta e registada nao obstante ainda nio ter ocorrido 0 incum= primento, mesmo que a obrigacio de celebrar o contrato definitivo fosse, nese momento, inexl> givel. Por fim, cumpre relembrar que, actualmente, em Itélia, a doutrina e a jurisprudéacia reeonhecem a0 registo do contrato-preliminar uma fungao idéntica a do registo da acco de execugio especifica, ‘uma vez.que, como referimos,o contrato preliminar (cfr. art. 2645-bis no Cédigo Civil) nde fiz parte do clenco de actos ~ previsto no art, 2643 do Cédigo Civil - que deve aceder ao Registo para con solidara sua oponibilidade em face de “terceirs”, segundo a regra prevista no art, 2644-do mesmo diploma legal. Por isso, a doutrina maioritéria afirma que, entre o contrato prel:minar e um dos contratos previstos no art. 2643 do Cédigo Civil, nunca poder surgir um conflito susceptivel de ser dirimide pelo art. 2644 e que, consequentemente, a fungio do registo do contrato prelirainar nao ¢ a de dirimir um conflito pico do art. 2644, mas a de pré-anotara sucessiva transcrigao do contrato definitive ou da sentenga que julgue procedente a accio de execugio especifica — estes sim, actos sujeitos a reglsto sob pena de inoponibilidade em face de terceiros. Em Portugal, ao invés, como jé referimos e decorre de forma expressa da lei, o concrato-promessa que as partes atribuam “eficicia real” acede ao registo mediante assento registal definitivo ¢, desse modo, o promissario vé 0 seu direito de créditotornar-se oponivel em face de terceiros. Por Is80, 0 efeito substantivo do registo definitive, decorrente do art. 5° do Céd.Reg Pred., também se verifieart, por exemplo, se se concretizar a seguinte hipétese: A aliena a B o prédio urbano x; B no solicit oregisto. Em seguida, A e C celebram um contrato-promessa de compza ¢ venda do imével , attly buem-Ihe “eficicia real” ¢ o mesmo ¢ publicitado definitivamente pelo Registo. De facto, prevaleceré o dircito de €, porque inscrito definitivanente em primeiro lugar, uma YO que Be C sio terceiros para efeitos de registo (art. 5°, n*4, do Céd.Reg,Pred.). 680) NA VIGENCIA DO ACTUAL CODIGO CIVIL (0 SISTEMA REGISTAL PORT Por fim, cumpre sublinhar que, se o tribunal nao chegar a ter conhecimento daalienidade da coisa ¢ decretar a execugio especifica, celebrando, desse modo, um contrato nulo, 0 autor vitorioso conseguira obter conversao do registo da acco em definitivo, mediante 0 averbamento da sentenga. Desse modo, publicitard definitivamente 0 “seu” direito real ~ adquirido em virtude da cele- bracdo coactiva do contrato ~ mas, nem por isso, na nossa perspectiva, bene- ficiard da tutela concedida pelo art. 5* do Céd.Reg.Pred., uma vez que, como se salientou, o n° 4 do referido preceito legal consagra a concepgao restrita de terceiros ~ nos termos da qual, para efeitos do disposto no art, 5* do Céd. Reg,Pred., terceiros sao os que do mesmo autor ou transmitente, com base na sua vontade, recebam, sobre 0 mesmo objecto, direitos total ou parcialmente conflituantes™®, Consequentemente, o titular do direito nao registado antes inv Ao invés se tivesse sido consagrada a concepgio ampla de terceitos, se 0 tribunal nao chegasse a ter conhecimento da alicnidade da coisa ¢ decretasse a execusio especifica, celebrando, desse modo, um cortrato nulo, o autor vitorioso, depois de publicitar definivamente 0 “seu” dieito real, seria considerado um terceiro para efeitos do art, 5" do Cod.Reg,Prec.. CO facto dea segunda aquisi¢ao, decorrente do contrato celebrado coercivamente pela sentengs que julgasse procecemte a accio de exccucio especifica, ser precedida pelo registo provisério da acgio apenas introdaziria uma novidade face & hip6tese tradicional de dupha vends, saber: oefeito aqui- sitivo, decorrerte do art. 5° do Cd Reg, Pred,, nao ocorreria na data do registo, mas sim na data em {quea sentenga transitasse em julgado, ou seja, na data da celebragao do contrato. Porquanto: Na hipétese tredicional de dupla venda, prevalece o segundo adquirente que solicita o registo em face do primeiro adquirente que nio o solicitou porque, por forga do art. 5* do Céd.RegPred,, 0 registo ~ que nio sofra de outra causa invalidade, para além de ter sido lavrado com base ¢ titulo insuficiente para prova do facto registal ~ de um negécio invalido ~ que nao padega de outra causa de invalidade para além da ilegitimidade do tradensdecorrente da anterior disposigio valida atrbui 6 direito a0 trular registale, er consequéncia, fiz decair ou ficar oncrado o direito incompativel aque nio tens sido registado com prioridade definitvamente, Ou sea, 0 segundo adquirente pre- Valece, como referimos, em virtude de um facto aquisitivo complexo que supde dois elementos: ‘6 negécio juridico que, quando-analisado apenas em sie por si, ¢ perfeitamente valido; a inscrigio definitiva no registo. Nahipstese agora em aprego, se tivesse sido consagrada a concepgioampla de terceiros para efeitos doart. 5* do Céd Reg Pred., o segundo adquirente, endo obtido previamente o registo provisério dnacgio, quando obtivesse a publicitaglo do seu direto através do averbamento da sentenga, veria fo efeitos do registo definitivo retrotrairem-se a data do registo provisorio (eft. o n? 3do art. 6° do Céd.Reg,Pred.). Portanto, seria havido como titular registal definitivo antes do trinsito em julgado dda sentenga, o mesmo € dizer, antes da celebragio do contrato. Nio obstante, o efeito atributivo do registo, consagrado no art. 5*do Cod.Reg. Pred, nto se produziria nessa data, pois, como vimos, talefeitos6 ooarre por forga de um facto aquisitivo complexo que supée, para além do registo, neves- ariamente, onegécio juridico. 68 EFEITOS SUBSTANTIVOS DO REGISTO PREDIAL da inscrigado da accao de execugio especifica — mas adquirido valida ¢ eficaz mente ~ pode, a todo o tempo, vir solicitar a declaragao de nulidade da venda celebrada coactivamente através da sentenga que julgou procedente a acgio de execugao especifica e, naturalmente, obtera ganho de causa!?, “° No entanto, tendo em conta a polémica em torna do n° 4 do art. 5° do Céd.Reg, Pred., o titular do direito anterior nao registado, cu nao registado prioritariamente ~ se ndo quiser correr 0 risco de ver julgada improcedente a referida accio de nulidade, por o Tribunal reconhecer @ qualidade de terceiro a0 adquirente na venda celebrada coactivamente através da sentenga que tenha julgado procedente a acgio de execugio especifica ~, 3 cautela, deve intervir na acco de execugao especifica, como assistente do réu, produzindo prova de que, & data do registo da aceio, o autor jé nao era titular do direito a prestagao in natura, nem, consequentemente, do direito & execugio especifica, no desempenhando, por isso, 0 registo da acgio o papel de uma reserva de prioridade em sentido impré= prio lato sensu, Deste modo, o titula: do direito nao publicitado ¢ incompativel com a pretensio do autor ficard seguro de que a acgio vird a ser julgada improcedente e 0 respectivo registo cancelado ‘e que poder ser lavrado 0 registo definitivo do seu facto aquisitivo, 682

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