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Moro em uma cidade de pianos desafinados

Moro em uma cidade de pianos desafinados


Ruas esburacadas
Mesmo com praias de boas-vindas
E algumas coisas lindas.

Moro em uma cidade de pianos desafinados


Desigualdade por todos os lados
Os esforados pianos pblicos desafinam em um Mi de agonia
E at os arrumados pianos da burguesia
Desafinam em um L de realidade em desarmonia

Moro em uma cidade de pianos desafinados


E at, em certo dia, toquei em um hospital
Mesmo alegre pelo som dos aplausos
O piano eclodia uma rebeldia quase brutal:
Alm da desafinao em quase toda a sua extenso,
era impossvel tirar som do d central.
O D lembrava do grito silencioso da dor
Daqueles aos quais, sem d,
No foram concedidas condies para se tratar ali
mesmo que a dor seja to universal quanto a condio humana em Si.

Por fim, percebi,


que moro em um piano,
que uns teimam em chamar de mundo,
cujas cordas foram desafinadamente afinadas
em presses desiguais e que, por vezes, se recusam a rimar.
Um piano com algumas esburacadas teclas quebradas
em uma bela cidade desafinada.

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