Você está na página 1de 279
UMA HISTORIA DA JUSTIGA Do pluralismo dos foros ao dualismo ‘moderno entre consciéncia e direito Paolo Prodi Martins Fontes ‘on Séo Polo 2005, Sumério canes Pri : rend I. Justiga dos homens, justica de Deus. 8 Seana “Terusalém e Aten, 6 crac 2 Dasiapoga bie 2» 4 3. Alenia dasongens cloma. vv. 24 en 4. Pee peitenlal jurediao naga dow Soemene primelts seul, » nen s, Numero cristo o Orci aja do me a nado justia de Deus. a 4 Asongens do dlismo do fro n0 Osc 37 2 ccna 2. On ios peitencals " ae BAbelsdot onascmento daca criti 52 Pad TL Ajustiga da grea 2 i "yA revoigSo papal 57 ast in a ine 1 Onasiment co dso cance como = {Eos i i oe 5. Aigo da pita com scanenio. 70 ease acta 4 0Depoententia" em Gracano eos de on ‘susie creas % caren 5. Abrgag da confasi anal propio tg Dee Hits 481) cerdoti” e ro np 6.As pels “Summae confesorum™ 88 ‘atc asta 7 Alnqisgio eo pecado oxo a ence Sn SE Eee mt 8.4 excomunhio,6o"pecadoeesradon”€ int eh, o deservohmento da Feitnanacn.- 101 A, Utama in utroque for. 1 Oplralmo doo cdenameioe 2 Die naturale dito romano. 5. O probe do diet comam 4 Dietos univers rts pice. 5a eo 6 Omasamento dodo pena bio 9: Aare ner iu canoncum ei ‘ae heirs cieo dio candice ea telog:eforeh pol 9. Rie emo pena 1V. O conflito entre lei econsciéncia, 1, Aascensio dale positva. 2, Osoberano pontiice: egsiadorejuiz, 3, Ajustga do principe 44 Os novos universos normativos 5. A ruptura entre consclénciae diceito pos tivo: Jean Gerson, 6. Anorma moral entedieito divin edireto positive, 7, Obrigatoriedade em consciénca da lei po sitva?. 8. Lei penal ele moral. 9, Meda e confseto, pecada © delito as vés- peras da Reforma. V. A solugi evangélicoreformada 1 Confessonalagioe nascent das ie asters 2. cisiansmo aia 5 Daserenon ete oom gra evangéica trie movientoenstae 4. Reidade nova fers 5. Do det eandnico ao "hs ccc 6s "Kichenordnngen” ou orenangas cles a at 7 28 13 140 14s 150 155 168, 165 ra 180 158 193 207 27 2 25 240 249 261 7.0 foro interno a confissdo privada 8. penitenca publica e a excomunhio, 9, Pecado e deli, Vi. A solugo eatin rdentna FO cencideetoe oma 2 Oconto de eno eo to canis 3.0 dedno do cto coronicn, 4 Ofore pentencat a contoss iden 5.0 fom copa 6 Rotel cass sends 1. Os tata a ieee, Ene “Rogen republea chisane” poder into 9. Plo Sr VIL. A norma: direto da moral. 1. A juridcizagéo da consciencia 2. Onascimento da teologia mora. 3. Ostratados “de iustita et ure” 4 Do direito natural ao jusnaturalismo. 5.A dticaprotestante ©. ética lca 7. Hugo Gréco. 8 Leis da consciéncia versus eis poitivas 9. 0“easo" Pascal. 10. Arorma moral catia, 11: Da norma evangélea aii moral de Kant Vill. A norma: a moral do direito 1 Asacralizagio do diet, 2 Fogae drt: onipottncaesoberania 5. Genes eonisciénia do Estado, 4 Teeadoe deo 5: Duets subjeivoseconatiuigSe 6, Asorigns do garantamo penal. 7. As dua aces do novo deo penal '8.Dipeitoe moral na era das constiuiges © or cigar on 230 287 21 2a 298, 302 307 313 323 3a 351 355 355 362 370 376 3a 393 397 406 a2 419 29 9 43 452 461 470 73 9.A moral crit. — 10, Pecado e delite na era das coxificagbes 1X. Reflexes atuas: norma com uma dimensio, 1. Apenas uma histra 20s elementos conceituais: norma moral © ‘norma juridica 3.Do plualismo dos ordenamentos 20 dua lismo modero 4.Norma moral eIgrejasio diagnéstico de Dietrich Bonhoetfer 5, Diteitocandnio: pecado edelto 6, Uma ética sem Iga. 7. Anorma com uma dimensio. Indice onoméstc. 491 496 503 503 su 516 520, 526 531 537 Mois tl 90 ovo, senda: "Obese vor do Senor teu Deus, obserando o ses mandamentos eo evs detlon ‘ts neste ia dae we converers 0 Senor eu Des co foo ‘Seago ecom toda a sms te mandanento que jet ordeno no et no cir de nem mato longed tN ert no ups que digas Quem ‘ik porns a0 ce para an at nee ae com ge o ug, \demodo que possames cumpe-lo? Nio et além do ma, para que digas: Quem auavesad porns omar para eazi-o ae re fet fom que cugamos, de ode que pastaroscumpr.o? Ao cnt "oy esta plata etd muito peda det enna tm bcs eno te ‘oop, pra qe ta alogusem prin” Deuterondnio 30, 10-14 Sim no foi Zeus ame pocamar ete mandament; nem {stole impstas cs homens plas. que compartiha an ro ‘ad com os deuses do abisro também alo aedito que a tas dene (6, Crent) tenham uma fog aa pono detzer com que ‘um moral poss vlaro satus no earn nals dos de es ests de fat, ado vem desde ont u desde je, mas tem tama ida tema ninguémconkece onde e quand vera orig, [Nao posso, por medo de qualquer prune Ramana se cies lant do tuna ds dees de or nado Se it be que devo meter Sc, Amiga 450 5 Diante de uma tematica to enorme e vasta, 6 neces- sro explctar, com toda clareza possive, para que no me tomem imediatamente por louco, 0 objeto expectico da pes uisa e da reflexdo, as hipsteses de patida 0 método que pretendo seguir o objetivo que deseo alcanar. Acredito que o titulo possaforecer, em terms talvez um pouco im: petuosos, mas claro, o sentido da deco que tenciono to ‘mar com relagdo& obra mais conhecida ediscutida da it ‘ma metade do século na reflexdo sobre odiito, A Theory ( ustice, de John Rawls, Nao cabe as minhas capacidades ‘nem &s minhas intengées fornecer uma teria da justia, ‘mas apenas tentar uma reflexio histrica sobre o modo ‘como ajustga foi vivid e pensada no nosso mundo ociden- ta sobre uma “tadigao" que faz parte do nosso patrimdnio de cvlzagio e que agora, talvez,esteja se apagando, nio obstante todas as brihantes invengSes teoréticas. Sendo assim, minha abordagem é exclusivamente histérica eno pretende forecer nenuma chave interpretativa, mas ape- ‘as expor problemas. Com efito, ohistoriadorndo fomece Ssolugdes, mas pode ajudar a entender como as coisas ocor- feram no passado e como elas condicionam, muitas vezes pensmenode Keke, eno simple hintedio dM. Loh ato taaade Ter gw Sle orm, Tui, epee a inet a elses ec, rerAcio " contra as teria jusnaturalistas ~ em rolagdo @ uma visio superfcilmente positivist, esclarecendo que 0 costume ¢ moral, assim como o direto, também exercem um poder rOprio econcreto de coorgo, ainda que este nao se exprima ‘com mutas ou anos de prio, mas com sangies fundadas 1a perda do papel social ou na ameaga de penas imaterais, ‘no visiveis, mas no menos ficazes se estas fizerem pane de uma crenca difundida e partlhada, como a punigdo 04 2 felicidade cteras. Pr essa razio, na hstia concreta da aE Foon crit nine temo eo mal et rm Se me arte in Far -eatenpenise mane met oo pins ‘rene do wot mars manta gx det el do ‘neato “hago costes raase gue cone tet ‘Soul pe naa eon es Fen Scrat calcu i rtd uae Sa Fein ce pl ts Jo cnet cs eat (ln ‘Sets npn nd emer a cia Foch Det ee Om, Frebur B. 1951 (Cat area Pr oc dsm, Pa 1. |ISTICA DOs OMENS. jUSTICA BE DUS 3 «adi respeto, em primeito lugar 208 laps, ou sea, queles ‘que renegaram — mits vezes sob aameaca de : ‘01 pels lisonjas do poder 0 fato de pertencetem a com nidade crit, er seguida se estendegracualmente at com_ reender os comportamentos piblicos diferentes da dout- ‘ae da moral crista. Num segundo momento, com efeito, ‘a heresiatorna-se 0 pecado publica por excelénca: 0 delto «contra af tomna-se cada vez mais um problema de vinculo {que implica a exciusio temporaria ou defntva da comuni dade, ou sa a excomunho™.Indubtavelmente, existem nos primeiros séculos dois nives distintos, quel inserido na ‘elebragio eucaristica como ato de purifcagio individual € _aquele pbc, mas no & coreto pensar num desenvolv- ‘mento interno da préxs penitencial, que apenas mais tar- de sereveste de uma forma juridca uma ve ristianizado 0 impécio, Por certo no podemos aqui repercorrero caminho a estratifcagdo dos primeros cinones diciplinares desde 2 Didac, desde o século I, até as prmeirasclegbes de deli bberagdes concilares ede textos papais®, Mas no século I, com base em algumas formlagbes inciais, como a Di ‘scala apostolorum (por volta do ano de 230), o processo penitencal oma forma com o duplo objetivo de restabelecer ' justia e de converter o pecador pblco: nakceo primeiro foro dependente do bspo, aauientia cpscpalis™ Em tem os posterores, ao tribunal episcopal serio delegadas casas Por parte do poder politico imperal também fora do terreno 57. cet, ech se piri i et it om wine dts coo ae rc Uo a, 31.3 Goce pr fre eats precede), ‘3. Paa ura ese de cre |. Canam er dt ricer Ge Vt a Pa "6 Vara “Ua gurone et ll pi anh cle ‘nl canon Ess de ors lero pes Fea Marines De: Mai 194 vo Lp. 357 “a inte we ‘ov ne mando ata maa mda et Vly Spe {in 2553 enn sean 2 una asroMA DUSTIN ee dept ote ee ssi ooo oe pinnae en, meecagiigetecemeeene at cress crenek cen ore a rasmus Cae mc i dn pesos Gamcieag iene sorta anteer ie fe pcthrnea errm snes ae oe mere sepeig pee Steoctami eo creche see, iranian wt Sermons eared ma Steere cee eee sateen nec Soccer kre ii Spiro emeremmac iceerot tes ri tesa ortho ema neem rem npn a “cela nore tie gece cures oe coon een So “OTe, a pees Ch Mn Ps, 98 ISTIC B05 WOMENS, jUSTICA De EUS 3 se agarar para salvaese("secunda post baptismum tabula’; 4 primeira € sempre obatismo, que cancela todos os peca- dos anteriores) tomar-se-é, de certo modo, uma jangada permanente, que acompanhars toda a vida do esto comum: ‘bre-seocaminho para a penitenciaprvada, que primeiroé reseivada aos doentes graves em pergo de vida e depois é di- fundida também na pris cotidianae reiterada em todos of ‘e2s0s de reineidncia no pecado, com a imposigio de uma peniténcia medicinal ‘Seja como for, todo esse quato é destinado a mudarra- icalmente com o conflto entre paganism ecristianismo que, no século IV abrecenérios completamente diferentes para o Oriente e o Ocidente: no Ocidente, a igreja substitu [poucoa poucoo Estado romano moribund e constitu cada ‘vez mais oinstrumento cultural para ingresso das pop- lagies berbaras na romanidade também como vinculo € ‘dentidade coletiva; no Oriente, ao contri, aTeeja acaba ‘= dentfcando com o impéro crstio no Estado de Cons- tantinoplat Estamos diante de uma bifurcasio entre Orien- tee Ocidente, que, embora muitos séculos mas tade receba a defingdo formal de um cisma, implica um caminho t- talmente diferente na relacio entre a comunidade cist e 0 Poder: Iso ndo podia deinar de ter profundas repercussies também no plano do foro. 5. No império cristio 40 Oriente: ‘a justiga do Estado é a justica de Deus Deixemos de lado, naturalment, toda veleidade de de- finic o problema mais geral do cristianismo como religiao de Estado no impéro bizantino®. Tver no haja um fenmeno {1A Meigen a ait pages «cine ‘ule enon pr Morus Tae, ‘2 Parma wa dese, ver Ba ee csi alle ard nich od Raa 8, au awa stoma payusrica mis estudado do que ocexargapiso Bzatino: no Orien- {Cio se pode omar nenur dt eclesisico em sen Aloautonomo porque eo Estado que overaa Tj coma SGotete asus adninistags, eo proprio pensamenta dos rates gj cena se move nese esa req: pra So foto Clstrtome, a autordade da ja deve se sabe fide o poder do Estado: na itera jr oe nao tncontaros nem mesmo expres “dt candnico®. ‘rine stance i noe poenocspay nem tose ela com o Et de fe EO que to ano de 30, em Kosala impo “a todos os pos do mperioa oben da eo postao Feo" ¢ Saino ao fare de bandamentose eas am Bam no plano legslatv, mato proceso se incessant tudes eens comes sina cari peter Fido por vlta da metade do aéesoV desde promulgass, {in 8 do Cet Taodsonum gue propa camo Oe fio do Estado a detsa da reli ei, aé a leilacso {Jue impbe os decreas dos concion de feo eda Calea inc onganiaarepresto da heresia da dssenso here tea Inca son um scl que conduit a insergo como pine argo do Corde usiniano ~ quse como ‘ora consteconal supra =6oDe Suma Tinie ct Fae cahola et ut emo deen public contendere audeat™ fom o fam comande Hane atem lege sequentes {Ghrstanorum ahocoram nomen ube ample r- ques vero dementesvesanonque anes acres dog mteintmiam stn dvn pam int, post lan tots nest quem excels abo sumpserinas uso te plectendoo!* Anca cola aescena tae flo Ae Seta das cae mal ete trem apresentado 1.5 Nisin “Dt Get der cicen Pts nas Ge teint tgp A "CE nce“ pclae Dl Ted al bt ev Cass Niles 58, "Caps lB 162-195 Cotesia aad yor? see 9.6010 NSTICA BOS WOMENS jusTCA De DEUS 3 a tendinadimesnr em demas iso do Cr ‘src de osano como slug par onto Sema ge, partidos odo mane dso, comm proceso de reforms do antigo ‘ordnament,cega 20 “eo romano iso”, ane ‘odio [ata come asuemaore maiscocete me nfs er ma vito quent um modo po. Inge na traci humanist dose slo, or sn ve, ten a apreentar no deo romano, visto Sou sacks ee a ee eo ganic ea coetencia sl apenas oresulado da ope Tio etn rez cls mas ade pos unas Idea) a base do dst moder, vss que cores Pendent ua en doguevouta ct aera femos uma fupturaeidente com a cstanzacio do imp ‘ioe confte do século inclu no plans ua, No Oriente alga €englbads no imp tomando-e rel fio ofcal eoimpendorélepaador cin nome de Des felon City eer resto as Il amb pana far pre dogo etaal= out lao, todo caborago relia do deo natural dev ser econ monoltcdade de um odenament, {lc tem eu Spe noinperador como grate esa dent kde ene lt humande «dina oN Oqaese sprofind no ar kines dass que é paricalament importante are ono ema) Co pric tra do exerci da digo do foe nest stunt que Pseno denorinar snd ern ta, fname {smo radial atamente vse que numa suagio como ces, o problema cent tomarse oo vnc, no da ‘pet: G. Ci “Romanization ertanizaone Cat © {Ecuahopmma ttn eos nfs ipo a, ‘spnine or fame A Nese Macon p70 “2 Vr turn hl Ls bo Nes 6 Sih stnche cing i bids Costing Gate n Canine ee pp.

Você também pode gostar