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© FIM DA HISTORIA 0 ULTIMO HOMEM Francis Fukuyama convida-nos 2 formular outra vez uma per- gunta que j foi feita pelos [grandes flésofos do passado: hnaverd uma diego na historia a humanidade! E se a hist6- ria direcional, para onde se encaminha? ‘Nesta profunda eemocio: nante inguirigdo Fukuyama Dfereceindicios suficientes pa- fa suger que existem duas for- gs poderosas em acdo. Uma Saaue ele chama "a ligica da Ciencia moderna” ¢ a outta & “qtata pelo reconhecimento”. ‘X primeira iaduz 0s homens & peru, meant um ttorizonte de desejos em conti- sua expansio; a segunda vem ‘ser ma opinigo de Fukuyama (ede Hege), nada menos que © proprio "motor da histéra”. ‘Atese,brilhantemente d- fendida por Fukuyama, € que, no transeurso do tempo, esas das forgas promovem o colap- $0 das tiranlas,testemunhado tanto & exquerda como a direi- ta, e compelem até mesmo $0- tledades eulturalmente desse- } FRANCIS FUKUYAMA O FIM DA HISTORIA “ E 0 ULTIMO HOMEM Tradugdo de AULYDE SOARES RODRIGUES Vener Rio de Janeiro — 1992 » (0 Pat D4 JuSTORIA 0 UETIMO HOMENM tagdes para me ajudar na coleta de material de pesquisa eco Inboraram com coaselhes es sobre varios topics durante mea trabalho no live Reslie Fonoroflajudou naleitara das prom. Em lugar do aeradecimento convencional a uma dl [ogra peta jda no proparo do manuscrt,tlveseja mals sdlaquadoapresentar mews agradecimentes a0 trabalho da eu pe do microprocesador 80386, da Intl Finalmente o mas importants, o agradecimento & minha mulher, Laura, que me encorajou a escrever 0 artigo original {exe lv e que enfeniou, ao meu lado, toda a critica ea ontrovésia subseqdents. Fo! uma leitoraatenta do manus frito contribu de varios modos para sua forma ese con ‘eid final. Minha flba Sala emeu filo David, este dino, {qe revolneunascer quando eu esta esrevend 9 vo, a: aramn também, simplesmente com sua presenca A GUISA DE INTRODUCAO Este lv tem como origem ditante o artigo inttulado "0 Fim da Histéria?” que excred para a evista The National In- terest, n0 Verio de 1969." Ness artigo eu argumentava que, ‘not dtimos anos, surgiu no mundo todo um notivel coasen So sobre a legitimidade da democracia ibe come sistema de overno, 2 medida que ela congustava ideologia rivals como monargua herediéria, o fscismo g mals recentements, © 30, Entretant mat do que iso, eu afirmava que a iiberal pode constitu "pont final da evo \deologica da hurmanidade” © "a forma final de governo hu mano", e como tal, constitul 0 fim da hist Isto &, en ‘quanto as formas mals antigas de yoverno caractetizavarnse por paves defeitos elracionaldader, que as levaram ao co- {ipso final, a democacaiberaletava aparentemeate ite de sa contradigbes internat fundamentals. Nao snifia que as ‘Semocracias estes atuas, como os Esiados Unidos, a Fran sou Sulga,excjam itenas de lajustigs esos problemas Socials, Portm sfo problemas de implementacdo incompleta dos priacpios de Wherdadeeigualdade, nos uais esas demo. ‘ras ee bala, ¢ nfo oriundos de flhas nos propos pin pion. Embor alguns plas contempordneos no chewstsem f aleangar uma democraca eral extvel,e outos reverts fem part outta Tormas mais primitivas de governo, como & teoeraca ou dtadura malar, no seria possivel aperfigosr © ideal da democraia ber ‘O antigo origina foi alvo de grande nimero de coments ios econtrovérsias, primeio nos Estados Unidos, depois em ‘roe outos pate, como Inglaterra, Franca, lia, Unio 2 (OMIM mA HsTORIA £0 ULTIMO HOME Sovidtia, Brasil, Aftica do Sul, Japto e Cortia do Sul. A rt tica assum as formas oni variadss, algumas baseades em simples mal-entendido da minha inteneio orignal, outras pe- ‘ettando mas pecepvelmente no dmago do med argumen- {o# A printpio multas pessoas fearam confusas com 0 uso ‘gue fiz da palavea“istria" Tomando a hstéia no sentido ‘convencional de oeorréncia de eventos, citvam aqua do Mi 1 de Berlim, arejegto do comunisvo chines na manifesta ‘lo da Praga Tiananmen es invasio do Kuwalt pelo Irague ‘omo evade ae aici contin” qe ata, minha tora etava erraa, CContudo, oque eu segeria nto erao fim daocortncia dos ‘rents, nem dos fatos grandes e importants, mar da Hist fia, oust, dahistria como um procesto ini, coeentee eo Tutivo, considerando a experigncla de todos ox pov em todas 5 tempos. Ess commpreenso daira std mas intmamente ‘ssociada ao pensamento do grande flésofo alemio O. W. F. Hegel. Karl Marx ransformou-acm uma pare da nossa amos fern intelectual dda, tomando emprestad a Hegel o conc to dehistéria qu est implicito no uso que fazemos de pala- ras como "primitho"" ou avancado”, “radcional 04 m0 ero", quando nos refrimos 40s vias tipos de sociedades humans. Para esses dois pensadores hava desenvolvimento coerente das sociedades humana, dee as mas simplest bis, baseadas na esravido ena agricutua de subestnci, passando por vdras eorias, monarquas earstocracias feuds ‘4a modema democraca liberal eo capitalismo condi pla teenologia. Esse proceso evolutivo no era casual nem inte lige, embora nd Tose inearefoste até mesmo possivel ques tonarseo"progresso” histrio contibula ou nao para fe- lcidade eo bem-estar do homem. “Tnto para Hegel quanto para Marx a evoluglo das s0- sledades humanas ado era iimitada, mas terminaria quando ‘humanidade alcangasse uma Torma de sociedade que pide $e satsfazer suas aspragbes mais profundas e fundamen. esse moto, os dois pensadorespreviram “Tim da ito ‘ia Para Higa, sera o Estado Hberl,enguanto que para ‘Marx seria a sociedade comunsta. Iso nao sigifcara 0 im do clo natural denasciment, vida e more, ou que no eon ‘eoeia mals nada de importante, nem ques joraais qe pubi- A cua op ierronucho » cam esses fatosdeaaiam de sr pubicados. Significava sso Sim, que ndo haverla mals progresso no desenvolvimento dos rincipios e das insttuigdes basieas, porque todas as qustOes ‘ealmente importantes extariam reslvidas, ste ive no ¢ uma eafimaplo do meu atigo original, ‘nem uma tentativa de continua a diseusto com of vio tices ecomentadores do referido artigo. Espeialmente nao é © relato do fim da Guerra Fria, ou de qualquer outro topico Jmporiante da poltca contempordnea. Embora cst ivr sa {nformado pelos fator mondiis resents, seu tema retorna 8 uma questa0 muito antiga: ser que no fim do stculo XX faz sentido falarmos novamente de uma historia coerente edie Clonal da humanidade que fnameate,conduzirda malo atte ‘desea hurnanidade democraciaHberal? Minha respoxa¢ ih, or duas razies distin. Uma et ligada economia, ea outa {lz espelto ao que chamamos de “Iuta pelo resonherimenta" Bidentemente no basta aplar para autoridade de Fle” sel, Marxou qualquer outro dor seus dscipuloscontempord- ‘eos para estabeleer a validade de uma histéia direcional [No século e meio que se segulu publicacto dat suas ils, ‘cu legado intletual tem sorido staques interminvels deo. ‘Sas as diteges. Os pensadores male profundos do seulo XX alacaram dretamente aida de que a histéria & um proceso, oerenteeinteligivel, Na verdade, negaram a possibilidade de Inteligibidsde Mosdica de qualquer aspect da vida ham: 1a. Nés, no Ocdent,tomamo-not extemamente estimistas ‘quanto & possibilidae de um progesso gencalzado nas ins Utuigdes democréias. Esse pessimismo profundo tio ¢ ac ‘dental; mas provocado pelos fercvels eventos polis da pot ‘cia metade det sfelo: doar destrldoras gueras mundi, ‘ascenslo das deoioiastotalitdrias ea edna Utada contra ‘0 Romem soba forma de armas nuclaresedesruto do meio Ambiente AS experincas de vida das vitinas da volénciapo- Iitica dete sfeulo— desde o sobreviventes do hitler e do ‘alin as vias de Pol Pot — eo a negagto de qualquer Tipo de progres hstrico. Na verdade, eam to habit dos a esperar que o futuro nostra mas notcas sobre a sai- fe ea sepuranga de prticas poliias democcticas, ibeals © ‘decents, que teremosdiicudades de reconherer as boas o- tiias quando elas aparecerem. “ (FIM DA MTOR £0 UeTIMO HOME CContudo, as boas novas chegaram, O acontecimento mais notive do timo quarto do sealo XX fo\ a revelagio de una ‘raguesa enorme no imago das aparentemente fortes ditady- ras do mundo, sejam elas da dria militar autritiia sejam i esquecda comunisatotltria, Da América Latina ao Les: 4 Europeu, da Unido Sovitica ao Oriente Médio e& Asia, ‘0s goveros fortes tm desmoronado nas dhimas dias deca: das. Embora nfo tenham, em todos os cos, cedido lugar a ‘demmoctaciasiberals estes, a cemoctacia liberal continua cor ‘mo a nia aspiragio politica coeente que contitui 0 panto de unio ente reyes eculturas diversas do mand todo Als, Aino, os prinipios libra em economia ~ 0 “mercado vee" ~ eso hoje csseminados,consegundo produair nives ‘em precedenes de prosperidade mater, anto nos paises i dustiaimentedesenvolvidos quanto nos pafses gu, no fim da Segunda Guerra Mundial, feziam pate do empobresdo Ter- ‘iro Mundo. A liberdade plica no mondo todo fas vets Derecbida, ovtras vezssepuida, de uma revolugso liberal no Densamento econdmico. ‘Todos ests acontecimentos, to contraditios com ahi ‘6rlaterivel ds primera metade do séeula, quando povernos totaitrios da Drea e da Esquerdaextavara em marcha, 2 screm a necesidade de rver a questio da easténcia de um ‘lemento mais profundo de unio entre ees, ou verifiar se fo passam de momentos acidentas de boa sorte. Formula do novamente a questio da exsténcia de uma coin chamada istéra Univesl da humanidade estou retomando a discus So comegada no inicio do século XIX e mais ou menos aban- donada nos nossos dias devido & enormnidade dos fatos vivi- dos desde endo pela huranidad.Embor insides nas eas de Hléofos como Kant e Hegel, que abordaram essa questio nts, espero que os argumentasspresentads neste Ivo te- shar fotea prope "ate lvr aprerents sem modésta, nfo uma, mas dua tentaivasdistintas de delineamento desta Histéria Universal. Depois de etabelecet, na Pare I, por que precisimes cons\- derar novamente a possibilidade da Hist6rla Universal, pro ‘ponho uma resposta ini na Parte Il, procurando fazer uso da cigncia natural moderna como um requador ou mecanis- ‘mo para explcar a diecionalidadee a coerncia da Historia, A cusa De nernoDuco 1» ‘A ctncia natural moderna ¢ um ponto de patida bastante it, ‘uma vez que, por conseaso geal, €a Una aivdade Social lmportane, tanto eumulativaquanfo dresonal, mesmo quando {eu impacto naflicdade humana €ambigua A conguista ro. ‘rsiva da nature, possibiltaa pelo desenvolvimento dom. {odo centfio nor secular XVI e XVI, processousede aco ‘do com certs regras efinidas,determinadas, no plo homer, ‘mas pela naturerae pols eis da natureza desenvolvimento da citcia natural modema txe um fete uniforme em tolas as sociedades que oaperimentaram, or duasrazSes. Em primero lugar, a tecnologia confer van {agens militares decisivas aos pases que a possuem, ¢ dada a continua possibldade de guerra no sstema interacial dos Estados, neahum Estado gue preza sua independénca pode fqnorar a necessidade de modernizagio defensive, Segundo, & ‘déncia natural moderna etabelece um horizonteunforme de potilidads de roducao econdmica. A temolopa tna por Selo aetmolo Himitado de iqueza, © poctamo, da stsfa- {0 de um conjunto sempre crescent de deseos homanos, Este Droorso garante uma homogencizato uniforme de todas a8 Socedades bumanas, independentemene das suas orgens his: {Gries ou ds suas heranpas cultura. Todos os pases er pro- ‘cz de moderizagso econdraea tendem necesariamente a se parecerem uns com of outs. Dever se uniicar nacional rene com bas ex um Fstado centaliado,urbanizar-se ebe- tituir as formas tradicional de orgaizagio social como ti bo, Sita e familia, pelas formas economieamenteracionas bascadas na Funedo ena eficiéncla asegurar a educa uni- vernal dor seus sidaddos. Os mercados lotals ea dssemina {0 de uma cultura consumista universal promovem a proxi {aacHoeligorto cata yer maior dessssociedadeseares Alem disso, a logic da cltacia natural moderna parece dat una ‘evolug universal na direo do captalsme. As experéncias ‘a Unio Soviica, da China ede outtos pales socialists In ‘cam gis, bora a economiaecentalizada seam suficentes para leaner oniel de ndusralzagHo representa pela Ei ropa dos anos 1980, s80 lamentavelmente inadequadas pera {lar o que chamamos de economias "pSs-industrias” com- lous, onde a inorato na informagdo ena temolopia dese nha um papel muito mals expresiv, * © Ma oa HISTORIA Bo UETINO HOME Mas, enguanto 0 mecanismo histtico representado pela ciéncia natural moderna ésufiients para expicar mula cota sobre o caréter da mudanga hstricae sobre auniformidade srescente das Soniedades modernas, no €suficiente para ex. plicar o fendmeno da democraia, Nao hd dvida de que 8 Palses mas desenvolvidos do mundo so tarabém as demon, sias de maior sucesso, Contido, erabora acéncia natural nos

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