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REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POLITICOS ORLANDO M. CaRvALHO . RauL Macwapo Horta Universidade Federal de Minas Gerais SEcRETARIO . ARTUR José Aumema Drvz Universidade Federal de Minas Gerais SEDE DA REDACKO ‘FACULDADE DE Dimerro DA U.F.M.G, Av. Alvares Cabral, 211 — Sala 1.206 — Telefone: 224-8507 Caixa Postal 1.301 — 30.170 Belo Horizonte, MG — Brasil Para o exterior - US$ 20.00 Assinatura anual . Cz$_ 800,00 Namero avulso ... - Cz$ 400,00 PUBLICA-SE SEMESTRALMENTE: _ UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS BELO HORIZONTE * MINAS GERAIS * BRASIL SUMARIO \Reagho Oligérquica © Avango Centralizador em Minas Gerals no Péenevlucto de 38, pela Profenora Mara Bjigéna. Lage do Resende ....... Entidades de Class Mocaionoe de Pre Poin, pe Pots sora Reantina Pereira Vieira ..... + Corporativisme, LegislagSo Sindical © Politica Organizacional do Trabalho em Minas Gerais (1901/199), pela. Prfesoora Curia Maria Junho Anastasia ..... PIB, — Sindleato — Betado: Autonomla ou Tnterdependéncia? pela Professora Luctiia de Almetda Neves Delgado... . Historiogratia © Movimento Operétio: o Novo em Questto, pelas Professoras Eliana Regina de Freitas Dutra e Yvone de Souza Broaetii cc ee ee '\ As Diretrizes Metropolitanas, a Realidade Colonial ¢ as Irmandades ‘Mineiras, pelo Professor Caio C. Boschi ...,... yA Demanda do Trivial: Vestuério, iments ¢ Habit, po Professora Beatris Ricardina de Magathdes . NOTAS DE LIVROS AVA, Cancado Trindade — Repertério da Prdtica Brasileira em Direito Internacional Publico (BG. do Nascimento ¢ Silva) ... Hans Kelsen — Teoria Geral das Normas (Paulo Emilio Ribeiro fe Vithena) ......5.nstyaeey pain Ad, Uv. = Dita dea ano ¢ Ditatra det Moderns (Neon ‘José Murilo de Carvalho — e Bowtie’ Wien Spesany "Francisco José Calasane Falcon — 4 Boca Pombulina (Prancica m. Amaral Pateoto — Artes da Potton (Gattos Castelo Reause) . Maria de Lourdes Monaco Janotti — 0 Subvereos da Rept (Suely Robles Rels de Queiroz) . asi 183 Reagéio Oligdrquica e Avango Centralizador em Minas Gerais no Pés-Revolugdéo de Outubro de 30 ‘MARIA EFIGRNIA Lace DE RESENDE ‘Uma avaliagéo do comportamento e do papel da elite Politica mineira no quadro politico pés-Revolucdio de Outubro envolve colocar como ponto de reflexio o problema da conti- nuidade ¢/ou ruptura do sistema politico oligérquico conso- Tidado com a “politica dos governadores”. O golpe de 37 pde fim ao processo desencadeado a partir de 1930 em que se defrontam na arena politica trés grandes foreas que aspiram & hegemonia — o tenentismo, as oligar- quias estaduais e a politica de centralizagio varguista. Esta fase, a que vai de 1930 a 1937, mostra a vitalidade das oli- garquias estaduais — sua capacidade de adaptacdo aos novos mecanismos legais que vém no bojo da Revolugio, sua reagio ao tenentismo pela eliminagio ou cooptacio dos tenentes1 e sua assimilagio das tendéncias autoritarias embutidas na ideo- logia da construgio do Estado Nacional. 0 processo 6 complexo. As idéias autonomistas das oligarquias da Reptblica Velha permanecem latentes. O jogo das Oligarquias processa-se agora num quadro politico, econémico e social, profundamente alterado. . CARONE, Edgar. A Repiiblica Nova (1980-1937). So Paulo, Difel, 1974. p. 163, 8 REVISTA BRASILEIRA DE Do movimento revoluciondrio de 30 € nismos de dominagéo que ao visarem a © Nacional permitem As oligarquias, por um p taco, recomporem, passada a crise inicial, : nivel estadual, As interventorias, a nom os departamentos de assisténcia aos grande parte a nova legislacio eleitoral el objetivo de derrubar o tradicional clientelismo a Velha. Acrescente-se a isto 0 fato de que m alt ragdes substanciais na tradicional dependéneia das populacées rurais. Esta anélise das clivagens oligérquicas em Minas Gerais na continuidade do processo revoluciondrio de 30 toma como marcos estruturais de referéneia: 0 proceso de institueiona- lizagéo da Revolucio, a matriz ideolégica modernizacéo/nacio- nalismo/autoritarismo, que marca o pensamento politico brasi- Ieiro na década de 30 e o pensamento liberal anterior a 30 entendido este nos limites de excludéncia explicitado mos dis- cursos das oligarquias. # no quadro de interagio destes trés marcos, de mudanca e de continuidade, que nos propomos examinar a din&mica da luta intra-oligdrquica em Minas. F Entre as idéias que permeiam a bibliografia do periodo esto as de que Minas mantém sua autonomia com @ perma- néneia de Olegério Maciel no poder; a luta i em Minas reduziu-se a uma luta pelo poder; a partir da intervencio de Benedito Valadares a luta oligérquica em Minas perde a importancia deixando o PRM de contar como forca significativa no Estado; as reagées porventura existentes a centralizagio so episédicas e pessoais. Estas idéias ¢ em obras gerais da hist6ria da Reptiblica conduziram de uma certa forma a pesquisa na medida em que levantaram pro- blemas quanto ao comportamento da oligarquia mineira nos marcos estruturais de referéncia propostos. Alguns fatores subjacentes ao processo politico tais como os interesses da cafeicultura mineira, a situagio econdmico- financeira do Estado e sua dependéncia ao governo federal REAGAO OLIGARQUICA 9 nio serio avaliados. # dificil tentar nos limites deste trabalho @ articulacio do processo global. No desenvolvimento do tema optou-se por desdobré-lo em dois momentos, que nos parecem significativos: o periodo 30/33 que é, nfo s6 0 de definig&o do “status” de Minas frente a politica federal (0 fato é importante na medida em que se trata de definir qual foi a especificidade de Minas com a Permanéncia de Olegério Maciel no poder) como também o da investida e recuo do “tenentismo” frente a reacio oligérquica. As linhas do pensamento politico autoritério e a proposta oligarquica de dominac&o, — conciliacdo da ordem liberal com um Estado interventor e modernizante — so também a nosso ver explicitadas nesta fase. O outro periodo, o de 33/37 mostra o embate das faccdes oligarquicas e seus limites num Processo eleitoral redimensionado pela nova legislacéo, por novos instrumentos de compressio politica, pela cooptacéo Permanente e pela contestacio politica das classes subalternas que coloca a impropriedade da proposta olig&rquica de domi- _ nag&o, ampliando o espaco para o avanco do autoritarismo. Em suma, nesta fase concretiza-se a interacdo das diferentes fragSes da oligarquia no projeto comum, autoritério e nacio- nalista cuja construgio através da doutrina e da aco iniciara-se _ em outubro de 30. Oligarquia Mineira na Década de XX ‘Uma perspectiva sobre a politica de Minas na década de XX 6 importante para a aniilise que nos propomos. A efervescéncia partidaria na década de 20, reveladora do esgotamento do sistema politico da Reptiblica Velha, conforme aponta Maria Cecilia Forjaz, e, bem caracterizado nas cisdes da politica paulista e da politica gaiicha com a forme&o respectivamente do Partido Democratico e do Partido Libertador e ainda com a criagio de varios partidos democriticos nos moldes do de Sio Paulo? nfo tem em Minas Gerais uma 2. FORJAZ, Maria Cecilia Spina. Tenentismo © alianga liberal (1927/1980). S80 Paulo, Polls, 1978. p. 35-64. 40 REVISTA BRASILEIRA dindmica similar. A luta das faccdes PRM permeia a década sem que significativas. Um movimento da : s tudo de estudantes da Faculdade de Dire 6poca da Reagio Republicana em a = a influéncia de Francisco Sales.? Em outra conjuntura: sucessio & Bernardes, o niicleo dos académicos entusiasmara-se com as expansdes democriticas do Presidente de Minas, Melo Viana, tentando vetar a candidatura Washington Luts.4 Nos Ultimos anos da década de 30 a oligarquia mineira que se cinde a politica mineira, © jogo politico que se esta- Pelece, em funglo de garantir a candidatura leva Washington Luis a promover através de Carvalho de Brito, reeleito Diretor do Banco do Brasil de 27 de abril de 295 uma reagdo so Pith A posigio politica de Carvalho de Brito em apoio a continuidade da politica financeira de Washington Luis e a continuidade da alianca Minas-Séo Paulo 6 publicamente manifestada em ban- ducto no Copacabana Palace promovido por numerosos repre. feutantes do comércio, indistria, do Senado e da Clmare Federal.¢ A. Concentracio Conservadora Procura em Minas strair as oligarquias agrérias e a burguesia acenando coms doing MRBOSA, Francisco de Assis. JX. Uma revledo a politica Prasitcira, Flo de Janeiro, José Olympio, 1960. p. 313. 4. Idem, tbidem. p. 312 ¢ 313, Spa meentracio Conservadora de Minas Gerais — 4 aogdo do Dr. thee ont? 28a actual campanha da suoessdo presidenctal da Revd. bilea. Rio de Janeiro, Alba, 1929. p. 9, 8. Idem, ibidem. p, 29-85 e 53-55 REACAO OLIGARQUICA ee implantagio de politicas federais favoraveis & industria, comér- cio e agricultura. Dos cinco congressos econémicos previstos — © do Café (Muriaé) o das Fibricas de Tecidos (Itajubé) 0 de Cereais e Algodio (Montes Claros) o de Gado (Passos) € 0 da Siderurgia sob a direcéo da Escola de Minas (Ouro Preto,’ somente o primeiro, ao que nos consta, foi realizado. Nele o estadualismo e a politica partidéria vigente sio apontados como a origem da dificil situagdo econdmica de ‘Minas.8 Aurino Moraes descreve a violenta compressio que se abate sobre Minas: imensa clivagem do funcionalismo federal (fiscais do ensino secundirio, funcionarios da Delegacia Fiscal, dos Correios, Telégrafos e Banco do Brasil); restrigfo ao erédito (interferéneia no empréstimo mineiro negociado em Londres, fechamento do redesconto baneério ao Banco de Cré- dito Real de Minas Gerais pelo Banco do Brasil, obstaculos & admissio de titulos da divida piblica de Minas Gerais a cota- cao da bolsa do Rio de Janeiro.? A inconsisténcia da defesa de Carvalho de Brito dé uma idéia aproximada da violéncia da _ compressio, em que pesem os exageros dos aliancistas em Utilizar @ questio para fazer a campanha politica. Em meio ao desencadear da Iuta entre Minas e o governo federal realiza-se a deciséo da questio sucess6ria no Estado. Alijado Melo Viana, que tentou barganhar sua indicagio & presidéncia de Minas como condi¢éo de manter a unio perre- mista, a cisio se instala.*! A impossibilidade das candidaturas, Wenceslau Bras e Arthur Bernardes, facedes altamente hostis dentro do PRM, levou a indicacdo de Olegério Maciel e Pedro Marques de Almeida, respectivamente Presidente do Senado 7. Concentragio Conservadora de Minas Gerals — op. cit, p. 98-99, 214-281 8, Idem, tbidem. p. 94-95. 9. MORAES, Aurino. Minas na alianga Uberal ¢ na revoluedo. Belo Horizonte, Pindorama, 1933. p. 118 e 119. 10. Idem, tbidem. 11, MORAES, Aurino, Op. cit. p. 121-124. 12 REVISTA BRASILEIRA DE! e da Camara dos Deputados para @ presidéncia de Minas. ong Em pouco tempo Melo Viana afastado momento em que fora alijado da sucesso, ¢ ro de 29, quebra 0 compromisso de apoio & Alianca Liberale se une & Concentracéio Conservadora .1? Os reflexos de cis&o na politica mineira na marcha politica aliancista sio bem conhecidos. ‘A cisio de 1929 embora se paute pelos parametros ante- riores, disputa de poder entre faccdes da oligarquia, adquire dimensio na medida em que afeta os interesses aliancistas e chega inclusive a motivar, por parte de Vargas, um certo recuo estratégico, temeroso este das conseqiiéncias que pode- riam advir.“ Barbosa Lima Sobrinho analisa, em face da i fi a estratégia varguista de uma solugio conci- cireunstin liatéria com Washington Luis.” Este quadro, embora sucinto da politica oligirquica de Minas na década de 20, revela que a diferenciacdo de interesses entre os setores oligérquicos no se fizera de forma a provocar como em Sao Paulo a fragmentacéo do dominio oligérquico com suas diversas implicagdes. Referindo-se 4 movimentagéo politico-partidéria em Sio Paulo afirma Cecilia Forjaz: “A hhegemonia dos cafeicultores é contestada por outros setores oligarquicos; os préprios cafeicultores se dividem e entram em conflito com seus representantes no governo federal. Frente & crise eminente da economia cafeeira, torna-se dificil para a fragio hegeménica das classes dominantes continuar masca- rando seus interesses especificos como os interesses de todos” .18 © monolitismo do PRM fica bem evidenciado no alheia- mento em que se mantém a politica mineira do movimento de alianga entre as oposigées oligérquicas estimuladas pelo Partido Democratico de Séo Paulo e pela Alianca Libertadora 12. Idem, ibidem. 13. Idem, ibidem. p. 127-130 14, LIMA SOBRINHO, Barbosa. A verdade sobre a revoluedo de outubro — 1930. So Paulo, Alfa Omega, 1975. p. 80-82. 15, Idem, tbidem. 16, FORJAZ, Maria Cecilia Spina, Op. cit. REAGAO OLIGARQUICA 13 de Assis Brasil. Sob a influéncia do PD surgem nos moldes paulistas: 0 Partido Democratico do Distrito Federal (1927), © Partido Democratico do Estado do Rio de Janeiro (1927), 0 Partido Democritico de Santa Catarina (1927), o Partido Democratico do Maranhio, o Partido Democratico do Cearé € © Partido Democratico de Pernambuco." “Todas essas agremiagdes vio se articular, lideradas pela Alianca Liber- tadora (...) e pelo Partido Democratico de Sio Paulo para criar um partido nacional que unificasse todas as oposicées dispersas, e que tém aspiragées politicas comuns, ou que simplesmente representassem dissidéncias oligarquicas regio- nais pretendendo assumir o poder em seus estados respec- tivos”.18 # essa, segundo Cecilia Forjaz, a origem do Partido Demoerético Nacional, conglomerado de oposigdes estaduais e cujos pilares eram o PD paulista e a Alianca Libertadora Riograndense.1° Se ao nivel das relagdes entre o PD e PRP as divergéncias ideolégicas era ténues o mesmo acontecia nas relagdes PRR e Alianca Libertadora, o que era sem divida extensivo as oposigdes oligérquicas dos demais estados.” Do quadro apresentado por Cecilia Forjaz e da sucinta retrospectiva da politica mineira na década de XX ressalta a sua singularidade. A oligarquia se mantém coesa sem se afastar do modelo estabelecido, o da Inta pelo poder entre as faccdes resolvida pelas conciliagdes nos momentos criticos. A alteragio de 29, com a Concentracio Conservadora e com a separagio da faccdo vianista, se dé sob impulso da campanha aliancista, e dela ndo se pode inferir contestagdes de fragdes da oligarquia e/ou da burguesia a nivel ideolégico ou de conflitos de interesses agrério-industriais.%! 17. Idem, ibidem. p. 48-49 18, Idem, tbidem. p. 49-50. 19, Idem, ibidem. p. 50. 20. Sobre o assunto ver: MARIA CECILIA SPINA FORJAZ, Op. cit. cap. I — A efervescéncla partiddria na década de XX. 21. Para uma anélise da posic&o da fracio da ollgarquia minetra na questo sucess6ria e Allanca Liveral ver: BOMENY, Helena Maria 4 REVISTA BRASILEIRA DE BSTUDOS POLEFICOS Autoritarismo e Oligarquia: Dispute e Embate Ideolégico (1930-1 peste =A1al Fundamental para o nosso problema € constatar o fato de que da permanéncia de Olegério Maciel no governo de Minas nfo decorreu resguardo da autonomia do Estado. O fato de Olegério Maciel no se considerar interventor, mas sim Presidente, nfo Ihe tirou as qualidades de Interventor e como tal delegado do Governo Provisério. Diz o art. 11 do Decreto n° 19.938 de 11 de novembro que instituiu 0 Governo Provi- s6rio: “O Governo Provis6rio nomearé um Interventor Federal para cada Estado, salvo para aqueles j4 organizados, em os quaes ficaram os respectivos presidentes investidos nos poderes aqui mencionados.” © artigo 11 sanciona a permanéncia de Olegario Maciel equivalendo a situagio de Presidente & de Interventor.? Se alguma diivida ha sobre esta conclusaio acreseente-se 0 fato de que Olegério Maciel legislou, nomeou prefeitos nao por disposig6es que advinham do texto da Consti- tuicio Mineira de 91 mas por disposigdes do decreto que instituiu as interventorias. Nos parégrafos constantes do art. i esto especificadas as normas pelas quais deveriam se pautar os Interventores e Presidentes. Constam do art. 11, pard- grafo 1° © 4° respectivamente, o exercicio na plenitude do Poder Legislative e do Poder Executivo e a nomeagio de pre- feito. Assim, vigorou em Minas como em qualquer outro Estado 0 Cédigo dos Interventores (28/8/31), e nem poderia ser de outra forma, dissolvidas que estavam pelo decreto de institueionalizagio do Governo Provisério, as Assembléias Estaduais, as Camaras Municipais e quaisquer outros érgéos Bousquet. cA estratégia da concillagio: Minas Gerais e a abertura politica dos anos 30>. In: GOMES, Angela Maria de Castro Gomes. Regionalismo ¢ Contralizagdo Politica. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, ‘p. 134/235, 22, cAnnaes da Constituinte a fees Sees ok ee ae ot 2s Vejarse 0 texto do decreto em: CARONE, Eagar, Repildia, $80 Paulo, Difel, 1973. p. 18/21. ao" REAGAO OLIGARQUICA 45 legislativos ou deliberativos existentes nos Estados ou nos municipios. A questo de manter-se o Presidente de Minas nfio passou de uma estratégia revoluciondria, j4 que inécua do ponto de vista de resguardar a autonomia anterior a 30. A manutencio de Olegario Maciel marea um primeiro ponto contra a oli- garquia mineira 20 impedir sua articulagio como reacio a Vargas ¢ iniciar 0 processo de esvaziamento pela divisio em situacionistas e oposicionistas. Minas inicia, assim, o seu processo de caudatéria e ponta de lanca de Vargas no periodo 30/37. Nem por isso a permanéncia de Olegario Maciel foi pacifica. Para o avanco do Estado Centralizador Varguista urgia ndo s6 dividir, mas dominar as oligarquias estaduais. ‘Tudo se fez no sentido de forcar a rentincia de Olegario Maciel e abater a faccdo oligarquica bernardista que saira fortalecida pelo papel desempenhado na Revolucao de Outubro. Olegario Maciel teve que recompor seu gabinete “demitindo trés de seus secretarios pois mantinham relagdes muito fntimas e estreitas com a politica de Washington Luis e com o bernar- dismo”.25 Esta foi a solugio encontrada para evitar-se a reniineia sugerida pelo governo federal, mensagem da qual foi emissario Francisco Campos.” 0 fato marca o infcio do processo de manipulagio a que se submeteré Olegirio Maciel no aff de manter uma aparente resisténcia ao avanco centra- lizador, Marca também o afastamento de representantes da oligarquia tradicional, “os carcomidos”, da faccio bernardista, substituidos pelos jovens revoluciondrios, Gustavo Capanema e Amaro Lanari (26-11-1930) .* compreensivel que na mesma conjuntura (Fev. de 31) Bernardes tenha sido acusado pelo 24, Idem, thidem 25. MAGALHAES, Bruno de Almeida, Arthur Bernardes estadista da Repiiblica, Rio de Janeiro, José Olymplo, 1978. p. 224-225. 26. CARONE, Edgard, A Repiiblica Nova (1930-1937). S80 Paulo, Difel, 1974. p. 296. 27, Idem, tbidem. p. 296. 28, So exonerados por ato de Olegario Maciel: Cristiano Machado, Secretdirio do Interior; Carneiro de Resende, das Financas ¢ Alaor Prata da Agricultura. 16 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POL{TICOS ‘Tribunal Especial criado pelo Decreto de n° 19.938 de 11 de novembro e regulamentado pelo Decreto 19.440 de 28 do mesmo més. ‘A questio de submeter a oligarquia se x na conjuntura que vai de novembro de 30° de 31. A esta época o PRM apresentava uma nova © Jado o bernardismo procurando consolidar suas bases de poder nos moldes da Repiblica Velha, de outro @ frago de Antonio Carlos que apoiava Olegario Maciel. A investida formal sobre o dominio olig&rquico — vencer a facgSo bernardista, quebrar a resisténcia de Olegario Maciel ¢ submeter as demais fragdes oligérquicas (Amténio Carlos, Wenceslau Bras) comprometendo-as com © situacionismo esta- dual e por esta via submeté-las ao poder central — se fez com a fundagio em Minas Gerais da Legido de Outubro em Gocumento intitulado Manifesto aos Mineiros, datado de 26 de fevereiro de 31. Assinavam o documento Franciseo Campos, Ministro do Governo Provis6rio, Gustavo ma e Amaro Lanari, respectivamente Secretério do Interior e das Finances de Olegério Maciel.® Kram, estes iltimos, os secretarios im- postos por Francisco Campos quando de sua missdo visando A renineia de Olegario Maciel. © apoio e a pressfio do Governo Federal ficam evidentes nos fatos que cercam o acontecimento. Vargas, depois de passar por Belo Horizonte, onde vai @ pretext de agradecer a colaboragio de Olegério Maciel, segue para Séo Lourengo onde permanece aguardando os resultados da nova missio da qual Francisco Campos se deveria desineumbir.* 29. CARONE, Edgar. Op. oit. p. 206. 30, Legilo de Outubro; Manifesto aos Minetros. Minas Gerais, 27 fevereiro, 1981. firma Carone que @ Legiéo de Outubro é provavelmente ‘uma imitacko da Legiéo de Outubro fundada por Osvaldo Aranha ¢ Goés Montelro que acabou se transformando no Clube 3 de Outubro. CARONE, Hagar. A Reptibiica Nova (1930-1937). SGo Paulo, Difel, 1974. p. 199. 81. Telegrama de Vargas a Francisco Campos apés a fundacio da Le 7 Lagi i Cue fe Tian 37 = AE rganizacio da Legiéio Mineira, institut patriético que conso- REAGAO OLIGARQUICA Ww O lancamento do Manifesto 6 seguido de imensa articulagio com as liderancas municipais visando a constituir nos muni- cfipios niicleos da Legiio através de delegados para este fim designados. Um levantamento das diversas manifestacdes dos municipios revelam o papel articulador fundamental reser- vado aos prefeitos no novo arranjo politico. O impacto do Manifesto e a presenca de Vargas marcam o recuo da oli- garquia que através de nomes representativos da adesio ao movimento. A Legio de Outubro tem sido definida ora como uma manifestacio tenentista, ora como uma manifestacio de carter faseista. Os dados que levantamos para compreensio do signi- ficado do Manifesto da Legifio de Outubro nos leva a considerar que ele se articula numa conjuntura de confluéncia de trés linhas ideolégicas que se confundem no inicio da década de 30 — o pensamento tenentista em sua fase autoritéria e elitista,* 0 pensamento fascista ainda difuso® e o pensamento dos autoritérios — nacionalistas do qual Franciseo Campos é um dos representantes .%* nosso entendimento que o movimento dos legionérios de outubro representa, sobretndo o pensamento dos autori- tarios nacionalistas que conjunturalmente serviu-se da inflexdo autoritaria do movimento tenentista e do viés autoritario onde _ confluem idéias fascistas e pensamento integralista em forma- Go. Assim, tenentismo e fascismo sao apropriados no movi- Udaré a obra da revolugo — Getilio Vargas. O presidente Getilio Vargas © Legifio de Outubro, Minas Geraes, Belo Horizonte, 01/03/1931. 32. Legiéio de Outubro. Minas Geraes, 28 de fevereiro, 1931. 88. Legiio de Outubro. Minas Geraes, 28 de fevereiro, 1981. 1° de marco, 1931; 2 e 3 de marco, 1931. 34, Veja-se FORJAZ, Maria Cecilia Spina. Op. vit. p. 104/107. 35. Veja-se a evolug&o do pensamento de Plinio Salgado frente & Revoluc&o de 30 em: TRINDADE, Nélgio. Integralismo; o fascismo brasi- leiro na década de 30. Sho Paulo, Difel, 1974. p. 84/85. 86. Veja-se: MEDEIROS, Jarbas. A ideologia autoritéria no Brasit (1930-1945). Rio de Janeiro, FGV, 1978. p. 9 e segs. 18 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POLEFICOS mento de ascensdo da vaga autoritéria cujas manifestacdes remontam ao final do Império e do qual Francisco Campos € um dos continuadores. A opelio pela fundacio da Legidio de Outubro era do ponto de vista do governo central uma solugio para fazer frente a oligarquia, ¢ para Francisco Campos também uma forma de criar suas bases de sustentacio no Estado. A idéia resulta em grande parte da incapacidade de deter o bernar- dismo e apropriar-se da m&quina do PRM. [Schwartzman refere-se que “em suas notas retrospectivas, Capanema revela como estava envolvido no esquema politico de Campos: “Minha primeira viagem ao Rio foi a 5 de dezembro, sexta-feira. Na Estacio Pedro II o Campos esperava-me. Fui no seu automével, com ele, até Copacabana e fiquei hospedado em sua casa. No caminho, o Campos j4 tratou do assunto comigo: liquidar 0 Bernardes. Fiquei espantado, julguei isso um absurdo. Eu estimava o Bernardes. O plano inicial de Campos néo era a fundac&o da Legiio ou de outro partido em Minas. Era a reorganizacio da Comissio Executiva do PRM com a Tiguidacdo de Bernardes. Achei dificil e arriseado. Além de tudo, ingrato e injusto. O Campos objetava com os tenentes, © Gettilio, a salvacio de Minas, os ideais revolucionérios. Depois de varios dias de conversa, regressei. Regressei a 11 de dezembro, chegando a Belo Horizonte a 12, sexta. Vim disposto a falar ao Olegirio. No fundo, vim do Rio disposto a auxiliar 0 Campos na trucidacio do Bernardes” #7 Da associagéo com os “tenentes” fortalece-se a idéia de Francisco Campos, para eles néo propriamente uma luta contra Bernardes mas contra “o préprio PRM e seu sistema de poder, como expressio de uma mentalidade e de priticas que a “revolugéo” na concepcéo dos “tenentes”, viera erradicar” .% ‘87. SCHWARTZMAN, Simon; BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro. Tempos de Capanema. Rio de Janeiro, Paz e Terra; Sio Paulo: Editora da Universidade de Sio Paulo, 1984. P. 36/87. 38. MARLIN, Mauro & FASKMAN, Dora. Antonio Carlos. Dicio- ndrio Histérico-Biogréfico Brasileiro (1930-1983). v. 1. p. 641. REAGAO OLIGARQUICA 19 _ A influéncia fascista aparece sobretudo na idéia de utilizar mobilizacéo como forma de estabelecer a vigilincia contra 0 mento das bases oligdrquicas de poder. O corpora- ‘aparece na idéia de unido das classes para o fortale- ito da nagio. Mas o rechaco do proprio fascismo encontra-se também no proprio texto do Manifesto. Entre os trés inimigos que era preciso combater alinhavam-se os ini- ‘migos de origem externa, “todos os propagandistas e pregoeiros © apéstolos de doutrinas politicas exéticas e inadaptaveis & Solugdo dos problemas brasileiros”. Gustavo Capanema cujo mentor politico era Francisco jos registra em seus apontamentos que o Manifesto foi escrito por Carlos Drumond de Andrade e revisto emendado © acrescido por ele. Lanari teria tomado conhecimento do iento depois de pronto. Anteriormente Francisco Campos havia entregue ao Presidente Olegério Maciel um plano para 2 Legiéo.® Estes sio os dados existentes sobre a origem do ento de fundacio da Legifio de Outubro. Seu cerne 6 © pensamento nacionalista-autoritério e seu mentor Francisco ‘Campos. A oposicio de Francisco Campos ao tenentismo na sua fase liberal-democrata é examinada por Jarbas Medeiros. “Como deputado federal, Campos 6 um agressivo critico e opositor das sublevacdes tenentistas e do programa da Alianca Liber- tadora, de Assis Brasil. Defende, na Camara dos Deputados, © regime da legalidade, o senso da ordem, a civilizacdo, o regime de estado de sitio, as medidas de excessio e de repressio contra as manifestagées militares de protesto, as quais sio vistas por ele como explosio de “instintos primitivos”, como “forcas da desordem e da destruicéo”, “espirito primario e jacobino”, qualificando-as de “sombria aventura”, e “mons- truoso atentado”, de “agressfio a ordem tradicional do pais”, “morticinio fraticida”, “flagelagéo da patria”, (...). Quanto a Assis Brasil ¢ & sua pregacéo liberal consubstanciada no Jema “Representagio e Justica”, a qual, segundo Campos dava 389. SCHWARTZMAN, Simon. Op. cit. p. 35/44. Francisco Campos e Azeredo Amaral as matrizes ideolégicas que o norteiam” .** Na fase anterior a 30, Francisco Campos jf havia estabe- lecido seu niicleo fundamental de idéias.“ Do discurso que profere junto a herma de Afonso Pena, em 1910, Jarbas Medeiros seleciona o seguinte trecho pela sua expressividade: “Para resolver, por consegilinte, o problema da democracia 6 necessério que os juristas, largamente embebidos da inspi- rac&o nacional, estejam sempre prontos a adaptar os érgios legais da Nacdo a satisfacio das necessidades democraticas, sem. permitir que a orientagdo do designio nacional seja que- excessos da democracia pelo desenvolvimento da autoridade sera papel politico de numerosas geracdes” ‘MEDEIROS, Jarbas, Op. oit. p. 10 ¢ 11, FORJAZ, Maria Cecilia Spina, Op. cit. p. 97/107. Idem, ibidem. p, 105. Idem, ibidem, MEDEIROS, Jarbas. Op. cit. p. 11. ‘MEDEIROS, Jarbas. Op. cit. p. 11. areees OLIGARQUICA — 21 _ Em trecho de discurso na Assembléia Estadual de Minas, © Presidente do Estado, Dr. Arthur Bernardes enviou jeto de reforma da Constituicio propondo a instituigio regime de prefeituras, nomeag&o de prefeitos para todos os muniefpios “mais com fins politicos do que técnicos”,® afir- mava Francisco Campos: “Invocou Sr. Presidente, 0 illustre deputado (...), como iiltimo argumento de impressio, a “demoeracia, que elle via sangrando e morrendo dessa feride innomindvel, que seria a institui¢io das prefeituras em Minas. essa mesma democracia que eu invoco, Sr. Presidente, a democracia moderna, que vive da prosperidade e da unidade da nagdo; essa democracia, que precisa de uma espinha dorsal © ndo a democracia-xadrez, constituida de rectangulos innu- merdveis, cada qual com a sua bandeira e a sua cér; a demo- -cracia substancial e substantiva, moldada na unidade nacional, -constituindo com ella um s6 corpo e representando-se na autoridade suprema, em virtude dessa delegacio espontanea, que é a confianca popular nos prinefpios norteadores do destino commum, transferindo assim, Sr. Presidente, a politica para ‘a prefiguracdo divinatéria da patria futura, homogenea, consti- tuida de um bloco, sem patriotismos regionais, elevando acima de todos e de tudo a idéia de sua unidade, e com esta idéia ‘realizando o programa nacional. “No constitue, Sr. Presidente, argumento contririo a essa democracia, assim a s6 tempo, ideal e positiva, 0 facto de ser a autonomia local uma instituigdéo histérica, pois que niio 6 86 de habitos, nio 6 s6 de tradigo, no é s6 de passado que vive a patria. A democracia vive, igualmente, do futuro; vive pela idéa, vive por uma idéa (...) Uma idéa, Sr. Presi- dente, & que constitui a unidade de Patria; as instituicdes histéricas, os habitos locaes, as divis6es regionais constituem outros tantos obstaculos que essa idéa tem que decompor e analysar, para, senhora de terra, orientar e reunir em torno 46. CARVALHO, Orlando M. Politica do municipio. Belo Horizonte, Agir, 1964. p. 83. 22 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POLSTICOS della os soldados, que s¢ néio conheciam ou se odiavam, sob a mesma bandeira sagrada, a cuja sombra se abriga a nacio que vé na mesma idéa, acclamada por todos a um 6 tempo, a chave da sua alianca ¢ o segredo de sua forca irresistivel” .“” Em novo discurso, este em defesa da Reforma da Consti- tuigéo de 1801, Francisco Campos deixa claro sua posi¢io anti-partidéria e as idéias de disciplinar o estadualismo, eobrindo 0s vazios da Constituigio de 1891 através de uma linha de ac&o centralizadora. Veja-se sua justificativa para a insergfo no texto constitucional das situagdes em que se deveria processar a intervencio federal: “Que é esse projecto de reforma senfio um acto de fidelidade ao espirito da Consti- tuigio Brasileira, uma tentativa de restauraciio dos seus textos mutilados por interpretagbes tendenciosas ou mordidos e desfi- gurados reactivos com que a alchimia dos partidos e das paixdes politicas procuram corroendo-lhes a expresséio literal, diluir o espirito e obliterar o pensamento, que Ihes 6 consubs- tancial e ingenito?” Os discursos de Francisco Campos trazem explicitas as idéias que constituem o cerne do Manifesto aos Mineiros da Legifio de Outubro — a conelamagio de todos sem parti- darismo para a construcdéo do Estado Nacional combatendo “as instituicdes histéricas, os hfbitos locaes, as divisées Na anflise do Manifesto destacamos algumas passagens em apoio desse confronto eritico: “Aqueles que, passado o periodo militar da revolucio, acreditam resgatada a nossa divida para com o paiz, nfo enxergam na estreiteza de sua mirada, os horizontes até os quaes se dilata a zona dos nossos deveres, e 0 numero e a gravidade delles, exigindo do nosso enthusiasmo e do nosso devotamento a porcéo melhor e mais alta, aquella que, dando continuidade a0 nosso labor, 41. CAMPOS, Francisco. Antecipacées 4 reforma politica, if politica, Rio Janeiro, José Olymplo, 1940. p. 117 e 118. ‘2 48. Idem, tbidem. p. 235. REACAO OLIGARQUICA 23 _ tobreea a nossa contribuicdo para o reerguimento da Repti- blica © nos traga, com a certeza de vela renovada, a alegria de ter trabalhado e sofrido pela sua renovacio,” # _ Criticando o periodo anterior a 30 afirma: “Era a miseria economica ¢ a miseria politica. Era a pobreza do povo, pelo aviltamento de sua moeda e o estancamento de suas energias productoras; € era a decadéncia e a corrupeio da cidadania, Pelo appello e 0 emprego dos mais grosseiros e illegitimos Provessos politicos, que ndo admittiam a controversia nem toleravam a independencia. Entre os vorazes, que entre si Tepartiam as facilidades do poder, e os violentos, que nelle si reservavam o privilégio de praticar desmandos, a coisa Publica era escandalosamente desbaratada, ao mesmo tempo que a Nagao perdia a forea de seu corpo ¢ a nobreza de seu espirito. (...) E reagimos. 1 nessa reacio, que rompeu impetuosa de todos os quadrantes da vida brasileira, varrendo como uma herva ruim, os homens e as coisas vigentes. Minas _ tornou o lugar que lhe impunham a severidade de sua histéria e a sua profunda, irrecusavel e irreprimfvel vocaco pela liberdade. (...) Um grande vento de rebeldia soprou sobre as montanhas, congregando no mesmo pensamento regene- rador os homens mais frios ¢ calmos, pois que a todos opprimia © enxovalho das prerrogativas constitucionaes, como feria o desbarato do patrimonio nacional (...). “Se o desmantelo juridieo da Republica era por si s6 sufficiente para justificar uma revolugio, nio 6 menos certo que os gravissimos desatinos na ordem econémica e financeira vieram também impellir o povo para o recurso desesperado das armas (...). A olygarchia organizada que se apossara da nag&o, ao envez de ir a0 amago desse descontentamento (...) adjuntou afinal maiores aggravos as queixas do povo (...). A revolugao inevitavel subverteu tudo isso ( 49. Legiio de Outubro; Manifesto aos mineiros. Minas Geraes. Belo Horizonte, 17 de fevereiro de 1931. da Revolucio de Outubro de 30. Hle faz parte do processo de rejeicio do neoliberalismo que pautara a campanha aliancista ecnforme aponta Luiz Werneck Vianna.®* Pronunciado a menos de cinco meses apés a Revolucao de Outubro, o discurso situa-se numa linha de continuidade dos discursos de Vargas de janeiro de 1981 nos quais j@ emerge “o papel inovador do Estado, potenciado sob o influxo da ideologia e das instituigSes corpo- rativistas”.©@ O castilhismo de Getilio Vargas adaptado a um novo cendrio de aciio e acrescido das novas idéias de viés autoritério, traz também implicito o rechago ao governo repre- sentativo. & este um dos grandes pontos de confluéncia do pensamento de Getilio Vargas e Francisco ‘Campos. ‘A proposta fundamental explicitada no Manifesto € a de “operar no Brasil uma nova eriagio de valores politicos e ‘econémicos,” pois, afirma “o que se fez por enquanto foi ‘50. Idem, ibidem. 51. VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo ¢ sindicato no Brasil. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1976. p. 127. 52, Idem, tbidem. REAGAO OLIGARQUICA i simplesmente remover valores acabados”.® © término do Estado Oligarquico e a renovacdo através de um projeto centra- lizador constituem, “sem cor de partido, sem distingio de classes” ® o implicito na proposta da Legido de Outubro. J4& em janeiro de 1931, pelo Decreto n° 9.847 (02-01-31) defi- nira-se a orientacio revolucionéria em matéria de governo local. Pelo decreto ficavam dissolvidas as Camaras Municipais @ instituidas as prefeituras, cujos titulares eram de livre nomeacio e demissio do presidente do Estado. A estes pre- feitos cabia a atribuicio de “deliberacio e execucdo” em tudo quanto respeitasse & administracio do municipio. E nosso entendimento que os aspectos fascistizantes da Legitio de Outubro nio representam mais que uma agregacio de formas externas e conjunturais visando a dar suporte ao Projeto dos pensadores antiliberais do qual Francisco Campos € 0 representante em Minas. O tenentismo j4 submerso pela onda autoritéria nfo possuia mais sua conotacio liberal-demo- erata. Acresce ao fato que em Minas agiram os “tenentes civis”, especialmente Virgilio de Melo Franco, filhos das antigas oligarquias que se entusiasmaram progressivamente pelas idéias modernizantes que vinham no bojo da implantagéo de um Estado autoritario.% O “tenentismo”, apés 30 6 mais a unio de forcas militares e civis, cujos projetos de acio politica sio reformistas e ndo revoluciondrias. Neste sentido se aproximam dos projetos das oligarquias dissidentes que tomam uma dire- cio autoritaria. 58. Legiio de Outubro. «Manifesto aos Minetros>. Minas Geraes, Bello Horizonte, 17 de fevereiro de 1931. 54. Legiéo de Outubro. Minas Geraes, Bello Horizonte, 28 de feve- retro de 1931. 85. CARVALHO, Orlando M. Politica do municipio; ensaio histérico. Belo Horizonte, Agir, 1946. p. 101. 56, Sobre a trajetoria de Virgilio de Melo Franco ver: BAGGIO, Shella Brandiio. Continuidade e Renovagdo: Virgilio de Melo Franco ¢ a politica em Minas — 1988/1983. (Tese apresentada eo Departamento de Clénclas Politicas da UFMG) 1985. 26 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POLITICOS No geral 0 Manifesto da Legifo de Outubro representa a busca de coneretizacéo das idéias basicas dos pensadores autori- tarios — Oliveira Vianna, Azeredo Amaral, ete. Busca de uma solugio alternativa & crise do poder oligarquico, baseada na idéia de que a transferéneia de todo poder ao Estado evitaria os conflitos de interesses, abrindo o espaco a modernizacao.*" Mineira. Os secretarios de Olegario Maciel, membros do PRM, Levindo Coelho e Noronha Guarani, respectivamente da Edu- cacao e Financas, demitiram-se. ‘A investida autoritaria dos legionaérios provocou nos quadros do PRM um amplo movimento visando a redefinir a posigo politica das oligarquias no quadro redimensionado pela Revolugao de Outubro. Do Congresso de 15 de agosto de 31 (Congresso dos Diretérios Municipais) sai o PRM com um novo programa partidério no qual sao explicitados os limites que a oligarquia mincira pretendia tragar para a Revolugéo. Fazendo uma autocritica, o Partido declara que “ao reformar sua lei org’- nica, confessa haver commetido possiveis desacertos mas assume inteira responsabilidade delles, ¢ declara que se vae bater pelos altos designios da Revolucio de Outubro, por melhores processos de fazer politica e administracio nio cultuando a submissio e subordinagio ao poder que tudo 87. Veja-se: MICELI, Sérgio. Intelectuais e classe dirigente no Brasil (1920-1945). S50 Paulo/Rio de Janeiro, Difel, 1979. p. 166. RHACAO OLIGARQUICA 27 resolve, manda e desmanda, com o privilegio de absoluta irresponsabilidade e impunidade” .58 O pensamento da oligarquia, manifesto no programa de 31, Tespondendo ao quadro conjuntural em que foi elaborado, contém uma proposta de encaminhamento da Revolucio como reagio e alternativa & proposta autoritéria que se definia ¢ exige para sua compreenstio que se atente para o cariter de oposigdo em que se encontrava o PRM. Postos os limites estabelecidos 4 andlise do programa de 31 do PRM, vamos procurar abordar de forma sistemitica Seus aspectos mais significativos. As teses apresentam um cunho moralizador das prdticas politicas da Reptblica Velha sem alteragdes substanciais no modelo estadualista e coronelista. Veja-se as seguintes teses: “proibigdo das “substituig6es presidenciais da Reptiblica por alternagio entre os Estados” (Tese politica V); “proceder a apuragio das eleicdes e reconhecimento dos eleitos segundo critério exclusivamente juridico, mediante cooperagéo dos poderes legislativo e judieidrio”. (ese politica VII); “pro- mover a lei eleitoral que assegure a pureza do alistamento, a liberdade, o segredo do voto e a representacio proporcional a08 diversos matizes de opiniio” (ese politica VII) ; “manter © regime federativo sob a forma republicana, conservando a autonomia politica e administrativa dos Estados outorgada pela Constituigiio de 24 de fevereiro” (Tese politica II) comple- tada por um vago “com as restrigdes impostas por elevados interesses nacionais” ; “manutengao das policias estaduaes como foreas auxiliares de defesa nacional” (Tese politica XXI); “manter a autonomia dos municfpios” (ese politica XVI). As demais teses politicas concentram-se na idéia de combater © oficialismo e suas préticas como norma partidéria e na representacio classicista nos érgiios legislativos.® 58. Partido Republicano Mineiro; Let Organica © Manifesto da Comissdo Executiva. Revista do PRM, Anno 1 nt 3 — 28/3/33. p. 14. 59. Idem, ibidem. 28 REVISTA BRASILEIRA | ‘As teses sociais e econémico-financeiras envolvem 0 reconhecimento do sindicato tutelado, a instituigdo da justica trabalhista, a instituigdo da previdéneia social, 0 apoio a coordenacio estatal das relagdes capital-trabalho, a divisio dos latifidios improdutivos sob pena de sancGes fiscais, men- ges referentes & melhoria de condices do operirio e do trabalhador rural, saneamento da moeda através do Banco Central, bancos regionais de crédito agricola e hipotecdrio, revisio do sistema de impostos, conselho técnico para orientar ‘a economia do pais, plano conjugado de transportes para promover a integracio econémiea, ensino téenico em especial © agricola, maiores dotacées orcamentérias para a educagio, sobrepor 0 interesse econdmico do interesse politico na reorga- nizag&io da vida do pais. A proposta da oligarquia mineira consubstanciava-se em dois prineipios bisieos — a manutengéo do pacto da Repiblica Velha sem alteracdes substanciais nas instituicdes e uma nova dimensfio do problema econémico afirmando-se o primado do econdmico sobre o politico e da responsabilidade da Unio na condugiio dos negécios nacionais. ‘A contradicéo do pensamento da oligarquia é evidente — ao lado de propugnar a manutencio da ordem liberal da Repiiblica Velha, ela propde uma nova praxis de conducio da vida econdmica através da absorcio e conducéo pelo Estado dos problemas econémicos e sociais do pais. Sua proposta encaminhada no sentido de manter o dominio das elites agré- rias tradicionais absorve a formula corporativa que dissimula © caréter excludente do sistema politico que abria, conforme afirma Werneck Vianna, canais de participacio manipulados e controlados pelo Hstado.% © impasse que se configura para a oligarquia mineira é 0 de coneiliar a ordem liberal, entendida no sentido anterior a 30, com © cardter, por ela mesmo identificado como necessério, de um Estado interventor e modernizante. Tal posig&o, porém, 60, Idem, tbidem. 61. VIANNA, Luis Wereck. Op. cit. p. 134. REAGAO OLIGARQUICA 29 era incompativel com o caréter da modernizagio no pré-37 que se fundava na remogio do Estado Liberal como condigio de um projeto modernizante capaz de abrigar “os interesses contraditérios compreendidos na coligagio de forcas vence- doras em 30. Desdobramento da reacio da facc&o oligarquica bernar- dista contra o bloco no poder é a tentativa de golpe ocorrida em 18 de agosto de 31.® Na mesma conjuntura portanto, em que a oligarquia define sua posi¢io frente ao avanco centralizador. O malogro da tentativa de golpe coordenado por Arthur Bernardes e Virgilio de Melo Franco provocou a exoneragéo de Francisco Campos do Ministério da Edueacio ¢ dos perremistas Mario Brant e Afonso Pena Jr. A dissensio acabou por provocar a perda por parte de Minas da participacéo na politica federal. Se os mineiros perdiam posicao no plano federal, Vargas perdia suas cunhas de acesso.® Tal situagio, aliada preocupagio do governo 62. Idem, tbidem. 63. CLEMENTE, José. 0 «18 de agosto>. Fstado de Minas, 18 de setembro, 1977. 64, MAGALHAES, Bruno de Almeida. Op. oft. p. 238. 65. Sobre as clivagens do proceso afirma BRUNO DE ALMEIDA MAGALHAES: «Hm consegliéncia dos acontecimentos de Belo Horizonte reuniram-se com Getdlio no Paléclo Guanabara os Ministros General Leite de Castro, Oswaldo Aranha, Melo Franco e Francisco Campos. mste liltimo sugeriu a substituicgio de Olegério pelo perremista Afonso Pena Janior. A despeito do sigilo, a conversa transpirou e 08 Difrios Asso- ciados, que viviam a servico da Legido, passaram a atribuir a autoria da idéla 20 Mintstro Oswaldo Aranha. Sste, através da imprensa, desmen- tiu a noticia com a publicagtio de declaragdes escritas dos componentes da reuniéo ¢ atribuiu a divulgacto 20 Ministro da Educago, acarre- tando-Ihe a exoneragio. Pouco tempo depois exoneraram-se também da presidéncia e da direcéo de uma das carteiras do Banco do Brasil os dois perremistas Mérlo Brant ¢ Afonso Pena Janior. H assim se dissolveu praticamente a Legifio Liberal de Minas Gerais e o Estado perdeu a partictpagio no govérno federal. A dissensio interna de Minas Gerais muito abalou 0 governo federal que, através do Ministro da Guerra, tratou de recompor as forcas desavindas. H finalmente a pax voltou a relnar temporarlamente. Comecou a recondugo de Francisco Campos, oujo lugar flcara vago desde a sua exoneracto, © depois com a uniSo. dos Lanari passa a militar na Acdo Integralista Brasileira e Fran- cisco Campos e Gustavo Capanema voltam politicamente aos quadros da oligarquia. ‘A eclosio do movimento constitucionalista de Sio Paulo rompeu a efémera frente tmica. “Esperava-se do Presidente de Minas que ficasse com Séo Paulo ou pelo menos neutro.® Este era o compromisso de Olegério Maciel que se depre- ende das cartas de Wenceslau Bras e Djalma Pinheiro Chagas a Olegario Maciel publicadas por Hélio Silva. A causa constitucionalista foi apoiada pelo PRM, sob a chefia de Arthur Bernardes, apés o recuo de Olegario Maciel que ordenara o ataque a Sdo Paulo pela Forga Publica. As tentativas de articular um apoio a Sdo Paulo chegaram a nenhum ou quase nenhum resultado pratico. Sio Paulo precisava de armas e mineiros em torno de uma agremlagho eftmera denominada «Partido Social Nacionalista>. Em consequénela do actrdo, passaram a fazer parte do govérno mineiro os perremistas Carlos Pinheiro Chagas ¢ Ovidio de Andrade, como Secretérios das Financas ¢ da Agricultura, respecti- vamente.> Op. cit. p. 237/288. 66. Vide texto do programa do PSN in: CARONE, Edgar. A Segunda Ropiiblioa. p. 205/207. 67. Idem, tbidem. 68. CHAGAS, Paulo Pinhetro. Depoimento de wm contemporaneo ‘na revolugdo de $0 em Minas. p. 18 (mimeog.). 69. SILVA, Héllo. 0 ciclo de Vargas. A guerra paulista. p. 202/204, _Autoritarismo e Oligarquia: Disputa de Poder Bet € Cooptagéo (1988-1937) A tentativa de Arthur Bernardes em recuperar 0 domfnio oligarquia tradicional sobre o Estado dando apoio & causa constitucionalista malogra com o desfecho do movimento de 82. O fracasso impés-Ihe a prisio em (23 de setembro de 1932) e o exilio. Pelo Decreto 32.194 de 8 de dezembro de 1982 icavam suspensos 0s direitos politicos dos revoluciondrios de 32.70 Abriu-se, assim, o espaco para o avanco do varguismo ‘em Minas pelo recuo da faccio oligérquica bernardista e pela cooptacéo ou desarticulagio das outras facedes oligarquicas. Para concorrer as eleigdes & Assembléia Nacional Consti- tuinte a se realizarem em 03 de maio de 33 promovera-se a formac&o do Partido Progressista sob a presidéncia de Ole- gario Maciel. O Partido Progressista foi fundado em 22 de janeiro de 1933 através de um congresso constituinte realizado no edificio da Escola Normal de Belo Horizonte. ‘Trata-se de um partido meramente circunstancial, de base estadual, como o foram varios outros fundados no pés-Revolugo de 30 com a fina Iidade de institucionalizar o proceso de arregimentacio dos candidatos as eleicdes & Constituinte Federal. Ele agrupou a fragio da classe dominante mineira situacionista em estreita vineulagdo com os interesses dos Executivos estadual e federal. ‘A estrutura do Estado que se eshogava no pés-Revolugio de outubro de 30, condicionando o desmantelamento das mé- quinas partidérias anteriores a 30’ como principio para impo- sigéo da nova ordem, permite-nos definir o Partido Progressista 70. MAGALHAES, Bruno de Almeida. Op. olf. p. 348. fatores que impediu a organizacio de partidos nacionais foi a mentalidade antipartidéria surgida como reagio ao viciado sistema de rodizio no poder dos partidos imperiais. A conjun- tura de 30 é assim um momento de revigoramento de uma tendéneia — antipartidarismo — ja manifesta na Repiblica.”" ‘A corrente contra a formacio de partidos politicos & gerada no quadro da crise da emergéncia do proletariado e das camadas médias urbanas no cenario politico. Os partidos sio vistos pelos idedlogos do sistema como elementos desagre- gadores pelo seu cariter de agrupamento coeso e solidario pela incapacidade das elites politicas brasileiras de se condu- zirem partidariamente devido aos seus instintos personalistas e clientelistas. As posigdes antipartidarias sio manifestagées subjacentes ao autoritarismo que ganhava terreno nos anos 30. Seu objetivo era duplo, visava impedir a institucionalizacio via partidéria das reivindicagdes das classes subalternas ¢ desmantelar as maquinas partidirias estaduais. As idéias corporativas ganhavam terreno como forma de disciplinar as relagées capital-trabalho. Por outro lado, a diretriz politica de Vargas — centralizacio, conduzia-o & impedir a renovacdo das estruturas politicas anteriores & 30 ¢ fundamentalmente aquelas que pudessem conduzir 4 autonomizacio dos Estados. Nao havia pois interesse em propiciar a formagio de novas méaquinas partidérias estaduais cujo fortalecimento poderia vir a constituir uma ameaca ao sistema. 71. Sobre a questo partidéria na década de 30 ver: SOUZA, Marla do Carmo Campello. Estados partidos politicos no Brasil (1980-1964) Sdo Paulo, Alfa-Omega, 1976. (0 OLIGARQUICA 33 A formagio do Partido Progressista entendida no quadro esbocado, das tendéncias politicas e ideolégicas da década » 80, nfio representa senfio um arranjo para organizar as eleitorais, visando a concorrer as eleigdes 4 Consti- ite Federal. Ele surge no quadro de indefinicéo do lulo ideolgico entre autoritarismo e liberalismo que marca Perfodo 30/37, e que em certo momento levou & convocagio da Assembléia Nacional constituinte obrigando, assim, a orga- nizacio partidéria do situacionismo. Os Estatutos da Constituicéo do Partido estabeleciam uma estrutura de organizacio apoiada em Diret6rios Distritais, Diretérios Municipais, Congresso dos Delegados Municipais e uma Comissiio Executiva. Como érgiios primarios, 0s Direté- rios Distritais destinavam-se a dirigir as atividades partidarias nos distritos e escolher candidatos a cargos distritais. Os Diretérios Municipais tinham a fungio de dirigir as atividades - partidérias no municipio, reconhecer 0s Diret6rios Distritais, nomear representante ao Congresso dos Delegados Municipais, escolher candidatos a cargos munieipais e indicar & Comissio Executiva do Partido candidatos aos legislativos estadual e federal para o preenchimento de 2/3 das vagas existentes. Ao Congresso dos Delegados Municipais, como érgio delibe- rativo, competia fixar prinefpios e diretrizes partidirias e revisar o programa quando necessario, indicar os candidatos | do Partido Presidéncia e Vieo-Presidéneia do Estado © da Repiiblica e cleger a Comissio Executiva. A Comissio Exe- | eutiva composta de dezessete membros com mandato de 4 anos competia: reconhecer os diretérios municipais, dirigir os pleitos eleitorais no stado, associar-se para aco conjunta com outros | partidos no plano federal, convocar 0 Congresso dos Delegados Municipais, apurar as indieagées dos candidatos dos Diretérios Municipais as fungdes legislativas estaduais e federais no total de 2/3 das vagas e designar o outro terco dos candidatos. ‘A primeira comissio executiva do Partido constitufda no congresso de fundagdo apresentava a seguinte composicao: Presidente Anténio Carlos Ribeiro de Andrada, Secretério Otacilio Negrao de Lima e ainda Valdomiro de Barros Maga- 34 REVISTA BRASILEIRA DB ESTUDOS POLITICOS lh&es, Washington F. Pires, José Monteiro Ribeiro Junqueira, Luiz Martins Soares, José Francisco Bias Fortes, Virgilio A. de Mello Franco, Augusto das Chagas Viegas, José Tavares Corréa Beraldo, Adélio Dias Maciel, Pedro Aleixo, Noraldino Lima, Wenceslau Braz Pereira Gomes, José Joao Alves e Idalino Ribeiro.” ‘A carta programa do Partido Progressista apoiava-se em quatro linhas principais: nacionalismo, diversificagdo da eco- nomia, assessoria técnica especializada aos diversos setores governamentais e organizacio do trabalho. Em que pese a existéncia de formulas comuns a muitos dos partidos surgidos na década e da similaridade com o contetido programatico do Partido Social Nacionalista, frente tinica de duracio efémera formada anteriormente pelo PRM e a Legiiio de Outubro, o programa do Partido Progressista tinha uma especialidade Da sua linha programatica destacamos a busca de superacio da tradicio regionalista da Repiblica Velha (ndo mais se fala em manutencio das policias estaduais — programa do PRM; federacéo com autonomia politica e administrativa dos Estados — programa do PSN); a preocupagdo em favorecer a cireulagéio e producdo de mercadorias, visando a expandir o mercado interno; a defesa da expanséo da agricultura e da industria mediante o estimulo crediticio e a racionalizagio dos métodos de produg&io; o interesse no controle da forca de trabalho tanto no que se refere sua subordinacio a0 capital através da tutela do Estado quanto no que se refere & melhorias da qualificagio da. mio-de-obra; a preocupagio em direcionar o sistema de comunicacio e transportes no sen- tido do interesse nacional vedando-se a participacao federal em obras de interesse meramente regional; a proposta de uma orientacio marcadamente nacional ao ensino primario/normal e ao servigo de satide piblica.”* 72. PARTIDO PROGRESSISTA. Programa e Estatuto. Belo Hori- zonte, 1983. p. 28/31. 78. PARTIDO PROGRESSISTA. Programa e Estatuto. Belo Hori- zonte, 1983. p. 11/20. OLIGARQUICA 35 Organizado pelo oficialismo o Partido Progressista revela. seu contetido programético diretrizes oriundas do plano . Ha, assim, uma sintonia entre os aspectos mais subs- tanciais do seu programa e as diretrizes da politica de Vargas. > Do ponto de vista da atuacio, o Partido Progressista trabalhou no sentido de esvaziar a oposic&o constituida princi- palmente pelos perremistas que por ordem de Arthur Bernardes Procuraram no inicio de 33, rearticular o PRM, fundando uma revista (PRM: Orgio e acio revoluciondria, politica e doutri- néria)" e ativando a propaganda. A situagio de Bernardes feito prisioneiro em 23-09-32 pela sua participacio em favor da Revoluc&o Constitucionalista, © Deereto n° 32.194 de 8 de dezembro de 32 suspendendo por trés anos os direitos politicos dos que participaram da Revolugio e a compressio exercida nas eleigdes 4 Constituinte Federal (03-05-33) propiciaram ao Partido Progressista a eleigéo de 31 deputados constituintes no total de 37 repre- sentantes. O PRM elegeu os outros 6. Organizado durante 0 governo Olegario Maciel, 0 Partido foi a seguir controlado por Benedito Valadares nomeado inter- ventor em 12 de dezembro de 1933, apés um intenso processo de articulacées politicas. Na crise sucess6ria, desencadeada com a morte de Ole- gério Maciel reforcou-se 0 varguismo dentro do Estado. Entre Virgilio de Melo Franco e Gustavo Capanema, Benedito Vala- dares tornou-se o escolhido de Vargas. A razio foi a sua falta de base nos grupos oligdrquicos do Estado. Sua base de sustentacdo sera a absoluta lealdade ao governo federal. Em contrapartida Vargas obteve com a mediacio de Valadares © fim das pretensées de autonomia de diversas fraces da oligarquia e a0 mesmo tempo pelo processo de cooptacio progressiva, impediu as tradicionais articulacdes entre as fra- ges da oligarquia mineira que haviam garantido antes de 30 © monolitismo do PRM. 74, PRM, Org&o de acho revolucionirla,~ politica e doutrindria. Ano 1, 2, 3, 6. 1933, de 33 a agosto de 34. Com a volta de Bernardes tem inicio a rearticulacio da partidiria do PRM. Nas cleices de deputados & Federal e & Assembléia Constituinte Wstadual (14-10-34) 0 PRM conseguiu, apesar da opressio oficial expressiva representacdo. Para a Camara Federal elegeu 03 seguintes deputados: Arthur Bernardes Filho, Bias Fortes, Djalma Pinheiro Chagas, Daniel de Carvalho, Carneiro Resende, Cristiano Machado e Levindo Coelho. No total o Partido Progressista elegeu 29 deputados federais contra 8 do PRM e 34 deputados estaduais contra 13 do PRM. Em discurso de 16-07-35 na Camara Federal, Bernardes alertava para o fato de que a faccfio minoritéria pretendendo a ordem adotara uma posicéo conciliatéria mas que néo depositava confianca em Getilio Vargas, considerado usur- pador “porque se como Chefe de Governo Provisério” Arthur Bernardes Fil ; em dois discursos de estréia na Camara Federal denuncia o atentado do cais do Porto de que fora 75. Sobre o assunto ver: VALADARES, Benedito. Tempos idos ¢ vividos. Rio de Janeiro, Civilizactio Brasileira, 1966. SCHWARTZMAN, Simon. Bases do autoritarismo brasileiro. Rio de Janeiro, Campus, 1982. p. lide 112. 76. As bancadas do PRM e do PP unidas na constituinte. Cidade de Vicosa, 04/08/35. REAGAO OLIGARQUICA 37 vitima no momento da partida do pai para o exilio.77 Em dis- curso, ainda na Camara Federal em 35, afirmava Bernardes “O Brasil arde sobre 0 braseiro de odios e de sofrimentos, e convem néo assopra-lo para no inflama-lo”,%8 O PRM apresentava na Assembléia Constituinte Estadual certo fortalecimento pois havia ineorporado jé um segmento dissidente do Partido Progressista. O fato provocara tentativas de Antonio Carlos de negociar com Getiilio Vargas a possibi- lidade de no se fazer a eleigéio de Benedito Valadares. A posi- cdo irredutivel do Presidente levou Antonio Carlos a pressionar a bancada progressista para obter sua unanimidade. Pro- cessou-se, assim, na Constituinte Mineira a elei¢do de Valadares com 34 votos do Partido Progressista e com a auséncia da bancada do PRM Preocupado com o bernardismo Benedito Valadares arti- culou em vio nos primeiros meses do ano de 1936 um acordo partidario. Veja-se a correspondéncia entre Benedito Valadares e Gettilio Vargas.” As cleigdes municipais de 36 nos dio a exata medida da forca da faccéio bernardista face ao situacionismo. A compres- sitio que se abate sob o pleito eleitoral provoea dentincias do Deputado Jodo Edmundo na Assembléia Estadual.® Fazendo a critica das eleigées, ele denuncia a pressio sobre as profes- soras; espancamento em Abre Campo; ameacas de excomunhio dos eleitores pelo paroco de Conselheiro Lafaiete; Campanha do paroco de Itatina taxando os partidérios do PRM de ban- didos comunistas; troca de cédulas do PRM do PP Manhumirim; nomeacio de novo delegado para o Alto do Rio ‘77. Os crimes da dictadura getuliana. Cidade de Vigosa, n° 1857 de 16-06-35. 78, A opposigo esta alerta. Cidade de Vigosa, n* 1863 de 28/07/35. 19. SILVA, Hélio. 1937; Todos os golpes se parecem. Rio de Janeiro, Civilizacho Brasileira, 1964. p. 8/21. 80. Didrio da Assembléia, Minas Geraes, 02/10/36. 38 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POLITICOS Doce sobre adesio do PRM ao comunismo e apreensio de titulos eleitorais pelo prefeito acompanhado de espangas; obrigagio dos candidatos a emprego na construcio da rodovia de Barbacena de entregarem seus titulos e comprometerem seu voto com o PP, o mesmo acontecendo com os empregados da Prefeitura; priséo de delegado do PRM em Monte Alegre; © cerco de capangas & casa do Chefe do PRM em Dores do Turvo, impedindo-o de yotar e sair as ruas em campanha. ‘Apesar de toda a pressiio, 0 PRM obteve 101.904 no Hstado contra 173.314 dados ao PP ficando para as outras legendas: 32.502.% Em termos percentuais 0 PP ficou com 156.3% dos votos vilidos no total de 307.820, o PRM com 35,17 e as pequenas agremiagées com 10,6%. © resultado na Comarca de Belo Horizonte para o PRM & também significativo (Quadro 1). O Partido Progressista teve que conciliar com as agremiagies de bairros (Partido Municipal Renascenca, Acéo Polftiea Feminina de Vila Con- cérdia, Partido da Vila Coneérdia, Diretério Politico Popular de Santa Tereza, Partido Pré-Melhoramentos do Bairro da Serra, etc) ,® sobretudo representantes da classe operéria emergente @ de segmentos da classe média, para formar = Frente Unica Municipal e realizar assim, o enfrentamento com o PRM. No resultado eleitoral, no total de 16.027 votos Validos a FUM (Frente Unificada Municipal) ficou com 56,78%, © PRM com 28,74%e as demais agremiagies com 14,4876. Os resultados sio significativos. De um lado o Partido Progres- sista obtém uma maioria mediante composicio com outras agremiagées, o que demonstra uma prética politica virtualmente diferenciada dos moldes anteriores a 30. No caso, 0 partido situacionista, o PP, teve que abrir espaco para as classes emergentes interessadas em participagio politica para obter 81, ‘Idem, ibidem. 82, Gazeta de S40 Paulo, 28/07/1936. 83. Minas Geraes, 5 de abril de 1936 — 31 de mato de 1986. CAO OLIGARQUICA 39 vit6ria nfo tao significativa se considerarmos o jogo aliangas © a compressdo eleitoral. Por outro o partido iblicano Mineiro tanto nas elei¢des gerais quanto nas elei- da comarea de Belo Horizonte demonstra ainda vitalidade. jas regras de um jogo politico modificado, da década de 30, preciso considerar que as classes sociais emergentes estio comecando a pesar nos resultados eleitorais, seja por alianca, seja por posigdes independentes. QUADRO I Comarca de Bello Horizonte — Resultados geraes da apuracio das eleicdes realizadas a 7 de julho de 1936 Cireulo 1° — Zona 16° — Municipio: Belo Horizonte — Districto 3° S 3 = 5 3 9.100 3.410 41605 1.437 - 1.467 626 Col. Pop. Indep. 784 = Regenerador 2 = Avulsos — Dr. Ethelberto Franzen de Lima 49 = 16.255 5.980 16.027 5.473 228507 339 (1.498 ‘Namero de cédulas com a emenda e nome . 15.724 8.201 Niimero de cédulas com a legenda, sem nome 24 OTR ‘Total das cédulas da legenda — Nio esto incluldas as urnas das Seccbes 19%, 206 e 26° que dependem de decistio o Tribunal Bleitoral. PARTIDOS RRM Votor Tntervaliemo Votos Col. Pop. Indep. Voter Togenerader Voter ~ VERBADORES o 8 r & lhe : Haewee ee og saee Hawi, Gal id tt itt ail ri iff ; ‘i L 1 tMiul (ld 1th emma oat ss aS ee 0 OLIGARQUICA 4 ___A politica de recuperacio financeira do Estado, o projeto lernizante em andamento, a politica permanente de coop- dos membros da cligarquia, a diminui¢io da compressio _ Assim, em 1936, Benedito Valadares j& com uma base Politica consideravel no Estado, ainda nfo detinha o controle Virtual da politica de Minas. As tentativas de cooptar o ismo antes das eleicées municipais de 36 haviam fracas- sado. A sucessfo presidencial em 1938 era ja objeto de arti- culagées polfticas. Valadares articulava o seu projeto politico préprio — o de sucessor de Vargas. Os resultados das eleiges de 36 apontaram para a urgéncia de acelerar a unificacio das foreas politicas de Minas com vistas A sucesséio presidencial. AntOnio Carlos reeleito presidente da Camara Federal e lider da bancada do Partido Progressista despontava como provavel candidato & sucessio com possivel apoio do interventor gaticho Flores da Cunha. : As articulagdes para deter Anténio Carlos iniciaram-se com a substituicio do carlista Abflio Machado na presidéncia da Assembléia Legislativa Mineira, fato que provocou a rentin- cia de Pedro Aleixo, lider da minoria na Camara Federal. As pressées levaram Anténio Carlos a renunciar & lideranga da baneada do PP na Camara Federal e a seguir a propria presi- déncia da Camara. Impedido de fazé-lo por grande néimero de parlamentares, Anténio Carlos acabou através das arti- culagées de Vargas ¢ Valadares sendo derrotado nas eleicées de 03 de maio de 37 por 150 votos a 131, dados a Pedro Aleixo. © quadro nacional modificado pelas manifestagbes da Alianga Nacional Libertadora (principalmente a Intentona de 35) e da Acio Integralista Brasileira, as manifestagdes operdrias em suas diversas formas e a sucessiio presideneial, criaram a conjuntura necessiria para vencer a resisténcia dos 42 REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POLITICOS bernardistas. Surgit, assim, 0 Acordo Politico de 36 confi- gurado nas manifestacdes politicas de 04 de outubro. © congracamento das liderancas politicas de Minas no plano federal, municipal e estadual contando ainda com o apoio da Associacéo Comercial foi feito em nome da neces- sidade de unir as foreas contra “a ronda dos trégicos perigos que, a esquerda, ameacam desabar sobre nossos lares, nossos templos, nossas officinas, nossas fabricas, nossas lavouras © A direita, sob o pretexto de atalhé-los, a dos que conspiram contra as franquias e conquistas de nossa formacio demo- cratica.” (Discursaram nas solenidades: o Ministro Odilon Braga pelo povo mineiro; o Dr. Noraldino Lima, pela bancada de Minas na Camara Federal; o Senador Ribeiro Junqueira, pela representacio de Minas no Senado Federal; o Deputado Martins Prates, pela Assembléia Legislativa; 0 Deputado Paulo Pinheiro Chagas, pela Assembléia Legislativa; o Sr. Tancredo Neves, pelas Camaras Municipais de Minas; 0 Dr. Washington Dias, pelas Prefeituras do Estado; o Dr. Octavio Martins Soares, pelos Diretérios Politicos Municipais; o Dr. Alberto Deodato pelo Municipio de Belo Horizonte; o Cel. Caetano Vasconeello: pelas Classes Conservadoras; 0 Dr. José Maria de Alkimim, em nome do Governador Benedito Valadares e o Governador Benedito Valadares) .® Ao temor das elites politicas de Minas em relacdo ao comunismo e ao integralismo acreseeu Benedito Valaadres uma razio objetiva, a necessidade de unificar a politica de Minas com vistas a sucesso presidencial, para através da unificagdo das forcas eleitorais levar Minas a retomar seu poder de decisao no plano federal e garantir sua autonomia .* Car manifestacio de hoje a0 governador Benedicto Valadares. Minas Geraes, 04/10/1933, n° 235. 85. Mfinas © 0 seu pensamento politico. Discursos pronunciados na manifestacéio do Povo de Minas a S. Excla. o Sr. Governador Benedicto Valladares, por motivo do congracamento politico mineiro. Bello Hori- zonte, 1936. 86. Tdom, tbidem. 0 OLIGARQUICA ™ A maioria perremista apoiou a politica de Benedito Vala- | provocando o esvaziamento do PRM. No dizer de Paulo Chagas a pacificagSo foi percebida a época pelos integrantes do PRM como forma de obter a unidade ia para deter tentativas golpistas. A adesio, afirma, estava na possibilidade vislumbrada de deter o varguismo, garantir 2 autonomia para o que segundo o dito de Benedito Valadares em analogia 4 Guerra Civil Espanhola, se neces- sGrio fazermos de Minas “uma Nova Catalunha”.* Visando a garantir aos egressos do PRM a verdade de suas intengdes, Benedito Valadares nomeou Cristiano Machado para Secretario da Educagio e na sua vaga de deputado entrou © 1° suplente Virgilio de Melo Franco. A facgao de Venceslau Brés recebeu a lideranca da bancada do PP na Camara Federal. O acordo cereado de grande cobertura pela imprensa con- tava com o apoio da faccdo oligarquica de Venceslau Bras, de Carvalho de Brito que organizara a Concentracio Conser- vadora em 29 como reagéo ao PRM, de representagao de partidos politicos da maioria dos municipios ¢ das agremiagées, sobretudo operérias de Belo Horizonte (Partido Politico de Vila Coneérdia, Partido Politico de Carlos Prates, Partido Politico do Calafate, Prado e Gameleira, Partido Municipal Independente.* Se Valadares pensara em certo momento que articulara seu proprio projeto politico, nio tardou a perceber que o grande articulador era em verdade Getilio Vargas. Em rea- lidade a unificagdo politica de Minas constituiu uma estratégia que refletia a politica de Vargas destinada a unificar as forcas eleitorais para se necessario contrapé-las as oposigdes de Sfio Paulo com Armando Sales de Oliveira e do Rio Grande do ‘7. CHAGAS, Paulo Pinhetro. Depoimonto de wm contempordnco f da Revolugéo de $0 em Minas. Belo Horizonte, 1980. 27p. (xerox). (Comunieaco apresentada no VI Semindrlo de Hstudos Minetros — (CEM/UFMG) . ‘88. Minas Gerals, 04 de Janeiro de 1936. 44 REVISTA BRASILEIRA DE BSTUDOS POLITICOS Sul com Fléres da Cunha. Num sentido mais amplo a unifi- cacao da politica de Minas criava a retaguarda necesséria a0 Golpe de 37. Do mesmo processo, o de tornar Minas Gerais uma base de sustentacio do varguismo, fazem parte as alte- ragSes na Forca Publica através da tutela do Exéreito e da expanséio numérica do contingente militar. No conjunto do periodo 30/37, Minas, pelas cisdes da oli- garquia, funcionou como amortecedor das pretensées paulistas e gaiichas. Tornou-se progressivamente subserviente, sendo acionada contra Séo Paulo duas vezes, na Revolucdo Constitu- cionalista e na oposigfio A candidatura de Armando Sales. Embora representantes da oligarquia continuem no poder, ela & desarticulada para efeito de reago ao governo federal, primeiro pela manipulacio de Olegério Maciel, depois pela transigénela de Benedito Valadares, para nio mencionar as articulacdes para a eleicio de Antonio Carlos como presidente da Constituinte de 34 com a finalidade de garantir a unidade da bancada de Minas visando & transformagio de Vargas de Go- verno Provisério em Presidente Constitucional.® ‘A dinimica das clivagens néo se encerra porém com o acordo de 86. Antonio Carlos funda em Juiz de Fora (maio de 37) 0 Partido Progressista Democritico para dar apoio a candidatura de Armando Sales de Oliveira, Arthur Bernardes dirige os remanescentes do PRM para a candidatura oposi- cionista, Valadares movimenta-se, para fundar sobre 0 Acordo de 36 um novo partido, o Partido Nacionalista Mineiro visando a apoiar a candidatura de José Américo. Em junho de 37, instala-se no Rio de Janeiro a Unio Democratica Brasileira cuja comissio executiva proviséria era presidida por Arthur Bernardes e integrada por Antonio Carlos, Otavio Mangabeira, Jofo Carlos Machado e Valdemar Ferreira.‘ 89. WIRTH, John D. 0 fiel da balanga: Minas Gerais na federagdo brasileira. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1982. p. 259 segs. 90. Veja-se MALIN MAURO & BLASKMAN, Dora. Op. cit. 91, Idem, tbidem.

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