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nsegagneneone i Um Museu-tabu | casvoocne bio" da criagdo do Parque Nacional do Xingu, assim com, de ego dos fires do Parque Yndigera do Aripuays viriam a ser enfrentados para a consolidags, ar com assuntos tho espinhosos no cotidi; ff eo, | ei Rev do My, Aicos em 4 dimensio dos problem Rondon, que herdou & ¢s amico regional, as que tigma de lidar com ee Mas nao eram 0s 1 ade Mirendo as presbes das novas frentes de colonizacio, eg. ™® nere otras, a didspora que obrigou os Xavante, acossadg, ne vrconbecer xedentarismo Aas terras dos Bororo, adm : adm steriormente, ro sedencaris i a P oe tos ow ainda 4 invasdo dO certitério tradieional doy 9 \ re, alado e vendido pelas empresas de colonizagio na mesma ip! los, a partir dos anos de 1950 e 1960. Poe histérica, através dos reflexos que viriam a prog nics: em todos os cantos do Es coe eco! Grosso os [ndios vinham 5° cessdirig ae menos citat det dispersar das pelos missionrios que passou a ser quasi dos acontecimentos relatad : ‘Viscos assim, em uma pesspectiva " scar nr aids inateucional do Museu Rondon a partir dos anos de 1970, 05 personae no cendrio das disputas em torno das questies indigenas sto sempre fazendeiros, agentes do governo, governantes, jornalistas, indigenistas € missiondrios, jamais os préprios ip dios, que ndo cncontraram espagos de expres conheceram no processo de colonizagio. Certamente esses acontecimentos, que senian fio em relagio &s profundas mudanss ge para projetar de modo heroico aqueles que dedicaram suas vidas &s muitas formas desl vagao", também guardam o segredo ainda a ser desvendado acerca das dificuldades do Indios para encontrar esses espacos proprios de expressio"*, Em Mato Grosso, inda hoje, os indios nio tém voz, estia sempre na penumbra, na contingéncia de espreitar algum que fale por eles. Ou contra eles, 0 que é mais comum acontecer. © Museu Rondon foi criado como um lugar institucional destinade a falar ‘sob os indios, ¢ néo “com” ou “para” os ndios. Um lugar voltado para a elaboragio de um di- curso “para fora”, como uma concessio, Uma distancia desejada, rompida, no maxims através de uma casa indigena construida no patio — um icone, que ardeu em chamas\ists Ge cating * 7 ‘dos? na histéria do Museu, alvo de predadores “desconhecidos” — ou uma homenaget no nome da avenida principal, Av saudades, enida Ceremecé, que se perdeu no tempo sem dar 38 Quem, is 38 Que — ais nc nd do | {evoaid Vill Bes onde aes NE: Seciamence entre os Kamat ¢ os Yawlapii em orn do SERIO eles aoa ease, SOM Marna, sente deport gums PsN OPE ‘foram pala andes ou een 2 Promover« ondenamento da cnmnenen se # Sea, 08 que comheceram a cua “xinguanizacie | | | comno saber 3 finalidade dos tabus ¢ isolar as Fontes de perigo, obrigando-as a So 7. an : , a8 a per regina especie de estado de reclusto. Sio tentativas de controlar as forsas en aneie 7 iizar as influéncias negativas que delas as pessoas acteditam emanar, So aragao, de banimento. Os tabus so proibigoes, necer © bas. de neurrcliza iss es “gs de proses, operam ritas de se mre sde “nd farer”, de “ndo agir”, poem de lado objetos e seres, orden: 10 confiiruoso em relagao aos povos indigenas fala sempre mais sobre © comportament scladude mato-gfossense colonizadora, sobre os seus tabus, do que sabre os préprios aso a je Or inrereases econdmicos sio sempre determinantes, seus territérios e suas rique- sempre alvo de intensa cobiga, mas é no universo da cultura e da constru- jades que encontramos as explicagées, a Iégica que fundamenta a extrema zs nacurais S40 cao das identi rejeigao- Hi, entre os mato-grossenses tradicionais, a crenga de que guardar ou ter em casa ob- igenas “dd azar", 0 que por si s6 seria suficiente para compreender os incémodos ve meame a evitacio que pode causar um museu sobre eles em Cuiabé, Isso parece ser também um tabu mais disseminado, atingindo inclusive 0 mundo dos politicos de um modo geral, nao 36 em Mato Grosso: hé os que se recusam ou gostariam de se recusar, no auge da sua carreira e da sta projecio, a vestir algum cocar indigena, em ceriménias de emoragao envolvendo os indios. Alguns sao até capazes de discorrer sobre casos em jerosind com que a concesséo teria resultado em desgraga © Museu Rondon herdou essa ambiguidade do: de culturas, em um lugar onde elas sio rejeitadas ~ que se expressa ainda hoje quando 2 fala é destinada “para dentro”, quando seu didlogo, ou melhor, quando 0 cendrio de “con- fronto” envolve o universo cultural da populayio local, especialmente os mato-grossenses do poder incontrolado entidos — um érgio de divulgagao tradicionais, Ele parece pertencer ao mundo das coisas “anémalas”, que simboliza os indios como fontes de inquietagio, de inseguranga, de temor que, no extremo, j4 foram alvos de guerras de exterminio através de armas que disseminaram a avido no massacre dos Cinta-Larga ¢ da morte com o minimo de tiscos, como 0 uso do guerra biolégica, com a contaminacgo de roupas ¢ alimentos. Talvez seja importante fazer algumas observagées acerca desse Em outta oportunidade", procurei mostrar 0 desconforto provoc: “selvageria” que herdava dos indios desde o século XIX a elite mato-grassense tradicional de ser incorporada, incluida no mundo invejado, um efeito devastador sobre a iu desde os tempos rdo do qual ela di- endrio do confronto. ado pela imagem de €0 seu desejo obsessivo de ser aceita, Prcstigiado da “civilizagao”. A marca da “selvageria’ teve identidade e a culeura dessa elite, um atributo negativo que se constr coloniais, na exploracio das riquezas minerais, ¢ que caiu como um fa Scilmente conseguia se livrar. ve denicas em Mato Grosse 0 stele Icio Calouste Gulbenkiand 39 Machado, Af i lage chao, Mf. FR, Memérias portuguese sobre ot selvagens. Curae uta We 1, her do Cong et aa ~ Meas ¢Imaginason Fund nitétio da Educagso ~ Lisboa, vol. I, 2000 enismo na Universidade da Scho 103 Musou Rondon: Antropolosia f Indigeniama na Uaiers ie ea idensidade regional, apresentado no XV Professores de Histéria) em 1995 |, Ht Historia da UFMT) langou a rofessora dO : ° ate : P gional, portadora de uma identidade “dete. Galleti fentto valtural da elite re Sa barbdrie do sertao. Com base em seu trabah ®, notivel o dilema, © mal-estar provocado pela dace atribuida. Nas representagoes dos “de fant 1 ssehvageria’ que atingla imagem dos mag waa sombra qUe PetSegue até os timento € indignagao em uma cane cessidade dos estrangeito: grossenses sempre aeinis, Um joralista culaban srcrita do Ria de Janeiro 20 jorna Galleti reproduziv: de um modo geval foi uma heranga indesejavel 1o expressou seu sen! 9 Coméicio, de Cuiabé, no infcio do século Xx que Nio imaginas o quanto 4 massa terra ¢ desconhecida... Dar-se aqui por mato-grossense ¢ ecatse até a pasar por uma cnidade fore do vulgar, alguma coisa que transcende o ces do nacural ¢ que requet 2s pol jrdvel burgués me perguntou aro a qualquer um que me reconhece Por matorgosense Simi ntos de exclamagio, bem langados depois do sex nome... Um respei wiada. E de resto, no é r Ihos esganczados: —"E 0 senhor veio de Mato Grosso até aqui! Jaé se de fato cxistia em Mato Grosso. genie < diver de boca aberta ¢ ol coragem! De sorte que, come yés, Mato Grosso € mais desconhecido do que o centro da Tasmania! Mato Grosso sempre foi o préprio sertio. Segundo Galleti (1995: 7) ‘A conscitneia das distincias geogrifica, econdmica ¢ cultural que separavam Mao Grosso de togides mais ‘civilizadas’ fossem locatiradas no Brasil ou em outsos puss especialmer cus — nao era exc z pecialmence europeus— nfo era exclusiva de estrangeiros ou brasileiros de outras res Favia par é : , parce também dos horizontes mentais de parcelas significativas das elites locals o* gus spe acribuiam tais disedncias 4 auséncia de meios de comunicagao eficazes com? mae srauseatnm tas cee relegada pelo governo central fala de bas fa populagae nativa.” A populagio nativ; . sifi sah principales cone sel en ¢ ironizada pelos estrangeiros era mestica clas dascidaes na contigo de Tine na bone tee indigena®, e morava em fo de lives”, nas bordas da vida de escravidio. No fial dose" 0 40 Ver umber a mms Maca we lado, MER Quo 48 TO und Acre Bs keer min «fim Mar Gt pwede 1 fextouGT 4tkatina pd 3 Amropslogia (ABA), em junho de 2006. Disponbel eo 0g ‘ Maria Fétima Roberto Machade constitula a populagéo identificada como mato-grossense di e » eram quase 28 mil pessoas, enquanto que os “escravos de cor” cram 66 * 17.237; #6 em Cuiabd, 80% da populacao livre era considerada parda a ional, 7 eos (Aleixo, 180 formagées que nutrem os tabalhos dos hstoriadores,sio exraida de ee Faas ise de relatos de vras procedéncias, «no permite qulquer comin cos dot uroclessificacao das pessoas. Quem era (ou é) branco do ponto de vista de an sia iicooal? Meso correndo cero rise ao fazer a afirmacio, dependendo de oa spseragio mais apurada, parece que, em uma sociedade ondle a maioria era parda~ cont resultado da miscigenagio com ex-escravos ~ © mais importante nio era ser branco, mas sim Set “civilizado”. em. Oposigao 20 ‘selvagern”, que correspondia (e corresponde vi, hoje) 20 indio que habita “o mato”, fora da influéncia da cidade, o erttério, por srenca, da “civlizagio". Ou ainda, no extreme, a rejeicéo aos indios seria uma for mma de “embranquecer” as pessoas, de criar nelas um senso positivado de identificacio, mesmo que fossem descendentes, elas mesmas. de indios e negros. Um indio genético, famogencizado pelo olhar dos que imputavam a ele a causa do estigma c da sua falta de aceitacio. “Talver isso explique como os interesses econdmicos eram legitimados pelos (e para os) pripros mato-grossenses ~ pardos ¢ descendentes de indios e negros — que compunkram a ulo XX, empenhada em se apossar das terras indigenas e promover elite da metade do s ~apesar ¢ em prejuizo deles — a “civilizagao”. E notével que, ao longo de trés séculos de presenga em Mato Grosse, no cenha vin- do dos que se identifica(va)m como nio-indios, os colonizadores, qualquer tentativa de consttuir conhecimento ¢ informagio sobre as culturas e sociedades indigenas, além dos relatus acerca do quanto eles foram hostis as frente de penetragio sobre os seus rerritd- ios, motivo certo das guerras de extingao. E o desconhecimento, a ignorincia total, a cnergia que alimenta o dio ¢ o desprezo, quase como um medo de contaminacio. Aos indins “mansos” a serviddo, aos indios “bravos” as expedigdes armadas. Tudo o que sabe- mos sobre os difetentes povos vieram de estudos e observagées de estrangeiros, fossem ths comerciantes, missiondrios, pesquisadores, ou mesmo viajantes, que autriam alguma Cutiosidade. , i- nos em E isso ocorteu~ que € 0 que nos interessa mais de pero aqui — mesmo nos a 4 nur a criagdo de ‘We 05 mato-grossenses pareciam dispostos a mudar de posisio, 30 Proper > ‘at Sa voltado para uma universidade plantada na selva - 0 “lugar do indio” — & de um museu vol Pi Asua selebragio, a 105 siamo ais Unnversidade da See - Amtropulosta & Inchser

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