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-eetaut mundo quando o golpe militar de 1964 levou-o a asilar-se em viton pees iA a colaborando, na condicao de especialista em reformas universitérias, com a Unive idade : da Repuiblica Oriental do Uruguai (em 1964), com a Universidade Cental a, Venezuela (entre 1969 ¢ 1970), com a Universidade do Chile (entre 1970¢ 1971) econ manne universidrios da Argélia (em 1972) e do Peru (em 1973). A enperiéncls de UsB nn apenas 4 anos, de 1961 a 1965, até a queda de Goulart, com a demissao dos professores que haviam colaborado na sua implantagao, Apés 1964, muitas universidades brasileiras, ° antes hostis a0 plano de organizacao da Universidade de Brasilia, comecaram a adotar tal ‘modelo como seu projeto de reestruturacao. gtidade, mas sob formas subalrernas, quer dizet, mediante a implantagio de falsos Insticutos Centrais compostos pelas antigas cAtedras, assim denominadas, Foram feitas pseudo-departamentalizacoes das faculdades Profissionais, numa tentativa de atender a0 que parecia ser a exigéncia da modernizacao, ‘mas sem afetar os velhos interesses de clientela, (Ribeiro, 1978: 133). Lamentavelmente nao o adotaram em sua inte, A UnB, uma filha que “caiu na vida’, foi fruto da ousadia e da ambigéo de quem se identificava como um hibrido de intelectual e “fazedor”, um homem de “fazimentos”: universidades, escolas, romances, ensaios, bibliotecas, museus, um parque indigena e, até mesmo, um sambédromo, para os desfiles de escolas de samba no Rio de Janeiro. A Universidade da Selva: o “modelo” UnB ea criagdo da UFMT a metade do ano de 1963, uma comissio do MEC visitou Cuiabé ¢ produziu um N relatério & Diretoria de Ensino Superior propondo a criagio da Universidade Fe- deral de Mato Grosso, “sob a forma juridica de fundagao, seguindo o modelo da UnB” (Dorileo, 2005: 69). Nas palavras do ex-Reitor Benedito Pedro Dorileo (2005: 67): O isolamento de Cuiabé, 0 centro geodésico da América Meridional, de onde saiu Candido Mariano da Silva Rondon para o pais ¢ 0 mundo, ou o Presidente da Republica Eurico is Iniversi va & Museu Rondon: Antropolaga & Indigenismo na Universidade da Sel 7 seve mais distant do que (0 atual estado de] Ro, unca er umoré, Mas 0 desprezo foi sempre uma con, indo possua estrada pavimentada para qua teas * deni, ferro Madeira! idade, Cuial Gaspar Di a estrada de P Universi chegada 42 Grende, Camy i Nada. ~ a os ce dil vetho, a servigo do ICLC [Instituto de Ciéag, da UFMT] dirig! ho da BR-163, em meados de 1970, leiro do barro vermel . de Cujabal, no 20 aM, Aye a : Wer dire eu co Autilio Ourives {também um des fing indador rs 15 € Letay fi cada apts da reunizo do ICLC ¢ da antiga Faculdade de Diy A UEMT fo ce muitos petealcos em 1956, jd no governo de Juscelino Kip que seinstalon dcPot etje Arruda, em Mato Grosso. A Faculdade de Ditto frmoy . chekeno de 0 Ga bacattsem devembro de 1961, quando ea jé havi do fo Tada por Kubitschek, no p entltimo dia do seu governo, em 30 de jancizo daquele ang ssa primeira turma teve como pro sence Lenine Pévors, Antonio de Arruda, Benedito Vaz de Figueiredo, Mério Figu. elo Ferra Mendes, Francisco de Arruda Lobo Neto, Domingos Sévio Brando Lima Emanuel Pinheito da Silva, Céssio Correa Curvo, Clévis Correa Cardoso ¢ Benjamin Duarte Monteiro (que trabalhara no SPI), tendo como paraninfo Filinto Miller, entio senador por Mato Grosso. Em uma de suas memérias sobre a criacdo da UnB, Darcy Ribeiro (1995) relatou um episédio bastante conhecido, envolvendo Filinto Miiller, que marcou de modo signifa- tivo e inesperado 0s caminhos percorridos no debate sobre a proposta no Senado Feder, J no governo de Janio Quadros, a implantagao do plano urbanistico de Liicio Costa definia um terreno distante seis quilometros do micleo da capital federal, para afistara possiblidade de agitagéo estudantil do centro do poder, mas a rentincia do Presidente tornou o ambiente politico uma incontrolivel tensio. Por recomendagio de Hermes de Lima, Darcy Ribeiro aceitou procurar a intermediagio de Filinto Miller: — “Horror me” ~ele disse (1995: 10), “tratava-se de aproximar dois extremos simbélicos, © meu, de esquerdista, eo de Filinto Miiller, dreitist”, Para sua surpresa, ao visité-lo, apreciando os excelentes bolos que sua senhora fazia”, ouviu dele: “Nao se inquiete, profess ° Nodes i mes breve “ the fatei saber quando serd a discussio final em pli ctiava “a universidade wala re mumeio & fever da "grandiosidade” do prin mina lar para um Brasil novo”, a “alma” da nova capital. Assim ago da UnB foi aprov: Esse relato nao refl a coaboraso entte Dacy Ribena Mille um militar ong tm itr eibano, che ie modo radical a esqu ees Por onde passou no ms $ também em Filineo Mill se ill Bare mostrar que, ao men fessores profissionais das mais diversas reas, dentc 2do, “por imensa maioria”. ima curiosidade folclérica da vida politica nacional # um “comunista” quase a caminho do exilio, « Filis® fe da policia de Geutilio Vargas, acusado de fascist erda, A sua leitura permite compreender os cuith® 6 a criagdo da UnB mas também a criagio da UFMT 4 * um de seus mais reconhecides defensores. O ¢PM 0S no que se refere 20 contexto da criagio das unive™ pe Mile tna Roberto oy bt sper! aang seca i 0 saan 10 coal stds posi hie daembro de ‘waded Uf des, das relagbes entre os principais personagens envolvidos na sta fundacao, o esforco de estabelecer limites, fronteiras na distingio entre esquerda direita, dimento dos acontecimentos, nic favorece o enten- tos, que teuniam em toro dos mesmos interesses aqueles que em outros contextos tendiam & exclusio. E possivel lembrar também que mesmo quando, Darcy Ribeiro j4 no exilio, os professores da UnB sofriam toda o peso da repressio, com a ocupagio do campus pelas tropas da Policia Militar de Minas Gerais, a ditadura nomeou como interventor o professor Zeferino Vaz, da Faculdade de Medicina de Ribeirao Preto que, posteriormente, foi o fundador da Unicamp, em outta das experiéncias mais impor- tantes de implantagio das instituigdes de Pesquisa ¢ ensino superior no pais, como um retrato da “caracter{stica” contraditéria das novas universidades brasileiras que se consoli- daram na década de 1970. A UFMT nio deixou de vivenciar essa contradicéa, plantada em um estado como Mato Grosso , 20 mesmo tempo, com a expectativa de cumprir um papel de vanguarda € até mesmo de questionamento dos rumos que a politica desenvol- vimentista iria seguir. No caso mais especifico da UFMT, nos anos que se sucederam, mesmo as relagbes entre a instituigao, 0 governo estadual ¢ a muito pequena, quase insignificante, drea de antropologia — particularmente no Museu Rondon — podem ser mais bem compreendi- das se remetidas a esse universo repleto de contradigées onde, ao mesmo tempo em quea presenga da antropologia no curriculo nascente respondia ao que havia de mais inovador, a convivéncia foi se tornando cada vez mais dificil, na medida em que as diferengas se manifestavam no cotidiano, principalmente nas questées referentes ao estudo e & defesa dos direitos dos povos indigenas, como veremos adiance. Foi em dezembro de 1969 que o presidente Emilio Garrastazu Médici assinou a men- sagem de criagio da UPMT, com sede em Cuiabii, quando o seu primeiro Reitor, Gabriel Novis Neves, era ainda o Secretdtio de Educago ¢ Cultura, No Ministério da Educagio estava Jarbas Passarinho, que discursava: (...) © governo da Uniio nao vai apenas ao encontro de uma justa aspitagio de todas as classes sociais do Estado de Mato Grosso, mas atende 4 exigéncia de justiga federativa, por ser esse o tinico que ainda nao possui Universidade integrada ao sistema federal de en: Releva ainda considerar que, em se tratando de Srea de desenvolvimento, a Universidade adrao cultural 0. serd fator decisive de apoio ao incremento das riquezas ¢ 3 clevagio do p: do povo, pela criagdo de recursos humanos indispensiveis, em numero ¢ qualificagio, ao Progresso regional. (Dorileo, 2005: 75)- © primeito Conselho Diretor foi nomeado pelo Presidente da Reptiblica em maio de 1971, compasto por seis membros efetivos: trés de escolha do Presidente, um do Minis- tério da Cultura, um do governo do Estado-¢ uum do meio empresatial da regio. Dele Patticiparam, além de Cabriel Novis Neves ¢ Benedito Pedro Dorileo, Bento Machado Lobo, José Vidal, Oswaldo de Oliveira Fortes ¢ Jodo Celestine Cardoso Nero. rrandon: Antropologi 6 Indkgenismo na Universidade Sah 8 Museu Rondon: Antro ¢ Planejamento, dedicada a atividades admin, ie urdes Bandeira Delaménica Freire, a primeira antrop, emis m antropolegit cultural, cuja dissertagio ~ Caboclos sea irfendida em 1969, no Centro Brasileiro de cars sob orientagio de Pedro Apostinhe, 9 os 7 Kariri de Mirandela: um grupo indigena integrado, » Publica 7 |A. Além de Maria de Lourdes Bandeira, a wren cy depo ee quando a logon Ont, Prok. onvivéncia cam os {ndios jos de Mato Grosso do $y, seg, that 1 Assessoria 4 day Up dos Bahianoss mais urna aner Pina de Barros: tabeleceu em Cuial mescrado (Kura Bal opdloga 5 anos depois de uma o ba, vinda da UnB onde, em 1977, havia defendido sua d ssettacty, de TeaniKune Karaiwa: dois mundos em confronto) no Dey me oj, cob ventas de Jlio Cear Mela, bastante influencing Pein aor padadeserelgbesénicasdescnvolvides por Roberto Cardoso doh se ratursacadémica da UEMT foi constituida por centros, deparcam he aagted Pimeieo Ciclo, © Centro de Humanidades eunia os depart mite aif Educagio; o de Ciéncias Sociais congregava os departamentos de Dee ete Giéncias Contibeis, Servigo Social, Histéria e Geografia; o de Ciénci Fa Eemonig gia ei os departments de Maremiiea, Fiskea, Quimica e En eerie Ciéncias Biolégicas e da Saide, nao implantado ainda em 1973 cee ratlgae share Departamento de Hiseéria Natural. stave pogatnade pea ram criados como Orgi : . tugal eda Espanha (que vieram postriormens Beton arte se ot eae een paeiommeneiee 1976, a ser incorporados no Nilo Humanas eSocais); a Editora: 0 setor d a egional, o NDIHR, do Insticuto de ees ee Audiovisuais; 0 setor de EducaioF Tena Paros com ama dea de 1.696 m2 dbrgandoo conjunc aquatico (compos de Asinenca'aoe Euidsntee “° impicas ¢ outra para saltos ornamentais); aDiviso teflexdo ¢ de acdo indigenist P luseu Rondon, ctiado em 1972 como um cent o Caton Pe ee Postriormence foram criaclos também o Museu de Are tarde, o Tete Univers (on een Pones 070) © Zooldgico (1977) 6 TV Universidade (com transm m capacidade para 500 pessoas), a Orquestra, © Coral? inicio da década de 1980, A Faseat da TV Educativa — RJ) ea Revista Universidade: . A Fazenda Experimental tinha sta érea doada, ainds ros anos de 1970, ; pelo prefeirc rn © de Santo Antonio de Leverger, municipio vizinho a Culabs A primei r ira manifestacdo py 40 divalent pablica acerca das caraceriticas prt & vente cava? télogo G anse a go Ger elo de originalidade nos se al, de 1973, cujas expresses anunciavam ¢ dem ‘us propdsitos: A Universid, lade Federal di Fh Je Mato Grosso & uma Universidade da S210 ait ee Marco zer t0 da rodovi lovia Cuiabs Cuiabi-Sancarém, na zona de transgio entte 0-78 ut Mana Fat ‘itlma Robert ro Machado concentragao de florestas tropicais do mundo, faz parte do conjunto de instalagoes federais de vanguarda que operam o desbravamento ¢ a integra¢ao da Amazénia, no sentido SE-N. A experiéncia didria da Universidade tem aspectos originais. Uma equipe de campo pode ser forgada a andar de vinte € cinco a trinta quilémetros a pé, se faltar dgua no radiador, na estrada que leva 2 Uriariti (0 Hospical Indigena da Missao Anchieta ¢ do Programa de Medicina em Comunidades Tribais da Universidade). ‘As distincias médias percorridas entre o Campus, em Cuiabé, ¢ 05 postos de bases avangadas da Universidade no Rio dos Peixes, em Dardanelos, em Utiariti e em Eremetsauké?, correspondem, respectivamente, a Brasiia-Rio (novecentos quilémetros), Brasilia-Salvador (um mil e cinquenta e seis quilémetros), Brasilia-Belo Horizonte (seiscentos e oitenta ¢ nove quilémetros) ¢ Brasilia-Sio Paulo (oitocentos ¢ sessenta € cinco quilémetros) em linha reta. Os agentes maléricos si0 uma presenga ameacadora desde o Vale dos Diamantes até 0 distante territério tribal dos indios Kayabi ¢ Apiaka, clientes do Programa de Medicina em Comunidades Tribais da Universidade, que para chegar a eles navega 0 Rio dos Peixes, na vertente do Rio Arinos, 0 qual rouba dgua do Rio Teles Pires, © protetor dos campos de caga dos Kranha-Karore, que dois pesquisadores da Universidade contactaram recentemente. Segundo esse documenta, escrito por Pedro Paulo Lomba, entio assessor de planeja- mento‘, uma universidade amazénica nao poderia adotar o modelo organizacional apro- vado nas regides “polarizadas” do Centro-Sul, pois eram “uma resposta educacional as necessidades de desenvolvimento socioeconémico em regides caracterizadas por alta taxa de densidade demogtifica ¢ pela proximidade geogrifica’. Implantada e operando em uma extensa drea, a Universidade Federal de Mato Grosso deveria “agilmente, converter- se num polo planejador © num claro visor para a realidade regional, empreendendo a pesquisa de um modelo resistente ¢ produtivo de organizagao, que se converta em motor ¢ condicionador do desenvolvimento regional”. A localizagio de “polos de desenvolwi- mento” nessa regido correspondia a “um raciocinio socioeconémico” que envolvia “uma perspectiva no tempo e no espaco”, devendo a universidade “se esforsar para aperfeigoar € concretizar a agéo proposta por este raciocinio”. E ainda: ‘Adotando essa politica, a UFMT acredita estar contribuindo para estruturar melhor o mercado de trabalho, impedindo a futura evasio de alunos dos cursos ¢ a evasio de diplomados da regio e, paralelamente, assegurar ao govern ¢ 4 empresa privada, no somente a mao-de-obra qualificada, com perfis profissiogrificos adequados, mas um novo 3 Bremetsauké ficava nas margens do Rio Jurena, antes da barra do Rio do Sangue, no terricério tradicional dos indios Rikbakrsa, onde os jesuitas, que fariam 0 consato com esses indios. na década de 1950, rinham um acampamento. O lugar cra tamibérm conhecido como Alagoanos, por haver imigrantes nordexinos em frente ao acampamento, Ver: Dorns- tauder, Jo, 1975, p, 1. 4. Sua autoria foi identificada pelo cx-diretor do Muscu Rondon, Joio Vieira, que reconheccu 0 texto. Museu Rondon: Antropologa & Indigenismo na Universidade daSelva 35 «diferente daquele que pit0u, de ino, op jamerralment do dam i ancira antieconémi iat agindo de mé tiecondmica ¢ 2h tay de colori “ica, ue. oe em ~pnsiderivel de nossa forests tropicasea maj, cermineu por dese in anossa inica fonte no curopeia de conhec; omanidadesindiBo™ vrs América do Sul.” (Catilogo Geral da UFMT, 1g atu vobre o horse € 4" 30) iras, € 41 brasil = Mento 73: 25. 0 Catdlogo Geral de 1973 pontuava a grande caréncia de oy, igo ¢ a meta prioritdria de investir na Amazénia MALO-grossens, sobre a ety mesmo de robustecer suas atividades de ensino”, poig 7 ‘com sie” se 0S conteidos educacionais permanecessem “estranhos ap = 06 da Universidade”. E ainda: fim velagdo peal? nhecimento no Pancanals “bastante conrad ito de influéncia ses conhecimentos é também condigao imprescindivel para instaury ‘A produgao des ; ; P Isora do progresso desta regido, suprindo a socicdade de a Universidade como propul informagbes essenciais. com pouco mais de um ano de vida, nfo se poderia esperar grandes resultado nex sentido, Mesmo assim, fol possivel atender a alguns pedidos de érgaos publicos e programar uma série de pesquisas no campo da antropologia indigena, ja postas em execugio pelo Museu Rondon (...)- Digno de nota é 0 “Projeto Aripuana”. Elaborado em consonancia com a atual politica da Universidade, que € a de converters: gradativamente numa agéncia de desenvolvimento local e regional, o projero visa implanar a cidadelaboratério Humboldt em plena selva amaz6nica, iniciando um process & produgio de conhecimentos de capital humano necessérios a um tipo de colonia a Preservar o equilibrio ecolégico da Amazénia. (Catilogo Geral da UFMT, 1973: Embora nao haj ctiagdo de Cj Darcy . ae referéncia nos discursos oficiais ¢ ptiblicos da URNT 2 Ribeiro ainda ieee era claramente uma proposta colocada em discussio f°" de Pesquisas Edu pone da sua convivéncia com Anisio Teixeira, no Centto Br Publicou na Revista d Cop CBRE). na década de 1950. Em 1958, ele eset 2 Pagina de nat 88 CBPE (Rio de janeiro, ano Il, v. 3, n. 9, p. 13-30) oxntae 0, tanto ‘guisas em Cidades-, pee Pesquisadores interessad, ban conor Nacif Xavie, Brailes de Pa elcome sileiro Laboratério. Educagdo e Ciéncias Sociais. os no estado da experéncia do CBPE (om oratsrio: educagio e ciéncias sociais no preje? is. CBPElInep/MEC-1950/1960 *) como P&4 le yjsadore 5 ‘Misas Educaciona interessados na trajet6ria de Darcy Ribeiro como intelectual ¢ educador, a exemplo de Helena Bomeny, em scu liveo Darcy Ribeiro: sociologia de um indisciplinado (Belo Ho- rizonte: Ed, UFMG, 2001) chamaram a atengio para a importincia da proposta das Cidades-Laboratério, volcada para a pesquisa empiric. Nas palavras de Bomeny (2001: 221-222): O encontro (de Anisio Teixeira] com Darcy Ribeiro, nos anos de 1950, traria a Escola Nova, pelas maos de seu pioneiro mais ilustre, um reforgo naquilo que mais a identificou: ‘9 entendimento da educagio como uma questia social. E promoveria, uma vez mais, 0 intre educagio ¢ ciéncias socials em mais encontro entre cientistas sociais e pedagogos, uma rede com muitos desdobramentos. U'm deles, ¢ talvez o mais estruturado, j4 mereceu atengao de estudiosos ¢ ganhou recentemente tratamento especializado de Libania Xavier: 0 Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE}. Brasil como Jaboratério reedita, no final dos anos de 1950, as recomendagées da Escola Livre de Sociologia, moda de Chicago. © Programa de Pesquisas em Cidade:-Laboratério tinha como objetivo tomar municipios- tipo que se defrontassem com problemas educacionais comuns a cada uma das regides mais udos e, em seguida, com diferenciadas do Brasil, para constitui los em laboratéries de « base em tal mapeamento, se cornarem alvo de experimentagao educacional. A pesquisa empirica, a sensibilidade antropoligica, a definigao do campo, tudo isso se agregava naquele dio de Estudos ¢ Pesquisas projeto para o qual cientistas saciais foram recrutados pela Di Sociais do CBPE, entregue por Anisio Teixeira a Darcy Ribeiro para dirigi. © Projeto da Cidade-Laboratério Humboldt da UFMT estava situado no municipio de Aripuana, no norte de Mato Grosso, a cerca de 800 quilémetros de Cuiabs, cuja po- pulagio era quase que exclusivamente indigena, sendo o territério tradicional dos Cinta- Larga, dos Surui, dos Rikbaktsa (entre outros), em uma deea de 140 mil quilémetros qua- drados, Ele foi implantado com 0 apoio do Instituto de Planejamento Econémico e Social (IPEA), com 2 participacio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazénia (Inpa), em Manaus, da Superintendéncia do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), sendo considerado “o inicio de uma nova fase de ocupacdo da Amuzénia’, que “se sucedia, har- ménica ¢ racionalmente, a fasc de abertura dos grandes eixos de integragio rerrestre”. Ainda no mesmo Catalogo da UFMT, de 1973: A nova fase inaugurada pelo Projeto Aripuana implica na sistematizagao do desenvolvimento nos grandes espasos atravessados pelas rodovias pioneiras, que encontea, como principal barreira, um dominio coldgico difereneedaquele que foi, até hoje, omelhor e mais produtive habitat da civilizagao industrial, que floresceu em dreas temperadas, fundamentalmente. Esta grande tencativa que o Brasil principia a realizar, através da construgio da base Gientifica de Humbolde - ada construgio de uma civilizagao bascada numa tecnologia € numa cultura adaptadas 20 meio-ambicnte equatorial - no tem precedente histstico. Museu Rondon: Antropol & Indgenismerie Universidade da Sehra © 37 I sambold é2resposta brasleia 3 Declaraco de Pincpis da Confag ra bint, elzada em Extocolme, na Susi, noano pasa ys Oh, tos prnepios 12 ¢ 13, que admitem que © aproveitament dog ecu 50 nay, . a es ei se voligica,tesponsabiizand os Grgios nacionais para a explora ls en t aoe Pi ohimento industrial deve ser objeto de intense critetios in 6 nt ' anio do planeta, considerado em sua realida. Sey constitwem pasrimonia “> P realidade astonimigg <2 % ‘ ponto de vista menor de nages ou de empresas em compet i. Além de “beneficiar uma regiao selvatica distante ¢ isolada, mas poteng King a > ale quissima em recursos natura renovaveis € irrenoviveis”, 0 esforco que fig ej wr ciado com 0 chamado Projeto Aripuand, iria demonstrar “a viabildade de dle formas contemporineas de economia de escala & regiio do Trépico Un lio, presenvacio do equilibrio nacural é condigo bisica para o desenvelvimeny ed, tae Asin equacionamento desse “grande problema de compatibilizacao da tecnologia om ae ambiente amazénico” visava “substituir praticas e atividades predatorias seculaespurg ional ¢ produtivo”. surto de desenvolvimento ra ‘A didade-laboratério do Projeto Aripuand foi batizada com o nome do naturdisa dena ‘Alexander von Humboldt, que realizou um exaustivo fevantamento da flora aniaina: que, no século XIX, acredicava ¢ afirmava, como cientista, que a Amazénia sri clin do mundo, Sera implantada as margens do inexplorado Rio Aripuan’, 20 lado ded cachoeiras colossais de 135 m de altura, com potencial estimado em 600.000 H? eq ainda néo constam de nenhum mapa Segundo Relatério de Aci idades da Reitoria da UFMT, de maio de 1977 (resi do as atividades a partir de 1971), reproduzido na incegea por Dorileo (2005), 078° propunha um niicleo pionciro de seis mil metros quadrados, voltado para “a pesquit? o desenvolvimento da cidade amazénica contemporanea, definida como un r09 7 de centro urbano & industrial estrucurado para convivéncia, exploracio ¢ pes" maior floresta tropical timida da terra”. E ainda: 6 Os sahos de D: ros de Dardanelos ¢ Cuba overs artnet des Andovnhas, no Aripuand, a quase 1.000 quilomstrs de Cot de 19 anos, do Grubcrante ¢ guardiies de toda a riqueza da Hora ¢ dz fauna da ree os rena OVE federal de Yomento de ecoturieme na Amazdnia - Proccotu, Deo 21 eS RMP2CTO ambsental, uma decio do Tiibunal de justca 4 Esato ligade Nese "salto de Dardanelas, programada para ge" 261M O nuicleo pianciro asseguraria requisitos ¢ equipamentos absolutamente indispensdveis ao abriga de récnicos especializadas em pesquisas minerais, Horestais ¢ agricolas, com a participagie da Companhia de Pesquisas Minerais, do Instiruco de Pesquisa da Amazénia, cientistas e professores desta ¢ de outras Universidades Isto porque a racionalidade da Ciénciae da Tecnologia necessdria a criagio de uma economia moderna ¢ dindmica na Amazinia poderd assegurar as duas aberturas de maior envergadura nacional: a integracao do espago amardnico ¢ a disseminacio dos resultados do crescimento acelerado. Com a expressiva contribuigao da Farga Adrea Brasileira, deixamos 60% do niicleo pioneiro de Humboldt implantados em derembro de 1973, dando execugiio ao programa aprovado pelo presidente da Republica seis meses antes. Ainda segundo o mesmo relatério, a continuidade da implantagio foi prejudicada por “entraves burocréticos”. Em 1975, uma portaria ministerial transferiu a coordenasao do projeto para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico ¢ Tecnolégice (CNPq) que, mias tarde, incumbiu o Inpa de sua execugio" ‘Além do projeto Aripuana, havia ainda outra proposta com intengio inovadora, que expressava 0 objetivo de formagio da mio-de-obra do “homem amazénico”, que acabou por nem sair do papel: era a Projeto Buriti*, que seria desenvolvide em Chapada de Gui- maries. O mesmo relatério de 1977 assim se referita ele € aos seus argumentos: Sem mio-de-obra quilificada, sem regime anual de trabalho, explorando producos primdrios e dependendo sempze das manufaturas ¢ dos servigos do Cencro-Sul, a Amazdnia continuaria sendo um vazio demogrifico ¢ um campo aberto as priticas predatérias da Ultima geande reserva natural deste pats ‘A preacupagio com a formagie do “homem amazinico”, desde 0 1° grau, tornou-se elemento importante do conjunto de inteng6e substantivas com que a Universidade pretendia agenciar 0 descnvolvimento regional. tornande-se marriz ¢ fulcro de solugSes pragmdticas para certo nuimeto de problemas espectficos da itea. aos quais nao se aplicam modelos desenvolvidos em outras areas do pais. A necessidade de estabclecimento de um dade Laboraario Hamblde, onde foram investides recursos pablicos em quanta nic calcul, mio restaram na deo dea an deci er quam inne Sede pe ne pends oe ee than s ede do munscipwo de Arpuana. por ocasiao de wma Viagem 2 aki dos FEgUC Em 17%, oa ce confrma 0 sbundono da tog da Codie LaROR00 quandeco ume das cazs de madeira morava Ua enfermeira. que s¢ dia a responsive lal pelo patrimnin A tmerds Hara wtusst na cottads Cviabs-Chapada do Gurmarics ¢ fem sua onigem cin uma sesmaria — conhecida eee it Manleshe, woncedids no anicio de seculo XVIII 2 Ancénia de Almeda Lara que savou at um ene tho de cane-de-artenn reunindo-uma express popula-ao de escravas. No seculo XLX tox compra pr maniondios protenanten americas, para char alia Escola Evangclica de Burt que € wi anrernato para jovens sina hee «que, a Epoca, estaria envolvida no proyeto da UFMT. 7 Da mais do que Muneu Rondon Antropolosge & Indigensmona Universidade daSeha % 39 eee ccesso de colonizagio capaz de garantit um ajustamento reciproco homem-meio nie ‘ s, p » mente sintetizador das experiencias dos grupos humanos, deria ser eficaz € conscien n in comprovado sua capacidade de sobrevivincia¢ 1a nfo, que tém historicament indigenas 0 p axbnic trabalho no meio adverso da Moresta am fangées no processo do desenvolvimento regional vest de ‘al, no Império, na Repablica atéo final da primera a, Esse “hornem amazonico” desempenhatia 1 similares 2s que 0 indio desempenhou no processo de ocupacao no perlodo colon metade do século XX , © Projeto Buri constiuiu-se na propasta basica de solugbes pragmaticas capazes de viahiltar a formagio de rnfo-de-obra téenica, de nivel médios habilitada a desenvolver um priticas conduzam a win rad tend aproprado ao sistema adaptativo operante, cujas antago de um Centro Integrado de Pesquisa e c amazénico, através da imp meio ambier Experimentacio Pedagégica. Ele estava organizado em trés subptojetos: © primeiro era a Reserva Biolégica, que setia implantado na drea da Chapada, volrado para a conservagio da flora ¢ fauna, para wrradoe cia sua utllizagto como um “laboratério vivo, para a producao de conhecimen- to técnico-cientifico sobre suas caracteristicas biogcogrificas de transigao entre cerrados, campos, matas Umidas ¢ Rorestas altas”. © outto era 0 subprojero Estudos ¢ Pesquisas viando “definir e testar curriculos, programas, métodos, técnicas ¢ mcios instrucionais, adequados 3 formagio do téenico de nivel médio", com habilitagdes profissionais para “responder convenientemente 20s reclamos imediatos das atividades de produgao extrati- va ou agropastoril em expansio no norte maro-grossense”, E, 0 terceiro, era 0 subprojeto Cursos e Estigios, voltado para a disseminagao de conhecimentos produzidos através de modalidades de aperfeigoamenco de professores de 1° ¢ 2° graus das escolas existentes na regio ¢ de estigios supervisionados Sem os recursos financciros do MEC, da Sudam e da Sudeco, embora aprovado o pro- jeto néo foi implantado, deixando de concretizar 0 que era coneebido como sua “concep” ¢4o filoséfica e sua politica educacional, de orientacao ¢ intencionalidade regionalizance” Ainda segundo 0 mesmo relatério de 1977: Os procedimentas técnico-pedagégicos seriam, por exemplo, resultado de pesquiss» estudo e aproveitamento da experiéneia vivencial € dos conhecimentos espontineos dos prdprios alunos, de modo a eliminar o hiato entre os objetivos € processos educacionais- vivencia anterior e desempenho futuro desejado. Técnicas de sobrevivencia ¢ adapragie- elaboradas a partir de conhecimento empitico do meio, seriam objeto de pesquist © experimentagio, O indio, 6 mateieo,o sertanista, 0 garimpeiro, o tropeio, 0 seringucite,° au teriam no Projeto Buriti sua primeira oportunidade de reconhecimento da fungie locente que tém exercido no ensino nao institucionalizado de varias geragées. Foi previ Seu aproveitar Gd i “ 08 : mento na fungio de instrutores de grupos de alunos organizados seguad® pecialidacle compreendida em sua futura habilitagao profissional. 40% Maria Fétima Roberto Machado consecugac A consecuyio dos objetivas regionais de nossa politica educacional, colocada em termos de acho tt : inovacio transformadora, sem perda dos valores tradicionas, peda instrumentos de agées capazes de conetetizd-los, operacionalmente. Além de um ambiente politico ¢ uma conjuncura econémica favoravel — apesar de ideias como essa do Projeto Buriti nunca terem saido do papel - havia um pequeno grapo de pessoas que se destacava do corpo burocrévico comservador da UFMT e que assumia a dianteira no didtogo com o poder cencral, respansdveis por apresentar as propostas ar- rojadas para a época, disputando os financiamentos que seriam, até enrao, direcionados com bastante nateralidade para o centro-sul do pais, Eram pessoas ao mesano tempo vin- culadas & Universidade e ao governo do Estado, circulavam com bastante facilidade na capital federal.” © cxreitor Dorileo se referiu a esse momento inicial da histéria da UFMT como sendo o do “fazejamenro”, titulo do scu livro publicado em 1977: Universidade, 0 faze- _jamento, Uma expressto que lembra, mais uma vez, @ forma como se autodefinia Darcy Ribeito, um homem “fazedor”, um homem de “fazimentos”. Embora Darcy Ribeiro t+ vesse recorrido a esse termo como um autaclogio, para significar sua versatilidade ¢ sua agdes, no “fazejamento” da UFMT as disponibilidade para realizag6es nas mais varias sicu ‘as encontravam bartciras no ambiente conservador, gerando uma convi- ideias inovador. aminhos ¢ descaminhos da sua criagio, vncia dificil entre o grupo de fundadotes, nos « ado de contradigoes € adversidades, onde o “fazer” acabava sempre em um contexto carreg, o titulo do segundo livro de Benedito Pe- por superar 0 “pensar para fazer dro Dorileo, publicado em 1984. A propésito, 9) Exas pesous. como o diteror do Museu Rondon, eolocavam em a5i0 084 Pres pessoal. que teariam ou constrafam aaa peip camo do Estado, Em seu lito Peyo Palzva, pbesdo em 2000, Onan Fortes, um mate-grosense Fee ee eendmianuagan pela Fundagio Geto Vargas, da Area ae planciamente ido governo. € qu, a convite do ridings Jecchn Reiners, participou da criagio da UFMT tendo side prefect Tulare membro do Conslbo Die sa eee soaia enwoiverd 0 professar «economist Eakon Mirands oie ‘sposentadol. natural de Vosoréu, ee deel pele orgamence da Urs wptar tend ¢personaidadeineresahe. flores, neeu ese, nds Ré muitos deemere ‘os adjetivos mats utilizados para classi mente tect meer in * mens de: 971s ms nt ponvocado para ue mine Reeearser scrrir ave co Fundo de Purine dos Escalon 00 ae aeeye cres Ministo me relefonou para reclamar que ® meu Piet trae demaye ner de cas. Mais anda: ce havin umultuado 0 “fepntro,discordancl de praticamence tudo 1.) +6 do Mi fos drqumentos apresenadas pelo Edson terrminaram, procuraeam justifcar 0 seu trabalho, mas frm des argumentos ae nado son erm, Iorcande 0 Ministerio 9 sever os ximeras da let. As CR dn tins reve age Eb Mame sm a le Receita.” (Forces p00: 147-148). para Je Mat yd ge 2 Enna cme Ma ia et Pitaluga), 0 jarnalista José Eduardo Espicito ‘Ganto. Ivo Skaf, Benedito Fig Schocder, dentre ovttos- sa Fees sea onde usou palaveas bastante Fortes Par SPT Unuelba, uma proposta que acabou violentad ainda quando: lade: on 0 detendemos au 0 condenamos. Eo ‘ao out feteréncias a9 seu nome, dor iresponsivel (.). New slimes of America, com quem negocis- 0 Joao Paulo dos Reis Velos. jenio de 1972/1974, ‘iignge Econ Miranda era demasiada ‘erindor nao admite neuteaid areondenagio é quase un anime Troe sans moleyue debochado,atrevido, fora de Janeieo 3 xpeta de representantes do Ba

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