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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Ronildo Aparecido Pavani

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational


Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a
gestão da saúde no trabalho.

São Paulo
2007
RONILDO APARECIDO PAVANI

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational


Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a
gestão da saúde no trabalho.

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Centro Universitário Senac para a obtenção
do título de Mestre em Gestão Integrada em
Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

Orientador Prof. Dr. Dorival Barreiros.

São Paulo
2007
Pavani, Ronildo Aparecido.
P288e Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive Actions
(OCRA): Uma contribuição para a gestão da saúde no trabalho / Pavani,
Ronildo Aparecido – São Paulo, 2007.
133 f.: il. color. ; 31 cm

Orientador: Prof. Dorival Barreiros Dr.


Dissertação (mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho
e Meio Ambiente) – Centro Universitário Senac, Campus Santo Amaro,
São Paulo, 2007.

1. Análise ergonômica 2. Ler/dort 3. Método OCRA 4. Gestão da


segurança e saúde no trabalho I. Dorival Barreiros (orient.) II. Título.

CDD363.7
Ronildo Aparecido Pavani

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational


Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a gestão
da saúde no trabalho.

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Centro Universitário Senac para a obtenção
do título de Mestre em Gestão Integrada em
Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

Orientador Prof. Dr. Dorival Barreiros.

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão em


sessão pública realizada em 12/12/2007, considerou o
candidato: Aprovado.

1) Examinador: Maria de Lourdes Moure, Dra. __________________________

2) Examinador: Emília S. M. Seo, Dra. ________________________________


Dedico este trabalho à Selma, minha
esposa, e a Leonardo e Giovanni, meus
filhos, que se privaram da minha presença
para que este objetivo fosse alcançado.
AGRADECIMENTOS

Sobretudo, a Deus, que me deu forças e coragem para vencer obstáculos e


superar dificuldades, mostrando por diversos caminhos o que devo aprender a
valorizar em minha vida.

A Dra Daniela Colombini, pelas suas orientações e atenção nos esclarecimentos


sobre o método OCRA.

Aos professores e alunos do Curso de Mestrado em Gestão Integrada em Saúde


do Trabalho e Meio Ambiente que me mostraram novas formas de interpretar a
realidade e assim contribuíram para a realização deste trabalho.

Em especial ao professor Dorival Barreiros, meu orientador, que muito contribuiu


para que este projeto se concretizasse.
"Que os esforços superem as impossibilidades,
pois as grandes proezas dos homens surgiram
daquilo que parecia ser impossível”

Charles Chaplin
RESUMO

O aumento do número de casos de trabalhadores acometidos pelos distúrbios de


ler/dort nas últimas décadas tem sido motivo de estudos de entidades
governamentais, universidades e organizações não-governamentais. Ao mesmo
tempo este fato também tem sido motivo de preocupações das organizações
empresariais que têm na responsabilidade social com esta questão a gestão das
pessoas e dos recursos financeiros em saúde ocupacional. A identificação e
aplicação de um método técnico-científico, de análise de fatores de risco de
ler/dort, específico para membros superiores foram os elementos centrais desta
pesquisa. Contextualizou-se a pesquisa realizando uma investigação bibliográfica
sobre o histórico da origem da administração do trabalho e sua evolução, a
questão da ler/dort, a ergonomia, a gestão da saúde no trabalho e os métodos de
análise dos fatores de risco, identificando um método técnico-científico específico
para avaliação dos fatores de risco em membros superiores. A aplicação do
método técnico-científico OCRA, na análise ergonômica do trabalho, permitiu
identificar e quantificar os fatores de risco de ler/dot nas atividades avaliadas. Os
resultados mostram que a presença de fatores de risco como posturas
inadequadas ou repetitividade durante a realização das tarefas, embora se
apresentem como fatores de risco de lesões para os membros superiores não
são, necessariamente, condicionantes para a determinação da presença de risco.
Este método também possibilitou o mapeamento dos fatores de risco de ler/dort
que, correlacionados com os respectivos níveis de ação, permitem a priorização
dos investimentos em ergonomia e contribuem para uma gestão eficaz dos
recursos em saúde ocupacional.

Palavras-chaves: Análise ergonômica. Ler/Dort. Método OCRA. Gestão da


segurança e saúde no trabalho.
ABSTRACT

The increase in the number of cases of workers affected by work-related


musculoskeletal disorders in recent decades has been a cause for studies of
government agencies, universities and non-governmental organizations. By the
time this fact has also been a cause for concern of business organizations that
have social responsibility in this matter with the management of people and
financial resources in occupational health. The identification and application of a
technical-scientific method of analysis of work-related musculoskeletal disorders
risk factors, specific to upper limb were the central elements of this search. The
Contextualization that search performing a bibliographic research on the history of
the origin of the administration's work and its evolution, the work-related
musculoskeletal disorders, the ergonomics, the management of health at work and
the methods of analysis of work-related musculoskeletal disorders risk factors,
identifying a technical-scientific method for assessment of risk factors in upper
limb. The application of the OCRA technical-scientific method, in the ergonomics
analysis of the work, helped identify and quantify the work-related musculoskeletal
disorders risk factors in the activities evaluated. The results show that the
presence of risk factors such as inadequate postures or repeatability during the
tasks, but come as risk factors for injuries to the upper limb are not necessarily the
conditions for determining the presence of risk. This method also allowed the
mapping of ergonomic risk factors that correlated with their levels of action, allow
the prioritization of investment in ergonomics and contribute to the effective
management of resources in occupational health.

Keywords: Ergonomics analysis, work-related musculoskeletal disorders


(WRMDs), OCRA method, management of occupational Safety and Health.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Uso da anamnese ocupacional na investigação de ler/dort .................55


Figura 2 – Esquema do processo de gerenciamento de riscos ............................59
Figura 3 – Ciclo do PDCA ..................................................................................... 60
Figura 4 – Fluxo para análise de risco de ler/dort .................................................62
Figura 5 – Diagrama da construção da análise ergonômica do trabalho ..............71
Figura 6 – Diagrama para cálculo de escore do método RULA ............................77
Figura 7 – Principais tipos de pegada da mão ......................................................90
Figura 8 – Associação entre o índice OCRA e pessoas afetadas.........................98
Figura 9 – Estudo de regressão linear do método OCRA ..................................... 99
Fotografia 1 – Preparação da resma de papel para corte...................................106
Fotografia 2 – Deposição da resma na cortadeira ..............................................107
Fotografia 3 – Bloco de papel cortado ................................................................ 107
Fotografia 4 – Transferência do material para mesa de acabamento .................108
Fotografia 5 – Preparação de blocos para aplicação de cola .............................111
Fotografia 6 – Aplicação de cola nos formulários................................................ 111
Fotografia 7 – Aplicação de cola nos formulários................................................ 111
Fotografia 8 – Destacamento dos blocos com utilização de estilete ...................112
Fotografia 9 – Destacamento dos blocos com utilização de estilete ...................112
Fotografia 10 – Cruzamento dos blocos .............................................................112
Fotografia 11 – Preparação da seqüência de vias para intercalação.................. 116
Fotografia 12 – Preparação da seqüência de vias para intercalação.................. 116
Fotografia 13 – Intercalação de vias ...................................................................116
Gráfico 1 – Distribuição de casos de ler/dort com diagnóstico médico .................20
Quadro 1 – Fatores causais de distúrbios osteomusculares................................. 54
LISTA DE TABELAS

1 – Casos de doenças do trabalho em membros superiores – 2006 .................... 19


2 – Nível de intervenção para os resultados do método RULA............................. 78
3 – Matriz para verificação dos escores do método OWAS.................................. 80
4 – Categorias de ação do método OWAS ........................................................... 81
5 – Verificação dos níveis de risco e ação do método REBA ...............................82
6 – Classificação das variáveis pelo método Strain Index .................................... 83
7 – Fatores multiplicativos das variáveis pelo método Strain Index ......................84
8 – Valores do Strain Index e níveis de risco ........................................................ 84
9 – Relação do fator multiplicador com a escala de Borg ..................................... 85
10 – Determinação do multiplicador para a força.................................................. 88
11 – Determinação para as articulações do membro superior.............................. 89
12 – Determinação do escore para o tipo de pega ............................................... 90
13 – Determinação do multiplicador do empenho postural ...................................91
14 – Determinação do multiplicador para a estereotipia ....................................... 92
15 – Determinação do multiplicador para os fatores complementares.................. 93
16 – Determinação do multiplicador para os períodos de recuperação ................ 94
17 – Determinação do multiplicador para a duração das tarefas .......................... 95
18 – Classificação dos níveis de risco do índice OCRA........................................95
19 – Previsão de prevalência de pessoas afetadas por ler/dort............................98
20 – Definição de Micro, Pequenas e Médias Empresas no Brasil..................... 101
21 – Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATO....................108
22 – Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATR ....................109
23 – Dados do posto de aplicação de cola para cálculo de ATO........................ 113
24 – Dados do posto de aplicação de cola para cálculo de ATR........................ 114
25 – Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATO ....................117
26 – Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATR ....................117
27 – Resultados do índice OCRA para os três postos de trabalho. ....................120
28 – Mapeamento dos fatores de risco pelo método OCRA. .............................. 122
LISTA DE SIGLAS

ABC Paulista – Sigla de unificação das cidades de Santo André, São Bernardo do
Campo e São Caetano do Sul, localizadas na região metropolitana de São Paulo.
ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia
AET – Análise Ergonômica do Trabalho
ATO – Ações Técnicas Observadas
ATR – Ações Técnicas Recomendadas
BS 8800 – British Standards – Guide to occupational health and safety
management systems
CID – Classificação Internacional de Doenças
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas
COPPE/UFRJ – Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
CQT – Total Quality Control
dB(A) – Decibéis na escala de compensação A
DCO – Distúrbio Cervicobraquial Ocupacional
DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
DOU – Diário Oficial da União
DUE – Distal Upper Extremity
FAP – Fator Acidentário Previdenciário
HMA – História da Moléstia Atual
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IE – Índice de Exposição
IEA – International Ergonomics Association
IN – Instrução Normativa
INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social
INST – Instituto Nacional de Saúde do Trabalhador
ISDA – Interrogatório sobre diversos aparelhos
LER – Lesões por Esforços Repetitivos
LTC – Lesões por Traumas Cumulativos
MCV – Máxima Contração Voluntária
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health
NTEP – Nexo Técnico Epidemiológico
OCRA – Occupational Repetitive Actions
OCT – Organização Científica do Trabalho
OHSAS 18001 – Occupational Health and Safety Assessment Series
OMS – Organização Mundial de Saúde
OS – Síndrome do Overuse
OWAS – Ovako Working Posture Analysins System
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional
PDCA – Plan, Do, Check and Act
PEA – População Economicamente Ativa
PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais
RAIS – Relação Anual das Informações Sociais
REBA – Rapid Entire Body Assessment
RSI – Repetition Strain Injuries
RULA – Rapid Upper limb Assessment
SAT – Seguro de Acidentes do Trabalho
SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do
Trabalho.
SI – Strain Index
SST – Saúde e Segurança do Trabalho
TQS – Total Quality Control
UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina
USP – Universidade de São Paulo
WRMD – Work Related Musculoskeletal Disorders
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 18

1.1 Contextualização do tema e problemática de pesquisa ............................18

1.2 Justificativa ...................................................................................................23

1.3 Objetivos da pesquisa .................................................................................. 23

1.3.1 Objetivo geral...............................................................................................23

1.3.2 Objetivos específicos ...................................................................................24

1.4 Estrutura de desenvolvimento da dissertação...........................................24

2 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 25

2.1 Natureza e característica da pesquisa ........................................................ 25

2.2 Etapas da revisão da literatura .................................................................... 26

2.3 O processo de escolha da empresa ............................................................26

2.4 A escolha dos postos de trabalho...............................................................27

2.5 Os instrumentos de coleta de dados........................................................... 27

2.6 Limitações da pesquisa................................................................................ 28

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................ 29

3.1 A origem da palavra trabalho....................................................................... 29

3.2 O significado do trabalho............................................................................. 30

3.3 Breve histórico da evolução do trabalho .................................................... 33

3.3.1 Fase artesanal – Da antiguidade até ao inicio da revolução industrial (1780)

.............................................................................................................................. 33
3.3.2 Fase da Revolução Industrial – Da transição do artesanato à industrialização
(1780 – 1860)........................................................................................................34

3.3.3 Fase da 2ª Revolução Industrial – O desenvolvimento industrial (1860 –


1914) ..................................................................................................................... 34

3.3.4 Fase do Gigantismo Industrial – Entre as duas Grandes Guerras (1914 –


1945) .................................................................................................................... 35

3.3.5 Fase Moderna – Do pós-guerra aos choques petrolíferos (1946 – 1980).... 35

3.3.6 Fase da incerteza – Da década de 80 até os dias de hoje .......................... 36

3.4 A gestão empresarial dos processos produtivos ......................................37

3.4.1 Ênfase nas tarefas ....................................................................................... 38

3.4.2 Ênfase na estrutura organizacional.............................................................. 39

3.4.2.1 Teoria Clássica .........................................................................................39

3.4.2.2 Teoria da Burocracia .................................................................................40

3.4.2.3 Teoria Estruturalista .................................................................................. 42

3.4.3 Ênfase nas pessoas..................................................................................... 42

3.4.3.1 A Escola de Relações Humanas...............................................................43

3.4.3.2 Teoria Comportamental............................................................................. 44

3.4.4 Ênfase na tecnologia.................................................................................... 45

3.4.5 Ênfase no ambiente ..................................................................................... 45

3.4.6 Ênfase no cliente.......................................................................................... 46

3.5 Estado atual das teorias administrativas.................................................... 47

3.5.1 A Reengenharia ........................................................................................... 47

3.5.2 A Globalização............................................................................................. 47

3.5.3 A Flexibilização ............................................................................................48

3.6 O adoecimento no processo produtivo....................................................... 49


3.7 A Questão das ler/dort.................................................................................. 50

3.7.1 Nomenclatura ler/dort...................................................................................51

3.7.2 O fenômeno ler/dort no Brasil ......................................................................52

3.7.3 Diagnóstico de ler/dort .................................................................................53

3.8 A saúde e o trabalho..................................................................................... 57

3.9 A gestão da segurança e saúde no trabalho ..............................................58

3.10 A ergonomia ................................................................................................ 63

3.10.1 Conceitos fundamentais............................................................................. 63

3.10.2 Breve histórico da ergonomia no Brasil......................................................65

3.10.3 A ergonomia no trabalho............................................................................ 67

4 MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO ............. 70

4.1 A metodologia AET – Análise Ergonômica do Trabalho ........................... 70

4.2 As técnicas de análise postural...................................................................72

4.3 O método Rapid Upper limb Assessment – RULA..................................... 74

4.4 O método Ovako Working Posture Analysins System – OWAS ............... 78

4.5 O método Rapid Entire Body Assessment – REBA ...................................81

4.6 O método Strain Index – SI...........................................................................82

4.7 O método Occupational Repetitive Actions – OCRA ................................. 86

4.7.1 A constante de freqüência de ação técnica.................................................. 87

4.7.2 O multiplicador para força ............................................................................ 87

4.7.3 O multiplicador para a postura ..................................................................... 88

4.7.4 O multiplicador para a estereotipia (repetitividade) ..................................... 91

4.7.5 O multiplicador para a presença de fatores complementares ......................92


4.7.6 O multiplicador para o fator de períodos de recuperação ............................94

4.7.7 O multiplicador para a duração total do trabalho repetitivo no turno............ 94

4.7.8 A classificação de risco pelo método OCRA................................................ 95

5 A APLICAÇÃO DE UM MÉTODO TÉCNICO-CIENTÍFICO............... 97

5.1 A escolha do método OCRA ........................................................................97

5.2 Caracterização da empresa........................................................................100

5.3 A análise da demanda.................................................................................102

5.4 A análise da tarefa ......................................................................................103

5.4.1 O processo produtivo .................................................................................103

5.4.2 Os postos de trabalho ................................................................................ 103

5.4.2.1 Corte de formulários................................................................................ 103

5.4.2.2 Acabamento ............................................................................................104

5.4.2.3 Intercalação de vias de formulário ..........................................................104

5.4.3 Condições ambientais de trabalho .............................................................104

5.4.4 A organização do trabalho .........................................................................105

6 RESULTADOS DAS ANÁLISES DAS ATIVIDADES .......................106

6.1 Avaliação da atividade de corte de formulários – CF .............................106

6.1.1 Descrição das operações de CF ................................................................ 106

6.1.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de CF.................................108

6.1.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de CF............................109

6.1.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de CF .......... 110

6.2 Avaliação da atividade de aplicação de cola e destacamento de blocos –


ACDB .................................................................................................................110
6.2.1 Descrição das operações de ACDB........................................................... 110

6.2.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de ACDB ........................... 112

6.2.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de ACDB.......................113

6.2.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de ACDB ..... 115

6.3 Avaliação da atividade de intercalação de vias de formulários – IVF ...115

6.3.1 Descrição das operações de IVF ...............................................................115

6.3.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de IVF................................ 116

6.3.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de IVF........................... 117

6.3.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de IVF.......... 118

6.4 Cálculo do índice de exposição (IE) Ponderado ......................................119

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ........................................................ 120

7.1 Classificação dos riscos ............................................................................120

7.2 Mapeamento dos riscos ............................................................................. 121

7.3 Contribuição para a gestão ergonômica...................................................123

8 CONCLUSÃO.............................................................................................. 125

8.1 Recomendação para trabalhos futuros..................................................... 126

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 127


18

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do tema e problemática de pesquisa

A evolução tecnológica e as abordagens gerenciais na


administração dos processos produtivos nas últimas décadas têm forçado as
empresas a buscarem melhorias organizacionais de forma a refletir ganhos de
produtividade, redução de custos, qualidades do produto e de vida dos
colaboradores. Apesar disso, diversas atividades ainda são desenvolvidas com a
exigência de posturas e dispêndio de grandes esforços físicos e mentais com
riscos à saúde dos trabalhadores.
As afecções músculoesqueléticas relacionadas com o trabalho,
que no Brasil tornaram-se conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos –
LER e que o Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS denominou de
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT representam o
principal grupo de agravos à saúde entre as doenças ocupacionais em nosso país
e trata-se de distúrbios de importância crescente em vários países do mundo com
dimensões epidêmicas (MAENO, 2001).
Segundo Couto et al. (2007, p.38),

Os impactos para as organizações decorrentes das ler/dort atingem


diversas áreas, tanto no que se refere à redução da produtividade, ao
aumento de custos, aumento no absenteísmo médico, quanto com o
comprometimento da capacidade produtiva das áreas operacionais,
menor qualidade de vida ao trabalhador, aposentadorias precoces e
indenizações.

Em um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde do


Trabalhador – INST, dados fornecidos pelo INSS, indicam que no primeiro ano de
afastamento do trabalhador as empresas gastam cerca de 60 a 89 mil reais, entre
encargos sociais, complementação de salários dos afastados e despesas com
horas-extras de reposição de mão de obra (O´NEILL, 2002).
Segundo Pastore (2001) as empresas estão gastando R$ 12,5
bilhões por ano apenas com os acidentes de trabalho e doenças profissionais que
poderiam ser evitados.
19

O Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS registrou


503.890 acidentes do trabalho em 2006. A análise por setor de atividade
econômica revela que o setor industrial participou com 47,4% dos acidentes,
seguido pelo setor de serviços com 45,7% e do total de acidentes registrados, as
doenças ocupacionais representam 5,3%. Neste mesmo período os códigos da
Classificação Internacional de Doenças – CID mais incidentes foram relacionados
com os membros superiores (mãos, punhos, cotovelos e ombros), sendo CID
(M65) sinovite e tenossinovite responsável por 21% do total e CID (M75) lesões
nos ombros, responsável por 16,2% do total (BRASIL, 2006a).
A soma dos percentuais de incidência dos códigos M65 e M75
representam 37,2% do total de doenças ocupacionais registradas no Brasil no ano
de 2006. A tabela 1 mostra a quantidade de casos de doenças do trabalho em
membros superiores, segregados por localização da lesão segundo os códigos
CID, no ano de 2006.

TABELA 1
Casos de doenças do trabalho em membros superiores – 2006

CID Descrição Nº Casos


M65 Sinovite e Tenossinovite 5772
M75 Lesões nos ombros 4325
Total 10097
Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social, 2006

Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Prevenção


às ler/dort em 2001 sobre a saúde dos trabalhadores moradores na cidade de
São Paulo foi constatado que os casos de ler/dort afetam 6% de todos os
trabalhadores dessa cidade, isto representa 310 mil trabalhadores (INPLD, 2001).
A distribuição dos casos de doenças desta pesquisa se
apresenta de forma resumida no gráfico 1.
20

Doenças
16%
nervosas/pscicológicas

LER/DORT 14%
Serviços 15%

Problemas na coluna 12%


6% dos Indústria 12%
trabalhadores
Doenças cardio-
9% da cidade de SP
vasculares
Comércio 15%
Tendinite 6%

Construção
4% da civil 0%
Cansaço físico 5% população da
cidade de SP

Dor de cabeça 5%

Problemas musculares 3%

Gráfico 1 – Distribuição de casos de ler/dort com diagnóstico médico


Fonte: INPLD, 2001

No gráfico 1 é possível verificar que a saúde do trabalhador é


afetada em primeiro lugar pelas doenças nervosas e psicológicas com 16% da
amostra e em segundo lugar aparecem os casos de ler/dort com 14% dos
trabalhadores entrevistados.
Outro fato relevante levantado pela pesquisa é que, dos casos
de ler/dort investigados, em 76% da amostra estava presente a exigência de
movimentos repetitivos de membros superiores, o que nos remete à importância
da aplicação de métodos técnico-científicos de avaliação dos fatores de risco
ergonômico de membros superiores para uma boa gestão das questões que
influenciam a saúde no trabalho dentro das organizações.
O aumento dos casos de ler/dort tem sido relacionado com
fatores referentes à organização do trabalho tais como a inflexibilidade e alta
intensidade do ritmo de trabalho, execução de grande quantidade de movimentos
repetitivos em grande velocidade, sobrecarga de determinados grupos
musculares, ausência de controle sobre o modo e ritmo de trabalho, ausência de
pausas, exigência de produtividade, uso de mobiliário e equipamentos
desconfortáveis e manutenção de posturas inadequadas.
Para Couto (2002), a organização do trabalho pode ser assim
definida: “É todo o conjunto de ações feitas pelo gestor e pelos facilitadores para
21

que a prescrição de trabalho (planos, objetivos e metas) ditada pela direção da


organização seja cumprida” e se essas ações não forem planejadas corretamente
podem provocar sobrecarga física e mental aos trabalhadores e
conseqüentemente o adoecimento.
Existem vários fatores de organização do trabalho causadores de
sobrecarga, tais como: aumento da carga de trabalho e dos objetivos e metas
sem preparo adequado para atendimento a esta situação; horas-extras; dobras de
turno; mão-de-obra insuficientemente preparada para as exigências da tarefa;
urgências e emergências; retrabalhos; automações inadequadas, falta de
manutenção dos equipamentos e problemas com a qualidade do material
causando esforço físico extra dos operadores (COUTO, 2002).
Para Guérin et al. (2001), as empresas se organizam para limitar
a variabilidade no trabalho, porém todo processo tem as suas variabilidades, quer
seja programadas ou não programadas, obrigando os operadores a enfrentá-las
e, conseqüentemente estes constrangimentos podem alterar seus
comportamentos, representando uma sobrecarga no trabalho.
Ainda segundo Guérin et al. (2001, p.26)

A atividade de trabalho unifica as dimensões técnica, econômicas e


sociais do trabalho através das suas determinantes, de um lado, o
trabalhador com suas características específicas e de outro, a empresa
com suas regras de funcionamento e o contexto de realização do
trabalho.

Assim sendo, os resultados da atividade de trabalho devem


ser relacionados por um lado, com a produção tanto de um ponto de vista
quantitativo quanto qualitativo e por outro lado, com as conseqüências que
acarretam aos trabalhadores que podem ser negativas (alteração da saúde física,
psíquica e social) ou positivas (aquisição de novos conhecimentos,
enriquecimento da experiência e aumento da qualificação).
As conseqüências decorrentes do aumento do número de casos
de lesões nos membros superiores relacionadas a ler/dort têm sido origem de
muitas preocupações das organizações empresariais. Os gestores passaram a ter
a missão da gestão eficaz dos investimentos em saúde e segurança, de forma a
atender a demanda por prevenção de acidentes e doenças ocupacionais no
22

ambiente de trabalho e atender a legislação deste setor, ainda com a


preocupação de administrar os custos totais das empresas (PAVANI 2006).
A legislação Brasileira prevê na norma regulamentadora de nº 17
que os empregadores devem avaliar a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores através de análises
ergonômicas do trabalho, porém esta determinação está cercada de controvérsias
em função da falta de indicadores quantitativos e falta de entendimento se a
avaliação citada na norma se refere a uma análise global ou individualizada para
cada posto de trabalho.
Neste cenário tem crescido a prática de mercado da elaboração
de “laudos ergonômicos”, termo que não tem amparo legal na norma
regulamentadora nº 17, realizado por profissionais que muitas vezes não tem
conhecimento técnico sobre ergonomia e sem compreender o trabalho realizado
para emitir opiniões e recomendações às organizações que irão investir recursos
a partir dos resultados desses laudos.
Segundo Oliveira et al. (2007) as análises ergonômicas do
trabalho não são, necessariamente, indicadas para todos os tipos de empresas
nem para todas as atividades desenvolvidas nas empresas e complementa que a
indicação de análise ergonômica do trabalho deve ser precisa para uma situação
específica e comenta como se dá essa demanda em ergonomia:

[...] a demanda faz parte de um processo de construção social da ação


ergonômica, e que, mais importante do que simplesmente um laudo
ergonômico, é implementar ações que terminem em transformações
reais nas condições de trabalho, e que, para tanto, é imprescindível
compreender o trabalho antes de propor qualquer mudança (OLIVEIRA
et al. 2007, P.9).

Na literatura a respeito de análises ergonômicas há diversos


métodos delineados para determinar e quantificar o risco de exposição a fatores
de sobrecarga biomecânica dos membros superiores.
Da mesma forma, os métodos buscam uma avaliação generalista
de todos, ou quase todos, segmentos corpóreos, não permitindo que os gestores,
responsáveis por desenvolver ações preventivas ou corretivas de controle dos
riscos tenham clareza da sua priorização.
23

Logo, existe uma carência no desenvolvimento de estudos e de


aplicação de métodos que sejam simples do ponto de vista do entendimento tanto
dos expertos em ergonomia quanto dos gestores e mostrem um direcionamento
na priorização das ações.

1.2 Justificativa

Esta pesquisa é relevante à medida que traz conhecimento às


organizações acerca dos métodos técnico-científicos de análise ergonômica do
trabalho a serem aplicados para a identificação de fatores de risco de ler/dort.
Do ponto de vista da ergonomia, esta pesquisa permitirá avaliar
cientificamente um modelo de análise dos fatores de risco de ler/dort em
membros superiores.
A importância desta pesquisa em analisar os fatores de risco e
os métodos de análise mais adequados às suas caracterizações é contribuir para
uma gestão mais adequada da ergonomia e da saúde do trabalhador.
Neste sentido o estudo se justifica pela abordagem metodológica
com que se pretende fornecer subsídios para compreender o método específico
para esta problemática e contribuir para o aprimoramento das condições de
trabalho e tomada de decisão gerencial quanto à priorização das ações em
ergonomia.

1.3 Objetivos da pesquisa

1.3.1 Objetivo geral

Realizar um estudo ergonômico, utilizando um método técnico-científico


específico para os fatores de riscos de lesões nos membros superiores, e analisar
a sua contribuição para a gestão da ergonomia e da saúde do trabalhador.
24

1.3.2 Objetivos específicos

1. Identificar um método técnico-científico de análise de fatores de risco de


ler/dort específico para membros superiores.
2. Aplicar um método técnico-científico de análise de fatores de risco de
ler/dort em um setor produtivo.
3. Analisar a contribuição e também as limitações do método aplicado para a
gestão da ergonomia e da saúde do trabalhador nas organizações.

1.4 Estrutura de desenvolvimento da dissertação

A pesquisa foi estruturada em oito capítulos incluindo esta


introdução com o objetivo geral e os objetivos específicos.
O segundo capítulo apresenta os materiais e métodos utilizados
e o terceiro trata da fundamentação teórica com o histórico da gestão dos
processos produtivos e o seu impacto para os trabalhadores.
No quarto capítulo são apresentados os modelos de análise
ergonômica do trabalho e o quinto capítulo trás a discussão da escolha do método
técnico-científico de análise dos fatores de risco para aplicação prática na
empresa.
O sexto capítulo apresenta os resultados e as avaliações dos
fatores de risco de ler/dort de cada posto de trabalho.
No sétimo capítulo são apresentadas, a discussão dos
resultados e a contribuição deste estudo para a gestão da ergonomia e da saúde
do trabalhador.
O oitavo capítulo apresenta as conclusões, considerações finais,
limitações da pesquisa e as recomendações para trabalhos futuros.
25

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente capítulo tem por finalidade apresentar a


caracterização do estudo, metodologia utilizada para a coleta e análise de dados,
procedimentos e instrumentos e percurso metodológico na escolha da empresa e
do método de análise de risco de ler/dort em membros superiores.

2.1 Natureza e características da pesquisa

A pesquisa científica pode se constituir num elemento de


fundamental importância para a análise de problemas do cotidiano, para o
desenvolvimento da ciência e para o desenvolvimento das pessoas no contexto
do trabalho.
Esta pesquisa tem o objetivo de gerar conhecimento na área de
ergonomia e contribuir para a melhoria dos ambientes de trabalho, de
sobremaneira para a saúde do trabalhador.
Segundo Gil (1999, p.42), “a pesquisa tem um caráter
pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método
científico. O objetivo da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante
o emprego de procedimentos científicos”.
Com relação à sua natureza esta pesquisa é do tipo “Aplicada”,
pois objetiva gerar conhecimento de aplicação prática nas organizações dirigido à
solução de problemas específicos relacionados à análise dos fatores de risco de
ler/dort.
Quanto à abordagem, esta pesquisa é descritiva, pela
característica da extensa revisão bibliográfica em busca de métodos de análise de
fatores de risco de ler/dort e também exploratória, pela observação, classificação
e descrição das tarefas e atividades dos trabalhadores.
Em relação à análise de dados esta pesquisa é
predominantemente qualitativa, embora a tabulação dos fatores de risco se fez
necessária, inclusive para correlacionar os resultados encontrados a partir de
diferentes análises.
26

2.2 Etapas da revisão da literatura

A primeira etapa da revisão da literatura iniciou-se com a


pesquisa sobre a questão do trabalho e sua evolução, a gestão dos processos
produtivos, a gestão da saúde e segurança no trabalho, a questão da ler/dort,
com predominância em membros superiores e por último, com a ciência
ergonomia.
A segunda etapa da revisão da literatura foi concentrada em um
estudo aprofundado dos instrumentos de análise dos fatores de risco de ler/dort,
que ora alguns autores os classificam como checklists, ora como métodos de
análise.
Após a revisão da literatura sobre os diversos instrumentos de
análise, procedeu-se à avaliação desses instrumentos e a escolha do método de
análise para aplicação prática em uma empresa onde estivessem presentes os
fatores de risco em membros superiores.

2.3 O processo de escolha da empresa

O processo de escolha da empresa para aplicação do método


escolhido teve início em dezembro de 2006 em contato telefônico com doze
empresas da região do ABC Paulista de diversos ramos de atividade. Esta região
foi escolhida tendo como premissa a facilidade para deslocamentos durante as
visitas de campo e pela aglomeração de parques industriais.
Das doze empresas contatadas apenas três se propuseram a
abrir as portas para a realização deste estudo. Em seguida as empresas foram
visitadas, apresentado o objetivo geral e os objetivos específicos, os
procedimentos metodológicos para a coleta de dados. Durante as visitas
procedeu-se a avaliação do processo produtivo de cada empresa e a presença de
fatores de risco de ler/dort em membros superiores.
A empresa escolhida se destacou das três empresas visitadas
em função da presença de diversas atividades repetitivas com membros
superiores, a população de trabalhadores serem experientes e estáveis, com pelo
menos doze meses na função para evitar variabilidade nos métodos praticados, e
a disponibilidade de poder utilizar-se dos recursos de filmagens e fotografias do
27

processo produtivo, por ser imprescindível para a análise dos fatores de risco
através do método escolhido.

2.4 A escolha dos postos de trabalho

A escolha da amostra de postos de trabalho a serem avaliados


teve início com a avaliação aprofundada do processo produtivo e com o
estabelecimento de dois critérios:

1) Que os postos de trabalho tivessem tarefas que empregassem


predominantemente os membros superiores na sua operação;
2) Que estivessem presentes os fatores de risco de ler/dort, de modo que
fosse possível a aplicação do método escolhido para análise.

Após a avaliação de todos os postos de trabalho da empresa


foram escolhidos três:

1) Corte de formulários;
2) Aplicação de cola e destacamento de blocos;
3) Intercalação de vias de formulários.

Nestes postos foram evidenciados o uso intenso dos membros


superiores dos operadores e encontrado os fatores de risco, de forma a atender
os critérios estabelecidos.

2.5 Os instrumentos de coleta de dados

Para levantamento dos dados sobre os fatores biomecânicos


relativos às posturas, quantificação de ações técnicas e repetitividade foram
realizadas três filmagens de cada posto de trabalho com operadores diferentes e
calculado a média aritmética simples para determinação do tempo padrão dos
ciclos de operação a serem utilizados nas análises.
Para realização das análises das posturas inadequadas foram
realizadas várias fotografias dos operadores, dos três postos de trabalho, em
28

ângulos diferentes e utilizada a técnica de goniometria (medição das articulações


com um goniômetro) para tanto, foi utilizado um goniômetro manual da marca
“Trident”.

2.6 Limitações da pesquisa

Este estudo não tem a pretensão de cobrir todos os fatores


implicados dentro da análise ergonômica e considerados na prevenção dos casos
de ler/dort, porém busca-se um método de análise de fatores de risco específico
de membros superiores que considere não só as questões posturais, mas
também os fatores de organização do trabalho que contribuem para o
adoecimento do trabalhador.
A aplicação deste método limita-se ao estudo de três postos de
trabalho denominados de Corte de formulários, Aplicação de cola e destacamento
de blocos e Intercalação de vias de formulários numa empresa de fabricação de
material gráfico.
Os resultados não podem ser generalizados, mas o método pode
ser reaplicado tanto em outras empresas do setor gráfico, quanto em outros
setores da economia.
29

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 A origem da palavra trabalho

Em quase todas as línguas o vocábulo trabalho provém de uma


raiz que indica algo penoso ao homem, em linguagem cotidiana, tem muitos
significados, algumas vezes lembra dor, sofrimento e outras vezes designa a
operação humana de transformação da matéria (SANTOS e FIALHO, 1997).
Os gregos têm a palavra ergon que designa a criação, ponos que
representa o esforço e kopos que quer dizer esforço corporal extenuante. Na
língua francesa, travail designa, em sua origem, tudo que faz sofrer e diferencia
ouvrer (trabalhar) de tache (tarefa). Os italianos distinguem lavorare (trabalhar) e
operare (operar, no sentido de fazer funcionar máquinas). Na língua espanhola
distingue-se trabajar e obrar. Os ingleses labour e work, os alemães têm arbeit
(que também significa moléstia) e werk, no latim tem-se laborau, a ação de labor,
e operare que corresponde à obra e em português encontramos labor e trabalho.
Na língua portuguesa, a palavra trabalho se origina do latim
tripalium (instrumento de tortura dos escravos e réus de determinados crimes),
embora existam hipóteses de que se associe a trabaculum. Tripalium também era
um instrumento feito de paus afiados, alguns com pontas de ferro, que os
trabalhadores rurais usavam para bater o trigo, milho e linho. No dicionário da
língua portuguesa a palavra trabalho aparece como:

1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um


determinado fim. 2. Atividade coordenada, de caráter físico e ou
intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou
empreendimento (Ferreira, 1975, p.1393).

Marilena Chauí faz uma brilhante introdução na obra de Paul


Lafargue “O direito à preguiça”, onde escreve que o sofrimento do trabalho seguiu
após o ócio do Paraíso como pena imposta pela justiça divina e por isso os filhos
de Adão e Eva pecarão novamente se não se submeterem à obrigação de
trabalhar (Chauí, 1999). Nesta introdução, Chauí descreve a transição da idéia de
penosidade do trabalho, na tradição judaico-cristã e figuras mitológicas da origem
30

da sociedade humana, para a idéia de virtude a partir do clássico da sociologia “A


Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Max Weber.

3.2 O significado do trabalho

A palavra trabalho pode ter muitos significados, dependendo da


área da ciência que o estuda, na física, por exemplo, trabalho é o produto da
multiplicação de uma força pela distância percorrida pelo ponto de aplicação, na
direção da força, para fisiologia, trabalho é o fenômeno orgânico que se opera no
âmago dos tecidos e para a sociologia o trabalho está no contexto da divisão
social do trabalho.
Para diversos autores o trabalho é um fator essencial da
construção da identidade das pessoas e da construção de suas relações sociais
e, por isso, ele tem características e potencialidades ambivalentes. Podendo ser
fonte de satisfação, permitindo a participação da obra produtiva geral, e fonte de
verdadeiro prazer, por possibilitar a realização de objetos ou tarefas úteis para a
sociedade.
O trabalho também pode ser ato de criação que corresponde à
vocação dos indivíduos e às suas tendências mais profundas, isto é, pouco
importa se ela se concretiza pelo esforço físico ou mental (CATTANI, 1996). Para
esse autor o homem busca, através do trabalho, sua afirmação como indivíduo e
o significado social do trabalho depende das atividades que este indivíduo
desenvolve nesta sociedade.
Segundo Foucault (1990, p.271), o trabalho como atividade
econômica "só apareceu na História do mundo no dia em que os homens se
achavam numerosos demais para poderem nutrir-se dos frutos espontâneos da
terra" e afirma que o homem não existia enquanto objeto de conhecimento, isto se
deu na sociedade moderna pelas necessidades materiais e de estruturação do
próprio trabalho como meio de inserção social.
Weber (1967), na Reforma Protestante, retrata que o trabalho
aparece como uma forma de dever, pois tal ação implica em servir a Deus, sendo
o ócio considerado antinatural e pernicioso. Desse modo, o trabalho é tido como
virtude, fazendo parte da obrigação religiosa. Tal ideologia parece justificar a
31

divisão social do trabalho, onde a providência divina provê as chances de lucro e


enriquecimento dos homens de negócio.
Para este mesmo autor a classe burguesa ocidental tem suas
particularidades relacionadas com a organização capitalista do trabalho. O
desenvolvimento das possibilidades técnicas escondidas no capitalismo burguês
influenciou fortemente as condições de vida das massas que foram encorajadas
por necessidades econômicas e este capitalismo burguês racional não está
estruturado somente nos meios técnicos de produção, mas também num sistema
de administração de regras formais.
Segundo Oliveira (2006) a história do trabalho começou quando o
homem procurou meios de satisfazer suas necessidades, na medida em que a
satisfação é atingida, ampliam-se as necessidades em relação a outros homens e
criam-se as relações sociais (escravismo, feudalismo e capitalismo) que
determinam a condição histórica do trabalho (processo de trabalho). Desta forma,
o trabalho fica subordinado a determinadas fontes sociais historicamente limitadas
e a organizações técnicas, caracterizando o chamado modo de produção.
O trabalho do homem evoluiu como uma forma de interação com a
natureza buscando a satisfação de suas necessidades e o seu conteúdo pode ser
comum para diversas etapas de desenvolvimento da história, de acordo com a
necessidade do desenvolvimento da produção material. Para Savchenko (1987,
p.21)
O trabalho pode passar do feudalismo para o capitalismo, inicialmente
sem transcorrer trocas das bases técnicas da produção, entretanto, ao
passar de um modo de produção a outro o caráter do trabalho
experimenta trocas revolucionárias.

Para Santos e Fialho (1997) as condições de trabalho existentes


na sociedade e as atividades exigidas para a sua realização dificultam a
realização do homem no trabalho, pois a concepção do trabalho pode ser
contraditória e seu significado pode ser percebido de várias formas e depende da
cultura, das características individuais e dos meios sociais.
Na visão de Wisner (1987), o trabalho é uma atividade organizada
de maneiras muitas vezes extremas e, ao longo do qual, o contrato de trabalho se
impõe com todo rigor. Horas de chegada e saída, pausas, cadências e
procedimentos de trabalho, atitudes diante da chefia e da clientela, tudo é
32

regulamentado e prescrito. Na maior parte do tempo, essas atividades do trabalho


são estabelecidas para o trabalhador em geral, e não levam em consideração a
especialidade de cada um e as condições de sua possibilidade.
Verifica-se que o trabalho engloba em si uma série de outros
fatores os quais estabelecem as condições de trabalho, como: a máquina do
posto de trabalho; o ambiente de trabalho, no que concerne às questões de
iluminação, higiene e salubridade; os meios para se realizar o trabalho; a tarefa; a
jornada; a organização do trabalho; a relação entre pessoas, seja no nível
horizontal e vertical e a relação entre a produção e o salário. E percebe-se que
para tal o homem deve estar inserido em um ambiente, seja ele aberto ou
fechado, e que será denominado ambiente de trabalho.
Desta forma o trabalho pode ser visto como um comportamento de
aprendizagem e transformação do homem que em sua evolução sempre esteve
estritamente ligado à natureza e seus meios de produção. Este comportamento
também pode ser manifestado por insatisfações, devido estar relacionado com
penalizações e sofrimentos, e que pode ser prazeroso se desenvolvido em
condições satisfatórias, que não agridam a integridade do homem (MORE, 1997).
Para os ergonomistas o trabalho também está relacionado com a
organização do trabalho e suas influências, mas, sobretudo verifica-se que o
trabalho é um meio de sobrevivência e que independe de estar relacionado com
satisfação ou insatisfação, mas que pode ser modificado quando oferecido ao ser
humano condições satisfatórias e adequadas para que possam realizar suas
competências ao mesmo tempo no plano individual e coletivo e encontrar a
valorização de suas capacidades (GUÉRIN et al., 2001).
Segundo Vidal (2002), a organização do trabalho, em seus
aspectos interdependentes como repartição das tarefas, sistemas de
comunicação, procedimentos de produção, estabelecimento de padrões de
desempenho, sistemas de supervisão e controle sobre os trabalhadores, sistemas
de recrutamento e seleção de pessoas para o trabalho e métodos de formação,
de capacitação e de treinamento tem se mostrado como fator determinante nas
insatisfações dos trabalhadores. Para conceituar esta interdependência, Vidal
trás uma idéia da compreensão da influência da organização do trabalho:
33

A idéia motriz é a de compreender as formas como se dá cada uma das


unidades funcionais, as disposições necessárias para a consecução das
funções que lhes são imputadas pela organização geral e o conceito
subsidiário é o estabelecimento de métodos de trabalho (VIDAL, 2002,
p.22).

O trabalho dentro do contexto de sua gestão por outro


(organizações) assume outras dimensões na transformação de quem o executa.
Teiger (1992, p.113), propôs outra definição para trabalho:

[...] é uma atividade finalística, realizada de modo individual ou coletiva


numa temporalidade dada, por um homem ou uma mulher singular,
situada num contexto particular que estabelece as exigências imediatas
da situação. Esta atividade não é neutra, ela engaja e transforma, em
contrapartida, aquele ou aquela que a executa.

Dejours e Molinier (1994, p.35) em sua obra Le travail comme


énigme trouxe, à luz da ergonomia, uma outra definição de trabalho inserido nas
organizações formais: “O trabalho é uma atividade coordenada de homens e
mulheres para responder ao que não está posto, desde o início, pela organização
prescrita do trabalho”.

3.3 Breve histórico da evolução do trabalho

3.3.1 Fase artesanal – Da antiguidade até ao inicio da revolução industrial (1780)

O trabalho organizado e dirigido sempre existiu na história da


humanidade, porém as empresas evoluíram com lentidão até aproximadamente
1780 (BOTELHO, 1999). A máquina a vapor, inventada por James Watt em 1776,
ao ser introduzida na esfera da produção, modificou-a completamente e, em
conseqüência, veio afetar as estruturas social, econômica e política da época.
(CHIAVENATO, 2000).
Nesta fase artesanal, o regime de produção basicamente agrícola
é fundamentado no artesanato rudimentar, nas pequenas oficinas, na mão de
obra intensiva e não-qualificada que recorre a ferramentas rudimentares, bem
como ao trabalho escravo ou de relação feudal. O sistema comercial assenta nas
trocas locais majoritariamente diretas (BOTELHO, 1999).
34

3.3.2 Fase da Revolução Industrial – Da transição do artesanato à industrialização


(1780 – 1860)

Com a utilização de novas fontes de energia como o carvão e o


emprego de novas matérias primas como o ferro, foi possível uma crescente
mecanização das oficinas e da agricultura, provocando alterações substanciais
nos preços dos produtos artesanais, abrindo caminho para o aparecimento das
empresas modernas (CHIAVENATO, 2000). Aos poucos, as oficinas vão sendo
equipadas com grandes máquinas que gradualmente substituem o esforço
muscular humano.
A aplicação do vapor chega aos transportes terrestres e marítimos,
e com ele surgem as primeiras estradas e o desenvolvimento das comunicações
com o aparecimento do telégrafo e do selo postal, cria-se as condições objetivas
de uma mudança acelerada no regime de produção (SEVCENKO, 2001).

3.3.3 Fase da 2ª Revolução Industrial – O desenvolvimento industrial (1860 –


1914)

Nesta fase ocorre o desenvolvimento de um novo material para o


processo de fabricação, o aço em 1856 e a utilização da eletricidade e dos
derivados do petróleo como novas fontes de energia (motor de explosão e motor
elétrico) permitiram um crescente domínio da indústria pela ciência e pelo avanço
tecnológico.
Simultaneamente este domínio requer cada vez mais o recurso a
meios financeiros avultados, impondo assim o surgimento dos grandes bancos e
instituições financeiras (CHIAVENATO, 2000). Esta fase trás uma série de
inovações neste período:

O capitalismo industrial cede lugar ao capitalismo financeiro. As


empresas crescem assustadoramente e passam por um processo de
burocratização em face ao seu tamanho. As transformações radicais
dos transportes (aparecimento do automóvel em 1880 e do avião em
1906) e nas comunicações (telégrafo em 1837, primeiro cabo submarino
transatlântico 1866, telefone em 1876, cinema com a primeira projeção
comercial pelos irmãos Lumière em 1895), tornaram o mundo cada vez
menor (BOTELHO, 1999, p.14).
35

3.3.4 Fase do Gigantismo Industrial – Entre as duas Grandes Guerras (1914 –


1945)

A utilização da tecnologia para fins bélicos permite


aperfeiçoamentos consideráveis em todos os domínios: o primeiro computador
eletrônico, o ENIAC, criado nos EUA 1945 assegurava desde logo o cálculo das
tabelas de tiro da artilharia.
Nos transportes assistimos ao aparecimento dos navios de grande
tonelagem, e a surpreendente revolução do automóvel e do avião e as
comunicações são quase instantâneas com o radio e a televisão (SEVCENKO,
2001).
Neste período, afirmam (WOMACK et al., 1992, p.1) em sua obra
intitulada “A máquina que mudou o mundo”, a indústria automobilística desponta
como a maior atividade industrial desempenhando importante papel na vida dos
cidadãos e cita:

[...] a indústria automobilística é ainda mais importante para nós do que


parece. Duas vezes neste século, ela alterou nossas noções mais
fundamentais de como produzir bens. E a maneira como os produzimos
determina, não somente como trabalhamos, mas ainda como
pensamos, o que compramos e como vivemos.

Cada vez menor, o mundo é também cada vez mais complexo. É a


fase em que as empresas assumem proporções enormes, atuando em operações
internacionais e multinacionais. É a fase que compreende igualmente a grande
depressão econômica de 1929 e a crise mundial de 1941 (SEVCENKO, 2001).
Esta fase também é marcada pela transição da era da produção artesanal para a
era da produção em massa (WOMACK et al., 1992).

3.3.5 Fase Moderna – Do pós-guerra aos choques petrolíferos (1946 – 1980)

Separação clara entre os países desenvolvidos (ou


industrializados), e os subdesenvolvidos (ou não industrializados) e os países em
vias de desenvolvimento. Mantém-se o predomínio do petróleo e da eletricidade
como fontes energéticas principais, mas desenvolvem-se conhecimentos
referentes a energias alternativas (nuclear, solar etc.). Recurso de novos
36

materiais básicos (plásticos, alumínio, fibras têxteis sintéticas, etc.) e de novas


tecnologias (circuito integrado, transistor e o silicone) são empregadas nos
processos produtivos de forma acelerada, segundo Sevcenko (2001, p.23):

A partir da segunda metade do século XX, o tempo entre a descoberta


científica e sua aplicação industrial tem sido progressivamente reduzido:
foram necessários 56 anos para o telefone e três anos para os circuitos
integrados, por exemplo.

Não aderir às novas tecnologias, quando não se torna condição de


sobrevivência das empresas, provoca distâncias cada vez maiores entre aquelas
que as utilizam e as restantes.
Por outro lado a escassez de recursos, a inflação desmedida e os
juros elevados complicam ainda mais o ambiente. O ritmo da mudança e a
complexidade crescente trazem consigo uma novidade, a incerteza e a
imprevisibilidade do que vai acontecer.

3.3.6 Fase da incerteza – Da década de 80 até os dias de hoje

Para Botelho (1999) a década de 80 é uma fase de incertezas, na


qual a única certeza é ter a mudança assegurada, ou seja, a velocidade das
mudanças causa grande incerteza às organizações que têm que se
reestruturarem em face à nova realidade.
A tecnologia está em constante evolução “desde que em 1979 se
inventou o walkman, escreve Steven Brull no International Harold Tribune de
Março de 1992, a Sony já desenvolveu 227 modelos diferentes” (BOTELHO,
1999, p.15).
O recurso à fibra óptica, a digitalização, a Internet, os multimídias,
o celular são apenas alguns exemplos de como o ciclo de vida dos produtos tende
a ser cada vez mais curto, passando num ápice de “ser novidade” a “estar
banalizado” e tornar-se obsoleto.
As empresas redimensionam-se e ocorre uma revolução
tecnológica na esfera produtiva industrial através da automação, com base na
microeletrônica, (MORAES NETO, 2003).
37

A atual realidade econômica mundial trás incertezas à economia à


política e aos trabalhadores e para Carvalho (1997 apud SALIM e CARVALHO,
2002, p.145) esta “atual realidade econômica mundial é na verdade a crise do
capitalismo atualmente denominada de globalização” e complementa:

A reestruturação produtiva, também estudada como reconversão


econômica ou nova ordem econômica mundial, ou terceira revolução
industrial, pode ser definida como um processo econômico, político e
cultural em curso, de grande dinamismo e alta complexidade, que
acontece em escala planetária e em ritmo intenso, exigindo a inserção
de todos. Estruturalmente vinculados à globalização, esses dois
processos têm sido conduzidos pelas forças hegemônicas em âmbito
internacional, representando a mais recente configuração do capitalismo
– a qual converte o sistema mundial em espaço de acumulação –
apontando para profundas repercussões sobre a vida social.

A gestão empresarial enfrenta novos desafios, se o início da


terceira revolução industrial era marcada pela revolução do computador e se
temia a substituição do cérebro humano pela eletrônica e conseqüentemente a
eliminação do trabalho, atualmente cada vez mais se apela ao intelecto e à
imaginação do homem e menos aos materiais (BOTELHO, 1999).

3.4 A Gestão empresarial dos processos produtivos

Poder-se-ia recuar na história da humanidade e encontrar um


pensamento administrativo na antiguidade do Egito ou em outras civilizações em
que dirigentes guiaram milhares de trabalhadores na construção de monumentos
que até hoje resistem ao tempo, porém foi ao longo do século XX que as teorias
administrativas se desenvolveram e cada uma teve a sua contribuição para o
desenvolvimento da Teoria Geral de Administração (CHIAVENATO, 2000).
No entanto só com Frederick W. Taylor (1856-1915) se
desenvolveu um pensamento autônomo e sistematizado de modo científico, em
torno do conceito de administrar. “Sua preocupação básica foi eliminar
desperdício e elevar os níveis de produtividade através da aplicação de métodos
e técnicas da engenharia industrial” (CHIAVENATO, 2000, p.32).
De qualquer forma as teorias da Administração têm sofrido várias
evoluções, de acordo com os enfoques que assumem.
38

3.4.1 Ênfase nas tarefas

Taylor é hoje considerado o fundador da chamada Administração


Científica, que cronologicamente é considerada como a primeira sistematização
cientifica, se bem que, dando ênfase na tarefa, desenvolva uma abordagem
microscópica em torno do trabalhador, perdendo de vista a totalidade da empresa
(CHIAVENATO, 2000, PEREIRA, 2000 e MOTTA, 2001). Nesta ótica, a
administração científica passa ter as seguintes características:
1. A improvisação e o empirismo devem ser substituídos pelo planejamento e pela
cientificidade, recorrendo-se a métodos de observação e mensuração;
2. Para se aumentar a eficiência da empresa deve-se começar pela eficiência de
cada operário. A forma de execução das tarefas do operário não pode resultar da
sua escolha e dos seus critérios, mas sim ser resultado de estudos de tempos e
movimentos;
3. As pessoas vão trabalhar exclusivamente para ganhar o salário. A melhor
forma de as incentivar é oferecer prêmios de produção (concepção do homem
como ser economicus). A respeito destes incentivos Taylor em sua obra
“Princípios de Administração Científica” escreve:

[...] para provocar a iniciativa do trabalhador, o diretor deve fornecer-lhe


incentivo especial, além do que é dado comumente no ofício. Esse
incentivo pode ser concedido de diferentes modos, como, por exemplo,
promessa de rápida produção ou melhoria, salários mais elevados, sob
a forma de remuneração por peça produzida, ou por prêmio, ou por
gratificação de qualquer espécie a trabalho perfeito e rápido; menores
horas de trabalho, melhores condições de ambiente e serviço do que
são dadas habitualmente [...] (TAYLOR, 1960, p.47).

4. Simplificar e racionalizar as tarefas tem como corolário a especialização.


Embora perdendo a visão do conjunto é inegável que a especialização trás maior
eficiência;
5. A estandardização e a padronização das máquinas, equipamentos e materiais
permitem através da simplificação e homogeneização, aumentar a eficiência do
operário, até mesmo porque reduz as margens de desperdício e de erro.
Desta forma, Taylor, separa claramente a concepção do trabalho
da sua execução e estabelece os seguintes princípios da administração científica:
39

1. Princípio do planejamento: substituir a improvisação pela ciência planejando e


concebendo previamente todos os métodos de execução do trabalho;
2. Princípio da preparação: selecionar cientificamente os trabalhadores (“the right
man in the right place”), prepará-los e treiná-los de acordo com os métodos
planejados;
3. Princípio do controle: controlar o trabalho garantindo que seja executado
conforme o planejado;
4. Princípio da execução: distribuir as atribuições e as responsabilidades de forma
que a execução do trabalho seja feita pelos operários. À administração cabe o
planejamento, a preparação e o controle, ao trabalhador a execução;
5. Princípio da exceção: só as ocorrências que saem da normalidade devem ser
analisadas pela administração, de modo a poder corrigir desvios e repor a
normalidade.

3.4.2 Ênfase na Estrutura Organizacional

Segundo (CHIAVENATO, 2000 e PEREIRA, 2000) basicamente


são três as abordagens cuja preocupação principal consiste em adequar os meios
(órgãos e cargos) aos fins, conferindo um enfoque que incide principalmente no
planejamento e organização da estrutura: a teoria Clássica de Henri Fayol (1841-
1925) e seus seguidores, a teoria da Burocracia de Max Weber (1864-1920) e a
teoria Estruturalista (James D. Thompson, Amitai Etzioni, Jean Viet e Peter Blau).
No seu conjunto estas teorias vieram ampliar de sobremaneira o
objeto de estudo da teoria da administração em torno da organização e sua
estrutura.

3.4.2.1 Teoria Clássica

Assumindo uma perspectiva eminentemente prescritiva e


normativa, para Fayol a empresa possui seis funções básicas:
1. Funções técnicas, relacionadas com a produção;
2. Funções comerciais, relacionadas com a compra / venda;
3. Funções financeiras, relacionadas com a procura e gestão de capitais;
4. Funções de segurança, relacionadas com a preservação dos bens e pessoas;
40

5. Funções contábeis, relacionadas com inventários, balanços, etc;


6. Funções administrativas, relacionadas com a integração coordenada e
sincronizada e asseguradas proporcionalmente por todos os níveis da hierarquia
das funções restantes.
As funções administrativas englobam cinco elementos que, em
conjunto, se constituem como o processo administrativo: Prever (avaliar o futuro),
Organizar (envolve organização material e social), Comandar (dirige e orienta o
pessoal), Coordenar (harmonizar as atividades) e Controlar (verificar e localizar
erros).
A ciência da administração, como toda ciência, deve basear-se em
leis e princípios, segundo Pereira (2000) Fayol desenvolve os princípios gerais da
administração alertando, no entanto, para a idéia de adaptabilidade e flexibilidade
porquanto nada existe de rígido ou de absoluto em matéria administrativa e a
realidade condiciona em definitivo a aplicação destes princípios.
Fayol define então seus princípios de divisão do trabalho como
autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, unidade de
direção, subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais,
remuneração do pessoal, centralização, cadeia escalar, ordem, equidade,
estabilidade e permanência do pessoal, iniciativa e espírito de equipe.
Contrapondo as funções gerenciais de Fayol aos princípios
científicos de Taylor, Pereira (2000, p.25) escreve:

A administração científica surgiu no chão de fábrica. Conforme o próprio


nome indica, preconiza a adoção de métodos racionais e padronizados,
a máxima divisão de tarefas e o enfoque centrado na produção. A
administração clássica, que teve origem na alta administração, enfatiza
a estrutura formal da organização e a adoção de princípios e funções
administrativas necessárias à realização do trabalho.

3.4.2.2 Teoria da Burocracia

A idéia generalizada de burocracia associa-se à multiplicação da


papelada, à morosidade de processos e à sua constante complexidade. No
entanto o significado técnico remete-nos para a identificação das características
da organização no sentido de garantir a máxima racionalidade e eficiência.
41

Segundo (CHIAVENATO, 2000) a Burocracia teria assim as


seguintes características:
1. O caráter legal das normas e regulamentos: as organizações fundamentam-se
em normas e regulamentos que assumem um caráter legal e uma forma escrita
de modo a conferir às pessoas investidas de autoridade um poder de coação e a
assegurar interpretações sistemáticas e unívocas, respectivamente;
2. O caráter formal das comunicações: reduzir às escritas ações e procedimentos
proporciona a sua comprovação e documentação;
3. O caráter racional da divisão do trabalho: proporciona-se assim ao funcionário
o conhecimento dos limites da sua tarefa, direitos e poderes respectivos;
4. O caráter impessoal das relações: o poder de cada pessoa é impessoal e
deriva do cargo que ocupa;
5. O caráter hierarquizado da autoridade: a autoridade é inerente ao cargo. O
subordinado está “protegido” do seu superior na medida em que a sua relação
com ele integra-se num conjunto de normas mutuamente reconhecidas;
6. O caráter rotineiro e estandardizado do procedimento: procura-se fixar normas
técnicas e regras para cada cargo. Os padrões facilitam uma pronta e objetiva
avaliação de desempenho;
7. A meritocracia: a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência
técnica das pessoas;
8. A separação entre a propriedade e a administração: o funcionário não pode
vender, comprar ou herdar a sua posição ou o seu cargo;
9. O caráter profissional do funcionário: cada funcionário é um especialista
assalariado que ocupa um cargo, é nomeado pelo seu superior hierárquico e tem
uma carreira. No entanto não possui a propriedade dos meios de produção;
10. Completa previsibilidade do comportamento: tudo deve ser estabelecido no
sentido de prever antecipadamente todas as ocorrências e rotineirizar a sua
execução como forma de garantir a máxima eficiência.
Concebida desta forma, a burocracia registraria diversas
vantagens como o aumento da precisão e da rapidez de decisão que seriam
asseguradas por rotinas e unidade de interpretações impostas por uma
constância de procedimentos, o incremento da confiança na organização, as
carreiras seriam pré-definidas e as normas e a meritocracia, impeditivas do
recurso ao favoritismo, reduziriam os atritos.
42

3.4.2.3 Teoria Estruturalista

A terceira alternativa dentro das correntes da ciência da


administração que privilegiam a estrutura organizacional é a teoria estruturalista,
desenvolvida a partir do sistema rígido e fechado concebido pelo modelo
burocrático. Partindo deste modelo, uma abordagem estruturalista concebe a
organização como um sistema aberto de múltiplas abordagens (CHIAVENATO,
2000 e MOTTA, 2001).
Segundo esses autores a teoria estruturalista está baseada nas
seguintes abordagens:

1. Abordagem múltipla tanto no plano formal como no plano informal: conduz


necessariamente a uma visão da organização com unidade social complexa,
integrada por inúmeros grupos sociais;
2. Abordagem múltipla relativa tanto às recompensas salariais e materiais como
às recompensas sociais e simbólicas: não se ignora, no entanto, que os símbolos
de posição são menos eficazes nos funcionários da base da hierarquia;
3. Abordagem múltipla de todos os níveis hierárquicos: a organização é encarada
como um conjunto de partes interdependentes que forma um “todo” e que
mantêm a sua relação com o ambiente. A organização é um sistema aberto;
4. Abordagem múltipla dos diferentes tipos de organização: a partir do
estruturalismo as teorias da Administração ultrapassaram os limites da fábrica,
alargando o seu objeto de análise a todas organizações;
5. Análise inter organizacional: as várias tipologias de análise organizacional e os
estudos comparativos são surpreendentemente desenvolvidos.

3.4.3 Ênfase nas pessoas

Na evolução da ciência administrativa, o pensamento que


administrar é, sobretudo lidar com pessoas deixando em segundo plano a
estrutura ou tarefas, permitiu o aparecimento das chamadas abordagens
humanísticas dentro da ciência da administração. Num primeiro momento surgiu a
Escola de Relações Humanas e posteriormente a Teoria Comportamental.
43

3.4.3.1 A Escola de Relações Humanas

Considerados como principais fundadores, Elton Mayo (1880-


1949) e Kurt Lewin (1890-1947), são responsáveis pela abordagem mais
democrática e liberalizante ocorrida nas Teorias da Administração. No campo
científico a Escola de Relações Humanas surgiu como uma teoria de oposição e
combate às teorias da Organização Científica do Trabalho – OCT e Clássica,
alicerçadas por Taylor e Fayol respectivamente e dispôs-se a humanizar a
administração de empresas (CHIAVENATO, 2000).
De acordo com Motta (2001) os alicerces desta teoria resultaram
de experiências que se preocupavam unicamente com o aumento da
produtividade do operário face aos diferentes ambientes criados. Dos resultados
das experiências na Western Electric Company, no bairro de Hawthorne verificou-
se o entendimento que a empresa desenvolve uma dupla função, de produção e
de satisfação dos seus elementos.
A satisfação no trabalho conduz-nos assim a considerar uma
dimensão social da organização que na prática se traduz no incremento de
incentivos indutores de uma maior motivação.
Resumidamente as principais conclusões registradas pela Escola
de Relações Humanas, segundo Chiavenato (2000) e Motta (2001) consistem em:

1. Os níveis de produção são resultantes da integração social dos operários:


quanto maior for a integração social do funcionário mais disposição
manifestará para produzir no grupo;
2. As recompensas e incentivos, bem como as sanções, permitem garantir
aumentos de produtividade: os trabalhadores referenciam-se a padrões sociais
de desempenho e desenvolvem expectativas de recompensas e sanções
relativamente aos aumentos ou diminuições significativas referentes a esses
padrões;
3. Existência de grupos informais: grupos que se estruturam a margem da
organização formal e que nem sempre coincidem com eles. Também estes
grupos informais integram comportamentos, definem padrões e reproduzem
recompensas e sanções sociais;
44

4. É relevante para o funcionário o conteúdo funcional do seu cargo: trabalhos


simples e repetitivos afetam negativamente a produtividade (oposição clara à
especialização preconizada pela Organização Científica do Trabalho e pela
Teoria Clássica).
Em suma, o pensamento da Escola de Relações Humanas
permitiu o desenvolvimento pioneiro de estudos em torno dos fenômenos sociais
e humanos da organização quais sejam, a comunicação, a motivação, a
liderança, o conflito, as abordagens participativas dos trabalhadores e
principalmente a satisfação no trabalho.

3.4.3.2 Teoria Comportamental

A abordagem comportamental descende diretamente da Escola de


Relações Humanas, abandonando as características prescritivas e normativas, e
evoluindo para uma ciência basicamente explicativa e descritiva.
Ao assinalar essa evolução, o livro publicado por Herbert A. Simon
(prêmio Nobel da economia em 1978) - “O comportamento administrativo”, é
considerado como o primeiro ensaio representativo desta abordagem nas
organizações.
Neste livro o autor desenvolve a teoria das decisões, salientando
que a decisão é substancialmente mais importante que a execução, tanto mais
importante que as pessoas percebem, sentem, decidem e agem decidindo assim
sobre os seus comportamentos, que se manifestam também por uma maior ou
menor aceitação da autoridade (BOTELHO, 1999).
Em geral, os domínios de análise da teoria comportamentalista
centram-se a temas que envolvem estilos de chefia e liderança, sistemas de
administração, processo decisorial, comportamentos, motivação e necessidades
humanas.
Porém alguns estudos têm uma idéia comum que existe um certo
conflito entre os objetivos organizacionais e os objetivos individuais e os
comparativos de estilos de administração permitem potencializar motivações
individuais e reduzir as incongruências destes conflitos (PEREIRA, 2000).
45

3.4.4 Ênfase na tecnologia

Com o advento da cibernética, da mecanização, da automação da


informática e mais recentemente da robótica, a tecnologia passou a moldar a
estrutura da organização a condicionar o seu funcionamento de modo a permitir
extrair dela o máximo proveito.
O papel da tecnologia na determinação da estrutura e
funcionamento das organizações passou a ser também preocupação de estudos
na Ciência da Administração e originaram novas abordagens do seu objeto de
estudo (PEREIRA, 2000).
Nesta ótica as teorias sistêmicas das organizações adotaram
conceitos e metodologias de análises oriundas de outras ciências
(BERTALANFFY, 1975). Esse autor entende que a empresa é como um sistema
sócio-técnico onde interagem dois subsistemas intimamente interdependentes: o
subsistema social ou humano (pessoas e suas relações) e o subsistema
tecnológico (tarefas e equipamentos). Conceitos como sistema aberto, entradas
(inputs), saídas (outputs), caixa negra (black box), retroação (feed-back) e
equilíbrio homeostático entram decisivamente no vocabulário da ciência da
administração (CHIAVENATO, 2000).

3.4.5 Ênfase no ambiente

As rápidas mutações tecnológicas e sociais encarregaram-se de


proporcionar nova corrente que num ápice absorveu a preocupação dominante da
técnica característica da Teoria de Sistemas, sobrepondo-lhe a preocupação com
a mudança, em particular com o ambiente, de forma mais genérica.
Desta forma, para além das variáveis endógenas, internas à
organização, que a abordagem da Teoria dos Sistemas propaga, a Teoria da
Contingência considera de igual modo as variáveis exógenas, externas à
organização (BOTELHO, 1999).
Para Chiavenato (2000) não existe assim uma única “melhor
maneira” de organizar, ao contrário, as organizações precisam ser
sistematicamente ajustadas às condições ambientais. Tudo depende das
características do ambiente onde nos inserimos, variáveis independentes, de
46

onde se extraem as entradas (inputs), necessárias ao funcionamento da


organização, e para onde se encaminham as saídas (outputs).

3.4.6 Ênfase no cliente

Se a Teoria da Contingência, embora valorizando o ambiente, já


assumira contribuições das várias correntes que a precederam, as pressões da
concorrência e a acessibilidade à informação e a procura de soluções pela
Ciência da Administração, para responder aos desafios de recuperação dos anos
80, determinam novos conceitos de administrar.
Dentre esses conceitos estão a corrente que se desenvolveu em
torno da idéia de Qualidade Total, através da qual o cliente passou a
desempenhar um papel privilegiado no pensamento administrativo (BOTELHO,
1999).

A Qualidade total é assegurada pelo Controle de Qualidade Total (TQC


– Total Quality Control) baseado em um sistema de métodos
estatísticos, centralizado no melhoramento do desempenho
administrativo. Seus resultados são garantia da qualidade, redução de
custos, cumprimento dos programas de entrega, desenvolvimento de
novos produtos e administração do fornecedor (PEREIRA, 2000, p.153).

O sucesso da TQC desenvolveu-se a partir do momento em que


os japoneses começaram a fabricar produtos que faziam exatamente aquilo que o
vendedor dizia que faziam. Assim, perante a diversidade de ofertas do mercado, o
cliente passou a adquirir o serviço ou produto que lhe garantia qualidade. O poder
do cliente aumenta substancialmente e o controle de qualidade de custo
acrescido passou a ser entendido como rentável.
Apoiando-se no conceito de qualidade total, fortalece-se a idéia de
que a organização deve envolver todos os seus recursos humanos, apelando a
todo o potencial de criatividade, no duplo objetivo de atingir zero erro e garantir a
total satisfação do cliente.
A Gestão da Qualidade Total procura assim implementar um
sistema de qualidade através do empoderamento (empowerment), ou seja,
proporcionar aos funcionários as habilidades e a autoridade para tomar decisões
que tradicionalmente eram dadas aos gerentes (CHIAVENATO, 2000).
47

3.5 Estado atual das teorias administrativas

O panorama que se pretende transmitir ao se descrever a


evolução da Ciência da Administração impele para a certeza de que todas as
teorias, sem representarem uma resposta em si mesma, concorrem para as
soluções atuais promovendo equilíbrios nas concepções em torno de todas
variáveis, objeto de estudo, sem ignorar qualquer uma delas, tarefas, estruturas,
pessoas, tecnologias, ambientes e clientes.
A turbulência que caracteriza a mudança da sociedade atual tem
proporcionado soluções estratégicas que, embora ainda sem desenvolvimentos
que lhes permitam constituírem-se como escolas, propriamente ditas, não deixam
de se assumirem como correntes de pensamento como a Reengenharia, a
Globalização e a Flexibilização.

3.5.1 A Reengenharia

Segundo Chiavenato (2000) a Reengenharia se caracteriza por


uma reação aos abismos existentes entre as mudanças ambientais e a inabilidade
das organizações em lidar com essas mudanças.
A reengenharia representa um redesenho radical de estruturas,
processos e mentalidades de modo a garantir melhores custos, melhores serviços
e melhores tempos e o funcionário é visto como empreendedor abrindo-se
caminho ao “empowerment”.
A resposta da empresa aos ritmos de mudança remete para uma
organização em torno de processos e não em torno de orçamentos,
departamentos, tarefas ou pessoas. Este conceito busca reduzir a organização ao
essencial como uma mudança radical nas maneiras de fazer o trabalho
(CHIAVENATO, 2000).

3.5.2 A Globalização

Em conseqüência da verdadeira revolução das tecnologias da


informação e das barreiras comerciais, o mundo atual passa por reformulações de
48

conceitos, a ponto de alguns autores denominarem as sociedades nacionais em


sociedade global (VIEIRA, 1997).
Os processos e as estruturas referentes a todas as funções da
organização são pensados à escala global, permitindo a partilha do
conhecimento, mas conforme a realidade local (BOTELHO, 1999).
A idéia de globalização está igualmente associada à idéia de
descentralização através do “empowerment” – Cessão de autoridade e poder,
garantir a possibilidade do funcionário decidir. Desta forma, proporciona-se o
enriquecimento do trabalho, aumentando o grau de satisfação do funcionário, a
capacidade de resposta e incrementa-se o uso da criatividade.

3.5.3 A Flexibilização

O ritmo da mudança obriga a uma adaptabilidade organizacional


nunca antes exigida, por outro lado as pessoas desenvolvem graus de exigência
do seu nível de vida em resultado da multiplicação da oferta de estilos de vida.
Segundo Botelho (1999) a flexibilização representa antes de tudo
uma possibilidade, mediante um tratamento casuístico, conjugar os interesses
entre a entidade empregadora e o funcionário através de várias soluções
referentes ao horário de trabalho, as funções, o local de trabalho, as
remunerações e mesmo de outras matérias que regulamentam as relações de
trabalho como, por exemplo, a flexibilização da legislação.

A palavra flexibilidade entrou na língua inglesa no século XV. Seu


sentido derivou originalmente da simples observação de que, embora a
árvore se dobrasse ao vento, seus galhos sempre voltavam a posição
normal [...] o comportamento humano flexível deve ter a mesma força
tênsil: ser adaptável a circunstâncias variáveis, mas não quebrado por
elas (SENNETT, 2003, p.53)

Para os sistemas de gestão a flexibilidade tem como idéia chave a


atitude perante a mudança, o indicador de sucesso da empresa ou organização,
determina a tendência para a falência das organizações de grandes e altamente
hierarquizadas estruturas, e confirma a tendência de considerar a liderança como
vetor fundamental da administração em detrimento da gestão (BOTELHO, 1999).
49

Para Pereira (2000) a mudança por si só não é o aspecto principal


da questão, da mesma forma que um ambiente flexível não é garantia de sucesso
absoluto na evolução de uma empresa.

3.6 O adoecimento no processo produtivo

Diversos autores concordam entre si quando afirmam que a


relação existente entre saúde e trabalho pode ser tanto positiva quanto negativa,
desde que esta relação esteja focada não no trabalho em si, mas nas condições e
contextos onde ele se dá.
Tratando a saúde dentro do contexto global, Berlinguer (2004) faz
uma forte crítica ao descontrolado processo de globalização econômica
promovida pelos países ricos, que exclui de forma crescente as populações
pobres do mundo das condições mínimas para viver com dignidade e dos
benefícios das novas descobertas da ciência.
Para um bom entendimento da relação entre saúde e trabalho no
mundo moderno é preciso compreender o processo de organização dos sistemas
produtivos dentro das organizações e suas relações com o objeto de estudo, o
trabalho, e suas formas de constrangimentos a que os trabalhadores estão
expostos.
Assim, a saúde no trabalho é transformada e mediada de acordo
com a atividade exercida e das condições ambientais criadas por esta atividade.
Esse fato significa que as condições de saúde também são processos
socialmente produzidos, uma vez que o trabalho está inserido neste contexto
social e que as relações sociais, tornam-se determinantes no processo de saúde
e doença, vida e morte dos indivíduos (FACCHINI, 1995 e VERTHEIN, 2000).
Como o trabalho está inserido no contexto social, o entendimento
do ambiente e do modo como o trabalho está organizado torna-se,
evidentemente, muito importante para compreensão do adoecimento, pois o
homem permanece o equivalente a um terço de sua vida ativa no trabalho, que se
transforma rapidamente em função da aquisição de novas tecnologias (SIVIERI,
1995).
50

3.7 A Questão das ler/dort

Na atualidade vivemos em uma grande polêmica em relação ao


nexo entre as doenças relacionadas à questão ler/dort e o trabalho. O assunto
tornou-se evidente desde a publicação da Norma de Avaliação de Incapacidade
do Instituto Nacional de Seguridade Social, que regulamenta o critério de nexo
técnico entre as patologias e as causas. Recentemente o assunto voltou à tona
pela publicação da Nota técnica que introduziu no sistema previdenciário
brasileiro os conceitos de Nexo Técnico Epidemiológico – NTEP e de Fator
Acidentário Previdenciário – FAP (BRASIL, 2006b).
O NTEP pode ser traduzido pelo nexo presumido em função da
incidência de patologias, estatisticamente encontradas, em trabalhadores de um
grupo específico de expostos que não foi observada no grupo de controle e o FAP
pode ser representado por um coeficiente, a partir do NTEP que será aplicado no
momento que a empresa realizar o pagamento da contribuição previdenciária.
Esses conceitos partem do princípio de que as empresas, em
razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, devem pagar mais ou menos contribuição previdenciária,
mais conhecido como Seguro contra Acidentes do Trabalho – SAT. Segundo esse
critério do INSS a empresa que tiver alta incidência de casos de ler/dort deve
pagar um valor maior de SAT.
Segundo o Ministério do Planejamento (PNAD, 2001 e 2002),
no Brasil, a População Economicamente Ativa – PEA, segundo estimativa do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE era de 82.902.480 pessoas,
das quais 75.471.556 consideradas ocupadas. Destas, 41.755.449 eram
empregados (22.903.311 com carteira assinada; 4.991.101 militares e estatutários
e 13.861.037 sem carteira assinada ou sem declaração); 5.833.448 eram
empregados domésticos (1.556.369 sem carteira assinada; 4.275.881 sem
carteira assinada e 1.198 sem declaração); 17.224.328 eram trabalhadores por
conta-própria; 3.317.084 eram empregadores; 3.006.860 eram trabalhadores na
produção para próprio consumo e construção para próprio uso; e 4.334.387 eram
trabalhadores não remunerados. Portanto, entre os 75.471.556 trabalhadores
ocupados em 2002, apenas 22.903.311 (com carteira assinada) possuíam
cobertura da legislação trabalhista e do SAT (BRASIL, 2002a).
51

A partir dos dados fornecidos pelo PNAD é possível verificar que


no Brasil, da população economicamente ativa, apenas 30,34% têm carteira
assinada e está coberta pelo SAT, sendo assim uma parcela considerável da
população trabalhadora não está protegida pela seguridade social e não faz parte
das estatísticas dos casos de ler/dort.

3.7.1 Nomenclatura ler/dort

A sigla LER – Lesões por Esforços Repetitivos é a tradução de


RSI (repetition strain injuries), utilizado inicialmente na Austrália e definida como
doenças músculotendinosas dos membros superiores, ombros e pescoço,
causada pela sobrecarga de um grupo muscular particular (BROWNE et al.,
1984).
Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT
é a tradução escolhida pela Previdência Social brasileira da terminologia Work
Related Musculoskeletal Disorders. Vários autores preferem essa nomenclatura
“guarda-chuva” por permitir reconhecimento de maior variedade de entidades
mórbidas, bem definidas ou não, causadas pela interação de fatores laborais os
mais diversos, retirando a falsa idéia de que o quadro clínico se deve a apenas
um fator de risco, ou que haja necessariamente uma lesão orgânica, ou que se
restrinja a uma só localização (KUORINKA e FORCIER, 1995).
Esta terminologia tende a substituir assim, as nomenclaturas
utilizadas até então, como Lesões por Esforços Repetitivos – LER, Lesões por
Traumas Cumulativos – LTC, Distúrbio Cervicobraquial Ocupacional – DCO e
Síndrome do Overuse – OS.
A sigla DORT é a terminologia adotada pelo INSS através da
Norma técnica sobre Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(DSS Nº 606, publicada no DOU em 19 de agosto de 1998) e atualizada através
da Instrução Normativa do mesmo órgão (INSS/DC Nº 98, publicada no DOU em
10 de dezembro de 2003), que amplia o conceito para uma síndrome clínica
caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não de alterações objetivas e que
se manifesta, principalmente no pescoço, cintura escapular ou membros
superiores em decorrência do trabalho, podendo afetar tendões, músculos e
nervos periféricos.
52

A instrução normativa do INSS assim define ler/dort:

Entende-se ler/dort como uma síndrome relacionada ao trabalho,


caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não,
tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimento
insidioso, geralmente nos membros superiores, mas podendo acometer
membros inferiores. Entidades neuro-ortopédicas definidas como
tenossinovites, sinovites, compressões de nervos periféricos, síndromes
miofaciais, que podem ser identificadas ou não. Freqüentemente são
causa de incapacidade laboral temporária ou permanente. São
resultado da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas do
sistema osteomuscular com a falta de tempo para sua recuperação. A
sobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinados
grupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência de
esforço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo em
determinadas posições por tempo prolongado, particularmente quando
essas posições exigem esforço ou resistência das estruturas
músculoesqueléticas contra a gravidade. A necessidade de
concentração e atenção do trabalhador para realizar suas atividades e a
tensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que interferem
de forma significativa para a ocorrência das ler/dort (BRASIL, 2003).

3.7.2 O fenômeno ler/dort no Brasil

No Brasil, as ler/dort foram primeiramente descritas como


tenossinovite ocupacional e foram apresentados, no XII Congresso Nacional de
Prevenção de Acidentes do Trabalho - 1973, casos de tenossinovite ocupacional
em lavadeiras, limpadoras e engomadeiras, recomendando-se que fossem
observadas pausas de trabalho para aqueles que operavam intensamente com as
mãos (BRASIL, 2003).
Em novembro de 1986, foi publicada a Circular de Origem nº
501.001.55 nº 10, pela qual a Previdência Social orientava as Superintendências
regionais para que reconhecessem a tenossinovite como doença do trabalho.
Em 6 de agosto de 1987, foi publicada a Portaria nº 4.062,
reconhecendo que “a tenossinovite do digitador” podia ser considerada uma
doença ocupacional. Também essa Portaria enquadrava a “síndrome” no
parágrafo 3º, do artigo 2º da Lei nº 6.379/76 como doença do trabalho e estendia
a peculiaridade do esforço repetitivo a determinadas categorias, além dos
digitadores, tais como datilógrafos, pianistas, entre outros.
Em 23/11/90, é publicada a Portaria nº 3.751, do Ministério do
Trabalho, alterando a NR 17 e atualizando a Portaria nº 3.214/78 estabelecendo,
por exemplo, que “nas atividades que exigissem sobrecarga muscular estática ou
53

dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, a partir


da análise ergonômica do trabalho”, o sistema de avaliação de desempenho para
efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie devia levar em
consideração as repercussões sobre a saúde do trabalhador (BRASIL, 1990).
Em 1991, o Ministério da Previdência Social, nas suas Normas
Técnicas para Avaliação de Incapacidade, publicou as normas referentes às LER,
que continham critérios de diagnóstico e tratamento, ressaltavam aspectos
epidemiológicos com base na experiência do Núcleo de Saúde do Trabalhador do
INSS de Minas Gerais.
Em 1992, o Sistema Único de Saúde, por meio da Secretaria de
Estado da Saúde de São Paulo e das Secretarias de Estado do Trabalho e Ação
Social e da Saúde de Minas Gerais publicaram resoluções sobre o assunto.
Em 1993, o INSS publicou uma revisão das suas normas sobre
LER, ampliando o seu conceito, reconhecendo na sua etiologia além dos fatores
biomecânicos, os relacionados à organização do trabalho.
Em 1998, em substituição às normas de 1993, o INSS publicou a
OS Nº 606/98, atualizando novamente os conceitos e introduzindo o quadro de
relação entre o trabalho e algumas patologias (BRASIL, 1998).
Em 2003, em substituição à ordem de serviço de 1998, o INSS
publicou a Instrução Normativa IN – Nº 98/03 revogando a ordem de serviço
anterior e atualizando os conceitos de ler/dort (BRASIL, 2003).

3.7.3 Diagnóstico de ler/dort

A complexidade do fenômeno das ler/dort é reconhecida quando


exigida a noção de multifatoriedade que a envolve por não se tratar de um mal de
única etiologia. Esta multifatoriedade supera a noção de que a repetitividade de
movimentos seja a causa única do adoecimento (MAENO, 2001).
Colombini et al. (2005), comentando os fatores causais de
distúrbios ocupacionais relacionados à questão ler/dort cria duas relações de
fatores, uma que podemos relacionar a questão ocupacional e outra que não tem
relação com as atividades ocupacionais, conforme descritas no quadro 1.
54

QUADRO 1
Fatores causais de distúrbios osteomusculares

Ocupacionais Não ocupacionais


Movimentos repetitivos
Alta freqüência e velocidade da linha
Uso de força Sexo
Postura inadequada Idade
Compressões das estruturas anatômicas Traumas e fraturas
Período de recuperação insuficiente Patologias crônicas
Vibrações Condições hormonais
Desergonomia dos instrumentos/ferramentas Atividades em tempo livre
Uso de luvas Estrutura antropométrica
Exposição ao frio Condições psicológicas
Trabalho por empreitada
Divisão do trabalho
Inexperiência com o trabalho
Fonte: Colombini et al., 2005, p.19

No quadro 1 é possível verificar a quantidade de fatores


ocupacionais e não ocupacionais envolvidos na questão ler/dort, sendo assim o
seu diagnóstico requer uma investigação cuidadosa, em função da
multifatoriedade de fatores envolvidos, principalmente os aspectos sociais,
psicológicos, trabalhista e previdenciário.
Segundo Maeno (2001) para um bom diagnóstico de ler/dort é
preciso conceber um fluxo na investigação (figura 1), partindo-se de profissionais
de medicina do trabalho que dominam os programas oficiais como Programa de
Controle Médico de Saúde Ocupacional e direcionando-se as especialidades
como clínicas em geral, ortopedia, reumatologia, fisiatria, neurologia e outros.
55

Quadro 1. Usos da anamnese ocupacional na investigação diagnóstica

1º atendimento
Medicina do trabalho Clínicas em geral

História de exposições: identificar e Caso clínico: alteração de


caracterizar exposição saúde ou doença

Pesquisar agravo ou alteração de História de exposições: identificar e


saúde: HMA, ISDA, EF, EC caracterizar exposição

Suspeita de alteração de saúde ou doença

Sim Não
Sim

Não

Alteração atípica, evolução


Doença do Diagnóstico sindrômico
incaracterística etc.
trabalho típica indiferenciado

Excluir causas não ocupacionais

Conclusão

Figura 1 – Uso da anamnese ocupacional na investigação de ler/dort


Fonte: Maeno, 2001, p.7

Segundo Maeno (2001) o diagnóstico de ler/dort ou a sua


refutação deve ser precedida de uma investigação sobre agravos ou alterações
de saúde e começa com a história da moléstia atual – HMA, conforme o fluxo da
figura 1.
As queixas mais comuns entre os trabalhadores com ler/dort são
as dores, localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga e sensação de
peso. Muitos relatam formigamento, dormência, sensação de diminuição de força,
edema e enrijecimento muscular, choque, falta de firmeza nas mãos, sudorese
excessiva, alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em
pele normal).
Após este passo é preciso realizar um interrogatório sobre
diversos aparelhos – ISDA, uma avaliação, como em qualquer caso clínico, é
importante que outros sintomas ou doenças sejam investigados. Segundo Maeno
é fundamental entender se os sintomas ou doenças mencionados podem ter
influência na determinação e agravamento do caso, pois existem várias situações
que podem causar ou agravar sintomas osteomusculares ou do sistema nervoso
56

periférico, como por exemplo, trauma, doenças do colágeno, artrites, diabetes


mellitus, hipotireoidismo, anemia megaloblástica, algumas neoplasias, artrite
reumatóide, espondilite anquilosante, esclerose sistêmica, polimiosite, gravidez e
menopausa.
Para Maeno (2001) é importante ressaltar que para ser
significativo como causa, o fator não ocupacional precisa ter intensidade e
freqüência similar àquela dos fatores ocupacionais conhecidos.

O achado de uma patologia não ocupacional não descarta de forma


alguma a existência concomitante de ler/dort. Não esquecer que um
paciente pode ter 2 ou 3 problemas ao mesmo tempo. Não há regra
matemática neste caso: é impossível determinar com exatidão a
porcentagem de influência de fatores laborais e não laborais e
freqüentemente a evolução clínica nos dá maiores indícios a respeito
(MAENO, 2001, p.7).

No fluxo estabelecido por Maeno, o terceiro passo da pesquisa


sobre agravos da saúde é a realização de exames físicos – EF do sistema
osteomuscular e por fim os exames complementares – EC se necessário para o
diagnóstico.
Para Couto et al. (1998) a dificuldade do diagnóstico chega ao
ponto que alguns pacientes desenvolvem quadros dolorosos de membros
superiores, mas não apresenta os sinais objetivos da presença de afecções que
possa ser diagnosticada uma doença, apenas com os recursos disponíveis no
consultório médico. Algumas vezes, quando os pacientes apresentam um
conjunto de sintomas e de comportamentos em que o próprio autor denomina de
“fenômeno LER” tem-se que contentar apenas com os achados obtidos nos
interrogatórios feitos com os pacientes.
Para uma boa investigação e avaliação médica do paciente para
estabelecer se há ou não relação com o trabalho (COUTO et al., 1998 p.176)
relembra uma afirmação de Ramazzini de 1700:

O médico que vai atender a um trabalhador não se deve limitar a pôr a


mão no pulso, com pressa, assim que chegar, sem se informar das suas
condições. Não delibere de pé sobre o que convém ou não convém
fazer, como se não lidasse com uma vida humana.
57

3.8 A saúde e o trabalho

O conceito de saúde formulado na Constituição da Organização


Mundial de Saúde – OMS que define “a saúde como um estado de completo bem
estar físico, mental e social, e não somente a ausência de afecções ou
enfermidades” necessita, sem dúvida, de uma revisão, quando pensamos
especialmente em saúde no local de trabalho.
Christophe Dejours faz uma análise crítica ao conceito de saúde
da OMS, desenvolvendo a idéia que a saúde das pessoas é um assunto ligado às
próprias pessoas e afirma ser impossível definir um estado completo de bem estar
e que esse estado é impossível de se atingir (DEJOURS, 1992).
No local de trabalho, a saúde dos trabalhadores sofre influências
das condições ambientais (físicas, químicas e biológicas) e da forma como é
organizado. As condições de trabalho afetam em particular o corpo físico
enquanto as formas de organização do trabalho atuam sobre a saúde mental.
Assim sendo, a saúde no trabalho passa não só pela melhoria
das condições de trabalho, mas principalmente, pelo grau de liberdade que as
pessoas têm de se organizar no trabalho, possibilitando o desenvolvimento pleno
de suas habilidades (LIANZA, 2003).
A partir desses pressupostos, Dejours (1992) propõe uma nova
definição: “A saúde para cada homem, mulher ou criança é ter meios de traçar um
caminho pessoal e original, em direção ao bem-estar físico, psíquico e social”.
Christophe Dejours em sua obra “A loucura do trabalho” dedica
uma parte do primeiro capítulo para discutir os mecanismos de defesa individual
do organismo humano contra a organização do trabalho, instituída por Taylor na
“Administração Científica”, usando como exemplo o trabalho repetitivo.
Segundo Dejours (1992) quando Taylor retira, o por ele chamado
de “tempos mortos”, além de aumentar o ritmo e a repetitividade retira do
trabalhador o tempo para regulagens psíquicas e essenciais para assegurar a
proteção da saúde mental.
Para Doppler (2007), as relações entre trabalho e saúde dizem
respeito a várias disciplinas, entre as quais pode-se citar a ergonomia, a medicina
do trabalho, a toxicologia e a sociologia, dentre outras, e a gestão da segurança e
58

saúde no trabalho, dentro desse contexto multidisciplinar, torna-se necessária


para o equilíbrio dessas condicionantes.
O ponto de vista mais amplamente admitido é que o trabalho prejudica a
saúde; um outro ponto de vista menos difundido é que a saúde é
necessária para a realização do trabalho. Mas o trabalho pode ser
também uma fonte de saúde e de realização pessoal (DOPPLER, 2007,
p.47).

3.9 A gestão da segurança e saúde no trabalho

A segurança do trabalho estuda, através de metodologias e


técnicas apropriadas, as possíveis causas de acidentes e doenças no trabalho
objetivando a prevenção de suas ocorrências. Para alcançar estes objetivos
propostos a segurança deve realizar o planejamento e controle das condições de
dos ambientes de trabalho, através da identificação, avaliação e eliminação dos
riscos existentes nos locais de trabalho (PACHECO, 2000).
A gestão da segurança e saúde no trabalho, de acordo com
Araujo (2001), vem sendo tratada com mais seriedade pelas organizações a partir
do advento da busca da certificação da qualidade pela série ISO 9000 a partir de
1994. As empresas estão descobrindo que os sistemas de gestão de qualidade
podem servir também de base para o tratamento eficaz de questões relativas à
segurança e saúde no trabalho.
No âmbito mundial foram criadas ainda as normas internacionais
BS 8800 (Guide to occupational health and safety management systems), em
1996 e a OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) em
1999, especificamente para a Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho. No
Brasil já existe uma grade quantidade de empresas que procuraram os órgãos
certificadores para o planejamento e implementação desses sistemas de gestão
(ARAUJO, 2001).
Essas normas têm como objetivo auxiliar as organizações a
estruturarem um sistema eficiente de gestão da saúde e segurança do trabalho
tendo como uma das premissas em seu planejamento a implementação de
identificação de perigos e a gestão de riscos.
A gestão de riscos é um elemento central na gestão estratégica
de qualquer organização. É o processo através do qual as organizações analisam
59

metodicamente os riscos inerentes às respectivas atividades, com o objetivo de


terem controle dos seus processos.
O ponto central de uma boa gestão de riscos é a identificação e
tratamento destes de forma a deixá-los dentro de limites aceitáveis, conforme
esquema demonstrado na figura 2.

ESTABELECIMENTO DOS CONTEXTOS

MONITORAMENTO E ANÁLISE CRÍTICA


PROCESSO DE AVAL IAÇÃO DE RISCOS
COMUNIC AÇÃO E CONSULTA

IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS

ANÁLISE DE RISCOS

AVALIAÇÃO DE RISCOS

TRATAMENTO DE RISCOS

Figura 2 – Esquema do processo de gerenciamento de riscos


Fonte: AS/NZS 4360, 2004

A figura 2 apresenta, segundo a norma da Standards Australia e


Standards New Zealand AS/NZS 4360 (2004), a seqüência lógica de um processo
de gerenciamento de riscos que deve integrar as seguintes fases:
1. Comunicação e consulta: Comunicar e consultar as partes envolvidas
internas ou externas a organização.
2. Estabelecimento dos contextos: Estabelecer os contextos interno, externo
e os critérios em relação aos quais os riscos serão avaliados.
3. Identificação de riscos: Identificar onde, quando, por que e como os
eventos podem impedir, atrapalhar, atrasar ou melhorar o alcance dos
objetivos.
4. Análise de riscos: Identificar e avaliar os controles existentes, determinar
as conseqüências, a probabilidade e, por conseguinte, o nível de risco.
60

5. Avaliação de riscos: Comparar os níveis de risco estimados com os


critérios estabelecidos previamente e considerar o balanço entre os
benefícios potenciais e os resultados adversos.
6. Tratamento de riscos: Desenvolver e implementar estratégias e planos de
ação específicos e econômicos para aumentar os benefícios potenciais e
reduzir os custos potenciais.
7. Monitoramento e análise crítica: É necessário monitorar a eficácia de todas
as etapas do processo de gestão de riscos no sentido de promover a
melhoria contínua.
Para monitorar com eficácia as etapas de um processo de
gestão de riscos é preciso aplicar o ciclo de Shewhart, mais conhecido como o
ciclo do PDCA, Plan, Do, Check e Act que pode ser traduzido para o português
como Planejar, Executar, Verificar e Agir, conforme figura 3.

Refletir sobre o Escolher o problema e


que aprendeu mostrar sua importância
Identificação do
Conclusão Problema
Evitar que a Como ocorre?
causa volte a
acontecer Observação

Padronização

Análise
Verificação
Por que ocorre?
O problema
foi resolvido? Ação
O que fazer para
Plano de Garantir a eliminar a causa?
ação execução do plano

Figura 3 – Ciclo do PDCA


Fonte: Adaptado de Cardella, 1999
61

A aplicação do ciclo do PDCA, conforme ilustrado na figura 3, em


um processo de gerenciamento de riscos pode-se iniciar com a fase de
planejamento do processo como um todo, englobando as fases de comunicação e
consulta, estabelecimento dos contextos, definição dos métodos a serem
aplicados nas análises de perigos e riscos e treinamento de pessoal para
execução das análises.
A fase de execução pode ser representada pelo levantamento de
perigos e riscos, análise dos meios de controle existentes sobre esses perigos,
avaliação para se conhecer em que níveis os riscos se encontram, definição das
ações de eliminação dos agentes perigosos, substituição por outro agente menos
perigoso.
A redução dos riscos pode-se dar pelo controle dos perigos na
fonte, instalação de barreiras físicas, implantação de medidas de caráter
administrativo, adoção de equipamentos de proteção individual ou elaboração de
procedimentos e uma vez escolhidos os meios de controle que serão
empregados, finalmente planejar a implementação destas ações.
A fase de verificação pode ser apresentada com a análise dos
resultados obtidos, a partir da implementação das ações, e com a reavaliação dos
riscos para verificação de sua eficácia. Nesta fase é que são analisados os
indicadores escolhidos para medição dos resultados.
Na fase de ação verifica-se se os meios de controle
implementados sobre os perigos são suficientes para mantê-los a níveis de riscos
aceitáveis pela organização, realiza-se a padronização, sua abrangência agrega-
se o conhecimento do processo de gestão de riscos na cultura organizacional
fechando assim o ciclo do PDCA.
Para identificação e gestão dos riscos ambientais de uma
organização é necessário, em primeiro lugar, conhecer quais são os agentes de
riscos apresentados pela empresa em questão, se estes são de ordem física,
química, biológica, ergonômica, mecânica, ou combinados entre si, os quais
sejam capazes de causar acidentes ou doenças ocupacionais, em função de sua
natureza, concentração, intensidade e tempo de exposição, sendo que o objetivo
central da Gestão de Riscos é manter os riscos associados à organização abaixo
dos valores tolerados (CARDELLA, 1999, p. 70).
62

Para a gestão dos riscos de ler/dort, Colombini et al. (2005),


propõe um fluxo para análise de risco, conforme figura 4.

IDENTIFICAÇÃO
(INDICADORES DE NÃO
POSSÍVEL RISCO)

NÃO INTERVENÇÃO
SIM

ESTIMATIVA
NÃO SIGNIFICATIVO
DO RISCO

RISCO
PRESENTE
ANÁLISE VIGILÂNCIA
DETALHADA SANITÁRIA
DO RISCO
(FACULTATIVO)
INTERVENÇÕES
PARA 1º NÍVEL: CASOS
REDUÇÃO DE RISCO PROBLEMÁTICOS

2º NÍVEL: DIAGNÓSTICO E
JULGAMENTO DE
IDONEIDADE
SOBRE CASOS
REAVALIAÇÃO DE PROBLEMÁTICOS
RISCO RESIDUAL

GESTÃO PROCEDIMENTOS
ESTATÍSTICA MÉDICO – LEGAIS

REINTEGRAÇÃO
NO TRABALHO

Figura 4 – Fluxo para análise de risco de ler/dort


Fonte: Colombini et al. (2005, p.27)

O fluxo representado na figura 4 representa, segundo Colombini


et al. (2005), um esquema geral de intervenção para avaliação do risco ligado a
movimentos repetitivos dos membros superiores. Este fluxo demonstra duas
linhas de trabalho com relação aos riscos de ler/dort, uma que atua
63

preventivamente na redução dos riscos e outra que trata da análise a partir de


estudo de casos de adoecimento através da vigilância sanitária.
Neste contexto, a aplicação de um método técnico-científico para
a identificação, avaliação, análise e tratamento dos riscos de ler/dort das
organizações torna-se necessária para uma gestão eficaz da saúde dos
trabalhadores.

3.10 A ergonomia

Atualmente a ergonomia é solicitada para intervir em situações


cujas problemáticas variam desde a concepção de postos de trabalho
extremamente automatizados, passando por atividades de trabalho estritamente
manual ou, ainda, por queixas relacionadas à saúde dos trabalhadores, em
particular, as decorrentes dos distúrbios osteomusculares relacionados ao
trabalho.

3.10.1 Conceitos fundamentais

A origem do termo ergonomia relaciona-se ao ano de 1857,


quando Jastrezebowisky publicou um artigo intitulado "ensaios de ergonomia ou
ciência do trabalho". O tema é retomado quase cem anos depois, quando em
1949, um grupo de cientistas e pesquisadores se reúne, interessado em
formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência.
Em 1950, durante a segunda reunião deste grupo, foi proposto o
neologismo "ERGONOMIA", formado pelos termos gregos ergon (trabalho) e
nomos (regras) (COUTO et al., 1998).
Funda-se assim no início da década de 50, na Inglaterra, a
Ergonomics Research Society. Em 1955, é publicada a obra "Análise do
Trabalho" de Obredane & Faverge que, torna-se decisiva para a evolução da
metodologia ergonômica. Nesta publicação é apresentada de forma clara a
importância da observação das situações reais de trabalho para a melhoria dos
meios, métodos e ambiente do trabalho (DELIBERATO, 2002).
Nos Estados Unidos, a ergonomia é denominada como Human
Factors (fatores humanos). W. T. Singleton, em 1972, definia a Ergonomia como
64

"uma tecnologia da concepção do trabalho baseada nas ciências da biologia


humana". (COUTO et al., 2007).
A Ergonomia é definida por Laville (1977) como "o conjunto de
conhecimentos a respeito do desempenho do homem em atividade, a fim de
aplicá-los à concepção de tarefas, dos instrumentos, das máquinas e dos
sistemas de produção". Segundo este autor, distinguem-se habitualmente dois
tipos de ergonomia, uma de correção e outra de concepção. A primeira procura
melhorar as condições de trabalho existentes e é freqüentemente parcial e de
eficácia limitada, a segunda, de concepção, ao contrário, tende a introduzir
conhecimentos sobre o homem, desde o projeto do posto, do instrumento, da
máquina ou dos sistemas de produção até sua própria aplicação.
Para Wisner (1987, p.12) a ergonomia tinha a seguinte definição:

O conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e


necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos
que possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e
eficácia.

A Ergonomics Research Society, da Inglaterra, define ergonomia


como sendo o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho,
equipamento e ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de
anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos destes
relacionamentos (ERGONOMICS RESEARCH SOCIETY, 2000).
A definição de Ergonomia mais atual é o da International
Ergonomics Association – IEA, aprovado em agosto de 2000 no Congresso
Trienal de Ergonomia, realizado em San Diego, Califórnia:

A disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os


seres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão que
aplica teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visam
otimizar o bem estar humano e a performance global dos sistemas (IEA,
2007).

A reunião do conselho científico dessa associação também


aprovou que, através das características de especializações a ergonomia pode se
dar em três domínios diferentes:
65

 Ergonomia física - refere-se aos aspectos relacionados à anatomia


humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação com a
atividade física;
 Ergonomia cognitiva - refere-se aos processos mentais como percepção,
memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetam interações entre
seres humanos e outros elementos do sistema;
 Ergonomia organizacional - relacionada à otimização dos sistemas sócio-
técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos.
Segundo Santos e Fialho (1997, p.53) a ergonomia visa também
outros benefícios para a sociedade assim definindo-a:

Ergonomia tem como finalidade conceber e/ou transformar o trabalho de


maneira a manter a integridade da saúde dos operadores e atingir
objetivos econômicos e os ergonomistas são profissionais que têm
conhecimento sobre o funcionamento humano e estão prontos a atuar
nos processos projetuais de situações de trabalho, interagindo na
definição da organização do trabalho, nas modalidades de seleção e
treinamento, na definição do mobiliário e ambiente físico de trabalho.

A Ergonomia reúne conhecimentos relativos ao homem e


necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam
ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência ao trabalhador. A
ergonomia procura estudar as características materiais do trabalho, como o peso
dos instrumentos, a resistência dos comandos e dimensão do posto de trabalho, o
meio ambiente físico (o ruído, iluminação, vibrações e ambiente térmico), a
duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho, os modelos de treinamento
e aprendizagem, as formas de liderança e os modos operatórios das atividades
(VIDAL, 2002).
Além disso, a ergonomia procura realizar diversos tipos de
análises do ponto de vista físico, sensorial e mental. Assim, destina-se à
realização de análises do trabalho propriamente dita.

3.10.2 Breve histórico da ergonomia no Brasil

No Brasil, segundo Moraes (1989), a ergonomia surgiu


aproximadamente em 1960, quando Sergio Penna Kehl faz uma abordagem
sobre o tema no curso de Engenharia de Produção da USP.
66

Em 1966, o professor Karl Heinz Bergmiller inicia o ensino da


ergonomia para o desenvolvimento de projetos e produtos na Escola Superior de
Desenho Industrial, e em 1967, os professores e psicólogos Rozestraten e
Stephaneck implantaram uma linha de Psicologia Ergonômica na USP de
Ribeirão Preto, com ênfase na percepção visual com aplicação no trânsito.
Nesta época, o professor Alberto Mibielli de Carvalho
apresentava a ergonomia aos estudantes de Medicina da Universidade Federal
do Rio de Janeiro – UFRJ e depois na Universidade Estadual do Rio de Janeiro –
UERJ.
Em 1968, Itiro Iida passa a lecionar na pós-graduação da
Engenharia de Produção na UFRJ, fazendo do curso um centro de conhecimento
de ergonomia.
Gonçalves (1998) relata que, em 1969, é introduzida a disciplina
de Engenharia Humana baseada na obra de Chapanis de 1965, no Mestrado em
Engenharia Industrial na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, atual
Engenharia de Produção.
Em 1970, o professor e psicólogo Franco Lo Presti Seminério
propicia a vinda do professor Alain Wisner ao Brasil, que possibilitou um grande
incentivo para a ergonomia brasileira quando orientou muitos trabalhos da
Fundação Getúlio Vargas, sendo implantado o primeiro curso de especialização
em 1975, nesta Instituição.
Na década de 70 a ergonomia deu um grande impulso com o
professor Itiro Iida na Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de
Engenharia – COPPE/UFRJ, que além dos cursos de graduação e pós-
graduação, organizou com Colin Palmer um curso que deu origem ao primeiro
livro editado em português.
Em 1979, através de aprovação do currículo mínimo, a
ergonomia transforma-se em disciplina obrigatória para o curso de Especialização
em Projeto de Produto e em Programação Visual, na Escola Superior de Desenho
Industrial do Rio de Janeiro, e em 1987, o Conselho Federal de Educação aprova
o novo currículo.
Em agosto de 1983 é fundada a Associação Brasileira de
Ergonomia – ABERGO (ABERGO, 2007) e, em 1987, foram realizados o Terceiro
Seminário Brasileiro de Ergonomia e o Primeiro Congresso Latino Americano de
67

Ergonomia, em São Paulo e finalmente, em 1993, é criado na UFSC o primeiro


Mestrado em ergonomia do Brasil, através da Engenharia de Produção.
No Brasil, os primeiros aspectos relativos à ergonomia estão
inseridos na legislação através da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, nos
artigos 198 e 199 da seção XIV, com o título “Da prevenção da fadiga” do capítulo
V que trás o título “Da segurança e da medicina do trabalho”, que tratam do peso
máximo que um empregado pode remover individualmente e a obrigatoriedade de
colocação de assentos para posturas corretas dos trabalhadores no trabalho
sentado, respectivamente.
Em 1978 foram aprovadas as Normas Regulamentadoras – NR
relativas à segurança do trabalho, através da Portaria 3214/78, porém, somente
em 1990, considerando a evolução das relações de trabalho, se fez uma revisão
completa da redação da NR 17 – Ergonomia, através da Portaria 3751/90
(BRASIL, 1990).
Como fundamentação técnica a NR 17 “visa estabelecer
parâmetros que permitem a adaptação das condições do trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um
máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (ARAUJO, 2003).
Ressalta-se a importância da aplicação da Ergonomia no
planejamento e organização das diversas áreas não apenas pelo aspecto
normativo, mas considerando que além de conter princípios de utilização coletiva,
consiste em uma metodologia que analisa e visa adequar o trabalho aos
trabalhadores e, conseqüentemente, aos objetivos pretendidos pela empresa.
Como observou Villar (2002), a contribuição de estudiosos
internacionais foi de grande importância para o desenvolvimento da ergonomia no
Brasil e nas transformações no mundo do trabalho. O conceito de trabalho
comporta uma série de nuances e as dificuldades conceituais enfrentadas pela
ergonomia são análogas às encontradas por outras disciplinas que lidam com
este objeto de estudo.

3.10.3 A ergonomia no trabalho

Fatores como recessão, concorrência, incertezas do cenário


econômico, busca constante da redução de custos e aumento da produtividade,
68

levam as empresas a novos desafios e a rearranjos organizacionais que podem


desencadear um processo de adoecimento onde estejam presentes fatores
desfavoráveis de biomecânica ocupacional e de organização do trabalho.
É necessário conhecer estes fatores biomecânicos, como
posturas inadequadas, excesso de força, compressões de tecidos moles e
repetitividade presente no ambiente laboral, bem como os fatores de organização
do trabalho como métodos, objetivos e metas, procedimentos e estratégias
utilizadas pela empresa que estão presentes nas atividades de trabalho.
A falta de dados sobre a correlação entre estes fatores e os
casos de adoecimento pode, inclusive, comprometer a realização de uma
intervenção ergonômica que teria potencial para adequar o trabalho às
capacidades psicofisiológicas dos trabalhadores.
Dados biomecânicos, principalmente para avaliar posturas,
podem ser levantados com protocolos, como o método OWAS de Karhu, Kansi &
Kuorinka (1977) para análise de corpo inteiro em situação de trabalho dinâmico,
desenvolvido inicialmente para a indústria e bastante utilizado em outras
atividades ou o método RULA de McAtamney e Corlett (1993) para análise de
posturas de membros superiores, principalmente em situações de trabalho de
caracterização mais estática.
A ergonomia tem como objeto de estudo, o homem no seu
contexto de trabalho realizando suas atividades do cotidiano, independentemente
da sua linha de atuação ou das estratégias e métodos que utiliza.
Esse trabalho real e concreto compreende o trabalhador,
operador ou usuário no seu local de trabalho, enquanto executa sua tarefa, com
suas máquinas, ferramentas, equipamentos e meios de trabalho, num
determinado ambiente físico e arquitetural, com seus chefes e supervisores,
colegas de trabalho e companheiros de equipe, interações e comunicações
formais e informais, num determinado quadro econômico-social, ideológico e
político (MORAES, 2007).
Segundo Vidal (2002) a primeira etapa de uma intervenção
ergonômica é definida como “apreciação ergonômica”, e a descreve como sendo
uma fase exploratória que compreende o mapeamento dos problemas
ergonômicos da empresa. A apreciação ergonômica consiste na sistematização
homem-tarefa-máquina e na delimitação dos problemas ergonômico-posturais,
69

informacionais, acionais, cognitivos, comunicacionais, interacionais,


deslocacionais, movimentacionais, operacionais, espaciais e físico-ambientais. A
conclusão desta etapa é a hierarquização dos problemas, priorização dos postos
a serem diagnosticados e modificados e sugestões preliminares de melhoria.

De acordo com o manual de aplicação de ergonomia do


Ministério do Trabalho:

A análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo e


participativo para a resolução de um problema complexo que exige o
conhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las e
das dificuldades enfrentadas para se atingir o desempenho e a
produtividade exigidos (BRASIL, 2002b).

Segundo Kee, Karwowski e Luba (2001) a análise de riscos com


relação aos problemas ergonômicos requer a identificação de perigos (fatores de
risco) e a quantificação destes fatores para a análise e tomada de decisão. Para
tanto é necessário aplicar metodologias e técnicas apropriadas às possíveis
causas de doenças e acidentes de trabalho, visando solucionar exigências de
melhorias nas condições de trabalho.
Hendrick (2003), proferindo uma palestra na Human Factors and
Ergonomics Society coloca muito bem em seu discurso que não podemos esperar
que os tomadores de decisões nas organizações ajam pró ativamente em favor
da ergonomia simplesmente por que seria a coisa certa a fazer, mas na verdade
por que os gerentes devem ser capazes de justificar qualquer investimento em
termos dos benefícios concretos que ele trará para a organização, para a
capacidade da organização em ser competitiva e sobreviver.
Nesse sentido a gestão da saúde do trabalhador, em uma
organização moderna, depende dentre outras exigências, do seu desempenho na
área de ergonomia. Por outro lado os gestores precisam de critérios confiáveis de
análises de riscos de ler/dort para direcionar os investimentos de forma eficaz
(PAVANI, 2006).
70

4 MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Nos estudos de riscos no trabalho encontramos uma série de


classificações, porém a mais utilizada no Brasil está dividida em riscos físicos,
químicos, biológicos, de acidentes ou mecânicos e ergonômicos.
Os riscos no âmbito da ergonomia são aqueles relacionados com
fatores fisiológicos e psicológicos inerentes às atividades de trabalho e podem
produzir alterações no organismo e no estado emocional dos trabalhadores,
comprometendo sua segurança e saúde.
Na literatura sobre ergonomia existe um “certo” consenso sobre
os fatores de risco incidentes sobre o organismo humano como trabalho físico
pesado, levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, trabalho
em turnos, jornadas prolongadas, ansiedade, excesso de responsabilidades,
desconforto térmico e posturas incorretas.
Existem muitas metodologias de análise ergonômica e muitos
métodos para se realizar análises dos fatores de riscos . Na literatura disponível
encontram-se alguns que são delineados para determinar a exposição a fatores
de risco devido à sobrecarga biomecânica de todo o corpo ou somente dos
membros superiores e a correlação com as patologias ligadas a ler/dort, porém
não existem métodos de avaliação do risco que podem atender completamente
todos os critérios (COLOMBINI et al., 2005).
Alguns métodos se apresentam mais completos em sua
formulação, tanto pelo número e o tipo de deterninantes do risco em questão
quanto pela abordagem metodológica que se segue, outros se destacam por
evidenciar apenas de forma qualitativa a presença de fatores ocupacionais que
podem levar o “avaliador” em direção à possível presença de um risco.

4.1 A metodologia AET – Análise Ergonômica do Trabalho

A análise ergonômica do trabalho, pelo fato de ser realizada no


local de trabalho e em contraposição àquelas realizadas em laboratório, permite a
compreensão dos fatores que caracterizam o trabalho real, envolvendo os fatores
71

físicos, psicológicos e sociais, permitindo também modificar o trabalho ao


modificar a tarefa (MONTMOLLIN, 1990, p. 119).
Segundo (WISNER, 1987 e GUÉRIN et al., 2001), a AET é
composta de três fases distintas, análise da demanda, análise da tarefa e análise
da atividade.
Na análise da demanda deve-se analisar a representatividade do
autor da demanda, a origem dos problemas, as perspectivas de ação ergonômica
e os meios disponíveis para realizá-la.
Na análise da tarefa devem-se analisar as prescrições sob as
quais os operadores realizam seu trabalho como: modos operatórios, normas de
segurança do trabalho, objetivos, metas e a tecnologia empregada como
maquinário, ferramentas, forma de organização do trabalho e condições
ambientais.
Na análise da atividade deve-se analisar o que o trabalhador
efetivamente realiza para cumprir com a tarefa, ou seja, são avaliadas as
condições de realização do trabalho, como que os operadores se comportam para
atingir os objetivos e metas definidas pela organização de acordo com as
prescrições e tecnologia empregada.

SITUAÇÃO DE TRABALHO

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Análise da demanda: Análise da tarefa: Análise das atividades:


definição do problema análise das condições análise dos
de trabalho comportamentos
do homem no trabalho
Dados Hipóteses Dados Hipóteses
Dados Hipóteses

Caderno de encargos Diagnóstico:


de recomendações modelo operativo da
ergonômicas situação de trabalho

SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Figura 5 – Diagrama da construção da análise ergonômica do trabalho


Fonte: Adaptado de Santos e Fialho, 1997
72

A figura 5 mostra uma síntese do processo de construção da


análise ergonômica do trabalho (AET) que avalia uma situação de trabalho
visando adaptá-la ao homem a partir da análise das condições técnicas,
ambientais e organizacionais (GUÉRIN, 2001).
Nas condições técnicas procura-se identificar os principais
fatores tecnológicos que influenciam a análise do trabalho: estrutura geral do
sistema de produção, fluxo de produção, sistemas de controle, sistemas de
comando e problemas críticos evidentes.
Nas condições ambientais estuda-se o espaço, o leiaute, o
mobiliário, o ambiente térmico, o acústico, o luminoso entre outros.
Como condições organizacionais de trabalho analisa-se a
definição e repartição das funções e tarefas de trabalho, a decisão e a
implantação dos meios materiais e humanos.
Segundo Santos e Fialho (1997) a análise ergonômica do
trabalho é um conjunto de técnicas comparativas que permitem uma amostragem
bastante aproximada da atividade do trabalho. Os autores comentam que a
análise ergonômica do trabalho comporta duas fases: a análise e síntese
ergonômica, conforme demonstrado na figura 5.

4.2 As técnicas de análise postural

Para a realização de suas tarefas, o trabalhador assume


diversas posturas diferentes de cada segmento corpóreo no decorrer da sua
jornada de trabalho.
Para Iida (1990), posturas são configurações que um corpo
assume ao realizar dada atividade e Grandjean (2004) destaca a importância do
esforço muscular quanto à exigência física decorrente do trabalho, em especial o
trabalho em posturas estáticas que, além de favorecer a instalação da fadiga
muscular, pode conduzir ao aparecimento de lesões.
As técnicas que se utilizam para realizar uma análise postural
têm duas características que são a sensibilidade e a generalidade. Uma alta
generalidade quer dizer que é aplicável em muitos casos, mas provavelmente
tenha uma baixa sensibilidade, quer dizer que os resultados que se obtenham
podem ser pobres em detalhes. Porém as técnicas com alta sensibilidade, onde é
73

necessária uma informação muito precisa sobre os parâmetros específicos que se


medem, parecem ter uma aplicação bastante limitada (COLOMBINI et al., 2005).
Existem vários instrumentos para análise dos riscos posturais
que podem ser classificados como checklists, métodos semiquantitativos ou
métodos quantitativos.
Os checklists compreendem em respostas a um conjunto de
perguntas e os dados são interpretados como riscos em uma escala. O checlist
de Lifshitz e Armstrong (1986) leva em consideração as variáveis de estresse
físico ou mecânico, força, postura, posto de trabalho, repetitividade e as
ferramentas utilizadas para os membros superiores. O checlist de Keyserling et
al., (1993) acrescentou ao anterior cinco perguntas referentes às atividades
manuais e avaliação dos hemicorpos (direito e esquerdo) em separado. O checlist
de Couto et al. (1998), adicionou ao anterior alguns critérios relacionados à
organização do trabalho e sua relação com a quantidade de movimentos dos
membros superiores. Segundo Guimarães e Diniz (2001) estas análises são
superficiais, pois não determinam a intensidade dos fatores, apenas identificam a
presença ou não desses fatores.
Os métodos semiquantitativos se baseiam em observações
direta ou indireta, os dados são selecionados com base em perguntas e
convertidos em escalas numéricas ou diagramas. Para os critérios
semiquantitativos, o protocolo elaborado por Karhu, Kansi & Kuorinka (1977),
conhecido como OWAS, destina-se a uma avaliação da postura da coluna, dos
membros superiores e inferiores e da força muscular envolvida. O método
ARBAN, desenvolvido por Holzmann em 1982 (GUIMARÃES e DINIZ, 2001) para
análises ergonômicas do trabalho, incluindo situações de trabalho que, envolvam
posturas e movimentação manual de materiais. O instrumento de Rodgers (1992)
prioriza os segmentos corporais através do nível de esforço. O método RULA,
elaborado por Mcatamney e Corlett (1993), permite a avaliação postural de
membros superiores. O método HAMA, elaborado por Chistmansson em 1994 foi
desenvolvido para avaliar o custo postural das mãos e braços em tarefas e
atividades que requerem o uso de membros superiores e o método de Malchaire
elaborado em 1998 determina a zona corporal de maior risco, no entanto, há uma
tendência dos resultados indicarem os punhos e mãos como os segmentos
corporais de maior risco (GUIMARÃES e DINIZ, 2001). O método REBA,
74

elaborado por Higgnett e Mcartamney (2000), é uma ferramenta de análise de


posturas de corpo inteiro desenvolvida para avaliar posturas de trabalhos
imprevisíveis.
Os critérios quantitativos propõem fórmulas para levantamento
de cargas como é o caso do National Institute for Occupational Safety and Health
– NIOSH (WATERS et al., 1993), para avaliação dos riscos para a coluna no
levantamento manual de carga.
O método de Moore e Garg (1995), sugere a avaliação dividindo
a carga em hemicorpo direito e esquerdo, a análise se propõe a avaliar todos os
segmentos dos membros superiores, no entanto, apenas observa critérios para
avaliação das posturas das mãos.
E por fim, o método OCRA (COLOMBINI et al., 2005), que foi
desenvolvido pela Clíinica Del Lavoro de Milão, a pedido da IEA, que calcula o
limite de ações técnicas recomendadas e o índice de exposição de membros
superiores.
Procurou-se nesta pesquisa descrever e discutir um número
limitado de métodos de avaliação dos fatores de risco que, reconhecidamente,
são validados pela comunidade científica internacional e que pelas suas
características intrínsecas e suas propagações parecem ser mais úteis ao leitor,
permitindo confrontar os resultados que os próprios autores dos vários métodos
identificaram e que serão ressaltados.

4.3 O método Rapid Upper limb Assessment – RULA

O método RULA é um instrumento ágil e veloz que permite obter


uma avaliação da sobrecarga biomecânica dos membros superiores e do pescoço
em uma tarefa ocupacional.
Como os próprios autores Mc Atamney e Corlett (1993)
enfatizam, este método deve ser utilizado em um contexto de avaliação
ergonômica geral. Essa afirmação parece evidente pelo fato que o output principal
do método é aquele de identificar a necessidade de uma análise mais profunda
dos fatores de risco específicos com outros métodos de maior sensibilidade,
portanto é um instrumento de investigação genérica como o de outros checklists.
75

Este método possui três fases distintas:

1. Identificação das posturas de trabalho;


2. Aplicação de um sistema de pontuação;
3. Aplicação de uma escala de níveis de ação.
O determinante de risco nesse método é representado pelas
posturas assumidas pelos trabalhadores na jornada de trabalho. As posturas
avaliadas são as adotadas pelos membros superiores, o pescoço, o tronco e os
membros inferiores.
A metodologia é aplicada através do registro das diferentes
posturas de trabalho observadas que são classificadas através de um sistema de
escores.
O método usa diagramas de posturas do corpo e tabelas que
avaliam o risco de exposição a fatores de carga externos. A finalidade é oferecer
um método rápido para mostrar aos trabalhadores o real risco de adquirir ler/dort
e identificar o esforço muscular que está associado à postura de trabalho, força
exercida, atividade estática ou repetitiva. Para tanto, grava-se a postura de
trabalho nos planos sagital, frontal e, se possível, no transversal. A partir da
gravação, faz-se a análise da postura dividindo o corpo em dois grupos “A” e “B”.
Cada parte do corpo é dividida em seções e recebe escore
numérico a partir de 1 (um) como mínimo, que é o escore da postura com o
menor risco de lesão possível e 9 (nove) como máximo, que é o escore da
postura com o maior risco de lesão possível, o escore aumenta conforme
aumenta o risco.

GRUPO A: Braços, Antebraços e Punhos:

Escores para o braço:


 1 para 15° de extensão até 15° de flexão.
 2 para extensão maior que 15° ou entre 15º e 45° de flexão.
 3 entre 45° a 90° de flexão.
 Ombro elevado - adicionar 1 ao escore da postura.
 Antebraço em abdução - adicionar 1.
 Reduzir 1 do escore da postura se o operador ou seus braços estão apoiados.
76

Escores para os antebraços:


 1 para 0 a 90° de flexão.
 2 para mais de 90° de flexão.
 +1 para rotação externa.
 +1 se os antebraços trabalham cruzando a linha sagital do corpo.

Escores para o punho:


 1 para postura neutra.
 +2 para 0° a 15° de flexão dorsal ou palmar.
 +3 para mais de 15° de flexão dorsal ou palmar.
 +1 se o punho está em desvio radial ou ulnar.
 +2 se o punho está em pronação ou em supinação ou +1 se está na linha
neutra.

GRUPO B: Pescoço, tronco e pernas:

Escores para o pescoço:


 1 para 0° a 10° de flexão.
 2 para 10° a 20° de flexão.
 3 para mais de 20° de flexão.
 4 para extensão.
 +1 se o pescoço estiver em rotação lateral.
 +1 se o pescoço estiver inclinado lateralmente.

Escores para o tronco:


 1 em pé ereto ou sentado bem apoiado.
 +2 se o operador estiver sentado e mal apoiado.
 +2 se o tronco está fletido até 20°.
 +3 se o tronco estiver fletido de 20 a 60°.
 +4 se o tronco estiver com mais de 60° de flexão.
 +1 se o tronco estiver em rotação e +1 se estiver inclinado para o lado.
77

Escores para as pernas:


 +1 se as pernas e pés estão bem apoiados e o peso está bem distribuído.
 +2 se as pernas e pés não estão apoiadas ou se o peso está mal distribuído.

Ao resultado dos escores de posturas dos grupos A e B são


acrescentados escores relativos ao tipo de trabalho muscular e a repetitividade e
em relação ao nível de esforço, formando o escore final, conforme demonstrado
na figura 6.

Braço

Antebraço Postura Grupo A

Músculo Força Escore A


+ + =
Punho

Giro do punho Escore Final

Pescoço

Postura Grupo B

Tronco Músculo Força Escore B


+ + =

Pernas

Figura 6 – Diagrama para cálculo de escore do método RULA


Fonte: Adaptado de Mc Atamney e Corlett, 1993

O escore final é comparado com a classificação de níveis de


intervenção (ver tabela 2). Este escore final vai determinar as condições de
prioridades de ação através de uma gradação que vai do escore 1 (um) que
significa que este risco é aceitável ao escore 7 (sete) ou mais, que significa que
as posturas se encontram próximas dos extremos, onde medidas corretivas
imediatas e urgentes devem ser tomadas.
78

TABELA 2
Nível de intervenção para os resultados do método RULA

Nível de ação Pontuação Intervenção

A postura é aceitável se não for mantida ou repetida por


1 1 –2
longos períodos
São necessárias investigações posteriores; algumas
2 3 –4
intervenções podem se tornar necessárias
É necessário investigar e mudar em breve
3 5 –6
É necessário investigar e mudar imediatamente
4 ≥7
Fonte: Mc Atamney e Corlett, 1993

Segundo Colombini et al. (2005) para a formulação deste método


não foi conduzida uma análise dose-resposta entre a pontuação final RULA e os
distúrbios dos membros superiores e pescoço. Esta análise foi conduzida
somente nas pontuações das posturas partindo do conceito que uma pontuação
igual a 1 fosse aceitável, não considerando alguns determinantes do risco como
os elementos relativos à organização do trabalho, as pausas ou o vínculo imposto
pelo ritmo não controlado de uma linha de produção.
Entre os chamados “fatores complementares” são levados em
consideração os movimentos rápidos ou as pancadas (golpes), mas não
consideradas, por exemplo, as compressões localizadas, as vibrações e as
temperaturas extremas.
Enfim, este método propõe-se a determinar, no que diz respeito
às posturas assumidas durante o trabalho, as propriedades de intervenção ou a
necessidade de posteriores investigações realizadas por peritos ou ergonomistas
(COLOMBINI et al., 2005).

4.4 O método Ovako Working Posture Analysins System – OWAS

Esse método foi proposto por três pesquisadores Finlandeses,


Karhu, Kansi e Kuorinka, em 1977, e consiste em análises fotográficas das
principais posturas encontradas.
Este modelo é bastante utilizado para análise de corpo inteiro e
trabalho pesado envolvendo manuseio de carga e para solucionar problemas de
queda de produtividade e aumento de acidentes do trabalho pelas más posturas.
79

Nesse trabalho os pesquisadores encontraram 72 posturas


típicas após efetuarem mais 36 mil observações em 52 atividades para testar o
método, que resultaram de diferentes combinações de quatro grupos de
segmento corpóreo, divididos em 4 posições de tronco, 3 posições de membros
superiores, 7 posições de membros inferiores e 3 posições para a movimentação
de carga. Para cada posição do segmento corpóreo é dado um escore, como
segue:
Grupo 1: Tronco
 1 Para ereto (neutro)
 2 Para fletido anteriormente (além de 20 graus)
 3 Para rodado ou lateralizado
 4 Para fletido e rodado ou lateralizado
Grupo 2: Membros superiores
 1 Para ambos os braços abaixo do nível dos ombros
 2 Para um único braço acima ou no nível dos ombros
 3 Para ambos os braços acima ou no nível dos ombros
Grupo 3: Membros inferiores
 1 Para sentado
 2 Para de pé, apoio bilateral, joelhos estendidos
 3 Para de pé, apoio unilateral, joelhos estendidos
 4 Para de pé ou agachado, apoio bilateral, joelhos fletidos (além de 20 graus)
 5 Para de pé ou agachado, apoio unilateral, joelhos fletidos (além de 20 graus)
 6 Para ajoelhado em um ou ambos joelhos
 7 Para andando ou movendo-se
Grupo 4: Movimentação de carga
 1 Para menor ou igual a 10 Kg
 2 Para maior que 10, menor ou igual a 20 Kg
 3 Para maior que 20 Kg

Durante o desenvolvimento do método, analistas treinados


observaram o mesmo trabalho e fizeram registros das posturas assumidas
durante as atividades com 93% de concordância em média. Já o mesmo
trabalhador, quando observado pela manhã e pela tarde, conservava a mesma
80

postura em 86% das observações e diferentes trabalhadores executando a


mesma tarefa usavam em média 69% de posturas semelhantes (KARHU, KANSI,
e KUORINKA, 1977).
Como todo método de análise de posturas, precisa de uma
observação detalhada da tarefa que se está realizando e que se quer avaliar,
devendo observar vários ciclos de trabalho para selecionar as posturas a serem
analisadas. Este método se baseia na amostragem das atividades em intervalos
constantes ou variáveis, verificando-se a freqüência e o tempo gasto em cada
postura. Os autores do método sugerem que sejam realizadas no mínimo 100
observações para que se possa inferir corretamente sobre a tarefa analisada.
Conclui-se, portanto, que esse método de registro apresenta
uma consistência razoável. Nesse trabalho foram feitas avaliações das diversas
posturas relativas ao desconforto, usando uma escala de quatro categorias de
ação. A partir da identificação das posturas de risco nos grupos de segmentos
corpóreos localiza-se, na matriz de classificação das articulações e carga, os
respectivos escores, conforme demonstrado na tabela 3.

TABELA 3
Matriz para verificação dos escores do método OWAS

CT MS 1 2 3 4 5 6 7 MI
  1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 C

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 3 2 2 3 1 1 1 1 1 2
1 2 2 3 2 2 3 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 3 3
2 2 2 2 3 2 2 3 2 3 3 3 4 4 3 4 4 3 3 4 2 3 4
3 3 3 4 2 2 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 3 3 3 4 4 1 1 1 1 1 1 1
3 2 2 2 3 1 1 1 1 1 2 4 4 4 4 4 4 3 3 3 1 1 1
3 2 2 3 1 1 1 2 3 2 4 4 4 4 4 4 4 4 4 1 1 1
1 2 3 3 2 2 3 2 2 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
4 2 3 3 4 2 3 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
3 4 4 4 2 3 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4
Legenda: CT - Costas, MS - Membros superiores, MI - Membros inferiores e C - Carga
Fonte: (KARHU, KANSI, e KUORINKA, 1977)
81

Com base nestas avaliações, as posturas de risco podem, a


partir dos escores encontrados, serem classificadas em uma das seguintes
categorias relacionadas na tabela 4:

TABELA 4
Categorias de ação do método OWAS

Categoria de ação Intervenção

1 1. Desnecessárias medidas corretivas

2 2. Medidas corretivas em futuro próximo

3 3. Medidas corretivas assim que possível

4 4. Medidas corretivas imediatamente

Fonte: (KARHU, KANSI, e KUORINKA, 1977)

4.5 O método Rapid Entire Body Assessment – REBA

O método REBA foi desenvolvido por Hignett e McAtamney para


estimar o risco de desordens corporais a que os trabalhadores estão expostos.
Este método é uma ferramenta para avaliar a quantidade de
posturas forçadas nas tarefas onde é manipulado pessoas ou qualquer tipo de
carga animada, apresenta uma grande similaridade com o método RULA e como
este é dirigido às análises dos membros superiores e a trabalhos onde se
realizam movimentos repetitivos (HIGNETT e Mc ATAMNEY, 2000).
Nesta análise inclui fatores de carga postural dinâmicos e
estáticos na interação pessoa-carga e um conceito denominado de “a gravidade
assistida” para a manutenção da postura dos membros superiores, isso quer dizer
que é obtido a ajuda da gravidade para manter a postura do braço onde é mais
custoso mantê-lo levantado do que tê-lo pendurado para baixo.
Este método foi concebido inicialmente para ser aplicado nas
análises de posturas forçadas adotadas pelo pessoal da área médica e hospitalar
como auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e etc. A avaliação de risco
também é feita a partir de uma observação sistemática dos ciclos de trabalho
82

pontuando as posturas do tronco, pescoço, pernas, carga, braços, antebraços e


punhos em tabelas específicas para cada grupo.
Após a pontuação de cada grupo é obtida a pontuação final onde
se compara com uma tabela de níveis de risco e ação em escala que varia de
escore 0 (zero), correspondente ao intervalo de movimento ou postura de trabalho
aceitável e não necessita de melhorias na atividade até ao escore 4 (quatro) onde
o fator de risco é considerado muito alto sendo necessário atuação imediata
(tabela 5).

TABELA 5
Verificação dos níveis de risco e ação do método REBA

Nível de ação Pontuação Nível de risco Intervenção e posterior análise


0 1 Inapreciável Não necessário
1 2–3 Baixo Pode ser necessário
2 4–7 Médio Necessário
3 8 – 10 Alto Prontamente necessário
4 11 – 15 Muito Alto Atuação imediata
Fonte: Adaptada de Hignett e McAtamney, 2000

4.6 O método Strain Index – SI

O Strain Index – SI (MOORE e GARG, 1995) é um método


semiquantitativo, que nasceu para determinar se os trabalhadores estão expostos
a um risco aumentado de contrair afecções músculoesqueléticas nos membros
superiores. Estas afecções, denominadas Distal Upper Extremity – DUE
compreendem patologias dos cotovelos, pulsos, mãos além da síndrome do Túnel
Carpal.
Este método nasceu para se fazer avaliação de uma só tarefa
operacional e só recentemente foi desenvolvida a possibilidade de se analisar o
trabalho como um todo, envolvendo várias tarefas.
O SI baseia-se em variáveis relativas à tarefa ocupacional como
a intensidade da força exigida, a duração do esforço e a recuperação relativa dos
membros afetados. Para o cálculo do SI são considerados 6 determinantes de
risco:
83

a) Intensidade da força (em % da máxima contração voluntária – MCV)


b) Duração do esforço
c) Nº dos esforços executados a cada minuto
d) Postura do pulso e da mão
e) Velocidade de trabalho
f) Duração da tarefa por dia

A posição do membro afetado, o tipo de pegada e a velocidade


de trabalho são considerações através de seus efeitos sobre a força máxima
exprimível.
Cada uma das seis variáveis é caracterizada por uma
classificação em uma escala de 1 a 5, onde o escore 1 representa a melhor
situação e o escore 5 a pior, conforme tabela 6.

TABELA 6
Classificação das variáveis pelo método Strain Index

Duração Esforço Postura da Duração


Velocidade
do esforço por mão e diária
Intensidade do trabalho
Pontuação % ciclo minuto pulso (hora)

(A) (B) (C) (D) (E) (F)

1 Leve < 10 <4 Ótima Muito lenta <1

2 Médio 10 – 29 4 –8 Boa Lenta 1–2

3 Pesado 30 – 49 9 – 14 Correta Média 2–4

Muito
4 50 – 79 15 – 19 Ruim Rápida 4–8
pesado
Quase Muito
5 ≥80 ≥20 Péssima >8
máximo rápida
Fonte: Moore e Garg, 1995

Para cada uma das variáveis avaliadas, na análise de uma


determinada tarefa, na tabela 6 se atribui um fator multiplicativo correspondente
que deve ser localizado na tabela 7.
84

TABELA 7
Fatores multiplicativos das variáveis pelo método Strain Index

Duração Postura da Duração


Esforço por Velocidade
do esforço mão e diária
Intensidade minuto do trabalho
% ciclo pulso (hora)
Pontuação
(A) (B) (C) (D) (E) (F)

1 1 0,5 0,5 1,0 1,0 0,25

2 3 1,0 1,0 1,0 1,0 0,50

3 6 1,5 1,5 1,5 1,0 0,75

4 9 2,0 2,0 2,0 1,5 1,00

5 13 3,0 3,0 3,0 2,0 1,50

Fonte: Moore e Garg, 1995

O cálculo da pontuação final do SI resultará do produto dos


seis multiplicadores da tabela 7, através da fórmula (SI = A x B x C x D x E x F) e
comparado com os indicadores de nível de risco da tabela 8.

TABELA 8
Valores do Strain Index e níveis de risco

Valores do Strain Index Nível de risco


<3 Seguro
Entre 3 e 5 Incerto
Entre 5 e 7 Algum risco
>7 Risco presente
Fonte: Moore e Garg, 1995

A tabela 8 mostra as faixas de escores finais que podem ser


obtidas pelo método Strain Index e os respectivos de níveis de risco.
A variável “força” tem papel fundamental para a análise de risco
pelo método SI e sua avaliação deriva da consideração do esforço subjetivo
percebido pelo avaliador através da escala de Borg, O autor define como
“avaliador” aquele que atribui a pontuação correspondente à força, considerando
que os próprios trabalhadores possam determinar a escolha (BORG, 1998). A
tabela 9 mostra a relação da pontuação com o esforço percebido pelo operador.
85

TABELA 9
Relação do fator multiplicador com a escala de Borg

Fator
Intensidade Escala de
multiplicador Esforço percebido
Pontuação do esforço Borg
correspondente
Dificilmente perceptível
1 1 Leve <2
Estado de relaxamento

2 3 Médio 3 Esforço definido

Esforço sem mudança


3 6 Pesado 4–5
da expressão facial
Muito Esforço com mudança
4 9 6–7
pesado da expressão facial
Uso do tronco e
Quase
5 13 >7 ombros para gerar
máximo
maior força
Fonte: Moore e Garg, 1995

Segundo Moore e Garg (1995), os autores do método, existe


uma hierarquia e significado das variáveis consideradas no método Strain Index,
conforme segue:

a) A intensidade da força aplicada é a variável mais crítica, a modificação


desse valor influência de forma importante o índice de risco por inteiro;
b) A “duração do esforço” refere-se ao percentual de tempo no qual o esforço
é mantido com relação à duração média do ciclo de trabalho. No caso de
várias observações do mesmo ciclo ocupacional, efetua-se uma média
aritmética dos valores cronometrados;
c) O número dos “esforços por minuto” representa a contagem simples das
ações exercidas pela mão por unidade de tempo, representa, portanto,
uma freqüência de ações;
d) A “postura” refere-se à posição anatômica da mão e do pulso com relação
à posição neutra. A pontuação é atribuída pelo “avaliador” e representa a
média das posições assumidas pela mão ou pulso durante o ciclo de
trabalho, baseia-se, portanto, em considerações mais qualitativas do que
quantitativas, mesmo que faixas numéricas que indicam o valor
correspondente da pontuação tenham sido estabelecidas a priori;
86

e) A “velocidade de trabalho” avalia o ritmo percebido do trabalho ou da tarefa


ocupacional, essa variável é levada em consideração porque com o
aumento da velocidade de movimento diminui a máxima contração
voluntária – MCV, aumentando assim, a força constante exigida;
f) A “duração diária” da tarefa procura levar em conta o benéfico efeito da
rotação das tarefas ocupacionais e do efeito negativo que deriva do esforço
contínuo dos mesmos grupos musculares, de fato, o multiplicador é menor
que 1 se a tarefa for realizada por menos de 4 horas por dia e começa a
ser penalizado a partir de 5 horas por dia.
Os autores recomendam o uso de uma câmera para a análise da
tarefa ocupacional e acham que seja necessário um dia de formação para poder
efetuar uma avaliação do risco. Os autores também identificaram alguns pontos
críticos no método que podem ser resumidos como segue:

a) Aplica-se somente na zona distal dos membros superiores (mão, pulso e


antebraço);
b) Pode-se prever um amplo espectro de desordens dos membros superiores,
entre os quais estão incluídos distúrbios não específicos;
c) Permite calcular o risco relativo de um posto de trabalho e não o risco de
exposição ao qual é submetido um trabalhador;
d) A relação entre a exposição e os valores dos vários multiplicadores não
está baseada em uma relação matemática explícita definida em base às
respostas fisiológicas, biomecânicas ou clínicas.

4.7 O método Occupational Repetitive Actions – OCRA

O método OCRA foi desenvolvido pelos Doutores Daniela


Colombini, Enrico Occhipinti e Michele Fanti a pedido da IEA a partir de 1996.
Estes pesquisadores desenvolveram esse trabalho na Unidade de Pesquisa de
Ergonomia da Postura e do Movimento (EPM) da Clinica del Lavoro em Milão na
Itália.
Este método avalia e quantifica os fatores de riscos presentes na
atividade de trabalho e estabelece, através de um modelo de cálculo, um índice
de exposição a partir do confronto entre as variáveis encontradas na realidade de
87

trabalho e aquilo que o método preconiza como recomendável naquele mesmo


ambiente de trabalho (COLOMBINI et al., 2005).
Neste método os fatores de risco quantificados são: o tempo de
duração do trabalho, a freqüência de ações técnicas executadas, a força
empregada pelo operador, as posturas inadequadas dos membros superiores, a
repetitividade, a carência de períodos de recuperação fisiológica e os fatores
complementares como temperaturas extremas, vibração, uso de luvas,
compressões mecânicas, emprego de movimentos bruscos, precisão no
posicionamento dos objetos e a natureza da pega dos objetos a serem
manuseados (COLOMBINI et al., 2005).
Para se obter o índice de exposição – IE do método OCRA,
dividi-se a quantidade de ações técnicas observadas (ATO) pela quantidade de
ações técnicas recomendadas (ATR). O resultado é comparado com a referência
de classificação de risco para determinação do nível de ação a ser tomada.
Para quantificar as ações técnicas observadas e ações técnicas
recomendadas é preciso aplicar os critérios e procedimentos para a determinação
das variáveis para o cálculo, conforme discriminado nos itens 4.7.1 a 4.7.8.

4.7.1 A constante de freqüência de ação técnica

A freqüência de ações técnicas é a principal variável que


caracteriza a exposição ao risco neste método. Uma vez definido a quantidade de
ações técnicas envolvendo os membros superiores em uma determinada tarefa, a
questão principal passa a ser o estabelecimento da freqüência de ações técnicas
para todo o turno de trabalho.
As pesquisas de Colombini, Occhipint e Fanti confirmaram a
referência para a freqüência de ações técnicas em 30 ações por minuto. Essa
referência passa a ser constante no modelo de cálculo do índice OCRA.

4.7.2 O multiplicador para força

A relação entre a freqüência de ações técnicas e a força média


necessária para realizá-la tem sua importância no fato que, quanto maior a força
88

empregada para realizar uma ação, menor deve ser a sua freqüência para evitar
uma lesão.
Estudos de biomecânica indicam que alguns músculos tornam-se
isquêmicos quando as forças de contração alcançam 50% da MCV (CHAFFIN et
al., 2001).
O método OCRA emprega a Escala Psicofísica de Borg que é
um método reconhecido cientificamente de quantificação subjetiva de força
(esforço percebido pelo operador) relacionado com a máxima contração
voluntária, o que possibilita aplicar um fator multiplicador de acordo com a média
ponderada de força declarada pelos operadores, representada na tabela 10.

TABELA 10
Determinação do multiplicador para a força

Nível de força
5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% ≥50%
em % MCV
Escala Borg 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 ≥5
Multiplicador 1 0,85 0,75 0,65 0,55 0,45 0,35 0,2 0,1 0,01
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.139)

O escore para força é obtido perguntando aos operadores para


classificar, dentro da escala de Borg, qual a pontuação que cada um daria para a
própria força aplicada nas atividades desenvolvidas, variando de 0,5 a 10. Após a
compilação dos valores coletados calcula-se a média ponderada e chega-se ao
resultado final, que comparando com os valores correspondentes na tabela 2
encontra-se o fator multiplicador para força.

4.7.3 O multiplicador para a postura

Segundo Colombini et al. (2005) os modelos já propostos por


outros pesquisadores para a descrição de posturas e de movimentos confirmam a
presença de risco em graus de articulações que se encontram acima de 50% da
amplitude total de articulação, conforme demonstrado na tabela 11.
89

TABELA 11
Determinação para as articulações do membro superior

Abdução 45º a 80º Pontuação 4


Articulação Escapulo- + 80º e
Flexão / Abdução Pontuação 4
umeral (ombro) (10% a 20% do tempo)
Extensão +20º Pontuação 4
Supinação +60º Pontuação 4
Articulação Cotovelo Pronação +60º Pontuação 2
Flexo-extensão +60º Pontuação 2
Flexão +45º Pontuação 3
Desvio radial +15º Pontuação 2
Articulação Pulso
Desvio ulnar +20º Pontuação 2
Extensão +45º Pontuação 4
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.108).

A tabela 11 apresenta a síntese para as principais articulações


dos membros superiores, as faixas de risco e as respectivas pontuações. As
amplitudes de articulações que se encontram abaixo dos valores da tabela não
são consideradas por se tratar de limites normais e aceitáveis.
Atenção especial deve ser dada às posturas de ombro, por ser
mais sensível ao risco, sendo que a postura de abdução entre 45º e 80º já é
caracterizada como risco e a flexão desta mesma articulação acima de 80º,
mesmo que por um tempo curto, entre 10% e 20% do tempo total de ciclo já
recebe pontuação máxima.
Outro fator agregado à pontuação de posturas é relacionado com
o tipo de “pega” do objeto ou ferramenta, pois algumas delas são consideradas
mais desfavoráveis em relação às outras, conforme figura 7.
90

PEGADA EM GANCHO

Figura 7 – Principais tipos de pegada da mão


Fonte: Adaptado de (COLOMBINI et al., 2005, p.109)

Os valores para pontuação de pega estão resumidos na tabela


12, onde se relaciona o tipo de pega da mão com a respectiva pontuação.

TABELA 12
Determinação do escore para o tipo de pega

Tipo de pega Pontuação


Preensão ampla (4 a 5 cm) 1
Preensão estreita (1,5 cm) 2
Movimentos dos dedos 3
Pinça pulpar 3
Pinça palmar 4
Pegada em gancho 4
Fonte: Adaptado de (COLOMBINI et al., 2005, p.108)
91

Este método desenvolveu um esquema de multiplicadores para


as posturas inadequadas baseado no tempo de exposição e do empenho
postural, apresentado na tabela 13.

TABELA 13
Determinação do multiplicador do empenho postural

Valor da
pontuação do
0–3 4–7 8 – 11 12 – 15 16 – 19 20 – 23 24 – 27 ≥28
empenho
postural
Multiplicador 1 0,70 0,60 0,50 0,33 0,1 0,07 0,03
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.140)

O escore para o multiplicador de postura é obtido observando a


atividade e calculando o tempo que os segmentos corpóreos permanecem em
cada postura inadequada. Após esta fase localiza-se, na tabela 11, as pontuações
correspondentes para ombro, cotovelo e pulso, somando os valores encontrados
e formando a pontuação para o empenho postural. Ao empenho postural soma-se
o valor encontrado para o tipo de “pega”, conforme tabela 12. O escore final (fator
multiplicador) é encontrado consultando a tabela 13 e localizando o valor
correspondente para cada valor do empenho postural.

4.7.4 O multiplicador para a estereotipia (repetitividade)

Segundo Couto et al. (2007) o critério mais antigo e aceito sobre


repetitividade e também o mais seguido pelas empresas norte-americanas foi
proposto por Silverstein em 1985, ao sugerir que qualquer ciclo de trabalho de
duração menor que 30 segundos seria altamente repetitivo, porém seguindo os
mesmos critérios metodológicos, mesmo em situações de ciclos maiores de 30
segundos poderiam ser caracterizados como altamente repetitivos, no caso de um
mesmo elemento de trabalho ocupar mais que 50% do ciclo. Elemento, neste
caso, se refere ao conceito originado dos estudos de tempos e movimento que
descreve as atividades humanas no trabalho como um conjunto de tarefas ou
elementos padrão (CHAFFIN et al., 2001, p.7).
92

No método OCRA a repetitividade é denominada como


estereotipia ou “carência de variações na tarefa” e o fator multiplicador está
relacionado com este conceito, conforme tabela 14.

TABELA 14
Determinação do multiplicador para a estereotipia

Presente com gestos Presente com gestos


Característica da mecânicos iguais entre 51% e mecânicos iguais > 80% do
Ausente
estereotipia 80% do tempo. Ou duração de tempo. Ou duração de ciclo
ciclo entre 8 e 15 segundos entre 1 e 7 segundos
Multiplicador 1 0,85 0,7
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.141)

A tabela 14 correlaciona um fator multiplicador para cada cenário


de repetitividade encontrado no posto de trabalho. Para a escolha deste escore é
necessário medir o tempo de ciclo em segundos e observar em que faixas de
percentuais os gestos de membros superiores são repetidos no tempo total de
ciclo.
A partir destas duas variáveis é possível comparar com a tabela
5 e escolher o escore que melhor representa a realidade da atividade, sendo que
é considerado risco ausente para movimentos com gestos do mesmo tipo até
50% do ciclo independentemente do tempo de ciclo.

4.7.5 O multiplicador para a presença de fatores complementares

Na literatura sobre análise ergonômica, os fatores de risco


ocupacional como temperaturas extremas, ruído e outros são considerados nas
avaliações, porém não como fatores principais e sim como complementares aos
fatores biomecânicos.
No Brasil, a legislação que trata do assunto ergonomia, a norma
regulamentadora de número 17, define parâmetros para a questão do conforto
térmico, conforto acústico e iluminação somente para locais onde exijam
solicitação intelectual, porém o método OCRA contempla estas variáveis no
cálculo de índice de risco para todos os tipos de trabalho.
Os fatores complementares aplicados no método OCRA são:
93

a) Uso de instrumentos vibrantes;


b) Exigência de extrema precisão no posicionamento de objetos;
c) Compressões localizadas sobre estrutura anatômica da mão ou do
antebraço por parte de instrumentos, objetos ou áreas de trabalho;
d) Exposição a temperaturas ambientais ou de contato muito frias;
e) Uso de luvas que interferem na habilidade manual;
f) Natureza escorregadia das superfícies dos objetos manipulados;
g) Execução de movimentos bruscos ou “puxões”;
h) Execução de gestos com contragolpes ou impactos repetidos (uso de
martelo ou picareta sobre superfícies duras) ou usar a própria mão como
martelo.
O método OCRA contempla essas exposições, quantificando-as
e aplicando um fator multiplicador, conforme tabela 6.
A cada fator complementar identificado na tarefa é atribuída uma
pontuação “4” para exposição de um terço do tempo do ciclo, valor “8” para
exposição de dois terços do tempo do ciclo e valor “12” para exposição por todo o
tempo do ciclo. Especificamente para o fator de vibração é atribuído valor “8” para
exposição de um terço do ciclo, valor “12” para exposição de dois terços do ciclo e
valor “16” para exposição por todo o ciclo.
Para a escolha do escore final são somadas todas as
pontuações atribuídas para todos os fatores complementares identificados na
atividade e o valor total correlacionado com o multiplicador correspondente na
tabela 15.

TABELA 15
Determinação do multiplicador para os fatores complementares

Valor da
“pontuação” fatores 0–3 4– 7 8 – 11 12 – 15 ≥16
complementares
Multiplicador 1 0,95 0,90 0,85 0,80
Fonte: (COLOMBINI et al. , 2005, p.141)
94

4.7.6 O multiplicador para o fator de períodos de recuperação

O fator de recuperação difere dos demais em função da sua


consideração sobre todo o turno de trabalho, enquanto os demais fatores são
quantificados em cada uma das tarefas repetitivas que compõem o turno.
Baseando-se na literatura científica, os autores deste método
afirmam que, em um turno de trabalho o ideal é ter um período de recuperação
fisiológica a cada 60 minutos de trabalho repetitivo e quanto mais horas de
trabalho repetitivo sem períodos de recuperação, menor deve ser o número de
ações técnicas na atividade, conforme apresentado na tabela 16.

TABELA 16
Determinação do multiplicador para os períodos de recuperação

Número de horas sem


0 1 2 3 4 5 6 7 8
recuperação adequada
Multiplicador 1 0,90 0,80 0,70 0,60 0,45 0,25 0,10 0
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.142)

A quantidade de horas sem recuperação adequada é encontrada


a partir da análise do posto de trabalho e entrevistas com os operadores para o
entendimento de como transcorre a jornada de trabalho e como são inseridas as
pausas para refeições e outras necessidades pessoais e as pausas no trabalho
repetitivo, mesmo que realizando outra tarefa, como por exemplo, para
abastecimento de uma máquina ou bancada, para controle do processo e etc.
O fator multiplicador de recuperação, sintetizado na tabela 16,
aplica-se sobre o número absoluto de ações técnicas recomendadas para
ponderar a exposição em função da presença, distribuição e adequação dos
períodos de recuperação ao longo do turno de trabalho.

4.7.7 O multiplicador para a duração total do trabalho repetitivo no turno

A duração total das tarefas que envolvem movimentos repetitivos


e ou forçados dos membros superiores no turno de trabalho representa um
95

elemento muito relevante para caracterizar a exposição total do trabalhador ao


risco de ler/dort.
O método OCRA determina a utilização de um fator multiplicador
de acordo com a duração total de tempo, em minutos, gasto no turno na execução
de todas as tarefas repetitivas, conforme demonstrado na tabela 17.

TABELA 17
Determinação do multiplicador para a duração das tarefas

Minutos gastos no 121 181 241 301 361 421


turno com todas as ≤120 a a a a a a > 481
tarefas repetitivas 180 240 300 360 420 480
Multiplicador 2 1,7 1,5 1,3 1,2 1,1 1 0,5
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.142).

4.7.8 A classificação de risco pelo método OCRA.

A partir da análise das variáveis descritas nos itens 4.7.1 a 4.7.7


o método OCRA classifica o risco, de acordo com os valores encontrados, em três
níveis fazendo uma analogia à lógica do semáforo (verde, amarelo e vermelho),
conforme demonstrado na tabela 18.

TABELA 18
Classificação dos níveis de risco do índice OCRA

Área Valores OCRA Nível de Risco Ações

Verde Até 2,2 Aceitável Nenhuma

Verificar a situação e
Amarela Entre 2.3 e 3.5 Risco muito baixo
implementar melhorias
Redesenhar o posto e
Vermelha Maior 3,5 Risco Presente
avaliar a saúde do pessoal.
Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.138)

A tabela 18 apresenta os valores do índice OCRA,


correlacionando com os níveis de risco, aceitável, risco muito baixo e risco
96

presente com as áreas verde, amarela ou vermelha e com o nível de ação


requerido:

 Quando o índice apresenta valores até 2,2 representa uma área verde
(aceitável), e que não há previsão significativa de aparecer casos de
distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho no grupo de
trabalhadores expostos em relação ao grupo de controle, portanto não
requer intervenção no ambiente de trabalho;
 Quando o índice apresenta valores entre 2,3 e 3,5 representa uma área
amarela (apresenta nível de risco não relevante), porém podem aparecer
patologias nos grupos de expostos. Neste caso, especialmente para os
valores mais altos desta faixa, é recomendada uma avaliação mais
detalhada da saúde e melhorias das condições de trabalho;
 Quando o índice apresenta valores superiores a 3,5 representa uma área
vermelha (Indica uma exposição significativa) e a intervenção rápida se faz
necessária para reduzir o risco. Neste caso os resultados das análises são
úteis para definir as prioridades de intervenção no ambiente de trabalho.
97

5 A APLICAÇÃO DE UM MÉTODO TÉCNICO-CIENTÍFICO

5.1 A escolha do método OCRA

Conforme demonstrado na tabela 1 da página 19, 37,2% do total


de doenças ocupacionais registradas no Brasil no ano de 2006 referem-se às
doenças relacionadas à questão de ler/dort nos membros superiores.
Esse drama afeta tanto os trabalhadores, que são acometidos
pelas patologias relacionadas a ler/dort e sofrem as conseqüências psicológicas e
sociais dessas enfermidades, quanto os gestores de empresas que têm por
responsabilidade realizar a gestão da saúde ocupacional.
Esses gestores sentem as dificuldades em encontrar métodos de
análise dos fatores de risco ergonômico que forneçam resultados, com grau de
confiabilidade estatisticamente aceitável, para a tomada de decisão e
direcionamento dos investimentos em saúde ocupacional.
Na revisão bibliográfica dos métodos de análise de fatores de
risco, o método OCRA se destacou dentre os demais por quatro fatores que
concatenaram com o problema de pesquisa pela especificidade, grau de
confiabilidade (estatística), ponderação com outras atividades não repetitivas ou
de recuperação fisiológicas e referência como norma padrão internacional.
Quanto à especificidade, o método OCRA foi escolhido por ser
específico para a avaliação dos fatores de risco de ler/dort para membros
superiores, pois não contempla análises de posturas e forças para outros
segmentos corpóreos como pescoço, coluna e membros inferiores como
evidenciado em outros modelos.
A escolha também se deu pelo grau de confiabilidade que,
segundo os autores, a partir dos estudos estatísticos com a aplicação deste
método, chegou-se a um modelo previsional de incidência de patologias
músculoesqueléticas, que na língua inglesa é denominada work-related
musculoskeletal disorders (WRMDs), nos membros superiores com grau de
confiabilidade de 90%, conforme apresentado na figura 8.
98

%WMSDs (Y)

Y=2,39
2,39 X
ove

X= ÍNDICE OCRA

nº afetados
Y=
nº expostos
ÍNDICE OCRA (X)

PA = 2,39 (± 0,14) x OCRA

Essa função apresenta um grau de associação entre as duas variáveis muito


elevado (R2 ajustado = 0,92) e estatisticamente muito significativo (p < 0,00001).

Figura 8 – Associação entre o índice OCRA e pessoas afetadas


Fonte: Colombini et al., 2005

Os estudos de 10 anos da equipe de pesquisa da Dra Colombini


com o grupo de expostos permitiram a criação de um modelo previsional de
incidência de ler/dort, conforme demonstrado na figura 8. A partir dos resultados
da correlação entre os índices de risco pelo método OCRA e os distúrbios
músculoesqueléticos (WRMDs) de membros superiores desenvolvidos pelo
mesmo grupo de estudo, encontraram um fator de incidência de patologias de
2,39, ou seja, para cada unidade encontrada do índice OCRA nas análises das
atividades do grupo de expostos, chegou-se ao número de pessoas afetadas (PA)
de 2,39.

TABELA 19
Previsão de prevalência de pessoas afetadas por ler/dort

Valores OCRA Previsão de prevalência

2,2 5,26%

3,5 8,36%

4,5 10,75%

9,0 21,51%
Fonte: Colombini et al., 2005
99

A tabela 19 mostra os resultados de previsão de prevalência de


pessoas afetadas (PA) para um grupo de expostos (controle de 10 anos) para os
valores OCRA de 2,2 a 9,0.
Os autores do método OCRA realizaram os estudos de
regressão linear de prevalência de doenças relacionadas a ler/dort pelo método
OCRA e o desvio padrão para um coeficiente de correlação linear de Pearson de
p < 0,00001, conforme demonstrado na figura 9.

Dependent variable.. PREVMALA Method.. LINEAR


Multiple R ,96383
R Square ,92898
Adjusted R Square ,92575
Standard Error 5,86689
Analysis of Variance:
DF Sum of Squares Mean Square
Regression 1 9904,5472 9904,5472
Residuals 22 757,2497 34,4204
F = 287,75192 Signif F = ,0000

-------------------- Variables in the Equation --------------------


Variable B SE B Beta T Si g T
OCRA 2,389686 ,140874 ,963834 16,963 ,0000

Figura 9 – Estudo de regressão linear do método OCRA


Fonte: Colombini et al., 2005.

O terceiro fator preponderante para a escolha deste método foi o


de ponderação, que está diretamente relacionado com as questões de
organização do trabalho, tanto na divisão de tarefas e no tempo de permanência
dos operadores nestas tarefas, quanto nas condições ambientais e na distribuição
de pausas durante a jornada proporcionando a recuperação fisiológica.
O método OCRA permite a determinação de um índice composto
ou ponderado de exposição dos membros superiores considerando todas as
atividades repetitivas e as não repetitivas durante o turno de trabalho.
A fórmula para determinação da exposição ponderada às
atividades repetitivas é expressa da seguinte forma:
(% tempo na atividade A x pontuação A) + (% tempo na atividade B x pontuação
B) + (% tempo na atividade C x pontuação C) + (% tempo na atividade “n” x
pontuação n), onde:
100

a) Pontuação A, B, C ou “n” é o índice OCRA obtido em cada uma das


atividades avaliadas individualmente.
b) Percentagem de tempo na atividade A, B, C ou “n” é o percentual de tempo
de exposição a cada uma das atividades avaliadas individualmente em
relação ao tempo total em minutos de duração da jornada de trabalho.
A ponderação entre as atividades repetitivas e as atividades não
repetitivas é feita através do fator multiplicador para a duração total do trabalho
repetitivo, que considera os trabalhos não repetitivos, embutidos no turno, como
compensadores da exposição e permite um cálculo de risco ponderado em
função do tempo de exposição.
O quarto e último fator, motivo para escolha deste método, foi a
sua inclusão no conjunto de normas técnico-científicas da International
Organization for Standardization – ISO, que em 30/03/2007 a publicou sob o
número ISO/DIS 11228-3, com o título “Ergonomics – Manual handling – Part 3:
Handling of Low Loads at high frequency” (ISO, 2007), que poderia ser traduzido,
considerando o risco de erro nessa empreitada, em “manuseio de pequenas
cargas em alta freqüência” e também a sua inclusão no conjunto de normas da
European Committee Standardization – CEN, que em 28/02/2007 a publicou sob
o número prEN 1005-5, com o título “Safety of machinery – Human physical
performance – Part 5: Risk assessment for repetitive handling at higt frequency”
(CEN, 2007), que também poderia ser traduzido em “Segurança de maquinário –
Desempenho físico humano – Parte 5: Avaliação de risco para manuseio
repetitivo em alta freqüência”. Atualmente a European Committee Standardization
possui oitenta e cinco normas técnicas para normalização das diversas questões
que envolvem a ergonomia.

5.2 Caracterização da empresa

A empresa, onde foi aplicado o método OCRA está situada na


região industrial do ABC Paulista, Estado de São Paulo e produz material gráfico
para uso escolar, comercial e industrial e com código de atividade 22.22-5 na
Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE. Tanto o nome da
empresa e sua localização, quanto os materiais e tecnologias utilizadas no
101

processo tiveram os nomes reais preservados a fim de evitar embaraços,


exposições ou mau uso das informações contidas neste estudo.
A empresa se enquadra na categoria de empresa de pequeno
porte tanto nos critérios do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (RAIS) e
SEBRAE, que definem o porte das empresas pelo número de empregados,
quanto nas leis 11.196 de 2005 (SIMPLES) e 9.841 de 1999 (Estatuto da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) (SEBRAE, 2005; BRASIL, 2007).
A tabela 20 apresenta a classificação das empresas de acordo com estes
critérios.

TABELA 20
Definição de Micro, Pequenas e Médias Empresas no Brasil

Porte das
empresas
Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa
Ordenamentos
Jurídicos

Estatuto da MPE
R$ 433.000,00 R$ 2.133.000,00. -----------
Receita bruta anual

SIMPLES
R$ 240.000,00 R$ 2.400.000,00 -------------
Receita bruta anual

MTE/RAIS
0 – 19 20 – 99 100 – 499
Nº de empregados
SEBRAE
Indústria 0 – 19 20 – 99 100 – 499
Nº de empregados
SEBRAE
Comércio e Serviços
0–9 10 – 49 50 – 99
Nº de empregados
Fonte: Sebrae, 2005

De acordo com a CNAE esta empresa também se enquadra no


grau de risco “3” e não possui Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, porém contrata empresa
especializada para elaboração e revisão do Programa de Controle Médico de
Saúde Ocupacional – PCMSO e do Programa de Prevenção de Riscos
Ambientais – PPRA.
102

5.3 A análise da demanda

A origem da demanda se deu pelo processo de escolha da


empresa citado no item 2.3. Após a exposição do objetivo geral e dos objetivos
específicos desta pesquisa aos gerentes administrativo e operacional iniciou-se a
conversação para realização do contrato de pesquisa.
O pessoal operacional dos postos escolhidos para o estudo é
caracterizado por uma amostra mista de seis pessoas com a presença de quatro
operadores do sexo masculino e dois do sexo feminino, com idade entre 20 e 54
anos.
O estado civil casado é predominante com cinco operadores,
sendo um solteiro, escolaridade predominante 1º grau completo e tempo de
experiência na função entre 12 meses e 10 anos.
A qualificação é realizada na própria empresa através de
treinamento com operadores antigos na função abrangendo a operação da
máquina, qualidade, modo operatório e regulagens da máquina.
Na verbalização tanto dos gerentes, quanto dos operadores foi
verificado certo grau de consciência dos fatores de risco de ler/dort bem como os
seus pontos de vista, através de suas percepções, com relação aos pontos
críticos de máquinas, equipamentos, materiais, métodos e sistema de
organização do trabalho que podem contribuir para o aparecimento de casos de
ler/dort, embora não tinham conhecimento desta terminologia utilizada.
Segundo o gerente administrativo não há registro de
afastamentos do trabalho em função de patologias relacionadas a ler/dort e
embora não foi apresentada documentação comprobatória foi afirmado que o
nível de absenteísmo é muito baixo, o que pode ser comprovado pelo tempo de
empresa dos operadores dos postos de trabalho em estudo.
Na análise da documentação da empresa foi verificada a
elaboração de forma sistemática de avaliações de saúde ocupacional e
desenvolvimento de ações de melhorias no processo produtivo propostos pela
empresa especializada em saúde e segurança do trabalho – SST, através do
PCMSO e do PPRA.
103

5.4 A análise da tarefa

5.4.1 O processo produtivo

A fabricação de material gráfico inicia-se com o recebimento de


matéria prima denominado de resmas (pacote de papel próprio para impressão de
off-set) que são acondicionadas no estoque. De acordo com as ordens de
produção para o dia as resmas são transferidas para a cortadeira onde, de acordo
com a especificação de produção, são cortadas no tamanho e formato
necessário.
Após o corte o material é transferido para a máquina off-set,
onde são impressos os documentos, formulários, livros e etc. e dependendo do
tipo de material, retorna para a cortadeira para ajuste fino do tamanho. Alguns
impressos são empilhados em uma mesa de acabamento onde recebem cola,
para agrupamentos das folhas dos blocos, são posteriormente destacados e
agrupados para embalagem, outros materiais impressos passam por uma
seqüência do processo que engloba as fases de intercalação de vias (nota fiscal,
por exemplo), dobradeiras, furação, grampeadeiras, serrilhamento, meio corte e
aplicação de ilhós.

5.4.2 Os postos de trabalho

5.4.2.1 Corte de formulários

Os cortes de formulários são feitos em uma máquina


denominada de cortadeira, que é uma máquina que funciona como um sistema de
guilhotina, que corta as resmas nas medidas previamente ajustadas pelo
operador. O operador regula a mesa da máquina no tamanho desejado para o
formulário através de uma escala fixada na própria máquina, após ajustar na
posição correta aciona um comando bimanual (dispositivo de segurança para
evitar cortes nas mãos) para descida da guilhotina e corte do material.
104

5.4.2.2 Acabamento

A atividade de acabamento é realizada em uma bancada onde


são empilhados os formulários em quantidade que otimize a aplicação de cola,
normalmente pilhas com 8 blocos de altura. A cola é aplicada nos blocos com um
pincel que após a secagem, são destacados com o uso de um estilete industrial e
empilhados em camadas de forma invertida para uniformizar o pacote final.

5.4.2.3 Intercalação de vias de formulário

Esta atividade é realizada em uma bancada onde são dispostas


as pilhas de formulários impressos divididas pelas quantidades de vias e
carbonos de acordo com o pedido de produção. Após preparação do material na
bancada o operador inicia a intercalação pegando as vias de formulário na
seqüência correta, intercalando com as vias de carbono e sobrepondo uma sobre
a outra formando um conjunto de vias do formulário. Após a intercalação os
blocos são enviados para a mesa de acabamento para aplicação de cola,
destacamento e acabamento final.

5.4.3 Condições ambientais de trabalho

Os postos de trabalho onde foi desenvolvido este estudo se


2
encontram em um prédio de alvenaria com área total de 219 m e com pé direito
de 2,8 metros de altura. Existe boa iluminação natural que é proveniente de
janelas e a artificial através de luminárias fluorescentes, a ventilação desta área é
natural, através das janelas citadas, não existindo ventilação forçada.
Não foi observada a exposição dos operadores a agentes
químicos agressivos e a temperaturas extremas e o nível de ruído dos postos em
análise varia entre 77 decibéis dB(A) e 88 decibéis dB(A), conforme declaração
no PPRA da empresa. A norma regulamentadora do Ministério do Trabalho NR-15
regulamenta a exposição máxima permitida de 85 dB(A) para jornada de 8 horas
sem proteção auditiva, porém a amostra em estudo utiliza o equipamento de
proteção individual.
105

5.4.4 A organização do trabalho

A jornada de trabalho está organizada em cinco dias por


semana, de segunda a sexta feira, com horário em turno fixo das 07:15 às 17:15
horas, com horário de almoço das 12:00 às 13:00 horas e intervalo para lanche
das 09:00 às 09:15 horas. Na segunda metade do dia não existe pausa oficial
para lanche, porém foi verificado que os funcionários fazem pausas para
cafezinho, fumar ou para necessidades pessoais com o consentimento da
supervisão.
Não existe procedimentos escritos de modo operatório,
qualidade ou normas de segurança, porém tanto o conhecimento explícito e
necessário para realização do trabalho quanto o “saber-fazer” está presente na
experiência dos operadores mais antigos que é retransmitido aos mais novos.
O ritmo de trabalho é determinado pelos operadores, por não se
tratar de uma linha de produção com velocidade pré-determinada pela
organização e existe um rodízio formal entre os três postos de trabalho analisados
com objetivo de neutralizar a monotonia das tarefas.
106

6 RESULTADOS DAS ANÁLISES DAS ATIVIDADES

O método OCRA foi aplicado nos postos de trabalho de “Corte


de formulários”, “Aplicação de cola e destacamento de blocos” e “Intercalação de
vias de formulários”, escolhidos de acordo com o critério apresentado no item 2.4.
Foi realizada avaliação dos fatores de risco em membros superiores, através de
uma análise quantitativa, para identificar as fases, operações ou posturas críticas
que poderiam provocar patologias relacionadas à questão de ler/dort.

6.1 Avaliação da atividade de corte de formulários – CF

6.1.1 Descrição das operações de CF:

1ª Operação: Operador pega a resma (pacote de papel para impressão) do


estoque, coloca sobre a mesa de preparação de corte e retira o papel de proteção
(fotografia 1).

Fotografia 1: Preparação da resma de papel para corte

Nesta operação foram verificadas a postura de preensão palmar


e aplicação de força dos membros superiores, classificada como leve pelos
operadores, no manuseio das resmas.

2ª Operação: Operador prepara a máquina realizando ajustes de medidas,


conforme pedido de produção, pega a resma da mesa de preparação, apóia sobre
107

a mesa da cortadeira, direciona sob a guilhotina e aciona comando bimanual para


realização do corte (fotografia 2).

Fotografia 2: Deposição da resma na cortadeira

Na operação demonstrada na fotografia 2 observa-se a posição


dos antebraços próximo de 90º, posição dos cotovelos em supinação, extensão
de punhos e pega em forma de pinça dos dedos para segurar o material.

3ª Operação: Após corte do material nas medidas programada, operador retira os


blocos da cortadeira e transfere para a mesa de acabamento (fotografias 3 e 4).

Fotografia 3: Bloco de papel cortado


108

Fotografia 4: Transferência do material para mesa de acabamento

Para cada bloco pré-preparado na cortadeira (fotografia 3), o


operador o transfere para a mesa de acabamento (fotografia 4), preparando-os
em pilhas para aplicação de cola. Nessas atividades foram verificadas posturas
de abdução de ombros, flexão de punhos, pega em forma de pinça de dedos e
desvio ulnar durante a transferência do material.

6.1.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de CF:

A tabela 21 trás o resumo do cálculo do ATO para os membros


superiores na atividade de corte de formulários.

TABELA 21
Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATO

Duração da
Ações / Duração ciclo Freqüência Total de ações
Parte do corpo tarefa
ciclo (Minutos) (Ações / Minuto) observadas (ATO)
(Minutos)

Braço direito 117 3,52 33 144 4752

Braço esquerdo 117 3,52 33 144 4752

Na tabela 21, para o ciclo de 3,52 minutos de duração da


atividade de corte de uma resma em formulários, foram observadas 117 ações
técnicas para ambos os braços, representando uma freqüência de 33 ações
técnicas por minuto. Como o tempo de duração nesta tarefa repetitiva é de 144
minutos na jornada de trabalho, a multiplicação das ações técnicas por minutos
109

(33) pelos minutos de duração da atividade (144) chegou-se a 4752 ações


técnicas nesta atividade.

6.1.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de CF:

Partindo da constante de 30 ações técnicas por minuto


(constante preconizada pelo método) e aplicando os fatores de multiplicação para
força, postura, fatores complementares, recuperação fisiológica e duração da
tarefa, chegou-se ao resultado de 5140 ações técnicas recomendadas tanto para
o membro direito quanto para o esquerdo. A tabela 22 mostra o resumo do cálculo
das ATR para os membros superiores para a atividade de corte de formulários.

TABELA 22
Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATR

Fm* Duração
Freqüência Fm* Fm* Fm* Fm* Fm* Total de
Comple- tarefa
(constante) Força Postura Esteriotipia Recuperação Minutos (ATR)
mentares (Minutos)
Braço
direito 1 0,70 1 1 1 1,7 144 5140
30
Braço
esquerdo 1 0,70 1 1 1 1,7 144 5140
30
Legenda: *Fm = Fator Multiplicador.

A análise dos fatores de risco deste posto de trabalho resultou


nos seguintes valores:

a) Escore multiplicador de força = 1 (ver tabela 10, p.88), em função da


percepção dos operadores sobre a própria força aplicada;
b) Escore multiplicador de postura = 0,70 (ver tabela 13, p.91) em função da
somatória das variáveis: supinação de cotovelos (2) e desvio ulnar (2)
com pontuação 4 (ver tabela 11, p.89) somado a pontuação 2 para pega,
totalizando um escore (6) (ver tabela 12, p.90);
c) Escore multiplicador de estereotipia = 1 em função de sua ausência (ver
tabela 14, p.92);
110

d) Escore multiplicador de fatores complementares = 1 (ver tabela 15, p.93)


em função da ausência de: vibração, precisão, uso de luvas, movimentos
bruscos e superfícies escorregadias;
e) Escore multiplicador recuperação = 1 (ver tabela 16, p.94) em função das
pausas para refeições e lanches estarem adequadamente distribuídas
durante a jornada de trabalho, somadas às pausas de trabalho repetitivo
embutidas nos ciclos para deslocamentos, preparação de máquina e
preparação das resmas a serem trabalhadas na cortadeira;
f) Escore multiplicador de duração da atividade repetitiva = 1,7 (ver tabela
17, p.95) em função do tempo de atividade repetitiva gasto nesta
atividade ser de 144 minutos na jornada.

6.1.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para atividade de CF:

O índice OCRA (membros direito e esquerdo) é calculado através da


fórmula:
IE = (ATO / ATR)
IE = 4752 / 5140
IE = 0,92

Comparando o resultado do índice de exposição desta atividade


com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95) observa-se que este valor
se encontra dentro da faixa verde, portanto dentro do nível de risco “aceitável”.

6.2 Avaliação da atividade de aplicação de cola e destacamento de blocos –


ACDB

6.2.1 Descrição das operações de ACDB

Descrição da operação (1ª fase): O Operador separa e prepara os blocos de


impressos (fotografia 5), passa cola para montagem dos formulários com auxílio
de um pincel (fotografias 6 e 7).
111

Fotografia 5: Preparação de blocos para aplicação de cola

Nesta operação foram verificadas as posturas de flexão de


ombro, pronação de cotovelos e pinça palmar no manuseio dos blocos de
impressos para preparação do acabamento (fotografia 5) e preensão estreita da
mão direita na pega do pincel e desvio ulnar na aplicação de cola (fotografias 6 e
7).

Fotografia 6 Fotografia 7
Fotografias 6 e 7: Aplicação de cola nos formulários

Descrição da operação (2ª fase): Após a aplicação de cola na última pilha de


blocos, a cola aplicada no primeiro bloco já se encontra seca e pronta para a
segunda fase. O operador destaca os formulários com auxílio de uma ferramenta
de corte (estilete industrial), conforme fotografias 8 e 9 e faz o cruzamento dos
blocos para uniformidade do pacote antes da embalagem final (fotografia 10).
112

Fotografia 8 Fotografia 9
Fotografias 8 e 9: Destacamento dos blocos com utilização de estilete

Fotografia 10: Cruzamento dos blocos

Nestas atividades foram verificadas posturas de flexão de ombro


e de punho esquerdo para apoiar blocos a serem destacados (fotografia 8), flexão
e extensão, associado a desvio ulnar de punho direito na operação de corte
(destacamento) dos blocos de formulários e postura de preensão na pega da
ferramenta (fotografias 8 e 9). Na operação de cruzamento de blocos foi
observada a postura de preensão pulpar das mãos direita e esquerda ao pegar os
blocos e inverter os lados e desvio radial de punho direito (fotografia 10).

6.2.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de ACDB:

A tabela 23 trás o resumo do cálculo de ATO para a atividade de


aplicação de cola e destacamento de blocos.
113

TABELA 23
Dados do posto aplicação de cola para cálculo de ATO

Duração da
Duração ciclo Freqüência Total de ações
Parte do corpo Ações / ciclo tarefa
(Minutos) (Ações / Minuto) observadas (ATO)
(Minutos)

Braço direito 108 3 minutos 36 ações / minuto 185 6660

Braço esquerdo 102 3 minutos 34 ações / minuto 185 6290

Na tabela 23, para o ciclo de 3 minutos de duração foram


observadas 108 ações técnicas para braço direito e 102 para o esquerdo,
representando uma freqüência de 36 ações técnicas por minuto para o braço
direito e 34 para o esquerdo. Como a duração da tarefa repetitiva nesta tarefa é
de 185 minutos na jornada de trabalho temos o seguinte resultado:

1) Braço direito: A multiplicação das ações técnicas por minutos para membro
direito (36) pelos minutos de duração da atividade (185) resultou em 6660 ações
técnicas na tarefa;
2) Braço esquerdo: A multiplicação das ações técnicas por minutos para membro
esquerdo (34) pelos minutos de duração da atividade (185) resultou em 6290
ações técnicas na tarefa.

6.2.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de ACDB:

Partindo da constante de 30 ações técnicas por minuto


(constante preconizada pelo método) e aplicando os fatores de multiplicação para
força, postura, fatores complementares, recuperação fisiológica e duração da
tarefa, chegou-se ao resultado de 5827 ações técnicas recomendadas para
membro direito e 4995 ações técnicas para o membro esquerdo. A tabela 24 trás
o resumo do cálculo de ATR para os membros superiores para a atividade de
aplicação de cola e destacamento de blocos.
114

TABELA 24
Dados do posto de aplicação de cola para cálculo de ATR

Fm* Duração
Freqüência Fm* Fm* Fm* Fm* Fm* Total de
Comple- tarefa
(constante) Força Postura Esteriotipia Recuperação Minutos (ATR)
mentares (Minutos)
Braço
direito 1 0,70 1 1 1 1,5 185 5827
30
Braço
esquerdo 1 0,60 1 1 1 1,5 185 4995
30
Legenda: *Fm = Fator Multiplicador.

A análise dos fatores de risco deste posto de trabalho resultou


nos seguintes valores:

a) Escore multiplicador de força = 1 (ver tabela 10, p.88), em função da


percepção dos operadores sobre a própria força aplicada, tanto para
membro direito quanto esquerdo;
b) Escore multiplicador de postura para membro direito = 0,70 (ver tabela
13, p.91) em função da somatória das variáveis: flexão de ombro (2) e
flexão de punho (3) com pontuação 5 (ver tabela 11, p.89) somado a
pontuação 2 para pega, totalizando um escore (7) (ver tabela 12, p.90);
c) Escore multiplicador de postura para membro esquerdo = 0,60 (ver tabela
13, p.91) em função da somatória das variáveis: flexão de ombro (4) e de
punho (3) com pontuação 7 (ver tabela 11, p.89) somado a pontuação 2
para pega (ver tabela 12, p.90);
d) Escore multiplicador de estereotipia = 1 em função de sua ausência (ver
tabela 14, p.92);
e) Escore multiplicador de fatores complementares = 1 (ver tabela 15, p.93)
em função da ausência de: vibração, precisão, uso de luvas, movimentos
bruscos e superfícies escorregadias;
f) Escore multiplicador recuperação = 1 (ver tabela 16, p.94) em função das
pausas para refeições e lanches estarem adequadamente distribuídas
durante a jornada de trabalho, somadas às pausas de trabalho repetitivo
embutidas nos ciclos para deslocamentos e preparação dos blocos para
aplicação de cola;
115

g) Escore multiplicador de duração da atividade repetitiva = 1,5 (ver tabela


17, p.95) em função do tempo de atividade repetitiva gasto nesta
atividade ser de 185 minutos na jornada.

6.2.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de ACDB:

O índice OCRA é calculado através da fórmula:

IE Direito = (ATO / ATR)


IE Direito = 6660 / 5827
IE Direito = 1,14

IE Esquerdo = (ATO / ATR)


IE Esquerdo = 6290 / 4995
IE Esquerdo = 1,26

Comparando os resultados dos índices de exposição desta


atividade com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95) observa-se que
estes valores se encontram na faixa verde, portanto dentro do nível de risco
“aceitável”.

6.3 Avaliação da atividade de intercalação de vias de formulários - IVF

6.3.1 Descrição das operações de IVF:

O operador prepara sobre a mesa de trabalho os pacotes de vias


de nota fiscal já impressas na máquina off-set e os pacotes de vias de carbono na
seqüência de montagem dos blocos de notas a serem intercalados (fotografias 11
e 12).
116

Fotografia 11 Fotografia 12
Fotografias 11 e 12: Preparação da seqüência de vias para intercalação

Após preparação do material inicia-se a intercalação pegando as


vias na seqüência correta e sobrepondo uma sobre a outra com a intercalação de
uma via de carbono, formando um conjunto de vias do bloco de notas (fotografia
13).

Fotografia 13: Intercalação de vias

Nesta operação foram verificadas as posturas de flexão de


punhos, pronação de cotovelos, pinça pulpar e alta repetitividade no manuseio
das vias dos formulários impressos e de carbono (fotografia 13).

6.3.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de IVF:

A tabela 25 mostra os valores encontrados no cálculo de ações


técnicas observadas para os membros superiores nesta atividade.
117

TABELA 25
Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATO

Duração Duração da
Ações / Freqüência Total de ações
Parte do corpo ciclo tarefa
ciclo (Ações / Minuto) observadas (ATO)
(Minutos) (Minutos)

Braço direito 12 0,17 72 72 5184

Braço esquerdo 12 0,17 72 72 5184

Na tabela 25, para o ciclo de 0,17 minuto de duração foram


observadas 12 ações técnicas para ambos os braços, representando uma
freqüência de 72 ações técnicas por minuto. Como a duração da tarefa repetitiva
é de 72 minutos na jornada de trabalho, a multiplicação das ações técnicas por
minutos (72) pelos minutos de duração da atividade (72) resultou em 5184 ações
técnicas observadas na tarefa.

6.3.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de IVF:

Partindo da constante de 30 ações técnicas por minuto


(constante preconizada pelo método) e aplicando os fatores de multiplicação para
força, postura, fatores complementares, recuperação fisiológica e duração da
tarefa, chegou-se ao resultado de 2203 ações técnicas recomendadas tanto para
o membro direito quanto para o esquerdo. A tabela 26 trás o resumo do cálculo de
ATR para os membros superiores para a atividade de intercalação de vias de
formulários.

TABELA 26
Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATR

Fm* Duração
Fm* Fm* Fm* Fm* Fm* Total de
Freqüência Comple- tarefa
Força Postura Esteriotipia Recuperação Minutos (ATR)
mentares (Minutos)

Braço
direito 1 0,60 0,85 1 1 2 72 2203
30
Braço
esquerdo 1 0,60 0,85 1 1 2 72 2203
30
Legenda: *Fm = Fator Multiplicador.
118

A análise dos fatores de risco deste posto de trabalho resultou


nos seguintes valores:

a) Escore multiplicador de força = 1 (ver tabela 10, p.88), em função da


percepção dos operadores sobre a própria força aplicada, tanto para
membro direito quanto esquerdo;
b) Escore multiplicador de postura = 0,60 (ver tabela 13, p.91) em função da
somatória das variáveis: flexão de punho (3) e pronação de cotovelos (2),
totalizando pontuação 5 (ver tabela 11, p.89) somado a pontuação 3 para
pega, resultando no valor final (8) (ver tabela 12, p.90);
c) Escore multiplicador de estereotipia = 0,85 (ver tabela 14, p.92) em
função do ciclo de operação de 10 segundos e gestos mecânicos iguais
por 80% do tempo de ciclo;
d) Escore multiplicador de fatores complementares = 1 (ver tabela 15, p.93)
em função da ausência de: vibração, precisão, uso de luvas, movimentos
bruscos e superfícies escorregadias;
e) Escore multiplicador de recuperação = 1 (ver tabela 16, p.94) em função
das pausas para refeições e lanches estarem adequadamente
distribuídas durante a jornada de trabalho, somadas às pausas de
trabalho repetitivo embutidas nos ciclos para deslocamentos e
preparação dos pacotes de vias de nota fiscal e de carbono na bancada;
f) Escore multiplicador de duração da atividade repetitiva = 2 (ver tabela 17,
p.95) em função do tempo de atividade repetitiva gasto nesta atividade
ser de 72 minutos na jornada.

6.3.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de IVF:

O índice OCRA (membros direito e esquerdo) é calculado através da


fórmula:

IE = (ATO / ATR)
IE = 5184 / 2203
IE = 2,35
119

Comparando o resultado do índice de exposição desta atividade


com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95) observa-se que este valor
se encontra na faixa amarela, portanto dentro do nível de risco classificado como
“muito baixo”.

6.4 Cálculo do índice de exposição (IE) Ponderado

A fórmula para determinação da exposição ponderada às


atividades repetitivas é expressa da seguinte forma:

(percentual de tempo na atividade A x pontuação A) + (percentual de tempo na


atividade B x pontuação B) + (percentual de tempo na atividade C x pontuação C).

Assim sendo, temos os seguintes percentuais de tempo de


exposição em relação ao tempo total da jornada de trabalho e os respectivos
índices de exposição para as atividades analisadas:

CF – IE = 0,92 e tempo de exposição de 27,43%;


ACDB – IE = 1,26 e tempo de exposição de 35,24%;
IVF – IE = 2,35 e tempo de exposição de 13,71%

IE Ponderado = (0,2743 x 0,92) + (0,3524 x 1,26) + (0,1371 x 2,35)


IE Ponderado = 1,02

Comparando o resultado do índice de exposição ponderado,


considerando o revezamento e tempo de permanência dos operadores nas três
atividades analisadas, com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95)
observa-se que este valor se encontra na faixa verde, portanto dentro do nível de
risco classificado como “aceitável”.
120

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.1 Classificação dos riscos

A partir dos índices obtidos nas análises dos três postos de


trabalho, observa-se que a avaliação de risco de ler/dort para membros
superiores através do método OCRA permitiu comparar os resultados e verificar
níveis de risco diferentes para as três atividades, conforme demonstrado na
tabela 27.

TABELA 27
Resultados do índice OCRA para os três postos de trabalho

Atividades
Membros Aplicação de cola Intercalação de
Corte de
e destacamento vias de
formulários
de blocos formulários
Braço direito 0,92 1,14 2,35
Braço esquerdo 0,92 1,26 2,35

Verifica-se que a atividade de corte de formulários obteve índice


OCRA de 0,92 (menor que uma unidade) para membro direito e esquerdo, isto
indica que para esta atividade está sendo realizado um número menor de ações
técnicas do que o recomendado para estas condições de trabalho. O número de
5140 ações técnicas recomendadas que foram projetadas pelo método é maior
que o número de 4752 ações técnicas efetivamente observadas.
Na atividade de aplicação de cola e destacamento de blocos o
número de 5827 ações técnicas recomendadas que foram projetadas para o
membro direito é menor que o número de 6660 ações técnicas efetivamente
observadas e número de 4995 ações técnicas recomendadas que foram
projetadas para o membro esquerdo também é menor que o número de 6290
ações técnicas efetivamente observadas.
Nesta atividade obteve-se índice OCRA de 1,14 para membro
direito e 1,26 para membro esquerdo (maiores que uma unidade), sendo assim,
121

indica que está sendo realizado um número maior de ações técnicas do que o
recomendado para estas condições de trabalho em torno de 14% e 26%
respectivamente para membros direito e esquerdo.
As atividades de Corte de formulários e Aplicação de cola e
destacamento de blocos, de acordo com os critérios de classificação de risco da
tabela 18 da página 95, se encontram na faixa “verde”, o que indica nível de risco
classificado como “Aceitável”.
A atividade de intercalação de vias de formulários obteve índice
OCRA de 2.35 (maior que uma unidade), tanto para o membro superior direito
quanto para o esquerdo. O número de 2203 ações técnicas recomendadas que
foram projetadas pelo método é maior que o número de 5184 ações técnicas
efetivamente observadas. Este resultado indica que para esta atividade está
sendo realizado um número maior de ações técnicas do que o recomendado para
estas condições de trabalho.
De acordo com a tabela 18 da página 95 este nível de risco se
encontra na faixa “amarela”, que representa nível de risco classificado como
“Muito baixo”, porém recomenda-se a vigilância sanitária da saúde dos
trabalhadores e alterações das condições de exposição ao risco.
Considerando o revezamento dos operadores nos três postos de
trabalho e o tempo de exposição aos fatores de risco em cada um deles o índice
de exposição ponderado resultou no valor 1,02. Isto significa que a forma como o
trabalho está organização, através do revezamento formal, reduz o risco na
atividade com maior demanda biomecânica, como a repetitividade na atividade de
intercalação de vias de formulários, sem aumentar o risco das outras atividades
de forma a torná-los acima dos níveis aceitáveis.

7.2 Mapeamento dos riscos

O estudo ergonômico permitiu realizar o mapeamento da


localização dos fatores de risco de ler/dort e seus respectivos pesos
particularizados por segmento corpóreo e por atividade analisada, apresentado na
tabela 28.
122

TABELA 28
Mapeamento dos fatores de risco pelo método OCRA

ATIVIDADES

Aplicação de cola e
Membros Superiores Intercalação
Corte de destacamento de blocos
de vias de
formulários Membro Membro
formulários
direito esquerdo

Aplicação de força 0 0 0 0

Ombro 0 2 4 0

Cotovelo 2 0 0 2
Postura

Pulso 0 3 3 3

Mão 2 0 0 1

Natureza da pega 2 2 2 3

Repetitividade Ausente Ausente Ausente Presente

Recuperação fisiológica 0 0 0 0
Organização do Trabalho

Trabalhador não controla


0 0 0 0
ritmo trabalho

Horas extras 0 0 0 0

Dobras de turno 0 0 0 0

Modo operatório rígido 0 0 0 0

Temperaturas extremas 0 0 0 0

Ruído 0 0 0 0
Fatores complementares

Iluminação 0 0 0 0

Vibração 0 0 0 0

Uso de luvas 0 0 0 0

Compressões mecânicas 0 0 0 0

Movimentos bruscos 0 0 0 0

Precisão de
0 0 0 0
posicionamento

O mapeamento da localização dos fatores de risco permite a


visualização dos pontos críticos representados pelos maiores escores, conforme
123

tabela 28, sendo possível verificar que a atividade que apresenta o maior índice
de exposição, Intercalação de vias de formulários, apresenta uma potencialização
dos fatores em função da presença de repetitividade somada às posturas de
punho e demanda biomecânica de dedos pela natureza da pega.
Na atividade de Aplicação de cola e destacamento de blocos
verifica-se que os principais escores estão apresentados nas posturas de flexão
de ombro e punho esquerdo para segurar a pilha de blocos durante o corte,
seguido da intensa flexão de punho direito no destacamento dos formulários com
a ferramenta de corte.
Na atividade de corte de formulários os escores encontrados se
enquadram dentro da margem que o método classifica como normal, sem a
necessidade de aplicação de fatores multiplicadores de correção.
No mapeamento dos riscos verifica-se que tanto os fatores de
organização do trabalho, quanto os fatores complementares do ambiente de
trabalho não se apresentam como determinantes pelo método aplicado, assim
como na análise dos fatores biomecânicos, o fator de risco “aplicação de força”
não aparece em nenhuma das atividades analisadas.

7.3 Contribuição para a gestão ergonômica

A partir da quantificação de ações técnicas recomendadas em


função da exposição dos operadores aos fatores organizacionais e posturais foi
possível determinar índices de risco para cada atividade avaliada.
A classificação dos níveis de risco auxilia no direcionamento dos
esforços a serem empregados pela organização para redução dos riscos pelo
critério de prioridades construído a partir dos índices encontrados, onde as
atividades de maiores índices devem ter prioridades sobre as de índices menores.
As atividades que se enquadram dentro da faixa de risco
classificado como aceitável não requer investimentos em ações técnicas,
administrativas ou organizacionais para aumento de controle dos riscos, o que
também auxilia no direcionamento eficaz dos recursos financeiros das
organizações.
O mapeamento dos riscos de forma particularizado, a obtenção
de um índice quantitativo e a correlação com um nível de intervenção a ser
124

tomada, mostra-se como um critério que auxilia na priorização dos investimentos


em ergonomia e conseqüentemente contribui para uma gestão eficaz dos
recursos em saúde ocupacional.
A partir da aplicação deste método é possível promover a
discussão dos resultados com os operadores envolvidos e, com sua participação,
privilegiar a elaboração de um caderno de encargos de recomendações
ergonômicas específicas para cada atividade e contribuir para a efetiva melhoria
do ambiente de trabalho.
125

8 CONCLUSÃO

A proposta desta pesquisa foi identificar e aplicar um método


técnico-científico específico para a identificação e avaliação de fatores de riscos
de ler/dort em membros superiores e analisar a sua contribuição e limitações para
a gestão da saúde do trabalhador.
A revisão da literatura permitiu conhecer o processo histórico de
organização do trabalho, sua interferência na saúde do trabalhador com o
surgimento dos casos de ler/dort, os métodos de análise dos fatores de risco de
ler/dort e a contribuição da ergonomia para a gestão da saúde e segurança do
trabalho nas empresas.
A aplicação prática do método OCRA neste estudo permitiu,
através da análise dos fatores de risco, verificar que a presença de posturas
inadequadas ou repetitividade durante a realização das tarefas, embora se
apresentem como “fatores de risco” de lesões para os membros superiores, não
se mostraram como determinantes na análise global destes postos de trabalho.
Por outro lado, a ausência de condicionantes de organização do
trabalho como controle rígido de ritmo, de modo operante e de produtividade,
evidenciado principalmente pelo grau de liberdade que os operadores destes
postos têm para se organizar no trabalho, contribui para uma situação de baixo
risco de ler/dort.
A identificação de um método técnico-científico de análise de
fatores de risco específico para membros superiores permitiu uma adequação do
método a ser utilizado com os fatores de risco existente nas atividades de
trabalho com emprego destes segmentos corpóreos.
A aplicação do método OCRA permitiu identificar um número
máximo de ações técnicas recomendadas para os membros superiores, a partir
das variáveis encontradas tanto nas questões ambientais e organizacionais do
trabalho, quanto nos fatores biomecânicos e quantificar as ações técnicas
efetivamente realizadas dentro do mesmo cenário.
A quantificação dos fatores de risco e a construção de um
mapeamento dos pontos críticos permitiram a construção de um critério de
priorização nas ações técnicas, administrativas ou organizacionais contribuindo
126

para a prevenção de lesões nos membros superiores e conseqüentemente para a


gestão da ergonomia e da saúde do trabalhador.

8.1 Recomendação para trabalhos futuros

As observações sistemáticas desses postos de trabalho, a


revisão da literatura e os achados nas análises dos fatores de risco de ler/dort
sugerem o desenvolvimento de pesquisas, como continuação deste estudo e de
apresentação de novas propostas a partir da aplicação do método OCRA, em
situações de trabalho com outros sistemas de gerenciamento da produção, por
exemplo, o sistema de “produção empurrada” ou “células de produção”.
127

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