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CAMINHOS DE GEOGRAFIA - REVISTA ON LINE

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ISSN 1678-6343 INSTITUTO DE GEOGRAFIA UFU
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ÁREAS DE RISCOS DE ENCHENTES NO MUNICÍPIO DE VOLTA


REDONDA: UMA APLICAÇÃO POR GEOPROCESSAMENTO

José Eduardo Dias


Doutorando do Instituto de Agronomia - UFRuralRJ
E-mail: mscdias@yahoo.com.br

Olga Venimar de Oliveira Gomes


Mestranda do Instituto de Geociências - UFRJ

Maria Hilde de Barros Goes


Profa. do Depto., Instituto de Agronomia, UFRuralRJ

ABSTRACT - This geoenvironmental study developed at the municipality of Volta


Redonda, State of Rio de Janeiro, Brazil shows flooding hazardous area. Electronic data
processing was done through SAGA/UFRJ software, where a diagnosis study of the main
issues at municipal level was performed. Conventional techniques and methods such as
field surveys, map and image interpretations (Landsat), were used. Thematic maps
generated were used to perform an environmental analysis.

Key words: Flooding, geoprocessing, problematic areas.

INTRODUÇÃO A retirada da cobertura vegetal e as más


práticas de utilização da terra aumentaram
O município de Volta Redonda está
o escoamento superficial, carreando
situado às margens do rio Paraíba do Sul,
sedimentos para os cursos d’água,
na região do médio vale do rio Paraíba
provocando assoreamento e as inundações
entre as coordenadas geográficas 22º 23' a
urbanas gerando prejuízos diversos à
22º 40' de latitude Sul e 44º a 44º 12' de
população. Tais fatores associam-se ao
longitude Oeste no médio vale do Paraíba,
manejo inadequado e a antropização
no eixo Rio de Janeiro-São Paulo,
desordenada das bacias hidrográficas,
abrangendo uma superfície de 181 km2.
gerando o impacto das cheias com o pico
Em conseqüência do ciclo da
das chuvas (DIAS, 1999).
industrialização, o município sofreu um
crescente fluxo migratório. As encostas, as Os fatores antrópicos induziram a
margens de rios e os fundos de vale foram proliferação de áreas com instabilidades
indevidamente ocupados. ambientais. As áreas de riscos de
enchentes distribuem-se em função do
fraco gradiente topográfico ao longo da

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planície do rio Paraíba do Sul e nas áreas com altas possibilidades de enchentes
de convergências dos baixos cursos (BERGAMO, 1999).
fluviais, associados ao manejo inadequado
As áreas de riscos de enchentes, pelas suas
das bacias hidrográficas gerando o impacto
características naturais e antrópicas,
das cheias com o pico das chuvas. As áreas
apresentam-se vulneráveis, pois estão
de riscos de enchentes apresentam maior
sujeitas a fenômenos prejudiciais à
relevância na planície inundada do rio
qualidade ambiental (GOES & XAVIER-
Paraíba do Sul, nas várzeas e baixos
DA-SILVA, 1996).
terraços fluviais. As áreas sujeitas a
enchentes contextualizam-se num conjunto Para este estudo utilizou-se como
de fatores correspondentes de um ferramenta o geoprocessamento, através do
geossistema, afetado por alterações software SAGA/UFRJ (Sistema de Análise
espontâneas (naturais) ou por intervenções Geoambiental).
antrópicas. Estas são traduzidas como
eventos na interface solo-água. MATERIAL E MÉTODOS

O uso de geoprocessamento como Para o referido estudo foi construído uma

metodologia de pesquisa ambiental, base de dados georreferenciada, com 11

apresentam procedimentos analíticos planos temáticos, em escala nominal e de

denominados avaliações ambientais, para intervalo, assinaturas ambientais, com um

áreas de riscos de enchentes, necessários à plano de informação e avaliações

obtenção de conclusões úteis para o apoio ambientais, em escala ordinal.

à decisão quanto ao controle ambiental. As


Foi utilizada a estrutura matricial “Raster”
áreas de riscos geoambientais são produtos
para a montagem da base de dados
de uma análise integrada e classificatória
georreferenciada. A entrada de dados de
das variáveis originalmente levantadas
caráter espacial foi realizada através de
lançadas numa escala ordinal (GOES,
leitura ótica por “Scanner”, que consistiu
1994).
na leitura e captura dos registros espaciais.

As estimativas de riscos fornecem áreas A fase operacional seguinte à edição dos

sujeitas ao processo de inundações.O uso dados foi o reconhecimento das feições

de geoprocessamento permite estimar áreas geométricas, realizadas pelo processo de

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vetorização interativa nestes dados ao poder público. Apresenta os principais


escanerizados. níveis de acessibilidade a qualquer
empreendimento ou investimento
Criou-se a base de dados digitais, o que
previamente georreferenciado (áreas
representou o inventário ambiental,
urbanas, rodovias, ferrovias, etc.);
consistindo do levantamento das condições
ambientais vigentes, compostas por 11 4) proximidades (1999): idem aplicado ao
cartogramas digitais básicos para o mapa temático dados básicos (DIAS,
município de Volta Redonda: 1999);

1) dados básicos (1973): compilado da 5) cobertura vegetal/uso do solo (1973):


carta topográfica do IBGE, na escala gerado a partir da carta topográfica do
básica de 1:50. 000 (Folha SF-23-Z-A-11- IBGE (1973), na escala básica 1:50. 000
4, Nossa Senhora do Amparo, RJ-MG e (Folha SF-23-Z-A-11-4, Nossa Senhora do
Folha SF-23-Z-A-V-2, Volta Redonda, RJ- Amparo, RJ-MG e Folha SF-23-Z-A-V-2,
SP, 1973). Este cartograma foi Volta Redonda, RJ-SP), obedecendo às
considerado, desde o início dos unidades territoriais correspondentes
procedimentos metodológicos, o alicerce àquela época;
para a definição e elaboração dos demais
6) cobertura vegetal/uso do solo (DIAS,
planos de informação, pois nele são
1999): o mapeamento foi elaborado a partir
registrados linhas, pontos e áreas,
de dados de campo, conjugados à
representando entidades básicas para os
interpretação de imagens Landsat, na
demais mapeamentos temáticos;
escala de 1:100. 000 e fotos convencionais,
2) dados básicos (DIAS, 1999): elaborado relativos ao ano de 1999;
a partir da atualização para o ano de 1999
7) altitude ou hipsometria: gerado a partir
do mapa temático dados básicos (IBGE,
da carta topográfica do IBGE, escala
1973);
básica 1:50. 000 (Folha SF-23-Z-A-11-4,
3) proximidades (1973): utilizando-se Nossa Senhora do Amparo, RJ-MG e
recursos do SAGA a partir do mapa Folha SF-23-Z-A-V-2, Volta Redonda, RJ-
temático dados básicos (IBGE, 1973). SP). As curvas de níveis apresentam
Trata-se de um mapa temático bastante útil

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eqüidistância de 40 metros, com cotas As assinaturas ambientais foram realizadas


variando entre 380 e 720 m; empiricamente, dando suporte às
avaliações ambientais. As características
8) declividade: gerado a partir da carta
naturais e antrópicas que mais
topográfica do IBGE, escala básica 1:50.
influenciaram na ocorrência do fenômeno
000 (Folha SF-23-Z-A-11-4, Nossa
ambiental “áreas de riscos de enchentes”,
Senhora do Amparo, RJ-MG e Folha SF-
foram registradas em polígonos e
23-Z-A-V-2, Volta Redonda, RJ-SP),
delimitados na carta topográficos, tendo-se
utilizando-se da metodologia proposta por
a certeza ou a constatação de sua
DE BIASE (1970);
ocorrência no local selecionado.
9) geomorfologia: mapeamento gerado Constituindo-se em importante ferramenta
obedecendo aos seguintes critérios: de investigação empírica, fornece
morfologia e morfometria, constituição dos segurança para o desenvolvimento dos
terrenos (solo e subsolo), cobertura vegetal processos avaliativos para definir as
e processos dominantes (intempéricos, principais situações ambientais. Inferências
pedogenéticos e morfogenéticos); foram levantadas quanto às associações
causais e características relevantes das
10) solos: elaborado com base nos variáveis ou parâmetros que envolvem
mapeamentos geomorfológico e litológico, cada fenômeno natural ou antrópico,
com saídas de campo para a identificação servindo de bases para as avaliações
de classes de solos, procedendo-se à ambientais. As assinaturas ambientais
abertura de trincheiras. Elaborou-se um foram capitais para a efetivação das
mapa expedito de solos para fins de avaliações ambientais; suas informações
planejamento ambiental; foram fundamentais para as análises da
área estudada, pois foram referenciadas
11) geologia: compilado da fonte DRM-RJ
geograficamente, constituindo-se no
(1983) na escala básica 1:50. 000 (Projeto
atributo de localização correspondente a
Carta Geológica do Estado do Rio de
fenômenos ambientais tais como “áreas de
Janeiro, Folhas Nossa Senhora do Amparo
riscos de enchentes”.
SF-23-Z-A-11-4 e Volta Redonda SF-23-
Z-A-V-2). O procedimento foi executado em nível de
campo, assinando as áreas de ocorrência
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do fenômeno ambiental. Para as áreas de das unidades territoriais, classificadas


riscos de enchentes, foram registradas 10 segundo um conjunto de atributos
planimetrias, a fim de constatar a presença (XAVIER-DA-SILVA & CARVALHO
de certas características no percurso de FILHO, 1993).
vários locais escolhidos e analisados. A
Um algoritmo sugerido, aplicável a
partir desse procedimento foram possíveis
estruturas de matrizes ou matriciais, é
as associações entre variáveis e eventos de
apresentado a seguir:
interesse, sendo considerado como
referência a ocorrência de correlações em n
áreas com características semelhantes.
Aij = Σ (Pk . Nk)
O uso do geoprocessamento e tecnologia onde:
de SGI, neste caso o software
k = 1;
SAGA/UFRJ, permitiu concatenar as
Aij = qualquer célula da matriz;
tomadas de decisão. Os produtos oriundos
da base de dados georreferenciada e das n = número de parâmetros envolvidos;
avaliações ambientais podem contribuir P = peso atribuído ao parâmetro, transposto
como apoio ao desenvolvimento e o percentual para a escala de 0 a 1;

aplicação de medidas mitigadoras dirigidas N = nota na escala de 0 a 10, atribuída à


categoria encontrada na célula.
a esta questão ambiental em particular
(Sistema de Apoio à Decisão). Para a realização das avaliações foi
empregado o algoritmo classificador,
As avaliações ambientais com o uso da
aplicável a uma estrutura de matrizes, no
ferramenta do geoprocessamento
qual cada célula corresponde a uma unidade
mostraram a realidade ambiental do
territorial. A importância de cada evento
município de Volta de Redonda em relação
analisado foi considerada em função do
ao parâmetro enchentes, traduzida pela
somatório dos produtos dos pesos relativos
magnitude das áreas de instabilidades
das variáveis escolhidas, multiplicado pelas
ambientais mapeadas.
notas das classes em cada unidade da célula.

Algoritmo do tipo média ponderada foi


Foram analisadas as situações ambientais
aplicado para a definição de posições
mais relevantes, com as classes registradas
territoriais ao longo de um eixo integrador
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em escala nominal nas categorias: altíssimo, ambiental, foram apresentados: a) a


alto, alto-médio, médio, médio-baixo e influência dos planos de informação e b) a
baixo-baixíssimo. sua análise ambiental.

Para a geração das avaliações ambientais Para o município de Volta Redonda, as


propiciando as áreas de instabilidades avaliações ambientais para as áreas de riscos
geoambientais (Cartograma Digital de enchentes foram realizadas atribuindo-se
Classificatório de Riscos de Enchentes) a estas classes de cada plano de informação
(Figura 1), foram utilizados os seguintes ou parâmetro. A seguir são discutidas as
parâmetros e respectivos pesos: considerações ambientais específicas dos
geomorfologia (peso 27%); declividade parâmetros influenciadores:
(peso 25%); solos (peso 20%); uso e
- geomorfologia (peso 27%): as unidades
ocupação do solo/cobertura vegetal 1998 geomorfológicas que mais influenciaram nas áreas
de riscos de enchentes foram: terraços e várzeas
(peso 15%) e proximidades (peso 13%). fluviais, bancos fluviais, com nota 10, e terraços
alúvio-coluvionares, com nota 8. Realmente, estas
são as classes que mais contribuem para as
RESULTADOS E DISCUSSÃO inundações no município de Volta Redonda pelo
seu posicionamento geográfico, (próximo ao Rio
As áreas de riscos de enchentes se Paraíba do Sul), morfologia (terras baixas e
planas) e fraco gradiente topográfico, somados,
distribuem basicamente e significativamente principalmente, às edificações urbanas e
industriais distribuídas nestas feições
no município na área de influência inundada geomorfológicas. Em segundo plano, com nota 7,
surgem os terraços colúvio aluvionares de vales
do rio Paraíba do Sul (várzea e baixos estruturais, associados aos médios cursos de
drenagem e às rampas de colúvio; que por
terraços), sendo acentuadas pelo posicionarem-se ao longo do sopé das encostas
“mascaramento” das edificações urbana e estruturais, são receptoras dos fluxos de água que
descem dessas encostas com alta energia por
industrial, além do manejo inadequado dos ocasião das chuvas concentradas. As demais
categorias tiveram pouca significância para o
afluentes do rio Paraíba do Sul. fenômeno das enchentes, como as componentes do
sistema colinas;

Convém aqui lembrar que o risco ambiental - declividade (peso 25%): as classes que mais
influenciaram nas áreas de enchentes foram: 0-
em tela representado em Cartograma Digital 2,5% (nota 10), 2,5-5% (nota 9) e 5-10% (nota
Classificatório Simples, cujas classes acham- 7). A categoria que recebeu nota 10 foi
declividade entre 0 a 2,5%, considerada como
se registradas em escala nominal, foi baixo gradiente morfométrico. Correspondem às
baixas feições geomorfológicas várzeas e
distribuído nas seguintes categorias: terraços fluviais. As demais classes estão
associadas aos terraços colúvio-aluvionares e
altíssimo, alto, alto-médio, médio, médio- rampas de colúvio. A morfometria do relevo
tem interferência na hidrodinâmica;
baixo e baixo-baixíssimo. Para cada situação

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- solos (peso 20%): as classes de solo que tiveram aplicação do Sistema de Apoio a Decisão (SAD),
maior influência para as enchentes no município foram extraídas informações relevantes sobre as
de Volta Redonda foram às classes de solos áreas de riscos de enchentes para cada uma das
GLEISSOLOS e NEOSSOLOS FLÚVICOS, categorias. Está registrada no Cartograma Digital
ambos apresentando nota 10. Estas classes de Classificatório de Riscos de Enchentes (Figura 1).
solos no período chuvoso apresentam-se com o
nível do lençol freático elevado, propiciando ⇒ A (altíssimo/alto risco): áreas sempre
afloramento do aqüífero, ocasionando o
alagamento em algumas áreas. Cabe aqui salientar
sujeitas a enchentes. Avaliação entre
que às classes de solos GLEISSOLOS e 10 a 8 na escala ordinal de 0 a 10.
NEOSSOLOS FLÚVICOS estão sob aterro, sendo
ocupado com urbanização, cidade planejada e Condições ambientais: são áreas
industrialização;
morfologicamente inseridas em ambiente de
- uso e ocupação do solo/cobertura vegetal 1998
(peso 15%): as classes que mais influenciaram
baixada, ao longo e no entorno da planície
para o flagelo ambiental enchentes, no município do rio Paraíba do Sul. O parâmetro solo,
de Volta Redonda, foram vegetação de campos
inundáveis (nota 10), gramínea rasteira (nota 10), representado pela classe GLEISSOLOS, não
floresta de galeria (nota 10), área em urbanização
(nota 9), pastagem (nota 9), área urbana (nota 8), é fator condicionante para as inundações,
olericultura (nota 8), área de lazer (nota 8) e área
institucional (nota 8). O tipo de uso e ocupação do pois estes encontram-se sob aterros, onde foi
solo, a cobertura vegetal rala e a
impermeabilização do solo através da urbanização,
construída a cidade planejada e instalada a
influenciam no escoamento das águas plúvio- Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). As
fluviais, ocasionando as inundações,
principalmente em áreas urbanas. No caso das cheias nestas áreas são provocadas pelos
classes correspondentes à cobertura vegetal, as
duas primeiras que receberam nota 10 são áreas afluentes do rio Paraíba do Sul; estes
topograficamente mais deprimidas e mal drenadas,
enquanto a floresta de galeria posiciona-se ao encontram-se obstruídos e assoreados em
longo da margem do rio Paraíba do Sul. Quanto às
classes referentes ao uso do solo, observa-se a
função do mau uso e manejo do solo,
presença marcante das edificações; principalmente nas áreas de captação dessas
- proximidades (peso 13%): as classes bacias hidrográficas. O uso da bacia desses
influenciadoras no parâmetro proximidades,
representando a influência antrópica foram: afluentes interfere tanto que esta não é capaz
proximidade urbana (nota 10), proximidade
urbana com estrada pavimentada (nota 10), de responder. O momento que mais chove é
proximidade em urbanização (nota 9),
o que gera maior vazão e conseqüentemente
proximidade em urbanização com estrada de ferro
com estrada pavimentada (nota 9), proximidade maiores cheias. A impermeabilização às
em urbanização com estrada não pavimentada
(nota 8). No caso do município em tela, estas margens dos cursos d’água, devido à
classes são as que mais têm contribuído para as
inundações, devido às ações antrópicas serem expansão urbana, acrescentando-se o
bastante intensivas, como cortes no terreno para
construções de estradas, ocupação desordenada do acumulo de lixo, principalmente nos
solo com a impermeabilização, aumentando o
córregos Brandão, Sécades e Ponte Alta, tem
escoamento superficial, gerando o impacto das
enchentes principalmente nas áreas urbanas. propiciado condições para este flagelo
Das cinco classes ordinais geradas pela ambiental.
combinação dos planos de informações com a

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Figura 1 - Cartograma Digital Classificatório de Riscos de Enchentes

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Condições ambientais: são áreas


Cabe ressaltar que a partir da construção
constituídas por terraços colúvio aluvionar
da Represa do Funil, no município de
de vale estrutural e rampas de colúvio,
Itatiaia, o rio Paraíba do Sul tem
feições que podem induzir eventuais
influenciado pouco no fenômeno das
enchentes locais. As primeiras feições
enchentes no município de Volta Redonda,
posicionaram-se ao longo dos médios
pois, com a represa, lamina-se cheias e
cursos fluviais, enquanto as rampas de
torna-se possível administrar a água dentro
colúvio, conforme mencionado, são áreas
da calha do rio.
receptoras de fluxos de água e sedimentos
Localização geográfica: as áreas críticas provenientes das encostas. Apresentam em
localizam-se na margem convexa do sua maior parte, gradiente topográfico
meandro do rio Paraíba do Sul (bairros entre 5-10%. Por outro lado, a influência
Conforto, Vila Mury e algumas áreas dos antrópica com o traçado de estradas
bairros Vila Santa Cecília, Açude e pavimentadas e não pavimentadas,
Retiro), e a oeste do meandro, na área da ferrovia, áreas urbana e em urbanização,
CSN na várzea do rio Paraíba do Sul, a dificulta o escoamento natural das
leste do meandro em direção ao município drenagens.
de Pinheiral, na margem direita
Localização geográfica: acham-se
(Loteamento Volta Grande no bairro Santo
distribuídas na convergência de drenagens
Agostinho).
dos baixos cursos fluviais, em alguns
Situação atual: inundações freqüentes nas setores das Rodovias Tancredo Neves e
áreas urbanas e em urbanização e na área
de convergência dos baixos cursos fluviais. Volta Redonda-Pinheiral.
Canais retificados assoreados com
sedimentos e acúmulo de lixo. Escoamento Situação atual: obstrução dos canais pelo
superficial alto, com carreamento de
acúmulo de sedimento e lixo, dificultando
grande quantidade de sedimentos para os
cursos d’água. o escoamento das águas pluviais. Áreas

⇒ B (alto médio risco de enchentes): mal drenadas afetadas pelo sistema viário.
áreas afetadas por enchentes,
geralmente influenciadas pelas áreas de ⇒ C (médio risco de enchentes):
altíssimo/alto risco. Nota 7 na escala ocasionalmente são áreas afetadas por
ordinal de 0 a 10. enchentes razoáveis. Nota 6 a 5 na
escala ordinal de 0 a 10.

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Condições ambientais: essas razoáveis baixo risco de enchentes dominam o


inundações distribuem-se nos patamares município. Este fato pode ser explicado
colinosos aplainados e alvéolos estruturais, pela dominância do sistema
apresentando gradiente topográfico entre geomorfológico encosta e pela única e
5-10%. Pedologicamente localiza-se em significativa planície fluvial (sistema
setores de solos CAMBISSOLOS. Estes baixada) posicionada, somente, ao longo
fatores influenciam no escoamento do rio Paraíba do Sul. As restantes das
superficial que é mais rápido, não planícies (várzeas e terraços) são setores
possibilitando a retenção de água. pequenos, associados ao sistema encosta.
Essas áreas quase não afetadas por
Localização geográfica: acham-se
enchentes são as médias e baixas encostas
distribuídas nas baixas/médias encostas,
estruturais dissecadas, que dominam o
em setores ao longo das Rodovias
município e, também, os patamares
Tancredo Neves e Presidente Dutra e nas
tabuliformes dissecados, em setores de
pequenas planícies dos baixos cursos
solo do tipo ARGISSOLOS VERMELHO
fluviais principalmente no setor sul do
AMARELO, situados à retaguarda da
município.
planície do rio Paraíba do Sul; seus altos

Situação atual: áreas mal drenadas com vales dissecados é que são ocasionalmente

escoamento superficial alto, devido à atingidos.

vegetação rala. Recobrindo esses solos


Localização geográfica: acham-se
podem ser encontradas gramíneas como
distribuídas nas médias encostas, por todo
sapê (Imperata brasiliensis) e o capim
o município de Volta Redonda.
colonião (Panicum maximum), com
intenso pisoteio do gado. Situação atual: solos com cobertura vegetal
rala e escoamento superficial alto.
⇒ D (médio baixo risco de enchentes):
Recobrindo esses solos podem ser
áreas de baixa vulnerabilidade a
encontradas gramíneas como sapê
inundações. Nota 4 a 3 na escala
(Imperata brasiliensis) e o capim colonião
ordinal de 0 a 10.
(Panicum maximum), com intenso pisoteio

Condições ambientais: em termos de do gado. Fluxo de sedimentos acelerado

expressão territorial, as áreas de médio- nos altos vales, ocorrendo enchentes nas

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áreas de convergências dos baixos cursos CONCLUSÃO


fluviais.
O município de Volta Redonda apresenta
⇒ E (baixo-baixíssimo risco de situações ambientais caracterizadas por
enchentes): áreas praticamente com condicionantes naturais e antrópicos,
risco de enchentes nulo. Nota 2 a 0 na singulares à realidade dos cenários
escala ordinal de 0 a 10. pretérito e atual. Os fatores antrópicos
induziram a proliferação intensa de áreas
Condições ambientais: áreas
com instabilidades ambientais (enchentes)
topograficamente mais altas, gradiente >
resultantes, principalmente, pelas áreas de
40%, com a presença de alguns fragmentos
fraco gradiente topográfico e pela forte
florestais, constituída por solos do tipo
presença antrópica.
ARGISSOLOS VERMELHO AMARELO
e CAMBISSOLOS, ocupadas pelo pisoteio No trabalho aqui apresentado, as
do gado e, também, afetadas por processos avaliações ambientais realizadas com o
intensos e acelerados de erosão. Áreas sem apoio do geoprocessamento mostraram a
condições para enchentes. Ocorrem nas realidade ambiental do município,
encostas estruturais dissecadas, interflúvios traduzida pela magnitude das áreas de
aplainados, interflúvios estruturais, riscos de enchentes mapeadas. Com base
encostas de Tálus, vales estruturais e nestes resultados, são aqui apresentadas
encostas adaptadas à falhas. recomendações de procedimentos a serem
adotados para as distintas áreas, visando à
Localização Geográfica: nas médias e altas
ocupação ordenada do solo:
encostas estruturais, nas colinas isoladas e
nos interflúvios, em toda a extensão - Altíssimo/alto risco de enchentes:
municipal. viabilizar politicamente o manejo das
bacias hidrográficas dos afluentes do rio
Situação atual: intenso pisoteio do gado
Paraíba do Sul, setorizando ou
nas encostas, com processos erosivos
estratificando as áreas com restrição de
bastante acentuados, com erosão laminar,
uso e com potencial para a produção de
ravinas e voçorocas. Áreas com
água. Manejar com consciência os
fragmentos florestais.
fragmentos florestais, pois estes
exercem influência na recarga do lençol
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freático, sendo responsáveis pelo fluxo capoeira e Floresta Secundária (área de


básico das bacias hidrográficas, retendo domínio ecológico); adoção de medidas
água nas vertentes, visando regularizar a biológicas através do plantio de espécies
saída de água na bacia, ajudando a reter nativas da Mata Atlântica nas encostas
a água e soltá-la lentamente para os críticas com solo exposto.
leitos dos rios, minimizando os
- Médio-baixo risco de enchentes: adoção
processos erosivos, diminuindo o
de medidas biológicas, com o plantio de
escoamento superficial, o carreamento
espécies nativas da Mata Atlântica visando
de sedimentos e a redução do
diminuir o escoamento superficial nas altas
assoreamento da calha dos rios. Adoção
encostas mais críticas.
de medidas físicas utilizando obras
físicas, com base em preceitos de - Baixo-baixíssimo risco de enchentes:
geomorfologia fluvial, hidráulica e manejar conscientemente os fragmentos
geotecnia. Construção de “baciões” com florestais existentes nestas áreas; reduzir
o objetivo de administrar a água na o pisoteio do gado nas encostas; evitar
calha do rio, principalmente no córrego queimadas, para que a vegetação
Brandão. Controlar a expansão urbana, espontânea possa evoluir para pasto sujo,
visando reduzir a impermeabilização ao capoeira e floresta secundária; adoção de
longo das margens dos rios. medidas biológicas, com o plantio de
espécies nativas da Mata Atlântica
- Alto-médio risco de enchentes:
visando diminuir o escoamento
ampliação da rede de coleta de águas
superficial.
pluviais; desobstrução dos canais
assoreados; adoção de medidas biológicas REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
através do plantio de espécies nativas da
Mata Atlântica; campanha educativa junto BERGAMO, R. B. A. Diagnóstico

à população, no sentido de evitar que se ambiental no município de Mangaratiba,

jogue lixo nos canais e cursos d’água. RJ: uma análise por geoprocessamento.
1999. 237 f. Dissertação (Mestrado em
- Médio risco de enchentes: em longo Geologia de Engenharia e Ambiental) -
prazo, permitir que a vegetação, Instituto de Geociências, Universidade
espontaneamente, evolua para pasto sujo, Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

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Áreas de riscos de enchentes no município de Volta José Eduardo Dias
Redonda: uma aplicação por geoprocessamento Olga Venimar de Oliveira Gomes
Maria Hilde de Barros Goes

DE BIASE, M. Carta de declividade de de Pesquisa e Zoneamento Ambiental da


vertentes: confecção e utilização. UFJF, 1996. p. 13-23.
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IBGE. Folhas Nossa Senhora do
DIAS, J. E. Análise ambiental por Amparo (SF-23-Z-A-11-4) e Volta
geoprocessamento do município de Volta Redonda (SF-23-Z-A-V-2). Escala
Redonda. 1999. 180 f. Dissertação 1:50. 000, 1973.
(Mestrado em Ciências Ambientais e
XAVIER-DA-SILVA, J.; CARVALHO
Florestais) - Instituto de Florestas,
FILHO, L. M. Sistemas de Informação
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DRM-RJ. Folhas Nossa Senhora do AMERICANA SOBRE SISTEMAS DE

Amparo (SF-23-Z-A-11-4) e Volta INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA, IV.,


SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
Redonda (SF-23-Z-A-V-2). Escala
GEOPROCESSAMENTO, II. 1993 São
1:50. 000, 1983.
Paulo. Anais... São Paulo: Universidade de

GOES, M. H. B. Diagnóstico ambiental São Paulo, 1993. v. 1, p. 609-628.

por geoprocessamento do município de


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Geografia) - Instituto de Geociências e
Ciências Exatas, Universidade Estadual
Paulista Julio de Mesquita Filho, Rio
Claro.

GOES, M. H. B.; XAVIER-DA-SILVA, J.


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diagnósticos ambientais por
geoprocessamento. In: SEMINÁRIO DE
PESQUISA SOBRE O PARQUE
ESTADUAL DE IBITIPOCA, 1., 1996,
Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: Núcleo

Caminhos de Geografia 2(10)13-25, set/2003 Página 25

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