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Enciclopedia Intercom de Comunicação PDF
Enciclopedia Intercom de Comunicação PDF
Editores Temáticos
Disciplinas Comunicação internacional Anamaria Fadul
Editora Responsável – Sonia Virginia Moreira Comunicação regional Cidoval Morais de Sousa
Propaganda Adolpho Queiroz Comunicação local Cicília Peruzzo
Jornalismo José Marques de Melo Comunicação alternativa Karina Woitowicz
Publicidade Jean Charles Zozzoli Comunicação interpessoal Ivone Lourdes de Oliviera
Relações Públicas Maria Aparecida Ferrari Folkcomunicação Betânia Maciel
Entretenimento Jacques Wainberg
Teleducação Fabio Josgrilberg Interdisciplinas:
Bibliologia Ana Gruszynski Editor Responsável – Antonio Hohlfeldt
Fonografia Moacir Barbosa Teorias da Comunicação Antonio Hohlfeldt
Quadrinhologia Valdomiro Vergueiro Filosofia da Comunicação Dimas Kunsch
Fotografia Jorge Felz História da Comunicação Marialva Barbosa
Cinematografia Samuel Paiva Geografia da Comunicação Sonia V. Moreira
Radialismo Luiz Ferrareto Sociologia da Comunicação Maria Cristina Casti-
Televisão Sergio Matos lho Costa
Videologia Alexandre Figueiroa Psicologia da Comunicação Liana Gotlieb
Cibermidiologia Cosette Castro Antropologia da Comunicação Sandra Tosta e Gil-
mar Rocha
Transdisciplinas: Pedagogia da Comunicação José Marques de Melo
Editora Responsável – Marialva Barbosa Semiótica da Comunicação Irene Machado
Comunicação educativa Rosa Maria Dalla Costa Estudos Culturais da Comunicação Edson Dalmonte
Comunicação cultural Osvando J. de Morais e Itânia Gomes
Comunicação científica Graça Caldas Políticas de Comunicação Ada Cristina Machado
Comunicação religiosa Joana Puntel Direito da Comunicação Paula Cundari
Comunicação das minorias Raquel Paiva Deontologia da Comunicação Pedro Gilberto Gomes
Comunicação para a saúde Arquimedes Pessoni Economia Política da Comunicação César Bolaño
Comunicação política Edgard Rebouças Gestão da Comunicação Cleusa Scroferneker
Comunicação mercadológica Scarleth O´Hara Tecnologias da Comunicação Cosette Castro e Mar-
Comunicação turística Susana Gastal cio Fernandes
Comunicação esportiva Zeca Marques Estética da Comunicação Telenia Hill
Comunicação organizacional Margarida Kunsch Epistemologia da Comunicação Aline Strelow
ENCICLOPÉDIA INTERC OM DE
C OMUNICAÇÃO
VOLUME 1 – CONCEITOS
Copyright © 2010 dos autores dos textos, cedidos para esta edição à Sociedade Brasileira de Estu-
dos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom
Ficha Catalográfica
ISBN: 978-85-88537-66-8
CDD-302.203
VOLUME 1 – CONCEITOS
IV Lista de Verbetes/Autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
V Verbetes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
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I – A E NC IC LOPÉ DIA I N T E RC OM
José Marques de Melo
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naquele país – e outro mais inclusivo – o ria e pela influência deletéria de opúsculos
Dicionário de Ciências da Comunicação e catálogos mal traduzidos”.
(Porto, Porto Editora, 2000), elaborado Essa vigilância para resistir ao avanço
por uma equipe liderada por Wlodzimierz do imperialismo cultural anglófono não re-
Josep Szymaniak. presenta preocupação exclusivamente nos-
É bem verdade que o Brasil, acossado sa, mas se projeta em países outrora hege-
entre a tradição dos galicismos e a moder- mônicos, como a França. Bernard Voyenne,
nidade dos anglicismos, tinha acumulado na introdução do seu livro Glossaire dês
experiência lexicográfica, em nosso cam- Termes de Presse (Paris, CFJ, 1967), atribui
po, desde meados do século passado. Esse essa síndrome do anglicismo às agências
tipo de atividade cognitiva começou pelo noticiosas, cujos boletins de informação
ramo mais avançado da nossa indústria empregam, cada vez mais, palavras estran-
comunicacional, ou seja, pelo setor gráfico geiras, sendo três, de cada cinco vocábulos,
que se modernizou intensamente, na pas- de origem anlgo-americana.
sagem do século, continuando sua marcha Em tal conjuntura aparecem os nos-
progressista até o apogeu representado pela sos primeiros livros dedicados a registrar
adoção da tecnologia do offset. É no ocaso o vocabulário peculiar às profissões do
da composição em chumbo que surgem as campo comunicacional. Na dianteira, apa-
primeiras tentativas de sistematização da rece o Jornalismo, cuja obra de referência
terminologia das artes gráficas. intitulada Jornalismo, Dicionário Enci-
A obra pioneira aparece, na Bahia, as- clopédico (São Paulo, Ibrasa, 1970), tem a
sinada por Arthur Arésio da Fonseca, sob assinatura de Nabantino Ramos, um dos
o título Diccionário de Termos Graphicos jornalistas emblemáticos da renovação da
(Salvador, Imprensa Oficial, do Estado, nossa imprensa, responsável pela moder-
1936). No seu rastro aparece o Vocabulá- nização do jornal Folha de S. Paulo. Não
rio de Artes Gráficas, de Olavo Cassiano de demora a surgir obra congênere, no setor
Menezes, publicado em Curitiba, em 1949, da propaganda, por iniciativa de Zander
antecipando-se a mais completa obra do Campos da Silva, autor do Dicionário de
gênero que circulou no país, o Dicionário Marketing e Propaganda (Rio de Janeiro,
de Artes Gráficas, de Frederico Porta, lan- Pallas, 1976). Os dois segmentos seriam,
çada pela Editora Globo, de Porto Alegre. posteriormente, agrupados por Mário Er-
O autor não deixa de realçar o esfor- bolato no instigante Dicionário de Propa-
ço de abrasileiramento da terminologia da ganda e Jornalismo (Campinas, Papirus,
área, ainda muito dependente dos anglicis- 1985). Fonte indispensável para consul-
mos que correspondem ao apogeu da cul- ta de pesquisadores é o Dicionário Histó-
tura anglo-americana no mundo do pós- rico-Biográfico da Propaganda no Brasil,
guerra. Dessa maneira, ele contribuiu para organizado por Alzira Alves de Abreu e
a “formação da nossa terminologia profis- Cristiane Jales de Paula (Rio de Janeiro,
sional, adulterada, muitas vezes, pela incú- Editora da FGV, 2007).
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Outros setores profissionais compare- Rubens Edwald Filho (São Paulo, Nacional,
ceriam, também, ao mercado editorial com 2000) e seus congêneres brasileiros: Dicio-
obras de interesse específico, como Rela- nário de Cineastas Brasileiros de Luiz Feli-
ções Públicas – ancorado pelo Dicionário pe Miranda (São Paulo, Art Editora, 1990)
Profissional de Relações Públicas e Comuni- e Dicionário de Filmes Brasileiros de Anto-
cação, de autoria de Cândido Teobaldo de nio Leão da Silva Neto (São Paulo, Editora
Souza Andrade. (São Paulo, Saraiva, 1978) do Autor, 200)).
e, depois, atualizado pelo Glossário de Re- Contudo, o campo vem desenvolven-
lações Públicas de Caroline Delevati Col- do movimento sinérgico na tentativa de
po e Patrícia Frank Picher (Santa Maria, agrupar saberes e produzir convergências
UFSM, 2007). disciplinares. O léxico dessa grande área
Mais adiante, torna-se visível o seg- começou a projetar-se com o Dicionário
mento do Audiovisual, descortinado por Crítico de Comunicação de Chaim Samuel
Licinio Rios Neto, com o seu Dizer Eletrô- Katz, Francisco Antonio Doria e Luiz Cos-
nico (Rio de Janeiro, Numen, 1990), um ta Lima (Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1971)
“guia de expressões, gírias e termos técni- e o Dicionário de Comunicação, de Carlos
cos de TV”. Outra importante contribui- Alberto Rabaçã e Gustavo Barbosa, inicial-
ção foi feita por Moacir Barbosa, através mente publicado pela Editora Codecri (Rio
do seu embrionário Dicionário de Rádio e de Janeiro, 1978), cuja nova edição “revista
Som (João Pessoa, Idéia, 1992), agora con- e atualizada” tem o selo da Editora Campus
solidado pela obra panorâmica Tecnologia (Rio de Janeiro, 2001).
da Radiodifusão, de A a Z (Natal, EDU- Nesse contexto, deram continuidade a
FRN, 2010). Também fazem parte, desse essa corrente holística os repertórios auto-
universo, o Dicionário Técnico de TV (Rio rais: Mídia de A a Z, de José Carlos Vero-
de Janeiro, Globo, 1995), da dupla Ana Ma- nezzi (São Paulo, Edicon, 2002), Dicionário
ria Rotter e Euzébio da Silva Tresse, o Enci- Multimídia, de José Guimarães Mello (São
clopédia Básica da Mídia Eletrônica, de Ri- Paulo, A&C, 2003) e o Dicionário de Co-
cardo Pizzotti (São Paulo, Editora SENAC, municação, de Ciro Marcondes (São Paulo,
2003) e o Dicionário da TV Globo (Rio de Paulus, 2009).
Janeiro, Jorge Zahar, 2003), organizado Todavia, não deixaram de prosperar
pela equipe do ‘Projeto Memória das Or- os glossários transdisciplinares, como por
ganizações Globo’, cujo primeiro volume exemplo: Noções Básicas de Folkcomunica-
contempla os programas de dramaturgia e ção, organizado por Sérgio Gadini e Karina
entretenimento. Woitovicz (Ponta Grossa, Editora UEPG,
Não se pode esquecer as obras dedi- 2007), Glossário de Comunicação Pública,
cadas ao cinema, como a Enciclopédia do organizado por Jorge Duarte e Luciara Ve-
Cinema Brasileiro de Fernão Ramos e Luiz ras (Brasília, Casa das Musas, 2006) e Jor-
Felipe Miranda (São Paulo, Editora SE- nalismo Científico no Brasil – de A a Z, pre-
NAC, 2000), o Dicionário de Cineastas de parado por José Hamilton Ribeiro e José
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30 anos da nossa entidade, ou seja, dezem- das as contribuições decorrentes dos nos-
bro de 2007. sos contatos culturais com outros povos e
Os focos principais incluíam três uni- outros modos de pensar, sentir e agir.
versos cognitivos: a) Temas Básicos (teoria Quero, finalmente, testemunhar o meu
e pesquisa); b) Intelectuais orgânicos (pen- reconhecimento aos três colegas que, ge-
sadores, educadores, empreendedores); e nerosamente, assumiram os encargos das
c) Ícones institucionais (academia, gover- editorias temáticas, tornando possível a fi-
no, setor produtivo, movimentos sociais). nalização desse empreendimento. Antonio
Consciente da impossibilidade de cum- Hohlfeldt, Marialva Barbosa e Sonia Virgi-
prir o calendário estabelecido, em se tra- nia Moreira se dispuseram a coordenar o
tando de obra coletiva, produzida em regi- trabalho final de coleta dos verbetes, revi-
me de voluntariado, a equipe responsável sando-os, cuidadosamente, e dialogando
pelo projeto reviu o cronograma, definin- com os editores dos 50 territórios cogniti-
do o fechamento do primeiro volume para vos definidos.
junho de 2010, prevendo-se o lançamento Marialva Barbosa desempenhou papel-
preliminar em setembro deste ano. chave, centralizando a coleta dos verbetes
Na reunião da equipe editora, efetuada revisados pelos dois outros editores temáti-
em 16/12/2008, tomou corpo a estrutura da cos, cruzando informações e checando da-
obra, subdivida em 3 volumes a seguir es- dos, para evitar repetições desnecessárias
pecificados: e garantir coerência aos discursos dos es-
pecialistas. Nesse sentido, foi decisiva sua
1) Dicionário do Conhecimento Co- articulação com Jovina, nossa assistente
municacional (conceitos) editorial, incansável e paciente, fazendo o
2) Dicionário do Pensamento Comuni- meio de campo entre os autores de verbe-
cacional (autores) tes e a equipe de editores.
3) Dicionário dos Processos Comuni- O resultado desse mutirão intelectual
cacionais (instituições) está, aqui, demonstrado, pretendendo ser
um marco na consolidação do campo das
Mas, a principal decisão, tomada por ciências da comunicação, no Brasil, e um
consenso, refere-se à definição do adjetivo passaporte para a nossa inserção soberana
brasileiro. Entendido de maneira a neu- na comunidade internacional da área.
tralizar qualquer expressão de xenofobia, De posse desse referencial teórico, a
compreende não apenas ideias, autores e INTERCOM ganha mais credibilidade, na
entidades genuínos, mas também aquelas arena mundial, atuando como difusora das
importações devidamente assimiladas pe- identidades brasileiras, nesse campo vasto,
los usos e costumes da terra. porém, segmentado. Constituído, sobretu-
Trata-se de sinalização do espírito mes- do, por microcomunidades que ora coo-
tiço assumido pelo grupo que, sem deixar peram entre si, ora disputam espaço para
de ser autenticamente brasileiro, inclui to- assegurar a projeção já conquistada, sua
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I I – D a biblioteca à enciclopédia ,
a responsabilidade da I N T E R C O M
Antonio Hohlfeldt
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vai ser, antes de tudo, distribuído entre os projeto. Não sacrificamos nenhuma delas
seus autores associados, coordenadores à pressa. Esta é, eminentemente, uma obra
de grupos de pesquisa da própria INTER- coletiva e transdisciplinar, as duas princi-
COM e dirigentes das mais variadas enti- pais características históricas da Sociedade
dades congêneres. Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Com humildade, como antecipam Ma- Comunicação. Ela é, neste sentido, produto
rialva Barbosa e Sônia Moreira, esperamos do campo da Comunicação.
a leitura, a crítica e a sugestão para a cor- Como Presidente momentâneo da IN-
reção, a supressão da omissão e a possibili- TERCOM e, por ter sido um dos idealiza-
dade de complementação do conjunto dos dores deste projeto, que ora se concretiza,
verbetes, aqui apresentados, para, depois, não quero esconder minha alegria com o
partirmos para a edição que considerare- que considero um verdadeiro aconteci-
mos, então, sim, como a primeira, embora mento para a Comunicação Social brasilei-
não a definitiva, a ser produzida em con- ra. A INTERCOM pode-se orgulhar des-
junto com alguma grande instituição edi- ta realização e, por isso mesmo, mais que
torial, visando à acessibilidade mais ampla nunca, reafirma sua responsabilidade junto
possível. à comunidade nacional, latino-americana e
Enquanto finalizamos este volume ini- mundial em relação à difusão, o mais pos-
cial, já estamos nos preocupando com os sível, do conhecimento e da compreensão
outros dois. Tivemos consciência de nos- sobre o fenômeno da Comunicação Social,
sa responsabilidade e da importância do no seu sentido mais amplo possível.
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I I I – P ercurso de um S onho
Marialva BARBOSA e Sonia Virginia MOREIRA
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I V – L ista de V erbetes em
O rdem A lfabética
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V – verbetes
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A, a
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AÇÃO CULTURAL
Está vinculada à noção de política cultural, Acessibilidade
como conjunto de ações coordenadas, a partir Na área da comunicação, a acessibilidade di-
de determinados objetivos e finalidades que o gital é interpretada como “a capacidade de um
Estado ou uma instituição, pública ou privada, produto ser flexível o suficiente para atender às
desenvolvem para promover o acesso a bens necessidades e preferências do maior núme-
culturais. Diz respeito ao conceito de cultura ro possível de pessoas, além de ser compatível
como obra produzida por alguns para ser di- com tecnologias assistivas usadas por pessoas
fundida, preservada e tornar-se conhecida por com necessidades especiais”. (DIAS, 2003).
outros. Para Michel de Certeau (1995), ação Isso implica pensar em um outro formato
cultural pode ser definida como expressão pa- de comunicação que vá além das ofertas uni-
ralela à ação sindical ou à ação política, pois direcionais que, tradicionalmente ocorrem em
designa uma intervenção que liga os agentes a relação aos conteúdos audiovisuais, de textos
objetivos (ou alvos) determinados. É, também, ou dados; e às limitações da apropriação dos
segundo o autor, um segmento operacional em meios de comunicação (como a TV sem le-
que os meios de realização dizem respeito aos gendas pelos surdos) ou o portal eletrônico
objetivos a serem definidos. Outros termos sem o auxílio do tradutor sonoro (para os ce-
vinculados a este são: agente cultural, anima- gos). Também é preciso considerar os modelos
dor cultural, atividade cultural. As questões de ergonômicos dos computadores e dos móveis
cultura ganham interesse de instituições que que os sustentam, bem como as adaptações de
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guagem que serve para explicar outros eventos. ta ainda não se instaurara. Nessas condições, o
Nessa passagem da acontecência para represen- capital mercantil, hegemônico, aliado aos po-
tância formula-se a narrativa, que podemos deres políticos do antigo regime, realizava uma
definir como “síntese de heterogêneos” (idem, acumulação de capital dita primitiva, por um
2007, p. 255), já que o acontecimento só ganha lado, porque originaria a base da riqueza que
inteligibilidade, quando objeto de apropriação transbordaria, posteriormente, para o mundo
e circulação de significadostorna-se referência da produção, mas também, por outro, pela bru-
exemplar. Constrói-se, a partir de eventos di- talidade com que era exercida. O melhor exem-
versos, a explicação coerente, estabelecendo-se plo disso é a implantação, a partir do século
ordem e significação. XVI, do chamado “sistema atlântico”, que unia
Na sua elaboração subsistem três dimen- Europa, África e América no rentável negócio
sões: factual, monumental e teórica. A primeira do tráfico negreiro e da exploração do trabalho
é a ocorrência no contexto temporal; um pro- escravo nas colônias, em benefício dos capi-
dutor de rastros, acontecimento eclosão. A se- tais e estados coloniais e seus agentes. Trata-se,
gunda é sua afirmação como inscrição memo- portanto, de um sistema de exploração, básico
rável, perdendo a condição de novidade. E, por para o desenvolvimento do capital, mas ainda
fim, em sua dimensão teórica, é objeto de re- não especificamente capitalista, isto é, que não
flexão e de sistematização metodológica e con- obedecia à lógica da produção da mais-valia.
ceitual. Definir acontecimento é considerar o Marx expõe as características desse sistema, no
amplo movimento de construção de sentidos capítulo 24, do livro primeiro d’O Capital. Po-
sobre ocorrências humanas que corroboram de-se dizer, por outro lado, que formas primi-
para sua efetiva existência e legitimação no es- tivas de acumulação de capital, como a corrup-
paço público. (Sonia Meneses) ção, ou a violência, ocorrem até os dias de hoje
e se reproduzem de alguma forma no interior
Referências: do modo de produção desenvolvido. O concei-
Ricoeur, Paul. Événement et sens. In: Rai- to de “acumulação primitiva do conhecimento”,
sons Pratiques, n. 2. Paris: EHESS, 1991. por sua vez, foi proposto por Bolaño (2000 –
. A Memória, a história, o esquecimento. versão original de 1993), para descrever o pe-
São Paulo: Unicamp, 2007. ríodo de desenvolvimento do capital, também
Koselleck, R. Futuro passado: contribuição analisado por Marx nos chamados “capítulos
semântica dos tempos históricos. Rio de Ja- históricos” do livro primeiro. No sistema ma-
neiro: PUC, 2006. nufatureiro anterior à Revolução Industrial, a
subsunção do trabalho (vide verbete) é limitada
e o capital vai incorporando o conhecimento
Acumulação primitiva do sobre os processos de trabalho desenvolvidos
conhecimento originariamente pela classe trabalhadora arte-
O conceito de “acumulação primitiva do ca- sanal. Com base nessa desapropriação do co-
pital” se refere essencialmente a um momento nhecimento e sua incorporação no capital, este
histórico no desenvolvimento das forças pro- poderá desenvolver a máquina ferramenta, que
dutivas em que o modo de produção capitalis- desqualifica o trabalho em larga escala, mate-
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rializando, num elemento do capital constan- tada em longos e calorosos debates que, se não
te, aquele conhecimento. É nesse sentido que forem bem administrados, podem converter-se
o autor definirá o capital como “poder econô- em um conflito.
mico mais conhecimento”, tendo em vista que Andrade (1972) foi o primeiro autor, no
a operação só se completará na medida em que Brasil, a preocupar-se com a administração da
o capital incorpora também o conhecimento controvérsia pública em relações públicas. Sua
técnico e científico produzido fora do processo colaboração está em destacar que a controvér-
material de trabalho. Ainda, segundo Bolaño, sia e a sua análise constituem a base para o de-
a constituição da cultura de massa, a partir da senvolvimento do processo de formação dos
cultura popular com a Indústria Cultural (vide públicos e da opinião pública. Naquela época,
verbete), representa também um caso de expro- Andrade já enfatizava que a tarefa do profissio-
priação do conhecimento da comunidade, que nal de relações públicas devia ser de adminis-
exige a participação do trabalhador cultural, da trador do processo de comunicação e da gestão
mesma forma que a expropriação do conheci- de controvérsias devido à responsabilidade so-
mento milenar, por exemplo, dos povos da flo- cial que cabia a esta função.
resta, por indústrias, como a farmacêutica, que No início da década de 1970, David Finn
exige a participação do trabalho intelectual de afirmou que o profissional de relações públi-
biólogos, químicos ou antropólogos (César Bo- cas não devia ser unicamente um comunicador,
laño). mas sim uma espécie de moderador, que tra-
balha tentando prevenir e evitar crises. A tare-
Referências: fa principal da atividade é estabelecer e manter
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Indústria um processo de identificar cenários, conhecer
Cultural, Informação e Capitalismo. São as opiniões e alcançar uma mudança ou refor-
Paulo: Hucitec, 2000. ço, quando necessário.
MARX, Karl (1867). O Capital: crítica da eco- A literatura norte-americana utiliza a ex-
nomia política. Rio de Janeiro: Civilização pressão “issues management” para se referir-
Brasileira, 1980. aos “temas ou assuntos emergentes” que devem
ser analisados e administrados tanto pela ótica
da organização como dos públicos, pois a pos-
Administração da controvérsia sibilidade da existência de conflitos entre am-
pública bas as partes é real e frequente. Os profissionais
A administração da controvérsia pública é con- de relações públicas identificam consequências
siderada uma função determinante e decisiva de decisões organizacionais, assim como a in-
para o desenvolvimento do processo gerador fluência, positiva ou negativa, de públicos me-
de públicos e da opinião pública. A controvér- diante a análise de cenários e o gerenciamento
sia pública, segundo diversos autores (Andrade, de assuntos emergentes. Na análise de cenários
1983; Senac e Solórzano, 1999) pode ser defini- os profissionais, realizam pesquisas e conver-
da como uma longa discussão na qual as dife- sam com líderes comunitários, líderes de gru-
renças de opiniões e pareceres estão em jogo. pos ativistas ou funcionários do governo para
Normalmente, a gestão da controvérsia é tra- verificar quais são os públicos de interesse e
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quais são os assuntos emergentes que esses pú- da organização e dos seus públicos, levando em
blicos poderiam criar. Em seguida, auxiliam a conta o nível de interdependência da empresa
organização a administrar esses assuntos por com cada um dos públicos. É preciso manter
meio do uso da comunicação dirigida ou dos a regularidade dos contatos, fornecer informa-
meios de comunicação (FERRARI; GRUNIG; ções oportunas que atendam as expectativas
FRANÇA, 2009). dos públicos, e verificar se eles as recebem e en-
Portanto, a administração da controvér- tendem segundo a intenção e as expectativas da
sia pública, a prevenção do conflito, a análise empresa.
de cenários futuros e a construção do consenso Definidas as redes de relacionamen-
entre as partes, constituem os pilares da função tos, o passo a seguir é a atualização do cadas-
de relações públicas, com vistas a melhorar o tro corporativo dos públicos para lhes garan-
relacionamento de uma organização com seus tir atendimento rápido e eficaz. Outro fator a
públicos, de colaborar para a eficácia dos ne- ser considerado na gestão dos relacionamentos
gócios e de promover uma reputação positiva corporativos é a adoção, pelas organizações, de
juntos aos públicos estratégicos. (Maria Apare- sistemas administrativos mais sofisticados, que
cida Ferrari) alteram suas estruturas complexas e sua atua-
ção em um mercado globalizado, tais como: a
Referências: gestão do conhecimento, a governança corpo-
ANDRADE, C. T. S. Panorama Histórico de Re- rativa e a mensuração de resultados.
lações Públicas. São Paulo, ECA/USP, 1972. A gestão dos relacionamentos corporati-
. Para entender Relações Públicas. 3. ed, vos tornou-se, nas novas estruturas, muito mais
São Paulo: Loyola, 1983. complexa e abrangente pelos inúmeros aspec-
GRUNIG, J. E., FERRARI, M. A. e FRANÇA, tos nela envolvidos e que devem ser conhecidos
F. Relações Públicas: teoria, contexto e rela- pelos dos responsáveis pelo gerenciamento da
cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão, interdependência “organização-público”. Esse
2009. gerenciamento irá requerer a presença de pro-
PÉREZ, R. S. e SOLÓRZANO, E. H. Relacio- fissionais capazes de compreender as peculia-
nes Publicas: una nueva pedagogia. Lima: ridades de cada empresa, sua atuação com os
USMP, 1999. públicos de interesse e com o mundo dos negó-
cios, por meio de critérios capazes de determi-
nar de maneira lógica as múltiplas relações da
Administração de relacionamentos organização, e definir como funcionam, para
corporativos atender os mútuos interesses do sistema orga-
O relacionamento com os públicos estratégi- nização/públicos corporativos.
cos precisa ser estabelecido como um processo Ao contrário do marketing, definido por
permanente que envolve comprometimento e Nickels e Wood (1999, p. 4-5) como o processo
colaboração entre as partes e deve ser planeja- de estabelecer e manter relações de troca mutu-
do para que possa ser monitorado e gerar re- amente benéficas com clientes e outros grupos
torno à empresa. A administração dos relacio- de interesse, e que se caracteriza pela comercia-
namentos é feita de acordo com os interesses lização ou venda de alguma coisa tangível de
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rente paradoxo: as agências diferenciam-se pela agência de turismo e agência de viagem e tu-
expertise criativa, mas têm a maior parte de rismo – é empregado, na literatura especiali-
seu faturamento ligado à comissão sobre o va- zada, de acordo com regulamentos e legislação
lor gasto em mídia. Essa comissão (em geral de de cada país, para nomear um tipo de empre-
15%) tem sido muito discutida, sendo, por ve- sa de serviços tida como o “canal mais clássi-
zes, atrelada aos resultados obtidos pelas cam- co de comercialização turística” (OMT, 2001, p.
panhas. Há também agências que operam com 139). Denominadas, no Brasil, como agências
taxas fixas mensais (fees) calculadas a partir do de turismo, são empresas que se dedicam a “fa-
tempo gasto e tipo de serviço prestado. cilitar a realização das viagens aos usuários [tu-
A partir do final dos 80, a formação de ristas e viajantes] mediante o cumprimento de
grandes grupos transnacionais teve grande im- diferentes funções” (IGLESIAS TOVAR, 2000,
pacto no mercado publicitário, com a aquisição p. 98); ou “um elemento do mercado turísti-
total ou parcial de agências brasileiras. Como co que funciona como agregador de serviços.
tendências atuais observam-se o desenvolvi- [...] transformam destinos turísticos e diversos
mento de ações cuja gestão não estava prevista equipamentos em produtos, atuando na produ-
no antigo modelo de agência, como realização ção e distribuição de bens e serviços turísticos
de eventos e outras ações ligadas ao entreteni- e ofertando isso aos possíveis consumidores”
mento; e mensuração de resultados, associada (BRAGA, 2008, p. 119).
ao maior envolvimento com os negócios dos Suas principais funções são a intermedia-
clientes. (Ricardo Zagallo Camargo; colaboração ção de serviços isolados ou combinados de
de Luiz Fernando Dabul Garcia e Ivan S. Pinto) transporte, alojamento, alimentação etc.; pro-
dução e/ou criação de produtos ou programas
Referências: de viagens, combinando diferentes serviços
MARSHALL, Caroline. Tudo sobre Publicidade. e equipamentos; assessoramento ao viajan-
São Paulo: Nobel, 2002. te na eleição de destinos turísticos, formas de
RABAÇA Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo; alojamento, facilitação de documentação etc.
Dicionário de Comunicação. 2. ed. rev. e at. Em geral são classificadas em duas categorias:
Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. as operadoras turísticas, aquelas que exercem
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 3. ed. predominantemente a função produtora; e as
ver. e at. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. agências de viagens, aquelas que se dedicam
SANT´ANNA, Armando. Propaganda: teo- principalmente à distribuição ou intermedia-
ria, técnica e prática. 8. ed. rev. e ampl. São ção de serviços e produtos turísticos.
Paulo: Cengage Learning, 2009. Como organizações turísticas, remontam
WELLS, William et al. Advertising: principles & a meados do século XIX, época em o turismo
practice. 4. ed. New Jersey: Prentice-Hall, emerge inicialmente na Inglaterra como um
1998. negócio, em decorrência de inúmeros fatores,
dentre os quais as transformações econômico-
sociais e as novas tecnologias (REJOWSKI et
AGÊNCIA DE VIAGEM al., 2002). Entre os personagens que atuaram
O termo agência de viagem e suas variações – como verdadeiros empreendedores e inovaram
66
enciclopédia intercom de comunicação
no setor, credita-se a Thomas Cook um papel WITNEY, L. Grand tours and Cook’s tours: A
destacado: o de primeiro operador turístico history of leisure travel - 1750 to 1915. New
profissional e fundador das agências de viagem. York: William Morow, 1997.
Cook, a partir da organização sem fins lucrati-
vos de algumas viagens para grupos que se diri-
giam a encontros organizados pela Harborough Agências experimentais de
Temperance Society, da qual também era mem- comunicação
bro, começou a operar como excursion-agent e As Agências Experimentais de Comunicação
criou, em 1851, a primeira agência de viagem, a são laboratórios acadêmicos usados como uni-
Thomas Cook & Son (WITNEY, 1997). No Bra- dades de apoio pedagógico aos cursos de Co-
sil, Rejowski e Perussi (2008) citam a existência municação Social, cujo objetivo principal é
da Exprinter (1919) em Porto Alegre, Wagon- proporcionar ao estudante a aplicação prática
Lits (1936) e Agência Geral de Turismo (1943) de conhecimentos teóricos relativos à área de
em São Paulo. (Mirian Rejowski) formação profissional específica e suas interfa-
ces com as demais áreas, permitindo a interati-
Referências: vidade entre docentes, discentes, profissionais
BRAGA, D. C. Discussão conceitual e tipolo- diversos e setores da instituição à qual se vin-
gias das agências de turismo. In: BRAGA, cula.
D. C. (Org.). Agências de viagens e turismo: Uma agência-laboratório está apta a de-
Práticas de mercado. Rio de Janeiro, Else- sempenhar as mesmas atividades técnicas que
vier, 2008, p. 18-28. uma agência comercial. Entretanto, na maioria
IGLESIAS TOVAR, J. R. Comercialización de das instituições de ensino superior (IES), a atu-
productos y servicios turísticos. Madrid: ação da agência experimental é limitada para
Síntesis, 2000. que não represente uma concorrência às em-
OMT (Organização Mundial do Turismo). In- presas que atuam no segmento de comunica-
trodução ao turismo. Trad. Dolores M. R. ção, mantendo uma política de bom relaciona-
Córner. São Paulo: Roca, 2001. mento com o mercado, preservando-o para os
REJOWSKI, M. et al. Desenvolvimento do tu- futuros profissionais.
rismo. In: REJOWSKI, M. (Org.). Turismo As atividades desenvolvidas nesses espa-
no percurso do tempo. 2. ed. São Paulo: Ale- ços, e sob a orientação dos professores, visam
ph, 2002. ao cumprimento do currículo-mínimo, que re-
REJOWSKI, M. Agência de viagem. In: ANSA- comenda o uso de aulas práticas, que estimu-
RAH, M. G. dos R. Turismo. Como apren- lem o o aluno a ter criatividade e visão crítica
der, como ensinar. 2. ed. São Paulo: Senac do mercado, além de incentivo à pesquisa, ca-
São Paulo, 2001. Volume 2. racterísticas que , favorem a formação profis-
REJOWSKI, M.; PERUSSI R. F. Trajetória das sional do egresso.
agências de turismo: apontamentos no mun- Embora em algumas IES as agências expe-
do e no Brasil. In: BRAGA, D. C. (Org.). rimentais estejam vinculadas a uma habilita-
Agências de viagens e turismo. Práticas de ção específica, como é o caso da Publicidade e
mercado. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Propaganda, observamos a tendência crescente
67
enciclopédia intercom de comunicação
68
enciclopédia intercom de comunicação
sário Charles Havas, em 1835, que adquiriu um ciation, criada em 1907 pela cadeia Scripps-Ho-
escritório de tradução e o transformou em uma ward, e a International News Service, em 1909,
agência que coletava extratos de vários jornais pela cadeia Hearst.
europeus e os entregava diariamente à impren- A France Presse (AFP) foi a sucessora, des-
sa francesa. Em 1840, a Havas começou a for- de 1944, da antiga Havas, fechada logo após a II
necer notícias a clientes em Londres e em Bru- Guerra Mundial, sob a acusação de haver co-
xelas, por meio de carruagens e de um serviço laborado com os nazistas, quando os alemães
regular de pombos-correio. Mais tarde, na mes- ocuparam a França. A Reuters – criada em 1851
ma década, serviços rivais foram instalados em – uniu-se à Thomson Corporation, em 2008,
Londres, por Paul Julius Reuter, e em Berlim, para formar a Thomson Reuters, que se define
por Bernard Wolff. como “a maior agência internacional de notí-
Na década de 1850, a competição entre as cias e multimídia do mundo”.
três agências se intensificou. Para evitar confli- As maiores agências de notícias expandi-
tos, decidiram elaborar uma divisão do mundo ram e diversificaram suas atividades, tirando
em territórios exclusivos. Em virtude do Trata- vantagem do desenvolvimento da tecnologia
do de Agências Aliadas, de 1869, Reuter ficou de informação e de comunicação e emergiram
com o império britânico e o Extremo Oriente; como atores centrais no novo mercado global
Havas com o império francês, Itália, Espanha e de informações de vários tipos, incluindo as re-
Portugal; e Wolff com Alemanha, Áustria, Es- lativas às transações financeiras e comerciais.
candinávia e territórios russos. (Hérica Lene)
As agências tiraram vantagem do desen-
volvimento do sistema telegráfico a cabo, que Referências:
tornou possível transmitir informações para BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: histó-
longas distâncias e em maior velocidade. Eram ria da imprensa brasileira. São Paulo: Ática
organizações comerciais independentes, mas S.A., 1990. Volume I.
seus domínios de operação correspondiam a ERBOLATO, Mário. Técnicas de Codificação em
esferas de influência econômica e política das Jornalismo: redação, captação e edição no
maiores potências imperiais da Europa. Cada jornal diário. 5ª Ed. São Paulo: Ática, 2002.
uma trabalhava ligada às elites políticas e co- THOMPSON, John B. A mídia e a modernida-
merciais das nações que lhes serviam de sede, de: uma teoria social da mídia. Petrópolis:
desfrutando de certo grau de patronato políti- Vozes, 2002.
co e fornecendo informações que eram valiosas TRAQUINA, Nelson. Teorias do jornalismo:
para a administração do comércio e da diplo- porque as notícias são como são. Florianó-
macia (THOMPSON, 2002). polis: Insular, 2004. Volume 1.
Esse cartel dominou o sistema internacio- Fontes na internet:
nal de disseminação de notícias até a I Guer- http://www.ap.org/
ra Mundial. Depois do conflito, foi dissolvido http://www.afp.com/
pela expansão das agências norte-americanas: http://thomsonreuters.com/
a AP, fundada em 1846, e a UPI, fruto da fusão http://www.upi.com/
de duas empresas, em 1958, a United Press Asso-
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enciclopédia intercom de comunicação
Agências Noticiosas BRASILEIRAS terial para mais de cem jornais, no Brasil, além
Agência de notícia ou agência noticiosa, tal de revistas, sites e emissoras de TV.
como as agências internacionais de notícia Em São Paulo, o Grupo Estado criou a
(vide verbete) é uma empresa jornalística que se Agência Estado, em 1970, para dar suporte ope-
encarrega da captação, elaboração e distribui- racional para suas unidades de mídia: O Estado
ção de notícias para os veículos de comunica- de São Paulo, Rádio Eldorado e Jornal da Tarde.
ção – jornais, revistas, emissoras de rádio e de Pouco tempo depois de sua fundação, começou
TV e sites – e para assinantes. a fornecer notícias e imagens para pequenos e
No Brasil, a primeira foi criada em 1931, médios jornais e emissoras de rádio. A partir
por Assis Chateaubriand: a Meridional – Agên- dos anos 1980, tornou-se uma unidade autôno-
cia de Notícias dos Diários Associados. Inicial- ma de negócios que, mais tarde. especializou-
mente, atendia aos órgãos dessa cadeia de ve- se em fornecer informações para diversos seto-
ículos. Mais tarde, foi transformada em D.A. res da economia brasileira.
Press Multimídia. Já o Grupo Folha tem a Folhapress, que co-
Os grupos de comunicação de maior porte mercializa e distribui fotos, textos, colunas,
no país também criaram suas próprias agências ilustrações e infográficos, a partir do conteúdo
para fornecer noticiário para clientes internos editorial dos jornais Folha de S. Paulo e Agora
e externos. São Paulo e de parceiros em todos os estados.
A Agência Jornal do Brasil (AJB), por Atende a centenas de jornais e revistas das di-
exemplo, coloca à disposição de seus clientes ferentes regiões do país. Ela nasceu como Agên-
o material jornalístico produzido pela equipe cia Folha, em 1994. Em setembro de 2004, a
de jornalistas do Jornal do Brasil, do JB Onli- direção da empresa resolveu renovar e interna-
ne e da própria Agência. Fundada em 1966, foi cionalizar a unidade, rebatizando-a como Fo-
a primeira agência, no país, a distribuir servi- lhapress.
ços jornalísticos nacionais e internacionais, em Fora da iniciativa privada, temos a Agên-
função de um acordo operacional que fez, em cia Brasil, que oferece notícias sobre o país com
julho de 1976, com a Associated Press (funda- fotos, vídeos e textos com direitos autorais pela
da nos Estados Unidos em 1846). Entre 1966 e licença Creative Commons (permite aos usuá-
1976, a AJB e outras poucas agências noticiosas rios copiar e utilizar livremente seus conteúdos,
brasileiras evoluíram das transmissões em có- apenas citando a fonte). Ela é administrada pela
digo Morse para a rede de telex com circuitos Empresa Brasil de Comunicação (EBC), criada
exclusivos. A partir de 1985, começaram a se li- pelo governo federal, em 2007, a partir da in-
bertar dos limites convencionais do sistema es- corporação da Empresa Brasileira de Comuni-
tatal de telex para incorporar a informatização cação – Radiobrás.
(BAHIA, 1990). Como agência oficial já funcionou a Empre-
A Agência O Globo, com mais de três déca- sa Brasileira de Notícias (EBN), criada em 1979,
das de atuação, distribui reportagens, fotogra- pelo governo de João Figueiredo, o último do ci-
fias, colunas e coberturas especiais dos jornais clo da Ditadura Militar, e que sucedeu a Agência
O Globo, Extra e Diário de S. Paulo. Tem par- Nacional (oficial), absorvendo suas funções na
ceiros em todos os estados do país e vende ma- época: divulgação dos atos oficiais mediante dis-
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enciclopédia intercom de comunicação
tribuição gratuita das informações administrati- Pode-se situar a origem dessas publicações
vas e produção do boletim radiofônico A Voz do na Europa, principalmente na França e na Bél-
Brasil (BAHIA, 1990; ERBOLATO, 2002). gica, onde as mais luxuosas ainda são bastante
Há mais agências de serviços noticiosos, comuns. Os álbuns foram originalmente consti-
gerais e especializados, de propriedade priva- tuídos pela coletânea de episódios já publicados
da em funcionamento no país. Um exemplo em outras publicações, como jornais ou revistas.
é a Agência Dinheiro Vivo, do jornalista Luís Mais recentemente, no entanto, grande parte
Nassif, voltada para o noticiário econômico e dos álbuns traz histórias inéditas, especialmente
financeiro. (Hérica Lene) preparadas para esse formato. Já as edições en-
cadernadas são mais comuns na produção nor-
Referências: te-americana e têm um histórico de apenas duas
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica: histó- dezenas, quando do aparecimento das graphic
ria da imprensa brasileira. Volume I. São novels. Em geral, as edições encadernadas tra-
Paulo: Ática S.A., 1990. zem uma série de histórias publicadas nas re-
ERBOLATO, Mário. Técnicas de Codificação em vistas de linha, conhecidas como comic books,
Jornalismo: redação, captação e edição no ou como minisséries, em geral entre duas e oito
jornal diário. 5. ed. São Paulo: Ática, 2002. edições, constituindo narrativas que podem ser
SETOR DE PESQUISA DA FOLHAPRESS. lidas de forma independente e sendo creditadas
Informações via e-mail em 1º de abril de quanto a sua autoria. Um exemplo de edição
2010. encadernada recente é o título “Crise de Iden-
tidade”, de Brad Meltzer (roteiro), Rags Morales
(desenho) e Michael Bair (arte-final), publicada,
Álbuns e edições encadernadas no Brasil, em sete edições, a partir de setembro
Fisicamente, essas publicações estão muito de 2005, e como edição encadernada, pela mes-
mais próximas dos livros do que das revistas ma editora, em 2007.
de histórias em quadrinhos, conhecidas popu- O custo dessas publicações costuma ser
larmente como gibis. Diferentemente destes mais alto que o dos gibis, o que se justifica pela
últimos, no entanto, os álbuns e edições enca- qualidade do papel, da impressão e da encader-
dernadas não têm periodicidade, sendo publi- nação. Também a qualidade das histórias cos-
cadas em edições únicas, contendo histórias tuma ser muito superior, pois os álbuns, na me-
em geral fechadas em si mesmas. Em princípio, dida em buscam uma delimitação de páginas e
eles não têm qualquer compromisso declara- de público mais delineada, permitem experi-
do com a continuidade, ainda que, algumas ve- mentações gráficas e mergulhos temáticos mais
zes, a popularidade de um personagem leve ao profundos que aqueles das revistas regulares.
aparecimento de outros álbuns por ele estrela- Álbuns e edições encadernadas em quadri-
dos, como aconteceu com personagens como nhos são, talvez, as grandes responsáveis pelo
Tintin, de Hergé; Asterix, de René Goscinny e aumento de status da Nona Arte entre as cama-
Albert Uderzo; Lucky Luke, de Morris; e Blue- das letradas da população; no entanto, na reali-
berry, de Jean Giraud (Moebius) e Jean-Michel dade editorial brasileira, a diversidade de títu-
Charlier, entre outros. los nesse tipo de veículo ainda está bem longe
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enciclopédia intercom de comunicação
daquela encontrada em mercados mais avan- Em P. Wydham Lewis, McLuhan irá en-
çados, como a França e a Itália, mas isso vem contrar outra fonte de inspiração para o ter-
se modificando em anos recentes. Já produção mo. Conforme Erick McLuhan, o exemplar do
lusitana é composta, em sua maioria, de tradu- seu pai do livro America and the Cosmic Man
ções de álbuns franceses e espanhóis, e repre- (1948), de autoria de P. Wydham Lewis, desta-
senta uma alternativa para os leitores brasilei- cava, sublinhado, o seguinte trecho, no capí-
ros, ainda que os preços dessas edições sejam, tulo dois: “now that the earth has become one
em tese, proibitivos para boa parte dos leito- big village”... (“agora que a Terra se tornou uma
res. Os álbuns e edições encadernados são ra- grande aldeia”...). A proximidade deste trecho
ramente encontrados em bancas de jornal. Os e a ideia de uma ‘aldeia global’ são evidentes
locais mais apropriados para encontrá-los são por si só. Contudo, apesar das referências aos
as grandes livrarias, que, muitas vezes, costu- autores e os conceitos citados, o termo nasce
mam ter um espaço reservado para eles; peque- senão do gênio de McLuhan.
nas livrarias, por sua vez, não costumam dispo- Tal expressão refere-se ao advento de uma
nibilizá-los com muita frequência. (Waldomiro era de comunicação intensa, a partir da entrada
Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos) das mídias eletrônicas em cena (rádio, telégrafo
e TV), promovendo a consciência do que está
ocorrendo em diferentes partes do globo, tor-
Aldeia Global nando as mais remotas regiões do planeta in-
O canadense Marshall McLuhan (1911-1980) terdependentes. Ao contrário da era literária,
sugere o termo ‘Aldeia Global’ (Global Village) na qual o mundo se expandiu, para McLuhan
como um modo de descrever os possíveis efei- as mídias eletrônicas implodem o mundo, tra-
tos do rádio, na década de 1920, quando este zendo-o instantaneamente para cada um de
meio colocou toda a humanidade em contato nós, tornando-nos íntimos uns dos outros e
próximo e imediato, de modo nunca antes ex- perturbando nossas referências espaço-tempo-
perimentado. A origem deste termo, no traba- rais, culturais e identitárias.
lho de McLuhan, inspira-se, certamente, em É imp or t ante s a lient ar que qu ando
dois autores que McLuhan muito admirava, Ja- McLuhan forja o termo aldeia global, a ideia
mes Joyce e P. Wyndham Lewis, apesar de mui- básica deve ser de interdependência, e não uni-
tas vezes ser atribuída a Teillard de Chardin. dade. Para McLuhan, as mídias eletrônicas (re)
No livro Finnegans Wake, publicado em tribralizariam as sociedades, trazendo com isso
1939, Joyce faz alusão à mensagem anual do mais conflitos, divisões e crises do que unifor-
Papa, proferida na Páscoa, sempre iniciada com midade e tranquilidade. De certa forma, esse
a expressão Urbi et Orbi (para a cidade e para o pensamento distancia-se do significado primá-
mundo). Joyce se apropria e transforma essa ex- rio do termo aldeia globa,l que, em tese, sugere
pressão em urban and orbal – que poderia ser que nesses conceitos - estão embutidas ideias
entendido como urbano e global. Vemos,aqui, de paz e de harmonia.
a evocação de uma ideia que sugere a junção O termo aldeia global, portanto, revela que
entre os termos cidade e globo/mundo, que é a o novo estágio de comunicação da humanidade
base da expressão aldeia global. não traria apenas êxitos e facilidades, em um
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tificamente, portanto, seria oferecer elementos ta) etc. (SÁBATO, 1972, p. 1) citado em Barbosa
mínimos para a compreensão de conhecimen- (1981, p. 19).
tos técnicos e de valores que envolvem a produ- O uso do termo “tecnologia” remonta à
ção científica. (Graça Caldas) época da Revolução Industrial, no final do sé-
culo XVIII. Já as aplicações tecnológicas são
Referências: múltiplas. Pode ser um produto, um processo
ARONS, A. B. Achieving wider scientific literacy. ou um equipamento. Vargas (1994, p. 213) ob-
Daedalus 112 (2), 1983. serva que, “por tecnologia se entende: o estudo
EPSTEIN, Isaac. Divulgação Científica – 96 ver- ou tratado das aplicações de métodos, teorias
betes. Campinas: Pontes, 2002. e experiências e conclusões das ciências ao co-
HAZEN, R. M.; TREFIL, J. Science matters. nhecimento de materiais e processos utilizados
Achieving scientific literacy. New York: An- pela técnica”.
chor, Books Doubleday, 1991. Silva (2002, p. 2), por sua vez, alerta, para
HURD, Hurd, P. de H. Science literacy: Its o fato de que “o uso indiscriminado da palavra
meaning for American schools. Educational ‘tecnologia’ em áreas de conhecimento relacio-
Leadership 16, p. 13–16, 52, 1958. nadas às ciências humanas e sociais, principal-
MILLER, J.D. Scientific Literacy: a conceptu- mente no setor de serviços e informática, tem
al and empirical review. Daedalus 112 (2), diferenciado seu significado em comparação
1983. com a conceituação original, dificultando mui-
RUDIGER C. Laugksch, Scientific Literacy: a tas vezes o entendimento do termo ‘tecnolo-
conceptual overview. John Willey & Sons, gia’. O modismo, ou modernidade, tem levado
Sci. Edu. 84: 71-94, 2000. a usar a palavra tecnologia em áreas que nada
SCHULZE, C. M. N. Um estudo sobre alfabe- têm a ver com esse campo, como por exemplo,
tização científica com jovens catarinenses. ‘tecnologia educacional’ ou ‘tecnologia organi-
Psicologia: teoria e prática. v. 8, n. 1, São zacional’”. É preciso, porém, entender os diver-
Paulo, 2006. sos sentidos derivados da palavra tecnologia.
A alfabetização tecnológica implica, portan-
to, em reconhecer os múltiplos usos dos artefa-
ALFABETIZAÇÃO TECNOLÓGICA tos da sociedade industrial. Pode ser utilizada
Para entendermos o conceito de alfabetização como divulgação dos conhecimentos envolven-
tecnológica, é necessário, inicialmente, definir o do produtos e processos tecnológicos e de inova-
que é tecnologia e sua relação com a sociedade. ção, considerando a tecnologia como um mero
“Tecnologia é o conjunto ordenado de conheci- artefato, independente de seus benefícios ou ma-
mentos empregados na produção e comercia- lefícios sociais, econômicos ou políticos, e tam-
lização de bens e serviços, e que está integrada bém como um aprendizado de seu uso, numa
não só por conhecimentos científicos - prove- perspectiva crítica, política, econômica, cultural
nientes das ciências naturais, sociais, humanas e social, sem desconsiderar sua importância na
etc. -, mas igualmente por conhecimentos em- melhoria de qualidade de vida das pessoas.
píricos que resultam de observações, experiên- No âmbito educacional, comumente desig-
cia, atitudes específicas, tradição (oral ou escri- nado como ferramentas de aprendizado, a alfa-
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
se confundisse com aquele usado pelos pagãos entre si, pois ao redor dele e nele se centraliza
para seus sacrifícios. A partir daí, começa a e também acontece a comunidade dos fiéis de
usá-lo, e este deixa de ser uma mesa de madei- uma determinada religião. (Celito Moro)
ra portátil, para se tornar uma pedra fixa, a fim
de que se compreenda “que ela é também altar Referências:
e a eucaristia um sacrifício”. Os padres da Igre- CHENGALIKAVIL, L. Dedicação da igreja e
ja nunca deixaram de lembrar que Cristo é, ao do altar. In: SCICOLONE, H. et al. Os sa-
mesmo tempo, a vítima, o sacerdote e o altar do cramentais e as bênçãos. São Paulo: Edições
seu próprio sacrifício, e que os cristãos (mem- Paulinas, 1993, p. 74-124.
bros do corpo de Cristo) são altares espirituais CHEVALIER, J.; HEERBRANT, A. Diccionario
sobre os quais é oferecido a Deus o sacrifício de de los símbolos. Barcelona: Editorial Her-
uma vida santa” (MARTIMORT, 1988, p. 182). der, 1988.
Para destacar a realidade de que “é imagem de HEINZ-MOHR, G. Dicionário dos símbolos,
Cristo, único altar da Nova Lei, ele é objeto de imagens e sinais da arte cristã. São Paulo:
uma dedicação, ao longo da qual recebe a un- Paulus, 1994.
ção do Santo Crisma” (Ibid., p.182). Por isso, MARTIMORT, A. G. A Igreja em oração. Petró-
para a Igreja o altar é objeto de especiais sinais polis: Vozes, 1988.
de veneração como o beijo, a inclinação, a in- PASTRO, C. Arte sacra, o espaço sagrado hoje.
censação. São Paulo: Edições Loyola, 1993.
A teologia litúrgica procurou manter o PLAZAOLA, J. El Arte Sacro actual: Biblioteca
equilíbrio entre o aspecto sacrifical e o convi- de autores cristianos. Madrid: La Editorial
vial da celebração da eucaristia. Isso porque a Catolica, 1965.
eucaristia foi instituída como banquete da Pás-
coa do Cristo, ligada ao “banquete pascal dos
israelitas. Quando se diz ‘pascal’, entende-se sa- Alto-Falante
crifical, porque memorial da bem-aventurada Transdutor eletroacústico que tem a função de
Paixão de Cristo. A tradição da Igreja fala não transformar um sinal elétrico em ondas acústi-
só de altar, mas também de mesa” (CHENGA- cas. Os principais tipos são: subwoofers, woofers
LIKAVIL, 1993, p. 116). (baixas frequências consideradas aproxima-
No templo cristão, tudo deve convergir damente de 20 Hz a 500 Hz), midrangers (re-
para o altar, ele é o centro. Portanto, “em con- produção das frequências médias consideradas
traste com os pagãos e os israelitas, para os aproximadamente de 500Hz a 5kHz) e tweeters
quais o altar santificava as oferendas, os cris- (altas frequências, até 20 kHz).
tãos sabiam que sua ‘oferenda’ era sagrada pela Transdutor eletroacústico que converte
sua própria natureza e que era ela que santifi- energia elétrica em energia sonora. Do inglês
cava o altar. (...) Para os cristãos, o único altar Loudspeaker. Pode ocorrer a realimentação da
válido (...) era Cristo Jesus” (PLAZAOLA, 1965, onda sonora emitida pelos alto-falantes e recep-
p. 128-129). , o altar é o lugar, o espaço, o sím- tada pelos microfones quando os falantes são
bolo e a realidade de uma forte interação e co- posicionados perto demais microfones. Isso
municação das pessoas com o divino e também gera um efeito audível sob a forma de um apito,
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enciclopédia intercom de comunicação
fenômeno conhecido vulgarmente como micro- tas ou funcionários do governo para verificar
fonia, tecnicamente chamado de acustic feedba- quais são os públicos de interesse e quais são os
ck, ou Efeito Larsen, ou realimentação acústica. assuntos emergentes que esses públicos pode-
Uma série de alto-falantes ou caixas de som riam criar. Em seguida, auxiliam a organização
pode provocar reverberação artificial, criada a administrar esses assuntos por meio do uso
num auditório através de um sistema eletrôni- da comunicação dirigida ou dos meios de co-
co composto por unidades de retardo e falantes municação (Grunig, J, Ferrari, M. A. e França,
distribuídos pela plateia. Cada grupo de falantes F., 2009). Mediante a análise de cenário, os pro-
é alimentado com um atraso correspondente à fissionais de relações públicas do departamento
sua posição em relação ao palco. Do inglês arti- de comunicação ou de uma agência contratada
ficial reverberation. (Moacir Barbosa de Sousa) fornecem as informações necessárias para que
os processos decisórios estratégicos da organi-
Referências: zação levem em consideração as alternativas
SOUSA, Moacir Barbosa de. Tecnologia da futuras advindas do uso dessa técnica.
radiodifusão de A a Z. Natal: Editora da Chang (2000) e Stoffels (1994) recomen-
UFRN, 2008. dam aos gestores de relações públicas o seguin-
te processo de análise de cenário: a) inicie a
análise de cenário monitorando decisões que
Análise de cenários os gerentes estratégicos da organização estão
Os cenários são os caminhos possíveis em dire- considerando; b) faça pesquisa qualitativa so-
ção ao futuro. Para Godet (2000), cenário con- bre ativistas e monitore e classifique sistema-
siste em um conjunto formado pela descrição ticamente os problemas, públicos e assuntos
de uma situação futura e do encaminhamen- emergentes; c) monitore grupos de discussão,
to dos acontecimentos que permitem passar salas de bate-papo, blogs, mídia social e sites na
da situação de origem à situação futura. Para o internet relacionados aos problemas e assuntos
autor, os cenários devem ser vistos como uma emergentes concernentes a sua organização; d)
ferramenta do planejamento estratégico no seu crie seu próprio fórum interativo na web per-
esforço em aprimorar a análise do entorno e mitindo que os públicos apresentem problemas
contemplar o futuro. Porter (1985) também de- e assuntos de seu interesse; e) entreviste funcio-
fende o método de análise de cenários e con- nários da organização que têm livre trânsito e
corda em que as técnicas existentes são um ins- contato frequente com pessoas fora da organi-
trumental importante para considerar o futuro. zação; f) identifique os stakeholders e os públi-
A análise de cenários (environmental scan- cos específicos que provavelmente poderiam
ning) é uma ferramenta essencial para os pro- ser afetados; g) analise sistematicamente o con-
fissionais de relações públicas na medida em teúdo, categorize toda a informação, crie um
que identificam consequências de decisões or- banco de dados e apresente à alta administra-
ganizacionais e de medidas impostas pelo am- ção para auxiliar e orientar decisões; h) moni-
biente externo. Na análise de cenários, os pro- tore a mídia e as fontes impressas para rastrear
fissionais realizam pesquisas e conversam com sua eficácia em lidar com públicos e assuntos
líderes comunitários, líderes de grupos ativis- emergentes e aplique sistematicamente pesqui-
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enciclopédia intercom de comunicação
sas para avaliar seus relacionamentos com pú- dos discos de vinil: ela reproduz as vibrações
blicos. gravadas nos sulcos do disco que são amplifi-
A análise de cenários realizada pelo pro- cadas pelo cone acoplado, que produz e difun-
fissional de relações públicas colabora com a de ruídos capazes de serem decodificados pelo
alta administração para estabelecer o verda- ouvido humano.
deiro propósito da empresa junto à sociedade e Com a eletrônica, essas vibrações (ou da-
com a construção de processos que promovam dos) são transformadas em impulsos eletro-
a sustentabilidade dos recursos e dos negócios, magnéticos, que podem ser transmitidos pelo
a fim de que competências sejam construídas ar ou por meio físico (cabos) aos receptores por
juntamente com valores éticos e cidadãos que completo. Esse processo torna os impulsos de-
permeiem o cotidiano das organizações. (Ma- pendentes da autonomia elétrica e sensíveis aos
ria Aparecida Ferrari) obstáculos naturais, interferindo na qualida-
de da recepção. Porém, enquanto houver força
Referências: elétrica, haverá possibilidade de receber o sinal
CHANG, Y. C. A normative exploration into analógico, mesmo que seja de péssima qualida-
environmental scanning in public relations. de. (NEVES, 2008)
Unpublished Master’s Thesis, University of No campo da comunicação, a transmissão
Maryland, College Park, Maryland, 2000. analógica é entendida como o sistema de trans-
GODET, M. Manual de Prospectiva Estratégica: missão de dados, áudio e vídeo (PATERNOS-
Da antecipação à ação. Lisboa: Publicações TRO, 2002) por corrente elétrica, alternada,
Dom Quixote, 1993. gravados direto nos suportes ou capturados “ao
GUNIG, J. E., FERRARI M. A. e FRANÇA, F. vivo”. Ela foi a base para os inventos da comuni-
Relações Públicas: teoria, contexto e rela- cação a distância (com e sem fio) especialmente
cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão, para a radiodifusão (rádio e TV), que organiza-
2009. ram seus sistemas de difusão para apresenta-
PORTER, M. E. Competitive Advantage. New rem seus conteúdos a partir da constituição de
York: Free Press, 1985. uma rede de transmissores e retransmissores
STOFFELS, J. D. Strategic issues management: A que alcançassem até os lugares mais distantes.
comprehensive guide to environmental scan- Os sistemas analógicos, conforme a quali-
ning. Tarrytown: Elsevier, 1994. dade de dados que são transmitidos, ocupam
uma banda espessa do espectro radioelétrico,
medida em Hertz (Hz), o que limita a quanti-
Analógico dade de operadores. Quando se trata de tele-
Originário da física e da eletricidade, o termo é visão, que opera com áudio e imagem, a faixa
usado para definir uma forma de transmissão do espectro ocupada está localizada entre 30 e
mecânica ou através de ondas, em corrente al- 300 MHz, possibilitando a utilização formal de
ternada ou contínua. A transmissão mecânica apenas 70 canais. As frequências abaixo desse
pode ser interpretada como um processo resul- número são destinadas para rádio e telefonia
tante de ações físicas. O exemplo mais simples e as acima, para as microondas dos satélites.
é a agulha do gramofone que segue os sucos (STAUBHAAR, LA ROSE, 2004)
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enciclopédia intercom de comunicação
Com a digitalização, contraposição do ana- Mergulho: quando a câmera esta numa po-
lógico, os impulsos elétricos são transforma- sição acima dos elementos existentes na cena e
dos em bits (sistema binário, conjuntos de im- inclinada para baixo, num ângulo oblíquo;
pulsos). Esse processo, mesmo gravado direto Contramergulho: oposto ao mergulho, a
nos suportes, é mais eficaz porque está menos câmera deve estar apontando, num ângulo oblí-
exposto a interferências externas, sejam natu- quo, de baixo para cima;
rais ou geradas por outras fontes. Além disso, Ângulo baixo: a câmera, neste caso, situa-
o número de canais aumenta consideravelmen- se por debaixo do objeto em cena ou do perso-
te, como é o caso da TV digital brasileira que nagem, em um ângulo perpendicular ao solo;
poderá subdividir um mesmo canal em quatro Ângulo alto: a câmera, neste caso, deve es-
novos, se todos forem utilizados em alta defi- tar em cima, em um ângulo também perpendi-
nição. Ou seja, uma mesma empresa poderá cular ao solo.
oferecer programação educativa no seu canal Obter tais pontos de vista exigirá algumas
1; noticiários no canal 2; telenovelas e séries, no vezes que o fotógrafo se posicione rente ao solo
canal 3 e programação variada no canal 4, tudo ou tenha que usar algum elemento para escalar
de forma gratuita, em sinal aberto, como ocor- e alcançar pontos mais altos. No caso de foto-
re na TV analógica, que concentra em apenas grafias em grandes edifícios ou monumentos,
um canal toda a programação. (Alvaro Beneve- bastará aproximar-se de sua base e apontar a
nuto Jr.) câmera para cima.
Importante frisar que tais angulações não
Referências: são usadas apenas para estabelecer efeitos visuais
NEVES, Walter. Qual a diferença. Disponível em: ou destacar partes ou o todo dos objetos fotogra-
<http://br.answers.yahoo.com/question/ fados. Tais ângulos de enquadramento também
index? qid=20080221135819AACUgzo>. permitem reforçar emoções e sensações.
Acesso em 14 mai. 2009. Imagens capturadas com a câmera posicio-
nada no chamado “ponto zero”, ou em ângulo
normal, transmitem a sensação de estabilidade.
Ângulo fotográfico Neste ponto a câmera normalmente se encontra
Uma forma de produzir imagens diferentes e na altura dos olhos, ou no caso de objetos, a sua
criativas é variar a posição da câmera fotográ- altura média. É a posição clássica e habitual.
fica em relação à altura dos elementos que fa- Já a câmera em mergulho, com o ponto de
zem parte da cena. Essas variações permitem vista mais elevado e apontando para baixo, para
um maior impacto visual. Chamamos de “ân- o solo, tende a reduzir o peso visual dos objetos
gulo visual” o ângulo formado pelo eixo da câ- ou sujeitos fotografados, perdendo parte de seu
mera em relação à horizontal. A partir desse significado individual. Em fotografia de pai-
ponto de vista, podemos definir diferentes po- sagem ou urbanas, este ângulo pode reduzir a
sições para as imagens capturadas: presença do fundo, substituindo este por uma
Normal ou neutro: também chamado de extensão plana da superfície. No caso de foto-
“ponto zero”, neste ângulo de enquadramento, a grafias de pessoas, com o emprego de objetivas
câmera se mantém em paralelo ao solo; grande-angulares, as imagens ficam distorcidas,
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enciclopédia intercom de comunicação
com ampliação do tamanho da cabeça em re- Jr, Fred C. Manual de fotografia. São Paulo:
lação ao resto do corpo, isso acaba por provo- Thomson, Learning, 2007.
car a percepção de um sujeito de personalidade LANGFORD, Michael. Fotografia Básica. Porto
frágil, dominado ou inferior. Alegre: Bookman, 2009.
Desse modo, a câmera em contramer-
gulho, num ângulo apontando de baixo para
cima, acaba por ressaltar os objetos ou sujei- Animação cultural
tos contra o fundo (árvores, céu ou um teto, Aparecido na França, no final dos anos 1970,
por exemplo). Essa sensação reforça a elimina- o conceito de animação cultural refere-se aos
ção dos elementos do primeiro plano por uma esforços e iniciativas no sentido de conferir à
possível perda das referências de tamanho. A cultura a vitalidade cotidiana que lhe seria ine-
fotografia de pessoas, desse ponto de vista mais rente e que, por diversos motivos, os sujeitos
baixo, quando se emprega objetivas, deforman- interessados veem como estando bloqueada.
do ainda mais as proporções, podem represen- Depois de Maio de 1968, verificou-se em
tar um personagem psiquicamente forte e do- várias partes do mundo a expansão de um es-
minante. querdismo cultural, que tentou responder ao
Caso o tema seja retangular, como um edi- avanço do Capitalismo sobre a vida social com
fício, este ângulo reforçará as linhas verticais, a crítica das instituições e um ativismo inte-
que parecem convergir para um ponto no alto. ressado em refundar o cotidiano com base em
Esta sensação pode ser reforçada com uma valores comunitários e não-materialistas. Para
grande-angular (edifício parecerá mais alto do seus porta-vozes, a cultura burguesa se escle-
o que o real). O mesmo edifício, se fotografado rosara, precisando de uma reanimação em no-
em ângulo de mergulho, isto é, de um ponto de vas bases, capazes de lhe devolverem o sentido
vista alto, em que as verticais ascendentes di- vivo e cotidiano que já teria possuído e que o
vergem, pode parecer que os objetos, na base, mercado, mas, sobretudo, o poder político es-
parecerão menores. tatal, via uma ação puramente patrimonial, ha-
No caso dos ângulos baixos e altos, que são viam fossilizado nos teatros, galerias, museus e
extremos e mais raros, podem-se criar os mes- bibliotecas.
mos efeitos dos ângulos anteriores, mas mais A promoção do teatro de rua, a criação do
exagerados; é o que em geometria se denomi- cinema itinerante, a ressurreição da arte circen-
na perspectiva central, por que o ponto de fuga se, o fomento ao artesanato, o ensino de música
das linhas se encontra próximo ao centro da e dança nas escolas e tudo o que, partindo des-
cena, embora isto também ocorra com a pers- ses exemplos, pudesse significar um envolvi-
pectiva normal em imagens de um corredor, mento das comunidades de base com a cultura
por exemplo. (Jorge Felz) tornou-se então objeto de intervenção daqueles
que passaram a ser chamados de seus anima-
Referências: dores.
LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio Segundo seus teóricos mais recentes, o
de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988. campo cultural pode ser uma área de ação po-
FOLTS, James; LOVELL, Ronald e ZWAHLEN lítica transformadora, desde que não seja vis-
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enciclopédia intercom de comunicação
to de forma neutra, estática e contemplativa. Melo, Victor. A animação cultural. São Paulo:
A principal razão de ser da animação consiste, Papirus, 2006.
por isso, menos em assumir a criação da cul- Peyre, Marion (org.) Le livre noir de l’ani
tura do que promover a abertura de espaços mation socioculturelle. Paris: L’Harmattan,
e situações para que tal aconteça. O objetivo 2005.
da animação não é doutrinar acerca dos valo-
res culturais, mas ajudar os seus sujeitos a re-
cuperarem a capacidade de elaborá-los, com ANOMIA
o que seus responsáveis se caracterizam, antes Criado pelo sociólogo francês Émile Durkheim
de tudo, como mediadores das atividades por (1858-1917), o conceito de anomia aparece sob
meio das quais aqueles valores se engendram. duas faces na teoria durkheimiana: a primeira,
Depois de 1980, a proposta seduziu vários na obra Da divisão do trabalho social, de 1893, e
setores do establishment e cresceu em força, a segunda, em O suicídio, de 1897. No primeiro
chegando inclusive a conquistar influência in- caso, refere-se a um processo de patologia so-
ternacional, com sua adoção como fórmula sal- cial pelo fato de a divisão do trabalho não gerar
vadora por parte da Unesco. Desde então, em solidariedade no seio dos grupos sociais. O ‘es-
vários lugares, ao menos em tese, animar a cul- tado anômico’ é possibilitado por uma ausência
tura tornou-se tarefa dos que querem devolver de regulamentação. Para Durkheim, a divisão
às pessoas suas faculdades criadoras mais ele- do trabalho social propicia a anomia, mas não
mentares, sufocadas pela exploração promovi- seria sua causa, pois essa situação só é possível
da pelas comunicações de massas, tanto quanto quando há falhas no campo da regulação social,
pelas instituições autoritárias e tradicionalistas que é papel do Estado.
mantidas pelo Estado. Criação bem própria e Em O suicídio, o sociólogo francês apre-
característica desse movimento são os centros senta o lado psicossocial do conceito. A anomia
culturais, locais em que se pretende não ape- aparece ligada a uma falha na regulamentação
nas promover novas formas de arte e cultura, do comportamento dos indivíduos que, para vi-
mas mantê-las vivas e animadas, graças à ado- ver em sociedade, passam por um processo de
ção de novas formas de praticá-las (oficinas, limitação de suas paixões por meio da aprendi-
por exemplo), algo do qual foi pioneiro e ainda zagem das regras morais vigentes. Quando es-
deseja manter-se como modelo o Centro Na- sas regras perdem sua eficácia, no ajustamento
cional de Arte e Cultura Georges Pompidou das condições de vida dos indivíduos, estes po-
(Beaubourg) aberto em Paris, em 1977. Os pro- dem se sentir em um estado insuportável que,
gramas de animação cultural que emanam des- às vezes, culmina em morte. O suicídio anômi-
te e de outros centros têm sido objeto de várias co, segundo Durkheim, costuma ocorrer em
críticas. (Francisco Rüdiger) momentos de crises econômicas ou morais.
O conceito de anomia marca presença em
Referências: várias áreas do conhecimento, além da socio-
Baudrillard, Jean. El Efecto Beaubourg. logia. Na comunicação, a face psicossocial do
In: Cultura y simulacro. Barcelona: Kairós, conceito é a que se sobressai. Como, por exem-
1978. plo, no famoso artigo do sociólogo norte-ame-
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
ões, uma das condições (embora não a única) WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave. São
de produção de uma esfera pública. Sabe-se dos Paulo: Boitempo, 2007.
desafios que essa nova condição de produção e
circulação de bens simbólicos tem gerado. No-
vas pedagogias e debates públicos sobre os usos Anunciante
das atuais tecnologias de informação e comu- É quem paga e tem poderes. Trava conflitos
nicação fazem-se necessários, o que implica a com a comunicação para racionalizar as ações
retomada de discussões sobre a ética. promocionais. O anunciante tende a se con-
A experiência moderna também produz centrar nos lucros (habitualmente aferido em
uma estranha sensação de anonimato, vivida pe- trimestres), teme desperdiçar dinheiro em flo-
los habitantes das metrópoles. Os séculos XIX reios artísticos e produções dispendiosas, e
e XX trouxeram a experiência da multidão, da acredita que basta a publicidade veicular uma
fragmentação e do isolamento, temas esses de- boa oferta com clareza. A agência clama por
senvolvidos na poesia de Baudelaire e nas obras mais investimentos a largo prazo para construir
de Benjamin e Simmel. O desdobramento dessas a marca do cliente.
questões nos tempos midiáticos contemporâne- A agência publicitária (ver verbete) obtém
os produziu novas modalidades de existência. fidelização se é percebida pelo cliente como
Dados os limites das condições de visibilidade uma consultoria, apresentando constantemen-
alcançadas pelas tecnologias do broadcasting, o te, sem cobrar, “boas” ideias para campanhas
anonimato passou a ser contraposto à “fama”. O de ocasião.
oposto do “anônimo” seria “celebridade”. É difícil distinguir o que, de fato, o clien-
São diversos os tipos e graus de anonima- te quer, ou do que pensa que quer. Uma pos-
to no mundo contemporâneo, dependendo das sível sugestão pode vir da classificação de We-
diferentes situações sócio-históricas nas quais ber sobre três tipos de autoridade/dominação.
os indivíduos estão inseridos. E, também, dos O anunciante seria tradicional-patrimonialista,
recursos sócio-técnicos de que se valem para carismático ou legal-racional.
garantir um maior ou menor grau de visibilida- O modo tradicional-patrimonialista con-
de às suas existências e a tudo o que com elas se siste na maioria dos gestores brasileiros que,
relaciona. (Liráucio Girardi Júnior) normalmente, não formulam pensamentos
abstratos, e sim o “pão, pão, queijo, queijo” de
Referências: como as coisas funcionam na prática. São “au-
BROWN, John Seely & DUGUID, Paul. A vida toritários com jeitinho”, de bom trato quando
social da informação. São Paulo: Makron tudo está como eles querem e cruéis ao sentir
Books, 2001. uma discordância. Eles tratam mais pelo cora-
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora ção do que pela razão. Fazem a figura do gran-
34, 1999. de pai, que paga o menos que pode, mas que é
TALESE, Gay. Fama & anonimato. 2. ed. São generoso em momentos de crise.
Paulo: Companhia das Letras, 2004. O anunciante patrimonialista em geral não
MARTINS, Wilson. A palavra escrita. São Pau- gosta de uma comunicação conceitual e mi-
lo: Ática, 1996. nimalista. Aprecia os clichês publicitários, a
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
texto do movimento dos signos, atribuindo ao tica, social e cultural. (Elizabeth Moraes Gon-
comercial ou filme publicitário características çalves)
peculiares. A linguagem do computador, da in-
ternet, em especial, trouxe à mensagem publi- Referências:
citária o elemento interativo e hipertextual e o CARRASCOZA, João Anzanello. A Evolução
banner, por exemplo, surge como uma grande do Texto Publicitário: A associação de pala-
possibilidade de atingir um público que valori- vras como elemento de sedução na publici-
za essas características no seu cotidiano. dade. São Paulo: Futura, 1999.
Desse modo, a mensagem publicitária im- GONÇALVES, Elizabeth Moraes. Propaganda
pressa, o anúncio, que nasceu tendo a imagem, e Linguagem: Análise e evolução. São Ber-
o desenho, como ilustração, acompanhando nardo do Campo: Universidade Metodista
o texto linguístico, incorporou todos os avan- de São Paulo, 2006.
ços da sociedade e dos meios de comunicação, RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta-
estabelecendo entre texto e imagem diferen- vo. Dicionário de Comunicação. São Paulo:
tes relações, extrapolando os limites do visu- Ática, 1987.
al e propondo uma relação inédita com os ou-
tros sentidos. Não são raras as iniciativas, por
exemplo, de se introduzir no anúncio elemen- Anúncio Radiofônico
tos táteis e olfativos. “A digitalização permite, Relato publicitário que o anunciante veicula
com muita facilidade, a fusão de elementos, a para se comunicar com o seu público-alvo. São
substituição de ícones ou a construção de ima- emitidos segundo diferentes modalidades, de
gens e textos inéditos. A publicidade apresenta- acordo com o objetivo publicitário, a estraté-
se ousada e inovadora, surpreendendo a cada gia criativa e o meio que se emprega para a sua
momento não apenas pela ideia criativa, mas, emissão. Em termos gerais, quando trata da pu-
sobretudo, pela forma altamente tecnológica de blicidade radiofônica, a bibliografia brasileira
produzi-la” (GONÇALVES, 2006, p. 138). refere-se, basicamente, ao spot, ao jingle, ao tes-
To d av i a , a c on s t r u ç ã o d o d i s c u r s o temunhal e à assinatura de patrocínio (ALBA-
persuasivo,no anúncio publicitário, continua NO DA SILVA, 1999).
sendo o desafio dos profissionais da área, que Há três modos de se distribuir os anún-
juntamente com seus clientes, buscam alterna- cios na programação radiofônica: (a) durante a
tivas para surpreender o público com algo iné- transmissão de um programa; (b) na pausa pu-
dito, que possa ganhar um espaço no meio de blicitária (intervalo comercial); e (c) em um es-
um mundo de informação disponibilizada con- paço autônomo, diferenciado e delimitado, que
tinuamente, pois, a ação ou a tomada de atitude segue estrutura semelhante a um programa.
que pretende a publicidade, requer muito mais No Brasil, os primeiros passos para a cons-
que informação e dados objetivos, requer sen- tituição de um rádio com finalidade comercial
sibilidade e leitura apropriada do universo no deram-se entre 1925 e 1930, quando as emisso-
qual está inserida. Por isso, o que se exige do ras instituíram o “fundo de broadcasting”, uma
profissional engajado nessa tarefa é uma criati- espécie de patrocínio aos programas. Ao final
vidade pautada em sólida formação humanís- da década de 1920, a publicidade radiofônica
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enciclopédia intercom de comunicação
assumia diferentes tipos, que incluíam a apre- CASTELO BRANCO, Renato.; MARTEN-
sentação da mensagem de forma improvisada SEN, Rodolfo. Lima; REIS, Fernando. (co-
pelo condutor do programa, a leitura do texto ord.): História da Propaganda no Brasil.
dos anúncios publicados na imprensa, a leitura São Paulo: Queiroz, 1990, p. 171-202.
de textos especialmente preparados para o rá-
dio, a emissão de anúncios durante o interva-
lo comercial e a emissão de anúncios musicais. ANTROPOLOGIA
(Simões, 1990) Dependendo da tradição cultural, a Antropo-
Na atualidade, os anúncios em rádio no logia pode ser vista como ciência humana e/ou
Brasil aparecem como: a) spot, baseado em um ciência social, o que não altera, substancialmen-
texto falado, que geralmente emprega fundos te, sua “natureza”. Embora alguns autores reco-
musicais e efeitos sonoros; b) jingle, cantado, nheçam na ‘antropologia’ uma origem anterior
em geral destinado à promoção da imagem ao período do século XIX, em razão do “traba-
marca; patrocínio, destinado à promoção da lho de campo” e da etnografia como atividades
marca ou do produto, a partir da sua associa- centrais ao trabalho do antropólogo, ocorre que
ção a um espaço ou programa da emissora; c) seu efetivo reconhecimento social como campo
testemunhal, baseado no testemunho do apre- de conhecimento científico específico só é esta-
sentador do programa sobre os atributos de um belecido no século XX. Durante muito tempo,
produto ou marca; d) unidade móvel, realizado a Antropologia lutou para separar-se da “visão
desde a rua para dar publicidade a uma ação de biologizante” que a perseguiu, muitas vezes,
interesse do anunciante; e) micro-programas; marcada pela influência da história natural, ou-
e f) espaços autônomos. Estes últimos seguem tras pelos fantasmas das teorias raciais. Somen-
organização semelhante à estrutura de um pro- te no alvorecer do século XX, sob a influência
grama. (Clóvis Reis) da Sociologia e da Linguística, de um lado, e da
História e psicologia social, do outro, a Antro-
Referências: pologia se institucionalizou como antropologia
BETÉS RODRÍGUEZ, Kety. El sonido de la per- social e cultural, respectivamente, superando
suasión. Valência: Universidad Cardenal assim as práticas anteriores da antropologia fí-
Herrera-CEU, 2002. sica e da “antropologia de gabinete”, do século
REIS, Clóvis. Propaganda no rádio: os formatos XIX. Práticas estas profundamente marcadas,
do anúncio. Blumenau: Editora da Univer- então, pela perspectiva evolucionista.
sidade Regional de Blumenau, 2008. A influência do pensamento sociológi-
SCHULBERG, Bob. Radio advertising: The au- co francês de Émile Durkheim (1858-1917) e
thoritative handbook. Lincolnwood: NTC de Marcel Mauss (1872-1950), aliada às expe-
Business Books, 1990. riências etnográficas francesas na África, Mis-
SILVA, Júlia Lúcia de Oliveira Albano da. Rá- são Dakar-Djubouti (1931-1933), na qual par-
dio: oralidade mediatizada, o spot e os ele- ticiparam Marcel Griaule (1898-1956), Michel
mentos da linguagem radiofônica. 2. ed. São Leiris (1901-1990), entre outros, são algumas
Paulo: Annablume, 1999. das principais contribuições para a formação
SIMÕES, Roberto. Do pregão ao jingle. In: da Antropologia Social na França. Mas, a in-
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enciclopédia intercom de comunicação
fluência do pensamento durkheimiano se faria importantes ciências sociais e/ou humanas nos
sentir na Inglaterra ainda na geração posterior estudos dos mais variados problemas e temas
a Bronislaw Malinowski (1884-1942), conside- contemporâneos. As inúmeras distinções fei-
rado o “pai da antropologia moderna”, através tas à Antropologia como antropologia da arte,
de Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955), um dos antropologia econômica, antropologia urbana,
responsáveis pelo reconhecimento da antropo- antropologia das sociedades complexas, antro-
logia como ciência a partir dos estudos de sis- pologias das sociedades nacionais, antropolo-
temas de parentesco na África. Do outro lado gia do parentesco, antropologia das organiza-
do Atlântico, o alemão radicado norte-ameri- ções internacionais, antropologia das emoções
cano Franz Boas (1858-1942), forneceu as bases etc., expressam a dinâmica e diversidade de te-
do desenvolvimento da Antropologia Cultural mas e áreas que Antropologia atua nas mais va-
quando passou a combater sistematicamente os riadas formas de organização social nos cinco
efeitos nocivos que o racismo provocara nas so- continentes do mundo. (Gilmar Rocha)
ciedades modernas. É importante destacar que,
enquanto a tradição antropológica norte-ame- Referências:
ricana encontra na cultura um de seus princi- GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Cultu-
pais instrumentos de reflexão, na tradição in- ras. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
glesa e francesa, a forte influência sociológica KUPER, Adam. Antropólogos e Antropologia.
na produção do conhecimento antropológi- Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1978.
co tem no conceito de estrutura seu paradig- LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutu-
ma epistemológico. Desde então, muitos outros ral. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.
nomes podem ser agregados a estes fundadores
da antropologia moderna.
Sem pretender fornecer uma definição ANTROPOLOGIA CULTURAL (ver verbete
da Antropologia, uma vez que são muitas as Antropologia)
possibilidades de aproximá-la da arte, da his- Usada em conjunto com a Antropologia, a cul-
tória, da ciência, ela se caracteriza pela busca tura surge como uma das mais importantes áre-
da compreensão do outro e de suas diferenças as de estudo desta disciplina. “Um dos aspectos
em termos de sistemas simbólicos e de signi- cuja abrangência é considerável, já que diz res-
ficados culturais. Compreender o outro impli- peito a tudo que constitui uma sociedade: seus
ca em disposição para apreender a lógica cul- modos de produção econômica, suas técnicas,
tural que preside e organiza a visão de mundo sua organização política e jurídica, seus siste-
das pessoas, seus estilos de vida, suas estruturas mas de parentesco, seus sistemas conhecimen-
de pensamento, seus sistemas de comunicação, to, suas crenças religiosas, sua língua, sua psi-
ao mesmo tempo em que passamos a avaliar os cologia, suas criações artísticas” (Laplantine,
nossos próprios sistemas de significados cultu- 1988, p.19). Devido ao seu alcance e às tradições
rais e de organização social. de estudos de certos países, a antropologia cul-
Tradicionalmente vista como a ciência que tural também é denominada antropologia so-
se dedicava ao estudo das sociedades ditas pri- cial ou etnologia. De acordo com Lévi-Strauss
mitivas, a Antropologia é, hoje, uma das mais (1970), antropologia, etnologia e, ainda, etno-
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enciclopédia intercom de comunicação
grafia são três momentos de uma mesma pes- pós-moderna ou crítica, a cultura é analisada
quisa. Sendo a etnografia a coleta de direta dos como um processo polissêmico. Nesses termos,
fenômenos observados; a etnologia, a análise de uma ciência que se inicia como o estudo das
do material colhido, fazendo aparecer a lógica sociedades “primitivas”, a antropologia cultural
da sociedade que se estuda; e a antropologia, a do século XX e início do XXI se depara com
construção de modelos que permitem compa- novas realidades e, portanto, novos problemas,
rar as sociedades entre si. Não existe consenso prescindindo de perspectivas renovadas em re-
sobre uma definição de antropologia cultural, a lação à maneira como a noção de cultura pas-
qual depende da abordagem empregada. Des- sa a ser empregada e vivenciada em sociedades
se modo, a antropologia cultural, enquanto es- cada vez mais complexas e regidas por impera-
tudo do homem e de sua diversidade cultural, tivos tecnológicos. (Tarcyanie Cajueiro Santos)
onde se busca refletir sobre si próprio a partir
dos valores e do sistema de vida do outro, vai se Referências:
realizar por meio da abordagem escolhida pelo OLIVEIRA, R. C. de. Sobre o pensamento an-
pesquisador. Dito em outras palavras, a esco- tropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasi-
la a qual o antropólogo se filiou, que está liga- leiro, 1988.
da ao seu contexto histórico, social, geográfico LAPLANTINE, François. Aprender Antropolo-
e cultural, contribui para o modo pelo qual as gia. São Paulo: Brasiliense, 1988.
suas diferenças culturais em relação à de outras LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutu-
sociedades ou grupos humanos sejam percebi- ral. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970.
das. Da “escola” evolucionista, passando pela
funcionalista, estruturalista, culturalista nor-
te-americana, interpretativa, pós-moderna ou APOCALIPSE
crítica, entre outras, “a abordagem antropoló- O nome apocalipse vem da palavra grega
gica provoca, assim, uma verdadeira revolução apokalyptein que significa “desvelar”. É um gê-
epistemológica, que começa por uma revolu- nero literário judaico, presente do século III
ção do olhar. Ela implica um descentramento a.C. até o século VII d.C. em múltiplos exem-
radical, uma ruptura com a ideia de que existe plos. O mais conhecido texto apocalíptico no
um ‘centro do mundo’, e, correlativamente, uma Velho Testamento é o livro de Daniel do século
ampliação do saber e uma mutação de si mes- 2 a.C.. No Novo Testamento, são o Apocalipse
mo” (Laplantine, 1988, p.22-3). Os exemplos de João, assim como o capítulo 13 do Evangelho
aparecem no caminhar desta disciplina, onde de Marco e o capítulo 2,1-12 da segunda carta de
no evolucionismo, o termo raça cede espaço Paulo aos Tessalonicenses.
à cultura, entendida como um conjunto com- De apocalipses extrabíblicos, podem ser
plexo; no funcionalismo, cultura aparece como mencionados aqueles de Henoch, Baruch e
totalidade; no culturalismo norte-americano, Esra. Os apocalipses apresentam, em épocas e
cultura é entendida em sua relação com a per- constelações históricas de crise, uma visão al-
sonalidade; no estruturalismo, há a busca das ternativa e esperançosa de um futuro melhor.
estruturantes das culturas; na interpretativa, a Nesse sentido, são textos de esperança em situ-
cultura é visa como uma teia de significados; na ações desesperadoras.
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A sua cosmovisão é marcada por um dua- res dos apocalipses se contentaram em aguar-
lismo acentuado e uma compreensão totalmen- dar até que Deus comece a agir.
te determinista da História. Esta é interpreta- Na medida em que se perdeu a compre-
da como luta dialética entre forças do bem e do ensão da profunda relação histórica dos apo-
mal. O tempo histórico, por sua vez, não apare- calipses, a sua simbologia foi cada vez mais
ce como processo sucessivo de acontecimentos interpretada primordialmente como previsão
temporais, mas muito mais como justaposição ameaçadora sobre um futuro fim catastrófico
de épocas, dos assim chamados “aiones”. Cada do cosmo e do mundo. Assim, a compreensão
um destes aiones tem o seu início e seu fim pré- da mensagem esperançosa dos apocalipses se
determinado. Na perspectiva dos apocalipses, transformou de tal maneira que os apocalipses
Deus, apesar de toda aparente vitória das for- começaram a ser lidos cada vez mais como in-
ças do mal, já de antemão,determinou que num formação quase histórica sobre o fim material
aion posterior, as forças do bem triunfarão. A do mundo. Esse fim foi compreendido como
partir desse pressuposto, é possível manter a es- holocausto e catástrofe cósmica. A consequên-
perança do povo, apesar de em certas épocas, cia de tais enfoques era que os apocalipses, em
tudo parecer perdido. vez de promoverem a esperança, geraram mais
Outra mensagem-chave dos apocalipses angústias e medo.
é a de que Deus, sendo fiel ao seu povo, num Contra todas essas interpretações, acentua-
certo momento, fará surgir uma situação nova se, hoje, de novo a necessidade de levar em con-
e totalmente positiva, normalmente chamada sideração o contexto histórico do surgimento
de “Um Reino de Deus”. Nos textos apocalíp- dos apocalipses, assim como as características
ticos cristãos, essa esperança é fundamentada, específicas do seu gênero literário. A partir dis-
sobretudo, na morte e ressurreição de Jesus de to, se recupera o seu significado conscientiza-
Nazaré. dor para o tempo presente.
Assim, os apocalipses se apresentam, ori- Dentro de uma perspectiva cristã, obser-
ginalmente, também como textos de resistên- va-se que, além diso, a convicção de que com
cia que desmascaram situações de opressão e a ressurreição de Jesus de Nazaré, aquela situ-
de exclusão. Dentro dessa perspectiva, o texto ação totalmente nova, da qual os apocalipses
apocalíptico mais conhecido, na época cristã, o falam, já teria começado. Este começo, porém,
Apocalipse de João, último livro do Novo Tes- não pode ser compreendido como destruição
tamento, apresenta o Império Romano sob o catastrófica do mundo material, mas como pas-
símbolo de uma besta, e chama Roma de “Me- so inicial de um processo de transformação que
retriz”. com a planificação do Reino de Deus, chegará à
A partir de uma interpretação, cada vez sua plenitude. (Renold Blank)
mais fundamentalista, os impulsos transfor-
madores dos textos apocalípticos se perderam
progressivamente no decorrer da história da Aquário
sua recepção. Assim, os apocalipses se torna- Os antigos estúdios de rádio eram comumen-
ram cada vez mais incentivos para uma atitude te chamados de aquários. O estúdio era divi-
de expectativa passiva, a partir da qual, os leito- dido em um primeiro ambiente, onde ficava o
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operador de som (ou controlista, ou técnico) dias). Os equipamentos de áudio incluem micro-
e, em outro, a cabine de locução. Essa era for- fones sofisticados, compressores, conversores di-
rada com material acústico isolante, para que o gitais, pré-amplificadores, amplificadores, equa-
ruídos externos não fossem captados pelos mi- lizadores, gravadores digitais e caixas de som.
crofones. O aquário era separado do restante Um item obrigatório são os mixers, denomina-
do estúdio por uma parede com um vidro, para ção das antigas mesas de som. Eles podem ter de
haver comunicação gestual entre o técnico de oito até 60 ou mais canais, dependendo da natu-
som e o operador. Como solução para reduzir a reza da emissora. (Moacir Barbosa de Sousa)
transferência do som de um ambiente para ou-
tro, utilizava-se uma parede dupla, com umma-
terial absorvedor no espaço entre ela. .. ARBITRAGEM NOS ESPORTES
A evolução tecnológica trouxe avanços não Ao lado do surgimento da imprensa e da in-
apenas no que se refere aos equipamentos de dústria cultural, vemos, no século XIX, o apa-
áudio, mas na técnica do isolamento acústico. recimento de diversas modalidades esportivas:
Existe uma classificação de materiais que pro- o esporte passa a representar um mecanis-
movem bom isolamento: quanto maior o coe- mo de afirmação dos valores capitalistas bási-
ficiente, maior o resultado. O isolamento deve cos, como o individualismo e o igualitarismo.
impedir tanto a entrada como a saída de sons Portanto, não é por mero acaso que o esporte
do local. como domínio social e como “indústria” se te-
Os antigos estúdios dispunham de mesas nha firmado dentro do contexto de surgimento
de som monofônicas e valvuladas. Com a in- da sociedade de massa. E não é por mero acaso
venção do transistor, elas passaram a estéreo também que diversas modalidades esportivas
(dois canais) com um mínimo de válvulas. Es- (notadamente o futebol, mas também o turfe, a
sas válvulas faziam parte também da estrutu- luta livre, o boxe, o remo, o tênis e o atletismo)
ra eletrônica dos antigos transmissores. Como surgiram na Inglaterra, que consolidava o siste-
aqueciam demais, as emissoras de rádio nos ma liberal democrático no final do século XIX.
primórdios da radiodifusão funcionavam du- Os ingleses aprenderam, assim, a projetar,no
rante algumas horas e saiam do ar para que os seu lazer, os valores do esporte, ligados ao com-
equipamentos fossem desligados e esfriassem. bate com regras, a obediência aos horários e
A evolução da informática mudou o layout regulamentos etc. A ordenação dessas práticas
dos estúdios. Estes, agora, são computadoriza- esportivas, a partir do estabelecimento de re-
dos, dispensando a cabine de locução; agora gras e regulamentos para modalidades e com-
apenas uma sala abriga equipamentos e o locu- petições, estabeleceu a necessidade da existên-
tor faz ás vezes do operador, chamado no jar- cia da figura de um mediador (o árbitro ou a
gão radiofônico de locuoperador. equipe de arbitragem) para as diversas parti-
Os estúdios agora dispõem de computado- das e torneios. Caberia ao árbitro o bom anda-
res com programas que irradiam a programa- mento da disputa e a preservação do conceito
ção musical, comerciais, vinhetas, prefixos etc. do fair play (o saber perder e o saber ganhar,
(alguns desses softwares podem manter a rádio em total respeito ao adversário). Para Bourdieu
no ar, sem a participação humana, por até dois (1983), o conceito do fair play e do respeito às
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a partir da qual a linguagem está estruturada, muitos, embora afins: o que é bem feito pelo
isto é, das relações estabelecidas no contexto homem; o ofício, saber, experiência, conheci-
enunciativo. Aquilo que para Saussure parecia mento com que o homem faz algo; o aprendi-
secundário foi a brecha pela qual Jakobson al- zado adquirido, a instrução, o conhecimento, o
cançou complexas relações entre som e senti- saber, a ocupação, o mister, o emprego, a pro-
do (Machado, 2007). Não partiu das onomato- fissão, a destreza, a prática, a perícia, a habili-
peias mas das paronomásias, os trocadilhos em dade etc.
que os sons criam os sentido num jogo que re- Portanto, muito relacionado ao método
almente vincula o conceito à imagem acústica. para bem executar uma obra, segundo certos
(Irene Machado) preceitos; a coleção destes; a profissão; o arti-
fício (oposto à rudeza, à simplicidade natural);
Referências: a habilidade; a índole; o gênio; o gosto às belas
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística artes, à pintura; à escultura; as obras de arqui-
geral. São Paulo: Cultrix, 1973 tetura; as construções esmeradas, os túneis; os
MACHADO, Irene. O filme que Saussure não viadutos etc. Uma obra de arte deve ser, então,
viu. O pensamento semiótico de Roman um artefato primoroso e, atualmente é muito
Jakobson. São Paulo: FAPESP; Vinhedo: relacionada à virtude ou talento, traduzidos em
Horizontes, 2007 uma disposição e habilidade para fazer alguma
coisa primorosa, original e criativa.
Assim, a arte se traduz num ato ou facul-
Arte dade, por meio da qual o homem imita ou ex-
Etimologicamente falando, a palavra corres- pressa o material ou o imaterial, e cria, copian-
pondente ao português arte. Tem nas línguas do ou fantasiando, valendo-se da matéria, da
românicas seu étimo do latim ars, artis, cujo imagem ou do som. Em outro sentido, refere-se
étimo, por sua vez, é controverso, já que, em in- ao engano; à astúcia; à malicia; à maldade. Arte
glês, a forma foi documentada desde 1225, e é pode ser também alguma coisa que prejudique.
empréstimo ao francês. Nas outras línguas ger- É considerada por algumas culturas como ma-
mânicas têm raiz própria. Em alemão é kunst gia ou bruxedo. Por isto, a expressão usada “por
e, em sueco konst. Nas línguas românicas sua arte do diabo” refere a alguma desgraça. A arte
documentação é precoce, mas a respectiva for- (ars, artis) se manifesta de várias formas e ten-
ma presume que não seja do acervo primitivo, dências. Serve também de uma vertente para se
um semieruditismo, cedo introduzido por via estudar a história da humanidade.
dos clérigos medievais e logo vulgarizado, so- Belas Artes - qualquer das artes que tem
bretudo em acepção pejorativa, coincidente em como objeto expressar a beleza. Se dá mais or-
algumas línguas românicas, de “engenho en- dinariamente essa denominação à pintura, à es-
ganoso, matreirice, manha”, de que o derivado cultura, à arquitetura e à musica. Atualmente,
português arteiro, ‘fazedor de artes’ (também o cinema já é considerado como arte: a sétima
no mesmo sentido pejorativo), é exemplo. arte. Arte abstrata – modalidade artística pecu-
Tanto em latim quanto nas línguas em que liar ao nosso tempo caracterizada pela transmis-
o étimo subsiste, os sentidos do vocábulo são são da ideia ou sentimento do artista, desliga-
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do, em maior ou menor medida, de associações dário”. (PAREYSON, 1991, p. 22). A arte como
tangíveis. Arte conceitual – movimento artísti- expressão interessou teóricos como Croce e
co surgido, no o final dos anos 1960, que dan- Dewey que “permaneceu na base das teorias
do importância à obra de arte enquanto objeto que concebem a arte como linguagem, e até na
material ou resultado meritório de uma execu- base das teorias semânticas”. (ibidem).
ção se afirma, em troca, no conceito ou ideia do Encontrar uma definição unitária capaz de
processo artístico. Arte decorativa – pinturas, abarcar diferentes historicidades, localidades e
esculturas ou outras formas e técnicas quando manifestações artísticas, sempre foi o repto da
não são criadas com independência, mas atrela- Estética. Para o historiador da arte Guilio Carlo
das ao embelezamento de um ambiente, seja in- Argan, o conceito de arte não define “catego-
terno ou externo. Artes marciais – é o conjunto rias de coisas, mas um tipo de valor”. (ARGAN,
de antigas técnicas de luta do Extremo Orien- 1994, p. 14). O valor artístico está evidenciado
te, e que atualmente são praticadas em todo o na sua forma e ainda em “qualquer que seja a
mundo como esporte. (Neusa Gomes) sua relação com a realidade objetiva, uma for-
ma é sempre qualquer coisa que é dada a per-
ceber, uma mensagem comunicada por meio
Arte e Estética da percepção”. (ARGAN, 1994, p.14). As formas
“Nada existe realmente a que se possa dar seriam válidas como significantes e dependen-
o nome de Arte. Existem somente artistas”. tes de uma consciência capaz de lhe conferir
(GOMBRICH, 1999, p. 15). Com essa frase, o o significado. Logo, “uma obra é uma obra de
historiador da arte Ernest Gombrich inicia seu arte apenas na medida em que a consciência
compêndio traduzido para inúmeros idiomas, que a recebe a julga como tal. Portanto, a his-
tornando-se também referência para os estu- tória da arte não é tanto uma história de coi-
dantes brasileiros. O desafio da Estética con- sas como uma história de juízos de valor”. (AR-
temporânea, entretanto, decorre em considerar GAN, 1994, p. 14). (Rodrigo Vivas)
as contribuições da Filosofia Ocidental e buscar
novas perspectivas que se adequassem às exi- Referências:
gências recentes das produções artísticas.Des- ARGAN, Giulio Carlo; FAGIOLO DELL’ARCO,
se modo, , partindo das considerações de Luigi Mauricio; AZEVEDO, M. F. Gonçalves de.
Pareyson acerca das três definições mais co- Guia de historia da arte. 2. Ed. Lisboa: Es-
muns para a arte, temos: arte como fazer, como tampa, 1994.
conhecer ou como exprimir. GOMBRICH, E. H. A história da arte. 16. Ed.
Assim, entendemos que a arte, como fazer, Rio de Janeiro: LTC, 1999.
situa-se na Antiguidade, prevalecendo o aspec- PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. 3.
to fabril, manual e executivo. Apesar disso, não Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
existia na Antiguidade, uma divisão entre o ofí-
cio da arte propriamente dita e o ofício do arte-
são. A arte como conhecer é interpretada como Arte cinematográfica
conhecimento, visão e contemplação, “em que Glauber Rocha afirma ser o cinema um teatro
o aspecto executivo e exteriorizador é secun- sem atores ao vivo (Rocha que voa, Eric Rocha,
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2001). Cinema é, portanto, a arte das sombras, do etc.) (Ver Cristian Metz; Roman Jakobson,
dos espectros, ou a ‘música da luz’, tal como por exemplo.) Há o cinema que, historicamen-
afirmava Abel Gance. É ritmo, encadeamento te, tentou desenvolver-se em modelo artesanal,
de durações, nas palavras de León Moussinac, e há o hegemônico da ilusão e de efeitos que se
e certamente seria uma partitura de imagens, criou na indústria. De um lado, a produção do
para a ciência da arte proposta por Serguei Ei- artesão da linguagem audiovisual, que puxava o
senstein. Essa ideia remete diretamente ao ci- vagão da estética para o lado da articulação au-
nema ‘primevo’: o teatro de sombras chinês, a toral e independente; do outro, a força empresa-
cenas pictóricas, encenações teatrais. Também rial e crescente da modernização dos meios e do
remete à surpresa de Máximo Gorki ao ver, aparato cinematográfico. Ambos pressupõem
pela primeira vez, as imagens da caravana do um montante de aparelhamentos e laborató-
exótico cinematógrafo dos irmãos Auguste e rios, fazendo essa arte ter sentido, para muitos,
Louis Lumière, que afirmou ver almas, vultos, apenas na evolução de sua técnica, de seus ins-
sombras no écran. Muito se deve às discussões trumentos – evolução essa impulsionada pelo
modernistas e de uma mobilização de vanguar- mercado internacional de equipamentos, com
da entre 1920 e 1940, no período da incipiente destaque para o Japão, Alemanha, França, Esta-
manipulação das possibilidades do som, para dos Unidos. Exemplos da maquinaria usada: câ-
a elaboração de novos conceitos como o da ex- mera, lentes, filtros, gravador de som, película,
perimentação estética, o do expressionismo, o trilhos, grua microfone, tripé, fotômetro, mesa
poético que o cinema carregaria no futuro pró- de montagem, sala de revelação etc.
ximo de sua pendência à arte da fotogenia. O Sobre esse contexto da arte que é o cine-
artifício de se fazer filmes juntava a tradição de ma, Ismail Xavier conceitua o culto moderno
uma Europa alimentada pela história da arte como o aspecto da relação entre filme e especta-
ocidental. No contexto pós-guerra, com a des- dor. Aspecto este conjuntamente elaborado pela
coberta de novos pincéis, canetas (a caméra produção de obras e pelo pensamento que é
stylo de Astruc): câmeras objetivas e os objeti- constituído durante e após sua exibição desde a
vos da nova sétima arte descobrem a impressão formação do público – a compreensão da crítica
de realidade que é assumida como o novo espe- de cinema feita em periódicos, no debate aber-
cífico fílmico – afinal, mesmo o romance mu- to sobre estilos, maneiras, modos de se produ-
daria seu fluxo narrativo. A estética da imagem zir, influenciar e ser influenciado pela nova arte.
antes pintada se modificara com a inclusão do (Josette Monzani e Mauro Luciano de Araújo)
movimento inerente à arte difusa que usava a
duração da realidade como corte da expressão. Referências:
Em termos de constituição de sua lingua- ASTRUC, Alexandre. Naissance d´une nouvelle
gem, os seguintes elementos, ou parâmetros, avant-garde. In: L’Ecran français, n°144, 30
são necessários: trama/enredo; personagens; março 1948.
trilha; cenários e adereços cênicos; figurinos; AUMONT, Jacques. O Olho Interminável: Ci-
montagem ou paradigmática (encadeamento e nema e Pintura. São Paulo: Cosac Naify,
duração); planificação (movimentos e distância 2004.
da câmera; iluminação; composição figura/fun- BORDWELL, David, THOMPSON, Kristin.
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Film Art: An Introduction. New York: Mc- Na opinião de Arlindo Machado, o que está
Graw-Hill, 2003. acontecendo com o conceito de artemídia é que
CEM ANOS DE CINEMA. Martin Scorsese e o artista está entrando no circuito da mídia e se
Michael Henry Wilson, Estados Unidos, apropriando deste enquanto ferramenta. Exis-
Reino Unido, 1995. Volumes 1 e 2. tem indivíduos que estão dentro do circuito da
HISTÓRIA(S) DO CINEMA. Jean-Luc Go- mídia alimentando o sistema; estão ideologica-
dard, França, 1997/98. mente inseridos dentro do modelo. De fato, o
JAKOBSON, Roman. Linguística, Poética, Cine- artista da mídia faz uma metalinguagem. A arte
ma. São Paulo: Perspectiva, 1970. fala sobre a mídia. Não se trata de fazer o que a
METZ, Christian. Linguagem e cinema. São mídia já faz; o artista emite uma crítica ao colo-
Paulo: Perspectiva, 1980. car a mídia no centro da discussão.
PASOLINI, Pier Paolo. Empirismo Herege. Lis- A artemídia chama a atenção especialmen-
boa: Assírio & Alvim, 1982. te para aquele aspecto de subversão a que a arte
XAVIER, Ismail. Sétima arte: um culto moder- aspira, contrário à perspectiva massificado-
no. São Paulo: Perspectiva, 1978. ra das novas tecnologias, que buscam a quan-
tificação máxima, produtora de lucratividade.
Mesmo assim, Arlindo Machado reconhece a
ARTEMÍDIA existência de brechas para o contra-ataque e as
Segundo Arlindo Machado, quando se fala em valoriza, mostrando que o estranhamento, ca-
artemídia, ou mídia-arte repetição desnecessá- racterístico da arte, apesar de todas as dificul-
ria), há pelo menos dois pressupostos aos quais dades, inclusive técnicas, termina por aconte-
se podem referir: uma possibilidade é pensar a cer. (Filomena Maria Avelina Bomfim)
arte como prática secular, dos clássicos renas-
centistas até os modernos; outra é pensar o ar- Referências:
tista como aquele que se apropria de uma tec- http://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/arti-
nologia destinada à produção de mídia e que cle/viewFile/1285/785
não foi concebida para a produção de arte. Câ- http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-
meras ou computadores não foram feitos para compos/article/viewFile/16/17
artistas produzirem arte. O artista simplesmen-
te se apropria dos recursos tecnológiso dispo-
níveis e descobre nelas possibilidades diferentes Artes Cênicas
daquelas para as quais eles foram programados, Na antiga organização social do Ocidente, o
fazendo-os funcionar numa outra direção. En- ofício cênico era passado pela própria comu-
tretanto, outra atitude é olhar para a mídia, tal nidade artística de pai para filho, de amigo
como ela está construída, e entendê-la como para amigo, de um a outro. Portanto, uma he-
expressão da cultura de uma época, como for- rança transmitida, no mínimo, em um espaço
ma de produção de arte. São duas posturas di- de identificação e ressonância estética, moral
ferentes que tanto podem ser complementares, e político-social. Em um momento posterior
quanto antagônicas e constituem duas visões surgem as escolas e as universidades que sis-
diferentes da artemídia. tematizam um conhecimento mais abrangen-
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produção de caráter familiar, na qual o produ- artista plástico popular se utiliza da cerâmica,
tor (artesão) possui os meios de produção (sen- da madeira, do metal, da pedra, de fibras, de
do o proprietário da oficina e das ferramentas) pano, de coco, papelão e outros materiais ba-
e trabalha com a família em sua própria casa, ratos, trabalhados com cinzel, canivete, tintas,
realizando todas as etapas da produção, desde lápis, carvão, transformados em estatuetas, ex-
o preparo da matéria-prima, até o acabamento votos, utensílios domésticos, peças de brinque-
final; ou seja, não havendo divisão do trabalho dos, bandeiras, cartazes e flâmulas.
ou especialização para a confecção de algum A palavra artesanato vem do italiano arti-
produto. Em algumas situações, o artesão tinha gianato, termo criado no século XIX por deri-
junto a si um ajudante ou aprendiz. vação de artigiano, também de origem italiana
Logo, artesanato surgiu da necessidade de do século XV. No mundo inteiro, em todos os
se ter objetos para uso cotidiano em sua comu- países, encontramos o artesanato popular. Mes-
nidade como também na sua habilidade artís- mo nos países mais desenvolvidos, onde a in-
tica de plasmar formas de acordo com o seu dústria e a tecnologia estão em estágio adian-
grupo social. O artesanato brasileiro reflete a tado de desenvolvimento, existe a arte popular.
origem cultural das três etnias (português, ín- É esta arte, com seus objetos, que faz o elo de
dio e africano) que formaram o povo brasilei- união entre a cultura popular e a cultura de
ro. Como também da influência das várias et- massa. Pois, um dos atrativos que faz girar a in-
nias que migraram para o Brasil e se integraram dústria do turismo, em todos os países, é o ar-
à nossa sociedade, difundindo seus costumes, tesanato popular com seus objetos coloridos,
ideias e formas de expressão cultural. A expe- cheios de vida, das mais criativas formas e de
riência cultural do artesão é muito significativa material inusitado. O consumo da arte popular,
porque o seu trabalho revela o estilo de vida de como forma de expressão da cultura local, faz
seu grupo social, as características de seu rela- parte da característica do homem moderno.
cionamento com a sociedade e também sua re- Em todas as regiões brasileiras, há formas
lação com o meio ambiente e a natureza. variadas de expressão artesanal tanto no uso
Ao fazermos um balanço quantitativo e dos materiais típicos como de formas variadas
qualitativo da vida cultural de um povo ou de e criativas. Cada região se caracteriza por um
uma comunidade, podemos ver no seu artesa- tipo de material, de técnica ou expressão cul-
nato o seu estágio civilizatório. Isto porque os tural. Daí a grande divulgação que o turismo
objetos e peças produzidos são expressões co- faz dos atrativos de cada estado ou região em
letivas do estilo de vida, do relacionamento do termo de suas expressões peculiares da cultu-
homem e o meio ambiente. Sua análise revela ra local.
a história de vida de seus artesãos, usos, costu- Pode-se dizer que o artesanato é expressão
mes, padrões morais, nível da evolução cultural folkcomunicacional do artista plástico popular
e etapa do seu processo civilizatório. que não só molda seus objetos com materiais
Luiz Beltrão (2001) enfatiza que o artesa- dos mais criativos que encontra ao seu redor.
nato, em geral, é meio (canal) que o povo uti- Ele também expressa, simbolicamente, em suas
liza para expressar suas ideias e/ou opinar so- formas ideias e sentimentos, modos de pensar,
bre fatos e acontecimentos. Assim, o artesão ou sentir e agir do seu grupo social e de sua época.
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cobertura midiática para seus eventos – mos- cognitivos entre os produtores de cultura e os
trados como acontecimentos noticiáveis; e, ao consumidores. Suas pesquisas se concentram
tornar suas questões visíveis, forçam a mídia a em comunidades rurbanas (neologismo cria-
falar sobre elas, tomando os ativistas como fon- do por Gilberto Freyre para as cidades urbanas
tes de informação, que oferecem outras leituras com características rurais) no sertão da Para-
para os problemas sociais. Deste modo, o ati- íba. O estudioso aponta que a presença, cada
vismo midiático trabalha na democracia para vez maior, da televisão torna os estudos sobre
subverter os códigos autorizados para tratar da audiência ainda mais complexos na sociedade
realidade social (Melucci, 1996), ampliando midiatizada, onde cada sujeito representa uma
a cena para a discussão política sobre as ques- identidade sociocultural, interagindo com ou-
tões colocadas. (Kelly Cristina de Souza Pru- tros diferentes grupos, mas com as mesmas
dencio) aproximações socioculturais que reinventam os
seus produtos de uso, ao invés de serem meros
Referências: consumidores passivos das mensagens midiá-
GAMSON, William. The strategy of social pro- ticas. São, nos vários níveis, as interações mi-
test. Belmont: Wadsworth Publications diatizadas dos sujeitos da audiência televisiva
Co., 1990. que geram os ativismos midiáticos, os avanços,
MELUCCI, Alberto. Challenging codes. Col- as transformações e/ou renovações das cultu-
letive action in the information age. Cam- ras populares, quando incorporam os produtos
bridge: University Press, 1996. midiáticos nas suas práticas cotidianas, ou de-
PRUDENCIO, Kelly C. S. Mídia e movimen- les se apropriam. (TRIGUEIRO, 2008, p. 21)
tos sociais contemporâneos. A luta do su- Como mostra Trigueiro (2008), quando a
jeito pela construção do significado. Revis- decodificação é realizada por um ativista mi-
ta Comunicação & Política. Rio de Janeiro: diático, é mais provável que reinterprete a in-
Cebela, vol. 10, n. 3, setembro/dezembro de formação para transmitir a seus influenciados.
2003. Também aponta que não existe espaço vazio
RYAN, Charlotte. Prime time activism. Media na comunicação. Os constituintes da audiência
strategies for grassroots organizing. Boston: são ativos, mesmo que todos não atuem com
South End Press, 1991. a mesma intensidade. Porém, existe ainda um
VAN DE DONK, Wim; LOADER, Brian D.; tipo especialmente mobilizado, que é o indiví-
NIXON, Paul G.; RUCHT, Dieter. Cyber duo ativista (2008, p. 47). O ativo exerce uma
protest. New media, citizens and social mo- ação, participa de atividade e está sempre em
vements. London: Routledge, 2004. movimento; o ativista é um militante que orga-
niza, planeja a participação de outros nos mo-
vimentos, que se posiciona contra ou a favor de
ATIVISTA MIDIÁTICO determinada situação. Assim, o ativista midiáti-
Seguindo a ótica dos estudos culturais latino- co age motivado pelos seus interesses e do gru-
americanos, Osvaldo Trigueiro (2008) apresen- po ao qual pertence na formatação das práticas
ta o conceito de ativista midiático. Segundo o simbólicas e materiais das culturas tradicionais
autor, esses ativistas seriam os intermediários e modernas. “É um narrador da cotidianida-
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de, guardião da memória e da identidade lo- entre outros atores sociais. (Guilherme Moreira
cal, reconhecido como porta-voz do seu grupo Fernandes)
social e transita entre as práticas tradicionais e
modernas, apropria-se das novas tecnologias Referências:
de comunicação para fazer circular as narrati- MARQUES DE MELO, José. Mídia e cultura
vas populares nas redes globais”. (TRIGUEIRO, popular: história, taxionomia e metodolo-
2008, p. 48) gia da folkcomunicação. São Paulo: Paulus,
No ambiente globalizado, de acordo com 2008.
Trigueiro (2008), muitos dos intermediários SCHMIDT, Cristina. Folkmídia: da resistência
concebidos por Beltrão (chofer de caminhão, à coexistência. In: MARQUES DE MELO,
caixeiro viajante, ambulantes, ciganos etc.) José, GOBBI, Maria Cristina e SATHLER,
já não têm tanta importância para o sistema Luciano (Orgs.). Mídia Cidadã: utopia bra-
folkcomunicação, visto que os moradores de pe- sileira. São Bernardo do Campo: Umesp,
quenas cidades e distantes municípios brasilei- 2006.
ros têm acesso à televisão, telefone fixo, rádio, TRIGUEIRO, Osvaldo. Folkcomunicação e ati-
internet, entre outros meios de informação. vismo midiático. João Pessoa: UFPB, 2008.
Para Schmidt (2006), o papel desempenha-
do pelo líder de opinião, descrito por Luiz Bel-
trão, ancorado no paradigma funcionalista, é o Ato ético
mesmo do ativista midiático, proposto por Tri- Formulado no contexto de uma ética dialógi-
gueiro, embasado pelos estudos culturais. Mar- ca, proposta como filosofia científica de caráter
ques de Melo (2008, p. 65) aponta que a função pragmático, o conceito de ato ético organiza as
do ativista midiático é bivalente, pois interpreta ideias que Mikhail Bakhtin elaborou para com-
os conteúdos midiáticos para o consumo dos preender a atividade humana como emergência
cidadãos do seu entorno e agenda os conteúdos de vivências únicas e irrepetíveis. Existe, pois,
folkcomunicacionais no fluxo contínuo das in- uma ética da responsabilidade que se mani-
dústrias culturais. festa como instância integradora entre cultu-
Trigueiro (2008) aponta várias possibilida- ra e vida. Ato tanto quer dizer atividade quanto
des de uma pessoa ser um ativista midiático, a evento, acontecimento.
exemplo de um professor em sala de aula que Para alcançar a dialogia entre as duas es-
explica algum costume narrado em uma tele- feras, Bakhtin entende que é preciso situar o
novela, ou uma resposta de um quiz televisivo. ato ético em sua articulação cultural e discur-
Outro exemplo: um cabeleireiro de uma cidade siva (da arte, da ciência, da jurisprudência) e
rurbana que transporta a moda televisava para em sua articulação vivencial em que o ato ético
os cabelos das clientes, atua como ator e diretor participa plenamente do devir do ser. Assim,
de teatro fazendo referências a temas já trata- “o fundamento de todo ato ético se baseia na
dos pela televisão, mas de um modo em que a noção de um sujeito responsável que participa
decodificação das mensagens é mais fácil. As- da verdade, significativa em si mesma, em seu
sim, o papel de ativista midiático também é de- autêntico ato de conhecimento (ato sempre in-
sempenhado pelos camelôs, pelos cordelistas, dividual), no qual só é avaliável e imputável no
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enciclopédia intercom de comunicação
contexto único e real deste sujeito” (AGUILE- Olga Pampa (Org.). Nuevo diccionario de la
RA, 2006, p. 20). teoria de Mijaíl Bajtin. Córdoba: Ferreyra
O ato assim concebido não se desvincula Editos, 2006.
de sua natureza de acontecimento vivencial. É BAKHTIN, Mikhail. Toward a Philosophy of the
no plano da vida, do devir único e irrepetível act (1920-1924). Austin: University of Texas
da existência, que todo ato ocorre. O ato revela- Press, 1993.
se assim como atividade e como evento, ambos SOBRAL, Adail. Ato/atividade/evento. In:
organizados pela interdependência e alteridade BRAIT, Beth (Org.). Bakhin: Conceitos-
sem a qual nenhuma dimensão ética pode ser chave. São Paulo: Contexto, 2005.
configurada. O “penso logo existo” cartesiano
cede lugar ao “respondo para existir” – e esta
é a máxima a partir da qual se define ética em Ato Fotográfico
Bakhtin. “Para” aqui não é conjunção retórica, A fotografia não pode ser pensada fora do ato
mas representação da dinâmica do processo de sua criação. A fotografia é mais do que uma
rumo ao outro. A dimensão ética se configura imagem, representação da coisa ou objeto foca-
na dupla mirada em direção ao ato e à vivência. do. Para além de ser resultado de um fazer e de
Toda atividade estética, filosófica ou científica um saber-fazer, a imagem fotográfica é também
se desenvolve no contexto desta ética dialógica. um ato. Um ato que não pode ser resumido ao
Contudo, “em Bakhtin, ato/atividade e instante da tomada (o clique).
evento não se confundem com a ação física per Para Dubois (1994), não se pode conceber
se, ainda que a englobem, sendo sempre en- tal ato fora de suas circunstâncias. Para o autor,
tendidos como agir humano, ou seja, ação fí- a fotografia é “(...) imagem-ato, estando com-
sica praticada por sujeitos, ação situada a que preendido que este ato não se limita apenas ao
é atribuído ativamente um sentido no momen- gesto da produção propriamente dita da ima-
to mesmo em que é realizada. Bakhtin aborda gem, mas inclui também o ato de sua recepção
essa diferença entre dado (físico) e postulado e de sua contemplação” (DUBOIS, 1984, p.15).
(o proposto pelo sujeito), a que se adiciona, Além disso, antes de ser uma representação de
para dar conta da atividade estética, o criado um objeto, a fotografia é, essencialmente, uma
(SOBRAL, 2005, p. 14). impressão, um traço ou registro que mantém
Talvez, possa parecer redundante qualificar uma estreita relação com seu referente. Desta
a ética formulada por Bakhtin como dialógica. forma, não é possível pensar a fotografia fora
Contudo, trata-se não de uma especificação, mas de sua inscrição referencial e de sua eficácia
de uma precaução no sentido de se evitar que o pragmática.
ato se projete na dimensão do sujeito-indivíduo. Mas o gesto de fotografar também é gesto
O sujeito que responde é a consciência, não do de caça, como afirma Flusser (2002). Um ges-
indivíduo, mas da relação homem-mundo. Esta to que não ocorre mais na tundra pré-históri-
é única e singular. (Irene Machado) ca, mas na floresta densa da cultura, que o es-
trutura. O fotógrafo, em seu ato de capturar as
Referências: imagens, precisa driblar e avançar contra as in-
AGUILERA, Nestor. Acto ético. In: ARÁN, tenções de sua cultura. Pois, fotografar é ges-
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enciclopédia intercom de comunicação
to diferente, depende de onde ocorra, varia de duos atomizados. Nessa perspectiva, o atrativo
acordo com o ambiente em que ocorre. Assim, turístico estaria ali desde sempre, bastando ape-
decifrar imagens implicaria, entre outras coi- nas ser descoberto. Não é de outra forma que
sas, o decifrar das condições culturais nas quais a ideia de potencial turístico é associada à de
o ato fotográfico ocorreu. atrativo turístico. Ambas perfazem um sistema.
Ao fotografar, o fotógrafo pode recorrer a Em sua versão mais funcional, o atrativo turís-
critérios estéticos, políticos e epistemológicos tico seria tudo aquilo – objeto, lugar ou even-
para dar conta de suas intenções. Para Flusser to – capaz de motivar quer o deslocamento de
(Op. Cit.), estes critérios estão programados no sujeitos e ou grupos sociais, quer para desfrute
próprio aparelho, uma vez que, antes de qual- quando em visita a uma localidade.
quer ação , o fotógrafo precisa conceber sua in- A própria palavra, de forma forma, carrega
tenção estética e política, pois precisa saber o em si o atrativo turístico, é portadora de parte
que está fazendo ao manipular a câmera. Ma- de seu enigma. Em primeiro lugar, seria aquilo
nipular a câmera é gesto técnico. Gesto que ar- que é visto como sendo de interesse do turismo
ticula conceitos, como fala Flusser. Ao apontar e forte o suficiente para motivar o deslocamen-
a câmera para o objeto, o fotógrafo é obrigado to de turistas. Informa não se tratar de algo co-
a transcodificar suas intenções e conceitos, que mum, banal e familiar. Evoca-se a ideia de dis-
serão depois transcodificados em imagens. Fo- tância geográfica como impeditivo, sobretudo.
tografias são imagens de conceitos, conceitos Contudo, há muito mais do que espaço a ser
transcodificados em cenas. (Jorge Felz) transposto e vencido. O deslocamento no turis-
mo é antes da ordem simbólica e moral. Aqui,
Referências: há um valor em jogo e, consequentemente, dis-
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campi- tinção hierárquica, esta como sendo “uma re-
nas: Papirus, 1994. lação a qual se pode chamar sucintamente de
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta. Rio englobamento do contrário” (DUMONT, 1992
de Janeiro: Relume Dumará, 2002. p.370. [Grifos do autor]). O atrativo turístico
. O universo das imagens técnicas – elo- é, então, um valor. Ele engloba o seu contrário,
gio da superficialidade. São Paulo: Anna- ou seja, tudo aquilo que não é capaz de motivar
Blume, 2008. suficientemente o turista em seu deslocamen-
to. O atrativo turístico, seja ele paisagem, mo-
numento ou evento, é colocado em um plano
ATRATIVO TURÍSTICO de superioridade frente a outros elementos alo-
Não faltam definições para o que se chama de cados no polo da inferioridade. Creio ter de-
atrativo turístico, no campo do turismo, do monstrado essa relação em “O melhor lugar do
marketing e da administração. Nas abordagens mundo é aqui”, cujo desdobramento foi a cons-
mais utilitaristas e de forte cunho pragmático- trução de uma ferramenta analítica que vim a
instrumental, o atrativo turístico é visto como chamar de turiscentrismo. Não há, assim, como
um dado em si mesmo. Na melhor das hipóte- desconectar a ideia de atrativo turístico às prá-
ses, ele é um objeto dado, no sentido positivis- ticas turiscêntricas. Todo lugar aspira a ser o
ta, ou seja, autoevidente aos sentidos de indiví- centro do universo, eis o que a ideia de atrati-
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ponto de vista narrativo (2.2.), refere-se a uma tempo, história: tecendo o cotidiano em fios
temporalidade própria na qual e com a qual jornalísticos. Tese de Doutorado em Comu-
opera o jornalismo, resultando numa complexa nicação. Niterói: PPGCOM-UFF, 2010.
sensibilidade para a experiência do presente. RODRIGO ALSINA, Miguel. A construção da
O conceito é decomposto em cinco rela- notícia. Petrópolis: Vozes, 2009.
ções com tempo: (a) instantaneidade: efeito de
compressão a partir da narração dos relatos
como sendo próximos da experiência original, Audiência
promovendo a sensação do instante (o que se O conceito de de audiência está intimamente
aproxima da concepção 2.1.); (b) simultaneida- relacionado ao modelo publicitário de finan-
de: favorece a noção de comunidade a partir da ciamento das indústrias culturais, típico da ra-
coincidência cronológica (apresentação simul- diodifusão, do broadcasting, ou cultura de onda
tânea de acontecimentos diversos, justapondo (ver verbete), ainda que não se limite necessa-
conteúdos dispersos numa síntese espaço-tem- riamente a ele. Em 1977, Dallas-Smythe formu-
poral) e do consumo simultâneo de um produ- lou um conceito de “produção de audiências”,
to jornalístico por parte de um público amplo e entendendo-as como a verdadeira mercado-
disperso e da consciência desse agir concomi- ria dos sistemas de comunicação de massas. A
tante; (c) periodicidade: promove a necessida- solução de Smythe (1977), que pretendia ser o
de do jornalismo ao gerar expectativa de novas ponto de partida para uma teoria materialista
leituras, e ao produzir sua própria obsolescên- histórica da comunicação, entendida esta como
cia, movimentando o circuito produção/ cir- o “buraco negro do marxismo ocidental”, pa-
culação/ consumo e sendo fator de conforma- decia de uma série de inconsistências, aponta-
ção da notícia (jogo ruptura/ continuidade), e das por vários autores da Economia Política da
agenda as ações sociais dentro de uma cronolo- Comunicação, entre os quais se destaca Gar-
gia prévia (tempo estruturante de relações so- nham (1979), no seu trabalho fundador. Uma
ciais), impondo seu ritmo aos múltiplos ritmos formulação alternativa encontra-se em Bolaño
sociais; (d) enunciação: o tempo do ato enun- (2000), na qual se desenvolve um conceito de
ciativo que mobiliza outras ações e presentifica “mercadoria audiência”, numa perspectiva tam-
ações pretéritas; (e) novidade: valor da notícia bém marxista, mas crítica à formulação origi-
que se constitui ou no relato de algo novo ou nal de Smythe. Note-se que as críticas ao tra-
em novo relato de algo já existente ou realiza- balho deste, como a de Garnham, não chegam,
do. (Letícia Cantarela Matheus) em geral a questionar a ideia da produção de
audiências em si, mas as insuficiências da solu-
Referências: ção, como considerar trabalho, o ato do públi-
FRANCISCATO, Carlos Eduardo. A fabricação co de dar atenção às mensagens das indústrias
do presente. Como o jornalismo reformulou culturais. Bolaño, ao contrário, fala na “dupli-
a experiência do tempo nas sociedades oci- cidade de mercadorias na Indústria Cultural e
dentais. São Cristóvão: Editora UFS; Ara- seu duplo caráter”, relacionado com as especi-
caju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2005. ficidades da incorporação do trabalho naque-
MATHEUS, Leticia Cantarela. Comunicação, les setores da produção social: um trabalho de
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de Circulação – IVC, que audita os principais nária, o instituto, hoje, é uma multinacional de
jornais e revistas do Brasil, fornecendo dados pesquisa brasileira atuante em doze países da
de tiragem e circulação dos mesmos. (Karla Re- América Latina. Nos primórdios, a pesquisa
gina Macena Pereira Patriota) era realizada através de visita domiciliar, tendo
como base uma amostragem representativa da
Referências: população brasileira por sexo, idade e condição
TAHARA, Mizuro. Contato Imediato com Mí- econômica. As pessoas informavam aos pesqui-
dia. 6. ed. São Paulo: Global, 1995. sadores os programas assistidos no dia da visita
VERONEZZI, José Carlos. Mídia de A a Z. São e os programas do dia anterior. Essa metodolo-
Paulo: Flight, 2002. gia foi considerada falha, já que aferia, basica-
mente, índices de lembrança ou recall, favore-
cendo os programas e emissoras de preferência
Audiência de televisão do entrevistado.
É a aferição, por meio de recursos técnicos de A partir de 1968, foi implantado o ‘Tevê-
medição domiciliar, do percentual de telespec- metro’, invenção do brasileiro Hélio Silveira da
tadores que assiste a um determinado progra- Motta que, na época, tentou patentear o apare-
ma, em um determinado horário. Os percen- lho, sem sucesso, nos Estados Unidos. O apa-
tuais de audiência são estimados com base no relho veio a ser o precursor do sistema atual,
número de domicílios que possuem aparelhos denominado people meter que é a medição da
de televisão, segundo pesquisa de itens de pos- audiência, minuto a minuto. Naquele tempo,
se do IBGE, realizada nos seus censos demo- o ‘Tevêmetro’ utilizava meios eletromecânicos
gráficos a cada dez anos. Esse número de do- que, mais tarde, evoluiu para um processo ele-
micílios, dividido por 100, corresponde a um trônico. Hoje, o people meter é um sistema digi-
ponto de audiência, o que vem a ser uma refe- tal que alimenta os processadores do Ibope em
rência para o mercado publicitário programar tempo real. Esse sistema de aferição é conside-
as emissoras e os horários para seus clientes. rado mais preciso que a pesquisa domiciliar, já
Há duas leituras técnicas para a audiência que mede de fato os programas que estão sendo
de TV: percentual de telespectadores por domi- assistidos e isso possibilita que as emissoras
cílio e percentual de telespectadores por apa- façam correções do rumo da programação em
relhos ligados, esta última utilizada como re- andamento. E é o indicador real do número de
ferência para a elaboração dos planos de mídia aparelhos ligados.
das agências de propaganda. Estas, a partir da Em que pese o estágio atual da pesquisa de
audiência, estimam o número de telespectado- audiência, no Brasil, ainda se questiona a me-
res e o custo da inserção publicitária por cada todologia. Os críticos do sistema alertam que
grupo de mil telespectadores. aparelhos ligados não significam, necessaria-
Sistemas de medição mente, audiência (a pessoa pode estar assistin-
Desde 1950, ano do início da televisão, no do a um DVD) e, no caso da TV paga (por as-
Brasil, a medição da audiência é exclusividade sinatura), a medição, que começou a ser feita
do Ibope, instituto fundado, em 1942, por Au- em 16/04/(faltou o Ano), , coloca em questio-
ricélio Penteado. Com nova composição acio- namento a validade do conceito de audiência
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bruta. Na TV fechada, a qualidade (composi- co, sonoro e icônico, no qual o autor propõe
ção) da audiência, e não a quantidade,é uma ainda a divisão nos subcódigos iconológico; es-
referência válida para as agências da propagan- tético; erótico (seleção de imagens) e subcódigo
da na sua busca pela segmentação. (Nelson Va- de montagem (edição) (Eco, 1993, p. 374). As-
rón Cadena) sim, ao se deparar com uma produção audiovi-
sual, nos mais diversos formatos, o receptor se
encontra com o olhar de outra pessoa. Enqua-
Audiovisual dramentos, movimentos e posicionamentos de
A princípio, audiovisual seria a união de dois câmera revelam os recortes de mundo de ou-
códigos: som e imagem. Entretanto, isso pres- tro indivíduo. Assim, tanto a imagem ficcional
supõe outros subníveis de codificação, nos quanto à informativa conduzem o raciocínio
quais significados subjacentes encontram-se no do sujeito pelos caminhos engendrados pelo
som e na imagem separadamente e, também, proponente do audiovisual com a ajuda dos có-
na junção indissociável de ambos. O som com- digos auditivos, imagéticos e linguísticos cita-
preende desde ruídos, ambientações, palavras e dos. Aumont (2004) reforça que a combinação
músicas até efeitos sonoros criados e o próprio entre as formas de captação e as de montagem
silêncio. Os sons são associados de acordo com se articulam para fornecer uma nova significa-
as experiências de cada individuo. Ortiz e Mar- ção. Desse modo, o audiovisual se vale da re-
chamalo (2005) argumentam que as associa- gra de complementaridade (entre som e ima-
ções podem ser universais, culturais e individu- gem) para tentar excluir os ambíguos, facilitar
ais. No primeiro nível estão ruídos integrantes o entendimento e a decodificação. A linguagem
da natureza cuja significação pouco varia. No audiovisual, portanto, encontra-se em meios
segundo, são sons conhecidos em determinado como o cinema, vídeo, televisão, conteúdos
grupo social possuindo valor atribuído cultu- multimídia, produções realizadas em celulares
ralmente. Já o nível individual corresponde aos e outros instrumentais provenientes do desen-
sons que remetem à memória afetiva do sujeito. volvimento tecnológico. Cada um com carac-
Dessa forma, os sons criam paisagens sonoras, terísticas individuais tanto em termos de pro-
emoções e ambientações que podem ser mo- dução, de utilização, bem como de significação
dificadas de acordo com o contexto e quando social. (Luciana Panke)
associadas a alguma imagem. A imagem, por
sua vez, pode ser usada nos produtos audiovi- Referências:
suais em formato estático – fotografias - ou em AUMONT, Jacques. A imagem. 13. ed. São Pau-
movimento – forma mais comum. De acordo lo: Papirus, 2004.
com Eco “a comunicação por imagens resulta ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. 5. ed.
mais eficaz e imediata do que a verbal, porque São Paulo: Perspectiva, 1993.
permite ao receptor uma imediata referência ao ORTIZ, Miguel Ângelo; MARCHAMALO,
referente ignorado” (1993, p. 376). Ao falar so- Jesús. Técnicas de comunicação pelo rádio
bre televisão, especificamente, Eco fornece sub- – a prática radiofônica. São Paulo: Loyola,
sídios teóricos aplicáveis ao audiovisual como 2005.
um todo, pois este possui os códigos linguísti-
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imagem e vê-se que ele começa a perceber de ção: Sérgio Paulo Rouanet. 7. ed. São Paulo:
modo diverso uma fotografia de outros tipos de Brasiliense, 1994.
imagem. BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época
Na foto, o espectador busca algo que é úni- de sua reprodutibilidade técnica. Tradução:
co, pois ela representa um instante, em que algo Carlos Nelson Coutinho. In: ADORNO et
esteve diante da objetiva e foi como que cap- al. Teoria da cultura de massa. Introdução,
turado por ela. É uma presença que não se dá comentários e seleção de Luiz Costa Lima.
efetivamente, a não ser naquele momento da 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p.
apreensão da foto, um momento que não existe 205-240.
mais e nem vai existir, mas que é sempre reto- DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros
mado, quando se olha para a foto. No entanto, a ensaios. Coleção ofício de arte e forma.
foto existe também em sua materialidade: pode Tradução: Marina Appenzeller. Campinas:
ser tocada, rasgada, dobrada, mas apenas mos- Papirus, 1994.
tra a ausência do que existiu uma única vez.
Assim, a intimidade com essa presença única
da foto apresenta certa “obsessão, feita de dis- Autocensura
tância na proximidade, de ausência na presen- O desenvolvimento da escrita e da oralidade
ça, de imaginário no real que nos faz amar as teve uma estreita ligação com as mudanças so-
fotografias e lhes proporciona toda a sua aura: ciais, políticas e econômicas que se afirmaram
única aparição de um longínquo, por mais pró- ao longo da História. O surgimento da im-
ximo que esteja” (p. 314). prensa trouxe o acesso às informações e, conse-
A aura fotográfica retoma um valor de cul- quentemente, a formação de uma opinião pú-
to que não é mais o mesmo anterior, mas um blica atuante. Em decorrência desse fato, foram
valor aurático diferenciado e que, talvez, não impostas várias maneiras de censura que, cer-
seja tão duradouro agora, segundo Jacques Au- tamente, vinham de encontro aos vários tipos
mont, em “A imagem”. Assim, a aura fotográfi- de interesse. A interferência atingiu, em grande
ca, se não é a mesma que Benjamin descreve, é escala, as formas de expressões escrita e oral.
fruto exatamente da busca dessa definição do Mais tarde, a Psicanálise introduziu tam-
pensador alemão, em uma percepção que avan- bém o conceito de censura, não designando
ça no conceito de obra de arte e incorpora uma apenas uma influência externa de um agente
perspectiva histórica na noção do que é o obje- real sobre outro agente igualmente pertencen-
to artístico. (Carlos Pernisa Junior) te à realidade externa, mas também a de um
indivíduo sobre si mesmo. Na metapsicologia
Referências: freudiana, a autocensura é caracterizada como
AUMONT, Jacques. A imagem. Coleção ofício pressão da instância do superego sobre as for-
de arte e forma. São Paulo: Papirus, 1993. ças contidas na instância psíquica chamadas de
BENJAMIN, Walter. Pequena história da fo- id, isto é, como repressão (ZELJKO LOPARIC).
tografia. In: . Magia e técnica, arte No Brasil, a Ditadura Militar que perdurou por
e política: ensaios sobre literatura e história mais de 20 anos, considerava que a censura era,
da cultura. Obras escolhidas; v. 1. Tradu- sem dúvida, sua maior força e deixou como um
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de seus legados para o século XXI a autocensu- num conflito de classes? Imparcial contra quem
ra. Diante da repressão imposta, na época, os diante de uma greve? Isento para que lado num
jornais que não cedessem eram fechados, seus desastre atômico? (ABRAMO, 1996, p.38). Nes-
proprietários e jornalistas eram presos, tortura- sa perspectiva, Abramo defende a tomada de
dos e até mesmo mortos. A fim de não se abate- posição do jornalista diante dos fatos. (Elisabe-
rem pela violência, os profissionais de impren- th Baptista Bittar)
sa eram submetidos, comumente, a avaliação
de si mesmos. Referências:
A autocensura jornalística, na ocasião, con- ABRAMO, Perseu. Padrões de manipulação na
sistia na sonegação deliberada de informações grande imprensa. São Paulo: Fundação Per-
relevantes ao interesse público que poderiam seu Abramo, 1996.
de alguma forma comprometer o veículo. Nesse KUCINSKI, Bernardo. A síndrome da antena
sentido, Kucinski afirma que a prática prolon- parabólica: ética no jornalismo brasileiro. .
gada da censura pode ter gerado uma cultura São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998.
na qual se destacam a compulsão à unanimi- LOPARIC, Zeljko. Objetivação e Intolerância.
dade, ao simulacro, e o desprezo pela verdade Nat. hum. , vol. 9, n. 1, jun/2007. p.51-95.
nos momentos críticos no processo de criação TRAQUINA, Nelson. Jornalismo: Questões, Te-
do consenso (KUCINSKI, 1998, p. 51). Assim, o orias e Estórias. Lisboa: Ed.Vega. 1993.
autor considera que essa autocensura delibera-
da de informações por parte do profissional de
comunicação ou do próprio jornal podem ser Autor
de relevância para o interesse público, mas que, Essa palavra foi trabalhada de muitas formas ao
se divulgadas, poderão comprometer o jorna- longo da História. Na Antiguidade, tal noção
lista ou a empresa. Nelson Traquina conside- não existia. Na Idade Média, o vocábulo latino
ra que o profissional de imprensa conforma-se auctor correspondia a Deus, provedor de toda
mais com as normas da política editorial da or- significação; mas também era o patrono que
ganização do que com quaisquer crenças pes- patrocinava um manuscrito; era, ainda, a pes-
soais que traz consigo, ou com suas ideias éti- soa que copiava no pergaminho o texto; e, além
cas (TRAQUINA, 1993, p. 135). Já Gurevitch e disso, era a pessoa que também o recitava. É a
Blumler (1979), entendem como a natureza do noção moderna de autor que localiza num in-
trabalho jornalístico a tensão constante entre o divíduo a responsabilidade pela criação de uma
caos e a ordem, a incerteza e a rotina, a criativi- obra. A assinatura passa a diferenciar o texto
dade e o constrangimento, a liberdade e o con- autoral do texto anônimo, sem dono, e que cir-
trole (apud, ibidem, p. 137) cula livremente. O autor passa a ser o “dono da
Para Perseu Abramo, é desejável para um significação” do texto que assinou.
jornalista uma postura de neutralidade, impar- Essa concepção se firmou no Romantismo
cialidade ou isenção no lugar de uma tomada (entre o final do século XVIII e a primeira me-
de posição? Nesse questionamento, o autor re- tade do XIX), quando foi institucionalizada a
flete ainda o que significa ser neutro frente à subjetividade – a “vida interior” dos indivídu-
realidade do mundo? Neutro a favor de quem os. Desde esse momento, a produção artística
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passou a ser interpretada como uma “expres- discursos no interior da sociedade. Sendo as-
são” da interioridade, cujo “intenção real” ape- sim, o que também muda é a noção românti-
nas era sabida pelo próprio autor. No entanto, ca de sujeito, como senhor de si, indivisível e
segundo essa imaginação romântica, para ser pleno.
autor não bastava assinar uma obra. Era pre- Especialmente, a partir dos anos 1980, es-
ciso ser um “gênio”, isto é, ser aquele que é es- tamos vivendo um “renascimento do autor”. As
colhido para ter uma espécie de deus interior; tecnologias de comunicação, o boom de rela-
ser como um profeta que, à frente do seu tem- tos biográficos e autobiográficos, as narrativas
po, traz o futuro para o passado, fazendo algo transnacionais, os relatos pós-traumáticos e a
muito melhor do que as pessoas comuns de sua proliferação de narrativas autorais nas mídias
época são capazes de reconhecer; e, principal- têm estabelecido uma “literatura do eu”, na qual
mente, ser aquele que sempre produz um texto as fronteiras entre o referencial e o ficcional são
tendo como origem absoluta o seu próprio su- mais uma vez problematizadas. Com tudo isso,
jeito criador. o campo da autoria se ampliou e se diversificou.
Assim, a autoria passou a estar visceral- Não só os “gênios”, mas também os homens e
mente ligada à originalidade. Qualquer prática mulheres comuns são autores. Esse retorno do
de imitação é condenada. Impôs o entendimen- autor é próprio das reinvenções contemporâ-
to de que o autor é um criador independente neas do sujeito, agora entendido como lugar de
do mundo material. Entretanto, o momento de múltiplas identificações e narrativas. (Igor Sa-
consolidação dessa imaginação romântica da cramento)
autoria é também o de afirmação de uma nova
lógica de produção editorial, na qual a “distin- Referências:
ção natural” do autor genial passou a fazer par- BARTHES, Roland. “A morte do autor”. In:
te do jogo do mercado literário em busca de . O rumor da língua. São Paulo: Bra-
mais lucros. siliense, 1988.
Nos anos 1960, foi declarada a “morte do BUESCU, Helena Carvalhão. Em busca do au-
autor”. Em 1968, Roland Barthes, num texto tor perdido. Lisboa: Cosmos, 1998.
homônimo ao do movimento, critica a dupla FOUCAULT, Michel. O que é um autor?. Lis-
associação do autor com a obra: como cria- boa: Veja, 1992.
dor (“pai”) e como proprietário (“dono”). Para GUMBRECHT, Hans Ulrich. Modernização dos
ele, este tipo de autor não existe mais, porque sentidos. São Paulo: Editora 34, 1998.
a obra como se entedia no Romantismo como WILLIAMS, Raymond. Cultura e sociedade:
pura manifestação do gênio individual não 1780-1950. Rio de Janeiro: Editora Nacio-
existe mais. Então, Barthes substitui tal noção nal, 1969.
por texto, opção que permite perceber a inter-
textualidade, desfaz o conceito de originalida-
de e insere o leitor. No ano seguinte, na con- AutoRreferencialidade
ferência “O que é um autor?”, Michel Foucault As mediações tecnológicas configuraram no-
afirmou que o autor é uma função que caracte- vas formas expressivas na contemporaneidade
riza – e localiza – a existência de uma ordem de (Machado, 1997). A autorreferencialidade pode
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ser considerada uma delas, sendo possível ob- ta estética de autorreferencialidade que o vídeo
servá-la, de modo privilegiado, na produção legou à TV não tem, no entanto, nada em co-
videográfica. Podemos designar como autor- mum com esse “narcisismo televisual” avesso
referencialidade os procedimentos ético-esté- a qualquer projeto crítico em relação ao meio.
ticos que permitem ao meio remeter aos seus Consiste, ao contrário, em exercício de metalin-
próprios produtos, processos e práticas. Na te- guagem a partir do qual desconstrói seus tipos e
levisão e no vídeo, assim como no cinema, esse estereótipos, suas “fórmulas” e formatos, o que
mecanismo tem se manifestado, historicamen- pôde ser exemplarmente observado em progra-
te, como uma estratégia de desmascaramento mas como o TV Pirata (1988-1990, 1992), dirigi-
dos seus próprios procedimentos de mediação do por Guel Arraes (Rede Globo). TV Pirata era
e estratégias de enunciação: representações que um programa de humor semanal que “brinca-
se assumem como representações, descompro- va” com a programação da emissora, recriando,
metidas com a mímese, com qualquer orienta- parodicamente, suas novelas, telejornais, humo-
ção ilusionista, com a concepção da tela como rísticos e até mesmo a publicidade. Foi um mar-
“janela” para o real; imagens que se mostram co dessa televisão que fala e ri de si mesma, mas
como imagens, desprendidas de um referen- que faz isso orientada por uma postura crítica
te no mundo natural; discursos que, antes de em relação às suas próprias matrizes organizati-
qualquer coisa, “falam” de si. vas (Fechine, 2008). (Yvana Fechine)
Na produção audiovisual contemporânea,
a autorreferencialidade é, sobretudo, um lega- Referências:
do da videoarte, dos anos 1960/1970, a partir FECHINE, Yvana. Núcleo Guel Arraes: forma-
da exploração estética da baixa resolução e do ção, influências e contribuições para uma
processo genético de configuração da imagem TV de qualidade no Brasil. In: Guel Arraes,
do vídeo (série de linhas de retícula, visíveis a um inventor no audiovisual brasileiro. Reci-
olho nu no monitor, varridas por um feixe de fe: CEPE, 2008.
elétrons). Essa natureza da imagem eletrônica MACHADO, Arlindo. Formas expressivas da
propiciou experimentações formais que proble- contemporaneidade. In: Pré-cinemas & Pós,
matizavam o mascaramento das suas técnicas cinemas. Campinas, SP: Papirus, 1997.
constitutivas (com o manuseio quase “plástico” . A arte do vídeo. São Paulo: Brasilien-
da imagem), bem como as representações re- se, 1990.
alistas popularizadas pelo cinema e pela tele-
visão (Machado, 1990). O novo meio afirmou-
se questionando os modelos de representação AUTORITARISMO
dos próprios meios e, com isso, abriu uma nova O conceito de autoritarismo deve ser estabele-
perspectiva criativa inclusive para a TV, em re- cido de forma relacional ao de Democracia e,
lação à qual se contrapunha mais diretamente. no caso dos meios de comunicação, da Liber-
Na atualidade, a televisão fala de si mesma, dade de Imprensa. Os autoritarismos atuam a
a todo o tempo, chegando mesmo a criar pro- partir de duas perspectivas políticas distintas,
gramas cujo objeto é a sua própria programa- embora complementares: o gesto de silenciar
ção, num voltar-se para si mesmo. A propos- e o de fazer dizer. Assim, para além da censu-
118
enciclopédia intercom de comunicação
ra, pode-se pensar o conceito como a capaci- É atribuído ao regime autoritário deflagra-
dade de produzir, pela força, falsas evidências do pelo Golpe Militar de 1964 o fortalecimento
de verdade. da infraestrutura tecnológica da TV brasileira.
Bobbio (1998, p. 94) define autoritarismo Nesse mesmo período, no entanto, surgem ex-
como a manifestação degenerativa da autori- periências de jornalismo alternativo, em que o
dade, a partir da imposição da obediência que engajamento político e as posturas contra-he-
prescinde o estabelecimento do consenso, opri- gemônicas e contraculturais se opõem ao con-
mindo a liberdade. Com isso, percebe-se o ges- trole informacional. Devem-se registrar, tam-
to político da redução da pluralidade dos pon- bém, as tentativas de resistência, por parte dos
tos de vista pela violência, simbólica ou de fato, veículos de comunicação, contra o aparato re-
de uma visão única. pressor da ditadura.
Com a chegada da corte portuguesa (1808), Mesmo após a abertura política, o risco do
o jornalismo se torna uma atividade politica- autoritarismo persiste nas notícias com pou-
mente autorizada no Brasil. A partir desse mo- ca complexidade, na reprodução de uma visão
mento, é possível relacionar diferentes períodos única dos fatos, na apuração superficial e no in-
autoritários a cenários de desenvolvimento téc- teresse comercial colocado acima do interesse
nico e a constantes lutas pela democracia. público e dos direitos fundamentais dos envol-
Para Sodré (1966), a presença real, no Bra- vidos nas reportagens.
sil, embora responsável pela emergência de A recente extinção da lei de imprensa, res-
uma imprensa oficialista e controlada, repre- quício do golpe militar de 1964, suscita o deba-
senta, também, o desenvolvimento do embrião te sobre a liberdade de expressão, a responsabi-
que permitirá a existência dos pasquins críticos lidade social do jornalista e seus limites éticos.
e o fortalecimento do papel político dos jornais Nessa ótica, emergem questionamentos acer-
abolicionistas e republicanos do final do sécu- ca da regulamentação da atividade por parte
lo XIX. da sociedade civil, de conselhos profissionais
Será no Estado Novo (1937-1945) que a in- ou por legislações específicas. (Flora Daemon e
terferência sobre os meios de comunicação se Kleber Mendonça)
tornará ainda mais evidente. Ao lado de esti-
mular a disseminação do rádio no Brasil, o Es- Referências:
tado passa a promover um controle cada vez BOBBIO, N. Dicionário de Política. Brasília:
mais total dos conteúdos culturais e informa- Editora UnB, 1998.
tivos, a partir de complexos aparatos de impo- SODRÉ, N. W. A história da imprensa no Brasil.
sição ideológica, como o Departamento de Im- Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
prensa e Propaganda (DIP).
119
B, b
de música eletrônica que leva centenas de pes- re Beauchamps. As coreografias podem ser
soas para lugares afastados dos centros urbanos. executadas individualmente ou em duplas. Já
As raves costumam durar mais de 12 horas. o balé moderno, a partir do século XX, baseia-
Entre as danças históricas praticadas, nesse se nas posições clássicas, porém, permite mais
tipo de encontro social, estão o minueto (a dan- liberdade à criação de movimentos. No sécu-
ça de passos miúdos), a quadrilha (de origem lo XVIII desenvolveu-se o balé dramático e, no
holandesa), a polca (originária da Boêmia), a XIX, deu-se destaque a primeira bailariana e
mazurca (de origem polaca), entre outras. Nas sua perfomance na ponta dos pés.
danças de salão há sempre um líder e uma li- A precisão dos movimentos alcançaria todo
derada. Como não há coreografia, os passos o corpo de ballet nesse período. Reação a esse
dependem da iniciativa e criatividade do líder. formalismo usual nas coreografias do célebre
Entre as danças de salão estão listados o tango, Marius Petipa, do Ballet Imperial Russo, de São
o mambo, o samba, o paso doble, a rumba, o Peterburgo (1862) seria produzida na obra de
cha cha cha, a valsa, o bolero, a salsa, o forró, o outro coreógrafo russo, Michael Fokine. Essa
pagode, o merengue, a lambada, entre outros. tendência experimental se desenvolveria ain-
(Jacques A. Wainberg) da mais no século XX. Desses ramos, surgiria a
dança moderna e contemporânea, cujo formato
guarda similitude à dança clássica, muito em-
Balé bora subverta sua postura convencional e rígi-
O termo pode designar tanto a dança – carac- da. Nesse período, a Rússia tornou-se um dos
terizada pela precisão e pela leveza na execução principais polos de desenvolvimento deste tipo
dos movimentos, gestos e poses elaborados, de dança no mundo.
como a apresentação – grupo de pessoas exe- Dentro os muitos bailarinos russos de re-
cutando a coreografia, geralmente em teatros, levo, destacam-se os nomes de Vaslav Nijinski,
com produção de figurinos e cenários. Mikhail Baryshnikov, Sergey Diaghilev e Ana
O balé tem origem italiana e é inspirado Pavlova. Peças musicais para o ballet foram
nas pantomimas – antigas peças de teatro sem compostas por Pyotr Tchaikovsky e Igor Stran-
falas, apenas com expressões faciais e corporais. visnky. Hoje em dia, há grandes companhias de
Outra fonte inspiradora do ballet são os bailes ballet atuando em vários países. Destacam-se
da aristocracia das cortes dos países da Euro- o American Ballet Theatre, o Ballet Russe de
pa Ocidental. Os movimentos nestas danças de Monte Carlo, o Ballet Bolshoi, o New York City
salão eram precisos e com pouco contato físico Balle e o Royal Ballet. No Brasil atuam com
direto. Estas convenções serviriam de inspira- grande destaque o Ballet Nacional, fundado em
ção às técnicas do ballet clássico. 1985, e o Ballet Stagium, fundado em 1971. (Jac-
O amadurecimento dessa modalidade se ques A. Wainberg)
deu na criação da Académie Royale de Musi-
que, fundada por Luís XIV, da França, no sé-
culo XVII , onde também se ensinava balé. Ali, Banda desenhada
as cinco posições básicas do balé clássico, usa- Denominação dada às histórias em quadrinhos
das até hoje, foram criadas pelo professor Pier- em Portugal. Na realidade, trata-se de tradução
122
enciclopédia intercom de comunicação
literal da expressão francesa bande dessinée que, vistas de histórias em quadrinhos, o que lhes
originalmente, referia-se apenas às tiras de his- garante um status cultural diferenciado. Esse é
tórias em quadrinhos (comic strip), mas que o formato preferido de publicação nos países de
depois passou a ser aplicada a toda produção língua francesa, no qual são publicadas as obras
quadrinhística, em qualquer formato. De uma de autores consagrados, como René Goscinny e
maneira geral, embora a expressão nada mais Albert Uderzo (Asterix), Hergé (Tintin), Moe-
seja que um sinônimo daquilo que conhecemos bius (Tenente Blueberry, Incal), entre outros.
como histórias em quadrinhos, muitas vezes, Na Europa em geral, a produção de ban-
ela costuma relacionada diretamente à publi- das desenhadas é extremamente diversificada
cação europeia, em oposição àquela produzida em termos de gêneros e personagens, diferen-
nos Estados Unidos, genericamente conhecida ciando-se da produção norte-americana, em
como comics ou comic-books ou do Japão, onde que predomina o gênero dos super-heróis. Na
os quadrinhos são conhecidos como mangás. Europa, as histórias em quadrinhos de aventu-
Pode-se afirmar que as raízes da banda de- ra, principalmente aquelas que envolvem ele-
senhada são encontradas na produção de auto- mentos de ficção científica, tiveram grande de-
res de livros infantis ilustrados, considerados senvolvimento, possibilitando a publicação de
como precursores dessa forma de manifestação materiais direcionados para todos os gostos e
artística. Entre esses autores, podem ser desta- idades. A produção desse gênero destina ao
cados vários nomes, como o do suíço Rodol- público adulto merece destaque e esse de arte
phe Töpffer, o do alemão Wilhelm Busch e o encontrou um grande número de adeptos ,
do francês Georges Colomb, conhecido como a partir das décadas de 1960 e 70, quando do
Christophe. Além deles, o trabalho de artistas e aparecimento de títulos como Metal Hurlant,
humoristas gráficos ingleses,nos vários periódi- Hara-Kiri, L´Écho des Savanes e Fluide Glacial.
cos humorísticos publicados no século XIX, to- Além disso, a ligação dessa produção qua-
dos fartamente ilustrados. Entre essas publica- drinhística com a indústria cinematográfica e
ções foi, talvez, a revista Punch aquela que mais de animação é muito próxima, com muitos per-
se sobressaiu. Desde seu início, em 1841, ela já sonagens dos quadrinhos sendo transformados
apresentava um conjunto de desenhos inter-re- em séries de desenho animado ou em filmes de
lacionados que caracterizam o conceito que hoje longa metragem. Entre os personagens de qua-
se tem de uma tira de histórias em quadrinhos. drinhos que foram objeto desse tipo de trans-
Foi na Punch, por exemplo, que surgiu uma sé- posição de linguagem estão Tintin, os Smurfs,
rie de aventuras protagonizada por Mr. Briggs, Corto Maltese, Spirou e Lucky Luke. (Waldomi-
criadas por John Leech, um dos mais conheci- ro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos)
dos ilustradores dessa revista e, segundo afir-
mam, o primeiro a utilizar a palavra cartoon.
Atualmente, pode-se dizer que grande par- BANNER
te da produção de bandas desenhadas é pu- Cartaz ou pôster gigante utilizado em ações
blicada em formato de álbuns ou edições en- promocionais e de merchandising, confecciona-
cadernadas, em geral de custo mais alto e de do em lona, plástico, tecido ou papel. O mate-
qualidade bastante superior às tradicionais re- rial é produzido em plotter (impressão digital)
123
enciclopédia intercom de comunicação
ou em serigrafia nos mais diversos formatos. ções primeiras ou novos atores de ingressa-
A mensagem pode ser impressa em ambos os rem num mercado. Empresas transnacionais,
lados da peça, conforme a ideia criada para o que pretendem lançar-se em um determinado
material de ponto-de-venda. setor, trazem consigo especialmente recursos
O termo banner é uma palavra de língua substantivos (filosofia e política) e competentes
inglesa que significa bandeira; tem origem em (capacidade técnica), além do intuito de apro-
bandwa, do gótico “sinal”, que se transformou priar-se de parcelas da indústria visada. O ní-
em bandaria no latim, e em português a forma vel de ameaça desses novos entrantes depende
como conhecemos hoje, bandeira. Daí o uso das barreiras impostas pelos competidores já
em publicidade e propaganda do termo ban- atuantes. Consideram-se as principais fontes
deirolas (pequenas bandeiras). de barreiras à entrada: (a) quando se apresen-
Banner também é um termo muito utiliza- tam como absolutas, tornando os movimentos
do na rede mundial de computadores, como re- dos entrantes impraticáveis, seja por motivos
ferência da imagem digital inserida nas páginas de força maior ou por contradição às normas
de internet (website e hot-site); como material jurídicas impostas pelo Estado; (b) no caso do
publicitário é utilizado para promover produ- mercado exigir a aquisição de aparelhamento
tos, serviços e marcas na web. (Luiz Cézar Silva específico para a realização de um produto, o
dos Santos). retorno dos investimentos da empresa entran-
te tende a ser irrecuperável, apresentando-se
Referências: como uma barreira de custos. Diferentemen-
BARBOSA, Gustavo Guimarães; RABAÇA, te dos custos fixos, que despertam interesse em
Carlos Alberto. Dicionário de Comunica- empresas de outros segmentos, custos irrecu-
ção. São Paulo: Ática, 1987. peráveis são investimentos irreversíveis, com
GEHRINGER, Max. Big Max – Vocabulário retorno pífio ou inexistente quando subutili-
Corporativo: origens e histórias curiosas de zados. Manufatura, desenvolvimento de mar-
centenas de palavras para você digerir. São ca (design) e distribuição são alguns exemplos.
Paulo: Negócio Editora, 2002. No entanto, se o empreendimento pertencer a
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 2. ed.. um ator midiático notório, parte de um conglo-
Rio de Janeiro: Campus/ABP, 1999. merado, estes custos podem ser reduzidos ou
SILVA, Dionísio da. A vida íntima das palavras: terem seus resultados aperfeiçoados junto aos
origens e curiosidades da língua portuguesa. consumidores; (c) nem sempre os custos finan-
4. ed. São Paulo: Arx, 2002. ceiros são os mais dispendiosos. Custos de tro-
SILVA, Zander Campos da. Dicionário de Ma- ca, a exemplo da mudança de plataforma, tam-
rketing e Propaganda. 2. ed. Goiânia: Refe- bém são barreiras, na medida em que exigem
rência, 2000. tempo e aperfeiçoamento técnico do entrante
para com o novo sistema; (d) a reputação, ou
falta dela, pode ser um empecilho, já que o en-
Barreiras à entrada trante dependerá quase que exclusivamente da
Conjunto de ações e elementos que impedem disposição do consumidor em avaliar o custo-
agentes não-líderes de ascenderem às posi- benefício do produto ofertado; (e) do ponto de
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enciclopédia intercom de comunicação
vista mercadológico, quando um setor encon- BRITTOS, Valério Cruz. Capitalismo contem-
tra-se em contração, seu ingresso apresenta-se porâneo, mercado brasileiro de televisão por
como inviável, uma vez que o entrante tardará a assinatura e expansão transnacional. Tese
rever o retorno de seus investimentos; (f) o pa- de Doutorado em Comunicação e Cultura
drão tecnoestético (pela regra nova, vogais dis- Contemporâneas – Faculdade de Comuni-
tintas se atraem para uma simplificação maior cação, Universidade Federal da Bahia. Sal-
da língua. Recomendo colocar em itálico por vador, 2001.
tratar-se, em tese, de um neologismo) (vide ver- POSSAS, Mario Luis. Estruturas de Mercado em
bete) também se configura como uma barreira Oligopólio. São Paulo: Hucitec, 1985.
de suma importância na área comunicacional.
Trata-se da capacidade da organização em ter
seus produtos identificados pelo consumidor, Bem comum e Comunicação
através de um conjunto de elementos técnicos, O acesso à comunicação como bem público
estéticos e estratégicos, que direcionam suas pode ser definido como um dos direitos funda-
normas de produção. Assim, compreende-se a mentais no quadro de uma esfera pública refe-
existência de duas barreiras à entrada, caracte- renciada nos valores liberais resultantes da as-
rísticas dos mercados comunicacionais: a esté- censão social e política burguesa. Comunicação
tico-produtiva e a político-institucional. “A bar- social, assim, figura como produto da moderni-
reira à entrada estético-produtiva envolve os dade ocidental e de transformações estruturais
fatores que diferenciam o produto, como espe- consolidadas, nas sociedades européias, a par-
cíficos padrões e modelos estéticos e de produ- tir do século XVIII. São os ideais de liberdade ,
ção, cuja obtenção demanda esforços tecnológi- igualdade e fraternidade, consagrados na Revo-
cos, de inovação estética, de recursos humanos lução Francesa, que vão alimentar uma concep-
e financeiros” (BRITTOS, 2001. p. 84). Já a bar- ção de bem comum, com o livre acesso de indi-
reira político-institucional processa-se a partir víduos e grupos ao direito de buscar, receber e
de atuações dos órgãos executivos, legislativos divulgar informações e opiniões como elemen-
e judiciários estatais e suas unidades geo-polí- to central do exercício ativo da cidadania.
tico-administrativas, de forma direta ou indire- Impossibilitados de abstrair uma totalidade
ta, considerando duas atribuições de regulador, complexa dos novos espaços da cidade, os cida-
por excelência, e viabilizador de infra-estrutura dãos necessitam recorrer à comunicação social
(Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske). a fim de apreender realidades muito mais am-
plas, que fogem à capacidade perceptiva ime-
Referências: diata dos sentidos.
BAIN, John. Barriers to new competition. Har- Os meios de comunicação, numa tendên-
vard: Harvard University Press, 1956. cia iniciada ainda na segunda metade do sécu-
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Indústria lo XIX, vêm se tornando espaços cada vez mais
Cultural, Informação e Capitalismo. São centrais na mediação de conflitos, seja entre
Paulo: Hucitec, 2000. setores da sociedade civil, seja entre estes e o
. Mercado Brasileiro de Televisão. São Estado, tornando-se uma espécie de fiscais da
Paulo: Educ, 2004. institucionalidade nas democracias republica-
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enciclopédia intercom de comunicação
nas. Assim, fazer jus à liberdade de opinião e 1937 a 1945, durante o Estado Novo; e, em certo
de expressão implica que indivíduos e coleti- período da Ditadura Militar, de 1964 a 1985. A
vidades tenham iguais oportunidades de aces- Constituição de 1988, entretanto, no artigo 220,
so aos recursos materiais e simbólicos neces- resgata o direito à comunicação como funda-
sários à difusão de informações e visões. Mas mental, consagrando-o como indicativo de ma-
a consolidação desse direito tem se mostrado turidade democrática republicana.
um desafio mesmo naqueles meios de comu- Na era da internet, cresceram as expecta-
nicação que, além de integrarem a categoria de tivas em relação à possibilidade de um maior
serviços públicos, são dependentes de conces- acesso ao espaço público midiático. Contudo,
são do Estado, como é o caso do rádio e da TV. além de o acesso aos aparatos eletrônicos ain-
Das primeiras publicações impressas até as mí- da constituir um problema, os fatores de legi-
dias eletrônicas atuais, os meios de comunica- timidade presentes nas mídias convencionais
ção mantêm-se como instituições disputadas também se transferem para o espaço da rede,
pelos núcleos de poder, exatamente por sua ca- colocando novos desafios a uma atuação cidadã
pacidade de alimentarem imaginários, realçar participativa, numa esfera pública enormemen-
visões de mundo, organizar certas memórias e te ampliada; mas, ao mesmo tempo, fortemente
obscurecer outras. Não é por outra razão que seletiva. (Isac Guimarães)
em sociedades fissuradas pelas desigualdades,
os media encarnam enorme controle social, em Referências:
muitos casos, atuando como legitimadores des- HABERMAS, J. Mudança estrutural da esfera
sas mesmas desigualdades, condição , na qual pública – investigações quanto a uma cate-
se pode dizer que realizam o oposto do que se- goria da sociedade burguesa. Rio de Janei-
ria seu propósito de bem comum, na medida ro: Tempo Brasileiro, 1984.
em que o direito de fala se tornou um privilégio SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa
de poucos. no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasi-
Tais contradições refletem o paradoxo fun- leira, 1999.
dante da modernidade ocidental, em seu ideá-
rio de igualdade, liberdade e fraternidade, por
um lado; mas, ao mesmo tempo, a necessidade BENCHMARKING
de controle e regulação das multidões ou das É um processo contínuo positivo e pró-ativo
chamadas “classes perigosas”, por outro. a partir de uma investigação que fornece in-
O reconhecimento do direito à liberdade formações valiosas dentro de um processo de
de expressão e opinião como um bem comum aprendizado com outras pessoas em um traba-
(substantivo) inalienável e necessário ao bem lho intensivo, que consome tempo, e que requer
comum (advérbio) é reconhecido oficialmente, disciplina, principalmente por ser uma ferra-
no Brasil, desde a constituição (aqui, constitui- menta viável a qualquer organização e aplicável
ção de ser constituído, formado ou constitui- a qualquer processo empresarial.
ção de conjunto de leis? Se for lei, é maiúscula Já que benchmarking surgiu como uma ne-
a palavra Constituição) do Império, vindo a ser cessidade de informações e desejo de aprender
suprimido nos dois períodos das ditaduras: de depressa, assume uma postura de empresa que
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enciclopédia intercom de comunicação
gosta de aprender com outras empresas para zar a produção intelectual e artística, quando
que possa justificar o esforço investido no pro- esta passa a ser viabilizada pelos mecanismos
cesso de correção de problemas empresariais. do mercado. O mercado de bens simbólicos
Entre os tipos de benchmarking encontra- nasceu, a partir do momento que essa produ-
mos: (a) o competitivo, que se caracteriza por ção adquiriu autonomia em relação à Igreja e
ter como alvo específico as práticas dos concor- à aristocracia que, antes, eram as suas princi-
rentes; (b) o interno, que é a procura pelas me- pais fontes de financiamento. O Romantismo
lhores práticas dentro da própria empresa ou e a primeira Revolução Industrial foram fun-
organização; (c) o genérico, que é baseado num damentais para o surgimento desse mercado,
processo que atravessa várias funções da orga- porque alimentaram a formação de um público
nização; e (d) o funcional, que pode existir ou consumidor e de profissionais especializados na
não na própria empresa e serve como troca de produção de arte e de ideias. Estas foram con-
informações acerca de uma atividade exemplar vertidas em “bens”, no sentido forte da palavra,
dentro da organização. passando a ser produzidas e distribuídas con-
Essa busca das melhores práticas nas em- forme a lógica do mercado, em que um públi-
presas que conduzem ao desempenho superior, co consumidor anônimo sustenta a produção
a fim de melhorar a realização da mesma fun- e confere aos artistas e intelectuais uma maior
ção ou uma função semelhante. Enfim, bench- independência. Tal autonomia, entretanto, é re-
marking é o processo de comparação do desem- lativa, pois são justamente as leis do mercado
penho entre dois ou mais sistemas. (Luiz Cézar que substituem o controle mais direto dos an-
Silva dos Santos) tigos financiadores. De todo modo, a ausência
desse controle permite aos produtores reivin-
Referências: dicar a supremacia das finalidades puramente
BARBOSA, Gustavo Guimarães; RABAÇA, estéticas e intelectuais em relação a quaisquer
Carlos Alberto. Dicionário de Comunica- outras, dando origem à crença na autonomia
ção. São Paulo: Ática, 1987. de suas atividades.
PREDEBON, José (Org). Curso de Propaganda: Ainda assim, se as teorias e a arte são bens,
do anúncio à comunicação integrada. São é preciso considerar seriamente o peso do adje-
Paulo: Atlas, 2004. tivo “simbólico”, que aponta para a especificida-
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 2. ed. de dessa produção: ser simultaneamente “mer-
Rio de Janeiro: Campus: ABP, 1999. cadoria” e “significação”. Na obra de Bourdieu,
SILVA, Zander Campos da. Dicionário de Ma- o conceito de bens simbólicos não apenas de-
rketing e Propaganda. 2. ed. Goiânia: Refe- signa a produção cultural convertida em mer-
rência, 2000. cantil, mas também chama a atenção para o
fato de que, nesses bens, o valor propriamente
econômico, expresso no preço da mercadoria, e
BENS SIMBÓLICOS o valor cultural, subsistem como relativamente
O conceito de bens simbólicos está associa- independentes. Assim, a especificidade do bem
do, principalmente, à obra do sociólogo fran- simbólico reside na sua capacidade de transfe-
cês Pierre Bourdieu. Ele pretende caracteri- rir legitimidade cultural aos seus consumido-
127
enciclopédia intercom de comunicação
res, legitimidade esta que não decorre do preço tamento, hoje também chamado de “O Segun-
daquele bem, mas da sua aptidão para ostentar do Testamento”. Os textos mais antigos do AT
um gosto considerado legítimo. foram escritos em torno do século X a.C., os
Desse modo, o consumo de bens simbó- seus textos mais novos têm origem no século I
licos passa a ser uma das principais lógicas de a.C. O NT é obra do séc. I d.C. O Cristianismo
constituição e expressão das hierarquias so- (OBS.: O Formulário Ortográfico prescreve ini-
ciais, no mundo moderno, para além da pos- cial maiúscula para “nomes que designam altos
se de capital econômico que, em si mesma, não conceitos religiosos, políticos ou nacionalistas”,
garante essa legitimidade, uma vez que preci- e dá como exemplos Igreja, Nação, Estado, Pá-
sa ser retraduzida a partir da demonstração de tria, Raça) considera o AT e o NT, livros sagra-
certo gosto. Segundo essa concepção, a cultura dos. Neles, manifesta-se o agir de Deus que se
desponta como um objeto que, indissociável da revela dentro da história.
função de legitimação e expressão das hierar- Os livros bíblicos surgiram em épocas dife-
quias econômicas e políticas, precisa ser conhe- rentes e em contextos muito variados. Eles per-
cido a partir de dentro, uma vez que aparelhos tencem a uma diversidade de “gêneros literá-
de produção simbólica, profissionais especiali- rios.” Além de livros históricos, há no AT livros
zados, linguagens e representações lhe confe- de profecias, códigos de direito, salmos, cânti-
rem uma realidade própria. (Maria Eduarda da cos litúrgicos, poemas de amor, provérbios, ser-
Mota Rocha) mões, reflexões filosóficas, parábolas, narrações
mitológicas e muitos outros.
Referências: Os textos do AT, surgidos antes do séc. VI
BOURDIEU, P. A economia das trocas simbóli- a.C. foram escritos em hebraico. Um número
cas. São Paulo: Perspectiva, 1974. restrito de livros que têm a sua origem após o
. A distinção: crítica social do julgamen- século VI a.C. são escritos em aramaico. O úl-
to. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, timo livro do AT, denominado “Sabedoria”, e
2007. todo o Novo Testamento foram escritos em
MICELI, Sérgio. Introdução: A força do senti- grego.
do. In: BOURDIEU. P. A economia das tro- O tema chave do AT é o agir e a presen-
cas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974. ça salvífica de Deus dentro da história de um
povo, chamado a partir de certa época de “o
povo de Israel”. Os livros do AT, a partir de en-
BÍBLIA foques variados, apresentam as experiências
A palavra “Bíblia” deriva da palavra grega bi- deste povo com seu Deus. O conhecimento
blion, que significa “escritura” ou “rolo de li- dele, além disso, é aprofundado por reflexões e
vros”. A Bíblia é, até hoje, o livro mais lido do interpretações teológicas.
mundo. O tema chave do NT é a mensagem sobre
Trata-se de um conjunto de 73 livros, di- pessoa e a mensagem de Jesus de Nazaré, con-
vidido em duas partes: os 46 livros do Antigo siderado pela religião cristã o Deus que se fez
Testamento, hoje também chamado de “O Pri- homem. Os textos o apresentam como a ma-
meiro Testamento”, e os 27 livros do Novo Tes- neira definitiva e mais clara, pela qual Deus se
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enciclopédia intercom de comunicação
mostrou ao mundo “assim como ele é” (Hb 1,3). perspectiva dos menos favorecidos. Assim, Ele
Dos 27 livros do NT, os mais importantes são é apresentado de muitas maneiras e em muitas
os quatro Evangelhos. Eles não são “biografias” situações como sendo “go´el, i.é., o defensor da-
de Jesus, mas muito mais a apresentação inter- queles que não têm defensor. (Renold Blank)
pretativa de elementos selecionados de vida,
morte e ressurreição dele, vistos a partir das ex-
periências concretas das primeiras comunida- Bibliografia
des. Além dos Evangelhos, o NT contém, so- Proveniente do grego, a palavra bibliografia
bretudo, os Atos dos Apóstolos, as Epístolas de (biblíon = livro e graphien = escrever) tem seu
vários autores e o texto do Apocalipse. significado etimológico ligado ao processo de
A maior parte dos livros da Bíblia, sobretu- “transcrição de livros” para, no decorrer dos
do do AT, são o resultado do trabalho de vários tempos, ter sua acepção direcionada a uma ati-
autores. Os textos passaram a ser reescritos e vidade de organização científica “sobre livros”.
remanejados várias vezes, no decorrer da sua No início do século XX, Louise-Nöelle Malclès
história redacional, até chegarem à sua forma definiu bibliografia como o conhecimento de
definitiva. todos os textos (impressos ou multigrafados) a
Na interpretação dos textos bíblicos, é es- partir do crivo da pesquisa, da transcrição e da
sencial que estes pressupostos sejam levados descrição dos mesmos tendo por finalidade a
em consideração. A Bíblia é considerada “a pa- organização de repertórios destinados a favore-
lavra de Deus, dirigida aos homens”. cer o trabalho intelectual. (MALCLÈS, 1969).
Diferentemente, porém, da maneira como Uma construção conceitual que, por um
o Islã compreende o seu livro sagrado, o Corão, lado, não contempla produções anteriores ao
a Bíblia não é compreendida como texto escrito advento da imprensa, ao mesmo passo que,
pela própria mão de Deus. Acredita-se, porém, como produto de sua época, não teve como vis-
que os seus autores humanos, ao escreverem- lumbrar uma realidade bibliográfica que, em
na, eram inspirados por Deus, sem por causa muito, alargou-se com o desenvolvimento das
disso, perderem a sua liberdade humana. modernas tecnologias de informação e a mul-
Os textos bíblicos não querem transmitir tiplicidade de formas de registros eletrônicos
primordialmente uma doutrina sobre Deus, e digitais que textos e produções culturais em
mas transmitir experiências históricas, nas geral adquiriram. Ao se abordar históricos das
quais, a partir da fé, descobriu-se o agir de bibliografias, têm-se a referência de sua suposta
Deus. Essas experiências, nas suas mais varia- origem, ainda manuscrita, em torno da trajetó-
das expressões, levaram à convicção de que, se ria do médico grego Galeano (século II) que te-
Deus em certas circunstâncias agiu assim, ele ria reunido e descriminado cerca de quinhen-
deveria ter determinadas características. Desse tas obras, no que se chamou de De libris propiis
modo, pode-se dizer que o grande objetivo dos liber (FIGUEIREDO, 1967).
textos bíblicos é chamar o indivíduo a descobrir O termo bibliografia entendido, contu-
os sinais da presença de Deus dentro da histó- do, como um trabalho de descrição, conheci-
ria e do mundo. A Bíblia enfatiza que a linha mento e elaboração de repertórios de livros, é
geral do agir de Deus é a sua atuação a partir da cunhado apenas, no século XVII (WOLEDGE,
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trônicos, cujos softwares já se apropriaram das namentabilidade (a arte de governar) dos in-
janelas de conversação instantânea, são eventos divíduos postos em operação pelas economias
relevantes que marcam o uso cada vez maior da neoliberais do pós-guerra. Conceito ligado di-
bidirecionalidade. Esses contatos diretos e bi- retamente ao momento, em que os conceitos
direcionais em plataformas digitais podem ser oriundos da Biologia são transpostos para as
feitos através do uso do computador mediado ciências humanas e a conjunção entre medicina
por internet, da TV digital, dos celulares e dos e higiene se torna um saber/poder exemplar, a
videojogos em rede. nova tecnologia do poder não mais recai sobre
No rádio, o uso da bidirecionalidade é o disciplinamento dos corpos individualiza-
mais antigo. Esse processo ocorre desde o mo- dos, mas sobre os organismos e processos bio-
mento em que os aparelhos telefônicos foram lógicos – nascimento, morte, produção, doença
para dentro dos estúdios de gravação na década etc. – na medida em que afetam a multiplicida-
de 1930. A partir das ligações telefônicas para de dos homens. Assim, a biopolítica trata “de
a rádio, a bidirecionalidade, aqui compreen- um conjunto de processos como a proporção
dida como interatividade, acontece com uma dos nascimentos e óbitos, a taxa de reprodução,
frequência cada vez maior, especialmente com a fecundidade de uma população, etc. São es-
as abertura de espaços para o jornalismo leigo, ses processos de natalidade, de mortalidade, de
aquele praticado por ouvintes sem o compro- longevidade que, na segunda metade do sécu-
misso profissional. (Alvaro Benevenuto Jr.) lo XVIII, juntamente com uma porção de pro-
blemas econômicos e políticos (...), constituí-
ram, acho eu, os primeiros objetos de saber e
Biopolítica os primeiros alvos de controle dessa biopolíti-
O termo biopolítica, inicialmente associado a ca” (FOUCAULT, 2000, p. 290). Com o concei-
“biopoder”, aparece, pela primeira vez, numa to de biopolítica – que aponta para o desloca-
conferência proferida por Michel Foucault, mento da ênfase no corpo individualizado para
no Rio de Janeiro, em 1974, intitulada “O nas- o corpo-espécie – Foucault identifica, em seus
cimento da medicina social” e passa a ganhar estudos, o advento da população como proble-
corpo em sua obra, a partir da última aula do ma e alvo privilegiado das novas formas de go-
curso, ministrado no Collège de France em 1976 vernar. Tal fato implica não somente uma redu-
(Em Defesa da Sociedade). Se àquela época o ção da vida ou da multiplicidade dos viventes
conceito referia-se, sobretudo, às mudanças nas a qualquer unidade socialmente construída e
formas e técnicas do poder através da passagem passível de administração e controle, mas tam-
do “poder disciplinar”, em operação, a partir de bém a consideração das figuras do Estado e do
fins do século XVII, para o biopoder, fruto das poder soberano como os agentes capazes de le-
revoluções liberais do século XVIII –, encon- var a cabo as políticas públicas relativas a tais
trando seu modus operandi no nazismo e no reducionismos. Se este é o objetivo persegui-
socialismo realmente existente; a partir do cur- do pela governamentalidade moderna (libe-
so ministrado no Collège em 1978-1979 (publi- ral e neoliberal), seu êxito não representa, em
cado sob o título O Nascimento da Biopolítica) Foucault, a cessão da vida às técnicas de poder
o termo se estende aos sutis processos de gover- que insistem em subordiná-la – “a vida resis-
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OTMAN, Gabriel. Dicionário da cibercultura. tores regulares, portanto, existe uma varieda-
Lisboa: Piaget. 2001 de de ferramentas na internet que possibilitam
MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí- esse mapeamento de acessos, que incluem des-
dia. São Paulo: Arte & Ciência. 2003. de análise de tráfego de dados, ferramentas de
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta- buscas gerais e base de dados de busca.
vo. Dicionário de Comunicação. Rio de Ja- A ‘blogosfera’ é, portanto, um fenômeno
neiro: CODECRI. 1978. da conectividade e se mantém ativa por conta
de suas características específicas: os blogs in-
teragem entre si continuamente, disseminando
Blogosfera histórias, argumentos e pontos de vista. Os blo-
Termo coletivo que designa a reunião e inter- ggers trocam informações uns com os outros,
conexão de blogs. O conjunto de comunidades criam links para os mesmos, referem-se a eles
e conteúdos dos blogs constitui-se como blo- na sua própria escrita, e postam comentários
gosfera. O que principalmente possibilita essa nos blogs uns dos outros. Por conta disso, esses
relação entre os muitos blogs existentes e que canais de comunicação estão interconectados
cunhou tal termo, de conocação coletivaé o e criaram sua própria cultura. Nesse sentido,
uso de links hipertextuais que agem como mar- na concepção de Mikhail Bakhtin, o leitor dos
cadores de assuntos. Essa característica, por blogs é um membro de uma comunidade, ativo
exemplo, possibilita ao ‘blogueiro’ (termo como para concordar ou discordar (total ou parcial-
é chamado que possui blogs de texto, vídeos ou mente), completar, adaptar ou executar aquilo
fotos) acompanhar uma discussão específica, que a linguagem social à sua volta lhe procu-
pesquisar informações de maneira mais rápida ra impor, reelaborando seu mundo de maneira
na blogosfera, encontrar citações e sites reco- dialógica.
mendados. Deriva dessa relação um aspecto importan-
Desse movo, vemos que muitos ‘bloguei- te da rede de blogs e que pode ser chamada de
ros’ mantêm uma lista de blogs em seus sites escrita interativa, existente em função do com-
que, geralmente, são os mais lidos ou admira- partilhamento da escrita entre autores e leito-
dos. Essas listas , de certa forma, ocupam uma res que juntos co coproduzem um mesmo hi-
posição permanente na página do blog e são pertexto. Ou seja, a escrita interativa é típica do
utilizadas para ligar, através de hiperlinks, blo- ambiente da internet e dos veículos de comuni-
gs que têm interesses em comum. cação digitais que estimulam a participação dos
Os bloggers (nome em inglês para designar leitores usuários.
os blogueiros) também podem escrever men- Nos últimos anos, a blogosfera passou a ser
sagens específicas que contenham hiperlinks reconhecida por diversos segmentos da socie-
para outros blogs. Diferente dos links da lista dade como uma ferramenta eficaz de busca de
de blogs, estes, ou vão encaminhar o interessa- informação específica e/ou articulação de mo-
do para outro blog específico, ou até para a es- vimentos de grupos. Os atentados terroristas de
crita de um comentário. Os ‘blogueiros’ acredi- 11 de setembro de 2001 nos EUA, por exemplo,
tam que a forma mais eficaz de ganhar leitores foi um momento importante em que a blogos-
é ligá-lo a vários outros blogs. Para angariar lei- fera atuou na facilitação do trânsito de infor-
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enciclopédia intercom de comunicação
mações (dado desnecessário). Enquanto rádio tencial criativo) e inibe o esquerdo (ligado ao
e TV se limitavam a descrever os fatos que se conhecimento objetivo, racional).
seguiam e os grandes portais da internet repe- De maneira geral, o brainstorming possibi-
tiam as informações oficiais, os blogs passaram lita a reunião de várias pessoas a respeito de um
a ser um mecanismo importante na busca de tema qualquer, e permite que todos exponham
informações mais detalhadas e específicas so- qualquer ideia, por mais absurda ou desconexa
bre o evento (idem). No mesmo sentido, o mo- que pareça, em associação livre e descontraída,
vimento dos estudantes da Universidade de São sem julgamento de méritos. Essas ideias apa-
Paulo (USP) utilizou-se amplamente da blogos- rentemente incoerentes funcionam como cata-
fera para comunicar-se com o público externo lisadores para outras ideias, deixando aberto o
sem a mediação da imprensa durante a ocupa- caminho para todo tipo de solução criativa, em
ção da reitoria em 2007. (desnecessário) O mais uma verdadeira exploração da potencialidade
novo tipo de blog na bloglosfera é o Twitter, do indivíduo.
uma forma rápida de informação com textos Esse método de trabalho caracteriza-se
curtos, de até 140 caracteres, com espaços, que pela rejeição à crítica, uma vez que o princípio
começou a ser usado, no Brasil em 2009. Atual- do julgamento não deve operar enquanto hou-
mente, a blogosfera é um dos espaços mais pro- ver livre associação; pelo incentivo à criativida-
curados para pesquisas de alunos, levantamen- de, pelo fato de encorajar as pessoas a perder a
to de dados e também como campo de estudo, inibição e a sugerir qualquer ideia que lhes ve-
desde diferentes perspectivas, seja a Comunica- nha à mente; pela quantidade de ideias, na me-
cional, como a Antropológica ou Sociológica. dida em que o número expressivo de sugestões
(Alan Angelucci) gera qualidade e facilita a busca de soluções;
pelo estímulo ao aperfeiçoamento, uma vez que
permite associar ideias para formar outras, ain-
Brainstorming da melhores.
Da união de brain (cérebro) e storm (tempes- Usado, sobretudo, em áreas de relações
tade) formou-se o termo brainstorming que humanas, publicidade e propaganda, o brains-
significa explosão de ideias. É uma técnica torming pode ser aplicado em qualquer setor,
criada por Alex Osborn em 1930 (mas só pu- como engenharia, marketing, educação, ou
blicada na década de 1960, no livro Applied qualquer outro em que se possa aplicar a ativi-
Imagination), que consiste em fazer fluir as dade criativa.
ideias sem autocensura - por isso, a noção de Esse processo de geração de ideias pode ser
tempestade cerebral, de chuva ou torrente de dividido em cinco momentos: (a) aquecimento
ideias. Para o autor “a criatividade é uma flor (discussão solta sobre o problema em questão),
delicada, que tende a desabrochar com elogios (b) produção, (c) geração de ideias (apresenta-
e a murchar com desestímulos, quando ainda ção “desordenada” das ideias de cada membro
é botão”. do grupo), (d) exploração das ideias (aproveita-
Por desencadear uma espécie de libertação, mento das noções mais pertinentes e agregação
essa técnica estimula o hemisfério direito do de outras, relacionadas ao problema proposto)
cérebro (responsável pela inspiração, pelo po- e (e) avaliação (elaboração de critérios para a
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enciclopédia intercom de comunicação
avaliação das soluções propostas e escolha da- rados brega, para indicar o lugar de cada sujei-
quela mais convincente). (Maria Lília Dias de to, no interior de uma sociedade estratificada
Castro) e hierárquica, do ponto de vista da produção
capitalista e do mercado consumidor .Todavia,
Referências: essa discussão deixa em relevo a relação entre
DUAILIBI, R.; SIMONSEN JR, H. Criatividade: produção e consumo , já que ambos se orien-
a formulação de alternativas em marketing. tam a partir de duas estruturas informacionais
São Paulo: McGraw-Hill/Abril, 1971. diferenciadas, que não se comunicam, não rea-
KOTLER, P. Administração de marketing. 4. ed. lizam trocas, não se frequentam.
São Paulo: Atlas, 1995. Na segunda expressão – Brega & Chique
KOTLER, P. Marketing de A a Z. 4. ed. Rio de – o sinal indicando uma linha associativa, con-
Janeiro: Elsevier, 2003. centra dois sentidos: a ressonância do conecti-
SAMPAIO, R. Propaganda de A a Z. 2. ed. Rev. vo aditivo e o símbolo aglutinador da nomea-
Rio de Janeiro: Campus, 1999. ção empresarial. Sobrepostos, revelam, de um
lado, que a produção capitalista industrial já
está atenta ao movimento de promoção scioe-
BREGA conômica e cultural do um novo perfil de con-
Em 1987, a Rede Globo de Televisão veiculou , sumidor e, de outro, que esse novo desenho
no horário das 19 horas, a novela intitulada Bre- será constituído da intersecção dos dois uni-
ga & Chique, reconhecendo a existência de um versos sígnicos originais, anteriormente pola-
movimento de promoção socioeconômico e res, opostos e assimétricos. A estrutura infor-
cultural de um sujeito oriundo dos segmentos macional do novo desenho deve se constituir
médios e baixos da sociedade brasileira. Daí, a de signos do repertório original do sujeito pro-
questão: Quais são os elementos constituintes movido, para que os mesmos se reconheçam,
das mercadorias e comportamentos classifica- e de índices do repertório da elite, para que o
das e julgadas brega? novo sujeito carregue os signos indicadores da
Dois eram os contextos mais recorrentes, promoção.
nos quais a respectiva classificação e julgamen- - BREGA e/ou KITSCH: Como o kitsch,
to apareciam: (a) o brega como qualificação de segundo Abraham Moles (1977, p.21), o brega
mau gosto, tendo como referência opositiva a também revela o modo de relações de sujeitos
outro padrão estético, determinado pela elite específicos ao tratar a vida material, na conjun-
cultural, intitulado chique; (b) ao ser traduzido, tura ampla do Capitalismo e de sua condição
frequentemente, o brega era explicado a partir básica de gerar lucros através do consumo; am-
de semelhanças com o kitsch. bos representam modos de reorganização dos
- Brega e/ou Chique: Na primeira expres- segmentos sociais, ampliando o poder aquisi-
são – Brega ou Chique – o conectivo alterna- tivo para garantir o consumo. Também como
tivo afirma a distinção, oposição e assimetria o kitsch, no desenvolvimento econômico bra-
entre os dois termos, revelando o antagonismo sileiro, dos anos 1950-1960, o brega, na reces-
entre a elite, considerada chique, e os segmen- são econômica dos anos 1980, ganhou extensão
tos inferiores e de baixa informação, conside- pela reprodução industrial, foi legitimada pela
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cultura de massa e construiu seus vínculos pe- Biblioteca do Tempo Universitário, Rio de
los meios tecnológicos de comunicação. Janeiro: Tempo Brasileiro, 1981. Théorie des
Distintamente, entre kitsch e brega mu- objets. Edição original. Paris: Universitai-
dam-se as fontes de onde são selecionados os res, 1972.
índices que vão ser justapostos na nova estru- MOLES, Abraham. O kitsch. Coleção Debates,
tura informacional dos bens de consumo e das vol. 68, Tradução Sergio Miceli, São Paulo:
mercadorias culturais; enquanto o kitsch bebe Perspectiva, 1998. Edição original - Psycho-
nos paradigmas da arte, o brega bebe, princi- logie du kitsch, Paris: Denoël, 1977.
palmente, nos paradigmas da cultura popular
e regional, lugar de origem dos promovidos,
para serem estandartizados na fórmula média Briefing
da cultura de massa. O briefing é um dos elementos técnicos mais
O brega aproxima-se do kitsch enquanto importantes na atividade publicitária. É por
mercadoria ordinária, mas se afasta no que se meio dele que ocorre o início do planejamento
refere a ser secreção artística: no kitsch, o ordi- de uma campanha. Tal instrumento é também
nário resulta da diluição da condição artística de fundamental importância para a elaboração
para se tornar acessível à recepção média; as- da estratégia criativa a ser adotada na veicula-
sim, no brega, o ordinário é determinado pela ção das peças publicitárias.
inadequação da qualidade do signo na qualida- Considerando que o universo publicitário
de do ambiente. brasileiro adotou e importou vários termos da
Enfim, a base da mercadoria e compor- língua inglesa, sem especificar uma tradução
tamento bregas é o universo de signos dos compatível, é importante salientar algumas pe-
segmentos culturais de baixa qualidade in- culiaridades desse vocábulo. Briefing (do inglês)
formacional, que reaparecem revestidos e rede- remete-se a uma breve e básica sistematização
senhados como da moda, de ponta. O kitsch e o de informações referentes a um ou mais objetos
brega apresentam um valor de troca que é mero de uma organização ou corporação. Utilizado
pretexto para se fazer valer como valor infor- como verbo (to brief) tem o significado de resu-
macional: o primeiro, diluindo a alta qualidade mir, de elencar dados em tópicos-guia.
informacional e o segundo, promovendo a bai- Na publicidade, portanto, o briefing é com-
xa qualidade informacional. preendido como o conjunto de dados/infor-
Enquanto o kitsch recicla-se nos movimen- mações de mercado de um possível anuncian-
tos e formas artísticas, mesmo que diluídos, o te. Estas informações de marketing vão desde
brega o faz nas fontes do popular e do regional, as características tangíveis e intangíveis de um
descaracterizando-os na medida em que o urba- produto/serviço, sua precificação e distribui-
no-industrial exige a reprodução dos textos cul- ção, até aos valores afetivos e de significação,
turais com base no mesmo programa, na mesma contidos no desenvolvimento histórico de pe-
matriz, na mesma fórmula. (Carmem Lucia José) ças criativas de veiculação em mídia.
A construção do briefing é maleável e o de-
Referências: talhamento dos tópicos-guia dependerá muito
MOLES, Abraham. Teoria dos objetos. Coleção da natureza e objetivos mercadológicos de um
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niente do verbo ‘to fold’, dobrar, vincar, os bro- pontos-de-venda, trazendo textos e diagramas
adsides, dotados de maior quantidade de infor- explicativos, para que o revendedor possa apre-
mações que um folheto, tem um enorme peso sentar o produto de forma atraente. Exemplifi-
na divulgação da imagem corporativa. As dife- cando: Se, no lançamento de um produto ali-
renças entre broadside e folder residem nas fi- mentício estiver planejada a presença de um
nalidades e aos públicos a que se destinam. dispositivo demonstrador do preparo do refe-
O objetivo do broadside é apresentar a cam- rido produto, esse dispositivo será conduzido
panha e mostrar aos colaboradores a importân- aos pontos-de-venda desmontado em vários
cia do papel de cada um deles na captação de elementos e deverá ser montado, nos diversos
clientes. Além da descrição das peças e planos locais de venda, em todo o país. O broadside
de mídia, o broadside contém uma apresenta- pode ser, nesse caso, um pequeno livreto com
ção e a explicação da estratégia criativa – o que mensagem institucional do fabricante, assim
não acontece na maioria das vezes com o folder, como conter as instruções técnicas necessárias
que traz a informação ao público, sem, contu- para a montagem e localização dos dispositivos
do, mostrar os pormenores dos “bastidores” da no interior de cada ponto-de-venda, de forma
criação publicitária. O broadside é destinado ao a aperfeiçoar a estratégia de venda. (Scarleth
público interno e intermediário (distribuidores O’hara Arana)
e varejistas) apresentando o produto/serviço e a
sua campanha de comunicação. Normalmente, Referências:
não é material destinado ao consumidor final. FERRACCIÚ, João de Simoni Soderini. Marke-
Apesar de estar baseado na campanha publi- ting Promocional. São Paulo: Prentice Hall,
citária, o texto do broadside possui um impor- 2007.
tante trabalho de criação. O desafio criativo no MOORE, Karl; PAREEK, Niketh; PEPE, Elaine.
job é conciliar as especificidades de conteúdo e Marketing. São Paulo: Ática, 2008.
objetivos das peças (conteúdo principal do bro- RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta-
adside) com a integração ao conceito original vo. Dicionário de Comunicação. Rio de Ja-
da campanha publicitária. neiro: Campus, 2002.
Algumas empresas que têm seus ramos ZENONE, Luiz Cláudio; BUAIRIDE, Ana Ma-
de negócios relacionados ao design costumam ria. Marketing da Promoção e Merchandi-
usar o broadside. Em geral, são chamados pelos sing. São Paulo: Thomson Pioneira, 2004.
clientes para se apresentarem, pois em algum
momento, este potencial cliente já vislumbrou
seus projetos e ficou interessado. Portanto, nes- Broadway
se caso o broadside fala mais sobre a filosofia O termo Broadway, mais do que uma grande
de trabalho e clientes atendidos pelo escritório avenida da cidade de New York, costuma de-
do que mostra as peças prontas. Dessa forma, o signar os espetáculos teatrais e musicais apre-
broadside terá uma função similar ao portfólio. sentados nos teatros localizados no Theater
No lançamento ou promoção de um pro- District, na ilha de Manhattan, constituindo-
duto no mercado, é a peça que acompanha os se em um gigantesco conglomerado de salas de
elementos promocionais a serem montadas nos espetáculo. A região começou a adquirir visi-
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enciclopédia intercom de comunicação
bilidade como centro de entretenimento da ci- viajam, permanecendo em cartaz por alguns
dade, em 1895, com a construção do complexo dias ou semanas em determinadas cidades nor-
de teatros Olympia. Desde então, cerca de 80 te-americanas.
teatros foram construídos no entorno da Broa- A Broadway costuma vender também os
dway Avenue e da Times Square, o que favore- direitos dos musicais para montagem em ou-
ceu a consolidação de uma verdadeira indústria tros países. Embora os espetáculos possam ser
do entretenimento, cuja época de efervescência traduzidos e interpretados por um elenco lo-
ocorreu durante a década de 1920. A crise de cal, as montagens reproduzem o que é encena-
1929, no entanto, afetou profundamente a pro- do no espetáculo original, como cenários, fi-
dução artística e muitos teatros foram desativa- gurinos, efeitos especiais e orquestras ao vivo.
dos. Ao longo dos anos seguintes, a maior parte No Brasil, o primeiro espetáculo adaptado foi
dos teatros fechados foram transformados em Minha Querida Lady ,protagonizado por Bibi
salas de cinema e estúdios de rádio e televi- Ferreira e Paulo Autran em 1962. Desde então,
são. A maior parte dos sucessos da Broadway já foram montados, em versões traduzidas, mu-
são do gênero musical (espetáculos que unem sicais como Hair, Rent, Vitor ou Vitória, Les Mi-
a representação teatral à música e à dança). En- sérables, Chicago, O Fantasma da Ópera, Sweet
tre os anos de 1950 e 1970, musicais memorá- Charity, Miss Saigon, Os Produtores e A Noviça
veis como Hair, The West Side Story, Fidler on Rebelde.
the Roof e My Fair Lady ajudaram a Broadway O teatro da Broadway, além de contribuir
a reafirmar-se como atração cultural e destino com uma soma importante de reservas finan-
turístico. Atualmente, 39 teatros estão em ope- ceiras para a cidade de New York, possui uma
ração, recebendo, a cada temporada, novas pro- média de lotação de assentos de extrema rele-
duções e mantendo em cartaz algumas monta- vância, preenchidos, principalmente, pelo pú-
gens de sucesso. É o caso do premiado musical blico estrangeiro que visita a cidade durante
The Phantom of the Opera, que comemorou 20 todo o ano, tornando-se um importante pólo
anos em cartaz em 2008, superando a perma- turístico. É considerado o maior entretenimen-
nência de Cats, apresentado durante 18 anos. to do espetáculo teatral, reunindo reconheci-
Muitos dos célebres musicais foram adaptados dos técnicos e profissionais da área. (Cristiane
para o cinema, como Grease, The Sound of Mu- Freitas e Cristina Kessler)
sic, Chicago e Jesus Christ Superstar.
Recentemente, a tendência parece estar-se Referências:
invertendo, com filmes dando origem a mu- ATKINSON, Brooks. Broadway. Macmillan,
sicais, como Billy Elliot, The Little Mermaid, 1970.
Shrek e The Lion King. O principal prêmio dis- BLOOM, Ken. Broadway: its history, people
putado pelas produções e artistas envolvidos and places: An encyclopedia. Taylor &
com a Broadway é o Tony Awards, criado em Francis, 2004.
1947. As produções itinerantes também desem- The Broadway League. Broadway’s Economic
penham um papel vital na indústria da Broa- Contribution to New York City: 2006-2007
dway, não apenas financeiramente, mas prin- Season. The Demographics of the Broa-
cipalmente em alcance de público. Os musicais dway Audience 2007-2008.
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C, c
gica está ancorada na ideia de que os chama- tervenção do homem. A intenção de Barthes é
dos produtos comunicacionais não podem ser mostrar como a presença do espectador é im-
encarados apenas como resultado mecânico do portante para a definição do que é propriamen-
processamento de uma, assim chamada, ‘in- te fotográfico. “Barthes opõe duas maneiras de
dústria cultural’, na pós-modernidade re-bati- apreender uma (mesma) fotografia, o que cha-
zada de ‘indústria midiática’. Uma cadeia, por ma de foto do fotógrafo e de foto do especta-
mais extensa que possa ser, pode ser medida dor. A primeira emprega a informação contida
por onde seus elos iniciam e terminam. Nela, na foto, sinais objetivos, um campo codificado
há um limite de circularidade. As cadeias re- intencionalmente, o conjunto dependendo do
gionais possuem, obviamente, capacidade de que chama de studium; a segunda advém do
circularidade menor que as cadeias nacionais acaso, das associações subjetivas, e descobre,
e, menor ainda, em relação às cadeias globais. na foto, um objeto parcial de desejo, a não-or-
A comunicação vista como processo em uma dem da técnica, de uma educação do olhar, e
indústria cultural inicialmente poderia ser ra- o punctum remete ao sentimento do codifica-
diografada para expor seu começo, meio e fim. do, não-intencional, o punctum” (AUMONT,
(Dalmo Oliveira) 1993, p. 127). O studium é do espectador, à sua
dimensão humana, algo que atinge quem olha a
Referências: foto, algo “pungente”. A câmara clara traz essa
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. O ilumi- dimensão mais humana, mais próxima do es-
nismo como mistificação das massas. In: pectador, que se opõe, de certa forma, à câmara
LIMA, Luiz C. (Org.). Teoria da cultura de escura do equipamento, espaço mais ligado ao
massa. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1982. fotógrafo, ao seu método de trabalho e à sua vi-
FURTADO, Celso. Cultura e Desenvolvimen- são de mundo. (Carlos Pernisa Júnior)
to em época de crise. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1984. Referências:
AUMONT, Jacques. A imagem. Coleção ofício
de arte e forma. Tradução: Estela dos San-
Câmara clara tos Abreu. Campinas, SP: Papirus, 1993.
Câmara clara ou lúcida é um instrumento ópti- BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a
co composto por prismas ou espelhos que per- fotografia. Tradução: Júlio Castañon Guima-
mitem a um observador olhar, simultaneamen- rães. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
te, um objeto e sua imagem projetada sobre DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros
uma folha de papel, podendo desenhá-la. ensaios. Coleção ofício de arte e forma.
A câmara clara, de Roland Barthes, é um Tradução: Marina Appenzeller. Campinas,
livro, cujo subtítulo é “Nota sobre a fotografia”, SP: Papirus, 1994.
no qual o autor faz uma correlação entre a câ-
mara clara e a câmara escura ou obscura, do
equipamento fotográfico. Na primeira, a ima- Câmara Escura (ou obscura)
gem é copiada pela mão humana e, na segun- Um dos primeiros instrumentos desenvolvidos
da, ela é reproduzida pela máquina, sem a in- pelo homem para estudar e aproveitar artistica-
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mente esse comportamento foi a câmara obs- Vinci. Tais experiências estão, provavelmente,
cura, cujo uso pelos pintores, permitiu a des- ligadas às revoluções e transformações sofridas
coberta de outras formas de “ver” a realidade, na forma de olhar e de representar os efeitos da
incorporando novos sistemas e códigos à lin- perspectiva visual na pintura e no desenho re-
guagem visual. A câmara consiste numa caixa nascentista.
de paredes retas escurecidas em seu interior. A partir do final do século XVI, as câma-
Uma delas possui um orifício no centro, en- ras obscuras são construídas com sistemas de
quanto a parede oposta deve ser de cor clara ou foco cada vez mais eficientes. Lentes são adap-
possuir um vidro despolido ou tela de projeção. tadas aos parelhos, ampliando as imagens, au-
Sobre esta tela aparecem as imagens invertidas mentando a nitidez e produzindo imagens mais
dos objetos colocados em frente ao orifício. brilhantes e com melhor resolução. Alem disso,
O princípio da câmara obscura é conheci- as câmaras obscuras, que eram instrumentos de
do desde a Antiguidade. Historiadores da fo- dimensões relativamente grandes, tornaram-se
tografia, como Ramirez (1997) e Sougez (2001), aparelhos menores e mais fáceis de operar.
indicam o filósofo grego Aristóteles (século III No final do século XVIII, um grande nú-
a.C.) o responsável pelos primeiros comentá- mero de modelos de câmeras estava em fun-
rios esquemáticos da câmara obscura. Aristó- cionamento. Desde aquelas com dimensões gi-
teles, durante um eclipse solar, observou o fe- gantescas até as miniaturizadas, pouco maiores
nômeno de projeção do Sol, de uma superfície que caixas de fósforos. A criação de mecanis-
sob as sombras. Mas, será através dos árabes mos que permitiam variar o foco com um grau
que tais conhecimentos chegaram até o oci- de nitidez considerável transformou a câmera
dente moderno. Pollack (1977) afirma que, por num instrumento cada vez mais fácil de ope-
volta do século XI, o matemático árabe Alha- rar. Esses mecanismos iam desde caixas de ta-
zen de Basra “descreveu em uma obra sobre os manhos diferentes que se encaixavam, aumen-
princípios fundamentais da óptica e compor- tando ou diminuindo a distância focal, a caixas
tamento da luz, o fenômeno natural da luz so- com foles, que permitiam focar com precisão.
lar passando por um pequeno furo na parede Todos esses sistemas permitiram reprodu-
de um quarto escuro” (POLLACK, 1977, p. 35). zir a “realidade” e foram usados por um longo
Essa descrição se converteu na principal fonte período como auxiliares da realização da obra
de informação para sábios, como Roger Bacon, de arte. A câmara obscura foi utilizada como
no século XIII. Em De Multiplicationes Specie- auxiliar (técnico) na realização de pinturas e
rum (1267), Bacon descreve o fenômeno, ao es- desenhos desde o século XVI. Os avanços fei-
tudar um eclipse parcial do Sol, por meio de tos, nos séculos posteriores, desenvolveram e
um artefato, cujos princípios correspondem ao aperfeiçoaram as partes, óptica e mecânica, dos
da câmara obscura. aparelhos. Assim, estavam abertos os caminhos
A reprodução mais antiga de uma câmara para a construção da futura câmera fotográfica.
obscura está na obra do físico e matemático ho- A câmara obscura, hoje, é empregada, nos
landês Rainer Frisius, de 1545. Na arte, as pri- moldes do início do século XIX, na “fotogra-
meiras experimentações serão feitas, nos pri- fia de pinhole” ou “fotografia estenopeica”. Esta
meiro anos do século XVI, por Leonardo da é um processo alternativo de se fazer fotogra-
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fia sem a necessidade do uso de equipamentos identidade criativa, de modo que fique claro ao
convencionais. Na fotografia de pinhole, são observador que cada um de seus elementos ou
utilizadas câmeras fabricadas artesanalmente, peças é parte de um conjunto coeso e consis-
empregando materiais e técnicas simples. O vo- tente de elementos reconhecíveis que integram
cábulo pinhole pode ser traduzido como “bu- um mesmo esforço de comunicação.
raco de agulha” (do inglês pin hole), pois as câ- A criação de uma campanha parte da de-
meras utilizadas, nesse tipo de fotografia, não finição dos objetivos que devem ser atingidos
possuem lentes. O sistema de focagem é subs- (aumento de vendas, mudança da imagem de
tituído por um pequeno furo (de agulha), que marca, reposicionamento, rejuvenescimento
funciona como lente e diafragma fixo. As ima- etc.) e da verba disponível.
gens produzidas por câmeras de pinhole apre- A partir dos objetivos determinados e do
sentam uma grande profundidade de campo e conhecimento das características demográficas
são interessantes experimentos para o conheci- e psicográficas do público-alvo, a equipe cria-
mento e aperfeiçoamento das técnicas fotográ- tiva definirá qual o diferencial (tangível ou in-
ficas. (Jorge Felz) tangível) a ser adotado como suporte para a
comunicação. Em seguida, sobre o diferencial
Referências: escolhido, constrói-se uma afirmação básica,
RENNER, Eric. Pinhole Photography: Redisco- ou USP (Unique Selling Proposition), que é a
vering a Historic Technique. Newton, MA: maneira pela qual o diferencial poderá repre-
Focal Press, 1995. sentar benefício para o consumidor-alvo.
MONFORTE, Luiz Guimarães. Fotografia pen- A partir da afirmação básica, que deve ser
sante. São Paulo: SENAC, 1997. considerada como a essência da mensagem que
RAMIREZ, Juan Antonio. Medios de Masas e deverá se fixar na mente do consumidor, esta-
Historia del Arte. Madrid: Cátedra, 1997. belece-se o conceito criativo que se configura
SOUGEZ, Marie-Loup. Historia de la fotogra- como o modo de transmitir a afirmação básica
fia. 5 ed., Madrid: Cátedra, 2001. com grande apelo ou impacto junto ao consu-
POLLACK, Peter. The Picture History of Photog- midor. O conceito criativo, para se materializar,
raphy: From the Earliest Beginnings to the precisa se sustentar em dois pontos: um meca-
Present Day. Concise Edition. New York: nismo retórico, que irá torná-lo atraente aos
Harry N. Abrams, 1977. olhos do consumidor; e um elemento reconhe-
NEWHALL, Beaumont. Historia de la Fotogra- cível, seja ele textual, imagético ou ambos, que
fía desde sus orígenes a nuestros días. Barce- permeará todas as peça da campanha e contri-
lona: Gustavo Gili, 1999. buirá, fundamentalmente, para a compreensão
da mensagem; o elemento reconhecível atuará
como ponte entre o modo escolhido para dizer,
Campanha ou seja, a forma (conceito criativo) e o conte-
Conjunto de ações de comunicação que visa údo a ser levado ao consumidor, (a afirmação
informar, oferecer ou persuadir determina- básica). Afirmação básica, conceito criativo e
do grupo de indivíduos acerca de um produ- elemento reconhecível deverão estar presen-
to, serviço ou marca. Uma campanha deve ter tes em todas as peças da campanha de maneira
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tuições e agentes sociais, o sociólogo francês la é instância mais legítima e reputada do que
enuncia alguns conceitos importantes para ex- a crônica futebolística para ensinar o conceito
plicar essas relações, um deles é o de campo. de relatividade, Revolução Francesa ou logarit-
Este(s) pode(m) ser: literário, artístico, cien- mos. Dessa maneira, pode-se pensar o campo
tífico, jurídico, político, educacional, comuni- educacional como um espaço dotado de poder,
cacional, etc. Entenda-se, por campo, a consti- marcado por hierarquias, capacidade de distin-
tuição de uma instância abstrata, não referida a guir os seus agentes e, sobretudo, identificado
lugares definidos, mas que expressa determina- por forte capital cultural. Tal reconhecimento
das relações sociais. Trata-se de espaço dinâmi- social faculta a esse campo promover violência
co, constituído por tensões internas e externas, simbólica contra e entre os seus agentes e mes-
e que demarca vínculos com os seus agentes, mo de agentes referidos a outros campos: des-
oscilando entre o acolhimento e a exclusão ou, qualificação de saberes, desautorização de ma-
valorizando-os, premiando-os, distinguindo- nifestações culturais afeitas ao conhecimento
os, como prefere Bourdieu. Os campos têm re- comum etc. Ademais, ao campo educativo não
lativa autonomia, visto serem regidos por re- falta certa concentração e distribuição de capi-
gras e normas próprias, expressando, portanto, tal cultural entre escolas mais ou menos qua-
lógicas particulares de funcionamento. Entre- lificadas, de algum modo confirmando alunos
tanto, tal especificidade sofre intercorrências que estarão destinados ao sucesso ou ao fracas-
de outros campos, com o que se abre, inclusi- so intelectual e profissional. O mecanismo de
ve, a possibilidade de um jogo de forças entre universalização do ensino trouxe consigo este
eles. Exemplificando: os campos do judiciário paradoxo: todos devem ter acesso ao sistema,
e da política entram em disputa constante para nem todos, porém, sairão dele do mesmo jei-
garantir espaços nos meios de comunicação e to. Parte dos educandos amargará os dissabores
com isto intentam assegurar poder simbólico dos déficits de formação e precariedade, a des-
junto à opinião pública. Tal embate, a despei- peito da distinção proporcionada pelo diploma
to de ser processado nos limites institucionais, que, certamente, não terá outro valor senão o
ganha repercussão, visto que ambos os campos da titulação oficial assegurada pelo campo edu-
acumulam enorme capital. Leia-se no concei- cativo. (Adilson Citelli)
to de capital acumulado, que pode ser econô-
mico (salário, imóveis), cultural (conhecimen- Referências:
tos e saberes reconhecidos), social (relações BOURDIEU, P. A economia das trocas simbóli-
pessoais que, muitas vezes, facilitam negócios, cas. São Paulo: Perspectiva, 1974.
indicações de empregos), simbólico (prestí- e PASSERON, Jean-Claude. A reprodu-
gio, prerrogativas), ou cruzamentos entre eles, ção. Elementos para uma teoria do sistema
uma categoria importante a compor a concep- de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
ção de Bourdieu sobre campo. E, quanto mais 1975.
alto for o capital de um campo, maior autono- . Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense,
mia terá frente a outro. Daí que o capital cultu- 1990.
ral da educação deva superar, por exemplo, o . Escritos sobre educação. Petrópolis: Vo-
do campo esportivo, motivo pelo qual a esco- zes, 1999.
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cósmica, está presente em todas as suas formas Os principais orixás cultuados, no Brasil, são os
reveladoras, constituintes do mundo visível e seguintes: Exu, Ogum, Oxóssi, Obaluaiê, Omo-
invisível, do material e do imaterial, do objetivo lu, Ossaim, Oxumarê, Xangô, Iemanjá, Iansã,
e do subjetivo, do existente e do pré-existente. Oxalá, Erê ou Ibeji (entidades infantis). Cada
Esses povos acreditam na existência de um deles corresponde a uma qualidade da for-
uma energia inerente aos seres vivos que são ça vital.
um continuum do pré-existente tomado como Exu, portador da força vital, é capaz de
fonte primordial dessa energia; sendo de ori- fazer a ligação entre mundo visível e mun-
gem divina, as práticas históricas dela origina- do invisível, sendo, portanto muito poderoso
das são sacralizadas bem como todas as esferas e reverenciado, e o caminho, o mensageiro, o
em que se manifestam. Os seres humanos tam- portador, o que recebe e entrega o axé (ntu)
bém são constituídos por essa força e podem Ogum é o orixá da tecnologia, da técnica,
atuar sobre ela, ampliando, expandindo, com- dos metais, do ferro, da violência.
pactando, fazendo com que a mesma atue dessa Oxóssi é o orixá das matas, das árvores, da
ou daquela maneira. caça e o provedor.
Essas modalidades de práticas religiosas Obaluaiê é o orixá da medicina, cura, da
têm por fundamento o chamado animismo, saúde e doença.
denominação dada pelos missionários cris- Ossaim é o orixá dos segredos da eficácia
tãos que, observando os rituais afro-brasileiros, das plantas, raízes e folhas.
pensavam que os praticantes acreditassem na Oxumare é o orixá do arco-íris dos poços
existência de uma alma, ou anima, em tudo. Na e fontes de água, serpente sagrada da continui-
verdade, esses missionários estavam retirando dade.
de suas próprias crenças a explicação para a re- Xangô é o orixá do raio, do trovão, da pe-
ligiosidade dos outros, que eles não entendiam. dreira, justiça, vaidade, realeza, riqueza.
A Igreja Católica condenou essas práticas e, du- Oxum é o orixá da água doce, rios, lagos
rante todo o período colonial, as mesmas foram cachoeiras, da procriação, fertilidade, feminili-
proibidas, e os praticantes perseguidos. dade, riqueza, amor.
O Candomblé é uma religião iniciática e de Iemanjá é o orixá do mar, praia da água sal-
possessão extremamente ritualizada, possui ce- gada, procriação, fertilidade, maternidade.
rimônias privadas, às quais apenas os iniciados Iansã é o orixá do vento, do cemitério (do-
têm acesso (como bori, orô e alguns ebós) e ce- mínio sobre os mortos) sensualidade, coragem,
rimônias públicas, denominadas “toques” ou impetuosidade.
“festas”. Oxalá é o orixá do ar, de todos os lugares
As denominações dos Cultos aos Orixás da criação dos homens, da paciência, da sabe-
são as seguintes: Candomblé queto (BA, RJ, doria.
SP), Xangô (PE), Batuque (RS) Candomblé jeje Eres e Ibejis (entidade infantis) são os ori-
(BA), Tambor-de-mina (MA e PA), Babassuê xás da alegria, festa, da sociabilidade, da ajuda,
(PA) do carinho, da família.
Nesses rituais, são cultuadas as forças da As cerimônias privadas são associadas à
natureza, ou seja, a concretude da força vital. iniciação na religião. A iniciação implica uma
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mudança de vida, na qual será construída uma semicultas, é chamada de popular. Por terem
nova personalidade para o iniciado: novos há- sua origem no povo e, logo depois adaptadas,
bitos, nome e referências. Este assume um com- mostrando assim as formas de sentir e pensar
promisso eterno com seu orixá e com seu pai de quem as modifica. Quem conhece o genuíno
ou mãe-de-santo. estilo da cantoria popular distingue facilmente
O Brasil recebeu africanos de origem bantu das cantorias anônimas.
(cultuando os antepassados) e de origem ioru- Além dos diversificados tipos de cantoria
bá (cultuando as forcas da natureza) e, no cam- popular, originariamente espalhadas pelo país,
po da religiosidade afro-brasileira, essas duas temos, atualmente, outros tantos estilos conce-
modalidades deram origem a formas diferen- bidos pelos ecléticos violeiros e poetas cordelis-
ciadas de praticas rituais. As mais conhecidas tas, que se apresentam através de alegoria, res-
são a Umbanda e o Candomblé. (Dilma de Melo gatando as belezas da terra.
da Silva). Estes representam os legítimos divulgado-
res das poesias e jograis, que através da rima
Referências: passam as informações e conhecimentos uti-
BASTIDE, Roger. As Américas negras. São Pau- lizando expressões sublimes de seus repentes,
lo: Difel, 1974. muitas vezes, com irreverências próprias.
LEITE, Fábio. A questão ancestral: África Negra. As classes populares têm, assim, meios pró-
São Paulo: Casa das Áfricas, 2008 prios de expressão e somente através deles é que
SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e um- podem entender e fazer-se entender. Tais meios
banda. Caminhos da devoção brasileira. São são, ainda, em grande parte aqueles mesmos
Paulo: Selo Negro, 2005. que lhes serviram na fase da independência: a
VERGER, Pierre. Notas sobre o culto aos orixás literatura oral, com os contadores, as histórias
e voduns. São Paulo: Edusp, 2000 e anedotas, os romances cheios de moralidade
OLIVEIRA, Eduardo. Cosmovisão Africana no e filosofia; a conservação dos caixeiros – viajan-
Brasil - elementos para uma filosofia afro- tes, choferes de caminhão, dos padres e frades
descendente. Fortaleza: LCR, 2003. missionários ou dos vigários nas “desobrigas”
dos passadores de “bicho”, de engenho a enge-
nho, enchendo as “pules” e conversando fiado,
CANTORIA POPULAR E REPENTE dos canoeiros de São Francisco, do amazonas
A cantoria popular inicialmente é uma criação e seus afluentes; “e também pela “fala” expres-
individual, embora anonimamente, sendo mo- siva das peças de artesanato, de esculturas, de
dificada de acordo com as necessidades, que quadros, de móveis e utensílios rústicos” (BEL-
se possuem em comunicar e de acordo com o TRÃO, 1971).
gosto do cantador. São modificadas de gerações Como bem definiu Câmara Cascudo
em gerações e através do tempo e ambientes (1979), “o cantador, representante legítimo de
sociais. Muitas dessas cantorias populares tor- todos os bardos menestréis”, acompanhado
nam-se verdadeiras obras de arte. Independen- por sua viola, desperta os sentidos, delineando
temente de quem as faz, a cantoria popular, seja através do improviso o eco autêntico da cultura
criada por pessoas do povo, pessoas cultas ou popular.
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dução de bens e serviços, ou seja, na atividade cia com os conceitos de capital portador de ju-
produtiva, chama-se capital industrial. Quando ros e o de capital fictício deste autor. O primeiro
o capital é aplicado na esfera do comércio, cha- é uma soma de valor emprestada (seja na for-
ma-se capital comercial. Assim, de maneira ge- ma de mercadorias ou de dinheiro) que retorna
ral, o capital financeiro é aquele que busca valo- a seu proprietário com acréscimo de juros. O
rizar-se por meio da sua aplicação, no mercado segundo, exemplificado pelo autor com ações
financeiro, ou seja, pela realização de emprésti- de empresas, títulos da dívida pública e moeda
mos e pela compra de títulos públicos e priva- emitida sem lastro, é o capital que pode se valo-
dos, ações de empresas, moedas estrangeiras e rizar ficticiamente, ou seja, sem qualquer base
outros ativos financeiros. Entretanto, a expres- ou fundamento na atividade econômica produ-
são capital financeiro aparece com significados tiva, por meio da especulação financeira, crian-
distintos em diferentes autores e alguns autores do as chamadas bolhas especulativas, que explo-
usam outros conceitos para tratar da mesma dem nos momentos de crises financeiras com
noção. Próximo a esta distinção geral, Keynes a abrupta desvalorização destes ativos. Hilfer-
(1936) distingue a decisão de usar uma soma ding (1910), teórico marxista que buscou avan-
monetária para realizar uma inversão produti- çar na teoria de Marx, criou um conceito de ca-
va, com a compra de ativos de capital (bens uti- pital financeiro que influenciou Lênin e outros
lizados na produção de outros bens, como má- teóricos do imperialismo. Para ele, capital fi-
quinas, equipamentos, plantas industriais etc.) nanceiro é a fusão histórica entre o capital in-
da decisão de comprar um ativo financeiro (por dustrial, representado pelas grandes empresas,
exemplo, títulos que rendem juros). Assim, monopólios, cartéis e trustes, e o capital bancá-
Keynes distingue os agentes econômicos em rio, representado pelo capital monetário ou de
dois tipos: os empresários (que aplicam o capi- empréstimo, concentrado nos grandes bancos.
tal na atividade produtiva) e os rentistas (que o Vale ainda destacar que, no final do século XX,
direcionam para as aplicações financeiras). Se- surgiram várias teorias buscando explicar o do-
guindo Keynes, Minsky (1986), principal teóri- mínio do capital financeiro sobre o produtivo,
co da vertente conhecida como pós-keynesiana, bem como o aumento da instabilidade (atesta-
vai diferenciar o capital financeiro (que se di- do pela ocorrência de várias crises financeiras),
reciona ao mercado financeiro) do capital pro- que caracterizam esse período, ao qual alguns
dutivo (que se direciona às atividades produti- chamam de capitalismo financeiro. Na vertente
vas e ao comércio). Este autor criou a chamada pós-keynesiana, criou-se a noção de financei-
hipótese da instabilidade financeira, segundo a rização, que ocorre quando a estratégia de va-
qual um sistema econômico saudável com um lorização financeira se sobrepõe à produtiva.
complexo sistema financeiro pode ser conduzi- Na vertente marxista contemporânea, desen-
do endogenamente à instabilidade pela fragili- volveu-se a noção de dominância financeira da
zação das posições financeiras dos agentes, que valorização, introduzida por Chesnais (2005).
aumentam a atividade especulativa ao longo de Apesar das diferenças teóricas, ambas as ver-
um boom econômico, dando origem a crises cí- tentes referem-se ao movimento de expansão
clicas. Em Marx (1894), não existe o conceito de da forma financeira de valorização do capital
capital financeiro, mas há certa correspondên- em detrimento da produtiva e à instabilidade
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econômica trazida por este processo (Rodrigo vestimento do “capital humano” a explicação
Alves Teixeira). consentânea que faltava. No que consiste esse
capital humano? Nas habilidades, capacidades
Referências: e destrezas inatas ou adquiridas do ser humano
CHESNAIS, François. O Capital portador de ju- que possuam valor econômico. Uma vez que,
ros: acumulação, internacionalização, efeitos segundo Schultz, as capacidades herdadas têm
econômicos e políticos. In: . A finan- uma distribuição homogênea entre as nações
ça mundializada. São Paulo: Xamã, 2005. e uma duração que ultrapassa a dos cálculos
HILFERDING, Rudolf (1910). O capital finan- econômicos são as adquiridas – passíveis de in-
ceiro. Coleção “Os Economistas”. São Pau- cremento por meio de ações deliberadas – que
lo: Abril Cultural, 1985. explicariam a ampliação da produtividade eco-
KEYNES, John Maynard. (1936). A teoria geral nômica de alguns países. Tal teoria abriu espa-
do juro, do emprego e da moeda. Coleção ço para que se considerasse o investimento em
“Os Economistas”. São Paulo: Abril Cultu- educação e na qualificação da força de trabalho
ral, 1985. um dos determinantes básicos para o aumen-
MARX, Karl. (1894). O Capital: crítica da eco- to da produtividade e diminuição do atraso
nomia política. Coleção “Os Economistas”. econômico das nações; fato este que imputava,
São Paulo: Abril Cultural, 1985. pelo menos em sua formulação original, ao Es-
MINSKY, H. P. Stabilizing un unstable economy. tado o papel de principal investidor em capi-
New Haven: Yale University Press, 1986. tal humano. A retomada contemporânea desta
teoria – numa fase em que a reestruturação do
capitalismo pressupõe a subordinação do pa-
Capital humano pel do Estado às lógicas do mercado – a vincula
De certa forma, a teoria do ‘capital humano’, não só às práticas gerenciais e administrativas
embora possa ter suas raízes que remontam a ou aos princípios norteadores de políticas ma-
Adam Smith, Alfred Marshall ou Irving Fisher croeconômicas, mas ressalta o que Michel Fou-
e, encontrar ressonância até mesmo em Karl cault, em sua obra O Nascimento da Biopolítica,
Marx, foi efetivamente inventada pela Escola de apontou como uma mudança epistemológica
Chicago, nos anos 1960, fruto, portanto, da teo- fundamental: a reinterpretação em termos es-
ria econômica neoclássica. Ao tentar explicar o tritamente econômicos do próprio comporta-
crescimento econômico das sociedades afluen- mento humano. Abriram-se, com isso, as por-
tes nos períodos de estabilidade após a Segun- tas para o surgimento de uma ética social que
da Guerra Mundial, Theodore Schultz e Gary leva a se adotar a “forma-empresa” como o
Becker indicaram a insuficiência das explica- meio adequado de se organizar a própria vida.
ções que colocavam o estoque de capital físico Isto porque, ao tratar como uma forma de ca-
e trabalho ou ainda o “fator técnico” como os pital, elementos – como a força de trabalho,
ingredientes essenciais do crescimento econô- as capacidades sígnicas e cognitivas etc. – que,
mico. Haveria, portanto, uma incógnita a ser em certa medida, lhes eram antagônicos, to-
desvendada por uma “abordagem mais con- dos passariam a ser vistos como “proprietários”
veniente”. Para Schultz, seria justamente o in- e responsáveis pelo florescimento ou falência
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de sua firma individual. Na era do autoempre- criticavam as atitudes dos homens públicos. Em
endedorismo, do autoinvestimento no capital 1833, o artista francês Charles Philipon, criador
humano individual “no lugar da exploração do jornal humorístico La Caricature, realizou
entram a autoexploração e a autocomercializa- caricaturas do rei Louis-Philippe (com rosto
ção do “Eu S/A”, que rendem lucros às grandes em forma de pera, símbolo de estupidez), o que
empresas, que são clientes do autoempresário” causou a prisão do caricaturista.
(GORZ, 2005, p. 10) (Ruy Sardinha Lopes). No final do século XIX, o artista inglês Ja-
mes Gillray editava nos jornais britânicos char-
Referências: ges que ridicularizavam a vida política da In-
BECKER, Gary S. Human capital: a theoretical glaterra. As caricaturas e as charges realizadas
and empirical analysis, with special refer- pelo ítalo-brasileiro, Angelo Agostini, no Bra-
ence to education. New York: National Bu- sil, durante o século XIX, refletiam a insatisfa-
reau of Economic Research, 1964. ção para com o governo de Dom Pedro II. Re-
FOUCAULT, Michel. O Nascimento da bio- presentação da figura humana (normalmente
política. São Paulo: Martins Fontes, 2008. de pessoa conhecida pelo público) compos-
GORZ, André. O imaterial: conhecimento, va- ta por traços anatômicos exagerados e distor-
lor e capital. São Paulo: Anablume, 2005. cidos, a caricatura não tem intenção de contar
LÓPEZ-RUIZ, O. J. Os executivos das transna- uma história. Trata-se de uma ilustração e não
cionais e o espírito do capitalismo: capital de uma narrativa pictórica. No entanto, a ca-
humano e empreendedorismo como valo- ricatura se faz presente em formas narrativas,
res sociais. Rio de Janeiro: Azougue Edito- como a charge, o cartum e a história em qua-
rial, 2007. drinhos de humor, seja pela estilização do tra-
SCHULTZ, Theodore W. O capital humano: in- ço do desenho, seja pelo retrato deformado de
vestimento em educação e pesquisa. Rio de alguma personalidade transformada em perso-
Janeiro: Zahar Editores, 1973. nagem cômico ou ridículo.
De acordo com Fonseca (1999), a caricatu-
ra é uma “representação plástica ou gráfica de
Caricatura, charge e cartum uma pessoa, ação ou ideia interpretada volun-
Foi com o desenvolvimento das técnicas de im- tariamente de forma distorcida sob seu aspecto
pressão e com a popularização do jornal, como ridículo ou grotesco”. A charge – normalmente
meio de comunicação, que o humor gráfico, uma sátira ou crítica política – é um comentá-
impresso, projetou-se. A partir do início do sé- rio ilustrado feito com base em um fato recen-
culo XVIII, as páginas dos periódicos passaram te que tenha se tornado notícia publicada em
a abrigar ilustrações, caricaturas, charges polí- jornais diários e revistas semanais ou veiculada
ticas, cartuns e, posteriormente, tiras e páginas em telejornais. Já o cartum, ao contrário, per-
de quadrinhos. Em sua maioria, esses desenhos manece engraçado, tempos depois de sua pu-
e narrativas sequenciais apresentavam um con- blicação, porque aborda situações atemporais,
teúdo humorístico. privilegiando o comportamento humano e suas
Acompanhando ou não textos de conteúdo contradições. (Waldomiro Vergueiro e Roberto
político ou social, essas imagens satirizavam ou Elísio dos Santos)
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pastor chegue a todos os fiéis do rebanho a ele não continha ilustrações, o que só ocorreria na
confiado. (Vera Ivanise Bombonatto) França, quando foram introduzidas imagens
com motivos militares, em cartões adquiridos
Referências: por combatentes da guerra Franco-Prussiana,
Enciclopédia Mirador Internacional. São Paulo: utilizados para enviar notícias aos seus familia-
Encyclopaedia Britânica do Brasil Publica- res. A fotografia seria introduzida em 1891, por
ções Ltda. v. 8, 1980. Dominique Piazza, em Marselha.
LOSSKY, Nicholas et al. (Eds.). Dicionário do No Brasil, o cartão postal foi instituído
Movimento Ecumênico. Petrópolis: Vozes, pelo Decreto nº 7695, de 28 de abril de 1880,
2005. como bilhete postal. Grandes fotógrafos brasi-
Gran Enciclopédia Católica. Disponível em: leiros produziam cartões postais, assim como
<www.mercaba.org/GET/cartel-enciclope- ilustradores e tipógrafos contribuíram para re-
dia.htm> acessado em 23.03.2009>. Acesso gistrar elementos da cultura brasileira e servir a
em 12/12/2009. difusão turística. Fotógrafos e editores estran-
geiros também dedicaram coleções ao Brasil e
aos temas brasileiros, com destaque para Ra-
Cartão Postal phael Tuck & Sons, que imprimiu postais de
O cartão postal, na forma mais aproximada do Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Santos e ou-
que é hoje consagrado, tem sua origem dispu- tros portos brasileiros. Em 1904, no Rio de Ja-
tada entre americanos e alemães. Os america- neiro, surge a primeira entidade especializada
nos defendem que, em 1861, foi patenteado o no assunto, a Sociedade Cartophilica Emmanuel
Lipman’s Post Card, que circularia apenas na Hermann, que editava um jornal denominado
década seguinte. Outra iniciativa é atribuída a Carthopilia e que tinha Olavo Bilac e outros
Heinrich Von Stephan, que lançou a sugestão acadêmicos ilustres, entre seus associado. Entre
de uma correspondência padronizada na Con- os que dedicaram reflexões sobre o cartão pos-
ferência Postal Germano-Austríaca, em 1865. A tal está Gilberto Freyre (1978), que escreveu um
terceira versão informa que o economista Em- ensaio no início do século XX, a partir de pos-
manuel Hermann, professor da Academia Mi- tais enviados da Amazônia para Portugal. Para
litar Wiener Neustadt, propôs sua adoção em Freyre, o cartão postal é informativo tanto para
artigo no Die Neue Freie Presse, de 29 de janeiro o público leigo como para o pesquisador aca-
de 1869. Defendia um sistema para as cartas de dêmico, pois apresenta aspectos da língua co-
menor responsabilidade, aliando baixo custo tidiana, acontecimentos e personalidades, além
e simplicidade, e permitindo redução da tarifa do estímulo pictórico: “Não é só romancista à
postal, por não utilizar envelope e ter o selo im- inglesa que pode encontrar pequenos tesouros
presso. Em outubro do mesmo ano, seria pos- nesses pequenos nadas: também o pesquisador
to à venda o primeiro cartão postal do mun- social, quer seja antropólogo ou sociólogo, psi-
do, o Correspondez Karte, que trazia dizeres em cólogo ou historiador” (FREYRE, 1978, p. 148).
cor negra sobre cartão creme, levando impres- Esse percurso mostra que, embora forte-
so um selo de dois Neukreuzer (ARISTIMU- mente associado ao turismo (SIQUEIRA et al,
NHA, 2005). O postal proposto por Hermann 2005), sua origem está melhor associada ao uso
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enciclopédia intercom de comunicação
militar e à busca de redução de custos postais. para uma área, tais como parques, reservas, ci-
É patente que se trata de uma mídia importante dades, municípios, regiões ou outras porções
que, no Brasil, infelizmente, ainda não recebeu da superfície terrestre.
a devida atenção no campo da Comunicação, A cartografia turística deve apresentar esca-
mesmo que fartamente utilizado para divulga- la clara e coerente com o fenômeno a ser repre-
ção de lugares e como souvenir de viagem. (Su- sentado, trazendo nitidamente e corretamente
sana Gastal) a escala gráfica e a numérica. Os símbolos de-
vem se aproximar o mais possível da realidade
Referências: que está sendo representada, facilitando assim a
ARISTIMUNHA, Vanina Balbinot. A contri- compreensão do fenômeno. Quanto maior for a
buição do Cartão Postal como motivação e escala utilizada, mais nitidamente teremos o fe-
conduta no turismo. Monografia. Curso de nômeno e, portando, mais fácil será a utilização
Turismo. Porto Alegre: PUCRS. 2005 do mapa. É fundamental conceber-se uma car-
CASTRO, Ruy. O Brasil de fraldas nas asas do tografia que considere o mapa como sendo “a
cartão-postal . O Estado de S. Paulo. 2° Ca- articulação dos diferentes níveis de apreciação
derno, 29-06-2002. do fenômeno turístico, em conformidade com
FREYRE, Gilberto. Alhos e bugalhos: ensaios os conteúdos da análise desta realidade mul-
sobre temas contraditórios, de Joyce a ca- tiescalar” (MARTINELI, 1996, p.300), em con-
chaça; de José Lins do Rego ao cartão pos- formidade com o todo espacial e com as parti-
tal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1978. culares necessidades dos turistas.
KOSSOY, Boris. O Cartão Postal: Entre a nos- A palavra “mapa” tem a sua origem no la-
talgia e a memória. São Paulo: Kosmos, tim mappa e trata-se da representação geográ-
1988. fica por excelência. Pode ser construído através
SIQUEIRA, Euler David de; SIQUEIRA, Denise de diferentes projeções a partir dos interesses
da Costa Oliveira. Corpo, mito e imaginá- de quem o propõe. Quanto menor for a área a
rio nos postais das praias cariocas. XXVIII ser projetada maior deve ser a escala a ser uti-
Congresso Brasileiro de Ciências da Co- lizada, favorecendo o registro dos fenômenos
municação. Rio de Janeiro: UERJ, 2005. turísticos a serem representados e, consequen-
temente, favorecendo a compreensão da sua
leitura por parte do usuário. (Antonio Carlos
Cartografia Turística Castrogiovanni).
De forma geral, é a representação gráfica, sobre
a forma de mapa, que utiliza instrumentos da Referências:
comunicação visual para representar um fenô- LACOSTE, Yves. Dicionário de Geografia – da
meno espacial que ocorra na superfície da Ter- geopolítica às paisagens. Lisboa: Teorema,
ra. A cartografia turística é um setor da carto- 2005.
grafia temática responsável pela sistematização MARTINELLI, Marcelo. Cartografia do turis-
dos mapas turísticos (MARTINELLI, 1996). É a mo: que cartografia é esta? In: LEMOS,
representação plana de territórios, com dados Amália Inês de. Turismo - impactos socio-
e informações relativas ao Turismo, propostos ambientais. São Paulo: Hucitec, 1996.
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Idade Média. Os realistas acreditavam que as de corresponde a tudo o que é existência, ação,
categorias tinham uma realidade independen- força. A Terceiridade corresponde a tudo o que
te das nossas mentes, enquanto os nominalis- é generalidade, continuidade e mediação. Num
tas acreditavam que as categorias eram concei- tratamento mais detalhado de suas categorias,
tos presentes na mente humana para organizar Peirce mostra que, enquanto a Primeiridade só
o caos dos estímulos perceptivos que nos che- pode existir em sua forma pura, as outras duas
gam do mundo exterior à mente. Aristóteles, podem se apresentar de forma degenerada. A
que era um realista, foi o primeiro a elaborar Segundidade pode, eventualmente, degenerar-
um conjunto finito de dez predicados (Cat., IV, sem em Primeiridade da Segundidade. E a Ter-
1 b): substância (οὐσία, substantia), quantidade ceiridade pode se degenerar tanto em Primeiri-
(ποσόν, quantitas), qualidade (ποιόν, qualitas), dade da Terceiridade quanto em Segundidade
relação (πρός τι, relatio), lugar (ποῦ, ubi), tem- da Terceiridade. Os princípios de tricotomiza-
po (ποτέ, quando), estado (κεῖσθαι, situs), hábi- ção (divisão por três) e degeneração (redução
to (ἔχειν, habere), ação (ποιεῖν, actio) e paixão de uma categoria a uma ordem inferior) estão
(πάσχειν, passio). A lista de Aristóteles mante- presentes em toda a filosofia e semiótica de
ve-se inalterada por mais de dois mil anos até Peirce, sendo responsáveis, por exemplo, pela
que Kant a retomou em sua “dedução transcen- profusão de classes de signos que marcam sua
dental“ das categorias, organizando-as em qua- semiótica. A aplicação desses mesmos princí-
tro grupos de três. Assim, a quantidade é divi- pios nos leva a concluir que a Comunicação
dida em unidade, a pluralidade e a totalidade; a não existe apenas na dimensão da Terceiridade
qualidade, em essência, negação e limitação; a genuína, como é o caso da comunicação sim-
relação, em substância, causalidade e ação recí- bólica estudada pela linguística ou pela semió-
proca; e modalidade, em possibilidade, existên- tica do discurso. Ao contrário, haveria um am-
cia e necessidade. Kant inverte a posição rea- plo gradiente nos fenômenos comunicacionais
lista de Aristóteles ao afirmar que as categorias que se iniciariam na Comunicação como possi-
são conceitos puros que existem a priori em bilidade (dada, por exemplo, pela continuidade
nossas mentes, independentes da experiência, espaço-temporal entre as coisas), passando pela
e, por isso mesmo, são a condição dos juízos Comunicação como ação (de que são exemplos
sintéticos a priori. Uma nova reformução das os fenômenos de transmissão por meio de fó-
categorias, ainda mais radical, foi oferecida por tons) até atingirmos a Comunicação como me-
Peirce. Em seu artigo Sobre uma Nova Lista de diação propriamente dita, de que são exemplos
Categorias, de 1867, Peirce vê na divisão triádica o compartilhamento de significados por comu-
que Kant faz das categorias o padrão que subjaz nidades de interpretantes que se constituem
em todos os fenômenos. Ele então reduz o nú- simbolicamente. (Vinicius Romanini)
mero de categorias fundamentais a apenas três,
que posteriormente chamou de Primeiridade,
Segundidade e Terceiridade, por estarem elas CD
numa ordem crescente e inclusiva. A Primei- O mesmo que disco a laser. Tipo de disco digi-
ridade corresponde a tudo o que é possibilida- tal de áudio, cuja leitura é feita por um feixe de
de, qualidade e espontaneidade. A Segundida- raio laser. É pequeno e gravado apenas numa
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face. Em vez de sulcos, apresenta uma trilha digitais e estúdios que produzem fitas e CDs.
formada por bilhões de covas microscópicas. A A informação da forma de onda é medida em
parte gravada é metálica, com uma camada de cada instante e convertida em um número bi-
prata, como um espelho, protegido por acrílico nário (composto de zeros e uns). Por exemplo,
transparente. O Compact Disc atingiu o merca- um conversor de 16 bits é capaz de registrar um
do em 1982, lançado pela Philips, e em poucos entre 65.536 valores diferentes em cada modu-
anos tornou obsoletos os Long-Plays, discos lação. Presente nos aparelhos de leitura digi-
analógicos até então dominantes no mercado. tal, CDs, DATs, Mini-Discs, que transforma a
O CD trouxe para o áudio a tecnologia di- informação binária, digital, em uma forma de
gital, até então reservada aos computadores. O onda analógica. (Moacir Barbosa de Sousa)
padrão do CD - 16 bits, 44,1 kHz - permite uma
relação sinal/ruído de 96 dB, com banda pas- Referências:
sante de 20 Hz a 20.000 kHz. Os CDs são lidos SOUSA, Moacir Barbosa de. Tecnologia da
por um feixe de raio laser, da faixa mais inter- radiodifusão de A a Z. Natal: Editora da
na à faixa externa, com velocidade linear cons- UFRN, 2008.
tante, o que significa uma velocidade angular
variável entre 500 e 200 rotações por minuto.
O Compact Disc original, que até então só pos- Celebridade
suía trilhas de áudio, posteriormente foi padro- Sabemos que o desejo humano de cultuar e ce-
nizado para outras finalidades: CD-ROM - CD lebrar indivíduos por sua aparência, feitos e re-
Read Only Memory, para leitura por computa- alizações, obra intelectual, traço de personali-
dores PC; CD-R - CD Recordable, para compu- dade e caráter além de outros fatores, é antigo.
tadores, que pode ser lido e gravado. Agora, no entanto, a repetitiva exposição de um
CD-RW: Tipo de CD que aceita regrava- personagem qualquer nos meios de comunica-
ção. Essa característica, no entanto, dá lugar a ção massiva é fator adicional capaz de conver-
interpretações errôneas. A regravação não se tê-lo em objeto de veneração por parte do pú-
faz como num disco rígido ou disquete. É pos- blico. O fato tinha sido verificado já na origem
sível adicionar dados até 650 MB. Mas não se do cinema. Esta indústria converteu os atores
pode apagar um arquivo e gravar outro no lu- dos filmes em astros. Também as indústrias fo-
gar. Para sobrescrever, é preciso, antes, limpar nográfica e editorial, o rádio e principalmente
todo o conteúdo do disco. Existem softwares, a televisão, souberam explorar a figura de seus
como o CD-Direct, da Adaptec, que permitem apresentadores, intérpretes, autores, humoris-
gravar no CD-RW como se faz num disco co- tas, atores e jornalistas, entre outros persona-
mum. No entanto, isso tem um custo: perde- gens, tornando-os celebridades da indústria
se mais de 150 MB do espaço útil da mídia. A cultural.
maioria dos novos gravadores de CDs trabalha Por vezes, este tipo de projeção e fama é lo-
com mídias CD-R e CD-RW. cal. Noutros é regional, nacional e internacio-
CONVERSOR AD-ANALÓGICO DIGI- nal. Em torno destas figuras há uma ampla mí-
TAL: Módulo que converte o sinal analógico dia que se anima dos detalhes da privacidade
para o domínio digital, usado em gravadores destas figuras divulgando-os ao consumo dos
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fãs. Visando conquistar e sustentar tal curio- estudos sobre as relações de parentesco, mos-
sidade e interesse da mídia, alguns entre eles trou como as sociedades se articulam em torno
adotam um estilo de vida excepcional e extra- de um determinado número de regras proibiti-
vagante. vas. A censura é uma dessas formas de proibi-
Há celebridades que, por seus feitos e ca- ção e, como tal, deixou traços de sua presença
racterísticas, se perpetuam no tempo e na his- onde quer que haja registros do processo civi-
tória. Outras figuras são celebradas circuns- lizador.
tancialmente, caindo logo no esquecimento. A palavra “censura” tem sua origem no la-
Algumas marcam uma época. Por exemplo, as tim, ligada à função do censor, figura encarre-
rainhas do rádio Emilinha Borba e Marlene gada de fazer o censo, ou seja, registrar cida-
simbolizam um tempo, no Brasil, no qual os dãos e propriedades, velar pela moral pública e
programas de auditório foram utilizados para regular as finanças do Estado Romano. Embora
criar e divulgar um panteão de personalidades essa tenha sido uma ampla esfera de atuação,
ao desfrute de um emergente público consumi- o termo censura tem sido usado para designar
dor da música brasileira. A chanchada brasilei- proibições das palavras - dos discursos incon-
ra fez o mesmo com seus astros no alvorecer do venientes aos governos -, por seu potencial de
cinema nacional. Também o esporte, a indús- sublevação; dos textos e gestos imorais, por seu
tria da moda, a política e a religião têm servido potencial de desestabilização em face de ideais
de canal ao mesmo fim de tornar certos perso- supostos por dada sociedade.
nagens objeto de excepcional interesse público. Assim, já no século VI a.C., Sólon pedia,
Por vezes, famílias inteiras são célebres. para manutenção da segurança interna, puni-
O interesse social, nesse caso, é pela dinas- ções para os que criticavam o Estado. Platão,
tia e o escrutínio da imprensa atinge todos os no século V a.C., recomendava a seleção, elei-
seus integrantes. O público acaba tendo a sen- ção e supressão, de fábulas a serem contadas às
sação de que desfruta de certa intimidade com crianças.
estas personalidades que aparecem com frequ- Roma, que fixou as funções do censor, tam-
ência na imprensa. Por isso mesmo a literatu- bém as centralizou no aspecto da regulação dos
ra os denomina de media friends. O fato expli- costumes, que prescrevia sobre moral e hábitos,
ca porque qualquer ocorrência dramática com com a prerrogativa de punições. Ocorre que,
qualquer um deles pode evocar grande emoção para a censura, os hábitos sempre foram com-
social. O enterro de Ayrton Senna é exemplo. O preendidos também como aqueles da palavra
evento provocou grande choque e tristesa em contra o Estado. Para ela, como controle da pa-
todo o país. No mundo, curiosidade e espanto lavra, ética e poder se unem sob sua supervisão,
similar ocorreram com o enterro da Lady Di na da mesma forma que a dominação instalada.
Inglaterra. (Jacques A. Wainberg) A Inquisição, com diversas épocas, ocupa
espaço privilegiado no trajeto das interdições.
Do século XII ao XV, a censura se concentra
CENSURA no combate à crescente massa de hereges, e se
Sabe-se que as interdições são a base da organi- manifesta na queima dos livros que expunham
zação dos grupos sociais. Lévi-Strauss, em seus ideias divergentes das oficializadas pela Igreja
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tros computadores na rede e, portanto, para os geral da realidade. A definição ampla se deve
usuários. A esta altura, surge a pergunta sobre ao fato de o ciberativismo incluir tanto ativi-
quem seriam os usuários do sistema: o clien- dades que são possíveis apenas on-line quanto
te e o operador de check-out, focando os com- o uso da internet como um canal adicional de
putadores e rede, sem pensar sobre os usuários comunicação para grupos, organizações e mo-
finais, porque existem os consumidores inter- vimentos sociais. Do ponto de vista da finali-
mediários ou os gerenciadores dos supermer- dade das iniciativas, o ciberativismo se consti-
cados, que escolhem os itens que serão ofere- tui em basicamente três áreas: conscientização/
cidos aos consumidores finais. Nesse sentido, apoio, organização/mobilização e ação/reação
vale ressaltar o item “fidelidade à marca”, quan- (Vegh, 2003, p. 72). No âmbito da formação
do pensamos que a decisão de compra é feita, da consciência pública, as ações online ocorrem
na maioria das vezes, no ponto-de-venda, por no sentido de tornar a internet fonte alternativa
inúmeros motivos (preço, disposição na gôn- de informações, por meio de veículos de comu-
dola do supermercado, promoções) e não raro nicação independentes, blogs, sites de organi-
no ato do check-out, por tantos outros motivos zações, listas de e-mails, fóruns de discussão e
relacionados ao comportamento do consumi- comunidades de relacionamento. Já na organi-
dor, seja ele quem for. (Scarleth O’hara Arana) zação e mobilização, o ciberativismo se confi-
gura especialmente quando a atuação on-line
Referências: passa a interferir não só na qualidade das ações
COBRA, Marcos. Estratégias de Marketing de offline, mas também na própria estrutura orga-
Serviços. São Paulo: Cobra Editora, 2001. nizacional, viabilizando, entre outros elemen-
LAS CASAS, Alexandre Luzzi; GARCIA, Maria tos, a constituição de coordenações policêntri-
Tereza. Estratégias de Marketing para Vare- cas (Bennett, 2004, p. 134), como no caso
jo. São Paulo: Novatec, 2007. dos protestos em escala global e da construção
MONTAGUT, Xavier; VIVAS, Esther. Super- do Fórum Social Mundial. É no campo da ação/
mercados, No Gracias. Barcelona: Icaria, reação, no entanto, que o ciberativismo assu-
2007. me a sua forma mais proativa e agressiva, sen-
ROJO, Francisco J. G. Supermercados no Brasil. do também chamado de hacktivismo. Entre os
São Paulo: Atlas, 1999. instrumentos utilizados nas estratégias de ação/
SARQUIS, Alessio Bessa. Estratégias de Marke- reação, os principais são: (a) ocupação virtual
ting para Serviços. São Paulo: Atlas, 2009. (virtual sit-in), com o bloqueio/apagão (over-
SOUZA, Marcos Gouvea de. Alianças para o whelming) dos servidores do site por meio de
Sucesso no Varejo. São Paulo: GS&MD, inúmeros pedidos simultâneos de entrada, ou
2007. com o envio de e-mails além da capacidade do
servidor (e-mail bomb); (b) deformação da pá-
gina inicial, com simples desconfiguração do
CIBERATIVISMO design ou com cibergrafites contendo material
Ações continuadas, realizadas com a internet de protesto e/ou linguagem ofensiva; (c) paró-
ou, exclusivamente, via internet, visando aos dia, com a criação de sites com nome de domí-
objetivos específicos ou uma transformação nio semelhante ao oficial; (d) redirecionamento
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de acesso para outro site; (e) criação de vírus; nia, de modo análogo, envolve aspectos bastan-
e (f) e-mail em massa (Vegh, 2003, p. 71-95). te heterogêneos.
Embora possa parecer algo baseado nas tecno- Pode-se falar, em primeiro lugar, na incor-
logias de última geração, o ciberativismo é tão poração das tecnologias digitais na administra-
antigo quanto a internet, estando presente em ção estatal de modo a facilitar e agilizar uma sé-
iniciativas que constituíram as raízes da própria rie de procedimentos ofertados aos cidadãos – o
rede, como a criação do MoDem e do protoco- chamado e-governo – tais como emissão de do-
lo Unix (UUCP) de transferência de dados, que cumentos, certidões, agendamento de eventos,
permitiu a concepção das BBSs (bulletin board voto eletrônico etc. Nesse nível elementar, as tec-
system), ainda na década de 1970, pelos pionei- nologias digitais podem contribuir para ampliar
ros da contracultura (Rheingold, 1996, p. o acesso dos cidadãos ao Estado, bem como a
141-181). (Maria Lúcia Becker) transparência deste diante da sociedade.
Também deve ser considerado o modo
Referências: como a internet propicia com facilidade experi-
Bennett, W. Lance. Communicating global ências cidadãs anteriormente difíceis de serem
activism: strengths and vulnerabilities of efetivadas. O acesso à informação, requisito bá-
networked politics. In: DONK, Wim van sico da cidadania, se expande de forma notá-
de et al. Cyberprotest: new media, citizens vel, mesmo com a existência de barreiras eco-
and social movements. London: Routledge, nômicas, entre outras. Por outro lado, as novas
2004. facilidades para publicação na rede ampliam a
Rheingold, Howard. A comunidade virtual. possibilidade de exercer o direito à expressão,
Lisboa: Gradiva, 1996. bem como a disponibilidade de opiniões polí-
Vegh, Sandor. Classifying forms of online ac- ticas e fóruns de discussão, favorecendo a deli-
tivism: the case of cyberprotests against beração pública e propiciando algo como uma
the World Bank. In: McCaughey, Martha; esfera pública virtual.
Ayers, Michael D. (Ed.). Cyberactivism: Além dessa ampliação discursiva, o cibe-
online activism in theory and practice. Lon- respaço constitui-se numa nova arena de ar-
don: Routledge, 2003. ticulação e mobilização da ação política dos
cidadãos, que podem, por exemplo, tentar in-
fluenciar a posição de seus representantes po-
CIBERCIDADANIA líticos usando um canal mais direto de comu-
A cibercidadania deve ser concebida em relação nicação, através de e-mails, ou, ainda, exercer o
à cidadania, e se refere às mudanças provoca- controle das contas e gastos públicos de manei-
das pelas tecnologias em rede na participação ra mais direta. É ampla a gama de experiências
política e inclusão social. possíveis neste âmbito.
A cidadania comporta dimensões diferen- Do ponto de vista social, as novas tecno-
tes, que podem ser mapeadas, se seguirmos T.S. logias de comunicação facilitam radicalmen-
Marshall, segundo a aquisição progressiva de te a organização de uma série de ações cida-
direitos civis, políticos e sociais pelos indivídu- dãs que não passam pela esfera política stricto
os das sociedades democráticas; a cibercidada- sensu, e que se materializam em ONGs, grupos
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enciclopédia intercom de comunicação
de trabalho e todo tipo de iniciativa ligada ao as mensagens discursivas são sempre recebidas
ciberativismo. Tais ações cibercidadãs podem no mesmo contexto em que são produzidas.
se basear em traços identitários, preocupações Mas, após o surgimento da escrita, os textos se
ambientais, espaços de vizinhança entre outros. separam do contexto vivo em que foram pro-
(Alessandra Aldé e Márcio Souza Gonçalves) duzidos (...) A hipótese que levantamos é que
a cibercultura leva a copresença das mensagens
Referências: de volta a seu contexto como ocorria nas socie-
EISENBERG, J. e CEPIK, M. (Orgs.) Internet e dades orais, mas em outra escala, em uma órbi-
política: teoria e prática da democracia ele- ta completamente diferente. A nova universali-
trônica. Belo Horizonte: Editora UFMG, dade não depende mais da autossuficiência dos
2002. textos, de uma fixação e de uma independência
GOMES, W. Internet e participação política em das significações. Ela se constrói e se estende
sociedades democráticas. Revista Famecos, por meio da interconexão das mensagens en-
v. 27. Porto Alegre: PUC-RS, 2005. tre si, por meio de sua vinculação permanente
MAIA, R. Redes cívicas e internet: Efeitos de- com as comunidades virtuais em criação, que
mocráticos do associativismo. Revista Logos, lhe dão sentidos variados em uma renovação
Ano 14, n. 27. UERJ, Rio de Janeiro, 2007. permanente.”
POSTER, Mark. Ciberdemocracy: The Internet A analogia feita por Lévy é entre as socie-
and The Public Sphere. In: PORTER, Da- dades orais com suas mensagens produzidas
vid (Ed.). Internet Culture. New York and e recebidas no mesmo contexto e a sociedade
London: Routledge. atual, que ao inserir-se na cibercultura, passa
a ter o mesmo recurso de produção e recepção
de mensagens, porém, como o próprio autor
CIBERCULTURA explicita, “em outra escala, em uma órbita com-
O termo cibercultura, atualmente bastante uti- pletamente diferente”. “Esta nova escala não se
lizado, não tem uma conceituação simples. As- limita mais às barreiras espaço-físico-tempo-
sim como o conceito de “cultura”, que é uma rais, já que para estabelecer um contato com
palavra polissêmica, a complexidade do seu sig- outrem, por exemplo, com a utilização dos ci-
nificado ou significados permanece sendo ob- berespaços, não é mais obrigatório estar fisica-
jeto de estudos e, cibercultura, pode ser encon- mente em um mesmo local e no mesmo tempo”.
trada em vários discursos. Para Macek (2005), (NEGRI, 2008, p 36). Lemos (2003, p. 12) defi-
citado por Negri (2008, p. 36), “cibercultura ne cibercultura como “a cultura contemporâ-
é um termo ambíguo, confuso e obscuro que nea marcada pelas tecnologias digitais. Ela não
descreve uma série de questões. Pode ser usado é o futuro que vai chegar, mas o nosso presente
em um sentido descritivo, analítico ou ideoló- (homebanking, cartões inteligentes, celulares,
gico. Tem uma variedade de significados e con- palms, pages, voto eletrônico, imposto de renda
sequentemente todo mundo deliberadamente via rede, entre outros). A cibercultura represen-
utiliza pelo menos um deles. ta a contemporaneidade sendo consequência
Para compreender a cibercultura Lévy direta da evolução da cultura técnica moderna.
(1999, p. 15) afirma que “nas sociedades orais, De acordo com Lemos (2004), a cibercultura
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tem início com a microinformática, ou seja, não pensamento e de valores que se desenvolvem
se configura apenas como um processo recente juntamente com o ciberespaço”. O ciberespaço
da década de 1990, com a popularização da in- é, para Lévy, um novo espaço de comunicação,
ternet e o crescimento do ciberespaço. Portan- de sociabilidade, ou seja, ele cria uma nova mo-
to, não se constitui como um processo mera- dalidade de contato social, extrapolando os li-
mente tecnológico. Para ele a cibercultura tem mites naturais, de espaço e tempo, com os quais
relação direta com os estudos cibernéticos, ou até então estávamos acostumados. Esta nova
seja, os estudos dos modos de reflexão e do uso forma de sociabilidade permitiu e estimulou o
de ferramentas de comunicação da década de advento de novas formas de cultura, como a ci-
1940, a inteligência artificial, comunicação de bercultura, pois “longe de ser uma subcultura
massa da década de 1950, sistemas da década de dos fanáticos pela rede, a cibercultura expressa
1960 e, principalmente, com a década de 1970 uma mutação fundamental da própria essência
sob a influência da contracultura americana, se da cultura. De acordo com a tese que desenvol-
contrapondo ao poder tecnocrático represen- vemos, nesse estudo, a chave da cultura do fu-
tado pela dominação militar. Portanto, a ciber- turo é o conceito de universal sem totalidade.
cultura nasce como um movimento social, que Nessa proposição, “o universal” significa a pre-
se relaciona com a luta entre a centralização e sença virtual da humanidade para si mesma. O
descentralização do poder da informação. universal abriga o aqui e agora da espécie, seu
Santaella distingue seis períodos da ciber- ponto de encontro, um aqui e agora paradoxal,
cultura (2003, p. 77): oral, escrita, impressa, de sem lugar nem tempo claramente definíveis”.
massas, das mídias, e digital. Esses seis perío- (1999, p. 247 [grifo original]). (Gláucia da Sil-
dos, segundo a autora “coexistem, convivem si- va Brito)
multaneamente na nossa contemporaneidade.
Vivemos uma época de sincronização de todas Referências:
as linguagens e de quase todas as mídias que NEGRI, P. Graduação em Comunicação Social
já foram inventadas pelo ser humano” (idem, e Tecnologia da Informação e Comunicação
p.78). Kerckhove (apud. SANTAELLA, 2003, (TIC).
p.78) escreve que “quando uma nova tecnologia Refletindo sobre o Currículo. Dissertação de
de comunicação é introduzida, lança uma guer- Mestrado. Programa de Pós-Graduação
ra não declarada à cultura existente, pelo me- em Educação. Curitiba: UFPR, 2008.
nos até agora, nenhuma era cultural desapare- LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: Editora 34,
ceu com o surgimento da outra”. O que ocorre é 1999.
apenas um reajuste no papel social que desem- LEMOS, A. Cibercultura, tecnologia e vida so-
penha, porém tem continuidade, o contexto que cial na cultura contemporânea. Porto Ale-
se insere entre a “era das mídias” e a “era digital”, gre: Sulina, 2004.
denominado “cultura midiática”, representa o LEMOS, A. Olhares sobre a Cibercultura. Porto
momento do advento da cibercultura (ibid.). Alegre: Sulina, 2003.
Lévy (1999, p.17) define a cibercultura SANTAELLA, L. Cultura e artes do pós-huma-
como o “conjunto de técnicas (materiais e inte- no: da cultura das mídias à cibercultura.
lectuais), de práticas, de atitudes, de modos de São Paulo: Paulus, 2003.
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As dimensões que o Estado reconhece como de terior de uma dinâmica conflitual” (SODRÉ,
exercício da cidadania constituem os direitos: 2005). Assim, são minorias os negros, os ho-
civis (livre movimentação, livre pensamento, mossexuais, as mulheres, os povos indígenas,
propriedade), de Justiça, políticos (ser elegí- os ambientalistas.
vel, eleger) e sociais (acesso a bem-estar e segu- Atualmente, os movimentos sociais se or-
rança materiais). Mas cidadania não é apenas o ganizam em redes na defesa da ampliação dos
conjunto de leis que garantiriam direitos e de- direitos de cidadania, como analisa Scherer-
veres, mas também a sua concretização através Warren (2006). As redes permitem a apro-
de quadros institucionais específicos (SAES, ximação de atores sociais diversificados, que
2003, p.11). estabelecem diálogo nas lutas por reivindica-
O exercício da cidadania política no capi- ções referentes a aspectos distintos da cidada-
talismo está fundamentado no sufrágio univer- nia. Um conceito básico nessa ação é o debate
sal e no regime democrático. Há, no entanto, e mobilização em torno de temas transversais,
um desvirtuamento dos mecanismos de repre- relacionados a várias faces da exclusão social, e
sentação política, originado na desigualdade de a demanda de novos direitos. (Bruno Fuser)
acesso a recursos políticos, cuja fonte é a pro-
priedade. A igualdade econômica seria, portan- Referências:
to, a condição geral para a instauração de uma MOISÉS, J. A. Cidadania e participação. São
cidadania plena (idem, p. 38). Paulo: Marco Zero, 1990.
Ao contrário das análises mais conheci- SCHERER-WARREN, I. Das mobilizações às
das sobre cidadania, baseadas em casos euro- redes de movimentos sociais. In: Soc. Esta-
peus, a extensão dos direitos de cidadania no do, Brasília, v. 21, n. 1, abr. 2006.
Brasil moderno não representou nem a efeti- SAES, D. Cidadania e capitalismo: uma crítica
va incorporação de novos contingentes sociais à concepção liberal de cidadania. In: Críti-
a padrões de interação política, fundados na ca marxista. São Paulo, n. 16, mar. 2003.
igualdade básica perante a lei, nem um avanço SODRÉ, M. Por um conceito de minoria. In:
mais significativo em direção a um maior ní- PAIVA, R.; BARBALHO, A. (Orgs.). Co-
vel de igualdade social. Aqui, “as características municação e cultura das minorias. São Pau-
do nosso sistema político apoiaram-se na oli- lo: Paulus, 2005.
garquização do sistema de poder e na margina-
lização do povo do espaço público” (MOISÉS,
1990, p.15). Cidade digital
O termo minoria refere-se a essa margina- Virtualização de instituições de uma cidade
lização; não possui sentido numérico, mas sim real, física, com o objetivo de possibilitar a in-
qualitativo. O essencial, no conceito, é a posi- clusão social e digital e o acesso da população
ção que determinados grupos ocupam na so- aos seus serviços de forma mais fácil e ágil. A
ciedade: “O conceito de minoria é o de um lu- denominação “cidades digitais” foi criada para
gar onde se animam os fluxos de transformação aqueles projetos que oferecem infraestrutura de
de uma identidade ou de uma relação de poder. redes e internet em banda larga de forma gra-
Implica uma tomada de posição grupal no in- tuita ou a baixo custo para população. No Bra-
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sil, dois exemplos de cidades digitais são Piraí Cidades midiáticas globais
(RJ) e Belo Horizonte (MG). O projeto é des- A origem do conceito de cidades midiáti-
tinado a todos os níveis educativos e etários da cas globais está vinculada à definição de ci-
população e oferece ambientes digitais onde dades globais, instituída na década de 1980
estão dispostas, orgânica e organizadamente, para identificar centros urbanos considerados
as instituições e organizações sociais que com- exemplos empíricos que confirmavam a teoria
põem a vida das cidades. Um lugar onde se en- segundo a qual a produção cultural em aglo-
contram ofertas digitais de serviços públicos e/ merações locais geralmente gera a concentra-
ou privados, sistemas de observação e de fisca- ção de empresas especializadas. Sob esse as-
lização dos poderes, oportunidades de admi- pecto, Londres, Paris, Nova York e Los Angeles
nistração e de transações econômico-financei- foram identificadas como cidades globais por
ras. As cidades digitais são os novos lugares apresentarem geograficamente agrupamen-
para as novas relações sociais. (LEMOS, 2006). tos de empresas e instituições cuja cadeia de
No início, era a representação de um lugar no valores, baseada na distribuição do trabalho,
ambiente digital. A proposta evoluiu e, hoje, resultaria na produção de bens industrializa-
é visto como o ponto de existência dos vários dos, serviços integrados e produtos culturais
departamentos-setores responsáveis pela ma- (KRÄTKE, 2000).
nutenção do cotidiano de um município, assim A partir dos anos 1990, a expressão “cidade
como a oferta de ambientes digitais públicos ou midiática global” começa a ser usada como re-
de baixo custo que atendas as diferentes neces- ferência a centros culturais e de mídia que ope-
sidades dos cidadãos. ram em diferentes níveis geográficos. Está vin-
As cidades digitais são projetos financiados culada diretamente à cultura urbana, uma vez
pelos Estados ou por instituições privadas com que incorpora características dos espaços inter-
o objetivo de dispor a oferta de serviços de- mediários entre modos de vida rural e urbano;
mandados para a vida cotidiana e os dispositi- da diversidade de estilos de vida adotada pelos
vos de fiscalização e controle, usando as tecno- habitantes de centros urbanos e da criação de
logias da informação e da comunicação (TICs) espaços de serviços e de entretenimento ur-
disponíveis em banda larga. No Brasil, a pro- banos que atraem formas de desenvolvimento
posta das cidades digitais integra o projeto de econômico para as cidades. Segundo Krätke, as
ampliar o acesso à banda larga gratuita, dentro cidades globais de mídia (ou de indústria cul-
da política de inclusão social. A meta é de dis- tural) estão distribuídas em três grupos: Alfa,
ponibilizar a entrada na rede aos mais de cin- Beta e Gama. O primeiro grupo, denominado
co mil municípios, com prioridade aos de baixa Alfa (Nova York, Londres, Paris, Los Angeles,
renda até 2011. (Alvaro Benevenuto Jr.) Munique e Amsterdã, entre outras), reúne mais
de 17 das 33 companhias midiáticas globais. No
Referências: grupo Beta, estão 15 cidades (como Bruxelas,
LEMOS, André. O que é Cidade Digital?. Dis- Zurique, Madri, Toronto e Sidney) e o grupo
ponível em <http://www.guiadascidades- Gama inclui 17 cidades (entre as quais Tóquio,
digitais.com.br/site/pagina/o-que-cidade- Cingapura, Hong Kong, Buenos Aires, Cidade
digital>. Acesso em 06/07/2009. do México e São Paulo).
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afirma que o núcleo epistemológico das ciên- de um novo meio de comunicação, com enor-
cias da comunicação reúne e trabalha com con- me impacto sobre a sociedade, estes primeiros
ceitos comuns que se originam de uma grande cineclubistas foram pioneiros da percepção de
diversidade de saberes, tais como a psicanálise, que o cinema marcaria o século XX com trans-
os mass media studies, as instituições, o direi- formações irreversíveis.
to, as ciências das organizações, a inteligência Um dos marcos do surgimento do cineclu-
artificial, os estudos de filosofia, dentre outros bismo ocorre na França, em 14 de janeiro de
(1992, p.11). Tantos deslizamentos, interseções 1920, quando o cineasta e crítico Louis Delluc
e interlocuções, mostram como a área é com- lança o semanário Le Jounal du Ciné-Club ou
plexa e precisa ser pensada, estudada a partir simplesmente Ciné-Club.
da complexidade e, de preferência, no plural. No Brasil, o primeiro cineclube oficialmen-
(Vanessa Maia) te fundado foi o Chaplin Club, em 1928, no Rio
de Janeiro, organizado por Otávio de Faria, Plí-
Referências: nio Sussekind Rocha, Almir Castro e Cláudio
MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Mello. Além de promover exibições de filmes
Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005. seguidas de debates, o Chaplin Club cria a sua
SANTAELLA, Lúcia. Comunicação e Pesquisa. publicação oficial O Fan, com artigos e críticas
São Paulo: Hacker Editores, 2001. sobre a arte cinematográfica, estabelecendo um
SFEZ, Lucien. A Comunicação. Lisboa: Socie- modelo para os demais cineclubes que prolife-
dade Astoria Ltda. ram pelo Brasil, sobretudo a partir da década
. Crítica da Comunicação. São Paulo: de 1940.
Edições Loyola, 1994. A expansão mundial do movimento atra-
vessa o século XX, acompanhando a consoli-
dação do cinema como meio de comunicação e
Cineclubismo fomentando o crescimento da cultura cinema-
Movimento de âmbito internacional, surgido tográfica. Os cineclubes estão organizados atra-
nos anos de 1920, dedicado à criação de cineclu- vés de federações e conselhos nacionais. A Fe-
bes. Segundo o pesquisador André Gatti, um ci- deração Internacional de Cineclubes é o órgão
neclube é uma entidade associativa, legalmente máximo de representação dessa atividade. Os
constituída, tendo como finalidade expressa em cineclubes tiveram papel importante na forma-
seus estatutos, a difusão, a pesquisa e o debate ção de gerações de cineastas, críticos, pesquisa-
sobre cinema no sentido mais amplo. dores, artistas e técnicos. Dentro da atividade
Os cineclubes surgiram, na década de 1920, cineclubista em escolas, universidades, sindica-
através da organização espontânea de grupos tos e igrejas, entre outras instituições, surgiram
de espectadores, cineastas e críticos de arte, in- os primeiros centros de estudos e pesquisas vol-
teressados em desfrutar das obras cinematográ- tados para o cinema e que originaram cursos e
ficas sem depender da programação imposta escolas de cinema.
pelo circuito comercial de salas de exibição que Os cineclubes fizeram também surgir as fil-
começava a se organizar de forma global. Dian- motecas, os arquivos fílmicos e as cinematecas.
te de uma nova forma de expressão artística e O Clube de Cinema de São Paulo, fundado em
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1940, na Faculdade de Filosofia da Universida- mentário pelo cinema, já que, pelo menos des-
de de São Paulo, foi o embrião da futura Cine- de 1909, os irmãos Lumière assumiram clara-
mateca Brasileira, tendo entre seus fundadores, mente a produção desse tipo de filme, com o
alguns expoentes da cultura brasileira como Pathé Journal, em Paris. No Brasil, o primeiro
Paulo Emílio Salles Gomes e Décio de Almeida cinejornalismo é lançado em 1912, versão na-
Prado, entre outros. (João Guilherme Barone) cional daquela produção francesa. Em 1930, os
estúdios norte-americanos passaram também
Referências: a produzir cinejornais. O cinejornal brasileiro
GATTI, André. Cineclube. In: RAMOS, Fer- nasceu concomitantemente ao próprio cine-
não; MIRANDA, Luiz Felipe (Orgs.). En- ma, pois em 1898, Affonso Segretto, retornando
ciclopédia do cinema brasileiro. São Pau- de Paris, onde fora adquirir equipamentos de
lo: Editora SENAC, 2000. Disponível em filmagem, registrou e produziu Panorama da
<http://cineclube.utopia.org.br>. Baía da Guanabara, a que seguiriam documen-
tários como Tomadas da Avenida Central (hoje
Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro), de An-
CINEJORNALISMO tônio Leal (1905) e Chegada do primeiro auto-
O termo em questão significa uma forma de móvel em Curitiba (1907), que marcava a estreia
jornalismo veiculado pelo cinema. Na verda- de Anníbal Requião, o mais antigo desses pio-
de, se observarmos as primeiras realizações dos neiros; em 1912, Edgar Roquette Pinto filmava
irmãos Lumière, Auguste e Louis, a quem se e apresentava os índios Nhambiquara, na flo-
atribui a invenção do cinema, em 1895, pode- resta, já que acompanhava a Expedição Ron-
se afirmar que o cinema nasceu sob a égide do don. Entre 1912 e 1950, o país chegou a produzir
jornalismo. Os primeiros filmes, como Chegada cerca de 50 cinejornais, especialmente depois
de um trem à estação ou sobre a saída de ope- que o Estado Novo criou legislação que obri-
rários de uma fábrica, constituíram cenas de gava a projeção de pelo menos 10 minutos de
documentário que registravam uma realidade filme nacional em cada sessão de cinema, em
imediata. O cinejornalismo, historicamente fa- todo o país.
lando, evoluiu especialmente com o desenvol- A chamada Lei de Obrigatoriedade do
vimento do documentário, pelo cineasta rus- Curta, de 1937, possibilitou essa abertura co-
so Dziga Vertov (1896-1954), que desenvolveu o mercial para o cinejornal. Surgia, assim, o ci-
conceito de cinema-verdade, defendendo a fia- nejornal brasileiro. Os cinejornais dedicavam-
bilidade do olhar da câmera, mais fiel do que se especialmente a registrar o “ritual do poder”
o olho humano, segundo ele. Assim, ele desen- – posses e inaugurações – e o chamado “berço
volveu o cine-olho (1924), realizando obras com esplêndido”, ou seja, obras públicas oficiais ou
caráter fronteiriço entre o cinema de ficção e o iniciativas privadas de grandes empreendimen-
registro documental de acontecimentos. tos. Na década de 1950, surgiu o Canal 100, ide-
O termo documentário foi registrado pela alizado por Carlos Niemeyer. Esse jornal, que
primeira vez pelo dicionário francês Littré em teve especial apoio após 1964 e, durante todo o
1879, portanto, ainda antes do cinema, mas em período da Ditadura Militar, tanto que termi-
seguida incorporou a perspectiva do docu- nou, quando a ditadura caiu, inovou a lingua-
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gem do cinejornalismo, tornando-o mais leve e tem utilizado suas imagens em variadas produ-
criativo. No caso do Canal 100, dava-se especial ções locais.
atenção ao futebol, segmento introduzido com A importância dos cinejornais é enorme.
a composição musical “Na cadência do samba”, Eles guardam a história viva, por meio de ima-
de Luiz Bandeira, que começava com o refrão gens, de todo o desenvolvimento do país. No
“Que bonito é...” e mostrava a torcida do Ma- Brasil, até o final dos anos de 1990, uma sessão
racanã, com um close sobre um torcedor negro, de cinema se compunha, necessariamente, de
sorridente, todo desdentado, que olhava para a um jornal de atualidades (jornal da tela, cine-
câmera, para delírio da plateia cinematográfica. jornal, etc.), a que seguiam os thrillers de fil-
O futebol teve enorme presença no Canal 100 mes que seriam exibidos nas semanas seguin-
e significou uma profunda renovação da lin- tes; eventualmente, algum episódio de seriado
guagem cinematográfica do cinejornalismo no e, enfim, o filme de longa-metragem. O cine-
país. O Canal 100 foi produzido semanalmente, jornalismo, através de seus registros, antes da
primeiro com o fotógrafo francês Jean Mazon, televisão, significava a construção de uma ima-
que depois trabalharia na revista O Cruzeiro, gem de unidade nacional e assim foi entendido,
entre 1959 e 1986. Niemeyer morreu em 1999 e quer pelo fascismo italiano de Benito Mussoli-
seu acervo, de mais de três décadas, encontra- ni, quer pelo Estado Novo de Getúlio Vargas (e
se hoje guardado na empresa da família. Outro daí o apoio oficial que tais produções sempre
cinejornal conhecido foi o de Primo Carbona- tiveram dos governos, especialmente os dita-
ri, que registrou mais de 60 anos da história do toriais). Mas possibilitam, sobretudo, hoje em
Brasil, inclusive a posse de todos os Presiden- dia, a pesquisadores de campos variados, re-
tes que assumiram a administração do país ao criar o passado. (Antonio Hohlfeldt)
longo desse tempo. Carbonari, durante 45 anos,
produziu mais de 3.500 edições do Cinejornal, Referências:
entre 1929 e 1990. http://www.videosol.com.br/noticias/cinejor-
Em 1927, João Gonçalves Carriço iniciou o nalismo-brasileiro
cinema em Minas Gerais, justamente com um Rede ALCAR – Alfredo de Carvalho – http://
cinejornal, através da Carriço Film. Outro re- www2.metodista.br/unesco/rede_alcar/
alizador importante foi Luiz Severiano Ribeiro, rede_alcar64/rede_alcar_capitulos_primo_
cearense que, em 1915, inaugurava a primeira car...
sala de cinema de seu estado e que, logo depois, http://www.seculodiario.com.br/arquivo/2006/
iniciava a produção do cinejornal Atualidades marco/16/cadernoatracoes/cultura/04.asp
Atlântida, que abria com uma bela imagem http://www.contracampo.com.br/85/artjpapro-
de fontes jorrando. Atualidades Atlântida foi blematica.htm
produzido entre 1940 e 1960, com a narração http://gramadosite.com.br/cultura/xgilneicasa-
de Herón Domingues (o mesmo do “Repórter grande/id:5099#top
Esso”). No Rio Grande do Sul, foi a Leopoldis http://www.diariodepernambuco.com.br/2009
Som, que se constituiu na produtora mais im- /10/20/viver9_0.asp
portante dos cinejornais no estado. Seu acervo, http://www.cineclubecauim.org/jornal/NUME-
hoje em dia, encontra-se no Grupo RBS, que RO%203/pequenas%20produtoras.html
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uma ‘indústria do cinema’, que auto se susten- usa a câmera escura, mas que também é con-
te, posto que a produção cinematográfica na- siderado uma manifestação cinematográfica –
cional sempre enfrenta inúmeras dificuldades, antecedeu ao cinema em algumas décadas.
tanto em termos de custos quanto de reconhe- Muitas outras tecnologias audiovisuais sur-
cimento perante o grande público. E, também, giram depois – como a televisão, o vídeo e os
de distribuição da produção nacional, devido à diversos tipos de imagens digitais em movi-
inexistência de uma consciência de ‘indústria mento –, mas foi o cinema que, devido à sua
cultural’, nos moldes do padrão hollywoodiano. primazia histórica, determinou a criação da lin-
(João Batista Alvarenga) guagem cinematográfica (também chamada de
linguagem audiovisual), cujos signos formam a
Referências: base expressiva para todas as tecnologias dele
AVELLAR, José Carlos. O chão da palavra – Ci- derivadas.
nema e Literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Ainda, no início do século XX, o cinema
Artemídia/Rocco, 2007. transformou-se em uma poderosa indústria de
COSTA, Antônio. Compreender o cinema. São entretenimento. Após a Primeira Guerra Mun-
Paulo: Globo, 2003. dial e o consequente enfraquecimento econômi-
MCLUHAN, Marshall. A Galáxia de Gutenberg. co dos países europeus que produziam cinema
São Paulo: Editora Nacional, 1977. (especialmente a França, a Inglaterra, a Alema-
MORAIS, Osvando J. de. Tendências atu- nha e a Itália), os Estados Unidos passaram a
ais da pesquisa em comunicação no Brasil. dominar amplamente essa indústria, criando
São Paulo: Intercom, 2008. (Os Raios Fúl- um quase monopólio de produção e distribui-
gidos, coleção Verde-Amarela, PEREIRA, ção de filmes, situação que se mantém até hoje.
Miguel. Macunaíma, o herói brasileiro de O produto típico desse monopólio é filme de
todos os tempos. Disponível em: <http:// longa-metragem realizado em Hollywood, o
puc-riodigital.com.puc-rio.br>. Acesso em “block-buster”, com atores conhecidos, orça-
15/07/2009.). mentos milionários, campanhas de marketing
SCHETTINO, Paulo B. C. Ora (Direis) Ouvir dispendiosas e distribuição mundial.
Estrelas! Documentário sobre Clarice Lis- Os demais países que produzem cinema,
pector. Porto/Portugal: Festival Internacio- incapazes de competir diretamente com os fil-
nal Porto 7, 2008. mes de Hollywood, subsidiam suas indústrias
. Da pedra ao nada – a viagem da Ima- internas ou estabelecem algum tipo de reserva
gem. São Paulo: LCTE, 2009. de mercado. No início do século XXI, as salas
de cinema (que também são chamadas simples-
mente de “cinemas”) perderam sua condição de
Cinema principal fonte de renda da indústria audiovi-
Invenção derivada da fotografia, no final do sé- sual. As vendas para TV (aberta e por assina-
culo XIX, o cinema é a primeira tecnologia a tura) e o mercado de DVD já respondem por
permitir a captação, o armazenamento e a exi- mais de cinquenta por cento do faturamento,
bição de imagens em movimento obtidas pela enquanto a circulação dos filmes digitalizados
câmera escura. O desenho-animado – que não na internet – seja de forma institucionalizada,
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seja de forma informal - cresce em progressão estúdios, dos astros e da classificação dos filmes
geométrica, colocando em cheque todo o mo- por gêneros. O poder de Hollywood sempre foi
delo econômico que serviu de base para esta tão forte no cenário mundial que sobrepujou
indústria. as demais correntes produtivas, inclusive no
A telefonia móvel, em alguns países, já ab- seu próprio país. A formação dos estúdios, na
sorve uma quantidade significativa de conteúdos década de 1920, e sua consolidação levaram ao
audiovisuais e, devido à ampla base de aparelhos mundo um estilo de narrativa clássica bem for-
celulares em todo o mundo, pode ser um novo matada que agradava grandes plateias.
mercado para o cinema e seus derivados. As sa- No início, o cinema, apesar da aceitação do
las tradicionais, por sua vez, hoje concentradas público, ainda não era considerado uma arte
em “shopping-centers”, tentam oferecer novas permanente ou promissora. Era feito por pe-
atrações aos espectadores, como filmes em três quenos empreendedores sem preocupação com
dimensões (3D). As aplicações do cinema não se a qualidade nem com o futuro. O maior desta-
reduzem ao entretenimento de massa. A publici- que dos primeiros anos foi Thomas Edison, que
dade, a educação à distância, o jornalismo, a te- além de dono de uma produtora capitaneou um
ledramaturgia e as diversas novas manifestações forte trust que ditava as regras da atividade.
discursivas que circulam na internet usam deci- A partir dos anos de 1920, a atividade cine-
sivamente a linguagem cinematográfica. Embora matográfica transferiu-se para a ensolarada Ca-
tenha perdido para a televisão, em meados do lifórnia em busca de melhores condições de luz
século XX, o posto de mais influente veículo de e também fugindo do domínio montado por
comunicação audiovisual do mundo, o cinema Edison. Mesmo com transtornos causados pela
mantém sua importância, especialmente quando crise econômica de 1929, entre as duas guerras
propõe novas formas narrativas e cria produtos mundiais, este período foi de afirmação da su-
capazes de superar o permanente antagonismo premacia de Hollywood na economia cinema-
entre pretensão artística e preocupações comer- tográfica mundial.
ciais. (Carlos Gerbase) Os estúdios formados por imigrantes auda-
ciosos exerciam uma política de produção ba-
seada sobre enormes investimentos de capital e
Cinema Americano sobre o desenvolvimento de formas de integra-
Apesar de a América ser um continente dividi- ção vertical - controle por partes de sociedades
do em duas partes, o Norte, que inclui também individuais de todos os três setores em que se
a América Central, e o Sul (ligados pelo istmo articula a indústria cinematográfica: produção,
do Panamá), quando se fala em cinema ameri- distribuição e exibição. Entre as jovens empre-
cano refere-se, automaticamente, ao cinema fei- sas instaladas na Califórnia estavam a Para-
to nos Estados Unidos, principalmente àquele mount, a Warner Brothers e a United Artists.
que teve início, quando da formação e conso- Nessa nova concepção industrial o Star-
lidação de Hollywood como a grande indústria System (ou sistema de estrelas) foi o instrumen-
produtora e exportadora. to utilizado para promover o produto “cinema
Cinema americano lembra cinema norte- americano”, divulgando atores e diretores para
americano, moldado no sistema dos grandes torná-los importantes para a sociedade. Criou-
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enciclopédia intercom de comunicação
se também um sistema de gêneros cinemato- dilui o custo e aumenta cada vez mais o poder
gráficos bem específicos, como uma forma de de penetração de Hollywood no mundo intei-
contentar todo o tipo de público. Já o Studio- ro. (Flávia Seligman)
System (sistema de estúdios) previa a integra-
ção total entre todos os setores da indústria, Referências:
com a mesma companhia produzindo os fil- MASCARELLO, Fernando (Org.). História do
mes, distribuindo as cópias e gerenciando o sis- cinema mundial. Campinas, SP: Papirus,
tema de exibição, sem intermediários. O Stu- 2006.
dio-System comportava também uma rígida MELEIRO, Alessandra (Org.). Cinema no mun-
divisão de trabalho e uma total subordinação do: indústria, política e mercado: Estados
de todos os componentes da produção à figura Unidos. Coleção Cinema no mundo, São
do produtor. Paulo: Escrituras Editora, 2007. Volume 4.
C om relação à política exercida por XAVIER, Ismail (Org.). O cinema no século. Rio
Hollywood, um dos fatores mais importante de Janeiro: Imago Ed., 1996.
foi a criação da Motion Pictures Association of
America, em 1925, um tipo particular de sin-
dicato que reunia quase todas as companhias CINEMA BRASILEIRO
americanas de distribuição. Dependendo dire- As atividades de cinema começam, no Brasil,
tamente da Casa Branca, seus dirigentes foram segundo alguns relatos, a partir de 8 de julho
colaboradores diretos de presidentes da Repú- de 1896, quando o italiano Pachoal Segretto
blica e habilitados a tratar diretamente com go- instala, no Rio de Janeiro, uma sala para exibi-
vernos estrangeiros. ções do omniógrapho, na Rua do Ouvidor, 141
Entre os anos 1930 e os anos 1950, vigorou (PEREIRA, 1973, p. 226). Segundo outros, o ‘Sa-
um código de censura erigido pela sociedade lão de Novidades’, como era chamado, começa-
civil chamado Código Hayes, que mantinha o ria a exibir seu espetáculo apenas a 31 de julho
cinema dentro da ordem e da decência, apon- (CALDAS; MONTORO, 2006, p.29). A partir
tando como inimigos a liberdade sexual e o co- de 1898, o irmão de Paschoal, Afonso, realiza,
munismo. em 19 de julho, umas primeiras vistas do Rio de
Desde os anos de 1950, as grandes corpo- Janeiro, ainda a bordo do navio “France-Brésil”
rações passaram a controlar Hollywood e ou- que o trazia de Paris, onde fora adquirir uma
tros setores midiáticos nos Estados Unidos. câmera de filmar. Estima-se que, em cerca de
Hoje, essas companhias não dependem de dez anos, mais de 150 filmes foram rodados no
um determinado tipo de mídia para obter lu- país. Mas, o cinema brasileiro tem-se feito de
cro, mas de um diversificado leque que inclui ciclos de desenvolvimento e de crises. Assim,
a produção e distribuição cinematográfica, a uma decisão dos grandes produtores mundiais,
televisão, o mercado de home video a indústria reunidos em Paris, em 1912, provoca a primeira
fonográfica, os jogos digitais e os royalties que crise: os exibidores deveriam, ao final de uma
acompanham cada lançamento do cinema as- década, devolver as cópias dos filmes adquiri-
sociando os filmes à indústria alimentícia, de dos. Com isso, começam a faltar, no mercado
vestuário, brinquedos etc. Um mercado amplo brasileiro, filmes que eram, basicamente, can-
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tantes (mesmo antes do advento do som, pois como Oscarito, Grande Otelo e Amácio Mazza-
eram projetados os textos e havia o acompa- roppi. Por isso mesmo, entre 22 e 28 de abril de
nhamento por um pianista); filmes criminais e 1952, ocorrerá o I Congresso Nacional do Cine-
filmes da revista do ano, acompanhando, aliás, ma Brasileiro, que discutirá extensa pauta a ser
as tendências do teatro. Data desses primeiros apresentada ao governo. Esses estúdios produ-
anos do século XX o pioneiro do cinema na- ziram filmes de qualidade, como Bonequinha de
cional: o paulista Antonio Leal, que roda fil- seda (1936) e O ébrio (1946), com Vicente Celes-
mes como Noivado de sangue (1909), enquanto tino, ambos de Adhemar Gonzaga, da Cinédia;
outros filmes policiais, como A mala sinistra, a Atlântida passa a realizar o cinejornal Atua-
eram também rodados no Rio de Janeiro. O fil- lidades Atlântida (ver verbete cinejornal), que
me brasileiro, contudo, desde aquele momento, cruzaria décadas e surgiria a proposta ousada
é como um estranho em sua própria casa (PE- da Vera Cruz, inviável talvez, financeiramen-
REIRA, 1973, p. 228), condição em que vive até te, mas que trouxe de volta ao Brasil Alberto
hoje, sempre disputando mercado com o filme Cavalcanti, documentarista brasileiro radica-
estrangeiro, notadamente o norte-americano, e do na Inglaterra, e Franco Zampari que, junto
necessitando de políticas governamentais para a um grupo de italianos, por causa da II Gran-
o seu apoio. Isso pode explicar a sua história em de Guerra, fixa-se em nosso país. A Vera Cruz
ciclos, como aqueles de Cataguazes, em Minas significou a chegada da modernização ao cine-
Gerais, que ocorre nos anos 1920, com desta- ma brasileiro, pois para ela, o cinema era, antes
que para a figura de Humberto Mauro, criando de tudo, um negócio (CALDAS;MONTORO,
a Phebo Sul América Film, produzindo filmes 2006, p. 289). Um novo ciclo se inicia, nos anos
como Brasa dormida (1928) e o mitológico Li- 1960, quando jovens realizadores, reunidos em
mite, de Mário Peixoto (1928); ocorrem ciclos cineclubes vinculados à Cinemateca do Museu
na Amazônia, em Pernambuco, Rio Grande do de Arte Moderna do Rio de Janeiro, entendem,
Sul, Campinas e São Paulo, até a chegada do sob a influência da urbanização, que caracteriza
cinema sonoro no país, no final da década de o período, fazer cinema sobre o popular, o povo
1920. A industralização do Brasil vai permitir brasileiro, mas para uma plateia pequeno-bur-
o nascimento dos primeiros grandes estúdios, guesa. Nasce assim o Cinema Novo, cujo lema
como a Cinédia, de Adhemar Gonzaga (1930), é uma ideia na cabeça e uma câmera na mão, a
a Brasil Vita Filmes (1933), a Sonofilmes e a partir de realizadores como Nelson Pereira dos
Atlântida (1941), todas no Rio de Janeiro, dan- Santos (Rio 40 graus; Vidas secas - ver verbe-
do início ao ciclo da chamada chanchada; tipo te Cineliteratura.), Glauber Rocha (Barravento;
de filme que se valia de conhecidos e popula- Deus e o diabo na terra do sol etc.), Paulo César
res cantores do rádio ou humoristas que pas- Saraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Rober-
saram a atrair multidões aos cinemas, garan- to Farias, Leon Hirzman, Carlos Diegues, Ruy
tindo forte resistência ao cinema estrangeiro. Guerra, Roberto Santos, Walter Lima Jr., Luiz
Em São Paulo, surgirão a Vera Cruz, do italia- Sérgio Person, Paulo Gil Soares, Arnaldo Jabor,
no Ranço Zampari, a Maristela e a Multifilmes, Maurice Capovilla, Roberto Pires, etc. (NEVES,
com produções que ampliaram a relação entre 1966, p. 29; NASCIMENTO, 1981). O cinema
o rádio e o cinema, dando nascimento a figuras novo vai enfrentar, contudo, os problemas de
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censura gerados pelo golpe militar de março de por parte das plateias e, ao mesmo tempo, ga-
1964. Além do mais, buscando fugir da lingua- rantiram qualidade reconhecida internacional-
gem popular/populista da chanchada, acabou mente, como nos casos, dentre outros, de Car-
se fechando nas dificuldades de fundação do lota Joaquina (1995) de Carla Camurati, Central
experimentalismo e de novas linguagens, situ- do Brasil (1998), de Walter Salles Jr., O quatrilho
ação que terminou por afastar o grande público (1995), de Fábio Barreto, O auto da compade-
das salas de cinema. Ao lado dessa produção, cida (2000), de Guel Arraes etc. As tendências
alguns realizadores, como Walter Hugo Ko- atuais evidenciam uma aproximação crescente
hury, fizeram uma carreira individual, ao mes- do cinema com a televisão, canal natural para a
mo tempo em que, desde o período de Jusceli- exibição dessa produção; criação de salas mul-
no Kubitscheck, como reflexo daquele primeiro tiplex, nos shopping centers, que permitem ao
congresso do cinema brasileiro, sucediam-se espectador uma multiplicidade de escolhas; e a
políticas governamentais que minoravam os gênese do DVD, que se torna opção crescente
desafios do cinema nacional, sempre sob a pres- para os produtores, alguns lançando inclusive
são do comércio norte-americano. Algumas simultaneamente o filme nas telas e nesse novo
produções daqueles primeiros estúdios permi- suporte. (Antonio Hohlfeldt)
tiram premiações internacionais para o Brasil,
como O cangaceiro (1953), de Humberto Mau- Referências:
ro; O pagador de promessas (1962), de Anselmo CALDAS, Ricardo W.; MONTORO, Tânia. A
Duarte, e até possibilidade de coproduções, so- evolução do cinema brasileiro no século XX.
bretudo com a França. Mas, o cinema brasileiro Brasília: Casa das Musas, 2006.
continuou dependente das políticas governa- NASCIMENTO, Hélio. Cinema brasileiro. Por-
mentais que, ao longo da ditadura, em espe- to Alegre: Mercado Aberto,1981.
cial nas décadas de 1970 e 1980, contraditoria- NEVES, David E. Cinema Novo no Brasil. Pe-
mente, enquanto a censura mais proibia, foram trópolis: Vozes, 1966.
mais propícias aos realizadores, com a criação PEREIRA, Geraldo Santos. Plano geral do cine-
do Instituto Nacional do Cinema e a Embrafil- ma brasileiro. Rio de Janeiro: Borsoi, 1973.
me (PEREIRA, 1973, p. 246.). O retorno à de-
mocracia e a chegada de Collor de Mello à Pre-
sidência da República terminou com toda essa Cinema Colorido
prática (1990). O cinema brasileiro foi colocado Espetáculos com a projeção de imagens em co-
em disputa direta com o mercado e, nem mes- res eram conhecidos das plateias desde, as lan-
mo as legislações que se seguiram, como a lei ternas mágicas, a partir do século XVII. Essa
do mecenato, a lei do audiovisual e a lei Roua- tecnologia pré-cinematográfica projetava ilus-
net, conseguiram ajudar muito. O impeachment trações (posteriormente usando também fo-
de Collor e o período que se seguiu significa- tografias retocadas) sem ser capaz de captar o
ram o que os historiadores chamam de retoma- movimento. O cinema, do final do século XIX,
da do cinema brasileiro (1993), com a realização teve a maior parte de sua produção em branco
de produções que diversificaram temas, lingua- e preto, embora filmes como “A Dança de An-
gens e público, alcançando boa receptividade nabelle” (Annabelle’s Dance, 1895, produzido
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pelas empresas de Thomas Edison) trouxessem matizes de cor que seria recomposto nas có-
cenas tingidas em um ou mais matizes de cor, pias finais. Foi usado em filmes como “Branca
buscando uma sugestão sensorial e emotiva a de Neve e os Sete Anões” (David Hand, 1937),
seus espectadores e estabelecendo uma conti- “E o Vento Levou” (Victor Fleming, 1939) e “O
nuidade estética com os espetáculos passados. Mágico de Oz” (Victor Fleming, 1939). É iden-
Estes tingimentos acrescentavam poucos custos tificado pela extrema saturação de cores que
à realização e se tornaram bastante difundidos. oferecia e pela baixa sensibilidade à luz de suas
O cineasta francês Georges Méliès usou emulsões, suficientes apenas para o registro de
outra técnica, a colorização manual quadro-a- cenas externas em dias de muita luz ou em es-
quadro, em vários de seus filmes. O filme “A túdio com intensa iluminação artificial.
Viagem Através do Impossível” (Le Voyage à A dificuldade de manejo das câmeras es-
travers l’impossible, 1904) seguia a temática fan- pecíficas ao processo e os custos envolvidos na
tástica estimada pelo diretor e mesclava qua- produção com o Technicolor nº 4 limitou seu
tro matizes de cor pintadas sobre os objetos e uso a produções de grande orçamento. A difu-
personagens em cena criando imagens que se são do cinema colorido só aconteceu a partir
aproximavam das ilustrações gráficas. A mão da introdução dos negativos em cores Eastman
de obra envolvida na colorização precisava ser Kodak no início da década de 1950. Mais sen-
repetida, artesanalmente, a cada cópia do filme, síveis à luz e oferecendo melhor custo-benefí-
um processo cujos grandes custos foram sis- cio, os filmes denominados genericamente de
tematizados e reduzidos pelos irmãos Pathé a Eastmancolor eram compatíveis com as câme-
partir de 1905. A colorização foi acelerada com ras 35mm já existentes, o que ampliou seu uso.
o uso de moldes estêncil para delimitar as áre- No cinema brasileiro, o primeiro filme de lon-
as que receberiam os diferentes matizes de cor, ga-metragem de ficção totalmente em cores é
alcançando um resultado semelhante a cartões “Destino em Apuros” (Ernesto Remani, 1953),
postais fotográficos retocados. O processo foi realizado com o processo Anscolor, de caracte-
progressivamente automatizado, permitindo a rísticas semelhantes ao Eastmancolor.
colorização de até seis cópias de filme por vez e A gradual adoção de películas em cores
esteve em uso até a década de 1930. para a captação e exibição de filmes motivou a
O movimento rumo à presença de cores criação de premiações paralelas para produções
mais realistas no cinema deslocou os processos coloridas e preto-e-branco no Oscar. As catego-
da pós-produção em laboratório para a capta- rias de direção de fotografia, figurino e direção
ção de imagens a partir de 1914. Os processos de arte foram premiadas em separado até 1967
e tecnologias que se tornaram predominan- quando foram reunidas definitivamente sob um
tes, Technicolor (a partir da empresa de mesmo prêmio único. Mesmo com a cor se tornando o
nome), tornaram-se identificados com a ima- padrão, filmes em preto e branco continuam a
gem da Hollywood clássica em especial, a par- ser realizados, buscando efeitos expressivos ao
tir do processo nº 4, lançado em 1932. afastarem-se de um registro realista como em
O processo nº 4 separava a imagem que “Jules e Jim “(François Truffaut, 1962), “Asas do
entrava pela lente em três películas, durante a Desejo” (Wim Wenders, 1987) e “A Fita Branca”
filmagem, cada uma sensível a um conjunto de (Michael Haneke, 2009). (Roberto Tietzmann)
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“arte”. Contrariamente ao cinema que se desti- muitas vezes, pautado por uma ideologia (mais
na exclusivamente ao entretenimento, este não ou menos perceptível), apontando para aspec-
se dispõe a retirar o espectador dos dilemas e tos, até então, únicos no que diz respeito à sua
tensões da vida cotidiana, dando-lhe um des- realização. Nessa linha estética, destaca-se o
canso emocional. Pelo contrário, o que se visa é nome do francês Jean-Luc Godard, tido como
enaltecer e colocar em discussão esses mesmos um provocador. (Wiliam Pianco dos Santos)
dilemas e tensões.
Dessa maneira, tais cinemas divergem esté- Referências:
tica e politicamente daquele dominante (e per- BERNARDET, J. O que é cinema. 8. ed. São
duram, ainda que historicamente tenham sido Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
perseguidos), uma vez que o enredo não se so- COLI, J. O que é arte. São Paulo: Brasiliense,
brepõe, por exemplo, aos comportamentos dos 1981.
personagens e às significações contidas em seus MACHADO, A. Pré-cinemas & pós-cinemas.
filmes. Para este tipo de cinema, então, tem pa- Campinas: Papirus, 1997.
pel fundamental a figura do “autor”, que pre- STEPHENSON, R.; DEBRIX, J. R. O cinema
tende uma expressão bastante específica. Desta como arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
maneira, existiram dois polos: o primeiro en- 1969.
carado como um espaço de autoexpressão; e o XAVIER, Ismail. O discurso cinematográfico:
segundo tendo como foco o mercado. a opacidade e a transparência. 3. ed., São
Nesse sentido, cabe notar o papel desem- Paulo: Paz e Terra, 2005.
penhado pelos adeptos da chamada “política
dos autores” da nouvelle vague, que realizaram
filmes com a proposta de promover um “novo Cinema de aventura
olhar”, mas que não pressupunha uma ruptura O cinema de aventura se confunde com o ci-
total com o cinema clássico, estando, portanto, nema de ação (action movie). Na maioria dos
mais próximo da associação entre o cinema co- casos, ambos designam o mesmo objeto. Por
mercial e o inovador (provocando reflexos em outro lado, tratá-los como gênero cinematográ-
movimentos tais como a nouvelle vague japo- fico pode trazer algumas complicações. Mais
nesa ou o Cinema Novo brasileiro). Da mesma elástico que um gênero genuíno, o cinema de
maneira, podemos pensar nos vanguardistas aventura pode englobar uma gama variada de
russos e franceses, nos expressionistas alemães, gêneros consagrados, tais como o filme de hor-
nos surrealistas e nos neorrealistas, como no ror, de ficção científica, o western, o melodrama
cinema underground, entre outros, como exem- ou o thriller.
plos de cinemas que já haviam mostrado (e A rigor, cinema de aventura designa um
ainda mostram) a possibilidade da criação ci- tipo de filme de grande apelo popular e interes-
nematográfica fora dos padrões. se comercial, centrado na jornada de um herói
Ou seja, poder-se-ia pensar em filme de que enfrenta uma série de desafios extraordi-
arte como aquele que escapa das imposições nários. De certa maneira, o cinema de aven-
estilísticas colocadas pelo cinema meramente tura “domestica” o espetáculo, traduzindo um
comercial, visando a uma expressão original, determinado fascínio pela modernidade que
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contamina o cinema desde seus primórdios. O trazendo Cedric Hardwicke no papel de Allan
motivo da “hora fatal” e a montagem alternada Quartermain, o aventureiro ocidental em sua
são recursos recorrentes e essenciais ao cine- incursão por território selvagem. Intriga inter-
ma clássico americano, mas especialmente na nacional, espionagem e a iminência de catás-
vertente de aventura. Antecedentes do cinema trofes mundiais também motivaram filmes de
de aventura podem ser buscados nos filmes de aventura como Knight Without Armour (1937),
perseguição (chase films) e em pioneiros como com Robert Donat, ou uma série de episódios
The Great Train Robbery (Edwin Porter, 1903), protagonizados pelo Capitão Hugh “Bulldog”
La Voyage à travers l’Impossible (Méliès, 1904) Drummond, interpretado por John Howard
ou Rescued by Rover (Fitzhamon e Hepworth, entre 1929 e 1939.
1905), entre outros. Os swashbucklers também Com a Segunda Guerra Mundial, o cine-
podem ser considerados forma originária do ma de aventura sofre declínio de produção. No
cinema de aventura. O primeiro swashbuckler pós-guerra, Flynn e Fairbanks Jr. (Sinbad, the
digno de nota foi Mark of Zorro (1920), estrela- Sailor, 1945) continuam atuando em fitas de
do por Douglas Fairbanks Jr. aventura, agora em Technicolor. Adaptações
Entre 1919 e 1920, uma contribuição mo- seguem em filmes como The Three Musketeers
delar para o cinema de aventura vem da obra (1948), e Alan Ladd ganha notoriedade como
de Fritz Lang, na Alemanha, com as séries As intérprete de heróis de ação-aventura em O.S.S.
Aranhas (Die Spinnen) e Mabuse, ou ainda Es- (1946) e Appointment with Danger (1951).
piões (Spione, 1928) e A Mulher na Lua (Frau im Nos anos de 1960, o cinema de aventura
Mond, 1929). ganha novo impulso com o início das adapta-
Nos anos 1930, surgem swashbucklers como ções dos romances de Ian Fleming protagoniza-
Captain Blood (Curtiz, 1935), estrelado por Er- dos por James Bond. Dr. No (Young, 1962), com
rol Flynn; incursões pelo fantástico, como King Sean Connery no papel de Bond, inaugura esse
Kong (Cooper e Shoedsack 1933), e aventuras período. Ficção científica e cinema de aventura
na selva como Sanders of the River (Korda, avançam engajados em produções como Fan-
1935). Fairbanks, especialmente no período si- tastic Voyage (Fleischer, 1966).
lencioso, e Flynn, no sonoro, moldam o típico No início dos anos 1980, o interesse pelo
herói dos filmes de aventura em momento de cinema de aventura é resgatado por Holly
ascensão do gênero. Atores como Leslie Ho- wood. Nesse panorama surge o personagem
ward (The Scarlet Pimpernel, 1934, e Pimpernel Indiana Jones, protagonista de quatro filmes
Smith, 1941), Ronald Colman (The Prisoner of estrelados por Harrison Ford. O sucesso de Os
Zenda, 1937) e Laurence Olivier (Fire over En- Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost
gland, 1936, e Q-Planes, 1939) também estrelam Ark, 1981), dirigido por Spielberg, estimula a
aventuras. volta do personagem Allan Quartermain, des-
Obras de Júlio Verne, Edgar Rice Burrou- ta vez interpretado por Richard Chamberlain
ghs e H. Rider Haggard inspiraram diversos em Allan Quatermain and the Lost City of Gold
filmes de aventura. King Solomon’s Mines (Ste- (Nelson, 1986), e produções como The Jewel of
venson, 1937), adaptado da estória de Hag- the Nile (Teague, 1985), com Michael Douglas
gard, estabelece um cenário típico do gênero, e Kathleen Turner. A ficção científica estrei-
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ta ainda mais seus laços com o melodrama de No Brasil, a chanchada soube aproveitar
aventura na série Star Wars, em filmes como algo da fórmula do cinema de aventura, o qual
Inimigo Meu (Enemy Mine, 1985), de Wolfgang serviu também de modelo a diversas produções
Petersen, ou na série Back to the Future, de Ro- de cunho paródico voltadas para o público in-
bert Zemeckis. Nos anos 1980, o cinema de fanto-juvenil, como os filmes d’Os Trapalhões
aventura se confunde com uma safra variada (O Trapalhão no Planalto dos Macacos, 1978, O
de filmes de grande apelo ao público infanto- Incrível Monstro Trapalhão, 1981) ou do can-
juvenil, como The Last Starfighter (1984), de tor Roberto Carlos (Roberto Carlos em Ritmo
Nick Castle, História Sem Fim (Die unendliche de Aventura, 1968, Roberto Carlos e o Diamante
Geschichte, 1984), de Wofgang Petersen, The Cor-de-Rosa, 1968 e Roberto Carlos a 300 Km/h,
Goonies (1985), de Richard Donner, ou ainda 1971, todos dirigidos por Roberto Farias). (Al-
Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueller’s Day fredo Suppia)
Off, 1986), de John Hughes. Os atores Sylvester
Stallone e Arnold Schwarznegger interpretam, Referências:
a partir dos anos 1980, uma série de persona- HAYWARD, Susan. Cinema Studies: The key
gens de ação/aventura de grande apelo comer- concepts. 3. ed. New York: Routledge, 2006.
cial (vide as séries Rambo e Terminator, por KELLE, Alexandra. Adventure Films. Dispo-
exemplo). nível em <http://www.allmovie.com/es-
Nos anos 1990 e início dos 2000, o cinema says/adventure-films-26>. Acesso em
de aventura se manifesta em séries como Duro 22/03/2010.
de Matar (Die Hard), Máquina Mortífera (Le- SKLAR, Robert. Film: An International History
thal Weapon) e similares, derivações dos Bond of the Medium. New York: Harry Abrams,
films. No mesmo período, Wesley Snipes e 1993.
Denzel Washington estrelam filmes de aventura
protagonizados por personagens afro-america-
nos. Adaptações como Senhor dos Anéis (Lord Cinema Digital
of the Rings), de Peter Jackson, As Crônicas de Cinema Digital é um termo utilizado em dife-
Narnya (The Chronicles of Narnya, 2005), de rentes acepções que vão da cinematografia pro-
Andrew Adamson, ou ainda a série Piratas do priamente dita até a distribuição e exibição ci-
Caribe (Pirates of the Caribbean), de Gore Ver- nematográficas, caracterizando-se basicamente
binski, resgatam a aventura fantástica. pela substituição da película como suporte para
O filme de aventura/ação protagonizado o filme, que passa a ser registrado e/ou projeta-
por personagens femininas também merecem do a partir de arquivos digitais.
menção, como a série Alien, Nikita (Besson, Essa transição pela qual o cinema mundial
1990), Lara Croft: Tomb Raider (West, 2001) está passando, do suporte fotoquímico para o
ou a franquia As Panteras, transportada da TV digital, é fruto da convergência entre as tecno-
para o cinema. Atualmente, o melhor do cine- logias do cinema e do vídeo, meios distintos
ma de aventura, talvez, possa ser buscado em que já vêm dialogando há mais de duas déca-
séries para TV como Arquivo X, 24 Horas, Lost, das e cujas fronteiras finalmente se dissolveram
Heroes, Life on Mars ou Fringe, entre outras. com o advento da digitalização.
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cas (DA-RIN, 2004). A imagem em movimento asta Humberto Mauro que participou da reali-
representando ou retratando outros contextos zação de muitos filmes com temáticas culturais
culturais e sociais sempre despertou a curiosi- e científicas.
dade pelo conhecimento. Na Rússia, logo após a revolução de 1917,
De fato, o cinema, desde seu início, con- que extinguiu o czarismo e implantou o co-
tribuiu para colocar o público em contato com munismo, os cineastas iniciaram um processo
outras culturas. Esse fascínio pelas imagens de educação das massas por meio do cinema.
em movimento e a potencialidade pedagógi- Mais uma vez o cinema estava associado aos
ca advinda de retratos e representações de ou- interesses do Estado e foi utilizado como um
tras culturas e sociedades foram rapidamente meio valioso para implantação de um proces-
incorporados como possibilidade educativa de so educativo revolucionário que visava instruir
acordo com as concepções ideológicas sobre a o povo em relação ao novo momento político
função da educação. Assim, houve momentos pelo qual estava passando a Rússia. A articula-
em que o cinema foi articulado com uma pro- ção entre o cinema e a educação, grosso modo,
posta de educação conservadora ligada a inte- pode se processar de duas maneiras: a primei-
resses cívicos promovidos pelo Estado. ra, e a mais utilizada, é aquela que utiliza o ci-
John Grierson, documentarista britânico, nema como um recurso didático e está associa-
foi um dos pioneiros a articular o cinema com da, principalmente, à educação escolar. Aqui o
esta proposta de educação. Em toda a sua vida cinema está como coadjuvante de um proces-
se dedicou à construção de um cinema educa- so educativo já estabelecido, e a potencialidade
tivo que promovesse a educação moral e cívica pedagógica do cinema fica restrita ao planeja-
orientada pelo Estado. Grierson trabalhou du- mento pedagógico pré-estabelecido.
rante anos na Empire Marketing Board (EMB), Dessa forma, o cinema ilustra um dado
organismo estatal inglês dedicado à propagan- momento histórico que será apresentado em
da que produzia documentários oficiais com fi- uma aula de História ou uma ligação de átomos
nalidade educativa conservadores e que eram em uma aula de Química, por exemplo. Outra
exibidos em diferentes espaços públicos, como maneira de articular o cinema e a educação é
escolas, sindicatos e associações de moradores compreender que tanto um quanto a o outro
(DA-RIN, 2004). são práticas sociais que estimulam processos
No Brasil, o Instituto Nacional de Cinema educativos que se dão na produção de saberes,
Educativo (INCE) foi o órgão oficial do Estado no diálogo entre visões de mundo, na promo-
responsável pela produção de um cinema edu- ção da diversidade cultural (DUARTE, 2002).
cativo comprometido em elaborar um progra- Essa proposta implica em escalar o próprio ci-
ma de educação que utilizasse o cinema como nema como protagonista de um processo edu-
um recurso didático. cativo que transcende o conteúdo dos filmes e
A proposta, iniciada com Getúlio Vargas, aprofunda a compreensão da própria lingua-
pretendia também que, por meio do cinema, gem cinematográfica. Permite-se, assim, extrair
fosse possível levar a educação para todos os do cinema toda sua potencialidade pedagógica.
cantos do Brasil. O INCE ficou em operação de Nesse sentido não é exagero dizer que todo o
1936 até 1966, e contou com o trabalho do cine- cinema é educativo. (Djalma Ribeiro Júnior)
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pela crítica internacional, os reflexos no turis- no, cenários e trucagens. Coube à França tam-
mo foram imediatos. Os três filmes da série o bém o pioneirismo da industrialização do ci-
Senhor dos Anéis (direção de Peter Jackson) nema empreendida por Charles Pathé, seguido
foram pré-produzidos, produzidos, filmados e por Léon Gaumont. Nesta fase destacam-se os
pós-produzidos inteiramente, na Nova Zelân- cineastas Louis Feuillade, com mais de 700 fil-
dia, com apoio da Film Commission. mes, e Max Linder. Até 1914, o cinema cômico
O Visit Britain é outro que trabalha com o francês dominava o mundo.
marketing cinematográfico. Desde 1996, quan- A Primeira Guerra Mundial modificou
do o primeiro mapa de um filme britânico foi o curso da história do cinema e a hegemonia
produzido, Visit Britain promove de tudo um da produção passou a ser norte-americana. A
pouco, desde James Bond até filmes indianos França reforma sua produção e imprime às
ambientados na Inglaterra, pois suas pesqui- imagens fílmicas um poder de expressão de va-
sas mostram que 40% dos visitantes potenciais lor artístico. Assim, a vanguarda do pós-guerra
têm a intenção de ir a Grã-Bretanha devido à passa a pensar o cinema como expressão acima
influência de filmes ou televisão. Nothing Hill de tudo visual e se aglutinará em torno do crí-
(dir. Roger Michell, 1999) e o Código Da Vinci tico e escritor Louis Delluc (A Exilada, 1922).
(dir. Ron Howard, 2006) são filmes que se uti- Forma-se, então, a escola impressionista fran-
lizaram de locações que depois viraram cam- cesa, cujos filmes na década de 1920 se carac-
peões de visitação. O Código da Vinci, além do terizaram pelas proezas estilísticas no uso de
Museu do Louvre, estende sua trama para Lon- sobreimpressões, deformações óticas e planos
dres, Lincoln e até a Escócia, incluindo atrati- subjetivos. Os principais cineastas, desse perí-
vos como a Abadia de Westminter, a Capela de odo, são Marcel L’Herbier (Eldorado,1921), Abel
Rosslyn e a Catedral de Lincoln. (Susana Gas- Gance (Napoleón, 1927), Germaine Dulac (A
tal). Sorridente Madame Beudet, 1922) e Jean Eps-
tein (Coração Fiel, 1923). Outro realizador que
iniciou sua carreira no período e ganhará fama
CINEMA FRANCÊS universal é René Clair. Sua obra é marcada por
A história do cinema francês confunde-se com uma homenagem permanente ao cinema dos
o nascimento da arte cinematográfica, pois, em- pioneiros e, ao mesmo tempo, pela valorização
bora em diversos países os equipamentos de re- do ritmo das imagens em filmes como Entr’acte
gistro e reprodução de imagens em movimento (1924), Paris Adormecida (1925) e A Nós a Li-
estivessem sendo experimentados, foi na Fran- berdade (1931), este já na fase sonora do cine-
ça que ela ocorreu graças à invenção do cine- ma. A década de 1920 também assinalou uma
matógrafo pelos irmãos Lumière, e as primeiras mudança cultural em relação ao cinema, eleva-
exibições públicas de La Sortie des Usines Lu- do à categoria de “sétima arte”, e o surgimento
mière, em 1895. Coube também a um francês, de periódicos especializados, fundação de cine-
o ilusionista parisiense Georges Méliès, a cria- clubes e salas de filmes de arte.
ção do espetáculo cinematográfico. Foi Méliès Ainda no rastro das vanguardas, vale des-
quem empregou no cinema, pela primeira vez tacar o cinema surrealista que, na França, proli-
de forma sistemática, argumento, atores, figuri- ferou nos meios artísticos, buscando modalida-
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des expressivas da imagem capazes de remeter que surgiu mais um movimento fundamental
às atividades oníricas. Um Cão Andaluz (1928), do cinema moderno: a nouvelle vague. Seus re-
do espanhol Luis Buñuel, assistente de Epstein, alizadores negaram o modo bem pensante de
rodado na França com a participação do pin- fazer cinema e propuseram um novo modo de
tor Salvador Dalí, A Concha e o Pastor (1927), produção e de escolhas técnicas e estilísticas, na
de Germaine Dulac e Balé Mecânico (1924), maneira de filmar os rostos e corpos e nos te-
de Fernand Léger, são algumas das principais mas abordados. Seus principais autores eram
obras do movimento. Nessa chave, pode-se críticos da Cahiers – François Truffaut (Os In-
incluir também os filmes de Jean Vigo – Zero compreendidos, 1959), Claude Chabrol (Os Pri-
de Conduta (1933) e L’Atalante (1934) – cineas- mos, 1959), Jean-Luc Godard (Acossado, 1960),
ta cujos filmes apresentam matizes do cinema entre outros – e influenciaram o cinema fran-
surrealista, embora ultrapassem os limites esté- cês a partir de então. Outros nomes que podem
ticos do movimento. ser associados ao movimento são Eric Rohmer,
Entre 1930 e 1945, o cinema francês, depois Louis Malle e Alain Resnais. Um dos efeitos
de um período de declínio, conhece um novo diretos da nouvelle vague foi impor a ideia que
alento com a emergência de produtores e rea- a criação cinematográfica necessitaria de reno-
lizadores independentes reunidos em torno de vação regular de jovens realizadores. Esta polí-
uma escola que se chamou de ‘realismo poéti- tica foi encampada pelo cinema francês até os
co’. Jacques Feyder, Marcel Carné, Julien Du- dias de hoje, embora nem sempre com resul-
vivier, Marcel Pagnol e Jean Renoir são os seus tados excepcionais, apesar do aparecimento de
principais representantes e que comungam da nomes como André Téchiné e François Ozon,
influência do naturalismo literário e de uma dois cineastas de destaque no cinema francês
preocupação em realizar filmes apegados à re- contemporâneo. (Alexandre Figueiroa Ferreira)
alidade do mundo, de interesse não formalista,
capturando o frescor das imagens reais. Os fil- Referências:
mes de Renoir são os melhores exemplos des- MASCARELLO, Fernando (Org.). História do
ta escola – O Crime do Senhor Lange (1936), A cinema mundial. Campinas: Papirus, 2006.
Grande Ilusão (1937) e A Regra do Jogo (1939). MARIE, Michel. La nouvelle vague. Paris: Na-
Nos anos 50, o cinema francês, estava mui- than, 1997.
to preso ao rigor clássico e à ideia de um cinema PASSEK, Jean-Louis. Dictionnaire du cinéma.
de qualidade, apesar de na sua produção des- Paris: Larousse, 1995.
pontar alguns nomes importantes como Marcel SADOUL, Georges. História do cinema mun-
Camus, Jacques Tati, Henri-Georges Clouzot, dial. Lisboa: Horizonte, 1983.
Robert Bresson e Max Olphus. Havia, porém,
certa insatisfação entre os jovens, quase sempre
impedidos de se iniciarem na realização de fil- Cinema indiano
mes. Foi, então, no seio da crítica de cinema e A Índia possui uma das indústrias cinemato-
no rastro da política do autor, discutida na re- gráficas mais potentes do mundo. É o país que
vista Cahiers du Cinéma (na qual André Bazin produz a maior quantidade de filmes e também
era um dos principais mentores intelectuais), o que atrai maior público no mercado domés-
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enciclopédia intercom de comunicação
tico – em 2003, dos 877 longas-metragens pro- Os principais cineastas indianos são Bu-
duzidos e 3,4 bilhões de ingressos vendidos, ddhaded Dasgupta, Farah Khan, Gurinder Cha-
95% foram para produções nacionais. dha, Mira Nair, Mrinal Sen, Murali Nair, Rakesh
Em uma comparação, o Irã é o país com o Roshan, Sanjay Leela Bhansali, Shaji Karun e
mais elevado market share em cinema – 99% -, Yash Chopra. O sucesso de filmes que discu-
seguido pela Índia, e pelos Estados Unidos, o tem a diáspora como um viés delicado, român-
terceiro. O Brasil só possui 11%. O mercado da tico, bem-humorado e popular são garantia de
Índia só não supera o norte-americano em fa- boas bilheterias e concorreram para o sucesso
turamento: o preço médio do ingresso é extre- internacional de filmes falados em inglês, ainda
mamente baixo (apenas US$ 0,35). O principal que dirigidos por cineastas indianos, a exemplo
eixo de produção da Índia está situado na cida- de Driblando o Destino (Bend it like Beckham,
de de Bombaim – que, por isso, ganhou o ape- 2002), de Gurinder Chadha, ou Um Casamen-
lido de Bollywood – e é falado na lingua hindi. to à Indiana (Monsoon Wedding, 2001) de Mira
Até 1990, o país vivia sob uma política econo- Nair. A indiana radicada no Canadá Deepa Me-
micamente mais fechada ao Ocidente, introdu- tha representa uma produção mais voltada para
zida pelo primeiro-ministro Jawaharlal Nehru. as tradições dramáticas indianas, como em Wa-
Em 1991, com as reformas que destituíram os ter (2005), indicado ao Oscar de melhor filme
sistemas de cotas, a desregulamentação do estrangeiro em 2006, pelo Canadá, lançado so-
mercado local e a abertura às multinacionais, as mente em 2010, no Brasil, como Rio da Lua.
produções cinematográficas indianas passaram O gênero dominante na produção local in-
a ter um apelo mais voltado para o mercado in- diana, na década de 1990, foi o melodrama ro-
ternacional e para as classes médias (CHAU- mântico mesclado a argumentos cômicos, con-
DURI, 2005). trariando a tendência dominante nos anos 1970
Conforme vai assinalar Robert Stam, já nos e 1980 de filmes de ação e dramas. Seus temas
anos 1920, a Índia produzia mais filmes do que dominantes foram o triângulo amoroso, o casa-
a Grã-Bretanha (STAM, 2003). A Índia é lide- mento arranjado, e as locações feitas com fre-
rança mundial na produção de filmes de ficção quência no estrangeiro, com uma estética que
há decadas. A formulação hollywoodocêntrica, lembra a televisão e as propagandas ocidentais.
entretanto, reduz a importância dessa indús- A nova geração, muitos deles filhos de reno-
tria. Desde a década de 1990, os lançamentos mados profissionais da indústria, é conhecida
de Bollywood passaram a ser simultaneamente como Bollywood Brat Pack. Sooraj Bartjatya, de
nacionais e internacionais. Mundialmente, en- Hum Aapke Hain Koun (1994), pertence à fa-
tretanto, o cinema indiano é associado a cine- mília proprietária da maior rede de distribui-
astas que não vivem na Índia, como as diretoras ção indiana e produtora, a Rajshri Films; Adi-
indianas Mira Nair, Deepa Mehta e Gurinder tya Chopra, diretor de Dilwale Dulhania Lê
Chadha, e até mesmo a internacionais, como Fayenge/ The Brave-Hearted Will Take the Bri-
ocorreu com o Oscar de 2009, Who wants to be de (1995) é filho do veterano diretor Yash Cho-
a millionaire? (Quem quer ser um Milionário?), pra; Karan Johar, de Kabhi Khushi Kbhie Gham
do escocês Danny Boyle, rodado na Índia com (2001) é filho de Yash Johar. Completam o time
atores locais e sem experiência. Dhardemesh Darshan e Farhan Akthar.
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enciclopédia intercom de comunicação
Os filmes de Mani Ratnam, um dos mais (hindi), 151 foram falados em tamil, 155 em telu-
populares diretores indianos do Sul do país, gu, 109 em kannada, 61 em malayalam e 23 em
trazem coreografias de dança que lembram, em inglês. Bollywood representa, portanto, menos
alguns momentos, a estética MTV. Produziu fil- de um quarto do total, apesar de deter a maior
mes em diversas línguas indianas: Pallavi Anu- parte do mercado. (Luiza Lusvarghi)
pallavi (1983), em kannada; Unaroo (1984) em
malayalam; Geetanjali (1989) em telugu e Dil Referências:
Se (1998) em hindi, sendo os demais em tamil. STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema.
O cinema tamil é conhecido como Kollywood. Campinas: Editora Papirus, 2003.
É acusado de ser piegas e nacionalista, traba- MELEIROS, Alessandra (Org.). Cinema no
lha com dramas e conflitos políticos, na contra- Mundo. Ásia: Indústria, Política e Mercado.
mão da onda romântica, e seu primeiro grande São Paulo: Escrituras, 2007.
sucesso foi Nayakan (1987), classificado como CHAUDURI, Shohini. Contemporary World
gangster film e inspirado em O poderoso Chefão Cinema, Europe, Middle East, East Asia and
(The Goodfather) de Coppola. Depois, vieram South Asia. Edinburgh: Edinburgh Univer-
para completar a trilogia Roja (1992) e Bombay sity Press, 2005.
(1995). Bollywood - www.bollywood.com
A Índia ainda conserva um modelo anti- National Film Development Corporation -
go da economia cinematográfica. Lá, diferen- www.nfdcindia.com;
temente de tantos outros países, a televisão não www.filmeb.com.br/dbmundo/html/india.php
chegou a substituir o cinema como principal
lazer popular. Por esse motivo, os filmes india-
nos exercem uma função semelhante à da te- Cinema mudo (cinéma muet, silent
lenovela no Brasil. Atualmente, a produção de film)
Bollywood vem perdendo espaço no mercado Entende-se por ‘cinema mudo’ o período cine-
indiano e, apesar de ainda ser hegemônica, está matográfico que vai, desde 1895 até o advento
atravessando uma crise. dos sistemas sonoros, por volta de 1926 e 1927
Um dos motivos é a invasão dos multiple- – comumente chamado, também, de cinema
xes internacionais, que possuem estímulo esta- silencioso. Mas, para contar e se ver a histó-
tal para se instalarem. O outro é a questão da ria dessa era silenciosa, resta em torno de de
diversidade linguística dessa produção, que di- 80% da produção mundial – incluindo os fil-
ficulta a sua comercialização em outros mer- mes do primeiro cinema, das vanguardas e do
cados, pois os filmes são produzidos para seg- cinema narrativo. A não reprodução física do
mentos específicos, sendo falados, inclusive, som, a partir da banda sonora e a inexistência
em línguas diferentes. Em 2003, por exemplo, de caixas acústicas, nas salas de projeção carac-
foram realizados longas-metragens em 39 lín- terizavam a primeira ideia acerca da “ausência”
guas e dialetos, ou seja, trata-se de um mercado de sonoridade no cinema que, à época, não era
voltado para a produção regional. Dos 877 fil- vista como uma desvantagem.
mes produzidos em 2003, 222 foram produções No entanto, a denominação de cinema
de Bollywood, realizadas na língua nacional mudo surge na década de 1930 somente com a
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enciclopédia intercom de comunicação
hegemonia do cinema sonoro. O cinema mudo diretores que fez uso de composições previa-
fez uso tanto do acompanhamento sonoro e/ mente compostas.
ou musical como o de efeitos gráficos e visuais Efeitos gráficos ou visuais, como o uso de
para dar uma ideia de sonoridade e de intensi- intertítulos; sinopses elaboradas por produtores
dade rítmica. Como exemplo de efeitos sono- e distribuídas na entrada do cinema; o destaque
ros, temos a utilização de orquestras, pianos, de determinados objetos de cena como eviden-
órgãos ao vivo ou mecânicos, conjuntos de cor- ciar a fonte produtora do som – revólveres, ca-
das, sonoplastias, assim como a presença de um nhões, bombas e outras parafernálias envoltas
“narrador” comentando ou explicando o tema em nuvens de fumaça ou sinos, companhias e
e as cenas e animando as plateias ou o uso de instrumentos musicais – serviam também para
atores atrás das telas recitando os diálogos em traduzir ou mesmo reforçar a atmosfera sono-
sincronia com as imagens. ra. O gestual, a mímica e o enquadramento dos
No Japão, a persistência dos filmes mudos atores; a sofisticação da montagem; a composi-
explica-se por conta do retorno de uma tradi- ção de planos; são tantos outros procedimentos
ção: a dos artistas – katsuben ou benshi – que, utilizados em diversos filmes desse período.
ao lado da tela, emocionavam as plateias nar- As estratégias de publicidade e propagan-
rando, recitando e interpretando os diálogos e da, como cartazes, pôsteres, vitrines, na sala de
as histórias e dando, por vezes, significados di- espera, passam a ser empregadas com o adven-
versos aos mostrados pelas imagens. Algumas to dos longas-metragens e com a construção
dessas estratégias passaram a ser comuns para de grandiosas salas de exibição voltadas para
que as imperfeições das primeiras películas o espetáculo cinematográfico. Após a estreia
passassem despercebidas, para que as imagens do Cantor de Jazz, em 1927, o cinema mudo foi
se dinamizassem ou mesmo para que a música paulatinamente sendo substituído pelo cine-
servisse para abafar o ruído do projetor, tendo ma sonoro. No entanto, esse tipo de cinema foi
em vista que, nos primórdios do cinema, não combatido por algumas vanguardas que enxer-
existia uma separação entre a sala de espetácu- gavam nele um efeito de real excessivo que im-
los e o aparelho de projeção. punha à imagem a palavra e o som. (Leila Bea-
A música, seja ela improvisada ou já “sin- triz Ribeiro)
cronizada” com a obra, apresentava-se em
uma fase mais adiantada das projeções, com Referências:
arranjos adaptados dentro de uma programa- ADELMO, Luiz; MANZANO, F. Som-imagem
ção prévia. Por volta de 1920, já se percebe a no cinema: a experiência alemã de Fritz
existência de um estoque de sons e músicas Lang. São Paulo: Perspectiva/FAPESP,
que acentuam a dramaticidade, a comicidade, 2003.
o suspense etc., assim como a caracterização GOMES MATTOS, A. C. Do Cinetoscópio ao
de determinados personagens (a mocinha, o cinema digital: breve história do cinema
vilão, o herói) das películas. Com o advento americano. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
dos longas-metragens, vemos o surgimento MACHADO, Arlindo. Pré-cinemas & pós-cine-
de filmes com partituras já feitas especialmen- mas. Campinas, Papirus, 1997.
te para eles. Griffith, por exemplo, foi um dos NAZÁRIO, Luiz. As sombras móveis: atualida-
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de do cinema mudo. Belo Horizonte: Ed. da anos 1930, com a popularização dos filmes so-
UFMG, Laboratório Multimídia da Escola noros. A fundação da companhia carioca Ci-
de Belas Artes da UFMG, 1999. nédia (1930) marca o início da era dos musicais
ROSENFELD, Anatol. Cinema: arte & indús- carnavalescos produzidos em série para divul-
tria. São Paulo, Perspectiva, 2002. gar as marchinhas de folia interpretadas por as-
tros e estrelas do rádio. Os estouros de bilhete-
ria eram capitaneados por títulos como A voz
Cinema musical brasileiro do carnaval (Adhemar Gonzaga e Humberto
O cinema brasileiro é familiarizado com a mú- Mauro, 1933); Alô, alô, Brasil! (Wallace Downey,
sica popular e o carnaval desde os seus primór- 1935); e Alô, alô carnaval (Adhemar Gonzaga,
dios. No início do século XX, os filmes silen- 1936), todos estrelados por Carmen Miranda.
ciosos de enredo, cômicos, dramáticos ou de Em 1941, o estúdio carioca Atlântida inau-
temática carnavalesca já desfrutavam de acom- gura o ciclo das chanchadas, comédias popula-
panhamento musical de orquestras, fora e den- res com esquetes oriundas do circo, do teatro
tro das salas de exibição. Assim, surgiram, en- de revista e do rádio, intercaladas por números
tre 1908 e 1911, os “filmes cantantes”, musicais musicais. A forma definitiva do gênero chan-
de curta duração que eram dublados na hora chadesco se consolidaria nos anos 50, com
da exibição por atores e cantores posicionados Aviso aos Navegantes (Watson Macedo, 1950);
atrás da tela. A fita Nhô Anastácio chegou de Carnaval Atlântida (José Carlos Burle, 1952)
viagem (Júlio Ferrez, 1908) – primeira comédia e O Homem do Sputnik (Carlos Manga, 1959),
brasileira “cantante” de sucesso – é considerada combinando a paródia ao cinema hollywoodia-
a precursora da chanchada, devido aos traços no com a crítica bem humorada ao cotidiano
herdados do teatro cômico: o trapalhão (Nhô urbano. Essas comédias foram encarnadas por
Anastácio), paisagens do Rio de Janeiro, o na- humoristas vindos do rádio e do teatro de re-
moro, a música (representada pela cantora), a vista, como Oscarito, Dercy Gonçalves, Zezé
confusão e o final feliz. Macedo e Grande Otelo. No começo década
Em 1910, Paz e amor (Alberto Botelho) de 1960, a repetição da fórmula chanchadesca
inaugura no cinema nacional o gênero filme- levou o gênero a se extinguir como linha pro-
revista, calcado na sátira política e social do dução, mas o princípio carnavalesco do cinema
teatro revisteiro. Exibido mais de novecentas musical nacional não desapareceu do imaginá-
vezes, o título alcançou um êxito de bilheteria rio brasileiro. (André Luiz Machado de Lima)
sem precedentes e abriu caminho para o suces-
so de outras revistas cantantes, como O chan- Referências:
tecler (Alberto Moreira, 1910) e O conde de Lu- AUGUSTO, Sérgio. Este mundo é um pandei-
xemburgo (Júlio Ferrez, 1911). ro: a chanchada de Getúlio a JK. São Paulo:
A partir de 1912, o ciclo conhecido como Companhia das Letras/Cinemateca Brasi-
“bela época” começa a declinar devido à falta leira, 1989.
de recursos tecnológicos e ao fortalecimento do LIMA, A. L. M. de. A chanchada a brasileira e
cinema norte-americano no país. A produção a mídia: o diálogo com o rádio, a impren-
interna só voltaria a se aquecer no início dos sa, a televisão e o cinema nos anos 50. Dis-
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caracterizar, ora sob a influência do neorrealis- nal. José Mário Ortiz Ramos (1997) identifica
mo italiano, ora instigado pela nouvelle vague três fases nesta produção: a primeira é marca-
francesa. Havia, contudo, uma contradição ine- da por um Brasil remoto e ensolarado; a segun-
rente ao Cinema Novo: seus realizadores que- da problematizaria a sociedade brasileira, logo
riam retratar o povo, discutir os problemas do após o golpe de 1964; e a terceira identificar-
povo, mas falavam com um público formado se-ia pela alegorização da realidade imediata,
pela classe média urbana (BERNARDET, 1976, em face da censura que se abate sobre o país e
p. 89). Essa perspectiva crítica, conscientiza- sua produção cultural. “O Cinema Novo con-
da por Terra em transe, por exemplo, de certo seguiu transformar o cinema brasileiro, ou me-
modo, condena esse modelo cinematográfico lhor, deu ao cinema brasileiro essa categoria de
ao desaparecimento, na medida em que refuta manifestação, de expressão de nossa cultura”,
o populismo, e prepara uma nova estética que resumiria mais tarde Nelson Pereira dos San-
o tropicalismo concretizaria (CALDAS; MON- tos (BERNARDET, 1976, p. 143-144), inclusive
TORO, 2006, p. 97). Os realizadores do ‘cinema pela forte relação com a literatura (ver verbete
novo’ se dispersam. Alguns assumem funções cineliteratura) que aquela cinematografia esta-
burocráticas de enorme importância na pro- beleceu, inspirando-se, dentre outros, em Gui-
dução cinematográfica brasileira, como Rober- marães Rosa, Graciliano Ramos, Carlos Drum-
to Farias, em plena administração da Ditadura mond de Andrade, Jorge Amado, entre outros.
Militar. Outros deixam de fazer cinema, reto- (Antonio Hohlfeldt)
mando seu trabalho apenas décadas mais tar-
de, como Carlos Diegues, que chegaria a assi- Referências:
nar um aclamado filme como Chuvas de verão ARAÚJO, Inácio. Carneiro define luz e ação do
(1977), ou Arnaldo Jabor, que permaneceria na Cinema Novo. In: Folha de São Paulo. Ilus-
televisão. Muitas obras referenciais deixaram trada. São Paulo, 2.5.1995.
marcas na história do cinema brasileiro, como BERNARDET, Jean-Claude. Brasil em tempo de
Deus e o diabo na terra do sol ou São Paulo S.A. cinema. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1976
– este último, provavelmente a primeira gran- CALDAS, Ricardo Wahrendorf; MONTORO,
de reflexão sobre a alienação da classe média Tânia. A evolução do cinema brasileiro no
nacional, o que explicava, em parte, por que o século XX. Brasília: Casa das Musas, 2006.
cinema novo sempre lutou para comunicar-se NEVES, David E. Cinema Novo no Brasil. Pe-
com seu público ideal, sem jamais conseguir trópolis: Vozes, 1966.
fazê-lo totalmente. O princípio da produção NASCIMENTO, Hélio. Cinema brasileiro. Por-
independente, sintetizada na frase “uma ideia to Alegre: Mercado Aberto, 1981.
na cabeça e uma câmera na mão”, atribuída a
Mário Carneiro (ARAÚJO, 1995, p. 1) e a influ-
ência do ISEB e do CPC da UNE, distanciou o Cinema Religioso
CN definitivamente da criação de uma indús- O termo cinema religioso refere-se ao conjunto
tria cinematográfica, mas, ao longo de quase de filmes cinematográficos que aborda temas,
duas décadas, produziu obras que deixaram in- personagens, histórias pessoais ou atos que ex-
fluências na história da cinematografia nacio- pressem a presença do sobrenatural na vida hu-
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mana. São, portanto, filmes religiosos os que Intolerância (1916), às produções hollywoodia-
narram episódios bíblicos do Antigo e Novo nas que fizeram da Bíblia um espetáculo, como
Testamentos ou de outros livros considerados os filmes de Cecil B. De Mille O Rei dos Reis
revelados pelos diferentes credos, vidas de fun- (1927) e Os Dez Mandamentos (1956), ou ain-
dadores das religiões e de seus seguidores mais da A Maior História de Todos os Tempos (1965),
reconhecidos (Jesus Cristo e os santos católi- George Stevens, O Rei dos Reis (1962), de Ni-
cos, por exemplo), aspectos do campo do sa- cholas Ray, e A Bíblia no Princípio (1966), de
grado presentes na condição humana, imagens, John Huston. Desse modo, podemos dizer que
ícones e metáforas que podem remeter à liga- a indústria cinematográfica americana sempre
ção do homem com o transcendente. se preocupou em atender ao público crente.
Outra abordagem possível do ‘cinema reli- Já O Evangelho segundo São Mateus (1964), de
gioso’ é a definida por Amédée Ayfre como um Pier Paolo Pasolini, ou Genesis (1996), de Erm-
estudo teológico sobre “o problema das expres- mano Olmi, representam um cinema que não
sões humanas a respeito do sobrenatural. A par- cultiva o espetáculo, mas a reflexão. Filmes que
tir de um dado revelado, pode-se perguntar em reconstituem experiências relacionadas com o
que condições a fidelidade à Revelação foi ou sagrado, que Rudolf Otto define como numi-
será respeitada pelas expressões cinematográ- noso, vidas de santos, aparições, milagres, cul-
ficas” (AYFRE, 1953, p.12-13). Para Ayfre, essa tos, ritos ou outras formas de expressão reli-
questão pode também ser vista a partir do estu- giosa existem em grande número em todas as
do “das condições da presença de Deus no mun- cinematografias. Há, ainda, as produções de ci-
do fílmico ou que permitam reconhecer essa neasta que abordam temas religiosos, como o
presença; as narrativas que exprimem os sinais dinamarquês Carl Theodor Dreyer e seu discí-
de Deus no universo real e nos filmes; as diver- pulo Lars von Trier, o francês Robert Bresson,
sas concepções de Deus que podem ser resgata- o italiano Roberto Rossellini e o sueco Ingmar
das nas obras fílmicas” (AYFRE, 1953, p.13). Re- Bergman, para ficar apenas em alguns nomes.
fere-se, ainda, ao sentimento religioso percebido Consideram-se também fazendo parte do cine-
nos filmes através de seus personagens. Diz, por ma religioso as produções ligadas às pastorais
fim, que podem se estabelecer comparações en- das diversas igrejas em todos os países do pla-
tre mentalidades religiosas diversas e a evocação neta. (Miguel Serpa Pereira)
estética dos valores religiosos no cinema.
Assim, o ‘cinema religioso’ abarca um am- Referências:
plo número de filmes de todos os gêneros e for- AYFRE, Amédée. Dieu au Cinema: Problémes
mas estéticas. Já em 1896 era produzida a pri- Esthetiques du Film Religieux. Paris: Presses
meira vida de Cristo do cinema, conhecida Universitaires de France, 1953.
como A Paixão de Léar, realizada pela editora AGEL, Henri. Le Cinema et le Sacré. Paris: Du
católica La Bonne Presse. Das produções mais Cerf, 1953.
simples às mais ambiciosas, o filme religioso BARROS, José Tavares de. Jesus Cristo no Cine-
sempre esteve presente na indústria cinemato- ma. São Paulo: Paulinas/CNBB, 1997.
gráfica mundial. De David Wark Griffith, que OTTO, Rudolf. O Sagrado. Lisboa: Edições 70,
encena a paixão de Cristo em sua obra seminal 2005.
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VADICO, Luiz Antonio. A Imagem do Ícone própria película, não permitia uma interação
– Cristologia através do Cinema. Tese de dinâmica entre vozes, ruídos e música, algo al-
Doutorado apresentada ao Instituto de Ar- cançado após 1933, com o uso de mais de uma
tes da UNICAMP, 2005. pista de gravação – fato que possibilitou pro-
cessos de mixagem, ainda que modestos.
O som sincronizado trouxe mudanças ao
Cinema Sonoro cinema e suscitou polêmicas tanto no campo
A chegada do som ao cinema tem como mar- estético quanto mercadológico. Atores que não
co o sistema vitaphone, que consistia na junção se adaptaram ao uso da voz foram dispensados,
de um ‘toca-discos’ sincronizado a um proje- estúdios sofreram modificações para permi-
tor, com o qual a Warner Brothers lançou, em tirem a captação de sons e a narrativa fílmica
1926, Don Juan e, no ano seguinte, O Cantor estabelecida sem a presença física do som foi
de Jazz (The Jazz Singer, 1927). O consenso em radicalmente alterada. Realizadores e teóricos
torno desse feito deve-se ao grande sucesso co- (Eisenstein, Clair, Arnheim, Epstein, entre ou-
mercial dessas produções da Warner, que trou- tros) voltaram-se para uma possível “ameaça”
xeram música e outros sons pré-gravados em do som em termos estéticos e elaboraram as
sincronia com as imagens em filmes de longa- primeiras teorias sobre o uso geral do som no
metragem. cinema. Guardadas as diferenças, vários textos
Antes disso, muitas experimentações fo- e manifestos da época denunciaram a presença
ram feitas, principalmente em filmes curtos. maciça de diálogos e o uso redundante e sem-
Vale ressaltar que a tentativa de agregar sons às pre sincrônico dos sons, fatos que reduziriam o
imagens silenciosas, do começo do cinema, não cinema ao universo das encenações teatrais.
se resume à presença da música executada ao Apesar dos esforços na defesa do uso do
vivo ou a fala de atores atrás da tela de exibição. som de forma a agregar algo novo e relevante às
Em vários países, esforços em acoplar sons re- imagens, o modelo dominante perpetuou uma
gistrados aos filmes foram empreendidos, entre organização sonora que gravitava em torno dos
os quais despontam o kinetophone, apresentado diálogos, e os demais sons (ruídos e música)
por Thomas Edison, em 1894, que consistia na eram redundantes ao conteúdo visual.
junção do seu kinetoscope com o fonógrafo, e Ao longo do desenvolvimento das tecno-
o similar chronophone, do francês Leon Gau- logias de gravação, amplificação e reprodução,
mont, que reuniu um projetor a dois fonógra- o som no cinema sofreu alterações. Dentre as
fos, em 1902. mais marcantes, destacam-se o sistema dol-
Paralelamente aos dispositivos que mecani- by stereo e a manipulação em multicanais, que
camente sincronizavam sons e imagens, pesqui- promoveram a sensação de espacialidade sono-
sas em busca do registro do som na própria pe- ra na percepção dos filmes. O reflexo estético
lícula despontaram, culminando nos sistemas dessas inovações motivou, no final dos anos de
que estúdios norte-americanos, como a FOX e 1970, o surgimento do conceito de sound desig-
a RCA, que adotaram esse mecanismo no final ner, ligado ao trabalho de editores de som do
da década de 1920. No começo do cinema so- cinema norte-americano, cujo sofisticado tra-
noro, o som gravado tanto em disco quanto na balho envolve novas formas de integrar ele-
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mentos sonoros ao filme por meio da super- e Edgar Morin. O filme é uma análise do com-
visão completa de todas as etapas necessárias portamento de parisienses de diferentes extra-
(captação, edição e mixagem). tos sociais e origens, que têm o seu cotidiano e
Ao migrarem do suporte analógico para o impressões sobre a felicidade e a vida registra-
digital, manipulações sofisticadas marcam uma dos pela equipe e, em dado momento, são pos-
nova tendência na organização sonora, comu- tos a interagir entre si, sob direta intervenção
mente chamada de hiper-realista, em que os dos realizadores. Vemos, portanto que a verda-
sons são amplificados e tratados de modo a pa- de que se busca é gerada no próprio fazer cine-
recerem “mais fiéis” do que o ouvido humano matográfico.
percebe cotidianamente. A despeito disso, Mi- Este posicionamento conceitual não sur-
chel Chion afirma que o cinema, de um modo giu somente como inquietação intelectual. A
geral, ainda tende a ser o que ele chama de vo- produção tornou-se possível graças ao desen-
cocentrista ou verbocentrista, preservando a voz volvimento de um aparato técnico novo, como
(narração e diálogos) no centro hegemônico da câmeras de 35 mm leves, gravadores de som
construção sonora. (Suzana Reck Miranda) magnéticos, portáteis e sincronizados com as
câmeras, microfones pequenos e negativos mais
Referências: sensíveis. Estas inovações permitiam a forma-
ALTMAN, Rick (Org.). Sound theory - Sound ção de equipes de filmagem enxutas e ágeis,
practice. New York: Routledge, 1992. fundamentais para um cinema baseado na mo-
CHION, Michel. Audio-vision: sound on screen. bilidade espacial e na interação com as pessoas.
New York: Columbia University Press, 1994. Esteticamente, a presença da câmera e
. Film, a sound art. New York: Columbia microfones no quadro de filmagem tornou-
University Press, 2009. se algo admissível. A própria organização do
WEIS, Elisabeth; BELTON, John (Orgs.). Film material filmado, através da montagem, bus-
Sound: theory and practice. New York: Co- ca deixar explícita esta opção anti-ilusionista
lumbia University Press, 1985. da construção cinematográfica, incorporando
movimentos de câmera antes evitados – como
os ‘chicotes’. Evidenciava-se a construção e a
Cinema Verdade verdade do cinema.
O conceito de Cinema Verdade surge como É comum certa confusão entre o Cinema
uma necessidade de desmistificação dos pro- Verdade e o Cinema Direto. Este último – que
cedimentos cinematográficos no cinema do- foi desenvolvido principalmente por realizado-
cumentário. O realizador passa a se posicionar res norte-americanos como Robert Drew, Ri-
frente ao objeto através da interação direta da chard Leacock, Irmãos Mayles – caracteriza-se
câmera. Busca, com isso, uma posição ativa, pelo uso de entrevistas, mas evita a presença da
para provocar situações e, dessa forma, as mo- câmera e da equipe no quadro e não busca a in-
tivações do realizador em relação ao tema pos- teração, manifestando um caráter observacio-
sam se explicitar e se problematizarem. nal das situações filmadas.
O filme-chave dessa corrente documentá- A escola do Cinema Verdade ecoou en-
ria é Crônica de um verão (1960) de Jean Rouch tre os realizadores franceses – além de Rouch,
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enciclopédia intercom de comunicação
Chris Maker, Godard, entre outros – e na pro- tos panorâmicos cinematográficos que perma-
dução do National Film Board do Canadá. neceram foram três: o 1:1,66 europeu, o 1:1,85
No Brasil, o início do diálogo com o Ci- americano e o Cinemascope. Nos dois primei-
nema Verdade – ou mesmo com as técnicas de ros, enquadrava-se e projetava-se uma altura
entrevistas próprias do Cinema Direto –, ocor- menor da imagem formada no filme, já que se-
reu no começo dos anos 1960. Em 1962 temos ria impossível aumentar a largura, pois a bitola
no Rio de Janeiro um Seminário sobre Cinema padrão de 35mm não poderia ser alterada por
com o documentarista sueco Arne Suckesdorff, questões mercadológicas.
a exibição de Crônica de um verão e a chega- Dessa forma, diminuindo a altura e man-
da dos primeiros gravadores de som Nagra ao tendo a mesma largura, a relação entre elas au-
Brasil. E em 1963 o cineasta argentino Fernan- menta, saindo do antigo 1:1,37 e passando aos
do Birri foi a São Paulo para conferências so- novos 1:1,66 ou 1:1,85. O resultado é uma tela
bre técnicas de documentário. Essas experiên- mais larga na projeção. Porém, a área de negati-
cias deixaram marcas em diversos realizadores vo utilizado para imagem era menor, o que sig-
brasileiros que optaram na época pelo cinema nifica menor qualidade fotográfica. Para con-
documentário, como Maurice Capovilla, Leon tornar essa questão, e aumentar ainda mais a
Hirszman, Vladimir Herzog, Arnaldo Jabor, largura da tela, a Fox recorre a uma ideia do as-
Geraldo Sarno, Paulo César Saraceni e David trônomo francês Henri Chrétien, baseada na
Neves. E criou raízes fortes em nossa tradição anamorfização, ou seja, uma lente especial na
documentária. (Alessandro Gamo) câmera estica a imagem no sentido vertical em
duas vezes, e a imagem anamorfizada é registra-
Referências: da no negativo desse modo, distorcida. Quando
BARNOUW, Erik. Documentary – a history of essa imagem vai ser projetada, uma lente simi-
the non-fiction film. Nova York: Oxford lar a estica na horizontal as mesmas duas vezes,
University Press, 1993. fazendo com que a imagem final volte ao seu
BERNARDET, Jean-Claude. Cineastas e ima- aspecto normal. É um pouco como vemos na-
gens do povo. São Paulo: Brasiliense, 1985. queles espelhos de parques, onde a pessoa fica
NICHOLS, Bill. La representación de la realida- mais larga ou alta conforme o tipo de espelho,
de. Barcelona: Paidós, 1997. alterando suas formas. Estas duas vezes não é
RAMOS, Fernão. Mas afinal... o que é mesmo um número aleatório, foi adotado para se utili-
documentário?. São Paulo: SENAC, 2008. zar o máximo da área de negativo possível, ge-
rando a melhor qualidade fotográfica possível
no 35mm sonoro.
Cinemascope Porém, para entender isso, é necessário vol-
No início dos anos 1950, sufocada pela concor- tar no tempo. O cinema silencioso adotou o for-
rência da televisão, Hollywood introduz no- mato Edison de 1:1,33 e quatro perfurações por
vidades a fim de distanciar o espetáculo cine- fotograma, com a imagem praticamente preen-
matográfico do televisivo. Assim, se opta pelos chendo todo o espaço ente as perfurações. Com
formatos widescreen, com largura maior em a introdução do som ao lado da perfuração, se
relação à altura na tela de projeção. Os forma- “roubou” espaço à imagem, e a área do negati-
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enciclopédia intercom de comunicação
vo que sobrava gerava um quadro com formato can Cinematographer. Los Angeles, v. 84, n.
1:1,20 que era quase quadrado; logo, inadequa- 9, set. 2003.
do. Houve então a necessidade, para se manter WARD, Peter. Picture Composition. Burlington:
a mesma proporção do silencioso, de se cortar Focal Press, 2003.
uma parte da altura, gerando o formato Acadê-
mico 1:1,37. O Cinemascope recupera esta área
do negativo que foi perdida na transição para Cinematógrafo
o formato Acadêmico, e ao alargar em duas ve- Aparelho inventado e desenvolvido pelos ir-
zes o 1:1,20, temos a proporção final de 1:2,40. mãos Louis e Auguste Lumière entre os anos de
Essa tela, extremamente larga, foi vista pela, 1894-95, teve sua primeira apresentação pública
primeira vez, no filme O Manto Sagrado (The e paga realizada em 28 de dezembro de 1895, no
Robe, Henry Koster,1953), e serviu muito bem Grand Café, em Paris. É constituído de um me-
aos filmes-espetáculos, nos quais as paisagens canismo de alimentação intermitente que capta
desempenhavam um papel importante. Darryl imagens a uma velocidade de 16 quadros por
Zanuck, na Fox, recomendava a seus diretores segundo (o padrão atual, de 24 quadros por se-
para que mantivessem as pessoas espalhadas gundo, só foi instituído, no final dos anos 1920,
dentro do quadro 1. Em filmes intimistas, po- com a chegada do cinema sonoro) e utiliza fil-
rém, é considerado um formato problemático, me de 35 mm. Pode funcionar como câmera ou
pois diminui a importância da pessoa em re- projetor e, ainda, faz cópias a partir de negati-
lação à paisagem e acaba por acrescentar mais vos (COSTA, 2006). Possui, também, algumas
fundo em relação ao rosto, nos closes, do que outras vantagens ante os seus concorrentes da
em outros formatos. época, como não necessitar de luz elétrica para
O Cinemascope conseguiu, assim, aliar a o seu funcionamento (funcionava à manivela) e
maior largura de tela com a maior área de ne- era mais leve, o que facilitava o seu transporte e
gativo, possuindo a melhor qualidade fotográ- possibilitava a captação de uma gama maior de
fica entre os formatos 35mm. A partir dos anos imagens e situações externas.
1990, difundiu-se o uso do Super 35mm para Apesar do cinematógrafo dos Lumière ser o
obter o Cinemascope. Filma-se com lente nor- aparelho conhecido por inaugurar as exibições
mal e se faz a anamorfização na pós-produção. cinematográficas, sabe-se que houve uma exibi-
Perde-se qualidade fotográfica, mas ganham-se ção anterior, realizada em Berlim, pelos irmãos
facilidades, pois as lentes anamórficas são pesa- Max e Emil Skladanowsky, com uma máquina
das e de focagem difícil: Estas, quando utiliza- semelhante inventada por eles e chamada bios-
das na câmera, geram flares horizontais e azula- cópio. Essa história foi retratada de forma livre,
dos, e pontos desfocados (bokeh) em forma de posteriormente, pelo cineasta Wim Wenders,
elipses verticais. (Adriano Barbuto) em seu filme Um Truque de Luz (Die Gebrüder
Skladanowsky, 1996). Além disso, o cinemató-
Referências: grafo também não foi o primeiro aparelho do
SALT, Barry. Film style & technology: history gênero a ser patenteado, pois, já em 1891, Tho-
and analysis. Londres: Starword, 1992. mas Edison havia patenteado os seus aparelhos
SAMUELSON, David W. Golden years. Ameri- nomeados como quinetógrafo e quinetoscópio,
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enciclopédia intercom de comunicação
nos quais, respectivamente, podiam-se captar data do dia 25 de agosto de 1897, na cidade de
imagens e assisti-las; o primeiro gerava filmes Curitiba, PR. (BARRO, apud MATOS, 2009).
de curtíssima duração, e o segundo mostrava as (Fernanda Carolina Armando Duarte)
imagens apenas através de um visor individual.
No início, o cinematógrafo foi comercia- Referências:
lizado pelos próprios irmãos Lumière, que já COSTA, Flávia Cesarino. Primeiro Cinema In:
eram grandes negociantes e souberam lucrar MASCARELLO, Fernando (Org.). Histó-
com seu novo produto. A família Lumière era ria do cinema mundial. São Paulo: Papirus,
a maior produtora de placas fotográficas da Eu- 2006.
ropa e conhecia diversas técnicas de marketing. Matos, Marcos Fábio Belo. Cinema Ambulan-
Essas técnicas foram desenvolvidas e oferecidas te: A Experiência de São Luís do Maranhão.
aos vaudevilles (principais locais exibidores da Trabalho apresentado na Intercom – So-
época), para os quais - a fim de fazerem parte ciedade Brasileira de Estudos Interdisci-
das programações - eram fornecidos os proje- plinares da Comunicação XI Congresso de
tores, os operadores e o suprimento de filmes. Ciências da Comunicação na Região Nor-
Este padrão de exibição imperou nos EUA até deste – Teresina – 14 a 16 de maio de 2009.
a década seguinte, quando foram desenvolvidas Pomerance, Murray. Cinematography. In:
outras formas. Schirmer Encyclopedia of Film. Detroit:
Os Lumière possuíram a patente do cine- Schirmer Press, 2007.
matógrafo até o ano de 1902, quando esta foi UM TRUQUE DE LUZ. Wim Wenders, Ale-
vendida à Companhia Pathé, de proprieda- manha, 1996.
de de Charles Pathé, que expandiu seus negó- SADOUL, Georges. História do Cinema Mun-
cios mundialmente, aproveitando os diferentes dial: das Origens a Nossos Dias. Rio de Ja-
mercados, até então ignorados por outros pro- neiro: Martins Editora, 1963
dutores.
No Brasil, a primeira exibição cinemato-
gráfica foi realizada no dia 08 de julho de 1896, Circo
no Rio de Janeiro, em uma sala na Rua do Ou- A palavra “circo” designa tanto o espetáculo de
vidor, segundo o Jornal do Comércio de 09 de diversas atrações, realizado em uma arena sob
julho de 1896. No entanto, o aparelho utiliza- uma lona estendida para uma plateia pagante,
do, nessa exibição, não era o cinematógrafo e quanto à companhia itinerante que realiza essas
sim um outro, a esse semelhante, denominado apresentações. O termo latino é circus, que deri-
Omniógrafo. A partir dessa exibição, há notí- vou do grego kirkos, “círculo”, ou seja, o picadei-
cia de mais três exibições em diferentes cidades ro cercado pelos assistentes. Na sua origem em
(São Paulo, Porto Alegre e Manaus) e cada qual Roma, este tipo de espetáculo estava associado à
com um tipo de aparelho projetor. Ainda que corrida de charretes, disputas atléticas e jogos.
alguns destes fossem denominados “cinema- O circo romano era redondo, com cadeiras
tógrafos”, não é certo que correspondessem ao em volta para os assistentes. Entre os famosos
modelo dos Lumière. A primeira projeção rea- estão o Circo Maximus (construído em 616 a
lizada com o cinematógrafo Lumière no Brasil 578 a.C), o Flaminius (221 a.C), o Maxentiues e
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
tiplicação dos confortos materiais; o avanço e o Choque de Civilizações (1996), livro no qual
a difusão do conhecimento; a decadência da prevê que os embates do mundo contemporâ-
superstição; as facilidades de intercâmbio recí- neo são da ordem da cultura. (Sandra Pereira
proco; o abrandamento das maneiras; o declí- Tosta e Grazielle Maia)
nio da guerra e do conflito pessoal; a limitação
progressiva da tirania dos fortes sobre os fracos; Referências:
as grandes obras realizadas em todos os cantos BRAUDEL, Fernand. Gramática das Civiliza-
do globo graças à cooperação de multidões. O ções. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
conceito de civilização foi separado, de maneira ELIAS, Norbert. O Processo Civilizador 1 – Uma
mais explícita, a partir do século XIX quando, História dos Costumes. Rio de Janeiro: Jor-
então, a Antropologia passou a se dedicar mais ge Zahar, 1990.
especificamente aos fenômenos da cultura. . O Processo Civilizador 2 – Formação do
O sociólogo Norbert Elias (1990; 1993) Estado e Civilização. Rio de Janeiro: Jorge
apresenta uma das mais bem sucedidas análi- Zahar, 1993.
ses do processo civilizatório ocidental. O pon- HUNTIGTON, Samuel. O Choque de Civiliza-
to de partida do sociólogo alemão é a maneira ções e a Recomposição na Ordem Mundial.
como a tradição francesa iluminista e românti- São Paulo: Objetiva, 1997.
ca alemã reagiram ao processo civilizatório na WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave - Um
produção de um novo tipo de formação social Vocabulário de cultura e sociedade. São
nacional e de um novo tipo de homem, profun- Paulo: Boitempo, 2007.
damente marcado pela capacidade de contro-
le das emoções e consciência de si. O homem
civilizado, ao contrário do cavaleiro medieval, Classicismo
que tudo resolvia por meio da violência, guer- Deriva da época greco-romana, sendo consti-
ras e disputas, será um cavalheiro (gentleman) tuído de um conjunto de criações, valores e ins-
formado pela educação e pelo espírito da vida tituições, que, devido à sua influência, na for-
pública. mação do mundo ocidental, vieram a constituir
Mas, a civilização também expressa um com o tempo uma classe especial, a ponto de-
momento ou tempo de crise de valores nas so- les, como tal, nomearem aquele próprio mun-
ciedades contemporâneas. Vista como expres- do como “clássico”, a partir do Renascimento
são da decadência, em 1918, vinha a público (século XV).
O Declínio do Ocidente, de Oswald Spengler Classicismo pode ser entendido, por isso,
(1880-1936), posteriomente, seguindo pela críti- não apenas como a reprodução dos padrões
ca Freudiana em O Mal Estar da Civilização, de que orientaram as atitudes dos antigos naqui-
1930. Não faltam hoje em dia, autores que de- lo que deles nos foi transmitido e ainda subsis-
fendem o papel central que a cultura (na forma te. Também seria entendido bem, sendo visto
de fenômenos religiosos e étnicos) tem tido nos como o cultivo de obras e criações que, a des-
rumos das sociedades contemporâneas. Esta peito de sua atualidade, podem sobreviver ao
importância pode ser avaliada a partir da po- tempo presente e se tornarem permanentes em
lêmica provocada por Samuel Huntigton com seu gênero, em sua classe.
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enciclopédia intercom de comunicação
Embora caracterizado por alguns como primeiros pensadores, como Georg Simmel e
uma filosofia, o Classicismo pode ser concei- Walter Benjamin. Paradoxalmente, verifica-se,
tuado, portanto, como uma atitude do homem porém, que o fugidio e o descartável, enquan-
ocidental, que se manifesta nos mais diversos to subprodutos da atitude moderna, acabam
campos da vida coletiva, das belas artes à ar- com o tempo caindo em parte, eles também, na
quitetura, dos costumes à política, do modo de esfera do clássico, tornando-se parte de nosso
vida à forma como se criam as instituições. acervo cultural. Que isso só tenda a se expan-
O Renascimento, referência obrigatória dir, conforme os recursos e meios técnicos o
para sua compreensão objetiva, costuma ser permitem, seria sinal, senão prova, portanto, de
visto como ponto de partida da modernidade, que talvez o moderno só não apenas não baste
o que em certo sentido de fato consistiu. Po- para sustentar uma época, embora a caracteri-
rém foi, sobretudo como movimento retrógra- ze e que, portanto, seria antes a atitude clássica
do, que o classicismo se instituiu, ao pretender a que, mediante uma reatualização permanen-
retornar às fontes mais antigas da civilização te, define o mundo histórico que chamamos de
europeia, para este definidoras de uma classe à Ocidente. (Francisco Rüdiger)
parte do legado cristão, firmado durante a Ida-
de Média. Dentre os valores transmitiu está o Referências:
cultivo dos clássicos e, portanto, uma valoriza- DEJEAN, Joan. Antigos e modernos. Rio de Ja-
ção do classicismo é algo do que nossas atitu- neiro: Civilização Brasileira, 2005.
des desde então jamais puderam se livrar. GUINSBURG, Jacó (Org.) O classicisimo. São
Ainda, no final do século XVIII eclodiu o Paulo: Perspectiva, 1999.
movimento ‘neoclássico’, em seguida ao barro- HELLER, Agnes. A theory of modernity. Ox-
co saudoso dos tempos medievais, bem como ford: Blackwell, 1999.
a série de criações influídas pela Roma antiga,
que inspirou desde a instalação das repúblicas
burguesas até a formatação estética do regime CLÁUSULA DE CONSCIÊNCIA
hitlerista, em plano século XX. Visto, nessa óti- Prevista no Capítulo IV (“Das relações pro-
ca, o classicismo se opõe menos à tradição do fissionais”), do Código de Ética dos Jornalistas
que à modernidade, ao culto do novo e passa- Brasileiros, a cláusula de consciência se apre-
geiro, conforme essa tensão se anuncia na polê- senta como o direito que o jornalista tem de se
mica literária e artística entre os defensores dos recusar a executar tarefas que incidam contra
antigos e os dos modernos que se verifica em os princípios do próprio Código ou que agri-
França, ainda no século XVII. dam suas convicções pessoais. É uma cláusula
Para o moderno, com efeito, o principal que atende, fundamentalmente, ao Artigo 5º do
valor não é mais o permanente, mas a fluidez Capítulo I (“Dos Direitos e Deveres Individuais
excitante, seja esta descartável ou não. Dentro e Coletivos”) presente no Título II (“Dos Direi-
dessa linha estética, a forma e o estilo, preza- tos e Garantias Fundamentais”) da Constituição
dos pelos clássicos importam pouco em com- da República Federativa do Brasil. Nesse arti-
paração com a excitação e a vivência imedia- go, está garantida a “inviolabilidade do direito
ta, conforme apontaram bem alguns de seus (...) à liberdade, à igualdade, (...) nos seguintes
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enciclopédia intercom de comunicação
termos: II- ninguém será obrigado a fazer ou ções e privações decorrentes de crença religiosa
deixar de fazer alguma coisa senão em virtude ou de convicção filosófica ou política.
da lei; (...) é inviolável a liberdade de consciên- Com isso, emergem as ideias de liberdade
cia e de crença (...); VIII- ninguém será priva- de pensamento e de liberdade de informação
do de direito por motivo de crença religiosa ou jornalística que, apesar de não poderem sofrer
de convicção filosófica ou política, salvo se as embaraços também não significam ausência to-
invocar para eximir-se de obrigação legal a to- tal de limites. Por não ser absoluto, o conceito
dos imposta e recusar-se a cumprir prestação de liberdade consiste na ausência de limitação
alternativa, fixada em lei”. A cláusula de consci- ilegítima e/ou amoral: apenas uma lei geral es-
ência não deve ser confundida com “divergên- tatal, concebida de forma representativa, pode
cia de opinião”, devendo ser evocada e acatada ser limitadora das liberdades. Assim, a limita-
apenas nos casos do cumprimento de tarefas ção da liberdade individual só pode ter valida-
que agridam costumes pessoais do profissional de se obtiver o consentimento daquele que é
de jornalismo e nunca como pretexto ou refú- restringido (reconhecimento da lei) e se hou-
gio para que ele censure informações em detri- ver a legitimidade do poder limitador (legiti-
mento da notícia e/ou do direito de declaração midade da lei). Isto, nos termos do Direito, leva
de outrem. à condição da cidadania, que é um dos elemen-
Por conter o termo “cláusula”, a expressão tos da consciência como “subjetividade ativa”
deve ser concebida como “disposição”, “ajus- (CHAUÍ, 2005). Ou seja: a cidadania é a cons-
te” ou “preceito” contidos em uma espécie de ciência do indivíduo em suas relações sociais
“contrato”; mas, seu entendimento vai além da de direitos e deveres definidos pela esfera pú-
constitucionalidade necessária às prescrições blica.
de uma atividade profissional de classe, uma Sendo a “subjetividade ativa” uma noção de
vez que sua essência se relaciona não só com o consciência como “capacidade de decisões li-
Direito como também com a Filosofia e a Psi- vres”, o entendimento sobre a cláusula de cons-
cologia – o que advém do termo “consciência”. ciência evoca, além da ideia de cidadania, as de
No que se refere ao Direito, o atrelamento “sujeito”, “eu” e “pessoa”.
da cláusula de consciência ao conteúdo dos dis- No âmbito da Filosofia, a consciência é, si-
positivos constitucionais brasileiros a relaciona multaneamente, um conhecimento das coisas,
ao conjunto de princípios comumente chama- de si e do próprio conhecimento. Ela é a com-
dos de “Direitos Humanos”, cujas origens po- preensão e a interpretação que se dão através
dem ser encontradas em documentos históri- da formulação de juízos, da atribuição de sig-
cos como a Declaração dos Direitos da Virgínia nificações e sentidos e que possui universali-
(1776), a Declaração dos Direitos do Homem e dade, já que é uma capacidade comum a todos
do Cidadão (1789), a Declaração Universal dos os homens. Por ser idêntica em todos os seres
Direitos Humanos (1948) e o Pacto de San Jose humanos, esta capacidade se relaciona à ideia
da Costa Rica (1969). Neles, o princípio de de igualdade exposta anteriormente e à estru-
igualdade se apresenta como um princípio de turação das esferas psíquica, moral e política
não discriminação, que se ancora na dignidade da vida humana. Permeado e constituído por
da pessoa humana e rejeita perseguições, coa- vivências, todo homem possui também uma
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de preços não tem condições de divulgar as in- mente ligada à quantidade de usuários; (b) ao
formações que correspondem à suas caracterís- contrário, nos clubes fechados (ou semifecha-
ticas qualitativas e a utilidade depende da ex- dos), as modalidades de acesso à informação
periência dos consumidores. A formação de são limitadas e sua qualidade depende das pos-
clubes e das comunidades on line visa a com- sibilidades de limitar o acesso ao clube. Os pro-
pensar as falhas do sistema de preços: são espa- gramas livres como Linux são representativos
ços não mercantis nos quais se forma a utilidade do primeiro caso, os programas proprietários e
social dos bens e serviços. Por outro lado, apa- o sistema de Direitos de Propriedade Intelectu-
recem assimetrias da informação importantes, al privado, do segundo. (Alain Herscovici)
em função dos níveis diferenciados de experi-
ência dos diferentes de consumidores. (2) As Referências:
modalidades de produção e de distribuição dos BESSON, Jean-François. L´échange sans mar-
bens são igualmente diferentes: não é possível ché. Paris: PUF, 1978.
igualar custo e receita marginal, nem praticar BOWLES, Samuel; Herbert GINTIS (2001). So-
uma exclusão pelos preços, o que não permite cial Capital and Community Governance.
implementar uma lógica privada de mercado. Disponível em <www.santafe.edu/sfi/pu-
As relações de produção e de consumo são blications/Working-Papers 03-04-027>.
fundadas sobre a interdependência entre os di- Acesso em 01/07/2004.
ferentes agentes. Vários estudos econômicos e HERSCOVICI, Alain. A economia digital: re-
sociológicos ressaltam o fato de que, neste caso, des peer to peer e novas formas mercantis.
o mercado não representa uma forma de go- In: VILARES, Fábio (Org.). Novas Mídias
vernança eficiente: formas híbridas (WILLIA- Digitais. Audiovisual, games e Música. São
MSON, 2002), community governance (BOW- Paulo: E-paper, 2008.
LES; GINTIS, 2001), por exemplo, constituem GROSSMAN, S. J. e J. E. STIGLITZ. Infor-
modalidades de governança socialmente mais mation and Competitive Price system. In:
eficientes. (3) As especificidades econômicas American Economic Review – Vol. 66, n. 2
dos bens são tais que, neste contexto, compor- – May 1976.
tamentos oportunistas podem se desenvolver WILLIAMSON, Oliver E. The Theory of the
(GROSSMAN; STIGLITZ, 1976): esses com- Firm as Governance Structure: Form Choice
portamentos consistem em se aproveitar de de- to Contract. In: Journal of Economic Pros-
terminados efeitos de redes sem fornecer uma pective – Vol. 16, Number 3 – Summer,
contribuição mínima. No caso da redes peer to 2002.
peer (HERSCOVICI, 2008), por exemplo, cer-
tos usuários podem baixar arquivos sem dispo-
nibilizar seus arquivos pessoais para o resto da CLUBES ESPORTIVOS
comunidade. O êxodo crescente da população rural para as
De fato, é possível distinguir dois tipos de cidades, como fruto da Revolução Industrial,
clube: (a) os clubes abertos se caracterizam pelo do final do século XVIII, dá origem à formação
fato da informação ser pública e da qualidade de grandes conglomerados urbanos e à criação
do serviço providenciado pelo clube ser direta- das metrópoles. Esse incrível fluxo migratório
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passa a buscar desesperadamente ocupação nia. Não é gratuito que inúmeros clubes de fu-
para uma mão de obra ainda despreparada para tebol da cidade do Rio de Janeiro (RJ) tenham
habitar o espaço urbano. Do mesmo modo, a o nome do próprio bairro em que surgiram
nova ordem social e os avanços tecnológicos (Flamengo, Botafogo, Bangu, Madureira, Ola-
começam a demandar do ser humano um novo ria, Bonsucesso, Andaraí, São Cristóvão, Cam-
comportamento do corpo, uma postura que po Grande). Além disso, tanto no Brasil como
passará cada vez mais a estar relacionada com na Europa, as principais cidades e regiões as-
seu desempenho físico. O final do século XIX sistiram à formação de pelo menos dois clubes
é o momento em que diversas autoridades co- fortes, quase sempre com uma distinção social
meçam a preocupar-se em incluir a Educação bem marcada: um de apelo popular, e outro de
Física como disciplina dos currículos escolares. apelo mais elitizante. (José Carlos Marques)
É ainda o momento da criação, na Europa e na
América do Sul, de inúmeros clubes desporti- Referências:
vos – associações em torno das quais um gru- ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. Deporte y
po de pessoas (ligado por laços afetivos, ideo- ocio en el proceso de la civilización. México:
lógicos, políticos, sociais, culturais etc.) passou Fondo de Cultura Económica, 1995.
a reunir-se para a prática esportiva, recreativa e MARQUES, José Carlos. O futebol em Nelson
de lazer. A nova estrutura social das metrópo- Rodrigues. São Paulo: Educ/Fapesp, 2000.
les apresentava uma gama enorme de cidadãos MURPHY, Patrick; WILLIAMS, John; DUN-
que não possuía raízes ou tradições intrínsecas NING, Eric. O futebol no banco dos réus.
relacionadas àquele lugar. Todos eram oriundos Oeiras: Celta Editora, 1994.
de “outra parte” e haviam deixado sua história e SEVCENKO, Nicolau. Futebol, metrópoles e
suas práticas culturais nas terras de origem. desatinos. In: Revista USP – Dossiê Fute-
Na busca de novos traços de pertencimen- bol. Trimestral, nº 22, jun-ago. São Paulo:
to e de coesão que substituíssem as relações co- Edusp, 1994.
munitárias de seus povoados, o novo cidadão
urbano procura novas formas de congregação
em torno dos clubes. Num primeiro momento, Coalizão Dominante
o fator identitário resume-se a pertencer ao clu- É o círculo de poder ou grupo decisório, geral-
be em que estão seus “iguais”. Com o desenvol- mente, formado por integrantes da alta admi-
vimento do esporte em torno de campeonatos e nistração que têm um grande poder e influên-
torneios (ver verbete competição), o fator identi- cia na organização. Esse grupo é responsável
tário transfere-se para o simpatizante (torcedor por elaborar as escolhas estratégicas, alocar os
ou adepto), que nem sempre pertence ao qua- recursos necessários, de influenciar os valores
dro associativo daquele clube. organizacionais e de dar forma as ideologias or-
O público das competições esportivas co- ganizacionais (Grunig, 1992). Os profissionais
mumente identifica-se com uma equipe especi- de relações públicas, frequentemente, encon-
fica, uma vez que ela pode representar sua terra tram-se no exterior do círculo de poder, não fa-
natal, seu bairro ou comunidade, sua religião, zendo parte das tomadas de decisão. Essa fal-
seu estrato social, seu partido político, sua et- ta de ‘empoderamento’ da profissão de relações
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públicas causa um prejuízo para a organização, Da mesma forma que Mintzberg (1983), Berger
para os stakeholders e, por fim para a sociedade descobriu que não existe uma única coalizão
porque a comunicação e as políticas que são a dominante na organização. Ao contrário, dife-
especialidade dos profissionais são ignoradas. rentes coalizões de gestores estratégicos desen-
Segundo os princípios da ‘Teoria da Ex- volvem-se no interior das organizações motiva-
celência’, o alto executivo de relações públicas das por diferentes problemas e decisões.
deve ser membro da coalizão dominante da or- Consequentemente, diferentes coalizões
ganização ou, reporta-se diretamente aos dire- são dominantes se formam em diferentes oca-
tores executivos que pertencem à coalizão do- siões. O autor mostrou que um típico executi-
minante. Para que a função de relações públicas vo de relações públicas participava dessas co-
tenha poder e participação relevante na gestão alizões quando sua atuação era relevante para
estratégica e possa influenciar nas decisões- uma decisão. Esta conclusão novamente reforça
chave da organização o executivo de relações a necessidade que os gestores de relações públi-
públicas precisa fazer parte da coalizão domi- cas têm de aprofundar suas competências para
nante. Executivos de relações públicas também analisar o ambiente, construir cenários e rela-
devem ter liberdade para tomar decisões a res- cionamentos com públicos estratégicos.
peito de problemas de relações públicas sem A coalizão dominante define a estrutura
necessitar de excessiva autorização dos demais e o sistema de comunicação, conforme sugere
dirigentes da organização (GRUNIG; FERRA- a “teoria de controle de poder”. Como resul-
RI; FRANÇA, 2009). tado, o contexto para a comunicação excelen-
O estudo de Excelência também demons- te é o resultado das escolhas feitas por aqueles
trou que executivos de relações públicas têm que detêm o poder na organização Grunig, J.
maior chance de ingressar na coalizão domi- E., Grunig, L. e Ferrari, M. A. (2009). (Maria
nante quando desenvolvem amplo conheci- Aparecida Ferrari)
mento da organização e também das relações
públicas como função estratégica. Finalmente, Referências:
o estudo demonstrou que executivos de rela- BERGER, B. K. Power over, power with, and
ções públicas adquirem poder quando a coali- power to public relations: Critical reflec-
zão dominante mais necessita de sua expertise. tions on public relations, the dominant co-
Essas habilidades são mais relevantes quando alition, and activism. In: Journal of Public
organizações são confrontadas com ameaças e Relations Research, 17, 5-28, 2005.
crises. Dessa forma, executivos de relações pú- GRUNIG, J. E. (Ed.). Excellence in public rela-
blicas devem usar técnicas como, a análise do tions and communication management. Hill-
ambiente e a construção de cenários para ante- sdale: Lawrence Erlbaum Associates, 1992.
cipar temas emergentes e, se possível o desen- GRUNIG, J. E., FERRARI M. A. e FRANÇA,
volvimento de crises. F. Relações Públicas: teoria, contexto e rela-
Num estudo a respeito do poder e da fun- cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão,
ção de relações públicas, Berger (2005) mos- 2009.
trou que os executivos de relações públicas po- MINTZBERG, H. Power in and around organiza-
dem se relacionar com a coalizão dominante. tions. Englewood Cliffs Prentice-Hall, 1983.
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enciclopédia intercom de comunicação
tica, o código possui uma dupla articulação, que a ação do código, na cultura, não se restringe
não o restringe apenas ao seu aspecto norma- aos processos de codificação e decodificação,
tivo, mas o reconhece como um sistema aber- mas implica também a recodificação, ou seja, “a
to, sujeito a transformações. Roman Jakobson passagem de um código a outro” (JAKOBSON,
(1971, p.39) foi quem elucidou os vários graus 1971, p.82), na qual a aparente impossibilidade
de liberdade a que estamos sujeitos quando de tradução, entre os diferentes níveis ou traços
concatenamos diferentes unidades linguísticas, distintivos, presentes em dois ou mais códigos
o que levanta a questão acerca da ingerência pode resultar não apenas numa subversão das
unilateral do código no processo construtivo posições ocupadas entre os diferentes níveis,
das mensagens, pois, na combinação de fone- mas, sobretudo, na edificação de um código
mas, a intervenção do sujeito é praticamente novo. (Regiane Miranda de Oliveira Nakagawa)
nula, ao passo que a utilização de frases para a
construção de enunciados encontra-se livre da Referências:
ação coercitiva do código. JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunica-
Ainda, segundo o autor, a “pluralidade” da ção. São Paulo, Cultrix, 1971.
linguagem a impede de ser codificada por um LÓTMAN, Iuri. La Semiosfera II. Semiótica de
conjunto único de leis não modificáveis ao lon- la Cultura, del Texto, de la Conducta y del
go do tempo, ao mesmo tempo em que enfatiza Espacio. Madrid: Ediciones Frónesis Cát-
que o código não se resume a uma norma úni- edra Universitat de València, 1998.
ca, mas subdivide-se em subcódigos, cujas re- NÖTH, Winfried. Handbook of semiotics. Bloo-
gras nem sempre estão claramente explicitadas. mington: Indiana University Press, 1990.
Semelhante é a perspectiva adotada pelos
semioticistas da cultura para apontar o exato
sentido do código. Longe de ser um organismo CODIFICAÇÃO
rígido, os códigos constituem sistemas flexíveis, O código é o sistema de sinais e de regras que
decorrentes da interação entre diferentes esfe- gera a mensagem. Esse sistema é finito, formado
ras culturais, pois “los códigos no se presentarán aleatoriamente e deve ser comum ao emissor e
aquí como sistemas rígidos, sino como jerarquías ao receptor. A interação simbólica constitui um
complejas, con la particularidad de que determi- processo de emissão e recepção de mensagens
nados niveles de los mismos deben ser comunes codificadas. Em comunicação, a “realidade” de
y formar conjuntos que se intersequen, pero en uma pessoa é representada para o eu e os ou-
otro niveles aumenta la gama de la intraducibi- tros com signos. Essa relação signo-significado
lidad, de las diversas convenciones con distinto se chama codificação. Trata-se do processo que
grado de convencionalidad” (LOTMAN, 1998, relaciona o signo com os seus referentes (LIT-
p. 14). TLEJOHN, 1982) e consiste na “encarnação” da
Entendido como uma hierarquia complexa, informação (GOMES, 2001). A informação co-
o código é composto por níveis rígidos e outros dificada deve, depois, ser decodificada para que
mais flexíveis, sendo estas posições passíveis se possa compreender a mensagem.
de serem alteradas em razão das trocas reali- Como exemplifica Gomes (2001), para a
zadas entre diferentes sistemas. Nesse sentido, comunicação entre computadores, pode bastar
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
Informações livremente produzidas e livremen- O´REILLY, Tim. What is web 2.0 – design pat-
te editadas demandam processos integrados de terns and business models for the next gen-
mediação social, que se diferenciam conforme a eration of software. Disponível em <http://
natureza da colaboração: administração, mode- oreilly.com/web2/archive/what-is-web-20.
ração, avaliação, contribuição, comentário etc. html>. Acesso: 15/09/2009.
As colaborações envolvem recursos tecnológi- PRIMO, Alex. Quão interativo é o hipertexto:
cos avançados e se constroem mediante pro- Da interface potencial à escrita coletiva. Re-
cessos variados de interação social, tais como vista Fronteiras: Estudos Midiáticos, São
auxílio mútuo, confiança competição, conflito, Leopoldo, v. 5, n. 2, p. 125-142, 2003.
prestígio etc.
Alguns autores apontam diferenças sutis
entre processos colaborativos e cooperativos de Colonialidades da comunicação
comunicação. Segundo Bair (1989) a perspec- Colonialidades da comunicação são as condi-
tiva colaborativa, que enfatiza aspectos indivi- ções de subalternidade geopolítica e geocul-
duais da comunicação, se aplica à comunica- tural a que são submetidas certas sociedades e
ção entre pessoas que comungam um mesmo certos grupos populacionais, por força de estra-
objetivo, enquanto a perspectiva cooperativa se tégias corporativas do grande capital e de dis-
refere à comunicação resultante do grupo, não positivos regulatórios de governos em relação
necessariamente vinculada aos aspectos indivi- ao modo de produção, distribuição, recepção e
duais das contribuições. Já Primo (2003) afir- consumo de bens simbólicos e imateriais. Até a
ma que colaboração refere-se à organização e primeira metade do século XX, o padrão domi-
ao gerenciamento conjunto de informações, nante dessas relações de dominação e subservi-
enquanto a cooperação depende do debate. ência era eurocêntrico, em simetria com a colo-
(Geane Alzamora) nialidade do saber (LANDER, 2005), exercida
por países da Europa Ocidental sobre a África e
Referências: a América Latina e Caribe, sobretudo.
BAIR, James. Supporting cooperative work Nesse contexto, a imprensa e as agências
with computers: addressing meetingma- de notícias inglesas e francesas exerceram
nia. COMPCON Spring apos: 89. Thirty- grande influência sobre os fluxos de informa-
Fourth IEE Computer Society International ção, as narrativas jornalísticas dos confrontos
Conference: Intellectual Leverage, Digest of de poder, e as construções discursivas sobre os
Papers. Volume, Issue, 27 Feb - 3 Mar 1989. mundos da vida. A partir dos anos 1950, com
P. 208-217. o advento da televisão e os avanços computa-
MALINI, Fábio. Modelos de colaboração nos cionais, os Estados Unidos vão progressiva-
meios sociais da internet: uma análise a mente assumindo a dianteira dos sistemas he-
partir dos portais de jornalismo participa- gemônicos de informação e comunicação, que
tivo. In: ANTOUN, Henrique (Org). Web se tornam parte intrínseca dos projetos estra-
2.0 – participação e vigilância na era da tégicos de dominação econômica e política
comunicação distribuída. Rio de Janeiro: em âmbito mundial (DREIFUSS, 1986; Wal-
Mauad X, 2008. lerstein, 1991).
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enciclopédia intercom de comunicação
produção de quadrinhos nos jornais deixou de Hoje em dia, a expressão comics costuma
ser exclusivamente humorística, passando tam- ser muito mais utilizada em referência às his-
bém a abarcar histórias de aventura, românti- tórias em quadrinhos norte-americanas do que
cas, de suspense ou de terror. às histórias em quadrinhos de uma maneira ge-
O aparecimento das revistas de histórias ral, bem como em contraposição a formas ou
em quadrinhos no ambiente editorial norte- estilos de quadrinhos desenvolvidos em outras
americano, durante a década de 1930, incorpo- partes do mundo, como o mangá japonês, o fu-
rou aos novos produtos a denominação a deno- metto italiano ou a bande dessinée francesa. Du-
minação, então, dada aos quadrinhos, passando rante a década de 1960 surgiu o termo comix,
esses a ser chamados de comic-books, nome aplicado aos quadrinhos norte-americanos al-
pelo qual são até hoje conhecidos. A partir daí, ternativos, produzidos fora do contexto da cul-
com o crescimento do mercado editorial, ela tura de massa. (Waldomiro Vergueiro e Roberto
continuou a ser largamente utilizada, ao mes- Elísio dos Santos)
mo tempo em que definia um modelo comer-
cial de produção de quadrinhos como meio de
comunicação de massa. COMPETIÇÃO (TORNEIOS, CAMPEONATOS)
Nesse modelo predominaram tradicional- Ao longo do século XIX, diversas modalidades
mente temáticas de aventura, principalmente esportivas que conhecemos, atualmente, (como
títulos envolvendo os super-heróis, e seguiu- o futebol, o turfe, o atletismo, o tênis, algumas
se um esquema de cadeia de produção, com formas de luta a luta corporal etc.) passaram a
as diversas tarefas necessárias à elaboração do ser estabelecidas em torno de regras de condu-
produto sendo executadas pelos diversos com- ta. A difusão de velhos esportes, a invenção de
ponentes do processo de produção, como rotei- novos e a institucionalização da maioria em es-
ristas, desenhistas, arte-finalistas, letristas, etc., cala nacional e internacional, conforme afirma
em geral coordenados por um editor. Hobsbawn (1984), permitem uma maior expo-
Devido a sua característica industrial, os sição do esporte, ao mesmo tempo em que di-
comics são exportados para todo o mundo fundem sua prática para camadas sociais dis-
a custos bastante baixos, dominando os mer- tintas da nobreza e aristocracia. A organização
cados de países menos desenvolvidos. Isto faz de competições por meio de regulamentos pró-
com que, muitas vezes, artistas locais tenham prios surge, portanto, para disciplinar e insti-
dificuldade para comercializar suas obras em tucionalizar as disputas em que uma equipe ou
quadrinhos, uma vez que não conseguem com- um atleta passa a competir agonisticamente e a
petir economicamente com a produção impor- disputar a vitória em oposição a seus adversá-
tada, que chega aos consumidores parcialmente rios. Simbolicamente, essas competições (cam-
paga em seus países de origem e, muitas vezes, peonatos, torneios, certames) passam também
contando com um esquema de marketing e di- a normatizar e a disciplinar o tempo, obede-
vulgação bastante eficiente, envolvendo mídias cendo a ciclos que se repetem periodicamente
impressas e audiovisuais, bem como produtos – quase sempre anualmente.
relacionados aos quadrinhos, como camisetas, Essas disputas procuram sedimentar ini-
brinquedos, material escolar, etc. cialmente os laços de união dos habitantes de
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enciclopédia intercom de comunicação
uma localidade – daí termos campeonatos me- In: Questões de sociologia. Rio de Janeiro:
tropolitanos, distritais, regionais, estaduais, etc. Marco Zero, 1983.
Num segundo momento, trata-se de potencia- ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. Deporte y
lizar o sentimento de aglutinação em torno do ocio en el proceso de la civilización. México:
Estado nacional, com a criação de campeonatos Fondo de Cultura Económica, 1995.
internacionais. Hobsbawn (1984) chama a aten- HOBSBAWN, Eric; RANGER, Terence (Orgs.).
ção para a “invenção das tradições” que gravi- A invenção das tradições. Rio de Janeiro:
taria em torno de algumas dessas competições Paz e Terra, 1984.
que evoluíram espontaneamente ou por meio
de mecanismos comerciais – casos do Tour de
France ou do Giro d’Italia (principais compe- COMPLEXIDADE
tições de ciclismo da Europa até hoje), ou das A ideia de “complexidade” aparece ligada ao
finais do campeonato inglês de futebol. Essas campo da comunicação, a partir dos estudos do
manifestações identitárias alcançariam sua ex- paradigma da informação, de Shannon e We-
pressão maior com as Olimpíadas de 1896, a aver, e da cibernética. Embora não seja corre-
primeira da era moderna desde os jogos olím- to atribuir a Edgar Morin a paternidade des-
picos gregos da Antiguidade. sa ideia, podemos apontá-lo como “o grande
Os campeonatos internacionais, desse artesão do pensamento complexo e da ideia
modo, serviriam no início para sublinhar a uni- de complexidade” (Almeida, 1997:30). Pauta-
dade das nações ou impérios. Trata-se do mes- das nas inter-relações entre várias disciplinas
mo entendimento de Dunning e Elias (1995), e saberes, as proposições de Morin buscam re-
para quem o esporte e as competições esporti- ligar conhecimentos sobre a matéria, a vida, o
vas proporcionam a unidades sociais comple- homem e a sociedade. Sua produção revela a
xas e impessoais (como as cidades e os Estados necessidade de fazer dialogar áreas e discipli-
nacionais) o direito de unir-se e de utilizar a nas fragmentadas e distanciadas pela atividade
força física em momentos de paz. No plano in- classificatória da ciência. Ao invés de transpor
ternacional, eventos como os Jogos Olímpicos automaticamente conceitos da física, da biolo-
ou a Copa do Mundo são as poucas ocasiões gia e da teoria da informação para construir a
em que os Estados nacionais têm para reuni- ideia de complexidade, Morin propõe um exer-
rem-se de modo regular e contínuo. Não é à toa cício epistemológico instigante: buscar pontos
que, por causa da Segunda Guerra Mundial, a de aproximação entre as complexas singulari-
Copa do Mundo não tenha sido realizada em dades que caracterizam os seres, as ciências e a
1942 e 1946, fato igualmente ocorrido com os sociedade. Não existe um domínio de comple-
Jogos Olímpicos, interrompidos em 1940 e xidade que coloque o pensamento e a reflexão
1944. A Primeira Guerra Mundial já havia can- de um lado e o domínio das coisas simples e da
celado igualmente os Jogos de 1916. (José Car- ação de outro.
los Marques) De acordo com Morin, não se pode enten-
der a complexidade sem compreender o para-
Referências: digma da simplificação. Este estabelece uma
BOURDIEU, P. Como é possível ser esportivo?. distinção entre o singular e o múltiplo, separan-
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enciclopédia intercom de comunicação
do-os (disjunção), ou unifica o que é diverso, dade: do casulo à borboleta. In: CASTRO,
reduzindo as singularidades a algo menos com- Gustavo de (Org.). Ensaio de complexidade.
plexo. Uma visão simplificada e linear é reduto- p. 25-45. Porto Alegre: Sulina, 1997.
ra e pode, em momentos de crise, ceder lugar MORIN, Edgar. Introduccion al pensamien-
à incertitude, ao imprevisto, ao antagônico. “A to complejo. Barcelona: Gedisa editorial,
complexidade não é uma receita para conhecer 2005.
o inesperado, mas nos torna prudentes e aten-
tos para a mecânica e a trivialidade aparentes
dos determinismos” (MORIN, 2005, p.117). COMPREENSÃO
A complexidade seria, então, uma forma O sentido original, latino, de “compreender” –
de contestar as explicações unilaterais e totali- comprehendere – pode ser facilmente observa-
zadoras, propondo a união, a religação, o “tecer do, em português, quando se afirma, por exem-
juntos” (sentido original, latino, de complexus) plo, que a região Sudeste compreende os estados
entre os processos de simplificação (seleção, do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais
hierarquização, separação, redução etc.) e pro- e São Paulo. Significa abranger, conter em si, in-
cessos que implicam a articulação entre o mes- tegrar. Um pensamento de tipo compreensivo,
mo e o diferente (ALMEIDA, 1997). dito de forma simples, é um pensamento que
Morin (2005) aponta três princípios para une, junta, abraça. Um pensamento que afaga,
pensar a complexidade: o dialógico, que associa que não exclui, não desqualifica nem desclas-
dois termos, ao mesmo tempo, antagônicos e sifica o pensamento diferente. Está mais cen-
complementares (morte e vida, ordem e desor- trado na ideia de compreender que de explicar.
dem, estável e instável etc.); o da recursividade, Sem renunciar à análise, esforça-se para alcan-
que caracteriza um processo circular no qual çar a síntese, entendida esta como resultante do
produtos e efeitos são, ao mesmo tempo, causas debate de ideias e de teorias, do diálogo entre
e produtores daquilo que os produz (por exem- diferentes interlocutores.
plo, podemos dizer que “os indivíduos produ- Considerada por Morin um dos “sete sa-
zem a sociedade que, por sua vez produz os beres necessários à educação do futuro”, a com-
indivíduos”); e o hologramático, que deriva do preensão, como deixa claro esse autor, pode
fato de que, em um holograma, qualquer ponto ser considerada em sua dimensão intelectual,
da imagem contém a quase totalidade de infor- ou objetiva, como também em seu significado
mações sobre o objeto representado. Assim, a humano, intersubjetivo. As duas dimensões,
parte está no todo e vice versa. embora diferentes, não excluem uma à outra
O pensamento complexo não deixa de lado (é possível, nesse sentido, entender a própria
a ordem, o determinismo e as particularidades, compreensão intelectual, de modo compreensi-
mas aponta-os como insuficientes para o co- vo, como abraçar, dialogar, juntar o texto e seu
nhecimento do mundo, da natureza, dos outros contexto, as partes e o todo, o uno e o múlti-
e de nós mesmos. (Ângela Marques) plo), mas a compreensão humana vai além da
análise, da explicação, da inteligibilidade, uma
Referências: vez que possui como característica básica a co-
ALMEIDA, Maria da Conceição de. Complexi- locação de sujeitos em interação.
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
mada comunicação de massa. Teorias mais re- de. Neste sentido, considera-se a comunicação
centes indicam que os processos comunicacio- face a face (um x um); a comunicação grupal
nais mais eficientes são aqueles que atendem às (um x vários) e a comunicação de massa (vá-
expectativas do receptor, uma vez que as men- rios x vários), que se dá especialmente atra-
sagens devem suprir determinadas necessida- vés de processos industrializados de produção
des dos mesmos (teoria dos usos e das gratifi- e veiculação, levando a uma recepção enorme
cações). e a grandes distâncias (ERBOLATTO, 1985, p.
Desse modo, o sentido final de uma men- 90). A comunicação é, acima de tudo, uma es-
sagem é dado, na verdade, pelo receptor (DE- pécie de negociação de sentidos, conforme as
FLEUR; BALL-ROKEACH, 1993, p. 206-207). teorias contemporâneas da análise de conteúdo
Considera-se inexistir qualquer sociedade hu- (O’SULLIVAN et ALLII, 2001, p.52 e 53). A co-
mana sem processos de comunicação. Já Aris- municação é, neste sentido, um processo emi-
tóteles afirmava, em sua Política, que o homem nentemente simbólico. (Antonio Hohlfeldt)
era um animal racional e gregário. O gregaris-
mo exige a convivência. Porém, a convivência Referências:
gera a disparidade de percepções ou avaliações BALLE, Francis (Org.). Dictionnaire des mé-
sobre a realidade externa, de onde surgiria a dias. Paris: Larousse, 1998.
impossibilidade do convívio, não fora a possibi- DEFLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, Sandra.
lidade de busca dos consensos, justamente atra- Teorias da comunicação de massa. Rio de
vés dos processos comunicacionais. Neste sen- Janeiro: Zahar, 1993.
tido, a comunicação é a partilha de uma mesma ERBOLATTO, Mário. Dicionário de propagan-
experiência (RODRIGUES, 2000, p. 29), o que da e jornalismo. São Paulo, Papirus,1985.
possibilita a vida em comunidade. A comuni- MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí-
cação verbal é, por excelência, a comunicação dia. São Paulo: Arte & Ciência. 2003.
humana. O’SULLIVAN, Tim et al. Conceitos-chave em
Mas, os homens também se comunicam Estudos de comunicação e cultura. Piracica-
por gestos e outras muitas e variadas maneiras. ba: UNIMEP, 2001.
Num sentido mais estrito, a comunicação é a RODRIGUES, Adriano Duarte. Dicionário bre-
transmissão de qualquer estímulo de um ponto ve da informação e da comunicação. Lisboa:
a outro (MELLO, 2003, p. 56). Na origem, o ter- Presença, 2000.
mo significa tornar comum determinada reali- SOUSA, Jorge Pedro. Elementos da teoria e pes-
dade entre duas ou mais pessoas. Neste sentido, quisa da comunicação e dos media. Porto:
a comunicação é uma informação sempre atu- Universidade Fernando Pessoa, 2006.
alizada. Além da comunicação pessoal, costu-
ma-se referir uma comunicação individual, que
o sujeito desenvolve com o seu entorno, maté- Comunicação (Busca de sentido da)
ria de estudo da psicologia. O surgimento dos meios de comunicação de
A comunicação social, contudo, preocupa- massa e, mais recentemente, a amplitude alcan-
se apenas com aqueles processos comunica- çada pelos artefatos tecnológicos, intensificou
cionais que se dão exteriormente, em socieda- as buscas pelo sentido do que é e no que con-
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enciclopédia intercom de comunicação
siste a comunicação. Para alguns autores, dentre ção” ganha contornos específicos a partir da
eles, Juan Días Bordenave (1982), a busca desse configuração histórica e social de uma época
sentido começou, na década de 1970, quando que produz meios e modos de comunicar espe-
ganhou importância a questão de o homem ser, cíficos de seu tempo. Movimentando-se com e
ao mesmo tempo, produtor e resultado da so- através do tempo em que é estudado, o termo
ciedade onde habita e de sua cultura. Levou-se “comunicação” reconfigura-se incessantemen-
em conta, para a tomada dessa consciência, o te, aparecendo por vezes com uma interface di-
fato desse homem estar em um ambiente físico ferenciada, caso da sociedade atual e em rede e
e, sobretudo, social. Ou seja, é na sua existência das comunicações mediadas por computadores
no ambiente social que este homem mantém sem, contudo, perder totalmente sua premissa
relações e, para que isso aconteça, torna-se im- inicial, estudada em movimentações teóricas
prescindível manter relações de comunicação. anteriores. A palavra “Comunicação” tem sua
É a comunicação que propicia a este homem, correspondência e origem no latim communi-
imerso em seu ambiente social, a interação psí- care, que significa “tornar comum”, “partilhar”,
quica e social. A comunicação é o meio, através “repartir”, “associar”, trocar opiniões. Comu-
do qual, os padrões de vida, os costumes, a cul- nicar, transformar em ato a comunicação, im-
tura, os desejos, as persuasões, os embates, den- plica na participação (communicatio), defini-
tre muitos outros aspectos, são transmitidos. ção que contempla, como poucas, a união do
Dessa modo, a comunicação enreda-se conceito tradicional com a avanço da sociedade
com a própria vida e a vida, até em seu caráter em rede, a sociedade da “cultura participativa”.
biológico, enreda-se com a comunicação. No (Vanessa Maia)
que tange aos meios industriais, a comunicação
é entendida a partir de mensagens difundidas Referências:
em larga escala, com parâmetros industriais. BORDENAVE, Juan E. Días. O que é Comuni-
Programas jornalísticos, mensagens publicitá- cação. São Paulo: Brasiliense, 1982.
rias, anúncios de outdoors, manchetes de revis- MACHADO, José Pedro. Dicionário Etimoló-
tas, produtos audiovisuais, sites na internet, só gico da Língua Portuguesa. Lisboa: Livros
para citar alguns exemplos, são constituídos a Horizonte, 1977.
partir de escalas de trabalho, com produção se- MATTELART, Armand. A Invenção da Comu-
rializada e escala de difusão programada. A es- nicação. Lisboa: Instituto Piaget, Epistemo-
cala industrial também enreda-se na vida con- logia e Sociedade, 1996.
temporânea sendo, praticamente impossível,
pensar a vida nas cidades e/ou no campo sem a
influência dessas mensagens. COMUNICAÇÃO ADMINISTRATIVA
Há ainda, segundo Matellart (1996), a ca- Comunicação administrativa é um conceito que
racterística “explosão semântica” do termo. só pode ser abordado como fenômeno da co-
Essa polissemia sempre nos remete à ideia de municação organizacional. As organizações
partilha; de comunidade, de contiguidade, não se constituem sem a comunicação e a sua
de continuidade, de encarnação e de exibição existência remete necessariamente à adminis-
(1996, p. 9). Sendo assim, o termo “comunica- tração, disciplina encarregada de planejar, or-
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enciclopédia intercom de comunicação
ganizar, dirigir, coordenar e controlar tudo o do, influenciando e sendo influenciadas pelo
que diz respeito às atividades organizacionais. ambiente mais amplo, é necessário ampliar a
Nesse sentido, comunicação administrativa é visão interna da comunicação administrativa e
uma vertente da comunicação organizacional entendê-la também em sua dimensão externa,
intrinsecamente ligada ao âmbito do planeja- visto que as atividades administrativas ocor-
mento e da gestão das atividades cotidianas da rem dentro e fora da organização, viabilizando
organização que a impulsionam para a conse- o todo complexo das organizações contempo-
cução de seus objetivos. râneas.
A comunicação administrativa foi analisa- A comunicação administrativa, portanto, é
da como objeto de estudo, prismada sob a égi- afeita aos relacionamentos tanto internos quan-
de dos paradigmas mecanicistas, behavioristas to externos (YANAZE, 2007), o que lhe confere
e funcionalistas, que a entendiam como instru- caráter estratégico multilateral e pluri-instan-
mento ou processo da administração das orga- cial; favorecedor de mediações capazes de for-
nizações, mais afeito aos cargos e funções admi- mar atitudes positivas à gestão, auxiliando na
nistrativas que às pessoas. Os estudos de Thayer construção de parcerias e de condições favorá-
(1972) enfocando as posições estruturais, com- veis às atividades e projetos da organização.
portamento, comunicação e os níveis intrapes- “A comunicação administrativa é importan-
soal, interpessoal, organizacional e tecnológico, te fonte de produção simbólica, de energia cria-
aliados às concepções de Redfield (1980) acerca dora de significados comuns, compartilhados”
dos fluxos descendente, ascendente e horizon- (FREIRE, 2009, p. 191), dinamizando processos
tal, combinados às modalidades de comunica- de adaptação, de transformação e de inovação,
ção (não-verbal, verbal, escrita, funcional, for- garantindo o sucesso de qualquer empreendi-
mal e informal) influenciaram muitos teóricos mento organizacional. (Otávio Freire)
e pesquisadores que, ao aportar esse conheci-
mento em seus trabalhos, ampliaram seu uso Referências:
à comunicação organizacional como um todo, FREIRE, Otávio. Comunicação, Cultura e Or-
diluindo e dificultando a apreensão da vertente ganização: um olhar antropológico sobre
administrativa da comunicação. os modos de comunicação administrativa
Na esteira do desenvolvimento dos estudos na perspectiva da comunicação integrada.
de comunicação organizacional, a modalida- Tese de Doutorado, Escola de Comunica-
de integrada ganha destaque. Kunsch (2003) ções e Artes, ECA/USP, 2009.
fundamenta-se na teoria sistêmica e difunde a KUNSCH, Margarida M. K. Planejamento de
comunicação integrada como o conjunto das Relações Públicas na Comunicação Integra-
vertentes institucional, mercadológica e interna da. 4. ed. Revista, ampliada e atualizada.
– esta última contendo a administrativa, ver- São Paulo: Summus, 2003.
tente comunicativa promotora de interações, REDFIELD, Charles E. Comunicações Adminis-
articulando proativamente as partes e o todo. trativas. Trad. Sylla Magalhães Chaves. 4.
Partindo do entendimento das organiza- ed. Rio de Janeiro: FGV, 1980.
ções como sistemas abertos e consequentemen- THAYER, Lee Osborne. Princípios de Comu-
te possuidoras de fronteiras porosas, interagin- nicação na Administração: Comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
sário, numa perspectiva transdisciplinar, a ação senvolvimento Sustentável. São Paulo: All
conjunta de educadores de diferentes áreas do Print Editora/ABJC/Fapemig, 2009.
conhecimento e de comunicadores, profissio- CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Capítulo VI –
nais ou não, para democratizar efetivamente a Do Meio Ambiente. Brasília: Palácio do
informação ambiental”. Planalto, 1988.
Além dessas necessárias reflexões na co-
municação ambiental, é preciso, também, levar
em consideração o direito ambiental previsto COMUNICAÇÃO ASCENDENTE
na legislação da área. Conhecer bem a legisla- Os mecanismos de comunicação numa orga-
ção ambiental brasileira, considerada uma das nização podem se movimentar, inclusive si-
mais avançadas do mundo, é fundamental para multaneamente, em três fluxos e duas direções
a formação de uma cultura sobre o meio am- diferentes. Dentro dos chamados fluxos de co-
biente. Embora a Lei Lei nº 6.938, de 31 de agos- municação, encontram-se o fluxo descendente,
to de 1981, conhecida como Política Nacional ascendente e lateral de comunicação que bus-
do Meio Ambiente, seja considerada o início de cam definir o ponto de partida e o ponto de
uma mudança importante na área, foi somente, chegada da mensagem, além de delimitar cla-
a partir da Constituição de 1988, com o capítu- ramente o emissor e o receptor envolvidos no
lo VI – Do Meio Ambiente, que a preservação processo. Já as direções podem ser verticais ou
e recuperação das espécies e dos ecossistemas horizontais.
tiveram o apoio constitucional. A comunicação ascendente é aquela que
Hoje, o Sistema Nacional do Meio Am- parte da base da empresa em direção ao topo,
biente conta com vários órgãos para a proteção ou seja, aos cargos estratégicos de diretoria e
ambiental, embora a fiscalização seja ainda o presidência. Este fluxo de comunicação é res-
calcanhar de aquiles para a sua real efetivação. ponsável por encaminhar informações opera-
Questões desta natureza permeiam as políticas cionais e resultados obtidos, como também por
públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação e encaminhar aos níveis superiores os anseios,
precisam ser consideradas no processo de co- expectativas e níveis de satisfação dos seus su-
municação ambiental. (Graça Caldas) bordinados.
Geralmente pouco estimulada pelas em-
Referências: presas, os dois modelos clássicos de comuni-
BERNA, Vilmar. A consciência ecológica na Ad- cação ascendente são a “caixa de sugestões” e
ministração. São Paulo: Edições Paulinas, a política de “portas abertas” que buscam esti-
2005. mular e incentivar os subordinados a expressar
BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, Jor- suas opiniões e propor melhorias.
nalismo e Meio Ambiente: teoria e prática. Para Torquato (1986, p.34), essa políti-
São Paulo: Mojoara Editorial, 2007. ca traz poucos resultados efetivos, na medida
CALDAS, Graça. Mídia, Meio Ambiente e Mo- em que a participação dos trabalhadores aca-
bilização Social. (p. 49-69). In: CALDAS, ba sendo muito pequena e que poucos estariam
Graça, BORTOLIERO, Simone e VICTOR, dispostos a criticar ou sugerir melhorias na me-
Cilene (Orgs). Jornalismo Científico e De- dida em que muitos aprenderam ser mais con-
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enciclopédia intercom de comunicação
veniente e importante dizer ao superior apenas tentam mostrar que sempre têm razão frente
aquilo que ele pretende ouvir. distintas situações. Para isso desenvolvem men-
Entretanto, cada vez mais as empresas pas- sagens persuasivas e altamente retóricas que in-
saram a identificar nesta comunicação a possi- duzem os públicos a comportarem-se como a
bilidade de ampliar a participação e o compro- organização espera.
metimento dos funcionários, tanto em relação Outras vezes, a ‘comunicação assimétrica’
à empresa quanto em relação aos seus próprios ocorre porque a alta direção não conhece a real
afazeres, além da existência já identificada de importância da comunicação como um proces-
exemplos positivos de melhorias e inovações so permanente e duradouro, que ajuda as or-
propostas pelos próprios funcionários que ganizações a terem uma melhor visibilidade
trouxeram ganhos efetivos como aumento de na sociedade e, portanto, utilizam-na de forma
comprometimento e de autoestima, chegando unilateral, só defendendo a posição da empresa,
até a criação de diferenciais competitivos. (Ju- sem levar em consideração as expectativas dos
liana Sabbatini) demais públicos com os quais se relacionam.
Portanto, “a comunicação assimétrica aparece
Referências: com o propósito de beneficiar a organização e
TORQUATO, Francisco G. Comunicação em- de enfrentar as possíveis pressões do ambien-
presarial, comunicação institucional: con- te externo” (GRUNIG; FERRARI; FRANÇA,
ceitos, estratégias, sistemas, estruturas, 2009, p. 189).
planejamento e técnicas. 5. ed., São Paulo: Outro destaque é a relação entre a baixa
Summus Editorial, 1986. vulnerabilidade de uma organização e o uso da
comunicação assimétrica. Ferrari (2009) des-
cobriu que as empresas menos expostas à vul-
Comunicação Assimétrica nerabilidade, tem um sistema mais controlado
A comunicação assimétrica é um processo de- de sua exposição pública e, portanto se comu-
sequilibrado de intercâmbio de informações, nicam de maneira desequilibrada, valorizando
no qual o emissor envia mensagens, utilizando suas práticas e prestando menos atenção nas
a persuasão, na busca de obter o apoio do re- opiniões de seus públicos.
ceptor, transformando a relação numa espécie Assim, sua relação com os públicos está
de monólogo. Dessa forma é considerada co- mais para um monólogo e menos para um diá-
municação assimétrica quando a informação logo que promova o consenso e o equilíbrio de
enviada está planejada para que seja aceita pelo interesses. Em outras situações, a comunicação
receptor e desta forma, não produz resultados assimétrica acontece na medida em que é es-
equilibrados para ambos os participantes, pois treitamente influenciada pela a estrutura e cul-
um dos lados sempre estará em desvantagem tura organizacional, bem como por seu sistema
em termos de satisfação de suas necessidades. de comunicação Grunig, J. E., Grunig, L. e Fer-
Segundo Ferrari (2000), as organizações rari, M. A. (2009). (Maria Aparecida Ferrari)
latino-americanas utilizam com mais frequên-
cia a comunicação assimétrica para relaciona- Referências:
rem-se com os seus públicos estratégicos, pois GRUNIG, J. E., FERRARI M. A. e FRANÇA,
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enciclopédia intercom de comunicação
F. Relações Públicas: teoria, contexto e re- os escritores puderam adotar de maneira siste-
lacionamentos. São Caetano do Sul: Difu- mática a retórica do jornalismo. Nem todos os
são, 2009. escritores e/ou jornalistas aprovaram às medi-
GRUNIG, J. E., GRUNIG, L. e FERRARI, M. A. das. O crítico mais cruel e criativo foi Nelson
Perspectivas do Excellence Study para a co- Rodrigues, que batizou os adeptos da nova for-
municação nas organizações. In: KUNSCH, ma de escrita de “idiotas da objetividade”.
M. (Org.). Campos Acadêmicos e Aplica- Os estudos de Roman Jackobson, sobre as
dos de Múltiplas perspectivas. São Caetano funções da linguagem, ofereceram durante dé-
do Sul: Difusão, 2009. cadas bases para elaboração de muitos estudos
sobre os meios de comunicação e sobre as ar-
tes. Em suas pesquisas, no jornalismo, a lingua-
Comunicação, Arte e Literatura gem é referencial por se tratar de informação;
A comunicação se orienta no sentido de englo- enquanto na publicidade, a fala direta com o
bar discursos multiplidisciplinares e transver- receptor da mensagem e a intenção de conven-
sais, por isso, procedimentos narrativos oriun- cer se configuram como linguagem imperativa.
dos das artes e da literatura são encontrados Já nas artes visuais e na literatura, a linguagem
com fartura nos veículos de comunicação e no é conhecida como poética e estética.
processo de informar. Como as fronteiras não Esse quadro ajuda como ponto de parti-
são nítidas, surge uma série de estudos que ten- da, mas é limitado diante da aproximação do
ta oferecer contornos para as áreas, principal- jornalismo com a publicidade, das artes visuais
mente para a comunicação, pois, no que tan- com o telejornalismo, do jornalismo impresso
ge à publicidade e ao jornalismo, está ligada ao com as artes gráficas, da arte do vídeo e do ci-
ritmo industrial e à lógica de mercado, de ma- nema com a televisão, do vídeo com o cinema e
neira mais explícita, utilizando-se da inspiração a internet, além de outras linguagens híbridas.
e da expressão quando seus objetivos são mais Os que apontam o hibridismo presente nesse
calculáveis. meios, como Juremir Machado da Silva, ressal-
A crise dos anos de 1960 originou na im- tam que o centro da discussão entre “a poética
prensa a elaboração de um código de escrita e das artes” e “a precisão da comunicação”, está
de uma forma de pensamento (new journalism), no fato de que “falar nem sempre quer dizer al-
que separaram o jornalismo da literatura. Para guma coisa e dizer nem sempre exige uma fala”.
alguns teóricos, a ruptura destacou a informa- Com as inovações tecnológicas, vários ar-
ção da opinião e ajudou a categorizar gêneros tistas propõem que a arte é acima de tudo co-
como a crônica, a entrevista e a reportagem. municação. A reivindicação é decorrente da
Escritores, anteriores a ruptura, tais como Tols- constatação de que tudo digitalizável é infor-
toi, Dickens, Euclides da Cunha e Machado de mação, dados transmissíveis em potencial. Ou-
Assis, entre muitos outros, já se utilizavam das tra justificativa é que as formas de arte baseadas
técnicas narrativas jornalísticas, aparentemen- na manualidade (desenho, pintura e escultura),
te objetivas, para a construção de seus escritos. que geravam mercadoria, perdem espaço para
Mas foi a partir de regras mais claras, princi- realizações sem suportes, feitas com circuito de
palmente as relativas à construção do texto, que televisão, redes telemáticas, aparelhos online,
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enciclopédia intercom de comunicação
resultando em trabalho associativo de pessoas no, Horkeimer, Hannah Arendt, só para citar
que estão sendo conhecidas como “artistas da alguns autores, e ainda assim é hoje com os es-
comunicação”. (João Barreto da Fonseca) tudos de Lévi-Strauss, Hannah Arendt, Bour-
dieu, Michel de Certeau, Stuart Hall, Foucault,
Referências: Bauman, Clifford Geertz, Maffesoli, Hardt,
DA SILVA, Juremir Machado. O que escrever Negri, Deleuze, Guattari, Derrida, dentre ou-
quer calar – Jornalismo e literatura. In: DE tros, que compõem o leque de pensadores con-
CASTO, Gustavo; GALENO, Alex (Orgs.). vocados para pensar as questões interseccionais
Jornalismo e Literatura – A sedução da pa- da comunicação. Ou seja, é praticamente im-
lavra. São Paulo: Escrituras, 2002. possível pensar em estudos sobre comunicação,
DOMINGUES, Diana. Introdução – A humani- abrindo mão do quadro de referência teórica
zação das tecnologias das artes. In: das Ciências Humanas e da Filosofia.
. (Org). A Arte no Século XXI – A Huma- Seja com seus estudos sobre a sociedade, a
nização das Tecnologias. São Paulo: Unesp, recepção de mensagens, as audiências, o com-
1997. portamento do consumidor, a história da mí-
MEDEL, Manuel Angel Vasquez. Discurso lite- dia, a decisão do voto, a manipulação das mas-
rário e discurso jornalístico: convergências sas, a compreensão sobre a constituição das
e divergências. In: DE CASTO, Gustavo; identidades; seja com investigações sobre os
GALENO, Alex (Orgs.). Jornalismo e Lite- modos de constituição dos sujeitos, as relações
ratura – A sedução da palavra. São Paulo: de poder, o autoritarismo, a ordem dos discur-
Escrituras, 2002. sos, a retórica e os modos de conhecer, propor-
cionada pela filosofia, o fato é que a intersecção
dessas disciplinas e ou áreas do conhecimento é
Comunicação, Ciências Humanas e constituinte e constitutiva dos estudos comuni-
Filosofia cacionais. O campo da comunicação se faz, en-
Desde a inauguração de seus primeiros estu- tão, a partir do compartilhamento de sentidos e
dos, até os dias atuais, a Comunicação sempre de lógicas que nem sempre lhes são endógenos.
contou com a contribuição das Ciências Huma- O que marca as pesquisas em comunica-
nas e da Filosofia para o entendimento de suas ção, portanto, é o olhar, sob a ótica e a lógica
questões e objetos de pesquisa. Sendo assim, dessa disciplina, uma vez que seus objetos de
para além do papel de disciplinas auxiliares, ra- estudo (a audiência das mídias, a influência do
mos das Ciências Humanas como a Antropolo- audiovisual, a premissa do voto, a decisão de
gia, a Ciência Política, a Educação, a Filosofia, a compra, etc.) também podem ser investigados
História, a Psicologia e a Sociologia, -normal- à luz das Ciências Humanas, em suas especifi-
mente ocuparam lugar de destaque na formula- cidades, e ou da Filosofia.
ção do campo de conhecimento comunicacio- A intersecção dessas áreas fez com que boa
nal. Foi assim nos primórdios das teorias que parte daquilo que conhecemos sobre comuni-
servem de base para os estudos da comunica- cação tenha se originado dos conhecimentos,
ção, com as pesquisas de Lasswell, Katz, Orte- os quais adquirimos, a partir dos estudos das
ga y Gasset, Lazarsfeld, Wright, Merton, Ador- ciências humanas – psicologia, antropologia,
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enciclopédia intercom de comunicação
dentre outras – e da filosofia, pois, foram essas comunicacionais, além de privilegiar a proprie-
ciências que primeiramente estudaram assun- dade e a gestão coletivas. Caracteriza-se, pois,
tos que envolviam a comunicação. por uma comunicação de proximidade, seja de
Sendo assim, quando estudamos algum matriz geográfica local ou por vínculos identi-
fenômeno comunicacional, os conhecimentos tários de matriz cultural, histórica, linguística,
produzidos por estas áreas são convocados, ci- física ou de ação política. A comunicação, nesse
tados e atualizados a partir do recorte que em- gênero, engloba os meios tecnológicos e outras
preendemos para a análise e o entendimento de modalidades de canais de expressão sob con-
nossos objetos de pesquisas. (Vanessa Maia) trole de organizações comunitárias e de movi-
mentos sociais.
Referências: Trata-se de um conceito controverso por-
FRANÇA, Vera. O Objeto da Comunicação/A que no nível do senso comum o termo comu-
Comunicação Como Objeto. In: HOHLFE- nitário vem sendo empregado para identificar
DT, Antônio, MARTINO, Luiz C., FRAN- diferentes processos comunicacionais, desde
ÇA, Vera Veiga (Orgs). Teorias da Comu- formas de comunicação do povo (aquelas que
nicação. Conceitos, Escolas e Tendências. têm segmentos da população como protago-
Petrópolis: Vozes, 2001. nistas) até experiências (seções ou programas
OUTHWAITE, William; BOTTMORE, Tom. desencadeados) no âmbito da mídia comercial
Dicionário do Pensamento Social do Século de grande porte, ou mesmo meios de comuni-
XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, cação local (por exemplo, o rádio, o jornal e a
1996. televisão) que reproduzem os mecanismos es-
WOLF, Mauro. Teorias das Comunicações de truturais dos meios convencionais de comuni-
Massa. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, cação. Não se trata de que um meio local não
2005. possa ser comunitário, mas não basta ser local
para ser comunitário.
Desse modo, sem desconsiderar a impor-
Comunicação comunitária tância e a validade de meios “comunitários”,
A comunicação comunitária se caracteriza por melhor dizendo, dos meios locais de comunica-
processos comunicativos constituídos no nível ção, que prezam os conteúdos aderentes às lo-
de comunidades organizadas dos mais diferen- calidades e que prestam outros serviços de inte-
tes tipos, sejam as de base territorial ou virtual, resse social, há distinções a serem preservadas.
as formadas a partir de laços identitários étni- As especificidades de cada caso indicam que há
cos ou políticos, por compartilhamento de cir- diferenças e as interseções, o que deixa claro
cunstancias de vida em comum etc. É baseada que classificações simplistas tendem a não dar
em princípios de ordem pública, tais como por conta da realidade. Determinados princípios e
difundir conteúdos com a finalidades educati- os elementos intrínsecos dos conceitos de co-
vas, culturais e a ampliação da cidadania, não munidade constituem parte dos fundamentos
ter fins lucrativos, propiciar a participação ativa da concepção de comunicação comunitária.
da população, pertencer comunidade e a ela se Ou seja, não basta um programa de televisão
dirigir, expressar seus interesses e necessidades ou um meio de comunicação se autodenomi-
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enciclopédia intercom de comunicação
nar comunitário, assim como não basta estar de pesquisa. Entre eles estão: a própria autora
situado numa pequena localidade e saber falar deste texto, Fernando Reyes Matta, Mário Ka-
a língua do “povo” ou “das coisas do povo” para plún, Rafael Roncagliolo, Felipe Espinosa, Jorge
caracterizar-se como comunitário, pelo menos Merino Utreras, Rosa Maria Alfaro, Eduardo
não, no sentido profundo da palavra. Contreras, Alfonso Gumucio Dragon, Fernan-
As especificidades do comunitário se com- do Ossandron, Aldfredo Paiva, Máximo Simp-
plementam com mais um sentido, o da forma- son Grinberg, Josiane Jovet, Carlos Monsivais,
ção que um meio de comunicação comunitário Gilberto Gimenez, Miguel Azcueta, Luis Ra-
tem o potencial de propiciar. Por intermédio miro Beltrán, Juan Diaz Bordenave, Ana Maria
da participação ativa dos cidadãos em todos os Nethol, Maria Cristina Mata, Diego Portales,
processos do fazer comunicativo - organização, Daniel Prieto, Hector Schumcler, José Ignácio
captação da informação, sistematização e difu- Vigil, José Martinez Terrerro, Esmeralda Ville-
são - também contribui para o desenvolvimen- gas Uribe, Regina Dalva Festa, Luiz Fernando
to intelectual e não apenas os conteúdos que Santoro, Marco Morel, Pedro Gilberto Gomes,
são recebidos. Em outras palavras, não são só Joana Puntel, Denise Cogo, Luzia Deliberador
os conteúdos transmitidos que ajudam no de- e muitos outros.
senvolvimento social, mas todo o envolvimen- Em síntese, a comunicação comunitá-
to participativo no planejamento, na produção, ria, popular e alternativa se caracteriza como
difusão de mensagens e na gestão. expressão das lutas populares por melhores
Portanto, o que define a comunicação co- condições de vida que ocorrem a partir dos
munitária não são apenas características como movimentos populares e organizações civis co-
a propriedade, o tipo de gestão, os conteúdos munitárias, e representam um espaço para par-
transmitidos etc. É o conjunto de fatores, que ticipação democrática dos segmentos organi-
não necessariamente vão aparecer juntos numa zados da população. Por vezes, a comunicação
mesma situação. A realidade de cada lugar e ex- comunitária extrapola as práticas dos movi-
periência vivida vão dar os parâmetros de com- mentos populares, embora continue em muitos
preensão e análise. casos a se configurar como tal ou a representar
Conceitual e historicamente a comunica- um canal de comunicação destes movimentos,
ção comunitária se aproxima da comunicação ou, no mínimo, a ter vínculos orgânicos com os
popular, alternativa, e/ou radical, e por vezes se mesmos. (Cicilia M. Krohling Peruzzo)
confunde com elas. Apesar de denominações
diferentes, na prática, em muitos casos, os obje- Referências:
tivos, processos desenvolvidos e a estratégia são FESTA, R.; SILVA, Carlos Eduardo Lins da
os mesmos ou, no mínimo, semelhantes. Por (Orgs.). Comunicação popular e alternativa
meio de diferentes iniciativas têm em comum no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986.
a busca da transformação de estruturas opres- GIMÉNEZ, Gilberto. Notas para uma teoria da
soras da condição humana e impedidoras da li- comunicação popular. Cadernos CEAS. Sal-
berdade de expressão popular. vador: CEAS, n. 61, p.57-61, maio-jun.1979.
Muitos autores latino-americanos dedi- KAPLÚN, Mário. El comunicador popular. Qui-
cam-se ou dedicaram-se a estudos nessa linha to: CIESPAL, 1985.
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(e vice-versa), demonstrando assim a profunda Fato é que, a partir do século XIX, consi-
relação de interdependência entre ambas. derando uma realidade em que a mídia con-
Em sintonia com o espírito de época, a trola grande parte dos fluxos de informação,
antropologia estrutural tem como um de seus da produção simbólica e, portanto, do acesso
fundamentos os estudos em linguística que se da população à cultura no cotidiano, torna-se
desenvolviam no contexto dos anos de 1950. muito importante a retomada das ideias de Lé-
Nos Estados Unidos, desenvolvia-se a corrente vi-Strauss, e por conseguinte, de Gregory Bate-
teórica chamada de Antropologia da Comuni- son, na compreensão da cultura como um sis-
cação que considera os diversos tipos de comu- tema de comunicação. (Sandra Pereira Tosta)
nicação verbal e não verbal. A trajetória desse
grupo chamado de “colégio invisível” ou “Es- Referências:
cola de Palo Alto” (referência a uma pequena BATESON, Gregory. Steps to an Ecology of
cidade norte-americana ao sul de San Francis- Mind. San Francisco: Chandler, 1972.
co), remete às inovações teóricas dos primei- LEACH, Edmund. Cultura e comunicação. Rio
ros anos de pós-guerra, com a ‘Cibernética e de Janeiro: Zahar, 1978.
a Teoria dos Sistemas Complexos Autoregula- Lévi-Strauss, Claude. Antropologia estrutu-
dores’ (sem o computador o melhor exemplo), ral. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.
desenvolvida pelo matemático Norbert Wiener MATTELART, A. MATTELART, Michéle. His-
(1894-1964). Um dos principais impulsionado- tória das Teorias da Comunicação. São Pau-
res da Escola de Palo Alto foi Gregory Bateson lo: Loyola, 1999.
(1904-1980) que se associou a estudiosos de di- VERÓN, Eliseu. Ideologia, Estrutura, Comuni-
versas linhagens como Ray Birdwhistell (1918- cação. São Paulo: Cultrix, 1960.
1984), Edward Hall (1914-2009), entre outros.
O antropólogo inglês esboçou uma teoria
da comunicação humana e uma contribuição COMUNICAÇÃO DA INOVAÇÃO
importante foi o conceito de metacomunicação. Inovação pode ser definida como a introdu-
Ao estudar os fluxos de informação, a ciberné- ção, no mercado, de um produto ou de um
tica concentra-se nas relações de retroalimen- processo produtivo tecnologicamente novo
tação ou feedback, onde causa e efeito se in- ou substancialmente aprimorado. Um serviço
fluenciam mutuamente. À primeira vista, essa pode ser substancialmente aperfeiçoado por
perspectiva sugere uma teoria funcionalista da meio da adição de nova função ou de mudan-
cultura e da comunicação, mas a antropologia ças nas características de como ele é ofereci-
de inspiração cibernética requer uma explica- do, que resultem em maior eficiência, rapidez
ção mais complexa. Contrapondo-se à noção de entrega ou facilidade de uso do produto
de comunicação isolada como ato verbal, cons- (Falco, 2009).
ciente e voluntário que subjaz à teoria funcio- As propriedades esseciais para se caracte-
nalista, encontra-se a ideia de processo social rizar a inovação, de acordo com Dosi (1982),
complexo e permanente integrado a múltiplos são: incerteza; crescente dependência das novas
modos de comportamento no qual a fala, o ges- oportunidades tecnológicas no conhecimento
to, o olhar, tudo está envolvido. científico; crescente formalização das ativida-
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VA, Edna Lucia. Inovação no contexto da mentos e expectativas de curas face aos avanços
sociedade do conhecimento Revista TEX- da Medicina. O amplo interesse público está di-
TOS de la CiberSociedad, 8. Temática Va- retamente associado à responsabilidade social
riada, 2008. Disponível em <http://www. da comunicação. A divulgação de informações
cibersociedad.net>. médicas, não pode ser explorada de forma sen-
DOSI, Giovanni. The nature of the innovative sacionalista. Ao contrário, deve considerar as-
process. In: Technical change and economic pectos preventivos e não apenas curativos de
theory. London: Pinter, 1982. enfermidades.
FALCO, Alessandra de. Comuniação e Inova- Promover a educação para a saúde é a tô-
ção em Portais Corporativos. Os casos da nica desejável no processo comunicativo, abor-
Embraer, Natura, Faber-Castells e Rigesa. dando os problemas existentes de forma realis-
Dissertação de Mestrado, Universidade ta, sem recorrer a falsas expectativas de curas
Metodista de São Paulo, São Bernardo do miraculosas. Nesse sentido, a comunicação da
Campo, 2009. saúde deve possibilitar a reflexão crítica sobre
OCDE. Manual de Oslo: proposta de diretri- as políticas públicas e práticas sociais em saúde,
zes para coleta e interpretação de dados questionando a visão mercantilista que envolve
sobre inovação tecnológica. Tradução da os interesses da indústria de medicamentos e
Financiadora de Estudos e Projetos. Paris: de planos de saúde privados.
OCDE, 2004. A comunicação da saúde é uma das áreas
de maior responsabilidade no processo de co-
municação científica por envolver áreas de ris-
COMUNICAÇÃO DA SAÚDE co. Rangel (2007, p. 9) aborda o papel da comu-
O conceito de saúde reflete a conjuntura social, nicação de risco na área de saúde e segurança
econômica, política e cultural. Ou seja, saúde da sociedade destacando seu papel como alter-
não traduz a mesma ideia para todas as pessoas. nativa de uma comunicação que “propicie um
Depende da época, do lugar, da classe social, de diálogo e a participação efetiva da audiência, ao
valores individuais, de concepções científicas, mesmo tempo em que possa estabelecer con-
religiosas, filosóficas. O mesmo, aliás, se pode fiança e credibilidade na fonte de informação,
dizer das doenças. Aquilo que é considerado pretendendo remover barreiras para uma co-
doenças varia muito” (SCLIAR, 2007, p. 30). A municação efetiva, as quais são reconhecidas
Organização Mundial de Saúde (OMS), em sua como poderosas para impedir que haja qual-
carta de princípios, de 07 de abril de1948, de- quer troca de informação se dê de modo insa-
fine ‘aúde’ como: “O estado do mais completo tisfatório”.
bem-estar físico, mental e social e não, mera- Fourrez (1995, p. 222) reflete sobre o pa-
mente a ausência de enfermidades”. A OMS de- pel da divulgação científica, principalmente na
fende o direito à saúde e a obrigação do Estado área médica, observando que é preciso ofere-
na promoção e proteção da saúde. cer conhecimentos científicos suficientemente
A Divulgação científica na área de Saúde práticos para que as pessoas possam “ponderar
é uma das mais lidas na mídia, por gerar in- sobre as decisões com melhor conhecimento de
formações variadas sobre enfermidades, trata- causa, ou pelo menos saber em que ‘especialis-
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enciclopédia intercom de comunicação
ta’ eles podem confiar”. Afirma ainda que “para SCLIAR, Moacyr. História do conceito de saú-
ser um indivíduo autônomo e um cidadão par- de. Revista Ciência Saúde Coletiva. Rio de
ticipativo em uma sociedade altamente tecnici- Janeiro, vol 17(1), p. 29-41, 2007.
zada deve-se ser científica e tecnologicamente
‘alfabetizado”.
Considerando a complexidade do funcio- COMUNICAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES
namento do corpo, os aspectos ambientais, psi- O termo comunicação das organizações designa
cológicos e culturais, a comunicação da saúde um campo de estudos que se constitui na inter-
envolve práticas e conhecimentos multidisci- face da comunicação com a administração, mais
plinares numa visão holística e não fragmenta- especificamente com os estudos organizacionais.
da da informação. Dismiticar as relações de po- Tal interface pode ser percebida pelo entendi-
der que envolvem o discurso médico na relação mento de que o objeto de estudo da comunica-
médico-paciente, assim como a humanização ção são os processos interacionais que fundam a
da prática médica são elementos a serem inse- sociedade - e suas organizações sociais - e de que
ridos e devidamente contextualizados no pro- o objeto dos estudos organizacionais são as pró-
cesso de comunicação científica da área. prias organizações – que não podem ser explica-
Comunicação para a saúde não é, portan- das senão pelos processos comunicativos que as
to, um espetáculo midiático, mas um processo constituem (REIS; COSTA, 2007).
educativo, em que o foco não pode ser a última Desse modo, comunicação das organiza-
descoberta da Medicina, mas sua contextuali- ções é entendido como sinônimo de comunica-
zação temporal, sem ambiguidades. A comuni- ção organizacional, um campo de conhecimen-
cação da saúde implica, ainda, em discutir, eti- to que investiga as relações entre comunicação
camente, a adoção de políticas públicas para o e organização (CASALI, 2007). Essas relações,
desenvolvimento de ações que possibilitem re- no entanto, não estão claras nem para os teó-
duzir problemas de saúde pública, já resolvidos ricos nem para os profissionais de mercado
pela ciência médica. (Graça Caldas) que trabalham com comunicação no ambien-
te organizacional. Essa imprecisão ocorre por-
Referências: que comunicação e organização são fenômenos
EPSTEIN, Isaac. Divulgação Científica. 96 ver- teoricamente indissociáveis e que se explicam
betes. Campinas: Pontes, 2002. um em função do outro. São os modos pelos
FOURREZ, Gerard. A construção das ciências. quais a comunicação e a organização são toma-
Introdução à Filosofia e à Ética das Ciên- das, uma em relação à outra, que as definem: se
cias. São Paulo: Unesp, 1995. consideramos a comunicação como um proces-
OMS (Organização Mundial de Saúde). Carta so organizacional, ela será vista como algo que
de princípios. 07 de abril de1948. ocorre e é determinado pela natureza organiza-
RANGE, Maria Lígia. Comunicação no controle cional; se consideramos a comunicação como
de risco à saúde e à segurança na socieda- um fenômeno social, ela será entendida como
de contemporânea: uma abordagem inter- um fenômeno constituinte da organização, que
disciplinar. Revista Ciência Saúde Coletiva. determina sua cultura e configurações (PUT-
vol.12. n. 5. Rio de Janeiro, set/out, 2007. NAM; PHILLIPS; CHAPMAN, 2004).
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em nosso cotidiano, mas ainda constituem um demia, contudo de larga utilização e de extre-
campo da sociedade brasileira, praticamente ma necessidade como promotora das relações
não devassado e quase nada explorado pelos institucionais de trocas. Aliás, trata-se de trocas
principais agentes e instituições do país”, o que entre organizações privadas, governamentais,
dificulta a elaboração de planejamentos de co- autarquias e outras instituições, considerando-
municação para situações de crise. se, contudo, o fato de que esse processo foi cria-
A comunicação de crise é essencial no es- do, planejado e executado por seres humanos,
copo do pensar organizacional, pois esse pro- pois quem compra , quem negocia e vende ou
cesso marca a história e a trajetória da relação ainda quem comunica são pessoas.
entre organização e seus públicos: a partir dos Portanto, o caráter negocial visto como a
processos de narrativas comunicacionais ali de- natureza única das transações entre organiza-
senvolvidos/desenrolados, gerando-se estrutu- ções, não ocorre sem a mediação essencial ou
ras produtoras de significados. primordial do ato comunicativo, estabelecen-
À medida que um acontecimento relacio- do-se uma relação aparentemente não usual,
nado a uma crise seja objeto de disseminação pois temos de um lado o emissor/organizações
(midiatizado em alguma medida) a ocorrên- e de outro o receptor/organizações. Evidencia-
cia gera outras percepções, outras ocorrências se, dessa forma o resgate do processo asseme-
que se associam imediatamente à percepção de lhado ao de comunicação interpessoal, consi-
crise original. A comunicação, em situações de derando-se as particularidades de um sistema
conflito ou de crise, pode contribuir para a le- organizacional, onde as empresas se defrontam
gitimação dos princípios organizacionais (mis- no processo de decisão em diferentes situações
são, visão, valores, filosofia, objetivos) junto aos de compra, passando por fatores ambientais,
públicos. (Luiz Alberto de Farias) grupais e individuais nas decisões de compra
das organizações.
Referências: Em suma, a comunicação de negócios se
FARIAS, Luiz Alberto. Estratégias de relaciona- apresenta como uma comunicação eminente-
mento com a mídia. In: KUNSCH, Marga- mente direta e objetivada em relação a elei-
rida M. Krohling. Gestão estratégica da co- ção e acesso aos seus públicos, como também
municação organizacinal e relações públicas. portadora de características marcantes, dentre
2. ed. São Caetano do Sul: Difusão, 2009. elas: 1) a busca pelo isomorfismo (FEARING,
ROSA, Mário. A era do escândalo – lições, rela- 1978, p. 58-59) no significado, pois acredita-
tos e bastidores de quem viveu as grandes mos que o papel de equivalência ou de dua-
crises de imagem. 4. ed. Rio de Janeiro: lidade do receptor com a fonte, necessaria-
Geração Editorial, 2007. mente passa por esta possibilidade, ou ainda
a sobreposição entre os dois polos, emissor/
receptor, passando por qualquer uma das mo-
COMUNICAÇÃO DE NEGÓCIOS dalidades de comunicação, inclusive a inter-
A comunicação de negócios, também conhecida pessoal, onde tal situação terá o máximo de
como comunicação “business to business” refe- isonomia e o mínimo de entropia. 2) o con-
re-se a uma prática pouco abordada pela aca- fronto das imagens Institucionais, pois se trata
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enciclopédia intercom de comunicação
dos valores, reputações, respeito e credibili- ing Business to Business. São Paulo: Makron
dade das marcas envolvidas nesse processo de Books, 1998.
trocas/negociações, portanto, a carga simbóli-
ca de cada participante no processo antecede
e alimenta a interdependência (BERLO, 1999, COMUNICAÇÃO DE RISCO
p. 121) das expectativas, empatia e foco na in- Está diretamente associada ao campo de atua-
terdependência da imagem, ou seja, o emissor ção de determinados segmentos/corporações.
leva consigo a imagem do receptor a partir da Trata-se de matéria fundamental para a cons-
forma imaginada do que ele representa, pro- trução da atividade de relações com os públi-
duzindo então uma mensagem que contém cos – independentemente do tipo de relação
certa previsibilidade comportamental ou mes- estabelecida: a partir de quesitos geográficos,
mo de resposta deste receptor. 3) comunica- impactos de poder etc; interno ou externos. A
ção neste caso, se refere aos relacionamentos comunicação de risco é área de pesquisa ainda
organizacionais, implicando diretamente na recente, tendo seus primeiros estudos a partir
percepção de posturas de colaboração (con- da década de 1980 (SJÖBERG, 2007). De acor-
fiança, compromisso e parceria) e adaptação do com Forni (FARIAS, 2007, p. 201) “(...) no
mútua (adaptação entre comprador e vende- Brasil, ainda, não temos a prática da prevenção,
dor específica ao relacionamento operacional, de investimentos ou mesmo qualificação para
assimetria de informações), evidenciada por evitar situações de risco”.
(KOTLER; KELLER, 2006, p. 228). A sua existência está diretamente relacio-
Finalmente, a comunicação negocial apre- nada à necessidade que determinados assun-
senta uma matriz triangular identificada pelos tos têm em ser esclarecidos a certas audiências/
vértices: competência corporativa; confiabili- populações/usuários: passa pelo processo de
dade corporativa e empatia corporativa, matriz transmissão de informações de especialistas a
essa que deve estar presente em toda sua práti- diferentes públicos, dentre os quais, leigos, uti-
ca, seja na forma, no conteúdo e no uso de todo lizando-se para tanto de mídias de massa e di-
e qualquer suporte que possibilite a entrega de rigidas.
suas mensagens. (Daniel Galindo) Os conceitos de risco devem ser trabalha-
dos sempre que algum setor apresentar poten-
Referências: cial de surgimento de problemas motivado por
BERLO, David K. O processo da comunicação. uso, instalação, produção ou relacionamento
9. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. entre empresas/organizações/instituições-pes-
FEARING, Franklin. A comunicação humana. soas-ambiente-mercado-produtos. Tanto pode
In COHN, Gabriel (Org.) Comunicação e tratar de riscos imediatos como de eventualida-
indústria cultural. 4. Ed., São Paulo, Cia. Edito- des futuras, sempre com olhar sobre prevenção,
ra Nacional, 1978. tratamento ou percepção sobre o a origem e o
KOTLER, Philip; KEVIN L. Keller. Adminis- foco do risco (BATISTA, 2007).
tração de marketing. 12. ed., São Paulo: Pe- Os riscos podem ser efetivos ou simbóli-
arson Prentice Hall, 2006. cos, resultantes de interação entre sujeitos ou
MOREIRA, T. Julio; Rafael O. Neto. Market- organizações, ação produtiva ou mesmo cons-
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enciclopédia intercom de comunicação
trução de simulacros, que podem advir de bo- risk and responsability. New Jersey: Law-
atos ou spins (técnica de rodear um problema rence Erbaum, 1997.
sem ir diretamente ao assunto). SJÖBERG, Lennart. Risk communication be-
Quaisquer públicos que estejam envolvi- tween experts and the public: perceptions
dos de forma direta (especialmente) ou indi- and intentions. In: ORGANICOM - Revista
reta em situações de risco têm o direito à clara Brasileira de Comunicação Organizacional
informação – que leve ao adequado entendi- e Relações Públicas. Dossiê Comunicação
mento – sobre quaisquer perigos aos quais es- de risco e crise: prevenção e gerenciamen-
tejam sujeitos. Ao mesmo tempo, a comuni- to. ano 4. n. 6. São Paulo: 1. semestre 2007.
cação precisa estabelecer processos de clareza
de informação que não permitam a geração de
pânico ou descontrole: deve-se gerar comuni- Comunicação Digital
cação responsável. A percepção da emergên- Comunicação realizada a partir de diferentes pla-
cia está diretamente relacionada à imagem e à taformas tecnológicas, como a televisão e o rádio
reputação dos envolvidos e pode potencializar digital, os celulares, os computadores mediados
um processo de equilíbrio ou de desequilíbrio pela internet e os videojogos em rede. Esse siste-
entre as partes. ma pode incluir iPhones e Palms. É, também, o
A comunicação de risco pode ou não estar conceito da comunicação que acontece no am-
associada a situações de crises, pois pode an- biente digital, possível a partir da informatiza-
tecipar-se a estas, mitigando-as, ou mesmo, se ção das telecomunicações e da radiodifusão, pro-
não trabalhada de modo correto, pode ampliá- cesso que se desenvolveu, a partir da década de
las. (Luiz Alberto de Farias) 1990, no Brasil e na América Latina. O fenôme-
no que disparou as reflexões sobre essa área de
Referências: estudos foi a sua disseminação na internet e no
BATISTA, Leandro Leonardo. A comunicação ambiente web mediado por computadores.
de risco no mundo corporativo e o con- Desde o ponto de vista da engenharia e da
teúdo da mensagem. In: ORGANICOM informática, os estudos de comunicação digi-
- Revista Brasileira de Comunicação Or- tal abarcam questões de composição, tráfego,
ganizacional e Relações Públicas. Dossiê processamento, arquitetura dos computadores
Comunicação de risco e crise: prevenção e aplicativos de conteúdos e serviço. No cam-
e gerenciamento. ano 4. n. 6. São Paulo: 1. po da comunicação, o tema digital ultrapassou
semestre 2007. o campo específico da cibermidiologia ou ci-
FARIAS, Luiz Alberto de. Comunicação em bercultura e dos estudos sobre atividades diri-
tempos de crise (entrevista com João José gidas aos computadores mediados por internet
Forni). In: ORGANICOM - Revista Brasi- e sua relação com a vida social. Eles incluem os
leira de Comunicação Organizacional e Re- projetos de conteúdos utilizando áudio, vídeo,
lações Públicas. Dossiê Comunicação de textos e dados para uma ou mais plataformas
risco e crise: prevenção e gerenciamento. tecnológicas (convergência digital), o uso de
ano 4. n. 6. São Paulo: 1. semestre 2007. recursos interativos, móveis, portáteis, intero-
LERBINGER, Otto. The crisis manager facing peráveis e de multiprogramação.
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enciclopédia intercom de comunicação
Uma mudança, na atualidade, está na for- relações públicas em benefício das orga-
ma de produzir, comercializar e na forma de nizações e da sociedade em geral. 2. ed. p.
comunicar, portanto o estudo dos públicos con- 91-101. São Paulo: Pioneira Thomsom Lear-
tinua sendo fundamental. Não é a filosofia do ning, 2006,
“uso pelo uso” que abona a decisão de incorpo- KUNSCH, Margarida Maria K. Planejamento
rar a comunicação dirigida como estratégia de de relações públicas na comunicação inte-
relacionamento. Afirma Ferreira, (2006, p. 92) grada. São Paulo: Summus, 2003.
que é na “(...) terceira onda que os veículos de MARTINS, Marta Terezinha Motta Campos.
massa passam por um processo de desmassifi- Relações públicas na era da informação:
cação, cedendo espaço à comunicação dirigida” abordagens das mídias audiovisuais e di-
[grifo do autor]. gitais em cursos superiores. 183 f. Disserta-
A ênfase nos veículos da comunicação di- ção de Mestrado em Ciências da Comuni-
rigida recomenda admitir que tecnologia avan- cação. São Paulo: Escola de Comunicações
çada, não é obrigatoriamente o que melhor co- e Artes, Universidade de São Paulo, 2003
munica, pois a dependência entre problemas MULLER, Karla Maria. Ideologia e veículos de
que o processo comunicacional precisa supe- comunicação dirigida. In: ECOS Revista,
rar para atingir objetivos determinados sugere Pelotas, v. 4, n.1, p. 29-38, jun./jul. 2000.
a complexidade presente na comunicação or- SIQUEIRA, Denise da Costa Oliveira. Persua-
ganizacional. são, poder e dialética em relações públicas.
Segundo Siqueira (2002, p. 121), “(...) a co- In: FREITAS, Ricardo Ferreira; LUCAS,
municação dirigida tem relevância em contra- Luciane (Orgs.). Desafios contemporâneos
posição à comunicação de massa que, por pre- em comunicação: perspectivas de relações
tender ser universal, não atinge grupos com ca- públicas. p. 111-137. São Paulo: Summus,
racterísticas específicas”. 2002.
O acervo de instrumentos para se comu-
nicar com novos públicos está na comunica-
ção dirigida, compreendida como um proces- Comunicação e Ciências Sociais
so não-linear de comunicação. Seu objetivo é Aplicadas
estabelecer uma relação de troca entre emissor A Antropologia, a Ciência Política e a Sociolo-
e receptor, com base na empatia entre os parti- gia estudam os aspectos sociais do mundo hu-
cipantes, pois neste modelo, o receptor partici- mano por isso, são chamadas de Ciências So-
pa ativamente do fenômeno comunicacional. ciais. Esses ramos do conhecimento surgiram,
(Marta Terezinha Motta Campos Martins) na Europa do século XIX, a partir das obras de
Karl Marx, Emile Durkheim e Max Weber. As
Referências: definições mais aceitas de sociologia informam
FERREIRA, Waldir. Comunicação dirigi- que a intenção dessa ciência é oferecer instru-
da: instrumento de relações públicas. In: mentos para uma visão abrangente e crítica dos
KUNSCH, Margarida Maria Krohling acontecimentos sociais relativos ao estado, à
(Org.). Obtendo resultados com relações economia e, enfim, aos acontecimentos da vida
públicas: como utilizar adequadamente as social. As Ciências Sociais Aplicadas se referem
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formatos, ambientes e discursos que definem zacionais (provocadas por demissões em massa,
os seus canais de relacionamento. fechamento de unidades, deslizes éticos etc) ou
A Comunicação Empresarial moderna associados a mudanças sócio-culturais relevan-
não pode prescindir de atributos básicos como tes (dentre as quais se destacam as que acom-
o profissionalismo, a ética e a transparência e panham os processos de fusões e aquisições e
exige capacitação de seus profissionais e a ar- a internacionalização de empresas). (Wilson da
ticulação de competências, visto que, funda- Costa Bueno)
mentalmente, é reconhecida como multi e in-
terdisciplinar. Referências:
A interface da Comunicação Empresarial BUENO, Wilson da Costa. Comunicação Em-
com outras áreas estratégicas, tradicionalmente, presarial: políticas e estratégias. São Paulo:
já percebidas como estratégicas pelas organiza- Saraiva, 2009.
ções (Recursos Humanos, Planejamento, Tec- KUNSCH, Margarida M. Krohling (Org). Co-
nologia da Informação, Finanças etc) tem feito municação Organizacional. São Paulo: Sa-
emergir novos desafios. Nesse sentido, integra- raiva, 2009. Vol. 1 e 2.
se, definitivamente, aos esforços empreendidos MARCHIORI, Marlene (Org). Comunicação e
pelas organizações para dar conta de demandas organização: reflexões, processos e práticas.
modernas do mercado e da sociedade, como os São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2010.
que contemplam a defesa da sustentabilidade,
da cidadania, da responsabilidade social e da
governança corporativa. Ela vincula-se estreita- COMUNICAÇÃO ESTATAL
mente com os negócios das organizações e con- Comunicação estatal é aquela indispensável nos
tribui para prover ações e estratégias voltadas estados democráticos, assim estatuídos consti-
para sua inserção social. tucionalmente. Para Norberto Bobbio, uma das
Assim, ‘Comunicação Empresarial’ do fu- condições da democracia é justamente a comu-
turo deverá estar alicerçada em um sistema nicação das decisões do Estado por meio das
competente de inteligência empresarial, que se gazetas ou diários oficiais. Essa comunicação,
define pelo uso sistemático de instrumentos de geralmente obrigatória, é chamada por Gregorio
pesquisa (em particular auditorias de comuni- Arena, Paolo Mancini, Franca Faccioli, Roberto
cação), pela implementação de bancos de da- Grandi, Stefano Rolando, entre outros autores,
dos inteligentes e pela incorporação intensiva de comunicação normativa e permite, além da
das novas tecnologias. transparência dos atos públicos, aberturas im-
A gestão da Comunicação Empresarial ten- portantes para a sociedade, como a accoutabili-
de, também, a priorizar os chamados ativos in- ty e outras formas de participação dos cidadãos
tangíveis, em especial a gestão da imagem e da na condução do Estado. Importa observar que a
reputação, o aumento da visibilidade e o reposi- comunicação do Estado – ente abstrato - é reali-
cionamento das marcas (de produtos ou corpo- zada pelos governos – entes concretos – e, justa-
rativas). Ela participa decisivamente do sistema mente por isso, apresentar feições tão variadas
de gerenciamento de situações emergenciais ou quantas forem as forças políticas daqueles que
de riscos, como os tipificados por crises organi- ocupam o poder. (Mariângela Haswani)
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Em suma, revela o papel preponderante de esportes, shows, varejo, novos contornos da pu-
todos os atores e de todas as formas de comu- blicidade* tradicional e entretenimento. (Flail-
nicação na determinação do “território midiá- da Brito Garboggini e Jean Charles J. Zozzoli)
tico” dessa organização cujos fundamentos são
sua cultura e projeto, reconhecendo também a Referências:
própria empresa como um meio de comunica- GRACIOSO, Fernando, (Org.). As novas arenas
ção atuando nesse território (comunicação ôn- da comunicação com o mercado. São Paulo:
tica). Nota-se que essa concepção ultrapassa a Atlas, 2008
da comunicação integrada, uma vez que o am- REGOUBY, Christian. La communication
biente em que age essa organização, bem como globale: comment construire le capital
seus elementos comunicacionais, podem inter- image de l’entreprise. Paris: les éditions
ferir na idealização das políticas mercadológi- d’organisation, 1988.
cas, financeiras, salariais e sociais, de desen- SCHULTZ, Don. Integrated Marketing Com-
volvimento, venda, produção etc., indo além munications: May be Definitions is the
da conjugação das atividades de comunicação Point of View. In: Marketing News. jan.
institucional (jornalismo, editoração, relações 1993.
públicas, publicidade) e comunicação merca- . IMC Receives More Appropriate Defi-
dológica (publicidade, promoção de vendas, nition. In: Marketing News, sept. 2004.
exposições, treinamento de vendas etc.). ZOZZOLI, Jean Charles Jacques. Da mise en
Acrescente-se que a expressão comunica- scène da identidade e personalidade da
ção global aqui definida não deve ser confun- marca. 327 f. IA, Unicamp, Campinas, 1994.
dida com articulação da palavra “comunicação” Disponível em: <http://libdigi.unicamp.br/
com o adjetivo “global” quando usada em tex- document/?code=vtls000082262>.
tos da área que se referem a formas de comu- . A marca comercial-institucional - re-
nicação globalizada, isto é, mundial. Essa pos- trospectiva e prospecção. In: BARBOSA,
sibilidade de confusão levou Zozzoli a propor a Ivan Santo, (Org.) Os sentidos da Publici-
expressão “comunicação complexa”. dade: estudos interdisciplinares. São Paulo:
Outras denominações aparecem, também, Pioneira Thomson Learning, 2005.
no dia a dia, das práticas e reflexões comuni-
cativas. Observa-se no mercado a existência da
expressão “comunicação total”, criada por E. Fi- Comunicação globalizada
sher em 1990, registrada como marca e utilizada Refere-se não somente à estrutura de produção
pelas agências do Grupo Total de comunicação e distribuição mundial dos meios de comuni-
para caracterizar seus serviços de comunicação cação, mas aos conteúdos, “grandes e comple-
integrada. Já num enfoque que evidencia a arti- xos repertórios de imagens em que o mundo de
culação entre comunicação, cultura e mercado, bens, notícias e política são mesclados profun-
Gracioso (2008) desenvolveu o conceito “are- damente” (APPADURAI, A. in SINCLAIR, J.
nas da comunicação” para nomear configura- 2000, p. 74). Para o autor esta seria a metáfora
ções contemporâneas de comunicação para di- da paisagem dos meios, e haveria, ainda, a me-
ferentes públicos por meio de eventos, moda, táfora da paisagem de ideias que trata da ide-
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ologia que estas imagens carregam e que é in- HELD, David; McGREW, Anthony. Prós e con-
terpretada de diferentes formas em diferentes tras da globalização. Rio de Janeiro: Jorge
países e regiões. Zahar, 2000.
Conforme Castells (1996, p. 378) a rede da MARTÍN-BARBERO, Jesus. Ofício de cartógra-
internet é a coluna vertebral da comunicação fo. Travessias latino-americanas da comu-
global através do computador e que enlaça cada nicação na cultura. São Paulo: Ed. Loyola,
vez mais redes. Para Martín-Barbero (2004, 2004.
p.150), comunicação na atualidade significa “o SINCLAIR, John. Televisión: comunicación
espaço de ponta da modernização, o motor da global y regionalización. Barcelona: Gedisa
renovação industrial e das transformações so- Editorial, 2000.
ciais que nos fazem contemporâneos do futu-
ro”, uma vez que “associada ao desenvolvimento
das tecnologias de informação, a comunicação COMUNICAÇÃO GOVERNAMENTAL
proporciona a possibilidade de atingir o passo Comunicação governamental é aquela promovi-
da definitiva modernização industrial, da eficá- da pelos órgãos dos poderes constituídos de um
cia administrativa, das inovações acadêmicas e país – que geralmente são Legislativo, Executi-
até o avanço democrático entranhado pelas vir- vo e Judiciário – ou aqueles a quem for repas-
tualidades descentralizadoras da informática”. sada a responsabilidade sobre projetos e servi-
O autor considera que a comunicação, ços. Roberto Grandi apresenta a comunicação
também, pode ser, hoje, sinônimo do que ma- governamental a partir da pergunta conhecida
nipula e engana, do que desfigura, politica- como postulado de Harold Laswell:
mente, um país e do que pode causar destrui- - quem: a comunicação da instituição pú-
ção cultural. Nesse sentido, Castells (1996, p. blica é aquela comunicação realizada por uma
369), reflete que “os meios de comunicação são administração pública (ente público ou serviço
a expressão de nossa cultura e nossa cultura pe- público), seja central ou periférica, e reconhe-
netra primordialmente mediante os materiais cida como tal; esta atribuição deve poder ser
proporcionados pelos meios de comunicação”. operada por qualquer um, mediante a presen-
Assim, considerando-se a globalização como ça, explícita e clara, da assinatura da fonte;
“um produto de forças múltiplas que incluem - diz o quê: divulga as normas, as ativida-
os imperativos econômicos, políticos e tecno- des, a identidade e o ponto de vista da admi-
lógicos, além dos fatores conjunturais especí- nistração;
ficos”, conforme Held & Mcgrew (2000, p. 21), - por meio de quais canais: utiliza todas as
tem-se a dimensão do papel da comunicação mídias e canais disponíveis (desde os murais
globalizada. (Doris Fagundes Haussen) até as novas tecnologias em rede);
- a quem: aos cidadãos ou às organizações
Referências: (comunicação externa direta); aos meios de
CASTELLS, Manuel. La era de la información. massa, quando quer atingir os cidadãos ou as
Economia, Sociedad y Cultura. La Socie- organizações que constituem a audiência des-
dad Red. Madrid: Alianza Editorial. 1996. ses meios; a quem opera dentro das instituições
Volume 1. públicas (comunicação interna);
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necessidade, reconhecida, intuitivamente, pe- cias de apropriação das mensagens por parte
las equipes de profissionais de saúde, de aten- dos usuários. Raros estudos se ocupavam das
der à demanda de informações dos pacientes racionalidades, motivações, lógicas de utiliza-
sobre procedimentos diagnósticos e terapêuti- ção, e do sentido das mensagens informativo-
cos, de facilitar adaptações a situações clínicas, educativas, no universo do público aos quais
de atenuar ansiedades frente a procedimentos eram endereçadas. Essas últimas experiências
dolorosos, e de modificar hábitos de risco ou podem, grosso modo, ser reconhecidas como
promover a aderência a tratamentos de curto e “pesquisas de recepção”, que no campo da co-
longo prazo. municação em saúde são ainda incipientes
Embora universalmente difundidas, as prá- (BAILLIE et al, 2000).
ticas de produção de materiais impressos diri- Pesquisadores categorizam as motivações
gidos aos pacientes, como estratégia de aten- para produção de impressos para a comunica-
dimento às finalidades acima descritas, são ção hospitalar em três níveis:
raramente avaliadas. Igualmente, o processo (1) o da orientação de procedimentos ob-
de produção desses materiais com fins educa- jetivos, buscando atender a uma demanda es-
tivos/ informativos, por parte das instituições sencialmente pragmática e pontual da clientela,
que produzem conhecimento em ciências da no cumprimento de determinações de ordem
saúde, é raramente descrito. Rozemberg, Silva normativa (clínica ou administrativa); (2) o da
e Vasconcellos-Silva (2002) surpreendem-se ao difusão de informações, que tenta responder a
confrontar a escassez dessas descrições e refle- uma demanda cognitiva da clientela e preocu-
xões na literatura com a abundância de carti- pa-se em preencher lacunas do conhecimento
lhas, folhetos e cartazes que uma única coleta sobre doenças; (3) o de contribuir na educação
em qualquer instituição ou serviço de saúde da clientela, objetivando algum nível de inte-
pode proporcionar. ração. Preocupa-se em corresponder a deman-
De um modo geral, desconhecemos o pa- das de comunicação. O impresso é incluído em
pel que os materiais impressos efetivamente de- um processo mais abrangente de falas e escutas.
sempenham na comunicação entre os profis- (Arquimedes Pessoni)
sionais e usuários dos serviços de saúde. Não
obstante os grandes investimentos, há poucos Referências:
estudos criteriosos em relação ao expressivo ROZEMBERG, Brani; SILVA, Ana Paula Pen-
volume de material impresso (ARTHUR, 1995). na da; VASCONCELLOS-SILVA, Pau-
A avaliação junto ao usuário da comuni- lo Roberto. Impressos hospitalares e a di-
cação hospitalar, quando ocorre, raramente es- nâmica de construção de seus sentidos:
capa do enfoque mecanicista das “escalas de o ponto de vista dos profissionais de saú-
atitudes e opiniões” ou do terreno do trivial, de. In: Cad. Saúde Pública, Rio de Ja-
oferecendo resultados já mais ou menos previs- neiro, v. 18, n. 6, dez. 2002. Disponí-
tos, do tipo: “o público está sensibilizado...” ou vel em: <http://www.scielosp.org/scielo.
“os pacientes agora sabem melhor” ou “apren- php?script=sci_arttext&pid=S0102-311-
deu um pouquinho mais sobre a doença”, o que X2002000600023&lng=en&nrm=iso>.
nada esclarece sobre as estratégias e experiên- Acesso em: 17/02/2009.
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ARTHUR, V. A.,. Written patient information: nas, camponeses, mulheres oprimidas, crianças
A review of the literature. Journal of Ad- abandonadas - são identificados e se tornam as
vanced Nursery, p.1081-1086, n. 21, 1995 pérolas preciosas de suas lutas. Integrando estes
BAILLIE, L.; BASSETT-SMITH, J. & BROU grupos sociais, as CEBs tornam-se seu “templo”,
GHTON, S.. Using communicative action no qual tornam-se sujeitos da própria liberta-
in the primary prevention of cancer. Heal- ção, denunciando toda dominação, seja racial,
th Education Behaviour. p. 442-453. n. 27, sexista, linguística, social ou econômica. Apre-
2000. goa-se um mundo de irmãos e irmãs, capazes
de construir a utopia comunitária, a convivia-
lidade fraterna. À acusação de que as CEBs têm
COMUNICAÇÃO HUMANA NAS confissão ideológica comunista, compreende-
COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE se pelo fato que combatem o capitalismo e seus
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) são mecanismos dominadores: Fundo Monetário
frutos de um movimento eclesiástico que reno- Internacional, multinacionais, belicismo e do-
vou a Igreja, no período pós-Concílio Vaticano minação cultural. Consideramos que as CEBS
II, procurando reestruturar as relações entre os se serviram da leitura marxista do capitalismo
fiéis, como um modelo de vida social e comu- para criticar os mecanismos de dominação do
nitária, com maior intercomunicação entre os capital e do neoliberalismo. Sendo quase una-
fiéis. nimidade na América Latina, sob o impulso das
A eclesiologia das CEBs procurou interpre- Conferências de Medellin (1968) e de Puebla
tar os textos bíblicos numa leitura libertadora, (1979), este modelo de Igreja promove a cons-
buscando neles a inspiração para a transforma- cientização dos fiéis, formação de núcleos co-
ção social, a partir das camadas populares, se- munitários para defesa dos direitos humanos,
jam os oprimidos pela pobreza, pelo preconceito simplificação das estruturas eclesiais, pastorais
racial e pela dominação sexista masculina, pro- de fronteira e práxis libertadora.
movendo a superação das oposições rígidas en- Mesmo que seu apelo tenha menor presen-
tre clero e povo, bem como entre enriquecidos ça mediática, as CEBs são ainda fecundas. Suas
e oprimidos. Seus imperativos são: (a) a força marcas na vida da Igreja são indeléveis: espaço
transformadora da mensagem cristã; (b) a mo- comunitário, emancipação do laicato, anima-
tivação libertadora e profética da evangelização; ção dos grupos minoritários, valorização dos
(c) a inserção sócio-política dos fiéis; (d) a pri- ministérios litúrgicos e uma comunicação hu-
mazia dos empobrecidos e dos oprimidos. mana pluridimensional. A comunicação nas
As CEBs valorizam a comunicação popular, CEBs, formaram verdadeiros núcleos comuni-
criticando a comunicação massificante, tantas tários onde a intercomunicação tornou-se uma
vezes alienantes e servidores do sistema opres- forma de defender-se e se proteger mutuamen-
sor dos opressores. Exaltam-se os meios sim- te. (Antônio S. Bogaz)
ples e comunitários de comunicação. Os meios
de integração são seus boletins, pequenos jor- Referências:
nais, rádios comunitárias e encontros comuni- ARAÚJO, Luiz Carlos. Profecia e poder na Igre-
tários. Os empobrecidos pobres, negros, indíge- ja. São Paulo: Paulinas, 1986.
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enciclopédia intercom de comunicação
AZEVEDO, Marcelo de Carvalho. Comunida- foi, durante muito tempo, considerada como
des Eclesiais de Base e a inculturação da fé: negativa. Para alguns estudiosos, sua ocorrên-
a realidade das CEBs e sua tematização cia derivava sempre de um gap na comunicação
teórica na perspectiva de uma evangeliza- formal ou de uma imprecisão do sistema, que
ção inculturada. São Paulo: Loyola, 1986. acabava por abrir a possibilidade de um de seus
BOFF, Clodovis. Fisionomia das Comunidades mais temidos arquétipos: a formação dos boa-
Eclesiais de Base. Concilium 164 97, (1981). tos, ou seja, a clandestinidade comunicativa.
DUPUIS, Jacques. Teologia da Libertação. In: Essa postura, no entanto, seria condizen-
Dicionário de Teologia Fundamental. p. 972 te com o paradigma funcionalista da comuni-
– 978. Petrópolis: Vozes; Aparecida: Santu- cação, que impelia ao mutismo e à uma quase
ário, 1994. inexpressiva interlocução. Calcados no para-
GUIMARÃES, Almir Ribeiro, Frei. Comunida- digma sistêmico, segundo o qual as organiza-
des de Base no Brasil: uma nova maneira ções são espaços nos quais operam diferentes
de ser Igreja. Petrópolis: Vozes, 1978 lógicas, sendo impossível dissociá-las (KUNS-
RICHARD, Pablo. Força ética e espiritual da Te- CH, 2003) chegamos à conclusão de que a co-
ologia da Libertação. São Paulo: Paulinas, municação informal é natural e sadia, não sen-
2006. do necessária sua extinção ou aniquilamento.
TEIXEIRA, Faustino. A Espiritualidade nas Exatamente por isso, tem sido vista como alia-
CEBs. In: BOFF, Clodovis et al. As Comu- da e não mais como antagônica aos interesses
nidades de Base em questão. São Paulo: organizacionais.
Paulinas, 1997. Também chamada de rede de comunica-
TOMITA, Luiza; VIGIL, José M; BARROS, Mar- ção informal, denominação bastante apropria-
celo. Teologia latino-americana: pluralista da da quando apreendemos que são os grupos a
libertação. São Paulo: Paulinas, 2006. constituírem seu cerne, estrutura-se em rede
para que a comunicação possa acontecer de
forma mais ágil e a fim de atender demandas
COMUNICAÇÃO INFORMAL mais prementes.
A comunicação informal compreende as mani- Dessa forma, a comunicação informal ins-
festações espontâneas dos grupos insertos em titucionaliza comportamentos de reciprocida-
qualquer estrutura oficial. Para Chanlat e Bé- de, de envolvimento e de afetividade. Marchio-
dard (1996, p. 144), tais manifestações são pos- ri (2006, p. 141) afirma que “indivíduos que se
síveis “por que o tempo de fala (parole) não é comunicam informalmente conhecem uns aos
medido nem contado, e cada um está sempre outros e podem desenvolver relações que ultra-
moralmente disponível para o outro”. Em ou- passam a função da organização formal”.
tras palavras, há a existência de uma rede ativa, Para Kunsch (2003, p. 82), “por ser muito
em constante operação e à medida que presta- tática e ágil, a comunicação informal pode vir a
mos atenção no outro, o outro também se apro- modificar a estrutura formal”.
xima de nós. Desconectada da hierarquização No entanto, a comunicação não pode ser
e formalização, e aparentemente desestrutura- entendida como um ponto nevrálgico no inte-
da (GRANDO, 2006), a comunicação informal rior das empresas, pois cabe a nós, como profis-
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enciclopédia intercom de comunicação
sionais de comunicação, percebê-la como algo 1970), era a comunicação institucional. Ao lado
espontâneo, que mantém viva a organização, da comunicação jornalística e da comunicação
à medida que contribui para recriar sentidos e publicitária, aquela porção do discurso organi-
dar diretrizes sobre como funciona a realidade zacional voltada à história da empresa, aos va-
cotidiana. lores esposados e à fala não-vendedora – todos
Para Torquato do Rego (1986, p. 55), “todo os elementos convergentes para uma reputação
um esforço deve ser dispensado para a compre- administrada – ficou identificada com uma voz
ensão das redes informais por que, na verdade, institucional, uma imagem institucional, enfim,
elas dão vazão aos fatores sociológicos e psico- uma comunicação institucional.
lógicos existentes na sociedade”, ou, como bem Duas décadas adiante, coube a Margarida
disse Grando (2006), sua dinâmica gera diálo- Kunsch (1986) posicionar a comunicação ins-
gos variados e muito ricos e que vão se refletir titucional como um dos componentes-chave
na vivência cotidiana de todos os envolvidos. em seu composto da comunicação integrada,
(Wilma Vilaça) ao lado da comunicação mercadológica, da co-
municação administrativa e da comunicação
Referências: interna.
CHANLAT, Alain; BÉDARD, Renée. Palavras: Antes de se fazer comunicação institucio-
a ferramenta do executivo. In: CHANLAT, nal, é necessário um pensar institucional. Tal
Jean-François (Coord.). O indivíduo na or- desafio coloca-se para além do terreno da se-
ganização – dimensões esquecidas. p. 127- mântica, situando-se em um terreno mais filo-
148. São Paulo: Atlas, 1996. sófico: qual ou quais atributos podem fazer de
GRANDO, Giselle Bruno. Redes formais e in- uma organização – este ente imperfeito forma-
formais por um diálogo interno mais eficaz. do por imperfeitos homens – uma instituição?
In: MARCHIORI, Marlene (Org.). Faces da Como fazer com que uma organização encon-
cultura e da comunicação organizacional. p. tre-se, no mesmo patamar das verdadeiras ins-
223-238. São Paulo: Difusão, 2006. tituições, tanto platônicas, como a República,
KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planeja- a Propriedade, a Filantropia, quanto seculares,
mento de Relações Públicas na comunicação como a Academia, a Igreja, o Estado?
integrada. São Paulo: Summus, 2003. Na verdade, trata-se de elevar o concei-
MARCHIORI, Marlene. Cultura e comunicação to de uma organização a um patamar tão alto
organizacional – um olhar estratégico sobre que dela não se duvide ou que dela não se es-
a organização. São Paulo: Difusão, 2006. pere nunca o desamparo de um empregado ou
TORQUATO DO REGO, Francisco Gaudêncio. de um cliente, a sonegação de impostos ou de
Comunicação empresarial, comunicação informação, uma prática desleal ou uma propa-
institucional. São Paulo: Summus, 1986. ganda enganosa.
Durante muito tempo aqueles que se dedi-
caram a refletir sobre relações públicas viram-
COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL se diante dos desafios de construir e manter
A ideia-força, presente nos pioneiros cursos de – boas – imagens institucionais. Primeiro no
Relações Públicas, no Brasil (décadas de 1960 e âmbito governamental (primeiro setor), uma
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enciclopédia intercom de comunicação
herança direta das práticas de public affairs que Há casos exemplares de bom uso das relações
deram origem à área. Depois no campo empre- com a imprensa para a obtenção de boa presen-
sarial (segundo setor) – segmento a que muitos ça institucional: Rhodia, Vale (no seu período
vinculam o surgimento da atividade de relações estatal, quando não fazia, como hoje, publici-
públicas. dade comercial), Embraer, Volkswagen, Nestlé
Uma boa folheteria, um relatório anual di- e Votorantim.
ferenciado e uma sede acolhedora foram os pri- Al Ries, que já havia brindado-nos com o
meiros passos da comunicação institucional. universalmente aceito construto do posicio-
Hoje, com a virtualidade e a desterritorializa- namento (1972), ensina-nos, também, que se
ção, sede e folhetos são dispensáveis. O que não à propaganda cabe criar as marcas, às relações
se pode deixar de ter, em termos institucionais, públicas resta talvez o maior compromisso –
é o que denominamos Presença Competente na o de mantê-las ao longo do tempo com o uso
Internet (PCI). A organização que não estiver da mídia espontânea (2002). Esse esforço – o
ao alcance – e com um funcional e atraente we- da manutenção de uma reputação – algo que
bsite – dos cada vez mais sofisticados mecanis- se constrói ao longo de toda uma trajetória e
mos de busca; que não estiver em dia com um que está sujeita a implosão num súbito golpe de
novo fator, a chamada “encontrabilidade”, cor- sorte, a chamada crise de imagem pública – se-
re o sério risco do esquecimento e da não re- ria tal suprema responsabilidade.
novação de públicos, visto que os mais jovens, E a reputação, algo mais afeito às organi-
a chamada “Geração Y”, tem a internet e seus zações que a produtos ou serviços, alimenta-
mecanismos de busca como primeiros e pri- se na fonte de uma sólida comunicação institu-
mordiais modos de buscar informações e travar cional. Consistente, perene, coerente, presente,
conhecimento. proativa, concisa, solidária. É o anúncio de Ano
A assessoria de imprensa é instrumento Novo. O lembrar do nosso aniversário, com
clássico de comunicação institucional. A ob- uma carta ou um brinde. É homenagear a cida-
tenção de espaços prestigiados no noticiário – de na data de sua fundação. É prestar contas. É
o que se obtém fazendo com que as “novas” da solidarizar-se nas adversidades e fazer-se pre-
organização sejam de real interesse para o(s) sente nas ações humanitárias.
público(s) do(s) veículo(s) em que se quer apa- Sem demagogia, sem bajulação, sem adje-
recer – foi, inclusive, a razão do surgimento das tivação desprovida de substantiva razão de ser.
modernas relações públicas, em 1906, com Ivy Uma comunicação que enobrece a mensagem
Lee. O pioneiro, jornalista atuante, descobriu e seu emissor – não se quer vender algo, mas
um nicho de atuação junto às empresas – e, fa- simplesmente se fazer presente.
tor importante, deixou a imprensa. Num tem- A propaganda institucional foi e, ainda é, o
po em que todas já anunciavam, elaborou um outro instrumento clássico da comunicação ins-
serviço de informação ao público e menciona- titucional. Um terceiro, cada vez mais relevante
va em seu próprio material institucional: “não instrumento de comunicação institucional, é o
fazemos jornalismo; não fazemos propaganda”. resultado do esforço empreendido em torno da
Seu objetivo era a divulgação de seus clientes, criação de uma identidade corporativa – maté-
a chamada free publicity (mídia espontânea). ria dos campos do design e da linguística que
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enciclopédia intercom de comunicação
dá origens a logomarcas, slogans e jingles. Es- convincente – discurso institucional. Sua ma-
tes últimos continuam ferramenta fundamental téria-prima é a persuasão, com o objetivo de
no meio rádio. Slogans, define Francisco Kad- trazer corações e mentes para suas causas – os
lec (MACHADO NETO, 2008); são os resumos profissionais de marketing batizaram esse tipo
criativos do posicionamento da organização. de ação de marketing social ou de causas so-
Marcas, finalmente, são hoje os ativos – ainda ciais –, aquelas que modificam comportamen-
que intangíveis – mais valiosos do mundo dos tos de indivíduos e grupos, organizações e na-
negócios. E as marcas mais valiosas são aquelas ções, planetariamente. Para Philip Kotler, com
institucionais, de empresa, para além de produ- a adoção dos instrumentos de marketing não
tos e serviços: Google, Apple, Coca-Cola, Dell, para fins comerciais, mas, sim, de mudança so-
McDonald’s, Bradesco, Itaú, Petrobras, Natura cial “o resultado não é um par de sapatos ven-
e Vale. Manoel Maria de Vasconcellos (2006), dido, mas um cidadão mudado”. As organiza-
pioneiro do marketing no Brasil, assim expla- ções da sociedade civil constituem, atualmente,
na: “o público não deseja somente uma imagem o segmento que mais cresce no uso da comuni-
do produto, mas igualmente uma imagem da cação institucional e na demanda por genuínas
empresa que o faz e o oferece”. relações públicas. (Manoel Marcondes Macha-
Campanhas institucionais memoráveis cra- do Neto)
varam na nossa memória marcas empresariais
– e são os melhores exemplos de comunicação Referências:
institucional bem-sucedida: “Nike - Just do it”, KOTLER, Philip. Marketing para instituições que
“Volkswagen - Small is beautiful”, “It’s a SONY”, não visam lucro. São Paulo: Atlas, 1980.
“É uma Brastemp”, “Se é Bayer é bom”, “Brades- KUNSCH, Margarida. Planejamento de relações
co: completo”. públicas na comunicação integrada. São
Boa comunicação institucional, travestida Paulo: Summus, 1986.
de “marketing cultural” (MACHADO NETO, MACHADO NETO, Manoel Marcondes. Ma-
2000), é, por exemplo, um monumento cons- rketing Cultural: características, modalida-
truído e doado à cidade. Ou uma orquestra pa- des e seu uso como política de comunicação
trocinada – a filarmônica sonhada pela comu- institucional. Tese de doutorado. São Paulo:
nidade. Ou, ainda, uma biblioteca apadrinhada. USP, 2000.
Foram ações deste tipo que transformaram so- . Relações Públicas e Marketing: conver-
brenomes, nas nações mais desenvolvidas, em gências entre comunicação e administração.
verdadeiras instituições: Rockfeller, Ford, Ful- Rio de Janeiro: Conceito Editorial, 2008.
bright, Carnegie, Guggenheim, Konrad Ade- RIES, Al; TROUT, Jack. Posicionamento. São
nauer, Calouste Gulbenkian. Paulo: Pioneira, 1993.
No caso do terceiro setor, ou seja, da so- RIES, Al; RIES, Laura. A queda da propaganda
ciedade civil organizada, a ‘comunicação insti- e a ascensão da mídia espontânea. São Pau-
tucional’ ganha novo e essencial impulso, visto lo: Campus, 2002.
que ONGs, Oscips, Clubes de Serviços, Sindi- VASCONCELLOS, Manoel Maria. Marketing
catos e Federações, Associações e Fundações Básico. Rio de Janeiro: Conceito Editorial,
pouco mais têm a oferecer que um bom – e 2006.
276
enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
em uma interação discursiva, para a adequação tiva dos stakeholders. Internamente, apesar de
da mensagem, dos códigos e dos meios com o haver uma matriz formal de valores e hábitos,
objetivo de minimizar as barreiras e os ruídos coexistem diferenças de visão entre áreas, fun-
provocados pela distância entre o mundo ob- ções, níveis hierárquicos, gênero, etnia, geração
jetivo e as experiências vividas, que promovem e papéis sociais.
diversas percepções sociais subjetivas. Estuda a A comunicação intercultural entre organi-
comunicação entre agentes de culturas diferen- zações visa a relativizar os paradigmas culturais
tes e analisa os processos e sistemas de comu- dos juízos de valor ao lidar com o(s) outro(s).
nicação entre países, empresas, culturas e sub- Não significa, contudo, abrir mão dos valores
culturas. centrais do grupo (core beliefs), mas de articu-
Para Hofstede (1997), é fundamental com- lar um sistema de pensamento que busque am-
preender que pessoas de diferentes culturas têm pliar a janela através da qual o mundo é visto
modos de pensar e de viver distintos. Isso acar- e assim planejar o discurso organizacional de
reta reações específicas diante de um mesmo forma dialógica e multi-stakeholder, consciente
problema. Muitos dos conflitos dentro das orga- da realidade cultural. (Eduardo Murad)
nizações e nas relações com seus públicos de in-
teresse (stakeholders) se originam do confronto Referências:
das diferentes programações mentais (mind set). HOFSTEDE, Geert. Culturas e organizações:
Ostrowiak (2006), diz que estamos em um tem- compreender a nossa programação mental.
po de demandas multiculturais, de integração e Lisboa: Edições Sílaba, 1997.
desintegração e que a globalização intensificou CHENEY, George, et al. Organizational comu-
os choques culturais. A matriz cultural de análi- nication in an age of globalization: issues,
se depende do contexto em que o indivíduo vive reflections, practices. Illinois: Waveland
e de suas características identitárias. Press Inc., 2004.
Cultura aqui engloba os padrões de pensa- OSTROWIAK, Abraham Nosnik. Globali-
mento, sentimento, hábitos e atividades cotidia- zación: el papel de la comunicación en la
nas partilhados pelas pessoas que vivem em um convergencia de las reglas organizaciona-
mesmo ambiente social. A cultura difere entre les. In: REBEIL, María Antonieta Corrella
países, regiões, cidades, bairros ou empresas. (Org.). Comunicación estratégica en las or-
As manifestações mais visíveis são os símbolos, ganizaciones. México: Trillas, 2006.
os mitos, os rituais e os valores.
Assim, a partir deles, é possível compreen-
der e aprender os hábitos e comportamentos COMUNICAÇÃO INTERNA
desejáveis coletivamente. Por premissa, tanto a Entende-se por Comunicação Interna o esfor-
operação quanto as mensagens de uma organi- ço planejado e deliberado de uma organização
zação são interculturais (CHENEY et al, 2004). voltado à construção e à manutenção estratégi-
Mesmo que não atue em contextos diversifica- cas de ações e canais de relacionamento com o
dos, a organização lidará com o embate entre público interno.
sua própria cultura e o padrão cultural do terri- Por público interno compreende-se o con-
tório em que está inserida, a partir da perspec- junto de empregados ou o corpo de colabora-
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enciclopédia intercom de comunicação
dores diretos de uma organização. Assim como produtores de bens e serviços, unidos por proce-
os demais públicos de interesse para um rela- dimentos, normas e papéis, que são ofertados a
cionamento estruturado de comunicação de agentes externos, que integram o Sistema Social.
uma organização, o público interno deve ter Portanto, não se confunde com a comunicação
seu perfil mapeado e analisado considerando de marketing e a comunicação corporativa, onde
especialmente seu poder de influência na con- a primeira se dá em função das necessidades de
secução da visão, da missão e dos objetivos or- relações de consumo, enquanto a segunda se dá
ganizacionais, o que tem tornado o corpo de em função das relações sociais;
colaboradores um público prioritário no com- 2. No das relações de convivência, na qual
posto da comunicação corporativa. a comunicação interna informal entre os em-
Dessa forma, a comunicação interna “con- pregados é dependente de um sistema de adap-
figura-se como um dos instrumentos estraté- tação ao entorno (o ambiente organizacional,
gicos mais importantes com que pode contar no caso), condicionando as atitudes pessoais e
uma empresa para melhorar as relações com a motivação para o intercâmbio e, por isso, in-
seus empregados, possibilitar a integração e terfere nos resultados organizacionais;
favorecer a existência de uma cultura compar- 3. No das relações de identidade, associa-
tilhada entre todos os membros de uma orga- das à cultura da empresa. Nesse caso, o conjun-
nização. A falta de comunicação é muito vi- to de hábitos e costumes de relações, que atuam
vamente sentida pelos trabalhadores de uma como códigos restritos de fixação de significa-
empresa, já que ser ou estar informado acaba dos (crenças e valores) atuará sobre a percep-
sendo sinônimo de ser considerado”, como en- ção dos empregados (atores internos) nas suas
fatiza Hermosa e outros. manifestações (mensagens ou expressões) e so-
Piñuel Raigada ao definir que “a comunica- bre os sentimentos de pertencimento ou exclu-
ção (interna) serve para mediar as relações de são nas atividades a.
trabalho que tenham a ver com o desempenho Essas relações – profissionais, de convivên-
sobre as tarefas executadas para a produção so- cia e de identidade – agem e influenciam o pro-
cial de produtos e serviços, em consonância com cesso comunicacional interno, viabilizado basi-
os objetivos da organização; de convivência, que camente por meio de quatro principais fluxos
têm a ver com as necessidades e satisfações dos de comunicação: o descendente ou do topo da
sujeitos da estrutura organizacional; e relações direção para a base de colaboradores. Em ge-
de identidade, que têm a ver com os hábitos para ral, esta modalidade se dá por meio dos canais
relações que atuam dentro de um código restrito formais, impressos ou eletrônicos, como por
na criação de significados” pontua que, basica- exemplo, as publicações internas - revistas, jor-
mente, a comunicação interna dá-se em torno nais, portais, etc.; o ascendente, ou do colabo-
de três eixos ou tipos de relações internas. rador para a direção da organização. Nesse mo-
1. No das relações estritamente profissio- delo estão os programas fale com o presidente,
nais, ligadas à atividade empresarial e que vêm comitês de empregados, etc.; horizontal ou re-
marcadas pela organização como um subsiste- lação entre pares, que ocorre entre empregados
ma interno do Sistema Social. Nesse caso, os em- de um mesmo nível; a diagonal ou transversal,
pregados (membros da organização) são agentes que, em geral, se dá entre uma área e outra por
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enciclopédia intercom de comunicação
meio da comunicação entre pessoas de níveis volvidos nesse processo, estão as tentativas de
hierárquicos diferentes. compreender o outro comunicador e ser fazer
Dessa forma, a comunicação interna irá compreendido. Nesse processo, inclui-se ainda
lidar com um conjunto de pessoas ligadas en- a percepção da pessoa, a possibilidade de con-
tre si pelo desempenho de tarefas e que devem flitos – que podem ser intensificados ou reduzi-
estar comprometidas pela consecução de ob- dos pela comunicação – e de persuasão (indu-
jetivos compartilhados; um público que se en- ção a mudanças de valores e comportamentos).
contra vinculado por uma ordem de relações Por isso, não existe comunicação totalmente
que têm que ser conhecidas substancialmente objetiva. Ela se faz entre pessoas, e cada pessoa
por todos os seus integrantes (requisito de in- é um mundo à parte com seu subjetivismo, suas
teligibilidade) e que, dependendo de qual seja experiências, sua cultura, seus valores, seus in-
o consenso alcançado (requisito da retórica co- teresses e suas expectativas. A percepção pes-
municativa), facilitará mais ou menos a articu- soal funciona como uma espécie de filtragem
lação dos objetivos organizacionais, garantindo que condiciona a mensagem segundo a própria
o funcionamento, a estabilidade e a reprodução lente. Ouvimos e vemos conforme a nossa per-
da organização. Assim, conceber uma Política cepção (SILVA, 1996).
de Comunicação Interna (conjunto de diretri- A comunicação interpessoal é aquela que
zes que nortearão a comunicação com o públi- se estabelece entre indivíduos, tipicamente en-
co interno), é comprometer-se a levar a cabo tre dois indivíduos ou pequenos grupos, nor-
uma mediação planejada que atuará não so- malmente informais (amigos que se encon-
mente sobre a compreensão ou inteligibilidade tram, por exemplo), ocorrendo no decurso
de uma organização mas, também, sobre o seu normal do quotidiano. Habitualmente, como se
próprio desenvolvimento. (Valéria Cabral) disse, a comunicação interpessoal é direta, mas
pode ser mediada. É o que ocorre, por exem-
Referências: plo, quando se telefona, envia-se uma carta ou
HERMOSA, Jaime del Castillo; ESTEBAN, Ma- um e-mail. Para alguns autores, a comunicação
ria M. Bayón; ARRUE, Rosa. La empresa interpessoal mediada implica recurso a redes
ante los medios de comunicación. Madrid: de comunicação pública, como as redes telefô-
Deusto, [s/d]. nicas ou a Internet, e afasta fisicamente os in-
KUNSCH, Margarida M. K. Planejamento de terlocutores, reduzindo a intensidade do feed-
Relações Públicas na Comunicação Integra- back ou mesmo eliminando-o.
da. São Paulo: Summus, 2002. A comunicação interpessoal direta é, de al-
PIÑUEL RAIGADA, José L., Teoria de la co- guma forma, a mais rica, já que é aquela que in-
municación y gestión de las organizaciones. tegra diretamente mais elementos no contexto
Madrid: Editorial Síntesis, 1997. da comunicação. Na comunicação interpessoal
direta, a componente não-verbal (gestos, posi-
ção dos braços e das mãos, espaço físico entre
Comunicação interpessoal os interlocutores, posição do corpo, expressões
A comunicação interpessoal ocorre no contexto faciais, contacto ocular, vestuário, silêncios,
da interação face a face. Entre os aspectos en- modulação da voz, cheiros emanados pelos in-
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enciclopédia intercom de comunicação
terlocutores, idade aparente dos interlocutores plo, quando alguém faz uma lista de compras
etc.) é tão relevante quanto à verbal (as palavras para seu próprio uso, recorre à caneta e papel e
em si). escreve palavras. O mesmo sucede quando al-
Os gestos, a entoação da voz, as percepções guém verte os seus pensamentos pessoais e in-
que os interlocutores fazem de si mesmo e dos transmissíveis para um diário. Quando alguém
outros (estatuto, distância social, papel social), o toca piano para seu próprio deleite, é à música
feedback imediato, o próprio contexto da situa- que recorre como instrumento de comunica-
ção, entre outros fatores, interferem direta, ime- ção. Há, efetivamente, muitas formas de alguém
diata e processualmente no ato comunicativo comunicar com si próprio (HILSDORF).
interpessoal direto. Repare-se, por exemplo, que Comunicação intrapessoal é a comuni-
adaptamos a linguagem, a postura, os gestos, a cação que uma pessoa tem consigo mesma
distância física que nos separa etc, aos diferen- - corresponde ao diálogo interior onde deba-
tes e às diferentes situações comunicacionais in- temos as nossas dúvidas, perplexidades, dile-
terpessoais que encontramos quotidianamente mas, orientações e escolhas. Esta comunicação,
(SOUSA, 2006). (Arquimedes Pessoni) de certa forma, relacionada com a reflexão. Da
mesma forma, um tipo de comunicação em que
Referências: o emissor e o receptor são a mesma pessoa, e
SILVA, M. J. P. Comunicação tem remédio – A pode ou não existir um meio por onde a men-
comunicação nas relações interpessoais sagem é transmitida. Um exemplo do primeiro
em saúde. 2. ed. São Paulo: Editora Gente, tipo é a criação de diários (SOUSA, 2006).
1996 SOUSA (2006) acredita que as pessoas se
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de Teoria e Pes- comunicam consigo mesmas para refletir so-
quisa da Comunicação e dos Media. Porto, bre os outros, o mundo e elas mesmas, normal-
2006. Disponível em: <http://bocc.unisi- mente, em ordem a aperfeiçoar o seu agir so-
nos.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos- cial, ou seja, o seu papel social nas interações
teoria-pequisa-comunicacao-media.pdf>. que estabelecem com os outros, nos relaciona-
Acesso em 23/02/2009. mentos, nas comunidades e na sociedade de
que fazem parte, mas também para desenvolve-
rem ideias sobre elas próprias e para avaliarem
Comunicação intrapessoal e darem sentido às suas experiências, pontos de
A comunicação intrapessoal é a comunicação vista e vivências.
estabelecida por um indivíduo consigo mes- Em suma, para darem sentido à sua existên-
mo através de mecanismos conscientes (pen- cia. Os efeitos da comunicação intrapessoal po-
samentos, planos) ou inconscientes (sonhos). A dem ser fortes, pois há pessoas que são os mais
comunicação intrapessoal é, sobretudo, um pro- severos juízes delas mesmas. Depressões, agora-
cesso mental, mas pode contemplar outras for- fobias e outras doenças podem ter raízes na co-
mas. Por exemplo, por vezes, quando alguém municação intrapessoal. (Arquimedes Pessoni)
reflete consigo mesmo, faz gestos que o ajudam
a compreender a intensidade das suas emoções Referências:
e o significado dos pensamentos. Noutro exem- SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de Teoria e Pes-
282
enciclopédia intercom de comunicação
quisa da Comunicação e dos Media. Porto, No entanto, quando existe uma grande dis-
2006. Disponível em: <http://bocc.unisi- tância entre nós e uma determinada realidade,
nos.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos- percebemos esta última como algo que não nos
teoria-pequisa-comunicacao-media.pdf>. afeta, como algo com o que, dada sua “virtuali-
HILSDORF, Carlos. O Poder Mágico do Rela- dade”, não chegamos a nos identificar inteira-
cionamento. Disponível em: <http://www. mente, enquanto não existem para nós como
carloshilsdorf.com.br/busca2.php?id_ sujeitos participantes nela. Em síntese, esta
texto=31>. Acesso em 23/02/2009. ideia estaria em consonância com a asseveração
de Tapio Varis, quando afirma que “a comuni-
cação local é uma comunicação real enquanto a
Comunicação local global é uma comunicação virtual” (VELOSO;
A comunicação local é um processo em que PAEZ, 1999).
identidade, lugar, cotidiano e proximidade são A comunidade local é finita, geografica-
as principais características. Surgem assim, mente definida, e fisicamente próxima na mí-
duas ordens de comunicação distintas, porém dia. Neste mundo definir a comunidade local
interligadas: uma global e outra local. Na pri- assume um novo significado. Já não é possível
meira, destaca-se a informação como organi- ver os outros apenas como cidadãos de uma
zadora dos espaços, dos fluxos e das ações em vila ou cidade, ou mesmo de uma região ou
uma escala mais ampliada e genérica; na se- um país. Cada vez mais, as pessoas precisam
gunda, o destaque é o cotidiano vivido no local compreender a interdependência entre as mui-
como garantia de comunicação e possibilidade tas sociedades e não apenas se ver como ame-
de intervenção social e criação de identidade. ricanos, alemães, húngaros ou coreanos, mas
Contudo, a que se pensar a comunicação local também como cidadãos do mundo. Como tal,
e a global em uma convivência dialética, não romenos já não vivem na Romênia ou letões
sendo o local passivo e o global ativo, já que apenas na Letônia.
ambos se complementam e se contradizem. Al- A noção de comunidade deve crescer para
guns posicionamentos nos permitem equalizar incluir estes cidadãos que se encontram longe
o papel da comunicação local atualmente. fisicamente. Por isso, os meios de comunica-
A globalidade é um fenômeno que, até cer- ção devem estar preparados para chegar às suas
to ponto, poder-se-ia considerar como artificial, comunidades ao redor do mundo. Ao fazê-lo,
enquanto procura a edificação de uma nova re- a noção de comunidade torna-se ilimitada ge-
alidade, onde a hegemonia (econômica, social ograficamente, e a tecnologia proporciona os
e cultural) parece ser a viga sobre a que apoia meios para essa expansão (AYCOCK, 2009).
todo este processo. No entanto, as comunida- (Paulo Celso da Silva)
des com valores próprios, demasiados interio-
rizados e a presença de línguas autóctones, que Referências:
em casos concretos se utilizam como autênticos BARBEITO VELOSO, M. L.; PERONA PÁEZ,
estandartes da diferenciação cultural são dois J. J. (). Lo global y lo local. Reflexiones so-
dos principais obstáculos com os quais pode-se bre una interacción emergente. In: La La-
encontrar a fomentada “identidade global”. guna (Tenerife), n. 17, may. 1999.
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SANTOS, M. A natureza do espaço. São Paulo: Nas palavras de Renato Ortiz (1999, p. 38)
Hucitec, 1996. “quando nos referimos ao ‘local’, imaginamos
AYCOCK, F. Localism in the era of globaliza- um espaço restrito, bem delimitado, no inte-
tion and new technologies: implications for rior do qual se desenrola a vida de um grupo
the 21st century. Disponível em: <http:// ou de um conjunto de pessoas. Ele possui um
www.tbsjournal.com/Archives/Spring99/ contorno preciso, a ponto de se tornar baliza
Articles/aycock/aycock.html>. Acesso em territorial para os hábitos cotidianos. O ‘local’
31/03/2009 se confunde, assim, com o que nos circunda,
está ‘realmente presente’ em nossas vidas. Ele
nos recorta com sua proximidade, nos acolhe
Comunicação local E IDENTIDADES com sua familiaridade. Talvez, por isso, pelo
O conceito de comunicação local leva em conta contraste em relação ao distante, ao que se en-
vários fatores que vão além do enfoque pura- contra à parte, o associamos quase que natural-
mente geográfico. Renato Ortiz (1999) e Alain mente à ideia de ‘autêntico’” (sugiro uma cita-
Bourdin (2001), apud Peruzzo (2003) alertam ção nesse trecho, pois ultrapassa o limite de 3
que a comunicação local considera a proximi- linhas).
dade, que diz respeito à noção de pertencimen- Com a adoção de relações virtuais, o con-
to, ou dos vínculos existentes entre pessoas que ceito de comunicação local perde ainda mais
partilham de um cotidiano e de interesses em seu conceito de espaço físico. Virilio (1996)
comum; singularidade que se manifesta por acredita que, se antes, estar presente era estar
meio de cada localidade possuindo aspectos es- próximo, fisicamente próximo do outro, em
pecíficos, tais como a sua história, os costumes, um face-a-face, um frente-a-frente em que o
valores, problemas, língua etc., o que, no entan- diálogo se torna possível através do alcance da
to, não dá ao local um caráter homogêneo; di- voz ou do olhar, o advento de uma proximida-
versidade, com o local comportando múltiplas de midiática fundada nas propriedades do do-
diferenças e a força das pequenas unidades e mínio das ondas eletromagnéticas, parasita o
a familiaridade, que é constituída a partir das valor de aproximação imediata dos interlocu-
identidades e raízes históricas e culturais. tores, esta súbita perda de distância ressurgin-
Peruzzo lembra que o interesse pelo refor- do sobre o “estar-lá”, aqui e agora. Se a partir de
ço das identidades locais acontece no bojo do então pode-se não somente agir, mas ainda “te-
processo de globalização, como bem o demons- leagir” - ver, ouvir, falar, tocar ou ainda sentir à
tram autores como Manuel Castells (2000) e distância, surge a possibilidade inaudita de um
Stuart Hall (1998). De acordo com a autora, em desdobramento da personalidade do sujeito
última instância, o local se caracteriza como que não saberá deixar intacta por muito tempo
um espaço determinado, um lugar específico a “imagem do corpo”, ou seja, a apropriação do
de uma região, no qual a pessoa se sente inse- indivíduo. (Arquimedes Pessoni)
rida e partilha sentidos. É o espaço que lhe é
familiar, que lhe diz respeito mais diretamente, Referências:
muito embora as demarcações territoriais não ORTIZ, Renato. Um outro território. In: BO-
lhe sejam determinantes. LAÑO, César R. S. (Org.). Globalização e
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CAPARELLI, Sérgio. Identificação social e con- ajudar aos concorrentes que descuidaram de
trole ideológico na imprensa dos imigran- seus negócios (SIMON, 2003).
tes alemães. In: Comunicação & Sociedade. Os principais empecilhos para a realização
p.89 -108. São Bernardo do Campo: Cortez da comunicação organizacional integrada nas
& Moraes / Metodista, ano I, n. 1, 1979. PME’s são: desconhecimento sobre quais são
ESCUDERO, Camila. Imprensa de comunida- seus públicos de interesse; falta de fluxo de caixa
des imigrantes de São Paulo e identidade: que permita o investimento em ações estratégi-
estudo dos jornais ibéricos Mundo Lusía- cas de comunicação; pouco ou nenhum pessoal
da e Alborada. Dissertação (Mestrado em qualificado dentro da empresa que tenha conhe-
Comunicação Social). Universidade Meto- cimento das técnicas e atividades comunicacio-
dista de São Paulo: São Bernardo do Cam- nais utilizadas para atingir os diversos públicos
po, 2007. dessas organizações, tais como fornecedores e
compradores industriais; falta de conhecimento
sobre os custos relativos à comunicação e mis-
Comunicação na pequena e média tificação sobre estes valores; e desconhecimento
empresa sobre os resultados tangíveis das ações de comu-
A comunicação organizacional integrada prevê nicação. (Simone Alves de Carvalho)
a atuação sinérgica ao buscar melhores resul-
tados das estratégias comunicacionais empre- Referências:
gadas. Dentro das pequenas e médias empresas CHINEM, Rivaldo. Marketing e divulgação da
(PME’s), o uso de comunicação de forma ela- pequena empresa: como o pequeno e o mi-
borada e planejada tecnicamente é praticamen- croempresário podem chegar à mídia. 3 ed.
te inexistente (GOMES; NASSAR, 2001) e são São Paulo: Senac-SP, 2006.
utilizados, prioritariamente, os instrumentos GOMES, Nelson; NASSAR, Paulo. A comuni-
da comunicação mercadológica, através do uso cação da pequena empresa. 5 ed. rev. ampl.
do material gráfico de suporte para reconhe- São Paulo: Globo, 2001.
cimento da marca; atividades de venda pesso- SIMON, Hermann. As campeãs ocultas: es-
al; participação em feiras e eventos do setor ao tratégias de pequenas e médias empresas
qual está atrelada; ou uso de meios digitais de que conquistaram o mundo. Porto Alegre:
comunicação. O uso da comunicação merca- Bookman, 2003.
dológica pelas PME’s tem como objetivos di-
vulgar a marca do produto/ serviço oferecido e
aumentar as vendas. COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL
No Brasil, as PME’s são responsáveis por A comunicação não-verbal ocorre na ausência
30% do PIB anual, e empregam formalmen- da palavra e abrange todas as manifestações de
te cerca de 40 milhões de pessoas (CHINEM, comportamento não expressas por ela, como os
2006). Pesquisas indicam que existe certa aver- gestos, expressões faciais, orientações do corpo,
são aos instrumentos de comunicação, pois al- as posturas, a relação de distância entre os in-
gumas PME’s alegam não querer revelar suas divíduos e, ainda, organização dos objetos no
estratégias de sucesso em nichos específicos ou espaço.
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As comunicações não-verbais são um meio, tudo aquilo que não é dito pela palavra pode
dentre outros, de transmitir informações e po- ser encontrado no tom de voz, na expressão do
dem ser definidas como as diferentes formas rosto, na forma do gesto ou na atitude do indi-
existentes de comunicação entre seres vivos víduo”. (Maria Sóter Vargas)
que não utilizam a linguagem escrita, falada ou
seus derivados não-sonoros como, por exem- Referências:
plo, a linguagem dos surdos-mudos (CORRA- BIRDWHISTELL, R. L. Kinesics and context:
ZE, 1982). essays on body motion communication. 4.
Ainda segundo Corraze (1982), o concei- ed. Philadelphia: University of Pensylvania
to de comunicação não verbal evidencia um Press, 1985.
extenso campo de comunicações uma vez que CORRAZE, J. As comunicações não-verbais. Rio
não se restringe apenas a espécie humana. Ou- de Janeiro: Zahar, 1982.
tras formas de comunicação também são con- DAVIS, F. A comunicação não-verbal. 6. ed. São
sideradas não verbais tais como a dança das Paulo: Summus, 1979.
abelhas, o ruído dos golfinhos, e, no campo das GAIARSA, J.A. A estátua e a bailarina. 3. ed.
artes, a expressividade da dança, da musica, te- São Paulo: Ícone, 1995
atro, pintura, escultura etc. LANGER, S. Filosofia em nova chave: um estu-
A comunicação não-verbal, entendida do do simbolismo da razão, rito e arte. São
como ações ou processos que têm significado Paulo: Perspectiva, 1971
para as pessoas, é um meio de transmissão e
recepção de uma mensagem. Como um meio
de interação e entendimento entre os seres hu- COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
manos tem seu significado fornecido pelo con- Uma das maneiras de se conceber a relação en-
texto. tre comunicação e organização é tomar a co-
Para Langer (1971), a comunicação humana municação como uma variável organizacional.
não-verbal é a forma não discursiva, efetuada Por esta concepção, comunicação nas organiza-
através de vários canais de comunicação. ções refere-se ao entendimento de que a organi-
Para Birdwhistell (1985), diferente dos ou- zação é um lugar que pode ser apreendido em
tros animais os gestos humanos são polissê- sua materialidade e a comunicação, um de seus
micos podendo ser interpretados através de processos estruturantes (de transmissão de in-
muitos significados diferentes, dependendo do formação) e que existe dentro das organizações
contexto comunicativo em que são produzidos. (DEETZ, 2001).
Como linguagem do corpo – movimento Essa perspectiva insere-se em um dos três
que se faz palavra - a comunicação não verbal modos (como contenção, produção ou equi-
pode dizer muito para nós e para aqueles que valência) com que Smith (1993 in PUTNAM;
nos rodeiam. O corpo é, antes de tudo, um cen- PHILLIPS; CHAPMAN, 2004) observa ser
tro de informações e, segundo Gaiarsa (1985, possível perceber a relação entre comunicação
p.15) “um observador atento consegue ver, no e organização: neste caso, pela ideia de conten-
outro, quase tudo aquilo que o outro está es- ção, parte-se de uma abordagem estrutural-
condendo - conscientemente ou não. Assim, funcionalista em que a organização é conside-
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rada em sua apresentação material, como uma mas construções instituídas nas práticas intera-
estrutura física (contêiner) que, desta forma, tivas cotidianas dos indivíduos. Em outras pa-
contém a comunicação – entendida como o lavras, a organização nada mais é do que um
conjunto de processos que estruturam e man- tecido de comunicação, uma materialidade que
têm a organização. somente pode ser apreendida a partir dos atos
Outro modo de perceber a relação entre de linguagem dos sujeitos que a constituem.
comunicação e organização é através da ideia (Fábia Pereira Lima)
de produção, que considera tanto a comunica-
ção como um processo organizante (que pro- Referências:
duz a organização), como a organização como CASALI, Adriana Machado. Um modelo do
produtora de comunicação ou, ainda, comuni- processo de comunicação organizacional
cação e organização como fenômenos que se na perspectiva da “Escola de Montreal”. In:
constituem mutuamente. Levando esta pers- KUNSCH, Margarida M. K. Comunicação
pectiva a uma dimensão extrema, a ideia da organizacional: Histórico, fundamentos e
equivalência considera comunicação e organi- processos. p. 107-134. São Paulo: Saraiva,
zação como expressões diferentes de um mes- 2009. Volume 1.
mo fenômeno (comunicação é organização e DEETZ, Stanley. Conceptual Foundations. In:
organização é comunicação). JABLIN, Frederic M.; PUTNAM, Linda L.
A perspectiva da comunicação nas orga- (Orgs.). The new handbook of organization-
nizações aproxima-se não apenas da ideia de al communication. p. 3-46 California: Sage
contêiner, mas também da metáfora da organi- Publications, 2001.
zação como máquina, ou seja, à imagem da or- MORGAN, Gareth. Imagens da organização.
ganização como um mecanismo composto de São Paulo: Atlas, 2009.
várias partes interligadas e interdependentes, PUTNAM, Linda L.; PHILLIPS, Nelson; CHA-
cada uma desempenhando sua função específi- PMAN, Pamela. Metáforas da comunica-
ca e contribuindo para o perfeito funcionamen- ção e da organização. In: CLEGG, Stewart
to do todo (MORGAN, 2009). R.; HARDY, Cynthia; NORD, Walter R.
Desse modo, a comunicação é tomada (Orgs.) Handbook de estudos organizacio-
como um dispositivo da organização-máqui- nais: ação e análise organizacionais. p. 77-
na e tem como função transmitir informações 125. São Paulo: Atlas, 2004. Volume 3.
- mantendo, assim, o controle e a ordem or-
ganizacional. Trata-se, no fundo de uma visão
limitada da relação entre comunicação e or- COMUNICAÇÃO NO TERCEIRO SETOR
ganização que os estudos mais recentes em co- No Brasil, são consideradas, oficialmente,
municação organizacional tentam abandonar. como Organizações do Terceiro Setor (OTS) as
Assim, progressivamente, a perspectiva do con- associações e fundações privadas. Os critérios
têiner passa a ser substituída pelos enfoques da mais aceitos para sua identificação incluem que
produção e da equivalência, como demonstra- a instituição deve ser privada, não integrante
do por Casali (2009). Neste caso, as organiza- do Poder Público; sem fins lucrativos, ou seja,
ções não são entidades materiais pré-existentes, não distribuir resultados superavitários entre
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Assim, ações mais expressivas e organizadas es- não discutem tanto a função da comunicação,
tavam nos sindicatos obreiros e nos conselhos mas lutam pela legitimidade e ampliação dos
populares (caso de alguns países do bloco ex- espaços de ação, que também se faz por meio
socialista). da informação, contatos e intercâmbios, seja
No Brasil pós-golpe militar de 1964, com o por meios impressos, eletrônicos ou em rede.
cerceamento de manifestações sociais, duran- Um aspecto, contudo, parece consensual: a co-
te o regime militar, o debate em torno da co- municação se torna, cada vez mais, fundamen-
municação nos movimentos vai, gradualmente, tal na ação cotidiana dos movimentos sociais
possibilitando a criação de espaços próprios de contemporâneos. (Sérgio Luiz Gadini)
manifestação pública. Assim, a partir dos últi-
mos anos da ditadura (1979) a sociedade civil Referências:
volta a vislumbrar possíveis manifestações po- ALTHUSSER, Louis. Aparelhos Ideológicos do
pulares. A redemocratização abre espaço aos Estado. Rio de Janeiro: Graal Editora, 1983.
grupos que começam a buscar alternativas de FÓRUM Nacional Pela Democratização
comunicação, como jornais populares e rádios Da Comunicação (FND C). Disponí-
comunitárias. Tais iniciativas, contudo, ainda vel em: <http://www.fndc.org.br/inter-
esbarravam na legislação e na própria resis- nas.php?p=listlegislacaocat>. Acesso em
tência de setores que viam no fim da Ditadu- 05/01/2009.
ra Militar apenas a possibilidade de expressão
política e não uma efetiva democratização da
sociedade. Comunicação nutricional
A partir de 1995, com a lei da TV a cabo, os O papel da comunicação na mudança de hábi-
movimentos conseguem aprovar – pela articu- tos, sobretudo os alimentares, é tido como fa-
lação do Movimento Nacional pela Democrati- tor importante para o melhoramento do estado
zação da Comunicação, na ocasião dirigido por nutricional da população. A Conferência In-
Daniel Herz – uma legislação que assegura es- ternacional sobre Nutrição (CIN), organizada
paço para um canal comunitário em cada mu- conjuntamente com a Organização das Nações
nicípio de operação do sistema de TV por cabo. Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO)
E, a partir de 1998, com a aprovação da lei da e a Organização Mundial da Saúde (OMS), em
radiodifusão comunitária, entidades e grupos dezembro de 1992, recomendou que se des-
sociais conseguem, embora limitada a 0,25 KW se prioridade à educação alimentar e nutricio-
de potência, o direito de criar emissoras locais, nal por meio de um processo de comunicação
desde que autorizadas pela Agência Nacional social em nutrição, desenvolvido em forma de
de Telecomunicações (Anatel). Paralelamen- instrumento para a promoção e a execução de
te, a partir da abertura comercial da Internet atividades de educação nutricional, particular-
(1995), a rede se torna um emergente espaço de mente em países em desenvolvimento.
comunicação e expressão para setores dos mo- Um programa de educação nutricional visa
vimentos sociais. à modificação voluntária de hábitos para me-
Assim, ao final da primeira década do sé- lhorar o estado nutricional da população e uti-
culo XXI, os movimentos sociais no Brasil já liza um conjunto de atividades de comunicação.
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nejamento e técnicas. São Paulo: Summus, transferência de tecnologia. Aos países periféricos,
1986. especialmente os do então chamado “terceiro mun-
do”, restou a política de “modernização”, que obje-
tivava principalmente criar condições para a reno-
Comunicação para o vação dos processos de produção agrícola nas zonas
desenvolvimento rurais e a expansão do consumo nos setores urba-
O movimento que ficou conhecido como ‘Co- nos. As estratégias da Comunicação para o Desen-
municação para o Desenvolvimento’ é relatado, volvimento foram esboçadas por Wilbur Schramm e
assim, por Beltrán (1995): seus discípulos em livro publicado pela UNESCO no
início dos anos 60.
Ao final dos anos 50, há uma correlação estrei-
ta entre a comunicação social e o desenvolvimento Wilbur Schramm procurou advertir para
nacional. (...) Desde aí nasceu a teorização sobre o os limites das potencialidades dos veículos de
fenômeno da “comunicação para o desenvolvimen- massa, alertando para o papel fundamental da
to”, como processo de intervenção para a mudança comunicação dirigida, especialmente quando,
social, entendida como atividade profissional. (...) para se obter o desenvolvimento, exige “a mo-
Como processo social e disciplina profissional se ori- dificação de concepções, crenças e normas so-
ginou nos Estados Unidos, ao término da Segunda ciais fortemente arraigadas”.
Guerra Mundial e começou a praticar-se na América Entre suas recomendações deixadas desta-
Latina a partir do último terço da década de 1940. ca-se: “Um país em desenvolvimento deve dar
(...). Na América Latina, os Estados Unidos instituí- atenção especial à combinação dos veículos de
ram serviços cooperativos com vários governos para massa com a comunicação interpessoal”. Ex-
programas de desenvolvimento em agricultura, saú- plica Schramm que “os veículos de massa po-
de e educação; estes criaram os primeiros órgãos de dem ser eficientes, e a comunicação interpes-
comunicação para a educação não formal e técnica soal também pode ser eficiente mas (...) os dois
na região, ou seja, as primeiras unidades de comuni- juntos podem algumas vezes ser muito mais
cação para o desenvolvimento. eficientes” e insiste na importância da combi-
nação que deve ser buscada em todas as opor-
O início do movimento lembrado por Bel- tunidades e salienta “que essa combinação,
trán também é relatado, didaticamente, pelo potente como é, não será automaticamente po-
pesquisador José Marques de Melo, salientando sitiva. Exige atenção especial, cuidado e mui-
o papel de Wilbur Schramm, pioneiro do movi- ta habilidade” (OLIVEIRA; VASCONCELOS,
mento de comunicação para o desenvolvimen- 1981) . (Arquimedes Pessoni)
to (2005):
Referências:
A disciplina Comunicação para o Desenvolvi- BELTRAN, Luis Ramiro. Salud pública y co-
mento foi criada no contexto da política de expan- municación social. p. 33-37. Revista Chas-
são da hegemonia norte-americana implementada qui, jul. 1995.
no pós-guerra. Os europeus desfrutaram as benesses MARQUES DE MELO, José. Depoimen-
do Plano Marshall, traduzida por ajuda econômica e to [22/05/2005]. Entrevista a PESSONI,
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interesses históricos das classes subalternas, no partir daí, com o advento da globalização e da
contexto da luta de classes, numa perspectiva gradativa transformação no papel do Estado,
emancipatória, produzida e/ou impulsionada muitas atribuições de interesse coletivo, outro-
pelas mais diversas organizações sócio-políti- ra operadas exclusivamente por quadros ofi-
cas engajadas na luta anticapitalista. (Rozinaldo ciais, passaram a ser delegadas – sob concessão
Antonio Miani) ou parceria – as organizações do mercado e do
terceiro setor, expandindo o leque de pressu-
Referências: postos capazes de abrigar a ideia de comunica-
FESTA, Regina; LINS E SILVA, Carlos Eduardo ção pública.
(Orgs). Comunicação popular e alternativa Os sujeitos que promovem esta modalida-
no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986. de de comunicação são, em primeira instância,
KUCINSKI, Bernardo. Jornalistas e revolucio- os institucionais – o ente Estado e suas admi-
nários nos tempos da imprensa alternativa. nistrações – no sentido de implementar a trans-
São Paulo: Scritta Editorial, 1991. parência e a maior eficácia da ação dos pode-
MIANI, Rozinaldo A. Comunicação comunitá- res públicos e de sensibilizar os cidadãos sobre
ria: uma alternativa política ao monopólio problemas de particular interesse e significa-
midiático. In: Anais. I Encontro da União do para o desenvolvimento civil da sociedade.
Latinoamericana de Economia Política da Também são promotores da comunicação pú-
Informação, da Comunicação e da Cultura blica os sujeitos privados do Terceiro Setor que,
– Ulepicc-Brasil. Niterói, 2006. mais recentemente, vêm movimentando pro-
PERUZZO, Cícilia M. K. Comunicação popu- cessos de informação e de comunicação com os
lar em seus aspectos teóricos. In: . cidadãos a respeito de temas socialmente rele-
(Org). Comunicação e culturas populares. vantes, desenvolvendo ações de suprimento das
Coleção GT’S - INTERCOM, n. 5, São Pau- estruturas públicas.
lo: Intercom/CNPq/Finep, 1995. Os pontos de vista mais consagrados desta-
PERUZZO, Cícilia M.K. Comunicação nos mo- cam que a comunicação pública tem como ob-
vimentos populares: a participação na cons- jeto temas de interesse geral e como finalida-
trução da cidadania. Petrópolis: Vozes, de contribuir para a realização desse interesse.
1998. Nesse contexto, também, podem ser são ope-
radas por organizações do mercado, desde que
contemplados aqueles aspectos. (Mariângela
COMUNICAÇÃO PÚBLICA Haswani)
Comunicação pública é um conceito em cons-
trução nos meios acadêmico e profissional de Referências:
todo o mundo e, justamente por isso, ainda não ARENA, G. (Org.) La funzione di comunica-
existem teorias consagradas, mas reflexões em zione nelle pubbliche amministrazioni. San
curso. Até os anos de 1980, era consensual fa- Marino: Maggioli, 2004.
lar de comunicação pública referindo-se exclu- BOBBIO, N. Estado, governo, sociedade – para
sivamente àquela originada nos organismos es- uma teoria geral da política. 13. ed. São
tatais e governamentais e por eles emitida. A Paulo: Paz e Terra, 2007.
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que defende a participação pública dos cida- MAZOCCO, Fabricio José; SOUZA, Cidoval
dãos nos processos decisórios sobre CT&I, face Morais. Modelo de Participação Pública – A
a sua influência e impacto dessas escolhas na tendência dialógica na Comunicação Pú-
sociedade. As dicussões em torno da área de blica da Ciência e o campo CTS. Fórum
CTS abordam a importância de se democrati- Iberoamericano de Comunicação e Divul-
zar o conhecimento acerca das relações entre gação Científica. Unicamp, 23-25 de nov,
ciência, tecnologia e sociedade. Isto porque, 2009.
hoje, “as questões relativas à ciência e à tecno-
logia e sua importância na definição das condi-
ções da vida humana, extravasam o âmbito aca- COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA
dêmico para converter-se em centro de atenção A publicidade é a atividade reconhecida pela
e interesse do conjunto da sociedade” (2003). forma de comunicação que conota a qualidade
A comunicação da ciência pode ser vista, daquilo a ser tornado público, divulgado am-
ainda, de forma estratégica e em sua dimensão plamente. O termo origina-se da palavra latina
política e educacional. É essencial ao processo publicus e que gera a substantivação publicitas,
de comunicação pública da ciência, conside- cujo sentido se manifesta na objetivação do ato
rando os riscos e implicações do conhecimento de vulgarizar, banalizar uma ideia, tornando-a
aplicado e o interesse público. Essa divulgação, acessível a um conjunto amplo de pessoas. En-
seja em sua dimensão midiática ou nos diferen- tre as culturas anglo-saxônicas sua tradução
tes formatos e estratégias de expressão públi- se dá pelo termo advertising, que traz consigo
ca de C&T, deve ser elaborada com ênfase na a ideia de anunciar ao contrário do termo pu-
análise de conteúdos e seus impactos junto à blicity, que possui a tradução literal em portu-
socidade (MAZZOCO; SOUZA, 2009). (Gra- guês como publicidade, mas que está atrelada
ça Caldas) às divulgações para gestão entre públicos tipi-
camente trabalhada pelas Relações Publicas.
Referências: (BARBOSA, 1995, p. 31-32).
BAZZO, Walter A. (Ed.). Introdução aos Es- Sua aplicação dentro da definição que hoje
tudos de Ciência, Tecnologia e Socidade conhecemos se dá, a partir do Século XIX, du-
(CTS). In: Cadernos Ibero-America. Or- rante a segunda Revolução Industrial, deno-
ganização dos Estados Ibero-Americanos tando a qualidade de comunicação que torna
para a Educação, a Ciência e a Cultura. público informações com argumentações per-
OEI, 2003. suasivas sobre marcas de produtos e serviços
BRANDÃO, Elizabeth. Usos e significados do existentes no mercado de consumo.
conceito de Comunicação Pública. Inter- Em uma perspectiva histórica de sua inscri-
com, 2009. ção cultural, o conceito de publicidade recebeu
LEWENTEIN, Bruce V.; BROSSARD, Domin- contornos semânticos que alteraram o seu sen-
ique. Models of public communication os tido original, possibilitando a sinonímia com
science and tehcnology. Assessing Models o termo propaganda, que se refere à qualidade
of Public Understanding. In: ELSI Outrech daquilo que divulga ideias de doutrinas políti-
Materials. Cornell University, 2006. cas, filosóficas e religiosas. Tal sinonímia se deu
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pelo fato do marketing perceber que o diferen- de suas definições, pois com as transformações
cial competitivo entre produtos com atributos tecnológicas, a comunicação publicitária sofre-
tangíveis semelhantes, dar-se-ia em função da rá alterações de seus formatos, nos modos de
construção de atributos intangíveis que passam veiculação e de remuneração das agências.
a se materializar no processo de planejamento Desse modo, a comunicação publicitária,
das comunicações em marketing, os conceitos, do início do Século XIX, apontava para revi-
estilos de vida, atribuídos às marcas em suas sões de seus postulados. Contudo, sua essência
mensagens mercadológicas. Ou seja, o diferen- de tornar público, como função social e sua li-
cial entre as marcas passa a ser a construção de gação ao universo da produção e consumo de
propagandas, os ideais das marcas. bens permanecem imutáveis. Sobre as trans-
Por outro lado, atividades de comunicação formações atuais na comunicação publicitária
política (partidárias e eleitorais) e religiosas, recomenda-se a leitura da obra organizada por
também passaram a utilizar os formatos de pla- Perez e Barbosa (2007). (Eneus Trindade)
nejamento das ações de comunicações em ma-
rketing, amplamente aplicadas na publicidade Referências:
e na promoção, visando à satisfação de neces- BARBOSA, I. S. Propaganda e Significação:
sidades do público eleitor ou fiel, como forma do conceito à inscrição pscico-cultural. In
de garantir a adesão destes às doutrinas divul- CORRÊA, T. G (Org.) Comunicação para
gadas, bem como auxiliar na manutenção de o mercado. Instituições, mercado e publici-
imagem das organizações políticas e religiosas, dade. São Paulo: Edicon. 1995.
tal qual o universo das organizações comerciais SANT’ANNA, A. Propaganda, teoria, técnica e
em suas comunicações institucionais corporati- prática. 9. ed. São Paulo: Pioneira,1999.
vas e mercadológicas. Percebe-se, portanto, que PEREZ, C.; BARBOSA, I. S. Hiperpublicidade
tanto a propaganda contaminou a publicidade, 1. Fundamentos e Interfaces. São Paulo:
como a publicidade contaminou a propaganda Thomson Learnig. 2007.
gerando esta sinonímia, mas ambos os concei-
tos estão a serviço das comunicações mercado-
lógicas e institucionais. Comunicação Rural
Isso dificultou a visualização das frontei- Comunicação Rural é um processo comunicati-
ras entre os termos publicidade e propaganda. vo na perspectiva de construir mudanças para
Alguns autores insistem em criar definições o desenvolvimento. A construção da mudança
precárias sobre o que seriam a propaganda e a na perspectiva do desenvolvimento constitui,
publicidade. A partir de Sant’Anna (1999), po- portanto, o cerne da Comunicação Rural, na
de-se arriscar dizer que o sentido de propagan- medida em que é inerente à natureza e às prá-
da estaria mais perto dos tipos institucionais de ticas dessa disciplina. Compreender o sentido
comunicação e a publicidade estaria mais pró- e o “que fazer” da Comunicação Rural implica
xima dos tipos promocionais de comunicação. necessariamente em entender os diferentes sig-
Mas, a definição separada desses termos, hoje, nificados de mudança que a disciplina incorpo-
fica difícil e mesmos os aspectos defenidos por rou, em momentos historicamente construídos
Sant’anna apontam ou tendem para superações ao longo da sua trajetória.
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grada. Nova edição, São Paulo: Summus, comunicação. Contemplam-se, dessa forma, as
2003. questões de hospitalidade, lazer e conforto vi-
sual, por exemplo.
Dentre outras possibilidades de comunica-
Comunicação turística ção com turísticos, destacam-se: processos de
Por comunicação turística compreende-se o divulgação, promoção e assessoria de impren-
“processo de construção e disputa de sentidos sa; relações com as mídias; ações/programas
no âmbito das relações de turismo” (BALDIS- de desenvolvimento de pessoas para o turismo;
SERA, 2007). Essa perspectiva considera que a processos transacionais, mesmo os políticos,
significação atribuída a algo/alguma coisa, em entre os diferentes poderes/forças/interesses;
algum nível, transforma-se permanentemente e as falas não oficiais (informais) que se realizam
ressalta as relações de força que se realizam nos em diferentes lugares e com intenções diversas;
processos comunicacionais, pois que comuni- mediações; campanhas de informação, sensi-
cação é relação e toda relação é relação de for- bilização e conscientização turística; processos
ças (FOUCAULT, 1996). Nesse caso, tratam-se de construção e/ou fabricação da imagem-con-
das relações de forças atualizadas pelos sujeitos ceito; processos mercadológicos; possibilida-
em interlocução para disputar os sentidos que des e os lugares de participação dos diferentes
circulam na cadeia de comunicação. públicos no pensar, planejar e fazer turístico;
A comunicação turística – subsistema da as regiões de silêncio, os lugares e as ações de
comunicação – abrange toda comunicação boicote; as aferições de opinião, satisfação, cli-
que, de alguma forma, se referir ao turismo. ma e imagem-conceito; a cultura e a memória
Compreende a fala autorizada e também a co- e o imaginário; a hospitalidade; os processos
municação que se realiza na cotidianidade, no para o desenvolvimento da cultura de turismo;
acontecer. Isto é, assim como a comunicação a construção dos ambientes turísticos como lu-
efetivada pelos setores público e privado, no gares a serem significados; e outras. (Rudimar
nível dos processos planejados, é comunicação Baldissera)
turística, também o é aquela que se realiza em
processos não planejados. Portanto, a comuni- Referências:
cação turística abarca toda comunicação que se BALDISSERA, Rudimar. Comunicação turís-
materializa em diferentes lugares do ser e do fa- tica. Passo Fundo. Anais do Intercom Sul,
zer turístico, em processos formais e informais. 2007.
O qualificativo turística é dado a todo proces- FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 12.
so comunicacional que, independentemente de ed. Rio de Janeiro: Graal, 1996.
sua natureza, nível de complexidade e ambiente
de materialização, se referir/realizar no âmbito
das relações de turismo, sejam elas planejadas/ Comunicação urbana
formais ou não planejadas/informais. Nesse Grande parte das produções da área de comu-
sentido, mesmo que algo não tenha a intenção nicação social encontra nas cidades ambiente
de comunicar, basta que alguém compreenda ou inspiração para sua existência. A cidade co-
como comunicação para que seja considerado munica. Em todos os sentidos e mesmo para
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além deles: plena de objetos, a metrópole mis- e do cimento. O corpo se expande em edifícios,
tura as efervescências comunicacionais à avidez mercadorias e imagens. Esse fetichismo se me-
pela novidade. Os corpos urbanos adaptam-se tamorfoseia constantemente em sujeito. Assim,
e, simultaneamente, impõem-se como ordena- o objeto é sempre, em alguma medida, sujeito.
dores dessa diversidade ou como participantes Nesse contexto, o consumidor busca nas
diretos da vida nervosa das cidades (SIMMEL, marcas e nos produtos o mesmo que busca para
2004, p. 170). Esses corpos, às vezes, medrosos, seu corpo, tornando orgânicas as mercadorias
percorrem anonimamente o território metro- concretas. Boa parte dos movimentos urbanos
politano, ao lado de outros que exibem seus é regida por agenciamentos da ordem da co-
pertencimentos por meio de tatuagens, estilos municação. Agências de notícias, agências de
de vestir e adornos tecnológicos. Em ambos os publicidade, agências de relações públicas habi-
casos, eles deixam marcas na cidade e carregam tam e norteiam o imaginário metropolitano.
novas significações para suas vidas. Mais do Sob esse panorama, a sociedade moder-
que nunca, na metrópole contemporânea, cor- na de produtores foi se transformando gradu-
po, comunicação e consumo se misturam per- almente em uma sociedade de consumidores
manentemente e de forma tão exponencial que, (BAUMAN, 2008, p. 37/69). Com isso, os con-
às vezes, temos dúvidas sobre o que é corpo, o sumidores são, simultaneamente, o produto e
que é meio e o que é objeto. seus agentes de marketing. (Ricardo Ferreira
A cidade é palco de intervenções perma- Freitas)
nentes que atingem todos os sentidos, alguns
impostos ou sugeridos pelos poderes públicos, Referências:
outros frutos de cada aglomeração voluntá- BAUMAN, Zygmunt. Vida para o consumo – a
ria ou involuntária no cotidiano, o que reme- transformação das pessoas em mercadoria.
te à ideia de estar junto (MAFFESOLI, 2007, p. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
118-119), especialmente quando, inspirado em CANEVACCI, Massimo. Fetichismos visuais –
Durkheim, associa esse fenômeno a um “estado corpos erópticos e metrópole comunica-
de congregação pós-moderno”. Para Canevacci, cional. São Paulo: Ateliê editorial, 2008.
a grande cidade contemporânea se caracteriza . A cidade polifônica – ensaio sobre a
como uma metrópole comunicacional. Os di- antropologia da comunicação urbana. São
versos contextos metropolitanos se irradiam e Paulo : Studio Nobel, 1993.
se entrelaçam a partir de fluxos comunicacio- MAFFESOLI, Michel. Le réechantement du
nais caracterizados pelo incremento de fetichis- monde – une éthique pour notre temps.
mos visuais de diversas ordens. Esses fetiches Paris: La Table Ronde, 2007.
visuais se estratificam transversalmente sobre SIMMEL, Georg. Philosophie de la modernité.
a publicidade, a moda e as artes em geral, afe- Paris : Payot, 2004.
tando os seres humanos e as cidades. Em cada
produção comunicacional, corpos e metrópo-
les dialogam e, ao mesmo tempo, somatizam Comunicação Verbal
pústulas de desejos expressos e não expressos A comunicação é desenvolvida por meio da lin-
que formam e deformam a fisionomia da carne guagem que é uma prática social. A produção
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(2003) afirma que são redes fechadas, autorre- A ascensão do comunicador ao papel de
guladas e com interesses interdependentes. principal protagonista do cenário radiofônico
Assim, ‘Comunidades Virtuais de Aprendi- aparece, neste novo contexto, como uma res-
zagem’ são agrupamentos de pessoas que se rela- posta à autenticidade, mesmo que irreal, mas
cionam por meio do ciberespaço, de modo não- passível de ser atribuída às pessoas graças aos
presencial, cuja interação ocorre por meio de sons e imagens mostrados na tela dos televi-
dispositivos comunicacionais e tem seu agencia- sores. O processo de constituição do comuni-
mento voltado à aprendizagem. A comunicação cador de rádio como um parceiro imaginário
virtual na aprendizagem é não-contígua, pressu- ou companheiro virtual em uma conversação
põe a mediação tecnológica. (Ademilde Sartori) simulada só é possível, também, graças à in-
trodução de uma tecnologia popularizada no
Referências: Brasil ao longo da década de 1960: a transisto-
BAUDRILLARD, J. Simulacros e Simulação. rização. Para tanto, a fala coloquial começa a
Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1991. ocupar o espaço da fala atrelada ao papel e, por
LÉVY, P. O que é o Virtual? São Paulo: Editora vício de origem, algo formal.
34, 1996. O comunicador radiofônico inspira-se na
RHEINGOLD, H. A Comunidade Virtual. Lis- forma de apresentação dos programas de au-
boa: Editora Gradiva, 1996. ditório e de condução das poucas entrevistas,
VILCHES, L. Tecnologia digital: perspectivas então transmitidas, únicos espaços onde, até
mundiais. In: Comunicação & Educação. os anos 1950, foge-se do suporte escrito. Em
São Paulo: ECA/USP, (26), p. 43 a 61, jan- torno dele, articulam-se diferentes modos de
abr 2003. estruturação das transmissões, acompanhan-
do a transição do espetáculo para as alterna-
tivas oferecidas pela segmentação nas décadas
Comunicador Radiofônico seguintes.
Constitui-se na figura central da programa- O animador de estúdio, antes sóbrio, de lo-
ção de emissoras de rádio em que predomina cução grave e voz empostada, dá lugar ao disc-
a transmissão ao vivo. É o responsável pelo di- jóquei, que seleciona músicas, além de brin-
álogo imaginário – e com dose significativa de car com letras e sonoridades. Até o início da
coloquialidade – estabelecido pela estação de década de 1980, consolida-se junto ao público
rádio com o ouvinte. jovem, reduz sua denominação a uma sigla –
Até meados da década de 1960, predomina- DJ – e, encarnando uma espécie de irmão ou
ram, no Brasil, conteúdos lidos ou interpreta- de amigo mais velho, orienta gostos e compor-
dos, tendo como base a palavra escrita e, como tamentos. Pelo lado do jornalismo, na função
suporte físico, o papel na forma do roteiro. A de âncora, deixa de ser apenas uma voz a fazer
TV, ao acrescentar imagens a atrações radiofô- perguntas. Torna-se alguém a conduzir, com
nicas tradicionais como novelas, humorísticos personalidade própria, o programa e a garan-
e programas de auditório, não apenas leva con- tir uma determinada linha editorial. No rádio
sigo público e anunciantes, mas ajuda a mudar popular, apresenta-se como um companheiro, a
a forma de recepção das informações. voz do radinho de pilha, lado a lado com a do-
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na-de-casa, o motorista de táxi ou o idoso soli- suas posições, participando ativamente e se tor-
tário. (Luiz Artur Ferraretto) nando protagonista de inúmeros processos de
transformação político-social (FREIRE, 1992).
Referências: Incorporando tal mudança, a emergência do
FERRARETTO, Luiz Artur. O hábito de escuta: movimento de reestruturação do capitalismo
pistas para a compreensão das alterações induz o comunicador a revisitar atribuições as-
nas formas do ouvir radiofônico. Ghrebh, sumidas durante boa parte do século XX, exer-
São Paulo: Centro
Interdisciplinar de cendo então importância decisiva nas relações
Semiótica da Cultura e da Mídia/ e negociações estabelecidas em função da glo-
PUC-SP, mar. 2007, Volume 9. Disponível balização e da regionalização da comunicação,
em: <http://www.revista.cisc.org.br/>. contexto no qual se sobressaem o ativista midi-
. Rádio e capitalismo no Rio Grande do ático (TRIGUEIRO, 2008) e, muito mais ainda,
Sul: as emissoras comerciais e suas estra- o mediador social. Neste sentido, o comunica-
tégias de programação na segunda meta- dor regional tende a ocupar o lugar de media-
de do século 20. Canoas: Editora da Ulbra, dor das relações interpessoais, tanto face a face
2007. como intermediadas por tecnologias, acentuan-
FORNATALE, Peter; MILLS, Joshua E. Radio do a importância do aprofundamento da ideia
in the television age. New York: The Over- de que a sociedade contemporânea e a sociabi-
look Press. 1980. lidade humana em geral são marcadas, neces-
sariamente, pela mediação social (MARTÍN-
BARBERO, 2008). (Roberto Faustino da Costa e
Comunicador Regional Cidoval Morais de Sousa)
Compreende desde o profissional que atua nas
emissoras de rádio e televisão regional até o Referências:
agente social que atua no campo da folkcomu- BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo
nicação, herdando e, ao mesmo tempo, exer- dos agentes e dos meios populares de in-
cendo influência em meio às culturas populares formação de fatos e expressão de ideias.
(BELTRÃO, 2001). Até os anos 1960, prevalece Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
a ideia de que o comunicador regional agluti- FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 10.
na, exemplarmente, o papel de líder de opinião, ed. São Paulo: Paz e Terra, 1992.
cumprindo função estratégica no processo de KATZ, Elihu; LAZARSFELD, Paul Felix. Per-
modernização dos países de Terceiro Mundo, sonal influence: the part played by people
seja difundindo inovações tecnológicas seja in the flow of mass communications. New
mesmo reelaborando mensagens dirigidas pe- York: Free Press, 1964.
los meios de comunicação às comunidades MARTÍN-BARBERO, Jesús. Dos meios às me-
rurais e periferias urbanas (KATZ; LAZARS- diações: comunicação, cultura e hegemo-
FELD, 1964). nia. 5. ed. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2008.
A partir da década de 1970, a irrupção dos TRIGUEIRO, Osvaldo Meira. Folkcomunicação
movimentos sociais permite ao comunicador & ativismo midiático. João Pessoa: Ed. Uni-
regional, de forma autônoma, redimensionar versitária/UFPB, 2008.
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propriedade, quanto do capital e do conheci- mas essa especialização surge, logo que os pri-
mento. (Virginia Pradelina da Silveira Fonseca) meiros instrumentos musicais são criados. Os
sumérios, trinta séculos a.C., tinham flautas
Referências: de prata, harpas e liras. Os egípcios, dez sécu-
CAPPARELLI, Sérgio; LIMA, Venício A. Co- los depois, possuem conjuntos vocais e instru-
municação & Televisão: desafios da pós-glo- mentais – trombetas, harpas, címbalos e liras –
balização. São Paulo: Hacker, 2004. a serviço dos faraós e das cerimônias religiosas.
HARVEY, David. A arte de lucrar: globalização, Os hebreus davam grande valor à música, que
monopólio e exploração da cultura. In: servia tanto para invocar a guerra quanto para
LIMA, Venício A. Mídia: teoria e política. São louvar a Deus. Todas essas manifestações eram
Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, coletivas, portanto, eram concerto e, embora
2001. restritas, em suas formas mais sofisticadas, aos
MORAES, Denis (Org.). Por uma outra comu- círculos próximos ao poder, com certeza eram
nicação: mídia, mundialização cultural e replicadas pelas classes populares.
poder. Rio de Janeiro: Record, 2003. Na Grécia Clássica, a música tinha um pa-
pel social importante, e seu ensino era preconi-
zado por Platão. Quando os rituais dedicados
Concerto ao deus Dionisos - celebrados no campo, com
A música nasceu como uma experiência místi- muita dança, música e sacrifícios de animais -
ca e social e, o que hoje chamamos de concerto foram levados para as cidades, dando origem
– é, na verdade, a reunião de um determinado à tragédia e à comédia, a música encontrou seu
número de pessoas para ouvir uma combina- primeiro espaço oficial e fixo: o teatro. Antes
ção de sons executada por instrumentistas e/ disso, a música – executada com a cítara e a lira
ou cantores - faz parte das bases da civilização, – já servia de apoio aos aedos, poetas-cantores
tanto no ocidente quanto no oriente. que viajavam pela Grécia, de cidade em cidade,
Em rituais para invocar deuses, saudar he- recitando principalmente as obras homéricas.
róis e celebrar a fertilidade, em que música, Temos, portanto, concertos fixos e itinerantes.
dança e pantomima eram igualmente impor- Considerando que só restam pequenos frag-
tantes, o homem primitivo afirmava seu lugar mentos das composições gregas deste período, e
privilegiado na natureza e fazia o que os outros que elas quase nenhuma influência tiveram na
animais – às vezes muito mais fortes e pode- linguagem musical do ocidente, podemos afir-
rosos – não sabiam fazer: coordenava esforços mar que o principal legado musical dos gregos
para obter um bem comum, a saber, a comu- foi a ideia do concerto, embora para eles a mú-
nicação com o sobrenatural (o que não é hu- sica cumprisse papel de apoio às manifestações
mano, mas nasce do humano) e com o outro literárias e dramatúrgicas. Libertando-se, pouco
(o que não sou eu, mas que existe porque eu o a pouco, de seu caráter religioso, ainda predomi-
percebo como um igual a mim). nante na Idade Média, o concerto musical ganha
Na pré-história, com certeza, não estava contornos mundanos a partir da Renascença.
ainda determinada a separação entre os que A música erudita europeia cresce nos sa-
executavam o concerto e os que o apreciavam, lões das cortes e, cada vez mais sofisticada, fa-
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do e do universo. São comuns concursos que xão ponto a ponto, em sentido bidirecional,
envolvem categorias profissionais (“A mais bela sustenta, a partir dos anos de 1960, uma crí-
comerciária” é um clássico). tica aos modelos centralizados, hierárquicos,
Os dois mais importantes concursos de be- assim como às noções de estrutura (DELEU-
leza internacionais são o Miss Mundo, que teve ZE; GUATTARI, 2006), ou mesmo de dialética
sua primeira edição em 1951 e o Miss Univer- (SERRES, [s.d.]). As múltiplas conexões fazem
so, que começou em 1952. Ambos são eventos da rede um ambiente complexo, dinâmico, plu-
midiáticos globais, transmitidos pela TV para rideterminado no qual a organização se cons-
centenas de países. titui de forma imanente e emergente (de baixo
A América Latina é um continente que va- para cima), em contraposição às relações base-
loriza, de forma intensa, esse tipo de evento e, adas na hierarquia ou na estrutura.
na Venezuela, a escolha de misses é uma verda- Mais do que simplesmente um processo
deira paixão nacional. Os especialistas em con- técnico, a conexão é um operador sócio-polí-
cursos de beleza são chamados de “missólogos”. tico. De um lado, a possibilidade de conexão
O Brasil já venceu o Miss Universo com a gaú- própria de uma rede faz com que as relações
cha Ieda Maria Vargas em 1963 e com a baia- de poder sejam horizontais, instáveis, em cons-
na Martha Vasconcelos (em 1968). A mineira tante reconfiguração. Por outro lado, a conexão
Natália Guimarães, que tirou segundo lugar generalizada nos impõe novas formas de con-
em 2007, ao ser perguntada sobre a razão de ter trole e de divisão social. Se, por um lado, a co-
feito mais de vinte cirurgias plásticas, antes de nexão possibilita um nomadismo e uma mo-
embarcar para o concurso, respondeu: “Não é bilidade cada vez mais intensos, ela abre, por
um concurso de beleza? Se fosse de conheci- outro, a possibilidade de formas de controle,
mento, eu estava lendo.” (Carlos Gerbase) sutis e oblíquas, desenvolvidas pelo Estado ou
pelas empresas, através do marketing. Em meio
ao conexionismo, a fórmula então seria: quan-
Conexão to mais me movo nas redes de informação, de
Como fundamento de uma rede (SERRES, entretenimento e de consumo, mais passível ao
[s.d.]), a conexão é o processo de ligação entre controle eu me torno.
dois ou mais pontos, dois ou mais nós, de for- Outra questão sociopolítica a ser enfrenta-
ma a se possibilitar a comunicação entre eles. da diz respeito às novas formas de divisão e ex-
Em um ambiente reticular, interessam menos clusão no âmbito do Capitalismo Conexionista
os objetos em si mesmos (os nós) do que a co- (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 1999). Para além
nexão que se estabelece entre eles, interessam das divisões de classe (mas ainda ligadas a elas),
menos as essências do que as ligações e as pas- a mobilidade nas redes se torna o novo modo
sagens. de segregação social: há aqueles que se movem
Uma sociedade em rede (CASTELLS, 1999) e aqueles que são obrigados a permanecer fixos
se definiria, assim, por um estado de conexão nos territórios (BAUMAN, 1999). Ou, ainda, se
generalizada, por meio da qual cada ponto da concordamos com Luc Boltanski e Éve Chia-
rede sócio-técnica estaria potencialmente co- pello, a imobilidade de uns é necessária para a
nectado aos demais. A possibilidade de cone- intensa mobilidade de outros. (André Brasil)
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Andrade. Metodologia científica. São Paulo: mensão social. Como uma atividade humana,
Atlas, 1991. apesar da existência do método científico, que
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pes- a norteia, a ciência não tem uma única verdade,
quisa da comunicação e dos media. Porto: mas verdades. Não pode ser considerada neu-
Universidade Fernando Pessoa, 2006. tra, uma vez que, está, culturalmente instala-
da em diferentes contextos históricos, políticos,
econômicos e sociais.
CONHECIMENTO CIENTÍFICO E Para Kneller (1980, p.11), “ciência é conhe-
TECNOLÓGICO cimento da natureza e exploração desse conhe-
O conhecimento científico e tecnológico é cada cimento. Entretanto, essa exploração envolve
vez mais essencial para a tomada de decisões muitas coisas. Envolve, por exemplo, uma his-
na sociedade moderna. É preciso, porém, en- tória, um método de investigação e uma comu-
tender o que é conhecimento científico e, em nidade de investigadores. Hoje, em especial,
que medida se difere da mera informação cien- a ciência é uma força cultural de esmagadora
tífica contida em conceitos básicos de diferen- importância e uma fonte de informação indis-
tes áreas do conhecimento. O que é ciência? pensável à tecnologia”. O mesmo autor chama
O que conhecimento? Existem vários tipos de a atenção de que existem sempre múltiplas in-
conhecimento: científico, filosófico, teológico terpretações possíveis para os fatos observados
e leigo. Já o conhecimento científico, normal- e dados registrados, dependendo do método de
mente é construído por especialistas de dife- abordagem do pesquisador.
rentes áreas. O conhecimento é também considerado
Entretanto, para que um conhecimento seja um recurso estratégico.Compartilhar o conhe-
considerado científico é necessário que obede- cimento é próprio das sociedades democrá-
ça a algumas normas, historicamente previstas ticas.Nesse sentido, a divulgação do conheci-
nos cânones da ciência. Precisa ser sistemati- mento científico tem um caráter educativo.
zado, organizado, objetivo, rigoroso, metódico, No espaço público midiatizado, a circula-
justificável, demonstrável e, sobretudo, racio- ção da informação científica é garantia de for-
nalmente elaborado. mação da opinião pública. Logo, o conheci-
A complexidade do conhecimento cientí- mento científico é parte integrante da cidadania
fico tem sido objeto de estudo de Edgar Morin plena e do processo de inclusão social, uma vez
(1982) desde a década de 1980, face às múltiplas que possibilidade ao indivíduo as informações
ambiguidades que o termo encerra. Suas refle- mínimas necessárias para uma cidadania ativa
xões têm origem na visão de Gaston Bachelard e transformadora. (Graça Caldas)
que “considerou a complexidade um problema
fundamental, visto que, segundo ele, não há Referências:
nada simples na natureza, só há coisas simpli- BARROSO, Rodrigo da Silva. Conhecimen-
ficadas”. to Científico. Disponível em <http://www.
Além de sua natural complexidade, é im- webartigos.com/articles/5983/1/o-que-e-
portante compreender que o conhecimento conhecimento-cientifico/pagina1.html>.
científico não pode ser dissociado de sua di- Acesso em 03/05/2009.
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KNELLER, George, F. Ciência como atividade sentido, avaliar o consenso depende em gran-
humana. Rio de Janeiro: Zahar; São Paulo: de medida da descoberta dos mecanismos e fa-
Edusp, 1980. tores causais da coesão, permitindo identificar
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Por- tanto a existência de autoritarismo e repressão,
tugal: Publicações Europa-América, LTDA, como a ausência de bases contratuais nos pro-
1982. cessos sociais.
PICH, R. H. Onipotência e conhecimento cientí- Além da questão de se considerar o con-
fico. Porto Alegre: PUCRS. Disponível em: senso como uma característica positiva da so-
<http://www.fepai.org.ar/Sitio%20Escoto/ ciedade, denunciando uma atitude normativa
Resumenes/S/S-%20Pich%20%5B3%5D. da Sociologia, há uma diferença fundamental
pdf>. Acesso em 03/05/2009. na maneira como se avalia essa normatividade.
Émile Durkheim, por exemplo, pressupõe um
consenso que resulta do bom funcionamento
CONSENSO institucional da sociedade e, portanto, indepen-
Desde Auguste Comte, no século XIX, o con- dente das vontades individuais independentes.
ceito de consenso social está presente na So- Existem autores, entretanto, que mais ligados
ciologia e designa o estado de uma sociedade ao caráter contratual da sociedade, pensam o
caracterizado por forte coesão entre seus mem- consenso como uma atitude consciente dos in-
bros, fazendo prevalecer, de certa forma, a ade- divíduos, uma forma de negociação.
quação à vida coletiva acima do conflito de Por outro lado, só é possível pensar o con-
interesses e das expectativas individuais. Esse senso se admitirmos o valor e a importância do
estado de equilíbrio e harmonia seria resultado, conflito, especialmente como motor das trans-
entretanto, de mecanismos sociais importantes formações sociais.
que funcionariam de forma desejável de manei- Nesse sentido, o consenso se associa a uma
ra a garantir a assimilação de valores, a socia- visão conservadora da sociedade, enquanto os
lização e o controle social. Influenciado pelos autores que defendem o conflito como movi-
pressupostos funcionalistas, a ideia de consen- mento saudável e revolucionário da sociedade
so se aproxima à de normalidade, ou seja, have- se colocam em uma posição antagônica, que
ria nas sociedades um comportamento harmô- pensa a sociedade como superação e mudança
nico considerado tanto desejável como ideal, de um status quo.
aceito de forma universal. No campo da comunicação, o consenso
Em decorrência disso, para muitos auto- tem duplo significado. Por um lado, designa a
res, o consenso aparece como um estado social tentativa do comunicador de estar em sintonia
positivo, embora, inegavelmente, conservador. com o público, procurando exercer sua profis-
Essa postura é contestada em razão da coesão são em conformidade com as expectativas do
e da aceitação de uma coletividade em relação público. Nesse sentido, demonstra a intenção
a determinados valores, princípios ou situa- de evitar conflitos de expectativas e desvios in-
ções de fato, poderem ser apenas aparentes, e terpretativos em relação ao leitor, ao ouvinte,
resultarem, em última instância, da imposição ao expectador. Por outro, o consenso se apre-
da vontade de alguns sobre uma maioria. Nesse senta como um sinônimo de opinião pública
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teóricos sobre o consumo o pesquisador da logias digitais para exibição em diferentes pla-
comunicação, com o objetivo de identificar o taformas digitais, como a televisão, o cinema
consumo midiático,se utilizará de técnicas de ou o rádio digital, os computadores mediados
pesquisa que privilegiam os pequenos grupos por internet, os celulares e os videojogos em
e os métodos qualitativos, buscando tecer uma rede. Através deles, é possível produzir conteú-
etnografia da audiência. dos para educação à distância, informação jor-
Estudos representativos dessa concepção nalística, cultura, entretenimento ou serviços
foram feitos pelos culturalistas ingleses, nos voltados para área de saúde, trabalho, cidada-
anos de 1950, em especial a obra de Richard nia, previdência, negócios e serviços bancários,
Hoggart, Cultura dos Pobres, na qual ele apre- entre outros.
senta, pormenorizadamente, como se dá o con- Desenvolvidos em diferentes plataformas
sumo pelas classes trabalhadoras inglesas das tecnológicas, um conteúdo ou serviço digi-
mensagens da cultura de massa. Nos anos de tal recebe diferentes nomenclaturas, de acor-
1970, também, na Inglaterra, os estudos de Da- do com a plataforma utilizada. Ex: e-cultura ou
vid Morley sobre a Audiência, cumprem o mes- e-banco, quando os formatos digitais são de-
mo objetivo de tentar esmiuçar cientificamente senvolvidos para computadores mediados por
as principais características do consumo midi- internet; m-entretenimento ou m-cidadania,
ático, no caso da televisão. (Rosa Maria Dalla quando os conteúdos ou serviços são desen-
Costa) volvidos para celulares e t-educação ou t-saúde,
quando os conteúdos ou serviços são desenvol-
Referências: vidos para TV digital.
DALLA COSTA, Rosa Maria Cardoso. Le rôle Do ponto de vista da Engenharia, um con-
des journaux télévisés: étude de la récep- teúdo digital é chamado assim por suas infor-
tion chez les ouvriers de la ville de curitiba, mações estarem codificadas em sistema binário
au Brésil. Tese de Doutorado. Saint-Denis: e serem processadas através de sistemas infor-
Université Vencennes Paris VIII, 1999. matizados.
GARCIA CANCLINI, Néstor. Consumidores e Dentro da proposta da Sociedade da Infor-
Cidadãos: conflitos multiculturais da globa- mação, na América Latina e Caribe, os conteú-
lização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997. dos e serviços desenvolvidos para as diferentes
SANTAELLA, Lúcia. Comunicação e Pesquisa. plataformas digitais e para a convergência tec-
São Paulo: Hacker Editores, 2001. nológica devem incluir critérios que garantam
VASSALO DE LOPES, Maria Immacolata. Pes- a inclusão digital. Esses critérios são a produ-
quisas de recepção e educação para os ção de conteúdos audiovisuais com acessibili-
meios. In: Comunicação & Educação. (6): 35- dade, usabilidade, interoperabilidade e intera-
40. p. 41-46. São Paulo, maio/agosto 1996. tividade.
Os conteúdos e serviços digitais são con-
siderados acessíveis, quando desenvolvem lin-
Conteúdos digitais guagem audiovisual que possa ser utilizada por
Assim são chamados os formatos e serviços au- pessoas com diferentes necessidades especiais.
diovisuais produzidos a partir do uso de tecno- Possuem usabilidade se são disponibilizados de
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enciclopédia intercom de comunicação
maneira ergonômica, fácil, clara e acessível aos dade do fato social. Nessa vertente, a sociedade
diferentes níveis culturais e educacionais da po- é considerada um dado pronto, prévio e ante-
pulação que deverá consumi-lo; é considerado rior ao indivíduo. O processo de socialização
interoperável quando utiliza padrões tecnoló- consistiria, nesse paradigma, na introjeção de
gicos que conseguem conversar entre si, como certos padrões previamente dados.
é o caso do padrão nipo-brasileiro de TV digi- Assim, o indivíduo, durkheimiano, não es-
tal que através do middleware Ginga consegue colhe o idioma materno, nem se irá ou não uti-
“ler” e decodificar as mais diversas bibliotecas lizar dinheiro em suas trocas comerciais. Esses
de código digital existentes no mundo. (Coset- são elementos externos e que, de maneira coer-
te Castro) citiva, são incorporados pelos indivíduos. De
cunho liberal, essa concepção irá influenciar os
estudos de Sociologia da Comunicação do es-
CONTEXTO SOCIAL trutural-funcionalismo norte-americano. Au-
A expressão contexto social é utilizada com sig- tores como Harold Laswell e Robert K. Merton
nificados diversos no senso comum. Pode re- trabalharam com a concepção dualista de influ-
meter a um pano de fundo para determinados ência dos meios de comunicação.
acontecimentos, como, por exemplo, falar do Contrapondo a Sociologia da ordem de
contexto social de um livro, de uma telenovela Durkheim, as vertentes marxistas defendem
ou de uma peça de teatro. Em outras situações, que a relação do indivíduo com o contexto
adquire uma conotação mais ativa, como asso- social é nublada pela mediação da ideologia.
ciar o contexto social à violência ou ao precon- Para Karl Marx, a classe dominante desenvol-
ceito. Nos documentos oficiais da União Eu- ve e propaga ideias para que os dominados não
ropeia, contexto social é definido como pelas apenas aceitam a condição de submissão, mas
condições de vida e de trabalho, pelo nível de a encarem como natural e imutável. Esse pro-
rendimentos e pelo nível de escolarização, bem cesso, chamado de alienação, ganha força no
como pelas comunidades em que se integra. capitalismo desenvolvido nas sociedades oci-
O que está em questão ao se falar de “con- dentais, que esconde do proletariado a quantia
texto social” é a capacidade de certas condições de trabalho não pago pelo empregador burguês
dadas pela vida coletiva influenciarem no com- – processo necessário para a produção de mais-
portamento dos indivíduos. Em geral, levam-se valia. Mais, ainda, a ideologia e a alienação ga-
em consideração aspectos econômicos, políti- rantem a reprodução do status quo e, conse-
cos e culturais. Indicadores específicos de ren- quentemente, a permanência dos dominantes
da, escolaridade, saúde, saneamento, habitação no poder. Esse paradigma influenciou muitas
e outros também contribuem para compor o escolas do pensamento comunicacional.
contexto social. Dentro os pensadores que acompanham
Na Sociologia clássica, encontram-se refe- essa linhade pensamento, destacam-se os filó-
rências diversas a essa relação entre a sociedade sofos frankfurtianos Theodor Adorno e Max
envolvente e a gênese de determinadas situa- Horkheimer, autores da expressão a ‘indústria
ções sociais específicas. De um ponto de vista cultural’, conceito cunhado a partir da noção
sistêmico, Emile Durkheim tratou da exteriori- marxista de alienação, produz a ilusão de au-
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enciclopédia intercom de comunicação
tonomia do indivíduo, ao mesmo tempo que tecnologia, cultura, direitos humanos e coope-
o submete ao princípios do capital. Por isso, a ração internacional.
mensagem dessa indústria dirige-se a cada um A agenda para a democratização da comu-
em particular e a ninguém em específico, ex- nicação internacional proposta pela Unesco en-
pressando uma individualidade genérica, a in- frentou críticas negativas em parte por propor a
dústria cultural como portadora de mensagens criação de agências nacionais de notícias finan-
ideológicas dirige-se a indivíduos que consu- ciadas e/ou controladas por governos de países
mirão mensagens e produtos correntes, iludi- sem tradição democrática em um mundo até
dos pela ideia de autonomia por ela fornecida, então polarizado pela ‘Guerra Fria’ entre Esta-
como se fossem livres nas escolhas e julgamen- dos Unidos e União Soviética. Mais do que isso,
tos. A cultura é, então, produzida, nesse con- a proposta de uma nova ordem que garantisse
texto, reproduzindo outros princípios e expri- uma mão de duas vias ao fluxo da informação
me, segundo padrões industriais, a dominação enfrentou dificuldades práticas e legais e, por
dos economicamente mais fortes. fim, foi atropelada por grandes mudanças no
Hoje, com o advento da globalização e das plano internacional como o final da ‘Guerra Fria’
novas tecnologias, trabalhar com o conceito de e a queda da União Soviética, o processo de glo-
contexto social é tratar de um espaço complexo balização e uma nova realidade que começava a
de múltiplas relações. Dessa forma, o contexto ser desenhada (HAMELINK, 1997, p. 69-93).
social, que incide sobre o processo de sociali- A rápida incorporação da Internet e do te-
zação, precisa ser pensado a partir de sua rela- lefone celular na vida cotidiana da maioria dos
ção com a sociedade midiática e a formação da países, as novas alianças políticas internacio-
identidade. (Ferdinando Martins) nais, a adoção do modelo neoliberal americano
por vários países em desenvolvimento, o cres-
cimento dos meios de comunicação privados,
Contrafluxos da informação nesses mesmos países, sua aliança com corpo-
A vida contemporânea é construída em torno rações transnacionais rompeu a linearidade do
de fluxos de capital, informação, tecnologia, modelo Norte-Sul. Contrariando as previsões
interações entre organizações, imagens, sons e teóricas de que se instalaria no mundo da co-
símbolos (CASTELLS, 2000, p. 442). Durante municação um fluxo Sul-Norte, a realidade re-
séculos, esses fluxos tiveram uma única dire- velou-se mais complexa ao registrar no sécu-
ção: Norte - Sul, refletindo a composição geo- lo XXI a explosão de múltiplos e assimétricos
política internacional. A grande tentativa inter- fluxos de informação horizontais e verticais e
nacional de descolonizar o fluxo da informação o nascimento de mídias híbridas e dinâmicas
ocorreu na década de 1970, quando a Unesco, (GEORGIOU; SILVERSTONE, 2007, p.33). As
apoiada pelo grupo de países não-alinhados, fronteiras culturais tornaram-se mais porosas,
desenvolveu o projeto para uma nova ordem de menos rígidas, mais cosmopolitas. O mundo
informação e comunicação. A Comissão Mac- entrou em continuo processo de transição, de
Bride, criada pela Unesco, em 1976, apresentou desterritorialização, de transnacionalização.
em 1980 uma lista de 82 recomendações sobre Está em curso uma nova Revolução Industrial
novas políticas de comunicação internacional, (KAVOORI, 2007, p.50) cuja realidade não
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enciclopédia intercom de comunicação
pode ser explicada por teorias simplistas e bi- ence in the Global Cultural Economy – A
nárias como o imperialismo cultural nem por framing tension: sameness and distinctive-
teorias pós-modernistas que enxergam no pro- ness. Disponível em: <http://www.intcul.
cesso de globalização comunidades imaginárias tohoku.ac.jp/~holden/MediatedSociety/
e o poder do indivíduo substituindo completa- Readings/2003_04/Appadurai.html>.
mente o poder do estado. CASTELLS, Manuel. The Rise of the network So-
Na atual disjuntura global, como Appadu- ciety: the Information Age. Oxford: Black-
rai define o mundo, no início do século XXI, well, 2000.
existe uma tensão entre homogeneização e he- GIORGIOU, Myria; SILVERSTONE, Roger.
terogeneização cultural. CNN e Al-Jazeera são Diasporas and contra-flows beyond nation-
dois lados de uma mesma moeda assim como centrism. In: THUSSU, Daya K. (Ed.). Me-
Hollywood e Bollywood – exemplos de fluxo e dia on the Move. London: Routledge, 2007.
contrafluxo midiáticos que competem pela au- HAMELINK, Cees. MacBride with Hindsight.
diência mundial e reinam em seus territórios e In: GOLDING, Peter; HARRIS, Phil (Ed.).
áreas de influência. O mapeamento do fluxo e Beyond Cultural Imperialism. London:
contrafluxo da mídia global indica que, o mun- Sage, 1997.
do da comunicação está mais diverso e demo- KAVOORI, Anandam. Thinking through con-
crático, mas persiste o desequilíbrio entre flu- tra-flows: perspectives from post-colonial
xos dominantes e “subalternos” ou geoculturais and transnational cultural studies. p 49-64.
(THUSSU, 2007, p. 27). Este desequilíbrio é vis- In: THUSSU, Daya K. (Ed.). Media on the
to como um reflexo das assimetrias registradas Move. London: Routledge, 2007.
nos fluxos de ideias e bens de consumo bem
como das desigualdades econômica e política
entre países, indústrias e corporações. CONTRA-HEGEMONIA
Apesar do crescimento dos contrafluxos O reconhecimento da complexidade e, mais do
midiáticos Sul-Norte e Leste-Oeste, seu retorno que isso, da dialeticidade que envolve as rela-
financeiro é muito menor e seu impacto global ções sociais e de classes na dinâmica da socie-
bem mais restrito quando comparado ao flu- dade capitalista contemporânea é o pressuposto
xo midiático Norte-Sul e Oeste-Leste. As nove- necessário para a compreensão do conceito de
las brasileiras, por exemplo, embora assistidas contra-hegemonia.
em muitos países, não têm a mesma penetração Considerando que o conceito de hegemo-
de series norte-americanas como Dallas, Frien- nia, tal qual o pensador italiano Antonio Gra-
ds ou Sex and the City. Os Estados Unidos são msci o formulou, implica na direção moral e
ainda o maior exportador de informação e o intelectual de uma sociedade, exercida por um
grande investidor, seguido pelos europeus, em bloco histórico (conjunto das classes dominan-
empresas de comunicação em países em desen- tes), por meio do poder de dominação prati-
volvimento. (Heloiza G. Herscovitz) cado por meio da força e/ou da instauração de
um consenso pelo consentimento, junto à so-
Referências: ciedade, em relação às bases de uma ordem so-
APPADURAI, Arjun. Disjuncture and Differ- cial, definida pelos interesses da classe dirigente
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
mentos e apagamentos sobre certos temas, es- berativismo e variedades de mídia independen-
clarecer controvérsias e oferecer pontos de vista te e de mídia radical estudadas por Downing,
alternativos ou antagônicos ao discurso domi- que fazem oposição à mídia capitalista.
nante veiculado pelos meios de comunicação Nesse novo contexto, emergem os contra-
de massa. especialistas, fontes de informação que forne-
Define-se no campo de ações comunica- cem contra-argumentos aos das fontes do po-
tivas direcionadas por estratégias ideológicas, der dominante (seja público ou privado). Os
em dois polos paradigmáticos. dois polos da contrainformação têm em co-
De um lado, há a conotação negativa, as- mum a sua eventual utilização como tática de
sociada à veiculação de informações falsas ou “agitação e propaganda”.
manipuladas com objetivo implícito de confun- Do ponto de vista teórico, as discussões
dir ou influenciar a opinião pública e o senso sobre contracomunicação passam por autores
comum acerca de determinadas ideias e valo- como Althusser, Mattelart, Gramsci, Umberto
res; de desacreditar ou denegrir a imagem pú- Eco, Guattari, Bakhtin e diversos latino-ameri-
blica de pessoas e instituições; de desmobilizar canos inspirados por Paulo Freire e Mattelart,
grupos sociais adversários ou inimigos. Nessa que abordam a comunicação intercultural, a
acepção, aparece, muitas vezes, como sinôni- transcultural e a contracultural como formas
mo de “desinformação” e costuma ser atribu- de superar a dominação e promover contraflu-
ída a forças reacionárias, opressoras e repres- xos de informação, em âmbitos regional e mun-
soras. No sentido oposto, o termo é utilizado dial. (Sonia Aguiar Lopes)
para designar práticas comunicativas de resis-
tência cultural ou política, de enfrentamento da Referências:
opressão e da repressão, de desobediência ci- DOWNING, John D.H. Mídia radical: rebel-
vil às anomalias do sistema democrático ou, de dias nas comunicações e movimentos so-
forma mais radical, como intrínsecas ao campo ciais. São Paulo: SENAC, 2002.
de ação da contra-hegemonia. LOPES, Sonia Aguiar. A teia invisível: informa-
Nesse caso, constrói-se, historicamente, no ção e contrainformação nas redes de ONGs
interior das práticas de contracomunicação de e movimentos sociais. 1996. 2v. 281fls. Tese
caráter emancipador, que visam “garantir a cir- (Doutorado em Comunicação/ Ciência da
culação de informações sobre situações de clas- Informação). Escola de Comunicação, Uni-
se, à margem dos canais controlados pelo po- versidade Federal do Rio de Janeiro/ Ibict,
der constituído e também utilizando os espaços Rio de Janeiro, 1996.
que as contradições da burguesia oferecem no silva, Carlos Eduardo Lins da (Coord.). Co-
seio desses canais” (BALDELLI, 1972 apud SIL- municação, hegemonia e contrainformação.
VA, 1982, p. 13). S. Paulo: Cortez/ Intercom, 1982.
Marcondes Filho (In: SILVA, 1982, p. 59-69)
inventariou experiências de contracomunica-
ção entre o século XIX e os anos de 1970, como CONTRATO DE LEITURA
as rádios mineiras da Bolívia e as rádios livres O contrato de leitura define-se pela relação en-
italianas. Iniciativas mais recentes incluem o ci- tre o enunciador e o destinatário proposta no
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enciclopédia intercom de comunicação
e, pelo discurso de determinado suporte, cujas tuação e da variedade dos enunciados de uma
propriedades linguageiras visam estabelecer, edição à outra.
ao longo do tempo, vínculos com os leitores. No caso de suportes jornalísticos impres-
Como ressalta Verón (2004), enunciador – a sos, o estudo do contrato de leitura, na produ-
imagem de quem fala no dispositivo de enun- ção, deve analisar não somente a enunciação
ciação – e destinatário – a imagem daquele a e o enunciado linguísticos, mas todo o campo
quem se endereça o discurso –, são entidades expressivo, com suas fotografias, diagramação,
discursivas, não devendo ser tomadas pelas fi- cores, tipologia etc. – prática que pode ser es-
guras do emissor e do leitor empírico. (Um tendida a outros suportes semióticos (televisão
mesmo emissor pode criar diferentes enuncia- ou internet, por exemplo), que também esta-
dores, assim como a interação do leitor empíri- belecem, por diferentes recursos de linguagem,
co com o texto não é necessariamente prescrita seus contratos de recepção.
pelas estratégias estabelecidas no polo produtor A análise semiológica do contrato de lei-
e materializadas no discurso). tura deve ser completada, ainda segundo Ve-
“O conceito de contrato de leitura implica rón, pelo estudo onde o contrato se cumpre:
que o discurso de um suporte de imprensa seja no reconhecimento. Se, para o autor, é possível
um espaço imaginário onde percursos múltiplos falar em gramática de produção, no singular,
são propostos ao leitor; uma paisagem na qual o com referência à formulação de um conjunto
leitor pode escolher seu caminho com mais ou de estratégias de enunciação, só é possível fa-
menos liberdade” (VERÓN, 2004, p. 236). lar na recepção no plural, logo, em gramáticas
A partir dessa noção, é possível estabelecer de reconhecimento, uma vez que “um tipo de
relações entre o contrato de leitura em Verón e discurso é sempre suscetível de várias ‘leitu-
a teorização de Eco (1984) sobre autor-modelo ras’”. São essas várias leituras que, para o en-
e leitor-modelo, entidades também discursivas tendimento mais completo do processo, devem
que se relacionam, a partir de uma idealidade de ser estudadas no local de ação do contrato (o
interação, que todo texto – visto a partir da me- leitor), seja por meio de entrevistas ou grupos
táfora borgiana de um bosque de caminhos que projetivos. (Márcio Serelle)
se bifurcam – prevê e procura criar. Eco (idem,
ibidem, p. 21) descreve o autor-modelo como Referências:
uma “voz que se manifesta como uma estratégia ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques da
narrativa, um conjunto de instruções que nos ficção. Hildegard Fiest. São Paulo: Compa-
são dadas passo a passo e que devemos seguir nhia das Letras, 1994.
quando decidimos agir como o leitor-modelo”. VERÓN, Eliseo. Fragmentos de um tecido. Trad.
O dispositivo de enunciação, particular- Vanise Dresch. São Leopoldo: Unisinos,
mente associado à imprensa, deve ser apreen- 2004.
dido na recorrência, isto é, no ponto em que as
imagens do enunciador e do destinatário, bem
como a relação proposta entre eles, tornam-se Convergência.
regulares – como uma dicção identificável de O termo convergência remete ao processo pos-
uma publicação –, independentemente da flu- sibilitado pela digitalização do uso de uma
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enciclopédia intercom de comunicação
mesma base técnica, de uma mesma infraes- bito de cada “setor”, no audiovisual, por exem-
trutura, pelos serviços de telefonia e de infor- plo, que une as donas das redes e as produtoras
mática (YOFFIE, 1997). O significado do termo de conteúdo, abarcando os meios de distribui-
é, contudo, mais amplo, por se tratar da con- ção dos produtos culturais, como para o ma-
vergência entre meios de comunicação social crossetor das comunicações, quando passam a
e telecomunicações (BUSTAMANTE, 2000; convergir provedores de conteúdo e empresas
BOLAÑO, HERSCOVICI, MASTRINI, 1999). de telefonia. Bustos (2005) apresenta três ti-
Historicamente, o que se observa é a articula- pos de causa que justificariam as fusões e aqui-
ção de três setores – o das telecomunicações, o sições. O primeiro tipo estaria relacionado à
do audiovisual e da informática –no interior do busca de economias na atividade, como as de
macrossetor das comunicações. escala, de sinergias e de redução de custos de
A convergência não se dá somente no as- transação.
pecto tecnológico, mas também em termos re- O segundo tipo de causa corresponderia às
gulatórios, em que a legislação passa a permitir economias de gestão de crescimento. Por fim,
a oferta agregada de diferentes serviços, e em o terceiro tipo, de caráter geral, refere-se à do-
termos econômicos, nomeadamente pela ação tação mais eficiente de recursos. A integração,
estratégica comum de empresas de diferentes nas suas duas variantes, sugere sérias questões
mercados ou de um mesmo mercado, mas que relativas à regulação. Este aspecto, segundo o
vislumbram oportunidades em novos serviços. autor, resulta do alargamento da cadeia de valor
Desse modo, Yoffie (1997), atento às ques- nas indústrias culturais, o que cria problemas
tões relacionadas ao desafio em coadunar de- para a análise e a categorização dos movimen-
mocracia eletrônica e economia global e às par- tos estratégicos. O entrecruzamento de ativi-
ticularidades espaciais e regionais quanto ao dades, com lógicas particulares, afora a própria
uso e ao acesso às TIC, trabalha com uma de- especificidade da produção cultural, coloca em
finição funcional da convergência, em que esta realce os limites da análise da pura economia
representa sobre a base digital a formação de industrial, na sua forma generalista (Verlane
mercados convergentes – como os da informá- Aragão Santos).
tica e da telefonia – que outrora se desenvolve-
ram separadamente. A possibilidade da con- Referências:
vergência resulta de um processo de tentativa BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; HERSCO-
com logros e falhas, com experiências técnicas VIVI, Alain; MASTRINI, Guillermo. Eco-
e grandes aquisições, e não como uma conse- nomía política de la comunicación y la cul-
quência mágica e inevitável da existência da tura: una presentación. In: BOLAÑO, C.;
tecnologia digital. MASTRINI, G. (Eds.). Globalización y
Como fruto de uma estratégia empresarial, Monopolios en la Comunicación en América
que alia aspectos tecnológicos e econômicos, Latina. Buenos Aires: Biblos. (1999)
sucede-se desde a década de 1990, com maior BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; HERSCO-
intensidade, um processo de fusões e aquisi- VICI, Alain; CASTAÑEDA, Marcos; VAS-
ções que impulsiona a propriedade cruzada dos CONCELOS, Daniel (2007). Economia Po-
meios de comunicação no mundo. Seja no âm- lítica da Internet. Aracaju: Editora UFS.
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enciclopédia intercom de comunicação
vista, objetivando aprofundar, ou não, a refle- zões sociais e culturais diversas (inclusive por
xão sobre uma determinada temática. razões de grande visibilidade midiática de um
A conversação, de forma distinta da delibe- tema), se espraiam na cena social das intera-
ração pública, não tem uma intenção política a ções pessoais, penetrando e tornando-se tema
priori, não visa o referendo, a legitimidade ou a no processo cotidiano de conversação.
tomada de posição e pressão pelas respectivas Finalmente, diríamos que o engajamen-
ações dela advindos. A deliberação não é o ob- to em uma situação de deliberação está para o
jetivo que provoca a conversação. político assim como a conversação está para o
A deliberação objetiva influencia fóruns de pessoal. Ambas as razões se legitimam, pela re-
decisão legais ou políticos mais ampliados. A levância dos temas e interesses dos sujeitos que
conversação não. Ela tem uma intenção em si as empreendem. (Lúcia Lamounier)
mesma, o fluir de ideias entre pares, que não ne-
cessariamente estão em situação de igualdade de Referências:
opiniões e, às vezes, até mesmo estão em desi- MAIA, Rousiley C. (Coord.). Mídia e Delibera-
gualdade de posições. Não há uma questão como ção. Rio de Janeiro: FVG, 2008.
causa pública, mas uma situação de debate. MARQUES, Angela C. Salgueiro (Coord. E
Uma conversa é da ordem do cotidiano, trad.). Deliberação pública e suas dimen-
momento em que se estabelece um diálogo sões sociais, políticas e comunicativas: textos
para exposição das razões pessoais ou de um fundamentais. Belo Horizonte: Autêntica,
grupo social específico. No entanto, exatamen- 2009.
te por não se caracterizar como uma intenção Primo, Alex et al. Comunicações e Interações:
política definidora do processo de deliberação, Livro da Compós 2008. Porto Alegre: Su-
na situação de conversação não se pode dizer lina, 2008.
que as razões de um grupo, ou categoria social,
estão representadas, no sentido político do ter-
mo, uma vez que os sujeitos participantes da COPA DO MUNDO
conversação têm somente legitimidade, ou au- O primeiro torneio mundial de futebol dispu-
toridade, para falar em nome de si mesmo. tado sob o desígnio de “Copa do Mundo” ocor-
Os teóricos da deliberação têm destacado reu em 1930, no Uruguai, e de forma muito pre-
que a relevância dos temas em debate está me- cária. Muitas seleções europeias, por motivos
nos centrada na sua capacidade de alteração de políticos ou econômicos, desistiram de partici-
um quadro político, nos resultados dela advin- par da disputa, alegando os altos custos que te-
dos, do que no conteúdo, na natureza dos argu- riam com a viagem, já que, naquela época, seria
mentos e no conhecimento produzido no pro- necessário atravessar o Atlântico de norte a sul
cesso de deliberação. por via marítima. O projeto de uma competi-
O mesmo pode ser dito para a conversação, ção esportiva que abrangesse diversas nações
sobretudo quando ela tem sua origem em te- havia sido pensado, desde 1905, pela FIFA (Fé-
mas que existem de forma socialmente latentes, dération Internationale de Football Association
ou que são debatidos por grupos mais restritos, – entidade oficial responsável pela organização
e que em determinadas circunstâncias, por ra- mundial do futebol).
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Contudo, somente após o fim da I Guerra do planeta. Meio século após esse começo tími-
Mundial e com a eleição, em 1920, do francês do, a FIFA transformou-se numa entidade com
Jules Rimet para a presidência da FIFA é que mais países afiliados do que a ONU.
se conseguiu organizar a fórmula da primei- Atualmente, mais de uma centena de na-
ra Copa do Mundo, que passava a representar ções esforçam-se de quatro em quatro anos
assim uma espécie de Olimpíada, só que com para conseguir o direito de disputar uma Copa.
apenas uma modalidade esportiva. O nome No Brasil, a grande mudança atrelada à dis-
de Jules Rimet serviria ainda para denominar puta das Copas se daria com a transmissão ao
o troféu desse novo torneio internacional, e o vivo dos jogos pela televisão, algo que só veio
primeiro país que conquistasse o título por três a ocorrer a partir do Mundial do México, em
vezes ficaria com a posse definitiva da taça. A 1970. (José Carlos Marques)
partir de então, convencionou-se que as Co-
pas do Mundo seriam disputadas a cada qua- Referências:
tro anos e em anos pares sempre diferentes dos ASSAF, Roberto; MARTINS, Clóvis. Mundo
já utilizados para a realização das Olimpíadas. das Copas do Mundo. Rio de Janeiro: Irra-
Além disso, cada edição se daria num país di- diação Cultural, 1998.
ferente daquele que sediou o evento anterior. DUARTE, Orlando. Todas as Copas do Mundo.
Fazia-se uma espécie de revezamento com a re- São Paulo: Makron Books, 1994.
alização das Olimpíadas, que também tinham HEIZER, Teixeira. O jogo bruto das Copas do
lugar a cada quatro anos, igualmente em anos Mundo. Rio de Janeiro: Mauad, 1997.
pares. Enquanto cada Olimpíada é organizada
para acontecer numa só cidade (trazendo em
si os conceitos originais de sua criação, que são Copyleft
os jogos de Atenas, na Grécia), cada Copa do Projeto desenvolvido por Richard Stallman, em
Mundo de Futebol é organizada para ocorrer 1980, o copyleft assegura que qualquer pessoa
num determinado país. pode ter acesso e utilizar uma ou mais infor-
É, por isso, que nos referimos à “Olimpíada mações de uma determinada obra, que pode
de Moscou” (1980) ou à “Olimpíada de Barcelo- inclusive ser reproduzida gratuitamente, des-
na” (1992), enquanto se diz a “Copa da Argenti- de que citada à fonte. Tal proposta não ocorreu
na” (1978) ou a “Copa da Espanha” (1982). Após por acaso. Desde os anos 1970, Richard Stall-
o torneio do Uruguai de 1930, tivemos a reali- man era um conhecido harker que fundou o
zação da Copa de 1934, na Itália, e a de 1938, na movimento software livre, a Fundação Software
França. A II Guerra Mundial provocaria, então, Livre e a General Public Licence (GNU GPL ou
a interrupção do torneio, que não pôde ser rea- GPL), conceito que viria a consolidar.
lizado em 1942 e nem em 1946. A licença surgiu em contraposição ao co-
De certa forma, caberia ao Brasil, em 1950, pyright, que são as restrições legais imposta pe-
abrigar a sede da competição e reiniciar o ciclo los direitos de autor à reprodução, modificação
quadrienal das Copas do Mundo, que ao lon- e redistribuição de obras artísticas, culturais,
go da segunda metade do século XX consegui- conteúdos digitais etc. A proposta do copyleft é
ram transformar-se no maior evento esportivo usar a legislação de proteção dos direitos auto-
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como prioritários pelo anunciante e apreendi- Na Grécia antiga, tem a maior importância em
dos pelo público-alvo. todas as funções sociais. Deixa de ser religio-
O conjunto de estratégias tende a direcio- so e passa a fazer parte de festas populares e
nar os significados e, consequentemente, a in- orgias. Passa a ser considerado como uma das
terpretação da marca, para que o público opte mais elevadas expressões do ser humano.
pelos produtos e serviços associados à mesma Coro é o conjunto de intérpretes da mú-
ou pelo menos a ela confira prestígio. (Asdrúbal sica coral. Podem ser mistos, quando forma-
Borges Formiga Sobrinho) dos por cantores de sexos e idades diferentes,
de vozes femininas, masculinas ou infantis. O
Referências: coro compõe-se de quatro vozes mistas: sopra-
BAYAN, Richard. Words that sell. 2. ed. Nova no, contralto, tenor e baixo. A música coral é o
York: McGraw-Hill Professi, 2006. conjunto de composições para execução vocal,
DICTIONARY OF MARKETING TERMS. cantadas sem acompanhamento instrumental
Business definition for copy strategy. Dis- (a capela) ou acompanhadas por instrumentos.
ponível em: <http://www.allbusiness.com/ Na antiguidade, grandes corais entoavam
glossaries/copy-strategy/4965159-1.htm>. hinos religiosos, canções guerreiras e canções
Acesso em: 26/04/2009. de trabalho. A Igreja Católica, pelo Papa Gre-
KOTLER, Philip. Administração de marketing: gório I, sistematizou e batizou o coral com o
a edição do novo milênio. São Paulo: Pren- nome de Canto Gregoriano até o século X.
tice Hall, 2000. Estudos apntam que a característica do
Rabaça, Carlos Alberto; Barbosa, Gusta- canto gregoriano ou cantochão é a sua rique-
vo Guimarães. Dicionário de Comunicação. za melódica e a ausência de polifonia. É can-
2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2002. tado uma única melodia em uníssono e tem o
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z: como ritmo livre, adaptando-se fielmente aos textos
usar a propaganda para construir marcas e litúrgicos. A polifonia começou entre os sécu-
empresas de sucesso. 2. ed. Rio de Janeiro: los X e XIII, distinguindo-se nela os registros
Campus, 1999. graves e agudos das vozes masculinas e infan-
tis. O repertório polifônico atingiu o apogeu
nos séculos XV e XVI, exigindo-se dos cantores
Coral qualidades vocais excepcionais, em virtude da
Documentos antigos do Egito e Mesopotâmia complexidade das peças.
revelam a existência de uma prática coral liga- A música sacra difundiu o canto coral, en-
da a cultos religiosos e às danças sagradas. O quanto o repertório profano teve seu auge na
termo Chóros vem do grego e representava um canção francesa e no madrigal italiano para
conjunto de aspectos (Canto, Dança e Poesia) quatro vozes mistas. A ópera veio renovar a
que, somados, iam ao encontro do ideal do an- música coral. O coro foi empregado na missa,
tigo drama grego. O conjunto consistia em Poe- na ópera e no oratório, ao passo que o protes-
sia, Canto e Dança. Os cristãos adotaram o ter- tantismo desenvolveu a ‘Paixão’ e a ‘Cantata’.
mo com outro significado (latino Chorus que O monopólio religioso persistiu até o século
significava o grupo da comunidade que canta. XVIII, quando foi abandonado pelas academias
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e conservatórios. No século XVII, a música sobre o acréscimo de mais um ano a seu man-
coral atingiu seu auge com as obras de Johann dato.
Sebastian Bach. Outros grandes compositores Na era, do então presidente da República,
consagraram seu talento criador à música co- Fernando Henrique Cardoso (1995/2002), cha-
ral, como Vivaldi e Haendel. No século XX, mou atenção a liberação de 357 outorgas de rá-
reapareceu o repertório folclórico, a várias vo- dios e TVs educativas, na maioria a parlamen-
zes, aproveitando motivos africanos, asiáticos tares favoráveis à emenda da reeleição para
e ameríndios. presidente. Tal troca de favores levou alguns
Na Idade Média, a música coral viveu mo- pesquisadores de comunicação a pegar empres-
mentos de grandiosidade nos festivais Haendel tado da historiografia o termo coronelismo e
realizados em Londres em meados do século adaptá-lo com o adendo eletrônico. As conces-
XIX, quando grupos de até três mil cantores se sões estariam sendo entregues a políticos para
apresentavam no palácio de Cristal, e também que estes votassem nos projetos do governo.
no século XX com os Festivais de Haendel em No entanto, o rigor conceitual de tal adap-
Göttingen. tação é questionável, já que a definição clássica
De forma religiosa ou profana, o canto co- de coronelismo exige algumas reflexões a partir
letivo tem uma função socializadora, promo- da obra Coronelismo enxada e voto, de Victor
vendo a integração das pessoas nas suas ativi- Nunes Leal (1949). É comum encontrar pesqui-
dades sociais. No séc. XIX, o canto coral passa sas que simplificam o conceito de coronelismo,
a ser disciplina obrigatória nas escolas de Paris. colocando-o como sinônimo de mandonismo,
(Moacir Barbosa e Sousa) clientelismo, patriarcalismo e compadrio.
Historicamente falando, sabemos que o
coronelismo foi um fenômeno sistêmico – en-
CORONELISMO ELETRÔNICO volvia o poder central, estadual e municipal – e
O termo coronelismo eletrônico começou a ser não personalizado. Foi típico da Primeira Re-
utilizado por pesquisadores e jornalistas, a par- pública e tem como base a posse da terra. Es-
tir do início dos anos 1990, a partir de alguns sas características básicas não se enquadram no
levantamentos sobre políticos que eram con- que se estabeleceu chamar de coronelismo ele-
cessionários ou sócios de empresas de radio- trônico.
difusão. A partir daí, o estudo do coronelismo Além de ter sido no seu governo um dos
eletrônico passou a apontar as concessões pú- episódios mais emblemáticos da troca de fa-
blicas de radiodifusão como uma continuidade vores, José Sarney é apontado como um típi-
ao coronelismo histórico, já que episódios da co coronel eletrônico. Ele e seu então ministro
recente história política do Brasil comprovam das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães,
a troca de favores entre governos e políticos agiram em benéfico próprio, se autoconceden-
concessionários de rádio e televisão. Um desses do, no Maranhão e na Bahia, três e sete conces-
momentos foi quando o governo do então pre- sões de geradoras de TV. Seria possível, então,
sidente José Sarney (1985/1990) concedeu 1.028 definir Sarney e ACM como parte de um siste-
outorgas de emissoras de rádio e televisão, em ma coronelista? Talvez fosse mais correto afir-
maioria para constituintes durante os debates mar que existiu e existe um compromisso entre
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presentado no Brasil pelo Centro de Tecnologia King Lear, peças que tematizam a loucura, cria-
e Sociedade da Faculdade de Direito da Funda- das sob tal estado que se encontrava o poeta.
ção Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. Entre os Em Baudelaire, temos essa constata-
conteúdos audiovisuais brasileiros disponibili- ção: “Esta noite a asa da loucura passou sobre
zados sob a licença creative commons está todo mim”. A História registra a descida de gênio às
o material da Agência Brasil, da Empresa Bra- raias da loucura: Nietzsche, Nerval, Shumann,
sileira de Comunicação (EBC), ex-Radiobrás. Maupassant, dentre outros. Diferentes gênios
(Cosette Castro) expressaram a consciência de uma sanidade
triunfante: Homero, Dante, Goethe, Beethoven
e Sófocles, que escreveu Antígona, para provar
Criatividade / Criação aos juízes, contra a investida dos filhos em seus
Compreende-se que todo ato criativo é deriva- bens, que tinha pleno domínio de juízo. Cesare
do de uma angústia. Com Freud, entendemos Lombroso considera que a criação irracional e
que a criatividade resulta de um conflito que involuntária teria explicação patológica.
se estabelece a partir do inconsciente (id). Po- Na perspectiva filosófica moderna, temos a
der-se-ia compreender que apenas os infelizes Criatividade como Gênio Intuitivo: essa concep-
são capazes de criar? Historicamente, as con- ção romântica remonta ao fim do Renascimen-
cepções alusivas à criatividade foram ganhando to e aos filósofos Iluministas. No século XVIII,
matizes diferentes, conforme o estágio em que muitos pensadores, como Kant, em sua “Crítica
se encontravam as percepções do mundo. ao Juízo”, associaram criatividade e gênio.
Assim, na concepção mítica, teríamos a Considera também a Criatividade como
Criatividade como Origem Divina. Para Platão, Força Vital: essa noção pode ser compreendi-
o artista seria, no momento da criação, agente da a partir das concepções da “Vontade de po-
de um poder superior, perdendo o controle de tência”, através da qual Nietzsche vislumbra
si mesmo. As Musas, filhas de Apolo, desde a a afirmação da vida por meio da luta, da ani-
tradição homérica, sendo invocadas em auxílio quilação, de um ininterrupto entredevorar que
ao aedo na tarefa de narrar os feitos dos heróis. ocorre nas mais ínfimas formas de vida. Tam-
Capaz de inspirar e levar ao êxtase, tal como vi- bém a teoria da evolução de Darwin revela ser
mos na lenda de Orpheus, arquétipo do poe- a criatividade humana uma manifestação da
ta, encantava animais e homens com a divina força criadora inerente à vida.
doçura de sua lira. Tal poder ainda persiste na Isso nos leva, também, a compreender
época moderna. Thomas Carlyle considera que a Criatividade como Força Cósmica: tudo que
o artista não sabe o que faz. A criação seria fru- existe tem a necessidade de se renovar num
to da intuição. continuo perpétuo rumo ao novo. Temos aqui,
Dessa forma, compreende-se a Criativida- sob as premissas do poder imaginativo o convi-
de como Loucura: ainda segundo Platão, o fee- te à descoberta, à recriação.
ling, a espontaneidade e a aparente irracionali- Tais noções levam-nos a considerar hoje a
dade são compreendidas como um espasmo de Criatividade como Força Negocial: o marketing
loucura. Críticos atribuem a Shakespeare, em deve ser compreendido como instrumento que
trechos de Sonhos de uma noite de verão e em controla a criatividade na pesquisa, no desen-
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volvimento de produtos e ações que favoreçam sua raiz grega, chrónos era a divindade que de-
o lucro, a sobrevivência e a saúde das empresas. vorava os filhos e que, metaforicamente, repre-
Temos, assim, a criatividade um processo em sentava o tempo que devora os homens – daí o
que prevalece o processo eurístico (euriskein resgate das marcas temporais que lhe são co-
- tentativas/descoberta e erros/acerto) que, a mumente atribuídas. No início da era cristã,
priori, não verificável sobre a logicidade do al- designava uma lista ou relação de acontecimen-
gorítmico regido pela matemática. tos ordenados segundo a marcha do tempo, ou
Em publicidade, à criação deve concorrer seja, organizados em ordem cronológica. A crô-
toda uma rede de signos com apelos verbicovi- nica, então, limitava-se ao registro dos eventos,
suais. Na criação publicitária deve se valer, em sem tentativas de interpretação ou de análise.
princípio, da razão apolínea harmonizada com No século XII, aproximou-se da História en-
a sensibilidade dionisíaca para que a comunica- tendida, hoje, enquanto ciência, mas ainda os-
ção persuasiva possa ser eficaz provocando no tentando acentuados traços de ficção literária.
receptor o desejo, a ação, a fidelidade às mar- O cronista do passado, ao organizar cronologi-
cas, aos conceitos, às ideias, às satisfações do camente os fatos que narrava, tinha a responsa-
consumo de bens tangíveis e intangíveis. (Goia- bilidade de escrever algo para permanecer ao
mérico Felício Carneiro dos Santos) longo dos tempos. No trabalho da imprensa,
quando as partidas e campeonatos de futebol
Referências: começaram a tornar-se mais frequentes no Bra-
CARRASCOZA, João Anzanelo. Do caos à cria- sil, por volta da década de 1910, era comum que
ção publicitária. São Paulo: Saraiva, 2008. as reportagens sobre os jogos ocupassem uma
DUAILIBI, Roberto; SIMONSEN JR., Harry. página inteira dos jornais do Rio e São Paulo.
Criatividade e Marketing. São Paulo: Mc- O relato que se lia era, com efeito, uma crô-
Graw-Hill, 1990. nica a respeito de todo o evento: descrevia-se
JOANNIS, Henri. O processo de criação publi- o tempo, as condições climáticas da cidade, o
citária: estratégia, concepção e realização de estado de ânimo dos espectadores, o fluxo de
mensagens publicitárias. 2. ed. Lisboa: CE- pessoas em torno do estádio e os lances da par-
TOP, 1998. tida, minuto a minuto. Assim, a crônica espor-
JOHNSON, Paul. Os criadores. Rio de Janeiro: tiva passou a ser, em essência, uma informação
Campus, 2006. interpretativa e valorativa de feitos noticiosos,
MASI, Domenico de. Criatividade e grupos de onde se narra algo ao mesmo tempo em que
criativos. 2. ed.. Rio de Janeiro: Sexante, se julga o que é narrado.
2003/2005. Volume 1. Nas editorias de esporte dos jornais brasi-
leiros, o termo crônica passou a ser empregado
em sua acepção medieval, de crônica histórica,
CRÔNICA ESPORTIVA de narração de fatos, contrariando a definição
A crônica tem origem no termo grego chroni- moderna do termo, assumida, no final do sé-
kós, que diz respeito às coisas relativas ao tem- culo XIX, com o incremento da indústria jor-
po (chrónos), e chegou até as línguas români- nalística. Como não havia a profissão de jor-
cas por meio do termo chronica, do latim. Na nalista esportivo e nem especialização entre os
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jornalistas designados para noticiar os eventos à razão, por meio da leitura da Bíblia seguida
esportivos no início do século XX, o homem de prédica (sermão) (ALLAMEN, 1968).
do esporte surgiu quase como marginalizado A partir dos anos de 1950, o fenômeno so-
na imprensa. cial da crescente presença das igrejas e grupos
Estigmatizado, discriminado e tendo que religiosos na mídia eletrônica, inicialmente nos
lutar para que houvesse maior qualidade em Estados Unidos, mas também em todos os con-
seu ofício, os profissionais do esporte se organi- tinentes (ver verbete Igreja Eletrônica), provo-
zaram e se uniram para fundar uma associação cou uma série de transformações neste quadro.
que representasse a nova categoria na impren- Cultos passaram a ser transmitidos pela TV e
sa. É assim que surge no Rio de Janeiro, em 5 pelo rádio para um extenso número de pessoas,
de março de 1917, a Associação dos Cronistas com relativização da dimensão coletiva e comu-
Desportivos. Desde então, o termo “cronista nitária. Gravado em estúdio ou nos espaços das
esportivo” tem sido atribuído, indistintamen- igrejas, o culto passa a ser compreendido como
te, aos profissionais de imprensa, de diferentes instrumento propagador da mensagem cristã a
meios, que se dedicam à cobertura esportiva. grandes públicos. Nesse momento, portanto, as
(José Carlos Marques) igrejas compreendem-se usando a mídia como
elemento veiculador de suas práticas cúlticas.
Referências: Destacam-se nesse processo os grupos chama-
A CRÔNICA. Setor de Filologia da FCRB. Rio dos pentecostais por conta da ênfase nas expe-
de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbo- riências de cura, de exorcismo e na pregação da
sa, 1988. prosperidade econômico-financeira como bên-
ARRIGUCCI JR., Davi. Fragmentos sobre a ção de Deus. Na passagem dos anos 1980 para
crônica. In: Enigma e comentário. São Pau- os 1990, passa-se a identificar, particularmente
lo: Cia. das Letras, 1987. na vivência protestante na América Latina, e,
CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. mais especificamente, no Brasil, o processo de
In: Recortes. São Paulo: Cia. das Letras, midiatização e de globalização experimentado
1993. pelas sociedades (CUNHA, 2007).
MARQUES, José Carlos. O futebol em Nelson A cultura das mídias, do privilégio às ima-
Rodrigues. São Paulo: Educ/Fapesp, 2000. gens, aos sons, ao espetáculo, que mediam a
construção do tecido social, oferecendo formas
de comportamento social, passa a ser parte da
Culto e Mídia Protestante identidade protestante. Evidencia-se um avan-
Entenda-se por culto protestante o serviço re- ço significativo do empreendimento de igrejas
ligioso prestado por cristãos das várias confis- e organizações protestantes (majoritariamente
sões protestantes ao Deus em que creem, mo- pentecostais) na mídia eletrônica.
mento no qual o adoram ao mesmo tempo em A programação já não privilegia cultos e
que celebram a sua fé. Realizado, publicamen- pregação, mas é variada e adaptada à dinâmica
te, predominantemente em espaço religioso – dos programas seculares (busca da modernida-
templo ou igreja, tradicionalmente, o culto pro- de e audiência), com ênfase no entretenimento
testante privilegia a palavra falada relacionada e nas ofertas do mercado de produtos religio-
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Estudos antropológicos e históricos, foca- quistada por meio da comparação entre cultu-
dos no século XIX, mostram como o conceito de ras e da análise histórica. Como categoria do
cultura foi ampliado e adquiriu ao longo do tem- pensamento antropológico, Cultura revela a
po outros sentidos, ficando próximo das noções maneira como o campo do conhecimento dis-
de arte, educação e folclore, além de evocar inú- ciplinar da Antropologia se constituiu histori-
meras distinções como cultura subjetiva e cultu- camente. Se, por um lado, tal vobáculo revela
ra objetiva, cultura material e cultura não-ma- uma concepção teórica sobre a organização, es-
terial, cultura erudita e cultura popular, cultura trutura e funcionamento dos sistemas simbóli-
de massa, subcultura etc. Conceito privilegiado cos e de significados produzidos socialmente,
no campo da investigação antropológica, cultura por outro lado, também, representa um modo
erige-se em “conceito totêmico”, símbolo distin- de conhecimento, pode-se dizer, um método de
tivo, da própria antropologia. A cultura, no sen- pensamento, na medida em que garante a co-
tido amplo, significa a maneira total de viver de erência e produz sentido para as ações sociais
um grupo, sociedade, país ou pessoa. desenvolvidas no âmbito fenomenológico da
Não significa isso uma defesa da Cultura vida cotidiana. (Gilmar Rocha e Sandra Perei-
com C maiúscula, no sentido absoluto do ter- ra Tosta)
mo, mas também não se trata de uma defesa re-
lativista e ingênua que, se tudo é cultura e cada Referências:
um tem a sua cultura, logo, a cultura não existe CUCHE, Denys. A Noção de Cultura nas Ciên-
porque tudo é cultura. Destarte, cultura é, an- cias Sociais. Bauru: Edusc, 1999.
tes de tudo, um instrumento utilizado por nós GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Cultu-
com o objetivo de apreendermos o significado ras. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
das ações e representações sociais desenvolvi- SAHLINS, Marshall. Cultura e Razão Prática.
dos pelas pessoas em seus rituais, mitos, festas, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
comportamentos rotineiros, enfim, no curso da WAGNER, Roy. The Invention of Culture. Chi-
vida social. cago: The University of Chicago Press,
Nesse sentido, pode-se apreender culturas, 1981.
no plural, enquanto sistemas de símbolos e sig-
nificados construídos social e, historicamente,
o que equivale dizer que culturas são mecanis- Cultura Audiovisual
mos de controle, orientação e classificação das O desenvolvimento vertiginoso da linguagem
condutas emocionais, intelectuais, corporais, audiovisual, no século XX foi um dos maiores
estéticas, econômicas, políticas, religiosas e mo- fenômenos estéticos e sociológicos do período e
rais. Portanto, contra o relativismo ingênuo que deu origem a chamada ‘Cultura Audiovisual’. Ela
apregoa o “fim da cultura”, culturas definem pa- surge a partir dos desdobramentos dos processos
drões de comportamentos e de sensibilidades de mecanização das linguagens, da articulação e
fornecendo um sistema de significados às ações avanço da indústria da cultura, da informação e
humanas. do entretenimento e, sobretudo, a partir da críti-
O significado de cultura não será o mesmo ca ao pensamento tradicional pelas vanguardas
, a compreensão dessa mudança pode ser con- estéticas e pela ciência do século XX.
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por meio da ciência e (b) cultura a favor da ci- de cultura científica deve contemplar uma per-
ência; 3) cultura para a ciência: (a) cultura vol- cepção da ciência, tecnologia e inovação como
tada para a produção da ciência e (b) cultura estratégica, geradora de riqueza e, portanto, su-
voltada para a socialização da ciência. jeita a múltiplos interesses.
A concepção de cultura científica é cada O desconhecimento da historia da ciên-
vez mais usada, na contemporaneidade, face à cia, das políticas científicas e das relações de
complexidade do conhecimento científico. Em poder que envolvem a área, prejudica a forma-
contraposição ao analfabetismo científico, in- ção da cultura científica. Isso porque a divul-
corpora três componentes culturais: uma no- gação científica raramente discute, numa pers-
ção geral sobre determinados conceitos e te- pectiva crítica e analítica, o modelo de políticas
mas substantivos da ciência; uma noção sobre públicas de CT&I, seus agentes financiadores
a natureza da atividade científica e a consciên- e relevância social, elementos importantes na
cia do papel da ciência na sociedade e na cul- formação da cultura científica cidadã para a
tura (BAUER, 1994. In: EPSTEIN, 2002, p. 11). compreensão dos benefícios e riscos da ciência,
O conceito cultura científica (la culture scienti- tecnologia e inovação. Isso seaplica, também,
fique) vai, portanto, muito além do mero pro- aos assuntos polêmicos e controversos, em que
cesso de democratização ou popularização do a própria comunidade científica divide-se com
conhecimento científico por meio da divulga- argumentos de autoridade contrários e favorá-
ção da informação científica em diferentes au- veis, informações contextualizadas são essen-
diências. ciais para a tomada de decisões.
Além disso, pode, também, favorecer to- Caldas (2000, p. 8), observa que “assuntos
mada de decisão, diante de assuntos polêmicos científicos e tecnológicos exigem cuidados adi-
como transgênicos, energia nuclear, células- cionais na re/construção da informação. Face
tronco, entre tantos outros. Em alguns casos, aos impasses e desafios provocados pela ciên-
porém, pode esbarrar em códigos de ética e cia moderna, essa discussão deve ser ampliada
de moral, de acordo com crenças pessoais, em e contextualizada numa perspectiva histórica,
detrimento de escolhas racionais. Alfabetizar política, econômica e social, qualificando a opi-
cientificamente, portanto, não deveria ser ape- nião pública para que, por meio de suas repre-
nas a mera apropriação de conceitos científicos, sentações sociais, possa tornar-se sujeito ativo
desprovidos de sua visão histórica, cultural, di- no processo de formulação de políticas públi-
ficultando, assim, a possibilidade de reflexão cas de C e T para o país”.
política necessária sobre o processo de produ- “Cultura Científica. Direito de Todos”. O
ção da ciência. tema título do documento da UNESCO, 2003,
Como todo saber implica em relações de revela a preocupação com o conhecimento
poder (ROQUEPLO, 1974), o compartilhamen- científico na sua perspectiva educacional, que
to do saber é inerente às sociedades democrá- assume um caráter especial na escola, mas que
ticas. Por outro lado, não basta apenas difun- não se restringe a ela, considerando a multipli-
dir, popularizar o conhecimento científico, sem cação de acessos à informação em diferentes
que seja devidamente contextualizado na sua suportes midiáticos ou não. (Graça Caldas)
dimensão temporal, histórica e política. A visão
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são e por uma modificação da natureza econô- cos impressos, panfletos, cartazes, revistas, al-
mica dos bens. Esta cultura de onda prefigura manaques, anuários, formulários administra-
o aparecimento e o desenvolvimento das re- tivos, documentos públicos, cédulas e todo o
des eletrônicas (vide verbete economia da inter- tipo de objeto impresso passaram a integrar a
net): (i) Trata-se de bens públicos não exclusi- cultura material do Ocidente, alterando as for-
vos e indivisíveis, distribuídos no seio da rede; mas de consumo cultural e o ordenamento das
(ii) Este modelo utiliza amplamente os outros sociedades.
produtos culturais para criar sua audiência, ou Entre as principais consequências da disse-
seja, para criar a rede que ele vai explorar. As minação dos bens impressos estão: (a) Altera-
convergências tecnológicas que caracterizam ção no padrão de preservação do conhecimento
a economia digital ampliarão, posteriormente, do antigo armazenamento e restrição do acesso
esta tendência (Alain Herscovici). para a lógica da preservação pela difusão; novos
parâmetros de distribuição do conhecimento,
Referências: a partir de reposicionamentos sociais, com no-
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Indústria vos atores sociais acumulando maior volume de
Cultural, Informação e Capitalismo. São informação, maior independência em relação
Paulo: Hucitec, 2000. ao clero e aos professores, ampliação das clas-
FLICHY, Patrice. Les industries de l´imaginaire. ses intelectuais; (b) Fixação da multiplicidade
Pour une analyse des medias. Grenoble: de formas textuais, aumentando a padronização
PUG, 1980. das línguas nacionais e das próprias obras, que
HERSCOVICI, Alain. Economia da Cultura e deixam de sofrer tantas alterações em função
da Comunicação. Vitória: Fundação Ceci- das repetidas cópias manuais; disseminação da
liano Abel de Almeida/UFES, 1995. língua vernácula; (c) Com a maior estabilidade
MIÉGE, Bernard; Patrick PAJON; SALAÜN, das obras, surge a noção de “versão original”, da
Je an M i c h e l . L’ in du str i ali z ati on d e própria noção moderna de autoria individual,
l’audiovisuel. Paris: Res-Babel, 1986. bem como do direito autoral, especialmente em
WILLIAMS, Raymond (1974). Televisione. Tec- função do desenvolvimento da imprensa como
nologia e forma culturale. Tradção da ver- negócio; (d) O inédito volume de obras disponí-
são inglesa de 1990, revista por Ederyn veis promove o desenvolvimento de novas prá-
Williams. Milano: Editori Riuniti, 2000. ticas de leitura extensiva e crítica; (e) O espírito
crítico e a disponibilidade e difusão das obras
gera a chamada “explosão do conhecimento”,
Cultura do impresso processo segundo o qual as descobertas científi-
É o conjunto de práticas decorrentes da proli- cas são aceleradas, em função da maior possibi-
feração de impressos a partir de múltiplas ino- lidade de troca de informações entre cientistas,
vações tecnológicas, no século XV, a que se deu bem como da difusão mais segura de descober-
o nome de “invenção da imprensa”. A possibi- tas já realizadas, sem tanta adulteração em de-
lidade de reprodução em série de uma mensa- corrência das múltiplas cópias manuais; surgi-
gem de forma idêntica impactou as formas de mento da chamada ciência moderna; liberação
organização mental e social. Livros e periódi- do tempo do trabalho de copiar as fontes; (f) O
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em reportagens especiais que fogem ao padrão analógico, torna-se possível através do uso dos
da visão que tudo quer explicar, convidando os sistemas binários, dos bits e bytes, dos micro-
ouvintes a se tornarem interlocutores dos acon- processadores, e permitiu que as mídias fun-
tecimentos por meio do compartilhamento do cionassem em conjunto, tornando possível fa-
universo sonoro das narrativas. (José Eugenio lar-se de conceitos multimídia ou convergência
de Oliveira Menezes) tecnológica.
Mas, embora a cultura digital esteja rela-
Referências: cionada às novas tecnologias, ela representa
BAITELLO JR., Norval. A era da iconofagia. também o surgimento de novos valores, so-
Ensaios de comunicação e cultura. São ciabilidades e afetos a partir do uso das TICs e
Paulo: Hacker, 2005. de diferentes aparelhos digitais. A cultura di-
KAMPER, Dietmar. Bildstörungen. Im orbit des gital gera novas formas de ser e estar no mun-
imaginären. Stuttgart: Cantz, 1994. do através da produção de conhecimento cola-
MENEZES, José Eugenio de O. Rádio e cidade. borativo, da comunicação descentralizada, da
Vínculos sonoros. São Paulo: Annablume, organização em rede, e do fim da dependência
2007. dos intermediários no campo criativo e artís-
SCHAFER, Raymond Murray. A afinação do tico.
mundo. São Paulo: Editora Unesp, 2001. A cultura digital exige mudança da menta-
WULF, Christoph; BORSARI, Andrea (Orgs.). lidade impressa e analógica para a digital. Por
Cosmo, corpo, cultura. Enciclopédia antro- isso, é facilmente apropriada pelas novas gera-
pologica. Milano: Mondadori, 2002. ções que nascem sob o signo das tecnologias
digitais e se utilizam “naturalmente” dos apare-
lhos digitais, desenvolvendo novas linguagens e
Cultura Digital formas de comunicação.
O presente termo que passa a ser usado, no Segundo o pesquisador Lourenzo Vilches
final do século XX, para designar as novas (2006), atualmente, o mundo está separado en-
aprendizagens, comportamentos e sociabilida- tre os nativos digitais (jovens até 35 anos) e os
des geradas a partir do uso das tecnologias de imigrantes digitais, da qual fazem parte o res-
informação e comunicação. No entanto, o de- tante da população que precisam adaptar-se ra-
senvolvimento tecnológico na área da comuni- pidamente à cultura digital. (Cosette Castro)
cação à distância apareceu, pela primeira vez,
no final do século XIX, representados pelo te- Referências:
légrafo, pelo telefone e mais tarde pelos filmes. VILCHES, Lorenzo. A Migração Digital. Rio de
Estes últimos permitiram o armazenamento e Janeiro: Ed. PUC-RJ, 2003.
distribuição audiovisual, seja para televisão ou
para o cinema.
Mas, é apenas nos anos de 1980, que os Cultura Letrada
avanços nas tecnologias da comunicação e dos A cultura letrada seria, em uma primeira abor-
computadores permitiram que o termo tomas- dagem, o cultivo das palavras e das letras como
se corpo. A digitalização do material, até então signos da escrita e parte de um processo di-
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nâmico maior, em que a atividade humana se chamem a atenção para a necessidade de his-
funda, principalmente, no uso e domínio da toricizar suas práticas de leitura, o que Robert
linguagem - a cultura propriamente dita, con- Darnton (1990) chama de diferentes experiên-
forme entendida por um dos representantes dos cias com os textos. Determinados momentos
estudos culturais ingleses, Raymond Williams históricos têm sido marcados por tipologias de
(1977). leitura, ligadas aos suportes materiais dispo-
Historicamente, o termo tem sido empre- níveis e aos contextos sociais em que se inse-
gado em dois sentidos. Primeiramente, como rem os leitores, embora práticas diferenciadas,
sinônimo do que os franceses chamam de cul- como a leitura em voz alta e silenciosa, ou as
ture savante ou cultura erudita, relacionada a leituras intensiva e extensiva, sempre tenham
determinados usos da palavra escrita que evo- coexistido na relação com os escritos. Mas, ao
cam competências mais elevadas de leitura, en- mapearem a formação de culturas letradas na
contrados principalmente em ambientes urba- duração histórica, os historiadores culturais
nos. Numa segunda acepção, cultura letrada têm sido unânimes em considerar alguns fa-
se liga às transformações ocasionadas por uma tores que contribuem para o florescimento de
intensa produção escrita ou impressa do saber uma sociedade das letras.
e do conhecimento e ao acesso de uma parce- No campo dos avanços advindos desse gê-
la ampla da população aos bens culturais deles nero cultural, destacam-se a alfabetização em
originados. grande escala, a criação de bibliotecas, o em-
Os dois significados apontam para a expli- preendimento de políticas públicas de instru-
cação de Michel de Certeau (1990), segundo a ção e escolarização, a produção diversificada
qual as sociedades, no decorrer do tempo, se de textos para atender à renovação constante
organizam cada vez mais em torno das tecno- do público, inclusive com mudanças sensíveis
logias em questão, que perpassam com maior nas materialidades, de modo a atrair a atenção
intensidade as estruturas administrativas, eco- e responder às expectativas e competências dos
nômicas, políticas, religiosas etc. leitores e, ainda, a adoção de estratégias de pro-
A essas transformações, os teóricos da Es- dução, edição, publicização, distribuição e cir-
cola de Comunicação de Toronto, como Mar- culação das obras.
shall McLuhan e Eric Havelock (1986), costu- Uma cultura letrada, portanto,traduz-se
mam associar mudanças no sensório humano, em práticas diferenciadas de contato e intera-
na memória, nos padrões de pensamento e nas ção com os textos, umas mais, outras menos,
noções de tempo e espaço que, por sua vez, em diálogo com a comunicação oralizada, e
influenciam na reconfiguração da sociedade, pode estar restrita a pequenos círculos de in-
como, por exemplo, a intensificação da visão telectuais, sacerdotes ou a uma casta político-
e da memória visual em relação ao ouvido e à administrativa, ou ainda expandida ao tecido
memória auditiva. social de uma dada comunidade ou nação. Seu
Cavallo e Chartier (1997) também salien- desenvolvimento só é possível através de tec-
tam o fato de as sociedades ocidentais, da An- nologias que permitam a produção, a armaze-
tiguidade até hoje, terem sido sempre “socie- nagem e a circulação do conhecimento, em pe-
dades da escrita, do texto e do livro”, embora quena ou grande escala.
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No século XIX, todavia, já se tornava in- crenças e hábitos, tornando-se evidente seu pa-
questionável que a própria sociedade europeia pel na formação da cultura. Autores da Escola
apresentava diferenças significativas de com- de Frankfurt foram pioneiros no tratamento da
portamento e aspirações em seus grupos cons- cultura midiática, considerando-a como uma
tituintes. As ciências humanas identificaram ameaça à cultura erudita. Na segunda metade
então diferentes culturas compondo uma mes- do século XX, a cultura midiática foi estudada
ma sociedade – as culturas de classe. Naquela em suas bases populares e em seu papel unifi-
época, também, o conceito de cultura tornava- cador das culturas nacionais.
se sinônimo de nacionalismo, tradições e hábi- Nessa linha de pesquisa, destacamos o
tos seculares. pensador Nestor García Canclini, um dos so-
Na atualidade, com a globalização e o de- ciólogos a estudar as manifestações simbólicas
senvolvimento dos meios de comunicação de produzidas pela ‘indústria cultural’, especial-
massa, atuando num processo de homogenei- mente em sua ação identitária junto a diferen-
zação de hábitos, costumes e crenças, o con- tes grupos sociais,principalmente na América
ceito de cultura se tornou ainda mais ambíguo, Latina, que apresenta um sentido de cultura hí-
pois passou a designar o conjunto de valores, brida.
atitudes, comportamentos e significados que A cultura midiática diz respeito à produção
um grupo compartilha, os quais promovem industrial da cultura, promovida pelos meios
um forte sentimento de pertencimento e iden- de comunicação de massa, que interage com
tidade. diferentes padrões culturais existentes numa
Dada a complexidade da sociedade con- sociedade globalizada cada vez mais comple-
temporânea, uma pessoa pode participar de xa, heterogênea e diversificada. Nesse sentido,
diferentes culturas e transitar entre elas, como esta tem um efeito homogeneizador, embora os
por exemplo, os imigrantes. Um dos responsá- estudos demonstrem que há importante me-
veis por essa interpretação de cultura foi Cli- diação entre culturas locais e os conteúdos vei-
fford Geertz. culados pelos meios de comunicação. (Maria
Acompanhando essa genealogia do termo, Cristina Castilho Costa)
podemos considerar a cultura como um con-
junto artificial e convencional de hábitos, ati-
tudes, valores e linguagens socialmente cons- Cultura Organizacional
tituídos e compartilhados por um grupo que A cultura organizacional é um conjunto de evi-
com ele se identifica. Através dos séculos, nos dências tangíveis ou intangíveis compartilha-
quais o termo foi sendo lapidado, houve uma das pelos membros de uma organização, como
tendência a considerar o conteúdo da cultura as normas, as políticas, as crenças, os valores e
como manifestações simbólicas e abstratas, as- o processo de comunicação. Esta pode ser con-
sim como uma totalidade cada vez mais frag- siderada o “cimento” que mantém a organiza-
mentada e minoritária. ção coesa, além de lhe conferir sentido e sen-
O desenvolvimento dos meios de comuni- timento de identidade entre seus membros. É
cação levou os cientistas a perceberem sua im- produto da história da organização e determi-
portância na transmissão e difusão de valores, nas crenças, valores e comportamentos que são
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longo da história das ciências sociais e huma- cou sendo vista como aquela de gênero inferior.
nas. Afinal, pode ser analisada a partir de di- Normalmente localizada no mundo rural, fre-
ferentes concepções e perspectivas, revelando quentemente associada à tradição oral, caracte-
assim a complexidade do fenômeno e sua ca- risticamente vista como expressão de “primiti-
pacidade polissêmica. Mais do que um objeto, vismo” associado à imagem do bom sauvage, ou
cultura popular é um “campo” de estudos de seja, daquele que ainda mantém raízes autênti-
profundas implicações epistemológicas. cas, puras e originais. Nessa perspectiva, a cul-
Durante muito tempo, cultura popular foi tura popular aparece como aquela que abriga
identificada como sendo folclore. Esta confusão nostalgicamente a totalidade integrada da vida
revela parte do sistema de classificação cultural com o mundo, rompida com o iluminismo. O
de nossa sociedade, na medida em que confere povo encarnaria a visão de um passado ideali-
à cultura popular e ao folclore um lugar hierar- zado e utópico, ou ainda, o primitivo - de onde
quicamente menor na escala de valores da civi- se origina a equivocada ideia de “simplicidade”,
lização ocidental. “ingenuidade”, “espontâneo”, que caracterizaria
Nos termos do historiador cultural, Pe- as manifestações do povo.
ter Burke (1989), a descoberta da cultura po- Atualmente, há todo um esforço de antro-
pular ocorre, inicialmente, no contexto do ro- pólogos e historiadores em repensar e reelabo-
mantismo alemão como parte do processo de rar o sentido da cultura popular no contexto
formação do Estado nacional no século XIX. das sociedades industriais e modernas. Afinal,
Contrapondo-se ao processo civilizatório de- a intensificação dos sistemas de comunicação
fendido pelo Iluminismo francês, o folclore e outros recursos midiáticos disponíveis no
emerge como a possibilidade de apreensão da mundo contemporâneo tende a permitir a es-
cultura autêntica, original e popular, que tra- timular as trocas culturais, o desenvolvimento
duzisse o verdadeiro volkgeist (“espírito do de processos de mediação cultural e a intensi-
povo”). ficação de formas de circularidade cultural, re-
É – nesse momento – que, por exemplo, os lativizando, assim, as rígidas dicotomias entre
irmãos Grimm passam a recolher as tradições erudito e popular, escrito e oral, hegemônico e
orais da cultura germânica e o compositor Ri- subalterno etc.
chard Wagner lança mão da mitologia nórdica Desse certo, a situação torna-se comple-
para compor suas peças musicais. xa, quando se leva em conta as relações entre a
A ideia de cultura popular se erige com cultura popular e a chamada ‘cultura de massa’,
base no reconhecimento da distância entre os definida como aquela que é produzida, no âm-
modos de vida e saberes das elites e do povo. bito da grande ‘indústria cultural’ e destinada
Embora o romantismo contribuísse para apro- ao conjunto das camadas urbanas e associada à
ximar estas duas formas de expressão cultural, esfera do consumo cultural. O fato é que, hoje,
ao mesmo tempo em que valorizava a diferença a cultura popular, frente ao chamado sistema
e a particularidade, ainda assim, instituiu-se a mundial e/ou a globalização da economia, assu-
separação hierárquica entre ambas, fazendo da me características de massa e passa ser definido
cultura de elite a expressão de um gênero supe- como ‘internacional popular’. (Magali Reis)
rior de cultura, enquanto a cultura popular fi-
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humano. Da cultura das mídias à cibercul- televisão e redes de computadores, cujo alcance
tura. São Paulo: Paulus, 2003. global, a integração de todos os media e a inte-
WILLIAMS, Raymond. Cultura e Sociedade. ratividade, acabaram criando um suporte sim-
São Paulo: Editora Nacional, 1969. bólico comum partilhado por inúmeras pessoas
fisicamente distantes. Também podemos viven-
ciar a cultura transnacional a partir de outros
Cultura Transnacional “não-lugares”, que são espaços que não se defi-
A princípio, as terminologias cultura e transna- nem como identitários, relacionais e históricos
cional se opõem. Teríamos uma contradição de (AUGÉ, 1994), devido à assepsia, funcionalida-
termos, na medida em que a cultura apareceria de e finalidade com que são construídos, pois
como algo interno, enquanto o transnacional se constituem como espaços de passagem e de
abrangeria uma amplitude planetária. Quando fruição rápida, como os aeroportos, as rodovias
pensamos em cultura, especialmente na con- e os parques temáticos.
cepção firmada pela tradição antropológica, No entanto, tais como a televisão e as re-
vem a ideia de que ela é “um conjunto de va- des de computadores, estes espaços, ao serem
lores, estilos, formas de pensar, que se estende fruídos, acabam sendo ressemantizados, ad-
a uma diversidade de grupos sociais” (ORTIZ, quirindo um sentido de “lugar”, onde as pesso-
1994, p. 21), cada qual com uma estrutura pró- as tecem e constroem seu pertencimento, suas
pria, plena, homogênea e autônoma, diferen- identidades. Os objetos de consumo que povo-
ciando-se das restantes. am o mundo concorrem para que estes “não-
Já o termo Transnacional e suas modula- lugares” adquiram o sentido identitário, mes-
ções transnacionalização ou transnacionalismo, mo se constituindo como um espaço abstrato e
por seu turno, remetem a processos que ultra- deslocalizado.
passam os limites circunscritos às territoriali- Pois, ao serem conhecidos e partilha-
dades culturais, como é o caso dos Estados-Na- dos globalmente, os objetos de consumo pla-
ções, ligando-se à globalização das economias netários acabam tornando o mundo familiar,
e à revolução da tecnologia da informação. No preenchendo-o de lembranças, mesmo que
entender de Gustavo Lins Ribeiro (2000, p. 13), desenraizadas, porque são difíceis de serem re-
’transnacionalidade’ e ‘transnacionalismo’ refe- lacionadas a um ambiente de origem.
rem-se a um nível de integração de populações Nesse sentido, a cultura transnacional se
que cria um novo modo de representar perten- consubstancializa em objetos de consumo de
cimento a unidades sócio-políticas e culturais”. empresas transnacionais, como McDonald’s,
Assim, cultura transnacional aparece, as- Nike, Disney, entre outros, traduzindo o ima-
sim, como a construção abstrata de uma rede ginário das sociedades globalizadas, na medida
simbólica, em que as pessoas se veem como em que “denotam e conotam um movimento
pertencendo a um “nós” desterritorializado, um mais amplo no qual uma ética específica, valo-
espaço vazio que, ao ser apropriado, adquire res, conceitos de espaço e de tempo são parti-
um sentido identitário de lugar. Fenômeno re- lhados por um conjunto de pessoas imersas na
cente, a cultura transnacional apoia-se, sobre- modernidade-mundo” (ORTIZ, 1994, p. 144).
tudo, do sistema eletrônico de comunicação - Por outro lado, a existência da cultura transna-
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enciclopédia intercom de comunicação
cional não significa homogeneidade, tampou- lação de suas poéticas e de que maneira esses
co o aniquilamento de outras culturas, mas a artistas de uma segunda geração modernista
emergência da “modernidade-mundo”, ela mes- ainda permaneceram (ou não) abertos ao ques-
ma centrípeta, coabitando com outras culturas tionamento artístico contemporâneo ou à dinâ-
em níveis diferenciais e desiguais de poder e de mica do mercado de arte”.
legitimidade. (Tarcyanie Cajueiro Santos) Ao se culturalizar a marca de um produto,
para que esta se torne forte, é necessário que se
Referências: adquira um conceito para a sua personificação.
AUGÉ, M. Não-lugares: introdução a uma an- Tem-se de ter cuidado na escolha do nome, na
tropologia da supermodernidade. Campi- criação do desenho do logotipo, na escolha das
nas: Papirus, 1994. cores e letras etc. A marca terá de ser revestida de
ORTIZ, R. (1994). Mundialização e cultura. São roupagem que atraia o consumidor, uma vez que
Paulo: Brasiliense, 1998 deverá visar a seus desejos e necessidades, “dos
RIBEIRO, G. Cultura e política no mundo con- que fazem parte da organização plenificando-o”.
temporâneo. Brasília: UNB, 2000. Mas, o sucesso vai depender também, para
que venha a público, de todos os elementos que
colaboram para a sua organização, que têm de
CULTURALIZAÇÃO estar em uníssono. Realiza-se o processo de cul-
Embora o termo culturalização ainda não esteja turalização.
dicionarizado, ele é empregado em várias áreas Coutinho (2007) define a expressão “cul-
do conhecimento, que vão das Letras às Artes turalização da economia” como a “agregação
Plásticas, da Propaganda à Economia. Sabri- de valor que a cultura, enquanto sistema de
na Moura Aragão focaliza as traduções feitas conjuntos simbólicos confere aos negócios ou
da série francesa Astérix para o português. Se- às atividades econômicas. Trata-se em essên-
gundo a pesquisadora, para que a história te- cia de como a Cultura, tanto em sua base ma-
nha sentido em português, torna-se necessário terial quanto imaterial, oferece às estratégias de
que seja submetida a um processo de culturali- inovação, gestão, marketing, design, conceitos e
zação, ou seja, ao “estabelecimento de relações formatos de negócios”. O processo de culturali-
que demandam uma série de elementos cultu- zação se flagra na mídia e nos supermercados,
rais compartilhados por uma determinada so- onde são exibidos produtos cujas embalagens
ciedade na construção de sentidos. mostram elementos estéticos da cultura. (Tele-
Vera Beatriz Siqueira, em “Crítica e cultu- nia Hill)
ra nas obras de Volpi, Dacosta e Pancetti”, pro-
põe uma linha de pesquisa que tem como foco Referências:
“o processo de culturalização da arte moderna ARAGÃO, Sabrina Moura. Questões culturais
e contemporânea brasileira e suas consequên- na tradução de histórias em quadrinhos. Mi-
cias institucionais e poéticas”. Optou por uma ni-Enapol. São Paulo: FFLCH/USP, 2008.
“revisão crítica de alguns dos valores plásticos COUTINHO, D. et al. Termo de referência para
modernos brasileiros, no sentido de perceber atuação do Sistema SEBRAE na cultura e
como o ambiente cultural interferiu na formu- entretenimento. Brasília: SEBRAE, 2007.
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enciclopédia intercom de comunicação
SIQUEIRA, Vera Beatriz. Crítica e cultura nas cultural) a todas as habilitações, que ocorreria
obras de Volpi, Dacosta e Pancetti. II En- na metade do curso, e uma parte diversificada
contro de História da Arte, 2006. (Disciplinas de Formação Profissional – senti-
do instrumental) relativa à habilitação especí-
fica, ocupando a outra metade. Com duração
Currículo mínimo de comunicação mínima de três e máxima de seis anos letivos
Constituído de matérias ou disciplinas determi- (carga horária mínima: 2.200 horas-aula), pre-
nadas para o curso superior, mediante parece- via atividades exercitadas através de práticas.
res do Conselho Federal de Educação (CFE) e - Quarto Currículo Mínimo (Pareceres
Resoluções do Ministério de Educação (MEC). nº 1203/77 e nº 02/78; Resoluções nº 03/78 e nº
De 1962 a 2001, a área foi regida por currículos 01/79): descreveu o ensino na área em três fa-
mínimos transformados em currículos plenos ses: clássico-humanística, científico-técnica e
pelas instituições de ensino. Os atos normati- crítico-reflexiva. Apresentou as ementas das
vos definiram sua estrutura, tempo de duração matérias, além das instalações e equipamen-
e carga horária: tos à prática das cinco habilitações do Curso de
- Primeiro Currículo Mínimo (Parecer nº Comunicação Social: Jornalismo, Relações Pú-
323/62): implantado para Jornalismo, indicou a blicas, Publicidade e Propaganda, Rádio e Tele-
formação de profissionais da imprensa, do rá- visão, e Cinematografia.
dio e da televisão. Estruturado por Disciplinas A distribuição das disciplinas ocorreria
Gerais + Disciplinas Especiais + Disciplinas concentrando as matérias do Tronco Comum
Técnicas, tinha duração mínima de três anos (Fundamentação Geral Humanística + Funda-
letivos. mentação Específica) na primeira metade do
- Segundo Currículo Mínimo (Parecer nº curso e, na segunda metade, as do Campo Pro-
984/65): reformulou a formação em Jornalismo fissional (Matérias de Natureza Profissional).
a partir de três níveis: cultural, fenomenológico Tinha duração mínima de três e duração máxi-
e instrumental. Foi composto por Disciplinas ma de seis anos letivos (carga horária mínima:
Gerais ou de Cultura Geral + Disciplinas Es- 2.200 horas-aula), com atividades de projetos
peciais ou Instrumentais + Disciplinas Técni- experimentais, de estágio supervisionado e de
cas ou de Especialização, com duração mínima órgãos laboratoriais estabelecidas.
de quatro anos letivos (carga horária mínima: - Quinto Currículo Mínimo (Parecer nº
2.700 horas-aula). 480/83, Resolução nº 02/84): registrou o estudo
- Terceiro Currículo Mínimo (Parecer nº de uma comissão especial a respeito do currí-
631/69, Resolução nº 11/69): revisou o currículo culo. Fixou as matérias e suas ementas para o
anterior e alterou para “Curso de Comunica- Curso de Comunicação Social com seis habili-
ção Social”, com cinco habilitações: Jornalismo, tações: Jornalismo, Relações Públicas, Publici-
Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, dade e Propaganda, Produção Editorial, Radia-
Editoração, e uma Polivalente, atribuindo o lismo (Rádio e TV) e Cinema.
grau de bacharel aos egressos. Foi constituído A distribuição, ao longo do curso, ou a con-
por uma parte comum (Disciplinas Básicas, de centração das disciplinas do Tronco Comum
Formação Social – sentido fenomenológico e (Ciências Sociais, Ciências da Comunicação,
362
enciclopédia intercom de comunicação
Filosofia e Arte) e da Parte Específica (Técnicas sete anos letivos (carga horária mínima: 2.700
e da Linguagem), poderiam ocorrer, cabendo horas-aula), exigia instalações, laboratórios e
aos Projetos Experimentais o último semestre. equipamentos adequados à formação nas dife-
Com duração mínima de quatro e máxima de rentes habilitações. (Cláudia Peixoto de Moura)
363
D, d
bricante, para que o consumidor absorva o má- Helena. Vinhos e Uvas – Guia Internacio-
ximo de informações sobre o cliente no ato da nal. São Paulo: SENAC, 2005.
degustação e possa memorizar seu nome ou sua
marca, e relembrá-lo, quando do ato da com-
pra, no ponto-de-venda. Dança
Há que se ressaltar, no entanto, que essa A dança em grupo começou com os ritos reli-
técnica promocional é muito utilizada, mas sem giosos, como forma de oferenda ou agradeci-
maiores planejamentos, apenas como chamariz mento aos deuses. Considerada uma das três
no ponto de venda ou em eventos. É necessá- principais artes cênicas da Antiguidade, ao lado
rio salientar também, que faz parte do proces- do teatro e da música, pode ser caracterizada
so a avaliação das reações e atitudes dos consu- pelo uso de movimentos previamente estabe-
midores que participaram da degustação e se lecidos (coreografia), ou improvisados (dança
houve ou não aumento nas vendas, após a uti- livre). Na maior parte dos casos, a dança, en-
lização dessa técnica. Em caso de eventos, não volve a expressão de sentimentos potenciados
é possível uma avaliação imediata, mas é pos- por ela.
sível monitorar o gráfico de vendas, pós-even- A dança pode existir como manifestação
to, e também utilizar técnicas de abordagem e artística ou como forma de divertimento e/ou
de comunicação com os visitantes da feira, por cerimônia. Como arte, a dança se expressa atra-
meio do mailing list obtido durante o evento - vés dos signos de movimento, com ou sem liga-
técnicas como mala-direta, e-mails ou mesmo ção musical. Alguns tipos de danças são mais
envio de brindes pelo correio. Caso não ocorra conhecidos. Entre eles estão o balé, o tango, o
qualquer tipo de avaliação, a ação promocional samba, a valsa, o sapateado, o bolero e entre
acabará perdendo o seu objetivo principal, que outras.
é ser uma eficiente e eficaz estratégia de venda. Hoje, observa-se, também, o sincretismo,
(Scarleth O’hara Arana) ou seja, a mistura das danças dos povos euro-
peus, com a dos negros e dos índios que, por
Referências: exemplo, resultaram no maracatu, no samba
CROSBY, Dean. Apparel Merchandising and e na rumba. Atualmente, a dança se manifesta
Design. Columbus: McGraw-Hill Profes- nas ruas em eventos como “Dança em Trânsi-
sional, 2007. to”, sob a forma de vídeo, no chamado “vídeo-
MARCONDES FILHO, Ciro. Dicionário de dança”, ou em qualquer outro ambiente em que
Comunicação. São Paulo: Paulus Editora, for contextualizado o propósito artístico. Desde
2009. 1982, no dia 29 de abril, comemora-se o Dia In-
MOREIRA, Júlio César Tavares; PASQUALE, ternacional da Dança, instituído pela UNESCO
Perrotti Pietrangelo; DUBNER, Alan Gil- em homenagem ao criador do balé moderno,
bert. Dicionário de Termos de Marketing. Jean-Georges Noverre. (Cristiane Finger)
São Paulo: Atlas, 2003.
MORGAN, Tony. Visual Merchandising. Lis- Referências:
boa: Chronicle Books, 2008. BOURCIER, Paul. História da dança no ociden-
PACHECO, Aristides de Oliveira; SILVA, Siwla te. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
366
enciclopédia intercom de comunicação
VIANNA, Klauss. A dança. São Paulo: Sum- Pode-se afirmar que se assiste, ainda, a um
mus, 2005. processo incipiente de democratização, dada a
sua complexidade. Todavia, podemos dizer que
a inclusão cultural não se define, apenas, pela
DEMOCRATIZAÇÃO participação dos indivíduos no processo, mas
Por democratização entende-se o ato que resulta pela presença de sujeitos, antes de propostas e
do exercício da democracia. O termo democracia ações que partem de suas reivindicações, dinâ-
sofre um excesso de significados. A democracia micas e necessidades, diversidades e processos
não é, apenas, uma maneira de ser das institui- identitários.
ções, é talvez, ainda mais uma exigência moral. Ainda segundo o pesquisador Hamilton Fa-
A História tem mostrado que a democracia se ria, “a cidadania cultural não se refere apenas aos
constitui como uma etapa do contínuo movi- lugares e fazeres institucionais já existentes, mas
mento democrático suscitado pelos homens. Ela à inserção permanente de novos lugares e signi-
é um valor que se caracteriza como: a inalienável ficados culturais. Assim, estimular a autonomia
tendência humana de assumir seu destino, do dos grupos para que criem sua própria cultura
ponto de vista individual ou coletivo, constituin- e estimular a circulação de discursos e práticas
te da unidade profunda que integra as diferentes plurais é fator central nas políticas de acesso”.
concepções de democracia. Embora os métodos de democratização
Procurando dar ênfase à democratização possam ser diferentes, na política e nas diversas
cultural, segundo Hamilton Faria, o permanen- áreas do conhecimento, o que os identifica é a
te processo de culturalização que se flagra no esperança dos homens de, por meio deles, pas-
mundo contemporâneo, “se dá por múltiplos sarem a ter uma vida melhor. (Telenia Hill)
motivos: a globalização, que possibilita traças
interculturais entre regiões e países; a defesa Referências:
da diversidade cultural em cenários com ten- Enciclopoedia Universalis. Corpus 5. Démocra-
dência à homogeneização: o desenvolvimento tie. Paris: Enciclopoedia Universalis Fran-
das tecnologias de comunicação e informação ce, 1988.
e das indústrias criativas; e, finalmente, a crise FARIA, Hamilton. A democratização cultural
de paradigmas que traz para o horizonte a re- pede passagem. Disponível em: <http://blo-
definição de calores, sentidos, comportamentos gacesso.com.br/?p=5>.
e hábitos, lugares por excelência do desenvol-
vimento cultural. Nesse cenário, temos novos
atores que reivindicam possibilidades e opor- Democratização da comunicação
tunidades culturais como estimuladores de in- Democratização da comunicação é um processo
tegração e criação de novos modos de vida: jo- no qual indivíduos e organizações da sociedade
vens dos bairros das metrópoles, movimentos mobilizam-se com o objetivo de ampliar o nú-
socioculturais, redes de toda natureza passam mero de atores envolvidos na produção, difu-
a constituir como atores culturais e requerem são e circulação de informações.
novos instrumentos de acesso na participação Comunicar vem do latim communicare e
democrática.” (FARIA, 2009). tem como um dos seus significados o ato de
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enciclopédia intercom de comunicação
“tornar comum”. Ou seja, de possibilitar que informação”, onde esta circulasse também entre
fatos e acontecimentos ocorridos numa socie- os países do sul e destes para o norte. A con-
dade sejam de conhecimento de todos os seus tribuição mais elaborada para essa tentativa de
membros. No entanto, em uma sociedade divi- democratizar a comunicação está no livro Um
dida em classes, os bens matérias e simbólicos mundo, muitas vozes, relato dos trabalhos de
nela produzidos são apropriados por seus inte- uma comissão internacional, formada por inte-
grantes de forma desigual. A comunicação não lectuais de vários países, coordenada pelo prê-
foge à regra. Seu controle se dá segundo os ní- mio Nobel da Paz Sean MacBride, sob os auspí-
veis de poder alcançados pelos diferentes gru- cios da Unesco.
pos sociais. Dessa forma, os objetos da comu- No Brasil, o primeiro movimento mais ar-
nicação tornam-se propriedade desses grupos ticulado visando à democratização da comuni-
que os distribuem segundo os seus interesses cação ocorreu 1983, em uma iniciativa de um
particulares. E o número desses grupos é cada grupo de professores do curso de comunicação
vez menor, obedecendo a lógica da concentra- social da Universidade Federal de Santa Cata-
ção de empresas, determinada pelo processo de rina. Eles lançaram a Frente Nacional de Lutas
acumulação capitalista. por Políticas Democráticas de Comunicação,
A comunicação torna-se autoritária na incorporada posteriormente pela Abepec (As-
medida em que impede que os fatos e aconte- sociação Brasileira de Ensino e Pesquisa em
cimentos ocorridos em uma sociedade sejam Comunicação) e pela Fenaj (Federação Nacio-
acessíveis a todos. Como forma de enfrentar nal dos Jornalistas).
essa situação surgiu em meados do século XX Hoje, os movimentos de caráter nacional
um movimento voltado para democratizar a que mais se destacam na luta pela democratiza-
comunicação. Trata-se de um processo amplo ção da comunicação são o FNDC (Fórum Na-
que vai desde o debate em torno dos fluxos in- cional pela Democratização da Comunicação)
formativos internacionais, passa pelos serviços e o Coletivo Intervozes, ao lado de entidades
públicos de radiodifusão e chega ao fortaleci- sindicais e profissionais de trabalhadores. (Lau-
mento das experiências de rádios, televisões e rindo Lalo Leal Filho)
jornais comunitários, aos quais se agrega, mais
recentemente, a internet. Referências:
Impulsionado pela UNESCO, cresceu no UNESCO. Um mundo, muitas vozes. Rio de Ja-
início dos anos 1980, o debate em torno de uma neiro: Fundação Getúlio Vargas, 1983.
nova ordem internacional da informação e da
comunicação defendendo uma redefinição dos
fluxos informativos internacionais. DEMOCRATIZAÇÃO DA MÍDIA
Constatou-se, ainda que a comunicação, O conceito de democratização da mídia é, ao
no sentido amplo do termo, sofria restrições mesmo tempo, técnico (por implicar o acesso
na medida em que as notícias circulavam em à capacidade material de gerar, transmitir e tro-
mão única, dos centros hegemônicos do he- car informações), cultural (por serem os meios
misfério norte para os países do hemisfério sul. o suporte que permite a circulação dos bens
Propunha-se um “fluxo livre e equilibrado da simbólicos) e político (por serem instrumentos
368
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enciclopédia intercom de comunicação
Chomsky, Noam; Herman, Edward S. Ma- cio da profissão. Ou seja, a deontologia do jor-
nufacturing Consent. The political econo- nalismo. Dessa maneira, pode-se afirmar que
my of the mass media. New York: Panthe- essas “regras” começam a tomar corpo na se-
on, 1988. gunda metade do século XIX, com a ascensão
Habermas, Jürgen. Mudança estrutural da do jornalismo a condição de profissão.
esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Bra- Antes de nos fixarmos na deontologia do
sileiro, 1984. jornalismo, atentaremos para os conceitos de
Machado, Arlindo; Magri, Caio; Masa- moral e ética, e o de deontologia propriamente.
gão, Marcelo. Rádios Livres – a reforma Reflexão necessária visto que, muitas vezes, es-
agrária no ar. São Paulo: Brasiliense, 1986. tes são consideramos como idênticos.
Diferenciando conceitos: moral, ética e de-
ontologia
DEONTOLOGIA Os termos moral e ética, frequentemente,
“As notícias breves são as mesmas em todos os têm sido utilizados como sinônimos. Talvez, a
jornais. (...) De lá vem esta necessidade cotidia- explicação esteja na origem das palavras que é
na de tirar consequências contrárias e de che- comum, embora a primeira tenha origem no
gar necessariamente de um lado ou de outro latim – moralis - e a segunda derive do termo
do absurdo, para que os jornais possam exis- grego ethos. Assim, ambas estão associadas, em
tir. É nas Notícias Breves que se produzem os suas origens, com os usos e costumes, isto é,
Canards. Fixemos bem a etimologia desta pa- com a maneira de ser e de se portar de indiví-
lavra da Imprensa. O homem que apregoa em duos e de sociedades. Porém, a filosofia moder-
Paris a prisão do criminoso que vai ser execu- na procurou diferenciá-las.
tado, ou a relação dos seus últimos momentos, Dessa maneira, enquanto a moral “designa
ou o boletim de uma vitória, ou a descrição de o conjunto das regras de comportamento geral-
um crime extraordinário, vende por um tostão mente admitidas por uma sociedade histórica
a folha que ele anuncia, e que recebe o nome de dada” e a ética “evoca uma concepção coerente
Canard em termos de tipografia. (...) A relação e pessoal da vida” (CORNU, 1994, p. 36).
do fato anormal, monstruoso, impossível e ver- Ética e moral, então, embora não sejam sinô-
dadeiro, possível e falso, que servia de elemento nimos, dialogam entre si. Afinal, a primeira está
aos Canards, foi chamada então nos jornais de relacionada a moral do homem, moral esta toma-
Canard, com tanta razão pelo fato de que não da como conjunto de normas, princípios e valo-
é feito sem penas, e que pode ser colocado em res, aceitos ou descobertos de forma livre e cons-
qualquer molho”. ciente, que regulam o comportamento individual
O escritor francês Honoré de Balzac, autor dos homens. Já a segunda é o estudo da condu-
da obra Os Jornalistas, da qual retiramos o re- ta ideal a partir das virtudes do homem, estabe-
corte acima, destaca-se entre os críticos da prá- lecendo um conjunto de regras de conduta e de
tica jornalística, ainda nas primeiras décadas postura a serem observadas para que o convívio
do século XIX. Ataques que levam a um (re) em sociedade se dê de forma ordenada e justa.
pensar o fazer jornalismo e resultam na formu- Estabelecida a(s) relação(ões) entre moral e
lação de princípios para o bom e correto exercí- ética, podemos situar agora o significado e o lu-
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dos significados. Assim, dizer “desconstrução é arbitrariamente fixado, mas ao mesmo tempo
é…” seria uma contradição imediata. Transfor- está em permanente variação: questionar as es-
mada em método e conceito, “desconstrução” truturas sobre as quais o sentido de um “texto”
foi apropriada nas ciências humanas como mé- repousa tende a mostrar a fragilidade do signi-
todo para questionar a construção dos sentidos ficado. Desmontá-las é um movimento de “des-
das palavras, expressões e discursos. construção”: signos não fazem sentido, o senti-
A palavra é usada nas primeiras obras im- do é feito conforme os usos em determinados
portantes de Derrida, De la grammatologie e contextos.
L’ecriture et la difference, de 1967. O termo se Derrida abre espaço para interpretar “des-
tornou corrente também no vocabulário de construção” ao definí-la certa vez como pas de
seus amigos e alunos, em particular Barbara méthode, “não é um método”, mas pode tam-
Johnson, Gaiatry Chakravorty Spivak, Paul de bém ser entendida como “passo de método”,
Man e a chamada “Escola de Yale”. uma etapa. Essa dualidade expressa, na prática,
É possível estabelecer os contornos de a noção de desconstrução como questionamen-
“desconstrução” a partir das ideias expostas to das ambiguidades possíveis. (Luís Mauro Sá
por Derrida em outros textos. Desconstrução Martino)
aproxima-se mais de uma atividade que de um
conceito, na medida em que se refere ao ques- Referências:
tionamento dos mecanismos de construção do McQUILLAN, M. Introduction: five strategies
sentido em cada circunstância, evitando a ilu- for deconstruction. In: . Deconstruc-
são da “naturalização”, como Derrida chama a tion: a reader. Edinburgh: Edinburgh Uni-
tendência a ver o sentido das expressões, obje- versity Press, 2000.
tos e signos como intrínsecos. É verificar, a cada SPIVAK, G. C. Translator’s preface. In: DERRI-
momento, como os sentidos e representações DA, J. Of grammatology. Baltimore: John
são criados e recriados, como significam para Hopkins University Press, 1976.
além do texto – nesse sentido, a desconstru- DERRIDA, J. De la grammatologie. Paris: Mi-
ção aponta as ambiguidades, possibilidades de nuit, 2000.
leitura e pistas para a interpretação no próprio . Positions. Paris: Minuit, 1996.
texto. Daí a expressão “não existe nada fora do ROLFE, G. Deconstruction in a nutshell. Nur-
texto”, empregada em De la grammatologie, que sing Philosophy 5. Blackwell, 2004.
pode se referir tanto à presença de todos os sig-
nificados possíveis dentro das fronteiras de um
“texto” quanto à explicação de palavra após pa- Desenho Animado
lavra para fixar o significado da anterior. Técnica de animação (BLAIR, 1994) que consis-
Nesse sentido, todo texto é explicado por/a te em desenhar, uma a uma, imagens que serão
partir de outros textos – entra-se em uma ca- colocadas em ordem e fotografadas para que,
deia infinita de sentidos sobrepostos/re-ex- quando projetadas ou transmitidas em sequên-
postos. “Explicar” uma palavra requer outras cia, causem a ilusão de movimento no especta-
palavras, por sua vez sujeitas às mesmas ambi- dor do filme ou do vídeo composto com essas
guidades e flutuações de sentido. O significado imagens. Este efeito é possível devido ao fenô-
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meno conhecido como “persistência retiniana”. gens com o mesmo personagem. Steamboat
(ver verbete cinema de animação) Willie (Walt Disney, 1928), primeiro sucesso co-
As imagens desenhadas são substituídas, mercial sonoro em Desenho Animado. Flowers
na tela, a uma taxa que fica, normalmente, en- and Trees (Walt Disney, 1932), primeira anima-
tre doze e trinta quadros por segundo. Há va- ção comercial a utilizar o processo de tricromia
riações dessa técnica que permitem que o ar- Technicolor. Branca de Neve e os Sete Anões
tista desenhe uma só vez um cenário fixo, a ser (Walt Disney, 1937), primeiro longa-metragem
repetido em vários quadros e, sobre ele, per- de sucesso comercial em animação, além de ser
sonagens desenhados em um suporte transpa- o primeiro longa animado em cores e o primei-
rente. Isso permite animar apenas o persona- ro longa animado sonoro.
gem, sem a necessidade de redesenhar o fundo Na década de 1940, os Estúdios Disney pro-
a cada quadro. Pode-se também utilizar uma duziram dois filmes de animação com cenas, es-
repetição cíclica de desenhos, para que uma téticas e temáticas que homenageavam a Amé-
corrida ou caminhada, na qual os movimentos rica do Sul, em especial o Brasil: Alô, Amigos
sejam muito parecidos, seja animada com um (Walt Disney, 1942) e Você já foi à Bahia? (Walt
menor número de desenhos. Disney, 1944), ambos com o personagem Zé Ca-
Os processos de animação, por meio de de- rioca, criado especialmente para o primeiro.
senhos, possuem uma origem mista. Seus pri- No Brasil, o primeiro longa-metragem em
mórdios são comumente relacionados com os Desenho Animado, ainda em preto e branco,
aparelhos Lanterna Mágica, um invento do sé- foi Sinfonia Amazônica (Anélio Lattini Filho,
culo XVII voltado à projeção de imagens está- 1953). O primeiro colorido foi Piconzé (Ypê
ticas, e o Praxinoscópio (SOLOMON, 1994), do Nakashima, 1972), de um japonês radicado no
século XIX, com a projeção de sequências de- Brasil.
senhadas. Toy Story (John Lasseter, 1995) é primeiro
As experiências de James Stuart Blackton longa-metragem a ser lançado comercialmente
e Thomas Edison, no início do século XX, re- em animação digital. No ano seguinte, foi lan-
sultaram em Humorous Phases of Funny Faces çado o primeiro do Brasil, o filme Cassiopéia
(J. Stuart Backton, 1906), animação que esta- (Clóvis Vieira, 1996), cuja produção iniciou-se
beleceu bases técnicas para o Desenho Anima- antes do filme americano, mas cuja conclusão
do. Já as linguagens foram muito trabalhadas foi posterior. Shrek (Andrew Adamson, 2001) é
pelo cartunista Winsor McCay (THOMAS; primeiro vencedor do prêmio Oscar de melhor
JOHNSTON,1995), estabelecendo padrões que longa de animação. (Glauco Madeira de Toledo
influenciaram diversos realizadores, que trans- e Wiliam Machado De Andrade)
formaram esta arte em uma indústria (SCH-
NEIDER, 1990). Referências:
Além do já citado Humorous Phases of BLAIR, Preston. Cartoon Animation. Laguna
Funny Faces, uma cronologia do desenho ani- Hills: Walter Foster Publishing, 1994.
mado poderia destacar diversos títulos. Gertie, SOLOMON, C. The history of animation: en-
the Dinosaur (Winsor McCay, 1914), por exem- chanted drawings. 2. ed. New York: Ran-
plo, é uma série que explora diferentes lingua- dom House, 1994.
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THOMAS, Frank; JOHNSTON, Ollie. The Illu- vertical, e, mesmo, de cores mais puras ou mes-
sion of life: Disney Animation. New York: cladas. O objetivo do designer é que o objeto
Hyperion, 1995. fale por si. Ele pode ser apreendido denotativa
SCHNEIDER, Steve. The art of Warner Bros. ou conotativamente. Uma mesa, por exemplo,
Animation. New York: Henry Holt and pode ser grande ou pequena, simples ou de es-
Company Inc., 1990. tilo, combinando ou não com as cadeiras que fi-
LORD, Peter; SIBLEY, Brian. Cracking anima- cam à sua volta; já do ponto de vista conotativo,
tion: the Aardman book of 3-D animation. se grande, ela pode evocar um passado, onde a
Londres: Thames & Hudson, 1998. família numerosa se reunia, provocasaudades
de pessoas queridas; se pequena, um lugar ín-
timo de conversas veladas, um nível econômi-
DESIGN co mais modesto. Tanto que a busca do refina-
O design se constitui como um processo téc- mento do estétido pode até inspirar a feitura de
nico e criativo, que busca conceber, elaborar e um poema, como “A mesa”, de João Cabral de
confirmar um artefato. Segundo certo objeti- Melo Neto.
vo, às vezes pode ser até a solução de um pro- Segundo estudiosos, o termo design signi-
blema. fica ao mesmo tempo desígnio e desenho. Ao se
O termo design provém do latim designa- decidir pela feitura do projeto, no começo de
re, adaptado para o inglês design. Este agrega sua execução está-se realizando o desígnio do
a denominação de acordo com a natureza do objeto. Ao mesmo tempo, o termo desenho ex-
que projeta. Citem-se, por exemplo, o design de pressa que não pertence ao designer esta tarefa,
moda, o design de produto, o design visual, o mas ao engenheiro, que se deve ocupar do fun-
design de interiores. cionamento do objeto, de sua configuração. O
Dada a complexidade da natureza do de- alemão Gestaltung tem, apenas, o significado
sign, compreende-se que se tenha levado tan- de desenho, o que evidencia a expansão do uso
to tempo para perceber-se as ópticas pela quais de industrial design. Para a realização do design
ele é observado. Do ponto de vista histórico, há é preciso que o designer mantenha um diálogo
uma pluralidade de dimensões pela quais ele com o público, que o faz por meio da escuta de
é visto e que lhe imprime um aspecto dialéti- especialistas de marketing, e fale a esse público
co quando é percebido de um plano superior. por meio dos publicitários. As empresas públi-
O designer poderia conceber-se como “o artis- cas ou privadas levam em conta lucros, que se
ta que fornece desenhos de modelos para a in- acompanham de algo mais abstrato, a ideolo-
dústria (...), projetista de produtos industriais; gia. (Telenia Hill)
profissional qualificado a levantar todos os pro-
blemas concernentes à produção e utilização de Referências:
um objeto e projetá-lo para a produção” (LAR- GRANDE ENCICLOPEDIA DELTA LARROU-
ROUSE, p. 2136). SE. Paris/Rio de Janeiro: Delta, 1970.
A logicidade não preside totalmente a exe- ENCYCLOPAEDIA UNIVERSALIS. Paris:
cução de um objeto, afinal, há sempre uma es- Encyclopaedia Universalis France, 1980.
colha de ângulos, de uma ordem horizontal ou
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Criou-se, assim, a noção de que a sincronia ção ao futuro, seja em recuperação ao passado.
levaria em conta os aspectos estruturais inva- Nesse caso, o que, de fato, conta, é a configura-
riáveis, ao passo que as mudanças seriam de- ção dos sistemas antes e depois da mudança.
corrência da diacronia. Assim se exprime o lin- É isso que as linguagens da comunica-
guísta: “É sincrônico tudo quanto se relacione ção têm evidenciado ao colocar em evidência
com o aspecto estático de nossa ciência, diacrô- a dinâmica dos códigos. A noção de mudança
nico tudo o que diz respeito às evoluções. Do como fato sincrônico não só destrói a dicoto-
mesmo modo, sincronia e diacronia designa- mia entre diacronia e sincronia, como permi-
rão, respectivamente, um estado de língua e sua te vislumbrar o tempo como uma dimensão do
fase de evolução” (SAUSSURE, 1973, p. 96). espaço. É na análise do código que a dicotomia
Considerando que, para o falante, a suces- perde o rigor de sua configuração. (Irene Ma-
são dos fatos da língua não existe no tempo, chado)
mas tão somente no ato de realização, “ele se
acha diante de um estado” (idem, ibidem,p. 97). Referências:
Daí surge a noção de fala como o lado invariá- SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística
vel e, portanto, estático da linguagem, em opo- geral. São Paulo: Cultrix, 1973.
sição à língua, dinâmica. O estudo semiótico,
contudo, revela que nem o estado observado
está livre da transformação, nem a sucessão é DIAGNÓSTICO SITUACIONAL NA GESTÃO
alheia ao invariável. Pelo contrário, o estado re- COMUNICACIONAL
sulta de mutações, no interior do sistema, não Pesquisar é uma prática constante na gestão co-
no conjunto, que é invariável. O que existe são municacional, pois a quantidade e a qualidade
dominâncias de diferentes princípios: a sincro- de informações sobre as organizações, suas ati-
nia sustenta-se na regularidade, ao passo que a vidades e seus públicos é que fornecem suporte
diacronia se orienta pelo princípio da substitui- para a área. Os dados, as informações, as opi-
ção. Ao que Saussure (idem, ibidem, p. 111) con- niões acerca de tudo o que diz respeito às orga-
clui no contexto da linguística: “Em resumo: os nizações e aos públicos que interagem com as
fatos sincrônicos, quaisquer que sejam, apre- mesmas são fatores fundamentais no trabalho
sentam uma certa regularidade, mas não têm de legitimação das políticas adotadas pelas em-
nenhum caráter imperativo; os fatos diacrôni- presas, seja em relação à comunicação interna,
cos, ao contrário, se impõem à língua, porém, quanto à externa. Na comunicação corporativa,
nada mais têm em geral”. pesquisa e planejamento andam juntas, uma
Os dois pontos de vista produzem, conse- respaldando a outra.
quentemente, diferentes métodos de estudo de Para uma eficaz gestão da comunicação,
seus objetos (que não se restringem aos signos torna-se necessário conhecer desde o surgi-
linguísticos, mas se estendem aos diferentes mento da organização, sua história, objetivos,
sistemas de signos). O método testemunhal dos missão, valores, estrutura, atividades, ações
que se servem do sistema para suas interações; mercadológicas e institucionais, públicos, cul-
o método prospectivo e o retrospectivo, que tura, produtos, serviços, mercado, competên-
acompanham o curso do tempo, seja em dire- cias, clientes, canais e processos de comuni-
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cação, imagem e reputação. Num primeiro NASSAR, Paulo (Org.). Comunicação empresa-
momento, deve-se precisar onde a empresa rial, estratégia de organizações vencedoras.
está, para, em uma segunda etapa, estabele- Coleção Inteligência. São Paulo: ABERJE,
cer para aonde ela irá. O processo, amparado 2005. Volume 2.
por informações advindas das pesquisas e dos PIMENTA, Maria Alzira. Comunicação empre-
diagnósticos comunicacionais, segue um plano sarial. Campinas: Alínea, 2004.
contínuo e integral, sendo um movimento de SOUSA, Jorge Pedro in CESCA, Cleusa Gime-
espiral, complementando-se ao próprio tempo nes (Org.). Relações Públicas e suas interfa-
de necessidades de mercado e culturais. ces. São Paulo: Summus, 2006.
Diagnósticos na gestão comunicacional
equivalem às pesquisas, auditorias e estudos de
mensuração dos resultados das práticas de co- Diagrama
municação adotadas. Conforme Sousa (2006), Como em toda tríade pensada pelo semioticista
essa coleta de informações pode ocorrer em Charles Sanders Peirce, o diagrama precisa ser
duas instâncias: a) para levantar possíveis pro- entendido na interface com outras duas carac-
postas de políticas, sistemas de ação e de ges- terizações signicas: a imagem e a metáfora. De-
tão comunicativa, a partir das auditorias de nominados como hipoícones, todos funcionam
imagem, de opinião e de comunicação; b) para como signos, ou seja, como representações,
avaliação dos sistemas implementados, tendo porém, representam seus objetos, ou possíveis
como um dos objetivos principais o constante objetos, por meio das relações de similarida-
acompanhamento de seus resultados, para fa- de (PEIRCE, 1990, p 64), havendo, entre eles,
zer modificações, caso necessário. graus distintos de similitude. A imagem se tra-
Fortes (2003) indica que uma das funções duz em signo pelas “qualidades simples” (idem,
desses diagnósticos é estabelecer uma base de ibidem), qualidades primeiras (SANTAELLA,
dados para sustentar decisões, programas e 1995, p 156) ou qualidades de sensação que esta-
ações de comunicação corporativa. Também belecem, ou podem estabelecer, analogias com
aponta a importância das avaliações de resulta- as propriedades fenomênicas.
dos obtidos e em que medida o conceito público Diferente da imagem, o diagrama não se
da organização foi influenciado, como formas vincula aos caracteres do objeto, mas traça cor-
de descrever a eficiência e eficácia das políti- respondências entre as relações constitutivas
cas de comunicação adotadas. (Souvenir Maria no interior da representação e as relações sis-
Graczyk Dornelles) têmicas do objeto, ou seja, ele expressa a lógica
de ordenação e organização do fenômeno pe-
Referências: las relações formais e predicativas entre as qua-
DORNELLES, Souvenir Maria Graczyk (Org). lidades do signo ou entre signos, construindo,
Relações Públicas: quem sabe, faz e explica. com isso, uma imagem estrutural da estrutura-
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007. lidade do objeto, na qual, não necessariamente,
FORTES, Waldyr Gutierrez. Relações públicas, precisa haver entre eles uma identidade quanto
processo, funções, tecnologia e estratégias. à aparência, mas uma similitude “quanto à re-
São Paulo: Summus, 2003. lação entre as suas partes” (Peirce, 1990, p. 66),
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para que o diagrama se processe como “um Pontifícia Universidade Católica, São Pau-
ícone de relações inteligíveis” ou “um ícone das lo. 2004. 274 p.
formas das relações na conformação de seu ob- PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Pau-
jeto” (PEIRCE apud JORGE, 2004, p. 16). As- lo: Perspectiva, 1990.
sim, por meio dele, surge um tipo de raciocínio SANTAELLA, Lúcia. A teoria geral dos signos:
eminentemente visual, quando a mente opera semiose e autogeração. São Paulo: Ática,
ativamente sobre o fenômeno e traduz sua ar- 1995.
ticulação em um ícone diagramático capaz de IBRI, Ivo Assad. Kosmos poietikos: a criação e
reunir “todos os predicados de relações em um descoberta na filosofia de Charles S. Peir-
único sistema” (IBRI, 1994, p. 129). ce.
Dessa maneira, da percepção descompro- Tese (Doutorado em Comunicação e Semióti-
missada à análise crítica do que se percebe, o ca). PEPG em Comunicação e Semiótica,
diagrama interpõe-se como uma espécie de la- Pontifícia Universidade Católica, São Pau-
boratório, no qual os insights que surgem pela lo, 1994. 155p.
observação do modo de articulação de um
dado fenômeno têm, nele, um recurso reflexivo
para serem abordados como hipóteses inves- Dialogia
tigativas que são comprovadas, retificadas ou Princípio elementar que rege as interações no
descartadas, conforme elas são testadas no con- universo semiótico, a partir do qual Mikhail
fronto entre o diagrama e seu objeto. Bakhtin forjou o dialogismo como ciência das
Pensada como um terceiro grau das rela- relações. Nesse sentido, a dialogia perspectiva
ções de similaridade estabelecidas entre signo tanto uma orientação filosófica de caráter an-
e objeto, a metáfora é um ‘hipoícone’ no nível tropológico, quanto às configurações semióti-
de terceiridade, uma vez que ela emerge como cas de discursos e linguagens no interior das
uma espécie de síntese analogizante entre as enunciações. Amplia-se, assim, a noção de di-
partes envolvidas. É por isso que toda metáfo- álogo: das relações entre indivíduos para o con-
ra pressupõe a concisão pelo traço semelhan- texto da comunicação mais ampla na cultura.
te estabelecido entre os analogizados. Contu- No centro desse amplo debate encontram-se
do, tal aproximação também põe em evidência as relações de alteridade – chave conceitual de
as características distintivas que há entre eles, tudo que evidencia a interação como evento
denunciando, com isso, o caráter vicário e ar- fundamental das trocas compartilhadas.
tificial da representação pelo paralelismo cons- O princípio dialógico tornou o concei-
truído entre signo e objeto. (Fábio Sadao Naka- to de dialogismo o fundamento epistemológi-
gawa) co bem como a metodologia de conhecimento
no campo das ciências humanas, uma vez que
Referências: a dialogia é força organizadora dos sistemas de
JORGE, Ana Maria Guimarães. O protodiagra- signos na cultura e, enquanto tal, alimenta a ca-
ma periceano na heurística da mente. Tese deia dialógica de emergência da própria semio-
(Doutorado em Comunicação e Semióti- se “que desde a lógica de Ch. S. Peirce se de-
ca). PEPG em Comunicação e Semiótica, senvolveu como propriedade de um signo de
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encarada como engrenagem de discursos e diá- MORIN, Edgar. Meus demônios. Rio de Janeiro:
logos. Ele detecta a solidão frente às telas e, por Bertrand Brasil, 1997.
outro lado, percebe a possibilidade de que in-
formações novas possam ser sintetizadas dialo-
gicamente no contexto da telemática. DIÁLOGO E COMUNICAÇÃO
Para o físico David Bohm, diálogo é o lu- O diálogo é uma característica irradiadora do
gar da criação do novo, uma relação de duas ser humano, sendo organizador da reflexão.
ou mais pessoas em que os interlocutores fa- Consiste em comunicação verbal de pessoas
zem algo em comum, dando espaço ao apa- face a face e requer um enunciador, que inicia o
recimento desse novo. Não se trata, de forma discurso, assim como um receptor, que recebe
alguma, de troca de ideias ou pontos de vista a mensagem. Qualquer forma verbal é fruto de
como fragmentos de informação, pois, nesse uma relação onde vozes se alternam num dado
caso, o encontro fracassaria, uma vez que cada tempo e espaço. O diálogo é, pois, uma impor-
pessoa ouviria a outra pelo filtro de seus pen- tante forma de interação.
samentos. Nessa perspectiva, para se ter um diálogo
O filósofo Edgar Morin, em vez da dialé- é preciso existir intencionalidade e direcionali-
tica que supera as contradições em novas sín- dade, vontade de alguém se dirigir a outro com
teses, propõe a dialógica, como associação de algo indicativo. Essas marcas estão presentes em
instâncias ao mesmo tempo complementares toda enunciação e por isso mesmo entende-se
e antagônicas, para o estudo do mundo físico, que “qualquer enunciado é, por definição, dia-
do mundo vivo e do mundo humano. Mikhail lógico” (BAKHTIN apud MORSON, 2008, p.
Bakhtin, Maurice Merleau-Ponty, Emmanuel 147). Por ser uma forma clássica de comunica-
Lévinas, Gaston Bachelard e Hans-George Ga- ção verbal, possui características que expressam
damer também se debruçaram sobre o tema do a posição do enunciador em relação ao outro, ou
diálogo. (José Eugenio de O. Menezes) seja, interessa aos dois a relação, que promoverá
uma reflexão (MARCHEZAN, 2006). Qualquer
Referências: enunciador, ao construir suas relações, se utiliza
BOHM, David. Diálogo: comunicação e redes da linguagem, que toma forma e sentido a partir
de convivência. São Paulo: Palas Athena, dos discursos construídos na interação.
2008. Para Bakhtin (1986), a atividade do diálogo
BUBER, Martin. Eu e tu. São Paulo: Centauro, contribui para a compreensão das relações en-
2001. tre os sujeitos (interlocutores que interagem), e
CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da fi- a sociedade. Cada indivíduo ocupa um lugar e
losofia. São Paulo: Companhia das Letras, um tempo, sendo responsável pela construção
2002. das relações entre o eu e o outro, culminando
FLUSSER, Vilém. O universo das imagens técni- no processo de comunicação. O diálogo deve
cas: elogio da superficialidade. São Paulo: ser visto como uma forma de aperfeiçoar a lin-
Annablume, 2008. guagem e as escolhas de posicionamento em
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de uma conversação. Segundo Bakhtin, é preciso
Janeiro: Paz e Terra, 1983. desenvolver a habilidade do diálogo, a fim de
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sentido de desigualdade. Assim, faz-se necessá- podem ser compreendidas puramente em ter-
rio cuidado para que os códigos de diferencia- mos dos imperativos das instituições sociais. Os
ção não impliquem em classificações, secretem processos de formação da subjetividade são ao
hierarquizações e desencadeiam subordinações. mesmo tempo sociais e subjetivos; que podem
Haja vista, o quanto o exotismo simboliza todo nos ajudar a entender os investimentos psíqui-
um processo histórico de produção da diferen- cos que fazemos ao assumir posições específi-
ça onde o outro é visto como negativo. cas de sujeito que são socialmente produzidas.
Seguindo as orientações de Avtar Brah (4) Da Identidade, pois nossas lutas sobre signi-
(2006), diferença pode ser conceituada, ao me- ficado são também nossas lutas sobre diferentes
nos, a partir de quatro critérios a saber: (1) Da modos de ser: diferentes identidades, que estão
Experiência como sendo o lugar da formação intimamente ligadas a questões de experiência,
do sujeito. Pensar a experiência e a formação subjetividade e relações sociais. Identidades são
do sujeito como processos é reformular a ques- inscritas através de experiências culturalmente
tão da “agência”. O “eu” e o “nós” que agem não construídas em relações sociais, marcadas pela
desaparecem, mas o que desaparece é a noção multiplicidade de posições que constituem o
de que essas categorias são entidades unifica- sujeito. Portanto, a identidade não é fixa nem
das, fixas e já existentes e não modalidades de singular; é uma multiplicidade relacional em
múltipla localidade, continuamente marcadas constante mudança.
por práticas culturais e políticas cotidianas. (2) Em suma, o entendimento de que a dife-
Da Relação Social no que se refere à maneira rença não produz, necessariamente, desigualda-
como a diferença é constituída e organizada em de, mas que está relacionada à diversidade cul-
relações sistemáticas através de discursos eco- tural representa um convite às reflexões sobre
nômicos, culturais e políticos e práticas insti- à própria caracterização do multiculturalismo
tucionais. Ela sublinha a articulação variável na civilização ocidental. Afinal, quando leva-
de micro e macro regimes de poder, dentro dos da ao extremo a evocação multicultural do di-
quais modos de diferenciação tais como gêne- reito à diferença nos coloca o desafio de se evi-
ro, classe ou racismo são instituídos em termos tar os perigos de visões fundamentalistas seja
de formações estruturadas. Pode ser entendida no campo religioso seja campo das identidades
como as trajetórias históricas e contemporâneas étnicas e outros campos. No extremo, frente à
das circunstâncias materiais e práticas culturais pluralidade de situações, a diversidade de cul-
que produzem as condições para a construção turas, a profusão de incertezas, certos grupos
das identidades de grupo. O conceito se refere podem descobrir nos “fundamentalismos” de
ao entretecido de narrativas coletivas compar- ocasião antídotos para suas ansiedades, angús-
tilhadas dentro de sentimentos de comunidade, tias e estratégias de dominação. (Patrícia Melo e
seja ou não essa “comunidade” constituída em Grazielle Vieira Maia)
encontros face a face ou imaginada. (3) Da Sub-
jetividade na medida em que o reconhecimento Referências:
crescente do papel das emoções, dos sentimen- BRAH, Avtar. Diferença, Diversidade, Diferen-
tos, dos desejos e das fantasias mais íntimas da ciações. Cadernos Pagu. n. 26, Campinas,
pessoa, com suas múltiplas contradições, não 2006.
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BHABHA, Homi .K. O Local da Cultura. Belo fusão estendem-se ao início da Ciência Social
Horizonte: UFMG, 1998. na Europa. Gabriel Tarde, um dos pioneiros da
PIERUCCI, Antônio. F. Ciladas da Diferença. Sociologia e Psicologia Social, era um advogado
São Paulo: Editora 34, 1999. e juiz francês na virada do século que observou
SAID, Edward. Orientalismo – O Oriente como com olhos avaliativos as teias de sua sociedade
Invenção do Ocidente. São Paulo: Compa- representada pelos casos legais que chegavam
nhia das Letras, 1990. antes à sua corte. Tarde observou certas gene-
TODOROV, Tzvetan. Nós e os Outros – A Re- ralizações sobre a difusão de inovações que ele
flexão Francesa sobre a Diversidade Hu- chamou de leis de imitação.
mana. Rio de Janeiro: Zahar, 1993. Vemos que, de certa forma, Gabriel Tarde
estava distante no seu tempo na ideia sobre di-
fusão. A palavra-chave de Tarde – imitação –
Difusão de inovações (Diffusion of implica que um indivíduo aprende sobre uma
Innovations) inovação copiando as atitudes adotadas por ou-
O paradigma da difusão de inovações nas- tras pessoas. Tarde foi o principal pioneiro eu-
ceu quando os sociólogos rurais Ryan e Gross ropeu no campo da difusão.(...) Outra raiz da
(1943) publicaram os resultados de seu estudo pesquisa em difusão foi a de um grupo de an-
com uma semente híbrida de milho (VALEN- tropólogos que surgiu na Inglaterra e na região
TE, 1995), cuja experiência, inicialmente agrí- austro-germânica logo após Gabriel Tarde se
cola, teve reflexos futuros na saúde pública. O destacar na França, embora eles não tivessem
paradigma da difusão foi largamente confinado lido seus trabalhos.
aos sociólogos rurais durante os anos de 1950. A história do surgimento do modelo clás-
Entretanto, durante os anos 1960, o paradigma sico de difusão de inovações é contada em ou-
da difusão se espalhou para outras especialida- tro estudo de Rogers (1973, p. 71-76), segundo
des científicas, como saúde pública, economia, o qual o paradigma teria se originado dos es-
geografia, marketing, ciências políticas e comu- tudos de difusão por sociólogos na década de
nicação. Uma razão foi a publicação de Rogers 1940 e atingiu as inovações agrícolas (como
(1962), Diffusion of Innovations, que fez com os a do milho híbrido) no meio-oeste dos EUA.
resultados de pesquisa em sociologia rural (e Para o pesquisador, a revolução do conceito
em educação, antropologia e outros campos) aconteceu quando dois sociólogos rurais, Bryce
mais acessíveis aos acadêmicos. Esse livro suge- Ryan e Neal Gross, em 1943, investigaram a di-
ria que a difusão de inovações era um proces- fusão do uso da semente de milho híbrida entre
so geral – aplicável para fazendeiros, médicos os fazendeiros de Iowa.
e outros. A semente foi uma das mais importantes
Antes mesmo de explicar teoricamente o inovações da agricultura do meio-oeste, por
conceito de difusão de inovações, Rogers (1983) isso, sua difusão foi especialmente simbólica.
mostra que o DNA desse paradigma remonta à Rogers conta que Ryan e Gross traçaram a rota
Europa, com raízes na França e Inglaterra, im- através de duas comunidades de Iowa; dados
putando ao jurista francês Gabriel Tarde, a pa- foram obtidos por entrevistas pessoais com 250
ternidade da ideia. As raízes da pesquisa em di- fazendeiros. Os respondentes foram questio-
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nados a se lembrar de quando adotaram a se- e vídeo, por corrente elétrica, alternada, grava-
mente híbrida, os canais de comunicação pelos dos ou ao vivo que era a única possibilidade de
quais eles primeiro ouviram falar sobre a ino- existência dos meios de comunicação audiovi-
vação e como eles foram convencidos a usá-la. suais até os anos 1980/1990 .
(Arquimedes Pessoni) A digitalização dos meios de comunicação
ampliou o número de informações circulantes,
Referências: possibilitou a interatividade entre o campo da
VALENTE, Thomas W.; ROGERS, Everett. The produção e o da recepção, assim como alterou
origins and development of de diffusion of as noções de tempo e espaço, influenciando em
innovations paradigm as an example of sci- todas as esferas sociais e do comportamento. A
entific growth. Revista Science Communica- passagem para o mundo digital possibilitou a
tion, vol.6, nº 3, 242-273. Sage Publications, chegada de novas mídias, com o os jornais e re-
Inc., March 1995. vistas on line, os celulares, a TV, o rádio digital
ROGERS, Everett M. Diffusion of innovations. e o cinema digital e também os videojogos em
4. ed. New York: Free Press, 1983. rede. (Alvaro Benevenuto Jr.)
. Communication Strategies for Family
Planning. New York: Free Press, 1973.
Diploma de Jornalista
Expressão utilizada para designar a questão
Digital política e a controvérsia jurídica relacionadas
Na digitalização, os impulsos elétricos são à exigência de formação superior específica na
transformados em bits (sistema binário, con- regulamentação da profissão de jornalista, te-
juntos de impulsos). Esse processo, mesmo gra- mas que opõem patrões e empregados do se-
vado direto nos suportes tecnológicos, é mais tor desde a década de 1950. Reconhecido como
eficaz porque está menos exposto a interferên- profissão por um decreto de Getúlio Vargas, na
cias externas, sejam naturais ou geradas por década de 1940, a regulamentação do ofício é
outras fontes. Além disso, o número de canais combatida fortemente pelas empresas do setor,
aumenta consideravelmente, como é o caso da desde que um projeto de lei do jornalista po-
TV digital brasileira que poderá subdividir um tiguar e deputado federal, José Café Filho (de-
mesmo canal em quatro novos, se todos fo- pois Presidente da República), estabeleceu um
rem utilizados em alta definição. Ou seja, uma piso salarial para os jornalistas. Após ser apro-
mesma empresa poderá oferecer programação vada pelo Congresso Nacional, a lei foi vetada
educativa no seu canal 1; noticiários no canal pelo, então Presidente Gaspar Dutra, por pres-
2; telenovelas e séries, no canal 3 e programa- são das empresas jornalísticas do centro do
ção variada no canal 4, tudo de forma gratuita, país, em 1951.
em sinal aberto, como ocorre na TV analógica, Após mais quinze anos de luta sindical, a
que concentra em apenas um canal toda a pro- reivindicação de reconhecimento do nível su-
gramação. A digitalização existe em contrapo- perior da profissão, feita pela categoria, foi aco-
sição à transmissão analógica, que é entendida lhida pelo ministro do trabalho Jarbas Passari-
como o sistema de transmissão de dados, áudio nho, no período mais conturbado do Regime
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Militar, após um acordo com a Federação Na- A decisão do STF foi aplaudida pelas em-
cional dos Jornalistas, que aceitou abrir mão do presas jornalísticas e repudiada pelo meio sin-
piso salarial, no texto da lei, em troca da exi- dical dos jornalistas, que recebeu a solidarie-
gência do diploma de curso superior específico dade de entidades representativas de diversas
para o exercício profissional. A regulamenta- outras profissões, entre elas a Ordem dos Ad-
ção da profissão foi normatizada pelo Decre- vogados do Brasil.
to-lei 972, de 17 de outubro de 1969 (mantida A partir dessa decisão, a Federação Na-
em linhas gerais pelo Decreto-lei 83.284, de 13 cional dos Jornalistas luta pela criação de uma
de março de 1979). Desde então, foi alvo de di- nova legislação, através do Congresso Nacio-
versos questionamentos judiciais, por parte de nal, que reestabeleça a exigência do diploma, e
pessoas que requeriam o registro sem cumprir a Associação Nacional dos Jornais, que repre-
a exigência do diploma e também por parte das senta as empresas, faz lobby para que ela não
entidades patronais, principalmente após a pro- seja aprovada. (Eduardo Meditsch)
mulgação da Constituição de 1988 que redemo-
cratizou o país.
A contestação da exigência do diploma es- Direito Autoral
pecífico para o exercício profissional se baseou O pagamento pela apresentação pública de algu-
na tese de que a mesma contrariava o princí- ma produção intelectual remonta à antiga Gré-
pio constitucional da liberdade de expressão, cia, onde, em Atenas, os recitadores de versos
e a defesa da regulamentação profissional con- competiam entre si, como os atletas, recebendo
testava esta tese, argumentando que a liberdade prêmios pelas obras. Esses prêmios eram pagos
de expressão era compatível com a liberdade de pelo Erário. Há registros de que, em 1443, o po-
profissão, garantida pela mesma Constituição. eta Gringoire escreveu uma obra sobre a vida de
A questão tornou-se mais polêmica, a par- Monseigneur Saint-Loys de France, sendo de-
tir de decisões em favor de uma e outra posição pois remunerado pela Confraria dos Carpintei-
que foram adotadas em diferentes instâncias ros de Paris. Em 1495, o Senado de Veneza votou
judiciais, até a decisão do plenário do Supremo uma concessão em favor de Aldo Munnuci que
Tribunal Federal que julgou que “a Constitui- inventou os caracteres tipográficos conhecidos
ção Federal de 1988 não recepcionou o art. 4º, por itálicos. O decreto dava a exclusividade de
V, do Decreto-lei 972/69, o qual exige o diplo- uso ao seu autor e punia quem os utilizasse.
ma de curso superior de jornalismo, registrado A invenção da imprensa por Guttemberg
pelo Ministério da Educação, para o exercício facilitou a reprodução de trabalhos, isso por-
da profissão de jornalista. Com base nesse en- que cada proprietário de uma cópia impressa
tendimento, o Tribunal, por maioria, deu pro- podia reproduzi-la de maneira fácil. Em 1649,
vimento a recursos extraordinários interpostos o pintor flamengo Rubens, conseguiu proteger
pelo Ministério Público Federal e pelo Sindi- a reprodução do quadro A descida da cruz . Na
cato das Empresas de Rádio e Televisão no Es- época, a proliferação de mecenas espalhou essa
tado de São Paulo – SERTESP contra acórdão proteção entre os artistas.
do Tribunal Regional Federal da 3ª Região que Em 10 de abril de 1710, na Inglaterra, sur-
concluíra em sentido contrário”. giu a primeira lei conhecida sobre Direitos
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público e livre de ideias como elemento essen- Assim, havendo situações em que a efeti-
cial ao Estado Democrático de Direito (segun- vação concreta do direito de acesso às fontes
do o Supremo Tribunal Federal, no julgamento possa significar interferência com os direitos da
da Arguição de Descumprimento de Precei- personalidade, com a noção de ordem públi-
to Fundamental n.º 130-MC, Relator Ministro ca ou com o direito de propriedade, a solução
Carlos Britto, em 27/02/08). Assim, o direito jurídica poderá implicar em uma limitação do
de acesso às fontes, por parte do profissional direito de acesso.
de comunicação, constitui meio indispensável à No que diz respeito à pretensão de tercei-
realização destes princípios constitucionais. ros de ter acesso às fontes utilizadas pelo pro-
O exercício de tal direito, no entanto, pos- fissional de comunicação para conhecer e pu-
sui limites reconhecidos no próprio ordena- blicizar informações, trata-se de situação em
mento jurídico, principalmente nas situações que se faz discutível a existência de um verda-
em que ele venha a conflitar com: (a) a proteção deiro direito, dado o reconhecimento expres-
aos direitos da personalidade, sejam aqueles so da proteção ao sigilo da fonte, constante
expressamente reconhecidos na própria Cons- do art. 5.º, inciso XIV, do texto constitucional,
tituição Federal, tais como os direitos à intimi- o qual, por sua vez, também decorre dos já
dade, à privacidade, à honra e à imagem (art. mencionados princípios da liberdade de ma-
5.º, inciso X), sejam os encontrados na legisla- nifestação do pensamento, de expressão, de
ção infraconstitucional (como, e.g., o direito ao imprensa e do próprio princípio democráti-
nome, previsto no art. 16 do Código Civil), ou co ao qual todos estão conectados, bem como,
ainda outros direitos não previstos expressa- nesta seara, do princípio do livre exercício de
mente em lei, mas que podem ser extraídos da ofício ou profissão constante do mesmo art.
cláusula geral de dignidade da pessoa humana, 5.º, inciso XIII, da Constituição Federal. (Fa-
prevista no art. 1.º, inciso III, da Constituição; biano Koff Coulon)
(b) o dever de sigilo necessário à manutenção
da ordem pública, em hipóteses tais como no
acesso a informações estratégicas dos órgãos de Direito de imagem
segurança do Estado. Nesta hipótese, importa O domínio das técnicas e códigos narrativos da
recordar que o Brasil, embora possua previsão fotografia não são suficientes para ser um pro-
constitucional expressa no sentido de assegurar fissional competente. Além das regras técnicas
o direito de acesso dos cidadãos às informações e estéticas da imagem fotográfica, é preciso ain-
de caráter pessoal, de interesse coletivo ou geral da compreender as regras éticas e leis do siste-
(art. 5.º, XXXIII), ainda carece de legislação es- ma legal diretamente envolvidas no processo de
pecífica para regulamentar os meios adequados produção de fotografias. É preciso em especial
de acesso a tais informações; (c) a proteção ao compreender como se estabelecem os direitos
direito de propriedade, na hipótese em que o autorais do fotógrafo, o direito de imagem da
acesso às fontes possa implicar em intromissão pessoa fotografada e, os direitos autorais do au-
não consentida em bens físicos ou imateriais tor da obra fotografada, bem como a possibili-
(como no caso de afronta aos direitos autorais) dade da ocorrência conjunta de todos estes di-
pertencentes a alguém. reitos na obra fotográfica.
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A Lei 9610/98, que consolidou a legislação País, a inviolabilidade do direito à vida, à liber-
autoral brasileira estabelece em seu artigo 7 o
dade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
o que são obras intelectuais ou expressões da nos termos seguintes:
criatividade humana e que, como tais, recebem Inciso V: É assegurado o direito de respos-
a proteção legal sob a nomenclatura de “direi- ta, proporcional ao agravo, além de indeniza-
tos autorais”. ção por dano material, moral ou à imagem.
A possibilidade de que mais de dois tipos Inciso X: São invioláveis a intimidade, a
de expressão de criatividade humana sejam fi- vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
xados num mesmo meio ou suporte comuni- assegurando o direito a indenização pelo dano
cacional é cada vez maior. Basta olharmos para material ou moral decorrente de sua violação
coletâneas de fotografias ou audiovisuais sobre (Constituição do Brasil, 1988).
um determinado artista. É importante destacar Pode-se perceber que a Constituição Fede-
aqui, que, com o desenvolvimento tecnológico ral de 1988, para além da proteção ao corpo, e
no campo da comunicação, há cada vez mais à imagem que daí resulta (que é também física
as chances de que um único meio fixe diversas e pode ser reproduzida), também está sob pro-
modalidades de criação. teção à imagem subjetiva, moral. Desta forma,
No campo da fotografia esta múltipla fixa- abandona-se a limitação oferecida pelo corpo
ção faz parte do processo. Qualquer fotografia físico, para aceitá-lo em sua plenitude.
certamente registrará, pessoas, ou coisas, ou ce- Assim, cabe ao fotógrafo, em qualquer tra-
nários, ou todos juntos. Além disso, a situação balho ou situação, obter uma autorização por
comum é que a pessoa ou objeto fotografado escrito da pessoa fotografada. Tal autorização
tenha algum direito para ser respeitado parale- deve ser a mais completa possível, descreven-
lamente ao direito autoral do fotógrafo. Desta do características, formas e fins de utilização
forma, ao olharmos para a fotografia observa- da imagem. Esta autorização deve ser a mais
mos a existência dos seguintes direitos: Direito completa possível ao descrever a característi-
Autoral do Fotógrafo; Direito à Imagem, à In- ca e forma de utilização da imagem. Ela precisa
timidade, à Honra da Pessoa Fotografada; Di- dar conta das seguintes questões: para que, para
reito Autoral do Autor do Objeto Fotografado quem, por quanto tempo e para onde. Além do
quando protegido pela legislação autoral e ain- consentimento de publicação, pode ser ainda
da o Direito de Propriedade do Proprietário da necessário solicitar o de alteração da imagem,
Coisa Fotografada. necessitando também da autorização do titular.
Entre todos esses, o fotógrafo deve obser- Entretanto, há limitações que restringem o
var, com especial atenção os direitos à perso- exercício do direito à imagem. Essas restrições
nalidade da pessoa, principalmente o direito de são baseadas na prevalência do interesse social,
imagem. O conceito do direito à imagem é ga- e, portanto, o direito coletivo sobrepõe ao direi-
rantido, no Brasil, pela Constituição Federal de to individual. Se o sujeito retratado tiver noto-
1988, em seu artigo 5o, incisos V e X. riedade, é livre a utilização de sua imagem para
Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem fins informativos, que não tenham objetivos
distinção de qualquer natureza, garantindo-se comerciais, e desde que não haja intromissão
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes, no em sua vida privada.
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Também é livre a produção de imagem com OLIVER, Paulo. Direito autoral fotografia ima-
objetivo cultural, porque a informação cultural gem – aspectos jurídicos. São Paulo: Letras
prevalece sobre o indivíduo e sua imagem, des- e Letras, 2009.
de que respeitadas as finalidades da informação
ou notícia. Como exemplo, citamos a situação
em que o sujeito retratado em lugar público ou DIREITO DE INFORMAÇÃO
durante eventos sociais. Ao permanecer em lu- Liberdade de informação é o direito de infor-
gar público, o indivíduo, implicitamente, auto- mar, o direito de se informar e o direito de ser
riza a veiculação de sua imagem, dentro do lia- informado. Segundo art. 5º, XIV, é resguarda-
me notícia-imagem. Esse indivíduo só poderá do o sigilo da fonte, quando necessário ao exer-
alegar ofensa a seu direito à própria imagem se cício profissional. O instrumento de garantia
a utilização da fixação da imagem for de cunho do direito de informação é o habeas data, ação
comercial. constitucional que consta do inciso LXXII do
Por outro lado, a lei 9610/98, estabeleceu no mencionado artigo: “a) para assegurar o conhe-
artigo 79 os direitos do fotografo em relação às cimento de informações relativas à pessoa do
suas obras. Por lei, ele tem direito a reproduzi-la impetrante, constantes de registros ou bancos
e colocá-la à venda, desde que sejam observadas de dados de entidades governamentais ou de
as restrições à exposição, reprodução e venda de caráter público; b) para a retificação de dados,
retratos, e desde que não se cause prejuízo aos quando não se prefira fazê-lo por processo sigi-
direitos do autor sobre a obra fotografada. loso, judicial ou administrativo”.
O “fazer fotográfico” é, portanto, clara- Consideram os doutrinadores jurídicos,
mente protegido pela legislação atual. Porém, majoritariamente, que a liberdade de imprensa
é importante observar os direitos de terceiros, subdivide-se na transmissão da informação e na
modelos, pessoas comuns ou mesmo pessoas crítica. No caso de haver qualquer juízo de valor,
públicas. Os direitos do fotógrafo não podem considerar-se-á que a informação expressa pelo
sobrepor-se aos da própria imagem ou à honra meio traz em si mesma crítica ou comentário.
das pessoas cujas imagens são capturadas pelas Em alguns grupos, questiona-se a real existência
câmeras fotográficas. (Jorge Felz) da liberdade de imprensa, uma vez que os meios
de comunicação estão na mão de classes que pos-
Referências: suem, naturalmente, interesses políticos, ideoló-
FOLTS, James A., LOVELL, Ronald P., ZWAH- gicos e econômicos, muitas vezes, exercendo sua
LEN JR., Fred C. Manual de fotografia. São influência política de forma a limitar a expansão
Paulo: Thomson Learning, 2007. de outras entidades de comunicação com pon-
FRAGOSO, João Henrique da Rocha. Direito tos de vista diferentes e até mesmo conflitantes.
autoral – da antiguidade à internet. São (Paula Casari Cundari e Maria Alice Bragança)
Paulo: Quartier Latin, 2007.
MACHADO, Antonio Cláudio Costa; FER- Referências:
RAZ, Anna Cândida da Cunha. Constitui- BRASIL. Constituição. Constituição da Repú-
ção Federal interpretada - artigo por artigo. blica Federativa do Brasil. Brasília, Sena-
Barueri: Manole, 2009. do, 1988.
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tado sobre quaisquer fatos de interesse público, penais, de outra parte a denotar o quão respon-
bem como o pleno acesso a elementos manti- sável deve ser o trabalho jornalístico.
dos em arquivos públicos, de interesse público De qualquer maneira, importa conside-
ou particular. O Estado é devedor da prestação rar que a causa e destinatário dessa atividade,
de comunicar aos cidadãos sobre todos os fatos afinal, é o homem, que, de uma forma ou de
relevantes que são do seu domínio, sem preju- outra, acaba sendo, sempre, o personagem da
ízo de franquear acesso a quem buscar outros notícia, ao mesmo tempo em que se apresenta
elementos. É o direito à verdade, que obriga como receptor da informação e das ideias que,
também aos meios de comunicação, os quais sobre ela, se levantam. É natural, dessa forma,
devem prestar informações de interesse públi- que, ao lado do direito de informar e de ser in-
co, desde que verossímeis e decorrentes de apu- formado, haja, também, o reconhecimento, que
ração responsável. lhe é precedente, de uma esfera inatingível do
Ao abordar a liberdade de informação, homem a ser preservada, exatamente onde se
Castanho de Carvalho (1994, p. 50) a condi- põem as questões dos chamados direitos da
ciona aos princípios de liberdade, interesse pú- personalidade. Trata-se de direitos chamados
blico, verdade, responsabilidade e pluralismo. essenciais, emanações diretas da condição hu-
Isso exige que os meios de comunicação dêem mana, entre os quais se reconhece o direito à
acesso às diversas correntes ideológicas da so- integridade moral do homem, a sua imagem, a
ciedade, contemplando as várias classes sociais sua privacidade e a sua intimidade. Esses direi-
e econômicas, sem ceder à notícia inexata, ao tos podem conflitar com o exercício do direito
favorecimento desse ou daquele setor social e, de manifestar o pensamento, bem assim com
sobretudo, sem monopolizar a opinião públi- o de informar e mesmo com o de crítica. Veja-
ca. Os preceitos da reverência diante dos fatos e se que são direitos da dignidade constitucional,
das verdades científicas; descompromisso com cujos exercícios podem suscitar a necessidade
teorias e versões de fatos; e respeito às pessoas de um juízo sobre a prevalência de um, em de-
que, sendo fonte ou público, sustentam tais teo- trimento de outro. Inúmeras são as hipóteses
rias, defendidos por Lage (2001, p. 179), demar- em que o exercício, pela imprensa, do direito
cam o compromisso ético do jornalismo. de crítica ou, em geral, da liberdade de expres-
Não há como negar o decisivo papel dos são, os coloca em confronto com os direitos da
meios de comunicação no desdobramento de personalidade (GODOY, 2008, p. 2).
acontecimentos recentes, de depuração de po- O direito de se informar tem como ob-
lítica e moral, que mostra bem a relevância so- jeto a liberdade de busca de dados ou docu-
cial, mais que garantia de expressão de direi- mentos. É o direito individual ou coletivo de
tos individuais e constitucionais, que o pleno buscar, perante o Estado ou bancos de dados
exercício da liberdade de imprensa represen- públicos, informações de interesse pessoal ou
ta, alicerçando mesmo regime que se pretenda coletivo, ou em bancos de dados particulares,
democrático. Igualmente não são longínquos informações de interesse particular. O cida-
casos em que o exercício açodado do direito dão tem direito de acesso aos arquivos públi-
de informar provocou efeitos devastadores em cos, admitido o sigilo tão somente em relação
pessoas, indevidamente, envolvidas em fatos aos documentos cuja revelação possa provo-
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car grave dano aos interesses da Nação ou da O direito humano à comunicação não ad-
sociedade. Como uma das garantias desse di- mite uma só voz no fluxo de informação e co-
reito fundamental a Constituição Federal, de nhecimento, um discurso único, vertical, uni-
1988, instituiu o habeas data, que deverá ser lateral, mas a possibilidade de diversas vozes
judicialmente concedido para “assegurar o co- e autonomia dos sujeitos; não aceita meios de
nhecimento de informações relativas à pessoa transmissão, de transferência, de distribuição,
do impetrante, constante de registros ou ban- mas sim meios de comunicação, ou seja, de
cos de dados de entidades governamentais ou participação democrática na produção e difu-
de caráter público”. (Paula Casari Cundari e são de conteúdos.
Maria Alice Bragança) O termo surgiu em 1969, quando o francês
Jean D’Arcy, então diretor dos Serviços Visu-
Referências: ais e de Rádio da ONU, registrou no artigo in-
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da titulado Direct broadcast satellites and the rigth
República Federativa do Brasil. Brasília, Se- to communicate a premência da criação de um
nado, 1988. novo Direito Humano. Segundo D’Arcy, os di-
CARVALHO, Luis G. Grandinetti Castanho. reitos garantidos nos documentos da ONU, no
Liberdade de informação e o direito difuso à tocante à comunicação, não mais contempla-
informação verdadeira. Rio de Janeiro: Re- vam as demandas sociais e o próprio conceito
novar, 1994. de comunicar. Essa nova compreensão avança-
LAGE, Nilson. A reportagem: Teoria e técnica va na concepção das liberdades, trazendo, para
de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de os indivíduos e grupos sociais, a perspectiva
Janeiro: Record, 2001. coletiva e difusa dos direitos de acesso e parti-
GODOY, Cláudio Luiz Bueno de. A liberdade cipação no processo comunicacional.
de imprensa e os direitos de personalidade. Tais questionamentos serviram de base
São Paulo: Atlas, 2008. para as discussões travadas no âmbito da
Unesco, entre os anos de 1970 e 1980, sobre a
Nova Ordem Mundial da Informação e da Co-
DIREITO HUMANO À COMUNICAÇÃO municação (Nomic), que culminou na produ-
O conceito da comunicação como direito hu- ção do relatório Um Mundo, Muitas Vozes, de
mano vem sendo construído a partir do diálo- Sean MacBride. Na Cúpula Mundial da Socie-
go entre os campos da Comunicação Social e dade da Informação, em 2003 e 2005, a socie-
dos Direitos Humanos. Tem raízes nas Teorias dade civil internacional recuperou as reflexões
Críticas da Comunicação e no discurso das li- e diretrizes do relatório, ainda atuais, e apon-
berdades fundamentais de pensamento, opi- tou para a necessidade do reconhecimento e
nião, expressão e informação. Sua definição te- efetivação do Direito Humano à Comunica-
órica e prática política ressignifica, sobretudo ção. No Brasil, esse entendimento é ratifica-
no contexto das mídias de massa, a dimensão do na Carta de Brasília, em 2005, no Encontro
humanista da comunicação, sem abandonar a Nacional de Direitos Humanos, tendo como
importância das tecnologias, nem as relações principais bandeiras a democratização dos
de poder que as permeiam. meios de comunicação e a criação de um sis-
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tema público não estatal. (Raimunda Aline Lu- tuição Federal (art. 5 o e 220 o a 224 o). Ambas
cena Gomes) estabelecem princípios genéricos. Contudo, a
efetivação dos direitos requer leis específicas
Referências: e mecanismos (órgãos estatais, por exemplo)
D’ARCY, J. Direct broadcast satellites and the voltados para sua fiscalização e garantia. Nes-
rigth to communicate. EBU Review. p. 14- se ponto, no Brasil, a situação é precária, na
18. n. 118. Paris: 1969. medida em que praticamente inexiste regula-
FREIRE, P. Extensão ou comunicação?. 12. ed., mentação para os artigos 220o a 224o da Cons-
São Paulo: Paz e Terra, 2002. tituição, e boa parte do setor de comunicação
UNESCO. Um mundo, muitas vozes: comuni- atua sem controle legal ou à base de leis obso-
cação e informação na nossa época. Rio de letas, sob nítida omissão do Estado. Segundo,
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1983. o gozo efetivo desse direito, o cenário de mo-
nopólio/oligopólio e de propriedade cruzada
observado em muitos países constitui, por si
Direitos Humanos e Comunicação só, obstáculo sério e, no caso brasileiro, parti-
A relação entre direitos humanos e comunica- cularmente grave.
ção pode ser desdobrada em dois eixos. Primei- Trata-se de discussão, relativamente, re-
ro, direitos humanos na mídia, ou seja, como os cente e colocada em pauta pela luta dos mo-
meios de comunicação tratam o tema. Segun- vimentos sociais, em especial, do movimento
do, direito à comunicação: comunicação como pela democratização da comunicação. Os dois
um direito humano. Em ambos, considerando eixos estão intrinsecamente ligados: reconhecer
a necessidade do cidadão de, por um lado, re- a comunicação como direito significa compre-
ceber informações plurais para formar opinião endê-la como uma dimensão crucial e neces-
e participar da vida social e, por outro, se fazer sária para a efetivação dos direitos humanos.
ouvir pelos demais, percebe-se o lugar central (Rafael Fortes)
ocupado pelos meios de comunicação.
As comunicações corporativas dedicam Referências:
pouco espaço aos direitos humanos – quan- BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de
do dedicam. A atuação de movimentos sociais Janeiro: Elsevier, 2004.
que lutam por direitos – como terra, trabalho, LEVANTE Sua Voz. Direção: Pedro Ekman.
igualdade racial e de gênero – raramente re- Produção: Daniela Ricieri. [S.l.]: Intervo-
cebe cobertura destas empresas; quando apa- zes, 2009. Disponível em <http://vimeo.
recem, costuma ser de forma negativa. Nos com/7459748>. Acesso em 15/02/2010.
meios progressistas, que alcançam um público MORAES, Dênis de (Org.). Por uma outra co-
restrito, nota-se uma cobertura muito maior municação: mídia, mundialização cultural
do tema. e poder. Rio de Janeiro: Record, 2003.
O segundo eixo se desdobra em dois pla- SANTOS, Reinaldo. Vade-mécum da comuni-
nos. Primeiro, o legal. O direito à comunica- cação. 6. ed. Rio de Janeiro: Edições Traba-
ção está consignado na Declaração Universal lhistas, 1986.
dos Direitos Humanos (art. 19) e na Consti-
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plopédia da música brasileira. Erudita, fol- o caso de “Le Discotheque” inaugurada na rua
clórica, popular. Segunda Edição. São Pau- Huchette em 1941, um bar dedicado aos discos
lo: Art Editora/Itaú Cultural, 1998. de jazz. Era um refúgio aos militantes da resis-
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo tência, simpatizantes e dançarinos.
Guimarães. Dicionário de Comunicação. 8. Ao fim da guerra, esses locais voltaram a
ed. São Paulo: Elsevier, 2002. proliferar. Os expatriados negros americanos
voltaram à cidade e a onda do jazz permeceu
vibrante até os anos 1960. Em 1947 seria inau-
Disco Pirata gurado o Whiskey au Go-Go, local de culto ao
Produção, reprodução ou comercialização in- jazz americano. Depois seria a vez do Chez Cas-
devida de material fonográfico. Produzir, utili- tel, cujo acesso era restrito ao ‘beautiful people’
zar ou comercializar sem autorização do autor, e possuía um clima existencialista.
ou do detentor dos direitos autorais, de repro- O termo passou a significar qualquer tipo
dução e distribuição, ou do proprietário da de nightclub que tocava música gravada em
obra, alguma peça fonográfica gravada em for- vez de música ao vivo. E o costume acabaria
mato de disco, seja vinil ou compact disc laser, migrando aos Estados Unidos onde adotou o
CD. (Sebastião Guilherme Albano da Costa) nome “disco”. Nele, passou a reinar os deejays
ou disc jockeys, especialistas em tocar discos e
Referências: animar os espíritos dos dançarinos. O hábito
KENNEDY, Michael. Dicionário Oxford de Mú- veio ao encontro das emissoras de rádio, que à
sica. Trad. de Gabriela Gomes da Cruz e época conheciam o seu esplendor e que divul-
Rui Vieira Nery. 1. ed. Lisboa: Dom Quixo- gavam música gravada às massas e necessita-
te, 1994. vam destes personagens que passaram da mera
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo locução à produção destes shows.
Guimarães. Dicionário de Comunicação. 8. O hábito de dançar em disco ou discotecas
ed. São Paulo: Elsevier, 2002. espalhou-se por todo o mundo nos anos 1960
e 1970 e a indústria fonográfica incorporou-se
com a gravação de novos ritmos como o me-
Discoteca rengue e o foxtrot. Com a sofisticação dos apa-
Um dos efeitos da ocupação nazista de Paris, relhos de som, gravação e de música, este há-
iniciada em 14 de junho de 1940, foi a persegui- bito permaneceu forte nas décadas seguintes.
ção e o consequente fechamento dos cabarets e Escolas de dança proliferaram e passaram a en-
night clubs que cultivavam o jazz americano e a sinar os passos. Logo se desenvolveu em torno
cultura negra, inclusive a dança. O resultado é das discotecas a subcultura da droga dos anos
que essa sonoridade transformou-se em símbo- 1970 e 1980, a comunidade gay hospedou-se em
lo da resistência francesa. Passou a ser cultivada vários destes locais.
secretamente em “discotheques” underground Também o filme Saturday Night Fever, de
que funcionavam, na madrugada, em localida- dezembro de 1977, estrelado por John Travol-
des variadas e em rotação, situação que exigia ta, popularizou a discoteca, com suas luzes bri-
dos membros senhas e códigos para acesso. Foi lhantes, os estilos de dança e a música envol-
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vente. A partir de 2000, o termo discoteca caiu A discriminação negativa está associada ao
em desuso. A influência da música negra, no preconceito, ao estereótipo e ao estigma. O pre-
Brasil, nos anos 1970, foi igualmente poderosa. conceito é uma predisposição individual para
A Banda Black-Rio, por exemplo, atraía milha- discriminar, desvalorizar, subordinar e segre-
res de pessoas aos salões onde eram realizados gar pessoas identificadas com estigmas e este-
os bailes chamados Black. O som era coman- reótipos negativos. Além do preconceito, o es-
dado por disc-jóqueis especializados no esti- tereótipo também torna sutilmente negativo o
lo Black. Com a decadência das discotecas no processo de discriminação. Por exemplo, o pre-
início dos anos 1980, estas casas adotaram o conceito sutil de afirmar a diferença para justi-
nome mais brasileiro de danceteria. (Jacques ficar a não convivência.
A. Wainberg) O estereótipo é o processo de sedimentação
de conceitos e definições socialmente estabeleci-
das. Isso nos obriga a pensar e julgar de maneira
Discriminação semelhante, e perigosa, em relação ao mesmo
É um termo que tanto pode ter uma conotação fato. É como se fosse um modelo mental.
positiva quanto negativa, dependendo, exclu- Estigma não deve ser confundido com es-
sivamente, do contexto em que é aplicado. O tereótipo. Entendemos por estereótipo uma sé-
primeiro sentido é relacionado ao projeto Ilu- rie de características – padronizadas e cristali-
minista, que seria a categorização e o discerni- zadas – associadas a determinado sujeito, e não
mento. Porém, há outro sentido para o mesmo raro a determinada ocupação, e que não são,
vocábulo que é quase oposto e que tem forte necessariamente, negativas . Porém é sempre
relação com o vocábulo preconceito. A discri- negativo quando o estereótipo é a representa-
minação no sentido positivo significa observar ção coletiva do preconceito. Historicamente o
as diferenças entre objetos, significados e sen- termo estigma esteve ligado a sinais corporais
timentos. que evidenciavam algo de extraordinário, fora
Já, no seu sentido negativo, é a desqua- do comum, ou mesmo negativo do status de
lificação do diferente. Para Theodor Adorno quem o apresentava. Tinha como função sina-
(1990), a discriminação deixa de ser um pro- lizar a pessoa para categorizá-lo como crimino-
cesso da lógica formal (o sentido positivo) para so, traidor ou escravo.
tornar se parte da lógica da dominação e, até da Hoje, é mais aplicado ao infortúnio do que
exclusão, na qual o máximo da discriminação é à simples evidência corporal. Nesse sentido, o
a segregação e a eliminação do diferente. termo estigma diz respeito a uma suposta ca-
O vocábulo ‘diferença’, tal como o termo racterística (por exemplo, maldade, fraqueza,
discriminação, tem dupla conotação. Implica defeito e desvantagem) de um indivíduo que o
em elementos distintos por meio da categoriza- torna diferente de outros que estejam em uma
ção. Ontologicamente, expressa em qualidades categoria na qual o primeiro poderia ser in-
distintas. Mas, em outro sentido, poderá vir a cluído.
explicitar que essas diferenças são subordina- A discriminação é um dos principais com-
ções, ou seja, as diferenças são hierarquizadas ponentes do assédio moral. Pois este é “uma
no processo ideológico de dominação. conduta abusiva, intencional, frequente e repe-
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tida, que ocorre no ambiente de trabalho e que regras e funções que os regem na atualização
visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, (no sentido de manifestação de fato) da língua.
desqualificar e demolir psiquicamente um in- Em outras palavras, ocupam-se da lin-
divíduo ou um grupo, degradando as suas con- guagem em sua transcendência, e não em sua
dições de trabalho, atingindo a sua dignidade imanência. E é nessas funções comunicativas,
e colocando em risco a sua integridade pesso- transcendentais, que se inserem os arranjos a
al e profissional”. (FREITAS; HELOANI; BAR- que se podem denominar discursos, que talvez
RETO, 2008, p. 37) (José Roberto Heloani e Luis possam ser definidos como os contornos dos
Guilherme Galeão Silva) usos específicos que se pode fazer da língua, ou
as práticas sociais de produção de sentido. Nes-
Referências: se diapasão, fala-se em discurso jurídico, dis-
ADORNO, T. W. Negative Dialectics. New York: curso médico, discurso midiático, e assim por
Routlege, 1990. diante. Esse último é exemplar, inclusive, do
FREITAS, M.; HELOANI, R.; BARRETO, M. fato de que nem sempre, principalmente nas
Assedio Moral no Trabalho. São Paulo: poéticas audiovisuais, se fala em discurso que-
Cengage, 2008. rendo-se referir ao estritamente verbal.
Nessa acepção, o termo discurso refere-se a
um tipo de arranjo de signos que se pode sub-
DISCURSO sumir sob algum índice identificador, como em
Termo popularizado nas ciências humanas e discurso televisivo, discurso cinematográfico,
sociais, o vocábulo discurso apresenta-se eivado discurso do vídeo, sendo, muitas vezes neste
de sobredeterminações e com excessivo peso contexto, confundido com a própria noção de
semântico, o que, certamente, conduz a distor- linguagem, tanto que se ouvem as expressões
ções e utilização equivocada. discurso da televisão ou linguagem televisiva
A rigor, dentro da perspectiva teórica dos usadas, em geral, de forma intercambiável.
estudos da linguagem – sejam eles pragmáti- De modo semelhante, o termo discurso
cos, linguísticos ou semióticos – pode-se pen- pode se aplicar genericamente e em intercam-
sar a noção de discurso como ideia ligada à fa- bialidade com a palavra linguagem, no contex-
mosa distinção saussureana entre língua e fala. to face a face ou interpessoal, às demais formas
Ao focar a língua natural em sua imanência, a de expressão que acompanham o modo verbal:
linguística tradicional busca elucidar aqueles gestos, posturas, entonação, pitch, volume de
constituintes de um idioma que, em suas espe- voz, timbres, e assim por diante, que contri-
cificidades e peculiaridades (fonológicas, sin- buem na conformação de um todo expressivo
táticas, semânticas) contribuem para a cons- conducente a algum tipo de interpretação ca-
trução do arcabouço definidor daquele tipo de paz de gerar feedbacks de alguma ordem.
arranjo sígnico em especial. Por outro lado, ao Entretanto, linguagem e discurso são en-
se debruçar sobre a fala – isto é, o idioma em tidades diferentes, posto que, por linguagem,
ato – a pragmática ou a semiótica se ocupam entende-se um conjunto de codificações de na-
das funções comunicativas das línguas naturais, tureza arbitrária ou estipulada de que os seres
a saber, os contextos de fala, os atos de fala, e as dispõem para realizar interações comunicati-
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vas. Já o discurso pode ser pensado como uma tudo a partir da publicação de E. Benveniste de
das modalidades da linguagem em exercício, 1958, a enunciação discursiva é, potencialmen-
isto é, a instanciação da linguagem em um con- te, geradora de relações semióticas não sendo,
texto. Na sua definição, o discurso necessita, pois, propriedade dos signos verbais. A enun-
portanto, do contexto de sua utilização, além ciação é expressão que organiza a experiência
da referência indireta aos seus usuários, abran- comunicativa. Logo, a enunciação não diz res-
gendo o sujeito de-quem (o eu), o sujeito para- peito apenas à palavra; abarca tudo o que cons-
quem (o tu) (BENVENISTE, 1988/1989), a situ- titui a interação: palavra, situação, pensamento,
ação e demais condicionantes da produção de ação, interação entre sistemas de signos.
sentido. (Julio Pinto) A enunciação dialogicamente concebida
tem sido equiparada a enunciado, que designa,
Referências: eminentemente, a construção verbal. Contu-
BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Ge- do, como entendeu Volochinov (1981, p 190-1):
ral I. Campinas: Pontes, 1988. “o discurso não reflete a situação extra-verbal
. Problemas de Linguística Geral II. Cam- como o espelho reflete um objeto. O discurso
pinas: Pontes, 1989. opera por dedução e não por reflexo. (...) A si-
CHARAUDEAU, P. Linguagem e discurso: mo- tuação extra-verbal não é de modo algum a cau-
dos de organização. São Paulo: Contexto, sa exterior do enunciado, ela não atua sobre a
2008. enunciação de fora, como se fosse uma força
mecânica. A situação entra na enunciação como
uma parte indispensável à sua situação semân-
Discurso / Enunciação tica. Daí o enunciado ser constituído de duas
O exercício de linguagem na produção enun- partes: uma parte realizada verbalmente e outra
ciativa de sujeitos organizados socialmente, é subentendida. O enunciado é assim comparado
definido por Bakhtin como discurso. Além do a um entimema (entimema: silogismo em que
contexto criado na interação entre sujeitos, o uma das premissas não é expressa mas suben-
discurso pressupõe a compreensão dialógi- tendida. Em grego entimema é algo localizado
ca como instância de sentido. O conjunto das na mente, no coração, algo subentendido).
manifestações que emergem do ato discursivo Enunciação como ato é a noção desenvol-
é denominado enunciação. A enunciação, por vida por Benveniste (lembremos que ele deriva
sua vez, pressupõe as vozes do emissor e do in- esse conceito da análise do tempo verbal): um
terlocutor, o contexto espaço-temporal e as va- agente intencional ou sujeito, um propósito e
riações ambientais que tornam cada realização uma situação. O ato é assim uma comunicação
única e irrepetível. A enunciação resulta, por interativa. Enunciação como fato é a noção de-
conseguinte, do discurso e dele não se desvin- senvolvida por Greimas e quer dizer: enuncia-
cula. ção enunciada. Enunciação aqui é a presença
O conceito de enunciação, formulado pela refletida no enunciado ou discurso.
teoria do dialogismo, foi inicialmente publicado Assim, enunciação diz respeito a regras,
na obra de V. Volochinov (1973) em 1920. Ante- códigos, convenções atualizadas em forma de
rior ao que se consagrou na linguística, sobre- enunciado verbal, sonoro, visual. Desse modo,
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FOUCAULT, Michel [1970]. A ordem do discur- qualquer discurso, seja ele verbal (palavras, fra-
so. 7. ed. São Paulo: Loyola, 2001. ses, parágrafos, períodos) seja não-verbal (uma
. [1969]. A arqueologia do saber. 7. ed. música. uma obra de arte, uma matéria de jor-
Rio de Janeiro: Forense, 2007. nal ou revista, um gesto, uma indumentária,
PÊCHEUX, Michel [1983]. O discurso: estru- uma regionalidade etc).
tura ou acontecimento. 4. ed. Campinas: Não é por outro motivo que podemos falar
Pontes, 2006. de um discurso religioso, um discurso políti-
SEARLE, John [1969]. Expressão e significado: co, um discurso institucional, empresarial, bem
estudos da teoria dos atos de fala. 2. ed. São como adjetivá-los com atributos tais como:
Paulo: Martins Fontes, 2002. complexos, estratégicos, autoritários, democrá-
ticos, demagógicos, dentre tantas outras formas
de classificar conjuntos textuais singulares.
DISCURSO NA GESTÃO DA COMUNICAÇÃO Numa organização, seja ela pública, priva-
Há muitas definições de discurso, quase todas da, com ou sem fins lucrativos, podemos de-
elas focadas em objetos precisos, quase todas nominar “discurso organizacional” o conjunto
acertadas, se considerados os objetivos aos dos “textos”, ou seja, das manifestações expres-
quais se prestam. Para a gestão da comunica- sivas de que essa organização se vale para tor-
ção, o conceito de “discurso” necessita respon- nar-se visível, percebida e aprendida pelos seus
der a uma série de indagações de caráter prag- diversos públicos de interesse, internos e ex-
mático, além de estar alinhado a referenciais ternos.
teóricos consistentes e devidamente “testado” Assim, constituem o discurso de uma or-
nas práticas organizacionais. Encontramos tal ganização tanto o que dizem seu presidente,
amparo teórico em Yuri Lotman (1922-1993), seus diretores, o seu balanço social e financei-
que considera como “texto” todo conjunto de ro, quanto o que expressam os seus prédios, o
signos que tem delimitação, estrutura e ex- vigilante que fica postado na entrada de sua
pressão próprias (1988, p. 71-73). Charaudeau e sede, a decoração do ambiente, o layout dos es-
Maingueneau destacam o “discurso” como um critórios, o site na internet, a marca registrada,
conjunto de textos, ou um texto contextualiza- as cores institucionais ou até mesmo o modo
do em outros textos (2004, p. 169). como se dá o atendimento ao público (IASBE-
Se entendermos que um texto é sempre CK, 1998). Cada um desses elementos constitui
um recorte expressivo verbal ou não-verbal e um “texto” que, articulado com os outros “tex-
se juntarmos a essa ideia o fato de que nenhum tos” forma o discurso dessa organização.
texto existe isolado de outros textos (seus con- É importante salientar que o sentido glo-
textos), podemos compreender o discurso bal de um discurso – um “metatexto” – é o re-
como um conjunto articulado de textos que se sultado da combinação em partes nunca iguais
comunicam, intensivamente, interna (intratex- ou equilibradas de todos os textos que o com-
tualmente) e externamente (extratextualmen- põem. Naturalmente, no discurso de uma dada
te). Desse modo, a intertextualidade, tal como empresa, a postura do vigilante pode contribuir
definida por Júlia Kristeva e Hans-George Ru- de forma muito mais efetiva, para o sentido ge-
precht (1996, p. 02-52) é a forma estrutural de ral do discurso organizacional, do que as pala-
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vras do presidente ou o texto oficial que apre- didáticas e pedagógicas, tradicionalmente afei-
senta seu balanço anual. tas à educação formal. E isto, considerando-se
Fazer a gestão do discurso é harmonizar que a formação discursiva escolar está voltada,
esses textos segundo interesses estratégicos de- no fundamental, para a produção de materiais
sejados pela organização e esperados pelos seus instrucionais, de textos propedêuticos, de livros
públicos. Em outras palavras, fazer a gestão da didáticos, de aulas distribuídas em tópicos pro-
comunicação. (Luiz Carlos Iasbeck) gramáticos.
A variável não-escolar, por sua vez, afir-
Referências: ma o discurso jornalístico, as histórias em qua-
CHARAUDEAU, P; MAINGUENEAU, D. Di- drinhos, o cinema, os programas de televisão,
cionário de Análise do Discurso. São Paulo: enfim, aquele conjunto de possibilidades ex-
Contexto, 2004. pressivas, cuja motivação inicial não é a de ser
ORLANDI, Eni. Análise de Discurso: princípios dirigida liminarmente à sala de aula. O proble-
e procedimentos. Campinas: Pontes, 1999. ma evidenciado em nosso tempo reside, contu-
KRISTEVA, J. RUPRECHT, H. Intertextualité. do, no fato de as separações entre gêneros, su-
Havana: Casa de Las Américas, 1997. portes e formatos discursivos haver se tornado
IASBECK, L. A Administração da Identidade. tênue ou mesmo desaparecido. Tal evidência
Tese de doutorado. São Paulo: PUC/SP, vem obrigando a escola a reorientar práticas di-
1998. dático-pedagógicas, de ensino-aprendizagem, e
LOTMAN, Yuri M. Estructura Del Texto Artis- promover aberturas importantes entre as múlti-
tico. Madrid: ISTMO, 1988. plas modalidades discursivas, sejam elas escola-
res ou não-escolarizadas. Por essa via, editoriais
jornalísticos, reportagens televisivas, debates
Discursos não-escolares. Discursos radiofônicos, HQs do Batman ou do Fantasma,
institucionalmente não-escolares. vídeos do YouTube, conquanto mirem um pú-
A categoria utilizada por estudiosos (CITELLI, blico amplo, de leitores, ouvintes, internautas,
1998 e 2000) da interface comunicação-edu- telespectadores, pode ser aproveitado em sala
cação procura esclarecer, como determinados de aula – vários destes exemplos já vem sendo
discursos produzidos originalmente por orga- incorporados aos livros didáticos –, permitin-
nizações não escolares, a exemplo das mídias, do motivação, esclarecimento, debate, atualiza-
entram nos circuitos das salas de aula. Vale di- ção de dados e referências históricas, animando
zer, há um conjunto de linguagens, em sua plu- os tópicos programáticos etc.
ralidade de signos, verbais, imagéticos etc, cuja A caracterização de discursos escolares ou
difusão depende de aparatos tecnológicos, e que não-escolares termina, por fim, indicando com-
tem como propósito alcançar público amplo ou pósitos de linguagens e seus espaços descentra-
segmento significativo dele, entendidas, neste dos de produção, que tendo funções originais,
caso, as intercorrências próprias dos processos aparentemente distintas, acabam se cruzando por
que matizam a recepção. Colocado o proble- força dos próprios mecanismos contemporâneos
ma sob tal ângulo, os discursos não-escolares daquilo que Gianni Vattimo chamou de comuni-
deixariam de atender expectativas, de imediato, cação generalizada (1992). (Adilson Citelli)
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GUN, Murilo; QUEIROZ, Bruno. Estratégias total de 515 milhões até 2007. Seu sucesso co-
de E-Mail Marketing. São Paulo: Brasport, mercial motivou a inauguração de um segun-
2008. do parque similar, em Orlando, na Flórida, em
MARCONDES FILHO, Ciro. Dicionário de 1971. Depois, foi a vez de Tóquio, que conheceu
Comunicação. São Paulo: Paulus Editora, sua Disnelinândia, em 1983, e Paris em 1992.
2009. Nos Estados Unidos, além da Disneilândia, in-
SCHMITT, Bernd; SIMONSON, Alex. A Estéti- seriram, também, o Epcot Center (Protótipo
ca do Marketing. Tradução de Lúcia Simo- Experimental da Comunidade do Futuro), em
nini. São Paulo: Nobel, 2004. 1982, que se destinava a ser um parque educa-
SILVA, Cláudio. Produção Gráfica – Novas tivo e de entretenimento dedicado ao comércio
Tecnologias. São Paulo: Pancrom Editora, e à tecnologia; além disso, aos negócios do par-
2008. que, surgiram os Estúdios da Disney-MGM em
1989 e o Animal Kingdom Park em 1998.
O parque de Anaheim transformou-se num
Disneylândia resort composto também por um hotel e um
Foi fundada por Walt Disney, em 1955, na lo- shopping. A visita constitui-se na verdade numa
calidade de Anaheim, próximo a Los Angeles, experiência lúdico-teatral onde a perfomance é
Califórnia, nos Estados Unidos. Sua constru- realizada por uma vasta equipe de produtores e
ção foi possível graças à participação de patro- intérpretes. O espetáculo inclui também fogos
cinadores como Pepsi, Monsanto e ABC. Seu de artifícios, bandas, desfiles, paradas, passeios
custo foi de 17 milhões de dólares. Sua fórmula de trem etc.
incluiu uma área cercada por alto muro, com O parque atual resulta de várias influên-
uma única entrada, e cheia de atrações capazes cias e experiências. A primeira ocorreu com o
de fazer o visitante sentir-se num novo e dis- pai de Walt Disney, que ajudou a montar a Fei-
tante mundo. ra Mundial de Chicago em 1893. Depois, vários
Nele, foram criadas cinco áreas temáticas: parques em várias partes do mundo ajudaram
Adventureland (A Terra da Aventura), que cria na consolidação do projeto americano. Entre
um ambiente tropical exótico de alguma locali- estes locais visitados por Walt Disney estão o
dade distante do mundo; Fantasyland (A Terra Griffith Park, O Parque Tivoli (de Copenha-
da Fantasia) é a área destinada a dar vida aos gue), o Greenfield Village (fundado em 1933 e
personagens inventados por Walt Disney, Fron- que reproduz um vilarejo americano), os Par-
tierland (O Território Fronteiriço) que repro- ques Efteling e Tuilburg da Holanda, Playland
duz a experiência dos pioneiros que coloniza- (próximo a São Francisco). (Jacques A. Wain-
ram os Estados Unidos; Main Street USA (A berg)
Avenida Central) que reproduz a avenida prin-
cipal de uma cidade americana do início do sé-
culo XX e a Tomorrowland (A Terra do Futu- DIVERSIDADE CULTURAL
ro) que elabora sobre a ficção científica. As explicações sobre as diferenças, no com-
Em seus primeiros 10 anos, esse parque portamento humano, remontam à antiguida-
recebeu 50 milhões de visitantes, chegando ao de, mas encontram, no século XIX, a partir
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da afirmação positiva que a Antropologia re- torno à acepção latina de diversus, que significa
aliza sobre a relação entre a unidade biológica divergente, contraditório, diferente no sentido
e a diversidade de valores e atitudes humanas, ativo.
seu momento estruturador do que hoje enten- É nessa perspectiva que a diversidade cultu-
demos por diversidade cultural. A diversidade ral incorpora uma dimensão de tensão e confli-
cultural está diretamente relacionada ao reco- to; ela surge como uma resposta, um horizonte
nhecimento da heterogeneidade de manifesta- de projetos, de direitos que partem do pressu-
ções, valores e padrões culturais relacionados a posto não apenas da constatação antropológica
diferentes sujeitos, grupos sociais e sociedades. da diversidade, mas, sim, da afirmação política
Por diferenças culturais, entende-se a condi- e da defesa do pluralismo cultural como saída
ção propriamente antropológica da existência para o desenvolvimento humano. Este enten-
humana, tomada como seu maior patrimônio dimento levou a Unesco, em 1998, a encarar a
e legado. O debate sobre as diferenças, consti- diversidade cultural como temática central em
tutivas da condição humana e sua diversidade, sua Conferência anual, transformada em “De-
como modelo de interação sociocultural, são claração Universal Sobre a Diversidade Cultu-
atualizados pelo conceito de pluralismo cultu- ral” em 2001. Em 2005, por iniciativa do órgão
ral, que revela o grau e as práticas de equidade e de vários Estados membros, dentre eles e com
decorrentes de suas interações. atuação destacada, o Brasil, além de inúme-
Há, aqui, como afirmam Lèvi-Strauss, em ras ONGs, foi promulgada a Convenção para a
Raça e História, e Hannah Arendt, em A con- Proteção e Promoção das Expressões da Diver-
dição humana, uma íntima relação entre diver- sidade Cultural, instrumento político e jurídico
sidade e igualdade, que elimina qualquer risco internacional em processo de implementação.
de se tomar a diversidade como explicação e le- (José Márcio Barros e Fayga Moreira)
gitimação da desigualdade. A defesa da diver-
sidade cultural se realiza, portanto, no âmbito Referências:
mesmo da luta pela igualdade e pelos direitos ARENDT, Hannah. A condição humana. Rio de
humanos. O que define e singulariza o conceito Janeiro: Forense Universitária, 1997.
de diversidade cultural, é exatamente a negação BARROS, José Márcio (Org.). Diversidade Cul-
da perspectiva romântica e liberal que a enten- tural: da proteção à promoção. Belo Hori-
de apenas como um mosaico de particularida- zonte: Autêntica Editora, 2008.
des. A diversidade cultural é diversa, ou seja, BERNARD, François de. Por uma definição
não se constitui como um mosaico harmôni- do conceito de diversidade cultural. In:
co, mas um conjunto de opostos, divergentes e BRANT, Leonardo (Org.). Diversidade
contraditórios. Cultural. Globalização e culturas locais: di-
Ela é, portanto, cultural e não natural; re- mensões, efeitos e perspectivas. São Paulo:
sulta das trocas entre sujeitos, grupos, e insti- Escrituras Editora/Instituto Pensarte, 2005.
tuições a partir de suas diferenças e divergên- LÈVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In:
cias. Nesse sentido que, François Bernard, na Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
busca por uma definição mais precisa para o 1978. Volume L.
conceito de diversidade cultural, propõe um re- UNESCO. Convenção sobre a Proteção e Pro-
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moção da Diversidade das Expressões Cul- seus públicos, atuando não de forma isolada,
turais. Brasil, 2006. mas em perfeita sinergia com todas as modali-
dades comunicacionais”.
Com essa perspectiva, Kunsch (2003) en-
Divulgação em Gestão tende que a área das relações públicas, respon-
Comunicacional sável pela promoção e administração dos rela-
A comunicação encontra-se inserida na base cionamentos, utiliza estratégias e programas de
das funções administrativas e permeia todas as comunicação ajustados às diferentes situações
ações da organização, pois é através dela que se que se apresentam aplicados a qualquer tipo de
estabelecem as relações de entendimento ne- organização. Ianhez (2001, p. 155) complemen-
cessárias para que as pessoas possam intera- ta: “relações públicas é a comunicação na admi-
gir como grupos organizados e atingir objeti- nistração, no que diz respeito à sua visão insti-
vos predeterminados. A gestão comunicacional tucional e a adequada utilização desta em todas
nas organizações abarca todos os processos que as áreas da estrutura organizacional”, endossan-
dizem respeito ao gerenciamento e monitora- do a presença da atividade no conjunto admi-
mento dos fluxos instalados nas redes de co- nistrativo organizacional, orientando e apoian-
municação, através de pesquisa e planejamento, do “todas as áreas da organização, no tocante à
acompanhamento e retroalimentação sistemá- forma mais adequada de conduzir suas relações
tica desse circuito. com o público” (IANHEZ, 2001, p. 155).
Para Duarte e Veras (2006, p. 52), a gestão Nesse contexto, as Relações Públicas têm
da comunicação “acontece quando nos utiliza- função característica de gerenciamento, esta-
mos de métodos para melhor se trabalhar com belecendo e mantendo canais de comunicação
a comunicação seja ela interna ou externa de com seus respectivos públicos, os quais deman-
um órgão governamental ou entidades públicas dam uma reavaliação e reprogramação sistemá-
ou privadas”. tica, a fim de permanecerem efetivamente aber-
Esses autores ressaltam, ainda, que a ges- tos. (Ana Wels)
tão da comunicação implica a escolha do meio
mais adequado para que seja repassada uma Referências:
mensagem, atendendo a objetivos predefinidos DUARTE, Jorge; VERAS, Luciana (Orgs.).
e equilibrando o discurso ao transmitir “o que Glossário de comunicação pública. Brasília:
se faz, como se faz e o que se diz”. Com isso, Casa das Musas, 2006.
cria-se credibilidade, construindo, mantendo e IANHEZ, João Roberto. Relações públicas nas
legitimando a imagem e a reputação institucio- organizações. In: KUNSCH, Margarida
nal junto aos seus diferentes públicos. Maria Krohling (Org.). Obtendo resultados
Para atender a essa demanda, a atividade com relações públicas: como utilizar ade-
de relações públicas destaca-se a partir de seu quadamente as relações públicas em bene-
objeto, pontuado pelo binômio organização- fício das organizações e da sociedade em
públicos. Kunsch (2003, p. 166) enfatiza o papel geral. p.155-162. São Paulo: Pioneira Thom-
das relações públicas em “administrar estrategi- son Learning, 2001.
camente a comunicação das organizações com KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planeja-
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
Thomas Hobbes expande as concepções de rato jurídico que fundamenta os direitos hu-
Maquiavel, já que considera a busca por poder manos, marcados, sucessivamente, como posto
como elemento central à natureza humana: as por Thomas Humphrey Marshall, pela aquisi-
estratégias de majoração, que implicam domina- ção dos direitos civis, dos direitos políticos e
ção, se elevam a uma razão necessária. A questão dos direitos sociais. A escalada dos direitos foi
do Estado, como detentor legítimo de toda vio- uma resposta direta, circunscrevendo sua ex-
lência, para conter, administrar e, portanto, do- tensão, à dominação.
minar um povo, questão que vem de longa data, Foucault, porém, assinalou a instalação de
passar a ocupar o centro das discussões. uma nova estratégia mais sutil de dominação
O Iluminismo coloca, sob outra perspecti- que acompanha a dos direitos. Em substituição
va, a questão das estratégias. O reforço ao po- às sociedades de soberania, marcadas pela prer-
der/dominação é substituído pela descentrali- rogativa sobre a vida e a morte, surge o que ele
zação/distribuição. A ideia de Contrato Social, chama de sociedades disciplinares. Trata-se da
como garantia de convívio harmonioso, na pre- proliferação de estratégias educativas que são
venção dos abusos de poder ou da dominação implementadas com o recurso de dispositivos
implícita, ganha terreno entre pensadores como disciplinares, de modo a formar cidadãos dó-
Locke, Montesquieu, Rousseau e Voltaire. ceis, produtivos e funcionais.
Hegel introduziu o conceito de dialética A teoria crítica da Escola de Frankfurt fez
enquanto movimento do espírito e marcha das as atenções se voltarem para a racionalidade
coisas do mundo, como sucessiva superação de confinada à adaptação aos quadros do poder
contradições. Exemplifica-o com o exame da vigente. Com esse pensamento, ao lado das di-
relação entre senhor e servo, que ilustra a pas- versas correntes das teorias americanas da co-
sagem a dominado, e de dominado, pelas agru- municação, coloca-se ênfase na dominação
ras vividas, ao domínio de si mesmo. Assim, o exercida pelas mídias, em processos massivos
conceito mostra a apreensão da liberdade ascé- a promover homogeneidade a serviço do poder
tica como forma de compensar a contraposição de ocasião.
entre submissão e dominação. Hoje, no campo da comunicação, a questão
Marx parte dessa colocação, introduzindo da dominação cultural, ampliada pelo concei-
vetores como o da religião enquanto ópio do to de globalização, é o espaço de embate entre
povo, portanto um instrumento de dominação, liberdade e dominação. (Mayra Rodrigues Go-
que mascara a natureza de um poder de ordem mes)
econômica, exercido pela propriedade privada,
pelo capital, pela detenção dos meios de produ-
ção, formas de dominação. Inaugura uma pro- Domínio Público
posta crítica e revolucionária que se estende à Condição do programa ou formato, obra ar-
contemporaneidade, ao considerar a domina- tística, literária, científica, aplicativos e softwa-
ção como mola propulsora no embate das lutas res de conteúdo que podem ser, livremente, re-
de classes, por sua eliminação ou reversão. produzidos, apresentados ou explorados, uma
A partir do século XVIII, sob a bandeira da vez que seu autor (a) abre mão dos direitos pa-
liberdade e da igualdade, configura-se o apa- trimoniais da obra. Neste caso, o código fon-
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enciclopédia intercom de comunicação
te acompanha o conteúdo da obra. Além disso, boram com as políticas nacionais de inclusão
segundo a Lei de Direitos Autorias em vigor no social, uma vez que a maior parte da população
Brasil, uma obra se torna de domínio público não poderia aceder a conteúdos pagos. (Cosette
depois de 70 anos da morte de seu criador. Castro)
Embora renuncie aos direitos patrimoniais
sobre a(s) obra(s), ou estas expirem em atendi-
mento a norma legal, o(s) autor(res) mantém a DOPING NA AGENDA MIDIÁTICA
paternidade da obra, juridicamente chamado A cobertura jornalística dos casos de doping
post morten autoris e está relacionada a acordos está condicionada a uma série de fatores que
sobre propriedade intelectual. Assim, as obras complicam o trabalho do jornalista, justamente
literárias, artísticas, científicas e mais recente- pela obscuridade dos julgamentos de algumas
mente os softwares e aplicativos para conteúdos federações esportivas ou mesmo por denúncias
se tornam de domínio público por renúncia ou infundadas de alguns especialistas. Assim, a co-
quando termina o prazo de proteção dos direi- bertura jornalística nesses casos deve passar pe-
tos patrimoniais exclusivos que as leis do direi- las mesmas fases de uma reportagem esportiva,
to do autor(a) reconhecem. Após esses fatos ju- ou seja, por meio de pesquisa e entrevistas.
ridicos consumados, qualquer pessoa, empresa O laudo oficial dos comitês antidoping ou
ou instituição pode explorar a obra, desde que mesmo a denúncia de terceiros devem ser in-
respeite os chamados direitos morais (paterni- vestigados e confrontados; o jornalista preci-
dade) do autor(a). sa desvincular-se da simples reprodução des-
É também possível compreender o uso do ses laudos e esclarecer para o público os pontos
domínio público a partir da licença de docu- conflituosos da notícia. Rassalta-se que um
mentação livre de GNU, que produziu o Gene- atleta acusado de doping tem como se defender,
ral Public Licence (GPL-GNU) e o Free Docu- previamente, de uma possível injustiça ou mes-
mentation License (FDL-GNU) pela Fundação mo de denúncias, assim como os denunciado-
Software Livre (FSF em inglês) em 1984. Trata- res têm o direito de comprovar as acusações.
se de uma licença de copyletf para conteúdos li- Por outro lado, convém buscar o depoi-
vres. Diferentemente do copyright, dá direito mento de especialistas, principalmente rela-
ao que o material licenciado em software livre cionados à medicina, toxicologia e direito es-
seja copiado, redistribuído, modificado e até portivo, a fim de se esclarecer o público sobre
vendido sempre e quando esteja sob os termos possíveis falhas num caso de doping, como
da licença GNU. Em caso de venda de mais de também para informar sobre os problemas no
100 exemplares, a obra deverá ser distribuída uso de substâncias consideradas dopantes.
em um formato que garanta o texto, dados ou A intervenção das fontes enriquece a co-
audiovisual original ou o código fonte original. bertura jornalística nos casos de denúncia
Inicialmente, a licença GNU foi criada porque equilibra a informação e posiciona o
apenas para textos, mas já circulam licenças de público diante das várias versões sobre o fato.
software livre em outros formatos. Em países Ao entrevistar diversas pessoas, o repórter
em desenvolvimento e alto índice de exclusão, confronta as opiniões, comprova a denúncia
o acesso às licenças de domínio público cola- e suas razões, coloca o direito de resposta, es-
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enciclopédia intercom de comunicação
é conhecida como midstream. (ARAÚJO; FER- ensão do texto original. Apesar das especifici-
NANDES, 2002). (Álvaro Benevenuto Jr.) dades da articulação entre texto e espetáculo, o
drama é, historicamente, compreendido como
Referências: uma produção escrita para o teatro.
ARAÚJO, Renato S.B.; FERNANDES, Elton. A partir do século XVIII, o drama passou a
Dinâmica do posicionamento dos maiores indicar um gênero específico de texto que bus-
operadores no upsteam da indústria do pe- cava, apresentar características da comédia e
tróleo no Brasil. Anais eletrônicos... Encon- da tragédia, transpor os limites da classificação
tro Nacional de Engenharia de Produção, clássica dos gêneros e criar uma peça mais pró-
22. Curitiba: ABEPRO, 2002. Disponível xima do cotidiano da burguesia, grupo social
em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ emergente. Como gênero, o drama prioriza os
ENEGEP2002_TR70_1079.pdf>. Acesso aspectos humanos universais, dentro de uma
em: 14/05/2009. ótica realista, pressupõe o individual, tratando
GOMES, Denis. O que é downstrean? Disponí- de conflitos sentimentais, e focaliza a família.
vel em: <http://forumpcs.ig.com.br/viewto- “A visão dramática se instaura quando os pro-
pic.php?t=206947&view=next>. Aceso em blemas que movem a ação são de ordem ínti-
14/05/2009. ma, ligados às relações de família.” (SZONDI,
CLUBE DO HARDWARE. Diferença entre velo- 2004, p. 13).
cidades. Disponível em: <http://forum.clu- A forma dramática pode ser verificada em
bedohardware.com.br/diferenca-entre-vel obras desde seu surgimento até a contempo-
ocidade/295524?s=850d7f98e595e32e3942c8 raneidade devido, principalmente, aos temas
6f1ff76071&>. Aceso em 14/05/2009. abordados e ao interesse que eles despertam no
público. É sempre arriscado empreender na de-
finição de gêneros, pois a generalização enco-
Drama bre as peculiaridades de cada texto.
Em um sentido amplo, drama designa um fato, A definição dos gêneros, teatrais, literá-
ou situação envolvendo emoções intensas e rios, cinematográficos, quanto a sua significa-
profundas. A Literatura classifica os modos li- ção podem ser em uma abordagem substantiva
terários em dramático, lírico e narrativo. Em ou adjetiva. A primeira, de caráter normativo,
grego, drama significa ação e está associado à entende ser, cada gênero, absoluto e valoriza di-
representação teatral na Poética, de Aristóteles. ferenças entre eles. A segunda refere-se aos tra-
Com esse caráter, remete a um texto, sem im- ços estilísticos de cada obra, sendo possível a
portar seu caráter cômico ou trágico, destinado referência a um drama (substantivo) lírico (ad-
à representação e, assim, apresenta uma dupla jetivo), ou a uma narrativa (substantivo) dra-
natureza do gênero dramático, o texto literário mática (adjetivo). “Os substantivos são usados
e o espetáculo. em geral como terminologia para o ramo a que
Mesmo intimamente relacionados, dife- pertence uma obra poética considerada, global-
rem: o espetáculo é a representação do texto e a mente, segundo características formais deter-
este se sobrepõe à competência artística e cria- minadas, (...) diferente da conotação dos adje-
tiva dos atores e diretores, interferindo na apre- tivos” (STAIGER, 1997, p. 185). Essa abordagem,
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enciclopédia intercom de comunicação
de caráter mais pragmático, admite a hibrida- trário, uma voz central – quase sempre um ‘Eu’
ção de gêneros. – nele exprimir seu próprio estado de alma.
Na linguagem coloquial: “Não fazer dra- Fará parte da Épica toda obra – poema ou não
ma” significa não se lamentar, não exagerar nos – de extensão maior, em que o narrador apre-
aspectos dramáticos ao contar um fato. Nessa sentar personagens envolvidos em situações e
mesma linguagem, “Sentir o drama” significa eventos. Pertencerá à Dramática toda obra dia-
colocar-se no lugar (sempre contexto negativo) logada em que atuarem os próprios persona-
do outro, através da imaginação. (Maria Helena gens sem serem, em geral, apresentados por
Castro de Oliveira) um narrador.”
Essas três formas atravessaram séculos e
Referências: expressões artísticas diversas até chegarem ao
ROSENFELD, A. O teatro épico. Coleção Buriti. cinema, principalmente, à sua elaboração como
São Paulo: São Paulo, 1965. Volume 5. espetáculo, na transição entre os séculos XIX e
STAIGER, E. Conceitos fundamentais da poéti- XX. Até hoje, nas críticas de jornal, por exem-
ca. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997. plo, são frequentes menções a filmes que são
SZONDI, P. Teoria do drama moderno 1880- compreendidos como épicos, dramáticos ou lí-
1950. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. ricos. Mas, de fato, os teóricos voltados à ques-
. Teoria do drama burguês. Século XVIII. tão dos gêneros em geral argumentam no sen-
São Paulo: Cosac & Naify, 2004. tido de que não há formas genéricas puras, ou
seja, é possível que uma mesma obra contenha
simultaneamente elementos pertencentes aos
Drama Cinematográfico três gêneros básicos.
A noção de drama passa a existir, na verda- Ainda assim, o gênero dramático no cine-
de, bem antes do surgimento do cinematógra- ma parece adquirir considerável relevância. E
fo, em 1895, ano considerado marco do nasci- isso se deve em grande parte a diretores como
mento do cinema, quando os irmãos Lumière D.W. Griffith (1875-1948) que, tendo atuado no
promoveram a célebre sessão do Grand Café, teatro, chegam ao cinema, tratando de adaptar
em Paris. A conceituação do drama está for- as técnicas teatrais à linguagem cinematográ-
temente vinculada ao princípio de gênero, tal fica. A denominação teatro filmado, aplicada a
como era percebido na chamada Antiguidade algumas experiências do cinema dos primeiros
Clássica. Desde Platão, a arte passa a ser con- tempos, em que a câmera fixa diante da cena re-
cebida como imitação da natureza, podendo, gistrada emulava o ponto de vista de um espec-
no caso, estar associada à tragédia, à comédia, à tador diante do palco de teatro, é um exemplo
lírica. Por sua vez, Aristóteles dá continuidade de tentativas primordiais de adaptação do dra-
às ideias de seu mestre, falando de três tipos de ma teatral ao cinema. Mas, na verdade, melhor
gêneros: épico, dramático e lírico. seria falar na adaptação de variadas formas de
Como explica Anatol Rosenfeld (1997, p. dramas teatrais ao cinema, uma vez que, desde
17): “Pertencerá à Lírica todo poema de exten- o drama sério proposto por Diderot (1713-1784),
são menor, na medida em que nele não se cris- no contexto da ‘Revolução Burguesa’, no século
talizem personagens nítidos e em que, ao con- XVIII, foram muitas as variações em torno da
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enciclopédia intercom de comunicação
noção de drama desenvolvidas, primeiramente, ra geral), no caso, pode ser pensado como um
no teatro. elemento formulador de vários gêneros, a par-
Nesse sentido, o melodrama é um exemplo tir de seus agenciamentos formais e temáticos,
emblemático. Resultado de uma sociedade em mediados pela noção de conflito, seja no pla-
que o poder já não emana de uma ordem divi- no da ficção (suspense, terror, drama histórico,
na que escolhe um soberano, o melodrama pas- melodrama, etc.), seja no plano do documentá-
sa a funcionar como uma espécie de parâmetro rio (etnográfico, biográfico, científico etc.). (Sa-
para que os indivíduos (antigos súditos obe- muel Paiva)
dientes ao poder do rei ou de seu representan-
te) possam a partir de então –, ou seja, de prin- Referências:
cípios morais pautados pela ideia de “liberdade, ROSENFELD, Anatol. O teatro épico. Debates,
igualdade e fraternidade” – discernir entre o 193. São Paulo: Perspectiva, 1997.
bem e o mal, para solucionar seus conflitos. SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno. São
Não por acaso, portanto, será justamente o Paulo: Cosac & Naify, 2001.
melodrama uma das formas mais recorrentes XAVIER, Ismail. O olhar e a cena: Hollywood,
de drama em meios como o cinema e posterior- Cinema Novo, Nelson Rodrigues. São Pau-
mente a televisão, até os dias de hoje. No campo lo: Cosac & Naify, 2003.
específico das linguagens audiovisuais, deve-se
a propósito observar o papel fundamental tanto
da câmera quanto da montagem (ou edição) na Dramaturgia Radiofônica
constituição do drama ou da ação dramática da Arte de composição do texto destinado à re-
narrativa, que justamente prevê a encenação de presentação sonora de situações e personagens
um enredo construído sobre conflitos vividos feita por atores. A palavra drama tem origem
pelos personagens na história contada. na Grécia e significa ação. Desse modo, o texto
Nessa mesma linha de raciocínio, o conflito dramatúrgico é aquele escrito especificamente
pode estar relacionado tanto às narrativas fic- para representar a ação. No teatro, o drama se
cionais como às documentais (quando se ad- desenvolve através de ações feitas diante do es-
mite distinção entre ficção e documentário). A pectador que assiste a cena in loco, ao vivo.
captação de imagens e a montagem envolvendo Na TV e no cinema a dramaturgia diz res-
um predador e sua presa, em um documentá- peito ao desenrolar de imagens que, ao lado da
rio do tipo mundo animal, encontram-se cor- trilha sonora, compõem o painel de situações e
respondências em narrativas ficcionais como personagens vistos pelo público através do fil-
as tantas em que o vilão e o mocinho (em geral, tro de uma câmera. Já a dramaturgia radiofô-
o herói ou a heroína indefesa) vivenciam toda nica é composta pelo emprego da voz em suas
sorte de perseguições. Assim, seria possível, re- diversas expressões, do silêncio, da música que
tomando o princípio de gênero que deu início a garante o revestimento da cena, garantindo ao
essa história, uma compreensão do drama cine- ouvinte uma percepção do que está sendo nar-
matográfico para uma dimensão muito além do rado, além dos efeitos sonoros que ampliam,
cinema de ficção narrativo-dramático. O drama pelo sentido sinestésico da audição, o entendi-
cinematográfico (e audiovisual de uma manei- mento do drama apresentado. Esse gênero tam-
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enciclopédia intercom de comunicação
de Erie, no estado de Ohio, nos Estados Uni- deres de opinião, originando um novo modelo,
dos, durante a disputa eleitoral entre Wendell o do fluxo da comunicação em múltiplas etapas
Willkie (Republicano) e Franklin Roosevelt (multi-step flow of communication). Neste mo-
(Democrata). A análise das entrevistas reali- delo, os líderes de opinião funcionam como ga-
zadas com eleitores mostrou que as discussões tekeepers (selecionadores) e líderes de opinião
interpessoais sobre política eram mencionadas para outros líderes de opinião (SOUSA, 2006).
mais vezes do que a exposição ao rádio ou à pa- Esses estudos evidenciam a importância dos
lavra impressa – a televisão ainda não estava relacionamentos sociais informais na escolha
consolidada na época. e no consumo dos conteúdos midiáticos, dei-
Os indivíduos que tinham maior conta- xando entrever as limitações do poder exercido
to com a mídia foram denominados “líderes pelos meios de comunicação sobre as pessoas.
de opinião”. Seu papel não era de meros trans- (Aline Strelow)
missores da informação – mais do que isso, eles
ofereciam interpretações da campanha, que aju- Referências:
davam a moldar as intenções de voto daqueles a DEFLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, Sandra.
quem passavam as informações. Essa forma de Teorias da comunicação de massa. Rio de
influência tornou-se reconhecida como proces- Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
so de intervenção, que funciona entre a mensa- HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.;
gem comunicada à massa e as respostas dadas a FRANÇA, Vera. Teorias da comunicação.
esta (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). Petrópolis: Vozes, 2008.
Wilbur Schramm mostraria, em pesquisa SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pes-
de 1963, que os próprios líderes de opinião re- quisa da comunicação e dos media. Porto:
cebem informações mediatizadas por outros lí- Universidade Fernando Pessoa, 2006.
425
E, e
da ainda não ocorre, softwares como o Calibri alteração simultânea das técnicas de produção
permitem a conversão de arquivos como, por e reprodução dos textos, do suporte da escrita e
exemplo, MOBI, LIT, LRF, ODT, PDF, PRC, das práticas de leitura. (Ana Gruszynski)
RTF e TXT.
Outro formato bastante utilizado é o Porta- Referências:
ble Document Format (PDF), criado pela Ado- CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do lei-
be Systems, que atualmente é um padrão aberto, tor ao navegador. São Paulo: UNESP, 1998.
formal, ligado à International Organization for FURTADO, José Afonso. O papel e o pixel. Do
Standardization (ISO). O Digital Rights Manage- impresso ao digital: continuidades e trans-
ment (DRM) é uma forma de gestão de direitos formações. Florianópolis: Escritório do
digitais que compreende limitações colocadas Livro, 2006.
em arquivos por vários provedores de conteúdo. NUMBERG, Geoffrey (Org.). The future of the
Sua utilização por editoras vem ocorrendo com book. Beckerly/Los Angeles: University of
o objetivo de evitar a pirataria de conteúdo e ga- California Press, 1996.
rantir a proteção dos direitos autorais.
Considerada a constituição do mercado de
e-books no Brasil, podemos apontar agentes que EaD
vêm desempenhando papel relevante: livrarias Sigla de Educação a Distância. Trata-se de um
“tradicionais” que passam a vender também e- processo de ensino-aprendizagem semivirtual
books por meio de seus sites, lojas online que ou virtual que vem sendo cada vez mais utili-
surgem voltadas à venda desse tipo de livro, zado por instituições de nível médio e univer-
editoras estabelecidas que passam a editar tam- sitário para possibilitar o acesso universal ao
bém livros eletrônicos, e novas editoras que se ensino e a aprendizagem. Na EaD existe a se-
estabelecem já direcionadas a edições digitais. paração temporal e espacial entre professores e
Cabe mencionar, ainda, projetos públicos que alunos que se utilizam de diferentes tecnologias
colocam à disposição títulos para acesso gratui- para desenvolver o ensino-aprendizagem.
to, como o Brasiliana Digital, da Universidade No século XIX, Isaac Pitmann, o inventor
de São Paulo (USP) e o Biblioteca Nacional Di- da estenografia aproveitou para comercializar a
gital, ligado à Fundação (FBN) homônima do sua invenção e criou o primeiro curso por cor-
governo federal. respondência. Mas, as primeiras instituições a
Como objeto cultural emergente, o e-book usar o ensino a distância surgiram, na Suécia,
mobiliza amplas e rápidas mudanças na rede com um curso de Contabilidade, em 1833 e o
ligada à sua produção e disseminação. Se as instituto alemão Toussaint e Langenseherdt,
questões tecnológicas associadas a ele impõem em 1856, que se dedicou ao ensino de línguas
uma série de transformações, é fundamental estrangeiras.
ponderar como essas se associam à instauração No século XX, mais exatamente em 1921, os
de uma crise em torno das diferentes categorias Mórmons de Salt Lake City, nos Estados Uni-
por meio das quais nos relacionamos com a dos, criaram a primeira rádio universitária. Em
cultura escrita, que tem no livro um objeto pa- 1926, a Rádio Luxemburgo e, em 1927, a Rádio -
radigmático. Vivemos na contemporaneidade a Paris PTT e a BBC seguiram este exemplo.
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No Brasil, nos anos de 1930, teve início o que possibilitem a universalização do acesso e
ensino a distância , através das atividades do estejam a serviço dos diferentes grupos sociais.
Instituto Rádio Técnico Monitor, em 1939 (hoje (Cosette Castro)
Instituto Monitor) e, na década seguinte, em
1941 o Instituto Universal Brasileiro, com cur-
sos técnicos por correspondência. Nos anos de Economia da informação
1950 e 1960, a televisão começa a desenvolver É um campo de estudo que busca entender a
projetos de educação a distância e o próprio informação como fonte de valor, de rendas e
Ministério de Educação oferece cursos a dis- como possível mercadoria. Evoluindo na inter-
tância, através da Universidade Aberta. cessão da Economia principalmente com a Co-
No ensino à distância, o papel do professor municação Social, a Ciência da Informação e a
é de um mediador. Tal mediação, além de pro- Cibernética, veio ganhando dimensão e rele-
curar vencer a distância física entre o educador vância na medida em que se expandiram, nas
e o educando, precisará estimular a motivação sociedades capitalistas avançadas, a partir dos
do aluno, assim como ajudá-lo a desenvolver anos 1950, amplos setores econômicos baseados
autodisciplina para que aprenda a estudar sozi- no tratamento e comunicação da informação e
nho, supere as dificuldades de aprendizagem e do conhecimento, paralelamente ao desenvol-
consiga finalizar seu curso. vimento das novas tecnologias digitais de infor-
As tecnologias que permitem a conexão mação e comunicação. A informação não exibe
entre professores e alunos ou mesmo entre o as propriedades clássicas da mercadoria, sendo
grupo de alunos são várias. Entre elas é pos- este o principal problema enfrentado pelos es-
sível citar o computador (de mesa ou de mão) tudos no campo. Ela não é um “objeto externo”,
intermediado pela internet, através do uso de uma “coisa”, indivisível, inapropriável, incerta,
hipermídias, a televisão analógica e a digital, o nos termos de Arrow (1962).
rádio analógico e digital, o telefone, o vídeo e o Como a comunicação da informação acres-
CDrom, o correio, o fax, o celular, o iPod e os centa algo a quem recebe sem perda para quem
Palms. Atualmente, a grande novidade em en- comunica, ela não poderia ser objeto de troca,
sino a distância são os projetos educativos de- logo não se prestaria a uma economia de mer-
senvolvidos para TV Digital e os projetos inte- cado. A economia neoclássica, desde Williams
grados, para convergência tecnológica voltados Jevons (1835-1882), passando por Léon Walras
para área da educação e que conjugam conteú- (1834-1910) e Vilfredo Pareto (1848-1928), não
dos audiovisuais, textos e dados para computa- ignorava que o livre e equitativo acesso à in-
dores mediados pela internet, TV digital e ce- formação vem a ser uma das condições neces-
lulares. sárias para o funcionamento equilibrado dos
No campo da educomunicação, a media- mercados.
ção tecnológica nos espaços educativos, passa A informação, pois, já aparece, embora
para o pesquisador Ismar de Oliveira Soares como constante neutra, em suas equações. A
(ECA/USP) através da identificação da nature- evolução do Capitalismo fará da informação,
za da interatividade propiciadas pelas tecnolo- ela mesma, objeto de transação econômica e
gias de informação e comunicação (TICs) para motivo de grande expansão de muitos negócios
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enciclopédia intercom de comunicação
rede. (2) A internet se caracteriza pela existên- to: (a) a licença global, que consiste em instituir
cia de externalidades quantitativas de deman- uma taxa sobre as cópias virgens ou sobre o va-
da (KATZ and SHAPIRO, 1985): a utilidade do lor da assinatura a um provedor; (b) o renasci-
serviço proposto a cada usuário é proporcio- mento das artes cênicas, como segmento cria-
nal à quantidade total de usuários. Assim, exis- dor de valor econômico (HERSCOVICI, 2009);
te uma massa crítica, ou seja, uma quantidade (c) o financiamento direto dos criadores pelas
mínima de usuários a partir da qual a rede se firmas que constituem as redes (operadoras de
torna rentável. Aquém desse ponto, a rede tem telefonia celular, motores de busca etc.) (Alain
que suportar um déficit de exploração. (3) As Herscovici).
modalidades de concorrência e de valorização
dos diferentes serviços consistem em criar de- Referências:
terminadas redes e internalizar as externalida- BOLAÑO, César Ricardo Siqueira; HERSCO-
des assim produzidas, ou seja, em valorizar as VICI, Alain, CASTAÑEDA, Marcos et al.
modalidades de acesso a esses consumidores/ Economia Política da Internet. Aracaju: Ed-
usuários (HERSCOVICI, 2008). itora UFS, 2007.
A distribuição de serviços gratuitos (a HERSCOVICI, Alain. Information, qualité et
Google, associada, geralmente, à baixaki), a pi- prix: une analyse économique de l´internet
rataria e a disponibilização gratuita, durante et des réseaux d´échange d´archives. Con-
determinado tempo de programas proprietá- grès International Online services. ADIS/
rios (antivírus, Microsoft Office, por exemplo), Université de Paris Sud, Paris, décembre
constituem meios para constituir as redes cujas 2007.
modalidades de acesso serão posteriormente . Direitos de Propriedade intelectual, no-
valorizadas. (4) Finalmente, coloca-se o proble- vas formas concorrenciais e externalidades
ma relativo aos Direitos de Propriedade Inte- de redes. Uma análise a partir da contribui-
lectual (DPI). ção de Williamson. Seminário de Pesquisa,
Em função das características econômicas IE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2008.
dos bens e serviços, não é possível implemen- . Contribuições e limites das análises da
tar um sistema de DPI eficiente, no sentido de escola francesa, à luz do estudo da econo-
poder controlar todas as suas modalidades de mia digital. Uma releitura do debate dos
apropriação: no caso da música, a arquitetura anos 80. Eptic On-Line, v. 11, n. 1, 2009. Di-
das redes peer to peer, redes de compartilha- sponível em: <http://www.eptic.com.br>.
mento de arquivos digitais, não é compatível KATZ M. L.; SHAPIRO C. Network Externa-
com a implementação de um sistema de DPI lities, Competition and Compatibility. In:
que permita remunerar os autores e os pro- American Economic Review, vol.75, n. 3,
dutores, a partir da difusão dos arquivos na 1985.
rede: o custo ligado à implementação de um
sistema de repressão das práticas ilegais é, na
maior parte dos casos, superior ao prejuízo ini- Economia das telecomunicações
cial (HERSCOVICI, 2007). Assim, é necessário As telecomunicações tornam-se, cada vez mais,
imaginar outras modalidades de financiamen- um setor estratégico no âmbito do desenvol-
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mada de integração, já que a economia digital europeia, com a Revolução Industrial e as revo-
é uma economia de redes, que pode estar co- luções burguesas que instauravam o poder da
nectada a intranet ou a internet. A utilização burguesia industrial e estabeleciam as bases do
da banda larga nessas redes pode possibilitar Estado liberal, com a separação fundamental
o desenvolvimento de atividades multimídias, entre os campos da política e da economia, vis-
através da integração de áudio, imagem, texto ta como a condição fundamental do progresso
e dados. e das liberdades que só a garantia da proprieda-
6. Fim da intermediação – nas redes digi- de privada e o controle do Estado pela opinião
tais várias funções de intermediação deixam de pública permitiriam.
existir. Isso pode acontecer, por exemplo, en- A economia clássica, assim, representa, no
tre os campos da produção e da recepção, que a essencial, ao lado da teoria liberal do Estado,
partir dos recursos interativos, tem a oportuni- sua irmã siamesa, o pilar conceitual da nova
dade de também produzir conteúdos digitais. hegemonia de classe, da burguesia industrial,
7. Convergência – na economia digital os garantidora das condições de liberdade e igual-
meios de comunicação são um setor chave. A dade, sob a base da propriedade privada, contra
convergência tecnológica inclui as indústrias de o sistema totalitário do antigo regime, da mo-
conteúdos, os meios de comunicação, as em- narquia absoluta e do capitalismo mercantil.
presas computacionais e as empresas de telefo- Um dos pais fundadores da nova ciência, Karl
nia móvel. Marx, é quem explicita esse recorte de classe e
8. Inovação – é a palavra chave da econo- produz à imanente “Crítica da Economia Po-
mia digital. Em termos de indústrias de conteú- lítica”, demonstrando em sua obra maior o ca-
dos digitais, a grande responsabilidade das em- ráter formal e aparente dos conceitos burgue-
presas é gerar conteúdos inovadores para TV, ses de liberdade, igualdade e propriedade. Sua
rádio, internet mediada por comutadores, celu- análise, ao mesmo tempo, leva aos limites o po-
lares ou videojogos em rede, já que as possibi- tencial intelectivo da disciplina, esclarecendo as
lidades criativas e interativas dessa indústria é contradições do modo de produção capitalista,
maior que as existentes no meio analógico. Na o seu caráter irremediavelmente explorador e a
nova economia, a imaginação humana é a prin- seu desenvolvimento irrefreavelmente crítico e
cipal fonte de valor. (Álvaro Benevenuto Jr.) destrutivo (destruição criadora).
A reação do mainstream acadêmico foi no
sentido de renegar o caráter político da Econo-
Economia Política da Comunicação mia, vista então como ciência positiva, esteri-
Economia Política é como foi chamada a Ciên- lizada do seu potencial crítico e revolucioná-
cia Econômica pelos seus pais fundadores, que rio. A expressão “economia política”, a partir de
a diferenciavam, assim, da economia domésti- então tendeu crescentemente a designar a eco-
ca, alçando-a, agora, à condição de novo cam- nomia não ortodoxa, inclusive a marxista. No
po de conhecimento – vinculado aos interesses campo da comunicação, os grupos de econo-
e negócios do Estado moderno. Esse desenvol- mia política acabaram por constituir-se, desde
vimento só foi possível na medida em que uma os trabalhos pioneiros de Dallas-Smythe, Gar-
mudança crucial se processava na sociedade nham, Murdock, Herbert Shiller, entre outros,
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enciclopédia intercom de comunicação
como espaços de diálogo do pensamento mar- SCHILLER, Herbert. Information and the cri-
xista em matéria de comunicação, informação sis economy. New York: Oxford University
e cultura, sobretudo a partir do final dos anos Press, 1986.
1970 e principalmente da década de 1980 em
diante, quando se constituem em nível interna-
cional diferentes escolas críticas no campo das Economia Política E Comunicação
teorias da comunicação, recolhendo influências Tradição de estudos no campo da Comunica-
distintas, de autores da Economia, da Sociolo- ção que se ocupa da análise das relações sociais
gia e de outras disciplinas, nos Estados Unidos, que constituem mutuamente a produção, a dis-
Inglaterra, França e América Latina, principal- tribuição e o consumo de produtos culturais e
mente. de comunicação no âmbito do capitalismo. Tra-
De forma, o desenvolvimento desse sub- ta-se de um recorte da Economia Política, dis-
campo da Comunicação, ao longo dos anos ciplina mais geral cujas origens remontam ao
1980 e 1990 , será limitado pelo predomínio, século XVIII, que se desenvolve através de ver-
no interior do pensamento crítico em Comu- tentes ideológicas distintas.
nicação, de um pensamento dito pós-moderno, A aproximação com a Comunicação ocor-
que se separa do marxismo e passa a identificar reu em meados do século XX e deve-se à emer-
a EPC com os estudos anteriores, dos anos 1960 gência das indústrias midiáticas como fenô-
e 70, vinculados às teorias sociológicas da de- meno da etapa monopólica do capitalismo.
pendência e do imperialismo cultural. A partir Sua extração crítica, circunscrita ao paradig-
de meados dos anos 1990, não obstante, a EPC ma marxista, resulta do esforço para enten-
se apresenta em nível mundial como tendência der a constituição destas na sua relação com
crítica incontornável no campo da Comunica- o marketing e com os processos econômicos e
ção. (César Bolaño) sociais mais amplos, como as mudanças pro-
vocadas pela estagnação que levou à crise dos
Referências: anos 1960 e 1970, e as transformações geográfi-
BOLAÑO, César R. S.; MASTRINI, Guillermo; cas e estruturais que se operam nas economias
SIERRA CABALLERO, Francisco. Global avançadas a partir desse período. Além disso,
Changes in the Economic System and in constitui uma reação da sua primeira geração
Communications. A Latin American Per- de pesquisadores ao paradigma behaviorista a
spective for the Political Economy of Com- que estavam filiadas, na época, a economia po-
munications. In: Journal of the European lítica ortodoxa, a psicologia, a sociologia e a ci-
Institute for Communication and Culture. ência política.
Vol. 11, n. 3, p. 47-58. Ljubljana, Slovenia, De início, tal perspectiva questiona o dese-
2004. quilíbrio nos fluxos de informação e produtos
HUNT, E. K. História do Pensamento Econômi- culturais entre nações desenvolvidas e subde-
co. Uma Perspectiva Crítica. Rio de Janei- senvolvidas, ou entre países capitalistas e socia-
ro: Elsevier/Campus, 2005. listas (sistemas de comunicação). Depois, volta-
MOSCO, Vicent. The political economy of com- se para os problemas encontrados pelo capital
munication. London: Sage, 1996. para produzir valor a partir da arte e da cultu-
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enciclopédia intercom de comunicação
ra, quando o objeto de estudo passa a ser as in- xista ou marxiana. Evolui em estreita relação
dústrias culturais, conceito tributário da Teo- com as teorias de Comunicação Social, da Ci-
ria Crítica da Escola de Frankfurt que, contudo, ência da Informação, da Cibernética, de outras
rompe com a ideia de que a produção da mer- teorias sociais, buscando problematizar critica-
cadoria cultural (livro, cinema, televisão, jor- mente o desenvolvimento capitalista, mas con-
nal) responda a uma só e mesma lógica, susten- siderando o papel fundamental que a indús-
tando tratar-se de um composto de elementos tria cultural, de entretenimento e de marcas,
que se diferenciam um dos outros e de setores ou consumo, exercem nesse desenvolvimento,
que têm suas próprias leis de padronização. articuladas ao sistema financeiro e industrial
Com o desenvolvimento de tradições con- mais geral. Em Marx, as comunicações são
forme a região do mundo em que se desenvol- tratadas, na Seção 1, do Livro II d’O Capital,
ve, pode-se falar em uma Economia Política da como atividades que proporcionam a redução
Comunicação norte-americana (Estados Uni- do tempo total de rotação do capital, logo são
dos e Canadá), uma europeia e uma própria às atividades essenciais à sustentação do valor da
regiões de economias menos avançadas, como mercadoria.
a América Latina e a Ásia, onde surge em opo- No entanto, para muitos teóricos, as ati-
sição às abordagens desenvolvimentistas da vidades relacionadas à informação (ciência e
teoria da modernização conservadora ampla- tecnologia, publicidade etc.) seriam remetidas
mente difundida nos anos 1960. Recentemente, para a esfera da produção e apropriação do ex-
em razão de fatores como a reestruturação do cedente, conforme Baran e Sweezy (1966). Dan
capitalismo e as novas tecnologias de comuni- Schiller (1988) critica essa posição, sustentando
cação e informação que viabilizam sua expan- que boa parte dessas atividades, se realizadas
são global, novos e variados temas emergem e em empresas privadas, são também assalaria-
revitalizam-na como perspectiva teórica rea- das, contribuem para a formação do valor, logo
lista, inclusiva e crítica. (Virginia Pradelina da deveriam ser incluídas no conceito marxiano
Silveira Fonseca) de “trabalho produtivo”. Bolaño (2000) reto-
ma, por usa vez, os excertos de Marx, ao longo
Referências: dos três volumes d’O Capital, e nos Grundrisse,
MATTELART, A.; MATTELART, M. História para defender o caráter produtivo do trabalho
das teorias da comunicação. 2. ed. São Pau- cultural e comunicacional. Para Dantas (2006),
lo: Loyola, 1999. o conceito marxiano de “trabalho concreto” ou
MOSCO, V. The political economy of communi- “útil” pode ser associado ao conceito termodi-
cation. London: Sage, 1996. nâmico de informação: atividade orientada a
um fim, fim este que vem a ser o de recompor
uma dada quantidade inicial de realizar traba-
Economia Política da Informação lho, embora para isto dissipando certa quanti-
É um campo de estudo que busca entender a dade de energia. Neste caso, o valor da infor-
informação como fonte de valor, de rendas e mação seria função da incerteza processada e
como possível mercadoria, em diálogo com as comunicada pelo trabalho vivo, ao longo de
teorias econômicas e sociais de extração mar- certo tempo.
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to da autoria dessa invenção. A despeito disso, FARIA, Maria Isabel; PERICÃO, Maria da Gra-
tratou-se, de fato, de uma modificação revolu- ça. Dicionário do livro. Da escrita ao livro
cionária nas formas de edição e reprodução de eletrônico. São Paulo: EDUSP, 2008.
livros. Em alguns estudos, aponta-se a relevân- FIAD, Raquel S. Operações Linguísticas Pre-
cia do aperfeiçoamento das técnicas de edição sentes nas Reescritas de textos. Revista
para a sociedade, incluindo-se as consequên- Internacional de Língua Portuguesa. As-
cias dessas mudanças para o desenvolvimen- sociação das Universidades de Língua Por-
to de uma cultura da escrita e da informação. tuguesa, n. 4, p. 91-97, 1991.
Atualmente, mudanças tecnológicas também MARTINS, Jorge Manuel. Profissões do livro.
têm estreita relação com alterações nos proces- Editores e gráficos, críticos e livreiros. Lis-
sos de edição, trazendo implicações também boa: Verbo, 2005.
para a distribuição e mesmo para a forma final SHAW, Mark. Copywriting. Successful writ-
dos produtos editoriais. ing for design, advertising and marketing.
Dá-se, também, o nome de edição a cada London: Lawrence King, 2009.
tiragem de uma obra a partir da mesma ma-
triz. Cada tiragem nova, com modificações, é
uma nova edição. Trata-se de um sentido me- Edição Regional
nos abrangente do termo em relação ao que se Compreende-se por edição regional a cober-
discutiu anteriormente. tura jornalística com temas relacionados com
No âmbito dos estudos filológicos e dos regiões específicas, diária, semanal ou quin-
estudos de linguística histórica, existem vários zenal. As formas e os processos de edição na
tipos de edição. Técnicas diversas são empre- mídia localizada nos contextos regionais estão
gadas no processo de recuperar manuscritos, sendo constantemente repensadas em decor-
obras raras e outros tipos de textos que deman- rência dos novos enfoques relacionados com
dam tratamento especializado. As edições crí- a valorização da informação local, do jorna-
ticas, por exemplo, são obras que passam por lismo de proximidade e das novas concepções
minucioso tratamento, sendo o texto original que estão sendo adotadas para a definição de
estudado por especialistas e muitas vezes acres- critérios de noticiabilidade no jornalismo con-
cido de notas explicativas. Esse tipo de edição temporâneo.
tem função diferente das obras produzidas pela O local e o regional estão cada vez mais en-
edição moderna, voltada ao mercado editorial trelaçados com o intuito de mostrar caracterís-
e de consumo. (Ana Elisa Ribeiro) ticas, identidades culturais, histórias, memó-
rias e narrativas dos personagens fixados nas
Referências: pequenas localidades brasileiras, o cotidiano,
ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro. Rio os problemas e os desafios vivenciados por uma
de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: Insti- população nem sempre contemplada pelos con-
tuto Nacional do Livro, 1986. glomerados de comunicação existentes no país.
CAMPOS, Arnaldo. Breve história do livro. Por- Desse modo, existe a necessidade de uma com-
to Alegre: Mercado Aberto/Instituto Esta- preensão dos elementos geográficos, econômi-
dual do Livro, 1994. cos, sociais e culturais para uma compreensão
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do que vem sendo denominado, na atualidade Quem faz a montagem de trilhas sonoras.
de Regionalização Midiática . Atualmente, pessoa responsável de mesclar em
A descentralização da informação jornalís- computador som digitalizado, ou mesmo em
tica hoje é uma necessidade imposta aos gran- ilhas de edição ou console. (Sebastião Guilher-
des grupos de comunicação mundial/nacional me Albano da Costa)
que não conseguem de forma satisfatória su-
perar a fragmentação e as lacunas existentes Referências:
em um jornalismo cada vez mais premente de KENNEDY, Michael. Dicionário Oxford de Mú-
atender as demandas e exigências de um públi- sica. Trad. de Gabriela Gomes da Cruz e
co leitor/receptor, que busca nos gêneros jorna- Rui Vieira Nery. 1. ed. Lisboa: Dom Quixo-
lísticos, o conhecimento, os fatos contextualiza- te, 1994.
dos, interpretados, aprofundados. RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo
A edição jornalística nos contextos regio- Guimarães. Dicionário de Comunicação. 8.
nais, recorta, seleciona, foca atentamente os ed. São Paulo: Elsevier, 2002.
temas e os problemas existentes no âmbito da
diversidade, encontrada na imensidão das de-
safiadoras emblemáticas regiões brasileiras. Editora
(Luis Custódio da Silva) A editora é a instituição, em geral uma em-
presa, responsável pela publicação de obras de
Referências: diversos tipos: técnicas, literárias, de entrete-
MELO, J. M.; GOBBI, M. C.; SOUSA, C. M. Re- nimento, religiosas, entre outras. Na editora,
gionalização Midiática: estudos de comuni- trabalham profissionais que recebem os textos
cação e desenvolvimento regional. Rio de originais (manuscritos ou matrizes) e definem
Janeiro: Sotese, 2006. que tipo de tratamento editorial eles sofrerão
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo – para se tornarem algum tipo de produto edi-
Porque as notícias são como são. Florianó- torial: livros, revistas, jornais, e-books. O tex-
polis: Editora Insular, 2005. Volume 1. to original passa por etapas como preparação,
BAZI, Rogério E. R. TV Regional. Trajetória e projeto gráfico, diagramação, revisão de texto,
Perspectivas. Campinas: Alínea, 2001. além de análises que pretendem planejar o ma-
rketing e a distribuição da obra editada.
Esse tipo de processo ocorre em editoras
Editor de Som de porte médio ou grande, legalmente configu-
Profissional que realiza seleção, corte, mixagem radas como empresas. Há, no entanto, editoras
e gravação de material sonoro (diálogo, música, de pequeno porte que produzem suas obras em
ruído, narração etc.), cuja finalidade é ser regis- menos etapas e contam muito mais com a cola-
trado em suportes fônicos (discos, fitas magné- boração do próprio autor do texto original. As
ticas) e transmitido em forma de programas ra- etapas de marketing e distribuição às vezes ine-
diofônicos, discos ou para ser sincronizado às xistem, mas essas casas editoriais são de suma
imagens de um filme, espetáculo teatral, progra- importância para a ecologia da produção edito-
ma de televisão ou outros veículos audiovisuais. rial de um país ou de uma cultura.
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delineadas com vistas a facilitar ações volun- Dizem respeito àqueles fatores ambientais
tárias conducentes à saúde. A palavra com- que também precisam ser considerados no pla-
binação enfatiza a importância de combinar nejamento de atividades de promoção em saú-
múltiplos determinantes do comportamento de. Note-se que essa se diferencia dos outros
humano com múltiplas experiências de apren- dois maiores componentes da saúde pública
dizagem e de intervenções educativas. No fun- por fixar a engenharia do meio ambiente à pro-
do, esse vocáculo distingue o processo de edu- teção em saúde e a administração no ambiente
cação de saúde de quaisquer outros processos médico aos serviços de prevenção para a saúde
que contenham experiências acidentais de (CANDEIAS, 1997). (Arquimedes Pessoni)
aprendizagem, apresentando-o como uma ati-
vidade sistematicamente planejada. Facilitar Referências:
significa predispor, possibilitar e reforçar. Vo- CANDEIAS, Nelly Martins Ferreira. Concei-
luntariedade significa sem coerção e com plena tos de educação e de promoção em saúde:
compreensão e aceitação dos objetivos educati- mudanças individuais e mudanças organi-
vos implícitos e explícitos nas ações desenvolvi- zacionais. Rev. Saúde Pública. São Paulo, v.
das e recomendadas. 31, n. 2, abr. 1997. Disponível em: <http://
Ação diz respeito a medidas comporta- www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_
mentais adotadas por uma pessoa, grupo ou arttext&pid=S0034-89101997000200016-
comunidade para alcançar um efeito intencio- &lng=en&nrm=iso>. Acesso em:
nal sobre a própria saúde. 18/02/2009.
Já promoção em saúde define-se como
uma combinação de apoios educacionais e am-
bientais que visam atingir ações e condições de Educomunicador
vida conducentes à saúde. Combinação refere- O termo educomunicador tem sido populari-
se à necessidade de mesclar os múltiplos deter- zado nos últimos dez anos, na América Latina,
minantes da saúde (fatores genéticos, ambiente, por grupos e instituições que contam entre seus
serviços de saúde e estilo de vida) com múlti- especialistas (ou que buscam para seus proje-
plas intervenções ou fontes de apoio. Educacio- tos) agentes sociais capazes de implementar
nal relaciona-se à educação em saúde tal como “ações comunicativas”, com objetivos expres-
acima definida. Já a ambiental diz respeito às samente educativos, mediante o emprego das
circunstâncias sociais, políticas, econômicas, linguagens e recursos da informação, a partir
organizacionais e reguladoras, relacionadas ao de determinados pressupostos inerentes àquilo
comportamento humano, assim como a todas que se afirma ser próprio ao conceito e à práti-
as políticas de ação mais diretamente relacio- ca da educomunicação.
nadas à saúde. Entre tais pressupostos encontra-se o ideá-
Utiliza-se aqui para fazer referência àquelas rio da gestão participativa e, em consequência,
forças da dinâmica social, que incidem sobre o compartilhamento democrático dos resulta-
uma situação específica e que vão muito além dos e produtos alcançados, o que leva a afirmar
do estudo do ambiente físico ou dos serviços que não se trata de um substantivo genérico e
médicos destinados à população. polissêmico, mas de uma palavra própria que
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processos e projetos nas diversas áreas do cam- cacional designa a organização do ambiente, a
po da educomunicação. disponibilização dos recursos, o modus faciendi
Cada uma das seis áreas de intervenção se dos sujeitos envolvidos e o conjunto das ações
traduz em prática educomunicativa, permitin- que caracterizam determinado tipo de ação
do que seus praticantes se considerem educo- comunicacional” (1999, p. 69). Já estratégia da
municadores e dialoguem entre si sobre os pa- busca e afirmação do protagonismo juvenil é
râmetros e os procedimentos comuns em uso, descrita como aquela ação que tem como seu
em determinado projeto, mas nenhuma delas destinatário um adolescente ou jovem, não ape-
esgota o conceito da educomunicação. nas como alguém que recebe ou que é atingido
Quanto aos “valores educativos” que dão pela ação, mas em que ele próprio se torna seu
suporte às “articulações” exercidas por este pro- ator principal. (Ismar de Oliveira Soares)
fissional, destacam-se: (a) a opção por se apren-
der a trabalhar em equipe, respeitando-se pro- Referências:
cessualmente as diferenças; (b) a valorização do ALVES, Patrícia Horta. Educom.rádio: uma po-
erro como parte do processo de aprendizagem, lítica pública en educomunicação. Tese de
(c) a alimentação de projetos voltados para a Doutorado, ECA/USP, 2007.
transformação social. MACHADO, Eliany Salvatierra. Pelos Cami-
Em pesquisa de doutorado concluída em nhos de Alice: Vivências na Educomunica-
2004, no programa de Pós-graduação da ECA- ção e a Dialogicidade no Educom.TV. Tese
USP, Genésio Zeferino da Silva Filho identifica de Doutorado, ECA/USP, 2009.
a natureza do fazer educomunicativo. Segundo SILVA FILHO, Genésio Zeferino. Educomuni-
o autor, no âmbito das ONGs, são três os núcle- cação e sua metodologia: um estudo a par-
os estratégicos básicos que sustentam a meto- tir de ONGs no Brasil, Tese de Doutorado,
dologia do fazer educomunicativo: a “ação por ECA/USP, 2004.
projetos”, a “gestão participativa” e a busca do SOARES, Ismar de Oliveira. Caminhos da ges-
“protagonismo juvenil”. tão comunicativa como prática da Educo-
A ação por projetos é entendida como uma municação. In: BACCEGA, Maria Apa-
modalidade de articulação de conhecimentos recida; COSTA, Maria Cristina Castilho
diferentes. É uma forma de organizar a ativi- (Orgs.). Gestão da Comunicação, Episte-
dade de ensino e aprendizagem, favorecendo mologia e Pesquisa Teórica. p. 161-188. São
a criação de estratégias de organização dos co- Paulo: Paulinas, 2009.
nhecimentos. Já a noção de gestão participati- . Comunicação/Educação, a emergên-
va designa todo processo articulado e orgânico cia de um novo campo e o perfil de seus
voltado - a partir de dada intencionalidade edu- profissionais. Contato, Revista Brasileira de
cativa - para o planejamento, execução e ava- Comunicação, Arte e Educação. Ano 1, n.
liação de atividades destinadas a criar e man- 2, p. 5-75. Brasília, jan/mar 1999.
ter “ecossistemas comunicacionais”, entendidos . Educom.rádio, na trilha de Mario Ka-
como ambientes regidos pelo princípio da ação plún. In: MARQUES DE MELO, José et
e do diálogo comunicativos. al. Educomidia, Alavanca da Cidadania. p.
Para Ismar Soares, “ecossistema comuni- 167-188. SBC, UMESP, 2006.
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ção da matéria, do significante e, finalmente, de mento com o mundo: uma por meio dos sen-
seu corpo que o sujeito constrói suas relações tidos, mas sem sentido, e a outra com sentido,
com o mundo circundante enquanto universo mas além dos sentidos”.
de valores e presença de sentido”. O efeito de sentido é manifestação em pre-
O sentido jamais é dado, nem está nos ob- sença, o que evidencia o seu caráter discursi-
jetos à espera de decifração. Por isso, o proces- vo. Nos estudos de Eliseo Verón (1980) coube à
so de transmissão não assegura sua realização. ideologia a materialização do processo de pro-
Pelo contrário, Greimas entende que a constru- dução de sentido, uma vez que, graças a ela, é
ção do sentido como um percurso que se reali- possível problematizar a mera reprodução do
za nas situações de trocas verbais, em atos pre- sistema. Por isso em suas análises, busca com-
sentes carregados de tensões. Considerando as preender as condições dos discursos sóciais em
diferentes etapas a serem percorridas, o sentido que a dimensão ideológica é, ela própria, pro-
é sempre uma construção em diferentes níveis: dutora de sentido e, portanto, da semiose so-
figurativo, temático, narrativo, lógico-semânti- cial. (Irene Machado)
co. E sua emergência se manifesta como efeito
de uma presença. Nesse caso, o sentido se de- Referências:
fine segundo o processo de produção – modo FLOCH, Jean-Marie. Alguns conceitos funda-
gerativo – não segundo a história – modo ge- mentais em semiótica geral. In: Documen-
nético (FLOCH, 2001, p. 15). tos de estudo do Centro de Pesquisas Socios-
Os efeitos de sentido problematizam os semióticas. São Paulo: CPS, 2001.
processos de comunicação ao tornar a signifi- LANDOWSKI, Eric. Viagem às nascentes do
cação como objeto de conhecimento, como en- sentido. In: SILVA, Ignácio Assis (Org.).
tende Landowski, o próprio caráter lexical do Corpo e sentido. São Paulo: Unesp, 1996.
termo interfere na formulação epistemológica, VERÓN, Eliseo. A produção de sentido. São
que não pode prescindir de especular sobre o Paulo: Cultrix, 1980.
jogo, também este, um ato gerativo em presen-
ça. “Quando aparece como substantivo” – afir-
ma Landowski (idem, ibidem, p. 31) – “ele toma EMBALAGEM
aproximadamente o valor de sinônimo da pa- A embalagem é um item de extrema importân-
lavra “significação”. Em compensação, quando cia na comunicação mercadológica, pois além
se utiliza na sua função verbal de particípio – de suas funções primordiais de proteção, trans-
por exemplo, quando se relata o que “foi senti- porte e estocagem, servem como mídia promo-
do” por alguém em tal circunstância –, ele pas- cional do produto representado. Para conseguir
sa a designar quase o oposto: não mais o que o que um novo produto ultrapasse o objetivo
sujeito entendeu, mas o que ele sentiu: grosso de vender bem ao ser lançado no mercado,
modo, sua “sensação”. Até que, no limite, será e consiga manter esse nível por longo tempo,
possível “ter sentido” positivamente que, no são necessárias inovações e criatividade. E es-
que sentiu, não “havia sentido” nenhum... (...). sas características são expressas por meio das
Noutras palavras, coexistiriam, independente- embalagens que, indubitavelmente, vendem o
mente uma da outra, duas formas de relaciona- produto, chamando a atenção do consumidor,
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despertando seu interesse em meio a tantos ou- que as embalagens mudam. Para acompanhar
tros produtos nas prateleiras, alguns deles já há nosso estilo de vida.
muito, estabelecidos no mercado. É por isso, também, que existem embala-
Nesse sentido, não podemos dissociar o es- gens menores, voltadas principalmente aos sol-
tudo das embalagens de uma área do conheci- teiros e casais sem filhos. Assim como é cada
mento fundamental, que é o design. O perfil do vez maior a oferta de produtos congelados nas
consumidor atual e suas necessidades e pers- geladeiras dos mercados. Tudo isso, para facili-
pectivas traçam o caminho a ser seguido pelos tar o nosso dia-a-dia.
designers de novas embalagens, que devem le- Pelo lado das indústrias, a tônica das dis-
var em conta os seguintes aspectos, presença na cussões atuais sobre embalagem gira em torno
prateleira, conveniência do produto (praticida- da tríade: design x sutentabilidade x rentabilida-
de e acessibilidade), qualidade e impacto am- de. A quinta edição do ‘Fórum de Embalagens
biental, esses fatores determinarão o êxito ou o Sustentáveis’, realizada em Atlanta, em setem-
fracasso do produto lançado. bro de 2009, amarrou a ideia de que a sustenta-
Em muitos casos, é o único recurso signifi- bilidade econômica pode ser abastecida por um
cativo de que se dispõe para identificar, diferen- reforço da responsabilidade ambiental e social.
ciar e exibir um produto aos olhos do potencial No rumo dessas perspectivas de otimiza-
consumidor. É, no ponto de venda, na hora da ção dos recursos naturais e ambientais com re-
compra que se decide a preferência do compra- lação às embalagens, os estudos acadêmicos
dor, pois mesmo que a marca esteja chancelada têm demonstrado progresso. Segundo o Portal
por um forte apelo publicitário e uma intensa Infomoney, uma pesquisadora da Universidade
campanha, a escolha do produto, o ato defini- de São Paulo (USP) pode trazer uma boa novi-
tivo entre o “pegar ou largar” o produto depen- dade para os ecologistas e para a rotina domés-
derá, em grande parte, de design de embalagem tica. Trata-se de uma embalagem comestível,
e rotulagem apropriados e convincentes. biodegradável e resistente a micróbios.
No Brasil e no mundo, as mudanças nos A novidade, desenvolvida pela engenhei-
hábitos de consumo e a segmentação cada vez ra química Cynthia Ditchfield, é composta de
maior do mercado impulsionam verdadeiras amido de mandioca, açúcares e outros ingre-
revoluções nas embalagens que conhecemos. dientes como pimenta, canela e extrato de pró-
A correria das cidades grandes e um estilo de polis, que inibem ou retardam o crescimento
vida que, cada vez mais dá valor à praticidade, de microorganismos.
mudou nossas vidas. Iniciativas como essa, têm total apoio da
Um exemplo de como a vida mudou ra- Organização Mundial de Embalagem (WPO),
pidamente pode ser percebido na maioria das uma organização sem fins lucrativos, integrada
grandes metrópoles como Nova Iorque, Tó- por organismos não governamentais, associa-
quio, São Paulo e tantas outras. Homens e mu- ções, federações regionais de embalagens e ou-
lheres de negócios transitam com seus cafés em tros, incluindo empresas e associações comer-
copos descartáveis, rumo ao trabalho. O bom e ciais. Fundada em 06 de setembro de 1968, em
velho café da manhã na mesa da cozinha é um Tóquio, os objetivos da organização incluem:
hábito cada vez menos comum. E, é por isso, (1) Incentivar o desenvolvimento de tecnologia
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enciclopédia intercom de comunicação
de embalagem, a ciência, de acesso e de enge- tórica, que originaram as pesquisas sobre esse
nharia; (2) Contribuir para o desenvolvimen- processo, Aristóteles a define como composta
to do comércio internacional e (3) Estimular a de três elementos: locutor, discurso e ouvinte –
educação e formação sobre embalagem. ou seja, alguém que fala alguma coisa para ou-
As atividades primárias das organizações tro alguém (GOMES, 1997, p. 32). O locutor de
são promover a educação, por meio de reuni- Aristóteles está na raiz do conceito de emissor.
ões, atividades especiais e publicações, incluin- É importante ressaltar que a compreensão so-
do sites, patrocinando um projeto internacio- bre o papel que esse sujeito desempenha sofre
nal de embalagens com programa de prêmios, alterações com o passar do tempo. Para Aris-
e procurando facilitar o contato e intercâmbio tóteles, por exemplo, o objetivo principal da re-
entre os vários institutos nacionais de embala- tórica era persuadir o ouvinte, convencê-lo de
gens. No Brasil, a WPO tem representação na suas ideias.
figura da ABRE, Associação Brasileira de Em- O modelo linear de Harold Laswell (1948),
balagem. (Scarleth O’hara Arana) que se traduz na elocução “quem (emissor)
diz o quê (mensagem) por que canal (meio) a
Referências: quem (receptor) com que efeito (efeito)?”, deixa
ABRE (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EM- claro o pressuposto de que a iniciativa de infor-
BALAGENS). Anuário 2008. São Paulo: mar é do emissor, em um processo assimétrico,
Editora FGV, 2009. com um emissor ativo que produz o estímulo e
GURGEL, Floriano do Amaral. Administração uma massa passiva de destinatários que, ao ser
da Embalagem. São Paulo: Thomson Hein- atingida pelo estímulo, reage (FREIXO, 2006,
le, 2007. p. 340).
MESTRINER, Fábio. Design de Embalagem – Na teoria matemática da informação, de
Curso Avançado. São Paulo: Prentice Hall Claude Shannon e Warren Weaver (1949), a
Brasil, 2005. concepção do processo comunicativo continua
NEGRÃO, Celso; CAMARGO, Eleida Pereira sendo linear, com a adição de novos elemen-
de. Design de Embalagem. São Paulo: No- tos: fonte – (mensagem) – transmissor – (sinal
vatec, 2008. emitido) – (sinal captado) – receptor – (men-
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta- sagem) – destinatário, com possibilidade de in-
vo. Dicionário de Comunicação. Rio de Ja- terferência entre o sinal emitido e o recebido, o
neiro: Campus, 2002. ruído. Neste modelo, a fonte de informação é a
PORTAL Infomoney. Informativo de 04 de de- responsável pela seleção da mensagem e esta-
zembro de 2006. Disponível em: <http:// belece quais as informações do repertório dis-
web.infomoney.com.br>. Acesso em ponível podem ser transmitidas em cada cir-
03/02/2010. cunstância (RÜDIGER, 1995, p. 19).
Será Wilbur Schramm, em 1954, o autor de
o primeiro modelo circular do processo de co-
Emissor/fonte/codificador municação – ele introduz, pela primeira vez,
O emissor é o sujeito que dá início ao proces- o conceito de feedback. Em síntese, ele pro-
so comunicativo. Em seus estudos sobre a re- põe que cada emissor pode também funcionar
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enciclopédia intercom de comunicação
como receptor em um mesmo ato comunicati- quência modulada (FM) ondas curtas, tropicais
vo. Cada emissor/receptor tem a habilidade de ou via internet (web-radio). No Brasil, as emis-
decodificar e interpretar mensagens recebidas e soras dividem-se em comerciais, educativas,
codificar mensagens a emitir (SOUSA, 2006, p. públicas e comunitárias. No dial, predominam
55). A compreensão do processo comunicacio- as emissoras comerciais, que se sustentam com
nal como um circuito, no qual as posições do base na veiculação de publicidade.
emissor e receptor alternam-se, foi e continua As emissoras educativas estão vinculadas
sendo discutida por diversos autores e escolas. a instituições de ensino, públicas ou privadas,
Os avanços no campo da comunicação, espe- laicas ou confessionais, e não podem veicular
cialmente após o advento da internet, repre- minutagem comercial. Permite-se, no entanto,
sentam alterações substanciais no modo como a chancela, com menção ao nome da empresa
circulam as informações, em uma relação to- patrocinadora. A terceira modalidade, a emis-
dos-todos que substitui a hierarquia um-todos sora pública, é a de definição mais complexa,
das mídias de massa, favorecendo um entendi- porque pressupõe a participação popular, seja
mento da comunicação como um processo bi- através da ação direta ou de entidades repre-
derecional entre grupos e indivíduos (LEMOS, sentativas da chamada sociedade organizada,
2007, p. 68). (Aline Strelow) podendo ou não contar com aporte financei-
ro do Estado. As emissoras comunitárias, res-
Referências: tritas à faixa de frequência modulada, são re-
FREIXO, Manuel João Vaz. Teorias e modelos gidas pela Lei n. 9.612/98, que impõe limite de
de comunicação. Lisboa: Instituto Piaget, 25 watts de potência e 30 metros de altura para
2006. a antena.
GOMES, Pedro Gilberto. Tópicos de teoria da De forma geral, a estrutura de uma emis-
comunicação. São Leopoldo: Unisinos, sora radiofônica compreende um departamen-
2001. to de programação, responsável pelo conteúdo
LEMOS, André. Cibercultura. Porto Alegre: Su- previsto no mapa de transmissão; um depar-
lina, 2007. tamento técnico, que cuida da operação e da
RÜDIGER, Francisco. Comunicação e teoria so- transmissão das emissões sonoras; um depar-
cial moderna. Porto Alegre: Fênix, 1995. tamento financeiro e um departamento admi-
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pes- nistrativo. Quando a emissora está vinculada a
quisa da comunicação e dos media. Porto: um grupo de comunicação, os setores financei-
Universidade Fernando Pessoa, 2006. ro e administrativo costumam ser comuns para
toda a empresa. As que dedicam espaço signi-
ficativo ao material noticioso possuem um de-
Emissora de Rádio partamento de jornalismo autônomo.
Unidade de produção e/ou veiculação de con- De acordo com o Código Brasileiro de Te-
teúdo sonoro por meio de transmissão radiofô- lecomunicações, uma emissora só pode dedicar
nica, em faixa de frequência regular e com pro- 25% por hora (15 minutos) a mensagens comer-
gramação permanente. Quanto à frequência, ciais, que não podem exceder a três minutos
pode transmitir em ondas médias (AM), fre- contínuos. O material noticioso deve corres-
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ideia que fazemos da coisa atribuída pela razão, consultoria e desenvolvem projetos a empre-
como ensina o racionalismo; mas puramente sas, entidades e sociedade em geral, sempre sob
como percebemos esta coisa, ou melhor dizen- orientação de professores e profissionais espe-
do, como as coisas chegam até nós através dos cializados.
sentidos. (Sebastião Amoêdo) Para que seja considerada uma Empresa Jú-
nior pela Brasil Júnior, além do CNPJ, outros
Referências: pré-requisitos são necessários como: um atesta-
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. do oficial de reconhecimento da IES à qual está
São Paulo: Martins Fontes, 1993. vinculada; possuir estatuto próprio que regulari-
za todo seu funcionamento, desde o processo de
seleção e admissão de alunos de sócios voluntá-
Empresa júnior de comunicação rios à determinação de vinculação dos projetos
De acordo com a Confederação Brasileira de desenvolvidos com os conteúdos programáticos
Empresas Juniores (Brasil Júnior, 2009a), a Em- do(s) curso(s) de graduação ao qual está vincu-
presa Júnior é uma associação civil, sem fins lado, observando para que as atividades desen-
lucrativos. Como pessoa jurídica de direito volvidas sejam atribuições da categoria de pro-
privado, ela deve estar devidamente registra- fissionais, conforme lei reguladora específica.
da conforme a Lei (cadastrada junto ao CNPJ/ Entre as proibições, a Empresa Júnior não
MF), e tem a obrigação de respeitar, observar e poderá ter como finalidade gerar receita para
cumprir as Legislações Federal, Estadual e Mu- a(s) instituição(ões) de ensino superior a que
nicipal. Suas principais finalidades são: realizar estiver vinculada. Assim, como ela não poderá
projetos e serviços que contribuam com o de- estar vinculada a qualquer partido político.
senvolvimento do país; capacitar profissionais A Empresa Júnior de Comunicação permi-
comprometidos com esse objetivo e fomentar o te aos estudantes exercitar práticas de mercado,
empreendedorismo. oferecendo produtos e serviços comunicacio-
De origem francesa (1967), a ideia chegou nais a pequenas e médias empresas, que variam
ao Brasil, em 1988, e logo se propagou. Segundo conforme a demanda e a habilidades dos mem-
os resultados do Censo Identidade 2008 (Bra- bros da equipe.
sil Júnior, 2009b), estima-se que existam cer- Além disso, as atividades realizadas de-
ca de 1000 empresas juniores e, aproximada- senvolvem o espírito crítico, analítico e empre-
mente 23.200 empresários juniores, no Brasil, endedor do aluno-empresário, bem como in-
representados em 10 federações, as quais estão tensificam o relacionamento empresa-escola,
vinculadas à ‘Brasil Júnior’, que regulamenta as facilitando o ingresso de futuros profissionais
atividades. no mercado de trabalho. (Elizete de Azevedo
A constituição de uma Empresa Júnior se Kreutz)
faz por meio da união de alunos matriculados
em cursos de graduação de ensino superior, Referências:
que podem pertencer à mesma área de conhe- BRASIL JÚNIOR. Conceito Nacional de Empre-
cimento ou não, mas que possuem objetivos sa Júnior. Disponível em <http://www.em-
comuns. Esses empresários juniores prestam presajr.com/>. Acesso em 27/02/2009.
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O início do século XXI foi marcado pelo pressuposto da socialização, entendida como
rápido crescimento e popularização da Wiki- o processo de integração do indivíduo a uma
pédia, uma enciclopédia baseada na WWW e dada sociedade ou cultura, o que requer a inte-
caracterizada pela possibilidade de edição, sem riorização de modelos culturais, isto é, modos
mediação prévia, por qualquer leitor interessa- de pensar, sentir e agir. Assim, a endocultura-
do. O projeto, liderado por Jimmy Wales, sur- ção diz respeito aos diferentes tipos de apren-
giu em 2001 como um desmembramento da dizagem aos quais os indivíduos estão sub-
Nupedia e, em 2010, conta com mais de 15 mi- metidos e é por estes processos que ocorre a
lhões de artigos produzidos por aproximada- referida interiorização de normas sociais, com
mente 90 mil editores ativos em cerca de 270 efeito, em um comportamento social desejável
línguas. (Carlos d’Andréa) (CUCHE, 1999). Esta ideia de socialização via
a endoculturação remete à questão central na
Referências: obra de Durkheim, especialmente As Formas
BURKE, Peter. Uma história social do conheci- Elementares da Vida Religiosa, publicada em
mento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Ja- 1912, na qual o autor quer saber como o indiví-
neiro: Jorge Zahar, 2003. duo se torna membro de sua sociedade e como
DARNTON, Robert. O Iluminismo como negó- são produzidos processos de identificação com
cio: história da publicação da “Enciclopé- esta sociedade.
dia”, 1775-1800. São Paulo: Companhia das A resposta, então, é pela educação/endo-
Letras, 1996. culturação que cada sociedade transmite aos
LIH, Andrew. The Wikipedia revolution: how indivíduos o conjunto de normas sociais e cul-
a bunch of nobodies created the World’s turais que têm a função de assegurar a solida-
Greatest Encyclopedia. Nova York: Hype- riedade entre todos os indivíduos desta mes-
rion, 2009. ma sociedade. Um exemplo pode ser útil, nesse
POMBO, Olga; GUERREIRO, António (orgs). momento, pois todo esse processo pode ser ob-
Enciclopédia e hipertexto. Lisboa: Edições servado de modo paradigmático no contexto
Duarte Reis, 2006. das sociedades primitivas, sugere o antropólogo
Marcel Mauss (2003), continuador da obra do
tio Durkheim. Nesse caso, a noção de “técnicas
ENDOCULTURAÇÃO corporais” tem aqui um valor especial na me-
É o processo permanente de aprendizagem de dida em que expressa um processo de aprendi-
uma cultura que se inicia com assimilação de zado tradicional e eficaz das maneiras como os
valores e experiências a partir do nascimento grupos sociais fazem uso de seus corpos.
de um indivíduo e que se completa com a mor- Assim, se é certo que a cultura está relacio-
te. Ou seja, esse processo de aprendizagem é nada ao acúmulo de experiência, de processos
permanente, desde a infância até à idade adul- de aprendizagem potencialmente transmissí-
ta, à medida que o individuo nasce, cresce, e veis não sendo, portanto, o resultado de pro-
desenvolve, ele aprende na cultura ou nas cul- cesso genético, compreende-se que a ideia de
turas em que lhe foi ensinado. cultura tem um interesse especial para o campo
A ideia de endoculturação está contida no da educação. Mais que isso, a educação, tradu-
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enciclopédia intercom de comunicação
zida como endoculturação implica a ideia de Antropologia & Educação. Belo Horizonte,
que processos de aprendizagem são adquiridos Autêntica, 2009.
e não inatos, já que o homem, diferentemente
do animal, não está encerrado em sua estrutura
biológica, ele é produtor de suas próprias expe- ENDOMARKETING
riências. Técnicas de comunicação de marketing, utiliza-
Nesse sentido, deve-se estar atento até mes- das dentro de uma organização, que têm como
mo para aquilo que, aparentemente, se apresen- público, seus colaboradores. É uma área direta-
ta à primeira vista como sendo da ordem bioló- mente ligada à de comunicação interna, que alia
gica ou natural como, por exemplo, as emoções técnicas de marketing a conceitos de recursos
e as sensibilidades. Afinal, manifestações como humanos, no âmbito das áreas da administração.
o riso, o choro, o medo, o amor, a amizade, o O endomarketing é uma ferramenta utiliza-
gosto, tantas outras ligadas ao campo dos sen- da pelas empresas para convencer seus funcio-
tidos e das subjetividades, são o resultado de nários a comprar uma ideia, e vender o produto
processos culturais e históricos transmitidos para os funcionários é tão importante quanto
socialmente. Estudos no campo da história para os clientes, portanto, o endomarketing é o
das sensibilidades como, por exemplo, histó- elemento de ligação entre o cliente, o produto e
ria das lágrimas, ou então, análises antropoló- o funcionário.
gicas sofisticadas de rituais são ilustrativos de O endomarketing, a partir de alguns atri-
como uma cultura é transmite de forma des- butos de valores dentro de um processo de ges-
tacada seus valores mais caros e, muitas vezes, tão, tem como premissas fundamentais a busca
considerados naturais e eternos. Uma espécie de resultados com finalidade, na construção de
de “educação sentimental” tem lugar, nesse mo- uma cultura própria, na ética, na multidiscipli-
mento, posto tratar-se de um processo, muitas naridade e interfuncionalidade, na informação
vezes, sutilíssimo e profundo de formação e como insumo, na interatividade e na adapta-
manutenção do ethos cultural (entendido como bilidade, ou seja, a facilidade de adaptar-se às
padrão de sensibilidade) de um grupo social. mudanças no ambiente de negócios, na busca
(Sandra Pereira Tosta) de resultados, permanentemente. É a utiliza-
ção do endomarketing como recurso estratégico
Referências: para melhoria da produtividade de todos, que
BRANDÃO, Carlos R. A Educação como Cultu- compõem e fazem a empresa.
ra. 2ª. ed. São Paulo, Brasiliense, 1986. O termo endomarketing foi criado pelo
CUCHE, Denys. A Noção de Cultura nas Ci- professor Saul Bekin, em 1995, em seu livro
ências Sociais. Bauru, São Paulo, EDUSC, Conversando sobre endomarketing. (Luiz Cézar
1999. Silva dos Santos)
MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São
Paulo, Cosac & Naify, 2003. Referências:
MEAD, Margaret. Sexo e Temperamento. 2ª ed. BARBOSA, Gustavo Guimarães; e RABAÇA,
São Paulo, Perspectiva, 1976. Carlos Alberto. Dicionário de Comunica-
ROCHA, Gilmar & TOSTA, Sandra Pereira. ção. São Paulo: Ática, 1987.
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BEKIN, Saul F. Conversando sobre Endomarke- RABAÇA, Carlos Alberto; BARCOSA, Gusta-
ting. São Paulo: Makron Books, 1995. vo Guimarães. Dicionário de Comunicação.
PREDEBON, José (org). Curso de Propaganda: Oitava edição. São Paulo: Elsevier, 2002.
do anúncio à comunicação integrada. São
Paulo: Atlas, 2004.
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 2º edi- Ensino de Editoração/Produção
ção. Rio de Janeiro: Campus: ABP, 1999. Editorial
SILVA, Zander Campos da. Dicionário de Ma- O primeiro curso de Produção Editorial no
rketing e Propaganda. 2º ed. Goiânia, Go: Brasil foi instalado no Rio de Janeiro. Há, no
Referência, 2000. entanto, controvérsias com relação à data. A
Escola de Comunicação da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro – ECO/UFRJ – foi instala-
Engenheiro de Som da como unidade autônoma em 04 de março de
Também conhecido como engenheiro de gra- 1968, e um dos departamentos era o de editora-
vação. Técnico que trabalha em estúdio no co- ção. Na página do Inep – Instituto Nacional de
mando da mesa de mixagem (DOURADO, Estudos e Pesquisas Educacionais – na internet
2004, p. 119). Técnico que realiza ou executa há, no entanto, uma data bem mais recuada. In-
projetos eletroacústicos, tais como instalação forma que o curso foi criado em 11 de março de
de equipamentos de reprodução e/ou amplifi- 1931 e foi reconhecido (Decreto Federal 5489)
cação sonora em estúdios, cinemas, teatros, re- em 13 de maio de 1943. Aquilo que viria ser a
sidência etc. UFRJ era então a Universidade do Brasil.
Além de operar, cuida de montagem, inspe- Em 22 de agosto de 1972, a Universidade
ção e manutenção dos equipamentos. Contro- de São Paulo inaugura na Escola de Comunica-
la a qualidade do som, seja gravado ou ao vivo. ções e Artes – ECA – o seu curso de Produção
Profissional que ajuda a controlar a qualidade Editorial, uma referência desde então por causa
do áudio de rádio, tv e produção cinematográ- do equilíbrio das disciplinas teóricas e práticas,
fica, selecionando os microfones adequados e essas com oficinas permanentes na editora-la-
verificando a localização ideal para a captação boratório Com-Arte. Tanto o curso de gradu-
do som. Na produção de espetáculos teatrais ou ação da UFRJ com o da USP estrearam para
musicais, em salas fechadas ou em grandes espa- atender, sobretudo, o segmento dos impressos.
ços ao ar livre, seleciona, instala, ajusta e coorde- Mais adiante, a grade curricular contemplou a
na o funcionamento de todos os equipamentos indústria fonográfica.
necessários à perfeita ampliação e propagação O curso no Brasil, na atualidade, é ofereci-
do som. Diretor de som, operador de som e so- do também no nível de formação tecnológica.
noplasta. (Sebastião Guilherme Albano da Costa) O perfil do curso, tanto o bacharelado quando
o tecnológico, vem se modificando, há mais de
Referências: 10 anos, devido às novas tecnologias. Em 2009,
DOURADO, Henrique Autran. Dicionário de a concentração maior de cursos de Produção
termos e expressões da música. Primeira Editorial era em São Paulo, inclusive no inte-
edição. São Paulo: Editora 34, 2004. rior (São Caetano do Sul), mas havia também
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tureza profissional previstas abriam campo para ciedade para uma formação adequada em Rela-
o ensino de disciplinas da área de Administra- ções Públicas. (Cláudia Peixoto de Moura)
ção, o que foi feito por várias escolas”. (Andrade,
1983, p. 158) As matérias obrigatórias indicadas Referências:
no currículo mínimo para a parte profissional ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Para
foram: Técnicas de Codificação; Técnicas de Entender Relações Públicas. 3.ed. São Paulo:
Produção e Difusão; Deontologia dos Meios de Loyola, 1983.
Comunicação; Legislação dos Meios de Comu- MOURA, Cláudia Peixoto de. O Curso de Co-
nicação; Técnicas de Administração; Técnicas municação Social no Brasil: do currículo
de Mercadologia. mínimo às novas diretrizes curriculares.
No ano de 1984, o último currículo mínimo Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
foi implantado, com disciplinas obrigatórias es-
pecíficas para a habilitação: Língua Portuguesa
– Redação e Expressão Oral; Técnicas de Rela- ENSINO DE TELEVISÃO
ções Públicas; Teoria e Pesquisa de Opinião Pú- A indústria do audiovisual abrange a produção
blica; Técnicas de Comunicação Dirigida; Ad- de cinema, televisão, vídeo, multimídia, video-
ministração e Assessoria de Relações Públicas; game e outros formatos. A televisão é, sem dú-
Planejamento de Relações Públicas; Legislação vida, um dos polos mais importantes e rentá-
e Ética de Relações Públicas, além dos Projetos veis dessa indústria globalizada.
Experimentais. (Resolução nº 02/84, do MEC) A TV cumpre um papel estratégico no
De 1994 a 1997, ocorreu o “Parlamento Na- processo produtivo mundial, interagindo e fo-
cional de Relações Públicas”, promovido pelo mentando a maioria dos ramos da economia
CONFERP, caracterizado como um Fórum de contemporânea. Além disso, como veículo de
Debates, cuja pauta envolvia a formação pro- expressão de identidades culturais, a televisão é
fissional, resultando em um documento com as um dos setores mais estratégicos da sociedade,
conclusões da categoria. Este foi posteriormen- pois lida diretamente com a difusão de infor-
te adotado para a identificação do perfil e das mações, a oferta de entretenimento e a propa-
competências/habilidades de Relações Públi- gação de valores, crenças, modelos de compor-
cas, que constam nas “Diretrizes Curriculares tamento e estilos de vida.
da Área da Comunicação Social e suas Habi- O campo de atuação do profissional de te-
litações”, homologadas pelo MEC. Em 2002, o levisão, no Brasil, é chamado, genericamente,
CONFERP definiu as funções e atividades pri- de Radialismo, abrangendo tanto a realização
vativas dos profissionais de Relações Públicas de rádio quanto a de televisão. Embora a profis-
(Resolução Normativa nº 43), sendo mais uma são de radialista seja regulamentada, a legisla-
referência para o ensino na área, por possibilitar ção brasileira é vaga no que se refere às diferen-
a explicitação do ser e do fazer da profissão. ças entre o criador, o realizador e o operário da
Os conceitos e teorias gerais e específicas, indústria do audiovisual.
as análises qualificadas da realidade, as tecno- A legislação trabalhista exige diploma para
logias midiáticas empregadas, na habilitação e o exercício da maioria das profissões que atu-
as atuações profissionais, são exigências da so- am nas equipes de realizadores, seja nos cam-
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enciclopédia intercom de comunicação
pos das engenharias, das artes, da informação pleno funcionamento nos próximos anos. As-
ou da confecção de audiovisuais propriamente sim, a pesquisa e o ensino das linguagens, das
ditos. estratégias e das técnicas televisivas deverão
No Brasil, o estudo sobre TV é oferecido ser incrementados. Com isso, novas gerações
em três níveis de escolaridade: o ensino técni- de produtores de audiovisuais serão preparados
co, o bacharelado e a pós-graduação. No ensino não apenas para saber lidar com os objetos da
de nível médio o estudante aprende as funções cultura, mas, sobretudo, com os atores sociais
técnicas, tais como operador de câmera, editor, que irão interagir junto à programação da TV.
sonoplasta, iluminador etc. Portanto, a atividade profissional do radia-
Na graduação o aluno aprende as funções lista, diante da revolução tecnológica, será mui-
de produtor, diretor e roteirista, dentre outras. to mais política do que econômica. Antes de
O bacharelado é articulado visando à forma- ser tarefa estética, lúdica e informativa, a atu-
ção generalista, que estuda as matérias das hu- ação do profissional da televisão interativa vi-
manidades (filosofia, sociologia, teorias da co- sará uma ética social renovada. (João Baptista
municação etc.) e a formação especializada, Winck)
enfocando os sistemas de telecomunicação, os
protocolos de produção e difusão de linguagens
e as diferentes áreas de atuação (produção exe- ENTROPIA
cutiva, direção de arte, de fotografia etc.). O conceito original foi buscado à física, mais
A grande maioria das graduações encon- especialmente à termodinâmica e está associa-
tra-se em São Paulo, que é o recordista em do à perda de calor, a partir de um mecanismo
oferta de cursos de Radialismo. Ao todo são 12 que a deveria gerar, conceto originário do sécu-
universidades privadas e cinco públicas – uma lo XIX, quando da invenção da máquina a va-
federal, três estaduais e uma municipal – tota- por (LIMA, sem data, p. 164 e ss). Por consequ-
lizando 17 instituições que habilitam profissio- ência, considera-se, também, a entropia como
nais de televisão. um certo grau de desordem e imprevisibilida-
A pós-graduação é dedicada aos estudos de em um determinado sistema ou processo. O
avançados sobre gêneros e formatos, arte e lin- conceito foi trazido por Claude Shannon e Wa-
guagem, grade de programação, crítica às estra- ren Weaver para a teoria matemática de infor-
tégias de comunicação e outros temas. Até 2007 mação, em 1947 (RODRIGUES, 2000, p.46), no
a pesquisa na área do audiovisual era efetuada sentido de se poder avaliar, antecipar e contro-
no campo da Comunicação Midiática. lar a perda de informação transmitida por de-
A partir de 2008, teve inicio o primeiro terminada mensagem (BALLE, 1998, p. 91).
programa de estudos pós-graduados direcio- Contudo, surge, então, uma contradição
nados à televisão especificamente, na Universi- ontológica. Se a informação é eminentemente
dade Estadual Paulista, campus de Bauru, que a novidade e, se a novidade produz desordem,
também oferece a graduação em Radialismo. desse modo, significa que a informação é, na-
Com a implantação do Sistema Brasileiro turalmente, provocadora de desordem, e traz,
de Televisão Digital, os parques tecnológicos da em si mesma, a desordem, princípio, aliás, que
cadeia produtiva do audiovisual deverão estar a já se estabelecera, anteriormente, em outros
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campos de conhecimento quanto à ação hu- isso pode ser bem compreendido em relação a
mana. Por conseguinte, o dilema é: quanto de obras de arte. Na literatura como na música ou
entropia se pode aceitar e/ou absorver em um nas artes plásticas, a quebra muito radicalizada
processo informativo sem que se perca a possi- de parâmetros a que já estamos acostumados,
bilidade de compreender (decodificar) a men- e que geram graus de expectativa em relação
sagem? (LITTLEJOHN, 1982, p. 153). Shannon à mensagem recebida (tanto formal quanto de
e Weaver passaram a estudar este fenômeno conteúdo) torna uma obra quase incompreen-
quando foram instados a resolver problemas sível e que será obrigada a aguardar décadas até
enfrentados por uma empresa telefônica, cujos que aqueles elementos de renovação venham a
acionistas estavam preocupados com o grau ser identificados, descondificados, compreen-
entrópico de suas ligações. Ou seja, para mui- didos e valorizados.
tas ligações produzidas pela empresa, poucas No entanto, esta obra, dita de vanguarda,
delas efetivamente se concretizavam na práti- efetivamente inovará o sistema no qual se acha
ca, por diversos motivos. Os dois engenheiros inscrita. A falta de entropia, ao contrário, torna
estavam às voltas, assim, com o que se chama- a obra profundamente redundante, sem qual-
ria de entropia de forma (O’SULLIVAN et aliii, quer novidade, desinteressante e cansativa, pois
2001, p. 89). destituída de inovação, característica bastan-
Para a resolução do problema, constituiu- te comum às obras da comunicação de massa.
se o conceito de redundância, que diminuía (Antonio Hohlfeldt)
este grau de incerteza e imprevisibilidade. Para
além da entropia formal, contudo, é bom lem- Referências:
brar que existe a entropia de conteúdo, mais es- BALLE, Francis. Dictionnaire des médias, Paris,
tudado. Embora seja difícil mensurar-se o grau Larousse. 1998
de entropia física como a da entropia informa- FISKE, John. Introdução ao estudo da comuni-
cional, há alguns estudos que buscam fazê-lo, cação, Porto, ASA. 1993
em modelos mais simples de frases do tipo “A LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos teóri-
casa é bonita”, com 25% de entropia quanto ao cos da comunicação humana, Rio de Janei-
gênero e 0% por certo de entropia quanto ao ro, Zahar. 1982
número (masculino-feminino; singular-plural), LIMA, Luís Costa. Vocabulário da comunica-
em contraste com uma frase do tipo “A gen- ção e cultura de massa – I. In Rio de Janei-
te somos inútil”, com altíssimo grau de entro- ro, Tempo Brasileiro, Revista Tempo Brasi-
pia, já que a frase se organiza simultâneamen- leiro, edição 19-20, ps. 164 a 166
te do ponto de vista formal e semântico. Visto MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí-
do ponto de vista positivo, a entropia pode ser dia, São Paulo, Arte & Ciência. 2003
entendida como uma possibilidade de máxima O’SULLIVAN, Tim et alii. Conceitos-chave – es-
previsibilidade (FISKE, 1993, p. 27), pois signi- tudos de comunicação e cultura, Piracica-
fica a possibilidade maior de inovação. ba, UNIMEP. 2001
A entropia, assim, é sempre garantia de mu- RODRIGUES, Adriano Duarte. Dicionário bre-
dança, ainda que, dependendo de sua dinâmi- ve da informação e da comunicação, Lisboa,
ca, possa impedir a comunicabilidade imediata: Presença. 2000.
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flexão mais restrita, que se ocupa de problemas POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica.
específicos ao conhecimento científico, como São Paulo: Edusp/Cultrix, 1975.
o de seu objeto, o da classificação dos conheci-
mentos, o do método (critérios de validade, ob-
jetividade) e de sua fundamentação (validade, Epistemologia da comunicação
lógica e ontológica). Epistemologia é um conjunto de conhecimentos
Uma distinção importante pode ser feita teórico-metodológicos que permitem elaborar
entre uma epistemologia geral, também, cha- uma forma de investigar um objeto. Trata-se do
mada de global, e uma epistemologia aplicada, estudo dos princípios de investigação que di-
ou local, quer a tomemos como estudo dos co- recionam um olhar para um tema (DUARTE,
nhecimentos científicos em geral ou relativo a 2003). A epistemologia de uma ciência apre-
cada disciplina científica em particular. No se- senta os passos que levam a caracterizar não
gundo caso, falamos de uma epistemologia da só um objeto científico, mas, sobretudo, os ele-
física, da sociologia, da psicologia etc. mentos que permitem reconhecê-lo (FERRA-
No campo específico da epistemologia da RA, 2003).
comunicação, as questões fundamentais têm De acordo com Martino (2003), a episte-
sido o debate sobre a própria definição do saber mologia é o estudo do conhecimento cientí-
comunicacional: seu objeto específico, seu es- fico, que se ocupa de problemas específicos e
tatuto enquanto saber (ciência, arte, técnica...) próprios deste tipo de conhecimento, como seu
e sua inserção no quadro dos conhecimentos objeto, classificação, método (critérios de vali-
constituídos (fragmentação, importação de te- dade, de operação) e sua fundamentação (ló-
orias de outros campos, interdisciplinaridade). gica e ontológica). Logo, a epistemologia da
(Luiz C. Martino) comunicação tem como objeto suas teorias,
métodos, objeto e interfaces. Sua contribuição
Referências: se dá especialmente na reflexão sobre esse cam-
HEMPEL, Carl. Filosofia da ciência natural. Rio po científico como gerador de conhecimen-
de Janeiro: Zahar, 1970. to, com foco na natureza desse conhecimento.
MARTINO, Luiz C. As epistemologias con- “Em seu sentido geral, epistemologia designa o
temporâneas e o lugar da comunicação. estudo da ciência – ela é uma disciplina filosó-
In: LOPES, M. Immacolata V. de (Org.). fica que toma a ciência como objeto.
Epistemologia da comunicação. São Paulo: Todo trabalho científico comporta uma
Loyola, 2003, p. 69-101. reflexão epistemológica”, afirma (p. 81). Para
MARTINO, Luiz C. “O saber epistemológi- o autor, é incontestável a pouca sensibilidade
co sobre a comunicação”. In: KUNSCH, da área da Comunicação para os problemas da
Dimas A. e BARROS, Laan Mendes de fundamentação dos conhecimentos aí produzi-
(Orgs.). Comunicação: saber, arte ou ciên- dos. Ele aponta quatro problemas ao saber co-
cia? Questões de teoria e epistemologia. São municacional, relacionados com a investigação
Paulo: Plêiade, 2008, p. 69-92. epistemológica: 1) Como definir o saber comu-
PENNA, Antonio Gomes. Introdução à episte- nicacional; 2) Quais os fundamentos desse sa-
mologia. Rio de Janeiro: Imago, 2000. ber?; 3) Qual o estatuto do conhecimento co-
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e de refutar. Tais ações, por sua vez, levam ao phiques – Dictionnaire. Paris: Presses Uni-
entendimento pejorativo descrito acima. É que, versitaires de France (PUF), 1990.
no afã de convencer (mesmo sem ter razão), MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofía,
esquece-se da busca pelo entendimento e pela tomo 2. Buenos Aires: Editorial Sudameri-
verdade. Abandona-se a ideia de uma coopera- cana, 1975.
ção racional recíproca, visando à melhor com-
preensão possível de uma questão.
Mas, não se pode atribuir à erística um ca- ESCOLA DOMINICAL
ráter exclusivamente negativo, pois ela desafia O surgimento dos movimentos sempre está
também consensos e certezas, abrindo espaço plantado na História. O movimento da Escola
para a manifestação de dúvidas e de questiona- Dominical também tem um contexto singular
mentos. A apresentação de e o confronto en- em espaço e tempo. Floresce junto com capita-
tre diferentes perspectivas relativas a um fato lismo na Inglaterra que sacrificava, entre tan-
ou problema requerem consciência crítica e o tos, muitas crianças no duro trabalho das fábri-
aprendizado de como se apresenta uma ideia, cas. A iniciativa deste movimento encontra-se
justificando-a perante os outros por meio de na igreja episcopal, tornando-se um movimen-
um discurso. Assim, a erística coloca em ques- to próprio do protestantismo, com início na In-
tão, de maneira contínua, a validade dos ar- glaterra e espalhando-se por quase toda Europa
gumentos expressos pelos interlocutores, exi- e Estados Unidos, crescendo junto com o pro-
gindo constante disponibilidade ao diálogo, ao testantismo de missão. No princípio, o cará-
debate, ao confronto. ter deste movimento tinha uma motivação de
Nos processos comunicativos políticos, a cunho social que se realizava através de conteú-
erística pode ser encontrada nas disputas eleito- dos bíblicos e cantos de evangelização cristã.
rais, que possuem como máxima a necessidade Sensibilizado com a situação de trabalho
de construir argumentos capazes de “derrubar” infantil e a falta de oportunidade destas crian-
os adversários e superá-los em suas promessas. ças serem alfabetizadas, Robert Raikes, da igre-
O marketing político e o uso dos meios de co- ja episcopal, tipógrafo e editor do Gloucester
municação como instrumentos estratégicos de Journal na cidade de Gloucester, Inglaterra,
visibilidade fortalecem as bases da erística em inicia em julho de 1780 um encontro domini-
seu sentido pejorativo. Atores políticos e admi- cal com crianças trabalhadoras. Este Sunday
nistrativos empregam a erística ao priorizarem school é um movimento que tem seu início
interesses particulares e a renovação de táticas nas casas de pessoas voluntárias/os que aco-
para reduzir os oponentes a uma posição neu- lhem as crianças, ensinando-as a ler e escrever
tra ou inferior. (Ângela Marques) através de histórias bíblicas e cantos. Estas(es)
voluntárias(os) são capacitadas(os) por Robert
Referências: Raikes e a quantidade de crianças que aderem
AUDI, Robert (ed.). The Cambridge Dictionary ao Sunday school aumenta vertiginosamente,
of Philosophy. Cambridge: Cambridge Uni- alcançando em 1784 aproximadamente 250 alu-
versity Press, 1995. nos, quando se faz necessário mudar dos espa-
AUROUX, Sylvain (dir.). Les notions philoso- ços das casas para os templos.
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enciclopédia intercom de comunicação
Esse movimento se alastrou por toda In- Brasil, essa corrente teológica chega pelo Pro-
glaterra, alcançando, em 1810, três mil escolas testantismo de Missão, por volta de 1850, junto
dominicais com aproximadamente 275 mil alu- com missionárias(os) protestantes (metodistas,
nos. O crescimento deste movimento desagrada presbiterianos, episcopais e batistas).
setores religiosos que entram com um projeto, O registro da primeira Escola Dominical
no Parlamento Inglês, para proibir a ED com no Brasil é da residência de missionários esco-
acusações contra Raikes de ser “profanador do ceses na cidade de Petrópolis (RJ), Robert Kal-
Dia do Senhor” (1800). Por volta desta data a ley e Sarah Poulton Kalley. Desta iniciativa nas-
Escola Dominical se abre também para adultos ceu a Igreja Evangélica Fluminense chamada
analfabetos, especialmente operários(as), che- depois de Igreja Congregacional. Sarah escre-
gando em 1831 com 25% da população da Ingla- veu vários cânticos evangélicos para crianças.
terra participando da ED (aproximadamente O movimento da Escola Dominical contri-
1.250.000 pessoas matriculadas entre crianças, bui também com a produção de materiais pe-
jovens e adultos). dagógicos populares e infantis significativos
Na Alemanha ocorre um processo distinto, como a edição de uma Bíblia para Crianças, em
onde se torna popular e mais conhecida a prá- 1785. Cria-se neste mesmo período uma Sun-
tica do Kindergottesdienst, Culto para crianças, day School Companion na Inglaterra. No Brasil
com início em 1847 através de Eduard Glüss. A temos algo similar com a criação da Associação
ED neste contexto não teria a função principal de Escolas Dominicais (AED) que também pro-
como na Inglaterra, a de alfabetizar, pois nestes duz muito material e promove cursos e seminá-
territórios germânicos, em especial na Prússia, rios para professores da Escola Dominical.
já no século XVIII o ensino escolar público es- A prática da Escola Dominical ou do Culto
tava instituído sob responsabilidade das comu- para Crianças continua sendo um espaço mui-
nidades religiosas. Havia uma forte influência to importante e vivo nas igrejas protestantes até
do luteranismo nestes territórios, com a conhe- a atualidade, voltando-se à instrução da Bíblia
cida insistência a partir de Lutero na educação e da doutrina de cada confissão evangélica para
e alfabetização do povo. Assim, o culto para adultos, jovens e crianças. (Haidi Jarschel)
crianças passou a ter outra função social, a de
integrar as crianças na comunidade e no co- Referências:
nhecimento da Palavra de Deus, tendo como História da Escola Dominical – www.escolado-
prática central, contar histórias da Bíblia, ora- minical.com.br
ções e cânticos de louvor. HAHN, Carl Joseph. História do culto protes-
Atravessa mares e chega na Virgínia (EUA) tante no Brasil. São Paulo, ASTE, 1989.
em 1786 através do bispo metodista Francis LUTHER, Martin. Uma prédica para que se en-
Ashbury. O fundador da Igreja Metodista, John viem os filhos a escola. In: Obras Seleciona-
Wesley ressaltava a importância da Escola Do- das. Porto Alegre: Concórdia; São Leopol-
minical como meio de instruir o povo e, tudo do: Sinodal, 1995. Volume 5.
leva a crer que a ED teve como seu público alvo BUYERS, Eugene Paul. História do Metodismo.
a juventude com o objetivo de proporcionar-lhe São Paulo, Imprensa Metodista, 1945.
o ensino cristão ausente na escola pública. No LONGUINI NETO, Luiz. O novo rosto da mis-
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PAILLART, I. (Org). L’espace public et l’emprise ção e distribuição de conteúdos nas grandes
de comunication. Grenoble: Ellug, 1995. metrópoles, em contrapartida a um crescente
THOMPSON, J. A mídia e a modernidade. processo de regionalização midiática que inclui
Uma teoria social da mídia. Petrópolis: Vo- formas de ocupação do ciberespaço por meio
zes, 2001. de sites, portais regionais, blogs, redes comu-
VIEIRA, L. Os argonautas da cidadania. A so- nitárias, cidades digitais, guias urbanos entre
ciedade civil na globalização. São Paulo: outros, nos quais a apropriação da tecnologia
Record, 2001. se dá segundo uma lógica de articulação local/
global.
Na vida cotidiana, designam os processos
Espacialidades da Comunicação de construção de novas relações espaço-tempo-
Espacialidades da Comunicação é a expres- rais por meio da comunicação digital, que pro-
são que abrange todos os referenciais, formas move o encurtamento simbólico das distâncias
e processos espaciais que afetam as interações e a transposição de fronteiras, das mídias loca-
humanas e que orientam a produção, a distri- tivas e dos dispositivos de comunicação móvel,
buição, a recepção e o consumo de conteúdos, que geram novos referenciais de “aqui” e “ago-
formatos, meios e tecnologias de informação e ra”. Comporta, ainda, as espacialidades híbridas
comunicação. Abrangem, também, a produção – os interlugares –, que na cibercultura transi-
discursiva das noções de espaço, lugar, locali- ta entre as localidades concretas e o ciberespa-
dades, região, território e territorialidade, in- ço; o glocal, que refuncionaliza a lógica global
dissociáveis da cultura e da política. a partir do reforço no engajamento em torno
Do ponto de vista das macroestratégias con- do local, trabalhando a produção e difusão de
temporâneas de comunicação, pensadas a par- conteúdos locais ou hiperlocais através das re-
tir das concepções de David Harvey (2001, 2006) des digitais com forte apelo para a participação
sobre os “espaços do capital” e os “espaços de do público como produtor de informação na
esperança”, são indissociáveis da dinâmica geo- singularidade daquilo que lhe é próximo, vizi-
gráfica da expansão capitalista e do processo de nho, contíguo. Abrange, ademais, a informação
globalização. Nesse contexto, remetem à persis- de proximidade no contexto da globalização,
tente assimetria entre produção e consumo de o jornalismo de proximidade e a comunicação
bens simbólicos, regida por colonialidades que se regional, que se desenvolve entre a identidade e
reproduzem em escalas, do global ao local; à or- a diferença.
ganização geopolítica dos conglomerados trans- Nas narrativas e interações midiáticas, as
nacionais de mídia e serviços de informação, referências espaciais factuais remetem a luga-
comunicação e entretenimento cada vez mais di- res, localidades, cenários, dimensões, origem,
versificados (DIZARD, 2000); ao espaço de flu- direções, movimentação, distância, percurso,
xos que organiza as práticas sociais na sociedade itinerário e posições relativas de pessoas e coi-
em rede (CASTELLS, 2003); e às táticas dispersas sas, funcionando como coordenadas dos acon-
de contra-informação e contrafluxos midiáticos. tecimentos para públicos cada vez mais amplos,
Em âmbito nacional, a lógica dessas ma- dispersos e heterogênos. Abrangem também re-
croestratégias leva à concentração da produ- ferências existenciais - individuais ou coletivas
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enciclopédia intercom de comunicação
-, como locais marcados por ligações afetivas nização e diferenciação entre pessoas, grupos e
ou históricas; e referências de conhecimento comunidades. Pierre Bourdieu afirma ser pos-
geográfico, como cidades, países, regiões, pon- sível representar o mundo social em um espaço
tos turísticos, etc (LOPES, 1990). (Sonia Aguiar definido pelas posições e classes ocupadas pelos
e Suzana Barbosa) indivíduos. Configura-se, assim, como campo
de forças, construído por propriedades atuan-
Referências: tes, impostas e de alguma maneira assimiladas
CASTELLS, M. A sociedade em rede. A era da e aceitas por todos os que dele fazem parte.
informação: economia, sociedade e cultu- Trata-se, portanto, de um espaço multidi-
ra. 7. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. Vo- mensional de posições determinadas por dis-
lume 1. tintas formas de poder e de acumulação de ca-
DIZARD, W. A nova mídia: a comunicação de pitais (educacional, cultural, socioeconômico e
massa na era da informação. 2. ed. Rio de político). Fruto de contingências, circunstân-
Janeiro: Jorge Zahar, 2000. cias e embates historicamente determinados,
HARVEY, D. Espaços de esperança. São Paulo: e que se manifestam nos espaços geográficos
Loyola, 2006. e para além destes, pois inclui relações estabe-
__________. Spaces of capital: towards a criti- lecidas a partir de visões de mundo que ora se
cal Geography. New York: Routledge, 2001. harmonizam e se complementam, ora se ten-
LOPES, S. A . Sobre o discurso jornalístico: ver- sionam e se contrapõem.
dade, legitimidade e identidade. (Disserta- A produção desse tipo de espaço, definido
ção de Mestrado), Escola de Comunicação/ por Michel de Certeau como lugar praticado,
UFRJ, 1990. resulta da ação e do movimento dos sujeitos
históricos, refletindo transformações que os in-
divíduos conseguem imprimir no cotidiano. A
ESPAÇO SOCIAL criação do espaço engloba movimentos e ope-
É o ambiente de convívio, interação, diferen- rações que o vinculam a um tempo específico,
ciação e disputas, construído pela sociedade, a caracterizado por aproximações ou conflitos
partir de trocas simbólicas entre os indivídu- entre os elementos que o compõem.
os. O compartilhamento de representações e de O espaço, frisa Certeau, é existencial, pois
sentidos, presentes no imaginário coletivo, dá nasce dos vínculos dos agentes sociais com o
forma ao espaço social, apropriado e delineado mundo, da consciência do sujeito de estar em
a partir das peculiaridades culturais da socie- conexão com um meio.
dade e em função dos contextos históricos. É Milton Santos também percebe o espaço
espaço que se constitui com base nas percep- como produto das práticas sociais, ressaltando
ções dos indivíduos sobre as relações que esta- que ele reúne a materialidade, própria do espa-
belecem . No entanto, surge do modo como os ço geográfico, e a vida que o anima. Todo terri-
povos e as sociedades concebem a vida e a di- tório tem existência social baseada nas relações
nâmica das relações humanas. que ocorrem no espaço físico. Essa existência é
O conjunto de propriedades que atuam no o resultado de uma produção histórica, subs-
universo social incide nos princípios de orga- tituindo a natureza natural por uma natureza
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enciclopédia intercom de comunicação
Referências:
ESPAÇO VIVENCIAL OSTROWER, Fayga. Criatividade e Processos
O conceito de espaço vivencial é de natureza de Criação. Rio de Janeiro: Vozes, 1977.
multidisciplinar. O homem dispõe de um ins- ELALI, Gleice Azambuja. Psicologia e Arquite-
trumental para integrar experiências passadas tura: em busca do locus interdisciplinar. In:
com novas experiências. O espaço vivencial da Estudos de Psicologia. Ano 2, v. 2, p. 349-
memória representa uma ampliação multidire- 362. UFRGN, 1997.
cional, do espaço físico natural, que agrega áre- FONTES, L. E. F.; PADUA, S.; MARCATTO,
as psíquicas de reminiscências e de intenções C.; CORREA et al. Metodologia em edu-
em uma nova geografia ambiental. cação ambiental. Coord. Geral. Ambien-
A Psicologia Ambiental tem como um de te Brasil/FIEMG/Agromidia. Programa de
seus objetos de estudo a avaliação do ambiente Educação Ambiental e Ecologia Humana.
construído durante o processo de sua ocupação. CD-ROM, 1999.
O edifício passa a ser avaliado enquanto GOULART, Cecília. Uma abordagem bakhti-
espaço “vivencial”, sujeito à ocupação, leitura, niana da noção de letramento: contribui-
reinterpretação e/ou modificação pelos usuá- ções para a pesquisa e a prática pedagó-
rios. Isto é, ao estudo de aspectos constitutivos gica. In: FREITAS, M. T. A. et al (Orgs.).
e funcionais do espaço construído, acrescenta- Ciências Humanas e Pesquisa – leituras de
se a análise comportamental e social. Esse pro- Mikhail Bakhtin. São Paulo: Cortez, 2003.
cesso implica a análise do uso e a valorização
da opinião do usuário.
473
enciclopédia intercom de comunicação
Espetáculo ESPETACULARIZAÇÃO
Refere a um evento que em algum grau é me- FOLKCOMUNICACIONAL
morável por sua atração especialmente conce- Quanto do que celebramos é, verdadeiramente,
bida para ser apresentada ao público. Sua ori- autêntico, em oposição a um simples diverti-
gem latina é spectaculum, ou seja, um ‘show’ de mento? Quem ou o que dá sentido aos festivais
spectare “ver”. O termo foi emprestado da práti- e acontecimentos especiais? Eles são feitos para
ca teatral circense, praticada na Roma antiga. os residentes locais, turistas ou para todos? Em
Há espetáculos concebidos para a ‘alta cul- uma época em que o crescente turismo de mas-
tura’, como é o caso do drama e a cinematogra- sa parece basear-se no apelo sempre mais forte
fia. Nos shows produzidos, pela cultura popu- de sustentação, quais são os desempenhos mais
lar, tal prática é em boa medida folclórica. apropriados para os acontecimentos: atrações
Variam em forma e conteúdo. O espetácu- de mercado de massa ou turismo alternativo?
lo era apresentado nas feiras populares e nos O evento tem algum significado cultural para
palcos das salas de teatro. Depois migraram à a comunidade hospedeira e participantes ou é
produção cinematográfica e à teledramaturgia. meramente um objeto a ser vendido?
Ambos adaptavam obras ficcionais variadas. Essas indagações foram feitas por Donald
Hoje, o termo adquiriu um sentido sociológi- Getz (2001) no artigo “O evento turístico e a
co. Ou seja, tudo é feito dramaturgicamente, dilema da autenticidade”. Colocamo-nas, aqui,
pois visa encantar sempre algum público com com o intuito de refletir sobre a cultura po-
algum tipo de desempenho cênico ou artístico. pular no âmbito dos meios de comunicação
Por isso mesmo costuma-se referir à sociedade de massa, o que, na maioria das vezes, ocor-
contemporânea como de ‘espetáculo’. re através da espetacularização das tradições
Também o jornalismo tem sido acusado de populares, vista como algo exótico, com fins
espetacularizar os fatos do cotidiano visando meramente mercadológicos. Pesquisadores da
atrair, dessa forma, a atenção do público. A ên- folkcomunicação, como José Marques de Melo
fase no parecer ser tem sido criticada por cor- (2008), Roberto Benjamin (2004) e Osval-
rentes filosóficas variadas. Segundo esta tradi- do Trigueiro (2005) debruçaram-se sobre essa
ção, os produtos de consumo converteram-se questão ao refletir sobre as festas populares e o
em feitiches. O valor de uso não é o único con- processo de globalização e industrialização da
siderado no seu consumo. (Jacques A. Wain- cultura.
berg) De acordo com Marques de Melo (2008,
p. 76) as festas populares “configuram-se como
Referências: iniciativas mobilizadoras das comunidades hu-
COELHO, Cláudio Novaes Pinto (Org). Comu- manas, assumindo dimensões culturais, religio-
nicação e sociedade do espetáculo. São Pau- sas, políticas ou comerciais”. O professor (2008,
lo: Paulus, 2006. p. 77) ainda completa que as festas populares
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo: co- “se caracterizam como processos comunica-
mentários sobre a sociedade do espetáculo. cionais, na medida em que agentes socialmen-
Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. te desnivelados operam intercâmbios sígnicos,
negociam significados e produzem mensagens
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enciclopédia intercom de comunicação
coletivas, cujo conteúdo vai se alternando con- interesses econômicos, e a outra periférica, or-
junturalmente”. ganizada através da mobilização da comuni-
Assim, as antigas tradições vão sendo subs- dade, com finalidades alegóricas. Nessa linha,
tituídas por novos padrões de interação socio- Trigueiro (2005, p. 2) também sustenta que as
cultural. Marques de Melo (2008, p. 78) ainda manifestações populares já não pertencem ape-
comenta que as festas passam a ter valor con- nas aos seus protagonistas, “as culturas tradi-
teudístico, que vão preencher as programações cionais no mundo globalizado são também do
das rádios e das televisões, inclusive com co- interesse dos grupos midiáticos, de turismo,
bertura ‘ao vivo’. Elas também funcionam como de entretenimento, das empresas de bebidas,
alavancas para o acionamento da engrenagem de comidas e de tantas outras organizações so-
econômica mobilizando produtores industriais, ciais, culturais e econômicas”.
comerciais e prestadores de serviço. A respeito das festas populares, Trigueiro
Em relação às festas, Benjamin (2004, p. (2005, p. 3) aponta que elas se transformaram
131) explica que “elas não constituem um pa- para atender às demandas de mercado e consu-
drão único, com características próprias e ex- mo e defende que as manifestações folclóricas
clusivas, ainda que se possa estabelecer carac- não são engessadas e fechadas, mas sim “um
terísticas comuns, os seus propósitos e as suas processo cultural em movimento no âmbito do
motivações são muito variadas”, informando, campo social”. Nesse contexto, a cultura popu-
ainda, que a festa é mutável e que vem sofrendo lar está sendo reinventada, em um jogo de ne-
mudanças em sua organização, graças a massi- gociação dialético entre o local e o global.
ficação da cultura, urbanização, capitalismo e Sabemos que o turismo e o folkturismo
divisão do trabalho. como atividade econômica trazem uma série
Desse modo, a festa que era considerada de benefícios para as comunidades receptoras.
como a quebra do cotidiano de trabalho, passa As festas populares como atrativo turístico não
a ser o cotidiano do trabalho para uma diver- fogem dessa regra. Trigueiro (2005, p. 7) aponta
sidade de novos profissionais criados pela so- que as festas populares nas regiões Norte e Nor-
ciedade capitalista. Benjamin não afirma e nem deste do Brasil aquecem, mesmo que tempora-
nós queremos fazer parecer que essa é uma ca- riamente, a frágil economia da região. Todavia,
racterística geral de todas as festas. Sabemos concordamos com Santos (2004) que isso deve
que ainda existe, em cidades do interior de al- ser feito de modo sustentável.
guns estados brasileiros, principalmente nas O pesquisador (2004, p. 131-136) delineia
festas de cunho religioso (a exemplo do ciclo da alguns cuidados necessários no tratamento das
festa do Divino), a participação da comunidade tradições folclóricas como atrativo turístico.
em todas as etapas da organização, isso faz com O primeiro cuidado que se deve ter é quan-
que a esta detenha a característica de quebra do to à avaliação do bem cultural abordado. As-
cotidiano, sobretudo para a população rural. sim, deve-se observar: a natureza social das
A respeito da troca de funções da festa so- manifestações culturais que são formadas por
cial, apontada por Benjamin, Trigueiro (2005, pessoas que se agrupam por afinidades; a natu-
p. 4) diz que é como se existissem duas festas reza familiar que parte da motivação e da pre-
distintas, a festa central, institucionalizada, de servação; a tradição cultural entendida como
475
enciclopédia intercom de comunicação
uma continuidade e o meio como elas acon- Benjamin (2004, p. 25) chama a atenção
tecem. Já os cuidados quanto à observação da que ao contrário do que é veiculado, que são de
organização do grupo e ou da peça folclórica, criação do povo brasileiro manifestações ditas
abrange: a não interferência na criação de um únicas, originais e espontâneas, é na verdade
modelo organizacional para modificar as es- fruto de incorporação de propostas de domi-
truturas de formação do grupo. Já os cuidados nação cultural ao longo do período de coloni-
quanto aos esclarecimentos do retorno obtido zação. Ou seja, se um dia havia algo ‘original’,
na apresentação do produto folclórico está im- hoje em dia não existe mais. As manifestações
plícita a ideia da distribuição da receita entre os folclóricas se transformaram na incorporação
membros do grupo. Por fim, os cuidados quan- de outros elementos da tipicidade brasileira.
to à organização e à forma de apresentação do Benjamin (2004, p. 25) é enfático ao dizer que
evento, em que devem ser ofertados os subsí- “o que hoje parece espontâneo, não passa de
dios necessários para as manifestações. permanência daquilo que nos foi dirigido e im-
Getz (2001, p. 426-427) explica que os tu- posto pela cultura hegemônica. Muito do que
ristas raramente têm acesso a experiências cul- chamamos de genuíno (...) é fruto da reinter-
turais autênticas, em razão da comercialização pretação (...) ao logo dos anos”. O pesquisador
da cultura nos pontos turísticos e acrescen- (2004, p. 27) ainda diz que “a ideia do impac-
ta que a indústria do turismo frequentemente to apocalíptico, unificador, globalizante precisa
promove locais e culturas sem consultar resi- ser relativizada”, assim diversas formas de rela-
dentes e tende a usar imagens e costumes nati- cionamento haverão de moldar uma nova iden-
vos estereotipados. (2001, p. 433) explica que a tidade cultural. Benjamin elenca oito proces-
importância dos eventos tradicionais é que eles sos que os diversos sistemas culturais poderão
servem como “instrumentos para interpretar a passar, são eles: (1) resistência cultural; (2) re-
comunidade, levando o povo a ter um contato funcionalização como preservação; (3) fusão de
direto com fatos históricos, objetos e recriando elementos da cultura de massa, gerando novos
eventos ou modos de vida, assim aumentando produtos; (4) desaparecimento parcial, como
o seu conhecimento e apreço às tradições.” sobrevivência de traços; (5) desativação com
Outro ponto da espetaculatização da cul- possibilidade de reativação e refuncionalização;
tura é a utilização direta dos grupos folclóricos, (6) desaparecimento total; (7) sobrevivência na
em geral com a combinação da presença de ar- arte erudita e na cultura de massas, através da
tistas e personagens olimpianos promovidos pe- projeção e (8) recriação com refuncionaliza-
los meios de comunicação massivos, como apre- ção através da recuperação dos elementos pro-
senta Benjamin (2004, p. 141). De acordo com o jetados na arte erudita e na cultura de massas.
pesquisador, isso tem como resultado a redução (Guilherme Moreira Fernandes)
da diversidade de personagens, a simplificação
da música e da coreografia, resignificando a ma- Referências:
nifestação, que passa de uma prática religiosa, BENJAMIN, Roberto. Folkcomunicação na so-
para um espetáculo comercial. Um dos maio- ciedade contemporânea. Porto Alegre: Com.
res exemplos disso é a encenação da “Paixão de Gaúcha de Folclore, 2004.
Cristo” na cidade Nova Jerusalém-PE. GETZ, Donald. O evento turístico e o dilema
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tiva da relação com o corpo, do uso do tempo, duas tradições de investigação sobre os me-
do habitat e da consciência dos limites e pos- dia. Rio de Janeiro: E-Papers, 2004.
sibilidades de cada tipo de vida. O consumo é HALL, Stuart. Estudos Culturais e seu legado
também a rejeição aos limites impostos, como teórico. In: SOVIK, Liv (Org.). Da Diás-
expressão dos desejos, subversão de códigos, pora: identidades e mediações culturais. p.
além de pulsão e prazer. 199-218. Belo Horizonte: UFMG; Brasília:
No século XX, da década de 1940 aos anos UNESCO, 2003.
1970 o culto ao efêmero ganha fôlego, dando ao HOGGART, Richard. As Utilizações da Cultu-
consumo uma dimensão de diversão, lazer e ex- ra: aspectos da vida cultural da classe tra-
pressão estética. Mas, diferente do que aconte- balhadora. Lisboa: Editorial Presença, 1973.
ceu no século XIX, a estetização da vida, agora, Volumes 1 e 2.
não se restringe às elites, e envolve os vários es- THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da
tratos da sociedade. “Cada vez mais aquilo que Classe Operária Inglesa. Rio de Janeiro: Paz
compramos, hoje, é a nossa identidade, ‘nossa e Terra, 1987. Volumes 1, 2 e 3.
ideia de nós mesmos’, o estilo de vida que es- WILLIAMS, Raymond. Cultura e Sociedade:
colhemos. Retornamos ao paradoxo de apren- 1780-1950. Trad. de Leônidas H. B. Hegen-
der a ser indivíduos. Nossa escola é a mídia.” berg; Octanny Silveira da Mota e Anísio
(BURKE, 2008, p. 35) (Jussara Peixoto Maia) Teixeira. São Paulo: Ed. Nacional, [1958]
1969.
Referências:
BURKE, Peter. Modernidade, Cultura e Esti-
los de vida. In: BUENO, Maria Lúcia; CA- ESTÍMULO
MARGO, Luiz Octávio de Lima (Orgs.). Quando se estudam os efeitos da comunica-
Cultura e Consumo: estilos de vida na con- ção, quer individualmente considerados, quer
temporaneidade. p. 25-39. São Paulo: SE- sobretudo socialmente estudados, trabalha-se
NAC, 2008. com o conceito de estímulo-resposta. O prin-
CANCLINI, Nestor García. Culturas Hibridas. cípio do estímulo-resposta é representado por
Estrategias para entrar y salir de la moder- diagrama simples: E ☐ Organismo ☐ Res-
nidad. Colección Historia y Cultura. Bue- posta (MCQUAIL et WINDAHL, 1981, p. 42).
nos Aires: Editorial Sudamericana, 1995. O conceito é transportado do campo da Psico-
FREIRE Filho, João. Das subculturas às pós- logia, a partir de experiências feitas com ani-
culturas juvenis: música, estilo e ativismo mais e constituirá a base teórica da primeira e
político. mais antiga teoria da informação formulada,
In: Contemporanea. Revista de Comunicação e no começo do século XX, por Harold Laswell.
Cultura / Journal of Communication and Por esta teoria, os receptores são considera-
Culture. Salvador, n. 1, jun. 2005. Dispo- dos como uma massa amorfa e sem vontade
nível em: <www.contemporanea.poscom. própria, que reage (responde) a determinados
ufba.br>. estímulos (a mensagem; a informação) da ma-
GOMES, Itania Maria Mota. Efeito e Recepção: neira semelhante e massiva. Quanto maior for
a interpretação do processo receptivo em a estimulação, maior será o envolvimento dos
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produz integração, enquanto ao seu contrário Washington D.C.: The Associated Publish-
coloca-se a máxima forma de resistência, que er, 1972.
favorece a guetização (WIRTH, 1928). Fenôme-
nos que coabitam nas modernas metrópoles,
onde existem grupos minoritários que defen- Estratégia de Comunicação
dem a própria especificidade segurando com Conjunto de decisões integradas que definem o
obstinação elementos culturais cristalizados rumo que a comunicação de uma organização
(GLANZER; MOYNIHAN, 1975). deve seguir para atingir os objetivos esperados,
De tal maneira, acontece que estas comu- bem como os meios a empregar para concreti-
nidades minoritárias padeçam um duplo alhe- zá-los (BROCHAND et al, 1999). O termo es-
amento: aparecem estrangeiras no novo país, tratégia tem origem nas atividades militares e
mas se sentem estrangeiras também no país de de guerra, associado à comunicação designa a
origem. Como aconteceu aos poucos afro-ame- luta contra o acaso e ações coordenadas, pres-
ricanos dos Estados Unidos, que, empurrados supõe determinada situação e programas para
pela American Colonization Society, no final enfrentar certo número de cenários, que pode-
do século XIX, decidiram voltar na mãe África rão se modificar no decurso da ação segundo
(WOODSOME, 1972). as informações e os imprevistos que surgirem
A integração pode ter um caráter passivo, (MORIN, 2001).
com adoção completa dos valores da cultura Uma estratégia de comunicação tem, pelo
hegemônica; ativo, quando se produz um in- menos, três qualidades: a primeira delas é ser
tercâmbio enriquecedor entre os elementos que uma ferramenta relacionada ao planejamento
constituem as diferentes culturas que entram de comunicação, favorece a coerência, o con-
em contato. Expressão parcial de integração senso e a continuidade, na medida em que sus-
ativa no Brasil é a do negro, que, utilizando o tenta as resoluções relativas à comunicação,
elemento lúdico – a música, a dança, a festa – que devem estar articuladas à estratégia de ma-
participou concretamente à formação da cultu- rketing.
ra nacional (SODRÉ, 1999). (Luciano Arcella) A segunda qualidade é a pedagógica, uma
vez que a estratégia de comunicação é resulta-
Referências: do de reflexão coletiva da organização e como
GLANZER, N.; MOYNIHAN, D. P. Ethnicity: tal deve seguir processo, com método e siste-
Theory and Experience. Cambridge: Har- matização, para dar coesão e sustentabilidade
vard University Press, 1975. às diferentes decisões de comunicação, ofere-
SIMMEL, G. Soziologuie. Untersucgungen über cendo, também, instrumento de controle que
die Formen der Vergesell-schaftung. Ber- permite avaliar os resultados das ações, face aos
lin: Dunker & Humblot, 1908. objetivos previamente definidos. A embalagem
SODRÉ, M. Claros e Escuros. Identidade, povo é a terceira qualidade da estratégia de comuni-
e mídia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1997. cação, ou seja, ela é um documento de referên-
WIRTH, L. The Ghetto. Chicago: University of cia para preservar a perspectiva integrada das
Chicago Press, 1928. inúmeras ações de comunicação da organiza-
WOODSOME, C. W. The Negro in our History. ção, o direcionamento da criação e da mídia,
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Ainda que varie alguns de seus elementos, Fayard (2000) entende estratégia como a
uma estratégia de criação costuma contemplar arte combinar, no tempo e no espaço, meios
os seguintes pontos: objetivo (o que a campa- heterogêneos a serviço de um fim pré-estabe-
nha deve fazer), público-alvo (a quem se desti- lecido. Para tal, faz-se necessário um conheci-
na a mensagem), promessa (o benefício que o mento profundo de si mesmo, do outro e do
público obtém comprando o produto), reason ambiente, para identificar os melhores momen-
why (razão pela qual o consumidor escolheria o to e locais de ação, o alvo, os meios e a forma
produto) e tom da comunicação (personalida- de como usá-los para atingir determinado ob-
de que a campanha deve atribuir à marca anun- jetivo.
ciante). Por trás de toda criação publicitária Abordando o tema sob o prisma dos resul-
existe, formulada ou não explicitamente, uma tados e dos processos que a tipificam, Whitting-
hipótese de marketing, uma estratégia (JOAN- ton (2002) propõe estudar a estratégia a partir
NIS, 1986, p. 17), independentemente do mode- de quatro perspectivas: a clássica, a evolucio-
lo utilizado e mesmo se não descrita em docu- nista, a processualista e a sistêmica. Mintzberg,
mento. (João Anzanello Carrascoza) Ahlstrand e Lampel identificam e organizam os
conceitos de estratégia, no contexto organiza-
Referências: cional, segundo dez diferentes escolas de pensa-
GONZÁLES, M. B.; GARCÍA, F. G.; PERDI- mento. Embora apresentem perspectivas distin-
GUEIRO, F. J. R. Las palabras en la publi- tas, todas as escolas concordam que a estratégia
cidad: El redactor publicitário y su papel en bem-sucedida é aquela baseada no profundo
la comunicación publicitária. Madrid: Edi- conhecimento da situação em análise.
ciones del Laberinto, 2009. Isso decorre do fato de que a estratégia
JOANNIS, H. El proceso de creación publicitá- deve levar em consideração não somente as
ria. Bilbao: Deusto, 1986. condições externas e internas da organização,
OCHOA, I. Diccionario de publicidad. Madrid: mas também os jogos de interesse, a cognição
Acento editorial, 1996. humana, a cultura empresarial, o processo de
O’GUINN, T. C.; ALLEN, C. T.; SEMENIK, R. J. aprendizagem e a liderança. No entanto, para a
Propaganda e promoção integrada da mar- construção desse conhecimento, faz-se neces-
ca. São Paulo: Cengage Learning, 2008. sária muita reflexão e a busca constante de in-
SAN NICOLÁS, C. Introducción a la creativi- formações que a subsidiem. É por este motivo
dad publicitaria. Murcia: ICE-Universidad que a informação é considerada um elemento-
de Murcia, 2005. chave na formulação de estratégias.
Segundo Bueno (2005), a questão da es-
tratégia na gestão comunicacional não se limi-
ESTRATÉGIA NA GESTÃO ta apenas aos termos que explicam o conceito
COMUNICACIONAL de estratégia, mas ao seu vínculo com teorias e
Originalmente, o termo, que vem do grego stra- práticas administrativas ou de gestão. Isso sig-
tego e significa general, refere-se ao jargão mi- nifica que a comunicação dita estratégica deve
litar, mais, especificamente, à arte de conceber estar contextualizada em perspectivas teóricas
operações de guerra. e que os responsáveis pela gestão comunicacio-
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nal não podem ignorar sua complexidade. As- nos de um conceito. Conexão: comuni-
sim, a estratégia possui papel fundamental no cação e cultura. v. 4, n. 7. Caxias do Sul:
alcance da eficácia na interação com os públi- Educs, 2005.
cos de interesse (os stakeholders) e também na FAYARD, Pierre. O jogo da interação: informa-
criação de planos e ações que possibilitem à or- ção e comunicação em estratégia. Caxias
ganização obter vantagens competitivas. do Sul: Educs, 2000.
A perspectiva teórica que mais potenciali- KUNSCH, Margarida Maria Kroling. Plane-
za a gestão eficiente da estratégia no âmbito co- jamento estratégico da comunicação. In:
municacional, de acordo com Bueno (2005), é a (Org.). Gestão estratégica em comu-
sistêmica, pois ela maximiza a importância das nicação organizacional e relações públicas.
condições sociais, enfatiza a influência cultural São Caetano do Sul: Difusão Editora, 2008.
e admite o planejamento multifatorial. A partir MINTZBERG, Henry; AHLSTRAND, Bruce;
dessa perspectiva, entende-se que a adminis- LAMPEL, Joseph. Safári de estratégia: um
tração estratégica (que dá suporte a diferentes roteiro pela selva do planejamento estraté-
estratégias, inclusive àquelas aplicadas à ges- gico. Porto Alegre: Bookmann, 2000.
tão comunicacional) vai muito além da simples WHITTINGTON, Richard. O que é estratégia.
função operacional (responsável por formular São Paulo: Pioneira Thompson Learning,
e implementar planos ou ações). Mais que isso, 2002.
ela baseia-se em uma ampla compreensão do
macroambiente, inclui o diagnóstico ou audi-
toria interna, considera a realidade mercado- ESTRATÉGIAS PARA (NA) GESTÃO DA
lógica e propõe procedimentos de avaliação. COMUNICAÇÃO.
Assim, quando se trata da estratégia na gestão O conceito de estratégia refere-se à escolha de
comunicacional, faz-se necessário analisar se alternativas para orientar ações e processos de
esses pressupostos estão presentes e se eles con- forma intencional e articulada numa determi-
sideram em sua formulação, implementação e, nada realidade. Embora diga respeito à orien-
especialmente, na sua relação com o processo tação intencional, estratégia pressupõe fle-
de gestão, essa interdependência. xibilidade, o que confere uma característica
Na visão de Kunsch (2008), a gestão comu- processual ao conceito.
nicacional contemporânea requer alinhamento Nessa perspectiva, destaca-se a concepção
estratégico. Isso significa que projetos e ações de estratégia como prática social formulada por
de comunicação necessitam estar sintonizados Richard Whittington (1996, p. 2004) no campo
com a missão, visão, valores e os objetivos das da administração, que parte da premissa de que
organizações. Por esta perspectiva, as ações de as pessoas criam estratégias no seu cotidiano e
comunicação deixam de ser periféricas e assu- que o termo não se restringe às estratégias de-
mem uma importância estratégica. (Jane Rech) senvolvidas pelas organizações. Essa concep-
ção enfatiza que os significados das estratégias
Referências: são construídos a partir de relações permanen-
BUENO, Wilson da Costa. A comunicação em- tes da organização com as pessoas e entre elas
presarial estratégica: definindo os contor- próprias. Considera também que estratégias or-
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ideias, conceitos, relações combinatórias. Do car “comprido” fora da ideia simultânea latente
ponto de vista linguístico, a estrutura da lin- de “curto”, ou “caro” sem “barato”; “surdo” sem
guagem se manifesta por meios das relações “sonoro” e vice-versa (JAKOBSON; WAUGH,
entre dois processos: a seleção e a combinação 1987, p. 28).
de palavras. Jakobson (1971) definiu que o estudo da es-
Os estruturalistas chamam a atenção para trutura da linguagem se orienta pelo estudo de
o signo e, ao fazê-lo, desvendaram a convencio- suas funções no ato comunicativo. Nesse sen-
nalidade das relações significativas colocando tido, uma estrutura se define como um meca-
em xeque a noção de que existe uma relação nismo de relações determinadas pelas funções.
natural entre linguagem e realidade. A desco- Sem a função comunicativa, a linguagem não
berta de que os signos são guiados por conven- acontece. Assim, a estrutura da linguagem não
ções torna-se uma premissa fundamental. pode ser desvinculada de sua natureza dialógi-
Roman Jakobson usa o conceito de estrutu- ca; em nenhum de seus níveis.
ra para realizar o estudo das relações elementa- As funções da linguagem, formuladas por
res do funcionamento da linguagem. O caráter Jakobson considera a estrutura da linguagem
fundamental de seu projeto foi o entendimen- no contexto de suas funções: emotiva, apelati-
to da estrutura como relação de oposição, for- va, referencial, fática, poética e metalinguística.
mando os pares contrastivos. Contudo, diferen- Este é o modelo invariante no interior do qual
temente de Saussure, a noção de oposição não acontecem as variações. (Irene Machado)
é negativa, pois se trata de uma relação binária,
indicial e complementar que, simplesmente re- Referências:
vela a presença ou ausência de uma proprieda- JAKOBSON, Roman. Linguística e comunica-
de. Essa é uma demanda do próprio signo na ção. São Paulo: Cultrix, 1971.
sua condição de representação por comple- JAKOBSON, R.; WAUGH, L. R. La forma sono-
mentaridade, que não elimina suas caracterís- ra de la lengua. Mexico: F.C.E., 1987.
ticas potenciais. A partir deste ponto de vista,
o conceito se enriquece como se pode ler nas
palavras que se seguem. Estrutura de Sentimento
A ideia da oposição como operação lógi- Estrutura de sentimento é apresentada por Ray-
ca primária que surge universalmente no se- mond Williams como uma hipótese cultu-
res humanos desde os primeiros vislumbres de ral que nos permitiria estudar a relação entre
consciência nas criaturas e os primeiros pas- os diferentes elementos de um modo de vida.
sos da criança na construção da linguagem, foi O conceito aparece pela primeira vez em The
considerada a chave natural para a análise da Long Revolution, no capítulo dedicado à análi-
estrutura verbal desde seu nível mais elevado se da cultura, e continuará a ser trabalhado por
ao nível mais elementar. A propriedade inalie- Williams até Marxismo e Literatura, no qual
nável da oposição que a distingue de quaisquer aparece como um capítulo autônomo dentro da
outras diferenças contingentes é a co-presen- parte dedicada à teoria cultural. Depois disso, o
ça obrigatória de seu oposto em nossa mente. conceito será abandonado pelo autor, apesar de
Em outras palavras, a impossibilidade de evo- seu potencial teórico-metodológico.
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mas, valores, convenções e o que é vivido, o que des “mecânicas” (cinema, disco, audiovisual),
é a prática cotidiana e o que ela contém de ca- permitida a partir da aplicação das inovações
racterísticas e qualidades que ainda não se cris- tecnológicas nas atividades de produção, de
talizaram em ideologias e convenções. (Itania reprodução e de transmissão das criações ar-
Maria Mota Gomes) tísticas, constituem determinadas estruturas
tecnoestéticas. O desenvolvimento das redes
Referências: eletrônicas e das diferentes técnicas de digita-
SARLO, Beatriz. Raymond Williams, uma re- lização permite o surgimento e o desenvolvi-
leitura In: SARLO, Beatriz. Paisagens Ima- mento de estéticas específicas, próprias a este
ginárias. p. 85-95. São Paulo: Edusp, 1997. tipo de tecnologias. Essas estruturas tecno-
WILLIAMS, Raymond. Cultura e Socieda- estéticas dependem diretamente dos compo-
de: 1780-1950. Tradução de Leônidas H. nentes econômicos de cada modelo vigente na
B. Hegenberg; Octanny Silveira da Mota e produção cultural: a formação de um uso so-
Anísio Teixeira. São Paulo: Ed. Nacional, cial específico e modalidades de financiamento
[1958] 1969. compatíveis com a valorização econômica dos
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. bens culturais.
Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janei- O exemplo da música é significativo: no
ro: Jorge Zahar, [1971] 1979. âmbito da economia da representação, o vetor
WILLIAMS, Raymond. The Long Revolution. principal de produção e de difusão estava liga-
Harmondsworth: Penguin, 1961. do às artes cênicas: isto correspondia a uma de-
terminada estética musical, a certos modos de
produção econômicos e de consumo, os quais
Estrutura tecno-estética se caracterizavam pela sua dimensão social e
As teorias de estruturas e sistemas tecno-estéti- coletiva. No âmbito da economia da repetição
cos (vide verbete qual ?) foram, inicialmente, ela- (ATTALI, 1977), as técnicas de gravação modi-
boradas por Dominique Leroy, em seu trabalho ficaram radicalmente a estética.
pioneiro relativo à Economia da Cultura (1980). No que diz respeito ao modelo econômi-
O conceito de estrututa tecno-estético permite co, o espetáculo passa a ser concebido apenas
construir uma análise, na qual o componente es- como um meio promocional para vender os
tético é endógeno. Uma estrutura tecno-estética discos e o consumo se torna individualizado.
expressa às relações que aparecem entre, de um Assim, as coerências e as compatibilidades exis-
lado, os componentes estéticos e, de outro, as es- tentes entre a estética, as modalidades de valo-
truturas tecno-econômicas. Por exemplo, a utili- rização econômica e os modos de consumo,
zação de determinadas tecnologias nas ativida- mudaram radicalmente (HERSCOVICI, 1995).
des de concepção e de realização da produção (Alain Herscovici).
artística dá conta deste tipo de relações: a infra-
estrutura material da produção artística deter- Referências:
mina, pelos menos parcialmente, a estética. ATTALI, Jacques. Bruits. Essai sur l´économie
O nível de desenvolvimento da lutherie, politique de la musique. Paris: PUF, 1977.
a passagem das artes cênicas para as ativida- HERSCOVICI, Alain. Economia da Cultura e
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da Comunicação. Vitória: Fundação Ceci- ção dos produtos culturais transmitidos pelos
liano Abel de Almeida/UFES, 1995. meios massivos.
LEROY, Dominique. Économie des Arts du Com o surgimento do Modelo Semiótico-
Spectacle Vivant. Paris: Economica, 1980. Informativo , Eco e Fabri (1978), a preocupação
do estudo dos meios estava centrada na capa-
cidade difusora desta informação de massa em
ESTUDOS DE MEIOS transmitir os mesmos conteúdos a um grande
Ao se estudar os meios de comunicação, de- público. Ou seja, o enfoque, agora, estava co-
vem-se levar em consideração pelo menos três locado na dinâmica das relações entre o emis-
principais modelos teóricos que se preocupa- sor, o receptor e o código. Desse modo, o con-
ram em compreender como ocorre o processo ceito de código, entendido enquanto meio de
comunicacional. Sendo assim, o Modelo In- transmissão, muda radicalmente, uma vez que
formativo, concebido por Shannon e Weaver na Teoria da Informação, a noção de código era
(1948), propõe um “sistema geral da comuni- entendida apenas como canal transmissor, que
cação”: ou seja, o problema da comunicação efetuava a correlação entre elementos de siste-
consiste em reproduzir em um determina- mas diversos.
do ponto, de maneira exata ou aproximativa, O modelo Semiótico-Textual , Eco e Fabri
uma mensagem selecionada em outro pon- (1979) apresentam, em relação ao modelo an-
to. Os autores estão interessados unicamente terior, um instrumento mais adequado para a
no rendimento informacional. O estudo tem interpretação dos problemas específicos da co-
por objetivo melhorar a velocidade de trans- municação de massa, uma vez que os destina-
missão da mensagem, diminuir as distorções tários não confrontam as mensagens recebidas
e aumentar o rendimento global do processo unicamente com códigos reconhecíveis, mas
de transmissão da informação. Permitia estu- sim, com conjuntos de práticas textuais, a par-
dar os fatores de perturbação da transmissão tir das quais é possível reconhecer vários sis-
de informação, ou seja, o problema do ruído, temas de regras e códigos, pois coloca a rela-
quer fosse devido a uma perda do sinal, quer ção entre codificação/decodificação em termos
fosse por uma informação paralela produzi- mais complexos do que apenas o estudo do có-
da no canal. O estudo dos meios, no caso do digo em que se produz a mensagem. (Humber-
Modelo, residia simplesmente na melhor ca- to Ivan Keske)
pacidade que o canal possuía em transmitir
informações. Referências:
O que importava era pôr em contato, emis- ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. São
sores e receptores de uma determinada mensa- Paulo: Perspectiva, 2000.
gem e não estudar e compreender o código em RÜDIGER, Francisco. Introdução à teoria da
que a mensagem estava sendo enviada e rece- comunicação: problemas correntes e auto-
bida. Com o surgimento dos Meios de Comu- res. São Paulo: EDICOM, 1998.
nicação de Massa, o Modelo Informativo mos- WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa:
trava-se cada vez mais insuficiente, pois não Presença, 1995.
servia para o estudo da sociedade e da recep-
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Agrupam escolas e autores heterogêneos cir- ção marxista, são críticos da mercantilização da
cunscritos a diferentes épocas, da segunda me- cultura e da manipulação ideológica da massa.
tade do século XX à contemporaneidade. O O papel ideológico da mídia também é um dos
ponto de convergência, que permite agrupar objetos dos Cultural Studies. Numa perspectiva
diferentes ramos numa mesma categoria, está interacionista, partem do popular e da etnogra-
na ênfase dada à análise do texto, discurso mi- fia de grupos específicos para analisar os efeitos
diático e produção de sentido no processo co- das mensagens nas audiências, especialmente
municacional. a ressonância no cotidiano e na construção do
A partir dos anos 1960 do século passado, senso comum.
quando a Teoria Matemática da Comunicação Nos Estudos Interpretativos de origem
cedeu espaço a outros paradigmas mais apro- francesa, a ênfase dada à reprodução das rela-
priados às Ciências Humanas, correntes como ções de poder ocupa uma série de intelectuais.
a Hermenêutica, Estruturalismo, Teoria Crí- Bourdieu, por exemplo, faz uma critica à co-
tica e Semiologia ganharam maior espaço nos municação pela manutenção das desigualdades
estudos comunicacionais. Uma das premissas e prática da violência simbólica.
fundamentais dessas abordagens está no en- O pensador francês, Foucault, por sua vez,
tendimento da linguagem como sistema de sig- contribui na percepção do poder dominante
nos organizados sujeitos à conotação, ou seja, que se assenta nos discursos midiáticos e nos
à interpretação em função de associações sim- dispositivos de vigilância. Ao extremo, Bau-
bólicas. “O fato social não mais está dado. É o drillard considera os meios de comunicação
resultado da atividade dos atores sociais para como antimediadores e fabricantes de não-co-
conferir sentido à sua prática cotidiana. O es- municação, pois não permitem a reciprocidade,
quema da comunicação substitui o da ação” simulam a resposta e são usados para o contro-
(MATTELART, 2005, p. 136). le social.
O Estruturalismo, de grande ressonância, Com a crise dos grandes sistemas explica-
sobretudo, entre os intelectuais europeus, busca tivos, o lugar do sujeito, numa condição despo-
descobrir as lógicas estruturantes da formação tencializada e fragmentada, bem como o pro-
dos sentidos e da reprodução das relações so- blema da comunicação como elo social atuante
ciais. Nesse perspectiva, a Semiologia se pro- na inserção do indivíduo na coletividade, ga-
põe a compreender a vida dos signos no meio nharam novos contornos. Diante da crescente
social. A análise dos elementos ideológicos relativização da “verdade”, a Hermenêutica des-
contidos no discurso e suas regras de estrutu- ponta como caminho para diferentes leituras
ração naquilo que está para além da aparência da realidade e do imaginário das relações hu-
são importantes contribuições da Semiologia manas mediadas pelas novas tecnologias. (Ale-
estruturalista no estudo dos textos e contextos xander Goulart)
na comunicação.
A crítica à sociedade capitalista e à racio- Referências:
nalidade técnica, bem como à ‘Indústria Cul- MARTINO, Luiz. Interdisciplinaridade e ob-
tural’, são os focos da Escola de Frankfurt. Os jeto da comunicação. In: HOHLFELDT,
intelectuais filiados a essa corrente, de inspira- Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA,
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Vera Veiga (Orgs.). Teorias da Comunica- na. Como representâmen – primeiro correlato
ção: conceitos, escolas, tendências. p. 27-38. da relação triádica que instaura a semiose - o
Petrópolis: Vozes, 2001. signo expressa as condições materiais da repre-
MATTELART, Armand e Michèle. História das sentação.
teorias da comunicação. 8. ed. São Paulo: Um signo sempre representa algo - seu ob-
Loyola, 2005. jeto, segundo correlato da relação - que pode
SANTOS, Roberto Elísio. As Teorias da Comu- ser uma sensação, um objeto material, um con-
nicação: da fala à internet. 2. ed. São Paulo: ceito ou mesmo um sujeito. Ao se dirigir a uma
Paulinas, 2008. mente qualquer, cria nela um signo equivalen-
te ou mais desenvolvido denominado interpre-
tante, terceiro correlato da relação. As relações
ESTUDOS SEMIÓTICOS sempre triádicas e indissociáveis entre repre-
Etimologicamente, os termos semiótica e se- sentâmen, objeto e interpretante, que instau-
miologia remetem ao grego semeîon, que sig- ram o signo peirceano, constituem a semiose.
nifica signo, sema, sinal. Até firmarem-se como A semiose é o movimento infinito desses três
disciplinas no século XX, questões relativas correlatos.
ao campo semiótico eram abordadas especial- Na medida em que o signo produz inter-
mente pela medicina – que as concebia como pretante, em progressão infinita, ele melhor
uma espécie de sintomatologia – e pela filoso- revela as relações de representação que man-
fia, que desenvolveu ao longo da história duas tém com o objeto, evidenciando aí sua meta em
tradições na investigação da teoria dos signos: direção à verdade; concomitantemente ocor-
uma triádica (Platão, Aristóteles, os estóicos e, re uma regressão também infinita em relação
especialmente, Locke) e outra diádica, que tem ao objeto, que funciona como causa final da
nos epicuristas, na perspectiva materialista e semiose, ainda que sua realidade plena esteja
no mentalismo de Port-Royal seus principais sempre em devir. Assim, a semiótica peircea-
expoentes. Aurélio Agostinho (354-430), con- na aparece como um modelo de conhecimento
siderado o principal semioticista da Antiguida- em busca da razoabilidade concreta do mundo
de, agregou à tradição diádica a problemática que se dá nos e pelos signos e que exige sempre
da inferência e expandiu os estudos semióticos a presença do outro. Tal procedimento estrutu-
dos signos verbais para os não-verbais. ralmente dialógico instaura um campo de arti-
Na tradição triádica, a semiótica é com- culações entre semiótica e comunicação.
preendida como ciência geral dos signos e es- Na tradição diádica, a semiótica, aqui de-
tuda as semioses tanto na natureza quanto na nominada semiologia, é compreendida como
cultura. Sinônimo de lógica, tal semiótica foi teoria dos processos de significação. Herdeiro
formulada por Charles Sanders Peirce (1839- do mentalismo de Port-Royal, Ferdinand de
1914), ocupando lugar central em sua arquitetu- Saussure (1857-1913) funda a Semiologia como
ra filosófica. Para Peirce, não existe pensamen- uma ciência por vir, responsável pelo estudo
to sem signo, e um signo ou representâmen é dos signos no quadro da vida social e que te-
aquilo que representa algo para alguma men- ria por finalidade descrever a constituição e as
te interpretadora, não necessariamente huma- leis que regem tais signos. Para ele, o signo não
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depende de qualquer objeto externo e deve ser tivamente, remetente, mensagem, destinatário,
compreendido como uma entidade psíquica de contexto, contato, código.
dupla face - o significante (imagem acústica) e Assim, Eco estabelece uma equação entre
o significado (conceito), que mantêm entre si semiótica e comunicação, reconhecendo que
relações arbitrárias, ainda que não dependentes aquela é responsável pelo estudo dos sistemas
da livre escolha de quem fala. (formais) da significação e que esta é respon-
Na mesma tradição linguístico-estrutural, sável pelo trabalho de produção do signo. As-
Louis Hjelmslev (1899-1965) e Algirdas Julien sim, ainda que fosse logicamente possível fa-
Greimas (1917-1992) compreendem a semiolo- lar-se em uma semiótica sem comunicação, tal
gia como uma meta-semiótica dos fenômenos empreendimento não teria qualquer relevância.
comunicativos. Mas, é Roland Barthes (1915- (Alexandre Rocha da Silva)
1980) quem leva adiante o propósito saussure-
ano de criação de uma disciplina responsável Referências:
pelo estudo dos signos não verbais reelabo- BARTHES, Roland. Elementos de semiologia.
rando alguns dos seus principais conceitos lin- São Paulo: Cultrix, 1988.
guísticos – como língua X fala, significante X ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. São
significado, conotação X metalinguagem, signi- Paulo: Perspectiva, 1991.
ficação X valor, sintagma X sistema - para que LOTMAN, Yuri. La semiosfera. Madrid, 1996.
sejam aplicáveis à semiologia nascente. NÖTH, Winfried. Handbook of semiotics.
A semiologia barthesiana, além de con- Bloomington/Indianapolis: Indiana Press,
tribuir significativamente com os estudos da 1995.
significação, foi a precursora do que, hoje, PEIRCE, Charles Sanders. Collected Papers.
compreende-se como uma semiótica da co- Compilação em CR ROM. Indiana Univer-
municação, ao privilegiar estudos sobre a sity, 2000.
moda, a publicidade, as vedetes do cinema e
da música.
Os vínculos da semiótica com a comunica- Estúdio cinematográfico
ção e a cultura podem ainda ser estudados na O sistema de estúdio cinematográfico como co-
obra de Yuri Lotman (1922-1993), Roman Jako- nhecemos hoje, foi criado, nos Estados Uni-
bson (1896-1982) e Umberto Eco (1932). Lot- dos da América, no estado da Califórnia, em
man desenvolve o conceito de semiosfera para um antigo rancho que ficou conhecido como
afirmar que fora da semiosfera não há comuni- Hollywood, em 1911. Desse sistema, participa-
cação. Todos os participantes do ato comuni- vam diferentes companhias, como Vitagraph,
cativo precisam ter familiaridade com a semio- Universal e Fox que integravam as atividades
se, de maneira que a experiência comunicativa de produção, distribuição e exibição cinemato-
precede o ato comunicativo. Jakobson, em uma gráfica, possibilitando, assim, a industrialização
perspectiva estético-funcionalista, elabora as do cinema.
funções da linguagem – emotiva, poética, co- Porém, os americanos não foram os pionei-
nativa, referencial, fática e metalinguística - as- ros neste projeto. Num formato mais primitivo,
sociadas aos modelos comunicativos – respec- Georges Miéliès, em 1897, com o capital de oi-
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tenta mil francos, construiu um estúdio na sua como tal acabou, no início dos anos 1950, com
residência em Montreuil. O empreendimento a péssima administração das companhias e o
era composto por um palco de teatro e a fonte advento da televisão.
de iluminação era a luz solar, que incidia pelo Hoje, os estúdios cinematográficos ameri-
teto e pelas paredes de vidro aparada por toldos canos de forma geral executam múltiplas ope-
que funcionavam como difusores da luz. Mi- rações servindo a televisão e a publicidade, mas
éliès também foi inovador no trabalho de pla- também a editoras de livros e/ou a produtoras
nejamento e produção de seus filmes, pois ele de discos, enquanto que, no Brasil, os estúdios
elaborava os argumentos, utilizava atores, fa- executam operações somente para televisão,
zia seleção de roupas e maquiagem, construía como, por exemplo, o Projac da Rede Globo
cenografia e trabalhava na composição de ce- de Televisão. (Helena Stigger e Cristiane Freitas
nas (SADOUL,1987). Nesse sentido, o estúdio Gutfreind)
de Montreuil integrava as atividades do cinema
industrial, ainda que de forma rústica: produ- Referências:
ção, distribuição e exibição. RAMOS, Fernão. Os novos rumos do cinema
No Brasil, os estúdios cinematográficos brasileiro. In: História do cinema brasilei-
foram inaugurados na década de 1930, tendo ro. p. 302-453. São Paulo: Art Editora, 1987.
a frente a Cinédia, seguido da Atlântida e da SADOUL, Georges. História do cinema mun-
Vera Cruz. A ideia de se criar um sistema de dial. São Paulo: Martins, 1987.
estúdios nacional surgiu de uma necessidade
em atualizar a técnica e a estética do filme bra-
sileiro para que se tornasse equiparado à pro- Ética
dução internacional, entretanto a discrepância A problemática que gira em torno da ética re-
entre os rendimentos destas empresas e os gas- monta à filosofia. Esse vocáculo vem do grego
tos para manter a estrutura e as produções dos ethos, que também possui uma designação no
filmes levaram à falência. latim, ethica. Em grego, ethos representa “costu-
A Vera Cruz, por exemplo, contava com me” e, durante os séculos, conceitos como vir-
uma estrutura grandiosa: três estúdios-piloto, tude, valor e princípios de conduta se acoplam
oficinas de marcenaria, carpintaria, mecâni- à terminologia ética, proporcionando o início
ca, funilaria, costura e tapeçaria, uma sala com de um fértil campo de estudos. O estudo da éti-
som RCA Victor, laboratório de som com equi- ca está presente, assim, de forma irregular, na
pamentos de últimos modelos, cabine elétrica, Grécia, Europa renascentista até se ancorar na
uma truca optical-printer, duas centrais de som modernidade.
RCA portáteis, montadas em caminhões, câ- O entendimento da ética requer um afas-
meras com acessórios, laboratório, seis movio- tamento da abstração das condutas humanas,
las, depósitos e departamentos (RAMOS, 1987), como uma ciência que estuda as ações. Isso im-
privilegiando a qualidade técnica dos filmes plica a delimitação de conceitos que envolvem
nacionais. Esse empreendimento era incentiva- principalmente o raciocínio prático. Ética acar-
do pelos colunistas da Revista Cinearte Adhe- reta o juízo das práticas, dos exercícios indivi-
mar Gonzaga e Pedro Lima. Essa experiência duais e coletivos. Embora a ética busque enten-
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guas, religiões, enfim, no sentido geral, cultu- partir do momento que os antropólogos rom-
ras. Em suma, o etnocentrismo se erige como peram com a clássica dicotomia entre a cha-
um sistema de crenças visto como qualidade mada “Antropologia de gabinete” e “a pesquisa
natural e, por isso mesmo, assume caráter ide- em campo”, compreendendo que o pesquisador
ológico na medida em que se erige como um deve, ele mesmo, efetuar no campo sua própria
sistema hierárquico, portanto, classificatório. pesquisa e que esse trabalho de observação di-
(Wesley Lopes) reta é parte integrante da investigação.
Antes do antropólogo polonês radicado
Referências: na Inglaterra, Bronislaw Malinowski (1884-
LEACH, Sir Edmund. “Etnocentrismos”. In: En- 1942) tornar pública sua experiência etnográ-
ciclopédia Einaudi 5: Anthropos-Homem. fica no clássico Argonautas do Pacífico Ociden-
Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moe- tal em 1922, outros pesquisadores como Franz
da, 1985. Boas (1858-1942) e William Rivers (1864-1922)
LEVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estru- já haviam realizado trabalho de campo jun-
tural II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, to aos Inuit (esquimós) e aos Toda (Índia). A
1987. diferença é que a experiência de Malinowski,
MORGAN, Lewis; TYLOR, Edward; FRAZER, tornou-se uma espécie de “Regras do Método
James G. Evolucionismo Cultural. (Org.). Antropológico” e, como tal, passou a orientar
CASTRO, Celso. Rio de Janeiro: Jorge o trabalho etnográfico de outros antropólogos
Zahar, 2005. desde então. Malinowski mostrou a impor-
ROCHA, Everardo G. O que é Etnocentrismo. tância na compreensão da cultura do “outro”
São Paulo: Brasiliense, 1992. a necessidade de apreender “o ponto de vista
nativo”.
Olhar a cultura do outro por dentro, abre a
ETNOGRAFIA possibilidade de um entendimento do funcio-
A etnografia, normalmente, vista como trabalho namento do sistema em sua totalidade, sem sig-
de campo do antropólogo, na verdade, carrega nificar isso saber ou falar de tudo. A descoberta
qualidades mais profundas. Não se reduz tão da lógica de funcionamento do ritual do Kula,
somente a uma estratégia metodológica, pois sistema de trocas simbólicas desenvolvido pe-
envolve toda uma complexidade epistemológi- los trobriandeses da Melanésia, ilustra bem esta
ca que leva os antropólogos a refletirem desde o estratégia metodológica.
sentido do outro passando pelas relações entre Em linhas gerais, a etnografia supõe a prá-
teoria e empiria às discussões sobre a natureza tica de campo, a observação direta, a entrevista
discursiva da etnografia. Embora sempre pre- sobre suas diferentes formas, as histórias orais,
sente no horizonte teórico dos antropólogos, os a coleta de documentos, de informações de pri-
anos 1980 promoveram uma onda de discus- meira mão, de objetos, de gravações, de foto-
sões epistemológicas sobre a etnografia cujos grafias, filmes, vídeos etc.
efeitos se fazem sentir ainda hoje. A tarefa etnográfica se prolonga nas tare-
A etnografia - enquanto forma peculiar de fas de organização, classificação, descrição, ex-
conhecimento antropológico - se desenvolveu a posição e de uma elaboração preliminar, para
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Por um lado, a descrição densa de um pro- deve ser capaz de uma análise cultural da inte-
cesso particular permite a compreensão ampla ração entre audiência/receptores/usuários e di-
do caso particular; por outro, a impossibilida- ferentes suportes midiáticos. (Veneza Mayora
de de generalizações a partir de um caso úni- Ronsini)
co pode ser superada através da repetição do
estudo em um local diferente (LA PASTINA, Referências:
2006, p. 41). Suas técnicas de coleta de dados AZZAN JR., Celso. Antropologia e interpreta-
abrangem a observação participante, anotações ção. Campinas: Unicamp, 1993.
no caderno de campo e gravação de entrevistas GARCÍA CANCLINI, Néstor. Antropólogos
e conversas. sob a lupa. Ciência Hoje. Ano 15, n. 90, p.
Uma das modalidades da etnografia da mí- 26-32, maio 1993.
dia é a etnografia da audiência ou do consumo GEERTZ, Clifort. A interpretação das culturas.
que permite o conhecimento dos sentidos que Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
receptores dão à mídia a partir da imersão do LA PASTINA, Antonio C. Etnografia de audi-
pesquisador na vida cotidiana de seus infor- ência: Uma estratégia de envolvimento. In:
mantes, com o argumento de que o contexto de JACKS, Nilda, PIEDRAS, Elisa; VILELA,
observação direta e indireta deve coincidir com Rosario S. O que sabemos sobre audiências?
o ambiente no qual os receptores interpretam e Estudos latino-americanos. p. 27-43. Porto
usam os meios de comunicação tecnológicos. Alegre: Armazém Digital, 2006.
Etnógrafos entram em uma cultura para recon-
tar a vida das pessoas com quem interagem,
para narrar rituais e as tradições destas e para ETNOLOGIA
compreender e explicar suas práticas culturais Tradicionalmente, o termo etnologia tem sido
(LA PASTINA, 2006, p. 28). mais utilizado, na França, e designa, segundo
Entendemos, portanto, a etnografia como a interpretação do antropólogo Claude Lévi-
um esforço de compreensão que procede tan- Strauss (1908-2009), o momento de síntese e de
to por via metódica como por via não-metódi- abstração antropológica dos dados fornecidos
ca. O etnógrafo, com a finalidade de apreender pela Etnografia com base na perspectiva meto-
o que escapa ao método, interpreta o mundo dológica comparativa. Nesse sentido, Etnologia
social, pautando-se pelo diálogo que estabele- corresponde à Antropologia Social e Cultural
ce com seus interlocutores. O reconhecimen- dos países anglo-saxão.
to do seu viés não-metódico e, como diz Gar- No processo de formação das Ciências Hu-
cía Canclini (1993, p. 32), a consciência de que a manas, a Etnologia constitui um território pri-
obtenção dos dados e sua textualização é o re- vilegiado do conhecimento sobre o homem na
sultado de processos institucionais e discursi- medida em que abre a possibilidade de se pen-
vos, que não reduzem a importância do traba- sar não somente o homem enquanto objeto,
lho etnográfico; ao contrário, enriquecem-no. mas, sobretudo, o conjunto de condições e de
A etnografia, portanto, não deve ser reduzida saberes que torna possível a compreensão do
à descrição dos lugares e usos dos meios de que é o homem. Na herança do pensamento
comunicação de massa na cotidianidade, mas iluminista francês, a Etnologia terá como desa-
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fio inicial pensar as relações entre a natureza e Celso (Org.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
a cultura, o universal e o particular, o humano 2004.
e o não humano. É, nessa perspectiva, que se FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas.
pode entender o esforço dos primeiros etnólo- Uma Arqueologia das Ciências Humanas.
gos em fornecer uma resposta objetiva à com- 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
plexa questão da diversidade social e cultural LEVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutu-
que marca os seres humanos visando descobrir ral. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967.
algum traço universal que sirva de consensus SCHADEN, Egon (Org.). Leituras de Etnologia
gentium (“consenso de toda humanidade”). Brasileira. São Paulo: Companhia Editora
Na tradição anglo-saxã, o trabalho de Nacional, 1976.
Franz Boas (1858-1942) representou uma im-
portante contribuição para o desenvolvimento
da Etnologia, embora com o tempo a noção de EVIDÊNCIA
Antropologia Cultural terminasse por se con- É a menor unidade do raciocínio: ao se manifes-
solidar na cultura norte-americana. Não con- tar, a mente - sem pedir mais informações - se
cordando com os parâmetros evolucionistas, dá por satisfeita e não consegue mais pensar o
Boas apresentou, em 1896, uma comunicação contrário. Por exemplo, um cientista, diante de
que considerava “os limites do método com- determinada fórmula, diz: “- Ela é evidente”. Sig-
parativo em Antropologia”, fazendo uma crí- nifica que pode compreendê-la totalmente em
tica contundente ao chamado método de pe- um instante, mas o que, efetivamente, torna pos-
riodização então, defendido por Edward Tylor sível a perda do caráter misterioso dessa fórmula
(1832-1917). Tal método consiste em reconstruir ainda constitui um desafio para a Ciência.
os diferentes estágios de evolução da cultura, a A palavra, de origem latina: Evidentia (de-
partir do pressuposto de raça, em que Boas de- rivado do verbo videre = ver) e designa aqui-
fende uma perspectiva histórica e relativista de lo que se pode enxergar de forma clara. Se essa
comparação por áreas culturais. palavra for posta a um matemático, talvez, ele
O termo etnologia, ainda, é bastante pre- se lembre do termo axioma que, em Grego
sente no cenário da Antropologia no Brasil. (αξιωμα), significa noção comum julgada digna
Demarca, principalmente, a tradição nos estu- por ser evidente.
dos das comunidades indígenas na sociedade Mas, a um estudioso da Lógica uma noção
brasileira. E, é considerado um dos campos de como Evidência “é o fundamento de um axio-
estudos mais sucedidos da história da antropo- ma” pode parecer “vaga” no sentido do termo
logia brasileira na medida em que tem nos úl- francês “flou.
timos anos, se revelado um dos mais profícuos Todavia, a um juiz o conceito Evidência se
em termos de renovação teórica como se pode apresenta objetivo, preciso, uniforme: é o que,
ver nos estudos do chamado perspectivismo pela Lei, pode ser acolhido como prova judicial
ameríndio. (Gilmar Rocha) e esta comporta uma definição uniformizada
no código.
Referências: Não se deve esperar uniformidade se essa
BOAS, Franz. Antropologia Cultural. CASTRO, palavra for proposta a um filósofo. Já na Gré-
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cia Antiga, Estóicos e Céticos polemizavam so- SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de ter razão.
bre a correlação Evidência – Verdade. Para os São Paulo: Martins Fontes, 2005.
primeiros, Evidência é um a priori fundador.
Já para os Céticos tal concepção de Evidência
é impossível. Depois, o conceito mereceu ex- EXPECTATIVA
plicações de Descartes, Locke, Kant. Em um O conhecimento de um determinado código e
dicionário filosófico contemporâneo apare- o domínio de um certo repertório permite ao
ce como “certeza tão clara e manifesta por ela sujeito antecipar partes de uma informação ou
mesma que a mente não a pode refutar” (LE mensagem, ainda antes de decodificá-la, identi-
RU, 2006, 296). ficando, rapidamente, se ela está correta (quan-
A um jornalista a palavra poderá lembrar to à forma e/ou quanto ao conteúdo), segun-
credibilidade ou, talvez, o termo evidencialida- do a expectativa gerada por esse conhecimento
des. Ao dispor de poucas evidências, o profis- (MELLO, 2003, p.96).
sional se apoiará, por exemplo, nas expressões A expectativa positivada corresponde ao
“segundo a fonte tal” ou “teria ocorrido um aci- atendimento das regras e das convenções, cons-
dente” para legitimar sua comunicação. tituindo, assim, o processo da informação re-
Porém, a um publicitário, se lhe for men- dundante (FISKE, 1993, p. 28). Jesús Martin
cionada a palavra evidencialidade, poderá tal- Barbero refere-se à preocupação pelo atendi-
vez, pensar no que se apresenta como evidente mento das expectativas do receptor, por parte
ao seu público. Sua comunicação sendo volta- do emissor, no caso da comunicação de mas-
da à persuasão, ele trabalha com o que é per- sa, enquanto estratégias de comunicabilidade
cebido como verdade, não com a Verdade em (BARBERO, 1998), o que facilita a comunicabi-
si. No modo de pensar publicitário, Evidên- lidade e a compreensão da mensagem e/ou da
cia se posiciona nos enunciados da arte da Re- obra por parte do receptor. Por extensão, fala-
tórica, tomada como método e reflexão sobre se também no atendimento de comportamen-
o discurso persuasivo e que se propõe a ver tos esperados (ANDRADE, 1996, p. 56). (Anto-
o que, em cada caso, é próprio para persua- nio Hohlfeldt)
dir (ARISTÓTELES, 1988, II, 34). (Luiz Solon
Gonçalves Gallotti) Referências:
ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza – Di-
Referências: cionário profissional de relações públicas e
ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética, comunicação, São Paulo: Summus, 1996.
Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1988. BARBERO, Jésus-Martin. Dois meios às media-
CÍCERO, Marcus. Do Orador e Textos Vários. ções. Rio de Janeiro: UFRJ, 1998.
Lisboa: Cultura, 1992. FISKE, John. Introdução ao estudo da comuni-
GIL, Fernando. Traité De L´Evidence. Paris: cação. Porto: ASA, 1993
Jérôme Millon, 1992. MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí-
LE RU, Véronique. Évidence in Blay, Michel. dia. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
Dictionnaire des concepts philosophiques.
Paris: Larousse, 2006.
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506
enciclopédia intercom de comunicação
grupos étnicos. In: Revista Signos. Ano 25, conceitos e expressões. Ponta Grossa: Edi-
n. 1, p. 29-43. Lajeado: Univates, 2004. tora UEPG, 2008.
GADINI, S. L. Expressões étnico-culturais. In: MELO, José Marques. Introdução folkcomu-
GADINI, S. L.; WOITOWICZ, Karina J. nicação: gênese, paradigmas e tendências.
(Orgs.) Noções básicas de Folkcomunica- Revista Signos. Ano 25, n. 1, p: 7-18. Lajea-
ção: uma introdução aos principais termos, do: Univates, 2004.
507
F, f
tegoria de suco, informações gerais entre outros dos hábitos e consequentes modos de ação. Em
elementos visuais que constituirão um pequeno uma postura falibilista, as dúvidas surgiriam
outdoor no ponto-de-venda, facilitando a iden- para pôr em questão essas crenças, o que pres-
tificação do produto pelo consumidor. (Scarleth supõe que o conhecimento possa cair em erro,
O’hara Arana) mesmo que tenha efeitos práticos positivos, de
acordo com o pragmatismo, ou esteja voltado
Referências: para a Verdade, de forma lógica e ética. A Ver-
FARINA, Modesto. Psicodinâmica das Cores em dade seria uma obra comunitária e não uma
Comunicação. São Paulo: Edgar Blücher, intuição pura dos indivíduos. Leva ao conhe-
2000. cimento sem fim, condicionado às descober-
MESTRINER, Fábio. Design de Embalagem – tas inexatas e parciais, que sugerem princípios
Curso Avançado. São Paulo: Prentice Hall gerais, produtos de uma evolução. As crenças
Brasil, 2005. levam a hábitos mentais, que determinam nos-
SEMENICK, Richard J.; O’GUINN, Thomas C. sas ações corporais e psíquicas, mas, no pano
e ALLEN, Chris T. Propaganda e Promoção de fundo falibilista da teoria peirceana, estão
Integrada da Marca. São Paulo: Cengage, sempre sujeitas às dúvidas. A clareza das ideias,
2008. na verdade, daria-se nesse processo dialético e
SHIMP, Terence A. Propaganda e Promoção. contínuo entre crenças, hábitos e dúvidas.
Porto Alegre: Bookman Companhia Edi- Considerando o seu caráter filosófico, a te-
tora, 2008. oria peirceana pode ser apropriada sobretudo
como um conjunto de princípios lógicos eluci-
dadores dos processos semióticos. A semiótica
Falibilismo peirceana tem como um pressuposto filosófico
O falibilismo, concebido por Charles Sanders a aproximação à “Verdade” e um maior escla-
Peirce (1839-1914), apresentado no texto Como recimento dos processos de conhecimento ou
Tornar Claras as Nossas Ideias (PEIRCE, 1993), significação em uma concepção falibilista.
indica como os aspectos lógico e retórico estão De acordo com Peirce (2000), o objetivo
implicados, de forma que ambos possam gerar da “retórica pura” é o “...de determinar as leis
semioses ou significações questionáveis. A in- pelas quais, em toda inteligência científica, um
vestigação científica está sujeita sempre ao erro signo dá origem a outro signo e, especialmen-
e necessita, por isso, de instrumentos de veri- te, um pensamento acarreta outro” (PEIRCE,
ficação. Toda a conclusão que obtemos através 2000, p. 46). A retórica pode ser vista no coti-
de um raciocínio ou outra forma de significa- diano comunicacional como aquilo que se pre-
ção são verdades aproximadas, assim como um ocupa com a aparência de “verdade” de qual-
signo sempre está para o seu objeto sob algum quer tipo de signo, desde que convença como
aspecto. tal. Num sentido persuasivo, o discurso retó-
O conceito de falibilismo mostra que qual- rico quer convencer o ouvinte sobre algo que
quer tipo de crença pode ser colocada em dúvi- ele desconhece, partindo de algo que ele já tem
da, o que colabora para o desenvolvimento do como conhecimento. A lógica teria um sentido
conhecimento. As crenças são os fundamentos mais ético e científico, preocupando-se com a
510
enciclopédia intercom de comunicação
validade das formas de raciocínio, sempre su- sas de comunicação de massa, repetindo-se nos
jeitas ao falibilismo. (Gilmar Adolfo Hermes) mais diferentes países, em diversos veículos e
nos mercados locais, regionais, nacionais e in-
Referências: ternacionais. Todavia, não esgotam a totalida-
DELADALLE, Gérard. Leer a Peirce Hoy. Bar- de de casos, aparecendo atualmente com mais
celona: Gedisa, 1996. frequência em negócios ligados às indústrias da
PEIRCE, Charles Sanders. Collected Papers. televisão, do rádio e da imprensa escrita. Nor-
Charlottesville: InteLex, 1994. CD-ROM. malmente, no caso de empresas de mídia fami-
. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, liares, os patriarcas são apelidados de magna-
2000. tas, barões ou moguls.
. Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cul- A consolidação das indústrias culturais
trix, 1993. brasileiras se deu associada à emergência dos
SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral dos Signos. grupos familiares no comando do setor. Uma
São Paulo: Pioneira, 2000. das explicações para o fato sustenta que o pro-
cesso foi impulsionado pela regulamentação
que restringiu a propriedade de empresas à pes-
Famílias Proprietárias na Indústria soas físicas. A predominância desse tipo de mo-
Midiática delo administrativo no país em diversos outros
A expressão se refere às famílias que se encon- setores e sua generalização em mercados de co-
tram no comando de empresas de comunica- municação em todo o planeta são outras vari-
ção. Os empreendimentos se caracterizam pela áveis explicativas. A tendência desse processo
propriedade compartilhada e pela distribuição tem por contra-tendência o crescente interesse
de funções de gerência entre membros de um das empresas de telecomunicação (sociedades
mesmo grupo familiar. Estes podem estar liga- anônimas) pelo mercado nacional e a alteração
dos por laços de consanguinidade (pais e filhos, do artigo 222 da Constituição Federal, em 2002,
irmãos) ou de afinidade (marido e mulher, che- que passou a admitir a participação de pessoas
fe e subordinado de confiança da família). jurídicas na propriedade das empresas.
O padrão de direção neste tipo de caso se A propriedade familiar tem sido criticada
baseia na autoridade do controle de proprie- por acadêmicos e por organizações da socieda-
dade, modelo em que se confundem a direção de civil que reivindicam a democratização dos
definida para os negócios e a vontade do dono. meios de comunicação. Na maioria dos casos
Diferencia-se, assim, do padrão de gerência está associada à crítica ao processo de mono-
baseado na autoridade do especialista. A hie- polização do setor, ao patrimonialismo e à do-
rarquia dentro da empresa reproduz o sistema minação exercida por determinados grupos so-
familiar, geralmente subordinando os demais ciais sobre outros no uso que fazem das mídias.
membros a uma figura que cumpre um papel Alguns exemplos de famílias proprietárias
considerado superior na família (patriarca, ma- na indústria midiática são, no Brasil, o caso
triarca, primôgenito). dos Marinho (Organizações Globo), Abrava-
Casos de famílias como proprietárias na nel (SBT), Saad (Bandeirantes), Sirotsky (RBS),
indústria midiática são frequentes em empre- Daou (Rede Amazônica), Zahran (Rede Mato-
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grossense), Queiroz (Sistema Verdes Mares), futebol, sem fins lucrativos, estruturado de for-
Sarney (Sistema Mirante), Magalhães (Rede ma relativamente burocrática, com objetivo de
Bahia), Civita (Grupo Abril), Frias (Grupo Fo- incentivar o time durante os jogos e defender
lha), Mesquita (Grupo OESP). Como não se a integridade do grupo nos momentos de con-
trata de fenômeno eminentemente brasileiro, frontos físicos ou verbais com os adversários”.
há casos internacionais emblemáticos, como, Surgidas, nos anos 1940, de forma romântica e
nos Estados Unidos, os Warner (Time-Warner), carnavalesca, as torcidas organizadas passaram
Disney (Walt Disney), Murdoch (News Corp.), a abrigar o fanatismo de seus filiados nos finais
Sulzberger (New York Times) e Graham (Wa- dos anos de 1980 e início dos anos 1990.
shington Post); na Alemanha, os Mohn-Bertel- O fanatismo, no esporte, começa a se mani-
smann (BMG); na França, os Hersand/Dassault festar quando um membro passa a dar impor-
(Figaro) e Lagardère (Hechette); na Itália, os tância maior ao movimento em detrimento de
Berlusconi (Mediaset); no Canadá, os Péladeau outras práticas de inserção social e, nessa rela-
(Quebecor) e Rogers (Rogers Inc.); na Índia, os ção, extrapola os limites de respeito à existência
Jain (Bennett, Coleman & Co.); na Rússia, os do outro. Para Pimenta (idem, p. 278), esse “ex-
Gusinsky (Media-Most); na Argentina, os No- cesso praticado não implica na ausência de par-
ble (Clárin); no México, os Azcaraga (Televisa); ticipação em outros grupos sociais – trabalho,
na Venezuela, os Cisneros (Cisneros Group); e família, escola etc. -, mas significa que o filiado
vários outros. (Edgard Rebouças e Bruno Mari- está comprometido apenas com um certo con-
noni) junto de valores internos difundidos pela insti-
tuição, ou seja, ser destemido, valente, compa-
Referências: nheiro, devoto, assíduo, participativo, respeitar
LIMA, V. A. Mídia: teoria e política. São Paulo: a autoridade do líder, reconhecer as relações de
Perseu Abramo, 2004. poder no grupo e considerar legítimo combater
MIÈGE, B. Les industries du contenu face à os rivais”.
l’ordre informationnel. Grenoble: PUG, A tradução dessas atitudes e a mobiliza-
2000. ção de esforços diversos para experimentar o
Tunstall, J.; PALMER, M. (Eds.). Media “prazer” das arquibancadas, das viagens com o
moguls. London: Routledge, 1991. grupo, das festas, do confronto contra os agru-
pamentos rivais e do cotidiano de uma torci-
da organizada. Pimenta (idem, p. 278-279) afir-
FANATISMO ESPORTIVO ma que “o fanatismo ganha sentido, inclusive,
Zelo esportivo obsessivo que pode levar a extre- quando o grupo elabora um conjunto de estra-
mos de intolerância; faccionismo clubístico; de- tégias de atuação que se manifesta em expres-
dicação excessiva a alguém ou algo; paixão. No sões transgressoras, tanto físicas como verbais,
esporte, de forma geral, e no futebol, em parti- do ponto de vista da ordem social estabelecida.
cular, o fanatismo está diretamente relacionado Na exaltação dessa prática, o indivíduo rompe
com a formação das torcidas organizadas. Pi- com a ideia de que o outro – o rival, o alvo, a
menta (2004, p. 264) define esses agrupamen- vítima – é um sujeito, uma pessoa, um ser hu-
tos sociais como “simpatizantes de um clube de mano” (idem, ibidem, p. 279). Os membros de
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uma torcida organizada são, em geral, atraídos sonhos diurnos, cenas, episódios, romances,
pela banalização da violência e da transgressão ficções, que o sujeito cria e conta a si mesmo no
às regras estabelecidas na sociedade. Todos são estado de vigília. Ainda nesta época, a partir do
cumpridores de diversos papéis sociais – filhos, tratamento com as pacientes histéricas, assinala
pais, estudantes e trabalhadores. Uma vez em a importância da vida fantasmática delas, mui-
grupo, abandonam os papéis de cidadãos dis- tas vezes inconsciente e que tem uma estreita
cretos e não raro se transformam em agentes de relação com os sonhos diurnos.
atos transgressores e agressivos. (Ary José Roc- Nesse início, Freud pensava que as neuro-
co Jr.) ses eram determinadas pelos fatos traumáti-
cos que as pacientes lhe contavam ter vivido.
Referências: Percebe o seu engano, abandona esta teoria do
PIMENTA, Carlos A. M. Torcidas organizadas: trauma e passa a colocar em relevo a fantasia
brutalidade uniformizada no Brasil. In: dos pacientes, formulando o conceito de “rea-
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla B. (Orgs.) lidade psíquica”, considerada como uma forma
Faces do Fanatismo. São Paulo: Contexto, de existência especial, que não deve ser con-
2004. fundida com “realidade material”. Esta reali-
SANTOS, Tarcyanie Cajueiro. Dos espetáculos dade psíquica é produzida a partir do desejo
de massa às torcidas organizadas: paixão, inconsciente e das fantasias que dele derivam,
rito e magia do futebol. São Paulo: Anna- como podemos ver nas fantasias do romance
blume, 2005. familiar.
TOLEDO, Luiz H. Torcidas organizadas de fu- As fantasias primitivas ou originárias são
tebol. Campinas: Autores Associados, 1996. estudadas por Freud, em 1915 (ZIMERMAN,
2001, p. 142), na abordagem de um caso de pa-
ranoia, quando se refere a formações fantásti-
Fantasia cas, como a observação da relação sexual en-
Fantasia remete à imaginação; é uma produção tre os pais (cena primária), a da sedução e a da
imaginária de cenas e imagens, que se conecta castração. Estas fantasias seriam construções
com a realização de desejos. da criança como respostas às suas indagações
Psicanaliticamente, a formação de fanta- sobre sua origem (cena primária), sobre as ori-
sia, ou seja, o movimento de transformação dos gens da sexualidade (sedução) e da diferença
conteúdos internos, em imagens, sensações e dos sexos (castração).
cenas, ocorre sob a direção do desejo incons- Em 1912 e 1939 (ZIMERMAN, 2001, p. 142-
ciente. O desejo inconsciente busca sua reali- 143), Freud elabora trabalhos sobre uma possí-
zação, aparecendo deformado pela ação dos vel história global da espécie humana, formu-
mecanismos de defesa contra a angústia, usan- lando ideias de uma herança filogenética de
do a fantasia como material, com o intuito de fantasias, que seriam universais, pois não mos-
burlar a censura. É semelhante ao que ocorre tram nenhuma conexão com cenas realmen-
no processo dos sonhos, como Freud assinala te acontecidas. Jung, em 1919, (ROUDINES-
em 1900. Em 1895 (LAPLANCHE; PONTALIS, CO; PLON, 1998, p. 422-423) desenvolve estas
1970, p. 230), ele designa como Phantasien os ideias, criando uma vertente teórica própria,
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em que propõe a noção de “arquétipo” para usuais nos encontros comunais das sociedades
definir uma forma pré-existente inconsciente, pré-literárias. Tais obras modernas possuem
que determina o psiquismo e que aparece re- agora autoria, e são por isso fruto da pura ima-
presentada simbolicamente nos sonhos, arte e ginação muito embora possam se inspirar em
religião. dados da realidade. Elas têm por vezes uma di-
Daniel Lagache (LAPLANCHE; PONTA- mensão artística e teatral. São, portanto uma
LIS, 1970, p. 228), psicanalista pós-freudiano, criação que visa satisfazer certa necessidade da
propõe retomar o sentido antigo do termo fan- audiência, seja ela erótica, agressiva, romântica,
tasia, em francês, fantasie, para designar ao ou outra. Grande parte da indústria do lazer e
mesmo tempo a atividade criadora e suas pro- do entretenimento está concentrada neste es-
duções, pois o termo francês, usado neste tem- forço de prover este tipo de desfrute alucinató-
po, para designar determinada formação ima- rio ao público. Desde o alvorecer da humanida-
ginária, é fantasme (fantasma). de há exemplos deste tipo de retraimento pelas
No tratamento psicanalítico, procura-se pessoas ao campo da pura imaginação.
garimpar a fantasia subjacente através das pro- Os mitos antigos, o teatro grego, as cantigas
duções do inconsciente como o sonho, o sinto- e narrativas orais do medievo e os rituais reli-
ma, o agir, as condutas repetitivas e os tropeços giosos são alguns entre muitos exemplos deste
de linguagem (lapsos, atos falhos etc). tipo de ocorrência que liberavam o pensamen-
O trânsito fluente e espontâneo entre fan- to dos indivíduos povoando-os com figuras,
tasia e realidade possibilita a maturidade e a imagens e acontecimentos. Os jogos eletrôni-
atividade criativa. (Vera Rolim) cos, a animação dos filmes infantis, as telenove-
las, a ficção científica, o romance e os seriados
Referências: televisivos são exemplos adicionais, agora mo-
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J.B. Vocabulá- dernos deste mesmo e antigo impulso de cons-
rio de Psicanálise. Santos: Martins Fontes, truir mundos e personagens mágicos. Sigmund
1970. Freud refere-se ao termo em Estudos da Histe-
ZIMERMAN, D. E. Vocabulário Contemporâ- ria (1895) quando observou entre os pacientes
neo de Psicanálise. Porto Alegre: ARTMED, este tipo de delírio.
2001. Faz-lhe referência também em Interpreta-
ROUDINESCO, E.; PLON, M. Dicionário de ção dos Sonhos (1900). Costuma-se, por isso,
Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. afirmar que fantasia, no fundo, são uma ima-
gens mentais ou uma narrativa imaginária que
distorce parcial ou totalmente a realidade. Se-
Fantasia E COMUNICAÇÃO gundo a teoria psicoanalítica, ela emerge na
O devaneio e a fuga da realidade, propiciada mente desde o inconsciente. É também veículo
pela indústria audiovisual contemporânea, tor- para a expressão de desejos reprimidos. É um
naram esta ocorrência num fenômeno que na fator central na atividade lúdica das crianças.
origem era exclusivamente um acontecimento Da mesma forma, é fator crucial ao pensamen-
intrapessoal e subjetivo, causado ou pela intros- to criativo e artístico do adulto. Por outro lado,
pecção ou pelas narrativas de encantamento pode lhe ser pernicioso ao se tornar refúgio se-
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enciclopédia intercom de comunicação
guro aos dados mais duros da realidade. (Jac- Porém, a maioria dos autores (amadores e/
ques A. Wainberg) ou profissionais) que autoeditam suas revistas,
quer contenham HQ, poesias etc, e/ou textos
Referências: (sobre FC, música, quadrinhos etc) são hoje
PERSON, Ethel S. O poder da fantasia: como denominados invariavelmente de fanzineiros,
construímos nossas vidas. Rio de Janeiro: e suas revistas de fanzines. Robert Crumb, um
Rocco, 1997. dos primeiros a autopublicar suas histórias em
RADINO, Glória. Contos de fadas e realidade quadrinhos e a vendê-las de mão em mão, no
psíquica: a importância da fantasia no de- final da década de 1960, é um dos pioneiros do
senvolvimento. São Paulo: Casa do Psicó- zine de quadrinhos. No Brasil, o primeiro fan-
logo, 2004. zine veio por Edson Rontani em 1965, que criou
o boletim Ficção, com informações de quadri-
nhos de FC, especialmente sobre autores como
FANZINE Alex Raymond.
Magalhães (1993, p. 9) afirma que o fanzine (ou Na década de 1970, com o movimento punk
zine) teve seu neologismo criado, em 1941, por inglês, com seus libelos e shows anarquistas, o
Russ Chauvenet, pela união das palavras in- zine se disseminou cada vez mais pelo mundo,
glesas fanatic e magazine: revista de fã. Inicial- ganhando notoriedade e volume. Hoje, a atua-
mente, por mimeógrafo, fotocopiadora, off-set ção fanzineira é editada por faneditores e o equi-
ou impressora (laser), e hoje na Internet, teve valente ao termo inglês fandom se traduz como
início na década de 1930 com os boletins de fanzinato (MAGALHÃES, 1993, p.11). Segundo
troca de informação dos fãs da ficção-científica Guedes (2008, p.174) há ainda os prozines, pu-
(FC), sendo que em 1930, o primeiro zine cria- blicações alternativas editadas por profissionais
do por Ray Palmer pode ter sido chamado de da área, como os quadrinhistas dos EUA.
fanmag (fanatic e magazine) (MONET, 2008). Com o universo dos zines, surgiram duas
Jerry Siegel, co-criador do Super-Homem che- fanzinotecas no mundo: a primeira foi a Fan-
gou a criar, em fins de 1920, uma primeira re- zinothèque (de) Poitiers (França), e a segunda
vista independente com seus contos que cha- em 2004 em São Vicente/SP, além de diversos
mou de Scientifiction (JONES, 2006, p.53). eventos internacionais de zines como o anual
Porém, não pode ser tido como primei- realizado em Ourense na Galícia, e outro na ci-
ro fanzineiro, pois publicava contos de ficção e dade de Almada em Portugal.
não artigos, já que Magalhães (1993, p. 12) ad- Outro ponto a se destacar num fanzine é a
verte haver diferenças entre fanzines e revistas informalidade de sua atuação, a independência
independentes: estas últimas são as que expõem de suas informações, a novidade e pesquisa de
em suas páginas formas artísticas, sejam ilustra- seus textos, bem como a variedade infinita de
ções, desenhos, contos, poesias e/ou histórias formatos e apresentações gráficas, estendendo-
em quadrinhos (HQ), e fanzines são as que pu- se na atualidade aos “e-zines” (electronic zines),
blicam matérias e artigos teóricos acerca de as- que estão na rede virtual da Internet, como o
suntos variados, quer música, ficção-científica, Dissonância (http://www.dissonancia.com/) ou
cinema, HQ ou qualquer gênero artístico. o Ninaflores (http://www.ninaflores.net/).
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que significa conhecimento, saber, cultura. As- e co-existe na sociedade através de décadas. É
sim, folk-lore seria a designação do conjunto tradicional, mas atualiza-se e incorpora novos
dos fatos folclóricos ou sabedoria ou cultura elementos de informação e expressão. A anti-
popular. Com o tempo, as duas palavras foram guidade dá o conteúdo básico, mas a forma in-
escritas em o hífen, formando uma só: folklore. corpora elementos novos de acordo com a evo-
E, assim, foi usada no Brasil até que a letra k foi lução da sociedade.
substituída pela letra c, com a reforma ortográ- O anonimato é também uma característi-
fica, originando a palavra folclore. ca básica. Ninguém sabe quem foi o criador do
O fato folclórico pode ser representado fato folclórico, a sua autoria é ignorada. Muitas
pelo conjunto das manifestações culturais en- expressões, até mesmo músicas são cantadas
volvidas pelo folclore como o traje e as vesti- pelo povo há séculos sem que se saiba a autoria
mentas regionais, a gastronomia, a habitação, das mesmas. Elas são absorvidas e aceitas pe-
as artes domésticas, o artesanato, as crendices, las classes populares, perdendo-se o elemento
os jogos, as danças, as músicas, a poesia anô- de criação individual. Muitas vezes, entretanto,
nima, o conto popular, a literatura de cordel, o encontramos fatos folclóricos que não são anô-
congado, o bumba-meu-boi, a queima de Judas, nimos como os ex-votos, autos-de-fé, abecês e
o linguajar, a medicina rústica, a religiosidade e desafios.
as festas populares. Ou seja, todo um sistema A estas características deve se acrescentar a
de pensar, sentir e agir que caracterizam a cul- espontaneidade, a informalidade, a plasticida-
tura das classes populares. de, a atualidade, a vontade de comunicar algu-
Mas, todo este conjunto cultural abrangi- ma mensagem através de código, símbolo, cor
do pelo fato folclórico tem uma característica: ou som. (Sebastião Breguez)
ele se comunica, expressa ideias, sentimentos e
opiniões. É nesta leitura que se fundamentam Referências:
os estudos da Folkcomunicação. Entender o BELTRÃO, Luiz. Comunicação e Folclore. São
sentido das mensagens passadas pelas manifes- Paulo: Melhoramentos, 1971.
tações culturais do povo brasileiro. O fato fol- BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação. Porto Ale-
clórico se fundamenta na oralidade, na tradi- gre: EDIPURS, 2001.
ção e no anonimato. BREGUEZ, Sebastião. Folkcomunicação: resis-
A oralidade é uma das características bási- tência cultural na sociedade globalizada.
cas do fato folclórico. O folclore é transmitido São Paulo: INTERCOM, 2004.
de pais a filhos, através de gerações a gerações
pelo processo da comunicação oral. Não existe
nada escrito, tudo é passado pelo processo de FENÔMENO ESTÉTICO
boca a ouvido através do tempo. Na oralidade, Baumgarten foi o responsável por trazer, na
o processo de comunicação é informal e dinâ- primeira metade do século XVIII, à discussão
mico, articulado pela proximidade e presença o problema da arte e do belo de volta ao centro
do emissor e do receptor das mensagens. das discussões filosóficas. O empreendimen-
A tradição é outra característica do folclo- to de Baumgarten foi organizar o pensamento
re. O fato folclórico não nasce hoje, mas existe sensível através da Aestetica que seria suficiente
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das populares e aos mitos da cultura nacional elas são ocorrências que vêm acompanhadas
e regional como são os casos do saci-pererê, do também por atividades de caráter social e en-
curupira, do boitatá, do lobisomen e da mula- tretenimento como festivais de cultura, quer-
sem-cabeça. O seu caráter popular permite que messes, paradas, procissões etc.
o povo celebre a sua maneira os santos religio- Seu objetivo como se vê é variado. Visa
sos e os heróis. Com frequência há nelas um aglutinar a comunidade, dar-lhe senso de par-
caráter político de resistência às normais ecle- ticipação e identidade grupal, celebrando ao
siais, sociais, morais e políticas impostas ora mesmo tempo valores que demarcam o campo
pela Igreja, ora pela classe senhoril e ora ainda do sagrado. Por isso sua realização é excepcio-
pelos costumes e a tradição. nal, distinguindo o dia como de comemoração
O carnaval, por exemplo, tem sido referi- que se expressa por ritual específico.
do como a ‘festa da desordem’. A origem de tais A origem de tais festividades, por vezes, é
celebrações é variada. Algumas foram importa- pagã, também pode ser é histórica ou, ainda,
das e chegaram ao país na bagagem dos coloni- derivar de um acontecimento considerado pe-
zadores como são os casos das festas do vinho, los fiéis como milagroso. No caso brasileiro,
do trigo, da laranja, e do choppe. Algumas são observa-se também o sincretismo entre a tra-
originárias do campo e do meio rural. dição católica e alguns rituais afro-brasileiros.
Há, nas mesmas, um intercâmbio de expe- Tais celebrações por vezes têm âmbito local e
riências e de mensagens entre grupos, raças e regional, noutros a comemoração é nacional,
classes sociais constituindo-se, portanto num acompanhando neste caso principalmente o
evento cuja marca intercultural é nítida. Muitas calendário religioso da tradição cristã.
delas atraem turistas e o interesse da mídia que Destacam-se o Natal, a Páscoa e as Festas
divulgam tais celebrações por todo o país. Ad- Juninas que são celebradas em todas as regiões
quirem, portanto também uma dimensão eco- do país. As procissões são comuns. Esse ritual
nômica ao fomentar o comércio local. (Jacques vem da Antiguidade, quando os exércitos exi-
A. Wainberg) biam suas prendas de guerra de volta à cidade
de origem. A primeira foi realizada no Brasil
Referências: em 1549, quando o primeiro governador-geral,
MORAIS FILHO, Alexandre José Melo. Festas Tomé de Souza, fundou a cidade de Salvador.
e tradições populares do Brasil. Brasília: Se- Nelas, surgiram as escravas baianas enfeitadas
nado Federal, 2002. que, desde 1932, são ala obrigatória nas escolas
SILVA, José Maria da. O espetáculo do boi-bum- de samba.
bá: folclore, turismo e as múltiplas alterida- Entre muitas procissões religiosas de forte
des em Parintis. UCG, 2007. apelo popular praticadas, no Brasil, estão Bom
Jesus dos Navegantes (em Salvador), Nossa Se-
nhora dos Navegantes (Porto Alegre), São Pe-
Festa Religiosa dro (Recife), Círio de Nazaré (Belém), Nossa
Cerimônias e atos de devoção e fé são as marcas Senhora Aparecida, Romaria do padre Cícero.
centrais desse tipo de evento de caráter popular Outras festas que atraem milhares de fiéis são,
em várias tradições religiosas. Eventualmente, por exemplo, a Lavagem do Bonfim (Salvador),
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o Ramalhão, a Puxada de Mastro, a Novena-do- cias. Nos festivais da aristocracia era comum
Caju e o Auto da Paixão. (Jacques A. Wainberg) ver-se a realização de torneios, caçadas de ani-
mais, fogos de artifícios, banquetes, concertos,
Referências: espetáculos de ballet e perfomances dramáticas.
SOUSA, Vilson Caetano. Orixás, Santos e Fes- Há, hoje em dia, festivais de arte, de cerveja, de
tas: encontros e desencontros do sincre- comédia, de cultura, de filmes, de fogos de ar-
tismo afro-católico na cidade de Salvador. tifício, de folclore, de gastronomia, de literatu-
Salvador: UNEB, 2003. ra, de música, de ciência, de teatro e de bone-
VANIER, Jean. Comunidade: lugar do perdão e cos entre outros. Em boa medida, celebram a
da festa. São Paulo: Paulinas, 1987. ordem social existente. Mas, há festivais cujo
caráter é referido como ‘subversivo’. O objetivo
deste tipo de celebração é inverter a norma so-
Festivais cial, política e moral cultivada ao longo do ano
Até 1589, a palavra ‘festival’ era utilizada como por certo e curto período de tempo.
adjetivo, significando a celebração de um feria- Na Roma antiga, a ‘saturnália’, comemora-
do religioso. Naquele ano, pela primeira vez o da entre 17 e 23 de dezembro, começava com
termo passou a ser registrado como substan- banquetes, sacrifícios e orgias. Os escravos po-
tivo. No passado, em tais ocasiões alegres e de diam considerar-se, temporariamente, homens
entretenimento, os anciões da comunidade livres e eram autorizados a caricaturar seus se-
contavam suas estórias e partilhavam a memó- nhores. Também o carnaval tornou-se um mo-
ria com os mais jovens. Por isso, eram momen- mento dedicado à transgressão das normas por
tos de educação coletiva e de fortalecimento todas as classes sociais. A despeito da proibição
das identidades grupais. da Igreja, no passado, os indivíduos aproveita-
Este tipo de festa serve hoje em dia a obje- vam o espírito libertino desta festividade para
tivos específicos, geralmente a comemoração de andarem mascarados nas ruas das cidades eu-
algum motivo, valor ou ocorrência. Entre eles ropeias num comportamento abertamente pro-
estão, por exemplo, a mensagem religiosa, os fa- míscuo. (Jacques A. Wainberg)
tos históricos e o ciclo da natureza e do tempo.
No Egito antigo, um festival celebrava a Referência Bibliográfica
inundação causada pelo Rio Nilo, e a conse- MELLO, Zuza Homem de. A era dos festivais:
quente irrigação das lavouras ribeirinhas. Na uma parábola. São Paulo: Editora 34, 2003
atualidade, muitos festivais envolvem procis-
sões e a encenação de dramas religiosos varia-
dos. Noutras oportunidades serve aos fins da Festivais e convenções
educação cívica e do culto ao estado e à cidada- Festivais, convenções e feiras de quadrinhos, re-
nia. Na Idade Média, os monarcas faziam nes- alizados, anualmente, em vários países, pro-
tes momentos cerimônias cheias de pompa à porcionam aos aficionados do gênero um lo-
entrada de suas capitais. cal físico onde se reunir. Nesses ambientes, eles
Casamentos reais serviam como ainda ser- podem adquirir publicações de uma varieda-
vem de motivo e justificativa para tais ocorrên- de de editoras, encontrar muitos de seus auto-
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no mundo. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elí- nital. Existe grande variação quanto à escolha
sio dos Santos) dos objetos sexuais e quanto ao modo usado,
na atividade sexual, para se obter satisfação. Na
teoria freudiana existem várias transições entre
Fetichismo a sexualidade perversa e a chamada sexualida-
Tem origem na palavra francesa fétichisme que de normal. Nessa transição, insere-se o fetiche,
veio do português feitiço e, este, do latim fac- a transferência do gozo com o outro para um
tius, isto é, artificial, fictício. objeto ou partes do indivíduo.
Fetichismo é o culto de fetiches, isto é, a Na Comunicação
adoração a objetos animados ou inanimados, Na teoria marxista, o fetichismo é o proces-
naturais ou feitos pelo homem aos quais se atri- so pelo qual a mercadoria, ser inanimado, é con-
buem poderes sobrenaturais ou mágicos e aos siderada como se tivesse vida, fazendo com que
quais se prestam culto. Também significa sub- os valores de troca se tomem superiores aos va-
serviência, veneração por uma pessoa ou coisa lores de uso e determinem as relações entre os
ou parcialidade nos julgamentos. homens e não vice-versa. Ou seja, a relação en-
Na Psicologia tre os produtores não aparece como relação en-
Em Psicologia, o fetichismo é uma para- tre eles próprios (relação humana), mas entre os
filia, teremo que vem do grego antigo (para, produtos de seu trabalho, os objetos-fetiche.
“fora de”,e filía, “amor”) é um padrão de com- Karl Marx desenvolveu uma teoria econô-
portamento sexual, no qual a fonte predomi- mica e política para o fetiche, central em sua
nante de prazer não se encontra no ato sexual, obra, que é aplicada à crítica dos meios de co-
mas em alguma outra atividade. O objeto do fe- municação de massa, da mercadoria e do ca-
tiche passa a representar, simbolicamente, a pe- pital.
netração no ato sexual. Em uma sociedade dominada por imagens,
Na Psicanálise freudiana, o fetichismo é o “fetichismo das mercadorias” está traduzido
considerado uma perversão que consiste em pela marca, como o “fetichismo das imagens”.
amar não a pessoa, mas uma parte dela ou um Há uma transferência do “mundo das coisas”
objeto do seu uso pessoal, como roupas, ador- para o “mundo das imagens”. A imagem seria
nos etc. Para a Psicanálise, a perversão refere-se uma radicalização do fetiche. As marcas ocu-
apenas à sexualidade e não tem a conotação de pam um lugar de objeto-fetiche na relação en-
crueldade ou malignidade atribuída pelo senso tre os indivíduos: cada um é aquilo que possui.
comum. A marca passa a significar o indivíduo e a sua
Maria Rita Khel, em seu ensaio “A publi- relação com o outro. (Genilda Souza)
cidade e o mestre do gozo”, afirma que “Freud
concebe a perversão como permanência da se- Referências:
xualidade infantil na vida adulta. A perversão é FONTENELLI, I Arruda. O nome da marca.
o infantil na sexualidade”. (KHEL, 2004, p. 7). São Paulo: Boitempo, 2002.
Para Freud, o sexual está presente e atua des- FREUD, Sigmund. Três ensaios para uma teo-
de a origem do desenvolvimento psicobiológi- ria sexual [1905]. In: Obras completas. Ma-
co. A sexualidade não pode ser reduzida ao ge- dri: Nueva, 1976. Volume 2.
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KEHL, M. Rita. A publicidade e o mestre do diada por coisas a qual desapareceria se fosse
gozo. Disponível em: <http://revcom2. abolido o caráter mercantil dos bens, isto é, se
portcom.intercom.org.br/index.php/ restarem apenas com um valor de uso. Escreve
comunicacaomidiaeconsumo/article/ Marx: “Para encontrar uma analogia com o fe-
viewFile/5208/4836>. Acesso em 29/03/09. nômeno da fetichização ligada aos produtos do
LAPLANCHE, J.; PONTALLIS, J. B. Vocabulá- trabalho, é preciso procurar na região nebulosa
rio da Psicanálise. Santos: Martins Fontes, do mundo religioso”. (1867, Cap. I, Seção 4).
1970. Já para Freud (1905), é uma patologia psí-
MARX, K. O capital [1867]. Cap. III. São Paulo: quica, um tipo de perversão. Nomeia uma
Nova Cultural, 1996. Volume 1. compulsão libidinosa (por parte do corpo de si
ou de outrem, vestuário, ambiente).
Mas na moderna sexologia não tem signi-
FETICHIZAÇÃO ficado obrigatoriamente negativo: denomina a
Se a palavra carrega o estigma contido na no- atração por objeto que satisfaz certa modalida-
ção de fetiche, também agrega o apelo de gla- de de erotismo, a qual, combinada com o apelo
mour que tal noção matriz desfruta junto a de- da transgressão, é cultivada por um tipo de tri-
terminado público (em latim factitius é coisa bo urbana.
artificial, sortilégio, destino. Criação do etnólo- Fetichização também nomeia um fato cul-
go, adquire audiência através do uso pelo filó- tural na era da segmentação. Inspira um gêne-
sofo, o psicanalista e o sexólogo. É recuperada ro de cinema (Bondage), uma categoria de arte
pelo artista e trabalhada como uma grife pelo plástica (R. Bishop), um tipo de roqueiro (D.
publicitário. Bowie), um estilo de vida (Fetish Subculture).
Feitiço é o nome que o navegador portu- O fenômeno tem desdobramentos mercadoló-
guês a caminho das Índias (provavelmente Dio- gicos. Ocupa um nicho no vestuário alternati-
go Cão, 1483) dá ao objeto (animado ou inani- vo à restritiva moda de massa. É o fetish design
mado) usado em ritual da Religião Politeísta (A. McQueen) com seu produto radical, pro-
Africana - o Bohsum [Costa d´Ouro], o M´kissi vocante. É a propaganda impactante (Toscani-
[Congo]. No francês converte-se em fétiche. Benetton). É o segmento moda bizarra (Torture
Entra no dicionário erudito, em 1760, atra- Garden).
vés de um livro (Culto dos deuses fetiches ou Na realidade, se cada processo social que
Paralelo entre a antiga religião do Egito com se tacha como fetichização é um desvio de cer-
a atual religião da negritude) do etnólogo De to paradigma, ele é, de certa forma, também a
Brosses. (Assim, fetiche em português é um ga- expressão de um outro, “duas pessoas adotan-
licismo e em francês um lusitanismo). do paradigmas diferentes não habitam o mes-
Fetichização no marxismo é uma metáfo- mo mundo” (T. Kuhn). (Luiz Solón Gonçalves
ra que estigmatiza o apego à propriedade da ri- Gallotti)
queza (terra, moeda) e o que chama de “culto
ao mercado”. E ao comparar o produto do tra- Referências:
balho a uma perda de realidade, fetichismo da ASSOUN, Paul-Laurent. Le Fétichisme. Paris:
mercadoria designa a relação entre pessoas me- PUF, 2002.
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PODOLSKY, Edward; WADE, Carlson. Feti- Inicialmente, eram traduções de obras ameri-
chism Sexual Nature of Erotic Symbolism. canas. Mas já havia uma tradição local deste
Epic Pub. 1962. tipo de fantasia. Exemplos são J.H. Rosny, La
MARX, Karl. O Capital. Crítica à Economia Mort de la terre (1912), Jacques Spitz, L’Agonie
Política. 1867. du globe (1925), René Barjavel, Ravage (1943), B.
R. Bruss, Et la planète sauta (1946). Uma nova
onda de interesse se desenvolveria neste país
Ficção Científica nos anos 1960. Na Rússia este tipo de obra era
Trata-se de uma obra de ficção que envolve um vista como subversiva ao regime por sua habili-
tipo de fantasia, a qual explora alguma trans- dade de propor realidades alternativas e sobre-
formação das condições básicas da existência por-se à censura.
humana, geralmente alguma mutação da rea- Combinou valores igualitários e a tendên-
lidade física ou biológica. O termo foi utiliza- cia ocidental que explorava o progresso cien-
do, originalmente, por Hugo Gernsback, editor tífico e tecnológico. Destacam-se nesta tradi-
da revista americana Amazing Stories, em 1926. ção Nikolai Chernyshevsky e sua novela O que
Antes, este tipo de obra era chamada por H. G. Precisa Ser Feito? (1862) e Arkady de Boris Stru-
Wells e outros de ‘romance científico’. gatsky (década de 1970). No Brasil costuma-se
Entre os títulos precursores deste gênero referir como precursores do gênero, no século
estão Viagem ao Centro da Terra de Jules Ver- XIX, autores como Gastão Cruls, Coelho Net-
ne (1864) e a Máquina do Tempo de H.G. Wells to e Augusto Emílio Zaluar. Machado de Assis
(1895). Destacam-se também Frankestein (1818) também é incluído neste tipo de lista devido aos
de Mary Shelley, O Estranho Caso do Dr. Jekyll e seus contos fantásticos, como é o caso de Uma
Sr. Hyde de Robert Louis Stevenson (1886) e As Visita de Alcibíades. Os fundadores modernos
Viagens de Gulliver de Johanthan Swift (1726). do gênero são Jerôymo Monteiro (jornalista
O gênero se consolidou com a obra de autores e editor, fundador da Sociedade Brasileira de
como Isaac Asimov, Ray Bradbury, Arthur C. Ficção Científica em 1964 e autor de três livros)
Clarke, Frederic Brown, A. E. van Vogt, Lewis e Gumercindo Rocha Dórea (editor).
Padgett, Eric Frank Russell, Clifford Simak, Hoje, a ficção cientícia brasileira está pre-
Theodore Sturgeon, Fritz Leiber, Murray Leins- sente, também, na web. Destaca-se o portal In-
ter, Robert Heinlein, Raymond F. Jones, e Ro- tempol, criado em 1998 por Octavio Aragão. A
bert Sheckley. geração mais recente de autores do gênero in-
A fantasia de tais obras literárias sempre clui nomes como Flávio Medeiros, Tibor Mori-
envolvia algum elemento científico. Elas ti- cz, Clinton Davisson, Ivan Hegenberg, Christie
veram grande popularidade após a Segunda Lasaitis e Ana Cristina Rodrigues, entre outros.
Guerra Mundial. Hoje este gênero de ficção é explorado também
No início dos anos 1950, elas se consoli- na arte, na teledramaturgia, em filmes, nos jo-
daram também na França com o lançamento gos eletrônicos e no teatro e está inserido em
das coleções ‘Le Rayon fantastique’ (1951) (Ha- obras de fantasia, horror e outros. (Jacques A.
chette-Gallimard), ‘Anticipation’ (1952) (Fleuve Wainberg)
Noir), e ‘La Présence du futur’ (1954) (Denoël).
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Caminho das Índias, retomando outra tendên- sil: um caso de Relações Públicas? In: IN-
cia de seu estilo em confrontar culturas distin- TERCOM: Revista Brasileira de Comuni-
tas, explorando as diferenças entre a cultura cação, Ano 14, n. 65, p.6-18. São Paulo, jul/
hindu e a cultura brasileira. dez 1991.
A ficção seriada, em sua forma ampla re-
fere-se, sobretudo, às telenovelas que duram
aproximadamente de seis a oito meses. Mas ela Filme
abarca igualmente outros subgêneros como as Película flexível de celulose ou poliéster, com
minisséries, com 40 a 60 capítulos, os seriados, perfuração padronizada nas extremidades, so-
tramas elaboradas em episódios autônomos, bre a qual é aplicada emulsão fotossensível, ser-
e os diversos (Casos Especiais, Caso Verdade, vindo de suporte para registro e reprodução de
Você decide), englobando diferentes forma- imagens estáticas (na fotografia) ou em movi-
tos de dramaturgia, como o premiado teletea- mento (no cinema). As imagens são registradas
tro musical Vida e morte Severina, dirigido por através de uma reação química provocada pela
Walter Avancini, em 1981. A ficção seriada bra- incidência da luz na emulsão fotográfica. A luz
sileira já foi exportada para mais de 120 países. atravessa a objetiva da câmera e chega até o fil-
A primeira produção a ser transmitida fora me armazenado num compartimento escuro,
do Brasil foi O bem amado (1973), de Dias Go- imprimindo a imagem na emulsão.
mes, exibida pela Rede Globo. A escrava Isau- A película exposta passa pelo processo de
ra, também da Globo, foi vendida vendida para revelação que consiste na aplicação de produtos
oitenta países, aproximadamente, e até pouco químicos para fixar a imagem no filme. Quan-
tempo, foi a telenovela mais exportada, título to ao modo de fixação da imagem, existem dois
que perdeu para Terra Nostra (86 países). Com tipos de filmes: o negativo, no qual a imagem é
as exportações, a Rede Globo fatura cerca de fixada com as relações de contraste e cor inver-
150 milhões de dólares. (Licia Soares de Souza) tidas, e o positivo ou reversível, no qual a ima-
gem é fixada sem inversões de contraste e cor
Referências: (p.ex. o slide na fotografia).
DICIONÁRIO da TV Globo. Programa de Dra- Os filmes são fabricados com diferentes
maturgia & Entretenimento. Rio de Janeiro: graus de sensibilidade à luz, indicados por uma
Jorge Zahar, 2003. Volume 1. classificação expressa em graus numéricos ISO
FERNANDES, Ismael. Telenovela brasilei- -International Standard Organization. Quanto
ra. Memória. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, menor o número ISO, menor será a sensibilidade
1994. à luz natural ou artificial. Para os filmes cinema-
LOBO, Narciso. Ficção e Política, o Brasil das tográficos existem diferentes bitolas que definem
minisséries. Manaus: Editora Valer, 2000. o tamanho da imagem e o equipamento a ser uti-
SOUZA, Licia S. De. Televisão e Cultura: Aná- lizado tanto para filmagens como para processa-
lise Semiótica da Ficção Seriada. Salvador: mento e projeção, variando entre 70 mm, 35 mm
Secretaria da Cultura e Turismo/Fundação (mais usado profissionalmente), 16 mm e 8 mm.
Cultural do Estado, 2003. O filme é o suporte fundamental que per-
. Doze anos de merchandising no Bra- mitiu o desenvolvimento da fotografia e do
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enciclopédia intercom de comunicação
ção-científica, o thriller político e de espiona- Meyer, 1983), telefilme que acabou ganhando as
gem, o filme de guerra, de ação, de horror etc. telas grandes do mundo inteiro pouco antes do
Historicamente, considera-se que o pri- fim da Guerra Fria.
meiro filme-catástrofe foi o italiano The Last No final da década de 1990, possivelmente,
Days of Pompey, de 1913. Mas o gênero come- com as histórias sobre fim de milênio, o gêne-
çou a ter uma existência autônoma e recorrente ro ganhou novo impulso, que vem se manten-
a partir de 1930, quando os grandes estúdios de do ainda hoje, reforçado pelas consequências
Hollywood, encorajados pelo advento do som dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos
sincronizado, começaram a explorar o filão em Estados Unidos - país que produz, ainda hoje,
filmes como O Furacão (John Ford, 1937). Após a maior quantidade de filmes-catástrofe do pla-
a hecatombe da II Guerra Mundial, o apetite do neta. (Laura Loguercio Cánepa)
cinema pela catástrofe aumentaria, impulsio-
nado pela Guerra Fria. Então, nos anos 1950, Referências:
a ficção-científica geraria uma grande quanti- FEIL, Ken. Dying for a laugh: disaster movies
dade de filmes-catástrofe não apenas nos EUA and the camp imagination. Wesleyan: Wes-
(como A Guerra dos Mundos, de Byron Haskin, leyan University Press, 2005.
1953), mas também, por exemplo, no Japão, KAY, Glen; ROSE, Michael. Disaster movies: A
com a série Godzilla, iniciada pela companhia Loud, Long, Explosive, Star-Studded Guide
Toho em 1954. to Avalanches, Earthquakes, Floods, Mete-
O auge do gênero deu-se, na década de ors, Sinking Ships, Twisters, Viruses, Killer
1970, quando grandes orçamentos, efeitos es- Bees, ... Fallout, and Alien Attacks in the
peciais de última geração e elencos que faziam Cinema!!!! Chicago: Chicago Review Press,
fila para morrer de maneira espetacular, reuni- 2006.
dos em roteiros melodramáticos aparentemente KEANE, Stephen. Disaster movies: the cinema
inspirados em telenovelas, com vários núcleos of catastrophe. Londres: Wallflower Press,
de personagens assumindo os papéis de vilões 2001.
e heróis. Em 1970, o sucesso Aeroporto, de Ge-
orge Seaton, deu ao gênero vigor e fórmula até
então inéditos. Seguiu-se uma fase inventi- Fluxo
va, com sucessos como O Destino do Poseidon Vide verbete cultura de onda. O termo também
(Ronald Neame, 1972) e Inferno na Torre (John é usado nos estudos de Jornalismo para signifi-
Guillemin, 1974), mas a fórmula começou a se car o fluxo contínuo de informações em tempo
cristalizar num modelo tão repetitivo que virou real do jornalismo on line, diferentemente da
até motivo de piada, como na série de besteirol definição de fluxo contínuo e descontínuo de
Apertem os cintos, o piloto sumiu! (Jim Abraams Zallo (1988), mais próximo da bibliografia cita-
e David Zucker, 1980 e 1982). da no verbete cultura de onda. (César Bolaño)
O tema encontraria outras saídas ao lon-
go dos anos 1980, inclusive com o surgimen- Referências:
to do mais importante longa-metragem sobre BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Online
a catástrofe nuclear, O Dia Seguinte (Nicholas Journalism: Reflections from a Political
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Oriental e bolsões comunistas espalhados pelo In: DE BEER, Arnold S. (Ed.). Global Jour-
mundo como Cuba. nalism, Topical Issues and Media Systems. p.
Outras teorias, também com raízes marxis- 33-47. Boston: Pearson, 2009.
tas, trataram de explicar o fenômeno do fluxo STRAUBHAAR, Joseph D. Globalization, Me-
Norte – Sul. Entre elas, destaca-se a teoria da dia Imperialism and Dependency as Com-
dependência cultural que definia os países em munications Frameworks. In: ANOKWA,
desenvolvimento (na época chamados Tercei- Kwadwo; LIN, Carolyn A.; SALWEN, Mi-
ro Mundo, sendo o Primeiro Mundo constitu- chael B. (Eds.). Concepts and Cases in In-
ído pelos países ricos capitalistas e o Segundo ternational Communication. p. 225-238.
Mundo formado pelo bloco comunista) como Belmont: Wadsworth, 2003.
dependentes das nações industrializadas para MERRILL, John C. Introduction to Global
obter capital, tecnologia e bens de consumo. Western Journalism Theory. In: DE BEER,
A teoria da dependência cultural também Arnold S. (Ed.). Global Journalism, Topical
afirmava que companhias estrangeiras domi- Issues and Media Systems. p. 3-21. Boston:
navam o conteúdo, o financiamento e a publici- Pearson, 2009.
dade da mídia doméstica nas nações em desen-
volvimento através da associação entre o capital
estrangeiro e as elites locais (STRAUBHAAR, Fluxos de mídia Leste-Oeste
2003). Fluxos de mídia Leste-Oeste era a designa-
O determinismo econômico e ideológico ção dada à circulação de informações entre os
sustentado por estas teorias ignorava o enorme dois campos antagônicos da Guerra Fria (1945-
potencial de crescimento dos produtos cultu- 1989), quando os países capitalistas (o “Ociden-
rais das nações em desenvolvimento, como as te” ou Oeste) se agrupavam em torno dos Esta-
telenovelas mexicanas e brasileiras e, principal- dos Unidos e os socialistas (o “Leste”), ao redor
mente, os vários níveis de leitura dos produtos da União Soviética. Tal divisão era puramen-
culturais importados por parte das audiências te geopolítica, não necessariamente geográfi-
nacionais e sua capacidade de interação com ca (incluindo Cuba, no continente americano,
tais produtos. Teorias mais recentes ligadas à na esfera do Leste; e o Japão, país oriental, no
globalização procuram recontextualizar o fluxo Ocidente), e determinada pelo polo de comu-
da informação Norte-Sul incorporando não só nicação internacional no qual cada nação se in-
o desenvolvimento histórico da comunicação seria.
internacional no século XXI como também a No aspecto quantitativo, era desprezível
influência de novos fatores, processos e atores o volume de informações circulado entre um
dando ao tema um caráter multidimensional, bloco e outro, reproduzindo a exclusão mútua
pluralista e interdependente (MERRILL, 2009). que ocorria nas suas relações comerciais. Me-
(Heloiza G. Herscovitz) canismos de controle, censura e gatekeeping
(filtragem editorial) contribuíam para a igno-
Referências: rância recíproca e perpetuação de estereótipos
RANTANEN, Terhi; BOYD-BARRETT, Oli- junto às respectivas opiniões públicas. Embo-
ver. Global and National News Agencies. ra os maiores órgãos de imprensa e agências de
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enciclopédia intercom de comunicação
notícias, de cada lado, mantivessem correspon- pragmáticas para favorecer a circulação entre
dentes fixos nos polos adversários, até para eles, países em desenvolvimento (os chamados flu-
o acesso à informação era muitas vezes dificul- xos de mídia Sul-Sul).
tado e pré-filtrado segundo interesses estratégi- Com a derrubada do Muro de Berlim, dis-
cos (MATTELART, 1994, p 195-204). solução da URSS e o fim da Guerra Fria, confi-
Produtos culturais, artistas e intelectuais ti- gurou-se um deslocamento do eixo Leste-Oeste
nham circulação restrita no bloco antagônico, para Norte-Sul, com o “Norte” agrupando os
salvo no caso de deserção. Porém, talvez mais polos antagônicos capitalista e socialista (am-
importantes que os fluxos regulares de meios bos industrializados) e o “Sul” com os países
de comunicação fossem as informações veicu- em desenvolvimento (de perfil agroexportador
ladas intencionalmente para efeito de desinfor- ou em estágio incipiente de industrialização).
mação, contra-informação e propaganda. (Pedro Aguiar)
Desde a Segunda Guerra Mundial, as po-
tências incluíram a radiodifusão internacional Referências:
como estratégia de propaganda ideológica e ABREU, João Baptista de. Rádio e formação
“guerra psicológica”. Além da Rádio Moscou e de mentalidades - Testemunha ocular da
da Voz da América, mantidas pelos respectivos Guerra Fria na América Latina. Tese de
governos das superpotências e que transmitiam doutorado. Escola de Comunicação da
não só para os países adversários, mas tam- Universidade Federal do Rio de Janeiro.
bém para o Terceiro Mundo, havia organismos Rio de Janeiro: ECO/UFRJ, 2004.
como a Rádio Europa Livre/Radio Liberty, se- MATTELART, Armand. Comunicação-Mundo:
diada em Munique (então Alemanha Ociden- história das ideias e das estratégias. Trad.
tal) e concentrada em emissões de propaganda Guilherme João de Freitas Teixeira. Petró-
para além da Cortina de Ferro (MATTELART, polis: Vozes, 1994.
idem). SMITH, Anthony. La Geopolítica de la Informa-
No entanto, determinados países consti- ción. México D.F.: Fondo de Cultura Eco-
tuíam exceções à bipolaridade e conseguiam nómica, 1984.
abrir-se para fluxos advindos de ambos os blo- SPARKS, Colin. Communism, Capitalism, and
cos – notavelmente, os membros do Movimen- the Mass Media. London: Sage, 1998.
to Não-Alinhado, que rejeitavam submissão a
qualquer uma das superpotências. Assim, na-
ções como Egito, Indonésia, Índia e – parti- Fluxos de mídia Sul-Sul
cularmente – a Iugoslávia, tornavam-se che- Fluxos de mídia Sul-Sul representam o conjun-
ckpoints da Cortina de Ferro, consumindo e to das informações que circulam entre os países
enviando conteúdo de e para os dois campos periféricos do sistema econômico mundial – o
geopolíticos. Juntos, ao longo dos anos 1970, chamado “Sul global”. O conceito tem sua gêne-
eles lançaram um apelo à mudança no sistema se em meados dos anos 1970, dentro do apelo
global de comunicação e à formação de uma por uma Nova Ordem Mundial da Informação
Nova Ordem Mundial da Informação e Co- e Comunicação (NOMIC), lançado pelo Movi-
municação. Também apresentaram iniciativas mento dos Países Não-Alinhados (nações que
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rejeitavam a submissão a qualquer um dos blo- Algumas das iniciativas pragmáticas toma-
cos da Guerra Fria) e mais tarde apadrinhado das para estimular a abertura de canais Sul-Sul
pela Unesco. de comunicação foram a fundação de associa-
Como primeiro forum representativo dos ções regionais de agências de notícias (no Ca-
países subdesenvolvidos, após os processos de ribe, na África, no Oriente Médio, no Sudeste
descolonização, os não-alinhados identificaram Asiático e na Oceania); a formação de um pool
a imensa desigualdade quantitativa e qualitati- de agências de notícias dos países não-alinha-
va entre, de um lado, a circulação de notícias dos (1975); e a criação, na esfera da ONU, do
e bens culturais de países industrializados (o Programa Internacional de Desenvolvimento
“Norte”, fosse capitalista ou socialista) nos mer- das Comunicações (1980) (BOYD-BARRETT;
cados de nações em desenvolvimento e, do ou- THUSSU, 1992).
tro, a de produtos jornalísticos e culturais do Em comum, elas tinham características de
Sul no Norte. adequação às necessidades e idiossincrasias dos
Estudos comparativos também constata- países recém-descolonizados: serem baratas, por
ram o intenso fluxo de informações no eixo causa da precariedade de infraestrutura; adaptá-
Norte-Norte (entre países desenvolvidos) em veis e flexíveis, em virtude dos riscos e choques
contraste com a virtual ausência de inter- inerentes à formação da identidade nacional; e
câmbios no eixo Sul-Sul. Mais ainda, com- autônomas, por fragilidade das instituições do
provaram que o percurso da informação so- Estado (geralmente submetidas a graus excessi-
bre nações mais pobres publicada em outras vos de corrupção, autoritarismo e burocracia).
igualmente pobres era predominantemente Com o advento das novas tecnologias de
fornecido por fontes do Norte, configurando informação e comunicação (NTICs), a conver-
assim uma situação de “dependência infor- gência entre elas e a disseminação da internet
mativa” no então chamado Terceiro Mundo comercial, a partir de meados dos anos 1990, a
(FERREIRA, 1980). comunicação em redes passou a ser vista como
Tal configuração foi atribuída ao fato de a mais uma opção viável para a abertura de flu-
circulação de informações, reproduzir estrutu- xos de informação Sul-Sul. (Pedro Aguiar)
ralmente a circulação de bens materiais, segun-
do a divisão internacional do trabalho. Em res- Referências:
posta, as propostas de criação de fluxos Sul-Sul BOYD-BARRETT, Oliver; THUSSU, Dhaya
têm por fundamentação ideológica a rejeição Kishan. Contra-Flow in Global News: In-
ao tratamento da informação como mercado- ternational and Regional News Exchange
ria e a noção de “direito à comunicação” como Mechanisms. Londres: John Libbey; Paris:
universal. Também se trata de reivindicar um UNESCO, 1992.
direito à autorrepresentação dos países em de- FERREIRA, Argemiro. Informação e Domina-
senvolvimento, em substituição à representação ção: a dependência informativa do Tercei-
deles feita por entidades de mídia dos países ro Mundo e o papel do jornalista brasilei-
industrializados – considerada, pelos críticos, ro. Rio de Janeiro: Sindicato dos Jornalistas
como estereotipada, etnocêntrica, distorcida e Profissionais do Município do Rio de Ja-
colonizada (MATTELART, 1994). neiro, 1982.
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de sentir, pensar e agir das camadas populares personagens, movimentos de roupas, de cadei-
no interior das sociedades civilizadas e moder- ras, separadamente e em sincronia com a cena.
nas. Tem como objeto privilegiado de estudos Os sons são gravados em um aparelho de vá-
os contos tradicionais orais, sobretudo, infan- rios canais de áudio que mistura todos os sons
tis, as superstições e crendices populares, as como se tivessem ocorrido ao mesmo tempo.
expressões lúdicas dos folguedos e festas tra- Normalmente em um estúdio de Foley traba-
dicionais, artes e técnicas profissionais, enfim, lham um ou dois artistas, criando sons, um de
saberes medicinais etc. (Gilmar Rocha) cada vez, que no final são mixados em um só
canal de áudio. O estúdio de Foley é um am-
Referências: biente isolado, onde não se pode gravar outro
FERNANDES, Florestan. O Folclore em Ques- som que não seja aquele do momento. Durante
tão. São Paulo: Hucitec, 1978. a gravação, os artistas de Foley não usam reló-
ORTIZ, Renato. Românticos e Folcloristas – gios, pulseiras, anéis, roupas com zíperes, five-
Cultura Popular. São Paulo: Olho D’Águas, las etc. Eles, geralmente, usam camisa e calça
1978. um pouco justas, justamente para não produzi-
VILHENA, Luís Rodolfo. Projeto e Missão – O rem sons indesejáveis.
Movimento Folclórico Brasileiro 1947-1964. Os artistas de Foley usam um saco de pano
Rio de Janeiro: Funarte/FGV, 1997. com amido de milho (Maisena) e ficam baten-
do-o ou apertando-o para produzir som de im-
pacto em neve, como um esqui na neve. Nos
Foley desenhos animados, quando algum persona-
É uma técnica que consiste em criar em estú- gem enfia alguma coisa de um ouvido a outro,
dio sons de passos, portas se abrindo etc, com os artistas fazem esse som apertando e esfre-
o objetivo de substituir os sons de uma cena já gando um balão de ar (bexiga). Para simular
gravada, seja porque os sons não ficaram bons, sons de batidas na cabeça, batem em um melão
seja para realçá-los. Normalmente, quando se com algum pedaço de madeira. Para os sons
filma uma cena dá-se maior atenção aos diálo- de monstros destroçando outros seres, pode-se
gos dos atores. Como consequência, os outros usar melancia, em que se começa a retirar uma
sons - passos, portas se abrindo, o arrastar ca- fatia com a faca e depois completa com a mão.
deiras não se destacam. Só depois com a técni- Os sons de trovões podem ser feitos agitando-
ca de Foley é que serão introduzidos sons me- se chapas de raios-X.
lhores. Vale lembrar que essa técnica não serve O termo confunde-se com Sound design
para criar sons de tiros, explosões, monstros (Design de Som), surgido com Walter Murch no
etc. Isto é tarefa do Editor de Som e do Desig- filme Apocalipse Now. Ele utilizou um sistema
ner de Som. quadrifônico, ou seja, 4 canais de áudio (dois
Foley é o que se conhece, no Brasil como esquerdos e dois direitos), permitindo que, por
sonoplastia. O termo é referência a Jack Dono- exemplo, se em uma cena, um tiro de arma é
van Foley o inventor da arte do Foley. Como feito da esquerda para a direita, o som apareça
processo criativo, o artista vê a cena já gravada, também da esquerda para a direita, cobrindo
em uma tela, e tenta reproduzir os passos dos os 360 graus da sala de cinema. O designer de
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som às vezes tem que sair do estúdio para gra- até o dia de sua apresentação. Temos como fol-
var ruídos de carros para as cenas que ocorrem guedo: cavalhada, guerreiro, reisado, bumba-
no interior destes, uma vez que normalmente meu-boi, caboclinho, maracatu, folia de reis,
os carros são transportados juntamente com o cavalo marinho, fandango, presépio/pastoril,
carro da câmera e assim não há som. O termo entre outros.
Design de Som também significa criar um som Na verdade o folguedo designa a recreação
que não existe, ou que não pode ser criado em teatral de um povo, a partir dos elementos dos
estúdio de Foley. (Moacir Barbosa de Sousa) fatos folclóricos, incorporando dimensões tec-
nológicas. Neste sentido o folguedo é um jogo
Referências: entre a tradição e a modernidade desempe-
SOUSA, Moacir Barbosa de. Tecnologia da Ra- nhado pelas gerações de um determinado lo-
diodifusão de A a Z. Natal: UFRN, 2008. cal, que por sua vez, gera projetos de políticas
culturais. Os mestres dos folguedos são estre-
las, que direcionam o seu grupo, são maestros
FOLGUEDO da manifestação popular, que dão sentido há
O Folguedo está relacionado a “folgar”, forma surgimentos de movimentos sociais. Território
de lazer e do lúdico. Brincadeira, divertimen- fértil para pesquisadores, o folguedo constitui o
to, festa. Uma das características do folguedo brilho de um determinado lugar. Acompanha-
está relacionada aos “Autos” natalinos, ou seja, do pelo banco de instrumentos, o folguedo é a
ao nascimento de Jesus Cristo. Por tanto, o fol- criatividade de um povo. Expressão real de um
guedo conserva em sua tradição a dramaticida- povo, o folguedo traduz o imaginário popular
de, compondo uma sinergia com a plateia que no momento de sua exibição, traduz a beleza
colabora com a sua mais perfeita exibição. O de uma comunidade e eleva àquele povo a cate-
folguedo acompanha danças, músicas, loas, es- goria singular de existência, resistência e diver-
petáculo e drama. É muito significativo para o sidade. (Rúbia Lóssio e Mário Souto Maior)
folclore e para cultura popular, por que contém
elementos das manifestações populares, dos fa- Referências:
tos folclóricos, gerando uma riqueza tamanha BENJAMIN, Roberto. Folguedos e danças de
na identificação da identidade local. Pernambuco. Recife: Fundação de Cultura
Acreditamos que a aculturação e a hibridi- Cidade do Recife, 1989.
zação contribuíram no aparecimento de vários BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o fol-
folguedos espalhados pelo Brasil. De celebração clore. Coleção Primeiros Passos. São Paulo:
à ritual, o folguedo guarda múltiplas e peculia- Brasiliense, 1982.
res formas em suas apresentações. Cultura ima- CARVALHO-NETO, Paulo de. Diccionario de
terial, tendo o tempo da brincadeira até o dia Teoria Folklórica. Guatemala: Universidad
amanhecer como explicação para diversidade e San Carlos, 1977.
divertimento de um povo. Desde vários adere- COMISSÃO NACIONAL DE FOLCLORE.
ços e adornos, o folguedo reiventa alternativas Carta do Folclore Brasileiro. Salvador: CNF,
de sobrevivência pela sua majestosa elegância 1995.
em compartilhar acontecimentos do cotidiano TURNER. Jonathan H. Sociologia: conceitos
538
enciclopédia intercom de comunicação
e aplicações. São Paulo: Makron Books, tir, pensar e agir em relação aos fatos da socie-
1999. dade e aos dados culturais do tempo”, peculia-
res às camadas populares. Carneiro (1965, p. 22)
afirma que o folclore é uma reinvenção social e
FOLKCOMUNICAÇÃO que ele se projeta no futuro com expressões da
Folkcomunicação é uma disciplina científica sede de justiça: “o folclore, com efeito, se nutre
criada pelo professor e jornalista Luiz Beltrão, dos desejos de bem-estar econômico, social e
em sua tese de doutorado, “Folkcomunicação: político do povo e, por isso mesmo, constitui
um estudo dos agentes e dos meios populares uma reivindicação social”.
de informação de fatos e expressão de ideias” Outro fator que ajudou Beltrão na criação
defendida em 1967 na UnB. Em sua tese, Beltrão da teoria foram as pesquisas norte-americanas
(2004, p. 47) definiu a Teoria da Folkcomunica- de comunicação, principalmente o diagnóstico
ção como sendo “o processo de intercâmbio de de Paul Lazarsfeld e o modelo do two-step flow
informações e manifestações de opinião, ideias of communication, em que o emissor transmitia
e atitudes da massa, por intermédio de agen- as informações para os líderes de opinião que
tes e meios ligados direta ou indiretamente ao por sua vez repassava para seus influenciados.
folclore”, e expôs que a importância da teoria Beltrão percebeu em caixeiros viajantes, can-
era “a necessidade imprescindível de estarmos tadores, folhetos, almanaques, livros de sorte,
atentos a essa forma esquisita do intercâmbio além de rituais como “Queima de Judas” e “Ser-
de informações e ideias entre os dois brasis, no ra dos Velhos”, o papel de transmitir as mensa-
interesse da afirmação e do desenvolvimento gens dos mass media para a chamada audiência
nacional”. folk.
Essa conclusão começou com a observação Em 1980, com o livro Folkcomunicação: a
da prática do ex-voto. Beltrão percebeu que não comunicação dos marginalizados Beltrão am-
era só através dos meios ortodoxos tradicionais pliou suas pesquisas. Nesse livro estabelece a
que a comunicação poderia ser realizada. Exis- audiência do sistema da folkcomunicação. Bel-
te, uma forma rudimentar de estabelecer o pro- trão (1980, p. 39) percebe que o usuário do sis-
cesso comunicativo, através do folclore. Beltrão tema da folkcomunicação é um indivíduo fre-
(2004, p. 118) percebeu o ex-voto “como a lin- quentemente marginalizado, ou seja, vive à
guagem do povo, a expressão do seu pensar e margem de duas culturas: a hegemônica e aque-
do seu sentir tantas e tantas vezes discordante e la específica de seu grupo. Desse modo, sofre
mesmo oposta ao pensar e ao sentir das classes influência de ambas, constituindo um híbrido
oficiais e dirigentes”. cultural. O marginal “é um indivíduo à margem
É necessário esclarecer que Beltrão partiu de duas culturas e de duas sociedades que nun-
das pesquisas de Edison Carneiro e sua dinâ- ca se interpenetram e fundiram totalmente”.
mica do folclore. Carneiro (1965, p. 2) aponta Convém ressaltar que a denominação mar-
que o folclore não é estático como previam os ginal ganhou um caráter pejorativo, mas a ex-
folcloristas tradicionais, e sim um processo di- pressão nesse texto não adquire essa semântica.
nâmico em que “o povo atualiza, reinterpreta e Outro ponto que devemos ressaltar é que em-
readapta constantemente os seus modos de sen- bora os grupos marginalizados por vezes sejam
539
enciclopédia intercom de comunicação
excluídos do sistema político, cabe a folkcomu- os indivíduos pertencentes a esse grupo são
nicação analisar sua exclusão do sistema da co- subinformados ou equivocadamente informa-
municação social. dos pelo sistema midiático. A expressão de seu
De acordo com Beltrão (1980), os usuários pensamento, geralmente, é praticada em mani-
do sistema da folkcomunicação podem ser di- festações coletivas e atos públicos promovidos
vididos em três grandes grupos: rurais margi- por instituições próprias (sindicatos, escolas de
nalizados; urbanos marginalizados e os cultu- samba, organizações religiosas, etc). As grandes
ralmente marginalizados. Na folkcomunicação, oportunidades de comunicação acontecem em
cada ambiente gera seu próprio vocabulário e festas religiosas urbanas (independente do cre-
sua própria sintaxe. Conforme Beltrão (1980, do), celebrações cívicas e carnaval (maracatu,
p. 40), cada agente-comunicador emprega um escolas de samba e frevo).
determinado canal, que, de acordo com suas Já os grupos culturalmente marginalizados
especificidades, vai dar conta de transmitir as podem ser urbanos ou rurais, constituem-se de
mensagens que se quer passar. indivíduos marginalizados por contestação à
Os grupos rurais marginalizados seriam, cultura e organização social estabelecida, em
para ele, constituídos de habitantes de áreas razão de adotarem práticas sociais contrapos-
isoladas e subinformadas. Do ponto de vista in- tas aos ideais generalizados (ou, pelo menos,
telectual, o grau de instrução acadêmica desse majoritários) na comunidade. Beltrão (1980,
grupo é baixa, com um vocabulário reduzido p. 104) estabelece uma subdivisão nesse grupo,
e muito específico (rico em dialetos e expres- agrupando-os em messiânico, político-ativista
sões coloquiais). Beltrão afirma que mesmo e erótico-pornográfico.
sem acesso aos meios de massa não deixam de Os indivíduos pertencentes a esse gru-
se informar e manifestar suas opiniões, reali- po aspiram a “uma vida livre de sofrimentos,
zadas pelo contato direto em conversas, relato angústias, injustiças e opressões e/ou de pleno
de ‘causo’ e histórias. As oportunidades de co- gozo das riquezas e prazeres que a civilização
municação desse grupo são apresentadas nas proporciona a uma minoria privilegiada”.
celebrações de efemérides religiosas (a exemplo O messiânico caracteriza-se por ser um
dos ciclos de Natal, Quaresma e santos padro- grupo composto de seguidores de um líder ca-
eiros) e atividades coletivas da produção e do rismático, cujas ideias religiosas ou dogmáticas
comércio. representam contrafações com as difundidas de
Os grupos urbanos marginalizados são modo hegemônico pelas crenças tradicionais.
caracterizados pelo reduzido poder aquisitivo Sob sua liderança do líder, o povo manifesta
devido à baixa renda. Integrariam este grupo seus anseios de liberdade e realização. Pode-
os indivíduos que ocupam subempregos, que se citar como exemplo: Antônio Conselheiro,
não exigem mão-de-obra especializada, e tam- Padre Cícero, Frei Damião e até mesmo Chico
bém aqueles que vivem de expedientes ilegais Xavier, Zé Arigó e o profeta Gentileza.
(ladrões, prostitutas, cafetões e passadores de O grupo político-ativista tem uma ideolo-
‘bicho’). Geralmente o grupo concentra-se em gia própria. São indivíduos decididos a manter
aglomeramentos de moradias nos bairros pe- estruturas de opressão a ordem política e social
riféricos das cidades. Segundo Beltrão (1980), em que se fundamentam as relações entre os ci-
540
enciclopédia intercom de comunicação
dadãos; seja por meio da força física ou psico- Assim, pode-se que a Folkcomunicação es-
lógica. tuda os procedimentos comunicacionais dos
Na constituição dessas camadas da folk-au- grupos marginalizados, seja na mídia massiva
diência entram tipos de liderança que influen- ou na mídia folk. Hohlfedt (2003) aponta que
ciam o comportamento de centenas de pesso- a dificuldade de aplicar conceitos de folclore e
as, levando-as a assumir posições contrárias à cultura popular advém do fato de existir uma
ordem política e social vigentes. Pode-se citar cultura horizontal e que a aproximação de so-
como exemplo: Lampião, Zumbi dos Palmares ciedades urbanas industrializadas em relação
e Luís Carlos Prestes. Atualmente enquadram- às sociedades tradicionais cria dicotomias, am-
se nesse grupo chefes de milícias, traficantes, bivalências e distanciamentos sociais de vários
coronéis, funkeiros do proibidão, prisioneiros matizes.
e terroristas. Contudo, a folkcomunicação é a comunica-
O grupo erótico-pornográfico constitui-se ção de grupos marginalizados não apenas so-
por não aceitarem a moral e os costumes vigen- cialmente. É preciso levar em conta que o olhar
tes na sociedade, propondo a reformá-los em sobre estratégias comunicacionais de classes su-
prol de uma liberdade sexual considerada per- balternas corre sempre o risco de um olhar pre-
niciosa pela ética social em vigor. A revolução conceituoso por parte de quem o emite, quan-
sexual vivenciada no século XX foi fundamen- do instruído pela cultura hegemônica.
tal para que os indivíduos desse grupo pudes- Outra importante contribuição para os es-
sem se expressar. tudos de Folkcomunicação, vem do ex-aluno
Não se deve esquecer que enquanto os dis- de Beltrão, Roberto Benjamin. No livro Folkco-
cursos da comunicação social são dirigidos ao municação no contexto da massa, define a nova
mundo, os da folkcomunicação se destinam a abrangência da Folkcomunicação em seis tó-
um mundo em que palavras, signos gráficos, picos: (1) A comunicação interpessoal e grupal
gestos e atitudes mantêm relações com a con- ocorrente na cultura folk; (2) A mediação dos
duta das classes integradas, marginalizadas da canais folk para a recepção da comunicação de
sociedade, que vivem esmagadas pela tendên- massa; (3) A apropriação das tecnologias da co-
cia massificadora da cultura dominante disse- municação de massa (e outras) e o uso dos ca-
minada sistematicamente pelos aparelhos con- nais massivos por portadores da cultura folk;
vencionais da reprodução ideológica (escola/ (4) A presença de traços da cultura de massa
família/Estado/Igreja) e reforçada pelos veícu- absorvidos pela cultura folk; (5) Apropriação de
los da indústria cultural. elementos da cultura folk pela cultura de massa
Por isso, portadores de culturas não-hege- e pela cultura erudita e (6) A recepção da cul-
mônicas estão, em pleno século XXI, buscando tura folk de elementos de sua própria cultura
formas de se fazer entender – o que implica lu- reprocessada pela cultura de massa.
tar por visibilidade por meio de ações comu- Outras atualizações da teoria de Folkco-
nicativas dentro ou fora do sistema midiático. municação estão sendo desenvolvidas pelos
É neste sentido que a folkcomunicação oferece pesquisadores ligados a Rede Brasileira de Es-
discussões relevantes para o debate contempo- tudos e Pesquisa em Folkcomunicação (Rede
râneo. Folkcom), com destaque para o conceito de Ati-
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enciclopédia intercom de comunicação
vismo Midiático de Osvaldo Trigueiro, Folkma- las de samba, escola dominical, mutirão e troça
rketing e Folkturismo de Severino Lucena Filho (uma orquestra carnavalesca que toca priorita-
e as diversas contribuições de José Marques de riamente frevo, marchinha de carnaval e outras
Melo, Cristina Schmidt, Betania Maciel, Maria músicas típicas). Já o formato ‘celebração’ en-
Cristina Gobbi e Sebastião Breguez. Além das globa os seguintes tipos de manifestação: afoxé
valiosas observações de Joseph Luyten a cerca (popularmente conhecido como ritmo do can-
da literatura de cordel e da folkmídia. (Guilher- domblé), candomblé, macumba, missa crioula,
me Moreira Fernandes) procissão, peregrinação, toré (ritual indígena),
umbanda e vigília a Iemanjá.
Referências: O formato ‘distração’ contém a amarelinha,
BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comuni- bazar, capoeira, circo mambembe, horóscopo,
cação dos marginalizados. São Paulo: Cor- jogo do bicho, mafuá, mamulengo, pelada de
tez, 1980. várzea, quermesse, rodeio crioulo, tourada e va-
. Folkcomunicação: teoria e metodologia. quejada. Por sua vez, o formato ‘manifestação’
São Bernardo do Campo: Umesp, 2004. contempla: campanha, comício, desfile, greve,
BENJAMIN, Roberto. Folkcomunicação no con- marcha, passeata, parada, queima de Judas, tro-
texto de massa. João Pessoa: UFPB, 2000. te de calouros. Inserimos também o tipo, pa-
CARNEIRO, Edison. Dinâmica do Folclore. Rio rada gay como uma manifestação folkcomuni-
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. cacional, embora já tenhamos citado a ‘parada’
HOHLFELDT, Antônio. Novas tendências nas de forma genérica, achamos necessário colocar
pesquisas da folkcomunicação: pesquisas essa espécie como um tipo próprio.
acadêmicas se aproximam dos Estudos O formato ‘folguedo’ contempla as seguin-
Culturais. In: PCLA. Vol 4, n. 2, 2003. Dis- tes formas: baiana, bumba-meu-boi, cavalha-
ponível em: <www2.metodista.br/unesco/ da, chegança, caboclinho, fandango, folia de
PCLA/revista14/artigos%2014-1.html>. reis, guerreiro, marujuada, maracatu, pastoril,
reisado e taieira. Já o ‘festejo’ é composto pelo
carnaval, festa cívica, festa da padroeira, festa
FOLKCOMUNICAÇÃO CINÉTICA da produção, festa do divino, festa junina, fes-
A folkcomunicação cinética é um gênero da ta natalina, micareta, forró, funk carioca e rap
folkcomunicação conceituado por José Mar- paulista.
ques de Melo (1979, 2008) e Luiz Beltrão (1980). Por sua vez, a ‘dança’ abarca os seguintes
De acordo com Marques de Melo (2008, p. 90), tipos: batuque, caiapó, catira, congada, curu-
a folkcomunicação cinética abarca as manifes- ru, coco-de-roda, dança de Moçambique. Fla-
tações em múltiplos canais que utilizam os có- mengo, galope, jongo, marcha-rancho, maxixe,
digos gestuais e plásticos. mazurca, quadrilha, samba, sapateado, tango,
Marques de Melo (2008), na sistematização ticumbi, valsa e xaxado. Por fim, o formato ‘rito
da folkcomunicação cinética, concebe oito for- de passagem’ é manifestado através do: aniver-
matos. O primeiro formato é a ‘agremiação’, que sário natalício, batizado, bodas, chá-de-bebê,
contempla os seguintes tipos: bloco carnavales- chá-de-cozinha, despedida de solteiro, forma-
co, clube de mães, comunidade de base, esco- tura e velório.
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enciclopédia intercom de comunicação
Para outras informações desses modos de Dewey acredita que nada se comunica
expressões típicos da cultura popular e do fol- sem que os dois agentes em comunicação – o
clore, sugerimos a consulta do Dicionário do que recebe e o que comunica – se mudem ou
Folclore Brasileiro, idealizado pelo pesquisador se transformem de certo modo. Quem recebe
Câmara Cascudo e do segundo volume do livro a comunicação tem uma nova experiência que
Folclore Nacional de Alceu Araújo. (Guilherme lhe transforma a própria natureza. Quem a co-
Moreira Fernandes) munica, por sua vez, se muda e se transforma
no esforço para formular a sua própria experi-
Referências: ência. (DEWEY, 1959, p. 118).
BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comuni- Dewey apresenta a noção de que educar é
cação dos marginalizados. São Paulo: Cor- reconstruir, em cada novo membro da socieda-
tez, 1980. de, as significações coletivas, o que só pode ser
MARQUES DE MELO, José. Sistemas de Co- feito por meio da experiência pessoal de cada
municação no Brasil. In: , FADUL, indivíduo, experiência que cumpre a tarefa de,
Anamaria; LINS DA SILVA, Carlos Eduar- ao mesmo tempo, conservar e inovar a ordem
do. Ideologia e poder no ensino de comuni- social em que se efetiva.
cação. p. 211-239. São Paulo: Cortez e Mo- A concepção de ciência de Luiz Beltrão
raes, 1979. rompe com a ideia de algo que paira acima da
. Mídia e cultura popular: história, taxio- sociedade. Para ele, a ciência é parte da socie-
nomia e metodologia da folkcomunicação. dade e da vida. Beltrão reconhecia que os agen-
São Paulo: Paulus, 2008. tes de folkcomunicação, nas sociedades rurais
ou periféricas, tinham um discurso ligado dire-
tamente à liderança de opinião e credibilidade
FOLKCOMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO junto aos seus pares proveniente da mensagem
Educação é a ação de desenvolver as faculdades que sabiam codificar no nível de entendimento
psíquicas, intelectuais e morais: a educação da de sua audiência.
juventude, bem como o conhecimento e prática Para Beltrão (2001), cultura é produzida em
dos hábitos sociais (DICIONÁRIO AURÉLIO, um meio determinado, a partir da participação
2010). Para John Dewey (1959, p. 116), filóso- ativa dos integrantes de um grupo social espe-
fo norte-americano e um dos fundamentado- cífico. É esta cultura que confere coesão social a
res teóricos da ‘Escola Nova’, educação aparece tal grupo, permitindo o compartilhamento de
como o processo de reconstrução e reorganiza- suas crenças, de sua “leitura do mundo”. Pedro
ção da experiência, ou seja como um “processo Demo (1996, p. 58), lembra ainda que a cultura
direto da vida”, onde a sociedade não somente constitui o contexto próprio da educação, por-
assegura a sua continuidade por transmissão, que é motivação fundamental de mobilização
mediante comunicação, como pressupõe uma comunitária e quadro concreto da criatividade
participação inteligente na atividade coletiva, histórica. Segundo ainda este autor “faz sentido
uma compreensão comum. Em seu sentido ge- falar de cultura popular, não só porque o povo
nuíno, sociedade é, pois, comunicação ou mú- também tem cultura (...), mas, sobretudo, por-
tua participação. que é motivação essencial dos processos parti-
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enciclopédia intercom de comunicação
cipativos”. (DEMO, 1996, p.59). (Eliana Maria folclóricos, que são, na verdade, da criação lite-
de Queiroz Ramos) rária erudita ou de massas.
O relato etnográfico está inserido nos
Referências: estudos da pesquisa social, utilizando-se de
BELTRAO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo diversos instrumentais como: fotografia, fil-
dos agentes e dos meios populares de in- magens, diário de bordo, fichas de registro,
formação de fatos e expressão de ideias. entre outros. Os gestos, as falas, são captura-
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001 dos pelo pesquisador e atribuídas representa-
DEMO, Pedro. Participação é conquista: noções ções, muitas das quais imbuídas de um pen-
de política social participativa. São Paulo: samento conflituoso em relação ao contexto
Cortez, 1996. do sujeito (pesquisador) e o objeto (pesquisa-
DEWEY, J. Democracia e educação: introdução do). Neste processo, ocorre a transmissão de
à filosofia da educação. São Paulo: Nacio- informações úteis de natureza educativa. As
nal, 1959a. narrativas podem conter elementos caracte-
DICIONÁRIO AURÉLIO on-line 2010. Ver- rísticos de uma determinada cultura ou loca-
bete educação. Disponível em: <http:// lidade, como bem lembra Benjamin (BENJA-
www.dicionariodoaurelio.com/dicionario. MIN, 1996, p.16)
php?P=Educacao>. Acesso em 20/02/2010. A folkcomunicação se utiliza dos recur-
sos de técnicas de etnográficas para abordar as
questões pertinentes às manifestações popula-
FOLKCOMUNICAÇÃO E ETNOGRAFIA res, ampliando o seu campo de estudo, porém,
A etnografia aparece como parte dos estu- vislumbramos que a teoria beltraniana não
dos antropológicos correspondente à fase de deve se limitar a tais observações, dependendo,
elaboração de dados obtidos em pesquisa de assim, do seu objeto para melhor aplicação da
campo e estudo descritivo de um ou de vários metodologia. (Jademilson Manoel da Silva)
aspectos sociais ou culturais de um povo ou
grupo social (DICIONÁRIO AURÉLIO, 1999, Referências:
p. 849). Ela tem sido utilizada nas pesquisas BENJAMIN, R. A fala e o gesto: narrativas de
folkcomunicacionais nas diversas manifesta- folkcomunicação sobre narrativas popula-
ções populares como a cantoria, literatura de res. Recife: Universitária, 1996.
cordel, o repente e os mais diversos folguedos NOVO DICIONÁRIO Aurélio da Língua Portu-
que compõem o mosaico popular do território guesa. Rio de Janeiro: Editora Nova Fron-
brasileiro. teira, 1999.
Tais narrativas populares – mitos, lendas,
contos e casos - constituem vasto campo de ob-
servação de análise empírica e qualitativa no FOLKCOMUNICAÇÃO E EXTENSÃO RURAL
campo etnográfico. Para Benjamin (1996), o Inicialmente compreendida como “o proces-
caso é um trabalho literário e, geralmente, hu- so de estender, ao povo rural, conhecimentos
morístico, na literatura massiva e que sofre va- e habilidades, sobre práticas agropecuárias, flo-
riações conforme a região, gerando fatos ditos restais e domésticas, reconhecidas como im-
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todos e conceitos constituídos pela observação, tejam muito mais próximos de suas bases (...)’
reflexão, compreensão e explicação. Sociologia (HOHFELDT, 2006, p. 67). (Eliana Maria de
é, pois, a ciência de observação dos fenômenos Queiroz Ramos)
sociais, entendendo-se por sociedade o cam-
po das relações intersubjetivas (ABBAGNANO, Referências:
1982, p. 880). ABBAGNANO, Nicola, Dicionário de Filosofia.
Para Szmrecsányi e Queda (1979), a socio- Trad. Alfredo Bosi c/colaboração de Mau-
logia rural é um ramo da sociologia regional rice Cunio, 2. ed. São Paulo: Mestre Jou,
que estuda os fatos tal como se dão na realidade 1982.
e não se interessa por fins determinados a par- HOHFELDT, Antônio. Folkcomunicação: po-
tir de um ponto de vista ideal. Assim, “em uma sitivo oportunismo de quase meio século.
de suas dimensões é um processo reflexivo, que In: SCHIMIDT, Cristina (Org). Folkcomu-
implica o indivíduo, na qualidade de sujeito, a nicação na Arena global: avanços teóricos e
pensar-se como objeto” (PORTO, 1995, p. 46). metodológicos. São Paulo: Ductor, 2006.
Segundo Porto, “isolado e distanciado do PORTO, Maria Stela Grossi. A sociologia e suas
universo e dos demais seres vivos, o homem se fronteiras. In: ADORNO, Sergio. (Org). A
constitui pela cultura e dela se utiliza para do- Sociologia entre a modernidade e a contem-
minar a natureza. O desafio que se apresenta poraneidade. Sociedade Brasileira de So-
atualmente para as ciências sociais é o de rever- ciologia. Número especial de Cadernos de
ter este processo. Reencontrar o elo perdido, a Sociologia. Porto Alegre: UFRGS, 1995.
natureza humana” (PORTO, 199, p. 50). A so- SZMRECSÀNYI, Tómas; QUEDA, Oriowaldo.
ciologia rural tem por tarefa descrever os tra- Vida rural e mudança social: leituras bási-
ços relativamente constantes e universais das cas da sociologia rural. São Paulo: Ed. Na-
relações sociais no meio rural e suas diferenças cional, 1979.
com relação ao meio urbano. Também se preo-
cupa em explicar essas diferenças.
Edgard Morin retrata a complexidade e a FOLKCOMUNICAÇÃO ICÔNICA
importância da transdisciplinaridade e interdis- A folkcomunicação icônica é um gênero da
ciplinaridade dos saberes, uma vez que a com- folkcomunicação conceituado por José Mar-
plexidade da vida precisa ser compreendida de ques de Melo (1979, 2008) e por Luiz Beltrão
forma complexa, daí a importância do diálogo (1980). De acordo com Marques de Melo (2008,
de saberes entre a sociologia rural e folkcomu- p. 90), a folkcomunicação icônica abarca todas
nicação para dar conta do que acontece no dia- as manifestações do canal óptico/táctil que uti-
a-dia. liza os códigos estéticos e funcionais.
A folkcomunicação torna-se importante na Antes de apresentar a sistematização da
compreensão de fenômenos como “controle so- folkcomunicação icônica, há que esclarecer o
cial, socialização ou reintegração social que tais termo ‘icônico’. De acordo com a teoria semi-
práticas promovem e propiciam, porque as prá- ótica de Peirce, ícone é o primeiro termo da se-
ticas comunicacionais populares permitem que gunda tricotomia dos signos, sendo caracteri-
os agentes comunitários da comunicação es- zado por se referir ao objeto que ele denota em
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O segundo formato, de acordo com Mar- que corre publicamente) e pela fofoca (ato de
ques de Melo (2008, p. 92), é a música, que meter-se na vida alheia difundindo informa-
compreende os seguintes tipos: baião (dança e ções). Já a tagarelice contém o bordão (expres-
canto popular executado ao som da viola), chi- são comumente usada por alguém em uma de-
marrete (música de origem portuguesa, oriunda terminada situação), a gíria (linguagem típica
dos açorianos), chula (música de origem portu- de um determinado grupo social) e o palavrão
guesa), choro (música de caráter sentimental (palavra obscena ou grosseira).
executado por flauta, violão, cavaquinho, cla- O formato zombaria é formado pela ane-
rinete, oficleide, bandolim, pistão e trombone), dota (contos rápidos de situações envolvendo
dobrado (composição orquestrada da marcha personagens reais ou fictícios de fundo curioso
militar), lundu (dança de par solto de origem ou divertido) e pelo apelido (fórmulas usadas
africana), moda de viola (expressão da músi- para se designar de modo especial a algumas
ca caipira) e samba de breque (sub-gênero do pessoas ou coisas).
samba em que as músicas são intercaladas por Enquanto o passatempo é dividido nos se-
paradas súbitas com partes faladas). Já a ‘pro- guintes tipos: adivinhação (enigmas propostos
sa’, terceiro formato da folkcomunicação oral, à decifração que se iniciam com a frase ‘o que
tem os seguintes tipos: conto de fadas (narra- é? o que é?’), charada (enigma para cuja solu-
ção falada ou escrita baseado em histórias fic- ção se recompõe uma palavra, partindo de ele-
tícias), lenda (narrativas ficcionais envolvendo mentos dela ou de sílabas, que tenha um sig-
seres físicos e/ou sobrenaturais), saudação (ato nificado determinado) e provérbio (adágios
ou efeito de saudar, cumprimentar ou home- máximos, ditos populares, aproximação e/ou
nagear pessoas) e sermão (discurso religioso, confronto entre coisas e ideias que se asseme-
também utilizado para falas de caráter longo e lham no todo ou em parte).
enfadonho). Por fim, a reza tem os seguintes tipos: ben-
O verso, quarto formato pela classifica- dito (reza cantada que se inicia com a louvação
ção de Marques de Melo, compreende os tipos: bendito, um canto religioso com que são acom-
cantoria (disputa poética entre cantadores do panhadas as precisões e visitas a santuários),
Nordeste brasileiro), glosa (composição poé- incelência (canto cerimonial entoado coletiva-
tica do repentista que recebe um mote de ori- mente em velórios) e ladainha (oração formu-
gem, mais comumente em dois versos de sete lada por uma série de evocações curtas e res-
sílabas), parlenda (gênero infantil destinado a postas repetitivas).
entreter ou acalmar crianças, em versos simples Para outras informações desses modos de
de rimas fáceis) e trova (composição literária expressões, típicos da cultura popular e do fol-
formada por quatro versos setissílabos rimados clore, sugerimos a consulta dos livros Literatu-
e com sentido completo). ra oral no Brasil e Dicionário do Folclore Brasi-
Enquanto o colóquio (conversação entre leiro, de Câmara Cascudo. (Guilherme Moreira
duas ou mais pessoas) é composto pela conver- Fernandes)
sa fiada (proposta de pessoas que não pretende
cumpri-la) e pelo conchavo (acordo, ajuste), o Referências:
rumor é formado pelo boato (notícia anônima BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comuni-
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cação dos marginalizados. São Paulo: Cor- popular com pouca escolaridade, não só acli-
tez, 1980. matado à estrutura de comunicação folk, mas,
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mi- acima de tudo, um indivíduo, como atesta Hall
niaurélio século XXI: o minidicionário da (2003) cuja identidade é verdadeiramente po-
língua portuguesa. São Paulo: Nova Fron- pular por sua própria origem. Essa identidade
teira, 2001. é assim o aspecto definitivo para que a comu-
MARQUES DE MELO, José. Sistemas de Co- nicação do indivíduo flua horizontalmente e
municação no Brasil. In: , FADUL, dessa feita seja persuasiva. A persuasão advém
Anamaria; LINS DA SILVA, Carlos Eduar- da máxima assegurada por Hall de que, o ho-
do. Ideologia e poder no ensino de comuni- mem pós-moderno em meio ao emaranhado
cação. p. 211-239. São Paulo: Cortez e Mo- de possibilidades busca um lugar seguro para o
raes, 1979. ser; esse lugar é a sua identidade como membro
. Mídia e cultura popular: história, taxio- de um espaço compartilhado de conservas cul-
nomia e metodologia da folkcomunicação. turais. Esse primeiro ator político utiliza-se da
São Paulo: Paulus, 2008. fala do camponês, do feirante, do homem que
sobrevive de biscates com a naturalidade típica
daqueles que tem a sua identidade centrada em
FOLKCOMUNICAÇÃO POLÍTICA um mesmo discurso, em uma mesma fala típi-
A Folkcomunicação Política é um típico instru- ca e mais especialmente num conjunto de valo-
mento de comunicação horizontal ou de tenta- res que os move.
tiva de estabelecer um diálogo próximo, através A folkcomunicação – vale frisar – é também
do qual, indivíduos ligados à política buscam se imagem, já que o discurso não é meramen-
aproximar do povo com menor acesso à edu- te oralidade. Assim, as vestes desse ator políti-
cação formal e, portanto, usuários de uma for- co carregam uma engrenagem significativa de
ma bastante singular de comunicação. Essa sin- sentidos, pertencimentos e, naturalmente, co-
gularidade é proveniente do coloquialismo na municação horizontal entre ele e o seu interlo-
linguagem, o qual não atende à norma culta da cutor. Em suma é o líder que fala o que o povo
língua, além de expressões que marcam áreas entende; se veste dentro dos seus padrões; dan-
geográficas específicas e são apropriadas pelos ça e ouve as músicas que compõem a identida-
políticos em seus discursos, entrevistas e mes- de dos que lhe atribuem votos e poder. Em uma
mo no contato não midiatizado com os atores segunda perspectiva, observa-se uma relação
sociais de dada região. de caráter mercadológico.
Esses atores sociais de traços tipicamente Nesse sentido, a utilização de folkcomuni-
populares não usam o padrão formal de fala cação política é, marcadamente, um “estudo de
do idioma convencionado pelos gramáticos, mercado” em que os símbolos da cultura de um
como já destacado. Isso é muito visível. São povo, como suas vestimentas e adornos são me-
igualmente visíveis dois comportamentos que ticulosamente compreendidos a fim de buscar
orientam os membros ligados à política no seu uma identificação entre o ator político, que as-
campo de atuação (BOURDIEU, 2003). O pri- sume uma representação e o popular, que tem
meiro está ligado à liderança política de origem dificuldades de captar a mensagem. Essa difi-
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enciclopédia intercom de comunicação
552
enciclopédia intercom de comunicação
Internet “vieram a ser conhecidas como ‘netlo- municação. Fundação Joaquim Nabuco.
re’ – folclore na net”. Segundo classificação de [s.d]. Disponível em: <www.fundaj.gov.br/
Dauphin (2001) são divididas em (a) cadeias geral/folclore/lendastextos.pdf>. Acesso
eletrônicas; (b) rumores de alerta aos vírus in- em 15/04/2007.
formáticos e (c) rumores clássicos ou lendas MARANHÃO, Renata. As transformações do
urbanas. lendário de terror. O Povo. Fortaleza, 5 de
Observa-se que quanto mais o objeto da dez. 1996.
lenda urbana for popular, mais facilmente será
propagada porque aproxima o fato do imaginá-
rio popular. FOLKCOMUNICAÇÃO, TURISMO RELIGIOSO
O imaginário coletivo corrobora para a E O EX-VOTO
propagação das lendas urbanas. A partir do Os ex-votos, ou agradecimentos por graças re-
ponto de vista da Folkcomunicação, portanto, cebidas de um santo – recuperação da saúde,
o fenômeno das lendas urbanas pode ser inter- salvamento de desastres, assuntos financeiros
pretado como um processo de comunicação e materiais como obtenção de moradia, diplo-
em duas etapas (two-step flow of communica- ma ou emprego, ou mesmo amorosos – consti-
tion), onde as mensagens presentes na mídia tuem uma forma de expressão singular de reli-
massiva são reinterepretações influênciadas pe- giosidade. Também cabe destacar, que além do
las comunicações interpessoais (boato de boca significado religioso, muitos ex-votos possuem
em boca), que envolvem a realidade local e po- uma significação estética, com sofisticada ela-
dem interferir no comportamento das pessoas, boração plástica através da modelação em bar-
resultando em um “consenso hegemônico en- ro ou escultura em madeira. No Brasil, podem
tre as culturas, e no contexto social, fascina o ser encontrados, principalmente, nos grandes
imaginário do povo, que constrói suas lendas, centros de peregrinação religiosa: a Basílica de
adaptando-as ao sistema capitalista” (LÓSSIO, Aparecida do Norte (SP), o Santuário de Bom
s.d.). (Marcelo Sabbatini) Jesus do Matosinhos em Congonhas do Campo
(MG), a Igreja do Senhor do Bonfim em Salva-
Referências: dor (BA) e os santuários de Juazeiro do Norte e
BENJAMIN, Roberto Emerson Câmara. Folkco- de Canindé (CE).
municação no contexto de massa. João Pes- Como destaca Marques de Melo (s.d.), foi
soa: Editora Universitária,UFPB, 2000. justamente através do estudo dos ex-votos, “um
CÂMARA E SILVA, Erick. O que são lendas tipo de objeto que já vinha sendo competente-
urbanas. Projeto Ockham, 2002. Disponí- mente estudado pelos antropólogos, sociólogos
vel em: <http://www.projetoockham.org/ e folcloristas, mas negligenciado pelo comuni-
ferramentas_lendas_2.html>. Acesso em: cólogos” que Luis Beltrão estabelece as bases da
15/04/2007. Folkcomunicação. A tese de Beltrão (1980) esta-
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do fol- belece a relação das expressões populares, arte-
clore brasileiro. 4. ed. São Paulo: Melhora- sanais e mesmo primitivas, aos fluxos comuni-
mentos, 1979. cacionais estabelecidos pelos meios de massa,
LÓSSIO, Rúbia. Lendas: processo de Folkco- sendo as primeiras “retransmissores ou decodi-
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enciclopédia intercom de comunicação
ficadores” das mensagens veiculadas dos segun- plo fluxo comunicativo. A seleção dos objetos
dos. Um pensamento que mantém sua atuali- a serem exibidos, assim como sua disposição
dade, dada as relações que se estabelecem entre física não somente relata a vivência de uma de-
“local” e “global” em um mundo globalizado. terminada classe social caracterizada pela ex-
Mais além do significado religioso e de clusão, dentro do sentido comunicativo apon-
“compensação mágica”, para Beltrão os ex-votos tado pelos estudiosos da folkcomunicação, mas
também consistem em uma linguagem popular também estão transmitindo aos visitantes uma
de protesto contra a difícil situação das camadas meta-mensagem sobre a importância, tipos e
populares e especificamente do povo nordesti- funções dos ex-votos dentro do cenário do ca-
no, vitimado por secas, concentração do poder tolicismo rústico, como forma de comunicação
econômico em latifúndios e de forma geral, pela e expressão alternativa, incorporando os fluxos
fome. Possuem, portanto, além do objeto em si, marginalizados da comunicação. (Marcelo Sa-
uma “leitura”, um significado subjacente. bbatini)
Na relação entre forma externa e conteú-
do e o modo como se estabelece a função co- Referências:
municativa, convém estabelecer uma tipologia BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comuni-
para classificar os ex-votos. Aquela elaborada cação dos marginalizados. São Paulo: Cor-
por González (1981) descreve cinco tipos prin- tez, 1980.
cipais: (1) os figurativos, nos quais os objetos GONZÁLEZ, Jorge A. Exvotos y retablitos:
expressam o desejo alcançado (figuras huma- comunicación y religión en México. In:
nas, maquetes de casas, partes anatômicas); . Cultura (s). p. 9-100. Universidad
(2) os representativos, com objetos que através de Colima, 1981,
de uma parte ou elemento expressam a graça MACIEL, Betania. A Folkcomunicação na ro-
como um a todo (quepe como promoção mili- maria do catolicismo rústico. In: SCHIMI-
tar, buquê como sucesso no casamento); (3) os DT, Cristina (Org). Folkcomunicação na
discursivos, que descrevem o milagre através arena global: avanços teóricos e metodoló-
de registros escritos (cartas, bilhetes, gravuras); gicos. São Paulo: Ductor, 2006.
(4) os midiáticos, são registros de veiculações MARQUES DE MELO, José. Luiz Beltrão: pio-
nos meios de comunicação (jornais, revistas) neiro dos estudos de Folkcomunicação
das expressões de agradecimento e devoção e no Brasil, [s.d]. Disponível em: <http://
(5) os pictóricos, com quadros pintados ilus- www2.metodista.br/unesco/luizbeltrao/
trando através de imagens o benefício obtido. luizbeltrao.biografias.htm>. Acesso em
Já Maciel (2006) propõe a categoria mediacio- 07/12/2009.
nal, composto principalmente pelas fotografias,
e cuja característica seria constituir uma repre-
sentação direta e instantânea da situação do fa- FOLKCOMUNICAÇÃO VISUAL
vor, com a ausência de interpretação e recons- A folkcomunicação visual é um gênero da
trução do significado. folkcomunicação conceituado por José Mar-
No turismo religioso aos santuários e mu- ques de Melo (2008), a partir do diagnóstico de
seus de ex-votos podemos encontrar um du- Luiz Beltrão (1980) da folkcomunicação escrita.
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enciclopédia intercom de comunicação
Marques de Melo (2008, p. 90) não percebe um informações de festas móveis e fixas, calendá-
reducionismo na expressão folkcomunicação rio, horóscopo e entretenimento), graça alcan-
escrita pela possível confusão com o manuscri- çada (manifestação enviada a um santuário ou
to. Assim, a folkcomunicação visual abarca to- capela, também pode ser manifestada através
das as manifestações do canal óptico que utiliza do ex-voto), literatura de cordel (romanceiro
os códigos linguísticos e pictórico. popular nordestino exposto à venda em cordel
Marques de Melo (2008), na sistematização (cordão) em feiras e mercados), literatura me-
dessa área, concebe quatro formatos. O primei- diúnica (livros escritos através da psicografia
ro é o escrito, manifestado pelos tipos: abaixo- de um médium, nem todos são considerados
assinado (documento particular assinado por como livros espíritas), jornal mural (técnica ru-
várias pessoas e que, em geral, contém reivin- dimentar de jornalismo, embora em crescente
dicação, pedido, manifestação de protesto ou utilização, sobretudo como forma de comuni-
de solidariedade), carta anônima (escrita a pró- cação interna de empresas e instituições), pi-
prio punho, digitada ou com recortes de jornais chação de parede (inscrições, pinturas e dese-
ou revistas, sem a assinatura do emissor), car- nhos) e pasquim em verso (sátiras compostas
ta devota (carta pedindo favores e graças en- por autor anônimo, de acontecimentos da atu-
dereçados a santuários e capelas), correio sen- alidade).
timental (cartas destinadas a pessoas amadas, O terceiro formato definido por Marques de
recorrente em festas populares, como a junina), Melo (2008) é o mural que pode conter os se-
corrente (mensagem em cópia que se propõem guintes tipos: cartaz (meio de difusão de infor-
a cobrir, em progressão geométrica, um núme- mação, geralmente fixado em lugares de grande
ro cada vez maior de pessoas), livro de sorte concentração), folhinha (usada como calendário,
(editados para entretenimento em épocas fes- pode contar dias de santos e das para o plantio),
tivas), oração milagrosa (oração realizada para faixa (pena tira com mensagens de saudação ou
a cura de enfermidade ou algum outro fim es- de repúdio), grafito de banheiro/latrina (inscri-
pecífico), panfleto (folhas avulsas distribuídas ções, pinturas ou desenhos em banheiros).
nas ruas), santinho de propaganda (pequeno Por fim, o formato pictográfico abarca as
retângulo de papel que traz a foto e o número formas de: adesivo (plástico autocolante com
do candidato político), volantes publicitários dizeres populares), camiseta (geralmente com
(folhas avulsas contendo mensagens comerciais imagens de santos ou frases humorísticas de
ou ideológicas) e xilogravura popular (gravura duplo sentido), epitáfio (inscrição tumular),
em madeira). flâmula (bandeirola estreita e pontiaguda), le-
Por sua vez, o segundo formato é o impres- genda de caminhão (frases de para-choques de
so que abarca os seguintes tipos: almanaque caminhão, dizeres curtos, geralmente de duplos
de cordel (publicações anuais editados por um sentidos e humorísticos), pintura mediúnica
professor ou amador de astrologia e ciências (manifestação espiritual de médiuns através
ocultas, de poucas páginas, mas de denso con- das mãos ou dos pés) e tatuagem (desenhos ou
teúdo em informações do maior interesse para figuras feitos na epiderme da pessoa).
a sua audiência), almanaque de farmácia (pro- Para outras informações desses modos de
duto similar ao almanaque de cordel, contém expressões típicos da cultura popular e do fol-
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enciclopédia intercom de comunicação
clore, sugerimos a consulta do Dicionário do como uma receita pronta, mas em processo de
Folclore Brasileiro, idealizado por Câmara Cas- construção permanente. Trata-se de um para-
cudo e do terceiro volume do livro Folclore Na- digma que está em constante modificação, em
cional de Alceu Araújo. (Guilherme Moreira função do ambiente cultural, político e do ce-
Fernandes) nário mercadológico, em especial. Nesse con-
texto, serão necessárias ações de comunicação
Referências: específicas, do tipo folkmarketing, com objeti-
BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: a comuni- vos bem definidos, além da elaboração de uma
cação dos marginalizados. São Paulo: Cor- estratégia adequada à situação local, porém sin-
tez, 1980. tonizada com as transformações da sociedade
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mi- industrial.
niaurélio século XXI: o minidicionário da A dinâmica com que fluem os processos
língua portuguesa. São Paulo: Nova Fron- comunicacionais, na sociedade industrial, apre-
teira, 2001. senta, como uma alternativa para as culturas
MARQUES DE MELO, José. Mídia e cultura populares, a integração nos cenários da socie-
popular: história, taxionomia e metodolo- dade do espetáculo. As manifestações folcló-
gia da folkcomunicação. São Paulo: Paulus, ricas atuam como elemento de mediação/de-
2008. codificação e refuncionalização, no âmbito da
contemporaneidade.
A palavra folkmarkenting aparece em seu
FOLKMARKETING – IDEIA INICIAL primeiro registro, no prefácio do livro Azulão
O termo folk = povo, aliado à palavra marke- do Bandepe: Uma estratégia de comunicação
ting, que tem o significado de um conjunto de organizacional, de autoria de Severino Luce-
meios de que uma organização dispõe para na Filho, publicado pela CEP (Recife, 1998), e
vender seus produtos e serviços, resulta na ex- patrocinado pelo Banco do Estado de Pernam-
pressão folkmarketing que, segundo uma visão buco – BANDEPE, produto de dissertação de
genérica, significa o conjunto de apropriações mestrado desse autor.
das culturas populares com objetivos comuni- O contexto do folkmarketing, que surge
cacionais, para visibilizar produtos e serviços dos estudos gerados pela nova abrangência da
de uma organização para os seus públicos-alvo. folkcomunicação, no contexto da sociedade atu-
As mudanças impostas, ou emergentes, al, e que se encontra em fase de constituição,
no cenário mercadológico atual, no univer- sob a ótica da interdisciplinaridade, por exigir
so rurbano, evidenciam o folkmarketing como inferências das diferentes áreas de conhecimen-
uma modalidade comunicacional no contex- to, não só das ciências sociais, em aproximações
to da comunicação organizacional integrada, equitativas, como busca de parcerias com a so-
onde ocorre a apropriação das manifestações ciologia, a antropologia, o folclore, a comunica-
do folclore regional, com objetivos comuni- ção social, a linguística, a literatura, a semiótica
cacionais. e o turismo. No estudo em foco, buscamos uma
No universo da comunicação organizacio- ponte com a comunicação organizacional inte-
nal, as estratégias comunicativas não existem grada, com recorte para os referenciais concei-
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
. A festa junina em Campina Grande – Magalhães, para expressar o que eles entendem
PB: uma estratégia de folkmarketing. João como folkmarketing.
Pessoa: UFPB, 2007. De acordo com Lucena Filho (2007), para
MARQUES DE MELO, José. Gêneros e for- José Marques de Melo, o folkmarketing se cons-
matos folkcomunicacionais: aproximação titui em apropriações dos canais, mensagens e
taxionômica. In: ; GOBBI, Maria códigos da comunicação popular tradicional
Cristina e DOURADO, Jacqueline L. (org.). pelos agentes mercadológicos para vender pro-
Folkcom – do ex-voto à indústria dos mila- dutos, ideias ou imagens institucionais. Sebas-
gres: a comunicação dos pagadores de pro- tião Breguez diz que é o conjunto dos procedi-
messa. p. 140-151. Teresina: Halley, 2006. mentos comuns do marketing associados aos
elementos da cultura popular do folclore na co-
municação organizacional.
FOLKMARKETING - MULTIPLICANDO O Já Osvaldo Trigueiro argumenta que é
CONCEITO uma estratégia de negociação dialética de pro-
O folkmarketing é uma nova abrangência dos dução, circulação e consumo de bens culturais
estudos da folkcomunicação, ou seja, apro- folkcomunicacionais. Gilmar de Carvalho,
priam-se de objetos e signos da cultura popu- pensa que o folkmarketing utiliza os princí-
lar para visibilisar produtos e serviços de uma pios do marketing aplicados a eventos que
organização para seus públicos-alvos. No con- têm as culturas populares como ponto de par-
texto mercadológico rurbano (neologismo de tida. Para ele esse conceito é o transito entre
Gilberto Freire para explicar as cidades com ca- a tradição e o massivo, do ponto de vista do
racterísticas rurais) e urbano, o folkmarketing marketing, que também envolve a publicida-
é uma ferramenta de comunicação organiza- de. Por fim, Francisco Magalhães, refere-se ao
cional integrada que utiliza elementos de uma manejo de técnicas mercadológicas que obje-
cultura regional/local para a venda de produtos tivam a inserção de produtos populares ou ar-
e serviços. tesanais no mercado.
As organizações públicas e privadas utili- A modalidade do folkmarketing apresen-
zam o folkmarketing na busca de identificação ta as seguintes características: aproximação do
com seus públicos, falando a língua que eles mercado regional e de seus consumidores (de-
querem ouvir, as imagens que eles querem ver, vido à divulgação de seus produtos nas festas
visando passar credibilidade e simpatia com a populares); cenários montados em empresas
vinculação de suas marcas, produtos e serviços para valorizar a cultura e a identidade locais;
aos megaeventos culturais regionais. expressões comunicativas que focam a cultura
Para chegar a esse conceito, o professor pa- regional e local, a exemplo de certos slogans; e
raibano (qual professor, não é citado o nome), uso de expressões ligadas aos saberes e práti-
além da vivência e observação do bloco carna- cas da cultura popular, que buscam fortalecer
valesco do Bandepe e da Festa Junina de Cam- o relacionamento da marca com seus públicos.
pina Grande, convidou os professores: José Adotando essas características, ficará eviden-
Marques de Melo, Sebastião Breguez, Osval- ciado o sentimento de pertencimento, o que
do Trigueiro, Gilmar de Carvalho e Francisco aproxima a marca do cliente/consumidor.
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enciclopédia intercom de comunicação
Segundo José Marques de Melo (2006, p. dos do Nordeste brasileiro, especialmente pe-
145), muitos produtos típicos do entretenimen- los alunos do mestrado em Extensão Rural e
to resgataram símbolos populares e os subme- Desenvolvimento Local (Posmex) da Univer-
teram à padronização necessária ao processo sidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
de fabricação massiva e seriada, ou seja, hou- (Guilherme Moreira Fernandes)
ve uma apropriação de bens da cultura popu-
lar pela indústria cultural. Assim, podemos ver Referências:
que o Folkmarketing adquire cada vez mais im- LIMA, Maria Erica O. et. al. Comunicação mer-
portância pela sua natureza mediadora entre cadológica no centro popular da cidade de
a cultura de massa e a cultura popular, prota- Natal: o Alecrim. In: FOLKCOM, 2007,
gonizando fluxos bidirecionais e sedimentan- Ponta Grossa-PR. Anais... Ponta Grossa:
do processos de hibridação simbólica com fins UEPG, 2007. CD-ROM.
mercadológicos. LUCENA FILHO, Severino Alves de. Azulão do
As pesquisas em folkmarketing não se res- Bandepe: uma estratégia de comunicação
tringem só às organizações empresariais, seja organizacional. Recife: Ed. do autor, 1998.
pública ou privada. Betania Maciel e Cerize Fer- . A festa junina em Campina Grande –
rari (2004) observaram a forma rudimentar de PB: uma estratégia de folkmarketing. João
comunicação desenvolvida pelos ambulantes da Pessoa: UFPB, 2007.
cidade de Recife-PE. Com base em um linguajar MACIEL, Betania; FERRARI, Cerize. Lições
verbal e não-verbal próprios, os ambulantes uti- de Folkmarketing: a comunicação utiliza-
lizam o discurso informal com criatividade para da pelos vendedores ambulantes no ato da
persuadir o consumidor. Assim, Maciel e Ferrari venda de seus produtos”. In: INTERCOM,
(2004, p. 06) definem folkmarketing como “ações 2004, Porto Alegre-RS. Anais... São Paulo:
de promoção que utilizam as manifestações fol- INTERCOM, 2004. CD-ROM.
clóricas e elementos da cultura popular como MARQUES DE MELO, José. Gêneros e for-
tema da estratégia comunicacional”. matos folkcomunicacionais: aproxima-
Partindo dos pressupostos de Maciel e Fer- ção taxionômica. In: ; GOBBI, Ma-
rari, Maria Érica de Oliveira Lima et al. (2007), ria Cristina; DOURADO, Jacqueline L.
ao analisar o comércio do Alecrim, na cidade (Orgs.). Folkcom – do ex-voto à indústria
de Natal-RN, averiguou que o folkmarketing é dos milagres: a comunicação dos pagado-
uma forma mais calorosa de tratar a clientela, res de promessa. p. 140-151. Teresina: Hal-
ao chamar a atenção quanto à existência dos ley, 2006.
produtos e seus vendedores e da habilidade de
tornar os produtos desejáveis. O folkmarketing,
no mundo dos ambulantes, se caracteriza pelo FOLKMÍDIA
uso repetitivo de palavras e sons, pela forma de O pesquisador pernambucano Roberto Benja-
tratamento peculiar, pela pechincha e pela vi- min é considerado o ‘pai’ da folkmídia no Bra-
vência direta e constante. sil. Além dele, essa nova acepção da folkcomu-
Os estudos de folkmarketing são recentes e nicação foi estudada por Joseph Luyten, José
estão sendo desenvolvidos, sobretudo, nos esta- Marques de Melo, e outros seguidores como
559
enciclopédia intercom de comunicação
Alfredo D’Almeida, Cristina Schmidt, Saman- lação rural de reação para atrair sua atenção e
tha Castelo Branco, entre outros. sua participação nas atividades de desenvolvi-
Benjamin (2000) aponta que a folkcomu- mento; (3) a utilização dos folk media nos pro-
nicação é a possibilidade de comunicação em gramas de comunicação deve ser vista de uma
nível folk, já a folk media (ou folkmídia) são os perspectiva do desenvolvimento cultural e não
canais utilizados pelo povo para realizar a co- apenas sócio-econômico; (4) o folclore reflete
municação. Benjamin (2000, p. 101-103) des- as mudanças da sociedade e evolui o seu inte-
creve a discussão internacional em torno da resse nas populações rurais; (5) nem todas as
folk media. Segundo o pesquisador, em no- manifestações folclóricas podem ser usadas
vembro de 1972 a Federação Internacional de para a difusão dos programas de desenvolvi-
Planejamento Familiar reuniu-se em Londres mento; é preciso analisá-las do ponto de vista
(Inglaterra), sob patrocínio da Unesco, com a do conteúdo e caracterização da sua possível
finalidade de discutir o uso integrado da folk adaptação para veicular as mensagens do de-
media e dos mass media em programas de pla- senvolvimento; (6) as manifestações populares
nejamento familiar. estão comprometidas com o ambiente social e
Assim, a discussão gerou em cinco reco- narram os costumes das comunidades locais;
mendações: realização do inventário dos folk (7) como os folk media têm raízes sócio-cultu-
media de interesse para os programas de plane- rais, sua utilização deve ser mantida a nível de
jamento familiar; avaliação da qualidade e do eventos locais e sua função maior está na es-
impacto do uso dos canais populares; desenvol- tratégia para comunicações localizadas a nível
vimento de projetos de uso dos folk media; in- de comunidade; (8) devem ser desenvolvidos
corporação de temas e formas folclóricas nos esforços para que se preservem as formas ori-
currículos das escolas e programas de forma- ginais de cada manifestação;as adaptações não
ção de extensionistas; e criação de organizações devem alterar ou destruir as formas originais;
internacionais que proporcionem assistência (9) para uma mais efetiva estratégia de comu-
técnica e financeira para pesquisas na identifi- nicação se deve estimular o uso dos folk media
cação, integração e extensão de manifestações e dos mass media para obter o impacto ótimo e
populares para o planejamento familiar e ou- o feedback desejado; e (10) a colaboração entre
tros esforços do desenvolvimento social. (In: os portadores de folclore e os comunicadores
BENJAMIN, 2000, p. 102) dos programas é essencial para o sucesso da in-
Benjamin (2000) continua a difusão inter- tegração dos folk media e mass media nas estra-
nacional da folk media e aponta que dois anos tégias de comunicação para o desenvolvimento.
depois do encontro de Londres, foi realizado (In: BENJAMIN, 2000, p. 102-103).
um outro em Nova Delhi (Índia), com os mes- Alfredo D’Almeida (2006, p. 83) busca no
mos objetos, estabelecendo dez princípios: (1) dicionário de termos demográficos e relativos
os folk media podem ser uma parte integrante à saúde reprodutiva da rede de informação so-
de todos os programas para o desenvolvimento bre a população (Popin) da ONU, o conceito de
rural; (2) os pré-requisitos para o uso dos folk folk media e encontra a seguinte definição: “ca-
media são: (a) conhecimento da audiência ru- nais de comunicação tradicionais como as re-
ral; (b) o uso destes meios para prover a popu- presentações teatrais, as canções, os bailes, os
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enciclopédia intercom de comunicação
bonecos e os contos, ás vezes empregados para cultura popular e à busca do sentido nas suas
transmitir uma mensagem social”. (DICTIO- manifestações quando são mediatizadas por
NARY, 2003, apud: D’ALMEIDA, 2006, p. 83). meios de comunicação que não lhes são pró-
É com base nessa definição e nos trata- prios”.
dos de Londres e Nova Delhi que Benjamin Já José Marques de Melo (2007, p. 50-51),
(2000) concebe a folk media, utilizando esse vai apresentar duas formas históricas distintas
termo para se referir os canais específicos uti- da representação do folclore na mídia. O folclo-
lizados pelos comunicadores populares como: re da sociedade industrial refletia a apropriação
folheto, mamulengo, cordel, almanaques etc. Já da cultura popular pela cultura de massa, pro-
para Joseph Luyten (2006) e Alfredo D’Almeida cessando símbolos e imagens enraizadas nas
(2006) a palavra folkmídia assume uma outra tradições nacionais dos países hegemônicos e
definição. convertendo-as em mercadorias para o consu-
Luyten (2006, p. 41) entende que o termo mo das multidões. Entretanto, o folclore midi-
folkmídia na acepção de Roberto Benjamin ático, típico da sociedade pós-industrial, con-
(2000) é sinônimo de folkcomunicação, por figura-se como mosaico de signos procedentes
isso o pesquisador defende que é melhor uti- de deferentes geografias nacionais ou regionais,
lizá-lo para uma situação que se tornou muito buscando projetar culturas seculares ou emer-
comum na contemporaneidade e que consiste gentes no novo mapa mundial. Nessa categoria,
na iniciação entre os meios de comunicação de Marques de Melo conclui que há uma dupla
massa e folkcomunicação, ou seja, “o uso tanto face. Enquanto assimilam-se as ideias e valo-
de elementos oriundos do folclore pela mídia res de outros países, existe a preocupação com
como a utilização de elementos da comunica- a projeção das identidades nacionais.
ção massiva pelos comunicadores populares”. Este processo de transmutação do folclo-
Luyten (2006, p. 47) ainda explica que a pala- re midiático apontado por Marques de Melo
vra ‘mídia’ (ou media) significa ‘meios’ e ‘folk’ é (2007) reflete a perspectiva de incorporações
uma abreviação possível de ‘folkcomunicação’, das informações provenientes dos mass media
daí o termo ‘folkmídia’ “como significado de para os folk media. Apesar de toda a transmuta-
utilização de elementos folkcomunicacionais ção sígnica aferida por Marques de Melo ao fol-
pelos sistemas de comunicação de massa”. clore midiático, Cristina Schmidt (2006) per-
É com base nessa concepção de Luyten cebe que a folkmídia ainda ocorre no processo
que D’Almeida (2006) desenvolve suas refle- de comunicação em nível comunitário, voltado
xões. Assim, (2006, p. 74) apresenta a folkmídia para o diálogo com um mundo (e não ao mun-
como um campo de estudos da (folk)comuni- do).
cação “em que se investiga a presença de ele- Percebemos que a palavra folkmídia admi-
mentos da cultura popular na mídia de massa te algumas possibilidades de estudo, sendo de-
e desta naquela, e a maneira pelo qual os sujei- finida como os canais específicos dos usuários
tos dos meios de comunicação (re)interpretam da folkcomunicação, como observa Benjamin
e recodificam esses elementos”. O pesquisador (2000), ou como a presença da cultura popular
(2006, p. 85) deixa claro que “falar em folkco- na cultura de massa e vice-versa como definem
municação ou em folkmídia sempre remete à Luyten (2006) e D’Almeida (2006). Podemos
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pesquisar a folkmídia através da sua transmu- verino Lucena Filho e também é (foi) estuda-
tação em virtude da globalização, tal qual diag- do por Marlei Sigrist, Betania Maciel, Cristina
nosticou Marques de Melo (2007) ou em sua Schmidt, Caterina González, José Marques de
forma local/comunitária como Schmidt (2006) Melo, Osvaldo Trigueiro, Joseph Luyten, Sa-
percebe. (Guilherme Moreira Fernandes) mantha Castelo Branco, entre outros. Benjamin
(2000, p. 120-121) e Lucena Filho (2003, p. 112)
Referências: ao comentar a relação entre folclore e turismo,
BENJAMIN, Roberto. Folkcomunicação no con- reproduzem trechos da Carta do Folclore Bra-
texto de massa. João Pessoa: UFPB, 2000. sileiro, que teve sua re-leitura no final do VIII
D´ALMEIDA, Alfredo. Folkmídia: a folkcomu- Congresso Nacional de Folclore, realizado em
nicação nos veículos de massa. In: SCHMI- Salvador em 1995.
DT, Cristina (Org.). Folkcomunicação na Nessa carta, os folcloristas reconhecem
arena global: avanços teóricos e metodoló- uma relação entre folclore e turismo, dizem que
gicos. p. 73-88. São Paulo: Ductor, 2006. o turismo pode atuar como divulgador do fol-
LUYTEN, Joseph. Folkmídia: uma nova visão clore e como fonte de recursos para o cresci-
de folclore e folkcomunicação. In: SCHMI- mento da economia local. Mas advertem que
DT, Cristina (Org.). Folkcomunicação na a relação precisa deve ser avaliada no sentido
arena global: avanços teóricos e metodoló- de resguardar os agentes da cultura popular das
gicos. p. 39-49. São Paulo: Ductor, 2006. pressões econômicas e políticas.
MARQUES DE MELO, José. Uma estratégia Benjamin (2000) e Sigrist (2007) chamam
das classes subalternas. In: GOBBI, Maria a atenção para o turismo como atividade eco-
Cristina (Org.). Folkcomunicação: a mídia nômica, assim o folclore é mais um produto a
dos excluídos. p. 48-54. Rio de Janeiro: Pre- ser consumido. Sabemos que muitos turistas
feitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2007. têm curiosidade sobre algumas manifestações
SCHMIDT, Cristina. Folkmídia: da resistência da cultura popular, a exemplo das danças, arte,
à coexistência. In: MARQUES DE MELO, festas, artesanato, culinária, linguajar, etc.
José; GOBBI, Maria Cristina; SATHLER, Assim, profissionais do rumo (trade) turís-
Luciano (Orgs.). Mídia Cidadã: utopia bra- tico contratam atores para reproduzir e repre-
sileira. p. 209-214. São Bernardo do Cam- sentar formas típicas das artes e da gastronomia
po: Umesp, 2006. – ou os próprios ‘nativos’ para encenarem suas
vidas em outro ambiente que não é o seu pró-
prio. Sigrist (2007, p.86) comenta para a trans-
FOLKTURISMO formação do folclore em produtos “o que po-
O folkturismo é uma recente área de estudos deria ser visto como algo antigo, ultrapassado,
da nova abrangência da Folkcomunicação na aos poucos foi sendo reconhecido, valorizado e
apropriação de elementos da cultura folk pela aproveitado enquanto produto cultural”.
cultura de massa, ou seja, na projeção do fol- Roberto Benjamin (2004) constata duas
clore no âmbito da produção de mensagens formas de representações de grupos folclóricos
comunicativas com fins turísticos. O termo a serviço do turismo espetacularizado. Uma
aparece em textos de Roberto Benjamin e Se- constitui-se dos mega-eventos em que celebra-
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ções tradicionais ganham incentivos do Gover- cusável dos produtos consumidos, cujos ingre-
no e de empresas privadas. Com base em uso dientes e modos de preparo têm histórias para
de tecnologias, modificam ritos e, em alguns serem contatas desde suas origens. O mesmo se
casos, até muda as datas do calendário festi- pode dizer a respeito do artesanato. Essa ma-
vo. A outra modalidade é representada pelos nifestação, presente em todas as regiões bra-
shows para turistas, em que manifestações lo- sileiras, é o suvenir mais procurado. Cada lu-
cais são transferidas do seu habitat tradicional gar faz uso de formas variadas e criativas com
para lugares turísticos, como hotéis e jardins uso de material típico. Outra característica co-
de museus. mum, observado por Benjamin (2000, p.122),
Existem duas formas tradicionais de folktu- é a uniformidade nas peças, algo que remeta a
rismo. Uma diz respeito ao turismo cultural e origem.
de eventos, especificamente ligados a danças, A outra vertente do folkturismo, a do tu-
folguetos, festas populares, gastronomia rústi- rismo popular, é o foco das pesquisas de Luce-
ca e artesanato. Já a outra, remete ao turismo na Filho. Nesse ponto, a preocupação não cai
popular, sobretudo o religioso. O Brasil, como nos lugares que recebem turismo e sim no fa-
bem diagnosticou Câmara Cascudo, é rico em zer-turismo. Temos como exemplos as excur-
tradições folclóricas. No que se refere às dan- sões para lugares lúdicos ou de cunho religioso
ças, cada região desenvolveu seu próprio mo- e as peregrinações às terras santas e milagrosas.
vimento, como samba, carimbó, frevo, xaxado, Lucena Filho (2003) comenta que as ativida-
ciranda, xote, entre outros. des de lazer propiciadas pelo turismo religioso
Das manifestações populares, certamente através das festas, procissões, romarias e nove-
as festas são as que mais concentram turistas. nas integram o universo das culturas popula-
Isso se explica pelo fato da festa também con- res caracterizando seu vínculo com o folclore
ter outros elementos folclóricos e não folclóri- ligado às tradições urbanas e rurais, assim os
cos. As festas populares tradicionais, conforme eventos folkturísticos propiciam uma ruptura
explica Trigueiro (2007), são acontecimentos nas vivências cotidiana dos peregrinos, que en-
identificadores dos fatos locais; são celebrações contram nas manifestações populares, formas
simbólicas das diversas relações sociais viven- de divertimento e de contato, também em nível
ciadas por uma comunidade nos territórios sa- familiar e social.
grados e profanos. O que nos interessa são os mecanismos co-
Como exemplo, temos as festas juninas, so- municacionais (relações públicas, jornalismo
bretudo as de Campina Grande-PB e Caruaru- e publicidade e propaganda) que geram a ati-
PE, o Boi-Bumbá na região amazônica, a festa vidade turística em um determinado lugar e o
do pião em Barretos-SP, as escolas de samba do modo com que os agentes folks locais utilizam
Rio de Janeiro, além dos carnavais como os de as técnicas da folkcomunicação para atrair a
Recife e Olinda no Pernambuco e nas cidades atenção do público. Também, cabe-nos investi-
históricas mineiras, como Ouro Preto e Dia- gar como se dão os processos de comunicação
mantina. nas redes cotidianas do local e como são ope-
A culinária rústica também é um atrativo radas as estratégias de negociação de recepção
turístico. Sigrist (2007) aponta que é parte irre- dos conteúdos e de apropriação de uso das tec-
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údo ao longo das transmissões, dando estrutu- Espécie de filosofia de trabalho a marcar
ra organizacional à programação da emissora; o posicionamento mercadológico da emissora,
outro relacionado à forma de se pensar, plane- o outro conceito associado à palavra formato
jar e realizar o que é veiculado, proporcionan- remonta ao rádio do interior dos Estados Uni-
do uma espécie de filosofia de trabalho à pro- dos na virada da década de 1940 para 1950. Na
gramação. época, os proprietários de estações de pequeno
Pelo primeiro, aparece como um padrão e médio porte dão-se conta da necessidade de
que baseia a marcação do tempo destinado desenvolver uma personalidade própria para os
aos conteúdos jornalísticos, de entretenimen- seus empreendimentos como forma de sobrevi-
to, de serviços e musicais em relação às par- vência em relação às grandes redes radiofôni-
celas ocupadas pelo intervalo comercial. Em cas e às estações de TV. Definem, assim, regras
uma representação gráfica, ganha a forma de de atuação para atingir parcelas específicas de
um relógio estilizado com marcações apontan- ouvintes. O processo está, deste modo, no cer-
do o momento de irradiação deste ou daquele ne da passagem da lógica do broadcasting para
conteúdo. Em geral, as emissoras adotam três a do narrowcasting, ou seja, do rádio eclético
formatos básicos, tendo por referência a hora para o segmentado.
cheia e podendo mesmo, ao longo do dia, al- No início do século XXI, os principais for-
ternar entre um ou outro, conforme as neces- matos adotados nas rádios do país são: (a) in-
sidades do conteúdo veiculado e mesmo da formativo, dedicado à notícia; (b) musical, com
faixa horária: suas variantes conforme a faixa etária ou ritmos
específicos; (c) popular, voltado às classes B, C
Blocos Intervalos comerciais e D; (d) educativo-cultural, adotado por emis-
Quanti- Duração Quanti- Duração soras não-comerciais; (e) religioso, as igrejas ra-
dade (minutos) dade (minutos) diofônicas; (f) de participação do ouvinte, ba-
4 12 a 13 4 2a3 seado na constante intervenção do público ao
17 a microfone; (g) música-esporte-notícia, um hí-
3 3 2a3
18 brido dosando esses três; e (h) eclético, típico de
27 a mercados menores, onde a emissora opta pela
2 2 2a3
28 diversificação, segmentando sua programação
em horários. (Luiz Artur Ferraretto)
Em programas de entrevistas, o usual é
adotar a primeira ou a segunda forma com uma Referências:
pessoa sendo ouvida a cada bloco. No debate, FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio – O veículo,
que exige maior troca de ideias, o bloco pode a história e a técnica. 3. ed. Porto Alegre:
ficar com 27 ou 28 minutos. Já uma emissora Doravante, 2007.
musical, fugindo destes padrões, talvez opte FORNATALE, Peter; MILLS, Joshua E. Radio
por transmitir duas canções separadas das duas in the television age. New York: The Over-
próximas por locução e um intervalo comercial look Press, 1980.
em um formato com seis blocos de oito a nove MEDITSCH, Eduardo. Fatiando o público: o
minutos cada. rádio na vanguarda da segmentação da au-
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diência. Verso & Reverso. Ano 16, n. 35, p. parisienses desvalorizados pelos olhares super-
55-60. São Leopoldo: Editora da Unisinos, ficiais.
jul/dez 2002. Já, no início do século XX, August Sander
realizou centenas de retratos dos trabalhadores
alemães exercendo as suas profissões, revelando
Fotodocumentalismo fotograficamente a estrutura da sociedade ger-
A intenção documental da fotografia é tão an- mânica ao tempo da República de Weimar. Eles
tiga quanto esta mídia. Fotografar para mostrar traçaram a linha de rumo do fotodocumenta-
o mundo é uma das mais genuínas vocações rismo, direcionando-o para o estudo fotográfi-
cumpridas pela imagem fotográfica. Essa am- co da realidade social e dos fatores que afetam
bição documental está presente, por exemplo, a vida humana.
na fotografia oitocentista de viagens e colonial A metodologia de trabalho do fotodocu-
e ainda nas fotos da conquista do Oeste Ame- mentarista assenta no projeto fotográfico. Isto
ricano realizadas por Alexander Gardner, Thi- implica que, antes de fotografar, o fotodocu-
mothy O’Sullivan e William Henry Jackson. No mentarista tem de realizar um estudo profun-
entanto, muito do fotodocumentalismo, ou fo- do do tema, para que as fotografias o consigam
todocumentarismo, como hoje o concebemos, situar contextualmente, nas suas diferentes di-
supera a vontade de registro, pois é também so- mensões. Portanto, um projeto fotodocumental
cialmente comprometido. Tira partido da capa- exige tempo e, por vezes, desenvolve-se mes-
cidade realista da fotografia, mas é usado como mo ao longo de toda uma vida. Por outro lado,
arma de denúncia, para mostrar ao mundo o combina sempre fotografias e texto, suprindo
que este não quer ver. este as insuficiências daquelas, numa relação de
O fotodocumentarismo socialmente com- complementaridade.
prometido nasceu no século XIX. Em 1877, o O principal projeto fotodocumental da his-
fotógrafo John Thomson aliou-se ao escritor tória talvez tenha sido o do US Farm Security
Adolphe Smith para publicar o livro Street Life Administration, levado a efeito para documen-
in London, no qual insere instantâneos das pes- tar o resultado das políticas do New Deal do
soas comuns, até aí ignoradas, no ambiente ur- Presidente Roosevelt na revitalização da econo-
bano da Londres oitocentista. O jornalista con- mia rural norte-americana após a crise de 1929.
vertido em fotógrafo Jacob Riis usou, a seguir, Fotodocumentaristas como Dorothea Lange,
a fotografia para mostrar, em 1890, como vivia Walker Evans e Russell Lee impregnaram de es-
“a outra metade” dos nova-iorquinos (How the teticismo as imagens do projeto, o que lançou
Other Half Lives). Na viragem do século XIX uma discussão que ainda hoje perdura: deve
para o XX, Lewis Hine fez da imagem fotográ- o fotodocumentarista ceder à arte e assumir o
fica um elemento de prova compassiva e apai- subjetivismo de uma visão pessoal da realida-
xonada para a luta contra o trabalho infantil. de, opção, por exemplo, de Robert Frank, Gar-
Edward Curtis realizou um monumental le- ry Winogrand ou Mary Ellen Mark? No limite,
vantamento fotográfico da cultura nativa nor- pode o fotodocumentarismo envolver a ence-
te-americana. Eugène Atget, na linha de Thom- nação fotográfica, como ocorre no trabalho de
son, dedicou-se à fotografia dos pormenores Karen Korr? Pode envolver manipulação de
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cenários, como fez Arthur Rothstein, um dos fotografia na imprensa. Florianópolis: Le-
fotógrafos do FSA? Pode ainda envolver a ma- tras Contemporâneas, 2004.
nipulação de imagens, facilitada pela digitali- . Uma história crítica do fotojornalismo
zação? ocidental. Florianópolis: Letras Contempo-
Não se pode falar de fotodocumentarismo râneas, 2000.
na atualidade sem se referir o extraordinário
trabalho do brasileiro Sebastião Salgado, tal-
vez o maior expoente vivo entre os fotógrafos FOTOGRAFIA
socialmente comprometidos. Os seus projetos Surge, na primeira metade do século XIX,
Outras Américas, Sahel, Trabalhadores: Uma como coroamento de esforços que combinaram
Arqueologia da Era Industrial, Êxodos e Gene- processos óticos e químicos, alguns conhecidos
sis, os primeiros desenvolvidos como fotógra- desde a Antiguidade. Sua descoberta se deu si-
fo da mítica agência Magnum, os últimos já no multaneamente em diversos países, inclusive o
âmbito da Amazonas Images, agência que ele Brasil.
próprio criou, tornaram-se paradigmas do fo- Um de seus inventores, Joseph Nicéphore
todocumentarismo. Niépce, denominou a técnica heliografia, numa
No Brasil, merece também relevo Evandro referência ao deus grego Helio, que representa
Teixeira, talvez o fotodocumentarista brasileiro o Sol. Já Louis Jacques Mandé Daguerre bati-
que mais deu um tom nacional à sua obra, em zou-a daguerreótipo, numa auto-homenagem,
trabalhos monumentais como Canudos: Cem mesma atitude de William Henry Fox-Talbot
Anos Depois, Nordeste É Aqui ou o projeto mais que reivindicou a descoberta do talbótipo.
recente 68: Destinos, que irá mostrar como vi- O termo fotografia passou a denominar
vem atualmente 68 das pessoas que, em Junho todos os processos semelhantes, tendo sua
de 1968, participaram da Passeata dos Cem Mil. autoria atribuída a outro inventor da técnica,
(Jorge Pedro Sousa) o britânico John Herschel, que criou a pala-
vra photography, cujo primeiro registro es-
Referências: crito é março de 1839. Em 1833, Hercule Flo-
KOSSOY, Boris. Fotografia & história. 2. ed. rev. rence, francês radicado no Brasil, não apenas
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. cunhara o termo photographie como desen-
. Realidades e ficções na trama fotográfi- volveu um processo fotográfico no interior de
ca. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002. São Paulo, sendo ele também um dos invento-
LEDO ANDIÓN, Margarita. Documentalismo res da fotografia. A coincidência dos termos
fotográfico contemporáneo. Da inocencia à deve-se à etimologia da palavra que em gre-
lucidez. Vigo: Edicións Xerais de Galicia, go significa “desenhar com a luz” e as diversas
1995. técnicas consistiam em projetar numa super-
SÁNCHEZ VIGIL, Juan Miguel. El documento fície sensível à luz, através de câmera obscura,
fotográfico. Historia, usos, aplicaciones. So- os raios solares refletidos por um objeto, ob-
monte: Ediciones Trea, 2006. tendo a sua imagem.
SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo. Introdu- A incorporação da fotografia no cotidiano
ção à história, às técnicas e à linguagem da provocou mudanças na subjetividade, levando
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de luz, sejam naturais ou artificiais. O sol é a preende um banho com três produtos químicos
única fonte de luz natural. A luz solar, embora - o revelador, o interruptor e o fixador -, além
potente e gratuita, é instável e varia muito. Por da lavagem do negativo em uma solução ume-
isso, com frequência é substituída por luzes ar- decedora. O revelador é o produto responsável
tificiais: lâmpadas elétricas ou, mais comumen- pela formação de uma imagem visível no filme,
te, a luz do flash, recurso que produz um cla- ao enegrecer os sais de prata. O interruptor ser-
rão muito rápido, mas intenso e uniforme. Ao ve para deter a ação do revelador e controlar o
fotógrafo interessa, em especial, compreender processo, porém não afeta a imagem. O fixador
como a luz forma as imagens dentro da câmera elimina os sais de prata não revelados e faz com
escura e como esta age sobre os filmes fotográ- que a película se torne insensível à luz. Final-
ficos. O filme, ou película, é uma tira plástica mente, a lavagem com um umectante elimina
recoberta por uma emulsão sensível à luz, com- os restos de produtos químicos; este umedece-
posta de gelatina - uma cola de origem animal dor facilita a eliminação da água e prepara o fil-
- e sais de prata. me para a secagem.
A formação da imagem pela luz ocorre O resultado do processamento do filme são
quando esta, após ser refletida pelos objetos da imagens em negativo – no caso de filmes em
cena, passa pelo sistema óptico (lentes), e pene- preto e branco ou em cores – ou imagens posi-
tra na câmara escura. A imagem é projetada de tivas – ou seja, filme para diapositivo ou cromo.
forma invertida sobre uma superfície fotossen- Estes, logo após a revelação, estão finalizados e
sível (filme). O ato de submeter o filme ao efeito podem ser usados para projeções ou para am-
da luz se chama exposição e ocorre no interior pliações em que se exige grande qualidade de
da câmera. O efeito depende da intensidade da acabamento – como o caso de peças publicitá-
luz ou do tempo em que ela atua sobre o filme: rias ou revistas e livros impressos. No caso das
é o tempo de exposição. Quanto mais intensa é imagens em negativo, estas ainda podem ser
a luz, ou quanto mais tempo dura a exposição, ampliadas sobre papel ou escaneadas para uso
maior será o efeito. posterior em jornais e revistas.
Quando a luz incide no filme, os sais de Apesar de parecer para muitos um processo
prata, fotossensíveis, convertem-se quimica- ultrapassado tecnologicamente, em virtude do
mente em prata pura e se forma uma imagem advento dos sistemas digitais de captura de ima-
latente, muito fraca e invisível. Depois que o fil- gem, a fotografia produzida a partir de filmes e
me sofreu esse efeito da luz, diz-se que ele está negativos ainda pode ser considerada de melhor
impressionado ou exposto. O filme correta- qualidade técnica. Vale destacar que, por limita-
mente exposto será diferente do filme não ex- ções técnicas dos sistemas fotográficos digitais,
posto apenas em nível atômico. em algumas áreas a fotografia analógica conti-
A imagem latente formada no filme pela nua sendo a única opção; um exemplo é na fo-
ação da luz, durante a exposição, é tão fraca tografia científica, em áreas como astronomia e
que permanece invisível. Será necessário um pesquisa de partículas atômicas. (Jorge Felz)
tratamento químico do filme, ou revelação para
que a imagem possa se tornar visível e estável. Referências:
A revelação de um filme preto e branco com- FOLTS, James A., LOVELL, Ronald P., ZWAH-
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LEN JR., Fred C. Manual de fotografia. São cido com a primeira exibição do Cinematógra-
Paulo: Thomson Learning, 2007. fo, dos irmãos Lumière, em 1895. Entre outros
LANGFORD, Michael. Fotografia Básica, 8 ed. .
precursores das imagens em movimento, estão
Porto Alegre: Bookman, 2009. as Cronofotografias de Marey, e o Cinetoscópio
SCHISLER, Millard W. L. Revelação em preto-e- de Edison.
branco, a imagem com qualidade. São Pau- Mas, é fato que o homem sempre buscou
lo: SENAC-SP/Martins Fontes, 1995. reproduzir o movimento, desde as pinturas ru-
KELBY, Scott. Fotografia digital. São Paulo: Pe- pestres, e por toda a história das artes plásticas.
arson Education do Brasil, 2007. Muito se fala da relação do cinema com a lan-
terna mágica, com o mito da caverna e com as
sombras chinesas.
Fotografia cinematográfica É a partir da constituição do cinema en-
A fotografia cinematográfica pode ser definida quanto atividade industrial, e sua decorren-
como a sucessão de um determinado número te divisão de trabalho, que o responsável pela
de fotogramas – imagens fixas – projetados so- realização da fotografia de um filme é o dire-
bre uma tela em um determinado tempo e que, tor de fotografia ou, simplesmente, fotógrafo.
reproduzidos um após o outro, dão ao olho hu- Na equipe de um filme, esse profissional é res-
mano a impressão de uma única imagem em ponsável por traduzir e concretizar as ideias do
movimento. Durante anos foi consensual a opi- diretor, sobre o que está escrito no roteiro, em
nião de que tal ilusão de movimento era decor- imagens. Por essa razão, geralmente, o diretor
rente de uma propriedade do olho humano, a de fotografia é o mais íntimo colaborador do
“persistência retiniana”. diretor no set de filmagem, na fase de captação
Posteriormente, admitiu-se a relação do das imagens, e muitas vezes durante todos os
cinema com o chamado “efeito phi”: “Os leves períodos da realização de um filme.
deslocamentos de uma imagem à imagem se- O trabalho do diretor de fotografia consiste
guinte, dos estímulos visuais, excitam as células em elementos como a concepção da iluminação
do córtex visual, que ‘interpretam’ essas dife- – luz natural ou artificial (através de refletores),
renças como movimento, e o efeito produzido dura ou difusa – da cena; na escolha de nega-
em tais células por elas não é passível de ser dis- tivos – aqui se leva em conta as características
tinguido por elas do efeito que um movimento de cada negativo, como cor ou preto e branco,
objetal real produz” (AUMONT; MARIE, 2003, sensibilidade, granulação, latitude, contraste; na
p. 94). É a partir do aparecimento do cinema fotometria – a medição da intensidade da luz, a
sonoro, na década de 1920, que se padroniza na opção por subexpor ou superexpor a imagem;
fotografia de cinema a velocidade de 24 foto- no controle da temperatura de cor; na escolha
gramas a cada segundo de filme, o que nos dá a de lentes – teleobjetivas, objetivas, grande-an-
impressão de movimento na mesma velocidade gulares; na opção pelo uso de filtros; etc.
que na realidade. O diretor de fotografia também é respon-
Obviamente, o surgimento da fotografia ci- sável por coordenar a equipe de fotografia, que
nematográfica é concomitante com o advento o auxilia em seu trabalho. Essa equipe é em ge-
do próprio cinema. O marco acabou estabele- ral formada pelos assistentes de câmera (cui-
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denadas espaciais quanto em brilho. Para ele, em impulsos elétricos. A intensidade da carga
a imagem digital pode ser considerada como varia dependendo da intensidade da luz que
sendo “uma matriz cujos índices de linhas e bate em cada elemento.
de colunas identificam um ponto na imagem, Dentro desse processo, quando se aperta o
e o correspondente valor do elemento da ma- disparador da câmera digital, os sensores pas-
triz identifica o nível de cinza naquele ponto” sam as informações a partir de cada elemento
(JAIN, 1989, p. 25). Os elementos dessa matriz para um conversor analógico para digital, que
digital são chamados de elementos da imagem, codifica os dados e os envia para serem grava-
elementos da figura ou pixels e, embora o tama- dos em discos ou cartões de armazenamento,
nho da imagem digital varie de acordo com a para posterior descarregamento.
aplicação, é vantajoso selecionar matrizes qua- Rodowick (2003), por sua vez, afirma que
dradas com tamanhos e números de níveis que as distinções entre os processos analógico e di-
sejam potências inteiras de 2 (dois). gital dão, a este último, uma série de vantagens
Para nós, o termo fotografia digital ou ima- importantes que são capazes de alterar o pró-
gem digital (termo que preferimos utilizar, pe- prio modo de ver o mundo.
las razões já citadas) será empregado a toda e Para o autor, podemos destacar as seguin-
qualquer imagem que é constituída por um ar- tes características da imagem digital: possibili-
quivo que é um código numérico legível pelo dade de conversão da informação a uma grade
computador. Essas imagens podem ser obtidas numérica pré-formatada; a informação é inde-
através do uso de câmeras digitais, cujos ar- pendente do meio; a câmera opera como uma
quivos serão transferidos diretamente para os função virtual ou simulada; a imagem é mani-
computadores de editoração e daí, após os tra- pulável numericamente; permite saídas variá-
tamentos edição, para as impressoras ou para veis, com alterações feitas no original podendo
as páginas da web; podem ainda passar por um ser reversíveis e, além disso, a criatividade fica
processo analógico/ digital, com as imagens limitada apenas pelos percalços lógicos.
capturadas por câmeras convencionais, e pos- A imagem digital oferece múltiplas possi-
teriormente escaneadas para se transformarem bilidades para a intervenção humana. Para ele,
em arquivos digitais. isso decorre da própria forma como a imagem
Para qualquer pessoa acostumada a foto- digital se constrói. Ela pode ter sua perspectiva
grafar com máquinas tradicionais, o emprego alterada através de mudanças da zona de som-
da câmera digital, apesar de incorporar novi- bra, ser retocada eletronicamente ou ser sujeita
dades não exige muito esforço para adaptação. a uma mistura de todos esses processos, pos-
Para Breslow (1991) a grande diferença entre a suindo ainda assim coerência interna, um pro-
fotografia convencional e a fotografia digital re- cesso que poderíamos denominar de bricollage
side na ausência do filme fotográfico, pois na eletrônico. (Jorge Felz)
câmera digital este é substituído por um sensor,
um semicondutor especializado (CCD, charge- Referências:
coupled device) capaz de conduzir parte da ele- RODOWICK, David. Cinematic to digital cul-
tricidade que chega até ele. A imagem atravessa ture. London: Centre for Computing in the
à objetiva e atinge o sensor, que converte a luz Humanities, 2003.
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GONZALEZ, Rafael C.; WOODS, Richard Embora, em sentido lato, o conceito de fo-
E. Processamento de imagens digitais. São tografia de guerra possa abarcar toda a produ-
Paulo: Edgard Blücher, 2003. ção fotográfica sobre conflitos, incluindo, atual-
JAIN, A. K. Fundamentals of Digital Image Pro- mente, o relevante caso dos blogs fotográficos
cessing. New Jersey: Prentice-Hall, 1989. de guerra, normalmente refere-se à cobertura
BRESLOW, Norman. Basic Digital Photography. fotojornalística dos conflitos bélicos.
London: Focal Press, 1991. A fotografia de guerra esteve na origem do
MITCHELL, William J. The reconfigured eye: fotojornalismo como atividade profissional. O
visual truth in the post-photographic era. primeiro fotojornalista, isto é, o primeiro pro-
Cambridge: MIT Press, 1994. fissional pago para realizar fotografias de um
acontecimento destinadas à difusão pública
através da imprensa, foi um fotógrafo de guer-
Fotografia de guerra ra. Chamava-se Roger Fenton e foi contratado
O homem criou imagens para expressar os pelo editor e empresário Thomas Agnew para
seus pensamentos e para representar o mun- cobrir a Guerra da Criméia. No entanto, as suas
do à sua volta. A guerra é uma das constantes fotografias, publicadas na Illustrated London
da História humana e, por ser fonte de cho- News e no Il Fotografo, de Milão, não mostram
que e sofrimento, mas também de camarada- os horrores da guerra.
gem, coesão grupal e heróicidade, cedo se tor- Na verdade, Fenton terá sido orientado a
nou uma realidade densamente pictografada. produzir imagens tranquilizadoras que com-
As imagens de guerra serviram e servem para batessem o desassossego provocado pelas crí-
glorificar povos e indivíduos, líderes e solda- ticas crônicas que William Howard Russell – o
dos, mas também para evidenciar a ferocida- primeiro verdadeiro correspondente de guerra
de animal dos seres humanos, a destruição, a – publicava no Times. De qualquer modo, em
dor e a morte. Por isso, desde a pré-história guerras posteriores, sem censura, manifestou-
que o homem representa iconograficamente se uma “estética do horror”. As fotos de Felice
a guerra. Provam-no as pinturas rupestres nas Beato das Guerras do Ópio ou as fotografias de
cavernas, bem como os murais, mosaicos, pin- Mathew Brady, Alexander Gardner, Thimothy
turas e esculturas dos vestígios arqueológicos O’Sullivan e George Barnard da Guerra Civil
da Antiguidade, da Idade Média e do Mundo Americana, por exemplo, já expõem cruelmen-
Moderno. te a dura realidade dos combates. A guerra tor-
A Revolução Industrial e a entrada na Con- nou-se, em consequência, o mais sensacional
temporaneidade trouxeram consigo o apareci- objeto fotojornalístico, tendo estranhamente
mento de dispositivos técnicos que permitem a por único rival, em alguma mídia, o fotojorna-
obtenção mecânica de imagens – e a fotografia lismo sensacionalista e socialmente irrelevante
foi o primeiro deles. Por isso, a representação dos paparazzi.
iconográfica da guerra passou a ser feita, pre- Alguns dos mais aclamados fotojornalis-
dominantemente, através de imagens mecâni- tas de sempre foram ou são fotógrafos de guer-
cas. A fotografia de guerra existe, portanto, des- ra, tendo-se distinguido pela sua cobertura de
de o século XIX. conflitos como a Guerra Civil Espanhola, a II
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momento, “nós” designava laboratório e pesso- fia digital – elimina a questão artesanal da im-
as, mais tarde, isso iria significar produtos quí- pressão, a manipulação química e óptica na câ-
micos associados a um mecanismo de tamanho mara escura.
reduzido, situado no interior da máquina fo- Pode-se afirmar que, estes processos de
tográfica. A revelação instantânea do filme se imagens instantâneas voltaram a centralizar
tornou popular, mas acabou por perder muito a fotografia no próprio conteúdo da imagem,
de sua magia inicial, e hoje foi substituída pela desviando o fotógrafo de preocupações relacio-
fotografia digital. nadas com sua materialidade. Pode operar com
A câmera de fotografia digital permite, toda a liberdade de um ir e vir entre o sujeito e
numa tela, na própria máquina, restituir a ima- sua representação, satisfazer-se com a surpresa
gem logo após a sua captura ou gravação. As ou, ao contrario, na desilusão verificar erros ou
imagens podem ainda ser capturadas e copiadas acertos.
para cartões e discos de armazenamento de da- Entretanto, a fotografia instantânea não vai
dos ou transmitidas, quase que em tempo real, apenas modificar o tempo do ato fotográfico ou
para terminais em pontos distantes do local de simplificar a técnica.
captura da imagem. Não podemos esquecer ain- Primeiro as Polaroid e, posteriormente, a
da às possibilidades criadas pelos aparelhos te- fotografia digital, permitiram usos e aplicações
lefônicos móveis que, com suas câmeras aco- pouco habituais, permitindo trabalhar com no-
pladas, irão estabelecer um capítulo à parte ao vos temas, algumas vezes mais íntimos, secre-
desenvolvimento da fotografia instantânea. Essas tos ou mesmo autobiográficos. A fotografia tor-
novas formas de capturar a imagem são tão ino- nou-se um ato mais pessoal, abrindo caminhos
vadoras quanto às câmeras Polaroid e estão pro- paras experiências mais voltadas para a repre-
vocando o desenvolvimento de novos hábitos. sentação e pela análise da vida cotidiana vul-
Para além desta simplificação técnica do gar ou banal. Enquanto a fotografia tradicional
ato fotográfico, trazido pela Polaroid, e que as sempre se voltou para a representação de situa-
novas tecnologias estão alterando a cada dia, ções excepcionais, de alcance universal, a foto-
graças à própria redução do tempo de mate- grafia instantânea – especialmente a digital – se
rialização da imagem, pois ela se realiza qua- volta para a liberação de novas energias criado-
se instantaneamente, permitindo assim avaliar ras e inspiradoras. (Jorge Felz)
os efeitos de uma modificação no decurso de
um registro fotográfico, existem novas possibi- Referências:
lidades de criação que os artistas, sobretudo os BAURET, Gabriel. A fotografia. Lisboa: Edições
pintores (o que já é um fato interessante), sou- 70, 2006.
beram perceber e explorar. Fazer fotografia ins- MONFORTE, Luiz Guimarães. Fotografia pen-
tantânea é o ato fotográfico que mais se aproxi- sante. São Paulo: SENAC, 1997.
ma da arte da pintura, pois a atividade criadora NEWHALL, Beaumont. Historia de la Fotogra-
não é interrompida, suspensa, entre o instante fía desde sus orígenes a nuestros días. Barce-
do registro e o da materialização da imagem – lona: Gustavo Gili, 1999.
em laboratório. A fotografia instantânea – seja LANGFORD, Michael. Fotografia básica, 8. edi-
por Polaroid ou por meio da moderna fotogra- ção. Porto Alegre: Bookman, 2009.
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interpretação de acontecimentos, que por se com os vários outros profissionais, com o edi-
apresentarem como de interesse público, torna- tor, o diagramador e o repórter, que atuam para
ram-se fatos jornalísticos. transformá-la, dentro da visão de mundo que a
Jorge Pedro Sousa (1998, p. 101) divide a publicação adota e repassa para a sociedade. E
conceituação de fotojornalismo em duas ver- mais, depende da receptividade do próprio pú-
tentes. A primeira aborda o fotojornalismo em blico leitor.
sentido latu sensu, que seria a atividade de jor- Em comparação com outras modalidades
nalismo através de fotografias informativas, in- de fotografia, o fotojornalismo, talvez seja o que
terpretativas, documentais ou ilustrativas para possui o maior poder de circulação e penetra-
imprensa e relacionados a produção de infor- ção junto a esse público. A imagem da fotogra-
mação atual. Nesse ponto, a fotografia de im- fia de imprensa é exposta nas bancas e circula
prensa seria caracterizada pela intencionalida- entre os espaços públicos, mesmo que por ape-
de do autor e não pelo produto: fotografia. A nas um dia. Ela amplia o campo de visão e o
segunda vertente vê o fotojornalismo em sen- mundo fica menor.
tido strictu, como sendo a atividade que pode A relação entre a fotografia de imprensa e o
informar, contextualizar e/ou até mesmo “opi- texto que a acompanha, incluindo legendas e tí-
nar” através da fotografia de assuntos de inte- tulos, se estabelece de forma articulada, na com-
resse jornalístico. plementação de seus significados. A legenda
Segundo Michael Busselle (1979, p. 164), “a existe em função da fotografia, atribuindo-lhe
expressão “fotojornalismo”- ou fotos de repor- um sentido que é, na verdade aquele pretendido
tagem- representa uma denominação genérica, pelo órgão de imprensa que a veicula. Ela deve
onde se inclui uma grande variedade de temas facilitar e ampliar a apreensão da mensagem. A
fotográficos”. compreensão dessa relação é fundamental para
“O fotojornalismo, em essência, pode ser que se possa perceber como é que se molda o
dividido em duas categorias: a foto é o registro discurso fotojornalístico de um jornal, muitas
em um momento único, seja ele previsto ou es- vezes, sobre censura, cabendo a imagem fotográ-
pontâneo, digno de manchetes na imprensa ou fica tentar dizer o que não é possível ser dito pela
corriqueiro; ou é um elemento de uma série, palavra escrita. Toda imagem é polissêmica, car-
destinada a formar uma história. Em ambos os regada de sentidos e significados, dos quais o lei-
casos, encontra-se uma vasta gama de possibi- tor pode optar por uns e ignorar outros.
lidades, desde uma missão jornalística até um Desde o início da utilização da fotografia
retrato informal não-premeditado” (BUSSEL- na imprensa, o mundo se pergunta se “uma
LE, 1979, p.164) imagem vale mais que mil palavras”? A imagem
Aliado a este contexto é de suma impor- por si só não mente, mas é fato que também
tância levar em consideração que a atividade não tem a verdade absoluta. No cotidiano da
fotojornalística dos órgãos de imprensa não fotografia da imprensa, são as letras da legenda
é apenas o resultado de um trabalho solitário que dão a direção e o impacto da imagem. É aí
do fotógrafo. Ela é, também, o resultado de um que ela mostra sua importância e pode exibir
posicionamento do veiculo com o qual a foto- toda a sua capacidade de transmitir informa-
grafia de imprensa se relaciona, e das relações ções. (Ranielle Moura)
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processo de modernização e voltou a publicar logias digitais. O jornal Folha de S. Paulo foi
fotografias na primeira página a partir de 1957. o pioneiro na cobertura com câmeras digitais
Voltado para a emergente classe média urbana, da Copa do Mundo de 1998. Em poucos anos
o jornal iria ditar moda e valorizar a fotogra- todos os veículos de comunicação adotaram a
fia tendo sido o primeiro jornal diário a rece- nova tecnologia que possibilitou uma enorme
ber o Prêmio Esso de Fotografia, dado a Erno agilidade nos processos fotojornalísticos, faci-
Schneider pela foto de Jânio Quadros de pernas litando a realização e a transmissão da fotogra-
traçadas intitulada “Qual o Rumo”, publicada fia. (Silvana Louzada)
em 23 de agosto de 1961, dois dias antes da re-
núncia do presidente. Schneider viria a ser um
dos protagonistas da principal experiência da FOTOJORNALISMO ESPORTIVO
utilização do fotojornalismo na resistência à di- A fotografia esportiva é o ramo do fotojorna-
tadura militar, quando foi editor do diário ca- lismo que registra imageticamente os esportes
rioca Correio da Manhã, de 1963 a 1969. e os fatos que ocorrem em seu entorno. Inse-
É, nesse período, que surge a revista Rea- rida diretamente no jornalismo, é a responsá-
lidade (1966-1976), que desenvolve, no país, o vel por demonstrar e registrar os mais diver-
conceito das grandes fotorreportagens, para as sos eventos esportivos e tudo que os envolvem,
quais o fotógrafo poderia dedicar-se por sema- seja uma premiação, um campeonato amador
nas. Uma de suas edições mais polêmicas, de ou eventos de maior destaque, como os Jogos
janeiro de 1967, ficou meses proibida e era de- Olímpicos. O fotojornalismo esportivo carrega
dicada à mulher brasileira, trazendo um amplo em si a premissa de ressaltar a emoção e o im-
ensaio fotográfico, inclusive com inéditas fotos pacto dos lances capitais que traduzem as mo-
de um parto. dalidades fotografadas, utilizando-se, para isso,
Nas décadas de 1970 e 1980, surgem as de técnicas e da captura de momentos interes-
agências independentes de fotojornalistas, santes, objetivando atingir diretamente o seu
como a Focontexto em Porto Alegre, F4, em São público e, se possível, dialogar com ele. Ou seja,
Paulo, e posteriormente, no Rio de Janeiro, e a ao registrar os espetáculos esportivos, o fotó-
Ágil Fotojornalismo, em Brasília. Inspirados na grafo busca assinalar em suas imagens temas
lendária agência fotográfica francesa Magnum, e enquadramentos que sugerem a emoção da-
os fotógrafos dessas agências buscavam reco- quele evento. Geralmente, as imagens são plas-
nhecimento e respeito profissional e a possibi- ticamente bonitas, porém não apenas quando
lidade de atuar sem a interferência de patrões. retratam as vitórias ou as grandes conquistas,
Ainda no Rio de Janeiro surgiu Imagens da Ter- mas, também, quando retratam o imprevisto,
ra, agência que apoiava os movimentos sociais. a queda, o erro, a lamentação de um lance per-
Na década de 1980 dois importantes fotógrafos dido etc.
brasileiros, Miguel Rio Branco e Sebastião Sal- Assim, as imagens veiculadas estão di-
gado, passaram a integrar a equipe da Magnum, retamente relacionadas com o fazer esporti-
onde desde 1969 atuava Alécio de Andrade. vo. Porém, por vezes, algumas fotografias de
A década de 1990 foi marcada por profun- eventos sociais e de fatores extracampo são
das transformações, com o advento das tecno- postadas em pauta, de forma a condensar e a
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Referências:
HABERT, Angelucia Bernardes. Fotonovela e Função das Relações Públicas
indústria cultural. Petrópolis: Vozes, 1974. Existem inúmeras descrições das funções de
Relações Públicas que se confundem com a sua
definição a ponto de não se distinguir disserta-
FRANCHISE ções sobre a atividade (supostas definições) e
O termo, traduzido da língua inglesa significa as suas funções essenciais. A definição do con-
franquia, ou seja, palavra que significa direito ceito de função, do ponto de vista da filosofia,
ou privilégio; e refere-se à prática de utilizar é a determinação da essência de alguma coisa,
um modelo de negócio criado por outra pessoa aquilo que a limita e diferencia de outras, diz o
ou empresa. que ela é, indica o que o nome significa. A fun-
A franquia concede o direito ao franquea- ção tem relação com a definição, na medida em
do de distribuir, vender os seus produtos e/ou que ajuda a entendê-la, explicar o seu significa-
serviços, técnicas e marcas no mercado, con- do e a determinar a finalidade de sua ação.
forme o contrato de negócios assinado entre as As relações públicas definem-se como ati-
partes e baseados em acordo de uma porcenta- vidade essencialmente de gestão de relaciona-
gem do faturamento bruto mensal e uma taxa mentos e da comunicação da organização com
de royalty. seus públicos de interesse. O Parlamento Na-
Apesar de aparecer com muito sucesso na cional de Relações Públicas, promovido pelo
década de 1930, nos Estados Unidos, o franchi- Conferp, por meio da Carta de Atibaia, de ou-
sing existe há muitos séculos na Europa. tubro de 1977, estabeleceu como funções espe-
Contudo, o franchising moderno surgiu, na cíficas de Relações Públicas: (a) Diagnosticar o
década de 1950, é baseado na prestação de ser- relacionamento das entidades com os seus pú-
viços, principalmente de alimentos; e ajudou a blicos. (b) Prognosticar a evolução da reação
impulsionar essa prática de negócios pelo mun- dos públicos diante das ações das entidades. (c)
do. (Luiz Cézar dos Santos) Propor políticas e estratégias que atendam às
necessidades de relacionamento das entidades
Referências: com seus públicos. –(d) Implementar progra-
BARBOSA, Gustavo Guimarães; RABAÇA, mas e instrumentos que assegurem a interação
Carlos Alberto. Dicionário de Comunica- das entidades com seus públicos.
ção. São Paulo: Ática, 1987. A função de relações públicas não represen-
PREDEBON, José (Org). Curso de Propaganda: ta apenas uma atividade sazonal de relaciona-
do anúncio à comunicação integrada. São mento e comunicação, mas diretrizes perma-
Paulo: Atlas, 2004. nentes e políticas corporativas (SIMÕES, 1995)
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de longo prazo para que seja uniforme e inte- rava-se entender a contribuição das partes ou
grada a estruturação dos relacionamentos e da órgãos para o funcionamento e sobrevivência
interatividade da organização com as partes in- do todo ou organismo. Assim, pressupunha-se,
teressadas. A comunicação é um instrumento ao mesmo tempo, a interdependência das par-
da ação de relações públicas para informar e tes no conjunto da sociedade e sua integração
educar os públicos. Desse modo, fazem parte em uma unidade organizada. Por isso, “função
do business administration das relações públi- social” foi uma expressão bastante usada no es-
cas a governança corporativa, ligada à coalizão tudo das organizações, confundindo-se, muitas
dominante (GRUNIG, 2009). vezes, com suas metas e objetivos.
Compartilham com ela a elaboração e ad- Émile Durkheim, na obra Regras do Mé-
ministração das políticas empresariais perma- todo Sociológico, procura distinguir causa de
nentes na relação com as partes interessadas e função, considerando a primeira como aquilo
o mundo dos negócios e procuram fazer com que faz surgir, por exemplo, uma instituição,
que as organizações tenham representativi- enquanto a segunda é o que garante sua conti-
dade, confiabilidade e uma reputação positi- nuidade. Podemos dizer que a causa envolve a
va diante da opinião pública. As funções ofi- gênese histórica dos processos sociais, ao mes-
ciais das Relações Públicas se encontram na mo tempo em que a função tem um sentido
Lei n. 5.377 (11/12/1967) e no Decreto n. 63.283 mais sincrônico e orgânico. Assim, embora a
(26/09/1968). (Fábio França) análise das funções permita distinguir e enten-
der partes e subpartes de um todo, ela sempre
Referências: apresenta um viés ideológico integracionista e
Carta de Atibaia, Parlamento Nacional de Rela- conservador. A própria ideia de que a socieda-
ções Públicas. Conferp, 1977. de se movimenta em direção à sua preservação
FRANÇA, F. Públicos: como administrá-los em dá às análises decorrentes um cunho conserva-
uma nova visão estratégica – Business rela- cionista.
tionship. 2. Ed. São Caetano do Sul: Yendis Também a Etnologia utilizou o conceito
Editora, 2008. de função. Bronislaw Malonowski, buscando
GRUNIG J. E.; FERRARI, M. A.; FRANÇA, F. desenvolver um estudo científico da cultura,
Relações Públicas: teoria, contexto e rela- utiliza o conceito para designar a resposta de
cionamentos. São Caetano do Sul, SP: Di- uma dada sociedade para a satisfação de suas
fusão Editora, 2009. necessidades. Com uma visão relativista das
SIMÕES, R. P. Relações Públicas: função polí- diferenças culturais, Malinowski considera que
tica. 3 ed. ver. e amp. São Paulo: Summus, as funções só podem ser entendidas a partir da
1995 cultura onde se manifestam, não sendo pos-
sível universalizar os critérios de análise das
funções.
FUNÇÃO SOCIAL Talcott Parsons fez uso do conceito de fun-
O conceito de função social vem da influência ção para explicar a finalidade das instituições
que exerceram as ciências biológicas sobre a sociais e avaliar sua contribuição para a inte-
nascente Sociologia. Com esse termo, procu- gração social. Como nos demais autores, pre-
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valece, em Parsons, a ideia de harmonia, inte- Das fábulas atribuídas a Esopo no século
gração, e arranjo sistêmico das partes. Como VI antes da Era Cristã à criação que assume o
podemos perceber, as explicações funcionalis- poder em uma fazenda no livro A Revolução
tas se apresentam quase sempre como justifica- dos Bichos, escrito pelo inglês George Orwell
tivas para a manutenção de determinadas insti- em 1945, esse tipo de personagem retrata de
tuições ou manifestações culturais. maneira caricatural as virtudes e os defeitos do
As principais críticas às teorias funciona- ser humano, de uma maneira ingênua e, para-
listas, portanto, recaem sobre a visão conserva- doxalmente, exagerada.
dora que expressam a respeito da história e da No Japão, desenhos de bichos simulando
dinâmica social e a ausência da consideração e atitudes humanas, especialmente os aspectos
análise dos conflitos e antagonismos inerentes eróticos, datam do século VI (LUYTEN, 1991).
à vida social. Um dos pioneiros do gênero nos comics
Nas ciências da comunicação, as análises norte-americanos foi James Swinnerton, que,
funcionalistas se desenvolveram principalmen- em 1895, desenhou a história Little Bears. De-
te nos Estados Unidos, onde autores como Ha- pois, criou a tira “Mount Ararat”, protagoniza-
rold Lasswell, Paul Lazarsfeld e Robert Merton da pelo tigre Mr. Jack. George Herriman criou
dedicaram-se ao estudo dos efeitos dos meios situações bizarras em cenários oníricos para
de comunicação na sociedade e da maneira Krazy Kat, lançada em 1910, na qual a gata é
como a mídia de massa atua junto ao público. apaixonada pelo rato Ignatz, que vive jogando
Com uma visão otimista a esse respeito, passa- tijolos na cabeça da felina e sendo preso pelo
ram ao largo de qualquer discussão crítica so- cachorro policial.
bre as relações entre mídia, poder e ideologia. Personagens oriundos dos desenhos ani-
Termos como estabilidade, integração, har- mados passaram a estrelar histórias em quadri-
monia, padrões e continuidade fazem parte do nhos, a exemplo de Gato Félix, Mickey Mouse,
jargão desses autores para quem a principal Pato Donald, Pernalonga, Pica-Pau, entre ou-
função dos meios de comunicação de massa é tros. Enredos com conteúdo político ou vol-
contribuir para o equilíbrio social da socieda- tados para leitores adultos também utilizaram
de, não importando muito o que isso represen- animais antropomorfizados, como Pogo (ide-
te além de continuidade e ausência de disfun- alizado por Walt Kelly em 1948), Fritz The Cat
ção. (Maria Cristina Castilho Costa) (de Robert Crumb – ver Quadrinhos alterna-
tivos/underground), Maus (a memória do ho-
locausto feita por Art Spiegelman) ou Omaha
Funny animal comics The Cat Dancer (de Reed Waller).
Gênero de histórias em quadrinhos caracteri- O desenhista e animador alemão Rolf
zado pelo uso de animais antropomorfizados Kaukas começou a produzir em 1952 as aven-
(ou seja, assumindo comportamento humano). turas das raposas Fix e Fox. No Brasil, Mauricio
Os animais falantes fazem parte da cultura e do de Sousa iniciou sua carreira em 1959 com as
imaginário ocidental há milhares de anos, sem tiras do cachorro Bidu, tendo criado na déca-
levar em conta as religiões zoomórficas primi- da de 1960 o dinossauro Horácio, o elefante Jo-
tivas. talhão e a Turma da Mata. Na década de 1980,
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G, g
Toronto, entre outros locais similares. Trata-se uma maior capacidade de imersão com o uso
como se vê de um amplo mercado de comércio do corpo. As ações do jogador são coordenadas
que atrai com freqüência não só apreciadores por controles remotos dotados de sensores de
da boa arte como investidores que imobilizam gravidade que permitem, por exemplo, a simu-
seus capitais em obras valiosas. lação de movimentos de uma raquete de tênis
Algumas galerias preferem representar cer- em um jogo de esportes.
to número de artistas com exclusividade, dan- Na questão móvel, o Playstation PSP e o
do-lhes oportunidade de expósições solo. Di- Nintendo DS dividem espaço com as várias pla-
vulgam e promovem suas criações na imprensa taformas de telefones celulares que disputam
e entre os clientes de suas relações assumindo nesse mercado. O Vídeo Game já foi considerado
os custos de produção de todo o material rela- vilão na formação de crianças que permanecem
tivo à divulgação e produção da mostra. (Neusa consumindo este modo de entretenimento por
Gomes) longos períodos de tempo. Mas, o que aparente-
mente pode ser algo maléfico, em uma segunda
análise pode ser uma poderosa ferramenta de de-
Game senvolvimento da cognição (JOHNSON, 2005).
Game, do inglês, significa jogo e vídeo por- A produção de alguns games é, hoje, um
que eles são representados eletronicamente em processo tão complexo que possui um orça-
monitores. No começo das experiências nesta mento superior a alguns dos grandes filmes.
área os displays eram tubos de TV alimentados Esta indústria deixa de ser simplesmente uma
por algum aparelho, também chamado hoje de forma simples de entretenimento para ser um
“console”. tipo de empreendimento para o qual conver-
A evolução e a popularização dos Com- gem várias mídias e culturas (JENKINS, 2006)
putadores Pessoais levaram a experiência dos em um formato extremamente complexo.
Vídeos Games para este suporte. Por isso, são Em 2008, calculava-se que 70% de todas as
chamados hoje de Jogos de Computador. Os crianças dos Estados Unidos tinham sistemas
consoles nada mais são do que computadores de jogos eletrônicos nos seus lares. Mais de 4
dedicados à função de jogos. Para isso eles pos- bilhões de dólares estavam sendo gasto anual-
suem mais capacidade de processamento espe- mente no seu consumo naquele país. Naquele
cífico para gráficos. ano, os softwares brasileiros para aquela indús-
No final da década de 1970, e principal- tria tinham crescido 31% e os hardwares 8%. O
mente, na década de 1980, o Atari foi o prin- número de empresas do setor tinha crescido de
cipal expoente da popularização do conceito 42 para 50. Cerca de 43% da produção nacional
de vídeo games nas residências. Na década de desse tipo de ‘software’ estava sendo exportado
1990 até hoje, as grandes plataformas são da enquanto 100% do hardaware destinou-se ao
Microsoft com o Xbox, a Sony com o Playsta- mercado nacional. (Carlos Pellanda)
tion e Nintendo com o Wii. Enquanto os dois
primeiros privilegiam a experiência em alta de- Referências:
finição com a ligação com monitores HDTV, o JENKINS, H. Convergence Culture. New York:
Nintendo ganhou popularidade ao introduzir New York University Press, 2006.
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JOHNSON, S. Everything Bad Is Good for You: as nações comerciantes; redução de tarifas por
How Today’s Popular Culture Is Actually meio de negociações; eliminação das cotas de
Making Us Smarter. New York: Penguin, importação. Em seus termos, as negociações
2005. para redução de tarifas seguiram desde o início
GRUBER, Diana. Action Arcade Adventure Set. o padrão estabelecido pelos anteriores Tratados
Coriolis Group, 1994. Recíprocos de Comércio ou acordos (bilaterais)
KATZ, Arnie; YATES, Laurie. Inside Electronic entre pares de países, cuidando de produto por
Game Design. Prima Publications, 1997. produto. As concessões bilaterais alcançadas
SAWYER, Ben. The Ultimate Game Developers eram estendidas a todos os signatários pelo uso
Sourcebook. Coriolis Group, 1997. da cláusula de nação mais favorecida e pela in-
corporação de todos os acordos individuais a
um documento multilateral (ibid.).
GATT - ACORDO GERAL DE TARIFAS E Em seus primeiros anos, o GATT priorizou
COMÉRCIO a redução e a estabilização das tarifas entre os
O General Agreement on Tariffs and Trade membros, e, durante os anos 1950, as restrições
(GATT), o Acordo Geral de Tarifas e Comér- sobre as importações foram largamente reduzi-
cio, firmado em Genebra em 1947, deu origem à das. Entre outros compromissos, os membros
Organização Mundial do Comércio (OMC) em do GATT deviam fornecer detalhes a respeito
1º de janeiro de 1995. O GATT surgiu como um de quaisquer subsídios criados, e, se eles fos-
tratado multilateral de comércio internacional sem passíveis de prejudicar interesses de qual-
tendo como o princípio básico o livre-comér- quer outro membro, deveriam discutir sua re-
cio. Constituiu-se como uma organização in- dução ou eliminação.
ternacional com um secretariado em Genebra, O objetivo do GATT era, portanto, reduzir
que entrou em operação em 1948 (SANDRO- tarifas alfandegárias e limitar as restrições co-
NI, 2005, p. 371; ALONSO, 2000, p. 177). merciais para tentar atingir o câmbio livre. Seu
O tratado era constituído por um código princípio básico era contrariado pelo protecio-
de tarifas e regras de comércio estabelecido em nismo de alguns países, sobretudo os industria-
comum acordo pelas 23 nações que faziam par- lizados, e pelo surgimento de blocos econômi-
te, inclusive os Estados Unidos (EUA), compo- cos e mercados regionais institucionalizados
nentes de uma comissão especial da ONU. O (como o Mercado Comum Europeu), cuja exis-
acordo foi originariamente projetado pela co- tência é levada em conta por ocasião das nego-
missão como um meio temporário de lidar com ciações tarifárias internacionais.
as questões de tarifa e comércio ao longo de li- A última rodada de negociações foi a Ro-
nhas multilaterais, até que a International Tra- dada Uruguai (1986-1993), com a participação
de Organization (ITO) – Organização Interna- de 115 países. Em 1995, no Marrocos, esses paí-
cional do Comércio – fosse estabelecida, mas, ses assinaram um acordo constituindo a OMC,
em 1950, o Senado dos EUA rejeitou a carta da organismo de caráter permanente, em substi-
ITO, e o GATT se tornou efetivo. tuição ao GATT, que inicialmente tinha um ca-
O GATT tinha três princípios básicos: tra- ráter temporário. (Hérica Lene)
tamento igual, não discriminatório, para todas
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contracampo dos gêneros discursivos secun- Nesse caso, valoriza-se o processo de interação
dários (da comunicação produzida a partir de “ativa”, quer dizer, todo discurso só pode ser
códigos culturais elaborados, como a escrita). pensado como resposta. (Irene Machado)
Trata-se de uma distinção que dimensiona as
esferas de uso da linguagem em processo dialó- Referências:
gico-interativo. BAKHTIN, Mikhail. Gêneros discursivos. In:
Os gêneros secundários – tais como ro- . Estética de la creación verbal. Trad.
mances, gêneros jornalísticos, ensaios filosófi- Tatiana Bubnova. México: Siglo Veinteuno,
cos – são formações complexas porque são ela- 1972.
borações da comunicação cultural organizada MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In:
em sistemas específicos como a ciência, a arte, BRAIT, Beth (Org.). Bakhin. Conceitos-
a política. Isso não quer dizer que eles sejam re- chave. São Paulo: Contexto, 2005.
fratários aos gêneros primários: nada impede,
portanto, que uma forma do mundo cotidiano
possa entrar para a esfera da ciência, da arte, da Gêneros jornalísticos
filosofia, por exemplo. Em contatos como esses, Apesar da complexidade que ronda o conceito
ambas as esferas se modificam e se complemen- de gênero jornalístico, o resultado de sua prá-
tam. Um diálogo perde sua relação com o con- tica é perceptível no dia a dia de todo veículo
texto da comunicação ordinária, quando, por de comunicação cuja atividade fim é o jornalis-
exemplo, entra para um texto artístico, uma en- mo. Basta mirarmos um jornal diário, um site,
trevista jornalística, um romance ou uma crô- ou ainda um canal de TV ou emissora de rádio,
nica. Adquire, por conseguinte, os matizes des- para notarmos que há textos, imagens e sons
se novo contexto. que nos transmitem o noticiário, propaganda
O estudo dos gêneros discursivos conside- de várias formas, entre outras variações infor-
ra, sobretudo, “a natureza do enunciado” em mativas como horóscopo, dados sobre o tempo,
sua diversidade e nas diferentes esferas da ativi- o movimento das bolsas de valores etc.
dade comunicacional, isto porque, como afirma Em todas estas informações há certos pa-
Bakhtin “a linguagem participa na vida através râmetros textuais (que formam os gêneros)
dos enunciados concretos que a realizam, assim empregados pelo profissional da informação,
como a vida participa da vida através dos enun- (produtor, repórter, publicitário, entre outros)
ciados” (BAKHTIN, 1972, p. 251). Os enuncia- para relatar acontecimentos, ideias, produtos
dos configuram tipos de gêneros discursivos e e serviços cujo resultado deverá ser reconheci-
funcionam, em relação a eles, como “correias do pelo receptor como uma reportagem, uma
de transmissão entre a história da sociedade e entrevista (exemplos de gêneros jornalísticos)
a história da língua” (idem, ibidem, p. 254). A uma peça publicitária (exemplo de gêneros da
vinculação dos gêneros discursivos aos enun- propaganda). Juntos, em uma mídia, forma-
ciados concretos introduz uma abordagem lin- rão o conteúdo de uma edição ou de um dia de
guística centrada na função comunicativa em transmissão.
detrimento até mesmo de algumas tendências É possível conceber que em um veículo
dominantes como a função expressiva da fala. de comunicação se encontram os gêneros do
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disponíveis, de modo que o autor teve de recor- riam, então, o resultado dos estudos e dos en-
rer a ousados recursos de generalização para contros com a dimensão espacial na qual os
compor um primeiro cenário da problemática personagens de um filme agem.
alimentar/nutricional do país. As imagens e sons fílmicos “sugam” / mo-
Josué de Castro considerou o Brasil regio- bilizam certas memórias em seu “entendimen-
nalizado em quatro grandes espaços: dois de to”, e ao mesmo tempo em que o fazem criam,
fome endêmica (a Amazônia e a zona da mata em imagens e sons, memórias do mundo e da
do Nordeste), um de fome epidêmica (o Nor- existência (ALMEIDA, 1999). Os filmes estão a
deste semi-árido) e um de subnutrição ou de nos propor pensamentos acerca do espaço, não
fome oculta (o centro-sul do Brasil). Aponta- só resultantes das alusões literais – por veros-
va como áreas de fome as regiões onde mais da similhança visual e sonora – a uma realidade
metade da população apresentava permanente- existente além cinema, mas também de movi-
mente (caráter endêmico) ou periodicamente mentos imaginativos resultantes do encontro
(caráter epidêmico, comum nos ciclos de seca inusitado nessas imagens e sons de outras for-
do Nordeste), evidências de alimentação insu- mas de conceber e viver o espaço como dimen-
ficiente ou manifestações orgânicas de deficiên- são da existência humana. Desta forma, mesmo
cias nutricionais. (Arquimedes Pessoni) “a cidade concreta só se torna ‘real’ quando é
representada, quando é apresentada através de
Referências: diferentes interpretações e leituras” (COSTA,
BATISTA FILHO, Malaquias; RISSIN, Ane- 2002, p.73).
te. A transição nutricional no Brasil: ten- Os territórios cinematográficos são cons-
dências regionais e temporais. Cad. truídos pelos passos e olhares dos personagens.
Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2009. Dis- São eles que dão existência – em materialida-
ponível em: <http://www.scielosp.org/scie- des e sentidos – aos locais narrativos. Todo fil-
lo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-311- me constitui-se de locais narrativos, sendo eles
X2003000700019&lng=en&nrm=iso>. das mais diversas escalas. No cinema, as esca-
Acesso em: 18/02/2009. las muito pequenas, captadas nos closes e su-
percloses, convivem e remetem a outras escalas,
muitas vezes impossíveis aos homens enquanto
Geografias de cinema corpos viventes, mas franqueadas a suas imagi-
O melhor uso é no plural – geografias de ci- nações, pensamentos e devaneios (OLIVEIRA
nema –, visto que elas são construções imagi- JR., 2005). Descolados da contiguidade espacial
nativas e interpretativas que se dão numa “re- e geográfica da superfície planetária, esses locais
gião nebulosa” em que os universos culturais narrativos estão a constituir uma outra geogra-
das pessoas são sugados para o interior da nar- fia nos filmes (XAVIER, 1988). Será a “interpre-
rativa fílmica e esta ao interior desses univer- tação geográfica” do filme que dará a estes locais
sos culturais. Ganham existência em produções sua distribuição no território da ficção.
textuais assentadas nas imagens e sons, sequ- Dessa forma, a geografia de um filme se-
ências e sentidos que os filmes nos apresentam ria aquilo que suporta, sustenta, permite e dá
em sua manifestação como arte e indústria. Se- sentido às ações e movimentações dos perso-
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preciso garantir a mensuração dos resultados cente profissionalização dos setores de comuni-
esperados pela sua execução. cação das empresas e a consequente criação de
O profissional de relações públicas, para estruturas de prestação de serviços de comuni-
fazer uma gestão eficaz da comunicação, deve: cação que precisavam ser gerenciadas.
(a) estabelecer um programa corporativo e in- Seu uso foi frequente ao longo dos anos
tegrado do sistema de comunicação, pauta- 1980, associada à ideia de ‘comunicação inte-
da segundo as diretrizes organizacionais para grada’ (Kunsch, 1986), o que levou com que,
orientar e dar sentido às suas ações e aos rela- muitas vezes, fosse utilizada errôneamente
cionamentos organizacionais, tornando-os ge- como sinônimo da expressão ‘gestão estratégica
radores de resultados; (b) fundamentar o plano da comunicação’, pois uma ‘gestão de práticas’
de comunicação segundo as mesmas caracte- não necessariamente tem natureza estratégica.
rísticas da gestão estratégica da organização; Aparentemente, essa expressão está cain-
(c) desenvolver um trabalho uniforme, coeso, do em desuso, sendo substituída pela expressão
permanente; (d) estabelecer os paradigmas de mais genérica ‘gestão da comunicação’, ou pela
sua inter-relação com os públicos; (e) acreditar mais específica ‘gestão estratégica da comuni-
no papel vital da comunicação para o sucesso cação’. (Maria do Carmo Reis)
dos empreendimentos empresariais; (f ) fazer
sua gestão com o envolvimento e apoio da alta Referências:
administração. (Fábio França) KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações
públicas na comunicaçăo integrada. São
Referências: Paulo: Summus, 1986.
COSTA, E. A. da. Gestão Estratégica. São Paulo:
Saraiva, 2002.
FRANÇA, F.; LEITE, G. A comunicação como Gestão estratégica da Comunicação
estratégia de recursos humanos. Rio de Ja- Gestão estratégica da comunicação é um termo
neiro: Qualitymark, 2007. utilizado geralmente tendo por referência con-
FRANÇA, F. Relações Públicas no século XXI: textos organizacionais e um processo de geren-
relacionamento com pessoas. In: Kunsch, ciamento da comunicação, nesses contextos,
M. M. K. (Org.) Obtendo resultados com re- em sintonia fina com uma proposta institucio-
lações públicas. 2. ed. ver, p. 3-20. São Pau- nal-mercadológica de gestão estratégica de uma
lo: Pioneira Thomson Learning, 2006. dada organização.
BACCEGA, M. A. (Org.). Gestão de processos O uso cada vez mais corrente desse ter-
comunicacionais. São Paulo: Atlas, 2002. mo pode ser considerado em consequência das
preocupações, inicialmente pelo planejar, mais
tarde, agregado ao estrategizar, que começaram
Gestão de práticas de comunicação a ganhar espaço entre os estudiosos brasileiros
A expressão gestão de práticas de comunicação das Relações Públicas e da Comunicação Orga-
ganhou presença no vocabulário das Relações nizacional a partir dos trabalhos de Albuquer-
Públicas e da Comunicação Organizacional por que (1983), de Evangelista (1983), de Torquato
volta de meados dos anos de 1970, com a cres- do Rego (1985) e de Kunsch (1986).
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nização: reflexões, processos e práticas. São rativo, destinado àqueles quadrinhos voltados
Caetano do Sul: Difusão, 2010. exclusivamente para o público infantil.
TORQUATO DO REGO, G. Estratégias de Além dos gibis ou revistas de periodicida-
comunicaçăo nas modernas organizações. de regular, costumam também serem publica-
Revista INTERCOM. n. 53, p. 59-61, 1985. dos suplementos e edições especiais, almana-
ques e edições singulares ou comemorativas,
que englobam personagens de várias revistas
Gibi diferentes, às vezes sob uma denominação to-
Denominação genérica que é aplicada, no Bra- talmente nova, outras utilizando um título já
sil, a uma publicação seriada de histórias em familiar aos leitores.
quadrinhos, com periodicidade, as mais das Esse mercado é, sob muitos aspectos, uma
vezes, mensal e sem prazo previsto de encer- realidade editorial bastante caótica: não apre-
ramento. De uma maneira geral, os gibis bra- senta qualquer tipo de padronização em rela-
sileiros são equivalentes aos comic books nor- ção a numeração, uniformidade dos títulos ou
te-americanos. Eles são publicados em uma continuidade; da mesma forma, almanaques e
grande diversidade de títulos e temáticas, po- números especiais costumam muitas vezes ser
dendo ser encontrados com muita facilidade intercalados em títulos regulares, podendo tan-
em qualquer banca de jornal, supermercado ou to receber uma numeração própria como seguir
mesmo livraria no país. No Brasil, atualmen- a mesma sequência numérica do título princi-
te, os gibis mais comuns são aqueles publicados pal, numa balbúrdia difícil de compreender por
em formato pequeno, conhecido como forma- aqueles que não estão familiarizados com aque-
tinho, normalmente voltados para o público in- le título em particular.
fantil e juvenil. A produção brasileira de gibis passou por
A denominação deriva da revista Gibi, pu- altos e baixos durante o século XX, com mo-
blicada de 1939 a meados da década de 1960. A mentos de grande produtividade e outros de
popularidade dessa publicação levou à aplica- franco declínio, acompanhando os altos e bai-
ção de seu título a todas as publicações da mes- xos da economia no país, bem como a prefe-
ma natureza produzidas no país, fenômeno que rência popular e tendências da comunicação de
é conhecido como sinonímia. Os gibis são re- massa.
lativamente baratos, feitos em papel frágil e de Durante as décadas de 1950 e 1960, por
pouca durabilidade, representando um clássico exemplo, foram muito populares os gibis de ter-
produto de consumo de massa. Muitas dessas ror, com uma produção bastante significativa
revistas, por outro lado, são também publicadas de histórias em quadrinhos sendo produzidas
em formato maior, conhecido como formato por autores como Gedeone Malagola, Jayme
americano, tamanho em que tradicionalmente Cortez, Flávio Colin, Eugenio Colonneze, Nico
são ainda publicados os comic books nos Esta- Rosso. Entre os gibis publicados, no Brasil,
dos Unidos e diversos outros países. No Brasil, atualmente, os mais populares são certamente
no entanto, leitores mais adultos e exigentes re- aqueles destinados ao público infanto-juvenil,
cusam para essas publicações a denominação procedentes dos estúdios do artista e empre-
gibi, afirmando que se trata de um termo pejo- sário Maurício de Sousa, que, desde 2006, são
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publicados pela Editora Panini, de São Paulo. Mensal, com histórias completas. Publicado às
Entre esses títulos, podem ser destacados Mô- quartas-feiras e domingos, o antigo Gibi durou
nica, Chico Bento, Cascão, Cebolinha, Magali até os anos 1950 e a edição mensal até os anos
e, o mais recente, Ronaldinho Gaúcho. (Waldo- 1960. Entre os gibis infantis de destaque, no
miro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos) Brasil, estão os da “Turma da Mônica”, criada
por Maurício de Sousa.
Portanto, história em quadrinho é o nome
Gibi (O) dado às histórias desenhadas em sequência. São
As revistas de histórias em quadrinhos, que ti- denominadas Fumetto, na Itália; Banda Dese-
veram sua origem, na Europa, denominadas nhada, na França; Histórias aos Quadradinhos
comics nos Estados Unidos, onde, realmente, ou Banda Desenhada, em Portugal.
iniciou-se sua fase moderna. Em 12 de abril Para o escritor e desenhista Will Eisner, a
de 1939, o Brasil lançou uma revista semanal, História em Quadrinhos se constitui em “Arte
intitulada O Gibi, com 32 páginas de história Sequencial”; para Rudolph Topffer, (1799-
em quadrinhos, apresentando as historietas de 1846), citado por Jean-Bruno Renard (1978),
Charlie Chan, L’il Abner, Al Capp e ainda Os fi- que é considerado “o pai das histórias em qua-
lhos do Capitão Grant, de Julio Verne, especial- drinhos”, ela significa “Literatura Desenhada”.
mente desenhado por Hochman, o qual criava No entender do seu criador, essa forma de arte
composições com as letras dos balões. pode ser denominada de “composição de de-
Graças a esta revista, o termo gibi tornou- senhos em sucessão de imagens com a utiliza-
se sinônimo de revista em quadrinhos. Gibi ção de balões” de fala e de pensamento. (Bea-
significa moleque, negrinho, garoto negro, ima- triz Rahde)
gem esta que aparecia no canto superior da
capa da revista. Com o tempo a palavra passou Referências:
a ser associada a revistas em quadrinhos e, des- MOYA, Álvaro de. Shazan. São Paulo: Perspec-
de então, virou uma espécie de sinônimo. tiva, 1970
A Revista O Gibi era publicada pela Edito- . História das histórias em quadrinhos.
ra Globo, como concorrente da revista Mirim São Paulo: Brasiliense, 1993.
de Adolfo Aizen. Este editor, futuro fundador EISNER, Will. História em quadrinhos e arte se-
da Editora Brasil América Limitada (Ebal), foi qüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989
o pioneiro dos quadrinhos publicados como RENARD, Jean-Bruno. Clefs pour la bande des-
suplemento de jornal no Brasil (ideia que reti- sinée. Paris: Seghers, 1978
rara de uma viagem aos Estados Unidos), com
o seu Suplemento Juvenil que acompanhava o
jornal “A Nação”. Mais tarde, o jornal O Globo Gibiteca
copiou a ideia e lançou um suplemento chama- Biblioteca ou setor de uma biblioteca que se ca-
do O Globo Juvenil. racteriza por ter exclusivamente histórias em
O Gibi foi sucesso desde seu lançamento quadrinhos (basicamente, revistas e álbuns,
e qualquer revistinha em quadrinhos era cha- mas, também, podendo incluir fanzines (os
mada “gibi”, tendo sido lançado em 1940 o Gibi acervos especializados neste tipo de publica-
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ção são chamados de Fanzinoteca), suplemen- Aos poucos, talvez em função do sucesso
tos dominicais, tiras e páginas de quadrinhos da ‘Gibiteca de Curitiba’, ou mesmo por pres-
recortadas de jornais, livros especializados e são dos usuários, outras bibliotecas também
materiais correlatos, como DVDs, games etc); começaram a criar espaços específicos para as
também realiza atividades ligadas às histórias histórias em quadrinhos. Na maioria das vezes,
em quadrinhos, como oficinas, cursos, lança- constituíram iniciativas isoladas de profissio-
mentos, debates e encontros com autores. nais que encaravam os quadrinhos de uma ma-
A denominação surgiu da junção da pala- neira diferente de seus colegas, tendo sempre se
vra gibi, termo com que, popularmente, são co- interessado por essa questão. Algumas delas vi-
nhecidas as revistas de histórias em quadrinhos riam, posteriormente, a criar gibitecas.
no Brasil, com o sufixo teca (de biblioteca). A primeira gibiteca brasileira a surgir em
Esse tipo de instituição pode ser ligado tanto um serviço de biblioteca pública, a partir de
a organizações privadas como à administração iniciativa da própria administração governa-
pública. mental, foi a ‘Gibiteca Henfil’, órgão do Depar-
As gibitecas representaram, desde seu iní- tamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis da Se-
cio, uma revolução na forma como as revistas cretaria de Cultura do município de São Paulo,
de histórias em quadrinhos foram tradicional- inaugurada em 1991. Além de possuir um dos
mente vistas por parcelas influentes da socie- maiores acervos do país – menor apenas que
dade, que durante muito tempo as consideram o da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro –
como materiais de segunda ou terceira catego- , essa gibiteca sempre buscou se colocar como
ria. Em geral, pais e educadores achavam que um grande centro de eventos relacionados com
representavam ameaça ao desenvolvimento in- os quadrinhos, promovendo cursos, exposi-
telectual de seus filhos e alunos. Por esse mo- ções, palestras, debates e lançamentos de novas
tivo, as histórias em quadrinhos encontraram obras e servindo como ponto de encontro para
sempre enormes dificuldades para adentrar as reuniões de leitores e de associações de quadri-
portas das escolas e das bibliotecas. nhistas.
A primeira gibiteca do Brasil foi a Gibiteca Ao se pensar na especificidade das gibitecas
de Curitiba, criada em 1982, que foi o modelo brasileiras, é importante lembrar que elas não
para todas as demais. Durante um bom tempo, se contentaram em apenas armazenar revistas
ela constituiu uma iniciativa isolada, fruto do e álbuns, mas buscaram atuar intensamente na
interesse de um grupo de idealistas e amantes divulgação dos quadrinhos, transformando-se
das histórias em quadrinhos. Rapidamente, ela em verdadeiros centros de cultura e produção
se tornou o ponto central de intensa atividade, na área. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio
indo muito além de uma coleção especializada. dos Santos)
Em torno dela foram e continuam a ser realiza-
dos exposições, cursos e oficinas sobre quadri-
nhos, palestras e atividades das mais variadas Ginga
que buscam dar às histórias em quadrinhos um Nome dado ao middleware desenvolvido pela
status privilegiado dentre os diversos meios de Pontifícia Universidade Católica do Rio de Ja-
comunicação de massa. neiro (PUC/RJ) em parceria com a Universi-
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dade Federal da Paraíba (UFPB). Esse midd- Os professores Luis Fernando Gomes, da
leware permite, entre outras características, a PUC/RJ, e Guido Lemos, da UFPB, são consi-
leitura e interpretação de bibliotecas de códi- derados os pais do Ginga, middleware que em
gos utilizadas por diversas monomídias, como maio de 2009 foi reconhecido pela União Inter-
gif, mpeg etc, buscando a interoperabilidade nacional de Telecomunicações (UIT) como pa-
entre os diferentes sistemas de códigos, per- drão internacional de tecnologia, podendo ser
mitindo um uso mais universal da TV digital utilizado em qualquer país. (Cosette Castro)
(TVD). Também permite e a interatividade
com as audiências.
O Ginga é formado por dois grandes nú- Globalização
cleos, o declarativo, constituído pelo sistema São inúmeras as definições de globalização, uma
NCL, totalmente idealizado e desenvolvido, no vez que várias são as perspectivas pelas quais o
Brasil, pelo Departamento de Engenharia Ele- conceito tem sido tratado. A globalização pode
trônica da PUC/RJ e o procedural, constituído ser entendida como um fenômeno econômi-
por aplicativos baseados no Java Digital Machi- co, político, social que implica no avanço a um
ne. A partir de entendimentos entre o Fórum maior grau de integração e interdependência
Sistema Brasileiro de TV Digital e a Oracle/Sun entre distintas nações e sociedades. Como pro-
Microsystems, detentora do direitos do Java cesso, a globalização se constrói e se modifica
Machine, foi constituído o JDTV, seu conjunto ao longo da história, influindo nos movimentos
de aplicativos de interface gráfica. sociais e introduzindo tecnologias que apro-
Termo oriundo da informática, middleware ximam povos, difundem diferentes culturas e
é um codificador de tabelas e códigos consti- resgatam as especificidades locais.
tuído por diversos programas (softwares) com Alguns autores definem a globalização
aplicativos que permitem a leitura de diversas como um processo civilizatório, uma vez que
linguagens computacionais integradas. O mid- esse fenômeno rompe com a estrutura espacial,
leware Ginga foi projetado para acessar arqui- diminuindo as fronteiras de povos e culturas.
vos de áudio, vídeo, textos e dados de internet. Para Ortiz (2000, p.15) “a globalização ainda
Em 2006, o governo brasileiro criou o Sistema é um processo em mutação que se constrói a
Brasileiro de TV digital (SBTVD) que incluía cada nova descoberta científica, alteração cli-
o padrão nipo-brasileiro com o uso do midd- mática, avanço tecnológico e movimento so-
leware Ginga. Mas a especificação de que tipo cial”. A ciência econômica foi, provavelmente,
de Ginga utilizar só chegou mais tarde. Ela foi a que mais se aprofundou na análise da questão
aprovada no começo de 2009 pelo Fórum Bra- e, ainda assim, reconhece que o tema é novo e
sileiro de TV Digital que adotou o Ginga/NCL. não está definido de forma conclusiva.
Nele, uma aplicação pode detectar quando uma A globalização do mundo pode ser vista
conexão com internet está disponível. Em ter- como um processo histórico-social de vastas
mos informáticos, é possível afirmar que o con- proporções, abalando mais ou menos drasti-
teúdo de um nó de mídia NCL para internet camente os quadros sociais e mentais de refe-
possibilita o uso de áudio, vídeos e dados, as- rência de indivíduos e coletividades. Rompe e
sim como páginas HTML inteiras. recria o mapa do mundo, inaugurando outros
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local pode globalizar-se na medida em que ex- cadas a partir de emergências tanto local como
pande pelo mundo determinadas característi- global. Daí, a glocalização ser entendida como
cas locais. processo dinâmico e com desdobramentos dos
Hobsbawm (2007) considera que as revo- mais diversos. (Antonio Adami)
luções dos transportes e das comunicações são
essenciais para o movimento de globalização Referências:
que, com os mercados livres, cria uma dramá- CASTELLS, M. A era da informação: economia,
tica acentuação das desigualdades econômicas sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra,
e sociais. Para Castells (1999), convivemos em 1999. Volume 2.
uma era além da internacionalização da eco- HOBSBAWM, E. Globalização, democracia e
nomia, mas a sua globalização, isto é, a uma in- terrorismo. São Paulo: Companhia das Le-
terpenetração das atividades produtivas e das tras, 2007.
economias nacionais em um âmbito mundial. ORTIZ, R. Mundialização: saberes e crenças.
Renato Ortiz (2006) denota preocupação com São Paulo: Brasiliense, 2006.
os movimentos diferenciados de globalização ROBERTSON, R. Globalização: teoria social e
presentes nos variados campos sociais e propõe cultura global. Petrópolis: Vozes, 2000.
somente aplicar a noção de globalização às di-
mensões econômica e técnica e o termo mun-
dialização para as dimensões da cultura. GÔNDOLA
Enfim, considerando as inquietações dos De forma genérica, gôndolas são as pratelei-
autores, percebe-se ainda que a globaliza- ras utilizadas para exposição de produtos em
ção procede de modo desigual nos diferentes pontos-de-venda. É um termo que se associou
campos. Podem ser observadas barreiras con- a um tipo especial de ponto-de-venda, o super-
venientemente impostas, por exemplo, como mercado. Os primeiros apareceram, há mais de
ocorre na Europa Ocidental, com os casos mais 70 anos, nos Estados Unidos. O dono do títu-
recentes da Itália e da Espanha, criando leis que lo de primeiro supermercado é o King Kullen,
dificultam o acesso de imigrantes ao país e con- inaugurado em 1930, pelo empresário ameri-
denando a prisão os cidadãos que empregarem cano Michael Cullen. A estratégia era simples:
ou derem abrigo ou hospedagem a imigrantes um galpão industrial, adaptando o lugar para
ilegais. vender comida, deixando que as pessoas se ser-
Há, ainda, o efeito localizado da globaliza- vissem sozinhas. Detalhe importante: os preços
ção diante da crise econômico-financeira mun- eram bem mais baixos que nos antigos arma-
dial, pois esses efeitos são localizados e não zéns, onde os funcionários entregavam a mer-
globalizados, levando economias de países in- cadoria nas mãos dos clientes. O autoatendi-
teiros praticamente à falência. Nesse sentido, o mento, aliás, é a característica que distingue um
termo glocalização está bem situado, vinculado supermercado dos outros tipos de loja. Daí a
diretamente ao campo das mídias, relaciona- necessidade de serem colocadas inúmeras pra-
do a processos, sejam políticos, econômicos ou teleiras para expor as mercadorias nas chama-
culturais, que possibilitam diferentes interações das gôndolas. Em apenas seis anos, Cullen fa-
entre o local e o global, interações estas provo- turou alto e conseguiu abrir mais 16 filiais pelo
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Estado de Nova York. A política barateira das uma negociação de mídia, em que alguns espa-
grandes lojas se espalhou pelo resto do mundo. ços são privilegiadíssimos e o preço também, é
Nos anos 1950, os supermercados chega- correspondente na forma superlativa. (Scarleth
ram à Europa e ao Brasil. Por aqui, o primeiro O’hara Arana)
supermercado foi o Sirva-se, aberto em 1953, em
São Paulo. Já os hipermercados, irmãos cres- Referências:
cidos dos supermercados, chegaram nos anos AAKER, David A. Strategic Market Manage-
1980. O número de itens comercializados pelo ment. New York: John Willey, 2010.
supermercado é em média de oito mil itens, en- COBRA, Marcos; TEJON, José Luiz. Gestão de
quanto o hipermercado chega a oferecer cer- Vendas. São Paulo: Saraiva, 2007.
ca de vinte mil a cinquenta mil itens. Com toda DAUD, Miguel; RABELLO, Walter. Marketing
essa variedade, e em alguns casos, sofisticação, de Varejo – Como Incrementar Resultados
o preço baixo deixou de ser a única estratégia com a Prestação de Serviços. Porto Alegre:
para elevar as vendas. Bookman, 2007.
Atualmente, os supermercados adotam po- RANGEL, Alexandre; COBRA, Marcos. Servi-
derosas estratégias de marketing em cada centí- ços ao Cliente. São Paulo: Cobra Editora,
metro das prateleiras e dos corredores - existem 1996.
até mesmo softwares especiais para organizar SHIMP, Terence A. Propaganda e Promoção.
melhor as mercadorias nas gôndolas, por meio Porto Alegre: Bookman, 2002.
de uma verdadeira ‘ciência da venda em autos-
serviço’. E a gôndola é a célula primeira de todo
esse sistema, determinando os altos preços das Graduação em Comunicação
tabelas de comercialização dos espaços dos su- Curso do Sistema de Educação Superior, forma
permercados, conforme a sua localização. e habilita para o exercício profissional no cam-
As localizações mais procuradas para co- po da Comunicação; sua duração, em geral, é
mercialização são as ‘pontas de gôndola’ (espa- de quatro anos, sendo oferecido por Instituição
ço nobre nas esxtremidades das gôndulas, uti- de Ensino Superior (IES), cujo ingresso requer
lizado para promover e aumentar o giro dos a conclusão do ensino médio ou equivalente e a
produtos nos supermecardos), consideradas os classificação em um processo seletivo; o vesti-
‘pontos quentes’ (local da loja em que a venda bular é o mais frequente deles.
do produto exposto é maior por metro linear A Graduação em Comunicação segue as
do que a média do estabelecimento, gerando Diretrizes Curriculares Nacionais (2009), ela-
uma zona de atração e podendo ser natural ou boradas pelo Ministério da Educação (MEC),
planejado) de todo supermercado, ‘ilhas’ (es- que definem o objetivo de formação geral para
paço dentro do supermercado, em que a expo- garantir a identidade do Curso, preveem flexi-
sição de produtos permite acesso por todos os bilidade na sua estruturação e a construção de
lados) e ‘quiosques’ (espaço físico criado para propostas pedagógicas inovadoras e eficientes,
alguma atividade promocional, podendo ter a tanto para atender a diversidade geográfica, po-
forma de balcão, carrinho ou qualquer outra). lítica, social e acadêmica do Brasil, como para
A negociação desses espaços funciona tal qual se ajustarem ao dinamismo da área. O Curso
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Moraes (2003) afirma que as corporações de mí- . Por uma outra comunicação. Rio de Ja-
dia exercem uma dupla função: além de agente neiro: Record, 2003.
operacional e discursivo do capitalismo, são das RAMONET, Ignacio. El poder mediático [onli-
mais vigorosas fontes de lucro ao capital. ne]. Disponível em <http://alainet.org/ac-
Os negócios de mídia tornaram-se em- tive/show_text_pt.php3?key=1143>. Acesso
preendimentos que investem e atuam em mer- em 17/02/2010.
cados globais, organizam-se em corporações,
constituem alianças e parcerias que potenciali-
zam lucros, diminuem custos e compartilham Grupos de Pressão ou Ativistas
know-how e conteúdos, explorados em suas po- Ativistas são pessoas que se reúnem em gru-
tencialidades multimidiáticas até mesmo por pos e que se caracterizam por suas motivações
empresas que são concorrentes. e fervor por uma causa (HOLTZHAUSEN,
A maior parte do que se vê, se ouve e se lê 2007). Os ativistas podem ser considerados um
mundo afora, da produção à distribuição, tem público porque se organizam mediante o de-
origem num reduzidíssimo número de mega- senvolvimento de uma ação que pode incluir
empresas que conjugam a produção de notícias educação, compromisso, persuasão, táticas de
e entretenimento com a indústria de turbinas pressão ou força para influenciar outras pesso-
de avião e eletrodomésticos, além da especula- as, grupos, organizações e até a sociedade. Os
ção financeira, entre outros. grupos de pressão ou ativistas são objeto de es-
De acordo com Moraes (2003), cerca de 20 tudo das Relações Públicas justamente pelo im-
conglomerados, com faturamento entre US$ 5 pacto que podem causar no ambiente organiza-
bilhões e US$ 35 bilhões, veiculam dois terços cional ou no entorno externo.
dos conteúdos de informação e entretenimento Segundo J. Grunig (1992), a teoria da Ex-
no planeta. Entre as maiores, quase todas têm celência previu que um ambiente turbulento e
origem estadunidense (General Electric, Walt complexo sob a pressão de grupos ativistas esti-
Disney, News Corporation, TimeWarner, Via- mula as organizações a desenvolver a função de
com e CBS). relações públicas excelentes. Isso sugere que as
As tecnologias digitais, a desregulamenta- organizações são menos autônomas do que elas
ção dos mercados locais, as megafusões e par- desejam e percebem que é inevitável enfren-
cerias, e a concentração quase oligopolizada de tar as pressões do ambiente externo. Portanto,
produção e emissão de conteúdos constituem nesse tipo de cenário, é necessário uma comu-
um cenário de ação discursiva em favor do ca- nicação simétrica, profissionais com alta per-
pitalismo, ao mesmo tempo em que confor- formance para entender suas causas e consequ-
mam uma rede planetária de obtenção de lucro ências para dialogar com os grupos de pressão.
ao capital por meio do negócio midiático. (José Pesquisas a respeito do comportamento de
Antonio Martinuzzo) grupos ativistas demonstraram que a maioria
das organizações, ao menos nos Estados Uni-
Referências: dos, sofreu pressão do ativismo. As conclusões
MORAES, Dênis de (Org.). Sociedade Midiati- de especialistas é que as organizações comecem
zada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006. a ‘emponderar’ a função de relações públicas
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enciclopédia intercom de comunicação
para melhor dialogarem quando houver pres- HOLTZHAUSEN, D. Activism. In The future of
são de ativistas. Excellence in Pubic Relations and Commu-
J. Grunig (1992) afirma que o ativismo po- nication Mangement. Mahwah: Lawrence
deria compelir as organizações no rumo da ex- Erlbaum, 2007.
celência. Desta forma, as organizações que en-
frentam pressão de ativistas devem estar mais
dispostas a ‘empoderar’ as relações públicas na Guia Turístico
função gerencial, além de incluir as relações A Europa sempre foi receptiva às narrativas de
públicas na gestão estratégica. O exercício do viagem. De Marco Polo, a contar suas andanças
processo de comunicação simétrica com adver- pela China, à Saint´Hilaire e outros viajantes,
sário ou parceiro poderoso ajuda a desenvolver cientistas ou simples curiosos que percorrerem
culturas e estruturas que vão proporcionar uma o Brasil, no período Colonial, todos, ao retor-
abertura da organização para entender o seu nar ao continente europeu, publicavam relatos
ambiente. Todas essas características são vari- de seus percursos em terras distantes. Em 1836
áveis que foram apontadas no Estudo da Exce- seria editado o primeiro guia turístico, propria-
lência, desenvolvido por J. Grunig e sua equipe mente, o Handbook Murray; e em 1841 Ad. Jo-
de pesquisadores (1992). anne publicou o Itinéraire de la Suisse; e, 1843,
Os dados quantitativos e qualitativos do Baedeker começou a edição de seus Guias. “As
Estudo da Excelência, também demonstraram três grandes coleções de Guias (inglesa, france-
que excelentes departamentos de relações pú- sa, germânica) codificaram, na época român-
blicas reagem aos ativistas por meio da comu- tica, a videnda dos turistas (primeiro a Itália,
nicação simétrica, com a participação de ativis- a Suiça, Paris...), divulgaram-nas até os nossos
tas nas decisões organizacionais e com pesquisa dias e por sua constante repetições (eles se co-
formativa e avaliativa a respeito dos ativistas. piam), fixaram o olhar do turista. As massas de
Esse padrão de resultados ajusta-se à Te- hoje, assim guiadas, ainda têm as emoções dos
oria de Excelência: departamentos de relações Românticos (...)”. (BOYER 2003, p.25).
públicas excelentes analisam o ambiente e for- O imaginário gestado dentro de um ide-
necem continuamente a opinião dos públicos, ário romântico nasce em uma época em que
principalmente dos grupos de ativistas, para o viajar era privilégio de poucos, os financei-
processo decisório. Desta forma, é possível de- ramente afortunados que se deslocavam para
senvolver programas de comunicação simétrica desfrutar seu lazer em estações termais, em
com ativistas que tenham como objetivo envol- balneários marítimos, nas estações de esqui
vê-los com os gestores da organização. (Maria nos Alpes. Os guias – o Murray inglês, o Bae-
Aparecida Ferrari) deker alemão e o Joanne francês – encarrega-
ram-se de alimentar a reputação destes lugares.
Referências: Também neles, a exemplo das fotos do perío-
GRUNIG, J. E. (Ed.). Excellence in public re- do, a estética então construída irá valorizar
lations and communication management. como sublime o campo, o mar e as monta-
Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, nhas, e como encantadores as colinas e vales.
1992. (BOYER, 2003, p. 43).
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H, h
são reciprocamente estruturados e estruturan- vro apresentam uma série de justificativas para
tes. Ponte entre o social e o particular, o habitus o uso desse tipo de edição para o levantamento
é o elemento central da subjetivação. do perfil do que vem sendo produzido em Co-
O habitus é mediado por distintas instân- municação para a Saúde na academia america-
cias produtoras de valores culturais e referên- na: os handbooks servem a distintos propósi-
cias identitárias: a família, a escola, a mídia são, tos numa disciplina acadêmica. No geral, eles
assim, instâncias socializadoras. O habitus é, oferecem a história e a geografia para o campo
portanto, uma matriz cultural que predispõe de estudo, e a publicação de um handbook su-
os indivíduos – conscientes ou não – a fazerem gere duas coisas: que a disciplina em questão
suas escolhas. Exemplificando, é possível afir- tem uma história que vale a pena contar e tam-
mar que a associação entre determinados es- bém pode ser visto como um mapa. Este é, cla-
tilos musicais com certos padrões de compor- ramente, o caso da disciplina de Comunicação
tamento social são manifestações do habitus para a Saúde.
nesses campos. O livro reúne os principais trabalhos publi-
Com Bourdieu, o conceito de habitus passa cados a partir de 1989 na revista Health Com-
a dar conta da complexidade da relação entre munication, oferecendo revisões de teorias e
indivíduo e sociedade, pois se trata da formu- pesquisa nessa área, não só nos Estados Uni-
lação social do gosto, determinante para definir dos, mas internacionalmente. Critica a pesqui-
a produção e os atos de consumo midiático, ob- sa e os métodos usados, sugere tendências para
jetos de distinção social. futuras pesquisas tendo como tópico a agenda
O campo de produção de conteúdos mi- do século XXI e discute as implicações práticas
diáticos tem regras próprias que se encontram das linhas de pesquisa.
em seus agentes e nas relações que estes esta- Os autores são das áreas de comunicação,
belecem. Assim, por exemplo, a produção jor- medicina e saúde pública, bem como, agências
nalística é fruto de um habitus jornalístico. Os governamentais e consultores de arenas priva-
critérios para definir o grau de noticiabilidade das de saúde. Em cada capítulo procura reper-
de um acontecimento – e, consequentemente, a cutir as seguintes questões: como essa área de
definição de uma pauta – são produto da inte- pesquisa procura relacionar a saúde do pacien-
riorização da aprendizagem jornalística. (Ferdi- te e seu bem-estar ou a saúde e o bem-estar da
nando Martins) sociedade como um todo? Como essa área de
pesquisa avançou na compreensão do processo
de comunicação humana? Como a sociedade
Handbook of Health contemporânea desenvolve e é impactada pela
Communication pesquisa apresentada neste campo? (Arquime-
O Handbook of Health Communication é uma des Pessoni)
publicacação que reúne o perfil das pesquisas
americanas produzido pela Lawrence Erlbaum Referências:
Associates (LEA) que identifica o estado da THOMPSON et al. Handbook of Health Com-
arte da pesquisa norte-americana em Comuni- munication. Lawrence Erlbaum Associates
cação para a Saúde. As próprias editoras do li- Inc. New Jersey: London, 2003.
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sentidos opostos, significando predomínio po- construção e difusão da visão de mundo dos
lítico, em geral de um Estado sobre outro (“he- grupos que representam. Nela, as classes do-
gemonismo”, “imperialismo”), ou a liderança minantes criam, junto à massa da população, o
política de uma classe sobre outras; liderança consenso que legitima a sua dominação. E é lá,
que envolve a noção de consentimento. É neste também, que as camadas subalternas elaboram
último sentido que o termo é utilizado no pen- “o seu modo de conceber o mundo e a vida em
samento político marxista, particularmente na contraste com a sociedade oficial” (GRAMSCI,
obra do italiano Antonio de Gramsci. 2002, p. 181).
Inspirado explicitamente em Lênin, que se Dominantes e dominados - no âmbito do
refere à hegemonia como a capacidade dirigen- Estado (em sentido amplo) - lutam por impor
te do proletariado na fase da revolução demo- a sua visão de mundo - sua “liderança intelec-
crático-burguesa (liderança política baseada na tual e moral” - ao conjunto da sociedade, reela-
aliança com segmentos da classe camponesa), borando o patrimônio histórico-cultural à luz
Gramsci desenvolve o conceito no bojo de sua de seus próprios interesses, ressemantizando os
reflexão sobre a ampliação do Estado nas socie- signos dos seus adversários, de maneira a con-
dades capitalistas avançadas. Nestas socieda- tar a história da nação a partir de sua própria
des de “tipo ocidental”, diz ele, a dominação de perspectiva de classe. Os primeiros, para obter o
classe não se dá apenas ou fundamentalmente consenso dos dominados, buscarão contemplar
por meio da coerção, mas também pela busca determinadas reivindicações políticas ou eco-
do consenso ativo do dominado. nômico-corporativas, implementando um pro-
No Estado moderno, ao lado dos apare- grama limitado de reformas, cooptando mem-
lhos repressivos (“sociedade política”), surge bros da oposição, enfim, incorporando-os ao
uma esfera ideológica com autonomia material seu projeto de dominação (“transformismo”).
em relação ao Estado strito sensu. Essa esfera - Quanto aos grupos subalternos, estes tra-
a “sociedade civil” - é constituída pelos apare- tarão de construir uma nova cultura, orgâni-
lhos de hegemonia política e cultural (escola, ca, capaz de se contrapor à visão de mundo
Igreja, partidos, sindicatos, mídia, instituições hegemônica, visando não a dominação, mas a
culturais), onde se dá a luta pela cultura, isto é, construção de uma nova ordem social e a orga-
pela direção político-ideológica da sociedade. nização de novas relações de produção A essa
O Estado, para além de seu caráter coercitivo, hegemonia alternativa, aderente à nova estru-
adquire um conteúdo ético: a função de orga- tura é que os gramscianos chamam de “contra-
nizar a cultura, de criar uma visão de mundo hegemonia”. (Eduardo Coutinho)
adequada ao desenvolvimento das forças pro-
dutivas e, portanto, aos interesses das classes Referências:
dominantes. CHAUÍ, M. Considerações sobre o nacional-
A novidade de Gramsci em relação a Lê- popular. In: Cultura e democracia. São Pau-
nin consiste, portanto, na percepção da socie- lo: Cortez, 1990.
dade civil como a base material da hegemonia COUTINHO, C. N. Gramsci: um estudo sobre
(COUTINHO, 1992, p. 77). Nessa esfera de or- seu pensamento político. Rio de Janeiro:
ganismos privados, atuam os intelectuais na Campus, 1992.
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COUTINHO, E. G. (Org.) Comunicação e con- do implícito do discurso. Com isso, ela se apli-
tra-hegemonia: processsos culturais e co- ca à pesquisa em comunicação tanto na linha
municacionais de contestação, pressão e da análise de discurso, como nos estudos de re-
resistência. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008. cepção e das mediações socioculturais que en-
GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Rio de Ja- volvem a produção de sentidos.
neiro: Civilização Brasileira, 1999-2002. Conforme Martin Heidegger, a origem eti-
Volumes I-VI. mológica do termo “hermenêutica” vem do
GRUPPI, L. O conceito de hegemonia em Gra- verbo grego hermeneuein, para o qual se atri-
msci. Rio de Janeiro: Graal, 1978. buem três significados básicos: “anunciar”, “in-
terpretar” e “traduzir”, que trazem em comum
a ideia de compreensão de uma mensagem. Al-
HERMENÊUTICA guns autores vinculam seu nome à figura do
Disciplina da filosofia clássica, que reúne con- deus da mitologia grega Hermes, o mensageiro
cepções teóricas e metodológicas, a hermenêu- dos deuses, patrono da comunicação.
tica se articula com o campo da comunicação No campo da epistemologia, a hermenêu-
por conta das questões da interpretação e da tica é tomada como metodologia das ciências
produção de sentidos. Dentre outras áreas do humanas, uma vez que os fenômenos da na-
conhecimento, ela também está presente nos tureza podem ser explicados, mas os fenôme-
estudos da religião, relacionada à interpreta- nos sociais e culturais precisam ser compreen-
ção dos textos sagrados, e do direito, nos pro- didos, como sustenta Wilhelm Dilthey. Nessa
cedimentos de interpretação das leis. Nos es- perspectiva, a reflexão hermenêutica extrapo-
tudos da linguagem, ela se assenta nas esferas la o universo da linguagem e das questões de
da semântica e da pragmática, envolvendo as interpretação e se lança ao campo da teoria do
dimensões denotativa e conotativa do processo conhecimento.
sígnico, que implicam na perspectiva da efetiva Além de Heidegger e Dilthey, a pesqui-
utilização da mensagem pelo intérprete. sa sobre hermenêutica deve passar, necessa-
Mais do que o sentido contido na mensa- riamente, por Hans-Georg Gadamer e Paul
gem, como algo finalizado e fechado na con- Ricoeur. O primeiro nos lembra a regra her-
cepção do emissor em sua ação poética – do menêutica “segundo a qual é preciso compre-
grego poiesis, produção, criação –, a hermenêu- ender o todo a partir do individual e o indivi-
tica se abre aos sentidos recriados pelo receptor dual a partir do todo”, movimento dialético que
em sua experiência estética – do grego aisthesis, “a hermenêutica moderna transportou da arte
fruição, apropriação –, em uma visão dialéti- retórica para a arte da compreensão” (GADA-
ca do processo comunicacional. Mais do que a MER, 2008, p.385). O segundo, mais próximo
explicação do que foi codificado, no texto, em do pensamento comunicacional latino-ameri-
um esforço de decodificação – na perspectiva cano, propõe a superação da dicotomia entre
da análise exegética –, ela se volta ao problema explicar e compreender, que para ele são dois
da compreensão do texto no contexto do espa- momentos relativos de um processo comple-
ço-tempo da fruição. Mais do que o conteúdo xo que pode ser chamado de interpretação (RI-
explícito da mensagem, ela se ocupa do senti- COEUR, 1986, p.180). (Laan Mendes de Barros)
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SERRES, Michel. Os cinco sentidos. Filoso- de identidades culturais (e não mais identida-
fia dos corpos misturados. Rio de Janeiro: de cultural) assim como do reconhecimento da
Bertrand, 2001. heterogeneidade como fundamento das identi-
dades nacionais, regionais e locais.
As culturas urbanas, as migrações, os pro-
HIBRIDISMO cessos simbólicos da juventude e o mercado in-
Originário do campo da biologia, mas apro- formal são as principais dinâmicas sociocultu-
priado e desenvolvido por diferentes áreas e rais que geram e incrementam os processos de
disciplinas das ciências humanas, como a an- hibridações culturais, especialmente no espa-
tropologia, a literatura, a história e a geografia, ço latino-americano, segundo o pensamento de
o conceito de hibridismo é incorporado à área Néstor García Canclini (1996). A essas quatro
da comunicação a partir especialmente da ver- dinâmicas, poderíamos agregar, ainda, o incre-
tente dos estudos culturais latino-americanos mento das tecnologias da comunicação e a emer-
e, em seu âmbito, pelos chamados estudos de gência das redes sociais como espaços de intera-
recepção. ção como duas outras experiências culturais que
A inter-relação entre comunicação e cul- vêm colaborando fortemente para os processos
tura vai ser um dos princípios orientadores das de hibridização na contemporaneidade.
pesquisas comunicacionais que se posicionam O emprego da noção de culturas híbridas
no contexto dos estudos culturais e que postu- têm sido, ainda, foco permanente de críticas e
lam um deslocamento do enfoque tecnicista da controvérsias entre os pesquisadores dos estu-
comunicação para a sua compreensão no mar- dos culturais na América Latina. Uma dessas
co do cotidiano das práticas socioculturais. No críticas alerta para a pretensão unificadora e
contexto desse posicionamento, a noção de hi- indistinção analítica que pode demarcar o em-
bridismo ou de culturas híbridas vai aportar às prego do conceito de hibridização na análise de
pesquisas em comunicação o entendimento de experiências culturais diferenciadas e heterogê-
que a cultura humana, em sua dimensão his- neas. Uma outra crítica, aponta para o risco do
tórica, é um processo plural, instável, ambiva- uso do conceito, derivar para uma espécie de
lente, descontínuo e complexo, que se constitui apologia da mestiçagem ao minimizar o peso
por combinações, mesclas, fusões, cruzamen- das contradições e assimetrias que envolvem o
tos, intercâmbios e sínteses de diferentes ele- complexo processo de integração e fusão das
mentos, repertórios, tradições e experiências culturas e ao mesmo tempo deixar de atribuir
culturais. relevância suficiente aqueles processos que não
A noção de hibridismo se constrói justa- se deixam hibridizar. (CANCLINI, 2003)
mente, a partir do princípio de ruptura com as Ao dialogar com essas críticas, Canclini
divisões clássicas do mundo da cultura, como (2003) lembra que uma das dificuldades na atri-
o tradicional, o moderno, o culto, o popular e buição de poder explicativo ao conceito de cul-
o massivo. O conceito funda-se, assim, na des- turas híbridas é principalmente o fato de seu uso
construção crítica das concepções de essência, estar limitado à descrição de mesclas culturais.
pureza e autenticidade das culturas, colabo- Como alternativa, propõe que esses estudos se-
rando para uma reorientação da própria noção jam situados em relações estruturais de causa-
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dessa composição, destaca-se o hino elaborado Para Nelson, a ideia de que a mídia mane-
para seu clube do coração, o América (RJ), em je múltiplos espaços simultânea ou sequencial-
que o autor confessa seu amor pela agremiação mente, faz com que as mídias passem a ser cha-
(“hei de torcer, torcer, torcer / Até morrer, mor- madas hipermídias.
rer, morrer / Porque a torcida americana é as- Outros autores identificam as hipermídias
sim / A começar por mim”). como uma extensão de hipertextos, aonde ví-
Outro grande compositor brasileiro, Lupi- deos, áudios e textos e hipervículos em geral
cínio Rodrigues (1914-1974), na mesma época, não sequenciais se entrelaçam para formar uma
também compôs um dos hinos de maior suces- informação contínua, que poderia ser virtual-
so no universo do esporte brasileiro: o do Grê- mente infinita se observada desde o ponto de
mio de Porto Alegre (RS), marcado pela frase vista da internet. Mas Dale (1997), diferencia os
“com o Grêmio onde o Grêmio estiver”. A par- dois conceitos, afirmando que o hipertexto in-
tir daí, todos os grandes clubes brasileiros fize- dica as conexões entre os diferentes documen-
ram concursos ou adotaram composições, em tos enquanto hipermídia se refere à conexão
ritmo de marcha, para popularizar sua identi- entre os documentos de diferentes tipos de mí-
dade junto aos seus simpatizantes. Atualmente, dia. Outros autores trabalharam o conceito de
além dos clubes, entidades desportivas ou até hipermídias, entre eles Laufer e Scavetta (1997),
mesmo competições específicas têm elaborado Peter Evans (1994) e Don Byrd (1997).
hinos próprios para maior identificação junto à Para Gosciola (2005), os conceitos de no-
assistência. (Ary José Rocco Jr.) vas mídias e de hipermídia são similares, sen-
do que este último é visto como uma lingua-
Referências: gem e um produto audiovisual. “Significa que a
CASTRO, Ruy. O vermelho e o negro: pequena concepção da matriz da hipermídia é o audio-
grande história do Flamengo. São Paulo: visual e não o hipertexto, apesar de desenvol-
DBA, 2001. ver a lógica criada nesse meio”. O pesquisador
FILHO, Mário. O negro no futebol brasileiro. brasileiro acredita que hipermídia é uma obra
Rio de Janeiro: Mauad, 2003. ou objeto dela – a mídia digital com imagem,
XAVIER, Beto. Futebol no país da música. São som e texto – e pode ser considerada o meio
Paulo: Panda Books, 2009. e o processo comunicacional. Segundo ele, é a
hipermídia que se materializa e se organiza de
acordo com o uso que se faz dela, através dos
Hipermídia receptores. “A hipermídia é um processo comu-
O termo foi criado por Ted Nelson, pioneiro nicacional que depende do relacionamento en-
dos estudos em tecnologias da informação nos tre os seus diversos conteúdos e os seus usuá-
Estados Unidos, em 1970. Já em 1987, o autor rios”. (Cosette Castro)
considerava que o texto, os gráficos, o áudio e
vídeo podiam estar disponíveis ao vivo de for-
ma unificada, respondendo as novas necessi- HIPERTEXTO
dades surgidas com as diferentes formas de ex- O termo nasceu em 1965, quando o filósofo Ted
pressar a informação. Nelson trabalhava no projeto Xanadu (nome de
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um dos palácios do imperador mongol Kublai gestão e de acesso a documentos, chamado Me-
Khan, conforme descrito por Marco Polo), diri- mex: permite a armazenagem de textos digita-
gido à criação de uma biblioteca eletrônica (ou lizados, reunidos num suporte ótico-eletrônico,
virtual) imensa, reunindo obras editadas em e que pode ser consultado a qualquer momen-
todo e qualquer lugar do planeta, e que pode- to, na medida em que seus elementos se acham
riam ser livremente consultados pelos interes- relacionados entre si através de um sistema de
sados. O hipertexto permite um percurso não- associações semânticas.
linear de uma obra ou de qualquer documento, Esse sistema permite a gestão, formatação,
graças ao clique do mouse, a partir de palavras consulta e visualização simultânea de diferentes
graficamente destacadas ou de imagens igual- arquivos de dados. A partir de 1987, as técnicas
mente assim programadas, que permitem liga- hipertextuais passaram a se valer de logiciais
ções com outras páginas ou documentos. Uma multimídias, ou seja, programas de informática
enciclopédia seria uma experiência ideal para que permitem desenvolver todo e qualquer tipo
o hipertexto, mas o projeto, na ocasião, era tão de relação entre arquivos disponíveis e armaze-
inovador que não teve prosseguimento. No iní- nados na rede internacional de computadores
cio da década de 1980, a empresa Apple reto- (web). O projeto de logiciais ganhou impulso
mou o projeto, utilizando-o nos computadores com o surgimento dos PCs (computadores pes-
Macintosh: nascia ali o primeiro programa para soais), a partir do Macintosch (o primeiro logi-
microcomputadores capaz de permitir ligações cial foi o Hypercard) e hoje em dia presente em
intertextuais. todo e qualquer computador, por mais simples
O termo se origina de um conceito mate- que ele seja.
mático: a visão humana capta apenas três di- Uma das grandes vantagens do uso de tais
mensões. O hiper designa tudo o que se encon- logiciais é que eles não requerem especializa-
tra além destas dimensões, neste caso, aquilo ção por parte do usuário, na medida em que
que não é perceptível a olho nu, o virtual. A permitem gerenciar diferentes sistemas de do-
tecnologia do hipertexto permitiu a criação de cumentos que são compatibilizados entre si. O
hiperdocumentos e hiperlivros, passando-se leitor ganhou, assim, absoluta liberdade para
depois à hipermídia. Hoje em dia, a web só se percorrer caminhos associativos ao longo do
justifica justamente graças a esta sua capacida- documento, seguindo relações pré-definidas
de hipertextual, permitindo a aproximação de ou criar os seus próprios caminhos. (Antonio
documentos que se encontram geograficamen- Hohlfeldt)
te descontínuos ou distantes, mas que podem
ser reunidos num único clique do mouse. Referências:
Quanto à biblioteca mundial, o projeto BALLE, Francis (Org.) Dictionnaire des médias.
acabou se concretizando e hoje está em pleno Paris : Larousse. 1998.
desenvolvimento, com a participação, inclusive, MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí-
da Fundação Biblioteca Nacional do Brasil. A dia. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
origem do hipertexto está nas experiências do OTMAN, Gabriel. Dicionário da cibercultura.
norte-americano Vannevar Bush, ainda no dis- Lisboa: Piaget, 2001.
tante ano de 1945, quando criou um sistema de RODRIGUES, Adriano Duarte. Dicionário bre-
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. História Cultural da Imprensa – Brasil (por obedecer aos imperativos comerciais, que
1900-2000. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007. geram o lucro das empresas que as editam) ou
RIBEIRO, Ana Paula G.; HERSCHMANN, Mi- alternativas∕underground (ao refletir o posicio-
cael (Orgs.). Comunicação e História. In- namento político ou a visão estética de seus
terfaces e novas abordagens. Rio de Janei- criadores).
ro: Mauad X, 2008. Possui, também, qualidades artísticas, uma
Briggs, Asa; Burke, Peter. Uma história so- vez que os roteiros, os desenhos e a colorização
cial da mídia. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. são frutos da criatividade e da técnica utilizadas
Williams, Raymond (Ed.): Historia de la co- e desenvolvidas pelos quadrinhistas. Por este
municación. Madrid: Bosch, 1992. motivo, Will Eisner (1989) considera os quadri-
nhos uma arte sequencial.
Ao longo da evolução das narrativas gráfi-
História em Quadrinhos cas sequenciais, os artistas criaram elementos
Segundo McCloud (1995, p. 9), a história em que se incorporaram a esse produto cultural.
quadrinhos caracteriza-se por ser uma narra- Tais elementos possuem uma função expressiva
tiva que parte de “imagens pictóricas e outras e se converteram em códigos reconhecidos pe-
justapostas em sequência deliberada”. Assim, los leitores, formando, na opinião de Eco (1979,
uma história em quadrinhos pode ser definida p. 145) uma verdadeira “semântica” da história
como uma narrativa gráfica sequencial, por se em quadrinhos, a exemplo do balão, das ono-
tratar de um produto cultural que articula ele- matopéias, dos requadros e de outros recursos
mentos visuais (normalmente desenhos) e tex- que compõem sua linguagem específica. (Wal-
tos em sequências, narrando uma história. domiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos)
Seu aparecimento e seu desenvolvimento
relacionam-se ao aprimoramento das técnicas Referência:
de impressão e à popularização de mídias im- McCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos.
pressas (jornais, folhetos, revistas etc.), a partir São Paulo: Makron Books, 1995.
do século XVIII, no bojo da Revolução Indus-
trial. Com o advento das mídias digitais, agre-
gou novos elementos à sua linguagem, como Hollywood
o som e o movimento (vide verbete HQtrôni- Bairro da cidade de Los Angeles, no estado da
cas, Netcomics ou Webcomics). Por se tratar de Califórnia, que concentra as maiores empresas
uma produção da indústria editorial de mas- de cinema dos Estados Unidos, razão pela qual
sa, caracteriza-se pela periodicidade (frequên- se tornou símbolo de uma determinada forma
cia de publicação, que vai da tira de quadri- de produzir filmes: obras de longa-metragem
nhos editada diariamente em jornais a revistas (mais de 70 minutos), estreladas por atores co-
semanais, quinzenais ou mensais e outras pu- nhecidos, com orçamentos milionários e distri-
blicações mais esporádicas) e pela reprodutibi- buição global.
lidade (quantidade de exemplares disponíveis O padrão hollywoodiano, estabelecido nos
para os leitores). No que concerne à sua pro- anos 1920 , ainda é o mais importante da in-
dução, pode ser classificada como mainstream dústria cinematográfica, servindo de referência
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econômica e cultural em todo o mundo. Apesar Holywwod, o Rhe Squaw Man, dirigido por
de viver crises cíclicas e da crescente globaliza- Cecil B. DeMille e Oscar Afpel, foi filmado em
ção dos financiamentos dos filmes, Hollywood 1914.
mantém seu poder sobre uma imensa rede de Depois, em 1922, se fixaram nesta localida-
produção, distribuição e exibição de filmes nas de os principais estúdios do país, a Paramount,
salas de cinema, além de relacionar-se direta- a Warner Bross, a RKO e a Columbia, além de
mente e fornecer conteúdo para os mercados outras inúmeras empresas e estúdios menores.
de televisão, DVD, vídeo e internet. (Carlos Gerbase)
Dois fatores contribuíram para a escolha
de Hollywood como a ‘capital’ do cinema nor- Referência:
te-americano. No começo do século XX, quan- ROSS, Lillian. Filme: um retrato de Hollywood.
do o cinema dava seus primeiros passos como São Paulo: Cia. das Letras, 2005.
linguagem e indústria, criaram-se na costa leste
dos Estados Unidos poderosos monopólios de
produção e distribuição, baseados em supostas Homilia
patentes da invenção do cinema, que não per- Do grego, homilieo, no sentido de conversar, fa-
mitiam qualquer atividade independente. Pro- lar com alguém, dialogar, tal conversa familiar.
dutores, diretores e técnicos deslocaram-se para Está inserida no contexto querigmático (anún-
a costa oeste, onde - bem distantes dos trustes cio público e solene da Salvação) e tem por ob-
nova-iorquinos e do grande magnata Thomas jetivo a atualização da Palavra de Deus à As-
Edison - poderiam estabelecer seus negócios. O sembleia celebrante (cf. SC 33 e 35). É expressão
segundo fator importante foi o clima da região: sinônima de pregação como tarefa missioná-
bastante seco (pouca chuva), com muito sol e ria (AG 13) e acontece num ambiente litúrgico
um inverno pouco rigoroso. Como a sensibili- de comunicação não ritualizada da Palavra de
dade dos filmes à luz era pequena, esse cenário Deus (CIC 1154). Parte da própria ação litúrgi-
revelou-se ideal para uma produção contínua ca, o Concílio a define como “anúncio das ad-
de filmes. Quando David Griffith lançou, em miráveis obras de Deus, na História da Salva-
1919, “O nascimento de uma nação” - um épi- ção, ou do mistério de Cristo, sempre presente
co de longa-metragem - Hollywood começou a e operante (Sc 52)”. “É sustentáculo e vigor para
estabelecer o seu padrão que foi logo exportado a Igreja, firmeza de fé para a alma, perene fon-
para o mundo todo. te de via espiritual” (DV 21; 24). Sua natureza é
Na verdade, a Biograph Company foi uma dialogal e interativa.
das primeiras a começar filmagens na região Pelo seu caráter exortativo e memorial,
ainda em 1906. O primeiro estúdio, o Selig situa-se entre a liturgia da Palavra e a liturgia
Polyscope Company de Edendale, foi constru- sacramental num só ato de culto. É o elo entre
ído na área de Los Angeles em Agosto de 1909. as duas mesas com a proposta de Deus e a res-
D. W. Griffith, filmou em 1910 o primeiro filme posta da assembleia. Pode adquirir a forma de
de Hollywood , em Old Califórnia. Esse bair- arrependimento, adoração, intercessão, louvor,
ro recebeu em 1911 o primeiro estúdio, o Nes- ação de graças e conversão, fazendo-se respos-
tor Studio. E o primeiro filme de estúdio de ta de fé, esperança e caridade. Seu caráter con-
630
enciclopédia intercom de comunicação
templativo e orante, revela os mistérios da fé, ções, Decretos, Declarações. 13. ed. Petró-
constituindo-se, pela ação do Espírito, numa polis: Vozes, 1979.
atitude orante do culto celebrado espera-se do MALDONADO, Luis. A HOMILIA pregação,
ouvinte uma compromisso renovado de perse- liturgia, comunidade. Col. Liturgia e Teolo-
verar no seguimento de Cristo. Por seu caráter gia. São Paulo: Paulus, 1997.
narrativo é constituída de palavras. Com elas, MAGGIANI, Silvano. Homilia In: SARTORI,
expõe-se os mistérios da fé, atualizando-os na Domenico; TRIACCA, Achille M. Dicio-
celebração e na vida. nário de Liturgia. Tradução Isabel Fontes
Mas, Deus por sua Palavra, é quem conver- Leal Ferreira. p. 555-570. São Paulo: Pauli-
te, mesmo que o homiliasta comunique-se bem. nas, 1992.
A eficácia da Palavra anunciada consiste na cer- RIGO, Enio José. Homilia. A comunicação da
teza de que Deus é quem fala por meio de suas Palavra. São Paulo: Paulinas, 2008.
palavras (Jr 1,1-10) e faz o povo encontrar um
espaço em seu coração para acolhê-las e guar-
da-las consigo (Dt 6,6). É eficaz como foi pelas HOMOFOBIA
palavras e sinais do Filho, que realizou com elas O termo homofobia designa dois aspectos dife-
milagres (Mt 8,8.16; Jo 4, 50-53) e o perdão dos rentes de uma mesma realidade: uma dimensão
pecados Mt 9, 1-7). Ela regenera (1 Pd 2,23; Tg pessoal de natureza afetiva que se manifesta na
1,18), faz suportar a provação e o martírio (Ap rejeição aos homossexuais e uma dimensão cul-
1,9) e, graças a ela, os que crêem vencem as for- tural, de natureza cognitiva, na qual não é o in-
ças do mal (Ap 12,11). Para tornar homilia mais divíduo homossexual que é vítima de rejeição,
significativa e comunicativa deve o homilias- mas sim a homossexualidade, entendida como
ta fazer uso de uma linguagem, culturalmente, fenômeno psicológico e social (BORRILLO,
atualizada, adaptada e inserida, não estruturada 2001). De modo a expressar sua complexida-
no modelo do pensamento racionalizado, mas de, deveríamos utilizar termos mais específi-
relacional, não excludente, nem moralista ou cos, como: lesbofobia, para o caso das mulhe-
“popularesco”. Tenha uma linguagem essencial- res homossexuais vítimas do desprezo devido à
mente comunitária, acessível à maioria e cons- orientação sexual (MIRA, 1999); gayfobia, para
truída na simplicidade e na correção. Uma lin- a homofobia relacionada a homossexuais mas-
guagem que educa a fé e humaniza as pessoas. culinos; bifobia, quando se trata de bissexuais;
Não há tempo cronometrado para a homi- ou, ainda, travestifobia ou transfobia, se são os
lia. O termômetro é a sensibilidade do homi- travestis ou transexuais que são submetidos a
liata e sua capacidade de percepção, comunica- tal hostilidade (TIN, 2003).
ção, sintonia e empatia, considerando o tempo O termo homofobia deve ser reservado
dos ouvintes. (Enio José Rigo) para o conjunto desses fenômenos. Nas mídias,
a homofobia pode surgir em três modos diver-
Referências: sos de tratamento: o silêncio, como ocorria até
BUYST, Ione. Homilía, partilha da Palavra. 3. meados do século XIX, nos jornais, como ocor-
ed. São Paulo: Paulinas, 2002. re com freqüência, nos dias de hoje; a conde-
COMPÊNDIO DO VATICANO II. Constitui- nação, de meados do século XIX a meados dos
631
enciclopédia intercom de comunicação
anos 1970, quando o homossexual era designa- homofobia específica, ou seja, uma forma de
do como doente, pecador, pervertido, aberra- intolerância que se dirige especificamente aos
ção, entre muitos outros insultos e, hoje, nos homossexuais, sejam mulheres ou homens.
programas televisivos – e outras mídias, prin- De modo geral, a homofobia está associada
cipalmente religiosas – que ‘curam’ os gays; o a uma organização social que coloca a heteros-
escárnio, que surge, principalmente, nas cari- sexualidade monogâmica como ideal sexual e
caturas, na ridicularização e na acentuação da afetivo e a uma dupla lógica binária: homem/
feminilidade. Seu apogeu se dá em 1907, no mulher, hetero/homo. Desse modo, “ser ho-
caso Eulenburg (GRAND-CARTERET, 1992), e mem significa não ser homossexual” (BA-
chega, aos dias de hoje, nas representações dos DINTER, 1993, p. 117) e a homofobia assume a
programas humorísticos e em personagens de função de ‘guardiã da sexualidade’, reprimin-
telenovelas. A constituição de uma imprensa do todo comportamento, gesto ou desejo que
homossexual esbarrou na censura homofóbica ultrapasse os limites ‘impermeáveis’ dos sexos.
das mídias, ao longo dos tempos, e apenas nos (Marcus Assis Lima)
anos 1970, percebendo essa barreira, os grupos
organizados, especialmente nos Estados Uni- Referências:
dos, iniciaram um movimento de pressão com BADINTER, Elisabeth. XY- sobre a identidade
o uso de estratégias como manifestações, mar- masculina. Trad. Maria Ignez Duque Estra-
chas e paradas, com o intuito de criarem “acon- da. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.
tecimentos midiáticos”. BORRILLO, Daniel. L’homophobie. Coleção
Somente em meados da década seguinte, a “Que sais-je?”. Paris: PUF, 2001.
grande mídia viu-se obrigada a ‘agendar’ a ho- GRAND-CARTERET, John. Derriere “Lui”
mossexualidade, tendo em vista os primeiros (L’Homosexualité em Allemagne). Lille:
casos reconhecidos de AIDS. Em fins dos anos Cahiers Gai-Kitsch-Camp, 1992.
1990, a mídia de entretenimento, em especial, MIRA, Alberto. Para entendernos. Diccionario
incorpora personagens homossexuais de ma- de cultura homosexual, gay y lésbica. Bar-
neira positiva e muitas incentivam a diversi- celona: Ediciones de la Tempestad, 1999.
dade, nas grades de atrações, percebendo um TIN, Louis-Georges (Org.). Dictionnaire de
novo nicho de mercado. l’homophobie. Paris: PUF, 2003.
De modo à melhor compreender o mosai-
co de situações que, sob o mesmo termo, agru-
pa diversas formas de recriminação não apenas HOOLIGANISMO MIDIÁTICO
aos homossexuais, mas, também, ao conjun- Prática de atitudes bélicas e agressivas contra
to de indivíduos hostilizados corriqueiramen- facções rivais ou bens públicos e privados. O
te por serem considerados como não estando termo hooligan surgiu na literatura inglesa por
em acordo com a norma sexual vigente, pode- volta de 1898. Segundo Pimenta (2004, p. 254),
mos diferenciar uma homofobia geral, que diz “a primeira utilização do termo teria sido em
respeito a uma forma ampla de hostilidade aos Hooligan Nights, de Clarence Rook, publicado
comportamentos que se opõem aos papeis so- em 1899. O livro narra o comportamento de
ciossexuais previamente estabelecidos, e uma Patrick Hooligan, jovem desordeiro e briguen-
632
enciclopédia intercom de comunicação
to que mata um policial e, condenado, morre ção através da rede produziu, em pouco tempo,
na prisão”. Na segunda metade do século XX, grandes transformações nas experiências coti-
o termo passou a se referir aos jovens organi- dianas.
zados em gangues, que praticavam atos de van- O ato de torcer e, por extensão, a violên-
dalismo e agressões, provocando brigas entre cia das torcidas organizadas acabaram por atin-
torcedores de clubes diferentes. gir de vez a rede mundial de computadores. (...)
O hooliganismo cresceu, em especial, na Agendamento de brigas pela rede mundial de
Inglaterra da década de 1960, mas ficou mais computadores, relatos ostensivos de agressões
evidente nos anos 1970. Durante alguns jogos, ao patrimônio público e de terceiros e outras
a violência em grande escala entre os grupos ri- atividades de caráter agressivo passaram a ser
vais passou a ser visivelmente notada e, princi- observadas dentro do ciberespaço”. (Ary José
palmente, televisionada. Torcedores de outros Rocco Jr.)
países passaram a copiar o modelo de atuação
dos agrupamentos ingleses. Alguns grupos ho- Referências:
oligans europeus, além da paixão pelo clube, PIMENTA, C.A.M. Hooligans: barbárie e fu-
defendem ideologias políticas (geralmente de tebol. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla
direita e extrema direita). No Brasil, confusões B. (Orgs.). Faces do fanatismo. São Paulo:
premeditadas e brigas entre torcidas organiza- Contexto, 2004.
das são características desses agrupamentos. ROCCO JR., Ary J. O gol por um clique: uma
De certo modo, o hooliganismo pode ser incursão ao universo do torcedor de fu-
considerado especificamente como um proble- tebol no ciberespaço. Tese de Doutorado.
ma de violência desportiva, mas também pode São Paulo: PUC/SP, 2006.
ser perspectivado numa vertente mais vasta, de TOLEDO, Luiz H. Torcidas organizadas de fu-
delinquência juvenil e do surgimento de sub- tebol. Campinas: Autores Associados, 1996.
culturas marginais. Frequentemente, os estu-
diosos deste fenômeno chegam à conclusão de
que os meios de comunicação de massa têm Horror
um papel determinante relativamente à gênese É o sentimento de temor que ocorre após al-
da violência, especialmente quando privilegiam guém ser exposto de alguma forma a algo ame-
uma atitude sensacionalista e de “previsão” de drontador. O oposto é terror, ou seja, este sen-
hostilidades. Assim, quer pela atenção que dão timento precede a experiência de horror. Em
ao fenômeno, quer pelo sensacionalismo de de- outras palavras, o horror acontece porque hou-
terminadas formas de cobertura dos aconte- ve um choque enquanto a sensação de ansieda-
cimentos, os meios de comunicação de massa de e medo caracteriza o terror.
contribuem para estimular as ações dos grupos A escritora Ann Radcliffe (1764-1823) foi a
rivais. Com o desenvolvimento tecnológico e o primeira a distinguir os termos. Ela diz que o
surgimento das chamadas mídias digitais, esses terror está caracterizado pela consequência in-
grupos ganharam um forte aliado para divulga- determinada de eventos horríveis. Já o horror
ção dos seus atos de vandalismo e agressivida- congela a alma. Também as revistas de quadri-
de. Para Rocco (2006, p 153-154), “a comunica- nhos povoaram suas páginas com fantasmas,
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enciclopédia intercom de comunicação
vampiros, casas mal-assombradas, cemitérios, co’, além do ‘cinema catástrofe’. Em 1975, Steven
perversão sexual, sadismo, tortura, canibalis- Spielberg começou sua ascenção com Tubarão.
mo, entre outros motivos. Em 1979, Alien explorou a ficção científica.
Logo, o fato acabaria provocando críticas Depois, a indústria dos jogos eletrônicos inspi-
e comissões de inquérito nos Estados Unidos. rou-se nos filmes de horror para produzir desa-
Em resposta os editores norte-americanos des- fios de sobrevivência e fuga aos jogadores. (Jac-
tas publicações acabaram adotando, em 1954, ques A. Wainberg)
um Código de Comportamento. Revistas de
detetive e crime também apelaram ao tema.
Personagens como Frankenstein, Drácula e O HQtrônicas, Netcomics ou
Fantasma da Ópera tornaram-se conhecidos Webcomics
mundialmente. Em 1953, quase um quarto de A utilização de suportes digitais possibilitou
todas as revistas era de horror. a criação de um produto cultural híbrido, que
O cinema também explorou a temática ao utiliza vários elementos da sintaxe da história
produzir imagens e situações que provocam em quadrinhos combinados aos recursos da
reações de medo e pânico da audiência. Pelícu- mídia digital (animação, som, zoom, maior in-
las como Psico exploraram a temática de per- teratividade com o leitor etc.). Franco (2004,
sonalidades humanas amedrontadoras, outras p. 170-171) chama esse novo produto cultural
o medo à destruição pela guerra total, e por de HQtrônicas – contração da abreviação HQ
fim outras ainda a exploração das mentes de- (História em Quadrinhos) com o termo eletrô-
moníacas. nicas –, narrativas que “unem um (ou mais) dos
Assim, diretores famosos como Alfred códigos da linguagem tradicional das HQs no
Hitchcock, Roman Polanski, Stanley Kubri- suporte papel a uma (ou mais) das novas pos-
ck, William Friedkin, Richard Donner, Francis sibilidades abertas pela hipermídia, excluindo,
Ford Coppola, e George Romero exploraram o dessa forma, as HQs que são simplesmente di-
tema. Alguns mesclaram estes filmes com ficção gitalizadas e transportadas para a tela do com-
científica, fantasia, comédia, dramas e docu- putador” sem utilizar os recursos da mídia di-
mentários. Invasões de alienígenas e mutações gital.
das pessoas, plantas e insetos foram marcas em Diversos artistas utilizam a Internet para
especial dos filmes japoneses de horror. divulgar seus trabalhos, sem ter que passar pelo
O gênero permaneceu vibrante. Na déca- crivo das editoras ou gastar com a publicação
da de 1960 deu-se ênfase a filmes sobre ocultis- do material. Essas histórias em quadrinhos que
mo. Foi caso de O Bebê de Rosemari, dirigido podem ser acessadas na rede mundial de com-
por Roman Polanski e estrelado por Mia Far- putadores recebem o nome de Netcomics ou
row, por exemplo. Outro exemplo é ‘O Exorcis- Webcomics.
ta’ (1973). Há duas posturas teóricas conflitantes
Alguns estudiosos observam que temas quanto à importância das mídias digitais para o
adicionais explorados, nessa cinematografia, futuro das histórias em quadrinhos.
incluem: ‘a reincarnação’, ‘a obra satânica’, ‘o A primeira, desenvolvida pelo norte-ame-
horror da guerra do Vietnã’, e ‘o cientista lou- ricano McCloud (2000), considera que as no-
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enciclopédia intercom de comunicação
vas tecnologias digitais podem ser usadas para gruência (Bergson, 1980), a da Superioridade
fins artísticos, sendo decisivas, dessa forma, (HOBBES, 1840) a do Alívio (FREUD, 1928) e
para a produção e divulgação de quadrinhos, a da Interpretação (EASTMAN, 1936). A pri-
ajudando a superar os obstáculos econômicos meira vê o humor como uma resposta a um
e da concentração do mercado em poucas edi- estímulo dissonante, ou seja, ambíguo, logica-
toras e distribuidoras. Nesse sentido, a Inter- mente impossível e inapropriado. Já a Teoria da
net seria não apenas o veículo para aproximar Superioridade enfatiza o sentimento de “glória
leitores e quadrinhistas, mas também a única repentina” provocado pelo humor e que surge
saída para essa forma de arte fora do circuito quando reconhecemos nossa pretensa superio-
comercial, que estaria em declínio. Já a segunda ridade sobre os outros.
visão, defendida por Sabin (2000), é mais re- Já a Teoria do Alívio vê no humor um me-
alista: embora considere a Internet uma ferra- canismo que permite liberar a tensão ou pou-
menta poderosa, o teórico inglês acredita que par a energia gerada pela repressão. A última
“ambos os meios – digital e quadrinhos [im- teoria, a da Interpretação, pondera que o hu-
pressos] – podem compartilhar suas proprie- mor é uma forma facilitadora de socializa-
dades. Mas eles possuem outras características ção. Outra maneira de avaliar é a que deseja
que os tornam únicos, e que não são intercam- decifrar (1) o seu papel na vida humana; (2)
biáveis”, ressaltando a portabilidade do veículo os estímulos que tornam algo cômico; (3) e
impresso, seu preço (acessível, se comparado ao o que caracteriza o sentimento humorístico.
dos computadores e assinatura de provedores Hipócrates costumava afirmar que a fleuma,
de banda larga) e principalmente as qualidades o sangue, a bílis amarela e a bílis negra deter-
sensuais do meio impresso (tato, cheiro). (Wal- minavam a saúde, a doença, a dor e o tempe-
domiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos) ramento das pessoas.
Mais tarde, Galeno de Pérgamo relacionou
Referências: estes elementos com o fogo, a água, o ar e a ter-
FRANCO, Edgar Silveira. HQTRÔNICAS: do ra. Da combinação destes oito elementos te-
suporte papel à rede internet. São Paulo: riam surgido o humor sanguíneo, o fleumático,
Annablume, 2004. o colérico e o melancólico. Já o cômico é uma
fonte de humor produzido profissionalmente,
principalmente na cinematografia, na televisão
Humor e no teatro. Ele visa divertir a audiência.
O humor é a resposta de um indivíduo a certo Na origem, na Grécia antiga, poetas cômi-
tipo de estímulo. Há mais de 100 teorias sobre o cos utilizaram os palcos para satirizar os perso-
tema e sua definição não é consensual. Segundo nagens políticos. Na Idade Média, entendia-se
o Oxford English Dictionary, o termo surgiu no que o humor é uma narração poética cujo fim
século XVII no contexto da especulação cientí- sempre é feliz. O gênero inclui também a paró-
fica sobre os efeitos que vários tipos de humo- dia. Ela brinca com os fatos não por despeito e
res tem no comportamento de uma pessoa. oposição, mas pelo afeto que cultiva ao objeto
Entre as principais teorias que tentam ex- ironizado. Predomina na paródia o tratamento
plicar a natureza do humor estão a da Incon- jocoso e carnavalesco.
635
enciclopédia intercom de comunicação
Como esta, a sátira também caricatura cer- tilidade, a surpresa, o eufemismo, o duplo sen-
to aspecto da realidade, mas almeja a mudança tido, a transferência, a ironia, a subestimação,
da realidade. Tem função política e cívica. Re- a conexão entre termos incompatíveis, a con-
vela algum grau de indignação. O cômico re- tradição, a excessiva racionalidade, a caricatu-
alça também situações bizarras, improváveis e ra, a metáfora, a compreensão literal das pala-
surpreendentes. vras, a mistura de estilos, a incompatibilidade,
O assim denominado ‘humor negro’ des- o desvio do senso comum, a similaridade, o
taca a maldade existente na natureza humana. escárnio, o paradoxo, a fuga do perigo, a rima
Já a comédia de costumes geralmente satiriza imprópria, a contradição, os ditos populares, o
aspectos da vida das classes ricas e aristocráti- estabelecimento da superioridade e o grotesco.
cas. No caso das obras burlescas, o tratamento Entre as razões para as tiradas humorísticas
a um tema ou personagem solene era feito de estão o divertimento, a hostilidade, a agressão, a
forma indigna. Este gênero acabaria gerando o expressão de superioridade e triunfo, o escárnio
vaudeville, uma forma de entretenimento simi- e a depreciação. Entre seus efeitos identificados
lar, mas mais respeitado socialmente. (Jacques aparecem o alívio, a sublimação e a defesa. O
A. Wainberg) sorriso da audiência surge numa fração de se-
gundo, pois é propriedade do humorístico sur-
Referências: preender e ser decodificado sem dificuldade.
BERGSON, Henri. Laughter. Trans. Wylie É um fenômeno inato, essencial à sobrevi-
Sypher. In: SYPHER, Wylie (Ed.). Comedy. vência das espécies (ele existe também em pri-
Baltimore: Johns Hopkins, 1980. matas e outros animais) e que expressa algum
EASTMAN, Max. Enjoyment of Laughter. New grau de prazer. É apresentado em distintos for-
York: Halcyon House, 1936. matos (entre eles, por exemplo, a paródia, a sá-
FREUD, S. Humor. International Journal of Psy- tira, o burlesco, o sarcasmo, a ironia, a comé-
choanalysis, n. 9, p. 1-6, 1928. dia de costumes e romântica, a fantasia cômica,
. [1905]. Jokes and their relation to the as óperas e baladas cômicas, a tragicomédia e o
unconscious. Trans J. Strachey. New York: ‘humor negro’). Da mesma forma este gênero
W. W. Norton, 1960. está presente em vários canais de comunicação
HOBBES, Thomas. Human Nature in English (oralidade, televisão, cinema, circo, rádio, tea-
Works. Molesworth. London: Bohn, 1840. tro e literatura, por exemplo).
Volume 4. Visa entreter e trata de forma jocosa, pre-
ferencialmente, os temas do cotidiano. Por isso,
mesmo tem vocação crítica expondo os usos e
Humorismo os costumes de um tempo. Depende, também,
Trata-se de um tipo de mensagem, cujo estímu- das circunstâncias, do lugar, das tradições e da
lo tem o objetivo de provocar o sorriso do re- cultura. Sua origem é antiga sendo popular já
ceptor. Entre estes estímulos estão: a tragédia e na Grécia onde as comédias eram produzidas
a deformidade alheia, o ridículo e o absurdo, a sob os auspícios do estado.
incongruência entre um conceito e um objeto Este termo (comédia) estava nesta origem
real, o exagero, a distorção, a malícia e a hos- grega e depois romana confinado às narrativas
636
enciclopédia intercom de comunicação
teatrais com ‘final feliz’. Seu significado, no en- Não Cai, O Planeta dos Homens, Casseta e Pla-
tanto, expandiu-se até adquirir o atual sentido neta. A coluna de José Simão é exemplo raro de
que inclui qualquer perfomance cujo objetivo é colunista que faz sucesso neste gênero no jor-
produzir o sorriso. Na Idade Média era sinôni- nalismo diário do país. O humorismo está, há
mo de sátira. No mundo islâmico passou a sig- longo tempo, presente igualmente na diversi-
nificar poesia satírica, uma espécie de ‘arte da ficada cultura regional brasileira, seja nos seus
repreensão’, distanciando-se, portanto das dra- programas de rádio, eventos de cultura popu-
matizações gregas e dos finais felizes. lar, programas regionais de televisão e música
No Brasil, destacam-se nesta tradição hu- folclórica e tradicionalista. (Jacques A. Wain-
moristas como Jô Soares, Chico Anysio, Cos- berg)
tinha, José Vasconcelos, Mazzaroppi, Oscarito,
Grande Otelo, Ronald Golias, Bussunda, Tom Referências:
Cavalcante, Renato Aragão. BREMER, Jan; ROODENBURG, Herman. Uma
Entre os inúmeros programas de TV de história cultural do humor. Rio de Janeiro:
humor, no Brasil, estão: Satyricon, Balança Mas Record, 2000.
637
I, i
nos degenerados, que não chegam a estabelecer da primeiridade, dando atenção aos aspectos
uma relação triádica (signo – objeto – interpre- qualitativos, o que pode estar, de fato, numa or-
tante), como pressupõe a semiótica peirceana, dem impalpável do sentimento. A arte, de uma
embora sejam inerentes à constituição de um maneira geral, leva-nos a vivenciar as coisas de
signo icônico. forma a considerarmos seus aspectos qualita-
Através da semiótica peirceana, percebe-se tivos. Muitas vezes, no entanto, aquilo que se
que o sentido é dado entre diferentes misturas pretende como algo da ordem da primeirida-
de atributos sígnicos. O ícone, faz parte de uma de, ou seja, da pura iconicidade, acaba sendo
das concepções mais conhecidas de Peirce, a um signo muito mais no plano da secundidade,
qual define os signos através das sua relações do índice, ou da terceiridade, do símbolo. Nes-
com os objeto, nas categorias fenomenológicas se sentido, as imagens figurativas, como ocor-
da primeiridade (ícones), secundidade (índi- rem na pintura, fotografia ou cinema, apesar de
ces) e terceiridade (símbolos). serem ícones, têm um forte caráter indicial ou
Apesar de partirem da percepção mais di- simbólico. (Gilmar Adolfo Hermes)
reta, os ícones podem ganhar uma dimensão
simbólica a medida em que correspondem a Referências:
uma ideia de alta generalização lógica. É o que DELADALLE, Gérard. Leer a Peirce Hoy. Bar-
ocorre, por exemplo, com o desenho de uma celona: Gedisa, 1996.
cruz, símbolo do Cristianismo. Quanto mais PEIRCE, Charles Sanders. Collected Papers.
simbólica é a relação, maior a distância entre os Charlottesville: InteLex, 1994. CD-ROM.
aspectos qualitativos do objeto e do signo. Mes- . Semiótica. São Paulo: Perspectiva,
mo assim, no caso dos ícones, haverá aspectos 2000.
que se referem a relações ligadas à experiência . Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cul-
qualitativa. trix, 1993.
As questões estéticas, voltadas para a sen- SANTAELLA, Lucia. A Teoria Geral dos Signos.
sibilidade, relacionam-se a atividades huma- São Paulo: Pioneira, 2000.
nas que tentam se definir no plano da primei-
ridade, embora essa seja, sobretudo, a ordem
do impossível, pois os aspectos qualitativos, à IDENTIDADE
medida em que são notados como existentes, A identidade é um fenômeno que emerge da
passam para a ordem da secundidade. E quan- dialética entre indivíduo e sociedade. Durante
do se articulam, mesmo de uma maneira mui- muito tempo acreditou-se que a identidade era
to marcada pela ordem do sensível, com algum o resultado de uma transmissão biológica, por
tipo de conceito, de generalização lógica, esses vezes, determinada pelo clima ou geografia,
aspectos passam a configurar mediações na or- portanto, tratava-se de uma realidade substan-
dem da terceiridade. cial definida de maneira atávica e permanente-
Quando se vê qualquer coisa no mundo, mente imutável. Os estudos de caráter nacional
enxerga-se definições, classes de objetos, que desenvolvidos ainda trazem essa marca.
se manifestam em termos de pensamento atra- Todavia, com a modernidade e o processo
vés de réplicas. Isso impede perceber no plano de constituição dos Estados nacionais as iden-
640
enciclopédia intercom de comunicação
tidades sociais e culturais ao poucos foram re- por contraste, sendo o processo de construção
cebendo leituras mais flexíveis apoiadas nos das identidades étnicas.
avanços e descobertas da psicologia social e da Afinal, a identidade que surge por oposi-
antropologia cultural. Com o tempo identida- ção, implicando a afirmação do nós diante dos
des foram associadas à papéis sociais e resul- outros, jamais se afirma isoladamente, ou seja,
tado de processos de interações sociais. Essa um grupo ou pessoa não invoca isoladamente
perspectiva permitiu ver em cada indivíduo sua pertinência identitária a não ser quando co-
um ser dotado de uma série de identidades, ou locado em confronto com membros ou grupos
provida de referências mais ou menos estáveis de uma outra identidade de referência. A asso-
que ele ativa sucessivamente ou simultanea- ciação de um grupo a nomes de lugares ou de
mente, dependendo dos contextos. Identidade, pessoas também reflete mecanismos de iden-
então, passa a ser vista como um problema de tificação por contraste, como se os membros
história pessoal, ela mesma ligada a capacida- do grupo se representassem inequivocamente
des variáveis de interiorização ou de recusa das como semelhantes entre si, enquanto diferentes
normas inculcadas. Tal perspectiva contribuiu dos membros de outros grupos de referência,
para uma visão mais flexível e dinâmica das numa realização contínua de um jogo dialéti-
identidades enquanto processos de construção co. Nestes termos, o processo de identificação
de sentido que envolve múltiplas possibilidades é sempre um processo político de organização
de identificação: das identidades pessoais, às de social, a partir do qual um grupo se define por
gênero, profissional, regional, nacional, mítica, contraste a outro como sendo diferente. Por-
social e cultural. tanto, processos de construção de identidades
A identidade é constituída por processos so- são, ao mesmo tempo, processos de construção
ciais e, uma vez elaborada, é mantida, modifica- de uma diferença. É o que nos permite pensar,
da ou mesmo remodelada pelas relações sociais. em última instância, a identidade como ideolo-
Os processos sociais envolvidos na forma- gia e forma de representação coletiva. (Sandra
ção e manutenção da identidade são determi- Pereira Tosta e Célia Santos Marra)
nados pela estrutura social. Essa determinação
da identidade pelas relações sociais- elas mes- Referências:
mas determinadas pelo sistema social, permi- BARTH, F. Grupos Étnicos e Suas Fronteiras.
te distinguir tipos de identidade- individual ou In: POUTIGNAT, Phillipe; STREIFF-FE-
social. Um dos elementos importantes para a NART, Jocelyn. Teorias da Etnicidade. São
consolidação de sentimento de identidade é o Paulo: UNESP, 1998.
jogo dialético entre a semelhança e a diferença, BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade e Et-
entendidas aqui como semelhanças e diferenças nia - Construção da Pessoa e Resistência
de alguém consigo mesmo no curso do tempo, Cultural. São Paulo: Brasiliense, 1986.
ou com o outro e/ou os outros no plano gru- GIDDENS, Anthony. Modernidade e Identida-
pal. Esse jogo define a identidade contrastiva e de Pessoal. Oeiras: Celta, 1997.
com referência a um tipo particular de identi- OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade,
dade social, a identidade étnica. Os antropólo- Etnia e Estrutura Social. São Paulo: Pionei-
gos compreendem a elaboração das identidades ra, 1976.
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partir de uma perspectiva flexível e móvel, pois Canclini (2007) entende a identidade cultural
se constitui sob a influência de múltiplas possi- enquanto uma narrativa que se constrói cons-
bilidades e está marcada pela liberdade de es- tantemente.
colha individual. Para Canclini (2007), o espa- Coproduzida entre e pelos atores sociais, a
ço sociocultural atual permite a convivência de identidade cultural abrange coexistências, con-
diversas identidades culturais; como resultado, flitos, diferenças de nacionalidade, etnias ou
as identidades são menos monolíticas. gêneros, num desafio a qualquer relação com
Essa identidade contemporânea foi defi- fundamentalismos ou com formas preestabele-
nida por Bhabha (1998) como uma identidade cidas. Conjuntura que traz à consciência a falta
diferencial, na qual há uma negociação e uma de solidez e de garantias da identidade cultural
regulação constantes com o espaço, que por sua na contemporaneidade.
vez, está continuamente abrindo-se, recons- Hall (2003) assinala que o centro cultural
truindo fronteiras, expandindo limites diante do momento transnacional contemporâneo
da mínima argumentação de um signo de di- localiza-se em todos os lugares e em lugar al-
ferença, como os de raça, gênero ou classe. Re- gum, o que o torna descentrado. Em tais condi-
velando a natureza provisória da identidade ções, os sujeitos apresentam identificações des-
cultural, bombardeada pelas inúmeras ofertas locadas, múltiplas e hifenizadas, deixando-os
culturais expostas quase como em uma vitrine. constantemente abertos para que possam ser
Na constituição da identidade cultural, va- posicionados e situados de diversas maneiras,
lores e crenças sociais são partilhados, o que em momentos distintos de sua existência. As
mantém os sujeitos próximos de seu tempo e identidades culturais cada vez mais exploram
de sua condição. Sua existência depende de ou- discursos, estilos, visões, percepções, estéticas
tra de que ela não dispõe algo fora dela, mas e criações, o que as tornam identidades expe-
que forneça as condições para que ela seja, o rimentáveis, ilimitadas, indeterminadas e enig-
que a torna relacional. De acordo com Bhabha máticas em seus desenvolvimentos.
(1998), para além da identidade, o próprio exis- Hall (2000) afirma que a identidade cul-
tir se constitui em relação a uma alteridade, isto tural, constitui-se em uma busca constante
é, “é uma demanda que se estende em direção a para se construir, relaciona passado e presen-
um objeto externo” (p. 76). A identidade cultu- te, envoltos em uma perspectiva histórica. Tais
ral não pode ser tratada como uma afirmação características não permitem que a identidade
a priori, preestabelecida, como “uma profecia cultural seja uma estrutura fixa, pelo contrá-
autocumprida” ou um produto acabado, pois rio a formação da identidade cultural envolve
ela se constitui na produção de uma imagem movimento. Definir a identidade cultural, na
de identidade e na consequente modificação do contemporaneidade, significa entendê-la em
indivíduo, que assume uma identidade em de- suas inúmeras constituições possíveis, deci-
trimento de outra. didas pelos sujeitos, que transitam livremente
Adotar uma posição fixa torna-se cada vez por um mundo cada vez mais sem fronteiras
mais incomum, considerando-se que as infini- claramente definidas. (Regina Glória Nunes
tas possibilidades de perspectivas atraem pesso- Andrade)
as, que se reconhecem como livres e flutuantes.
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concebem, vivenciam e inventam o local em que pretendia entender o fenômeno sob a pers-
suas interações comunicacionais cotidianas pectiva dos que sentem paixão pelo esporte. Da
com ou sem a mediação dos meios de comuni- década de 1980 até meados de 1990, quase to-
cação. (Denise Cogo) dos os pesquisadores que estudavam o futebol
no país buscavam em O Negro no Futebol Bra-
Referências: sileiro, do jornalista Mario Filho, as fontes para
HALL, Stuart. Identidades culturais na pós-mo- seus estudos. Soares (2001) critica esta tendên-
dernidade. Porto Alegre: DP&A Editora, cia, defendendo que este livro não deveria ser
1997. entendido como fonte fidedigna da história, já
PERUZZO, Cicília. Mídia local e suas interfaces que ela deveria ser apreendida como um ro-
com a mídia comunitária. Anais do XXVI mance de tipo realista, com certa visão da so-
Congresso Brasileiro de Ciências da Co- ciedade traduzida em termos de arte.
municação. Belo Horizonte: INTERCOM, Os pesquisadores deveriam buscar outras
2003. Disponível em: <http://www.inter- fontes, para se evitar a promoção de um “dis-
com.org.br/papers/nacionais/2003/www/ curso romântico de construção de nação” (So-
pdf/2003_NP12_peruzzo.pdf>. Acesso em: ares, 2001, p. 45). Helal & Gordon (2001) ques-
15/05/2009. tionam a “dureza” no tratamento dado por
ORTIZ, Renato. Um outro território - ensaios Soares ao valor de “testemunho histórico” da
sobre a mundialização e suas conseqüên- obra e partem do princípio de que as dramati-
cias sobre a cultura das sociedades. São zações de um fato são, do ponto de vista socio-
Paulo: Olho D´água, 1997. lógico ou da teoria da comunicação, frequente-
HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritoria- mente mais relevantes do que o “fato em si”, na
lização – Do “Fim dos Territórios” à Multi- compreensão da produção de sentidos oriundos
territorialidade. 3. ed. Rio de Janeiro: Ber- das narrativas jornalísticas. O debate publicado,
trand Brasil, 2007. originalmente na revisa Estudos Históricos, nú-
HANNERZ, Ulf. Conexiones transnacionales – mero 23, da Fundação Getúlio Vargas, em 1999,
cultura, gente, lugares. Madrid: Ediciones entre Soares e Helal e Gordon, repercutiu nos
Cátedra, 1998. estudos acadêmicos que lidavam com a temá-
tica, evidenciando a necessidade de se entender
como os recursos acionados por agentes sociais
IDENTIDADE NACIONAL POR MEIO DO (imprensa, meio acadêmico etc.) foram efica-
ESPORTE zes na “construção” de uma identidade nacio-
A literatura acadêmica sobre identidade nacio- nal por meio do esporte. As coletâneas de Melo
nal e esporte concentra-se, no Brasil, primor- (2007) e Gastaldo & Guedes (2006) são bons
dialmente, no futebol e começa a constituir-se exemplos de trabalhos interdisciplinares com
após a publicação de Universo do Futebol: es- esta preocupação.
porte e sociedade brasileira, organizado DaMat- Atualmente, os estudos sobre questões
ta (1982). Até esse momento, os estudos eram identitárias por meio do esporte tratam de for-
escassos e tendiam a considerar o futebol como ma mais cuidadosa as fontes, incluindo não so-
“ópio do povo”. Essa visão foi revista por outra, mente o livro de Mario Filho ou as crônicas de
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Nelson Rodrigues, mas também o material jor- afirmamos nossa identidade de latino-ameri-
nalístico de diversos períodos, expandindo as canos, se estamos na Argentina vamos nos po-
possibilidades de um campo que permanece sicionar como brasileiros, já no Japão seremos
em debate e em construção. (Ronaldo Helal e ocidentais. Somos latino-americanos, brasilei-
Alvaro do Cabo) ros, ocidentais e flutuamos por inúmeras outras
identidades étnicas, de gênero, de classe social.
Referências: Como coloca Stuart Hall, o sujeito da contem-
DAMATTA, Roberto. Universo do futebol: es- poraneidade não tem uma identidade fixa, es-
porte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro, sencial ou permanente. “A identidade torna-se
Pinakotheke, 1982. uma celebração móvel: formada e transforma-
HELAL, R.; GORDON, C. Sociologia, História da continuamente em relação às formas pelas
e Romance na Construção da Identidade quais somos representados ou interpelados nos
Nacional Através do Futebol, In: HELAL, sistemas culturais que nos rodeiam”. (HALL,
R.; SOARES, A.; LOVISOLO, H. A inven- 1992, p. 12-13). Convivemos com uma multipli-
ção do país do futebol: mídia, raça e idola- cidade de identidades que podemos nos identi-
tria. Rio de Janeiro: Mauad, 2001. ficar diariamente na escola, no trabalho, na rua,
SOARES, A. História e a invenção de tradições no lazer. A música que ouvimos, os filmes que
no campo de futebol. In: HELAL, R.; SOA- assistimos, as roupas que usamos, o lugar que
RES, A.; LOVISOLO, H. A invenção do país passamos as férias nos faz atravessar diversas
do futebol: mídia, raça e idolatria. Rio de identidades, mesmo que de uma forma tempo-
Janeiro: Mauad, 2001. rária. Podemos experimentar e transitar pelas
GASTALDO, E.; GUEDES, S. Nações em cam- mais diversas identidades produzidas nos siste-
po: Copa do Mundo e identidade nacional. mas culturais que nos rodeiam.
Niterói: Intertexto, 2006. Na contemporaneidade, a identidade sub-
MELO, V. História comparada do esporte. Rio verte as posições fixas, e se apresenta em anda-
de Janeiro: Shape, 2007. mento, em processo. Em um local de disputa
étnica, a identidade étnica pode ser vista como
fundamental (sou sérvio, não sou croata), en-
Identidade nos Estudos Culturais tretanto uma mudança para um grupo da mes-
Pensar identidade, na perspectiva dos Estudos ma etnia faz com que outras diferenças sejam
Culturais, é pensar o que “ela significa, como marcadas mais fortemente como o gênero ou
ela é produzida e como é questionada”. (WOO- o consumo cultural. Uma posição identitária
DWARD, 2000, p. 34). Construída de forma in- vai apontar quem é o incluído e quem é o ex-
tensa e contínua, a identidade vai sendo con- cluído naquela comunidade imaginada. Can-
figurada, reconfigurada e reivindicada a partir clini (1999) observa que as identidades se con-
das diferenças. A diferença é crucial para mar- figuram não apenas a partir das diferenças, mas
car as posições identitárias, nós e o outro. Ela também das maneiras desiguais pelas quais os
aponta o compartilhamento de uma cultura, de grupos se apropriam de elementos variados, e
uma história, ao mesmo tempo é um processo a forma como os transformam. Ele tem razão,
de negociação. Assim, se estamos na Europa, brasileiros e ingleses se apropriaram de formas
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distintas, por exemplo, da identidade punk. Isto inclusive de bens imateriais. Nesse sentido, as
porque nossa identidade dialoga com o local representações, o pensamento e o intercâmbio
onde estamos inseridos, do qual fazemos parte. intelectual da humanidade surgem como ema-
Somos pessoas que temos posicionamentos di- nação direta do seu comportamento material.
ferentes, em diferentes momentos, em diferen- O mesmo acontece com a produção intelectual
tes lugares. No posicionamos a partir dos cam- quando esta se apresenta na linguagem das leis,
pos sociais que atuamos, por isso trafegamos política, moral, religião e metafísica. Assim, são
por diversas identidades e vamos demarcá-las os homens que produzem as suas representa-
sempre a partir da diferença: nós e eles. (Nad- ções, as suas ideias, mas os homens reais, atu-
ja Vladi) antes e tais como foram condicionados por um
determinado desenvolvimento das suas forças
Referências: produtivas.
CANCLINI, Nestor García. Consumidores e Ci- Essa visão rompe com a crença idealista de
dadãos: Conflitos multiculturais da globa- que a moral, a religião, a metafísica ou outra
lização. Rio de Janeiro: UFRJ, 1999. ideologia tenham qualquer espécie de autono-
HALL, Stuart. A identidade Culttural na Pós- mia, pois são histórica e materialmente deter-
Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1992. minadas. Não é a consciência que determina a
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e Diferen- vida, dirá Marx, mas sim a vida que determina
ça: a perspectiva dos estudos culturais. Pe- a consciência.
trópolis: Vozes, 2000. Antônio Gramsci refina este conceito quan-
do, em seus Cadernos do Cárcere, vai assinalar
que a sociedade civil é o lócus no qual as classes
Ideologia sociais lutam para exercer a hegemonia cultural
Analisando a ideologia como tema básico da e política sobre o conjunto da sociedade. Nesse
Sociologia, Theodor Adorno e Max Horkhei- conceito, a sociedade civil é o domínio privile-
mer assinalam que a origem da palavra encon- giado da ideologia, porquanto é aí que a clas-
tra-se em proposições de Destutt de Tracy, um se fundamental deve assegurar o consenso so-
dos expoentes da escola francesa que adotou o cialmente necessário ao exercício do seu poder
nome de “ideólogos” (lês ideólogues), ou seja, econômico e político.
os estudiosos das ideias. De Tracy, fiel ao em- Dessa forma, acredita Gramsci, a direção
pirismo filosófico, acreditava que a Ideologia ideológica da sociedade se articula em três ní-
era parte da Zoologia, pois era possível reduzir veis essenciais: na ideologia propriamente dita;
todas as ideias a sua origem nos sentidos, ex- na “estrutura ideológica” ou nas organizações
cluindo, assim, qualquer possibilidade de inter- que elaboram as ideologias e as difundem,
venção externa na formação das ideias, que se- bem como no “material” ideológico, ou seja,
ria um atributo do espírito. nos meios técnicos de difusão de ideologias
Karl Marx, no entanto, defende a tese de como a família, a escola, os meios de comuni-
que a produção de ideias, valores e cultura so- cação de massa, as empresas e os repositórios
cial está ligada direta e intimamente à ativida- de informação como as bibliotecas e a própria
de material e ao comércio entre os homens, Internet.
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A profunda relação que surge, então, entre agir para “redimir a sociedade”. A saga clássi-
Ideologia e Comunicação, está no fato de que é ca do herói fala de um ser que parte do mundo
justamente através dos processos comunicacio- cotidiano e se aventura a enfrentar obstáculos
nais que se difunde ideologia, da mesma forma considerados intransponíveis, vence-os e retor-
que a Ideologia dominante determina o forma- na a casa, compartilhando suas conquistas com
to e as mensagens disseminadas pelos meios de a comunidade para a qual se torna referencial.
comunicação. Desse modo, o universo esportivo, sobre-
Theodor Adorno e Max Horkheimer assi- tudo o futebolístico, é um lugar repleto de nar-
nalam que o processo de difusão de ideologia rativas heróicas onde a vitória de um atleta é
vai se dar por meio dos produtos da indústria sempre a conquista da equipe ou nação que ele
cultural como o cinema, as revistas, os jornais, representa. A quantidade de ídolos na história
a rádio e a televisão, mas também a literatura. do esporte nos leva a agrupá-los em modelos
Nesse sentido, é ingênuo pensar a “comu- singulares, próprios de uma cultura. Uma aná-
nicação” como algo “neutro”, pois essa ativida- lise comparativa entre as biografias dos jogado-
de humana não apenas difunde ideologia, mas res Zico e Romário, por exemplo, revela duas
é ideologicamente determinada. Até mesmo faces da cultura brasileira. A primeira enfati-
mecanismos de comunicação em rede, como a za o sucesso por meio do esforço e do trabalho,
Internet, “modernos” em sua essência técnica, à qual se junta o modelo de herói clássico. Já,
inserem-se nesse contexto, pois podem ser – e na biografia de Romário, os recursos acionados
são – usados de modo a vigiar o fluxo de infor- pela mídia dimensionam aspectos relacionados
mação. (Armando Levy Maman) à malandragem.
As narrativas em torno dos dois atletas
mostram também que as construções de suas
IDOLATRIA ESPORTIVA biografias fazem parte de uma relação dialé-
Como evento de massa, o esporte não se sus- tica entre as ações dos objetos mitificados e o
tenta sem ídolos, os quais também encontram contexto social (HELAL, 2003), já que sempre
nessa atividade um terreno fértil para sua exis- existe algo no objeto mitificado capaz de exer-
tência. A idolatria é parte intrínseca do fenô- cer fascínio. A idolatria esportiva é construída
meno esportivo e reforça os laços identitários por meio dos feitos do atleta. A imprensa tem
dos fãs com o evento. Ídolos do esporte pos- o poder de editá-los, dimensionando algumas
suem características que os transformam em façanhas e minimizando outras.
heróis, devido ao aspecto agonístico, de luta, Porém, ela não produz ídolos a partir de
que permeia este universo. O sucesso de um um vazio. Talento, carisma e conquistas são re-
atleta depende do fracasso do seu oponente. É quisitos fundamentais para ser alçado à con-
uma competição que ocorre dentro do próprio dição de ídolo. Ao atingir esse patamar, eles
espetáculo. possuem a capacidade de pautar a mídia. Geral-
Nesse sentido, Morin (1980) e Campbell mente, ídolos esportivos possuem em comum
(1995) chamam a atenção para a diferença entre um passado difícil. Esta dificuldade inicial con-
celebridades e heróis. Enquanto os primeiros tribui para o êxito da idolatria, pois aumenta a
podem viver somente para si, os heróis devem identificação com os fãs. Afinal, esses “ídolos-
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heróis” saem das vestes de um ser “ordinário”, da classe média, grande reportagens massivas;
tal qual o mito do super-homem, analisado por para os idosos milionários, o discurso biográ-
Eco (1979). (Ronaldo Helal e Alvaro do Cabo) fico.
Uma série de vocábulos vai criando as dife-
Referências: renças etárias e suas possibilidades de inclusão.
CASTRO, Ruy. A estrela solitária. São Paulo: Reciclagem x formação; inativo x ativo são dois
Companhia das Letras, 1995. exemplos que apontam a importância atribuída
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São à existência ou ausência de projeto na categori-
Paulo: Cultrix, 1995. zação da velhice. Entre a categoria dos “excluí-
ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São dos” estão a grande maioria daqueles que tran-
Paulo: Perspectiva, 1979. sitam pelos corredores hospitalares em busca
HELAL, Ronaldo. A construção de narrativas de remédios inexistentes, daqueles que jazem
de idolatria no futebol brasileiro. Em Re- catatônicos em asilos e daqueles cuja discrimi-
vista Alceu, v. 4, n. 7, p. 19-36, Rio de Janei- nação, mais sutil, se expressa pelo isolamento
ro: PUC-RJ, 2003. no próprio ambiente familiar. São os desorbita-
MORIN, Edgar. As estrelas de cinema. Lisboa: dos da produção e do consumo. Vemos, ainda
Horizonte, 1980. que são significativas as dificuldades de acessos
literais e simbólicos impostas ao idoso: acesso
aos ônibus, às rampas, ao lazer, à justiça e à ci-
IDOSOS E INSERÇÃO VIA CONSUMO dadania.
É paradoxal, nos tempos atuais, a situação que A segunda categoria, a dos velhos “pro-
liga os idosos à sociedade de consumo carac- gramados”, é contemporânea da sociedade de
terizada pela diversificação da oferta e a busca consumo. São os aposentados com boa renda,
do atendimento às expectativas do maior nú- público alvo de uma série de campanhas co-
mero de consumidores. Se os idosos estão sen- merciais através de programas de (atualização,
do contemplados com uma série de produtos reciclagem, autoajuda). É para o idoso que dis-
seja na escala do lazer, seja na escala da saúde, põe de meios para consumir. Na mídia, o que
por outro lado, o acesso a tais bens, como po- parece prevalecer são as discussões sobre o que
demos observar na mídia, não é, de forma al- o velho deve fazer para parecer jovem: dançar,
guma, uniforme. correr, fazer sexo. As manchetes apontam para
Um levantamento feito na mídia, notada- uma quase euforia da terceira idade. Todas as
mente Jornal do Brasil e O Globo, permitiu che- oportunidades são oferecidas: “caminhos que
gar a três tendências dominantes no tratamento levam ao século do idoso”; “sexo na terceira
midiático do idoso, tendo como parâmetro, so- idade”; “meia idade sem crise”; “um meio elo-
bretudo, a questão da situação de dependência gio à meia idade”; “a pornografia no outono
financeira e capacidade de consumir maior ou das mulheres”. Sobretudo nesta categoria temos
menor. A cada uma das categorias corresponde exemplo de inclusão pelo consumo.
um discurso mais frequente. Para os excluídos, A terceira categoria, a dos velhos “auto-
o tratamento do fait divers (notícia sem con- gerenciados”, é presenteada pela mídia com o
texto); para a grande corrente de aposentados discurso biográfico e, graças a signos de poder
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enciclopédia intercom de comunicação
como riqueza e posição social, parece escapar sente no processo e do uso inapropriado da pa-
da invisibilidade ou da generalização desqua- lavra “igreja”, uma vez que eram lideranças cris-
lificante. tãs relativamente autônomas em relação às suas
Na contemporaneidade, a construção das denominações religiosas, os chamados “tele-
novas identidades sempre mais híbridas, os ido- vangelistas”, quem mais estava em evidência. A
sos e os que os representam necessitam acessar partir de 1979, mais de 40 classificações podem
as discussões e informações sobre a questão, em ser encontradas tentando dar conta do fenôme-
busca de um corpo comunicativo (GIL, 1997, p. no entre elas “religião comercial”, “messianis-
136) que represente os desejos e interesses des- mo eletrônico”, “marketing da fé”, “ministérios
te grupo social sem as generalizações que des- em teledifusão” (LAZERSON, 1985).
consideram a complexidade humana (MORIN, A expressão “Igreja Eletrônica” foi consa-
1996, p. 14-15) nas diferentes fases de sua exis- grada no Brasil por meio da pesquisa do teó-
tência. (Nizia Vilaça) logo e cientista social Hugo Assmann, solicita-
da nos anos de 1980 pela World Association for
Referências: Christian Communication (WACC) e publicada
GIL, José. Metamorfoses do corpo. 2. ed. Lisboa: pela Editora Vozes: A Igreja Eletrônica e seu im-
Relógio D´Água, 1997. pacto na América Latina (ASSMANN, 1986). A
MORIN, Edgar et al. Novos paradigmas, cultu- pesquisa tornou-se o principal e mais comple-
ra e subjetividade. Dora Fried Schnitman. to registro em português sobre os primórdios
(Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. fenômenos no continente. Assmann opta pelo
termo apesar de admitir a precariedade que o
caracteriza, e chama a atenção para a necessida-
Igreja Eletrônica de de uma leitura das circunstâncias sócio-his-
Termo originado, nos Estados Unidos, para tóricas que tornaram possível a concretização
classificar o fenômeno relacionado à intensa desta forma de presença da religião na mídia.
presença de igrejas e/ou lideranças religiosas O estudo voltou-se para a atuação dos prin-
cristãs na mídia eletrônica. A primeira abor- cipais televangelistas dos anos 1970 e 1980 cuja
dagem mais sistemática sobre o tema é a obra pregação “eletrônica” baseava-se no eixo sal-
de Benjamin Armstrong Electric Church [Igre- vação-milagres-coleta de fundos. A advertên-
ja Elétrica] (1979), que descreve o processo de cia de Assmann quanto à necessidade de uma
desenvolvimento da rádio e da teledifusão cris- contextualização para se entender o fenômeno
tãs e a importância dele para a ação das igrejas. relaciona-se fortemente às demandas contem-
Apesar da repercussão da obra de Armstrong, o porâneas diante da dinâmica da presença dos
termo “Eletrônica” foi o que passou a ser mais grupos cristãos na mídia marcada pelo cultivo
usado, nos EUA e em outros países, para ex- de uma religiosidade que não depende da Igre-
pressar o processo em curso a partir dos anos ja, mas que é intimista, autônoma e individua-
1970. lizada.
O termo logo passou a ser alvo de críticas Assim, o que se enfatiza não é a “igreja”
diante da ênfase maior na técnica, da pouca mas a experiência religiosa mediada pelo meio
reflexão do aspecto comercial fortemente pre- eletrônico, isto é, a mídia passa a tornar possí-
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vel o cultivo da religiosidade, independente da pel do ilustrador na criação das imagens é es-
adesão a uma comunidade de fé. Mais do que sencial. Sua atividade não é reproduzir o texto
nunca o termo “Igreja Eletrônica” revela-se in- visualmente, mas sim, fixar os elementos su-
suficiente para dar conta do processo de produ- geridos por aquele que escreveu. Para isso, o
ção de significados por meio do qual os cristãos ilustrador exerce um trabalho de interpretação,
têm buscado se compreender e se comunicar como a consequência da filtragem da expres-
mediados pela mídia eletrônica. (Magali do são de outra pessoa – o autor – por sua própria
Nascimento Cunha) personalidade, para captar o clima, a atmosfe-
ra, que atravessa as histórias e os textos.
Referências: Historicamente, até o século XV, quando
ARMSTRONG, Benjamim. The Electric Chur- a reprodução de livros na Europa estava atre-
ch. Nashville: T. Nelson, 1979. lada à atividade dos copistas, as ilustrações
ASSMANN, Hugo. A Igreja Eletrônica e seu im- eram desenvolvidas à mão, em cada exemplar,
pacto na América Latina. Petrópolis: Vozes, por artistas da época. Tendo o copista encerra-
1986. do seu trabalho, o manuscrito era encaminha-
CAMPOS, Leonildo Silveira. Teatro, templo e do aos decoradores. Mas a arte da decoração,
Mercado. Organização e Marketing de um tal como outras relativas ao livro, não surge na
empreendimento neopentecostal. Petrópo- Idade Média. Ela surge com os gregos, embora
lis: Vozes, São Paulo: Simpósio, São Ber- limitada pela objetividade, aparecendo princi-
nardo do Campo: Umesp, 1997. palmente em livros de ciências naturais ou de
CUNHA, Magali do Nascimento. A Explosão medicina.
Gospel. Um olhar das ciências humanas so- A ilustração pouco se desenvolveu na An-
bre o cenário evangélico contemporâneo. tiguidade, porque o papiro, o suporte de escrita
Rio de Janeiro: Mauad, 2007. em vigor, não se prestava àquela prática. O per-
LAZERSON, Barbara Hunt. Electronic Church gaminho, suporte mais adequado ao desenho,
Terms. American Speech. Vol. 60, n. 2 p. ofereceu melhores condições aos artistas, propi-
187-189, summer, 1985. ciando o reaparecimento da ilustração em livros
a partir do século VI. Projetou-se então a figura
do miniaturista, ou rubricador, o encarregado de
Ilustração desenhar as letras maiúsculas, as iniciais dos di-
De maneira ampla, dá-se o nome de ilustração ferentes parágrafos ou capítulos, cujos espaços o
a qualquer imagem que acompanha um texto, copista deixara livres. Posteriormente, as maiús-
podendo aparecer na forma de desenhos, flu- culas foram aumentadas, tornando-se a decora-
xogramas, fotografias, gráficos, mapas, orga- ção mais complexa, mais rica em cores.
nogramas, quadros, retratos, entre outros. Sua Com o passar dos anos, o trabalho do mi-
função pode ser informativa, descritiva, expres- niaturista evoluiu para a iconografia, conquis-
siva, simbólica, metalinguística, lúdica, estética, tando variados espaços na página, ou a ocu-
narrativa ou de pontuação. pando por inteiro.
Em geral, ilustrações são desenvolvidas a Tempos depois, ainda na Idade Média,
partir de textos já escritos. Nesse caso, o pa- além do vermelho e do azul-claro, cores basi-
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camente empregadas nas miniaturas, passou-se imagem pode ser produzida utilizando simul-
ao uso frequente do ouro, com o fim de ilumi- taneamente desenho, fotografia e modelagem
nar (de lumen, luz) as ilustrações. A partir de 3D, sendo arriscado estabelecer precisamente
então, o miniaturista receberia um outro nome, onde começa uma técnica e termina a outra.
o de iluminador e as ilustrações começariam a (Raquel Castedo)
ser conhecidas por iluminuras. Em um contex-
to em que a escrita servia como declaração de Referências:
fé, o conceito de iluminura tinha duplo senti- CAMARGO, Luís. Ilustração do livro infantil.
do. Sua função era tanto tornar mais claras as Belo Horizonte: Editora Lê, 1995.
histórias religiosas, como também abrilhantar CAMPOS, Arnaldo. Breve história do livro. Por-
a página. A pessoa comum daquele tempo não to Alegre: Mercado Aberto/Instituto Esta-
sabia ler. Esse conhecimento estava reservado à dual do Livro, 1994.
nobreza rica e ao clero. Os iletrados se fixavam, FEBVRE, Lucien; MARTIN, Henri-Jean. O
então, nas gravuras e nas cenas pictóricas para aparecimento do livro. Lisboa: Fundação
recordar as cenas da Bíblia. Calouste Gulbenkian, 2000.
Ainda no século XV, com base na xilogra- FONSECA, Joaquim da. Tipografia & design
vura, passam a ser impressas ilustrações em ti- gráfico: design e produção gráfica de im-
ragens cada vez maiores, utilizando matrizes pressos e livros. Porto Alegre: Bookman,
em madeira adaptadas ao processo de impres- 2008.
são difundido por Gutenberg. O livro ilustrado RAMOS, Paula Viviane. Artistas ilustradores: a
passa a ter papel fundamental na cultura visu- Editora Globo e a constituição de uma vi-
al, na difusão dos temas iconográficos, primei- sualidade moderna pela ilustração. Porto
ramente aqueles ligados à vida de Cristo, dos Alegre: UFRGS/Instituto de Artes/Progra-
Profetas, dos Santos, dos demônios e dos anjos. ma de Pós-Graduação em Artes Visuais,
Com o passar do tempo, a influência do 2007.
Renascimento e da arte italiana também se
faz perceber na ilustração dos livros europeus.
Desde então, sua evolução, atrelada ao desen- IMAGEM
volvimento da indústria gráfica, está ligada No latim, imago significava retrato de um mor-
também ao contexto cultural, social, político e to, semelhança ou representação. Das pinturas
econômico da produção de impressos de cada rupestres pré-históricas da Serra da Capiva-
período. ra (Piauí) às obras estudadas pelo historiador
Atualmente, a ilustração continua a desem- Ernst Gombrich, ou das imagens registradas
penhar um papel importante na produção de pelas fotos analógicas às imagens sintéticas das
livros, além de estar significativamente presen- redes digitais, nos referimos às imagens, con-
te em outros mercados, como na produção de forme a antropologia histórica de Christofh
publicações jornalísticas e na publicidade. Wulf, de pelo menos três maneiras: imagem
Com o desenvolvimento das técnicas de como presença mágica, imagem como repre-
impressão e a difusão da computação gráfica, sentação mimética ou imitação criativa e ima-
especialmente no último século, uma mesma gem como simulação técnica.
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enciclopédia intercom de comunicação
As imagens não são apenas visuais, já que ouvir, que permita maior expressão criativa do
temos imagens sonoras, como as causadas pela conjunto dos sentidos humanos. (José Eugenio
música e pelo vento, conforme assinala o neu- de O. Menezes)
rocientista António Damásio. Hans Belting, es-
tudioso da arqueologia das imagens, distingue Referências:
as imagens endógenas, sem suportes técnicos, BAITELLO JR., N. A era da iconofagia: ensaios
presentes na riqueza criativa do repertório da de comunicação e cultura. São Paulo: Ha-
memória pessoal e coletiva, das imagens exóge- cker, 2005.
nas disponibilizadas pelos media, aquelas que BENJAMIN, W. Magia e técnica. Arte e políti-
se impõem à nossa percepção de forma redun- ca. Obras Escolhidas. São Paulo: Brasilien-
dante e podem limitar a imaginação. se, 1994. Volume 1.
No contexto do estudo das imagens, o filó- DAMÁSIO, A. O mistério da consciência. São
sofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser mostrou Paulo: Companhia das Letras, 2000.
formas de abstração, subtração ou desmateria- FLUSSER, V. Filosofia da caixa preta: ensaios
lização do corpo: a comunicação tridimensio- para uma futura filosofia da fotografia. Rio
nal (corpo), a bidimensional (imagens), a uni- de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
dimensional (o traço e a linha da escrita) e a GOMBRICH, E. H. A história da arte. São Pau-
nulo-dimensional (com os números e os algo- lo: LTC, 2000.
ritmos das imagens técnicas). MENEZES, J. E. O. Rádio e cidade: vínculos so-
Já em 1936, em A obra de arte na era da noros. São Paulo: Annablume, 2007.
sua reprodutibilidade técnica, Walter Benjamin WULF, C.; GEBAUER, G. Mimese na cultura.
mostrou a diferença entre o tradicional valor Agir social. Rituais e jogos. Produções es-
de culto e o novo valor de exposição das ima- téticas. São Paulo: Annablume, 2004.
gens reproduzidas em série. Ele questionou o
poder destrutivo das imagens quando usadas
para se reduzir o horizonte perceptivo do ho- Imagem Animada
mem na estetização da política. É uma representação imagética criada a partir
Em A era da iconofagia, Norval Baitello de- da ilusão de movimento elaborada através da
nomina primeiro grau da iconofagia o fato que exibição sequenciada de imagens em determi-
as imagens consomem imagens já reproduzi- nada velocidade. A utilização de imagens ani-
das, e de segundo grau da iconofagia o consu- madas tem suas origens em pesquisas datadas,
mo ou devoração de imagens, inclusive de ali- do final do século XIX, sobre movimento e a
mentos. Como somos, por exemplo, desafiados visão, viabilizadas a partir do desenvolvimen-
a adequar nossos corpos às imagens-padrões, to de dispositivos óticos como a lanterna mági-
estaríamos, segundo Baitello, no terceiro grau ca e o zootroscópio, além de experiências com
da iconofagia, etapa na qual são as imagens que cronofotografia desenvolvidas pelo fotógrafo
devoram os corpos. inglês Eadweard J. Muybridge e pelo cientista
No contexto dos excessos da cultura da vi- francês Étienne-Jules Marey, que possuem um
sibilidade, atualmente, investigam-se também extenso trabalho no registro e análise do movi-
as possibilidades do resgate de uma cultura do mento dos seres vivos.
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enciclopédia intercom de comunicação
Por muitos anos, a causa dessa ilusão de narração. Isso acontece porque na sequência
movimento por imagens sequenciadas fora de imagens o tempo da realidade é modelado
apontada como resultado de um fenômeno óti- “mediante um ordenamento sintático que pro-
co chamado persistência da visão, onde se afir- duz um significado”, construindo uma distin-
ma que a imagem de qualquer objeto fica retida ção entre a realidade e a diegese fílmica, funda-
na retina humana por alguns segundos. Assim, mentada no ritmo contínuo de imagens e sua
quando imagens são projetadas continuamente, manipulação, seja por recursos como a elipse,
num ritmo de 24 quadros por segundo como saltos diegéticos ou sua detenção. Além de tam-
no cinema, por exemplo, as composições inte- bém permitir uma articulação entre diversos
ragem na visão humana com uma fusão suces- espaços e tempos distintos, algo limitado numa
siva entre elas, dando a sensação de movimento imagem isolada. (Dario Mesquita)
contínuo.
Porém, pesquisas recentes no campo da Referências:
neurociência levam a concluir que a persistên- ALEXEÏEFF, A. Preface. In: BENDAZZI, Gian-
cia da visão não seria uma explicação completa nalberto. Cartoons: One Hundred Years of
para essa percepção de movimento, estando seu Cinema Animation. Trad. Anna Tarabolet-
princípio implicado com uma maior complexi- ti-Segre. Bloomington and Indianapolis:
dade fisiológica da visão com o cérebro huma- Indiana University Press, 2003.
no (RAMACHANDRAN; ANSTIS, 1986). Des- ANDERSON, J.; ANDERSON, B. The Myth of
se modo, segundo Joseph e Barbara Anderson Persistence of Vision Revisited. Journal of
(1993), a persistência deve ser encarada como Film and Video, v. 45, n. 1, 1993.
um mito superado nos estudos cinematrográ- VILAYANUR, S. R.; STUART, M. A. The Per-
ficos. Entretanto, o conceito ainda é recorrido ception of Apparent Motion. Scientific Ame-
por alguns teóricos de cinema, por já ser um rican, v. 254, n. 6, 1986.
termo clássico nesse campo de pesquisa. VILLAFAÑE, J. Y.; MÍNGUEZ, N. Principios de
Fora tais questões, a percepção do movi- teoría general de la imagen. Madrid: Pirá-
mento por imagens sequenciadas é o mesmo mide, 1996.
princípio por trás da origem do cinema e da
animação, estando ambas diferenciadas por
suas técnicas no processo criativo. Enquanto o Imagem corporativa
cinema trata de representar uma ação viva em Imagem, do latim imago, da raiz in, que sig-
24 quadros por segundo, a animação manipu- nifica dentro, presença na mente de algo que
la livremente seus elementos - não precisando se deu em nossos sentidos. Representação de
serem necessariamente desenhos (ALEXEÏE- qualidades percebidas na organização. Como
FF, 2003). permanecem na mente, as imagens podem
Sobre a habilidade comunicativa possibi- ser rememoradas, associadas, e formar novas
litada pela imagem animada, Villafañe e Mín- imagens.
guez (1996, p. 180) comentam que ela tem a ca- A imagem é o que se percebe pela mente
pacidade nata de representar o tempo, sendo, e não aquilo que se quer projetar. Não é porta-
assim, um formato imagético apropriado para dora de conteúdo estável; não se sustenta sem
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enciclopédia intercom de comunicação
o apoio de um conceito, construído pela men- fora do ambiente da organização, podendo so-
te, para lhe dar continuidade na lembrança das frer influências dos formadores de opinião, do
pessoas. É facilmente esquecida como a ima- cenário mercadológico, da concorrência e até
gem de um espelho. Forma-se muito mais por dos colaboradores da empresa.
operações conotativas do que denotativas da A construção da imagem corporativa de-
organização. É uma percepção facilmente mu- pende de muitos fatores que vão, desde a aná-
tável, podendo ser “velada” como numa foto- lise de cenários, determinação de públicos, dos
grafia, gerando descrédito para a organização. atributos da identidade, do posicionamento or-
Não representa um conceito, nem se iguala à ganizacional da comunicação etc., até o contro-
reputação, que traz em si elementos capazes de le de resultados e avaliação. A criação de ima-
emitir um juízo de valor sobre a organização. gens positivas sobre a organização é da maior
A imagem corporativa pode ser conside- importância para a formação de uma reputação
rada como: conjunto de representações que positiva, geradora de negócios. (Fábio França)
surgem na mente do público diante da evoca-
ção de uma empresa ou instituição (porte, po- Referências:
der, tradição etc); representações, tanto emo- TAJADA, L. A. S. de la. Auditoria de la imagen
cionais como racionais, que um indivíduo ou de empresa: métodos y técnicas de estudio
um grupo de indivíduos associa à determina- de la imagen. Madrid: Ed. Sintesis, 1996.
da organização como resultado límpido das ex- VAN RIEL, C. B. M. Comunicación corporativa.
periências, crenças, atitudes, sentimentos e in- Madrid: Prentice Hall, 1997.
formações que o referido grupo de indivíduos
associou à empresa em questão, como reflexo
da cultura da organização e da sua percepção Imagem de Marca
no meio ambiente. Conjunto de signos que compõem a represen-
Há duas espécies de imagem: a imagem na- tação de uma determinada instituição, empresa,
tural, ligada à história da organização, lembra- produto ou serviço diante dos indivíduos ligados
da espontaneamente, de forma não planejada e direta (colaboradores) ou indiretamente (forne-
a imagem controlada, aquela que nasce da pre- cedores, clientes, imprensa, público em geral) a
ocupação da empresa em divulgar a si própria, ela. Marcas* são entidades multidimensionais.
suas atividades atenta em ter o seu controle. Conjuntos de emoções, sentimentos, per-
Nesse contexto, a imagem pode ser alea- cepções e sensações positivas lhes são atribu-
tória, originada de ações não planejadas, sem ídos de modo que em torno delas se construa
continuidade, de fraca contribuição para a em- uma imagem única e distinta. A imagem de
presa. Pode ser planejada por meio de ações uma marca é composta pelo conjunto de ex-
sistematizadas, que preveem resultados con- periências por ela proporcionada, sendo aque-
troláveis e eficazes sobre a organização. As fon- la propagada pela publicidade*, projetada pelo
tes da criação da imagem podem ser internas, design de embalagem e design de produto so-
quando ligadas aos produtos e serviços da or- madas a todas as experiências anteriores dos
ganização, as suas manifestações pela mass me- indivíduos para com aquela marca que compõe
dia; externas, quando as imagens são geradas sua imagem.
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enciclopédia intercom de comunicação
A partir de definições geradas na cúpula fício em um de seus lados e que, apontada para
das empresas e desdobradas ao longo de todos um objeto, reflete sua imagem invertida na pa-
os níveis hierárquicos as características tangí- rede oposta ao orifício –, mas sabe-se que no
veis e intangíveis da marca vão se construindo século XVI seu uso já estava bem difundido en-
dentro da empresa e dela para seus stakehol- tre os renascentistas.
ders. As relações da marca com o mercado bem A propriedade dos haletos (sais) de prata de
como a de outros consumidores com a marca grande sensibilidade à luz – materiais que rea-
têm importante efeito sobre a imagem de uma gem e escurecem rapidamente quando expostos
marca. Gestores conscientes de que a marca à luz –, também já era conhecida desde o século
pode ser considerada o principal patrimônio XVI, e no século XVIII houve experiências com
de uma empresa, buscam administrar marcas papeis embebidos em soluções de sais de prata.
de modo a transmitir percepções positivas da O problema, nesse período, era como estabili-
marca enquanto esforçam-se para tornar essa zar a imagem, fazer com que a ação enegrecedo-
marca única aos olhos dos consumidores. (Cel- ra dos haletos se estagnasse quando a imagem
so Figueiredo Neto) estivesse satisfatória. Já no século XIX, a princi-
pal dificuldade para os pioneiros da fotografia,
Referências: como Nièpce e Daguerre, foi encontrar formas
AAKER, D. A. Brand Equity: Gerenciando o de fixar a imagem numa superfície.
Valor da Marca. São Paulo: Negócio, 1998. Alguns fixadores foram descobertos e usa-
BEDBURY, S.; FENICHEL, S. O Novo Mundo dos, como a albumina e o colódio, mas foi por
das Marcas: 8 princípios para a sua marca volta de 1870 que o médico inglês Richard Ma-
conquistar liderança. Rio de Janeiro: Cam- ddox criou uma suspensão de nitrato de prata
pus, 2002. em gelatina de secagem rápida. A gelatina au-
KLEIN, N. Sem logo. Rio de Janeiro: Record, mentava a sensibilidade dos haletos, tornando
2002. a fotografia instantânea. Nos anos 1880, Geor-
ge Eastman substitui a chapa de vidro por uma
base de nitroglicerose, flexível, criando o filme
Imagem fotoquímica de rolo; e passa a comercializar a câmera e pelí-
Por séculos, o homem buscou reproduzir a re- culas Kodak em 1888.
alidade através de imagens, e captar fragmen- A partir daí, negativos e câmeras começam
tos do mundo real, eternizando imagens de um a ser aperfeiçoados. As câmeras possuem len-
determinado tempo. Esse desejo se concretizou tes (objetivas, grande-angulares, teleobjetivas);
através do advento da imagem fotoquímica, du- e o mecanismo de controle de luz é formado
rante o século XIX. O surgimento da fotografia pelo diafragma (abertura, o diâmetro da lente
foi possível pela reunião de dois fatores: a ima- por onde passa a luz), e pelo obturador (con-
gem produzida pela câmara escura e a existên- trola o tempo que a película fica exposta à luz).
cia de materiais fotossensíveis, com grande sen- Nos anos de 1890, com o advento do Cinema
sibilidade à luz. (Marey, Edison, Lumière), a imagem fotoquí-
Não se sabe ao certo qual a origem exata da mica começa a ser usada na reprodução da im-
câmara escura – uma caixa preta com um ori- pressão de movimento. A película em formato
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35 mm se estabeleceu como padrão tanto na fo- ráter técnico: a imagem videográfica se compõe
tografia (onde é chamada de pequeno formato, pela varredura de um ponto eletrônico na tela.
existem também o médio e o grande formatos), Este ponto – o pixel – é a unidade mínima da
como no cinema. imagem, cujos parâmetros (de cor, luminân-
Atualmente as películas são feitas de uma cia etc) podem ser modulados. Por isso, nos
base flexível e transparente, que pode ser ace- diz Arlindo Machado, ela não existe no espa-
tato de celulóide, tri-acetato ou poliéster. Sobre ço, mas no tempo. “A imagem eletrônica não é
esta base fica a emulsão, constituída de gelatina mais, como eram todas as imagens anteriores,
com sais de prata. Os filmes podem ser negati- inscrição no espaço, ocupação da topografia de
vos, que após a revelação apresentam a imagem um quadro, mas síntese temporal de um con-
do assunto de maneira invertida – claros e escu- junto de formas em mutação”. (MACHADO,
ros – e que tem a imagem posteriormente trans- 1993, p. 52)
ferida para uma cópia positiva; ou positivos, Para Philippe Dubois, o vídeo guarda uma
que após o processamento já possuem o assunto ambiguidade fundamental: ele é uma imagem
tal como na realidade. Os filmes podem ser em que existe em si mesma e, ao mesmo tempo,
cor ou preto e branco, e possuem característi- um sinal que se transmite instantaneamente.
cas como a sensibilidade, se são mais ou menos Participando tanto do domínio da arte quanto
sensíveis à luz; a granulação, quanto maior a da comunicação, o vídeo é a um só tempo “ob-
quantidade de grãos e menor o tamanho destes, jeto e processo, imagem-obra e meio de trans-
mais nítida é a imagem; a latitude, que diz res- missão, nobre e ignóbil, privado e público”.
peito à quantidade de contraste que cada filme (DUBOIS, 2004, p. 74)
aceita; a densidade, a quantia de luz que um fil- Um dos procedimentos próprios do vídeo
me deixa passar; o contraste, que pode ser baixo será, portanto, o direto, ou seja, a transmissão
ou alto. No futuro, os grãos da imagem fotoquí- e exibição da imagem no mesmo momento em
mica tendem a ser totalmente substituídos pelos que ela é captada.
pixels da imagem digital, que vêm cada vez mais No domínio da televisão, o direto se traduz
sendo aprimorada. (Renato Coelho Pannacci) como transmissão “ao vivo” a uma audiência
distribuída. Essa possibilidade terá implicações
Referências: estéticas e políticas importantes: uma delas é
ADAMS, Ansel. A câmera. São Paulo: SENAC, a de que a imagem videográfica favorecer um
2003. novo tipo de “efeito de real”, que se produz
. O negativo. São Paulo: SENAC, 2003. como índice temporal. Como resume Thomas Y.
LANGFORD, Michael. Fotografia Básica. Rio Levin, trata-se de “uma imagem cuja verdade é
de Janeiro: Martins Fontes, 1979. supostamente ‘garantida’ pelo fato de acontecer
VIEBIG, Reinhard. Tudo Sobre o Negativo. São no chamado ‘tempo real’ e assim – em virtude
Paulo: Íris, [s/d]. de suas condições técnicas de produção – su-
postamente não ser suscetível de manipulações
pós-produção”. (LEVIN, 2009, p. 190) É tam-
Imagem Videográfica bém sob o modo do direto que operam os cir-
Comecemos por uma definição sucinta, de ca- cuitos fechados de vigilância, que mergulham
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não é necessariamente uma cultura alienada, licionista passou a ser o centro das discussões.
ela apenas não desconsiderou a imposição da Estudiosos do tema enfatizam dois campos de
cultura dominante, podendo ter resistido em luta pela conquista da liberdade: a ação direta
menor ou maior escala. A dominação cultural dos escravos e o movimento abolicionista ur-
nunca se aplica totalmente nem tão pouco pos- bano.
sui uma garantia, isto resulta na necessidade de O jornal foi uma forma de sensibilização
ocultar sua ação. A imposição cultural, por ou- e mobilização pelo fim do cativeiro feita pelos
tro lado, não se restringe apenas a ação no inte- setores médios das cidades, preocupados com
rior de uma nação entre grupos sociais díspa- os valores de civilização e progresso, inspirados
res. Ela pode atuar quando uma nação subjuga no liberalismo e no positivismo. Razões huma-
outra através da força militar ou da dependên- nitárias e econômicas fundamentaram os dis-
cia econômica impondo um novo padrão com- cursos pela abolição entre 1880 e 1888. Textos
portamental. Isto resulta em prejuízos mais de André Rebouças, Antônio Bento, Joaquim
graves que serão sentidos ao longo dos anos, Nabuco, José do Patrocínio e Luiz Gama ou as
influenciando na formação identitária de um ilustrações de Angelo Agostinini agitaram a
povo. (Ana Lúcia Sales de Lima) campanha. Foi na sede da Gazeta da Tarde que,
por exemplo, foi inaugurada, em 1883, a Con-
Referências: federação Abolicionista. Considerada civiliza-
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciên- dora, a imprensa foi espaço de combate para os
cias sociais. Bauru: Edusc, 2002. abolicionistas ligados às elites intelectuais, pois
ULLMANN, Aloysio Reinholdo. Antropologia: buscavam convencer aos leitores, em particular
O homem e a cultura. Petrópolis: Vozes, aos proprietários de escravos, por meio da de-
1991. fesa do paternalismo, consubstanciado numa
narrativa que almejava mediar conflitos entre
senhores e escravos.
IMPRENSA ABOLICIONISTA Assim, os artigos enfatizavam que a paz
Com o fim do tráfico internacional de escra- no interior das fazendas ligava-se à construção
vos (1850), houve a concentração da proprie- de vínculos de gratidão dos escravos em rela-
dade cativa no Brasil. Se, até meados do século ção aos senhores. A estratégia deveria ser de
XIX, estava disseminada, na sociedade, ficou concessão de alforrias pelos proprietários, an-
então concentrada nas grandes fazendas de café tecipando-se ao Estado. Uma linguagem mais
do Sudeste, o que fazia com que a escravidão agressiva e conflitos com escravistas davam o
representasse os interesses diretos de parce- tom da campanha na imprensa. O Rio de Janei-
la cada vez menor da população. A partir dos ro, capital do Império, contou com associações
anos 1860, vozes insurgiram-se com maior vi- abolicionistas que fundaram jornais, como O
gor contra a manutenção do cativeiro. A cau- Abolicionista da Sociedade Brasileira Contra a
sa emancipacionista cresceu impulsionada pela Escravidão. Entre periódicos destacamos Cida-
fase do capitalismo no nível mundial e pela de do Rio, Gazeta da Tarde e Revista Ilustrada
própria dinâmica interna da sociedade brasilei- na Corte e A Redempção em São Paulo. (Andréa
ra. Somente na década de 1880, a questão abo- Santos Pessanha)
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nalismo no Brasil. Florianópolis: Insular, No entanto, não se pode referir, com essa
2007. designação, uma imprensa caboverdeana ex-
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa pressa em dialeto das ilhas ou nas diferentes
no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasi- línguas de Angola, Moçambique, Goa ou Ma-
leira, 1966. cau. Define-se assim, com clareza, o objeto de
SOUSA, J. P. Uma história breve do jornalismo estudo: a imprensa produzida nas colônias por-
no Ocidente. In. Jornalismo: história, teo- tuguesas que se divulgou exclusivamente em
ria e metodologia da Pesquisa. Perspectivas língua portuguesa.
luso-brasileiras. Porto: Edições UFP, 2008. De modo geral, os estudos sobre imprensa
colonial portuguesa destacam apenas o Brasil
(TENGARRINHA, 1989). A história da impren-
Imprensa de colônias sa brasileira não faz menção alguma à existên-
Imprensa colonial é toda aquela produção jor- cia de uma imprensa contemporânea que se de-
nalística realizada nas mais diferentes colônias senvolveu nas demais colônias de Portugal. E
de um país ou nação. Assim, a imprensa colo- se encontramos histórias individualizadas do
nial portuguesa seria aquela produzida nas e a jornalismo e da imprensa, tais como praticados
partir das colônias historicamente constituídas, em Angola, Moçambique, Goa, Cabo Verde,
desde o século XV, por Portugal, resultado da Macau ou em quaisquer outras colônias portu-
ocupação e colonização de diferentes regiões guesas, não se tem, contudo, uma visão de con-
e territórios e, neste sentido, incluiria o Brasil, junto.
até o ano de 1822, não importando se produzida As regras básicas estabelecidas para as co-
por autóctones ou por portugueses localizados lônias não são diferentes umas das outras. O
nas colônias. Ela é colonial, não porque ideolo- ponto positivo é a unidade da colonização por-
gicamente defenda o colonialismo ou a coloni- tuguesa sob a perspectiva de uma só estratégia
zação, mas porque se realiza neste contexto de e política. O ponto negativo são os sucessivos
colonização, traz uma referência espacial, só- debates que, ao longo dos séculos, acontecem
cio-cultural e política, mesmo após a concessão nas próprias colônias e, às vezes, em Lisboa,
da chamada autonomia administrativa e finan- junto às Cortes.
ceira das colônias, que ocorre depois da Revo- Desse modo, Portugal trata igualmente aos
lução de 1910, quando se estabelece a república desiguais, não distinguindo políticas de desen-
em Portugal. Ela já não será mais colonial, con- volvimento diferenciado para as suas colônias,
tudo, no caso brasileiro depois do 7 de setem- o que vai provocar consideráveis atrasos. O
bro de 1822, ou no caso dos demais territórios Brasil só conhece a imprensa em 1808, quando
administrados por Portugal, após o 25 de abril a Família Real desloca-se de Lisboa para o Rio
de 1974, com a independência das antigas co- de Janeiro. Com isso, cria-se a Impressão Régia
lônias. e o nosso primeiro jornal, a Gazeta do Rio de
Quanto à expressão portuguesa, é porque Janeiro.
ela traduz, para a língua portuguesa, o ponto de Quanto às demais colônias, Bernardo Sá
vista original do nativo ou daquele ali adaptado Nogueira (Marquês de Sá da Bandeira) de-
ou identificado com aquela região. terminou, em 1836, que se criassem, nas pos-
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muitos dos impressos atuais — alguns escritos des imigrantes de São Paulo e identidade:
até, em sua totalidade, em português (tamanha estudo dos jornais ibéricos Mundo Lusíada
a integração deste imigrante e o desconheci- e Alborada. Dissertação de Mestrado em
mento da língua de seus antepassados das no- Comunicação Social. Universidade Meto-
vas gerações) — têm o papel de fortalecer os dista de São Paulo: São Bernardo do Cam-
laços de amizade, familiaridade e união do gru- po, 2007.
po envolvido, bem como celebrar suas origens.
Não há um formato único para este tipo de im-
prensa: há registros desde revistas, jornais, ta- IMPRENSA DE MASSA
blóides ou boletins e newsletters manuscritos Os significados de imprensa de massa podem
até aqueles feitos por empresas jornalísticas de ser relacionados a duas dimensões: uma quan-
pequeno e médio porte e, ainda, de rudimentar titativa e outra política. A quantitativa é, de um
ou alta qualidade de impressão; existem os de lado, o conjunto de investimentos tecnológicos
circulação restrita à colônia, com tiragens ínfi- (como a invenção do linotipo) que, ao longo
mas, e os que chegam a outros estados brasilei- dos século XX, permitiu baratear a produção,
ros ou a outros países, com número grande de aumentar a circulação, a distribuição, a recep-
exemplares; destacam-se ainda as questões da ção e ampliar o raio de atuação dos jornais pe-
propriedade única e o papel do editor-faz-tu- riódicos, tanto em termos de espaço como de
do e da periodicidade: os diários, semanários, grupos sociais. De outro, o seu surgimento co-
mensais, bimestrais, ou simplesmente, os que necta-se com processos expansão e contração
tiveram número único. (Camila Escudero) das fronteiras do jornalismo, resultantes das
confluências do campo jornalístico com o polí-
Referências: tico e o econômico. A estruturação dos jornais
TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: como empresas e a formação de um mercado
um século de imigração italiana no Brasil. de trabalho e consumo de jornais tiveram pa-
São Paulo: Nobel/Instituto di Cultura di ralelo com a maior organização e divisão social
San Paolo/Instituto Cultural Ítalo-brasilei- de tarefas no interior do jornalismo.
ro, 1989. O surgimento da figura do repórter sin-
PARK, Robert. The immigrant press and its con- tetiza esse processo, atrelado à centralidade
trol. New York: Harper & Brothers, 1922. que foi tomando o assalariamento, burocra-
DREHER, Martin N.; RAMBO, Arthur Blásio; tização e racionalização da produção noticio-
TRAMONTINI, Marcos Justo. Imigração sa. O que significou, também, um processo de
& imprensa. São Leopoldo: Instituto Histó- profissionalização das atividades jornalísticas
rico de São Leopoldo, 2004. (Ruellan, 2004). A formação de uma cultura
CAPARELLI, Sérgio. Identificação social e con- profissional entre os jornalistas foi necessária
trole ideológico na imprensa dos imigran- para a diferenciação do jornalismo em relação
tes alemães. Comunicação & Sociedade. a outras práticas sociais, como a política e a
Ano I, n.1, p.89-108. São Bernardo do Cam- literatura, e para a sua legitimação dos jorna-
po: Cortez & Moraes / Metodista, 1979. listas como intérpretes sociais de um público
ESCUDERO, Camila. Imprensa de comunida- de massa.
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A dimensão política diz respeito à potên- nedy assassination, the media, and the sha-
cia dos meios de massa, entre eles a imprensa, ping of collective memory. Chicago/Lon-
de ampliar o seu poder de ação social, isto é, o don: The University of Chicago Press, 1992.
poder de um único emissor atingir uma audi-
ência em escala até então desconhecida. Esse
exercício de influência política do jornalismo IMPRENSA E LIBERDADE
foi prenunciado por Gramsci (2002) ao tratar A transformação dos modelos de xilogravura
da importância dos aparelhos privados de he- inventados pelos chineses em outros, de madei-
gemonia na formação de um sentimento nacio- ra e metal, que pudessem ser pintados e aplica-
nal-popular. Anderson (2008) procurou mos- dos a uma superfície de papel, por Johann Gu-
trar como os meios de massa podem criar e/ou tenberg, em 1438, século XV, fez essa, uma das
difundir símbolos que unificam e/ou transfor- principais invenções da Humanidade: a inven-
mam imaginários sociais numa dada consciên- ção da imprensa.
cia nacional. Assim, com o desenvolvimento da técni-
Esses estudos não explicam, porém, como ca e do que poderia se associar a esse conhe-
a imprensa de massa ajuda a gerenciar o ima- cimento, em relação aos conteúdos a serem
ginário social, através da forma narrativa do publicados, a invenção provocou polêmicas e
que se convencionou chamar de notícia. Zelizer gerou inúmeras possibilidades, que sequer po-
(1992) usou o exemplo do assassinato de Ken- deriam ter sido pensadas na época.
nedy para mostrar como estas mesmas con- No entanto, ao longo da sua história a so-
venções narrativas do jornalismo ajudaram a ciedade tem se organizado, a partir de experi-
hegemonizar no tempo determinadas interpre- ências em que a imprensa - e nos primórdios
tações deste evento perante o público, fazendo era só com a aplicação de elementos e suportes
com que os jornalistas fossem vistos como ar- que geravam o jornal - é agente partícipe dessa
quitetos da memória coletiva. (Marco Antonio sociedade, interferindo diretamente em avan-
da Silva Roxo) ços e conquistas fundamentais.
Se a técnica tem sido aprimorada desde a
Referências: sua invenção, e esse fator é preponderante para a
RUELLAN, Denis. Grupo Profissional e Mer- obtenção de conquistas para a sociedade, outras
cado de Trabalho do Jornalismo. Comuni- tantas injunções foram se associando para que
cação e Sociedade 5. p. 9-24, 2004. a imprensa se consolidasse e se tornasse mídia,
GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Rio de Ja- não só pelo olhar dos equipamentos, processos
neiro: Civilização Brasileira, 2002. Volu- eletro-eletrônicos, fios, conexões, máquinas, en-
me 2. fim... Todo o suporte técnico que a sustenta está
ANDERSON, B. Comunidades Imaginadas. São intrinsecamente vinculado ao significado das pa-
Paulo: Companhia da Letras, 2008. lavras usadas nos diferentes processos comunica-
CAMPBELL, R. 60 Minutes and the news: a tivos instaurados a partir da técnica iniciada por
mythology for Middle América. Urbana/ Gutenberg e até mesmo por seus antecessores.
Chicago: University of Illinois Press, 1991. A sociedade se modifica de per si e suas
ZELIZER, Barbie. Covering the body: the Ken- conquistas se estabelecem a partir de suas ope-
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enciclopédia intercom de comunicação
rações sociais, por isso, a liberdade de pensa- CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias.
mento se materializou, como afirma Charau- São Paulo: Contexto, 2006.
deau (2006, p. 15) em suas diversas lógicas - a MATTELART, Armand. História da Utopia
econômica, a tecnológica e a simbólica. Para Planetária. Da cidade profética à sociedade
o autor as duas primeiras são lógicas “incon- global. Porto Alegre: Sulina, 2002.
tornáveis”, mas é a lógica simbólica que trata MARX, Karl. Liberdade de Imprensa. Porto Ale-
da maneira pela qual os indivíduos regulam as gre: L&PM Editores, 2007.
trocas sociais, e organizam suas representações
produzindo sentido. São dessas elaborações
simbólicas que as comunidades sociais vivem, IMPRENSA ILUSTRADA
que manifestam a maneira como os indivídu- Logo após os primeiros anos da imprensa, no
os, “seres coletivos”, regulam o sentido social ao Brasil, a imprensa ilustrada mostrará sua im-
construir sistemas de valores. (CHARADEAU, portância através de caricaturas, charges e foto-
2006, p. 17). grafias. Sobretudo a partir de 1860 a caricatura
De outra forma, pode-se afirmar que na litografada dará o tom desta imprensa, através
democracia a liberdade de pensamento é ine- de Henrique Fleiuss e Angelo Agostini. O pri-
gociável, afinal, para que exista ética em relação meiro fundou a Semana Ilustrada (1860), cujo
aos valores humanos, a mídia deve ter como vi- humor politicamente conservador e simpático
gilantes os cidadãos do público, como explica à figura imperial conseguiria manter-se popu-
Bucci (2002, p. 12). Segundo o autor “no proje- lar por mais de 15 anos – até a chegada do traço
to da democracia, a imprensa deve informar a crítico de Agostini na Revista Ilustrada (1876),
todos sem privilegiar os mais abastados, e tam- mas que já publicara trabalhos em publicações
bém dar voz às diversas correntes de opinião”. como Diabo Coxo (1864) e Cabrião (1866-1867).
A palavra ética deriva do grego ethos, que Republicano, abolicionista e influenciado por
está ligado aos costumes tanto individuais caricaturistas franceses, Agostini não se furtou
quanto da sociedade. Bucci afirma que “a ética a debater estes e outros temas que defendia na
jornalística não se resume a uma normatização Revista Ilustrada.
do comportamento de repórteres e editores; Com o regime republicano, novas publica-
encarna valores que só fazem sentido se forem ções almejam alcançar o ideal de modernidade
seguidos tanto por empregados como por em- presente nos primeiros anos pós-Império. Re-
pregadores...” (BUCCI, 2002, p. 12). Esses são vistas como Fon-Fon (1907), Careta (1908) e O
elementos imprescindíveis nas estruturas de Malho (1902) expressavam, através do desenho
funcionamento da sociedade, que colaboram de artistas como Raul Perderneiras, Klixto, Bel-
para a troca de conhecimentos e manutenção monte e J. Carlos, as mudanças experimentadas
de processos democráticos. (Neusa Maria Bon- nos primeiros anos de século XX. Dentre os
giovanni Ribeiro) jornais, destacamos o Jornal do Brasil (1891) e
suas pioneiras máquinas de impressão a cores,
Referências: que lhe permitiam exploração inédita de ima-
BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São gens, com direito a edições bissemanais intei-
Paulo: Companhia das Letras, 2002. ramente ilustradas. Outros jornais perceberão
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enciclopédia intercom de comunicação
(RIBEIRO, 2000). Nas últimas décadas do sé- Brasil nos séculos XVIII e XIX em determi-
culo XX, cresce a tendência à concentração da nados contextos sociais e políticos deu início
propriedade jornalística (ABREU, 2002); ao segmento da chamada imprensa médica.
- adoção de métodos de organização do O estudo sobre a imprensa médica brasileira,
trabalho e aumento da racionalidade produ- na primeira metade século XIX, mostra as re-
tiva. A criação de manuais de redação impõe lações de proximidade entre os interesses co-
certa padronização no modo de fazer jorna- merciais, políticos e científicos que permitiram
lismo, conveniente com a produção industrial. a institucionalização do periodismo médico. A
Com influência do modelo norte-americano, Gazeta Medica da Bahia, é a revista considera-
são incorporados, a partir dos anos 1950, téc- da um dos patrimônios culturais da história da
nicas de elaboração de textos e paginação, além medicina brasileira, pois serviu de veículo para
de métodos de administração e gestão comer- as pesquisas originais de uma ‘associação de fa-
cial das empresas (RIBEIRO, 2000); cultativos’ que ficou consagrada com a denomi-
- transformações tecnológicas permitem o nação de Escola Tropicalista Bahiana. Em 1865,
aperfeiçoamento da produção gráfica e a infor- um grupo de médicos resolveu formar uma as-
matização das redações. Sob o signo da rapidez sociação em Salvador, Bahia, para “praticar as-
e atualidade, a imprensa adota tecnologias que suntos científicos”. Eles assumiram o compro-
afetam o cotidiano de trabalho dos jornalistas misso de reunir-se duas vezes por mês à noite.
e o processo de coleta, produção e distribui- Um dos fundadores dessa “associação de facul-
ção de notícias - do telégrafo, no final do sécu- tativos”, o doutor José Francisco da Silva Lima,
lo XIX, à internet nos dias de hoje (BARBOSA, escreveu sobre esse período inicial duas déca-
2007; ABREU, 2002). (Michele Roxo) das depois, lembrando que as palestras aconte-
ciam ora na casa de John Ligertwood Paterson,
Referências: autor da ideia de criação dessa sociedade mé-
ABREU, Alzira Alves de. A modernização da dica, ora na casa dos outros sócios, que eram
imprensa (1970-2000). Rio de Janeiro: Jorge inicialmente sete, embora apenas seis tenham
Zahar, 2002. chegado a participar das sessões.
BARBOSA, Marialva. História Cultural da Im- Assim, John Paterson e Silva Lima, já refe-
prensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro: ridos, formavam juntamente com Otto Edward
Mauad X, 2007. Henry Wucherer a tríade mais famosa da me-
RIBEIRO, Ana Paula Goulart. Imprensa e his- dicina tropical na Bahia. Eram os três estran-
toria no Rio de Janeiro dos anos 50. Tese de geiros: Paterson, escocês, e os outros dois por-
doutorado, 2000. tugueses. Wucherer, natural do Porto, tinha
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa ascendência paterna alemã, influência deter-
no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasi- minante na sua formação como médico. Os
leira, 1966. outros quatros eram os professores Antônio
José Alves (cirurgia) e Antônio Januário de Fa-
ria (clínica médica), além dos médicos Manuel
Imprensa médica Maria Pires Caldas (cirurgião) e Ludgero Ro-
A difusão dos saberes médicos e científicos no drigues Ferreira (clínico), que nunca partici-
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pou das sessões por ter adoecido e logo depois não‑convencionais, foi aplicada por Alberto
falecido. A criação da revista foi uma conse- Dines, em 1976. “O radical de alternativa con-
qjuência lógica das reuniões científicas, pois tém quatro dos significados essenciais dessa
embora fortuitas foram gerando a necessidade imprensa: o de algo que não está ligado a po-
do registro das experiências e trocas de ideias. líticas dominantes; o de uma opção entre duas
(Arquimedes Pessoni) coisas reciprocamente excludentes; o de única
saída para uma situação difícil e, finalmente, o
Referências: desejo das gerações dos anos de 1960 e 1970, de
BASTOS, Cristiana; FERREIRA, Luiz Otávio; protagonizar as transformações sociais que pre-
FERNANDES, Tania Maria. Carta do edi- gavam”, define Kucinski.
tor. Hist. cienc. Saude Manguinhos, Rio Foram inúmeros os jornais nessa linha a
de Janeiro, 2009. Disponível em: <http:// circular no Brasil nesse período, não apenas
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ nas capitais, mas também nos municípios do
arttext&pid=S0104-59702004000400001- interior, geralmente com vida curta. Devido ao
&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 18/02/ forte controle aos meios de comunicação, esses
2009. periódicos utilizavam linguagens cifradas para
JACOBINA, Ronaldo Ribeiro; GELMAN, Es- fazer ecoar suas vozes. Eram criativos em um
ter Aida. Juliano Moreira e a Gazeta Me- período em que uniformização de ideias era a
dica da Bahia. Hist. cienc. saude-Mangui- regra. Muitos deles foram submetidos à censu-
nhos, Rio de Janeiro, v. 15, n. 4, dez. 2008 ra prévia.
. Disponível em: <http://www.scielo.br/ Para analisar a imprensa alternativa, Ku-
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104- cinski propõe a divisão desses jornais em duas
59702008000400011&lng=en&nrm=iso>. grandes classes: uma política, outra existencial.
Acesso em 01/03/2009. A primeira tinha raízes nos ideais de valoriza-
ção do nacional e popular dos anos 1950, e no
marxismo popularizado nos meios estudantis
IMPRENSA NANICA nos anos 1960. Seus principais representantes
O termo imprensa nanica foi utilizado para de- foram Politika, Opinião, Movimento, Em Tem-
signar os periódicos alternativos publicados no po e Coojornal. A segunda tinha raízes nos mo-
Brasil durante a ditadura militar. A palavra na- vimentos de contracultura norte-americanos e,
nica refere-se ao formato tablóide adotado pela através deles, no orientalismo, no anarquismo
maioria destes jornais (KUCINSKI, 2003). Es- e no existencialismo de Jean-Paul Sartre. Es-
sas publicações, que se caracterizam pela opo- ses jornais investiam, principalmente, contra o
sição ao regime militar, à censura e à violação autoritarismo na esfera dos costumes e o mo-
dos direitos humanos, ficaram conhecidas, ralismo hipócrita da classe média. Os princi-
também, como imprensa de leitor, independen- pais expoentes foram Versus, Bondinho, Ex e
te e underground (CHINEM, 1995). O Pasquim.
A palavra alternativa, com maior densi- Como lembra Caparelli (1986), a imprensa
dade semântica, já usada nos Estados Unidos alternativa, apesar de ter sido bastante expres-
e na Inglaterra, para designar arte e cultura siva durante o regime militar, está presente em
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ou semanal e diária, em períodos de campanha província de São Paulo, surgiram, entre outros,
salarial, de greves ou de demissões coletivas, A Província de São Paulo (1875) e o Diário Po-
em sua atual composição não pesam a militân- pular (1884), além de várias pequenas folhas re-
cia político-partidária e o caráter de classe, mas publicanas pelas cidades do interior.
a veiculação das reivindicações de cada catego- Refletindo a composição social dos núcle-
ria. (Silvia Maria de Araújo) os de direção do movimento republicano, sua
imprensa era expressão da classe média urba-
Referências: na, embora não lhe faltasse o apoio da nascente
ARAÚJO, Silvia Maria de; CARDOSO, Alcina. burguesia e de setores da classe rural sensibili-
Jornalismo e militância operária. Curitiba: zados pela necessidade de reformas indispen-
Editora UFPR, 1992. sáveis à consolidação e ampliação do progresso
LÉNINE, V. I. Acerca de la prensa. Moscú: Pro- econômico (AZÊDO, 1975, p. 115).
gresso, 1980. Nelson Werneck escreve que, em 1889, a
maioria dos jornais estava no campo republica-
no, contabilizando 74 títulos (SODRÉ, 1983, p.
IMPRENSA REPUBLICANA 274). Barbosa Lima Sobrinho nos oferece uma
A imprensa foi importante meio de difusão da visão particular da situação, em que distingue
ideia republicana. A aparição do jornal A Repú- a atuação da grande imprensa, em relação aos
blica, órgão do Partido Republicano, em 1870, jornais republicanos stricto sensu, como a Ga-
trazendo em seu primeiro número o Manifes- zeta de Notícias e O Paiz.
to Republicano, constituiu uma das realizações “Embora se soubesse que a redação dos
mais importantes do movimento (MARTINS, jornais era composta de jornalistas, na sua qua-
2008, p. 73). se totalidade, partidários ou entusiastas da cau-
O surgimento do jornal, no entanto, provo- sa republicana, a direção achava mais fácil não
cou desacordo no próprio círculo republicano. abrir mão de sua posição de neutralidade, pelo
A admissão de Quintino Bocaiúva - um repu- menos aparente, mesmo quando à sua frente
blicano moderado - como diretor, atritava com estivessem republicanos notórios como Quin-
a orientação que os radicais desejavam impri- tino Bocaiúva ou Ferreira de Araújo” (SIQUEI-
mir ao veículo (BOEHRER, 1954, p. 33-8). RA, 1995, p. 28). (Carla Siqueira)
A República desapareceu em 1874. Nos
anos seguintes, aumentou a imprensa adepta da Referências:
causa republicana. Na Corte, surgiram A Gaze- AZÊDO, Maria de Nazareth. Imprensa republi-
ta da Noite (1879), dirigida pelo radical Lopes cana antes do 15 de novembro. Niterói: UFF,
Trovão; O Combate (1880), fundado por Lo- 1975.
pes Trovão e Sílvio Romero e que se propunha BOEHRER, George. Da Monarquia à Repúbli-
a lutar pela república e pelo socialismo; A Re- ca: história do Partido Republicano Bra-
volução e O Diário da Noite, ambos fundados sileiro (1870 - 1889). Rio de Janeiro: MEC,
em 1881 pelo também exaltado Fávila Nunes; A 1954.
Gazeta Nacional (1887), dirigida por Aristides MARTINS, Ana Luiza. Imprensa em tempos
Lobo; e A Metralha (1888), de Silva Jardim. Na de Império. In: MARTINS, Ana Luiza; DE
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LUCA, Tânia Regina. História da Imprensa locando algum produto que o feche, nos luga-
no Brasil. São Paulo: Contexto, 2008. res onde não há nada para imprimir; como ini-
SIQUEIRA, Carla. A imprensa comemora a Re- cialmente o tecido usado era a seda, recebeu o
pública: o 15 de novembro nos jornais ca- nome de serigrafia. Tem-se, ainda, o sistema de
riocas - 1890 / 1922. Rio de Janeiro: PUC, impressão a laser, chamado de impressão digi-
1995. tal. Aproveita do sistema de cópia eletrostática,
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa no qual há uma área da matriz que, ao receber
no Brasil. São Paulo: Martins Fontes, 1983. luz, é carregada de energia estática atraindo a
tinta em pó (toner). Tornou-se comum, no iní-
cio do século XXI, nas grandes empresas gráfi-
IMPRESSÃO cas, em função da facilidade de produção, ar-
A palavra impressão tem origem latina e apre- mazenamento e cópia.
senta o significado geral de deixar uma marca O conjunto das técnicas de reprodutibili-
em superfície por intermédio da pressão. Este dade traduz a disponibilidade de recursos ma-
sentido abrange, atualmente, o ato de imprimir teriais para produzir bens simbólicos em deter-
e seus efeitos, independentemente do suporte. minada época. Walter Benjamin indica, ao se
Entende-se como todo o processo destinado a referir à reprodutibilidade técnica, que a repro-
reproduzir textos e imagens. Vários modos de dução da escrita na imprensa já estava contida
impressão historicamente se desenvolveram e na litografia. A tecnologia computacional apre-
se consolidaram. Em dois métodos, a distinção senta mudanças nesse cenário. Com a chega-
das áreas da matriz que serão impressas ocorre da do microcomputador pessoal e das impres-
fisicamente. soras domésticas, a reprodutibilidade deixa de
Na xilogravura, que deu origem à impres- ser intermediada por máquinas de complexos
são tipográfica, imagem ou texto está em alto industriais, democratizando-se a produção de
relevo, recebendo a tinta, transferida para o su- impressos verbais e imagéticos.
porte. Com a gravura em metal, da qual surgiu De outro lado, há o desenvolvimento da web
a rotogravura, a gravação está em baixo relevo, que aponta, enquanto possibilidade, para a elimi-
preenchida com tinta e depois transferida para nação da necessidade de impressão. Mas a tec-
o papel. Em outro processo, aproveita-se da re- nologia sinaliza também para o aparecimento de
pulsão entre a água e a tinta gordurosa. Para outras formas de consumir informações, como o
isso, usa-se pedra plana que tem a informação e-paper e o e-book. (José Ribamar Ferreira Júnior)
registrada com material gorduroso, que é ume-
decida, repelindo a tinta que se depositará na Referências:
imagem ou no texto. Alois Senefelder, seu in- BAER, L.. Produção gráfica. São Paulo: SENAC,
ventor, chamou esse processo de litografia. 1999.
Baseado nesse sistema, mas dispondo de BENJAMIN, W. Obras escolhidas. São Paulo:
cilindros que conduzem a imagem da matriz Brasiliense, 1983.
para o papel, o off-set é exemplo de impres- RABAÇA, C. A.; BARBOSA, Gustavo G. Di-
são indireta. Há o processo que tem por base o cionário de comunicação. Rio de Janeiro:
fato de a tinta poder atravessar um tecido, co- Campus, 2001.
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SAFF, D. Printmaking: history and process. Bel- relação ao manuscrito, qual seja, o predomínio
mont: Thomson Learning, 2009. da visão sobre a audição, ao se constituir num
VILLAS-BOAS, A. Produção gráfica para desig- suporte que encerra e controla definitivamente
ners. Rio de Janeiro: Editora 2AB, 2008. as palavras (e, por extensão, as imagens) no es-
paço, dando ainda mais legibilidade ao texto e
facilitando sua leitura.
Impresso Apesar da técnica de impressão ser muito
A priori, impresso é qualquer produto da im- anterior aos caracteres alfabéticos tipográficos
pressão, o que implica necessariamente a pre- móveis de metal da Era Moderna, as transfor-
sença de uma técnica, um produtor, ferra- mações ocorridas, no final do século XV, na Eu-
mentas e um suporte material, além de trazer ropa, que se estenderam ao mundo ocidental,
subentendidas no processo, ainda que de modo podem ser consideradas um marco na história
preliminar, as noções de composição, edição e do impresso. Elizabeth Eisenstein (1979) con-
publicização de uma informação ou mensagem. sidera a prensa de Gutenberg e seus produtos
Se imprimir significa estampar, gravar, fixar e os vetores do que chamou de “uma revolução
deixar marcas sobre uma superfície material, o despercebida”, marcada pela maior transmissão
impresso torna-se, antes de tudo, sinônimo de de informação e a consequente ampliação dos
memória espacializada, capaz de vencer o tem- horizontes mentais, o incentivo à autoaprendi-
po e o espaço em intensidades variadas, confor- zagem, a obsolescência de processos mnemôni-
me o suporte, os usos, as formas de apropriação cos e a ampliação da função da imagem, dentre
e os protocolos de leitura. É a partir de elemen- outros fatores que influenciaram nos movimen-
tos como estes que Roger Chartier (1985) vê o tos sociológicos, filosóficos, científicos e literá-
impresso como prática cultural, ou seja, só é rios da modernidade.
possível entendê-lo quando associado aos di- No Brasil, a obra de Marialva Barbosa
versos modos de comunicação dos sujeitos e (2007) mostra de que maneira se configurou,
agrupamentos históricos. no país, um “novo mundo simbólico” a partir
O trabalho pioneiro de Marshall McLuhan das inovações que os impressos incorporaram
(1962) destaca os efeitos da impressão sobre a no início do século XX, período de maior ex-
consciência, a percepção e o pensamento, es- pressão das letras até então experimentado em
tendendo-os à organização da experiência. É nossa história cultural. Ao unir a perspectiva
daí que surge a expressão “galáxia de Guten- orgânica, centrada nos efeitos da impressão
berg”, que cunhou para designar o mundo do sobre os sentidos, a organização do espaço e a
impresso como a era do individualismo, do gestão do tempo aos processos de produção e
ponto de vista fixo, da perspectiva tridimen- circulação dos textos, a autora mostra de que
sional, da especialização e da fragmentação dos maneira uma nova cultura do impresso, bra-
sentidos. sileira e moderna, dialoga com referenciais da
Ainda sob a perspectiva orgânica dos oralidade na construção de um público, seus
meios de comunicação, Walter Ong (1998) re- usos e práticas de leitura.
força a compreensão mcluhaniana do impresso Apesar de presente na história do país,
como produto de uma transformação maior em desde os primórdios da Colônia, mesmo sob
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a proibição e a censura dos poderes político e ticas como a do Brasil, entre o desenvolvimen-
eclesiástico, o impresso teve sua produção e cir- to econômico e a pobreza – com a geração de
culação definitivamente franqueadas, no Brasil, deficiências associada a cada uma dessas situ-
com a chegada da Corte de Dom João VI. ações. Pela base, 20.000.000 de brasileiros. Seu
Todavia, foi preciso esperar o desenvolvi- estatuto simbólico é a invisibilidade. Sequer
mento da imprensa na chamada Belle Époque se pode dizer que as pessoas com deficiências
tropical, para que essa materialidade e práti- constituem o Outro que o olhar da “normalida-
ca cultural ganhasse popularidade entre nós. de” não consegue encarar, e por isso o exclui.
Desta maneira, o impresso preparou o cami- Dados evidenciam que, no seio da soci-
nho para os meios de massa audiovisuais e, a dade brasileira, pessoas com deficiências são
partir da última década do século XX, passou excluídas antes de serem encaradas. Como as
também a habitar as novas plataformas de co- condições – arquitetônicas, educacionais, de
municação da contemporaneidade, na interse- emprego – que lhes permitiriam ir e vir no es-
ção com as linguagens do áudio, da imagem, do paço público são virtualmente inexistentes, elas
vídeo e do design gráfico. (José Cardoso Ferrão não circulam, não se mostram, não são vistas.
Neto) O processo de exclusão sé dá antes mesmo de
serem recusadas. Não saem de casa porque não
Referências: têm condições de aparecimento público. Não
BARBOSA, Marialva. História cultural da im- circulam porque não descem calçadas, não to-
prensa: Brasil, 1990-2000. Rio de Janeiro: mam ônibus ou metrôs não adaptados. Não es-
Mauad X, 2007. tudam porque as escolas não estão preparadas
CHARTIER, Roger (Dir.). Pratiques de la lec- para recebê-las. Não trabalham porque não es-
ture. Paris: Payot & Rivages, 1985. tudam e, assim, não se qualificam para chega-
EISENSTEIN, Elizabeth. The printing press as rem ao mercado de trabalho. E é assim, como
an agent of change: communications and os que nunca chegam, que o mercado as vê.
cultural transformations in early-modern Originalmente, a palavra deficiência está
Europe. Cambridge: Cambridge University associada à falta de eficiência produtiva. Tem
Press, 1979. a idade da ‘Revolução Industrial’. Pessoa defi-
McLUHAN, Marshall. The Gutenberg galaxy: ciente é a pessoa que não produz porque, por
the making of typographic man. Toronto: circunstâncias alheias à sua vontade, está mar-
University of Toronto Press, 1979. cada no corpo ou na alma por algo que lhe falta
ONG, Walter. Oralidade e cultura escrita: a tec- para entrar no circuito impessoal e já natural-
nologização da palavra. São Paulo: Papirus, mente excludente da produção.
1998. Lamentavelmente, essas pessoas são, ou fo-
ram, vistas assim mesmo: como pessoas defi-
cientes, ou seja, limitadas ou impossibilitadas.
INCLUSÃO E DEFICIENCIA FÍSICA Desse modo, são ignoradas no seu potencial in-
As pessoas com deficiências constituem, se- telectual ou dotes artísticos.
gundo cálculos da ONU, aproximadamente Muito tempo correu para que se compre-
10% da população de países com as caracterís- endesse que uma pessoa não é nem pode ser
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deficiente na sua pessoalidade, mas simples- lhões de pessoas que portam alguma deficiên-
mente carrega, porta, é afetada por um déficit, cia no Brasil? Permitir que se façam presentes
quase sempre compensável. Ainda não é evi- é outra batalha política pela inclusão. Se insis-
dente, no mundo despersonalizado do merca- tem em discriminar, pelo menos seja às claras,
do e da eficácia econômica, que essas pessoas conscientemente. É crime, suscita indignações,
são perfeitamente capazes de produzirem, com ensina a lutar.
muito poucas alterações no ambiente de traba- E há a ausência de direitos.
lho, mas com profundas mudanças no ambien- O Brasil tem, a partir da lei 7853, de 1989,
te simbólico, no imaginário negativo que as o arcabouço jurídico de proteção dos direitos
cerca, nas estruturas comunicacionais que hoje das pessoas com deficiências avaliado como o
ainda as excluem. As pessoas com deficiências melhor das Américas. Como para outras leis,
não fazem signo; no máximo, sua presença es- entre nós, é letra morta. Ou melhor, funciona
quiva assinala ausências. em algumas partes do território nacional. Nos
Antes de mais nada, a ausência de uma outros, tudo se passa como se aplicá-la ou não
consciência desperta. fosse decisão livre, não imperativo categórico.
A falta de conhecimento da questão da Fazê-la, e às que a seguiram, respeitar é ainda
“deficiência”, o desconhecimento das suas reais uma batalha política a ser travada, que por um
dimensões, não só quantitativas, indicam que lado depende de uma consciência embrionária
o primeiro ambiente a ser mexido é o da cons- do problema na sociedade em que as leis devem
ciência social. Mover da inconsciência para a funcionar, e por outro ajuda, poderosamente, a
consciência é o movimento inicial, implica na produzir essa consciência.
inclusão simbólica. Retirar da noção de defici- Trazer da ausência para a presença é con-
ência a marca da pura negatividade é um em- dição para começar a incluir. Inclusão designa
preendimento político preliminar a qualquer a responsabilidade bilateral de sociedade e ci-
processo de inclusão verdadeira. Não deixa de dadão no sentido da justa e efetiva igualdade
ser irônico que seja assim numa cultura que de condições para o desempenho da cidadania
tem entre os seus fundadores, pelo lado gre- em todas as suas dimensões. Implica em aper-
go, o cego Homero, e pelo lado judaico o coxo feiçoamento e mudanças permanentes dos dis-
Jacó. Seriam hoje deficientes, um sensorial, o positivos regentes da organização social para
outro físico. Excluídos, não teriam fundado a assimilação da diversidade humana. Cada
culturas, não teriam podido mover a história. uma dessas palavras, que constituem o concei-
Irônico, mas igualmente gerador de esperan- to moderno de inclusão, é um desafio. O con-
ça. Porque, já tendo sido assim, talvez o grande ceito, na sua estrita formalidade, é um campo
trabalho atual seja o de simplesmente acordar de batalha.
a memória. Historicamente, no Brasil, as mudanças
Há, no entanto, outras ausências. A de vi- conceituais destinadas à construção do conhe-
sibilidade social, como já indicado, a ausência cimento relacionado às pessoas com deficiên-
simbólica. Há a ausência física: onde se encon- cia, até o momento atual, refletem, semanti-
tram, ou antes, onde se escondem, ou melhor, camente, a transformação de uma abordagem
em que gueto invisível são mantidas as 20 mi- baseada exclusivamente no modelo médico
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na segunda metade do século 20. Canoas: como suporte para a fabricação de cópias em
Editora da Ulbra, 2007. larga escala até década de 1980.
HAMELINK, Cees J. La aldea transnacional. Nos Séculos XX e XXI, a indústria fonográ-
El papel de los trusts em la comunicación fica acompanha o desenvolvimento tecnológico
mundial. Barcelona: Gustavo Gili, 1981. verificado nos campos da eletroeletrônica e da
HENDY, David. Radio in the Global Age. Cam- informática, com efeitos diretos na expansão
bridge: Polity Press, 2000. dos meios de comunicação. Jornais, revistas, ci-
ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira: nema, rádio, televisão e Internet são mídias de
cultura brasileira e indústria cultural. São utilização intensa pela indústria fonográfica.
Paulo: Brasiliense, 1988. Até a década de 1980 o mercado funciona
SMYTHE, Dallas. Las comunicaciones: aguje- com base nas tecnologias analógicas com a pro-
ro negro del marxismo occidental. In: RI- dução de matrizes que permitiam a fabricação
CHERI, Giuseppe (Org.). La televisión: e venda de milhões de cópias de discos de vinil.
entre servicio público y negocio. México: As empresas gravadoras consolidam suas ope-
Gustavo Gili, 1983. rações em escala global, controlam o mercado
através do monopólio dos meios de produção
e atuam associadas aos grandes conglomerados
Indústria fonográfica midiáticos, casos da CBS, RCA, EMI, Phllips,
Conjunto de atividades empresariais dedicadas BMG, Universal, Warner entre outras.
à gravação de obras musicais em diferentes su- Na passagem para a década de 1990, com o
portes, analógicos ou digitais, visando à comer- desenvolvimento das tecnologias digitais, ocor-
cialização de cópias. O processo de gravação re a substituição progressiva dos discos de vinil
musical resulta na produção de fonogramas que por um novo suporte, o Compact Disc ou CD.
são editados num produto final denominado Com tamanho menor do que o tradicional vi-
álbum ou disco. Cada fonograma corresponde nil, o CD apresenta as vantagens de armaze-
a uma música gravada. Cópias avulsas de fo- nar maior quantidade de músicas com melhor
nogramas são vendidas também pela internet. qualidade de som. A reprodução do CD é feita
As empresas gravadoras operam os sistemas de através de leitura ótica eliminando o contato fí-
produção, distribuição e venda dos fonogra- sico da agulha com o disco e as imperfeições do
mas, através de contratos de licenciamento que som analógico, o que obriga aos consumidores
remuneram os autores e intérpretes das obras a substituírem seus equipamentos analógicos
musicais. pelo CD player digital.
A base tecnológica para o nascimento da Ao mesmo tempo, as tecnologias digitais
indústria fonográfica surge no final do Sécu- determinam o fim do monopólio dos meios de
lo XIX em decorrência das pesquisas científi- produção pelas grandes gravadoras, favorecen-
cas voltadas para a telefonia e a reprodução do do as produções independentes. Com o incre-
som. Destacam-se as invenções do fonógrafo mento da Internet, as músicas digitalizadas co-
de Thomas Alva Edison (1877) e especialmen- meçam a circular pelo espaço Web. Em pouco
te o gramofone de Emil Berliner (1887). O dis- tempo surgem novos dispositivos de gravação
co de acetato usado no gramofone permaneceu e reprodução como o MP3 e o iPod que podem
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armazenar muitas horas de música, contra cer- lucro e seguindo métodos de produção capita-
ca de 40 minutos do disco de vinil. Nos anos lista, mas há aqueles que têm outros princípios
2000, cresce a venda de música pelas lojas vir- e metas, podendo ser agregados, grosso modo,
tuais e também a circulação livre de fonogra- sob a ideia de “mídia alternativa” que, não obs-
mas, sem o licenciamento das gravadoras (pi- tante, não chega a constituir um novo modo de
rataria) o que determina profundas alterações gestão e elaboração de conteúdos, sendo eles,
na indústria e uma grande crise de vendas. As na maioria das vezes, também contaminados
dificuldades de controlar a pirataria levam as pela lógica das indústrias culturais. Em todos
vendas de CDs a quedas de até 40%, determi- os casos, num nível mais concreto de análise
nando o fechamento de grandes redes de lojas do que aquele em que se define o conceito geral
e reduzindo as operações das gravadoras. (João de Indústria Cultural é preciso falar, de modo
Guilherme Barone Reis e Silva) mais operacional, do ponto de vista as análises
empíricas, em indústrias culturais.
Referências: Com isso, a economia política da comu-
HISTORY of Sound Recording and Reproduc- nicação (EPC), sem desprezar o conceito ge-
tion. San Antonio: University of Texas, ral (BOLAÑO, 2000), definido no nível mais
2003-2004. Disponível em: <http://multi- essencial, procura uma caracterização teórica
media.utsa.edu/technology/3153/restricted/ adequada dos diferentes modelos econômi-
history-1.html>. cos em torno dos quais se articula a produ-
DIAS, Márcia Tosta. Os donos da voz: indústria ção cultural concretamente. Assim, a Indús-
fonográfica brasileira e mundialização da tria Cultural está, na EPC, para as indústrias
cultura. São Paulo: Boitempo, 2000. culturais, assim como o capital em geral está,
TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: do em Marx, para os capitais individuais em con-
Gramofone ao rádio e TV. São Paulo: Áti- corrência.
ca, 1981. Em outros termos, as indústrias culturais
representam os diversos negócios em movi-
mento, podendo ser denominadas de distintas
Indústrias culturais formas, como organizações midiáticas, empre-
Na circunscrição dos estudos dos aspetos eco- sas de comunicação e indústrias de mídia, den-
nômicos e políticos da cultura e da comuni- tre outras. Suas lógicas de funcionamento, em
cação, o termo Indústria Cultural, no singu- nível micro, foram estudadas longamente pela
lar (vide verbete), caracteriza todo o processo EPC (vide verbetes cultura de onda, indústrias
de produção, circulação e consumo de bens da edição, clube, economia da internet). (Valério
culturais. Mas, como não se trata de um blo- Cruz Brittos e João Miguel)
co homogêneo, existem várias indústrias cul-
turais, vários mercados e setores da produção Referências:
cultural. BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Indústria
No campo da comunicação, por outro lado, Cultural, Informação e Capitalismo. São
os agentes tendem a organizar-se no modelo da Paulo: Hucitec, 2000.
Indústria Cultural, voltada à maximização do
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vidade de forma colaborativa, através de inter- 2003, p. 122). Trata-se, em geral, da transmis-
mediários digitais e não do papel e da impren- são de um saber entre alguém que o possui e
sa; leem menos e veem mais TV. Os sistemas de alguém que se supõe não o possua. A partir de
educação dificilmente podem competir com a 1948, o termo é tomado no seu sentido estri-
televisão e menos ainda com as redes, os video- to pela teoria da informação, a partir da teoria
games e os ambientes participativos (3). Para os matemática, de Claude Shannon e Waren Wea-
nativos “ser é, antes de tudo, comunicar”. É um ver (RODRIGUES, 2000, p. 78).
novo modelo comunicativo porque seu conhe- Nesse sentido, a informação significa for-
cimento da realidade passa, em maior medida, mular e/ou codificar um determinado pen-
pelos meios e menos por uma observação e por samento, vontade ou sensação. Numa deter-
experiências diretas (4). (Tereza Quiroz) minada linha de pesquisa, entende-se que as
decisões tomadas por um indivíduo depen-
Referências: dem de uma série de informações, algumas das
Quiroz, María Teresa. Todas las Voces. Co- quais trabalhadas por seus sentidos e outras por
municación y Educación en el Perú. Lima: sua razão. As primeiras pressupõem respostas
Universidad de Lima, 1993. automatizadas, já que aquelas informações são
La edad de la pantalla. Tecnologías interactivas consideradas como estímulos a que se ofere-
y jóvenes peruanos. Lima: Fondo de Desar- cem reações (enquanto respostas), na perspec-
rollo Editorial de la Universidad de Lima, tiva da teoria hipodérmica de Harold Lasswell.
2008. Na perspectiva cibernética de Norbert Wiener,
CEPAL. La juventud en Iberoamérica. Tenden- o mesmo princípio se pode aplicar a uma má-
cias y urgencias. Santiago de Chile: CE- quina (DÓRIA, s/d., p. 169). A informação é a
PAL, 2004. matéria-prima dos modernos processos midi-
Piscitelli, Alejandro. Nativos digitales (en áticos, por isso mesmo denominados meios de
línea). Contratexto 6. Fev 2008. Disponível informação (ou de comunicação).
em: <http:///.ulima.edu.pe/Revistas/con- Nesse sentido estrito, constituem as notí-
tratexto>. cias (news) jornalísticas de atualidade, o conhe-
Internet, la imprenta del siglo XXI. Barcelona: cimento de última geração, o domínio de deter-
Gedisa, 2005. minadas técnicas ou tecnologias etc. (BALLE,
Igarza, Roberto. Nuevos medios. Estrategias 1998, p.124-125). Uma característica muito espe-
de convergencia. Buenos Aires: La Crujía, cífica da informação é que, quanto mais difun-
2008. dida, maior potência adquire. Ou seja, ela não
diminui quando distribuída; nem seu portador
ou possuidor a perde, ainda que, para muitos
INFORMAÇÃO autores, a difusa de uma informação signifique
Em sentido estrito, novidade. Em sentido am- perda de poder que seu domínio pode signifi-
plo, qualquer experiência que nos venha do car, socialmente.
ambiente externo, através dos sentidos, e que Disso, decorre a necessidade de controle
modifique o estado de equilíbrio em que uma da informação, através da censura, que as dita-
determinada situação se encontre (MELLO, duras necessitam exercer junto à sociedade. A
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informação constitui a base do conhecimento, vista Tempo Brasileiro. Edição 19-20. Rio de
saber mais ou menos ordenado e organizado Janeiro: Tempo Brasileiro, [s/d].
que, por associação de ideias, permite identi- MELLO, José Guimarães Dicionário multimí-
ficar ou reconhecer alguma coisa ou aconteci- dia, São Paulo, Arte & Ciência. 2003
mento, ou relacionar duas coisas ou aconteci- RODRIGUES, Adriano Duarte. Dicionário bre-
mentos entre si. Graças à informática, a partir ve da informação e da comunicação. Lisboa:
do século XX, considera-se que a humanidade Presença, 2000.
viva a sociedade da informação, pela sua enor- LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos teóri-
me disponibilidade e sua circulação extrema- cos da comunicação humana. Rio de Janei-
mente dinâmica. ro: Zahar, 1982.
O ser humano recebe as informações atra-
vés de seus sentidos (canais naturais) ou que
equipamentos que os expandem ou ampliam INFORMAÇÃO E ÉTICA
(canais artificiais). Não existe nenhum processo Os cidadãos podem confiar na imprensa? A
comunicacional sem a existência da informa- imprensa merece a confiança dos cidadãos? O
ção. Neste sentido, a informação é parte da co- advento das grandes fusões entre empresas de
municação. Contudo, os processos de comuni- comunicação em todo o mundo, a guerra acir-
cação de massa, também chamados de mídias, rada pelo público, a disputa pela notícia exclu-
têm, como a primeira de suas funções, justa- siva; tudo isso deve ser pensado para que se res-
mente propiciar informação, segundo Charles ponda a essas perguntas. Como pano de fundo
Wright, autor de uma Teoria Funcionalista da dessa discussão, entretanto, encontra-se um
Comunicação. Sem a informação, o ser huma- debate sobre a busca pela conformidade nos
no está impossibilitado de manter qualquer re- procedimentos jornalísticos e a necessidade de
lação com o seu entorno. uma discussão ética das condutas dos meios de
Ao mesmo tempo, é deste mesmo entorno comunicação e de seus profissionais.
que o homem capta conjunto de dados que lhe De um ponto de vista filosófico, a ética,
dizem algo a respeito daquela realidade exter- desde a sua origem, encontra-se relacionada ao
na. Este conjunto de dados chamamos, justa- indivíduo e à sociedade. Ela não é um código
mente, informação. Neste sentido estrito, a in- de normas de conduta, mas uma reflexão teó-
formação deve ser um elemento sempre novo a rica acerca de tal tipo de código. Trata do com-
ser registrado quer pelo ser humano, quer pela portamento em geral e relaciona-se a um con-
máquina. A informação é um processo mono- junto de preceitos que visam à universalidade
logal, de direção única, partindo do emissor em humana (a fim de garantir o desenvolvimento
direção ao receptor. (Antonio Hohlfeldt) autêntico da individualidade, do caráter e do
bem comum).
Referências: Seja sob um viés mais normativo, seja sob
BALLE, Francis (Org.). Dictionnaire des mé- um viés mais factivo – diferenciação que en-
dias. Paris: Larousse, 1998. contraremos em diferentes correntes de pen-
DÓRIA, Francisco Antonio et al. Vocabulário samento –, a ética deve ser pensada como ele-
de comunicação e cultura de massa. In: Re- mento fundamental, que orienta a prática (ação
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gem a diagnósticos sobre a situação sanitária de ção em saúde acrescente uma área mais ampla
cada município, quase sempre foram realizadas de atuação onde o foco é o cidadão e a sua saú-
pelos governos federal ou estadual, sem parti- de. (Arquimedes Pessoni)
cipação local. As administrações municipais
foram ficando atrofiadas nesta e em outras di- Referências:
mensões de sua capacidade técnica, todas fun- BRANCO, Maria Alice Fernandes. Sistemas de
damentais como subsídio ao processo de plane- informação em saúde no nível local. Cad.
jamento em saúde (BRANCO, 1996). Saúde Pública. V. 12, n. 2, Rio de Janeiro,
No início da década de noventa, podia ob- jun. 1996. Disponível em: <http://www.
servar-se que o foco da evolução dos sistemas scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&
de informação em saúde estava no preenchi- pid=S0102311X1996000200016&lng=en&n
mento das necessidades dos médicos e gesto- rm=iso>. Acesso em 18/02/2009.
res de saúde, nomeadamente no apoio à educa- ASSOCIAÇÃO Nacional de Farmácias. Ponto
ção, tomada de decisões, planejamento e outros de encontro. Disponível em: <http://www.
aspectos da atividade dos profissionais da área apdis.org/encontro/pdf/03.02.pdf>. Acesso
da saúde. No entanto este foco está a mudar. Os em 27/02/2009.
fatores subjacentes a esta mudança são a emer-
gência da medicina baseada na evidência e o
crescente reconhecimento da necessidade de INFORMAÇÃO NOVA
colocar num mesmo nível os profissionais de A informação nova é, basicamente, aquela que
saúde e os cidadãos, na sua relação. Essa ten- quebra a expectativa do receptor, segundo o co-
dência pode ser observada nos países desen- nhecimento que detenha de um determinado
volvidos e resulta de um esforço para diminuir repertório. Em sentido estrito, dizer informação
os custos dos cuidados de saúde, melhorando e/ou informação nova é a mesma coisa, pois o
a capacidade dos pacientes de se ajudarem a si conceito de informação significa, fundamen-
próprios e fazerem escolhas informadas. talmente, a novidade (tanto que os americanos,
Nesse contexto, as tecnologias de informa- para se referir à novidade da notícia jornalísti-
ção e comunicação surgem como um instru- ca utilizam o termo news). Essa acepção foi es-
mento capaz de canalizar a enorme quantidade pecialmente valorizada por Claude Shannon e
de informação em saúde que atinge os consu- Waren Weaver em sua teoria matemática da in-
midores, capaz de ajudar os cidadãos a obterem formação (BALLE, 1998, p. 125). Nesta perspec-
um equilíbrio entre a gestão da saúde, o auto- tiva, ela é tratada em termos quantitativos.
cuidado e a procura de cuidados profissionais Mas, a informação pode ser ainda visu-
e ainda capaz de ajudar no estabelecimento de alizada no campo da psicologia cognitiva; da
um equilíbrio entre a resposta dos serviços aos pragmática e dos gêneros discursivos (CHA-
consumidores e a gestão da demanda. Assim, RAUDEAU; MAINGENEAU, 2004, p. 278 e
sem deixar de lado o prestador de cuidados de ss.). Na Psicologia cognitiva, a informação é o
saúde e o preenchimento das suas necessidades que transita entre o emissor e o receptor; no
na gestão da doença e dos serviços de saúde, caso da pragmática, pressupõe-se uma inten-
este modelo emergente do sistema de informa- cionalidade por parte do emissor, que deve ser
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percebida pelo receptor; enfim, no campo da Desse modo, informação pública pode ser
análise do discurso, a informação constitui um referenciada a toda a gama de dados, estatísti-
gênero discursivo, que se opõe aos gêneros pro- cas, decisões, legislações, informes, relatórios,
pagandístico, científico, didático, etc. Suben- notícias, entre outros itens informativos que re-
tende-se, necessariamente, a indagação sobre o sultem de atos de gestores, administradores e
que o emissor pretende transmitir ao receptor. legisladores públicos e que tenham relevância
A informação, para tanto, deve ser sempre co- à coletividade.
dificada (SOUSA, 2006, p. 23). (Antonio Hohl- O acesso à informação pública é um direito
feldt) da cidadania, estabelecido na Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos e outorgado na
Referências: Constituição da República Federativa do Bra-
BALLE, Francis (Org.) Dictionnaire des médias, sil (Art. 5º, inciso XXXIII). Também está na
Paris, Larousse. 1998 Constituição que a administração pública dire-
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, ta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
Dominique. Dicionário de análise do dis- dos Estados, do Distrito Federal e dos Muni-
curso. São Paulo: Contexto, 2004. cípios obedecerá, entre outros, ao princípio da
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pes- publicidade (Art. 37), conferindo transparência
quisa da comunicação e dos media. Porto: a seus atos, informando, orientando, educando,
Universidade Fernando Pessoa, 2006. prestando contas.
Direito e preceito da cidadania, o aces-
so à informação pública, no entanto, enfrenta
INFORMAÇÃO PÚBLICA (ACESSO À) as mais diversas resistências às sua realização.
Primeiramente, importa definir informação pú- Desde a falta de uma lei que regulamente esse
blica, para, em seguida, problematizar a questão direito, passando pela pura e simples inobser-
do acesso a ela. Informação deriva do latim in- vância dos ditames constitucionais por parte
formatio, que se refere à ação de formar, ao ato dos mandatários públicos, até alegações de si-
de fazer. Na acepção corrente, é, entre outros, gilo por interesse de Estado, são inúmeras as
conhecimento obtido por meio de investigação barreiras ao livre acesso às informações decor-
ou instrução; conjunto de conhecimento sobre rentes da ação pública e, portanto, de interesse
determinado assunto. Público, de origem tam- público.
bém latina: publicus,é, entre outros, adjetivo do Percebe-se, pois, que, para além de leis e
que se relaciona ao povo, ao que é de interesse regulamentações, o acesso às informações pú-
ou de utilidade pública e, ainda, ao que diz res- blicas se garante, efetivamente, a partir de uma
peito ao governo de um país, estado, cidade etc. cultura de transparência nas relações entre po-
Nessa direção, pode-se inferir que a infor- deres instituídos e cidadão, entre Estado e so-
mação seja um dos efeitos da ação. Nesse caso ciedade. É essa ética peculiar, inclusive, que faz
específico: conhecimento gerado a partir da suscitar e suporta legislações nessa direção.
ação pública, efetivada no âmbito dos poderes O Brasil, ainda, carece de uma cultura de
instituídos, com desdobramentos de interesse transparência pública. Além dos ditames cons-
coletivo. titucionais, avanços se contabilizam a partir da
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ricana de Saúde - OMS/OPAS, como uma das pauta jornalística cujo conteúdo é mais lúdico
estratégias para orientar os trabalhos de coope- que cívico. A crítica que está implícita no ter-
ração técnica na década de 1990. O Movimento mo infotainment refere-se aos critérios de no-
Cidade Saudável surge para operacionalizar os ticiabilidade aplicados na seleção dos eventos
fundamentos da promoção da saúde no contexto vinculados na programação principalmente de
local (ADRIANO, 2000). (Arquimedes Pessoni) telejornalismo.
Predomina nela mais a curiosidade pelo
Referências: que é excepcional, estranho, extravagante, he-
ADRIANO, Jaime Rabelo et al . A construção roico e menos ao que é importante à formação
de cidades saudáveis: uma estratégia viável da cidadania.
para a melhoria da qualidade de vida?. Ci- A vocação do infotainment parece ser mais
ênc. saúde coletiva. V. 5, n. 1. Rio de Janeiro, diversional que política. Acusa-se a busca frené-
2000. Disponível em: <http://www.scielo. tica das emissoras de TV por índices crescentes
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- de audiência por esta tendência de tabloidização
81232000000100006&lng=en&nrm=iso>. dos programas de notícias. Neste tipo de progra-
Acesso em 19/02/2009. mação celebridades circunstanciais e passageiras
ganham mais tempo e atenção do que atores so-
ciais considerados mais relevantes por seu pa-
Infotainment pel social e por seu poder de decisão. Ou seja,
Esse neologismo refere à tendência de muitos o ponto de vista crítico separa infotainment do
programas jornalísticos contemporâneos de jornalismo. O primeiro seria uma deturpação do
mesclar hard news (política, economia, denún- segundo. Estaria abalando a integridade moral e
cias, crime, guerra e conflitos, desastres, leis, ci- profissional da atividade jornalística.
ência e tecnologia por exemplo), com soft news Nos países em que é usual a figura do ‘ân-
(arte e entretenimento, esporte, estilo de vida, cora’ observa-se muitas vezes que eles próprios
celebridades e gastronomia por exemplo). tornam-se celebridades da mídia e a forma com
Embora não haja precisão absoluta na de- que narram os fatos do cotidiano, que mescla o
finição destes termos é usual considerar o pri- comentário com a fria narrativa do fato.
meiro como referência ao conteúdo tradicional Esse tipo de abordagem dá ao telejornal
dos programas de notícias, ou seja, ocorrências um tom considerado por muitos como exces-
graves e importantes capazes de influenciar e sivamente subjetivo e emocional, fato este que
abalar em algum grau o destino de uma co- abala a prédica usual de que o jornalismo não
munidade. O segundo está vinculado ao dese- deve se envolver com juízos de valor e opinião.
jo humano de se distrair com informação leve, (Jacques A. Wainberg)
curiosa e passageira, perecível, geralmente vin-
culada ao efêmero.
No Brasil, é usual a utilização do termo Iniciação científica em
shownarlismo para este segundo tipo de co- comunicação
bertura. Ou seja, há, nesse formato, uma pre- O programa de iniciação científica (IC) é uma
dileção à espetacularização dos fatos e a uma modalidade oferecida em todas as universida-
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des do país, nas várias áreas do conhecimento. versitária, pois permitem a adaptação às novas
Voltada para alunos da graduação, serve de in- demandas sociais, na busca de um “saber críti-
centivo à formação universitária, possibilitando co, criativo e, sobretudo, ético”, onde o aluno é
o contato direto do estudante com a atividade o construtor de seu conhecimento, sendo o su-
de pesquisa científica. Estimula talentos e im- jeito no processo de sedimentação do saber.
pulsiona à formação de novos pesquisadores. Para isso é necessário redimensionar o tra-
Caracteriza-se como instrumento de apoio te- balho de IC em Comunicação nas instituições
órico e metodológico, possibilitando o apren- de ensino, aprofundando os fenômenos já co-
dizado de técnicas e métodos científicos, ins- nhecidos e interpretando sistematicamente os
tigando o desenvolvimento do pensamento novos acontecimentos, dando-lhes registro crí-
crítico e da criatividade. tico-descritivo-analítico, privilegiando as inter-
A IC é realizada mediante desenvolvimento pretações globais combinadas com casos espe-
de um projeto, sob a orientação de um professor- cíficos.
pesquisador. Pressupõe a formação de um profis- Os conhecimentos legitimados nesse cam-
sional mais qualificado, capaz de se adequar ao po precisam contribuir para a construção de
dinâmico mercado de trabalho ou prepara o jo- sistemas de comunicação capazes de serem
vem pesquisador para uma possível continuidade motores das sociedades democráticas. Isso se
da vida acadêmica. É considerada uma atividade constitui com um dos grandes desafios da IC
essencial nas instituições de ensino do país. na atualidade.
Há possibilidades de se obter bolsa para a Algumas habilidades devem ser observa-
realização da IC. Dentre as principais agências das pelos alunos que desejam fazer IC, dentre
financiadoras do país está o Conselho Nacional as quais: pensar temas relevantes, que possam
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico contribuir para um maior conhecimento da
(CNPq), através de seu Programa Institucional área; redigir o projeto de pesquisa; coletar os
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), além dados de forma sistemática, primando por uma
de agências fomentadoras em grande parte dos boa revisão de literatura; disponibilidade de
estados. Estas bolsas, normalmente, giram em tempo do estudante e do professor tutor para
torno de um salário mínimo ou de um valor fi- a atividade; acesso a recursos tangíveis ofere-
xado pela instituição. cidos pela instituição; ao orientador compete
É necessário reforçar que a pesquisa em a execução apropriada da IC, sendo ele co-res-
Comunicação, em qualquer grau, compreende ponsável pela pesquisa, devendo participar de
o estudo científico dos elementos que integram forma integral desde o planejamento até a di-
o processo comunicativo. Nesse mote, a IC na vulgação dos resultados; publicação dos resul-
área deve privilegiar os estudos sobre/das/nas tados finais.
indústrias midiáticas, as análises dos fenôme- Para saber mais sobre IC, o leitor deve
nos pautados ou gerados pela transmissão de procurar o Departamento de Pesquisa de sua
informações e também os elementos sociais, instituição e/ou visite o site do CNPq, Progra-
que integram essa atividade. ma Institucional de Bolsas de Iniciação Cien-
Para a realização da atividade de IC é fun- tífica, http://www.cnpq.br/pibic. (Maria Cris-
damental a descentralização e a autonomia uni- tina Gobbi)
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Para Naranjo, no entanto, médico psiquia- tido à vida, agir com bondade e encontrar-se
tra e pesquisador, altamente versado na teoria com Deus, independentemente de um credo
do Eneagrama, especialmente desenvolvida por religioso, o que de modo algum as torna per-
Gurdjeff, a inveja é a característica central de feitas, mas com certeza as torna melhores do
um dos nove tipos básicos de personalidade, que outras pessoas, porque procuram sempre
não sendo nem boa, nem má. Constitui, no en- se pautar pela ética, justiça, simplicidade e be-
tanto o aspecto central do tipo quatro, român- leza. “Centradas na realidade” (reality-cente-
tico sonhador, o mais sensível, artístico e cria- red), elas conseguem distinguir o que é falso e
tivo de todos os tipos, sendo a sua insatisfação enganoso do que é real e genuíno. (Ana Perwin
exatamente a mola propulsora de seu desejo de Fraiman)
experimentar novidades e ultrapassar o senso
comum em busca do incomum e inovador. Referências:
É também, o tipo emocionalmente mais MASLOW, Abraham. Motivation and Personal-
lábil e sensitivo, o que lhe confere traços em ity. USA: Harper Row, 1954.
muito semelhantes àqueles observados nos . Religions, Values and Peak-experiences.
portadores de bipolaridade. Deve-se cuidar Ohio State University, 1964.
especialmente para não confundir uns e ou- . Maslow on Management. Traduzido
tros, uma vez que os tipos quatro não são do- para o português como “Maslow no Ge-
entes, nem portadores de qualquer patologia, renciamento”. USA: Wiley, 1998.
mas precisam aprender - isso, sim - a lidar com HUITT, William G. Maslow’s Hierarchy of
suas ânsias de autoexpressão e suas ansiedades Needs. Educational Psychology Interacti-
profundas de autorrealização. Sua principal ta- ve, Valdosta State University. USA: Valdos-
refa é a de conquistar a equanimidade no trato ta, 2004. Disponível em: <http://chiron.
emocional com a realidade, interna e externa valdosta.edu/whuitt/col/regsys/Maslow.
de suas experiências, pois só assim consegui- html>. Acesso em: 23 jun. 2008.
rão atenuar e melhor suportar as angústias de
insatisfação pessoal, conhecida amiga de longa
jornada. Instituição Social
No outro polo da insatisfação, enquan- No início do Século XX, Thorsten Veblen assi-
to qualidade altamente positiva, encontramos nala que o conceito de Instituição pode ser re-
Abraham Maslow, que nos brindou com a sua sumido como um conjunto de normas, valores
teoria das necessidades insatisfeitas. Maslow e regras e sua evolução histórica. Segundo ele,
deixou bastante claro as pessoas necessitam es- como são as instituições sociais, a cultura e as
tar insatisfeitas com alguma coisa em si pró- rotinas que dão origem a certas formas de se-
prias para encontrar motivos para partir em leção e compreensão dos dados da realidade, é
busca de realizar seus potenciais. importante considerar o papel das instituições
Mesmo quando já alcançaram muita pro- no processo da evolução da economia.
jeção, dinheiro, status, amigos, reconhecimen- Embora pareça moderno, o conceito de
to, ainda assim, lhes faltará algo: terão um forte “instituição social”, como entidade voltada para
desejo de transcender, de ir além, de dar sen- o bem-público, é antigo e, em seus primórdios,
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esteve relacionado a casas de saúde voltadas agremiação (geralmente a sede) dotado de ins-
para atender desamparados, muitas das quais talações para a prática de esportes e/ou de re-
estruturadas pela Igreja Católica. Um dos pri- creação (jogos, conversação, dança etc.) de seus
meiros registros de instituições sociais com esse associados.
fim, no Brasil, data de 1543, com a criação da Ir- Como exemplo de clubes esportivos, pode-
mandade de Misericórdia, criada na Capitania mos citar o Clube de Regatas Vasco da Gama,
de São Vicente. Este modelo de instituição so- o São Paulo Futebol Clube, o Clube Atlético
cial ou filantrópica espalhou-se pelo Brasil nas Mineiro. Os clubes esportivos representam as
décadas e séculos seguintes. menores instituições administrativas contem-
Associadas ao “terceiro setor”, ou seja, ins- pladas pela legislação do esporte no Brasil. Já as
tituições que, ao menos em tese, seriam inde- Federações Esportivas, no Brasil, são associa-
pendentes do poder público (primeiro setor) ções estaduais que reúnem várias agremiações
e do setor privado (segundo setor), as institui- esportivas sob uma autoridade comum e com o
ções sociais integram um amplo leque de orga- mesmo objetivo, a prática de uma determinada
nizações civis, que tanto podem ser sindicatos, modalidade esportiva em um determinado es-
associações civis como as de moradores, mutu- tado (federação) do país. Exemplo: Federação
ários ou profissionais, grupos ambientalistas e Paulista de Futebol, Federação Gaúcha de Bas-
de defesa de minorias, de pessoas com defici- quete, Federação Carioca de Voleibol etc. Por
ência ou ligadas a certos cultos, grupos políti- Confederação entende-se um grupo nacional
cos ou artísticos. formado para defesa de interesses comuns de
Nos anos 1980, com a crise econômica que federações destinadas à prática de uma mesma
leva muitas empresas a reduzirem seus efetivos, modalidade esportiva.
provocando enormes ondas de desemprego, O principal exemplo desse tipo de associa-
começa a tomar forma o conceito de “respon- ção esportiva é a Confederação Brasileira de
sabilidade social corporativa”, que normalmen- Futebol, a CBF. Tais instituições, em todas as
te se expressa por meio do apoio a instituições suas modalidades – clube, federação e confe-
sociais por empresas privadas. (Armando Levy deração – compõem a estrutura administrativa
Maman) do esporte no Brasil. As federações têm os seus
dirigentes elegidos pelos clubes a elas associa-
dos. Já os gestores das confederações, de caráter
INSTITUIÇÕES ESPORTIVAS (COMITÊS, nacional, são escolhidos pelas federações que
FEDERAÇÕES) as compõem. As instituições esportivas, como
Organização material e humana que serve à re- forma de gestão administrativa do esporte, sur-
alização de ações de interesse social ou coleti- giram com a modernização e profissionalização
vo; estabelecimento constituído para gerenciar do esporte no Brasil. Para BOURDIEU (1983),
atividades relacionadas ao esporte. De uma for- as condições sociais no final do século XIX e
ma geral, a estrutura administrativa do esporte início do século XX tornaram possível a “cons-
no Brasil contempla três grandes tipos de ins- tituição do sistema de instituições e de agen-
tituições: clubes, federações e confederações. tes direta ou indiretamente ligados à existência
Clube esportivo é o local de uma sociedade ou de práticas e de consumos esportivos, desde os
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mais eficaz instrumento de hegemonia: um “in- municação como política. In: et al.
telectual coletivo” responsável pela organização Mídia e poder: ideologia, discurso e subje-
e difusão da ideologia do mercado (cf. IANNI, tividade. Rio de Janeiro: Mauad, 2008.
2000). Sua estratégia hegemônica consiste em GRAMSCI, Antonio. Cadernos do cárcere. Rio
contemplar determinadas aspirações e reivin- de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999-
dicações das camadas populares, incorporando 2002. Volumes 1-6.
suas falas e símbolos ao sistema de valores da IANNI, Otávio. O príncipe eletrônico. In:
cultura dominante, de modo a mantê-las mais . Enigmas da modernidade-mundo.
firmemente sob controle. Assim, a despeito Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
da enorme insatisfação existente na sociedade
global, as grandes corporações midiáticas ga-
rantem as relações de produção e propriedade, INTENCIONALIDADE
criando e recriando o consenso necessário à A questão da intencionalidade ou não nos atos
dominação do capital. de comunicação humana é uma discussão cara
Os grupos subalternos, por sua vez, pro- e antiga à teoria da comunicação. Alguns auto-
curam, por meio de seus intelectuais, elaborar res, mais pragmáticos, ao definir comunicação
o seu modo de conceber o mundo e a vida em humana, incluem a marca da intencionalidade,
contraste com a sociedade oficial. Em uma pas- ao passo que outros, interessados em fenôme-
sagem conhecida dos Cadernos do cárcere, Gra- nos mais amplos de comunicação, acreditam
msci observa: “O elemento popular ‘sente’, mas que tal concepção seria excessivamente restri-
nem sempre compreende ou sabe; o elemento tiva.
intelectual [tradicional] ‘sabe’, mas nem sem- Para Giddens (1979), a ação humana é con-
pre compreende e, menos ainda, ‘sente’” (1999, formada pela estrutura, mas a estrutura somen-
v. 1, 221-222). O intelectual orgânico popular é te se constitui a partir da ação individual. Em
aquele que, por estar íntima e afetivamente li- outras palavras, as ações dos atores recriam e
gado à vida das classes subalternas, atua como reproduzem continuamente os contextos so-
agente da vontade coletiva, buscando articular ciais, que, por sua vez, viabilizam as ações hu-
o sentimento e a paixão das massas a uma for- manas futuras. A partir disso, o autor defende
ma crítica e coerente de conhecimento. (Eduar- que toda ação humana é intencional e cognos-
do Granja Coutinho) cível. Todo indivíduo é capaz de agir com in-
tencionalidade e de refletir sobre sua ação.
Referências: Aplicando-se o conceito para a ação comu-
COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um es- nicativa, a intencionalidade estaria relacionada
tudo sobre seu pensamento político. 2. ed. à própria natureza do ato de comunicar. No ato
Rio de Janeiro: Campus, 1992. de comunicação, o fato a ser revelado sempre é
. Os intelectuais e a organização da cul- de ordem psicológica. O indivíduo que se co-
tura. In: . Cultura e sociedade no munica percebe um fato, que está associado a
Brasil: ensaios sobre ideias e formas. Belo certo estado de consciência, e externaliza esse
Horizonte: Oficina de Livros, 1990. fato para que o outro compreenda o objetivo de
COUTINHO, Eduardo Granja. Gramsci: a co- seu comportamento. Nesse sentido, o indivíduo
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representam diferentes níveis de interação en- Nesse nível, não há interação plena, pois o
tre o público e a produção dos programas au- sinal transmitido pela emissora traz opções in-
diovisuais: corporadas nele que são armazenadas na me-
1)Transmissão bidirecional simétrica (usa- mória da caixa digital e o telespectador somen-
do em Sistemas de Radiodifusão e Redes de te escolhe as opções que o aparelho lhe oferece,
comunicação de dados). Esta interação dá-se como programas ‘on demand’, serviços e cam-
usualmente em virtude das altas taxas de trans- panhas públicas etc. que estarão à disposição
missão tanto de upstream (subida de sinal), do telespectador e baixadas da memória de seu
como de downstream (descida de sinal), usuais terminal de acesso que pode ser a TV digital ou
das redes de TV a cabo que usam arquitetura IPTV. (André Barbosa Filho)
HFC (híbridos de fibra óptica e cabo coaxial);
2) Transmissão bidirecional assimétrica de Referência:
retorno solicitado pelo usuário (usado em sis- BARBOSA FILHO, André; CASTRO, Coset-
temas de radiodifusão, com tecnologia Aces- te. Comunicação Digital - educação, tecno-
so Múltiplo por Divisão de Tempo (TDMA) logia e novos comportamentos. São Paulo:
e Acesso Múltiplo por Divisão de Código Paulinas, 2008.
(CDMA). Estas têm a característica de ter man-
ter taxas diferenciadas de subida e descida de
sinal em virtude do tráfego. Essa interação faz Interatividade
o compartilhamento do canal de retorno entre O termo interatividade foi antecedido pela ex-
as audiências; pressão “‘comunicação interativa’ no meio aca-
3) Transmissão bidirecional assimétrica dêmico dos anos 1970, que expressava a bi-
com retorno solicitado pelo provedor de infor- direcionalidade entre emissores e receptores,
mação. Nesta interação, o público apenas pode expressando troca e conversação livre e criati-
escolher entre algumas opções propostas pela va entre os polos do processo comunicacional”
emissora; (SILVA, 2006, p. 81) e, segundo Bonilla (2002),
4) Transmissão bidirecional assimétrica está em pleno uso.
com retorno off-line. Nesta interação, como o Com o uso cada vez mais frequente das
retorno é off-line, ou seja, por um outro canal, Tecnologias de Informação e Comunicação
seja por telefonia fixa, celular, etc. não há possi- pela denominada geração digital, o termo inte-
bilidade de mudança na programação. É o que ratividade se tornou mais presente nas discus-
existe hoje nos programas de TV e rádio, quan- sões acadêmicas que para Lemos (2000), isto
do a produção entra em contato com o públi- faz com que a interatividade seja um caso es-
co para algum sorteio ou participação qualquer pecífico de interação, “a interatividade digital,
e se utiliza o sinal da ligação telefônica para a compreendida como um tipo de relação tecno-
comunicação com este público, independente- social, ou seja, como um diálogo entre homem
mente da transmissão radiodifundida; e máquina, através de interfaces gráficas, em
5) Transmissão unidirecional, sendo a cai- tempo real”.
xa conversora, como é conhecida o set top box, Para Bonilla (2002) a interatividade vai
apenas um servidor de aplicações. muito além de ser somente um caso especifico
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cionário enciclopédico das ciências da lin- sou a ser visto pelos grupos brasileiros e con-
guagem. São Paulo: Perspectiva, 2001. glomerados estrangeiros como algo estratégico.
MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In: É um processo que envolve grande conheci-
BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave. mento e investimentos. Profissionalismo, cul-
São Paulo: Contexto, 2007. tura, política, economia, legislação, o local, tipo
de conteúdo e programação e parceiro “local”
são essenciais para que um grupo obtenha su-
Interlúdio cesso.
Trecho instrumental ou vocal inserido entre as O processo de internacionalização da mí-
partes principais de uma obra maior, como a dia é analisado a partir da Comunicação In-
ópera; intermezzo. O mesmo que entreato. Em ternacional. A internacionalização midiática é
rádio, é a passagem musical que antecede os o processo pelo qual a propriedade, estrutura,
comerciais nos intervalos de um programa ra- produção, distribuição ou o conteúdo da mídia
diofônico. É sempre um tema característico do de um país é influenciado por interesses, cul-
programa, às vezes o mesmo tema musical do tura e mercados da mídia estrangeira. É exa-
prefixo. minado tanto da perspectiva do país que im-
Após os comerciais, o final do intervalo é porta quanto do que exporta, enfatizando que
marcado, novamente, pelo interlúdio, que dá é diferente do imperialismo da mídia, uma vez
início à parte seguinte do programa. Prefixo e que este é apenas uma forma de internaciona-
vinheta. Expressão usada por autores de radio- lização.
teatro para indicar a transição entre duas cenas. A primeira fase da onda da internaciona-
Lapso de tempo no meio de qualquer coisa; in- lização ocorreu na Europa, na década de 1950,
terregno. Do latim medieval. Interludium. Um com as agências de notícias que, em um pri-
interlúdio, na música, é uma pequena compo- meiro momento, dominaram a Europa, depois
sição geralmente para órgão de caráter impro- os Estados Unidos e, finalmente, todos os paí-
visativo que ocorre entre outras peças musicais ses. Nos anos 1970, com a expansão das redes
como hino, salmo ou cantata. No caso da peça internacionais americanas, principalmente, os
ser orquestral, o interlúdio surge para preen- governos baixaram medidas para contê-las em
cher o intervalo entre dois atos. (Maria Érica de nome da proteção do mercado, da língua e da
Oliveira Lima) cultura nacionais. Somente com as “redes glo-
bais” nos anos 1980 e 1990 que a internacionali-
Referência: zação tomou um grande impulso.
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta- O processo de internacionalização pode ser
vo Guimarães. Dicionário de Comunicação. visto claramente a partir dos anos 1990, onde
São Paulo: Editora Campus, 1987. as mudanças ocorridas na economia, política e
nas novas tecnologias trouxeram várias trans-
formações para os grupos de mídia, exigindo
INTERNACIONALIZAÇÃO MIDIÁTICA assim reestruturação e profissionalismo.
Com as mudanças ocorridas no mercado, o É importante ressaltar que o processo de
processo de internacionalização midiática pas- internacionalização da mídia brasileira é anali-
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télico e escolástico, que entende o virtual como ção de vários caminhos e reciprocamente um
o que existe em potência e não em ato. caminho põe em relação a vários polos.
O autor define assim o “virtual”, em opo- Em um segundo ensaio, Michel Serres
sição ao “atual”, como o nó de tendências ou (1974) retoma a noção de rede como “a matriz
de forças que acompanha uma situação, um global de toda árvore”. A árvore seria um caso
acontecimento, um objeto ou uma entidade particular ou uma variante da rede, quer dizer
qualquer, estabelecendo assim um complexo uma trajetória a partir de um polo determina-
problemático, que demanda um processo de do, enquanto a rede oferece sempre a possibi-
resolução em perfeita sintonia com este nó de lidade de várias trajetórias, partindo de dife-
tendências original. rentes polos. A árvore seria assim um recorte
O historiador André Guilherme (apud nos espaço de possibilidades oferecido por uma
Musso, 1997) fez uma pesquisa sobre a origem rede.
da noção de rede, chegando a descobrir uma A noção de rede, que identifica a internet,
referência explícita, com os primeiros traços entremeia pelo menos três significações maio-
do sentido moderno do termo, em um texto res: primeiro, em seu próprio ser, como estru-
intitulado Essai de reconnaissance militaire de tura composta de elementos em interação; se-
Pierre-Alexandre d’Allent (1772-1837), publica- gundo, em sua dinâmica, como uma estrutura
do em 1802. Para Guilherme, no entanto, este de interconexão instável e transitória; por úl-
oficial não parece ter frequentado, como Saint- timo, em sua relação a um sistema complexo,
Simon, a escola de Mézières, que se eviden- como uma estrutura oculta cuja dinâmica ex-
cia como o laboratório da noção moderna de plicaria o funcionamento do sistema visível.
rede. Musso acredita que é na obra de Saint-Si- A rede constitutiva e constituída pela In-
mon (1760-1825), entre 1800 e 1820, que de fato ternet, parafraseando a definição de actor ne-
emerge a noção moderna de rede. Para ele, esta twork dada por Law (1994) como “uma rede
obra deve mesmo ser encarada como um “nó que se constitui de lugares, ou nós, naturais e
ideológico”, no sentido gramsciano, pois se en- culturais, humanos e não-humanos, não total-
contra na fonte de algumas das grandes ideolo- mente definíveis e estáveis, que se conectam
gias contemporâneas. e se interagem de maneira tal que, a qualquer
Durante o século XIX, a noção de rede é, momento, suas identidades e mútuos relaciona-
de certa forma, vulgarizada pelos seguidores de mentos podem ser redefinidos, transformando
Saint-Simon, até sua degradação atual, onde a assim seu agenciamento e seu desempenho, se-
noção tende a se dissolver por sua própria oni- gundo as contingências espaço-temporais cria-
presença nos saberes e nas práticas. Michel Ser- das por ela própria”.
res (1969), por sua vez, se aproxima da noção Além de um instrumento cognitivo, e tal-
de rede de maneira negativa, contrapondo-a à vez em virtude deste seu poder, esta noção de
linearidade da sequência dialética. Para Serres, rede rege o que se tornou também uma técnica
um diagrama em rede é constituído, em um de gestão do espaço-tempo. Como uma espécie
instante dado, por uma “pluralidade de pontos de matriz espaço-temporal, as redes de circula-
(polos) ligados entre si por uma pluralidade de ção e de comunicação rompem os limites espa-
ramificações (caminhos)”; um polo é a interse- ciais, superpondo novo espaços de circulação
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e de comunicação sobre o território. Por outro lação sobre o ser. De acordo com a midiologia,
lado, se cria um novo tempo para a troca de in- o meio é complementar ao assunto considera-
formações, no caso da rede de comunicações. do, ou ao objeto de estudo: é aquilo sem o qual
As redes possibilitam re-engenharias sucessi- este não teria explicação, nem a menor chance
vas no espaço-tempo humano, promovendo a de sequer existir.
ampliação do espaço e reduzindo o tempo, vi- Assim para a justa interpretação do sentido
vidos. da Internet, da experiência que se dá na nave-
Com efeito, se há algo de novo em termos gação por este “oceano do saber humano”, é im-
de rede, isto se deve principalmente a intensa prescindível não só entendê-la como rede, mas
incorporação, em sua própria estrutura onto- também como meio. O ser humano e o meio
lógica, de modernas tecnologias de circulação e constituído pela rede Internet parecem deter
de comunicação, que vêm imprimindo uma ve- cada um a metade de uma narrativa moder-
locidade crescente nos fluxos que a percorrem, na; e não é fácil delimitar o círculo fechado que
ou seja, nas principais categorias de fenômenos formam entre si: se o meio Internet age sobre
que se dão em uma rede, e, por conseguinte, no o indivíduo, este, em troca, modifica este meio
espaço-tempo por ela induzido. (Internet) e o co-produz.
Não foi Regis Débray (1993 e 1995) o pri- Nesse sentido, fica mais fácil pensar a no-
meiro a enunciar a ideia original do necessário ção de cibermidiologia, cujo estudo engloba to-
estudo do meio. No entanto, Débray soube de- das as plataformas tecnológicas utilizadas para
senvolver, a partir desta e de outras ideias cor- oferecer às audiências produtos midiáticos de
relatas, os princípios que iriam inaugurar até forma virtual.
uma disciplina dedicada ao estudo do meio, a O meio tem um estatuto ontológico des-
chamada midiologia, segundo uma nova pers- concertante, é capaz de situar indivíduos, mas
pectiva. escapa, em primeira análise, à sua própria in-
Em resumo, trata-se de uma disciplina que dividuação, à sua identidade estável no espaço
trata das funções sociais superiores, em suas re- e no tempo, à simples decomposição oposicio-
lações com as estruturas técnicas de transmis- nista ser-meio, ao princípio linear da causalida-
são. Podemos defini-la como o estudo das rela- de. Segundo Pierre Lévy (1995), quando propõe
ções entre fatos de comunicação e de poder, ou uma espécie de ciclo de evolução do que cha-
da influência complexa de uma inovação técni- ma “saber coletivo”, que se dá através do que ele
ca sobre um movimento intelectual. conceitua como “espaço antropológico”, mas
Para a midiologia, o meio pode ser en- que preferimos denominar “meio”. Este “saber
tendido em quatro sentidos: primeiro, como, coletivo” é algo que definitivamente ocupa e re-
procedimento geral de simbolização; segundo, organiza o espaço e o tempo da humanidade,
como código social de comunicação; terceiro, ao longo de sua constituição.
como, suporte material de inscrição e estoca- Segundo Lévy, o “espaço antropológico” é
gem; e, quarto, como dispositivo de gravação “um sistema de proximidade (espaço) próprio
conectado a determinada rede de difusão. A ao mundo humano (antropológico) e logo de-
mediação determina, portanto, a natureza da pendente de técnicas, significações, linguagem,
mensagem, de modo que existe primazia da re- cultura, convenções, representações e emoções
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humanas”. Tendo em vista esta dependência de cuindo de forma acelerada, por entre os demais
elementos endógenos ao próprio espaço antro- meios, beneficiando, a princípio, apenas um
pológico, e, portanto, à exaltação da vida que pequeno estrato social, a elite dos “bem sucedi-
nele se manifesta, o espaço antropológico se dos” no meio-territorial e no meio-econômico.
constitui segundo planos de existência que se Constituído pela inserção estratégica de
entremeiam, formando exatamente uma tra- tecnologias da informação e da comunicação
ma de espaços que se constituem enquanto um no meio-econômico, tecnologias originalmente
“meio” em expansão em diferentes dimensões: concebidas e voltadas para o exercício das fun-
o espaço da terra, o espaço do território, o es- ções de armazenamento, controle, e transmis-
paço das mercadorias e o espaço do saber. são de dados, o meio-informacional se consti-
Nesse sentido, os espaços vividos se movi- tui progressivamente em ciberespaço e começa
mentam e se conformam em um meio imedia- a oferecer aqui e ali, acesso a um novo meio,
to, ao redor de objetos e ações que eles mesmos maciçamente promovido como indispensável à
compõem e organizam, ao mesmo tempo, que comunicação e ao saber, e até mesmo à vida.
este meio é por estes objetos e ações também A Internet é assim constituída e instituí-
composto e organizado. Visto, por outro ângu- da enquanto rede criadora de um meio que se
lo, os indivíduos vivos tramam espaços, pela configura pela informatização do meio econô-
composição e troca de imagens, palavras, con- mico e pela total digitalização do meio infor-
ceitos e coisas, impondo uma certa estrutura, macional, até o limite do meio territorial, pela
segundo a intensidade afetiva ou de vida, enga- efetiva globalização transfronteiras. O virtu-
jada neste processo. Resultam assim espaços di- al oferecido pela Internet está limitado apenas
ferenciados, efêmeros ou duráveis, formais ou pelo real do meio terrestre.
informais, institucionais ou não, que configu- Atualmente o público pode utilizar a In-
ram um meio imediato. ternet 2 e a Internet 3, sendo que esta última
Os espaços emergem do interior da relação ainda está em desenvolvimento. No caso da
da vida humana como seu meio, como mundos Internet 2, embora não exista consenso sobre
vivos, e são continuamente engendrados pelos o conceito, trata-se da uma rede mais rápida
processos e interações que se desenvolvem den- e econômica onde é possível a criação, coope-
tro desta relação fundamental. Eles parecem se ração, interatividade e compartilhamento de
desenvolver de forma irreversível, ganhando textos, áudios, vídeos e dados entre os usuá-
consistência e autonomia e se tecendo mutua- rios. A Internet 3 é também chamada de web
mente. semântica e se refere à capacidade dos sistemas
Entretanto, eles não devem ser entendidos computacionais interpretarem o conteúdos de
como estratos de infra ou de superestruturas, sites, conseguindo entender uma página e suas
que se determinam mecanicamente ou que se palavras, interpretando-as de acordo com o
interagem dialéticamente. Cada espaço é um contexto. O uso da internet gerou o internetês,
plano de existência da vida, onde se identificam linguagem baseada na simplificação e abrevia-
frequências e velocidades, ou seja, ritmos de- ção da escrita com o objetivo de torná-la mais
terminados. Entre esses espaços, se constitui a ágil. (Raquel Castro)
trama do meio-informacional que vem se imis-
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Para Julia Kristeva, texto é uma prática signi- Roman Jakobson, quando propõe três tipos de
ficante, um aparato translinguístico, uma ati- tradução: interlingual, intralingual e intersemi-
vidade generativa em que o fluxo entre signos ótica.
produz significados diversos. Lotman define Tanto os processos de intertextualidade
texto como um signo integral em que todos os quanto os de intersemiose acontecem num pla-
signos separados de um texto linguístico geral no lógico, em que características de um signo
são reduzidos a elementos deste sistema. são transferidas para outro.
Nesse contexto, a intertextualidade ocor- Na cultura contemporânea, há processos de
re como “permutação de textos”, já que “no fluxo ou transferência que acontecem por meio
insterstício de um texto muitas expressões, ti- de processos físicos. Os casos mais típicos são
radas de outros textos, se cruzam e neutrali- os da colagem e da apropriação, comuns nas
zam-se”. Portanto, intertextualidade é o proce- artes visuais, e os do remix, na música. Com
dimento que coloca em fluxo textos, ou partes as tecnologias digitais, procedimentos como
de textos, e os insere em outros textos. O con- os do remix (em que amostras sonoras funcio-
ceito de intertextualidade, conforme formula- nam como base para a criação de variações, ou
do por Kristeva, deriva do conceito bakhtinia- mesmo de outras composições) fazem dos pro-
no de polifonia. cessos de fluxo entre signos práticas cada vez
Bakhtin (assim como Deleuze o fará pos- mais rotineiras. Com o computador digital, e
teriormente) funda seu pensamento na com- comandos como os de copiar e colar, ou prá-
preensão estóica de que o significado (ou sen- ticas como as de reutilização de código fonte,
tido) não é estável, pois é produzido por ações torna-se mais evidente o entendimento de que
que acontecem em trânsito pelas fronteiras en- todo processo semiótico é um fluxo de constan-
tre palavras e coisas. Como consequência desta te reutilização de signos em contextos outros.
mobilidade, o teórico russo entende polifonia O procedimento lógico da intertextualida-
(termo que não tem propriamente uma de- de ganha corporeidade, e as práticas de escritu-
finição, pois surge e retorna de formas diver- ra a ele atrelados parecem menos questionáveis
sas em seus escritos) como acontecimento que que durante a cultura analógica, em que a re-
faz emergir no texto a relação entre um e ou- sistência dos materiais dificultava colocar o flu-
tro, evento que o torna sempre plural, mútliplo, xo entre signos em operação. (Marcus Vinícius
diverso, fluído. Por causa desta instabilidade, Fainer Bastos)
todo texto é sempre diálogo entre vozes consti-
tuintes de textos outros.
O conceito de intertextualidade relaciona- INTERTEXTUALIZAÇÃO
se com o de intersemiose. De certas perspecti- A noção de intertextualidade implica a copre-
vas teóricas, como, por exemplo, a da semióti- sença de um texto em outro e, ao mesmo tem-
ca peirceana, o processo de semiose já é fluído, po, pressupõe um modo de leitura que sus-
movimento de signos encadeados em signos. pende a leitura linear do texto, para instaurar
Quem formula a ideia de um fluxo entre sig- a leitura polissêmica. O conceito de intertex-
nos em que dá-se a transferência de qualidades tualidade surgiu nos anos 1960, elaborado por
entre um e outro, de forma mais sistemática, é um grupo de teóricos franceses ligados a Revis-
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ta Tel Quel, dirigida por Philippe Sollers. Julia ao enunciado”, mas refere-se ao trabalho “de
Kristeva foi a primeira do Grupo a empregar o enunciação, de produção e de simbolização”
termo, apresentando-o como uma tradução da e, portanto, à pluralidade de sentidos possíveis
noção de “dialogismo”, elaborada pelo teórico (BARTHES, 2005).
russo Mikhail Bakhtin, mas matizando o con- Nos anos 1980, Michael Rifaterre redimen-
ceito com outras teorias em debate pelo grupo. siona o termo intertextualidade e aponta para
O texto se concebe como espaço polissê- o papel do leitor, além de vincular o intertexto
mico por onde perpassa uma pluralidade hete- ao texto literário. É a percepção, pelo leitor, de
rogênea de códigos. Sollers também emprega a relações entre uma obra e outras que a precede-
noção de intertextualidade no sentido pensado ram ou sucederam que dá lugar ao intertexto.
por Bakhtin, considerando que “todo texto si- (Ana Maria Lisboa de Mello)
tua-se na junção de diversos textos do qual ele
é ao mesmo tempo a releitura, a ênfase, a con- Referências:
densação, o deslocamento e a profundeza”, con- BARTHES, Roland. Théorie du texte. In:
cepção que se contrapõe à ideia “de um texto Encyclopædia Universalis. Versão 11, 2005.
pleno e fixo, fechado sobre a sacralização de sua BIASI, Pierre Marc. Théorie de l’ intertextuali-
forma e de sua unicidade” (apud Biasi, 2005). té. In: Encyclopædia Universalis. Versão 11,
Em seguida, Roland Barthes consagra o 2005.
termo intertextualidade no artigo “Teoria do JENI, Laurent et al. Intertextualidades. Coim-
texto” da Encyclopædia Universalis. Segundo bra: Almedina, 1979.
ele, todo texto já é um intertexto, na medida em RABAU, Sophie (Org.). Intertextualité. Paris:
que outros textos estão presentes nele - da cul- Flammarion, 2002.
tura anterior ou da cultura em que está inserido
-, em níveis variáveis, sob formas mais ou me-
nos passíveis de serem reconhecidas (Barthes, iPhone
apud Rabau, 2002, p.59). Para Barthes, no texto Plataforma digital móvel com múltiplas fun-
“redistribuem-se partes de códigos, fórmulas, ções que integra capacidade de comunicação
modelos rítmicos, fragmentos de linguagens pelo telefone, acesso à internet, reprodução de
sociais etc, porque há sempre uma linguagem conteúdos audiovisuais, entre outras atividades.
antes do texto e em torno dele” (BARTHES, É produzido pela Apple.
2005). Sua principal característica, até 2009, era
Desse modo, o texto é, portanto, um tecido possuir uma tela grande operável com toques
cuja textura é feita de códigos que se entrecru- dos dedos de tamanho 3,5 polegadas (89 mm)
zam e formam um complexo não-delimitado na diagonal, resolução de 480×320 pixels a
de sentidos. De acordo com Barthes, uma vez 163 pontos por polegada, taxa de aspecto 3:2.
que o texto não é concebido como um produto Possuía apenas dois botões mecânicos: um
e, sim, como uma produção, ele torna-se o ló- “Home” e outro para fazer o dispositivo “dor-
cus da “significância”. Essa distingue-se da sig- mir e acordar”. Sua bateria era recarregável e
nificação única e aponta para um processo que não-removível. Tinha câmera fotográfica de 2
não se reduz à “comunicação, à representação, megapixels, GPS por torre de celular, conexões
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enciclopédia intercom de comunicação
de rede Wi-Fi 802.11b/g e Bluetooth 2.0 com deu ao usuário a liberdade de movimento junto
EDR. com música em perfeita estereofonia. O nome
O processador central era um RISC 32 iPod foi sugerido pelo redator freelancer Vinnie
bits Samsung ARM1176JZ(F)-S v1.0 operando Chieco, membro da equipe chamada pela Ap-
a 412 MHz. O coprocessador gráfico era um ple para estudar o lançamento do produto. O
Power VR MBX 3D. A memória RAM era de dispositivo lembrou ao escritor o veículo espa-
28 MB DRAM e a memória de armazenamen- cial EVA Pod do filme “Uma Odisséia no Espa-
to, 8 GB ou 16 GB em chips flash (sem slot para ço, de Stanley Kubrik” (1968).
cartão de memória, ponto que mereceu críticas O dispositivo pode ser usado para reprodu-
do mercado). zir áudio, vídeo, fotos e armazenar dados. En-
Como celular, em 2009 o iPhone operava tre os formatos digitais suportados estão MP3,
em quadrifrequência GSM 850 / 900 / 1800 / AAC/M4A, AAC protegido, AIFF, WAV, audio-
1900, além de ter capacidade GPRS/EDGE. livros Audible, e Apple Lossless (todos formatos
Também possuía um acelerômetro que muda- de áudio). Entre os formatos de imagem aceitos
va a orientação da tela conforme a posição do estão JPEG, BMP, GIF, TIFF, e PNG. Posterior-
aparelho. mente, na linha denominada “Terceira Gera-
Criticado por ter sido vendido com blo- ção”, o dispositivo passou a reproduzir vídeos
queio de operadora, com acesso apenas a rede nos formatos MPEG-4 e QuickTime.
AT&T 2.5G, o dispositivo teve seu sistema ope- O modelo de negócios do iPod está inti-
racional iPhone OS rapidamente desbloqueado mamente ligado à loja de mídias digitais Apple
por hakers. Com isso, pode ser usado em países Store, que comercializa áudio e vídeo com sis-
que ainda não tinham operadoras licenciadas temas de bloqueios de reprodução, em função
pela Apple. do monopólio de cópias (copyright) das mídias.
Lançado em 29 de junho de 2007, nos EUA, Inicialmente, o iPod dispunha de pequeno
o iPhone vendeu mais de quatro milhões de hard drive para armazenamento de informa-
aparelhos em dois anos e desencadeou um cor- ções digitais, como pode ser observado no mo-
rida de fabricantes para apresentarem dispositi- delo classic, mas os modelos subsequentes pas-
vos similares. Foi atualizado em julho de 2008 saram a usar memória flash.
para tecnologias da geração 3G, assim chama- A principal característica do aparelho é
do o indicativo da banda celular utilizada que a simplicidade de sua interface, logo imitada
oferece internet e vídeo-telefonia. (José Antonio por fabricantes de media players de segunda e
Meira) terceira linhas. O dispositivo original contava
com uma pequena tela de LCD colorida e um
conjunto de quatro botões dispostos em forma
iPod de círculo, com as funções de menu, adiantar,
Reprodutor móvel de música, fotos e vídeo di- retroceder e tocar.
gitais fabricado pela Apple Inc. e lançado em 23 O desenvolvimento foi feito em menos de
de outubro de 2001. Representa, para as tecno- um ano pela equipe liderada pelo engenheiro-
logias digitais, o que o Walkman da Sony repre- chefe Jon Rubinstein, com Tony Fadell, Michael
sentou para a tecnologia de música magnética: Dhuey e Jonathan Ive. O software não foi de-
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enciclopédia intercom de comunicação
senvolvido pela Apple. Foi usado o programa se computadores genéricos e conexões de dife-
PortalPlayer, anteriormente usado por um me- rentes velocidades, sem qualidade de serviços.
dia player da IBM. Posteriormente, o software Como exemplo de WebTV é possível citar ser-
foi redesenhado para parecer mais com produ- viços e programas como Miro, Joost e YouTube.
tos da Apple. (José Antonio Meira)
A linha iPod contava, em 2009, com os
modelos iPod Shuffle (de menor tamanho),
iPod nano (tamanho reduzido em relação ao ISDB – T
modelo original), iPod Classic e iPod Touch, Sigla de Integrated System for Digital Brodcas-
com design parecido com o iPhone e tela sensí- ting Television – Terrestrial. Sistema de modu-
vel ao toque. Já estava na sétima geração que, a lação japonês para televisão digital que incor-
cada edição, apresenta mais detalhes tecnológi- porou tecnologia brasileira, como o middleware
cos. (José Antonio Meira) Ginga, único no mundo que permite interope-
rabilidade de sistemas e interatividade entre o
campo da produção e o da recepção.
IPTV O sistema é considerado um híbrido, nipo-
Tradução de Internet Protocol Television. Histo- brasileiro, que se apresenta como um dos mais
ricamente, há várias definições para IPTV, des- versáteis do mundo, pois além de enviar os si-
de a simples transmissão de vídeo por internet nais da televisão digital ele pode ser emprega-
até sistemas proprietários. do em diversas atividades, como transmissão
A definição aprovada pelo grupo focal de de dados; receptor para recepção parcial em
IPTV da União Intenacional de Telecomunica- um PDA e em um telefone celular (com acesso
ções (ITU) é: “um serviço multimídia como te- a dois canais gratuitos de TV) ; recepção com a
levisão/vídeo/áudio/texto/gráficos/dados distri- utilização de um computador ou servidor do-
buídos sobre redes IP gerenciados para prover os méstico; acesso aos sites dos programas de tele-
requisitos de qualidade de serviço e experiência, visão (além de uso de mails, msn e acesso a sites
segurança, interatividade e confiança”. no aparelho de televisão); serviços de atualiza-
Atualmente, considera-se que existe dife- ção do receptor por download e sistema multi-
rença entre IPTV e WebTV. A primeira é um mídia para educação a distância, entre outros.
serviço que, embora se utilizando de protoco- Embora no exterior seja chamado ISDB-T,
lo IP, se constitui de equipamentos e infra-es- no Brasil, é conhecido como Sistema Brasi-
truturas que permitem a chamada “qualidade leiro de TV Digital (SBTVD). Apresenta sis-
de serviço”, ou seja, oferta de áudio e vídeo sem tema de compressão de áudio e vídeo MPEG
interrupção. Para isso, utiliza uma caixa con- 4, mais atual em relação aos padrões norte-
versora (set top box, em inglês) especializada, americanos e europeu; mobilidade (pode ser
ligada a um aparelho de TV convencional e co- assistida em qualquer lugar, dentro do metrô
nexão de banda larga acima de quatro gigabits ou do ônibus) e portabilidade (pode ser vista
por segundo. em dispositivo pequenos, como a mini TV di-
A WebTV é a a transmissão de conteúdo gital)ambos gratuitos , sem utilizar as redes de
de vídeo e multimídia através da Web, usando- telecomunicações para oferecer estes serviços.
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J, j
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Jenkins (2008), estimula os chamados alterna- SANTAELLA, Lúcia; FEITOZA, Mirna. Mapa
te reality games (ARGs) ou jogos de realidade do Jogo – a diversidade cultural dos games.
alternativa, que exemplificam o paradigma da São Paulo: Cengage Learning, 2009.
convergência midiática e a ideia da inteligên-
cia coletiva. Os ARGs, segundo Lemos (2009),
“são narrativas lúdicas que envolvem seus par- Jornal alternativo
ticipantes em complexos ambientes de infor- O contexto de surgimento do jornal alterna-
mação, forçando-os a lidar com série intensas tivo se deu em âmbitos de repressão contra a
de puzzles e estimulando a ideia de inteligência imprensa tradicional. Ele traz em sua gênese a
coletiva”. Para Jenkins (2008), “um ARG bem visão de oposição ao sistema comunicacional
feito pode renovar as maneiras com as quais o vigente. De acordo com Festa (1986, p. 16) “o
público pode interagir em espaços reais e vir- termo imprensa alternativa [...] identifica um
tuais”. tipo de jornal tablóide ou revista, de oposição,
O pesquisador norte-americano apresenta dos anos 1970, cuja venda era feita em bancas
outro exemplo representativo de Jogos Midiá- ou de mão em mão. Eram publicações de ca-
ticos, o MMORPG (jogos eletrônicos para múl- ráter cultural, político e expressavam interes-
tiplos usuários) Star Wars Galaxies e sua rela- ses da média burguesia, dos trabalhadores e da
ção com a galáxia concebida por George Lucas, pequena burguesia”. Como exemplos, podemos
na película Star Wars. Nesse ambiente, os joga- citar O Pasquim, O São Paulo, Coojornal, Bon-
dores encontram insumos e ferramentas para dinho e Extra.
interagir em um universo configurado à luz de Para Grinberg (1987), o alternativo sur-
dos filmes de Star Wars. O game consegue atu- ge da própria praxis social, quando se faz ne-
alizar a discussão sobre comunidades virtuais e cessário o emprego de mensagens que encar-
inteligência coletiva. nem concepções diferentes às difundidas pelos
Com base no game, os fãs podem apro- meios dominantes, com propósito de modificar
priar-se dos elementos criados para o filme, e em algum sentido a realidade. Tanta contesta-
criar seus próprios produtos com base no con- ção, promovida principalmente por intelectuais
teúdo dos filmes. Os exemplos citados são par- e com enfoque político, é transformada a par-
tes integrantes do universo mais complexo e tir da queda da ditadura, que ao invés de en-
amplo dos Jogos Midiáticos, completamente terrar o jornal alternativo o transformou, po-
voltados para a indústria do entretenimento e pularizando-o e tornando-o uma ferramenta
consumo. (Ary José Rocco Jr.) de transformação social nas mãos de grupos e
movimentos.
Referências: Atualmente, jornais alternativos continu-
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São am sendo ricas experiências de visibilidade e
Paulo: Aleph, 2008. reivindicação para grupos que compartilham
LEMOS, André. A convergência midiáti- objetivos. Diferem-se do jornal tradicional pela
ca na visão de Henry Jenkins. Disponí- abordagem que dão aos fatos, privilegiando se-
vel em: <http://gpc.andrelemos.info/ tores da sociedade que comumente não fazem
blog/?p=228>. Acesso em 20/11/2009. parte da mídia tradicional.
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enciclopédia intercom de comunicação
to. Esse segundo perfil de jornalista, conceitu- suas interfaces com a mídia comunitária.
almente falando, é o que melhor expressa o pa- In: Anuário UNESCO/Umesp de comuni-
pel do profissional envolvido na concepção e cação regional. São Bernardo do Campo:
na produção de um jornal comunitário. Umesp, 2003.
Nesse modo de produção jornalística é SOBRAL, Rafael; SILVA, Marisol. Jornalismo
possível identificar o profissional que é mem- Comunitário. In: PENA, Felipe. 1.000 Per-
bro da comunidade, que vive o cotidiano di- guntas – Jornalismo. Rio de Janeiro: Univ.
vulgando eventos, reivindicando medidas, de- Estácio de Sá, 2005.
nunciando abusos e enaltecendo ações e que,
por conta dessa relação de proximidade, revela
um olhar mais subjetivo sobre os assuntos. Há, JORNAL DIÁRIO
também, o profissional que não é integrante da É um veículo de comunicação e de informação
comunidade e que, tampouco, deixa de se en- que combina dois códigos: o escrito (texto) e o
gajar em suas causas, porém com certo distan- visual (fotografia, ilustrações e apresentação grá-
ciamento. fica). Variando de tamanho e formato (standard,
Tal modalidade de informativo, é conhe- tablóide e intermediários) e de linha editorial, os
cedor dos anseios e das necessidades da comu- jornais são aliados importantes na divulgação
nidade para poder fazer do informativo porta- das notícias do mundo contemporâneo. Carac-
voz do bairro com o discernimento necessário terizam-se pela tiragem regular com periodici-
para olhar e vivenciar os fatos de maneira me- dade definida e por publicarem notícias.
nos acomodada. Há outro fator que reforça a O jornal diário trata dos fatos ocorridos
importância desse jornalista “menos próximo”: no dia anterior. É abrangente, pois cobre vasta
compete a ele não permitir que lideranças do gama de assuntos. É temporal, pois só vale por
bairro façam do jornal trampolim para satisfa- um dia. Tem o papel de oferecer ao leitor exa-
ção de interesses pessoais. me analítico e reflexão sobre os acontecimentos
Portanto, os papéis do jornalista neutro (LUSTOSA, 1996).
e imparcial e do jornalista engajado e partici- A primeira página é a vitrine desse veí-
pativo não são absolutamente excludentes no culo de comunicação, que traz uma manche-
processo de produção do jornal comunitário. te principal em destaque e chamadas das ma-
(Amarildo Carnicel) térias para atrair a atenção do leitor. Formado
por folhas soltas dobradas e alceadas sem ne-
Referências: nhum tipo de cola ou grampo e impresso em
CALLADO, Ana Arruda; ESTRADA, Maria Ig- cadernos, apresenta o noticiário em editorias,
nez Duque. Como se faz um jornal comuni- algumas permanentes, como a de Geral ou Ci-
tário. Petrópolis: Vozes, 1986. dades, Política, Esporte e Economia. Essa de-
CARNICEL, Amarildo. Jornal comunitário. In: partamentalização do jornal ocorreu na segun-
PARK, FERNANDES, CARNICEL. Pala- da metade do século XX.
vras-chave em Educação Não-formal. Cam- O jornal diário exerce função pública e so-
pinas: CMU-Unicamp/Holambra, set 2007. cial e difunde informações, opinião e entrete-
PERUZZO, Cicília M. Krohling. Mídia local e nimento (ERBOLATO, 2002). Como peça da
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enciclopédia intercom de comunicação
indústria cultural, é meio fundamental no pro- MARQUES DE MELO, José. A opinião no jor-
cesso de visibilidade social e de transformação nalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1994.
política (BAHIA, 1990). STEPHENS, Mitchell. História das Comunica-
Reúne os formatos dos principais gêneros ções. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
do jornalismo: informativo (nota, notícia, re- 1993.
portagem); e opinativo – editorial, artigo, colu-
na, análise, crônica, ensaio, crítica ou resenha,
charge, caricatura, carta do leitor (MELO, 1994; Jornalismo Digital
ERBOLATO, 2002). Nome dado ao jornalismo feito para a internet.
O jornal impresso, do qual os diários e Também recebe outras denominações, como
semanários do mundo inteiro descenderiam, jornalismo on-line, ciberjornalismo ou webjor-
apareceu, no século XVII, na Europa. Até fins nalismo. O boom do jornalismo digital foi em
da Primeira Guerra Mundial, não havia amea- meados da década de 1990, quando muitos jor-
ças para os jornais, que praticamente detinham nais impressos perceberam a necessidade de
o monopólio da divulgação de qualquer noti- manter uma versão online na rede mundial de
ciário. Com a multiplicação dos meios infor- computadores.
mativos no século XX, os jornais vêm sofrendo Entre as suas principais característi-
impacto da concorrência com os meios eletrô- cas, estão: a hipertextualidade (narrativa que
nicos e com a Internet. possibilita ao leitor/produtor construir o seu
O jornalismo se distingue e caracteriza por próprio caminho por meio de links), a multi-
ter uma relação direta com a história, por fazer midialidade (sincronia do texto, do som e da
o registro do cotidiano, ainda quente e palpi- imagem em um só produto), a memória (for-
tante. É comum se ouvir “deu no jornal”. Isso ma dinâmica de acessar dados), a instantanei-
basta para mudar a feição de um acontecimen- dade (capacidade de atualização contínua), a
to. Se a informação saiu impressa, é porque se personalização (configuração de produtos jor-
acredita que, de fato, ocorreu daquela maneira. nalístico a partir de interesses individuais) e
O veículo impresso é um documento, uma fon- a interatividade (relações estabelecidas entre
te de consulta, que se espera séria e confiável usuário-máquina, máquina-máquina e usuá-
(CALDAS, 2002). (Hérica Lene) rio-usuário).
Ao considerar estas características, os di-
Referências: ários digitais podem ser classificados em di-
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica. São ferentes gerações (PAVLIK, 1997; QUADROS,
Paulo: Ática, 1990. Volume 2. 2002; MIELNICZUK, 2004). Na primeira ge-
CALDAS, Álvaro (Org.). Deu no jornal – o jor- ração, apenas disponibilizam na internet o con-
nalismo impresso na Era da Internet. Rio teúdo da versão impressa. Na segunda geração,
de Janeiro: PUC-Rio, 2002. passam a explorar características próprias do
ERBOLATO, Mário. Técnicas de Codificação em meio, como a hipertextualidade, e oferecem
Jornalismo. São Paulo: Ática, 2002. conteúdos exclusivos para versões digitais. Na
LUSTOSA, Elcias. O texto da notícia. Brasília: terceira geração, produzem jornais exclusiva-
UnB, 1996. mente para a web.
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vaidade, ambição política, desejo de usufruir de jornais patrocinados por instituições sem fins
poder político, espírito de liderança, necessida- lucrativos, como as associações de moradores
de de preencher uma lacuna editorial, e muitos de bairro, pelo próprio jornalista produtor do
outros. jornal, que, neste caso, possui uma outra fonte
O jornalismo de bairro representa ativida- de receita, e por políticos. A distribuição não
des, valores e aspirações presentes na comuni- tem uma regra geral. (Beatriz Dornelles)
dade, não difundidos pela grande imprensa. Ele
fornece um fluxo de notícias específicas sobre o Referências:
bairro, num contexto significativo e afetivo, re- Albuquerque, Maria Elisa Vercesi. (Co-
latando acontecimentos externos, importantes ord.). Os Jornais de bairro na cidade de São
para a comunidade alvo. É o porta-voz da co- Paulo. São Paulo: Secretaria Municipal da
munidade. O jornalismo de bairro desenvolve Cultura, 1985.
potencial importante na mobilização dos mo- DORNELLES, Beatriz. Os primeiros jornais de
radores em torno de questões locais, atuando bairro comunitários de Porto Alegre. Re-
e defendendo-os. O noticiário mostra, ainda, vista Famecos, n 27, agosto 2005.
episódios da história regional. DORNELLES, Beatriz; BIZ, Osvaldo. Jorna-
Tal veículo mantém e mostra as tradições lismo Solidário. Porto Alegre: Evangraf,
locais, além de contribuir para a construção da 2006.
identidade local. Também pode servir de ins- DORNELLES, Beatriz; MODENA, Sandra. Cri-
trumento de valorização da autoestima dos térios de noticiabilidade distorcem a rea-
habitantes dos bairros humildes, combatendo lidade de bairros que recebem cobertura
estereótipos pejorativos, como de violência e da imprensa diária. Revista Famecos, n. 33,
pobreza, disseminados pela grande mídia. agosto 2007.
Para atender as necessidades comunitárias, SEQUEIRA, Cleofe; BICUDO, Francisco. Jor-
os jornalistas produzem seus jornais com pe- nalismo Comunitário: conceitos, impor-
quenas equipes. Acumulam diversas funções, tância e desafios contemporâneos. IN-
quase sempre realizando o trabalho de quatro TERCOM – Revista Brasileira de Estudos
ou cinco profissionais. Fazem reportagem, es- Interdisciplinares da Comunicação. XXX
crevem a notícia, vendem a publicidade, foto- Congresso Brasileiro de Ciências da Co-
grafam, diagramam, enviam para gráfica e de- municação. Santos, 29 de agosto a 2 de se-
pois fazem a entrega de porta em porta. tembro de 2007.
Isso acontece em decorrência da instabili-
dade financeira das publicações, normalmen-
te sem o reconhecimento devido por parte da JORNALISMO DE OPOSIÇÃO
administração pública, dos políticos, das agên- Conceito do campo jornalístico, historicamen-
cias de publicidade, das organizações. Quanto te vinculado ao marxismo, que mais sofreu
à comercialização, muitos são gratuitos; outros modificações de sentido como prática jorna-
são vendidos, através de assinaturas. A periodi- lística. Caracteriza-se pelo comprometimen-
cidade é variada. A maioria se sustenta com a to com as lutas, necessidades e interesses dos
venda de anúncios publicitários. Entretanto, há mais fracos e dos mais pobres, com a justiça
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tornar a produção jornalística algo que possa e Luiz Pazos (1996, p. 138) atribuem a este for-
ser consumido com prazer e que, em certa me- mato o papel de contar uma história ou descre-
dida, possa concorrer com as demais ofertas de ver uma situação com ênfase no seu desenrolar.
entretenimento da mídia. A informação, nesses casos, ocupa um segundo
O marco fundador do jornalismo diversio- plano. Dizem os autores, também, que a histó-
nal é, na concepção de Mário Erbolato (2006), ria colorida (nota de color ou nota color, em es-
o movimento denominado Novo Jornalismo panhol) revela imagens sensoriais capazes de
(New Journalism, em inglês). Trazido à tona transmitir emoção e sentimentos.
pela iniciativa de jornalistas norte-americanos, Na bibliografia internacional, ainda é pos-
na metade do século XX, esse modelo de jor- sível encontrar referências a respeito do jor-
nalismo coloca em relevo os ambientes e as cir- nalismo diversional com os nomes de features
cunstâncias em que determinado fato ocorre, (bibliografia norte-americana) e fait divers (bi-
sendo elaborado com base em entrevistas apro- bliografia francesa). (Francisco de Assis)
fundadas e na própria percepção do repórter a
respeito do assunto em pauta (MUGGIATI et Referências:
al, 1971). BELTRÃO, L. A imprensa informativa: técnica
José Marques de Melo identifica dois for- da notícia e da reportagem no jornal diá-
matos correspondentes ao gênero diversional: rio. São Paulo: Folco Masucci, 1969.
(1) história de interesse humano; e (2) história CAMPS, S.; PAZOS, L. Así se hace periodis-
colorida. mo: manual práctico del periodista gráfico.
História de interesse humano é a narrativa Buenos Aires: Paidós, 1996.
que privilegia facetas particulares dos agentes ERBOLATO, M. L. Técnicas de codificação em
noticiosos, sejam eles anônimos ou famosos. jornalismo: redação, captação e edição no
Retoma, desse modo, a dimensão humana de jornal diário. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006.
um fato que já foi notícia, revelando aspectos MUGGIATI, R. et al. Jornalismo diversional.
inusitados e traços que humanizam os perso- São Paulo: ECA-USP, 1971.
nagens. Luiz Beltrão (1966, p. 377) afirma que
há quatro características básicas em textos des-
sa natureza: (1) ação (ou seja, o fato é narrado Jornalismo em quadrinhos
e não simplesmente descrito ou relatado); (2) A história em quadrinhos costuma ser associa-
clímax emocional (predominância de aspec- da ao entretenimento e principalmente ao hu-
tos que surpreendem o leitor); (3) veracidade morismo. No entanto, essa premissa generaliza
absoluta (sem apropriação de detalhes imagi- a potencialidade e a aplicabilidade das narrati-
nados para “enriquecer” a narrativa); e (4) ade- vas gráficas sequenciais. Pensar na associação
quação (recursos literários incorporados à in- entre os quadrinhos e o jornalismo pode pare-
formação). cer dissonante, mas essa relação pode ser cons-
A história colorida não se diferencia tan- tatada desde os primórdios desse produto cul-
to da história de interesse humano. Entretanto, tural.
não necessita de um fato noticiado, anterior- A charge (que, muitas vezes, utiliza ele-
mente, para figurar na imprensa. Sibila Camps mentos característicos das HQs, como os ba-
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a narrativa em torno das causas e consequên- camente, a primeira divisão em gêneros sur-
cias do acontecimento. A entrevista privilegia o giu com o editor inglês Samuel Buckley, que já
ponto de vista de um ou mais protagonistas. no começo do século XVIII, distinguiu entre
Os textos informativos compreendem o news (notícias) e comments (comentário, opi-
maior volume do conteúdo dos meios jornalís- nião) o que publicava em seu jornal Daily Cou-
ticos, mas estes relatos não são objetivos e nem rant (MELO, 1985, p. 32). A questão dos gêne-
inteiramente neutros ou isentos. A subjetivida- ros, contudo, depende da cultura jornalística de
de do jornalista se expressa nas escolhas feitas cada país. O jornalismo norte-americano ficou
ao longo das várias fases de produção da notí- com esta grande divisão e não foi adiante. O
cia (pauta, apuração, redação, edição) e colabo- jornalismo europeu aprofundou a questão e, a
ra, ao lado de outros aspectos, para que o jor- partir da noção de que os gêneros são determi-
nalismo informativo participe do processo de nados pelo estilo e assumem expressão própria,
construção da realidade. distinguem em geral, três grandes gêneros: jor-
Por outro lado, Pereira Junior (2006) sus- nalismo informativo, jornalismo opinativo, jor-
tenta que uma simbiose entre técnica e ética é nalismo interpretativo.
necessária para que o jornalismo opere como No fundo, o que distingue o gênero jorna-
uma ferramenta de auxílio à cidadania e, com- lístico deve ser seu fim comunicativo e sua for-
pleta Traquina, à preservação da democracia. ma de exposição (HIDALGO, 2002, p. 27). Há
(Elza A. Oliveira Filha) que se levar em conta, também, que os gêneros,
embora tenham se mantido historicamente os
Referências: mesmos, podem sofrer adequações aos supor-
MARQUES DE MELO, José. Jornalismo Opi- tes e meios em que são utilizados, como o rá-
nativo: gêneros opinativos no jornalismo dio, a televisão ou, modernamente, a internet.
brasileiro. 3.ed. Campos do Jordão: Manti- Partindo do pressuposto de que jornalismo se
queira, 2003. articula em função de dois núcleos de interesse,
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. 2. ed. São a informação (saber o que se passa) e a opinião
Paulo: Contexto, 2006. (saber o que se pensa sobre o que se passa),
PEREIRA JR., Luiz Costa. A apuração da notí- José Marques de Melo defende a existência de
cia: métodos de investigação na imprensa. apenas dois gêneros, o informativo e o opinati-
Petrópolis: Vozes, 2006. vo (MELO, 1985, p. 47). Luiz Beltrão, contudo,
TRAQUINA, Nelson. Teorias do Jornalismo, defende a existência de três gêneros, o informa-
porque as notícias são como são. Florianó- tivo, o opinativo e o interpretativo.
polis: Insular, 2004. O autor afirma que “a interpretação jorna-
lística consiste no ato de submeter os dados re-
colhidos no universo das ocorrências atuais e
JORNALISMO INTERPRETATIVO ideias atuantes a uma seleção crítica, a fim de
Os gêneros jornalísticos têm seus antecedentes proporcionar ao público os que são realmente
nos gêneros literários (ARRANZ, 2000, p. 41). interessantes” (BELTRÃO, 1976, p. 12). O jor-
Formato que está relacionado às propriedades nalismo tem por objetivo informar e orientar o
discursivas que cada texto apresenta. Histori- público leitor. A opinião nasce da informação
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percurso interpretativo, como o defende Josenil- dos fatos a partir de um ponto de vista ético e
do Luiz Guerra (2008, p. 189). Para Marques de profissional, cujos valores embasam o autor do
Melo, ao contrário, o jornalismo interpretativo texto e o credenciam como formador de opi-
seria produzido em gabinetes (1975, p. 39). (An- nião, logo como condutor de um processo que
tonio Hohlfeldt) objetiva mostrar a “verdade” dos fatos a partir
de sua visão de mundo, clarificada no texto.
Referências: O jornalismo opinativo é trabalhado sem-
ARRANZ, Fermín Galindo. Guia de los gêneros pre em cima de um processo de argumentação
periodísticos. Santiago de Compostela: Tór- que tem como intuito dar subsídios ao público,
culo, 2000. para que este possa se posicionar frente a cer-
BELTRÃO, Luiz. Jornalismo interpretativo. Por- to acontecimento ou tema que se encontra na
to Alegre: Sulina/Associação Rio-Granden- pauta midiática, ou que nesta não está, mas da
se de Imprensa, 1976. qual deveria fazer parte, por sua importância
EDO, Concha. Periodismo informativo e inter- na atualidade.
pretativo. Sevilla: Comunicación Social, Atualmente, a opinião no jornalismo pro-
2003. vém de várias fontes. Marques de Melo (2003, p.
GUERRA, Josenildo Luiz. O percurso interpre- 102) assinala que esse tipo de texto pode vir po-
tativo na produção da notícia. São Cris- tencialmente de quatro emissores, que seriam: a
tóvão: Universidade Federal do Sergipe, empresa, o jornalista, o colaborador e o leitor.
2008. No Brasil, duas categorizações constituem
HIDALGO, Antonio López. Gêneros periodísti- a base do estudo quando se trata do gênero
cos complementários. Sevilla: Comunicaci- opinativo. De um lado, Luiz Beltrão (1980) que
ón Social, 2002. classificou como pertencentes a este gênero os
MARQUES DE MELO, José– A opinião no jor- textos escritos e visuais, classificados em: edi-
nalismobrasileiro, Petrópolis, Vozes. 1975 torial, artigo, crônica, opinião ilustrada e ain-
. Teoria do jornalismo. São Paulo: Pau- da a opinião do leitor. Marques de Melo (2003)
lus, 2006. por sua vez, inclui em sua classificação edito-
SANTIBÁÑEZ, Abraham. Periodismo inter- rial, comentário, artigo, resenha, coluna, crôni-
pretativo. Santiago de Chile: Andrés Bello, ca, caricatura e carta.
1995. Na Argentina, Ana Atorrese (1995, p. 36-45)
aborda os gêneros e os subdivide em informa-
tivo, de opinião e de entretenimento. Para ela,
Jornalismo opinativo os gêneros de opinião têm como característica
É o texto jornalístico que tem como base a in- básica a estrutura argumentativa que se apre-
tenção do autor em explicitar sua opinião em senta na sequência hipótese/conclusão. Carlos
relação a um acontecimento, assunto ou tema Mendoza (1989, p. 184), enumera algumas ca-
que é foco de interesse público, e, portanto, ob- tegorias opinativas presentes na imprensa da
jeto de atenção jornalística. Parte de um pro- Argentina da década de 1980, como: Editorial,
cesso argumentativo e visa conduzir o leitor, Comentário, Coluna, Entrevista de opinião, o
expectador ou ouvinte para o esclarecimento “Rumor” e a Crítica.
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lidades promovam famtour (viagens de familia- Segundo Marques de Melo (2007), o gê-
rização), quando jornalistas de diferentes são nero utilitário se revela em quatro formatos
convidados para visitar os locais, com despesas na mídia: (1) Indicador - Dados fundamentais
cobertas pelos anfitriões. (Susana Gastal) para a tomada de decisões cotidianas: cená-
rios econômicos, meteorologia, necrologia etc.
Referências: (2) Cotação - Dados sobre a variação dos mer-
JANÉ, M. B. O priodismo de viajes. Sevilha: Co- cados: monetários, industriais, agrícolas, ter-
municación Social, 2002. ciários. (3) Roteiro - Dados indispensáveis ao
consumo de bens simbólicos. (4) Serviço – In-
formações destinadas a proteger os interesses
Jornalismo utilitário dos usuários dos serviços públicos, bem como
O jornalismo utilitário tem a proposta principal dos consumidores de produtos industriais ou
de oferecer a informação que o receptor neces- de serviços privados.
sita ou que pode necessitar em algum momento. Observa-se que o jornalismo utilitário apa-
Também denominado de jornalismo de servi- rece também como complemento de reporta-
ço, manifesta-se em todos os suportes midiáti- gens. O serviço é destacado ao final da matéria
cos, levando à audiência uma informação útil e informativa para que o receptor tenha a possi-
utilizável. A função desse tipo de jornalismo é bilidade de agir, seja para resolver o seu proble-
de orientar e prestar de serviço, sendo um guia ma que por ventura foi abordado na reporta-
para o cidadão na tomada de decisões do seu gem, para obter informações de como adquirir
dia-a-dia e na resolução de problemas práticos. a novidade noticiada, ou ainda para conferir as
Na década de 1960, Luiz Beltrão reconhe- dicas dos roteiros sobre eventos culturais.
ceu a existência do jornalismo utilitário. O au- Por fim, na sociedade atual, várias opções
tor identificou a presença do material de servi- são oferecidas aos consumidores, em termos de
ço nos impressos em avisos diversos (plantão lazer, cultura, bens industriais e serviços, por-
de farmácias, perdidos e achados, pauta de pa- tanto, os cidadãos necessitam de guias. Dessa
gamentos, cotações de câmbio, convites para forma, a vocação utilitária do jornalismo é im-
reuniões de entidades diversas); informações portante, principalmente para as populações
úteis (telefones de urgência, horário de trans- nos grandes centros urbanos. (Tyciane Cronem-
porte coletivo, conselhos de saúde, relações de berger Viana Vaz)
endereços etc); e cartaz do dia (programas das
casas de espetáculos – cinemas, teatros). (BEL- Referências:
TRÃO, 2006, p.106). BELTRÃO, Luiz. Teoria e Prática do Jornalismo.
Em estudos posteriores, Marques de Melo Cátedra UNESCO/Metodista de Comunica-
e Manuel Chaparro classificaram como um gê- ção para o Desenvolvimento Regional. São
nero jornalístico a função utilitária da mídia. Bernardo do Campo: Edições Omnia, 2006.
Chaparro (2008) apontou seis formatos utili- CHAPARRO, Manuel Carlos. Sotaques d’aquém
tários: roteiros, previsão de tempo, indicado- e d’além mar: travessia para uma nova te-
res, agendamentos, cartas-consulta e orienta- oria de gêneros jornalísticos. São Paulo:
ções úteis. Summus, 2008.
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L, l
DA MATTA, Roberto. et alii. Universo do fute- guintes categorias: (1) Legados do evento em
bol – esporte e sociedade brasileira. Rio de si, que envolve desde a construção de estádios,
Janeiro: Pinakotheke, 1982. arenas, equipamentos esportivos, entre outros.
MELLO, José Marques. Jornalismo Brasileiro. (2) Legados da candidatura do evento, que se
Porto Alegre: Sulina, 2003. relacionam com o aprendizado do processo de
candidatura, desenvolvimento de projeto, pla-
nejamento urbanístico da cidade-candidata
LEGADO DO ESPORTE e outras estratégias percebidas para a melho-
O Legado do Esporte relaciona-se com os im- ria da cidade-candidata (mesmo que o evento
pactos, materiais ou imateriais, gerados em di- não seja realizado naquele local). (3) Legados
versas áreas da sociedade e do conhecimento da Imagem da cidade candidata e do País, que
pelos grandes eventos esportivos. O termo sur- envolve a percepção mundial sobre o local de
ge de uma generalização de um conceito ante- recepção dos jogos, além de desenvolvimento
rior, o chamado Legado Olímpico que, segundo de políticas para a promoção do turismo e até
o Dicionário Enciclopédico Tubino do Esporte mesmo de ações nacionalistas de governos. (4)
(2007, p 658), refere-se ao conjunto de benefí- Legados de Governança, que envolvem o pla-
cios culturais, estruturais, educacionais, sociais nejamento de múltiplos setores da sociedade,
e esportivos que ficam efetivados e ativados parcerias público-privada, entre outros. (5) Le-
depois da celebração desses jogos, nas cida- gados de Conhecimento, que envolvem a ca-
des e nos países, onde se desenvolvem os Jogos pacidade de expansão dos conhecimentos em
Olímpicos. Com a crescente espetacularização treinamento, capacitação de pessoal, desenvol-
dos grandes eventos esportivos na, e pela mídia vimento de comportamento voluntário, trans-
– notadamente Olimpíadas, Copas do Mundo, ferência de conhecimentos de outros países,
Campeonato Mundial de Fórmula 1, entre ou- geração de estudos e pesquisas sobre o evento
tros –, ocorre uma popularização do termo Le- e de forma a fomentar o esporte, entre outros.
gado do Esporte. (Anderson Gurgel)
De certa forma, o espetáculo da realiza-
ção de grandes eventos esportivos já se inicia Referências:
na disputa entre cidades e países pelo direito DACOSTA, Lamartine et al. Legado dos mega-
de ser a sede desses eventos. Há consenso entre eventos esportivos. Brasília: Ministério do
pesquisadores que os megaeventos esportivos Esporte, 2008.
estão cada vez mais focados no legado não-es- TUBINO, Manoel José G.; TUBINO, Fábio M.;
portivo como forma de avaliação das estraté- GARRIDO, Fernando A. C. Dicionário en-
gias adotadas e dos resultados obtidos (POYN- ciclopédico Tubino do Esporte. 1. ed. Rio de
TER apud DACOSTA et al, 2008, 129). Janeiro: SENAC, 2007.
Assim, os legados do esporte, a partir de
estudos realizados pelo Grupo de Pesquisas e
Estudos Olímpicos da Universidade Gama Fi- Legislação de Radiodifusão
lho, do Rio de Janeiro (DACOSTA et al, 2008, Trata-se do conjunto de leis e normas que re-
48-50), podem ser entendidos a partir das se- gem o setor de rádio e TV. A história da legis-
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enciclopédia intercom de comunicação
lação de radiodifusão, no Brasil, mostra que as Em 1951, com Vargas de volta à Presidência,
leis nunca se equipararam ao desenvolvimento aconteceriam as primeiras alterações nas nor-
técnico so setor. Na primeira fase do rádio, por mas por ele instituídas a partir de 1931. O De-
exemplo, as emissoras foram autorizadas a ope- creto n. 29.783, de 1951, concedia ao governo a
rar seguindo regras da radiotelegrafia. A tenta- revisão das concessões de rádio e TV a cada três
tiva de se estabelecer a primeira rede privada anos, podendo cassá-las a qualquer momento.
de transmissão radiofônica ocorreu entre 1932 e O decreto foi revogado após o suicídio de Var-
1935 com a Rede Verde-Amarela. Chegou a reu- gas em 1954. Em 1961, o presidente Jânio Qua-
nir seis emissoras em quatro estados, mas foi dros assinou o Decreto nº. 50.666 designando o
anulada pela Comissão Técnica de Rádio, cons- Conselho Nacional de Telecomunicações como
tituída por Vargas em 1931 (Decreto n. 20.047). responsável pela política de comunicações. O
Em 1932, seria editado o Decreto nº. 21.111, texto foi anulado meses depois, com a renúncia
com normas para execução dos serviços de rá- de Jânio à presidência. Em 1962, o Congresso
dio-comunicação e autorização de publicidade Nacional aprovou, e o presidente João Goulart
nas emissoras. Em 1939, o artigo 7º do Decreto sancionou a Lei 4.117 criando o Código Brasi-
n. 5.077 (criação do Departamento de Impren- leiro de Telecomunicações. Neste, o Conselho
sa e Propaganda, o DIP) determinava áreas de Nacional de Telecomunicações (Contel) regula-
competência para a divisão de radiodifusão e mentava em definitivo o sistema de concessão e
reforçava a Hora do Brasil como programa ofi- distribuição de canais de rádio e TV. Em 1963, o
cial informativo dos atos do governo. Após a Decreto nº. 52.795 instituiu o Regulamento dos
queda de Vargas, em 1946, o programa teve o Serviços de Radiodifusão, cuja validade chegou
nome alterado para Voz do Brasil. intacta, em parte, ao século 21.
A mobilização de profissionais e empre- Outro período que mais afetou a legisla-
sários da área resultou na regulamentação da ção de radiodifusão foi o da ditadura militar
profissão de radialista em setembro de 1945. (1964-1985). O texto da Lei 4.117 sofreu várias
Um ano depois, o I Congresso Brasileiro de Ra- modificações a partir de 1967. A perspectiva de
diodifusão, organizado pela Associação Brasi- alteração nas leis aconteceria apenas com a pro-
leira de Rádio (ABR), criada em 1944, levantou mulgação de Constituição de 1988. O capítulo
como bandeiras o projeto do Código Brasilei- V corrigiu distorções das legislações anterio-
ro de Radiodifusão e a instituição do Conse- res, mas ficou dependente de regulamentações
lho Federal de Radiodifusão como órgão para para transformar em leis os artigos relativos aos
tratar de assuntos do setor. As reivindicações meios de comunicação.
incluíam: definição das relações entre o poder Depois de três décadas sem qualquer ini-
público e os concessionários; critérios para a ciativa oficial direcionada para a atualização
distribuição de concessões; definição de res- das leis de radiodifusão, o período compreen-
ponsabilidades e direitos dos concessionários; dido entre 1996 e 2002 registrou ações que su-
regulamentação da publicidade; registro pro- primiram em parte a defasagem legal existen-
fissional de profissionais do rádio; regulamen- te no setor. Dessa legislação, pode ser citado o
tação para o uso de ondas curtas (LOPES, 1970, Decreto nº. 2.018, de 1996, que estabeleceu a li-
p. 82-83). citação pública como instrumento obrigatório
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enciclopédia intercom de comunicação
para a obtenção de concessões de canais e a Lei era a mesma da que atualmente se pratica nas
9.612, de 1998, que criou o Serviço de Radiodi- telas dos computadores. Também a ideia, hoje
fusão Comunitária, completada pelo Decreto consensual, de que a leitura é hábito positivo,
nº 2.615 regulamentando essas emissoras. independente de quem e do que se lê, foi tar-
Em 2002, o Congresso aprovou emenda ao diamente construída. Houve momentos em que
artigo 222 da Constituição, permitindo a parti- se insistia na necessidade de controlar o que se
cipação de capital estrangeiro na mídia, mesmo lia e quem lia.
ano em que foi criado o Conselho de Comuni- Ler em grupo, em voz alta, solitariamente,
cação Social como órgão auxiliar do Congres- ler um livro, fascículos, jornais, ler muito nú-
so Nacional em questões relacionadas ao setor. mero restrito de textos ou brevemente textos
Em 2007, o governo federal criou a Empresa diferentes, ler teatro, romance, teses, gibis, es-
Brasileira de Comunicação – EBC (engloban- tas são algumas facetas de uma prática marcada
do a Radiobras e a Associação de Comunicação pela diversidade temporal e social e mediada
Educativa Roquette Pinto – Acerp), na tentati- pela ação editorial.
va de cumprir o estabelecido na Constituição Quanto à cronologia que baliza as circuns-
de 1988, que estabelecia três sitemas de radiodi- tâncias e suas formas de transformação, para al-
fusão no País: privado, público e estatal. (Sonia guns autores a invenção da tipografia represen-
Virginia Moreira) tou uma revolução da cultura impressa, dando
lugar a mudanças nas operações intelectuais as-
Referências: sociadas à leitura. Esboça-se a diferença entre
CASTELO, Martins. Cultura política. Ano 2, n. uma sociedade cuja cultura baseava-se no ma-
13 p. 292. Mar. 1942. nuscrito e na transmissão oral e àquelas consti-
LOPES, Saint-Clair. Comunicação-radiodifusão tuídas pela cultura do escrito nas quais as ideias
hoje. Rio de Janeiro: Temário, 1970. circulam prioritariamente por meio da leitura
MOREIRA, Sonia Virgínia. Rádio em transição: de impressos.
tecnologias e leis nos Estados Unidos e no Outros consideram que não há ruptura en-
Brasil. Rio de Janeiro: Mil Palavras, 2002. tre o período dos manuscritos e o dos objetos
SAMPAIO, Mário Ferraz. História do rádio e da impressos, no que se refere aos modos de ler.
televisão no Brasil e no mundo. Rio de Ja- Se a centralidade da análise não se der ape-
neiro: Achiamé, 1984. nas na forma material dos objetos, mas também
nos gestos, individuais ou coletivos, e nas for-
mas de sociabilidade, pode-se considerar que,
LEITURA embora a invenção da tipografia altere a capa-
Definida como ação ou prática através da qual cidade técnica de reprodução dos textos, não
os indivíduos decifram caracteres escritos, a lei- condicionou novos modos de ler, pois antes da
tura não é atemporal. Em cada época há com- sua invenção, os livros manuscritos já possuíam
petências e práticas especificas, condicionadas o formato de códice. Esta seria a grande “revo-
pelo espaço e pelo tempo e pelo objeto material lução da leitura”, pois os rolos demandavam ao
sobre o qual se efetua sua ação. A leitura reali- leitor segurá-los de pé, com as duas mãos, e que
zada em rolos de papiro ou de pergaminho não tivessem acesso a apenas uma pequena parte do
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enciclopédia intercom de comunicação
texto de cada vez. Os códices permitiram ao lei- decodificador, utilizado nas interfaces eletrô-
tor coloca-los sobre a mesa, livrar as mãos para nicas como uma espécie de tradutor de sinais
anotações e avançar ou recuar na leitura mais em linguagens acessíveis aos usuários de de-
agilmente. A análise a partir dos gestos do lei- terminado meio ou ferramenta tecnológico-in-
tor considera a era da imprensa como herdeira, formacional. Quando aplicado ao ser humano,
e não radicalmente distinta, do período do có- embora relacionado à primeira vista aos textos
dice manuscrito. escritos e impressos, como objetos de percep-
Nova revolução nos modos de ler estaria ção e conhecimento, o conceito pode ser esten-
em curso a partir do surgimento dos textos ele- dido a todo aquele que maneja uma textualida-
trônicos. As telas dos computadores alteraram de – incluídos os sons, as imagens e os gestos
a relação entre imagem e texto. Lidos na tela, os – na apreensão de um mundo que lhe é exterior
textos permitem gestos radicalmente diferentes ou interior. A categoria pode ser ampliada, en-
do leitor, mais agilidade, além de lhe propor- tão, ao ouvinte, telespectador, internauta ou a
cionar e, não mais ao autor ou ao editor, o con- qualquer usuário de uma dada plataforma de
trole sobre a forma do texto que vai ler. comunicação.
Em pleno tempo de textos digitais, a prá- Por vezes, decifrador, interpretador, ou,
tica da leitura é recriada, em função de outros em outros momentos, receptor e audiência, o
condicionamentos históricos e sociais e da rein- leitor, junto com o autor ou enunciador de um
venção de novos suportes materiais dos textos. texto, constitui um dos polos dessa relação. Sua
(Giselle Martins Venancio) figura, entretanto, é dinâmica e marcada pela
pluralidade, a instabilidade e a transformação
Referências: constantes, o que reflete a condição mutável
CAVALLO, G.; CHARTIER, R. História da lei- das textualidades e práticas de leitura.
tura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, As contribuições mais elucidativas e ino-
1988 vadoras ao entendimento acerca do leitor pro-
CHARTIER, R. Os desafios da escrita. São Pau- vêm da história cultural, da filosofia e da teoria
lo: UNESP, 2002. e críticas literárias, campos do conhecimento
EISENSTEIN, E. A revolução da cultura impres- preocupados com a produção de sentido e que
sa: os primórdios da Europa moderna. São têm os fenômenos comunicacionais incluídos
Paulo: Ática, 1998. também como objeto de estudo. Em ampla vi-
MCLUHAN, M. A galáxia de Gutenberg. São são, Guglielmo Cavallo e Roger Chartier (1997)
Paulo: Nacional, 1977. colocam o leitor acima de tudo como indivíduo
ZILBERMAN, R. Fim dos livros, fim dos leito- inscrito num tempo e espaço, em tradições e
res. São Paulo: SENAC, 2001. práticas sociais, em habilidades, competências
e, ainda, pertencente a comunidades interpreta-
tivas, conceito que os autores emprestam da te-
LEITOR oria literária norte-americana de Stanley Fish.
A noção de leitor, no vasto campo da comuni- O leitor, portanto, é um ser concreto, um
cação, remete a duas perspectivas diferentes. sujeito histórico cuja ideia ultrapassa a de um
Do ponto de vista técnico, leitor é sinônimo de mero receptor de textos para assumir a posi-
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enciclopédia intercom de comunicação
ção de interlocutor, elemento que dialoga com embate dialógico com o leitor. Este é, ao mes-
as textualidades e seus produtores – os autores, mo tempo, um indivíduo e membro de um pú-
editores, distribuidores que compõem o que blico coletivo ou “comunidade leitora” que, po-
Robert Darton (2003) vai chamar de circuitos sicionado entre a coerção do texto, entendida
de comunicação. Torna-se, portanto, ele tam- como estratagema retórico de um autor, e o es-
bém um produtor de textos, que tem escolhas paço de liberdade da ação de configurar e refi-
e imprime sentido para além do que lhe é dado gurar a narrativa, participa da dialética que en-
a ler e dos protocolos de leitura sugeridos pelo volve toda produção de sentido.
autor ou editor nas diferentes materialidades Assim, o texto diz algo ao leitor que, por
das obras, segundo expectativas e interesses in- sua vez, tem sempre alguma coisa a dizer ao
dividuais e coletivos constantemente variados. texto, no momento catártico que caracteriza
Ele é um consumidor cultural, um bricoleur todo ato comunicativo. (José Cardoso Ferrão
na visão de Michel de Certeau (1990), quando Neto)
consumir significa inventar usos distintos a um
produto ou bem cultural, empregando de ma- Referências:
neiras criativas o que se apresenta em forma de CAVALLO, Guglielmo; CHARTIER, Roger
contrato. (Dirs.). Histoire da la lecture dans le monde
Também, Carlo Ginsburg (1976), ao recu- occidental. Paris: Seuil, 1997.
perar dos arquivos históricos a figura de um DARNTON, Robert. Os dentes falsos de Geor-
moleiro friulano do século XVI, fornece um ge Washington. São Paulo: Companhia das
exemplo de leitor que se tornou emblemático Letras, 2003.
pela audácia em subverter a ordem social a par- DE CERTEAU, Michel. L’invention du quoti-
tir do que lhe estava disponível em forma de dien: arts de faire. Paris: Gallimard, 1990.
textos e construir uma cosmologia própria. O Volume 1.
historiador italiano vem mostrar que é na rela- GINSBURG, Carlo. Il formaggio e i vermi: il
ção com os textos que se dá a mediação entre o cosmo di un mugnaio del’ 500. Torino:
leitor, o autor e a obra - ideia desenvolvida com Giulio Einaudi, 1976.
proficiência nas reflexões do filósofo francês RICOEUR, Paul. Temps et récit: le temps racon-
Paul Ricoeur. té. Paris: Seuil, 1985. Volume 3.
Na crítica que faz ao estruturalismo, ao
propor uma hermenêutica da vida como nar-
rativa, Ricoeur (1985) vê no leitor uma presença LETRAMENTO
esperada na intriga textual, aquele que vai com- Indica modo de estruturação do pensamento e
pletar, pelo ato da leitura, o percurso de uma da consciência atravessado pela tecnologia da
obra e lhe atribuir significação, ao responder escrita e sua forma potencializada, a impres-
à voz narrativa de um autor implicado. O que são ou tipografia. O letramento pode ser en-
mais se destaca, neste encontro entre o que o tendido, ainda, como mentalidade, percepção
filósofo chama de mundo do texto e mundo do ou concepção de mundo. Todo indivíduo, co-
leitor, é que uma história não existe nem se dei- munidade ou sociedade que processa a infor-
xa contar por si só, ou seja, só ganha vida no mação, produz, armazena, distribui, apropria-
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versal dos Direitos do Homem, cartas constitu- oportuna opção para salvaguardar esse caráter
cionais e códigos deontológicos. de bem comum”, enfatiza Ramírez (1997, p. 7).
Promulgada em 1948 pelas Nações Unidas, Grandes meios massivos, contudo, nem
a Declaração dos Direitos Humanos estabelece, sempre servem à verdade, ao pluralismo ou à
em seu artigo 19: “Todo o indivíduo tem direi- paz, mas a preferências políticas e interesses
to à liberdade de opinião e de expressão, o que privados. Como consequência, ocupam os es-
implica o direito de não ser inquietado pelas paços abertos em nome da liberdade de expres-
suas opiniões e o de procurar, receber e difun- são para vender opinião e propaganda como se
dir, sem consideração de fronteiras, informa- fossem informação. Nesses casos, o que é parti-
ções e ideias por qualquer meio de expressão”. dário torna-se interesse nacional, em detrimen-
No Brasil, a liberdade de expressão é asse- to dos interesses mais amplos (RAMÍREZ, 1997,
gurada em dois artigos da Constituição Fede- p. 12). (Maria do Socorro F. Veloso)
ral de 1988. De acordo com o artigo 5º, é livre a
manifestação do pensamento, bem como a ex- Referências:
pressão intelectual, artística, científica e de co- BRASIL. Constituição da República Federativa
municação, assegurando-se a todos o acesso à do Brasil de 1988. Disponível em: <http://
informação e proteção ao sigilo da fonte, quan- www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui-
do necessário. No artigo 220, é vedada qual- cao/constituiçao.htm>.
quer restrição à manifestação do pensamento, DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Huma-
criação, expressão e informação, “sob qualquer nos. Disponível em: <http://www.onu-bra-
forma, processo ou veículo”. sil.org.br/documentos_direitoshumanos.
Em 1927, o juiz norte-americano Louis php>.
Brandeis escreveu que a liberdade “de pensar KESSLER, Lauren. The dissident press: alter-
como quiser e de falar como se pensa” foi es- native journalism in America. California:
sencial para a busca da verdade política (apud Sage Publications, 1991.
KESSLER, 1991, p. 9). Embora a liberdade de RAMÍREZ, Carlos A. (Org.). Comunicación
discurso tenha permitido que informações fal- alternativa y sociedad civil. San Salvador:
sas ou equivocadas fizessem parte da discussão Fundação Konrad Adenauer, 1997.
pública, para Brandeis nada garantiria que a in-
tervenção do governo prevenisse ou punisse a
falsidade. Liberdade de imprensa
Nos estudos sobre as formas contra-hege- Apesar de ter sido a Inglaterra o primeiro país
mônicas de comunicação, os meios são enten- a demonstrar uma cultura de liberdade de im-
didos como parte do bem comum (naturais, prensa, a partir de uma decisão do Parlamen-
econômicos, sociais e culturais), aos quais deve to, em 1695, de não renovar o Licensing Act — a
ter acesso o maior número possível de pesso- censura prévia às publicações, razão da vigoro-
as. “O desenvolvimento dos meios de comuni- sa argumentação a favor de sua extinção, por
cação alternativos (...) que promovem e asse- John Milton, na Areopagítica, de 1644 — os
guram o exercício da liberdade de expressão e precursores da constitucionalização da liber-
comunicação da sociedade é uma necessária e dade de imprensa foram os Estados Unidos e a
754
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França. A liberdade de imprensa não foi garan- tituições de países socialistas” (CARVALHO,
tida no texto original da Constituição america- 1994, p. 18). O autor assinala que a liberdade de
na de 1787, mas por meio da Primeira Emenda imprensa e de informação situa-se como uma
de 1791. liberdade civil, individual, mas com expressão
Nesse contexto, a França a reconheceu, coletiva, fundamental e essencial, integrante
desde logo, no artigo II, da Declaração dos Di- dos direitos fundamentais.
reitos do Homem e do Cidadão, de 1789: “A li- Freitas Nobre (1988, p. 33) observa que a
vre manifestação do pensamento e das opiniões “liberdade de informação encontra um direito
é um dos direitos mais preciosos do homem: à informação que não é pessoal, mas coletivo,
todo cidadão pode, portanto, falar, escrever e porque inclui o direito de o povo ser bem in-
imprimir livremente, à exceção do abuso dessa formado”. E acrescenta que “a liberdade de im-
liberdade pelo qual deverá responder nos casos prensa ou qualquer das demais se integram na
determinados pela lei”. liberdade coletiva, dispensando sua hierarquia,
Considerado o mais antigo periódico brasi- porque se uma é condicionante da outra a fisio-
leiro, pela sua independência e caráter noticio- nomia democrática se deforma quando qual-
so, impresso em Londres e enviado clandesti- quer delas é violada” (FREITAS NOBRE, 1988,
namente para o Brasil, o Correio Braziliense foi p. 340).
o precursor da defesa da liberdade de imprensa Em 30 de abril de 2009, o Supremo Tribu-
no país. Barbosa Lima Sobrinho (1996, p. 119) nal Federal revogou a Lei de Imprensa, criada
considera a linha editorial, dos 14 anos do jor- durante o regime militar.
nal, como coerente e lúcida, a começar “pelas Com isso, os jornalistas e os meios de co-
ideias liberais, em cuja defesa ocupa sempre a municação passaram a ser processados e julga-
linha de vanguarda. dos com base nos artigos da Constituição Fe-
A Constituição Federal, de 1988, estabele- deral e dos Códigos Civil e Penal. Nos crimes
ce os alicerces sobre os quais se assenta todo o contra a honra – calúnia, injúria e difamação
mundo jurídico brasileiro. Os direitos e os de- –, o julgamento passou a ser feito com base no
veres, enunciados nos 77 incisos do artigo 5º, Código Penal e os pedidos de indenização por
representando garantias individuais e coleti- danos morais e materiais, com base no Códi-
vas, foram inspirados na Declaração dos Direi- go Civil. O direito de resposta não precisa de
tos do Homem e do Cidadão, de 1789, fruto da regulação, pois está previsto na Constituição,
Revolução Francesa, e na Declaração Universal em seu artigo 5o. (Paula Casari Cundari e Ma-
dos Direitos Humanos, de 1948, aprovada pela ria Alice Bragança)
ONU.
Sob o ponto de vista jurídico, esclarece o Referências:
professor Castanho de Carvalho, a liberdade Barbosa Lima Sobrinho, Alexandre
de imprensa evoluiu no mundo, “ora como di- José. Hipólito José da Costa, pioneiro da in-
reito fundamental absoluto, ora como direito dependência do Brasil. Brasília: Fundação
fundamental relativizado por uma extensa lista Assis Chateaubriand, 1996.
de limitações, e mesmo como direito vinculado CARVALHO, Luis G. Grandinetti Castanho.
à classe trabalhadora, como ocorria nas cons- Liberdade de informação e o direito difuso à
755
enciclopédia intercom de comunicação
informação verdadeira. Rio de Janeiro: Re- sua vontade, consciência ou natureza. É uma
novar, 1994. situação que alicerça a plena emancipação do
NOBRE, Freitas. Imprensa e liberdade: Os prin- sujeito na cidadania, que prescinde de censura
cípios constitucionais e a nova legislação. prévia ou qualquer impedimento, bem como
São Paulo: Summus, 1988. de tutela estatal. Muito embora, o Estado atue
como poder que assegure os direitos que se
desdobram neste tipo de liberdade.
Liberdade de Informação Segundo Coliver (1995), o direito de li-
Condição resultante de um direito ou enten- berdade de informação evoluiu historicamen-
dimento normativo que possibilita ter acesso te quanto às obrigações impostas ao Estado,
a informações e que permite sua difusão. A li- indo do compromisso de respeitar e proteger
berdade de informação é também um valor que ao compromisso de realizar. Portanto, é insufi-
ajuda a fundamentar o estado democrático de ciente que o poder central não interfira no pro-
direito, na medida em que facilita o acesso do cesso de informação pelo cidadão. O Estado
cidadão a dados, versões e sentidos do seu inte- deve ainda fornecer e facilitar o acesso público
resse. Prevista em documentos internacionais - a dados essenciais e de interesse coletivo.
como a Declaração Universal dos Direitos Hu- Ver ainda os verbetes: Direito à informa-
manos e o Pacto Internacional de Direitos Civis ção, Direito de acesso às fontes de informação,
e Políticos - e recepcionada pela Constituição Direito de informar, Direito de ser informado,
Federal (inciso XXXIII do artigo 5º), a liberda- Direito de informação, Direito de opinião, Di-
de de informação está fundada no direito à co- reito social à informação, Legislação da infor-
municação e no direito à informação, apontan- mação. (Rogério Christofoletti)
do para a independência, a espontaneidade e a
autonomia do cidadão. Referências:
Documentos internacionais garantem a to- ANDI; ARTIGO 19. Acesso à informação e con-
dos a liberdade de procurar, receber e transferir trole social das políticas públicas. Coorde-
informações por quaisquer meios, independen- nado por Guilherme Canela e Solano Nas-
te de fronteiras. cimento. Brasília: ANDI; Artigo 19, 2009.
Em circunstâncias restritivas e avessas às ARTICLE 19. The Right to Know: Human Rights
democracias contemporâneas, a ausência de and access to reproductive health informa-
liberdade de informação prejudica uma com- tion. editado por Sandra Coliver, 1995.
preensão mais plena da realidade que atinge BRASIL. Constituição Federal da República Fe-
e sustenta o sujeito. A liberdade de informa- derativa do Brasil. Disponível em: <http://
ção é uma conquista análoga à liberdade de www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui-
expressão, na qual está contida a liberdade de cao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em
opinião. 10/04/ 2009.
A liberdade de informação se combina com DECLARAÇÃO Universal dos Direitos Huma-
a liberdade de pensamento, criando condições nos. Disponível em: <http://www.mj.gov.
para que o cidadão pense, julgue, abasteça-se br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_
de informações, opine, expresse-se conforme universal.htm>. Acesso em 19/04/2009.
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enciclopédia intercom de comunicação
Pacto Internacional de Direitos Civis e Po- sentados em lógicas simbólicas, que fundamen-
líticos. Disponível em: <http://www.aids. tam as relações sociais.
gov.br/legislacao/vol1_2.htm>. Acesso em Charadeau (2006, p. 17) destaca a regula-
20/04/2009. ção social, que passa pela formulação de sen-
tidos e construção de valores coletivos. Assim,
todo o cidadão tem, legitimamente, suas garan-
LIBERDADE DE PENSAR tias de livre manifestação inscritas em docu-
Os principais documentos internacionais, des- mentos e leis regularmente aprovadas, que são
de os primeiros adotados pela Organização das reconhecidas, mas há algo inegociável entre os
Nações Unidas em 1946, explicitam que o direi- indivíduos que é o direito à liberdade, seja ela
to à liberdade do pensamento é um dos direitos em qual circunstância for. O poeta Thiago de
fundamentais da Humanidade, em qualquer re- Mello, por exemplo, escreveu, em 1966, referin-
gião do planeta. Os artigos 18 e 19, da Declara- do-se ao período de cerceamento da liberda-
ção Universal dos Direitos Humanos, de 1948, de de expressão pelo regime militar, no Brasil:
garantem: “Deixa eu dizer teu nome, Liberdade, irmã do
Art. 18 - Todo o homem tem direito à li- povo, noiva dos rebeldes, companheira dos ho-
berdade de pensamento, consciência e religião; mens, Liberdade (...) Deixa eu cantar teu nome,
este direito inclui a liberdade de mudar de reli- Liberdade, que estou cantando em nome do
gião ou crença e a liberdade de manifestar essa meu povo”.
religião ou crença, pelo ensino, pela prática, No entanto, à parte da formulação de regras
pelo culto e pela observâcia, isolada ou coleti- e normas previstas na legislação vigente de dife-
vamente, em público ou em particular. rentes países, que garantam a prerrogativa bási-
Art. 19 - Todo o homem tem direito à liber- ca do livre pensar aos cidadãos, pode-se afirmar,
dade de opinião e expressão; este direito inclui também, que os limites estabelecidos são ultra-
a liberdade de, sem interferências, ter opiniões passados em diferentes dimensões a partir da
e de procurar, receber e transmitir informações grandiosidade da mente humana e de suas capa-
e ideias por quaisquer meios, independente- cidades intelectuais.
mente de fronteiras. Para Maturana (1978, 1988) a linguagem faz
Já a Constituição Brasileira contém artigos parte de um conjunto de interações consensuais
e incisos que preservam a livre manifestação dos de conduta, que fluem em espaços de outras co-
cidadãos, como este: “IX – é livre a expressão da ordenações consensuais de conduta. Portanto, a
atividade intelectual, artística, científica e de linguagem humana se insere nos sistemas de or-
comunicação, independentemente de censura ganização e livre pensar dos cidadãos, como um
ou licença”. processo de seu livre arbítrio, e do estabelecimento
Ao se observar que o livre pensar é intrín- de um lugar de manifestação que é reconhecido
seco à ordem democrática de sociedades as- pelo outro. (Neusa Maria Bongiovanni Ribeiro)
sim organizadas, entende-se que as ações e seus
possíveis resultados estabelecidos nas diversas Referências:
tramas comunicacionais instauradas em graus BUCCI, Eugênio. Sobre Ética e Imprensa. São
diferentes, nessas sociedades, se apresentam as- Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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enciclopédia intercom de comunicação
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das Mídias. divíduos mais receptivos a receber informação,
São Paulo: Contexto, 2006. que promovem sua circulação em seu contexto
MATTELART, Armand. História da Utopia social imediato e são capazes de influenciar as
Planetária. Da cidade profética à sociedade pessoas no seu entorno (SOUSA, 2006).
global. Porto Alegre: Sulina, 2002. Nesse estudo pioneiro, o líder de opinião
MARX, Karl. Liberdade de Imprensa. Porto Ale- aparece no topo da pirâmide social, posição
gre: L&PM Editores, 2007. que será revista, mais tarde, pelo próprio Lazar-
PADRÓS, Enrique S. et al. Ditadura de Segu- sfeld – o que estes indivíduos têm em comum é,
rança Nacional no Rio Grande do Sul (1964- na verdade, seu maior interesse pelo que dizem
1985). Porto Alegre: Corag, 2009. os meios de comunicação. Trazendo o concei-
to para a vida cotidiana, encontramos líderes
de opinião nos mais diversos campos, não ape-
Líder de opinião nas no político – são aquelas pessoas de nossas
Os líderes de opinião são agentes mediado- relações que temos como referência sobre de-
res entre os meios de comunicação e os cida- terminado assunto e que, por isso, influenciam
dãos. Sua ação se exerce no nível da comuni- nossas opiniões.
cação interpessoal (SOUSA, 2006). O conceito Em 1963, Wilbur Schramm mostra que os
aparece em 1944, em estudo de Paul Lazarsfeld, próprios líderes de opinião recebem informa-
Bernard Berelson e Hazel Gaudet, sobre os pro- ções mediatizadas por outros líderes de opinião,
cessos que levam à decisão do voto pelos cida- originando um novo modelo, o do fluxo da co-
dãos, realizado no município de Erie, no estado municação em múltiplas etapas (multi-step flow
de Ohio, nos Estados Unidos, durante a eleição of communication), que revela, como sublinha
entre Wendell Willkie (republicano) e Franklin Sousa, a complexa teia de relações sociais que
Roosevelt (democrata). Neste trabalho, a ação interfere no efeito dos meios de comunicação
dos líderes de opinião aparece como um pa- social: “No modelo do fluxo de comunicação
tamar mediador entre o público em geral e os em múltiplas etapas, admite-se, por exemplo,
meios de comunicação, constituindo o que os que os líderes de opinião funcionam como ga-
autores chamaram de duplo fluxo da informa- tekeepers (selecionadores) e líderes de opinião
ção (two-step flow of communication). para outros líderes de opinião”, afirma.
A pesquisa evidenciou que relacionamen- Por meio desses estudos, evidencia-se que
tos sociais informais haviam desempenhado o poder que os meios de comunicação exercem
um papel importante para modificar a maneira sobre as pessoas são limitados – não apenas por
pela qual os indivíduos escolheram o conteúdo atuarem nesta rede complexa de relações sociais,
da campanha da mídia e foram influenciados mas pela existência de mecanismos individuais
por ela. Assim, houve um fluxo de ideias indi- de defesa contra a persuasão. (Aline Strelow)
reto – da mídia para os que haviam sido direta-
mente expostos a ela, e deles para outras pessoas Referências:
que não haviam tido contato com as mensagens DEFLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, Sandra.
originais (DEFLEUR; BALL-ROKEACH, 1993). Teorias da comunicação de massa. Rio de
Os líderes de opinião seriam, então, aqueles in- Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
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enciclopédia intercom de comunicação
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pes- circularidade na relação entre os interlocutores,
quisa da comunicação e dos media. Porto: que parte do princípio de que a interação co-
Universidade Fernando Pessoa, 2006. municativa, pela troca de sentidos que ali ocor-
re, deve ser pensada como um processo global
e menos uniforme.
LIMITES DA INFORMAÇÃO No caso da informação jornalística, por
A ideia de informação possui forte ligação com exemplo, a ideia de uma “limitação da infor-
a noção de conteúdo e, etimologicamente, sig- mação” está majoritariamente relacionada a: (1)
nifica dar forma, in-formar. Nesse sentido, produção da mesma (a maneira como o jorna-
qualquer informação traz consigo uma men- lista coleta, organiza e seleciona dados a partir
sagem, mas não se resume a ela, o que permite de uma pauta e de diversas fontes) e (2) à qua-
pensar duas questões. Primeiro, o fato de que, lidade da informação que se produz (o que se
como um processo que diz sobre alguma coisa, mede, geralmente, a partir do texto jornalísti-
não importa se o que se diz é verdadeiro ou fal- co produzido). Ambas variáveis relacionadas
so, certo ou errado. Ou seja, a informação es- com questões subjetivas (do próprio jornalista),
tará presente independentemente do juízo de institucionais (que englobam aspectos econô-
valor que ela carregue e configure. Em segun- micos, ideológicos etc) e, às vezes, tecnológi-
do lugar, entretanto, uma vez que a informação cas (uma “boa” matéria televisiva depende de
diz sobre algo, ela está envolvida numa relação “boas” imagens).
entre partes (sujeitos, máquinas, meios de co- Assim, é comum ouvirmos a expressão
municação) que possuem importante papel e desinformação para se referir a certas trans-
influenciam no conteúdo e na forma do que gressões (e falhas) cometidas pelo jornalismo
é comunicado. Quando contextualizada, por no que diz respeito a questões éticas e à pró-
isso, pode-se pensar em suas limitações. Não só pria dificuldade em construir uma mensagem
pelo que ela carrega, mas também pela maneira acessível a seu público (tanto pela “correta”
como o conteúdo é processado. utilização da técnica, quanto por questões que
Do ponto de vista de uma Teoria da Infor- a ultrapassam).
mação e/ou da Comunicação, um modelo bási- No entanto, considerando a troca de sen-
co de processo informacional é aquele que está tidos, deve-se lembrar que o “receptor jorna-
formado por um emissor, uma mensagem e um lístico” também possui sua “própria gramáti-
receptor. A informação possui, nessa relação, ca” de leitura e consumo. Além da qualidade da
um ponto de origem e um destino, carregan- mensagem e da produção dessa, é preciso, pois,
do uma mensagem. Cabe ao produtor da in- pensar como os limites informativos são cons-
formação estabelecer seus conteúdos, por meio tituídos nos significados advindos da relação
de uma linguagem comum, que será entendida singular que o público estabelece com um meio
por quem os recebe. de comunicação e sua mensagem. (Frederico de
Superando esse modelo, sem deixar de Mello B. Tavares)
conceber seus três eixos principais, modelos
comunicativos atuais dizem da informação de Referências:
uma maneira mais complexa. Valoriza-se uma FRANÇA, V. Do telégrafo à rede: o trabalho
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enciclopédia intercom de comunicação
da linguagem será, pois, a interação do plano do que vale a pena olhar e do que pode ser ob-
do conteúdo com o plano de expressão. servado. São uma gramática e, mais importante
Linguagem não é, pois privilégio do siste- ainda, uma ética da visão” (SONTAG, 1986, p.
ma da língua mas realização dos textos da cul- 13) Para ela, a fotografia não é realista, mas sim
tura em seus processo semióticos universais. É surrealista, pois nasce do encontro espontâneo,
por este viés que Yuri Lotman (1972) encontrou fortuito e não premeditado da objetiva com o
as premissas que o lançaram na compreensão mundo, tal como as imagens surrealistas. Em-
das linguagens da cultura, de modo a dimen- bora a fotografia produza obras que podem ser
sioná-las em: (a) línguas naturais da cultura chamadas de arte, a autora conclui que esta exi-
como o português, o russo, o japonês; (b) lin- ge subjetividade, pode mentir e proporcionar
guagens artificiais, como as notações científicas prazer estético. Assim, a imagem fotográfica
e musicais; (c) linguagens secundárias, como não pode ser vista como arte. Mas, deve ser en-
as linguagens das artes e dos mitos. (Irene Ma- tendida como um meio pelo qual as obras de
chado) arte, entre outras coisas, são realizadas.
No entanto, o que mais interessa e que, em
Referências: todo caso, aparece mais claramente, é que este
FIORIN, José Luiz. O projeto hjelmsleviano e a processo de fabricação de imagens permite jo-
semiótica francesa. Galáxia. Revista Trans- gar com a realidade de uma maneira totalmen-
diciplinar de Comunicação, Semiótica, Cul- te diferente da pintura ou da gravura. A foto-
tura, n. 5. São Paulo: PUC-SP, 2003. grafia está mais perto da realidade, mas nem
HJELMSLEV, Louis. Prolegômenos a uma teoria por isso deixa de ser um duplo, uma ilusão en-
da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975. ganadora. Roland Barthes (2000) afirma que a
LOTMAN, Yuri. Introdução ao texto artístico. imagem pretende ser idêntica ao que se foto-
Lisboa: Estampa, 1972. grafou. Como análoga, a fotografia seria então,
a princípio, a transparência do real, que por ela
se mostra.
Linguagem fotográfica Entretanto, esta conclusão, é parcial e sim-
Desde o Renascimento que os sistemas pictó- plista, pois confirma a isenção da ideologia dos
ricos ocidentais sofrem as influências do cha- produtores da imagem fotográfica. Como men-
mado “efeito de realidade”. Pintores, escultores sagem sem código, a fotografia contém um es-
e desenhistas desde então se empenham, com tilo. E é por aqui que se introduz sua conota-
todos os recursos técnicos, para produzir no- ção, ou o seu segundo significado. Dessa forma,
vos códigos de representação em maior sinto- para Barthes, tais atribuições dadas à imagem
nia com o “real visível”, e, portanto, buscando a fotográfica, atestam que o signo da fotografia
sua mais perfeita analogia. é um fenômeno ideológico por excelência que
A fotografia também herdou essa parti- reflete e refrata a realidade visada por este tipo
cularidade do pictorialismo renascentista. Ou de representação. Uma fotografia é sempre uma
melhor, como afirma Susan Sontag (1986), “ao imagem de algo. Está, inegavelmente, atrelada
ensinar-nos um novo código visual, as fotogra- ao referente que atesta a sua existência e todo
fias transformam e ampliam as nossas noções o processo histórico que o gerou. Ler uma fo-
761
enciclopédia intercom de comunicação
tografia implica em (re)construir no tempo o pretada da mesma maneira por diferentes po-
assunto ou tema, deduzi-lo no passado e conju- vos. A própria história de vida do indivíduo, e
gá-lo no futuro. a classe sócio-econômica em que está inserido,
Segundo Barthes (op. cit.), a fotografia se- também é um fator a ser considerado.
ria a única estrutura de informação a ser exclu- Para finalizar, devemos observar que o sig-
sivamente constituída e ocupada por uma men- no da fotografia é um fenômeno ideológico por
sagem denotada, que esgota completamente o excelência que reflete e refrata a realidade cria-
seu ser. “Diante de uma fotografia, o sentimen- da por essa forma de representação. Em “A Câ-
to de denotação ou, se preferir, de plenitude mara Clara”, Barthes (1984) aborda o enigma
analógica é tão forte que a descrição de uma fo- da fotografia a partir da questão da linguagem.
tografia é literalmente impossível” (BARTHES, Para ele, a pintura pode muito bem simular a
2000, p. 328). Porém, esse estatuto meramen- realidade sem jamais tê-la visto. Com a foto-
te “denotante” da fotografia, sua objetividade, grafia acontece o contrário, pois nunca se pode
se arrisca a ser mítico, pois, segundo o próprio negar que o objeto fotografado estivesse lá.
Barthes, existe a probabilidade de que a mensa- Assim, ficam absolutamente marcados dois
gem fotográfica seja também conotada. pontos fundamentais: a realidade do referente
Uma fotografia (especialmente a de im- fotografado e o seu passado. Uma fotografia é
prensa) é um objeto construído, composto, en- sempre uma imagem de algo. Esta está atrelada
quadrado segundo regras profissionais, estéti- ao referente que atesta a sua existência e todo
cas e ideológicas, por outro lado, essa imagem o processo histórico que o gerou. Mas a foto-
não é simplesmente recebida, ela é lida, é co- grafia não está limitada apenas ao seu referente;
nectada de forma consciente ou não, pelo pú- ela o ultrapassa na medida em que o seu tempo
blico leitor, a um conjunto de signos pré-exis- presente é reconstituído, que o seu passado não
tentes e estes pressupõem códigos. Eis portanto pode deixar de ser considerado, e que o seu fu-
aí, o paradoxo fotográfico, com a (co)existência turo também estará em jogo. (Jorge Felz)
de duas mensagens, uma sem código (o análo-
go fotográfico) e outra com código (a lingua- Referências:
gem da fotografia). A imposição de sentidos BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Ja-
(conotação), segundo a mensagem fotográfica, neiro: Nova Fronteira, 1984.
elabora-se nos diferentes níveis de produção da . A mensagem fotográfica In: LIMA,
fotografia: escolha e enquadramento da cena, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. 5.
tratamento técnico e estético. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
Um ponto importante é a necessidade de BAURET, Gabriel. A fotografia: histórias, esti-
se conhecer os elementos que compõem a ima- los, tendências e aplicações. Lisboa: Edi-
gem fotográfica. Fatos ou objetos desconheci- ções 70, 2006.
dos por um determinado público leitor faz da GURAN, Milton. Linguagem fotográfica e infor-
fotografia algo tão ilegível quanto um texto es- mação. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora,
crito em um idioma estranho. Não se pode afir- 1992.
mar que a linguagem fotográfica é universal. LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio
Não há imagem fotográfica que possa ser inter- de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988.
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SONTAG, Susan. Ensaios sobre fotografia. Lis- Outra ressalva se faz quanto às revistas, por
boa: Publicações Dom Quixote, 1986. abordarem o assunto e não o fato – tarefa mais
típica dos jornais, do rádio, da televisão e do
webjornalismo – a as revistas não adotam nor-
Linguagem jornalística mas de redação tão rígidas.
A linguagem jornalística conjuga registros for- Os demais meios de comunicação adicio-
mais e coloquiais da língua. (LAGE, 1986, p. nam aos fundamentos da linguagem jornalís-
36), para transformar “a informação bruta em tica – simplicidade, precisão, concisão clareza
notícia (...) compreensível.” (BAHIA, 1990, p. – especificidades de cada mídia. O radiojorna-
83) ao homem comum. Assim, se consolida um lismo associa a síntese da oralidade e da escri-
conceito de jornalismo como “uma conversa ta, à música e aos efeitos sonoros. O telejorna-
simples e atual entre um veículo de comuni- lismo conjuga expressões dos códigos icônico,
cação e seus leitores” (ouvinte, telespectadores) linguístico e sonoro. O webjornalismo, por sua
(ERBOLATO, 1985, p. 94). natureza multimidiática, apresenta a linguagem
A partir de 1950, a imprensa brasileira incor- jornalística em sua plena variedade.
pora os stylebooks do modelo norte-americano (Guilherme Jorge de Rezende)
de jornalismo, substituindo o estilo literário do
nariz-de-cera pelas técnicas do lead e da pirâmi- Referências:
de invertida. Os manuais de redação, entretanto, BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica: As
recebem a acusação de que a rigidez das regras técnicas do Jornalismo. 4. ed. São Paulo:
inibe a espontaneidade de expressão, quando Ática, 1990.
não chegam a desfigurar o estilo pessoal. Movi- BARROS FILHO, Clóvis. Ética na Comunica-
mentos, como o New Jornalism, desde a década ção: Da Informação ao Receptor. São Pau-
de 1980, combatem a padronização imposta pe- lo: Moderna, 1995.
los stylebooks. . Da mera eficiência técnica para ERBOLATO, Mário. Técnicas de Codificação em
construir textos, passou-se a esperar do jornalis- Jornalismo. Petrópolis: Vozes, 1985.
ta uma postura mais criativa “(...) que o habilite LAGE, Nílson. Linguagem Jornalística. 2. ed.
a dar ao trabalho informativo uma dimensão es- São Paulo: Ática, 1986.
tética.” (BARROS FILHO, 1995, p. 58). MARTINS, Eduardo. Manual de Redação e Es-
Acima da polêmica sobre a utilidade dos tilo. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1990.
manuais de redação, o jornalista deve ter como
lema que escreve “para todos os tipos de leitor
e todos, sem exceção, tem o direito de enten- Linguagem Radiofônica
der qualquer texto”. (MARTINS, 1990, p. 16) As Sistema expressivo temporal baseado em ele-
normas de redação se aplicam às matérias in- mentos sensoriais de tipo auditivo. Combina-
formativas. Apesar de os formatos opinativos ção das diversas expressões da voz (entre elas,
não seguirem regras, por mais original que seja a palavra falada), música, efeitos sonoros e si-
o estilo do autor, os textos devem ser acessí- lêncio. A palavra radiofônica é produzida pela
veis pelo menos àquela faixa de público a que voz, marcada por suas características acústicas:
se destinam. altura (grave-agudo), intensidade (forte-fraco)
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até 1971, tornando-se cultuada na área e abrin- tendência, o mercado para esse tipo de obras,
do espaço para quadrinizações de romances se aqueceu. Apenas o O Alienista, de Machado
como Moby Dick, de Herman Melville, O Conde de Assis (1839-1908), teve quatro adaptações no
de Monte Cristo e Os Três Mosqueteiros, de Ale- período entre 2006 e 2008.
xandre Dumas, Os Miseráveis, de Victor Hugo, Outras adaptações de obras literárias em
Anna Karenina, de Leon Tolstói, entre outros. quadrinhos publicadas desde 2006 foram: A
O sucesso da revista fez com que rapidamente Cartomante, O Enfermeiro e Uns Braços, de Ma-
outras editoras lançassem títulos semelhantes, chado de Assis; Miss Edith e seu tio, A Nova Ca-
nenhum deles, no entanto, alcançando o mes- lifórnia, Um músico extraordinário e O homem
mo prestígio da original. que sabia javanês, de Lima Barreto; Brás, Bexi-
Classics Illustrated foi traduzida para diver- ga e Barra Funda, de Antônio de Alcântara Ma-
sos idiomas e publicada em muitos países. No chado, Memórias de um sargento de milícias, de
Brasil, ela foi utilizada nas séries Edição Ma- Manuel Antônio de Almeida; O cortiço, de Alu-
ravilhosa (1949-1961) e Álbum Gigante (1949- ísio Azevedo; Desista! e outras histórias e Me-
1955), ambas publicadas pela EBAL – Editora tamorfose, de Franz Kafka; Em busca do Tempo
Brasil América Ltda. –, do Rio de Janeiro. Perdido, de Marcel Proust; O Guarani, de José
Para ampliar a oferta de obras em quadri- de Alencar; Irmãos Grimm em Quadrinhos; Ju-
nhos, além dos títulos originais norte-america- biabá, de Jorge Amado; A Luneta Mágica, de
nos a editora brasileira também veiculou qua- Joaquim Manuel de Macedo, O Pagador de Pro-
drinizações de obras da literatura brasileira e messas, de Dias Gomes e A Relíquia, de Eça de
portuguesa feitas por desenhistas nacionais, Queiroz. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio
como O Guarani, Ubirajara e Iracema, de José dos Santos)
de Alencar; Memórias de Um Sargento de Mi-
lícias, Manuel Antônio de Almeida; Doidinho e
Menino de Engenho, José Lins do Rego; Jubiabá LITERATURA POPULAR
e Mar Morto, de Jorge Amado; A Morgadinha É a produção em verso e prosa de artistas que
dos Canaviais, de Júlio Diniz; Mil Histórias sem se encontram distantes dos grandes centros
Fim, de Malba Tahan e muitas outras. urbanos e que muitas vezes não possuem for-
A partir de 2006, as adaptações de obras da mação acadêmica. A designação de Literatura
literatura em quadrinhos voltaram a ser publi- Popular, ou literatura do povo, está associada a
cadas no mercado editorial brasileiro, embala- uma realidade social que não usa a escrita para
das pela inclusão de títulos com essa preocu- representar a sua arte verbal e sim pela oralida-
pação na lista de obras distribuídas pelo PNBE de, sua maior característica, expressa suas for-
– Programa Nacional Biblioteca da Escola -, do mas de pensar, sentir e agir.
governo federal, às escolas de primeiro e segun- Segundo Lucena (2007) “... lugar onde os
do graus. discursos verbais e não-verbais (as capas dos
Em 2009, foram incluídas quatro obras cordéis em xilogravura) são construídos fun-
do gênero: Triste fim de Policarpo Quaresma, ciona com matriz geradora dos sentidos.”
O beijo no asfalto, O alienista e Domínio públi- Algumas formas de veiculação da literatura
co: literatura em quadrinhos. Embalado nessa popular como a poesia oral improvisada, de-
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clamada e acompanhada muitas vezes da vio- A literatura popular, além de registrar fa-
la; literatura de cordel ou romances escritos tos políticos, econômicos e sociais de uma épo-
em folhetos impressos de forma rudimentar e, ca, dos usos e costumes de um povo, é também
também, veiculados pela internet, marca os es- a cristalizadora dos ideais, aspirações e senti-
tudos folkcomunicacionais no cenário multicul- mentos coletivos. Os poetas populares adap-
tural brasileiro e latino-americano. taram-se às mudanças sociais como o caso da
Várias são as possibilidades, de desenvol- utilização da Internet como mais uma forma de
ver estratégias de folkcomunicação utilizando a expressar suas ideias. (Betania Maciel)
literatura popular, como pesquisas etnográficas,
registros de festas, estudos historiográficos etc. Referências:
A literatura popular é individual, depois, BELTRÃO, Luiz. Comunicação e Folclore. São
que cai no uso popular, se ajusta ao sentimento Paulo: Melhoramentos, 1971.
do seu intérprete, que logo a possui e identifica BENJAMIN, Roberto Emerson Câmara. Folkco-
como sua. municação no Contexto de Massa. João
Comumente, mantém-se o tema que a fun- Pessoa: Editora Universitária, UFPB, 2000.
damenta, mas os exemplos mudam de tal for- CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Fol-
ma, que quase se pode afirmar que a cada exibi- clore Brasileiro. 4. ed. São Paulo:
ção a obra se recria através de uma sucessão de Melhoramentos, 1979.
variações em que muitos colaboram, cada um LUCENA FILHO, Severino Alves. O cordel: um
por sua vez, sem identificar a autoria. E, assim, discurso popular no contexto do folkma-
vai-se tornando anônima até perder-se da his- rketing. In: VII congreso, GT8. La Paz: Fa-
tória de origem. É o que trafega entre o povo, o cultad de Periodismo y Comunicacion
que se cria, e a adaptação alheia de quem gosta Social. U.N.L.P., 2007.
e adota, trazendo um profundo conhecimen-
to do nosso folclore, suas cantorias, declamam
para o público o que criam no improviso, sem Literatura turística
nenhum medo de errar. Na virada do século XVIII para o XIX, aconte-
Através das expressões literárias populares, ceria o que Boyer (2003) denomina de ‘revolu-
observamos a preservação da cultura local, a ção turística’, para ele aliada às demais revolu-
busca a identidade e o pertencimento de grupo. ções inglesas do período, entre elas a Revolução
A literatura oral, com os cantadores, as his- Industrial. Na Inglaterra, nesse período, orga-
tórias e anedotas, os romances cheios de mora- nizam-se as primeiras excursões, na forma de
lidade e filosofia; a conversação dos caixeiros- pacotes, o que significa reunir transporte, hos-
viajantes, dos choferes de caminhão, dos padres pedagem e visitas aos pontos atrativos, para
e frades missionários ou dos vigários diante da venda conjunta. No avançar do século XIX, em
comunidade, formando e informando a todos 1857, há o nascimento do British Alpine Club,
que com muita atenção e paciência escutam o logo copiado em outros países europeus, e em
que se têm de novo para se dizer, tirando exem- 1879 o surgimento do Ciclist Touring Club.
plos do que já existe escrito somando a imagi- Em 1890, houve a fundação do Touring
nação. (BELTRÃO, 1971) Club de France, seguindo o exemplo inglês, e,
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em 1895, a criação dos Amigos da Natureza, em textos do jornalismo especializado. Mais, recen-
Viena. Presença importante foi a figura de Je- temente, os fotógrafos também têm apresenta-
an-Jacques Rousseau que, já em 1776, “andava do seus relatos de viagem, priorizando o regis-
a pé; o Romantismo o consagrou como o pri- tro visual. Hoje, a edição de livros luxuosos,
meiro turista.” (BOYER, 2003, p. 24). A exem- pautados pela excelência em termos de textos e
plo de Rousseau, outros escritores românticos imagens, são peça obrigatórias para apresentar
realizaram viagens à Suíça, à Itália e ao Reno, parques, cidades, museus e outros atrativos, ali-
e as relataram em seus escritos. Essas publi- mentando uma importante indústria editorial.
cações em torno the tour, alimentaram o con- (Susana Gastal)
ceito de viagem turística, num imaginário que
será reproduzido posteriormente nos guias de Referências:
viagem. ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. Belo
Alguns veem já entre os gregos o costume Horizonte: Itatiaia, 2002.
de escrever diários de viagem. Com a estrutu- BOYER, Marc. História do turismo de massa.
ração dos parques editorais nos séculos XVIII e Bauru: EDUSC, 2003.
XIX, os diários de viagem começaram a ser, em JANÉ, M. B. O priodismo de viajes. Sevilha: Co-
muitos casos, publicados na forma de livro, fo- municación Social, 2002.
lhetos ou mesmo de artigos em jornais. Sterne SCHMIDT, H. A arte de viajar. Humboldt. n.
esteve entre os que produziram relatos de via- 54, 1987.
gem, assim como Goethe que, entre outros, es-
creveu A arte de viajar. Goethe realizou treze
grandes viagens, sendo que naquela realizada, Livro
em 1786, à Italia, contou com auxílio financei- A palavra livro é usada para designar tanto uma
ros de seus editores, como adiantamentos pelo criação espiritual quanto um objeto, tanto um
material que seria produzido. Estes e outros re- conteúdo intelectual quanto o seu suporte ma-
latos do período contribuíram para construção terial. Emmanuel Kant sintetiza, assim, essa
da “representação de um idealizado papel no dualidade: “Um livro é um escrito que apresen-
cotidiano. E com isto, o cotidiano podia ser ele- ta um discurso que alguém dirige a um público
vado à condição de arte. (...) que a arte de viajar por meio de signos linguísticos visíveis. Aquele
não tivesse sido desconsiderada, é coisa perfei- que fala ao público em seu próprio nome é o
tamente compreensível”. (SCHMIDT, 1987). escritor (autor). Aquele que apresenta um dis-
Jané (2002) distribui os relatos de viagens curso público em um escrito em nome de ou-
em categorias: os escritos de vocação literária, tro (o autor) é o editor. (...) A soma de todas as
como os já citados e, no caso do Brasil, incluin- cópias de um escrito original (exemplares) é a
do Mário de Andrade e o seu Turista Aprendiz; edição.” (KANT, 1995)
os textos de exploradores e aventureiros, como Enfatizando aspectos materiais do livro,
Saint´Hilaire, por exemplo, e seus relatos de Albert Labarre afirma que para caracterizar a
viagens pelo Brasil; os textos antropológicos, ideia de livro é preciso recorrer a três noções
entre os quais Jané cita Levi Strauss em Tristes correlatas simultaneamente: (1) suporte da es-
trópicos; os guias turísticos, propriamente; e os crita; (2) difusão e conservação de um texto e
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(3) portabilidade. Albert Labarre também apre- data da “instalação oficial e definitiva da tipo-
senta uma definição mais sintética: livro é a grafia em nosso país” (SODRÉ, 1977). Ao iniciar
“reprodução escrita de um texto destinado à di- suas atividades de edição, em 1808, no Brasil, a
vulgação com uma forma portátil”. (LABARRE, Impressão Régia estava submetida aos mesmos
1994, p. 3-4) mecanismos de censura vigentes em Portugal e
A UNESCO, setor da Organização das em todas suas colônias além-mar.
Nações Unidas – ONU – voltado para a edu- Em abril de 1821, Dom João VI e a Família
cação, a ciência e a cultura, depois da Segun- Real voltaram para Portugal; Dom Pedro I fi-
da Guerra Mundial, para facilitar a elaboração cou, no Brasil, na qualidade de Príncipe Regen-
de estatísticas internacionais sobre impressos, te. Em 28 de agosto do mesmo ano, Dom Pedro
define livro como uma publicação não perió- I estabeleceu por decreto o fim da censura pré-
dica composta por no mínimo 49 páginas sem via e restringiu as atividades dos censores, esta-
incluir as capas. belecendo um marco para o início da liberdade
O livro, ao longo de sua história, compor- de imprensa no Brasil. A impressão de livros no
tou três formas principais: o livro em rolo, o li- Brasil viria a ser radicalmente cerceada nova-
vro em cadernos e o livro no computador. O li- mente durante o governo ditatorial de Getulio
vro em rolo, volumen, apareceu cerca de 2700 Vargas, conhecido como Estado Novo (1937-
a.C.; o livro em cadernos, também chamado 1945), e durante a Ditadura Militar (1964-1985).
códice ou códex, surgiu aproximadamente em Em 2008, segundo dados da Câmara Bra-
200 d.C. e é a forma mais comum de livro até sileira do Livro, CBL, foram publicados 51.129
hoje; e o livro eletrônico é uma invenção do sé- títulos (mais 19,52% em relação a 2007) e pro-
culo XX. Por volta de 1440, Gutenberg inven- duzidos 340.274.195 exemplares. Em termos
tou a imprensa por tipo móvel e os livros que absolutos, esses números impressionam, no
eram até então copiados manualmente, manus- entanto, se lembrarmos que a população brasi-
critos, passaram a ser impressos. A invenção de leira era algo em torno de 190 milhões de habi-
Gutenberg foi um recurso para multiplicação tantes, veremos que a produção de livros ficou
(portanto a circulação) do livro mas não alte- em cerca de 1,7 livros por habitante, número é
rou sua forma essencial de cadernos justapos- baixo em comparação com os dos países desen-
tos. (CHARTIER, 1994) volvidos.
Até 1808, no Brasil colonial eram proibidas De certa forma, esse índice exíguo, tor-
pela metrópole a existência de oficinas tipográ- na-se mais significativo se levarmos em conta
ficas e a produção de qualquer tipo de impres- a ampla parcela da população que vive nos li-
so. As poucas tentativas de burlar essas proibi- mites da sobrevivência física, excluída, portan-
ções foram duramente reprimidas pelo governo to de acesso ao consumo, inclusive cultural. A
de Portugal. pesquisa Retratos da Leitura, no Brasil, realiza-
Historicamente flando, a imprensa, no Bra- da pelo Instituto Pró Livro com dados relativos
sil, iniciou-se em 1808, com a transferência da ao ano de 2007, constatou que o Brasil possui
Família Real Portuguesa de Lisboa para cidade 36 milhões de compradores de livros e, entre
do Rio de Janeiro e a consequente instalação da eles, a média é de 5,9 livros exemplares adqui-
Impressão Régia criada em 13 de maio de 1808 ridos por ano.
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M, m
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LUYTEN, Joseph M. Sistemas de comunicação tribuem para uma visão mais qualificada da
popular. São Paulo: Ática, 1988. magia na medida em que conferem à mesma
RAMOS, Arthur. O negro na civilização bra- valor semelhante ao dado por Émile Durkheim
sileira. Rio de Janeiro: Casa do Estudante, (1858-1917) à religião enquanto um dos funda-
1956. mentos da vida social. Se, inicialmente, magia e
religião se contrapõem em razão do caráter in-
dividualista e pragmático da magia, e coletivis-
MAGIA ta e, institucionalizado, da religião; na verdade,
A magia é um desses fenômenos de difícil apre- a magia se inscreve nos ritos religiosos, quando
ensão, na medida em que se situa em meio a aciona todo um sistema simbólico cujo funda-
outros fenômenos sociais tais como a ciência, a mento sagrado encontra-se no mana (“princí-
religião, as técnicas. Mesmo tendo sido estuda- pio vital”).
da pelos cientistas sociais desde o século passa- Não é à toa, Mauss & Hubert veem na ma-
do, não ficou imune aos preconceitos e as críti- gia uma “ideia prática”, a “arte do fazer” pos-
cas. De um modo geral, como sugere Sir James to que não sendo algo inato é preciso que seja
George Frazer, em seu magnífico O Ramo de provocada, produzida, para que efetivamente
Ouro, publicado em 1922, a magia além de ser aconteça. A magia é, antes de tudo, um prin-
um sistema espúrio e enganoso é “tanto uma cípio de ação; para que exista é preciso que
falsa ciência quanto uma arte abortiva”. seja produzida. A magia, portanto, provoca de
Essa visão persistiria, ainda, por muito tem- modo inconsciente uma antropologia da per-
po, junto a outros antropólogos e cientistas so- formance. Numa definição, a magia se caracte-
ciais que viam na magia, quando muito “uma riza como um sistema de crenças (representa-
resposta cultural a uma situação de incerteza” ções em torno da natureza e do sobrenatural)
enfrentada pelos homens em diversos momen- profundamente marcada pela ação do mágico,
tos e situações sociais. Daí, ser possível pensar cuja eficácia simbólica será, parcialmente, ga-
num sistema mágico em que a prática da magia rantida pela sua performance nos os rituais.
se aplica às seguintes circunstâncias: (1) produ- Em vista dessas características, pode-se imagi-
tiva, com fins à obter caça, produzir chuva, con- nar o sucesso de muitos líderes religiosos em
quistar amor etc; (2) protetora contra desgraças, diversas expressões religiosas na atual socieda-
doenças etc; intermediando a magia protetora e de brasileira .
a magia destruidora encontra-se a bruxaria que Engana-se quem pensa ter sido a magia re-
pode ser vista ora como boa ora como má; (3) duzida ou colocada em segundo plano, em um
magia destruidora, também definida como feiti- mundo cada vez mais racional, ou crível de sua
çaria maléfica visa causar a morte, destruir pro- capacidade de explicação racional, para todos
priedades etc. Somente a partir dos estudos dos os atos da vida humana como é, supostamente,
antropólogos Marcel Mauss (1872-1950), de um o mundo contemporâneo . É suficiente lembrar
lado, e de Evans-Pritchard (1902-1973), do outro, o quanto o tema da magia tem povoado o ima-
o status e a compreensão da magia muda. ginário contemporâneo (literário, cinematográ-
Em especial, no Esboço de Uma Teoria Ge- fico), bem como, tem readquirido importância
ral da Magia, de 1903, Mauss & Hubert con- junto aos estudiosos das religiões, principal-
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das marcou, no Rio de Janeiro, o Sábado Santo expostas em oposição às ideias da Instituição.
de 1821: “um magote compacto de arruaceiros Para sufocar essas manifestações contrárias à
enforcou e queimou em efígie a céu descoberto, doutrina oficial, foram empregados dois meios:
em vez do Judas tradicional, alguns persona- a inquisição e as novas ordens monásticas.
gens conspícuos da administração, entre êles o O nome Inquisição deriva do verbo latino
próprio Intendente geral e o comandante mili- inquirere (inquirir). No começo, a Inquisição
tar da polícia” (LIMA, 1945, p. 105). foi apenas um modo de processo penal instau-
A intenção de sátira na brincadeira da rado pelo papa Lúcio III (1181-1185) e adotado
queima do Judas, à época de D. João VI, não por Inocêncio III (1198-1216). O processo com-
poupou sequer a corte e o divertimento acabou preendia várias etapas, incluindo o interroga-
sendo controlado pelas autoridades policiais. tório do ofendido, a oitiva das testemunhas e
Ao longo dos anos, a malhação do Judas o auto-de-fé. O processo se iniciava quando os
modificou-se, adaptou-se e ganhou aspectos prováveis culpados eram convocados se apre-
peculiares nas regiões brasileiras. Em geral, sentarem em determinado lugar, no prazo de 15
seus procedimentos envolvem a leitura de um dias a um mês. As pessoas que cumprissem esse
testamento, ato que antecede a morte dos bo- tempo recebiam castigos mais leves, por isso o
necos. Nesse documento, o “apóstolo” distri- período era chamado de tempo de graça.
bui sua fortuna às pessoas da comunidade ou O interrogatório baseava-se nas acusações
do grupo que acompanha a brincadeira, sendo aduzidas e visava à confissão, pelo ofendido, da
essa uma oportunidade para gozação dos que prática de determinada heresia. Ao final do jul-
ali estão presentes. gamento, era proferida a sentença e, em segui-
Em alguns casos, o testamento contém in- da, convocava-se uma sessão pública para que a
dicações de como foi confeccionado o Judas e sorte dos acusados fosse definitivamente deci-
sobre onde esteve escondido até o Sábado de dida. Essa sessão era denominada “auto-de-fé”,
Aleluia. Trata-se outro aspecto do costume. Em sendo o último momento para que os acusados
algumas comunidades, o boneco é escondido renunciassem às heresias, embora pudesse, ain-
por quem o confeccionou para evitar o seques- da, da sentença apelar ao papa.
tro do mesmo antes do dia destinado à sua ma- No auto-de-fé, as pessoas que não se re-
lhação. O desafio da descoberta do esconderi- dimissem, mas que optassem por morrer, era
jo do Judas é, por muitas vezes, um atrativo da mortas e depois queimadas; as demais eram
brincadeira, estimulando pessoas interessadas queimadas vivas. As já falecidas, antes do auto,
no roubo do boneco “traidor”. Sendo o Judas recebiam sua punição com a queima de seus
encontrado, deverá ser obrigatoriamente de- ossos. Para aqueles que conseguissem fugir,
volvido no momento marcado para matança, eram feitos manequins, que eram queimados,
permitindo que a brincadeira possa continuar simbolizando essas pessoas que caíram no de-
e ser finalizada. sagrado da Igreja. “E, assim, muitos inocentes
Para melhor compreender o costume, faz- padeceram na fogueira, terminando por criar,
se necessário recorrer à sua origem. No sécu- no folclore, um rito de sacrifício através da
lo XII, a Igreja do Ocidente considerou-se per- ‘Queimação do Judas’ como forma de expiação”
turbada por um grande número de “heresias”, (MOTA, 1981, p. 15). (ver verbete índex)
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Considerando que os processos culturais passaram as fronteiras de seu país e hoje são
estão em constante mutação na sociedade con- publicados no mundo inteiro, nos mais varia-
temporânea, na atualidade, os bonecos não são dos gêneros e dirigidos para públicos segmen-
necessariamente queimados, mas são punidos tados.
com pauladas ou simplesmente expostos em A origem dos mangás, segundo vários au-
determinados pontos da cidade. tores, está relacionada com os 15 volumes do
Emergem, desse contexto religioso e his- caderno de desenhos humorísticos elaborados
tórico, os motivos pelos quais, no Sábado de pelo mestre Katsushita Hokusai, cuja publica-
Aleluia, a cada Semana Santa, justificam-se as ção foi iniciada em 1814. O termo surgiu como
brincadeiras de morte e malhação do Judas, o denominação desses cadernos, Hokusai Manga,
“traidor de Jesus”. Judas simboliza, de certa for- procurando expressar um tipo de desenho que
ma, todos aqueles que, por algum motivo, são era feito de forma livre. Posteriormente, esse
criticados ou condenados pela sociedade ou tipo de desenho humorístico passou a ser tam-
por determinada comunidade. (Samantha Via- bém utilizado por outros autores, acabando por
na Castelo Branco Rocha Carvalho) ser aplicado a toda narrativa gráfica sequencial
produzida no país.
Referências: Os anos posteriores ao conflito mundial
BELTRÃO, Luiz. Comunicação e folclore: um possibilitaram grande desenvolvimento dos
estudo dos agentes e dos meios populares mangás no Japão e também o aparecimento da-
de informação e expressão das ideias. São quele que é considerado como o maior artista
Paulo: Melhoramentos, 1971. na área, Osamu Tezuka, considerado, por mui-
LIMA, Oliveira. Dom João VI no Brasil. Rio de tos, como um verdadeiro Deus do mangá.
Janeiro: José Olímpio, 1945. Sua primeira contribuição para a lingua-
MOTA, Ático Vilas-Boas da. Queimação de gem gráfica sequencial ocorreu com Shin Taka-
Judas: catarismo, inquisição e judas no ra Jima (Nova Ilha do Tesouro), de 1947, mas ele
folclore brasileiro. Rio de Janeiro: MEC- atingiu mesmo o estrelato com a publicação de
SEAC-Funarte, Instituto Nacional do Fol- Jungle Taitei (Kimba, o Leão Branco), em 1950, a
clore, 1981. história de um leãozinho órfão que tenta voltar
ao reino de seu pai e assumir o trono, mas que
se perde no caminho e encontra mil dificulda-
Mangá des para atingir esse objetivo. O sucesso dessa
Embora, em sua grande maioria, as publicações história possibilitou que ela fosse transformada
de mangás pudessem estar incluídas na catego- no primeiro filme de animação para TV colo-
ria dos gibis, é importante destacá-los como ca- rida no Japão, consagrando o nome de Tezuka
tegoria própria, na medida em que representam na área.
um modelo diferenciado de produção quadri- Pode-se dizer que o atual modelo gráfico
nhística. Oriundos do Japão, onde são produ- dos mangás foi desenvolvido a partir do traba-
zidos em quantidade e variedade assombrosas, lho desse artista.
atingindo enormes tiragens e sendo lidos por Existem mangás para o público adolescen-
grande porcentagem da população, eles ultra- te feminino (os shojo mangás), para os adoles-
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centes masculinos (os shonen mangás), para A manipulação de imagens tornou-se mais
executivos etc. No Brasil, eles vêm sendo publi- discutida, e perigosa, a partir do momento em
cados cada vez com maior diversidade nos últi- que surgiram dispositivos técnicos capazes de
mos anos, existindo editoras que praticamente captar imagens mecanicamente: a fotografia, o
se especializaram nesse tipo de material. Gran- cinema e, mais tarde, o vídeo. Sendo, normal-
de parte dos mangás publicados no país adota o mente, mais icônicas, as imagens mecânicas da
sistema de impressão original japonês, ou seja, realidade são incomparavelmente mais verossí-
as histórias são lidas de maneira inversa àquela meis do que a pintura e a escultura, formas tra-
que os leitores de histórias em quadrinhos es- dicionais de representação iconográfica da rea-
tão acostumados; assim, o leitor brasileiro de lidade até ao advento da fotografia.
mangá deve habituar-se a começar a leitura Portanto, uma imagem mecânica, embo-
pelo que, normalmente, é considerado como a ra possa ser parcial ou totalmente manipulada,
última página da revista, devendo em seguida passará mais facilmente por ser uma imagem
realizar o processo de leitura da direita para a icônica, totalmente ancorada ao referente real
esquerda, como fazem os japoneses. que supostamente traduz de forma visual, do
Outra característica dos mangás é que mui- que uma pintura ou uma escultura. Se o objeti-
tos deles, embora publicados periodicamente, vo do produtor/emissor de imagens for falsear
têm, de antemão, um número fixo de fascícu- a relação das imagens mecânicas com a realida-
los programado, encerrando-se depois de al- de e alterar, sem conhecimento do receptor, o
gum tempo, como se cada um deles fosse uma significado potencial da mensagem visual, en-
saga fechada, com começo, meio e fim. Entre os tão a manipulação de imagens torna-se ética e
mangás mais populares, no Brasil, podem ser até legalmente discutível.
citados Dragon Ball Z, Vagabond e Néon Gêne- O problema da manipulação de imagens
sis Evangelion, publicados pela Editora Conrad, cresceu com a digitalização. Ao transformar as
de São Paulo, e Samurai X: Rurouni Kenshin, da imagens num conjunto de pixels, de informação
Editora JBC, de São Paulo. (Waldomiro Verguei- codificada num código binário, a digitalização
ro e Roberto Elísio dos Santos) potencia a manipulação e à torna virtualmente
indetectável. Mais, a digitalização intensificou
a fabricação de imagens totalmente simbólicas,
Manipulação de imagens sem qualquer ancoragem à realidade, e por ve-
A manipulação de imagens é quase tão antiga zes a sua mistura com imagens icônicas.
quanto o é a expressão visual, até porque, no li- A manipulação de imagens pode ser feita
mite, todas as imagens, mesmo as icônicas, são para permitir a correção, o realce de pormeno-
representações de fragmentos da realidade e res ou até para gerar um efeito mais impressi-
não uma mera tradução e transposição visual vo e sugestivo. Todavia, a manipulação de ima-
dos mesmos. Por exemplo, na pintura realista gens também pode ser praticada, assumida ou
dos séculos passados, por motivos estéticos ou sub-repticiamente, para alterar o significado
outros, os pintores tentavam embelezar as per- da mensagem visual, eliminando, total ou par-
sonagens das telas e, muitas vezes, imaginavam cialmente, a referência à realidade e tornando a
cenários sem referentes reais. imagem uma mera ilusão.
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A alteração de imagens pode ser entendida necessidade de substituir uma bandeira me-
em vários sentidos. Mais, usualmente, diz res- nor que tinha sido erguida previamente. Sta-
peito à alteração, analógica ou digital, dos con- lin mandava apagar das fotografias oficiais de
teúdos de imagens originais; mas também pode quem caía em desgraça. Trotsky, por exemplo,
referir-se à manipulação de sujeitos e cenários e desapareceu das fotografias com Lenin. Por ve-
à encenação das situações que são captadas sob zes, a imagem de Stalin foi implantada em fotos
a forma de imagens. manipuladas, surgindo em lugares onde, na re-
No cinema ficcional, por exemplo, a mani- alidade, o ditador soviético nunca esteve.
pulação de imagens não levanta grandes pro- Em Março de 2003, o fotojornalista Brian
blemas éticos. Em fitas de ficção científica, por Walski, do Los Angeles Times, usou duas fotos
exemplo, nem sempre se espera que as imagens no Iraque para fabricar virtualmente uma outra
sejam icônicas, reportando-se a uma realidade imagem (foi demitido, pois os valores jornalís-
verídica. Mas no jornalismo, o uso de imagens ticos implicam o compromisso referencial do
manipuladas levanta problemas éticos e até le- jornalista com a realidade). No Brasil, em 2008,
gais, principalmente quando as alterações ul- a revista Isto É, na cobertura de uma manifesta-
trapassam a esfera da mera correção e o recep- ção do MST, apagou de uma fotografia do foto-
tor não é informado das alterações efetuadas, jornalista Cristiano Machado as palavras “fora
ou quando estas não são evidentes. Serra” que estavam escritas num sinal “Pare”
O potencial de verossimilhança da foto, e a vandalizado.
facilidade com que, em laboratório analógico, Em 2007, uma foto produzida pelo repór-
ou recorrendo a software como o Picasa ou o ter fotográfico Maurício Lima para a agência
Photoshop, se manipula uma imagem fotográ- de notícias France Presse (AFP) e publicada na
fica, tornou a fotografia o alvo mais frequente edição do jornal O Globo foi retalhada. A foto-
de manipulação e encenação. grafia original mostrava três pessoas; a imagem
Alguns dos primeiros fotógrafos, muitos publicada, apenas uma, o que feriu de morte o
deles pintores, coloriam as fotos para torná-las sentido originariamente dado pelo fotógrafo à
mais sugestivas. No retrato de estúdio, usava- imagem que produziu.
se e abusava-se da pose e da encenação. O fo- A publicação de imagens retalhadas e des-
tojornalista Alexander Gardner, na Guerra Ci- contextualizadas é, infelizmente, uma práti-
vil Americana, mudou de lugar um corpo para ca assustadora e incomodativamente comum.
realizar uma nova fotografia referente à cruel- Esses são apenas alguns dos imensos casos de
dade da guerra. O fotodocumentarista Arthur manipulação de mensagens fotográficas etica-
Rothstein mudou um crânio bovino de lugar mente questionáveis e com influência na pro-
para realizar uma fotografia para o projeto fo- dução de significados para as mesmas. (Jorge
todocumental Farm Security Administration. Pedro Sousa)
A histórica fotografia de Joe Rosenthal do içar
da bandeira americana em Iwo Jima – que pos- Referências:
sivelmente é a foto mais reproduzida de sem- GERNSHEIM, Helmut. A concise history of
pre – foi o resultado de uma encenação para a photography. 3. ed. rev. Mineola: Dover Pu-
câmara, embora também tenha decorrido da blications, 1986.
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KOSSOY, Boris. Fotografia & história. 2. ed. rev. pergaminho e, bem perto da Renascença, o
São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. pergaminho pelo papel. O rolo então passa ser
NEWHALL, Beaumont. The history of photog- utilizado somente para uma categoria especial
raphy from 1839 to the present day. New de manuscritos: “o rolo dos mortos”, descrito
York: MOMA, 1982. por L.M. Michon: “Quando um mosteiro per-
SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fo- dia o seu chefe ou um de seus membros impor-
tojornalismo ocidental. Florianópolis: Le- tantes, a notícia do falecimento era transmitida
tras Contemporâneas, 2000. às abadias vizinhas ou aos estabelecimentos da
SOUGEZ, M. L. História da fotografia. Lisboa: mesma Ordem numa folha de pergaminho em
Dinalivros, 2001. que se relatavam as virtudes do morto. (...) O
SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo. Introdu- cumprimento do rolo assim composto depen-
ção à história, às técnicas e à linguagem da dia do numero de abadias que passava”. (MI-
fotografia na imprensa. Florianópolis: Le- CHON apud MARTINS, 2002, p. 100).
tras Contemporâneas, 2004. Manuscritos, em pergaminhos, mere-
cem destaque, segundo Dom Paulo Evaristo
Arns, na tese que realizou sobre a obra de São
Manuscrito Jerônimo, um dos maiores escritores cristãos
Manuscrito, a rigor, é o texto escrito à mão, in- de todos os tempos. “Jerônimo surge na his-
dependente do instrumento usado para a escri- tória exatamente no momento em que se pas-
ta e do suporte que a recebe. Wilson Martins ao sa a luta entre o papiro e o pergaminho. (...)
explicar o conceito de manuscrito afirma: “Na O manuscrito em papiro era elegante, mas o
significação direta da palavra, nenhuma dis- pergaminho não se rasgava. Por outro lado,
tinção é feita além das raízes de que se formou. este, encadernado em forma de códice, pode
Nessas condições, seriam manuscritos todas as bem mais facilmente ser melhorado em sua
‘inscrições’, feitas em papel ou em pedra, mar- apresentação exterior. Quanto ao tempo que
fim, bronze ou mármore. Mas, uma convenção se leva, isso não conta para o monge-copista.”
por todos admitida reserva esse nome aos ‘ma- (ARNS, 2007, p. 26).
nuscritos’ em papel, papiro ou pergaminho, e Manuscritos em tempos modernos e no
aos demais o nome de gravura ou de escultura.” universo da produção de livros, também po-
(MARTINS, 2002, p. 93). dem ser considerados como “originais”. Ema-
Na história do livro, os manuscritos me- nuel Araújo confirma: “A definição dicionari-
dievais estão diretamente ligados a vida monás- zada do termo ‘original’, aplicada à editoração
tica, e sua produção atrelada ao trabalho dos é aparentemente simples. Em linhas gerais, diz
monges e escribas que se dedicavam à cópia respeito a qualquer manuscrito ou texto repro-
dos manuscritos como “foro de exercício espi- duzido mecanicamente (...) (ARAUJO, 2008, p.
ritual capaz de aprimorar virtudes e de realçar 57-58).
os merecimentos sobrenaturais dos monges.” E, em tempos mais modernos ainda, bem
(MARTINS, 2002, p. 98). atuais, onde uma das principais discussões en-
Tendo ainda a Idade Média como cenário, tre os participantes da cadeia produtiva do li-
o rolo é substituído pelo códex, o papiro pelo vro é a questão da transição digital, no Brasil e
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no mundo, Roger Charter reflete: “Apresentam- MARTINS, Wilson. A palavra escrita – história
nos o texto eletrônico como uma revolução. A do livro, da imprensa e da biblioteca. São
História já viu outras! (...) Em meados da déca- Paulo: Editora Ática, 2002.
da de 1450 só era possível a reprodução de um
texto copiando-o à mão, e de repente uma nova
técnica, baseada nos tipos móveis e na prensa Marca
transfigurou a relação com a cultura escrita. Assinalar e distinguir coisas, animais, artefatos
(...) Contudo, a transformação não é tão abso- é um costume antigo de o homem fixar em suas
luta quanto se diz: um livro manuscrito (sobre- criações o cunho de sua personalidade e afir-
tudo nos seus últimos séculos, XVI e XV) e um mar sua propriedade sobre os objetos e seres
livro pós-Gutenberg baseiam-se nas mesmas que lhe pertencem. Esse fato estruturou, socio-
estruturas fundamentais – as do códex. Tanto economica e culturalmente, o trabalho, os seres
um como outro são objetos compostos de fo- e as corporações em muitas épocas e lugares,
lhas dobradas, um certo numero de vezes (...) sem o intuito de concorrência comercial em
tudo isso existe desde a época do manuscrito. que se baseia particularmente hoje a marca.
(CHARTIER, 1998, p. 7-8). O fenômeno da marcação comercial con-
Em suas reflexões, Chartier (1998, p. 9) in- temporâneo emergiu com a Revolução Indus-
dica que mesmo com a transição da cultura do trial, quando, já nos meados do século XIX,
manuscrito e a cultura do impresso, “o escrito toleradas pelo sistema e ignoradas pelo Libera-
copiado à mão sobreviveu por muito tempo à lismo Clássico, apareceram algumas marcas de
invenção de Gutenberg, até o século XVIII e fantasia, paralelamente às primeiras formas de
mesmo XIX. Para textos proibidos, cuja exis- publicidade* (catálogo, cartaz, reclame). Foram
tência deveria permanecer secreta, a cópia logo objeto de regulamentação e proteção pelo
manuscrita continuava sendo a regra.” Assim, Direito contra risco de usurpação.
como existiu a continuidade entre o texto ma- Em princípio, qualquer signo verbal ou fi-
nuscrito e o caractere impresso, em princípio, gurativo ou sua composição (nome, letra, alga-
poderá permanece a continuidade entre eles e o rismo, logotipo/logomarca etc.), não genérico,
texto eletrônico. (Maria José Rosolino) ainda não registrado e não pertencente a insti-
tuições oficiais, pode servir de marca e permi-
Referências: te que uma pessoa física ou jurídica distinga os
ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro – objetos de seu comércio ou de seus serviços.
princípios da técnica de editoração. São A proteção jurídica da marca registrada
Paulo: Fundação da Editora da UNESP, como direito de propriedade industrial dife-
2008. re em função dos países, existindo dois gran-
ARNS, Dom Paulo Evaristo. A técnica do livro des sistemas jurídicos: o formalismo do regis-
segundo São Jerônimo. São Paulo: Cosac tro (caso do Brasil e da França, por exemplo) e
Naify, 2007. o pragmatismo do uso (caso da Inglaterra, do
CHARTIER, Roger. A aventura do livro – do Canadá e dos Estados Unidos, por exemplo).
leitor ao navegador. São Paulo: Fundação No entanto, no campo da Economia, foi só
Editora da UNESP, 1998. no século XX que a marca adquiriu legitimi-
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outros ativos do proprietário da marca. (Jean um banco de dados, visa conquistar e manter
Charles J. Zozzoli) clientes de maneira mensurável e interativa, es-
tabelecendo um relacionamento contínuo atra-
Referências: vés do diálogo.
AAKER, David A. Marcas: brand equity, geren- Dentro desse propósito, os objetivos do
ciando o valor da marca. Negócios, 1998. marketing direto são divulgar a marca no pú-
DRU, Jean Marie. La publicité autrement. Paris: blico-alvo definido; diminuir a dispersão da
Gallimard, 2007. verba de comunicação; obter resultados men-
SEGUELA, Jacques. Hollywood lave plus Blanc. suráveis e maximizar a lucratividade. Para Dias
Paris: Flammarion, 1982. (2004), as principais aplicações do marketing
ZOZZOLI, Jean Charles Jacques. Da mise en direto são: conquistar novos clientes; elevar o
scène da identidade e personalidade da valor patrimonial de um cliente; estimular a
marca. Campinas: Unicamp, 1994. Dis- venda cruzada (cross-selling); estimular o trá-
ponível em: <http://libdigi.unicamp.br/ fego no ponto de venda; ampliar canais de dis-
document/?code=vtls000082262>. tribuição (vendas diretas); suscitar “pistas” de
ZOZZOLI, Jean Charles Jacques. Marca: para vendas (leads) e fidelizar clientes. Já para Wun-
além da concepção de branding. In: GO- derman (1999), o marketing direto “é um sis-
MES, Neusa Demartini, (Org.). Frontei- tema interativo de marketing que utiliza uma
ras da publicidade: faces e disfarces da lin- ou mais mídias a fim de produzir resposta e/ou
guagem persuasiva. Porto Alegre: Sulina, transação mensuráveis em qualquer local”.
2006. Através dessa interatividade, pressupõe a
existência de duas vias e, para que uma comu-
nicação seja considerada marketing direto, ela
Marketing Direto precisa ser parte de um diálogo, precisa existir
Marketing direto são todas as atividades mer- um canal de comunicação de mão dupla, uma
cadológicas que extinguem ou de alguma for- ou mais mídias interagindo, Com isso o marke-
ma apoiam a figura do intermediário de vendas ting direto é muito mais do que somente mala-
(vendedor) e se auxiliam de mídias, tais como direta (embora esta seja uma das mídias clássi-
malas diretas, folders, catálogos, ancoradas pela cas). Faz parte da premissa do marketing direto
internet ou não. As novas modalidades de ven- a resposta mensurável, isto é, nenhuma ação
das através de programas de TV são considera- pode ser considerada atividade de marketing
das alternativas dentro do marketing direto. direto se os resultados não forem mensuráveis,
Atualmente, o desenvolvimento e o avan- e esse é o princípio que apóia toda a técnica do
ço das novas tecnologias permitem que as em- marketing direto (DIAS, 2004).
presas encontrem com muito mais perfeição Esse tipo de marketing não faz somente
quem é o seu mercado-alvo, e dessa manei- vendas pelo correio. A transação pode ocorrer
ra passa-se a tratar o consumidor de maneira também via telefone, num ponto de venda, via
personalizada. Internet, na casa do consumidor (porta a por-
O marketing direto é uma evolução do ma- ta) etc. No Brasil, a Associação Brasileira das
rketing tradicional que, através da formação de Empresas de Marketing Direto (ABEMD) é o ór-
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gão responsável por organizar e regular o setor e tilos de vida e em suas crenças e seus valores.
reunir as empresas que desenvolve tal atividade. Isto se deve ao fato de que as coisas estão se de-
Considera-se que os primeiros sinais da senvolvendo de uma maneira tão rápida que as
atividade de marketing direto surgiram em pessoas notam uma constante revolução de ex-
1450, quando Johan Gutenberg, inventor do pectativas crescentes. Essas mudanças sociais,
tipógrafo, imprimia peças escritas, principal- políticas e econômicas não poderiam passar
mente para criadores de animais e agricultores despercebidas pelos profissionais de marketing
que precisavam vender as suas produções. Essa e, em particular, pelo marketing de relaciona-
modalidade logo se propagou pela Europa. mento. As campanhas de mudança social po-
Nos Estados Unidos, Benjamin Franklin dem alcançar objetivos de influir, determinar e
fundou o primeiro ‘Clube do Livro’, chegando a mudar as ideias e as práticas de uma sociedade
ter 600 títulos. Franklin foi autor da célebre fra- com relação ao consumo.
se posteriormente usada como slogan da Sears: O marketing de relacionamento é uma ten-
“Sua satisfação garantida ou seu dinheiro de vol- dência especializada no comportamento hu-
ta”. Anos mais tarde, um vendedor ambulante mano focado no entendimento da marca, na
de relógios, Richards Sears, uniu-se ao opera- qualificação e análise das relações empresa-
dor de tipógrafo, Alvarh Roebuck, criando, em marca-pessoas-sociedade. Utiliza o conheci-
1887, a Sears, uma das primeiras lojas de depar- mento do ser humano para que a marca seja
tamentos atendendo diversos públicos que fi- percebida e reconhecida como uma que contri-
cou, mundialmente, conhecida por suas vendas bui para um mundo melhor, seja por meio de
através de catálogos. Em 1927, foram editados seus produtos, serviços, pessoas e/ou comuni-
75 milhões de catálogos, um recorde. Os catálo- cação com a sociedade. Objetiva relacionar-se
gos da Sears só perdem para a Bíblia em unida- com as pessoas comercialmente, dentro de pa-
des impressas. (Rodney de Souza Nascimento) râmetros verdadeiros e éticos, além de promo-
ver riqueza e real lealdade à marca.
Referências: O marketing de relacionamento vem se
DIAS, Sergio Roberto. Gestão de marketing. São tornando estratégia fundamental na comuni-
Paulo: Saraiva. 2004. cação mercadológica, implicando na promoção
WUNDERMAN, Lester. Marketing direto: uma de relacionamentos estáveis, sólidos e éticos en-
estratégia de lucro para empresa e clientes. tre clientes e stakeholders (qualquer pessoa ou
Rio de janeiro: Campus 1999. organização que tenha interesse ou seja afetada
por determinado projeto). Tem como premissa
a utilização de metodologias qualitativas com
MARKETING DE RELACIONAMENTO valorização nas técnicas projetivas, associati-
Composto de ações mercadológicas processu- vas e observacionais, valorizando técnicas la-
ais com o objetivo de manter contato mais di- boratoriais e desestruturadas, sem desvalorizar
reto com o consumidor. Hoje, cada vez mais métodos estruturados e científicos como apoio,
pessoas estão desejosas de uma mudança so- estudo e aprendizado.
cial. Mudanças em sua forma de vida, na eco- Nos últimos anos, as empresas que utili-
nomia e em seus sistemas sociais, nos seus es- zam o marketing de relacionamento passaram
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a dar maior peso ao trabalho de observação, à mais pessoal. É uma forma efetiva de melhorar
interpretação de depoimentos, ao olhar de mo- a imagem corporativa, diferenciando produtos
vimentos sociais, ao estudo com traços antro- e aumentando tanto as vendas quanto a fideli-
pológicos e à pesquisa in loco de diversas cultu- dade dos clientes.
ras e modos de vida. Por isso, além dos grandes Com a adoção de uma política de aproxi-
centros, que costumam apresentar movimentos mação, a organização torna-se mais ética, o que
pasteurizados e globalizados, o marketing de resulta em uma percepção e intenção de com-
relacionamento procura trazer também o olhar pra significativamente maior por parte do con-
de centros distantes, de pessoas comuns, sim- sumidor. Portanto, se as organizações se alinha-
ples, que embora bombardeadas pela mídia, in- rem na preocupação pelo consumidor como
terpretam e reagem de forma diferente a ela. pessoa, provavelmente poderão preencher em
Não podemos mais falar em consumidor, parte, a necessidade de “pertencer”, participar e
mas sim em interlocutor. Os compradores de interagir com as pessoas, o que será bem mais
produtos e serviços, querem se relacionar com significativo do que aquele simples relaciona-
as marcas, eles estão cada vez mais críticos e mento de compra e venda. (Scarleth O’hara
atentos. À medida que as necessidades de sub- Arana)
sistência forem satisfeitas progressivamente, as
pessoas erguem os olhos para horizontes mais Referências:
amplos e procuram suprir as necessidades que DEMO, Gisela; PONTE, Valter. Marketing de
têm mais a ver com seu papel no relacionamen- Relacionamento. São Paulo: Atlas, 2008.
to com os outros e com sua posição na comuni- ANGELO, Cláudio Felisoni de; GIANGRAN-
dade. A riqueza material está se tornando cada DE, Vera. Marketing de Relacionamento no
vez menos relevante para a satisfação e felicida- Varejo. São Paulo: Saint Paul, 2007.
de pessoal, à medida que o desejo de pertencer, LIMEIRA, Tania M. Vidigal. Comportamento
de autoestima e de autorrealização se tornam do Consumidor Brasileiro. São Paulo: Sarai-
mais ascendentes e importantes. va, 2007.
As instituições mais novas e mesmo as RANGEL, Alexandre; COBRA, Marcos. Servi-
marcas das organizações podem utilizar-se das ços ao Cliente. São Paulo: Cobra Editora,
estratégias desse tipo de marketing para tornar 1995.
realidade o desejo do consumidor de participar, TELLES, André. Orkut.Com. São Paulo: Lands-
pertencer, compartilhar e sentir a autorealiza- cape, 2007.
ção, adquirindo produtos de organizações que
associaram suas marcas a uma causa relevante,
que não seja relacionada apenas ao acúmulo de MARKETING ESPORTIVO
capital. O marketing de relacionamento é uma Especialização das técnicas do marketing, vol-
ideia poderosa na solução de problemas sociais tadas para o mundo do esporte. O termo tem
e representa uma oportunidade importante a ver com o conjunto de meios de um processo
para as marcas passarem a um patamar supe- de comunicação desenvolvido com o sentido
rior, em que os consumidores veem este traba- de promoção e efetivação de fatos, eventos, en-
lho como uma forma de compromisso cada vez tidades, marcas, atletas, produtos e serviços en-
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tre outros, mas que sejam obrigatoriamente li- uma roupagem capitalista, dá-se a partir de
gados ao esporte (TUBINO et al, 2007, p. 726). 1824, quando William Fuller começou a criar
O entendimento sobre o que vem a ser marke- estratégias para atrair clientes pagantes para as
ting esportivo ainda passa por divergências, apostas nas lutas de boxe que ele promovia na
como apontam Pitts e Stotlar (2002, p. 85), já Carolina do Sul (EUA).
que esse campo de atuação é novo e ainda não Com o crescimento do interesse da socie-
envolve um corpo de conhecimento substan- dade pelo esporte e o aumento da cobertura
cial, quando comparado a outros campos de es- midiática, começam a surgir eventos direcio-
tudo. Um dos pontos divergentes é justamente nados e produtos com marcas registradas, em-
a abordagem: para alguns estudiosos o conceito balagens atraentes e já distribuídos com estra-
limita-se à venda de eventos esportivos. Con- tégias segmentadas. Ao longo do século XX, as
tudo, outra corrente entende o termo como a agências de propaganda passaram a estimular
aplicação dos princípios de marketing a qual- o marketing esportivo, atuando na dobradinha
quer produto – bens, serviços, pessoas, lugares com a mídia eletrônica crescente. No fim do sé-
e ideias – da indústria do esporte (PITTS; STO- culo XX, alcançou uma nova fronteira, como
TLAR, ibidem, p. 85-87). aponta Tubino et al (Ibidem, p.726), com o es-
Para os pesquisadores que abordam a visão porte social, estando nesse campo o esporte-la-
ampla do conceito de marketing esportivo, ele zer e o esporte-educação. (Anderson Gurgel)
está alicerçado em quatro campos de estudo:
estudos esportivos, estudos de administração Referências:
de empresas, estudos de ciências sociais e es- GURGEL, A. Futebol S/A – A Economia em
tudos de comunicação. O marketing esportivo Campo. São Paulo: Saraiva, 2006.
também sofre dificuldades de delimitação por PITTS, B.; STOTLAR, D. Fundamentos do ma-
causa das interfaces com os conceitos de indús- rketing esportivo. São Paulo: Phorte, 2002.
tria do esporte e economia do esporte. Indús- TUBINO, M; TUBINO, F.; GARRIDO, F. Di-
tria do esporte é mais bem entendida, na termi- cionário Enciclopédico Tubino do Esporte.
nologia brasileira, como um nicho de mercado; Rio de Janeiro: SENAC, 2007.
a economia do esporte, como um olhar macro-
econômico do esporte enquanto geração de ri-
quezas, como segmento e na relação com ou- Marketing farmacêutico
tros segmentos econômicos (GURGEL, 2006, As Indústrias Farmacêuticas investem mais em
87-94). Nos Estados Unidos, o conceito de in- propaganda do que em pesquisa. Segundo uma
dústria do esporte acaba se fundindo com o pesquisa feita pela ANVISA – Agência Nacio-
de economia do esporte. Na mídia em geral há nal de Vigilância Sanitária, dos cinco medica-
pouco rigor na distinção desses três termos. Do mentos mais consumidos no Brasil, três dis-
ponto de vista histórico, os primeiros estudos pensam receita médica. Ou seja, o consumidor
de marketing esportivo datam da Grécia Anti- acaba comprando medicamentos, muitas vezes
ga, já que os arautos percorriam as cidades gre- sem precisar. Ainda segundo dados da ANVI-
gas para divulgar os jogos (PITTS; STOTLAR, SA, o Brasil está entre os países que mais con-
idem, p. 726). Uma retomada da questão, com somem medicamentos no mundo. O país ocu-
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pa os primeiros lugares no ranking mundial do ceitos legais vigentes, nas diretrizes éticas ema-
mercado farmacêutico. De acordo com pesqui- nadas do Conselho Nacional de Saúde, bem
sa feita pela Ensp/Fiocruz, o investimento feito como nos padrões éticos aceitos internacional-
pela Indústria Farmacêutica em propaganda, mente. A resolução legal, que esclarece quais as
no país, é de cerca de R$ 3 bilhões anualmente práticas de divulgação, promoção e comerciali-
(2006). Isso corresponde a aproximadamente zação, que podem ser ou não aplicadas pela In-
20% do faturamento do setor. dústria Farmacêutica é a RDC nº. 102/2000.
Num mercado de alta competitividade e Essa fiscalização passou a ser feita pelo Mi-
informação, as empresas farmacêuticas tem a nistério da Saúde após o escândalo do caso Mi-
seu dispor ferramentas como a farmacoecono- crovlar/Schering em 1998, que alarmou o país,
mia, que é a avaliação econômica de medica- quando pílulas de placebo, que são comprimi-
mentos e a farmacovigilância, definida como a dos que não possuem principio ativo e são uti-
correta monitorização da qualidade, segurança, lizados durante o período de testes dos medica-
eficácia do produto, relacionando-o com seu mentos, foram distribuídas, erroneamente no
valor terapêutico. mercado, causando gravidez em várias mulhe-
O Marketing Farmacêutico moderno deve res que utilizavam o medicamento. (Arquime-
buscar conduzir suas atividades na informação des Pessoni)
técnica, tendo como base instituições ou revis-
tas com credibilidade, inclusive no ponto de
vendas, onde encontramos produtos que não Marketing hospitalar
necessitam da prescrição médica, é possível ter O marketing hospitalar se diferencia pela busca
criatividade para associar o aumento do fatura- da plena satisfação das necessidades dos clien-
mento da empresa, com o melhor atendimento tes/pacientes e pela adoção de princípios éticos,
da população. que devem nortear as ações mercadológicas,
O profissional de marketing de Indústria agregando valor ao serviço prestado. Na mente
Farmacêutica deve ser visto como o elo entre dos gestores das organizações de saúde e, so-
a força de vendas (o profissional que está no bretudo, dos profissionais de marketing, pre-
campo) e da classe médica. Esse profissional cisa estar claro que os princípios éticos devem
deve saber interpretar as pesquisas de mercado, nortear as ações mercadológicas. Transparente,
além de identificar, corretamente, para quem também, deve ser a certeza de que, na medida
vender como posicionar e diferenciar seu pro- em que a o marketing empenha-se em edificar
duto. Além disso, esse profissional deve ter um e/ou revitalizar a imagem da organização e em
amplo conhecimento, não só de gestão empre- agregar valor ao serviço prestado ao paciente,
sarial, estatística e finanças, mas também da Le- passa a desfrutar da preferência deste público,
gislação que rege o setor Farmacêutico. gerando incrementos de receita para o hospital.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Nenhum questionamento está sendo direcio-
propaganda de produtos farmacêuticos, tanto nado aos investimentos dedicados à formação
aquela direcionada aos médicos quanto a que de pessoal, à edificação e manutenção das ins-
se destina ao comércio farmacêutico e a popu- talações, à aquisição de tecnologia de ponta, ao
lação leiga, deve se enquadrar em todos os pre- incentivo de pesquisas. A preservação da vida e
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Esse conceito foi sendo, ao longo do tem- Os mecanismos publicitários são tantos
po, substituído por outras designações, que dão quantos puderem ser criados para atingir os
melhor conta da individualidade e capacidade objetivos propostos de aproximar o produto ao
reativa e interpretativa de cada receptor, bem consumidor. Os mecanismos se dividem entre
como da elevada heterogeneidade e segmenta- aqueles de influência sobre o indivíduo e os de
ção – que chega à personalização e à individua- ação da publicidade* e se situavam dentro dos
lização – de meios e mensagens. (Aline Strelow) princípios psicológicos da publicidade.
No que diz respeito aos mecanismos de in-
Referências: fluência, podemos distinguir três grupos, pe-
FERREIRA, Giovandro Marcus. As origens re- los quais um indivíduo influencia o outro: no
centes: Os meios de comunicação pelo viés primeiro grupo encontramos os mecanismos
do paradigma da sociedade de massa. In: sintéticos ou artificiais, constituídos pela de-
HOHLFELDT, Antonio, MARTINO, Luiz monstração, a persuasão e a revelação, os quais
C., FRANÇA, Vera. Teorias da comunica- deixam para o público-alvo a sua iniciativa, a
ção. Petrópolis: Vozes, 2008. sua possibilidade de usar a vontade e a sua pos-
FREIXO, Manuel João Vaz. Teorias e modelos sibilidade de domínio. Assim, a demonstra-
de comunicação. Lisboa: Piaget, 2006. ção utiliza os elementos racionais, dirigindo-
LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos teóri- se a razão impessoal e objetiva; a persuasão, ao
cos da comunicação humana. Rio de Janei- contrário, toca o lado emocional, dirigindo-se
ro: Zahar, 1982. à personalidade afetiva e subjetiva do público-
ORTEGA Y GASSET, José. A rebelião das mas- alvo enquanto que a revelação é uma demons-
sas. São Paulo: Martins Fontes, 1987. tração ou uma persuasão que age subitamente,
SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de teoria e pes- revestindo-se, na maior parte das vezes, da for-
quisa da comunicação e dos media. Porto: ma de autodemonstração e autopersuasão.
Universidade Fernando Pessoa, 2006. O segundo grupo se constitui nos meca-
nismos sintético-automáticos, incluindo-se aí a
sugestão e a imitação. A sugestão é uma pressão
Mecanismos Publicitários moral exercida por uma pessoa sobre a outra e
Segundo os dicionários da língua portuguesa, esta pressão se dá, no caso da publicidade, atra-
mecanismo é a disposição das partes constitu- vés de contatos, ideias, emoções e de vontades.
tivas de uma máquina. Assim, temos mecanis- A imitação é a necessidade de um indivíduo se
mos para tudo o que entendemos como sendo espelhar em outro porque vê nele um líder, um
máquina. Nesse caso, estamos tratando da má- herói, um modelo.
quina publicitária, um sistema publicitário, tal O terceiro grupo se compõe dos mecanis-
qual uma rede organizada de elementos, par- mos automáticos, quando o indivíduo influen-
ticipantes do entorno geral da comunicação de ciado pela mensagem recebida já não tem pos-
massas e programados segundo um determina- sibilidades de iniciativa, de utilização da sua
do plano para atingir um objetivo cujo marco vontade, ou de dominar suas ações.
referencial é o universo econômico da empresa Aqui, encontramos a sugestão automática,
capitalista. a autossugestão e a imitação automática. Estes
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para a ação humana reflexiva, independente do dheld), T-DMB coreana, e One seg japonesa e
meio, pois esta depende apenas do corpo físi- brasileira. Trata-se de um padrão proprietário
co do agente e sua capacidade reflexiva. Diz-se desenvolvido pela empresa norte-americana
midiatização para os processos técnicos levados Qualcomm. (José Antonio Meira)
a termo pela tecnologia midiática e que não se
caracterizam necessariamente como ação crí-
tica. Já mediação, no conjunto das teorias con- MEDIUNIDADE
temporâneas da comunicação, é um conceito A comunidade mediúnica, que é a “mediação
que pressupõe, invariavelmente, uma ação crí- entre os vivos e os mortos”, desde os povos
tica/reflexiva na ou sobre a mídia. (Maria Isabel primitivos, quase sempre foi considerada ver-
Orofino) dadeira. As vozes dos espíritos, captadas pelos
médiuns eram consideradas fonte de conhe-
Referência: cimento e testemunho até mesmo em ques-
WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave: um vo- tões jurídicas. Com as ideias positivistas e ilu-
cabulário de cultura e sociedade. São Pau- ministas (séc. XIX) estes fenômenos passam
lo: Boitempo, 2007. a ser considerados esdrúxulos e desprovidos
de seriedade acadêmica, fenômenos folclóri-
cos ou primitivistas. No senso comum hodier-
MediaFLO no considera-se com maior atenção estes fe-
Tecnologia de transmissão de mídia paga para nômenos de intercomunicação entre o mundo
dispositivos móveis, como celulares, PDAs e dos vivos e dos mortos. A mediunidade é um
TV digital móvel. Entre os tipos tecnologia ofe- fenômeno de comunicação apreciado pelas re-
recidos estão streaming de áudio e vídeo, em ligiões reencarnacionistas orientais e espíritas.
tempo real, áudio e vídeo por demanda (em Os adeptos consideram que a faculdade medi-
tempo não-real), além de cotações de ações, única é um dom inerente a todos os seres hu-
previsão do tempo e escores esportivos. manos.
FLO é a sigla em inglês para Forward Link Eis o processo de mediunidade: o espírito
Only, onde a transmissão é de apenas uma via, encarnado une-se ao corpo molecular através
do produtor para o receptor. Não há possibi- do perispírito, que é um fluído, absolutamen-
lidade de retorno ou interatividade. A teco- te puro, espalhado no universo. Seu resquício
logia MediaFLO não usa a mesma frequência de matéria é ínfimo, imperceptível pelos senti-
das transmissões para celulares. Nos EUA, usa dos. A comunicação mediúnica ocorre, pois os
a faixa de 715-722 MHz, anteriormente, usada seres humanos entram em comunicação com
para o canal 55 de TV UHF. as energias cósmicas e se materializam em nos-
A resolução de vídeo dessa tecnologia é so corpo. Quanto maior a elevação da alma de
QVGA (até 30 quadros por segundo, 320 x 240 um ser humano, mas ele se encontra próximo
pixels de tamanho, compressão AVC/H.264) e da plenitude do universo (KARDEC, 1975, cap.
o áudio, AAC+/HE-AAC. XIV, item 7) e realiza uma interação psico-fisio-
É concorrente das tecnologias DVB-H eu- lógica. A alma, então, se manifesta através do
ropeias (Digital Video Broadcasting - Han- organismo, age e reage nele, concluindo a fa-
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culdade mediúnica a qual tem raízes orgânicas DELUMEAU, Jean. De religiões e de homens.
e é acionada pela alma (ser inteligente). Petrópolis: Vozes, 1997.
Nesse momento, ocorre a comunicação en- GUERRIERO, Silas. O estudo das religiões. São
tre os seres eternos e os seres vivos, pois a inte- Paulo: Paulinas.
ligência que percebe os fluídos cósmicos, sejam KARDEC, A., O evangelho segundo o espiritis-
pessoas ou entidades míticas, transforma-os mo. 112. ed. Rio de Janeiro, 1990.
em sinais vivos e comunicáveis aos outros seres OLIVEIRA, Therezinha. Mediunidade: curso. 7.
humanos, que captam estas comunicações. ed. Capivari: EME, 1997.
Outro aspecto importante revela que qual-
quer espírito para se comunicar com o mé-
dium serve-se do intermédio da combinação Meeting Points
de fluidos perispiríticos, formando uma atmos- Expressão em língua inglesa que pode ser tra-
fera fluídico-espiritual e criando um atmosfe- duzida para o português como “pontos de con-
ra comum que torna possível a transmissão do tato”. O conceito advém da reflexão sociológica
pensamento. Nessa combinação de fluídos, o e crítica da professora Egéria Di Nallo (Univer-
espírito (ser desencarnado) comunica-se para sidade de Bolonha), especialista em sociologia
uma alma (ser encarnado). A alma, dentro de do consumo. Di Nallo (1999), ao propor sua
um corpo vivo, exterioriza o conteúdo desse teoria dos meeting points, realiza uma reflexão
pensamento pelos diferentes tipos de ativida- sociológica sobre marketing, argumentando
des mediúnicas, especialmente a psicografia e que pressupostos do marketing tradiconal, de-
a psicofonia. fendidos por autores como Kotler (2000), ne-
Essa formação depende, então, de dois ele- cessitam de uma revisão de seus postulados.
mentos essenciais: (a) afinidade fluídica entre A autora defende como elemento funda-
o Médium e o Espírito; (b) sintonia do pensa- mental para a formulação da teoria dos mee-
mento entre o ser encarnado (alma com corpo) ting points a ideia de alvo, grafado pela palavra
e o ser desencarnado (espírito). Os graus de target. Tal conceito implica em público-consu-
passividade do médium podem ser consciente, midor fixo, algo, todavia, incompatível com a
semiconsciente ou inconsciente. dinâmica complexa das sociedades modernas,
Independente de nossas convicções religio- nas quais os sujeitos assumem vários papéis so-
sas, consideramos que o espírito humano tem ciais e vivem distintas situações de consumo,
percepções e comunicabilidade que supera os apresentando, portanto, uma subjetividade
sentidos e o pensamento, incorporados pelo fragmentada. Isso significa afirmar que, mais
conhecimento científico positivo. A alma do importante do que identificar alvos, os estudos
médium participa do fenômeno comunicativo, de mercado devem identificar situações de con-
pois seu corpo é instrumento e catalizador das sumo.
comunicações espirituais. (João H. Hansen) Para os estudos de marketing contempo-
râneo, os pontos de contato ou meeting points,
Referências: como defende Di Nallo (1999, p. 201-216), são
ARAIA, Eduardo. Espiritismo: doutrina de fé e situações dinâmicas de consumo que intera-
ciência. São Paulo: Ática, 1996. gem como bolhas, carregadas de significados e
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A natureza distinta dos meios de comuni- veiculadas por outros veículos. “Por ser um
cação permite ainda identificar duas categorias meio exclusivamente publicitário, a mensagem
consideradas clássicas pelos publicitários: a mí- comercial não compete pela atenção do leitor
dia impressa e a eletrônica. com o conteúdo editorial.” (Santos, 2005, p.
A mídia impressa compreende o conjun- 162) O outdoor oferece também ao anunciante
to tradicional dos meios impressos utilizados as vantagens de ter grande impacto visual, ex-
em uma campanha publicitária - revista, jornal, celente para lançamentos, e a possibilidade de
outdoor, aos quais pode ser acrescentada a pu- afixação da mensagem próxima ao ponto-de-
blicidade exterior. venda.
- Revista. A segmentação de títulos é a - Publicidade exterior. Designa, em seu sen-
principal característica do meio – sejam re- tido mais amplo, toda publicidade ao ar livre,
vistas técnicas ou especializadas em determi- na forma de outdoors, cartazes, painéis, placas
nado assunto, portanto destinadas a segmen- e luminosos, afixados na via pública ou nas la-
tos de público definidos. Para o anunciante, a terais de veículos de transporte público, como
segmentação é positiva, visto que evita o des- ônibus e trens. Como características comuns,
perdício da verba publicitária, por contar com têm “o grande poder de comunicação, devido
um público-alvo bem caracterizado. As revistas ao forte apelo visual e à leitura instantânea; e a
possuem qualidade estética superior à do jor- colocação obrigatória em locais com boa visi-
nal, vida mais longa e são lidas com mais vagar, bilidade e intenso fluxo de pessoas.” (PINHO,
o que permite textos mais longos em anúncios 2008, p. 197) Em 2007, os diferentes meios da
de natureza informativa. Em 2007, o meio teve publicidade exterior receberam 2,8% dos inves-
uma participação de 8,5% nos investimentos to- timentos publicitários em mídia.
tais de publicidade em mídia. - A mídia eletrônica é representada, nas
- Jornal. Meio de circulação predominan- campanhas publicitárias, pelos meios eletrôni-
temente local ou, no máximo, regional, o jor- cos – rádio, televisão (aberta e por assinatura),
nal possibilita a segmentação geográfica para internet, novas mídias e, segundo alguns auto-
atingir o consumidor em praças determinadas. res, até certos tipos de luminosos e outdoors
O anunciante desfruta da credibilidade transfe- dotados de recursos eletrônicos.
rida pelo próprio papel social que o jornal de- - Rádio. Fonte de informação, diversão e
sempenha; pela seletividade, ao atingir públicos entretenimento, com forte apelo popular e pre-
formadores de opinião; e pela rapidez na veicu- sença mais local, o rádio cobre a totalidade do
lação da mensagem (razão de ser um dos prefe- território nacional. O fato de não exigir a aten-
ridos para campanhas de varejo). Em 2007, foi ção total do ouvinte é positivo, pois ele continu-
de 16,3% a participação do jornal no total de in- ará a ouvi-lo mesmo se estiver executando ou-
vestimento publicitário em mídia. tras tarefas; mas também pode ser negativo, ao
- Outdoor. Concentrado em cidades de contribuir para dispersar a atenção do ouvinte,
grande e médio porte, o outdoor é um excelen- caso a outra atividade o distraia. O uso da músi-
te meio para campanhas locais e ainda bastan- ca e da sonoplastia, típicos da linguagem radio-
te flexível, já que pode atuar no lançamento de fônica, reforça o efeito da palavra, dando maior
novos produtos ou na sustentação a campanhas impacto aos textos publicitários. A entrada em
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operação do rádio digital aumenta as oportuni- ção de sua audiência. Em relação à TV aberta,
dades de interação com o ouvinte, a qualidade pode-se dizer que o tipo de consumidor que
do áudio e a possibilidade de explorar até três as mensagens publicitárias irão atingir é mais
ou quatro programações distintas, no caso das importante na televisão por assinatura do que
emissoras FM. Outro benefício será o aumento o número de espectadores que serão atingidos
de audiência das emissoras de rádio com pre- pelo comercial nela veiculado. Em 2007, o meio
sença na internet, as quais poderão atender a teve uma participação de 3,4% nos investimen-
um contingente maior de ouvintes. Em 2007, o tos totais de publicidade em mídia.
rádio foi aquinhoado com 4,0% do investimen- - Cinema. O cinema é um meio com pe-
to publicitário total em mídia. netração restrita aos grandes centros, onde se
- Televisão aberta. Veículo com maior co- concentram as 1.785 salas exibidoras existen-
bertura e penetração no território brasileiro, tes no país. Embora os custos de produção em
dada sua presença em 99,7% dos domicílios, película sejam altos, a veiculação não é muito
em 2007 a TV aberta recebeu 59,2% dos inves- cara, o que favorece os anunciantes locais de
timentos publicitários em mídia. A estrutura porte médio. Os anúncios reúnem imagem,
em redes nacionais e regionais da TV aberta - som, movimento e cor, como na televisão, mas
formadas pela emissora principal e por várias apresentam vantagens devido ao alto impacto
afiliadas – permite à mensagem uma cobertura na audiência, causado pela dimensão da tela,
flexível, já que o comercial pode ser veiculado e à melhor qualidade de imagem e som trazi-
apenas no local, em uma região, no estado ou da pela digitalização. Os comerciais são exibi-
no país inteiro. A TV aberta “possui grande im- dos para um público cativo, pois nada desvia a
pacto – pois reúne imagem, som, movimento atenção total do espectador na sala. Em 2007, o
e cor; é eficiente para a demonstração de pro- cinema recebeu 0,4% dos investimentos totais
dutos; disponibiliza dados e estudos de perfil e de publicidade em mídia.
composição de audiência completos dos seus - Internet. Meio com grande potencial de
programas; e transmite mensagens para gran- crescimento, a internet criou novos ambientes
des audiências, a baixo custo”. (PINHO, 2008, de suporte para a publicidade on-line, como a
p. 200) Entretanto, a mensagem dura apenas o web, o correio eletrônico, os sites de relaciona-
tempo de veiculação, o que exige a sua repetição mento e os blogs. Por ser recente, ainda faltam
e contribui para elevar os custos. Como novida- informações confiáveis para o adequado uso
de, a evolução da tecnologia digital, com a ofer- da rede mundial como mídia de comunicação
ta da banda larga e da TV digital, está prestes a publicitária. Porém, “algumas vantagens desse
permitir a recepção do sinal de televisão em dis- meio já podem ser notadas – a combinação de
positivos móveis, como os telefones celulares. textos escritos, imagens fixas, imagens em mo-
- Televisão por assinatura. A penetração vimento, cores, sons, leitura não-linear e, prin-
inexpressiva da TV paga, no Brasil, é atribuída cipalmente, interatividade denota o potencial
ao preço elevado da assinatura. Muitos dos seus que esse meio tem para a comunicação merca-
canais são especializados em assuntos específi- dológica.” (SANTOS, 2005, p. 163) Em 2007, o
cos, razão pela qual o meio tem como caracte- ambiente internet recebeu 2,8% do total de in-
rísticas principais a segmentação e a qualifica- vestimentos publicitários em mídia.
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da cultura, uma vez que eles munem as lingua- mulos são formados através dos processos de
gens com novos códigos pelo intenso tráfego de pensamento humano (FREIXO, 2006).
informação entre as suas estruturalidades. De acordo com Machado (2001), a men-
No fundo são textos em que “os sentidos sagem é a configuração organizada a partir de
na memória da cultura não se conservam, mas uma determinada codificação ou linguagem de
crescem” (LOTMAN, 1996, p. 160), uma vez um critério de significação, produtor da enun-
que a informação nova é tecida pela expansão ciação e, consequentemente, do sentido. A
quantitativa da capacidade dos sistemas em co- mensagem é configurada a partir de um código
dificar signos e relações sígnicas, inexistentes (ou mais) e de um canal (ou mais).
sob o fundo daqueles já repertoriados pelas lin- Em seus estudos sobre semiótica, Umber-
guagens. Na relação de montagem estabelecida to Eco (2007) considera a mensagem enquanto
entre a modalidade informativa e a criativa, a forma significante e como um sistema de signi-
memória se processa como “tradutora das tra- ficados. O primeiro caso refere-se à configura-
dições” (Machado, 2003, p. 30), ao atualizar e ção, gráfica ou acústica, por exemplo, da men-
preservar os sistemas sígnicos com o intuito de sagem. A frase “eu sou brasileiro” pode subsistir
combater os seus processos de degeneração e, mesmo se não for recebida, ou se for recebida
com isso, ela se volta para o que Lotman deno- por um destinatário que desconheça a língua
mina como “máximo de extensão temporal” portuguesa. Ao contrário, a mensagem como
(2000, p. 173), no qual “cada cultura cria seu sistema de significados é a forma significante
modelo de duração e de existência pelo cará- que o destinatário, baseado em códigos deter-
ter ininterrupto de sua memória” (2000, p. 173). minados, preenche de sentido.
(Fábio Sadao Nakagawa) O sentido de uma mensagem está relacio-
nado com as circunstâncias. A circunstância de
Referências: comunicação se apresenta como uma espécie de
LOTMAN, Yuri M. La Semiosfera I. Madrid: referente da mensagem. Usando um exemplo de
Cátedra, 1996. Eco, se dissermos a palavra “porco”, não impor-
. La Semiosfera III. Madrid: Cátedra, ta que ao termo corresponda ou não determina-
2000. do animal, importa, isso sim, o significado que a
MACHADO, Irene. Escola de semiótica. São sociedade em que vivemos atribui a esse termo,
Paulo: Ateliê Editorial, 2003. e as conotações com que o envolve – pode ser
um animal impuro, pode ser usado em sentido
translato como insulto. O enunciado “aquele é
Mensagem um belo porco” tem seu sentido completamente
A mensagem é o movimento do emissor em di- alterado se pronunciado na circunstância “cria-
reção ao receptor, através de um conjunto es- ção suína”, ou então, na circunstância “discurso
truturado de signos, os quais estabelecem uma sobre um amigo” (ECO, 2007, p. 44).
relação entre a noção de um objeto qualquer Por ser considerada por muitos como o
(significado) e sua representação (significante), centro do processo de comunicação, é objeto
ou seja, exprimem a associação de uma expres- de parte significativa das pesquisas deste cam-
são ao seu conteúdo (COHN, 1957). Esses estí- po. Em seus estudos sobre a análise estrutural
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da mensagem, Cohn (1975) salienta que, na in- A revisão da literatura sobre o tema de-
vestigação dos processos e dos meios de co- monstra que o termo avaliação também pode
municação de massa, é perfeitamente legítimo ser adotado com a mesma conotação. Lopes
atribuir-se uma importância central às mensa- (2005) propõe a distinção entre os termos e,
gens. Afinal, é em torno delas que se articula consequentemente, dos procedimentos meto-
todo o complexo social e tecnológico envolvi- dológicos de avaliação e de mensuração, além
do na emissão e recepção da comunicação, da de sugerir que seja considerado o conceito de
qual formam as unidades básicas. A interação valoração de resultados.
simbólica consiste em um processo de emissão Assim, a avaliação está associada à eficiên-
e recepção de mensagens codificadas (LITTLE- cia e pode ser definida como a etapa do plane-
JOHN, 1982). (Aline Strelow) jamento conduzida durante a implementação
das ações de um plano com vistas a identificar
Referências: possíveis falhas e verificar o seu desempenho.
COHN, Gabriel. Comunicação e indústria cul- A mensuração seria conduzida com o intuito de
tural. São Paulo: Nacional, 1975. verificar os resultados obtidos com o progra-
ECO, Umberto. A estrutura ausente. São Paulo: ma, ou seja, demonstrar o alcance dos objetivos
Perspectiva, 2007. declarados no planejamento. O conceito de va-
. Tratado geral de semiótica. São Paulo: loração refere-se à contribuição econômica que
Perspectiva, 2009. um determinado setor ou programa traz à or-
LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos teóri- ganização, ou seja, a demonstração de resulta-
cos da comunicação humana. Rio de Janei- dos baseada na relação custo-benefício.
ro: Zahar, 1982. Desse modo, a avaliação e a mensuração
MACHADO, Irene. O ponto de vista semióti- de resultados são conduzidas por meio de pes-
co In: HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, quisa tanto de dados secundários quanto de da-
Luiz C.; FRANÇA, Vera. Teorias da comu- dos primários e dependem do estabelecimento
nicação. Petrópolis: Vozes, 2008. de objetivos claros e mensuráveis. Anderson et
al (2009, p. 13-14) estabelecem que um objeti-
vo mensurável deve especificar um resultado
Mensuração de resultados na desejado; especificar uma ou mais audiências;
gestão comunicacional ser mensurável conceitual e praticamente; re-
A mensuração de resultados é uma das etapas ferir-se a um fim, não aos meios adotados para
do processo de planejamento conduzida com alcançá-los e incluir um prazo. (Valéria de Si-
a finalidade de demonstrar os resultados obti- queira Castro Lopes)
dos com as ações que compõe o plano, assim
como verificar os erros cometidos para que se- Referências:
jam corrigidos e evitados no ciclo seguinte. Este GALERANI, Gilceana Soares Moreira. Avalia-
procedimento está diretamente relacionado aos ção em comunicação organizacional. Brasí-
conceitos de eficiência (execução de uma ativi- lia: Embrapa/Assessoria de Comunicação
dade de forma adequada) e eficácia (alcance de Social, 2006.
resultados pretendidos). GRANDI, Guilherme; LOPES, Valéria de Si-
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de de espaço publicitário veiculado nos princi- disso, o conceito de mercado publicitário pode
pais meios e títulos auditados multiplicado pelo abranger as dimensões das principais relações
preço de veiculação (preço “de tabela”), sem le- entre os agentes da cadeia da comunicação.
var em conta nenhuma redução de valores por (Luiz Fernando Dabul Garcia)
descontos.
O resultado final permite indicar quais fo- Referências:
ram os principais setores e quais as empresas ABAP. A Indústria da Comunicação no Brasil.
que mais anunciaram, além de apontar qual a Disponível em: <www.abap.com.br>. Aces-
distribuição das verbas publicitárias nos prin- so em 04/2009.
cipais meios de veiculação e consequentemente RABAÇA, C. A.; BARBOSA, G. Dicionário da
quais as agências de maior faturamento. Comunicação. São Paulo: Ática, 1987.
Esta compreensão do chamado mercado SANT´ANNA, A., ROCHA, I., GARCIA, L. F.
publicitário está fortemente pautada segundo o D. Propaganda, Teoria, Técnica e Prática. 8.
que reza a lei 4680, promulgada em 1965 e com- ed. São Paulo: Cengage, 2009.
plementada pelos Decretos 57690/66 e 4563/02,
que discrimina os participantes e rege as rela-
ções da publicidade. Porém, o conceito de mer- Mercado Regional
cado pode ser ampliado para a somatória dos Mercado caracteriza-se pela possibilidade de
atores envolvidos direta ou indiretamente nes- troca de bens entre agentes econômicos, seja
tas operações, tais como o número de agências por meio de unidades monetárias ou não. Isso,
de propaganda, de veículos de comunicação e também, pode ser compreendido por “um con-
de fornecedores especializados de serviços de junto de clientes com renda disponível e uma
interesse direto para a execução das operações necessidade específica a ser atendida por uma
publicitárias (como pesquisas de mercado e de empresa” (LIMEIRA, 2007, p.3). Quando os
opinião, produtoras de materiais gráficos, som agentes econômicos e/ou grupos de consumi-
e imagem, eventos etc.). dores potenciais estão concentrados em deter-
Em estudo realizado, em 2008, a Asso- minada área geográfica, temos o que se deno-
ciação Brasileira de Agências de Propaganda mina mercado regional.
(ABAP) consolidou uma série de bases men- Pela geração de emprego e renda oriundas
suráveis, como as estatísticas oficiais do IBGE e das trocas de bens e serviços, é usual a aplica-
de diversos institutos de pesquisa, delimitando ção do termo mercado regional para se referir
de modo mais macro estes dados da indústria ao índice de empregos e aos segmentos da eco-
da comunicação no Brasil (www.abap.com.br). nomia mais relevantes de uma região.
E já, nesse relatório, denota-se que, desde Para definir o mercado regional quando
o final de século XX, o conceito de publicida- relacionado ao consumo de mídias, considera-
de tem se ampliado para “comunicação com o se a área geográfica de cobertura dos veículos
mercado”, realizado através das diversas ferra- de comunicação. Utiliza-se, também, o termo
mentas de comunicação, tais como a propagan- mercado regional para definir a organização do
da, a promoção de vendas, eventos, merchandi- mercado, ou seja, o conjunto de fornecedores,
sing, patrocínio e internet, entre outros. Diante práticas adotadas, formas de comercialização e
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particularidades da região abordada. Uma mí- as etapas são importantes e se interligam, po-
dia com identidade regional, nos termos defini- demos localizar o merchandising como a etapa
dos por Peruzzo (2003), atua no processo de re- anterior ao lançamento do produto. Ou seja, a
gionalização levando em conta as identidades, concepção do nome do produto, das caracterís-
as características, as necessidades, os investi- ticas apropriadas ao target, do design da emba-
mentos e possíveis desenvolvimentos, os vários lagem, das estratégias de lançamento no ponto-
repertórios nascentes no território que preten- de-venda, entre outras ações, são pertinentes à
de delimitar. (Mônica Caniello) área de merchandising.
Paralelamente, a essa etapa, a propaganda
Referências: vai conceber a campanha de lançamento para
LIMEIRA, T.M.V. E-marketing: o marketing na as várias linguagens midiáticas, comercializar o
internet com casos brasileiros. São Paulo: espaço da veiculação da mensagem e trabalhar
Saraiva, 2007. a estratégia de lançamento do produto, pois o
PERUZZO, Cicília Maria Krohling. Mídia lo- que vai para o ponto-de-venda, também deve
cal, uma mídia de proximidade. Comunica- figurar nos anúncios das várias mídias, para
ção Veredas. Marília: Universidade de Ma- que não haja contradição entre as peças veicu-
rília, 2003. ladas nos meios de comunicação e nos espaços
de venda.
Todavia, cabe ressaltar aqui, que há ainda
MERCHANDISING muitas divergências sobre a conceituação de
Partindo da etimologia da palavra inglesa mer- merchandising e sua real função como estratégia
chandising, ela pode ser traduzida simples- de marketing – alguns autores chegam a apre-
mente por ‘venda’ e ‘merchant’ por ‘mercador’. sentá-la meramente como promoção de vendas
Somando ambos os significados, chega-se à e/ou propaganda. A AMA (American Marke-
conclusão de que se trata de uma atividade que ting Association) salienta merchandising “como
envolve a mercadoria, o mercador e uma ação técnica de ajustamento e adequação do produ-
permanente sobre os objetivos de venda. Em to ao mercado consumidor e como verdadeira
outras palavras, merchandising é um conjunto operação de planejamento, necessária para pôr
de atividades desenvolvidas para um canal de no mercado o produto ou serviço certo, no lu-
vendas, visando chamar a atenção do consumi- gar e tempo certos, em quantidades certas e a
dor para um determinado produto e impulsio- preço certo”, ou seja, são ações direcionadas ao
ná-lo à compra. E este é um processo contínuo, consumidor, desenvolvidas no ponto de venda
assim como o ciclo de vida do produto. e que aceleram a comercialização.
É importante destacar que evidenciar o Em outras palavras, as técnicas de mer-
produto faz parte do conjunto de ações de mer- chandising têm por objetivo chamar a atenção
chandising. No entanto, cabe ratificar que as para o ponto- de-venda, destacando o produto,
ações de concepção e de preparação do pro- tornando-o acessível ao cliente e criando um
duto, para que este seja introduzido no merca- ambiente favorável à compra. No entanto, cabe
do, também são ações de merchandising. Como lembrar que o momento da compra parece ser
no conceito de comunicação integrada, todas o único passo do consumo. Contudo, antes de
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importante sempre oferecer ao consumidor algo bebendo uma marca de cerveja ou refrigerante,
além das características básicas do produto, e usando o modelo de uma determinada marca
um grande diferencial está no próprio ponto- de bicicleta, motocicleta ou o último modelo de
de-venda, pois ali é o local onde o produto será automóvel recentemente lançado no mercado,
disponibilizado para comercialização, e o clien- sugerindo, direta ou indiretamente, aos teles-
te geralmente está receptivo a estímulos. Como pectadores que aquela marca ou modelo é que
o ato de comprar está relacionado a fatores sen- é o melhor entre todos os concorrentes.
soriais e emocionais, a percepção e a utilização O merchandising também se constitui na
das técnicas de merchandising, gerando estímu- base para que o produto certo seja exibido e
los positivos, podem potencializar e agilizar a sua imagem exposta e vendida no local cer-
decisão de compra. (Scarleth O’hara Arana) to, na hora exata com veiculação adequada no
programa certo. O merchandising televisivo
Referências: também é utilizado para a veiculação de men-
ARMSTRONG, Gary; KOTLER, Philip. Princí- sagens de caráter social, incluídas em progra-
pios de Marketing. São Paulo: Prentice Hall mas os mais diversos sem que as inserções te-
Brasil, 2003. nham caráter comercial, ideológico ou político.
BLESSA, Regina. Merchandising no Ponto-de- As famosas inserções de produtos e servi-
Venda. São Paulo: Atlas, 2006. ços em programas de televisão são, portanto,
COBRA, Marcos; RIBEIRO, Áurea. Marketing, o que se conhece, aqui no Brasil, como sendo
Magia e Sedução. São Paulo: Cobra Edito- o merchandising televisivo. Em outros países
ra, 2000. esta forma de anúncio é identificado por “Tie-
FERRACCIÙ, João De Simoni Soderini. Pro- In”, ou seja, em inglês “tie” significa “amarrar” e
moção de Vendas. São Paulo: Makron “in” traduz-se como sendo “dentro de”. As ações
Books, 1997. de merchandising televisivo têm crescido mui-
GIGLIO, Ernesto. O Comportamento do Consu- to no Brasil e, em muitas situações o telespecta-
midor. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Pionei- dor pode observar quadros inteiros, com o ro-
ra/ Thomson Learning, 2004. teiro todo elaborado, com foco no consumo de
determinado produto ou serviço.
Está patente que o merchandising é uma
Merchandising Televisivo ferramenta do marketing; mas, no Brasil, o ter-
O merchandising televisivo é a técnica de in- mo é usado para denominar a inserção de pu-
serir anúncios em um programa de televisão, blicidades em peças de áudio ou vídeo de modo
como, por exemplo, numa telenovela, sem que que o produto seja adicionado naturalmente
o mesmo pareça ser uma publicidade. O pro- como se fosse parte do que se está ouvindo ou
duto, a marca ou serviço de uma determina- assistindo.
da empresa pode ser mencionado e ou apare- As primeiras experiências com merchandi-
cer numa cena da telenovela sem, contudo, ser sing televisivo praticados, no Brasil, ocorreram
identificado como anúncio publicitário. no ano de 1969 durante a novela “Beto Rock-
O ator ou atriz surge em determinada cena feller”, de Bráulio Pedrosa, na Rede Tupi de Te-
de um programa usando determinada grife ou levisão. Na cena, o Beto, interpretado por Luis
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não avisa que irá se dar: cabe ao pesquisador, pacidade de conhecer, seja com referência à
então, a identificação de sua fulguração e a ini- capacidade de intervir na realidade”, sublinha
ciativa de acompanhá-la. Método, portanto, es- o autor.
taria ligado a uma forma de pensar a comuni- A ciência, para ser concretizada, exige o
cação, e metáporos, a outra. (Eliany Salvatierra emprego de métodos científicos. Gil (2009)
Machado) afirma que, para que um conhecimento possa
ser considerado científico, torna-se necessário
Referências: identificar as operações mentais e técnicas que
DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e possibilitaram a sua verificação. Ou, em ou-
técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. tras palavras, determinar o método que pos-
São Paulo: Atlas, 2006. sibilitou chegar a esse conhecimento. Pode-se
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico definir método como caminho para se chegar
da filosofia. 2. ed. São Paulo: Martins Fon- a determinado fim. E método científico como
tes, 1996. o conjunto de procedimentos intelectuais e
LOPES, Maria Immacolata Vassalo. Pesquisa técnicos adotados para se atingir o conheci-
em comunicação: formulação de um mode- mento.
lo metodológico. São Paulo: Loyola, 1990. No campo da comunicação, o avanço da
MARCONDES FILHO, Ciro. Princípio da ra- prática metodológica apresenta-se como de-
zão durante: por uma teria do aconteci- finitivo para a legitimação científica. “A preo-
mento em comunicação, 2008. [circulação cupação com a teoria (que é um dos níveis de
restrita] qualquer discurso científico) na pesquisa tem
relegado para segundo plano as questões de
metodologia, tanto em termos de seu estudo
Metodologia de pesquisa (Metodologia enquanto disciplina) como em
A metodologia de pesquisa é o estudo analítico termos de sua aplicação (Metodologia enquan-
e crítico dos métodos de investigação e de pro- to prática)”, explica Lopes (1990).
va. Trata-se de uma reflexão sobre a atividade Para a autora, o desequilíbrio entre o con-
científica para obter, em determinado momen- teúdo teórico e a forma como ele é constituído
to, um retrato dessa atividade – retrato esse que parece ser um traço específico da pesquisa em
diferirá de acordo com a ciência sobre a qual comunicação, no país, e contribui para refor-
estamos refletindo (DENCKER; VIÁ, 2001). çar um dualismo teoria-metodologia perigoso
A metodologia de pesquisa pode ser de- para o reconhecimento científico do campo da
finida, ainda, como o estudo dos caminhos, Comunicação.
dos instrumentos usados para se fazer ciência. A construção de métodos peculiares às Ci-
Demo (1995) salienta o caráter instrumental ências da Comunicação, iniciada ainda na dé-
da disciplina, que opera em serviço da pesqui- cada de 1960, com a criação do Instituto de Ci-
sa. “Ao mesmo tempo em que visa conhecer ências da Informação (ICINFORM) por Luiz
caminhos do processo científico, também pro- Beltrão, é uma tarefa ainda em execução pelos
blematiza criticamente, no sentido de indagar pesquisadores da área. (Aline Strelow)
os limites da ciência, seja com referência à ca-
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nos meios de comunicação selecionados; (3) base VASSALO DE LOPES, Maria Immacolata
física ou tecnologia empregada no registro, ou (Org.). Epistemologia da Comunicação. São
suporte, das informações como CD, DVD, papel, Paulo: Edições Loyola, 2003.
película cinematográfica etc. As mídias, enquan-
to mediações comunicacionais, configuram-se
em uma ampla variedade de formas. MÍDIA BUDISTA
Alguns autores contemporâneos, motiva- Podemos dividir a evolução da mídia budista
dos pelas recentes possibilidades tecnológicas em 3 fases: 1ª Budismo de transmissão oral; 2º
de comunicação mediada, classificam-nas em: Budismo de transmissão escrita; 3º Budismo de
(1) Mídias Tradicionais (convencionais ou line- transmissão digital.
ares) – meios de comunicação de contextualiza- O budismo surgiu na Índia no século V
dos pelas tecnologias provenientes para aquém a.C. e foi influenciado pela cultura indiana de
do século XIX, tais como o telégrafo, telefone, transmissão oral que valorizava a memória
fotografia, rádio, cinema, televisão, jornal, re- como forma de armazenar o conhecimento.
vista, cartaz, folhetim, outdoor; (2) Mídias Di- No século II a.C., o Rei Ashoka, que gover-
gitais (novas tecnologias ou em rede) – meios nou quase todo subcontinente indiano, iniciou
provenientes das cibertecnologias, a partir do um grande esforço de armazenar por escrito os
século XXI, para a comunicação on line que se ensinamentos, também deixou registros em es-
caracterizam, entre outros fatores, pela co-par- tupas (Monumento bramanista ou budista para
ticipação do receptor da mensagem através da guardar relíquias e marcar o caráter sagrado do
interatividade e/ou telepresença. lugar ou comemorar um evento importante) e
Nesses termos, apresentam-se a NET (in- monumentos históricos contendo textos budis-
ternet) – considerando-se a migração dos tas como pilares e rochas espalhados por todo
meios convencionais para a rede (home pages, seu império.
hotsites, e-mails, redes de comunicação por as- Com o Helenismo, a partir de Alexandre
sinatura como o messenger, comunidades vir- o Grande, houve um sincretismo cultural na
tuais, chats, entre outros), a televisão digital, arte em geral, especialmente na arquitetura e
a telefonia celular e os demais sistemas de co- escultura, onde o estilo grego foi incorporado
municação portáteis e intercambiáveis. (Juliana a elementos budistas criando uma cultura Gre-
Pereira de Sousa) co-Budista. A representação de Buda em forma
humana iniciou nesse período.
Referências: O budismo Mahayana, que tem início,
BAITELLO JR., Norval. A era da iconofagia. aproximadamente, no século I d.C., utilizou
Ensaios de Comunicação e Cultura. São muito o conceito de “Meios hábeis” (upāya) en-
Paulo: Hacker Editores, 2005. fatizando o uso de diferentes métodos e mídias
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lis- de forma flexível, conforme a capacidade de
boa: Presença, 1999. compreensão do ouvinte para divulgar o ensi-
SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho. Uma namento.
teoria da comunicação linear e em rede. Posteriormente, até os tempos modernos,
Rio de Janeiro: Vozes, 2002. diversas são as formas utilizadas para propagar
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o conhecimento budista, seja na forma popular católica cunhou o termo Meios de Comunica-
por lendas e canções ou com registros escritos, ção Social para designar sua função social e éti-
dramaturgia e meios analógicos e digitais. Atu- ca da mídia.
almente, temos em destaque a mídia internet Após um período de resistência e tentativa
que já se encontra os textos do Triptaka (com- de controle das novas tecnologias, pela emissão
pilação dos textos budistas) quase que na sua de documentos como Inter Multíplices do papa
totalidade digitalizada. Inocêncio VIII, em 1487, e do Index (Catálogo
Não existe, de forma geral, uma restrição dos livros proibidos) do papa Pio IV no século
quanto à mídia utilizada para a divulgação des- XVI (PUNTEL, 1994, p. 32), a Igreja começou a
ses ensinamentos. É importante observar que apropriar-se dos veículos de comunicação e di-
diferentemente da transmissão do conteúdo em zer sua palavra, inicialmente, pela imprensa. O
mídia, que tem como caráter ser relativamente jornal oficial do Vaticano, L’Osservatore Roma-
objetivo e coletivo, o budismo tem como ênfase no, foi criado em primeiro de junho de 1961, no
a transmissão da experiência que possui um ca- pontificado do papa pio IX, um jornal de circu-
ráter subjetivo e individual surgindo do contato lação diária, no Vaticano e semanal em muitos
do ensinamento (por um mestre e o conteúdo) países, como o Brasil.
com a prática. Com o surgimento do rádio, em 12 de fe-
Diferentes escolas do pensamento budista vereiro de 1931, o papa Pio XI inaugurou a Rá-
dão maior ou menor grau de ênfase neste tipo dio Vaticano, instalada pelo italiano Guglielmo
de transmissão, utilizando uma grande varie- Marconi, que hoje transmite em mais de 43 lín-
dade de métodos meios e mídias para atingir guas (CORAZZA, 2000, p. 34). Oficialmente, a
este fim. (Mauro Fernando Jeckel) Igreja acompanhou o desenvolvimento das mí-
dias, sobretudo, com orientações em cartas en-
cíclicas, como Vigilanti Cura sobre o cinema,
Mídia Católica de 29 de junho de 1936. Esta foi a primeira car-
O termo mídia católica refere-se aos meios de ta encíclica pontifícia sobre comunicação, no
comunicação assumidos por entidades liga- século XX, que inclui os modernos meios ele-
das à Igreja Católica Apostólica Romana. En- trônicos.
tre elas, estão Dioceses e Arquidioceses, Paró- Nessa época houve experiências de pro-
quias, Congregações religiosas masculinas e dução de filmes por parte de grupos católicos,
femininas e Associações de fiéis leigos. Vê-se, com o intuito da catequese, entre eles, a San
portanto que mídia católica é um termo amplo Paolo Film, fundada por Tiago Alberione, que
que designa um grande número de organiza- produziu uma série entre os quais se destacam
ções pertencentes a ela, ou seja, que seguem as Abuna Messias e Mater Dei. Em decorrência
Orientações e Diretrizes em sua ação evange- dessa orientação papal criaram-se muitas salas
lizadora, mas têm autonomia administrativa e de cinema nas paróquias que exibiam filmes es-
editorial. colhidos para a comunidade, tendo em vista as
Há centralização no sentido de pertenci- crianças e os jovens.
mento, mas descentralização na gestão. A par- No século XX, a Igreja organizou asso-
tir do Concílio Vaticano II (1962-1965) a Igreja ciações internacionais de mídia para envolver,
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ta da WACC (World Association for Christian Na mídia de fronteira os veículos que emi-
Communication), Cátedra Unesco de Comuni- tem mensagens jornalísticas fazem referências e
cação e Universidade Metodista de São Paulo, atendem a territorialidades diferentes, compar-
que teve por decorrência a realização de con- tilham e mesclam idiomas. Acabam por criar
ferências anuais de mídia cidadã. Tal iniciativa um espaço referencial muito particular, onde
tem relação, no âmbito internacional, com arti- os marcos geográficos têm pouca importância.
culações como a Cúpula Mundial sobre a Socie- Diferente do estabelecimento de fluxo Norte-
dade da Informação (WSIS – World Summit on Sul, que verificamos na mídia mundial, a mídia
the Information Society) e a Campanha CRIS – fronteiriça poderia ser retratada pela conceitu-
Communication Rights in the Information Socie- alização de Camponez (2002) como comunica-
ty. (Ana Carolina de Senna Melo e Silva) ção de lugar. A proximidade pode ser geradora
do que denominamos de comunicação de lu-
Referências: gar. Esse conceito reporta-se a uma proximi-
Dagnino, E. Sociedade civil, participação dade situada localmente, num espaço e num
e cidadania: de que estamos falando? In: tempo territorialmente identificados, e surge
MATO, D. (Coord.). Políticas de ciudada- em contraposição ao conceito de “comunida-
nía y sociedad civil en tiempos de globaliza- des sem lugar”, ligadas por interesses e valores
ción. Caracas: FACES, Universidad Central comuns, mas que não têm por referência um
de Venezuela, 2004. território específico.
MARQUES DE MELO, J.; GOBBI, M. C.; SA- O conceito de proximidade resulta de
THLER, L. (Orgs.). Mídia cidadã: uto- uma geografia variável, cujo enfoque está em
pia brasileira. São Bernardo do Campo: uma “geografia da identidade, com tudo o que
UMESP, 2006. isso implica de criação e recriação, do que
em uma identidade geográfica propriamen-
te dita” (CAMPONEZ, 2002, p.128). A mídia
Mídia de fronteira atua como instrumento das relações e dos es-
Se falar em mídia, no Brasil, exige um bom re- paços social, econômico e cultural, deixa de
pertório teórico e a constatação de muitas sin- ser um meio técnico para se consolidar como
gularidades e particularidades em função da uma dimensão de sociabilidade atual. Assim,
extensão geográfica do país, ao tratarmos da por meio dos conteúdos jornalísticos, os meios
mídia da fronteira, a constatação não é diferen- deixam de representar meros transmissores
te. Enquanto espaço social a fronteira é repre- de dados e passam a colaborar na definição de
sentada por comunidades próximas territorial- acontecimentos através das falas, do agenda-
mente e permeadas pelo aspecto internacional. mento de assuntos e dos personagens que sele-
O nacional, ou seja, o pertencimento a deter- ciona para repercutir os fatos. Os meios de co-
minada nação continua presente, mas o espaço municação, com os discursos elaborados pelos
fronteiriço exige uma referência territorial mais jornalistas, passam a compor o conhecimento
dinâmica, que permita a mescla constante com cotidiano dos indivíduos com relação às iden-
elementos do outro, inclusive com os elemen- tidades locais, regionais, nacionais ou interna-
tos midiáticos. cionais.
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3) Ação social de sentido mais lato – como cursos, dentre outras formas de atuação. Por
uma ampliação do conceito de comunicação fim, vale assinalar a utilização corrente do ter-
alternativa, podemos entender a expressão mí- mo mídia dos excluídos no campo da folkco-
dia dos excluídos como a utilização de ferra- municação, sintetizando os sentidos propostos
mentas de comunicação por todos aqueles que acima. (Ana Lúcia Enne)
se encontram excluídos, tanto política, quanto
econômica, social e culturalmente, da esfera da Referências:
chamada grande mídia, controlada de forma DOIMO, Ana Maria. A vez e a voz do popular:
monopolista por determinados setores e po- movimentos sociais e participação política
deres. no Brasil pós-70. Rio de Janeiro: Relume-
Nesse último caso, a mídia dos excluídos Dumará, 1995.
envolveria múltiplas formas de expressão de to- FESTA, Regina; SILVA, Carlos Alberto Lins da
dos aqueles que, não podendo estrategicamente (Orgs). Comunicação popular e alternativa
fazer uso das práticas monopolizadas, tatica- no Brasil. São Paulo: Paulus, 1986.
mente exploram as possibilidades de comuni- PAIVA, Raquel. O Espírito Comum - comuni-
cação que se oferecem, bem como lutam pela dade, mídia e globalismo. Rio de Janeiro:
criação de novas formas de apropriação das Mauad, 2003.
ferramentas já existentes. PERUZZO, Maria Cicília Kruhling. Vozes Ci-
Em todos os casos, entendemos que se trata dadãs: aspectos teóricos e análise de expe-
de pensar formas estratégicas de luta pela cons- riências de comunicação popular e sindical
cientização e/ou inclusão de sujeitos em esferas na América Latina. São Paulo: Angellara,
das quais eles se encontram de alguma forma 2004.
alijados. Neste sentido, a mídia dos excluídos, POLIVANOV, Beatriz. Rádios comunitárias:
em maior ou menor grau, implica em luta pe- conflitos e negociações na configuração de
los instrumentos de comunicação e seus usos, redes de poder e identidades sociais. Dis-
tanto como um fim em si mesmo quanto como sertação de Mestrado em Comunicação.
meio para a disputa por visibilidade, polifonia, Niterói: UFF, 2008.
representação e direito à significação. É preci-
so lembrar ainda que, em especial nas acepções
2 e 3, a luta para constituir uma mídia dos ex- Mídia-Educação
cluídos passa, primeiramente, por uma luta de Experiências com o aproveitamento dos meios
acesso às tecnologias de comunicação, em ge- para finalidades educacionais ocorreram desde
ral economicamente restritivas, viabilizando, os primórdios do século passado envolvendo
assim, a criação de formas de expressão mais tanto a TV, sobretudo, nos Estados Unidos e
inclusivas. Mas é preciso não esquecer, porém, Europa, como o rádio, cuja presença, particu-
que muitas vezes burlam-se tais impedimen- larmente no Brasil, foi marcante. Desse con-
tos de acesso tecnológico através do uso de ins- ceito decorrem os projetos desenvolvidos por
trumentos diversos, como a comunicação oral, Roquette Pinto (1884-1954) e Anísio Teixeira
música, formas transgressoras de apropriação (1900-1971) empenhados em promover ensino
de tecnologias restritivas, partilhamento de re- e alfabetização de adultos tendo o rádio como
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suporte. Graças à crescente expansão dos sis- facilidade entre a televisão e a internet, assim
temas e processos comunicacionais, conforme como apresentando capacidade crescente de
verificado na segunda metade do século XX, operar no circuito do digital literacy, vale dizer,
aumentou o interesse nas inter-relações mídia das convergências tecnológicas. Tais alunos, ca-
e educação. Tais vínculos ocorrem em diver- pazes de, rapidamente, acessarem informações,
sos níveis e planos com diferentes encaminha- trocarem experiências e obterem dados – con-
mentos. quanto nem sempre qualificados ou tratados
De certa forma, a grosso modo identi- com discernimento – indicariam, de alguma
ficam-se três grandes linhas; (1) Existem cor- forma, maior autonomia frente aos padrões tra-
rentes tecnicistas que parecem preocupadas, dicionais da escola, ficando o professor em si-
sobretudo, com o elemento operacional, ela- tuação delicada por não apresentar compreen-
borando discurso segundo o qual a escola deve são suficiente das dinâmicas comunicacionais
se equipar e treinar docentes e discentes para tecnologicamente mediadas. A síntese substan-
enfrentar os desafios propostos pelas video- ciada nas três vertentes acima é apenas didática
tecnologias. Aqui, não se apresenta de modo pois, efetivamente, elas podem ser mescladas.
mais claro uma inflexão crítico-analítica sobre As relações mídia-educação precisam ser
a própria questão das tecnologias, particular- pensadas, ainda, sob outros registros, desde os
mente de sua entrada nos ambientes escolares. processos de recepção – leitura das mensagens
(2) Há os grupos preocupados com o que vem midiáticas, ponderação crítica do que elas ofe-
sendo chamado no mundo anglo-saxão de me- recem, apreensão do seu estatuto de linguagem
dia literacy, vale dizer, uma variável que incide etc. – até os de produção – feitura de progra-
no tema da necessária alfabetização (MEYRO- mas de rádio, televisão, elaboração de peças pu-
WITZ, 2001) para os meios de comunicação. blicitárias, roteiros de filmes ou vídeos, criação
Por esta via considera-se que promover uma di- de blogs etc. O que se evidencia quanto ao tema
mensão pedagógica no trabalho com os meios das relações mídia-educação, é o fato de os pro-
de comunicação e suas linguagens é fundamen- cessos educativos e comunicativos terem ficado
tal visando a autonomia do sujeito frente aos extremamente próximos em nosso tempo, re-
diferentes dispositivos midiáticos. (3) Identifi- quisitando-se a fim de não ocorrer o isolamen-
cam-se, ainda, linhas de trabalho voltadas para to que petrifica ou o encantamento que obscu-
o problema da própria formação dos professo- rece. (Adilson Citelli)
res que deverão exercer o magistério sob as no-
vas contingências socioténicas. Referências:
Entenda-se, neste caso, seja a formação ini- MEYROWITZ, Joshua. As múltiplas alfabetiza-
cial, aquela que ocorre nos cursos de graduação ções midiáticas. In: Revista Famecos. n.15.
e licenciatura, seja a continuada, permanente, Porto Alegre: PUC-RS, 2001
ou, em serviço. Os docentes precisariam prepa- BUCKINGHAM, David. Media education. Lit-
rar-se para entender e trabalhar com as novas eracy, learning and contemporany culture.
circunstâncias midiáticas porque os discentes London: Polity, 2003.
encontram-se totalmente vinculados às cultu- BUCKINGHAM, David. Crescer na era das mí-
ras videotecnologias, circulando com idêntica dias. São Paulo: Vozes, 2007.
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gião única aceita por Allah; uma religião de fá- uma vida exemplar como os outros mensagei-
cil prática, sem dificuldades nem adversidades ros e profetas que o antecederam. Ele aparece
dentro da lógica e da capacidade humana sem na história como modelo de homem que viveu
deixar dúvidas ou respostas para soluções de na piedade e perfeição. O fundador original do
qualquer esfera. O que uma pessoa não pode Islam é o próprio criador Allah, e Muhamad,
praticar não é de forma alguma obrigada a fa- o seu último encarregado como mensageiro e
zê-lo. Baseia-se no monoteísmo, seu lema a ve- profeta dentro da cronologia dos profetas, en-
racidade, seu objetivo a justiça, seu espírito a carregado de lembrar aos seus contemporâne-
misericórdia, e que direciona seus seguidores a os a palavra esquecida do patriarca Abraão que
tudo o que é benéfico. recordava e pregava o monoteísmo.
O muçulmano é o seguidor da fé do Islam O Alcorão Sagrado é a base e o comando
e não deve ser confundido com nacionalidades do Islam preservado na sua íntegra desde sua
dos povos como os árabes e outros quaisquer. revelação ao profeta Muhamad sem quaisquer
Allah é o único Divino e Criador de tudo e alterações ou adulterações na sua escrita de ori-
de todos, é a única realidade primordial e não é gem que é o árabe. As narrativas do mensageiro
pai de ninguém. Tudo é criado por ele, e refle- Muhamad e sua tradição são a interpretação do
te a sua glória, criou o bem e o mal não possui Alcorão sagrado na prática.
adversários, semelhantes nem descendentes ou Todo muçulmano é incumbido e respon-
herdeiros, embora seus sinais estejam em toda sável na divulgação da palavra divina depois da
a parte, na natureza e na própria consciência partida do profeta Muhamad deste mundo. A
dos homens. partir de então todo adepto do Islam é um mis-
O seu nome é exclusivo não se conjuga no sionário, para divulgar um sinal qualquer den-
singular nem no plural, nem no feminino ou tre os seus ensinamentos, transformando a teo-
masculino. A descrição de Allah está no capitu- ria em prática, através do bom relacionamento
lo 112º do Alcorão sagrado. Allah enviou Men- social e também através de formação de grupos
sageiros e Profetas a todos os povos para cha- que perambulam pelo mundo todo divulgando
mar a atenção quanto ao bem, e fazer com que a palavra e conferindo palestras usando meios
abandonem o mal, assim eles não podem fingir que a tecnologia lhes proporciona. (Xeique Ar-
que Allah os abandonou ou que ele não se im- mando Hussein Saleh)
porta com o que fazem.
Allah é independente das causas próximas Referências:
ou materiais, portanto ele próprio as cria esta- ALCORÃO Sagrado. Narrativas, ensinamentos
belecendo-lhes as leis, como lhe apraz. Suas leis e interpretações do profeta Muhamad.
são fixas e a maneira de tratar os que seguem
a iniquidade é a mesma, em todas as épocas.
Nossa vontade humana pode sair do seu curso, Mídia Locativa
mas a vontade de Allah seguirá sempre o seu O termo mídia locativa (locative media) foi
curso, e não é desviada por nenhuma causa. criado em 2003 por Karlis Kalnins como uma
Muhamad era um ser mortal encarregado categoria crítica de projetos que utilizam tecno-
por Allah para divulgar a palavra divina e levar logias e serviços baseados em localização (loca-
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tion-based services – LBS e location-based tech- tica e dos estudos culturais e de cibercultura.
nologies – LBT). As LBT podem ser divididas Busca-se uma maior aproximação das áreas da
em dispositivos móveis (celulares, palms, net- geografia, urbanismo, arquitetura e artes. Dois
books, GPS), sensores (etiquetas RFID) e redes textos são fundadores do debate sobre as mí-
sem fio (3G, Wi-Fi, Wi-Max, bluetooth, GPS). dias locativas: The computer for the 21st century,
Os LBS podem ser classificados em mapeamen- de Marc Weiser, apontando para a computação
to, anotação, realidade aumentada, localização, ubíqua, e Headmap Manifesto, de Ben Russel,
redes sociais, jornalismo, games, turismo etc. afirmando que o ciberespaço começa a “pingar
Trata-se de um conjunto de tecnologias e pro- no mundo real”. (André Lemos)
cessos, infocomunicacionais, cujo conteúdo das
mensagens vincula-se a pessoas, dispositivos, Referências:
objetos, lugares e contextos específicos. HEMMENT, D. The Locative Dystopia. 2004.
Pode-se dividir os projetos em: (1) Anota- Disponível em: <http://www.makeworlds.
ções urbanas eletrônicas: indexação de dados org/node/76>.
a um lugar no espaço urbano (Yellow Arrow, LEMOS, A. Mídias Locativas e Territórios In-
MurMur, Geograffiti, Mobvis). (2) Mapeamen- formacionais. In: SANTAELLA, L.; ARAN-
to: produção de cartografias com informações TES, P. (Eds.), Estéticas Tecnológicas. Novos
geolocalizadas (RealTime Amsterdam, GPS Modos de Sentir. São Paulo: EDUC, 2007.
Drawing, The Urban Eyes). (3) Redes sociais LENZ, R. Locative media. 2007. Disponível em:
móveis: localização de pessoas e criação de re- <http://spresearch.waag.org/images/Loca-
des sociais (Imity, Dodgeball, Google Latitude). tiveMedia.pdf>.
(4) Jogos Computacionais de Rua: jogos de rua LEONADO. Locative Media Special. In: Leon-
com o uso de LBT e LBS (Geocaching, Can You ardo Electronic Almanac. v. 14, n. 03, 2006.
See Me Now, Pac-Manhattan). (5) Mobilizações MANOVICH, L. The Poetics of Augmented
Sociais: mobilizações políticas e/ou estéticas Space: Learning from Prada. In: Noema-
utilizando as LBT e LBS. lab, 2005. Disponível em: <www.noemalab.
As mídias locativas inserem-se na atu- org/sections/ideas/ideas_articles/manovi-
al discussão sobre a “internet das coisas”, po- ch_augmented_space.html>.
dendo esta, ser compreendida como a fase do POPE, S. The Shape of Locative Media. Mute
desenvolvimento da informática onde objetos, Magazine, Issue 29, 2005.
máquinas e lugares trocam informações digi- RUSSEL, B. Headmap manifesto, 1999. Dis-
tais por redes sem fio de forma automatizada. ponível em: <http://www.headmap.org/
Alguns autores chamam esse “novo” espaço hí- headmap.pdf>.
brido, intersticial (SANTAELLA), território in- SANTAELLA, L. (). A Estética Política das Mí-
formacional (LEMOS), cellspace (Manovich). dias Locativas. In: Nómadas. n. 28, abr.
Não se trata mais de buscar informações no 2008.
“mundo virtual”, mas de processar dados nos TUTERS, M.; VARNELIS, K. Beyond loca-
lugares do “mundo real”. tive media. 2006. Disponível em: <http://
Há uma correlação com os estudos da ci- networkedpublics.org/locative_media/
bernética e teoria da informação, da escola crí- beyond_locative_ media>.
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enciclopédia intercom de comunicação
WEISER, M. The computer for the 21st century. 66). A mídia radical visibiliza a luta de setores
In: Scientific American. n. 265, v. 3, p. 66- sociais e culturais postos à margem da socieda-
75, 1991. de. A luta deles passa a ser a luta da mídia ra-
dical e sua atuação contribui na comunicação
dos ativistas.
MÍDIA RADICAL O papel da mídia radical “pode ser visto
O significado de mídia radical encontra-se nos como o de tentar quebrar o silêncio, refutar as
estudos de John Downing (2002) que aglutinou mentiras e fornecer a verdade” (p. 49). Ela pos-
diversas atuações comunicativas rebeldes nes- sui a missão de “oferecer ao público os fatos que
te conceito. Mídia radical é a “mídia – em ge- lhe são negados”, mas também deve pesquisar
ral de pequena escala e sob muitas formas dife- outras formas de questionar os processos hege-
rentes – que expressa uma visão alternativa às mônicos e “fortalecer o sentimento de confian-
políticas, prioridades e perspectivas hegemô- ça do público em seu poder de engendrar mu-
nicas” (p.21), são mídias sendo praticadas fora danças construtivas” (p.50). A função da mídia
do sistema hegemônico industrial por sujeitos radical é, além de produzir uma contra-infor-
envolvidos em projetos de intervenção crítica mação, incentivar a ação do público em prol
na sociedade. de transformações na sociedade multicultural,
A base social desta mídia está na comuni- global e desigual.
cação radical. Assim, mídia radical não é so- Ressalta-se que a mídia radical “não se en-
mente a comunicação produzida em rádio, tv, contra isolada, de modo ordeiro, em um terri-
jornal e internet; as expressões mais evidentes tório político reservado e radical. Endemica-
são a dança, o teatro de rua, os cartuns, os mu- mente falando, portanto, é um fenômeno misto,
rais, as canções populares, a música instrumen- muitas vezes livre e radical em certos aspectos,
tal. Nessas formas, segundo Downing, a carga mas não em outros” (p. 39). Esta percepção visa
comunicativa depende mais da “força concen- entender a mídia radical na sua concretude e
trada e esteticamente concebida” do que da ar- não numa idealização.
gumentação lógica (p. 92). Mídia radical é um A conexão com a cultura contribui para
processo social, estético, cognitivo e tecnológi- não se cobrar uma perfeição da mídia radical
co. Pode-se entender ações como a performan- como se ela não fosse influenciada em alguma
ce, teatralização com música, dança produzida medida por padrões da mídia hegemônica, in-
por diversos movimentos sociais em protestos clusive quando este tipo de mídia serve como
de rua como mídia radical. parâmetro para se afirmar o que não é ou ao
Aliás, a relação da mídia radical com mo- que se opõe a mídia radical. Ela está imbricada
vimentos sociais está marcada por uma “forte em elementos contraditórios, polêmicos, con-
interdependência dialética” (p. 55). testadores que só a relação com a cultura per-
É esse tipo de mídia quem vai primeiro ar- mite entendê-los na forma como se desenvol-
ticular e difundir “as questões, as análises e os vem na sociedade. (Renata Souza Dias)
desafios dos movimentos. Sua fidelidade é de-
vota, em primeiro lugar, aos movimentos, e é Referências:
por eles que nutre seu principal fascínio” (p. 65- DOWNING, John D. H. Mídia Radical: rebel-
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dia nas comunicações e movimentos so- globalmente por empresas de internet como a
ciais. Trad. Silvana Vieira. São Paulo: SE- confecção de blogs, microblogs, e-mails, redes
NAC, 2002. sociais, entre outras.
A produção de conteúdo, apesar de exis-
tir, por ser uma característica inerente ao meio,
Mídia Regional Digital não é institucionalizada. Ressalta-se que um
Compreende-se que a estrutura em rede, carac- dos feitos das mídias digitais foi tornar acessí-
terística das mídias digitais, das quais a Inter- veis a usuários comuns ferramentas de produ-
net é o elemento mais representativo, reconfi- ção de conteúdo. Assim, o conjunto da produ-
gura as espacialidades para além das fronteiras ção de conteúdo gerada por usuários comuns
geográficas. Para formular o conceito de Mídia – pessoas físicas – de uma determinada região,
Regional Digital, foi delimitado, como enfoque compõem a Mídia Regional Digital.
possível, a existência de emissores de conteúdo Pensando sob a perspectiva da produção
formais, institucionalizados, ou informais, em de conteúdo formal, torna-se possível defi-
determinada região. Na atualidade, qualquer nir mídia regional digital como o conjunto de
região que receba sinal de internet e/ou tenha empresas e instituições que produzem conteú-
pessoas físicas com acesso a computadores pas- do ou proveem acesso a conteúdo de interesse
sa a ter participação na comunicação digital. para a região em questão, tais como portais re-
Essa condição é suficiente para que haja gionais, provedores, sites de conteúdo editorial
uma interação ou um mínimo de produção de com cobertura regional, emissoras de televisão
conteúdo advindo da região delimitada, uma com produção digital de conteúdo regional e/
vez que uma das principais características das ou transmissão de sinal digital, sites do poder
mídias digitais é a representação numérica, ou público com interesse regional, entre outros.
seja, o fato de que todas as informações das mí- Conceitua-se, portanto, mídia regional di-
dias digitais podem ser colocadas em termos gital como o conjunto de conteúdo produzido
matemáticos e, portanto, podem ser manipula- por instituições públicas ou privadas provedo-
das e programáveis. ras e/ou produtoras de conteúdo para mídias
A representação digital faz com que toda digitais somado à produção de conteúdo infor-
imagem seja inerentemente mutável, criando mal, gerado por usuários comuns, de determi-
signos eternamente modificáveis, e essa muta- nada região. (Mônica Caniello)
bilidade se dá a partir da interação do usuário,
ao inserir uma mensagem de texto em um blog, Referência:
alterar as cores de uma imagem, entre outras MANOVICH, Lev. The language of the new me-
infinitas possibilidades. No entanto, nesse caso, dia. Cambridge: MIT Press, 2001.
supondo a inexistência de empresas ou insti-
tuições formalizadas produtoras de conteúdo
em determinada região, a mídia digital regio- Mídia Sonora
nal se limitaria a produções de pessoas físicas, O termo visa abarcar as possibilidades de pro-
amadoras, que geralmente fazem uso de ferra- dução audiovisual baseadas, exclusivamente, na
mentas de produção de conteúdo difundidas utilização do dado sonoro. As suas principais
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tecnologias para a expressão individual ou co- CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidia-
letiva, direcionada a alvos constituídos como no: 1. Artes e fazer. 5. ed. Petrópolis: Vozes,
agentes ou sujeitos de dominação política, eco- 1994.
nômica ou cultural.
A cultura da mídia tática é gerada e disse-
minada através da Internet e suas redes, bem MÍDIA UMBANDISTA
como pela interlocução de ativistas, principal- Tendo origem na matriz africana bantu, a Um-
mente jovens, que fazem circular informações banda surge, no Brasil, por volta de 1909-1910,
necessárias para o aprendizado de novas ferra- em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, num pro-
mentas e recursos. cesso sincrético com praticas ritualistas indí-
Articuladas em rede, as iniciativas buscam genas, espiritismo, kardecismo e catolicismo.
espaços contínuos de circulação das informa- Trata-se de uma verdadeira “religião brasileira”.
ções através de seus recursos tecnológicos. A Em seus rituais ocorre a incorporação de enti-
tática das mídias reside na afirmação e na dis- dades de “caboclos”, ou seja, de entidades dos
seminação das distintas áreas do saber, tornan- “donos da terra” ancestrais dos povos autócto-
do o conhecimento disponível a todos aqueles nes, sendo seus praticantes em sua maioria de
que se dispõem a procurá-los. origem bantu, tinham como dever homenagear
Os produtos e conteúdos são concebidos os ancestrais do local para onde foram levados,
na velocidade da ação de fazer circular os ma- ou seja, dos indígenas brasileiros.
teriais produzidos, seja dentro de um evento Na África, em terras de língua bantu, muito
específico, seja em movimento social dinâmi- antes de chegada de europeus, já existia o culto
co, cujo fluxo de informações necessita de um aos ancestrais. Também era conhecida a pala-
maior envolvimento em tecnologias de infor- vra mbanda (umbanda) significando “a arte de
mação. curar” ou “o culto pelo qual o sacerdote curava”
Tem como suas referências para atuação os Nos anos iniciais do século XX, pouco
manuais The ABC of Tactical Media e o The DEF tempo depois da Abolição da Escravatura e da
of Tactical Media, ambos de David Garcia e Ge- Proclamação da República, os descendentes
ert Lovink. Além disso, o movimento de mídia dos ex-escravos viviam em situacao de extrema
tática inspira experiências como o Centro de miserabilidade, não tinham trabalho, não tinha
Mídia Independente (http://www.midiainde- terras, não tinham profissão, não eram alfabeti-
pendente.org) e o Descentro (http://pub.des- zados. E, suas práticas consideradas como deli-
centro.org/). (Adilson Vaz Cabral Filho) tos, proibidas pela Lei vigente no país.
Impossibilitados de refazerem seus cultos,
Referências: tiveram que inventar estratégias para contor-
MEIKLE, Graham. Future Active: Media Acti- nar o poderio da Igreja Católica e buscaram,
vism and the Internet. London: Routledge, em práticas socialmente, aceitas o abrigo para
2002. poderem exercer suas religiosidade. Assim, vão
LOVINK, Geert. Dark Fiber: Tracking Criti- buscar no catolicismo elementos equivalentes,
cal Internet Culture. Cambridge: The MIT por exemplo, Ogum se transforma em São Jor-
Press, 2003. ge, Oxalá em Jesus Cristo.
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(1884-1942), como sua análise do “mito na psi- tos, nesta perspectiva, são estruturas simbólicas
cologia primitiva”. Mas, nenhuma se compara a de um pensamento filosófico que Lévi-Strauss
abordagem estructuralista realizada por Clau- batizou de “pensamento selvagem”.
de Lévi-Strauss (1908-2009), a partir dos anos Em outras palavras, por meio dos mitos Lé-
1960. vi-Strauss ampliou o sentido da filosofia na me-
Do ponto de vista antropologico, é preci- dida em que reconheceu nos mitos ameríndios
so estar atento para a polissemia conceitual dos tratados sobre as relações entre natureza e cul-
mitos já que são portadores de sentidos dife- tura, humano e não-humano, universal e par-
rentes quando utilizados em contextos diferen- ticular. Não se trata, portanto, do pensamento
tes. Normalmente vistos como estorias fanta- do selvagem mais sim de um pensamento não
siosas e irreais, cujo parentesco com a mentira caracterizado pela lógica cartesiana, embora
é inegável, os mitos se contraporiam à história racional. Por isso, nos mitos os polos da natu-
enquanto relato verdadeiro sobre o que acon- reza e da cultura, do humano e do não-huma-
teceu. Contudo, este conjunto de representa- no, muitas vezes se misturam dando margem a
ções já prenunciam a sua principal qualidade existência de seres antropomórficos e inúmeras
simbólica que é a de se alimentar das contradi- possibilidades de metamorfoses. O tempo dos
ções. Haja vista que os “mitos”, via de regra, são mitos, normalmente se caracteriza pelo movi-
portadores de mais de uma versão sobre episó- mento cíciclo, espécie de “eterno retorno”, onde
dios, acontecimentos, entidades e pessoas, bem a mudança histórica se faz de maneira lenta e
como, são estórias carregadas de situações am- gradual. Não se exclui o movimento da histó-
bivalentes, liminares, em que as oposições, os ria, contudo, trata-se de uma história pensada
contrários, cedem lugar ou se revelam cada vez em termos estrutural de longa duração. Não à
mais vivo do que nunca. toa, as narrativas míticas se inciarem, invaria-
Os mitos são narrativas sobre nós que con- velmente, pelo famoso “era uma vez...” ou “hou-
tamos a nós mesmos e que revelam muito da ve um tempo...”.
nossa estrutura de pensamento simbólico. Em Será por meio da bricolagem, ou seja, pela
certo sentido, podem ser vistos como uma ou- operação simbólica da colagem de mitos ante-
tra forma de narrar a história (na forma de es- riores que os mitos acabam adquirindo dinâmi-
tória), distintamente da produção historiográfi- ca e certa universalidade. Com efeito, inúmeros
ca documental (oficial). estudos apontam correspondências ou seme-
Após um longo percurso de estudos que se lhanças estruturais, por exemplo, entre deuses
incia com o estudo dos sistemas de parentesco, como Hermes e Orixás como Exu.
Claude Lévi-Straus chega aos mitos ameríndios A antropologia estrutural contribui de ma-
(numa sofisticada análise que envolve cerca de neira significativa para o avanço na compreen-
800 deles) com a expectativa de atingir o espíri- são e eficácia simbólica dos mitos, inclusive,
to humano. O antropólogo francês descobre nos nas sociedades contemporâneas, quando então,
mitos a chave para se penetrar na estrutura do sistemas midiáticos como a publicidade podem
pensamento simbólico (humano), decifrando ser vistos como tendo um estreito parentesco
sua lógica de funcionamento e, por conseguinte, com as estruturas de pensamento totêmico,
a sua abertura para uma “filosofia outra”. Os mi- mágico e mítico. (Gilmar Rocha)
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Mixagem Referência:
Processo que combina sinais sonoros de fontes RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta-
separadas, como ocorre, por exemplo, na gra- vo Guimarães. Dicionário de Comunicação.
vação da banda sonora de um filme, quando se São Paulo: Editora Campus, 2001.
junta, num todo, as partes gravadas (diálogos,
ruídos, música etc.) em separado. Em gravações
musicais, processo de juntar os vários canais de Mobilidade comunicacional
som gravados separadamente, ou de ajustar as Embora seja possível falar de mobilidade comu-
saídas de vários microfones. Em música con- nicacional desde o advento do telefone, do te-
creta e música eletrônica, superposição de ca- légrafo e do rádio, as tecnologias digitais sem
nais de som diferentes realizada durante espe- fio redimensionam o sentido dessa expressão
táculos e festas, ou para gravação. Em televisão, (LEMOS, 2006). O telégrafo é um “sistema de
processo que combina dois ou mais sinais de transmissão de mensagens à distância, por meio
imagem, para a obtenção de efeitos como corte, de sinais” (BARBOSA; RABAÇA, 2001, p. 714).
fusão, superposição etc. A primeira mensagem de telegrafia sem fio teria
No processo de armazenamento de áudio, sido feita em 1896 por Popov. Já o rádio é um
mixagem é a atividade pela qual uma multitude “sistema de transmissão de sons à distância que
de fontes sonoras é combinada em um ou mais utiliza as propriedades de propagação das ondas
canais. As fontes podem ter sido gravadas ao eletromagnéticas” (Ibidem, p. 618). O equipa-
vivo ou em estúdio e podem ser de diferentes mento de rádio teria sido inventado por Marco-
instrumentos, vozes, seções de orquestra, locu- ni em 1901. Entretanto, a radiodifusão em gran-
tores ou ruídos de plateia. de escala só começou na década de 1920.
Durante o processo, os níveis de sinal, Em termos de mobilidade comunicacional,
conteúdos de frequência, dinâmica e posição extraordinário progresso foi alcançado com o
panorâmica são manipulados e efeitos como surgimento do rádio portátil (de pilhas) e do
reverberação podem ser adicionados. Tal tra- rádio de automóvel.
tamento prático, estético ou criativo é feito O aparelho de telefonia servia inicialmente
de modo a se ter um produto final com maior para a troca de informações sob a forma da pa-
apelo ao ouvinte, e incorpora efeitos e habi- lavra falada, transmitida à distância. O primei-
lidades que não podem ser conseguidos com ro aparelho desse tipo teria sido construído por
uma performance ao vivo. Processo de mes- Alexander Graham Bell em 1876. A primeira
clagem de duas ou mais fontes diferentes de rede telefônica urbana foi a de Nova York, ins-
áudio. Pode ser usada a mesma expressão para talada no ano seguinte. No sistema de telefone
o vídeo (ver fusão). celular, a área de cobertura é dividida em “célu-
Processo de combinar vários canais de som las” ligadas por computadores.
amplificados e/ou gravados separadamente. Com a evolução dos telefones celulares,
Processo de combinar as saídas de vários mi- a Internet – “rede de computadores de alcan-
crofones em uma gravação sonora original. ce mundial, formada por inúmeras e diferentes
(Maria Érica de Oliveira Lima) máquinas interconectadas em todo o mundo,
que entre si trocam informações na forma de
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Para que não haja mais controvérsias quan- E é nesta fase que podem ocorrer novos mode-
to ao significado de mock-up, faz-se necessá- los volumétricos com maior precisão dimen-
ria uma explicação também sobre as diferenças sional para auxiliar tanto em testes e análises
e semelhanças entre protótipo e mock-up. No ergonômicas profundas, como na modelagem
projeto conceitual de embalagem, por exemplo, de engenharia, pois depois de modeladas as pe-
temos visto que os profissionais de design in- ças finais – pois, aqui temos peças diversas, não
dustrial e engenharia mecânica lideram a lista mais um “produto abstrato” - podemos partir
dos que realizam os “modelos volumétricos” ou para a conhecida prototipagem rápida.
mock-ups. Cabe lembrar, ainda. que podem ser reali-
Logo, tais modelos volumétricos são ini- zadas nesta fase, diversas prototipagens rápidas,
cialmente representações tridimensionais de uma vez que o modelo selecionado é prototi-
rascunhos e desenhos ainda em fase conceitual, pado, testado e normalmente otimizado, sendo
quando não existem muitas dimensões fecha- necessário novamente a fabricação da otimiza-
das ou restrições de materiais e fabricação. São ção e suas consequentes análises.
interpretações de desenhos, basicamente. O O protótipo, quanto mais perfeito e seme-
acabamento superficial é ainda bruto, sem co- lhante ao produto final, vai tomando o forma-
res finais, não existem delimitações de peças e to de mock-up e se aproximando do objetivo de
muitas vezes, apenas o volume bruto. Mas mes- simular um fac-símile funcional. Nessa fase de
mo assim, diversas validações ergonométricas projeto detalhado, cada uma das peças e seus
são realizadas nesta fase de projeto conceitual, processos são exaustivamente detalhados para
até algumas dimensões importantes no quesito a produção em série. Um grande esforço de de-
de usabilidade são adquiridas e testadas nesta talhamento e otimização é realizado com os en-
fase, mas não todas, ainda. volvidos na fabricação.
É importante no projeto conceitual a “pro- Nesta fase pode existir uma peculiarida-
totipagem” de muitas alternativas volumétricas- de: o protótipo em si, que é agora um protótipo
geométricas, pois aqui podem ser realizadas ra- produzido com materiais finais e acabamento
pidamente diversas estilizações de um desenho. que tentam simular ao máximo o produto final,
Materiais maleáveis, dúcteis, leves como papel, ou seja, o mock-up.
papelão, isopor e outros são os mais utilizados. Todo esse esforço em produzir mock-ups
Com o advento de softwares de modelagem in- tem sua razão de ser, pois cada novo produto
tuitiva, como o 3D entre outros, algumas em- lançado no mercado deverá ser alicerçado por
presas costumam até realizar a prototipagem de um projeto de bases muito sólidas e o produ-
uma modelagem realizada nessas plataformas. to testado e aprovado que chega às mãos do
Na transição do projeto conceitual para consumidor, já percorreu, com toda certeza,
o preliminar, onde sistemas precisos são mo- um longo e árduo caminho. (Scarleth O’hara
delados, testados e validados, ocorre também Arana)
a transição do designer industrial para o enge-
nheiro mecânico (citando apenas um dos diver- Referências:
sos engenheiros que participam de um proces- AAKER, David A. Estratégia de Portfólio de
so de desenvolvimento integrado do produto). Marcas. São Paulo: Bookman, 2006.
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CNI-DAMPI (Confederação Nacional da In- sensações dos praticantes, dos locais de práti-
dústria/ Depto. de Assistência à Média e ca, de segurança dos esportistas, dos benefícios
Pequena Indústria). Boletim de Informações para a saúde etc. Já em relação às modalidades
Tecnológicas – Embalagem. Rio de Janeiro: automobilísticas, há de se destacar os resultados
Editora SESI, 2000. exatos, o histórico dos condutores dos veículos,
OLIVEIRA, Adriano de. AutoCAD 2010 – Mo- a relação da prática e das máquinas ali envol-
delagem 3D e Renderização. São Paulo: vidas, a evolução tecnológica que será aplicada
Erica, 2009. aos veículos de uso cotidiano, entre outras.
SOUZA, Marcos Gouvea de; SERRENTINO, Nesse processo de definição do esporte,
Alberto; HORTA, Alexandre. Mercado e classes dominantes e dominadas também pas-
Consumo. São Paulo: GS&MD, 2007. Vo- saram a projetar em determinadas modalida-
lume 1. des os mesmos valores presentes em seus meios
de vida. Enquanto a carreira esportiva profis-
sional era negada no início do século XX a jo-
MODALIDADES ESPORTIVAS vens burgueses ou aristocratas (à exceção do
As modalidades esportivas são as subdivisões golfe e do tênis), ela mesma passou a represen-
dadas ao esporte. Elas se caracterizam pelas tar uma das poucas possibilidades de ascensão
regras e comportamentos pertinentes a cada social para os jovens das classes menos favore-
prática esportiva, determinando assim uma di- cidas (BOURDIEU, 1983). E a escolha na práti-
ferenciação entre cada disputa esportiva parti- ca de determinado esporte também reproduziu
cular. As modalidades também podem ser sub- as relações entre o capital econômico, o capital
divididas por diversos critérios e em diversos cultural, a relação com o corpo e o tempo livre
grupos que os diferenciam: esportes individu- envolvidos em cada modalidade.
ais e coletivos, esportes olímpicos, radicais, lú- Desse modo, os esportes mais populares se
dicos, automobilísticos, náuticos, esportes de ligaram a aspectos tacitamente associados à ju-
lutas, entre muitos outros. As diversas moda- ventude (daí o fato de serem modalidades com
lidades esportivas ao redor do planeta geram grande investimento de esforço físico e dor);
um infindável repertório de informações que os esportes “burgueses” ficaram subordinados
podem ser trabalhadas pelos comunicadores e, à função da manutenção física (e quanto mais
principalmente, pelos jornalistas. puder se prolongar a juventude, melhor), ao
Cada modalidade pode ser pródiga em ge- bem-estar e ao lucro social que propiciam (por-
rar interesses diversos no público dos veículos tanto, destacam-se aqui as modalidades mais
de comunicação. Assim, destaca-se que cada exclusivas, como o golfe). (Silvio Saraiva Jr.)
modalidade pode ter suas próprias característi-
cas, muitas vezes, geradas pela sua própria natu- Referências:
reza, e, por conseguinte, influenciar o trabalho BARBEIRO, H.; RANGEL, P. Manual do jorna-
do comunicador. Pensando, por exemplo, nas lismo esportivo. São Paulo: Contexto, 2006.
modalidades ligadas aos esportes radicais, as BOURDIEU, P. Como é possível ser esportivo?
informações que interessam ao público pouco In: Questões de sociologia. Rio de Janeiro:
têm a ver com disputas e sim com aspectos das Marco Zero, 1983.
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DUARTE, M. O guia dos curiosos esportes. São pológicas e psicológicas como o darwinismo e
Paulo: Companhia das Letras, 1996. a psicanálise. Na literatura inglesa destacam-se
T.S. Eliot, James Joyce, Gertrude Stein, Virginia
Woolf, entre outros. Na mexicana destaca-se o
Modernismo nome do poeta Manuel Gutiérrez Nájera.
O termo refere a uma tendência rebelde e re- Nas artes visuais predomina a procura por
formista que influenciou no início do século novas formas de expressão. Edouard Manet é
XX vários campos da cultura, entre eles as ar- usualmente referido como um dos pioneiros
tes, com a consolidação de vários movimentos, deste esforço em quebrar com as noções de
entre eles o Impressionismo, o Pós-Impressio- perspectiva, modelagem e subjetividade.
nismo, o Cubismo, o Futurismo, o Expressio- Na música, surgem os nomes de Arnold
nismo, o Construtivismo e o Expressionismo Schoenberg, Igor Stravinsky e Anton Webern.
Abstrato. Na dança a rebelião contra tradição interpreta-
Em boa medida era um movimento inte- tiva do ballet e a consolidação da dança moder-
lectual que afirmava o poder humano de criar, na é liderada Émile Jaques-Delcroze, Rudolf La-
melhorar e reformular seu ambiente com o au- ban e Loie Fuller. Na arquitetura o modernismo
xílio da experimentação prática, conhecimen- abandonou os velhos estilos em favor de uma
to científico e tecnologia. Propunha o exame arquitetura baseada em preocupações funcio-
de todos os aspectos da existência. Pensadores nais. Os prédios de Ludwig Mies van der Rohde
como Nietzche e Samuel Beckett deram um e Le Corbusier são exemplos desse novo traçado
tom introspectivo ao movimento. Essa corrente geométrico, simples e de fachadas sem adornos.
produziu uma obra de sabor por vezes nihilista A nova tendência atingiu também a reli-
e antitecnológico. gião. Esforço foi feito para reconciliar a ciên-
Na literatura houve a rejeição das tradições cia moderna e a filosofia com o cristianismo.
do século XIX. As convenções do realismo, por Métodos críticos começaram a ser utilizados já
exemplo, foram abandonadas por Franz Kafka no século XIX para o estudo da Bíblia seja no
e outros novelistas. A métrica tradicional ce- protestantismo como no catolicismo. O Papa
deu lugar ao verso livre. Estes escritores descre- Pio X condenaria a corrente em sua encíclica
viam-se como avant garde, libertos dos valores Pascendi (1907) como a ‘síntese de todas as he-
da burguesia. A ordem cronológica da narra- resias’. Muitos modernistas apalicaram o méto-
tiva foi desafiada por Joseph Conrad, Mar- do pragmático aos sacramentos, ao dogma e à
cel Proust e William Faulkner. Na poesia Ezra prece. Acabaram negando a autoridade da igre-
Pound e T.S. Eliot substituíram a exposição de ja e a concepção tradicional de Deus. (Jacques
ideias com a colagem de imagens fragmentárias A. Wainberg)
e alusões complexas. Luigi Pirandello e Bertolt
Brecht inovaram no teatro com novas formas Referências:
de abstração em vez das representações realis- FABRIS, Annateresa (Org.). Crítica e Moderni-
tas e naturalistas. dade. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006.
Os escritores modernistas eram cosmopo- Harrison, Charles. Modernismo São Paulo: Co-
litas, urbanos e sensíveis às novas teorias antro- sac & Naify, 2001.
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a história da pintura, o autor nos lembra que a trução de uma imagem da audiência: “o modo
perspectiva linear, no Renascimento, constituiu de endereçamento parece bastante próximo das
um novo modo de olhar e, logo, um modo mais pressuposições sobre quem e o que a audiência
socialmente aceito de representar a verdade. A é. Estas pressuposições requerem a construção
perspectiva é um código pictórico que apenas de uma imagem da audiência para quem o jor-
nos aparece como “natural” em razão de es- nalista trabalha cotidianamente” (2001, p. 93).
tarmos social e historicamente acostumados a Sua argumentação e os procedimentos de aná-
“ler” as imagens de acordo com ele. E esse códi- lise que adota enfatizam a linguagem empre-
go nos posiciona fisicamente de um determina- gada pelo programa, sua estrutura narrativa e
do modo em relação às imagens: “o código re- argumentativa. O modo de endereçamento, em
nascentista de uma perspectiva centralizada em Hartley (2001, p. 88), se refere ao tom de um te-
um ponto de vista linear não é simplesmente lejornal, àquilo que o distingue dos demais e
uma técnica para indicar profundidade e rela- nessa perspectiva, portanto, o conceito nos leva
tiva distância num meio bi-dimensional. É um não apenas à imagem da audiência, mas ao es-
código pictórico que reflete o crescente huma- tilo, às especificidades de um determinado pro-
nismo daquele período, apresentando imagens grama.
de um ponto de vista visual singular, subjetivo, O conceito de modo de endereçamento
individual e único”. nos diz, duplamente, da orientação de um pro-
Sem recusar a perspectiva da subject posi- grama para o seu receptor e de um modo de
tion, Daniel Chandler destaca a relação que o dizer específico; da relação de interdependên-
texto constrói com o espectador e associa ao cia entre emissores e receptores na construção
modo de endereçamento aspectos sociais, ide- do sentido de um produto televisivo e do seu
ológicos e textuais. São fatores relacionados estilo. Nessa perspectiva, o conceito de modo
ao modo de endereçamento o contexto textu- de endereçamento se refere ao modo como um
al, que inclui as convenções de gênero e a es- determinado programa se relaciona com sua
trutura sintagmática, o contexto social, que diz audiência a partir da construção de um estilo,
da presença/ausência do produtor do texto, da que o identifica e que o diferencia dos demais
composição da audiência, de fatores institucio- (GOMES, 2006a). (Itania Maria Mota Gomes)
nais e econômicos, e os constrangimentos tec-
nológicos, que se referem às características de Referências:
cada meio. CHANDLER, David. Semiotics for Beginners.
Nesse contexto, é patente que o modo de Disponível em <www.aber.ac.uk/media/
endereçamento depende de, se estrutura a par- Documents/S4B/semiotc.html>. Acesso
tir das características de cada meio, tanto no em 15/08/2003.
que se refere ao suporte quanto às formas cul- ELLSWORTH, Elizabeth. Modos de Endereça-
turais adquiridas por cada meio em sociedades mento: uma coisa de cinema; uma coisa de
particulares. educação também. In: SILVA, Tomaz Ta-
Analisando programas jornalísticos televi- deu da (Org.). Nunca fomos humanos – nos
sivos, John Hartley partilha a concepção de que rastros do sujeito. Belo Horizonte: Autên-
modo de endereçamento se relaciona à cons- tica, 2001.
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GOMES, Itania Maria Mota. Das utilidades do instante e numa fração de segundo reconhecer
conceito de modo de endereçamento para um fato e a organização rigorosa das formas vi-
análise do telejornalismo. In: DUARTE, sualmente percebidas que exprimem e dão sig-
Elizabeth Bastos; DIAS DE CASTRO, Ma- nificado a este fato”. Em 1957, numa entrevista
ria Lília (Orgs.). Televisão: entre o mercado ao Washington Post, esclareceu, em reforço da
e a academia. Porto Alegre: Sulina, 2006a. sua ideia, que “a fotografia não é como a pin-
. Telejornalismo de Qualidade. Pressu- tura.
postos teórico-metodológicos para análi- De certa forma, há uma fração de segundo
se, in Revista e-compos, no. 6, agosto de criativa quando você bate a foto. O seu olho pre-
2006b. cisa ver a composição ou a expressão que a rea-
HARTLEY, John et al. Conceptos clave en comu- lidade oferece nesse instante e você precisa usar
nicación y estudios culturales. Buenos Aires: sua intuição para saber quando deve apertar o
Amorortu Editores, 1997. botão. Esse é o momento em que o fotógrafo é
. Los usos de la televisión. Trad. de Juan criador. Ups! É o momento! Se você não bater a
Trejó Álvarez. Barcelona: Paidós, 2000. foto, o instante desaparece para sempre.”
. Understanding News. London: Rout- Cartier-Bresson deixou imensos seguidores,
ledge, 2001. como, no Brasil, o fotógrafo nipo-brasileiro Ha-
MORLEY, David; BRUNSDON, Charlotte. The ruo Ohara; Gervásio Baptista, atual decano do
Nationwide Television Studies. London: fotojornalismo brasileiro; o fotojornalista Luís
Routledge, 1999; Carlos Barreto; ou os fotógrafos e professores
. Everyday Television: Nationwide. Lon- Luiz Achutti e arquiteto Cristiano Mascaro.
don: British Film Institute, 1978. Uma das críticas à ideia do “momento de-
cisivo” é sua ênfase na obtenção de fotos únicas
que valham por todo um assunto, que poderia
Momento decisivo eventualmente ser abordado mais contextual-
A ideia do momento decisivo em fotografia par- mente numa série multifacetada de imagens.
tiu do aclamado fotógrafo francês Henri Car- Vale ressaltar, neste verbete, o trabalho do
tier-Bresson. Ele usou o termo para se referir brilhante fotógrafo brasileiro, Sebastião Salga-
ao instante em que o conteúdo e a composição do, que, ao se referir a questão do instante de-
se combinam no enquadramento num zênite cisivo, exclamou: “mais do que instantes deci-
fotogênico e significativo unificado. sivos, há vidas decisivas!”. Mas a abordagem
Foi em 1952 que Cartier-Bresson publicou contextual de um assunto através de séries de
o livro Images à la Sauvette (“Imagens rouba- fotografias não é necessariamente incompatível
das”), cuja tradução em língua inglesa, The De- com a ideia do instante decisivo.
cisive Moment, cunhou a expressão “momento O próprio Cartier-Bresson mostrou-o em
decisivo”. No prefácio, Cartier-Bresson recolhe trabalhos sobre a Índia de Gandhi ou a China
a expressão do cardial de Retz, um clérigo seis- entre o final do Kuomintang e o início da Re-
centista que um dia exclamou: “tudo na vida pública Popular maoísta. Cada uma das suas
tem um momento decisivo”. Fotografar, segun- fotos, nesses projetos, vive, precisamente, do
do Cartier-Bresson, seria, assim, “num mesmo “instante decisivo”. (Jorge Pedro Sousa)
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Programa, o monitor faz seu relatório, o pro- sequência em que o maquinista abandona um
fessor que o acompanhou atesta a frequência e trem descontrolado.
emite um conceito, a IES concede-lhe os crédi- Nesse caso, imagens cada vez mais rápidas
tos correspondentes à atividade no período e os das rodas do trem, do rosto de passageiros, dos
registra em seu histórico escolar, outorgando- trilhos, antecipam e definem a aproximação
lhe, também, um certificado de monitoria. cada vez mais incontornável do desastre. Desse
As vagas de monitoria, nos cursos de co- modo, na montagem acelerada se, de um lado,
municação, são mais frequentemente ofereci- o tempo das sequências afasta, conscientemen-
das em disciplinas práticas, caso de fotografia, te, o espectador da experiência do tempo real,
rádio, televisão, produção digital, laboratórios por outro lado, cria as condições para o uso
de textos e de redação, bem como em disci- mais direcionado da decupagem, na medida
plinas oferecidas nas modalidades de ensino a em que o ritmo orienta o olhar do espectador e
distância (EaD). (Maria Berenice da Costa Ma- adensa a sua capacidade perceptiva.
chado) O efeito buscado e muitas vezes alcançado
é o da ampliação da carga emocional de uma
sequência. A montagem acelerada foi aperfei-
Montagem Acelerada çoada a partir das experiências vanguardistas
A montagem acelerada é o processo de articular e pioneiras e, mais recentemente, no contexto
as imagens de um produto audiovisual a partir da eclosão dos vídeos musicais (videoclipes) e
da redução da duração dos planos. Esse proce- publicitários na produção audiovisual, a frag-
dimento faz com que o sentido produzido por mentação e a aceleração dos planos assumiu
uma sequência seja mais definido pela sucessão um caráter de modelo visual da modernidade,
acelerada dos planos e menos pelo movimen- evocando a relação entre a velocidade da suces-
to natural dos objetos filmados. Como elemen- são de imagens e a dinâmica da vida moderna
to expressivo da linguagem cinematográfica, a - um princípio que já se descortinava no início
montagem acelerada foi usada conscientemen- do século XX em cineastas como o americano
te desde os anos 1920, sobretudo no quadro do David Griffith, o russo Dziga Vertov ou o ale-
cinema soviético e da vanguarda francesa. mão Walter Ruthman. (Paulo Cunha)
Em Outubro (Oktyabr, 1928), o russo Ser-
gei Eisenstein usa esse artifício na cena do fu- Referências:
zilamento da multidão, com o objetivo de apro- ANDREW, J. Dudley Andrew. As principais teo-
ximar o ritmo dos tiros da metralhadora com rias do cinema. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
a expressão de pânico dos manifestantes per- BURCH, Noël. Práxis do cinema. São Paulo:
seguidos. Tecnicamente, trata-se de condensar Perspectiva, 1969.
de dezenas de planos num curto intervalo de DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo, Godard. São
tempo. O francês Abel Gance, outro grande in- Paulo: Cosac Naify, 2004.
ventor do cinema, usou em “A Roda” (La Roue, EISENSTEIN, Sergei. O sentido do filme. Rio de
1923) a montagem acelerada com um objetivo Janeiro: Zahar, 1990.
muito preciso: o de construir na mente do es- METZ, Christian. A Significação no Cinema.
pectador uma ideia abstrata da velocidade na São Paulo: Perspectiva, 1972.
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no uso dos meios de comunicação como uma ras. Entretanto vale ressaltar que mesmo com
estratégia de ação social, e, finalmente, muitos as mudanças que podem ocorrer no interior
autores fizeram da ação sobre os meios de co- de uma dada cultura, ela nunca vai conseguir
municação o próprio objeto da mobilização so- renovar todos os aspectos de sua cultura origi-
cial – são os movimentos por controle da mídia nal. As mudanças podem acontecer através da
ou conscientização social de como ela atua so- acumulação que podem ser propostas pelas in-
bre a sociedade. Inspirados pela teoria crítica, venções tecnológicas que são absorvidas pelos
esses movimentos sociais buscam esclarecer, membros de uma sociedade, pois em sua maio-
conscientizar e mobilizar a sociedade contra o ria não é algo totalmente novo, mas sim o seu
que chamam de quarto poder – a mídia. (Ferdi- aperfeiçoamento.
nando Martins) Por outro lado, pode existir a mudança
através da substituição, é raro mas pode acon-
tecer em uma sociedade. É quando valores e
Mudança Cultural ideias são atingidos resultando em seu exter-
O estudo específico da mudança cultural se tra- mínio; significa implantar algo novo. Isso pode
duz como algo raro, principalmente entre as te- ser notado na filosofia e na política. Vale ressal-
máticas analisadas pelos antropólogos ingleses. tar ainda que indivíduos que não se ajustam à
A antropologia social inglesa não procede ao sociedade pode ser fator de mudança cultural.
estudo da mudança cultural, mas sim ao estudo Isto ocorre quando há descontentamento geral
da mudança social. Todavia, mesmo não sen- dos indivíduos que se organizam para mudar a
do uma temática comumente analisada ela vem realidade na qual estão inseridos. As revoluções
despertando interesse entre um seleto número se enquadram neste quadro, se caracterizando
de antropólogos culturais, que acreditam que as como uma mudança desejada e consciente.
culturas estão em frequente movimento. Mui- Ao que tudo indica, a cultura muda e se
tos dizem que a cultura que não muda que não transforma ao longo do tempo. Tais modifica-
sofre alterações, tanto interiores como exterio- ções são, em sua maioria, adaptação às novas
res, pode definhar e chegar a morrer, levando a necessidades humanas. Desse modo, pode-se
constatação de que as culturas estão sempre em concluir que aquilo que chamamos de mudan-
movimento. A cultura pode se apresentar de ça cultural seja o aceleramento no ritmo de
uma maneira dinâmica como também estável, mudança contínua por que todas as culturas
ou seja, ela pode permanecer ou mudar. Esta- passam através da inovação ou da descoberta.
belecer com precisão o que vem a ser uma cul- (Ana Lúcia Sales de Lima)
tura estável e uma cultura em movimento tem
sido muito difícil, pois as mudanças podem ser Referências:
tão mínimas no interior de uma cultura que MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cul-
passam despercebidas. tural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis:
Dessa forma, o processo de mudança cul- Vozes, 2000.
tural pode ser notado através do surgimento ULLMANN, Aloysio Reinholdo. Antropologia:
de inventos ou provir de fora, com o difusio- O homem e a Cultura. Petrópolis: Vozes,
nismo de ideias pelo contato com outras cultu- 1991.
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De resto, o prefixo “multi”, embora relacio- direção. Todavia, forma-se uma alma coletiva
nado a existência de várias culturas, não pode transitória – a coletividade torna-se uma multi-
deixar ofuscar os problemas relativos aos pro- dão organizada, ou multidão psicológica, como
blema da desigualdade social e discriminação um único ser.
racial, étnica, gênero etc. Se, de um lado, o mul- As características que marcam os indivídu-
ticulturalismo sublinha a importância do reco- os em multidão, para Le Bon, são: desapareci-
nhecimento e da diferença, e assim aposta na mento da personalidade consciente, predomí-
possibilidade de recuperação ou construção da nio da personalidade inconsciente, orientação
autoestima em membros de grupos menos fa- por meio de sugestão e contágio dos sentimen-
vorecidos, do outro lado, há quem advirta para tos e das ideias em um mesmo sentido, tendên-
os perigos de, em nome da diferença (absoluta, cia em transformar imediatamente em ato as
integral e irrestrita), o multiculturalismo servir ideias sugeridas.
de estímulo para o retorno de certos fundamen- Na obra Psicologia das multidões, publicada
talismos. (Andréa Tomás de Carvalho, Claudia pela primeira vez em 1895, Le Bon caracteriza
Regina dos Anjos e Pollyanna Nicodemos) seu tempo como a era das multidões. Segundo
ele, algumas ideias só surgem ou se transfor-
Referências: mam em atos com os indivíduos em multidão.
GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Cultu- Sua análise sobre a força destes grupos sociais,
ras. Rio de Janeiro: LTC, 1989. no entanto, é negativa: “Pouco aptas ao racio-
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós- cínio, as multidões mostram-se, ao contrário,
modernidade. Rio de Janeiro: D&P, 2001. muito aptas à ação”, afirma (2008, p. 21).
RICHTER, Ivone M. Interculturalidade e Esté- A definição de Gabriel Tarde (1992) apro-
tica do Cotidiano no Ensino das Artes Visu- xima-se da de Le Bon. Publicadas pela primei-
ais. Campinas: Mercado das Letras, 2003. ra vez na mesma época, as ideias de Tarde di-
SEMPRINI, Andrea. Multiculturalismo. Bauru: ferem-se por considerar o século XX, que se
EDUSC, 1999. iniciava, como a era do público, que prescinde
da aproximação física necessária às multidões.
De acordo com ele, a multidão é incapaz de es-
Multidão tender-se além de um pequeno raio; quando
A expressão multidão, em sentido comum, re- ela deixa de ouvir a voz de seus líderes, desa-
presenta uma reunião de indivíduos quaisquer, parece.
independentemente de sua racionalidade, pro- Embora pontue a importância das “multi-
fissão ou sexo (LE BON, 2008). Do ponto de dões de amor e de festa” e sua contribuição para
vista psicológico, no entanto, conforme o autor, as sociedades, a visão negativa também preva-
adquire um significado diverso – em certas cir- lece em Tarde, que vê “algo de animal” na mul-
cunstâncias, uma aglomeração de homens pos- tidão, um estado de sonho ou hipnose, onde o
sui características muito diferentes daquelas de campo da consciência é invadido pela primeira
cada indivíduo que a compõe. A personalida- ideia oferecida.
de consciente desaparece, os sentimentos e as Os estudos recentes de Antonio Negri e
ideias de cada um orientam-se em uma única Michael Hardt (2005) abordarão o conceito de
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multidão sob nova roupagem. Sua força de ação se com um velho e passa a segui-lo, mas o ho-
é vista de forma positiva – os autores a definem mem mistura-se a outros. Era, nas palavras do
como o único sujeito social capaz de realizar a autor, um “homem das multidões”.
democracia. Essa nova configuração social, na qual era
Para eles, a multidão designa um sujeito possível estar nas ruas sem conhecer ninguém,
social ativo, que age com base naquilo que as chamou a atenção de Friedrich Engels: “A mul-
singularidades têm em comum. Apesar desse tidão desses para sempre assalariados vê-se
conceito se mantenher múltipla e internamente engrossada em proporções gigantescas pela
variada, é capaz de agir em comum, de se go- derrocada simultânea da ordem feudal, pela
vernar. Em vez de ser um corpo político com dissolução das mesnadas dos senhores feudais,
uma parte que comanda e outras que obede- a expulsão dos camponeses de suas terras”, es-
cem, a multidão é carne viva que governa a si creveu no texto Do Socialismo Utópico ao So-
mesma - o desafio da multidão é o desafio da cialismo Científico.
democracia. (Aline Strelow) Nesse trabalho, Engels mostra como a
aglomeração obrigou os seres humanos a en-
Referências: trarem cotidianamente em contato com pesso-
LE BON, Gustave. Psicologia das multidões. São as desconhecidas. O flanêur descrito por Char-
Paulo: Martins Fontes, 2008. les Baudelaire é o homem que encontra algum
HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Multidão. prazer em misturar-se aos seres que habitam a
Rio de Janeiro: Record, 2005. urbe. Já o sociólogo George Simmel identificou
TARDE, Gabriel. A opinião e as massas. São a atitude blasé como uma resposta à multidão.
Paulo: Martins Fontes, 1992. Mergulhado em si mesmo, o blasé busca não se
envolver com o ambiente externo, que consi-
dera desprezível – daí seu ar de deboche. Para
MULTIDÃO (A) Engels, Baudelaire e Simmel, o homem moder-
A ‘Revolução Industrial’, a urbanização e o ad- no está rodeado de gente, mas é solitário. Em A
vento do modo de produção capitalista pro- Multidão Solitária, o sociólogo David Riesman,
vocaram profundas transformações na esfera chama esse indivíduo de autodirigido.
pública. Se antes da modernidade as relações Se a noção do “povo” adquiriu no início
sociais eram mais próximas, nas cidades indus- da modernidade uma conotação positiva, uma
trializadas imperava o anonimato, a burocrati- vez que era o protagonista da sociedade livre, a
zação crescente e a impessoalidade. multidão era seu correlato negativo, depaupe-
Em 1840, Edgar Alan Poe publicou o con- rado e insano.
to “O Homem das Multidões”, narrado por um Sem exercer o protagonismo do “povo”, a
homem que vai a Londres fazer um tratamento multidão se distinguiu também da massa. Esta
de saúde e se diverte observando, do saguão do era homogênea e, portanto, passível de contro-
hotel, a multidão que passa na rua. A princípio, le. Já a multidão representava ameaça e provo-
ele só enxerga uma massa disforme. Progressi- cava o medo.
vamente, ele começa a distinguir roupas, jeitos Para Riesman, no passado a vida era regra-
de andar e outros detalhes singulares. Encanta- da por tradições e costumes. Na modernidade,
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guns têm a entrada livre, permanentemente, ou ampla gama simbólica que o cerca) e o espetá-
em dias especiais, por exemplo uma vez por se- culo musical (a performance).
mana ou ano. (Neusa Gomes) Atualmente, dependendo do circuito so-
cial em questão, falar de música permanece
associado aos aparatos midiáticos, mas dessa
Música vez ligados a programas de computador, sites
A música pode ser definida como uma forma de arquivos mp3 e comunidades de comparti-
de comunicação humana essencialmente (mas lhamento de músicas na internet, quase sempre
não exclusivamente) não-verbal. Através dos relacionados ao consumo jovem. A pesquisa
sons, os indivíduos e grupos sociais compar- sobre música, produzida na área de comuni-
tilham ideias, valores, pensamentos, símbolos cação, tem crescido consideravelmente nos úl-
e estados afetivos que, articulados, moldam timos anos. Recentemente, diversos pesquisa-
universos de gostos e de construções identitá- dores têm se debruçado sobre o objeto em suas
rias. Por isso, as práticas musicais são dotadas especificidades midiáticas, refletindo sobre o
de grande carga emocional, articulando quase mercado musical e sobre a circulação social das
sempre adesões apaixonadas e recusas violentas práticas musicais (HERSCHMANN, 2007). O
(FRITH, 1998). foco principal dos trabalhos costuma ser a cha-
Em nossa sociedade, o vocábulo música mada “música popular massiva” (JANOTTI JR.;
está ligado às sonoridades obtidas através de FREIRE FILHO, 2006), entendida como aque-
determinados “instrumentos” musicais que, la cujo circuito de produção e consumo aponta
combinados ou não com a voz humana, mol- para certos modelos estéticos destinados a uma
dam uma infinidade de perfis sonoros e estilís- ampla circulação social.
ticos reconhecidos como “musicais”. A música O enfoque multidisciplinar dos estudos so-
é, portanto, a prática sociocultural de manipu- bre música popular é recorrente, tendendo para
lação de sons aceitos como musicais por deter- abordagens que associam o aparato midiático
minado grupo social em determinado tempo aos conteúdos culturais, sonoros e simbólicos
histórico. das músicas que cercam nosso cotidiano, inter-
Desde o início do século XX, com a fono- pelando-nos com pensamentos, valores e afeti-
grafia, a reflexão sobre música tornou-se indis- vidades. (Felipe Trotta)
sociável dos aparatos tecnológicos e midiáti-
cos que permitem sua circulação social. Nesse Referências:
momento, fixa-se no mercado musical a forma FRITH, Simon. Performing rites: on the value of
canção como modelo básico de distribuição de popular music. Cambridge: Harvard Uni-
músicas pela sociedade, feita a partir de então versity Press, 1998.
por empresas especializadas na gravação e dis- HERSCHMANN, Micael. Lapa, cidade da mú-
tribuição de fonogramas: as “gravadoras”. Até sica. Rio de Janeiro: Mauad X, 2007.
bem pouco tempo atrás, falar sobre algum gê- JANOTTI JR., Jeder; FREIRE FILHO, João. Co-
nero musical ou artista representava abordar de municação e música popular massiva. Sal-
alguma forma sua gravadora, o produto disco vador: EDUFBA, 2006.
(com capa, conceituação, imagens e toda uma
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N, n
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o relato, em sua face épica, como amálgama en- hoje em dia incontestado. Mas não foi sempre
tre gerações. assim.
A análise estrutural, frente de estudos de No entanto, outro modo de se conceituar o
caráter formalista, contribuiu para o estabele- cinema é dizer que “cinema é imagem” ou “ci-
cimento de categorias internas da narrativa, en- nema é movimento”, mas Leone e Dora Mou-
tre as quais aquelas originadas pelas noções de rão consideram essas como afirmativas estéreis,
história e discurso, sendo a primeira compre- já que as imagens, captadas mecanicamente,
endida, segundo Todorov (2008), como a or- obedecem, contudo, a uma intencionalidade
dem do narrado, que engloba a lógica das ações que está, num primeiro momento, expressa no
e os personagens e suas relações; e o segundo roteiro do filme, e deve ser depois concretizada
pela maneira como o narrador nos faz conhe- ou modificada pelo diretor e, enfim, ainda pode
cer esse universo, envolvendo aspectos relacio- sofrer interferências do editor/montador.
nados à temporalidade, pontos de vista, modos Assim, de fato, o que caracteriza o cinema é
narrativos, entre outros. (Márcio Serelle) a narratividade, mas uma narratividade especí-
fica, que se dá através da articulação entre ima-
Referências: gens (estejam elas fixas ou em movimento, isso
BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e não é o essencial), através da montagem (LEO-
técnica, arte e política. Trad. Sergio Paulo NE; MOURÃO, 1987, p. 13). É através da mon-
Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994. tagem que o cinema se estrutura enquanto arte
GENETTE, Gérard. Fronteiras da narrativa. In: e aquelas imagens que, em tese, são original-
BARTHES, Roland et. al. Análise estrutural mente desarticuladas, ganham sentido e impor-
da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2008. TO- tância, emoção ou racionalidade, narratividade,
DOROV, Tzvetan. As categorias da narra- enfim. Para Renato May, montar, no cinema, é
tiva literária. In: BARTHES, Roland et. al. colar uma imagem na outra (ORTIZ, 1955, p.
Análise estrutural da narrativa. Petrópolis: 8). Esta é a base estética do filme. Isso significa,
Vozes, 2008. por consequência, que a técnica não é separá-
WHITE, Hayden. The historical text as literary vel da expressão: na verdade, a linguagem ci-
artifact. In: FAY, Brian; POMPER, Philip; nematográfica está capacitada a expressar toda
VANN, Richard T. (Eds.). History and theo- e qualquer ideia ou sentimento, mas não por
ry. Oxford: Blackwell Publishers, 1998. via verbal, e sim, através de imagens articula-
das entre si através da montagem (BALDELLI,
1970, p. 193). É o movimento intermitente da
NARRATIVA CINEMATOGRÁFICA câmera, captando e transmitindo imagens, que
Falar em narrativa significa falar numa lin- permite ao cinema existir tal como o conhece-
guagem própria do cinema, tema que, des- mos hoje (MARTIN, 1971, p.9). A técnica pri-
de o começo do século XX, suscitou debates mitiva do cinematógrafo de Lumière ou de Mé-
acirrados entre os estudiosos do cinema. “O liés não comportava a montagem. Filmava-se
cinema é [por essência] uma arte narrativa”, num plano único e fixo, sem qualquer corte ou
afirmam Eduardo Leone e Maria Dora Mou- consequente montagem. Mas Méliés vai intro-
rão (1987, p.10). Isso seria o ponto de partida duzir a montagem, um pouco por acaso, numa
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da narrativa. É a montagem que articula dife- pondendo, de modo geral, ao que se conhece,
rentes tempos e espaços, tanto quanto tempos no Brasil, como segmentação. Trata-se de pen-
e espaços entre si (MARTIN, 1971, p. 242). An- sar o público em parcelas e, por se enquadrar
dré Bazin escreveu: “fazer cinema hoje é contar em uma perspectiva nitidamente relacionada
uma história numa linguagem clara e perfeita- ao rádio comercial, em nichos de mercado a se-
mente transparente”. rem atingidos pela emissora.
Dependendo da profundidade do estudo A oposição entre o broad (amplo, em por-
sobre a montagem, podemos idealizar verda- tuguês) e o narrow (estreito) corresponde, na
deiras leis e princípios da montagem, como indústria de radiodifusão sonora, a uma mu-
Carlos Ortiz o fez, em um levantamento de 50 dança de estratégia mercadológica. Conforme
princípios, tais como: a continuidade é a gran- Richers (1991, p. 15), ao desenvolver a sua estra-
de lei do corte e o postulado da montagem (p. tégia de marketing, qualquer empresa tem duas
30); a aproximação de paisagens de planos re- opções distintas para se dirigir ao mercado: (a)
motos para planos próximos faz-se melhor em difusão, que consiste em espalhar os produ-
fusões do que em cortes (p. 35); não corte sem tos pelo mercado afora, sem se preocupar com
necessidade dramática ou narrativa (p. 41); na quaisquer diferenças existentes entre os com-
prática da filmagem, não tenha pressa em cor- pradores em potencial; e (b) segmentação, que
tar (p. 43) etc. considera heterogênea a demanda, justificando
A montagem, enfim, traduz a maior ou me- uma concentração de esforços de marketing em
nor criatividade do cinema, e por isso é a base fatias específicas. Na época do espetáculo ra-
de toda a narrativa cinematográfica, que vive diofônico das novelas, dos humorísticos e dos
da palavra, do som, da cor, do ator, mas, sobre- programas de auditório, o conteúdo de uma
tudo, da imagem disso tudo, articulada através emissora precisava se diferenciar por si de ou-
da relação produzida pela montagem entre to- tras ofertas semelhantes. Com a introdução da
das essas imagens. (Antonio Hohlfeldt) TV no ambiente social, as emissoras de rádio
procuraram diminuir os riscos inerentes ao ne-
Referências: gócio, buscando uma fatia do mercado em que,
BALDELLI, Pio. El cine y la obra literaria. Bue- por vezes, não teriam concorrência.
nos Aires: Galerna, 1970. Elaborado como estratégia das emissoras
LEONE, Eduardo; MOURÃO, Maria Dora. Ci- comerciais de rádio para combater a televisão,
nema e montagem, São Paulo: Ática, 1987. a noção de narrowcasting constitui-se em rea-
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfi- lidade tão disseminada nos grandes e médios
ca, Lisboa: Prelo, 1971. centros urbanos brasileiros que mesmo esta-
ORTIZ, Carlos. A montagem na arte do filme, ções educativas, comunitárias e públicas ade-
São Paulo: Gráfica São José, 1955. quam-se a ela. A própria existência destas al-
ternativas representa uma resposta à excessiva
comercialização das emissoras empresariais.
Narrowcasting Respondem – ou deveriam, pelo menos – a ne-
Expressão cunhada, nos Estados Unidos, para cessidades educativo-culturais, comunitárias
contrastar com a ideia de broadcasting e corres- ou de cidadania não atendidas, em sua totalida-
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de, pela indústria de radiodifusão sonora. (Luiz portância da relação que as partes envolvidas
Artur Ferraretto) na negociação têm uma sobre a outra, (b) a im-
portância do resultado da negociação, tanto
Referências: em termos tangíveis como intangíveis (SAIEH,
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio e capitalismo 2006).
no Rio Grande do Sul: as emissoras comer- A negociação é o processo de buscar acei-
ciais e suas estratégias de programação na tação de ideias, propósitos ou interesse, sempre
segunda metade do século 20. Canoas: Ul- visando ao melhor resultado possível, de modo
bra, 2007. que as partes envolvidas terminem a negocia-
FORNATALE, Peter; MILLS, Joshua E. Radio ção conscientes de que foram ouvidas, tiveram
in the television age. New York: The Over- a oportunidade de apresentar toda a sua argu-
look Press, 1980. mentação e que o produto final seja maior que
RICHERS, Raimar. Segmentação de mercado: a soma das contribuições individuais, ou seja,
uma visão de conjunto In: RICHERS, Rai- que ao final tudo acabe em sinergia.
mar; LIMA, Cecília Pimenta (Org.). Seg- Segundo Lewicki, Sauders e Minton (2001)
mentação: opções estratégicas para o mer- a negociação ocorre por dois motivos: (a) para
cado brasileiro. São Paulo: Nobel, 1991. criar algo novo que nenhuma das partes pode-
STEPHENS, Mitchell. Uma história das comu- ria fazer por si só e, (b) para resolver um pro-
nicações: dos tantãs aos satélites. Rio de Ja- blema ou uma disputa entre as partes.
neiro: Civilização Brasileira, 1993. A negociação faz parte das estratégias do
processo da comunicação simétrica (GRUNIG,
1992) que está baseada na discussão, na media-
Negociação ção e no consenso entre as partes envolvidas.
Negociar é colocar em prática racionalidade à Tanto a organização como os públicos usam es-
disposição de uma estratégia que permita, me- tes mecanismos para conseguir seus objetivos
diante a comunicação eficiente, obter o máximo e, nesse sentido a negociação é o processo que
dos nossos interesses, satisfazendo a outra par- permite que seja encontrada uma solução para
te, de tal forma que este aceite o acordo, tentan- um conflito existente. A negociação é uma es-
do melhorá-lo ou, ao menos, não dificultando tratégia legítima desde que exista espaço para
as relações. (SAIEH, 2006). O ato de negociar é que ambos os lados possam expressar suas opi-
um processo social ocorre diariamente uma vez niões e ideias.
que todas as pessoas negociam o tempo todo. Na sociedade globalizada, a negociação en-
As tendências atuais de gestão e adminis- tre as organizações está inserida em um contex-
tração indicam que uma das mais relevantes to muito maior e que aumenta de complexida-
habilidades requeridas aos executivos nas orga- de quando a cultura está envolvida, fazendo da
nizações é a capacidade para solucionar confli- negociação um processo altamente complicado
tos de forma negociada, uma vez que não bas- quando acontece entre fronteiras. As relações
ta vencer, mas sim convencer a outra parte. No públicas internacionais, como especialidade
momento de negociar, o profissional deve le- da atividade, têm como função acompanhar os
var em consideração dois elementos: (a) a im- processos de negociação, assessorando os exe-
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cutivos a identificarem os elementos da cultura guns nomes que aí se afirmarão são Cesare Za-
com a qual se negocia para usarem estratégias vattini, Francesco Rossellini, Victtorio De Sic-
de negociação e de comunicação distintas ao ca, Lucchino Visconti etc. De qualquer modo, o
negociar interculturalmente. filme que se considera lançador do movimento
Dessa forma, a cultura e a comunicação é Roma, cidade aberta (1945), de Roberto Ros-
são elementos importantíssimos no processo sellini, realizado pelo produtor Francesco de
de negociação que podem influenciar a defini- Robertis, ainda ao tempo do fascismo (JEAN-
ção do negócio, sua tramitação, o tempo crono- NE; FORD, 1947, vol. 2, p. 273).
lógico, a relação entre os envolvidos, além da Rossellini era filho de um engenheiro, e
natureza dos acordos firmados. (Maria Apare- só após a morte do pai dedicou-se ao cinema
cida Ferrari) (GUARNER, 1970, p.6). Roma, cidade aberta
era um filme claramente antifascista, realizado
Referências: mesmo antes que ocorresse a total evacuação
GRUNIG, J. E. (Ed.). Excellence in public re- de Roma pelas tropas de Mussolini (KNIGHT,
lations and communication management. 1970, p. 207), que mostra as brutais decisões
Hillsdale: Lawrence Erlbaum Associates, impostas aos italianos pelos fascistas, consi-
1992. derado como um “extraordinário documen-
LEWICKI, R. L., SAUDERS, D. M.; MINTON, to” (ROTHA, 1951, p. 596). Roma, cidade aber-
J. W. Fundamentos da Negociação. 2. Ed. ta utilizava uma linguagem acessível a todo e
Porto Alegre: Bookman, 2001. qualquer espectador.
SAIEH, C., RODRÌGUEZ, D.; OPAZO, M. P. Assim, seguiram-se obras como Paisan
¿Negociación o Cooperación? Santiago: (1946), do mesmo Rossellini, comparado por
Aguilar, 2006. muitos a Encouraçado Potemkin, de Eisenstein;
o filme consiste em seis episódios, unificados
pelo acompanhamento da progressão do exér-
NEORREALISMO (ITALIANO) cito aliado em solo italiano, desde a Sicília; nos
Tendência estética que ocorre tanto na literatu- dois filmes, Rossellini assume a figura do parti-
ra quanto no cinema italiano, ao final dos anos san como o novo homem italiano que pode vi-
do fascismo, mas que, ao contrário do Realismo ver grandes acontecimentos em escala cotidia-
do século XIX, não pretende representar, fide- na (ROTHA, 1951, p. 597); Vítimas da tormenta/
dignamente, a realidade, mas participar da pró- Sciuscià (1946), de Victorio De Sicca, que enfo-
pria realidade, na literatura se valendo de do- ca grupos de meninos de rua degradados pela
cumentos originais e, no cinema, trabalhando falta de expectativa de futuro em suas vidas; e
com a câmera nas ruas das cidades e utilizando Ladrões de bicicletas (1948), do mesmo diretor.
como intérpretes prioritariamente figuras do O movimento alastrou-se, ganhando contor-
próprio povo, e não atores. O movimento co- nos variados, com filmes como Obsessão (1943)
meçou, na verdade, segundo alguns estudiosos, ou La terra trema (1948), de Lucchino Viscont,
bem antes, com a filmagem de Perditi nel buio formando um ciclo de obras notáveis, “inspi-
(....), de Nino Martoglio, baseado num romance radas pela súbita descoberta da identidade na-
de Giovanni Verga (MERTEN, 1995, p. 51). Al- cional e libertação simultânea de talentos cria-
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dores” (KNIGHT, 1970, p. 208). Os filmes do (1944), de Victorio De Sicca. Anos depois, com
neo-realismo tenderam, num primeiro mo- a explosão de Roma, cidade aberta, o termo
mento, aos temas sociais, como Viver em paz se impunha internacionalmente (MERTEN,
(1946), de Luigi Zampa, mas depois se aproxi- 1985, p. 52). Mas o neo-realismo teve dificulda-
maram e aprofundaram debates psicológicos, des para impor-se em festivais. Antonioni, por
como Sedução da carne (1954), de Lucchino exemplo, concorreu com L’avventura (1960), e
Visconti, na medida em que o cineasta conse- depois com O eclipse (1962), no Festival de Can-
guiu ludibriar a censura, revelando uma face da nes, sem alcançar o prêmio maior. E esses já
Itália que a propaganda oficial queria mascarar: eram seu sexto e sétimo filmes de longa-metra-
para ele, a tomada de consciência era a chega- gem, respectivamente (CAMERON; WOOD,
da à liberdade (ARISTARCO apud VISCONTI, 1971, p. 7, 33). Mais tarde, Antonioni chegaria
1967, p. 54). a realizar obras extraordinárias como Blow up
Nessa linha, Visconti, mais tarde, filmaria, (1966) e Zabriskie point (1969). No neo-realis-
dentre outros, Rocco e i suoi fratelli (1960), em mo italiano, escreveu Walter da Silveira, a ne-
que retornava aos temas populares, abordando cessidade da linguagem provinha da necessi-
uma família pobre do sul, que parte para Mi- dade da existência (MERTEN, 1985, p. 53). Para
lão, buscando melhorar de vida. O que Visconti Rossellini, por seu lado, o neo-realismo era
queria, de fato, era “dar a ver e a compreender mais uma posição moral que um sistema esté-
a sociedade italiana de seu tempo, mas sem re- tico, uma maneira de exprimir, através do cine-
nunciar a nutrir seus filmes com uma cultura ma, o sofrimento humano. No desdobramento
muito vasta” (ARISTARCO apud VISCONTI, do neorealismo italiano, apareceriam cineas-
1967, p. 72). Esse conjunto de filmes concretizou tas como Píer Paolo Pasolini, desde L’accatone
a imagem do italiano comum, evidenciando in- (1961) até Teorema (1968). (Antonio Hohlfeldt)
clusive que os estúdios da Cinecità eram não
apenas os maiores como os mais bem equipa- Referências:
dos da Europa (KNIGHT, 1970, p. 210). Muitos CAMERON, Ian; WOOD, Robin. Antonioni.
filmes passaram também a poeticizar a reali- New York: Praeger, 1971.
dade, como Milagre em Milão (1951), de Victo- GUARNER, José Luis – Roberto Rossellini, Lon-
rio de Sicca, em que os vagabundos voam pe- don, Studio Vista. 1970.
los céus em cabos de vassoura, chegando a Pão, JEANNE, Renné; FORD, Charles. História ilus-
amor e dramas (1953), de Luigi Comencini. La trada del cine. Madrid: Alianza. 1947. Vo-
strada (1954), de Federico Fellini, radicalizaria lume 2.
essa experiência, abrindo novos caminhos para KNIGHT, Arthur. Uma história panorâmica do
o movimento. cinema, a mais viva das artes. Rio de Janei-
O termo neorealismo surge em 1942, em- ro: Lidador, 1970.
pregado pelo crítico Umberto Barbaro, na re- MERTEN, Luiz Carlos. Cinema – Um zapping
vista Cinema, que reunia a intelectualidade da de Lumière a Tarantino. Porto Alegre: Ar-
resistência italiana na época, a propósito de fil- tes e Ofícios, 1985.
mes como Quattro passi tra le nuvole (....), de ROTHA, Paul. The film till now. London: Vi-
Alessandro Blasetti ou I bambini ci guardano sion. 1951.
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VISCONTI, Luchino. Rocco e seus irmãos. Rio cado do niilismo: a ausência de qualquer senti-
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. do valorativo, da existência mesma de algo fixa.
É com Nietzsche que o niilismo é levado às
últimas consequências: nada resta da metafísi-
NIILISMO ca. O que reina no mundo é o devir, pois nada
Do latim nihil, nada, remete à negação da exis- há fora do movimento, o qual não pode ser
tência enquanto verdade filosófica ou ética. Por- “congelado” em um “ser”. O devir impera sobre
tanto, do ponto de vista da metafísica ou onto- o ser e o não-ser. Não há passagem do não-ser
logia, aponta para o “não-ser”. Do ponto de vista ao ser, e nem do ser ao não-ser. Simplesmente,
ético, diz respeito ao relativismo, uma vez que há cadências diferenciadas do movimento da
não se pode determinar o que é o bem. Para o natureza, sendo esta o próprio devir. Do movi-
niilismo, também, não há nem o ser nem o bem mento só pode sair o movimento. Mas, atenção:
enquanto absolutos. Entretanto, o enfoque a res- esse artigo definido “o” não indica “ser”.
peito do “não-ser”, em abordagens sobre o que Ainda sob outra ótica, há interpretações
denominou de “o mesmo” e “o outro”, Platão russas em que o niilismo é visto como uma es-
afirma que esse “outro” é o não-ser do “mesmo”. pécie de “revolução cultural”, alicerçada em in-
Em outras palavras, para ele, o “não-ser” seria o telectuais cooperados em prol de uma modifi-
outro do ser e, portanto, um outro ser, um ser cação da política, economia e sociedade russas.
diferente. Isso somente reforça que não há espa- É disso que trata a obra Pais e filhos, do escritor
ço para o “não-ser”, não havendo, assim, abertu- Ivan Turgueniev.
ra para a existência do “não-ser” como “nada”, Em geral, e do ponto de vista da comunica-
uma vez que o “não-ser, ou o nada, não é”. ção, o niilismo surge quando os “valores da tra-
Outro é o entendimento de Nietzsche, para dição, dos costumes” não mais respondem às
quem o termo tem a ver com a decadência dos questões sociais de relações entre grupos e/ou
valores europeus da tradição ocidental. Inclui- de indivíduos. É um “anticongelante” institui-
se aí a própria filosofia enquanto imbuída, em cional, mas não contra a necessidade da socie-
sua maior parte, de valores dualistas ou metafí- dade como instituição em mudança. (Francisco
sicos, o que levaria, consequentemente, à exis- José Nunes e Mauro Araujo de Sousa)
tência tanto do ser como do não-ser, uma vez
que esses valores tratam sempre de se contra- Referências:
porem. Essa contraposição de conceitos, na vi- JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Di-
são do filósofo alemão do século XIX, define a cionário básico de filosofia. Rio de Janeiro:
própria metafísica. Isto é, se a metafísica não Jorge Zahar Editor, 1996.
estava mais respondendo às indagações do ho- NIETZSCHE, Friederich Wilhelm. O Anticris-
mem do século XIX, o ser não mais se afirma- to. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
va diante do nada. Destarte, a virada metafísica REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História
platônica de trocar o não-ser pelo ser, um es- da filosofia. São Paulo: Paulus, 2003.
forço retórico que ousou transformar o “não- VATTIMO, Gianni. O fim da modernidade: nii-
ser” em um outro “ser”, não assegurou a defesa lismo e hermenêutica na cultura pós-moder-
da metafísica. Vingou o mais profundo signifi- na. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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espetáculos realizados, número de prêmios ou- Esse conjunto de atributos deve proporcio-
torgados por empresas públicas ou privadas de nar satisfação e, num nível mais profundo, fi-
renome, pesquisas de popularidade etc. delização do consumidor. A marca ou produ-
Dependendo do campo, torna-se difícil de- to com notoriedade ocupa lugar de honra na
terminar a notoriedade de algo ou alguém, seja mente dos consumidores. (Lideli Crepaldi)
por causa da concorrência, seja pelas especi-
ficidades da comunidade de reconhecimento. Referências:
A notoriedade pública, na maioria das vezes, CARLETTI, Amilcare. Dicionário de latim fo-
está associada à celebridade, fascínio, glamour, rense. 8. ed. rev. e ampl. São Paulo: Liv. e
prestígio, riqueza, poder. Ed. Universitária de Direito, 2000.
Na área da comunicação, notoriedade pode FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo
fazer referência a um produto, marca, empresa, Aurélio Século XXI: o dicionário da língua
tecnologia e/ou profissional que seja claramente portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janei-
reconhecido e aceito como portador de certas ro: Fronteira, 1999.
qualidades que o consagraram. Imaginemos um PALAIA, Nelson. O fato notório, a notorieda-
produto como lâmina de barbear, cuja marca de do fato e as máximas de experiência.
notória tornou-se sinônimo das próprias atri- Jus Navigandi. Ano 10, n. 1076, Teresina,
buições do produto: Gillette. Ou uma empresa 12 jun. 2006. Disponível em: <http://jus2.
como as Organizações Globo, cujo “padrão de uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8500>.
qualidade” é amplamente reconhecido pela po- Acesso em 02/04/2009.
pulação brasileira. A Coca-Cola – segundo o es- SIDOU, J. M. Othon. Dicionário Jurídico: Aca-
tudo Brand Power Index – é a marca com maior demia brasileira de Letras Jurídica. 9. ed.
notoriedade em todo o mundo, lembrada por Rio de Janeiro: Forense Universitária,
95% da população mundial. A notoriedade de 2006.
uma marca faz com que o consumidor associe
de imediato uma marca ao produto.
É necessário ressaltar que a notoriedade NOUVELLE VAGUE
de marca ou produto possui diversos níveis de Nome dado ao movimento criado por um gru-
avaliação: ausência de notoriedade, notorie- po de jovens diretores cinematográficos fran-
dade assistida (precisa de um auxílio para ser ceses que se colocou em evidência, ao final dos
lembrada), notoriedade espontânea (marca é anos 1950, e ao longo de toda a década seguinte,
lembrada juntamente com outras marcas) e no- graças ao estilo de suas obras, ainda que, para
toriedade top of mind (a primeira marca refe- muitos, cada um desenvolvesse sua própria es-
renciada), sendo que a última categoria é àquela tética e jamais chegassem a formar uma escola
almejada pelas grandes empresas. Para alcan- propriamente dita. Pretendendo descartar fór-
çar e manter a notoriedade, é necessário prezar mulas tradicionais de produção e narrativa ci-
pela qualidade, pela constância de produção e nematográfica, boa parte desses jovens realiza-
divulgação, pela disponibilidade do produto, dores estava ligada à revista Cahiers du cinéma,
distinção clara e superioridade perante outras especialmente no caso de Jean-Luc Godard,
marcas ou produtos, dentre outros fatores. que é seu principal nome de referência. Valen-
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do-se das novas câmeras, leves e portáteis, para a Indochina e a Argélia. E no país alastra-se um
a realização de cenas externas, valorizaram, es- sentimento de profunda indagação existencia-
pecialmente, o traveling, o corte nervoso e rápi- lista, sob a influência do filósofo Jean-Paul Sar-
do, buscando dar movimento e dinamicidade à tre. A expressão nouvelle vague ou nova onda
narrativa. aparece pela primeira vez na revista L’Express,
Os roteiristas e diretores desse grupo es- quando entrega o Prêmio Nouvelle Vague ao
tético se preocuparam com roteiros inovado- romance O repouso do guerreiro, de Christia-
res, quer quanto aos temas abordados, quer en- ne Rochefort, que mais tarde viria a ser filmado
quanto estruturação da narrativa, em parte sob por Roger Vadin, tendo Brigitte Bardot no prin-
influência do nouveau roman francês, como no cipal papel. Cahiers du cinéma, então a bíblia
caso de Alain Resnais (L’année dernière à Ma- do cinema francês, adota o termo a partir de ar-
rienbad/ O ano passado em Marienbad), de tigos de André Bazin. Dentre os jovens críticos,
1961, experimentando também quanto à so- aí estão Jean-Luc Godard e François Truffaut.
norização e à edição. São geralmente mencio- Também sob a influência do Roberto Rosselli-
nados como integrantes deste movimento re- ni, de Roma, cidade aberta, passam a defender
alizadores como Louis Malle, Claude Chabrol, uma política do filme de autor, já que, para eles,
François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Res- a verdadeira autoria de um filme estaria na mis-
nais etc. en-scène, ou seja, na própria encenação.
Para muitos críticos, a preocupação exces- Na verdade, já houvera, nos anos 1920, uma
siva com o aspecto formal fazia com que esses primeira nouvelle vague francesa, com diretores
realizadores esquecessem propriamente do con- como René Clair e Claude Autant-Lara, justa-
teúdo da obra. A nouvelle vague estimulou o de- mente os que os jovens dos anos 1950 escolhem
bate em torno da linguagem cinematográfica e como os velhos a serem agora combatidos. Para
ajudou a demonstrar que filmes com preocupa- muitos estudiosos, talvez tenha sido Roger Va-
ções estéticas poderiam ter uma boa recepção din aquele que iniciou a nouvelle vague, mesmo
comercial. Normalmente, os primeiros filmes que não tenha jamais pretendido filiar seu filme
desses realizadores foram financiados por eles àquele movimento. Mas com ... E Deus criou a
mesmos (CARVALHAES, 1975, p. 26). Pode-se mulher (1956), ao propor um comportamento
sintetizar o nascimento deste movimento como libertário e rebelde para a mulher, abriu cami-
uma tomada de consciência que se dá, após a II nho para este novo modo de fazer cinema. Ao
Grande Guerra, de um lado, de que a França (e lado de Brigitte Bardot, aparecia Jean-Paul Bel-
a Europa) é um mundo de velhos que ditam re- mondo, vivendo Michell Poiccard, no filme de
gras, seja na política, com Charles Degaulle, seja Jean-Luc Godard Acossado (A bout de souffle,
no cinema, com Jean Gabin, o que gera descon- de 1959, em que o grande ator vivia um homem
tentamento e revolta entre os jovens. Sob a in- durão, pelas ruas de Paris. Em seguida, Fran-
fluência do cinema norte-americano, eles assis- çois Truffaut produziria Os incompreendidos
tem a Marlon Brando e James Dean encarnarem (Les 400 coups), também de 1959, realizado aos
o jovem rebelde e inconformista. 21 anos de seu diretor, lançando outro ator que
A França, mal se livrou da ocupação nazis- se celebraria, Jean-Pierre Léaud. Os diretores
ta, está pelo menos em duas frentes de batalha, da nouvelle vague são muito diferentes entre
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si, mas todos possuem em comum uma gran- CAMERON, Ian (Org.). The films of Jean-Luc
de interrogação filosófica a respeito do sentido Godard, New York: Praeger, 1969.
da vida, mesmo que, para muitos, não houvesse CARVALHAES, A. C. Curso básico de História
nenhuma preocupação política mais aprofun- do Cinema. Porto Alegre: Clube de Cinema
dada, o que se modificará gradualmente, sobre- de Porto Alegre/Departamento de Ativida-
tudo no caso de Jean-Luc Godard, já na década des Culturais da Assembleia Legislativa do
seguinte. Rio Grande do Sul, 1975. [Mimeo]. Volume
Assim, é provável que Claude Chabrol (Mi- 2.
nha noite com ela/Ma nuit chez Maud), de 1969, GODARD, Jean-Luc. Jean-Luc Godard por Jean-
e François Truffaut tenham sido os dois reali- Luc Godard. Barcelona : Barral, 1969.
zadores que, ao longo do tempo, e já reconhe- MERTEN, Luiz Carlos. Cinema – Um zapping
cidos pela crítica francesa e internacional, me- de Lumière a Tarantino. Porto Alegre : Ar-
lhor se tenham adaptado ao cinema comercial. tes e Ofícios, 1995.
Jean-Luc Godard, ao contrário, radicalizou suas
posições, até chegar a A chinesa/ La chinoise
(1967) que, de certo modo, anteciparia o Maio NOVO JORNALISMO (New Journalism)
de 1968 na França, e Duas ou três coisas que sei Trata-se de um fenômeno puramente norte-
dela/Deux ou trois choses que je sais d’elle (1967). americano da década de 1960 (ARRANZ, 2000,
Godard, mais recentemente, provocou forte re- p. 75). “O novo jornalismo (...) refere-se à pro-
ação da Igreja Católica, ao realizar Je vous salue, dução escrita de uma classe nova de jornalistas
Marie (1985), inclusive no Brasil. (...) os quais desafiaram a prática do jornalis-
Certamente, ninguém revolucionou tanto mo tradicional para exercer a liberdade de um
o cinema francês quanto ele, rompendo a tra- novo estilo de narração jornalística e comen-
dição da pré-montagem e da decupagem , mes- tário subjetivo, cândido e criativo” (JOHN-
clando gêneros e desdramatizando a narrativa, SON, 1975, p. 13 e 14). O fenômeno do novo jor-
talvez sob certa influência da teoria brechtiana, nalismo inscreve-se numa tendência chamada
buscando chamar a atenção do que espectador de jornalismo literário, romance de não-ficção,
de que ele estava assistindo a um filme e não parajornalismo, underground, jornalismo par-
um simulacro de vida (MERTEN, 1995, p. 73). tidário, difusão alternativa, chegando mesmo
Contudo, se remanesce um dos grandes mo- ao termo jornalismo de precisão, explorado es-
mentos de toda essa tendência, que é o belo Hi- pecialmente por Phillip Meyer (HOLLOWELL,
roshima, mon amour (1959), de Alain Resnais, 1979, p. 7, 194-195). Essa prática pode ser identi-
quase sempre citado como um dos grandes ficada pelo menos desde o século XVIII, a par-
filmes do século XX, muitos críticos de certo tir dos jornais ingleses, com a participação de
modo têm em Jean-Luc Godard seu maior refe- romancistas-jornalistas, como Daniel Defoe,
rencial. (Antonio Hohlfeldt) Jonathan Swift, Samuel Richardson, Richard
Steele etc. A prática também ocorre no jorna-
Referências: lismo francês ou no jornalismo brasileiro, neste
BARBOSA, Haroldo (Org.). Jean-Luc Godard. caso, quase contemporâneamente ao fenômeno
Rio de Janeiro: Record,1968. norte-americano do novo jornalismo, através
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principalmente, mas não de maneira exclusiva, O prestígio do new journalism teria ocor-
das páginas da revista Realidade (de 1964 até rido graças a A sangue frio, publicado em capí-
1968) ou do Jornal da Tarde. Vai transmutar- tulos na The New Yorker, no outono de 1965, à
se no chamado livro-reportagem e permanece escritora-jornalista Joan Didion, que entre 1966
ainda hoje, em todo o jornalismo mundial, ain- e 1967 publicava “seus estranhos artigos góti-
da que sob denominações variadas. cos sobre a Califórnia” e, em especial, no co-
O caso norte-americano, o new journa- meço de 1968, à publicação de Norman Mailer
lism vai surgir sobretudo em revistas mensais, de Os degraus do Pentágono (WOLFE, 2005, p.
que dispõem de maiores espaços e lapsos de 45 e 47). Em 1969, o novo jornalismo já estaria
tempo para a produção de grandes matérias institucionalizado. Para Tom Wolfe, houve erro
jornalísticas, como a Rolling Stones e a The por parte dos romancistas norte-americanos ao
New Yorker, mas já havia sido praticado um abandonarem o chamado realismo social das
jornalismo literário em publicações como Es- grandes obras das três primeiras décadas do sé-
quire, por exemplo. “Tradicionalmente, os culo XX (WOLFE, 2005, p. 53; HOHLFELDT,
jornais são mais lentos que as revistas para 2003). Com isso, tanto a literatura quanto o jor-
abrir-se a qualquer tipo de jornalismo inven- nalismo silenciaram sobre grandes massas da
tivo ou experimental, em grande parte porque população norte-americana. Os acontecimen-
os jornais têm um público local predominan- tos dos anos 1960, desde a rebelião dos jovens,
te, a quem não se pode perder” (JOHNSON, a resistência ao serviço militar, até a Guerra do
1975, p. 211). “Não faço ideia de quem cunhou Vietname, viria a tumultuar e reverter à expe-
a expressão novo jornalismo, nem quando foi riência cultural dos Estados Unidos, abrindo
cunhada”, depõe Tom Wolfe em seu hoje clás- brechas que foram utilizadas por alguns jovens
sico texto a respeito do movimento (WOLFE, jornalistas, com boa formação universitária,
2005, p. 40). vocação evidente para a ficção, mas que se ocu-
A expressão teria surgido por volta de 1965, pavam também do jornalismo como seu ganha-
segundo Seymour Krim, e envolvia preliminar- pão (COSSON, 2007, p. 134-135). Assim, o novo
mente escritores-jornalistas como Gay Talese jornalismo serviu para iluminar dilemas éticos
e Tommy Breslin. Logo extendeu-se a Truman daquele momento, já que o jornalista se tornou
Capote, graças a seu A sangue frio, mesmo que uma espécie de testemunha moral dos aconte-
o autor negasse fazer jornalismo e se referisse a cimentos (HOLLOWELL, 1979, p. 23-25).
um novo tipo de romance de não-ficção. Era, Nessa seara, O novo jornalismo, segun-
de qualquer modo, algo novo surgido no seio do Wolfe, não inventou nada, mas redesco-
de um jornalismo feito pelas grandes empresas briu procedimentos narrativos que revalorizou,
editoriais, marcado pelo rígido respeito ao lead quando praticados em conjunto: (a) construção
mas que se tornara, formalmente, burocratiza- cena a cena para contar uma história em mí-
do, sem emoção; e, do ponto de vista temático, nimos detalhes; (b) registro de diálogos com-
afastara-se da realidade cotidiana norte-ame- pletos, ainda que, na maioria dos casos, como
ricana, evitando confrontos e denúncias, bem no de Capote, não se usasse gravador, deven-
ao contrário da experiência ainda presente dos do memorizar os acontecimentos e depois re-
mucrakers dos anos 1920. produzi-los; (c) utilização do ponto de vista da
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terceira pessoa, apresentando a cena através do negro em perigo, de Mark Bowden, sobre a in-
olhar de um outro personagem que não o jor- tervenção norte americana na Somália [o que
nalista. Esta experiência podia ampliar-se tam- gerou, inclusive, um belo filme de Ridley Scott
bém para o múltiplo ponto de vista, narrando a - 2001] . Esses livros usam técnicas literárias do
mesma cena sob diferentes óticas de diferentes Novo Jornalismo, embora não sejam mais iden-
personagens; (d) registro detalhado de gestos, tificados assim” (TEIXEIRA, 2005, p. 14).
hábitos, maneiras, costumes, estilos de mobí- Assim, o sentimento de que nem a litera-
lia, roupas, decoração, maneiras de viajar e de tura nem o jornalismo estavam acompanhan-
comer, modos de manter a casa, de se relacio- do e registrando a realidade norte-americana
nar com os filhos ou os criados, olhares, podes, imediata guiou a criação do novo jornalismo,
estilos de andar, detalhes simbólicos, todos, do segundo alguns estudiosos (RESENDE, 2002,
dia a dia do personagem (WOLFE, 2005, p. 53- p. 63). Boa parte dos textos reúne o ficcional
55). John Hollowell acrescenta, ainda, outros com o factual mas, mais do que isso, atende a
procedimentos, como o monólogo interior; ca- uma necessidade de um novo tipo de leitor que
racterização composta do personagem que se então nascia nos Estados Unidos, o que o apro-
dá a partir de depoimentos externos sobre ele; xima, de certo modo, segundo alguns, de fe-
flashbacks; antecipações; cronologia invertida nômeno semelhante ocorrido na Inglaterra do
etc. (1979, p. 40). século XVIII, e que geraria o jornalismo e, ao
Por seu turno, Michael L. Johnson reúne, mesmo tempo, o romance inglês (WATT, 1990,
sob a denominação novo jornalismo, três tipos p. 47; RESENDE, 2002, p. 92). O grande objeti-
de publicações: a) a imprensa underground; vo desses jornalistas era o auto-conhecimento
b) os livros ou ensaios escritos em estilo jor- sobre a importância histórica daquele momen-
nalístico e por jornalistas; c) as produções es- to (HOLLOWELL, 1979, p. 185). O fenômeno
pecificamente veiculadas em jornais e revistas do novo jornalismo começou a decair, nos Es-
marcadas por diferentes maneiras de relatar e tados Unidos, a partir dos episódios envolven-
comentar os acontecimentos que interessam do a jornalista Janet Cooke, que em 1981 foi
ao leitor” (JOHNSON, 1975, p. 20). Wolfe in- obrigada a devolver o Prêmio Pulitzer, quan-
terroga-se sobre se o novo jornalismo seria algo do se descobriu que suas reportagens não eram
novo mesmo e responde negativamente (WOL- factualmente comprováveis. Muitas outras de-
FE, 2005, p. 68). E sobre o desenvolvimento do núncias surgiram, logo em seguida, por parte
movimento, declararia, em entrevista recente: dos grandes jornais de referência, fazendo com
“Os movimentos que trazem novo no nome en- que o modelo do lead retomasse seu lugar. Não
velhecem mal. Os jornais nunca gostaram do obstante, a cobertura do Caso Watergate, por
Novo Jornalismo, e com certa razão, pois é um Bob Woodward e Carl Berstein, para o The Wa-
gênero difícil. shington Post certamente não teria ocorrido
E, nas revistas de hoje, os editores querem sem a abertura de espaços como esses do novo
textos curtos, simples de ler, sem muita sofisti- jornalismo (COLSON, 2007, p. 140, nota 9).
cação, pois acreditam que os jovens têm uma Quanto ao Brasil, o fenômeno do jornalismo li-
atenção limitada (...). O Novo Jornalismo ainda terário que aqui ocorre atende a outras necessi-
é praticado em livros-reportagem como Falcão dades especialmente a de driblar a censura que
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a ditadura militar impusera a imprensa, impe- COSSON, Rildo. Fronteiras contaminadas. Bra-
dindo a publicação de certos temas nas páginas sília: UnB, 2007.
dos jornais, temas esses que foram então apre- HOHLFELDT, Antonio. Deus escreve direito
sentados em grandes reportagens, publicados por linhas tortas – O romance-folhetim nos
no formato de livro. O que existe em comum, jornais de Porto Alegre – 1850-1900. Porto
neste jornalismo literário, em última análise, Alegre: EDIPUCRS, 2003.
é a presença explícita do autor – do jornalista HOLLOWELL, John. Realid y ficción – El Nue-
– como narrador e como testemunha – situa- vo Periodismo y la novela de no ficción.
ção que as regras do chamado bom jornalismo México: Noema, 1979.
coibiam, até porque coibiam também a mistu- JOHNSON, Michael L. El nuevo periodismo.
ra entre narração de acontecimentos e opinião Buenos Aires: Troquel, 1975.
sobre os mesmos, de que estes textos se acham RESENDE, Fernando. Textuações – Ficção e
plenos, escapando, pois, à chamada objetivida- fato no novo jornalismo de Tom Wolfe. São
de. (Antonio Hohlfeldt) Paulo: Annablume/FAPESP, 2002.
TEIXEIRA, Jerônimo – “Eu votei em Busch”,
Referências: São Paulo, Veja, 11.05.2005, p. 11 e ss.
ARRANZ, Fermín Galindo. Guía de los gêneros WOLFE, Tom – Radical Chique – O Novo Jor-
periodísticos. Santiago, 2000. nalismo, São Paulo, Cia. das Letras. 2005.
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O, o
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processo histórico mais amplo, sobretudo nos las mediaciones. Barcelona: Gustavo Gilli,
aspectos sociais, políticos, econômicos e cultu- 1987.
rais envolvidos neles, que os estudos de mídia
de fato deslancharam como campo de investi-
gação intelectual e universitária. OBSERvatório de mídia
No começo ainda, a pesquisa abarcou tam- Os primeiros observatórios de mídia, da forma
bém o estudo das práticas de comunicação, como são estruturados atualmente, surgiram
como o são, por exemplo, o comício, a publici- nos Estados Unidos na década de 1980 com a
dade, o jornalismo etc., assim como seu impac- ideia de media watching. Eram grupos inicial-
to coletivo ou recepção pela sociedade. mente ligados a questões de direitos civis, racis-
Atualmente, o terreno em que se conside- mo, proteção às crianças e feministas, que pas-
ra legítimo conduzir seus trabalhos se esten- saram a dar especial atenção a como os meios
de mais, indo pelo âmbito dos shopping cen- de comunicação tratavam os temas de seus in-
ters, parques temáticos e tudo o mais que, no teresses em particular. Com a midiatização da
passado e daqui para frente, sobretudo, forem sociedade, a cada dia mais cidadãos começa-
se tornando dependentes dessas práticas para ram a questionar: se a imprensa é o quatro po-
funcionarem coletivamente. Expressões como der, quem exerce um contra-poder sobre ela. A
“cultura da mídia” ou “sociedade da informa- resposta passou a ser dada por grupos de jor-
ção” são, nesse contexto, recursos terminológi- nalistas, acadêmicos e consumidores que pro-
cos com que se pretende situar de modo menos põem a reflexão da sociedade sobre a prática e
provinciano os interesses de estudo dos pesqui- a função jornalística.
sadores em comunicação. Posteriormente, com as mudanças ocorri-
Assim mesmo, já houve porém quem, com das na cultura, na política e na economia mun-
muitos seguidores, doutrinou pelo deslocamen- diais, os observatórios foram ampliando sua
to de foco, consciente e responsável, por par- atuação e abrangendo áreas como a concen-
te desses estudiosos, dos meios para as media- tração da produção e da distribuição de con-
ções. Segundo Martin Barbero, por exemplo, a teúdos, além do papel das demais produções
perspectiva midiocêntrica é geradora de uma midiáticas – entretenimento, publicidade, edu-
epistemologia primitiva, que nos impede de es- cativos – em relação às demandas e ao contexto
tudar os fenômenos formadores do campo da sociais. Tais estruturas podem ser tanto em âm-
comunicação onde eles nascem, adquirem for- bito local, como regional, nacional ou interna-
ça e efetivamente desenvolvem suas proprieda- cional, dependendo do raio de ação que se pro-
des. A pesquisa nesse domínio só avança, afir- põem a observar.
ma com razão, na medida em que “descobre o A temática dos observatórios de mídia se
movimento social na comunicação, a comuni- encontra nos estudos sobre o papel de resistên-
cação em processo na sociedade” (BARBERO, cia à hegemonia midiática. Eles exercem a prá-
1987, p. 220). (Francisco Rüdiger) tica resistente contra a prioridade da lógica co-
mercial dentro das indústrias culturais. Outra
Referência: característica de resistência é que eles contam
MARTIN-BARBERO, Jesus. De los meios a com engajamentos voluntários, muitas vezes
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mulheres. Em decorrência, surgiria a indústria tas, encontram-se para conversar e agora tam-
do tempo livre interessada em suprir serviços bém começam a navegar na internet. (Jacques
capazes de tornar seu desfrute nalgo útil, rela- A. Wainberg)
xante e prazeiroso. Dessa forma, a palavra ócio
voltou a ser vista como algo benéfico para o ho- Referências:
mem, principalmente depois de uma longa jor- CROSS, Gary S. Encyclopedia of recreation and
nada de trabalho. leisure in America. The Scribner Ameri-
O turismo de massas é uma das consequên- can civilization series. Farmington Hills:
cias mais bem sucedidas deste tipo de iniciativa. Charles Scribner’s Sons, 2004.
Festas populares, o consumismo, a gastronomia, HARRIS, David. Key concepts in leisure studies.
os parques temáticos, os festivais, os espetáculos London: Sage, 2005.
esportivos, os parques públicos, os museus, os JENKINS, John M.; J. J. J. Pigram. Encyclopedia
resorts, a prática desportiva, os parques de di- of leisure and outdoor recreation. London:
versão e a indústria do entretenimento (a cine- Routledge, 2003.
matografia, os espetáculos musicais e teatrais ROJEK, Chris; SHAW ,Susan M.; VEAL, A.
entre outros) são exemplos de outras atividades J. (Eds.). A Handbook of Leisure Studies.
destinadas aos mesmos fins recreativos. Houndmills: Palgrave Macmillan, 2006.
A partir de 1860, o corpo humano come- STEBBINS, Robert A. Serious leisure: A per-
çou a ser interpretado como um ‘motor’ com spective for our time. New Brunswick:
capacidade limitada de trabalho que demanda- Transaction, 2007.
va reparos periódicos. Sinais de desgaste como
fertilidade decrescente, insônia, irritação e al-
coolismo já eram observados à época fruto da OFICINAS GRÁFICAS
sobrecarga do trabalho. Finalmente, a carga As oficinas gráficas são os locais onde são im-
horária de oito horas consagrou-se em todo o pressos os diversos tipos de publicação, como
mundo capitalista muito embora ela tenha di- jornais, revistas, livros e panfletos. As primei-
minuída ainda mais em alguns países do oci- ras oficinas utilizaram a composição manual.
dente. A produção gráfica teve início com a criação
Na tradição islâmica o dia de descanso é a da imprensa, pelo alemão Johannes Gutem-
sexta feira; na Judaica, é no sábado e, na cristã, berg, em meados do século XV. Ele desenvol-
é no domingo. Os feriados religiosos e cívicos veu a prensa de tipos móveis – a precursora dos
e os festivais agrícolas são motivos adicionais processos gráficos –, que abriu caminho para o
para a paralisação das atividades e o direito das acesso rápido e barato à informação. Os carac-
massas ao tempo livre. Com o envelhecimen- teres eram elaborados em madeira e usados na
to da população, o ócio recreativo passou a ser composição dos textos, voltados à produção de
igualmente meta de saúde pública destinada a livros. O primeiro deles foi a Bíblia, apresenta-
preservar a boa qualidade do número crescente da por Gutemberg em 1455. Num processo ar-
de idosos. Sabe-se que esta faixa populacional tesanal, os tipos eram colocados lado a lado até
envolve-se também em ócio passivo. Passam formarem uma linha, uma linha abaixo da ou-
mais horas frente à tela da televisão, jogam car- tra até formarem uma página.
886
enciclopédia intercom de comunicação
Gradativamente, os tipos móveis passaram em 2008, mais de 200 mil pessoas. (Alba Lívia
por transformações até chegar ao modelo usa- Tallon Bozi)
do hoje, feito elementos metálicos. Cada carac-
ter é chamado “tipo”, o que originou o termo ti- Referências:
pografia, que define essa forma de composição ABIGRAF – Associação Brasileira da Indústria
gráfica. No século XVIII, a tipografia passou a Gráfica. Disponível em: <www.abigraf.
ser usada para imprimir jornais, mas só chegou org.br>. Acesso em 03/2009.
ao Brasil em 1808, trazida por D. João VI. Um Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, for-
decreto régio implantou a tipografia no País e a mas e uso das letras. Lisboa: Dinalivro,
primeira produção foi a Gazeta do Rio de Janei- 2006.
ro, publicada pela primeira vez no dia 10 de se- SILVA, Rafael Souza. Diagramação: o planeja-
tembro, criada como um diário oficial da corte. mento visual gráfico na comunicação im-
Somente no final do século XIX o sistema pressa. São Paulo: Summus, 1985.
de composição, ainda na tipografia, passou a
ser mecânico, com a utilização das máquinas,
especialmente a linotipo. O chumbo líquido Oligopólio
que a integrava era fundido quando uma linha Classe de estrutura de mercado na qual um
de texto era composta na máquina. As máqui- reduzido número de agentes – midiáticos, tra-
nas permitiram a impressão de até 40 páginas tando-se de mercados comunicacionais –, líde-
simultaneamente res em seus respectivos setores, exercem grande
No final do século XX, com o advento das controle sobre a oferta de determinado produ-
tecnologias de informação, as redações e edi- to ou serviço. Frente a um elevado número de
toras passaram a utilizar a composição eletrô- compradores a serem atendidos, estas empresas
nica, com a diagramação das páginas feita em configuram-se como detentoras das maiores fa-
computadores, o que facilitou o trabalho, ele- tias do mercado. No campo da comunicação,
vou a qualidade e agilizou a produção. O pro- tal concentração contempla especialmente as
cesso de impressão evoluiu para as rotativas questões ligadas à construção de fórmulas para
do sistema planográfico, chamado também de conquistar o receptor e controlar os sistemas de
offset – um sistema de impressão indireta. Nes- distribuição. O oligopólio é a classe de estrutura
se sistema, chapas metálicas são sensibilizadas de mercado por excelência, no capitalismo con-
com os elementos a serem impressos em papel temporâneo. Na literatura econômica, de modo
e colocadas nos cilindros, que repassam a tin- geral, subdivide-se a classe oligopolista confor-
ta ao papel. Esse sistema é indicado para tira- me a seguinte taxonomia: oligopólio concen-
gens acima de mil exemplares, devido ao custo trado, oligopólio diferenciado, oligopólio misto
de sua produção. ou diferenciado-concentrado e oligopólio com-
Com o avanço tecnológico nos equipa- petitivo, além de mercado competitivo e mono-
mentos de impressão e o aumento na capaci- pólio, que completam as formas de estrutura de
dade de produção, as antigas oficinas gráficas mercado.
se transformaram em complexos parques in- O duopólio é uma forma de oligopólio
dustriais gráficos, empregando diretamente, concentrado, em que só existem dois compe-
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enciclopédia intercom de comunicação
tidores. A noção de barreiras à entrada, en- ciação de produtos como estratégia de compe-
tendida não apenas no sentido da concorrên- tição por excelência, apresentando índices de
cia potencial, mas da efetiva também explica concentração mais elevados do que no oligo-
essencialmente a situação de oligopólio, uma pólio diferenciado. Sua principal estratégia de
vez que sintetiza a tensão, inflexibilidade e rigi- concorrência dá-se no planejamento de excesso
dez da disputa pelas fatias de mercado, por par- de capacidade, como a expansão da produção
te de novos agentes (Possas, 1985). O oligopólio e disponibilização de bens culturais de catálo-
concentrado tem a centralização técnica como go, visando atender a um possível crescimen-
principal característica, ou seja, seus produtos to do mercado, mas igualmente não ignora a
e serviços são ofertados a partir de uma mes- possibilidade de ter sua produção interrompi-
ma base produtiva. As estratégias das empresas da. Apesar de haver oportunidade para diferen-
componentes de um mercado oligopolista es- ciação do produto, no oligopólio competitivo a
tão limitadas pela estrutura do oligopólio e, ao concorrência se dá basicamente em preços de
mesmo tempo, são responsáveis, a termo, pelas serviços, a fim de ampliar ainda mais a posição
mudanças estruturais, graças à introdução de dos agentes líderes.
novos processos (diferenciação técnica), am- Assim, a inexistência de economias de es-
pliação da capacidade produtiva, melhoria de cala, aprimoramento técnico e diferenciação do
qualidade, eficiência etc. produto, somada à coexistência de diferentes
Em relação ao oligopólio concentrado, o di- tecnologias e baixa capacidade de investir, res-
ferenciado apresenta um grau de concentração tringe a concentração e o nível das barreiras à
técnica e econômica inferior. A natureza das entrada. Como exceção à regra do capitalismo,
barreiras à entrada não se prende às economias o mercado competitivo é o único tipo de estru-
técnicas, nem ao volume mínimo de capital, tura de mercado que pode ser considerada não-
mas sim às economias de escala de diferencia- oligopolística, visto que o monopólio pode ser
ção (quantidade e qualidade), ligadas a ques- definido como uma forma extrema de oligopó-
tões de reputação. A estrutura de mercado pró- lio, que não elimina por completo a concorrên-
pria das indústrias culturais é, assim, um tipo cia, tendo em vista a permanência da concor-
de oligopólio concentrado-diferenciado, uma rência potencial, como explicita o conceito de
vez que o grau de concentração empresarial é barreiras à entrada.
muito grande (especialmente em certos merca- No caso do mercado competitivo, a con-
dos, como o da televisão), mas a luta oligopo- centração é mínima, inexistindo qualquer bar-
lista se dá através de uma intensa diferenciação reira à entrada, reduzindo a margem de lucros
de produto, a partir de um duplo investimen- ao mínimo. Em alguns mercados desse tipo es-
to, centrado em publicidade e comercialização, tabelece-se a possibilidade de alguma margem
bem como na inovação de produtos. A concor- de diferenciação de produtos, inclusive quan-
rência-preço, que já não é habitual em oligopó- to à qualidade, numa estrutura com razoável
lio, fica praticamente descartada nas indústrias grau de liberdade de entrada, condicionada
culturais. Combinando elementos dos tipos pela maior ou menor facilidade de diferenciar
concentrado e diferenciado, o oligopólio misto o produto. No campo da Economia Política da
(ou diferenciado-concentrado) tem a diferen- Comunicação, coube aos estudos brasileiros –
888
enciclopédia intercom de comunicação
ao contrário, por exemplo, da escola francesa que envolvem toda a circulação de notícias e
(vide a crítica de Bolaño, 2000, a respeito) – o informações sobre o evento esportivo em si
desenvolvimento teórico e empírico do oligo- e seus desdobramentos. Atualmente são das
pólio (BOLAÑO, 2004 [1988]; BRITTOS, 2001). mais diversas origens as informações de inte-
(Valério Cruz Brittos e Andres Kalikoske). resse do público quando das disputas dos Jo-
gos Olímpicos. Elas vão dos simples resultados
Referências: obtidos pelos atletas e das disputas esportivas
BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Indústria em geral, passando por diversas questões po-
Cultural, Informação e Capitalismo. São líticas que envolvem os países participantes,
Paulo: Hucitec, 2000. marketing esportivo, turismo na cidade-sede,
. Mercado Brasileiro de Televisão. 2. ed. informações históricas, negócios esportivos,
rev. e ampl. São Paulo: Educ, 2004. as atividades físicas e a saúde, relatos sobre
BRITTOS, Valério Cruz. Capitalismo contem- atletas e mais um sem número de facetas que
porâneo, mercado brasileiro de televisão por transformam o evento Olimpíadas em grande
assinatura e expansão transnacional. Tese pauta para a mídia sazonalmente. Paradoxal-
de Doutorado em Comunicação e Cultura mente, são as Olimpíadas Midiáticas que reve-
Contemporâneas. Salvador: Faculdade de lam o fato de a grande concentração da mídia
Comunicação, UFBA, 2001. esportiva brasileira estar focada para o fute-
. Oligopólios midiáticos: a televisão con- bol. Quando se iniciam as disputas Olímpicas,
temporânea e as barreiras à entrada. a grande mídia abre espaço para a circulação
Cadernos IHU Ideias. v. 1, n. 9, p. 1-16. São Leo- de informações das mais diversas modalida-
poldo, 2003. des, muitas vezes restritas e em alguns casos
POSSAS, Mario Luis. Estruturas de Mercado em até mesmo esquecidas durante o intervalo de
Oligopólio. São Paulo: Hucitec, 1985. quatro anos entre as disputas, gerando a sen-
sação de que a mídia esportiva durante algum
período mudou. Porém, tão logo se esgotam
OLIMPÍADAS MIDIÁTICAS os assuntos relacionados aos Jogos, volta-se
Os Jogos Olímpicos podem ser entendidos a ter uma mídia esportiva brasileira centrada
como a manifestação máxima das disputas es- com uma proporção gigantesca nas disputas
portivas amadoras e profissionais no Planeta. futebolísticas.
Num contexto de múltiplas disputas simultâ- Essa tendência da mídia esportiva brasilei-
neas inter-modalidades, as Olimpíadas da Era ra evidencia a falta de profissionais da comu-
Moderna iniciaram-se em 1896 e passaram a nicação, especialistas na grande maioria das
expressar um importante campo de explora- modalidades Olímpicas, em que muitas vezes
ção pela mídia, culminando com o conceito de os veículos que fazem a cobertura dos Jogos
esporte midiático (MELLO, p. 2003, 112), dado optam por contratar, naquele período, espe-
o interesse de informações acerca das disputas cialistas do esporte, como ex-atletas, árbitros
esportivas. etc. para trabalharem como comentaristas e até
Assim, entende-se por Olimpíadas Midi- mesmo como repórteres. (Silvio Saraiva Jr.)
áticas um evento paralelo à disputa dos Jogos
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
Como um crítico da organização, o ombu- cidos como SACs. Muitos deles atuam de forma
dsman necessita de independência para acio- coordenada com o ombudsman – uma segunda
nar os mecanismos necessários, com vistas a instância, à qual o consumidor-usuário recorre
gerar ações que resultem na plena satisfação do quando fica insatisfeito com a solução oferecida
consumidor-usuário. Canal privilegiado entre pelo SAC. Esse modelo predomina, ainda, hoje,
o cliente-usuário e a organização, o profissional em empresas de serviços nas áreas de telefonia,
assume posição estratégica na empresa (CEN- TV por assinatura e nas instituições bancárias.
TURIÃO, 2003). No Brasil, a primeira empresa a instituir
Ombudsman é uma palavra de origem sue- um ombudsman foi a Rhodia, em 1985, com a
ca – ‘ombud’ significa representante e ‘man’ sig- criação do Núcleo de Valorização do Consumi-
nifica ser humano. Não existe a flexão ombu- dor, que integrava o Plano de Comunicação So-
dswoman, no feminino. A expressão, portanto, cial da empresa (ZÜLZKE, 1990). Na imprensa,
se aplica aos dois gêneros (VOLPI, 2002, p. 27). o pioneirismo coube ao jornal Folha de S.Paulo
Em 1809, a instituição foi oficializada pela que nomeou o primeiro Ombudsman do leitor,
constituição sueca, atuando no Parlamento, em 1989, iniciativa que ajudou a popularizar a
para investigar queixas da população quanto expressão.
à burocracia e autoritarismo dos agentes pú- Uma das experiências mais emblemáticas
blicos. O termo passou a ser difundido e mar- foi protagonizada pelo Grupo Pão de Açúcar,
car presença por todo o mundo. Na década de em 1993, com a contratação da relações-públi-
1940, a Organização das Nações Unidas (ONU) cas Vera Giangrande. Os resultados da atuação
recomendou aos países-membros que adotas- estratégica da Ombudsman contribuíram para
sem a prática, no sentido de proteger os cida- o reposicionamento do Grupo no mercado.
dãos contra preconceitos raciais e injustiças nas (Denize Aparecida Guazzelli)
relações de consumo.
Na Suécia, o Ombudsman do Consumi- Referências:
dor existe desde 1971. No Brasil, não existe um CENTURIÃO, A. Ouvidoria: A face da empre-
ombudsman público do consumidor, contudo, sa cidadã: como e por que instalar uma ou-
o cidadão conta com a proteção de órgãos ofi- vidoria. São Paulo: Educator, 2003.
ciais, como o PROCON, e com o amparo legal VOLPI, A. Na trilha da excelência: Vida de Vera
do Código de Defesa do Consumidor (CDC), Giangrande – uma lição de relações públi-
lei federal n 8.078/90.
o
cas e encantamento de clientes. São Paulo:
O ideário do instituto do ombudsman es- Negócio Editora, 2002.
tendeu-se da esfera estatal para o mundo em- ZÜLZKE, M. L. Abrindo a Empresa Para o Con-
presarial, trazendo ao cidadão a possibilidade de sumidor. Rio de Janeiro: Qualitymark Edi-
recorrer a um agente autonômo e imparcial, in- tora, 1990.
cumbido de representá-lo diante da organização.
O mesmo conceito é compartilhado pelo insti-
tuto da ouvidoria. Com a entrada em vigor do Ópera
CDC, muitas empresas criaram os serviços de Substantivo feminino, sua origem remonta ao
atendimento ao consumidor, que ficaram conhe- latim opus, que significa obra, no sentido de
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enciclopédia intercom de comunicação
trabalho. Desde sempre já coexistia com o ter- dos, ou com recitativos acompanhados por um
mo latino operae , cujo significado é trabalho instrumento de teclado. Atualmente a conhe-
manual. Derivado do latim para o italiano, ópe- cemos usada no feminino: a ópera, um drama
ra passa ao feminino com o significado de tra- lírico ou drama musical.
balho, de atividade manual. Já no século XVI, A opera é definida como uma obra teatral
com o sentido de melodrama significava, den- musicada. Acima do acompanhamento orques-
tre outras locuções, opera em música. Por volta tral, o canto dos personagens assume papel pre-
de 1646 , e derivada dessa locução, vem de em- ponderante. O libreto, que é o texto dos cantos,
préstimo do francês a palavra masculina ópera. costuma ser de importância secundária já que
Esta data refere-se à introdução da ópera italia- o que é mais interessante é a música orquestra-
na em Paris, por iniciativa do Cardeal Mazarin. da e o canto (bel canto), quando os cantores lí-
Ao final do século XVI, em Florença, sur- ricos brilham e se tornam figuras até mais im-
ge a ópera como tentativa dos humanistas, uma portantes que o drama onde atuam. Até os dias
vez que haviam fracassado todas as tentativas de hoje não cessaram os esforços de dar à ópera
de imitar as tragédias gregas antigas e desco- uma base mais firme de ação dramática.
briu-se que as peças de Sófocles e Eurípedes se- Para ilustrar destacamos, dentre os com-
riam acompanhadas por música, nas apresen- positores de óperas italianas, Verdi (La Traviat-
tações. Esperando revivificar a tragédia antiga ta), Puccini (Tosca), Bellini (Norma), Mascagni
pelo acompanhamento musical, os humanistas (Cavalaria Rusticana) e, dentre os germânicos,
criaram – sem se dar conta – um gênero intei- Wagner (Tristão e Isolda) e Beethoven (Fidé-
ramente novo que era a ópera, ou como se di- lius). As maiores cantoras líricas, da nossa atu-
zia em italiano, o melodrama. O francês ope- alidade, foram Renata Tebaldi, Maria Callas, e
ra comique de 1766, que aparece em Voltaire, se Montserrat Caballé, além, é claro, dos famosís-
fez por oposição à ópera, tornado, no séc. XIX, simos tenores Plácido Domingo, José Carreras
“Grand ópera”, e logo em seguida, o francês ope- e Luciano Pavarotti. (Neusa Gomes)
ra bouffe, surge no fim do século XVIII inicio
do século XIX. A ópera bufa surgiu na Itália,
em fins do século XVII, usa como tema o joco- OPINIÃO PÚBLICA
so como desenvolvimento dos intermédios dos O conceito de Opinião Pública diz respeito à
melodramas, e que se distingue da ópera-cô- existência de um debate, do confronto ou re-
mica pela introdução, em cena, de personagens ferendo de uma multiplicidade de argumentos
burlescas, de tipos engraçados ou patuscos, e sobre uma questão de interesse restrito ou am-
por uma música mais ligeira, ou exagerada- pliado no espaço público.
mente cômica. Uma abordagem inicial do conceito pode
A cronologia para o português é aproxi- ser encontrada em Blumer (1946) para quem a
madamente a mesma: Antônio de Moraes re- opinião pública é um produto coletivo, a soma
gistra em seu dicionário (1818) a palavra ópe- de diversas opiniões. Esse resultado - que se
ra e não ainda a opereta. Trata-se de um drama configura como uma tendência central da opi-
inteiramente cantado, com acompanhamento nião - é gerado pela existência de um público
de orquestra, ou intercalado com diálogos fala- que se configura como tal devido a uma ques-
892
enciclopédia intercom de comunicação
tão de interesse que o agrega, pela qual se em- Finalmente, temos a abordagem da opi-
penha e disputa uma posição no debate em tor- nião pública e as redes virtuais. Nesse campo,
no dela. discute-se a abundância de debates e produção
Outra abordagem sobre a Opinião Pública e distribuição de imagens em redes de relacio-
diz respeito ao seu maior ou menor entrelaça- namento. Em cada um desses fluxos de cone-
mento com mídia. Destacam-se nesse sentido a xão, encontra-se uma pluralidade de formado-
hipótese do Agenda Setting (McCombs e Shaw, res de opinião que estão buscando conectar-se
1972) que tem como pressuposto a capacidade a outros tantos com os quais podem partilhar,
da mídia agendar os temas que serão objeto do agregar ou contrapor suas experiências e per-
debate público; da Espiral do Silêncio (Noel- cepções sobre os temas mais diversos.
le-Neuman, 1970) que discute a tendência das A relevância e o poder dessas redes de opi-
opiniões se ajustarem às normas e padrões pre- nião virtuais são dados pelos próprios usuá-
valecentes, permanecendo ocultas e silenciosas rios a partir do seu conteúdo que, por sua vez,
as divergências e a perspectiva do News Making pode ser mensurado pelo número de aces-
que ao fazer um paralelo dos aparatos de mídia sos, de membros conectados, de links para os
com um processo industrial apresenta a notícia quais direcionam o seu debate, para os senti-
como um produto originário de procedimentos dos que constroem de maneira criativa e veloz.
sistemáticos e estandardizados de enquadra- Sem dúvida é uma abordagem sobre um vasto
mento de um acontecimento. campo de formação de opinião que coloca em
O enquadramento (framing) - sentido e questão vários aspectos do nosso entendimen-
forma dado a um acontecimento - é um aspec- to até então construído sobre o tema. (Lúcia
to entendido, pelos teóricos dessa abordagem, Lamounier)
como central no desencadeamento e conteúdo
dos argumentos em torno de uma questão que Referências:
se torna objeto do debate público. O enquadra- BLUMER, Hebert. Massa, Público e Opinião
mento é tanto a forma de visibilidade do acon- Pública. In: COHN, Gabriel. Comunicação
tecimento quanto desencadeador das disputas e Indústria Cultural. 5. ed. São Paulo: T.A.
por pontos de vista e interpretação dele origi- Queiroz, editor, 1987.
nados (MAIA, 2008). MAIA, C. M. Rousiley (Coord.). Mídia e De-
A abordagem da publicidade mediada liberação. Rio de Janeiro: Editora FGV,
(THOMPSON, 1998) traz mais uma contribui- 2008.
ção para o entendimento da opinião pública. A THOMPSON, John B. Mídia e Modernidade.
mídia, ao tornar visíveis acontecimentos e ato- Petrópolis: Vozes, 1999.
res sociais, independente da partilha de um lu-
gar comum, possibilita a existência de públicos
(des) localizados e audiências ampliadas. E é Opinião Pública e RP
essa nova dimensão do espaço público que ge- A definição de opinião pública vai depender do
rou a necessidade de uma “engenharia de visibi- momento histórico ou das escolas de pensa-
lidade” por parte de poucos que se tornaram vi- mento dominantes. Existem várias perspecti-
síveis e, portanto, objeto da opinião de muitos. vas, como a mental-estereotipada de Walter Li-
893
enciclopédia intercom de comunicação
ppmann (1922), a liberal-democrática de Hans do público, não sendo unânime, uma vez que é
Speier (1969), a crítica-normativa de Jürgen produto do debate e da controvérsia”.
Habermas (1982), a sistêmico-informativa de Essa premissa é a essência da prática das
Otto Baumhauer (1987), a psico-social de Eliza- relações públicas, porque mostra que o diálogo
beth Noelle-Neumann (1984), a da ciência po- é a estratégia que deve ser utilizada pelo profis-
lítica de Giovanni Sartori (1998), entre outras sional para promover a discussão pública com
e, cada uma delas, define opinião pública sob o objetivo se chegar a ação conjugada, que é o
uma ótica. consenso ou a conclusão comum, independen-
Parte da confusão conceitual dominante te dos interesses individuais, mostrando que a
está relacionada com as várias especialidades opinião pública é um produto coletivo.
que têm tentado estudar o fenômeno da opi- Os programas de relações públicas devem
nião pública. Por exemplo, para o Direito e a ser elaborados depois de criteriosa análise da
Ciência Política, a opinião pública é uma abs- opinião pública sobre a organização e a aná-
tração que permite verificar o sistema político lise dos objetivos propostos é indicada para
democrático, por outro lado para a Sociolo- verificar o grau de aceitação ou não das ações
gia, trata-se de um instrumento de controle pelos públicos estratégicos. (Maria Aparecida
social. Ferrari)
Noelle-Neumann (1995) reuniu dois con-
ceitos que foram sintetizados por Childs que Referências:
explicam: (a) a opinião pública como raciona- ANDRADE, C. T. S. Para entender Relações
lidade que contribui para o processo de for- Públicas. 3. ed. São Paulo, Loyola, 1983.
mação da opinião e de tomada de decisões em NOELLE-NEUMANN, E. La espiral del silen-
uma democracia e, (b) a opinião pública como cio – opinión pública: nuestra piel social.
controle social e seu papel de promover a inte- Barcelona: Paidós Ibérica, 1995.
gração social e garantir que haja um nível sufi-
ciente de consenso no qual possam ser basea-
das as ações e decisões. ORALIDADE
Para as relações públicas, a opinião pública Pode ser definida como percepção, ordem, con-
é um fenômeno que deve ser entendido e ana- cepção de mundo ou olhar sobre o universo,
lisado no exercício da atividade profissional. princípio ou estrutura de vida, código de com-
Uma das funções básicas das relações públicas portamento, condição sócio-cultural, modo de
é a administração dos relacionamentos entre raciocínio, universo mental e cognitivo, padrão
a organização e seus públicos. Desta forma, o de pensamento e organização do saber, do co-
relacionamento que as empresas e instituições nhecimento, experiência e reflexão, ou, ainda,
desejam manter com os públicos estratégicos como arte. A chamada cultura oral pode ser
depende do debate, das discussões e da opinião considerada tipo de discurso, categoria de co-
que estes, como formadores de opinião, irão municação e expressão ou regime de processa-
emitir e influir positiva ou negativamente. Para mento da informação. Este último implica num
Andrade (1983, p. 24), “a opinião pública se for- determinado modo de produção, armazena-
ma no calor das discussões dos componentes mento, circulação/transmissão/publicização,
894
enciclopédia intercom de comunicação
recepção, apropriação e representação dos con- orais embora atrelados à escrita e à impressão, e
teúdos e formas da comunicação. a terceira corresponde às subculturas residual-
Oralidade não se confunde com fala: a co- mente orais que sobrevivem nas sociedades em
municação oral envolve o corpo e todos sen- que a escrita determina a organização da vida.
tidos, no tempo da interação, nas relações co- O ‘pai’ da aldeia global, McLuhan, nos
tidianas ou da interatividade mediadas pela fornece chaves importantes sobre a oralidade,
técnica. A oralidade inclui o uso da voz, dos como o retorno da condição tribal, proporcio-
gestos, de artifícios que ultrapassam a verba- nado pelos meios elétrico-eletrônicos, a dife-
lização. Para Zumthor (2001), os fenômenos renciação dos usos dos sentidos humanos na
ligados à voz e ao ouvido humanos são deter- comunicação mediada pela técnica e as altera-
minantes da situação de oralidade. Prefere o ções produzidas pelos meios na organização da
termo vocalidade a oralidade, porque a voz e psiquê humana e do tecido social. (José Cardo-
a figura do intérprete são presenças concretas, so Ferrão Neto)
capazes de modificar qualquer texto e criar am-
biente de oralidade. Referências:
É comum associar as manifestações orais Bakhtin, M. A cultura popular na Idade Mé-
aos ritos, festas, acontecimentos, mitos, for- dia e no Renascimento. São Paulo: Hucitec,
mas de pensamento e organização do saber li- 1970.
gados à cultura popular, já que esta é predomi- Havelock, E. Prefácio a Platão. Campinas:
nantemente oral e, na quase ausência da escrita Papirus, 1996.
como registro, esses recursos ganham estatuto McLuhan, M. Os meios de comunicação
de memória. Bakhtin (1970) destaca elementos como extensões do homem. São Paulo: Cul-
dessa cultura, como a forte relação com a vida trix, 1974.
concreta, material e corporal, a ausência de Ong, W. Oralidade e cultura escrita. Campi-
abstração, a ênfase no contexto familiar e nos nas: Papirus, 1998.
aspectos comunial e coletivo da comunicação, Zumthor, P. A letra e a voz. São Paulo: Com-
o uso de linguagem formular para expressão do panhia das Letras, 2001.
pensamento, a percepção do tempo como de-
vir, entre outros.
Apesar de considerar a primazia da ora- Organizações
lidade sobre a escrita, Havelock (1996) e Ong Criada com objetivos específicos, como gerar
(1998) mapeiam elementos importantes na lucro, difundir necessidades, defender interes-
constituição da consciência ou estágio mental ses ou apoiar estratégias desenvolvimentistas
oral: a memória presa ao corpo, as formas nar- dos ‘estados-nações’ que a abrigam, a organiza-
rativas e o pensamento formular. Há ainda a ca- ção empresarial do mundo capitalista mudou
tegorização da oralidade primária, secundária e profundamente o cenário político, social, infor-
residual. A primeira focaliza as culturas intoca- macional e econômico da humanidade desde
das pela escrita, a segunda os meios como rádio que surgiu há mais de quatro séculos.
e televisão, que se tornaram veículos de retorno Segundo Max Weber, por “organização”
da condição de comunicação e conhecimento devemos entender uma ação que persegue fins
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enciclopédia intercom de comunicação
de um determinado tipo e de um modo contí- terior de uma empresa porque é evidente que
nuo. Nesse sentido, sob esse conceito se inclui, só é possível exercer uma dominação quando
naturalmente, a realização de atividades políti- pensamos poder e disciplina como dois polos
cas ou assuntos relativos a uma união, sempre de uma mesma relação. Michel Foucault en-
que estas atividades tiverem como característi- xergou melhor a dinâmica do poder organiza-
ca principal a continuidade na perseguição de cional quando assinalou que são as regras, as
determinados fins. normas, os códigos de conduta que cumprem
Dessa forma, o controle do tempo se tor- a função de “organizar” o todo, fixando a apro-
nou a marca desse micro-universo social cha- priação do trabalho dos operários durante um
mado empresa capitalista. Segundo J. Hassard, tempo determinado usado como base para a
a concepção linear do tempo – e não a circular, remuneração.
como na Antiguidade – é a que domina as ati- Nesse sentido, pode-se afirmar que os pro-
vidades da economia industrial, tornando-se a cessos que levam à estruturação das organi-
marca primordial da organização do trabalho, zações são todos eles comunicacionais, pois é
com todas as consequências econômicas e so- através da interação entre pessoas, que susten-
ciais derivadas desse fenômeno como, inclusive tam certos valores, princípios e visões de mun-
e principalmente, o Tayrlorismo. do, cotidianamente praticada, que a organiza-
Para Octávio Ianni, a metáfora da “gaiola ção adquire forma e se projeta como realidade
de ferro”, de Weber, torna-se uma realidade co- ante o mundo. (Armando Levy Maman)
tidiana, prosaica e generalizada, à medida que
se desenvolvem as tecnologias de produção e
reprodução material e espiritual, envolvendo Ouvidoria
progressivamente todos os círculos da vida so- A ouvidoria é o órgão responsável por receber
cial e funcionando, cada vez mais, como técni- reclamações, denúncias, criticas e sugestões so-
cas de controle. bre produtos, serviços e procedimentos de uma
Organizações empresariais são aparatos, organização pública ou privada.
técnicas, sistemas e micro-realidades que en- A atividade é desempenhada pelo ouvidor
volvem o ser humano e o colocam a serviço (ou ombudsman), profissional designado pela
de estruturas pré-configuradas voltadas para a organização com a incumbência de ouvir e re-
produção ou prestação de serviços. Weber as- gistrar as manifestações, apurar sua procedên-
sinala que uma associação é sempre, em algum cia, cobrar soluções e “avaliar as providências
grau, uma associação de dominação em função tomadas para a correção das falhas, tendo em
da simples existência de um quadro adminis- vista o aprimoramento constante e o equilíbrio
trativo, uma dominação que se deve entender da organização no ecossistema social” (BAR-
como a possibilidade de encontrar obediência a BOSA; RABAÇA, p 530.).
uma dada ordem, seja qual for o seu conteúdo, Ao mediar conflitos e humanizar as solu-
entre pessoas dadas. ções, a ouvidoria alcança dimensão estratégica
No entanto, dominação, poder e discipli- contribuindo para a melhoria de produtos, ser-
na, seguindo a trilha aberta por Weber, não po- viços e procedimentos, em sintonia com o pa-
dem ser considerados de forma estanque no in- râmetro de qualidade do consumidor-usuário.
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enciclopédia intercom de comunicação
Para o cidadão, a Ouvidoria representa a pos- cos em todo o Estado, iniciativa que inspirou
sibilidade de apresentar sua manifestação a um leis semelhantes em outros estados brasileiros
agente independente, sem subordinação hierár- (BRASIL, 2001). Em 2007, a instituição da Ou-
quica, que apura as falhas fora dos métodos e vidoria/Ombudsman nas organizações, como
processos burocratizados. presença essencial para garantir o cumprimen-
Da instituição do Ouvidor-Geral, do Brasil to da lei e a proteção aos direitos dos consu-
colônia, provido pelo rei para exercer ação fis- midores, foi uma vez mais referendada com a
calizadora sobre a administração da Justiça nas criação das ouvidorias nos bancos, por deter-
capitanias, herdou-se apenas a nomenclatura, minação do Banco Central do Brasil (BRASIL,
inclusive, mais utilizada no setor público. Repre- 2007). (Denize Aparecida Guazzelli)
sentar o cidadão diante da organização, defender
e preservar seus direitos, entre eles o direito à in- Referências:
formação e à participação, minimizar a burocra- BARBOSA, G.; RABAÇA, C. A. Dicionário
cia e também atuar como catalisadora da quali- de comunicação. Rio de Janeiro, Campus,
dade do atendimento e da garantia da adequada 2001.
prestação de serviços constituem os elementos BRASIL. Decreto n.º 4.177, de 28 de março de
da concepção contemporânea da ouvidoria, em 2002. Casa Civil. Presidência da
sintonia com o instituto do ombudsman. República. Disponível em: <https://www.pla-
A primeira ouvidoria pública municipal foi nalto.gov.br>. Acesso em 12/02/2010.
instituída na cidade de Curitiba, em 1986. Ins- . Resolução CMN 3.477/2007. Banco Cen-
pirado na experiência da capital, o estado do tral do Brasil. Ministério da
Paraná adotou o seu Ouvidor-Geral, incorpo- Fazenda. Disponível em: <https://www3.bcb.
rando as funções de auditoria e corregedoria, gov.br>. Acesso em 20/01/2010.
que depois, com a evolução dos conceitos, mos- SÃO PAULO. Sistema de Defesa do Usuário de
traram-se incompatíveis (VISMONA, 2005) Serviços Públicos do Estado de São
Na esfera pública federal, a primeira Ou- Paulo - Sedusp. (Lei n o 10.294, de 20 de abril
vidoria foi instalada no IBAMA, em 1989. Atu- de 1999). Governo do Estado de São Pau-
almente, são cerca de 150 Ouvidorias Públicas lo. Disponível em: <http://www.ouvidoria.
Federais, sob supervisão técnica da Ouvidoria- sp.gov.br>. Acesso em 21/01/2010.
Geral da União. Instituída em 2002, esta teve VISMONA, E. (Org.). A ouvidoria brasileira:
origem na Ouvidoria-Geral da República, cria- dez anos da Associação Brasileira de Ouvi-
da em 1992, como órgão do Ministério da Jus- dores/Ombudsman - ABO. São Paulo: Im-
tiça, e ali permaneceu até ser transferida para a prensa Oficial/ABO, 2005.
Controladoria-Geral da União (CGU). (BRA-
SIL, 2002)
Entre as iniciativas estaduais, destaca-se o Ouvinte Radiofônico
Sistema de Defesa dos Usuários de Serviços Pú- Tem origem em conceito mais amplo ligado aos
blicos do Estado de São Paulo – SEDUSP (Lei estudos de recepção. Receptor; qualquer indiví-
10.294/99), que implantou ouvidorias nos ór- duo humano na situação específica em que par-
gãos e entidades prestadoras de serviços públi- ticipa de um processo comunicativo. Participa
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enciclopédia intercom de comunicação
do processo não só com cérebro e ouvido, mas Entre as novidades, além da ideia de com-
com todos os seus sentidos, características de panhia que o rádio sempre exerceu junto ao
personalidade, inconsciente, experiências an- público, num tipo de audiência passiva, o ou-
teriores e cultura. Recepção, que na teoria da vinte passa a colaborar com as emissoras. Surge
informação significa decodificação stricto sen- o conceito do ouvinte-repórter, aquele que au-
su, tem assumido acepção cada vez mais ampla, xilia na captação e transmissão de informações.
conforme a corrente de investigação que o ado- Atuação diretamente ligada ao desenvolvimen-
te, desde o uso ou consumo dos meios de mas- to de tecnologias digitais, interatividade, rádio
sa, até processos gerais de produção de sentido na internet, telefonia celular, numa ampliação
(GOMES, 2004). do conceito, aliada a mudanças da mídia no sé-
No rádio, o ouvinte é definido quase como culo XXI. (Mágda Cunha)
um seguidor da emissora, que acompanha par-
te ou toda a programação. Por volta de 1930, já Referências:
são milhões os ouvintes que possuem aparelhos GOMES, Itania Maria Mota. Efeito e recepção:
receptores sem fio (ROBERTS, 2001). As pesso- a interpretação do processo receptivo em
as ouvem o rádio reunidas e as notícias chegam duas tradições de investigação sobre os
às famílias quando elas estão à mesa. media. Rio de Janeiro: E-Papers, 2004.
Nessa época, o rádio possui poder consti- POOL, Ithiel de Sola. Discursos e sonidos de
tuído para falar em nome de seu público. Pos- largo alcance. In: WILLIAMS, Raymond
sui um ouvinte típico, com perfil bem definido, (Org.). Historia de la comunicación: de la
com gostos e preferências conhecidos. imprenta a nuestros dias. Barcelona: Bos-
Com a ampliação dos canais de comunica- ch, 1992.
ção, consolidação da televisão e mídias digitais ROBERTS, J. M. O livro de ouro da história do
no final do século XX, o perfil do ouvinte de mundo: da pré-história à idade contempo-
rádio e, tanto jovens de 15 anos como pessoas rânea. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
com mais de 60, estão trocando o dial à procu-
ra de algo novo.
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P, p
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ra um produto como esses, o pacote turístico determinações estruturais que definem as nor-
identifica-se tecnicamente como a parte terres- mas de produção cultural, historicamente de-
tre, e o transporte aéreo como a parte aérea. terminadas de uma empresa ou de um produ-
Assim, a operadora turística transforma tor cultural particular para quem esse padrão é
“os insumos (equipamentos e serviços turísti- fonte de barreiras à entrada” (BOLAÑO, 2000,
cos mais recursos e atrativos de uma localida- p. 235). Trata-se, portanto, de uma definição
de) em um produto turístico a ser oferecido ao de ordem micro-econômica, vinculada à con-
mercado”. É através da elaboração de pacotes corrência entre os capitais investidos em uma
turísticos que a operadora cria “produtos seg- determinada indústria cultural, que se afasta,
mentados e únicos que venham a se consti- nesse sentido, dos conceitos de sistema e de es-
tuir em um diferencial competitivo”. (BRAGA, trutura tecno-estética, de Dominique Leroy,
2008). A produção de pacotes turísticos cons- mas os complementa, ao permitir uma passa-
titui o principal serviço das operadoras turísti- gem da análise estrutural, a que estes últimos
cas, os quais são distribuídos e comercializados se referem, para aquela da dinâmica competi-
principalmente pelas agências de viagens (ven- tiva própria das indústrias culturais. A origem
dedoras). (Mirian Rejowski) do conceito se encontra na ideia de “padrão de
qualidade”, expressão utilizada pelo marketing
Referências: da Rede Globo de Televisão no Brasil, nos anos
ACERENZA, M. A. Agencias de viajes. Organi- de 1970 e 1980.
zación y operación. 3. ed. México: Trillas. Em Bolaño (2004) – versão original de
BRAGA, D. C.; GUERRA, G. R. Planejamento 1988 – essa ideia é tomada em sentido crítico,
e operação de pacotes. In: BRAGA, D. C. na análise do sistema de barreiras à entrada
(Org.). Agências de viagens e turismo. Prá- constituído pela Globo, que deixava os demais
ticas de mercado. Rio de Janeiro, Elsevier, capitais em concorrência no mercado brasileiro
2008, p. 18-28. de televisão presos a estratégias de nicho, base-
COLTMAN, Michael M. Tourism marketing. adas em padrões de produção e gestão enten-
New York: Reinhold, 1989. didos como tradicionais na literatura corrente
REJOWSKI, Mirian. Operação de viagens. Uma sobre o tema naquele momento.
atividade intra e extra-classe. São Paulo: Desse modo, a escolha posterior da deno-
ECA-USP, 1997. (Relatório de Pesquisa) minação (padrão tecno-estético) do conceito
SCHLÜTER, R. ; WINTER, G. La agencia de plenamente desenvolvido buscava não apenas
viajes y turismo. Estructura y operaciones. homenagear Leroy, um dos fundadores da es-
Buenos Aires: Docência, 1994. cola francesa da economia política da comuni-
cação e da cultura (EPC), mas, essencialmente,
explicitar, por um lado, uma complementari-
Padrão tecno-estético dade em relação às definições de estruturas e
O conceito de padrão tecno-estético foi desen- sistemas tecno-estéticos e, por outro, a diferen-
volvido em Bolaño (2000) – versão original de ça fundamental entre a tendência hegemôni-
1993 – para descrever “uma configuração de ca da escola francesa e a teoria geral da expos-
técnicas, de formas estéticas, de estratégias, de ta em Bolaño (2000): a incorporação de uma
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multidões aos estádios, em especial aos fins de Condiciona a percepção, torna-se hábito
semana. auditivo, cenário ou contexto corresponden-
Dessa forma, eles quebram a monotonia do te ao fundo dentro dos preceitos da percepção
domingo, dão um rumo ao lazer popular das visual da Gestalt (SCHAFER, 2001, p.26, 214,
massas, criam um produto atraente à progra- 368). Os sinais são os sons destacados, ouvi-
mação de televisão, fornecem às comunidades dos conscientemente, foco de interesse, a figura
assunto para conversação e heróis para serem na percepção visual. Na relação figura-fundo,
cultivados e admirados. existe um campo de percepção onde o sujeito
O futebol tem sido amplamente utiliza- está inserido, lugar onde todos os sons ocor-
do também para a projeção política de inúme- rem. É preciso considerar, também, os hábitos
ros personagens no país desenvolvendo ainda treinados do indivíduo, seu estado (distração,
amplo mercado publicitário a anunciantes va- atenção, interesse) e sua relação com o campo
riados. Em decorrência desse interesse diver- sonoro (nativo, forasteiro). Schafer destaca a
sificado desenvolveu-se na mídia brasileira o marca sonora (2001, p. 26), sonoridade particu-
jornalismo esportivo, um dos setores mais di- lar e significativa para determinada comunida-
nâmicos da imprensa e que dedica horas de sua de. Ao estabelecer o termo evento sonoro como
programação ao objetivo de explorar cada de- algo que ocorre em determinado lugar e dura
talhe da atividade futebolística do país. (Jacques um lapso de tempo (2001, p. 185), Schafer enfa-
A. Wainberg) tiza o quanto o contexto é fundamental na sua
proposta de análise de paisagens sonoras.
Referência: O autor sugere também a Ecologia acústica,
CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues (Org). estudo das relações entre os seres vivos e o am-
Futebol: paixão e política. Rio de Janeiro: biente acústico, enfatizando os desequilíbrios
SEPE, 2000. como a poluição sonora e o excesso de ruídos.
Desde a Revolução Industrial, a paisagem so-
nora tornou-se cada vez mais lo-fi (low fideli-
PAISAGEM SONORA ty), congestionada pela interferência de sons.
Segundo o compositor canadense Murray Scha- Ao contrário da paisagem hi-fi (high fidelity),
fer (1933), ao divulgar o neologismo soundscape em que é possível uma escuta focada, em pers-
a partir do vocábulo landscape, paisagem sono- pectiva, a anarquia da paisagem sonora pós-in-
ra é qualquer campo de estudo acústico: uma dustrial, típica das metrópoles, favoreceu uma
composição musical, um programa de rádio ou surdez progressiva e comportamentos de não-
um fragmento de um ambiente acústico (2001, escuta. Nesse contexto, textura é o agregado ge-
p. 23). Schafer recupera conceitos oriundos da neralizado, a anarquia imprecisa de ações con-
música na descrição de aspectos das paisagens flitantes; o gesto constitui o evento único, o solo,
sonoras. O som fundamental, como a escala ou o noticiável (2001, p. 224). (Cida Golin)
tonalidade de uma composição, é o som ouvido
de forma contínua por uma sociedade e contra Referências:
o qual as outras sonoridades são percebidas e Schafer, Murray. A afinação do mundo. São
significadas. Paulo: Unesp, 2001.
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enciclopédia intercom de comunicação
. O ouvido pensante. São Paulo: Funda- “santinho”, porque traz a figura do candidato,
ção Unesp, 1991. nome, número e partido, dados sintéticos de
. Rádio radical e a nova paisagem sono- uso pragmático para a memorização e o voto.
ra. In: MEDITSCH, Eduardo. A panfletagem e o panfleto, na memória da luta
ZUCULOTO, Valci (Orgs.). Teorias do rádio: popular, estão vinculados à chamada comuni-
textos e contextos. Florianópolis: Insular, cação alternativa, fazem parte de um conjunto
2008. Volume 2. de meios de comunicação cujo objetivo é o de
crítica à situação política e socioeconômica.
No entanto, no final do século XX, essa
PANFLETAGEM forma de comunicação passou a ser utilizada
É uma ação que designa a distribuição de um de maneira profissional por empresas de publi-
panfleto. Etimologicamente a palavra vem do cidade. O marketing busca aproximar o produ-
inglês pamphlet (séc. XIV), pelo qual se desig- to do consumidor e vislumbrou na prática da
na um folheto com texto curto, cujo teor crítico panfletagem e no gênero panfleto instrumen-
e mordaz vincula-se à atividade política e/ou tos poderosos para fazer cumprir tal objetivo.
política eleitoral. No século XVIII, emerge do Hoje, são inúmeras as empresas de panfletagem
protagonismo dos revolucionários que alme- que oferecem o serviço como uma alternativa a
javam difundir ideias contrárias ao status quo mais de publicidade de qualquer tipo de produ-
(chamado antigo regime), por isto, tidas como to ou serviço, garantindo ampliação de vendas
panfletárias (radicais). e de consumo.
O movimento operário de cunho socialista Nesse contexto, a forma do panfleto tam-
e anarquista muito se utilizou dessa forma para bém se sofisticou, ganhando tecnologia de
tornar públicas as ideias de transformação so- impressão mais rebuscada, embora o modelo
cial, divulgando-as às camadas mais pobres da estrutural permaneça: texto curto, direto, cha-
população e com menor acesso à alfabetização, mando à ação (de compra/ adesão). O conte-
visto que o texto curto, em linguagem direta, údo político e/ou de contraposição ao status
persuasiva e convocando à ação é de fácil leitu- quo foi domesticado para o discurso da oferta
ra e compreensão. de produtos e serviços. As empresas que ofe-
Na história política recente do Brasil, esse recem a modalidade panfletagem especificam
gênero de difusão e de publicação teve mui- três tipos de distribuição: a panfletagem tradi-
to boa acolhida e foi de extrema importância cional, a dirigida e a abordada. Nessa linhagem
para a mobilização da população contra o Regi- de ressignificação a partir do uso, se o panfleto
me Militar. Desde as jornadas de lutas contra o e a panfletagem foram domesticados e introdu-
Golpe após 1964 até o período de redemocrati- zidos nas estratégias de mídia das agências de
zação, as panfletagens utilizavam-se de estraté- comunicação, o mesmo se pode afirmar sobre
gias diferenciadas: da distribuição clandestina termos e práticas tais como comunicação viral
do panfleto à distribuição aberta e direta àque- e pirata. (Roseli Fígaro)
les que se quer mobilizar.
O panfleto também é chamado, no Brasil, Referências:
principalmente nas campanhas eleitorais, de BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma História so-
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enciclopédia intercom de comunicação
cial da mídia. De Gutenberg à Internet. Rio gações sociais deixava transparecer boa dose de
de Janeiro: Zahar, 2002. encenação.
HOUAISS, Antonio; VILLAR, M. de Salles; Nas ciências sociais não são poucos os es-
FRANCO, F. M. de Mello. Dicionário Hou- tudos que buscam evidenciar o caráter norma-
aiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: tivo das regras sociais. Thomas Gregor estudou
Objetiva, 2001. os índios Mehinaku utilizando os conceitos de
FERREIRA, Maria Nazareth. Imprensa operária papel, cenário e encenação. É uma maneira de
no Brasil. São Paulo: Ática, 1988. ressaltar o fato de que a vida social tem muito
HARDMAN, Francisco. F. Nem pátria, nem pa- de culturalmente determinada e de que a ação
trão. 3. ed. Ampliada. São Paulo: Unesp, dos indivíduos está pautada por convenções,
2002. dessas a atribuição de papéis sociais é uma das
SANT’ANNA, Armando. Propaganda. Teoria, mais importantes. Claro que o desempenho
Técnica, Prática. 7. ed. São Paulo: Pioneira/ dos papéis permite um certo grau de liberdade
Thompson, 2002. que os indivíduos procuram utilizar, atuando
de forma inovadora e pessoal.
O conjunto de papéis atribuídos ou con-
PAPEL SOCIAL quistados por um indivíduo forma um sistema
O papel social é um conjunto de preceitos social- que nem sempre se organiza de forma harmo-
mente determinado que diz respeito ao compor- niosa, podendo haver conflitos de papéis. Por
tamento esperado de uma pessoa em uma dada outro lado, a cadeia de papéis de uma institui-
situação ou interação social, entendendo-se inte- ção pressupõe não só a reciprocidade como a
ração, conforme Erwin Goffman, como a influ- hierarquia de funções, ou seja, a distribuição de
ência recíproca dos agentes, uns sobre os outros. direitos, deveres, poder e prestígio correspon-
Trata-se, portanto, de regras de comportamen- dente a cada papel. Desse ponto de vista, cada
to que envolvem reciprocidade, assim como ex- papel social corresponde a determinado status
pectativas que as pessoas nutrem em relação ao social, ou seja, uma posição na hierarquia so-
comportamento daqueles com quem interage. cial. A mudança de papel pode corresponder a
Ao longo da vida, os indivíduos vão assu- uma mudança de status e à aquisição de poder
mindo diferentes papéis junto a instituições e prestígio, configurando a mobilidade social,
como a família, a escola, o trabalho e a socie- nesse caso, ascendente.
dade civil, tornando mais complexos o desem- Para os estudos da comunicação, os con-
penho de suas funções e as relações sociais com ceitos de papel e status são muito importantes
o mundo circundante. Esses papéis podem ser porque o desempenho de papéis sociais envol-
atribuídos ou conquistados. Por exemplo, o pa- ve a troca de mensagens.
pel de filho é atribuído, o de marido é uma con- Muitas dos enunciados trocados nas inte-
quista, o que nos permite dizer, também, que rações são meramente convencionais, scripts
certos papéis são voluntários, enquanto outros, da vida social destituídas de significado ou in-
obrigatórios. formação, são meras reafirmações de normas
A metáfora dramatúrgica remonta à filoso- estabelecidas, como quando cumprimentamos
fia grega, quando o aspecto artificial das obri- pessoas dizendo: “como vai, tudo bem?”. Por
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enciclopédia intercom de comunicação
outro lado, como estudou J. Austin, há mensa- Este tipo de manifestação acontece igualmente
gens que são carregadas de intencionalidade e em várias cidades do mundo. O objetivo deste
poder e chegam a instituir realidades - quando tipo distinto de evento é educativo, social e po-
um juiz afirma ser o réu culpado ou inocente, lítico, pois deseja de um lado combater o pre-
esse enunciado performático determina uma conceito e de outro permitir a afirmação social
situação à qual o réu está sujeito. das minorias homossexuais.
Pierre Bourdieu foi outro autor interessado Já o carnaval é, no Brasil, a festa popular
na forma como a linguagem desvenda as rela- que atrai a atenção do mundo. A parada das es-
ções sociais e as estruturas de poder, manifes- colas de samba, de carros alegóricos e de som
tando o que ele chamou de “poder simbólico”. no Rio de Janeiro e noutras inúmeras cidades
Segundo o autor, na fala expressamos domí- visa difundir uma imagem alegre e positiva do
nio e reafirmamos poder, reproduzindo a nível país. O caso da parada de cavalarianos, como
simbólico a estrutura social na qual atuamos. a que ocorre no desfile da Semana Farroupilha
Esta estrutura não diz respeito apenas a papéis no Rio Grande do Sul, serve a propósito simi-
sociais, mas também às classes sociais e ao ca- lar. Deseja cultivar o imaginário histórico e re-
pital simbólico que lhes corresponde. (Maria gional da população do estado.
Cristina Castilho Costa) Também Cuba celebra sua revolução comu-
nista com uma parada popular em 1º. de Maio.
Nesta data, em especial no período da Guerra
Parada Fria, os antigos países comunistas impressio-
As paradas são celebrações populares que re- navam seus aliados e atormentavam seus ini-
únem multidões atraídas por um tipo de es- migos fazendo desfilar nas principais avenidas
petáculo que combina junto ou em separado de suas capitais os novos armamentos de seus
atrações variadas: pessoas fantasiadas, bandas arsenais. Estas paradas podem ter dimensões e
marciais, escolares, as forças armadas, carrua- alcance variado.
gens e carros alegóricos, desfiles navais, aéreos Algumas atingem até mesmo a audiência
e de cavalarianos entre outros personagens. internacional. A posse de monarcas e presiden-
A parada é um espetáculo produzido com tes e o casamento e o enterro de celebridades
o objetivo de comover as multidões. Trata-se com frequência são eventos igualmente majes-
de uma manifestação em torno de um tema, de tosos. A pompa, os detalhes simbólicos e o ri-
um ou mais personagens, de um fato ou ocor- tual da cerimônia que inclui, naturalmente, o
rência, de uma data cívica ou religiosa. Tem o desfile de batedores, de carruagens, de limou-
objetivo de cultuar certo valor e visa impressio- sines, de personagens do mundo da política e
nar os presentes e assistentes. Por isso a parada do show bussiness, emocionam multidões de
é vista como recurso retórico. assistentes e de telespectadores que acompa-
Com freqüência, é utilizado pelo Estado nham ao vivo os detalhes de toda a celebração.
para afirmar sua reputação junto à opinião pú- De forma sistemática, a tradição acaba consa-
blica. É o caso no Brasil do desfile militar de 7 grando as paradas. Por decorrência, sua reali-
de Setembro. Em São Paulo, a Parada Gay reu- zação em data festiva acaba sendo prevista num
niu, em 2008, mais de um milhão de pessoas. calendário de eventos. (Jacques A. Wainberg)
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enciclopédia intercom de comunicação
PARENTESCO
Paradigma / Sintagma Os sistemas de parentesco constituem o mais
Os sistemas de linguagem se distinguem não tradicional objeto de estudos da antropologia
apenas pelos seus constituintes, mas também social. Desde o clássico Systems of Consangui-
pelas relações que se estabelecem entre eles, de nity and Affinity of the Human Family (1871),
modo a definir um tipo de funcionamento. O do antropólogo norte-americano Lewis Mor-
agrupamento dos elementos organiza o para- gan (1818-1881), os sistemas de parentesco tor-
digma; as combinações que acontecem entre naram referência paradigmática no processo de
eles exprimem o caráter do sintagma. Conside- institucionalização da antropologia moderna.
rando que o mecanismo formador da lingua- Embora a lista de nomes seja interminável, vale
gem resulta da ação de seleção e combinação lembrar de Alfred Radcliffe-Brown (1881-1955),
de elementos, paradigma e sintagma são os Sir Edmund Leach (1910-1989), Claude Lévi-
pressupostos estruturais de base. Strauss (1908-2009), como alguns dos mais
Ferdinand Saussure compreendeu o meca- destacados pesquisadores dos sistemas de pa-
nismo da seleção e da combinação como dois rentesco.
eixos da organização da linguagem, que ele de- Sistemas de parentesco são sistemas comple-
nominou paradigma e sintagma. O paradigma xos que funcionam como estruturas na organiza-
corresponde ao eixo das formas-padrão; o sin- ção social das chamadas sociedades primitivas.
tagma, ao eixo das combinações, das relações Enquanto no mundo moderno e contemporâ-
entre elementos. Dentro dessa concepção, o neo a economia e política, normalmente, exer-
conjunto de palavras de uma língua, o seu lé- cem a função predominante na organização da
xico, constitui o paradigma; ao selecionar as sociedade, nas sociedades primitivas são os sis-
palavras e combiná-las formando sentenças, temas de parentesco que tem a prerrogativa de
construímos sintagmas. Logo, podemos dizer tal função organizadora da sociedade.
que sintagma envolve, portanto, combinação de Quando se fala em sistemas de parentesco
elementos numa unidade maior. está se falando de uma pluralidade de outros
Na verdade, essa não é uma operação que conceitos e infinidades de relações sociais que
existe apenas na linguagem. Na vida comum são expressas por meio de noções como afi-
muitas de nossas ações resultam de atuação no nidade, consaguinidade, herança, aliança, ca-
paradigma e no sintagma. O que é uma comi- samento, primos cruzados, primos paralelos,
da apetitosa? Nada mais do que o resultado da relações jocosas, patrilinearidade, matrilineari-
seleção dos ingredientes (paradigma) e con- dade, casamento virilocal, tabu do incesto, en-
sequente combinação (sintagma) num prato. dogami e exogamia e mais uns cem números de
Isso é linguagem. Seleção e combinação defi- outros termos.
nem as relações complementares que formam a Num esforço limitado de sistematização
base estrutural da linguagem do ponto de vista de toda essa gama de termos e complexidade
908
enciclopédia intercom de comunicação
de relações pode-se pensar nos sistemas de pa- trica” dos antropólogos ocidentais. Para ele, os
rentesco como sistemas de relações que unem elaborados sistemas de parentesco desenvolvi-
os homens entre si mediante laços baseados na dos pelos antropólogos europeus e norte-ame-
consaguinidade (laços de sangue), enquanto re- ricanos não passava de uma obsessão cultural
lações socialmente reconhecidas e de afinidade projetada sobre os “outros”.
(aliança matrimonial); tais relações encontram Na verdade, esse pensador estava sendo
uma tradução nos sistemas de designação mú- o porta-voz de um conjunto de outras críticas
tua (as terminologias de parentesco), nas re- que se faziam ouvir entre os antropólogos se-
gras de filiação que determinam as qualidades gundo as quais os sistemas de parentesco na ve-
dos indivíduos como membros de um grupo e dade são sistemas de comunicação que falam
os seus direitos e deveres no interior do grupo, de direitos à terra e à propriedade, bem como,
nas regras de aliança que orientam positiva ou de garantias de heranças e ocupações na estru-
negativamente a escolha dos cônjuges, nas re- tura esturura social.
gras de residência, relativas ao local de moradia Os estudos sobre família tem grande im-
dos cônjuges e filhos (virilocal ou matrilocal), portância na Interpretação do Brasil, a jul-
nas regras de transmissão (matrilinear e patri- gar pela relevância sociológica de Casa Gran-
linear) dos elementos que constituem as iden- de & Senazala, de Gilberto Freyre, publicado
tidades de cada um e, finalmente, nos tipos de em 1933. Em escala menor, estudos envolven-
agrupamentos sociais nos quais os indivíduos do os modos de organização e funcionamen-
estão filiados (clãs e tribos). to, ou processos de transformações e resseman-
Nessa linha de reflexão, pode-se pensar tizações de famílias operárias, de imigrantes,
na família, segundo as observações de Lévi- de classe média, ganhariam a atenção de vá-
Strauss, como um grupo social portador de rios antropólogos contemporaneamente. Para
pelo menos três características centrais: (1) tem o caso dos sistemas de parentesco ameríndio,
sua origem no casamento; (2) é constituído pelo o leitor pode se socorrer do estudo organizado
marido, pela esposa e pelos filhos provenientes por Eduardo Viveiros de Castro, Antropologia
de sua união, embora seja lícito conceber que do Parentesco, de 1995. (Gilmar Rocha)
outros parentes possam encontrar o seu lugar
próximo ao núcleo do grupo; (3) os membros Referências:
da família estão unidos entre si: (a) por laços ARANTES, Antonio Augusto et al. Colcha de
legais; (b) direitos e obrigações econômicas, re- Retalhos – Estudos sobre a Família no Bra-
ligiosas ou de outra espécie; (c) um conjunto sil. 2. ed. Campinas: Unicamp, 1993.
bem definido de direitos e proibições sexuais, e HERITIER, Françoise. Parentesco. In: Enciclo-
uma quantidade variada e diversificada de sen- pédia Einaudi 20: Parentesco. Lisboa: Im-
timentos psicológicos, tais como: amor, afeto, prensa Nacional/Casa da Moeda, 1997.
respeito, reverência etc. LÉVI-STRAUSS, Claude. As Estruturas Ele-
Em 1968, o antropólogo norte-americano mentares do Parentesco. Petrópolis: Vozes,
David Schneider provocou enorme polêmica 1980.
no campo de estudos do parentesco quando RADCLIFFE-BROWN, Alfred; FORDE, Da-
considerou os mesmos uma “ilusão etnocên- ryll. Sistemas Políticos Africanos de Paren-
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enciclopédia intercom de comunicação
tesco e Casamento. Lisboa: Fundação Ca- gem concebido para a Banda Desenhada pelo
louste Gulbenkian, 1974. artista belga Maurice de Bevère (cujo nome
artístico era Morris). Outra iniciativa da em-
presa Disney nesse setor é o parque temático
Parques temáticos dedicado ao cinema, o Disney-MGM Studios,
Opções de lazer e de turismo, os parques te- construído em parceria com a produtora de ci-
máticos possuem como atrações personagens nema Metro Goldwin Mayer. O tour oferecido
e cenários de animações, filmes e histórias em leva os visitantes para o mundo dos filmes de
quadrinhos. Após obter sucesso com desenhos Hollywood, com objetos e cenários que reme-
animados, filmes em live action e séries de TV, tem a clássicos como O Mágico de Oz e Ben-
Walt Disney concebeu um projeto para um par- Hur ou a produções mais recentes, a exemplo
que temático com seus personagens que teria de Guerra nas estrelas e Querida, encolhi as
atrações para toda a família (SANTOS, 2002, crianças. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio
p. 91-92). dos Santos)
Enfrentando a resistência dos investidores,
o criador de Mickey inaugurou na Califórnia a Referência:
Disneyland, em 17 de julho de 1955. Como a ini- NADER, Ginha. Walt Disney: prazer em conhe-
ciativa mostrou-se lucrativa, novos parques fo- cê-lo – sua vida, obra, parques e sucessores.
ram criados: a Disneyworld, na Flórida, aberta São Paulo: Maltese, 1993.
ao público em outubro de 1971; o EPCOT Cen-
ter, inaugurado 11 anos depois; a Euro Disney,
localizada na França, que abriu suas portas em PASQUIM
1992, e a Disney-Japão, todas construídas após Jornal ou escrito satírico, mordaz e irreverente
o falecimento de seu idealizador, ocorrido em divulgado em locais públicos, quase sempre de
15 de dezembro de 1966 (NADER, 1993). forma anônima e sem assinatura e/ou identi-
Contando com infraestrutura hoteleira ficação de origem e autoria. Para muitos, tem,
para receber os frequentadores, esses parques também, o sentido figurado de “jornaleco” ou
oferecem atrações para crianças (brinquedos e impresso com texto de má qualidade e/ou calu-
desfiles com bonecos dos principais persona- nioso e pejorativo. Etimologicamente falando,
gens) e adultos (espetáculos e restaurantes), as- o vocáculo pasquim é um substantivo mascu-
sim como lojas de souvenires. Além de hospe- lino, o termo surgiui, em meados da primeira
dar a Euro Disney, a França também abriga seu metade do século XVI, vinculado às folhas e
concorrente, o parque de Asterix, herói gaulês panfletos que eram colocados, à noite, no dor-
que combate os invasores romanos criado para so da estátua de Pasquino, construída no cen-
as histórias em quadrinhos em 1959 por Albert tro da Roma antiga, no início do século XVI,
Uderzo e René Goscinny. e tida por muitos artistas da época como uma
Seguindo o mesmo caminho, no início do das mais belas.
século XXI, Portugal recebeu o parque dedica- Desse modo, tornou-se hábito entre os ro-
do a Lucky Luke, o caubói que contracena com manos, a partir de então, colarem-se na estátua
as lendas do Oeste norte-americano, persona- folhas escritas com denúncias e críticas às au-
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enciclopédia intercom de comunicação
toridades eclesiásticas da Igreja Católica e aos AULETE, Caldas. Aulete Digital. Dicionário
governantes. Não há certeza a respeito de quem Contemporâneo da Língua Portuguesa
foi Pasquino, se alfaiate ou se mestre do jogo e Caldas Aulete. Rio de Janeiro: Lexikon Edi-
das letras ou barbeiro ou, ainda, se um hospe- tora Digital Ltda. Disponível em: <www.le-
deiro. Mas a partir desse hábito dos romanos, xikon.com.br>. Acesso em 02/2009.
pasquinada tornou-se, em meados do século ENCICLOPÉDIA Britânica. Disponível em:
XVIII (1739), referência à linguagem de pas- <http://www.britannica.com>. Acesso em
quins e pasquinar o verbo intransitivo que diz 02/2009.
respeito a produzir textos desta natureza. ENCICLOPÉDIA Wikipédia. Disponível em:
A circulação de pasquins e folhas avulsas foi <http://pt.wikipedia.org>. Acesso em
muito comum no período que antecedeu a pro- 02/2009.
clamação da Independência do Brasil, em 1822, MONTEIRO, Tobias. História do Império. A Ela-
até o fechamento da Assembleia Nacional Cons- boração da Independência. Brasília: Institu-
tituinte, em novembro de 1823, por Pedro I. No to Nacional do Livro/Ministério da Educa-
livro História do Império, tratando dos atritos ção e Cultura, 1972. Volume I, Tomo II.
entre os grupos de José Bonifácio e Gonçalves
Ledo, Tobias Monteiro escreveu: “Seguiram-se
dias terríveis de suspeitas, pasquins, proclama- PASQUINS (SÉCULO XIX)
ções, de um grupo contra o outro” (1972, p. 643). Folhas ou panfletos, de autoria, geralmente
Em junho de 1969, apareceria o jornal se- anônima, e de periodicidade irregular, que cir-
manal O Pasquim, criado por jornalistas, car- cularam, principalmente, na primeira fase da
tunistas intelectuais. Integram a equipe: Jaguar, imprensa brasileira, nas primeiras décadas do
Tarso de Castro, Sergio Cabral, Ziraldo e Millôr século XIX. O termo pasquins inspira-se na
Fernandes, que teve importante desempenho lenda romana da estátua de Pasquino, um ope-
na resistência à ditadura militar. rário falastrão do século XVI. Na conversa ima-
Foco de resistência à Ditatura Militar, em ginária entre as estátuas de mármore na praça
novembro de 1970, toda a redação do jornal foi romana, Pasquino é fofoqueiro, fala demais,
presa pela polícia do regime militar, que man- alimenta os boatos, não quer sair de cena.
teve os jornalistas encarcerados até fevereiro do No Brasil do século XIX, os pasquins tam-
ano seguinte. O jornal, contudo, prosseguiu em bém ousaram na cena política, atiçaram seus
circulação. Inicialmente com tiragem de 20 mil inimigos, propagaram novas ideias. Suas carac-
exemplares, em seu auge chegou a imprimir terísticas mais marcantes foram a mordacidade,
200 mil exemplares, tendo sido publicado até os ataques pessoais e as injúrias contra os ad-
1991. (Nilo Sérgio Gomes) versários. Esses libelos foram criticados pela vi-
leza de sua linguagem, porém devem ser com-
Referências: preendidos como resultado do acirramento das
HOUAISS, Antonio; VILLAR, M. de Salles; lutas de sua época, principalmente, a partir de
FRANCO, F. M. de Mello. Dicionário Hou- 1822, com o fim do pacto colonial.
aiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: O estilo panfletário dominou essa impren-
Objetiva, 2001. sa, fazendo surgir o redator panfletário, fomen-
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enciclopédia intercom de comunicação
tador dos embates públicos nas gazetas, empu- JORGE, Sebastião. A Linguagem dos Pasquins.
nhando papel pedagógico e de caráter político São Luís: Lithograf, 1998.
na difusão das doutrinas de suas facções (MO- LUSTOSA, Isabel. Insultos Impressos. São Pau-
REL; MONTEIRO, 2003). lo: Companhia das Letras, 2000.
Com incontáveis edições, sempre vistos MOREL, Marcos; MONTEIRO, Mariana. Pala-
de forma depreciativa, circularam de norte a vra, Imagem e Poder: o surgimento da im-
sul em um tempo de transformações e de cho- prensa no Brasil do século XIX. Rio de Ja-
ques entre os núcleos de poder que se forma- neiro: DP&A, 2003.
vam. No Rio, capital do Império, eram edita- SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa
dos, depois fechavam e retornavam às ruas, no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
às vezes, com outras denominações, como O
Crioulo, O Enfermeiro dos Doidos, A Marmo-
ta, O Brasil Aflito, O Caramuru, A Trombeta PATRIMÔNIO CULTURAL
dos Farroupilhas, O Minhoca – o verdadeiro A noção de patrimônio confunde-se com a
Filho da Terra, O Teatrinho do Senhor Severo, ideia de “propriedade herdada” e, durante mui-
entre outros. tos anos, esteve intimamente relacionada à po-
Um dos recursos usuais contra os desafetos lítica de preservação dos monumentos arqui-
políticos foram os apelidos, instrumentos de tetônicos. Assim, buscava-se resguardar tão
desacato e de menosprezo. “Fernandinho das somente os bens culturais de natureza física e
Diversas Rendas”, “Focinho de Quati”, “Cara de imóvel objetificados nos patrimônios da huma-
Ovo de Peru”, “Lombrigas”, “Papos-rotos”, “Ga- nidade como, por exemplo, da cidade de Ouro
vião Totó” e “Cão Magro” foram apelidos que Preto (MG), em 1980. As raízes históricas des-
rondaram, por exemplo, a imprensa no Mara- se processo remonta ao momento de formação
nhão, a quarta província a ter tipografias. dos Estados nacionais e de criação dos museus
Como acentua Sodré (1999) em longa aná- como templo sagrado de preservação da me-
lise sobre os pasquins, as causas do surgimento mória histórica de um povo.
dessas folhas não estavam ligadas unicamen- A partir dos anos 1970, a política de prote-
te à expansão da imprensa no território brasi- ção dos patrimônios culturais passou por um
leiro, mas sim às condições políticas e sociais. profundo processo de redefinição o que acabou
Trazem elementos que ajudam a compreender por ampliar de maneira significativa o seu senti-
a elevação da temperatura no caldeirão políti- do. Assim, a Convenção do Patrimônio Mundial,
co, por isso não pode ser vistas como iniciati- promovida pela UNESCO em 1972, representou
vas individuais ou brigas isoladas entre grupos. o primeiro passo em escala internacional para o
São indícios das contradições, do destempero e dilatamento do conceito de patrimônio enquan-
da violência da sociedade de seu tempo. (Rose- to monumento para uma concepção cultural no
ane Arcanjo Pinheiro) qual se prenuncia a dimensão sua imaterial. Afi-
nal, a literatura oral, os saberes tradicionais, os
Referências: sistemas de valores, as festividades populares,
BAHIA, Juarez. Jornal, História e Técnica. São as representações artísticas, são manifestações
Paulo: Ática, 1990. patrimoniais tão importantes quanto os monu-
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enciclopédia intercom de comunicação
nentos de “pedra e cal”. Passados mais de uma ção do Patrimônio Artístico e Histórico Nacio-
década, a Conferência Geral de 1989, adota a Re- nal, criado posteriormente em 1937, o IPHAN
comendação sobre a Salvaguarda da Cultura Tra- (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
dicional e Popular com objetivo de conter a des- Nacional) será, inicialmente dirigido por Ro-
truição dos patrimônios culturais de inúmeras drigo Melo Franco de Andrade.
comunidades populares frente a ameaça desen- Dando um salto no tempo, o Decreto Lei n.
freada da modernização. 3.551, de 4 de agosto de 2000, institui o “Regis-
A própria literatura sobre os patrimônios tro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que
reflete esta mundação de concepção sobre os pa- constituem patrimônio cultural brasileiro, cria
trimônios culturais. Do ponto de vista etnográ- o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial
fico, inúmeros estudos mostram como os bens e dá outras providências”, estabelece quatro li-
culturais são pensados como objetos constituti- vros de registros para o Patrimônio Imaterial:
vos de seus proprietários, por exemplo, o vestuá- (a) Saberes e fazeres cotidianos das comuni-
rio do malandro, a indumentária da baiana. dades; (b) Celebrações, rituais, festas e outras
Com efeito, esses bens, nem sempre pos- práticas desse tipo da vida social; (c) Formas de
suem atributos estritamente utilitários, ao con- Expressão literárias, musicais, plásticas e cêni-
trário, muitos em muitos casos, servem a pro- cas; (d) Lugares, mercados, feiras, santuários e,
pósitos práticos, mas possuem, ao mesmo de modo geral, os lugares onde se desenvolvem
tempo, significados mágico-religiosos e sociais. práticas culturais coletivas. Fica evidente, na
Nesse sentido, patrimônio se revela uma cate- proposição da Lei, que o patrimônio imaterial
goria de pensamento que faz refletir sobre pro- engloba antigas expressões culturais denomi-
cessos de agenciamento na produção e forma- nadas ou classificadas como folclóricas ou de
ção de “pessoas”. cultura popular. (Gilmar Rocha)
Assim, muitos objetos se revelam portado-
res de mana, de poderes mágicos no sentido de Referências:
adquirirem mesmo uma “biografia” e uma po- ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. Memória
derosa influência sobre as pessoas. A abertura e Patrimônio – Ensaios Contemporâneos.
do patrimônio para a expressão intangível da Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
cultura, então chamado patrimônio imaterial GONÇALVES, José Reginaldo Santos. Antro-
(o conjunto de bens culturais formado por sa- pologia dos Objetos – Coleções, Museus e
beres, modos de fazer, formas de expressão e Patrimônios. Rio de Janeiro: Garamond,
celebrações), é de origem oriental, e sua assmi- 2007.
lação pelo mundo ocidental se intensifica a par- REVISTA Tempo Brasileiro. Patrimônio Imate-
tir dos anos 1980. Paralelamente, o sentido da rial, n. 147. Rio de Janeiro: Tempo Brasilei-
proteção e preservação do patrimônio imaterial ro, 2001.
muda , preservar passou a significar conhecer,
documentar, acompanhar suas transformações,
registrando e divulgando-as. PENSAMENTO ESTRATÉGICO
No Brasil, Mário de Andrade (1893-1945) O pensamento estratégico é uma das principais
foi quem primeiro idealizou o Projeto de Cria- capacidades que os executivos de uma orga-
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enciclopédia intercom de comunicação
nização, seja pública ou privada, precisam de- tração e suas atividades fundamentais - plane-
senvolver para a construção do futuro de seu jamento, organização, direção e controle e de
empreendimento. Frequentemente as organiza- todas as funções da empresa, como marketing,
ções convivem com profissionais que baseiam comunicação, manufatura e operação, finanças
suas práticas no cotidiano, aplicando no pre- e recursos humanos e inovação (OLIVEIRA,
sente o que deu certo no passado ou evitando 1997).
algo que deu errado. Notamos que os ciclos de As organizações que efetivamente prati-
mudanças estão cada vez menores, exigindo cam o pensamento estratégico – como resul-
que o tempo de reação das empresas e entida- tado de uma mudança de mentalidade de seus
des encurte cada vez mais. É incontestável que principais dirigentes– apresentam três carac-
as tendências, as mudanças de valores, a maior terísticas básicas: (a) a capacidade de anali-
atenção da opinião pública para os fatos orga- sar, continuamente, o ambiente externo para
nizacionais além das oportunidades e ameaças prognosticar o futuro. Os executivos partici-
de longa maturação acentuam-se cada vez mais pam da análise e do planejamento e viabilizam
na nossa sociedade (COSTA, 2007). a implantação e o acompanhamento das es-
Dessa forma, no cenário organizacional tratégias, dedicando parte considerável de seu
e institucional atual, o pensamento estratégi- tempo na formulação de metas a curto, médio
co é uma necessidade para os executivos, pois e longo prazos. Dessa forma, são capazes de
os ajuda a ter capacidade de construir uma vi- identificar demandas de potenciais clientes e
são de um futuro desejável, com definição de públicos para garantir o desenvolvimento das
alternativas e possibilidades aliadas a capacida- competências distintas que permitirão a ela-
de para considerar uma gama ampla de fatores boração de um plano estratégico; (b) a com-
internos e externos no processo da solução de petência de praticar um modelo de gestão ca-
problemas e de tomada de decisões. paz de desenvolver equipes, descobrir talentos
Em outras palavras, o pensamento estraté- e formatar processos internos que permitam
gico é a capacidade de enxergar a organização a organização atuar de forma sinérgica mini-
como um todo e a interdependência de suas mizando as crises e resultando em impactos
partes na medida em que considera a organi- positivos no planejamento e nos resultados do
zação como um sistema que se relaciona com negócio; (c) a rapidez de gerar resultados para
seus subsistemas e, externamente com todos os os seus stakeholders, apresentando os resulta-
seus públicos, como a comunidade, o governo, dos e as tendências para o futuro. (Maria Apa-
os sistemas de comunicação, a concorrência, os recida Ferrari)
clientes, os fornecedores, os grupos de ativistas,
entre outros. Referências:
O ideal é que o pensamento estratégico COSTA, E. A. Gestão Estratégica. 2. ed. São
seja praticado por todos os executivos da or- Paulo: Saraiva, 2007.
ganização, pois se considera que é uma com- OLIVEIRA, D. P. R. de. Planejamento estraté-
petência requerida para o sucesso competiti- gico: conceitos, metodologia e práticas. 11.
vo nos mercados atuais e futuros, além de estar ed. São Paulo: Atlas, 1997.
relacionado com todas as funções da adminis-
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social. “Dramas sociais” e “ritos de passagens”, tomarem distância dos papéis normativos e,
portanto, seriam momentos nos quais os atores numa atitude de reflexividade, repensar a pró-
sociais se arriscam numa aventura “dramática” pria “estrutura social” ou mesmo refazê-la.
– de representação de papéis e jogo simbólico – Como sugeriu Schechner, durante uma perfor-
de ruptura e/ou inversão com a ordem estabe- mance também a “audiência” é levada à reflexi-
lecida na vida cotidiana – porém, tendo como vidade, pois o ator social, na posição de plateia,
perspectiva, segundo o próprio Turner, a reso- é levado a assumir outros papéis diferentes dos
lução dos conflitos, a propósito da manutenção que habitualmente desempenha nas interações
do status quo. sociais da vida cotidiana, de modo a não frus-
A antropologia da performance é um dos trar as expectativas concernentes à sua “pessoa”
temas principais que marca a diferença entre a e quebrar com o encantamento da “fachada”.
perspectiva antropológica mais tradicionalista Assim, o espectador pode ser levado a se
e da “virada pós-moderna”, uma vez que pode sentir mais “livre” para explorar com ousadia
ser reconhecida como uma noção interdiscipli- o repertório variado de papéis sociais e, assim,
nar que busca evidenciar as coisas que escapam expressar, sem receio, as suas emoções, cho-
das classificações e dos paradigmas da ordem. rar, gargalhar, agir com irreverência, gritando,
As performances podem ser situadas dentro assoviando alto etc.; ou, ainda, ser instigado a
das situações “extraordinárias”, portanto, mo- “conversar consigo mesmo”, a “parar” e refle-
mentos de interrupção da ordem social. Ao re- tir sobre as relações de poder e dominação ou
pensar a sua teoria do rito a partir da noção de os “problemas não resolvidos” que permeiam a
performance, Turner recorreu à contribuição sociedade – então, o despertar para uma “cons-
de diferentes áreas disciplinares, tais como o te- ciência crítica” - o “comportamento restaura-
atro, a filosofia e a linguística, particularmente do”. (Célia dos Santos Marra)
no que diz respeito ao estudo da comunicação
não-verbal. Referências:
Ademais, visto como espécie de “metate- CARLSON, Marvin. Performance – A Critical
atro”, as performances constituem um espaço Introduction. New York: Routledge, 1998.
simbólico e de representação metafórica da re- GOFFMAN, Erving. A Representação do Eu na
alidade social, através do jogo de inversão e de- Vida Cotidiana. Petrópolis: Vozes, 1985.
sempenho de papéis figurativos que sugerem SCHECHNER, Richard. Between Theater and
criatividade e propiciam uma experiência sin- Anthropology. Philadelphia: The University
gular, que é, ao mesmo tempo, “reflexiva” e da of Pennsylvania Press, 1985.
“reflexividade”. Assim, para se conhecer a fun- TURNER, Victor. The Anthropology of Perfor-
do as contradições inerentes à “estrutura social”, mance. New York: PAJ Publications, 1987.
torna-se necessário um certo “deslocamento
do olhar” para os elementos “antiestruturais”,
portanto, as situações “liminares” e/ou “limi- Periodicidade jornalística
nóides”, representadas pelas performances que Periodicidade jornalística é regularidade ou fre-
interrompem o fluxo da vida cotidiana, pro- quência (intervalo de tempo) que separam as
piciando aos atores sociais a possibilidade de diferentes edições de um veículo. A periodi-
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cidade pode ocorrer em diferentes intervalos atual quanto menor for o intervalo entre as
de tempo: jornais tendem a ser diário; revistas duas edições, ou seja, maior for a sua periodici-
e magazines podem ser mensais, semanais ou dade. (Ana Carolina Rocha Pessoa Temer)
mesmo semestrais, e alguns periódicos podem
ser anuais ou bianuais etc. Referências:
Essa qualidade define a natureza do jorna- BUENO, Wilson da Costa. O jornalismo como
lismo, distinguindo os veículos jornalísticos de disciplina científica: a contribuição de Otto
outras publicações, uma vez que elimina a ca- Groth. Sãõ Paulo: ECA-USP, 1972.
sualidade que existe nas informações que cir- STEPHENS, Mitchel. História das comunica-
culam de boca em boca (Stephens, 1993, p. ções - do tantã ao satélite. Rio de Janeiro:
66). A periodicidade impõe a cada veículo um Civilização Brasileira, 1993.
dead line (termo cuja tradução seria “linha da
morte”, é o último prazo para incluir um tex-
to jornalístico antes do “fechamento” de uma PERIÓDICOS
edição. ) e determina a importância de cada in- Além de adjetivo usado para caracterizar fe-
formação a ser publicada, obrigando o jornalis- nômenos que apresentem determinada regu-
mo a trabalhar a partir de rigorosos critérios de laridade temporal, essa palavra também é um
busca, seleção e organização das informações. substantivo para denominar materiais impres-
Ou ainda, a periodicidade delimita a estrutura sos que tenham dada frequência de circulação.
temporal do veículo, o ritmo com o qual as in- Empregado de modo amplo no campo da co-
formações apuradas, publicadas e descartadas. municação, está sobremaneira ligado à história
Essa característica também garante o contí- da imprensa, o que pode ser percebido pelo seu
nuo interesse do público leitor, uma vez que as emprego como sinônimo de diferentes publi-
edições de um mesmo jornal (ou radiojornal, cações - jornalísticas ou não - que apresentem
ou telejornal etc.) não são partes dele, mas sim periodicidade: jornais, panfletos, informativos,
repetidas e diferentes manifestações de uma re- revistas, boletins, folhas, gazetas, diários, heb-
alidade ideal do veículo. domadários etc. Seu caráter geral também é de-
A questão da periodicidade foi destacada monstrado pela farta adjetivação que acompa-
por Otto Groth, que divide a “totalidade jor- nha o termo: periódicos científicos, literários,
nalística” em quatro categorias: atualidade, pe- religiosos, sindicais, étnicos, entre outros.
riodicidade, difusão e universalidade; e vincu- Os primórdios da imprensa, no Brasil,
la a periodicidade às dinâmicas da sociedade. coincidem com a vinda da família real no perí-
Para o autor, a periodicidade é mais do que o odo das guerras napoleônicas. O primeiro peri-
simples intervalo entre duas edições; é um “rit- ódico publicado no país foi editado nas máqui-
mo de vida”, uma cumplicidade abstrata entre nas de impressão trazidas pela corte: Gazeta do
emissor e receptor. Rio de Janeiro, de 1808, disponível inicialmente
A lógica de periodicidade determina que aos sábados e, depois, também às quartas-fei-
quanto maior for o intervalo de publicação en- ras. Da mesma época foi o Correio Braziliense,
tre as edições, menor será a atualidade do veí- confeccionado na Inglaterra e enviado de navio
culo. De maneira inversa, um veículo será mais para o Brasil (as capas mostram que as edições
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eram mensais, mas não se tem certeza de que a SODRÉ, Nelson Werneck. História da Imprensa
circulação obedecia uma regularidade). no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
A imprensa brasileira no século XIX, in-
cluindo os contextos da independência do Bra-
sil (1822), abolição da escravatura (1888) e pro- Personalidade
clamação da república (1889) caracteriza-se por O presente termo, entre todos os que a psico-
ser combativa, de viés sobretudo político, pan- logia moderna emprega, é, talvez, o que tenha
fletário, opinativo. Sem padronização, os tex- sofrido maior número de variações em seu sig-
tos trazem influência do direito e da literatura, nificado. Gordon Willard Allport (1937), enu-
além do estilo próprio do autor. Por essas ra- merou cinquenta acepções diferentes. O que
zões, alguns estudiosos da história da imprensa a personalidade representa, essencialmente, é
adotam o termo ‘periódicos’ e assim evitam to- a noção de unidade integrativa de um ser hu-
mar essas publicações como jornalismo, o qual mano, pelo que, inclui todo o conjunto de suas
começa a se profissionalizar a partir de proces- características (atributos) diferenciais perma-
sos históricos e modernizações do século XX. nentes (constituição, temperamento, inteligên-
O pensador alemão Otto Groth (1875-1965) cia, caráter) e suas modalidades específicas de
estabelece que um dos atributos do jornalismo comportamento. A definição dada por William
é a periodicidade, juntamente com atualidade, H. Sheldon, psicólogo, inspirada nas definições
universalidade e difusão. Para ele, o conceito de Warren e Allport, corresponde suficiente-
de periódico é mais do que a mera regularida- mente a essa noção: personalidade é a “organi-
de na publicação, significando também a pro- zação dinâmica dos aspectos cognitivos, afeti-
priedade do produto jornalístico em fazer par- vos, conativos, fisiológicos e morfológicos do
te do ritmo cotidiano da vida. Nesse sentido, é indivíduo”
possível considerar que também alguns produ- De modo geral, personalidade refere-se ao
tos de comunicação de meios audiovisuais (por modo relativamente constante e peculiar de
exemplo, os telejornais diários). Há que se con- perceber, pensar, sentir e agir do indivíduo. A
siderar, porém, o fato de o rádio, a televisão e as definição tende a ser ampla e acaba por incluir
chamadas novas mídias incorporem à informa- habilidades, atitudes, crenças emoções, desejos,
ção difundida as características de imediatici- o modo de comportar-se e, inclusive, os aspec-
dade e simultaneidade. (Fernanda Lima Lopes) tos físicos do indivíduo. A definição de perso-
nalidade engloba também o modo como todos
Referências: esses aspectos se integram, se organizam, con-
BUENO, Wilson da C. O jornalismo como disci- ferindo peculiaridade e singularidade ao indi-
plina científica. A contribuição de Otto Gro- víduo.
th, São Paulo: ECA-USP, 1972. Da palavra grega persona, que significa
FIDALGO, Antonio. Jornalismo Online se- “máscara”. Antigamente, os atores gregos cos-
gundo o modelo de Otto Groth. Disponí- tumavam usar máscaras no palco. Cada papel
vel em: <http://bocc.ubi.pt/pag /fidalgo- que eles desempenhavam, tinha uma máscara
groth-jornalismo-online.pdf>. Acesso em diferente associada à ele. À medida que eles co-
27/01/2009. locavam uma nova máscara, assumiam perso-
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Para Arthur Schopenhauer (1997), a persu- senvolvimento de ideias numa discussão é con-
asão pode ser obtida por técnicas de discussão, siderado válido, assim como o convencimento,
estratégias de raciocínio que podem levar o ou- desde que não incorra em violência, chantagem
tro a concordar com seu interlocutor” mesmo ou constrangimento.
sem ter razão” para isso. Na comunicação organizacional, a persu-
Na publicidade, a persuasão assume grande asão é um recurso válido e utilizado nas estra-
relevância, uma vez que as técnicas de conven- tégicas comunicativas mercadológicas (aten-
cimento estão no centro das ocupações daque- dimento, vendas, publicidade, promoção),
les que precisam obter adesão dos consumi- ressalvadas as exceções previstas na moral vi-
dores a um produto, um serviço ou uma ideia. gente e em leis de proteção do consumidor.
Vance Packard (1989) ao dissecar as engenho- (Luiz Carlos Iasbeck)
sas técnicas de persuasão utilizadas na propa-
ganda, conclui que o agente da persuasão não é Referências:
tanto o emissor, mas o receptor, que se conven- ARISTÓTELES. Arte Retórica e Arte Poética.
ce da verdade do que lhe é afirmado, muitas ve- Rio de Janeiro: Ediouro, 1994.
zes sem se dar conta dos mecanismos que estão CAFFÉ ALVES, Alaor. Pensamento Formal e
agindo sobre sua decisão, aparentemente livre e Argumentação. Elementos para o Discurso
racional. Os “persuasores ocultos” estão asso- Jurídico. Bauru: Edipro, 2000.
ciados à validade moral e ao constrangimento PACKARD, Vance. I Persuasori Occulti. Torino:
do consenso, dentre outros fatores. Einaudi, 1988.
A Teoria Geral dos Signos de Charles Peir- SANTAELLA, L. A Teoria Geral dos Signos –
ce (SANTAELLA, 1995) nos remete à persua- Semiose e Autogeração. São Paulo: Ática,
são como um dos modos com que o signo de- 1995.
termina seu interpretante. Ou seja, o modo de SCHOPENHAUER, Arthur. Como Vencer um
repercussão das estratégicas semiósicas no in- Debate sem Precisar Ter Razão – Em 38 Es-
terpretante mental. Assim, a persuasão pode- tratagemas. Rio de Janeiro: Topbooks, 1997.
ria assumir três níveis, em acordo com as três
categorias que Peirce denomina “da mente e
da natureza”, a saber: a sedução, ou persuasão Pesquisa em Jornalismo
por qualidade, instaurada como emoção sen- Etimologia
sível; a persuasão propriamente dita, que se dá O dicionário especifica: pesquisa (1155)
em virtude de determinações lógico-racionais ‘id.’, este, de pesquisida, lat.vulg. pesquisìta,
e o convencimento, um tipo de persuasão que fem.substv. de pesquisìtus,a,um pelo lat.cl.
acontece de modo mais envolvente por resultar pesquisítus,a,um, part.pas. de perquirère f.hist.
da experiência e da comprovação. c1560 pesquiza (Houaiss, 2010, on-line); deri-
No âmbito do Direito, a sedução é enten- vada do termo francês, criado na Idade Média,
dida como recurso coercitivo que, às vezes, recerche, de recercher (ir em busca de), do fran-
não permite a defesa do interlocutor e, por isso cês antigo recerchier, de re- + cerchier, sercher –
mesmo, pode ser considerado recurso ilegal de buscar. Dat. 1577, (Webster, 2010, on-line) Jor-
persuasão. Já o exercício lógico-racional de de- nalismo – masc. substv., derivado de jornal,
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enciclopédia intercom de comunicação
do latim diurnalem, e do francês journal. Dat. muns em estudos com grupos focais no jorna-
1828. Atividade de quem apura, produz, edita lismo político em períodos eleitorais; pesquisa
e circula informações de natureza jornalística experimental: investigações de natureza empí-
em qualquer suporte – papel, rádio, televisão, rica que tem por principal objetivo testar hipó-
internet e dispositivos móveis. teses diretamente vinculadas a determinadas
Definição relações de causa e efeito. Por meio da mani-
Conjunto de atividades científicas especia- pulação de variáveis se busca identificar as re-
lizadas realizadas na área específica do jornalis- lações existentes entre variáveis dependentes e
mo com objetivo de gerar novos conhecimen- independentes. Pressupõem o uso de grupos de
tos, desenvolver novas linguagens, formatos, controle, seleção aleatória e manipulação de va-
produtos, técnicas, tecnologias, processos ou riáveis independentes. Possuem grande tradi-
aplicações e/ou refutar conhecimentos pré- ção nos estudos de recepção e da audiência de
existentes. telejornais nos Estados Unidos, na Inglaterra e
Modalidades na Alemanha; pesquisa aplicada: tipo de pes-
Pesquisa acadêmica: realizada de forma cri- quisa que tem por objetivo desenvolvimento
teriosa e sistemática no âmbito universitário de de linguagens, produtos, técnicas, tecnologias,
acordo com as normas para produção e apre- processos, aplicações e protótipos que possibi-
sentação de trabalhos acadêmicos com o pro- litam o aperfeiçoamento e o alargamento das
pósito de aprovação em disciplinas ou defesa práticas jornalísticas, estando diretamente rela-
de monografia, dissertação ou tese; pesquisa bi- cionada com processos de inovação envolvendo
bliográfica: desenvolvida a partir da leitura sis- universidades, empresas jornalísticas, empresas
temática da bibliografia de referência com ob- de tecnologia de ponta e agências de fomento.
jetivo de fazer levantamentos e anotações para História
a fundamentação de todas as etapas do traba- A pesquisa sistemática e acadêmica em jor-
lho de pesquisa; pesquisa de campo: consiste na nalismo mais antiga conhecida é a tese de To-
observação de organizações, profissionais, fa- bias Peucer, De Relationibus Novellis, escrita
tos ou fenômenos para coleta, análise e inter- em Latim e defendida na Universidade de Lei-
pretação de dados com objetivo de identificar pzig, na Alemanha, em 1690. Os países com
e definir características do objeto estudado e mais tradição na pesquisa em Jornalismo, com
compreender o problema pesquisado; pesquisa obras de destaque, na Europa, são Alemanha,
descritiva: busca observar, analisar e registrar as com trabalhos de autores como Besoldus (1629),
práticas ou os processos de produção das ins- Fritsch, (1630), Weise, (1985), Karl Bücher,
tituições. Muito utilizada nos estudos de caso (1896, 1915), Otto Groth, (1915; 1928-30; 1948,
tradicionais ou em estudos de análise de conte- 1960-68), Emil Dofivat, (1925, 1929, 1960-69),
údo, em que um ou mais capítulos são simples Manfred Rühl, (1969,1978, 1980, 2002,2004),
descrições das atividades observadas; pesquisa Donsbach, (1982), Kohring, M. (1997), Löffe-
laboratorial: pesquisas desenvolvidas em situ- lholz, (2004), Quandt, (2005); Espanha, Rafael
ações controladas, através de métodos específi- Mainar,(1906), Juan Beneyto, (1961, 1973, 1974),
cos e precisos, previamente definidos de acordo José Luiz Martínez Albertos (1964, 1972, 1983,
com a natureza do objeto de estudo. Muito co- 1997), Angel Faus Belau, (1966), Alfonso Nieto,
922
enciclopédia intercom de comunicação
(1967, 1973, 1974), Luka Brajnovic, (1967, 1969), tados Unidos, no século XIX, com o seminal
José Monteiro Acosta, (1973), Lorenzo Gomis The Art of newspaperman, (1895), de Charles
(1985, 1989, 1991), Josep Maria Casasús, (1988, Danna. No século XX, temos as contribuições
1993) Enrique Aguinaga, (1980), Mar Fontcu- precursoras de Willard Grosvener Bleyer,(1918,
berta, (1980), Miquel Rodrigo Alsina (1987, 1927), Robert Park, The Crown and the Public,
2005), Manuel Nuñez Levedeze, (1991), Javier (1903), The immigrant press and its problems
Diaz Noci, (1996, 1999, 2003), entre outros. (1922), Walter Lippmann, (1919, 1922), Lucy
Desde o final dos anos 1960 , a pesquisa em Salmon, (1923), John Dewey, (1927), Leo Rosten,
jornalismo ganhou um número crescente de The Washington Correspondents, 1937, Curtis
adeptos entre os europeus. Na Inglaterra, com MacDougall, (1938), Frank Luther Mott (1941).
Seymour-Ure, (1968), Jeremy Tunstall (1970, Depois da segunda Grande Guerra, identifica-
1971), Anthony Smith (1980), Howard Tumber mos uma massificação da pesquisa nos Esta-
(1988,1998, 2006), Bob Franklin (1991, 1998, dos Unidos com nomes como Ralph Nafziger,
2005, 2008, 2009), Brian McNair (1994, 1998, (1949), Warren Breed, (1952), Edwin Emery,
2006); na França, com Violette Morin, (1969), (1954), Fredrick Siebert (1956), Bernard Cohen,
Pierre Albert, (1972, 1976, 200, 2008), Daniel (1963), Dan Nimmo, (1964), Wayne Danielson,
Morgaine, (1972) Michel Mathien, (1993,1995, (1967), Maxwell McCombs, (1972, 2004, 2009),
1997), Remy Rieffel (1984, 2000, 2001, 2002, Sigal (1973), Bernard Roschco, (1975), Gaye Tu-
2005), Maurice Mouillaud, (1989), Denis chman (1978), Michael Schudson (1978, 1996,
Ruellan, (1993, 1997, 2007), Erik Neveu (2001, 2003, 2008), Herbert Gans (1980, 2001), Dan
2002, 2004), Géraldine Muhlmann (2006, Schiller (1981), David Weaver, (1983, 1986, 1998,
2007); na Itália, com Paolo Murialdi (1974, 2008), John Pavlik (2001, 2008, 2010), Barba-
1998, 2006), Giovanni Bechelloni, (1982, 1995), ra Zelizer, (2004), entre muitos outros. No Ca-
Carlo Sorrentino (1987, 1995, 1999, 2002, 2006) nadá destacamos autores como Stuart Adam,
e Paolo Mancini, (1985, 1994, 2001, 2004); em (1993), Robert Hackett, (1998, 2000), Stephen
Portugal, com Nelson Traquina (1993, 2000, Ward (2005, 2008) e François Demers (2000,
2001, 2002, 2004), Pedro Jorge Sousa (2000, 2005, 2008).
2004, 2007), Fernando Correia, (1997), Mario Na América Hispânica os nomes mais co-
Mesquita (2003, 2006), Joaquim Fidalgo, (2004, nhecidos da pesquisa em Jornalismo são Octa-
2008); Suiça, Daniel Cornu (1994, 1997, 2008); vio de la Suaree, Cuba, (1946, 1948, 1954); Bo-
Holanda, Teun van Dijk (1980, 2003, 2007), lívia;, Raul Rivadaneyra, (1975); Kathya Jemio
Mark Deuze, (2002, 2004); Dinamarca, Klaus Arnez, (1997); México, Gabriel González Mo-
Bruh-Jensen, (1986); Suécia, Peter Dahlgren, lina, (1985), Hernando Salazar Palacio, (1990),
(1995); Finlandia, Kaarle Nordentreng, (1968, Suzana Gonzalez Reyna, (1991), Maria Hernán-
1974, 1980, 1986,2009), Ari Heinonen, (1995, dez Ramirez (1995), Raul Trejo, (1980, 2001), Er-
1999), Heikki Loustarinen, (2002); Vladimir nesto Villanueva, (1998, 1999, 2000); Venezuela,
Hudec, (1980), República Checa, entre outros. Héctor Mújica (1959, 1982), Elezar Diaz Rangel,
Nas Américas, afora os estudos históricos (1974, 1987, 1991, 1994), Julio Febres, (1983), Car-
existentes desde o século XVIII, os primeiros los Abreu Sojo (1990, 1996, 1998, 2000, 2003),
trabalhos de pesquisa são encontrados nos Es- Jesús Aguirre, (1996), Miladys Rojano (2006)
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enciclopédia intercom de comunicação
e Carlos Delgado Flores, (2008); Ecuador, Jor- tas como Vitorino Prata Castelo Branco, (1945),
ge González, Eugenio Aguilar Arévalo, (1980), antes mesmo da institucionalização do ensino
Jorge Valdés (1987), Fernando Checa, (2003), superior na área no país. A institucionaliza-
Silvia Rey, (2003) e Edgar Jaramillo, (2006); ção acadêmica coube a nomes como Carlos Ri-
Peru, Juan Gargurevich (1972, 1982, 1987, 1991); zzini (1946, 1953, 1957, 1968, 1998), Danton Jo-
Argentina, Jorge Rivera (1995), Jorge Halperin, bim (1957, 1960), Luiz Beltrão (1951, 1960, 1963,
(1995); Stella Martini, (2000, 2007); Daniel Si- 1969, 1976, 1980), Juarez Bahia, (1960, 1964,
nopoli, (2004), Martin Becerra; Alfredo Al- 1989, 2009), Muniz Sodré (1986, 1990, 2009),
fonso, (2007); Uruguai, Roque Faraone, (1960, Paulo Gomes de Oliveira, (1970), Walter Sam-
1973, 1999), Tomás Linn (1989, 1999); Colombia, paio, (1971), José Marques de Melo, (1972, 1973,
Alfonso Lopera, (1990), Ana Maria Miralles, 1974, 1985, 2003, 2009), Adísia Sá, (1979, 1981,
(2000, 2001), Carlos Consuegra, (2002); Para- 1998,1999), Luiz Gonzaga Motta, (1984, 2001,
guai, Halley Mora, (1950), González Del Valle, 2004, 2006, 2008), Cremilda Medina (1978,
(2003), Anibal Pozo, (2007), Beatriz González 1986, 1987, 2003, 2008), Nilson Lage, (1979, 1987,
de Bosio, (2008); Chile, Camilo Taufic, (1973), 1998, 2001, 2005), Ciro Marcondes Filho, (1984,
Abrahan Santibañez, (1974, 1994, 1997, 2001), 1986, 1994, 2000, 2009), Guadêncio Torquato, (
Guillermo Sunkel (1983, 1985, 1986, 2002, 2005), 1987), Wilson Bueno, (1972,1988, 2007), Adel-
Soledad Puente, (1989, 1997, 2003), Carlos Os- mo Genro Filho (1987), Sergio Mattos, (1991,
sandón, (2001) e Raymond Colle, (2002). 1993, 1996, 2001, 2005, 2008), Carlos Eduardo
Na África entre os pesquisadores mais re- Lins da Silva (1985, 1991, 2005) e Moacir Perei-
nomados estão Arnold S. de Beer, Herman Wa- ra (1993, 2005). Após a criação do sistema na-
sserman e Guy Berger, na África do Sul; Francis cional de pós-graduação em comunicação, no
Peter Kasoma, (1994, 1996, 2000), Zambia. Na final da década de 1960, o número de pesqui-
Oceania os destaques são os australianos W.J. sadores tem se multiplicado ano a ano. Entre
Hudson, John Hartley, John Henningham, Mi- os nomes que vem se destacando desde mea-
chael Bromley e Beate Joseph. Na Ásia os mais dos dos anos 1990 podemos citar: Alfredo Vi-
conhecidos internacionalmente são em Taiwan, zeu,( 2003, 2005, 2006, 2008, 2009), Antonio
Ven-Hwei Lo, (1998, 2004, 2005), Singapura, Xu Hohlfeldt, (2002, 2003, 2008), Carlos Francis-
Xiaoge, (2005), Joseph Man Chan, Chin-Chuan cato, (2005), Christa Berger, (1998, 2002, 2008),
Lee (1988, 1991, 1998), Hong Kong; Chongshan Claudia Lago (2007), Eduardo Meditsch, (1992,
Chen,Xiaohong Liu, Wei Bu, (1998), na China; 1999, 2009), José Luiz Braga, (1991, 2006), Ma-
Tapas Ray, R. C. Ramanujam e Arun Bathia, na nuel Chaparro, (1994, 2005, 2008), Marcos Pa-
India. lacios, (1996, 2003, 2007, 2008, 2008), Marcia
Pesquisa em Jornalismo no Brasil Benetti, (2004, 2007), Francisco Karam, (1997,
As primeiras pesquisas brasileiras em jor- 2004), Jacques Wainberg (1997,2005,2007), Jo-
nalismo são desenvolvidas fora das univer- senildo Guerra, (2008) e Marialva Barbosa,
sidades por jornalistas como Barbosa Lima (2000, 2007), entre muitos outros.
Sobrinho, (1923) ou por historiadores como Al- Pesquisadores do CNPq
fredo de Carvalho, (1907), Gondin da Fonse- Desde a fundação da SBPJor, em 2003, ain-
ca, (1941), Helio Viana, (1945) e por autodida- da que em ritmo lento, vem crescendo o núme-
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enciclopédia intercom de comunicação
em mídia, relações públicas e outras formas de tivos. É o tipo de pesquisa que busca responder
comunicação e pontos de contato dos múltiplos as seguintes questões: - Qual é o potencial da
públicos com as marcas. criação? - Como a campanha reforça o posicio-
A pesquisa em publicidade pode ocorrer namento da marca? - A linguagem visual e ver-
nas diferentes etapas do desenvolvimento do bal é adequada? Pesquisas de desenvolvimento
processo de comunicação. Desde a criação da criativo podem e devem ser feitas precocemen-
ideia ou do conceito até o filme, peça impres- te podendo utilizar story board ou animatic
sa ou digital já pronta. Quando feita durante o como estímulos. O estudo possibilita entender
processo criativo seu objetivo é sugerir ajustes e melhorar a performance da publicidade ou
e alterações que permitam melhor adequação campanha, explorando com maior nível de de-
aos objetivos propostos pela área de marketing. talhes os valores presentes no conjunto das pe-
Quando efetuada após determinado tempo do ças e em cada uma delas.
lançamento da campanha, o objetivo passa a Pré-teste de propaganda. O objetivo do es-
ser o de avaliar o impacto gerado no comporta- tudo é medir a eficácia de um anúncio publi-
mento e/ou na percepção do consumidor. São citário previamente selecionado na fase de de-
resultados mensuráveis manifestações cogniti- senvolvimento criativo. Normalmente é feita
vas, afetivas e comportamentais, tais como, o com público já consumidor do produto/marca.
conhecimento, a empatia e mesmo a adesão às Pós-teste de propaganda (também chama-
marcas, expressa em resultados de vendas e de da de tracking contínuo). É a pesquisa que visa
participação no mercado. avaliar o impacto da campanha. Integram ques-
Há vários tipos de pesquisa em publicidade tões do tipo - Como a campanha em cada uma
envolvendo metodologias qualitativas e quanti- das mídias está contribuindo para o posiciona-
tativas, com suas múltiplas técnicas de investi- mento da marca? - Como conduzir e otimizar
gação. Como fenômeno complexo, a publicida- os planos de comunicação publicitária?
de também demanda metodologias de pesquisa Valor de marca. É o tipo de pesquisa que
complexas que permitam o entendimento glo- busca verificar o “tamanho” das marcas. En-
bal das marcas, avaliando seus efeitos em todas volve questões como a possibilidade ou não de
as atividades de marketing. extensão de marca, avaliando sua elasticidade.
Alguns aspectos avaliados na pesquisa em Avalia ainda a qualidade do relacionamento do
publicidade são: impacto, clareza, persuasão... consumidor com as marcas e o seu potencial de
Devem ser respondidas questões como: - A crescimento. (Clotilde Perez)
campanha comunica os benefícios e diferen-
ciais do produto/marca? - Agrada às pessoas Referências:
para as quais se destina? - É capaz de levá-los à PEREZ, C.; FOGAÇA, J.; SIQUEIRA, R. Pes-
adesão do produto/marca? quisa de mercado. In: PEREZ, C.; BARBO-
Os tipos de pesquisa em publicidade mais SA, I. S., (Orgs). Hiperpublicidade 2: Ativi-
frequentes são: dades e tendências. São Paulo: Thomson
Desenvolvimento criativo. Trata-se da ava- Learning, 2008.
liação da estratégia ou do conceito escolhido. WIMMWE, R.; DOMINICK, J. Mass Media Re-
Envolve a avaliação de rotas ou caminhos cria- search. Belmont: Thomson, 2003.
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da realidade, curvando-se diante dela, nas pala- tificidade dos métodos qualitativos. In:
vras do autor. POUPART, Jean et al. Pesquisa qualitativa:
Conforme Laperrière (2008), os pesquisa- Enfoques epistemológicos e metodológi-
dores qualitativos revalorizaram o papel da in- cos. Petrópolis: Vozes, 2008.
tencionalidade, dos valores e dos processos na
interpretação na ação humana, assim como a
irredutibilidade entre conhecimento e partici- Pesquisa quantitativa
pação no mundo. As perspectivas epistemoló- A pesquisa quantitativa baseia-se em números,
gicas da abordagem qualitativa foram progres- usa modelos estatísticos para explicar os dados.
sivamente reconsiderando vários postulados do Seu protótipo mais conhecido é a pesquisa de
positivismo convencional – seja a existência de levantamento de opinião. É correto afirmar que
uma realidade estritamente objetiva e única, a a maior parte da pesquisa quantitativa está cen-
possibilidade de separar o observador de seu trada no levantamento de dados (survey) e de
objeto de observação e de separar os objetos de questionários, apoiado em programas padrão
observação de seu contexto temporal e espacial de análise estatística. Tal prática estabeleceu pa-
etc. drões de treinamento metodológico nas univer-
Além disso, a autora salienta que os pes- sidades, a tal ponto que o termo metodologia
quisadores qualitativos reintroduziram em seus passou a significar estatística em muitos cam-
métodos a subjetividade, a mudança e as in- pos das ciências sociais – no interior das quais
terações complexas entre os diferentes níveis a comunicação se inclui (BAUER; GASKELL,
da realidade social, com a finalidade de “con- 2008).
trolá-las”, não por meio de sua neutralização, No campo da Comunicação Social, assim
mas delimitando seu efeito sobre a ação social, como para outros campos do conhecimento, a
ou utilizando-as intensamente para precisar e pesquisa de opinião tornou-se um método de
aprofundar seus resultados de pesquisa. (Aline investigação científica bastante reconhecido.
Strelow) Entre os estudos fundadores da pesquisa nessa
área, destaca-se o famoso The People’s Choice,
Referências: de Paul Lazarsfeld, modelo das pesquisas so-
BAUER , Martin W.; GASKELL, George; bre a formação das opiniões durante as campa-
ALLUM, Nicholas C. Qualidade, quanti- nhas eleitorais, publicado em 1944. “A pesqui-
dade e interesses do conhecimento. In: sa de opinião tem se mostrado instrumento tão
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. valioso para a sociedade contemporânea, que,
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e muitas vezes, deixa de ser compreendida como
som: Um manual prático. Petrópolis: Vo- técnica de medição da opinião pública para
zes, 2008. tornar-se a própria expressão desta”, afirma No-
DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento velli (2006, p. 164), ao destacar que sua aplica-
científico. São Paulo: Atlas, 2008. ção extrapolou os limites do campo político, no
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pes- qual despontou com maior intensidade.
quisa social. São Paulo: Atlas, 2009. Por outro lado, como lembra Epstein
LAPERRIÈRE, Anne. Os critérios de cien- (2006), também no âmbito das ciências sociais,
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enciclopédia intercom de comunicação
os procedimentos quantitativos às vezes são que não há pesquisa aplicada sem a pressuposi-
menos valorizados por seu caráter reducionis- ção de uma reflexão teórica, nem pesquisa te-
ta. “Em verdade, todo procedimento, seja qua- órica que, por mais mediados que estes sejam,
litativo, seja quantitativo, é em grau maior ou não suponha casos e situações em que ela esteja
menor reducionista”, salienta (p. 26). Por isso, é implicada.
tão importante fazer um exame cuidadoso dos A perspectiva, contudo, não pode perder
procedimentos analíticos quantitativos e qua- de vista, também, o fato de que, em nossa área,
litativos mais adequados para cada caso parti- a pesquisa aplicada, entendida em seu senti-
cular e em relação os objetos de estudo escolhi- do mais puro, encontra terreno pouco pro-
dos. (Aline Strelow) pício em termos experimentais, sendo mais
comum, portanto, apenas em contextos prag-
Referências: máticos (pesquisas de mercado, de audiência
BAUER , Martin W.; GASKELL, George; e de opinião). A tendência predominante é a
ALLUM, Nicholas C. Qualidade, quanti- da pesquisa de campo ou documental, terreno
dade e interesses do conhecimento. In: em que dificilmente se chega a bom resultado
BAUER, Martin W.; GASKELL, George. sem que se integre ao trabalho a devida refle-
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e xão teórica.
som: Um manual prático. Petrópolis: Vo- Falando de modo rigoroso, a pesquisa te-
zes, 2008. órica em comunicação seria, em essência, a re-
DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento flexão sobre sua própria ideia ou conceito, nos
científico. São Paulo: Atlas, 2008. mais variados âmbitos de pertinência e exten-
MIÈGE, Bernard. O pensamento comunicacio- são, e, no limite, a especulação sobre a estrutu-
nal. Petrópolis: Vozes, 2000. ra, funcionamento e sentido dos processos de
NOVELLI, Ana Lúcia. Pesquisa de opinião. comunicação tecnologicamente midiada, desde
In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio o ponto de vista das várias disciplinas de estu-
(Orgs). Métodos e técnicas de pesquisa em do da cultura e da sociedade.
comunicação. São Paulo: Atlas, 2006. O trabalho teórico está aberto a vários en-
EPSTEIN, Isaac. Ciência, poder e comunica- tendimentos, quando pensando em sua razão
ção. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Anto- de ser, podendo-se ir desde o sonho de uma
nio (Orgs). Métodos e técnicas de pesquisa reflexão pura até à concepção de uma fórmu-
em comunicação. São Paulo: Atlas, 2006. la mágica capaz de resolver os problemas, se-
não do mundo, ao menos do mundo da comu-
nicação. O pouco impacto que esforços como
Pesquisa teórica esses têm, no campo, nos sugere que via mais
Em comunicação, como alhures, costuma-se profícua, sempre que se tem em vista a matéria,
estabelecer uma diferença entre pesquisa teóri- está em refletir sobre o conhecimento aportado
ca e pesquisa aplicada que, reflexivamente, ten- pelos estudos especializados, através da revisão
de a ser nociva, sempre que se perde de vista a e emprego crítico e sistemático das tradições
unidade entre as duas práticas. O trabalho inte- que, seja no campo dos estudos de mídia, seja
lectual se acostumou a essa divisão, esquecendo no próprio campo do conceito, constituíram no
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nexos explícitos, inseridos nas mensagens pro- Russi-Duarte, P. Paredes que falam. As pi-
duzidas, sujeitos, cenários e suportes onde se chações como comunicações alternativas.
manifestam as linguagens empregadas. Condi- Dissertação de mestrado, PPG- Comunica-
ções específicas das mensagens que aparecem ção. São Leopoldo: Unisinos; 2001.
diante dos sentidos como ação da presença que Silva, A. Punto de vista ciudadano. Focaliza-
provoca infinitas operações de sentido mente- ción visual y puesta en escena del graffiti.
mente. Bogotá: I. Caro Cuervo, Minor XXIX, 1987.
Os suportes são irrompidos pela ação in-
tencional que estabelece a relação com o outro
– ato configurador da mensagem. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO DA
Logo, por meio das intervenções, os supor- COMUNICAÇÃO
tes refeitos dão pistas (índices) aos outros por- O planejamento é um movimento de tomada de
que ao marcar irrompem e modificam o habi- decisões que direciona esforços para o cumpri-
tual, pela mediação e dinâmica sígnica entre o mento de metas, ordenando ideias e estabele-
objeto e mente interpretante produzindo novos cendo métodos e prazos a fim de alcançar uma
significados situando-nos no cenário. Diferen- realidade pretendida. Trata-se de uma opera-
tes vozes (fazer é dizer) que assemelham-se às ção dinâmica que antecipa mudanças por meio
regras de um jogo onde assumem normas de fi- da indicação de estratégias variadas e pode ser
delidade, de segredo, de risco, de ludicidade. conceituado, no campo da administração, como
Expressões que, no cenário da comunicação, “um processo gerencial que possibilita (...) es-
re-significam as paredes na experiência desen- tabelecer o rumo a ser seguido pela empresa,
volvida e mediada pelo signo que significa nos- com vistas a obter um nível de otimização na
so lugar. O escrito-desenho corresponde a uma relação das empresas com o seu (...) ambiente”
forma de pensar que deixa surgir o momento da (OLIVEIRA, 1996, p. 46).
instância interpretante. As paredes são o limite e Conceber estratégias significa determi-
o excesso do interno e externo, público e priva- nar cursos de ação apropriados e caminhos a
do sempre em crise e tensão pelo ato das picha- serem traçados com vistas ao estabelecimen-
ções e graffitis. (Pedro Russi-Duarte) to de vantagem competitiva frente ao mercado
e à concorrência. Estratégia é “o conjunto dos
Referências: grandes propósitos, dos objetivos, das metas,
Cortazar, J. Graffiti. In: Queremos tan- (...) para concretizar uma situação futura de-
to a Glenda. Buenos Aires: Sudamericana, sejada, considerando as oportunidades ofere-
1980. cidas pelo ambiente e os recursos da organiza-
Jesús, D de. La estética del graffiti en la socio- ção” (FERNANDES, BERTON, 2005, p. 7), é a
dinámica del espacio urbano. Univ. Zarago- criação de uma posição unívoca e valiosa en-
za. Disponível em: <www.graffitis.org/in- volvendo um conjunto diferente de atividades
dex/talk.html>. (PORTER, 1996).
Rama, A. La ciudad escrituraria. La crítica de A comunicação propõe desenvolver o diá-
la cultura en América Latina. Barcelona: logo e o entendimento na relação organização-
Ayachucho, 1985. públicos. Ao estabelecer relacionamentos fa-
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de ânimo na recepção de uma mensagem pu- com outras informações de mercado esses ín-
blicitária nele contido. dices de poder de compra ajudam o anuncian-
Mídia mix é o conjunto de meios de comu- te a definir melhor as áreas geográficas para as
nicação existentes e disponíveis e que podem quais deve direcionar suas mensagens e o me-
ser utilizados para enviar, de forma eficaz, a lhor conjunto de veículos de comunicação deve
mensagem publicitária ao público-alvo previsto utilizar. (Flailda Brito Garboggini)
no planejamento de campanha do anunciante.
Composto pelos meios: televisão, rádio, cine- Referências:
ma, revistas, jornais, mídia exterior, mala dire- BELCH, George; BELCH, Michael. Propagan-
ta, Internet e mídia interativa. da e Promoção. São Paulo: McGraw-Hill,
O planejador de mídia determina quais 2008.
mercados devem receber maior ênfase de mí- CORRÊA, Roberto Planejamento de propagan-
dia. Os responsáveis pela negociação - depar- da. São Paulo: Global, 2008.
tamento ou pessoa compradora de mídia das
agências, entram em contato com os veículos
procurando, junto aos representantes ou de- Plano de Propaganda
partamentos comerciais dos veículos de comu- O termo em tela designa a etapa estratégica do
nicação, realizar a compra ou contratação dos processo publicitário. Plano se refere à noção
espaços, horários, períodos e áreas geográficas mais abrangente das ações planejamento, con-
onde o comercial ou anúncio irá ser inserido. templando a elaboração, execução, controle e
Sempre considerando obter o melhor custo be- avaliação de algo a ser realizado no âmbito das
nefício nessa negociação a fim de racionalizar, diretrizes estratégicas de qualquer organização.
da forma mais adequada, a utilização da verba O plano de propaganda, também denomi-
do anunciante. nado de planejamento publicitário, no contexto
O departamento de mídia deve realizar, das ferramentas de comunicação, utilizadas nos
constantemente, pesquisas para determinar os planos de comunicação, refere-se às ações espe-
veículos mais convenientes para alcançar o pú- cíficas de propaganda ou publicidade dentro do
blico-alvo do anunciante. Além dos índices do mix de comunicação de uma marca, serviço ou
poder de compra, são realizados, em todos os produto. (BROCHAND et al, 1999)
principais mercados do mundo, muitos outros Sua confecção não está restrita à especiali-
tipos de estudos sobre os principais mercados zação na área. Hoje, esta função deve ser exer-
consumidores. cida por profissionais dotados de competências
No Brasil, utiliza-se, principalmente, o interdisciplinares para a interpretação do am-
“Critério Brasil”, algo decorrente das junções biente de mercado e montagem do problema
dos antigos critérios da ABA e ABIPEME, que a ser resolvido pela publicidade, apresentando
constitui hoje o CCEB (Critério de Classifica- meios de solução a partir da execução de cam-
ção Econômica Brasil). O índice resultante do panhas criativas e divulgadas de forma eficaz.
conjunto desses estudos oferece aos planejado- O plano de propaganda não é apenas co-
res de mídia uma ideia sobre o valor relativo mercial/promocional e inclui a sua aplicação ao
de cada mercado pesquisado. Em combinação universo das comunicações com finalidades so-
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enciclopédia intercom de comunicação
clusivo e hipersegmentado, atendendo quem nar as figuras que estariam mais aptas a exer-
se interessa por temas específicos ou diferentes cer, ou ocupar, uma posição de poder, visando
gêneros e estilos de músicas. (Magaly Prado) os interesses grupais. Assim, algumas qualida-
des foram apontadas como necessárias para
Referências: este exercício: as físicas, como a do guerreiro,
FOSCHINI, Ana Carmem; TADDEI, Rober- as morais, como a dos justos em Aristóteles, as
to Romano. Podcast. Coleção Conquiste a intelectuais, como a dos reis-filósofos concebi-
Rede. 2006. Disponível em: <http://www. dos por Platão.
anacarmen.com/conquiste-a-rede/>. Aces- No início da Renascença, Maquiavel reto-
so em 12/03/2009. ma a questão das qualidades do líder. Porém,
PRADO, Magaly. Produção de rádio: um manu- elas estão vinculadas à clareza de raciocínio,
al prático. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, à força de realização e à firmeza de propósito
2006. diante de uma finalidade: a de fortalecimento
. Audiocast no radio: redes colaborativas de um Estado e a de preservação do poder al-
de conhecimento. Dissertação de Mestra- cançado, suposto para esta realização.
do em Tecnologias da Inteligência e Design Paulatinamente, ainda que as qualidades
Digital. São Paulo: PUC-SP, 2008. apontadas já a introduzissem, a questão da le-
gitimidade passa a sobrepor-se, insinuando-se
como presságio de bons governos. Ela é cen-
PODER tral à obra de Hobbes, dedicada ao Absolutis-
O conceito de poder nasce, a partir da obser- mo, e acompanha as posteriores revoluções de-
vação de que as relações humanas implicam mocráticas. Estas se pautaram pela introdução
a prevalência de uns sobre outros, levando-se de um modo de acesso e de uma divisão, a dos
em conta a posição que cada agente ocupa tes- três poderes, com os quais se supõe haveria ga-
sido da sociedade, levando-se em conta as te- rantias contra concentração e abuso de poder.
orias políticas. Embora se diga que há formas O aparato jurídico é coadjuvante fundamental
de várias poder (militar, econômico, religioso, para estas pretensões.
jurídico etc.), ou seja, formas com as quais se Da análise dos tipos de governo em com-
impõe, há uma tradição, desde a Antiguidade binatória com a dos tipos de líderes, a moder-
clássica, que liga o conceito à administração de nidade inaugura um viés de legitimidade, que
um corpo social, sobretudo, pensado enquanto tem, talvez, seu arcabouço final nos estudos de
Estado. Weber, já no século XX. Aí, os lideres são figu-
Assim, as definições de poder embora ras distintas e legítimas, para cada tipo de go-
dêem ênfase ora à vontade individual, ora à verno exercido, que encontram sua legitimidade
vontade coletiva, sempre recaem no termo ca- nos processos que os conduzem a suas posições.
pacidade e seus correlatos. Por isso, é possível Suas ações ratificam essa legitimidade quando
uma definição geral que o vincula à capacidade pautadas pela crença em ideais e pela responsa-
de se impor, mesmo diante de resistências. bilidade, ou seja, a legitimidade se alia à ética.
Até o final da Idade Média, houve, entre No entanto, com a expansão das democra-
os pensadores, uma preocupação em determi- cias, no ocidente, emerge uma outra concep-
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enciclopédia intercom de comunicação
ção de poder. O quarto poder, que se desenha concebido cria as verdades do mundo e oferece
como vigilância sobre os outros três, é conceito, os modos e os meios de vivenciá-las.
inicialmente, ligado à imprensa escrita, relacio- Essa concepção de poder é concomitante à
nado ao trabalho pela garantia do respeito às expansão das tecnologias de informação-comu-
leis e pela consideração à opinião pública. Pro- nicação que, justamente, colocam a possibilida-
gressivamente, a noção se estende a outras mí- de de redes complexas, de relações diversificadas
dias, com ênfase no rádio, na televisão e, hoje, e de mediações heterogêneas. Hoje, as reflexões
na internet. sobre poder, além de priorizarem fatores merca-
É sobre as tecnologias que amparam os dológicos, dão ênfase à comunicação e às novas
meios de comunicação de massa que as cri- mídias, como eco ao poder institucionalizado e,
ticas desenvolvidas pelos pensadores da Es- ao mesmo tempo, como lugar de conquista de
cola de Frankfurt se aplicam, apontando, en- um poder em dispersão, contrapartida aos po-
tre outros fatores preocupantes, a conversão deres firmados. (Mayra Rodrigues Gomes)
da cultura em mercadoria, a homogeneidade
assim produzida e o uso dos meios como ins-
trumento de controle por parte da classe do- Poder nas organizações
minante. O poder é a capacidade potencial de influenciar
Enquanto os meios e os processos comuni- o comportamento, de alterar o curso dos acon-
cacionais se configuravam como nova forma de tecimentos, de vencer resistência e de colocar
poder, o pensamento sobre este, no último sé- as pessoas a fazerem coisas que de outra forma
culo, retoma seu aspecto relacional. não fariam. (PFEFFER, 1981). O poder consti-
Entende-se que, em escala restrita ou am- tui um ativo social, no sentido que quem pode
pla, como para Hannah Arendt, o poder é sem- dispor dele, conta com um meio eficiente para
pre relacional e que, as relações entre os ho- fazer prevalecer seu interesse sobre o de outras
mens, vinculadas por Bourdieu a campos de pessoas. Os conceitos de poder e de política or-
forças e por Foucault a fricções de forças, se ganizacional estão relacionados e a maioria dos
materializam em processos de dominação, as- autores definem política organizacional como o
sim como de negociação, e suas corresponden- exercício ou uso do poder, definindo-se poder
tes estratégias. como uma força potencial.
Entende-se que o poder compreende uma São diversos os autores que trataram de
rede de relações e não pode ser visto enquan- conceituar o termo poder. Bacharach e Lawler
to localizado, ou apenas personificado. Norbert (1982) lembram que a maior parte dos concei-
Elias nos mostrou a estrutura dessa rede, não tos de poder são baseados na clássica definição
só nas instituições e, nos Estados. de Max Weber (1947), de que o poder é a pro-
Para compreendê-lo, é necessário executar babilidade de uma pessoa exercer a sua vontade
um exercício de observação de suas estratégias a despeito de qualquer resistência. Muitos dos
de instalação, manutenção e majoração. Eviden- teóricos que escreveram sobre poder concor-
temente, fatores mercadológicos não estão des- dam com essa definição, embora cada um, em
cartados, mas é necessária a atenção aos efeitos particular, tenha adicionado as suas próprias
de sentidos introduzidos, porque o poder assim perspectivas ao conceito.
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seja, pensar no conceito de polifonia é neces- Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Con-
sariamente partir de uma situação em que uma texto, 2007.
multiplicidade de vozes, localizadas histórica, BRAIT, Beth. Análise e teoria do discurso. In:
social, cultural e ideologicamente como sujei- . Bakhtin: outros conceitos-chave.
tos falantes e ouvintes, se interagem, convivem São Paulo: Contexto, 2006.
e dialogam na igual possibilidade de se revela- DUCROT, Oswald; TODOROV, Tzvetan. Di-
rem por meio de seus discursos. cionário enciclopédico das ciências da lin-
Assim, a polifonia, como discurso dialó- guagem. São Paulo: Perspectiva, 2001.
gico, é uma multiplicidade de vozes, de sujei- TEZZA, Cristóvão. A polifonia como categoria
tos/personagens falantes, portadores de cons- ética. Cult Especial Biografia n. 4., p.24-26.
ciências livres e independentes que apesar de se São Paulo, 2006.
cruzarem no processo de interação comunica-
tiva, não se misturam; dialogam-se, criam-se e
recriam-se e nesse processo definem seus luga- POLÍTICA CULTURAL DAS MINORIAS
res de fala, seus papéis, características, respon- É preciso diferenciar política cultural e políticas
sabilidades e individualidades. de cultura para compreender a relação desta com
De acordo com Bezerra (2007), a polifo- as minorias. Por política cultural (cultural policy)
nia estrutura, portanto, um discurso aberto, entende-se a atuação mais ou menos sistemáti-
múltiplo, pressupõe diálogo em pé de igual- ca e planejada dos poderes públicos no campo e
dade, liberdade de consciências que se sabem no sistema culturais. Trata-se, portanto, de polí-
independentes e definidoras de suas posições. tica pública institucionalizada e guiada, em tese,
O escritor/autor é, aqui, um regente dessas por decisões burocráticas e racionais (BOLÁN,
múltiplas vozes e na reciprocidade com as vo- 2006). Por políticas de cultura (politics of culture
zes de suas personagens, dá-lhes autonomia ou cultural politics) deve-se operar com um sen-
de escreverem, cada qual, sua própria história, tido mais amplo do termo, de modo a englobar
o que confere a essa forma suprema de diálo- os conflitos de ideias, as disputas institucionais
go uma perspectiva ética, como propõe Tezza e as relações de poder na produção, circulação
(2006). e fruição de significados simbólicos (MCGUI-
Em contraposição, no modelo monológico GAN, 1996). Daí o uso no plural, pois é funda-
um único sujeito, o autor do discurso, concen- mental para essa noção a percepção das múl-
tra em si a criação, o desenvolvimento e o aca- tiplas culturas e suas políticas, em especial dos
bamento do discurso englobando e pré-defi- grupos minoritários e seus movimentos socais.
nindo todas as vozes e pontos de vista, num ato Assim definida, a noção de políticas de cultura
autoritário que torna indiscutível as verdades pressupõe o entendimento da cultura como con-
veiculadas neste tipo de discurso e “coisifica” a cepção de mundo e conjunto de significados que
fala do outro enquanto personagem. (Carine F. constituem as práticas sociais e suas relações de
Caetano de Paula) poder. Por sua vez, o entendimento dos macro e
micro-poderes não é possível sem que se leve em
Referências: consideração o seu elemento cultural, uma vez
BEZERRA, Paulo. Polifonia. In: BRAIT, Beth. que produzem e comunicam significados.
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Portanto, pode-se afirmar que todos os BARBALHO, Alexandre. Textos nômades. Polí-
movimentos minoritários, de forma mais ou tica, cultura e mídia. Fortaleza: BNB, 2008.
menos explícita e/ou consciente, põem em BOLÁN, Eduardo Nivón. La política cultural.
prática políticas de cultura que atuam trans- Temas, problemas y oportunidades. Cida-
formando a cultura política hegemônica e de do México: Conaculta, 2006.
promovendo a transformação social (AL- MACGUIGAN, Jim. Culture and the public
VAREZ; DAGNINO; ESCOBAR, 2000). As sphere. London: Routledge, 1996.
políticas de cultura das minorias atuam co- PAIVA, Raquel; BARBALHO, Alexandre. Co-
locando em tensão os valores da liberdade e municação e cultura das minorias. São Pau-
da igualdade, ao reivindicarem os direitos so- lo: Paulus, 2005.
ciais (saúde, educação, trabalho, previdência SODRÉ, Muniz. Reinventando a cultura. A co-
etc) iguais a todos(os) cidadãos(ãs); mas, ao municação e seus produtos. Petrópolis: Vo-
mesmo tempo, relacionados às suas diferen- zes, 1996.
ças, portanto, o direito à liberdade de exercê-
las (posto de saúde para as mulheres, educa-
ção indígena, cota para deficientes no mundo POLÍTICAS CULTURAIS
do trabalho etc), assim ampliam os limites da A melhor alternativa para definir o concei-
democracia liberal e representativa (BARBA- to dessa expressão não é buscar as definições
LHO, 2008). Por sua vez, falar em políticas de existentes, mas delimitar aquilo que o termo
cultura na contemporaneidade é necessaria- abrange. As políticas culturais são intervenções
mente falar dos processos comunicacionais, políticas, sistemáticas e continuadas, que têm
ou mais especificamente da tecnocultura, a como finalidade desenvolver a cultura. Elas in-
partir da constatação do lugar central ocupa- corporam: visões de política e de cultura, for-
do pela mídia, funcionando não mais como mulações e ações desenvolvidas, que assumem
um meio ou uma ferramenta, mas como di- a forma de planos, programas e projetos. As
mensão constituinte da cultura e do socius políticas culturais têm objetivos. Através do es-
(SODRÉ, 1996). tudo de suas metas, explícitas ou implícitas, é
Dessa forma, um dos campos de atuação possível detectar as concepções, que orientam
privilegiado pelas políticas culturais das mino- as políticas culturais. Os atores são outra faceta
rias é o da comunicação, uma vez que faz parte essencial para o estudo das políticas culturais.
de sua constituição como grupo minoritário a Hoje, ao lado do Estado, tem-se um conjunto
luta pelo reconhecimento público de sua fala complexo de atores, estatais e privados.
e de sua escuta (PAIVA; BARBALHO, 2005). O próprio Estado não pode mais ser con-
(Alexandre Barbalho) cebido como um ator monolítico, mas deve ser
considerado em seus diferentes níveis: nacio-
Referências: nais, supranacionais (organismos multilaterais
ALVAREZ, Sonia; DAGNINO, Evelina; ESCO- e blocos de países), regionais e locais. Os atores
BAR, Arturo. Cultura e política nos movi- não-estatais podem ser oriundos do mercado
mentos sociais latino-americanos. Belo Ho- e da sociedade civil, como entidades, organi-
rizonte: UFMG, 2000. zações não-governamentais e redes culturais.
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enciclopédia intercom de comunicação
O caráter público das políticas de cultura está maticidade e a qualidade das políticas culturais.
associado intimamente aos atores que incorpo- (Antonio Albino Canelas Rubim)
ra, pois só as políticas submetidas ao debate e
crivo sociais podem ser chamadas de políticas Referências:
públicas de cultura. O público visado é outro BARBALHO, A. Política cultural. In: RUBIM,
componente significativo das políticas cultu- L. (Org.). Organização e produção da cultu-
rais. Os instrumentos, meios e recursos, sejam ra. Salvador: Edufba, 2005.
eles: humanos; legais; materiais (instalações, BOLÁN, E. N. La política cultural: temas, pro-
equipamentos etc.) e financeiros são aspec- blemas y oportunidades. Cidade do Méxi-
tos vitais das políticas culturais. Elas implicam co, Conselho Nacional para a Cultura e as
sempre no acionamento de recursos financei- Artes, 2006.
ros, humanos, materiais e legais, sob a forma COELHO, T.. Dicionário crítico de política cul-
de: orçamentos; formas de financiamento; pes- tural. São Paulo: Iluminuras/Fapesp, 1997.
soal envolvido; espaços, geográficos e eletrôni- RUBIM, A. A. C.; BAYARDO, R. (Orgs.). Polí-
cos; equipamentos e legislações existentes. ticas culturais no Brasil. Salvador: EDUF-
As políticas culturais podem estar voltadas BA, 2007.
para diferentes momentos do sistema cultural: URFALINO, P. L’invention de la politique cultu-
(1) criação, invenção e inovação; (2) difusão, relle. Paris: Hachette, 2004.
divulgação e transmissão; (3) circulação, inter-
câmbios, rocas, cooperação; (4) análise, críti-
ca, estudo, investigação, pesquisa e reflexão; (5) Políticas de comunicação dos
fruição, consumo e públicos; (6) conservação e regimes militares
preservação e (7) organização, legislação, ges- A produção de informações, propaganda e
tão, produção da cultura. eventos é uma das marcas dos regimes autoritá-
A depender dos momentos priorizados as rios e ditaduras, estrategicamente associadas ao
políticas culturais ganham marcas diferencia- sistema coercitivo e à censura. O Regime Mi-
das. Tomando em consideração o caráter trans- litar, no Brasil, convive com o avanço do con-
versal da cultura na contemporaneidade, as po- ceito comunicação e das novas profissões des-
líticas culturais devem ser analisadas em suas se campo e pela primeira vez, será usado para
interfaces com áreas afins: educação, comuni- definir as políticas do regime militar que exer-
cação etc. No mundo atual, dificilmente é pos- citou sua antítese, ou seja, a política de comu-
sível conceber políticas culturais sem conside- nicação amparada por eficazes sistemas de cen-
rar suas conexões com estes e outros campos sura e coerção. Essas políticas foram definidas
sociais. e operacionalizadas, especialmente, por três
Assim, as políticas culturais não são inter- dos generais presidentes: Emílio Médici (1969-
venções isoladas, mas combinações complexas 1973); Ernesto Geisel (1974-1979) e João Figuei-
que acionam partes ou a totalidade deste con- redo (1980-1985). O primeiro governo militar
junto de elementos. A articulação entre estes (Humberto Castello Branco – 1964-1967) cria
variados componentes - sua compatibilidade e a Secretaria de Imprensa . Desde 1938 (Decreto
coerência - é fundamental para medir a siste- 3371 de 01/12/1938) a assessoria a governantes
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foi regulamentada (Getúlio Vargas) e os jorna- ter autonomia administrativa e financeira (Dec.
listas ocuparam esse lugar, sendo que o exem- 62.989, de 15/07/1968), sendo que no governo
plo mais significativo é o DIP – Departamen- Figueiredo é transformada em empresa pública
to de Imprensa e Propaganda. A partir de 1968, (Empresa Brasileira de Notícias).
no entanto, esse poder é deslocado para os pro- Mas, em 1981 é devolvida ao Ministério
fissionais de Relações Públicas (área na qual da Justiça (Dec. 85631, de 7/01/1981). É, desse
muitos militares obtinham formação) quando amargo período, a Lei 6301, de 15/12/1975 que
o general Arthur da Costa e Silva (1968-1969) cria a Radiobrás vinculada ao Poder Executi-
cria a AERP – Assessoria Especial de Relações vo e institui políticas de exploração de serviço
Públicas (Dec. 62119 de 15/01/68), fortalecida de radiodifusão de emissoras oficiais. (Milena
durante o governo do general Emilio Médi- Weber)
ci (1969/1973). Neste período é criado o Siste-
ma de Comunicação Social do Poder Execu- Referências:
tivo (Dec. 67611, de 19/11/1970), que remete à BRASIL. Presidência da República, Gabinete
formulação de uma Política de Comunicação Civil. A Comunicação Social da Presidên-
Social do Governo Federal – que estabelece os cia da República. Brasilia: Secretaria de Im-
fundamentos da atividade de Comunicação So- prensa e Divulgação, 1984.
cial do Governo Federal. CAPARELLI, Sérgio. Ditaduras e indústrias cul-
O general Ernesto Geisel (1974-1979) al- turais. Porto Alegre: UFRGS, l989.
tera a essa política ao criar a AIRP – Assesso- FICO, Carlos. Reinventando o otimismo: dita-
ria de Imprensa e Relações Públicas confor- dura, propaganda e imaginário social no
me os decretos 75.200 (09/01/1975) e 77.000 Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 1997.
(09/01/1976). O último período do regime MARCONI, Paulo. A censura política na im-
militar atravessa três grandes mudanças. Na prensa brasileira: 1969-1978. São Paulo:
primeira, o fortalecimento da área de comu- Global, 1980.
nicação com a criação da Secretaria de Comu- WEBER, Maria Helena. Ditadura e Sedução –
nicação Social e o cargo de ministro de estado redes de comunicação e coerção no Bra-
(Lei 6.650 de 23/05/1979 e Decreto nº 83.559, de sil (1969/1973). In: WEBER, Maria H. Co-
15/03/1979), extintos em 18/12/1980. Na segunda municação e Espetáculos da Política. Porto
o Decreto 85.630 (07/01/1981) cria a divisão com Alegre: EDUFRGS, 2000.
a Secretaria de Relações Públicas e a Secreta-
ria de Imprensa e, finalmente, o Decreto 85.795
(09/03/1981) exclui a área de Relações Públicas Políticas de Comunicação Regional
e cria a Secretaria de Imprensa e Divulgação. Políticas públicas destinadas à definição, regula-
A importância da comunicação para os gover- ção e implementação dos direitos e deveres dos
nos militares pode ser identificada,também, na cidadãos, relativamente, à informação e à co-
criação da Agência Nacional, transferida do municação regional. Apoiadas nas políticas na-
Ministério da Justiça e Negócios Interiores para cionais e indutoras de políticas locais de comu-
a Presidência da República, por Castelo Bran- nicação (INTERVOZES, 2008), numa primeira
co (Decreto-Lei 166, de 14/02/1967) que passa a dimensão tratam do fomento, institucionali-
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cação, para definir a atuação de grupos de pres- vil têm sido apontadas como uma exceção no
são organizados, o que também é conhecido, campo da comunicação no Brasil: o principal
no âmbito das ciências sociais, como lobby. exemplo é a promulgação da Lei do Cabo, fruto
Esse termo, aliás, é mais preciso, já que “polí- de debates que envolveram diversos atores. Os
ticas empresariais de comunicação” podem ser exemplos aqui citados levaram diversos pesqui-
erroneamente confundidas com políticas públi- sadores das políticas de comunicação a afirmar
cas ou com estratégias de comunicação empre- que o interesse público, no Brasil, fica condicio-
sarial. A atividade de lobby caracteriza-se como nado às demandas privadas do empresariado
tentativa de fazer prevalecer anseios privados ligado à comunicação de massa. (Octavio Pen-
em processos públicos de tomada de decisão. na Pieranti)
No Brasil, a atuação do empresariado li-
gado à comunicação de massa, como grupo de Referências:
pressão organizado, é, historicamente, aponta- BRITTOS, Valério Cruz; BOLAÑO, César Ri-
da como eficiente, culminando na consagra- cardo Siqueira (Org.). Rede Globo: 40 anos
ção de suas demandas em diversos processos de hegemonia e poder. São Paulo: Paulus,
de tomada de decisão e de implementação de 2005.
políticas públicas, como, por exemplo, na pro- HERZ, Daniel. A História Secreta da Rede Glo-
mulgação do Código Brasileiro de Telecomu- bo. Porto Alegre: Tchê! Editora Ltda., 1988.
nicações; no desenvolvimento da radiodifusão JAMBEIRO, Othon. A TV no Brasil do Século
centrado em um modelo de redes comerciais; XX. Salvador: EDUFBA, 2002.
na desvinculação parcial entre radiodifusão e PIERANTI, Octavio Penna. Políticas Públicas
telecomunicações no processo que deu origem para Radiodifusão e Imprensa. Rio de Ja-
à Lei Geral de Telecomunicações; na aprova- neiro: FGV, 2007.
ção da emenda constitucional que autoriza in- RAMOS, Murilo César; SANTOS, Suzy dos
vestimentos estrangeiros em empresas jorna- (Orgs.). Políticas de comunicação: Buscas
lísticas e em emissoras de radiodifusão; e nas teóricas e práticas. São Paulo: Paulus, 2007.
tentativas fracassadas de criação do Conselho
Federal de Jornalismo e da Agência Nacional
do Cinema e do Audiovisual (Ancinav). O pri- Políticas municipais de
meiro desses episódios foi sintomático: no dia comunicação
da votação dos 52 vetos que o então Presiden- Efetivam-se em três frentes de atuação do po-
te da República, João Goulart, estabeleceu ao der público: (a) difusão de informações sobre
Código Brasileiro de Telecomunicações, os em- programas de governo e serviços públicos para
presários vinculados à radiodifusão criaram a o exercício da cidadania; (b) oferta de meios de
Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e produção e distribuição de conteúdo; (c) dis-
Televisão (ABERT). seminação de meios de acesso à informação,
Graças, em parte, à ação dessa nova en- inclusive através de inclusão digital. A primei-
tidade, os vetos foram derrubados, um a um, ra frente depende da organização de um forte
em votação nominal. Decisões políticas pactu- serviço de assessoria de comunicação pública
adas entre governo, empresários e sociedade ci- vinculado ao poder municipal, que encaminhe,
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com eficiência e regularidade, informações de acesso a computadores, que podem contar com
interesse público para os meios de comunica- monitorias especializadas para instruir o uso
ção de mais acesso e circulação. da internet e cursos que promovem a inclusão
Esse aparato requer, também, a produção e digital pela via do crescimento pessoal e do tra-
distribuição, com periodicidade constante, de balho. As políticas municipais de comunicação
meios próprios, como boletins, folhetos e pro- têm se multiplicado pela pressão de movimen-
gramas de TV e rádio para emissoras comuni- tos sociais (INTERVOZES, 2008) e podem ser
tárias e educativas. Ao contrário da comunica- complementadas por ações de empresas priva-
ção estatal, que tende a se ocupar da divulgação das, como conselhos de leitores de jornais, pro-
de programas de governo com foco sobre a gramas de educação para a mídia e iniciativas
performance do poder público, a comunicação de caráter cultural, com o recurso eventual de
pública deve estar centrada na informação útil leis municipais de incentivo fiscal. (Danilo Ro-
à otimização do uso de serviços públicos, com thberg)
foco sobre a performance do usuário. Ou seja, a
comunicação pública assume o objetivo de ele- Referências:
var a capacidade de o próprio usuário se bene- GENTILLI, V. O conceito de cidadania, origens
ficiar de serviços colocados à sua disposição. históricas e bases conceituais: os vínculos
A informação aí vai sustentar um direito com a comunicação. Revista Famecos, n. 19,
que se revela como meio para a conquista de 2002.
outros direitos (GENTILLI, 2002) e permite ao INTERVOZES. Políticas locais para comunica-
cidadão conhecer as condições nas quais seus ção democrática. Brasília, 2008.
outros direitos básicos, como moradia, saúde,
educação, trabalho e segurança, são atendidos,
e lutar por eles. Em cidades com conselhos mu- Políticas Públicas de Comunicação e
nicipais atuantes e experiências de orçamento Cidadania Comunicativa
participativo, as políticas de comunicação ga- Essa temática engloba vários subtemas como:
nham também o objetivo de criar e manter al- (a) políticas públicas: controle social, financia-
tos níveis de informação para atrair e sustentar mento público, regulamentação do sistema de
a participação em instâncias decisórias. comunicação das rádios e TVs comunitárias,
A segunda frente se afirma com a contri- e comunicação governamental; (b) desenvolvi-
buição do campo de estudos conhecido como mento territorial: identidade e cultura, mobili-
mídia-educação ou educomunicação. Aqui, se zação social, produção, gestão e difusão local;
valoriza o desenvolvimento da criatividade e da (c) comunicação e educação: metodologia /lei-
criticidade, que se torna possível com a expres- turas críticas, Universidade e formação do pro-
são do sujeito como produtor de comunicação, fessor, escolas e as novas tecnologias da infor-
capaz de atribuir novos significados à sua in- mação e comunicação - TICs, inclusão digital e
serção na sociedade. software livre.
A terceira frente tem se traduzido na ofer- A comunicação, enquanto direito huma-
ta de bibliotecas comunitárias, ônibus-biblio- no e de cidadania, é uma questão que deve
teca e feiras do livro, além de telecentros com ser pensada e planejada de forma participati-
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enciclopédia intercom de comunicação
va entre o poder publico e todos os segmen- dadania plena e para efetivação de uma socie-
tos da sociedade. Nesse aspecto, o grande dade democrática. (Rosane Rosa)
desafio contemporâneo é conceber a comuni-
cação como uma questão de política pública Referências:
que implica na democratização da comunica- MÍDIA e políticas públicas de comunicação.
ção, essencial para a formação de redes sociais, Brasília, 2007. Disponível em <www.andi.
consolidação de identidades e desenvolvimen- org.br>. Acesso em 10/10/2009.
to territorial. As redes sociais são interações, DEMO, Pedro. Política social, educação e cida-
relacionamentos entre indivíduos que se for- dania. 10. ed. São Paulo: Papirus, 2007.
mam a partir de algum tipo de afinidade e/ FORUM Nacional Pela Democratizacao da Co-
ou interesse compartilhado (MARTELETO, municacao. Disponível em <www.fndc.org.
2001). Elas estão presentes na internet (Flickr, br>. Acesso em 12/10/2009.
Fotolog, Orkut, Facebook, Twitter, MSN etc.), MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e
proporcionando uma interação-mundo e for- Status. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.
talecendo as redes sociais físicas, como por MARTELETO, R. M. Análise de redes sociais –
exemplo, o Fórum Nacional pela Democrati- aplicação nos estudos de transferência da
zação da Comunicação que atua na elaboração informação. Ci. Inf., v. 30, n.1. Brasília, jan/
de propostas que podem resultar em políticas abr 2001.
publicas para o setor. Assim, as políticas públi- MATA, C. Comunicación y ciudadanía: pro-
cas de comunicação potencializam a prolifera- blemas teórico-políticos de su articulación.
ção de redes sociais, possibilitando o exercício Revista Fronteiras, v. 8, n. 1, jan/abr 2006.
da cidadania comunicativa que remete a direi-
tos civis (MARSHALL, 1967), como a liberda-
de de opinião e expressão, o direito a receber POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO AO
e transmitir informação e o de exigir a visibi- ESPORTE
lidade (ANDI, 2007) de assuntos de interesse Trata-se de ações e estratégias, planejadas ou
público, ou seja, (...) o reconhecimento da ca- isoladas, realizadas por órgãos públicos em ní-
pacidade de ser sujeito de direito e demanda vel federal, estadual ou municipal, com o ob-
no terreno da comunicação pública. (...) envol- jetivo de promoção das práticas esportivas ou
ve dimensões sociais e culturais vinculadas aos outros fins. O termo está relacionado com a
valores de igualdade de oportunidades, qua- ideia mais ampla de Política Esportiva que,
lidade de vida, solidariedade e não discrimi- segundo Tubino et al (2007: 713), é o conjun-
nação” (MATA, 2006, p.13). Para que a cida- to de ações e princípios, num mesmo sentido,
dania comunicativa se efetive e as redes sociais que uma instituição estabelece como referência
se proliferem, as políticas públicas de comuni- para uma atuação coerente, consistente e ho-
cação devem caracterizar-se por uma natureza mogênea de todas as instituições ou partes en-
emancipatória, redistribuitiva de poder e equa- volvidas no processo esportivo para atingir as
lizadora de oportunidades (DEMO, 2007). Isso finalidades identificadas e estabelecidas. Atu-
significa concebê-las como um fator de inclu- almente, as políticas esportivas ligadas às esfe-
são social, indispensável para o exercício da ci- ras públicas são elaboradas e desenvolvidas por
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enciclopédia intercom de comunicação
governos isoladamente ou em parceria com en- alização de grandes eventos esportivos, como
tidades esportivas, organizações não-governa- a atuação fundamental na realização dos Jogos
mentais, empresas privadas, entre outros. Em Pan-americanos no Rio de Janeiro em 2007, e
nível federal, no Brasil, existe o Ministério do na conquista do direito do Brasil de sediar a
Esporte que, segundo definição do próprio site Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016,
ministerial (http://portal.esporte.gov.br/insti- também na cidade do Rio de Janeiro. (Ander-
tucional/ministerio.jsp), é o órgão responsável son Gurgel)
por construir uma Política Nacional de Espor-
te. Também são destacadas como característi- Referência:
cias o fato de ser esse ministério o responsável TUBINO, Manoel José Gomes; TUBINO, Fábio
por fomentar o esporte de alto rendimento e as Mazeron; GARRIDO, Fernando Antonio
ações voltadas para o incremento da qualidade Cardoso Garrido. Dicionário Enciclopédico
de vida da população brasileira e ainda o uso Tubino do Esporte. Rio de Janeiro: SENAC,
de estratégias de inclusão social por meio de 2007.
atividades esportivas. Em termos históricos, as
políticas públicas de incentivo ao esporte em
nível federal ganharam vulto quando, segundo Polivalente, Curso de Comunicação
o site do Ministério do Esporte (http://portal. É uma formação em Comunicação que habili-
esporte.gov.br/institucional/historico.jsp), por tava o estudante de graduação para o exercício
intermédio da Lei n° 378 de 13/03/37, foi criada profissional em várias áreas. O Curso de Comu-
a Divisão de Educação Física do Ministério da nicação Social surgiu, em 1969, com cinco ha-
Educação e Cultura. As intervenções do Estado bilitações, sendo uma Polivalente, que vigorou
no esporte, a partir de então, passam a ser cons- apenas em uma Resolução do MEC. Até este
tantes. Em 1970, a divisão foi transformada em ano, dois currículos mínimos já tinham nor-
Departamento de Educação Física e Desportos. matizado o Curso de Jornalismo. Em 1964, o
Ainda na década de setenta, precisamente em Centro Internacional de Estudos Superiores de
1978, este departamento foi transformado em Periodismo para a América Latina (CIESPAL),
Secretaria de Educação Física e Desporto. Um mantido pela UNESCO e sediado em Quito,
marco importante dá-se em 1995, com a cria- Equador, propôs o “comunicador polivalente”,
ção do Ministério de Estado Extraordinário do influenciando a concepção do segundo currí-
Esporte e o posterior surgimento da chamada culo mínimo implantado no Brasil. O Parecer
Lei Pelé (que estabeleceu novas regras para a nº 984/65, do então Conselho Federal de Edu-
transferência e os contratos dos atletas de fute- cação (CFE), foi elaborado por Celso Kelly, que
bol profissional). indicou a abrangência das atividades do jorna-
Em janeiro de 2003, o esporte tornou-se lista, levando em consideração o seu conceito
um ministério próprio. Nos últimos anos, as amplo “e a necessidade de uma formação poli-
políticas públicas de incentivo ao esporte, entre valente do periodista, de modo que se habilite ao
outras ações, conquistaram uma significativa exercício da profissão em qualquer dos ramos e,
redução do sedentarismo da população. Outra ainda, no campo das investigações específicas,
frente de ação importante é que a se refere à re- no das relações públicas e no da publicidade”.
948
enciclopédia intercom de comunicação
(KELLY, 1966, p. 75) O documento oficial reco- concessão do registro profissional, conforme a
mendava a formação do jornalista polivalente regulamentação do exercício das profissões de
na graduação e sua especialização em cursos de Relações Públicas (Lei nº 5.377, de 1967; Decre-
pós-graduação. to nº 63.283, de 1968) e de Jornalismo (Decreto-
Kelly também elaborou o Parecer nº 631/69, Lei nº 972, de 1969). Melo criticou o currículo
do CFE, que sugeria um currículo mínimo de de 1969 pelo número de matérias obrigatórias
Comunicação e a polivalência de seu diploma. e pela instituição do curso Polivalente. Na épo-
Assim, o terceiro currículo mínimo foi norma- ca, o autor fazia a seguinte indagação: “Estaria
tizado pela Resolução nº 11/69, do MEC, indi- realmente o profissional formado pelo curso poli-
cando carga horária e duração para o Curso de valente habilitado a exercer a profissão de Jorna-
Comunicação Social, com cinco habilitações lismo, de Relações Públicas ou de Publicitário?”
específicas, entre elas a Polivalente. A forma- (MELO, 1974, p. 67) A dúvida envolvia o aspec-
ção de comunicadores compreendia jornalistas to jurídico e as funções específicas de cada pro-
(de imprensa falada, escrita, televisada ou cine- fissão, pois a realidade profissional exigia uma
matográfica), publicitários, relações públicas, formação de comunicadores especializados.
editores, noticiaristas de agências, redatores (Cláudia Peixoto de Moura)
oficiais, pesquisadores da comunicação, plani-
ficadores de campanhas. A estrutura do curso Referências:
previa um Tronco Comum a todas as habilita- KELLY, Celso. As novas dimensões do jornalis-
ções, com matérias básicas, e o estudo de áre- mo. Rio de Janeiro: Agir, 1966. (Temas Atu-
as específicas diversificadas como habilitações, ais, 21)
com disciplinas de formação profissional. MARQUES DE MELO, José. Contribuições
Havia um elenco de matérias obrigatórias e para uma pedagogia da comunicação. São
eletivas, que complementariam o currículo na Paulo: Paulinas, 1974. Volume 2 - Comuni-
parte comum do curso. Igualmente, existia um cação Social.
elenco de matérias obrigatórias de formação
profissional às áreas, sendo indicadas para a
habilitação Polivalente cinco disciplinas de Téc- Pornografia
nicas de Comunicação: (a) Jornalismo Impres- Pornografia é a representação da sexualidade
so, Radiofônico, Televisado e Cinematográfico; humana com a intenção de provocar excitação.
(b) Telerradiodifusão, Cinema e Teatro; (c) Re- Os primeiros registros datam da Antiguidade.
lações Públicas; (d) Publicidade e Propaganda; Já naquela época foram produzidas imagens de
(e) Editoração, mais 2 disciplinas eletivas além pessoas fazendo ou sugerindo sexo. Nas ruínas
das estudadas no Tronco Comum. de Pompéia, em Roma, existem inúmeras pin-
O currículo mínimo Polivalente contrariou turas deste tipo. A palavra vem do grego porne
a legislação específica das profissões. As enti- (prostituta) e grafia (escrita).
dades de classe recusaram os “diplomas poli- Hoje, a pornografia é popular em mídias
valentes”, já que habilitavam o graduado para como o cinema, as revistas e a internet. O ci-
qualquer área da comunicação. O bacharel Po- nema pornô nasceu no início do século 20. A
livalente não atendia às determinações para a produção era clandestina. Os filmes mudos
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enciclopédia intercom de comunicação
eram exibidos, geralmente, em bordéis. Ape- timada entre 8-10 bilhões de dólares. O Brasil
nas em 1969, um país legalizou a atividade de possui algumas empresas dedicadas à produção
pornografia cinematográfica, a Dinamarca. Os deste tipo de material. É o caso da produtora
Estados Unidos seguiram essa tendência, nos Brasileirinha, autora dos títulos mais popula-
anos 70 e, aos poucos, outros países elaboraram res do gênero. Nichos dentro do cinema pornô
legislações mais permissivas quanto a esse tipo são explorados. É uma indústria que gera uma
de conteúdo. Já, naquela época, havia diretores produção intensa e lucrativa. (Jacques A. Wain-
especializados, pequenas produtoras, elencos e berg)
salas onde os filmes pornôs eram exibidos. O
clássico Garganta Profunda é daquele período. Referência:
O primeiro livro referido como obsceno é HUNT, Lynn (Org). A invenção da pornografia:
Raggionamenti escrito por Pietro Aretino entre obscenidade e as origens da modernidade,
1534 e 1536. Trata-se de um diálogo entre duas 1580-1800. São Paulo: Hedra. 1999.
prostitutas e faz uma sátira da igreja renascen-
tista e do estado. Este tipo de texto manteria o
anti-clericalismo, o ceticismo religioso e a sá- Pornografia na Comunicação
tira política como suas principais marcas. No Pornografia e erotismo são formas de represen-
século XVIII, livros e panfletos com esse tipo tação da sexualidade. O erotismo correspon-
de material tornaram-se best-sellers na Europa. de a algo que tende ao sublime, espiritualizado,
Destacou-se o Marques de Sade, ou Donatien- delicado, sentimental e sugestivo. Já a porno-
Alphonse-Francois (1740-1814), autor de nove- grafia é comumente considerada como própria
las explícitas que advogavam a rejeição de todas da transformação do sexo em produto para o
as normas políticas, morais e religiosas. consumo. Está relacionada à prostituição e à
A obscenidade política cederia espaço à excitação dos desejos desregrados. Diz respeito
pura fantasia no século seguinte. Em reação, a um ato sexual carnal, explícito e comercial. É
leis anti-obscenidade começaram a ser promul- um entretenimento adulto que está presente na
gadas. Grupos militantes começaram a protes- imprensa, na fotografia, no cinema, na televi-
tar. Hoje em dia, movimentos religiosos e fe- são e na internet.
ministas se destacam contra a exploração do No Brasil, circulam revistas especializa-
corpo da mulher para esses fins obscenos. Pou- das no público masculino heterossexual (como
co a pouco os tribunais começaram a admitir Playboy e Sexy) e no público masculino ho-
que a ciência e a arte deveriam escapar da acu- mossexual (como G Magazine). Essas são pu-
sação de obscenidade. blicações que geralmente contam com ensaios
O advento do videocassete, nos anos 80, fotográficos de celebridades. Além dessas pu-
deu um novo fôlego ao gênero, ao proporcionar blicações, mais bem aceitas por conta do reco-
maior privacidade aos espectadores. Segundo nhecimento do caráter artístico das fotos, há
pesquisa do Forrester Research, de 1998, o lu- diversas daquelas com fotonovelas com ima-
cro da pornografia ‘on line’ nos Estados Unidos gens de sexo explícito.
estava na margem de 750 milhões e a 1 bilhão A indústria pornográfica audiovisual bra-
de dólares. O valor de toda a indústria era es- sileira conta com produtoras específicas para o
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
midade entre conteúdo e sociedade local. Tor- te ou prospect. Portfólio também é a pasta que
na-se prática comum, a partir de 1999 de forma compõem o conjunto de produto, serviços e
mais evidente, a existência de portais com es- marcas de uma empresa; ou compreende o con-
copo regional, que atendem a uma região espe- junto das contas de uma agência. (Luiz Cézar
cífica, oferecendo acesso a conteúdo editorial Silva dos Santos)
e publicitário. Destaca-se a existência de por-
tais de abrangência municipal, que compilam Referências:
informações sobre a cidade e, além de produ- BARBOSA, Gustavo Guimarães; RABAÇA,
zir conteúdo jornalístico noticioso, funcionam Carlos Alberto. Dicionário de Comunica-
como guias de empresas anunciantes, viabili- ção. São Paulo: Ática, 1987.
zando-se comercialmente, em geral, por meio GEHRINGER, Max. Big Max – Vocabulário
da veiculação publicitária, uma vez que, pela Corporativo: origens e histórias curiosas
diversidade de conteúdo e serviços oferecidos, de centenas de palavras para você digerir.
caracterizam-se como agregadores de audiên- São Paulo: Negócio Editora, 2002.
cia. (Mônica Caniello) RAMOS, Ricardo. Contato Imediato com Pro-
paganda. São Paulo: Global Editora, 1999.
Referência: SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 2. ed.
LIMEIRA, Tânia M. Vidigal. E-marketing. São Rio de Janeiro: Campus: ABP, 1999.
Paulo: Saraiva, 2007. SILVA, Zander Campos da. Dicionário de Ma-
rketing e Propaganda. 2. ed. Goiânia: Refe-
rência, 2000.
PORTFÓLIO
Portfólio ou porta-fólio é uma coleção organi-
zada de trabalhos produzidos por um profis- Posicionamento
sional, ou seja, consiste na seleção prévia dos Oriundo do inglês positioning, ‘posicionamen-
melhores trabalhos criados em um determina- to’ é o planejamento de como se deseja que uma
do período da profissão. É muito comum o uso marca seja percebida e lembrada pelos consu-
corrente entre os publicitários do termo em in- midores. Não se trata de uma orientação para
glês (portfolio); termo que chegou a língua in- o mercado, mas uma orientação para a concor-
glesa através do italiano portafoglio. Contudo, rência. O posicionamento articula não apenas as
a palavra fólio veio do latim folium (folha), e já ferramentas de comunicação de marketing, mas
existia há muito tempo em português. qualquer elemento que transmita informações
Essa porta-fólio (pasta de guardar folhas para o consumidor, como preço ou atributos do
que pode ser de papelão, de plástico, de couro) produto. Foi desenvolvido a partir da década de
de documentos e peças publicitárias (layout, 1950, quando o excesso de informações tornou
artes-finais, anúncios etc.) é utilizada no dia- mais difícil a percepção, assimilação e retenção
a-dia da atividade publicitária com a finalidade de mensagens por parte dos receptores — em
de apresentar os melhores trabalhos realizados especial, na publicidade (KOTLER, 2005).
pela agência, pela produtora, pelo fornecedor O posicionamento tem como base o estudo
ou por um profissional da área, junto ao clien- da mente do receptor, que organiza as informa-
952
enciclopédia intercom de comunicação
ções a partir de uma hierarquia de elementos, conceito ficou associado a Ries e Trout. (Eduar-
divididos em diversas categorias. Por exemplo, do Refkalefsky)
na categoria “sabão em pó”, a maioria dos con-
sumidores brasileiros posiciona Omo em pri- Referências:
meiro lugar. Neste processo, a pesquisa top of DRUCKER, Peter. Administrando para obter re-
mind é importante por destacar as principais sultados. São Paulo: Pioneira, 1986.
marcas lembradas em cada categoria. KOTLER, Philip. Administração de Marketing.
Uma marca posicionada em primeiro lu- 12. ed. São Paulo: Prentice-Hall, 2005.
gar na mente dos consumidores representa um REFKALEFSKY, Eduardo. Bill Bernbach: o
grande patrimônio para a empresa — como criador do Posicionamento. In: INTER-
explicam as frases “é melhor conseguir o sha- COM 1999 - Congresso Brasileiro de Ciên-
re of mind do que o share of market” e “é me- cias da Comunicação. Rio de Janeiro, 1999.
lhor ser o primeiro do que ser o melhor” (RIES; Anais. São Paulo: Intercom, 1999. CD-
TROUT, 2001). ROM.
O posicionamento em um mercado que já RIES, Al; TROUT, Jack. Posicionamento: a ba-
apresente uma marca líder requer a criação de talha pela sua mente. São Paulo: Makron,
uma nova categoria na qual a nova marca seja 2001.
a primeira. Geralmente, isso significa pesqui- SOUZA, Francisco Alberto Madia de. O Gran-
sar e descobrir uma fraqueza na líder da cate- de livro de Marketing. São Paulo: M Books,
goria. 2007.
O conceito de Posicionamento ganhou no-
toriedade com a publicação, em 1969, de um
artigo de Al Ries e Jack Trout na revista Indus- PÓS-COLONIAL
trial Marketing, complementado, três anos de- Trata-se de um conjunto de teorias e estudos
pois, com uma série de textos na Advertinsing que tomam a condição pós-colonial como pon-
Age. O livro (id., ibid.) foi publicado em 1981. to de partida para reflexão. O termo pós-colo-
Entretanto, o posicionamento já existia na prá- nial aparece na teoria na década de 1980 como
tica e teoria. Campanhas da agência DDB, des- uma espécie de substituto para o conceito de
de a década de 1940, coordenadas por Bill Ber- Terceiro Mundo, sobretudo no discurso teó-
nbach, utilizavam a autodepreciação da cultura rico marcado pela influência pós-moderna e
judaica para posicionar marcas como o Fusca pós-estruturalista. De teoria estritamente rela-
(Think Small) e a locadora Avis (We try harder) cionada com as ex-colônias de língua inglesa a
(REFKALEFSKY, 1999). Conceitualmente, Pe- abordagem de muito maior escopo, os estudos
ter Drucker pode ser considerado o criador da pós-coloniais reinserem o debate da identidade
ideia de posicionamento (MADIA, 2007): “re- nacional, da representação, da etnicidade, da
sultados econômicos são conquistados somente diferença e da subalternidade no centro da his-
por liderança” (DRUCKER, 1981, p. 5), afirmara tória da cultura mundial contemporânea.
em 1964. Mas como Bernbach não conceituou Diferentemente da antropologia clássica ou
suas ideias e Drucker não se dirigia a um pú- da historiografia tradicional, a teoria pós-co-
blico específico de marketing e comunicação, o lonial pretende representar seus objetos (sujei-
953
enciclopédia intercom de comunicação
tos, discursos, contextos relacionados à peri- BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo
feria) diretamente, mais do que isso —já que o Horizonte: UFMG, 1998.
pós-colonialismo contesta uma já ultrapassada HALL, Stuart. Da diáspora. Belo Horizonte:
concepção de representação—, é a própria voz UFMG, 2003.
do subalterno que está em jogo. A reescritura SPIVAK, Gayatri Chakravorty. A Critique of
periférica da História, ou a desconstrução do Postcolonial Reason. Toward a History of
Ocidente feita pelos estudos pós-coloniais, por- the Vanisinhing Present. Cambridge/Lon-
tanto, implica num constante ataque à hegemo- don: Harvard University Press, 1999.
nia ocidental e, se não uma completa inversão, YOUNG, Robert. White Mythologies. Writing
uma reacomodação do cânone cultural. History and the West. London/New York:
Justamente no espaço intersticial, no fluido Routledge, 1990.
território intermediário, numa zona de nego-
ciação entre “mundos”, é que está localizado o
arcabouço cultural que serve de objeto para au- POVO
tores como Edward Said, Homi Bhabha, Gayatri Uma mulher carregando a bandeira tricolor da
Spivak, Ella Shohat, entre outros nomes impor- França aparece como figura alegórica no qua-
tantes da teoria pós-colonial. Nos estudos pós- dro A Liberdade Guiando o Povo, de Eugene
coloniais, o lugar do periférico na configuração Delacroix. Não por acaso, a obra, de 1830, faz
da cultura contemporânea e na crítica, análise e referência, por meio do lábaro azul, branco e
teoria dessa cultura, portanto, está muito dife- vermelho, ao lema da Revolução Francesa: li-
renciado em contraste com as disciplinas tradi- berdade, igualdade e fraternidade. Era difun-
cionais. É um ponto de observação privilegiado dida a noção da revolução ter sido feita pelo
no sentido da multiplicidade desse espaço in- povo, ainda que os sans-culotte tivessem sido
termediário. Mesmo que tantas outras teorias convocados pela burguesia que ascendia ao
e estéticas já tenham problematizado concei- poder.
tos como representação, identidade, alterida- Na Antiguidade Clássica, o termo já era
de, hibridismo, colonização, Ocidente, Oriente; utilizado. A democracia ateniense era o “gover-
com os estudos pós-coloniais esses elementos no do povo” – ainda que limitava o acesso ás
são colocados num marco de referências que, mulheres, aos escravos e aos estrangeiros. Mas
ao invés de simplesmente inverter ou descartar foi mais recentemente que o “povo” se popu-
termos e hierarquias, vai questioná-los na sua larizou. A ideia do povo como protagonista da
essência e na sua malha de inter-relações, vai História influenciou desde os pensadores Ilu-
pensar as condições de possibilidade, continui- ministas do século XVIII até as vertentes mar-
dade e de utilidade da sua construção. (Angela xistas que ainda encontram abrigo em partidos
Prysthon) políticos de esquerda. Na França revolucioná-
ria, foi em nome do povo que caiu a bastilha –
Referências: e com ela, os reis absolutistas – e, logo depois,
ASHCROFT, Bill; GRIFFITHS, Gareth; TIF- instalou-se o regime do terror. A Declaração
FIN, Helen (Eds.). The Post-colonialReader. dos Direitos do Homem e do Cidadão era assi-
London/New York: Routledge, 1994. nada “pelos representantes do povo francês”. Os
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enciclopédia intercom de comunicação
pensadores federalistas da Independência dos políticas dos movimentos sociais e das mino-
Estados Unidos consideraram o povo como ti- rias. (Ferdinando Martins)
tular da soberania democrática. Thomas Jeffer-
son atribuía ao povo um papel preeminente na
constitucionalização do país. Ao redigir o pro- POVOS INDÍGENAS
jeto de Constituição para a Virgínia, no primei- O termo povos indígenas é correntemente utili-
ro semestre de 1776, propôs que essa lei supre- zado para designar o conjunto de populações e
ma, após declarar caduca a realeza britânica, comunidades remanescentes de indígenas. Ori-
fosse promulgada “pela autoridade do povo”. ginalmente, a palavra indígena servia à identifi-
O conceito de povo, ainda que largamente cação dos indivíduos e coletivos nativos de um
utilizado, não é, todavia, consensual. No mais determinado território. A questão dos povos
das vezes, povo não é um conceito descritivo, indígenas no campo da Comunicação Social no
mas operacional. Fala-se da voz do povo como Brasil implica sempre uma reflexão histórico-
a voz de Deus para justificar plebiscitos e pes- contextual profunda. A forma como este termo
quisas de opinião. é aplicado nos diferentes veículos e produtos de
Grosso modo, há duas acepções mais co- comunicação está relacionada a um processo
muns para povo. A princípio, refere-se à po- de ressignificação do indígena que vem se dan-
pulação que habita determinado território, em do nos últimos quinhentos anos. O principal
geral sob a jurisdição de um Estado que, em eixo desse processo está no estabelecimento da
regimes democráticos, deve garantir direitos distinção civilização/barbárie.
e deveres civis, políticos, econômicos e cultu- Existem hoje no Brasil cerca de 225 socie-
rais. Em uma segunda acepção, porém, a ideia dades cadastradas, o que corresponde a apenas
de povo remete a uma coletividade heterogê- 0,25% da população brasileira (http://www.fu-
nea (em oposição à homogeneidade da massa) nai.gov.br/indios/conteudo.htm#HOJE). Paes
que geralmente se opõe à elite. É, a partir dessa Loureiro (2001, p. 38) associa a postura estrita-
cisão, que se baseia a ideia de cultura popular, mente comunal das primeiras tribos indígenas
mais “autêntica” e “pura” que a arte erudita ou a encontradas pelo colonizador à estereotipação
cultura de massa. dos povos nativos como preguiçoso, acomoda-
Da mesma forma, os movimentos de es- do e sem ambição pessoal. A verdade é que um
querda no século XX ideologizaram o conceito modelo capitalista foi imposto ao padrão de
de povo. Reflexo disso está na arte revolucio- trabalho independente e de subsistência exis-
nária e no agit-prop. No cinema, na literatura tente na América pré-colonial. A própria noção
e no teatro, o realismo e o naturalismo busca- de reserva indígena remete, para Ianni (1979, p.
vam aproximar-se do povo e de suas manifes- 210), à expropriação de uma forma de organi-
tações. zação sociocultural e política comunal e inade-
Em décadas recentes, houve um nítido quada ao projeto capitalista.
deslocamento do uso da categoria “povo” para A estereotipação dos povos nativos também
“cidadão”. Essa mudança substitui a ênfase na encontra causas no pensamento científico, no
igualdade para o direito à diferença. Esse câm- que Salles (1969, p. 257) classifica como inibição
bio está presente, sobretudo, nas formulações metodológica, ou seja, a observação do nativo
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como elemento humano tribal, isolado da “civi- SALLES, Vicente; SALLES, Marena Isdebski.
lização”, excluído da dita sociedade global. Carimbó: trabalho e lazer do caboclo. In:
Na grande mídia, os povos indígenas são Revista Brasileira de Folclore, n. 9. Rio de
geralmente representados dentro de um “ma- Janeiro, set/dez 1969.
crogênero discursivo” onde os aspectos histó-
ricos, políticos e socioculturais em que estão
inseridos são esvaziados em favor de forma- Práticas de comunicação,
tos importados do modelo hegemônico, como comunicacionais ou comunicativas
o documentário televisivo, a reportagem es- São os fazeres e os dizeres acionados pelos
pecializada, o uso de película fílmica e técni- gestores da comunicação organizacional, dos
cas de edição extraídas dos filmes de aventu- produtores de peças publicitárias, produtores
ra (DUTRA, 2005, p. 40-48), fato que se vem de notícias, dos profissionais da mídia em ge-
se acentuando desde o século XIX até a difu- ral, responsáveis pela construção de discur-
são massiva do ecologismo a partir da Eco 92 sos e tratamento da informação, aplicados e/
(Conferência das Nações Unidas para o Meio ou veiculados em diferentes meios e suportes
Ambiente, Rio de Janeiro, 3-14 de junho de de comunicação dirigida/ direta ou social/ de
1992), quando os termos relacionados ao mun- massa. As práticas comunicacionais podem
do natural ou “selvagem” foram amplamente ser consideradas práticas socioculturais (DE
aplicados às atividades de mercado (DIEGUES, CERTEAU, 1994) inseridas em contextos es-
2004, p. 30, 68). truturados.
Acrescenta-se a isso certo caráter crimino- Em geral, são: falas, gestos, símbolos, mar-
so atribuído ao indígena, especialmente quan- cas que, dentro de procedimentos particulares,
do associado à questão da propriedade priva- possuem representatividade para um grupo ou
da de terra. Na tensão entre a ficcionalização grupos sociais, organizações ou entidades; a
novelesca e a busca por imposição de uma fala partir da sua inserção em determinado proces-
cultural autônoma, faz-se necessária a proble- so sócio-histórico, dizem algo, provocam senti-
matização crítica desse termo sempre que re- do (muitas vezes inconsciente) e se organizam
lacionado ao universo midiático hegemônico. no habitus (BOURDIEU, 1998), nas práticas e
(Marcello Gabbay) racionalidades presentes em diversas culturas,
parte constitutiva destas. As práticas comu-
Referências: nicativas são formadas por elementos que, ao
DIEGUES, Antônio C. O mito moderno da na- serem apropriados e empregados pelo grupo,
tureza intocada. São Paulo: Hucitec, 2004. reproduzem valores e crenças, criando, trans-
DUTRA, Manoel Sena. A Natureza da TV. Be- formando ou reforçando conceitos, atitudes,
lém: NAEA, 2005. comportamentos, capazes de neutralizar outros
IANNI, Octavio. Ditadura e agricultura. Rio de ou tornar alguns destes marginais. Entenden-
Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. do a comunicação como processo, elas fazem
PAES LOUREIRO, João de Jesus. Cultura Ama- parte deste e levam em consideração todos os
zônica: uma poética do imaginário. São elementos envolvidos (emissor, receptor, men-
Paulo: Escrituras, 2001. sagem, canal, código etc).
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formação, pois se trata de um encontro com Layout é o esboço mais elaborado que um
um retorno, e, portanto, com um risco” (WOL- rough (rafe, a ideia inicial, o rascunho feito pelo
TON, 2006, p. 16). É o risco da incomunicação. desenhista ou diretor de arte) ainda não de for-
(Alexander Goulart) ma definitiva, mas aproximada de todos os ele-
mentos visuais básicos do trabalho que está
Referências: sendo estudado e criado (RABAÇA; BARBO-
BERLO, David. O Processo da comunicação. Rio SA, 2001, p. 418).
de Janeiro: USAID, 1963. Arte-final é o acabamento concludente de
MARTINO, Luiz. De qual comunicação esta- um trabalho de arte, da peça pronta para ser re-
mos falando. In: HOHLFELDT, Antonio; produzida (ilustração, anúncio, cartaz, página
MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Vei- de jornal ou revista etc.), destinada à produção
ga (Org). Teorias da Comunicação: concei- gráfica, com indicações referentes à cor, retícu-
tos, escolas, tendências. Petrópolis: Vozes, la, fotografias, ampliações, reduções.
2001. O Produtor Gráfico é o responsável (a)
SANTOS, Roberto Elísio. As Teorias da Comu- pela qualidade técnica das peças gráficas cria-
nicação: da fala à internet. 2.ed. São Paulo: das pela agência; (b) pela seleção de fornece-
Paulinas, 2008. dores gráficos (impressão e fotolito); (c) pela
WOLTON, Dominique. É preciso salvar a co- seleção de fotógrafos; (d) pela seleção de forne-
municação. São Paulo: Paulus, 2006. cedores de brindes; (e) pelos orçamentos e (f)
pela definição dos contratos com cada uma dos
respectivos fornecedores ou profissionais libe-
Produção rais (BAER, 2005, p. 19). Encaminha e supervi-
No âmbito da agência de publicidade, produ- siona a diagramação final dos textos, artes, ilus-
ção é tanto a atividade como o setor responsá- trações e fotografias que são feitas no estúdio
vel pela contratação, acompanhamento e fis- da agência ou por bureaux gráficos externos.
calização dos serviços de gráfica, gravação de Cuida da pré-impressão (escaneamento em alta
vídeo e áudio, edição, finalização, sonorização definição, tratamento de imagens, prova digital
e iluminação de eventos, montagem de estan- para correções, fotolitos e provas de máquina)
des, finalização do layout (arte-final) (RABA- (SAMPAIO, 2003, p. 67).
ÇA; BARBOSA, 2001, p. 591). Organiza, rea- O produtor de RTVC é o responsável (a)
liza e viabiliza a forma das peças publicitárias pela qualidade técnica das peças eletrônicas
imaginadas pela área de criação; essas tarefas criadas pela agência; (b) pela seleção de produ-
podem ser o rough, o layout, a arte-final para a toras de filmes; (c) pela seleção de diretores; (d)
área gráfica, ou o roteiro, o storyboard e a gra- pela seleção de produtoras de jingles e spots; (e)
vação de peças para televisão, rádio ou cinema. pela seleção de modelos para os filmes; (f) pela
Relaciona-se diretamente com fornecedores, seleção de locutores para as peças fonográficas;
gráficas, fotolitos, produtoras de cinema, fotó- (g) pelos orçamentos e (h) pelos contratos com
grafos etc. Os computadores gráficos facilitam os fornecedores e profissionais (BAER, 2005,
as tarefas dos profissionais de produção gráfica p. 20). Encomenda e supervisiona a execução,
(MARTINS, 2006, p. 221). junto às produtoras especializadas, de jingles,
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spots, trilhas sonoras, filmes, videoteipes e de- ambiente (segurança nas estradas, saneamento
mais materiais audiovisuais (SAMPAIO, 2003, básico, por exemplo) ou sobre o comportamen-
p. 68). (Walter Freoa) to individual (exercício e dieta, por exemplo);
a secundária ou prevenção específica, que bus-
Referências: ca impedir o aparecimento de doença determi-
BAER, Lorenzo. Produção Gráfica. 6. ed. São nada, por meio da vacinação, dos controles de
Paulo: SENAC, 2005. saúde, da despistagem; e a terciária, que visa li-
MARTINS, Zeca. Propaganda é isso aí! São mitar a prevalência de incapacidades crônicas
Paulo: Atlas, 2006. ou de recidivas. O Estado do Bem-Estar Social,
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo da segunda metade daquele século reforça a ló-
Guimarães. Dicionário de Comunicação. 5. gica econômica, especialmente em decorrência
ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. da evidente interdependência entre as condi-
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 3. ed. ções de saúde e de trabalho, e se responsabiliza
Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. pela implementação da prevenção sanitária.
SANT’ANNA, Armando; ROCHA JUNIOR, Is- nstituem-se, então, os sistemas de previ-
mael; GARCIA, Luiz Fernando Dabul. Pro- dência social, que não se limitam a cuidar dos
paganda, teoria, técnica e prática. 8 ed. São doentes, mas organizam a prevenção sanitária.
Paulo: Cengage, 2009. Inicialmente eles pressupunham uma diferen-
ciação entre a assistência social – destinada às
classes mais desfavorecidas e baseada no prin-
Prevenção sanitária cípio de solidariedade e, portanto, financiada
A ideia força do núcleo do princípio da pre- por fundos públicos estatais – e a previdência
venção, observando o termo latino preavenire, social, um mecanismo assecuratório restrito
é o agir antecipado. Busca o princípio da ação aos trabalhadores. Entretanto, exatamente por-
antecipada e, para tal, é necessário ter conhe- que a prevenção sanitária era um dos objetivos
cimentos e certezas científicas dos efeitos dos do desenvolvimento do Estado, logo se esclare-
atos, processos ou produtos. Em prevenção sa- ce o conceito de seguridade social, que englo-
nitária, o risco é o da produção de efeitos sabi- ba os sub-sistemas de assistência, previdência
damente ruinosos para a saúde. e saúde públicas. Trata-se, portanto, de iden-
Prevenção Sanitária: Visa identificar, classi- tificar a responsabilidade a priori do Estado.
ficar, monitorar, eliminar, controlar e/ou atenu- Assim, mesmo no que respeita aos estilos de
ar os riscos ambientais no ambiente de trabalho vida, verifica-se um grande investimento esta-
capazes de prejudicar o servidor no desenvolvi- tal (DALLARI, 2006). (Arquimedes Pessoni)
mento de suas funções (cf. FUNED).
O início do século vinte encontra instau- Referências:
rada a proteção sanitária como política de go- FUNDAÇÃO EZEQUIEL DIAS (FUNED).
verno. E são hierarquizadas três formas – hoje Disponível em: <http://74.125.113.132/
clássicas – de prevenção: a primária, que se pre- search?q=cache:-FWJHwZQZ1IJ:www.fu-
ocupa com a eliminação das causas e condições ned.mg.gov.br/afundacao/dpgf+%22Prev
de aparecimento das doenças, agindo sobre o en%C3%A7%C3%A3o+sanit%C3%A1ria%
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relações públicas distintas e usualmente de pe- dimensão psicológica que possibilita a materia-
queno alcance, pensadas para atingir um obje- lização dos mais diversos conteúdos. Para o au-
tivo (SMITH, 2005). Projeto é entendido como tor, há uma diferenciação entre produto radio-
um esforço temporário para alcançar objetivos fônico, na qual considera os produtos criados
específicos em um tempo determinado. Natu- no campo da comunicação sonora difundida
ralmente, programas e projetos são processos pelo meio rádio, e produto sonoro radiofônico,
que orientam o comportamento da organiza- em que leva em conta outros tipos de produtos
ção e a partir de sua prática as mobilizam para do campo da comunicação auditiva: os sono-
seu desenvolvimento. (Marlene Marchiori) ros. Nesse último caso, Belau (1981, p. 157) in-
siste que produto sonoro é o resultado de uma
Referências: ação criadora no campo auditivo não necessa-
CARVALHO, Horácio Martins de. Introdução riamente difundido pelo rádio, sendo assim,
à teoria do planejamento. 3. ed. São Paulo: mais abrangente e envolvendo os demais recur-
Brasiliense, 1979. sos sonoros necessários para a construção da
SMITH, R. Strategic planning for public rela- mensagem. (Alvaro Bufarah Junior)
tions. 2. ed. London: Lawrence Erlbaum
Associates, 2005. Referências:
SOUZA, J. P. Planificando a comunicação em re- BARBOSA FILHO, André. Gêneros radiofôni-
lações públicas. Florianópolis: Editora Sec- cos: os formatos e os programas em áudio.
co/Letras Contemporâneas, 2004. São Paulo: Paulinas, 2003.
YOUNG, Trevor. L. Gestão eficaz de projetos. FAUS BELAU, Angel. La Radio, introducción
São Paulo: Clio Editora, 2008. a um médio desconocido. Madrid: Latina,
1981.
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio – O veículo,
Programa Radiofônico a história e a técnica. 3. ed. Porto Alegre:
Módulo ou unidade básica da programação ra- Doravante, 2007.
diofônica, embora esta possa conter conteúdos
não organizados dessa forma (por exemplo, no
caso de uma emissão musical contínua). Pode Programação Radiofônica
ser apresentado do estúdio, de um auditório ou Conjunto organizado dos conteúdos veiculados
direto do palco da ação dos fatos. Faus Belau por uma emissora de rádio, sejam estes jorna-
(1981, p. 166) observa que o programa de rádio lísticos, de entretenimento, de serviços, publi-
está inserido dentro do conceito de produto so- citários e/ou musicais, produzidos conforme o
noro radiofônico: (a) englobando da sua inten- formato adotado pela emissora. Tem, em geral,
cionalidade à complementaridade dos proces- embora não de modo obrigatório, o programa
sos criadores envolvidos em sua elaboração; (b) como unidade básica, aquele todo coeso e de
implicando trabalho de equipe, na utilização de características próprias que possui identidade
outros produtos sonoros (naturais, artificiais dentro da programação sem destoar da filosofia
etc.); e (c) a manipulação destes elementos em de trabalho da rádio. Algumas estações, no en-
uma ação criadora, cujo conjunto envolve uma tanto, por necessidades econômico-financeiras
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de. Uma programação horizontal tem por eixo gravar todos os capítulos da novela, e depois
a repetição de um programa no mesmo horário passar horizontalmente durante toda a semana.
em vários dias (costuma haver uma grade se- Do ponto de vista da dona de casa, ela sa-
manal e outra dominical); uma programação bia que todo dias às 8 horas tinha novela; é
vertical tem por eixo a sequência dos progra- como todo dia ter que fazer almoço e levar a
mas em um mesmo dia, buscando fazer com criança para a escola. Entrou no cotidiano.”
que um programa sirva de chamariz para o (Depoimento de Alvaro Moya à Funarte citado
programa seguinte. Assim, é possível mesclar por ORTIZ; BORELLI; RAMOS, 1991, p.61)
esses dois eixos de diferentes formas. A Rede Globo de Televisão mantem essa
Uma grade de programação trabalha com grade de programação noturna praticamente
a divisão das horas dos dias e seus respectivos inalterada até hoje (2009) e as demais emisso-
públicos, essa informação é base para as ações ras comerciais, quando transmitem telenovelas,
de propaganda comercial. O horário nobre tendem a seguir o mesmo arranjo.
(prime time, em inglês) varia de país para país, A queda relativa na audiência de televisão
e também por épocas, designa as horas, duran- no Brasil e, especificamente, em relação a tele-
te o período noturno, em que há maior concen- novelas pode, entre outros fatores, estar vincu-
tração de audiência. Na maioria dos casos, en- lada a um esgotamento dessa fórmula. (Sandra
tre 20 e 22 horas. Reimão)
Quanto ao programas transmitidos, a pro-
gramação de uma emissora pode ser genera- Referências:
lista ou especialista. As emissoras especialistas BORELLI, Silvia H. S.; PRIOLLI, Gabriel. A
dedicam-se a um só gênero televisivo (jornalis- deusa ferida. Por que a Rede Globo não é
mo, por exemplo) ou a uma só temática (como mais a campeã absoluta. São Paulo: Sum-
os canais só de esporte). mus, 2000.
No Brasil, atualmente, as grandes redes CAPARELLI, Sérgio. Comunicação de Massa
abertas de televisão comercial – Globo, SBT, Sem Massa. São Paulo: Summus, 1986.
Bandeirantes, Record - são generalistas e arti- ORTIZ, Renato; BORELLI, Silvia H. S.; RA-
culam sua programação pelo princípio da ho- MOS, José Mário Ortiz. Telenovela. Histó-
rizontalidade. O início do uso sistemático da ria e Produção. 2. ed. São Paulo: Brasilien-
grade horizontal, no Brasil, deu-se na extinta se, 1991.
TV Excelsior. REIMÃO, Sandra (Org.). Em instantes. Um
A Rede Globo de Televisão, fundada em estudo sobre programas da TV brasileira
1965 e emissora líder absoluta de audiência no (1965-2000). São Paulo: Metodista, 2006.
Pais desde a década de 1970, estabeleceu a sua
liderança com a consolidação de uma grade
noturna composta pela combinação telenovela Programação Televisiva (Grade de)
/ noticiário / telenovela. Lembremos que a tele- Desde sempre, a televisão estruturou a oferta
novela diária é correlata ao início da utilização de seus produtos sob a forma de uma grade de
das gravações em videotape. Foi essa tecnologia programação. É uma “macro-estratégia” que
que permitiu “montar o cenário e num só dia tem como finalidade manter o telespectador
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enciclopédia intercom de comunicação
naquele canal. Na elaboração de uma grade há Quanto ao segundo sistema o sucesso desta
uma técnica e um discurso que articulam con- adequação da programação resulta em parâ-
teúdo e público. A escolha das emissoras por metros capazes de justificar os preços dos in-
determinados programas e encadeamentos, ao tervalos publicitários.
contrário do que parece, não é tão arbitrária. Sendo assim, seria possível dizer que, em
A seleção e alternância dos gêneros televi- última instância, a televisão comercial não ven-
sivos têm relação direta com o tipo de público de programação, mas audiência. Por outro lado,
que se quer atingir, através de dias e horários. ambos os sistemas se valem da grade de progra-
Dessa forma, além de conquistar é possível fide- mação como forma de aumentar sua agilidade e
lizar este público. Ao mesmo tempo se constrói economia na produção de conteúdos. As emis-
a identidade de uma emissora frente às demais. soras de TV desejam sempre conquistar dois ti-
A primeira dessas escolhas quanto à disposição pos de publico : o cativo que permanece no ca-
dos programas obedece critérios de periodici- nal ao longo do dia e na semana consumindo a
dade e serialização. Geralmente estes critérios sequência de conteúdos, e o ativo que por co-
têm relação direta com o conhecimento sobre nhecer a programação procura especificamen-
os aspectos culturais e sociais ligados aos há- te um determinado produto e transforma esta
bitos do telespectador. Há horários e dias que procura num hábito. (Cristiane Finger)
são considerados nobres. A grande meta nesta
espécie de agenda é a harmonia que garanta a Referências:
permanecia do público no canal. DUARTE, Elisabeth Bastos. Televisão: ensaios
A organização da grade respeita orienta- metodológicos. Porto Alegre: Sulina, 2004
ções verticais, como os dias da semana em que FERNANDES, Ana Paula. Televisão do Publico:
os vários conteúdos vão se repetir e horizontais um estudo sobre a realidade portuguesa.
levando em conta horários específicos que aten- Coimbra: Minerva, 2001.
dam momentos da vida familiar. Há uma rela- REIMAO, Sandra. Em instantes: notas sobre a
ção direta entre o tempo televisivo e o tempo programação na TV brasileira (1965-1995).
social. Para o telespectador a grade de progra- São Paulo: Faculdades Salesianas, 1997.
mas representa uma garantia de continuidade e
de diversidade. Assim a audiência se consolida
em resposta à oferta de programas. Programas de Auditório
A televisão comercial baseia-se na homo- Na noite do dia 12 de setembro de 1936, o lo-
geneidade do grande público, visando obter cutor Celso Guimarães fez uma abertura sole-
o máximo de audiência ao longo do dia e em ne pelo microfone da emissora e, em seguida,
cada momento atingindo públicos específicos a Orquestra do Teatro Municipal tocou o Hino
como crianças, adolescentes, donas de casa en- Nacional Brasileiro. Entrava no ar a Rádio Na-
tre outros. No que diz respeito aos sistemas cional do Rio de Janeiro, prefixo PRE-8, per-
público e privado de televisão, ao primeiro in- tencente ao grupo do jornal A Noite. Grande
teressa atingir ao maior número de telespec- número de autoridades esteve presente à so-
tadores apenas no sentido de prestar serviço lenidade daquela noite de sábado, entre elas o
através dos diversos gêneros de programas. Ministro da Educação Gustavo Capanema e o
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perguntas clássicas: “o quê?, por quê?, para quê quado ao objeto delimitado. Os procedimentos
e para quem?, onde?, como? com quê?, quanto precisam ser descritos no que se refere à área
e quando?, quem?, com quanto? Traduzindo: o de execução da pesquisa, à população/universo
que será pesquisado? Por que a pesquisa é ne- e amostra ou corpus, à seleção das fontes, aos
cessária? Como será pesquisado? Que recursos instrumentos para a coleta de dados. Os aspec-
humanos, intelectuais, bibliográficos, técnicos, tos metodológicos estão relacionados à funda-
instrumentais e financeiros serão mobilizados? mentação teórica, que já teve início com o le-
Em que período?” (SANTAELLA, 2001, p. 152) vantamento de informações e agora embasa o
As questões referidas auxiliam na sistematiza- problema de pesquisa de forma crítica.
ção dos tópicos necessários como: escolha do O referencial teórico é uma escolha do pes-
tema, delimitação do objeto de estudo, levanta- quisador que garante um aprofundamento do
mento de informações sobre o tema, exposição estudo e um avanço do conhecimento como re-
da justificativa, formulação do problema, espe- sultado de uma avaliação dos pressupostos ado-
cificação de objetivos, construção de hipóteses, tados, que são “diretrizes para os caminhos da
seleção de procedimentos metodológicos. reflexão e não meramente como fórmulas rígi-
Os tópicos podem ser elaborados na or- das a serem obedientemente aplicadas” (SAN-
dem apresentada ou com alguma alteração, de TAELLA, 2001, p. 184).
acordo com a fundamentação teórico-metodo- Um projeto de pesquisa ainda possui um
lógica. O assunto selecionado para a pesquisa cronograma que dispõe o tempo de execução
está relacionado ao interesse do pesquisador de cada etapa, envolvendo os recursos necessá-
por determinada área. Para a escolha do tema rios ao desenvolvimento da investigação. Várias
e a delimitação do objeto de estudo é conside- obras tratam do assunto ‘Projeto de Pesquisa’,
rada a trajetória acadêmica do pesquisador e cada uma abordando as etapas conforme os re-
uma revisão da literatura disponível vinculada ferenciais de seus autores. (Cláudia Peixoto de
ao tema selecionado. Os estudos preliminares Moura)
igualmente são adotados para a exposição da
justificativa da pesquisa, indicando os motivos Referência:
à sua realização e a relevância da investigação SANTAELLA, Lucia. Comunicação e Pesquisa:
à área. A formulação do problema, que é uma projetos para mestrado e doutorado. São
indagação centrada em uma dificuldade a ser Paulo: Hacker Editores, 2001.
discutida ou uma curiosidade científica do pes-
quisador, está vinculada aos objetivos a serem
atingidos, às metas da pesquisa. A construção Projeto Experimental de
de hipóteses, com base em estudos prelimina- Comunicação
res, orienta a busca de informações por meio O projeto experimental de comunicação se ca-
de uma proposição, uma resposta antecipada e racteriza por ser uma atividade, ou conjunto de
provisória para o problema a ser investigado. atividades relacionadas aos conteúdos do curso
Para a seleção de procedimentos metodo- e à natureza da respectiva habilitação, adapta-
lógicos, é necessário considerar como a pesqui- das às condições do mercado de trabalho, com
sa será realizada, que tipo de estudo é mais ade- flexibilidade quanto ao tema, à metodologia
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usada para a sua execução, entre outros. Em Educação, posto que é um dos requisitos ava-
alguns cursos, o Projeto Experimental é sinô- liados no curso (GONÇALVES; AZEVEDO,
nimo, está vinculado ou é preparatório para o 2005). (Elizete de Azevedo Kreutz)
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC.
Normatizados pelo Projeto Pedagógico do Referências:
Curso, que normalmente reserva os últimos se- DIRETRIZES Curriculares. A Área de Comuni-
mestres para sua execução, o Projeto Experi- cação Social e suas Habilitações - CNE/CES
mental é desenvolvido pelo aluno, ou por gru- 492/2001. Disponível em: <http://portal.
pos de alunos, sob a orientação de um professor mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES162002.
e tem como objetivos: pdf>. Acesso em 25/02/2009.
– realizar atividades da prática profissio- GONÇALVES, Elizabeth M.; AZEVEDO,
nal de forma intensiva, fundamentadas nos co- Adriana B. O ensino de comunicação: o
nhecimentos teóricos e técnicos apreendidos desafio de vencer a lacuna entre o discurso
nas fases anteriores do curso, considerando as e a prática. In: Comunicação & Sociedade –
questões éticas e os valores sociais; Discurso e Prática no Ensino da comunica-
– capacitar o aluno para o planejamento, ção. Ano 27, n.34. São Bernardo do Campo:
execução e avaliação crítica de atividades pro- Umesp, [s/d].
fissionais; PARECERES. Comunicação Social. Disponível
– desenvolver no aluno o espírito de coo- em <http://portal.mec.gov.br/cne/index.
peração no trabalho em equipe. php?option=com_content&task=view&id
Como atividade integrante na formação do =561&Itemid=566> Acesso em 25/02/2009.
egresso do curso, a mesma deve ser avaliada.
A metodologia e os instrumentos de avaliação
são determinados por regulamento próprio e/ Promoção da saúde
ou pelo Projeto Pedagógico, sempre observan- A promoção da saúde, como vem sendo enten-
do as Diretrizes Curriculares Nacionais. Entre- dida, nos últimos 20-25 anos, representa uma
tanto, alguns aspectos devem ser considerados, estratégia promissora para enfrentar os múlti-
como a adequação do projeto às finalidades do plos problemas de saúde que afetam as popu-
curso, suas qualidades, sua originalidade e sua lações humanas e seus entornos neste final de
contribuição para o conhecimento na área, no século. Partindo de uma concepção ampla do
contexto sócio-histórico e na formação integral processo saúde-doença e de seus determinan-
do aluno. tes, propõe a articulação de saberes técnicos e
Apesar das diferentes formas de apresen- populares, e a mobilização de recursos insti-
tação existentes, devido às particularidades de tucionais e comunitários, públicos e privados,
cada curso e do ambiente em que o mesmo está para seu enfrentamento e resolução.
inserido, os projetos experimentais de comuni- A promoção da saúde vem sendo inter-
cação, quando executados como projetos in- pretada, de um lado, como reação à acentuada
terdisciplinares e integradores, trazem benefí- medicalização da vida social e, de outro, como
cios na formação profissional do educando. Sua uma resposta setorial articuladora de diversos
importância é reconhecida pelo Ministério da recursos técnicos e posições ideológicas. Em-
969
enciclopédia intercom de comunicação
bora o termo tenha sido usado a princípio para medidas preventivas, dependendo do grau de
caracterizar um nível de atenção da medicina conhecimento da história natural de cada do-
preventiva, seu significado foi mudando, pas- ença. (Arquimedes Pessoni)
sando a representar, mais recentemente, um
enfoque político e técnico em torno do proces- Referência:
so saúde-doença-cuidado. BUSS, Paulo Marchiori. Promoção da saú-
O conceito moderno de promoção da saúde de e qualidade de vida. Ciênc. saúde co-
(e a prática consequente) surgiu e se desenvol- letiva. v. 5, n. 1. Rio de Janeiro, 2000.
veu, de forma mais vigorosa nos últimos vinte Disponível em: <http://www.scielo.br/
anos, nos países em desenvolvimento, parti- scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
cularmente no Canadá, Estados Unidos e paí- 81232000000100014&lng=en&nrm=iso>.
ses da Europa Ocidental. Quatro importantes Acesso em 19/02/2009.
Conferências Internacionais sobre Promoção
da Saúde, realizadas nos últimos 12 anos - em
Ottawa (WHO, 1986), Adelaide (WHO, 1988), Promoção de Vendas
Sundsvall (WHO, 1991) e Jacarta (WHO, 1997) A terminologia promoção e/ou a expressão
-, desenvolveram as bases conceituais e políti- promoção de vendas possuem diferentes defi-
cas da promoção da saúde. Na América Lati- nições, dependendo do ponto de vista de cada
na, em 1992, realizou-se a Conferência Inter- autor. Portanto, cabe resgatar o termo a partir
nacional de Promoção da Saúde (OPAS, 1992), de suas definições disponíveis nos dicionários
trazendo formalmente o tema para o contexto brasileiros, observando os sentidos construí-
sub-regional. dos pelo seu uso através do tempo, com o ob-
Sigerist foi um dos primeiros autores a re- jetivo de obtermos uma noção atualizada das
ferir o termo, quando definiu as quatro tarefas mesmas.
essenciais da medicina: a promoção da saúde, a De forma geral, nos dicionários “promo-
prevenção das doenças, a recuperação dos en- ção” significa ato ou efeito de promover, dar
fermos e a reabilitação, e afirmou que a saúde impulso, favorecer o processo de, fomentar,
se promove proporcionando condições de vida propor, elevar-se a, campanha de propaganda,
decentes, boas condições de trabalho, educa- impulso publicitário: promoção de venda.
ção, cultura física e formas de lazer e descanso, Segundo Ferracciù (2002), a palavra “pro-
para o que pediu o esforço coordenado de po- moção”, no Brasil, era mais abrangente e esta-
líticos, setores sindicais e empresariais, educa- va vinculada ao composto mercadológico ou
dores e médicos. A estes, como especialistas em de marketing, às atividades de publicidade e de
saúde, caberia definir normas e fixar padrões. relações públicas, entre outras, incluindo nesta
Leavell & Clark utilizam o conceito de pro- lista a “promoção de vendas”. Com a evolução e
moção da saúde ao desenvolverem o modelo sofisticação do mercado, bem como com o sur-
da história natural da doença, que comportaria gimento de novas disciplinas, atualmente a pa-
três níveis de prevenção. Dentro dessas três fa- lavra “promoção” e a expressão “promoção de
ses de prevenção existiriam pelo menos cinco vendas” são similares. Entretanto, o sentido da
níveis distintos, nos quais poder-se-iam aplicar expressão está explícito: técnica de promover
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vendas; é preparar o caminho para que as ven- publicitário, realizada pela TNS InterScience e
das em grande escala aconteçam. Isto exige mul- publicada no Jornal Meio & Mensagem (2005),
ti-esforços e atividades coordenadas, fazendo a promoção de vendas tem sido uma das ferra-
uso de variadas técnicas, meios, recursos e ins- mentas mais usadas pelos cem maiores anun-
trumentos próprios ou apropriados, dependen- ciantes do Brasil, o que atesta sua importância
do do contexto sócio-histórico, bem como dos (KREUTZ, 2008).
objetivos comunicacionais e mercadológicos. Todavia, uma grande ideia não basta para
Zenone (2006, p. 2) considera a promo- que esse tipo de ação transforme-se em suces-
ção de vendas uma ferramenta da comunica- so. É preciso que ela esteja alinhada à visão es-
ção, e a define como uma “‘pressão’ do marke- tratégica da organização e seja cuidadosamen-
ting exercido pela mídia ou não-mídia, durante te planejada em suas diversas etapas: análise da
um período predeterminado e limitado ao ní- situação do mercado; identificação de proble-
vel do consumidor, varejista ou atacadista, para mas e oportunidades; definição dos objetivos
estimular a experiência, aumentar a demanda da promoção; definição das estratégias; deter-
de consumo ou melhorar a disponibilidade do minação da verba promocional. O controle, a
produto”. Para o autor, a promoção de venda se avaliação e a adaptação devem permear todas
diferencia da propaganda, especialmente pelo as etapas. (Elizete de Azevedo Kreutz)
foco e retorno, mas que ambos necessitam ser
usados em conjunto para que a estratégia co- Referências:
municacional da organização seja efetiva. FERRACCIÙ, João de Simoni Soderini. Promo-
Além de possibilitar retorno mais rápido, ção de Vendas. São Paulo: Pearson Educa-
enfatiza o autor, a interatividade com o consu- tion do Brasil, 2002.
midor e o dinamismo são diferenciais importan- KREUTZ, Elizete de Azevedo. Gerenciamento
tes da promoção de vendas que permitem ob- dos Processos de Comunicação. In: INTER-
servar a reação do público-alvo e, se necessário, COM 2008 - Congresso Brasileiro de Ciên-
modificar/adaptar a estratégia promocional. cias da Comunicação 31. Natal, 2008. Anais.
Embora a expressão carregue seu sentido São Paulo: Intercom, 2008. CD-ROM.
explícito, a promoção de venda não pode ser O’GUINN, Thomas C.; ALLEN, Chris T.; SE-
vista apenas como um último recurso empre- MENIK, Richard J. Propaganda e promo-
gado em caso de emergência, mas deve ser usa- ção integrada da marca. São Paulo: Cenga-
da como uma estratégia tanto para aumentar a ge Learning, 2008.
venda de produtos e serviços, quanto para con- ZENONE, Luiz Cláudio. Marketing da promo-
solidar a marca, promovê-la, e incentivar o re- ção e merchandising: conceitos e estraté-
lacionamento, promoção institucional. gias para ações bem-sucedidas. São Paulo:
Nesse sentido, a promoção tem se carac- Thomson Learning, 2006.
terizado uma forma mercadológica eficaz da
“nova publicidade”, pois muitos consumido-
res não têm respondido positivamente às for- PROMOÇÃO DE VENDAS (ESTRATÉGIAS DE)
mas tradicionais de campanhas publicitárias e, Entre as estratégias disponíveis, para uma em-
segundo pesquisa das tendências do mercado presa implementar ações para o aumento de
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seu faturamento está a promoção de vendas. a ação promocional precisa ter um tempo de-
Esta não é somente trabalhar a questão do pre- terminado com começo, meio e fim.
ço, em forma de liquidação, saldos, queima de Toda estratégia de marketing deve iniciar-se
estoque, entre outras táticas, como é confundi- com um sistema de informações, que na peque-
da no mercado. Também não pode e não deve na empresa é seu banco de dados. Para a promo-
ser tratada como um ‘remédio’, ao qual se lança ção de vendas não é diferente. A empresa deve
mão na hora de um aperto de caixa. possuir um cadastro de clientes bem organiza-
Deve ser definida de forma estratégica e do. É recomendável fazer uma análise do per-
integrada com outras mídias. A promoção de fil dos clientes cadastrados, para implementar
vendas utiliza ações desenvolvidas no ponto- ações promocionais que atendam as necessida-
de-venda, levando em consideração a comu- des e perfis dos consumidores, sendo estimulan-
nicação, ou disposição de layout de uma loja. te e desejada para eles. Estas informações serão a
Portanto, o merchandising completa a ação da base para implementação de ações relevantes ao
promoção de vendas e vice-versa, sendo que, público da empresa, que podem e devem envol-
muitas vezes, quase se confundem. ver seus fornecedores em uma parceria.
As estratégias de promoção de vendas de- A verba destinada para uma ação de pro-
vem sempre fazer parte de um plano de ação moção de vendas pode limitar suas caracterís-
de marketing, com um calendário de datas pro- ticas, suas ações e até mesmo a cobertura geo-
mocionais previamente montado, contemplan- gráfica, mas a recomendação é, antes de tudo,
do ações periódicas - quinzenais ou mensais -, definir qual será o objetivo da promoção. A
de forma que se possa comunicar por comple- empresa poderá ter como objetivos: aumentar
to, a imagem da empresa, o produto em oferta e volume de vendas, incrementar seu faturamen-
o respectivo preço. to, ampliar o “market share”, potencializar o co-
É necessário também, integrar ferramen- nhecimento da marca, desovar estoques, agre-
tas de apoio, utilizando o espaço do ponto-de- gar valor ao negócio, bloquear a concorrência,
venda, tais como: expositores, displays, banners, entre outros objetivos.
cartazes, bandeirolas, stoppers (peça publicitá- A ação promocional mais indicada é a que
ria que se sobressai perpendicularmente à pra- trará os resultados estabelecidos, sempre obe-
teleira ou gôndola), enfim todo um arsenal de decendo ao perfil de seus clientes. É importante
atração e conquista do cliente. citar que a promoção de vendas sozinha não é
É, portanto, um conjunto de atividades capaz de trazer benefícios como: criar fidelida-
criativas, capazes de despertar a atenção para a de à marca ou à empresa, substituir a divulga-
compra, venda e influência de produtos e servi- ção, resolver estrutura de vendas ineficientes,
ços, a fim de elevar suas vendas. É uma estraté- manter as vendas em alto volume, permanecer
gia de marketing destinada a estimular vendas. no ar por muito tempo. Ou ainda, substituir
Para o empresário, a promoção de vendas ineficiência de atendimento, conquistar e man-
deve atender um objetivo momentâneo de seu ter clientes, mudar a opinião do cliente em re-
negócio. Para os clientes, é uma oportunidade lação ao produto, marca ou empresa. A promo-
temporária para atender uma necessidade. Há ção de vendas deve ser planejada sempre em
que se ter como base uma referência. Portanto, conjunto com outras ações do marketing-mix.
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Os conceitos de “share”: share of market / gar, ou até mesmo esquecido. É preciso fazer de
share of mind / share of voice / top of mind (pro- sua marca, uma griffe na sua categoria de pro-
duto ou serviço número um em sua categoria, duto, para vender segurança de qualidade aos
na lembrança dos consumidores), bem como a consumidores. A ação promocional ‘adiciona’
promoção de vendas e o merchandising podem positivamente algo à marca, valorizando-a. O
colaborar na construção desses conceitos. Lem- excesso de uso das técnicas de promoção de
bremos também dos tipos de consumidores: li- vendas (principalmente de falsas e irreais ofer-
ght user, medium user e heavy user. E como es- tas) culmina por enfraquecer a imagem, inclu-
ses conceitos podem se associar aos conceitos sive de um bom produto, de marca forte. Por
de share. Pois, nem sempre um heavy user tem quê? Porque, quando não acontece a promoção,
o produto como top of mind. Há outras impli- o consumidor entende que está perdendo ou
cações nessas definições: deixando de ganhar algo que antes era ofereci-
1. Com relação a ofertas, descontos, redu- do e, ressentido, passa a resistir à nova compra.
ções de preços – Nenhuma promoção deve ser O caminho a ser trilhado deve ser sempre mais
mais forte do que o produto promovido. Ven- estratégico e menos tático.
demos produto e não promoção. Quando um Tática é o que se faz, em curtíssimo prazo,
produto é obrigado a fazer uso rotineiro e con- quase sempre emergencialmente, e estratégia é
tínuo de ofertas, como se fosse sinônimo de o que se pensa, em longo prazo, integradamen-
preço e descontos, ele assinala para o consu- te, sobre a marca e o produto, somente lançan-
midor que a marca não tem seu preço justo, ou do ações que revitalizem a percepção positiva
não vale seu preço original. A marca não me- que o consumidor tem deles.
rece o preço que tem. Toda marca é, indubita- Assim, cada ação promocional acarreta em
velmente, o mais importante item decisório de um briefing diferenciado. É claro que existe o
compras, por ser a síntese que identifica e dis- briefing básico com as informações mais gene-
tingue os valores e atributos dos produtos. Essa ralizadas, mas não existe ou não deve existir o
afirmação é válida até para os produtos chama- briefing genérico de promoção de vendas, mas
dos ‘sem marca’, porque atrás deles está a marca vários tipos de briefings para cada tipo de ação
de quem os vende, inspirando ou não confian- promocional, pois cada uma delas deverá ser
ça no comprador. Quando se dá algo ao consu- planejada para ter um impacto diferente. (Scar-
midor, inadvertidamente, sempre se tira algo leth O’hara Arana)
da imagem do produto, esvaziando-o.
2. Com relação à fidelidade e traição – Sa- Referências:
be-se que o consumidor trai quando a promo- COBRA, Marcos; BREZZO, Roberto. O Novo
ção atrai, mas ele trai muito mais depois, não Marketing. Rio de Janeiro: Campus, 2009.
dando fidelidade de compra ao produto quan- COSTA, Antonio R.; CRESCITELLI, Edson.
do percebe que este é mais vendido pelas ofer- Marketing Promocional para Mercados
tas ou descontos que dá, do que pelos reais atri- Competitivos. São Paulo: Atlas, 2002.
butos e benefícios que possui. A qualidade do FERRACCIÚ, João de Simoni Soderini. Marke-
produto deve sempre ser lembrada em primei- ting Promocional. São Paulo: Prentice Hall
ro lugar e o preço considerado em segundo lu- Brasil, 2007.
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RIBEIRO, Aurea; COBRA, Marcos. Marketing, da empresa com políticas e normas, de cons-
Magia e Sedução. São Paulo: Cobra Edito- truir opinião favorável sobre a empresa. Esse
ra, 2000. tipo de campanha de propaganda institucional
caracteriza-se por conceituar a empresa, fixar
sua imagem, informar seu segmento de atua-
Propaganda Institucional ção, objetivando o estabelecimento e reconhe-
A propaganda institucional “é uma área onde cimento de sua marca (LUPETTI, 2007).
as atividades de relações públicas e propagan- A propaganda institucional não pode ter a
da interagem. A propaganda institucional tem abrangência universal que é própria da propa-
por propósito preencher as necessidades legí- ganda de marketing, ela é mais seletiva e dirige-
timas da empresa, aquelas diferentes de vender se, de preferência, às pessoas com preocupações
um produto ou um serviço”, (PINHO, 1990, p. e expectativas que vão além do plano imedia-
23). A propaganda institucional tem como uma to. Quanto ao conteúdo ela é mais informativa
de suas características fortalecer e agregar va- (GRACIOSO, 2006). A principal diferença en-
lor e alma à marca da empresa, promovendo a tre a propaganda institucional e a de marketing
aceitação da empresa como instituição pública. é que a primeira se preocupa mais com ideias e
Ela pode divulgar a responsabilidade social da conceitos intangíveis, isto é, subjetivos.
empresa focada no bem-estar da comunidade Enquanto que a propaganda de marketing
e nos serviços prestados aos consumidores e, se concentra em promessas concretas e imedia-
ainda, demonstrar se foi produzida seguindo os tas de produtos e serviços.
princípios éticos publicitários. A propaganda institucional não tem caráter
As propagandas institucionais, enquan- somente interno, embora para fazer uma boa
to consolidação e fortalecimento de conceito propaganda institucional externa seja necessário
e reputação, devem estar alinhadas com os va- um bom trabalho de comunicação institucional
lores sociais e éticos das organizações e ter es- interno. É de suma importância para as institui-
ses valores incorporados. Sendo uma estratégia ções públicas e privadas, assim como para as em-
elaborada de forma responsável, a propaganda presas, pois por meio é possível mostrar clara-
institucional é utilizada pelos profissionais de mente seu papel real perante a sociedade na qual
relações públicas para promover e divulgar os atuam. A propaganda institucional pode ser evi-
valores empresariais e o compromisso organi- denciada por meio dos atributos e informações
zacional perante seus diferentes públicos. utilizadas nela, pois esses atributos conseguem
Também é entendida como um anúncio agregar mais valor a instituição ao serem foca-
pago com intenção de atingir a opinião pública, dos num determinado fator positivo e transmiti-
formar uma reputação e de provocar uma ati- dos pela propaganda institucional (GRACIOSO,
tude favorável à empresa, sem que para isso se 2006; PINHO, 1990). (Maria Aparecida Ferrari)
apresente um produto ou serviço. É considera-
da por alguns autores como propaganda de re- Referências:
lações públicas porque está na área de intersec- GRACIOSO, F. Propaganda Institucional: Nova
ção das duas atividades, propaganda e relações Arma Estratégica da Empresa. São Paulo:
públicas. Tem o objetivo de legitimar as ações Atlas, 2006.
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WOLTON, D. Il faut sauver la communication. era essencialmente um ato”, que defendia que
Paris: Flammarion, 2005. a autoria nem sempre é necessária a todos os
discursos. Uma outra crítica, mais contempo-
rânea, aponta que a propriedade intelectual é
PROPRIEDADE INTELECTUAL fundamentada principalmente pelo direito da
Assinado, em 26 de abril de 1967, o Tratado da cópia – do inglês copyright (LESSIG, 2005), po-
Convenção para o Estabelecimento da Orga- rém, para que determinada obra exista em um
nização Mundial da Propriedade Intelectual ambiente como a internet, ela precisa ser auto-
(OMPI) define a propriedade intelectual como maticamente copiada do servidor que a hos-
a soma dos direitos relativos às obras literárias, peda até o terminal do usuário, gerando assim
artísticas e científicas, assim como as interpre- uma severa restrição ao acesso a informação.
tações dos artistas intérpretes e as execuções (Bruno Pedrosa Nogueira)
dos artistas executantes. Campo que compre-
ende “as invenções em todos os domínios da Referências:
atividade humana”. FOUCAULT, M. O que é um autor? 2. ed. Por-
Em termos legais – previsto nas leis brasi- tugal: Vega/Passagens, 1992.
leiras de Marcas e Patentes (9.279/96), Cultiva- JEFFERSON, T. The writings of Thomas Jeffer-
res (9.456/97), Software (9.609/98) e Direitos son. Washington: Thomas Jefferson Memo-
Autorais (9.610/98) – é uma proteção cedida rial Association, 1905. Volume 13.
pelo Estado na chancela de monopólio sobre a LESSIG, L. Cultura livre: como a grande mídia
obra em questão. usa a tecnologia e a lei para bloquear a cul-
O conceito original vem do século XVII, tura e controlar a criatividade. São Paulo:
defendido por nomes como Thomas Jefferson, Trama Universitário, 2005.
que dizia que as ideias, por serem assimiladas
por todos que as recebem, devem ser prote-
gidas para que os criadores não fiquei deses- Propriedade Intelectual e Contexto
timulados em criá-las e expressá-las. Foi um JURÍDICO
modo de sistematizar legalmente uma forma Para que se possa discutir a propriedade inte-
de recompensa para todas as vezes que alguém lectual e quais os seus efeitos no ordenamento
usasse uma ideia criada por outra pessoa. Ao jurídico brasileiro, é preciso entender o sentido
ser transformado em lei, a noção de proprie- do termo propriedade e contextualizá-lo, prin-
dade passou a se distanciar da noção de cria- cipalmente porque os termos significam con-
ção. Já que o criador pode licenciar seu direito ceitos (frutos de apreensão), que por sua vez,
para editoras ou órgãos que detenham formas guardam relação com a realidade significada
de propagar a obra, que passa a pertencer a um (PENTEADO, 2008).
terceiro agente. Sabendo-se que a palavra “propriedade” é,
Entre as críticas comuns a essa distinção portanto, um símbolo convencional, com signi-
entre propriedade e criação intelectual, está a ficado arbitrário, procura-se traçar os limites de
afirmação de Foucault (1992, p. 160) que “o dis- compreensão da sua estrutura conceitual, rela-
curso não era um produto, uma coisa, um bem; cionando-a com o fenômeno jurídico previsto
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partida do número de inserções a serem exibi- é o poder público – o atributo de ser público,
das, com as empresas: Antarctica, Sulamérica, neste caso, deve-se à tarefa de promover o bem
Moinho Santista e Grupo Pignatari, segundo público, o bem comum a todos os cidadãos. O
narra Fernando Morais no seu livro “Chatô. O termo público também designa uma clientela
Rei do Brasill”. Após a inauguração da TV (18 comercial ou aquilo que pertence ao povo.
de setembro de 1950) o modelo comercial prio- Em comunicação, o sentido mais corrente
ritário adotado foi o do merchandising, atra- do termo indica pessoas ou grupos organizados
vés de cartelas produzidas em diapositivo de de pessoas, sem dependência de contatos físi-
35mm, ou, fotocopia em papel na dimensão 8,2 cos, encarando uma controvérsia, com ideias
x 10,2cm, exibidas no início da programação, divididas quanto à solução ou medidas a serem
ou, ainda, mediante a incorporação da marca tomadas frente a ela; com oportunidade para
no próprio cenário. Exemplos clássicos des- discuti-la, acompanhando e participando do
ta modalidade: Telejornal Bendix, Telenotícias debate por meio dos veículos de comunicação
Panair e Repórter Esso. ou da interação pessoal (MELLO, 2003).
Os comerciais, então sem limitação ou pa- De acordo com Gabriel Tarde (1992), o pú-
drão de tempo de exibição, eram exibidos ao blico é uma multidão dispersa, em que a influ-
vivo, com apresentação de garotas-propaganda ência de uns sobre os outros tornou-se uma
que interpretavam um roteiro previamente de- ação a distância, a distâncias cada vez maiores.
senvolvido pelas agências de publicidade. Nes- Trata-se, conforme este autor, de uma coleti-
ses primórdios da TV prevalecia o comercial vidade puramente espiritual, como uma disse-
produzido com técnicas de desenho animado, minação de indivíduos fisicamente separados e
quadro a quadro, criados por desenhistas. A cuja coesão é inteiramente mental. Logo, pode-
partir da década de 1960 surge o vídeotape, al- se fazer parte de diversos públicos ao mesmo
ternativa para os comerciais em película, técni- tempo.
ca de gravação com fita magnética que encurta Mas, ao tazermos o conceito para o cotidia-
o tempo de produção dos comerciais e diminui no, podemos pensar nossa própria inserção em
o seu custo. (Nelson Varón Cadena) públicos diferentes: como leitores de determi-
nado jornal ou site na internet, consumidores
de um gênero musical ou da obra de um artista
Público etc. Na obra A opinião e as massas, publicada
A expressão público encerra uma série de signi- pela primeira vez, em 1901, o autor caracteri-
ficados. Como sublinha Habermas (2003), cha- za seu tempo como a era dos públicos. No caso
mamos de públicos certos eventos quando eles de Tarde, o público nasce e se organiza graças à
são acessíveis a qualquer um – assim como fala- ação da imprensa, observação que hoje poderia
mos de locais públicos ou casas públicas. Falar ser estendida à mídia em geral.
de prédios públicos, por outro lado, não signifi- Conforme Mello (2003), o público pode
ca que todos tenham acesso a eles – eles podem oscilar entre a totalidade da população de um
ser inclusive fechados à frequentação pública país, por exemplo, a um pequeno grupo de pes-
-; trata-se de lugares que abrigam instituições soas. Para as relações públicas, o vocábulo pú-
do Estado e, como tais, são públicos. O Estado blico adquire um significado especial, pois se
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uma nova visão estratégica – Business rela- Assim, motivar a constante demanda de
tionship. 2. ed. São Caetano do Sul: Yendis energia necessária para que organizações e pú-
Editora, 2008. blicos possam, constantemente, ter seus interes-
FRANÇA, F. A releitura dos conceitos de públi- ses concretizados implica pensar e administrar
co pela conceituação lógica. In: KUNSCH, a comunicação organizacional, funções estas
M. M. K. Relações Públicas: história, teorias que se consolidam na gestão comunicacional.
e estratégias nas organizações contemporâ- A gestão comunicacional constitui-se em
neas. São Paulo: Saraiva, 2009. uma série de políticas de comunicação, estas
que compreendem estratégias e ações planeja-
das e integradas direcionadas aos públicos de
PÚBLICOS ESTRATÉGICOS NA GESTÃO uma organização (SCROFERNEKER, 2009).
COMUNICACIONAL Esse gerenciamento da comunicação ori-
Consideram-se públicos estratégicos as pessoas gina-se, essencialmente, em um projeto global
ou grupos de pessoas ligados a uma organiza- ligado ao planejamento estratégico, estando
ção em razão de interesses mútuos. Têm como associado à missão, valores, visão e objetivos
característica principal a possibilidade de cau- da organização. Tal processo de gestão, em
sarem impacto real ou potencial sobre as con- que pese a complexidade que lhe é peculiar,
dições de uma organização para que esta atinja constitui-se no planejamento da comunicação,
seus objetivos. Atualmente, são também iden- resultando em planos, projetos e programas
tificados pelo neologismo ‘stakeholders’, deno- de ação que visam efetivar alianças entre par-
tando pessoas ou grupos que podem afetar ou ceiros (organizações e públicos estratégicos)
serem afetados pelas decisões de uma organiza- para a obtenção da cooperação mútua como
ção (FRANÇA, 2004). forma de alcançar um conjunto de objetivos
É fundamental perceber que o reconheci- comuns e compartilhados. (Ana Maria Walker
mento desses públicos origina-se no posicio- Roig Steffen)
namento da organização perante a sociedade,
a qual, com base na sua razão de existência, Referências:
com eles constrói vínculos, estabelecendo e FRANÇA, Fábio. Públicos: como identificá-los
alimentando canais de comunicação, de for- em uma nova visão estratégica. São Caeta-
ma a estabelecer e manter a confiança mútua no do Sul: Yendis Editora, 2004.
para construir credibilidade e valorizar a sua KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Rela-
dimensão social (KUNSCH, 2009). A manu- ções públicas na gestão estratégica da co-
tenção desse relacionamento, portanto, está municação integrada nas organizações. In:
diretamente ligada à forma como as ações (Org.). Relações públicas: história,
comunicacionais são concebidas e implanta- teorias e estratégias nas organizações con-
das, de maneira a gerenciar essa relação, que temporâneas. São Paulo: Saraiva, 2009.
é baseada em interesses mútuos e regida pela SCROFERNEKER, Cleusa Maria Andrade.
legitimação do processo de tomada de deci- Processos comunicacionais na implanta-
são organizacional pelos públicos estratégicos ção dos programas de qualidade e de cer-
(STEFFEN, 2008). tificações. In: KUNSCH, Margarida Maria
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tica com os sistemas de comunicação adotados efeito dos meios junto às audiências, buscava-
em diversos países, das perigosas sobreposições se compreender de que forma esses indivídu-
entre público e privado em discursos políticos os reagiam às mensagens difundidas massiva-
e, simultaneamente, das benéficas sobreposi- mente. De lá para cá, a compreensão do sentido
ções geradas por alguns conflitos sociais. Tais de público receptor no processo comunicativo
conceitos abrem, em suma, um amplo e diver- sofreu inúmeras mudanças e reestruturações.
sificado campo investigativo. (Ricardo Fabrino Como aponta Martin-Barbero o receptor dei-
Mendonça) xou de ser entendido como “tábua-rasa” ou “re-
cipiente vazio para depositar os conhecimentos
Referências: originados ou produzidos em outro lugar, para
ARENDT, Hannah. A condição Humana. 10. ser também ele um “produtor de sentidos” (in:
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. SOUSA, 1995, p.41) Ou como afirma Jacks e Es-
HABERMAS, Jürgen. Mudança Estrutural da costeguy (2005) o termo recepção ganhou plas-
Esfera Pública. Rio de Janeiro: Tempo Bra- ticidade e “dependendo da concepção teórica,
sileiro, 1984. pode identificar o processo de relação com os
HABERMAS, J. The Theory of Communicative meios, o polo oposto ao da emissão, os recepto-
Action. Boston: Beacon Press, 1987. Vol- res, o momento de interação e até mesmo todos
ume 2: Lifeworld and system – a critique of esses aspectos, que estariam simultaneamen-
functionalist reason. te reunidos naquela mesma expressão”. A evo-
HABERMAS, J. Direito e Democracia: entre a lução dos estudos de Teoria da Comunicação
facticidade e a validade. Rio de Janeiro: aponta que o receptor deixou de ser um “mo-
Tempo Brasileiro, 1997. lusco cultural” e passou a ser considerado um
sujeito ativo no processo de comunicação.
Mas, essa condição de sujeito ativo é se-
Público Receptor gundo Martin-Barbero determinada, pelas suas
Uma primeira definição do termo público re- condições objetivas e subjetivas, que funcio-
ceptor é a de conjunto de pessoas que rece- nam como “mediações” na produção do sen-
be uma determinada mensagem. Público dá a tido final da mensagem. Essa nova concepção
ideia de coletivo de receptores, enquanto recep- teórica do receptor fundamenta uma das mais
tor, representa o indivíduo que faz parte dessa atuais correntes da teoria da comunicação, de-
coletividade e que compõe um dos elementos nominada “Estudos de Recepção”, que ganha
do processo de comunicação, formado também impulso em todo o mundo e, principalmente,
pelo emissor e pela mensagem. Quando se re- na América Latina, a partir dos anos de 1980.
fere a conjunto de pessoas que ouvem ou as- (Rosa Maria Dalla Costa)
sistem um programa de rádio ou de televisão,
pode também ser sinônimo de audiência. Referências:
O público receptor sempre foi um dos ESCOSTEGUY, Ana Carolina; JACKS, Nilda.
principais objetos de estudo das teorias da Comunicação e Recepção. São Paulo: Ha-
Comunicação. Desde meados do século XX, cker Editores, 2005.
quando surgem as primeiras pesquisas sobre o HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque.
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Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 1. quem tem autoridade de fazer uso da palavra
ed. 15. impr. São Paulo: Nova Fronteira, em conferências, ou reuniões de representan-
1975. tes ou delegados de interesse comuns. Igual-
MARTÍN-BARBERO, Jésus. América Latina e mente em congressos, simpósios, seminários,
os anos recentes: o estudo da recepção em reuniões.
comunicação social. In: SOUSA, Mauro Destaca-se, ainda, por “hospedar” aquele(a)
Wilton de (Org). Sujeito, o lado oculto do que se dirige a um grande público e por distin-
receptor. São Paulo: Editora Brasiliense, guir-se como instrumento de visibilidade, no-
1995. toriedade e audição do emissor. Daí as expres-
MORLEY, David. La réception dês travaux sões “subir ao púlpito”, “falar desde o púlpito”,
sur la réception. Retour sur “Le Puclic de “dirigir-se ao púlpito”.
Nationwide”. In: Hermès 11-12. Cognition, No ambiente e contexto litúrgico-religio-
Communication, Politique. Paris: Cen- so o púlpito passa a ser reconhecido como am-
tre National de la Recherche Scientifique, bão, a partir do séc. XIV, conforme dicionário
1993. Aurélio. Situa-se no conjunto da disposição do
RÜDGER, Francisco. Introdução à Teoria da edifício-igreja ou do lugar desde onde acontece
Comunicação. São Paulo: Edicon, 1998. uma reunião de caráter religioso ou litúrgico-
SANTAELLA, Lúcia. Comunicação e Pesquisa. celebrativo. Unido e relacionado ao único Al-
São Paulo: Hacker Editores, 2001. tar - unum altare – (cf. SC 41) e a Sede de quem
preside (SC 7), o Ambão é o “lugar de onde se
anuncia a ‘Palavra de Deus’ e se profere a ho-
PÚLPITO milia (SC 33). Adquire importância maior, pois
Do latim: pulpitum,i, traduz-se por estrado, dele os fiéis são nutridos com os textos sagra-
tablado, lugar elevado para o teatro ou para o dos e sua atualização pela homilia. Tanto no
discurso, do qual uma pessoa pode melhor co- uso civil quanto religioso é instrumento de co-
municar-se com a plateia. Sua construção e lo- municação direta e perceptível de alguém que
calização deve sempre favorecer a comunicação fala, por sua autoridade ou por outrem. Sua
com ouvintes, seja pela visibilidade, seja pela natureza integra o universo da comunicação.
audição, seja pelo que significa. Em toda circunstância de uso formal do púl-
No mundo civil o emprego do termo refe- pito, faz uso da palavra alguém que é convida-
re-se à estante (em lugar visível) de onde se pro- do, investido ou dotado por sua notoriedade e
fere, em voz alta e clara, lendo ou dizendo, um competência num auditório que o escuta com
discurso ou um ensinamento, e de onde se esta- atenção. Cada palavra dita vem carregada da
belece a relação com os ouvintes. Assim sendo, autoridade e do domínio do assunto de quem o
o púlpito é o lugar real e simbólico de quem faz faz, com lastro cultural e linguagem adequada.
uso da palavra, como expressão da sua oralida- Fazer o contrário é desmazelo. Em ambiente re-
de por uma ou mais pessoas. ligioso-celebrativo, aos ouvintes, denomina-se
Dos primórdios do gênero humano e suas “assembleia” e àquele que se comunica intera-
formas de estabelecer comunicação, ao tempo gindo ou não com esta, designa-se “homiliasta”.
da pós-modernidade, o púlpito é usado por (Enio José Rigo)
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Q, q
artistas brasileiros como Luiz Gê, Angeli, Laer- até 1950. Conhecido como A Gazetinha, divul-
te, Glauco etc. (SANTOS, 2007). (Waldomiro gou autores como Nino Borges, Zaé Jr., Amleto
Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos) Sammarco, Messias de Melo e Jayme Cortez.
Criado por Adolfo Aizen em 1934 o Su-
Referências: plemento Juvenil, inicialmente denominado
ROSENKRANZ, Patrick. Rebel visions: the un- Suplemento Infantil, introduziu o modelo dos
derground revolution (1963-1975). Seatle: suplementos norte-americanos no Brasil. Ini-
Fantragraphics Books, 2002. cialmente encartado ao jornal A Nação, do Rio
de Janeiro, logo se tornou independente. Publi-
cava as mais importantes séries de quadrinhos
Quadrinhos brasileiros norte-americanas da época (GONÇALO JÚ-
O italiano Angelo Agostini foi o precursor dos NIOR, 2004).
quadrinhos no Brasil. Sua obra mais importan- Em seu primeiro número, o Suplemento
te foi As Aventuras de Nhô Quim, ou Impressões trouxe a série Os exploradores da Atlântida ou
de uma Viagem à Corte, publicada no jornal As Aventuras de Roberto Sorocaba, de Montei-
Vida Fluminense desde 1869, considerada a pri- ro Filho, que seguia o modelo das norte-ameri-
meira história em quadrinhos brasileira. canas. Outros autores brasileiros do Suplemento
A revista O Tico-Tico foi a primeira a publi- foram Renato Silva, Carlos Arthur Thiré e Fer-
car regularmente quadrinhos no Brasil, circulan- nando Dias da Silva.
do de 1905 a 1962. Elaborada no estilo europeu, Em pouco tempo, outras publicações in-
trazia também contos, passatempos, poesias, fantis foram lançadas. A que mais se desta-
matérias sobre datas comemorativas etc. cou foi O Globo Juvenil, publicada pelo jornal
Chiquinho foi o mais famoso personagem O Globo. A concorrência ficou acirrada, dan-
da revista. Originalmente, criado, nos Estados do origem a mais publicações, como as revistas,
Unidos, nas histórias brasileiras ganhou o ga- Mirim Gibi e Gibi Mensal. Criada em 1939, a re-
roto afro-brasileiro Benjamin para companhei- vista Gibi tornou-se tão popular no Brasil que a
ro. Foi desenhado por Luís Gomes Loureiro, palavra hoje designa qualquer revista de histó-
Augusto Rocha, Alfredo Storni, Paulo Affonso, rias em quadrinhos.
Osvaldo Storni e Miguel Hochman. A partir de 1945 surgiram diversas edito-
A revista O Tico-Tico publicou vários per- ras de quadrinhos, estabelecidas principalmen-
sonagens de quadrinhos brasileiros, como Re- te em São Paulo e Rio de Janeiro. Entre elas,
co-Reco, Bolão e Azeitona, de Luis Sá; Bolinha podem ser destacadas a EBAL (Editora Brasil
e Bolonha, de Nino Borges; Zé Macaco e Faus- América Ltda.), a RGE (Rio Gráfica e Editora)
tina, de Alfredo Storni e Kaximbown e o Ba- e a O Cruzeiro, do Rio de Janeiro, bem como a
rão de Rapapé, de Max Yantok. Outros artistas editora Abril, de São Paulo.
da revista foram Fragusto, Cícero Valladares e As histórias em quadrinhos infantis apre-
Messias de Mello. Sua popularidade empanou o sentaram grande desenvolvimento no Brasil.
brilho das demais publicações de sua época. Muitos personagens relacionados com o mun-
Em São Paulo, o jornal A Gazeta lançou do do entretenimento foram criados por artis-
em 1929 um suplemento infantil, publicado tas brasileiros, como os palhaços Arrelia e Pi-
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quadrinhistas. (Waldomiro Vergueiro e Roberto nha grandes pretensões tanto em termos amo-
Elísio dos Santos) rosos como de fortuna econômica. Embora de-
butando de forma pouco expressiva, em pouco
Referências: tempo Wash Tubbs iria atrair o interesse dos
CIRNE, Moacy. História e crítica do quadrinho leitores, envolvendo-se com viagens ao torno
brasileiro. Rio de Janeiro: Europa/Funarte, do mundo, mulheres estonteantes e perigos de
1990. deixar os cabelos em pé.
Durante cinco anos, reinou absoluto como
protagonista, até o aparecimento do personagem
Quadrinhos de aventura que não apenas selou definitivamente o ingres-
Comenta-se que as histórias em quadrinhos de so da tira no campo das adventure strips como,
aventuras surgiram, em 1929, com a publicação também, o retirou da ribalta: Captain Easy (no
das façanhas de Tarzan, inicialmente desenha- Brasil, Capitão César), o modelo de muitos aven-
do por Harold Foster e depois por Burne Ho- tureiros que surgiriam nos quadrinhos.
garth, e das de Buck Rogers, de Phyl Nolan e Com a série Captain Easy, bem como com
Dick Calkins. Na realidade, esses autores trou- Tarzan e Buck Rogers, abriu-se o caminho para
xeram aos quadrinhos o desenho naturalista e uma modificação irreversível nas temáticas que
não o gênero da aventura em si. os leitores encontravam nas páginas de quadri-
Já há alguns anos, o espírito aventureiro ha- nhos. Rarearam as figuras caricaturescas e de
via invadido esse espaço narrativo. A diferença formas estereotipadas, passando a florescer per-
entre essas séries iniciais e as acima menciona- sonagens realistas, com proporções semelhan-
das é que, nas primeiras, a aventura surgia como tes às do ser humano. As piadas diárias deram
elemento complementar ao humor, seja na ela- lugar ao gancho, o momento de suspense do fi-
boração da trama. O realismo de alguns autores nal da tira ou página dominical, que garantirá
passava muitas vezes despercebido aos leitores. o retorno do leitor no dia seguinte, para desco-
Na literatura de massa, as tramas de aven- brir o que aconteceu com seu herói. O quadri-
tura dependem, sobretudo, de continuidade nho de aventuras mergulhou no inconsciente
narrativa. Esta continuidade apareceu timida- coletivo dos leitores e respondeu a seus anseios
mente nas histórias em quadrinhos de grandes mais recônditos.
mestres, como Winsor McCay (Little Nemo in Na esteira do ambiente exótico aberto por
Slumberland), George Herriman (Krazy Kat), Tarzan, vieram Terry e os Piratas (1933), de Mil-
Frank King (Gasoline Alley) e Harold Gray ton Caniff; Jim das Selvas (1934), de Alex Ray-
(Little Orphan Annie). No entanto, em todos mond e Príncipe Valente (1937), também de Hal
eles, a continuidade narrativa constituía mais Foster, entre dezenas de outros. Os quadrinhos
um elemento complementar do que propria- que se centravam na ficção científica represen-
mente o cerne da trama. Essa centralização só tariam outro filão quase inesgotável, com Flash
seria delineada no trabalho de Roy Crane em Gordon (1934), de Alex Raymond, Brick Bra-
Washington Tubbs II. dford (1934), de William Ritt e Clarence Gray,
Iniciada em 1924, a série de Crane focava e muitos outros. A Europa se destacou nessa
um jovem de limitados atributos físicos que ti- área, como uma insaciável cultora do gênero.
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da classe média urbana foi o mote dos quadri- bin, Mulher Maravilha, Flash, Lanterna Verde,
nhos feitos por Angeli, Laerte, Glauco e outros Tocha Humana, Namor, Capitão América etc.).
quadrinistas. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Durante a II Guerra Mundial, esses perso-
Elísio dos Santos) nagens foram usados para divulgar a visão dos
aliados, mas, findo o conflito, as vendas de suas
Referências: revistas diminuíram. No final dos anos 1950,
MORIN, Violette. A historieta cômica. In: contudo, o editor da National Periodical (hoje
BARTHES, Roland et al. Análise estrutural DC Comics), Julius Schwartz, retomou e atuali-
da narrativa. Petrópolis: Vozes, 2008. zou os principais heróis da década anterior e os
reuniu na Liga da Justiça.
Alguns anos depois, o roteirista e editor
Quadrinhos de Super-heróis Stan Lee lançou pela Marvel Comics o Quar-
Personagens que possuem qualidades diferen- teto Fantástico, deu início às histórias com
ciais – coragem, força, inteligência – existem heróis com problemas existenciais (Homem-
desde os primeiros relatos contados pelos ho- Aranha, Hulk, Demolidor, Surfista Prateado)
mens primitivos em torno da fogueira. Eles es- e resgatou outros do passado (Capitão Amé-
tão na base da mitologia e no início da literatu- rica, Namor). A partir da década de 1980, os
ra e do teatro: na Grécia antiga, os heróis (filhos super-heróis, refletindo a sociedade em que
de deuses e mortais) estão presentes em narra- são produzidos e lidos, tornaram-se violentos
tivas épicas e nas tragédias. Com a emergência e neuróticos. Artistas brasileiros também têm
da ‘Indústria Cultural’, no século XIX, o herói enveredado por este gênero típico da cultura
tornou-se protagonista dos folhetins, do cine- americana: aqui surgiram heróis como Ho-
ma e dos quadrinhos. Aventureiro destemido, mem-Lua, Raio Negro, Mylar, O Gralha, Solar,
ele viaja para lugares exóticos, como a África Velta, Judoka etc. (Waldomiro Vergueiro e Ro-
ou, até mesmo em outros planetas, e enfrenta berto Elísio dos Santos)
perigos e vilões.
O primeiro herói mascarado dos comics
norte-americanos foi o Fantasma, criado por Quadrinhos de Terror
Lee Falk e Ray Moore em 1936 para as tiras de Filmes de horror produzidos produzidos pela
quadrinhos. Mas, com o sucesso editorial dos Universal Pictures (Drácula, Frankenstein, A
comic-books, surgem os super-heróis, dotados Múmia etc.), nos anos 1930, tornaram-se su-
de poderes sobre-humanos (eles são invulne- cesso de bilheteria. Esse fato fez com que o gê-
ráveis, podem voar, atingem grande velocidade nero Terror chegasse, na década seguinte, aos
ou emitem raios pelos olhos). quadrinhos, primeiro pelas mãos do quadri-
A publicação das histórias de Super-Ho- nhista Dick Briefer, ilustrador de histórias com
mem (personagem concebido por Jerry Siegel e Frankenstein (algumas cômicas e outras com a
Joe Shuster), na primeira edição da revista Ac- participação do Capitão América). Após a mor-
tion Comics, em 1938, abriu o caminho para o te de Max Gaines – responsável pela introdu-
lançamento de quadrinhos protagonizados por ção do formato comic-book (revista de histórias
heróis encapuzados e super-seres (Batman, Ro- em quadrinhos) nos Estados Unidos – no co-
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Na Europa, quadrinhos como apoio a te- sa, fruto do trabalho de editoras estabelecidas,
mas educativos proliferaram na década de 1970. existe também uma vasta produção de publica-
Na França, a editora Larousse publicou em 8 ções variadas – folhetos, revistas, álbuns etc. -,
volumes a L´Histoire de France en BD; o suces- que utilizam a linguagem das histórias em qua-
so da obra possibilitou à editora investir em um drinhos para a transmissão de conhecimentos
título similar, Découvrir la Bible, depois editado específicos.
em vários países. Outros títulos surgiram: La Essas publicações lançam mão da lingua-
Philosophie en Bande Dessinée, Psychologie en gem gráfica sequencial para atingir mais fa-
bande dessinée, La vie de J. S. Bach, L´Aventure cilmente o seu público em termos do que po-
de l´équipe de Cousteau. Iniciativa importan- deríamos denominar de educação popular,
te nessa área foi a série de títulos apresentaram desvinculada dos canais formais de ensino,
a vida e as ideias de personagens importantes incutindo-lhe ensinamentos que incluem cui-
da ciência e da política, com títulos dedicados dados com higiene e saúde, preceitos morais,
a Freud, Lenin, Einstein, Marx, energía nuclear, ensinamentos religiosos, orientações para a uti-
O Capital etc. lização de serviços públicos ou privados e ca-
No Brasil, histórias em quadrinhos com pacitar o cidadão à vida em sociedade. É uma
conteúdo direcionado à aprendizagem e trans- produção diferenciada, realizada, em seu con-
missão de conhecimentos, à divulgação de dog- junto, de forma totalmente descentralizada,
mas religiosos ou às biografias de figuras im- descontrolada, desorganizada e, por isso mes-
portantes da história brasileira surgiram já no mo, de difícil mensuração ou avaliação. (Wal-
início do desenvolvimento desse meio de comu- domiro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos)
nicação no país. A primeira publicação infantil
com quadrinhos no Brasil, a revista O Tico-Ti- Referências:
co, iniciada em 1905, tinha histórias de conteú- RAMA, Angela et al. Como usar as histórias
do moral que ensinavam os meninos e meninos em quadrinhos em sala de aula. São Paulo:
de sua época como as crianças deviam se com- Contexto, 2004.
portar. Posteriormente, várias editoras brasilei-
ras publicaram revistas com vidas dos santos da
Igreja, a Bíblia em Quadrinhos, a vida de Jesus Quadrinhos Eróticos
Cristo e biografias dos heróis da pátria. O erotismo se faz presente nas narrativas grá-
Durante os anos 1950, essas iniciativas bus- ficas sequenciais em publicações clandestinas
cavam criar uma boa imagem das revistas em que procuram burlar a censura e a repressão
quadrinhos para pais e educadores, que, nessa moral ou como abordagem esteticamente so-
época, achavam que a leitura de quadrinhos te- fisticada, impressa em álbuns voltados para o
ria consequências danosas para as crianças. A leitor adulto. Na década de 1930, durante a De-
revista Enciclopédia em Quadrinhos, por exem- pressão Econômica, circulavam de maneira ve-
plo, apresentou uma história contando o desen- lada pequenas publicações de quadrinhos por-
volvimento do telégrafo elétrico no Brasil. nográficos, que seriam produzidas em gráficas
Em paralelo a essa produção surgida no mexicanas e entrariam escondidas em bíblias
mercado editorial voltado para a grande mas- falsas no território americano.
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Por isso, são denominadas Tijuana Bibles. um tipo de mangá erótico em que predominam
Também conhecidas como Dirty Comics ou Ei- situações bizarras envolvendo ninfetas. (Waldo-
ght Pages (por terem oito páginas), retratavam miro Vergueiro e Roberto Elísio dos Santos)
personagens dos quadrinhos e do cinema de
animação, como Popeye e Betty Boop, ou per-
sonalidades, a exemplo da dupla O Gordo e O Quadrinhos históricos
Magro e o gângster Al Capone, em cenas de Muitas histórias em quadrinhos enveredam por
sexo explícito. No Brasil, surgiram, na década temáticas históricas, fazendo uma reflexão so-
de 1950, os catecismos de Carlos Zéfiro, pseu- bre momentos específicos da história humana.
dônimo do funcionário público carioca Alcides No entanto, a preocupação com a fidelidade
Caminha, que permaneceu no anonimato até histórica nem sempre é sua motivação inicial.
quase o fim da vida. Poucos autores têm uma preocupação especial
Mas, ao contrário das histórias americanas, em retratar fielmente os ambientes históricos
os catecismos mostravam personagens comuns específicos, caracterizando de forma apropria-
(donas-de-casa, vendedores, vizinhas etc.) em da costumes, hábitos, vestimentas, locais ou re-
situações do cotidiano que tinham como des- gimes políticos dominantes.
fecho o ato sexual. Já a revista britânica Bizarre A maioria dos produtos em quadrinhos
era distribuída pelo correio a assinantes. Lan- constitui-se em veículo de entretenimento, bus-
çada em 1946, apresentava as aventuras sado- cando a criação de um vínculo prazeroso com
masoquistas de Sweet Gwendoline, realizadas o leitor. Em muitos casos - como nas histórias
por John Willie. Com o movimento feminista de Asterix, de Goscinny e Uderzo, ou em B.C.,
e a liberdade sexual da década de 1960, revis- de Johnny Hart -, a ambientação histórica bus-
tas underground norte-americanas e álbuns de ca possibilitar uma abordagem crítica à reali-
luxo europeus passaram a oferecer quadrinhos dade sócio-política contemporânea ao leitor e
eróticos para leitores maduros. não, propriamente, refletir a realidade daquele
Na França, surgiram as heroínas Barba- momento histórico específico.
rella, de Jean-Claude Forest, Paulette e Blanche Pode-se encontrar todas as épocas da His-
Épiphanie, desenhadas por Georges Pichard, tória do Mundo nos quadrinhos desde obras
Jodelle e Pravda, de Guy Peelaert, entre outras. com detalhamentos preciosos em termos de
Artistas italianos também criaram impor- vestimenta, localização geográfica e caracteri-
tantes personagens e histórias de teor erótico: zações sociais a outras em que elementos ana-
Valentina, de Guido Crepax; Little Ego, de Vit- crônicos podem passar despercebidos em meio
torio Giardino; Druuna, de Serpiere; além da sé- a uma arte gráfica esteticamente impressionan-
rie O Clic, de Milo Manara. O quadrinho eróti- te. É o caso de O Príncipe Valente, criado por
co europeu tem como características a narrativa Hal Foster em 1937, considerado por muitos
onírica, desenhada no estilo da linha clara, con- como a perfeita ambientação aos quadrinhos
tendo episódios de dominação e lesbianismo. do ambiente do final da Antiguidade e início da
A editora brasileira Grafipar publicou esse tipo Alta Idade Média.
de HQ, com destaque para Maria Erótica, ilus- No entanto, uma análise detalhada mostra
trada por Watson Portela. No Japão, o Hentai é que isto está longe da verdade: segundo o es-
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tudioso Sergi Vich em seu livro La historia en de Notre Dame, de Christian Piscaglia e Willy
los comics, uma das poucas qualidades que não Vassaus, ou, ainda no mesmo período, as vi-
possui essa obra-prima dos quadrinhos é exa- cissitudes da vida diária em Les tours de Bois-
tamente “a de reconstruir com fidelidade e es- Maury, de Hermann Huppen. A contrastante
mero um período histórico concreto”. Assim, realidade da América Latina do século XVII é
ainda que nela possam ser encontrados mui- vista nas peregrinações de Alvar Mayor, de En-
tos elementos materiais e humanos bem docu- rique Breccia e Carlos Trillo, enquanto a vida
mentados e constituídos, a constante mistura dos pioneiros norte-americanos é retratada por
de personagens reais ou fictícias, pertencentes Hugo Pratt e Milo Manara em Tutto ricominciò
a momentos históricos muito distantes entre com’un estate indiana.
si, tornam bastante limitado seu entendimento No Brasil, a Editora Brasil América Ltda.
como abordagem histórica. – EBAL, do Rio de Janeiro, produziu, duran-
Do ponto de vista do conhecimento his- te as décadas de 1950 e 1970, muitos títulos de
tórico, as histórias em quadrinhos que mais quadrinhos com fins históricos, como A His-
se esmeraram em buscar a fidelidade máxima tória do Brasil em Quadrinhos e A Indepen-
à época em que situaram suas narrativas as da dência do Brasil. Especial ênfase deve ser tam-
Escola de Linha Clara Europeia. Entre seus des- bém dada à contribuição de Flávio Colin aos
taca-se Jacques Martin, autor do jovem gaulês quadrinhos históricos, que, entre outras, pro-
Alix, L´Intrepide, criado em 1948, em que uma duziu uma versão quadrinizada sobre a Guer-
cuidadosa reconstrução ambiental proporcio- ra dos Farrapos, relacionada a um momento
na um retrato bastante verossímil da realidade bastante polêmico da história do Rio Grande
do primeiro século antes de Cristo. Para atin- do Sul. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio
gir esse objetivo, as aventuras do pequeno herói dos Santos)
se relacionam com fatos ocorridos no período,
como a rebelião dos escravos ou a tomada de
Alesia. A leitura dos álbuns de Alix, apresenta- Quadrinhos Infantis
va ao leitor esplêndidas representações gráficas Histórias protagonizadas por crianças – prin-
dos povos e culturas mais importantes do perí- cipalmente amparadas em enredos que narram
odo. É uma obra que atua com enorme eficiên- suas travessuras – têm seu início em meados do
cia tanto sob o ponto de vista do divertimento século XIX, quando o psiquiatra alemão Henri-
como sob o da aproximação a um passado re- ch Hoffmann fez o livro ilustrado Der Strowwel-
moto. peter (publicado, no Brasil, como João Felpu-
Outros bons exemplos de momentos his- do). Seu conterrâneo Wilhelm Busch publicou,
tóricos tratados magistralmente pelas histórias em 1865, diversas histórias em estampas (folhas
em quadrinhos são: a batalha das Termópilas impressas de um único lado) com as traquina-
em Mort Cinder, de Alberto Breccia e Hector gens de dois garotos, Max e Moritz (chamados
Oesterheld; a redescoberta do Egito antigo pe- de Juca e Chico, na versão para o Português re-
los europeus do século XVIII, em Arno, de Ja- alizada por Olavo Bilac).
cques Martin e André Juillard; o esoterismo da Mas foi nos Estados Unidos, a partir de
Idade Média e o mito do Golém em Le templier 1895 que as kid-strips (quadrinhos cujos perso-
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R, r
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dizer que todo o racialismo tenha sempre obje- o racialismo, a raça gira em torno de um con-
tivos racistas. ceito biologicamente superado e politicamente
O racialismo pode, inclusive, ter objetivos confuso. Racialismo e raça são preocupações
francamente antirracistas. Mas, para garantir recentes nos estudos em comunicação, princi-
a equidade entre grupos distintos, o racialis- palmente, no âmbito dos Estudos Culturais em
mo precisa aceitar como verdadeiro aquilo que relação à crítica da mídia. E não raramente os
mais agride o ideal de igualdade étnica – a exis- termos são usado, arbitrariamente, pela gran-
tência de raças humanas. Por exemplo, se, por de mídia (AMARAL FILHO, 2006). (Nemézio
um lado, no século XIX, cientistas louvavam a Amaral Filho)
miscigenação, outros garantiam que ela enfra-
quecia os povos; já para os darwinistas sociais, Referências:
os fracos e ineptos seriam eliminados e desta AMARAL FILHO, Nemézio. Para além do con-
maneira as raças mais aptas se desenvolveriam ceito de “raça”. In: Información y Comuni-
mais rapidamente (DOS SANTOS, 2002). Mais cación: revista científica. n. 3, p- 105-123.,
uma vez: um racialista não é, necessariamente, 2006.
um racista. APPIAH, Anthony Kwame. Na casa de meu pai:
Alguns pesquisadores utilizarem o termo a África na filosofia da cultura. Contrapon-
racialismo em textos com boas intenções ana- to: Rio de Janeiro, 1997.
líticas para localizar teoricamente o racismo BLONDIN, Denis. L’apprentissage du racisme
(BLONDIN, 1990). Mas movimentos de gru- dans les manuels scolairs. Agence D’Arc
pos subalternizados que de algum modo gira- inc.: Quebec, 1990.
vam em torno da ideia de raça para alcançar SANTOS, Gislene Aparecida dos. A invenção
benefícios sociais e políticos foram acusados de do “ser negro”: um percurso das ideias que
racialistas. Por exemplo, na África, na segun- naturalizaram a inferioridade dos negros.
da metade do século XX, o movimento négritu- Rio de Janeiro: Pallas, 2002.
de, que pressupunha uma solidariedade racial NIRO, Brian. Race. New York: Palgrave/Mac-
entre os negros (APPIAH, 1997), foi duramen- millan, 2003.
te criticado: seria um exemplo concreto de ra-
cialismo (NIRO, 2003). Epíteto sempre negado
pelo principal executor da négritude, o político Raciocínios
e escritor senegalês Léopold Sedar Senghor. Do Os raciocínios, ou tipos de inferência, fazem
mesmo modo, o Pan-Africanismo, que tenta- parte da teoria da investigação, o ramo da ci-
va criar uma visão comum da África pós-colo- ência que estuda as formas possíveis de se au-
nial, também é tido como racialista (APPIAH, mentar o conhecimento sobre a realidade, de
1997). solucionar problemas e eliminar dúvidas. Aris-
Todavia, na contemporaneidade, a per- tóteles ofereceu o primeiro tratamento formal
manência da ideia de raça como instrumento sobre os tipos de raciocino em seus ‘Primeiros
analítico e de reivindicação político-social so- Analíticos’, a obra em que ele lança as bases de
fre profundas críticas (APPIAH, 1997; AMA- sua lógica e que se tornou referência para to-
RAL FILHO, 2006): da mesma maneira que dos os estudos posteriores. Ali aparecem as três
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formas fundamentais de inferência – dedução, à lógica e à semiótica foi oferecida por Peirce.
indução e abdução –, que se diferenciam pela Para ele, a abdução é o único tipo de raciocí-
relações entre os termos que compõem as pre- nio capaz de ampliar nosso estado de informa-
missas e conclusões. O tratamento de Aristó- ção sobre um objeto porque está na base dos
teles, portanto, vincula as inferências ao silo- próprios julgamentos perceptivos (ver juízos).
gismo e suas variações lógicas, mas sempre a Todas as descobertas da ciência, por exemplo,
partir do estudo das proposições. Para dar con- se deveriam a abduções. Peirce vai mais longe,
ta da pesquisa empírica e das novas formas de porém, e equaciona a abdução à faculdade do
investigação científica, os tipos de raciocínio instinto presente em todas as formas vivas da
foram assim redefinidos: a dedução permite natureza, além de deixar aberta a possibilidade
derivar b como uma consequência de a; a indu- para que abduções possam ocorrer mesmo na
ção permite inferir b a partir de múltiplas ins- dimensão puramente física.
tanciações de a, na medida em que a implica Essas considerações inspiraram o químico
b; e abdução permite inferir b como uma ex- belga Ilya Prigogine, vencedor do Prêmio No-
plicação possível de a, segundo o princípio da bel com seu trabalho sobre sistemas dinâmicos
melhor explanação possível num determinado distantes do equilíbrio, a afirmar que existe cria-
estado de informação. tividade e sensibilidade mesmo nas reações quí-
Enquanto a matemática se apóia funda- micas mais fundamentais. (Vinicius Romanini)
mentalmente em deduções e as ciências empí-
ricas buscam nos experimentos a generalização Referência:
indutiva, as ciências humanas se relacionam GINZBURG, Carlo. Chaves do Mistério: Mo-
muito mais diretamente com a abdução. Isso relli, Freud e Sherlock Holmes. In: ECO,
porque o dinamismo e incerteza que marcam Umberto; SEBEOK, Thomas A. O Signo de
as relações humanas inviabilizam tratamentos Três. São Paulo: Perspectiva, 1991.
dedutivos que pretendam extrair leis univer-
sais, bem como experimentações controladas
e repetitivas como acontecem com as ciências Radialista
empíricas. Somente um paradigma epistemo- Termo empregado de empresa de radiodifusão
lógico conjectural (GINZBURG, 1991), funda- que exerça uma das funções em que se desdo-
mentado na abdução, seria capaz de atender às bram as três atividades: administração (com-
necessidades das ciências humanas e permitir preendem somente as especializadas, pecu-
um ponto de equilíbrio entre o rigor desejado liares às empresas de radiodifusão), produção
no levantamento dos dados da realidade com (autoria, direção, produção, interpretação, du-
a flexibilidade e criatividade necessária na sua blagem, locução, caracterização e cenografia)
interpretação. e técnica (direção, tratamento e registros sono-
Os processos comunicativos, especialmen- ros, tratamento e registros visuais, montagem e
te, baseiam-se na inferência abdutiva, na medi- arquivamento, transmissão de sons e imagens,
da em que a interpretação de uma mensagem revelação e copiagem de filmes, artes plásticas e
é sempre conjectural e falível. Uma discussão animação de desenhos e objetos e manutenção
aprofundada dos tipos de raciocínio em relação técnica).
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Radialistas e jornalistas têm algumas fun- vocábulo, Tuma dizia: “Radialista é a soma de
ções semelhantes perante a legislação, que não rádio com idealista, pois trabalhávamos muito
explicita necessárias especificidades de ambas e não ganhávamos nada” (BRITO, 2008). (Nair
as profissões. Há alguns casos bastante confli- Prata)
tantes como, por exemplo, as diversas funções
de produtores e locutores, que acabam perten- Referências:
cendo a uma ou outra categoria profissional. BRASIL. Decreto-lei n. 84.134, de 30 de outu-
Ortriwano (1985, p. 99) lembra que a regula- bro de 1979. Dispõe sobre a regulamenta-
mentação profissional de ambas as profissões ção da profissão de radialista. Disponível
deixa muito a desejar, “merecendo um aperfei- em: <http://www.fenaj.org.br>. Acesso em:
çoamento que as aproxime da realidade da prá- 09/02/ 2009.
tica profissional”. BRASIL. Lei n. 6.615, de 16 de dezembro de
O exercício da profissão de radialista é re- 1978. Regulamenta a profissão de Radialis-
gulado pela Lei n. 6.615, de 16 de dezembro de ta. Disponível em: <http://www.fenaj.org.
1978, regulamentada pelo Decreto n. 84.134, de br>. Acesso em: 09/02/ 2009.
30 de outubro de 1979. BRITO, Jair. Nós somos os trabalhadores do
O exercício da profissão de radialista re- rádio, levamos a vida a falar e cantar… In:
quer prévio registro na Delegacia Regional do Caros Ouvintes. Florianópolis, 7 nov. 2008.
Trabalho, a requerimento do interessado ou do Disponível em: <http://www.carosou-
sindicato/federação representativo da categoria vintes.org.br/blog/?p=1503>. Acesso em:
profissional e tem validade em todo território 14/04/2009.
nacional. ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informa-
Para o registro, é necessário o diploma de ção no rádio: os grupos de poder e a deter-
curso superior, diploma ou certificado corres- minação dos conteúdos. 3. ed. São Paulo:
pondente às habilitações profissionais ou bási- Summus, 1985.
cas de ensino médio, ou atestado de capacita-
ção profissional. A duração normal do trabalho
do radialista é de cinco horas para setores de Rádio
produção, interpretação, dublagem, tratamento Meio de comunicação que transmite, na for-
e registros sonoros, tratamento e registros visu- ma de sons, conteúdos jornalísticos, de servi-
ais, montagem e arquivamento, transmissão de ço, de entretenimento, musicais, educativos e
sons e imagens, revelação e copiagem de filmes, publicitários. Sua origem, no início do século
artes plásticas e animação de desenhos e obje- XX, confunde-se com a de, pelo menos, outras
tos e manutenção técnica; sete horas para os se- duas formas de comunicação baseadas no uso
tores de cenografia e caracterização e oito horas de ondas eletromagnéticas, para transmissão
para os demais setores. da voz humana a distância, sem a utilização de
O vocábulo radialista foi criado por Nico- uma conexão material: a radiotelefonia, suces-
lau Tuma, em 1943, quando fundou a Associa- sora da telefonia com fios, e a radiocomunica-
ção Brasileira de Rádio e utilizou a palavra no ção, essencial para a troca de informações, de
estatuto da entidade. Ao explicar a origem do início, entre navios e destes com estações em
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enciclopédia intercom de comunicação
terra ou, no caso de forças militares, no campo linguagem comunicacional específica, que usa
de batalha. Foi David Sarnoff, um russo radica- a voz (em especial, na forma da fala), a música,
do nos Estados Unidos, quem primeiro pensou os efeitos sonoros e o silêncio, independente-
em usar estas tecnologias para uma aplicação mente do suporte tecnológico ao qual está vin-
próxima do que se conhece hoje como rádio. culada. (Luiz Artur Ferraretto e Marcelo Kischi-
Até os anos 1990, prepondera uma noção nhevsky)
de rádio como meio de comunicação que uti-
liza emissões de ondas eletromagnéticas para Referências:
transmitir a distância mensagens sonoras des- CEBRIÁN HERREROS, Mariano. La radio en
tinadas a audiências numerosas. Com o cresci- la convergencia multimedia. Barcelona: Ge-
mento da internet e a convergência tecnológica, disa, 2001.
alguns autores – como Mariano Cebrián Her- FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio – O veículo,
reros (2001, p. 47) – defendem uma concepção a história e a técnica. 3. ed. Porto Alegre:
mais plural, para além, inclusive, do hertziano. Doravante, 2007.
De fato, no início do século XXI, escuta-se rá- KISCHINHEVSKY, Marcelo. O rádio sem onda:
dio em ondas médias, tropicais e curtas ou em convergência digital e novos desafios na ra-
frequência modulada. O veículo amalgama-se à diodifusão. Rio de Janeiro: E-papers, 2007.
TV por assinatura, seja por cabo ou DTH (di- MEDEIROS, Macello Santos de. Transmissão
rect to home); ao satélite, em uma modalidade sonora digital: modelos radiofônicos e não
paga exclusivamente dedicada ao áudio ou em radiofônicos na comunicação contempo-
outra, gratuita, pela captação, via antena pa- rânea. In: Sociedade Brasileira de Estudos
rabólica, de sinais sem codificação de emisso- Interdisciplinares da Comunicação. XXX
ras em AM ou FM; e à internet, na qual apa- Congresso Brasileiro de Ciências da Comu-
rece no sinal de estações tradicionais, nas web nicação. Núcleo de Pesquisa Rádio e Mídia
radios ou, até mesmo, em alternativas sono- Sonora. Santos, 1º set. 2007.
ras como o podcasting. A pluralidade pode ser Romo GIL, María Cristina. Introducción al co-
estendida, entre outros fatores, aos modos de nocimiento y práctica de la radio. México:
processamento de sinais – analógico ou digi- Diana, 1994.
tal –, à definição legal da emissora – comercial,
comunitária, educativa ou pública – ou ao con-
teúdo – jornalismo, popular, musical, cultural, Rádio Alternativo
religioso... Termo designativo das práticas e concepções
De início, suportes não-hertzianos como livres e diferenciadas do meio radiofônico, co-
web radios ou o podcastinng não foram acei- mumente associadas aos fenômenos da co-
tos como radiofônicos por parcela significati- municação alternativa e popular vivenciados,
va da comunidade científica brasileira. Dentro no Brasil, durante o período da Ditadura Mi-
do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da litar (1964 a 1985). Tais fenômenos eram parte
Intercom, ocorreram debates intensos, opondo do movimento das forças sociais e políticas de
a visão singular à plural. No entanto, na atuali- conquistar ou reconquistar espaços democrá-
dade, a tendência é aceitar o rádio como uma ticos negados pelo regime de exceção. Coube
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enciclopédia intercom de comunicação
a eles o papel revelador dos “acontecimentos Reconhecidas por sua gestão pública, pro-
ocorridos nos círculos de poder, no interior da gramação plural e pelos serviços que prestam à
sociedade civil e entre os movimentos popula- comunidade, já as chamadas rádios comunitá-
res” (FESTA, 1986, p. 16). rias surgem no final do século XX, conquistan-
Assim como surgiram novos paradigmas do legislação específica em 1998. Entretanto, a
comunicacionais que marcam o mundo con- diversidade do caráter e da função destas emis-
temporâneo, e a sociedade e a cidadania ocu- soras, aliada às regras restritivas para suas ope-
pam um novo lugar, no contexto brasileiro rações e a morosidade do gestor federal na libe-
do século XXI, as diversas mídias alternativas ração das outorgas marcam com contradições
também recriaram suas práticas, gerando novas o cenário em que atuam. (PERUZZO, 2006, p.
categorizações e referenciais. Peruzzo (2008) 183-185). (Ana Luisa Zaniboni Gomes)
apresenta um novo painel conceitual da comu-
nicação alternativa, popular e comunitária na Referências:
era do ciberespaço, definindo a comunicação FESTA, Regina; SILVA, Carlos Eduardo Lins da
alternativa como “uma comunicação livre que (Orgs.). Comunicação popular e alternativa
se pauta pela desvinculação de aparatos gover- no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986.
namentais e empresariais de interesse comer- ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação
cial e/ou político conservador”. no rádio: os grupos de poder e a determi-
As rádios livres, também chamadas de clan- nação dos conteúdos. São Paulo: Summus,
destinas ou piratas, ganharam impulso a partir 1985.
dos anos 1970 associadas aos movimentos políti- PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Comunica-
co libertários. Peruzzo (1988, p. 241) registra que ção nos movimentos populares: a participa-
vem da Inglaterra a expressão rádio pirata: para ção na construção da cidadania. Petrópolis:
burlar o controle oficial e promover produtos de Vozes, 1998.
empresas transnacionais, emissoras transmitiam . Rádios comunitárias: entre controvér-
a partir de barcos ancorados fora dos limites das sias, legalidade e repressão. In: MARQUES
águas territoriais. Na América Latina, as rádios DE MELO, José; GOBBI, Maria Cristina;
livres estão ligadas à educação e emancipação so- SATHLER, Luciano (Orgs). Mídia Cidadã,
cial e política do povo. Neste contexto, aparecem utopia brasileira. São Bernardo do Campo:
as rádios guerrilheiras em Cuba e El Salvador, as UMESP, 2006.
rádios mineiras bolivianas (entidades coletivas e . Aproximações entre comunicação popu-
de propriedade dos sindicatos) e as rádios revo- lar e comunitária e a imprensa alternativa
lucionárias nicaraguenses (PERUZZO,1998, p. no Brasil na era do ciberespaço. Versão reela-
215-240). No Brasil, surgem como contraponto à borada de paper apresentado no NP Comu-
concentração de emissoras nas mãos de grupos nicação para a Cidadania, XXXI Congres-
empresariais e rebeldia ao monopólio do Estado so Brasileiro de Ciências da Comunicação,
como concedente. Defendem a apropriação co- Natal-RN, 2-6 de setembro de 2008. Dis-
letiva dos meios e apresentam uma mensagem ponível em: <http://www.intercom.org.br/
alternativa dirigida às minorias e marginalizados papers/nacionais/2008/resumos/R3-0716-1.
(ORTRIWANO, 1985, p. 34). pdf>. Acesso em 10/02/2009.
1011
enciclopédia intercom de comunicação
1012
enciclopédia intercom de comunicação
novas formas de lutas. O conceito de RC, se- Desse modo, compõem as características
gundo a Associação Mundial de Rádios Comu- de tais emissoras as dificuldades financeiras,
nitárias (AMARC), contempla uma diversidade de infraestrutura, de operacionalização, capi-
de nomes dados, de forma geral, às emissoras taneadas por uma legislação entendida, pelos
radiofônicas não comerciais, como livre, alter- seus defensores, como repressora e que visa, ao
nativa e popular, entre outros, vinculadas a en- fim, a sua inviabilidade. A Lei 9.612/98 limita a
tidades representativas da sociedade civil, des- transmissão das ondas comunitárias a um es-
de que não busquem o lucro financeiro. paço físico que impede o intercâmbio de expe-
A essência de que essas rádios visam e têm riências e, consequentemente, a pluralização de
importância no agendamento do debate públi- vozes comunitárias, além de proibir o lucro fi-
co e contribuem para formar cultura democrá- nanceiro.
tica nos espaços onde atuam, compõem as pes- A crescente repressão, fechamento e apre-
quisas de diversos autores, a exemplo de John ensão de equipamentos das RC e a proliferação
Downing (2002), concebendo-a como forma das novas TICs construíram cenários favorá-
atuante de oposição nas culturas populares. Na veis para a comunicação no ambiente da web,
perspectiva de Cicilia Peruzzo, as rádios co- proporcionando a criação de redes de grande
munitárias “têm gestão pública, operam sem potencial, abrindo promissores caminhos para
fins lucrativos e têm programação plural” e de- a rádio comunitária. (Lílian Claret Mourão
vem servir à comunidade, além de contribuí- Bahia)
rem “para o desenvolvimento social e a cons-
trução da cidadania”. Assim, para Cogo (1998, Referências:
p. 75), a RC democratiza “a palavra concen- COGO, Denise M. No ar... uma rádio comuni-
trada em poucas bocas e pouquíssimas mãos tária. São Paulo: Paulinas, 1998.
para que nossa sociedade seja mais democrá- DOWNING, John. Mídia Radical – rebeldia
tica”. Numa visão mais flexível, o pesquisador nas comunicações e movimentos sociais.
cubano Vigil (2004, p. 496-506) entende que São Paulo: SENAC, 2002.
o conceito de RC é definido pela própria co- GUATARRI, Felix. Rádios Livres – a reforma
munidade, na medida em que ela se apropria agrária no ar. São Paulo: Brasiliense, 1986.
da emissora, quando “sentem-na como sua, PERUZZO, Cicilia M. K. Comunicação nos mo-
participam dela, têm voz e voto para orientar a vimentos populares: a participação na cons-
programação, veem-se representados em suas trução da cidadania. 2. ed. Petrópolis: Vo-
mensagens”. zes, 1999.
Depreende-se, portanto, a partir da pers- VIGIL, Jose Ignacio López. ?Que faz comunitá-
pectiva dos autores, o foco na expansão do âm- ria uma radio comunitária? Quito: Chas-
bito das informações, da reflexão e das intera- qui, 1995.
ções sociocomunicativas da maior parcela da
comunidade que não tem acesso à definição da
programação veiculada pelas emissoras comer- Rádio Digital
ciais que, em grande parte, não abrange conte- Rádio digital terrestre é um sistema de trans-
údo de seu interesse. missão em que os sinais de rádio são converti-
1013
enciclopédia intercom de comunicação
dos em bits, de zeros e uns. Os sinais são trans- A difusão é feita por um transmissor mul-
portados por ondas radiofônicas que resistem à tiplex, gerenciado por um operador de rede.
interferências, permitindo captar um som mais No segundo grupo, o sinal digital é transmiti-
puro, livre de ruídos e distorções por acidente do no canal adjacente da mesma faixa de fre-
de terreno que acontecem com a transmissão quência das emissoras analógicas. Sistemas in-
analógica. A inovação melhora o som da ampli- band como o norte-americano IBOC (In-Band
tude modulada, que passa a ter qualidade equi- On-Channel) e o europeu DRM (Digital Radio
valente ao da frequência modulada, enquanto Mondiale) transmitem simultaneamente sinais
esta, a de FM, ganha som igual ao do CD. analógico e digital dentro canalização analógica
Outra característica importante é a possi- atual, o que favorece a transição gradual para o
bilidade de transmissão simultânea de dados rádio digital. Nesse modelo não há necessidade
para aparelhos receptores com tela de cristal de atribuir novas frequências. Ainda é possível
líquido que mostram informação em texto. É utilizar a infraestrutura existente, desde torres e
possível exibir na tela, simultaneamente ao que transmissores, sendo necessário adquirir novo
se está escutando, notícias sobre trânsito, tem- excitador de radiodifusão digital e alguns equi-
po, resultado de partidas de futebol ou até mes- pamentos e periféricos.
mo o nome da música em exibição. Os modelos As primeiras transmissões regulares de rá-
de receptores digitais disponíveis nos merca- dio digital aconteceram em 1995, na Suécia e
dos da Europa e Estados Unidos são, na sua Inglaterra, utilizando o sistema DAB. Em 2003,
maioria, portáteis, multifuncionais, multimí- tiveram início as transmissões em ISDB-Tsb,
dia e comportam voz, imagem e base de dados. no Japão; DRM, na Europa; e IBOC, nos Esta-
Há também aparelhos com funções interativas dos Unidos.
para pausar programação ao vivo ou voltar o Fora isto, há uma modalidade – a chama-
programa desejado para o seu início, além de da irradiação em DTH (Direct to Home) que
dispositivos para personalização da escuta. transmite, em digital e via satélite, utilizando
Há dois grupos de sistemas de transmis- um sistema de assinaturas e receptores específi-
são de rádio digital terrestre: out-of-band e in- cos. (Nelia Rodrigues Del Bianco)
band. No primeiro, o rádio digital é concebido
como um novo serviço complementar ao ana- Referências:
lógico. Sistemas out-of-band, como o europeu BIANCO, Nelia R. Del. E tudo vai mudar quan-
DAB (Digital Audio Broadcasting) e o japonês do o Digital chegar. In: BARBOSA FILHO,
ISDB-Tsb (Integrated Services Digital Broad- André; PIOVESAN, Angelo; BENETON,
casting – Terrestrial, Segmented Band), fun- Rosana (Orgs.). Rádio: sintonia do futuro.
cionam somente em faixa de frequência exclu- São Paulo: Paulinas, 2004.
siva para o digital, não sendo compatível com DRM – Digital Radio Mondiale. Disponível
a canalização AM ou FM. Nesse sistema, seis em: <http://www.drm.org>. Acesso em:
estações diferentes partilham o mesmo trans- 12/04/2009.
missor, antena, faixa de frequências e, conse- Tome, Takashi. ISDB-Tsb: o padrão de rádio
quentemente, a mesma área de cobertura de digital no Japão. Sete Pontos, ano 5, n. 41,
sinal. abr.-maio 2007. Disponível em: <http://
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
estatais brasileiras, na sua maioria, integraram mediante compromisso de ser mantida não-co-
o sistema que, dos anos 1930 aos 1990, funcio- mercial, transmitindo educação e cultura. Em
nou como educativo, abrigando rádios não-co- 1940, a Rádio Nacional, do jornal A Noite, foi
merciais educativas, culturais e universitárias. encampada por Vargas, mas continuou operan-
Hoje, praticamente, todas se reivindicam pú- do sem financiamento estatal, com publicida-
blicas. de e modelo de programação comercial. Além
A Constituição, desde 1988, estabelece três da MEC e Nacional, hoje integradas à EBC, são
sistemas à radiodifusão: privado, estatal e pú- destaques históricos nesse segmento: Cultura
blico. Mas, até a atualidade não houve regula- (SP) e Inconfidência (MG), ligadas aos gover-
mentação. A legislação para o setor está defa- nos de seus estados. Outra referência é a Rádio
sada. Data ainda dos anos 1960. No Ministério da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
das Comunicações, a classificação também é di- a primeira emissora universitária do país.
fusa: FMs comerciais, FMs educativas, rádios co- Pela legislação, por regrar, fiscalizar, deter
munitárias, ondas médias, ondas curtas e ondas o poder de outorga, e operar emissoras, siste-
tropicais. As FMs educativas incluem as vincu- mas, serviços ou produtos radiofônicos, o Es-
ladas ao Estado, em níveis municipal, estadual tado brasileiro, historicamente falando, tem se
ou federal, operadas por Executivos, Legislati- envolvido, direta ou indiretamente, com o rá-
vos, Judiciários ou universidades. Porém, as es- dio. (Valci Zuculoto)
tatais também figuram entre as AMs, nas ondas
médias, curtas ou tropicais. Referências:
Como estatal, ainda podem ser categoriza- BLOIS, Marlene. Rádio educativo no Brasil.
dos sistemas, empresas, produtos, serviços ra- Uma história em construção. In: HAUS-
diofônicos e a própria atuação, direta ou indi- SEN, Doris; CUNHA, Mágda (Orgs). Rá-
reta, de governos sobre a radiodifusão. Destes, dio brasileiro – Episódios e personagens.
são referências históricas: o Departamento de Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
Imprensa e Propaganda (DIP), que coordenou MOREIRA, Sonia Virgínia. Rádio em transição:
a radiodifusão brasileira na Era Vargas; o pro- tecnologias e leis nos Estados Unidos e no
grama A Hora do Brasil, de 1937, depois deno- Brasil. Rio de Janeiro: Mil Palavras, 2002.
minado de A Voz do Brasil, transmitido em rede PEROSA, Lilian Maria F. de Lima. A hora do
nacional obrigatória e ainda no ar; a Radiobrás, clique: análise do programa de rádio Voz
que reunia veículos e serviços, hoje, incorpo- do Brasil da Velha à Nova República. São
rados à Empresa Brasileira de Comunicação Paulo: Annablume/ECA-USP, 1995.
(EBC), criada pelo governo Lula em 2007. ZUCULOTO, Valci. As grandes fases do rádio
A história do rádio estatal, no Brasil, re- público brasileiro: em busca de uma perio-
monta aos anos 1930 e 1940, período em que dização para pesquisas históricas deste seg-
duas emissoras emblemáticas passaram ao go- mento da radiofonia nacional. In: Socieda-
verno federal. A Rádio MEC, do Rio de Janeiro, de Brasileira de Estudos Interdisciplinares
deu início ao sistema educativo, em 1936, quan- da Comunicação. XXXI Congresso Brasi-
do Roquette-Pinto doou sua pioneira Rádio leiro de Comunicação. Núcleo de Pesquisa
Sociedade ao Ministério da Educação e Saúde, Mídia Sonora. Natal, 6 set. 2008.
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
tiva diversa das emissoras privadas comerciais, dio (comunicação) oficial. É a forma alternativa
atreladas às especificidades sociais, culturais de difundir informações, ideias entre aqueles
e políticas do município, essas emissoras têm que ocupam posições fora da alta hierarquia
forte potencial para assumirem a forma de uma das organizações, principalmente, daquelas do
rádio pública local e não apenas estatal. (Sayo- mundo do trabalho. Para os que ocupam pos-
nara Leal) tos de mando, a rádio peão é uma prática per-
niciosa, disseminadora de boatos, fofocas que
Referências: prejudicam a “boa” informação, ou seja, a in-
CHEVAL, Jean-Jacques. Les radios en France: formação oficial. Nas práticas da comunicação
Histoire, État et enjeux. Collections Médias corporativa, comunicação interna, comunica-
et Nouvelles Technologies. Rennes: Apo- ção organizacional, a rádio peão é tida como
gée, 1997. um mal a ser: erradicado, controlado, domina-
CAZENAVE, François. Les radios libres. Collec- do ou utilizado. Essa forma de entender a rádio
tion Que sais-je. Paris: Presses Universitai- peão tem como pressuposto que a comunicação
res de France, 1984. deve partir de canais autorizados. Assim a co-
LEAL, Sayonara. Rádios comunitárias no Brasil municação é praticada como fluxo de informa-
e na França: democracia e esfera pública. ção de um polo (legitimado) a outro (que tem a
Aracaju: UFS, 2008 tarefa de disseminar, acatar). Nesse diapasão, a
ESCUDERO, Manuel Chaparro. Rádio Pública organização é um conjunto de normas prescri-
Local. Andaluzia: Fragua, 1998. tas, com finalidades objetivas e mensuráveis; no
máximo é entendida como um organismo sis-
têmico que obedece a regras de funcionamento,
RÁDIO PEÃO emanadas de um centro. As trocas sistêmicas
Os dicionários de língua portuguesa define rá- que não obedecem ao centro disseminador são
dio como: (1) aparelho emissor ou receptor de entendidas como “doenças”, desvios.
telegrafia e de telefonia sem fio; e (2) aparelho Há, no entanto, pontos de vista mais avan-
transmissor-receptor usado em aeronaves, em çados, capazes de compreender com natura-
navios, em radiotáxis, por radioamadores etc. lidade a necessidade intrínseca de os mem-
Interessa-nos, neste verbete, fixar o núcleo da bros da organização se comunicarem fora das
definição (2) aparelho trasmissor-receptor, ou prescrições, dos meios e normas estabeleci-
seja, de dupla mão, aquele que permite a co- dos como oficiais. Visto que as organizações
municação como interação imediata. O termo se constituem de pessoas com a complexidade
peão, dicionarizado, designa aquele que anda que isto pressupõe. Posição cujo fundamento
a pé, o da plebe, a peça de menor valor/poder está na compreensão de que a comunicação é
no jogo de xadrez; o responsável pela lida com uma característica fundamental do ser huma-
o touro, não o toureiro; o servente que trabalha no sem a qual a organização não funciona, e o
em obra; o subalterno. trabalho supõe a interação entre pessoas (mes-
Portanto, o termo rádio peão passou a de- mo quando se trabalha sozinho, se trabalha a
signar a forma de comunicação dos subalter- partir do já realizado por outros). Na contem-
nos, dos simples, dos que não têm acesso à rá- poraneidade, as transformações no mundo do
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enciclopédia intercom de comunicação
trabalho assimilaram a comunicação inclusive pre tiveram e ainda têm um impulso contesta-
como parte dos processos e procedimentos da tório, contra o sistema de concessão de rádio e
organização do trabalho (tecnologias, flexibili- de TV, no Brasil, e a favor da democratização
zação, equipes etc.), exigindo maior maleabili- da comunicação e do País e da valorização das
dade dos dirigentes. (Roseli Fígaro) culturas local e nacional.
Muitas vezes, emissoras comerciais e a
Referências: grande imprensa se referem a essas rádios
HOUAISS, Antonio; VILLAR, M. de Salles; como piratas. Entretanto, quem faz rádio livre
FRANCO, F. M. de Mello. Dicionário Hou- e comunitária (ainda que sem autorização) diz
aiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: que piratas são as emissoras comerciais, que
Objetiva, 2001. estão atrás do “ouro” do anúncio publicitário.
FÍGARO, Roseli. Relações de comunicação no Pode-se encontrar, também, o termo pirata de-
mundo do trabalho. São Paulo: Annablu- signando uma rádio comunitária, cujo interes-
me, 2008. se principal é o anúncio publicitário; e, ainda,
MARCHIORI, Marlene (Org.). Faces da cultura como referência à emissora que, por problemas
e da comunicação organizacional. 2. ed. São técnicos ou opção, chega a ser inaudível. Use
Paulo: Difusão, 2008. preferencialmente os termos livres ou comuni-
tárias para designar esta prática de comunica-
ção. (Cláudia Regina Lahni)
RÁDIO PIRATA
A expressão tem origem na emissão de sinais, Referências:
a partir de barco, no mar da Inglaterra, no final LUZ, Dioclécio. Rádios comunitárias: trilha
dos anos 1950. O objetivo das emissoras deno- apaixonada e bem-humorada do que é e de
minadas piratas era veicular anúncios publicitá- como fazer rádios comunitárias, na inten-
rios, por exemplo, da Ford, Lever ou American ção de mudar o mundo. Brasília: Produção
Tobacco, o que não era permitido pelo mono- Independente, 2001.
pólio estatal inglês. No Brasil, sob a inspiração MACHADO, Arlindo; MAGRI, Caio; MASA-
das rádios livres europeias, em especial da Itália GÃO, Marcelo. Rádios livres: a reforma
e da França, que contestavam a ordem vigente, agrária no ar. São Paulo: Brasiliense, 1986.
surgiram as rádios livres e comunitárias (pri- PAIVA, Raquel. O espírito comum: comunida-
meiro chamadas livres e, depois, também livres de, mídia e globalismo. Petrópolis: Vozes,
e comunitárias ou comunitárias), de baixa po- 1998.
tência e, inicialmente, sem regulamentação. PERUZZO, Cicilia Krohling. Comunicação nos
Essas emissoras nasceram da vontade de movimentos populares: a participação na
jovens que criticavam e queriam outra progra- construção da cidadania. 2. ed. Petrópolis:
mação para as rádios, com destaque para a ex- Vozes, 1999.
periência da cidade de Sorocaba, no interior de ORTRIWANO, Gisela Swetlana. A informação
São Paulo, que nos anos 1980 chegou a ter mais no rádio: os grupos de poder e a determi-
de 40 emissoras. Tais rádios passaram a reunir nação dos conteúdos. São Paulo: Summus,
grupos e comunidades diversos, em geral, sem- 1985.
1019
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enciclopédia intercom de comunicação
Rádio Regional
Emissora, cuja audiência “gosta de conhecer RADIODIFUSÃO COMUNITÁRIA
o locutor, o cantor, o cronista radiofônico: os Pode-se tratar como radiodifusão comunitária
quais para ela, ainda são pessoas e não tipos. um modelo comunicacional de rádio ou tele-
Pessoas que muitas vezes, leva a representá- visão que determina a finalidade e o sistema de
la no Congresso Nacional e nas assembleias e gestão da emissora, fortemente vinculada ao es-
câmaras políticas estaduais, como seus man- paço geográfico em que está instalada.
datários, em função exatamente desse conhe- A emissora comunitária caracteriza-se por
cimento que rádio e televisão, especialmente, gerar uma programação focada no cotidiano de
proporcionam ao ouvinte”(ANDRADE, l969, seu entorno, abordando temas de interesse so-
p. 37). É a emissora de rádio cuja programação cial, da cultura local, com participação intera-
está voltada para os interesses e necessidades de tiva dos membros da comunidade e a promo-
uma audiência/recepção localizada geografica- ção de uma educação para a cidadania. Desse
mente nos espaços locais/estaduais/regionais. modo, deve valorizar a territorialidade local, o
Reforçando a dimensão conceitual, são que constitui um movimento de resistência à
emissoras de rádio localizadas nas cidades, es- imposição de uma cultura hegemônica (MO-
tados e regiões que integram as unidades da ASSAB, 2006), além de contribuir para o de-
Federação Brasileira. São, por fim, Emissoras senvolvimento econômico local por meio da
de rádio localizadas em diferentes regiões com divulgação e promoção de serviços (PERU-
uma programação identificada com o cotidiano ZZO, 2007).
e com as questões políticas, sociais, econômi- O conceito de radiodifusão comunitária
cas e culturais das populações localizadas ge- compreende que as emissoras sejam democrá-
ograficamente nesses espaços. (Luis Custódio ticas, também do ponto de vista organizacional:
da Silva) autogeridas e sem fins lucrativos, devem garan-
tir a autonomia de cidadãos locais e represen-
Referências: tantes de movimentos sociais no planejamento
LIMA, Z. A. Regionalização do Rádio e Desen- e criação, em vez de concentrar o controle em
volvimento Nacional. Revista de Cultura grupos de poder.
Vozes. Ano 63. Petropolis: Vozes, l969. A radiodifusão comunitária surgiu com a
MARQUES DE MELO, José. Comunicação e utilização de rádios livres, sem concessão go-
Desenvolvimento: por um conceito midia- vernamental, para fins de cidadania. Sua legiti-
tico de região. In: ; GOBBI, Maria midade local acabou por acelerar a regulamen-
Cristina; Souza, Cidoval Morais (Orgs). tação da radiodifusão de baixa potência, o que
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enciclopédia intercom de comunicação
resultou na Lei Federal n. 9.612/1998, específica dia cidadã: utopia brasileira. São Paulo:
para rádios comunitárias. As emissoras devem UMESP, 2006.
operar em FM e atingir um raio de até 1 km a
partir de sua antena transmissora.
Ainda há um grande número de emissoras Radiodifusor
comunitárias irregulares no país e em conse- Empresário do setor de radiodifusão. De acor-
quência uma criminalização e cerceamento da do com a Lei n. 6.615, de 16 de dezembro de
operação dessas rádios. A defesa da regulari- 1978, regulamentada pelo Decreto n. 84.134, de
zação ao invés do fechamento, tendo em vista 30 de outubro de 1979, empresa de radiodifu-
a legitimidade na comunidade, atribui o índice são é aquela que explora serviços de transmis-
de irregularidade à morosidade na legalização são de programas e mensagens, destinadas a
das emissoras pelo poder público (PERUZZO, serem recebidas livre e gratuitamente pelo pú-
2006) e à tendência de se autorizar a concessão blico em geral, compreendendo a radiodifusão
a indivíduos detentores de poder econômico sonora (rádio) e radiodifusão de sons e ima-
ou político (COELHO NETO, 2002). (Juliano gens (televisão).
Maurício de Carvalho) A legislação considera como empresa de
radiodifusão: a) a que explore serviço de mú-
Referências: sica funcional ou ambiental e outras que exe-
BRASIL. Lei n. 9612, de 19 de fevereiro de 1998. cutem, por quaisquer processos, transmissão
Institui o Serviço de Radiodifusão Comu- de rádio ou de televisão; b) a que se dedique,
nitária e dá outras providências. Disponível exclusivamente, a produção de programas para
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ empresas de radiodifusão; c) a entidade que
leis/L9612.htm>. Acesso em: 09/03/2009 execute serviços de repetição ou de retrans-
COELHO NETO, Armando. Rádio Comunitá- missão de radiodifusão; d) a entidade privada e
ria não é crime. São Paulo: Ícone, 2002. fundação mantenedora que executem serviços
MOASSAB, Andréia. Rádios Comunitárias e de radiodifusão, inclusive em circuito fechado
a construção de territorialidades contem- de qualquer natureza; e e) as empresas ou agên-
porâneas. In: Encontro Anual Da Compós, cias de qualquer natureza destinadas, em sua
15. 2006, Bauru. Anais. Brasília: Associação finalidade, à produção de programas, filmes e
Nacional dos Programas de Pós-Gradua- dublagens, comerciais ou não, para serem di-
ção em Comunicação, 2006. vulgados através das empresas de radiodifusão.
PERUZZO, Cicilia M. K. Radio Comunitária, O artigo 222, da Constituição Brasileira,
Educomunicação e Desenvolvimento Lo- prevê que a propriedade de empresa jornalísti-
cal. In: PAIVA, Raquel (Org.). O retorno da ca e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
comunidade: os novos caminhos do social. é privativa de brasileiros natos ou naturaliza-
Rio de Janeiro: Mauad, 2007. dos há mais de dez anos, ou de pessoas jurí-
. Rádios Comunitárias: entre contro- dicas constituídas sob as leis brasileiras e que
vérsias, legalidades e repressão. In: MAR- tenham sede no país. O parágrafo primeiro do
QUES DE MELO, José; GOBBI, Maria artigo determina que, em qualquer caso, pelo
Cristina; SATHLER, Luciano (Orgs.). Mí- menos 70% do capital total e do capital votan-
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culo XX, à prática que estudiosos identificam mete, sim, à crítica enquanto juízo, mas tam-
majoritariamente, hoje, como radio informati- bém à palavra ordenada (logos). Desse modo,
vo. Para Meditsch (2001, p. 30-31), o rádio infor- a razão fica mais diretamente ligada à comuni-
mativo, em fins da década de 1990, caracteriza- cação, do mesmo modo que palavra e discurso
se por uma maior profundidade em relação à (significados mais íntimos do logos) só fazem
programação tradicional de notícias, ao revo- sentido a partir de um juízo proporcionado
lucionar a ideia de reportagem com as trans- pela razão.
missões ao vivo (favorecidas pelo advento da Todavia, todo cuidado é pouco para se
telefonia móvel) e ao tratar como notícia dados evitar confusão. Para isso, a comunicação não
antes não valorizados pelos periódicos, como a deve prescindir da filosofia. Nesta, desde os
hora certa e a temperatura. (Luciano Klöckner) pré-socráticos, o logos vem acompanhado de
um sentido cósmico, relacionado à phisys (“na-
Referências: tureza”, em sentido amplo, até onde alcançam
BAHIA, Juarez. Jornal, história e técnica. 4. ed. os elementos primordiais de constituição de to-
São Paulo: Ática, 1990. Volumes 1 e 2. das as coisas). Com Platão e Aristóteles, toma
Barbeiro, Heródoto; LIMA, Paulo Rodolfo um sentido de definição e de qualidade essen-
de. Manual de radiojornalismo: produção, cial (do grego ousía: “essência”). Também o lo-
ética e internet. Rio de Janeiro: Campus, gos é visto como manifestação do pensamento,
2003. daí a necessidade de se estudar lógica para se
KLÖCKNER, Luciano. O Repórter Esso: a sín- compreendê-lo. Até que logos se relaciona à éti-
tese radiofônica mundial que fez história. ca (sentido de ethos: grupo organizado cultu-
Porto Alegre: AGE, 2008. ralmente), sendo definido como modo de viver.
MEDITSCH, Eduardo. O rádio na era da in- É o que pensavam, por exemplo, os estóicos.
formação: teoria e técnica do novo radio- Na Patrística e na Escolástica, enquanto fi-
jornalismo. Florianópolis: Insular/UFSC, losofias medievais cristãs, o logos se torna a se-
2001. gunda pessoa da Trindade (Jesus Cristo, o Fi-
SILVA, Zander Campos da. Dicionário de ma- lho), já que o “Verbo” se encarnou. Assim, o
rketing e propaganda. 2. ed. Goiânia: Refe- logos se transforma na própria ponte entre o
rência. 2000. homem e Deus. Esse conjunto de conceituali-
zações, no entanto, direcionam os filósofos mo-
dernos a tomarem a razão como a capacidade
RAZÃO de distinção entre o que é falso e o que é ver-
Primeiramente, é preciso distinguir razão de dadeiro, trazendo, novamente, a lógica para o
logos. Razão (do latim ratio), de modo geral, centro da discussão. É o caso de Descartes. Já
significa a capacidade de julgamento própria para Leibniz, a razão, como razão suficiente, é
do humano, enquanto logos (do grego legein: o que explica por que todo fato acontece de um
falar, reunir), de modo geral, significa palavra, modo e não de outro.
discurso. Entretanto, os dois conceitos podem Associada à ideia de clareza, de esclare-
ser associados, como normalmente acontece no cimento, muitas vezes, a razão é interpretada
mundo acadêmico. Em comunicação, razão re- como “luz”. Histórica e filosoficamente, aí in-
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cluem-se os iluministas, sem que isso tenha fender. Imagine que você esteja morando em
sido prerrogativa deles. Desde a Antiguidade, a um apartamento e que o proprietário o pres-
razão é vista como “luz”. Em Kant, a razão pode sione a ajustar o termostato em 18º C, algo que
ser teórica ou prática. A teórica é a própria fa- você já estava fazendo, voluntariamente, antes
culdade dos princípios a priori do conhecimen- de sofrer a pressão. Para afirmar seus direitos,
to, que garantem a possibilidade do mesmo. A você solicita, deliberadamente, que se aumente
prática responde à questão da moral metafísica: a temperatura e adota uma atitude mais negati-
o imperativo categórico (dever universal) dian- va com relação à economia de energia.
te da pergunta “que devo fazer?”. Em qualquer situação, há comportamentos
Em tempos de pós-modernidade, a razão é considerados restritos e livres. Tanto que você
criticada enquanto “senhora de si”, “imperialis- espera que seu professor lhe passe trabalhos
ta” e “centralizadora”. para fazer em casa (uma restrição a seu com-
No entanto, a partir de Nietzsche, muitos portamento), mas não lhe diga o que fazer no
outros filósofos fizeram críticas, as mais diver- fim de semana (comportamento livre).
sas, ao racionalismo e à metafísica, que costu- Logo, quando as pessoas ameaçam aquilo
mam correr pela História lado a lado. Haber- que se considera comportamento livre, acredi-
mas, contrário a qualquer instrumentalização ta-se que essas posturas despertam a motiva-
da razão, atribui a ela um papel de base para ção de reação. Tentamos restabelecer nossa li-
o que denomina “agir comunicativo”, uma re- berdade para fazer o que quer que tenha sido
lação entre sujeitos livres, cidadãos libertos de ameaçado. A motivação de reação pode perme-
toda dominação técnica que possa oprimi-los ar os efeitos bumerangue que ocorrem quan-
e como propagadores dessa liberdade. (Mauro do as pessoas sentem-se pressionadas. Embora
Araújo de Sousa) nenhum estudo isolado sobre esse motivo seja
convincente, a quantidade de dados laborato-
Referências: riais e de observações informais é impressio-
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. nante. (Dirce Escaramai)
Dicionário básico de filosofia. 3. ed. ampl.
e rev. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, Referência:
1996. DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia.
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico São Paulo: Makron Books, 2001.
da filosofia. Trad. Fátima de Sá Correia et
al. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
RECALL
Memória, recordação, teste de pesquisa de mer-
Reação defensiva (reatividade) cado baseada na recordação espontânea de uma
Trata-se da qualidade ou estado do que é rea- mensagem publicitária, servindo para mensurar
tivo, aquele que reage, que luta o máximo pos- sua eficácia e nível de comunicação. É comum
sível em sua defesa. Fato que ocorre quando a vermos a expressão ‘day after recal’, reportando-
pessoa percebe que uma determinada liberda- se a pesquisas que objetivam captar o nível de
de está ameaçada, sente-se motivada a se de- lembrança da véspera; isto é, recordação de um
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co, é a associação livre que age possibilitando A recepção pode gerar diferentes interpre-
aflorar pensamentos que rondam o recalcado tações de parte do público, contudo, estas va-
até que ele próprio esteja acessível à consciên- riações são explicadas em termos de variáveis
cia. (Mario Carezzato) tais como sexo, idade, personalidade, etnia ou
valores, ou instituições como família, identida-
Referências: de cultural, religião.
ALMEIDA, W. C. Defesas do Ego. São Paulo: No entanto, estas mediações importam na
Ágora, 1996. medida em que influenciam o comportamento
FREUD. S. O Recalque. In: Escritos sobre a psi- individual.
cologia do inconsciente. São Paulo: Imago, Trabalhos de natureza sociocultural têm
2004. Volume 1. sido mais interdisciplinares, dialogando com a
FREUD, S. Inibições, sintomas e ansiedade, in psicologia, sociologia, feminismo, semiótica e
Edição Standard Brasileira das Obras Com- a antropologia e seguem a teoria das mediações
pletas de Sigmund Freud. V. XX, Rio de Ja- e os estudos culturais (MARTÍN-BARBERO,
neiro: Imago, 1969. 1987; JACKS, ESCOSTEGUY, 2005; MORLEY,
LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário 1996). Dentro dessa tradição, autores propõem
de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, uma “sociologia da tela” que leve em conta a
2001. complexa dinâmica sociocultural das ações ao
redor do televisor e das tecnologias ao qual está
incorporado, tendo em conta a natureza inte-
Recepção televisiva gral do ato de ver tevê, que ocorre tanto quan-
Recepção é uma palavra extremamente polis- do o aparelho está ligado ou não.
sêmica que se refere a processos conscientes e Dessa forma, a presença da televisão, no
lógicos de atenção, interpretação, compreensão lar, seu uso e seu consumo já não podem ser
ou mera exposição à mídia, ou a processos va- vistos como mera exposição, recepção passiva e
lorativos como a aceitação ou gosto. A maio- alienada e sim como uma atividade que envolve
ria das pesquisa de recepção tomam a televisão processos intelectuais, lúdicos, afetivos, subje-
como seu objeto de estudo, problematizando- tivos e relações de poder, no bojo do complexo
se a formação dos gostos, os prazeres do consu- da vida cotidiana. A televisão participa, assim,
mo, as representações identitárias, a sociabili- da dinâmica da vida social, locus de confron-
dade, assim como questões políticas vinculadas tos ideológicos pela apropriação do sentido e
à criação de consensos hegemônicos. do poder. (Graciela Natansohn)
Abordagens de tipo comportamental se-
guem o paradigma funcionalista, filiando-se à Referências:
perspectiva dos “usos e gratificações” (KATZ, MARTÍN-BARBERO, Jesús. De los medios a las
BLUMLER, GUREVITCH, 1985). Os recepto- mediaciones. Comunicación, cultura e he-
res usam e interpretam programas de tevê de gemonia. México D. F.: Gustavo Gili, 1987.
acordo com suas necessidades e características OROZCO GÓMEZ, Guillermo. Recepción te-
psicológicas e segundo as satisfações que pos- levisiva: tres aproximaciones y una razón
sam obter do meio. para su estúdio. In: Cuadernos de Comu-
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nicación y prácticas sociais. n.2. México: diferenças que caracterizam cada meio de co-
PROIICOM/Universidad Iberoamericana, municação em particular ou, menos ainda, as
1991. diferenças estruturais, sociais e culturais que
JACKS, Nilda; ESCOSTEGUY, Ana Carolina. incidem sobre os indivíduos receptores porque,
Comunicação e recepção. São Paulo: Ha- nesta concepção, a massa significava uma anu-
cker, 2005. lação das singularidades e a evidência do suces-
MORLEY, David. Televisión, audiencias y es- so da homogeneização social (GOMES, 2004).
tudios culturales. Trad. de Alcira Bixio. Um segundo ciclo de estudos, empreendido
Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1996 entre a Segunda Guerra Mundial e a década de
[1992]. 1950, é caracterizado pelos “efeitos limitados” –
KATZ, Elihu; BLUMLER, Jay; GUREVITCH, com o boom das pesquisas empíricas. Iniciava
Michael. Usos y gratificaciones de la comu- uma postura conceitual contrária à anterior: dos
nicación de masas. In: MORAGAS SPÀ, receptores, com suas características psicológicas,
Miguel de. Sociologia de la comunicación sociais e culturais, passava a depender a eficá-
de masas. Estructura, funciones y efectos. cia da mensagem. O surgimento da televisão foi
Barcelona: Gustavo Gilli, 1985 [1974]. Vo- um dos fenômenos que motivou a volta de estu-
lume 2. dos sobre um maior efeito dos meios, com ênfa-
se nas influências a longo prazo, que se exercem
sobre o sistema social (GOMES, 2004).
Receptor/destinatário/ A discussão da recepção como um novo
decodificador ato de produção é empreendida por diversos
O receptor é o sujeito a quem a mensagem se autores, como, por exemplo, Richard Johnson
destina. É ele quem dá o sentido final à men- (1999) e John Thompson (2005). Para esse úl-
sagem. Assim como em relação ao conceito de timo, a recepção é uma atividade, uma prática
emissor, o entendimento acerca do papel do re- pela qual o indivíduo trabalha o material sim-
ceptor passou por alterações. Os estudos pio- bólico que recebe. No processo de recepção,
neiros sobre o processo de comunicação apon- os indivíduos usam as formas simbólicas para
tam o destinatário da mensagem como um suas próprias finalidades, de maneiras extrema-
sujeito passivo, facilmente manipulável pelo mente variadas. Além disso, os usos que os re-
emissor. A perspectiva linear da comunicação ceptores fazem das matérias simbólicas podem
está presente tanto no clássico de Aristóteles divergir consideravelmente daqueles (se é que
sobre a retórica, quanto nos modelos de Harol houve) objetivos pensados ou desejados pelos
Lasswell, Claude Shannon e Warren Weaver. produtores.
É corrente associar-se os estudos da pri- Por seu turno, Conforme Thompson, mes-
meira fase de investigação sobre os efeitos à mo que os indivíduos tenham pequeno ou qua-
metáfora da agulha hipodérmica, segundo a se nenhum controle sobre os conteúdos das ma-
qual os meios de comunicação “injetam” seus térias simbólicas que lhes são oferecidas, eles os
conteúdos diretamente em cada membro da podem usar, trabalhar e reelaborar de maneiras
audiência. Apoiados no conceito de “massa”, totalmente alheias às intenções ou aos objetivos
esses estudos não levavam em consideração as dos produtores. (Aline Strelow)
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PENNA, Leonam. Dicionário popular de fute- delimitado e medido, isolado do mundo num
bol: o ABC das arquibancadas. Rio de Ja- espaço autônomo, contido no interior das qua-
neiro: Nova Fronteira, 1998. tro linhas” (2008, p. 98). Em outra dimensão,
WISNIK, José Miguel. Veneno Remédio: o fu- não se pode desprezar “os acidentes de terreno
tebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das e a força cósmica das intempéries, as lamas ine-
Letras, 2008. narráveis em que chafurdam por vezes ataques
e defesas, as poças imponderáveis em que a
bola subitamente estaciona, sem falar no inde-
RECINTOS PARA PRÁTICA ESPORTIVA fectível ‘morrinho artilheiro’, fazendo gols por
CAMPO: Tem como sinônimos cancha e gra- conta própria” (WISNIK, 2008, p. 98). Por tal
mado. Local onde se pratica atividade esporti- aspecto, impossível não se lembrar dos campos
va, notadamente o futebol, pela força que essa de várzea que demarcam, em boa parte, a geo-
modalidade tem no Brasil. No caso do futebol, grafia do futebol brasileiro em sua origem. Pen-
o campo tem formato retangular, com 90 m a na define o campo de várzea como o “campo de
120 m de comprimento, e 45 m a 90 m de lar- futebol na periferia das grandes cidades, ou nas
gura. Em partidas internacionais admite-se o cidades do interior, não necessariamente gra-
comprimento mínimo de 100 m e o máximo de mado”. (1998, p. 66-67).
110 m, e a largura mínima de 64 m e a máxi- CIRCUITO: Também utilizado com o sig-
ma de 75 m. Pode haver variação nos tamanhos nificado de autódromo e pista de corrida para
dos campos, mas não há mudança na marca- competições de automobilismo, motociclismo,
ção dos espaços dentro do campo, como gran- ciclismo, pedestrianismo etc. também pode de-
de área, marca do pênalti, grande círculo e etc. finir a sequencia de percurso a ser percorrida
O campo de jogo é a regra número 1 do futebol. por cavalos e cavaleiros em provas de hipismo.
Suas demarcações foram estabelecidas no fi- PISTA: Local onde se pratica o atletismo,
nal do século XIX, na Europa capitalista. Fran- em provas de corridas de velocidade (100, 200,
co Júnior lembra que, “da mesma forma que 400, 800, 1500 metros), revezamento e de obs-
na política da época a delimitação mais exata táculo. Também pode se referir a local onde se
das fronteiras era preocupação constante (...), pratica corrida automotiva (como automobilis-
o futebol estabeleceu em 1890 a demarcação do mo e kart), corridas de bicicleta (ciclismo) ou
campo de jogo” (2007, p. 38). Wisnik define que com cavalos (turfe), ou competições de patina-
“a palavra campo designa um terreno extenso ção e esqui. A pista de atletismo tem 400m e a
e não acidentado, e, para além de sua acepção chegada é sempre no mesmo lugar. O que varia,
agrícola, o espaço capaz de tornar-se teatro de de acordo com a prova é o local da largada. O
um jogo de forças, sugerido pela palavra ale- piso, segundo Schinner (2004, p. 229-230), “é
mã Kampf, da mesma raiz, significando luta, e confeccionado em seis camadas: solo, solo ni-
pela palavra campeão, o lutador” (2008, p. 61). velado, pedras, piche, primeira camada de bor-
É nessa mistura de elementos campais que o fu- racha, que absorve o impacto do atleta e ajuda
tebol ganha forma com ingredientes diversos. a impulsioná-lo, e a borracha vulcanizada com
Para Wisnik, “por um lado se estabelece uma 6 mm para resistir aos cravos das sapatilhas e
moldura-padrão para o jogo, o campo plano, às mudanças de clima”. Ele acrescenta que exis-
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tem as pistas cobertas, conhecidas como indo- tições oficiais, como Jogos Olímpicos, as late-
or, que não sofrem ação do tempo. Nas provas rais chegam a 6,10 m. Cercado de cordas e com
de atletismo é usual a utilização de máquinas piso sólido, coberto por uma lona e um feltro,
fotográficas para registrar a chegada dos com- formando uma espessura de 1 a 2 centímetros.
petidores, com o objetivo de sanar qualquer O ringue fica mais elevado que o solo, em uma
dúvida sobre o resultado. “altura que pode variar entre 91 cm e 1,22 m do
QUADRA: Espaço retangular onde são chão e deve ser delimitada por um conjunto de
praticadas várias modalidades esportivas. Em quatro cordas, colocadas nas laterais como for-
sua maioria são de 26 metros de comprimen- ma de proteger os atletas e definir a área de dis-
to e 14 metros de largura, de piso duro (cimen- puta” (Vieira e Freitas, 2007, p. 26). Esses auto-
to ou outro tipo de revestimento). No tênis, a res explicam, ainda, que “as cordas são feitas de
quadra pode ser de saibro ou grama, sendo que fios macios e elásticos e costumam ter diâme-
hoje já existem as quadras de grama sintética tro que varia entre 3 cm e 5 cm” (2007, p. 26).
também. São considerados esportes de quadra Outra parte que compõe a sua estrutura são os
o basquete, o futebol de salão, o handebol, o tê- corners, ou cantos, que têm 1,5 m de altura e são
nis e o voleibol. revestidos de material acolchoado, para prote-
Por seu turno, Duarte (2003) explica que as ger os boxeadores. (Marcio de Oliveira Guerra e
quadras de futebol de salão, por exemplo, de- Ricardo Bedendo)
vem ter o piso construído com madeira, mate-
rial sintético ou cimento, rigorosamente nive- Referências:
lado, para evitar acidentes ou escorregões dos DUARTE, Marcelo. Guia dos Curiosos. Esportes.
atletas. Em quadras profissionais de basquete, São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
vôlei, handebol e futsal deve-se definir a “zona FRANCO JR., Hilário. A Dança dos Deuses: fu-
de substituições” que, segundo Duarte, é o “es- tebol, sociedade, cultura. São Paulo: Com-
paço determinado na linha lateral do lado onde panhia das Letras, 2007.
se encontra a mesa de anotações e cronome- PENNA, Leonan. Dicionário Popular do Fute-
tragem” (2003, p. 181). A quadra também pre- bol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
cisa dispor de um local adequado para os re- VIEIRA, Silvia; FREITAS, Armando. O que é
presentantes legais da partida, ou seja, aqueles boxe: história, regras, curiosidades. Rio de
que vão cuidar da “administração” do jogo. É Janeiro: Casa da Palavra/COB, 2007.
um espaço onde irão trabalhar o representante WISNIK, José Miguel. Veneno Remédio: o fu-
da entidade, o cronometrista e o anotador. Ou- tebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das
tro componente importante é o placar eletrôni- Letras, 2008.
co com cronômetro. Duarte (2003) recomenda
que as quadras devam manter placares em boas
condições de visibilidade para o público e para RECIPROCIDADE
a equipe de arbitragem. “Chama-se de reciprocidade o processo pelo
RINGUE: Quadrado de 4,35 m de lado qual as prestações são trocadas na modalida-
(mínimo) e 6 m (máximo) onde é praticado o de da dádiva e da contradádiva”. Com esta de-
boxe e outras modalidades de luta. Em compe- finição, enigmática para quem não é iniciado
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do regime, a partir de 1964, e dos empresários, cionamento do sistema de transmissão foi cus-
em função da ampliação do mercado nacional. teado pela iniciativa privada, diferente do que
A ação estatal identificada no processo bra- ocorreu, no Brasil, com a Embratel. Uma outra
sileiro confirma a opção ideológica do regime diferença é em relação ao funcionamento das
militar pela implantação do sistema, reforçada redes de televisão, livres, em nosso país, para a
pela base doutrinária, moldada por uma con- produção da programação.
cepção de integração nacional para a realização A legislação norte-americana determinou
dos investimentos. A integração foi uma meta, um limite para a produção das redes, principal-
relacionada à consolidação do projeto de um mente no horário nobre. O aparato legislativo
Brasil em crescimento. estabelecido, nos Estados Unidos, foi beneficia-
A formação de um mercado nacional foi do pela existência de um esquema de produção,
o propulsor da estrutura atual da televisão no baseado no cinema, vinculado ao novo meio de
Brasil. O caminho, pelo qual a Rede Globo re- comunicação, na época da implantação da te-
alizou a ascensão. A contribuição do grupo levisão.
norte - americano Time - Life, realizada com A FCC (Federal Communicattions Com-
a assistência técnica e auxílio financeiro, foi mission), agência do Governo norte-america-
fundamental. O grupo estrangeiro investiu no, à qual está submetida à política do País para
cinco milhões de dólares, a partir de 1962, am- o setor, para restringir a pressão das redes so-
parado por um contrato de cooperação técni- bre as emissoras regionais, limitou a veiculação
ca, impedido constitucionalmente, e que foi da programação nacional, no horário nobre. A
encerrado em 1969, três anos depois de uma limitação foi estabelecida por uma orientação
investigação realizada por uma CPI (Comis- denominada Regra de Acesso ao Horário No-
são Parlamentar de Inquérito), realizada pelo bre (PTAR - Prime Time Acess Rede). Pela re-
Congresso Nacional. gra, só três das quatro horas referentes ao ho-
A investigação não impediu a Globo de im- rário nobre da televisão norte-americana, das
plantar uma infraestrutura para a operação em 19 às 23 h, lado Leste/Pacífico; e das 18 h às 22
rede, uma opção buscada como uma alternati- h, no centro do Estados Unidos e nas monta-
va para a consolidação de uma estratégia que nhas, são ocupadas pelas redes. A limitação fa-
visava uma maior lucratividade. voreceu as emissoras regionais, que investem o
A estreia, em 1969, do Jornal Nacional re- tempo concedido na veiculação de programas
presentou para TV Globo a implantação de de informação.
uma programação, transmitida em rede, logo A audiência é a base para a avaliação da
adotada pelas concorrentes. O telejornalismo é programação da televisão. A televisão atinge
transformado em marco da integração do País, 91,4 % dos domicílios brasileiros, 48.476,947,
feita pela televisão. em 2007, e faz uma cobertura de 99,7% das resi-
O investimento realizado pelo governo bra- dências do País, através da Rede Globo. O sinal
sileiro, para a implantação do sistema de trans- da rede é retransmitido para 5.485 municípios
missão, é uma opção diferente da adotada pelos brasileiros, 98,6% do total. São 121 emissoras
Estados Unidos, sempre usado como referência que transmitem a programação da Rede Globo,
como modelo para a televisão brasileira. O fun- de 392, entre as que transmitem o sinal aberto
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– sem o pagamento para a recepção –, através Assim, analisar cenários, identificar públi-
dos sistemas de transmissão UHF e VHF, todas cos e monitorar as redes sociais é o pressuposto
distribuídas por satélite, a partir de 1982. inicial do gerenciamento da comunicação nes-
Em 2007, o volume recebido pela televisão sa ambiência, porém o diálogo é o ponto chave
representou 60% do total do mercado brasi- e a matriz de interatividade.
leiro, que é o segundo do mundo, o primeiro A interatividade faz parte da gênese dos
entre os países da América Latina. Oito redes meios de comunicação, mas nos suportes digi-
– das quais seis, são formadas pela Rede Ban- tais ela pode ser potencializada e adquirir um
deirantes, Rede Globo, SBT, Record, Rede TV! caráter relacional, mais próximo das interações
e a rede formada pelas emissoras públicas, cul- interpessoais presenciais. A ambiência socio-
turais e educativas, que cobrem o território na- técnica da era digital é marcada, sobretudo, por
cional, e por fim, duas regionais, CNT e Gazeta uma transformação no papel da emissão, que se
–, todas operando , no Brasil, por meio de con- dilui e hibridiza. As mensagens deixam de tra-
tratos de afiliação e retransmissão. (Washington fegar em sentido linear e entram na lógica dos
Souza Filho) fluxos da rede. No caso das redes sociais, cresce
a possibilidade de conversação e de criação de
laços por meio da interação mediada entre in-
REDES SOCIAIS DIGITAIS E GESTÃO DA divíduos e organizações.
COMUNICAÇÃO As redes sociais digitais permitem a am-
Compreender as relações que se estabelecem pliação das capacidades de relação, comuni-
entre o uso das redes sociais digitais e a gestão cação e interação. Nesse sentido, uma rede
de comunicaçã, implica, de certa forma, expli- social pode ser entendida como a participa-
car o que entendemos, aqui, por redes sociais ção individual e/ou coletiva investida e com-
digitais e por gestão da comunicação, além de plementada por interesses e necessidades dos
questionar que gestão é possível nas redes so- atores envolvidos. Assim, de forma extensi-
ciais digitais, já que a digitalização dos supor- va, é possível que se vislumbre essa relação
tes e as possibilidades interativas advindas do na comunicação organizacional, desde que se
desenvolvimento sociotécnico complexificam considere que os atuais suportes, as próteses
a comunicação com vistas a gerir informações comunicativas dos indivíduos e das organi-
provenientes de atores sociais. zações do século XXI, fazem deles senhores
As redes sociais digitais modificam as prá- e presas de fluxos informativos que desafiam
ticas de gerenciamento da comunicação tradi- tempo e espaço e criam novas formas de inte-
cionais, já que possibilitam potencialmente aos ração e vinculação. (Eugenia Mariano da Ro-
públicos um maior poder na disseminação de cha Barichello)
informações e nas relações comunicacionais le-
vadas a efeito nessa ambiência. Gerenciar essa Referências:
comunicação tornou-se um desafio em função CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São
de um controle mais limitado dos processos co- Paulo: Paz e Terra, 2008.
municacionais, pois sua lógica está ancorada DI FELICE, M. (Org.) Do público para as redes.
nas relações interacionais. São Paulo: Difusão, 2008.
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enciclopédia intercom de comunicação
KUNSCH, M.M.K. (Org.) Comunicação Orga- dade própria, local, das comunidades e grupos
nizacional. São Paulo: Saraiva, 2009. Volu- onde elas acontecem.
mes 1 e 2. Niklas Luhmann (2000) apontou em sua
McLuhan, M. Os meios de comunicação ‘Teoria Geral dos Sistemas’, que a sociedade é o
como extensões do homem. São Paulo: Cul- sistema abrangente de todas as comunicações.
trix, 1974. Para o autor, a ideia de redes de comunicação
SODRÉ, M. Antropológica do espelho: por uma e trocas de sentido está presente no próprio
teoria da comunicação linear e em rede. conceito de comunicação. Para o pesquisador,
Petrópolis: Vozes, 2002. “mesmo a comunicação mais simples só é pos-
sível numa rede de conexão recursiva de comu-
nicação passada e futura” (LUHMANN, 2000.
REDES INFORMAIS DE COMUNICAÇÃO p. 93-146).
As redes informais de comunicação formulam- Ao se pensar na palavra rede, seja na sua
se no interior das relações comunicacionais forma oral, falada, ou escrita, uma das princi-
operacionalizadas, no cotidiano das comuni- pais imagens que se formula, é a de um objeto
dades, e nelas pode-se perceber uma reconstru- visível, de uma trama de fios interligados por
ção dos processos que envolvem a memória, a nós. A representação da palavra através da ima-
história, a formação individual, a educação de gem vem sendo metaforicamente adaptada para
cada sujeito, em relação às suas vivências parti- configurar outras redes – inclusive o traçado,
culares, individuais que podem se tornar públi- entrelaçado e ramificado das vias de comunica-
cas. São sistemas em permanente construção e ção. Para Babo as redes tanto podem constituir
reconstrução. as “chamadas infra-estruturas urbanas atuais”,
Hoje, portanto, ao tratar-se das redes in- quanto “ainda uma extensão orgânica, já que
formais de comunicação pode-se dizer que ela pode ser também sanguínea, nervosa etc.,
elas são sistemas autopoiéticos – isto é, que apontando para a complexa interconexão das
se autorreconstróem e se conectam ou se aco- fibras, nervos, neurônios e fluxos de que é cons-
plam estruturalmente, através de pontos co- tituído o corpo vivo” (BABO, 2002, p. 387).
muns com outros sistemas internos e externos, Castells (2001, p. 416) associa as redes a
através de operações de comunicação, no sis- uma nova morfologia das sociedades, e a difu-
tema social maior. São elaborações efêmeras, são da lógica de sua criação determina larga-
que fogem ao plano macro da funcionalidade mente o processo de produção, de experiência,
das estratégias utilizadas nos conteúdos e for- de poder, de cultura. Mas à parte de seu concei-
matos, disponíveis nas páginas dos meios im- to estético, físico, material, pode-se dizer que
pressos - jornais e revistas – ou nas programa- o que o sentido da palavra perpassa pelas rela-
ções das emissoras de rádio, de televisão e da ções sociais e de comunicação, aquelas em que
própria Internet. as pessoas estão presentes e realizam trocas de
Observa-se, no entanto, que aquelas redes mensagens e negociações, utilizando-se de di-
informais são partes de um conjunto de ações ferentes suportes tecnológicos para tanto. A co-
oriundas dos processos midiáticos, vivenciadas municação se insere como um campo a mais
em ritmos e tempos compassados de uma reali- – entre outros privilegiados – que ajuda a cons-
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truir este marco interpretativo. (Neusa Maria o rádio estaria nascendo. Mancisidor (1984)
Bongiovanni Ribeiro) identifica a formação da primeira rede oficial
de rádio entre a parceria da KDKA, WEAF e
Referências: WNAC, no ano de 1924.
BABO, Maria Augusta. A cultura das redes. Logo, entre os nomes mais representati-
(Actas do Congresso ICNC 2001). In: MAR- vos das rádios internacionais que iniciaram sua
COS, Maria Lucia; LISBOA, José Bragança transmissão em ondas curtas, gerando progra-
de Miranda (Orgs.). A rede como metáfora mação para diversos países do mundo, desta-
e suas implicações. Lisboa: Relógio D’Água cam-se: Rádio Havana Cuba, Rádio Canadá
Editores, 2002. Internacional, BBC, de Londres, Voz da Amé-
CASTELLS, Manuel. A era da informação: Eco- rica, Voz da Alemanha (Deutsche Welle), Rádio
nomia, Sociedade e Cultura. São Paulo: Paz França Internacional, Rádio Internacional da
e Terra, 1999. Volume 1 - A Sociedade em China, Rádio Coreia Internacional, Rádio Mon-
Redes. te Carlo (Chipre), Rádio Suíça Internacional.
LUHMANN, Niklas. Autoreferencia e heterofe- As linhas telefônicas e telegráficas e, prin-
rencia. In: La realidad de los médios de ma- cipalmente, a transmissão em ondas curtas fo-
sas. México: Universidad Iberoamericana, ram tecnologias que possibilitaram unificar a
Anthropos Editorial, 2000. comunicação terrestre (MOREIRA, 2002). A
MATTELART, Armand. História da Utopia partir dos anos 1960, as microondas e os saté-
Planetária – da cidade profética à socieda- lites facilitaram o funcionamento dessas redes,
de global. Porto Alegre: Sulina, 2002. cujo objetivo centrava-se principalmente em
VIZER, Eduardo. La Trama (in)visible de la questões geopolíticas.
vida social – comunicación, sentido y reali- Na época da Segunda Guerra Mundial e
dad. Buenos Aires: La Crujia, 2003. da Guerra Fria, por exemplo, as redes repre-
sentaram a possibilidade não só de difundir
informações, mas de veicular ideologias e es-
Redes internacionais de rádio tabelecer formas de controle subliminar pela
Rede de rádio é a formação de uma cadeia de comunicação radiofônica.
emissoras que transmitem, em frequência AM Nos anos 1990, as redes internacionais de
e/ ou FM, a partir de uma emissora líder, de rádio se fortalecem e ampliam o seu alcance
forma simultânea ou esporádica dentro de um com a desregulamentação das telecomunica-
determinado território. Quando essa rede ul- ções e a proliferação da internet, que alia a lin-
trapassa o seu país, podendo ser ouvida inclu- guagem do rádio à convergência das mídias,
sive em outros continentes, transmitindo em criando espaço inclusive para redes de caráter
diversos idiomas, pode ser caracterizada como popular e ativista. Além dos avanços tecnológi-
uma rede internacional de rádio. cos, as vantagens econômicas de racionalização
A história da formação dessas redes co- e diminuição de custos, a globalização e a con-
meça na década de 1920, nos Estados Unidos, centração do capital são indicativos de que as
alguns anos após o surgimento da KDKA, de redes internacionais de rádio continuem a cres-
Pittsburg (BERG,1999), período em que aqui, cer. (Vera Raddatz)
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da primeira década do século XXI, as princi- prevê regras para a programação, jornalismo e
pais entre as de caráter comercial são: Antena comercialização.
1, Bandeirantes AM, Bandeirantes FM, Band- As afiliadas são empresas independentes,
News FM, Central Brasileira de Notícias, Jo- com autonomia jurídica. Ser uma afiliada sig-
vem Pan AM, Jovem Pan FM e Transamérica nifica ter exclusividade na exibição da progra-
FM. (Luiz Artur Ferraretto) mação da rede, enquanto esta usufrui o direito
de comercialização nas áreas de cobertura das
Referências: afiliadas, em todo território nacional. Do ponto
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio – O veículo, de vista econômico, o modelo de rede nacional
a história e a técnica. 2. ed. Porto Alegre: é muito eficiente, pois concentra investimentos
Doravante, 2007. e divide os custos. Uma rede de televisão não
SAMPAIO, Mário Ferraz. História do rádio e da vende apenas programação, mas cobertura e
televisão no Brasil e no mundo (memórias audiência (KURTH, 2006).
de um pioneiro). 2. ed. Campos dos Goyta- A cabeça de rede é proprietária da progra-
cazes: Fundação Estadual Norte Fluminen- mação, cedida à emissora afiliada em troca de
se, 2004. remuneração. Os resultados econômicos prove-
SQUIRRA, Sebastião. O século dourado: a co- nientes da comercialização de intervalos e pa-
municação eletrônica nos EUA. Coleção trocínios de programas são fracionados entre
Novas Buscas em Comunicação. São Paulo: ambas, conforme alguns critérios, entre eles a
Summus, 1995. abrangência de veiculação.
SARTORI, Carlo; GRAZZINI, Enrico. O rá- Com os direitos sobre a programação, a
dio, um veículo para todas as ocasiões. In: rede define atrações e tem total autonomia so-
GIOVANNINI, Giovanni. Evolução na co- bre a grade diária, concedendo à afiliada alguns
municação: do sílex ao silício. 2. ed. Rio de espaços locais para produção facultativa. No
Janeiro: Nova Fronteira, 1987. entanto, a cobertura jornalística regional/lo-
cal é obrigatória para a afiliada. É também sua
responsabilidade expandir a infra-estrutura de
Redes Nacionais de Televisão transmissão e zelar pela qualidade da recepção
De acordo com o Decreto nº. 5.371, de 17 de fe- do sinal na sua área de cobertura.
vereiro de 2005, uma rede nacional de televisão No Brasil, a primeira rede nacional de te-
é o conjunto de estações geradoras e respecti- levisão foi estabelecida em 1° de setembro de
vo Sistema de Retransmissão de Televisão com 1969 pela TV Globo, com a exibição do Jornal
abrangência nacional, que veiculam a mesma Nacional, ao vivo, em cadeia para Rio de Janei-
programação básica (BRASIL, 2005). Na prá- ro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre (KEHL,
tica, uma rede nacional é bem mais do que um 1986). Mesmo com nove emissoras, a Rede Tupi
conjunto de emissoras, operando sincronica- só iria criar uma rede em 1974.
mente. Um contrato minucioso rege a opera- A ‘Teoria Geral da Radiodifusão’, defendi-
ção e a comercialização, com responsabilidades da por Raymond Williams (1990), aponta que
recíprocas para cabeça de rede e afiliada. Esse as redes seguem a lógica da radiodifusão con-
pode ser mais ou menos flexível, mas, em geral, cebida como uma tecnologia de controle social,
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ção de uma informação de um modo ou ma- MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí-
neira diversa. dia. São Paulo: Arte & Ciência, 2003.
Na frase “eu estou com fome” o “eu” é re- O’SULLIVAN, Tim et al. Conceitos-chave – Es-
dundante em relação à forma “estou”, ou vice- tudos de Comunicação e Cultura. Piracica-
versa, pois ambas expressam uma primeira pes- ba: UNEP, 2001.
soa do singular, posto que o sujeito pode ficar
implícito na frase ou, gramaticalmente falando,
sujeito desinencial. O mesmo já não ocorre em REFLEXIVIDADE
‘bateram na porta e saíram correndo’, cujo o su- Giddens, o criador do conceito de reflexivida-
jeito, segundo a Gramática Normativa, é inde- de, o descreve como o processo de constituição
terminado, porque os verbos ‘bater’ e ‘sair’ es- de identidade pessoal, a partir da conexão com
tão na terceira pessoa do plural. os acontecimentos, que norteiam as relações
De certo modo, a redundância auxilia na sociais. Todo ser humano processa informa-
compreensão e na clarificação da intenção do ções adquiridas ao longo de sua vida, quando
emissor e,neste sentido, dá tranquilidade quanto se vai construindo uma visão de mundo, tendo
à compreensibilidade. Mas em excesso, a redun- como referência o vivido, o experimentado, os
dância tende a fazer com que o receptor perca a padrões estabelecidos. Assim, a constituição do
atenção, se canse ou se irrite pela repetição des- sujeito é resultado de uma série de impressões
necessária (típica, aliás, da comunicação de mas- cognitivas, que vão se interiorizando, deline-
sa). A redundância auxilia, igualmente, a corrigir ando uma espécie de mapeamento sobre os co-
ruídos ou permite uma eficiente retroalimenta- nhecimentos adquiridos e selecionados. Pode-
ção de uma mensagem, de maneira automática, se pensar como uma ação afetando outra, que é
na medida em que se liga à chama expectativa afetada por um outro.
do receptor, advinda do bom domínio do reper- A capacidade de reflexividade se dá por meio
tório que ele detenha (KATZ, [s/d], p. 183). do processamento de informações, que propor-
Pode-se mencionar, também, as chama- ciona ao sujeito a habilidade de pensar seu coti-
das redundâncias sociais, fórmulas de expres- diano e expandir os rumos do consumo, sexua-
são que se usam nas instituições, para um bom lidade, relações de trabalho, dentre outros. Esta
relacionamento (O’SULLIVAN, 2001, p. 209) e capacidade de pensar, raciocinar, generalizar, opi-
que, muitas vezes, traduzem, inclusive, o papel nar e prever que é reflexividade. (PINTO, 2002)
ou a posição do emissor na hierarquia social. Já a reflexividade social diz respeito a “uma
(Antonio Hohlfeldt) sociedade onde as condições em que vivemos
são cada vez mais o resultado de nossas pró-
Referências: prias ações, e, inversamente, nossas ações vi-
FISKE, John. Introdução ao estudo da comuni- vem, cada vez mais, a administrar ou enfren-
cação. Porto: ASA, 1993. tar os riscos e oportunidades que nós mesmos
KATZ, Chaim Samuel. Vocabulário de comu- criamos” (GIDDENS, 2000, p. 20). Além dis-
nicação e cultura de massa. Revista Tempo so, é também uma forma de pensar os aconte-
Brasileiro. n. 19-20, p. 183. Rio de Janeiro: cimentos e as ameaças, que surgem no dia a dia
Tempo Brasileiro, [s/d]. da vida social.
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A expansão da reflexividade social tem le- ; BECK, Ulrich; LASH, Scott. Moderni-
vado as pessoas a serem cada vez mais seletivas, zação reflexiva: política, tradição e estéti-
em relação aos tipos de informação que lhes ca na ordem social moderna. São Paulo:
chegam e que recebem, pois como argumenta UNESP, 1997.
Giddens, (1991, p. 45) “a reflexividade da vida
social moderna consiste no fato de que as prá-
ticas sociais são constantemente examinadas e Reforço negativo
reformadas à luz da informação”. Qualquer evento, cuja remoção aumenta a fre-
Vivenciam-se desafios próprios da comple- quência de uma resposta. Para entender me-
xidade da natureza social exposta às incertezas, lhor este conceito, é preciso colocá-lo dentro
riscos e ameaças. do contexto de outros conceitos consagrados
No entanto, existem movimentos que bus- pela teoria behaviorista da aprendizagem, cujo
cam soluções e formas outras de convivência principal sistematizador foi Skinner (1). [Quem
social. “A sociedade torna-se reflexiva, a medi- quiser uma discussão ampla do termo, pode re-
da em que ocorre uma reforma da racionalida- correr ao dicionário de Reber (2), que alinha
de, baseada na multiplicidade de vozes de to- para ele dez significados diversos].
dos os lados de cada um de nós. (BECK apud Para o behaviorismo, dentro do repertório
RIBEIRO, 2006, p.42) dos comportamentos operantes (voluntários –
Reflexividade é, então, um movimento dia- em oposição aos comportamentos involuntá-
lético entre sistemas sociais e opções de for- rios ou reflexos, como um espirro, a salivação,
mas e estilos de vida, pois conforme reflexão o ritmo dos batimentos cardíacos etc), reforço
desenvolvida, a política, a economia, a cultura, é qualquer evento que aumenta a frequência da
os costumes, comportamentos, ameaças aos re- resposta que o precede.
cursos naturais, trabalho, saúde etc. interferem Em outras palavras, o comportamento ope-
na concepção que o sujeito constrói do mundo. rante é fortalecido pelas suas consequências.
Assim: “Em outras palavras, a moderniza- Os reforços podem estar em duas catego-
ção reflexiva também – e essencialmente – sig- rias: reforço positivo ou reforço negativo. Um re-
nifica uma ‘reforma da racionalidade’ que faz forço positivo fortalece o comportamento que
justiça à ambivalência histórica a priori em uma o produz; por exemplo, ao ganhar o torrão de
modernidade que está abolindo suas próprias açúcar depois de executar um dado compor-
categorias de ordenação”. (GIDDENS; BECK; tamento, o cavalo tende a repetir aquele com-
LASH, 1997, p. 12). (Ivone de Lourdes Oliveira e portamento, pois receberá em seguida um novo
Hérica Luzia Maimoni) torrão.
Ao ler um livro pedido em aula, o estudan-
Referências: te recebe elogios do professor e dos colegas; isso
GIDDENS, Anthony. Modernity and self-identi- será um reforço positivo se ele se dedicar à pró-
ty: self and society in the late modern age. xima leitura pedida em aula com mais afinco
Cambridge: Polity Press, 1991. ainda. Um reforço negativo é aquele cuja remo-
PINTO, J. O ruído e outras inutilidades. Belo ção aumenta a frequência de uma resposta. Em
Horizonte: Autêntica, 2002. outras palavras, é fortalecido o comportamento
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do etc. É natural, portanto, que a questão das corporá-las a um texto coeso que daria sentido
diferenças se recoloque e que haja um intenso à ideia de nação. O regionalismo surge, portan-
processo de construção de identidades e que os to, como um efeito desse intento homogenei-
atores sociais procurem objetos de identifica- zante e revelador das distintas características
ção mais próximos. Somos todos cidadãos do componentes do tecido social brasileiro. Pode-
mundo na medida em que pertencemos à es- se falar em dois momentos mais relevantes do
pécie humana, mas necessitamos de marcos de regionalismo.
referência que estejam mais próximos de nós O primeiro tem início, na década de 1920,
(JACKS, 1998). aponta para as novas configurações históricas,
O conceito de regionalismo cultural, por- sociais, econômicas e políticas, traçando uma
tanto, precisa ser compreendido dentro da fronteira entre as regiões Norte, caracterizada
complexa e dinâmica rede de significação do pelo passado agrário e escravocrata, e a Sul, o
mundo globalizado, onde, muitas vezes, a ten- berço da industrialização, da urbanização e das
dência à homogeneização cultural é combatida mudanças que aproximariam o Brasil das na-
através de um aguerrido apego às identidades ções desenvolvidas.
locais, como forma de sobrevivência de deter- O período marca também as primeiras
minadas manifestações culturais locais amea- publicações de relatos de viagens pelo sertão,
çadas de extinção. (Márcia Vidal) e inaugura a produção de imagens e enuncia-
dos sobre as diversidades regionais que acabam
Referências: por sedimentar a diacronia entre o norte pobre
ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escri- e seco e a pujança sulista. Os meios de comu-
tos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. nicação são convocados para dar corpo a esse
Belo Horizonte: UFMG, 2006. novo imaginário, num trabalho que mistura es-
JACKS, Nilda. Mídia nativa, indústria cultual e tetização e relato, colocando em cena intelec-
cultura regional. Biblioteca on-line de Ci- tuais, cronistas, políticos e artistas num movi-
ências da Comunicação, 1998. Disponível mento de pensar e traduzir o Brasil.
em: <http://bocc.ubi.pt>. O segundo momento do regionalismo é
POZENATO, José Clemente. Algumas consi- marcado pela emergência do modernismo, li-
derações sobre região e regionalidade. In: gado às transformações estruturais e culturais
Processos culturais: reflexões sobre a di- da sociedade brasileira. A cidade se legitima
nâmica cultural. Caxias do Sul: EDUCS, como o palco principal da vida contemporâ-
2003. nea, fundamentalmente nas expressões da Se-
SANTOS, Paulo Sérgio Nolasco dos. Regiona- mana de Arte Moderna de São Paulo.
lismo: a reverificação de um conceito. Raí- Logo, a ‘resposta’ regional surge, em 1926,
do, vol.1, n. 2, 2007. com o I congresso Regionalista que marca o
início do movimento cultural que consagra tex-
to e imagem a toda uma produção discursiva,
REGIONALISMO E ESTETIZAÇÃO sobretudo no Nordeste, que vai desde o conhe-
No projeto de costura da identidade nacional, cido romance regionalista de 1930, na literatu-
busca-se atenuar as diferenças regionais e in- ra, com ênfase à prosa refinada de Graciliano
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Ramos, modernista da segunda geração, até a so: Ensaio de História Regional. São Paulo:
pintura, a música, as produções teatrais e, pos- SENAC, 2001.
teriormente, as cinematográficas.
Esse período é responsável pelo floresci-
mento de uma narrativa regionalista particular REGISTROS DISCURSIVOS
que reveza um tratamento estetizado às ques- Nenhum discurso se dá em abstrato, isento de
tões históricas, econômicas e sociais, responsá- fatores condicionantes. Dessa forma, o modus
veis pelas diferenças regionais, com a politiza- operandi da mídia é um dispositivo conforma-
ção dessas questões. dor de um discurso midiático que se dá em um
De qualquer forma, o efeito desse movi- certo tipo de registro: o informal ou o colo-
mento é a instituição do imaginário vinculado quial da publicidade, o formal-institucional da
ao rural, preferencialmente à seca e suas conse- comunicação no contexto das organizações, o
quências sociais, ao atraso e à pobreza ao Nor- formal-fácil de um certo jornalismo (e, dentro
deste, que prossegue no cinema novo. dele, uma série de sub-registros perfilados sob
No entanto, se os temas da miséria, da mi- uma tipificação mais ou menos padronizada: o
gração, da seca, do banditismo e messianismo opinativo, o descritivo, o comentário, o referen-
religioso são eleitos como signos discursivos do cial, e assim por diante).
regionalismo desse período, podem-se obser- A rigor, a noção de registro discursivo des-
var uma atenuação dessas narrativas pelas no- liza entre a própria noção substantiva de dis-
vas mídias, como o cinema, e mais recentemen- curso (com o termo discurso acompanhado de
te, nas produções televisivas. algum adjetivo qualificador do contexto onde
Se por um lado, ainda, recorrem-se às as- ele se dá em sua manifestação atual) e a noção
sociações generalistas e, por vezes, preconcei- mais adjetiva, pesquisável sociolinguisticamen-
tuosas, por outro, as produções estéticas con- te, de modalidade ou tonalidade, isto é, com
temporâneas pintam esses mesmos temas com matizes societais, geralmente balizados pela
cores exóticas, e até mesmo mágicas, onde o re- forma como acontecem as próprias interações
gionalismo se consagra como um lugar mítico onde se manifesta o discurso.
e repositório de uma identidade nacional nos- Desse modo, o registro do discurso jurídi-
tálgica. co durante a sua atualização, por exemplo, no
Logo, há uma relação intrínseca entre re- tribunal do juri, é o de uma eloquência formal.
gionalismo e estetização iniciado, nos primeiros Na roda de amigos, é informal e, muitas vezes,
momentos do século XX, e que permanecem, corretamente prescinde da norma culta. Muitas
até hoje, sob diferentes contextos e configura- vezes a percepção de ruído comunicativo ad-
ções. (Sofia Zanforlim) vém, inclusive, da utilização de certo registro
num contexto onde ele não cabe, como a utili-
Referências: zação de linguagem chula no foyer de um teatro
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz onde se foi apreciar uma ópera. Na comunica-
de. A invenção do Nordeste e Outras Artes. ção não mediada, o jogo de registros é funda-
Massangana: São Paulo: Cortez, 2006. mental para que os processos interpretativos
MELLO, Evaldo Cabral de. A Ferida de Narci- sejam bem sucedidos. Dessa maneira, um re-
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gistro sério no domino do verbal se vê desqua- so) outras normas (resoluções expedidas pelo
lificado pelo registro jocoso no âmbito do ges- Tribunal Superior Eleitoral ou portarias pelos
tual, contribuindo para a percepção da ironia Tribunais Regionais Eleitorais) que também re-
que surgirá do aparente paradoxo. gulamentam a questão.
Nota-se, nessa descrição, que está subja- Embora o termo Propaganda seja indistin-
cente à noção de registro aquilo que se entende tamente utilizado para designar também a Pu-
como enunciação, isto é, o modo (que os for- blicidade (divulgação de produtos comerciais
malistas russos chamariam de sjuzhet) como se ou industriais, marcas, serviços etc), o sentido
articula o ato mesmo de expressar os conteúdos de Propaganda é, originalmente, ideológico e,
a serem enunciados (que os formalistas deno- por essa razão, se aplica muito mais ao campo
minariam de fábula). político do que ao campo comercial. Por isso,
Assim, pode-se tipificar a noção de dis- Propaganda Eleitoral é uma espécie do gênero
curso de acordo com o campo conceitual em Propaganda Política, mais abrangente, e com
que ele é exercido (discurso radiofônico, dis- esse último não se confunde. Outras espécies
curso médico etc.) ou de acordo com a forma de Propaganda Política, além da Propaganda
como ele é exercitado, em cujo caso tem-se a Eleitoral, são a Propaganda Intrapartidária e a
noção de registro, tal como aqui descrita. (Jú- Propaganda Partidária.
lio Pinto) A Propaganda Eleitoral é o ato de promo-
ver ideias, opções ou candidaturas políticas e se
Referências: caracteriza pelas ações ou estratégias de natu-
BENVENISTE, E. Problemas de Linguística Ge- reza política e publicitária desenvolvidas pelos
ral I.Campinas: Pontes, 1988. candidatos, seus apoiadores e mandatários ou
. Problemas de Linguística Geral II. representantes e que têm como alvo os eleito-
Campinas: Pontes, 1989. res, de modo a obter a adesão daqueles às can-
PINTO, J. The Reading of Time. Berlin, New didaturas ou, no caso de um referendo, a uma
York: Walter De Gruyter, 1989. opção política e, em consequência, a conquistar
SHKLOVSKY, Viktor. Theory of Prose. Trad. o voto daqueles.
Benjamin Sher. Urbana. Dalkey: Archive O Tribunal Superior Eleitoral, que é o ór-
Press of the University of Illinois, 1990. gão do Poder Judiciário responsável por ditar
as normas superiores em matéria de Propagan-
da Eleitoral, em suas decisões fixou como sen-
Regulamentação da Propaganda do “propaganda” a manifestação levada a co-
Eleitoral nhecimento geral (manifestação publicitária)
Entende-se como regulamentação da propa- que tenha a pretensão de revelar ao eleitorado:
ganda eleitoral o conjunto de textos legais que (a) o cargo político almejado pelo candidato;
determinam como pode ser realizada a divul- (b) suas propostas de ação para o cargo; e (c)
gação da candidatura de alguém a um cargo a aptidão do candidato ao exercício da fun-
político, fixando limites para essa divulgação. ção pública. E assinala que somente a ocorrên-
Diz-se que são textos legais porque há, além das cia, simultânea, desses três elementos, caracte-
leis propriamente ditas (votadas no Congres- riza a Propaganda Eleitoral.
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informação, sob qualquer forma, processo ou ve- ou não comentários, com correção redacional
ículo não sofrerão qualquer restrição, observado e adequação da linguagem, além de serviços
o disposto nesta Constituição”. Isso vem confir- técnicos como arquivos, pesquisas de dados,
mado no Parágrafo Segundo do mesmo Artigo distribuição gráfica de textos, fotografias, ilus-
que diz que “É vedada toda e qualquer censura trações, desenhos, elaborados para quaisquer
de natureza política, ideológica e artística”. veículos de comunicação, com fins de divulga-
Além dessa previsão constitucional, alguns ção. Há um Projeto de Lei, datado de 2003, que
outros dispositivos, em leis esparsas (como a altera artigos referentes às definições de suas
Lei das Licitações (8.666/93), por exemplo), atividades e das funções, adequando-as à evo-
impõem restrições a que a máquina adminis- lução tecnológica e aos atuais processos profis-
trativa pública não utilize a propaganda institu- sionais.
cional do Governo, em qualquer âmbito, para a Relações Públicas é normatizada pela Lei
promoção pessoal dos ocupantes de cargos po- nº 5.377, de 11 de dezembro de 1967, que define
líticos. (Roberto Schultz) suas atividades específicas, e seu regulamento
foi aprovado pelo Decreto nº 63.283, de 26 de
Referências: setembro de 1968. A profissão envolve informa-
MUNIZ, Eloá. Publicidade e Propaganda – Ori- ções e relacionamentos entre públicos, confor-
gens Históricas. Disponível em: <http://www. me os objetivos da organização, com a utiliza-
eloamuniz.com.br/arquivos/1188171156. ção dos meios de comunicação, em campanhas
pdf>. Acesso em 12/08/2009. de opinião pública, com pesquisas para a orien-
CÂNDIDO, J. J. Direito Eleitoral Brasileiro. tação de dirigentes, na formulação de suas po-
Bauru: EDIPRO, 2001. líticas, na solução de problemas que influam na
opinião pública, promovendo maior integração
na comunidade, para fins institucionais. Desde
Regulamentação das profissões de 2002, a Resolução nº 43, do Conselho Federal
comunicação de Profissionais de Relações Públicas – CON-
É a legislação específica para as atribuições pro- FERP, indica funções e atividades com base na
fissionais de Jornalismo, de Relações Públicas, comunicação estratégica, dirigida, integrada,
de Publicidade e Propaganda, e de Radialismo, institucional, corporativa, organizacional, pú-
que são profissões vinculadas à área da Comu- blica ou cívica.
nicação. Publicidade e Propaganda possui a Lei nº
Jornalismo é regido pelo Decreto-Lei nº 4.680, de 18 de junho de 1965, que dispõe sobre
972, de 17 de outubro de 1969, que dispõe sobre o exercício da profissão, e define quem são os
o exercício da profissão, indicando suas ativi- publicitários. O regulamento foi aprovado pelo
dades. Decreto nº 57.690, de 1º de fevereiro de 1966, e
Uma nova regulamentação ocorreu com o aborda as atividades dos publicitários, de forma
Decreto nº 83.284, de 13 de março de 1979. As generalizada. A profissão está baseada na ex-
atividades da profissão são apresentadas de for- pressão artística e técnica, produzida com ima-
ma objetiva, caracterizadas pelas informações, gem, palavra ou som, utilizados na mensagem
notícias, matérias, escritas ou faladas, contendo sobre as qualidades e conveniências de uso ou
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necessidade de constituição de rede nacional são) por meio do espectro eletromagnético nas
e fixasse as condições técnicas a serem obedeci- ondas de rádio (JAMBEIRO, p.2008).
das pelas emissoras, mesmo se considerado que De modo geral, essas regulamentações já
instituiu a permissão para que 10% da progra- previam a implantação da televisão e, assim
mação se destinassem às inserções comerciais como o rádio, a consideraram de interesse na-
(autorizada em 1º de março de 1932, com o De- cional, ou seja, de interesse público propondo
creto n. 21.111) (FEDERICO, 1982, p. 50). regras para organizar e regular as atividades e
O Código Brasileiro de Telecomunicações, conteúdos que envolveriam essa prática tele-
de 1962, teve sua principal atualização em 1967, visiva. Diante dessa concepção, os legisladores
no período de ditadura militar. Atualmente, no definiram que o Estado é o regulador e protetor
cenário de convergência tecnológica e concen- dessa atividade e, ainda, quem outorga as con-
tração econômica, se debate a regulamentação cessões de uso.
do rádio digital, no Brasil, a partir da necessi- Segundo Anita Simis (2006, p. 1), a pre-
dade de se definir regras precisas para a sua im- missa norteadora dessa legislação fundamen-
plementação, envolvendo a participação do Es- ta-se no “princípio de que o espectro das on-
tado, das emissoras comerciais de radiodifusão das é finito, permitindo a existência de poucos
e das organizações da sociedade civil. (Marcos concessionários e, portanto, a necessidade de
Emílio Santuário) conceituar as frequências (AM, FM, OC, VHF,
UHF) das emissoras de rádio e televisão como
Referências: bens públicos, o que, por sua vez, justifica ple-
ALMEIDA, André Mendes de. Mídia Eletrôni- namente a normalização deste espectro para
ca: seu controle nos EUA e no Brasil. Rio que ele possa ser explorado por intermédio das
de Janeiro: Forense, 2001. condições e padrões estabelecidos pelo Estado”.
BITELLI, Marcos Alberto Sant’anna. O Direito Ainda, de acordo com Othon Jambeiro,
da Comunicação e da Comunicação Social. os já referidos decretos, de 1931 e 1932, permi-
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. tiram a abertura dessas concessões a empresas
FEDERICO, Maria Elvira Bonavita. História da particulares desde que estas fossem “formadas
comunicação: rádio e TV no Brasil. Petró- por brasileiros decentes” o que estabeleceu uma
polis: Vozes, 1982. característica fundamental na estrutura da in-
FERRARETTO, Luiz Artur. Rádio: o veículo, a dústria televisiva no país: o Estado como po-
história e a técnica. 2. ed. Porto Alegre: Sa- der concedente e o interesse privado como exe-
gra Luzzatto, 2001. cutor e beneficiário da atividade”, (2008, p. 91).
Assim, pode-se afirmar que, no Brasil, a regu-
lamentação sobre a atividade televisiva propi-
REGULAMENTAÇÃO DE TELEVISÃO ciou o fortalecimento e o desenvolvimento do
A televisão, no Brasil, está condicionada às re- modelo comercial de produção, desde suas ba-
gulamentações dos serviços de radiodifusão. O ses mais indiciais bem como se centrou na re-
termo foi utilizado nos decretos nº 20.047 (1931) gulação do conteúdo. A partir do Estado Novo,
e nº 21.111(1932) que submetiam a transmissão mais especificamente, com a criação do De-
de imagens e sons (produto exclusivo da televi- partamento de Imprensa e Propaganda (DIP)
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namentais, investidores, clientes, fornecedores, mações que alimentem os interesses das partes.
incluindo os relacionamentos internacionais de Estimula a parceria entre as partes cientes de
um mundo globalizado. que, para atuarem em conjunto e obterem re-
A preocupação maior das organizações sultados, necessitam de mútua compreensão,
contemporâneas se concentra nos relaciona- confiança nos contratos, e uma relação cada
mentos corporativos com os seus públicos. vez mais qualificada na realização de novos ne-
Os públicos representam a rede primária da gócios. (Fábio França)
interação empresa-sociedade e, por essa razão,
constituem objeto das redes de relacionamen- Referências:
tos corporativos de qualquer organização. Deles GRUNIG, J. E.; FERRARI M. A.; FRANÇA, F.
nascem as estratégias que orientam a tomada de Relações Públicas: teoria, contexto e rela-
decisão para o êxito de seus negócios. Trata-se cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão,
do relacionamento definido como especializa- 2009.
do no qual existe o conhecimento das partes – VAN RIEL, C. Comunicación corporativa. Ma-
organização/públicos – e que é orientado pelas drid: Prentice Hall, 1997.
diretrizes da organização, o planejamento estra- RIES, Al. E RIES, L. A queda da propaganda: da
tégico, e define as mensagens enviadas a cada mídia paga à mídia espontânea. Rio de Ja-
público de modo que a empresa seja compreen- neiro: Campus, 2002.
dida e percebida por eles como deseja.
Desse posicionamento, explica França
(2009, Parte III) surgiram as Centrais de Rela- Relações Públicas
cionamento, os programas de relacionamento As relações públicas são definidas como uma
com acionistas, investidores, clientes, a comu- atividade profissional, regulamentada pela lei
nidade, e outros. Isso comprova a necessidade no5.377, de 11 de dezembro de 1967. Como ati-
de se conhecer de modo mais profundo os di- vidade, é responsável pelas funções de analisar
ferentes públicos para se obter indicadores que os cenários das organizações, de desenvolver
garantam a eficácia dos relacionamentos so- pesquisas com seus públicos, de diagnosticar
ciais, institucionais e mercadológicos da orga- e prognosticar tendências, de planejar e exe-
nização. cutar ações de comunicação, assim como de
O relacionamento corporativo é de cará- avaliar se os objetivos propostos foram alcan-
ter permanente. Exige planejamento, objetivos çados.
claros, para que possa ser implantado, acom- Simões (1995, p. 42) define as relações pú-
panhado, monitorado e administrado. Cabe à blicas como ciência “que abarca o conheci-
organização tomar a iniciativa de selecionar os mento científico que explica, prevê e controla
públicos com os quais pretende interagir, criar o exercício de poder no sistema organização-
planos de relações, gerenciando-as de acordo público”. Para o autor o objeto material da ciên-
com o que espera do público, com o que ele lhe cia relações públicas é a organização e, por fim,
pode oferecer e o que espera dela. os públicos e, o objeto formal é o conflito que
A relação deve ser mantida por meio de ocorre no sistema organização-público, ou dia-
contatos frequentes e pela distribuição de infor- leticamente, a compreensão mútua.
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França (2003, p. 130) afirma que “há polê- comunicação para estreitar relacionamentos e
mica permanente nos meios acadêmicos bra- manter um diálogo permanente com o objetivo
sileiros sobre a definição, as funções e o cam- fornecer informações relevantes sobre a organi-
po de ação das relações públicas”. Isso significa zação, diferentemente dos jornalistas que apu-
que existem mais de uma centena de definições ram as informações e as transformam em no-
da atividade, o que dificulta a sua compreensão tícias e, em seguida buscam espaços nos meios
pelos próprios profissionais e sociedade. de comunicação para inseri-las.
As relações públicas não podem ser con- No Brasil, a atividade de relações públicas
fundidas com o marketing, com a propaganda é regulamentada por lei e sua prática é fiscali-
ou as relações com a mídia. Essas atividades zada pelo CONFERP – Conselho Federal dos
mencionadas se interconectam no momen- Profissionais de Relações Públicas, sendo uma
to de desenvolver um projeto real em uma or- profissão exclusiva dos bacharéis em Comuni-
ganização, mas cada uma tem peculiaridades cação Social, habilitação em Relações Públicas.
que a distingue das demais. No nível gerencial, (Maria Aparecida Ferrari)
os profissionais de relações públicas elaboram
programas de comunicação para se comunicar Referências:
com os públicos, ao passo que os profissionais FRANÇA, F. Subsídios para o estudo do con-
de marketing elaboram programas de comuni- ceito de relações públicas no Brasil. Revis-
cação para se comunicar com os mercados. ta Comunicação & Sociedade., Ano 24, no.
Os mercados estão constituídos por pesso- 39, p. 68 – 92. São Bernardo do Campo:
as que adquirem produtos ou que utilizam os UMESP, 1. sem. 2003
serviços de uma organização. Os profissionais GRUNIG, J. E.; FERRARI M. A.; FRANÇA, F.
de marketing podem criar os mercados para Relações Públicas: teoria, contexto e rela-
seus produtos ao segmentar o mercado de mas- cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão,
sa em grupos menores com necessidades espe- 2009.
cíficas de um produto em particular.
Geralmente, um ‘mercado’ não pressiona
uma organização para que desenvolva um pro- Relações Públicas Contemporâneas
duto. Ao contrário, uma organização deve iden- As relações públicas contemporâneas congre-
tificar ou criar o mercado, para logo explorá-lo. gam um conjunto de atividade que administra
No entanto os públicos são diferentes, pois se os relacionamentos entre uma organização e
formam e controlam uma organização quan- seus públicos. É uma filosofia porque reconhe-
do não estão satisfeitos com ela. Embora geral- ce a necessidade da manutenção de um equilí-
mente possa se pensar nos consumidores como brio entre os objetivos do interesse público e o
mercados, eles tornam-se públicos quando privado, agindo por meio do desenvolvimen-
uma empresa lhe oferece produtos que não são to de uma linha de princípios corporativos que
seguros ou que são nocivos ao meio-ambiente servem de base para o estabelecimento de rela-
(FERRARI; GRUNIG; FRANÇA, 2009). cionamentos eficazes das organizações com o
Por outro lado, os profissionais de rela- mercado e seus públicos específicos. Da mesma
ções públicas se comunicam com os meios de forma é, também, um processo, pois se utiliza
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da mediação para estabelecer um diálogo entre que colaboram na construção de relações du-
os públicos e a organização (Ferrari, 2008). radouras e de qualidade com seus públicos es-
A prática das relações públicas no século tratégicos.
XXI se distingue da sua performance nos seus Segundo Grunig (1992), as pesquisas de-
primórdios. Hoje, é a atividade responsável pela monstram que a probabilidade de que as re-
construção e manutenção das redes de relacio- lações públicas contribuam para a efetivida-
namentos das organizações com seus diversos de de uma organização aumenta quanto mais
públicos. Apresenta-se como um conjunto de próximo o comunicador estiver da alta admi-
atribuições amplo e complexo, tanto por seu nistração, ajudando a definir objetivos e a de-
caráter multidisciplinar quanto pela multipli- senvolver planos para atingir os seus públicos
cidade de opções que ela oferece àqueles que a estratégicos.
escolheram como profissão, como também em Segundo Grunig. J., Ferrari, M.A. e Fran-
razão do amplo espectro de públicos que giram ça, F. (2009, p. 160) “o exercício eficaz de tais
em torno dos interesses das instituições. atribuições só será possível se vier fundamenta-
As relações públicas contemporâneas de- do numa visão multilateral da relação e na ca-
vem se pautar pela visão global da relação e pacidade altamente desenvolvida de definir di-
pela capacidade de planejar, definir e fazer a retrizes e de planejar e gerir relacionamentos,
gestão das diretrizes da relação, ultrapassando, ultrapassando, na sua ação, a exclusividade do
na sua ação, o caráter midiático e operacional, caráter midiático e operacional, o que não pas-
típico da comunicação quando utilizada como sa de uma inversão de papéis que transforma
ferramenta ou emprego de instrumentos. O en- relações públicas em instrumento da comuni-
foque das diretrizes é de natureza global, tra- cação quando a comunicação é que deveria ser
balha tanto as relações com a sociedade, quan- o seu instrumento”. (Maria Aparecida Ferrari)
to em sinergia com o planejamento estratégico
da organização, interpretando e traduzindo os Referências:
princípios éticos e operacionais da instituição, GRUNIG, J. E.; FERRARI M. A.; FRANÇA, F.
sua declaração de missão, em diretrizes perma- Relações Públicas: teoria, contexto e rela-
nentes de relacionamento e de comunicação cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão,
com os públicos com os quais se envolve. 2009.
Sua mais importante conquista nos últimos
anos foi a mudança de paradigma de sua práti-
ca, uma vez que as relações públicas passaram Relações Públicas Internacionais
a contribuir para a efetividade organizacional A área de relações públicas internacionais é uma
ajudando a conciliar, de maneira simétrica os especialidade recente que, a partir da década de
objetivos da organização com as expectativas 1980, surge como resultado das novas realida-
dos públicos estratégicos. Esta contribuição des impulsionadas pelo fenômeno da globaliza-
pode ser interpretada como um fator monetá- ção. As Relações Públicas Internacionais, vivem
rio, demonstrando que ela pode agregar valor hoje um momento de auge com o processo de
aos negócios. As relações públicas contribuem globalização, com o intercâmbio de informa-
para a efetividade empresarial na medida em ções e a expansão das relações comerciais.
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rismo e comunidade local. In Anuário da seca. O que existem são maneiras diferentes de
Cátedra da Unesco. 2009. interpretá-lo. O sofista grego Protágoras foi o
. Comunicação turística. Anais do VIII primeiro a sustentar tal abordagem, afirmando
Congresso Brasileiro de Ciências da Comu- que “o homem é a medida de todas as coisas,
nicação da Região Sul. Passo Fundo, RS, das coisas que são o que são, e das coisas que
2007. Disponível em <http://www.inter- não são o que não são”. Ou seja, não há verda-
com.org.br/papers/regionais/sul2007/resu- de objetiva, uma vez que o mundo é para cada
mos/R0492-1.pdf>. Acesso em 18/04/2009. pessoa do modo como parece ser aos olhos des-
KUNSH, Margarida M. K. Relações públicas: sa pessoa.
conceitos e abrangência. Disponível em O relativismo ético sustenta a teoria de
<http://www.conferp.org.br/institucio- que não há nenhum princípio moral univer-
nal/pg_fundamentacao_margarida.htm>. salmente válido: todos os princípios morais
Acesso em 09/09/2004. são válidos com relação à cultura ou à escolha
PERUZZO, Cicilia M. K. Relações públicas no individual. O bem e o mal dependem, portan-
modo de produção capitalista. 3. ed. São to, de circunstâncias internas ou externas, que
Paulo: Summus, 1988. condicionam a validade dos princípios e valo-
SIMÕES, Roberto P. Relações Públicas: função res morais.
política. 3. ed. São Paulo: Summus, 1995. Há, nesse campo, dois subtipos ligados ao
relativismo ético: o convencionalismo (princí-
pios morais são válidos relativamente às con-
RELATIVISMO venções de uma dada cultura ou sociedade) e
Nega toda verdade absoluta ou universal e de- o subjetivismo (escolhas individuais determi-
clara que a verdade, ou melhor, a validade de nam a validade de um princípio moral). Assim,
um julgamento, depende das condições e cir- a moralidade está nos olhos de quem olha (“O
cunstâncias em que é enunciado. O relativis- homem é a medida de todas as coisas”, Husserl).
mo marca a concepção de que tudo é relativo, O relativismo ético é às vezes confundido com
seja em relação às coisas ou àquele que busca o ceticismo ético, isto é, a visão de que não po-
conhecê-las. Esquematicamente, o relativismo demos saber se existem princípios morais vá-
pode operar em uma teoria do conhecimen- lidos. Já o nihilismo ético sustenta que não há
to (fazendo todo o saber derivar da pura sub- nenhum princípio moral válido.
jetividade), em uma teoria do gosto (ligando o Em seu limite, o relativismo pode dar ori-
julgamento estético somente às determinações gem a duas formas antagônicas de pensamento
subjetivas do espírito) ou em uma doutrina político: o anarquismo e o totalitarismo.
moral (fazendo do indivíduo a norma exclusiva Assim, no primeiro caso, os indivíduos
de seu agir). agem no campo social movidos por vontade
Nesse sentido, é possível apontar dois tipos própria. No segundo caso, as atividades de to-
principais de relativismo: o cognitivo e o ético. dos são relativas ao Estado, identificado com
O relativismo cognitivo sustenta que não exis- o rei (nas monarquias absolutistas), a ideia de
tem verdades universais sobre o mundo, pois marxismo revolucionário ou o “guia”, em for-
este não possui nenhuma característica intrín- mas mais extremas de totalitarismo. O relativis-
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mo pode ser determinado também pela eleição ra ideológica do relativismo cultural em que se
de outros pontos de referência: a raça, as con- costuma cair no lugar comum de que cada cul-
dições históricas, as culturas. De acordo com o tura se basta a si mesma. O que a relativização
relativismo cultural, toda cultura (ou socieda- possibilita, independente das posturas teóricas
de) tem sua própria moralidade, e nenhuma é da antropologia, é o desenvolvimento de uma
melhor que a outra. (Ângela Marques) reflexividade epistemológica e ontológica acer-
ca das relações entre o “eu” e o “outro”.
Referências: Em outras palavras, podemos dizr que a re-
AUDI, Robert (Ed.). The Cambridge Dictionary lativização faz o “eu” enxergar-se no “outro” se-
of Philosophy. Cambridge: Cambridge Uni- não enxergar-se a partir do “outro” e vice-versa.
versity Press, 1995. Com efeito, deve ficar claro que há uma distin-
AUROUX, Sylvain (Dir.). Les notions philoso- ção entre “atitude relativista” inerente à postura
phiques – Dictionnaire. Paris: Presses Uni- antropológica e o relativismo enquanto “ide-
versitaires de France (PUF), 1990. ologia” científica, ou seja, enquanto defesa do
BUNGE, Mário. Dicionário de Filosofia. São relativismo cultural.
Paulo: Perspectiva, 2006. O relativismo é um antídoto contra as cer-
tezas absolutas. Em nome das ideias totalitá-
rias, dos autos-de-fé, dos etnocídios, é que o
RELATIVISMO CULTURAL relativismo deve ser proclamado, sem que isso
O relativismo cultural se desenvolveu na antro- implique em um novo absolutismo Iluminis-
pologia com um duplo objetivo, primeiro, su- ta disfarçado de ciência e impeça de ver na re-
perar o etnocentrismo, segundo, destacar o fato lativização o perigo do etnocentrismo. Afinal,
de que uma cultura deve ser compreendida em embutido nessa relativização reside a crença da
sua totalidade, ou seja, em seus próprios ter- superioridade científica em apreender o outro
mos. Contudo, contrariando o que se preten- que, por definição, é diferente de mim.
de superar, muitas vezes o relativismo tem sido Assim, a possibilidade de superação do “et-
usado como justificativa das visões etnocêntri- nocentrismo da relativização”, para usar a ex-
cas e autocentradas daqueles que declaram ser pressão de Rodrigues, requer a crítica sobre o
tudo relativo e, portanto, cada cultura é uma e próprio significado da antropologia, ou mais
cada qual se basta. especificamente, sobre o que o antropólogo faz.
O relativismo é, do ponto de vista episte- Ciência? História? Escreve? Interpreta? Com-
mológico, uma atitude de estranhamento aliada para? Arte? Traduz? Relativiza? Essas são algu-
ao processo de conhecimento do “outro”. Nesse mas das posturas defendidas por antropólogos
sentido, implica numa postura antropológica das mais diversas tradições e escolas desde a
cujo significado básico é relacionar, comparar, formação histórica da disciplina no século XIX.
estranhar, enfim, transformar o exótico (desco- No entanto, o problema não se resolve com
nhecido) em familiar (conhecido) e vice-versa. uma definição única do que a antropologia é ou
Portanto, não se deve confundir a atitude faz. Exatamente o fato de compreender práticas
metodológica (epistemológica) de estranha- e representações tão variadas mostra quão pro-
mento embutida na relativização com a postu- fícua é a antropologia. Assim, a superação do
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Do mesmo modo, se “religião” é defini- religiões ameríndias. O tema da religião tem sido
da como “sagrado”, torna-se importante saber um tema privilegiado nos estudos antropologi-
o que é “sagrado” e o seu oposto, o “profano”. cos, desde o século XIX, quando então antropó-
Outras definições são muito restritivas: a defi- logos como Edward B. Tylor (1832-1917) e James
nição “acreditar em Deus” deixa de fora todos George Frazer (1854-1951), buscaram compreen-
os politeísmos e o Budismo. Do mesmo modo, der, numa perspectiva evolucionista, o animis-
a crença numa realidade sobrenatural ou trans- mo e a magia na origem das religiões.
cendental também não satisfaz, por não ser co- Mas, as principais formulações clássicas
mum a todas as culturas religiosas. A definição sobre as religiões universais encontramo-a em
mais aceita pelos estudiosos, para efeitos de or- Émile Durkheim (1858-1917) com sua obra As
ganização e análise, tem sido a seguinte: reli- Formas Elementares da Vida Religiosa, publi-
gião é um sistema comum de crenças e práticas cada em 1912; e o sociólogo alemão Max We-
relativas a seres sobre-humanos dentro de uni- ber (1864-1920) com seus inúmeros escritos so-
versos históricos e culturais específicos. Duas bre religião e, em particular, sua obra A Ética
observações são necessárias: de um lado, é im- Protestante o Espírito do Capitalismo, de 1905.
portante ressaltar que, nas línguas de outras No Brasil, apesar da classificação tradicional de
civilizações e culturas distintas do Ocidente país católico, predomina uma enorme plurali-
pós-clássico, não existe um termo para desig- dade religiosa e, em particular, o fenômeno do
nar “religião” (no caso da tradição hindu, por sincretismo religioso, cuja característica prin-
exemplo); de outro, que todas as culturas co- cipal é a interação entre religiões diferentes.
nhecidas possuem manifestações que costuma- (Douglas Dantas e Cássio Lima)
mos chamar de “religião”.
Isso significa pressupor que pode existir Referências:
uma religião sem essa conceituação, ou que o BARKER, Eileen; Warburg, Margit (Eds.). New
nosso conceito de “religião” é válido para deter- Religions and New Religiosity. Springfield:
minados conjuntos de fenômenos nas culturas Massachusetts, 1999.
onde aparecem, mas não se distinguem como GEERTZ, Clifford. A Religião como Sistema
“religiosos” no interior de outros universos his- Cultural. In: A Interpretação das Culturas.
tórico-culturais. Assim, o conceito de “religião” Rio de Janeiro: LTC, 1989.
deve levar em conta a variedade dos fenômenos JORGE, J. Simões. Cultura Religiosa: O Homem
que costumamos chamar de “religiosos”. e o Fenômeno Religioso. São Paulo: Loyo-
O fenômeno religioso é diversificado em la, 1998.
número e forma. Até 600 a.C., existiam as ‘re- TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata
ligiões das cidades e dos impérios’, as quais nas- (Orgs.). As Religiões no Brasil – Continui-
ciam e morriam com seus reis. No milênio entre dades e Rupturas. Petrópolis: Vozes, 2006.
600 a.C. e 700 d.C., apareceram as grandes ‘re-
ligiões’, dentre as quais: no Oriente, Zoroastris-
mo, Hinduísmo, Budismo e Confucionismo; no RELIGIÃO E AMEAÇA
Ocidente, Judaísmo, Cristianismo e Islamismo; Religião é crença em entidade suprema, tomada
as religiões africanas; as religiões oceânicas; e as como origem do mundo e destino do ser hu-
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mano, em vida e após a morte. As religiões tem trinação pelas mídias, a produção e a venda
algo em comum: a relação humana com o pas- em massa de roupas, canetas, chaveiros, bolsas,
sado e com uma experiência passada que de- mochilas, de artefatos votivos como velas e am-
veria orientar a vida presente. A religião é ex- polas com líquidos sagrados; de músicas, de ví-
pressão da diversidade cultural e da cultura deos, publicações, transformação de cultos em
(modo de relacionamento do homem com o shows mediáticos e rentáveis pelas doações au-
real, abrangendo o modo de viver, de pensar, feridas.
de relação com mundo natural / natureza, de A fé é, assim, simplificada pelas teologias e
relação vida / morte. Apesar disso, as religiões pela desumanização do ser humano, seja aque-
se tornaram ameaça para o homem, através de le que compra um lugar no paraíso, seja aquele
ações ou discursos que intimidam, prejudicam outro que acredita louvar um ente supremo, ao
e que podem ser tipificados como crime. explodir o corpo e assassinar inocentes.
A História associa religiões ao massacre de Nesse contexto, integradas ao Capitalismo,
culturas (lembrem-se: colonialismo, imperialis- religiões disputam homens e almas, declaram
mo, globalização capitalista, das tentativas de a guerra religiosa e a luta pela hegemonia de
religiões cristãs, islâmica e judaica de delimitar uma religião sobre as demais e criam obstácu-
a pesquisa científica na área biológica e, enfim, los para a paz, praticando o etnocentrismo e o
da associação entre terrorismo e religião). A re- racismo contra a diversidade humana e cultu-
ligião se torna ameaça ao homem e à paz em ral. (Dalmir Francisco)
pelo menos dois níveis.
A primeira é a separação da religião da cul- Referências:
tura de origem. Essa separação permite a cria- WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do
ção / transformação de instituições religiosas capitalismo. São Paulo: Thomson, 2003.
desligadas das comunidades e de indivíduos em SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade. Petrópo-
negócio – principalmente -, dos religiosos. lis: Vozes, 1988.
Essa separação é uma forma de sequestro HEIDEGGER, M. Ensaios e conferências. Petró-
que possibilita a inversão de papéis: a religião polis: Vozes, 2000.
não religa mais o homem à sua origem, não é CLÉVENOT, Michel. Enfoques materialistas da
mais traço de identidade e de vínculo do ser bíblia. Rio de janeiro: Paz e Terra: 1979.
humano com sua comunidade – mas vincula PUECH, H-C. Las religiones em los pueblos sin
o ser humano à política de sustentação econô- tradicion escrita. Lisboa: Siglo XXI, 1982.
mica da própria religião – que não mais serve à
comunidade, mas se serve do homem, colocan-
do fiel e coletividade à serviço das religiões. REPERTÓRIO
A segunda dimensão da separação reli- Sinteticamente, o repertório é a parte do códi-
gião / cultura é a sua entronização na socieda- go dominada pelo sujeito. O repertório inclui
des capitalistas. Harmonizada com as práticas os sinais conhecidos e também as regras para
capitalistas, religiões disputam segmentos da a sua utilização. Na perspectiva de Ferdinand
população, convertidos em massas de fiéis, ins- de Saussure, é graças ao domínio do repertório
taurando o mercado da fé que abrange a dou- que se passa do nível da langue para a parole e
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vice-versa, ou seja: a partir do conhecimento do sociólogo francês, para definir sua concep-
linguístico geral, pode-se criar uma nova pala- ção de ideias coletivas.
vra; ou uma nova palavra pode ser incorporada Representação, Teoria da – Princípio se-
ao sistema geral do idioma. gundo o qual o processo psíquico, sobretudo a
Esse sistema dinâmico permite a vitalida- percepção sensorial, é meramente um correla-
de do código que, mantendo-se com uma base to, um representante do mundo externo. Serviu
permanente, é capaz de sofrer modificações de base à teoria isomórfica de W. Köhler (Glei-
por acréscimos, eliminações ou modificações cbgstaltbeitteorie).
de sentido. Quanto maior o repertório domi- Representar – Substituir algo. Apresentar-
nado por um sujeito, maior a sua possibilida- se como símbolo de algo. Em termos especifi-
de de comunicação e, sobretudo, de expressão camente psicanalíticos, interpretar uma ativi-
matizada. Na informática, o repertório é um dade ou experiência psíquica, ou um conteúdo
elemento gerado pelo sistema de exploração do mental, representando-o simbolicamente com a
computador, contendo documentos e arquivos finalidade de justificar ou de aliviar uma ansie-
eletrônicos (BALLE, 1998, p. 214). (Antonio Ho- dade provocada por essa atividade, experiência
hlfeldt) ou conteúdo reprimido. A representação é tí-
pica de muitos jogos e brinquedos infantis de
Referência: faz de conta (CABRAL e NICK, 1979, p. 340).
BALLE, Francis (Org.). Dictionnaire des mé- (Aparecida de Lourdes de Cicco)
dias. Paris: Larousse, 1998.
Referências:
CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Dicionário Téc-
Representação nico de Piscologia. São Paulo: Cultrix, 1979.
Termo clássico em filosofia e em psicologia LAPLANCHE, J.; PONTALIS, J. B. Vocabulário
para designar “aquilo que se representa, o que de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes,
forma o conteúdo concreto de um ato de pen- 1992.
samento” e “em especial a reprodução de uma
percepção anterior” (LAPLANCHE; PONTA-
LIS, 1998, p. 448). REPRESENTAÇÃO SOCIAL
Freud opõe a representação ao afeto, pois O conceito de representação social surgiu a
cada um destes dois elementos tem destinos di- partir dos estudos de Moscovici, na década de
ferentes nos processos psíquicos. 1960, período em que as ciências humanas e
Representação Coletiva - Expressão pro- sociais buscavam teorias capazes de solucionar
posta por Émile Durkheim (Les Formes éle- o problema da dicotomia entre indivíduo e so-
mentaires de la vie religieuse, 1912) para desig- ciedade. A noção de representação social parte
nar aquela parte de experiência individual que da ideia de que não existe uma realidade única
é comum a vários indivíduos e se atribui à par- e homogênea para todos os sujeitos e grupos.
ticipação deste num grupo social bem definido. O que chamamos de real é, na verdade, um
A religião, por exemplo, é uma representação atravessamento de operações simbólicas, com
coletiva. C. G. Jung baseou-se, nesse conceito as quais representamos o mundo material e
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A reputação trata-se de um conceito que cada vez mais valiosa, é preciso administrar
denota uma percepção que gera respeitabilida- esse ativo em todos os detalhes e a chave dis-
de continuada, que pode ser justificada por ar- so é entender da melhor forma possível o lugar
gumentos sustentáveis e críveis. Comumente onde a credibilidade está depositada: no olhar e
define-se como um conjunto de atribuições fa- na percepção do público”.
voráveis dado a uma organização pela socieda- Costa (2007, p. 303) afirma que “a reputa-
de ou públicos segmentados, considerando-a ção como síntese da conduta é o maior ativo
idônea, responsabilidade social corporativa, da empresa e, por extensão, das marcas. O con-
ética e digna de crédito no desempenho de suas trário, também, é certo: a reputação é o maior
atividades. Almeida (2009, p. 232) afirma que ativo das marcas e, por extensão, da empresa.
“reputação pode ser entendida como um cré- Reputação, com maiúsculas e minúsculas signi-
dito de confiança adquirido pela empresa, es- fica, afinal de contas, confiabilidade, confiança
tando esse crédito associado a um bom nome, no que a empresa faz e diz. Afinal, é conduta
familiaridade, boa vontade, credibilidade e re- ética”. (Fábio França)
conhecimento”. Desta forma, a reputação posi-
tiva aumenta a ‘distintividade’ da empresa, ofe- Referências:
recendo-lhe vantagem competitiva, por não ser ALMEIDA, A. L. C. Identidade, imagem e re-
facilmente copiada por outros. putação organizacional: conceitos e dimen-
É um conceito formado por dados deno- sões da práxis. In: KUNSCH, M. (Org.).
tativos e conotativos da organização. Envolve Comunicação Organizacional. São Paulo:
a longa trajetória da organização, história, fun- Atlas, 2009. Volume 2.
dador, princípios éticos, operacionais, a identi- ROSA, M. A reputação na velocidade do pensa-
dade, a imagem corporativa, a sua missão, tec- mento. São Paulo: Geração Editorial, 2006.
nologia, a qualidade de seus produtos, de sua COSTA, J. Entrevista. In: Organicom. Ano 4, n.
prestação de serviços, a seriedade de sua ad- 7, , p. 298, 2. sem. 2007.
ministração, relações com áreas governamen-
tais, financeiras, acionistas, consumidores, for-
necedores, correspondência de seu discurso RESISTÊNCIA AMBIENTAL
com suas práticas. Hoje, os conflitos ligados a A multiplicidade dos discursos sobre os pro-
reputação são ainda mais graves devido à pos- blemas ecológicos do meio ambiente está vin-
sibilidade de imediata divulgação de qualquer culada ao conjunto das práticas micropolíticas
deslize cometido por organizações no mundo de resistência ao poder exercido na sociedade
inteiro pelos mais diversos das mídias digitais e de riscos. Para pensar uma definição conceitual
das redes sociais. de resistência ambiental, é necessário aceitar a
Segundo Rosa (2006, p.142) “mas credibi- premissa metodológica do filósofo Michel Fou-
lidade, reputação, deve ser encarada como um cault de que onde há poder, há resistências.
ativo, como uma poupança. Algo que se deve Portanto, resistência ambiental significa a
acumular ao máximo ao longo do tempo, in- capacidade de articulação social, ação (micro)
clusive, para ter onde sacar, em caso de neces- política e produção de estratégias comunica-
sidade. Para acumular e tornar essa reputação cionais que os grupos minoritários em rela-
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ção à sociedade hegemônica possuem para en- uma crítica aos modos de subjetivação presen-
frentar o poder de devastação socioambiental tes na sociedade capitalista.
da tecno-ciência e sua incapacidade em evitar Nos grupos minoritários de resistência am-
a desordem ecológica da biosfera gerada pela biental, também, imperam propostas de novos
sua própria falta de possibilidade em prevenir valores éticos, estéticos e existenciais visando
e controlar, com certeza absoluta, as ameaças superar a lógica desenvolvimentista da socie-
artificiais. dade baseada em um sistema de valores de acu-
Felix Guattari (1990), ao apontar que os mulação infindável de bens materiais. (Leonel
problemas ecológicos vão muito além da degra- Aguiar)
dação do meio ambiente, propõe uma ecologia
em três registros: ambiental, social e mental. Referências:
Em sua crítica ao papel exercido pelos GUATTARI, FÉLIX. As três ecologias. Campi-
meios de comunicação de massa, Guattari, por nas: Papirus, 1990.
seu turno, assinala que, ao confinar a questão LEIS, Héctor. A Modernidade insustentável: as
ecológica aos limites da ciência e da eficácia críticas do ambientalismo à sociedade con-
tecnológica para o gerenciamento do meio am- temporânea. Petrópolis: Vozes, 1999.
biente, a mídia não aborda as degradações am- MCCORMICK, John. Rumo ao paraíso: a his-
bientais como relativas, simultaneamente, aos tória do movimento ambientalista. Rio de
três domínios: o do meio ambiente, o das rela- Janeiro: Relume-Dumará, 1992.
ções sociais e o da produção da subjetividade.
O novo espaço político de resistência am-
biental é, nesse entendimento, um campo de RESISTÊNCIA CULTURAL
articulação desses três registros, englobando, O termo resistência pressupõe uma ideia de
além da ecologia do meio ambiente, a ecologia oposição intencional a determinada ação ou
social e a ecologia mental. situação. Cultural, por sua vez, neste contex-
Entender a resistência ambiental como ca- to, tem o significado de “por meio da cultura”.
pacidade de ativismo micropolítico dos grupos Fazer valer-se de manifestações culturais para
minoritários é, portanto, apontar para a com- opor-se a uma ação ou situação determinada
plexidade da questão ecológica, que não pode seria, portanto, uma definição de resistência
ficar restrita as políticas preservacionistas ou cultural.
conservacionistas por parte dos setores políti- O autor Stephen Duncombe (2002) propõe
cos hegemônicos ou das instâncias executivas que o termo “descreve a cultura sendo usada,
governamentais. Nesse sentido, os ecologistas consciente ou inconscientemente, efetivamente
estão vinculados a emergência dos novos sujei- ou não, para resistir e/ou transformar a estrutu-
tos da História, que surgem na década de 1960 ra política, econômica e/ou social dominante”.
e que se pautaram pela reivindicação de direi- Duncombe faz referência indireta ao pen-
tos sociais específicos. samento de Antonio Gramsci (1968) e seus
Em comum, todos esses novos movimen- conceitos de hegemonia e contra-hegemonia
tos sociais apresentam, além da especificidade – a dominação ideológica promovida por uma
das políticas singularizantes, a formulação de classe social sobre outra e as forças de oposição
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à mesma, respectivamente. A resistência cultu- Por fim, Duncombe (2002) defende que a
ral é a contra-hegemonia por meio da cultura. resistência cultural mais efetiva é aquela em que
Mas, como se “usa” uma cultura? Para isso, o indivíduo ou grupo positiva, ou toma por re-
é necessário recorrer às múltiplas definições do alidade, a sua manifestação solapando a cultura
termo propostas por Raymond Williams (1989), dominante. O autor expressa isto na compara-
das quais nos interessam duas visões: cultura ção entre ações “Sim! É isso que apoiamos!” –
como um conjunto de práticas e significados onde se passa a viver a cultura resistente como
que definem um padrão de como viver e enten- se fosse comum – contra ações “Não! Estamos
der o mundo para determinado grupo social; e opostos a isso!” – onde se protesta contra a
cultura como um produto, uma realização, um cultura dominante pela crítica e propostas al-
objeto, uma coisa resultado deste padrão. ternativas, ao invés de viver diretamente estas
A resistência cultural poderia se dar, por- alternativas. A primeira opção seria ideal por
tanto, através da adoção, por parte de um indi- propiciar maior engajamento dos participantes
víduo ou um grupo, de um conjunto de práti- e, por conseguinte, maior poder de ocasionar
cas e significados que se opusesse ao conjunto transformações. (Érico Gonçalves de Assis)
dominante de práticas e significados em deter-
minado tempo e lugar. Poderia ser também um Referências:
produto, uma realização, um objeto, uma coisa DUNCOMBE, Stephen. Cultural resistance rea-
que fugisse deste padrão. der. Londres: Verso, 2002.
Diversas manifestações musicais são vis- GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organi-
tas como formas de resistência cultural. O rap, zação da cultura. Rio de Janeiro: Civiliza-
como resistência de uma cultura da pobreza ção Brasileira, 1998.
contra a classe dominante rica, e o punk como WILLIAMS, Raymond. Cultura. São Paulo: Paz
afirmação do inconformismo em uma socie- e Terra, 1992.
dade predominantemente conformista são al-
guns exemplos. Determinada forma de vestir-
se também pode desafiar códigos de vestimenta RESISTENCIA INFORMACIONAL
na sociedade. A manifestação a favor do com- É a atitude de resistir à atomização do mundo
portamento homossexual é resistência a uma globalizado e midiatizado, valendo-se de um
cultura hegemônica heterossexual. tipo específico de informação, a informação mi-
Nem toda forma de ativismo político-so- úda. O conceito parte da constatação de que a
cial, porém, pode ser considerada resistência chamada “era da informação” tem gerado indiví-
cultural – é necessário que ela defenda valores duos desterritorializados e desinformados. Des-
não-hegemônicos. Ocupar terras, ilegalmen- territorializados, porque a comunicação global
te, em uma sociedade oligárquica é uma forma rompeu os vínculos que eles mantinham com
de resistência. Rechaçar, por força, disputa jurí- sua espacialidade original, o território (Haber-
dica ou outro meio, tentativas de ocupação de mas, 1969) onde construíam sua existência e
terra em uma sociedade oligárquica não é resis- sua referência em relação ao Outro social.
tência, e sim manifestação esperada das forças Desinformados, porque o que as novas tec-
dominantes. nologias vêm, ilimitada e velozmente, propor-
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letivo de artistas que se dedica a um tipo de tam que não podemos varrê-la para debaixo do
arte que reflete as demandas e as visões da luta tapete e exigir vozes autênticas, pois assim esta-
popular; isto é, grupos que utilizam o proces- ríamos agravando o problema, mesmo que es-
so artístico como instrumento para a mudança tejamos tentando solucioná-lo.
social. Nesse sentido, a proliferação de “inauten-
No entanto, essa definição inclui realidades ticidade” tem um aspecto positivo, pois a cons-
sociológicas tão diversas que a torna imprecisa. ciência política surge a partir do momento em
A classe trabalhadora foi sendo gradualmente que temos que pensar na maneira pela qual fa-
isolada politicamente e, com isto, novos sujei- laremos em nome de determinados grupos ou
tos sociais e novas práticas de mobilização so- comunidades. Há muitas posições de sujeito
cial emergiram. que alguém pode ocupar e “falar como” envolve
Os novos movimentos sociais nos países auto-distanciamento e generalização para tor-
centrais são constituídos por grupos que reve- nar-se um representante. (Silas de Paula)
lam o excesso da regulação na modernidade
quando denunciam novos caminhos de opres- Referências:
são que não são específicos da relação de pro- FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de
dução, tais como guerras, poluição, sexismo e Janeiro: Paz e Terra, 1977.
racismo - a nova classe média. (SANTOS, 1994) MARTÍN-BARBERO, J. Dos Meios às Media-
Nas áreas periféricas esses movimentos são ções. Rio de Janeiro: UFRJ, 1987.
muito mais heterogêneos. Paulo Freire (1977) SANTOS, B. de Souza. Pelas Mãos de Alice: O
caracterizou essas regiões e os grupos sociais Social e o Político na Pós-modernidade.
oprimidos do mundo como detentores de “cul- Porto: Aforamento, 1994.
turas do silêncio” e argumenta que o processo SPIVAK G.; GUNEW C. Questions of Multi-
de dominação se efetua porque é negado aos culturalism. In: DURING, S. (Org.). The
dominados o direito à palavra. Todavia, a pro- Cultural Studies Reader. Londres: Routled-
pagação das novas tecnologias da comunicação ge, 1993.
e informação está dilatando este conceito. Nos
dias de hoje, “cultura do silêncio” é bem mais
do que a incapacidade de falar; é também a in- RESPONSABILIDADE SOCIAL
capacidade de produzir imagens e sons tecno- Sob influência das ciências biológicas e exatas,
lógicos. a Sociologia nascente, no século XIX, conce-
A comunicação se transformou numa are- bia a vida social como resultado de leis que go-
na estratégica para a análise de obstáculos e vernavam a vida social, sem que os indivíduos
contradições que movem as sociedades. Para delas tivessem consciência. Autores como Max
Martin-Barbero (1987) é possível redesenhar a Weber e Karl Marx, entretanto, procuraram en-
utilização das tecnologias de comunicação, se tender o papel da consciência social na socie-
não como estratégia, pelo menos como tática. dade e na transformação histórica, através de
Embora a questão da representação, au- conceitos como “ação social” e “práxis”.
torrepresentação e representação do outro seja Mas, o advento de teorias como a Psico-
problemática, Spivak e Gunew (1993) argumen- logia e a Psicanálise, bem como os esforços
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elaborados pelos estudos da moral e da Éti- namentais e instituições sem fins lucrativos,
ca, acabaram por dar mais ênfase ao papel da deu ao conceito de responsabilidade social nova
consciência humana como processo transfor- roupagem – passou a designar a consciência
mador da realidade social. Os estudos políti- social e política dessas instituições em relação
cos e jurídicos também contribuíram para uma à sociedade na qual atuam, conclamando-as a
visão da sociedade como um conjunto de rela- ações planejadas de caráter assistencial, educa-
ções estabelecidas por pactos relativamente vo- cional ou filantrópico que se impõem como um
luntários estabelecidos entre indivíduos livres e dever.
conscientes. Essa ideia, presente já nos estudos De qualquer forma, como atributo dos in-
de Jean Jacques Rousseau, ganha força na So- divíduos, do estado ou das organizações, a res-
ciologia contemporânea. ponsabilidade social é analisada no âmbito das
Embora de uso recente, o conceito de res- discussões a respeito de liberdade, consciência
ponsabilidade social já tem uma história – foi e atitude ética perante a realidade social. Na
pensado inicialmente como a consciência que contramão da defesa dos interesses pessoais, a
um indivíduo tem das consequências de seus responsabilidade social aprofunda uma visão
atos sobre a vida dos outros e da sociedade, le- coletiva, consciente e consequente da vida em
vando-o a ser imputado pelos seus atos. Com grupo. (Maria Cristina Castilho Costa)
o desenvolvimento dos estudos sociológicos e
políticos, a responsabilidade social passou a ser
vista especialmente como atributo do Estado RETRATO FOTOGRÁFICO
que teria entre suas funções o dever de regular O retrato fotográfico é uma modalidade da foto-
a vida social. grafia de pessoas e, normalmente, apela à pose
Com o desenvolvimento do neoliberalismo do sujeito ou sujeitos fotografados, podendo
e da proposta de uma sociedade regulada prin- ser realizado em estúdio. A pose permite ao
cipalmente pelas leis de mercado, concebidas sujeito e ao fotógrafo moldarem o significado
como naturais, a noção de responsabilidade so- potencial da mensagem fotográfica em função
cial passa do âmbito da vida política para o da das suas intenções. Isto é, quando um sujeito
ação das instituições e das organizações. Se em posa, torna-se mais fácil controlar a imagem
parte do pensamento contemporâneo as em- que transmite de si. Mas pode haver retratos
presas e grande corporações substituem o Es- não posados. Por outro lado, no estúdio é pos-
tado na condução da vida social e econômica, é sível controlar fatores como a iluminação e o
compreensível que o dever para com a socieda- cenário.
de passe das instituições políticas para a alçada O retrato pode ser individual ou coletivo,
das instituições econômicas. sendo este último também conhecido por re-
Com esse deslocamento, responsabilidade trato de grupo. Conforme ensinou Roland Bar-
social passa a ser tema de ação administrativa, thes, a missão do retratista é explorar o sig-
comunicação estratégica e gerenciamento de nificado potencial que quer dar à mensagem
recursos humanos. fotográfica, jogando com fatores como a pose,
O desenvolvimento do chamado terceiro as expressões e gestos do sujeito, o cenário, a
setor, constituído por organizações não-gover- composição, a eventual caracterização do sujei-
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orientando-o sobre a condução correta do ve- contexto, aparece a profissão do crítico, conhe-
ículo. Extensivamente, pode-se considerar que cido na época como “árbitro das artes”.
a consequência de um fenômeno qualquer, Na Alemanha, o primeiro periódico dedi-
exercido sobre outro fenômeno, seja igual- cado exclusivamente à música chama-se Criti-
mente visualizado enquanto retroalimenta- ca Musica, (1722-25). Seguem-se outros como
ção, sob uma perspectiva mecanicista (BAL- Der critische Musikus (1737-40). Mais tarde, em
LE, 1998, p. 219). 1798, é fundada a Allgemeine musikalische Zie-
Num sentido mais amplo, o feedback é a si- tung. Na Inglaterra, publicações especializadas
tuação em que, num circuito fechado de vídeo, dirigidas para a música surgem um pouco mais
uma câmera é apontada para a tela do próprio tarde: 1752, com o Essay on Musical Expression e
monitor, que exibe a imagem por ela captada, o Essay on Musical Criticism, fundada em 1789.
gerando o efeito da imagem dentro da imagem, Somente nas primeiras décadas do século XIX
ao infinito (MELLO, 2003, p. 277). (Antonio é que a crítica musical vai ser inserida no jor-
Hohlfeldt) nalismo diário.
Nos Estados Unidos, as primeiras publica-
Referências: ções surgem em Boston, por volta de 1830. Uma
BALLE, Francis. Dictionnaire des médias. Paris: delas, a Dwight’s Journal of Music (1852-1881), é
Larousse, 1998. voltada exclusivamente para a música. Desde
DÓRIA, Francisco Antonio. Vocabulário de co- então, diversas revistas se proliferam em vários
municação e de cultura de massa. In: Re- países, principalmente após a II Guerra Mun-
vista Tempo Brasileiro. n. 19-20, p. 167. Rio dial, devido à ascensão da chamada música
de Janeiro: Tempo Brasileiro, [s/d]. popular (gêneros musicais que não se enqua-
FISKE, John. Introdução ao estudo da comuni- dram no que é conhecido como música erudi-
cação. Porto: ASA, 1993. ta). Entre os principais títulos estão Billboard
LITTLEJOHN, Stephen W. Fundamentos teóri- (EUA,1894); Melody Maker (Inglaterra, 1926);
cos da comunicação humana. Rio de Janei- Down Beat (EUA, 1934); New Music Express
ro: Zahar, 1982. (NME, Inglaterra, 1952); Crawdaddy! (EUA,
O’SULLIVAN, Tim et al. Conceitos-chave – Es- 1966) e Rolling Stone (EUA, 1967).
tudos de comunicação e cultura. Piracica- No Brasil, as revistas musicais aparecem
ba: UNEP, 2001. somente, no século XX, reflexo de uma im-
MELLO, José Guimarães. Dicionário multimí- prensa que surgiu tardiamente. Isto refletiu no
dia. São Paulo: Arte & Ciência, 2003. surgimento de revistas voltadas para a música,
que aparecem a partir dos anos 1950. Entre as
publicações, destaque para Revista da Música
Revista Musical Popular (1954-56); Pop (1972-78); Somtrês (1979-
Publicações destinadas à divulgação do que 89); Bizz (1985-2007) e Revista Concerto (1995).
acontece no meio musical. No final do sécu- (Cassiano Scherner)
lo XVII, surgem os primeiros periódicos, que
veiculam crítica e detalhes dos acontecimentos Referências:
que envolvem a música e o seu público. Neste SADIE, Stanley (Ed.). Criticism. In: The New
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Groove – Dictionary of Music and Musi- Um exemplar muitas vezes é lido por mais
cians. 2. ed. USA/UK: Macmillan Publish- de uma pessoa e passa de mão em mão – em
ers Ltd, 2001. Volume 6. casa, no ambiente de trabalho ou nas salas de
JONES, Steve (Org.) Pop music and the press. espera de consultórios e escritórios.
Philadelphia: Temple University Press, Diversas revistas brasileiras são adaptações
2002. ou cópias de similares que circulam na Europa
SQUEFF, Enio; WISNIK, José Miguel. Música – e nos Estados Unidos (MIRA, 2001). Não obs-
O Nacional e o popular na cultura brasilei- tante a variedade observada nas bancas, boa
ra. São Paulo: Brasiliense, 2001. parte dos títulos campeões de venda reúne-se
em poucas editoras. O mercado de distribuição
é altamente concentrado. Esta situação merca-
REVISTAS dológica dificulta a sobrevivência de editoras
O uso principal do termo está associado a pu- e publicações menos conhecidas e com menor
blicações periódicas impressas em formato ta- estrutura.
blóide, embora, também, possa referir-se à O mercado de revistas é marcado pela seg-
versão online e a títulos encontrados exclusiva- mentação, que geralmente se dá em função
mente na internet. Há revistas mensais, sema- de três características: gênero, geração e clas-
nais, quinzenais, bimestrais e com outras pe- se social (MIRA, 2001). As revistas estão liga-
riodicidades. Circulam através da venda avulsa das a escolhas por parte do público, que com
em bancas e do envio a assinantes e ao público elas desenvolve relações de expectativa e afeto.
de distribuição dirigida (no caso de publicações A preocupação com a sobrevivência em merca-
especializadas, técnicas ou institucionais, desti- dos competitivos muitas vezes as leva a querer
nadas a sócios e clientes de entidades e empre- agradar ao leitor, adotando posições e abordan-
sas e a especialistas e técnicos de certas áreas). do temas bem aceitos pelo público e, conse-
No sentido lato, são revistas produtos diversos quentemente, legitimando o status quo (WOL-
como: história em quadrinhos, palavras cru- SELEY, 1970, p. 250).
zadas, periódicos científicos, suplementos do- No que tange ao aspecto econômico, trata-
minicais (encartados em jornais), de conteúdo se de um tipo de mídia altamente dependente
erótico etc. de publicidade. Na maioria dos casos, se sus-
Costumam explorar intensamente o uso de tenta pela venda de espaço publicitário, ou seja,
imagens (fotografias, em especial) e cores, cuja seu negócio principal é vender a atenção do pú-
apreciação é o principal interesse de vários lei- blico a anunciantes. (Rafael Fortes)
tores. Do ponto de vista informativo, o veícu-
lo apresenta a possibilidade de variar bastante Referências:
as pautas e de aprofundá-las através de maté- MIRA, Maria Celeste. O leitor e a banca de re-
rias extensas, característica viabilizada em par- vistas: a segmentação da cultura no sécu-
te pela menor “urgência”, se comparado com a lo XX. São Paulo: Olho D’Água/FAPESP,
produção jornalística em mídias que obedecem 2001.
a uma periodicidade mais curta (rádio, televi- WOLSELEY, Roland. Efeitos sociais das revis-
são, impressos diários). tas. In: STEINBERG, Charles S. Meios de
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Comunicação de Massa. São Paulo: Cultrix, tais como New York, Chicago, Boston que con-
1970. tém artigos e uma miríade de assuntos relacio-
WOOD, James Playsted. A revista de hoje. In: nados a uma cidade em particular ou seu en-
STEINBERG, Charles S. Meios de Comuni- torno imediato.
cação de Massa. São Paulo: Cultrix, 1970. 2) Revistas Regionais (Regional Magazi-
nes) de vários conteúdos temáticos, como Mid-
Atlantic Country, Southern Living que direcio-
Revista Regional nam sua cobertura a um vasto nicho geográfico
É a revista de interesse regional, geografica- (um estado, parte de um estado, mais de um es-
mente especializada, que direciona seu conte- tado, ou uma região maior).
údo editorial a uma cidade ou região específi- 3) Revistas Especializadas de Cidades (City
ca, alcançando uma audiência de consumidores Specialty Magazines), como Phoneix Home &
em geral. O segmento, porém, não está prescri- Garden ou San Diego Woman que são especia-
to no mercado editorial brasileiro, e nos setores lizadas tanto em relação à cobertura geográfica
afins; consta só do Anuário de Mídia (2004, p. quanto ao conteúdo das matérias.
125), sem, contudo, nenhuma descrição que o 4) Revistas Regionais Especializadas (Re-
defina, onde se veem revistas de bairros da ci- gional Specialty Magazines) como Outdoor In-
dade de São Paulo – como TAW Ibirapuera. diana, Southwest Art, que são especializadas
Nesse contexto, levantamento feito junto às tanto geograficamente e em relação a algo mais
distribuidoras de revistas pela ANER – Asso- abrangente que os interesses da cidade quanto
ciação Nacional de Editores de Revistas (Revis- pelo conteúdo das matérias.
ta Em Números, 2005) traça um panorama da No Brasil, pesquisa recente (SALOMÃO,
produção nacional, segundo um agrupamento 2009, p. 342) constata a existência de 849 títu-
dos gêneros de revistas, conforme se segue: (a) los nas cinco macrorrregiões brasileiras – exce-
Femininas: Lazer; Casa e Decoração; Culinária; tuado o eixo Rio-São Paulo, mas incluindo-se o
Femininas de Saúde e Bem estar; Celebridades; interior desses estados. Todos os tipos de revis-
Femininas teen; TV; Femininas Populares; (b) tas regionais foram encontrados, excetuando as
Masculinas (Automotivo); Comportamento revistas regionais especializadas. (Virgínia Sa-
Masculino; Negócios; Futebol; (c) Interesse Ge- lomão)
ral: semanais de informação e Interesse geral;
(d) Interesse Específico: Conhecimento e Cul- Referências:
tura; Educação e Cursos; Turismo; Guias e ma- Anuário de Mídia .Volume Pesquisas – 2004.
pas Rodoviários; Administração e Outros. São Paulo: Meio & Mensagem, 2004.
A literatura estadunidense (SELNOW, RI- BREWER, Robert Lee; MASTERSON, Joan-
LEY, 1991, p. 9; Standard Periodical Directory, na (Eds.). Writer’s Digest 2007. Cincinnati:
2007; Writers Digest, 2007, p. 63-113) traduz Writer’s Digest Books, 2007.
melhor o fenômeno das revistas regionais, con- REVISTA EM NÚMEROS. Associação Nacio-
solidado há cerca de cinco décadas, definindo- nal dos Editores de Revistas – ANER. Ho-
as em quatro categorias: mepage. Disponível em: <www.aner.org.
1) Revistas de Cidades (City magazines), br>. Acesso em 17/11/2006.
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RILEY, Sam G., SELNOW, Gary W. Regio- culturais e morais. Do ponto de vista cognitivo,
nal Interest Magazines of the Unnited Sta- os ritos e/ou rituais podem ser vistos como sis-
tes. S/n: Greenwood Press, 1990. Dispo- temas de comunicação que fornecem modelos,
nível em: <http://www.amazon.com/gp/ informações e padrões de condutas que tanto
reader/0313268401/ref=sib_dp_pt/104- modelam as percepções e maneiras de compre-
8817766-0397531#reader-link> Acesso: ensão dos sujeitos quanto suas sensibilidades e
05.01.2007. estruturas de sentimentos.
Standard Periodical Directory. Homepa- Numa fórmula simples, porem profunda e
ge. Disponível em: <http://www.oxbrid- luminosa, o rito pode ser definido como uma
ge.com/SPDCluster/theSPD.asp> Acesso: estrutura complexa de atos simbólicos.
16.01.2007. Trata-se, portanto, de um sistema cultural
Salomão, Virgínia. Identidades Regionais em de comunicação simbólica constituído de se-
Revista: Um Estudo Comparado de Revis- quências ordenadas e padronizadas de palavras
tas das Regiões Brasileiras. Tese de Douto- e atos, em geral expressos por múltiplos meios.
rado. Comunicação Social. Universidade Estas sequências têm conteúdo e arranjo ca-
Metodista de São Paulo. 2009. 353 f. racterizados por graus variados de formalida-
de (convencionalidade), estereotipia (rigidez),
condensação (fusão) e redundância (repetição).
RITO Enquanto comportamento organizado, os ri-
Arnold Van Gennep (1873-1957), Jean Caze- tuais surgem a partir das coisas ordinárias da
neuve (1915-2005), Victor W. Turner (1920- vida e, por isso, estão presentes no nosso coti-
1983), Stanley Tambiah (1929-), Peter McLaren diano. Embora sua matéria seja os elementos
(1948-), Roberto DaMatta (1936-), estão, entre contidos na vida cotidiana, no mundo ordiná-
muitos autores que tem discutido o conceito de rio, durante o processo de ritualização, enquan-
rito/ritual. Normalmente confundido com a ro- to momento extraordinário, um outro sentido
tina, em razão de sua natureza repetitiva, o rito é produzido.
ou ritual é um conjunto de atos formalizados, Constituído de três momentos ou fases
expressivos, portadores de uma dimensão sim- (“morte” simbólica ou separação da vida nor-
bólica, compreendida como o meio pelo qual mal; liminaridade, momento no qual se vive a
dotamos de sentidos nossas práticas e a rela- ambiguidade de um tempo espaço outro; “res-
ções sociais, devendo ser considerados sempre surreição” ou reagregação quando se volta ao
como um conjunto de condutas individuais ou ritmo normal da vida cotidiana, porém com o
coletivas relativamente codificadas, com supor- status ou prestígio modificado) e apesar do ca-
te corporal (verbal, gestual e de postura), cará- ráter repetitivo e ordenado, os ritos apresentam
ter repetitivo e forte carga simbólica para atores relativa flexibilidade para comportar uma mar-
e testemunhas. gem de improvisação.
Assim, enquanto formas de significação re- Nesse sentido, enquanto expressão da so-
presentada, os rituais capacitam os atores so- ciedade em ato, os rito abrem a possibilidade
ciais a demarcar, negociar e articular sua exis- de promover a mudança social. O rito, então, se
tência fenomenológica como seres sociais, apresenta ainda que, temporariamente, como
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vida da pessoa, ou seja, do nascimento a mor- dupla. Apesar da forte oposição que grupos fa-
te. Esses ciclos de iniciação e de passagem são zem ao rodeio e ao seu hábito de explorar os
regidos por um rico universo comunicacional animais, o evento é capaz de reunir multidões
atravessado por narrativas sobre os princípios no Brasil.
fundadores da comunidade e/ou grupo social, O mais conhecido acontece na Festa de
a transcendência do viver, importância do cor- Peão de Boiadeiros, em Barretos, no interior
po comunitário, as estratégias de continuida- de São Paulo, que chega a concentrar mais de
de da tradição, herança dos antepassados, re- 300 mil pessoas a cada edição anual. Esse tipo
pertório de mitos, contos, cantigas, parábolas, de evento ocorre também nos estados de Mi-
provérbios, códigos de cores, culinária, arqui- nas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul,
tetura, música polirrítmica de base percussiva, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Já, no Nor-
códigos de gestos compondo danças, vestuário, deste, sua versão local denomina-se ‘vaquejada’.
dramatizações etc. Aparentemente, a origem do rodeio é de
Referimo-nos aos processos comunica- 1844 e sua prática tornou-se tradicional, na Ca-
cionais que detém uma sabedoria milenar que lifórnia, já em 1851. Hoje é praticado também
atravessam os tempos permitindo-nos compre- no México, no Canadá, na Austrália e em vá-
ender as experiências de vinculação humana. rios países da América do Sul. (Jacques A.
(Narcimária Patrocínio Luz) Wainberg)
Referências:
LUZ, Marco Aurélio. Cultura negra em tempos Roteiro Turístico
pós-modernos. 3. ed. Salvador: EDUFBA, É um itinerário a ser seguido pelos visitantes
2008. para a realização de um programa turístico
SODRÉ, Muniz. As Estratégias Sensíveis. Petró- previamente organizado e que pode ser ofer-
polis: Vozes, 2006. tado. O roteiro turístico deve conter explicita-
mente a localização e a orientação espacial do
lugar ou lugares que evoca, assim como a des-
Rodeio crição detalhada e orientada dos elementos que
O rodeio é uma festa que se baseia nos cos- compõem a paisagem natural e cultural desses
tumes campeiros de lida com animais, cuja lugares. O itinerário deve ser enriquecido com
maior atração é a prova em que um peão ten- o acompanhamento de um mapa temático. Os
ta se equilibrar por até oito segundos em cima roteiros turísticos são planejados a partir do es-
de um cavalo ou boi. Por isso mesmo, a palavra tabelecimento de objetivos e características do
‘rodeo’, na sua origem em espanhol, derivou de segmento ao qual se projeta. Tem sido enten-
‘rodear’. Os desempenhos do atleta e do animal dido como sendo um caminho orientado a ser
são julgados, somando a nota final, que premia percorrido.
o que atingir o melhor desempenho. Os roteiros turísticos devem ser construí-
Há vários tipos de rodeio, entre eles o tou- dos a partir de itinerários temáticos que, a prin-
ro, o cutiano, o bareback, o bulldoging, três tam- cípio, procuram valorizar o patrimônio natural
bores, sela americana, laço de bezerro e laço em e cultural de um local utilizando recursos e ser-
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viços, sendo, portanto, um produto elaborado vem se apresentar de forma temática particu-
e susceptível de ser comercializado e revisitado lar ao patrimônio presente ou construído numa
para novas estruturações, a qualquer momento. abrangência territorial maior que a rota. Para
O objetivo é organizar e orientar a mobilidade o Ministério do Turismo, a roteirização é uma
dos visitantes segmentadamente no espaço ge- importante ferramenta do planejamento tu-
ográfico, para usufruírem melhor do espaço tu- rístico, que permite a inclusão e a valorização
rístico. É confundido com a rota turística. de núcleos e unidades dos entornos dos cen-
A rota turística deve ser entendida numa tros turísticos, bem como de atrativos isolados,
escala maior, ou seja, dentro de territórios me- complementando e enriquecendo os produtos
nores que constituem o Roteiro Turístico. Tanto turísticos já consagrados pelo mercado, ou em
o roteiro como a rota turística deve ser estrutu- vias de captação de novas demandas. Assim,
rada em etapas, através de itinerários simples, os roteiros podem apresentar descontinuidade
mas que procurem dar conta da complexidade territorial, mas devem valorizar a continuidade
que o espaço turístico oferece em diferentes es- identitária. (Antonio Carlos Castrogiovanni)
calas. Todo movimento de turistas deve ocor-
rer em sítios com oferta de lugares estruturados
para o turismo, que possam oferecer estabele- ROTULAÇÃO
cimentos de acolhimento, oferta de produtos, Face discursiva dos processos de construção
possibilidades de contemplação e promoção, social das identidades, a rotulação designa o
com ações de animação e com máxima segu- ato de associação entre significante, geralmente
rança. O roteiro turístico é formado por rotas verbal, diferença e indivíduo. Vinculado ao pre-
turísticas, ou seja, caminhos orientados por ob- conceito, ao estigma e ao estereótipo, portanto,
jetivos próprios. a rotulação guarda com o primeiro as carac-
A rota pode ter três segmentos, um de terísticas de um saber socialmente construído
acesso, outro de retorno e a rota recreativa. que é naturalizado discursivamente. Integrado
Uma rota turística deve ter uma identidade re- ao estigma, o rótulo apresenta-se como um sig-
forçada constantemente pela oferta e pela utili- no que traduz, para a palavra, a imagem ou ou-
zação. Deve haver um ordenamento para a sua tro sistema semiótico, aquela marca considera-
utilização. Deve ter um ponto de partida – cen- da fundamental. Da mesma forma, faz circular
tral de acolhimento inicial. O trajeto ou trajetos os modos de construir e fazer ver a alteridade
devem ser pensados sob o ponto de vista a pos- social típica dos estereótipos.
sibilitar diferentes caminhos, que podemos de- Nessa cadeia de sentidos, o rótulo se apre-
nominar de segmentos da rota. Uma rota pode senta como dotado de uma significação trans-
ter vários segmentos, mas sempre mantendo a cendental, a-histórica, que subsume completa-
identidade inicial da rota. mente a individualidade do outro. No entanto,
Nesse aspecto, a rota tem sido entendi- inserido nas relações de poder e resistência tí-
da como a melhor maneira de promover uma picas da vida social, tem um caráter performa-
área, uma região ou um município. Ela apre- tivo, como um significante flutuante.
senta uma continuidade territorial valorizando Em outras palavras: como ato, a rotulação
as diferentes territorialidades. Os roteiros de- atualiza e presentifica, a cada situação comu-
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te, produto de um sistema de comunicação mal BARTHES, Roland. O rumor da língua. São
ajustado, incoerente, pouco transparente e con- Paulo: Martins Fontes, 2004.
fuso. Contudo, é preciso observar, como sublinha GADINI, Sérgio Luiz. O boato como estratégia
Gadini (2007), que, embora seja mais recorrente, folkcomunicacional. In: Anuário UNESCO
o boato nem sempre é falso ou antecipa uma si- / Metodista de Comunicação Regional. São
tuação ou informe inverídico. Ele pode se revelar Paulo: UMESP, 2007.
verdadeiro, e é por isso que incomoda tanto – por IASBECK, Luiz Carlos A. Os boatos – Além e
ser um tipo de informação difícil de controlar. aquém da notícia In: Lumina. n. 5. Juiz de
Outra noção de rumor é a consagrada por Fora: UFJF, 2000.
Roland Barthes na obra O rumor da língua KAPFERER, Jean-Noël. Boatos: O meio de co-
(2004). Para este autor, o rumor é o barulho da- municação mais velho do mundo. Lisboa,
quilo que está funcionando bem. (Aline Strelow) Europa-América, 1988.
REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Cul-
Referências: tura, poder, comunicação e imagem – Fun-
ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Di- damentos da nova empresa. São Paulo:
cionário profissional de relações públicas e Summus, 1986.
comunicação. São Paulo: Summus, 1996.
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S, s
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aos nossos olhos, o intuito da ação de sampling pretendida(s), uma vez que existe um limite do
acaba por obter êxito. No entanto, é importante número de campanhas que ocorrerão em si-
salientar que para pedir essas amostras/expe- multâneo.
rimentações, o consumidor deverá deixar seus A aceitação do público consumidor tem se
dados pessoais (nome completo, e-mail, ende- mostrado satisfatória, em termos mercadoló-
reço, telefone etc.) e como isso não causará ne- gicos, e a cada dia, percebe-se profissionais de
nhum prejuízo ao possível cliente, ao contrário, várias áreas se dedicando à atividade. Há sites
representará uma ação simpática e de cortesia, especializados em sampling. A equipe de reda-
a empresa constituirá gradativamente um bom tores do site procura na web as empresas, até
mailing list. mesmo internacionais, que enviam seus pro-
Ainda mais agora, com todos os recursos dutos. Depois, eles postam no site o link, infor-
midiáticos da web, as empresas economizam na mam quais são os produtos, para que servem,
divulgação em estandes, fornecem as amostras falam sobre a empresa e a partir daí, os usuá-
grátis diretamente em seu site. O consumidor rios dispõem de uma lista atualizada e varia-
acessa o site, solicita a amostra e ela é enviada da com centenas de links diferentes para pedir
para a casa dele, sem custo algum. Parece im- o que mais gostarem. E qualquer pessoa pode
possível que o carteiro entregue diariamen- acessar o site, sem precisar se cadastrar.
te produtos grátis, mas é o que vem ocorren- Mas, apesar do crescimento aparentemen-
do, tanto que já existe nos Correios ao redor do te desmedido da atividade de sampling, os inter-
mundo, um serviço especializado, o ‘sampling nautas também mostram consciência social. Al-
direct’ que consiste em oferecer às empresas um guns sites recomendam que só deve ser pedido
serviço terceirizado para quando pretender dis- aquilo que for realmente interessante ao consu-
tribuir amostras e mensagens publicitárias ou midor. Exemplificando: Atualmente, existe um
informativas na rede de agências dos Correios, link sobre medidor digital de glicose, enviado
nacional e internacional. por uma empresa química de credibilidade mul-
O sampling direct é um meio de comuni- tinacional. E como é normal acontecer na comu-
cação seletivo, que permite atingir eficazmente nicação virtual, o crescimento continua: além de
zonas de influência das agências de Correios e amostras, os sites também informam sobre brin-
que possibilita medir com precisão os resulta- des que outras empresas estão enviando: revis-
dos obtidos. Direcionado para a divulgação e tas, calculadoras, pen-drives, preservativos, cds,
promoção de produtos, serviços, campanhas e dvds… um universo de coisas (cf. http://www.
ideias, o sampling direct admite um vasto leque jnjbrasil.com.br - Johnson&Johnson). Nos sites
de objetos de caráter publicitário ou informati- de relacionamento, também existem comunida-
vo (amostras, brindes, folhetos etc.). des sobre sampling.
Os objetos requerem um acondicionamen- Aparentemente uma tática promocional
to próprio (pacotes devidamente rotulados à simplória, a atividade de sampling bem planeja-
agência de destino) e da entrega aos Correios da tem se mostrado uma eficiente estratégia de
com uma determinada antecedência em re- comunicação mercadológica na conquista de
lação à data de início da campanha, além de novos e mais consumidores. (Scarleth O’hara
um comprometimento prévio da(s) semana(s) Arana)
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HOLANDA, A. B. de Novo Dicionário da Lín- fundamentais nessa mediação foi o rádio, que
gua Portuguesa. São Paulo: Nova Frontei- unificou o sentimento dos brasileiros pelo país
ra, 1986. e pela seleção, transmitindo os jogos dos mun-
diais de futebol. Com a expansão das telecomu-
nicações, a televisão assumiu o papel de veícu-
SELEÇÃO NACIONAL NA PAUTA DA lo fundamental para a manutenção do futebol
IMPRENSA como um dos grandes temas nacionais. Com
A cobertura midiática feita do selecionado de a expansão da televisão, ainda, há uma supre-
jogadores que compõem o time nacional em macia da era da imagem, o que contribui para a
grandes eventos obedece a particularidades consolidação do esporte-espetáculo, tão carac-
próprias, especialmente em épocas em que se terístico dos megaeventos esportivos, como são
disputa a Copa do Mundo. Como aponta Mar- as Copas do Mundo.
ques (2005, p. 149), os campeonatos mundiais O encontro da televisão com as Copas do
de futebol ganharam uma simbologia especial Mundo marca um conflito entre os interesses
para os brasileiros, algo que transcende o sen- econômicos e os aspectos lúdicos do esporte.
so lógico que ordena os aspectos sérios da vida, O imaginário passa a ser construído a partir da
já que praticamente o país para a fim de acom- pauta jornalística da seleção nacional, para se
panhar os jogos em que a equipe representa a vender ideias e produtos cada vez mais atrela-
pátria. dos à imagem da seleção brasileira e dos seus
O conceito reflete o imaginário construí- principais jogadores (Gurgel,p. 2006). (An-
do em torno da seleção nacional na mídia. Para derson Gurgel)
Tubino et al. (2007, p. 560), imaginário social
aplicado ao esporte tem a ver com um sistema Referências:
simbólico que fundamenta e legitima as práti- GURGEL, Anderson. Futebol S/A – A econo-
cas sociais em que se dialetizam processos de mia em campo. São Paulo: Saraiva, 2006.
entendimento e de fabulação, de crenças e de MARQUES, José Carlos; CARVALHO, Sergio;
ritualização. CAMARGO, Vera Regina Toledo. Comu-
De certa forma, é no campo do imaginário nicação e Esportes – Tendências. Coleção
que a mídia trabalha a construção da imagem NPs Intercom – Nº 04. Santa Maria: Pallot-
da seleção nacional. Nas vitórias e derrotas do ti, 2005.
selecionado verde-e-amarelo, constrói-se para TUBINO, Fábio Mazeron; GARRIDO, Fernan-
públicos dos veículos midiáticos um ideário so- do Antonio Cardoso. Dicionário Enciclo-
bre as idiossincrasias dos brasileiros, ajudando pédico Tubino do Esporte. Rio de Janeiro:
a contribuir para a constituição de uma identi- SENAC, 2007.
dade nacional.
O processo de pautar o imaginário nacio-
nal a partir do futebol ganha força com o cres- SEMANÁRIOS
cimento do interesse dos veículos de comunica- O sentido de Semanário (ou Hebdomadário)
ção pela cobertura do futebol. Após o trabalho celebrado pelos dicionários aponta para peri-
incipiente do meio impresso, um dos agentes ódico que aparece publicado regularmente a
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cada semana. Dessa forma, o conjunto das pu- dois anos, mudou a diretriz da cobertura jorna-
blicações aqui arroladas toma como ponto de lística. Publicação da Editora Abril, valorizava
partida o processo de continuidade. Assim sen- as presenças do repórter e do fotógrafo e incor-
do, destaca-se como uma das pioneiras desse porava elementos inovadores, como o uso da
formato a Revista da Semana, criada em 1900, primeira pessoa nos textos. A famosa Realidade
e que circulou até 1962, cujo principal enfoque representou uma espécie de estágio para a cria-
era a política. Tão significativo quanto O Ma- ção do semanário de maior circulação do país:
lho (1902-1930) que inaugurou um novo estilo, Veja (1968). Veja possui hoje tiragem superior a
o da sátira dos fatos políticos. Ambos coaduna- um milhão de exemplares. Seus principais con-
vam com a perspectiva panfletária e partidária correntes são Época (1998), IstoÉ (1976) e Carta
da imprensa à época. Em 1907, Fon-Fon (1907- Capital (1994).
1958) traz novo elemento para o universo dos No modelo atual, em face da necessida-
semanários: a ilustração. de de consolidação do jornalismo informativo
Na verdade, antecipava-se a um modelo há poucas diferenças entre Veja, Época, IstoÉ e
que seria celebrado em O Cruzeiro (1928-1975). Carta Capital, ressalva que deve ser feita no que
A década de 1930, é outro momento histórico tange às linhas editoriais. (Wilson Borges)
digno de registro. Acompanhando o proces-
so de industrialização, houve incentivo estatal Referências:
para que os periódicos se transformassem em BARBOSA, Marialva. História cultural da Im-
empresas, o que contribuiu para regularidade. prensa: Brasil, 1900-2000. Rio de Janeiro:
Ainda que funcionasse por apenas seis anos, MauadX, 2007.
Diretrizes (1938-1944), dirigido por Samuel CONTI, Mário S. Notícias do Planalto. São Pau-
Wainer, foi um dos semanários que aliou a no- lo: Companhia das Letras, 1999.
ção de empreendimento jornalístico à de ação MORAIS, Fernando Morais. Chatô: o rei do
política. Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
Veículo do Diários Associados, de Assis 1994.
Chateaubriand, O Cruzeiro marcou época por RIBEIRO, Ana P. G. Imprensa e história no Rio
três elementos: associação da ilustração com a de Janeiro dos anos 50. Rio de Janeiro: E-
informação (fotojornalismo), inauguração da papers, 2007.
dupla repórter-fotógrafo (David Nasser – Jean WAINER, Samuel. Minha razão de viver: me-
Manzon) e tiragem superior a 700 mil exem- mórias de um repórter. Rio de Janeiro: Re-
plares em episódios como o suicídio de Vargas. cord, 1988.
A importância de O Cruzeiro é tão grande que
semanários como Visão (1952-1993) e Manchete
(1952-2000) já nascem com a mesma concep- SENSACIONALISMO
ção. Este último assumiria, ainda na década de Usado no senso comum de forma pejorativa
1950, a primazia do segmento como a revista de para criticar os meios jornalísticos, funciona
circulação nacional mais vendida. como sinônimo de imprecisão, distorção e exa-
Outro semanário de destaque foi Realidade gero nas informações. Conceitualmente, em-
(1966-1968) que, apesar de circular por apenas pregado tanto no sentido de linguagem quan-
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to no de conteúdo. (a) Qualidade daquilo que é tificação por meio de terror e piedade. (k) Tipo
sensacionalista, designa produtos jornalísticos de jornalismo praticado, no Brasil, desde o fi-
(imprensa marrom, imprensa popular, impren- nal do século XIX, com a publicação das notas
sa sensacionalista) que privilegiam a superex- sensacionais, e popularizado, nos anos 1920 no
posição a sangue, sexo e crimes. (b) Forma de Rio de Janeiro, com a fundação de jornais (Ma-
jornalismo que valoriza o excepcional: desas- nhã – 1925 - e Crítica – 1928) destinados a con-
tres, escândalos e monstruosidades. Do ponto tar crimes, desastres, roubos, incêndios, e tra-
de vista da linguagem, sensacionalismo admite gédias em geral. (Letícia Cantarela Matheus)
referências mais amplas. (a) Empregado para
definir narrativas jornalísticas que se opõem a Referências:
cânones literários e estéticos baseados em for- ANGRIMANI, Danilo. Espreme que sai sangue.
mas ascéticas do Classicismo. (b) Tipo de jor- São Paulo: Summus, 1994.
nalismo atribuído ao gosto popular, baseado AMARAL, Márcia Franz. Sensacionalismo, um
em figuras duais e arquetípicas - bem/ mal -, conceito errante. Texto apresentado no GT
com o recurso de fotografias, cores fortes, tí- Estudos de Jornalismo, no XIV Encontro
tulos com fontes grandes e textos curtos, com Anual da COMPOS, UFF, Niterói: junho
linguagem simples. (c) Comumente considera- de 2005.
do fator alienante por fazer a realidade parecer BARBOSA, Marialva. O jornalismo, o sensacio-
mais excitante do que é, pelo uso de hipérboles nal e os protocolos de leitura. Revista Verso
textuais e imagéticas. (d) Usado de modo pe- e Reverso. n. 25, São Leopoldo: UNISINOS,
jorativo para designar forma de mercantiliza- jan. 2005.
ção das sensações e de fortes emoções, com o MARCONDES FILHO, Ciro. O Capital da No-
intuito de satisfazer a necessidades instintivas tícia. São Paulo: Ática, 1986.
do público e a distraí-lo da consciência de sua SERRA, Antônio. O desvio nosso de cada dia – a
realidade. (e) Escape e compensação que confe- representação do cotidiano num jornal po-
re suportabilidade frente à dureza da realidade pular. Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1986.
e entretenimento ao público. (f) Tipo de nar-
rativa jornalística que mescla dramas cotidia-
nos com estruturas melodramáticas, apelando Sensacionalismo e JORNAIS
a imaginário que transita entre sonho e realida- Aparece primeiro nos jornais franceses, Nou-
de. (g) Estética jornalística ancorada em sensa- velles Ordinaires e Gazette de France, entre
ções ou que produz efeito de sensação: arrepio, 1560 e 1631, e nos Canards do século XIX. Nos
nojo, excitação, medo, lágrimas. (h) Estética de EUA, em 1690, o Publick Occurrences divulga-
sensações consumida por qualquer classe so- va histórias fictícias. Porém, a imprensa ama-
cial. (i) Admite-se ser possível sensacionalizar, rela, a chamada imprensa de escândalo, origi-
mais ou menos, uma cobertura jornalística de nou-se no jornal norte-americano World, de
acordo com os aspectos destacados e a lingua- Joseph Pulitzer. Em 1896 Yellow Kid, perso-
gem, numa economia estética das sensações. (j) nagem do caricaturista Richard F. Outcault,
Estratégia de pactuação da empresa jornalística escandalizava leitores com ofensas e histórias
com o público, recorrendo a processos de iden- licenciosas.
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quele que o profere, seja pela terminologia, pela tonio Vieira, admirado também pela literatura
linguagem rebuscada, seja pelo estilo. Supõe contemporânea.
um trabalho reflexivo e redacional cunhado no Em âmbito eclesial, inúmeras publicações
âmago do pensar teológico. Na Idade Média, do gênero foram, ultimamente, republicadas,
o sermão nobilizou-se pela pronfundidade da especialmente da Patrística, trazendo à tona
verdade apresentada, independente da compre- os grandes sermões dos “Pais e Mães da Igre-
ensão dos ouvintes, característico de um dis- ja, dentre os quais destacam-se Santo Agosti-
curso reacional. nho e São Leão Magno. Para concluir, cita-se de
Não raras vezes, hoje, escuta-se e consta- Agostinho uma de suas célebres frases que nos
ta-se outro extremo, ao se falar da passagem parece unificar as duas formas de gênero fala-
do sermão à homilia. Ecos desta defasagem das: “Sit orator antequam dictor” (Que o pre-
foram expostos no último Sínodo sobre a Pa- gador seja mais um orante do que um falante”
lavra de Deus. Com o título: “Homilias preo- (De Doctrina Christiana Livro IV, c. XV, n. 32:
cupam o Sínodo”, o relator geral, cardeal Marc PL34, 103). (Enio José Rigo)
Ouellet, começava o debate na segunda-feira,
07/10/2008, constatando que «apesar da reno- Referências:
vação de que a homilia foi objeto no Concílio, COMPÊNDIO DO VATICANO II. Constitui-
sentimos ainda a insatisfação de numerosos ções, Decretos, Declarações. Sacrosanctum
fiéis com relação ao ministério da pregação». Consilium. Constituição Dogmática sobre
Lembremos o que disse o Concílio: “Ao ser- a Igreja. 13. ed. Petrópolis: Vozes, 1979.
mão, se prefere a homilia, e se renuncia ao GRIBOMONT, Jean; GROSSI, Vittorino et
sermão típico de três pontos seguidos de uma al. Dicionário Patrístico e de Antiguidades
conclusão, bem como a oratória muitas vezes Cristãs. Petrópolis: Vozes / São Paulo: Pau-
pouco sacra (...) a homilia se detém ao texto lus, 2002.
bíblico (...) o sermão não parte do texto bíbli- POMBO, Ruthe Rocha. Curso de Oratória.
co e, às vezes, denota conteúdo moralizante, CAEF. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
expressão presunçosa e enfadonha”(Verbete VIEIRA, Padre Antonio. Sermões Escolhidos.
Sermo. Dicionário Patrísco e de Antiguidades São Paulo: Martin Claret, 2006.
Cristãs, p. 1273). As homilias, hoje, em pouco RIGO, Enio José. Homilia. A comunicação da
se parecem aos sermões de outrora. Sem sau- Palavra. São Paulo: Paulinas, 2008.
dosismo, afirma-se que as homilias pecam pelo
despreparo do pregador (com parca capacida-
de intelectual e comunicacional), no conteúdo SESSÃO ESPÍRITA
improvisado e na forma insossa de apresentá- Não podemos tratar de comunicação humana,
la. Ambas as formas de comunicação da Pa- sem considerar a intercomunicação transcen-
lavra de Deus ou das convicções cristãs e das dental da vida humana, que aborda dimensões
virtudes teologais não dispensam adequar-se extrassensoriais. Nesse aspecto, consideramos
às exigências dos ouvintes que se reúnem para as sessões espíritas. Considera-se que neles rea-
as assembleias no Dia do Senhor. Ao falar de lizem-se comunicações entre o mundo dos vi-
sermão, é impossível deixar de citar, Pe. An- vos e os espíritos dos falecidos. Normalmente,
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essas sessões duram duas horas, nas quais os tes, encarcerados, desaparecidos etc.). Os mé-
membros, componentes do Centro Espírita, diuns comunicam as mensagens recebidas,
dialogam com os seus antepassados. Para esses sejam por falas, psicografia ou gestos; c. prece
rituais, seus líderes acolhem membros de todas final e restauração da realidade, despertando os
classes sociais e práticas religiosas, pois estes médiuns dos transes.
grupos não têm, comumente, uma hierarquia Não se atinge os objetivos da sessão espí-
institucional. Os “trabalhos” são coordenados rita, sem entender que os Espíritos do Astral
por um responsável, um diretor, que cuida do Superior (Entidades de Luz) emitem luz, amor
andamento da sessão, os “médiuns” quer são e energias positivas. Sem preparação física e
os interlocutores com os espíritos e aqueles que mental, não se efetiva a “união” de forças en-
vão tomar passe, aprender ou participar. tre o médium e as entidades incorporadas. Em
Com grande preocupação com a caridade, termos de conversão, espera-se dos participan-
os membros que servem no grupo se denomi- tes continuidade, superação de hábitos e vícios
nam “Assistência”. Indo além da comunicação ruins, zelo nos atos e palavras e humildade.
psicológica e afetiva, os fiéis acreditam na silen- Desse modo, o intercâmbio de energias é
ciosa, onde ouvem vozes do “além”, ouvidas pe- mais positivo e intenso. A comunicação das ses-
las pessoas mediúnicas. Muitos cientistas con- sões espíritas abre o leque da compreensão das
sideram estas sessões como formas psicológicas capacidades cognitivas do ser humano e de sua
e não reais de comunicação, sem comprovação comunicabilidade, mostrando a possibilidade
verídica e, em alguns casos, puramente distúr- de integrar dois universos distintos: o mundo
bios psicológicos ou neurológicos. Sendo este imanente e o mundo transcendente, como se
fenômeno integrado às crenças, não é aceita re- estas duas realidades se tocassem mediunica-
gularmente como veracidade científica. mente. (Antônio S. Bogaz)
Os passos do ritual de cada sessão com-
preendem: a. uma prece, seguida de aprofun- Referências:
damento da doutrina espírita; b. os passes, ARRAIA, Eduardo. Espiritismo. São Paulo: Áti-
protagonizados pelos médiuns. Neles, dão-se ca, 1996.
irradiação de energias, codificadas em men- AIZPÚRUA, Jon. Os fundamentos do Espiritis-
sagens. mo. São Paulo: Editora Centro Espírita José
Em alguns encontros, ocorre a chama- Barroso, 2000.
da ‘comunicação espírita’, em que um médium GELEY, Gustave. Resumo da doutrina espírita:
pode psicografar uma mensagem de um desen- seguida de introdução ao estudo prático
carnado ou, então, ‘dar a passividade’ ou seja, da mediunidade e reencarnação. 3.ed. São
receber a chamada incorporação mediúni- Paulo: Lake, 1975.
ca, que o ato de transmitir uma mensagem de KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espi-
forma oral aos presentes. Durante essas situa- ritismo. 105. ed. Rio de Janeiro: Federação
ções, os médiuns entram no chamado ‘estado Espírita Brasileira, 1991.
de transe’. OLIVEIRA, Therezinha. Estudos espíritas do
Os interlocutores ausentes podem ser de- Evangelho. 3. ed. Capivari: EME, 1997.
sencarnados (falecidos) ou encarnados (doen-
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ções? In: OLIVEIRA, I. L.; SOARES, A. T. das línguas naturais, a “imagem” acústica que a
(Orgs.). Interfaces e Tendências da Comu- palavra proferida cria na mente ao ser escuta-
nicação no Contexto das Organizações. São da) e um significado (o conceito ou ideia que se
Caetano do Sul: Difusão, 2008. une a essa “imagem”). Para Saussure, a relação
que une significante e significado é puramente
arbitraria e fruto de uma convenção social que
Signo organiza os signos de uma linguagem numa es-
O signo tem sido estudado pelos filósofos e ló- trutura de relações de valor.
gicos desde a Antiguidade Clássica, antes de se Outra grande matriz semiótica tem sua ori-
tornar o objeto dos linguistas e, mais especifi- gem na obra do filósofo e lógico norte-america-
camente, dos semioticistas. Isso porque não é no Charles Peirce, contemporâneo de Saussure.
possível pesquisar a maneira como conhece- Peirce define o signo como uma relação triá-
mos o mundo, representamos nossas cognições dica entre o signo propriamente dito (também
e comunicamos nossas ideias sem levar em chamado de representamen), o objeto que é re-
consideração o funcionamento do signo. Seu presentado pelo signo, e um interpretante, que
papel na comunicação é fundamental porque Peirce define como o efeito produzido numa
o signo é por excelência o meio pelo qual in- mente qualquer pela ação do signo.
formações são comunicadas e significados são Além disso, Peirce vê essa relação triádica
produzidos e compartilhados. Na sua defini- como dinâmica e direcionada a um fim ou pro-
ção mais simples e tradicional, signo é qualquer pósito, que seria o efeito final produzido pelo
coisa que está em lugar de outra. signo utilizado por uma comunidade de inter-
De certo modo, essa definição dá conta da pretantes ideal e num período ideal de tempo.
função representativa do signo, ou seja, a que O signo peirceano é, portanto, uma entidade
lhe permite assumir o lugar de um objeto au- evolutiva, capaz de incorporar informação e de
sente. Desde Platão, filósofos discutem qual o se transformar de acordo com os propósitos as-
tipo de relação que existe entre o signo e seu sumidos pela comunidade dos seus usuários –
objeto, bem como o estatuto ontológico desses processo que Peirce chamou de semiose.
dois elementos. As várias teorias do signo que Como um realista extremo, Peirce com-
temos hoje se diferenciam principalmente pela bateu as concepções psicológicas e mentalistas
resposta que dão a estas questões. do signo, afirmando que não é o signo que ha-
O signo tornou-se objeto de uma ciência bita nossas mentes. Ao contrário, nossas men-
específica – a semiótica – apenas no final do tes é que nascem da ação de signos presentes
século XIX e início do século XX, dentro do em todo o universo. O signo de Peirce rompe,
projeto positivista de mapear os campos do portanto, a esfera da cultura humana e oferece
conhecimento. O linguista suíço Ferdinand de a possibilidade de estudar processos sígnicos
Saussure, ofereceu os fundamentos de uma ci- em outras espécies animais (zoosemiose) ou
ência do signo, que chamou semiologia, ba- até mesmo entre processos puramente físicos
seada numa concepção psicológica e social (fisiosemiose). (Vinicius Romanini)
do signo. O signo de Saussure é uma entidade
mental, composta por um significante (no caso
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escravos cultuavam suas divindades recorren- tra situação de desigualdade seria decorrente
do aos cânticos entoados em língua natural que da valorização de elementos que compõem sua
somente eles entendiam. própria identidade ou de valores organizados
Outros exemplos de crenças sincréticas “oferecidos” pelo outro grupo.
seriam a Umbanda, genuinamente brasileira, Nesse sentido, também, o fundamentalis-
porque reúne princípios religiosos africanos, mo seria uma forma de sincretismo, na medi-
indígenas e do Espiritismo; e o culto do Santo da em que o fechamento autocentrado de um
Daime, que agrega em seus rituais princípios grupo seria decorrente do seu contato com um
oriundos das tradições indígenas e do Catoli- “outro” determinado ou com uma mudança no
cismo. contexto sócio-cultural, que lhe pareça ameaça-
No entanto, o conceito de sincretismo como dor. A construção de uma nova identidade es-
sinônimo de “mistura” e o seu oposto, a “pu- taria em curso, inspirada pelo contraponto pro-
reza”, são construções sociais e aparecem fre- duzido pelas divergências com o pensamento e
quentemente em situações de disputa de poder valores do “adversário”. (Douglas Dantas)
e hegemonia; portanto, são conceitos etnocên-
tricos. Estudiosos defendem que o vocábulo Referências:
Sincretismo, para além do senso comum so- BASTIDE, Roger. As Religiões Africanas no Bra-
ciológico, não passaria de um discurso utiliza- sil. São Paulo: Pioneira, 1971. Volumes 1 e 2.
do por formas dominantes de religião, as quais CAROSO, Carlos; BACELAR, Jeferson (Orgs.).
depreciariam religiões populares, geralmente Faces da Tradição Afro-brasileira – Religio-
menos sistematizadas e intelectualizadas. Esta sidade, Sincretismo, Antissincretismo, Re-
abordagem, que não se limita ao campo da re- africanização, Práticas Terapêuticas, Etno-
ligião, mas se estende ao campo, genérico, da botânica e Comida. 2. ed. Rio de Janeiro:
cultura, vê o fenômeno do Sincretismo como Pallas / Salvador: CEAO, 2006.
um movimento natural dos grupos humanos ORTIZ, Renato. A Consciência Fragmentada –
quando em contato com outros. Ensaios de Cultura Popular e Religião. Rio
Trata-se, portanto, de afirmar a universali- de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
dade de um processo que consiste na constru- SANCHIS, Pierre. Pra não dizer que não fa-
ção coletiva de correlações entre o próprio uni- lei de sincretismo. Comunicações do ISER.
verso e o universo do outro com o qual se entra Ano 13, n.45, p.4-11. Rio de Janeiro, 1994.
em contato, o que pode desencadear uma rede-
finição da própria identidade, reforçando as di-
ferenças ou as semelhanças entre os grupos. A SINGULARIZAÇÃO
palavra-chave aqui é ressemantização. Para explicar singularização, Chklovski recor-
Este processo se dá, em geral, no interior re ao conceito de economia verbal da lingua-
de uma relação desigual entre duas culturas, gem cotidiana. Quanto menos palavras são uti-
duas religiões ou uma religião e uma cultura. lizadas para se comunicar o que se pensa, mais
Uma situação de desigualdade objetiva resulta- eficiente se torna o processo. Quanto mais eco-
ria da conquista ou hegemonia (de classe, polí- nômicos forem os recursos envolvidos, tanto
tica, doutrinal...) de um grupo sobre outro. Ou- maior o rendimento.
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De acordo com Deleuze e Guattari, pro- interdependente, sendo fundamental que a in-
cessos de singularização implicam na produção formação circule entre estes elementos, alimen-
de novas subjetividades, desejos de novas for- tando-o (input), para que possa gerar conheci-
mas de se estar no mundo e desejos de novos mento (output).
mundos. Informação, por sua vez, não pode ser con-
O conceito de processos de singularização fundida com comunicação. Se esta está na ló-
perpassa ou atravessa toda a obra de Deleuze e gica do tornar comum (do latim, comunicare),
Guattari. Nesse contexto, o processo de singu- a informação estaria mais próxima da noção
larização se dá no encontro; diz respeito ao re- de dar forma, o que supõe a existência unidade
lacional e compreende todo o conjunto de ele- menores, a serem organizadas. A unidade me-
mentos envolvidos na atmosfera do encontro, nor é denominada dado.
uma parte constitutiva do encontro. O dado sozinho, ou por si só, não costuma
A essa singularidade, dá-se o nome de ter significado; sua significação nasce e cresce
acontecimento e não existe nada previsível para nas interrelações com outros dados (RABA-
que ele ocorra; não há fórmulas nem receitas. ÇA, 1978). Enquanto à comunicação caberia a
O acontecimento é algo que acontece entre os função de socializar as informações através de
corpos. É uma modificação que ocorre no en- mídias como o rádio, a televisão ou o jornal, a
contro entre corpos, mas não é um corpo: é o informação estaria associada à quantidade de
espaço entre eles, que leva à produção de uma dados que, reunidos, geram um conhecimento.
diferença. Assim sendo, no processo de singu- Apenas dados colhidos com seriedade, ge-
larização, há sempre um mínimo de diferencia- ram informação confiável.
ção. Há um contorno dado por linhas de com- O sistema de informações turísticas é ali-
posição que perpassam todos os componentes mentado por dados colhidos, principalmente,
envolvidos nesse encontro singular. pelo denominado inventário turístico. O inven-
Os processos de singularização são auto- tário, gerenciado em nível nacional pelo Minis-
modeladores, porque captam os elementos da tério do Turismo, utiliza um instrumento pa-
situação e constroem seus próprios tipos de re- dronizado para coleta de dados; o inventário
ferências práticas e teóricas, independentemen- alimenta bancos de dados, a serem disponibi-
te, do poder global, a nível econômico, a nível lizados online.
do saber, a nível técnico, a nível das segregações Portanto, em seus diferentes momentos, o
ou dos tipos de prestígio difundidos. (Filomena sistema de informações turísticas depende tan-
Maria Avelina Bomfim) to de técnicas de comunicação como do apoio
de tecnologias de informação para coleta, análi-
se, armazenamento e circulação de dados. Se tal
SISTEMA DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS sistema for eficiente em suas diferentes etapas,
Nessa expressão, temos três instancias a con- ele irá alimentar não só o consumidor final do
siderar: aquela do sistema, a da informação e produto turística, mas também qualificará o pla-
a especificidade de ambas, quando se fala em nejamento, a gestão, a comunicação, a comercia-
turismo. Sistema supõe um conjunto de ele- lização e a tomada de decisão por diferentes ele-
mentos atuando de maneira interrelacionada e mentos em diferentes etapas do processo.
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Importante lembrar, muitos dos produtos com uma mesma tecnologia e com uma série
turísticos são intangíveis, ou seja, não podem de componentes sócio-econômicos próprios a
ser avaliados antes do consumo. Trata-se de um um período histórico. Por um lado, não é pos-
produto comprado antes e longe do local onde sível afirmar a determinação da Estética a partir
será desfrutado. das condições gerais da produção, do desenvol-
Nesses termos, a informação é fundamen- vimento tecnológico ou dos aparelhos ideoló-
tal, para dar alguma tangibilidade ao intangí- gicos; mas, por outro lado, é possível afirmar
vel. (Susana Gastal) igualmente que a autonomia estética é par-
cialmente determinada pelas compatibilidades
Referências: com a totalidade do sistema sócio-econômico
RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de comu- (LEROY, 1980, p. 247); (ii) Há, igualmente, uma
nicação. Rio de Janeiro: Codecri, 1978. dialética inter-estrutural (HERSCOVICI, 1995,
p. 125), que se relaciona diretamente com a dia-
lética das mídias.
Sistema tecnoestético (pela regra, A introdução da inovação tecnológica no
agora, deve-se juntar sistema de produção e de distribuição dos bens
Um sistema tecnoestético (LEROY, 1980, p. 243) culturais produz um movimento de desestru-
se define pela compatibilidade entre determi- turação/reestruturação do conjunto do siste-
nados modos de valorização econômica e de ma; as relações entre as Artes Cênicas e as di-
consumo e determinadas estéticas. Um gênero ferentes formas de bens reprodutíveis, entre a
artístico constitui assim um sistema tecno-es- televisão e o cinema, entre a imprensa escrita e
tético, à medida que haja uma correspondência audiovisual, ilustram este tipo de dialética. Em
e uma compatibilidade entre uma determinada função desse movimento, cada mídia tem que
estética, um componente tecnológico e certas se reposicionar em relação às modalidades de
modalidades de consumo e de valorização eco- financiamento, aos modos de consumo e à es-
nômica: os diferentes tipos de música popular, tética.
os diferentes tipos de música erudita, os dife- Essa reposição pode ser efetuada a partir
rentes gêneros teatrais, o cinema etc., são repre- de uma lógica de assimilação à mídia dominan-
sentativos deste conceito, à medida que a uma te, ou a partir de uma lógica de diferenciação.
determinada tecnologia correspondem moda- Os efeitos de propagação se relacionam com
lidades de valorização econômica e modos de uma assimilação estética em relação à mídia
consumo específicos. dominante: o espetáculo ao vivo tenta repro-
A dialética cultural se expressa a vários duzir a estética audiovisual, a imprensa escrita,
níveis: (i) A dialética intra-estrutural se tra- a imprensa audiovisual etc. Mas, existe, igual-
duz pela “tensão” que existe entre a lógica au- mente, uma estratégia de diferenciação: o cine-
tônoma do projeto criador (BOURDIEU,1966) ma de autor em relação ao cinema comercial,
e as condições materiais (econômicas e tecno- a impressa de “opinião” em relação à imprensa
lógicas) de sua realização concreta. A estética popular etc. No caso da internet, esse efeito de
possui uma autonomia relativa; em outras pa- propagação é mais intenso: certas mídias desa-
lavras, há várias formas estéticas compatíveis parecem, com suas especificidades, para se in-
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tegrarem, econômica e esteticamente, na Web: tal separação não é algo comum nos países de
é o caso da música gravada, entre outros casos sistemas públicos mais conhecidos, como no
(HERSCOVICI, 2009). (Alain Herscovici) caso dos EUA, da Inglaterra ou Alemanha, que
funcionam com sistemas mistos: públicos e pri-
Referências: vados. Essa separação também não é algo co-
BOURDIEU, Pierre. Champ intellectuel et pro- mum no ambiente normativo brasileiro. Seto-
jet créateur. Les Temps Modernes, n.246. res que funcionam com a complementaridade
Paris, 1966. como saúde e educação, separam tão somente
HERSCOVICI, Alain. Economia da Cultura e público de privado, sendo o público, neste sen-
da Comunicação. Vitória: Fundação Ceci- tido, sinônimo de estatal.
liano Abel de Almeida/UFES, 1995. Tudo que é estatal é público, a recíproca,
. Contribuições e limites das análises da não é necessariamente verdadeira. O Estado,
escola francesa, à luz do estudo da econo- constituído a partir de princípios democráticos,
mia digital. Uma releitura do debate dos deve ser um grande servidor do público. A ele
anos 80. Eptic On-Line. V. 11, n. 1, 2009. cabe zelar pelo interesse público e administrar
Disponível em: <www.eptic.com.br>. os bens que pertencem ao conjunto da popula-
LEROY, Dominique. Économie des Arts du ção, como é o caso do espectro eletromagnético
Spectacle Vivant. Paris: Economica, 1980. que dá origem à radiodifusão.
A partir desse entendimento do Estado,
não faz sentido a diferenciação entre público e
Sistemas Privado, Público e Estatal estatal presente no princípio da complementa-
A Constituição Brasileira de 1988, instituiu no ridade da radiodifusão. A distinção proposta
Artigo 223, que a “complementaridade dos sis- na segunda metade dos anos 1980 reflete uma
temas privado, público e estatal” deve ser ob- conjuntura internacional daquele momento, de
servada pelo Poder Executivo no momento contestação do Estado. Internacionalmente, en-
das outorgas de concessões, permissões e au- trava em xeque a figura do Estado de Bem Es-
torizações do serviço de radiodifusão sonora tar Social, assim como a do Estado Soviético.
e de sons e imagens. Esta complementaridade Nacionalmente, a histórica apropriação
tripartite (pública, privada e estatal) foi inclu- privada do Estado e a experiência da Ditadura
ída nos documentos da Assembleia Nacional Militar não deixavam muita esperança de um
Constituinte sob a justificativa de se constituir Estado publicizado. A criação de um sistema
um sistema que não fosse atrelado unicamen- público que não fosse estatal tem em si o ger-
te ao mercado, nem tampouco ao Estado. Para me de boas intenções, contudo, deixa um equí-
tanto, deveria ser criado um terceiro sistema, o voco: o de admitir a privatização do Estado e
público, organizado por instituições da socie- também dos meios de comunicação que a ele
dade civil. caberia administrar.
Apesar de se referir a países que teriam sis- O sistema público estatal de comunicação
temas públicos mais consolidados como exem- deveria ser um sistema público “independente”
plo para justificar esta separação tripartite e a do Estado, como são as Universidades Públicas,
construção de um sistema público não estatal, por exemplo, e deveria também ter de forma
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diferenciada um canal para que governo eleito comuns aos grupos da sociedade. Esses siste-
para administrar o Estado possa prestar con- mas equivalem às diversas áreas de significação
tas. Já o sistema privado é, na verdade, público da realidade que se firmam como modalidades
em sua essência, pois a concessão, permissão de relações estabelecidas – domínios sociais do
ou autorização outorgada, é para exploração de real, conhecidos como sistemas simbólicos.
um serviço público. Porém, Bourdieu (1986) alerta que, apesar
O sistema, mesmo que nominalmente “pri- da existência de um sinal de correspondência
vado”, é um serviço público sendo que adminis- entre estruturas sociais e mentais que se efetua
trados por entes de gestão não ligados direta ou por meio das estruturas dos sistemas simbóli-
indiretamente ao Estado. (Mariana Martins) cos, esse fato não ocorre como um reflexo me-
cânico e direto das estruturas sociais.
A forma simbólica se apresenta e deixa
SISTEMAS SIMBÓLICOS perceber, conforme a “sociologia dos sistemas
Clifford Geertz apresenta um conceito semióti- simbólicos”, duas faces que a caracterizam: a
co de cultura, que pressupõe a existência de pa- distribuição em espaços de disposições sociais
drões culturais e sistemas organizados de símbo- e em espaços de significações culturais. (Vanes-
los significantes para orientar o comportamento sa Souza e Wesley Lopes)
humano. Inspirado na sociologia compreensiva
de Max Weber, para Geertz, o homem é como Referências:
um animal preso a teias de significados que ele BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Cole-
próprio teceu, de modo que se pode considerar ção Memória e Sociedade. Lisboa: DIFEL,
a cultura como expressão dessas teias, caben- 1989.
do a antropologia e ao antropólogo a sua aná- CHANTIER, Roger. Por uma sociologia histó-
lise ou interpretação. Segundo McLaren (1991, rica das práticas culturais. In: CHANTIER,
p. 33), baseado em Geertz, é fato inquestionável Roger. A história cultural entre práticas e
que a cultura é formada fundamentalmente por representações. Coleção Memória e Socie-
rituais inter-relacionados e sistemas de rituais, dade. Trad. Maria Manuela Galhardo. Lis-
“(...) é uma construção que permanece como boa: DIFEL, 1990.
uma realidade consistente e significativa através DURHAM, Eunice. Texto II. In: ARANTES,
da organização abrangente de rituais e sistemas Antonio A. (Coord.). Produzindo o passa-
simbólicos”. Para Durham (1984), Os sistemas do: estratégias para a construção do patri-
simbólicos são empregados como meio de or- mônio cultural. Rio de Janeiro: Brasiliense,
denação da conduta social, ou seja, absorvidos 1984.
e recriados nas práticas sociais. São determi- GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Cultu-
nações gerais para o comportamento, segundo ras. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
Chantier (1990), conjuntos de regras que atuam MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São
como princípios norteadores para o pensamen- Paulo: EPU/EDUSP, 1974. Volume 2.
to e a ação da vivência/experiência dos sujeitos. MCLAREN, Peter. Rituais na escola: em dire-
Por aporte, podemos dizer tais aspectos en- ção a uma economia política de símbolos e
volvem a produção de conhecimento e sistemas gestos na educação. Petrópolis: Vozes, 1991.
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tente. Outros, ao contrário, como Paulo Freire, desenvolvimento cognitivo dependem inces-
propõem a socialização como um mecanismo santemente da metamorfose de dispositivos co-
transformador e conscientizador, baseado em municacionais de todos os tipos e, desta forma,
processos históricos que objetivam o discerni- a incidência da técnica sobre todos os aspectos
mento e a visão crítica da realidade circundan- da vida obriga a reconhecê-la como um dos te-
te do socializado. mas mais importantes de nosso tempo, na me-
O desenvolvimento dos meios de comu- dida em que uma revolução tecnológica (CAS-
nicação sempre foi objeto de estudo de edu- TELLS, 1999), concentrada principalmente na
cadores e sociólogos que neles viam excelen- informação, transformou a base material da so-
tes recursos para a ampliação dos processos de ciedade em um ritmo acelerado, influenciando
socialização. As relações entre comunicação a formação de novos modos de sociabilidade.
e educação foram estudadas e debatidas, seja Como as relações comunicacionais estão
com o objetivo de colocar os meios de comuni- pautadas na interação simbólica, ou seja, na
cação a serviço da educação, seja para orientar linguagem enquanto campo de organização dos
os comunicadores para o sentido pedagógico sentidos, técnica e ciência transformaram-se
da comunicação. Na América Latina, inúme- em ideologia, passando a legitimar o progres-
ros cientistas defenderam a aproximação des- so na sociedade. Segundo Habermas (1980),
ses campos do saber, entre os quais destacamos uma nova função de utilidade social mobili-
Guillermo Orozco e Jesús Martín-Barbero. zou a conjunção técnico-científica no intuito
Também analisando os processos formais e de dominar a natureza. A técnica tornou-se o
informais de socialização, Pierre Bourdieu ne- motor do desenvolvimento das forças econô-
les reconhece meios de transmissão do capital micas e do progresso da cultura. Nesse contex-
simbólico acumulado numa sociedade. Con- to, encontram-se as complexas relações entre as
forme atuam, esses processos podem acentuar mensagens, seus interlocutores e o meio onde
as desigualdades sociais ou diminuí-las, depen- os sujeitos estão inseridos.
dendo da maneira como agem sobre as relações Incorporados ao dia a dia, os meios de co-
de força e poder existentes na sociedade. Daí municação passaram a interferir ainda mais nas
sua importância e a urgência em estudá-los. atividades, edificando a vida cotidiana, estabe-
(Maria Cristina Castilho Costa) lecendo sociabilidades, formando e transfor-
mando subjetividades.
A atual estrutura social está ligada ao surgi-
SOCIABILIDADE/SUBJETIVIDADE NA mento de um novo modo de desenvolvimento
COMUNICAÇÃO que despontou no século XX, o informacionalis-
O homem é uma subjetividade capaz de doar mo, formatado pela transformação do modo ca-
sentido ao mundo, modificando informações pitalista de produção. A virada fundamental se
da realidade sensível em objeto de conheci- deu por volta dos anos 1970, com o desenvolvi-
mento graças a sua capacidade cognitiva. Esse mento e a comercialização do microprocessador
pensamento encontra eco na fala de Kant. que abriu nova fase na automação da produção
Além disso, temos que entender que as relações industrial: a robótica, as máquinas com contro-
entre os homens, a sociedade e o seu próprio les digitais e as linhas de produção flexíveis. Aos
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poucos, redes de comunicações e de dados fo- normas e códigos singulares, para cumprir fun-
ram tomando conta do conjunto das atividades ções específicas.
econômicas e sociais. De acordo com Castells O desenvolvimento técnico e científico
(1999), a teoria que fundamenta tal abordagem proporcionado pela revolução digital trouxe de
afirma que as sociedades são organizadas em maneira mais acentuada a percepção de uma
processos formados por relações historicamente sociedade de comunicação. As facilidades de
de produção, experiência e poder. conexão e a abertura às mudanças, aspectos no-
Nesse cenário, as novas tecnologias de in- tórios da consolidação de uma “aldeia global”,
formação e de comunicação se desenvolvem, na atualidade, recebem adjetivações otimistas
possibilitando a veiculação de mensagens em como “inteligência coletiva” e “sociabilidade
um mesmo suporte – o computador – e dessa virtual”, mas sem deixar de ser alvo de críticas
tecnologia decorre uma nova mídia – a inter- por ser considerado gerador de circunstância
net – que passa a implicar uma outra qualifica- fértil para desigualdades e exclusões.
ção da vida, ou como caracteriza Muniz Sodré Na sociedade da comunicação contempo-
(2002), um bios virtual, que consiste em outra rânea, a rede se tornou uma dimensão de mo-
dimensão da realidade, com novas formas de delização do mundo. Segundo André Parente,
perceber, pensar e formular a “materialidade”. as redes se configuram em uma espécie de pa-
(Renata Rezende) radigma das mudanças em curso e as tecnolo-
gias de comunicação exercem um papel estru-
Referências: turante na nova ordem mundial.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Nietszche, em A Gaia Ciência, argumenta
Paulo: Paz e Terra, 1999. que a consciência se desenvolveu apenas sob
HABERMAS, Jürgen. Técnica e Ciência enquan- a pressão da necessidade da comunicação, em
to ideologia. Coleção os Pensadores. São uma época remota, na qual, para sobreviver,
Paulo: Abril, 1980. era imprescindível saber comunicar e tornar
SODRÉ, Muniz. Antropológica do Espelho: uma claras as necessidades. Para estabelecer conta-
teoria da comunicação linear e em rede. to, criou-se o código “comum”, representando
Petrópolis: Vozes, 2002. desde então a criação de uma “rede” de prote-
ção. Para o filósofo, a consciência é de natureza
comunitária e o processo de evocar o conheci-
Sociedade da Comunicação mento de si próprio acaba por trazer o que não
Só existe comunicação se houver sociedade e é individual, mas mediano.
vice-versa. A comunicação está na disposição O pensamento de Nietzsche influenciou
das vitrines, na fala bem-humorada do feirante, outros pensadores da comunicação, que, por
na camisa do jogador de futebol, nos letreiros sua vez, inspiram muitos textos da pós-mo-
dos ônibus, nos gestos dos bailarinos, nas pla- dernidade. Para Focault, Guatarri e Deleuze, as
cas de trânsito e nas capas do livro. Não há co- pessoas são desconectadas do mundo e recolo-
municação sem vida social e, para cada instân- cadas na sociedade de comunicação.
cia narrativa ou veículo em que se encontre, a Deleuze criou o conceito “sociedade de
comunicação vai necessitar de procedimentos, controle” para se referir à sociedade de comuni-
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enciclopédia intercom de comunicação
cação, num período de avançado conhecimen- séculos XVII e XVIII, que entendia a matemá-
to tecnológico, no qual o sistema de comunica- tica como modelo de raciocínio e da ação útil.
ção e controle de informação estão conectados (MATTELART, (2002[2001]).
de forma a transmitir “palavra de ordem”. A revolução tecnológica, em marcha no
A criação de necessidades, de produtos em fim do século XX, focada nas tecnologias da in-
séries e os fenômenos de massificação sugerem formação, remodela rapidamente a base mate-
uma aproximação, de fronteiras tênues, entre rial da sociedade, devido a sua penetração em
a sociedade de consumo e a sociedade da co- todas as esferas da atividade humana. Isso não
municação. O termo sociedade da comunica- significa, porém, que novas formas e processos
ção também implica uma aproximação com so- sociais surjam unicamente em consequência
ciedade da informação, porém, desde 1996, o de transformações tecnológicas: a tecnologia
Conselho Europeu recomenda a utilização de não determina a sociedade, nem esta descreve
sociedade do conhecimento, por considerar o curso da transformação tecnológica. (CAS-
que a informação não é suficiente para a pro- TELLS, 1999[1996], pp. 39-43).
moção da cidadania e o desenvolvimento hu- A redefinição do papel do Estado na eco-
mano. (João Barreto da Fonseca) nomia, a globalização, a expansão e reestru-
turação do capitalismo, a orientação do setor
Referências: industrial para a informação, a expansão inin-
DIAZ BORDENAVE, Juan E. O Que É Comu- terrupta de inovações tecnológicas, a digitali-
nicação. São Paulo: Brasiliense, 1982. zação das informações e dos mercados, o uso
NIETZSCHE, F. A Gaia Ciência. São Paulo: da rede mundial de computadores, provocam
Companhia das Letras, 2001. mudanças sociais, econômicas e políticas, ain-
PARENTE, André (Org.). As Tramas da Rede. da que em diferentes escalas, nos Hemisférios
Porto Alegre: Sulina, 2004. Norte e Sul.
Essas modificações, na estrutura social, re-
ferem-se, principalmente, ao trabalho, à econo-
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO mia, à política, às relações internacionais, à cul-
Refere-se a uma sociedade, na qual a atividade tura e ao lazer, gerando alterações também no
econômica e social predominante é a troca de campo pessoal e no ambiente familiar.
informações. Segundo Dicionário de Sociologia Na sociedade da informação as noções de
(JOHNSON, 1997[1995], p. 214), o termo de- tempo e espaço são reformuladas, impõe-se
signa um sistema social no qual a produção de a ditadura da velocidade, criam-se novas for-
bens e serviços depende, em grau elevado, da mas de poder, controle, exclusão e dominação,
coleta, processamento e transmissão da infor- o individualismo e o consumismo são acirra-
mação, possível graças ao surgimento de com- dos. Ao mesmo tempo, esses avanços tecnoló-
putadores de alta velocidade. gicos permitem a aproximação interpessoal,
A sociedade da informação é uma cons- diminuem distâncias, criam a possibilidade de
trução geopolítica e está ligada à tese dos fins conexão entre territórios, culturas e realida-
(fim da ideologia), iniciada ao longo da Guerra des até então desconhecidas, aumentam a pro-
Fria. A noção tem origem no pensamento dos dução e o fluxo de informação, possibilitam o
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digital”. Numa perspectiva crítica, a Economia sendo o Livro Verde da Sociedade da Informa-
da Comunicação e da Cultura tem insistido no ção, em http://ftp.mct.gov.br/Livro_Verde/De-
fato de que a “sociedade da informação” não é fault3.htm. (Valério Cruz Brittos e Nadia Helena
mais do que uma denominação alternativa para Schneider)
designar a reestruturação capitalista do final do
século XX, também chamada “revolução infor- Referências:
macional” (LOJKINE, 1995). BELL, D. [1973]. El advenimiento de la sociedad
Nesse sentido, a chamada sociedade da in- post industrial. Alianza Editorial: Madrid,
formação corresponde a um novo tempo da 1976.
trajetória do capitalismo, em que os processos BOLAÑO, César Ricardo Siqueira. Sociedade
informacionais se sofisticam, subordinados, em da Informação: reestruturação capitalista e
todo caso, à lógica do capital. Assim, “não é a esfera pública global. Estudos de Sociolo-
forma de comunicação que tem assegurado a gia 8. Araraquara: UNESP, 1998.
mudança de patamar das sociedades” (BRIT- BRITTOS, Valério Cruz. A comunicação no ca-
TOS, 2000, p. 43). Economicamente, esse novo pitalismo avançado. In: Signo y Pensamien-
modelo de organização social, no qual o con- to. V. 19, n. 36, p. 33-46. Bogotá, 2000.
trole e a otimização dos processos industriais LOJKINE, Jean. A Revolução Informacional. Ed.
são transformados pelo processamento e ma- Cortez, 1995.
nejo da informação, ocorre uma mudança nas NORA, S.; MINC, A.. L’informatization de la
estruturas e práticas de produção, comerciali- Société. La Doc. Française, Paris, 1987.
zação e consumo, com impactos sobre as for- MATTELART, Armand. História da Sociedade
mas de cooperação e competição entre os agen- da Informação. São Paulo: Loyola, 2002.
tes, alterando as próprias cadeias de geração de
valor.
Assim, é patente que a economia transfor- SOCIEDADE DE MASSA
ma-se, de tal modo, que inovar e converter in- O termo tem origens na história do pensamen-
formação em conhecimento, como vantagem to político, além de componentes e correntes
competitiva, passa a constituir importante di- bastante diversas: “trata-se, em suma, de um
ferencial na produção de riquezas, que podem “termo guarda-chuva” de que, a cada passo, se-
tanto contribuir para o bem-estar e qualidade ria necessário precisar a utilização e a acepção”.
de vida dos cidadãos, quanto para acentuar as (WOLF, 2009 [1987], p. 23). A discussão acerca
desigualdades sociais. Ressalta-se ainda o as- deste novo tipo de sociedade faz parte do nas-
pecto político-estratégico de construção das cimento das ciências sociais.
chamadas infra-estruturas globais da infor- Augusto Comte entendia a sociedade como
mação, sendo a expressão “sociedade da infor- um organismo social que encontra harmonia e
mação” nada mais, nesse sentido, que a versão estabilidade mediante a divisão do trabalho e
europeia do projeto global norte-americano a diferenciação das partes. Ferdinand Tönnies,
de reestruturação do capitalismo (BOLAÑO, em 1887, pensava o modelo de sociedade que a
1998). No caso do Brasil, o documento de go- Europa estava em vias de abandonar e aquela
verno mais importante nesse sentido continua em que iria ingressar. Gemeinschaft refere-se a
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No centro desses acontecimentos – que in- Logo, partindo de uma definição muito
cluem o colapso do estatismo soviético, o fim simples de rede: “um conjunto de nós interco-
do fordismo-taylorismo, a globalização dos nectados”, serão a flexibilidade, adaptabilidade
mercados financeiros, a redefinição do rela- e capacidade de expansão ilimitada as caracte-
cionamento entre os gêneros e a formação de rísticas que, segundo Castells, as tornam uma
novas identidades coletiva ou individual – a “forma organizacional superior para a ação hu-
“transformação tecnológica revolucionária”, mana” e os instrumentos apropriados para uma
principal componente, mas não único, da nova economia capitalista baseada na inovação, para
forma específica de organização social chamada o trabalho tornado flexível e o trabalhador cria-
informacionalismo. Esta nova ordem societá- tivo e adaptável, para uma cultura movediça,
ria, o informacionalismo, é caracterizada tanto para uma política apta a processar instantanea-
por uma nova economia: a economia informa- mente novos valores e humores e para uma or-
cional global (centrada nos fluxos financeiros) e ganização social baseada na contração tempo/
uma nova cultura: da virtualidade real, quanto espaço (CASTELLS, 1996, p. 566). Vislumbra-
por uma nova estrutura social: a “sociedade em se, portanto, a constituição de um modo de de-
rede”. senvolvimento mais democrático, humanitário
Assim, dirá Castells, na conclusão do pri- e inclusivo, ainda que capitalista, cujo centro
meiro volume de sua trilogia: “como tendência de gravidade deslocou-se da produção de bens
histórica, as funções e os processos dominantes para a produção de saber e de informações.
na era da informação estão cada vez mais orga- Apesar da grande aceitação dessas teses
nizados em torno de redes. Redes constituem por boa parte da literatura especializada, im-
a nova morfologia social de nossas sociedades portantes contrapontos surgiram, notadamente
e a difusão da lógica de redes modifica de for- os provenientes da Economia Política da Co-
ma substancial a operação e os resultados dos municação.
processos produtivos e de experiência, poder Para Nicholas Garnham, por exemplo, que
e cultura” (CASTELLS, 1996, p. 565). Se, como enxerga, nessas teses, a permanência do deter-
Castells reconhece, o conceito de Rede antece- minismo tecnológico, falta a Castells, além de
de e ultrapassa o de fluxos de informação, se- uma compreensão mais acurada do funciona-
rão as TIC que conferirão a esse conceito a base mento das redes e de seu papel na reprodução
material necessária para sua expansão dentro ampliada do capital, uma análise que dê conta
da estrutura social e afirmação de sua “natureza dos conflitos, ainda existentes, entre o capital
revolucionária”. Assim, afirmará Castells: “A in- e o trabalho na contemporaneidade. (Ruy Sar-
ternet é o tecido de nossas vidas(...)passou a ser dinha Lopes)
a base tecnológica para a forma organizacio-
nal da Era da Informação: a rede” (CASTELLS, Referências:
2001, p. 7). A rede de informações, e dentre elas CASTELLS, Manuel. A era da informação: Eco-
a Internet, deixa de ser simples dispositivo tec- nomia, Sociedade e Cultura. São Paulo: Paz
nológico para constituir a própria morfologia e e Terra, 1999. Volume 1. A Sociedade em
topologia da nova ordem social, donde poder Redes.
se falar em “sociedade em rede”. . A era da informação: Economia, So-
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enciclopédia intercom de comunicação
ciedade e Cultura. São Paulo: Paz e Terra, A partir da década de 1930, duas grandes
1999. Volume 2 - O Poder Da Identidade. vertentes dominaram a discussão. De um lado,
. A era da informação: Economia, So- o funcional-estruturalismo norte-americano
ciedade e Cultura. São Paulo: Paz e Terra, centrou o foco de análise nas funções da comu-
1999. Volume 3 - Fim De Milênio. nicação. Destacaram-se nessa vertente, os no-
. A Galáxia Da Internet. Rio de Janeiro, mes de Charles Wright, Robert K. Merton, Paul
Jorge Zahar Editor, 2003. Lazarsfeld e Morris Rosenberg, que se interes-
GARNHAM, Nicholas. La theorie de la societé saram pela interação dos indivíduos através da
de l’information en tant qu’idéologie: une comunicação de massa e a abordagem se fez no
critique. In: Reseaux, n. 101, vol. 18. Paris: ângulo relações psicossociais.
Hermes, 2000. Do outro lado do Atlântico, a Escola de
HERSCOVICI, Alain. Sociedade da Informa- Frankfurt tomou como referência a estrutura
ção e Nova economia: ruptura ou Conti- da sociedade na qual emergem os produtos cul-
nuidade? In: Comunicação e Espaço Públi- turais na sociedade de massa. Max Horkheimer
co. Ano V, n.1 e 2. Brasília: UnB, 2002. e Theodor Adorno cunharam a noção de in-
dústria cultural, para buscar essas relações en-
tre os produtos culturais e a sociedade de onde
SOCIEDADE MIDIÁTICA emergem. Guy Debord tratou a cultura midiá-
A modernidade tem sido acompanhada de um tica como “sociedade do espetáculo”.
progressivo e múltiplo desenvolvimento dos Ainda, nessa ordem de preocupações, po-
meios de comunicação de massa. Assim, o sé- demos incluir a obra de Pierre Bourdieu, que,
culo XVIII viu consolidar o mercado de livro. com sua noção de campo, explora a segmenta-
No XIX, popularizaram-se os jornais diários e ção da produção cultural na sociedade.
as revistas. O cinema, invenção da Belle Époque, Enfatizando os meios de comunicação e
transformou-se em uma indústria milionária seus sistemas de sinais específicos, Marshall
com Hollywood e seu star-system. O rádio teve McLuhan desenvolveu sua teoria de que os
sua época de ouro em meados do século XX. A meios de comunicação guardam uma relação
televisão aberta marcou os anos 1950 e 1960. A direta como os sentidos humanos.
indústria fonográfica ganhou fôlego novo com Com preocupações similares, estão os pes-
os Compact Discs no final da década de 1980 e quisadores da chamada Teoria Matemática da
início de 1990. Por fim, há mais de uma déca- Comunicação, com Shannon e Warren Weaver,
da a Internet invadiu os lares e transformou a cujos trabalhos destacam a dimensão técnica
relação dos homens com a informação e o co- do processo comunicativo, em detrimento de
nhecimento. suas dimensões semânticas e sociais.
O conceito de sociedade midiática dá con- Pesquisadores franceses das ciências da lin-
ta dessa sociabilidade permeada pelos meios guagem igualmente se interessaram pela produ-
de comunicação. No entanto, o impacto das ção de bens simbólicos na sociedade midiática.
mídias sobre as relações sociais adquiriu di- Roland Barthes e Julia Kristeva empreenderam
ferentes enfoques conforme o paradigma so- análise que vão da política aos anúncios de sa-
ciológico. bão em pó.
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Umberto Eco agrupou essas vertentes em cessos de midiatização das práticas esportivas.
dois grandes blocos. Os apocalípticos, que viam No jornalismo esportivo, a opinião e o julga-
os efeitos sociais deletérios dos meios de comu- mento se confundem com a notícia.
nicação de massa; e os integrados, que enfatiza- Nesse aspecto, os jornalistas e colunistas
vam a contribuição positiva da mídia a favor da assumem publicamente o clube, os jogadores e
democracia e do bem-estar social. técnicos de suas preferências, ainda que, muitas
No início do século XXI, o cenário é de vezes, lancem mão da retórica da objetivida-
profunda transformação no tempo e no espa- de na apresentação de suas posições. (Helal;
ço das mudanças sociais, apontada por alguns Soares, 2002). Se no jornalismo impresso, a
autores, como Jürgen Habermas, Claus Offe e rotina de produção de notícias esportivas não
Clifford Giddens, como a transição de uma so- tem maiores diferenças com outras editorias, a
ciedade de trabalho para uma sociedade de in- transmissão ao vivo de eventos esportivos, pelo
formação. A contemporaneidade da sociedade rádio ou televisão, acrescenta uma importan-
midiática é marcada pela velocidade, pelo au- te especificidade: a veiculação de informações
tomatismo e pela modificação nas relações de sem prévia verificação. No jornalismo tradicio-
trabalho, produção, consumo e a instalação de nal, qualquer informação apurada deve ser ve-
uma nova sociabilidade, cujos contornos ainda rificada antes de ser divulgada.
estão para ser definidos. Naturalmente, na transmissão ao vivo de
Se há algumas décadas o temos dos pen- uma partida, o locutor simplesmente diz o que
sadores frankfurtianos era o avanço sem esca- vê – ou quer ver –, abrindo-se um amplo es-
la da sociedade de massa e da padronização da paço de especulação sobre a definição da situ-
cultura, que conduziria à alienação do trabalha- ação do jogo. No futebol, questões como essa
dor e sua massificação, o que se debate hoje é o incendeiam os debates de torcedores em está-
consumo personalizado, a participação indivi- dios, bares e ruas. Repercutidas nos jornais e
dual nos meios de comunicação e o cotidiano programas de debates esportivos, estas notícias
transformado em virtualidade. O império dos sustentam relações de sociabilidade cotidiana:
reality shows e do culto às celebridades atingiu “discutir futebol” com amigos ou desconhe-
seu ápice na sociedade midiática. (Ferdinando cidos é uma das práticas fundamentais da so-
Martins) ciabilidade de gênero no Brasil (Gastaldo,
2005).
Outro ponto de destaque é a Copa do Mun-
SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO do de Futebol, torneio em que nações são colo-
ESPORTIVA cadas em perspectiva comparada, configurando
O esporte moderno e os meios de comunica- um amplo campo discursivo sobre representa-
ção de massa são frutos de um mesmo período ções da nacionalidade. O discurso da imprensa
histórico: a consolidação da cultura burguesa esportiva nesses períodos é um fabuloso espa-
de fins do século XIX. No Brasil, o esporte e a ço de observação das lógicas simbólicas relati-
imprensa esportiva nasceram quase ao mesmo vas aos valores da identidade nacional: como
tempo. É impossível pensar contemporanea- na famosa expressão de Nelson Rodrigues: “a
mente o esporte-espetáculo sem pensar os pro- Pátria em chuteiras” (Marques, 2003). A refle-
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enciclopédia intercom de comunicação
xão sobre o papel da imprensa esportiva como não mais privilegiava métodos educacionais
formadora de cultura é fundamental para que voltados para a mera contemplação do mundo
possamos observar como os jornais ratificam e ou para o exame crítico interno. Protágoras de
constroem mitologias e discursos identitários, Abdera foi talvez o mais famoso e o primeiro
apesar da suposta objetividade jornalística que sofista. Ele ensinou a seus alunos a tornar for-
se constitui num dos pilares da profissão (He- te o argumento fraco, alterando as percepções
lal; Soares, 2002). (Ronaldo Helal e Édison que as pessoas tinham sobre o valor dos argu-
Gastaldo) mentos.
Assim, privilegiava táticas argumentativas
Referências: que tendiam a uma representação falsa ou im-
GASTALDO, Édison. A Representação do Fute- própria da posição de um oponente de diálogo,
bol no Cinema Brasileiro. In: Cadernos da tornando-a mais implausível.
PósGraduação (3/3). Campinas: PPGMM/ Esse modo de agir fazia com que os argu-
IA-Unicamp, 1999. mentos fornecidos pelo oponente fossem apro-
. O Complô da Torcida: futebol e perfor- priados por seu interlocutor de modo a descre-
mance masculina em bares. In: Horizontes denciá-los diante da audiência, podendo ser
Antropológicos (11/24). Porto Alegre: PP- mais facilmente questionados e refutados.
GAS/UFRGS, 2005. Nesse aspecto, discursos falaciosos eram
HELAL, R.; SOARES, A. O Declínio da Pátria sustentados no lugar de posições reais, inva-
de Chuteiras: imprensa, futebol e identida- lidando qualquer movimento contrário. Por
de nacional na Copa do Mundo de 2002. exemplo: um político partidário do meio am-
In: PEREIRA, M.; GOMES, R.; FIGUEI- biente faz sua campanha eleitoral apoiando-se
REDO, V. Comunicação, representação e no argumento de que, se eleito, vai lutar pela
práticas sociais. Rio de Janeiro: PUC-RIO, preservação de florestas, matas ciliares e ani-
2004. mais em extinção.
MARQUES, José Carlos. O futebol em Nel- Um candidato da oposição pode responder
son Rodrigues. São Paulo: EDUC/FAPESP, dizendo que seu concorrente quer fazer com
2003. que o planeta se veja livre da poluição e da de-
gradação da natureza e que, para isso, é preciso
eliminar a produção industrial. Nesse sentido,
SOFISMA o sofisma não é só uma sentença inválida, mas
Tipo de falácia que não é só um erro de razoa- uma razão erística, isto é, que almeja vencer.
bilidade ou um argumento inválido, mas uma De modo particular, um sofisma é uma
refutação aparente, mediante a qual se quer de- sentença (e não um argumento) estranha, am-
fender algo falso e confundir o interlocutor, le- bígua ou paradoxal, e pode ser verdadeira ou
vando-o a acreditar no contrário. falsa, dependendo da interpretação que con-
Os sofistas lideraram um movimento inte- ferimos a ela. O sofisma deve conter uma di-
lectual particular na Grécia, difundindo o en- ficuldade real, criar uma confusão lógica.
sinamento das artes e ciências, colocando-se Nesse sentido, desprovido de uma conotação
a favor de uma filosofia retórica e livre que já pejorativa, o sofisma pode ser compreendido
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enciclopédia intercom de comunicação
como uma proposição que pode ser interpre- criativa à etapa de pós-produção (ou, mais pre-
tada como correta ou incorreta. Às vezes, pode cisamente com a inserção e mixagem de músi-
não ter nada de especial, mas torna-se estranha cas, efeitos, dublagem, narração etc.). Na etapa
quando expressa em dado contexto. de gravação das cenas, o som resume-se basi-
Entre as sentenças sofísticas mais conheci- camente aos chamados “sons diretos”, que são
das estão aquelas que envolvem a ambiguida- captados do ambiente da ação.
de (“Viver de morte e morrer de vida” [Herá- No Brasil, o cinema sempre foi acompa-
clito]), o paradoxo (“Se Corisco é outra coisa nhado com música popular.
além de um homem, ele é outra coisa que ele Desde o cinema mudo, os filmes possuíam
mesmo, pois é um homem”) e a conversação acompanhamento musical dentro e fora das sa-
falsa da afirmação consequente (“Todos os ho- las de exibição. Nesse sentido, o conceito de tri-
mens são burros, então todos os burros são ho- lha musical criado após o advento do cinema
mens”), que se apresenta sob a fórmula “Se A é, sonoro sincronizado (com a gravação da trilha
B necessariamente é”, e vice versa. (Ângela Mar- sonora articulada às imagens), era realizado ao
ques) vivo, muitas vezes improvisado, por pianistas,
intérpretes ou pequenas orquestras, atentos, ou
Referências: não, aos acontecimentos das imagens da tela.
AUDI, Robert (Ed.). The Cambridge Dictionary Em 1929, surgiu o primeiro longa-metra-
of Philosophy. Cambridge: Cambridge Uni- gem brasileiro com cenas sonorizadas: Enquan-
versity Press, 1995. to São Paulo dorme, de Francisco Madrigano.
AUROUX, Sylvain (Dir.). Les notions philoso- No mesmo ano, Acabaram-se os otários de Luís
phiques – Dictionnaire. Paris: Presses Uni- de Barros, consagrou-se para o marco do pri-
versitaires de France (PUF), 1990. meiro filme completamente sonorizado e sin-
BUNGE, Mário. Dicionário de Filosofia. São cronizado.
Paulo: Perspectiva, 2006. A partir dos anos 1930, a estruturação da
HONDERICH, Ted (Ed.). The Oxford Compan- radiofonia e da indústria do disco, misturadas
ion to philosophy. Oxford: Oxford Univer- às convenções da prática da vinculação da mú-
sity Press, 1995. sica popular no teatro de revista, formatam a
MORA, José Ferrater. Diccionario de Filoso- moda dos filmes falados e musicais.
fía. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, O sucesso de Coisas nossas (1931), a cons-
1975. Tomo 2. trução da Cinédia, no Rio de Janeiro, por Adhe-
mar Gonzaga, e, posteriormente, a criação da
Atlântida, dão impulso para os musicais car-
Som no cinema brasileiro (O) navalescos dos anos 1930, 1940 e 1950. Período
O som no cinema é, também, denominado de em que o “alô, alô” das ondas do rádio se esten-
‘trilha sonora’ e define os elementos sonoros e dem para as telas, com seus famosos intérpretes
musicais que, articulados às imagens, integram e compositores, humoristas e locutores, além
a linguagem cinematográfica: música, efeitos das canções populares que passam a integrar os
sonoros e voz. No processo de produção dos roteiros com números musicais de sambas en-
filmes, o som resguarda a sua participação mais tre paródias e sátiras sociais. De fato, não é a
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verdadeiro e autêntico, enquanto cópia produ- na não são, senão, uma aproximação errática de
zida em série. O sentido do souvenir, entretan- um significado de difícil aparecimento. Assim,
to, assim como de seu consumo, só pode ser da o souvenir tem de figurar concretamente uma
ordem do simbólico, não sendo dado a priori parte do significado, seja através da imagem ou
e em si mesmo, mas, sobretudo, nas relações de um objeto que, pela semelhança, busca ins-
que se armam no processo de significação. O taurar, miticamente, sua presença.
souvenir está, assim, longe de ser apenas uma O que é representado pelo souvenir, como
coisa. Ele é uma coisa social. Ele é peça chave símbolo iconográfico, está para além do que
na construção do significado da experiência tu- quer e pode ser de fato dito e pensado. A es-
rística. Ele ajuda a botar ordem na infinita casa tátua do Cristo Redentor, por exemplo, não é
das sensações com as quais travamos contato simplesmente mais uma estátua tomada como
ao longo de nossas vidas. Experiência essa que atrativo turístico, mas, o próprio Cristo, o pró-
se arma antes e durante a viagem, mas que tem prio Deus. O consumo do turista, faz-se assim,
no retorno seu momento mais significativo. É mais do que a simples posse do objeto. (Euler
quando souvenires e fotografias serão usadas David de Siqueira)
na construção de narrativas em um tempo dis-
tinto daquele da viagem (AUGÉ, 2003). Referências:
Mais do que uma coisa ou objeto despro- AUGÉ, Marc. Voyage et ethnographie, la vie
vido de sentido, portanto, o souvenir tem seu comme récit. L’Homme, 151, p.11-20. jul/sep
sentido construído pelos atores sociais através 1999.
de suas práticas, elas mesmas são formas de MAUSS, Marcel. Sociologia e antropologia. São
classificar tempo, espaço, coisas e pessoas. Paulo: EPU/EDUSP, 1974. Volume 2.
Em geral, o souvenir representa os aspec- SIQUEIRA, E. D.; MACHADO, Paula de Souza
tos mais distintivos de uma localidade turís- . Turismo, consumo e cultura: significados
tica: são miniaturas da Torre Eiffel, do Cristo e usos sociais do suvenir em Petrópolis-RJ.
Redentor, da Estátua da Liberdade, dos Eléc- Revista Contemporânea (UERJ), Ano 10, p.
tricos de Lisboa ou ainda imagens desses mes- 01-17, 2008
mos atrativos turísticos suportadas em objetos SIQUEIRA, E. D. O melhor lugar do mundo é
tais como copos, pratos, camisetas, postais e ca- aqui: etnocentrismo e representações so-
netas que trazem imagens de atrativos comple- ciais nas revistas de turismo. Revista Hos-
mentados por frases que atestam a presença do pitalidade, São Paulo, Ano 4, n.1, p.11-33, 1.
turista na localidade. (SIQUEIRA, 2008) Mas, sem. 2007.
o que importa dessa profusão infinita de obje-
tos é perceber a relação instauradora do símbo-
lo iconográfico com o que é representado. Ele Spot
não faz mais do que, pela redudância, aprimo- Peça publicitária elaborada e produzida para
rar um sentido que se aperfeiçoa continuamen- ser veiculada no rádio. Trata-se de um fonogra-
te, tamanha a inadequação entre significante e ma que além do texto previamente elaborado
significado. pode conter silêncio, trilhas e efeitos sonoros
As inúmeras versões que o souvenir encar- para comunicar a mensagem publicitária do
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ele tem de afetar as organizações ou de ser afe- considerando tanto os interesses da organiza-
tado por elas. Concentra-se nas interações da ção quanto os dos públicos. (Fábio França)
empresa com grupos de agentes integrados no
desenvolvimento de negócios. França, (2008, Referências:
p. 32-35) afirma que “o termo compõe-se das GRUNIG, J. E.; FERRARI, M. A.; FRANÇA, F.
palavras stake e holder (detentor, possuidor)”. Relações Públicas: teoria, contexto e rela-
Stake, para Carroll, envolve desde simples in- cionamentos. São Caetano do Sul: Difusão,
teresse até reivindicação de direitos legais (dos 2009.
proprietários, acionistas, funcionários, consu- CARROLL, A. B. Stakeholders strategy for Pub-
midores) e de direitos morais (por exemplo, a lic Relations. The Public Relations Strategist:
necessidade do funcionário de ser tratado com Issues and Trends that affect Management,
justiça e imparcialidade). vol. 3, n. 4. p. 38-40, 1998.
Os stakeholders têm uma relação bidirecio- FREEMAN, E. Strategic management: a stake-
nal ou troca legítima de influências com a em- holders approach. New York: Basic Books,
presa. Grunig (2009, p. 83) define stakeholders 1984.
“como as categorias gerais de pessoas que são
afetadas por consequências reais ou potenciais
das decisões organizacionais estratégicas. Ca- STORE-AUDIT
tegorias de stakeholders geralmente são o foco Espécie de auditoria no ponto-de-venda, em
de programas de relações públicas. O autor ad- caráter informal, com o objetivo de verificar a
verte que o primeiro passo na gestão estratégi- atuação do produto, frente à concorrência. É
ca de relações públicas é identificar as pessoas realizada tanto por parte do fabricante como
que são vinculadas ou que têm interesse na or- por parte da agência de comunicação, pelos
ganização. profissionais envolvidos e empenhados na per-
A teoria dos stakeholders determina as re- formance positiva do produto/serviço no mer-
lações de poder, mas deixa a desejar quanto à cado. O store-audit é muito apropriado para
necessidade que a organização tem de estabele- produtos expostos em lojas de autosserviço,
cer redes monitoradas de relacionamento e ob- como os supermercados.
jetivos claros dessa relação com todos seus pú- Essa visita ao ponto-de-venda proporcio-
blicos para o sucesso de suas operações globais. na informações sobre a visibilidade do produto
Embora ofereça estrutura sustentável da relação nas prateleiras e gôndolas, a presença de con-
da organização com os principais públicos, não correntes diretos e indiretos, o fluxo de consu-
distingue com clareza quem são stakeholders e midores a procurar o produto, a organização
outros públicos com os quais a organização in- dos materiais de promoção de vendas, a atua-
terage, nem tem a estrutura lógica da concei- ção do gerenciamento de estocagem e reposi-
tuação de França (2008), que propõe o mapea- ção, enfim, várias ações que contribuem ou não
mento dos públicos levando em consideração a para a consolidação de uma determinada mar-
amplitude e as etapas de inter-relacionamento ca, junto ao seu target.
como: objetivos, caráter essencial/não essen- Atualmente, com a informatização e o
cial, de interferência; expectativas das partes, avanço proporcionado por ela, chamamos tam-
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enciclopédia intercom de comunicação
bém por ‘store-audit’, a um sistema de coleta de tantaneamente ao servidor central. Este, por
dados nas gôndolas. Voltado ao varejo e à in- sua vez, os consolida e os retorna ao gerente
dústria, o store-audit coleta os dados nas gôn- da loja ou ao gerente de produto e igual cate-
dolas via smartphones, coletores de dados ou goria pelo lado do fabricante, sob a forma de
nextel e encaminha relatórios dos produtos em relatórios e até mesmo mensagens ‘sms’. Es-
falta, repassando-os diretamente ao gerente na tes dados já contêm os alertas sobre as ruptu-
loja de autosserviço, sem que ele precise cami- ras, sobre os estoques críticos e sobre aqueles
nhar por toda a extensão física da loja para exe- produtos em estado de atenção e que estarão,
cutar auditorias diárias e frequentes. a qualquer momento, em situação de ruptura.
A chamada ruptura de gôndola (ausência O sistema store-audit informatizado pode ser-
de produtos nas prateleiras das gôndolas dos vir como uma ação de marketing para os itens
supermercados) é uma questão importante que que substituem os produtos em falta.
afeta o varejo e a indústria em todas as partes Partindo desse princípio, o gerente de cate-
do mundo, gerando grandes perdas nas vendas goria de produto pode imediatamente verificar
e na lucratividade, pois o consumidor não tem a disponibilidade na sua retaguarda ou em ou-
tempo a perder, procurando saber o motivo tras filiais e disparar uma reposição de emer-
pelo qual não encontrou o produto almejado. gência. Ou, ainda, pode oferecer um produto
Como forma de sanar este problema, empresas superior promocionalmente pelo mesmo preço
que atuam no mercado de soluções dedicadas do item faltante, transformando o seu proble-
a processos de automação com código de bar- ma em uma ação de marketing para crescimen-
ras, em parceria com empresas de tecnologia, to. (Scarleth O’hara Arana)
disponibilizam ao mercado nacional e interna-
cional, o store-audit informatizado, um sistema Referências:
capaz de detectar dados de ruptura na gôndola ALENCAR, Marcelo Sampaio de. Telefonia Ce-
das lojas, a partir de coletores portáteis de da- lular Digital. São Paulo: Erica, 2005.
dos que fornecem os resultados para que a re- COBRA, Marcos. Administração de Marketing
posição dos produtos seja feita imediatamente. no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2008.
Essa preocupação se deve a pesquisas de mer- FERRACCIÚ, João de Simoni Soderini. Marke-
cado patrocinadas pelas próprias lojas de au- ting Promocional. São Paulo: Prentice Hall
to-serviço, indicando que em torno de 50% dos Brasil, 2007.
consumidores optam por outra marca e 40% GURGEL, Floriano do Amaral. Administração
deles acabam procurando em outra loja os pro- da Embalagem. São Paulo: Thomson Hein-
dutos que não encontraram e ficaram em falta le, 2007.
na sua relação de compras. SEMENICK, Richard J., O’GUINN, Thomas C.
O processo se constitui de pesquisas regu- e ALLEN, Chris T. Propaganda e Promo-
lares feitas por operadores terceirizados con- ção Integrada da Marca. Florence: Cengage
tratados ou pelos próprios varejistas e o seu Internacional / São Paulo: Cengage Brasil,
funcionamento parece ser bem simples. Os da- 2008.
dos são coletados via telefones smartphones,
nextel ou coletores portáteis e enviados ins-
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
Essa percepção faz com que esses concei- chamar de ‘realidade’” (2002, p.123). Se a coisa
tos sejam utilizados atualmente em pelo menos “se põe na extremidade de um olhar ou ao ter-
duas abordagens teóricas de perspectiva eman- mo de uma investigação sensorial que a inves-
cipatória (emancipadora?): os Estudos Cultu- te de humanidade” (MERLEAU-PONTY, 1999,
rais e os estudos pós-coloniais. (Maria Luiza p.429), então subjetividade e realidade são no-
Martins de Mendonça) ções interdependentes: é a consciência humana
que decide sobre o que é real e o que não é; a
Referências: existência das coisas depende do sujeito e, pois,
GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. Introdu- de sua subjetivação.
ção ao estudo de Benedetto Croce. Rio de O distanciamento do sujeito cartesiano do
Janeiro: Record, 2002. objeto de sua análise, ao mesmo tempo em que
SCHLESENER, Anita. H. Hegemonia e cultura: instaura essa dualidade (sujeito/objeto), funda
Gramsci. Curitiba: UFPR, 1992. também um modo de subjetividade, constru-
ído por meio do pensamento cogito ergo sum
(penso logo existo). Na esfera da produção da
SUBJETIVIDADE comunicação, parece predominar o ideário da
Em comunicação, subjetividade é, muitas vezes, objetividade, na medida em que o jornalismo,
vista como antônimo de objetividade e, portan- por exemplo, “supõe o real como algo verifi-
to, nefasta, responsável pela manipulação das cável, seja pelos argumentos (intelectualismo),
informações e das consciências. Por outro lado, seja pelas experiências (empirismo).
costuma-se dizer que é impossível purgar um Num caso, parte-se de um mundo em si
trabalho humano da subjetividade, pois todo que age diante dos nossos olhos; noutro, tem-se
ele é feito de escolhas pessoais, mesmo quando uma consciência ou um pensamento do mun-
segue as fórmulas consagradas das produções do” (BARROS, 2008, p.176). Nas duas situações,
dos meios de comunicação. Dessa forma, da no entanto, ainda há a presunção de um mun-
simples notícia às peças publicitárias, passan- do em si, que não muda, “sempre definido pela
do por reportagens e anúncios, veiculados em exterioridade absoluta de suas partes e apenas
quaisquer meios, tudo está permeado de sub- duplicado em toda a sua extensão por um pen-
jetividade. samento que o constrói” (MERLEAU-PONTY,
No dicionário Houaiss, subjetividade é de- 1999, p.69).
finida como realidade psíquica, emocional e Desenha-se, assim, um jogo de contradi-
cognitiva do ser humano comprometida com ções em torno da noção de subjetividade: en-
a apropriação intelectual dos objetos externos. quanto o pensamento acadêmico relativiza o
Assim, é a subjetividade que possibilita ao ser império da objetividade, sublinhando a valida-
humano tomar posse da realidade. Ora, a rea- de epistemológica da subjetividade na comu-
lidade não pode ser separada de alguém que a nicação, os profissionais da área reconhecem a
perceba. impossibilidade de se fugir à subjetividade, mas
No dizer de Muniz Sodré, “o real em si, sempre buscando a maior objetividade possí-
como se sabe, é inexistente: o que há mesmo vel. Completando o ciclo, os personagens que,
são efeitos de objetividade a que costumamos um tanto inadequadamente, são chamados de
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enciclopédia intercom de comunicação
receptores da comunicação, revisam e recons- na qual e pela qual todo o mundo objetivo exis-
troem suas próprias subjetividades em função te para mim, exatamente da forma como existe
da comunicação. (Ana Taís Martins Portanova para mim” (HUSSERL, 2001, p. 38).
Barros) Nesse sentido, a subjetividade implica
uma interpretação autêntica do mundo obje-
Referências: tivo pelo eu, tornando-o único perante os de-
BARROS, Ana Taís Martins Portanova. Sob o mais sujeitos.
nome de real: imaginários no jornalismo e Portanto, os ambientes subjetivos específi-
no cotidiano. Porto Alegre: Armazém Di- cos de cada indivíduo são, a priori, inacessíveis
gital, 2008. aos demais indivíduos. De acordo com Niklas
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia Luhmann (1995), a subjetividade está contida
da percepção. São Paulo: Martins Fontes, nos sistemas psíquicos individuais, e seu des-
1999. velamento depende da própria necessidade de
SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho. Pe- expressão de tais sistemas. No âmbito da co-
trópolis: Vozes, 2002. municação interpessoal, evidencia que isso essa
representa uma questão de vital importância,
uma vez que a comunicação só se torna possí-
SUBJETIVIDADE (A) vel se o fechamento das consciências é supera-
A subjetividade está ligada à consciência dos do, em favor de um compartilhamento mínimo
sujeitos. Refere-se a todas aquelas percepções, de interpretações individuais sobre o mundo.
visões e interpretações que são próprias de uma “A comunicação é uma síntese de mais do
pessoa, que foram e são construídas, continu- que o conteúdo de uma só consciência” (LUH-
amente, em suas histórias particulares. A per- MANN, 1995, p. 99). O compartilhamento de
cepção da sociedade sobre os fenômenos que sentidos entre duas pessoas, dessa forma, de-
a circundam compõe, inevitavelmente, as per- pende de uma reciprocidade de perspectivas
cepções próprias de cada indivíduo sobre tais particulares, as quais encontram a partir de
fenômenos. Entretanto, a observação subjetiva seus contornos próprios – de suas subjetivi-
parece conter, em sua essência, uma particula- dades – pontos de interseção. Por causa disso,
ridade que só pôde assim se configurar devido pode-se afirmar que o caminho para a comu-
à existência única do observador. É a corren- nicação interpessoal é o caminho da intersub-
te filosófica da fenomenologia, cujo principal jetividade. (Ana Thereza)
expoente é Edmund Husserl, que lança bases
para a compreensão do conceito de subjetivida- Referências:
de. Husserl entende que a construção do sub- HUSSERL, Edmund. Meditações Cartesianas.
jetivo pode se descolar de tal maneira da vida Introdução à fenomenologia. São Paulo:
empírica, que a consciência individual pode Madras Editora, 2001.
então se apresentar em originalidade plena. A LUHMANN, Niklas. Social Systems. Stanford:
fenomenologia “é o método universal e radi- Stanford University Press, 1995.
cal pelo qual me percebo como eu puro, com a
vida de consciência pura que me é própria, vida
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sileira de Economia Política. n. 11, p. 53-78. fora dos Estados Unidos. A mais antiga e im-
Rio de Janeiro, dez. 2002. portante de todas é a King Features Syndicate,
MARX, Karl [1857-1858]. Elementos Fundamen- criada em 1913 – com o nome Newspaper Fe-
tales para la crítica de la economía política. ature Service, mudando para King dois anos
México: Siglo XXI, 1980. depois – pelo magnata da imprensa america-
. [1866]. Capítulo Sexto (Inédito) d’O Ca- na William Randolph Hearst em parceria com
pital. Lisboa: Escorpião, 1975. Moses Koeningsberg. Os artistas eram contra-
. [1867]. O Capital. Crítica da Economia tados por essas empresas, que detinham o di-
Política. Rio de Janeiro: Civilização Brasi- reito sobre os personagens e as tiras.
leira, 1980. A King Features foi responsável pela pro-
dução e disseminação de quadrinhos como
Krazy Kat, Popeye, Flash Gordon, Fantasma,
Suporte Digital Recruta Zero, entre outros. A United Feature
Também chamado de plataforma digital. Meio Syndicate também se destaca nessa área com
físico que armazena informações de lógica bi- as tiras de Brucutu, Peanuts e Dilbert. Algumas
nária (bits). Bits são unidades lógicas biná- experiências foram feitas, no Brasil, para pro-
rias discretas que precisam de suportes físicos duzir e distribuir quadrinhos criados por artis-
(computadores, celulares, TV digital) para exis- tas nacionais.
tir. Portanto, não existe oposição entre átomos No início da década de 1960, o então go-
e bits porque são de natureza diferente. vernador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola,
A adoção de bits levou a um grande de- investiu na Cooperativa Editora de Trabalhos
senvolvimento nas comunicações porque eles, de Porto Alegre (CETPA), que difundiu tiras e
como dois estados lógicos diferentes, têm a ca- histórias em quadrinhos em revistas e jornais
racterística de poder ser representados em uma locais e de outros Estados (SILVA, 1976). Apesar
ilimitada variedade de suportes físicos. Entre da curta duração do empreendimento (de 1961
esses suportes físicos é possível citar os cartões a 1963), divulgou trabalhos de artistas como Re-
de papel perfurados, substrato magnético, su- nato Canini (Zé Candango), Flávio Colin (Se-
perfícies opticamente refletoras/opacas (como pé-Tiaraju), Getúlio Delfim (Aba-Larga), Júlio
em CDs e DVDs) ou memórias Flash, conden- Shimamoto, Luiz Saidenberg, entre outros.
sadores elétricos (como em memória RAM de Na década de 1980, a Agência Funarte (ór-
computadores). Todos estes meios físicos que gão do governo federal), então dirigida pelo
armazenam informações em lógica binária po- quadrinhista Ziraldo Alves Pinto, tentou dis-
dem ser considerados suportes digitais. (José tribuir tiras em jornais do país inteiro, mas os
Antonio Meira) custos envolvidos e a baixa adesão dos veículos
impressos, que obtêm material estrangeiro por
um preço inferior, inviabilizou a continuidade
Syndicates da iniciativa.
Empresas norte-americanas que distribuem De certa forma, nesse universo das HQs, o
material editorial (fotos, textos etc.) e tiras de nome do desenhista e empresário Mauricio de
quadrinhos para diversas publicações dentro e Sousa é uma exceção, pois consegue veicular as
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enciclopédia intercom de comunicação
tiras protagonizadas por seus personagens em Costuma-se adotar uma forma para elabo-
vários órgãos de imprensa no território brasi- rar um bom diagnóstico e que consiste em fazer
leiro. (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elísio dos uma lista com os pontos fortes e fracos da em-
Santos) presa, produto/serviço, em relação aos dois ou
três principais concorrentes diretos. Essa lista
nada mais é do que uma síntese de todos os da-
SWOT dos levantados, concisamente descritos e orde-
A análise SWOT é uma ferramenta de gestão nados lado a lado, permitindo uma visão total
muito utilizada por empresas como parte do da situação. Podem ser consideradas as variá-
planejamento estratégico dos negócios. O ter- veis de marketing, como por exemplo: produ-
mo SWOT representa as iniciais das palavras to, preço, distribuição, promoção, propaganda,
strenghts (forças - vantagens internas da empre- ponto-de-venda, relações públicas, participa-
sa em relação às empresas concorrentes), we- ção de mercado, evolução das vendas e outros
aknesses (fraquezas - desvantagens internas da itens pertinentes.
empresa em relação às empresas concorrentes), Utilizam-se sinais matemáticos (+), (-)
opportunities (oportunidades - aspectos positi- e (=) no quadro com a listagem, significando
vos externos com o potencial de fazer crescer pontos fortes, fracos ou em igualdade de con-
a vantagem competitiva da empresa) e threats dições, respectivamente. Podem existir situa-
(ameaças - aspectos negativos externos com o ções em que uma marca poderá estar com o si-
potencial de comprometer a vantagem compe- nal (+/-), para indicar que tem uma vantagem
titiva da empresa). sobre um concorrente e uma desvantagem em
O que se pretende é definir as relações exis- relação a outro, mas essa codificação deve ser
tentes entre os pontos fortes e fracos da empre- livre, ficando a critério do analista.
sa com as tendências mais importantes que se O importante é que traduza uma situação
verificam no cenário externo, aspecto envol- e facilite o processo de classificação. Ao final,
vente em que a empresa está inserida, seja ao pode-se somar o resultado dos sinais para se ter
nível do mercado global, do mercado específi- uma ideia melhor da posição da marca, perante
co, da conjuntura econômica e/ou das imposi- os concorrentes diretos.
ções legais. Uma vez montado esse resumo, o passo se-
Uma vez analisada a situação de mercado guinte será identificar os problemas que terão
e feita a comparação com a concorrência, che- de ser enfrentados e as oportunidades que po-
ga-se a um ponto importante do planejamen- derão ser aproveitadas, uma vez que nem todo
to estratégico: a realização do diagnóstico. Por ponto fraco é um problema e nem todo pon-
aqui se inicia o processo criativo de um plane- to forte é uma oportunidade. Pode-se, então,
jamento de comunicação, pois não é suficiente acrescentar mais duas colunas ao resumo, para
coletar informações. Depois de organizadas, é facilitar a origem da avaliação. Por exemplo,
fundamental analisá-las, verificando quais são pelo fato de uma empresa não realizar ações
os aspectos negativos e problemas que terão de de relações públicas e os concorrentes sim, não
ser enfrentados e os aspectos positivos e opor- significa que esse ponto fraco seja um proble-
tunidades a serem aproveitadas. ma, da mesma forma que um preço mais ele-
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vado da concorrência (considerado como pon- pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as
to fraco) pode representar uma oportunidade oportunidades e proteja-se contra as ameaças ”
para quem está fazendo a análise. (SUN TZU, 500 a.C.).
A finalidade do diagnóstico da situação é Apesar de bastante divulgada e citada por
compreender o que está acontecendo ou pode- autores, é difícil encontrar uma literatura que
rá acontecer, para saber que os pontos precisam aborde diretamente esse tema. Mas, uma vez
ser defendidos pela comunicação da empresa e entendida e aplicada, a análise SWOT pode
quais os que poderão ser atacados para enfren- auxiliar sobremaneira na confecção de docu-
tar a ação da concorrência ou tomar uma ini- mentos como briefings, planos estratégicos,
ciativa antes que as outras marcas o façam. checklists, relatórios de atividades anuais, en-
A análise SWOT é uma ferramenta utiliza- tre outros documentos, e ser uma sólida base
da para fazer análise de cenário (ou análise de de informações em qualquer planejamento, do
ambiente), sendo usado como base para gestão menos complexo ao mais elaborado projeto,
e planejamento estratégico de uma corporação mercadológico ou não. (Scarleth O’hara Arana)
ou empresa, mas podendo, devido a sua sim-
plicidade, ser utilizada para qualquer tipo de Referências:
análise de cenário, desde a criação de um blog CLAVELL, James. A Arte da Guerra. São Paulo:
à gestão de uma multinacional. Comumente, a Record, 2004.
técnica é creditada a Albert Humphrey, que li- FAYARD, Pierre. Compreender e Aplicar Sun-
derou um projeto de pesquisa na Universidade Tzu – O Pensamento Estratégico Chinês:
de Stanford, nas décadas de 1960 e 1970, usan- Uma Sabedoria em Ação. Porto Alegre:
do dados da revista Fortune das 500 maiores Bookman, 2006.
corporações. HINDLE, T.; LAWRENCE, M. Field Guide to
No entanto, não há registros precisos sobre Strategy. Harvard: HBS Press, 1994.
a origem desse tipo de análise, segundo Hindle KELLER, Kevin Lane; KOTLER, Philip. Admi-
e Lawrence (1994), a análise SWOT foi criada nistração de Marketing. São Paulo: Prentice
por dois professores da Harvard Business Scho- Hall Brasil, 2006.
ol: Kenneth Andrews e Roland Christensen. KOTLER, Philip. Marketing Essencial. São Pau-
Por outro lado, Tarapanoff (2001) indica que a lo: Prentice Hall Brasil, 2005.
ideia da análise SWOT já era utilizada há mais TARAPANOFF, K. (Org). Inteligência Organi-
de três mil anos, quando cita em uma epígra- zacional e Competitiva. Brasília: UnB, 2001.
fe, um conselho de Sun Tzu: “Concentre-se nos
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T, t
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espetáculo – exigia do diretor sua extrema cria- Patrice Pavis (1984, p. 468), não registra o
tividade para concretizar a cena, isto é, a ence- verbete teatro, mas sim, teatralidade: o teatro
nação. seria o lugar onde se realiza/concretiza a teatra-
O teatro romano, pelo contrário, mais pre- lidade, isto é, a transformação de um texto dra-
ocupado com o aspecto pedagógico, pratica- mático em espetáculo propriamente dito. Luiz
mente dispensava a encenação, tornando-se, Paulo Vasconcellos (1987, p. 184), por seu lado,
por isso mesmo, um teatro eminentemente lite- escreve: “no sentido mais amplo, o termo atin-
rário, baseado apenas no texto dialogado, per- ge toda a atividade teatral, englobando drama-
mitindo a exposição de diferentes pontos de turgia, encenação e produção de espetáculos”.
vista, de maneira que o autor pudesse abordar Tadeusz Kowzan (1977, p. 57), num quadro
determinada realidade sob perspectivas varia- sintético a respeito do espetáculo teatral, apre-
das, levando o leitor (e nem tanto o espectador) senta a seguinte proposta que nos permite visu-
a concluir algo a respeito, tal como ocorrerá em alizar todo o conjunto de elementos constituin-
Sêneca, por exemplo. Também se valorizava o tes do espetáculo teatral, do texto (palavra) aos
jogo de palavras, como ocorre na comédia la- signos (intermediários desta palavra junto ao
tina, sobretudo de Plauto, seu autor de maior espectador). (Antonio Hohlfedt)
sucesso público.
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Em Porto Alegre, na mesma época, surgia americanos, como Florenz Ziegfeld e George
o Teatro Novo, do dramaturgo e diretor Ronald White, em Nova York. Mais tarde, vai ganhar
Radde. Em 1974, cria-se a FENATA – Federa- característica de teatro rebolado, quando intro-
ção Nacional de Teatro Amador. A CONFENA- duz, no Brasil, como bailarina, a figura da mu-
TA surgiria em 29 de janeiro de 1977. O I Con- lata, de certo modo juntando um traço original
gresso Brasileiro de Teatro Amador aconteceu do gênero do teatro de revista, já adaptado ao
em janeiro de 1979. (Antonio Hohlfedt) país, com a participação das sensuais bailari-
nas do teatro musical europeu. Carlos Macha-
Referência: do será seu grande produtor, celebrizando-se
KÜHNER, Maria Helena. Teatro amador – Ra- por suas caríssimas e criativas produções, pelo
diografia de uma realidade – 1974-1986. Rio menos até o final da década de 1970 (MACHA-
de Janeiro: INACEN, 1987. DO, 1978).
Para alguns historiadores, como Galante
de Sousa, tal popularidade da revista, em ge-
Teatro de revista ral, seria responsável pela decadência do teatro
Forma de teatro popular de entretenimento, nacional (SOUSA, 1960, p. 230). Na França, o
mesclando canções, danças e esquetes, vaga- teatro de revista evoluiu para o teatro musical,
mente ligados ou não por enredo ou tema cen- deixando as ruas para chegar aos cassinos e ca-
tral, com um tênue objetivo satírico. Por defini- barés. Tinham como atração especial um corpo
ção, enquanto gênero teatral, o teatro de revista de bailarinas, belas mulheres que sabiam dan-
é uma revisão de fatos e fantasias ocorridos ou çar e eventualmente cantar, com um ou vários
desdobrados no ano anterior (TAYLOR, 1966, bailarinos masculinos que com elas contrace-
p. 234; VASCONCELLOS, 1987, p. 168). Isso navam.
se deve a sua origem, em 1715 (VENEZIANO, No Brasil, os pesquisadores são unânimes
1994, 144 e ss.), nos teatrinhos de feira dos bair- em indicar duas referências como pioneiras do
ros de Saint Laurent e Saint Germain, em Paris. teatro de revista nacional. Teria sido o texto Te-
Suas origens históricas estão na commedia atrinho do Senhor Severo, publicada na forma
dell’arte, devidamente afrancesada. A autoria de de folhetim, provavelmente em 1833, numa re-
seus primeiros textos é atribuída a Lesage (VE- vista do mesmo nome, segundo levantamento
NEZIANO, 1991, p. 23). Este tipo de espetáculo de Hélio Vianna (SOUSA, 1960, p. 226).
logo se espalhou pela Europa, encontrou suces- Outra fonte referida é o texto de José de
so em Portugal e dali se transmitiu ao Brasil. Na Alencar, Rio de Janeiro: verso e reverso, de 1857,
evolução francesa, bem como em seu formato estreado no Teatro Ginásio Dramático (VENE-
nos Estados Unidos, ganhou foros de féerie, isto ZIANO, 1991, p. 26). Mas, de fato, já definida
é, de grande espetáculo, transformando-se em como gênero, será Surpresas do Senhor José da
revista musical. Piedade, de Justino Figueiredo Novaes, em 15
O gênero também encontrou sucesso, no de janeiro de 1859, que deve levar a primazia de
Brasil, quer sob a influência da revista fran- lançamento de um gênero que, embora enfren-
cesa Ba-ta-clan, de Mme. Rassini (1922), quer tando dificuldades de reconhecimento, num
sob a influência dos grandes produtores norte- primeiro momento, acabaria por impor-se ao
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público em geral. Este espetáculo apresentava- sucesso no exterior. Muitas canções popula-
se em dois atos e quatro quadros, como se for- res foram primeiro conhecidas neste tipo de
malizou, no Brasil, diferentemente da França e show. Entre elas estão Aquarela do Brasil, No
de Portugal, onde era apresentada em três atos. Tabuleiro da Baiana, Cidade Maravilhosa e
(Antônio Hohfledt) Amendoim Torradinho.
Compositores como Ary Barroso e Dorival
Referências: Caymmi foram alguns dos contratados de Car-
MACHADO, Carlos. Memórias sem maquia- los Machado e Sylvia Telles, Carmen Miranda e
gem. São Paulo: Cultura, 1978. Aracy Côrtes foram estrelas de peças. Stanislaw
SOUSA, J. Galante de. O teatro no Brasil. Rio de Ponte-Preta chegou a criar em sua coluna pu-
Janeiro: Instituto Nacional do Livro,1960. blicada na revista Manchete sua lista das mu-
Volume 1. lhes mais despidas’ exibindo então fotos das
TAYLOR, John Russell. A dictionary of the the- vedetes do rebolado. Entre estas ‘Certinhas do
atre. Harmondsworth,1966. Lalau’, como ficaram conhecidas apareceram os
VENEZIANO, Neyde. O teatro de revista no nomes de Aizita Nascimento, Betty Faria, Iris
Brasil – Dramaturgia e convenções. São Bruzzi, Mara Rúbia, Norma Bengell, Virgínia
Paulo: Pontes / Campinas: Unicamp, 1991. Lane, entre outras.
O último grande espetáculo do gênero foi
O Rio amanheceu cantando, de 1976, estreado
Teatro rebolado no Vivará, sobre a vida e a obra de João de Bar-
Forma adquirida pelo teatro de revista, no Bra- ros, com Elizeth Cardoso, MPB-4, Miltinho,
sil, sob a influência do aspecto de feérie, ou seja, Quarteto em Cy e bailarinas como Lady Hilda,
de grande espetáculo, que tal gênero assumira Marina Marcel (também coreógrafa), Vera Ma-
na França e, sobretudo, nos Estados Unidos. nhães e outros artistas. Foi neste espetáculo que
O bailarino brasileiro Carlos Machado, que surgiu, inclusive, Sidney Magal.
atuara em palcos franceses e norte-america- O advento da televisão e o alto custo de
nos, retornando ao Brasil, durante a II Grande produção, mais a censura, tanto política quan-
Guerra, instala-se no Rio de Janeiro e passa a to moral, tornou tais espetáculos impossíveis
realizar suas próprias produções. Tais espetácu- de serem realizados. A televisão assumiria, em
los eram apresentados em cassinos e cabarés e seus primórdios, esta tradição, por exemplo,
tiveram enorme popularidade durante o perío- com programas como Times Square, contando
do posterior ao Estado Novo e até os anos 1970. inclusive com uma antiga bailarina de Carlos
Machado introduziu a presença da mulata, que Machado, Dorinha Duval, e trazendo à cena,
antes era apenas uma personagem típica das dentre outras revelações do teatro rebolado, Íris
comédias de revista, trazendo-a para destaque Bruzzi, que perduraria na televisão até chegar a
do corpo de bailarinas. fazer telenovelas. (Antônio Hohfledt)
Assim, do elenco de bailarinas brancas,
chegou-se ao elenco de bailarinas negras, re- Referências:
sultando em espetáculo que, pouco tempo MACHADO, Carlos. Memórias sem maquia-
depois, seria exportado e alcançaria enorme gem. São Paulo: Cultura, 1978.
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CAUDURO, Fernando. O homem que apertou Heidegger (MILET, 2000, p. 45) escreve
o botão da comunicação. Porto Alegre: Fe- nos anos 1963-1965, a Kojima Takehico: “pela
plam, 1977. presente carta, trata-se unicamente de reconhe-
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta- cer o seguinte fato: que é precisamente o olhar
vo Guimarães. Dicionário de Comunicação. em direção da exploração, quer dizer em dire-
São Paulo: Ática, 1987. ção do próprio da tecnologização do mundo,
SAMPAIO, Mario Ferraz. História do rádio e da que mostra um caminho em direção ao próprio
televisão no Brasil e no mundo: memórias de do homem, que distingue sua humanidade no
um pioneiro. Rio de Janeiro: Achiamé, 1984. sentido da reivindicação que se faz disto atra-
vés do Ser”. Heidegger já se refere às novas téc-
nicas que se avolumam e pretendem superar as
TECNOLOGIZAÇÃO aspirações e a própria natureza humana.
A definição elementar de tecnologização diz Ao desejar um aparelho telefônico celular
respeito à ação ou resultado de tecnologizar, “azul” ou “cor de rosa” o adolescente demonstra
de tornar tecnológico. A tecnologização impli- que se inseriu no aparato tecnologizado e tec-
ca não apenas no ato de tecnologizar, propor nologizante, que o distinguirá ao enviar men-
ou impor uma determinada tecnologia para sagens escritas ou mesmo acessar vídeos e mú-
suporte à manutenção da existência humana, sicas.
mas a sua decorrente abrangência expansionis- Crianças muito pobres costumam, tam-
ta de acionar os mecanismos persuasórios para bém, pedir como presente de natal brinque-
propagar, através da antiga técnica de enxertia dos acionados por controle remoto, bonecas
(propagare = enxertar no latim), ou ainda infil- que falam, cantam e se movimentam, celulares,
trar sub-repticiamente e até mesmo impor uma Nintendos, robôs, rádios portáteis, iPods, tele-
proposta abrangente de expansão de determi- visões de plasma e notebooks. Essas crianças
nada técnica. estão inseridas num novo tempo, dito tecno-
A tecnologização é um movimento bem logizado. Um tempo em que a vida se organiza
mais antigo e dinâmico do que ‘normalmente’ dentro do universo tecnológico, modificando
se diz, já que os equipamentos para comple- as formas de pensar, sonhos, desejos e signi-
mentar as necessidades humanas se perdem em ficados. Elas sofrem a influência, muitas vezes
nossa história, ainda que inicialmente fossem nefasta, da tecnológica dita pós-moderna. (Se-
vistos como artificialidade. bastião Amoêdo)
Na época de Bacon, “os meios técnicos ain-
da eram insuficientes, e o homem podia reivin- Referências:
dicar sua subjetividade e seu domínio sobre o MILET, Jean-Philippe. L’Absolu Technique. Hei-
instrumental técnico”. Hoje, poder-se-ia dizer degger et la question de la technique. Paris:
que o ambiente técnico, aquilo que definimos Editions Kimé, 2000.
como ambiente artificial, estende-se por toda a MOMO, Mariângela. A tecnologização dos de-
superfície do planeta, tornando-se o meio ‘na- sejos. Jornal “A página”. Ano 16, n. 164, fe-
tural’ em que os seres humanos vivem e são vereiro de 2007.
produzidos. SIBILIA. O homem pós-orgânico: corpo, subje-
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com aparelhos de telecomunicações (faxes, te- redirecionar seus objetivos, uma vez que prio-
lefones...) capazes de conectar seus usuários ao rizam o bem estar da comunidade onde está
resto do mundo. Mantida a filosofia da conec- inserido, além de incrementar a dinâmica das
tividade, alteram-se as ferramentas que, des- atividades econômicas, podendo levar tal co-
de meados dos anos 1990, incluíram o compu- munidade a uma posição de autonomia iden-
tador e a internet banda larga no cenário das titária e/ou financeira, como já acontece em al-
NTIC’s. gumas regiões do país.
A estrutura do Telecentro Comunitário é Representam, pois, centros que, além de
composta por maquinário, gestão e o pleno en- permitirem que a comunidade estabeleça diá-
volvimento da comunidade local em sua con- logos com a Sociedade Nacional, têm a compe-
cepção, administração e usabilidade, conside- tência de projetá-la na esfera mundial ao consi-
rando a produção de conteúdo. derar a funcionalidade do espaço virtual.
Dependendo do espaço disponível, de É importante ressaltar, de forma objetiva,
acordo com a definição da RITS (Rede de In- a diferença entre ‘Telecentro Comunitário’ e as
formações para o Terceiro Setor), instala-se, lan-houses que se autodenominam “comunitá-
em média, uma impressora, um scanner e uma rias”, pois, geralmente não pertencem à Comu-
média de oito a vinte terminais que funcionam nidade onde se instalam, principalmente por-
com dois sistemas operacionais: um sistema que são de propriedade particular e têm um
proprietário e o sistema livre GNU/LINUX, o dono ou sociedade composta por mais de um
que permite a utilização de acordo com a esco- dono. (Patrícia Saldanha)
lha do usuário, além de outras ferramentas de
NTIC’s. Referência:
No momento em que os Telecentros co- SALDANHA, Patrícia. Telecentro Comunitário:
munitários disponibilizam as duas opções ao dispositivo que viabiliza a inclusão huma-
usuário, podem e devem ser pensados como nista no social. Tese de Doutorado. Rio de
dispositivos de infoinclusão, já que concedem Janeiro: UFRJ, 2008.
a liberdade de escolha. Com efeito, seu caráter
contra-hegemônico é capaz de tornar possível a
inclusão humana no social através de uma fer- Teledramaturgia
ramenta digital. Tradicionalmente, a programação televisiva está
Um Telecentro é mais do que um centro dividida em três grandes gêneros: educação, in-
cheio de parafernálias utilitárias que nada re- formação e entretenimento. Mesmo com o au-
presentam para os moradores e para os fre- mento vertiginoso das opções de programas, os
quentadores de determinada comunidade. gêneros tendem a se manter porque atuam como
Muito pelo contrário, envolve seus membros e redutores da complexidade instaurada. São ne-
enfatiza o nível de vinculação social da comu- cessários para que o receptor se localize na cres-
nidade. Um Telecentro faz parte de um projeto cente oferta. Por outro lado, eles não devem ser
que tem a comunidade e o poder público como rigidamente delimitados e nem excludentes.
principais parceiros e não dispensam a aliança A teledramaturgia pertence ao gênero en-
com o poder privado, desde que esse não tente tretenimento e na televisão brasileira pode ser
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dividida em pelo menos três grandes grupos: os da televisão brasileira. Pois, se o drama já as-
seriados, as mini-series e, é claro, a telenovela. sumia, anteriormente, uma função social atra-
Os seriados, são histórias nas quais os mesmos vés dos mitos, dos rituais, dos contos popula-
personagens vivem episódios autônomos e sem res e do romance-folhetim agora é o “folhetim
continuidade. Surgiram na literatura e foram eletrônico” que assume este papel. Herança da
adotados no cinema. Tantos nos livros como soap-opera americana e da radionovela latino
nas telas são historias de aventuras com perso- americana, a narrativa sofreu grandes transfor-
nagens marcantes, como por exemplo Tarzan, mações no país.
Roy Roger e Sherlock Holmes. Houve, nesse aspecto, um “abrasileiramen-
É um dos formatos fundamentais da tele- to” do gênero, com a adequação de textos, te-
visão norte-americana e que acabou exporta- máticas e de linguagens televisivas. Transfor-
do para os demais países. Um seriado deve ter mou-se em uma obra aberta em que o ator e o
um cenário fixo, onde grande parte do enredo público são co-autores. A temática passional é
se desenvolve, através de personagens que pos- a preferida e o público alvo que era o feminino
sam ser identificados pelo público. Os exem- hoje abrange todos os gêneros, idades, grau de
plos mais conhecidos de seriados na história da instrução e nível sócio-econômico. (Cristiane
televisão brasileira foram produzidos pela Rede Finger)
Globo: Plantão de Polícia, Carga Pesada e Malu
Mulher. Referências:
Nesse aspecto, ressaltamos que os seriados FILHO, Daniel. O Circo Eletrônico: fazendo TV
são produções caras e marcaram um período no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Edi-
em que a Rede Globo tinha hegemonia total. tor, 2001.
As minisséries são programas que tem de seis MARCONDES FILHO, Ciro. Televisão: a vida
a doze horas de duração, em geral exibidos em pelo vídeo. São Paulo: Editora Moderna,
um determinado número de episódios contí- 1993.
nuos. Contam uma história completa com iní- ORTIZ, Renato; BORELLI,Silvia Helena Si-
cio, meio e fim. No Brasil, houve uma espécie mões; RAMOS,José Mário Ortiz. Teleno-
de adaptação que poderia ser chamada de “ma- vela: história e produção. São Paulo: Brasi-
crossérie”. liense, 1989.
De qualquer forma, a minissérie provo- REIMÃO, Sandra. Em instantes: notas sobre a
ca uma realimentação, uma releitura da nove- programação da TV brasileira (1965-1995).
la, porque utiliza a mesma estrutura dramática, São Paulo: Faculdades Salesianas, 1997.
mas com outro ritmo de cenas e da própria fil-
magem. Há uma melhora na qualidade técnica,
principalmente porque na maioria das vezes a Teleducação
minissérie está baseada numa obra. Assim, au- Etimologicamente, teleducação significa educa-
tores, diretores e atores trabalham com uma ção a distância. A origem da expressão remete
obra fechada. ao prefixo grego tele, equivalente a longe, dis-
A telenovela é a dramatização e a represen- tante. No contexto brasileiro, em decorrência
tação da vida que conquistou o horário nobre da presença ostensiva da televisão e de sua atu-
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ação como uma das mais influentes ferramentas quette Pinto, pioneiro da radiodifusão no país.
das pedagogias culturais, ou seja, aquelas des- O INCE produziu cerca de 300 documentários,
vinculadas da escola formal mas responsáveis alguns escritos e narrados pelo próprio Pinto.
em grande medida pela formação do repertório Porém, somente na década de 1960 foram con-
cultural e informativo da população, não raro a cretizadas as primeiras experiências bem suce-
expressão é compreendida de maneira equivo- didas.
cada e reducionista, tomada tão somente como Uma delas foi o primeiro programa de al-
sinônimo de educação através da televisão. fabetização através da televisão, elaborado em
Assim teleducação, no entanto, compreen- 1961, pela professora Alfredina de Paiva e Souza.
de um modelo de prática pedagógica ancorado Na mesma década, outros projetos surgi-
em ferramentas que vão muito além da televi- ram, a maioria com o objetivo de preparar jo-
são, sobretudo a partir da emergência das no- vens e adultos para provas supletivas do antigo
vas tecnologias da informação, com destaque primeiro grau, à época denominadas Exames
à internet. de Madureza, veiculadas na TV Tupi, do grupo
Além de se caracterizar inicialmente como Diários Associados. As aulas tinham como su-
o exercício de práticas pedagógicas exercidas porte apostilas e atlas vendidos pelos correios,
com a mediação de suportes técnicos de comu- em livrarias e bancas de jornal, eram aplicadas
nicação (televisão, rádio, redes de discussão na pelas Forças Armadas e adotadas por corpora-
web, correio eletrônico e textos eletronicamen- ções comerciais, industriais e por associações
te disponibilizados em escala nacional e in- da mesma natureza. (Malu Fontes)
ternacional, cd-roms e vídeos), a teleducação
pressupõe características como: separação físi- Referências:
ca entre professor e aluno, diferenciando-a do DEMO, Pedro. Questões para a teleducação. São
ensino presencial e relação dialógica contínua Paulo: Vozes, 1998.
que permita ao aluno se beneficiar da recepção FORESTI, Antonio. Complexidade da teleduca-
de conteúdos emitidos à distância e ao mesmo ção no canal Futura. Porto Alegre: Edipu-
tempo dispor de oportunidades didáticas de crs, 2001.
elucidação de dúvidas. NISKIER, Arnaldo. Educação à distância: a tec-
Neste início do Século XXI, essa modalida- nologia da esperança. São Paulo: Edições
de educativa se transformou em uma das mais Loyola, 2000.
poderosas ferramentas didáticas, com a criação
de milhares de cursos universitários a distân-
cia e a adesão a estes de corporações do mundo Telefonia IP
dos negócios, graças à economia de tempo e re- É assim chamado o roteamento de conversação
cursos financeiros que ela representa nos pro- telefônica humana através da internet. Também
cessos de aprimoramento, educação continua- é chamada de Voz por IP (VoIP), telefonia por
da e treinamento corporativos. banda larga ou telefonia digital. A telefonia IP
No Brasil, as primeiras práticas teleducati- pode ser integrada à rede telefônica normal ou
vas datam da criação, em 1936, do Instituto de usada apenas entre dispositivos digitais. Ente
Cinema Educativo - INCE, idealizada por Ro- as vantagens da telefonia IP está a redução de
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custos por se utilizar da mesma infra-estrutu- lejornal seria um programa jornalístico com
ra para voz e dados, muitas vezes aproveitando características padronizadas tais como a pre-
um estrutura subutilizada. sença de apresentador(es) em estúdio e veicula-
Os operadores de VoIP podem ser tan- ção de diferentes formatos noticiosos: notas(ao
to empresas tradicionais de telecomunicações vivo e cobertas); reportagens; entrevistas; séries
(como GVT, no Brasil, com o sistema Vono) de reportagem. Apesar disso, diferentes autores
quanto novos empresas ou comunidades que e profissionais defendem que dentro do próprio
desenvolvem softwares específicos para uso em telejornalismo poderiam ser incluídos forma-
computadores (Skype e Ekiga). tos que, pela sua relevância e presença na pro-
Em geral, chamadas de VoIP para VoIP são gramação de TV, também seriam considerados
gratuitas, enquanto que chamadas de VoIP para gêneros televisivos (programas de entrevista,
telefones convencionais são taxadas. documentários e debates).
Além de voz, a característica de mídia digi- Em uma sociedade como a brasileira, em
tal das ligações VoIP permite que outros tipos que a leitura ainda é um fator de exclusão so-
de informações sejam integradas à interação, cial, o telejornalismo tem tal importância que
como mensagens de texto, audio e vídeo. (Ra- é considerado um bem social por Vizeu, para
quel Castro) quem é na edição do telejornal que o mundo é
recontextualizado (2000, p. 12).
No caso do Brasil, suas emissões atingem
Telejornalismo um público semi-alfabetizado e que tem acesso
Produção e veiculação de conteúdos informa- às notícias quase como um rito de passagem te-
tivos e de relevância social, jornalísticos, na levisivo, como passaporte para o consumo das
mídia televisiva. Para além de sua vocação ao telenovelas, o que para Rezende (2000) ofere-
entretenimento, a televisão se constitui em im- ce ao jornalismo de televisão a possibilidade
portante instrumento de acesso ao mundo por de democratizar as informações em uma cul-
meio de mensagens que combinam em exibi- tura em que a oralidade mantém seu predomí-
ção simultânea, graças à edição, textos conver- nio sobre a escrita. Ao assistir o telejornal o ci-
tidos em som e imagens em movimento, asso- dadão entra em contato com o relato dos fatos
ciando códigos linguísticos com características mais importantes, segundo os critérios de ava-
distintas na composição televisual (SQUIRRA, liação jornalísticos.
1993, p. 64). Essa reconstrução da realidade é realizada
Logo, o telejornalismo pode ser considera- por meio da edição de pequenos depoimentos
do um gênero televisivo pertencente à categoria (sonoras), da passagem do repórter, da narra-
informação segundo Aronchi de Souza (2004, ção em off (recurso por meio do qual o texto
p. 146) porque, embora nas emissoras comer- narrado pelo jornalista é coberto pelas imagens
ciais o Telejornalismo seja capaz de abarcar to- correspondentes) e povo fala (enquete).
das as mensagens jornalísticas veiculadas, nas A estrutura narrativa dos noticiários de te-
redes educativas há programas informativos levisão é caracterizada por Coutinho (2006),
vinculados à outra área de produção. como a dramaturgia do telejornalismo, uma
De acordo com esse entendimento um te- vez que as ações são representadas na tela
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A partir de meados da década de 1980, a direto e livre pelo público. Esse processo é feito
TV Manchete e, especialmente, a Rede Globo pela retransmissora de televisão. A retransmis-
de Televisão, começarão a produzir regular- sora capta sinais de sons e imagens e retrans-
mente no formato de minisséries e, cada vez mite, concomitantemente, para recepção pelo
mais, a partir dessa data, a ficção seriada televi- público em geral.
siva baseada em literatura de autores nacionais Por isso mesmo, cabe ao Estado a respon-
se fará presente nesse formato, e apenas espora- sabilidade direta pelo meio no intuito de incen-
dicamente no formato telenovela. tivar a produção cultural, via regulamentações,
Dois destaques entre as recentes adapta- estímulos e proteção para os produtores nacio-
ções para telenovela: Porto dos Milagres (Globo, nais. Murilo Ramos defende que este tipo de
2001) livre adaptação de Mar morto e A desco- serviço “não pode ser deixado exclusivamente
berta da América pelos turcos, de Jorge Amado ao arbítrio do mercado e seus mecanismos usu-
e a segunda versão de Cabocla (Globo, 2004), ais de prestação de serviços de outras nature-
inspirada no romance de Ribeiro Couto. (San- zas. O mercado não é capaz, por si só, de aten-
dra Reimão) der ao primeiro grande requisito de um serviço
público que é o da universalização.”
Referências: Para Sérgio Mattos, a televisão se apresen-
ORTIZ, Renato; BORELLI Silvia H. S.; RA- ta “como um ponto importante no processo da
MOS, José Mário Ortiz. Telenovela. Histó- acumulação capitalista porque ajudou a vender
ria e Produção. 2. ed. São Paulo: Brasilien- televisores e outros bens de consumo, além de
se, 1991. ter sido usada para formação de opinião públi-
REIMÃO, Sandra. Livros e Televisão – correla- ca” por isso mesmo para entender este processo
ções. São Paulo: Ateliê, 2004. histórico da televisão é necessário que se enten-
TÁVOLA, Artur. A telenovela brasileira. Rio de da os aspectos social, econômicos e políticos
Janeiro: Globo, 1996. que a permeiam.”
A tecnologia caminha também pari passo
com o fator econômico que vai dar as regras
Televisão Comercial de todo o sistema produtivo. As novas ofertas
A televisão, no Brasil, é uma concessão públi- e demandas dão às empresas de radiodifusão
ca, mas é explorada por agentes privados que maior poder de barganha com seus clientes a
assumem papel de produtor e distribuidor de partir da multiplicidade de ofertas dos produ-
produtos culturais por meio da comercializa- tos culturais comercializados pela televisão.
ção de espaços de comerciais e das estratégias Valério Brittos afirma que “a tecnologia
de marketing e merchandising comercial e so- contribuiu de forma eficaz para as transforma-
cial como forma de conquistar e fidelizar a au- ções contemporâneas, permitindo o funciona-
diência no disputado mercado de mídia televi- mento sincronizado dos mercados e a transmis-
siva. Isso é possível através da radiodifusão que são ágil de informações entre diversas unidades
é o serviço de telecomunicações que consente a de empresas”.
radiodifusão sonora ou a transmissão de sons e Isso implica em um novo padrão de televi-
imagens (televisão), dedicado ao recebimento são comercial que se configura no modelo ca-
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ção de opinião e contribui para a afirmação da Os canais comunitários em UHF têm uma atu-
comunidade, “desempenhando um papel cru- ação diversa, assim como a programação, para
cial na formação de um sentido de responsabi- atender sua audiência heterogênea. Não utiliza
lidade pelo nosso destino coletivo” (THOMP- publicidade comercial, só patrocínios na forma
SON, 1998, p. 227). de apoio cultural.
As TVs comunitárias constituem-se em A Televisão de Baixa Potência (em VHF)
forte demanda no contexto contemporâneo e ocupa o espectro da TV aberta, mesmo não
seus desafios democratizantes. As resistências sendo reconhecida legalmente. É vista como
existentes à democratização do acesso ao meio uma reação de protesto à forma de concessão
televisivo vão sendo amenizadas, através da dos canais de TV comerciais e a não liberação
discussão de uma legislação que regulamente o dos canais de baixa potência. Estes canais em
uso do meio e espaço de atuação. VHF procuram democratizar os mecanismos
No Brasil, apesar da dificuldade de regula- de produção televisiva e alcançam um raio de
mentação presenciada, as primeiras experiên- exibição em torno de um quilômetro e meio,
cias de TV comunitária têm mais de 20 anos e como uma programação alternativa e irreve-
foram criadas na Praça Pública. A primeira foi rente.
a TV Viva, 1983, em Olinda; seguida da TV Ma- Os outros dois tipos de TVs comunitárias
xambomba, na Baixada Fluminense, três anos (TV de Rua e a TV móvel e itinerante) exibem,
depois, 1986. A França e o Canadá foram os pa- na rua, os vídeos previamente produzidos. A
íses onde ocorreram as primeiras experiências TV de Rua é exibida nas praças públicas e em
de TV comunitária, no início dos anos 70. instituições públicas ou setoriais.
No Brasil, são várias as experiências de Por sua vez, A TV Móvel e Itinerante é es-
TVs comunitárias. Dois deles, definidos a par- truturada com um projetor e um telão instala-
tir dos parâmetros técnicos da transmissão (em dos em um veículo, que exibe a programação
UHF e VHF – baixa frequência). Em UHF, em no espaço público.
geral, demandam uma maior institucionalida- Por último, tem os canais comunitários na
de, a partir de uma entidade ou ONG respon- televisão a cabo, com características diferentes,
sável e reproduzem parte da programação das em relação às quatro experiências comunitárias
TVs Educativas, estatais. Os outros dois tipos citadas. São inteiramente regulamentados, fa-
relacionados são a TV de Rua e a TV Móvel e zem parte do pacote das possibilidades da TV
Itinerante que não se utilizam de ondas mag- por assinatura. Não representam interesses co-
néticas e são exibições em praças públicas, de merciais e têm uma programação eclética.
vídeos previamente produzidos. A TV comunitária, além de representar a
Legalmente constituídos, além de repro- comunidade de ao se ver representada na no-
duzir a programação da TV Educativa, as te- tícia e nos programas que assistem, ganha um
levisões comunitárias, em UHF, produzem lo- incentivo ainda maior, com a chegada da tec-
calmente, até 15% dos programas exibidos. O nologia digital. (Luiz Nova)
formato da programação é determinado pela
instituição à qual o canal está vinculado: o po- Referências:
der municipal, uma fundação ou Universidade. FERRÉS, Joan. Televisão subliminar: socializan-
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rários e atrações, escolher idioma e/ou legenda Desse modo, é importante que isso requer
etc. elaboração audiovisual de bases comuns da cul-
O governo brasileiro já optou pelo padrão tura nacional, sobre as quais se articulam dife-
japonês, mas o Sistema Brasileiro de TV Digi- renças regionais e locais e a complexidade geo-
tal Terrestre, ainda, está em formatação. Esse política e cultural da nação, tanto das práticas
processo vai além dos recursos tecnológicos sociais, como dos valores coletivos, oferecen-
dependendo de uma série de medidas que re- do imagem permanente de pluralismo social,
gulamentem o modelo, que dependerão da fis- ideológico e político (MARTIN-BARBERO,
calização e incorporação por parte dos agentes 2000). O conceito de televisão educativa está,
envolvidos. (Valério Cruz Brittos e Márcia Tur- portanto, ligado à aquisição de novos conheci-
chiello Andres) mentos, à formação ética, à ampliação de refe-
rências estéticas.
Podem executar serviço de televisão edu-
Televisão Educativa cativa: a União; os Estados, Territórios e Muni-
O Ministério das Comunicações do Brasil defi- cípios; as Universidades Brasileiras; as Funda-
ne televisão educativa como o serviço de radio- ções constituídas, no Brasil, cujos estatutos não
difusão de sons e imagens destinado à trans- contrariem o Código Brasileiro de Telecomu-
missão de programas educativo-culturais, que, nicações – universidades e fundações devem,
além de atuar em conjunto com os sistemas de comprovadamente, possuir recursos próprios
ensino de qualquer nível ou modalidade, vise para o empreendimento (Decreto-lei nº 236, de
a educação básica e superior, a educação per- 28 de fevereiro de 1967, artigo 13).
manente e a formação para o trabalho, além de O Canal Futura é um exemplo desse tipo
abranger as atividades de divulgação educacio- de radiodifusão e, segundo a Gerente de Con-
nal, cultural, pedagógica e de orientação profis- teúdo e Novas Mídias, Débora Garcia, TV edu-
sional. Para tanto, pode transmitir aulas, confe- cativa, na visão do Futura, está mais ligada ao
rências, palestras e debates e admite programas compromisso em tornar real um projeto social
de caráter recreativo, informativo ou de divul- através dos meios de comunicação. Ser um pro-
gação desportiva que sejam considerados edu- jeto que de fato esteja voltado ao interesse pú-
cativo-culturais, desde que neles estejam pre- blico, para garantir em sua grade o acesso ao
sentes elementos instrutivos identificados em conhecimento historicamente acumulado pela
sua apresentação. Sem caráter comercial, não sociedade, ao conhecimento e (re)conhecimen-
pode veicular propagandas. to de grupos sociais, à expressão plural e demo-
Esse impedimento dificulta a sustentação crática da diversidade cultural de uma nação.
financeira na elaboração de grade de progra- Uma TV educativa deve conseguir falar com
mação adequada à transmissão de educação e qualquer cidadão, não importa seu credo, sua
cultura. Pública, a TV educativa visa contribuir etnia, seu gênero, sua formação, suas escolhas
à construção de espaço público enquanto cená- pessoais, sua renda, sua idade. Deve se valer de
rio de comunicação e diálogo entre os diversos uma linguagem clara, acessível, direta, mas ao
atores sociais e as diferentes comunidades cul- mesmo tempo atraente e cativante, rompendo
turais. fronteiras. TV educativa é também uma TV
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que se educa, que se repensa, que se reveste chega através da TV Tupi Difusora (canal 3) e
de sentido ao construir diálogos com seus te- tem sua primeira transmissão datada em 18 de
lespectadores e seus provedores de conteúdo. setembro de 1950.
(Mônica Cristine Fort) Para a transmissão em cores os sincronis-
mos de deflexão têm frequências um pouco di-
Referências: ferente da transmissão preto e branco. O que se
BRASIL. Decreto-Lei n. 236, de 28 de Fevereiro entende por cor, na realidade é uma composi-
de 1967. Complementa e modifica a Lei nº ção de conceitos. O que chamamos de cor na
4.117, de 27 de agosto de 1962. Disponível realidade é matiz, ou seja, um substrato da cor.
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ No espectro são apresentados todos os matizes
Decreto-Lei/Del0236.htm>. Acesso em (vermelho, laranja, verde, azul, violeta etc.). O
23/04/2009. matiz é obtido pelo acréscimo de outros mati-
FORT, Mônica C. Televisão Educativa – respon- zes. É possível obter quase todos matizes pela
sabilidade pública e as preferências do es- combinação de vermelho (R, de “red”), verde
pectador. São Paulo: Annablume, 2005. (G, de “green”) e azul (B, de “blue”). Cada cor
GARCIA, Débora. Televisão Educativa. men- provoca em nossa retina uma sensação de bri-
sagem pessoal. Mensagem recebida por: lho com diferentes intensidades e de acordo
<monica.fort@pucpr.br>, em mar. 2009. com o matiz. O branco é mistura de todos os
MARTÍN-BARBERO, Jesús; REY, Germán; matizes, e o preto é a sensação de brilho quan-
RINCÓN, Omar. Televisión Pública, cul- do não há matiz.
tural, de calidad. Revista GACETA #47. pp. Segundo Adler, o sistema de transmissão
50-61. Bogotá: Ministério de Cultura. Di- de TV que hoje é usado em todo o mundo foi
ciembre, 2000 originalmente definido nesse país (EUA), nos
MINISTÉRIO das Comunicações. Perguntas anos 1940. O sistema era em preto-e-branco e
frequentes. Disponível em <http://www. ninguém sabia como a imagem poderia ser co-
mc.gov.br/radiodifusao/perguntas-fre- lorida.
quentes>. Acesso em: 23/04/2009. Havia um consenso, partilhado por to-
dos os especialistas, que para se ter uma ima-
gem colorida, cada emissora deveria ter três
Televisão em Cores canais: um para o vermelho, um para o azul e
Para incluir o termo televisão em cores, nessa outro para o verde. Ninguém achava que seria
publicação, é preciso antes que se delineie o possível transmitir em cor em um único canal -
termo televisão, a maior indústria de audiovi- que era o padrão existente. Então, no início dos
sual do mundo, definida tecnicamente como anos 1950, técnicos da RCA (Radio Corpora-
um sistema de transmissão e recepção de sinais tion of America) constataram que havia pontos
visuais transformados em sinais eletromagnéti- vazios no sistema de transmissão em preto-e-
cos, por meio de ondas hertzianas ou cabo co- branco que poderiam ser usados para as cores.
axial inventado por Wladimir Zworykin (1923). “Nenhum de nós acreditava nisso. Mas,
A primeira transmissão regular ocorreu, em eles provaram que estavam certos. E é esse sis-
Paris, a partir de 1935. Já, no Brasil, a televisão tema que usamos, hoje, no mundo todo. A cor
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enciclopédia intercom de comunicação
não ocupa mais espaço em um canal que o pre- 1995. Foi ao ar a partir de 4 de março de 1996.
to-e-branco. De todas as coisas que acontece- Ao ser concebido, o projeto visava a alcançar
ram durante o meio século em que eu trabalho aproximadas 55 mil escolas públicas existentes,
nessa área, essa foi a mais surpreendente”. no Brasil, com os seus quase 1.100 milhões de
Logo, por meio dos filtros óticos da câme- professores. Uma série de dificuldades técnicas
ra é que as cores vermelho (R), verde (G) e azul e operacionais dificultaram que fosse alcança-
(B) e, de acordo com eles, geram sinais elétricos do integralmente aquele propósito. O princi-
R, G, B em circuitos separados. A intensidade pal objetivo da TVEscola era e continua sendo
do sinal elétrico é ajustada à saturação da cor o de funcionar como estratégia de educação à
filtrada. distância com vistas à capacitação, atualização
De forma experimental, ainda em 1970, e aperfeiçoamento dos docentes de educação
aconteceu a primeira transmissão em cores, no infantil, ensino fundamental e médio. Em sua
Brasil, durante a Copa do Mundo, transmiti- origem, o projeto compreendia o envio gratuito
da pela EMBRATEL, dirigida a um grupo fe- às unidades escolares de um kit composto por
chado. Entretanto, oficialmente a data de 31 de antena parabólica, vídeocassete, aparelho de te-
março de 1972, , é o marco da primeira trans- levisão e fitas virgens para gravação dos mate-
missão pública de TV em cores, realizada pela riais didáticos disponibilizados em fluxos entre
TV Rio (Canal 13), com programação produzi- o MEC/SEED/Fundação Roquette Pinto.
da no Brasil, através da TV Difusora, durante a A partir dos vídeos, os docentes poderiam
Festa da Uva em Caxias do Sul-RS, com a pre- desenvolver uma série de atividades de autofor-
sença do Presidente Médici e todo a equipe de mação e aproveitamento para planejar e enri-
Governo. O aparelho de televisão em cores co- quecer as práticas em sala de aula. As gravações
meça a ser vendido em torno de vinte salários deveriam ocorrer nas próprias escolas, ou mes-
mínimos (valores da época). (Jacqueline Lima mo nas casas dos professores, a partir de um
Dourado) mapa de programação enviado regularmente
às Secretarias de Educação e escolas pelo MEC/
Referências: SEED. Em 2003 foi lançado a TVEscola Digital
ADLER, Robert. Tecnologia: O mundo ao al- Interativa, que permitiu que os programas fos-
cance da mão. Folha de São Paulo. Dis- sem ajustados aos novos mecanismos de gera-
ponível em: <http://www1.folha.uol.com. ção e captação de sinais, assim como ampliadas
br/fsp/mais/fs170812.htm>. Acesso em: as possibilidades de diálogos entre os docentes
12/04/2009 e o MEC/Secretaria de Ensino à Distância. Os
RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gusta- programas são distribuídos por faixas temáti-
vo Guimarães. Dicionário de comunicação. cas, em que se incluem educação infantil, en-
São Paulo: Ática, 1987. sino fundamental, ensino médio, salto para o
futuro, escola aberta.
Além de cursos de língua estrangeira como
Televisão escola. TVEscola. inglês, espanhol e francês. Os programas tra-
Criada pela Secretaria de Educação à Distância, tam tanto de temas relacionados às práticas pe-
do Ministério da Educação, em setembro de dagógicas como às questões mais abrangentes,
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enciclopédia intercom de comunicação
que dizem respeito às disciplinas escolares, ou volve uma diversidade de canais operados di-
assuntos como cultura popular, repertório afro- retamente pelos poderes Executivo, Legislati-
brasileiro na escola etc. vo e Judiciário. Como qualquer outra emissora,
Além disso, um subproduto importante deve cumprir com os princípios de promoção
decorrente da atuação da TVEscola foi a pos- cultural e educativa, regionalização da produ-
sibilidade de produzir materiais escolares e de ção e respeito aos valores éticos e sociais.
interesse educativo, em boa parte feito, no Bra- Assim, no Brasil, sua existência (pelo me-
sil, o que requisitou a formação de roteiristas, nos em tese) é amparada pela Constituição Fe-
produtores e realizadores. Os programas da deral, conforme o artigo 223, que determina a
TVEscola são distribuídos, também, via inter- complementariedade entre os sistemas de ra-
net, exceção de algumas séries internacionais. diodifusão público, estatal e privado. No entan-
O conjunto de atividades da TVEscola – assim to, o conjunto do sistema carece de iniciativas
como os materiais por ela produzidos – pode legais no sentido de regulamentar a exigência
ser acessado através do endereço: http://www. constitucional e especificar as diretrizes de con-
portal.mec.gov.br/tvescola. (Adilson Citelli) duta ética e profissional. Na tradição histórica
brasileira, a matriz estatal confunde-se com o
sistema público de televisão. Durante o regime
Televisão Governamental militar, emissoras financiadas pelo Executivo
O sistema de televisão governamental é aquele foram concebidas como um instrumento de
diretamente gerido e operado pelo Estado com educação em massa, suprindo as arestas deixa-
caráter institucional. Frequentemente a progra- das pela educação tradicional.
mação não está restrita à informação institu- Dentre as TVs governamentais, as emisso-
cional, incluindo, também, funções educativas ras legislativas possuem sua transmissão garan-
e culturais. “O núcleo de sua definição corres- tida junto às operadoras de TV por assinatura,
ponde às ideias de competência estatal quanto à de acordo com a Lei do Cabo de 1995. A lei ga-
organização e prestação do serviço de televisão rante três canais para emissoras governamen-
por radiodifusão. Daí a incompatibilidade en- tais: o primeiro a ser operado conjuntamente
tre a livre iniciativa e o sistema estatal” (Scor- pela Câmara de Vereadores do município de
sim, 2009). cobertura e pela Assembleia Legislativa do res-
No Brasil, a participação da União, dos Es- pectivo estado, o segundo destinado à Câmara
tados, do Distrito Federal e dos Municípios é dos Deputados e o terceiro ao Senado Federal.
parcela considerável da distribuição de progra- Segundo dados da Anatel – Agência Nacio-
mação televisiva. É possível dividir esta atuação nal de Telecomunicações - são de controle fe-
em duas funções. Uma primeira em que o Esta- deral seis geradoras: três em Brasília-DF - TV
do atua como produtor, gerando programação Câmara, TV Senado e TV Nacional; uma em
para canais específicos e, uma segunda, em que São Luis-MA, a TVE Maranhão com seis re-
atua apenas como distribuidor, retransmitindo transmissoras próprias; uma no Rio de Janei-
programação das redes já existentes em locali- ro, a TVE – Rede Brasil; e, uma em Natal, a TV
dades de difícil acesso. Cultura com duas retransmissoras próprias.
A experiência de TV governamental en- Além destes canais, o Governo Federal também
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é operador de oito retransmissoras em estados com sua programação todo o território nacio-
diversos e dos canais, por assinatura, TV Justiça nal, por meio de contratos com emissoras lo-
e NBR. Neste sistema incluem-se também as 16 cais. Na prática, apesar da difusão local dos si-
geradoras de TVs e 673 retransmissoras, opera- nais de TV, é a rede quem oferece e/ou gera a
das por governos estaduais, e 3.341 retransmis- maior parte do conteúdo veiculado, em uma
soras vinculadas às prefeituras municipais. (Luiz grade de programação nacional. Às emisso-
Felipe Ferreira Stevanim e Suzy dos Santos) ras afiliadas são reservadas as chamadas jane-
las, horários ao longo do dia em que podem ser
Referência: veiculadas as produções locais, isso é, aquelas
SCORSIM, Ericson M. Televisão estatal e te- gravadas na região na qual a emissora está in-
levisão pública. Conteúdo Jurídico. 21 abr. serida.
2009. Disponível em: <http://www.conteu- A exigência de produção de material au-
dojuridico.com.br/?artigos&ver=2.23804>. diovisual local é prevista no artigo 221 da Cons-
Acesso em 30/04/2009. tituição Brasileira, embora o projeto de lei
256/91, que regulamenta seu inciso III, refere-
se à regionalização da programação, até maio
Televisão Local de 2009, ainda tramitasse no Senado Federal.
Emissora de televisão, também chamada de ‘ge- Em geral a produção realizada pelas emissoras
radora’, isso é, cuja concessão permite a produ- locais, que atuam como afiliadas das grandes
ção e veiculação de conteúdo audiovisual em redes de TV, tem caráter jornalístico, como evi-
determinada área ou localidade, delimitada denciam Bazi (2001) e Coutinho (2008). O pri-
pelo raio de alcance de seu sinal. Essas caracte- meiro autor destaca a importância das emisso-
rísticas, contudo, constituem-se apenas em mo- ras locais e regionais como fonte de lucro para
delo normativo na televisão aberta brasileira as redes de TV, obtido especialmente a partir
uma vez que, desde os anos 1970, a TV tornou- dos telejornais e programas regionais.
se “o veículo nacional por excelência” (JAM- A veiculação e construção de uma identi-
BEIRO, 2001, p.109). dade de caráter regional em uma emissora de
Até 1959 uma das características das emis- TV local, com destaque para seus telejornais,
soras de televisão brasileiras foi a produção e é destacada por Coutinho. Além desses encon-
veiculação de programas, exclusivamente, nas tros entre emissora e população local que ocor-
regiões em que estavam instaladas (MATTOS, rem nas edições dos telejornais produzidos no
2000, p.101), constituindo-se em mídias locais. território compartilhado entre jornalistas e te-
A criação da Embratel e, com ela, de uma rede lespectadores, há outras estratégias utilizadas
de cabos que buscava interligar o país por meio para a constituição da relação de proximidade
de sinais de radiodifusão, viabilizou a organi- entre TV local e comunidade.
zação de redes de televisão, com a difusão dos Nessa questão, é o caso das campanhas e
mesmos programas em grande parte do territó- apoios das emissoras de televisão, especialmen-
rio nacional. te a eventos de caráter esportivo e/ou social.
Atualmente por meio de um sistema de afi- Vale ainda ressaltar que nas emissoras que po-
liação, 27 redes nacionais de televisão atingem deriam ser consideradas locais o público busca
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se ver e reconhecer nas mensagens veiculadas inclui filmes e atrações em geral, como reality
gerando identidade com a emissora, credibili- shows, campeonatos e partidas esportivas e es-
dade em seu jornalismo e ainda oferecendo a petáculos musicais.
emissora a capacidade de atrair anunciantes lo- A TV por assinatura é transmitida por di-
cais. (Iluska Coutinho) ferentes tecnologias, sendo as principais: cabo,
DTH, MMDS e LMDS.
Referências: O cabo é o que tem maior participação no
BAZI, Rogério. TV Regional: Trajetória e Pers- mercado, embora seu custo de instalação, atra-
pectivas. Campinas: Alínea, 2001. vés de uma rede estendida ponto a ponto, seja
COUTINHO, Iluska. Telejornalismo e identi- maior. Sua rede também permite a transmis-
dade em emissoras locais: a construção de são de dados com alta qualidade técnica. Os
contratos de pertencimento. In: VIZEU, cabos chegam até o assinante por via aérea ou
Alfredo (Org). A sociedade do telejornalis- subterrânea. A transmissão se dá, a partir de
mo. Petrópolis: Vozes, 2008. uma headhand (cabeça de rede), que recebe o
JAMBEIRO, Othon. A TV no Brasil do século sinal das programadoras dos canais e o envia
XX. Salvador: EDUFBA, 2001. aos assinantes. A presença da headhand no lo-
MATTOS, Sérgio. A televisão no Brasil: 50 anos cal da prestação do serviço permite a veicula-
de história (1950-2000). Salvador: PAS, ção de conteúdo local. As mais modernas redes
2000. de cabo são as bidirecionais, que possibilitam o
canal de retorno, basicamente para uso de in-
ternet e TV interativa.
Televisão por assinatura O MMDS (Multipoint Multichannel Dis-
Sistema de transmissão de televisão restrito a tribution System) funciona por meio de micro-
assinantes, que pagam pelo serviço e têm aces- ondas terrestres, semelhante à transmissão da
so a dezenas ou centenas de canais de vídeo e televisão aberta, com um raio de alcance de 50
áudio, disponibilizados por pacotes, podendo quilômetros, representando menor custo do in-
ainda adquirir atrações avulsas. Para que o ser- vestimento e possibilidade de explorar todo o
viço esteja disponível, somente aos pagantes, potencial da área de cobertura. Como sua he-
a transmissão é codificada, sendo captada nos adhand também está situada, no local da pres-
aparelhos com receptor e decodificador dos si- tação do serviço, permite veicular conteúdo lo-
nais, daí o sistema também ser conhecido como cal. Sua capacidade de canais é menor do que o
TV fechada ou paga. Os pacotes reúnem gru- cabo, pois o espectro de radiofrequências é mais
pos de canais e variam conforme a quantida- estreito, desvantagem compensada com a digi-
de e a qualidade da oferta, com preços diversos. talização. Sua grande vantagem é que o investi-
Porém, alguns produtos não são incluídos nos mento para levar seu sinal consiste na instala-
pacotes, devendo ser contratados (e pagos) em ção de antenas na casa do assinante, enquanto
separado, caso o assinante deseje ter acesso. É o cabo realiza o serviço de cabeação numa área,
o caso dos canais avulsos, chamados à la carte, sem a garantia de retorno de assinaturas.
vendidos como complemento a um pacote, as- O DTH (Direct To Home) funciona através
sim como o pay-per-view (pagar para ver), que da instalação de pequenas parabólicas na casa
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geográfica. Assim, o local não se opõe ao global Com a aprovação da Lei Federal 8.977/95,
e é caracterizado por uma personalidade regio- que obriga as operadoras de TV paga a dispo-
nal, com características físicas e humanas que nibilizar, gratuitamente, um canal universitário
contém o nacional (SIMÕES, 2006). para o uso compartilhado das universidades se-
Desse modo, o termo regional, na TV, refe- diadas no município onde está instalada a ge-
re-se não somente ao conteúdo produzido so- radora, as emissoras de Televisão Universitária
bre temas relevantes locais, mas também pode puderam tornar-se associadas a canais a cabo,
abranger o local onde se produz, e quem pro- gerando o interesse nas instituições de ensino
duz, os profissionais daquele local, daquela re- superior para a produção televisiva.
gião. (Águeda Miranda Cabral) Deve estar atrelada a um dos três pilares
da universidade: ensino, pesquisa ou extensão.
Referências: Compete, também, à TV Universitária, promo-
SOUSA, Cidoval Morais. A notícia, o público ver, no âmbito interno e externo da instituição,
e a televisão regional. In: SOUSA, Cidoval suas potencialidades científicas e artístico-cul-
Morais (Org). Televisão regional: globali- turais. Em alguns casos, funciona como labo-
zação e cidadania. Rio de Janeiro: Sotese, ratório para capacitação de acadêmicos dos
2006. cursos de Jornalismo, Publicidade e Rádio e Te-
SIMÕES, Cassiano Ferreira. Televisão regional levisão, além de ser uma oportunidade concreta
e globalização. In: SOUSA, Cidoval Morais de diálogo com o mercado de trabalho (COU-
(Org). Televisão regional: globalização e ci- TINHO; MATTOS, 2000, p. 08), e ainda como
dadania. Rio de Janeiro: Sotese, 2006. ferramenta de comunicação institucional. São
VOLPATO, Marcelo de Oliveira; OLIVEIRA, canais públicos, sem finalidade de lucro, opera-
Roberto Reis. TV Regional e Identifica- dos por universidades e que possuem a missão
ção com os públicos: o caso Tem Notícias de mostrar à sociedade o que esta produz.
– Primeira Edição. Anais do XXX Congres- Permite, ainda, que experiências feitas por
so Brasileiro de Ciências da Comunicação. professores e estudantes sejam exibidas, assim
Santos, 2007 como a análise crítica do próprio veículo. Mo-
PARAÍBA1. Disponível em: <http://www.parai- delo de emissora de TV ligada, ao ensino supe-
ba1.com.br/>. Acesso em 24/02/2010. rior, com a proposta de veicular programação
direcionada para cidadania, pluralidade e diver-
sidade. Espaço de representatividade no cotidia-
Televisão Universitária no social que deve ter o interesse público como
Televisão Universitária – emissora de televisão, missão, disponibilizando mecanismos de parti-
em geral com transmissão a cabo, responsável cipação e fiscalização da sociedade. De acordo
por veicular programação produzida por insti- com Magalhães (2008), a TV Universitária deve
tuições de ensino superior visando a melhoria oferecer uma programação voltada para “a pro-
da educação e da cultura. Tem por objetivo di- moção da educação, cultura e cidadania, para a
vulgar programas educativos, culturais, cientí- melhoria da qualidade de vida da sua comuni-
ficos, jornalísticos e de entretenimento produ- dade, para a democratização da informação e
zidos pelas próprias instituições de ensino. do conhecimento”. (Simone Martins)
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lismo: identidades brasileiras. São Paulo: as funções dos meios e os efeitos da leitura; o
Paulus. 2006. trabalho de 1949 de Berelson sobre as reações
PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: dos leitores de jornais diários, realizada duran-
Contexto, 2005. te uma greve de jornalistas, em Nova York; e a
SCHUDSON, Michael. The power of news. análise de Lasswell, de 1948, sobre as principais
Cambridge: Harvard University Press, funções desempenhadas pela mídia: a) forne-
1996. cer informações; b) fornecer interpretações da
TUCHMAN, Gaye. Making News: a study in realidade e c) exprimir valores culturais e sim-
the construction of reality. New York: Free bólicos.
Press. 1978. Charles Wright acrescentará, em 1960, uma
ZELIZER, Barbie. Taking journalism seriously. quarta função, que é a de entretenimento (1987,
London: Routledge, 2004. p. 62). Considerando a teoria de usos e grati-
ficações como uma espécie de desdobramento
do primeiro funcionalismo norte-americano,
Teoria dos Usos e Gratificação o canadense Paul Attalah entende que tal pers-
A tradição dos primeiros anos de pesquisa so- pectiva parte do pressuposto de que o indiví-
bre os meios de comunicação, nas décadas ini- duo seria livre e autônomo no uso dos meios
ciais do século XX, indagava a respeito da influ- de comunicação, vivendo numa sociedade plu-
ência dos mídias sobre as pessoas ou por que as ralista e democrática. Para ele, o termo usos e
pessoas se expunham aos mídias (IGARTÚA/ gratificações seria, assim, significativo, porque
HUMANES, 2004). adotaria um ponto de vista subjetivo, que par-
A partir da década de 1940, motivados so- te do indivíduo, e não dos mídias eles mesmos
bretudo pelo final da II Grande Guerra e pe- (ATTALLAH, 1991).
las novas descobertas trazidas a respeito dos O pressuposto da audiência ativa é o con-
efeitos dos mídias, os pesquisadores modifi- ceito central de toda a teoria (IGARTÚA/HU-
caram seu questionamento para “o que o su- MANES, 2004; McQUAIL, 1985; WOLF, 1987).
jeito faz com os mídias?”(IGARTÚA/HU- O sujeito teria determinadas necessidades, a
MANES, 2004; WOLF, 1987). Trata-se de uma que Attallah denomina de secundárias (1991,
teoria de base psicológica (IGARTÚA/HUMA- p. 100), para as quais os mídias funcionariam
NES, 2004), numa perspectiva cognitiva (DE como equivalentes funcionais (p. 91), na medida
FLEUR, 1993), que considera a audiência ativa, em que tais estudos não levam em conta o esti-
e não mais passiva, como até então (McQUAIL, lo dos conteúdos, que modificaria seus signifi-
1985), pressupondo uma predisposição seletiva cados, mas apenas os conteúdos em si mesmos,
de canais e de programas por parte do receptor de modo geral. Alan Rubin enfatiza, na linha
(WOLF, 1987). de Harold Lasswell, a necessidade de informa-
Os antecedentes da teoria encontram- ção para evitar o desconhecimento da realida-
se em Katz, Blumler e Gurevitch (IGARTÚA/ de, o que significaria maior consumo da mídia
HUMANES, 2004). Mauro Wolf identifica três (BRYANT/ZILLMANN, 1996, p. 442).
pesquisas que precedem tais estudos: o estudo A maioria dos autores que estuda a teo-
de Waples, Berelson e Bradshaw de 1940, sobre ria dos usos e gratificações identifica ao menos
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dois diferentes momentos em seu desenvolvi- de Fleur, por exemplo, considerava que a teoria
mento. Um primeiro teria ocorrido a partir dos estava ainda em seus primeiros passos (1993, p.
anos 1940, com Paul Lazarsfeld e Bernard Be- 206).
relson; um segundo desenvolver-se-ia a partir Mauro Wolf enfatiza que cada meio de co-
dos anos 1970, quando se ampliam os estudos municação e cada tipo de programa produzem
sobre as variantes em torno da teoria (IGAR- respostas diferenciadas a múltiplas necessi-
TÚA/HUMANES, 2004; BRYANT/ZILL- dades (WOLF, 1987, p. 65). Juan José Igartúa e
MANN, 1996; DE FLEUR, 1993). María Luisa Humanes destacam o conceito de
Para Igartúa e Humanes, seriam cinco os implicação (involvment), variável que significa
princípios norteadores da teoria: (a) a conduta o estado motivacional que reflete a importân-
midiática está relacionada com o atendimento cia percebida sobre determinada informação
(ou não) de motivos e intenções, por parte do ou programa (IGARTÚA/HUMANES, 2004, p.
indivíduo, em relação aos mídias; (b) as pesso- 321). Denis McQuail, por fim, valoriza a pers-
as tomam a iniciativa de buscar os mídias para pectiva da compensação, segundo a qual os
satisfazer necessidades de caráter psico-social; meios de comunicação são buscados para pro-
(c) um conjunto de fatores sociais e psicológi- duzir resultados divergentes daquele espírito
cos filtram ou mediam o comportamento mi- emocional em que se encontra o sujeito em de-
diático; (d) os meios de comunicação compe- terminado momento: se triste, busca uma co-
tem com outras formas de comunicação para o média; se ansioso, busca um programa mais
atendimento de tais necessidades; (e) a inicia- leve etc. (McQUAIL, 1985, p. 303).
tiva pessoal representa um elemento mais im- A principal crítica à teoria pode ser sinteti-
portante na escolha dos meios que a influência zada na posição adotada por Paul Attallah, se-
deles mesmos (2004, ps. 316/317). gundo a qual, ela se constituiria em uma visão
Denis McQuail cita ao próprio Elihu Katz otimista da sociedade, na verdade inexistente,
para identificar esses princípios: (1) as origens ignorando as iniciativas que a própria mídia (e
social e psicológica de (2) necessidades, que seus produtores) fariam no sentido de captar a
dão origem a (3) expectativas de (4) meios de audiência. Por isso, para ele, a teoria dos usos
comunicação de massa ou outras fontes que le- e das gratificações seria a ideologia oficial da
vam a (5) pautas diferenciais de exposição aos América (ATTALLAH, 1991, p. 103, 108). (An-
meios de comunicação (ou de participação em tonio Hohfeldt)
outras atividades), que desembocam em (6) a
satisfação das necessidades e (7) outras conse- Referências:
quências, talvez as menos esperadas de todas ATTALLAH, Paul. Théories de la communica-
(1985, p. 300). O mesmo autor sintetiza tais ne- tion – Sens, sujets, savoirs. Québec: Uni-
cessidades enquanto (a) aprendizagem; (b) au- versité du Québec, 1991.
topercepção; (c) contato social e (d) diversão BRYANT, Jennings ; ZILLMANN, Dolf (Orgs.).
(p. 300). É importante destacar que, na avalia- Los efectos de los médios de comunica-
ção da teoria e na sua crítica, os autores variam ción – Investigaciones y teorías. Barcelona:
conforme a data de seus estudos e o destaque Paidós, 1996.
que dão aos resultados já conhecidos. Melvin DE FLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, San-
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Setor são esfera pública, cidadania e protago- Um século depois, as técnicas publicitárias tro-
nismo social. Todos eles, no entanto, remetem a cariam o discurso informativo pelo discurso
ações, dos mais diferentes perfis, balizadas por persuasivo dirigido aos desejos de inclusão so-
procedimentos estranhos à ação política reivin- cial. Seu mercado de trabalho se apresenta em
dicativa e contestadora da ordem e da estrutura contínua transformação, acompanhando tan-
político-econômica vigente. to as novidades tecnológicas como as dinâmi-
A ação política do Terceiro Setor não ques- cas sociocultural e político-econômica de cada
tiona os poder das classes sociais hegemônicas época e lugar.
e, portanto, não se coloca como alternativa ao Nos clientes trabalha-se em um departa-
poder instituído. Na condição de aglutinar ins- mento interno (marketing ou assessoria de
tituições sem fins lucrativos, coloca-se como comunicação). Nos veículos trabalha-se como
parceiro do Estado na implementação de polí- “contato publicitário” (representante comer-
ticas públicas. cial). Nas agências trabalha-se em segmentos
No campo da comunicação o conceito de específicos, tais como pesquisa, planejamento,
Terceiro Setor tem sido bastante recorrente mídia, criação (direção de arte ou redação) e
para o estudo da comunicação de grupos étni- produção (SAMPAIO, 2003).
cos, de gênero, de jovens, da comunicação co- Em pesquisa, o publicitário deve se encar-
munitária; bem como tem dialogado com os regar de complementar o briefing (documen-
conceitos de responsabilidade social, cidadania to com as informações do cliente), suprindo as
empresarial e sustentabilidade, principalmente, possíveis falhas deste. Ela fornece um “raio-X”
quando se tratam das políticas de comunicação do mercado do cliente. Como planejamen-
organizacional, endomarketing e marketing de to, o publicitário se aproxima mais do marke-
marca. (Roseli Figaro) ting para traçar as estratégias e táticas a serem
adotadas na campanha a ser feita para o clien-
te. Em mídia, este profissional deve pensar as
Territórios da Publicidade formas possíveis de veiculação da campanha,
Propaganda (propagare) é toda divulgação, ou seja, em quais meios e veículos anunciar; em
comercial ou não, de caráter ideológico. Pu- qual período do ano; com que frequência inse-
blicidade (publicus) é a divulgação, com cará- rir anúncios.
ter comercial, de produtos, serviços ou marcas Em criação, o publicitário acaba se espe-
(Sant’Anna, 2002). A publicidade se revela in- cializando em direção de arte (aspectos visu-
tegrada com o sistema econômico, oferecendo ais e/ou sonoros dos anúncios) ou em redação
aos consumidores determinados referenciais (criando textos verbais ou roteiros das peças).
culturais e coletivos (mas também individualis- Em produção, o profissional está na fase de rea-
tas) para o cotidiano. lização material de cada peça da campanha, tra-
A Revolução Industrial instaurou o capita- balhando em estúdios, produzindo, gravando e
lismo de produção exigindo formas intensas de editando o material audiovisual da campanha.
venda da produção em excesso. Como pesquisador teórico e docente, o pu-
Para isso, surgiram as agências de Publici- blicitário encontra hoje uma razoável gama de
dade no início do século XIX (ANAUT, 1990). temas (PEREZ; BARBOSA, 2007; 2008): antro-
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pologia do consumo (consumo simbólico como “Sem textos não há estímulos que nos mo-
“uso”); retórica e discurso publicitário (estraté- bilize sequer a pensar ou a elaborar um pen-
gias de persuasão); semiótica do marketing e da samento nosso...” O texto, portanto, é o ins-
publicidade (marcas e embalagens); psicologia trumento que fixa materialmente o discurso
do consumidor (perfis psicográficos em muta- escrito, o mesmo discurso escrito englobado no
ção) etc. No meio acadêmico, cresce o espaço material que o contém e incorpora, certifica-o
das pesquisas nas diversas áreas, principalmen- e transmite-o, com sua estrutura gramatical e
te em cursos de pós-graduação. sintática, com sua representação orgânica e to-
Atualmente, é possível associar teoria e tal, possivelmente por decifrar, reintegrar, re-
prática em algumas situações, como em con- compor e constituir. E, em seguida, por inter-
sultorias de marketing e publicidade para a pretar. (RIGHI, 1967 apud ARAÚJO, 1986)
construção e sustentação de marcas fortes; na Esse processo de transmissão de uma men-
tendência atual à comunicação integrada e à sagem, por meio de um texto, tem como obje-
multissensorialidade das marcas; no uso das tivo mudar o comportamento do receptor da
tecnologias. (Guilherme Nery Atem) mensagem já que, segundo Teixeira Coelho
Netto, “as mensagens existem para eliminar dú-
Referências: vidas, reduzir as incertezas em que se encon-
ANAUT, Norberto. Breve história de la Publici- tram o indivíduo – sendo dado como certo
dad. Buenos Aires: Editorial Claridad S/A., que, quanto maior for a eliminação de dúvidas
1990. por parte de uma mensagem, melhor ela será”.
PEREZ, Clotilde; BARBOSA, Ivan Santo (COELHO NETTO, 2003, p. 120)
(Orgs.). Hiperpublicidade: fundamentos e Para que um texto (ou a mensagem) eli-
interface. São Paulo: Thomson Learning, mine ao máximo a dúvida de um indivíduo,
2007. Volumes 1 e 2. ele precisa contar com a existência de algumas
SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 5. variáveis necessárias ao bom desempenho da
reimpr. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. sua função ou, como afirma Koch: “Um texto
SANT’ANNA, Armando. Propaganda: teoria, se constitui enquanto tal no momento em que
técnica, prática. 7. ed. rev. e at. São Paulo: os parceiros de uma atividade comunicativa
Pioneira Thomson Learning, 2002. global, diante de uma manifestação linguística,
pela atuação conjunta de uma complexa rede
de fatores de ordem situacional, cognitiva, so-
TEXTO ciocultural e interacional, são capazes de cons-
Texto tem sua origem etimológica na palavra truir, para ela, determinado sentido.” (KOCH,
latina textus, que significa construir, tecer. A 2008, p.30)
partir dessa origem, pode-se compreender o Umberto Eco corrobora com essa ideia,
seu conceito primordial que é o de construir, a além de remeter à origem etimológica da pa-
partir de unidades autônomas (palavras), uma lavra, ao afirmar que “o texto é um tecido cheio
ideia, uma mensagem ou um sentido, que po- de buracos, repleto de não-ditos, e, todavia, es-
derá ser transmitido a outra pessoa, como afir- ses não-ditos são de tal modo não-ditos que ao
ma o filólogo Gaetano Righi: leitor é dada a possibilidade de colaborar, para
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enciclopédia intercom de comunicação
preencher e dizer esses não-ditos” (ECO, 1984, utilizavam alfabetos com 22 letras e foi base
p.96). para o alfabeto grego que, por sua vez, é a ori-
Ainda, para Eco (1984), a relação entre um gem de todos os sistemas de escrita ocidentais
autor de um texto e o seu leitor perpassam vá- (GRANDES, 2000).
rias estruturais como: ideológicas, narrativas, A percepção de que as sílabas do alfabeto
discursivas, estruturas de mundos e, além des- representavam os sons permitiram que a escrita
sas estruturas, dos códigos e subcódigos e das e a fala, ou seja, o texto escrito e o oral, passas-
circustâncias de enuciação do texto. Sendo as- sem a ter uma nova perspectiva de continum ti-
sim, o repertório do leitor é fundamental para pológico textual, já que “fala e escrita não mais
que o texto complete a sua função transforma- referem tipos de textos dicotomicamente anta-
dora, ou como diria A. Moles, “a mensagem é gônicos, mas sim identificam gêneros de textos
um grupo ordenado de elementos de percepção configurados por uma conjunto de traços que
extraídos de um repertório e reunidos numa os leva a serem concebidos como textos fala-
determinada estrutura” (MOLES, 1969 apud dos ou escritos em maior ou menor grau” (HI-
COELHO NETTO, 2003). GERT, 2000). (Whaner Endo)
As unidades significativas existentes na
mensagem devem ser dispostas de maneira or- Referências:
denada e, essa ordenação é definida pela língua ARAÚJO, Emanuel. A construção do livro – prin-
em que ela foi escrita. Sem essa ordenação a cípios da técnica de editoração. São Paulo:
mensagem não se transforma em informação e, Fundação da Editora da UNESP, 2008.
com isso o texto perde a sua função. Hoje exis- COELHO NETTO, J. Teixeira. Semiótica, infor-
tem, segundo o site Unesco Ethnologue – Len- mação e comunicação. São Paulo: Perspec-
guages of the World, mais de 6.900 línguas sen- tiva, 2003.
do faladas em todo o mundo. ECO, Umberto. Conceito de Texto. São Paulo:
Os textos são escritos utilizando-se códigos: EDUSP, 1984.
os alfabetos. Acredita-se que todos os alfabetos KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção
existentes derivam de um alfabeto principal, o dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2008.
semítico setentrional, surgido por volta de 1700 GRANDES acontecimentos que transformaram
a.C, entre os povos de língua semítica da região o mundo. Rio de Janeiro: Reader’s Digest
da Síria e da Palestina. Por sua vez, a escrita tem Brasil, 2000.
sua jornada histórica passando pelas representa- HIGERT, José Gaston. A construção do texto
ções pictóricas – dos Sumérios e através dos hie- “falado” por escrito: a conversação na in-
róglifos egípcios (3000 a.C), pela escrita cunei- ternet. In: PRETI, Dino (Org.). Fala e escri-
forme, pela língua Suméria e, nos anos 1.600 a.C ta em questão. São Paulo: Humanitas/FFL-
pelo alfabeto chinês, sendo este o mais antigo CH/USP, 2006.
ainda em utilização (GRANDES, 2000).
A principal mudança nos alfabetos acon-
teceu quando passou-se a utilizar as sílabas do Texto COMUNICACIONAL
alfabeto como representação para cada som. Em comunicação, um texto é a expressão ver-
Aproximadamente em 1.050 a.C os fenícios já bal de um conteúdo, seja veiculado em supor-
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enciclopédia intercom de comunicação
te gráfico (impresso, web) ou oral (rádio, TV madas “entradas ao vivo” e notas para serem li-
e também web). A rigor, embora seja possível dos oralmente.
considerar ainda como texto diversos códigos A dramaturgia (na televisão, no cinema e
de linguagens não verbais (imagens, sons, ges- no rádio), por herança do teatro, baseia-se for-
tuais), tal tratamento se dá em termos mais me- temente nestes roteiros. Até histórias em qua-
tafóricos. Predomina, na comunicação, o for- drinhos, antes dos desenhos, são precedidas
mato de texto em prosa, embora o poético e o por roteiros que indicam não só balões com fa-
lírico também tenham seus espaços em funções las de personagens e quadros de narrador, mas
determinadas. também enquadramentos, figuras e ações que
A codificação do texto é uma escolha de- formarão as imagens. O texto jornalístico é go-
liberada, com implicações técnicas, econômi- vernado por cânones e paradigmas desenvolvi-
cas, ideológicas e políticas. De forma geral, a dos com o objetivo de organizar, maximizar e
mídia opta por adotar um idioma (o da nação acelerar o processo de apreensão da informa-
ou comunidade que forma seu público) e, den- ção (lide, pirâmide invertida, discurso direto
tro deste, um registro específico (formal ou in- etc.). Tanto no jornalismo como na publicida-
formal, norma culta ou coloquial), ampliando de, a disciplina que dá conta da manipulação
ou segmentando seu universo de receptores e, destas normas é chamada de técnica de reda-
assim, tendo forte papel tanto na consolidação ção. Na mídia impressa, o texto é manipulado
quanto nas graduais transformações sofridas graficamente, com diferentes composições de
pelos códigos verbais de uma sociedade. A ex- cor, tamanho e tipologias (“fontes”, no jargão
pressão verbal nos diversos campos da Comu- de informática). No rádio, apesar da ausência
nicação – jornalismo, publicidade, entreteni- de grafismo, recursos da oralidade – como en-
mento, cinema e teledramaturgia – faz uso das tonação, dicção, ritmo, timbre e volume de voz
várias funções de linguagem (fática, conativa, – desempenham o mesmo papel.
denotativa, poética, emotiva, metalinguagem), Na televisão, combinam-se aspectos gráfi-
de acordo com o objetivo pretendido. cos e orais para dar configuração final ao texto.
Depreendem-se do texto comunicacional O chamado teletexto ou videotexto, que utili-
inúmeros aspectos, que podem ser classificados za sinais de televisão para a transmissão gráfica
de acordo com suas funções formais e estéticas: de letras e números, foi desenvolvido no Rei-
o texto jornalístico é eminentemente informa- no Unido e obteve êxito particularmente na
tivo, enquanto o publicitário é opinativo, argu- França, nos anos 1970, onde chegou a ser fonte
mentativo e marcadamente mais próximo do privilegiada de informação segmentada. Origi-
literário; um roteiro é eminentemente descriti- nalmente, a própria internet (ou, mais especifi-
vo, enquanto o jornalístico combina narrativo camente, a interface gráfica de web) surgiu ba-
com dissertativo. Mesmo em meios sonoros e seada somente em texto (interfaces conhecidas
audiovisuais, o texto é presente no processo de como text-only).
produção, seja sob a forma de roteiros e scripts Assim, naturalmente, aos poucos, a agre-
(que, a fim de guiar os profissionais envolvidos, gação de imagens estáticas, imagens em mo-
expressam verbalmente as imagens e sons que vimento e áudio deu um caráter multimídia à
serão executados e exibidos), seja sob as cha- rede – embora até hoje, nos chamados websites
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enciclopédia intercom de comunicação
Textualidade Referências:
Compreender a noção de textualidade pres- DUARTE, Elizabeth Bastos. Considerações
supõe dialogar com os limites e potencialida- Sobre a Produção Midiática. In: CCCPG
des da noção de texto. Na verdade, boa parte – Centro de Ciências da Comunicação da
da utilização do termo textualidade está liga- Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
da a necessidade de agregar contexto social e Mídias e Processos de Significação. São Leo-
dinâmica às análises do processos comunica- poldo: Unisinos, 2000.
cionais. A análise dos objetos culturais – os FABBRI, Paolo. El Giro Semiótico. Barcelona:
textos – aponta os processos que permitem o Editorial Gedisa, 2000.
reconhecimento de traços que possibilitam a HJMESLEV, Louis. Prolegômenos a uma Teo-
reconstituição de suas condições de produção ria da Linguagem. São Paulo: Perspectiva,
e consumo. 1975.
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enciclopédia intercom de comunicação
VERÓN, Eliseo. La Semiosis Social: Fragmentos surgimento das TICs: (a) o aumento das possi-
de una teoría de la discursividade. Barcelo- bilidades de interação, não apenas entre os in-
na: Gedisa Editorial, 1996. divíduos entre si, quanto dos indivíduos com as
máquinas, em especial, com os computadores;
(b) a transformação dos espaços de recepção,
TICs – Tecnologias da Informação e não apenas na direção da transnacionalização
da Comunicação quanto, ao mesmo tempo, na mediação tec-
Termo genérico que engloba conjunto das tec- nológica dos processos interindividuais ou de
nologias da informática, nos seus aspectos ma- âmbito local, ampliando relações entre o glo-
teriais (hardware) e programáticos (software), bal e o local, de onde o conceito do glocal. Hoje
em especial, as redes de comunicação, vistas em dia, pode-se observar a gigantesca concen-
enquanto conteúdo de informação e suporte de tração de capitais que tal tendência evidencia;
comunicação. A sigla, presente neste verbete, uma crescente integração de diferentes tecno-
evidencia a transformação desse conjunto vago, logias de comunicação, formando verdadeiras
heterogêneo e evolutivo, num conceito homo- teias de mídias; criação de uma pluralidade de
gêneo e circunscrito. As TICS permitem novas mídias, no chamado ecosistema comunicativo
maneiras de pensar e de conviver. A evolução (ALSINA, 2001, p. 24), criando o que se deno-
da própria inteligência artificial depende, efe- mina comunidades virtuais. (Antonio Hohlfeldt)
tivamente, da incessante metamorfose dos dis-
positivos informáticos, hoje colocados à dis- Referências:
posição dos indivíduos e das organizações. A ALSINA, Miquel Rodrigo. Teorias de la comu-
investigação científica, no dizer de Pierre Lévy, nicación. Barcelona: Universitat Autônoma
já é inconcebível em um cada vez mais com- de Barcelona, 2001.
plexo equipamento, marca do século XXI, ten- FREIXO, Manuel João Vaz. Teorias e modelos
do como principal conseqüência uma crescen- de comunicação. Lisboa: Piaget, 2006.
te velocidade na circulação das informações e MARTINO, Luís Mauro Sá. Teoria da comuni-
nos processos comunicacionais, aumentando cação. Petrópolis: Vozes, 2009.
produtividade e capacidade de circulação das MORAGAS, Miquel de. Sociología de la comu-
mesmas. O aparecimento das novas tecnolo- nicación de masas – IV – Nuevos proble-
gias permite, como afirma Vaz Freixo (2006, p. mas y transformación tecnológica. Barce-
228), conjugar tecnologias variadas, automati- lona: Gustavo Gili, 1985.
zar determinadas funções e modular os desem- OTMAN, Gabriel. Dicionário da cibercultura.
penhos das máquinas. Lisboa: Piaget, 2001.
Desse modo, as novas tecnologias avaliam,
hoje em dia, e para o futuro, a competência dos
indivíduos e das instituições em se adaptarem TIPOGRAFIA
a mudanças e inovações, levando a uma cons- Pode ser considerada arte ou processo de cria-
tante abertura e disponibilidade à novidade ção de caracteres para impressão de tipos. É o
por parte de todos. Já, nos anos 1980, Moragas ato de comunicar por meio de letras impressas
(1985, p. 18) apontava duas conseqüências do de forma ordenada. Palavra, originada do gre-
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enciclopédia intercom de comunicação
go typos, que na tradução para o português se- design. A fonte Arial é exemplo de tipografia
ria grafia ou escrita. sem serifa, do francês, sans serif, pois nas hastes
Tipo é o desenho de determinada letra. finais de suas letras não existe nenhum tipo de
Quando se fala em fontes tipográficas, relacio- desenho prolongado. Já a fonte Times New Ro-
na-se o layout e os elementos gráficos do texto man é exemplo de fonte serifada.
em sua organização visual. O objetivo da cria- Os tipos que tem características de textos
ção das fontes tipográfica é a funcionalidade e a escritos a mão são os denominados Manuscri-
clareza visual. tos. Para o design gráfico são todas as fontes
Até o século XIX a tipografia era feita ma- reconhecidas no computador como script. As
nualmente. Por volta de 1450, Gutenberg cria Script MT Bold, ou Amandine, por exemplo,
os caracteres de metal, letras invertidas e em são consideradas da família Manuscrito. Fontes
alto relevo, produzindo tipos móveis que po- do modelo Decorativo, como o próprio nome
deriam ser reproduzidos mais de uma vez em diz, são letras com decorações específicas. Têm
outras matrizes a serem impressas. O linotipo o objetivo de se destacar com formas diverti-
foi o primeiro sistema mecânico de composi- das, como as Chicks, Fiolets girls, Decorative ou
ção de tipos criado, em 1880, por Otmar Mer- Pussycal. (Daniele Ramos Brasiliense)
genthaler.
Atualmente, a computação gráfica propor- Referências:
ciona contrastes possíveis de tipos: tamanho, FONSECA, Joaqueim. Tipografia e Design Grá-
peso, estrutura, forma, direção e cor. fico. Porto Alegre: Bookman, 2008.
Múltiplas culturas produzem diferenciados HOLLIS, Richard. Design Gráfico, uma história
tipos de desenhos de letras e constituem pro- concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
jetos de fontes tipográficas. Essa diversidade é JURY, David. O que é a Tipografia? Lisboa: Gus-
organizada pela tipologia, o estudo dos tipos, tavo Gili, 2007.
que orienta a criação de famílias tipográficas. SILVA, Rafael S. Diagramação: O planejamen-
Existem seis principais grupos de família tipo- to visual gráfico na comunicação impressa.
gráfica usados nos processos de produção grá- São Paulo: Summus, 1985.
fica: Estilo antigo, Moderno, Serifa grossa, Sem – WILLIAMS, Robim. Design para quem não é
serifa, Manuscrito e Decorativo. Designer: noções básicas de planejamento
A Estilo antigo é baseada nos tipos de texto visual. São Paulo: Callis, 1995.
de escrita à pena. Tem ênfase diagonal inclina-
da e transição grosso - fino moderada em seu
desenho. Exemplo de tipo da família do Estilo Tipos e Formas de Publicidade
antigo é a fonte Garamond. O estilo Moderno A publicidade é constituída formas simbólicas
diz respeito aos tipos mais mecânicos com ên- produzidas e recebidas por pessoas históricas,
fase vertical, serifas horizontais e finas. A fonte situadas em locais específicos (a- situação es-
Bodoni é exemplo desta tipografia específica. paço-temporal; b- campo de interação). Essas
Serifa é o nome dado ao desenho feito nas formas simbólicas são/estão dependentes de re-
pontas finais de determinados tipos. São traços gras e recursos provindos das (c) instituições
que fazem as letras mais prolongadas em seu sociais e dos (d) meios técnicos de transmissão,
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rica da imagem (ausência de informações de- uma piada por dia, predominante nos dias de
talhadas sobre o produto/serviço). (Elizete de hoje. Muitas produções feitas para veiculação
Azevedo Kreutz) em jornais são posteriormente coletadas em ál-
buns, o que ajuda bastante na sua dissemina-
Referências: ção e preservação (são exemplos os trabalhos
BROCHAND, Bernard et al. Publicitor. Lisboa: de Bill Watterson, criador do personagem Cal-
Dom Quixote, 1999. vin; de Charles Schulz, autor da série Peanuts
O’GUINN, Thomas C.; ALLEN, Chris T.; SE- e de Jim Davis, idealizador do gato Garfield);
MENIK, Richard J. Propaganda e promo- muitas outras, no entanto, jamais são lançadas
ção integrada da marca. São Paulo: Cenga- novamente em outra modalidade de publica-
ge Learning, 2008. ção, dificultando o trabalho de preservação da
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna. memória quadrinhística, pois a imprensa diária
Petrópolis: Vozes, 1995. é em geral constituída por materiais frágeis que
se desfazem com muita facilidade.
O formato dos suplementos de quadrinhos
Tiras de quadrinhos e páginas encartados nos jornais – que, nos Estados Uni-
dominicais dos, são conhecidos como Sundays, por serem
Os jornais foram o berço das histórias em qua- publicados nas edições dominicais – também foi
drinhos e uma grande quantidade delas con- adotado, no Brasil, em 1929, com o lançamento,
tinua a ser publicada neles diária ou semanal- em São Paulo, de A Gazeta Edição Infantil.
mente, numa produção cuja dimensão é difícil O jornalista e editor Adolfo Aizen conce-
até mesmo de avaliar. beu, cinco anos depois, o Suplemento Infantil,
As tiras surgiram em 1907, com Mutt e Jeff, cujo sucesso o tornou independente do jornal
de Bud Fisher, sendo constituidas originalmen- A Nação e, a partir do número 15, passou a ser
te por três vinhetas que apresentavam uma pe- chamado de Suplemento Juvenil, que circulou
quena narrativa, com um “gancho” no último até 1945. Em sua esteira surgiram outras publi-
quadrinho, para levar o leitor a retornar no cações, como O Globo Juvenil, criado em 1937
dia seguinte (esse é o recurso utilizado princi- pelo jornalista e editor Roberto Marinho (SIL-
palmente pelas tiras de aventuras, que tiveram VA, 2003). (Waldomiro Vergueiro e Roberto Elí-
início em 1929, com Tarzan e Buck Rogers no sio dos Santos)
Século XXV). Dessa forma, a narrativa se pro-
longava durante meses, muitas vezes, apresen- Referência:
tando continuidade com a página dominical e MAGALHÃES, Henrique. Humor em pílulas: a
outras constituindo narrativas totalmentes di- força criativa das tiras brasileiras. João Pes-
versas. soa: Marca de Fantasia, 2006.
O aparecimento de novos meios de comu-
nicação de massa fizeram com que o modelo
narrativo original das tiras se tornasse pouco TOTEMISMO
atrativo para os leitores, passando a maioria Dentre as muitas definições atribuídas ao ho-
delas a adotar o modelo a-gag-a-day, ou seja, mem, há uma que goza de bastante prestígio.
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Trata-se da ideia, segundo a qual o homem é animal aparece como um símbolo da ascendên-
um animal simbólico, sugere o antropólogoa cia do grupo como, por exemplo, pensavam al-
Leslie White. gumas tribos do noroeste americano; em outras
O símbolo é um veículo de ideias, de va- situações, representa tão somente um símbolo
lores e pensamentos. Destaca-se, nesse proces- de prestígio e de identificação clânica.
so, o clássico O Pensamento Selvagem, de Clau- De modo geral, as teorias totêmicas estão
de Lévi-Strauss (1908-2009), quando observa vinculadas ao esforço de estabelecer uma re-
o antropólogo que “as espécies animais antes lação de substância entre os homens e os ani-
de serem boas para comer, são boas para pen- mais. Esforço esse, percebido por Levi-Strauss
sar”. Com esta afirmação Lévis-Strauss ampliou como um inferência do pensamento ocidental
a possibilidade de compreensão do simbolismo sob o “pensamento selvagem”. A esta imposição
na vida social na medida em que rompia com a do pensamento antropológico sobre as socieda-
perspectiva funcionalista de que a relação dos des primitivas, o antropolo francês batizou de
homens com os animais e a natureza é, neces- “ilusão totêmica”.
sariamente, marcada pela necessidade. Afinal, Antes de Lévi-Strauss revolucionar os estu-
por meio dos animais e vegetais pensamos e or- dos do totemismo, Durkheim e Mauss publica-
ganizamos a sociedade, estabelecemos relações ram em 1903, um texto seminal que antecipou
sociais, hierarquizamos os seres vivos, enfim, em muito a tese do “pai da antropologia estru-
classificamos e ordenamos o mundo. Não à toa, tural”, segundo a qual o totemismo constitui em
como sugere o antropólogo inglês Sir Edmund um “método de pensamento” e, como tal, cons-
Leach, nossos insultos verbais estão significati- titui uma forma de estabelecer uma explicação
vamente associados às categorias animais. Os e mediação do homen em sua relação com a
animais são bons para xingar, porque por meio natureza. Por meio do totemismo, os homens
deles estamos, metaforicamente, dizendo certas organizam o mundo seja em termos míticos,
coisas por meio de outras. seja em termos ritualísticos quando narram,
O totemismo é uma forma de pensamento festejam, cantam, dançam, para os animais e
simbólico. Tradicionalmente, o totemismo tem vegetais.
sido relacionado aos processos de identificação Nas sociedades modernas e contempo-
dos humanos com os animais e vegetais, sendo rânes, o totemismo continua existindo sob a
sua função a de manter viva a solidariedade do roupagem das heráldicas, das flãmulas, das
grupo social. mascotes, dos símbolos e ícones de produtos
Assim, o totem (palavra de origem Ojibwa, industrializados, das marcas publicitárias, dos
língua algonquina da reigião norte dos Gran- nomes de griffes etc. A culinária, o vestuário,
des Lagos da América do Norte), animal ou ve- os esportes, desenhos animados, são alguns dos
getal, era visto como um emblema concreto e muitos simbolismos totêmicos das sociedades
sagrado, inclusive, para muitas tribos, um obje- contemporâneas à espera de estudos antropoló-
to tabu, ou seja, proibido de ser comido ou sa- gicos. (Gilmar Rocha)
crificado. Fonte de inspiração para o clássico de
Freud, Totem e Tabu, no qual se explica a ori- Referências:
gem a civilização. Assim, muitas vezes, o totem DURKHEIM, Emile; MAUSS, Marcel. Algu-
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enciclopédia intercom de comunicação
mas Formas Primitivas de Classificação. In: e criar as bases de sua realidade sociocultural.
MAUSS, Marcel. Ensaios de Sociologia. São Essa definição, de certo modo, fundamenta o
Paulo: Perspectiva, 1981. materialismo histórico.
LEVI-STRUASS, Claude. O Totemismo Hoje. Vê-se, tanto em Hegel quanto em Marx, o
Coleçaõ Os Pensadores. 2. ed. São Paulo: trabalho como criação. A diferença é que para
Abril Cultural, 1980. Hegel tal condição é extraída do espírito hu-
RADCLIFFE-BROWN, Alfred. Estrutura e mano; e para Karl Marx ela é a materialidade
Função na Sociedade Primitiva. Petrópolis: inerente à existência humana. Para Max Weber,
Vozes, 1973. em sua sociologia compreensiva, o trabalho é
ROCHA, Everardo P. G. Magia e Capitalismo – toda a forma típica de ação social economica-
Um Estudo Antropológico da Publicidade. mente orientada e de processo associativo de
2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1990. caráter econômico que tenha lugar em um de-
SAHLINS, Marsahll. Cultura e Razão Prática. terminado grupo, significa uma maneira parti-
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. cular de distribuir e coordenar os serviços hu-
manos para o fim da produção de bens.
Em Weber não é, pois, a atividade de tra-
TRABALHO balho o fator da condição humana, mas, ao
A palavra trabalho, originada do latim tripa- contrário, ela advém de uma ordem social típi-
lium – instrumento de tortura, ao qual se pren- ca. Restrito à definição que lhe é pertinente no
dia o réu –ficou marcada, desde a Antiguidade sistema capitalista – da qual a base é o regime
Clássica, por um campo semântico que reme- do trabalho assalariado e as noções de horário
te a peso, sofrimento, penúria, fardo a ser su- de trabalho, de horário de não-trabalho (ócio,
portado, algo a ser exercido por escravos e/ou lazer, descanso), de salário, de emprego, de de-
servos, não cidadãos. Segundo Jacques Le Goff, semprego – realiza-se mediante troca de valor
é somente no século XI que a palavra trabalho monetário e restringe-se à dimensão que lhe é
emerge e, mais tarde, no século XV, adquire o dada pelo Direito e pelo Mercado.
sentido de obra a ser realizada. Na filosofia, é No campo das Ciências da Comunicação,
Georg W. Friedrich Hegel quem eleva o concei- cada um desses significados tem repercussões
to de trabalho a processo pelo qual o espírito e remete a tradições teóricas diferentes. Entre
humano, ao colocar nos objetos externos toda Estruturalistas e Funcionalistas o tema é trata-
sua potencialidade subjetiva, descobre e desen- do a partir do fluxo entre emissores e recepto-
volve a sua própria realidade. David Ricardo e res, por meio de um canal que transmite men-
Adam Smith foram os primeiros a identificar sagens; as quais são analisadas em função de
no trabalho a origem do valor das coisas, ou seus objetivos e meios que mobilizam. O traba-
seja, da riqueza (valor-trabalho) e é a partir de- lho é algo a ser regrado. A comunicação, na for-
les que Karl Marx dedica-se ao tema, concei- ma persuasiva, cumpre o objetivo de permitir
tuando trabalho como a atividade consciente os fluxos entre os públicos internos e externos à
e planejada que permite ao homem, ao mes- organização/empresa (comunicação organiza-
mo tempo, extrair da natureza os bens necessá- cional/institucional). Os pensadores da Escola
rios para satisfazer suas necessidades materiais de Frankfurt elaboram a ‘Teoria Social Críti-
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ca’, para demonstrar como a produção cultural legam a gerações posteriores normas, valores,
está submetida à racionalização dos processos saberes, superstições etc que, fundamentam,
de trabalho, e submetida ao sistema de merca- sua memória social e sua história cultural. Os
dorias (trabalho/mercadoria), dando origem à meios de transmissão da tradição são varia-
reprodução técnica da indústria cultural, fator dos indo da expressão oral à escrita, da gestual
que inviabiliza a expressão verdadeiramente à performática, dos ritos às festas, dos mitos à
criativa do ser humano. mídia. Mas, como toda categoria de entendi-
Herdeiro dessa corrente teórica, Jürgen mento, a tradição tem uma história e seu signi-
Habermas, por seu turno, distancia-se dela ao ficado muda ao longo do tempo.
colocar-se o objetivo de regenerar a Crítica, Assim, é que se pode compreender a tradi-
abandonando o método da dialética negativa ção ora como algo ligado à uma concepção de
e o pressuposto da razão técnica dos primeiros tempo que remete ao longínquo, imemorial, no
frankfurtianos. sentido de transmitir de maneira inconsciente,
Para formular essa mudança conceitual, os valores de uma época ou grupo social; ora
Habermas afasta-se da compreensão da his- como um processo histórico relativamente re-
tória fundada no desenvolvimento das for- cente de produção de sentido do passado como
ças produtivas, e assim desqualifica o trabalho nos sugere as abordagens dos historiadores Ho-
como atividade que está na origem da condição bsbawn e Turner (1997). Para estes historiado-
humana, base da realidade sociocultural, para res o passado histórico manipulado simbolica-
priorizar o conceito de comunicação como mente em forma de tradição inventada consiste
aquele que melhor permite entender a socieda- em um processo até certo ponto novo.
de humana. O faz partir de uma teoria pragmá- Significa dizer, de certa forma, que muitas
tica da linguagem verbal, por meio da qual che- tradições ou eventos e fenômenos considerados
ga aos conceitos de ação comunicativa e razão tradicionais não são expressões temporais de
comunicativa. um passado remoto e perdido nas brumas do
Na contemporaneidade, as mudanças tec- esquecimento, ao contrário, podem ser situa-
nológicas e de reorganização dos processos ções novas que assumem a forma de referência
produtivos demonstram a relevância do con- às anteriores ou estabelecem seu próprio senti-
ceito de trabalho, bem como a interdependên- do do passado.
cia entre comunicação e trabalho à medida que Nessa perspectiva, é que se torna possível
os processos comunicativos engendram-se no pensar na distinção entre a tradição e o costu-
mundo do trabalho como instrumentos de in- me como sendo da ordem da ação consciente
formática, procedimentos de organização da e da prática consuetudinária (“inconsciente”),
produção, logística, competências e discursos. respectivamente. Por exemplo, é o caso da tra-
(Roseli Figaro) dição inventada no uso da peruca e da toga uti-
lizada pelos magistrados e o costume do que
eles fazem ao longo do tempo.
TRADIÇÃO A tradição, então, pode ser vista como um
A tradição diz respeito a um processo de longa conjunto de escolhas que necessariamente in-
duração por meio do qual os grupos humanos cluem a vivência de regras e práticas sociais de
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modo consciente, colocando-as numa forma 1942), de um lado, e de Marcel Mauss (1872-
de temporalidade passada. Tais práticas são de 1950), do outro, as formações sociais e culturais
natureza ritual ou simbólica e têm como obje- devem ser vistas à luz do processo histórico. As-
tivo inculcar certos valores e normas de com- sim, desde os modos de ver o mundo, passando
portamento através da transmissão oral ou por pelas apreciações de ordem moral e estética à
outros meios de comunicação, o que implica, compreensão das diferenças de comportamen-
automaticamente, em uma continuidade em re- tos sociais e, até mesmo das posturas corporais,
lação ao passado que deve ser retido e preser- são produtos de uma herança cultural e, como
vado na memória do povo. No horizonte deste tal, o resultado da operação de uma determina-
processo encontra-se o problema da autentici- da história e cultura. (Sandra Pereira Tosta)
dade tantas vezes requeridas por determinados
grupos sociais como forma de se conquistar le- Referências:
gitimidade e autoridade sobre certos eventos de BORNHEIM, Gerd et al. Tradição e Contradi-
ordem cultural. ção. Rio de Janeiro: Funarte/Jorge Zahar,
Com o desenvolvimento e expansão global 1987.
dos meios de comunicação de massa e das tec- HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A In-
nologias digitais, noções como herança cultural venção das Tradições. 2. ed. São Paulo: Paz
e tradição em sua conceituação e modos de se e Terra, 1997.
fazer tendem a ser alterados. Segundo Thomp- PRANDI, Carlo. Tradições. In: Enciclopédia Ei-
son (1998), a compreensão que se tinha do pas- naudi 36: Vida/Morte-Tradições-Gerações.
sado era modelada pelas trocas de informação Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moe-
face-a-face, pelas tradições orais e na narração da, 1997.
de histórias que sempre tiveram um papel cen- THOMPSON, John B. A Mídia e a Modernida-
tral na construção dos sentidos do passado. Já de - Uma Teoria Social da Mídia. Rio de Ja-
na sociedade contemporânea, cujas mediações neiro: Vozes, 1998.
são, fundamentalmente, da ordem da mídia,
criou-se o que ele denomina de “historicidade
mediada”. Tradicionalismo
Com efeito, tudo isso contribui para o nos- A expressão refere-se ao cultivo da tradição, a
so senso de herança cultural, ou seja, para o algo que contém um elemento de reflexão ou
conjunto de valores transmitidos através dos cálculo consciente e, portanto, muito pouco
processos de socialização entre gerações, mais tradicional, se entendermos que este, o tradi-
tradicionalmente pelos relatos da oralidade, em cional, é, conceitualmente, o domínio do trans-
determinados contextos sociais da vida cotidia- mitido pelo costume ou autoridade. A tradição,
na. A herança cultural ou a tradição é consti- vendo bem, não se cultiva, se quiser ser tal: ela
tuída de elementos característicos que marcam se repete e transmite pelo hábito, e isso a tal
ethos cultural (padrões de sensibilidade) de um ponto que ela não logra elaborar seu próprio
povo e sua identidade. conceito.
Do ponto de vista teórico, seguindo a he- O tradicionalismo, por isso, pode ser visto
rança dos pensamentos de Franz Boas (1858- não só como a atitude que, conscientemente,
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exalta ou pratica o costumeiro, mas que, como zantes pensam que essas podem ser pura e sim-
tal, se origina fora deste último âmbito: ele su- plesmente reavivadas no presente ou no futuro.
põe uma época ou mundo em que este, o cos- Quando é este o caso, vale notar, estabelece-se
tume, não vige mais de maneira cega e autoritá- com o passado uma relação crítica que, inclusi-
ria. Noutros termos, estamos esclarecendo que ve, nos permite basear-nos nelas para não ape-
o tradicionalismo só se afirma em confronto nas avaliar o tempo vivido hoje, como projetar
com uma ou outra modernidade, porque, de- formas de vida alternativas para além do que
vidamente analisadas, suas manifestações, em este tempo oferece aos seus contemporâneos.
geral, tendem a ser, em maior ou menor grau, Posto isso, podemos postular que moder-
fenômenos arquitetados racionalmente. nidade e tradicionalismo se encontram em re-
As expressões culturais que o exemplifi- lação dialética e que apenas não sucumbindo
cam modernamente, que se tornam “tradições” cegamente a nenhuma das atitudes é possível
para um grupo ou população, geralmente são, lidar bem com cada uma delas, sem perder-
ao menos em parte, fruto de arranjos bem cal- mos suas devidas interrelações. Assim como o
culados e que inclusive se modificam racional- racionalismo moderno ameaça destruir com
mente, de acordo com o modo como as neces- tudo o que ele cria sem parar e, loucamente, o
sidades e circunstâncias o exigem, mostraram reacionarismo ameaça o presente por preten-
em vários estudos os colaboradores de Eric Ho- der nos entregar à autoridade de um passado
bsbawn e Terence Ranger. idealizado que, na realidade, via de regra im-
No Ocidente, a ruptura com a experiência portou, sobretudo, em opressão e sofrimentos
de continuidade temporal indicadora do que para a maioria.
em seguida será denominado de tradiciona- O passado não deveria ser louvado por ser
lismo se verifica sobretudo a partir dos sécu- passado, mas por conter, à luz de uma reflexão
los XVII-XIX, embora algo disso já houvesse moderna, os elementos com que se pode ela-
se manifestado durante o Renascimento. Todos borar e desenvolver uma atitude progressista.
aqueles apegados ao modo de vida existente ou Como disse Adorno: “Quem quer que busque
que não lograram se adaptar aos novos tempos, ser fiel à felicidade que a tradição ainda con-
promovidos com o desenvolvimento do capita- tém em algumas de suas imagens ou debaixo
lismo, começaram então a cultivar uma nostal- de suas ruínas deve abandonar a tradição que
gia pelo passado. converte o sentido e seus possíveis em menti-
Em conjunto, as reações aos prejuízos cau- ras, porque só quem rejeita com firmeza a tra-
sados pelo avanço do modernismo e o cultivo dição [irracional] pode criar uma nova [com
cego de um passado via de regra mítico são o justiça]”. (Francisco Rudiger)
que, desde então, se chama, criticamente, no
caso, de tradicionalismo. Referências:
Embora isso seja sua tônica dominante, o ADORNO, T. On tradition. In: Telos. n. 94. p.
tradicionalismo não deveria, contudo, ser vis- 75-82, 1992/93.
to mecanicamente como reacionário, visto que HOBSBAWM, E.; RANGER, T. (Orgs.). A in-
experiências de boa vida sempre podem ser en- venção das tradições. Rio de Janeiro: Paz &
contradas nele e que nem todos os seus simpati- Terra, 1997.
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. (Org.). A religação dos saberes: o desa- teor simbólico. Contudo, essa é uma super sim-
fio do século XXI. 2. ed. Rio de Janeiro: Ber- plificação perigosa. Símbolos são definidos, se-
trand Brasil, 2002. mioticamente, como signos de adoção conven-
PIAGET, Jean. Psicologia e Epistemologia: Por cional, equivalentes a leis semânticas, que, em
uma teoria do conhecimento. Rio de Janei- virtude de seu caráter legislador, se revestem de
ro: Forense Universitária, 1973. um certo autoritarismo, dirigindo a interpreta-
ção para sentidos mais cristalizados e de maior
circulação social.
Transponder Sabemos, por outro lado, que nem sem-
Transmissor-respondedor (transmitter-respond- pre os signos que participam de um processo
er) é o nome genérico para aparelhos que, em interativo são de natureza convencional. Mui-
telecomunicações, recebem e transmitem um tos deles, como nos casos de comunicação face
sinal. Nesse processo, o sinal recebido pode ser a face, são funções indiciais (um tom de voz
amplificado e ter sua frequência modificada apontando para o humor de um dos agentes
para transmissão. O transponder também pode da interação, por exemplo, ou um movimen-
transmitir um sinal pré-determinado ao rece- to de ombros indicando indiferença) ou mes-
ber um sinal específico. mo icônicas (como o uso de um curto assobio
Nas transmissões de mídia por satélites, os no meio de uma frase para indicar a rapidez
canais (faixas de frequência) são chamados de da passagem de um carro ou o gesto de tocar a
transponders porque cada um possui individu- face com a mão espalmada para sugerir a per-
almente um transceiver (receptor-transmissor) plexidade do personagem da narrativa em cur-
ou repeater (repetidores). (Raquel Castro) so na interação).
No fundo, as interações são terreno de
grande complexidade semântica e semiótica e,
TROCAS SIMBÓLICAS nelas, os signos assumem funções muito além
Frase que vem sofrendo grande abuso por parte de um valor meramente simbólico (é necessário
dos estudiosos dos processos linguageiros e in- explicar, ainda, que, em semiótica, o símbolo
teracionais, principalmente os que abordam o não se reveste de nenhum caráter nobre, solene
fenômeno comunicativo a partir de um viés so- ou especial. O símbolo é apenas um genérico
ciologizante, o termo troca simbólica é usado, para o qual se tem uma interpretação mais ou
indiscriminadamente, para se referir ao mesmo menos fixa). Nenhuma interação se rege apenas
tempo ao processo de interação no jogo comu- por sentidos mais ou menos cristalizados e, por
nicativo e ao conteúdo daquilo que é compar- isso, o termo troca simbólica é redutor e sim-
tilhado entre os agentes do discurso. Em nome plista, devendo ser substituído por troca sígni-
de maior rigor conceitual, entretanto, faz-se ne- ca, de vez que o conceito de signo é bem mais
cessária uma distinção mais acurada dos senti- abrangente e extenso do que o pequeno sentido
dos implícitos na frase, até para se ter uma ideia que se atribui ao símbolo. (Júlio Pinto)
da validade ou não de seu uso.
Um pressuposto do termo é o de que os Referências:
signos-veículos dessa troca interativa são de FISCH , M., et al. (Orgs.). The Chronological
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TRIGO, Luiz Gonzaga Godói. Análises regio- oriundas de setores excluídos da história tradi-
nais e globais do turismo brasileiro. São cional (BARRETTO, 2002), considerando tam-
Paulo: Roca, 2005. bém a cultura em suas dimensões imateriais.
URRY, John. O Olhar do Turista: Lazer e Via- Com a ampliação da concepção de patrimônio,
gens nas Sociedades Contemporâneas. São amplia-se também a noção de turismo cultural,
Paulo: Studio Nobel, 2007. que agora inclui o contato do viajante com as-
pectos da história do cotidiano, com as celebra-
ções e festas, com os modos de fazer e os sabe-
Turismo cultural res das populações dos locais visitados.
Entende-se por turismo cultural as modalida- Como em toda modalidade turística, tam-
des de experiência turística na qual o olhar vol- bém, no ‘Turismo Cultural’ a experiência é me-
ta-se às produções culturais do local visitado, diada, envolvendo processos de comunicação
tanto aquelas dotadas de materialidade (edifí- formais e informais.
cios, monumentos, sítios e obras de arte) como No nessa modalidade de turismo, é atribu-
aquelas caracterizadas pela intangibilidade (fes- ído à comunicação um papel que extrapola o
tas, culinárias, saberes). fornecimento de informações através da sina-
A definição de Turismo Cultural acompa- lização. A tendência contemporânea é de com-
nhou historicamente a de Patrimônio Cultural. preender as relações entre comunicação e ‘Tu-
Inicialmente, atribuía-se o estatuto de Patrimô- rismo Cultural’ em termos de interpretação do
nio Cultural ou Histórico aos bens “de pedra patrimônio. Trata-se de lançar mão de “várias
e cal”, vale dizer, às edificações e monumentos artes da comunicação humana” com as finali-
considerados históricos, via de regra associados dades de “revelar significados”, “provocar emo-
à produção ideológica de um passado comum ções”, “estimular a curiosidade”, “entreter e ins-
compartilhado pelas coletividades dos Esta- pirar novas atitudes nos visitantes” (MURTA;
dos nacionais emergentes entre fins do século GOODEY, 2002, p. 14). (Rafael José dos Santos)
XVIII e no decorrer do século XIX. É essa con-
cepção de patrimônio material que se encontra Referências:
subjacente à Carta de Turismo Cultural, que o BARRETTO, Margarita. Turismo e Legado Cul-
define como: “aquela forma de turismo que tem tural. 3. ed. Campinas: Papirus, 2002.
por objetivo, entre outros fins, o conhecimen- ICOMOS – International Council of Monu-
to de monumentos e sítios histórico-artísticos” ments and Sites. Carta de Turismo Culu-
(ICOMOS, 1976). O patrimônio, assim concebi- tral. Bruxelas, 1976.
do, não apenas restringia-se aos bens materiais, MURTA, Stela Maris; GOODEY, Brian. Inter-
como também à herança histórica e às produ- pretação do Patrimônio para Visitantes:
ções artísticas legitimadas pelas elites nacionais um quadro conceitual. In: MURTA, Ste-
ou pelos agentes da chamada alta cultura. la Maris; ALBANO, Celina (Orgs.). Inter-
Nas últimas duas décadas do século XX, pretar o Patrimônio: um exercício do olhar.
incorporando contribuições das ciências so- Belo Horizonte: Editora da UFMG/Territó-
ciais e da Nova História, a noção de patrimônio rio Brasilis, 2002.
ampliou-se, passando a abranger as produções
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sociedade civil, dos consumidores e dos gesto- poraneo: a noticia entre uma forma singu-
res da vida pública ou administrativa no poder. lar de conhecimento e um mecanismo de
(GADINI, 2007) construcao social da realidade. Revista Fa-
A partir da universalidade jornalística, mecos, n. 33. Porto Alegre, 2007
tudo o que se passa no universo é objeto dessa GROTH, O. Tarefas da pesquisa da ciência da
área do conhecimento. Tal conceito não se refe- cultura. In: MAROCCO, B.; BERGER, C.
re a realidades desligadas do homem enquanto A era glacial do jornalismo. Porto Alegre:
sujeito. Portanto, o conteúdo de um jornal é de- Sulina, 2006.
terminado por um critério subjetivo, apesar de
ele ser potencialmente universal. Tal fato pode
ser verificado ao se constatar que o jornal se UTOPIA
materializa de acordo com os interesses dos su- Sabemos que a Sociologia deve à filosofia clás-
jeitos que possuem algum tipo de relação com sica muitos dos seus conceitos básicos, uma vez
aquela empresa. Adicionalmente, a pluralidade que, antes da organização da disciplina, a com-
de fontes maximizada pelas novas mídias – ou- preensão da vida social era um atributo da fi-
tra manifestação da universalidade jornalísti- losofia social. O conceito de utopia é um deles.
ca – constitui fator essencial que envolve as di- Nesse esforço por entender os princípios que
nâmicas do campo, marcando as estratégias de governavam a vida em sociedade, os filósofos
produção editorial. procuraram, também, idealizá-la construindo
De qualquer forma, o ponto de referência modelos que concebessem as características do
da universalidade jornalística é o homem, con- que seria uma sociedade perfeita. Um dos pri-
siderando-se que a privacidade constitui uma meiros pensadores a fazer isso foi Platão que,
fronteira interna do jornal, um limite para a em Timeu e Crítias, descreve a lendária Atlânti-
instituição, enquanto a fronteira externa é de- da como uma sociedade perfeita e idealizada.
limitada pelo mundo objetivo. (FIDALGO, Mas, quem criou o termo utopia foi Tho-
2004) (Filomena Bonfim) mas Morus que, no livro de mesmo nome, con-
cebe uma ilha de paz e justiça, na qual os ha-
Referências: bitantes viviam sob as ordens de um monarca
FIDALGO, Antonio. Jornalismo on line segun- vitalício, eleito e controlado por Conselhos for-
do o modelo de Otto Groth. In: Pauta Ge- mados pelos representantes das famílias que
ral. n. 6. Salvador: Calandra, 2004. compunham a população. A vida em Utopia é
GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da pirâmi- comunitária e justa, privilégios, obrigações e
de: para uma teoria marxista do jornalis- bens são compartilhados, há abundância, mui-
mo. 2. ed. Porto Alegre: Editora Tche, 1988. to trabalho e distribuição igualitária de alimen-
MEDITSCH, Eduardo. O jornalismo e uma for- tos. Escrito, no início do Renascimento, Utopia
ma de conhecimento?. Conferencia feita expressa, ao mesmo tempo, a moral acética da
nos cursos da Arrabida, Universidade de Idade Média, assim como os ideais de vida po-
Verao, 1997. lítica da Modernidade, tais como a existência
GADINI, Sergio Luiz. Em busca de uma teoria de um governo centralizado e de formas estru-
construcionaista do jornalismo contem- turadas de participação política.
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gulamento. Com o tempo, a vaquejada se po- sentido que Luiz Beltrão (2001) desenvolveu,
pularizou de tal forma que existem clubes e em sua teoria da Folkcomunicação, um concei-
associações de vaqueiros em todos os Estados to de comunicação através do folclore em que
do Nordeste, calendários de eventos e patroci- diversos agentes e meios populares de informa-
nadores de peso. O Campeonato Mundial de ção são entendidos como veículos de expressão
Vaquejada acontece, em Itapebussu, Ceará. Cir- de ideias dos grupos marginalizados.
cuitos do campeonato são realizados nos par- Não há, contudo, um modelo único de mí-
ques de Pernambuco, Maranhão, Rio Grande dia alternativa, apesar de existirem característi-
do Norte, Ceará, Paraíba, Bahia e Alagoas. (Jac- cas centrais comuns aos diferentes veículos. A
ques A. Wainberg) pluralidade de formatos deve-se aos variados
contextos e configurações dos grupos e atores
Referência: que os produzem. Grinberg destaca a partici-
CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e can- pação no processo de comunicação e a ambi-
tadores. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1968. valência dos papéis de emissor e receptor como
elementos que caracterizam os meios alterna-
tivos.
VEÍCULOS ALTERNATIVOS Para o autor, é alternativo todo meio que
Os veículos alternativos de comunicação foram “implica uma opção frente ao discurso domi-
sendo criados em cenários de conflitos ideoló- nante” (1987, p. 18). A ênfase, portanto, está
gicos e restrições à liberdade de expressão, que no conteúdo: “sem discurso alternativo não
acompanharam a história da mídia em diferen- há meio alternativo” (1987, p. 29). Do mesmo
tes países e contextos. Embora o termo alter- modo, para John Downing (2002), a mídia al-
nativo remeta às publicações que surgiram, no ternativa é aquela que expressa uma visão que
Brasil, durante a ditadura militar (a partir de se contrapõe às perspectivas hegemônicas, que
1960), a mídia alternativa ocupa um lugar cen- se apresenta numa enorme variedade de for-
tral na resistência às múltiplas formas de opres- matos e suportes e exerce múltiplos impactos,
são (política, de classe, etnia, gênero, entre ou- em diferentes níveis, apresentando-se de forma
tras) presentes na sociedade contemporânea. mais democrática do que a mídia hegemônica.
São exemplos de veículos alternativos os A ação destes veículos – que assumem um
meios impressos produzidos por movimentos caráter não apenas de divulgação de fatos e
sociais, associações, organizações não-governa- opiniões, mas principalmente de organização
mentais e grupos minoritários, as experiências e mobilização social – volta-se à defesa da li-
de radiodifusão comunitária, os espaços on-li- berdade de expressão das minorias sociais e do
ne de contrainformação e mobilização em rede, “direito de comunicar como parte das lutas pela
entre inúmeros outros. Além destes canais, em cidadania” (PERUZZO, 2004). Compreende-se
uma noção mais ampla do processo de comuni- a mídia alternativa, nesta perspectiva, a partir
cação, destacam-se ainda outras manifestações do seu caráter contra-hegemônico e dos parâ-
e veículos informais que carregam um sentido metros diferenciados dos meios tradicionais no
de mudança social (tais como a música, o te- que se refere às suas formas de produção, circu-
atro, o grafite, as festas populares etc). É neste lação e consumo. Em outros termos, os veículos
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alternativos servem como canais de resistência sa como precisam estar claramente separadas.
e de expressão dos interesses coletivos, contri- A função da notícia é sinalizar um evento. A
buindo para o fortalecimento das lutas sociais função da verdade é trazer luz para fatos ocul-
e para a democratização do direito de comuni- tos, relacioná-los a outros, e traçar um retrato
car. (Karina Janz Woitowicz) da realidade a partir do qual os homens pos-
sam atuar. (LIPPMANN, Walter. Public Opin-
Referências: ion. New York: Free Press Paperbacks, Simon
BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo and Schuster, 1997, p. 226).
dos agentes e dos meios populares de in- Pode-se dizer mais. A verdade, em jorna-
formação de fatos e expressão de ideias. lismo, mesmo quando adstrita ao campo dos
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. debates que iluminam a compreensão dos
DOWNING, John. Mídia Radical: Rebeldia nas eventos, não pode se pretender definitiva. Ela
comunicações e movimentos sociais. São é permanentemente reescrita, reconstruída, re-
Paulo: Senac, 2002. colocada a cada nova edição, a cada mês, a cada
GRINBERG, Máximo Simpson (Org.). A comu- quinzena, a cada semana, a cada dia, a cada mi-
nicação alternativa na América Latina. Pe- nuto. A verdade vai se tecendo na intersubjeti-
trópolis: Vozes, 1987. vidade, dentro de um discurso, o jornalístico,
PERUZZO, Cicília M. Krohling. Comunicação que é sempre um relato que tem por fonte, por
nos movimentos populares. 3. ed. Petrópo- narrador, por objeto e por leitores um ou mais
lis: Vozes, 2004. sujeitos.
O jornalismo, na melhor das hipóteses, é
um diálogo entre sujeitos, quer dizer, um diá-
Veracidade jornalística logo intersubjetivo. Suas chances de êxito de-
Do jornalismo não se espera que seja estrita- pendem, em primeiro lugar, da independência
mente verdadeiro ? ou seja, que ele diga a ver- formal e material daquele encarregado de me-
dade e somente a verdade, posto que a margem diar o debate público, que é o jornalista , pois
de erro é por natureza inevitável ? mas que ele só a esse, desde que cioso de sua independên-
tenha a condição de ser veraz, isto é, que se cia, a verdade dos fatos se revelará, ainda que
mostre capaz de dizer a verdade, ainda que não tênue, fugidia, imperfeita e inacabada. Por isso,
acerte o tempo todo. ao menos dentro das regras da instituição da
A distinção aqui é sutil, mas mortal. Pro- imprensa, a verdade nunca admite uma for-
meter a verdade, assim, precedida de um impo- ma final. A partir do dever da independência,
nente artigo definido, constitui quase um em- requisitos como a precisão, a objetividade, o
buste. Os tempos de jornais que se davam por equilíbrio e o senso de justiça são sempre dese-
nome a Verdade, com V maiúsculo, já são idos, jáveis, ainda que nunca suficientes. Sempre ha-
para sorte de todos. Como anotou Walter Li- verá o que ser ajustado, esclarecido ou reescrito
ppmann, ainda na década de 1920 , verdade e na próxima edição.
notícia pertencem a domínios distintos. A hi- Nessa perspectiva, ser veraz significa ser
pótese, que me parece a mais fértil, é que notí- honesto com o público acerca dessas limitações
cia e verdade não apenas não são a mesma coi- e determinações.
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A veracidade depende, enfim, da corres- criticado pelas agências por desorganizar o pla-
pondência entre o relato e os fatos e as ideias nejamento publicitário anual. Por seu lado, os
a que ele se refere, e da correspondência entre clientes temem que a agência, para ampliar seus
o que o mediador escreve (ou enuncia) e suas ganhos, estimule produções desnecessariamen-
convicções internas. Ele deve estar convencido, te caras. A agência publicitária reclama que,
consigo mesmo, de que se esforçou para dizer a sendo paga pelo percentual de cada campanha,
verdade. O público não espera que ele não erre, estipulado pelo cenário trimestral do mercado,
mas que, se errar, ele será o primeiro a tentar se ela não pode otimizar seu planejamento opera-
corrigir. (Eugênio Bucci) cional, realizando peças em cima da hora.
A maior fonte de renda da maioria das
agências de propaganda era/é oriunda do per-
Verba centual de veiculação em televisão. Atualmen-
O orçamento de uma campanha publicitária te, verifica-se um declínio da hegemonia da te-
consiste numa descrição planificada da manei- levisão graças à pulverização da segmentação
ra pela qual serão alocados os créditos destina- dos canais da televisão paga e especialmente
dos à publicidade* durante um certo período, pelos novos hábitos de recepção associados à
que, geralmente, corresponde a um exercício internet.
contábil de um ano. Pelo fato de todos os as- Os meios digitais impõem uma nova lógi-
pectos de uma campanha depender do volu- ca de pagamento da verba publicitária. A agên-
me da verba, tanto em relação ao conteúdo das cia tenderia a receber por clicagem no site do
despesas quanto a seu valor, sua determinação anunciante e pelas vendas de fato realizadas.
é fundamental. Desse modo, a agência publicitária seria um só-
O papel da agência de propaganda é acon- cio no negócio do cliente, recebendo de acor-
selhar. A decisão de liberação dos recursos fi- do com o percentual de lucro do mesmo. Esse
nanceiros é de inteira responsabilidade do novo modo de pagamento encontra resistências
anunciante. Entram no orçamento o custo do nos anunciantes tradicionais, que não gostam
espaço pago nos meios abow e below the line, das incertezas em prever seus custos anuais ao
gastos técnicos de produção e despesas de ad- sabor das vendas diárias. Outra resistência dos
ministração, incluindo honorários e comissões. anunciantes tradicionais encontra-se na possi-
Em geral, os honorários da agência publi- bilidade de que seus produtos mudem de preço
citária são de 15%, incidentes sobre os custos durante o dia.
reais comprovados de trabalhos de produto- Num horário em que ocorre uma acentu-
ras, fornecedores e veículos de comunicação, ada queda de vendas, o produto pode baixar o
previstos no subitem 3.6.1 das Normas-Padrão preço para aumentar as vendas, ou realizar lei-
da Atividade Publicitária, em Convenção Na- lão de preço. O novo cenário de negócios lhes
cional celebrada entre Veículos, Anunciantes e parece caótico como as vendas de camelôs.
Agências, assinada em 16 de dezembro de 1998 Estipular o valor do preço de um produ-
(www.cenp.com.br). to ou serviço é muito abstrato. A migração do
O recebimento de pagamento por percen- pagamento da publicidade por percentual de
tual de produção e veiculação, acima citado, é produção e veiculação, para o nível de aten-
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ção despertado pelas clicagens e percentuais de não precisam de outra verificação além da te-
vendas, indica uma maior dinamicidade, flui- órica. Há também as verdades primeiras, no
dez e abstração, em determinar o valor do tra- sentido de que não se submetem a questiona-
balho publicitário. mentos. Exemplo: “O todo é maior que as par-
Ao mesmo tempo, induz que o negócio tes” (ninguém duvida). Uma verdade eterna é
simbólico da publicidade seja mais competitivo aquela que é na razão e nunca fora dela. Exem-
e arriscado, necessitando de profissionais mais plo: em uma figura de três lados, como o tri-
qualificados na análise de tendências de merca- ângulo, a soma dos ângulos sempre equivale a
do e em pesquisas mais refinadas sobre o com- 180 graus, não importando se essa figura existe
portamento do consumidor. (Dirceu Tavares de ou não fora da mente humana. Ainda há uma
Carvalho Lima Filho) variedade de conceitos que remontam à ver-
dade como crença (caso da crítica do filósofo
Nietzsche).
VERDADE Há os que concebem a verdade como sen-
São inúmeras as variáveis que a definem, como do de dois tipos: verdades de razão (do racio-
acerto, certeza, consenso, adequação ao real, re- cínio) e verdades de fato (objeto de adequação
alidade racional, tudo o que é possível ser veri- da razão). Para Leibniz, somente as verdades de
ficado pela ciência, objeto de contemplação dos razão são necessárias. As verdades de fato po-
filósofos (caso de Platão), entre outras. Classi- dem até ser possíveis, mas não necessárias. Ou-
camente, refere-se ao modo como o intelecto se tros autores negam a existência de uma verdade
adapta à realidade e, nessa acepção, tem a ver primeira (caso de Bachelard), para dizerem que
com o juízo mais próximo ou adequado ao real. há somente erros primeiros.
Por isso, muitas vezes, confunde-se a verdade E no mundo da comunicação? Ao que tudo
com a realidade, ou vice-versa. indica, a comunicação toma cuidado com os
O esforço filosófico tem feito surgir mui- costumes e a tradição, mas, ao mesmo tempo,
tas definições de verdade. A teoria consensual a não pretende se isentar da maior proximida-
define como o que é consensual, em uma cultu- de daquilo que acontece, de fato, nos campos
ra, o que é aceitável ou justificável por todos. A social, político, econômico e outros. Quando
teoria da coerência, por sua vez, considera ver- a não-correspondência acontece, ainda que a
dadeiros os juízos que não colocam em contra- maioria não perceba, há sempre os que esprei-
dição todo um sistema de crenças, situando-se, tam essa condição, sem a qual o campo da co-
por isso mesmo, próxima à versão consensual. municação cairia no descrédito – até, novamen-
Já na teoria pragmática, a verdade está direta- te, provar que estava do lado da verdade, isto é,
mente ligada aos resultados dos próprios juí- daquilo que de fato aconteceu ou que está acon-
zos, resultados práticos e que sustentem uma tecendo. Parece, então, que é a ética a balizado-
verificação via experiência. ra da verdade. (Mauro Araujo de Sousa)
Ainda há as verdades denominadas ana-
líticas, que independem da experiência. São Referências:
também chamadas de verdades necessárias, a ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia.
priori. As verdades matemáticas, por exemplo, São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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GILSON, Etienne. A filosofia na Idade Média. sua arte, não seguir nunca passo a passo a ver-
São Paulo: Martins Fontes, 2001. dade, mas a verossimilhança e o possível, e cons-
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Di- trói sua obra sobre o que pode realizar-se, dei-
cionário básico de filosofia. 3. ed. rev. e amp. xando a verdadeira narração aos historiógrafos
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996. (VOILQUIN; CAPELLE, 1969, p. 306). Mesmo
LALANDE, André. Vocabulário técnico e críti- nos registros mais literais, o autor põe em jogo
co da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, sua subjetividade, tornando o acontecimento
1993. verossímil por meio de um jogo de compara-
ções nutrido pelo conhecimento das coisas, de
seu significado e de sua aparência. Ele coloca
VEROSSIMILHANÇA entre o real e o seu imaginário.
Apesar de, do ponto de vista etimológico, ve- Além dos acontecimentos objetivos “vis-
rossimilhança significar “semelhança com a tos”, é preciso que ele perceba o que deles po-
verdade”, nos últimos registros comunicacio- der-se-á depreender. A verossimilhança, por si
nais este significado não se aplica totalmente. só, neste novo contexto, passa a adquirir uma
No dizer aristotélico, o homem não copia a rea- forma mais convincente. (Telenia Hill)
lidade servilmente, mas representa o que poderá
acontecer segundo a verossimilhança e a neces- Referências:
sidade. Alguns profissionais, os historiadores, ARISTÓTELES. Poética. Trad., prefácio, intro-
afirmam as coisas que sucederam, e, outros, os dução, comentário e apêndices de Eudo-
poetas, as que poderiam suceder. A poesia as- ro de Sousa. Porto Alegre: Editora Globo,
sume um caráter mais filosófico do que histó- 1966.
rico, estabelecendo a diferença entre o particu- . Arte retórica e arte poética. Trad. de
lar e o universal. Por referir-se ao universal, a Antonio Pinto de Carvalho. Rio de Janeiro:
poesia atribui “a um indivíduo de determinada Tecnoprint, 1969.
natureza pensamentos e ações que, por liame
de necessidade e verossimilhança, convêm a tal
natureza” (ARISTÓTELES, 1966, p. 78). O que Vídeo
é possível é plausível, ‘verossímil’. O vocábulo vídeo nomeia ao mesmo tempo um
Em geral, acredita-se, apenas, nas coisas meio de criação audiovisual e de formas expres-
que acontecem, mas se elas aconteceram é que sivas com imagens em movimento. Trata-se de
eram passíveis de acontecer, verossímeis. Mui- um nome amplo e impreciso no qual estão im-
tas vezes o registro artístico completa, por meio bricados técnica e poética.
da verossimilhança, o que a vida ainda não re- O ano de 1965 e a invenção do vídeo portá-
alizou. Em qualquer registro comunicacional, til (portapack) inauguram uma nova fase para
para que ele se torne verossímil, é preciso que o vídeo. Davam-se os primeiros passos de um
haja um encadeamento, uma coerência, entre caminho revolucionário em termos cognitivos
os elementos que o compõem. O poeta fran- e no processo de criação na arte, na comunica-
cês Ronsard, no prefácio a Franciade, declara: ção, na ciência e na educação. O vídeo já exis-
O poeta tem por máxima, muito necessária em tia, mas concentrava-se em emissoras de tele-
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visão. O Portapack inclui outros atores sociais O nome vídeo surge e ganha força relacio-
na criação audiovisual, e portanto outras estra- nado a uma tecnologia, a imagem eletrônica e
tégias simbólicas. Os primeiros a arriscar são a fita magnética. Hoje, a imagem é digital e em
artistas plásticos e músicos, aos poucos seu uso diversas câmeras sequer existe fita ou VT, mas
é generalizado. ainda assim fala-se em vídeo. O vídeo é um
Hoje, a miniaturização da tecnologia provê mediador técnico ou uma extensão do nosso
telefones celulares, maquinas fotográfica e pe- olhar em termos etimológicos significa o “ato
quenas câmeras de vigilância de gravadores. O mesmo do olhar”. O nome e os usos do vídeo
vídeo está em toda parte: no âmbito doméstico trazem, em si, uma diversidade que só pode ser
como memória familiar, na arte, no entreteni- apreendida em cada prática, seja ela produto ou
mento, em sistemas de vigilância, na nanotec- processo, do vídeo. (Patricia Moran)
nologia, na medicina e é claro como extensão
do olho humano no espaço extra-terrestre. Referências:
Quase onipresente, ele se encontra em diversas DUBOIS, Philipe. Cinema, vídeo, Godard. São
áreas do conhecimento. Paulo: CosacNaify, 2004.
As imagens de vídeo nem sempre se desti- MACHADO, Arlindo. A arte do video. São Pau-
nam à comunicação. Mas, os comunicadores, lo: Brasiliense, 1988.
e principalmente os artistas, lançam mão das (Org.). Três décadas do video brasileiro.
mesmas para realizar trabalhos pessoais. A in- São Paulo: Itau Cultural/Iluminuras, 2007.
ternet é um dos destinos dos vídeos produzidos PARENTE, André (Org.). Imagem máquina. A
pelo cidadão comum. era das tecnologias do virtual. Rio de Janei-
A diversidade de abordagens artísticas e ro: Editora 34, 1993.
sociais relacionadas ao vídeo é tamanha que
dificilmente conseguiríamos tratá-lo numa
perspectiva da especificidade. É impossível e Vídeo Digital
infrutífero a conceituação deste nome com ta- Compreende uma forma de registro no cam-
manhos usos e sentidos. Philipe Dubois (p. 72) po da produção audiovisual que incorpora as
observa que ele costuma ter a função de sufixo tecnologias infoeletrônicas, desencadeando no
ou prefixo. Nesse caso, a palavra vídeo em si é momento em que surgiu, profundas transfor-
vazia, seus atributos vem do substantivo que o mações de natureza estética, técnica e comuni-
acompanha. No dicionário sobre novas mídias, cacional no cinema e na televisão.
dirigido por Louise Poissant, foram cataloga- Já, no contexto da convergência midiática, o
dos vinte e nove artes do vídeo. vídeo digital é suporte para a circulação de con-
O nome vídeo também agrega a campos teúdos audiovisuais na internet e nas mídias em-
da comunicação consolidados, um caráter sub- barcadas em dispositivos móveis, portáteis e in-
jetivo e ensaistico. Um exemplo é o vídeo-jor- terativos. Em sua estrutura de funcionamento, os
nalismo – VJ –, aqui o trabalho jornalístico é elementos constitutivos da gravação e reprodu-
realizado por um único profissional. Se o jor- ção de sons e imagens em movimento são orde-
nalismo almeja a objetividade o VJ valoriza a nados por uma lógica numérica de codificação
subjetividade. binária (zeros e uns) em suportes eletrônicos.
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No caso da imagem, por exemplo, a menor década do séc. XXI, uma produção audiovisu-
unidade é o pixel, ponto de luz formado por al caracterizada pela pluralidade de vozes e por
três cores (vermelho, verde e azul), para o qual conteúdos alternativos que refletem a diversi-
é atribuído um valor numérico armazenado na dade cultural contida não apenas nas temáticas
memória de computador. representadas mas, principalmente, nos modos
A quantidade de pixels presentes na forma- de concepção, formas de produção e problemá-
ção do quadro gera maior ou menor definição ticas contemporâneas das narrativas videográ-
visual, de modo que quanto maior o número de ficas.
pixels, mais definida é a imagem. Esta tecnolo- Nesse contexto, ainda que economicamen-
gia permite a compactação de dados aumen- te os grandes conglomerados de comunicação
tando a capacidade de captação, processamen- mantenham o domínio do mercado, é possível
to e transmissão de sinais videográficos. Além afirmar que o vídeo digital representou um im-
de garantir a manutenção da qualidade técnica, portante fator no processo de democratização
pois evita a perda de informações nos processos do acesso aos meios produtivos dos conteúdos
de reprodução, a digitalização impede a interfe- audiovisuais no contexto brasileiro. (Ana Silvia
rência de ruídos e degenerações da imagem. Lopes Davi Médola)
O vídeo digital introduziu, portanto, novas
bases para a manipulação técnica do registro Referências:
eletrônico audiovisual, inaugurando a cons- MACHADO, Arlindo. A arte de vídeo. São Pau-
tituição de formas expressivas tanto visuais, lo: Editora Brasiliense, 1988.
quanto sonoras, engendradas pela simulação a PARENTE, André (Org.). Imagem Máquina: a
partir dos procedimentos de sintetização de da- era das tecnologias do virtual. Rio de Janei-
dos. Em uma perspectiva sócio-cultural a digi- ro: Editora 34, 1993.
talização videográfica provocou alterações em
sistemas de produção, circulação e consumo
das manifestações audiovisuais, conferindo ao Vídeo documentário
vídeo diferentes aplicações e finalidades em um De um ponto de vista estritamente técnico é
contexto midiático marcado pela hegemonia da o documentário produzido e finalizado no su-
imagem eletrônica. porte eletrônico (analógico ou digital), em seus
A tecnologia digital aplicada ao vídeo con- mais variados formatos. E como todo docu-
tribuiu para a criação de novos núcleos de pro- mentário, possui diferentes estilos narrativos
dução independente, ampliando este mercado a (experimental, expositivo, observacional, inte-
partir dos anos 1990. Trata-se de uma consequ- rativo, em primeira pessoa etc.) e um desejável
ência da relativa redução do custo dos equipa- caráter autoral.
mentos que acabou por impulsionar a prolife- Mas, a noção de vídeo documentário tor-
ração de câmeras digitais e softwares de edição na-se muito mais rica, se o vídeo for visto não
de vídeo, promovendo maior acesso aos meios como mero aparato tecnológico, e sim um dis-
de produção audiovisual. positivo que permite redimensionar os modos
Como desdobramento, no caso do Brasil, de fazer e pensar as imagens, propondo novas
viu-se emergir em fins do séc. XX e primeira formas narrativas.
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Há artistas que se notarizaram pelo uso posta superficialidade e associação rasa entre
de videoclipes como forma de sedimentação imagem e música pop. (Thiago Soares)
de suas carreiras musicais. O grupo britânico
Queen protagonizou, o que autores como Raul Referências:
Durá-Grimalt (1988) e de Andrew Goodwin DURÁ-GRIMALT, Raul. Los videoclips – Prece-
(1992), consideram como “o primeiro videocli- dentes, orígenes y características. Valencia:
pe da história”. Trata-se de “Bohemian Rhap- Universidad Politécnica de Valencia, 1988.
sody”, um vídeo que foi lançado, em 1975, e que GOODWIN, Andrew. Dancing in the Distrac-
ganhou tal “título” por sua estratégia de lança- tion Factory – Music Television and Pop-
mento: foi, a primeira vez que primeiro “se viu” ular Culture. Minneapolis: University of
uma canção antes de se “ouvi-la”. Minnesota Press, 1992.
O vídeo foi lançado na TV britânica an- MACHADO, Arlindo. A Televisão Levada a Sé-
tes de que a faixa fosse distribuída nas rádios. rio. São Paulo: SENAC, 2001.
Artistas como Madonna e Michael Jackson SOARES, Thiago. Videoclipe – O Elogio da De-
também podem ser citados como exímios na sarmonia. Recife: Livro Rápido, 2004.
produção e disseminação de uma imagem mi- WEIBEL, Peter. Videos musicales: Del Vaudevi-
diática a partir dos seus videoclipes. lle al Videoville. Madrid: Telos, 1987.
No Brasil, os videoclipes tiveram, primei-
ramente, uma associação direta com a Rede
Globo, mais precisamente com os números Videoclipe e a Televisão
musicais do programa dominical “Fantástico”. O videoclipe é uma narrativa da cultura de mas-
Artistas como Fafá de Belém, Ney Matogrosso, sa fruto da soma dos recursos utilizados a par-
Elba Ramalho, entre outros, protagonizaram tir da produção fonográfica, da televisão e do
clipes exibidos no programa. Com a chegada cinema. Trata-se de uma apresentação musical
da MTV no Brasil, na década de 1990, descor- gravada e editada com imagens dos interpre-
tina-se uma produção de clipes que emerge das tes com a participação coreográfica de outros
produtoras de publicidade e traz como prota- músicos, atores e dançarinos. A produção do
gonistas artistas ligados ao pop rock nacional, videoclipe utiliza as mesmas técnicas de roteiri-
como os grupos Skank, O Rappa e Titãs, entre zação e de montagem que são características do
outros. cinema e da televisão.
A aproximação dos campos de produção O videoclipe funciona como uma amostra
do videoclipe e do cinema é premente. Há uma do produto veiculado principalmente pela tele-
série de diretores cinematográficos que ini- visão. Segundo Laura Correa o videoclipe sur-
ciaram suas atividades criando clipes (como giu para vender um pacote completo: música e
o francês Michel Gondry e o americano Spi- imagem do artista como ferramenta de apelo
ke Jonze) e grandes diretores que migraram da mercadológico.
produção fílmica para a de videoclipes (Mar- O videoclipe, tal como o conhecemos
tin Scorsese, Wong Kar-Wai, entre outros). No hoje, apareceu na televisão no final da década
entanto, o termo “filme videoclípico” pode as- de 1950 , quando a Rede de Televisão BBC lan-
sumir um tom pejorativo, associado a uma su- çou um programa intitulado “6,5 Special” des-
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vo de jogos em televisão para ser utilizado em e mais do que isso, em um movimento trans-
casa, desenvolvendo um projeto para o primei- midiático (JENKINS, 2008) um jogo pode ser
ro videogame, Odyssey, que chegou a ser co- desenvolvido para dialogar com várias mídias
mercializado no Brasil. digitais ao mesmo tempo, como história em
De acordo com Pinheiro (2006), Nolan quadrinhos, séries televisivas, filmes e livros di-
Bushnell, fundador da empresa Atari, vai se gitais. Além disso, as narrativas de um jogo, ao
inspirar na invenção de Bauer e criar os árca- perpassar as diferentes mídias influencia e é in-
des, nome dado às primeiras máquinas de jo- fluenciado pelas características e narrativas de
gos eletrônicos de vídeo, operadas por moeda. cada plataformas tecnológica.
A partir da década de 1970 , os videogames pas- O pesquisador Gonzalo Frasca (1999), do
sam a fazer parte da vida das pessoas, mas foi Instituto de Compenhague, trata da tipologia
na década de 1980 que começou o cuidado com dos games, fazendo com que o status de obje-
a criação de jogos. Depois de discussões de di- to da comunicação seja resgatado no jogo. As-
reitos autorais durante o início da indústria, a sim como o cinema, literatura, música, o jogo
Atari vai ser a pioneira em defender a criativi- se utiliza de todos esses elementos culturais,
dade e esse fator é determinante na criação de dialogando com eles, tornando os jogos produ-
novos jogos, assim como para o posicionamen- tos multimídias. Para além da estrutura lúdica,
to dos designers que se dão conta que não estão deve haver aproximação de análise com a nar-
sendo remunerados pelo trabalho intelectual, ratologia, legitimando-o a um patamar midiá-
com a criação de jogos cada vez mais comple- tico de produção. A narratologia e a ludologia
xos. Da primeira dissidência dos funcionários são campos que servem para análise dos jogos,
da Atari, é formada a empresa Activison, no co- o primeiro trabalhando com a história conta-
meço dos anos 1980, que será a pioneira no de- da e o segundo com as relações lógicas entre os
senvolvimento do processo criativo de jogos, objetos do jogo.
fazendo com que este se aproxime ainda mais Em tempos de mídias digitais e de narrati-
da forma de criação dos produtos midiáticos. vas transmidiáticas, o campo da recepção tem
O processo de produção de jogos se atua- forte presença nos estudos sobre games. Isso
liza conforme as características técnicas e nar- porque os recursos interativos permite uma
rativas exigidas pela demanda dos novos jogos. forte participação dos fans no desenvolvimen-
No início dos anos 1980 (conhecida como Era to das etapas dos jogos, cada vez mais presente,
Atari), era necessário um programador de lin- propondo desafios constantes aos autores dos
guagem Assembly, mas atualmente o proces- jogos e reivindicando níveis de participação
so de criação é mais complexo e necessita de cada vez maior.
uma equipe que inclua as áreas de roteiro, ci- Considerado o quarto produtor de jogos
nema (cenas de jogo), direção de arte, pesqui- eletrônicos do mundo, o Brasil tem nos adver-
sa (histórica ou referencial), editores de som, games (união entre os games e a comunicação
compositores e programadores de linguagem de forma direta) seu formato mais popular. Se-
também. gundo a Associação Brasileira de Games (Abra-
A equipe de produção de um jogo está es- games), esse é o nome dado aos jogos publici-
quematizada da mesma forma que as de cinema tários. Trata-se da união das palavras inglesas
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advertising (publicidade) e games (jogos). São São escolhas que têm garantido a conquista da
narrativas que tem como trama principal a ex- audiência.
posição de marca do cliente. Existem duas for- Nos anos 1960, surgiram programas ins-
mas iniciais de advergames: a primeira é quan- pirados na narração da imprensa e do rádio
do o cliente utiliza-se do jogo para fazer com populares dos fatos violentos. Foram eles: 002
que o usuário fique mais tempo em seu site. A Contra o Crime e Polícia às suas Ordens, na TV
segunda aparece através do jogo distribuído lo- Excelsior (1965/1966); A Cidade Contra o Crime
calmente (cd, cartuchos e outros dispositivos) e Longras 004, na TV Globo (1966/1968); Patru-
seduzindo diferentes públicos para sua estra- lha da Cidade, na TV Tupi (1965) e Plantão Po-
tégia. licial Canal 13, na TV Rio (1965).
De acordo com Pinheiro (2006), o jogo Na década de 1970, com a consolidação de
America’s Army do exército americano é um um “padrão de qualidade” televisiva, houve o
dos exemplos mais famosos, pois é um jogo abandono desse tipo de programação em prol
gratuito e serve para divulgar o recrutamento de tomar a objetividade e o apuro técnico como
americano. Na segunda forma de advergames principais valores dos telejornais. Nesse perío-
estão os chamados serious games, jogos que ex- do, o jornalístico Aqui e Agora, na TV Tupi, en-
ploram a atuação profissional e o treinamento tre 1979 e 1980, era uma exceção, contando com
através das narrativas interativas dos games. uma narrativa policialesca dos casos violentos.
Para Rodrigo Martino, da Universidade Nos anos 1980, a então TVS (depois SBT) in-
Metodista de São Bernardo/SP, existe a tendên- vestiu na produção de programas com a predo-
cia de consolidação de um tipo de jornalismo minante temática da violência para conquistar a
diferente para os games, que possui uma narra- audiência popular. Entre eles, destacaram-se: O
tiva que contamina as demais mídias. Em 2005, Crime e a Lei, Jornal Policial e O Povo na TV.
o jornal New York Times comparou o jornalis- Nos anos 1990, houve uma enorme pro-
mo para os games à influência dos recursos li- dução de programas sobre a violência urba-
terários no jornalismo dos anos 1960, marcado na. O Aqui Agora, no SBT (entre 1991 e 1997 e
por uma narrativa diferenciada, quase persona- depois em 2008), inovou, ao introduzir maior
lizada. (Cosette Castro) participação do repórter como narrador e per-
sonagem dos acontecimentos, rompendo com
a narrativa formal dos telejornais. Esse forma-
Violência na Televisão to inspirou a produção de mais telejornais po-
São muitas as manifestações da violência (físi- liciais: 190 Urgente e Cadeia, na CNT, Cidade
ca, psicológica, urbana, doméstica, sexual, cul- Alerta, na TV Record, Brasil Urgente, na Band,
tural, institucional). Na televisão brasileira, a Repórter Cidadão, na Rede TV!, e Linha Direta,
violência tornou-se um gênero. Muitos pro- na TV Globo.
gramas foram elaborados para representarem Na dramaturgia, associado ao sucesso dos
os fatos marcados pelo abuso excessivo da for- filmes Cidade de Deus (2002) e Tropa de Eli-
ça. A violência na televisão é, sobretudo, aque- te (2007), um filão de telenovelas violentas se
la que contém um nível de crueldade bastante abriu. Na TV Record (Prova de Amor, Poder Pa-
significativo ou a que causa escândalo público. ralelo e A Lei e o Crime) e na TV Globo (Mu-
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tensões para o processo criativo que envolve ou de uma questão, do ponto pelo qual alguém
a atualização, ou seja, o movimento de passa- pode ser atacado ou ferido” (Dicionário Auré-
gem do atual para o virtual inclui uma dinâmi- lio, 1995). O conceito vulnerabilidade é comple-
ca do particular para “uma problemática mais xo e multifacetado, sendo utilizado em distin-
geral, sobre a qual passa a ser colocada a ênfase tas áreas do conhecimento. Abrange, também,
ontológica”(LÉVY, 1996, p.18), isto é, o virtu- várias dimensões, a partir das quais é possível
al assume o lugar do significado (matriz gera- identificar diferentes graus de vulnerabilidade a
dora), em oposição à atualização particular do que estão sujeitas as organizações e as pessoas.
significante (o atual). A vulnerabilidade está associada à eventual
A virtualização amplia a variabilidade de falta ou insuficiência de capacidade da organi-
espaços e temporalidades. Novos meios de co- zação para enfrentar os problemas sabidamente
municação estabelecem modalidades diversifi- possíveis ou prováveis. A vulnerabilidade en-
cadas de tempo e espaço que diferenciam aque- volve a capacidade da empresa em tratar ade-
les que estão envolvidos, entre si, e também em quadamente as turbulências, que são as incer-
relação aos que se situam fora do novo sistema. tezas em relação ao futuro (COSTA, 2007).
Esta atribuição de valor em função das diferen- Estudo realizado por Ferrari (2000) indi-
ças é aplicada por Lévy ao processo de virtu- cou que as organizações de setores industriais
alização que caracteriza-se pelos mesmos as- ‘mais vulneráveis’, em razão do impacto dos
pectos de matriz gerativa “não-presente”, já que produtos e serviços que ofereciam e, conse-
a ampliação da comunicação e da velocidade quentemente, de sua intensa exposição pública,
compartilham a “tensão em sair de uma pre- adotavam modelos de prática de relações públi-
sença”. (Filomena Maria Avelina Bomfim) cas mais sofisticados, simétricos, de duas mãos
e seus profissionais exerciam a função de estra-
Referências: tegistas da comunicação. Por outro lado, as em-
Lumina - Facom/UFJF - v.4, n.1, p.85-96, jan/ presas ‘menos vulneráveis’, em razão do menor
jun 2001. Disponível em: <www.facom.ufjf. risco que seus produtos poderiam causar a sua
br>. reputação, adotavam modelos de prática de re-
DERRIDA, Jacques. Gramatologia. São Paulo: lações públicas de mão única ou assimétricos
Perspectiva, 1973. de duas mãos, com a participação de profissio-
LÉVY, Pierre. O Que é Virtual?. Rio de Janeiro: nais com perfil mais técnico e tático do que de
Editora 34, 1996. estrategista.
. As Tecnologias da Inteligência. Rio de A pesquisa também apontou que o maior
Janeiro: Editora 34, 1993. ou menor grau de vulnerabilidade das organi-
zações depende, fundamentalmente, da maior
ou menor ação interveniente de dois tipos de
Vulnerabilidade das organizações agentes: os externos que são os riscos, ameaças
O termo vulnerabilidade, originário do vocá- e impactos oriundos do micro e macro entor-
bulo vulnerável, latim vulnerabilis, substanti- no; e os internos, que são inerentes à atuação
vo feminino, significa “que pode ser vulnera- dos colaboradores e resultante das percepções
do, assim como é o lado fraco de um assunto que eles têm da organização.
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W, w
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ciado uma aproximação crescente entre pesso- co na internet e não mais por uma frequência
as e/ou instituições que desenvolvem interesses sintonizada em um aparelho receptor de on-
por assuntos ou temas semelhantes. das hertzianas (PRATA, 2008, p. 2). O ouvin-
O sistema de navegação entre as páginas te, através de microcomputador conectado à
foi criado em 1993, por Marc Andressen, do rede, consegue sintonizar estações baseadas em
National Center for Supercomputing Apllica- qualquer cidade, país ou continente (MOREI-
tion (NCSA), mais tarde chamado de Netscape, RA, 2001, p. 215). Por ser uma iniciativa rela-
a partir de 1994, graças a Jim Clark, fundador tivamente recente, não há legislação específica
dos Gráficos de Silicone. Isso permitiu o cresci- para controlar o surgimento e a atuação de web
mento fulgurante da web, de 50 servidores, em rádios no Brasil. Com isso, a censura desapare-
janeiro de 1993, para 500, em outubro daquele ce: nem o Estado ou os anunciantes podem im-
mesmo ano; mais de dez mil, em fins de 1994, pedir a transmissão de uma programação, seja
e assim por diante. Os protocolos que viabili- ela musical, jornalística, política, religiosa ou
zam a web são: um protocolo de comunicação de qualquer outro conteúdo (BARBEIRO, 2001,
(HTTP – Hyper Text Transmission Protocol); p. 35).
um protocolo de apresentação de documentos A migração do rádio para a rede mundial
(HTML – Hyper Text Mark up Language) e um de computadores ocorre em meados da déca-
protocolo de endereçamento (URL – Uniform da de 1990. Emissoras convencionais, que exis-
Resource Locator), o que permite a interativi- tiam previamente, passam a utilizar o meio
dade e a absoluta mobilidade de todo o sistema, digital para fins institucionais. Informações so-
que se torna totalmente vinculado entre si. A bre empresas e comunicadores, além de pro-
WEB atualmente é coordenada por um consór- gramação gravada ou ao vivo, ficam disponí-
cio (http://www.w3.org). (Antonio Hohlfeldt) veis em páginas da web (ALVES, 2003, p. 5).
No entanto, a transmissão radiofônica de um
Referências: mesmo conteúdo simultaneamente na web e
BALLE, Francis (Org.). Dictionnaire des mé- em uma frequência convencional não configu-
dias. Paris : Larousse, 1998. ra, segundo especialistas, uma web rádio, vis-
COSTA, Carlos Irineu. Glossário. In: LEVY, to que esta caracteriza-se por conteúdo pro-
Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, duzido e veiculado exclusivamente para a rede
2001. (PRATA, 2008, p. 2).
OTMAN, Gabriel. Dicionário da cibercultura. Um dos principais fatores que, hoje, faci-
Lisboa: Piaget, 2001. litam a difusão pela internet, em tempo real, é
RODRIGUES, Adriano Duarte. Dicionário bre- a tecnologia de fluxo contínuo de informação
ve da informação e da comunicação. Lisboa: ou streaming. Através dela, os arquivos de áu-
Presença, 2000. dio são enviados em partes ao receptor. Na prá-
tica, o ouvinte acompanha o conteúdo, sem a
necessidade de interrupções, enquanto ocorre
Web Rádio a transferência de dados (TRIGO-DE-SOUZA,
Trata-se de uma emissora radiofônica que pode 2004, p. 294). (Luciano Klöckner)
ser acessada através de um endereço eletrôni-
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acessíveis. Este desafio é mais explícito na con- No Brasil já funcionam vários canais de
figuração de rádios web regionais que se pro- TV transmitindo via Internet. A TV UOL foi a
ponham a manter as características interativas primeira emissora de televisão a ter sua progra-
do veículo, para além de um menu de músicas mação transmitida pela Internet. A TV UOL,
digitais e serviços de entretenimento, aprovei- que integra o portal Universo Online , come-
tando o espectro ilimitado da zona de cobertu- çou a transmitir em 1997. Suas primeiras trans-
ra do áudio. (Sonia Aguiar Lopes) missões foram feitas no formato VDOLive, ten-
do usado também o Windows, Media e o Real
Referências: Media. Atualmente suas transmissões são reali-
BARBOSA, Suzana. Jornalismo digital e a in- zadas no formato do Adobe Flash. A programa-
formação de proximidade: o caso dos por- ção da TV UOL é distribuída em vinte canais,
tais regionais, com estudo sobre o Uai e o cada um destinado a um gênero de programa,
IBahia. Dissertação de Mestrado em Co- sendo a maioria deles assistidos sob demanda.
municação e Cultura Contemporâneas, Além de programas produzidos pela própria
Departamento de Comunicação Social. TV UOL , este canal de Web-TV retransmite
Salvador: Universidade Federal da Bahia, também, em tempo real, os canais BandNews e
2002. Disponível em: <http://www.facom. BandSports.
ufba.br/jol/pdf/2002_barbosa_disserta- Entre outras emissoras de Web-TV desta-
cao_mestrado.zip>. cam-se a PlayTV e allTV. A PlayTV foi inaugu-
CASTELLS, Manuel. A galáxia da Internet: re- rada em junho de 2006 substituindo a Rede 21
flexões sobre a internet, os negócios e a so- em parceria com o grupo Bandeirantes. Com a
ciedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. quebra do contrato com a Band, tornou-se ca-
Morais, Luis de la Orden. Elementos da aces- nal fechado sendo transmito pela SKY Brasil e
sibilidade linguística e cultural. Londres: s/ pela Net. Sua grade de programas está calcada
ed, 2006. Disponível em: <http://www.we- em informações sobre música e jogos. A Rede
balorixa.net/artigos/acessibilidade/acessi- 21 voltou a transmitir em julho de 2008.
bilidade-contextualizacao-linguistica-01. A allTV foi fundada no dia 6 de maio de
html>. 2002, pelo jornalista Alberto Luchetti Neto, e
se caracteriza como sendo a primeira emissora
de TV no formato crossmedia a operar no país,
Web-TV e TV-IP transmitindo 24 horas. O diferencial da allTV é
A Web-TV, ou TV-IP, é caracterizada pela interatividade dos seus internautas/expectado-
transmissão de programas televisivos (sinais de res. A allTV pode ser acessada no seguinte en-
vídeo e áudio) via Internet com alta qualida- dereço eletrônico: www.tv-aovivo.com.
de, dependendo apenas de uma conexão Banda Com as novas tecnologias e a convergência
Larga. Os programas ao vivo ou gravados de- das mídias, os tradicionais veículos de comu-
vem ser codificados de forma que atendam os nicação (jornal, rádio e televisão aberta) estão
requisitos técnicos da nova mídia. A Web-TV lançando mão da internet para, também, ofere-
permite a transmissão e a recepção de sinais de cer outras informações com recursos que antes
TV via Internet. não tinham acesso.
1231
enciclopédia intercom de comunicação
Os jornais passaram a oferecer aos seus lei- Através de conexões Wi-Fi é possível se
tores além de informações de texto online, ima- conectar em redes locais e, através destas, à
gens gravadas em vídeo ou de áudio das cober- internet. O aparelho Wi-Fi que permite esta
turas jornalísticas realizadas. As emissoras de conexão é chamado de ponto de acesso ou ac-
televisão por sua vez passaram também a dis- cess point (AP). Estes pontos podem ser priva-
ponibilizar em seus sites os textos das notícias dos, protegidos por senhas e sistemas de crip-
transmitidas. tografia, e são pagos ou podem ser públicos e
Com o advento da internet, das mídias tra- gratuitos.
dicionais, quem mais se beneficiou do processo Nesse caso, chamados de Wi-Fi hotspots.
foram as emissoras de rádio que agora além da Lojas, aeroportos, shopping centers, cafés, hotéis
transmissão do áudio, já lançam mão dos re- e outros estabelecimentos costumam oferecer
cursos da Web-TV para transmitir ao vivo suas pontos de acesso a seus clientes, muitas vezes
programações, além de colocar notícias de tex- de forma gratuita. Muitas cidades, no mundo
to em seus respectivos websites. Por meio dos inteiro, estão criando redes públicas sem fio,
recursos da Web-TV ou TV-IP os veículos per- com acesso gratuito ou de baixo custo. Esses
mitem aos seus usuários uma maior interativi- municípios são chamados genericamente de ci-
dade. (Sérgio Mattos) dades digitais. No Brasil, existem várias cidades
digitais, entre elas Piraí (RJ) e Belo Horizonte
(MG).
Wi-Fi Embora o Wi-Fi tenha alcance médio de 50
O termo Wi-Fi é usado, largamente, como si- metros, a tecnologia de redes mesh pode per-
nônimo de rede sem fio, que caracteriza um mitir seu uso para integrar digitalmente comu-
hotsopt (local onde há rede). No entanto, tra- nidades com alta concentração populacional.
ta-se de uma marca registrada da Wi-Fi Allian- Mesh é uma rede formada por vários pontos de
ce aplicada a dispositivos certificados baseados acesso, todos conectados entre si. Dessa forma,
nas normas IEEE 802.11. Entre os dispositivos um ponto de acesso central - numa escola, por
que normalmente dispõem de Wi-Fi, estão exemplo - pode ser compartilhado por mora-
computadores de mesa, computadores portá- dores situados a quilômetros de distância da
teis (laptops, notebooks, netbooks), telefones ce- escola.
lulares (telemóveis), consoles de videogames, Um serviço que vem se tornando popular
câmeras de segurança, impressoras e periféri- no mundo, a partir da Espanha, é o chamado
cos de computadores. FON, em que os associados (foneros) compar-
As vantagens do Wi-Fi sobre redes cabea- tilham seu ponto de acesso com outras pesso-
das é a praticidade e o baixo investimento na as através de um software especial instalado no
criação da rede, já que não há necessidade de ponto de acesso. Assim, uma pessoa pode aces-
instalação de tomadas e cabos de rede pelo am- sar a rede sem fios longe de sua casa, pelos pon-
biente. Entre as desvantagens, está a velocidade tos de acesso de outros foneros. (José Antonio
menor de conexão. Meira)
1232
Z, z
baralhar seus canais, pondo fim a uma espécie da duração inquieta da imagem. A televisão se
de “linguagem administrativa” das emissoras de configuraria, portanto, no meio que instaura a
TV. O zapping altera, portanto, o funcionamen- premissa do eterno devir. (Thiago Soares)
to “normal” da televisão e instaura uma cultura
audiovisual que se baseia fundamentalmente Referências:
no fragmento. DANEY, Serge. Le Salaire du Zappeur. Paris:
O ato de zapear pode ser desdobrado, tam- Ramsay, 1988.
bém, a partir da “retranca” teórica do “devir”, MACHADO, Arlindo. Máquina e Imaginário.
de Gilles Deleuze. Zapeia-se em função de se São Paulo: EDUSP, 2001.
reconhecer que a permanência do espectador DELEUZE, Gilles. Imagem-Tempo. São Paulo:
diante do produto audiovisual é sempre pau- Braziliense, 2005.
tada pela inquietação do que vem “a seguir”,
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vi – lista dos autores em
ordem alfabética
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enciclopédia intercom de comunicação
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enciclopédia intercom de comunicação
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