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Capı́tulo 7

A equação das ondas I:


Oscilações transversais

Deriva-se a equação geral das ondas transversais e obtem-se a equação linear


das ondas. Determinam-se soluções de equilı́brio e soluções estacionárias com
condições fronteira finitas. Deriva-se a solução de d’Alembert em meios infinitos
e estudam-se casos simples de reflexão de ondas com vários tipos de condições
fronteira. É deduzida a expressão geral da energia para a equação das ondas
e analisa-se o fenómeno de ressonância. Introduzem-se o conceitos de soluções
fortes e fracas de uma equação às derivadas parciais.

7.1 A equação das ondas


Quando se percute levemente uma corda presa sob tensão, gera-se um movimento
oscilatório transversal. Vamos então deduzir a equação do movimento oscilatório
transversal de uma corda de densidade linear de massa ρ. Por agora, vamos consi-
derar que ρ ≡ ρ(x, y,t).
Considere-se um troço de corda entre dois pontos de coordenadas ra e rb , como
se indica na figura 7.1. No plano (x, y), cada ponto da corda tem coordenadas,

r = 0 + x�ex + y(x) �ey

e o vector tangente em cada ponto da corda é,


� � �2
dr ∂y ∂y
�v = = 1�ex + �ey e ||�v|| = 1+
dx ∂x ∂x

A força total que actua um segmento de corda [a, b] é igual à soma da força
exterior por unidade de comprimento �Fext (x, y,t) = Fext (x, y,t)�ey , com a força de
tensão �T . A força de tensão é responsável pela coesão da corda, isto é, a tensão é
uma força de ligação, tangente em cada ponto da corda. Impondo que a corda não

69
70 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

Figura 7.1: Posição geral de uma corda no plano x-y, presa sob tensão nos pontos
ra e rb .

se parte, a resultante da força de tensão é diferente de zero nos extremos da corda.


No interior da corda, a força de tensão é anulada pelas forças de coesão molecular.
Como em cada ponto da corda a tensão actua na direção da tangente à corda, a
força total que actua a corda no segmento [a, b] é,
�b


� b
�ex + ∂∂ xy �ey �
�Ft (x, y,t) = �Fext (x, y,t) dx + T (x, y,t) � �
a
� �2 � .

1 + ∂∂ xy �
a

Como se está a considerar que não existe movimento longitudinal, a componente


segundo �ex da força total é necessariamente nula e T (x, y,t) ≡ T (y,t). Pode-se
assim escrever para a componente vertical da força,
 
� b � b
∂ 
∂y � 1 

Ft (y,t) = Fext (x, y,t) dx + T (y,t)  � �2  dx (7.1)
a a ∂x ∂x
1 + ∂∂ xy

em que, para simplificar a notação, Ft é a componente segundo �ey de �Ft e Fext é a


componente segundo �ey da força exterior por unidade de comprimento.
Por outro lado, como a variação do momento linear da corda no segmento [a, b]
é, � b
d ∂y
ρ(x, y,t) dx (7.2)
dt a ∂t
pela segunda lei de Newton, a força total que actua a corda na região espacial
[a, b] é igual à variação do momento linear total, pelo que, igualando (7.1) a (7.2),
obtem-se,
 
� b � b � b
d ∂y ∂ 
∂y � 1 

ρ(x, y,t) dx = T (y,t) � �2  dx + Fext dx . (7.3)
dt a ∂t a ∂x ∂x ∂y a
1 + ∂x
7.1. A equação das ondas 71

Assumindo que ρ(x, y,t) ≡ ρ(x, y), a equação anterior escreve-se,


 
∂ 2y ∂ ∂y � 1


ρ(x, y) = T (y,t) � �2  + Fext (x, y,t) (7.4)
∂t 2 ∂x ∂x
1 + ∂∂ xy

ou seja,

∂ 2y ∂ 2y 1
ρ(x, y) = T (y,t) � �2 �3/2 + Fext (x, y,t) . (7.5)
∂t 2 ∂x 2 �
∂y
1 + ∂x

A equação (7.5) é a equação das ondas transversais e descreve o movimento


transversal de uma corda.
Para o caso dos movimentos transversais de pequena amplitude relativamente a
uma posição de equilı́brio, pode-se introduzir na equação (7.4) o desenvolvimento
de Taylor,
� �
1 1 ∂y 2
� � �2 = 1 − + O(4)
∂y
2 ∂x
1 + ∂x

obtendo-se,
∂ 2y ∂ 2y
ρ(x, y)
= T (y,t) + Fext (x, y,t) . (7.6)
∂t 2 ∂ x2
No caso particular em que T e ρ são constantes, a equação (7.6) reduz-se a,

∂ 2y 2
2∂ y 1
= c + Fext (x, y,t) (7.7)
∂t 2 ∂x 2 ρ

em que c2 = T /ρ. Com, [T ] = kg ms−2 e [ρ] = kg m−1 , vem que, [c2 ] = m2 s−2 e a
constante c tem as dimensões de uma velocidade.
A equação (7.7) é designada por equação linear das ondas transversais ou,
simplesmente, por equação das ondas. Assim, a equação das ondas é uma equação
de movimento aproximada.
No caso dos deslocamentos transversais de uma membrana elástica, a equação
que descreve os pequenos deslocamentos transversais é,
� �
∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ
= c2 + 2 . (7.8)
∂t 2 ∂ x2 ∂y

As oscilações transversais de corpos extensos são descritas pela equação,


� �
∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ ∂ 2φ
= c2 + 2+ 2 . (7.9)
∂t 2 ∂ x2 ∂y ∂z
72 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

7.2 Soluções de equilı́brio da equação das ondas


Vai-se analisar a forma de uma corda com extremos fixos e em equilı́brio no campo
gravı́tico e determinar a tensão T .
A força exterior por unidade de comprimento que actua uma corda num campo
gravı́tico por unidade de comprimento é Fext = −ρg, em que g é a aceleração da
2
força da gravidade1 . Supondo que a corda está em equilı́brio, ∂∂t 2y = 0, a equação
das ondas (7.7) reduz-se à equação diferencial,

d 2 y ρg
=
dx2 T
A solução desta equação diferencial é,
� ρg �
y(x) = a + bx + x2
2T
em que a e b são constantes a determinar. Introduzindo nesta solução as condições
ρg
de extremos fixos, y(0) = y(L) = 0, vem que, a = 0, b = − 2T L e a solução de
equilı́brio da corda é, � ρg �
y(x) = x(x − L)
2T
Assim, no equilı́brio, a corda tem a forma de uma parábola que passa pelos pontos
y(0) = y(L) = 0, figura 7.2. Calculando a altura da parábola no ponto y(L/2), a
corda tem um vão de altura h = ρgL2 /8T . Medindo a altura do vão e sabendo a
densidade da corda, pode-se determinar a tensão T . Esticando a corda de modo a
que o seu comprimento seja L, a tensão nos extremos da corda torna-se infinita.

Figura 7.2: Solução de equilı́brio de uma corda num campo gravı́tico e presa nos
extremos.

7.3 Soluções estacionárias da equação das ondas.


Veja-se agora como obter a forma geral das soluções estacionárias da equação li-
near das ondas (7.7), para o caso em que Fext = 0. Considera-se uma corda ligada
em dois pontos e o movimento transversal da corda ocorre no plano que contem
toda a corda, incluindo os extremos. Pode-se ainda considerar que os extremos da
Fext = −GMm/r2�er . À superfı́cie da
1 Como o potencial gravı́tico é V (r) = −GMm/r, vem que, �

Terra, r = RT , pelo que, Fext = −mg, em que g = GM/R2T .


7.3. Soluções estacionárias da equação das ondas. 73

corda estão fixos nos pontos de coordenadas x = 0 e x = L e que a corda está presa
sob tensão. A forma da corda no instante t ≥ 0 é descrita por uma função ψ(x,t),
com x ∈ [0, L]. A função ψ(x,t) tem de ser solução da equação das ondas (7.7).

Figura 7.3: Condição inicial de uma corda presa nos extremos x = 0 e x = L.

A determinação da função ψ(x,t), pertencente a um espaço de Hilbert, só vai


ser possı́vel se forem especificadas a posição inicial e a velocidade inicial da corda,
assim como as condições fronteira. Assim, para determinar as soluções da equação
linear das ondas, introduzem-se as seguintes condições:
1) Posição inicial da corda no instante t = 0: ψ(x,t = 0) = f (x), figura 7.3.
∂ψ
2) Velocidade inicial da corda no instante t = 0: ∂t (x,t) |t=0 = g(x).

3) Condição fronteira: ψ(x = 0,t) = ψ(x = L,t) = 0, para todo o t ≥ 0.


As condições 1)-3) designam-se por condições de Cauchy.
Procure-se então a solução geral da equação das ondas (7.7), com Fext = 0
e sujeita às condições de Cauchy 1)-3). Assumindo que, para cada valor de t,
ψ(x,t) ∈ L2 ([0, L]), a equação das ondas pode ser vista como a equação,

∂ 2ψ
= Tψ
∂t 2
2
em que T = c2 ∂∂x2 : L2 ([0, L]) → L2 ([0, L]) é um operador num espaço de Hilbert.
Como foi visto no Exercı́cio 4.2 b), para as condições fronteira 3), o operador
T tem um espectro discreto com uma infinidade numerável de vectores próprios.
Designe-se por ψn os vectores próprios de T , a que correspondem os valores
próprios λn (T ψn = λn ψn ). Estes vectores próprios não geram todo o espaço de
Hilbert L2 ([0, L]), mas sim um subespaço vectorial H ⊂ L2 ([0, L]) constituı́do pe-
las funções que se anulam em x = 0 e x = L. Assim, para as condições fronteira
consideradas, podemos assumir que a solução da equação das ondas se pode escre-
ver na forma ψ(x,t) = ∑n cn (t)ψn (x), em que os cn (t) são funções a determinar.
Isto decorre do facto da equação (7.7) ser linear e qualquer solução que obedeça
às condições de Cauchy tem de estar necessariamente em H. Nestas condições, a
solução da equação das ondas (7.7) pode ser determinada resolvendo as equações
2
diferenciais, ddtc2n = λn cn .
Como se viu no Exercı́cio 4.2 b), ψn (x) = sin(nπx/L) a que corresponde o valor
próprio λn = −n2 π 2 /L2 . Então, a equação para a determinação das constantes cn
é, c̈n + cn n2 π 2 /L2 = 0, que coincide com a equação diferencial (7.14) determinada
74 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

mais à frente. A solução geral da equação das ondas, obedecendo às condições de
Cauchy 1)-3), pode ser escrita na forma,

πn
ψ(x,t) = ∑ cn (t) sin L
x (7.10)
n=1

o que mostra que, por comparação com a série de Fourier e para t fixo, ψ(x,t)
está apenas definido num subespaço de dimensão infinita do espaço de Hilbert
L2 ([0, L]). Esta restrição foi obtida através das condições fronteira, ψ(0,t) =
2
ψ(L,t) = 0. Neste subespaço H ⊂ L2 ([0, L]), o operador T = c2 ∂∂x2 é limitado
e auto-adjunto (Exercı́cio 4.2b)).
Faça-se agora uma construção mais explı́cita da solução da equação das ondas,
obedecendo às condições de Cauchy 1)-3). Nesta construção, vamos obter uma
solução da forma (7.10), como não poderia deixar de ser.
Como, L2 ([0, L]) é um espaço vectorial e cada termo do somatório

∑ cn (t)ψn (x)
n

é um produto de duas funções, uma dependente de x e outra de t, pode-se assumir


que a solução da equação das ondas tem a forma (separada) genérica,

φ (x,t) = G(t) F(x) .

Substituindo a função φ (x,t) na equação das ondas, obtem-se,

F �� (x) 1 G�� (t)


= 2 .
F(x) c G(t)
Como ambos os membros da igualdade anterior são iguais e dependem de variáveis
independentes, só se pode ter,

F �� (x) = σ F(x) e G�� (t) = σ c2 G(t) (7.11)

em que σ é uma constante. A primeira equação em (7.11) é a equações aos valores


próprios do operador segunda derivada que actua no espaço de Hilbert das funções
cujo domı́nio é o intervalo [0, L]. Pelas condições fronteira 3), tem-se que,

φ (0,t) = φ (L,t) = 0 ⇒ F(0) G(t) = F(L) G(t)

ou seja,
F(0) = F(L) = 0 .
Caso contrário, G(t) = 0 para todo o t ≥ 0.
Pode-se agora resolver a equação aos valores próprios com a condição fronteira
F(0) = F(L) = 0. A solução geral da equação aos valores próprios é,
√ √
σx σx
F(x) = Ae + Be− .
7.3. Soluções estacionárias da equação das ondas. 75

Com as condições fronteira 3),



F(0) = A +√B = 0 √
F(L) = Ae σ L + Be− σ L = 0
vem que, √ �
2A sinh( σ L) = 2iA sin( |σ |L) = 0 .
Esta relação só é verificada se,
� n2 π 2
|σ |L = nπ ou seja σn = − (7.12)
L2
com n ≥ 1. Então, a solução da equação aos valores próprios (7.11) é,
� nπ nπ
� nπ
Fn (x) = A ei L x − e−i L x = 2iA sin x (7.13)
L
e, Fn (x) = 2iA sin nπ 2 2 2
L x é o vector próprio associado ao valor próprio σn = −n π /L ,
com n ≥ 1.
A equação em t em (7.11), é agora,

π 2 n2
G��n (t) + c2 Gn (t) = 0 (7.14)
L2
que tem a solução geral,
cnπ cnπ
Gn (t) = An ei L t
+ Bn e−i L t
cnπ cnπ
= (An + Bn ) cos t + i(An − Bn ) sin t.
L L
Assim, a solução da equação das ondas, correspondente ao valor próprio σn =
−n2 π 2 /L2 , é,
πn cπn πn cπn
φn (x,t) = Gn (t) Fn (x) = an sin x cos t + bn sin x sin t
L L L L
em que an e bn são constantes a determinar pelas condições iniciais 1) e 2).
Como a equação das ondas é linear, o princı́pio de sobreposição é aplicável, e
a solução geral da equação das ondas associada às condições de Cauchy 1) – 3) é,

ψ(x,t) = ∑ φn (x,t)
n=1
∞ �
πn cπn πn cπn �
= ∑ an sin
L
x cos
L
t + b n sin
L
x sin
L
t (7.15)
n=1
∞ �
cπn cπn � πn
= ∑ an cos t + bn sin t sin x
n=1 L L L

que coincide evidentemente com (7.10).


76 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

Impondo a condição inicial 1),



πn
ψ(x, 0) = f (x) = ∑ an sin L
x. (7.16)
n=1

Multiplicando a expressão anterior por sin πn


L x e integrando no intervalo entre [0, L],
obtem-se, �
2 L nπ
an = f (x) sin x dx .
L 0 L
Assim, as constantes an da solução (7.15) da equação das ondas determinam-se
desenvolvendo em série de Fourier a função f (x). De igual modo, a condição 2)
implica que,

∂ cπn πn
ψ(x,t) |t=0 = g(x) = ∑ bn sin x . (7.17)
∂t n=1 L L
Multiplicando esta expressão por sin πnL x e integrando no intervalo [0, L], os coefi-
cientes bn da solução da equação das ondas determinam-se através da velocidade
instantânea na corda, � L
2 nπ
bn = g(x) sin x dx
cπn 0 L
Está assim determinada a solução geral da equação das ondas com extremos
fixos e sujeita às condições de Cauchy 1)–3).
Nas condições do problema de Cauchy, a solução da equação das ondas com
extremos fixos é, para cada t, um elemento do espaço de Hilbert L2 ([0, L]). Como
a equação das ondas envolve segundas derivadas em ordem ao espaço, tem que se
ter necessariamente, para cada t, φ (x,t) ∈ L2 ([0, L]) ∩ C2 ([0, L]). Claro está que,
f , g ∈ L2 ([0, L]) ∩ C2 ([0, L]). Nestas condições, diz-se que φ (x,t) ∈ L2 ([0, L]) ∩
C2 ([0, L]) é uma solução forte da equação das ondas. No entanto, as expressões
(7.15)-(7.17) são formalmente válidas para o caso mais geral em que φ (x,t) ∈
L2 ([0, L]), obedecendo às condições fronteira 3). Mais à frente, veremos que a
solução (7.15) é ainda válida nestas novas condições.

Exemplos simples. Considere-se a condição inicial da corda f (x) = sin πx


L e a
velocidade inicial g(x) = 0. Assim,
� L
2 πx
bn = 0 , an = 0 , n ≥ 2 e a1 = sin2 dx = 1
L 0 L
e,
π cπ 1 π 1 π
ψ(x,t) = sin x · cos t = sin (x − ct) + sin (x + ct) (7.18)
L L 2 L 2 L
A solução ψ(x,t) escreve-se como a soma de duas soluções do tipo onda pro-
gressiva. Então o movimento transversal pode ser interpretado como a sobreposição
de duas ondas progressivas que se propagam em sentidos contrários, com veloci-
dades c e −c. Na figura 7.4, está representada a evolução temporal da solução
7.3. Soluções estacionárias da equação das ondas. 77

Figura 7.4: Evolução temporal da solução estacionária (7.18) e das ondas progres-
sivas com velocidades c e −c. Neste caso particular, os perfı́s das duas ondas
progressivas coincidem nos instantes t = 0 e t = L/c.
78 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

estacionária (7.18), assim como a evolução temporal das ondas progressivas com
velocidades c e −c.
Calcule-se agora a velocidade transversal de um ponto x = x∗ da corda. Por
(7.18),
∂ψ cπ π cπ
|x=x∗ = − sin x∗ sin t
∂t L L L
Assim, a velocidade das oscilações ou velocidade transversal é uma função periódica
no tempo, enquanto que a constante c está relacionada com a velocidade de propa-
gação das ondas progressivas.
No caso particular em que, f (x) = sin 2π
L x e g(x) = 0, a solução da equação das
ondas tem a forma, figura 7.5,

2π 2πc 1 2π 1 2π
ψ(x,t) = sin x · cos t = sin (x − ct) + sin (x + ct) (7.19)
L L 2 L 2 L
Isto sugere que a solução geral da equação das ondas se pode decompor na
soma de duas ondas progressivas. De facto,

πn cπn πn cπn
ψ(x,t) = ∑ an sin L
x cos
L
t + bn sin x sin
L L
t
n=1
1 ∞ πn πn
= ∑
2 n=1
an sin (x − ct) + bn cos (x − ct)
L L (7.20)
1 ∞ πn πn
+ ∑ an sin (x + ct) − bn cos (x + ct)
2 n=1 L L
:= ϕ1 (x − ct) + ϕ2 (x + ct)

E a solução geral da equação das ondas pode ser posta como a sobreposição de
duas ondas progressivas, ϕ1 (x − ct) e ϕ2 (x + ct), com velocidades c e −c, respecti-
vamente. A solução ψ(x,t) em (7.20), designa-se por solução estacionária ou onda
estacionária. Mais à frente iremos ver que isto corresponde a um resultado geral
para as soluções da equação linear das ondas.
As soluções particulares φn (x,t) da equação das ondas, (7.15), designam-se por
modos próprios de vibração. Cada modo próprio corresponde a uma frequência de
oscilação diferente. Então, da expressão geral de ψ(x,t), (7.20), decorre que a
frequência de vibração transversal associada ao modo próprio φn (x,t) é,
cnπ nc
2πωnt = t ⇒ ωn = (Hertz)
L 2L
ou ainda, �
n T
ωn = (Hertz) (7.21)
2L ρ
em que ρ é a densidade por unidade de comprimento da corda e T é a tensão. A
relação (7.21) é a Lei de Mersenne. Nesta expressão estão contidos os princı́pios
para a construção dos instrumentos musicais de cordas: a) a frequência de vibração
7.3. Soluções estacionárias da equação das ondas. 79

Figura 7.5: Evolução temporal da solução estacionária (7.19) e das ondas progres-
sivas com velocidades c e −c. Neste caso particular, os perfı́s das duas ondas
progressivas coincidem nos instantes t = 0 e t = L/2c.
80 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

aumenta quando o comprimento da corda diminui; b) a frequência aumenta quando


a tensão aumenta; c) quanto mais densa é a corda ou maior a secção da corda, a
frequência de vibração é menor.
No caso da equação das ondas a duas dimensões — equação (7.8) — que des-
creve o movimento oscilatório de uma membrana, pode-se fazer uma análise se-
melhante (Exercı́cio 7.8). Neste caso, os modos próprios de vibração são indexa-
dos por dois ı́ndices a que correspondem vectores próprios do espaço de Hilbert
L2 ([0, L] × [0, L]). Na figura 7.6, estão representados alguns modos próprios de
vibração de uma membrana rectangular e de uma membrana circular.

Figura 7.6: Modos próprios de vibração da equação das ondas a duas dimensões
— (7.8). Estão representados os primeiros modos próprios de vibração de uma
membrana rectangular e de uma membrana circular.

Para analisar a consistência das soluções da equação das ondas do ponto de


vista da sua interpretação fı́sica, calcule-se o comprimento da corda em função do
tempo (�(t)), para o caso particular da solução (7.18). Com, ψ(x,t) = A sin πL x ·
cos cπ
L t, o comprimento da corda é,
� � �
� L
∂ψ 2
�(t) = 1+ dx
0 ∂x
� L � � �

(−1)n (2n − 3)!! L ∂ ψ 2n
= dx − ∑ dx
0 n=1 (2n)!! 0 ∂x
π 2 A2 cπt 2 3π 4 A4 cπt 4
= L+ cos( ) − 3
cos( ) +···
4L L 64L L
sendo portanto uma função do tempo. Como a massa da corda é constante, a
densidade linear da corda por unidade de comprimento tem de variar com o tempo.
Como c2 = T /ρ é constante, tem de se ter necessariamente c2 = T (t)/ρ(t), ou
seja, a tensão e a densidade linear variam ao longo do tempo. Ora isto contraria
7.4. Teorema de d’Alembert. 81

as simplificações feitas na dedução da equação das ondas (de (7.2) para (7.4)),
pelo que a equação das ondas só é uma boa aproximação para valores de L muito
grandes, quando comparados com a amplitude de vibração, A2 << 4L/π 2 .

7.4 Teorema de d’Alembert.


Pode-se detrminar a solução da equação linear das ondas para uma corda infinita
em que não são especificadas as condições fronteira.

Teorema 7.1 (d’Alembert). A solução geral da equação das ondas,

∂ 2ψ 2
2∂ ψ
= c
∂t 2 ∂ x2
com x,t ∈ R, é,
ψ(x,t) = ϕ1 (x − ct) + ϕ2 (x + ct)
em que, ϕ1 (x), ϕ2 (x) ∈ C2 (R). Em particular,
� x+ct
f (x − ct) + f (x + ct) 1
ψ(x,t) = + g(s)ds (7.22)
2 2c x−ct

em que, ψ(x, 0) = f (x) ∈ C2 (R) e ∂∂tψ (x,t)|t=0 = g(x) ∈ C2 (R) são, respectiva-
mente, a posição inicial e a velocidade inicial da corda.

Demonstração. Começe-se por rescrever a equação das ondas nas novas variáveis,

u = x − ct
(7.23)
v = x + ct

Com, 

 ∂ ∂ ∂
 = +
∂x ∂u ∂v


 ∂ ∂ ∂
= −c + c
∂t ∂u ∂v
por substituição na equação das ondas, vem a equação na sua forma hiperbólica,

∂2
ψ(u, v) = 0
∂ u∂ v
cuja solução geral é,
ψ(u, v) = ϕ1 (u) + ϕ2 (v) . (7.24)
A primeira parte do teorema está assim demonstrada.
Com, ψ(x, 0) = f (x) e ∂∂tψ (x,t = 0) = g(x), por (7.23) e (7.24), tem-se que,

ϕ1 (x) + ϕ2 (x) = f (x)
(7.25)
−cϕ1� (x) + cϕ2� (x) = g(x)
82 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

Derivando a primeira equação em (7.25) e resolvendo o sistema em ordem às deri-


vadas de ϕ1 e ϕ2 , obtem-se,

 1 � 1
 ϕ1 (x) =
 �
f (x) − g(x)
2 2c

 1 � 1
 ϕ2� (x) = f (x) + g(x)
2 2c
ou seja,  �
 1 1 x
 ϕ1 (x) = ϕ1 (0) + ( f (x) − f (0)) −
 g(s)ds
2 2c 0
� (7.26)

 1 1 x
 ϕ2 (x) = ϕ2 (0) + ( f (x) − f (0)) + g(s)ds
2 2c 0
para todo o x ∈ R. Com as substituições x → u na primeira equação em (7.26) e
x → v na segunda equação, obtemos,

ψ(x,t) = ϕ1 (u) + ϕ2 (v) = ϕ1 (x − ct) + ϕ2 (x + ct)


� x+ct
f (x − ct) + f (x + ct) 1
= + g(s)ds
2 2c x−ct

em que, por (7.25), se usou a relação, ϕ1 (0) + ϕ2 (0) = f (0).

O teorema de d’Alembert estabelece que a solução geral da equação das ondas


é a combinação linear de duas soluções que se deslocam com velocidades c e −c.
Como já foi referido atrás, convencionou-se chamar ondas progressivas às soluções
ϕ1 (x − ct) e ϕ2 (x + ct) e onda estacionária à solução ψ(x,t) = ϕ1 (x − ct) + ϕ2 (x +
ct).
A fórmula de d’Alembert para a solução da equação das ondas pode ser apli-
cada a problemas com condições fronteira finitas. Suponha-se então que se tem a
condição fronteira, ψ(0,t) = ψ(L,t) = 0. Com, ψ(u, v) = ϕ1 (x − ct) + ϕ2 (x + ct),
para x = 0, tem-se que, ϕ1 (−ct) = −ϕ2 (ct), para todo o t ∈ R, e portanto,

ϕ1 (−x) = −ϕ2 (x) .

Para que esta relação se verifique para todo o x ∈ R, por (7.26), obtêm-se as
coondições, �
f (−x) = − f (x)
g(−s) = −g(s) .
Assim, dadas as funções f (x) e g(x), com x ∈ [0, L], prolongando-as como funções
ı́mpares nas vizinhanças de x = 0 e x = L, f (x) e g(x) ficam extendidas a todo o
eixo real como funções periódicas de periodo 2L. Nestas condições pode-se aplicar
o teorema de d’Alembert às extensões de f (x) e g(x), obtendo-se uma solução geral
para a equação das ondas com condições fronteira finitas.
Na figura 7.7, está representado o gráfico do prolongamento ı́mpar de uma
função em torno dos pontos x = 0 e x = L.
7.5. Energia de ondas transversais de pequena amplitude 83

Figura 7.7: Prolongamento ı́mpar de uma função f (x) em torno dos pontos x = 0 e
x = L.

Vejamos o que se passa quando, g(x) = 0. Neste caso,

1 1
ψ(x,t) = f (x − ct) + f (x + ct)
2 2
e se f (x) representa um deslocamento inicial, fortemente localizado, a solução
geral da equação das ondas é a sobreposição de duas ondas progressivas com velo-
cidades c e −c. Estas ondas progressivas são periódicas de perı́odo 2L. Quando as
ondas progressivas atingem as fronteiras em x = 0 e x = L, e como f (x) é ı́mpar em
torno destes pontos, pelo teorema de d’Alembert, existe uma imagem de espelho
invertida de cada lado de ambas as fronteiras. Do ponto de vista do que se passa
no domı́nio [0, L], as velocidades de propagação invertem-se e dá-se a mudança
instantânea do sinal da perturbação, figura 7.8.

Figura 7.8: Reflexão de ondas progressivas nas fronteiras de um domı́nio. Neste


caso, as consições fronteira são ψ(0,t) = 0 e ψ(L,t) = 0.

Conclui-se assim que a reflexão de uma onda progressiva numa região espacial
e com condições fronteira ψ(0,t) = 0 e ψ(L,t) = 0, é obtida através da inversão
da velocidade de propagação e da fase da onda (fase → fase +π). Isto é, a lei de
reflexão de ondas é consequência directa do facto de as solução estacionárias serem
a soma de duas soluções progressivas.

7.5 Energia de ondas transversais de pequena amplitude


Veja-se como calcular a energia cinética associada aos modos próprios de vibração
de uma corda vibrante. Da equação de Newton para o movimento de uma partı́cula
84 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

� �
de massa m, mẍ = − ∂V ∂x , decorre que, m ẋ ẍ+ ẋ ∂V
∂x = 0 e portanto d 1
dt 2 mẋ 2 +V (x) =

0. Assim, a energia total, E = 12 mẋ2 +V (x) é conservada. Se não existe nenhuma


força exterior, V (x) = 0, e a energia cinética também é conservada.
Por analogia com o que foi feito para a equação de Newton, multiplica-se a
equação das ondas (7.7) por ∂ ψ/∂t e integrando em x, entre x = 0 e x = L, obtem-
se,
� L � L
∂ ψ ∂ 2ψ 2 ∂ ψ ∂ 2ψ
dx − c dx = 0 .
0 ∂t ∂t 0 ∂t ∂ x
2 2

Integrando por partes o segundo termo da igualdade anterior,


� � � �L � L
d 1 L ∂ψ 2 2∂ψ ∂ψ 2 ∂ψ ∂ψ
dx − c +c dx = 0 .
dt 2 0 ∂t ∂t ∂ x 0 0 ∂t∂ x ∂ x
∂ψ ∂ψ
Como ∂t |x=0 = ∂t |x=L= 0, a expressão anterior escreve-se,
� � � � � �
d 1 L ∂ψ 2 d c2 L ∂ ψ 2
dx + dx = 0 (7.27)
dt 2 0 ∂t dt 2 0 ∂x
Ou seja, podemos definir energia cinética da corda vibrante com extremos fixos em
x = 0 e x = L como,
� L� � � � �
1 ∂ψ 2 1 2 L ∂ψ 2
Ec = ρ dx + ρc dx
2 0 ∂t 2 0 ∂x
em que, por questões dimensionais, se multiplicaram os termos da equação (7.27)
por ρ.
Como, neste caso, a energia cinética é constante ao longo do tempo, no instante
t = 0, tem-se que,
�L �L
1 1
Ec = ρ g2 (x)dx + ρc2 ( f � )2 (x)dx
2 0 2 0
� L�
1 2 2 � 2

= ρ g (x) + c ( f ) (x) dx
2 0
1 � 2 � 2 �
= ρ c || f || + ||g||2
2
em que assumimos que f , g ∈ L2 ([0, L]). Com as expressões obtidas anteriormente

para a condição inicial f (x) e a velocidade inicial g(x), (7.16) e (7.17), e pela
igualdade de Bessel (teorema3.5), a energia cinética de uma corda vibrante é,
1 ∞ c2 π 2 n2 2 1 ∞ 2 2
Ec = ρ ∑ (an + b 2
n ) = ρ ∑ ωn (an + b2n )
2 n=1 L2 2 n=1
em que ωn = nπc/L rad é a frequência do modo próprio de vibração número n.
No caso em que a corda está sujeita a uma força exterior conservativa, tem-se
que Fext = − ∂V∂(ψ,x)
ψ . Com um cálculo semelhante ao efectuado acima, a energia
total do movimento transversal é,
� L� � � � � � L
1 ∂ψ 2 c2 L ∂ ψ 2
Et = ρ dx + ρ dx + V (ψ(x,t), x)dx
2 0 ∂t 2 0 ∂x 0
7.6. Ressonância 85

7.6 Ressonância
Como se viu em (7.20), a solução geral da equação homogénea das ondas, obede-
cendo às condições de Cauchy 1)-3), é,
πn
ψ(x,t) = ∑ gn (t) fn (x) = ∑ gn (t) sin L
x (7.28)
n≥1 n≥1

2
em que fn (x) = sin πn 2 ∂
L x é um vector próprio do operador T = c ∂ x2 , quando res-
tringido ao subespaço de L2 ([0, L]) formado por todas as funções que se anulam
em x = 0 e x = L. Associado ao vector próprio está associado o valor próprio
2 2
σn = −c2 πL2n . Assim,

∂2
T fn (x) = c2 fn (x) = σn fn (x) . (7.29)
∂ x2
Para resolver a equação das ondas não homogénea (7.7), obedecendo às condições
de Cauchy 1)-3), começa-se por desenvolver o termo não homogéneo Fext (x,t)/ρ
na base dos fn (x). Seja então o desenvolvimento na base dos fn (x),

1
Fext (x,t) = ∑ hn (t) fn (x) . (7.30)
ρ(x)

Introduzindo (7.30) e (7.28) em (7.7), obtem-se,

d 2 gn d 2 fn
∑ fn (x) dt 2
= c2
∑ n dx2 + ∑ hn (t) fn (x) .
g (t)
n n n

Por (7.29), a equação anterior reduz-se a,

d 2 gn
∑ fn (x) dt 2
= ∑ σn gn (t) fn (x) + ∑ hn (t) fn (x) .
n n n

Portanto, para cada n ≥ 1, tem-se a equação diferencial em t,

d 2 gn (t)
= σn gn (t) + hn (t) (7.31)
dt 2
que pode ser resolvida em função das condições iniciais gn (0) e ġn (0). Assim, a
solução da equação não homogénea das ondas ondas (7.7) tem soluções da forma
(7.28), com as funções gn (t) obtidas como soluções das equações (7.31).
Mostrou-se assim como resolver a equação não homogénea das ondas, conhe-
cendo a solução geral do problema homogéneo. Forçando uma corda com uma
força exterior periódica no tempo, chega-se naturalmente a um problema não ho-
mogéneo que tem uma solução em função dos vectores próprios e dos valores
próprios do problema homogéneo associado.
86 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

Considere-se uma corda vibrante sujeita a uma força exterior periódica no


tempo, Fext (t) = A sin(θt). Neste caso, a equação das ondas (7.7) escreve-se na
forma,
∂ 2ψ ∂ 2ψ 1
= c2 2 + A sin(θt) .
∂t 2 ∂x ρ
A solução geral desta equação não homogénea tem a forma (7.28), em que gn (t) é
solução da equação (7.31).
Para determinar hn (t), aplica-se a propriedade de ortogonalidade das funções
fn (x). Isto é, multiplica-se (7.30) por fn (x) e integra-se no intervalo [0, L]. Como
os elementos da base { fn (x)} do espaço de Hilbert são ortogonais mas não estão
normalizados, � L
1
hn (t) fn2 (x)dx =< fn (x), A sin(θt) >
0 ρ
obtendo-se,
L L 1 − (−1)n
hn (t) = A sin(θt)
2 ρ nπ
ou seja, 
 0, n = 2, 4, 6, . . .
hn (t) = 4A
 sin(θt), n = 1, 3, 5, . . . .
ρnπ
Assim, as equação diferenciais (7.31) são,

d 2 g2n (t)
= σn g2n (t)
dt 2
2
d g2n−1 (t) (2n − 1)2 π 2 4A
= −c2 g2n−1 (t) + sin(θt) (7.32)
dt 2 L 2 ρ(2n − 1)π

em que n ≥ 1.
A equação (7.32) tem uma solução particular da forma,

g2n−1 (t) = B sin(θt)

em que B é uma constante a determinar. Substituindo esta solução em (7.32),


obtem-se,
(2n − 1)2 π 2 4A
−Bθ 2 = −c2 B +
L2 ρ(2n − 1)π
cuja solução é,
4A 1
B=
ρ(2n − 1)π c2 (2n−1) 2π2
−θ2
L2
Assim, se a frequência da força exterior é tal que,

(2n − 1)π
θ =c
L
7.7. Soluções fortes e fracas da equação das ondas 87

a solução particular do problema não homogéneo tende para infinito e a equa-


ção das ondas tem uma ressonância. Devido à forma particular das condições
fronteira de extremos fixos, as frequências de ressonância são as frequências dos
modos próprios ı́mpares do problema homogéneo. Assim, quando uma corda com
extremos fixos é actuada por uma força exterior periódica com uma frequência
igual à frequência de um modo próprio ı́mpar, no limite t → ∞, a amplitude das
oscilações tendem para infinito (Exercı́cio 7.11).
Nos capı́tulos seguintes vão-se desenvolver técnicas gerais para a integração de
equações diferenciais não homogéneas do tipo de (7.31).

7.7 Soluções fortes e fracas da equação das ondas


Considere-se a equação linear das ondas na forma,
∂ 2ψ 2
2∂ ψ
− c =0 (7.33)
∂t 2 ∂ x2
Como se viu, no caso da corda com extremos fixos, a solução da equação das
ondas pode ser escrita na forma de uma série de Fourier, (7.15), num subespaço
do espaço de Hilbert L2 ([0, L]), e ψ ∈ C2 ([0, L]) ∩ L2 ([0, L]). Embora C2 ([0, L])
seja denso em L2 ([0, L]), escreve-se ψ ∈ C2 ([0, L]) ∩ L2 ([0, L]) para realçar que a
solução ψ é obtida através de técnicas convencionais de derivação. Neste caso,
diz-se que ψ ∈ C2 ([0, L]) ∩ L2 ([0, L]) é uma solução forte da equação das ondas.
Noutro contexto, se f é a função constante e g a função nula, pela fórmula de
d’Alembert, ψ(x,t) = f é solução da equação das ondas. No entanto, f �∈ L2 (R).
Assim, queremos saber até que ponto a equação (7.33) admite soluções em que ψ
é uma distribuição, e as derivadas em (7.33) podem ser encaradas como derivadas
no sentido das distribuições.
Como a solução geral de (7.33) é da forma ψ(x,t) = F(x − ct) + F(x + ct), cal-
culado em (7.15) ou em (7.22), vamos assumir por hipótese que F é uma distribuição,
isto é F ∈ D � (R). Se F é uma distribuição regular, claro está que F pode ser gerado
1 (R), e a fórmula de d’Alembert assume um significado mais
for funções f , g ∈ Lloc
geral.
Vai-se então mostrar que se ψ(x,t) = F1 (x − ct) + F2 (x + ct) ∈ D � (R), então
ψ é ainda uma solução da equação das ondas no sentido das distribuições, e as
distribuição F1 e F2 podem ser geradas pela classe mais geral de funções do pro-
1 (R). Vamos fazer a demonstração apenas para a distribuição
blema inicial: f , g ∈ Lloc
F1 (x − ct).
Como F1 é uma distribuição, vamos então calcular,
� 2 2

∂ 2 ∂
I= −c F1
∂t 2 ∂ x2
no sentido das distribuições. Pelo lema 6.1, tem-se que, no sentido das distribuições,
� � � 2 2

∂ ϕ(x,t) 2 ∂ ϕ(x,t)
I= F1 (x − ct) −c dxdt
∂t 2 ∂ x2
88 7. A equação das ondas I: Oscilações transversais

em que ϕ(x,t) ∈ D(R2 ), F1 (x − ct) é dado pelas funções da fórmula de d’Alembert


(7.22) com argumento (x−ct) e construı́da à custa das funções f e g, agora tomadas
como elementos de Lloc1 (R).

Mostrar que a distribuição F1 (x − ct) é uma solução da equação das ondas


é mostrar que para todo o ϕ(x,t) ∈ D(R2 ), se tem sempre I = 0. Assim, com
a transformação de variáveis, y = x − ct e z = x + ct, tem-se que x = (y + z)/2,
t = (z − y)/(2c), e,
� � � 2 � � � �+∞
∂ ϕ(y, z) 1 ∂ ϕ(y, z) 1
I= F1 (y) dzdy = F1 (y) dy
∂ y∂ z 2c ∂y −∞ 2c
� �+∞
∂ ϕ(y,z)
Mas como ϕ(x,t) ∈ D(R2 ), vem que ∂y = 0, ou seja, I = 0 para todo o
−∞
ϕ(x,t) ∈ D(R2 ).
Está assim demonstrada a validade da fórmula de d’Alembert no sentido das
distribuições. Nestas condições, ψ(x,t) = F1 (x − ct) + F2 (x + ct) ∈ D � (R) é uma
solução fraca da equação das ondas.

7.8 Exercı́cios
7.1) Qual a velocidade de propagação das ondas progressivas numa corda de den-
sidade ρ = 0, 4 kg m−1 e sujeita a uma tensão T = 0, 9 N.
7.2) Uma corda é esticada entre dois pontos ra e rb que estão distância L, como se
mostra na figura. A corda está sujeita à acção da gravidade na direcção transversal,
tem densidade ρ e a tensão é T . Determine a forma de equilı́brio da corda. Esboce
um gráfico da solução de equilı́brio.

7.3) A equação de Euler-Bernoulli que descreve as pequenas oscilações transver-


sais de uma barra é,
∂ 2φ ∂ 4φ
= c2 4
∂t 2 ∂x
em que, c2 = EI/ρA, E [Nm−2 ] é o módulo de elasticidade, ρ é a densidade da
barra, A é a área da secção da barra e I [m4 ] é o momento de área da secção
recta da barra, relativamente ao eixo dos xx. Suponha que a barra está presa nas
extremidades, em dois pontos que estão à distância L, e que ∂∂φx (x = 0) = ∂∂φx (x =
L) = 0. Determine a forma de equilı́brio da barra no campo gravı́tico.
7.4) Estude o movimento de uma corda com extremos fixos a uma distância L e
sujeita a uma força de atrito proporcional à velocidade. Neste caso, a equação das
7.8. Exercı́cios 89

ondas escreve-se na forma,

∂ 2φ ∂φ 2
2∂ φ
+ 2λ = c
∂t 2 ∂t ∂ x2
em que λ é o coeficiente de atrito. Determine a frequência dos modos próprios de
vibração e a solução geral.
7.5) Encontre os modos próprios de vibração de uma corda de comprimento L,
presa a dois aneis de massa muito pequena e que se podem deslocar ao longo de
duas barras paralelas. Use as condições fronteira (∂ ψ/∂ x)(x = 0,t) = (∂ ψ/∂ x)(x =
L,t) = 0 (condições fronteira de Neumann).
7.6) A corda de um instrumento musical é dedilhada no ponto x = L/2, em que L
é o comprimento da corda. A esta situação corresponde a condição inicial,

2αx/L , se x ≤ L/2
f (x) =
−2α(x − L)/L , se x ≥ L/2

e a velocidade inicial g(x) = 0. Calcule a frequncia e a energia cinética dos modos


próprios de vibração.
7.7) A corda de um piano tem comprimento L e é percutida com um martelo rec-
tangular na região [L/2 − δ , L/2 + δ ], com velocidade A. Calcule a frequência e a
energia cinética dos modos próprios de vibração.
7.8) Determine os valores próprios e os modos próprios de vibração de uma mem-
brana rectangular de lados a e b. Suponha que a membrana está presa nos lados do
rectângulo.
7.9) A energia cinética de uma corda vibrante é dada por,
� L� � � L� �
1 ∂ψ 2 c2 ∂ψ 2
Ec = ρ dx + ρ dx := Ec1 + Ec2
2 0 ∂t 2 0 ∂x

em que ψ(x,t) é a solução da equação das ondas. Mostre que se ψ é uma onda
progressiva, ψ = ψ(x ± ct), então Ec1 = Ec2 .
7.10) Determine a energia total de uma corda vibrante sujeita à força gravı́tica.
7.11) Determine a solução geral da equação não homogénea das ondas,

∂ 2ψ 2
2∂ ψ 1
= c + A sin(θt)
∂t 2 ∂ x2 ρ

para as condições fronteira, ψ(0,t) = ψ(L,t) = 0.

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