Você está na página 1de 13

AS ESCOLAS FILOSÓFICAS DA ERA HELENÍSTICA

Gladys Saraiva*

RESUMO

Este trabalho apresenta um relato da Filosofia da era helenística e suas


escolas; como esta filosofia nasceu e se desenvolveu e o que representa para
sociedades posteriores, sob o ponto de vista do contexto no qual está inserido. Os
dados aqui apresentados baseiam se em artigo científicos, livros, filmes.

Palavras-chave: Filosofia; Era Helenística; Helenismo

Pedagoga, Assessora para o Desenvolvimento da língua Inglesa


PRODAM – Empresa de Tecnologia do Município de São Paulo
Pós Graduada em Ensino de Língua Inglesa e Novas Tecnologias
Universidade Estácio de Sá/BridgeTEFL, gladysteacher6@yahoo.com.br
2

ABSTRACT

This paper presents a report on the Philosophy of the Hellenistic age and their
schools; it shows how this philosophy originated and developed and what it
represents for the later societies, from the point of view of the context in which it
appears. The data presented here are based on scientific article, books and films.

Keywords: Philosophy; Hellenistic Age; Hellenism


3

1. INTRODUÇÃO

O termo helenismo deriva da obra intitulada “Geschichte des


Hellenismus” (História do Helenismo, em três volumes) do historiador alemão
Johann Gustav Droysen e se refere a enorme influência da cultura grega no mundo
que foi desde a ascensão de Alexandre Magno ao trono da Macedônia em 323 a.C.
até a conquista romana do Egito em 30 a.C.

O desenvolvimento da ciência e do conhecimento; o sincretismo cultural


caracterizam o helenismo que, ao difundir-se, entrou em contato com outras
culturas, deu à luz a escolas filosóficas e dominaram toda a região por quase 3
séculos; influenciou a sociedade em diversos campos, especialmente na filosofia,
artes plásticas, arquitetura e teatro e foi a transição da filosofia clássica para a
greco-romana. O legado cultural de muitas ideias e conceitos atravessou os
séculos, chegando até os nossos dias e deram origem às atuais ciências humanas,
exatas e biológicas.
4

1 – CONTEXTO HISTÓRICO DO HELENISMO

1.1 A Grécia Antiga

Há 4000 anos no mediterrâneo, o crescimento da população e a elevação do


consumo de alimentos provocou uma corrente migratória da população em busca de
terras mais férteis o que causou várias disputas e desigualdade social. As
populações empobrecidas deixavam a Grécia para fundar novas colônias em outras
regiões. Estas colônias se tornaram unidades políticas e se ampliaram até que se
transformaram em cidades-estados, dentre as quais as mais influentes foram
Corinto, Tebas, Esparta e Atenas. Essas cidades, ao mesmo tempo em que
comercializavam, guerreavam entre si com o objetivo de adquirir o controle da região
fazendo prisioneiros de guerra, os quais eram capturados como escravos. O
trabalho destes escravos movia grande parte da economia e impulsionou o
desenvolvimento de um grande império que se espalhou por várias ilhas e parte do
continente europeu entre os mares Egeu e Jônio. A moeda grega foi instituída em
todo o império e a língua grega se tornou um idioma comum, que, mesmo com seus
dialetos e sotaques, podia ser entendido pelos povos das várias regiões que
formavam a Grécia Antiga. Além disso, esses povos compartilhavam uma mesma
crença religiosa e diversos valores culturais fato que contribuía para o sucesso da
coesão da Hélade, que era como os gregos denominavam os povos das várias
cidades do império, especialmente em torno de eventos como os festivais de teatro
e os campeonatos esportivos.

Por volta de 2a.C esses povos ganharam força especialmente sob o domínio
da cidade de Atenas. Esta cidade-estado adotava um sistema democrático de
sociedade e no seu seio floresceram as ciências e as artes. Seu grande poderio
militar e econômico dominou a antiguidade grega e deu origem ao pensamento dos
três maiores filósofos da Antiguidade: Sócrates, Platão e Aristóteles os quais
procuravam fornecer explicações para os mistérios da natureza e dos sentimentos
humanos.
5

A cultura grega exercia uma grande influência nas outras culturas


especialmente porque era a síntese destes povos gregos com Egípcios, Fenícios e
Cretenses. No entanto, a constante rivalidade entre as cidades, sobretudo entre
Esparta e Atenas, acabou enfraquecendo esta poderosa civilização. Os Macedônios,
os quais viviam isolados ao norte da Grécia, organizaram um exército poderoso e
numa campanha militar abriram uma saída para o mar através do território grego,
incendiaram Tebas e escravizaram sua população. No ano de 338 a.C Atenas foi
derrotada na batalha de Queronéia e as cidade-estado gregas que já
gradativamente perdiam seu poder, acabaram conquistadas e unificadas por Filipe II
da Macedônia.
6

1.2 Os Macedônios e a Cultura Helenística

O mundo grego considerava bárbaro todos aqueles que não falavam grego e
os macedônios estavam incluídos entre esses povos. Para eles os macedônios eram
um povo incivilizado, mesmo assim Felipe II, macedônio de origem, decidiu por usar
a diplomacia como um dos pilares de estratégia de seu governo e, após a conquista
de Atenas, Felipe não só permitiu que os atenienses voltassem a sua rotina normal
como convidou filósofos gregos a participarem do seu governo, e, dentre esses ele
escolheu Aristóteles para cuidar da educação do seu único filho homem, Alexandre,
que ascendeu ao trono da Macedônia após o seu assassinato e se tornou Alexandre
Magno.

Alexandre foi considerado um dos maiores guerreiros da Antiguidade e com


apenas dezoito anos foi vitorioso comandante do exército na batalha de Queronéia
onde derrotou os Atenienses. Além de excelente militar e exímio estrategista,
Alexandre era dotado de notável potencial intelectual, superou a obra do seu pai e
da maioria dos imperadores orientais conquistando gregos, persas, assírios e hindus
e neste período o Império Macedônio atingiu o seu ápice. Sob o domínio de
Alexandre a cultura grega se expandiu territorialmente, o império macedônico se
tornou marcado pela variedade cultural com traços ocidentais e orientais num
processo em que simultaneamente influenciava e sofria influências. Vários
conhecimentos resultaram desse intercâmbio cultural, dentre eles a filosofia. Essa
mistura de hábitos, ideias e religiões dos povos constituiu a cultura helenística; um
contexto histórico peculiarmente rico e que fez a transição entre a Cultura Clássica
e a cultura Greco Romana.

A morte de Alexandre Magno em 232 a.C causou o esfacelamento do Império


Macedônico. Em razão de Alexandre não ter herdeiros, o território foi fragmentado
entre seus principais generais, o que acabou por enfraquecer rapidamente o seu
poder. Por fim, se aproveitando da debilidade político-administrativa do que restava,
Roma conquistou o Império Macedônico no século I a.C.
7

O Império Romano que nestes anos se submetera ao Helenismo absorveu


cada um desses reinos macedônicos perpetuando uma grande parte dos valores
gregos. Historicamente este período foi conhecido como o final da Antiguidade e o
inicio da cultura greco-romana. Mas apesar da cultura grega ter sido absorvida pela
nova potência, os povos gregos da Antiguidade não conseguiram mais retomar sua
autonomia política e acabou desaparecendo ao longo dos séculos.
8

2.O HELENISMO

Alexandre Magno e sua grande expedição provocaram uma reviravolta no


espírito do mundo grego e que marcou o início de uma nova era. Os macedônios,
grandes disseminadores da língua e cultura grega deixaram como legado o
Helenismo, cultura híbrida e expressão máxima da vida urbana.

Depois de 13 anos de conquistas, Alexandre morre na Babilônia e o império


divido enfrenta a luta dos seus próprios generais pela supremacia e legitimidade da
sucessão do seu trono. Dentre estes generais o que mais se destacou foi Ptolomeu
I, que apesar de macedônico se transformou em faraó egípcio e transformou
Alexandria em capital do império Helenístico. Ptolomeu I construiu a grande
Biblioteca e Museu de Alexandria, o qual era um grande centro de pesquisas, e onde
nasceu a tradição de se acumular e partilhar cultura, o protótipo da universidade.

2.1 Características do Helenismo

O Helenismo se desenvolveu em diferentes campos: matemática, geometria,


astronomia e geografia; causou o florescimento das cidades como centros políticos,
econômicos e culturais e diminuiu a importância sócio-política das Pólis, que antes
todo-poderosas e autônomas, passavam agora a ser apenas uma peça integrante
de um vasto império de poder centralizado. Isso causa uma mudança fundamental:
O domínio macedônio torna o homem grego, antes elemento central da comunidade,
em um súdito comum de um vasto império. A perda da liberdade política leva este
homem a buscar a si mesmo e se preocupar com a sua felicidade individual já que
ele não se sente mais parte de uma engrenagem forte, indestrutível e protetora;
então ele busca isto através da ética, da religião, da magia ou da Filosofia.
9

A Filosofia helenista produziu escolas as quais sucederam a Platão e


Aristóteles como o Epicurismo, Cinismo e Estoicismo. Essas escolas procuravam,
basicamente, estabelecer um conjunto de preceitos racionais para dirigir a vida de
cada um e, através da ausência do sofrimento, chegar à felicidade e ao bem-estar.

2.2 As Escolas Helenísticas

As escolas Helenísticas se dividem em duas vertentes, os dogmáticos e os


cínicos. Os cínicos contestavam o idealismo de Platão e seu discípulo Aristóteles; os
dogmáticos concordavam num fundamentalismo de senso comum com uma
tendência para acreditar que o mundo é da maneira que é sem questionamentos. Os
dogmáticos se dividem em:

2.2.1 - Epicurismo - O propósito do Epicurismo é atingir a felicidade através da


aponia, que é um estado de ausência da dor física e a ataraxia que é a
imperturbabilidade da alma. Ele investiga o prazer que motiva toda atividade
humana; Epicuro era de Atenas, fundou sua escola numa casa que tinha um grande
jardim e acreditava que a finalidade da vida é o prazer. Usavam a filosofia como
medicina da alma, pregava a moderação dos prazeres e dizia que a paz era para
todos.
O Epicurismo se apoiava em 4 grandes regras: 1 - não temer aos deuses; 2 -
não temer a morte; 3 - Acreditar que a felicidade existe mesmo em meio ao caos; 4 -
suportar as dores.

2.2.2 O Estoicismo

Sêneca (4a.C - 65 d.C.) um dos filósofos do Estoicismo escreveu que "para a


humanidade, a humanidade é sagrada". Esta afirmação foi uma espécie de slogan
de um movimento relativamente moderno, o humanismo. Esta filosofia negava a
oposição entre espirito e matéria; defendia o direito natural a todas as pessoas e
10

tinha uma ética naturalista; pregava que a pessoa deve viver conforme a natureza e
que um homem sábio torna-se livre e feliz quando não se deixa escravizar pelas
paixões e pelas mundo exterior; afirmava que o universo é governado por uma razão
universal divina que ordena todas as coisas, onde tudo surge a partir dele e de
acordo com ele.

2.2.3 O Pirronismo ou Ceticismo

Derivada de SKEPTIKOI, uma escola que nada afirmava, o Ceticismo tem a dúvida
sobre as coisas do mundo como um dos seus principais preceitos. Os filósofos
céticos acreditam que a mente humana não pode atingir nenhuma certeza. O
estoicismo possui duas consequências éticas: uma é que a pessoa deve viver
conforme a natureza, e a segunda é que um homem sábio torna-se livre e feliz
quando não se deixa escravizar pelas paixões e pelas coisas externas.

A abordagem desta escola sustentava que todas as informações deveriam ser


suportadas e suspenderam todo o julgamento em investigações. Principais filósofos:
Pirro de Élis, Arcesilau e Carnéades.

2.2.4 O Cinismo

Pregavam essencialmente o desapego aos bens materiais; os Cínicos


baseavam no cão(kynos) o seu modo de viver; negligenciavam a sociedade, a
higiene, a família, o dinheiro, procurava libertar-se das convenções buscando tornar-
se autossuficientes; Antístenes (440 – 336 a.C.) foi o iniciador do Cinismo, mas
Diógenes de Sínope, seu discípulo, se tornou o maior expoente da escola.

Diógenes, o Cínico, se propôs demonstrar que o homem tem sempre à sua


disposição o que é necessário para ser feliz, só precisa entender a sua natureza. Ele
desprezava a riqueza e rejeitava as convenções sociais. Achava "inúteis e
desnecessárias" as matemáticas, a física, a astronomia a música e rejeitava o
11

conforto das comodidades oferecidas pelo progresso. Para os cínicos o homem


basta a si mesmo, por isto eles dormiam em barris e viviam como cães.

O Ceticismo e o cinismo são também filosofias populares e missionárias,


mesmo que com tendências exageradas: o ceticismo suprime o juízo sobre a
realidade, duvida da verdade absoluta e do conhecimento estável; o cinismo é
totalmente indiferente ao mundo e a si mesmo, trazendo para si um estado de
tranquilidade interior imperturbável. Ambas se dirigem a todas as classes sociais;
seus representantes usaram a própria vida como ferramenta de instrução;
denunciaram as convenções sociais e propuseram um retorno à simplicidade da vida
através do realismo dramático, característica marcante desta escola.
12

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tão grande foi a dor do homem grego ao perder o refugio da Pólis que o
levou a procurar a felicidade na individualidade do ser e buscar explicações para os
fenômenos do cotidiano levando o pensamento filosófico a evoluir para o
individualismo moralista de Epicuristas e Estoicos.

As artes - que no helenismo significava também tecnologia - deixaram um


grande legado para a posteridade nas arquiteturas e esculturas;

As Filosofias eram como que manuais de um modo de vida; buscavam


respostas práticas aos problemas da vida diária com o objetivo de atingir a
felicidade; Esta busca da felicidade é um dos grandes legados deixados pelo
helenismo, o qual doze séculos depois, seria uma das linhas de base do
Renascimento.

A fusão entre a tradição grega e a cultura oriental de povos gregos, romanos,


egípcios, babilônios, sírios e persas faziam agora parte de uma só cultura, usavam a
mesma moeda, falavam o mesmo idioma, fundaram o conceito de comunidade
global e viveram um processo de globalização idêntica ao que vivemos no século
XXI. À medida que o Cristianismo avançava sobre uma Macedônia conquistada, o
helenismo passou a representar o espírito pagão que resistia à nova religião
adotada pelos romanos. Mas este império helenístico, mesmo que absorvido pelo
império romano não desapareceu com a vitória dos cristãos, antes fora absorvidos
por estes; quanto a nós, talvez estejamos mais próximos dos valores helênicos que
imaginamos; a nós o helenismo nos deixou legados tão imensuráveis quanto Shelley
nos descreve no seu “Hellas”:

“O grego está no nosso idioma, no nosso pensamento, na nossa arte, na


nossa alma...”

De certa forma somos todos “helenos” por fim!


13

4. REFERÊNCIAS

Carregar "AS ESCOLAS FILOSÓFICAS DA ERA HELENÍSTICA. Atenas do século


V a.C. - Philip von Foltz, 1853.”.

ÉTICA Visão Geral www.nilson.pro.br 17/6/20141www.nilson.pro.br. ÉTICA Visão


Geral

GILBERTO DA SILVA FRANCISCO. Revista História e Cultura, Franca-SP, v.2, n.3


(Especial), p.17-40, 2013. ISSN: 2238-6270.

THOMAS HOBBES Origens do Estado e Obrigação Política. THOMAS HOBBES


Origens do Estado e Obrigação Política.

TUCÍDIDES, História da Guerra do Peloponeso, II, 37-41. Brasília: Editora UnB,


1982.

Você também pode gostar