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TESE DE DOUTORAMENTO
SAO PAULO
1 9 9 4
SIBLIOTE CA
•
A '
FAMILIA GO~O ESPELHO
Tese de Doutoramento
Departamento de Antropologia
Faculdade de Filo~ofia, Letras e Ci~ncias Humanas
Universidade de sao Paulo
I
Orientadora: Prof. Ora. Maria Lúcia Aparecida Montes
Sao Paulo
1994
UJI!CAMJ'
Bil:lli()teça IFCH
Para meus pais, Gino e Sigrid,
pág.
O traba 1 h o de c a m p o ' - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 7
A hora do ponto final _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 14
O paradigma da produçao, _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 35
Uns e ou tros _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 48
tI
f
'
Capítulo 4: A Moral no Mundo do Trabalho. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ ll7
Bi bllog r-a f i a - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 2 0 5
T _1
AGRADECIMENTOS
III
Aos moradores do Jardim das Camélias, onde fiz a
pesquisa, particularmente a Ver-a e José Nogueira Souza e às
famílias de Ana e Sergio Santos Melo, de Lurdes da Silva
Gomes, de D. Jandira dos Santos e de Seu Severino Isidro.
escuta.
trabalho.
falta muito?
l ',/
Introduçào
A '
TRAJETDRIA DE UMA PESQUISA
Emile Ourkheim
Até elabor-ar- a pr-oposta deste tr-abalho, meu tema de
vínculos familiares.L
urbanos.
pauta.
A pesquisa, que focalizou inicialmente a mo~alidade na
social.
O trabalho de campo
nossa vida.
tJ
As maiores dificuldades de comunicaçao apareciam quando
por-que, por- r-azoes óbvias, uma vez que vivem sob a constante
contava.
' '
.c c
selecionados, como também significa que eu náo podia falar
j -,
desconfiança: a sabedoria náo está só nos livros, mas na
1
auto-afirmaçâo em face da crença discriminatória dos ricos
trabalho.
1_4
familiares a qualquer pesquisador, lembro de im~diato, como
j c:·_
~·
Estes dados se somaram ao material comparativo do
pobre>s.
i»~;-·
análise.
ordem
No quinto
moral
capítulo,
fundada nos
analiso
valores da
os desdobramentos
família e do trabalho,
desta
I
\
I.
considerando
diferenciaçào
os
dos
mecanismos
qua~s os
de
pobres
identificaçào
lançam ma o para
e de
a
I
elaboraç.3o de sua identidade social, através da análise da
..
..' /
·,;-
.;.·. _f_
Capitulo 1
D UNIVERSO PESQUISADO
J8
Um desencanto fundamental marca os pobres urbanos em
_1'7
sociais em todo o pais, 4
dos anos 70. Em 1980, ainda nao fazia dez anos que a gr-ande
outros casados, como tantos, pela segunda OLI ma1s vezes. Há,
,_.,-,
pobreza colocou em evidência o chamado 'mor-ador da
localidade.
5 A idéia dos anos 80 como uma ~década perdida" apar~c~ numa linha de
pesquisas sobre os pobrt~s que analisa a relaçáo entre trabalho, pobrt~2d \
e família. Ver os trabalhos de Juare2 B. Lopes e Andrea Gottscha.lk
(1990) e o de Vera. da Silva Telles (1992). Para uma rela.tiviza.çao desta
idéia, v~r os artigos de M. Conceição Tavares (1991) eM. Lygia Quartim
de Moraes (1993) e, ainda, a análise de Vilmar Fada (1992) sobre a
conjuntura. social brasileira.
impr-evista, a pessoa que eu visitava fez filho comprar-
24
visiveis melhorias quanto a bens de consumo coletivo, como
periferias urbanas.
I
As mudanças ocorridas na regiào confirmam a idéia,
resolveram migrar.
seu cotidiano.
lhes ofer-ece.
;I··
-·::u
Capitulo 2
A
OS POBRES NAS CIENCIAS SOCIAIS
BRI">SILEIRI">S
f i quem evidenciadas
I
Percebe-se uma identificaçao constrastiva nas
golpe de 1964.
.:;. ~·.
"consciência de classe", agora encontra-se na noçao de
"cidadania".
pela per-cepçao dos pobres enquanto sujei tos poli. tic•s. fà,
I
tendência, a análise da força de trabalho feminina, a partir
simbólica). II
40
Licia Valladares (1991) analisou o discurso (médico-
"subempregados":
4.1
produtivo é que era incapaz de absorver a populaçao:
42
efeitos da pobreza (Lopes e Gottschalk, 1990) ' essa
apocal.iptica.
demonstrar.
O paradigma da cultura
f.l.4
sociais e seus iundamentos simbólicos, gerando noçó~s como
(1985).
I
I
.::1
PodE>-sE? dizE'r que afirmaçào de uma diversidade I,
'
cultural, cujo fundamento na o está exclusivamente na
de um ''efeito de manipulaç.3o'':
como "pobres",
47
Uns e outros
termos absolutos.~ 7
t.I.E~
das ci@ncias sociais sobre os pobres, pensados como grupo
como seu.
ato.
avessas.
'
o problema a ser discutido, na medida em que constitui o
no capítulo 5.
Valores tradicionais
52
Uma das preocupaçbes das ciências sociais dos anos 60 e
desenvolvimento urbano-industrial.
constituinte
econômica, na
e
forma
necessár-ia
como
deste
aconteceu
processo
no pais
de
e,
expansào
ao mesmo
I
tempo, dando subsidias para pensar o lugar dos pobres - nao
\
os "marginais", mas os "integr-ados" e necessários ao padrao
(1978) declarava:
I
I'
I'
"Ser-emos um povo contraditório, incapaz de
reconhecer nossos niveis de irracionalidade; ou '""
fi
uma sociedade que privilegia alguns dos seus I. ',
aspectos e os toma como veículos para a construçao 1
de sua auto-r-epresentaçào?" ( p. 143)
if'
rrj
h
I. '
Estudos mais recentes que incorporam e ressaltam os 'n
'i'··
li,\
além do eixo explicativo da relaçào capital-trabalho.
'"!
Ao
~
provedor''. Em seguida, argumenta que o
----~--
"ethos" masculino, a
moral do homem,
I''
t
22 O trabalho de Maria Cristina S. Costa (1993), cuja pesquisa foi feita
em fins dos anos 80, confir-ma a análise de Eunice Du~ham sobre a
,,
!•'
"pobres".
Durham ( 1978) ,
I'
;::,9
i
:;ir,·,
li
il!
I
'I
As implicaçóes desta afi~maçao me~ecem ~eflexao. A
sào
i
os recursos de sob~evivências privados, dada a I
precariedade de serviços públicos de educaçào, saúde,
I
i
1,,'
i
ampar-o à velhice e à infância, somados
de obrigaçbes
familiares,
mútuas e reciprocas,
l
na cidade, fazendo da
pa~a os
do código de
pob~es.~ 4
~eciprocidade
i~·
I
II
Iil
'
t
•
A família nao é apenas o elo afetivo mais forte dos
do mundo, ---···
sociedades capitalistas.
".;~.rc.;~.ico".
brasileira.
i
I
I
I
I
i
Capitulo 3
A '
FAMILIA CDMD UNIVERSO MORAL
63
Nos anos 60, um casa 1 recém-casado migrou de A1 agoas
64
namorado, deixando o filho na casa da máe.
- o mesmo facáo com que as filhas viram tantas vezes sua màe
família. Quem manda aqui agora somos nós, diz a m.3e. Com as
66
cumprir com os deveres em relaçao à família que cor-respondem
67
mobiliza~ os elementos morais necessários à obediência,
6f.)
respeito.:z6
!.., r;
~ .. 7
Dizia que mulher é a maior graça que Deus pôs n.a terra,
honra e a fé em De1..1s:
70
Eu fui E>mbora de casa e eu disse aos mE>us
pais: Eu vou embora~ se e>t.J estiver na pior.
esqueç.a o seu filho,, eu nào volto. Tem gente que
sai de casa em busca de aventura e encontra a
desaventur.:~ e volta correndo para casa, ndo
enfrenta.' Eu fui o contrário: E?U parti para a
aven t1..1ra, encontrei a des.aventura~ m.:~s nao vol te.i
para c.asa, enfrentei, no duro.
71
Ele é funcionário pUblico desde quando chegou em Sào
urbano.
iI
cidade, tampouco comem à mesa, ajeitam-se sentando no braço
vidas.
Em contrapartida, a mulher, em seu desempenho como boa
t
r
Os papéis familiar-es complementam-se para r-ealizar I
I
'
aquilo que importa para os pobres, repar-tir o pouco que têm.
74
filhos no fim da manha (foi o horário sugerido para que eu
nem para comprar comida: A g~nte traz .as compras n.a mdo, ndo I'
I
precisa nem s.acola. E me dizia: Vocé deve estar morrendo de
I~
tom~~ Era sua nao apenas a fome, mas a privaçao da 11
1
ji
!'
!I,
Lugar de homem e lugar de mulher
76
botar comida dentro de casa e falar que manda, Para mandar,
doméstico.
aqui eu mando.:ze
-,·7
Náo adianta ter uma casa superbonitona f? nao
ter uniiio na familia. tünha casa é pobre, mas nâo
a trocaria por nt:nhuma outra st: ndo pudesse viver
com minha fami 1 i a
controlam a casa.
padrào conjugaJ.31
80
,,
A família ultrapassa os limites da casa, envolvendo a li
i
~ede de parentesco mais ampla, sob~etudo quando se f~ust~am
I
familia~es . .:5z
B1
rupturas (Agie~, 1988 e 1990). Os trabalhos de Carmen Cini~a
econômicas".
trabalh0.:3:3
absorve.
83
Deslocamentos das figuras masculinas e femininas
CUJO filho tende a ficar na casa dos avós, que o cr~am com
fortalecimento do outro.
compddrio.
86
nas si tuaçôes de desampar-o (desemprego, separaçóes
ela tiver uma idade mais avançada, que tem o sentido de uma
trabalhadoras inglesas.
D7
Nas famílias que cumpriram sem rupturas os ciclos de
recursos.
BE_I
O papel fundamental da mulher na casa dá-se, portanto,
básicos.
El9
Castro, 1989, Scott, 1990). Nao se trata de contrapor norma~
uni.3.o,
90
Antigamente aparece aqui como um tempo idealizado, em
responsabilidade moral
91
a autoridade e que nào cumpre o papel esperado- infiel, que
de ambos.
f i 1 hos.
para náo serem uma árvore seca e outras tantas metáforas que
compromisso moral:
buscar auxílio.
diferença de condiçbes:
desvinculaçào.
Uma mulhe~ hoje casada, com um filhinha de cinco anos,
r-elata:
Eu
precisava fazer alguma coisa da minha
l/ida .• .
eu queria casar ••. Ai falei com meu pai .•
1
respons.ab.i 1 i da de.
Màe solteira
dos pais, quando o homem nào assume sud par-te, cabe à mulher
~7
7!
Ter- o filho e conseguir- criá-lo transforma-se, entao, na
consequências dos seus atos: sou muito mulher para criar meu
S'F:
A capacidade de tr-abalho tor-na-se o meio através do
que teve dois filhos com dois homens diferentes, este ''irmào
mulher para c: r i .ar seLJ f i 1 ho, condi çao necessár-ia mas nào
100
dent~o da lógica de obrigaçbes mo~ais que caracteriza a ~ede
Fonseca (s/d), um
optar por dar para criar seus filhos, ou algum deles, ainda
que tempora~iamente.
10.1.
um menino, cuja mae mor-reu e o pai deSapar-eceu. A r-ota
:to.::.::
ficaram com os filhos da uniáo anterior.
.1(1~
os pais biológicos e adotivos. Instaura-se um jogo que
s/d).
pobres.
grupo de referência.
J (14
/'1.3e e Pa:i: nas horas boas e ruins .••
uma teor.ia:
J. (l ~'
11.3e é a que
cuida deles ( .... ) n.3o aquela qLie
viv~ pelo mundo. talvez na sua vaidade_. ou talvez
na sua necessidad~_. nao assista o seLI crescimento~
o seu desenvolvimento. Entaa eLJ acho que máE? é
aqu&la que realmente zela pela criança.
J. o.:.'
a categoria p.ai de sua origem biológica de sangue. Mesmo {
o pai não volta para casa, nao está portanto, nas horas boas
J07
Cada parte reivindica de acordo com os direi tos que sua
lOt
Ninguém quer criar filho de> outro homem, dar
comida a filho de ninguém, depois ficar jogando na
cara da mulher. Arruma uma briguinha assim e joga
na cara da mulher •••
Projetos familiares
11(1
Esse projeto tem época certa:
.l J. j
o casamento legal o religioso considerados
casar-,
1.1 ::::·
estimula e unifo~miza; esta exposta à individualizaçào que a
mor-alidade.
11C
Delimitaçao moral da família
casa.
Capitulo 4
Provérbio maori,
citado por Marcel Mauss
A 1 i ter-atura sobre os pobres urbanos já demonstrou a
118
representam pela clara definiçao de um deles sobre si mesmo~
Pobres ~ rrabalhadares
l.l9
Tem a que 1 a f rase 1 á, que quando a pessoa é
pobre, pé rapado., nao presta. Entao~ a gente tem
que mostrar para as pe>ssoas ricas .• que nE>m no caso
da gente ser um emprE>gado, que a gente é pobrE>,
mas a gente é honesto. a gente quer vencer, entao
a 9ente tem qLie mostrar qLie a gE>n te também somos
gente igual a eles.
120
atribuído ao trabalho compensa as desigualdades socialmente
''desqualifica'' socialmente.
121
O trabalhador como homem fort~
trabalhar,·~•
122
afirmaçào de si em face do olhar dos outros, sendo o
1.24
no qual se insc~eve o t~abalho entre os cortadores de cana
1993, p. 133). 4 0
126
a dignidad& do trabalhador náo é respeitada. 4
~
respeito náo como cidadáos, mas como seres humanos que sào
127
l.,..
definindo-se enquanto um código em conflito oom a
f i 1 hos de Deus.
128
sociedade capitalista, riqueza, prestigio e poder, embora
129
sobrevivi?ncia, náo sao só economicamente determinadas por
nào inteiro, pelo menos, uma boa parte dos seus rendimentos
13(1
qualidades, definidas em termos morais, ainda que
oferece.
trabalho à familia.
131
o tr·a.ba 1 ho é o instrumento que viabiliza vida
ar-gumenta que
133
Difer""entemente de Alba Zaluar, o que pr""etendo
do trabalho".
134
sua significaça.o referida ao lugar da mulher no universo
135
Trabalho feminino: dom~stico e remunerado
capitulo anterior.
136
doméstico é "sua" atividade, com a qual na o SÓ se
identifica, mas se confunde:
E acrescentou:
137
sempre trabalhou remuneradamente, o trabalho feminino
gr-a ti f i caçao de> pelo menos, sai r de casa, uma a t i v idade que
139
Expbe claramente suas razOes:
140
meio periodo, que seja em casa, que na.o afaste a mae das
I'
crianças, reiterando a associaçao entre trabalho feminino e I
desordem familiar.
I
45 Estou tentanto demonstrar neste trabJlho que eJ:iste uma moral dos
pobres, compartilhada por homens e mulhe~es. Isto significa argumentar
que nao existe uma moral feminina, uma pfrticularidade na forma como a
mulher constrói suas categorias morais seu senso de justiça, como
propóe Carol Gilligan (1982), mas uma mo .al recortada pelas diferenças
complementares de gªnero.
141
~
'
que ela sabe que está f a 1 tando, por cai sas pelas quais o
14C
da vida cotidiana da familia, podendo ser graves. Para 0
143
"pessoas") que referenda, sustenta e apóia as real izaçóes
patriarcal.
dos filhos. Seu trabalho ou sua ajuda sao, assim, uma forma
de retribuiçao.
l44
Pela mesma lógica, quando as maes trabalham fora de
das meninas.
146
jeans, jaquetas, som, etc ••• :
"real".
suas relaçbes.
147
Trabalho como obrigação entre ricos e pobres
sob o capital.
148
familia. Afinal, nao é a noç:ao de "cuidar", através do seu
trabalha?
149
;;;.
relaçao com a posiçao que estas pessoas ocupam na sociedade,
doméstica:
honra.
Trabalho, desemprego e esmola
sua análise:
154
-- ----------.................... .._
15~·
sua auto-imagem. Mas quando náo há trabalho, senao
156
l
através de relaçbes de obrigaçào moral.~ 7
158
Capítulo 5
"'
RELAÇDES ENTRE IGUAIS
Julian Pitt-Rivers
A importância do contraste para demar~ar fronteiras
160
definidas (e redefinidas) em funçáo das relaçóes a que os
:1.61
neste capitulo, at~avés da ~eferªncia à sociabilidade local~
contrastiva do ''nós''.
162
Ora, é precisamente a perspectiva da construç~o d~
16:.
det~imento dos parentes de sangue, exceto se estes tsmbém se
pa~ente é a ccmfi.,.nçd.
obrigaçties morais.
l64
ambivalência dos moradores em relaçao a seus pares,
A sociabilidade local
setenta~
16'5
Saem pouco de casa e do bairro. NJ:io gosta de aborrecer
Magnani, 1984).
Proprietário X Favelado
167
nao está resolvida. 4 8 Terminado o declive, sobre o qual foi
162
-----.
j 69
Náo entrevistei alguém que morasse debai)(o da ponte.
negativas.
138 I.
1.70
Quando a á~ea começou a se~ invadida, o "dono da
171
p~ojeto é legalizá-lo, at~avés da comp~a daquele te~~eno.4•
17:
terreno e real i zaçio do eterno projeto da casa pr6pr ia. e o
de respeito.
173
Trabalhador X Bandido
174
1 oca l izados 1 á l?m cima, na área do bairro que, como j a foi
l . '; "
~·
importante dimensao simbólica desta oposiçào foi acentuada
bandido.
J76
como mostra o comentário de um morador:
177
Esta delimitaçào da fronteira do mundo da ordem e da
bem:
178
Quando se atravessa fronteira para o crime
d~ bandido, ainda que saiba que pode ser por ele protegida,
179
Vermelho.e 4 Se esta ameaça existir, o bandido atua dentro de
armas de fogo (que uma das partes detém) podem ser postas em
1 !..-.-",
'-"·'
do bandido fica comprovada pela sua capacidade de defender a
bandido perverso.
poder, ele mata quem ameace sua vida e sua liberdade, ele
J81
i
~
Um morador, sintetizando a hierarquização moral do
relação que nao podem evitar, mesmo para quem dribla esta
pessoa:
182
Agora_, também você nao vai chegar numa favela
E> já:"Di.' como é qui? é7" IH o cara pensa QLIE> ou é
louco 01.1 entá·o- •• tem alguma co.isa a Ve>rf f1as se
você ficar na sua, n.iio prestar muita atenção
neles •.• Porque o olhar o olhar fala muito .•
sabe? Entào~ se você nao prestar mui ta atençao,
ficar esperto para qualquer outro tipo de pessoa
q<.1e se aproximar de você_, mas manter sempre o
olhar mais baixo, mais calmo., ficar sossegado •••
você pode entrar, você pode sair, em qualquer tipo
de favela.
arbitrio da lei.
Pobre x I'IIMld.i go e etc~ . ~
184
'
L
como já foi visto, os que pedem esmola. Recebem de g~aça sem
recebem: no traba 1 ho, onde dou ser . .u: ço, nos ser-v i ços de
185
O que, na vida do dia-a-dia, comporta tolerância,
l86
qu~ s~ manifesta na segm~ntaçáo de s~us mo~ado~es, ainda que
187
Como a familia se delimita por obrigaçóes morais que
(Montes, 1983)
188
pobres sáo os carentes de riqueza material e de poder -, é
que estudou:
189
''Se todos criticam publicamente a inveja,
muitos parecem participar de seus dispositivos
psicológicos, tornando-a eficaz e c r i ando a
necessidade de proteger-se contra ela, Surgida da
hierarquia social que cria a desigualdade entre as
classes, a homogeneidade dentro da classe é também
uma experlencla de controle rígido e conflitos
intensos." (p. 125-26)
;;_- ascensào social, que significa uma ruptura com este grupo.
parentesco 5
que fazem parte de suas vidas e das quais
190
necessitam, mas que constituem uma ameaç:il. e um frei;; aos
valor-es familiar-es.
1 ,...., •
"'-
E o autor conclui, assim, que
como uma ruptura, mas como uma "traiçào", por ela ter-se
19.2
que náo é negado, quem saiu do "mundo dos pobr-es" foi bem
sucedido.
:i
Sào a per-ifer-ia, mas de Sao Paulo, o pólo moder-no de.
19::,
os "pobres da cidade". Essa inacessibilidade ao que lhe está
a pLI t.a à mulher honesta ( Sarti, 1985a) , mas é a oposi çào que
estrutural.
.194
Levi-Strauo;;o;; definiu a lógica de oposiçOes como uma
195
classificatórios distintos que respondem a uma mesma lógica
desta posiç.3o.
1.97
Comentários finais
198
a família como simbólica significa
privilegiar a ordem mor-al sobre a or-dem legal~ a palavra
candomblé ...
I
em qualquer plano da vida soçial. A família, com seus
incompreensível.
dado estrutural.
201
1987, Chaloub, 1986 e Boschi 1 1991) - O quP int~ressa,
alforria no Brasil:
1985, p. 11).
2t)3
dissipa o pr6prio crim~, reservando-se apenas a Tiradent~~ d
de ser.
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