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Poder Judiciário da União

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão : 6ª TURMA CÍVEL


Classe : APELAÇÃO
N. Processo : 20130111161742APC
(0030204-04.2013.8.07.0001)
Apelante(s) : GUSTAVO VINICIUS NONATO SOUZA
GOMES
Apelado(s) : JENNIFER GOMES DA CONCEICAO
Relatora : Desembargadora VERA ANDRIGHI
Revisor : Desembargador ESDRAS NEVES
Acórdão N. : 810778

EMENTA

COBRANÇA. CONTRATO EMPRESARIAL DE ATIVIDADE


MUSICAL. PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE DA
CONTESTAÇÃO E DA RECONVENÇÃO. DISTRATO.
INEXPERIÊNCIA. DESPROPORCIONALIDADE DAS
OBRIGAÇÕES. LESÃO.
I - A carga dos autos realizada por Advogado sem poderes
específicos para receber citação, antes da juntada do aviso de
recebimento, não configura o comparecimento espontâneo da
ré. Rejeitada a preliminar de intempestividade da contestação e
da reconvenção.
II - Diante da inexperiência da ré, da desproporção entre as
obrigações assumidas pelas partes e do dolo de
aproveitamento, ficou configurada a lesão, art. 157 do CC,
devendo ser mantida a r. sentença quanto à anulação do
distrato.
III - Apelação desprovida.

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ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores da 6ª TURMA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, VERA ANDRIGHI - Relatora,
ESDRAS NEVES - Revisor, ANA CANTARINO - 1º Vogal, sob a presidência do
Senhor Desembargador JAIR SOARES, em proferir a seguinte decisão:
CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e
notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 6 de Agosto de 2014.

Documento Assinado Eletronicamente


VERA ANDRIGHI
Relatora

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RELATÓRIO

O relatório é o da r. sentença (fls. 355/64) in verbis:

"Trata-se de ação de cobrança de multa contratual ajuizada pelo autor em


face da ré, ao argumento de que esta não cumpriu com as obrigações
pactuadas no distrato contratual assinado aos 21/10/2010, qual seja, a
realização de 35 shows entre janeiro de 2011 e maio de 2012.
Aduz o autor que celebrou com a ré, aos 23/10/2009, contrato de prestação
de serviços tendo por objeto a promoção e divulgação publicitária e
comercial da atividade musical e da imagem da ré.
Sustenta que efetuou diversos serviços visando sua promoção e divulgação,
até que a ré resolveu romper com a relação contratual, momento em que as
partes ajustaram o distrato contratual, com obrigações recíprocas de lado a
lado.
Ocorre que, a ré não cumpriu com a obrigação de realizar, em benefício do
autor, 35 shows entre janeiro de 2012 e maio de 2012, razão pela qual,
incide na hipótese, a cláusula penal constante no distrato que prevê o
pagamento, pela parte infratora, do pagamento de multa no valor de 138
(cento e trinta e oito) salários mínimos.
Com a inicial foram juntados os documentos de fls. 08/50. Guia de custas a
fls. 51. Emenda a inicial 56/57.
Citada (fls. 60-verso), a ré ofertou contestação e documentos a fls. 65/114 e
reconvenção e documentos a fls. ( 115/200). Na contestação a ré levanta
preliminar de ilegitimidade passiva e, no mérito, relata diversos
descumprimentos contratuais por parte do autor. Em relação a obrigação
pactuada no distrato, aduz que realizou 3 shows e somente não realizou os
demais porque o autor não a procurou para tanto.
Em sede reconvencional a ré alega a ocorrência de vício de consentimento
consistente em lesão, além de reproduzir os descumprimentos contratuais
por parte do autor em relação ao contrato primitivo.
Pretende, ainda, o recebimento da quantia de R$ 9.000,00 (nove mil reais)
relativamente aos três shows realizados ao reconvindo. Ao final pugna pela
anulação das cláusulas leoninas do contrato de distrato e condenação do
reconvindo ao pagamento da quantia de R$ 9.000,00 (nove mil reais) além

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de indenização por danos morais.


Contestação à reconvenção a fls. 214/243. Réplica a fls. 245/250. Réplica a
contestação da reconvenção a fls. 261/267.
Nos termos da decisão saneadora de fls. 270 foram deferidas as provas
orais requeridas pelas partes. Em sede de audiência de instrução e
julgamento, infrutífera a conciliação, foram colhidos os depoimentos
conforme fls. 304/312.
Alegações Finais a fls. 314/323 e fls. 330/353."

Acrescente-se que a r. sentença julgou improcedente o pedido


formulado na ação principal e parcialmente procedente o pedido deduzido na
reconvenção, nos seguintes termos:

"Pelas razões alinhadas, JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado pelo


autor. Resolvo o mérito nos moldes do artigo 269, inciso I, do CPC.
Julgo, outrossim, PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido
reconvencional, a efeito de anular o instrumento particular de distrato de fls.
49/50, resolvendo o mérito nos termos do artigo 269, inciso I, do CPC.
Ante à sucumbência na ação principal e recíproca na reconvenção, condeno
o autor ao pagamento das despesas, custas processuais e dos honorários
advocatícios que arbitro em R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos do
artigo 20, § 4º, do CPC.
Diante da confissão de que o autor não emitia documentos fiscais dos
shows que contratava, nos termos do artigo 40 do CPP, remetem-se cópias
das principais peças dos autos ao Ministério Público para adoção das
medidas que entender cabíveis, em especial diante da possibilidade da
prática de crimes tributários formais na espécie, o que afasta o
entendimento preconizado na Súmula Vinculante nº 24 do C. STF.
Transitada em julgado fica advertido o autor, na pessoa de seu advogado,
para pagamento espontâneo da condenação em 15 (quinze) dias a contar
do trânsito em julgado, sob pena de incidência de multa de 10% (dez por
cento) sobre o valor da condenação, na forma do art. 475-J do Código de

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Processo Civil."

O autor-reconvindo interpôs apelação (fls. 366/78), na qual suscita


preliminar de intempestividade da contestação e da reconvenção. No mérito, alega
que o distrato foi celebrado entre as partes por iniciativa da ré-reconvinte, conforme
reconhecido em seu depoimento pessoal, sendo que a ela cabia provar a existência
de vício do negócio jurídico, o que não ocorreu. Sustenta que ficou incontroverso nos
autos o fato de que foram realizados apenas três dos 35 shows acordados, devendo
a ré-reconvinte arcar com o pagamento da multa estabelecida no distrato.

Requer, ao final, o conhecimento e o provimento da apelação para


reformar a r. sentença, a fim de: a) acolher a preliminar de intempestividade da
contestação e da reconvenção; e b) condenar a ré-reconvinte ao pagamento da
multa prevista no distrato, no valor de R$ 93.564,00.

Preparo (fl. 379).

Contrarrazões (fls. 384/96).

É o relatório.

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VOTOS

A Senhora Desembargadora VERA ANDRIGHI - Relatora


Conheço da apelação, porque presentes os pressupostos de
admissibilidade.
A pretensão deduzida nos autos não está prescrita, razão pela qual
passo a analisar a demanda.
Da preliminar de intempestividade da contestação e da reconvenção
O art. 241, inc. I, do CPC estabelece que "começa a correr o prazo
quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos do
aviso de recebimento".
A apelada-ré foi citada em 04/09/13, conforme aviso de recebimento
(fl. 60v.), o qual foi juntado aos autos em 12/09/13 (fl. 64), sendo esta data o termo
inicial do prazo para a apresentação de resposta.
Ressalte-se que a carga dos autos realizada por Advogado sem
poderes específicos para receber citação (fls. 61/3), antes da juntada do aviso de
recebimento (fl. 64), não configura o comparecimento espontâneo da apelada-ré.
A propósito, transcrevo julgados do e. STJ e deste e. TJDFT, in
verbis:

"AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ADVOGADO


SEM PODERES PARA RECEBER CITAÇÃO. AUSÊNCIA DE
COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO DO RÉU. ALEGAÇÃO DE
INTEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO APRESENTADA. REVELIA.
NÃO OCORRÊNCIA. PRECEDENTES.
1. O acórdão proferido pelo Tribunal estadual alinhou-se à jurisprudência
atual e predominante do STJ no sentido de considerar que o
comparecimento espontâneo do réu não tem lugar se a apresentação de
procuração e a retirada dos autos foi efetuada por advogado destituído de
poderes para receber citação, caso em que o prazo somente corre a partir
da juntada aos autos do mandado citatório respectivo.
2. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no Ag 1176138/MS,
Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, DJe 06/11/2012, grifo
nosso).
"APELAÇÃO CÍVEL. BUSCA E APREENSÃO. COMPARECIMENTO

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ESPONTÂNEO DO RÉU. ADVOGADO SEM PROCURAÇÃO COM


PODERES PARA RECEBER A CITAÇÃO. NÃO SUPRIMENTO. PEDIDO
DE DESISTÊNCIA. ANUÊNCIA DO RÉU. DESNECESSIDADE.
CONDENAÇÃO DO DESISTENTE AO PAGAMENTO DE VERBA
HONORÁRIA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. INVIABILIDADE.
1. O comparecimento espontâneo da ré não supre a citação, quando não
consta na procuração poderes especiais para o advogado receber citação.
[...]
4. Recurso improvido." (Acórdão n.788418, 20130810042897APC, Relator:
ARNOLDO CAMANHO DE ASSIS, 4ª Turma Cível, Publicado no DJE:
19/05/2014. Pág.: 237, grifo nosso).

Portanto, a contagem do prazo de 15 dias iniciou-se em 13/09/12,


sexta-feira, encerrando-se em 27/09/12, sexta-feira, sendo manifestamente
tempestivas a contestação (fls. 65/82) e a reconvenção (fls. 115/25), apresentadas
em 26/09/13.
Rejeito a preliminar.
Da lesão no distrato
Da análise dos autos, verifica-se que as partes firmaram contrato de
serviço empresarial de atividade musical, em 23/10/09, com vigência de dois anos,
podendo ser prorrogado por igual período (fls. 10/2).
Todavia, em 21/10/10, as partes celebraram distrato (fls. 49/50), em
que constam obrigações mútuas, sob pena de multa, in verbis:

"[...]
1ª- O contratado se compromete a transferir o domínio do site
www.mcjenny.com.br, para a contratante no prazo máximo de 10 dias após
a assinatura do presente instrumento.
2ª- A contratante ficará responsável por prestar 35 shows para o contratado
com início em janeiro de 2011 e término em maio de 2012. Os shows serão
prestados no mínimo duas vezes por mês de acordo com a agenda da
contratante devendo ser comunicado com no mínimo 5 dias de
antecedência, ressaltando que todas as despesas ficam a cargo do
contratado, tais como: gasolina, alimentação e hospedagem dos integrantes

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do grupo (com apresentação de nota fiscal).


3ª- As partes optaram por fixar uma multa no valor de 138 (cento e trinta e
oito) salários mínimos, pelo descumprimento das cláusulas 1 e 2 do
respectivo distrato contratual.
[...]" (fl. 49).

O apelante-autor alega que o distrato foi proposto pela apelada-ré,


sendo equivocado o entendimento do Juízo a quo de que houve lesão por
inexperiência, que culminou com a anulação do negócio jurídico.
Dispõe o art. 157 do CC, in verbis:

"Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional
ao valor da prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores
vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento
suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito."

A lesão é o negócio defeituoso em que uma das partes, abusando


da inexperiência ou da premente necessidade da outra, obtém vantagem
manifestamente desproporcional ao proveito resultante da prestação, ou
exageradamente exorbitante dentro da normalidade.
Sobre as circunstâncias em que as partes negociaram o distrato,
transcrevo trechos dos depoimentos prestados pelas partes, in verbis:

"DEPOIMENTO PESSOAL DO AUTOR:


[...]; que antes de assinar o distrato, houve uma reunião na casa do autor
onde estavam presentes a ré, seus esposo e sua mãe; que, durante a
reunião, as partes discutiram acerca da quantidade de shows e de quem
deveria tomar a frente da negociação, discussão esta que culminou na
retirada da ré, sua mãe e seu esposo da residência do autor; [...]." (fl. 305).

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"DEPOIMENTO PESSOAL DA RÉ:


[...]; que quando terminou com o autor a relação profissional, a ré o procurou
para formalizar o distrato, tendo para tanto, ligado para ele; que, em contato
com o autor, este a chamou para uma reunião em sua casa; que a ré
compareceu à reunião juntamente com sua mãe e seu namorado; que, na
citada reunião, o autor passou a ameaçar a ré na presença de sua mãe e
seu namorado, dizendo que se a mesma quisesse quebrar o contrato ele iria
acabar com a sua carreira, uma vez que tinha todas as informações a
respeito de sua vida; que o autor não emitia documentos fiscais a respeito
das contratações efetuadas; que, em diversas ocasiões, o autor apresentou
para a ré conta negativa a respeito dos shows; que, em razão da pressão já
noticiada, a ré assinou distrato que é objeto desta ação sendo que, dos 35
shows contratados, realizou 3 deles; que o lucro dos shows relativamente
ao distrato ficava 100% com o autor, sendo que as despesas eram pagas
pelo contratante.
[...]; que quando as partes efetuaram o distrato, todos os bens e direitos
relevantes para a carreira da ré foram restituídos, exceto um tal contrato do
governo de 6 anos, segundo o qual o autor poderia acabar com a carreira
da ré; [...]." (fls. 307/8).

Nesse contexto, além de a apelada-ré ter negociado o distrato


acompanhada de pessoas leigas no assunto, ficou constatada a
desproporcionalidade entre as obrigações assumidas pelas partes, quais sejam,
transferência do domínio do site pelo apelante-autor e realização de 35
apresentações pela apelada-ré, bem como a excessiva onerosidade da multa fixada
pelo descumprimento, sendo evidente a ocorrência da lesão, por inexperiência da
apelada-ré, o que enseja a anulação do negócio jurídico.
Assim, com a licença do MM. Juiz Manuel Eduardo Pedroso Barros,
transcrevo os fundamentos da r. sentença para adotá-los como razões de decidir, in
verbis:

"Analisando o contrato ajustado entre as partes anteriormente a assinatura


do distrato (fls. 10/12), a única penalidade é aquela estabelecida na cláusula
Décima Primeira, pela qual a ré, contratante, na hipótese de

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descumprimento de quaisquer cláusulas, deveria indenizar o autor,


contratado, os gastos efetuados em benefício da carreira da ré.
A prova oral e documental colacionada aos autos deixou claro que as partes
mantinham uma contabilidade na forma de conta-corrente na qual eram
lançados os créditos dos shows e as respectivas despesas envolvendo
tanto os shows quanto gastos com a promoção da ré.
À míngua de qualquer prova em sentido contrário, é de se concluir que ao
longo da relação contratual mantida entre as partes os investimentos
efetuados pelo autor acabaram, mau ou bem, sendo pagos com o produto
dos shows.
O autor não faz prova de eventual investimento em benefício da ré que não
tenha sido coberto pelo produto dos shows realizados. Aliás, ao longo de 1
(hum) ano o autor empresariou cerca de 100 (cem) shows da ré.
Ao final do relacionamento os bens materiais emprestados pelo autor para
promoção do evento continuaram na propriedade deste, razão pela qual não
vislumbro prejuízo do mesmo na relação contratual rompida.
Desta maneira, não haveria razão para a ré assinar um distrato se
obrigando a realização de 35 shows, muito menos com uma penalidade que
supera o próprio valor da obrigação principal.
Por esta razão é plausível a alegação da ré de que assinou referido distrato
por pressão do autor consubstanciada em ameaças de prejudicar a sua
carreira.
O autor não emitia documento fiscal relativamente aos ganhos do show, ou
seja, o produto da produção artística não era contabilizado oficialmente,
sendo verossímil que tal fato pudesse repercutir negativamente na imagem
da ré.
Quando da assinatura do distrato a ré se fez presente com familiares seus,
todos desprovidos de conhecimentos técnicos, de maneira que, reputo que
tenha assumido a obrigação constante no distrato por evidente
inexperiência, o que caracteriza o vício de consentimento relativo a lesão.
Com efeito, podendo a ré se desvencilhar da relação contratual primitiva
mediante simples denúncia nada justifica a assunção da obrigação contida
no distrato, senão a inexperiência da mesma neste segmento de negócio.
[...]

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Assim, podemos vislumbrar três requisitos para que a lesão se


verifique como vício na formação do consentimento; dois de ordem subjetiva - a
premente necessidade e a inexperiência do negociante prejudicado; e um de
natureza objetiva - a manifesta desproporção entre as contraprestações devidas.
Reputo presentes, in casu, todos os requisitos relativos a lesão,
razão pela qual desconstituo o distrato assinado entre as partes, sendo
improcedente a cobrança da multa em razão da anulação do negócio." (fls. 358/62).
Isso posto, conheço da apelação do autor-reconvindo, rejeito a
preliminar de intempestividade da contestação e da reconvenção, e nego
provimento.
É o voto.

O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Revisor


Com o relator

A Senhora Desembargadora ANA CANTARINO - Vogal


Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.

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