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Repesca PDF
Repesca PDF
ISSN –
Brasileira de
Engenharia de Pesca
Volume 2, Número 1 - Janeiro de 2007
Aqüicultura: áreas na
Bacia do Itapecuru, MA
Alemanha e Áustria:
Atlas da Ictiofauna
Carotenóides:
Fontes naturais para a
aqüicultura
História: Associação
dos Engos de Pesca de PE
REVIZEE:
Missão cumprida?
Subiendo redes (Quadro de Héctor Becerini)*
2
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFRPE
Quadrimestral
CDD 639
______________________________________________________________________________
Apoio
3
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ISSN 1980-587X
Editorial
P
rezados amigos que estão acompanhando nossa Revista Brasileira de Engenharia
de Pesca (REPesca), estamos apresentando o segundo número (V.2, N.1) da
Revista, esperando corresponder a expectativa de todos ou pelo menos da maioria.
Muitas coisas ocorreram neste período, eleições, debates e como não poderia deixar de ser
calorosas discussões entre os honoráveis participantes de nosso “GI de Pesca e
Aqüicultura”. Por outro lado, alguns sectários da desinformação lançaram suas redes, com
velhos refrões. Ultimamente, tem estado na moda criticar a atividades de aqüicultura
imputando-lhes culpa pelos desmazelos ambientais: seculares práticas de poluidores
tradicionais. Não se levando em consideração os benefícios desta atividade, geradora de
emprego e renda em regiões de tão baixo nível de desenvolvimento humano e de tão
escassas possibilidades de implemento de atividades capazes de gerar suporte financeiro e
valorização social do homem. Outro fato notório foi a crítica infundada aos colegas que
trabalham no controle dos ataques de tubarões na costa do grande Recife que esqueceram
os reclamos da sociedade acerca os acidentes com tubarões que, além de ceifar vidas, tem
causado prejuízos a atividade turística e cerceado a população do seu direito de lazer,
prazeroso e barato.
*CAPA: “SUBIENDO REDES” QUADRO DO PINTOR MARINISTA E DIRETOR DO Museo del Hombre del
Puerto (MAR DEL PLATA, ARGENTINA) HÉCTOR BECERINI (FOTO), QUE GENTILMENTE NOS CEDEU AS
FOTOS DE SEUS QUADROS PARA EMBELEZAR NOSSA REVISTA, COM INTERVINIÊNCIA DE PASQUALINO
Marchese. A AMBOS OS NOSSOS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS.
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Sumário
Pag.
Normas para Publicação 6
I - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS
Atlas da biodiversidade de peixes da Alemanha e Áustria – um contributivo para comunicação e 9
informação na ictiologia
- Heiko BRUNKEN, Universidade de Ciências Aplicadas Bremen, Alemanha.
A Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco: histórico e atuação 19
- Maria do Carmo Figueredo SOARES; Leonardo Teixeira de SALES; José Milton BARBOSA; Augusto
José NOGUEIRA; Vanildo de Souza OLIVEIRA; Claudia Fernanda da F. OLIVEIRA
REVIZEE – Missão cumprida? 27
- Carlos Frederico Simões SERAFIM - SECIRM
Beneficiamento e comercialização do pescado na Região de Itapissuma, Pernambuco 44
- José Milton BARBOSA; Helder Correia LIMA; Erivaldo José da SILVA JÚNIOR; Artur Delmiro
Sodré da MOTA; Ivo Thadeu Lira MENDONÇA; Edson José da SILVA FILHO
Museo del Hombre del Puerto (Mar del Plata, Argentina) 56
- Héctor BECERINI
A pesca oceânica no Brasil no século 21 60
- Fábio Hissa Vieira HAZIN; Paulo Eurico TRAVASSOS
Método primitivo de transporte do caranguejo-uçá compromete sustentabilidade do estoque 76
- Raimundo Ivan MOTA
I I- ARTIGOS CIENTÍFICOS
Áreas potenciais para a aqüicultura sustentável na bacia do rio itapecuru: bases para o 80
planejamento utilizando o Sistema de Informação Geográfica
- Haroldo Gomes BARROSO; Antônio de Pádua SOUSA
Fontes naturais de carotenóides de interesse para a aqüicultura: eficiência de métodos de extração 103
- Renata PASSOS; Danilo G. MORIEL; Francisco LAGREZE; Luisa GOUVEIA; Marcelo
MARASCHIN; Luis H. BEIRÃO
Utilização da macrófita aquática Egeria densa Planchon, 1849 (Hydrocharitacea) na produção de tijolos 114
para construção civil
- Thales Pacífico BEZERRA; Cristiano Pereira da SILVA; José Patrocínio LOPES
Análise estatística das variáveis de cultivo do camarão Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) 128
- Bruno Leonardo da Silva SANTOS; Paulo de Paula MENDES
Sobrevivência de tilápia-do-nilo Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758), em diferentes concentrações de 143
biofertilizante.
- Éder André GUBIANI; Nyamien Yahault SEBASTIEN
Utilização do anelideo enquitréia, Enchytraeus albidus Henle, 1837 na alimentação do niquim, 156
Lophiosilurus alexandri Steindachner, 1876 durante a alevinagem inicial
- José Patrocínio LOPES; Tâmara A. e SILVA; Darciene S. GOMES; Ana Cristina M. RANGEL
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I - ARTIGOS TÉCNICOS/INFORMATIVOS
RESUMO
Pela primeira vez são apresentados mapas de distribuição de peixes de água doce e peixes marinhos,
para toda a Alemanha e Áustria. O projeto “Atlas da Biodiversidade de Peixes da Alemanha e Áustria”
tem um sistema de informações ictiológico feito com base nos programas BioOffice 2.0© (BIOGIS
GmbH, Salzburg) e ArcGis 9© (ESRI) (banco de dados e geographical information system). O acesso
a mapas e informações biológicas está aberto para o público via internet (www.fischartenatlas.de). Os
mapas se baseiam em grid de sistema de mapas na escala 1:25.000 para Alemanha (sistema de grid
1:50.000 para Áustria e sistema de grid 5x5 milhas marítimas para o Mar do Norte e Mar Báltico
respectivamente). O layout dos mapas pode ser modificado online, a depender de informações
escolhidas no background, como topografia, bacias hidrográficas, sistema de grid dentre outras. Além
disso, os mapas da distribuição oferecem informações ictiológicas, por exemplo, sobre biologia e
taxonomia das espécies com uma galeria de fotos. Fora essas informações a cerca de espécies, o atlas
contém informações sobre literatura, lei européia nas áreas de proteção ambiental, projetos de
recuperação dos rios e chaves de identificação das espécies. O atlas é um projeto independente non
profit e preenche uma lacuna entre as ofertas de informações globais, como fishbase, e regionais (por
exemplo, com relação a cada Estado). A redação do projeto encontra-se na Hochschule Bremen
(Universidade de Ciências Aplicadas Bremen) sob os auspícios de Gesellschaft für Ichthyologie
(Sociedade Ictiologia da Alemanha). O input das informações específicas ou informações sobre as
bacias hidrográficas é provido por uma equipe de aproximadamente 50 especialistas externos, que vão
completando e atualizando o banco de dados continuamente.
PALAVRAS-CHAVES: Sistema de informação ictiológica, Alemanha, Áustria, Mar do Norte, Mar Báltico
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INTRODUÇÃO
Até hoje não há mapas de distribuição de peixes, nem da Alemanha (incluindo o Mar do Norte e
o Mar Báltico), nem da Áustria. Uma das causas desta ausência é o fato do órgão responsável pela
pesca na Alemanha ser estadual, e não federal. Com a introdução da Lei Européia referente às áreas de
proteção ambiental, onde os peixes servem como bioindicatores para a qualidade das águas (Diretiva
2000/60/CE), ou seja, estão protegidos pela rede européia das reservas da natureza “NATURA 2000”
(Diretiva 92/43/CEE).
Apesar de o interesse pelos dados de biologia e distribuição de peixes ter aumentado muito,
tanto em águas doces, como em águas marinhas, ainda não existem informações adequadas. Os dados
existentes estão espalhados (por exemplo, nas instituições estaduais de pesca, nas universidades ou
museus naturais) e o sistema global fishbase (FROESE; PAULY, 2006) não tem uma escala apropriada
e ainda não foi plenamente aceito por estar em inglês e ter uma estrutura complexa. No entanto, fazer
uma monografia sobre todas as espécies da Alemanha e Áustria por meio de uma abordagem científica,
a fim de preencher essa lacuna, parece quase impossível para uma só pessoa, devido à gama de
informações existentes atualmente.
Desta necessidade de uma exata catalogação das espécies de peixes resultou a idéia de distribuir
o trabalho entre diversos colegas. Partindo da idéia de “um peixe (espécie) por pessoa” tentaremos criar
uma rede de especialistas, para a qual um grande número de “encarregados de espécies” contribuirão,
cada um em seu lugar de origem, o que resultará em uma plataforma de informações sobre biologia e
distribuição dos peixes. Essa plataforma, que tem o nome de “Atlas da Biodiversidade de Peixes da
Alemanha e Áustria”, terá uma redação central na Universidade de Ciências Aplicadas de Bremen,
onde também será administrada e posta à disposição de um público de cientistas e pessoas interessados.
Uma vez que na realidade não haverá especialistas suficientes para todas as espécies e, por outro
lado, muitos especialistas trabalham com várias espécies, tentar-se-á construir um grupo de
especialistas de aproximadamente 50 pessoas para peixes de água doce e, caso se leve em consideração
os peixes marinhos, o número será bem maior.
Objetivo e intenção do projeto são a criação, a longo prazo, de uma plataforma de comunicação
e informação na área de ictiologia, tendo em vista primordialmente a conservação e a proteção das
espécies e dos ecossistemas aquáticos. Com este projeto, queremos reunir pessoas e informações para
apoiar a pesquisa ictiológica. É importante frisar que não temos a intenção de construir um centro de
dados, paralelo ao das instituições oficiais já existentes. Em várias instituições já existem excelentes
bancos de dados (por exemplo, nas superintendências de pesca estaduais ou nas instituições ligadas à
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MAPAS DE DISTRIBUIÇÃO
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Figura 1 – Mapa de distribuição exemplar do banco de dados, parte „Peixes de água doce da
Alemanha”. Nas barras de navegação à direita se pode modificar o layout dos mapas online
escolhendo-se várias informações no background como, topografia (Topographie), bacias
hidrográficas (Flussgebiete) ou sistema dos rios (Gewässernetz). Clicando „Artinformationen
(PDF)“ se pode acessar aos dados biológicos da espécie. O “cartão-de-visita” tem informações
sobre o especialista da espécie.
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ESTRUTURA DE DADOS
No centro do sistema das informações há o programa BioOffice 2.0© (de empresa BIOGIS,
Salzburg, Áustria), feito especialmente para o projeto (BRUNKEN; BRUNSCHÖN, 2006) (Figuras 3 e
4). Importação e exportação de dados são feitas com um módulo do programa MS-Access© com várias
funções especiais para filtrar e controlar os dados. Os mapas são configurados com ArcGis© (de
empresa ESRI), com o programa BioMapper© (de empresa BIOGIS). A exportação de dados para
internet é feita através de um banco de dados MySQL.
Os mapas de distribuição são criados online, quando o usuário acessa o site na internet. Com
isso, pode ter várias opções de background, como topografia, bacias hidrográficas, sistema dos rios ou
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áreas protegidas. Os mapas têm informações biológicas, fotografias e vários outros dados sobre cada
espécie (atualmente ainda em fase de construção).
o
çã Locais de Espécies
orta Objetos
p distribuição
Ex
L- Tabelas das
SQ Pontos da distribuição
a. grid dos mapas espécies
ArcGIS 9© b. Coordenadas
(agora mais ou menos
100.000 dados)
BioOffice 2.0© exatas
Alemanha água doce
Austria água doce
Banco de dados Alemanha marinhos
A estrutura do atlas é aberta para colaboradores. Há várias formas de apoiar o projeto, por
exemplo, redigindo uma monografia sobre uma espécie, contribuindo com literatura ou colaborando
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com projetos nas áreas de recuperação dos rios ou proteção das espécies ameaçadas. Os colaboradores
podem corrigir e completar as informações sobre a distribuição das espécies. O atlas tem muitas
informações para download sobre normas para publicação, transferência de dados, etc. na página
“contato e redação” (Kontakt & Redaktion). O input das informações específicas ou informações com
relação às bacias hidrográficas é provido por um grupo de aproximadamente 50 especialistas externos,
que vão completando e atualizando o banco de dados continuamente. Os especialistas contribuem com
monografias e outras colaborações com direitos autorais, havendo regras claras de como se fazer
citações. A redação do projeto encontra-se na Hochschule Bremen (Universidade de Ciências
Aplicadas Bremen), no grupo de pesquisa ecologia de peixes.
O projeto ainda está na fase da construção. Além de informações específicas, o atlas deve conter
colaborações sobre temas como: lei européia nas áreas de proteção das águas (quadro de ação
comunitária no domínio da política da água; Diretiva 2000/60/CE) e da natureza (preservação dos
habitats naturais e da fauna e da flora selvagens; Diretiva 92/43/CEE), literatura, especialmente artigos
sobre distribuição de peixes, relatórios, monografias e várias dissertações, chaves de identificação com
fotografias, gráficos, tabelas, informações sobre espécies ameaçadas e possibilidades para a sua
proteção, informações sobre projetos de recuperação dos habitats aquáticos e informações sobre
coleções ictiológicas (museus, universidades),
CONCLUSÕES
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deve se utilizado para um projeto paralelo de museus ou universidades, muito pelo contrário, ele deve
ser uma plataforma de comunicação e ajuda para todos os colaboradores.
Em princípio, as idéias apresentadas nesse artigo – tanto o banco de dados como a estrutura de
uma rede de ictiologistas – podem ser empregadas a outras áreas e outros grupos de animais e plantas.
Sua estrutura permite, com seu sistema facilmente inteligível, que essas idéias possam ser empregadas
aplicando uma mistura de programas universais e específicos (BioOffice©) sem grande esforço.
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer a:
- Corinna Brunschön, Henning Harder, Martin Sperling e Martin Winkler pelo apoio técnico e pela
realização do projeto.
- Silke Eilers, Jörg Freyhof e Matthias Hein pela colaboração redacional.
- Glícia Calazans pela ajuda nos contatos e comunicação no Recife.
- Vania Kahrsch pela tradução.
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HISTÓRICO E ATUAÇÃO
RESUMO
São apresentados alguns dados sobre a Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco
(AEP-PE), ao longo de sua trajetória de 28 anos de existência, na qualidade de uma associação de
classe pioneira no país. Destacou-se um pequeno histórico desde a sua fundação, com a composição da
primeira diretoria até as principais ações desenvolvidas pelo grupo.
INTRODUÇÃO
A importância do convívio em nível das associações de classe pode ser mais bem entendida,
refletindo-se sobre as três instâncias indivíduo-sociedade-espécie, formando uma tríade inseparável. O
indivíduo humano, mesmo na sua autonomia, é 100% biológico e 100% cultural (MORIN, 2005).
Partindo dessa premissa apresenta-se a Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco, (AEP-
PE) uma das primeiras associações da classe dos engenheiros de pesca, que vem conseguindo reunir-se
ao longo dos anos, de forma contínua, com uma boa participação de seus associados.
A AEP-PE foi fundada em 20/01/1978 no Departamento de Pesca da Universidade Federal
Rural de Pernambuco. É nesta universidade, que também foi criado o primeiro curso de Engenharia de
Pesca do país, cuja implantação se deu em 1971, por iniciativa do então reitor, Adierson Erasmo de
Azevedo. Nesses vinte e oito anos de existência vem implementando ações, no sentido de fortalecer as
atividades do profissional da Engenharia de Pesca. Com o desenvolvimento do setor pesqueiro nacional
a responsabilidade da categoria aumentou, principalmente, no que se refere à extração sustentável de
produtos pesqueiros através da pesca e da aqüicultura.
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A Engenharia de Pesca é uma habilitação que integra a área das Ciências Agrárias, na subárea
de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca e qualifica, em nível superior o profissional para a
intervenção técnico-científica em aqüicultura, pesca e tecnologia do pescado, além de atividades de
pesquisa, ensino e extensão em biotecnologia e demais serviços voltados à aqüicultura e pesca.
Portanto, as associações dos engenheiros de pesca no Brasil, buscam discutir e defender, além de
valorizar as ações da categoria inseridas no desenvolvimento do setor pesqueiro nacional.
CRIAÇÃO DA AEP-PE
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Oceanografia da UFPE, na época, funcionando na Av. Bernardo Vieira de Melo, 986, Piedade,
Jaboatão dos Guararapes. A partir do segundo semestre de 1980, a sede provisória passou a ser o
Departamento de Pesca da UFRPE, no Bairro de Dois Irmãos. Seguiu-se como sede para reuniões em
1982, o Clube de Engenharia localizado na Rua Real da Torre 501, bairro da Madalena. Durante o
biênio 1986/1987 funcionou no Edifício CIBRAZEN no Bairro de São José, sendo que, a partir de
1988, retornou para o Clube de Engenharia de Pernambuco. Na reunião de 02/06/1988 estabeleceu-se
em ata, que as reuniões da AEP-PE, seriam realizadas semanalmente, toda às quintas-feiras, no horário
das 18:00h, no Clube de Engenharia. Posteriormente, em junho de 2005, as reuniões passaram a ocorrer
no Círculo Militar de Pernambuco, com freqüência semanal, até a atualidade.
Dentre as principais atividades da AEP-PE destacam-se suas reuniões periódicas presididas pelo
presidente e, na sua ausência, pelo vive-presidente. É interessante caracterizar, uma certa informalidade
nestas reuniões e o clima de amizade que se construiu ao longo do tempo. A Tabela 1 apresenta a
relação dos presidentes da AEP-PE com as respectivas datas de seus mandatos.
* Dalgoberto Coelho de Araújo foi substituído pelo Vice-Presidente, Vanildo Souza de Oliveira, em
virtude de sua redistribuição para o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, no Estado do
Ceará.
Os presidentes são eleitos para gestão que compreende um biênio, podendo ser re-eleito. O
regimento interno estabelece um prazo mínimo de 30 dias para a posse da diretoria eleita. A pose de
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
cada diretoria eleita é feita em assembléia da categoria. Neste momento é comum ocorrer homenagens
com distribuição de placas e títulos a sócios benemérito e honorário. Acontece também um jantar de
confraternização natalina e de comemoração ao dia nacional do Engenheiro de Pesca, aproximando a
categoria profissional do Estado.
A partir da VIII Semana do Engenheiro de Pesca (2002), evento anual, realizado pelo grupo do
Programa de Educação Tutorial do Curso de Engenharia de Pesca (PET/Pesca) da UFRPE, o dia 14 de
dezembro, passou a ser anunciado em folder e faixas deste evento, abrindo-se inclusive a participação
de representantes discentes no jantar de adesão do dia do Engenheiro de Pesca, organizado anualmente
pela AEP-PE. A associação também tem participado, a convite do grupo PET/Pesca das semanas,
apoiando-as e marcado sua presença através de mesas-redondas e na sessão de abertura, ressaltando os
aspectos da valorização profissional.
A Tabela 2 apresenta um demonstrativo dos Congressos de Engenharia de Pesca (CONBEP),
evento máximo da categoria, que acontece com periodicidade de dois anos, congregando os
profissionais da área e associações responsáveis pela sua organização, juntamente com a Federação das
Associações dos Engenheiros de Pesca do Brasil (FAEP-BR).
Outras atividades desenvolvidas pela AEP-PE são eventos e celebração de convênios/projetos na área
das Ciências Pesqueiras, a exemplo do convênio celebrado entre a AEP-PE e a SUDENE, intitulado:
“Estudo para o Desenvolvimento da Maricultura do Nordeste” durante a gestão 2000/2001, envolvendo
engenheiros de pesca, pesquisadores da SUDENE e professores do Departamento de Pesca e
Aqüicultura da UFRPE. Palestra e cursos de extensão estão ocorrendo na atual gestão com apoio do
DEPAq, a exemplo do curso, intitulado: Piscicultura Ornamental, Concepção, Implantação e
Empreendimento, ocorrido nos período de 30/10 a 1/11/2006 na sede do DEPAq, tendo sido ministrado
pelo Prof. Dr. George Nilson (UFPE) que também é engenheiro de pesca associado da AEP-PE. Outro
momento bem prestigiado pelo público acadêmico da UFRPE foi a palestra: O desenvolvimento da
tilapicultura no São Francisco a partir do papel comercial da Netuno e as oportunidades para o
Engenheiro de Pesca, ministrada em 28/08/2006 pelo Engo de Pesca Rogério Bellini .
Uma atividade acadêmica que vem acontecendo junto a AEP-PE, através do Programa de
Educação Tutorial do Curso de Engenharia Pesca da UFRPE, é a participação de discentes/bolsistas
deste programa nas reuniões da associação desde o ano de 2003, numa ação denominada: O PET/Pesca
vai a AEP/PE. A atividade foi inserida no planejamento anual do grupo e visa aproximar os alunos de
graduação do Curso de Engenharia de Pesca, mais precisamente os bolsistas e voluntários do PET com
a categoria profissional.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Os petianos vêem participando desta atividade, numa forma de interação entre a academia e os
profissionais. Nas reuniões semanais do grupo na Sala do PET/Pesca na UFRPE são colocados os
principais temas que foram tratados na AEP-PE, sendo sempre retirado o representante do grupo que
participará da próxima reunião. Todos os bolsistas, voluntários e a própria tutora do grupo já
participaram de várias reuniões realizadas na AEP-PE, de tal forma que está se mantendo uma
freqüência quinzenal do grupo na Associação. Foi realizado pela tutora e integrantes do grupo um
breve resgate histórico da AEP-PE e das principais atividades desenvolvidas, sob a forma de pequena
publicação (SOARES et al, 2003), apresentada durante a III Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão
(JEPEX) da UFRPE, ressaltando a atuação desta associação e o espaço por ela aberto para a academia.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Outro aspecto a ser destacado foi à criação da comunicação eletrônica entre os membros da
AEP-PE, incluindo a convocação das reuniões entre seus associados, na gestão do presidente Ronaldo
Almeida Lins e a criação do GI Pesca & Aqüicultura - pesca_aquicultura@grupos.com.br (Grupo de
Interesse em Pesca e Aqüicultura) pelo então vice-presidente Leonardo Sales. De fato, com o
desenvolvimento das tecnologias eletrônicas e informatizadas, o cotidiano na sociedade atual tem
encurtado as distâncias e permitido maior interação. A partir desta ação, aumentou inclusive, a
freqüência de participação dos associados nas reuniões.
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Ainda, segundo o mesmo autor op.cit. para que o desenvolvimento seja sustentável, precisa contemplar
as dimensões: econômica, social, ambiental (ecológica), espacial e cultural.
Iniciativas como a Reunião sobre o Ensino da Engenharia de Pesca no Brasil, ocorrida em
Fortaleza no ano de 1995, numa promoção da FAEP-BR, tendo a frente o presidente Leonardo Teixeira
de Sales e contando na época com o patrocínio do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CONFEA) além do apoio da AEP-CE, DEPESCA-UFC e do CREA-PE precisam ser mais
estimulados na atual conjuntura onde a Resolução no 5, de fevereiro de 2006, instituiu as diretrizes
Curriculares para o curso de graduação em Engenharia de Pesca.
CRIAÇÃO DA REPESCA
Outro importante marco para a classe, com participação da AEP-PE, foi a recente criação da
Revista Brasileira de Engenharia de Pesca (REPesca). Lançada no dia 4 de agosto, deste ano, durante a
aula inaugural do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Maranhão, no Palácio dos
Leões em São Luis do Maranhão. A REPesca é uma revista semestral e tem por objetivo divulgar
trabalhos técnicos/informativos e científicos de profissionais da área de Recursos Pesqueiros e
Engenharia de Pesca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Depoimentos e a práxis do cotidiano destes profissionais tornam-se focos de discussão das reuniões
permitindo que conceitos e vivências possam ser formados e internalizados pelo estudante de
engenharia de pesca da UFRPE.
A discussão das diretrizes curriculares nacionais para os cursos de Engenharia de Pesca deve
necessariamente envolver os atores interessados, passando pelos profissionais egressos destes cursos
através de suas associações, da academia e do público em geral com atuação no setor pesqueiro
nacional.
REFERÊNCIAS
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SOARES, M. C. F. S. A Associação dos Engenheiros de Pesca de Pernambuco e o Programa Especial
de Treinamento do Curso de Engenharia de Pesca. Anais do III JEPEX- UFRPE, 2003. CD-ROM .D
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
O presente trabalho apresenta uma breve avaliação do programa REVIZEE, desenvolvido durante dez
anos por diversas instituições de pesquisa do país, constituindo-se no mais importante programa de
pesquisa na área de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca no âmbito nacional. Os resultados
possibilitaram uma mudança de mentalidade com respeito aos mares brasileiros: mitos foram desfeitos
e realidades foram mostradas, com a descoberta de novos recursos, dantes desconhecidos.
MITO E REALIDADE
No dia quatro de setembro passado, em cerimônia realizada no Espaço Cultural da Marinha, com
a presença da Ministra de Estado Marina Silva, do Secretário da Pesca Altemir Gregolin, e do
Comandante da Marinha e Coordenador da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar
(CIRM), Almirante de Esquadra Roberto de Guimarães Carvalho, foi encerrado o mais bem sucedido
Programa, de âmbito nacional, sobre os recursos vivos do mar no Brasil, o REVIZEE, programa que
propiciou o desenvolvimento de pesquisas no mar brasileiro pelo período de dez anos.
Em pesquisas que duraram dez anos, o REVIZEE quebrou o mito de que em função de sua
grande extensão costeira – cerca de 8.500 km, e uma Zona Econômica Exclusiva (ZEE), de cerca de
3,5 milhões de km2 e volume de massa líquida d’ água da ordem de 10,0 bilhões de m3, delimitada por
uma área que se estende desde limite do Mar Territorial, de 12 milhas marítimas de largura, até 200
milhas marítimas - o mar brasileiro reuniria todas as condições para transformar o país num dos
maiores produtores mundiais de pescado por captura. Mas pelos levantamentos realizados, devido às
condições oceanográficas, que tornam a zona eufótica de nossas águas jurisdicionais, onde vive a
maioria dos peixes, deficitária em nutrientes, observa-se a ocorrência de baixos estoques pesqueiros, ou
seja, biomassas relativamente pequenas de cada espécie.
Por outro lado, o REVIZEE possibilitou a descoberta de novas espécies, diversas delas
endêmicas, a apuração do potencial de captura de outras já conhecidas, algumas de alto valor comercial
e ainda subexplotadas, revelou hábitos desconhecidos de espécies pelágicas e demersais e apresentou
uma exuberante fauna marinha, constituída de um invejável número de espécies. Mas, como dito
anteriormente, com pouco volume de exemplares em cada uma, todas sensíveis à degradação ambiental
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MOTIVAÇÃO
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tendo em conta os melhores dados científicos disponíveis, de modo que fique assegurado, por meio de
medidas apropriadas de conservação e gestão, que tais recursos não sejam ameaçados por um excesso
de captura ou coleta. Essas medidas devem ter, também, a finalidade de restabelecer os estoques da
captura, de modo que se produza o rendimento máximo sustentável dos recursos vivos marinhos, sob
os pontos de vista econômico, social e ecológico.
CRIAÇÃO DO REVIZEE
ESTRATÉGIA E ESTRUTURA
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INVESTIMENTOS
Os dados coletados mostram que a tomada de ações mais efetivas no controle do esforço
pesqueiro são essenciais. Todos os trabalhos científicos e análises, reunidos em diversos relatórios e
concentrados no sumário executivo, recentemente publicado e disponibilizado pelo MMA, são
categóricos: salvo poucas exceções, a pesca na ZEE do Brasil está sendo feita de forma insustentável.
O REVIZEE mostrou com clareza a inexistência de estoques de pescado capazes de gerar ou sustentar
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estudavam o tema, localizadas no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. Para
cada população foi montado um diagnóstico sobre o conhecimento e o estado de explotação das
espécies. Isso equivale a dizer que os pesquisadores estudaram, além da dinâmica da frota de
pesqueiros, o ciclo de vida de cada conjunto de indivíduos. Para que a análise ficasse completa, o foco
dos cientistas se voltou tanto para o coletivo quanto para o individual, com o estudo de cardumes e de
seus indivíduos.
No caso específico da região Sul-Sudeste, onde a exploração industrial dos recursos pesqueiros é
maior, foi necessário analisar cinco tipos de frota. A de arrasto, a de cerco ou traineiras, a de covos ou
armadilhas, a de espinhel ou linha e a de emalhar. Em todos os casos, o que os empresários e
pescadores fazem é desenvolver um método e aliá-lo à tecnologia disponível, para melhorar cada vez
mais o rendimento final. E para que tudo isso dê certo, é preciso que se saiba, de antemão, qual o
objetivo daquela pescaria.
As técnicas de arrasto, que praticamente varrem o fundo do mar, normalmente na altura da
plataforma continental, com profundidade média de 150 metros, são usadas para a pesca dos chamados
peixes demersais. São peixes como o linguado, que gosta de areia. Eles têm os dois olhos de um lado só
do corpo. As camaroneiras também utilizam esse mesmo sistema, que pode ter algumas variações,
dependendo da situação. A frota de cerco é composta necessariamente por traineiras. No litoral Sul e
Sudeste do Brasil, esses barcos suspendem dos portos com a missão de voltar atestados,
principalmente, de sardinha (Sardinella brasiliensis). Apenas durante o inverno, na entressafra, é que
eles buscam os cardumes de corvina (Micropogonias furnieri). A sardinha desaparece no inverno (por
causa do ciclo reprodutivo) e então, a única alternativa encontrada foi sobreviver com a pesca da
corvina.
As armadilhas servem para a captura
de peixes e de crustáceos. E essas operações
podem ser feitas a mil metros de
profundidade, no caso dos caranguejos real
(Chaceon ramosae) e vermelho (C. notialis)
Figura 6 - Caranguejo-real Chaceon ramosae (Esquerda)
(Figura 6), cuja biomassa abundante foi e caranguejo-vermelho C. notialis (Direita)
RODÍZIO ECOLÓGICO
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O extenso litoral brasileiro, recortado por enseadas e baías, pode muito bem comportar, desde
que bem regulamentadas atividades que tragam desenvolvimento econômico e social, em
complementação à atividade pesqueira tradicional. Isso, claro, desde que se leve em conta o uso de
águas públicas e o interesse de seus múltiplos usuários, o destino dos efluentes, o controle sanitário e
assim por diante. É importante, em termos de áreas geográficas, que ocorra uma espécie de rodízio de
espécies cultivadas nas mariculturas. Com os dados do REVIZEE é muito fácil identificar onde é
possível pescar.
O pescador artesanal sabe agora onde encontrar determinada espécie. Os experimentos
realizados no âmbito do Programa também permitem saber se uma técnica é mais ou menos nociva a
certas espécies. A expectativa é de que, além de se transformar em paradigma da pesquisa
oceanográfica brasileira, o REVIZE continue dando frutos. Temos material para mais dez anos de
trabalho, que poderão produzir um número significativo de relatórios, trabalhos científicos, teses,
apresentações em conclaves e contribuições em reuniões técnicas. Ele também está sendo publicado
em linguagem não científica para que possa ser divulgado à sociedade como um todo, incluindo os
nossos pescadores artesanais.
Como efeito colateral, além do conhecimento das espécies que habitam nosso oceano, o
Programa acabou ampliando a formação de recursos humanos em todo o país, seja na área de
oceanografia propriamente dita, da hidroacústica ou da pesca. O desenvolvimento científico foi mais
acentuado no Norte e Nordeste do Brasil. Além dos dados biológicos, os cientistas conhecem melhor
agora as condicionantes oceanográficas que regem os recursos pesqueiros e o efeito de novas
tecnologias de pesca. O detalhamento do fundo marinho, realizado por modernas técnicas de análise,
também foi possível a partir dos esforços do REVIZEE.
Os mapas do leito do oceano foram gerados pelo Departamento de Oceanografia da Fundação
Universidade Federal do Rio Grande (FURG), situado na cidade de Rio Grande. Todo o estudo esteve
sob coordenação do oceanógrafo Lauro Saint Pastous Madureira, do Laboratório de Tecnologia
Pesqueira e Hidroacústica. Para chegar ao exuberante resultado, os pesquisadores trabalharam sobre
dados fornecidos por satélite e medições feitas com a técnica de batimetria, que registra a
profundidade do oceano com o auxílio de ecossondas instaladas em navios. As inéditas figuras foram
geradas com base em sete milhões de pontos georreferenciados, com latitude, longitude e
profundidade determinadas com rigor. No caso da Prainha de Canto Verde, no litoral leste do Ceará,
atividades paralelas também surgiram com o estudo do mar, como o turismo sustentável. Mas a pesca
ainda é a principal fonte de renda daquele local.
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Em pesquisa que durou dez anos, mais de 300 pesquisadores fizeram um levantamento completo
sobre a ZEE do Brasil, representando cerca de 60 universidades e instituições de pesquisa, distribuídas
ao longo de 17 estados costeiros. Foram empregadas mais de 10 embarcações oceanográficas e de
prospecção pesqueira, incluindo aquelas alugadas da frota comercial. Como já citado, apesar da grande
diversidade da fauna marinha, o estoque de peixes é pouco e deve ser manejado com cuidado para não
haver um desequilíbrio ecológico.
ULTRAPASSAGEM TECNOLÓGICA
No Brasil, frotas comerciais estão um passo à frente das científicas. As caravelas portuguesas,
que há 500 anos atravessaram o oceano Atlântico rumo ao Novo Mundo, são consideradas um grande
símbolo tecnológico da história da navegação. Nos tempos “cabralinos”, descoberta e negócios eram
protagonizados por uma mesma nau. Agora, separados os objetivos, a ciência ficou para trás. As frotas
comerciais que operam nos mares brasileiros continuam com tecnologia embarcada avançada, mais
moderna do que a dos navios oceanográficos.
Assim, para fazer frente às suas necessidades, o REVIZEE arrendou alguns desses navios, pois as
embarcações disponíveis para a prospecção eram, em sua maioria, inadequadas para o trabalho em
águas profundas.
Os avanços tecnológicos cada vez mais presentes nos barcos comerciais vencem a ciência. Com
mais ferramentas em mãos, os pescadores das frotas comerciais conseguem ir atrás dos cardumes que
lhes interessam com muito mais facilidade. Os recursos, portanto, são mais facilmente explorados. No
mundo inteiro, a tecnologia empregada na pesca vem tendo um papel mais destrutivo do que
construtivo, ampliando de forma desmedida a capacidade de navegação, localização do pescado e
captura por parte dos barcos comerciais.
Com todos os avanços técnicos, singrar os sete mares também tem sido uma tarefa muito fácil,
por isso, são comuns embarcações de bandeira espanhola, japonesa e coreana chegarem ao largo da
costa brasileira.
Para evitar sérios conflitos internacionais, por causa da disputa por espaços oceânicos, a
Organização das Nações Unidas (ONU) criou a Lei do Mar. A grande contribuição do texto da ONU é
definir os conceitos de mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental. Esse último
difere um pouco do mesmo termo usados pelos oceanógrafos, que se baseiam apenas em características
topográficas. O mar territorial brasileiro, a partir da convenção, passou a ter largura de 12 milhas, ou
21,6 km. A ZEE, por sua vez, é mais ampla: estende-se até 200 milhas, ou 350 km. Nessa região, a
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Nação é soberana no direito de navegação e de ocupação do espaço aéreo. A soberania se estende para
fins exploratórios e de aproveitamento dos recursos, sejam eles de origem mineral, como o petróleo, ou
biológica, caso dos pescados.
Antes dessas definições, muitos conflitos ocorreram. Na década de 1960, o mar territorial
brasileiro tinha largura de apenas três milhas. Mas, a plataforma continental que já era associada ao
sentido de soberania, era muito maior. Barcos franceses vieram para o litoral nordestino pescar lagosta
sem autorização. Afirmavam estar em águas internacionais, porque nunca ultrapassavam as três milhas
da costa. O Brasil conseguiu fazer valer a idéia de que o crustáceo vivia exclusivamente em sua
plataforma continental e, portanto, era direito brasileiro a exclusividade de explorar a lagosta. A
questão agora é ocupar cada vez mais esta imensa área, pois os pequenos conflitos estão longe de
desaparecer.
Tendo como limite Norte a foz do rio Oiapoque e ao Sul o Chuí, as águas oceânicas do Brasil se
projetam bastante para Leste, incluindo as regiões do Atol das Rocas e dos Arquipélagos de Fernando
de Noronha e de São Pedro e São Paulo, além de abrigar as lhas Trindade e o Arquipélago Martin Vaz.
A plataforma continental brasileira chega a ter 160 milhas náuticas na direção da descarga das águas do
colossal Rio Amazonas.
Nos trechos onde ela é mais estreita, na baía do rio Tubarão, no Sul, tem apenas 40 milhas
náuticas. A profundidade também oscila bastante, entre o mínimo de onze metros e o máximo de quatro
mil. A grande distância entre a superfície e o assoalho oceânico é registrada nas planícies abissais do
Ceará e de Pernambuco. Nesse trecho, a plataforma continental não existe mais, pois é interrompida
por um grande escorregador submarino antes do mundo abissal.
Normalmente, na altura do litoral norte do Rio Grande do Sul, a corrente das Malvinas encontra-
se com a corrente do Brasil, que veio da zona equatorial. Nesse local é que se forma a Água Central do
Atlântico Sul (Acas), rica em nutrientes e bastante fria. Em alguns meses do ano, no verão, as águas
mais densas e de menor temperatura afloram até a plataforma continental. Esse é o fenômeno da
ressurgência. Em grande parte das vezes ele é registrado na área de Cabo Frio.
Todas essas correntes - e no norte do Rio Amazonas elas também têm importância toda especial -
são diretamente responsáveis pelo fluxo, ou não, dos seres vivos. No caso específico do REVIZEE, as
informações geológicas, físicas e químicas foram direcionadas para o enriquecimento do conhecimento
biológico, necessário para um melhor gerenciamento da pesca no Brasil. Isso não significa, entretanto,
que qualquer uma dessas quatro grandes áreas tenha peso maior que as demais.
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LACUNAS
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caso do Brasil; b) algumas espécies capturadas, como as albacoras, apresentam um alto valor comercial
para exportação, constituindo-se em uma importante fonte de divisas para o país; c) outras espécies,
também presentes nas capturas, como os tubarões, apresentam preço relativamente baixo, apesar do seu
excelente valor nutritivo, representando uma importante fonte de proteínas para a população de baixa
renda; d) ciclo de vida independente dos ecossistemas costeiros, já intensamente degradados; e) ampla
distribuição e f) biomassa elevada.
Uma vantagem adicional é que, desde que adequadamente planejado, o desenvolvimento da
pesca oceânica nacional poderia resultar em uma redução do esforço de pesca sobre os estoques
costeiros, já sobreexplotados. Como os estoques pesqueiros oceânicos também já estão sendo
explotados em níveis próximos do limite sustentável, a ampliação da produção brasileira dependerá
diretamente da sua capacidade de negociação com os países pesqueiros tradicionais, no âmbito da
ICCAT - Comissão Internacional para a Conservação do Atum Atlântico.
Neste sentido, a posição do governo brasileiro tem sido sempre a de defender intransigentemente
o respeito aos limites sustentáveis, defendendo, porém, com a mesma intransigência, o direito de o país
participar, de forma eqüitativa, da pesca oceânica. Por meio de um grande esforço de negociação, em
grande medida fundamentado nos instrumentos jurídicos internacionais, particularmente na Convenção
das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, o Brasil tem conseguido ampliar suas cotas de captura de
algumas espécies, como o espadarte, cuja cota passou de 2.340 t para 4.086 t em 2003, crescendo até
4.365 t em 2006. Infelizmente, a maior parcela da produção nacional de atuns e afins, excetuando-se o
bonito listrado, é ainda proveniente de embarcações arrendadas.
Apesar de extremamente útil como forma de assegurar a assimilação da tecnologia de pesca
estrangeira e gerar um histórico de capturas essencial ao processo de negociação para ampliação das
quotas de captura, o instrumento do arrendamento deve ser compreendido sempre como um dispositivo
provisório e emergencial.
O grande desafio que se impõe ao país neste momento é desenvolver uma frota oceânica
genuinamente nacional, que permita superar a elevada dependência, e conseqüente vulnerabilidade, da
frota estrangeira arrendada. Desta forma, é preciso compreender que o desenvolvimento da pesca
oceânica brasileira não diz respeito apenas à produção de pescado, nem à geração das divisas,
empregos e renda dela resultantes; ele implica também na efetiva ocupação das águas internacionais do
Atlântico Sul, essencial à plena realização da estatura geopolítica de nosso país.
Por fim, cabe destacar que a realização das aspirações nacionais quanto ao crescimento de sua
participação na pesca oceânica dependerá, diretamente, de sua capacidade de fazer cumprir
internamente as medidas de ordenamento e conservação impostas pela ICCAT, uma vez que a defesa
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de qualquer direito só se sustenta se devidamente amparada pelo fiel cumprimento dos deveres
correlatos.
3) MARICULTURA
O macro vetor para a expansão dos recursos pesqueiros no país é a maricultura, pois o Brasil
possui cerca de 8.500 km de costa, 2.500.000 ha de manguezais, clima tropical e subtropical, o que
permite o ciclo de produção durante todo o ano,
temperatura da água entre 24 e 30º C, luminosidade
entre 130 e 310 lux, boa infra-estrutura, rodovias,
eletricidade, comunicações, portos e aeroportos.
No final de 2004, apenas cerca de 17.000 ha
eram utilizados em maricultura, sendo que mais de
82% para a produção de camarão (carcinicultura)
(Figura 9), que teve uma produtividade de apenas
75.000 t, ficando a produção de ostras, mariscos,
Figura 9 – Carcinicultura do Nordeste
vieiras, peixes e caranguejos, com produtividade de brasileiro
apenas 13.000 t.
Com o adequado ordenamento costeiro, minimizando os impactos ambientais causados pelas
fazendas de maricultura, as quais não deverão lançar produtos químicos nos estuários e rios e,
tampouco, o excesso de nutrientes, será possível elevar em níveis exponenciais a produção aqüícola do
país, podendo atingir a produção da China, que é de cerca de 400.000 ton/ano, correspondendo a quase
1/3 da produção nacional de pescado e gerando divisas, emprego e renda, principalmente, na região
Nordeste do país.
RECOMENDAÇÕES GERAIS
Além da necessidade de superação das lacunas apontadas, alguns direcionamentos para o futuro
da gestão pesqueira foram evidenciados pelo Programa:
- investimento em qualidade do pescado, condições de armazenamento, manuseio, desembarque
e comercialização, a fim de agregar valor e renda ao produto das pescarias;
- medidas de preservação – implantação de áreas de preservação para todas as pescarias, em
especial para aquelas de baixa seletividade e operantes nos ecossistemas recifais e de profundidade.
Além disso, é preciso tomar ações que evitem a captura acidental de espécies não comercializáveis e de
indivíduos juvenis;
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Além de nos proporcionar um nível de conhecimento inédito sobre os recursos vivos existentes
em uma parte da nossa Amazônia Azul, não podemos nos esquecer que o REVIZEE foi apenas uma
fotografia instantânea de nossa ZEE, a qual caracterizou o ambiente marinho, no que tange à
climatologia, circulação e massas d`água, produtividade, geologia e biodiversidade; retratou os
estoques pesqueiros no que concerne a abundância, sazonalidade, biologia e dinâmica; e analisou as
pescarias comerciais. Por isso, embora tenha cumprido a sua missão, o Programa REVIZEE também
nos alerta para a necessidade de continuarmos a trabalhar para a conservação e uso sustentável dos
recursos vivos da nossa ZEE.
Para tal, surge com igual vigor, o Programa de Avaliação do Potencial Sustentável e
Monitoramento dos Recursos Vivos Marinhos, o REVIMAR, já em fase inicial de execução.
O REVIZEE foi concluído, podendo ser considerado como o maior esforço integrado
desenvolvido no país para a avaliação de estoques pesqueiros. Como resultado desta avaliação, foi
possível a identificação de alguns estoques até então desconhecidos, com a abertura de novas fronteiras
para a pesca no país, em áreas mais afastadas na ZEE, o que pode contribuir para a diversificação da
atividade pesqueira nacional, com a conseqüente geração de emprego e renda e o alívio da pressão
sobre as espécies tradicionais, em geral sobrexplotadas.
Em continuidade àquele Programa, será imprescindível uma ação permanente de monitoramento
dos principais estoques pesqueiros, a fim de permitir a geração contínua de informações essenciais para
a definição de política de pesca que possa garantir a sustentabilidade da atividade, incluindo medidas
de ordenamento.
O REVIMAR tem a finalidade de avaliar continuamente o potencial sustentável e monitorar de
forma sistemática os estoques presentes nas áreas marítimas sob jurisdição nacional, com vistas a
subsidiar políticas pesqueiras que garantam a sustentabilidade e a rentabilidade da atividade.
A avaliação e o monitoramento dos principais estoques pesqueiros marinhos permitirão o
ordenamento da atividade, assegurando o aproveitamento sustentável dos estoques pesqueiros, e
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Para tal, deverão ser definidos modelos de coleta de dados padronizados para pescarias de
pequena escala e industriais. Em paralelo, deverá ser desenvolvido um sistema de gerenciamento de
dados sobre a atividade pesqueira, envolvendo a coleta, o armazenamento, a análise e a disseminação
de dados de captura, o esforço de pesca, a comercialização e as informações biológicas e
socioeconômicas que se mostrarem pertinentes, assim como definidas as estratégias de
disponibilização da informação, buscando-se reduzir, ao mínimo, o tempo decorrido entre a coleta dos
dados, os procedimentos de crítica e seu efetivo acesso pelas instituições interessadas e por aquelas
com responsabilidades na gestão desses recursos. Várias dessas ações já se encontram em curso.
A imensa extensão da Amazônia Azul, gigante pela própria natureza, por si só já nos enche de
orgulho. Afinal, estamos falando de uma área com cerca de 4,5 milhões de km2.
Conhecê-la, protegê-la e integrá-la ao espaço econômico do país, assegurando a justa apropriação
pela sociedade brasileira dos recursos vivos nela presentes, de forma sustentável, é uma tarefa
grandiosa, ao mesmo tempo em que é árdua e espinhosa.
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Fazer-se ao mar para explorar os seus recursos exige coragem, dedicação, denodo e patriotismo,
sentimentos esses alentados pela satisfação de poder contribuir para assegurar ao povo brasileiro o
pleno usufruto dos recursos vivos que as nossas águas jurisdicionais podem nos oferecer, e que se
constituem em um patrimônio que é nosso.
O Programa REVIZEE, mais do que representar o necessário cumprimento das obrigações
assumidas pelo país frente à CNUDM, se constituiu num divisor de águas acerca do conhecimento das
espécies e dos ecossistemas da ZEE brasileira.
O passo inicial foi dado, e foi um grande passo. Conhecemos uma parcela dos recursos existentes
na nossa Amazônia Azul. Cabe agora gerenciarmos e monitorarmos seus recursos vivos, preservarmos
seus ecossistemas e exercermos a nossa soberania nessa importante porção do nosso Brasil.
AGRADECIMENTOS
O autor apresenta seus agradecimentos às pessoas e instituições cujos textos serviram de base
para elaboração deste trabalho: Eduardo Augusto Geraque, Biólogo e Jornalista; Silvio Jablonski,
Oceanógrafo, Pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Fábio Hissa Vieira Hazin,
Engenheiro de Pesca, Professor da UFRPE; Rudolf de Noronha, Diretor do Programa e Gerenciamento
Ambiental da Secretaria de Qualidade Ambiental do MMA; Roberto de Guimarães Carvalho,
Almirante-de-Esquadra, Comandante da Marinha e Coordenador da CIRM; e ao Ministério do Meio
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RESUMO
O município de Itapissuma, situado à margem Norte do Canal de Santa Cruz é o principal ponto de
desembarque, beneficiamento e comercialização de boa parte da produção pesqueira artesanal advinda
desse complexo. A pesca incide, principalmente, sobre peixes de pequeno porte, de espécies como:
sapuruna Pomadasys corvinaeformis, dentão Lutjanus jocu, carabeba Eugerres brasilianus, carapicu
Diapterus olisthostomus, boca-torta Cetengraulius edentulus, saúna Mugil sp. que são destinados a
salga como peixe salgado-seco, conhecido por “caíco”, sendo este processo realizado de forma precária
e sem controle de sanidade. A pesca representa uma das principais atividades de subsistência praticada
pelos moradores da região, muitas vezes, constituindo-se como a única fonte de renda de famílias
inteiras. Além disso, esta atividade é prejudicada, tanto pela falta de políticas públicas de incentivo,
quanto à visível degradação ambiental e por conflitos, gerados pela crescente exploração turística no
Canal de Santa Cruz. A comercialização do pescado produzido nesta região, geralmente é intermediada
por “empreseiros” (intermediários), proprietários dos barcos e redes, além dos girais onde os peixes são
submetidos à secagem, iniciando, nesse caso, uma cadeia de intermediação para revenda em Recife
(mercado público de São José, bairros próximos da Avenida Caxangá) ou nas feiras livres da Região
Metropolitana do Recife e no interior do Estado (Limoeiro, Orobó, Carpina, Caruaru e outros).
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ABSTRACT
The city of Itapissuma, situated to the edge North of the Canal of Santa Cruz is the main point of
landing, improvement and commercialization of good part of the happened artisan fishing production
of this complex. It fishes it happens, mainly, on fish of small transport of species as: “sapuruna”
Pomadasys corvinaeformis, “dentão” Lutjanus jocu, “carabeba” Eugerres brasilianus, “carapicu”
Diapterus olisthostomus, “boca-torta” Cetengraulius edentulus, ‘saúna” Mugil sp., destined salts it, the
salty-dry fish is known as “caíco”, being this, carried through of precarious form and without control of
health during the process. It fishes it represents one of the main activities of subsistence practised for
the inhabitants of the region, many times, consisting as the only source of income of entire families.
Moreover, this activity is harmed, as much for the lack of public politics of incentive, how much to the
visible ambient degradation and for conflicts, generated for the increasing tourist exploration in the
Canal of Santa Cruz. The commercialization of the produced fished one in this region, generally are
intermediated by “empreseiros”, proprietors of the boats and nets, beyond turn them where the fish are
submitted to the drying, initiating, in this in case that, a chain of intermediação for resale in Recife
(public market of São José, quarters next to the Caxangá Avenue) or in the free fairs of the Region
Metropolitan of Recife and in the interior of the State (Limoeiro, Orobó, Carpina, Caruaru and others).
INTRODUÇÃO
A região de Itapissuma apresenta intensa atividade pesqueira sendo considerada uma nas mais
produtivas do Brasil. A pesca incide, principalmente, sobre espécies de pequeno porte, destinadas a
salga.
O processo de salga é extremamente rústico, realizado em condições precárias, sem controle de
higiene e sanidade, sendo os peixes lavados com águas impróprias, expostos às moscas e à ação
bacteriana durante o processo de secagem. Ações para melhoria desta realidade seriam de grande
importância para o melhoramento das condições de higiene e da qualidade final do produto, no entanto
esbarram no aumento do custo de produção, o que não é interessante para os produtores e
consumidores. Após a salga o produto passa por uma cadeia de comercialização ainda pouco estudada.
O município de Itapissuma, desmembrado do município de Igarassu, foi criado pela Lei
Estadual Nº 8.952 de maio de 1982 e instalado a 1º de janeiro de 1983. Situado na região metropolitana
do Recife a 36 Km de distância da capital pernambucana. Possui uma área de 74,3 Km2 e sua
população é de aproximadamente 20.405 habitantes (MORAES, 1998).
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Devido a sua localização, muito próxima ao grande Recife, sua beleza natural e a sua alta
produtividade pesqueira, essa região é agredida por diversas ações antrópicas, como a urbanização,
aterros imobiliários, turismo, despejo de dejetos e a pesca predatória que ameaçam a sua
sustentabilidade (BARROS e ESKENAZI-LEÇA, 2000). Segundo Macedo et al. (2000), as áreas
estuarinas sofrem forte agressão ambiental, devido a explorações pesqueiras, derrubadas de mangues,
turismo ou simples especulação imobiliária.
METODOLOGIA
O projeto foi realizado durante o período compreendido entre os meses de junho e dezembro de
2003, pelos estagiários do Laboratório de Avaliação Ponderal em Animais Aquáticos (LaAqua) do
Departamento de Pesca e Aqüicultura (DEPAq) da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
UFRPE, junto a Colônia de Pescadores do Município de Itapissuma (Z-10).
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PESCA E APETRECHOS
A pesca constitui uma das principais atividades de subsistência praticada pelos moradores da
região próxima ao Canal de Santa Cruz no município de Itapissuma. Muitas vezes, constituindo-se
como a única fonte de renda das famílias. Em sua maioria, a pesca ainda é praticada de forma
incipiente, com embarcações rústicas e sem a utilização de qualquer método de sensoriamento remoto.
A captura dos peixes é promovida em
embarcações de pequeno porte conhecidas como
“baiteiras” (Figura 2). São embarcações movidas à
vela ou mais comumente a remo, confeccionadas
em madeira, com dimensões que variam de 5 a 8
metros de comprimento e largura podendo variar
de 1 a 1,5 metros. São utilizadas redes de cerco, de
espera, mangote e tarrafas, cujo diâmetro da malha
pode variar de 15 a 30 mm (entre nós opostos). Figura 2 – Enbarcações, tipo “baiteiras”
O comprimento das armadilhas (redes) utilizadas na pesca artesanal no canal de
varia bastante, de acordo com o tipo de pesca a que Santa Cruz em Itapissuma, PE.
se destina. Algumas chegam a medir mais de 150m de comprimento. A pesca é realizada durante toda a
semana, nos mais variados horários do dia ou mesmo durante a noite. As embarcações podem voltar ao
mar mais de uma vez por dia, dependendo das condições de pesca, podendo até mesmo, algumas
permanecerem no mar, por mais de um dia. O número de pessoas para realização da captura dos peixes
também pode variar de dois a seis pescadores por embarcação.
A atividade pesqueira se inicia com a escolha de um determinado local de pesca (escolhido com
base nas experiências acumuladas pelos pescadores), onde a rede é jogada na água. A partir deste
ponto, o barco segue se afastando e a rede é gradativamente lançada ao mar até ser totalmente
distendida. Após um período de espera, que pode variar de 30 minutos a 1 hora, a rede é puxada com o
auxílio de uma corda presa em uma de suas extremidades, e é fechada perfazendo uma trajetória em
forma de ferradura, depois puxada para dentro da embarcação onde os peixes são recolhidos e
separados de acordo com o tamanho (pequenos e grandes) e colocados em cestos.
O desembarque é realizado em pequenos ancoradouros ou em pontos localizados próximo às
comunidades de pescadores. Após retornarem da pesca, os trabalhadores do mar lavam os peixes com
água do próprio canal (Figura 3A e B). Para facilitar o transporte dos peixes para os locais de secagem,
48
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
“girais”, ou de venda, muitas vezes os pecadores utilizam carros-de-mão ou levam os peixes nos
próprios cestos dependendo da distância destes locais (Figura 4).
Figuras 4 – Canal de Santa Cruz, Itapissuma: transporte dos peixes para local de
salga e secagem.
Durante o processo de pesca, vários peixes de
diferentes tamanhos e espécies são capturados. Os
peixes maiores (Figura 5) são vendidos, muitas
vezes, sem beneficiamento para comerciantes. Os
peixes de pequeno porte (Figura 6) geralmente são
destinados a salga ou mesmo vendidos sem este
processamento, após secarem ao sol nos “girais” ou
sobre redes dispostas no chão, mais comumente na Figura 5 – Peixes capturados no canal de Santa
Cruz, Itapissuma, PE. De cima para baixo: salema,
rampa que dá acesso aos locais de desembarque,
bicuda, agulha, agulhinha, sauna e carapeba.
durante algumas horas.
A B
49
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A B C
D E F
50
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Os problemas mais graves na Região são: a) pesca predatória, devido ao grande número de pessoas
pescando com redes de malha fina e redes de arrasto (pesca não seletiva); b) poluição dos rios e
estuários por esgoto doméstico e resíduos industriais (calda de usina açucareira, cloro e outros
produtos); c) circulação intensa de embarcações motorizadas (lanchas e jet skis) nas bocas Norte e Sul
do Canal de Santa Cruz, afugentando os peixes, destruindo as redes de pesca, pondo em risco a vida
dos pescadores e ameaçando a reprodução das espécies que realizam parte de seu ciclo de vida nos
estuários (LIMA e QUINAMO, 2000).
Além de outros, como a dragagem de certas áreas do Canal de Santa Cruz, para passagem de
embarcações maiores, refletindo a influência da exploração turística sem o devido planejamento e sem
levar a cabo o impacto ambiental que essas atividades poderão causar ao ecossistema.
51
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
largura e cerca de 1 metro de altura, os peixes são dispostos sobre a rede e permanecem lá para secarem
ao sol por períodos que podem variar de 2 a 6 horas dependendo das condições climáticas.
Os “girais” estão localizados próximos à margem do canal de Santa Cruz, onde o acúmulo de lixo
de várias origens (Figura 9) e a presença de
pragas urbanas tornam-se bastante evidentes,
contribuindo de forma negativa na qualidade
do produto final, o peixe salgado-seco
conhecido como “caíco”. A produção muitas
vezes é comercializada nos próprios girais,
para comerciantes que compram em grande
quantidade para revenderem nas feiras locais
ou de outras cidades. O peixe depois de
salgado e seco pode ainda ficar estocado por
Figura 9 – Proximidade dos “girais” com lixo
até três dias dependendo da procura.
doméstico propiciando a presença de pragas
RELAÇÕES COMERCIAIS
As relações comerciais envolvendo a produção da salga, muitas vezes são conduzidas pelos
“empreseiros”, proprietários dos barcos e redes, além dos girais onde os peixes são submetidos à
secagem.
As relações de trabalho observadas durante este estudo apresentam pequenas diferenças em
relação às descritas por Lino (2003), porém, ainda estão baseadas em atividades informais sem vínculo
empregatício.
Mediante entrevistas realizadas na Região, registrou-se que muitos pescadores possuem
embarcações e apetrechos de pesca, porém, preferem negociar o pescado com os “empreseiros”, muitas
vezes, pela natureza da atividade que se torna muito desgastante, desestimulando o pescador a
comercializar o pescado diretamente com o consumir. Às vezes, nos finais de semana, as esposas de
alguns pescadores esperam seus maridos retornarem da pesca e levam uma certa quantidade de peixe
para venderem nas feiras livres, conseguindo assim um lucro maior com a venda direta ao consumidor.
Os pescadores que não possuem embarcações dependem unicamente dos meios fornecidos
pelos “empreseiros” para a realização da atividade, comprometendo-se assim, a vender a produção
comercializável para estes.
Após o processamento: salga e secagem, os peixes são comercializados pelo “empreseiro” em
transações feitas diretamente por telefone, sendo negociadas pequenas quantidades ou em grosso,
52
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
iniciando, nesse caso, uma cadeia de intermediação (Figura 10) para revenda em Recife (mercado
público de São José, bairros próximos da Avenida Caxangá) ou nas feiras livres da Região
Metropolitana do Recife e no interior do Estado (Limoeiro, Orobó, Carpina, Caruaru e outros).
Meio
Ambiente
Consumo Pescador
Próprio
Empreseiro Intermediário
Processamento Atacadista
Salga / Secagem
Varejista
Armazenamento
(comerciante e feirante)
Consumidor
53
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
COMENTÁRIOS CONCLUSIVOS
SUGESTÕES OU RECOMENDAÇÕES
No decorrer deste projeto tomou-se ciência da realidade enfrentada pelos pescadores que
dependem do produto da labuta diária no mar e no Canal de Santa Cruz, e as principais rotas destinadas
ao pescado daquela região além de alguns dos problemas ocasionados pela falta de conhecimento das
possíveis vias de contaminação do pescado e dos possíveis causadores de doenças.
Como sugestões para a melhoria das condições de pesca, processo de comercialização e
conseqüentemente da qualidade de vida das pessoas influenciadas por essa atividade, podemos citar:
a) Encaminhar solicitação aos órgãos competentes, através de suas representações, para que as águas
decorrentes da drenagem pública e canalizada para os estuários da região sejam tratadas, de forma a
minimizar o impacto ambiental provocado nos organismos aquáticos e que é repassado para a
54
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
REFERÊNCIAS
BARROS, H.M. e ESKENAZI-LEÇA, E. Introdução. In: LEÇA, E.; MACÊDO, J.; LIMA, T.; (Ed)
Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2000. p.
7-25
LEÇA, E.; MACÊDO, J.; LIMA, T.; (Ed) Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais.
Recife, Ed. Universitária da UFPE, 2000. p. 7-25.
LIMA, T. e QUINAMO, T. Características sócio-econômicas. In: BARRO, H. M.; ESKENAZI-LEÇA,
E.; MACÊDO, J.; LIMA, T.; (Ed) Gerenciamento Participativo de Estuários e Manguezais. Recife.
Ed. Universitária da UFPE, 2000. p. 181-224.
LINO, M.A.S. Estudo Biológico-Pesqueiro da Manjuba Opisthonema oglinum (Lesueur, 1818) da
Região de Itapissuma, Pernambuco. Dissertação (Mestrado em Recursos Pesqueiros e Aqüicultura) –
Departamento de Pesca e Aqüicultura, Universidade Federal Rural de Pernambuco, [2003]. f. 24-26.
MORAES, A.L. Pesca predatória na área estuarina do Canal de Santa Cruz, Itapissuma-PE.
Monografia (Pós-Graduação em Geografia) Fundação de Ensino Superior de Olinda/ UNESF, [1998].
OGAWA, M. e MAIA, E. L. Manual de Pesca Ciência e Tecnologia do Pescado. São Paulo. v. 1,
1999. p. 293-294.D
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
INTRODUCCIÓN
El Museo del Hombre del Puerto, inaugurado en noviembre de 1990. Posee una importante
colección de fotos, documentos, bibliografía y objetos que hacen a la vida y costumbres de los primeros
pobladores de la zona. En una sala dedicada al célebre pintor Cleto Ciocchini se exponen sus más
renombradas obras, en las que supo plasmar los paisajes, actividades e idiosincrasia de los pescadores.
El proyecto de crear un museo en el barrio portuario de la ciudad de Mar del Plata, fue concebido
tiempo atrás con los integrantes de la Asociación de Fomento del Puerto, siendo uno de sus principales
precursores Don Aldo Marcone Benvenuto.
Con este objetivo se fueron convocando a integrantes de viejas familias radicadas en la zona, así
se consiguió rescatar antiguas fotografías y material que hace a la historia primigenia del lugar.
Finalmente tras muchos esfuerzos, la obra de la Asociación de Fomento del Puerto, se concreta en
el Museo que es inaugurado el 22 de noviembre de 1990 en el edificio de calle Padre Dutto 383. Hacia
el año 2002 el Museo se traslada a su actual sede en el Centro Comercial Puerto local 8.
EL MUSEO
Cuenta con un amplio frente de acceso, allí encontraremos sobre su fachada elementos que
pertenecieron a la lancha pesquera, “Fratelli Uniti”, y una placa de bronce sobre mármol con la efigie
del pintor Cleto Ciocchini, donada por su hijo Federico Ciocchini Solá.
En su interior, el Museo ofrece una serie de salas en donde se tratara de introducir al visitante en
una dimensión diferente, la cual le permite vivir sensaciones que solo el Puerto puede ofrecer.
La primer sala funciona como centro de interpretación de la temática general del museo, allí nos
encontraremos con la temática de la Inmigración, pasaportes, decretos y leyes, objetos y un baúl de la
familia Penisssi en el que trajeron sus pertenencias. Tambien nos encontraremos con el origen de Mar
del Plata, el saladero, los proyectos de puertos, el origen de la pesca y la aparición del turismo.
La segunda sala esta dedicada a la construcción del puerto a cargo de la “Societe Nationale de
Travaux Publics”, con documentos y fotografías y en otro sector de la misma se exhibe mobiliario
original de la empresa.
En otra sala encontraremos a las familias de los primeros pobladores del Puerto, la llegada de los
pescadores, sus actividades y sus tradiciones, objetos típicos, la historia del barrio del Puerto.
56
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Existe otra sala dedicada al pintor Cleto Ciocchini, con obras como el óleo “Quico” que recuerda
a un típico y conocido pescador marplatense, mientras otro muestra a la Parroquia Sagrada Familia,
primera iglesia del Puerto y punto de partida de las procesiones. Junto a ésta, el caballete, porta
estudios de Ciocchini y otras obras.
Dentro de la misma sala, se puede observar la historia de los astilleros, los hombres que se
dedicaron a la construcción y reparación de embarcaciones, junto a las artes de pesca y construcción de
redes.
En otra parte se exhiben paneles en donde están representadas todas las colectividades del Puerto
de Mar del Plata, con sus Santos patronos, estando el Museo bajo la protección del “Divino san
Salvador”.
Finalmente las salas de exposición de pintura y escultura, con exposiciones temporarias y de
colección del museo y la sala de proyecciones audiovisuales y conferencias en donde se exhiben videos
con la temática del museo.
ACTIVIDADES
La principal motivación del Museo es rescatar el acervo cultural e histórico del puerto, ya que
constituye un nucleamiento humano con valores artísticos, pautas de vida, artesanías y tradiciones que
se han mantenido como testimonio histórico, con su carácter singular, propio y autentico. Su función es
preservar para las futuras generaciones, los nombres y hechos históricos y anécdotas que se vinculan al
origen del primer asentamiento en el lugar, y como su crecimiento y desarrollo constituyo la actual
comunidad portuense.
El Museo ha establecido vínculos con los viejos pobladores a fin de obtener material y reconstruir
la historia del Puerto.
EL ECO-MUSEO
Se trata de revalorizar los sitios de interés de la zona, sus edificios históricos y patrimoniales, sus
monumentos y viviendas típicas mediante placas de referencia, así como de la realización itineraria de
circuitos turísticos culturales guiados por profesionales especializados a través del área de su
influencia, con la distribución de folletos explicativos.
SERVICIO EDUCATIVO
57
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Se creo con el fin de almacenar datos obtenidos a través de entrevistas personales, con voces de
los protagonistas relatando anécdotas familiares, narrando las peripecias y angustias de la inmigración,
los comienzos en el arraigo y el destino que les deparo nuestra tierra, todo ilustrado y documentado con
fotografías aportadas por la misma comunidad.
Se constituye así no solo en la herramienta para hilar esta historia, sino fundamentalmente como
banco de datos computarizado, a disposición del público, para ubicar a sus orígenes y conocer a sus
antecesores.
En este momento el Museo se ha hermanado con el de “San Benedeto del Tronto”, Italia,
ampliando así nuestros datos e intercambiando información y exposiciones artísticas.
El museo tiene el seguinte cuerpo técnico:
Director - Hector Becerini; Servicio Técnico y Educativo - Arq. Osvaldo Destandau;
Investigación Histórica - Prof. Jose Mateo; Secretaria: Patricia Macchia
Sigue abajo algunas fotos del Museo
AGRADECIMIENTOS*
58
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
59
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
As capturas de atuns e espécies afins no Oceano Atlântico, incluindo as albacoras (laje, branca e
bandolim), o bonito listrado, o espadarte (meka), os agulhões (branco, negro, vela e verde), diversas
espécies de tubarão (principalmente o tubarão-azul), além de outros peixes como a cavala, o dourado e
o peixe-prego, têm, nos últimos anos, oscilado em torno das 500.000 t. Em 2004, a frota atuneira
nacional, composta por embarcações brasileiras e estrangeiras arrendadas, capturou 44.640 t, ou o
equivalente a cerca de 9% do total capturado no Atlântico. Em 2005, este montante subiu para 48.900t,
representando um incremento próximo a 10%. Do ponto de vista do resultado econômico, entretanto,
uma vez que aproximadamente a metade da produção nacional é constituída por bonito-listrado, uma
das espécies de atum mais costeiras e de menor valor comercial, a participação brasileira no rendimento
proporcionado por esta pesca, em torno de US$ 4 bilhões/ano, certamente se situou bem abaixo dos
5%. Considerando-se a proximidade estratégica do País em relação às rotas migratórias dos principais
estoques de atuns e afins no Atlântico Sul, além da grande extensão de sua costa, com cerca de 8.500
km, fica claro que a posição atualmente ocupada pelo país no cenário da pesca oceânica no Atlântico
não se justifica. Neste contexto, o presente trabalho apresenta uma breve descrição da evolução e atual
situação da pesca de atuns e afins no país, abordando os principais aspectos estratégicos que devem ser
considerados para promover o desenvolvimento sustentável desta atividade no Brasil.
60
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
nacional é constituída por bonito-listrado, uma das espécies de atum mais costeiras e de menor valor
comercial, a participação brasileira no rendimento proporcionado por esta pesca, em torno de US$ 4
bilhões/ ano, certamente se situou bem abaixo dos 5%. Considerando-se a proximidade estratégica do
País em relação às rotas migratórias dos principais estoques de atuns e afins no Atlântico Sul, além da
grande extensão de sua costa, com cerca de 8.500 km, fica claro que a posição atualmente ocupada pelo
país no cenário da pesca oceânica no Atlântico não se justifica. Enquanto embarcações operando a
partir de portos brasileiros alcançam as áreas de ocorrência dos cardumes com poucas horas de
navegação, as frotas de países com grande tradição pesqueira, como o Japão, Taiwan, Coréia, Espanha,
Portugal, entre outros, são obrigados, em alguns casos, a viajar mais de 20.000 km para atingir as
mesmas áreas de pesca. Entretanto, apesar de tal condição conferir ao país uma grande vantagem
comparativa, a pesca oceânica nacional apresentou uma tendência declinante, nos quatro primeiros
anos do presente século (2000-2004), com uma leve recuperação somente no ano passado (Figura 1).
60000 60
50000 50
Produção em peso vivo (t)
40000 40
30000 30
20000 20
10000 10
0 0
2000 2001 2002 2003 2004 2005
É importante destacar que as quatro principais espécies capturadas pelas embarcações nacionais,
depois do bonito listrado, as albacoras laje, branca e bandolim, além do espadarte, vêm sendo
capturadas em níveis próximos, porém abaixo do rendimento máximo sustentável (Figura 2), indicando
61
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
160000
140000
100000
80000
60000
40000
20000
0
Albacora Laje Albacora Albacora Espadarte
Branca Bandolim
que os seus estoques estão sendo adequadamente manejados pela ICCAT- Comissão Internacional para
a Conservação do Atum Atlântico (International Commission for the Conservation of Atlantic Tunas).
Na mesma figura, contudo, pode-se observar claramente a ainda reduzida participação brasileira.
62
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Vários são os entraves, porém, para o desenvolvimento da pesca oceânica nacional, com destaque
para a falta de mão-de-obra especializada, de tecnologia e de embarcações adequadas, as quais, devido
ao seu elevado custo, encontram-se comumente muito além da capacidade de investimento das
empresas de pesca brasileiras. Para que o País consiga, portanto, ampliar a sua participação na pesca
oceânica, precisará ampliar quotas de captura, consolidar uma frota pesqueira oceânica nacional,
formar mão-de-obra especializada e gerar conhecimento científico e tecnológico sobre as espécies
explotadas.
Como os estoques pesqueiros oceânicos já estão sendo pescados em níveis próximos do limite
sustentável, a ampliação da produção brasileira dependerá diretamente da sua capacidade de
negociação com os países pesqueiros tradicionais, no âmbito da ICCAT- Comissão Internacional para a
Conservação do Atum Atlântico, assim como na FAO, no seu Comitê de Pesca, na OMC e na própria
ONU. Ocorre que os atuns e afins são espécies altamente migratórias com suas populações
distribuindo-se por todo o Oceano Atlântico ou hemisfério oceânico. A albacora-bandolim capturada
por barcos nacionais, por exemplo, pertence à mesma população explorada pelos barcos norte-
americanos na costa do Maine, ou pelos barcos espanhóis na Baía de Biscay, uma vez que há uma
única população em todo o Atlântico. Já a albacora-branca que o Brasil captura no nordeste brasileiro
faz parte do mesmo estoque explorado pelos sul-africanos, na costa africana. Ou seja, são todos
estoques internacionais, explotados simultaneamente por vários países.
Não existe, assim, atum brasileiro. O atum brasileiro é somente aquele pescado por barcos
nacionais ou estrangeiros arrendados a empresas brasileiras e desembarcado nos portos do País. É
exatamente em função disto, por serem recursos internacionais e altamente migratórios, que o seu
ordenamento tem que ser realizado por um organismo internacional, no caso a Comissão Internacional
para a Conservação do Atum Atlântico-ICCAT, da qual o país é membro desde a sua fundação, no Rio
de Janeiro, em 1966.
63
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
capturadas em níveis próximos de suas capacidades máximas sustentáveis, ou seja, não há,
concretamente, como se ampliar a captura de atuns no Oceano Atlântico sem comprometer a
sustentabilidade dos estoques. Neste sentido, a posição do governo brasileiro tem sido sempre a de
defender o respeito estrito aos limites máximos sustentáveis de captura, com a mesma ênfase com que
tem defendido o direito do País de desenvolver a sua pesca oceânica. Ou seja, o tamanho da torta de
atum do Atlântico deve ser respeitado, mas o tamanho da fatia brasileira tem que aumentar.
Assim sendo, é evidente que o crescimento da produção nacional de atuns e afins implicará
necessariamente a redução das capturas por parte dos países pesqueiros tradicionais, como Espanha,
Japão, Taiwan, etc. Considerando-se que esta atividade no Oceano Atlântico envolve valores da
magnitude de US$ 4 bilhões, conforme dito acima, é fácil compreender a forma agressiva com que os
países pesqueiros tradicionais têm defendido a sua hegemonia histórica nesta atividade. É óbvio,
também, que o atum que o Brasil não pescar, será pescado por outras nações.
É preciso, também, contextualizar o momento político atravessado pela ICCAT hoje. Pois com a
entrada em vigor da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em novembro de 1994, e
do Acordo das Nações Unidas sobre as Espécies de Peixes Transzonais e Altamente Migratórias, em
Dezembro de 2001, se estabeleceu um arcabouço jurídico com base no qual os países pesqueiros em
desenvolvimento conquistaram condições favoráveis para ampliar as suas quotas de captura, a partir do
pleno reconhecimento do seu direito de desenvolver a sua pesca oceânica.
Foi com base nesses e em outros instrumentos jurídicos internacionais, como o Código de
Conduta para uma Pesca Responsável, da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura das
Nações Unidas), com os seus Planos Internacionais de Ação correlatos, que o Brasil conseguiu aprovar
na ICCAT, em novembro de 1998, um Grupo de Trabalho para a Definição de Novos Critérios para
Alocação de Quotas de Captura. Finalmente, em 2001, após quatro reuniões, marcadas por negociações
duríssimas, a ICCAT terminou por aprovar uma lista de 27 novos critérios, em substituição ao critério
de capturas históricas, até então utilizado de forma quase que exclusiva pela Comissão, na distribuição
de quotas de captura. Entre os novos critérios aprovados, incluem-se, por exemplo, a ocorrência do
estoque na Zona Econômica Exclusiva do país, a necessidade de se privilegiar a pesca artesanal e de
pequena escala, a importância do estoque para as comunidades costeiras, entre outros.
A vitória dos países em desenvolvimento foi resultado de sua sólida argumentação jurídica,
fundamentada nos instrumentos citados. Segundo o critério de capturas históricas, as quotas eram
tradicionalmente divididas em função dos montantes capturados pelo País nos últimos anos, ou seja, os
países desenvolvidos com pescarias tradicionais perpetuavam a sua hegemonia, enquanto os países em
desenvolvimento eram tolhidos nos seus direitos legítimos de desenvolverem a pesca oceânica. Assim
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
foi que, em uma reunião realizada na Paraíba, em Julho de 1997, ao Brasil coube apenas 16% (2.340 t)
da quota do espadarte do Atlântico Sul, para o período de 1998 a 2000, cabendo à Espanha e ao Japão
(países sem costa no Atlântico Sul), respectivamente, 40% e 26%.
Nas reuniões da ICCAT em 2000 e 2001, grande parte em função de um endurecimento da
posição brasileira, não foi possível se alcançar um consenso para distribuição das quotas de espadarte
no Atlântico Sul. Finalmente, na reunião da ICCAT realizada em Bilbao, em 2002, com base nos novos
critérios de captura, a delegação brasileira conseguiu aumentar a quota para o País no Atlântico Sul, de
2.340 t, para 4.086 t, em 2003, crescendo deste ano em diante até atingir 4.365 t (ou 27,2% do total),
em 2006. Além disto, conquistou, também, pela primeira vez, o direito de pescar até 200 t no Atlântico
Norte, além de haver sido perdoado da penalidade de 1.500 t que deveria descontar em função do seu
excesso de captura em 1998.
Em função dessas conquistas, imediatamente após a reunião da ICCAT, o Governo da Espanha,
em retaliação, proibiu a continuidade das operações dos barcos espanhóis arrendados a empresas
brasileiras. O despacho do Secretário Geral de Pesca Marítima do Ministério de Agricultura, Pesca e
Alimentação da Espanha, datado de 05/12/01, no qual baixa a referida ordem, é bastante esclarecedor
acerca de como as autoridades daquele país compreendem a gestão dos recursos atuneiros do Atlântico:
“As razões para impedi-lo (o arrendamento) são sólidas e se fundamentam na melhor defesa do
patrimônio espanhol gerado pelos direitos históricos na pesca de espadarte e outras espécies reguladas
pela ICCAT”.
Vale ressaltar que até o ano de 1987 a Espanha não possuía qualquer captura no Atlântico Sul.
Naquele ano, em decorrência da aplicação de medidas de limitação das capturas no Atlântico Norte, a
Espanha deslocou boa parte da sua frota para o Atlântico Sul com o objetivo óbvio de construir um
histórico de captura, que assegurasse a sua hegemonia quando de uma futura alocação de quotas, como
de fato aconteceu.
A captura espanhola de espadarte no Atlântico Sul, inexistente em 1987, alcançou já no ano
seguinte, 1988, 4.400 t, saltando para 9.622 t, em 1996, ano anterior ao da reunião da Paraíba, 1997,
quando as quotas de captura para os anos de 1998 a 2000 foram estabelecidas.
A produção nacional de atuns e afins cresceu de pouco mais de 20.000 t, em 1995, para mais de
50.000 t, em 2000, em decorrência, principalmente, da ampliação dos arrendamentos promovidos pelo
DPA/ MAPA (Departamento de Pesca e Aqüicultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento). Excetuando-se o bonito listrado, atingiu um máximo em 2002, igual a 32.200 t,
declinando, contudo, em 2004, para 21.600 t, uma retração da ordem de 30% (Figura 1). Esse declínio
resultou, principalmente, de uma redução da frota espanhola, em retaliação à ampliação da quota
65
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
8000
7000
Produção em peso vivo (t)
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Tal situação, obviamente, expõe a grande vulnerabilidade do País, em função de sua alta
dependência da frota estrangeira. Apesar disso, ocorre relativa estabilidade na produção oriunda de
barcos nacionais, em torno de 2.000 t (Figura 4).
Uma grande dificuldade enfrentada pelo País no processo de negociação foi, e continua sendo, o
fato dos principais adversários brasileiros serem também os nossos principais mercados (Espanha,
EUA, Japão). Assim, o Brasil tem disputado com estes países o direito de pescar mais, em grande parte
como o País pode ser atingido por medidas dessa natureza, pode ser encontrado nas recentes
exigências da Comunidade Européia (CE), relativas à necessidade de equivalência das normas
sanitárias, em função da qual o Brasil foi obrigado a preparar e implementar um Plano Nacional de
66
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Controle de Resíduos, o qual, inclui, no caso dos atuns e afins, a necessidade de se realizar exames de
histamina, entre outros, através de Cromatografia Líquida de Alta Performance. Mesmo
desconsiderando-se os empecilhos de ordem logística decorrentes de tal medida, a mesma,
evidentemente, implicará um importante aumento dos custos de produção, diminuindo, por conseguinte,
a competitividade da indústria nacional. Quando não são barreiras tarifárias, são barreiras técnicas, ou
mesmo artifícios legais, como a ação alegadamente “anti-dumping” impetrada pelo governo
estadunidense contra o camarão brasileiro, sem qualquer fundamento, se não o de preservar os interesses
dos pescadores de camarão da Lousiana e demais estados do Golfo do México, infligindo pesados
prejuízos à carcinicultura nacional.
Uma outra disputa recorrente com a CE tem sido a utilização do documento estatístico de
acompanhamento da exportação de atuns e afins, como forma de criar dificuldades burocráticas à
entrada do pescado brasileiro, incluindo exigências, como a identificação pessoal, com nome e
assinatura, dos responsáveis técnicos no Brasil pela validação do referido documento, quando a
recomendação aprovada pela ICCAT não estabelece tal necessidade. Nesse contexto, o Brasil tem se
contraposto, também, veementemente, à pretensão comunitária de utilizar o documento estatístico
como forma de unilateralmente controlar as quotas dos países exportadores.
Um outro argumento recorrente tem sido o de que um país não deve receber quotas de captura
se não tem a capacidade de utilizá-las de forma plena. Neste contexto, uma outra batalha dificílima,
67
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
finalmente vencida também na reunião da ICCAT, em Bilbao, em 2002, foi o reconhecimento formal
por parte da Comissão, refletido na Recomendação 02/21 (Art. 5), de que as capturas realizadas pelos
barcos arrendados pertencem ao país arrendatário (Brasil). Note-se que esta batalha vem sendo travada
também em outros fóruns internacionais, particularmente no Comitê de Regras de Origem, da
Organização Mundial do Comércio (OMC), onde a CE tem tentado, insistentemente, reverter a vitória
alcançada pelo Brasil na ICCAT, sobre a questão. Neste contexto, igualmente, o crescimento de quase
800 t, ou cerca de 30%, na produção nacional de espadarte em 2004, foi crucial no sentido de assegurar
a manutenção das quotas de captura conquistadas na rodada de Bilbao, em 2002.
Pulverizar a agenda internacional da pesca em diversos fóruns tem sido uma das estratégias dos
países pesqueiros tradicionais para preservar a sua hegemonia, apostando na tradicional dificuldade dos
países em desenvolvimento de acompanhar os desdobramentos internacionais, em decorrência de suas
tradicionais deficiências de coordenação interna. Assim sendo, um outro tema de grande relevância
para o setor pesqueiro nacional, também tratado no âmbito da OMC, é a questão da utilização de
subsídios à pesca.
Neste sentido, o Brasil apresentou uma proposta, fundamentada na necessidade de um tratamento
especial e diferenciado para os países em desenvolvimento (TN/RL/GEN/79)1, na qual busca assegurar
o direito desses países de utilizarem subsídios para o legítimo desenvolvimento de sua pesca oceânica,
a exemplo do que pesadamente o fizeram os países pesqueiros tradicionais, impedindo, ao mesmo
tempo, o uso abusivo de subsídios por parte das nações desenvolvidas, que continuam a subsidiar as
suas frotas pesqueiras.
Apenas para citar um exemplo, em meados de junho último, a União Européia decidiu criar um
novo fundo de apoio ao setor pesqueiro, no valor de 4,8 bilhões de dólares, com o objetivo exclusivo de
subsidiar os pescadores europeus de 2007 a 2013. Além de ser travado em várias frentes, o embate
pelos recursos atuneiros do Oceano Atlântico reverbera entre os diversos fóruns, de forma que
conquistas diplomáticas e políticas em uma determinada área, muitas vezes motiva iniciativas e
retaliações em outras áreas, aparentemente totalmente desvinculadas da questão.
Recentemente, a Espanha, assim como o Japão em outros momentos, de forma recorrente, tem
desenvolvido gestões bastante incisivas, não apenas junto ao governo federal, mas diretamente também
aos governos estaduais, no sentido de viabilizar a criação de “portos internacionais”, na costa brasileira,
a partir de financiamentos evidentemente assegurados pelos mesmos. Tais portos, se criados, claro,
reduziriam significativamente os custos operacionais de suas frotas no Atlântico Sul, particularmente
1
http://www.trade-environment.org/page/theme/tewto/para28.htm
68
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
quando da explotação dos estoques que apresentam uma maior proximidade da costa brasileira. Uma
das poucas, se não a única, vantagem comparativa que o Brasil ainda possui ao competir com as frotas
oceânicas de longa distância no Atlântico Sul é exatamente a proximidade dos seus portos das áreas de
pesca.
Neste contexto, registre-se que as embarcações nacionais são obrigadas a competir pelos recursos
pelágicos deste oceano, com as frotas estrangeiras, particularmente a espanhola e japonesa,
pesadamente subsidiadas e que operam com um custo financeiro que representa uma pequena fração da
realidade brasileira, com tecnologia mais sofisticada e mão-de-obra infinitamente melhor qualificada.
Não é um desafio de pouca monta. Se diante de tal contexto o Brasil decidir franquear a utilização dos
seus portos pela frota internacional estará, evidentemente, anulando a principal vantagem comparativa
que possui o que invariavelmente resultará no aniquilamento de qualquer pretensão brasileira de
desenvolver a sua pesca oceânica. O que claramente se coloca, portanto, é qual futuro o Brasil prefere.
Conceder às frotas internacionais o livre acesso aos portos brasileiros, e ficar literalmente a ver os
navios estrangeiros pescando em seu quintal, ou enfrentar o desafio de desenvolver a sua pesca
oceânica. Cabe destacar, ainda, que tal desenvolvimento não diz respeito apenas à produção de
pescado, nem à geração das divisas, empregos e renda dela resultantes, ele implica também a efetiva
ocupação, não apenas da Zona Econômica Exclusiva, mas das águas internacionais do Atlântico Sul,
essencial à efetiva realização geopolítica do País. A decisão do Estado brasileiro foi, e não poderia ser
outra, pelo desenvolvimento do setor pesqueiro nacional. Diante de tal estratégia, a cessão dos portos
nacionais às frotas estrangeiras é claramente incompatível e de todo indesejável.
QUESTÕES COMERCIAIS
Além dos desafios apresentados pelas negociações internacionais, há, ainda, outras grandes
dificuldades conjunturais que vêm diminuindo sobremaneira a capacidade competitiva da pesca
oceânica nacional, entre as quais destacam-se: a defasagem cambial, o preço do petróleo e o preço de
comercialização dos atuns e afins, no mercado internacional. O valor do real frente ao dólar atingiu em
2006 níveis próximos à metade do que se verificou no início da década reduzindo, portanto,
substancialmente a margem de lucro do pescado exportado (Figura 5).
69
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
4,50
4,00
3,00
2,50
2,00
1,50
1,00
0,50
0,00
03/01/00
03/05/00
03/09/00
03/01/01
03/05/01
03/09/01
03/01/02
03/05/02
03/09/02
03/01/03
03/05/03
03/09/03
03/01/04
03/05/04
03/09/04
03/01/05
03/05/05
03/09/05
03/01/06
03/05/06
01/01/2000 a 30/06/2006
Figura 5- Variação da taxa de câmbio R$ x US$, entre janeiro de 2000 e junho de 2006.
Por outro lado, em função de um aumento de quase sete vezes no preço do petróleo no mesmo período
(Figura 6), o custo do diesel, um dos principais insumos da atividade pesqueira, particularmente no
caso da pesca oceânica, em função das grandes distâncias que as embarcações são obrigadas a
percorrer, e do frete, especialmente o aéreo, do qual depende toda a exportação do pescado fresco,
subiram fortemente, aumentando simultaneamente o custo de operação e de exportação do produto
capturado.
70
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Os preços de venda, por outro lado, tomando-se como exemplo o espadarte fresco no mercado norte
americano, caíram cerca de 40%, em relação aos valores vigentes na década de 90, particularmente
após o 11 de setembro de 2001, atingindo em 2002 o seu menor valor (US$ 3,50/lb, contra US$ 6,5/lb,
em 1996) (Figura 7). Tais dificuldades têm erodido a lucratividade da atividade, obstando, na mesma
proporção, a consolidação de uma frota genuinamente nacional, particularmente em função da atual
condição de descapitalização do setor pesqueiro nacional.
5
US$/ lb
0
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
Figura 7- Variação do preço do espadarte fresco (meka) no mercado norte-americano (New
York’s Fulton Market), entre 1991 e 2004 (Fonte: U.S Department of Commerce).
A FROTA PESQUEIRA
Para formar e consolidar uma frota pesqueira, o Brasil dispõe basicamente de três diferentes
instrumentos: o arrendamento, a importação, e a construção de barcos em estaleiros nacionais. São
instrumentos complementares, com diferentes alcances, finalidades e tempos de resposta. Se por um
lado, o arrendamento pode ser extremamente útil na construção de um histórico de captura, de forma a
assegurar o cumprimento de quotas politicamente conquistadas, por outro, torna o País extremamente
vulnerável a eventuais retaliações dos países de bandeira das embarcações arrendadas, particularmente
quando os mesmos são também importantes mercados para o pescado brasileiro, como o da Espanha.
Diante de tal circunstância, a suspensão dos arrendamentos pela SEAP foi uma medida acertada,
principalmente no intuito de gerar um fator motivador para a importação e construção de novos
atuneiros pelas empresas arrendatárias, através do PROFROTA Pesqueira2. Entretanto, o instrumento
do arrendamento não deve ser definitivamente abandonado, tendo em vista a sua grande importância
2
Programa Nacional de Financiamento da Ampliação e Modernização da Frota Pesqueira Nacional.
71
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
72
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Por fim, cabe destacar a grande importância do PROFROTA como instrumento de consolidação
da pesca oceânica nacional, embora o seu alcance seja limitado pela morosidade na resposta no
aumento da produção, tendo em vista o longo tempo demandado para construção de um barco
pesqueiro, assim como pelos altos custos financeiros envolvidos, decorrentes da realidade nacional.
Infelizmente, mesmo subsidiados, os juros no Brasil implicam um custo financeiro muito maior que o
de outras frotas internacionais, grande parte das quais continuam a ser pesadamente subsidiadas.
Não adianta, porém, se dispor de embarcações de pesca bem equipadas se, ao mesmo tempo, não
houver disponibilidade de mão de obra qualificada para tripulá-las. Neste sentido, cabe destacar o
grande esforço de treinamento de mão-de-obra nacional desenvolvido pela SEAP/ PR, que, por meio do
Subcomitê Científico do Comitê Consultivo Permanente de Gestão de Atuns e Afins (SC-CPGAA), e
pela UFRPE, desde maio de 2005, já viabilizou a realização de 8 cursos de formação de pescadores
para a pesca oceânica, tendo sido 2 em Natal- RN, 2 em Cabedelo- PB, 2 em Recife- PE, e 2 em
Santos- SP, com 250 pescadores treinados. Além dos pescadores, também com o apoio da SEAP-PR, a
UFRPE já treinou 85 observadores de bordo, em 3 cursos realizados desde setembro de 2004,
capacitando os mesmos não apenas em relação aos diversos aspectos diretamente ligados a sua função
a bordo, mas a habilidades complementares necessárias ao bom desempenho do trabalho, incluindo o
conhecimento acerca da legislação nacional e internacional pertinente, a biologia das principais
espécies capturadas, o acompanhamento e descrição da metodologia de pesca empregada, assim como
o monitoramento dos descartes e capturas incidentais de espécies que não constituem o alvo da pesca,
como aves e tartarugas marinhas.
A consolidação do Brasil como um País importante na pesca oceânica do Atlântico Sul, porém,
só poderá se concretizar se todo o esforço de desenvolvimento pesqueiro for adequadamente calçado
pela condução de pesquisas que permitam, não apenas gerar as informações biológicas essenciais para
uma correta avaliação dos estoques explotados, aspecto crucial para a construção de medidas de
ordenamento que possam assegurar a sustentabilidade da atividade, mas também informações técnicas
que possam contribuir para aumentar a competitividade e a eficiência da frota nacional. Considerando-
se que a defesa de qualquer direito só se sustenta quando devidamente amparada pelo adequado
cumprimento dos deveres correlatos, pode-se igualmente afirmar que o desenvolvimento de pesquisas
científicas sobre os atuns e afins do Atlântico se configuram como um importante ativo no processo de
negociação necessário à sustentação das aspirações brasileiras de crescimento de sua participação na
pesca desses importantes recursos pesqueiros.
Novamente, o SC-CPGAA, com o apoio da SEAP- PR, tem envidado um grande esforço de
pesquisa, o qual, além de incluir a coleta sistemática e rotineira de dados de esforço de pesca, captura e
73
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
3
São marcas que, uma vez fixadas no peixe, passam a coletar dados a respeito da temperatura da água,
profundidade, e posição geográfica. Após um período de tempo pré-programado, normalmente entre 1 e 6
meses, as mesmas se liberam automaticamente, vindo até a superfície, a partir de onde passam a transmitir
todos os dados coletados durante o período em que permaneceu presa ao peixe, através do sistema de satélite
ARGOS, para uma base em terra.
4
NMFS- National Marine Fisheries Service/ NOAA- National Oceanic and Atmospheric Administration.
74
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
pesqueiro oceânico pela frota atuneira nacional, prevendo-se a realização de pesca experimental com
espinhel profundo, com a utilização de hook timers5 e minilogs6, além de marcas PSAT.
Cabe destacar, que uma grande dificuldade enfrentada no desenvolvimento das pesquisas aqui
descritas tem sido a falta de uma embarcação de pesquisa pesqueira no País, capaz de realizar a pesca
oceânica, de forma experimental, sendo urgente a superação de tal deficiência.
A aquisição de um barco de pesquisa, com este fim poderia, atender igualmente, outras iniciativas
de pesquisa marinha no Brasil, além do treinamento de alunos vocacionados para a pesca e pescadores
profissionais. É importante ressaltar, neste tocante, o fato de existirem hoje no País 15 Cursos de
Engenharia de Pesca, sem que nenhum deles possua uma embarcação capacitada a operar na área
oceânica, a quase totalidade dos quais, aliás, não possuem é embarcação nenhuma.
A embarcação aqui proposta poderia ser administrada por uma fundação, dotada da necessária
flexibilidade administrativa, a qual atenderia às diversas demandas de pesquisa e treinamento
apresentadas pelas Escolas Técnicas, Universidades e Institutos de Pesquisa no País.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, cabe destacar, também, que as aspirações brasileiras para o crescimento de sua pesca
oceânica não se sustentarão se o país não demonstrar a sua capacidade de implementar e fazer cumprir
as medidas de ordenamento e conservação adotadas pela ICCAT. Aspecto em relação ao qual ainda se
faz necessário um considerável progresso, particularmente em relação à fiscalização da atividade. Por
exemplo, nas capturas de agulhão-branco e negro, embora o descarte em alto mar seja obrigatório -
caso os exemplares capturados se encontrem ainda vivos no momento do embarque, além de sua
comercialização se encontrar proibida, por meio da Instrução Normativa no 12, de 14 de julho de 2005,
da SEAP- PR, não há praticamente qualquer controle do poder público sobre a efetiva implementação
de tais medidas. Em parte, como conseqüência deste fato, as capturas de ambas espécies em 2005
voltaram a crescer significativamente. Tal situação precisa ser revista e retificada com a máxima
urgência, para que o País possa, definitivamente, se credenciar a ser um dos mais importantes
pescadores do Oceano Atlântico.
Por outro lado o interesse de instituições científicas e empresas privadas, além das excepcionais
condições climáticas e extensão de nossas costas, têm alavancado sobremaneira o interesse pelas
pesquisas referentes à implementação da maricultura no Brasil. De forma que podemos prever, num
futuro próximo, o substancial incremento da produção pesqueira brasileira por esta via.D
5
Dispositivos que permitem identificar a hora em que o peixe foi fisgado.
6
Equipamento que, unido à linha secundária, registra continuamente a temperatura da água da mar.
75
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
O mais importantes recursos pesqueiros do delta do Rio Parnaíba, localizada ao norte dos Estados do
Piauí e do Maranhão, é o caranguejo-uçá, (Ucides cordatus) que é o maior crustáceo encontrado nos
manguezais brasileiros. Apresenta carne muito apreciada e é comercializado em grandes quantidades.
Sua captura, realizada de forma artesanal, representa postos de trabalho para mais de 4.500 coletores da
região, que, em sua maioria, têm nessa atividade a única fonte de renda. Embora esses trabalhadores do
mar tenham renda média inferior a um salário mínimo, a atividade é de grande interesse sócio-
econômico. Os caranguejos desta região são transportados e comercializados em quase todos os estados
do Nordeste, especialmente nas capitais, onde há um grande fluxo turístico. As condições inadequadas
de transporte desses animais tem trazido muitos desperdícios e ameaçado a sustentabilidade de seu
estoque.
PRODUÇÃO E TRANSPORTE
77
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
REGULAMENTAÇÃO
PESQUISAS
A Embrapa Meio-Norte, desde o início de 2002, vem priorizando a pesquisa aplicada à pesca e
aqüicultura na região Nordeste, através de sua Unidade de Execução de Pesquisa, em Parnaíba. O
Núcleo Integrado de Pesquisa em Aqüicultura e Meio Ambiente da UEP-Parnaíba vem promovendo
ações articuladas com diversos parceiros, incluindo Instituições de Pesquisas e Desenvolvimento,
Ensino e Extensão, IBAMA, SEBRAE, Banco do Nordeste, Prefeituras Municipais e Instituições de
Fomento. Dentre dessas ações, em 2004 deu início ao Projeto de Sustentabilidade do Extrativismo do
caranguejo-uçá no Estado do Piauí, destinado a encontrar formas de reduzir a mortalidade do animal
durante o processo de transporte. Apesar do Projeto já ter conseguido identificar as causas das mortes
dos caranguejos, e de ter desenvolvido alternativas que podem fazer cair as perdas para taxas de 0% a
5% durante todo o processo, a EMBRAPA, ainda, não apontou soluções factíveis para solução desse
problema.
78
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
CONSIDERAÇÕES FINAIS
79
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
II - ARTIGOS CIENTÍFICOS
RESUMO
As áreas mais adequadas para o implemento de projetos aqüícolas sustentáveis, na bacia do rio
Itapecuru, foram selecionadas a partir da sinergia de parâmetros que tornam a aqüicultura uma
atividade capaz de gerar benefícios econômicos como: elevar o nível de inclusão social de grande
parcela de seus habitantes; melhorar o grau de conforto a seus usuários; propiciar maior usufruto de
mananciais de água integrantes da bacia; alertar para a importância dos estudos das bacias nacionais,
visando o planejamento da aqüicultura responsável. O planejamento e execução deste trabalho foram
motivados pela necessidade mundial de preservar o meio ambiente, em particular, os sistemas
aquáticos. A bacia é composta por uma contingência de problemas que tiveram início em sua
colonização, marcada pelo latifúndio e exploração inadequada de seus recursos naturais, apesar de sua
grande importância ao Estado do Maranhão. Exibe um quadro de difícil diagnóstico em função da
escassez de dados seguros para seu planejamento sustentável, principalmente das atividades produtivas
que dependem do binômio água/uso da terra. A viabilidade desse trabalho ocorreu com a utilização da
metodologia do Sistema de Informação Geográfica (SIG) que selecionou um total de 16.768,64 km² de
áreas com declividades entre 0% e 3%, das quais 9.122 km² foram enquadradas segundo os atributos
admitidos para escolha de áreas propícias para a instalação de projetos e programas de aqüicultura.
10% dessa área foram destinadas a atender modelos de gestão cujos efluentes produzidos na
aqüicultura sejam utilizados pela agricultura perene ou temporária nos 90% das áreas eleitas por classes
de ponderação da seguinte forma: 8,68 km² excelente; 351.82 km² muito boa; 48.62 km² boa; 122.83
km² regular; 237.59 km² ruim e 142.66 km² com restrições técnicas. Os estudos apontaram o baixo
curso da bacia do rio Itapecuru como a área que reúne maiores chances para o desenvolvimento da
aqüicultura sustentável.
PALAVRAS-CHAVE: Bacia do rio Itapecuru, Aqüicultura sustentável, Sistema de Informação Geográfica
80
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
The adjusted areas more for implement it of sustainable aquatic programs, in the basin of the river
Itapecuru, had been selected from the synergya of parameters that become the aquaculture an activity
capable to generate economic benefits as: to raise the level of social inclusion of great parcel of its
inhabitants; to improve the comfort degree its users, to propitiate greater fruition of water integrant
sources of the basin; to alert for the importance of the studies of the national basins, aiming at the
planning of the responsible aquaculture.The planning and execution of this work had been motivated
by the world-wide necessity to preserve the environment, in particular, the aquatic systems. The basin
is composed for a contingency of problems that had had beginning in settling, marked for the large
state and inadequate exploration of natural resources, although its great importance to the State of the
Maranhão. It shows a picture of difficult diagnosis in function of the scarcity of safe data for
sustainable planning, mainly of the productive activities that depend on the use of the water and
land.The viability of this work counted of the use of the methodology of the Geografic Information
System (SIG) that km² of areas with declivities in the interval between 0% and 3% selected a total of
16.768,64, of which 9,122 km² had been fit according to attributes admitted for choice of propitious
areas for the installation of projects and programs of aquaculture. 10% of this area had been destined to
take care of management models whose effluent produced in the aquaculture they are used by perennial
or temporary agriculture in 90% of the elect areas for classrooms of balance following the form: 8,68
km² excellent; 351.82 km² very good; 48.62 km² good; 122.83 km² to regulate; 237.59 km² bad and
142,66 km² with restrictions techniques. The studies had pointed the low course of the basin of the river
Itapecuru as the area that congregates greaters possibilities for the development of the sustainable
aquaculture.
WORDS KEY: Basin of the river Itapecuru, sustainable aqüicultura, Geografic Information System.
INTRODUÇÃO
A produção de pescado mundial, em 2002, foi da ordem de 142 milhões de toneladas, sendo 96 milhões
oriundos da captura e 45 milhões da aqüicultura. A produção da pesca extrativa encontra-se estagnada, tendo
atingido seu limite sustentável de produção. Em contrapartida, a produção proveniente da aqüicultura vem
ganhando importância na oferta total de pescados, com crescimento mundial médio de 7% ao ano, nos últimos
cinco anos. Mesmo com essa expansão da produção aqüícola, projeta-se para o ano de 2010 um déficit de 25
milhões de t/ano de pescados, considerando-se uma expansão da demanda mundial compatível com o atual
consumo per capita de 14 kg/ano(FAO, 2003).
81
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
O Brasil, apesar de deter um dos maiores aportes de variadas classes de água do mundo, produziu, em
2002, 985 mil toneladas de pescado e apresentou um consumo per capita de apenas 5,7 kg/ano, média muito
inferior à mundial, (IBAMA, 2002).
Aqüicultura é o processo de produção em cativeiro de organismos com habitat predominantemente
aquático, em qualquer estágio de desenvolvimento, ou seja: ovos, larvas, pós-larvas, juvenis ou adultos. De
acordo com a FAO, três fatores caracterizam essa atividade: o organismo produzido é aqüícola, existe um
manejo visando a produção, e a criação tem um proprietário, isto é, não é um bem coletivo como são as
populações exploradas pela pesca (RANA, 1997).
A aqüicultura moderna está embasada em três pilares: a produção lucrativa, a preservação do meio
ambiente e o desenvolvimento social. Os três componentes são essenciais e indispensáveis para que se possa ter
uma atividade perene. A produção deve ser entendida como um processo amplo, que envolve toda a cadeia
produtiva. A simples criação dos organismos não é suficiente para o estabelecimento da atividade, de forma
lucrativa e permanente, como deve ser qualquer empresa. Todos os elementos da cadeia têm seu papel e
qualquer elo fraco limitará o desenvolvimento da atividade de forma geral (VALENTI et al., 2000).
O Estado do Maranhão, integrante da Amazônia Legal, ocupa no Nordeste uma posição privilegiada
com relação ao seu potencial hídrico. Possui nove bacias hidrográficas formadas por rios perenes, complexos
lacustres em planícies de inundação, inúmeras pequenas bacias em sua costa ocidental repleta de exuberantes
manguezais; na costa oriental, lagoas temporárias e nas regiões de dunas formando os lençóis maranhenses
(IBGE, 1998).
O rio Itapecuru, escolhido para esse trabalho, por sua importância vital ao Estado do Maranhão, o mais
extenso, e sua bacia de contribuição ocupa o segundo lugar em extensão no Estado. Divide-se fisiograficamente
em três níveis (alto, médio e baixo curso), atravessa várias unidades litoestratificadas e diversas divisões
geomorfológicas se caracterizando como um rio de planície.
A bacia hidrográfica do rio Itapecuru encontra-se geologicamente localizada na porção oriental da
plataforma Sul-Americana, na Província Estrutural do rio Parnaíba. Constitui-se de uma faixa de direção
dominante Norte-Sul, formada por rochas, na maioria sedimentar, de bacia Introcratônica do rio Parnaíba e da
bacia marginal de São Luís (ALMEIDA et al., 1997).
O rio Itapecuru nasce nos contrafortes das serras da Crueira, do Itapecuru e do rio Alpercatas, a 500m de
altitude, percorrendo 1.090 km, até sua desembocadura na baía do Arraial, ao sul da ilha de São Luís (IBGE,
1998). Limita-se a sul e ao leste pela bacia hidrográfica do rio Parnaíba, pela serra do Itapecuru, chapada do
Azeitão entre outras pequenas elevações, a oeste e a sudeste com a bacia do rio Mearim e a nordeste com a bacia
do rio Munim.
A aqüicultura praticada na bacia do rio Itapecuru, apesar de empírica, é responsável por 40% do pescado
consumido na região, onde se registrou 22 criadores, cultivando principalmente o tambaqui (Colossoma
macropomum), tilápia (Oreochromis spp), carpa (Cyprinus carpio), curimatá (Prochilodus spp), bagre-africano
82
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
83
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
GEOMORFOLOGIA
HIDROLOGIA
Os rios da bacia do Itapecuru drenam os terrenos sedimentares da bacia do rio Parnaíba, composto
principalmente pelas seqüências de arenitos, siltitos, folhelos e argilitos, onde a ocorrência de falhas e fraturas
direcionam o curso dos mesmos. Devido a isto, as perspectivas no que dizem respeito às suas reservas em águas
subterrâneas são relativamente promissoras. Os principais sistemas aqüíferos são as formações: Mutuca,
Sambaíba, Corda e Itapecuru. Em conjunto, essas formações podem ser consideradas como um único sistema
aqüífero livre, localmente com potências em carga nas áreas onde são sobrepostas por formações impermeáveis
que são: Pedra de Fogo, Pastos Bons e Codó (IBGE, 1998; PETRI; FULFARO, 1988; TUCCI, 2001).
A bacia hidrográfica do rio Itapecuru é falciforme, cuja concavidade está voltada em direção Oeste, para
o vale do Mearim. É uma bacia irregular, estreita nas nascentes e na desembocadura, alargando-se na parte
central, onde atinge aproximadamente 120 km. A rede de drenagem distribui-se em padrão geral
aproximadamente paralelo no alto curso, embora uma tendência dentrítica se revele cada vez mais à medida que
vai atingindo o baixo curso (IBGE, 1998).
Corre no sentido Oeste-Leste das nascentes até o povoado de Várzea do Cerco, 25 km à
montante da cidade de Mirador, tomando rumo norte ao deslocar-se sobre os chapadões do alto curso
até receber seu maior depositário o Rio Alpercatas, que contribui com 2/3 de seu volume em sua
desembocadura. Muda de direção para nordeste até receber o rio Corrente, mudando bruscamente sua
direção para o sentido nordeste, tracejando um longo contorno, no município de Caxias. Apesar de
84
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
apresentar algumas inflexões, se mantém na mesma direção até sua desembocadura na baia do Arraial
por dois braços, o Tucha como principal e o Mojó como secundário.
Um problema que acomete a bacia do rio Itapecuru são os esgotos. O esgotamento, da maioria das
cidades brasileiras, é feito a céu aberto e os resíduos normalmente são conduzidos a um corpo d’água que recebe
o esgoto in natura. Uma grande metrópole tem um efeito poluidor das águas que pode ser detectado a centenas
de quilômetros rio abaixo, comprometendo seu uso em outros povoamentos nas atividades humanas que
dependam da água bruta. A poluição industrial também contribui com diversos tipos de poluentes orgânicos e
inorgânicos que degradam a qualidade da água. Alguns possuem alta toxidade e periculosidade para os
organismos aquáticos e para o consumo humano.
Além deste, a agropecuária se constitui em mais um responsável pela degradação da bacia do rio
Itapecuru, com grandes queimadas como conseqüência da pecuária e, principalmente, do extrativismo vegetal
para a produção de madeira e, de significativa produção de carvão vegetal.
A disponibilidade de água no alto curso do rio Itapecuru até o deflúvio do rio Alpercatas é de 17,6m.s-1,
em média, dado que limita o uso da água em grandes projetos hidroagrícolas, não significando sua vasta
utilização em projetos sustentáveis, embora o acompanhamento técnico responsável se torna um requisito básico.
A partir do município de Colinas, onde o aporte fluvial triplica a oferta de água já qualifica essa área
para maiores demandas por parte de projetos de maiores proporções no uso de água.
A oferta de água na bacia do rio Itapecuru para múltiplos usos apontou uma bacia de médio porte, que
apesar da inexistência de um completo cadastramento do uso de suas águas não há indícios do comprometimento
da oferta de água bruta para seus usuários, mesmo assim, faz-se necessário seu controle na perspectiva de sua
preservação como bem público e de duração finita (IBGE, 1998).
CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA
As combinações diversas dos processos atmosféricos produzem um grande número de tipos climáticos, o
que se aplica à bacia do rio Itapecuru como área de transição de macroclimas da região Amazônica com alta
umidade e da região Nordestina com baixa umidade.
A classificação climática distribui em diferentes tipos climáticos a bacia do Itapecuru. O Clima
predominante na bacia é o sub-úmido seco, seguido do sub-úmido e Úmido na interface com áreas marinhas de
altas pluviosidades. Os maiores excessos pluviométricos ocorrem entre janeiro e maio (período chuvoso) e com
maiores deficiências de julho a setembro (período seco).
A variação da temperatura na bacia do rio Itapecuru tem uma amplitude média muito pequena, não
ultrapassando a 4°C, variando de 25°C a 28°C na maioria da referida bacia, sendo registradas médias de 27°C no
85
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
baixo Itapecuru e nos município de Caxias e Codó, registrando-se menores médias no alto curso do rio
Itapecuru, com 25°C. Essa baixa temperatura está relacionada com a latitude e a altitude do local.
A umidade relativa do ar na bacia do rio Itapecuru varia em média entre 70 a 82%, registrando-se
maiores índices no litoral. O período de maior umidade é de janeiro a maio com médias de 85%, as áreas com
menores índices são as mais próximas da bacia do rio Parnaíba.
PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA
É a variável climática que apresenta maior variabilidade, tanto espacial como temporal. Através do
conhecimento da distribuição da precipitação pluviométrica, anual e mensal, pode-se ter noção do potencial
hídrico disponível ao longo do ano na referida bacia. Essas informações são imprescindíveis para todos os
setores da economia, principalmente para projetos hidroagrícolas. Os valores médios de distribuição demonstram
uma diferença de amplitude média de precipitações na bacia do rio Itapecuru entre a mínima e máxima de 1600
mm (INSTITUTO DO HOMEM, 1992).
Segundo o Instituto do Homem (1992), um fato que tem agravado este problema é a má distribuição
fundiária, ficando as terras mais férteis à disposição de grandes latifúndios, com explorações de monoculturas
principalmente do arroz, como primeira cultura para em seguida serem transformados em pastos;
conseqüentemente, os pequenos e médios produtores acabam sendo deslocados para áreas inadequadas, mais
pobres, onde se dá um outro processo de devastação, seja pela exploração da madeira ou implantação de
agricultura nômade.
A maior reserva da bacia é o Parque Estadual do Mirador, com 500.000 ha nas nascentes e a formação
dos primeiros córregos que constituem o curso principal, visa a proteção do ecossistema do alto curso do rio.
As outras Áreas de Preservação Ambiental instituída na bacia são a do Upaon-Açu/Miritiba/Alto
Preguiça (de acordo com o Código Florestal, CONAMA, Código de Águas, Código de Proteção do Meio
Ambiente do Maranhão, Lei do Babaçu), que na verdade está contida na bacia do rio Itapecuru apenas nas
proximidades de sua desembocadura, fronteiriça à bacia do rio Munim.
Foram constatadas pelo Instituto do Homem (1992) agressões às matas ciliares, às bordas de chapadas e
desmatamentos indiscriminados, inclusive em nascentes e babaçuais. Fatos do cotidiano na bacia do rio
Itapecuru acentuam ainda mais com o uso indiscriminado de defensivos agrícolas, despejos urbanos e industriais
em todo o seu curso (INSTITUTO DO HOMEM, 1992; IBGE, 1998).
A população da bacia do rio Itapecuru é resultante da ocupação pelos primitivos indígenas, portugueses,
africanos e franceses, passando por variados regimes como em todo Brasil, registrado em sua história como
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palco de conflitos, a exemplo da guerra da Balaiada que teve seu maior foco de resistência no município de
Caxias, no limite do alto e médio curso da Bacia em estudo. Outro marcante episódio foi marcado pela passagem
da Coluna Prestes em dezembro de 1925 nos municípios de Colinas e Mirador, no alto curso do Itapecuru
(IBGE, 1998). A consolidação da atual estrutura político-administrativa da bacia do rio Itapecuru se deu no
século passado, nas décadas de 40 e 50, pela emancipação de grande número de municípios.
A política implementada a partir de 1970, incentivando a instalação de grandes projetos agropecuários,
aumentou a concentração de terra. Esse processo causou a desestruturação social e econômica de milhares de
famílias, obrigadas a migrarem para as zonas urbanas ou outras regiões (IBGE, 1998).
As práticas políticas na bacia do Itapecuru ainda são consideradas colonialistas pelos estudos do IBGE
(1998), com imensos latifúndios improdutivos. Os agricultores, em sua maioria, são parceiros ou arrendatários
refletindo no menor Índice de Desenvolvimento Humano-IDH da federação, segundo relatório da ONU/2003,
(JORNAL NACIONAL, 2003).
Segundo Sachs (1993), para que o desenvolvimento seja sustentável, é preciso que ele contemple pelo
menos os pontos a seguir:
• Atividade seja economicamente viável;
• Socialmente justa, contribuindo para a redução das desigualdades e para a eliminação das injustiças;
• Consideração ecológica, a perda da qualidade ambiental e a degradação dos ecossistemas, não sejam
o preço a ser pago, comprometendo a perenidade da vida;
• Imperativo da eqüidade espacial, ou a importância de se evitarem as concentrações ou aglomerações
que, pela lógica das economias de escala, acabam resultando em deseconomias de qualidade de vida e em
distribuição desigual das oportunidades;
• Cultura: as características de cada grupo social devem ser preservadas frente à avassaladora
tendência homogeneizadora dos padrões de produção e consumo, que viola e descaracteriza identidades;
• Político-institucional, que na atual crise do Estado, em todo o mundo, cujas raízes têm características
diferenciadas em cada país, mas que tem se manifestado na esfera das finanças públicas, tem fragilizado e
deslegitimado o papel regulador do poder público, abrindo espaço para que a conjuntura de mercado
prevaleça como regulador.
Um SIG é baseado em computador que permite capturar, modelar, manipular, recuperar, consultar,
analisar, e apresentar dados geograficamente referenciados (CÂMARA NETO, 1995). A tecnologia do SIG pode
trazer enormes benefícios devido à sua capacidade de manipular a informação georeferenciada de forma precisa,
rápida e sofisticada (GOODCHILD et al., 1993).
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Na década de 80 do Século XX, o uso do SIG, tornou-se comum nas empresas, universidades e agências
governamentais, e atualmente diversos profissionais o utilizam para as mais variadas aplicações. Essa
diversidade de usos e aplicações fez surgir várias definições do SIG, tais como:
• conjunto poderoso de ferramentas para coletar, armazenar, recuperar, transformar e visualizar dados
sobre o mundo real (BURROUGH, 1987);
• banco de dados indexados espacialmente, sobre o qual opera um conjunto de procedimentos para
responder as consultas sobre entidades espaciais (SMITH et al., 1987);
• sistema de suporte à decisão que integra dados referenciados espacialmente num ambiente de
respostas a problemas (COWEN, 1988);
• conjunto manual ou computacional de procedimentos utilizados para armazenar e manipular dados
georeferenciados (ARONFF, 1989).
Essas definições de SIG refletem, cada uma à sua maneira, a multiplicidade de usos e visões possíveis
desta tecnologia e apontam para uma perspectiva interdisciplinar de sua utilização. Atualmente algumas de suas
aplicações incluem temas como aqüicultura, agricultura, florestas, cartografia, geologia, cadastro urbano, rede de
concessionárias (água, energia e telefone), dentre outras (STAR; ESTES, 1990).
MATERIAL E MÉTODOS
A bacia hidrográfica do rio Itapecuru situa-se na parte centro-leste do Estado do Maranhão, entre as
coordenadas de 21°51’ a 06°56’ de Latitude S e 43°02’ a 45°58’ de Longitude W, Abrange uma área 54.300
km², que corresponde a 16,7% da área do Estado (IBGE, 1998).
A pesquisa teve duas etapas distintas: (1) avaliação do potencial para o desenvolvimento do projeto; (2)
coleta dos dados de campo.
ORDENAMENTO METODOLÓGICO
A abordagem metodológica para realização de estudos em bacias hidrográficas, propostas por Pires e
Santos (1995), definem o planejamento ambiental como um processo de planificação que busca soluções para os
problemas e as necessidades humanas, visando metas e objetivos: maximização da qualidade ambiental,
produção sustentada com o desenvolvimento e aproveitamento dos recursos naturais dentro dos limites da
capacidade de suporte ambiental e da minimização dos riscos a impactos ambientais.
As bases para elaboração de um projeto integrado de manejo de bacias hidrográficas (ARÉVALOS,
1998), são as seguintes:
• Unificação de métodos e de planejamento de propostas de ação e de investigação, originadas a partir
dos problemas e limitações da região;
• Confecção de mapas geoecológicos e;
• Planejamento e zoneamento ambientais.
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delimitação de áreas propícias com declividade variando de 0 a 3% e que ofereça menor risco para
empreendedores e meio ambiente.
As áreas selecionadas em toda a bacia são prestáveis para a piscicultura, ranicultura e carcinicultura de
água doce até o município de Rosário no baixo curso do rio Itapecuru. Poderão também ser realizadas atividades
de malacocultura e carcinicultura de águas salinas no baixo curso do referido rio, segundo o somatório das
pontuações enquadradas nas diversas categorias (ASSADA; SANO, 1998; HARA, 1997; NISHIYAMA, 1998;
SAITO et al., 1998).
Mapa de Declividade
Mapa de Drenagem
Mapa de Geologia
Mapa de Geomorfologia
Mapa de Infra-estrutura
Mapa de Solo
Mapa de Climático
Mapa Final
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar de constituir um ambiente de grande importância para a aqüicultura, a bacia do rio Itapecuru não
dispõe de assistência técnica sistêmica a exemplo do Estado, o que compromete seu desenvolvimento. Constitui
como ação concreta apenas a programação propiciada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), com mini-
cursos para produtores, que na verdade não satisfazem as necessidades do público com verdadeiro potencial,
pelos processos seletivo e metodológico efetuados.
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A área em estudo não dispõe de um conjunto de dados capazes de propiciar elementos para um
planejamento adequado, constituindo-se esse trabalho no primeiro material com tal finalidade.
O Estado do Maranhão dispõe de menos de dez especialistas na área de aqüicultura com nível superior,
seis com pós-graduação Lato Sensu, dois Mestres e um Doutorando, aspecto que demonstra a distância entre
potencialidade, produção e assistência técnica. Na Bacia do rio Itapecuru só existem três desses profissionais,
todos os produtores na área da piscicultura, atividade mantida com recursos próprios com total ausência do
Estado, que não esboça nenhuma vontade política em mantê-los atualizados, ao contrário, mantém políticas que
pulverizam o setor com generalidades sem nenhuma projeção a curto, médio e longo prazo, ofuscando toda a teia
produtiva potencial, do profissional ao consumidor.
Na bacia do rio Itapecuru a oferta de alevinos é muito escassa e irregular, contabilizando-se apenas um
produtor com oferta mais regular durante oito meses por ano, mesmo assim não atende à demanda do mercado
que não se constitui apenas de produtores da Bacia em estudo e sim a todas as áreas vizinhas.
Não é privilégio do Estado do Maranhão a oferta de alevinos de baixa qualidade genética,
principalmente do tambaqui (Colossoma macropomum) que ainda permanecem como reprodutores os
remanescentes de cruzamentos dos espécimes selvagens introduzidos no Nordeste em 1976 pelo DNOCS, que
concretizou sua primeira propagação artificial e distribuição dos alevinos para demais entidades e estações de
piscicultura no ano seguinte, perdurando até nossos dias como banco genético, promovendo grande degradação
consangüínea. No que se refere à bacia do rio Itapecuru, os alevinos cultivados nessa área, são na maioria,
importados de grandes distâncias, de outros estados, causando um grande estresse e alta taxa de mortalidade,
baixo índice de rendimento final, fatos que desestimulam o produtor.
A oferta de alevinos além de precária é de alto custo e não atende a nenhum preceito de qualidade,
controle sanitário e profilático, deixando toda a bacia susceptível a contaminação por parasitos e bactérias
exóticas que podem causar grandes danos ao meio ambiente da área em estudo.
Os projetos de aqüicultura existentes na bacia do rio Itapecuru, não têm nenhum preceito de
sustentabilidade, com exceção do Centro de Piscicultura de Mirador, hoje desativado, onde a inobservância da
legislação pertinente é nítida em cada direção, predominando uma conceituação neoliberal, mesmo inconsciente,
deixando-se de lado a sustentabilidade social pela visão do maior lucro mesmo que os danos ao próximo e ao
meio ambiente sejam imensuráveis (ARANA, 1999).
Na atual conjuntura com ares de modernização da aqüicultura mundial, aqui no Brasil já se dispõe de
tecnologias capazes de relegar certos preceitos que visem à escolha de áreas para instalação de projetos de
aqüicultura a depender de seu sistema como: Tanque-rede, raceway e gaiolas. Mesmo para um sistema
convencional de cultivo já se dispõem de tecnologias de impermeabilização de viveiros com mantas plásticas,
controles de temperaturas, estufas, entre outros modernos sistemas de aproveitamento de qualquer área, desde
que haja uma prévia relação de custo/ benefício (ONO; KUBITZA, 2002).
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É com esse contexto que a visualização da real potencialidade da bacia do rio Itapecuru para a
aqüicultura, onde os avanços tecnológicos quebram barreiras no dia a dia, e transformam áreas imprestáveis a
verdadeiros celeiros produtivos. Isso significa que se utilizando o princípio da imaginação e do bom senso;
haverá um grande avanço nas ações tomadas em direção ao desenvolvimento sócio-econômico da bacia do rio
Itapecuru. É com essa notoriedade que discutimos um total de áreas com maiores chances de sucesso sem que o
meio ambiente seja exatamente o coletor de todas as formas impactantes, causando malefícios a curto, médio e
longo prazo.
Com o eventual aquecimento do setor aqüícola mundial, essa prática tem crescido bastante, chegando
figurar como a principal responsável pela oferta de pescado na bacia do rio Itapecuru. Constatado um grande
número de pequenos piscicultores, que lastreia a Bacia de forma empírica, socialmente desordenada,
impossibilitando seu levantamento estatístico, principalmente com relação à oferta e consumo de ração, porém a
oferta de matéria prima para fabricação é muito competitiva e abundante, por conter em sua Bacia e entorno,
grandes produtores de grãos (comodities) utilizáveis na fabricação de ração, proporcionando menores custos ao
produto final na região, fato que tem despertado interesse desses produtores, já operando uma pequena fábrica de
ração extrusada (250 kg. h-1) no município de Balsas, hoje em ampliação, e uma peletizadora (200 kg.h-1) no
município de Colinas.
A maioria da ração consumida na bacia é proveniente de estados vizinhos, principalmente a extrusada,
porém a fabricação artesanal sem balanceamento adequado e acompanhamento sistêmico é quase totalidade, fato
que concorre para baixas produtividades.
DEMANDA DE PESCADO
O consumo de pescado no Maranhão tem destaque no litoral, na baixada ocidental maranhense e nas
áreas ribeirinhas aos grandes lagos. Na bacia do rio Itapecuru de modo geral, não há hábito de consumo de
produtos pesqueiros no cotidiano, lentamente este hábito vem mudando, em função da freqüência de oferta de
produtos advindos da piscicultura regional, uma vez que os rios da bacia não disponibilizam estoques naturais de
pescado em quantidade para atender a atual demanda, até pelos problemas ecológicos que se agravam a cada
ano, diminuindo a vida nos ambientes naturais.
Na década de 80 do Século XX, o Governo Federal construiu um grande entreposto de pesca no Estado,
no complexo do Itaqui, chegando a funcionar por seis meses e fechou, deixando para trás toda uma perspectiva
de desenvolvimento do setor naquele momento.
As investidas do Estado, no sentido de alavancar o setor pesqueiro ainda não aconteceram. Conta-se com
pequenas instalações da iniciativa privada ao longo do litoral e nas áreas de maiores concentrações de
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pescadores, porém os aqüicultures não dispõem de estruturas de refrigeração para agregar benefícios ao pescado
produzido, obrigando-os a comercializá-los inteiro “in natura”, fresco, resfriado ou eviscerado resfriado. O
pescado congelado, conduzido, de outras áreas, para as feiras dos centros urbanos, não oferece nenhuma
segurança de sua sanidade ao consumidor, normalmente são submetidos ao congelamento por processos
inadequados e após o rigor mortis, promovendo a condução de uma grande carga bacteriana ocasionando uma
baixa qualidade no pescado.
ESPÉCIES CULTIVADAS
As principais espécies cultivadas na bacia do rio Itapecuru são: o tambaqui (Colossoma macropomum),
tilápia (Oreochromis sp.), curimatá (Prochilodus sp.) e carpa-comum (Cyprinus carpio), com grande destaque ao
primeiro, que além de reunir maiores vantagens em sua oferta de alevinos já faz parte da culinária da região.
O diagnóstico da aqüicultura na bacia do rio Itapecuru revela sua insipiência na produção dos diversos
organismos aquáticos, seja pela pequena extensão utilizada ou pelo pequeno grau tecnológico empregado, de
certo é que na mesma proporção se mantém com relação ao meio ambiente, não sendo ainda apontada como uma
atividade que venha a comprometer a vitalidade equilibrada na referida bacia. Contudo propõe-se a indicação de
modelos a serem investigados e aplicados como padrão de uso nas bacias hidrográficas brasileiras como forma
de anteceder a ações poluidoras provenientes da aqüicultura. De modo que para a bacia em estudada, precisa
adotar modelos capazes de manter a sustentabilidade das áreas potencialmente selecionadas, tais como:
“Sistemas de cultivo em viveiros escavados”, são viveiros instalados através de operações de escavação corte e
aterro. Essa operação é uma sincronização de máquinas e instrumentos, são facilitados e adequados
economicamente, segundo a declividade, tipo de solo e cobertura vegetal.
Proponho para esse modelo, a inclusão da agricultura irrigada, como reciclador de efluentes, composto
por micro e macro nutrientes e cobertura verde proveniente de grande quantidade de microalgas potencializadas
no cultivo de organismos aquáticos não filtradores, o que os tornam indispensáveis ao aproveitamento na
agricultura, devolvendo o corpo líquido à natureza por infiltração ou evaporação sem nenhum dado aos sistemas
aquáticos, ao contrário, passa pela produção, seja fruticultura ou para outras cultivares, como arroz, feijão,
milho, cebola, minimizando seus custos com insumos e devolvendo a água com qualidade ao meio ambiente.
Com a concepção dessa proposta de modelo de gestão integrada da aqüicultura com a agricultura
irrigada, se demonstra uma gama de vantagens para o caso da bacia do rio Itapecuru como:
a) Propiciar maior permanência da água na bacia promovendo sua movimentação em maior volume, em todo seu
ciclo, seja aumentando sua superfície de contato com a atmosfera e solo, obviamente a quantidade de vapor
d’água aumentará consubstancialmente bem como as recargas dos mananciais superficiais e freáticos;
b)Aumentar a Umidade Relativa do Ar da região melhorando o grau de conforto das populações, bem como
contribuir para minimizar as chances de incêndios na região, sobretudo nas margens ciliares e áreas adjacentes a
projetos, onde a vegetação permanecer verde pelo ciclo vivo de água e nutrientes dispensados;
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c) Retorno constante da água a seu curso d’água anterior, filtrada naturalmente pelo sistema planta, solo,
evaporação e evapotranspiração;
d)Favorecer o crescimento da fauna ciliar, animais que dependam da margem ciliar para sua sobrevivência e
interação naquele nicho ecológico, habitat misto entre vegetação água, abrigo e oferta de alimento natural.
e) Minimizar o processo de assoreamento através da interposição de projetos de aqüicultura consorciados a
agricultura irrigada, utilizando os efluentes como base para a adubação agrícola e forma de filtragem e
devolução de água pura aos mananciais superficiais e freáticos.
A proposta que utiliza a agricultura irrigada, em substituição à lagoa de depuração, canais, viveiro de
fundo rebaixado, onde os efluentes ficam depositados pode acumular problemas ao aquicultor, ao invés de lucros
com sua utilização econômica sustentável.
Durante expedições, constatou-se que o rastro de devastação tem se agravado, principalmente com a
demasiada quantia de carvoarias clandestinas e criminosas que têm atingido grandes proporções, capazes de
manter as guseiras em pleno funcionamento, sem nenhum programa de reflorestamento promovendo um
crescente número de aluviões. Nas terras do alto curso encontram-se as maiores carvoarias do Estado, nas
adjacências do Parque Estadual do Mirador, acentuando-se no município de Colinas até o município de Caxias,
onde o misto de chapadões e cerrado está cedendo lugar às voçorocas e desertos de areias quartzosas, que
facilmente são conduzidas aos córregos e ao curso principal do rio Itapecuru, promovendo assoreamentos de
grandes proporções, transformando seu curso navegável em armadilhas para a prática da navegação (IBGE,
1998). Todo o curso do rio Itapecuru e seus afluentes, alguns como o Balseiro e o Itapecuruzinho, já agonizam
com seus regimes modificados, só se mantendo com deflúvio no período chuvoso.
Observou-se também que muitas áreas que outrora serviram como criadouros naturais (lagos naturais),
encontram-se assoreadas e invadidas pela cultura de forrageiras para bovinos ou agricultura, penalizando todo
um ecossistema aquático conjuntamente à sócio-economia da área em discussão.
Baseados nos conceitos de sustentabilidade chamam a atenção em especial para o processo devastador e
inconseqüente que o desmatamento vem submetendo a bacia do rio Itapecuru, tanto para fins de expansão de
suas fronteiras agropecuárias como na produção de carvão vegetal, e deixando sua marca desoladora,
principalmente por se tratar de áreas de grande fragilidade como o cerrado onde nasce o rio Itapecuru e alguns
afluentes outrora perenes (IBGE, 1998).
Todo esse rol de evidências é preocupante, com relação ao comprometimento da qualidade e/ou escassez
completa da água na bacia do rio Itapecuru que pelos aspectos geológicos e antrópicos.
No último século, onde no início definia-se que os oceanos e outros recursos naturais eram inesgotáveis,
em suas últimas décadas as autoridades científicas, técnicos, organizações governamentais e não
governamentais, visualizaram um outro cenário onde se constatou o contrário, daí a grande preocupação com o
futuro do planeta. As preocupações com os dias futuros tomaram direção rumo à preservação, deixando o
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Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
O processo metodológico utilizando-se o SIG, como ferramenta para seleção de áreas com declividades
nos intervalos 0 a 3%, classes de solos predominantes, suas características físicas e químicas, já promove uma
definição segura das áreas como se verifica nas descrições de Prado (2003), IBGE (1992); e o novo Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos serviu de base para a seleção de áreas com declividade de 0 a 3%.
O diagnóstico avaliou por meio do SIG, as áreas potenciais para o aproveitamento no cultivo de
organismos aquáticos, apontadas as vocações e os principais entraves para o desenvolvimento das atividades
aquícolas na bacia do rio Itapecuru.
A disponibilidade de áreas propícias para instalação de projetos de aqüicultura inseridas na bacia do rio
Itapecuru é muito grande, extraídas do cruzamento de mapas geoprocessados que contemplou os seguintes itens:
a) Uso e ocupação da terra, visualizado pela ponderação de classe de uso como agropecuária explorada ou não.
Nesse item foi visualizada toda a extensão com variações de declividade de 0-3%, cujo critério para seleção de
áreas para instalação de projetos é recomendado o intervalo de declividade que varia de 0 até 5%, pressupondo-
se que quanto maior a amplitude de variação de declividade maior o custo e mais limitação quanto à extensão
dos viveiros e adequação do layout de instalação, (BITTENCOURT; TORRES, 1983; PROENÇA;
BITTENCOURT, 1994; ONO; KUBITZA, 2002; WOYNAROVICH; HÓRVAT, 1983).
Nas classes selecionadas nessa área topográfica estão inseridas as áreas com restrições legais que são:
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a) APP - Áreas de Preservação Permanente, constituídas por margens ciliares até 100m, nascentes e áreas
inundáveis anualmente (lagos marginais); APA-Áreas de Preservação Ambiental, constituídas pelo Parque
Estadual do Mirador no alto curso do Rio Itapecuru e do Upaon-Açu/ Miritiba/ Alto Preguiças; Reserva Indígena
Kanela na área mais alta da margem direita do rio Alpercatas; Ferrovias, Rodovias, Linhas de Transmissão e
Áreas restritas (urbanas, entorno dos centros urbanos até 10 Km, praias, restingas e manguezais).
b) Ponderação da disponibilidade de água enquadrada pela resolução CONAMA nº 20/86 (II-1, III-2, VI-5 e
VIII-7) quanto à oferta e distância da fonte abastecedora à área do projeto. Nesse estudo foram considerados os
intervalos com valores úteis a partir de 100m, isso devido à restrição de uso da APP como área de produção só
permitindo sua avaliação para investimentos na aqüicultura as áreas após os 100m da margem de áreas
amparadas pela legislação.
Nas referências bibliográficas realizadas não se constatou a demanda e uso real da água na aqüicultura,
no Brasil, ferramenta indispensável para o planejamento da atividade, principalmente no tocante ao cultivo
sustentável, onde a fonte explorada possa ser utilizada sem que a quantidade e qualidade sejam comprometidas,
principalmente por sua utilização pelas civilizações futuras. A utilização da água doce no Brasil, onde a
aqüicultura fica subentendida como uso agrícola, que para qualquer atividade com chances de visualização de
ascensão não deve passar despercebida ou a atividade é insignificante para constar na estatística ou é tão
desordenada que não consta como atividade econômica dependente dos recursos hídricos.
A composição econômica de projetos passa pelo abastecimento e drenagem, ou seja, pela circulação
diária de volumes determinados pelo sistema de cultivo, portanto as categorias de distância do recurso hídrico ou
fonte de abastecimento é de fundamental importância no seu custo final no transporte de água ao destino (ONO;
e KUBITZA, 2002; PROENÇA; BITTENCOURT, 1994).
• A infra-estrutura constitui um conjunto de classes que envolvem bens físicos como: acesso, oferta de
energia elétrica, existência de apoio e centros consumidores com suas respectivas demandas. Esse item é
superlativo para a instalação de projetos econômicos, principalmente de aqüicultura que exigem essas condições
para seu funcionamento sustentável, assim determinando o local e seu dimensionamento pautado segundo o
mercado. Ao analisar-se esse item detalhadamente, fica implícito que ao se tratar do conjunto de itens que
compõem a infra-estrutura de uma localidade, precisa-se lançar mão de outros dados, que para esse diagnóstico
não foram considerados essenciais como: linhas de crédito, instituições financiadoras, bens sociais, infra-
estrutura de comercialização nos centros comerciais e segurança para operacionalizar o empreendimento.
A assistência técnica é uma ferramenta a qual o produtor não deve considerar apenas nos momentos de
instalação do projeto, porque a aplicabilidade de tecnologias no andamento do projeto são tão indispensáveis
quanto o layout de instalação, constituindo-se de etapas distintas, mas interdependentes (HUET, 1983).
• Aspecto climático, composto por um conjunto de eventos ecológicos que permitem uma visualização de
oferta de água num determinado ciclo, assim prever sua oferta máxima e escassez. Desses aspectos o de maior
significado para a aqüicultura é a temperatura, que além de determinar o metabolismo da grande maioria dos
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organismos utilizados no cultivo, seleciona espécies por região e estabelece formas de manejo diferenciado para
cada faixa de oscilação (HUET, 1983; KUBITZA, 2000; ONO; KUBITZA, 2002).
Nessa ponderação de classe de solo quanto à tipologia e adequação para sua utilização na aqüicultura
foram classificadas 9.121,93 km², no mapa final (Figura 2), com os seguintes conceitos:
Excelente, classe de solo com um índice de argila elevado, o Gleissolo cotem teores de argila de alta a
muito alta, somou 86,8 Km² de área, requer moderação pela assistência técnica na seleção do local inserido nessa
classe de solo para evitar instalação de projetos em áreas com teores de argila muito elevados;
• Muito bom, constituídos por solos de boa capacidade de compactação e retenção de água. É uma
área composta por declividade suave aparecendo elevações fora da declividade em estudo, não figurando no
mapa por serem pequenas em relação à escala usada, exigindo estudos detalhados para seleção final de áreas
para instalação de projetos, essa classe totaliza 3.518,20 Km²;
• Bom, constituída por solos de classe média a argilosa, apresentando longos trechos com declividade
suave e suporta ótima compactação, totaliza 486,13 Km²;
• Regular, área com restrição de solo quanto textura grossa e alta porosidade, exigindo uma acurada
análise técnica localizada para determinação de áreas propícias a instalação de projetos de aqüicultura,
totaliza 1.228,30 Km²;
• Ruim, constituem as áreas com muitas restrições técnicas, apesar de poder ser utilizada na
aqüicultura, sob análise criteriosa encontram-se áreas de deposição, planas e argilosas, com elevados níveis
de saturação de água, mede 2.375,90 Km²;
• Com limitações técnicas, são áreas contínuas constituídas por variadas declividades, onde se
encontram grandes áreas com solos impermeáveis e de topografia favorável e suportam compactação, muito
bom para instalação de projetos de aqüicultura, mede 1.426,6 Km²;
• Inapta, Constituídas por areias quartzosas, muito permeáveis e não permitem compactação, medem
333,21 Km².
Apesar da conceituação mais clássica da aqüicultura convencional, há de se convir que nos dias atuais a
tipologia de solos não é fator limitante para a instalação de projetos de aqüicultura, o que limita nesse caso é sua
economicidade. No entanto, da área selecionada, prognosticou-se que a atividade aqüícola atingirá um ótimo
grau de desenvolvimento sustentável com a utilização de 10% desse total.
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Figura 2 – Mapa da bacia do Rio Itapecuru, com demarcação das áreas para a aqüicultura.
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PERSPECTIVAS DA ATIVIDADE
Muito há de ser conquistado para que a sociedade da bacia do rio Itapecuru possa ter dignidade e
respeito na distribuição de bens e direitos, na ocupação humanitária e uso da terra, à exploração racional e
democrática de seus recursos naturais, imputados pelo autoritarismo de sua colonização até hoje.
O cruzamento dos mapas temáticos da área, mostrados no mapa final, demonstraram uma complexidade
exacerbada de ações em toda a bacia hidrográfica, composta por itens satisfatórios aos requisitos básicos para o
implemento da aqüicultura, mas com dispersões relevantes, dessa forma as áreas do alto curso são pequenas não
figurando na escala gráfica admitida nesse trabalho. No médio curso do rio Itapecuru, existem muitas restrições
técnicas principalmente na convergência de várias outras ações promotoras da elevação do custo de produção
como (infra-estrutura, assistência técnica e insumos básicos para a aqüicultura), tornando proibitiva a
implementação de uma aqüicultura que não seja a extensiva ou semi-intensiva. No baixo curso, as áreas
oferecem melhores chances para o sucesso econômico de empreendimentos com menor custo de produção pela
sinergia de ações que promovem o desenvolvimento da atividade com sustentabilidade.
A bacia do rio Itapecuru oferece em toda sua extensão uma imensa área com especial vocação para o
aproveitamento hidroagrícola, onde a aqüicultura é uma atividade que comporta oportunidades de emprego e
renda, aliada à grande necessidade de oferta de proteína para o combate da desnutrição e oportunizar essa
sociedade ao convívio igualitário aos que sobrevivem com dignidade.
A aqüicultura familiar e a associativa são as formas a serem implementada com maiores chances de
sustentabilidade na bacia do rio Itapecuru, pelo fato de reunirem excluídos em torno de uma atividade capaz de
reparar parcela dos danos causados a eles, com o norteamento de políticas capazes de sintonizar ações
sinergéticas da atual realidade da sociedade que nela habita, respeitando a legislação pertinente; aglutinando
chances de atenção pelos programas sociais nos diversos níveis, por fim favorecer a eqüidade espacial, cultural
e, sobretudo acessar essa categoria ao patamar mínimo de justiça social.
Com a instalação de projetos em 10% da área selecionada para aqüicultura, haverá uma produção e
oferta de pescado na ordem de 273.660 t/ano projetando-se uma produção de 3 t.ha/ano.
É de fundamental importância para a vitalidade da bacia do rio Itapecuru a criação de uma reserva
ecológica em toda a bacia do rio Alpercatas pela sua representação do seu aporte fluvial, fragilidade dos solos e
facilidade de implementação de um plano de manejo adequado para sua preservação total ou parcial.
Se constitui em prioridade para a preservação da água na bacia do rio Itapecuru, a efetivação de um
programa de construção de barragens pelo governo do Estado do Maranhão, em toda a bacia, respeitado a
legislação vigente e as peculiaridades locais, aproveitando todas as rodovias como forma de contenção, rios e
99
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
riachos de forma a facilitar o acesso da água à aqüicultura, irrigação, fornecimento de energia elétrica e
dessedentamento de animais de forma sustentável.
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102
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
103
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
In Food Industry, particularly Aquaculture Industry, the utilization of pigments has been an
indispensable tool to market achievement, assuring an improvement on visual aspects, increase on
acceptability and economic value of its products. The association of natural pigments to nutritional
advantages and its acquisition by low cost processes have decreased the utilization of synthetic
pigments in Food Industry, followed by a worldwide tendency for the reduction in the utilization of
synthetic products on foods. Thus the pigmentation activity and pigment extraction efficiency of
microalgae Chlorella vulgaris and Haematococcus pluvialis and the yeast Phaffia rhodozyma,
potentially used on fish farming, were studied. The microalga Haematococcus pluvialis showed the
highest total pigment content (20.79 mg of total carotenoids per gram of dried cells) while the yeast
Phaffia rhodozyma, although showing the lowest total pigment content (0.22 mg/g dried yeast), showed
the highest free astaxanthin content (87.5%) when compared to the other microorganisms studied
(Chlorella vulgaris, 13.4%; Haematococcus pluvialis, 4.7%). The utilization of DMSO as solvent
showed the highest efficiency on carotenoid extraction.
KEYWORDS: aquaculture, carotenoids, astaxanthin.
INTRODUÇÃO
104
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
na obtenção deste pigmento, a partir de fontes naturais (MCCOY, 1999). Atualmente, as fontes naturais
mais promissoras de astaxantina são a microalga Haematococcus pluvialis (GOUVEIA et al., 1996) e a
levedura Phaffia rhodozyma (MORIEL, 2005).
Neste contexto, a necessidade de obtenção de astaxantina a partir de fontes naturais com
elevada produtividade, sustentabilidade e baixo custo, aliado ao uso de processos eficientes de extração
e quantificação daquele carotenóide, vem direcionando pesquisas nesta área, buscando incrementos de
qualidade e redução do custo do pescado produzido em cativeiro. Este trabalho avaliou a eficiência de
três métodos de extração de carotenóides totais e astaxantina, a partir de fontes naturais, a saber, as
microalgas Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris e a levedura Phaffia rhodozyma.
MATERIAL E MÉTODOS
MICROORGANISMOS
Amostras de biomassas das microalgas Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris foram
gentilmente cedidas pelo Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação (INETI – Portugal).
Para o cultivo dos microrganismos e produção das biomassas de interesse, utilizou-se o protocolo e as
condições experimentais descritas por Gouveia et al. (2006).
A levedura Phaffia rhodozyma (cepa ATCC 24202) utilizada nesse estudo foi cultivada
conforme descrito por (BONFIM, 1999) e cedida pela Universidade Federal do Paraná.
Com o intuito de romper a parede celular e otimizar a extração dos pigmentos de interesse,
amostras (10g – peso seco) das biomassas em estudo foram trituradas em moinho de bolas (NV-TEMA,
Labor-Scheibenschwingmuhle, T100), por 60 segundos. Alíquotas de 100 mg de amostra triturada de
cada microorganismo foram utilizadas, em três experimentos independentes, segundo o protocolo de
extração dos pigmentos carotenoídicos.
EXTRAÇÃO
105
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Vis (λ = 474 ηm) dos sobrenadantes retirados. Ao final do processo de extração, os sobrenadantes
QUANTIFICAÇÃO E IDENTIFICAÇÃO
Para a identificação dos pigmentos, os extratos foram filtrados (0.22 µm) e injetados (10µL) em
sistema de cromatografia líquida de alta eficiência HP-1100, equipado com coluna C18 de fase reversa
(Vydac 201TP54, 250mm, 4,6 mm ∅), e detector UV-VIS (477 ηm). Metanol:acetonitrila (90:10 v:v)
foi utilizado como fase móvel, em fluxo de 1ml/min. A identidade de astaxantina livre no perfil
106
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
cromatográfico foi confirmada através do tempo de retenção (min) de padrão cromatográfico (1 mg/ml,
SIGMA, St. Louis – USA, 98% de pureza) e para efeitos de cálculo da concentração daquele pigmento,
utilizou-se uma curva-padrão externa (r2 = 0,99), construída a partir da área do pico de interesse (Rt
4,59min), nas condições experimentais acima descritas.
Os dados obtidos foram sumarizados e analisados através do teste t-student (p < 0,05), com o auxílio do
programa Statistica (v. 5.0). Tendo em vista o uso mais freqüente de Haematococcus pluvialis como
suplemento carotenoídico da dieta de peixes e crustáceos cultivados em cativeiro, aquela microalga foi
considerada como testemunha relativa, para efeito de análise estatística referente às biomassas fontes
de carotenóides, enquanto o método A foi utilizado como referência comparativa para os tratamentos de
extração em estudo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
107
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
H. pluvialis a B*
DMSO P. rhodozyma bA
C. vulgaris cB
Protocolo de extração
Solvente AB
H. pluvialis aA
P. rhodozyma bA
C. vulgaris cB
Solvente A
H. pluvialis aA
P. rhodozyma bA
C. vulgaris cA
108
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
As análises por cromatografia líquida revelaram a eficiência na extração de astaxantina livre (Rt =
4.59min) em relação aos outros carotenóides, nomeadamente sobre o β-caroteno, equinenona. As
amostras de Haematococcus pluvialis apresentaram concentrações de astaxantina livre de 2,6%, 1,7% e
4,7%, em relação ao conteúdo de carotenóides totais, com a utilização dos métodos A, AB e DMSO,
respectivamente. De forma similar ao observado para a extração de carotenóides totais, o método
DMSO evidenciou um rendimento superior (p < 0,05) à obtenção de astaxantina livre em relação aos
demais tratamentos em estudo.
Para a microalga Chlorella vulgaris, valores de concentração de astaxantina livre de 13,1%
(método A), 13,16% (método AB) e 13,4% (método DMSO) foram observados em relação ao conteúdo
de carotenóides totais, indicando que os três métodos apresentaram a mesma eficiência na extração
daquele carotenóide em sua forma livre. No entanto, conteúdos de astaxantina livre de 87,5%, 52,7% e
16,2% foram observados para os solventes A, AB e DMSO, respectivamente, para Phaffia rhodozyma.
Este resultado é de interesse, uma vez que revela claramente a necessidade da escolha correta do(s)
solvente(s) na definição de métodos extratores de alta eficiência. Dadas as características estruturais da
parede celular de Phaffia rhodozyma (BONFIM, 1999), é instigante especular que o efeito da acetona
foi mais efetivo em relação aos demais agentes extratores utilizados, no que concerne a uma maior
permeabilização daquele componente celular, viabilizando um maior rendimento de extração de
astaxantina livre, portanto.
Em resumo, os resultados demonstraram que para Haematococcus pluvialis e Chlorella vulgaris o
método DMSO foi o mais eficiente à extração de astaxantina livre (p < 0,05). De forma contrária, para
as amostras da levedura Phaffia rhodozyma, o método A mostrou-se mais seletivo à extração de
astaxantina livre. Em função disto, recomenda-se a determinação prévia da eficiência de sistemas
extratores, quando se objetiva alcançar altos rendimentos e seletividade na obtenção dos pigmentos de
interesse, haja vista a aparente especificade de ação destes, segundo a fonte de carotenóides em estudo.
Tal abordagem é de interesse tecnológico dado ao alto valor agregado dos pigmentos carotenoídicos à
atividade aquícola e à saúde humana, bem como em processos de identificação e avaliação do potencial
de novas fontes daqueles metabólitos secundários.
As microalgas em estudo apresentaram conteúdos altamente significativos (p < 0,01) de
astaxantina livre em relação à levedura Phaffia rhodozyma, independentemente do solvente extrator
utilizado (Figura 3). De forma interessante, destaca-se a similaridade de valores de conteúdo daquele
pigmento nas amostras de microalgas observada para o método de extração AB, indicando claramente o
efeito do sistema extrator sobre os resultados de rendimento do pigmento de interesse, a despeito das
diferenças genéticas e bioquímicas (i.e., potencial produtivo intrínseco de cada genótipo) e de
109
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
tecnologia de produção das biomassas (i.e., sistemas de cultivo e manejo) entre aquelas amostras. Este
resultado reforça a necessidade de definição de sistemas extratores adequados, de baixo custo e de alto
rendimento, em processos produtivos de compostos de alto valor agregado e de reconhecida
importância tecnológica nas áreas da aqüicultura e da nutrição e saúde humana.
H. pluvialis a A*
DMSO
P. rhodozyma bB
C. vulgaris cC
Protocolo de extração
Solvente AB
H. pluvialis aB
P. rhodozyma bA
C. vulgaris aB
Solvente A
H. pluvialis aA
P. rhodozyma bA
C. vulgaris cA
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
m icrogram a astaxantina livre⁄g biom assa seca
Na análise dos resultados obtidos, é de interesse considerar que as discrepâncias observadas nos
valores de concentração dos pigmentos carotenoídicos para os tratamentos em estudo podem estar
relacionadas, em alguma extensão, à ligação destes compostos a macromoléculas tais como proteínas
protoplasmáticas e polissacarídeos (CREMADES et al., 2003; VELU, 2003) nas amostras, dificultando
sua extração. Além disto, a degradação enzimática dos compostos carotenoídicos pode ser observada
110
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
no decorrer da etapa de moagem das amostras, ainda que o efeito deste processo possa ser inibido com
a utilização de agentes antioxidantes e/ou inibidores enzimáticos.
O protocolo que considera o pré-tratamento das amostras via adição de DMSO mostrou-se o mais
eficiente para as amostras de microalgas, explicado pelo fato de que aquele solvente aprótico promove
o inchamento das células dos microorganismos em estudo, favorecendo a extração dos carotenóides
com solventes orgânicos subseqüentemente (ANDREWES; STARR,. 1976) (Figura 1). No que
concerne aos resultados obtidos para Phaffia rodozyma, entretanto, tal fato não foi observado,
ressaltando-se que esta levedura apresenta uma parede celular de espessura bastante proeminente, o que
dificulta sobremaneira a extração dos pigmentos em análise (BONFIM, 1999).
Outros métodos de extração vêm sendo estudados, com o intuito de maximizar a extração dos
carotenóides para posterior emprego alimentos, como é o caso do uso extração supercrítica associada
ou não ao óleo de soja usado para a extração de carotenóides das microalgas Chlorella vulgaris e
Haematococcus pluvialis (GOUVEIA et al., 2007; NOBRE et al., 2006)
Em estudo recente Nobre, et al., (2006), verificou que a extração de carotenóides de
Haematococcus pluvialis com o uso do método AB mostrou resultados similares ao observado no
presente trabalho para o conteúdo de carotenóides totais. No entanto, o método DMSO realizado neste
estudo proporcionou ainda maiores percentagens de extração, cerca de 59,2% de carotenóides totais
extraídos da microalga Haematococcus pluvialis.
Em outro estudo, Gouveia et al. (2006) apresenta concentrações na ordem de 4mg/g de
carotenóides totais na microalga Chlorella vulgaris, um valor bastante próximo aos resultados
encontrados dentro dos três métodos estudados: 4,4mg/g para o método DMSO, 3,4 mg/g para o
método AB, e 3,8mg/g para o método A.
PASSOS et al. (2006) recentemente publicaram um estudo onde se verificou a extração de
astaxantina por extração supercrítica e organosolventes na levedura Phaffia rhodozyma. Os autores
concluíram que a biomassa moída em moinhos de bola e extraída com acetona apresentava o maior
rendimento dentro das técnicas estudadas.
Adicionalmente, a extração supercrítica mostrou ter um rendimento em torno de 75% comparada
com a extração com acetona. A extração supercrítica mostra-se ser uma alternativa eficaz, e de alta
qualidade, uma vez que esta proporciona seus extratos de forma limpa, sem resíduos de solventes
orgânicos.
111
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
A Professora Dra. Tânia Bonfim por ter cedido a levedura Phaffia rhodozyma para este estudo.
A CAPES pela Bolsa de Estudos de Renata dos Passos e de Danilo G. Moriel
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113
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
Nos reservatórios do rio São Francisco, um fato novo vem ocorrendo desde 1998 com o
aproveitamento das águas desses reservatórios, gerando também uma nova fonte de renda para a região,
através de cultivos de tilápias em tanques-rede. Esta nova atividade econômica praticada nos
reservatórios da Companhia Hidroelétrica do São Francisco é de fundamental importância para o
desenvolvimento regional, porém precisa-se ter o cuidado necessário para que não venha contribuir
com maior intensidade no processo de eutrofização das águas e conseqüente proliferação de macrófitas
aquáticas, administrando-se rações com baixo potencial poluente e com altos índices de conversão
alimentar. Este trabalho busca otimizar a utilização de biomassa de macrófitas aquáticas na produção
de tijolos ecológicos tipo adobe (tijolos de barro cru, secos ao sol). Desta forma, a macrófita pode se
utilizada para construções de habitações de baixo custo, já que o tijolo de adobe é usado desde os
tempos mais remotos com esta finalidade. Por outro lado, busca-se uma solução para o bloom da
macrófita Egeria densa nos reservatórios das usinas hidroelétricas que vem ocasionando problemas
para CHESF, através da eutrofização dos reservatórios. O trabalho foi realizado na Estação Piscicultura
de Paulo Afonso, com objetivo de testar a utilização da E. densa para confecção de tijolos artesanais.
As porcentagens de biomassa adicionada à argila para elaboração dos tijolos foram: 1%, 2% e 5%
visando verificar o melhor percentual da macrófita, para utilização aglutinante na confecção dos tijolos.
Com o acréscimo da fibra da macrófita em quantidade certa (5%) e contrastando-se com a estrutura de
um tijolo normal de adobe sem macrófitas verifica-se neste último, mais fissuras do que um tijolo de
adobe inoculado por esta biomassa vegetal e que nos testes de resistência apresentou melhores
resultados.
114
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
In the reservoirs of river San Francisco, a new fact is happening since 1998 with the use of the waters
of those reservoirs, also generating a new source of income for the area, through tilapias cultivations in
tank-net. This new economical activity practiced in the reservoirs of the Hydro Electric Company of
San Francisco, it is of fundamental importance for the regional development, however needs to be the
necessary careful so that it doesn't come to contribute with larger intensity in the process of
eutrofization of the waters and consequent proliferation of aquatic macrophytes, being administered
rations with pollutant potential bass and with high indexes of alimentary conversion. This work search
to optimize the use of biomass of aquatic macrophytes in the production of bricks ecological type it
marinates (bricks of raw mud, dry in the sun), like this looking for a solution to the bloom of the
macrophytes Egeria densa in the reservoirs of the hydroelectric plants that it is causing problems for
CHESF, through the eutrofization of the reservoirs. The work was accomplished handmade in Paulo
Afonso's fish culture, belonging CHESF. The experiment consisted of the use of E. densa for making
of craft bricks. The biomass percentages added to the clay for elaboration of the bricks were: 1%, 2%
and 5% seeking to prove the percentile necessary of these macrophytes as agglutinant in the making of
the bricks. And its has as goal also of suggesting the use of this material for constructions of low cost
houses, since the adobe brick is used since the most remote times with this purpose. With the increment
of the fiber of the macrophytes in right amount (5%) and being contrasted with the structure of a
normal brick of adobe without macrophytes is verified in this last, more fissures than an adobe brick
inoculated by this vegetable biomass and that in the resistance tests presented better results.
INTRODUÇÃO
115
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
inexpressiva e não possui significado fitofisionômico, já que a influência antrópica foi marcante e
arrasadora (HIDROSERVICE, 1987).
O nitrogênio e o fósforo são os nutrientes mais limitantes à produtividade primária (produção de
fitoplâncton e plantas aquáticas) em ambientes aquáticos naturais (KUBITZA, 1999). Os resíduos e
excrementos lançados na água tendem a acumular-se em algum ponto do reservatório levados pelas
águas, podendo causar impactos ambientais indesejáveis, como por exemplo, a proliferação excessiva
da Egeria densa, uma macrófita aquática submersa que pode se proliferar a profundidades de até 9 m e
que hoje já é problema nos reservatórios Moxotó/PA IV e Delmiro Gouveia. Segundo Canfield et al.
(1984), quando em excesso as macrófitas aquáticas interferem na produtividade planctônica, na
qualidade da água e na atividade da pesca. O controle pode ser efetivado através de métodos
mecânicos, químicos e biológicos (NAGLE, 1980; SUMMERFELT, 1993; BETOLLI et al., 1993,
apud AGOSTINHO e GOMES, 1997).
Normalmente, constroem-se diques que represam o curso da água, acumulando-a num
reservatório a que se chama barragem. Esse tipo de usina hidráulica é denominado Usina com
Reservatório de Acumulação. Em outros casos, existem diques que não param o curso natural da água,
mas obrigam a passar pela turbina de forma a produzir eletricidade, denominando-se usinas a fio de
água (MÜLLER, 1995). A construção de barragens, transformando rios em grandes bacias e
reservatórios, traz grande desenvolvimento às regiões, tornando uma tendência natural o grande
crescimento demográfico destas regiões, que quase sempre se encontram desprovidas de infra-
estruturas específicas no que se refere à saúde dos ecossistemas. Considerando esta nova condição de
maior consumo de água e também em maiores proporções a produção e destino de esgotos que nada
mais é que o despejo de águas servidas associadas ao carregamento de nutrientes, diretamente para o
leito dos rios, através do aporte dos dejetos domésticos e industriais, grande parte sem tratamento, tem
levado a uma condição de desequilíbrio no sistema hídrico, caracterizado pela grande disponibilidade
de nutrientes acumulada diariamente.
Atualmente esse processo é considerado por especialistas de todo o país como uma das patologias
de mais influência em toda a bacia hidrográfica brasileira. Sendo denominado e conhecido como
eutrofização, que se estabelece devido à grande concentração de algas e vegetação aquática,
alimentando-se destes nutrientes, acarretando o aumento da produtividade biológica destas espécies,
baixando as taxas de oxigenação e ocasionando problemas que vão desde a estética até o
comprometimento da possível utilização da água. Grande parte dos reservatórios da região é colonizada
por macrófitas aquáticas, e entre elas a elódea Egeria densa uma espécie exótica que vem
116
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
As plantas aquáticas submersas estão entre os mais sérios problemas dos ecossistemas aquáticos,
tendo em vista que elas não podem ser controladas com uso de herbicidas e dificilmente eliminadas via
extração mecânica. Elas invadem rapidamente novos locais devido a sua reprodução vegetativa por
sementes, dispersando-se cada vez mais catastroficamente em vários tipos de ecossistemas (LANGE,
1996). Desta forma, este trabalho objetiva descrever uma forma de utilização de E. densa
(Hydrocharitacea), que hoje se encontra em grande densidade nas bacias do Complexo Hidrelétrico de
Paulo Afonso (CHPA), causando grandes prejuízos a este Complexo, inclusive no inverno com
aumento e superpopulação destas plantas, que atingem principalmente as zonas periféricas à montantes
das barragens, comportas e turbinas em detrimento da a produção de energia elétrica (Figura 1).
15 0
14 0
13 0
12 0
11 0
10 0
Volume em M3
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
JAN FEV MAR ABR MAIO JUN JU L AGO SET OUT NOV D EZ
Mês
Figura 1 - Volume de macrófitas de retiradas no reservatório Delmiro Gouveia,
apresentando pico no período de inverno (março a junho) de 1996 (Fonte: Lopes, 2002).
117
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
vantagens, como ação de modo pontual nas áreas infestadas e não-contaminação do ambiente com
compostos químicos e tóxicos, existe a preocupação em relação ao material coletado a ser descartado,
haja vista a grande quantidade de biomassa envolvida nesse processo e enfim tentar destinar e
desenvolver um valor agregado a este material. A expansão das populações de E. densa nos
reservatórios do CHPA vem acarretando inúmeros transtornos operacionais, aumentando a
preocupação do setor de geração de energia elétrica.
A capacidade de produção de biomassa e regeneração dos prados de E. densa já é avaliada nos
reservatórios de Paulo Afonso. Isto indica o grande potencial de produção de biomassa destes prados e
a rapidez com que estes se recompõem, mostrando a dificuldade permanente do seu controle nos
reservatórios, por isso a grande preocupação para uma objetivação nos processos de manejos desta
macrófita (FADURPE, 2002). O objetivo deste trabalho foi avaliar o potencial de Egeria densa,
principal planta aquática que gera grande problema nos reservatórios hidrelétricos e com precisão nos
do CHPA no que se refere à geração de energia, visando o estabelecimento de programas de controle
mecânico e usual, com finalidade da utilização deste material coletado como alternativa de fabricação
de tijolos ecológicos e de baixo custo na região.
Este tema envolve diversos profissionais em áreas da engenharia e outros profissionais que
trabalham com manejo de reservatórios. O produto final (tijolos) também deve auxiliar principalmente
no estabelecimento de novos programas biológicos de controle podendo ser utilizado na construção
civil atendendo a programas de construção de casas populares ou outras obras como da engenharia para
aqüicultura quando de sua utilização na construção de caixas de coletas de tanques e viveiros ou
mesmo como forro de taludes destes ambientes, sendo necessária a impermeabilização a base de terra-
cimento conforme utilizado tradicionalmente na construção civil.
MATERIAL E MÉTODOS
118
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
comprovação das propriedades compactantes da elódea e desta forma saber que quantidade será
adotada para a confecção dos tijolos.
O primeiro passo foi coletar o material no lago o Boi e a Sucuri, colonizado por esta macrófita e
em seguida colocar para secagem adquirindo a fibra seca e em ponto de ser agregada ao produto (tijolo
de adobe). As características dos ensaios mecânicos dos tijolos foram realizadas com adaptações
relativas à produção dos tijolos maciços. Desta forma, por se tratar da pouca existência de material que
descreva os métodos de ensaios, normas e especificações e características de procedimentos nacionais,
foi optado pelo processo artesanal para poder melhor especificar o detalhamento dos testes, mostrando
todas as etapas de realização do processo diante das dificuldades encontradas nesta fase de experiência
da produção.
MATERIAL E MÉTODOS
A MACRÓFITA
Egeria densa é classificada em função de sua instalação ao ecossistema aquático e seu grau de
povoamento em relação ao nível de água, como uma macrófita submersa (Figura 2), é conhecida
vulgarmente como elódea e está incluída na relação das monocotiledôneas aquáticas.
Taxonomicamente está enquadrada da seguinte maneira: Classe Monocotiledônea; Ordem Heloliae;
Família Hydrocharitacea; Gênero Egeria e Espécie Egeria densa Planchon, 1849
A coleta realizou-se no período da manhã para aproveitar
a boa visibilidade da água em dia de sol forte na região do lago o
Boi e a Sucuri, na zona central de Paulo Afonso. Colheu-se um
volume aproximado de 20 kg, sendo quantidade de macrófitas
suficiente para as devidas etapas do experimento. Após a coleta,
as plantas foram devidamente acondicionadas em sacos
plásticos, e levadas para a EPPA e espalhadas ao sol por 48
horas para perda do excesso de umidade (87%), tornando a Figura 2 - Elódea Egeria densa
planta seca sem se tornar quebradiça. Após a secagem da (Fonte: Lopes, 2002)
macrófita e adquirida a fibra propriamente dita, foi iniciado o processo de pesagem que ocorreu no
sentido de separar em embalagens plásticas com os respectivos volumes do percentual estipulado para
cada amostra dos tratamentos. Assim, foram selecionados 10 volumes com 20 g equivalentes as
amostras de 1%; 10 volumes com 40 g equivalentes as amostras de 2% e 10 volumes com 100 g
equivalentes as amostras de 5% de E. densa. O percentual foi baseado no peso total de tijolos utilizados
na região (2 kg).
119
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A ARGILA
Encontrada abundantemente na natureza a argila é de fácil manipulação, tem uma enorme
elasticidade permitindo trabalhos com diversidade e é totalmente reciclável. A argila tem em comum
componentes de lamas e solos sendo constituída, principalmente de minerais do grupo das argilas aos
quais agregam-se hidróxidos coloidais floculados e diversos outros componentes, cristalinos ou
amorfos. Trata-se de material natural, de textura terrosa, de granulações finas, constituídas
essencialmente de argilominerais, podendo conter outros minerais que não são argilominerais (quartzo,
mica, pirita, hematita, etc), matéria orgânica e outras impurezas. Os argilominerais são os minerais
característicos das argilas; quimicamente são silicatos de alumínio ou magnésio hidratados, contendo
em certos tipos outros elementos como ferro, potássio, lítio, etc.
Graças aos argilominerais, as argilas na presença de água desenvolvem uma série de propriedades
tais como: plasticidade, resistência mecânica a úmido, retração linear de secagem, compactação,
tixotropia e viscosidade de suspensões aquosas que explicam sua grande variedade de aplicações
tecnológicas. Os principais grupos de argilominerais são caulinita, ilita e esmectitas ou montmorilonita.
Em função principalmente das possibilidades de emprego tecnológico, que são influenciadas pela
gênese e pela composição mineralógica do material, em muitos casos as argilas recebem designações
como: caulins, bentonitas, argilas refratárias, flint-clays e ball clays.
SELEÇÃO E COLETA DA ARGILA
O solo escolhido partiu de uma amostra selecionada pela Empresa Cerâmica São Francisco,
mediante processo de produção adotado por essa Empresa, localizada na cidade de Paulo Afonso que
cedeu este material para realização desta pesquisa. O material foi previamente colhido na jazida da
localidade do povoado Rio de Sal, que apresenta uma argila com um excelente fator ligante.
PRODUÇÃO DE TIJOLOS
Os tijolos foram produzidos manualmente na área externa da EPPA, onde as etapas de produção
dos tijolos maciços exigiram bastante mão-de-obra. Esta pesquisa de utilização de macrófitas aquáticas
na fabricação de tijolos de adobe consistiu em três tratamentos (T1, T2 e T3) com 10 repetições cada.
Foi utilizado um modelo de “forma” ou gabarito de tijolo maciço, comum, utilizado e produzido nesta
região, aonde as dimensões adotadas para confecção dos tijolos são: 8cm x 12cm x 25cm. Assim, cada
amostra do tijolo necessariamente estará pesando 2 kg, que é o peso referente a esse tamanho de tijolo
adotado na construção civil local. Para se início da construção dos tijolos é necessário o amassamento e
descanso da argila. Segundo Minke (2000), é necessário o amassamento do barro (mistura de solo,
biomassa e água), para melhor homogeneização da umidade e absorção, sendo necessário o descanso
120
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
do barro por média de 48 horas, antes da moldagem dos tijolos. Trata-se de um processo vigoroso e
repetitivo para a boa qualidade da mistura do aglomerante ao aglomerado. Com isso adquirir o melhor
ponto de liga do material composto. O ideal seria que o solo passasse por uma peneira grossa para o seu
melhor “destorroamento” e mistura para homogeneização do mesmo, logo esse procedimento foi
desprezado devido o material já tinha sido adquirido com um grande teor de umidade e seu composto
apresentava-se muito argiloso.
Esse processo de amassamento teve toda execução manual por meio artesanal e rústico. Logo
com o tempo de descanso do material concluído, observou-se o ponto de umidade do material. Assim,
foi dado início a distribuição das partículas e medição dos volumes disponíveis de cada amostra. Onde
foram separados os volumes respectivos de cada amostra de percentual determinado por tratamento.
Para o tratamento 1 (T1) 1% de Egeria adicionado a argila. Para o tratamento 2 (T2) 2% Egeria
adicionado a argila e para o tratamento 3 (T3) 5% da macrófita fenada para inoculação na argila e
confecção dos tijolos de adobe. Todos os três tratamentos tiveram 10 repetições.
A moldagem consistiu em produzir uma amostragem com 10 peças de tijolos de adobe com
peso de 2 kg de cada série. Logo foi feito o processo de pesagem volumétrica das amostras usando
uma balança mecânica. Com o material já em ponto de boa mistura, onde a biomassa foi devidamente
incorporada à argila para imediatamente colocá-la nas formas para tijolos. O ponto de boa mistura foi
identificado visualmente. Antes da utilização das formas, estas se mantiveram dentro de tanques com
água para manter-se úmida e facilitar a rápida desmoldagem das peças. Esse processo é bastante
rápido, pois a partir do ponto de homogeneização de mistura o material é rapidamente lançado nas
formas e em seguida depois de 10 minutos já é feita a desmoldagem, com isso torna-se um processo
repetitivo de operação de: mistura, homogeneização, moldagem e desmoldagem.
CARACTERIZAÇÃO DO ENSAIO
Depois de confeccionados os tijolos com o intuito testar capacidade de resistência dos mesmos,
foram enviadas três amostras de cada ensaio e uma amostra de tijolos confeccionados somente com
argila, sem acréscimo da macrófita a sua constituição.
Estas amostras foram encaminhadas ao Laboratório de Pesquisas de Estruturas e Materiais
(LEMA) do NPT do Núcleo de Pesquisas Tecnológicas (NPT) da Universidade Federal de Alagoas
(UFAL), Maceió-AL, para os ensaios de resistência à compressão de corpos-de-prova cilíndricos de
concreto, blocos (cerâmicos e de concreto) e prismas (de blocos cerâmicos de concreto). As amostras
encaminhadas ao laboratório caracterizam-se por quatro amostragens de tijolos maciços. Os ensaios
foram realizados com base nos métodos de ensaios recomendados pelas normas da Associação
121
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): NBR 8492/81 – tijolo maciço de solo – cimento –
Determinação da resistência à compressão da absorção d’água – Método de Ensaio e NBR 7170 Tijolo
maciço para alvenaria.
RESULTADOS
Em exame visual verificou-se que os tijolos (T1), que foi adicionado 1% de biomassa à argila,
foram encontrados nas dez amostras confeccionadas oito blocos que apresentaram fissuras. No
experimento (T2), com 2% de biomassa adicionada à argila, dos dez blocos, cinco (50%)
apresentaram fissuras. Nos blocos com 5% de biomassa misturada à argila somente em dois blocos
(20%) foram encontradas fissuras, o que já demonstra que os tijolos com cinco por cento de
macrófitas misturada à argila apresentam melhor resistência (Figura.3).
Tabela 1. Resistência em tijolos de barro sem inóculo da macrófita aquática Egeria densa
122
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Tabela 2. Resistência em tijolos de adobe com inóculo de 1% da macrófita aquática Egeria densa
Tabela 3. Resistência em tijolos de adobe com inóculo de 2% da macrófita aquática Egeria densa
123
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
DISCUSSÃO
Segundo Margalef (1986) apud Vega (1997), “Comunidades de macrófitas que formam grandes
ilhas impossibilitando a passagem total da luz pode acarretar a diminuição de 3 a 6 oC na temperatura
em camadas inferiores da água, que por sua vez pode modificar totalmente o ecossistema subaquático”.
Macrófitas aquáticas em excesso nos lagos e reservatórios, e principalmente próximos a capitação de
água para abastecimento em piscicultura, podem proporcionar sérios problemas no cultivo de peixes,
pelo acúmulo de matéria orgânica, deixando a água imprópria para esta finalidade. Como exemplo real,
podemos citar o lago do Cemitério em Paulo Afonso, que face ao excesso de macrófitas aquáticas,
ficou impróprio para o abastecimento de água na Estação de Piscicultura da CHESF, sendo necessário a
transferência da captação d’água para o reservatório de Moxotó. Existem plantas aquáticas que
constituem um substrato ideal para proliferação de insetos (culicideos), moluscos e outras comunidades
transmissoras de enfermidades relacionadas com as represas (VEGA, 1997).
A grande discussão deste trabalho está ao redor de um questionamento a respeito dos tijolos
de adobe confeccionados da forma que este trabalho se propõe com a introdução de Egeria densa
uma macrófita, recolhida nos reservatórios da CHESF, na cidade de Paulo Afonso - Bahia. Estes
tipos de tijolos não são levados ao forno para queimar e sim deixados para secar normalmente o que
permite uma discussão em relação a sua resistência.
Ressalta-se que, ao longo do tempo, vários países, inclusive o Brasil e precisamente na
região Nordeste, esta prática ainda é comum. No Estado do Piauí comunidades carentes fabricam
seus tijolos de adobe geralmente as margens de reservatórios hidrelétricos. Estes secam ao sol e
após, são utilizados diretamente na construção de suas casas sem necessidade de serem assados ao
forno (Figs. 5 e 6). Através de várias culturas e hábitos sociais diferentes ainda se utiliza a
124
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
construção de casas a base de tijolos de argila crua, estando em acordo com autores como Barrios e
Arcos (1986), que afirma que um terço da população vive em habitações de tijolos de adobe.
Figura 6 - Casa construída com tijolos de adobe em Porto Alegre do Piauí, PI.
Segundo Meunier (1998), os egípcios, utilizavam tijolos de adobe para construir residências
tanto dos ricos como pobres. Na bíblia são encontradas referências aos tijolos de adobe com
utilização de fibras vegetais adicionadas aos blocos, tais como os seguintes trechos bíblicos: “tira
água para o tempo do cerco; reforça as tuas fortalezas; entra no lodo, pisa o barro, pega na forma
para os tijolos (livro de Naum, capítulo 3, versículo 14)” e “não tornareis a dar, como dantes, palha
ao povo para fazer tijolos; vão eles mesmos, e colham palha para si (livro de Êxodo, capítulo 5,
versículo 8)”.
No experimento realizado dá para constatar que o tijolo de adobe possui uma boa
resistência, mas quando misturada à argila junto com as macrófitas aquáticas na confecção do bloco
principalmente na quantidade de 5% percebe-se nos resultados obtidos uma maior resistência destes
tijolos. Em relação à manutenção de construções a base de tijolos de adobe, lembra-se que a
125
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
necessidade de manutenção não é somente dos tijolos de adobe, mas também que qualquer material
utilizado em uma construção exigirá cuidados com sua manutenção seja ela corretiva ou preventiva
para o seu bom desempenho e durabilidade.
Os tijolos confeccionados, aparentemente, mostram asperezas no acabamento. No entanto,
esta superfície menos lisa favorece a aderência de revestimento das paredes e a proteção mecânica
dos tijolos, contra a ação do intemperismo e favorecem a sua utilização em outras obras de
engenharia como construção de tanques e caixas de coletas para viveiros. A produção dos tijolos de
adobe também favorece a diminuição progressiva do desmatamento e extração de madeira, que
ainda hoje é utilizada como combustível, na queima de tijolos e telhas, um dos processos na
produção nas olarias, estes de grande produção na região. Onde a extração de madeira continua
sendo uma exploração econômica.
CONCLUSÕES
A utilização da macrófita Egeria densa para confecção de tijolos do tipo adobe é uma
alternativa no controle do bloom destas macrófitas que ocorrem nos reservatórios das hidroelétricas
como os da CHESF, o que vem acarreta transtornos operacionais ao setor elétrico na geração de
energia.
Os tijolos apresentaram boa resistência, de modo que podem ser utilizados para construções
de casas populares e/ou para obras que exijam menor esforço, de forma que pode ser uma solução
para aproveitamento das macrófitas retiradas dos reservatórios.
REFERÊNCIAS
AGOSTINHO, A.A.; GOMES, L.C. Reservatório de Segredo, Bases Ecológicas para o Manejo.
Maringá: COPEL, EDUEM, UEM, p. 350-351, 1997.
126
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
IRGANG, B.E.; C.V.S. GASTAL Jr. Macrófitas aquáticas da planície costeira do Rio Grande do
Sul. Porto Alegre, 1996.
MEUNIER, C. Construire em terre crue: hier et aujourd´hui em Dauphiné em France dans lê monde.
(Texto e diapositivo). Grenoble: CRDP et CDDP de l´Academie de Grenoble. 34p. 24 diapositivos,
color. 1998.
MÜLLER, A.C. Hidrelétricas, Meio Ambiente e Desenvolvimento. São Paulo: Makron Books,
1995.
LANGE, S. The control of aquatic plant by commercial harvesting, processing and marketing.
Proc. Southern Weed Conf. v. 18, p. 536- 452. 1996.
127
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
128
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
INTRODUÇÃO
129
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Para estimar os parâmetros do modelo (β) Mendes et al. (2006), aconselham fazer com o auxílio
de matrizes, ou seja:
b̂ k = (XTX)-1(XTY)
MATERIAL E MÉTODOS
Dados oriundos de uma fazenda do camarão-cinza Litopenaeus vannamei, foram utilizados para
correlacionar matematicamente as variáveis de manejo com os dados de produção. A referida fazenda
localiza-se no município de Sirinhaém, distante 76 Km do Recife, no litoral sul do Estado de
Pernambuco, Brasil. Esse agronegócio, possui uma área total de 54 ha, dos quais 30,7ha são destinados
a carcinicultura. A captação de água é realizada por uma estação de bombeamento, localizada às
margens do estuário do Rio dos Passos. Sua infra-estrutura principal é composta por prédio de
administração, quatro tanques-berçário, sendo dois de 200 m3 e dois de 100 m3. Possui 11 viveiros com
área média de 2,64ha/cada.
O sistema de cultivo utilizado na fazenda é o bifásico. Na primeira fase, as pós-larvas (PL) são
aclimatadas as condições locais, estocadas a densidade de 25 a 30 PL/L, durante 15 a 20 dias, em
tanques-berçário de alvenaria e com forma retangular. Após esse período são transferidas para os
130
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
viveiros de engorda (segunda fase), utilizando-se recipientes denominados submarinos. Nessa fase, a
densidade média de estocagem é de 40 camarões/m2. Nos viveiros as pós-larvas são estocadas até
atingirem peso para comercialização.
Os tanques-berçário ou os viveiros de engorda, antes de serem povoados são submetidos a um
período de vazio, para sua preparação. A limpeza e desinfecção dos tanques-berçário são feitas
retirando-se os incrustantes, contido na lateral dos tanques, depois são lavados com sabão neutro e em
seguida água clorada (5,0 ppm) e exposição ao sol durante dois dias. A limpeza dos viveiros de
engorda é baseada na remoção dos incrustantes encontrados nas estacas de fixação das bandejas, nas
bandejas, cascos dos aeradores, comportas de drenagem e abastecimento. Após a retirada dos
incrustantes é feito o mapeamento do solo, objetivando identificar as isolinhas de pH e, posteriormente,
fazer a aplicação de calcário dolomítico, para sua correção. Também é feita a esterilização, com cal
virgem e hipoclorito de sódio, para eliminar possíveis parasitas e predadores existentes no viveiro. A
cal virgem é utilizada nas valas dos viveiros e ao redor das estacas das bandejas de alimentação. O
hipoclorito é utilizado apenas nas valas. Após este processo são feitas as vedações das comportas,
colocação das telas e em seguida inicia-se o enchimento do viveiro.
A última etapa para o processo de preparação do viveiro de engorda é a fertilização, cujo
objetivo é o aumento da disponibilidade do alimento natural já existente no viveiro. O uso de
fertilizante foi feito de acordo com as peculiaridades de cada viveiro (Área, profundidade, produção
natural do viveiro, etc.). Os principais fertilizantes utilizados foram: Silicato e Nitrato de sódio.
Na fase do berçário, administrou-se ração a cada duas horas durante todo o dia. Na engorda, nos
primeiros 25 dias a ração foi administrada a lanço. Após esse período, a ração foi administrada em
bandejas e ofertada três vezes ao dia, em intervalos de quatro horas, com a quantidade de ração
previamente determinada.
Após 30 dias de cultivo iniciaram-se semanalmente as biometrias, com intuito de coletar
dados para monitorar o crescimento e as condições de saúde dos camarões. Foram escolhidos quatro
pontos distintos do viveiro, para coleta do material. Em média, para cada ponto, foram capturados 50
camarões. Baseando-se nessas amostras foram avaliados o crescimento dos camarões.
O monitoramento da qualidade de água (oxigênio dissolvido, temperatura, transparência, pH e
salinidade) foi realizado diariamente com três mensurações no período do dia e três durante a noite com
exceção da transparência o qual era mensurado uma vez ao dia. Com base nesses resultados foram
tomadas ações corretivas.
Com base nas informações referidas anteriormente quanto ao manejo, foi organizado o Banco
de Dados correspondente ao período do 3º trimestre de 2003 ao 4º trimestre de 2005. A massa de dados
131
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
A variável “Trimestre do ano” (Trim) foi inserida no Banco de Dados baseando-se na data de
início do cultivo, portanto cada cultivo foi identificado com Trim1, ou Trim2, ou Trim3 ou Trim4, para
os trimestres de 1 a 4, respectivamente. A variável “Laboratório fornecedor de pós-larva” (LAB) foi
representada por 4 empresas, doravante denominadas de LAB1, LAB2, LAB3 e LAB4. Enquanto que a
de ração (RAC), por 3 empresas (RAC1, RAC2 e RAC3). Para correlacionar as variáveis respostas de
cultivo com as de manejo (Tabela 1), utilizou-se o seguinte modelo linear múltiplo:
+ β14 RAC2 + єi
Em que: Resposta – poderá assumir as variáveis dependentes; β0, β1, β2, ..., β14 – parâmetros do modelo; Viv –
Viveiro; Ciclo – Ciclo; Área – Área; Trim1 – 1ºtrimestre do ano; Trim2 - 2ºtrimestre do ano; Trim3 - 3ºtrimestre
do ano; Ano – Ano; Dini – Densidade de estocagem; Dcult – dias de cultivo; LAB1 – Fornecedor de pós-larva 1;
LAB2 – Fornecedor de pós-larva 2; LAB3 – Fornecedor de pós-larva 3; RAC1 – Fabricante de ração 1; RAC2 –
Fabricante de ração 2; λ – Coeficiente de transformação; є – Erro; i – i-ésima observação.
132
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 53 registros de cultivo foram utilizados apenas 43 dados em decorrência dos demais
apresentarem valores destoantes a um Banco de Dados para o camarão-cinza Litopenaeus vannamei, ou
por apresentarem erros como valores faltando. Portanto, ao utilizar a estatística descritiva (mínimo,
máximo e média) verificou-se os resultados apresentados na tabela 2.
133
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
De acordo com os dados da Tabela 2, observou-se que se trata de uma fazenda de atividades
recente, pois o número máximo de ciclo foi de 9. Admitindo a possibilidade de 3 cultivos por ano
(115,93 ± 7,79 dias), estimou-se uma vida útil nesse agronegócio de 3 anos, aproximadamente.
Verificou-se também grande variação entre o peso final mínimo e máximo (106,0%), o que pode ser
atribuído à variação dos dias de cultivo. A grande variação do peso final e da sobrevivência influenciou
diretamente nas variáveis respostas produção, produtividade e quantidade de ração. Ao correlacionar as
variáveis dependentes com as independentes, obtiveram-se as seguintes equações matemáticas e suas
respectivas análises de variância apresentado na Tabela 3.
As equações apresentadas na Tabela 3 para serem utilizadas devem estar em conformidade com
os valores de mínimos e máximos apresentados na tabela 2. Ao observar as equações matemáticas
verificou-se que algumas variáveis de manejo não influenciaram nas variáveis respostas de cultivo
(Trimestre do ano, Ciclo, Fabricante de ração e o número do viveiro) (Tabela 3).
Esses resultados contradizem os modelos estimados por Lima (2005) e Bezerra (2006). Com
base nas equações estimadas, foram construídas as respectivas representações gráficas para uma melhor
compreensão e análise dos dados.
Verificou-se que o fator de conversão alimentar (FCA) foi influenciado apenas pela variável
“dias de cultivo”, ou seja, quanto maior o tempo de cultivo maior o valor do FCA (Figura 1). Maia et
al. (2004), ao avaliarem a influência da densidade de estocagem no FCA, constatou que essa variável
não influenciou estatisticamente no mesmo e sim que o FCA obedeceu a uma estreita relação com o
tempo de cultivo, aumentando com o incremento da duração do tempo de cultivo e diminuindo à
medida que o mesmo decresce. Lima (2005) em uma análise similar encontrou que o FCA é
dependente do tempo de cultivo e outras variáveis.
Verificou-se que o aumento da densidade de estocagem das pós-larvas, até 71,4ind/m²,
propiciou uma maior produtividade e que nesse caso as pós-larvas com origem do laboratório 3, “Dcult
69” e “Dini 14,5”, tiveram uma produtividade maior em 25,34% em relação as demais fornecedoras de
pós-larvas (Figura 2). Wasielesky et al. (2003) ao cultivarem o Farfantepenaeus paulensis obtiveram
que as melhores densidades de cultivo encontram-se no intervalo de 15 a 30 ind/m². Almeida et al.
(1999) ao cultivarem o L.vannamei utilizando rações alternativas e não utilizando aeração mecânica
estimou que a densidade de 10ind/m² foi a melhor densidade de cultivo, mas ressaltou que com isto a
produtividade era menor. Castro et al. (2000) utilizando densidade de 30 ind/m² durante 95 dias
obtiveram uma produtividade de 724,79kg/ha/ciclo.
134
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
2. Produtividade (Prodt)
EQUAÇÃO: Prodt = (9,9256 + 0,16627*Dcult + 0,523*Dini + 4,5605*LAB3)²
ANOVA
FV GL SQ QM F Prob(F)
Regressão 3 44848802,6428 14949600,8809 42,6395 0,0000
Resíduo 38 13322985,3027 350604,8764
R² = 0,7529 λ = 0,5
4. Sobrevivência (Sob)
EQUAÇÃO: Sob = (70,9052 - 0,5686*Dcult)/ (1 – 0,008*Dcult)
ANOVA
FV GL SQ QM F Prob(F)
Regressão 2 4997,1162 2498,5581 372,5349 0,0000
Resíduo 39 261,5695 6,7069
R² = 0,9477
5. Produção (Prod)
EQUAÇÃO: Prod = (-8,07026 + 8,249*Area + 0,2793*Dcult + 0,8541*Dini + 8,9544*LAB3)²
ANOVA
FV GL SQ QM F Prob(F)
Regressão 4 352131364,4153 88032841,1038 39,3856 0,0000
Resíduo 37 82700657,0376 2235152,8929
R² = 0,7892 λ = 0,5
135
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
1,00
0,50
65 80 95 110 125 140 155 170 185
Dias de cultivo
4500 Dcult = 69
LAB 3
Produtividade (kg/ha/ciclo)
1500
500
14 24 34 44 54 64 74
Densidade de Estocagem (ind/m²)
De acordo com o modelo para predição do peso final do camarão-cinza, verificou-se que foi
diretamente proporcional apenas ao tempo de cultivo (Figura 3). Bezerra (2006) identificou também a
influência do tempo de cultivo no ganho de peso, porém em seu modelo detectou a influência da
origem das pós-larvas. Pereira (2001), em seu trabalho com Macrobrachium rosenbergii, constatou que
em cultivos realizados com tempos mais longos, foram obtidos indivíduos com maior ganho de peso.
Mendes et al. (1997), trabalhando com a espécie Macrobrachium rosenbergii, observaram que os
camarões apresentam maior ganho de peso quando cultivados por períodos mais longos. Lima (2005).
136
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
16
Pfinal = (2,2137 + 0,008282*Dcult)²
14
R² = 0,5154
Peso final (g)
12
10
6
65 80 95 110 125 140 155 170 185
Dias de Cultivo
ao analisar o peso final dos camarões L.vannamei observou que além do tempo de cultivo outras
variáveis influenciam no seu resultado.Ao correlacionar a sobrevivência com as variáveis de cultivo,
verificou-se que ela foi inversamente proporcional ao tempo de cultivo e que, nessa equação (Figura
4), apenas o tempo de cultivo influenciou nessa resposta.
72
Sob = (70,9052 - 0,5686*Dcult) / (1 - 0,008*Dcult)
R² = 0,9477
Sobrevivência (%)
71
70
69
65 75 85 95 105 115
Dias de Cultivo
137
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Segundo Lima (2005), a variável sobrevivência é influenciada pela estação do ano, o que está
em desacordo com presente trabalho, porém ele obteve um R² igual a 0,042, levando a acreditar que
seu modelo não foi muito preciso. Modesto e Maia (2004), cultivando o L .vannamei em viveiros
berçários intensivos durante 41 dias obtiveram uma sobrevivência de 96,3% e durante 43 dias
sobrevivência de 87,9%, porém eles não atribuíram a grande diferença na sobrevivência apenas a
diferença ao tempo de cultivo. Paquote et al. (1998), cultivando o L. vannamei em tanque-rede
obtiveram uma sobrevivência de 49% após 120 dias de cultivo.
A produção do camarão-cinza L. vannamei, em viveiros comerciais, foi altamente dependente da área
dos viveiros, dos dias de cultivo, da densidade de estocagem e fornecedor de pós-larvas (Figura 5). A
produção foi maximizada quando se utilizaram pós-larvas oriundas de LAB3, o qual propiciou aumento
de 34,38% na produção, em relação às demais pós-larvas.
Area = 1,75 ha
10000 Dcult = 69 dias
Prod = (-8,07026 + 8,249*Area + 0,2793*Dcult +
LAB3
8000 + 0,8541*dini + 8,9544*LAB3)²
Produção (kg)
Area = 1,75 ha
R² = 0,7892
6000 Dcult = 69 dias
Outros LAB
4000
2000
0
14 24 34 44 54 64 74
Densidade de Estocagem (ind/m²)
Castro et al. (2000), utilizando dados de produção, observaram que um viveiro de 2,34 ha
submetido a uma densidade de 30ind/m², obtém-se uma produção de 1696 kg. Cavalcanti et al. (2000),
analisando os dados de cultivo em um viveiro de 3,0 ha e uma densidade média de 19,35 ind/m²
observaram uma produção média de 4276,5 kg. Ostrensky et al. (2000), citaram que em viveiros com
área de 2,92 ha, com densidade média de 11,73 ind/m², é possível obter uma produção de 3282 kg.
Assim como na produção (Figura 5), verificou-se que a quantidade de ração administrada
(Figura 6) para o L.vannamei foi proporcional à área do viveiro, dias de cultivo, densidade de
estocagem e aos laboratórios fornecedores de pós-larvas. Ao utilizar as pós-larvas oriundas do LAB3
138
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
13000 LAB3
Qração = (-31,1039 + 8,3161*Area + 0,6241*Dcult +
+ 1,0797*Dini + 11,3439*LAB3)²
10000
R² = 0,8785
1000
14 24 34 44 54 64 74
Densidade de Estocagem (ind/m²)
CONCLUSÕES
139
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
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142
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
Resíduos de suinocultura causam problemas de poluição das águas em vários países do mundo, em
virtude de suas altas cargas orgânicas. Dessa forma, tem crescido o uso de biossistemas integrados nos
quais os dejetos suínos e de outros animais passam por um processo de decomposição em um
biodigestor que, além de remover boa parcela de poluentes, transforma os dejetos em biofertilizantes e
biogás. A tilapicultura vem se mostrando uma ótima alternativa para a piscicultura de água doce.
Assim, o principal objetivo deste trabalho foi avaliar a sobrevivência de tilápia (Oreochromis niloticus)
em diferentes concentrações de biofertilizante, em substituição a adubação tradicional, bem como, a
influência de algumas variáveis abióticas. O pH, oxigênio dissolvido e a condutividade elétrica
apresentaram diferenças significativas entre os períodos e concentrações analisadas, entretanto a
interação entre os níveis dos fatores foi significativa (p<0,05), não sendo possível, portanto distinguir
se a maior fonte de variabilidade é temporal ou dos tratamentos. A temperatura da água apresentou
diferenças significativas entre os períodos analisados (p<0,05), sendo maior à tarde. O tempo de
sobrevivência apresentou uma relação quadrática negativa com a concentração de biofertilizante
(Tempo de sobrevivência = a + b*concentração de biofertilizante + c*(concentração de
biofertilizante)2). A concentração de 25% apresentou o maior tempo de sobrevivência (≈ 35 dias). A
concentração ideal para que a sobrevivência seja maximizada foi de 13,44%. É evidente que a
utilização de excrementos como fertilizante reduz os custos de produção e aumenta a produtividade em
condições de manejo assistido. Considerando os altos custos para implantação de biodigestores a
atividade de piscicultura torna-se mais uma fonte de renda nesse sistema, entretanto apenas uma
pequena parcela de biofertilizante pode ser empregada para tal finalidade.
143
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
Wastes of pig raising cause problems of water pollution in many countries around the world, because
of their high organic loads. Thus, the use of integrated biosystems has increased, in which the rejects
from the pigs and other livestock are decomposed by a bio-digester, that besides removing a large
amount of pollutants, can also transform rejects in biofertilizers and biogas. Tilapia farming has been
shown a good alternative to the freshwater fish cultures. Therefore, this work aimed to evaluate the
survival of tilapia (Oreochromis niloticus) raised in different concentrations of bio-fertilizers, as a
substitute for the traditional fertilizing techniques, and the influence of some abiotic factors. Dissolved
oxygen, pH and electric conductivity showed significant differences among the experimental periods
and biofertilizing concentrations. However, the significant interaction among factor levels (p <0.05)
indicates that it is not possible to determine whether the main source of variability is from the period or
from the treatments. Water temperature showed significant differences among the periods (p <0.05),
being higher in the afternoon. The survival time showed a negative quadratic relationship with the
biofertilizing concentration (Survival time = a + b*biofertilizing concentration + c*(biofertilizing
concentration)2). A concentration of 25% produced the longest survival time (≈ 35 days). The ideal
concentration to maximize survival was 13.44%. Evidently, the use of rejects as fertilizers reduces the
cost of the fish production, and may increase its productivity in conditions of attended handling.
Considering the high costs for biodigesters implantation, the activity becames plus a surce of income
in this sistem, however only one small parcel of biofertilizers can be used for such purpose.
INTRODUÇÃO
A piscicultura pode ser uma saída relativamente simples para a ampliação dos limites de
exploração dos recursos naturais e obtenção de proteína animal a baixo custo (econômico e social),
principalmente para países tropicais, como o Brasil, onde a produção piscícola pode ser multiplicada
pela sua riqueza de mananciais, pelo grande número de diferentes espécies e pela união da agropecuária
e aqüicultura no reaproveitamento de resíduos (ALZUGUIR, 1984). Nos dias atuais a crescente
produção de resíduos, tanto nos grandes centros populacionais como nas propriedades rurais, tem se
tornado um grande problema para pesquisadores e administradores políticos.
144
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
evitando problemas de mortalidade de peixes com o uso excessivo de tal recurso. Assim, tentamos
responder as seguintes questões: i) Qual a melhor concentração para que a sobrevivência seja
maximizada? ii) Quais variáveis abióticas influenciam no tempo de sobrevivência nas diferentes
concentrações?
MATERIAL E MÉTODOS
146
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
mínimos quadrados) foram feitos usando o software StatisticaTM 7.1 (STATSOFT INC. 2005). O nível
de significância estatística adotada foi de p<0,05. A qualidade do ajuste foi verificada com base em seu
percentual de explicação da variação total.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As variáveis físicas e químicas da água pH, oxigênio dissolvido e condutividade elétrica apresentaram
diferenças, entre as diferentes concentrações e entre os períodos analisados (Tabela 1), porém não é
possível distinguir se a maior fonte de variabilidade é temporal ou dos tratamentos, pois a interação
entre os níveis dos fatores analisados foi significativa, demonstrando tendências diferentes para os
períodos amostrados (Figura 1).
147
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Figura 1 – Variáveis físicas e químicas da água. (A) pH; (B) Oxigênio Dissolvido; (C)
Condutividade elétrica; e (D) Temperatura.
Entretanto, nota-se que há uma tendência de diminuição nos valores de pH e oxigênio dissolvido,
como aumenta a concentração de biofertilizante (Figura 1a e b). É interessante ressaltar que mesmo
com a utilização de aeração constante nos diferentes tratamentos, há uma diminuição na concentração
de oxigênio dissolvido, tornando-se desse modo, um fator limitante à sobrevivência dos peixes, pois
segundo Boyd (1990) e Popma e Phelps (1998) os padrões ideais indicados para aqüicultura situam-se
entre 3 a 8 mg/l. A condutividade elétrica, ao contrário, aumentou como aumentaram as concentrações
de biofertilizante, tornando-se também um fator limitante (BOYD, 1990; POPMA e PHELPS, 1998).
A temperatura da água foi a única variável em que a interação não foi significativa, demonstrando
assim, diferenças entre os períodos (manhã e tarde), com a temperatura no período da tarde sendo
superior ao da manhã, o que é esperado, contudo não ocorreram diferenças entre as concentrações de
biofertilizante. Apesar dessa diferença significativa entre os períodos a temperatura ficou entre o
recomendado por Popma e Phelps (1998) para o bom desempenho da espécie.
148
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
O modelo apresentou um ótimo ajuste (R2 = 0,99), com uma proporção da variância explicada de
98,57%. Assim, para que o tempo de sobrevivência seja maximizado é necessário calcularmos qual a
melhor concentração de biofertilizante, dessa forma, procedemos ao cálculo do ponto máximo da
função, o qual consiste em igualarmos a derivada da função à zero (f’(x) = 0).
A partir do modelo obtido na figura 2B, o qual corresponde a: Tempo de sobrevivência = 33,97 +
12,53*concentração de biofertilizante – 46,61*(concentração de biofertilizante)2 derivamos a função e
chegamos a: Tempo de sobrevivência = 12,53 – 93,22*concentração de biofertilizante então, igualando
a zero, temos: 12,53/93,22 = concentração de biofertilizante, a qual será igual a: 13,44%. Desse modo,
a concentração ideal para que o tempo de sobrevivência seja maximizado nessas condições do
experimento foi de 13,44% de concentração de biofertilizante, resultando em um tempo de
sobrevivência de 34,81 dias (Figura 2B).
Fazendas piscícolas provavelmente seja o único ramo da agricultura animal no qual o uso de
excremento é uma ferramenta de manejo tradicional. O uso de excremento, como fertilizante de
viveiros piscícolas, é uma prática antiga e muito difundida na Ásia, principalmente na China, onde o
cultivo de peixes tem sido praticado por milhares de anos e o uso de excremento intensivo é uma
prática padrão. Desse modo, o desenvolvimento orgânico heterogêneo, causado pela utilização de
excremento, requer peixes de hábitos alimentares diferentes para sua efetiva utilização, destacando o
uso de policultivos (diferentes espécies de peixes estocadas ao mesmo tempo em cada viveiro) (TANG,
1970; TAPIADOR et al. 1977; WOHLFARTH; SCHROEDER, 1979).
150
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
151
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
nutrientes inorgânicos liberados ou através da liberação de carbono orgânico por meio heterotrófico.
Dependendo das espécies, os peixes ingerem alimento diretamente dos fertilizantes ou de algas
planctônicas, detrito/fungos ou animais, como zooplâncton e caracóis que se alimentam de algas e
detritus (COLMAN; EDWARDS, 1987).
O excremento pode entrar no regime alimentar, como alimento diretamente consumido pelos
peixes, como uma fonte de minerais usado na produção fotossintética do fitoplâncton e como um
substrato suplementar de matéria orgânica e mineral aos microorganismos heterotróficos. O
conhecimento dos vários caminhos da cadeia alimentar natural pode facilitar para que a estocagem e a
produção de diferentes espécies de peixes em policultivo sejam feitas de uma maneira mais racional, as
quais resultem no aumento da produção piscícola, diminuindo os riscos da mortandade de peixes,
devido à anoxia e a utilização mais eficiente do material contido no excremento (WOHLFARTH;
SCHROEDER, 1979).
Estudos com a utilização de excrementos e fertilizantes minerais têm demonstrado resultados
contraditórios. Fertilizantes minerais foram mais efetivos do que excremento bovino em um estudo de
cultivo de tilápias realizado no Centro de Pesquisas Ictiológicas, Fortaleza, Brasil por Lovshin et al.
1974. No entanto, em Ginosar, Israel na Estação de Cultivo de peixes intensivos Rappoport et al.
(1977) encontraram resultados opostos. Excremento de frango foi mais efetivo do que excremento de
gado em Ginosar, enquanto que em Dor, Israel na Estação de Pesquisas em Aqüicultura e Peixes Moav
et al. (1977) encontraram resultados igualmente efetivos para ambos os excrementos. Essas
contradições podem ser devido aos métodos de manejo empregados e aos níveis de produção
alcançados.
Formas de manejo adequadas são importantes para o sucesso do empreendimento aqüícola e para
a efetividade na utilização de excrementos, pois segundo Schroeder (1973; 1974) os microorganismos
presentes em águas lênticas de viveiros de cultivo são os maiores responsáveis pela eficiência da
utilização de adubos orgânicos, como excremento. Esse mesmo autor demonstrou que a utilização de
excremento líquido de vacas é relativamente segura quando a patologia dos peixes e a demanda de
oxigênio não alcançam níveis críticos. A efetividade do excremento líquido de vaca no cultivo de
peixes pode ser baseada na cadeia alimentar que inicia com a atividade de bactérias e protozoários na
decomposição da matéria orgânica do excremento. Devido a essa cadeia não ser diretamente
dependente da fotossíntese (como é o caso dos fertilizantes químicos), o limite inerente da penetração
de luz e a produção de alimento natural podem ser limitados somente pelo suprimento de nutrientes,
como por exemplo, pela quantidade de excremento e oxigênio dissolvido presente na água do viveiro.
152
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
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155
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
RESUMO
156
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
ABSTRACT
USE OF THE ANNELID ENQUITREIA, Enchytraeus albidus HENLE 1837, IN THE FEEDING OF
THE NIQUIM, Lophiosilurus alexandri STEINDACHNER 1876, DURING THE INITIAL
FINGERLING CULTURE
157
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
INTRODUÇÃO
Em alguns países da Europa, Estados Unidos da América, Taiwan e Japão pesquisadores têm
descoberto novas fontes alternativas de alimentos vivos para complementar, mas dificilmente para
substituir rotíferos e Artemia como alimentos vivos para larvas de peixes marinhos. Algumas espécies
como Tisbe holothuriae (Copepoda), Daphnia e Moina (Cladocera) surgiram como possíveis fontes
alternativas depois de realizados muitos estudos sobre a nutrição e alimentação de larvas de muitas
espécies de peixes. Alguns desses microcrustáceos planctônicos possuem melhor valor nutricional do
que rotíferos e náuplios de Artemia (KJAEDEGAARD, 1997).
A produção de algumas espécies de organismos zooplanctônicos já acontece em alguns países
da Europa (Reino Unidos, Noruega e Bélgica) e tem se tornado uma possibilidade viável em muitas
larviculturas. No Brasil, alguns experimentos de maneira isolada estão sendo realizados com o objetivo
de se descobrirem novos candidatos a alimentos vivos.
Na região Nordeste do Brasil, desde 1998, pesquisadores da Companhia Hidroelétrica do São
Francisco (CHESF) em parceria com as Universidades do Estado da Bahia (UNEB) e Federal Rural de
Pernambuco (UFRPE) vêm intensificando esforços no sentido de dominar a técnica de produção de
cistos e náuplios de Dendrocephalus brasiliensis (branconeta) e sua utilização no cultivo de espécies
carnívoras e ornamentais, a exemplo de Lophiosilurus alexandri (niquim), Salminus brasiliensis
(dourado), Cichla ocellaris (tucunaré), Astronotus ocellatus (apaiari) e Pterophyllum scalare (acará-
bandeira).
Assim como a carcinicultura, a piscicultura continua tendo um grande crescimento. Segundo o
Comitê de Organismos Aquáticos (COAq), da Associação Nacional dos Fabricantes de Ração
(ANFAL), 101.000 toneladas de rações para peixes foram comercializadas em 2000 (KUBITZA, 2001
apud LOPES, 2002). Sabe-se, entretanto, que a formulação de dietas compostas por alimentos vivos na
fase de larvicultura apresenta melhores resultados quando comparada às rações artificiais
micropeletizadas e microencapsuladas (KOLKOVSKI, 1995). Neste contexto, reitera-se aqui a
importância do domínio da nutrição e da alimentação larval como fator determinante para o sucesso de
um cultivo em grande escala.
Procurando viabilizar o cultivo de espécies de peixes carnívoros, o grupo dos crustáceos
branchiópodos, cujo tamanho é normalmente da ordem de 1 a 2 cm, porém podendo alcançar
dimensões entre 7 a 10 cm como a Branchinecta gigas (COHEN, 1995), vem desempenhando um
papel fundamental no desenvolvimento da aqüicultura.
158
Rev. Bras. Enga. Pesca 2[1]
Na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA), vem sendo utilizado com sucesso a
branconeta, Dendrocephalus brasiliensis, Pesta 1921, na alimentação de L. alexandri após a fase de
plâncton, no entanto sente-se necessidade de um alimento vivo intermediário no período pós-larval.
O cultivo em massa de Enchytraeus albidus Henle, 1937 pode minimizar as dificuldades e
aumentar a produtividade de alevinos de peixes, principalmente a larvicultura de peixes carnívoros
como o niquim, L. alexandri. No entanto, para substituição de uma dieta é necessário, entretanto, que a
nova dieta tenha características particulares que proporcionem boa aceitação pelas larvas em
crescimento.
Segundo Kjaedegaard (1997), a produção de algas, de diversas espécies (Chlorella sp.,
Chaetoceros sp., Dunaliella sp.) de rotíferos (Brachionus plicatilis) e do microcrustáceo
zooplanctônico Artemia (cistos descapsulados, náuplios, metanáuplios e biomassa) há muito é realidade
na larvicultura de peixes marinhos e de crustáceos em países desenvolvidos e em muitos em
desenvolvimento. As técnicas de enriquecimento de B. plicatilis e de Artemia não só estão
suficientemente dominadas como são amplamente utilizadas por técnicos e profissionais da área de
larvicultura. Entretanto, segundo Kjaedegaard (1997), a oscilação do preço dos cistos de Artemia no
mercado mundial, sua disponibilidade e a crescente demanda por estes alimentos vivos imprescindíveis
para a larvicultura de dezenas de espécies marinhas forçaram governo de diversos países a investirem
milhões de dólares na pesquisa de novas fontes alternativas de alimentos vivos, rações
microencapsuladas e micropeletizadas que viessem a dar novas perspectivas para substituir ou
complementar o uso de rotíferos e de Artemia na alimentação das larvas de peixes.
Normalmente, o início da fase piscívora de peixes carnívoros coincide com a depleção do
zooplâncton e outros alimentos naturais, ou ainda, quando o tamanho do alimento não mais se adequa
às exigências energéticas e preferência alimentar dos juvenis. Desenvolve-se então a preferência
alimentar por crustáceos e peixes que permanecerá por toda vida (LOPES, 2002).
Os estágios mais difíceis da piscicultura são a passagem das larvas para alevinos (SIPAÚBA-
TAVARES, 1993). A larvicultura das espécies de peixe tem sido desvantajosa por falta de alimentação
em tamanhos adequados de zooplâncton vivos, para as larvas (LUBZENS 1987; DIAS et al., 1988;
YAMANKA 1988; LUCAS et al., 1990; SIPAÚBA-TAVARES e ROCHA, 1994). Através do cultivo
da enquitréia, E. albidus visando alimentação na alevinagem inicial do niquim, têm-se uma perspectiva
de desenvolvimento não só desta espécie carnívora, mas de muitos outros peixes carnívoros de
interesse comercial e ecológico. O presente trabalho tem como objetivo o cultivo de enquitréia, E.
albidus como mais uma fonte alternativa de alimento de L. alexandri durante a alevinagem inicial.
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MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na Estação de Piscicultura de Paulo Afonso (EPPA) (24 L 0586000
UTM 8963002), situada na avenida Maranhão S/N, Paulo Afonso, Bahia, pertencente à Companhia
Hidroelétrica do São Francisco (CHESF).
Foram utilizadas sete incubadoras tipo calha
(Figura 1), onde foram depositada a desova (ovos
adesivos) para posterior eclosão das larvas. Cinco
dias após a eclosão, quando as pós-larvas estavam
aptas para serem transferidas para outras
incubadoras e a seguir acompanhamento de sua dieta
a base de plâncton, enquitréias e branchoneta
conforme processo tradicional utilizado na EPPA. FIGURA 1 - INCUBADORAS TIPO CALHA
Por outro lado, para o cultivo da enquitréia UTILIZADAS NO EXPERIMENTO.
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como alimento vivo enquitréia em alimentação intermediária. A partir do 31º dia e até o 45º dia foram
alimentadas com branchonetas.
O tempo de duração do experimento para observação do crescimento médio dos peixes em
comprimento (mm) e percentuais de sobrevivência foi de 45 dias. Para avaliação do crescimento
tomou-se apenas o comprimento dos peixes, visto que essa variável é mais utilizada nos trabalhos de
RESULTADOS
Decorridos 15 dias do início da 1ª etapa desse trabalho, com a utilização de organismos vivos
do zooplâncton para ambos os tratamentos, foi observado o desenvolvimento dos alevinos. Com auxílio
de um paquímetro foi realizada biometria e verificou-se um comprimento médio de 35 mm para os
alevinos nos dois tratamentos e a sobrevivência de 100%.
Na segunda fase do experimento quando os peixes em T1 passaram a receber branconetas e os
peixes em T2 enquitréias como alimento, decorridos os quinze dias desta fase (total de 30 dias), os
resultados foram os seguintes: em T1, os niquins alimentados com branconeta alcançaram o
comprimento médio de 50,01±0,26 mm e sobrevivência de 100% e em T2, os niquins alimentados com
enquitréias alcançaram o comprimento médio de 44,91 mm e sobrevivência de 12%.
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A média dos dois tratamentos (T1 e T2), submetida ao teste de significância da diferença entre
as duas médias (teste “t” ou de Student) ao nível de significância α = 5 % apresentou diferença
significativa no que se refere à sobrevivência e comprimento, com uma superioridade de T1 sobre T2.
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DISCUSSÃO
A branconeta, cujo valor protéico em torno de 67% de proteína bruta, supera o da artêmia 61,60,
se mostra com níveis protéicos suficientes para suprir as necessidades não só de peixes carnívoros mas
também de outros animais aquáticos como os camarões por exemplo. Com referência ao comprimento,
as branconetas, dependendo das condições ambientais aonde são cultivadas, atingem em torno de 25
mm, superando também a artêmia que é de 11 mm, isto implica positivamente numa maior produção de
biomassa de branconeta em relação a artêmia (LOPES, 1998).
Lopes e Tenório (2003) citam a grande importância da branconeta, Dendrocephalus
brasiliensis, como alimento natural, tornando-se um grande elo para o desenvolvimento de alevinos de
niquim a partir do momento em que o zooplâncton e outros organismos do plâncton não se fazem mais
atrativos para essa espécie.
Segundo Kubitza (1998), a importância do alimento natural em piscicultura é maior durante as
fases de larvicultura e alevinagem ou na recria de espécies planctófagas. Daí o bom desenvolvimento
dos alevinos de niquim quando alimentados com organismos vivos com a branconeta, por exemplo.
Segundo Pillay (1995), os organismos cultivados na aqüicultura têm de obter todos os seus
requerimentos nutricionais exceto os requerimentos minerais, através de alimentos que eles consomem.
A branconeta como animal filtrador de algas, pode repassar para os peixes vários nutrientes existentes
nesse alimento natural. Assim, é que para melhorar a qualidade nutricional dos alimentos vivos
normalmente utilizados (rotíferos e Artemia) com a finalidade de fornecer às larvas todos os nutrientes
necessários para seu desenvolvimento e crescimento larval, utiliza-se a técnica de enriquecimento com
TM
emulsões (Selco , Super-SelcoTM) ricas em ácidos graxos (HUFA, EPA, DHA), vitaminas (C e E),
antibióticos e pigmentos (carotenóides).
Kubitza e Lovshin (1999) afirmam que a produção intensiva de peixes carnívoros pode ser
dificultada quando o alimento vivo é o único item alimentar. Entretanto, seu uso como dieta inicial no
treinamento alimentar de peixes carnívoros é amplamente aceito. Em seu trabalho utilizando alimento
vivo como dieta inicial no treinamento alimentar de juvenis de pirarucu (Arapaima gigas) verificou que
provavelmente o uso de alimento vivo seja a estratégia alimentar mais viável para facilitar a aceitação
de rações por parte destes juvenis, uma vez que é um alimento naturalmente consumido, podendo
oferecer a vantagem de treinar peixes de tamanhos menores e de não ser necessário o uso de atrativos.
Juvenis de pirarucu apresentam associação gregária e podem ser influenciados por condições
que favoreçam o estabelecimento de classes hierárquicas aumentando com isso a heterogeneidade do
lote, podendo resultar em agressões (CAVERO et al., 2003). Nos juvenis de niquim em estudo, foi
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observado canibalismo acentuado em T2 com uso de E. albidus como alimento. Isto provavelmente é
justificado pela composição protéica deste microverme que apresenta alto teor de gorduras sólidas que
são oleosas, o que dificulta o processamento pelos peixes de modo eficaz quando oferecido
diariamente, aliado ao fato também de associação gregária existente nesta espécie.
Kubitza e Lovshin (1999) citam que este tipo de comportamento (canibalismo) pode ocorrer
durante o treinamento alimentar de diversas espécies de peixes carnívoros. Provavelmente as agressões
observadas: mordeduras nas nadadeiras caudais estejam associadas à mudança repentina da
alimentação durante o treinamento alimentar, fato que pode ter influenciado no comportamento dos
peixes. Entretanto, não existem registros de canibalismo ou agressões entre juvenis de pirarucu criados
em cativeiro.
Lopes et al. (1996) utilizaram o rotífero marinho B. plicatillis, náuplios de Artemia salina e do
cladócero Moina micrura na alimentação de larvas do surubim-pintado e observaram que esta espécie
aceita bem o alimento vivo como dieta inicial.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
CAVERO, B.A.S. et al. Uso de alimento vivo como dieta inicial no treinamento alimentar de juvenis
de pirarucu. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Coordenação de Pesquisas em Aqüicultura.
Manaus. Pesq. Agropec. Bras., v. 38, n. 8., p. 2003.
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Metodologia para su Estudio. La Plata: Editiones SUR – Tomo II. p. 871-895. 1995.
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3-7, 1995, Ghent, Bélgica). European Aquaculture Society, Artemia Reference Center, 1995.
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1995.
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LOPES, P. J., et al. Branchoneta uma notável contribuição a larvicultura e alevinagem de peixes
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LUBZENS, E. Rasing rotifers for use Aquaculture Hydrobiologia, v. 147, p. 245-255, 1987.
PILLAY, T.V.R.. Larval foods. In: Aquaculture, principles and practices. Blackwell Scienc. p. 109-
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