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1917-2017 (4) - APARIÇÕES DE FÁTIMA E REVOLUÇÃO SOVIÉTICA - CONVERGÊNCIAS

Nos artigos anteriores privilegiaram-se três referenciais, na comparação entre a revolução


soviética e as aparições de Fátima: a vida terrena condigna; a presença da vida celeste; e o
espetro do pecado, da guerra e do inferno. Pode afirmar-se que, em todos eles, se
registam convergências bastante fortes.

Tanto nas aparições como na revolução soviética se defende a vida terrena condigna,
vivida em corresponsabilidade; as diferenças na conceção e nos processos de
desenvolvimento não impedem a convergência para a fraternidade, baseada na igualdade
fundamental de todas as pessoas. Também se defende, explicitamente ou não, a
autonomia das realidades terrestres, que veio a ser consagrada no Concílio Vaticano II
(«Gaudium et Spes», nº. 36): a mensagem de Fátima situa-se na esfera relgiosa e não
entra na esfera dos regimes políticos e sistemas socioeconómicos; a revolução soviética
lutou claramente por um determinado sistema global (socioeconómico e político), sem o
basear na esfera religiosa, embora tenha resvalado para a negação da presença da vida
celeste e para o culto da personalidade. Tanto as aparições como a revolução deixaram
bem patente o espetro do pecado, da guerra e do inferno, embora utilizando linguagens
diferentes; neste espetro insere-se perfeitamente não só o entendimento cristão
tradicional mas também a escravatura, a exploração do homem pelo homem, a opressão
exercida pelas classes dominantes, a alienação capitalista e outras...

Desde 1917, inúmeros católicos e outros cristãos aproximaram-se bastante da revolução


soviética, aderindo ou não à sua base ideológica. E até pareceram aderir à convicção de
que o ideal da esquerda política se situa no marxismo. Apesar disso, o diálogo entre
cristãos e marxistas, e entre os próprios cristãos com diferentes opções sociopolíticas, não
chegou a ser implementado de maneira consistente e duradoira. (Continua)

Acácio F. Catarino

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