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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA

Licenciatura em Engenharia Civil

Mecânica dos Sólidos II

CAPÍTULO 3 — Colunas
Texto de apoio
(versão provisória)

Luciano Carmo Jacinto


Luís Rocha Evangelista
Paulo Tavares Pedro

Novembro 2013
Índice
1 Introdução ............................................................................................................... 3
2 Determinação de cargas críticas............................................................................... 7
2.1 Coluna bi-articulada ....................................................................................... 7
2.2 Coluna em consola .......................................................................................... 8
2.3 Coluna encastrada-articulada ......................................................................... 9
2.4 Colunas com outras condições de apoio ........................................................ 11
3 Conceito de esbelteza ............................................................................................. 12
4 Bases para o dimensionamento de colunas metálicas à encurvadura ..................... 14
5 Curvas de encurvadura segundo o EC3 ................................................................. 17
6 Problemas resolvidos ............................................................................................. 21
A. Breves notas sobre critérios de Segurança e acções ao abrigo dos Eurocódigos ..... 30
A.1 Introdução .................................................................................................... 30
A.2 Acções ........................................................................................................... 33
A.3 Estados Limites ............................................................................................ 37

2
1 Introdução
O presente Capítulo trata do estudo da estabilidade de colunas. Por coluna entende-
se uma peça linear, em geral disposta na vertical, sujeita à compressão simples. Estu-
daremos apenas as colunas prismáticas, isto é, colunas com secção transversal cons-
tante.
Considere-se a coluna representado na Figura 1
P
(a), sujeita a uma carga P perfeitamente centra- P
da. Que modos de ruina possíveis poderão ocorrer
na coluna? Um modo de ruina possível é óbvio:
ocorre quando a carga P atinge um valor tal que
a peça esgota a sua resistência (quando se atinge

L
a tensão de rotura, ou cedência, do material).
Mas há ainda um outro modo de ruina possível:
existe um valor da carga P acima do qual a colu-
na torna-se instável. Se esse valor de P for ultra- (a) (b)
passado, a mínima perturbação da coluna desen- Figura 1: Coluna bi-articulada
cadeia uma repentina deformação lateral, conhe- sujeita a uma carga P perfeita-
mente centrada.
cida por varejamento, ou encurvadura. — Figura
1 (b).
Essa carga designa-se por carga crítica e, para colunas muito esbeltas1, pode ser
inferior à carga que provoca a cedência do material. Para entender melhor os concei-
tos de carga crítica e estabilidade de colunas, considere-se a coluna representada na
Figura 2 (a), constituída por dois troços rígidos, articulados entre si por meio de uma
mola de rotação de constante k. Quando se aplica uma pequena força horizontal na
rótula e a carga P ainda é pequena, a coluna, que naturalmente se deforma lateral-
mente sob essa carga horizontal, como indicado na Figura 2 (b), recupera a verticali-
dade logo que a força horizontal é removida. Diz-se então que a coluna está em equi-
líbrio estável. No entanto se a carga P for grande, a aplicação da mesma carga hori-
zontal, por pequena que seja, desencadeia uma repentina deformação lateral, e a ver-
ticalidade já não é recuperada quando a carga horizontal é removida. Diz-se então
que a coluna está em equilíbrio instável. O valor da carga P acima do qual o equilí-
brio passa de estável a instável designa-se por carga crítica e representa-se por Pcr .

1
O conceito de esbelteza de uma coluna vai ser introduzido com rigor mais à frente.

3
P
P P
C

L/
L/2

2
2θ θ
k
B B
M = k(2θ )
L/2

P
(L/2) senθ

(a) (b) (c)


Figura 2: Coluna com rótula a meia altura, perfeitamente
rectilínea e sujeita a uma carga perfeitamente centrada (coluna perfeita).

Determinemos o valor da carga crítica da coluna em causa. Efectuando o equilíbrio


de momentos em torno de B — ver Figura 2 (c) —, tem-se:
1 4K θ
∑ MB = 0 ⇔ K 2θ =
2
P L senθ ⇔ P=
L senθ
. (1)

Esta fórmula relaciona o ângulo θ com a carga P que mantém a estrutura em equilí-
brio na posição correspondente ao ângulo θ . A carga crítica obtém-se fazendo θ = 0 .
Se fizermos θ = 0 na Eq. acima obtém-se uma indeterminação do tipo 0/0. No entan-
to, como sabemos, limx → 0 (sen x / x ) = 1 , donde:
4K
Pcr = .
L
Encontrou-se assim a carga que torna o equilíbrio instável. A Figura 3 mostra o
gráfico P = P (θ ) , correspondente à Eq. (1). Se a carga P ultrapassar o valor Pcr , a
coluna permanece em equilíbrio, mas fica num estado relativamente perigoso: à mais
pequena perturbação, a coluna pode adquirir repentinamente um certo ângulo θ ,
positivo ou negativo. Por isso é que o equilíbrio se diz instável. O ponto do gráfico
correspondente a Pcr designa-se por ponto de bifurcação do equilíbrio.

P
Equilibrio
instável
Pcr
Pcr

Equilibrio
estável

0 θ
Figura 3: Gráfico P = P (θ ) de uma coluna perfeita.

4
Considere-se agora a mesma coluna, mas com uma imperfeição, caracterizada pela
existência de uma deformação inicial θ0 — Figura 4 (a). Repare-se que a coluna com
imperfeição começa logo a deformar-se para valores pequenos de P. Efectuando o
equilíbrio de momentos em torno de B, é possível relacionar a carga P com a defor-
mação θ = θ0 + ∆θ (ver Figura 4 (c)). Tem-se:
L 4 K ∆θ
∑ MB = 0 ⇔ K 2∆θ = P
2
sen(θ0 + ∆θ) ⇔ P =
L sen(θ0 + ∆θ) (2)
.

P P
C

θ0 θ 0 + ∆θ θ 0 + ∆θ

L/
L/2

2
k
B B
M = k(2 ∆θ )
P
L/2

(L/2) sen (θ 0 + ∆θ )

(a) (b) (c)


Figura 4: Coluna com rótula a meia altura, com uma imperfeição.

Se fizermos ∆θ = 0 , obtém-se P = 0 . Quer dizer: uma coluna com uma imperfei-


ção não possui carga crítica, isto é, não exibe o fenómeno de instabilidade descrito
anteriormente, caracterizado pela ocorrência repentina de deformações laterais (vare-
jamento, ou encurvadura). Isto significa que o conceito de carga crítica é um conceito
associado a colunas ideias, isto é, colunas sem imperfeições. Mas isso não significa que
não se trata de um conceito útil. A Figura 5 mostra o gráfico P = P(θ) , com
θ = θ0 + ∆θ (Eq. (2)). Conforme se observa, a coluna real (coluna com imperfeição)
não possui ponto de bifurcação do equilíbrio, isto é, o equilíbrio é sempre estável, até
que haja rotura do material. Repare-se também que, apesar de não se atingir a carga
crítica, as deformações laterias começam a aumentar muito rapidamente quando a
carga P se aproxima da carga crítica. Podemos visualizar a carga crítica como um
limite superior da carga máxima que se pode aplicar na coluna, e daí tratar-se de um
conceito útil.

5
P
Coluna ideal

Pcr
Coluna real

θ0 θ
Figura 5: Gráfico P = P (θ) de uma coluna ideal versus coluna real.

O facto de as deformações começarem a aumentar muito rapidamente quando a


carga P se aproxima da carga crítica, mostra que o colapso de colunas reais por
encurvadura pode dar-se de dois modos distintos. Por um lado o aumento das defor-
mações equivale a perda de rigidez, isto é, a coluna deixa de poder suportar carga
adicional por falta de rigidez, mesmo que não tenha ocorrido ainda a plastificação do
material. Neste caso o colapso dá-se por perda de rigidez, com a coluna permanecendo
ainda em regime elástico. Por outro lado, o facto de as deformações aumentarem
rapidamente, significa que os momentos flectores (associados à flexão lateral) vão
também aumentar rapidamente, e consequentemente a possibilidade de se atingirem
as tensões de cedência nas fibras extremas, o que faz aumentar ainda mais as defor-
mações. Neste caso o colapso dá-se por encurvadura com plastificação do material.
O fenómeno de colapso por falta de
rigidez, mesmo sem plastificação do
material, é facilmente visualizável
através de uma pequena experiência,
recorrendo a uma palheta de mexer o
café. Ao comprimirmos a palheta (ver
Figura 6) verifica-se que esta deforma-
se lateralmente com muita facilidade,
isto é, apresenta uma capacidade de
suporte muito baixa. Ao aliviarmos a
palheta, verifica-se que ela recupera a
sua verticalidade, demonstrando assim
que não ocorreu plastificação material. Figura 6: Ilustração da encurvadura com uma
palheta de mexer o café.

6
2 Determinação de cargas críticas

2.1 Coluna bi-articulada


Considere-se a coluna bi-articulada
P P
representada na Figura 7(a), isenta de
imperfeições. Determine-se a carga críti-
ca, Pcr , da coluna. Para a dedução da z x z
M (x)
Pcr , recorre-se à utilização da equação L P

diferencial da linha elástica, já estudado


no capítulo referente à análise elástica de
vigas:
d 2z M
=− P
dx 2 EI . (a ) (b )
Figura 7: Coluna bi-articulada, também
chamada coluna de Euler.

Considerando agora o diagrama de corpo livre mostrado na Figura 7(b), por equilí-
brio de momentos, tem-se M = Pz , donde a Eq. anterior pode ser escrita na forma:
d 2z P
+ z =0 (3)
dx 2 EI .
Trata-se de uma equação diferencial linear de 2.ª ordem, homogénea, de coeficien-
tes constantes, com solução geral da forma:
z = A sen kx + B cos kx ,
em que
P
k2 =
EI
As constantes A e B determinam-se pelas condições de fronteira, vindo:
z (0) = 0 ⇒ B = 0
z (L) = 0 ⇒ A sen kL = 0 ⇔ A = 0 ∨ sen kL = 0
.
O caso A = 0 corresponde à configuração indeformada da coluna (posição original) e
obviamente assegura o equilíbrio. O caso sen kL = 0 , que também corresponde à
posição indeformada, permite determinar a carga crítica, isto é, a carga a partir da
qual a coluna torna-se instável. Ora,
sen kL = 0 ⇒ kL = n π (n = 1,2,....), pelo que:

P 2 n 2π2EI
k 2L2 = n 2π2 ⇔ L = n 2π 2 ⇔ P=
EI L2 .

O valor mais baixo da carga P, a carga crítica, corresponde a n = 1 , donde:

7
π2EI
Pcr = (4)
L2 .

Encontramos assim a carga a partir da qual uma coluna bi-articulada perfeita pode
adquirir repentinamente uma deformação lateral significativa (equilíbrio instável). A
Eq. (4) é conhecida como Fórmula de Euler.

2.2 Coluna em consola


Considere-se a coluna em consola
P
representada na Figura 8. De idêntico x P
δ
modo ao adoptado no caso da coluna
bi-articulada (chamada frequentemen- Modo fundamental
de encurvadura
te coluna de Euler), pode-se, por aná-
L L
lise da Figura 7(a), escrever a expres-
são do momento flector:
M = −P (δ − z ) . z

Procedendo à seguinte substituição, (a)


P L
k2 =
EI ,

a equação diferencial da linha elástica


toma a forma uma equação diferencial
P
linear de 2.ª ordem, não homogénea,
de coeficientes constantes: (b)
Figura 8: Coluna em consola.

d 2z (5)
+ k 2z = k 2δ ,
dx 2

com a solução geral


z = A sen kx + B cos kx + δ (6)
e respectiva derivada
z ' = Ak cos kx − Bk sen kx (7)
As constantes A e B, das equações (6) e (7), determinam-se pelas condições de fron-
teira, vindo:
z '(0) = 0 ⇒ A = 0 ∨ k = 0, como k = P EI ≠ 0, A = 0,

z (0) = 0 ⇒ B = −δ .

π
z (L) = δ ⇒ δ = δ(1 − cos kl ) ⇒ cos kl = 1 ⇒ kl = + n π; n = 0,1,2, 3,... ,
2

8
O menor valor de P, a partir do qual a coluna fica em equilíbrio instável, obtém-se
para n = 0 , ficado:
π 2EI (8)
Pcr = 2
.
4L
Contudo, pode adoptar-se o seguinte procedimento mais expedito: se prologarmos a
deformada da coluna, como representado na Figura 8(b), obtém-se exactamente o
modo de encurvadura da coluna de Euler. Substituindo o comprimento da coluna de
Euler na Eq.(4), vindo:
π 2EI π 2EI
Pcr = = .
(2L)2 4L2
Traduz-se este facto dizendo que o comprimento de encurvadura de uma coluna
em consola de comprimento L é igual a 2L. Define-se assim comprimento de encurva-
dura de uma coluna como o comprimento de uma coluna bi-articulada com idêntica
carga crítica, e representa-se habitualmente por Le ou L0 . A carga crítica de uma
coluna com comprimento de encurvadura Le é, portanto, dada por:
π2EI
Pcr = . (9)
Le2
De acordo com o exposto acima, para a coluna em consola, Le = 2L .

2.3 Coluna encastrada-articulada


Para a dedução da carga crítica da
x
coluna encastrada-articulada, analise-
se a Figura 9. Quando a coluna defor- P
ma (encurva) por flexão lateral, surge V

uma reacção horizontal na extremidade


superior. Na extremidade inferior
(apoio encastrado), por equilíbrio está-
L
tico, surge uma reacção horizontal de
igual intensidade à da extremidade
superior e um momento flector, resul-
V z
tando a seguinte expressão do momen-
M=VxL
to flector:
P

M = Pz + M −Vx = Pz + V (L − x ) . Figura 9: Coluna em encastrada-


articulada.

Procedendo à seguinte substituição,


P (10)
k2 = ,
EI

9
a equação diferencial da linha elástica toma a forma uma equação diferencial linear de
2.ª ordem, não homogénea, de coeficientes constantes:
d 2z (11)
+ k 2z = k 2V (x − L) / P,
dx 2
com a solução geral:
z = A sen kx + B cos kx + k 2V (x − L) / P (12)

e respectiva derivada:
z ' = Ak cos kx − Bk sen kx + k 2V / P . (13)

Impondo as condições de fronteira às equações (12) e (13), obtemos:


k 2VL k 2VL
z (0) = 0 ⇒ 0=B− ⇒ B= ,
P P
z '(0) = 0 ⇒ 0 = Ak + k 2V / P ⇒ A = −kV / P ;

kV k 2VL
z (L) = 0 ⇒ 0 = A sen kL + B cos kL = − sen kL + cos kL;
P P
e pondo em evidência os parâmetros comuns a ambas as parcelas que resultam da
terceira condição, obtemos:
kV
(− sen kL + kL cos kL) = 0;
P
onde kV / P = V / PEI = 0 ∨ (− sen kL + kL cos kL ) = 0;

Para que a primeira condição seja verdadeira ou V = 0 ou PEI = ∞ . Nenhuma das


hipóteses é válida, pois a primeira implicaria a configuração não deformada da coluna
e a segunda, um módulo de rigidez à flexão EI infinito (configuração não deformada
da coluna) ou uma carga P infinita. A análise da segunda condição resulta na expres-
são:
kL = tg (kL); (14)
Resolvendo a Eq.(14) iterativamente, determina-se o menor valor, diferente de zero,
que a satisfaz:
kL = 4, 49341;
Substituindo o valor de k na Eq. (10) e resolvendo-a em ordem a P, obtém-se a carga
critica para a coluna encastrada-articulada:
20,191EI
Pcr = ;
L2
que, por substituição na Eq.(9),
π 2EI 20,191EI
= ⇒ Le = π2 / 20,191 × L
Le2 L2
De acordo com o exposto, para a coluna encastrada-articulada, Le = 0, 7L .

10
2.4 Colunas com outras condições de apoio
Como exercício, empregando o método expedito descrito acima para a coluna em
consola, verifique que para a coluna bi-encastrada
bi Le = 0.5L e para a coluna encas-
enca
trada–encastrada
encastrada deslizante, Le = L . Repare-sese que o comprimento de encurvadura
acaba por ser a distância entre pontos de momento nulo no modo fundamental de
encurvadura.
A Figura 10 mostra comprimentos de encurvadura de colunas típicas, com condi-
cond
ções de apoio ideais (ou
ou perfeitamente encastradas ou perfeitamente livres).

Figura 10:: Comprimentos de encurvadura de colunas típicas.

Como se pôde verificar, o comprimento de encurvadura


ura é função do comprimento
da coluna e das condições de apoio. Mesmo quee as condições de apoio sejam idênticas
em ambos os planos de flexão e, consequentemente, o comprimento de encurvadura
seja idêntico em ambas as direcções,
direcçõe por análise da Eq.(9),, haverá que considerar
duas cargas críticas destintas,
destintas uma para cada plano principal de flexão. A carga críti-
crít
ca será naturalmente a menor das duas.
duas

▶ Exemplo. Determine-se a carga crítica da coluna em consola representada na Figu-


ra 11, constituída
ituída por um perfil HEB200.

11
P

E = 210 GPa
z
HEB200
10.00

A = 78.1 cm2
y Iy = 5696 cm4
Iz = 2003 cm4

Figura 11: Coluna em consola. Determinação da carga crítica.

Resolução
A carga crítica é dada por Pcr = π 2EI / Le2 . Como as condições de apoio são idênti-
cas em ambas as direcções, o comprimento de encurvadura é também idêntico para
ambas as direcções. Assim, a carga crítica corresponde ao eixo de menor inércia, no
presente caso o eixo z. Tem-se:
π 2 (210 × 106 )(2003 × 10−8 )
Pcr = = 103.8 kN .
(2 × 10.00)2
Supondo agora que a tensão de cedência do aço que compõe a coluna, em geral
denotada por fy , é igual a 235 MPa, a carga que provoca o colapso da coluna por
cedência do material (carga de plastificação) é igual a:
Ppl = fy A = (235 × 103 )(78.1 × 10−4 ) = 1835 kN ,

que é muito maior que a carga crítica. Estamos assim perante uma coluna em que a
carga máxima que pode suportar é condicionada claramente pelo fenómeno de encur-
vadura. Estamos perante uma coluna de elevada esbelteza. ◀

3 Conceito de esbelteza
Viu-se anteriormente que a carga crítica de uma coluna com comprimento de encur-
vadura Le é dada por:
π 2EI
Pcr =
Le2 .

Determinemos a tensão correspondente à carga crítica, a que chamaremos tensão crí-


tica, σcr . Considerando que a secção transversal da coluna, que se admite constante,
tem área A, vem:
Pcr π 2EI π2Ei 2 π 2E
σcr = = = = .
A AL2e Le2 λ2
onde i é o raio de giração da secção, dado por:
I
i= ,
A

12
e λ representa a chamada esbelteza da coluna. Assim, por definição, chama-se esbel-
teza de uma coluna à quantidade:
Le
λ= . (15)
i
Repare-se que se trata de uma grandeza adimensional. Trata-se de um conceito
muito importante. Duas colunas do mesmo material e com idêntica esbelteza possuem
idêntica tensão crítica. Se além disso possuírem idêntica área, as cargas críticas são
também iguais. Note-se que no caso geral, cada coluna possui duas esbeltezas, em
correspondência com as duas direcções principais de flexão, como se indica na Figura
12.

Ley
z λy =
y iy
Le

Lez
λz =
iz

P
Figura 12: Esbelteza de
uma coluna.

Fazendo intervir o conceito de esbelteza, a carga crítica de uma coluna é dada por:
π 2EA
Pcr = . (16)
λ2
Observando a Eq. (16), podemos afirmar que:

Sempre que uma coluna puder flectir em ambos os planos principais de flexão, a
carga crítica corresponde sempre à direcção onde a esbelteza é maior.

Raio de giração. Relativamente ao raio de giração, trata-se de uma característica


mecânica da secção transversal da coluna. Determine-se o raio de giração de uma sec-
ção circular de raio r. Tem-se:
π(2r )4 r4
I 64 = 4 = r4 r
i= = = .
A πr 2 r2 4r 2 2
Determine-se agora o raio de giração
de uma secção rectangular de base b e x x
h

altura h (Figura 13). Tem-se:


b

Figura 13: Raio de giração de uma

13
secção rectangular.
I bh 3 h
ix = x = = .
A 12bh 12
Repare-se que o raio de giração não depende da base da secção, mas apenas da altura.

É possível dar um significado mecâni-


co ao raio de giração. Considere-se uma
secção genérica de área A e inércia I (em

d
relação ao eixo e, que se admite ser prin-
cipal de inércia, e portanto passa pelo
centro de gravidade da secção). A, I
Figura 14: Interpretação do raio de gira-
ção de uma secção.

Considere-se agora um ponto fictício com toda a área da secção nele concentrada.
Determine-se a distância do eixo e a que deveríamos colocar esse ponto de forma a ter
a mesma inércia que a secção dada (Figura 14). Empregando o teorema de Steiner,
tem-se:
I
I = 0 + Ad 2 ⇔ d= .
A
Ora a distância encontrada é exactamente ao raio de giração. Podemos assim dar o
seguinte significado ao raio de giração: o raio de giração de uma secção em relação a
um determinado eixo principal de inércia é a distância desse eixo a que se deve colo-
car um ponto fictício, no qual se concentra toda a massa da secção, de modo a obter
idêntica inércia. ∎

4 Bases para o dimensionamento de colunas metálicas à


encurvadura
Como vimos anteriormente, a tensão máxima que se pode aplicar numa coluna não
pode exceder a tensão de cedência do material fy , nem a tensão crítica, dada por
σcr = π 2E / λ2 . Em termos de forças, podemos dizer, de forma equivalente, que a for-
ça máxima que se pode aplicar a uma coluna de área A não pode exceder a carga que
provoca a cedência do material (ou que plastifica a secção), dada por:
N pl = fy A,
nem a carga critica, dada por:
π2EA
N cr = .
λ2
A carga de rotura de uma coluna — ou carga resistente —, que representaremos
por N R , é dada evidentemente pelo menor dos dois valores acima. O gráfico da Figu-
ra 15 mostra a carga resistente N R em função da esbelteza da coluna, λ .

14
NR
π 2 EA
N cr =
N pl = f y A λ2

λ1 λ
Figura 15: Resistência NR de uma coluna, como função da esbelteza λ.

A esbelteza λ1 indicada no gráfico, designada esbelteza de referência, obtém-se


igualando N pl a Ncr , vindo:

π2EA E
fy A = ⇔ λ12 fy = π2E ⇔ λ1 = π .
λ12 fy
No caso de estruturas metálicas, podemos considerar E = 210 × 103 MPa , podendo
escrever-se:
210 × 103 (235) 235
λ1 = π = 93.9 ,
fy (235) fy

com fy dado em MPa. No caso do aço S235, no qual fy = 235 MPa , tem-se
λ1 = 93.9 .
O estudo da encurvadura de colunas tem sido amplamente estudado, teórica e
experimentalmente, recorrendo a extensos programas experimentais, onde se ensaia-
ram até à rotura muitas colunas, com diferentes esbeltezas. A Figura 16 ilustra os
resultados típicos obtidos nesses programas experimentais. Cada ponto indicado refe-
re-se a um ensaio experimental.

NR

N R teórico (= N cr )
N pl = f y A
N R experimental

λ1 λ
(1) (2) (3)

Figura 16: Resultados experimentais típicos de colunas com diferentes esbeltezas.

Como indicado na Figura, é possível identificar 3 zonas. A zona (1) refere-se às


colunas em que a rotura se dá essencialmente por plastificação da secção, com encur-
vadura desprezável (colunas curtas). A zona 3 refere-se às colunas onde a rotura se dá
essencialmente por encurvadura lateral, com a coluna a funcionar em regime elástico
(colunas esbeltas). A zona 2 refere-se às colunas intermédias, onde a rotura se dá com
ocorrência simultânea dos dois fenómenos (plastificação e encurvadura).

15
Como se observa, a zona (2) é a zona do gráfico onde os resultados experimentais
se afastam mais dos resultados teóricos, pois é a zona onde os efeitos das imperfeições
das colunas se fazem mais sentir. As imperfeições das colunas são essencialmente de
dois tipos (Simões, 2007): imperfeições geométricas (falta de linearidade, falta de ver-
ticalidade, excentricidade das cargas) e imperfeições do material (comportamento não
linear, existência de tensões residuais).
A resistência da coluna, N R , pode ser expressa por:
N R = χ fy A,
onde χ (lê-se qui), que é evidentemente menor ou igual a 1.00, é um coeficiente de
redução que tem em conta os efeitos da encurvadura e chama-se habitualmente por
coeficiente de encurvadura. Na próxima secção apresentam-se as expressões para o
cálculo desse coeficiente segundo o EC32.
Designando o esforço normal actuante na coluna por N E , a verificação da seguran-
ça consiste em comprovar a seguinte condição (chamada condição de segurança):
NE ≤ NR .

Na prática é necessário aplicar coeficientes de segurança tanto a N E como a N R ,


visto que há incerteza em ambas as quantidades. O factor de segurança a aplicar a
N E , que representaremos por γF , é um factor majorativo e destina-se a obter um
valor de N E com muito reduzida probabilidade de ser excedido. O coeficiente de
segurança a aplicar a N R , que representaremos por γM , é um factor minorativo e
destina-se a obter um valor de N R com elevada probabilidade de ser excedido. A
aplicação de ambos os coeficientes de segurança constitui assim um meio simples de
obter uma coluna com reduzida probabilidade de sofrer rotura.
Fazendo intervir os coeficientes de segurança, a condição de segurança assume a
forma:
NR
γF N E ≤ .
γM
Em MSdII usaremos γF = 1.50 e γM = 1.00 , este último sendo o valor recomendado
pelo EC3. O valor γF N E designa-se por valor de cálculo do esforço axial actuante e
representa-se habitualmente por N Ed . O valor N R / γM designa-se por valor de cál-
culo do esforço axial resistente e representa-se por N Rd . Fazendo intervir os valores
de cálculo N Ed e N Rd na condição de segurança, esta adquire finalmente a forma:
N Ed ≤ N Rd .

Em anexo pode-se encontrar mais informação sobre critérios de segurança e combina-


ção de acções.

2
NP EN 1993-1-1:2010.

16
▶ Exemplo. Considerando novamente a coluna representada na Figura 11, e conside-
rando que o coeficiente χ tem o valor de 0.05 (na próxima secção vamos aprender a
determinar este coeficiente):
a) Determine a resistência (ou carga de rotura) N Rd da coluna.
b) Determine a carga máxima P que se pode aplicar à coluna em condições de
segurança.

Resolução:
a) De acordo com o exposto anteriormente:
χ fy A
N Rd = = 0.05 × 235 × 10 3 × 78.1 × 10−4 = 91.8 kN.
1.00
Obteve-se assim um valor inferior à carga crítica ( Pcr = 103.8 kN ), como não
podia deixar de ser. (Porquê?)3

b) Tem-se:
1.5 P < N Rd ⇔ P < 61.2 kN.

Assim, se se aplicar à coluna uma força no máximo de 61.2 kN, podemos ter
razoável certeza que a coluna não sofrerá danos sérios. ◀

5 Curvas de encurvadura segundo o EC3


De acordo com o EC3, o coeficiente χ é calculado por:
1
χ= , mas ≤ 1 ,
Φ + Φ2 − λ 2
em que:

(
Φ = 0.5 1 + α (λ − 0.20) + λ 2 , )
λ 235
λ= ; λ1 = 93.9 .
λ1 fy
O parâmetro λ é chamado esbelteza normalizada, que é função da esbelteza de refe-
rência λ1 , definida anteriormente. O parâmetro α é chamado factor de imperfeição,
assumindo os valores apresentados na Tabela seguinte.

Tabela 1: Factores de imperfeição.


Curva de encurvadura a0 a b c d
α 0.13 0.21 0.34 0.49 0.76

3
São duas as razões principais: existência de imperfeições e ocorrência de plastificação da secção.
Recorde-se que o conceito de carga crítica é um conceito associado a colunas sem imperfeições e com
comportamento elástico sem limites.

17
A escolha da curva de encurvadura (a0, a, b, c ou d) é feita com base no tipo de
secção da coluna em estudo, como indicado na Tabela 2, que reproduz o Quadro 6.2
do EC3.
A Figura 17, que reproduz a Figura 6.4 do EC3, mostra o gráfico χ = χ(λ ) para
cada uma das curvas de encurvadura, e a Tabela 3 mostra as mesmas curvas, nume-
ricamente.
De acordo com as Equações acima, podemos escrever:
χ = χ ( fy , λ, α )
.
Note-se que no caso geral haverá que calcular dois factores χ , χy e χz , em corres-
pondência com as duas direcções principais de flexão, considerando, para efeitos da
determinação da capacidade de carga da coluna, o menor dos dois, isto é:
χ = min (χy , χz )
.
Dada uma coluna particular, se se puder considerar que αy = αz , o factor χ é míni-
mo para a direcção onde a esbelteza é máxima.
Como exercício, verifique que o factor χ do exemplo anterior tem o valor de 0.05.

18
Tabela 2: Escolha da curva de encurvadura.

19
Figura 17: Curvas de encurvadura do EC3.

Tabela 3: Curvas de encurvadura em forma tabular

20
6 Problemas resolvidos

Problema 1
Considere a coluna representada na Figu-
N

z
ra ao lado. As condições de apoio são
idênticas em ambas as direcções. Deter-

15
mine a carga máxima N que se pode
aplicar à coluna em condições de segu- 15 y

120
rança.

4.00 m
100

Dimensões em mm
Factor de imperfeição: α = 0.34
S235

Resolução:
Como o comprimento de encurvadura é idêntico em ambas as direcções, a direcção
condicionante é a que corresponde encurvadura em torno de z (eixo de menor inér-
cia).
A = 10 × 12 − 7 × 9 = 57 cm2 ; I z = (1 / 12)12 × 103 − (1 / 12)9 × 7 3 = 742.75 cm 4 ;

742.75
iz = = 3.61 mm;
57
4 235
λz = = 110.8; λ1 = 93.9 = 93.9 ;
0.0361 235
110.8
λz = = 1.18;
93.9
( )
Φ = 0.50 1 + 0.34 (1.18 − 0.20) + 1.182 = 1.363;

1
χ= = 0.489;
1.363 + 1.3632 − 1.182
1.5N < 0.489 × 23.5 × 57 ⇔ N < 436.8 kN;

Observação: Um cálculo idêntico usando o REAE conduz a N < 356.4 kN , con-


cluindo-se assim que o EC3 é, no presente caso, menos conservativo.

21
Problema 2
Considere a coluna representada na Figu-
N
ra junta, com condições de apoio idênti-
N = 1920 KN
cas em ambas as direcções. Dimensione o S235
perfil HEB adequado para uma carga
N = 1920 kN .

4.00 m
Resolução:
Ley = Lez = Le = 0.7 × 4 = 2.8 m ;
α = 0.49 ;

1.ª Iteração
Arbitrando χ = 1.00 , tem-se:
1.5 × 1920 < 1.00 × 23.5 × A ⇔ A = 122.6 cm2 ;

HEB280: A = 131.4 cm2 ; I z = 6595 cm 4 ; iz = 7.09 cm;

2.8 235
λz = = 39.5; λ1 = 93.9 = 93.9 ;
0.0709 235
39.5
λz = = 0.42;
93.9
( )
Φ = 0.50 1 + 0.49 (0.42 − 0.20) + 0.422 = 0.642;

1
χ= = 0.886;
0.642 + 0.6422 − 0.422
1.5N < 0.886 × 23.5 × 131.4 ⇔ N < 1823.9 kN;

2.ª Iteração
HEB300: A = 149.1 cm2 ; I z = 8563 cm 4 ; iz = 7.58 cm;

2.8 235
λz = = 36.94; λ1 = 93.9 = 93.9 ;
0.0758 235
36.94
λz = = 0.393;
93.9
( )
Φ = 0.50 1 + 0.49 (0.393 − 0.20) + 0.3932 = 0.625;

1
χ= = 0.901;
0.625 + 0.6252 − 0.3932

22
1.5N < 0.901 × 23.5 × 149.1 ⇔ N < 2103 kN , no entanto N > 1920 kN, pelo que
o perfil escolhido é HEB300.
Observação: usando o REAE obtém-se o mesmo perfil.

Problema 3
Considere a coluna representada na Figura junta.
a) Dimensione o perfil HEB para uma carga
N
N = 1200 kN .
b) Determine a máxima carga N que se pode
aplicar à coluna na hipótese de se remover
a barra rígida indicada (travamento).
5.00

barra rígida z
Nota: As condições de apoio nas extremidades
y
da coluna são idênticas em ambas as direcções,
mas a barra rígida existe só da direcção y.
S235
5.00

Resolução:
a)
Ley = 10 m
;
Lez = 5 m
Lez

;
αy = 0.34
;
αz = 0.49 ;
Lez

1.ª Iteração
Arbitrando χ = 0.80 , tem-se:
1.5 × 1200 < 0.80 × 23.5 × A ⇔ A = 95.7 cm2
;
A = 106.0 cm2
HEB240: ;
I y = 11259 cm 4 iy = 10.3 cm
; ;
I z = 3923 cm4 iz = 6.08 cm
; ;
Direcção y

23
10.0
λy = = 97.09
0.103 ;
97.09
λy = = 1.034
93.9 ;

(
Φ = 0.50 1 + 0.34 (1.034 − 0.20) + 1.0342 = 1.176 ) ;
1
χ= = 0.576
1.176 + 1.1762 − 1.0342 ;
Direcção z
5.0
λz = = 82.24
0.0608 ;
82.24
λz = = 0.876
93.9 ;

(
Φ = 0.50 1 + 0.49 (0.876 − 0.20) + 0.8762 = 1.049 ) ;
1
χ= = 0.615
1.049 + 1.0492 − 0.8762 ;
–––––
χ = min(0.576, 0.615) = 0.576
;
1.5N < 0.576 × 23.5 × 106 ⇔ N < 956.5 kN ;

2.ª Iteração
HEB300: A = 149.1 cm2 ;

I y = 25166 cm 4 ; iy = 13.0 cm;

I z = 8563 cm4 ; iz = 7.58 cm;

Direcção y
10.0
λy = = 76.92;
0.13
76.92
λy = = 0.819;
93.9
(
Φ = 0.50 1 + 0.34 (0.819 − 0.20) + 0.8192 = 0.941; )
1
χ= = 0.835;
0.941 + 0.9412 − 0.8192

24
Direcção z
5.0
λz = = 65.96;
0.0758
65.96
λz = = 0.702;
93.9
( )
Φ = 0.50 1 + 0.49 (0.702 − 0.20) + 0.7022 = 0.870;

1
χ= = 0.723;
0.87 + 0.87 2 − 0.7022
–––––
χ = min(0.835, 0.723) = 0.723;

1.5N < 0.723 × 23.5 × 149.1 ⇔ N < 1688 kN ; > 1200 kN , pelo que se adopta
o perfil HEB 300.
Observação: obteve-se o mesmo perfil usando o REAE, mas obteve-se uma carga
máxima de 1229 KN.

b) Se se remover a barra rígida, a direcção condicionante é obviamente a direcção z.


10
λz = = 131.9
0.0758 ;
131.9
λz = = 1.405
93.9 ;

( )
Φ = 0.50 1 + 0.49 (1.405 − 0.20) + 1.4052 = 1.782
;
1
χ= = 0.347
1.782 + 1.7822 − 1.4052 ;
1.5N < 0.347 × 23.5 × 149.1 ⇔ N < 811.5 kN ;

25
Problema 4
Considere a estrutura representada na Figura junta, em aço S235.
Determine a máxima força F que se pode
F 20 KN/m
aplicar na estrutura sem comprometer a
segurança à encurvadura da coluna CD.
B C
Admita condições de apoio idênticas em A
ambas as direcções.

3.00
100

2.00 3.00
5.00

Resolução:
Começa-se por determinar a carga de rotura da coluna, N Rd = χ fy A .
Secção circular ⇒ α = 0.49 .
r
i= = 0.025 m
2 ;
3
λ= = 120
0.025 ;
120
λ= = 1.278
93.9 ;

( )
Φ = 0.50 1 + 0.49 (1.278 − 0.20) + 1.2782 = 1.581;

1
χ= = 0.398;
1.581 + 1.5812 − 1.2782
N Rd = 0.398 (235 × 103 )(π × 0.052 ) = 735 kN ;

O esforço axial máximo N que pode ser aplicado na coluna é:


1.5N < N Rd ⇔ N < 490 kN ;

É preciso agora relacionar N com F, o que se consegue através do seguinte equilí-


brio:

26
F 100

∑ M A = 0 ⇔ F 2 + 100 × 2.5 − N 5 = 0 ⇔
⇔ F = 0.5 (5N − 250)
RA N
2.00 ⇒ F = 0.5 (5 × 490 − 250) = 1100 kN ;
2.50

Observação: O REAE conduziu a uma força de 922 kN, concluindo-se assim que,
no presente caso, o EC3 é menos conservativo que o REAE.

Problema 5
Considere a coluna representada na Figura, constituída por perfis em aço S235. Para
efeitos de encurvadura admita a curva b ( α = 0.34 ), para ambos os eixos de flexão.
As condições de apoio indicadas são idênticas em ambas as direcções.

z z
e = 20 mm

y y
h
11.00 m

2 HEB 200 HEB

SECÇÃO 1 SECÇÃO 2

a) Determine a carga N máxima, considerando a secção 1 indicada.


b) Considerando agora a secção 2, escolha o perfil HEB que confere à coluna a
mesma capacidade de carga.

Resolução:
a)
A = 78.1 cm2
HEB200: ;
I y = 5696 cm 4 iy = 8.54 cm
; ;
I z = 2003 cm 4 iz = 5.07 cm
; ;
Para o arranjo indicado tem-se:
I y = 2 × 5696 = 11392 cm 4
;

27
I z = 2 (2003 + 78.1 × 102 ) = 19626 cm 4
.
Assim, a direcção condicionante é obviamente a direcção y (tanto o comprimento
de encurvadura como o factor de imperfeição são idênticos em ambas as direcções).
2 × 5696
iy = = 8.54 cm
2 × 78.1 ;
0.7 × 11
λy = = 90.16
0.0854 ;
90.16
λy = = 0.96
93.9 ;

(
Φ = 0.50 1 + 0.34 (0.96 − 0.20) + 0.962 = 1.09 ) ;
1
χ= = 0.6225
1.09 + 1.092 − 0.962 ;
1.5N < 0.6225 × 23.5 (2 × 78.1) ⇔ N < 1523 kN ;

b) Relativamente à secção 2, tem-se:


A = AHEB + 2eh
eh 3 1
I y = I yHEB + 2 = I yHEB + eh 3
12 6 ;
 b e 2 
 he 3 he 3 1 2
I z = I zHEB + 2  + eh  +   = I zHEB + + eh (b + e )
 12  2 2   6 2
;
O problema consiste em encontrar um perfil HEB para o qual:
χA ≥ 0.6225 × 2 × 78.1 = 97.2 cm2
.
O processo tem de ser realizado de forma iterativa. Iniciando o processo iterativo
com HEB200, tem-se:

1.ª Iteração
A = 78.1 + 2 × 2 × 20 = 158.1 cm2

1
I y = 5696 + 2 × 203 = 8362.7 cm 4 ;
6
20 × 23 1 2
I z = 2003 + + 2 × 20 (20 + 2) = 11709.7 cm 4 ;
6 2
A direcção y é a condicionante

28
8362.7
iy = = 7.27 cm
158.1 ;
0.7 × 11
λy = = 105.87
0.0727 ;
105.87
λy = = 1.128
93.9 ;

( )
Φ = 0.50 1 + 0.34 (1.128 − 0.20) + 1.1282 = 1.294
;
1
χ= = 0.519
1.294 + 1.2942 − 1.1282 ;
1.5N < 0.519 × 23.5 × 158.1 ⇔ N < 1284.7 kN ;

Este valor é inferior ao pretendido, pelo que é necessário realizar mais uma itera-
ção, considerando agora o HEB220. Deixa-se como exercício a realização desta itera-
ção e de outras, caso necessário.

29
A. Breves notas sobre critérios de Segurança e acções ao
abrigo dos Eurocódigos

A.1 Introdução
A preocupação dos homens com a segurança das construções deve ter existido desde
sempre. A sua manifestação documentada mais antiga é a que se encontra no famoso
Código de Hamurabi, sob a forma de sanções a aplicar aos construtores de obras que
entrassem em colapso, variáveis de acordo com as consequências deste. Durante sécu-
los, a garantia de segurança era feita a partir da reprodução de dimensionamentos
que tivessem sucesso e as alterações destes eram implementadas com pequenos incre-
mentos e avaliadas em função dos resultados obtidos.
Contudo, com o desenvolvimento das teorias da Resistência dos Materiais, surgiu e
divulgou-se um método de verificação de segurança meramente determinístico, basea-
do no conceito de tensões de segurança. Neste método, o procedimento consiste em
impor que as tensões instaladas, avaliadas, geralmente, por meio de análises estrutu-
rais em regime elástico, não ultrapassem determinadas valores (tensões de segurança,
ou admissíveis), obtidos dividindo a tensão de rotura por um coeficiente de segurança
superior à unidade. Assim, as condições de segurança são do tipo:
σ ≤ σ seg
com:
σ = tensão instalada (ou de serviço), avaliada, geralmente, em regime elástico;
σseg = tensão de segurança = σσrotura / γseg ;
σrotura = tensão de rotura;
γseg = coeficiente de segurança.

O método das tensões de segurança foi-se revelando demasiadamente grosseiro, essen-


cialmente por não levar em conta as aleatoriedades relativas aos modelos das acções e
das resistências.
No início do séc. XX, surgiu o conceito de estados limites (“estados para além dos
4
quais a estrutura deixa de satisfazer os critérios de projecto relevantes” ), que
podem ser ou Estados Limites Últimos, que se definem como “estados associados ao

4- Definição apresentada no item 1.5.2.12 do EC 2.

30
5
colapso ou a outras formas semelhantes de ruína estrutural” e “correspondem, em
geral, à capacidade resistente máxima de uma estrutura ou de um elemento estrutu-
ral” 6, ou Estados Limites de Utilização, que se definem como “estados que corres-
pondem às condições para além das quais os requisitos de utilização especificados
para uma estrutura ou para um elemento estrutural deixam de ser satisfeitos 7. Natu-
ralmente, a partir de então, instalou-se a tendência para que a verificação das estru-
turas passasse a ser feita em relação a estes estados.
A par com o conceito de estados limites, surgiram conceitos probabilísticos para as
verificações relativas aos mesmos. Estes conceitos deram origem a três diferentes
níveis relativos àquelas verificações, os quais, nas “Common Unified Rules for Diffe-
rent Types of Construction and Material”, se descrevem do seguinte modo:
- Nível 1: Processo semi-probabilístico, em que os aspectos probabilísticos são con-
siderados especificamente através da definição de valores característicos das car-
gas ou acções e das resistências dos materiais e da associação destes valores a
factores parciais cujos valores, por sua vez, apesar de estabelecidos explicitamen-
te, devem ser obtidos, sempre que possível, a partir considerações de natureza
probabilística;
- Nível 2: Processo no qual as cargas ou acções e as resistências dos materiais são
representadas pelas suas distribuições, conhecidas ou convencionadas (definidas
por parâmetros relevantes, tais como o tipo, a média e o desvio padrão), admi-
tindo-se um nível de fiabilidade. É, portanto, um processo de dimensionamento
probabilístico.
- Nível 3: Representa um processo de dimensionamento baseado numa análise pro-
babilística exacta da totalidade do sistema estrutural, utilizando uma abordagem
totalmente probabilística, com níveis de segurança baseados numa probabilidade
de ruína interpretada no sentido de frequência relativa.

Os Níveis 3 e 2 não são utilizados com frequência, por serem muito complexos. Na
prática actual, usa-se correntemente o Nível 1, sob a forma de um método com a
designação de método dos coeficientes parciais, que é preconizado nos documentos
regulamentadores mais recentes, incluindo os Eurocódigos.

5 - Definição apresentada no item 1.5.2.13 do EC 2.


6 - Texto da Nota incluída no item 1.5.2.13 do EC 2.
7 - Definição apresentada no item 1.5.2.14 do EC 2.

31
As questões básicas relativas à segurança, à capacidade de utilização e às acções, no
âmbito das estruturas de engenharia civil, são regidas, em termos gerais, pelo Euro-
código intitulado Bases para o projecto de Estruturas, que designaremos por Eurocó-
digo 0. O Eurocódigo 0 relaciona-se intimamente com todos os restantes Eurocódigos,
que são, conforme se pode verificar na Figura A.1

NP EN 1990 - EUROCÓDIGO
Bases de Projecto de Estruturas

NP EN 1991 - EUROCÓDIGO 1
Acções nas Estruturas

NP EN 1992 - EUROCÓDIGO 2
Projecto de Estruturas de Betão
NP EN 1993 - EUROCÓDIGO 3
Projecto de Estruturas de Aço
NP EN 1994 - EUROCÓDIGO 4
Projecto de Estruturas Mistas Aço-betão

NP EN 1995 - EUROCÓDIGO 5
Projecto de Estruturas de Madeira
NP EN 1996 - EUROCÓDIGO 6
Projecto de Estruturas de Alvenaria
EN 1999 - EUROCÓDIGO 9
Projecto de Estruturas de Alumínio

NP EN 1998
NP EN 1997
EUROCÓDIGO 8
EUROCÓDIGO 7
Projecto de Estruturas
Projecto Geotécnico
Resistentes aos Sismos

Figura A1 - Representação esquemática da interligação entre Eurocódigos

32
Os Eurocódigos 1 a 9 são compostos por várias partes, ficando a sua descrição e apli-
cação ao abrigo das disciplinas correspondentes às matérias abrangidas por cada um
dos documentos.
Refira-se que estas notas introdutórias são apenas uma ligeira introdução aos crité-
rios modernos de verificação da segurança das estruturas de engenharia civil, não dis-
pensando o estudo mais aprofundado dos mesmos no decurso das disciplinas específi-
cas de dimensionamento.

A.2 Acções

Definição e classificação de acções

Uma acção pode ser definida como sendo um conjunto de forças aplicadas à estrutu-
ra, provocadas, por exemplo, pelas forças gravíticas (acção directa), ou um conjunto
de deformações ou acelerações impostas, provocadas, por exemplo, por variações de
temperatura ou de humidade, assentamentos diferenciais ou sismos (acção indirecta).

Nesta definição, está implícita a classificação das acções em directas e indirectas, que
é relativa à origem. Porém, existem classificações relativas a outros aspectos. No
Quadro A.1, apresentam-se a totalidade das classificações das acções de acordo com o
item 4.1.1 do EC 0, indicando os símbolos e os exemplos ali constantes e também
outros exemplos.
Os critérios de verificação de acordo com a teoria dos Estados Limites pressupõem a
classificação das acções quanto à sua natureza temporal, devendo-se categorizar todas
as acções como sendo permanentes, variáveis ou acidentais, conforme seja a sua inci-
dência temporal ao longo da vida útil da estrutura. Nesse sentido, importa também
sublinhar que esta classificação não é imutável, já que há casos de acções que se
devem considerar como sendo variáveis em determinados contextos, devendo ser aci-
dentais noutros. A título de exemplo, refira-se que a acção da neve deve ser conside-
rada como sendo variável em algumas regiões do país, podendo ser considerada como
sendo acidental, para outra.
Obviamente, as diversas acções devem ser consideradas e quantificadas de acordo com
o disposto nos Eurocódigos adequados, podendo ser descrita por um modelo, sendo a
sua intensidade representada, nos casos mais correntes, por um escalar que poderá ter
vários valores representativos. Existem, no entanto, algumas acções, para as quais
poderá ser necessária uma representação mais complexa da sua intensidade, como são
os casos da fadiga ou acções dinâmicas.

33
Quadro A.1 - Classificação, símbolos e exemplos das acções, de acordo com o EC 0

Tipo de Clas- Classificação; Exemplos apresentados Outros exemplos


sificação símbolos no EC0
Peso próprio das estrutu- Pré-esforço
ras, dos equipamentos
fixos e dos pavimentos
Permanentes
rodoviários; acções indi-
G
rectas causadas por
retracção e assentamentos

De acordo diferenciais

com a varia- Sobrecargas nos pavimen- Acção sísmica (se não for
ção no tempo Variáveis tos, vigas e coberturas considerada acção de aciden-
Q dos edifícios; acção do te); Efeitos térmicos.
(a).
vento; acção da neve

Explosões ou choque pro- Acção da neve (se não for


Acidentais vocado por veículos. considerada acção variável);
A Acção sísmica (se não for
considerada acção variável).
Directas Peso próprio.
De acordo Retracção do betão; assen-
com a origem Indirectas tamentos diferenciais de
apoios; efeitos térmicos.
De acordo Pesos próprios; equipamen-
Fixas
com a varia- tos fixos.
ção no espaço Sobrecargas devidas a tráfe-
Livres
go rodoviário.
De acordo Peso próprio; sobrecargas
com a natu- Estáticas vulgares, sem efeitos dinâmi-
reza e/ou cos.
com a respos-
Dinâmicas Acção sísmica.
ta estrutural

34
Valores representativos e valores característicos das acções

O valor representativo de uma acção, designado pelo símbolo geral Frep, pode tomar
diferentes valores, conforme seja o cenário a considerar. O seu valor característico,
designado pelo símbolo específico Fk, pode ser estabelecido como sendo um valor
médio, um valor superior ou inferior, quando exista distribuição estatística conhecida
para a acção em questão, ou um valor nominal (que não se refere a uma distribuição
estatística conhecida).

Os valores característicos superiores e inferiores das acções (permanentes ou variá-


veis) são considerados como correspondentes a quantilhos da curva de distribuição
probabilística de resultados, de acordo com o seguinte parâmetros, indicados na NP
EN 1990, cláusula 4.1.2 (7):
- um valor superior, com uma certa probabilidade de não ser excedido, ou um valor
inferior, com uma certa probabilidade de ser atingido, durante um determinado
período de referência.

Normalmente, estas probabilidades de ocorrência correspondem aos quantilhos 5 e


95%, para o valor característico inferior e superior, respectivamente.

Para as acções variáveis, existe também a necessidade de considerar outros valores da


acção, correspondentes a situações de ocorrência temporal superior, vulgarmente
designados por valores de combinação. Estes correspondem a valores menores que o
valor característico estipulado, já que correspondem à afectação destes por coeficien-
tes de redução menores que a unidade. O Quadro A.2 indica os coeficientes de redu-
ção, bem como as diferentes utilizações que cada um deles tem. Como regra geral,
pode-se dizer que Ψ2 ≤ Ψ1 ≤ Ψ0 ≤ 1, sendo os valores correspondentes a cada um destes
factores indicados na norma NP EN 1991 (Eurocódigo 1), nas partes correspondentes
às acções em causa.

Para as acções de acidente não se refere, no EC0, um valor característico, mas sim
um valor de cálculo, Ad, devendo este ser especificado para cada projecto em particu-
lar.

35
Quadro A.2 - Outros valores representativos das acções variáveis

Valor representativo
Verificação em que é utilizado Notas
das acções variáveis
Valor de combinação, Verificação de estados limites
últimos e verificação de estados
Ψ 0 Qk limites de utilização irreversí-
veis.
Valor frequente, Verificação de estados limites “Para os edifícios, por
últimos envolvendo acções de exemplo, o valor frequente
Ψ 1 Qk acidente e verificação de esta- é escolhido de tal forma que
dos limites de utilização rever- só é excedido durante 0,01
síveis. do período de referência;
para as acções de tráfego
rodoviário em pontes, o
valor frequente é avaliado
para um período de retorno
de uma semana”
Valor quase perma- Verificação de estados limites “Para acções nos pavimen-
nente, últimos envolvendo acções de tos dos edifícios, o valor
acidente e verificação de esta- quase-permanente é nor-
Ψ2 Qk dos limites de utilização rever- malmente escolhido de for-
síveis; cálculo de efeitos a longo ma a que seja excedido
prazo. durante 0,05 do período de
referência. Em alternativa,
o valor quase-permanente
pode ser determinado como
o valor médio durante um
determinado intervalo de
tempo”.

36
A.3 Estados Limites
Estados Limites Últimos

Para efeitos de dimensionamento das estruturas, devem ser classificados como estados
limites últimos os que se referem à segurança das pessoas e/ou da estrutura, bem
como, em certos casos, acordados entre o dono da obra e a autoridade competente, os
que dizem respeito à protecção de certos recheios das construções. Podem, ainda, ser
tratados como estados limites últimos os estados que precedem o colapso estrutural e
que, por simplificação, são considerados em vez do colapso propriamente dito.

Quando for pertinente, devem ser verificados os seguintes estados limites últimos:
• perda de equilibrio do conjunto ou de parte da estrutura, considerada como
corpo rígido;
• ruína por deformação excessiva, transformação do conjunto ou de parte da
estrutura num mecanismo, rotura, perda de estabilidade da estrutura ou de
parte da estrutura, incluindo apoios e fundações;
• rotura provocada por fadiga ou por outros efeitos dependentes do tempo.

No âmbito do método dos coeficientes parciais, devem ser verificados, quando perti-
nentes, os seguintes estados limites últimos, ao abrigo da NP EN 1990:
a) EQU: perda de equilíbrio estático do conjunto ou de parte da estrutura consi-
derada como corpo rígido, em que:
• sejam significativas pequenas variações no valor ou na distribuição espa-
cial das acções com uma mesma origem; e
• não sejam, em geral, condicionantes as resistências dos materiais de
construção ou do terreno;
b) STR: rotura ou deformação excessiva da estrutura ou dos elementos estrutu-
rais, incluindo sapatas, estacas. muros de caves, etc., em que a resistência dos
materiais da estrutura é condicionante;
c) GEO: rotura ou deformação excessiva do terreno em que as características
resistentes do solo ou da rocha são significativas para a resistência da estrutura;
d) FAT: rotura por fadiga da estrutura ou dos elementos estruturais;

37
e) UPL: perda de equilíbrio da estrutura ou do terreno devida a levantamento
global originado por pressão da água (flutuação) ou por outras acções verticais;
f) HYD: levantamento hidráulico, erosão interna e erosão tubular no terreno,
causadas por gradientes hidráulicos.

No âmbito destas notas dar-se-á particular ênfase aos Estados Limites Últimos do
tipo STR, já que são os que estão ligados aos fenómenos de encurvadura atrás discu-
tidos.

Como foi dito atrás, o Eurocódigo preconiza a utilização preferencial do método dos
coeficientes parciais, embora preveja, como alternativa, a utilização do um dimensio-
namento directamente baseado em métodos probabilísticos, para os quais poderão ser
indicadas condições específicas de utilização, por uma autoridade competente. Como
tal, são estabelecidas combinações de acções considerando situações de projecto dis-
tintas, conforme se indica no Quadro A.3.

Quadro A.3 – Situações de projecto e condições correspondentes

Categorias de situações
Condições
de projecto

Persistentes Condições normais de utilização.

Condições temporárias aplicáveis à estrutura, como,


Transitórias
por exemplo, durante a construção ou a reparação.

Condições excepcionais aplicáveis à estrutura ou à


sua exposição, como, por exemplo, incêndios, explo-
Acidentais
sões, impactos ou consequências de rotura localiza-
da.

Condições aplicáveis à estrutura quando sujeita à


Sísmicas
acção dos sismos.

38
A verificação da segurança aos Estados Limites Últimos quando se considera um
estado limite de rotura ou de deformação excessiva de uma secção, de um elemento
ou de uma ligação (correspondendo a Estados Limites Últimos do tipo STR e/ou
GEO), deve verificar-se que:

E d ≤ Rd

em que:
• Ed é o valor de cálculo do efeito das acções, tal como um esforço ou um vector
representando vários esforços;
• Rd é o valor de cálculo da resistência correspondente.

A determinação do termo Ed é do foro da análise estrutural; a determinação do termo


Rd é do foro das teorias de dimensionamento da estrutura. Se a verificação for efec-
tuada em termos de esforços, deve impor-se que o valor de cálculo do esforço actuante
seja menor ou igual do que o valor de cálculo do esforço resistente.

O cálculo do valor dos esforços actuantes faz-se recorrendo a combinações de acções


relativas às situações que se indicam no Quadro A.3 e cujas expressões se indicam de
seguida. Assim, para situações Persistentes ou Transitórias tem-se:

= , , "+" "+" γQ, 1 , "+" , , ,

em que:

• γG - coeficiente parcial de segurança das acções permanentes;


• γP - coeficiente parcial de segurança para o pré-esforço;
• γQ - coeficiente parcial de segurança das acções variáveis;
• ψ0 - coeficiente de redução de combinação;

• Gk - valor característico das acções permanentes;


• Q1 - valor característico da acção variável de base;
• Qk - valor característico das acções variáveis;
• “+” significa “a combinar com”;

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• Σ significa “o efeito combinado de”.

Para situações Acidentais:

= , "+" "+" "+" , , , "+" , ,

em que:

• Αd - valor nominal da acção acidental;


• e os restantes parâmetros possuem os significados atrás indicados.

Em Portugal, por força do Quadro NA-A1-3 do EC 0 (que é adoptado em substitui-


ção do Quadro A1.3, de acordo com o Anexo Nacional NA daquela norma), toma-se
ψ1, 1 e Qk, 1 , para as acções variáveis principais e ψ 2, 1 e Q k, 1 para as outras acções
variáveis.

Para situações Sísmicas, o valor combinado das acções é:

= , "+" "+" "+" , , "

em que:

• ΑΕd - valor nominal da acção sísmica;


• e os restantes parâmetros possuem os significados atrás indicados.

Os valores dos coeficientes parciais de segurança das diferentes acções referidas nos
parágrafos anteriores estão devidamente categorizados no Anexo A da NP EN 1990,

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devendo utilizar-se os valores dos coeficientes de redução (ψ) indicados na norma NP
EN 1991 (Eurocódigo 1).

Estados Limites de Utilização

Para efeitos do controlo das estruturas em serviço, devem ser classificados como esta-
dos limites de utilização os que se referem ao funcionamento da estrutura, ou dos seus
elementos estruturais, em condições normais de utilização, bem como ao conforto das
pessoas e ao aspecto da construção (dizendo mais respeito a critérios relacionados
com grandes deslocamentos e com fendilhação excessiva do que com a estética).

Os critérios nos quais se deverá basear a verificação dos estados limites de utilização
são relacionados com:
• deformações que afectem o aspecto, ou o conforto dos utentes, ou o funciona-
mento da estrutura (incluindo o funcionamento de máquinas ou de outras ins-
talações);
• deformações que danifiquem revestimentos ou elementos não estruturais;
• vibrações que causem desconforto às pessoas ou que limitem a eficiência funcio-
nal da estrutura;
• danos que afectem negativamente o aspecto, ou a durabilidade, ou o funciona-
mento da estrutura;

No âmbito do método dos coeficientes parciais, devem ser considerados, em geral, os


estados limites de utilização que correspondem aos critérios referidos na Regra
6.5.2(1) da NP EN 1990.

Em especial, devem ser considerados os seguintes estados limites de utilização corren-


tes em estruturas metálicas:
• controlo das deformações;
• controlo de vibrações.

Outros estados limites de utilização, tais como, por exemplo, os relativos a fendilha-
ção ou controlo de tensões, importantes em estruturas de betão armado, poderão ser
considerados. Os Estados Limites de Utilização a considerar para cada tipo de estru-
tura são indicados pelo Eurocódigo específico.

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