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O VIRTUAL E O URBANO
27);
4 Lembrar de Saskia Sassen (cidade global), Edward W. Soja (cidades-regiões globais);
5 Lembrar Edgar Morin (Os sete saberes necessários para a educação do futuro);
Aquilo que em momentos anteriores de nossa história era um adendo, um
detalhe e que paulatinamente vai se tornando a base de toda a modificação e
pensamento humano/urbano.
Partindo de uma definição, como no início, temos essa tecnologia
como: (1) Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos a
arte, indústria, educação etc.; (2) Conhecimento técnico e científico e suas
aplicações a um campo particular; (3) por extensão, tudo o que é novo em
matéria de conhecimento técnico e científico; (4) Linguagem peculiar a um
ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático; (5) Aplicação dos
conhecimentos científicos à produção em geral.6
Partindo da hipótese de que vivemos um período onde a tecnologia,
como definida acima, está presente em quase todos os momentos de nossa
vida, seja na produção como na reprodução da mesma. E que nossas vidas
hoje se desenvolvem em ambientes urbanos, mesmo estando em contextos
rurais/campo, estaríamos presenciando a fase crítica apontada por Lefebvre.
Uma virtualidade que se torna, aos poucos, real.
Essa tecnologia a qual nos referimos, virtual e real, seria uma
tecnologia especifica, construtora de nexos e sentidos7, mesmo que vazios,
nos dias atuais: as Tecnologias de Comunicação e Informação (TIC). A malha
comunicacional (estradas, telégrafos, telegramas, telefones, celulares,
aplicativos e sites), desenvolvida nos processos econômicos e sociais de
afirmação da cidade comercial e industrial, chega a um momento de
onipresença, alterando e reconstruindo os vínculos, antes determinados pela
produção material, que hoje não pode ser pensada sem o advento do imaterial,
virtual.
A construção do espaço urbano apontado por Lefebvre, se dá pela
imagem, pelo sistema de objetos, tornados símbolos. Representações,
virtualidades, potencias. As redes de acesso à rede mundial de computadores
(internete) são isso, hoje, nos ambientes urbanos, símbolos de um sistema
novo onde os fluxos sucedem a acumulação, uma acumulação de sentidos
(eficácia, modernidade, positividade, interligação), que geram uma
uniformização dos espaços (redes de fibra ótica, redes sem fio, hotspots,
cybercafés), e que levam a uma cidade vitrine, como aponta Lefebvre, onde o
consumo regula a rua, e esta regula o tempo além do tempo de trabalho.
Tecnologia e fluidez da comunicação que permitem ações como: ver os
horários e localizações dos transportes públicos e privados, reclamar dos
serviços públicos e privados prestados, saber da localização e horários das
realizações do lúdico e do profano, ver, trocar e esconder informações
pessoais/públicas, acessar redes sem fios e ver a localização das mesmas,
trocar e depositar informações em áreas públicas, enfim, dar conta da
problemática urbana apontada anteriormente em diferentes frentes. Isso tudo
8 Na Wikipédia, o termo Gadget (possivelmente do francês gachette, peças mecânicas variadas), [1], é um
equipamento que tem um propósito e uma função específica, prática e útil no cotidiano. São comumente chamados
de gadgets dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, leitores de MP3, entre outros. [...]
possuem um forte apelo de inovação em tecnologia [2], sendo considerados como tendo um design mais avançado
ou tendo sido construído de um modo mais eficiente, inteligente e incomum.
9 O tempo além do tempo remete o autor a uma tempo além do tempo do trabalho, o tempo do consumo. A rua
Totalizações?
Ao final, Lefebvre, analisa o grande fator problemático no urbano, a
passividade de quem o compõe (nós), sobre quatro enfoques:
17 Em seu sentido tão depreciativo ver “À sombra das maiorias silenciosas, o fim do social e o surgimento das
massas”
18 A revolução urbana, pág. 33.
1 – A passividade dos que habitam, mas que poderiam e deveriam habitar
como “poetas”, onde o autor fala da esterilidade criativa do urbano presente. A
distopia em que se tornou o projeto humano, massificado em sua inércia no
urbano constituído. Esse urbano fluído e inerte ao mesmo tempo, que abraça a
resolução técnica, mas que esquece a paixão com a qual se faz existir.
2- A razões históricas que apontam um processo de apaixonamento pela
cidade, cité. A ilusão da perfeição, causada pela paixão ao especialista, cega
os viventes do urbano. Nesse caso, o discurso urbanístico, virtualiza as
soluções para os problemas da cidade, mas não as efetiva de forma
satisfatória. A construção de representações do real que se tornam mitos
inócuos em relação ao produzir/viver na cidade.
3 – As razões teóricas, incrustadas em uma fragmentação do fenômeno
urbano, principalmente em suas resoluções urbanísticas. Ainda fruto de uma
visão cartesiana, a junção do todo, a partir de suas partes não se torna
orgânica (e será um dia?). Como afirma o autor [...] a segregação, pela
projeção, separadamente, no terreno, de todos os elementos isolados do todo.
O além, a criação de algo que uma as partes do todo ou o contrário, a
virtualização do desejo de um todo orgânico, mas que efetivamente nunca se
atinge.
4 - As razões sociológicas, assentadas em um jogo político da
representatividade, da passagem do poder aos representantes políticos.
Lefebvre afirma que o habitar e habitante deixam o jogo na mão dos
“decisores”. O poder politico, que é virtual, esse sim se torna real, se petrifica e
com ele o projeto de urbano, ao bel prazer dos “decisores”, que opinam de
nomes de ruas até zoneamentos ambientais e sociais.
Assim, buscando voltar ao inicio do texto19, através das redes
tecnológicas virtualizantes, cheias de sentido e inercia, representações,
ausências e presenças, o virtual, como potência, e o urbano, como fenômeno,
se complementam. Aqui, apontamos uma referência ao método em Lefebvre
(mais orgânico do que o termo de), o método regressivo/progressivo, pois
através de um retorno ao ponto de partida, após as definições e a periodização
das cidades em seus processos histórico, iluminando o passado, enxergamos a
correlação entre virtual e urbano.
Temos assim a hipótese de que a virtualização do urbano, processo
este presente desde sua origem, se potencializou através das redes
tecnológicas (TIC), possibilitando a atualização desse urbano e também de
suas problemáticas.
As redes de acesso à internete, hoje, auxiliam resoluções, catalisando
as conexões e as trocas de elementos indenitários nas comunidades e
subúrbios ou em pontos fora das centralidades (capitais e centro decisórios,
que às vezes não coincidem), trazendo a possibilidade de criação e
19Aqui uma referência ao método de Lefebvre, o método regressivo/progressivo, tentamos, através de um retorno
ao ponto de partida, após uma série de construções amparadas no anterior histórico, iluminar o passado.
compartilhamentos de visões do outro, um empoderamento do eu e do outro.
Ao mesmo tempo trazendo a crença de que a ação, mesmo que só na
presença física e funcional da rede é suficiente, e padecendo da
contrainformação, que possibilita a inércia, uma vez que os projetos e ações
são eficientes e parecem bastar por si só, antes mesmo de medir seus níveis
de mudança da realidade.
Movimentos de resistência e construção da vida encontram amparo
nas redes digitais presentes no urbano, na virtualização20 da arte e da
alteridade. Na transformação dessa visão de baixo para cima em potência, mas
que pode em algum momento de sua realização, se perder e não se torna o
possível. Ou pior, poder ser capturados pela distopia, tornando o virtual uma
potência inversa da criação, tornando o urbano uma revolução apaziguadora.
Leituras
ARRUDA, Isleide. O nome da marca. São Paulo, Boitempo.
HAN, Byung-Chul. No enxame: reflexões sobre o digital. Tradução: Miguel
Serras Pereira. Lisboa: Relógio D’água Editores/Antropos, 2016.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini.
Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2015.
LEFEBVRE, Henri. A cidade do capital.
LEFEBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
MORIN, Edgar. Os setes saberes necessários a educação do futuro.
SENNET, Richard. A cultura do novo capitalismo.
20 Reforçando que virtualizar aqui será entendida como torna algo poder, potência.