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PLURALIDADE CULTURAL NA AMÉRICA LATINA

Isabela Cristina Tavares da Silva1; Juan Pablo Martín Rodrigues2


1
Estudante do Curso de Letras Licenciatura em Língua Espanhola - CAC - UFPE; E-mail:
isabela.ct@hotmail.com,
2
Docente/pesquisador do Depto de Letras – CAC – UFPE. E-mail: jpabloburgos@gmail.com.

Sumário: O presente trabalho tem como finalidade principal apresentar as marcas


principais que demonstram a relação entre a maçonaria e o projeto de Libertação da
América, presentes na obra Luces y virtudes sociales, de Simón Rodríguez, caraquenho,
representante do 3º grau da maçonaria (maestro) e professor de Simón Bolívar, assumindo,
portanto, acreditar na influência de Simón Rodríguez para o ingresso de Simón Bolívar na
maçonaria e, por conseguinte, no projeto de Libertação da América Latina. Deste modo,
utilizamos como aporte teórico: as indicações de Vidal (2006) ao tratar da influência da
maçonaria ao longo da história; González (2006) e suas indicações sobre a vida de Simón
Rodríguez; Contreras (2010) e sua apresentação do contexto ilustrado na Venezuela. Para a
realização da análise realizamos leitura seletiva de Luces y virtudes sociales, elencando os
fragmentos que ilustrem a influência da maçonaria no contexto apresentado e nas
concepções do autor. Obtivemos como resultados principais que a relação de Simón
Rodríguez com a maçonaria norteia sua discussão sobre as definições de república e como
funciona o governo republicano, assim como sua noção de América e identidade latino-
america. Identificamos que a obra Luces y virtudes sociales possui caráter didático, pois
delineia um planejamento de república efetiva na América Latina e apresenta a intenção de
instruir/educar os homens republicanos e os jovens que viverão em estado de república.

Palavras–chave: América Latina; libertação da América; maçonaria; Simón Rodríguez.

INTRODUÇÃO
A composição dessa investigação representa um recorte do Projeto de Iniciação Científica-
CNPq- UFPE, denominado Pluralidade Cultural na América Latina, sob orientação do
Prof. Dr. Juan Pablo Martín Rodrigues e desenvolvido em consonância com as atividades
do grupo de pesquisa Abreu e Lima e a Pós-Colonialidade na América Latina. Deste
modo, pretende-se render uma análise ao caráter da obra Luces y virtudes sociales, escrita
por Simón Rodríguez.
Nascido em Caracas em 1771, educado em parte pelo tio sacerdote, adepto da maçonaria e
professor de Simón Bolívar, falece em 1853, deixando como herança para a sociedade o
que considerava ser o fomento principal das luzes sociais, a instrucción general, registrada
em seus escritos. Em Luces y vurtudes sociales o autor estabelece uma crítica à
organização governamental estabelecida pelo Império Espanhol e indica a educação como
estratégia para atingir a república e instituir a ideia de social e sociedade ao povo.
Walter Mignolo (2007) nos indica em La idea de América Latina, além da noção de
colonialidade e modernidade como faces da mesma moeda, as discussões sobre identidade
e originalidade da América Latina. No seio de seu trabalho destacamos a noção de
pluralidade cultural na América Latina, que parte das influências sofridas pelo processo
colonial, mas que não se estagna e é processada de diferentes formas pelos sujeitos
formadores desse conjunto. Sendo assim, atribuímos ao processo de Libertação da América
Latina, uma parcela significativa na formação da identidade do povo latino-americano.
Considerando que o projeto de emancipação nasce do cerne da maçonaria na América
Latina, associamos a maçonaria à pluralidade cultural.
É importante destacar que Luces y virtudes sociales descreve o processo de
amadurecimento das revoltas e discussões que culminam na emancipação da América
Espanhola, portanto se faz relevante apontar para as indicações de Contreras (2010)
quando nos aponta, a partir de suas investigações, que as visões do Padre Oviedo y Baños
y Andrés Bello apresentavam a Venezuela como cenário da boa colônia com sua
tranquilidade, plantações de cacau e suas paisagens que se assemelhavam ao paraíso. No
entanto, silenciosamente uma revolução crescia progressivamente em meio a este modelo
de representação do funcionamento do Império. Caracas passava pelo processo de
ilustração com suas características próprias e aos poucos os homens republicanos se
instruíam pela chegada de livros que mais tarde seriam proibidos pela metrópole.
Contreras indica que Baltasar de los Reyes Marrero, Antonio Pimentel, Rafael Escalona
(maestro de Andres Bello y Alejandro Echezuría) já trabalhavam a favor de mudanças na
organização educacional fornecida pela metrópole, produzindo influencia em
“la generación de ilustrados e intelectuales que llevó a cabo la indepencia [...], si
tomamos en cuenta tan afortunada nomina: Francisco Javier Ustáriz, Juan
Germán Roscio, José Vicente Unda, Felipe Fermín Paúl, José Cecilio Ávila, Juan
Antonio Rodríguez Domínguez y Baltasar Padrón, entre otros” (CONTRERAS,
2010, p. 307).

A discussão do autor também nos indica um personagem importante no processo de


Libertação, Miguel José Sanz, nomeado curador ad litem do menino Bolívar, também
estabelece profundas relações com os revolucionários republicanos e critica arduamente a
educação fornecida à população caraquenha, baseado nos princípios rousseaunianos em
consonância com as discussões de seu contemporâneo Simón Rodríguez. Contreras (2010)
destaca que ambos “están convencidos de que la educación es el instrumento que va a
forjar el ciudadano virtuoso, pieza clave para la felicidad de la república” (p. 315).
Os estudos de González (2006) acerca de Simón Rodríguez denotam a sua relação com a
maçonaria sem aprofundá-la e Vidal (2006) discute sobre o fomento das ideias da
Libertação da América na Loja Maçônica Lautaro.
O objetivo desta investigação é buscar na obra Luces y virtudes sociales de Simón
Rodríguez, em sua posição de professor e defensor da república, os fragmentos que
demonstram a relação existente entre a maçonaria e a Independência da América, pois
nota-se a escassez de estudos que trabalhem essa relação como fator determinante para a
formação das ideias republicanas na América Latina. No mais, é relevante destacar a
originalidade dos ideais da Ilustração na América, corroborando assim, para o
reconhecimento da formação da identidade do povo latino-americano.
Trabalhamos com a hipótese de que a escrita de Simón Rodríguez retrata a visão dos
maçons revolucionários participantes da Independência da América. Para isso,
estabelecemos como questões norteadoras: Há influência da maçonaria na obra Luces y
virtudes sociales? De que maneira essa influência está presente na obra? Quais noções
apresentadas pelo autor sofrem influência da maçonaria? Como se dá a participação de
Simón Rodríguez na Libertação da América?

MATERIAIS E MÉTODOS
Para realização da análise forma selecionados fragmentos da obra Luces y virtudes sociales
e posteriormente os mesmos foram comentados, buscando destacar neles o sentido dos
principais conceitos levantados por Simón Rodríguez.

RESULTADOS
Pudemos observar na obra Luces y virtudes sociales de Simón Rodríguez os seguintes
aspectos: a) defesa pela república; b) apresentação da educação como forma de alcançar o
sucesso da república; c) apresentação da ideia de educação social; d) declaração subjetiva e
explícita da maçonaria como uma das responsáveis pelas revoluções que culminam na
Independência da América; e) influência dos ideais da maçonaria nas noções de república,
sociedade e educação.

DISCUSSÃO
Na obra Luces y virtudes sociales, Simón Rodríguez destaca que o apoio à república deve
ser conseguido através da educação, que está além da sensibilidade, por isso destaca a
função do professor como mediador do estudante em sua busca pelos saberes necessários
que compõem a educação social, ou seja, a consciência dos ideais do governo para o bem
comum. Neste modelo de ensino-aprendizagem o professor valoriza a autoeducação, sendo
assim, os conhecimentos adquiridos e os conteúdos refletidos são de responsabilidade e
interesse do estudante/aprendiz. A auto-educação também é a forma utilizada na maçonaria
para a passagem de graus dos participantes, pois as virtudes são fomentadas pelas
experiências do próprio indivíduo.
Para Simón Rodríguez, as luzes são adquiridas, logo provem da educação/instrução. A
analogia às luzes está diretamente relacionada com o Iluminismo e a Ilustração, uma das
possíveis origens da maçonaria, segundo Leadbeater (2012). Os princípios ideológicos de
Rodríguez o guiam a apresentar uma visão que direciona a conexão entre os ideais da
maçonaria e o projeto de república pensado para América.
Rodríguez declara que a vida espiritual se sustenta em ideias, deixando transparecer a
perspectiva de união consciente com Deus adotada pelo segmento da Escola Ocultista na
Maçonaria, como nos aponta Leadbeater (2012, p. 20). Inclusive no fragmento “ni en las
ciudades principales se piensa en construir um pequeño edifício para conservar el alimento
de la vida... las ideas sociales” (RODRÍGUEZ, 1990, p. 286), o termo pequeño edifício
nos remete a duas construções características da maçonaria: um templo maçom ou uma
loja maçônica, também podemos interpretar este edifício como uma biblioteca com
literatura de caráter social, já que o saber se conserva nos livros e a leitura e um exercício
de articulação de memórias.

Podemos notar a influência forte do Iluminismo e por conseguinte, da maçonaria na


república pela presença em todo o texto dos vocábulos luces e razón. Em um dos
fragmentos, Rodríguez supõe a vitória das luzes (instrução/educação, luzes, república) em
relação à Ignorância (escuridão, Império Espanhol). Para o professor, a vitória se
alcançaria pelo gradual progresso da divulgação das ideais republicanas.
Por fim, o autor nos apresenta que a história é registrada através de um ponto de vista e
cabe a cada um, baseado nas suas experiências e em seu contexto, analisar as revoluções da
Emancipação da América Espanhola.

CONCLUSÕES
Percebemos em Luces y virtudes sociales a influência da maçonaria de forma subjetiva em
maior grau, expressa através de pequenas expressões ao longo do texto, já que seu autor
subentende que o leitor da obra pode reconhecer tais indicativos.
As noções de república e sociedade influenciadas pela maçonaria preveem a união dos
governos emancipados da América, em prol do bem comum e da igualdade de acesso aos
direitos, assim, os homens instruídos instruem a outros, garantindo a
adequação/participação de todos na República e na educação.
A noção de educação social é marcada pela contribuição popular e do sujeito em busca de
seus interesses, para a instrução da sociedade. Por isso, a colaboração de Rodríguez com a
Libertação da América está nos seus registros didáticos que divulgam e buscam educar a
sociedade (professores/estudantes/governantes) para a vida em República.
Esta investigação aponta, portanto, para a análise específica da influência da maçonaria na
noção de educação apresentada por Simón Rodríguez em Luces y virtudes sociales e sua
caracterização na atualidade.

AGRADECIMENTOS
Agradeço ao CNPq e à Universidade Federal de Pernambuco pelo fomento à pesquisa na
graduação e pelos recursos fornecidos para o desenvolvimento desta investigação.
Agradeço também, à dedicação e orientações prestadas pelo Prof. Dr. Juan Pablo Martín
Rodrigues para a realização desta pesquisa, de suma importância para o desenvolvimento
da minha carreira acadêmica.

REFERÊNCIAS
CONTRERAS, M. N. Ilustración venezonalana y paideia colonial: el Lic. Miguel José
Sanz. Presente y pasado. Revista de história, Ano 15, nº 30, p. 301-320, 2010.
GONZÁLEZ, A. R. Simón Rodríguez maestro de América: biografia breve. Caracas,
Ministério de Comunición e Información, 2006.
LEADBEATER, C.W. Pequena história da maçonaria. São Paulo: Pensamento, 2012.
MIGNOLO, W.D. La idea de América Latina: la herida colonial y la opción decolonial.
Barcelona: Editorial Gedisa, 2007.
SIMÓN, R. Sociedades Americanas. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1990.
VIDAL, C. Os maçons: a sociedade secreta mais influente da história. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 2006.

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